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A CONSTRUÇÃO DE INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO ESPAÇO URBANO NO DISTRITO FEDERAL DO BRASIL Geovany J. A. da Silva; Soad F. Franca; Marta A. B. Romero; Caio F. e Silva; Andiara C. Machado RESUMO Este estudo visa contribuir com o urbanismo sustentável na identificação das relações intra-urbanas inseridas na dinâmica da paisagem local. Portanto, busca-se a fundamentação teórica a partir de instrumentos científicos e constroem-se, assim, indicadores capazes de analisar a qualidade da paisagem urbana em aglomerações urbanas do Distrito Federal do Brasil a partir de seus elementos morfológicos de configuração dos espaços urbanos e, conseqüentemente, regionais. Nesse contexto, a aplicação de indicadores como diretriz a partir dos atributos de qualidade urbano-ambiental serve como matriz de análise, que visa a compreensão espacial de elementos muitas vezes inteligíveis e perceptíveis aos sentidos, buscando-se assim interpretar o espaço a partir de distintas frentes de análise. O objeto final constitui um produto sistêmico e metodológico, composto de uma tabela de pontuação de sustentabilidade urbana com indicadores, sub-indicadores e atributos, que permite ser aplicada em diferentes paisagens urbanas, vislumbrando a promoção de novas formas e modelos de pensar e propor o planejamento e projeto de cidades mais sustentáveis. 1. INTRODUÇÃO A compreensão das questões urbanas envolve, cada vez mais, o conceito de sustentabilidade urbana e ambiental e a sua abordagem sistêmica de qualidade. Assim, compreende-se que o urbanismo sustentável, em sua essência, trata da dinâmica da paisagem urbana e diversos conceitos como a mutabilidade dos espaços, equidade social e harmonia, vislumbrando a eficiência energética, a otimização dos recursos, os sistemas cíclicos, a valoração cultural, histórica e regional, entre outros elementos de complexas inter-relações. A qualidade do espaço urbano está diretamente relacionada à qualidade de vida na cidade, lugar que reúne cada vez mais pessoas, e torna-se o foco dos estudos e atenções, uma vez que, a partir do ano 2000, o Brasil passou a acumular mais de 82% da população em áreas urbanas (Pinheiro, 2002, p. 10). No período de 2002 a 2007, a população das cidades médias cresceu à taxa de 2% ao ano, mais que as taxas das cidades grandes (1,66%) e das cidades pequenas (0,61%). Do ponto de vista populacional, as cidades grandes e pequenas encolheram entre 2000 e 2007, enquanto as médias cresceram. As médias concentravam 23,8% da população em 2000 e passaram a 25,05% em 2007. As grandes caíram de 29,81% para 29,71%, e as pequenas, de 46,39% para 45,24%, no mesmo período (IPEA, 2008). As cidades médias representam sociedades com múltiplas especificidades, maiores ou menores habilidades e variadas capacidades individuais ou grupais como também tensões intra e extra urbana face aos contextos socioeconômicos, ambientais e institucionais. As mudanças geralmente estão em contínuo exercício, na natureza, nas relações, nas engrenagens da sociedade e de uma cidade. Essas abordagens não podem ser simplesmente locais. O conceito de mudança ambiental global é a soma dos desafios

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A CONSTRUÇÃO DE INDICADORES PARA AVALIAÇÃO DA QUALIDADE DO

ESPAÇO URBANO NO DISTRITO FEDERAL DO BRASIL

Geovany J. A. da Silva; Soad F. Franca; Marta A. B. Romero;

Caio F. e Silva; Andiara C. Machado

RESUMO

Este estudo visa contribuir com o urbanismo sustentável na identificação das relações

intra-urbanas inseridas na dinâmica da paisagem local. Portanto, busca-se a fundamentação

teórica a partir de instrumentos científicos e constroem-se, assim, indicadores capazes de

analisar a qualidade da paisagem urbana em aglomerações urbanas do Distrito Federal do

Brasil a partir de seus elementos morfológicos de configuração dos espaços urbanos e,

conseqüentemente, regionais. Nesse contexto, a aplicação de indicadores como diretriz a

partir dos atributos de qualidade urbano-ambiental serve como matriz de análise, que visa a

compreensão espacial de elementos muitas vezes inteligíveis e perceptíveis aos sentidos,

buscando-se assim interpretar o espaço a partir de distintas frentes de análise. O objeto

final constitui um produto sistêmico e metodológico, composto de uma tabela de

pontuação de sustentabilidade urbana com indicadores, sub-indicadores e atributos, que

permite ser aplicada em diferentes paisagens urbanas, vislumbrando a promoção de novas

formas e modelos de pensar e propor o planejamento e projeto de cidades mais

sustentáveis.

