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3REVISTA PRESS186

“Eu aprendi que esportes e política não estão tão distantes. Eles são ambos um meio para o mesmo fim, que é a vitória. E por que não? Vencer é bom pra você, e não deixe ninguém dizer o contrário.”

Hunther S. Thompson (1937 - 2005)

“Jornalismo não é um esporte indivi-dual, é um esforço em equipe.”Adrian Anthony Gill (1954 - 2016)

"Você pode elogiar sem baju-lar e criticar sem ofender.”Armando Nogueira (1927 - 2010), ao orientar o jogador Júnior no seu primeiro dia como comentarista

Em agosto, completam-se 65 anos do lançamento do filme Roman Holiday (A Princesa e o Plebeu, na versão brasilei-ra). Dirigido por William Wyler, o filme conta a história de

uma princesa (Audrey Hepburn) entediada que resolve se divertir anonimamente em Roma. Lá, ela acaba se envolvendo com um re-pórter (Gregory Peck) que pretende se aproveitar da situação para dar um "furo". Diversas situações inesperadas acontecem, fazendo com que eles se aproximem e criando nele a dúvida se deve ou não publicar a história.

O filme ganhou o Oscar de Melhor Atriz para Audrey Hepburn, o de Melhor Figurino e o de Melhor Roteiro. Essa última premiação foi polêmica, uma vez que o roteirista, Dalton Trumbo, não podia levar os créditos por estar incluído na Lista Negra Anticomunista de Hollywood. Ian McLellan Hunter foi premiado em seu lugar. Trumbo só foi oficialmente reconhecido como o autor em 1993.

FANTÁSTICO, O SHOW DA VIDA

A Princesa e o Plebeu

Em 5 de agosto de 1973 a Rede Globo lançou o programa do-minical Fantástico, o Show da Vida. Formulado pelo então dire-tor de operações José Bonifácio de Oliveira Sobrinho, o Boni, o programa tinha o objetivo de ser uma revista televisiva, juntan-do informação e entretenimento, e composto por profissionais de jornalismo, dramaturgia e da linha de shows da emissora.

Após 45 anos, o programa ainda procura seguir seu objetivo inicial, com uma mistura de jornalismo, humor, dramaturgia, documentários e música, entre outros. É exibido em seis blocos e conta com média de duas horas de duração.

Entre os principais apresentadores e repórteres que já pas-saram pela história do programa estão Cid Moreira, Sérgio Chapelin, Valéria Monteiro, Ibrahim Sued, Alexandre Garcia, Willian Bonner, Celso Freitas, Fátima Bernardes, Sandra An-nemberg, Pedro Bial, Glória Maria, Patrícia Poeta, Zeca Camar-go, Renata Vasconcellos e Renata Ceribelli.

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SUMÁRIO

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Almanaque

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Aquário

MIX

Entrevista: Pedro Ernesto Denardin

Opinião: Mário Rocha

Matéria de Capa: Jornalismo esportivo

Coluna do Tibério Vargas

Grandes Nomes: Mário Filho

Galeria: As Copas na Imprensa

Sumário

Diretor-GeralJULIO RIBEIRO

Diretora-ExecutivaNELCI GUADAGNIN

Textos:MARCELO BELEDELI

Diagramação/ Arte Final ESPARTA PROPAGANDA

Imagens:Fotografias da entrevista:Jefferson Bernardes/Agência Preview

[email protected]

ImpressãoCOMUNICAÇÃO IMPRESSA

ComercializaçãoPORTO ALEGRE: (51) 3231 8181e (51) 99971 5805 comNELCI GUADAGNIN

PRESS e ADVERTISING SÃO PUBLICAÇÕES MENSAIS DA ATHOS EDITORA, COM CIRCULAÇÃO NACIONAL, SOBRE OS MERCADOS DE COMUNICAÇÃO E IMPRENSA BRASILEIROS. OS ARTIGOS ASSINADOS E OPINIÕES EMITIDAS POR FONTES NÃO REPRESENTAM, NECESSARIAMENTE, O PENSAMENTO DA REVISTA.

RUA SALDANHA MARINHO, 82 PORTO ALEGRE - RSCEP 90160-240 FONE/FAX (51) 3231 8181

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colegas da “melhor das profissões” que não estão mais conosco, mas deixaram um legado de compromisso éti-co e profissional para as novas gerações de jornalistas do nosso estado.

O livro tem distribuição gratuita para jornalistas, alu-nos e professores de comunicação, bibliotecas e líderes de opinião do Rio Grande do Sul.

A Athos Editora lançou o 4º volume da série No-mes Que Fizeram a Imprensa Gaúcha, obra que teve patrocínio da Celulose Riograndense e Corsan, e traz resumidas biografias de dez

profissionais de comunicação que ajudaram a formar a história do jornalismo no Rio Grande do Sul. Foram eles: Bira Valdez, Celito de Grandi, Clóvis Duarte, Danilo Ucha, Jayme Copstein, Jose Abraham, Paulo Sant’Ana, P.F. Gas-tal, Plínio Saraiva e Tatata Pimentel.

A cerimônia de lançamento ocorreu dia 18 de julho no salão Negrinho do Pastoreio, do Palácio Piratini. O even-to teve um tom bastante emocional, com a presença de jornalistas que conheceram, conviveram e trabalharam com algum ou vários dos biografados, familiares dos ho-menageados e até do governador José Ivo sartori, cujo gabinete é ao lado do salão Negrinho do Pastoreio e apro-veitou para cumprimentar os presentes.

O professor Sergio Nogueira Duarte, irmão de Clóvis Duarte, falou em nome dos familiares dos homenagea-dos. Bastante emocionado, ele lembrou que o irmão, an-tes de ser jornalista foi professor, um grande professor, que soube reunir um time de excelentes para formar o primeiro curso pré-vestibular do Rio Grande do Sul, o IPV e que acabou sendo o berço de muitas carreiras impor-tantes no jornalismo, na educação e na política gaúcha.

Julio Ribeiro, diretor Geral da Athos Editora, também se emocionou a lembrar passagens de sua vida com vá-rios dos nomes presentes nesta 4ª edição, destacando a sua alegria em poder fazer esse reconhecimento aos

Nomes que fizeram a Imprensa Gaúcha Vol.IV

LANÇAMENTO

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Desde a aprovação pela Assembleia Legislativa, em 2016, da extinção da Fundação Piratini, o governo do Estado pare-cia não saber ao certo o que fazer com a TVE e da FM Cultura. Funcionários foram encaminhados para outros órgãos e se-cretarias, e as emissoras continuam no ar exibindo principal-mente reprises e a programação nacional. No dia 18 de julho, no entanto, o Palácio Piratini anunciou que irá realizar a con-cessão da operação a uma empresa privada, através de uma licitação que ocorrerá depois das eleições de outubro. Ainda assim, a responsabilidade sobre o conteúdo e a programação continuarão com o poder público.

O imbróglio da Fundação Piratini

MIX

Orestes de Andrade Júnior, diretor de Radiodifusão e Audiovisual da Secom RS, presidente da Fundação Piratini durante seu processo de extinção, aceitou convite do prefeito Nélson Marchezan Júnior e assumiu a Secretaria de Comunicação da Prefeitura de Porto Alegre.

Troca de cargo

Desde a aprovação pela Assem-bleia Legislativa, em 2016, da extin-ção da Fundação Piratini, o governo do Estado parecia não saber ao certo o que fazer com a TVE e da FM Cul-tura. Funcionários foram encaminha-dos para outros órgãos e secretarias, e as emissoras continuam no ar exi-bindo principalmente reprises e a programação nacional. No dia 18 de julho, no entanto, o Palácio Piratini anunciou que irá realizar a concessão da operação a uma empresa privada, através de uma licitação que ocorrerá depois das eleições de outubro. Ain-da assim, a responsabilidade sobre o conteúdo e a programação continua-rão com o poder público.

Terreno deve receber Centro

de Segurança

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sustentar a arrancada de uma fake news.

Mas, o componente mais podero-so para a aceitação, compartilha-mento e propagação de uma noti-cia falsa é o fato de que queremos acreditar naquilo, queremos muito que aquilo seja verdade. Ou porque o fato noticiado atende aos nossos interesses ou porque eles reforçam nosso pensamento, posicionamen-to e opinião sobre as coisas.

Se eu não gosto da Globo e nem do Pablo Vittar, como rejeitar uma notícia de que os dois se juntaram? Se eu acho o Gilmar Mendes asque-roso porque não acreditar que ele mandou cancelar um programa po-pular de tevê? Se eu quero muito a intervenção militar no Brasil, por-que não sonhar que o país e o orga-nismo mais poderoso do mundo são a favor disso?

Só se engana com fake news quem quer se enganar, quem quer muito que aquela noticia falsa seja verdadeira.

Esse é o mesmo fenômeno que leva muita gente a cair em golpes de estelionatários. Elas querem acre-ditar no que os malandros lhe con-

tam. Não por outra razão, há muitas décadas milhares de pessoas, de sul a norte do Brasil, continuam cain-do, por exemplo, no manjado golpe do bilhete. Eu quero acreditar que, se eu pagar apenas o equivalente a 10%, 15% do valor do prêmio, vou ficar com a bolada toda.

O mesmo se dá com as promessas de políticos. Nós acreditamos por-que queremos acreditar, porque desejamos muito que aquilo que ele está dizendo é verdade e vai ser fei-to. Queremos ser enganados. Agora, com o início da campanha eleitoral no rádio e na tevê vamos ouvir e ver de tudo. No que podemos acreditar? De verdade? Em muito pouco. Mas, milhões de pessoas vão acreditar nos mais acabados absurdos, ainda que nos próximo ano tudo continue como antes no quartel de Abrantes, enquanto Pablo Vittar canta ilariê com os baixinhos.

