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COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS XXV SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS SALVADOR, 12 A 15 DE OUTUBRO DE 2003 1 T94 - A01 SALTO DA DIVISA - REMANEJAMENTO DA POPULAÇÃO E REQUALIFICAÇÃO URBANA Eleonora Figueiredo de Souza Eduardo Barra Marco Antônio Coelho Isabel Ballesté Tarcisio Luiz Coelho de Castro ENGEVIX ENGENHARIA S/A RESUMO O projeto, aqui apresentado, procurou compensar os impactos na população e na infra-estrutura da cidade de Salto da Divisa, localizada no estado de Minas Gerais, decorrentes da formação do reservatório da UHE Itapebi, que está localizada no rio Jequitinhonha, próxima a cidade de Itapebi no estado da Bahia e também potencializar os aspectos positivos relativos a esta nova situação, na calha do rio, com a criação do lago. O alagamento de parte da área urbana de Salto da Divisa provocou impacto direto em cerca de 451 pessoas que moravam no local e foram remanejadas, e indireto na população das áreas contíguas que tiveram suas relações de vizinhança, pontos de referência na cidade e vias de acesso, modificadas. Dentre estes aspectos, pode-se citar entre compensações e incremento de atividades ligadas ao reservatório, os seguintes: Criação de um Novo Bairro para o remanejamento da população; Requalificação do espaço urbano na área marginal do rio Jequitinhonha; Melhoria das vias de acesso e do saneamento da cidade; Criação de locais de uso público para lazer, manifestações culturais e de convívio de uso institucional; Criação de locais de uso social e institucional Possibilidade de uso do reservatório para atividades de lazer. O Projeto Urbano para o Novo Bairro e para a área remanescente proporcionou elementos para a apropriação, pela população, de uma nova imagem da cidade. Por sua vez os serviços de drenagem e implantação de um sistema de esgotamento sanitário, contribuíram significativamente com a melhoria da

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COMITÊ BRASILEIRO DE BARRAGENS XXV SEMINÁRIO NACIONAL DE GRANDES BARRAGENS SALVADOR, 12 A 15 DE OUTUBRO DE 2003

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T94 - A01

SALTO DA DIVISA - REMANEJAMENTO DA POPULAÇÃO E REQUALIFICAÇÃO URBANA

Eleonora Figueiredo de Souza Eduardo Barra

Marco Antônio Coelho Isabel Ballesté

Tarcisio Luiz Coelho de Castro

ENGEVIX ENGENHARIA S/A

RESUMO O projeto, aqui apresentado, procurou compensar os impactos na população e na infra-estrutura da cidade de Salto da Divisa, localizada no estado de Minas Gerais, decorrentes da formação do reservatório da UHE Itapebi, que está localizada no rio Jequitinhonha, próxima a cidade de Itapebi no estado da Bahia e também potencializar os aspectos positivos relativos a esta nova situação, na calha do rio, com a criação do lago. O alagamento de parte da área urbana de Salto da Divisa provocou impacto direto em cerca de 451 pessoas que moravam no local e foram remanejadas, e indireto na população das áreas contíguas que tiveram suas relações de vizinhança, pontos de referência na cidade e vias de acesso, modificadas. Dentre estes aspectos, pode-se citar entre compensações e incremento de atividades ligadas ao reservatório, os seguintes: • Criação de um Novo Bairro para o remanejamento da população; • Requalificação do espaço urbano na área marginal do rio Jequitinhonha; • Melhoria das vias de acesso e do saneamento da cidade; • Criação de locais de uso público para lazer, manifestações culturais e de

convívio de uso institucional; • Criação de locais de uso social e institucional • Possibilidade de uso do reservatório para atividades de lazer. O Projeto Urbano para o Novo Bairro e para a área remanescente proporcionou elementos para a apropriação, pela população, de uma nova imagem da cidade. Por sua vez os serviços de drenagem e implantação de um sistema de esgotamento sanitário, contribuíram significativamente com a melhoria da