1. INTRODUÇÃO

A compreensão das questões urbanas envolve, cada vez mais, o conceito de

sustentabilidade urbana e ambiental e a sua abordagem sistêmica de qualidade. Assim,

compreende-se que o urbanismo sustentável, em sua essência, trata da dinâmica da

paisagem urbana e diversos conceitos como a mutabilidade dos espaços, equidade social e

harmonia, vislumbrando a eficiência energética, a otimização dos recursos, os sistemas

cíclicos, a valoração cultural, histórica e regional, entre outros elementos de complexas

inter-relações.

A qualidade do espaço urbano está diretamente relacionada à qualidade de vida na cidade,

lugar que reúne cada vez mais pessoas, e torna-se o foco dos estudos e atenções, uma vez

que, a partir do ano 2000, o Brasil passou a acumular mais de 82% da população em áreas

urbanas (Pinheiro, 2002, p. 10). No período de 2002 a 2007, a população das cidades

médias cresceu à taxa de 2% ao ano, mais que as taxas das cidades grandes (1,66%) e das

cidades pequenas (0,61%). Do ponto de vista populacional, as cidades grandes e pequenas

encolheram entre 2000 e 2007, enquanto as médias cresceram. As médias concentravam

23,8% da população em 2000 e passaram a 25,05% em 2007. As grandes caíram de

29,81% para 29,71%, e as pequenas, de 46,39% para 45,24%, no mesmo período (IPEA,

2008).

As cidades médias representam sociedades com múltiplas especificidades, maiores ou

menores habilidades e variadas capacidades – individuais ou grupais – como também

tensões intra e extra urbana face aos contextos socioeconômicos, ambientais e

institucionais. As mudanças geralmente estão em contínuo exercício, na natureza, nas

relações, nas engrenagens da sociedade e de uma cidade. Essas abordagens não podem ser

simplesmente locais. O conceito de mudança ambiental global é a soma dos desafios

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ambientais locais, regionais ou nacionais e de seus impactos, representa um marco de

referência para a integração das estratégias locais.

Os impactos da mudança ambiental global são de longo prazo, o que significa que as

questões ambientais locais e imediatas recebem mais atenção; contudo, os formuladores de

políticas, cientes das interações entre efeitos locais e globais, de curto e longo prazo,

podem atenuar o impacto ambiental de suas cidades e aumentar a resiliência à mudança

ambiental global. (UNFP, 2007, p 03).

No Distrito Federal os problemas decorrentes da forte urbanização de seu espaço físico

mostram um quadro predominantemente urbano, pois, segundo IBGE (2007) 95,62% da

população no Distrito Federal é urbana, configurando um cenário superior à média

nacional. Porém, o modo de ocupação e a densidade são extremadamente contraditórios

entre as aglomerações urbanas no DF, pois enquanto Ceilândia tem uma densidade bruta de

120,18 hab/ha, o Plano Piloto tem hoje menos de 10 hab/ha. Tendo sido planejada por

Lucio Costa, entre 1955 e 1960, para uma densidade bruta de quase 30 hab/ha, as Super-

Quadras assistiram a um esvaziamento face às mudanças na estrutura familiar brasileira,

pela obsolescência urbana ou mesmo na mudança de usos do solo, ainda que fora das leis

urbanísticas estabelecidas. Atualmente, após o intenso crescimento urbano e demográfico

das últimas décadas, existem vinte e nove Regiões Administrativas no Distrito Federal,

constituindo uma administração centralizada no denominado Plano Piloto de Brasília,

através da representação do Governo do Distrito Federal.

Este trabalho visa contribuir com a identificação das relações intra-urbanas sustentáveis

inseridas na dinâmica da paisagem do Distrito Federal do Brasil, onde se situa a Capital

Federal: Brasília. O seu objetivo principal é, portanto, contribuir com a produção do espaço

urbano sustentável por meio de uma ampla análise quantitativa e qualitativa. Nesse

aspecto, busca-se subsidiar a construção de parâmetros capazes de analisar a qualidade de

vida em aglomerações urbanas do DF a partir de seus elementos morfológicos

individualizados, porém considerando-se escala regional da rede urbana.

1.1 A Análise urbana: construindo indicadores de sustentabilidade urbana.

Dada a complexidade do território urbano e a dificuldade de seleção na escolha de modelos

e conceitos, diversas referências nacionais e internacionais servem para compreender o

modelo de cidade. No Brasil, Santos (2008, p 49-50) utiliza o raciocínio válido para todos

os campos da ciência, inclusive para a organização do espaço, e se expressa assim: “(...) a

tarefa de escolher um tema de pesquisa minimiza-se, visto que a explicação de qualquer

fato espacial depende das outras estruturas construtivas do espaço”. Para ultrapassar o

fenômeno: “(...) temos que subdividir a realidade de forma que ela possa ser reconstruída

quando novamente juntarmos as partes”. Assim, para o autor, “(...) partimos da prática

humana para teorias através de conceitos e voltamos à teoria para a práxis por intermédio

dos modelos.” Estar-se-á assim, apto para abordar particularidades na totalidade, e esta

abordagem é utilizada em diversas análises urbanas.