REVISTA PRESS186

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O que têm em comum essas cinco manchetes aí de cima? São algu-mas das inúmeras fake news espa-lhadas na internet brasileira no úl-timo ano, e que milhões de pessoas acreditaram que fossem verdade.

Como pode alguém acreditar em coisas como essas? Bem, são muitas as razões para que as fake news re-cebam status de verdade, de notí-cia-bomba, e sejam compartilhadas com a velocidade da luz, no Brasil e no mundo.

Todas elas têm um tom sensacio-nalista, emprestado pelo absurdo. E o ser humano gosta, adora o bi-zarro, o inusitado, o absurdo. Como vou segurar uma “notícia” tão es-petacular como essa!?

Toda boa notícia falsa tem algu-ma dose de verdade, que a torne minimamente verossímil. De fato, Pablo Vittar tem ganho espaços generosos na mídia brasileira, a suprema corte tem se metido em tantos assuntos diferentes, Gilmar Mendes tem dado sentenças ina-creditáveis, muitas leis e regras re-ferente a gênero têm sido editadas e os EUA são militaristas. E essa go-tinha de verdade é suficiente para

—“Pablo Vittar vai apresentar programa infantil na Globo”— “STF autoriza monitoramento do whatsapp”

— “Gilmar Mendes mandou cancelar Big Brother”— “Projeto de lei vai exigir uniformes unis-

sex nas escolas a partir do próximo ano”— “EUA e ONU sugerem intervenção militar no Brasil”

Queremos ser enganados

AQUÁRIO

JULIO [email protected]

Julio Ribeiro é jornalista e publisher da Athos Editora

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Em grave crise financeira, o Grupo Abril realizou mudan-

ças na direção. Giancarlo Civita, da família fundadora da com-

panhia, que publica as revistas Veja, Exame, Claudia, Quatro

Rodas, entre outras, cedeu a presidência para Marcos Haa-

land, sócio da consultoria especializada em reestruturação fi-

nanceira Alvarez & Marsal. Em junho, o grupo já havia muda-

do a sede da empresa para um edifício menor. Em relatório da

PriceWaterhouseCooper’s, a auditoria chama atenção para os

consecutivos prejuízos apurados pelo grupo. Em 2017, foram R$

331 milhões; e em 2016, R$ 137 milhões. O patrimônio está nega-

tivo em R$ 715 milhões.

Reportagem da Folha de S. Paulo em julho citou uma pesquisa

que avaliou as consequências do fechamento de 296 jornais em

diversas cidades dos EUA. O estudo, de autoria de três econo-

mistas, concluiu que a falta da imprensa local e de sua fiscaliza-

ção sobre o poder público afeta negativamente as finanças dos

governos, pois eles pagam mais para pegar dinheiro empresta-

do. No intervalo de três anos após o fechamento dos jornais, os

juros dos títulos públicos municipais em suas áreas de cobertura

cresceram, em média, entre 0,05 ponto percentual e 0,1 ponto

percentual a mais do que em regiões que não enfrentaram a

perda de veículos.

Apesar da migração cada vez mais forte para o digital, pare-ce que, em certos momentos, o jornal impresso é insubsti-tuível. A vitória da seleção da França na Copa do Mundo de Futebol resultou em uma corrida à bancas e ao recor-de de tiragem do principal jornal esportivo francês, o L'Equipe. Um dia após a con-quista, o diário circulou com 1,2 milhão de cópias. Mas isso não foi o suficiente para aten-der o frenesi dos torcedores, e foram rodadas mais 400 mil unidades. Em julho de 2017, o L'Équipe manteve uma circu-lação média em torno de 300 mil cópias diárias.

Jornal tem recorde de tiragem com vitória da França na Copa

FALTA DE VEÍCULOS LOCAIS PREJUDICA FINANÇAS DE CIDADES DOS EUA

MIX

Mudanças no Grupo Abril

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Essa foi tua 11ª Copa do Mundo, a primeira foi a de 1978 na Argenti-na. O que teve de diferente nesta, em relação às outras?

Se compararmos com a Copa feita no Brasil, em 2014, e a da África do Sul, em 2010, a da Rússia foi, imen-samente, melhor. Em organização, transportes, estádios, atendimento ao público. Para dar uma ideia, no último jogo, cinco horas antes da partida já estavam abertas as ten-das de alimentação com 30 check outs. Ao passo que no Brasil e na África do Sul teve problemas de transportes, estádios que não esta-vam prontos.

cidas são geralmente as mesmas. O que houve na Rússia foi um esque-ma de segurança mais forte, eles têm uma ideia de autoproteção forte.

E a população, o que deu para sentir deles em relação ao gover-no do Vladimir Putin, em relação à política?

Uma parte da população, que durante o regime soviético tinha, através do governo, emprego e be-nefícios garantidos, não precisava apresentar resultados para sobre-viver, não está gostando do capi-talismo. Mas, os que não tinham, e acho que são a maioria, pelas pes-soas que encontrei, acham que me-

Dá pra aproveitar as cidades numa cobertura de Copa?

Não muito. Posso dizer que co-nheço superficialmente cinco cida-des da Rússia. A mais difícil de co-nhecer é Moscou, porque é muito grande, é uma São Paulo, com qua-se 20 milhões de habitantes, cheia de automóveis, engarrafamento. No entanto, lá tem um serviço de metrô extraordinário, melhor que o de Paris. Cidades como Samara, Rostov, Kazan, dá pra conhecer bem melhor, porque são menores.

O astral das copas é parecido ou muda conforme o país?

É muito parecido porque as tor-

“Se eu disser que sou colorado ou gremista, metade da torcida rival

não vai me ouvir. Eu faço a alegria da torcida, é o que o narrador

tem que fazer”Poucas vozes são tão reconhecidas no Rio Grande do Sul quanto a Pedro Ernesto Denardin. Aos 68 anos, o radialista

e narrador é uma figura carimbada do rádio gaúcho, especialmente da cobertura esportiva. Com frases marcantes - mui-tas vezes polêmicas - e um estilo de narração inconfundível. Criado no bairro Glória, em Porto Alegre, Denardin, que fora taxista dos 18 aos 21 anos, começou a narrar futebol em 1973, quando participou de um concurso da Rádio Gaúcha. Ficou em segundo lugar (o vencedor foi Newton Azambuja), mas foi chamado por Marne Barcelos para ser narrador da Rádio Farroupilha. Sua primeira narração foi a vitória do Internacional sobre a Portuguesa, por 1 a 0, no estádio Beira--Rio, em 12 de dezembro de 1973.Já na Rádio Gaúcha, em 1978, participou da cobertura da Copa do Mundo da Argentina. No mesmo ano, assumiu o programa Show dos Esportes. Com a aposentadoria de Armindo Ranzolin, assumiu o posto de primeiro narrador da Gaúcha em 1996, quando narrou o primeiro clássico Grenal. Em 2012 passou a comandar o Sala de Redação, tradicional programa de debates da Gaúcha. Com 45 anos de rádio, Pedro Ernesto Denardin diz que não planeja se retirar tão cedo da narração. “Vou trabalhar até que tenha saúde”, afirma. Nesta entrevista para revista Press, Denardin fala sobre sua carreira, a cobertura da Copa do Mundo, as mudanças no jornalismo esportivo e outros temas.

PEDRO ERNESTO DENARDIN

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Entrevista:Julio Ribeiro

Marcelo Beledeli

Fotos:Marcos Nagelstein /

Agência Preview

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ENTREVISTA

lhorou bastante, eles têm acesso a várias coisas que não tinham.

Essa foi uma copa onde “todo mundo era João”, onde nenhum time se destacava?

Teve muitos times iguais, não houve um grande time, um grande jogador. Fiquei um pouco decep-cionado com a Copa. A ponto de chegar em Porto Alegre, ver o jogo do Grêmio contra o Atlético Mi-neiro e ficar maravilhado. Não vi aquilo na Copa. Não vi um grande time com superioridade, que tenha jogado, avançado.

O Brasil merecia ter ganhado?Acho que sim. O Brasil foi melhor

do que os outros, mas foi eliminado por um jogo acidental. O Brasil era melhor que a Bélgica, nós ganharí-amos. Mas, daí levamos um gol con-tra. Então ataca, e toma um contra ataque, dois a zero. Daí fica difícil.

O que teve de diferente dessa derrota contra a Bélgica para o 7x1 contra a Alemanha? Naquele caso, o resultado também não se deu por uma circunstância?

Sim, mas tem que pegar o histó-rico da Seleção comandada pelo Felipão. Em 2014, contra a Croácia ganhamos com erro de arbitragem. Empatamos com o México. Quase perdemos pro Chile. Quase perde-mos para a Colômbia. O Brasil não teve uma manifestação de supe-rioridade como teve nesta última Copa. No caso do Mundial do Bra-sil, nós não perdemos para o Chile por detalhe, teve bola na trave no segundo tempo, o goleiro fez uma defesa maravilhosa, a gente iria ser eliminado pelos chilenos. Era pra ter sido eliminado pela Colôm-bia. O Brasil não ganhou do México, agora ganhamos dos mexicanos, e com sobra. Já no caso do 7x1, temos que analisar duas coisas. Primeiro, o Brasil foi mal escalado pelo Feli-

pão. Ele colocou o time pra frente, pronto pros alemães fazerem qual-quer ataque, porque eles chegavam e não tinha ninguém pra marcar, e foram empilhando gol. E segundo, são aquelas coisas anormais que acontecem em futebol, entrou um gol, entraram dois, daí quando vê são quatro ou cinco.

Como explica que a Alemanha campeã do Mundo em 2014 seja eliminada, na Copa seguinte, du-rante a primeira fase?