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qualidade de vida da população, uma vez que as condições sanitárias encontradas no local, principalmente nas áreas marginais aos córregos e drenagens urbanas, encontravam-se bastante degradadas, favorecendo a propagação de doenças de veiculação hídrica. ABSTRACT The following project seeks to compensate the impacts on the population and infra-structure of the city Salto da Divisa, located in the state of Minas Gerais, caused by the formation of the reservoir of the Itapebi Hydroelectric Power Plant, located in the Jequitinhonha river, close to the city of Itapebi, in the state of Bahia and enhance the positive aspects related to this new situation. The flooding of part of Salto da Divisa’s urban zone provoked a direct impact in aproximately 451 people that lived in the place and had to be relocated, and an indirect impact in the adjacent areas population that had their neighborhood relations, reference points in the city and access ways changed. Between these aspects, the following can be listed under compensations and enhancements of the activities related to the reservoir: Creation of the New District relocate the people;

Requalification of the urban space in the margin areas of the Jequitinhonha river;

Betterment of the city’s access ways and sanitation system;

Creation of public places for leisure time, cultural manifestations and living institutional use;

Creation of places of social and institutional use;

Possibilities of reservoir use related to recreational activities.

The Urban Project to the New District and to the remaining area furnished elements to the people’s apropriation of a new image of the city. The drainage services and the implementation of a sewer system contributed significantly to the betterment of the people’s life quality, since the sanitation conditions found in the place were greatly worn out, favoring the spread of water transmitted diseases. 1 – INTRODUÇÃO

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O objetivo foi planejar o Novo Bairro, redimensionar as infra-estruturas e propor um novo desenho urbano para a área marginal ao reservatório, na cidade de Salto da Divisa, que foram afetadas pelo reservatório da UHE Itapebi (ANEXO A). Nos estudos de viabilidade ambiental foram identificadas, dentre outras, as seguintes interferências principais: residências e benfeitorias de dois bairros da área urbana; parte da rede urbana de abastecimento de água e coleta de esgoto e trechos das vias de acesso, todas localizadas na área marginal ao rio Jequitinhonha; afogamento de drenagem natural dos córregos Lava Pés e do córrego entre a rua Rio Grande do Sul e rua Fernando Dias das Virgens; e afogamento dos Saltos no rio Jequitinhonha. Assim foram definidas, basicamente, as seguintes ações: • Remanejamento das famílias atingidas, através da criação de um novo

bairro;

• Requalificação das áreas urbanas, atingidas pelo reservatório, de forma a evitar a ocupação por atividades que comprometam a estabilidade do reservatório e criando mecanismos de dinamização das relações sociais na utilização destas áreas;

• Relocação e redimensionamento das vias de acesso afetadas, bem como

das redes de infra-estrutura que passavam por estas vias;

• Definição, em cooperação com a Prefeitura Municipal e com os representantes da comunidade, dos equipamentos de uso público, social e de lazer que deveriam ser implantados, na área remanescente após o enchimento do reservatório prevendo-se, ainda, os mecanismos que permitisse, à população remanejada, manter as relações previamente existentes;

• Saneamento da área marginal ao rio Jequitinhonha, afetada pelo

reservatório, através de obras de drenagem do córrego Lava-Pés e do córrego situado entre as ruas Rio Grande do Sul e Fernando Dias das Virgens, além da implantação de um sistema de esgotamento sanitário composto de coletores de esgotos, interceptor, elevatória e lagoa de estabilização.

2 – METODOLOGIA O documento inicial de referência foi o Estudo de Impacto Ambiental elaborado pela ENGEVIX para a obtenção da Licença Prévia do empreendimento, LP número 20/97, concedida pelo IBAMA em 18 de novembro de 1997. Os estudos complementares realizados durante o processo de obtenção da LP delimitaram, em linhas gerais, a área que sofrerá um projeto de reestruturação e redimensionamento de sua infra-estrutura, ao longo do reservatório, na área

