saberes populares em saÚde · dona divina: foi, ãhã. mas eu era menina. fui me interessar de...

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SABERES POPULARES EM SAÚDE SABERES POPULARES EM SAÚDE Cadernos da Equidade Entrevista com dona Divina Leandro da Silva realizada em visita participante ao Quilombo dos Almeida, no município de Silvânia - Goiás no dia 26 de fevereiro de 2014 ‘‘PELA CORAGEM E PELA FÉ’’ ‘‘PELA CORAGEM E PELA FÉ’’

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SABERES

POPULARES

EM SAÚDE

SABERES

POPULARES

EM SAÚDE

Cadernos daEquidade

Entrevista comdona Divina Leandro da Silva

realizada em visita participanteao Quilombo dos Almeida, nomunicípio de Silvânia - Goiás

no dia 26 de fevereiro de 2014

‘‘PELA CORAGEM E PELA FÉ’’‘‘PELA CORAGEM E PELA FÉ’’

sobre os remédios, curas, plantas do cerrado eoutros saberes seus e de sua comunidade.Tivemos a oportunidade de ouvir dona Divina,dona dos remédios t radic ionais , das"meizinhas", nas suas próprias palavras. Tinhaum semblante vivaz, forte, alegre, emolduradopor um corpo franzino e vestes simples. Traziaa simplicidade que diz da verdadeira essência,do que é importante, da altivez de umaguerreira obstinada em ajudar, cravada nocoração do cerrado. Divino era o brilho do seuolhar, enquanto contava da alegria que sente aover melhor a saúde de quem cuida com suasmezinhas, receitas caseiras aprendidas comseus pais, com o que aprendeu na televisão em

programas de plantas medicinais, e sua neta"assentou" num papel, do que pesquisa nosbrejos, no cerrado, nos quintais de vizinhos quese solidarizam com sua empreitada de cuidadosa todos que tem o privilégio de cruzar o seucaminho. Dona Divina, presença radiante deforça acolhedora, de densidade humana, deamor incondicional a todos que pedem alíviopara os males do corpo, e que ganham, deacréscimo, afagos na alma!’’

(Rôzi-Mayry Soares Duarte de Oliveira, psicóloga,técnica da Coordenação de Promoção da Equidade emSaúde - GPE / SPAIS / SES-GO)

‘‘Conversamos com dona Divina Leandro da Silva

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entrevista com donaDivina Leandro da Silva

O encontro com dona Divina, moradorada comunidade quilombola a 50 quilômetros deSilvânia, identificada como Quilombo dosAlmeida, ocorreu no mesmo dia da visitatécnica feita pela equipe da Promoção deEquidade em Saúde, da qual fazem parte osentrevistadores.

A entrevista foi concedida a ElaineMesquita, Lourival Belém e Rôzi-MayrySoares, com a presença de mais pessoas queeventualmente participaram com perguntastambém. Dona Divina tem uma maneirapeculiar de falar, pronunciando algumaspalavras de modo próprio às pessoas do interiore muitas vezes de modo muito próprio àcomunidade negra.

Muitas vezes suprimimos a pronúnciadela para pôr sua fala junto ao entendimento

fônico geral da língua, mas não seuvocabulário, corretíssimo, registrado nosdicionários de língua portuguesa ou cabível nalógica da língua. Por exemplo: o verbo'assentar' com o significado de “anotar porescrito” está registrado no Dicionário Houaissde Língua Portuguesa na nona acepção.

Várias outras palavras foram mantidasnesta edição pelas mesmas razões. Outrosexemplos são o advérbio de tempo 'ontonte',significando 'anteontem' (ou 'ant'ontem',acepção registrada em 1575, segundoHouaiss); o adjetivo com valor de substantivo'xixizonho', que não está registrado nodicionário, mas é completamente cabível nalógica da língua, como em 'enfadonho', quecausa enfado, ou em 'medonho', que causamedo etc.

“Pela coragem e pela fé”:

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Visita participante ao Quilombo dos Almeida - Silvânia, em 26/02/214

Elaine Mesquita e Lourival Belém: Como asenhora começou a usar as plantas medicinais?

Dona Divina: Começou com meu pai mexendo comessas coisas. Minha mãe mexia também, e eu meinteressei. Que era um dom. Meus meninos, sou mãe desete, foram criados assim. Criei vários assim. Meussobrinhos. Tem um casado que eu criei desdenenenzinho. Tem as netas que as mães trabalhavam eelas ficavam presas em casa, e eu cuidava.

Tem uma menina neta minha que ficou comigo. Pegoubronquite e pneumonia, e um dia levei ela no médico.Ele disse que a pneumonia dela estava muito causada,muito assim meio sem cura. Mas eu falei “não, vou darremédio caseiro.” Vim embora com ela. Hoje, tem ela aíme tratando de mãe. Acostumou comigo. Ficou emcasa.