Isso não é anormal. A França foi campeã em 1998 e não passou da primeira fase em 2002. A Itália ga-nhou em 2006 e não passou da pri-

meira fase em 2010. A Espanha foi campeã em 2010 e foi eliminada em 2014. Não consigo entender muito isso. Não sei se é salto alto ou não.

Nesta Copa foi adotado o VAR (ví-deo-arbitragem). Ele é eficiente? Resolve ou não os problemas?

O VAR é uma tecnologia que veio para ficar. Mas eu não gos-to do VAR, por que vai muito da interpretação. Houve pênalti no lance com o Gabriel Jesus contra a Bélgica? Um acha que sim, outro pode achar que não. Em qualquer discussão esportiva cada um tem uma opinião, então não adianta. No futebol, a grande maioria dos

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"Em 1978, fiz uma entrevista exclusiva de 30 minutos com o técnico da Argentina, César Luis Menotti, dentro da concentração. Hoje, isso seria impossível."

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PEDRO ERNESTO DENARDIN

problemas são casos de interpre-tação. E sendo interpretação, cada um tem a sua.

Talvez seja o caso de adotar uma solução como o desafio que é usa-do no tênis?

É uma possibilidade que seria interessante. Por exemplo, ter dois lances que o treinador do teu time pode pedir para o VAR tirar a dú-vida. Acho que aí fica melhor. E o resto, deixa correr, deixa o juiz de-cidir. Sendo coisas subjetivas não adianta colocar tecnologia. Futebol é feito de erros humanos.

Mas não é sacanagem, por exem-plo, uma Copa do Mundo ser ven-cida por causa de um gol de mão?

Um gol de mão é algo objetivo, dá pra chamar o VAR. Em 1966, a Copa da Inglaterra, os ingleses venceram com uma bola que não entrou no gol. Pelo menos isso tem solução na própria bola, não é interpretativo, a tecnologia de li-nha de gol mostra se entra ou não. Mas lances com mão podem ser opinião. Ele levantou a mão? Não podia tirar a mão? Começa uma discussão. Na Alemanha houve um caso interessante. Houve um toque de mão numa partida, o árbitro não viu e terminou o jogo. Daqui a pouco manda chamar os jogadores que estavam no vestiário pro cam-po pra bater um penálti, porque o VAR só marcou a mão depois do apito final. Então, uma coisa des-sas não pode deixar para o VAR, tem que entregar para o juiz.

O que mudou no jornalismo es-portivo nos teus 40 anos cobrindo Copas?

Em 1978 fiz uma entrevista ex-clusiva de 30 minutos com o téc-nico da Argentina, César Luis Me-notti, dentro da concentração da Argentina. Hoje, treinador só dá coletiva, dentro de uma sala cheia

de propagandas, com uns 200 re-pórteres. Em 1986, no México, fiz uma entrevista exclusiva de 15 mi-nutos com o Maradona, que viria a ser o melhor jogador da Copa. E isso não tem mais. Hoje é uma mul-tidão, são mais de 15 mil creden-ciados para Copa do Mundo.

Porque houve tamanho aumento do número de jornalistas? Temos mais veículos, com a internet? Os custos baratearam?

Em 1978, na Argentina, custava de US$ 3 mil a US$ 4 mil a trans-missão de um jogo pela linha te-lefônica. Isso hoje é de graça, por causa da internet. O que é caro é o custo da Fifa, dos direitos. A Rádio Gaúcha deve ter gasto R$ 2 milhões para cobrir a Copa da Rússia. Mais de R$ 1 milhão vai para a Fifa. Gas-ta-se US$ 6 mil por jogo para ter o espaço no estádio, US$ 20 mil alu-guel de escritório para transmis-são, que às vezes é melhor até do que estádio para narrador, porque tem muito apoio, sinaliza quando tem VAR, mostra replay, te dá a es-calação. Para narrador é bom por-que ajuda a não errar, e narrador sempre erra alguma vez.

Tu erras ainda? Está errando cada vez mais?

A tendência é errar cada vez mais (risos). “A bola foi pro fula-no”, mas não era ele, e aí? Não tem como narrar o jogo de um time que nunca viu e acertar todos, isso não existe. Até uns 10, 15 minutos tu fi-cas tateando, depois já sabe como fulano corre, sabe diferenciar.

E na questão de conteúdo, de co-bertura, o que achas que mais mudou?

Eu gostava mais antes, a gente tinha mais informações, mais inti-midade com a notícia. Como disse antes, falei sozinho com um técnico da Argentina que foi campeão do

mundo, por 30 minutos, apenas eu e ele. Hoje tu fazes uma pergunta e cai fora, porque vêm os outros fa-zendo perguntas também. A gente conseguia entrar no vestiário, ba-tia na porta e pedia para chamar jogador, técnico, para conversar, e eles vinham. Não tinha asses-sor de imprensa sendo escudo de jogador. Apesar de que acho que é necessário ter assessoria. Hoje tem o cara do blog, TV, internet, rádio, YouTube, são 50 pessoas, o jogador precisa ter alguém que faça sustentação, seleção, senão ele passa o dia dando entrevista. Eu entendo isso. Só que, às vezes, o assessor de imprensa exagera, não libera o contato, e tu não tens mais intimidade com a pessoa. Então o conteúdo jornalístico ficou bem mais pobre.

A linguagem usada também mu-dou?

Hoje o comentário esportivo está muito no “futebolês”. Às vezes os caras me chamam de velho. Mas o que alguém quer dizer “jogou no 4-1-4-1 com variação para o 4-2-3-1”? E o mapa de calor deu isso, e a posse de bola foi de 78%. Ok, mas o que eu faço com isso? Os times que tiveram mais posse de bola na Copa do Mundo foram eliminados antes. O Brasil perdeu num jogo em que teve mais posse de bola que a Bélgica. Não adianta, tem que ter efetividade. Isso são coisas novas que chateiam. O scout (aná-lise de desempenho) é algo que é o treinador que tem que ter. “Ah, fulano acertou 180 passes.” Pega o Douglas do Grêmio, por exemplo. O Douglas tem o “passe vertical”, a ideia dele é pifar o companhei-ro e colocar ele na cara do gol. O D’Alessandro, no Inter, também costuma fazer isso. Então, eles têm muito mais chances de errar do que o Edinho, que largava a bola do lado. Largando do lado tu tens

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ENTREVISTA

que acertar todas. Agora, meter lá na cara do gol para o colega fazer, tem muito mais chance de errar. Eu vi muito jogo em que a informação que se tinha era que quem tinha mais acertado passe era o Edinho. Legal, mas e o que se faz com os passes dele?

Outro exemplo, mapa de calor. Isso não entra em campo. Daqui a pouco o juiz não dá um pênalti ou o Fernandinho faz um gol contra e aí termina a importância do mapa de calor. A beleza do futebol é o im-ponderável. E a análise do futebol é muito humana, subjetiva.

Quantas copas ainda quer fazer?Pelo menos uma, acho. Vou traba-

lhar enquanto tiver saúde. Não te-nho data para deixar de trabalhar, e não quero parar. E não é uma questão de não largar o osso. Se chegar um guri que seja melhor do que eu ele vai pegar meu lugar, na-turalmente. Vai chegar um tempo que vou sair. Esses tempos manda-ram uma carta, dizendo algo como “saiu fulano, saiu sicrano, o próxi-mo vai ser você”. É claro que o pró-ximo vou ser eu, estou com quase 70 anos, não vai ser o Diogo Olivier, que está com 50. É lógico que o pró-ximo sou eu.

Tu tiveste uma doença que te cau-sou problemas, o que foi?

Tive Miller Fisher, que é uma variante da síndrome de Guillain--Barré, que paralisa completa-mente o corpo. No meu caso, tive paralisia nas pernas e na voz. As causas não são determinadas. Eu fui ao Paraná para cobrir um jogo e comecei a sentir uma dor intensa no corpo, e não passava. Isso foi no domingo. Cheguei na segunda-feira de manhã e minha esposa me levou para o médico, e ele mandou que eu fosse internado. Aí no hospital não consegui mais caminhar, e logo não conseguia mais falar. Fiz uma bate-

ria de exames, não apareceu nada, importaram medicamentos dos Es-tados Unidos para me dar e comecei a reagir. Mas fiquei 60 dias fazendo fisioterapia e fonoaudiologia.

Já fazia exercícios para a voz?De 15 anos para cá tenho fonoau-

diólogo. A corda vocal é um mús-culo, se exercitar te dá mais ampli-tude. Então faço musculação para a voz.

Quais os narradores que mais te influenciaram?

Tem um cara que gosto muito que é o José Silvério, da Bandeirantes. Os do Rio de Janeiro, acho que tem um valor extraordinário, mas ele fazem uma narração muito cario-ca que não tem sentido aqui. Gos-tava muito do Armindo Ranzolin, do Mendes Ribeiro, Pedro Carneiro Pereira. Seguia muito a linha deles, hoje já digo umas bobagens que eles não diriam (risos).

Teve aquela vez que disseste, so-bre o Diego do Inter: “esse meni-no, que nem tem ainda os pelos pubianos…”

E o pior é que marca isso (risos). Mas o guri tinha 16 anos. Vou dizer o quê, que não tem carteira de mo-torista? Isso todo mundo diz.

Outra polêmica foi aquela vez do “Inter rasga a camisa do São Paulo”, não?

Aquilo foi um exagero. Eu me emocionei, 2x0 pro Inter, Morum-bi lotado, São Paulo era campeão do Mundo, daí me empolguei. Mas ofendi os caras, isso não dá para fazer, ainda mais hoje, com rede social. Hoje já limpei a barra. Mas com esse episódio meu nome fi-cou conhecido em todo o Brasil. Só não dei entrevista pra Globo, todo mundo queria saber porque eu disse aquilo. Eu só me emocio-nei com o gol.

Aqui no Estado sempre se disse que por causa da “grenalização” um narrador, jornalista, não pode dizer para quem torce. Isso ainda é válido?