Num contexto mais global, ainda que não haja um arquétipo que permita reunir todas as

cidades européias em um formato único, pode-se ao menos encontrar inúmeras

características comuns à maioria delas que as distingue, em seu conjunto, das cidades de

outros continentes, cujo desenvolvimento obedece a histórias diferentes, a cidade, sua

inserção no território geográfico, sua forma, o desenho de suas vias, a organização do seu

tecido, as relações entre seus bairros não é independente dos grupos sociais que a

produzem, que nela vivem e a transformam. (Panerai, 2006, p. 14).

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Cada cidade analisada representa na sua estrutura e morfologia a sua própria identidade

cultural e o seu desempenho urbano-ambiental. As cidades do entorno do Plano Piloto do

Distrito Federal abrigam, em primeira instância, a função de moradia para os

trabalhadores, agregando aproximadamente 70% dos habitantes de Brasília. A

sustentabilidade urbana ambiental do entorno do Distrito Federal foi questionada por

Paviani (2002) em “Brasília, Metrópole Incompleta” quando este discute que o assunto

deveria se ater não à denominação de cidades-satélites ou cidades (tout court), mas às

funções e capacidade de gerar empregos por parte desses núcleos, bem como aos níveis de

conforto urbano que oferecem aos seus habitantes. Neste contexto, Paviani (2002) ainda

tece vários questionamentos, quanto ao saneamento básico. Discute se nelas há geração de

emprego ou se estes dependem do forte equipamento do Plano Piloto de Brasília? Qual é o

padrão das habitações? As vias de acesso e de capilaridade da malha urbana são

pavimentadas nestes núcleos? Como está estruturado o sistema de transportes para os que

não possuem automóvel? Qual a estrutura da renda nesses núcleos?

Para Romero (2003) o desenho urbano de várias regiões administrativas do DF caracteriza-

se pelo zoneamento funcional e rígido dos seus espaços, não comportando a diversidade de

papeis sociais ali presentes.

Com a finalidade de organizar o olhar sobre esse espaço urbano múltiplo, Romero (2007a)

desenvolve um referencial teórico para a construção de um urbanismo sustentável capaz de

transpor as escalas do geral para o particular, e trabalha os indicadores intra-urbanos com

dois índices temáticos: o da qualidade de vida e da qualidade do sistema ambiental. Utiliza,

para tanto, três grandes frentes: da edificação, das redes e da massa, como também analisa

a diferenciação entre os elementos e fatores. Assim, atribui aos primeiros a qualidade de

definir, de fornecer os componentes do clima, enquanto que aos fatores atribui a qualidade

de condicionar, de determinar e dar origem ao clima que constitui a arquitetura

bioclimática, dando as bases da pesquisa que realizam os autores1.

Conforme o Quadro 01, os indicadores propostos por Romero (2007a) estão compostos por

2 índices temáticos: qualidade de vida e qualidade do sistema ambiental, e estão divididos

em 3 conjuntos (frentes do urbano): Edificação - superfície de fronteira ou planos verticais;

Redes - fluxos base ou planos horizontais; e Massa - entorno (vegetação, água, construção,

solo).

Nesta visão, o planejamento e o desenho urbano estratégico são formulados nos

indicadores e dialogam com as premissas do espaço público, “(...) a tendência é trabalhar

com indicadores mais gerais que respondam à macro diretrizes de intervenção técnica,

respondendo à demanda de informações que correspondam à realidade geográfica e

social do espaço público”. (op.cit. p. 58).

Quadro 1- Indicadores de Sustentabilidade Urbana.

ÍNDICES TEMÁTICOS

INDICADORES

ESTRUTURAIS

SUB-INDICADORES

ÍNDICE DE QUALIDADE DE VIDA

Ambiente Conforto áreas externas

Conforto edifícios

Acessibilidade

Mobilidade de veículos

1 Este trabalho é resultado de pesquisas realizadas em 2009/2 (no segundo semestre letivo), pelos alunos da

disciplina de Urbanismo Sustentável ministrada pela Profª. Drª. Marta Romero, no Programa de Pós-

Graduação da FAU-UnB, e contou com a participação e colaboração dos seguintes pesquisadores: Geovany

J. A. Silva (doutorando da FAU-UnB), Soad Farias (doutoranda da FAU-UnB), Caio F. Silva (doutorando da

FAU-UnB), Andiara Campanhoni (mestranda da FAU-UnB), Milena Sampaio Cintra (mestranda da FAU-

UnB), Sandra Bertoni (mestranda da FAU-UnB), Tatiana Yeganiantz (mestranda da FAU-UnB), Felix Alves

(mestrando da FAU-UnB) e Renato Rocha (doutorando da FAU-UnB).

