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Saci Pererê NOVAS HISTÓRIAS

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Saci Pererê NOVAS HISTÓRIAS

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SUGESTÃO DO TEMA: PerSe Editora

REVISÃO: Os próprios Autores

DIAGRAMAÇÃO: PerSe Editora

DESIGN DA CAPA: Rodolfo Donadelli Schwarz

Rodolfo Donadelli Schwarz é Nascido em São Paulo no ano de 1992, pegou gosto pela arte desde cedo e explora desde então tanto a arte tradicional quanto a arte digital.

Formado em Artes Plásticas pela Escola Panamericana de Arte e De-sign e Design Gráfico pela Faculdade das Américas.

https://rodolfodonadelli.wixsite.com/portfolio

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Projeto Apparere

Saci Pererê NOVAS HISTÓRIAS

PRIMEIRA EDIÇÃO

SÃO PAULO

2018

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Copyright by Autores(as) Todos os direitos reservados aos(às) Autores(as). Proibida a repro-dução total ou parcial, por qualquer meio ou processo, especial-mente por sistemas gráficos, microfílmicos, fotográficos, reprográ-ficos, fonográficos, videográficos, atualmente existentes ou que ve-nham a ser inventados. A violação dos direitos autorais é passível de punição como crime (art. 184 e parágrafos, do Código Penal, Lei n° 6.895, de 17/12/80) com pena de prisão e multa, conjuntamente com busca e apreensão, e indenizações diversas (artigos 122 a 124 e 126 da Lei 11° 5.988, de 14/12/73, Lei dos Direitos Autorais).

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

Índices para Catálogo Sistemático 1. Contos : Coletâneas : Literatura brasileira 869.9308

Projeto Apparere Coletânea Saci Pererê – Novas Histórias – 1. ed –

São Paulo : PerSe, 2018.

Vários autores. ISBN 978-85-53182-27-5

1. Contos brasileiros – Coletâneas I. Projeto Apparere

CDD – 869.9308

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO _____________________________ 9

