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Page 1: SANDRA VERONEZE Organizadora...SANDRA VERONEZE Organizadora Caderno Literário 83 Ilustração de Capa: Tempestade nas Montanhas Rochosas – Monte Rosalie", de Albert Bierstadt (1866)
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SANDRA VERONEZEOrganizadora

Caderno Literário 83

Ilustração de Capa:Tempestade nas Montanhas Rochosas – Monte Rosalie", de

Albert Bierstadt (1866)

Pragmatha2020

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Sumário

Estações ... 07Uma molduraTempo de saudadeSom subterrâneo ... 10O Agonizante (?) final do Amor ... 11Um grito contra o bacha bazi ... 12Dias infinitosExílio ... 14MedoAo Caderno LiterárioAnseio e amor na AméricaCrepitar ... 18DescrenteQuarteto de invernoOutonoMulher da minha pátria ... 22Bons tempos ... 23

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Quando o amor nasceMeu corpoRecolhimento ... 26Coronavírus ... 27VírusAndanças ... 29AnticorposContigoAs cores da vida ... 32A chuvaSolidãoO rio do amorSuavidade ... 36Veredas de fogoCumplicidadeDo vasto céuMiragemAceitaçãoO mel em tua boca ... 42Eu ... 43FiloMisoneístaQuarentenaBrevementeDia das mães ... 47Dentro de mim

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Urdindo coisasA menina da cirandaA peça ... 51ConvivênciasDecepçãoEncruzilhada ... 54O invisível ... 55Nuvens escuras ... 56Sonhos de liberdadeRosa FlorRuas desertas ... 59Maravilhas do céu Intensidade ... 61À noiteDevir de borboletaPreceO vermeCardume ... 66Palco da vida ... 67Limo ... 68Sabores mineiro ... 69Idas e voltasFragilidadeDespedidaÊxtase

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Purgação ... 74O supérfluo sentimento ... 75PassagemRetrospecçãoParidade ... 78

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Estações Maria Raiana Barbosa dos Santos Soledade/PB A menina de cabelos de fogo declarava ao sol a sua cumplicidade;Quando via as flores resgatava em si o desabrochar da fantasia;Ao sereno límpido da doce anunciação da chuva o seu olhar permanecia lâm-pada acesa;Ela adorava o mar de folhas secas espalhadas debaixo da árvore;Era seu abrigo por dez anos de existência;Para ela tinha nome de campo mágico das anunciações;Quando a luz do sol faz morada a menina canta;Ao pegar as flores ela dança;E ao fazer deste lugar um recanto de paz a garota recita poemas;Também descobre em si um gosto potente pela encenação;Através das histórias encontradas nos seus livros;Ela consegue resgatar na interpretação dos personagensA manifestação de uma expressão corporal repleta de variações.Em todas as estações se presencia debaixo da árvoreA menina de cabelos de fogo contemplando a leituraA cada amanhecer e entardecer se faz florescer a sua imaginação criativa.

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Uma moldura Ubiracy Olímpio da Silva Jaboatão dos Guararapes - PE

Não quero serUma moldura masculina nos teus olhosNem só um corpo nos teus braços a te ninarQuero ser teu calor, tua chama para aquecer teu corpoQuando me chama,Quero sentir tua alcova e beijá-laPerfeitamente como um sonho de um amante invisível....Não quero serUma moldura em teus sonhos,Quero ser as palavras nuas dos teus PensamentosFazendo-me sentir todo encantoDe tu mulher...

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Tempo de saudade

Roselena Fagundes

Quanto mais o tempo passa,mais a saudade aumenta!Quando a saudade atravessao coração, mais atormenta!

O tempo não perdoa a saudadeque acrescenta imensa dor!A saudade não dá liberdadeao tempo que se torna incolor!

Quanto mais a saudade apertamais o tempo se prolonga!Quanto mais o tempo acertaa saudade, mais se alonga!

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Som subterrâneo

Gabriel Alves de Souza Corrente - PI

Na sinfonia de Mozart....Ouço a harmonia desta erudiçãoEntre passos dançantes, mal ensaiadoBailo sentindo a melodia da cançãoUm aroma de rosas vermelhas no arCom brisas leves envoltas do ritmoEntre singulares dedilhar dos dedosMinha alma em outra dimensão.

A música acaba, o repente mudaE percebo que estou sozinhoAflito, abismoOutrora vibração.

O ritmo frenético do coraçãoA pulsação do medoSerei sentenciado nesse silêncio?Nessa tempestade ácida no peito,Intrínsecos colapsos de sacrifícios.

Mas alguém me toca sutilmenteEncorajador, passos em sinestesia,Mãos leves...Me tiraram daquele cativeiro.Regresso para meus sentimentos alegóricosUma sombra do meu passado...

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O Agonizante (?)final do Amor Leonardo Andrade Rio de Janeiro / RJ

Novamente juntos e distantesDiferente, mas igual a antesDeixaremos um dia de seremos amantes? O Amor virou hábito, caiu na rotinaCorriqueiro como dobrar uma esquinaVulnerável à mais simples sabatina.

Virou um exercício pleno da libidoIndiferente de fazer ou não sentidoHipoteticamente leve e consentido.

Esvazia-se o Amor e exalta-se o sexoComo se passasse toda emoção para o anexoSimples assim, ou melhor, um tanto complexo.

Aparentemente sem mágoas ou rancoresLivre de culpas, cobranças e dores Imune aos afiados espinhos das flores.