Hoje ela é mãe, e sadia, graças a Deus. Tem duas filhas.Estuda. Muito sadia, graças a Deus, ela. Fiz os remédioscaseiros, e por aí você pega a fé, sabe, que os remédiosvalem mesmo.

Muitas mães já vieram aqui em casa, com nenémdoente, dizendo “ah, a gente não tem esperança desarar, não.” E eu dizia “não, tem? Faço uns remédios,vou usar.” E logo eles ficam bons, graças a Deus!Porque é isso.

Elaine Mesquita: A senhora faz remédio para todomundo, para crianças, para adulto, mulher, homem?

Dona Divina: Pra tudo, pra criança, mulher. Façoremédio curar de infecção, problema de coluna, parapressão alta.

Lourival Belém:Asenhora benze também?

Dona Divina: Não. Benzer, não. Nunca benzi. Façoremédio pra pressão assim, alta. Eu inclusive não tomonenhum remédio para pressão alta, não. Tomo, não.

Elaine Mesquita: Faz em forma de garrafada?

Dona Divina: Faço garrafada. Faço ele tipo um xarope.Faço fervido (para ser aspirado) no vapor. Faço emvinho. Faço assim, de vários jeitos.

Elaine Mesquita: E o pessoal sempre está procurandoa senhora, né?

Dona Divina: Ih, vem direto.Até esqueci o remédio domenino que foi lá em casa ontonte. Ele estavaxixizonho, né. Arranquei as plantas, mas esqueci. Saíontem, estava começando a escurecer, para arrancar oremédio que era para trazer hoje. Esqueci. Ele temmoto, depois vai lá buscar, né. Estava com infecção deurina, com problema de rins.

Elaine Mesquita: Hein, Belém! Quando estiver comproblema de rim, você já sabe onde vai buscar seuremédio, né.

Dona Divina: Cada um é um tipo, sabe. Difícil ser umjeito só.

Elaine Mesquita: Como você conseguiu descobrir aspropriedades de cada planta? Você disse que foramseus pais que faziam e que você ficava prestandoatenção. Mas eles te contaram como é que elesconseguiram descobrir também, tipo “esse remédio épara rim, e esse é para dor de cabeça”?

Dona Divina: Meu pai sempre separava os remédios.“Isso é para isso, isso é para aquilo.” E eu punhasentido.

Elaine Mesquita: Então, ele já foi passando isso pravocê também.

Dona Divina: Foi, ãhã. Mas eu era menina. Fui meinteressar de verdade depois de casada. Com meusmeninos para cuidar, eu pensava “agora, vou ter de meinteressar, porque meu pai e minha mãe não levavam agente em médico. Não vou levar os meus também,não.” E me encaminhei por aí. Os outros viam, meprocuravam e eu ajudava também. Ajudava e ajudo atéhoje. Eu gosto.

Lourival Belém: A senhora se lembrava do que tinhavisto sendo feito por seu pai?

Dona Divina: Lembrava, sim. Minhas netas lá em casaassentam muito. Agora que a gente prepara muitacoisa, minhas netas assentam. Quando a gente faz umremédio, para fazer ele do mesmo jeito de novo, eupeço a minhas netas “assenta esse remedinho, aí”, eelas escrevem pra mim, pra eu não esquecer.

Elaine Mesquita: Então a senhora já está fazendoregistro? Isso é importante.

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Dona Divina: É. Tem o livro que traz uns remédios comque eu labutava, os meus (remédios) mesmos. Quandoa dona Olga (Cabrera, professora que organizou o livroComunidade Negra no Cerrado) veio e pesquisoucomigo, eu me interessei e aprendi muito com ela.

Ela veio para escrever o livro. Tem foto minha, de duasnetas minhas. Eles fizeram esse livro. Fiquei com umexemplar, que não dou pra ninguém. Alguns pegamemprestado para tirar cópia e devolvem. Mas tem uns aíque carregaram e não trouxeram de volta uns livros queeu tinha.

Elaine Mesquita: Então, a professora veio aqui,conversou com a senhora, escreveu o livro e trouxe umexemplar pra senhora? Não foi como falaram, que elesvêm e fazem pesquisa e depois vão embora sem deixarnada em troca?

Dona Divina: Teve gente que não botou crédito nela,não. Não quis, sabe? E aí mandou lá pra casa. Inclusiveminha casa era assim muito ruim, sabe? E aí, a donaOlga chegou, meus meninos estavam trabalhandodentro da choça. Falo é choça, porque é casa de roça.Meus meninos estavam trabalhando dentro daquelacasa, no dia que a dona Olga chegou lá. “Divina, vocêpode sair comigo? Porque estão me enviando só pra cá,e eu queria ter uma experiência com você.”

Ela, o Alexandre (parceiro de Olga na organização dolivro) e mais umas outras mulheres vieram.Adona Olgafala de um modo que muita coisa a gente não entende(Olga é cubana, e deve falar português com sotaquecarregado). E aí eu falei “posso, sim.”