Se eu disser que sou colorado 50% dos gremistas não vão me ouvir. Se disser que sou gremista, 50% dos colorados não vão me ou-vir. Eu faço a alegria da torcida, é o que o narrador tem que fazer. O narrador é um contador de histó-ria, ele não tem que ter lógica, não tem que ter dimensão do que está dizendo, ele pode exagerar. Co-mentarista que tem que colocar as coisas em ordem, “estou achando isso, está difícil aquilo”, etc.

Tu vais pra narração com frases prontas para usar, ou inventas na hora?

Cada jogo é um jogo, cada gol é um gol, não tem o que inventar antes. As coisas não se repetem em futebol. O jogo do Inter contra o São Paulo,na Libertadores de 2006, teve o “demaaais, demaaais”, que pegou. As pessoas imitam, gostam dessas bobagens. Pode fazer uma narração legal, um texto bom, mas daí larga um “não tem completos os pelos pubianos”, isso vira man-chete! Uma vez, Libertadores de 2007, Grêmio contra o Defensor do Uruguai, 2x0 para o time uruguaio lá, daí o Grêmio faz 2x0 no jogo de volta aqui, e foi para os pênaltis. Daí foi um dos jogadores do De-fensor cobrar, se errasse o Grêmio classificava para as quarta de final. Errou e saiu um “foi lá na casa do cacete”! Isso virou moda depois.

Como fazer uma narração anima-da se o jogo é chato?

Sim, tem muito jogo chato, mas tem que pensar o seguinte, tem sempre alguém ouvindo, e essa pessoa merece respeito, e tu tens que ter um mínimo de trabalho. Claro, tu podes não estar motiva-

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A imagem do Neymar se recupe-ra?

Sim, claro. Agora vão sair o Messi e o Cristiano Ronaldo, estão prati-camente fora da Copa em 2022, pela idade vão ser praticamente ex-atletas. O Cristiano Ronaldo vai ter 37 anos, vai jogar com limita-ções. O Neymar vai ter 30 anos em 2022. Ele vai ser, a partir de agora, o melhor jogador do mundo.

O que tu achas da nova geração de jornalistas esportivos?

A qualidade dos novos jornalis-tas é boa. Os jovens estão muito bem informados, porque a televi-são coloca tudo dentro da tua casa. Meu filho tem 20 anos e conhece qualquer jogador de qualquer time da Europa, mais que eu. O proble-ma dessa gurizada é que eles dão muita importância para o scout. Quando falam em mapa de calor, eu pergunto: o atendente do posto de gasolina, sabe o que é mapa de calor? Sabe o que é esquema rea-tivo?

Mas na crônica esportiva exis-tiam textos rebuscados, como do Nelson Rodrigues, Mário Filho, Armando Nogueira…

Não tem problema. No jornal, quem não quer ler apenas vira a página. No rádio, se não quer ou-vir troca de estação, e daí tu per-des o ouvinte. Para um jornal isso é possível. Mas na rádio, se o ou-vinte não te entende ele muda de estação, e aí se perde o cliente. Isso quem me explicou foi o Ruy Carlos Ostermann, que era um cara que tinha um texto mais rebuscado: no rádio é preciso falar o que todo mundo entende. Eu digo isso para o pessoal mais novo na rádio, se é para falar algo complicado, então traduz: “esquema reativo, que é uma retranquinha amiga”. Se dis-ser que é uma retranca, todo mun-do entende.

PEDRO ERNESTO DENARDIN

do, mas daí tem que virar um artis-ta, motivar na marra.

O lobby de empresários, assesso-res, para que jornalistas falem de seus jogadores, clubes, é forte?

Ainda existe lobby, mas não é muito não. Tem empresário, as-sessor, que fica brabo porque de-ram pau no jogador dele. Quem fica brabo e me liga para reclamar eu digo: “faz o teu cara jogar bem que eu elogio”. Na RBS a gente tem muito cuidado com isso, e aqui no Rio Grande do Sul acho que as ou-tras empresas também. Mas, em outros estados, sei que tem pro-fissionais que ganham com isso, fazendo merchandising de alguns jogadores, ou clube. Nós cuidamos muito isso porque desmoraliza muito o trabalho. E todo mundo fica sabendo quando acontece. Já chegaram pra mim “fala de fulano, eu te dou 20%, fica só entre nós”, isso nunca fica “só entre nós” (ri-

sos). Quem fizer isso está morto. Se eu disser que um jogador é bom, e o cara não joga nada, isso te des-moraliza. Para ter longevidade na carreira não tem como fazer isso.

O que achaste das brincadeiras com a atuação do Neymar na Copa?

Acho até que foi bullying. O Ney-mar foi mal no primeiro jogo, todo mundo ficou fazendo brincadeira com o cabelo dele. Mas em 2002 o Ronaldo tinha aquele cabelo no estilo Cascão. Ganhou e ninguém falou dele. O futebol tem uma pa-lavra mágica: vitória. Se ganhar está tudo certo, se perder está tudo errado. Se o Brasil fosse campeão virava moda o cabelo do Neymar. Mas e eu pergunto, criticam por-que ele cai, mas e quem foi lá pisar na perna dele de propósito, não merece crítica? O Neymar estava caído fora do campo e pisam na ca-nela dele com chuteira.

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"Vou trabalhar enquanto tiver saúde. Não tenho data para parar, nem quero. Mas, vai chegar um tempo que vou ter que sair, afinal, já estou com quase 70 anos."

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Cristiane Freitas Gutfreind. Está pre-sente em livro lançado pela EDIPU-CRS, em 2017, que perquire o antes e o depois do espetáculo.

Que tal dedicar a atenção para um fenômeno que vem sendo chamado de “cronofagia” (engolir o tempo) e inte-grá-lo ao que parece ser uma tendên-cia: a multiplicação de “dataholics”, os adictos de informação em tempo real.

A perspectiva de uma tragédia era vislumbrada desde o desaparecimen-to dos Javalis Selvagens. Encontrados, a luta pela vida ganhou espaços cres-centes na mídia. Audiência gerando mais e mais audiência. Até o final, quase inteiramente feliz.

Uma boa perspectiva de livro ou filme seria centrar no mergulhador morto. Recuperar seu passado, sua vida, dores e amores. Talvez, como técnica narrativa, usar o mesmo re-curso de Fernando de Morais na bio-grafia de Chateaubriand, o Velho Capi-tão, ao narrar o que estaria pensando. Foco no mergulhador que morreu. Aliás, como era mesmo o nome dele?

Mario Rocha é jornalista e professor da Fabico

[email protected]

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Um espetáculo midiático. Busco pa-ralelo em filme de 1951, quando Billy Wilder dirige Ace in the hole (A Mon-tanha dos Sete Abutres) tendo como protagonista o eterno Kirk Douglas no papel de um repórter inescrupuloso. Lá, como agora, há alguém preso, uma população sedenta de participação - mais que de informação – e a onipre-sença do jornal, do rádio e da tevê.

Doze meninos vivos. Quantos mor-rem, a cada dia, tanto nos confins do mundo quanto ali adiante, apenas do-brando a esquina? Morrem em abor-tos clandestinos resultantes do deses-pero de mães sem condições de dar condições de vida à nova vida. Mor-rem de doenças causadas pela sub-nutrição quando há comida de sobra no mundo. Morrem nas guerras con-tinentais e na guerrilha urbana. Mor-rem ao assumirem a violência como forma de sobrevivência. Morrem. E morrem, e morrem, e morrem...

O que fazem os espaços da mídia? O que fazemos nós, em nossos espaços de redes sociais? Magnificamos o epi-sódio pontual e inédito, minimizamos os dramas que já se tornaram fatos rotineiros merecedores de um pé de página par, alguns segundos no ar e nada mais.

Procure por Felipe Pena e o texto Celebridades e heróis no espetáculo da mídia. Ele termina afirmando que “Jornalistas, escritores, produtores, dramaturgos, cineastas, diretores e todos os outros responsáveis pelo dis-curso midiático estão em xeque. Se a vida é um show e a mídia é o palco, os roteiristas do espetáculo correm o ris-co de tornarem-se os bobos da corte.”

Leia Gui Debord, direto da fonte ou introduzindo-se a partir de análise ampla de Juremir Machado da Silva e

Há um problema imenso para pre-tendentes a escrever livro e roteiro, adaptado ou não. Houve uma fantás-tica multiplicação de notícias via to-das as plataformas midiáticas. Arrisco que lá nos confins aconteceram sinais de fumaça e batidas repetidas em troncos ocos para enviar as últimas informações. Todos, solidários, viven-ciamos a saga dos Javalis Selvagens.

Mais do que isso. Torcemos por um final feliz. Os religiosos uniram suas preces de forma independente dos dogmas e rituais que os separam. (Aliás, um dia, mas não hoje, ainda es-creverei que o dogma e o ritual são es-tímulos intencionais ao não-pensar.) Projetamos como nos sentiríamos no ambiente claustrofóbico a que esta-vam submetidos os doze meninos e um adulto. Suspiramos, um pouco ali-viados, quando chegaram as primei-ras informações de que todos estavam bem, embora famintos.

Títulos para livro e filme estão prontos. É só alguém

escrever e outro alguém pro-duzir e dirigir. A gurizada e o

treinador podem ser os atores. A trama tem drama (com rima

e tudo), tem morte a lamen-tar e heróis mergulhadores a saudar. Tem religiosidade e superação, o que também é

bom para garantir audiência. Não há como encaixar cenas de

sexo, mas não vejo isto como fator limitador da atratividade.