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urbana da cidade de Salto da Divisa, tendo sido elaborado um estudo preliminar de reurbanização da área atingida. A pesquisa, junto à população atingida, realizada na fase do Projeto Básico Ambiental, forneceu os dados socioeconômicos censitários e as diversas reuniões, realizadas com a comunidade de Salto da Divisa durante e após o processo de licenciamento, bem como as pesquisas efetuadas junto aos órgãos da Prefeitura Municipal, forneceram os dados programáticos. A pesquisa de campo e o registro fotográfico permitiram a identificação dos padrões urbanísticos existentes e a paisagem local. Os levantamentos topográficos efetuados forneceram os elementos físicos para a elaboração dos Projetos Executivos Urbanos, de Edificações e de Saneamento, baseado nos dados acima citados. 3 - DIAGNÓSTICO DA CIDADE DE SALTO DA DIVISA 3.1 - CARACTERÍSTICAS FÍSICAS E URBANÍSTICAS A cidade localiza-se no extremo nordeste do Estado de Minas Gerais na margem direita do Rio Jequitinhonha, no trecho em que este faz a divisa com o Estado da Bahia, distando 854 km da capital mineira de Belo Horizonte. A cidade de Salto da Divisa está dividida em 6 (seis) bairros: Centro, Saudade, Barro Preto, Cansanção, Ipê e Nossa Senhora do Carmo, distribuídos sobre um conjunto de pequenas elevações rochosas situadas numa curva do Rio Jequitinhonha onde existia uma queda d’água: o Salto ou Tombo da Fumaça, afogada pelo reservatório. A área de expansão prevista para o município localiza-se no Bairro Nossa Senhora do Carmo. As características físicas e urbanísticas analisadas foram as seguintes:

Sistema Viário O sistema viário está adaptado à topografia e distribui-se ortogonalmente a dois eixos: Avenida Alziton Peixoto e Avenida Minas Gerais que se iniciam nos acessos da cidade, que a interligam a Eunápolis e Itagimirim, no estado da Bahia e a Almenara, no Estado de Minas Gerais. Esta estrutura viária cruzava os córregos existentes em diversos pontos, ultrapassando-os através de pontes de pequeno porte, mas em alguns trechos próximos ao Rio Jequitinhonha ela era interrompida, pois não existem pontes e a travessia só podia ser feita à pé, impossibilitando o percurso de um veículo ao longo da margem do rio.

Tipologia das Edificações O padrão construtivo das edificações, na época em que foi realizado o diagnóstico da cidade (1999), era médio e médio - baixo, com algumas

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construções de padrão superior. A distribuição espacial das edificações pelos bairros não espelhava claramente os extratos sociais, pois os diversos padrões convivem entre si, podendo ser encontradas edificações de padrão superior lado a lado com construções precárias ou localizadas em ruas sem pavimentação. As construções, na maioria para uso residencial, apresentavam-se com a mesma tipologia de duas águas de telhado, frente com porta e janela e praticamente sem afastamento frontal da testada do lote.

Áreas de Lazer e Arborização Existiam cerca de cinco praças, a maioria no Bairro do Centro, todas com poucos equipamentos, um estádio de futebol e algumas quadras. A estrada, de acesso à cidade que se conecta com a BR-101, estava sendo utilizada para a prática de caminhadas e de ciclismo, por falta de outras alternativas para a prática destes esportes. 3.3 - LEGISLAÇÃO URBANA E PROJETOS EXISTENTES A legislação existente, pertinente às questões urbanas, resumia-se num Código de Posturas que não incluía elementos de apoio ou referência aos estudos urbanos para a área afetada. Os projetos da Secretaria de Administração da Prefeitura Municipal previam melhorias nas redes elétricas e de esgoto, a canalização do Córrego Lava-Pés e os da Secretaria de Educação, a construção de quadras esportivas e melhoria de estradas de acesso à zona rural. O Movimento Cultural Saltense, entidade com apoio da Secretaria de Educação, que desenvolve diversas atividades ligadas às manifestações folclóricas e culturais da região, estudava uma proposta de restaurar o prédio de uma antiga fábrica, localizada na Rua Antonio Peixoto, no Bairro do Centro, para a implantação da Casa de Cultura Municipal. 4 - DIAGNÓSTICO DA ÁREA ATINGIDA 4.1 - DESCRIÇÃO GERAL A área urbana que foi alagada, pelo reservatório da UHE Itapebi, abrange parte dos Bairros Saudade e Barro Preto no trecho entre a Rua Porto Velho e a Rua Rio Grande do Sul, correspondendo a uma faixa com largura de 40 m, em média e cerca de 1.500 m de comprimento (ANEXO A). Com o aumento do nível d’água no rio Jequitinhonha, provocado pelo seu barramento, as águas atingirIam a cidade de Salto da Divisa nas suas ruas marginais e, também, através do córrego Lava-Pés e do córrego situado entre as ruas Rio Grande do