Eu estava fazendo o almoço com minhas filhas, e disse aelas que terminassem o almoço porque eu ia sair com adona Olga. “Termina o almoço aí que eu vou”, eu dissea elas. “Mas mãe, a senhora vai largar nós aquitrabalhando e vai sair?”. “Vou sair, sim. A comida estáterminando, vocês vão almoçar e eu vou sair”, eu disse.

Pulei dentro do carro com a dona Olga, e nósdesembestamos por aí. Ela não sabia o que era remédiode Cerrado, remédio de brejo, o que era restinga, o queera mato, e eu rodei com a dona Olga explicando essascoisas a ela.

Elaine Mesquita: Você foi aos lugares mostrando deonde tirava os remédios?

Dona Divina: Sim. Ela foi tirando foto das plantas.Perguntando sobre a serventia de cada um. Eu sei que adona Olga vinha assim duas vezes na semana. Tinhadia que ela chegava e eu não estava, e os meninos iamme chamar no serviço. Eu largava tudo e ia com ela.“Vou dar crédito pra ela”, eu pensava. Através da donaOlga, nós temos a cesta básica e temos a vocês também,que vêm até onde nós estamos. Já vieramencaminhados por ela.

Elaine Mesquita: Se não, a gente nem saberia dahistória de vocês.

Dona Divina: Pois é. Ela não nos largou assim.Enquanto ela não nos engatou bem, não saiu paraoutras pesquisas. Depois disso, vieram mais umas duaspessoas, depois veio mais gente, mais gente, e eu andei.Não estou nem aí se estou ganhando ou perdendo.Acho que estou ganhando, porque é experiência pragente, né.

Elaine Mesquita: É. E o que a senhora faz é deixarpara os outros o que a senhora aprendeu com os pais.

Dona Divina: É. Tenho assim muito remédio lá emcasa. Não sei como vocês vão pôr aí, mas vou falar“óleo de pau”. Sou muito enjoada pra falar. Não falotrem certo, não. Vocês estão vendo, né. Quando voufalar, falo umas coisas assim. Sou diferente de vocêspra conversar, eu penso. Mas sei que vocês estãoentendendo.

Aí eu tenho aqueles óleos também que coloco, sabe?Tem óleo de pau, que eu falo que é óleo de copaíba. Asenhora conhece?

Elaine Mesquita: Esse óleo de pau, o povoantigamente usava para curar até o umbigo donenenzinho?

Dona Divina:Aquele lá é o azeite.

Elaine Mesquita: Não, tem o azeite, aí o óleo de pau...

Dona Divina:Agente faz o chazinho pra tomar, sabe?

Elaine Mesquita: Então, não é o que estou pensando,não.

Dona Divina: Eu uso sebo de carneiro, óleo de pau,manteiga...

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Elaine Mesquita: Sebo de carneiro também é um tipode raiz? É o quê?

Dona Divina: Não. Sebo de carneiro é tirado do sebo docarneiro mesmo.

Elaine Mesquita:Ah, é do carneiro mesmo! Que é pararachaduras, que se usa assim para passar no calcanhar...

Dona Divina: É. Se barriga de nenenzinho está doendo,você passa, sabe? É bom demais.

Elaine Mesquita: Esquenta, né?

Dona Divina: É. Esquenta e passa. E aí, tem muitosremédios.Acho que se eu falar dos remédios que eu sei,menino, acho que hoje é pouco.

Zélia: E a senhora faz consulta? Vai ao médico?

Dona Divina: Eu não. É difícil, né. Eu venho de vez emquando. Mas, Zélia, minha pressão está boa...

Zélia: Quem está bem na vida, sempre fica bem (desaúde), né.

Dona Divina: Estou bem. Minha vida é boa. Estou empé, graças a Deus.

Elaine Mesquita:Asenhora falou que tem sete filhos?

Dona Divina: Sete.

Elaine Mesquita: Todos estão vivos?

Dona Divina: Só a primeira Deus levou.

Elaine Mesquita: Só a primeira?

Dona Divina: Só.

Elaine Mesquita: Levou quando nasceu ou já estavagrande?

Dona Divina: Nenenzinha. Nasceu e faleceu.

Elaine Mesquita: E foi tudo parto normal? Ou asenhora foi para o hospital?

Dona Divina: Só a caçula minha que eu fui no médicoganhar, mas os outros, foi tudo caseiro mesmo.Aqui emcasa.

Elaine Mesquita: Você chegou a fazer parto também,ou não?

Dona Divina: E muito.

Elaine Mesquita: Então, já colocou muita vida nomundo, né?

Dona Divina: Já.

Elaine Mesquita:Aí, já fazia o parto, medicava a mãe,o bebezinho, deixava tudo prontinho?

Dona Divina: É. Ia lá mais umas quatro vezes, cuidavado umbiguinho até cair, né. Ia lá dar uns banhozinhos,uns remédios, dar uns chás pra mãe.

Elaine Mesquita: E usava também aquele pó de fumo?

Dona Divina: Não sou muito de colocar pó de fumo,não.