O TROCO DO SACI ___________________________ 11

ADNELSON CAMPOS

UM DESABAFO DO SACI-PERERÊ __________________ 16

ANA MARIA ANTUNES DE CAMPOS

O SACI DAS GERAIS __________________________ 19

CARLOS JOSÉ FERREIRA LOPES

A INSÔNIA DO YACI-YATERÊ ____________________ 22

DAVID FERREIRA

MITOLOGIA BRASÍLICA _______________________ 24

DAVI M GONZALES

O PERERÊ ESCREVE CORDEL ____________________ 29

EDVALDO FERNANDO COSTA

SACI-PERERÊ E A FADA DA CONSCIÊNCIA ECOLÓGICA ____ 32

ELOÍSA MARIA ÁVILLA DE CARVALHO

FASCINAÇÃO ______________________________ 34

GUILHERME HERNANDEZ FILHO

COMO TUDO COMEÇOU ________________________ 35

GUSTTAVO MAJORY

OS TRÊS DESAFIOS DO SACI (COMO O SACI PERDEU A PERNA?) 38

HELDER GUASTTI

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SUMÁRIO

AS MIL FACES DO SACI ________________________ 49

IGOR MARTINS

O SACI DO SONRISAL _________________________ 56

IRENILSON DE JESUS BARBOSA

O TRAQUINA DO PERERÊ _______________________ 66

JOAQUIM TELES DE FARIA

ENGODO _________________________________ 73

KARIN KREISMANN CARTERI

TEMPOS MODERNOS _________________________ 75

KELLY CRISTINA ARAUJO

A BIOGRAFIA DE PERERÊ SACI ___________________ 79

KETELY TEMPER ALMELA

MOLECAGENS _____________________________ 83

LELIA ALICE BERTANHA

O VELHO VITORINO E O ANTIVÍRUS DE SACI ___________ 87

LETÍCIA MAGALHÃES

FINO, HEIN? ______________________________ 93

LUIZ LOUREIRO

A VINGANÇA DO SACI CONTRA O EXPLODIDOR DE URUBUS __ 95

LUIZ ROBERTO DE SOUZA QUEIROZ

SOM ___________________________________ 98

MARCELO DE OLIVEIRA SOUZA

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SUMÁRIO

O ENCONTRO DOS IRMÃOS COM O SACI _____________ 100

M. A. THOMPSON

O SACI SERENO ___________________________ 103

MARIA DA CONCEIÇÃO MACIEL DA SILVA

AS AVENTURAS DO SACI ______________________ 106

MARIA DAS GRAÇAS DE OLIVEIRA ROCHA

SACI QUE VIROU CECI _______________________ 108

MARIA ELZA FERNANDES MELO REIS

SACI E O CONTO DE HORROR ____________________ 112

MICHEL FERRAZ QUEIROZ

A CAÇA DO SACI-PERERÊ ______________________ 117

NERI FRANÇA FORNARI BOCCHESE

SACI PERERE-CA ___________________________ 121

PRISICLLA DE CARVALHO AVELAIRA ROSA E

SEBASTIÃO PENTEADO DE CARVALHO

O DEMÔNIO VERMELHO______________________ 123

RODRIGO BARROS

SCAPULINO VIU O SACI ______________________ 128

SEBASTIÃO GILBERTO DE MELO

SACI - CEM ANOS DEPOIS... ____________________ 134

ULISSES ANDRADE

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SUMÁRIO

AVENTURA NA FEIRA DA BREGANHA _______________ 137

W.L. LANFREDI

UMA CONVERSA COM O SR. SACI _________________ 139

YUKI EIRI

SOBRE OS(AS) AUTORES(AS) ___________________ 150

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APRESENTAÇÃO

Apresentamos a Coletânea “Saci Pererê - Novas Histórias”. Essa coletânea tinha por objetivo, apresentar novos contos e histó-rias do Saci Pererê, sejam elas, histórias de antigamente (da infância do Autores) ou contextualizadas nos dias atuais.

Essa é a décima Coletânea e nela o leitor encontrará os 33 melhores textos (na percepção dos julgadores) dentre 48 inscritos. Como nas coletâneas anteriores, a Capa desta obra desenhada por Rodolfo Donadelli Schwarz foi a capa escolhida pela maioria dos 48 Autores que se inscreveram para a coletânea, dentre 4 inscritas para participar da seleção. Continuamos tendo em nossas Obras a parti-cipação democrática não só de Escritores, mas também de Desig-ners e Leitores.

Essa política de se buscar o maior envolvimento de Autores, Designers e Leitores continuará norteando nossos Projetos. Assim, deixamos aqui um convite a você leitor, entre em nosso site (www.apparere.com.br) e faça Sugestões de Temas que gostaria de ver em nossas próximas Coletâneas.

Desejamos uma excelente leitura a todos e até a próxima.

Equipe Apparere

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O TROCO DO SACI ADNELSON CAMPOS

Quando eu vejo um redemoinho surgir do nada, já vou me preparando. O danado vai aprontar ou já aprontou alguma coisa. Há quem não acredite nas histórias do Saci. Eu nunca o vi, mas tenho certeza de que ele existe. Pode perguntar para qualquer um, as tra-quinagens dele são contadas por todos os povos. Acho até que ele muda de forma de acordo com o gosto e os medos de cada um. E você, como imagina o Saci? Já viu algum?

Também é certo que o Saci leva a fama das travessuras de alguns, que de seres mágicos ou mitológicos não tem nada. Mas há casos em que o Saci apronta e meninos e meninas sapecas levam a fama. Isto aconteceu com o meu primo Zeca, um sujeito que gostava de fazer das suas e jogar a culpa nos outros, principalmente nos mais novos.

Certa vez, na volta do colégio, num dia seco e empoeirado de junho, começaram a se formar vários redemoinhos. Alguns pre-judicavam a corrida de bolinhas de gude, disputada pelo meu primo e alguns amigos da classe. O Zeca mirou com cuidado a bolinha pre-ferida do Tito. Quando foi soltá-la, um dos redemoinhos formado jo-gou pó em seus olhos e ele errou feio. A jogada foi sem força e ele praticamente entregou a búrica para o Pedro.

- Seu Saci filho da mãe! Olha que eu lhe pego com a peneira, arranco o seu capuz, você perde os seus poderes e aí vamos nos en-tender. Quero ver o que consegue fazer trancado numa garrafa! – gritou o Zeca.

Você pode não acreditar, mas o redemoinho fez meia volta e envolveu o Zeca, que desesperado tentava proteger a boca e o na-riz de tanto pó. A camisa branca do uniforme tornou-se vermelha. Nem que meu primo rolasse na estrada, conseguiria ficar tão sujo.