A saga dos Javalis Selvagens

MÁRIO ROCHA

OPINIÃO

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CRESCE EM CAMPO

JORNALISMO ESPORTIVO

MATÉRIA DE CAPA

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Um jornalista com um desafio: traduzir em palavras momentos que são pura emo-ção. O esporte, para quem torce, não é só técnica e fato. É sentimento. Frequente-

mente, o jornalismo esportivo tem que descrever o indescritível, como fala Armando Nogueira em crônica sobre a conquista do tricampeonato da Seleção Brasileira na Copa do Mundo de 1970. “E as palavras, eu que vivo delas, onde estão? Onde estão as palavras para contar a vocês e a mim mes-mo que Tostão está morrendo asfixiado nos braços da multidão em transe?”

A quantidade exata de jornalistas que atuam com cobertura esportiva é difícil de ser obtida, tendo em vista que a maioria das empresas não faz essa distinção de área nos contratos. No entanto, alguns dados permitem dizer que esse número é crescente no mundo. Em 1998, na Copa da França, houve 9 mil jornalistas credenciados para cobrir o evento. Vinte anos depois, na Rússia, os credenciamentos chegaram a 16 mil, número pouco inferior à Copa realizada no Brasil, em 2014, que registrou recorde de credenciais para a imprensa: 16,7 mil.

Se a Copa do Brasil de 2014 pode dar uma ideia do universo do jornalismo esportivo no País, então po-demos dizer que é uma área onde a televisão mos-tra maior relevância do que a imprensa escrita. De todos os brasileiros credenciados pela Fifa - cerca de 4 mil - 3 mil representavam equipes de televisão, e apenas 593 eram da imprensa escrita. Na época, a Fifa atribui a redução da presença da imprensa escrita aos altos custos de cobertura e à crise finan-ceira dos veículos.

No Rio Grande do Sul, a Associação dos Cronistas Esportivos Gaúchos (Aceg), que credencia profissio-nais para cobertura de jogos, conta com cerca de 800 associados. “Esse número muda muito, porque sempre entram pessoas novas. Não contamos ape-nas com profissionais formados, mas também estu-dantes que já estão trabalhando na área”, explica o presidente da Aceg, Alex Bagé, que atua na Rádio Bandeirantes como apresentador e comentarista.

Para Nando Gross, gerente-geral da Rádio Guaíba, o crescimento do jornalismo esportivo nas últimas décadas fica evidente pela quantidade de profissio-nais e veículos que vêm se dedicando à atividade. “Há pouco tempo, tínhamos apenas duas rádios em Porto Alegre que transmitiam futebol. Hoje são quatro da mídia tradicional, sem contar as que es-

tão na web e as de clubes. Além disso, há uma infinidade de plataformas, blogs, sites, canais de YouTube”, lembra.

Um dos veículos que se somou ao time do jor-nalismo esportivo na última década em Porto Ale-gre, foi a Rádio Grenal, do grupo Pampa. Oficial-mente inaugurada em 2012 (embora as primeiras transmissões no formato atual tenham começado ainda em 2011, como Rádio Jornal O Sul), a Grenal apostou em uma programação voltada exclusiva-mente ao futebol, focando na dupla que dá nome à emissora (Grêmio e Internacional). “Muitos achavam que era uma loucura falar 24 horas diá-rias de futebol”, recorda o apresentador Kleriton Vargas, que comandou o primeiro programa da Grenal a ir ao ar. “No então, não é loucura, e nos-so sucesso mostra isso. Existe uma parcela gigante do público que consome esse tipo de informação, e surfamos nessa onda”, destaca.

Disseminação de veículos e profissionais gera desafios

O coordenador de esportes da Rádio Guaíba, Carlos Guimarães, também lembra a maior di-versidade do cenário atual do jornalismo espor-tivo. “Hoje temos mais meios de comunicação e gente produzindo transmissão de informação. A cobertura não é mais monopólio das grandes empresas, ela pode ser feita de diversas formas pela internet. E, ao mesmo tempo, com a tecnolo-gia temos uma noção melhor do que interessa ao público e como ele consome a informação trans-mitida”, destaca.

No entanto, a expansão de veículos e profissio-nais cria novos problemas para a atividade, ao mesmo tempo em que complica desafios já exis-tentes. Um deles é a própria viabilidade finan-ceira dos meios de comunicação. “O futebol está cada vez mais caro e os veículos cada vez mais sem dinheiro”, destaca Guimarães. Os valores en-volvidos com direitos de transmissão, por exem-plo, são cada vez maiores. Para poder transmitir os jogos da Série A do Campeonato Brasileiro de 2018, a Rede Globo desembolsou R$ 1,33 bilhão no ano passado, uma quantia recorte. “Isso só agrava a crise geral enfrentada pelos veículos. Essa conta não bate”, afirma o coordenador de esportes da Guaíba.

Segundo Nando Gross, o aumento do número

JORNALISMO ESPORTIVO

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geração que está interessada nisso. Hoje todo mundo sabe o que é 4-1-4-1. Há algum tempo debochavam, ‘é linha de ônibus’, hoje todo mun-do usa, é natural, o debate melho-rou. O desafio do jornalista é pegar esse conhecimento e traduzir de uma forma que todos vão enten-der. É preciso ter consciência de que se está falando para o público geral, não para experts”, destaca.

Kleriton Vargas, da Rádio Gre-nal, concorda que os profissionais precisam dosar muito bem o uso de linguagem técnica. “A questão tática ainda atinge um público pe-queno. Por exemplo, se eu pergun-tar a um ouvinte que ele achou dos 46 passes errados de tal jogador? Quem é de uma geração mais jo-vem, que assiste futebol europeu, que joga Fifa no Playstation, vai en-tender. Mas um público, que não é expert, para quem o futebol é ape-nas uma questão de paixão, não vai saber dimensionar isso. É preciso ter consciência que isso não atinge a todos”, diz Vargas.

Para Carlos Guimarães, os pro-fissionais de jornalismo esportivo precisam ter o cuidado de unir a parte técnica da análise ao comen-tário lúdico. “Esporte é paixão. É verdade que não temos como fugir de uma análise mais embasada, a era do ‘achismo’ morreu. Mas é preciso consciência de que focar apenas em dados, em números, é chato para o público.”

Qualificação: mais importante do que nunca

Blogs e as novas mídias abriram espaço para que mais pessoas pos-sam participar da criação de con-teúdos relacionados ao esporte. “A revolução tecnológica permite uma ‘autopromoção’. Uma pessoa pode fazer um canal do YouTube, uma página do Facebook, e se dedicar a veicular informações esportivas, as vezes bem específicas, como de ape-

de jornalistas e veículos esportivos, combinado com a profissionaliza-ção maior do futebol, também tem causado mudanças na forma de produzir conteúdo. Uma delas é a maior restrição dos clubes para a atividade jornalística em seus am-bientes. “Quando tinha pouca gente atuando na área era possível aos re-pórteres entrarem dentro do vestiá-rio para entrevistar um jogador ou treinador. Hoje isso seria impossí-vel de lidar, só com coletiva mesmo. Isso faz com que quase não se tenha mais furo, as informações bombás-ticas são para todos”, argumenta.

Diante da falta do “furo”, da in-formação exclusiva, cada vez mais os veículos esportivos têm inves-tido em outras linhas de frente na cobertura. A primeira dela é abrir ainda mais espaço para a opinião. Mas o outro avanço é nas análi-ses técnicas e de dados - o chama-do scout -, como acerto de passes, mapa de calor, etc.

“A grande maioria dos programas esportivos hoje é de opinião. O pro-blema é como embasar e transmitir essa opinião”, afirma Nando Gross. “Hoje o debate melhorou em ter-mos técnicos, porque há uma nova

nas um clube, e ainda assim obter sucesso”, afirma Carlos Lacerda, co-municador da Rádio Grenal. “O que vai separar o joio do trigo, como sempre, é a credibilidade”, destaca.

Um exemplo de jornalista apro-veitando as novas tecnologias para se transformar em seu próprio ve-ículo de comunicação vem de um veterano da cobertura esportiva. Aposentado dos microfones desde 2011, o comentarista Ruy Carlos

MATÉRIA DE CAPA

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ALEX BAGÉAPRESENTADOR E COMENTARISTA DA BAND E PRESIDENTE DA ACEG

EDUARDO GABARDOREPÓRTER DA RÁDIO GAÚCHA

RODRIGO OLIVEIRAREPÓRTER DA RÁDIO GAÚCHA

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Ostermann voltou a dividir com o público seus comentários esporti-vos através do Facebook. Em sua página oficial Fala Professor Ruy, realizou comentários sobre os jogos da Seleção Brasileira no Mundial da Rússia. A recepção foi melhor do que esperava. “Deparei-me com velhos consumidores de páginas es-portivas, e pude fazer uma observa-ção mais meticulosa dos aconteci-mentos. Foi uma experiência muito feliz”, destaca. Ostermann afirma que quer seguir com a experiência de fazer comentários esportivos através das redes sociais.

No entanto, nem sempre a pro-liferação de veículos alternativos é algo positivo. “Com o advento da internet vieram os sacrários web e

blog. Todos viraram jornalistas es-portivos. Aí, não se tem mais nada exclusivo”, comenta o narrador Pe-dro Ernesto Denardin, da Gaúcha/ZH, que iniciou a trajetória profis-sional há 45 anos.

“Hoje, você consegue criar uma conta e em qualquer tipo de rede social e automaticamente tem um canal de informação. Se você for uma pessoa que produza muita in-formação, passa a ser um formador de opinião”, avalia o jornalista Alex Bagé, que atualmente é também presidente da Associação dos Cro-nistas Esportivos Gaúchos (Aceg).

A Aceg é a entidade responsável por fazer o credenciamento para imprensa em eventos esportivos no Estado. Bagé conta que, muitas vezes, é difícil distinguir e definir quem está apto ou não para receber a credencial. “Na Aceg, eu já tive casos de pessoas que criaram uma página no Facebook na quinta-feira e já estavam solicitando creden-ciamento para o clássico Grenal. Passa por aí a consideração da re-gulamentação da nossa profissão”, sinaliza, citando que é preciso, no mínimo, que se tenha um registro profissional.