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Sul e Fernando Dias das Virgens, sobrelevando o nível d’água nos referidos cursos d’água. Com isso, as condições sanitárias encontradas no local, que já eram bastante precárias, seriam agravadas. Algumas construções, localizadas no final da Rua Direita, no Bairro do Centro, também seriam afetadas, embora neste trecho as vias fossem preservadas. 4.2 - ANÁLISE DOS DADOS FÍSICOS A análise dos dados físicos da área afetada, baseada no levantamento topográfico, considerou três curvas de níveis como referência:

Curva na cota 110 – limite do reservatório (sem influência do remanso) correspondente a elevação do nível d’água máximo normal do reservatório;

Curva na cota 113 – limite de desapropriação (com cálculo de remanso do reservatório e considerando a elevação do lençol freático nas margens);

Curva na cota 115 – limite da pesquisa.

A curva na cota 113 foi definida como limite de desapropriação levando em conta a possibilidade de elevação do lençol freático na passagem das maiores cheias. A curva na cota 115 foi utilizada como limite da pesquisa para abranger as propriedades atingidas indiretamente e que ficariam muito próximas do reservatório. A quantificação aproximada das benfeitorias e infra-estrutura, a serem relocadas, resultou em: 99 edificações e 266 m de vias e respectivas redes. 4.3 - ANÁLISE DAS CARACTERÍSTICAS URBANÍSTICAS As características urbanísticas da área atingida não diferiam muito do restante da cidade, tendo sido analisados os seguintes elementos: Vias As vias ao longo da margem do Rio Jequitinhonha, ruas Beira Mar e Boa Vista, possuíam o leito pavimentado, meio fio e sarjeta, mas em geral a calçada não era pavimentada. Estas ruas eram interrompidas pelos córregos existentes e, para a travessia, dispunham apenas de pontes precárias para pedestres ou trilhas sobre as pedras no fundo do vale dos córregos. As vias, em número de oito e que desembocavam nessas marginais, acompanhavam a topografia local e algumas, como a Rua Belo Horizonte, possuíam uma declividade bastante acentuada; Limites e Barreiras

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Os limites e barreiras da área de estudo, observados no local, eram: o Rio Jequitinhonha, limite fragmentário, que se encontrava a 30/40 m abaixo das Ruas Beira Rio e Bela Vista; o Córrego Lava-Pés, que atravessa a cidade, dividindo os Bairros da Saudade e do Barro Preto; um córrego de menor porte que também se constituía numa barreira no Bairro da Saudade; e outro córrego, localizado ao lado da Rua Porto Velho, definindo os limites do Bairro do Barro Preto e a transição da área urbana para a rural. Bairros Os bairros abrangidos pela área alagada, quando percorridos pelas vias marginais eram muito semelhantes, na tipologia das ruas e das edificações. Quando se percorria o interior dos mesmos já se podia identificar características que os diferenciavam: topografia, dimensão das quadras, existência de praças, arborização pública e relação com o rio Jequitinhonha. Marcos O Rio Jequitinhonha, apesar de não ser visível o tempo todo, era uma referência ao longo das vias que o margeavam e nas quais ouvia-se o barulho de suas corredeiras e quedas d’água. Para os habitantes da Rua Beira Rio cujas propriedades limitavam-se com o rio, constituía-se em local de cultivo de árvores frutíferas, criação de animais e lazer. No final da Rua Rio Grande do Sul podia-se observar o principal marco paisagístico da cidade: o Salto ou Tombo da Fumaça. 5 - PROJETO DE REMANEJAMENTO E REQUALIFICAÇÃO URBANA 5.1 - DIRETRIZES GERAIS DE PROJETO O Projeto de Remanejamento e Requalificação Urbana procurou criar condições para que a população da cidade de Salto da Divisa como um todo e, em particular aquela parcela que foi remanejada, usufrua novas e melhores condições de vida e de apropriação dos espaços públicos, incentivando-se o convívio, melhorando as condições de acesso e de infra-estrutura e, ainda, reformulando a imagem do Rio Jequitinhonha que teve a sua paisagem alterada. O projeto de requalificação urbana teve como principal condicionante o nível mínimo de projeto, definido em função das condições hidrogeológicas locais; e que correspondeu a 3 m acima do NA do reservatório. Além disso, foi necessário garantir a estabilidade dos taludes nas margens do reservatório, as condições de acesso às propriedades remanescentes, bem como o saneamento do córrego Lava-Pés. Desta forma, os recursos hídricos foram os indutores do desenho urbano, pois a canalização do Lava-pés e o aterro que se fez necessário para a regularização das margens proporcionaram a área necessária para a criação