Elaine Mesquita: O povo fala que é perigoso.

Dona Divina: É perigoso. Pó de fumo não é bom pôr,não. Eu arrumava era um pozinho de alecrim.

Elaine Mesquita: E azeite.

Dona Divina: É. E azeite.

Elaine Mesquita: O azeite é você mesma que fazia?

Dona Divina: Eu faço.

Elaine Mesquita: Você tira da semente da mamona, eaí?

Dona Divina: Ainda tem a lua pra fazer. Não é emqualquer lua, não. Tem de ser na nova. Senão não dá oazeite também, não.

Elaine Mesquita: Você falou que seus pais te criaramsem levar ninguém para o hospital, né. E que aí vocêquis aprender também para seus filhos não irem para ohospital. Deu conta de segurar só com seus remédios?

Dona Divina: Segurei, graças a Deus. Mas às vezes épreciso levar. Hoje não é do jeito primeiro que era, não.

Lourival Belém: Li um pouco do livro ComunidadeNegra no Cerrado, e a Irene já falou um bocado da

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senhora também, sobre todo o conhecimento que asenhora foi adquirindo, foi trazendo dos pais, formandocom seu povo. Se a gente convidasse a senhora um diapara estar conosco, numa roda de conversa, junto comoutras pessoas da sabedoria popular e com médicospara falar dessa complementaridade da medicina, asenhora aceitaria?

Somos do comitê de saúde e estamos reunindo pessoasligadas à saúde, uma médica, outra senhora que é umasabedoria popular dos terreiros, outra que entende deplantas medicinais de Minas Gerais, e queremosampliar isso para mostrar a riqueza desses saberes paranossa medicina como um todo. Quer dizer, não existe sóuma medicina, todos se complementam.

Elaine Mesquita: Com o objetivo de mostrar aimportância deles, valorizar a pessoa que, como asenhora, passou uma vida inteira cuidando e curando aspessoas, e que às vezes isso não é reconhecido.

Dona Divina: Vejam vocês, um irmão meu deu umproblema de uma hora para outra e ficou ruim. E eudisse “meu Deus!” E o povo: “Ah, não vai aguentar,não! É problema da garganta. É doença, é tumor.” Elemora longe. Se vocês virem a distância entre esseassentamento onde o Sebastião mora, aqui, e onde eumoro lá embaixo, é imensa. Eu trabalhava um pouco,quando era ali para as quatro horas eu falava para meuesposo “vamos ali no meu irmão?”, e ele falava “não,não dou conta, não.” E eu dizia “então, vocês fiquemcom Deus.”

Só pegava minha capanga, tenho tudo aqui na minhacapanga (espécie de embornal, bolsa de alça), e zarpavadaqui, passava como um tiro, nem olhava pra ninguém,ia bater lá na casa do meu irmão, a pé. Incomodava meuirmão, perguntando “como é que tá?”, e ele “Aaah, nãopreocupa, porque não é nada pra preocupar, não.” E aesposa dele falava “ih, essa noite ele não dormiu nada,com fadiga, tampou tudo.”

Eu me apegava com Deus. Dava remédio. Ele também ébom pra dar remédio. E eu dizia “o que você lembrar aí,você usa, e eu vou trazer mais pra você. Usa assim eassim, assim. Toma os remédios.” E ele “tá, mas nãopreocupa, não, preocupa, não.”

Enquanto isso, ele ia para o médico em Goiânia. Mas lá,ele nem foi medicado, porque eles fazem as consultasprimeiro pra depois dar remédio. Mas quando foram darremédio, ele já estava era bom, graças a Deus. A

garganta curou, e ele está bom, graças a Deus.

Sobre sua proposta, vários já falaram o que você falou,mas até agora ninguém nunca apareceu (para efetivar oconvite e realizar essa roda de conversa).

Lourival Belém: Mas a senhora toparia participar deuma roda de conversa dessas?

Dona Divina: Toparia. Tenho interesse e é muito.

Lourival Belém: Sobre a professora Olga, porque asenhora acha que as pessoas não dão crédito para ela?

Dona Divina: Não sei, não. A dona Olga saiu e sumiu,o telefone dela... até passei pra Zélia o telefone dela,mas troca também, né. Nunca tivemos contato com elamais não.

Lourival Belém: Mesmo a senhora reconhecendo oque ela fez pela senhora e pela comunidade, revelandoo trabalho de vocês, do local, as pessoas não valorizamo trabalho dela, acham que isso não tem valor? Porquê?

Dona Divina: Eu dou muito crédito a ela. Mas outrosdizem assim: “Ela adquiriu o livro nas suas costas. Nãomexe com esse povo, mais, não.” E eu digo “mexo. Soueu que mexo.” Do jeito que meu pai e me minha mãefaziam com os outros, eu também quero fazer.