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Comunidade Acessibilidade de veículos

Segregação

Complexidade urbana

ÍNDICE DE QUALIDADE DO

SISTEMA AMBIENTAL

Energia

Eficiência energética

Eficiência hidráulica

Eficiência edificada

Fonte: Romero (2007a, p. 57) in PARANOÁ: Frentes do urbano para a construção de indicadores de

sustentabilidade intra-urbana.

2. O SUBSÍDIO PARA A CONSTRUÇÃO DE PARÂMETROS URBANÍSTICOS

Os passos que seguem buscam subsidiar a construção de parâmetros capazes de analisar a

qualidade de vida em aglomerações urbanas do DF a partir de seus elementos morfológicos

e, conseqüentemente, regionais. Para indicadores e atributos de qualidade urbano-

ambiental servem como matriz de análise, uma vez que visam a compreensão espacial a

partir de distintas frentes de análise. O objeto final constitui-se de um produto sistêmico e

metodológico, que permite ser aplicado em diferentes cenários urbanos, vislumbrando a

promoção de novas formas e modelos de pensar e propor o planejamento e projeto de

cidades mais sustentáveis.

O sistema de indicadores de qualidade urbana foi organizado a partir de elementos

morfológicos identificáveis por análises espaciais do desenho urbano, simulações, bi e tri-

dimensionalização urbana, imagens de satélite, visitas e medições in loco, etc; para orientar

arquitetos, urbanistas, construtores e gestores públicos na produção do espaço urbano do

DF.

Consideramos, neste trabalho, as Regiões Administrativas e os espaços urbanos externos à

RA –I - Brasília como o Núcleo Referencial geopolítico e espacial para o contexto do

Distrito Federal. (Figura 1). Dada a sua centralidade, a sua condição de Tombamento como

Patrimônio Histórico Cultural da Humanidade e a função política e administrativa

nacional.

Para a análise comparativa foram selecionadas 15 aglomerações urbanas do DF com

características específicas quanto à produção urbana (ênfase espacial), bem como às

relações geográficas (altitude, clima, geomorfologia, topografia): Águas Claras, CA do

Lago Norte, Candangolândia, Ceilândia, Cruzeiro, Gama, Guará, Noroeste, Núcleo

Bandeirante, Planaltina, Santa Maria, Taguatinga, Varjão e Vicente Pires.

Fig. 1 – As Aglomerações Urbanas analisadas. À direita, a localização do Distrito Federal

em relação ao Brasil e, à esquerda, a implantação das aglomerações urbanas analisadas em

relação ao DF. 1.Planaltina; 2.Sobradinho; 3.CA do Lago Norte; 4.Varjão; 5.Noroeste;

6.Guará; 7.Cruzeiro; 8.Vicente Pires; 9.Águas Claras; 10.Candangolândia; 11.Núcleo

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Bandeirante; 12.Taguatinga; 13.Ceilândia; 14.Santa Maria; e 15.Gama. Fonte: Autores,

2010.

3. CONSTRUINDO INDICADORES URBANOS

Considerou-se para este trabalho de construção de indicadores uma gama de parâmetros

que identificassem uma cidade na escala global e local, assim, construiu-se a matriz

geradora de atributos mensuráveis qualitativamente e quantitativamente que possibilite a

sua aplicação em diferentes morfologias e tecidos urbanos. Buscou-se uma formatação

adequada, capaz de fornecer níveis de qualidade das frações urbanas na sua decomposição

analítica em distintas escalas. Ao mesmo tempo, permitiu-se exercer uma temática

comparativa entre as unidades territoriais analisadas na escala urbana do DF, por meio da

representação desses dados na morfologia e composição espacial de mapas produzidos.

Observa-se que a relação entre o ambiente e a comunidade conforma o eixo estrutural deste

trabalho. O primeiro significa o espaço urbano com todas as nuances morfológicas e

urbano-ambientais que o constitui e, o segundo traduz-se no eixo estrutural que está

constituído pela comunidade inserida com seus atributos de necessidades de conforto

urbano.

A espacialização das identidades de sinergia urbana é quantificada na sua qualidade, isto

significa que cada mapa temático fornece uma leitura urbana nos atributos analisados. O

cruzamento de dados ponderados forneceu o resultado do equilíbrio na sinergia urbana de

cada localidade selecionada para análise dentro do Distrito Federal, sob aspectos de

(Quadro 02):

i. Caracterização do lugar, morfologia do tecido;

ii. Localização, acessibilidade;

iii. Uso espacial e atividades;

iv. Aspectos espaciais apropriados;

v. Equilíbrio ambiental;

vi. Socioeconomia urbana;

vii. Suprimento de infraestrutura urbana;

viii. Valores morfológicos ambientais benéficos;

O quadro proposto como instrumento de análise urbano-ambiental para o estudo das

unidades é resultado dos dados expressos nos mapas temáticos produzidos ou de

informações oficiais dos órgãos e instituições governamentais (Governo do Distrito

Federal - GDF, Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal - CAESB,

Viação Planalto - VIPLAN, Companhia de Desenvolvimento do Planalto Central -

CODEPLAN, Secretaria de Estado de Desenvolvimento Urbano, Habitação e Meio

Ambiente - SEDUMA, Sistema Cartográfico do Distrito Federal - SICAD, Instituto

Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBAMA, Instituto

Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE), interagindo nas conclusões e resultados.