Sem nenhum futuro a vislumbrarRestrito ao presente até o esgotarCom o passado esmaecendo até se apagar...

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Um grito contra o bacha bazi Tauã Lima Verdan Rangel Mimoso do Sul / ES

Uma denúncia é apresentada no verso rimadoNas terras do Afeganistão, o costume toleradoA experiência de jovens meninos e abduzidaPara a prática do bacha bazi, a dor é sentida

Meninos novos têm a esperança assassinadaAinda pré-púberes, a triste sorte é determinadaDe suas famílias, pelas autoridades arrancadosEm brinquedos sexuais, eles são demudados

Ecoam os clamores das famílias em lamentoCom um pesar sem fim, um odioso sofrimentoEm meio à devastação, eis indevida tolerância

Os corpos objetificados pelo desejo irracionalTransformar jovens meninos no escravo sexualUm grito ecoa, um pedido de ajuda em ânsia.

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Dias infinitos Gustavo de Lima Masoni São Paulo / SP

Como demora a se passarDemora mais que uma noiva a subir no altarDemora mais que um dono para levar seu cachorro para passearE mesmo sem nada para fazer, ainda preciso me preocupar.

Preocupação essa que não se acanhaE junto com minha ansiedade se levantaForçando-me a entrar em completo desesperoE pior ainda, sem ninguém para pedir um apelo.

Tento comer, ler e até exercícios fazer,Mas não consigo entenderO porquê de eu estar com esse pensamentoDe que estamos presos dentro de um momento.

A única coisa que me aliviaSão as prosas e poemas que leio em um dia,Mas são de grande alivio para minha semanaAté mesmo um livro bem bacana.

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Exílio Fernando Matos Recife / PE

Involuntariamente perdi teu abraçoRetirado da sociedade inesperadamenteResta-me a lembrança do vosso afagoForça motriz que ativa a vida inexplicavelmente.

O lugar agora é triste e muito solitárioTão longe sem poder tocar vossa mãoEscuto as batidas de saudade no coraçãoGuardo o último passeio no imaginário.

O beijo amigo temporariamente perdidoPrecaução agora que se faz necessáriaEvitando o desaparecimento no elo perdido.

Aparentemente excluídos da sociedadePreservo a saúde de quem mais amoRespeitando a vida com seriedade.

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Medo Isabel Cristina Vargas Pelotas / RS

Insegurança e medo são os sentimentosQue nos acompanham, no momento.A ameaça que nos ronda planeta aforaÉ desconhecida, muito letal, desumana.

Nossas famílias viraram reféns do medo.É um mal que pode nos tirar o bem maiorA vida de nossos amores mais profundos.Um mal que pode ter sido intencional.

A ganância, o poder, a supremaciaÉ capaz de transformar os homensCriando vírus como armas biológicasCapazes de dizimar família inteiras.

É uma guerra muito desigualEnquanto uns fazem o malAproveitam-se da fragilidade humanaOutros lutam com honra para nos defender.

Esperamos que a ciência vençaQue Deus nos ajude a sobreviverQue a espiritualidade nos fortaleçaE que os homens sejam melhores.

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Ao Caderno Literário Antônio Marcos Bandeira Fortaleza - CE

Ao Caderno Literário Mais uma vez em poesiaVou fazer literatura Escrevo com alegriaÀ Sandra VeronezeÉ vate tem maestria

Aqui escrevo poema,O poemeu, o cordelPoetrix, vilancetePois eu sou um menestrelMarcos Bandeira, o poetaCaderlítere, meu céu

Aqui expresso em versosNa arte de escreverÀ Sandra VeronezeSó temos a agradecerCaderlítere então é:Caderno Literário se lê.

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Anseio e amor na América Mauricio Duarte São Gonçalo / RJ

Devagar a alma alça voo,sim, morte e luz, vida e trevas.Lamentos de um tal destino,nunca se completou não,só passou, mero átimodo átomo nuclear, oh vil,esplendor de destruição...

Os estranhos que se encontramnuma praça morta nãosão espectadores, são tãoprotagonistas do mesmoenredo que, ladina, é,latrina duma AméricaLatina, ruidosa e triste...

Por uma riqueza meioanacrônica, pôde irpara fora do espíritoe margear o continente;saudosismo de dupla face,de um lado, anseio, moribundo,do outro, amor, fora da caixa...

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Crepitar Jeane Tertuliano da Silva Campo Alegre / AL

Teus lábios meus,entreabertos,parecem querer contar-meum segredo.Aproximo-me de ti,lançando-lhe um olharque, sem emitir palavras,diz-lhe tudo.Visto-me de poesia,e bailo ao som da melodiaque ecoa do nosso crepitar.

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Descrente Raquel Lopes Jaboatão dos Guararapes / PE

a fama que pega carona no doente arruma táticas praticadas sem solvente o olhar pela janelaimplora uma sopa de felicidadedaquelas que arrumam tudo

sorrir sem pensar é má sorte para o descrente que perdeu sonhosdetrás do palco da vida porque o submundo fabrica novos muros

armadilhas do rabujo.

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Quarteto de inverno Nilton Maia Rio de Janeiro / RJ

O poema me fere,E me confereA certeza da finitude,A ilusão da eternidade.

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Outono Regina Bertoccelli São Paulo / SP

Outono de meu triste viverPara longe meu amor levouNas tardes frias fico sem saberPorque tudo terminou...

Trouxe o vento a saudadeAumentando a minha dorComo encontrar a felicidadeTendo um coração sofredor?