Mas Deus me dá muita coisa. Tem me dado é muito queantes eu não tinha. Leitura mesmo vou falar logo que eunão tenho. Mal sei assinar meu nome. Não tenho leiturapara nada, sabe. Tenho minhas netas aqui comigo, todaa vida minhas netas foram agarradas comigo, por causade negócio de chá. Na hora que chegam, minhas netasnão querem ir embora, não. Tenho quatro aqui em casa.Apoio meus netos. Todo remedinho eu dou.

Elaine Mesquita: Mas se elas têm uma avó que émédica, para que médico, né?

Dona Divina: Não, mas precisa, precisa. Tirar umdente, alguma coisa.

Lourival Belém: Aqui na região há alguma outrapessoa que faz um trabalho como o da senhora?

Dona Divina: Não. Tem assim, que faz um chazinho.Às vezes há alguém que faz um chazinho, mas fica commedo de fazer, e me chama para perguntar “será que vai

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dar certo?”, e eu falo “dá certo.” Uma hora eu vou eensino. Outra hora, eu mesma levo o chá pronto.

Lourival Belém: A senhora acha que tem quantasreceitas na cabeça?

Dona Divina: Ih, é muita coisa.

Lourival Belém: Tem receita pra tudo?

Dona Divina: Pra tudo eu tenho. Eu penso assim “oproblema é esse, é esse.Ah, tem de ser esse remédio.”

Lourival Belém: Mas como é que vem isso. Algumascoisas a senhora já sabe, e aí quando aparece uma coisanova, como é que é isso?

Dona Divina: Eu já penso outra coisa. Já penso emoutros tipos de remédios que eu sei.

Elaine Mesquita: A senhora vai experimentando, e dácerto.

Dona Divina: E dá certo.

Lourival Belém: Mas tem assim um raciocínio prapensar aquilo...

Dona Divina: Eu tenho...

Lourival Belém: Como é que é?

Dona Divina: Tenho um raciocínio. Vou dizer pra vocêque tenho um raciocínio e tenho alguma coisa assim,saio procurando meus remédios e peço Deus “querofazer um remédio para alguém ficar curado. Vou pegar epôr esse, mas se não for para pôr, não vou pegar.” E eunão pego.

Se não tenho aquele remédio, peço a Deus para meajudar. Eu saio e penso “gente, a pessoa está se sentindoassim, assim, será que convém eu pegar isso aqui?” Eaí, eu pego. Se eu sentir que dá pra fazer, eu coloco, seeu não sentir, mesmo levando pra casa, na hora de fazer,eu não coloco, não. Até para nenenzinho, assim, paracriança, às vezes vou fazer remédio para adulto, eutenho meus chás pra fazer.

Lourival Belém: E as situações em que o remédio nãofunciona?

Elaine Mesquita: Já aconteceu alguma situação emque o remédio que a senhora fez não funcionou?

Dona Divina: Não. Quase todos funcionaram. Aquitodos são testemunhas, e dos que tomaram de meusremédios acho que vão dizer que se deram bem.Ninguém nunca reclamou.

Lourival Belém: A senhora precisa ver a pessoa (queestá doente para saber que tipo de remédio ela tem detomar)?

Dona Divina: Sempre vejo. Para uns, eu dou oremédio. Outros, eu mando voltar do jeito que estão.Minhas meninas também ligam muito falando “mãe,fulano de tal está assim, assim, e quer um remédio dasenhora.” Que nem essa mulher mesmo que morreu,ofendida de cobra (dona Elisa). Morreu por umdescuido, sabe? Porque ela ia para a casa de umavizinha minha lá. Os cachorros dela iam na frente. Como sol muito quente, ela parou na sombra. Os cachorrospassaram e esbarraram na cobra, e quando ela seguiuviagem, a cobra que estava agitada no caminho picouela.

E aí, ela chegou na casa da minha vizinha, que chamououtro homem que também faz remédios e benze. Ele jámexeu muito com remédio. Às vezes eu arrancoplantas pra ele fazer para o povo dele. Ele pede e eulevo, e ele mesmo faz. Nesse dia, ele então disse “ocaso dela não é grave, não, mas estou com o carro lá noterreiro e vou levar ela na cidade. Você não dá remédiopra ela, não.”

Eu então não dei. Fiquei com medo de dar, porque éuma coisa assim repelida, e aí eu pensei “não vou dar,não.” Mas depois pensei bem, depois que ele foiembora, eu dei um chazinho pra ela. No princípio, ofilho dela falou “não, não vou pra rua sem ele, não.” Elafaleceu em três dias.

Daria tempo. O médico falou que ela morreu porque oveneno deu choque no coração. Ela já tinha uns 76anos, e andava boazona. E aconteceu isso. Mas háoutros casos, como o de outro menino que a cobrapicou quando ele estava roçando um pasto lá noRibeirão. Ele não foi para o médico, não. Sarou comraiz de pau, com óleo, um trem e outro. Ele aguentoudois dias, e quando passaram três dias, ele já estavabom.

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Lourival Belém: A senhora tem todas as plantas de queprecisa aqui?