A crônica esportiva na era dos blogs

Há 13 anos, o jornalista gaúcho Douglas Ceconello se dedica à crô-nica esportiva. É uma experiência que desenrola, sobretudo, na blo-gosfera. Hoje, ele escreve o blog

Meia Encarnada, hospedado no site globoesporte.com.

Mas essa trajetória começou em 2005, de forma amadora, quando Ceconello, na época recém-forma-do, começou a escrever para o blog impedimento.org. O blog foi manti-do durante nove anos, mas foi tem-po suficiente para construir uma história e apontar alguns caminhos.

“Acredito que o Impedimento foi importante por dois aspectos, principalmente: por mostrar que o jornalismo colaborativo podia pros-perar e por investir em texto de qualidade (crônicas, reportagens e entrevistas) em um momento que o consumo do jornalismo já aconte-cia de maneira fragmentada”, ava-lia o jornalista.

Outro ponto, salienta, foi a forma-ção de uma imensa comunidade de leitores que tinham uma participa-ção decisiva. “Não há como pensar no Impedimento sem sua caixa de comentários, por exemplo”, salien-ta. Com o blog, já era possível sentir como seria a interação nas novas mídias. “De maneira incipiente, o que hoje acontece nas redes sociais já acontecia no Impedimento.”

Enquanto os blogs estavam se

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A Copa do Mundo de 2018 marcou também uma mudança significativa no trabalho do jornalista esportivo: a utilização do árbitro de vídeo (VAR)

LAURO QUADROSCRONISTA ESPORTIVO HÁ MAIS DE 40 ANOS

RUY OSTERMANNCOMENTARISTA ESPORTIVO

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formando, Ceconello e outros blo-gueiros que faziam parte da equipe praticavam a escrita. “Era ao mes-mo tempo um salto no escuro e um leque imenso de possibilidades a serem exploradas”. Manter um site por conta própria era desafiador e foi isso que levou ao término da ini-ciativa.

“Como ele nunca foi uma fonte de renda para nós, precisávamos manter outros trabalhos, então nos vimos em uma sinuca: queríamos investir tempo para que ele se tor-nasse rentável, mas como ele não era rentável a gente não dispunha deste tempo”, conta. “Paradoxal-mente, o Impedimento acabou por-que cresceu bastante e, em vez de deixar o projeto definhar, resolve-mos interrompê-lo quando estava em um bom momento, pouco de-pois da Copa do Mundo de 2014, quando vínhamos de dois meses com recordes de acessos.”

Hoje, o desafio é outro: enfrentar a grande oferta absurda de conte-údo. “É encontrar sempre um viés original que possa cativar o leitor em meio a tanta coisa disponível.” Para Ceconello, o papel do comen-

plo, foi com a mãe do lateral da Is-lândia que eu encontrei na Praça Vermelha por acaso e bati um papo com ela, me identifiquei como im-prensa e a entrevistei; ela revelou que o filho trabalhava em uma fá-brica de sal e eu fiz uma entrevista contando toda a história do joga-dor. Então tem que estar atento a tudo, porque tudo pode ser pauta em uma Copa do Mundo.”

tário esportivo é propor diálogos e estar aberto à contrapartida do pú-blico. “Me parece que o leitor (ou o ouvinte, ou o telespectador) gosta que alguém lhe proponha possibi-lidades de interpretação, mas não necessariamente que seja pedagó-gico ou didático nesta abordagem, porque invariavelmente acaba su-bestimando o público.”

Copa do mundo é oportunidade de ouro

A Copa do Mundo da Fifa é o maior evento esportivo do mundo. Para quem cobre esporte diaria-mente, é a grande experiência a ser vivenciada. “Os momentos mais marcantes da minha carreira são as 3 copas do mundo que eu cobri. A de 2010, pela Guaíba, a de 2014 pela Gaúcha e a de 2018 por Gaúcha/ZH. É o evento máximo. São os melho-res momentos da minha vida”, rela-ta o jornalista Rodrigo Oliveira.

Outro jornalista gaúcho que par-ticipou da cobertura da Copa do Mundo foi Eduardo Gabardo, que também realizou cobertura para Gaúcha/ZH. Ele conta que o mun-dial é desafiador para o profissio-nal, citando as grandes distâncias a percorrer e a quantidade elevada de atividades a cobrir, como even-tos e coletivas de imprensa, mesmo nos dias sem partidas. “Pratica-mente, não há tempo de descanso, de preparação entre um evento e outro, então é tudo muito corrido, muito rápido. No caso de rádio, o profissional não tem tempo para pensar, se projetar, se concentrar no que vai falar, e, no caso do jor-nal e do site, não tem tempo para escrever com calma.”

Há, ainda, a importância de co-nhecer bem o país-sede (ou os pa-íses em que serão feitas as cober-turas) e de estar preparado para as pautas inesperadas, comenta Oli-veira. “A principal entrevista que eu fiz na Copa da Rússia, por exem-

MATÉRIA DE CAPA

CARLOS LACERDAAPRESENTADOR DA RÁDIO GRENAL

CARLOS GUIMARÃESCOMENTARISTA DA GUAÍBA

KLERITON VARGASLOCUTOR/APRESENTADOR RÁDIO GRENAL

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O que mudou com o VAR?A Copa do Mundo de 2018 mar-

cou também uma mudança signi-ficativa no trabalho do jornalista esportivo: a utilização do árbitro de vídeo (VAR). “Era uma coisa muito necessária no futebol, porque no estádio, todo mundo tinha a pos-sibilidade de ver o replay: quem estava na transmissão podia acom-panhar a repetição dos lances; o torcedor que está na arquibancada e o técnico também recebiam essa informação. Só o árbitro que não tinha essa condição”, explica Edu-ardo Gabardo.

Por outro lado, o jornalista preci-sa ser cauteloso. “Agora a gente tem que estar atento porque a qualquer momento o VAR pode entrar e mu-dar aquilo que antes era definitivo”, diz Oliveira. A melhor maneira de lidar com esse desafio é conhecer bem o mecanismo de funcionamen-to do árbitro de vídeo, ensina Ga-bardo. O profissional precisa saber quais são as condições em que ele pode ser usado e como pode inter-ferir na decisão do árbitro.

Fato é que o VAR veio para ficar, sentencia Pedro Ernesto Denardin. “Mas ainda é um festival de trapa-

lhadas. Ninguém entende nada. Para nós, jornalistas, foi criada uma gran-de confusão. Se eles não sabem como agir, nós muito menos”, critica. Para Gabardo, há muitos ajustes a serem feitos. “Eu acho que ele funcionou bem, mas vai demorar algum tempo até que funcione melhor ainda.”

Veteranos lembram as transformações da cobertura esportiva

Para os veteranos da cobertura esportiva, uma das grandes mudan-ças na atividade é o status atual de quem trabalha na área. “Hoje o es-porte é reconhecido. Teve uma épo-ca que era o seguinte, o cara não sa-bia fazer nada, vai fazer esporte ou polícia, principalmente no jornal”, diz o jornalista aposentado Lauro Quadros, ao lembrar como era a si-tuação da carreira nos anos 1950 e começo dos 1960.

Com 78 anos, Lauro começou a tra-balhar em 1959, na Rádio Gaúcha. Em 1962, fez sua primeira cobertura de Copa do Mundo, no Chile, quan-do o Brasil ganhou o bicampeonato. “Na época, os brasileiros só conse-guiram ver os jogos no dia seguinte, com sinal gerado por uma televisão

mexicana”, recorda. No entanto, mais do que os avan-

ços tecnológicos, Lauro destaca as mudanças da cobertura jornalística. “Naquela época tu tinhas um conta-to muito mais direto com as fontes. Cansei de entrevistar jogador dentro do vestiário, era permitido à impren-sa fazer isso. Hoje tudo é mais con-trolado”, destaca.

Essa mudança também é destaca-da por Ruy Carlos Ostermann. “As circunstâncias do trabalho muda-ram. Havia uma relação direta do jornalista com a fonte. E as relações dos veículos com os ouvintes, com os leitores, também não são as mes-mas”, destaca.

Com 83 anos, Ostermann iniciou sua vida jornalística em 1962. Sua primeira cobertura de Copa do Mundo foi em 1966, na Inglaterra. O “professor”, como é chamado, des-taca que as mudanças na cobertura esportiva refletem, de certa forma, a própria evolução do esporte. “O futebol, por exemplo, não é mais o mesmo. Mudaram muito tanto as relações de trabalho quanto a con-cepção de jogo. Então é natural que mude também a maneira de cobrir o esporte”,destaca. NANDO GROSS

GERENTE DE JORNALISMO DA GUAÍBA

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A morte de Tom Wolfe (1930-2018), aos 88 anos, em 14 de maio, em Nova York, fez surgir uma estrela na discussão sobre Jornalismo e Li-teratura. Para Gabriel García Márquez, Jor-nalismo é um Gênero Literário. No curso de

Comunicação da Universidade de Colúmbia, em N.Y., criada por Joseph Pulitzer, em 1912, instituição que outorga o con-sagrado Prêmio Pulitzer de literatura, Jornalismo Literário continua sendo uma das disciplinas eletivas mais concorri-das nos cursos de pós-graduação em Jornais, Revistas, Arte, Broadcast e New Media. A criatividade e sensibilidade da narrativa torna o jornalismo mais leve, sem necessidade de apelar para o Soft News, a notícia suave. O entretenimento inconsequente, nenhuma significação, deixa para as redes sociais.