Sou como as folhas de OutonoQue soltas se perdem ao léuE neste triste abandonoFicou escuro o meu céu

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Mulher da minha pátria Sanjo Muchanga Cidade de Maputo

Penso nas madeixas no teu ombroEm como o sol faz brotar a florOh mulher da minha pátria amadaQue de sol em sol luta pela igualdade.

Pode neste jardim não haver cravosComo as que se abriram em PortugalMas as chagas das tuas mãos mulherMapeiam o seu engajamento no trabalho.

De ano em ano cresce no país a sua lutaE o seu perfume faz florir a pátriaOh mulher da minha pátria amadaQue ilumina a grandeza dos homens.

Ora essa já é Abril e o sol abriuÉ 7 de Abril, dia da sua consagraçãoQue as fendas deste poema abraO perfume de alecrim para perfumar

Cada mulher deste MoçambiquePela sua luta e engajamentoPelo seu papel e valorE pelo seu precioso amor.

Em nome das mulheres mortas na guerraEm nome das mulheres violadas no larEm nome das mulheres assediadas no trabalhoE em nome dos maus tratos contra mulher

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Bons tempos Lori José G. Schiavo São Nicolau / RS

Lembrando que um dia já fui um meninoFiquei pensativo, fiquei preocupado,Tantas coisas boas me trouxe o destinoQue hoje fazem parte de um doce passado

Morando na roça, na simplicidadeTive minha infância até a adolescênciaAs coisas vividas deixaram saudadesQue me acompanham por toda a existência

Saudades que sinto, danada saudadeDe uma pescaria, de um banho de rioAs doces lembranças marcaram a idadeE deixaram no peito um grande vazio

Foram tantas coisas na vida modestaQue não tem espaço que possa escreverMemórias guardadas, só isso que restaQue a mente saudosa não deixa esquecer.

Aproveite a vida que o mundo tem pressaNão perca teu tempo, busque diversãoOs anos se passam, correndo, depressaDepois da velhice só resta o caixão.

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Quando o amor nasce Ligia Messina Porto Alegre / RS

Outro dia eu liEm um lugar qualquer,Nem autor tinha sequer:“O amor nasce de quase nadae morre de quase tudo.”Tão forte e tão frágilEntra e sai tão ágilDe qualquer coraçãoForte, doce, meigo, amargoCheio de emoçãoEterno... Efêmero...Mas, sempre amor.O mesmo que faz rirEle mesmo faz chorar.Ah, amor! Sentimento irresponsávelEntra sem pedir licençaRústico ou amável, cheio de presençaÀs vezes supérfluo... Às vezes profundoPequeno ou o maior do mundo,Mas, sempre amor...

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Meu corpo Rosa Acassia Luizari Rio Claro / SP

Tenho consciência de meu corpo questionador das horasque o vil tempo me levou ontem, hoje e em outroras;pulsa na alma a dor da perda do tempo coerente,das horas tenho apenas a alma inconsequente.

Viagem no tempo com Ilya Prigogine é só o que me resta,relógio amigo das árduas labutas e da alma em festa;não quero me perder no incerto e ingrato tempo,faço viagens em dias de paz ou de lamento.

Viagem no tempo irreversível Prigogine me aconselhaa história do tempo à minha vida em muito se assemelha,vou sem ilusões e com os pés firmes a mudar as realidades,não sou escrava do tempo e sim das minhas próprias vontades.

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Recolhimento Cleia Dröse São Lourenço / RS Dispo-me de sonhos e quimerasembrenho-me nos porões de mimé época de quarentena.Pouca luz para iluminar corredoressomente as chamas das recordações.Cada uma é luz nos recônditos da almae cada uma ilumina um nome, um rostoum amigo, uma amiga, um sorriso.Fortaleza que me mantém de pénutrindo esperança e fé.

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Coronavírus José Nedel Porto Alegre / RS

“Se queres, podes”, nos previne e alertaA antiga clássica sabedoria.Nem tudo nós podemos, todavia,Pois improvável há que desconcerta.

Com a porta ao mal perenemente aberta,Sob alto risco a vida se anuncia,Enquanto o golpe próximo se aviaComo letal prognóstico em oferta.

Bem rente à força, instala-se a fraqueza,Sempre vígil em nossa natureza,Que no conflito em tom mais alto fala.

Um pé em falso ou um piparote bastaPara instaurar desgraça mais que vasta:Um vírus só já o circo humano abala.

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Vírus Janjão Limeira - SP

Deu a largadaDo impossívelDo intocadoDo fantasiosoDo nunca aconteceráDo é coisa de cinemaDo é doença de ricoDo são ThoméDo só lá na ÁfricaDo é só uma GripezinhaDo é coisa de ComunistaDo invenção do PTDo só mata velho

Ele é realÉ mata

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Andanças Cláudia Gomes Feira de Santana / BA

Estamos andandopor caminhos misteriososcuja chegadaé uma incógnitapara seus transeuntes.Andançaslembrançasheranças de nossos passosAndançasé dança da vidaem movimento.

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Anticorpos Massilon Silva

Por cautela, sem alarde, Embarquei em Viracopos;Viajei no fim da tarde Para unir nossos corpos.Agora veja o contraste:Coronavírus pegaste, Desenvolvi anticorpos.

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Contigo Mara Carvalho Leite Praia do Rosa / SC

Contigo aprendi aViver o momento presenteUsufruir de um pequeno prazer

Pular sem medoNo precipício de um novo amorSentir emoções verdadeiras

Viver uma vida inteiraLivre por opçãoE feliz por vocação

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As cores da vida Marilu F Queiroz São Paulo / SP

A vida nos dá cores...Sabores, sensações interiores!Sol, de luz,banha a natureza...O céu de azul, a emoção.