Dona Divina: Tenho, sim. Várias plantas. Às vezes nãotenho perto de casa. Desço até aqueles matos, aquelasreservas, e lá muitos me oferecem.

Lourival Belém: E como é que está a questão dodesmatamento aqui?

Dona Divina: Tá ruim. Muitos me oferecem. Ali noRibeirão, um homem comprou lá. É um homem de quemeu cuido muito dos meninos, quando estão gripados,com febre. E ele disse “Divina, agora comprei uma partede lá do Ribeirão. Só tirei um pedacinho para fazer umaroça. O mato está lá à vontade pra senhora buscarremédio.” Meu irmão também que está no assentamentodiz que posso ir lá e tirar. E eu tiro. O Bastiãozinhotambém tem umas partes...

Lourival Belém: E se virar tudo soja?

Dona Divina: Se virar tudo soja, acabou. Só os dosbrejos. No brejo ninguém vai, só eu. Mas há muita faixade mato, onde ninguém desmata, e é onde eu costumo irpegar algumas plantas.

Lourival Belém: Tem gente que se incomoda com otrabalho da senhora? Mesmo que não seja aqui dacomunidade. Alguém acha ruim ou diz que incomoda,que atrapalha?

Dona Divina: Aqui eu só sei de um. E essa pessoa quediz que meus remédios não funcionam busca. Vai lá emcasa e diz “Divina, queria que você me arrumasse umremédio, assim, assim. Você sabe? Você conhece?” E eudigo “ah, eu conheço, mas não sei onde tem, não.” Masàs vezes eu pego.

Não sei fazer maldade com os outros, não. Para mimmesmo, ele não fala. Mas por fora, os outros dizem queele fala muito de mim (critica).Aprópria esposa dele fuieu que peguei, que fiz o parto. Mas é gente ignorante. Érapaz novo. No mais, todos me respeitam.

Lourival Belém: E de fora?

Dona Divina: Também. Todos me respeitam. De longe,de Águas Claras. Vem muita gente de longe também.

Lourival Belém: E em Silvânia, as pessoas conhecem asenhora?

Dona Divina: E muito. Eu mando remédio para eles lá.Meus parentes que moram lá, uma fala para outra. E nodia que teve feirinha lá, levei remédio e não trouxe nadapara trás. Levei xarope de vidro. Havia um menininhoque estava vomitando lá, e tomou meu remédio. Outrostambém tomaram meu remedinho.

Lourival Belém:Asenhora vende remédio na feira?

Dona Divina: Levei uma época, porque a Ireneconseguiu a carteirinha pra mim, porque eu ficavacobrando ela.

Lourival Belém: Carteirinha de quê?

Dona Divina: Do Senac. Levei uma sacaiada, tapetes,coiserada, porque eu tenho esses panos também. Eutenho minhas...

Lourival Belém: Ninguém se incomodou, não?

Dona Divina: Ninguém incomodou, não. Achou foibom.

Elaine Mesquita: Porque há lugar em que às vezes opovo até proíbe, né.

Dona Divina: É. Mas lá, não tem nada, não. Eu falei“vou levar de tudo, né.” Perguntei para a Irene e elafalou “pode.” E eu levei minhas garrafinhas deremédios.

Lourival Belém: Quais são os remédios que a senhoramais gosta de fazer? Quais são os que saem mais? Deque tipo de remédio as pessoas precisam mais?

Dona Divina: É xaropada, é matinho, essas coisasassim.

Elaine Mesquita: Uma coisa que eu queria perguntarem relação à professora Olga. Você acha que o que elafez, de ter transformado todo seu conhecimento sobreervas, sobre medicação, em registro, já não era umganho, uma vez que o que ela registrou agora o mundointeiro pode conhecer? Isso é um benefício paramundo, não é?

Dona Divina: É. É um benefício para o mundo.

Elaine Mesquita: Lá no livro, ela conta toda a históriade como surgiram osAlmeida no quilombo, né.

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Dona Divina: Sim. Eu andava com ela por essas taperasvelhas, por esses muros velhos. Passei uns dois anosandando com ela por aí. Era duro. Teve um dia que tivede sentar lá para bater esses trens, mas, menina de Deus,passei um aperto, porque não conseguia enxergardireito! E eu falei “vou fazer um exame de vista.”Passava tudo muito apagadinho, passavam as ervas, eeles sempre perguntavam para que servia, para que queusava. E eu ficava sem ver.

Passavam as árvores lá, e eu sem sem ver, e meconfundia, porque não enxergava direito, e eu disse“não, vou ver se faço um exame de vista”. E aí, noderradeiro dia em que ela veio, para acabar decompletar, marcar a numeração direitinho, porque elaqueria fazer o livro, aí estava dando pra ver bem. E eudisse “agora, se você quiser repetir tudo, nósrepetimos”. Mas ela fechou o livro, fechou sem euterminar (de nomear). Minhas coisas tudo aí.