Quadro 2 – Exemplificação dos principais Indicadores e Sub-Indicadores da

Qualidade Urbana avaliados, na escala da cidade. ESCALA

URBANA

Nº INDICADORES SUBINDICADORES ATRIBUTOS

AN

ÁL

ISE

NA

ES

CA

LA

DA

CID

AD

E

01

Urbanismo Verde

Infraestrutura Urbana

Sustentável / Serviços

Adequação do traçado a topografia

Rede de resíduos líquidos urbanos

Rede de água potável

Tratamento de resíduos líquidos urbanos

Pavimentação das vias / materiais

Superfície de Verde Superfície Área livre verde / Área total

Superfície de Água Corpos Naturais ou Artificiais e Área de Inundação

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02 Paisagem construída Tipologias urbanas Homogeneidade da configuração urbana

03 Densidade Urbana Oficial

Compacidade Urbana /

Espalhamento do Tecido População da RA / Área oficial da RA

04 Nível de exclusão espacial

Vazios Urbanos Área de vazios urbanos

Centralidade Existência de espaços centrais

05 Traçado Urbano

Desenho das Ruas Relação do traçado urbano / orientação ventos

Ortogonalidade das vias / adequação à topografia

Uso Urbano Áreas de Lazer

06 Nível de exclusão espacial

Espalhamento Urbano Distância para o núcleo do DF

Transporte público Número de linha de ônibus / População RA

Raios de abrangência das estações de metrô

07

Mobilidade não

automotiva total

Mobilidade do ciclista Quilômetros de ciclovia

Mobilidade do pedestre Área de calçada / Área da via

08 Paisagem Construída

Conjunto de fachadas

(Sky line) Diversidade de morfologias (forma, cor, altura, etc)

AN

ÁL

ISE

NA

MIC

RO

ES

CA

LA

(25

ha

)

09 Conforto Urbano

Potencial de formação de

ilhas de calor Relação W/H

10 Urbanismo Verde

Infra-estrutura Urbana

Sustent. / Serviços

Pavimentação / Materiais – cálculo do % do Total

das vias conforme a permeabilidade de água

11 Densidade Urbana

Compacidade

Urbana/Espalhamento do

Tecido

Taxa de Ocupação Bruta (Parcela de 25 ha)

12

Mobilidade não

automotiva parcial

Mobilidade na escala do

pedestre

Relação entre as áreas de Via/Calçadas (Parcela de

25 ha)

13 Traçado Urbano Uso Urbano Área ocupada na cidade

Fonte: Silva, Farias & Romero, 2010. Adaptação do “Quadro de Indicadores para a Análise da

Qualidade do Espaço Urbano”, in Urbanismo Sustentável.

3.1 A Análise Urbana do Distrito Federal através de Indicadores de Qualidade

Urbana

A espacialização dos indicadores, incluindo os atributos de qualidade, foi realizada por

meio de mapas temáticos na análise da identidade de cada realidade territorial. Foram

desenvolvidos mapas temáticos com atribuição de características de forma urbana,

características do desenho urbano, quantificação de áreas verdes e percentuais conforme

cada análise.

Os mapas foram desenhados em AutoCad (DWG) e gerados imagens (JPG e PDF). Nesta

etapa ainda, houve a simulação tridimensional (em software SketchUp 7). Foi realizada

também a compilação dos dados de todas as aglomerações urbanas e atribuição de um

Índice de Qualidade para cada uma delas no DF, a partir das informações obtidas através

dos mapas e das tabelas de qualidade urbana. (Figura 2)

Fig. 2 – Mapa climático do DF. Fonte: Autores (2009), adaptado de Ribeiro (2008).

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4. ANÁLISE E RESULTADOS

A espacialização das referidas identidades de sinergia urbana é quantificada na sua

qualidade, isto significa que cada mapa temático fornece uma leitura urbana nos atributos

analisados. O cruzamento de dados ponderados forneceu o resultado do equilíbrio na

sinergia urbana de cada localidade selecionada dentro do DF, interpretados por percentuais

através de um quadro com 13 Indicadores e 24 Atributos Urbanos, sob aspectos de

caracterização do lugar, morfologia do tecido, localização, acessibilidade, uso espacial e

atividades, aspectos espaciais apropriados, equilíbrio ambiental, socioeconomia urbana e

suprimento de infraestrutura urbana.