Ar, água, luz, cor são sintomas...Aromas que percorrem,escorrem pelo ar,pela água, que atrevida corree desliza sobre o branco papel.

Que seria da água,Sem a existência da luz...De doce transparênciailude, realça, eternizao atraente brilho da cor.

Nessa suavidade diáfana...É a luz, sutil elemento,que contrasta, se arrasta,como sombra escassa...Por entre as demais.

Luz, brilho, água;

Sinônimos puros da cor!

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A chuva Abel da Silva Andrade Monte Santo / BA A chuva parou,o sol voltou.Segue o percurso, um viver encantador.

O ser humano sonha, com um dia, ver a vida transformar.

Campo, um espaço, banhado, nas águas do amor.

Os chuviscos cessam, o chão seca,a vida percute, em uma lúdica reação.

Entre tempo e tempestade, duas temperaturas, quente e fria, vivendo,uma contradição, no ser e estar.

Do radiar ao solar, o sol reluz, fazendo brilhar, as manhãs do amar.

Um cantar, das singelas canções,que falam da ação-motora, que reavive, o ser humano, para uma vida, fundada no amor.

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Solidão Lin Quintino Belo Horizonte / MG

Amarro, no peito,a solidãoe sinto na carnea falta do toque.

Ilusão, pensarque ao cair da noite,abrir-se-a à portateus passos em minha direção.

O vazio é a vozsilenciosa da saudadepovoando meus sentidos.

Quando pensoacalentado meu sonoa insônia é hóspedeem meus olhos.

Contar o tempona ausência é sangraraos poucos no desafiode não se sentir vazia.

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O rio do amor Adriane Teixeira Lima dos Santos São João de Pirabas / PA

Sem pensar na correntezaMergulhamos com furorHoje, temos plena certeza:Mergulhamos no rio do amor.

Esse rio tem uma foz,Uma nascente e um leitoEle deságua em nósNasce e corre em nosso peito.

Esse rio não é efêmeroE, tampouco, intermitenteEsse rio é perene,Nunca cessa sua corrente.

Esse rio é profundoSeu curso é sempre regularE, apesar dos meandros,É simples lhe navegar.

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Suavidade Conceição Maciel Capanema / PA

O sorriso que espraias é cheio de canduraele se acomoda em mim fazendo dos meus diasum ecoar de alegrias infindaso brilho dos teus olhos acende chamas de afeto que se espalham por minh'almae se aconchegam em minhas retinaslá, eles são estrelas brilhantesque iluminam o céu da minha vidasuavemente te amo como se fosses o ar que respirocomo o sopro da vida que me restacomo canção que ecoa do infinitoembalando meus sonhos de amorés as asas das borboletas que enfeitam o are voam baixinho ao encontro dos meus olhos que te observam embevecidosem busca do teu lindo colorido.

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Veredas de fogo Jerson Lima de Brito Porto Velho / RO

Misturam-se no chão os coloridosdos nossos pudorosos indumentos,largados entre ofegos, alaridos,dulcífluas confissões e atrevimentos.

Sobre arrepios, corpos invadidospor um mar de luxúria, afagos lentosdeslizam avidez porque vencidosperante insuperáveis mandamentos.

Nas línguas, nas gargantas, as veredastomadas pelo gosto de loucura,os cálices derramam labaredas.

Espasmos se completam, dominantes:dos lábios entornados a fervurainfesta de explosões os dois amantes.

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Cumplicidade Rosalva Rocha Santo Antônio da Patrulha / RS

O reencontroabriu-se em lequee, como joia reluziu

A solidão, sua companhia há anos,partiu

Os dois, sentados na varanda,buscaram a madrugadacomo cúmplicee, em plena afinidade,garantiram um ao outroque solidãonão teria mais lugar no seu coração

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Do vasto céu Fábio do Carmo Ananindeua / PA

A cada passo o céu amplia-se e, o mundo fragmenta-se em vários pontosAlguns, cardeais. Outros, de interrogaçãoMesmo acompanhado pelas incertezas, são dadivosos o caminho e o caminharQuando orientados pela bússola da razão

Porque cintilam pelo auspicioso trajeto outros milhões de luminosos pontos do vasto céuCom suas singulares cores e formas, agora captadas por outro tipo de percepçãoAquela que se faz com caneta e papelQue apreende de todo esse infinito, uma singela porção

Ressignificando o que ainda é novoPorque tudo, de alguma forma, fora antes visto de um ponto fixo, em uma só direçãoMas ao transpor os caducos olharesCrava-se na alma a ardente sensação

De que tudo através do saber/conhecer, transpiraEnvolve a alma em voluptuosa seduçãoEm consonância com o andar e o globo que velozmente giraPelo galgar de um único passo, recebe-se afortunadamente, toda a imensidão.

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Miragem Carlinhos Lima Santa Maria / RS

Na prenhez da terratrigais maduram

Fartas colheitasainda perduram

E a mó do tempoos grãos trituram

E mãos mal pagaso pó misturam E olhos famintospelo vidro postulam

O pão da mesaque em vão procuram...