Eu disse “se vier mais um mês, dou conta de maiscoisas.” E ela falou “não, deu pra fechar o livro com issoaí.” E aí eu fiquei conhecendo também Dayse.Procuraram saber sobre as madeiras, sobre os paus, queeu conhecia, mas eu não tinha serventia para aquilo, ecom eles descobri tinha serventia. Aprendi mais aindacom ela. Aprendi muita coisa com ela, e com a donaOlga também.

Elaine Mesquita: O que a senhora acha que aprendeucom ela?

Dona Divina: Aprendi muito sobre banho. Aprendi foimuito, porque ela também vinha com os livroscontando para que servia aquela madeira, aquelaárvore. Ela não sabia reconhecer as árvores, e eu sabia.E aí um dia eu saí com meu esposo, porque, essenegócio de árvore mais grande assim, ele conhecemuito, sabe. Aí ele dizia “é pororoca, é não sei o quê, éjatobá, é maria preta”, isso eu conhecia, e isso estava nolivro dela (as propriedades medicinais). Baru. Para queisso tem serventia. Só perguntei para que tudo tinhaserventia.

Lourival Belém: E baru serve pra quê?

Dona Divina: Baru é bom pra pressão alta.

Elaine Mesquita: E a senhora sabe que remédio é bompara infertilidade, para dificuldade de engravidar?

Dona Divina: Faço para as mulheres, inclusive aquimorou uma que tinha problema. Ela ia ao médico, masnunca engravidou, não. Ela tinha problema no útero,não sei que, aquilo outro. Aí, ela pediu para eu fazeruma garrafada pra ela. Eu fiz. A garrafada dela deucerto, e ela já teve duas filhas.

Elaine Mesquita: E o que a senhora pôs na garrafadadela?

Dona Divina: Eu ponho várias coisas. Amendoim docampo. São umas coiseradas que eu tenho assim que euarranco e coloco. É raiz de mandioquinha.Mandioquinha tem várias.

Elaine Mesquita: Algumas mandioquinhas têmveneno, né?

Dona Divina: Elas são de umas quatro qualidades.Você usa só aquela que dá mesmo a raiz, sem ser a raizda madeira, a raiz da mandioca mesmo (o tubérculo).Araiz da mandioca, assim no tempo, você pode arrancarum punhado, e se você quiser até cozinhar pra comer,pode. Gostosa. E aquilo é bom demais.

Elaine Mesquita: Mas tem de ter cuidado, né, porquese comer a mandioca venenosa, a pessoa morre.

Dona Divina: Sim, tem de ter cuidado. Só eu mesma éque arranco, ou minhas filhas, que elas tambémaprenderam a distinguir.

Lourival Belém: Isso sobre as mandiocas a senhoraaprendeu com seus pais também?

Dona Divina: Não.

Lourival Belém:Aprendeu com quem?

Dona Divina: Sempre que eu vejo passar assimtambém na televisão, quando eu também conheço, eusempre faço. Eu faço um teste, primeiro comigo, pradepois fazer com os outros.Araiz da mandioquinha prapressão alta, não tem melhor. O leite de moreira. Vocêconhece moreira?

Elaine Mesquita: Não. Moreira ou amoreira?

Dona Divina: Moreira. É uma árvore. O leite dela ébom para o sangue.

Elaine Mesquita:Ah, para problema de circulação...

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Dona Divina: É. O leite de mangaba também é bom.

Lourival Belém: E com seus pais, o que a senhoraaprendeu mais?

Dona Divina: Aprendi esses chazinhos caseiros. Eutrabalhava muito. Meu pai levava muito a gente praroça, trabalhava em roça. Plantava arroz com meusirmãos. Nós éramos dez filhos. Aí, meu pai levava osmeninos para covar, com biquinho de enxada, e nóspara plantar o arroz com a cuia, a cabaça.

Meu pai colocava arroz nas cuias para nós e falavaassim “aqui é para vocês colocarem esse tantinho. Nahora que acabar de uma, vai acabar do outra. Uma vainuma leira e outra vai noutra leira.” Os meninos todoscovando, e ele lá na frente.

O tanto que a gente pegava no dedo era o que a gentepunha na cova. Se pegasse um punhadão, o arroz deuma ia acabar primeiro. “E se a leira de quem põe maisnascer demais, quem plantou vai vir para arrancar”, e agente tinha medo, né. Aí eram três caroços, quatrocaroços, três caroços, quatro caroços. E nósplantávamos a roça.

Quando era para colher, meu pai nos levava para ajudara carregar o arroz para bater em um banco assim, já viubatendo? Também plantávamos as raminhas demandioca. E depois nós as mulheres é que íamosarrancar as mandiocas, porque os homens estavamcuidando de outra coisa, fazendo outro serviço,trabalhando para os outros para tirar o pão de cada dia.

Íamos arrancar as mandiocas, e carregávamos nascostas. A gente chegava em casa, descascava, ralava, amãe torrava a farinha, e depois fazia o polvilho. Tiravauma semana para a farinha e uma semana para opolvilho. Meu pai punha os meninos para carregar asmandiocas para prensar. Minha mãe ajudava muito emcasa. Graças a Deus, ela criava as galinhas.