Talvez seja um exagero de Márquez entender o Jornalis-mo como Gênero Literário. Mas é inegável sua origem na literatura. Com a imprensa mercantilista e as faculdades de jornalismo surgiu a obsessão pela objetividade, neutra-lidade e isenção. Os textos pasteurizados, iguais, sem sabor, passaram a ter um narrador distante, formal, muitas vezes encoberto por tantas frases declaratórias e créditos a qual-quer informação, saídas da exigência de citar a fonte.

Quando as publicações abriram suas páginas para as Grandes Reportagens, quebrou-se a lógica da mesmice. Os repórteres consagrados sempre tiveram restrições à quali-ficação: Jornalismo Literário. A reportagem fez esta apro-ximação com a Literatura. O perfil, publicado em jornais e revistas, utiliza a mesma técnica, reduzida, das longas Biografias editadas em livros com centenas de páginas. Ao contar um fato, com ambientes e personagens, o repórter descreve uma história com aprofundamento social, perso-nagens humanos, dramas pessoais, superações, destemor, envolvimentos psicológicos, fatos reais como se saíssem da imaginação de um escritor. O detalhe, a pontuação curta, um fluxo de pensamento em cada frase. A passagem entre as cenas; a costura dos parágrafos. O texto longo recuperou a presença do narrador conduzindo a leitura. O new journa-lism veio como um desdobramento.

O ambiente cultural e na imprensa era propício. Anos 1960, Estados Unidos. Os principais jornais decidiram criar suplementos de leitura nos fins de semana para concorrer

Gay Talese, Susan Sontag, Norman Mailer e Gore Vidal

Truman Capote em um dos seus bailes em preto e branco e Tom Wolfe, estrelas do new journalism

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COLUNA DO TIBÉRIO VARGAS

Jornalismo & Literatura

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com as revistas como Time, Yorker, Esquire e Life. A maioria de seus repórteres não teria fôlego para redigir matérias de duas, três, quatro, cinco, seis mil palavras. A Playboy se con-sagra na época. Bons textos deveriam justificar a compra da revista, motivada, na verdade, pelas mulheres nuas. Onde buscar tanto talento?

A contracultura imperava nos Estados Unidos. Os pará-grafos imensos, frases sem fim, os descaminhos do pensa-mento no devaneio das drogas. O mercado de livros estava em crise. Escritores em decadência e novos nomes não con-seguiam publicar. Este pessoal passou a ser recrutado pelos diretores de redação como freelancer. Gay Talese e Robert Lipsyte no New York Times; Michael Mok, no Daily News; Norman Mailer na Esquire e Wolfe no caderno Nova York, do Herald Tribune.

Eles passaram a escrever o que sabiam: literatura. Os pri-meiros textos rompendo dogmas do jornalismo são editados em 1962, 1963. Os críticos culturais, de gravata borboleta, torceram o nariz para a inovação de fácil leitura, gosto po-pular. Somente em 1965, a Yorker começa a publicar em ca-pítulos A Sangue Frio, de Truman Capote (1924-1984). Ele acaba personificando o Novo Jornalismo, apesar de não ter escrito nenhuma outra reportagem antes ou depois, em sua carreira como escritor e dramaturgo, morto aos 59 anos em Los Angeles, de câncer no fígado.

“Escrever jornalismo para ser lido como um romance”, assim Wolfe definiu o new journalism. Um dândi de ter-nos claros e meias-quadriculadas, que cometia “hipérboles jornalísticas”, segundo o dramaturgo Arthur Miller (1915-2005). Com diálogos que o repórter não ouviu, descrição de ambientes onde não esteve, olfatos, paladares, luzes, som-bras, gritos. Travessões para separar complementos, excla-mações, interjeições, onomatopeias. Na narrativa, aparece o fluxo da consciência, o que a pessoa está pensando, heresia na imprensa, e até o ponto de vista múltiplo dos persona-gens para uma mesma cena, não tanto como nos romances de Henry James (1843-1916), claro. Quanto mais envolven-te, pode ter mais ficção, menos jornalismo. O americano

Perfil do repórter e Professor Emérito da PUCRS, Marques Leonam, foi publicado em livro, pelas jornalistas Ana Paula Acauan e Magda Achutti. O Encantador de Pessoas traz segredos pessoais, aulas de jornalismo e a convivência amorosa com os alunos.

O ENCANTADOR LEONAM

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Hunter Thompson (1937-2005) radicalizou com o repórter participante do ato. Perdeu os dentes ao se envolver com a gangue de motociclistas Os Anjos, durante 18 meses, para escrever a matéria. Suicidou-se com tiro de espingarda.

BAILE PRETO E BRANCOTruman Capote levou cinco anos realizando pesquisas,

entrevistas e acabou se envolvendo com um dos dois au-tores do crime que dizimou uma família, o casal e dois fi-lhos, numa propriedade rural do Kansas, em 1959, amar-rados, torturados e mortos a facadas e tiros de espingarda. A reportagem de Capote foi publicada após a execução dos condenados. Na noite chuvosa de 28 de novembro de 1966, o autor promoveu um baile para 540 convidados no Hotel Plaza, de N.Y., ao som da orquestra de Peter Duchin, uísques, espumantes, espaguete e fricassé de frango, para festejar o sucesso de A Sangue Frio, publicado no início do ano. Aristocratas europeus, magnatas, artistas e eruditos tiveram de comparecer vestindo preto e branco. O roman-cista os recebeu de smoking. A repercussão na imprensa foi tanta que foram promovidos bailes semelhantes no mundo todo. Eu dancei no Clube Cassino de Alegrete, todos os ca-sais na pista de preto e branco, acredite.

O BANDIDO DA LUZ VERMELHAQuando eu era menino, também tive meu condenado de

estimação, junto com o cachorro Teco-Teco. Era o ameri-cano Caryl Chessman (1921-1960), o Bandido da Luz Ver-melha. Acompanhava sua história real pelas páginas do Correio do Povo. Ele aproveitou a prisão para estudar e adquirir o hábito da leitura. Formou-se em direito, des-tituiu seu advogado e passou a defender-se sozinho. Es-creveu a autobiografia 2455 – Cela da Morte. Era acusado de assaltos, sequestros e estupros na estrada, usando uma lanterna giratória, para parar os carros, como fosse uma viatura policial. Não matava. Morreu na câmara de gás, em 2 de maio, aos 39 anos, jurando ser inocente. Eu acre-ditava nele aos 11 anos.

Truman Capote em um dos seus bailes em preto e branco e Tom Wolfe, estrelas do new journalism

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GRANDES NOMES

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MÁRIO FILHO

Dizer que o Brasil é o País do futebol já é um chavão clás-sico da imprensa. No entanto, na primeira metade do sé-culo XX, os esportes eram marginalmente cobertos pelos veículos, em geral com notícias rasas de última página. Um dos principais responsáveis por tirar o jornalismo esportivo da marginalidade foi Mário Leite Rodrigues Fi-

lho, ou simplesmente Mário Filho. Embora seja muitas vezes lembrado apenas como irmão do grande jor-

nalista e dramaturgo Nelson Rodrigues, Mário teve grande importância no desenvolvimento da cobertura esportiva e como incentivador do futebol no Brasil, a ponto de ser chamado pelo irmão Nelson de “o criador das multidões”. Nelson Rodrigues também escreveria que "Mário Filho foi tão grande que deveria ser enterrado no Maracanã".

Nascido em Recife, capital de Pernambuco, em 3 de junho de 1908, era o terceiro filho do jornalista local Mário Rodrigues e sua esposa Maria Es-ther. Além de Mário, o casal teve outros 13 filhos: Milton, Roberto, Stella, Nelson, Jofre, Maria Clara, Augusto, Irene, Paulo, Helena, Dora, Elza e Dul-ce. Em virtude de alguns problemas políticos de seu pai em Pernambuco, a família teve que se mudar para o Rio de Janeiro, em 1916, onde Mário Rodrigues acabou fundando o jornal "A Manhã".

Seus filhos Milton, Mário, Roberto e Nelson o acompanhariam na carrei-ra, trabalhando com o pai em seus veículos. Enquanto Nelson se destacava na cobertura policial e Roberto era um exímio desenhista, Mário resolver, a partir de 1926, investir na crônica e no jornalismo esportivo, um campo ainda inexplorado. Foi também nesta época, aos 18 anos, que Mário Filho

MultidõesO Criador das

casou-se com a namorada Célia, que conheceu na praia de Copaca-bana e foi o grande e único amor de sua vida.

Em 1928, dificuldades financei-ras levariam Mário Rodrigues a perder o controle acionário de “A Manhã”. No entanto, poucos meses depois o jornalista já tinha aberto outro jornal: “A Crítica”, mais polê-mico e sensacionalista. Um dia, en-carregado do fechamento, Mário Filho conseguiu colocar o clássico entre Flamengo x Vasco na capa do "A Crítica", que geralmente trazia temas mais voltados para política. Seu pai, um crítico do esporte (que considerava de malandros) ficou furioso até ver a vendagem no dia seguinte, quando não restou um exemplar nas bancas.

Combinando uma cobertura política apaixonada com vários relatos de crimes e mais destaque para esportes, “A Crítica” tornou-se

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um sucesso. Mas o veículo existiria por pouco tempo. Em 26 de dezem-bro de 1929, o jornal publicou uma matéria sobre a separação do casal Sylvia Serafim e João Thibau Júnior. Sylvia, que se desquitara do marido e teve o nome exposto na reporta-gem, invadiu a redação de “A Críti-ca” disposta a matar Mário Rodri-gues. Acabou atirando em seu filho e ilustrador Roberto Rodrigues, que morreu alguns dias depois.

Mário Rodrigues, deprimido com a perda do filho, faleceu após pou-cos meses. Sylvia, apoiada pelas su-fragistas e por boa parte da impren-sa concorrente de “A Crítica” foi absolvida do crime. Finalmente, du-rante a Revolução de 1930, a gráfica e a redação foram empastelados e o jornal deixa de existir. Pouco afina-dos com o regime de Getúlio Vargas, a família Rodrigues mergulhou em decadência financeira.