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Aceitação Marisa Burigo Porto Alegre / RS De repente, as trêmulas mãosem nada conseguem se apoiar.Brancas como gelo,já não têm como se agarrar.Um arrepio percorre o corpoe o medo começa a se aproximar.Será a morte a rondar novamente?Silêncio... É só o que se ouve.E esta sensação gélida pelas entranhas...Então, de repente,como uma luz, a revelação.As mãos estão assim,não porque vá morrer.Mas porque algo de muito precioso está escapando,escorrendo por entre os dedos.E nada,absolutamente nada, pode ser feito.A não ser esperar o medo passar.Aceitar que nada nos pertence.Deixar que a vidase encarregue do que virá...Mas isto não impedea lágrima que ofusca olhar.

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O mel em tua boca Edvaldo Rosa São Paulo / SP

Sinto em todas as fibras de meu ser,Um pouco de você dentro de mim...Até nos caminhos em que sigo,Sinto a tua presença,E é por causa dela que persisto...Existo!O mel em tua boca, que louco sorvo e que me inebria,É tudo, tudo que mais preciso:Desde os silêncios que paralisam,As palavras que nos aproximam...E os beijos em que perdemos nossos pudores,E os sorrisos de alegrias, máscaras incertas diante de certas dores,Tudo que em tua boca está contido...E o mel em tua boca, lava que me queima a alma,Rio em que meu corpo se acalma...

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Eu Matusalem Roberto Ferreira Caxias do Sul / RS

De onde vim e para onde vou?Será somente uma passagemEssa estupenda viagem,Que alguém me proporcionou? Não escolhi vir ao mundo assim...Mas aos poucos fui esculpindo,Lapidando, com calma brunindo,A alma de anjo que queriam em mim.

Queria ser uma obra prima.Mas meu entorno impediu,Pois, querer ser é uma sina.

Vou vivendo, sonhando... Em formação.Marcando minha senda em quem me viu,Uma obra espiritual ainda em construção.

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FiloMisoneísta Magno Charrua Caçapava do Sul / RS

Poesia tão cruel e autocrata,viva brasa - centelha de outra chama,desusada para aquele que não ama,draconiana aos que fazem tua errata.

Certas vezes és paixão filoneísta,ou missão dos segredos seculares,apesar de contigo cruzar maressempre Castro aos que castram teu artista.

És perfeita, lavradio de ânsia e glória,exumando as correntes da história,filológica aversão à tirania.

Tua milícia de metódica artiemanha,refocila a razão de quem só ganha,ao reler todo o erro de tua cria.

Poesia tão cruel ao sequitismonão é casa - academia de outra fama,sim fetiche para aquele que te chama,sincronia a quem faz teu solecismo.

Muitas vezes, paixão misoneísta,ou missão das premissas do futuro;posto que já contigo quebrei murosempre Castro aos que castram teu artista.

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Quarentena Ricardo Mainieri Porto Alegre / RS

pessoasde máscaras

e não é Veneza

polícianas ruas

e o motim não aconteceu

a classe-médiacompetindo por alimentosno supermercado

na dançada lei da oferta & da procura

a estampa da mortena chamadados telejornais

mundo contaminado

mentetrapezistasem rede de proteção.

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Brevemente Wezlen Costa Capanema / PA

Em breve quero casa sairSem ter medo do invisívelPoder sentir o vento soprarCom a pureza que existe no ar.

Passear pela praçaOuvir sorrisos das crianças a brincarVer os velhinhos a conversarSem nada poder os atrapalhar.

Logo, tudo isso vai terminare nossa liberdade voltaremos alcançarCom a certeza que essa batalhaChegou ao momento de glória.

Até aqui Deus tem nos ajudadoCom Ele vamos vencerSem nada no mundo temere mostrar que tudo é possível.

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Dia das mães Mário Borges Belo Horizonte / MG Eu vi uma menina num jardim,Os sonhos de flores um dia,Ela contava para mim,De um tempo que não voltaria,Suas histórias eram infinitas,Seu rosto um conjunto de afeições,Era livre, solta muito bonita,Um cenário de reflexões,Me ofereceu uma flor,Com cheiro de felicidade,Um gesto de vida e amor,Na minha intimidade,Voltei para vê-la novamente,Mas o sol já havia partido,Seus ensinamentos foram suficientes,Para os meus dias seguidos.

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Dentro de mim Caroline Paixão Socorro / SE

Dentro de mimDentro de mimexiste uma mulherque ama.

Dentro de mimtem uma força que não me deixadesistir dos sonhos.

Dentro de mimTem uma esperança que nunca morre!

Dentro de mimTem uma fé inabalável.

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Urdindo coisas Paulo Vasconcellos Capanema / PA

As regras sentimentais são deveras consistentesConfortadas sob os anseiosConcernentes ao que representa o óbvioQuero, simplesmente, continuar sonhandoPorque sonhar é um sinal de fantasiaNada fora do normalDepois de um sonho, posso até chorarDerramando lágrimas que se transformam em espelho d'água,pois são inúmeros os reflexos do sentimentalismoQue adornam as bordas do coraçãoTemperadas por afagos e gentilezaEntorpecidos pela marca da paixãoQue sepulta o corpo da tristezaQuerências que se revigoramEnriquecidas pelos lampejos da nobrezaQue apresenta fórmula exponencialPrimada pelos esteios da eficiênciaJuntando-se ao encanto e a beleza.

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A menina da ciranda Marcelo de Oliveira Souza Salvador / BA

Tive um sonhoQue resolvi contarCiranda, cirandinhaVamos todos cirandar.

Estava juntoNa quitandaCom frutasDe todo lugar.