Forno, era forno de cupim. Meu pai ia lá pegava umcupim, furava ele e passava um barro por dentro, eminha mãe fazia biscoito.Ah, que gostoso!

Elaine Mesquita: Esses biscoitos de polvilho sãogostosos demais! E hoje, você não faz mais essesbiscoitos?

Dona Divina: Não. Não tem mandioca, né, assim para a

gente fazer. Não plantamos. Aí a gente teria decomprar. Só plantamos aqui no quintal mesmo paracomer. Não tem terra, né. Lá em casa, o terreno é bempequenininho. Só mesmo os quiabos, as mudas de jiló.

Elaine Mesquita: E a terra em que você mora é suamesma ou é do assentamento?

Dona Divina: É nosso. Mas é só um pedacinho, umaquadrinha. Mas é melhor do que estar em fazenda dosoutros. Nessa época, nós íamos para a roça cataralgodão. Aí, uma semana era para descaroçar algodão,cardar e fiar, outra semana, era para fazer sabão. Agente lavava a roupa. Éramos muitos, e ajudávamosmuito a nossa mãe. Fiávamos.Amãe tecia pano.

Elaine Mesquita: Aquelas cobertas de tecido assimque duram, né. Não acabam nunca.

Dona Divina: Meus meninos quando foram para acidade, eles custaram se acostumar com as cobertinhasde lá. Um de meus filhos, anterior à minha caçula, atéhoje, meu Deus, ele se cobre com coberta de algodão.Ele não gosta dessas cobertinhas, não. Tem de teralgodão por baixo.

Ih, a gente sofreu demais trabalhando em roça. Masestou aí até hoje. Serviço não mata ninguém, não. Sematasse, eu tinha morrido.

Depois casei, e peguei barriga, foram quatro filhasmulheres primeiro. Depois fui pra roça ajudar meumarido para poder manter elas na escola. Eu não tenhoestudo, não, mas graças a Deus, minhas meninas têm.Quando eu era criança a escola ficava muito longe.Depois construíram uma escolinha aqui, e eu vinhatodo dia, quando tinha. Mas aí disseram para aPrefeitura que havia pouca gente aqui, e o prefeito tiroua escolinha aqui.

Vieram uns interesseiros aqui e disseram que o JoãoCaixeta não ia deixar dar aula para aquele tiquito degente, não. E aí cortaram a escola. Eu estava achandobom com a escola. Tinha vontade de ter estudo. MasDeus sabe (o que faz). Como diz a dona Olga: A gentefaz as coisas não é pelo estudo, não, é pela coragem e afé.

Lourival Belém: Como é o nome completo dasenhora?

Dona Divina: Divina Leandro da Silva.

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Lourival Belém: E a senhora é da famíliaAlmeida?

Dona Divina: A gente nasceu e cresceu aqui, mas meupai era de fora.

Lourival Belém: Era de onde?

Dona Divina: Era da Bahia.

Lourival Belém: E alguém da família da senhora casoucom algum da famíliaAlmeida?

Dona Divina: Meu esposo é daqui. Ele não tem aassinatura de Almeida, não. Mas é daqui. E meusirmãos também, depois que cresceram, todos secasaram com mulheres da família Almeida. Elesmoram em Silvânia, um pouco. Há uns sobrinhos quemoram aqui. A Raquel, que falou na reunião, é casadacom um sobrinho meu, e é nascida e criada aqui.

Lourival Belém: Dona Divina, se a gente precisar usaralguma imagem com a senhora falando alguma coisa,sem fins lucrativos, sem ser para fim comercial, em umclipe ou em um documentário, para passar, porexemplo, no começo de um evento nosso do SUS, para

falar um pouco lá no nosso comitê, por exemplo, ou emoutro local, passar um documentário, a gente podeutilizar imagens da senhora falando, ou não?

Dona Divina: Pode. Não tem nada, não.

Dona Divina: Em uma reunião que teve aqui, a Elzatrouxe uns chás. Eu falo mezinha. Aí o pessoal falava“me mostra essa mezinha. Qual é a mezinha aqui?” Eeu dizia “a mezinha aqui é todas.” Mezinha é o modo deeu falar os remédios. Um povo de fora esteve aqui. Unsrapazes, umas meninas (de universidade). Queriamconhecer. E eu fiz um panelão imenso. Não deu praninguém, acabou logo.

Lourival Belém: A senhora põe muita pinga nasmezinhas?

Dona Divina: Não. Pinga eu ponho é nos trens parapassar nos machucados, aí eu ponho pinga. Mas eugosto mesmo é de vinho, aquele vinho branco.

Lourival Belém: Está vendo, Elaine, quanta coisa agente tem pra fazer? Tem muita coisa. Essa parte dapinga, nós não aprendemos nada. Temos de conversarmuito, ainda.

Coordenação de Promoção da Equidade em SaúdeGPE / SPAIS / SES-GO

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