Meu primo disse alguns palavrões impublicáveis, ofen-dendo não só o Saci, mas toda a sua família, principalmente a mãe do capetinha.

O Natalino, assustado, disse:

- Não se brinca com Saci, quem dirá ofendê-lo! Meu vô diz que ele tem parte como o Demo!

- Pois você vai ver só! Vou fazer uma armadilha para ele! – quase cochichou o Zeca.

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- E como você vai fazer isso?

- Eu faço arapuca para passarinho, rede para pregar peixe. Até espingarda para a onça já fabriquei. Não vai ser um sacizinho que vai fazer pouco de mim! Se ele resolver aparecer, meto fogo no taquaral e aí quero ver um outro Saci nascer. Quem mandou ele se meter a besta comigo!

De repente surgiu um novo redemoinho e cresceu, cresceu, cresceu. Todos ficaram assustados. Tão rápido quanto surgiu, desa-pareceu. Tudo ficou num silêncio só. Sem uma brisa sequer. Quase que dava para se ouvir o som das formigas que numa trilha levavam algumas folhas cortadas.

Passados alguns segundos, o Zeca disse:

- Está vendo, já se borrou de medo!

Os outros meninos e eu, não tínhamos tanta certeza assim. Fo-mos para casa um pouco preocupados com o desafio do Zeca. Com o primo do tinhoso não se brinca. - Pensávamos, eu e os amigos do Zeca.

Antes de continuar a história, preciso lembrar uma coisa. Naquele tempo, as crianças, além de ir à escola, eram mais partici-pativas nas atividades familiares, principalmente no interior. Minha tia, para complementar a renda da família, criava vacas leiteiras. As vaquinhas se alimentavam, na maior parte, com coisas que ela mesma plantava no terreno onde morava.

A ordenha também ficava por conta da minha tia. Aos meus primos cabia tarefas como preparar o trato para os animais e a en-trega do leite. Os bichinhos não comiam pouco. Era preciso muito pasto, mandioca, abóbora, milho, além da ração, do sal e outros mi-nerais. Tudo precisava ser cortado, picado, debulhado, medido, mis-turado e depois virava comida de vaca.

Ninguém reclamava de trabalhar um pouco. Todos iam bem na escola também. Trabalhar não doía. O trabalho ensinava-nos a valorizar mais cada conquista.

Voltemos a história do Saci. No fim da tarde, o Zeca nem lem-brava mais dos xingamentos à família do Pererê, mas o rapazinho de uma perna só não tinha a memória curta assim.

Minha tia precisou fazer uma consulta médica, então, na-quela tarde tudo ficaria por conta do meu primo, já que a minha prima, um pouco mais velha, serviu de companhia para a mãe. En-tão, além da entrega do leite, ajudei o Zeca no preparo da comida das vaquinhas. Sou testemunha de que meu primo fez tudo com o

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maior cuidado, já que minha tia havia prometido que se tudo fosse bem feito ele ganharia alguns trocados e que já tinham endereço certo: comprar alguns ingredientes para fabricar pólvora.

Quando minha tia chegou, já estava escuro e tudo parecia em ordem. Meu primo, cansado, dormia. Na mesa da cozinha estava os litros de leite que sobraram depois da ordenha e da entrega. Mi-nha tia pensou em repreender meu primo por ter esquecido os litros fora da geladeira. Deixou para o dia seguinte.

Como de costume, mal o dia começava a amanhecer, minha tia já estava no quintal para retomar o trabalho diário. Mesmo depois do café forte, ela se sentia sonolenta. A quebra da rotina no dia ante-rior ainda deixava sinais de cansaço. Quando ela abriu o portão que separava o terreno da casa e a estrebaria, não acreditou no que via. Esfregou os olhos para ter certeza de que não sonhava. No quintal, a plantação de abóboras, de pepino e de hortaliças estava toda pisote-ada pelas vacas, que naquela hora saboreavam algumas vagens de fei-jão-de-vara que pareciam perfeitamente alinhadas na plantação.

- O Zeca me paga! Pedi tantas vezes que não esquecesse o portão aberto! E que brincadeira é essa de fazer trança no rabo das vacas. Este menino merecia levar um coice de uma delas!