Indo dar a meia voltaVolta e meia vou gostar...Um montão de alegriaPara a gente comemorar.

No caminho da cantoriaQuem vai aniversariar?A ciranda de carrinhoMuito me faz recordar.

Estava bem quietinhoAs Polis fazem um ninhoA ciranda pergaminho,Esse é meu carinhoMaria Fernanda,Vai comemorar.

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A peça Juliana Nascimento de Almeida Campina Grande - PB

Não me peça para sentir menos.Não me peça para ser menos.Não me peça para não demonstrar...Não me peça para encenar um simples papel.

Não me peça para me encaixar onde não me cabe.Nesta peça que é a vida, não me peça para não tentar. Perdi por inúmeras vezes as peças do quebra cabeças.Mas hoje, essas peças quero consertar.

Não me peça para ser menos. Não queira me limitar.Sou eu uma peça que decide, onde vai se encaixar

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Convivências Patrícia Danielle Brasília / DF

Mas o que significa a convivência hoje em dia?É uma palavra simples, mas com várias interpretaçõesHá quem diga que isso não significa nada nãoMas para quem tem amor no coração ela têm várias significações

Para os incrédulos é só mais uma palavraBuscam nos dicionários, mas não encontram nadaOlham ao seu redor em busca explicaçõesMas não encontram resoluções

Os que têm amor no coração têm outras percepçõesA convivência os dá outras sensaçõesA paz na alma e no coraçãoBuscam a convivência como opção

A convivência é um exercício diárioAutoconhecimento e realizaçãoOnde se descobre que o amor não tem dimensãoE que o respeito e compreensão não são em vão

Dizer “Eu te amo” não faz mal nãoMas também não precisa ser com palavra nãoPoder ser com gestos e açõesMas o que vale mesmo nesta convivência é a paz e as boas intenções

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Decepção Marcelino Carvalho de Brito Satuba / AL

É: Ver deixar ir pelo ralo a fora seus planos e sonhos;É: Ver pessoas que você gosta com pensamentos contrários aos seus;É: Você ser justo e os injustos estarem por cima, contando vantagem, e os outros, acompa-nhando-os;É: Você acreditar na justiça e ela se mostrar contrária aos seus propósitos de bem em favor do mal;É: Tudo que estou sentindo neste momento;É: Ser julgado antes do julgamento, sem olhar e ouvir as partes envolvidas;É: Ser forte, nadar em uma onda imensa, vencê - lá, e morrer dentro de uma gota d´água;É: Você acreditar que o novo veio para mudar e os velhos costumes prevalecem no pensamen-to do novo;É: saber que tudo pode ser diferente e nada muda;É: saber que você prega coisas boas e lá fora a realidade da vida é totalmente materialista. Por-tanto, salvem-se quem puder!É: Você transparecer que é amigo e descobrir que você não passa de mais um colega;É: Você perder a confiança em quem um dia disse-lhe que o amava;É: Saber que você um dia amou, procriou e sua cria não vingou como se esperava, e você é o verdadeiro responsável!É: Você passar a semana inteira se planejando para o lazer do final de semana, e o sábado e domingo ser chuvoso!Pois bem,Decepção é você falar da decepção sabendo que você também está decepcionado, com a con-clusão de quem é o verdadeiro culpado desta sua decepção.

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Encruzilhada María Crescencia Capalbo Buenos Aires / Argentina Quantas encruzilhadasTem este caminhoNos labirintosDa AlmaVou sem rumoEm silêncio afogadoTateandoPerdido e cegoQuantas encruzilhadas Tem a vidaQue em os espelhosDe meus olharesfoi apagadoO amor da minha vida Quantas encruzilhadasQuantos labirintosQuantos espelhosPra que os nossos passosSe encontremNa avenida Dos silêncios

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O invisível Maria de Lourdes Fernandes Fortaleza / CE

Em um dia ensolarado, ele chegou, assustando a todos,espalhando terror, nos bairros, cidades e campos. Todos se obrigaram a se recolher em suas casas,foi aí que descobrimos: somos um ser social.Tivemos e temos que aprender a nos isolarmos.Começamos a sentir falta de alguém ou de alguma coisaque deixamos pra trásagora temos tempo suficiente para serem revistas.Aquele amigo que a tempos não nos comunicavámos, aquele livro esquecido na prateleira, até a atenção maior pra família. Quando tudo isto passar,vamos nos descobrir pessoas mais humanas e vamos perceber que foi necessárioesta parada para refletir, quem somose o que estávamos nos tornando.

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Nuvens escuras Simone Röhrig Balneário Pinhal / RS

Elas cobrem o céu, ele não está mais azul Pairam em nossas cabeças, nuvens de tempestade, estão a nos amedrontar, Ruas desertas, casas abertas, todos em “prisão” domiciliar, Nossa esperança e fé, são fortes como rochas, nada irá abalar Aquelas nuvens escuras, o vento para longe vai soprar, Logo a felicidade de volta estará, ruas cheias, praças com crianças a brincar, céu azul, sol a brilhar Nuvens escuras, tempos difíceis, a humanidade fez ensinar.

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Sonhos de liberdade Rita Queiroz Salvador / BA

Em dias sombriosMeus olhos buscam as verdadesVeladas nas esquinas e nas calçadas.Fujo do cabresto que me açoitaA cada ferida exposta.São tantas...Tantos ais vindos de além-marDerramados em cada porto (in)seguro,Singrando mares braviosAs dores que não calam.Seguimos vigiados e punidosCom o grito de liberdadeCravado entre os dentesE os silêncios explodindo as carnes.Onde estais, poeta, que não respondes?Oh luta inglória!Continuamos presos às inverdadesSem a liberdade sonhada,Mantida deverasmente enclausurada.