A partir da determinação de um Quadro de Indicadores da Qualidade Urbana, quando se

relacionam os parâmetros, conceitos e nível de avaliação da qualidade urbana dentro das

temáticas elegidas, passou-se a mapear as aglomerações urbanas e chegou-se a uma

definição mais refinada de quais informações e simulações espaciais (em 2D e 3D) que

seriam necessárias para quantificação e qualificação urbana.

1. Planaltina 2. Sobradinho 3. CA do Lago Norte

4. Varjão 5. Noroeste 6. Guará

7. Cruzeiro 8. Vicente Pires 9. Águas Claras

10. Candangolândia 11. Núcleo Bandeirantes 12. Taguatinga

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Fig. 3 – Mosaico da Configuração Espacial (3D) das 15 aglomerações urbanas

estudadas: 1.Planaltina; 2.Sobradinho; 3.CA do Lago Norte; 4.Varjão; 5.Noroeste;

6.Guará; 7.Cruzeiro; 8.Vicente Pires; 9.Águas Claras; 10.Candangolândia; 11.Núcleo

Bandeirante; 12.Taguatinga; 13.Ceilândia; 14.Santa Maria; e 15.Gama.

Para a organização dos indicadores foi adotada a análise da Escala da Cidade e da Micro-

Escala, esta definida dentro de 25ha (500x500m) conforme os estudos de Duarte (2000),

para a percepção e quantificação de elementos ambientais. Para o mapeamento em

AutoCad foram determinados 10 mapas gráficos, a partir dos seguintes atributos: 1)

Superfície de Água, 2) Áreas do Metrô e Estações, 3) Áreas Verdes, 4) Áreas de Lazer, 5)

Homogeneidade da Malha, 6) Vazios Urbanos, 7) Orientação das Vias conforme o Norte e

Insolação Ideal, 8) Ortogonalidade da Malha, 9) Adequação das Vias à Topografia. Além

destes, mapeou-se a fração de 25ha, em escala reduzida do lugar, selecionada dentro de

uma homogeneidade urbana que representasse e caracterizasse a região, com ênfase à

ocupação habitacional (Figura 3).

4.2 A Análise da Qualidade Urbana

Para análise final, ficou estabelecida uma pontuação de Qualidade Urbana de 0 a 10, na

qual foram atribuídos os seguintes conceitos: A (de 9-10), B (8- 8,9), C (7-7,9), D (6-6,9),

e E (<5,9). Das 16 aglomerações urbanas analisadas em mapas e na compilação final dos

dados tabelados, 2 atingiram o conceito B, sendo: Guará e Taguatinga; 11 aglomerações

atingiram o conceito C, sendo: Águas Claras, Noroeste, Cruzeiro, Núcleo Bandeirante, Asa

Norte, Sobradinho, Varjão, CA do Lago Norte, Gama, Ceilândia e Candangolândia; e 3

atingiram o conceito D, sendo: Vicente Pires, Planaltina e Santa Maria.

Esta análise se reporta às 16 Regiões Administrativas selecionadas, objeto deste estudo.

Conforme resultados alcançados, obtiveram-se doze classificações (Tabela 1).

Tabela 1 – Classificação das Aglomerações Urbanas. Ordem de

Classif.

Aglomeração Urbana Nota

Final

Selo

1°. Guará 8,32 B

2°. Taguatinga 8,21 B

3°. Águas Claras 7,99 C

4°. Noroeste 7,76 C

5°. Cruzeiro 7,65 C

5°. Núcleo Bandeirante 7,65 C

6°. Asa Norte* 7,54 C

6°. Sobradinho 7,54 C

7°. Varjão 7,31 C

7°. CA do Lago Norte 7,31 C

8°. Gama 7,20 C

9°. Ceilândia 7,09 C

9°. Candangolândia 7,09 C

10° Vicente Pires 6,75 D

11° Planaltina 6,53 D

12° Santa Maria 6,41 D

* Asa Norte está excluída da avaliação final por compor a RA I – Brasília, já contabilizada pelo Noroeste.

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A Região Administrativa do Guará, com 8,33 pontos, e Taguatinga, com 8,21 pontos,

foram as que alcançaram os melhores indicadores, o desempenho urbano-ambiental é

similar, além de estar estrategicamente localizadas na confluência de uma ampla malha

urbana de conexões, fato que favorece e incentiva a mudança de cidade dormitório para

uma autonomia econômica mais eficiente do que as restantes. A localização entre o Plano

Piloto e cidades mais distantes, faz destas duas cidades os pontos de convergência para o

comércio, diversão e lazer e abastecimento e serviços, oferecendo uma troca maior e mais

dinâmica com o Plano Piloto. Quanto à morfologia urbana, Guará e Taguatinga tendem a

ser representadas por uma qualidade urbana habitacional melhor e uma eficiência

centralizada espacialmente no comércio e serviços.