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de espaços públicos. Por outro lado, a valorização do rio Jequitinhonha como espaço cênico determinou, tanto o traçado das vias de pedestres e de carros, como o local de implantação das construções comunitárias. Ao longo das diversas pesquisas, entrevistas e reuniões, junto à comunidade de Salto da Divisa, foi delineado o programa do projeto, de forma a atender as reivindicações da população referentes aos seguintes temas: equipamentos comunitários; implantação das residências; dimensões das caixas de ruas; acesso ao futuro reservatório e infra-estrutura de saneamento. A equipe enfrentou o desafio de adequar o programa, pretendido pela comunidade, não só aos limites orçamentários, como a escala urbana da cidade, evitando-se “importar” soluções existentes nas grandes metrópoles e procurando utilizar ao máximo os recursos de materiais e mão-de-obra existentes na região. A partir destes condicionantes e premissas consolidou-se o seguinte programa: AA ffoorrmmaaççããoo ddee uumm nnoovvoo bbaaiirrrroo,, ppaarraa aabbrriiggaarr aass ppeessssooaass qquuee ppeerrddeerraamm ssuuaass

mmoorraaddiiaass,, ccoommppoossttoo ddee:: llootteess ccoomm áárreeaa mmééddiiaa ddee 445500 mm²²;; rreessiiddêênncciiaass uunniiffaammiilliiaarreess ddee ddooiiss ee ttrrêêss qquuaarrttooss ccoomm áárreeaa ccoonnssttrruuííddaa eennttrree 7700 ee 8800 mm²²;; cceennttrroo ccoommuunniittáárriioo ccoomm ccrreecchhee ee ppoossttoo ddee ssaaúúddee;; áárreeaass ddee llaazzeerr ee eessppoorrttiivvaass;;

AA rreeuurrbbaanniizzaaççããoo ddaa ffaaiixxaa mmaarrggiinnaall aaoo ffuuttuurroo llaaggoo,, iinncclluuiinnddoo:: aa rreeccoommppoossiiççããoo ddoo ssiisstteemmaa vviiáárriioo ee ddaa iinnffrraa--eessttrruuttuurraa aaffeettaaddooss;; aa ccoonnssttrruuççããoo ddee uumm cceennttrroo ccuullttuurraall ee uumm cceennttrroo eessppoorrttiivvoo;; aa iimmppllaannttaaççããoo ddee uumm aattrraaccaaddoouurroo ddee bbaarrccooss,, ccoomm ccoonnssttrruuççõõeess ddee aappooiioo ppaarraa aass aattiivviiddaaddeess ddee ppeessccaaddoorreess ee llaavvaaddeeiirraass;; aa ccrriiaaççããoo ddee eessppaaççooss ppaarraa ddeessccaannssoo,, llaazzeerr ee aattiivviiddaaddeess iinnffaannttiiss;;

OO ssaanneeaammeennttoo ddoo nnoovvoo bbaaiirrrroo ee ddoo ccóórrrreeggoo LLaavvaa--ppééss ee ddaass ssuubb--bbaacciiaass ddee ccoonnttrriibbuuiiççããoo,, eexxiisstteenntteess nnaa áárreeaa ddee iinntteerrvveennççããoo,, iinncclluuiinnddoo--ssee uummaa rreeddee ddee ddrreennaaggeemm ee uummaa rreeddee ddee eessggoottaammeennttoo ssaanniittáárriioo ddiirreecciioonnaaddaa ppaarraa uummaa llaaggooaa ddee eessttaabbiilliizzaaççããoo,, pprroojjeettaaddaa ccoomm ccaappaacciiddaaddee ddee aatteennddeerr,, ffuuttuurraammeennttee,, àà ttooddaa aa ppooppuullaaççããoo..