Para Mário Filho, a saída da pe-núria só começou em maio de 1931, quando o jovem Roberto Marinho, que recém havia assumido a dire-ção de “O Globo”, convidou Mário Filho - seu amigo e companheiro de sinuca - para assumir o caderno de esportes do jornal. Aos 23 anos, já era considerado um veterano do jornalismo esportivo.

No mesmo ano, Mário Filho fun-dou um dos primeiros jornais es-portivos, “O Mundo Esportivo’. Ali moldou expressões usadas pela área até hoje. O estilo de Mario Fi-lho era direto, sem rebuscamentos, o que lhe deu projeção. Foi ele que, na época, criou o termo: “Fla- Flu”, quando se referia a oposição que existia entre os dois maiores clu-bes de futebol da época, Flamengo e Fluminense. Essa paixão dividida se refletia na própria família: en-quanto Mário Filho se tornou fla-menguista, seu irmão Nelson era torcedor fluminense fanático.

Nas páginas do "Mundo" deu tam-bém uma contribuição para outro

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Em 1946, o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo de 1950. O compositor Ary Barroso, então vereador no Rio de Janeiro

e amigo pessoal de Mário Filho, apresentou um projeto para que um estádio fosse construído no bairro do Maracanã, no terreno do

antigo Derby Club, onde se realizavam corridas de cavalo

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GRANDES NOMES

movimento popular carioca e brasileiro: o carnaval. Foi ele que promoveu e organizou, em 1932, o pri-meiro desfile de escolas de samba do Rio de Janeiro, vencido pela Mangueira. O concurso se tornaria um marco da festa carioca e se espalharia para o resto do Brasil. Mas o jornal fecharia antes do carnaval de 1933, quando a organização do desfile foi assumida pelo “O Globo”.

Em 1936, com a ajuda financeira de alguns amigos - e novamente com o aval e a participação direta de Roberto Marinho no negócio - tornou-se pro-prietário do “Jornal dos Sports”, que havia sido fundado em 1931. Má-rio Filho até o final da vida, em 1966 iria exer-cer o posto de jornalista esportivo, proprietário e editor-chefe do perió-dico especializado e se dedicaria ao desenvol-vimento dos esportes e de outras manifestações culturais, como os desfi-les de escolas de samba. Ali ele criaria os "Jogos da Primavera" (1947) e os "Jogos Infantis" (1951), além do "Torneio de Pe-lada” no Aterro do Fla-mengo. Além do futebol, Mário enfocava outros esportes, como regatas e turfe.

Mas a grande campanha que lhe traria fama acon-teceria no final dos anos 1940. Em 1946, o Brasil foi escolhido como sede da Copa do Mundo de 1950. O compositor Ary Barroso, então vereador no Rio de Janeiro e amigo pessoal de Mário Filho, apresentou um projeto para que um estádio fosse construído no bairro do Maracanã, no terreno do antigo Derby Club, onde se realizavam corridas de cavalo. A proposta enfrentou a reação do então deputado federal Carlos Lacerda, que criticava o custo de construção e o local, e pretendia que um projeto mais modesto, com 60 mil lugares, fosse desenvolvido para Jacarepaguá. Mário Filho iniciou a publicação de uma série de artigos que defendiam a construção do Estádio Municipal no Ma-racanã, com pelo menos 150 mil lugares, e que deve-ria ser o maior do mundo.

O movimento ganhou a adesão popular, que cul-minou com a aprovação da proposta na Câmara dos

Vereadores e o apoio do prefeito Ângelo Mendes de Morais. As obras foram concluídas em 12 de junho de 1950, 12 dias antes do início da Copa do Mundo.

Após a derrota do Brasil na Copa do Mundo de 1950, Mário Filho trabalhou para a retomada do Torneio Rio-São Paulo (que havia sido realizado sem sucesso em 1933, 1934 e 1940). Posteriormente o torneio pas-saria a incluir clubes de outros estados e seria reno-meado para Taça Roberto Gomes Pedrosa, que origi-

nou o atual Campeonato Brasileiro.Entre 1955 e 1959, produziu com

o irmão Nelson Rodrigues a revista Manchete Esportiva, editada pela Bloch Editores. Mas até a paixão pelo futebol tinha lá os seus limites. Quan-do o filho Mário Júlio anunciou que tinha sido aprovado para jogar no time do Botafogo, Mário Filho foi con-tra. Para ele, ninguém podia romper com a tradição da família, na qual os homens, sem exceção, eram todos jornalistas.

Foi também um escritor de sucesso. Entre as obras que merecem desta-que está "O Negro no Futebol Bra-sileiro", de 1947, em que descrevia como a entrada dos afro-descenden-tes no esporte havia contribuído para o jeito único de jogar que se desen-volvia nos campos do País. No livro, ele resgata o surgimento de estrelas como Arthur Friedenreich, Leônidas da Silva e Domingos da Guia. Outra

importante obra é "Viagem em torno de Pelé", onde retrata o início daquele que viria a ser o maior joga-dor do mundo. Escreveu, ainda, outras obras como "A Copa do Mundo de 1962", "Histórias do Flamengo", "Copa Rio Branco", "Romance no Futebol", "Infância de Portinari" e "O Rosto". Em 1994, foi publicado pos-tumamente “Sapo de Arubinha”, que reúne uma cole-ção de artigos de Mário Filho documentando o futebol da primeira metade do século XX no Brasil.

Mario Filho morreu de ataque cardíaco em 17 de se-tembro de 1966, aos 58 anos, pouco depois de retornar da Copa do Mundo da Inglaterra. Um mês depois, em sua homenagem, o antigo Estádio Municipal do Ma-racanã passou a se chamar Estádio Jornalista Mário Rodrigues Filho. Sua viúva Célia Rodrigues assumiu o controle do Jornal dos Sports, mas suicidou-se no ano seguinte. A publicação passou para o filho Mário Júlio Rodrigues. O jornal deixaria de estar sob o controle da família em 1980, e fechou em 2010.

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VIDEOS PARA WEBTOUR VIRTUAL 360ºRETRATO CORPORATIVOBANCO DE IMAGENS DO RSIMAGENS AÉREAS COM DRONE

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leção Brasileira, a de 1958, na Suécia, e a de 1962, no Chile.Na Copa do Mundo da Inglaterra, em 1966, ainda não

era possível transmitir ao vivo as partidas para o Brasil, e as imagens eram exibidas com mais de um dia de atraso. A transmissão ao vivo das partidas para o Brasil só acon-teceu em 1970, na Copa do México. Já a primeira transmis-são a cores só aconteceria em 1974, na Alemanha.

A TV dominaria a transmissão de notícias da Copa pelas décadas seguintes. Mas, depois da conquista do tetracam-peonato nos EUA, em 1994, um novo meio surgiu para de-safiar a hegemonia televisiva: a internet. A fatídica Copa da França, em 1998, em que o Brasil perdeu na final para os donos da casa, foi a primeira a ser noticiada pela inter-net. Na época, usando conexão por telefone fixo, apenas 0,67% da população tinha acesso à web. Em 2018, segundo o IBGE, mais de 65% dos brasileiros estão online.

Nas primeiras transmissões realizadas pelas emissoras de TV na Europa, a competição atingia “apenas” 1,6 mi-lhões de telespectadores. Hoje, pelas últimas pesquisas, acredita-se que 3,4 bilhões de pessoas viram ao menos uma partida da Copa da Rússia. Enquanto o Mundial con-tinuar sendo um espetáculo que encante o público de todo o planeta, a imprensa seguirá acompanhando e informan-do sua evolução.

“A Pátria de Chuteiras”. A definição da Sele-ção Brasileira de Futebol feita por Nelson Ro-drigues já virou um chavão, e muitos acreditam que o brasileiro já não dá, ao time brasileiro, a mesma importância dedicada em outros tempos mais gloriosos.

No entanto, a falta de conquistas da Seleção não tem reduzido o interesse do público pela Copa do Mundo. Segundo pesquisa do Ibope, 72% dos entrevistados pretendia assistir a jogos da Copa da Rússia. E a imprensa busca alimen-tar esse interesse do público. Seja com as glórias do escrete nacional, ou com as mais agoniantes derrotas, os veículos de comunicação sempre procuraram traduzir a emoção dos torcedores com o principal campeonato do esporte que ain-da é o preferido dos brasileiros.

Na primeira Copa do Mundo, a do Uruguai, em 1930, os torcedores no Brasil precisavam aguardar as manchetes dos jornais para sa-ber os resultados dos jogos. O mesmo aconte-

ceu na Copa da Itália de 1934. O país só pôde acompanhar uma partida do Mundial pela rádio em 1938, na primeira Copa da França. Nessa época, os torcedores ainda podiam conferir os melhores momentos dos jogos nas telas de ci-nema alguns dias depois.

Com a Segunda Guerra Mundial, as competições de 1942 e 1946 foram canceladas. O Brasil foi o único candidato oficial para sediar a quarta edição do Mundial, em 1950. Dessa vez, a imprensa e os torcedores no país puderam ver de perto os jogos. A derrota na final para o Uruguai, por 2x1, seria um trauma nacional, uma das maiores de-cepções da história do futebol brasileiro (até ser substitu-ída no imaginário coletivo pelo 7x1 sofrido contra a Ale-manha em 2014).

No começo da década de 1950, chegaram os primeiros televisores no país. De 1954 a 1966, a transmissão dos jogos era acompanhada de narração nos moldes radiofônicos: os canais exibiam uma fotografia da seleção brasileira, en-quanto o locutor irradiava a partida. Foi dessa forma que os brasileiros acompanharam as primeiras vitórias da Se-

As Copas na Imprensa

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