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Rosa Flor Aldemira Aguiar Maraba / PA

Nem toda flor é rosaMas toda rosa é florFlor ou rosa é sempre florPerfumadaFecunda e bela

Indiferente aos ataques predadoresDeleita-se com os afagos dos beija-flores Seu perfume é sua almaSua cor é sua voz

Sua beleza é seu talentoSua simbologia, o amorSeus espinhos são suas armasQue ferem, sabem espetarMas prefere não usar

Desabrocha, dorme, acorda e, do alto do seu pedestal,Espera com com sensatez, o inevitável Despetalar, murchar e morrer...

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Ruas desertas Edmilton Bezerra Torres Pesqueira / PE Incomoda-me a surdez dos seus silênciosParece que, em algum lugar, todos os semáforos foram fechadosPelos cruzamentos, vazios e silenciosos, só o vento transita livre,Espalhando a magia que a todos adormeceuNas casas soturnas, portinholas e postigos enferrujam nas dobradiças,Parceiras de outrora, de frívolas fechaduras,Ora ociosas pela ausência de chaves que acariciem as suas entranhasNa eternidade dos minutos da minha busca,Tenho apenas as estrelas como testemunhas,Distantes e desinteressadasOuço música e lamentos no vento,Que me acaricia a pele e me lembra segredosCoisas que desejaria sepultar nos paralelepípedos polidos dessas ruas,Enfileirados, como dentes a sorrirem das minhas angústias e desvarios.

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Maravilhas do céu Giovana C. Schneider Marechal Floriano / ES

Às vezes azul,às vezes cinza,Também alaranjado e avermelhado,Algumas vezes rosa,No cair da tarde,Nem sempre é negro ao dia...Mas, é sempre negro à noite,O céu e suas cores,É tudo tão lindo,Da composição ou transição,Não, não quero saber,Só quero admirar,O espetáculo que a cada dia,O céu nos dá...

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Intensidade Arlindo A. Junior Uruguaiana / RS

A quem me dera,Ter o dom da previsão.Para pode viver...Como pássaro em migração.Levar nas asas,As plumas em canção.Dizendo coisas lindas,Para triunfar na separação.De o amor fazer projétil,Para armar o coração;E tornar nossa vida,Uma eterna paixão.

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À noite Lóla Prata Bragança Paulista / SP

O relógio sonoriza o descansoe move as pernas quietas.

O quarto se transforma em abrigo,refúgio e ninho.

A cama capta segredos no are desperta a inspiração.

O lençol descobre a almae aquece a criação.

O travesseiro agrada a mentee facilita a sublimação.

A penumbra amolece o corpoe energiza o talento.

A insônia faz companhiae esquenta as habilidades.

Os olhos se arregalame veem coisas inimagináveis.

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Devir de borboleta

Biláh Bernardes Santo Antônio do Monte / MG

A lagarta se arrasta se aprisiona

Imóvel hiberna à espera da libertação

Em meu sonho de borboleta me levanto teço fios crio asas e busco a direção

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Prece Roberto Queiroz Rio de Janeiro / RJ

Senhor,Dai-me lucidezpara suportar este mundo que não entendobaseado em fake news, terraplanismoe muita, mas muita hipocrisia religiosa!

Este lugar repleto de cristãos odiosos"mentiras sinceras"e gente correndo de um lado pro outroatrás de...De quê mesmo?

Honestamentejá me esquecimesmode praticamente tudo.

Menos de ti,

Amém!

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O verme Juliana Karol de Oliveira Falcão Soledade / PB

Animais invertebradosDe corpo alongadoE mole.Relação de parasitismo:Depende de outrosOrganismos.O hospedeiro infectado:Patógeno.Se tu não foste vertebradoEras completamenteUm verme por definição.

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Cardume João Evangelista Rodrigues Japaraíba / MG

a água não compreende seu brilhoa intenção da pedrano meio de seu caminhonem a ave o céuo sossego de seu ninhonem o homem seu destinoas razões do rio, suas utopiasnem o rio a força do redemoinhodo cardume que sobe em sobressaltosa correnteza dos dias despossuídosde qualquer sentidotudo em tudo se incorporavigília e sono, som e melodiafora do dicionário a palavra vivepor absoluta primitiva necessidadenão há entendimento na liberdade da poesia

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Palco da vida Maria Elza Fernandes Melo Reis Capanema / PA

Lá fora...A vida passa como um rioE atrás da janelaQue me separa da ruaO coração vive emoçõesA mente revive lembrançasDe um passado distanteDe um momento constanteVejo um horizonte coloridoDiferente das embaralhadasNostalgias que por um instanteTiraram-me o sorrisoA janela se abriuLevando-me a enxergarUm mundo de sonhosDe bons sentimentosDe alegrias que pareciamAdormecidas em algum lugarA janela é uma plateiaMinha vida...Um palco de lindas emoçõesRenovadas todas as manhãs.

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Limo Rosana Almeida Salvador / BA

Lembrei do mar.A distância é sempre intensa,quando se trata de humanos.Na rua, que pena, estão próximos!

Aqui não há resquício de sequer uma presença,fantasma flutuante que seja.A tela se move:vozes de genteaparentemente vivas e felizes.

Lembrei do mar,que reúne os tocos e as roupas dos náufragos na praia.