55..22 -- PPRROOJJEETTOO UURRBBAANNÍÍSSTTIICCOO

OO PPrroojjeettoo UUrrbbaannííssttiiccoo eexxeeccuuttaaddoo aabbrraannggeeuu ooss ttrrêêss sseegguuiinntteess sseettoorreess::

• Nova Orla (ANEXO A) Compreende a área marginal do reservatório nos trechos em que o remanejamento da população diretamente atingida deixou terrenos livres a serem apropriados como espaços de uso público, protegendo o espelho d’água e criando mecanismos de dinamização das relações sociais. Ao longo da orla

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foram projetadas novas vias de interligação das áreas marginais ao rio, antes interrompidas pelos vales dos córregos existentes. PPeerrccoorrrreennddoo aa mmaarrggeemm ddoo ffuuttuurroo llaaggoo,, uummaa vviiaa ddee uussoo mmúúllttiipplloo ppaarraa ppeeddeessttrreess ee cciicclliissttaass ccoonneeccttaa ooss ddiivveerrssooss eeqquuiippaammeennttooss pprrooppoossttooss ddee uumm eexxttrreemmoo aaoo oouuttrroo ddaa cciiddaaddee,, aattéé aattiinnggiirr oo NNoovvoo BBaaiirrrroo,, ffuunncciioonnaannddoo ccoommoo eelleemmeennttoo ddee ccoommpplleemmeennttaaççããoo ddaa iinntteeggrraaççããoo pprreetteennddiiddaa..

A malha viária existente no entorno, além de receber melhorias, como calçadas, arborização e sinalização, foi ampliada e integrada à nova situação urbana.

• Novo Bairro (ANEXO B) Destinado a abrigar a população desalojada pelo enchimento do reservatório, foi implantado na área de expansão natural da cidade, junto a seu acesso principal. Foram adotadas soluções de traçado que permitissem fácil integração à tipologia espacial existente, visando à inserção do bairro na malha existente e descartando sua caracterização como “condomínio fechado”. Os espaços comunitários, que foram construídos na faixa de transição entre a nova zona residencial e a cidade existente, favorecem este contato. AA iimmppllaannttaaççããoo ddaass rreessiiddêênncciiaass nnaa tteessttaaddaa ddooss llootteess sseegguuiiuu oo ppaaddrrããoo ddee oorrggaanniizzaaççããoo eessppaacciiaall ccoonnssaaggrraaddoo ppeellaa ppooppuullaaççããoo,, ppeerrmmiittiinnddoo oo aapprroovveeiittaammeennttoo ddooss ffuunnddooss ddoo tteerrrreennoo ppaarraa ppeeqquueennaass ccuullttuurraass,, ccrriiaaççõõeess oouu sseerrvviiççooss.. OOss ttrrêêss ttiippooss ddee ccaassaass pprroojjeettaaddooss ffoorraamm ddiissppoossttooss ddee mmaanneeiirraa aalltteerrnnaaddaa ccoomm oo ffiimm ddee ccrriiaarr ccoonnjjuunnttooss ddiivveerrssiiffiiccaaddooss aaoo lloonnggoo ddaass rruuaass,, ccaarraacctteerrííssttiiccaa rreeffoorrççaaddaa ppeellaa ppiinnttuurraa ddaass ffaacchhaaddaass,, qquuee vvaalloorriizzaa aa iinnddiivviidduuaalliizzaaççããoo ddee ccaaddaa rreessiiddêênncciiaa aaoo uuttiilliizzaarr qquuaattrroo ccoorreess bbáássiiccaass eemm ddiivveerrssaass ccoommbbiinnaaççõõeess..

A faixa de proteção do córrego existente foi planejada como parque linear, servindo como complementação das demais áreas de lazer. • Centro Esportivo e Cultural (ANEXO C) Além de funcionar como principal canal de drenagem natural e despejo sanitário in natura da cidade, o córrego Lava-Pés configurava a maior ruptura na trama urbana. Após canalização e integração ao sistema de tratamento de esgotos criado, recebeu aterro sobre a galeria construída, onde foi projetado um amplo espaço público de esportes, lazer e convívio, com quadras esportivas, anfiteatros, recreação infantil e centro cultural. O que antes representava fragmentação urbana acabou se transformando em elemento de aglutinação social. 5.3 - PROJETO PAISAGÍSTICO Nas ruas reurbanizadas optou-se pelo adensamento da arborização ao longo dos meios-fios, objetivando a amenização climática.