Ao contrário, Sobradinho e Planaltina, embora muito próximas, mantém uma distinção

morfológica, no seu desenvolvimento e na sua função. O núcleo tradicional de Planaltina

foi ocupado por uma massa construtiva no seu entorno, sem infraestrutura suficiente e sem

atividades econômicas que suprissem essa demanda espacial. Assim, apresenta o índice

mais baixo em infraestrutura, resultando num tecido urbano predominantemente dormitório

e com morfologias diversificadas. Planaltina alcançou a segunda classificação mais baixa

com uma pontuação de 6,53; e Santa Maria, que obteve 6,41, foi a pior classificação

computada.

Sobradinho, na 6ª classificação com 7,54, juntamente com a Asa Norte, se caracteriza por

ser uma cidade dormitório de classe média e, mais recentemente, média alta, e difere de

Planaltina na qualidade de sua infraestrutura, na coleta de resíduos e nos índices de

pavimentação. A adequação do traçado em Sobradinho é três vezes melhor do que em

Planaltina. Sobradinho também apresenta menores índices de vazios urbanos, e apresenta

um Centro Urbano caracterizado e distinto, enquanto que a Asa Norte apresenta melhores

índices no quesito Urbanismo Verde.

Entre o Varjão e o CA do Lago Norte, ambos na 7ª classificação com 7,31 pontos, os

índices de qualidade na adequação topográfica, abastecimento, rede e tratamento de

resíduos líquidos são iguais, porém o CA indica melhor desempenho nos índices de

pavimentação e superfície de área verde. Em contrapartida o Varjão apresenta uma

ambientação urbana melhor com índices mais elevados na ortogonalidade e ventilação.

Ceilândia e Candangolândia foram classificadas em nono lugar com 7,09 pontos, embora

muito diferentes em sua morfologia, assim como no tecido urbano, na economia e na

representatividade cultural. Por sua vez, Candangolândia apresenta maior homogeneidade,

e Ceilândia, maior índice de centralidade e acessibilidade no transporte.

Vicente Pires (com 6,75 pontos), Planaltina (com 6,53), Santa Maria (com 6,41), situam-se

entre 10º, 11º e 12º lugar respectivamente, e apresentam o desempenho qualitativo mais

baixo, principalmente em infraestrutura básica e serviços. Planaltina e Vicente Pires

apresentam os menores índices em pavimentação.

O Gama (7,20), classificado em oitavo, entre o Varjão e CA (com índices maiores), e

Candangolândia e Ceilândia (com índices menores), apresenta o pior desempenho na

homogeneidade da configuração urbana e na presença de vazios. O Cruzeiro e o Núcleo

Bandeirante apresentam a mesma classificação, com uma pontuação de 7,65, sendo o

Cruzeiro melhor na ortogonalidade e com menor desempenho na diversidade morfológica.

Dentre todas as Regiões Administrativas analisadas, apenas Guará e Taguatinga atingiram

o conceito B, e nenhuma atingiu os índices extremos de A e E. Assim, através da complexa

e extensa análise realizada, nota-se que há muitos atributos a serem melhorados para a

qualidade urbana no Distrito Federal, de forma a tornar mais equitativa alguns indicadores

de sustentabilidade. Porém, destaca-se ainda a necessária aplicação dessa metodologia

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científica para outras realidades urbanas no DF como forma de complementação da análise

urbana regional. (Figura 4)

Fig. 4 - Mapeamento da qualidade urbana no Distrito Federal, conforme as 16

aglomerações urbanas estudadas, exceto Asa Norte. Fonte: Autores, 2010.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

No Brasil, a intensa urbanização pós-moderna das últimas cinco décadas imprimiu uma

súbita concentração de indústrias, serviços e trabalhadores, que somado à mecanização do

campo e da cidade transformou, não só o déficit habitacional, como a escassez de emprego,

nos grandes problemas sociais da urbanidade. O mesmo processo de crescimento acelerado

ocorreu no Distrito Federal, trazendo um cenário de intensa urbanização com

características nem sempre sustentáveis.

Se no Plano Piloto há uma dispersão urbana centrada no conceito de urbanismo

funcionalista de Le Corbusier e da Carta de Atenas, nas denominadas Cidades-Satélites,

constituídas de forma a apoiar e abrigar a população de “candangos” construtores da nova

capital, em meados da década de 1950 e 1960, configura-se hoje as Regiões

Administrativas descentralizadoras e polinucleadas, porém, umas reféns da casualidade

morfológica quase colonial, e outras de desenho urbano arrojado e planejado. Contudo, o

diálogo de segregação socioespacial exerce particularidades morfológicas distintas em

cada aglomerado urbano do DF.