Aqui reuno pessoas esquecidasde telas luminosas.Converso com as conchas,com as águas-vivas, com as sereias.

Lembrei do mar nesse dia sem ruidos nem vozes,como quem se entrega, assim, ao limo das coisas.

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Sabores mineiro Teócrito Abritta Rio de Janeiro / RJ

Prezada mui gentilclássica elegantesenhora.

Lábios molhadoságua na bocaaprecio seu falar.

Imaginária lambidinhanesta fofinha rosquinha(de polvilho).

Desejos de beliscara quente broinha(de milho). Comer seu queijinhocom goiabada pra festejar.

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Idas e voltas lan Rubens Silva Sá São Luís / MA

A nossa vida é assim Com idas e voltas,Altos e baixos,Que dão o tom da vida.

Nessas idas e voltas Aprendemos lições Que nos tornamMais fortes, experientes.

Idas e voltas São necessárias,Como o doce E o salgado,O frio e o calor,O côncavo e o convexo.

Idas e voltas São importantes Quando nos tornamMais humildes Nos aproximando De Deus.

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Fragilidade Francinilde Machado Serejo São Luís / MA

Chego cansadaEspalhando roupas pela casaEmbaixo do chuveiroDispo minha almaPermaneço imóvel por alguns minutosEnquanto viajo nos pensamentosAinda de toalhaSirvo-me um vinhoOlhando a cidade do altoE parece tudo tão calmoMais um dia difícilNo trabalho,Autoridade, postura de duronaMe vendo agoraNem pareço a mesmaA fragilidade retornaTransforma meu ser por completoÀs vezes, choroOutras, me enrosco sob os lençóisE no dia seguinte,Estou inteira outra vez.

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Despedida Ivanildo Antonio dos Santos Pessôa Capanema / PA Ela me disse adeus no dia em que aspedras choravam as vozes da chuva. As aves, que adejavam os ventos deabril, com pena, fizeram das suas um agasalho de proteger tristezas.

Ela me disse adeus na hora em que o horizonte adernava o sol, lá no fim do mundo, bem onde o céu brincava de esconder as luas de espantar solidões.

O rio, que sussurrava uma canção de embalar saudades, viu o olho d’água que nascia em mim e logo cantou uma cantiga de acalmar soluços.

Ela me disse adeus no exatoinstante em que seus faróisbruxulearam despedidas.Ela me disse adeus no apagar dos dois luzeirosque acalantaram a vida.

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Êxtase Leomária Mendes Sobrinho Salvador / BA Beijo a sua pele intensamenteAcaricio seu corpo envolventeContorno seus cabelos com minhas mãos

Aperto-lhe em mim com alucinaçãoEsfrego-me em seu suor com emoçãoRespiro o seu fôlego com prazer

Vou lhe seduzir a fazer...E para que ninguém descubraMe perco em sua sombra

Encontro a sua alma... amor!Toco a sua boca com meus beijosMotivo de meus desejos

Suspiro gemidos de clamorDe momentos de felicidadeÊxtase de uma eternidade.

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Purgação Carla Schuch Porto Alegre / RS

A noite foi bem compridaDisseram ser Santa aquela sexta-feiraMas os conflitos e as doresNada tinham de santidadeAvisaram que a fábrica de mísseisEstava produzindo respiradoresNão sei se configurava triste ou doce ironiaE também nesta guerra novaO sangue estava presentePlasma de um infectadoMelhorando a situação de um outroO tempo avançando e memórias voltandoAcertaram bem no vidro dos meus olhosA lua foi saindo, permitindo que o solBrilhasse, como nunca, como sempreE máscaras caíram, quando veio o apagarDaquela noite com jeito de interminávelE subiu o nível da minha esperançaNão foi sonho, foi a purgação da era corona

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O supérfluo sentimento Marcos Carvalho Barras / PI

Esse amor ressequido,Cheio de escrúpulos e exageros.Um sentimento supérfluoQue traz muito desmantelo.

Cheio de diz e não diz, Querelas e picuinhas. Para mim já deu a questão. Para quê tanta ladainha.

Se a paixão não brotou, E a química não bateu, Não veio a conexão.Milagre não faz o coração.

Tem que ter aquele lampejo! Que faz a alma se entregar Aquele aperto no peito,Que vem o corpo arrematar.

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Passagem Adriana Pavani Barra Bonita / SP

É tempo de sentir saudade até do que não se esperavaE tempo de matar a saudade daquilo que nem se lembravaÉ tempo de não se ter certeza do que está por virE finalmente viver um dia de cada vez, como se nunca tivesse vivido.É tempo de desacelerar o coração e o pensamentoE não se deixar levar pelo tormento...das coisas que vêm e vão com o vento.

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Retrospecção Letícia Araujo Miranda Feira de Santana / BA

Pousando a mãoSobre o controleDa mente e da razãoImpossível não recordarO que foi em vãoTalvez tenha sido necessário

Talvez tenha sido exageradoMas uma convicção é certaTudo tende a ser indispensável

Quando tiver que relembrarNão sejas duro consigo mesmoSaiba ressaltarO breu e o índigo

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Paridade Adilson Roberto Gonçalves Campinas / SP

o portal se abriu em minha mente menteo passado que ficou escondido em um canto cantoe levei um ramo de árvore verde, uma muda mudao presente que imaginei no futuro do pretérito

nessa louca viagem o portão se reduz a um vão vãolamentos&esperanças de reter sua cara carademais uma viagem por séculos, pelo tempo temponublado como a visão que restou