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Ao longo da Nova Orla, no Centro Esportivo e Cultural, na Praça e no Parque Linear do Novo Bairro houve a preocupação de dotar o ambiente de grandes extensões sombreadas, em contraposição às áreas esportivas, obrigatoriamente ensolaradas. Grandes massas arbustivas foram previstas, com o intuito de proteger visualmente os terrenos voltados para estas áreas ou garantir a consolidação de taludes. A seleção de espécies, autóctones em sua grande maioria e de fácil aquisição no mercado, levou em consideração o aspecto cromático das florações, o calendário floral, a composição formal entre espécies de “arquitetura” diferenciada, as diversas texturas vegetais, a caducifoliedade e a adequação do sistema radicular em função de sua localização, procurando restaurar associações normalmente encontradas na Natureza. 5.4 - EQUIPAMENTOS SOCIAIS EEmm ttooddaass aass ccoonnssttrruuççõõeess ffoorraamm uuttiilliizzaaddooss mmaatteerriiaaiiss ee mmééttooddooss ccoonnssttrruuttiivvooss ttrraaddiicciioonnaaiiss,, ddee ffoorrmmaa aa aapprroovveeiittaarr ooss mmaatteerriiaaiiss ddiissppoonníívveeiiss nnaa rreeggiiããoo ee aa eennvvoollvveerr aa mmããoo--ddee--oobbrraa llooccaall nnããoo--eessppeecciiaalliizzaaddaa,, rreeffoorrççaannddoo ooss llaaççooss ccuullttuurraaiiss ee aaffeettiivvooss ddaa ppooppuullaaççããoo ccoomm ssuuaa mmeemmóórriiaa ddoo lluuggaarr.. AA ppeeddrraa ddee mmããoo,, aabbuunnddaannttee nnaass mmaarrggeennss sseeccaass ddoo rriioo ee jjáá eemmpprreeggaaddaa nnooss ccaallççaammeennttooss,, ffooii aapprroovveeiittaaddaa ttaammbbéémm ppaarraa aa eexxeeccuuççããoo ddee mmuurreettaass,, pprrootteeççõõeess ddaass ccoonnssttrruuççõõeess,, ttrreecchhooss ddee ccaallççaaddaass ee jjaarrddiinnss.. RReessppeeiittaannddoo oo cclliimmaa ttrrooppiiccaall úúmmiiddoo,, ffoorraamm pprroojjeettaaddooss ggrraannddeess eessppaaççooss aavvaarraannddaaddooss pprrootteeggiiddooss ppoorr ccoobbeerrttuurraass eemm tteellhhaass ddee bbaarrrroo,, ssoolluuççããoo qquuee rreessuullttoouu eemm aammbbiieenntteess ggeenneerroossaammeennttee vveennttiillaaddooss..

Os equipamentos sociais (ANEXO D) incluem: Centro Comunitário – situado no Novo Bairro, desenvolve-se em duas alas, incluindo espaços para atividades de apoio comunitário, posto médico, pré-escola e creche. Comunica-se com a área esportiva e de lazer através de escada desenvolvida em torno do coreto; Centro de Lavadeiras e Pescadores – situado à beira do reservatório e conformado por dois blocos interligados por uma pequena praça, destina-se a compensar os transtornos causados aos trabalhadores que tradicionalmente utilizam o rio para suas atividades de pesca e lavagem de roupas;

Centro Cultural – edificação que engloba espaços multifuncionais, podendo servir às diversas formas de manifestações culturais e de lazer: exposições, apresentações de música e dança, festas e folclore. Integrado à área externa com varanda, coreto e praça, o Centro Cultural é o principal foco de ligação entre a cidade e o reservatório, tendo o futuro lago como pano de fundo do anfiteatro. 5.5 - SANEAMENTO