As vacas pareciam esfomeadas. Ela pensou que meu primo tivesse se distraído com alguma coisa e esquecido da comida das bi-chinhas. Apenas uma vaca, a mais velha, a Estrela, havia ficado em seu lugar e mugia desesperadamente, parecia assustada.

- Coitada da minha Estrela, minha vaquinha obediente. Está com fome? Espere aí que já vou te dar algo para comer - falava mi-nha tinha com a sua vaca, como se o animal fosse uma criança.

A tia foi procurar pelo velho facão, que havia sido do pai dela. O facão havia resistido ao tempo, quase tão velho quanto o seu antigo dono. No fim do dia ficava lá, fincado no cepo de imbuia. Como de costume, minha tia o pegou pelo cabo e puxou com von-tade. Saiu muito fácil e minha tinha teve que dar um passo atrás para se reequilibrar. Já firme novamente, olhou com atenção para o facão. Metade dele havia ficado no cepo.

- Lazarento do Zeca, quebrou o facão e ainda o disfarçou! – esbravejou minha tia.

A sorte do Zeca e que ele havia saído mais cedo de casa, junto com o pai. Depois foi para a escola. Rapidinho a vizinhança soube do ocorrido, pois minha tia não economizava o tom de voz,

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nem os palavrões para descrever o ocorrido. Um menino, amigo do Zeca que ouviu um pouco do barulho de minha tia foi até a escola, na saída, para alertar o Zeca.

- Mas eu não fiz nada disso, meu primo está de prova!

- Eu falei, Zeca! Foi provocar o Saci, deu nisso! – afirmava o Natalino.

Meu primo, assustado, saiu correndo. Todos imaginavam que tivesse ido para casa. Desapareceu por dois dias. Minha tia cho-rava desesperada. Meu tio já havia chamado a polícia para ajudar nas buscas. Eu levei alguns tapas também, afinal de contas eu era um dos ajudantes do meu primo e não adiantou argumentar que ha-víamos feito tudo certinho.

- Menino é tudo igual. Um protege o outro, dizia uma outra tia mais velha, que também morava em frente.

No fim da tarde do segundo dia, eu estava na frente de casa, quando um redemoinho de formou. Ele passeava pela rua, ia e vol-tava, como se me chamasse. Resolvi segui-lo. Caminhei por quase um quilômetro pela estrada que dava acesso ao rio e que ladeava a fábrica de compensados. No final da rua, o redemoinho pareceu es-tacionar em frente a um tubo de concreto. Uma de nossas brincadei-ras era imaginar que o tubo fosse um dos nossos foguetes, o Apollo 26. Olhávamos para o céu, pela abertura superior e nos imagináva-mos cortando o espaço rumo a Lua.

Escalei a parede do tubo. Encontrei lá dentro o Zeca, coberto de barro e salpicado de penas de galinha. Chorando, abatido. Eu ti-nha um caqui no bolso da calça. Ofereci ao meu primo, que estava faminto. Não sei se ele lembrou de cuspir as sementes.

- Sabe primo, imaginei um bocado de armadilhas para o Saci, depois daquela manhã na volta da escola. Parece que caí em todas que eu mesmo imaginei. Ele armou elas para mim. A primeira, foi cair numa valeta, coberta por vassourinha. Depois, passei por um bando de galinhas assustadas que pularam em minha direção. Além do cheiro de bosta, parece que essas penas cresceram em mim. Quanto mais eu tiro, mais pena aparece!

- Vamos primo, em casa você toma um banho!

- Como está a minha mãe? Ainda brava comigo?

- Não sei se ela está mais brava ou mais preocupada. Tem uma coisa: desde ontem ela não larga uma vara de marmelo.

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Mesmo assim, convenci meu primo a voltar para casa. Ao longe, redemoinhos se formavam. Meu primo seguiu o caminho todo arrepiado, não sei se sentia mais medo do capetinha ou da re-ação da minha tia.

Não consegui saber exatamente o que aconteceu depois que meu primo voltou, ele nunca me contou. Ficou por três dias fechado em casa. Eu, levei mais alguns puxões de orelha, por que pensaram que eu sabia desde o início onde meu primo se escondera.

Eu tive uma certeza, se foi mesmo o Saci quem aprontou para o meu primo, ele não é tão mal assim. Se fosse, não teria me avisado onde ele se escondera.

O Zeca não aprendeu a lição. Algum tempo depois, quebrou um de meus dedos, numa guerra de sabugos de milho.