saenger space between words scripto continua

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S - Scripto continua sempausasentreaspalavrassempontuaçãosemletrasmaiúsculas O trabalho da 'leitura' simplesmente não existiu na Europa até sete séculos depois do cristianismo ter sido fundado pelo simples, mas conhecido, fato de que os textos latinos vernáculos eram escritos em scripto continua. A ruptura, o espaçamento, desta corrente de letras em palavras e unidades lógicas era o trabalho do leitor ou do orador no momento da performance. Considerando as características da scripta continua, o texto era lido e estudado em duas etapas: praelectio, uma primeira visão do texto de modo a compreender os temas principais e conteúdo geral, e lectio ou leitura no sentido estrito, realizada em voz alta. No século VII, escribas irlandeses começaram a separar palavras em Latim germânico e finalmente em línguas românicas, num claro esforço de reduzir a ambiguidade de significado. Numa cultura na qual o Latim era realmente uma língua estrangeira, ao contrário, da Itália, França ou Espanha, a adição de espaços e pontos surgiu para aprimorar a compreensão. Somente depois das palavras terem sido separadas, os sistemas de pontuação e de maiúsculas se desenvolveram em vários scriptoria. E depois da evolução da impressa este foi um trabalho do compositor (um leitor que é também o produtor do texto), e não do autor: dividir o texto em parágrafos, adicionar pontuação, ênfase itálica e assim por diante. Em outras palavras o trabalho do leitor (que alguns teóricos acreditam ser característica do modernismo) já estava incrustado na prática da leitura e da impressão do códice e do livro. A introdução de espaços entre as palavras em manuscritos medievais criou as condições básicas para uma leitura silenciosa e gradualmente para o desenvolvimento de um discurso interiorizado. SAENGER, Paul. Space Between Words: The Origins of Silent Reading. (Figurae: Reading Medieval Culture.) Stanford University Press, Stanford, 1997. (excerptos)

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Leitura programada para a disciplina CRP0449 - Comunicação Interativa e o Texto Eletrônico-digital.Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo - ECA-USP.Unidade temática:1. A evolução da autoria e da escrita- o autor nas sociedades iletradas- conceito e definição de escrita- os silabários e os alfabetos- a revolução do alfabeto- o alfabeto na civilização gregaReferência:SAENGER, Paul. Space Between Words: The Origins of Silent Reading. (Figurae: Reading Medieval Culture.) Stanford University Press, Stanford, 1997. (excerptos)

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Page 1: SAENGER Space Between Words Scripto Continua

S - Scripto continua

sempausasentreaspalavrassempontuaçãosemletrasmaiúsculas

O trabalho da 'leitura' simplesmente não existiu na Europa até sete séculos depois do cristianismo ter sido fundado pelo simples, mas conhecido, fato de que os textos latinos vernáculos eram escritos em scripto continua.

A ruptura, o espaçamento, desta corrente de letras em palavras e unidades lógicas era o trabalho do leitor ou do orador no momento da performance. Considerando as características da scripta continua, o texto era lido e estudado em duas etapas: praelectio, uma primeira visão do texto de modo a compreender os temas principais e conteúdo geral, e lectio ou leitura no sentido estrito, realizada em voz alta.

No século VII, escribas irlandeses começaram a separar palavras em Latim germânico e finalmente em línguas românicas, num claro esforço de reduzir a ambiguidade de significado. Numa cultura na qual o Latim era realmente uma língua estrangeira, ao contrário, da Itália, França ou Espanha, a adição de espaços e pontos surgiu para aprimorar a compreensão.

Somente depois das palavras terem sido separadas, os sistemas de pontuação e de maiúsculas se desenvolveram em vários scriptoria. E depois da evolução da impressa este foi um trabalho do compositor (um leitor que é também o produtor do texto), e não do autor: dividir o texto em parágrafos, adicionar pontuação, ênfase itálica e assim por diante. Em outras palavras o trabalho do leitor (que alguns teóricos acreditam ser característica do modernismo) já estava incrustado na prática da leitura e da impressão do códice e do livro.

A introdução de espaços entre as palavras em manuscritos medievais criou as condições básicas para uma leitura silenciosa e gradualmente para o desenvolvimento de um discurso interiorizado.

SAENGER, Paul. Space Between Words: The Origins of Silent Reading. (Figurae: Reading Medieval Culture.) Stanford University Press, Stanford, 1997. (excerptos)