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• Drenagem

Com a construção do barramento, o nível d’água do reservatório (cota 110,0 m) atingiria o centro da cidade de Salto da Divisa, através do córrego Lava-Pés, até as proximidades da rua Geraldo Sebastião Pimenta, e o Bairro da Saudade, através do córrego existente entre as ruas Rio Grande do Sul e Fernando Dias das Virgens. A solução encontrada para diminuir os impactos causados na cidade pela sobrelevação do nível d’água nos córregos já mencionados consistiu na execução de aterros nas áreas ocupadas pelos córregos e de um sistema de drenagem adequadamente dimensionado para garantir o perfeito escoamento de cheias com tempo de recorrência de 25 anos. A rede de drenagem consiste na canalização do córrego Lava-pés, no trecho que vai da Rua Samuel Lima até o reservatório, estando abaixo da cota 110 m (nível do reservatório) apenas o trecho final. O projeto de drenagem incluiu, ainda. a revisão e complementação da drenagem do córrego existente no bairro da Saudade, através de galeria em concreto com seção circular de 1,50m. Esta canalização vai desde a Rua Elpídio Alves Ferreira até o reservatório. • Esgotamento Sanitário Parte dos esgotos produzidos na cidade de Salto da Divisa eram captados por rede coletora, sendo, no entanto, lançados sem nenhum tipo de tratamento nos córregos que atravessam a cidade e, posteriormente, no rio Jequitinhonha. As condições sanitárias do rio Jequitinhonha próximo a Salto da Divisa já se apresentavam bem comprometidas em função dos esgotos lançados sem qualquer tipo de tratamento pelas cidades situadas a montante. Pelo seu pequeno volume, os esgotos lançados pela população de Salto da Divisa no rio não alteram significativamente a qualidade de suas águas. No entanto, os córregos que cortam a cidade apresentavam condições sanitárias bem degradadas, sendo utilizados como valas negras, o que agrava muito o quadro de saúde pública da região, através da proliferação de doenças de veiculação hídrica. A área afetada pelo reservatório foi beneficiada através da implantação de cinco coletores de esgoto e um coletor principal ao longo do reservatório. Este último leva todo o esgoto coletado para a estação elevatória. Da estação elevatória este esgoto é bombeado até a lagoa de estabilização, situada em terreno contíguo ao Novo Bairro. Como somente parte do esgoto, atualmente lançado no córrego Lava-pés, é coletado pelo sistema executado, foi projetado um desvio do esgoto dentro da galeria de drenagem do córrego Lava-pés, de modo a separar a contribuição de esgoto do córrego (à montante da área de intervenção) no período de seca. A este desvio, está associada uma pequena elevatória para interligação com a rede projetada. O pré-dimensionamento da estação elevatória e da lagoa de estabilização foi feito considerando o atendimento à população total da cidade, ou seja, 7.500 habitantes.

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6. CONCLUSÕES O Projeto de Remanejamento da População e Requalificação Urbana da cidade de Salto da Divisa, proposto para mitigar parte dos impactos ambientais do reservatório da UHE Itapebi, logrou atender de forma amplamente satisfatória os objetivos pretendidos dos Estudos Ambientais. O projeto além de minimizar os impactos do empreendimento potencializou os impactos positivos relativamente à implantação do reservatório quais sejam: • Implantação e integração do Novo Bairro com ampla aprovação da

comunidade;

• Execução de urbanização e tratamento paisagístico da área marginal com amplos espaços de uso público e lazer para comunidade e valorização paisagística dos recursos hídricos;

• Construção de Equipamentos Sociais: Centro Comunitário, Centro

Cultural, Centro de Lavadeiras e de Pescadores;

• Saneamento e Drenagem do Córrego Lava-Pés;

• Construção de interceptor de esgotos e sistema de tratamento para toda a área urbana de Salto da Divisa.

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ANEXO A SITUAÇÃO GERAL DA ÁREA DE INTERVENÇÃO

INSERIR ARQUIVO XXVCNGB_Engevix_SDivisa_AnexoA.jpg

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ANEXO B NOVO BAIRRO DE SALTO DA DIVISA

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ANEXO C CENTRO ESPORTIVO E CULTURAL

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ANEXO D EQUIPAMENTOS SOCIAIS