Uma cidade sustentável deve, necessariamente, oferecer segurança, ser energeticamente

econômica, proporcionar bem-estar individual e coletivo, ser confortável, promover um

lugar no qual a paisagem construída deverá naturalmente se integrar com a paisagem verde

(ou com a paisagem mais coerente ao natural e às condicionantes ambientais locais), assim,

deverá minimizar os impactos negativos por meio da sua morfologia, dos materiais

empregados na sua construção, do desenvolvimento e aplicação de tecnologias sustentáveis

de circulação e drenagem urbana, pela sua praticidade e fluidez e, principalmente, pelas

redes de conexão. Todos esses parâmetros foram avaliados neste trabalho, que representou

um rico diagnóstico da situação atual do objeto de estudo analisado.

Na construção dos indicadores de qualidade urbana aplicados neste estudo, percebeu-se

que a diversidade da problemática estudada gera uma análise exaustiva, quando são

considerados todos os objetos em detalhe, ou quando é considerado um vasto território.

Neste caso específico, a seleção pormenorizada de quinze aglomerações urbanas

diferenciadas permitiu uma maior clareza na interpretação e na descrição, bem como

traduziu a expressão urbana numa escala maior da região, com o resultado do panorama do

urbanismo sustentável em todo o DF.

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Assim sendo, o resultado desta pesquisa se mostrou coerente e satisfatório, uma vez que as

RAs com pior desempenho de urbanismo sustentável são as mesmas regiões desprovidas

de boas opções de transporte público, áreas de lazer e redes de infraestrutura compatíveis.

Destaca-se que a Asa Norte está excluída da avaliação final por compor a RA I – Brasília,

e assim a mesma foi considerada como unidade de referência junto ao Plano Piloto. Das 16

aglomerações urbanas analisadas em mapas e na compilação final dos dados tabelados, 3

atingiram o conceito D, sendo: Planaltina, Vicente Pires, e Santa Maria; 11 aglomerações

atingiram o conceito C, sendo: Sobradinho, Águas Claras, Varjão, CA do Lago Norte,

Gama, Noroeste, Cruzeiro, Ceilândia, Núcleo Bandeirante e Candangolândia; e duas

atingiram o conceito B: Taguatinga e Guará. Assim, nota-se que há muitos atributos a

serem melhorados para a qualidade urbana no DF, destacando-se ainda a necessidade da

aplicação dessa metodologia para outras realidades urbanas.

Concluiu-se também que o desenho urbano da maioria das cidades do DF não cumprem

um planejamento ordenado, no que tange o respeito ao ambiente em que estão inseridas.

Contraditoriamente, detectou-se que algumas implantações mais espontâneas, a exemplo

de Vicente Pires e Candangolândia, têm o desenho urbano melhor adaptado às

condicionantes do meio ambiente e do terreno do que áreas rigorosamente planejadas,

como exemplos emblemáticos a RA de Águas Claras e o novo setor Noroeste.

Outra conclusão válida e muito rica é a constatação de que as aglomerações urbanas que

tiveram o melhor desempenho de qualidade da morfologia urbana foram as mais próximas

ao Plano Piloto. Isto mostra que a relação de proximidade com o centro geopolítico da

capital ainda tem forte correlação com a produção do espaço urbano de qualidade, como se

notou que quanto mais distante de Brasília (Plano Piloto), piores são as qualidades do

espaço urbano, sua insfraestrutura, equipamentos e conjunto edificado.

Hoje, com a implantação de novos pólos de desenvolvimento do DF, o que é demonstrado

pela instalação dos campi da Universidade de Brasília nas RAs de Planaltina, Ceilândia e

Gama, é possível que o cenário de desenvolvimento urbano dos próximos 50 anos se

modifique. Porém, ainda percebe-se que a produção deste espaço urbano não é planejada,

pois se tem grande interesse em ocupar o solo, o que pode ser interpretado como fruto de

uma especulação imobiliária descomprometida com o ambiente natural.

Para futuras pesquisas, cita-se a possibilidade de desenvolver novas comparações entre

todas as 29 RAs, o que resultaria num rico mosaico do desempenho da sustentabilidade

urbana em todo o Distrito Federal, uma vez que é campo de atuação do arquiteto e

urbanista, o monitoramento da produção do espaço construído. Neste caso, a cidade deve

sempre configurar-se num laboratório de estudos na busca por um espaço qualificado, mas

que pode e deve ser também quantificado muitas vezes em números ou em dados

estatísticos, interpretados como qualidade ambiental, refletindo as expressões da cidade,

com suas características essenciais, suas necessidades e suas potencialidades. Participar

ativamente deste processo de produção do espaço da cidade torna, portanto, mais efetivo o

papel do arquiteto e urbanista no monitoramento do espaço da cidade que contenha mais

vida e qualidades sustentáveis.

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