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S E R M L D D E

P R E C E S P E L O B O M S Ü C C E S S O

D A S N O S S A S A R M A S , C O N T R A A S D O T Í R A N N Ü

B O N A P A R T E , N A T E R C E I R A I N V A S Ã O

N E S T E R E I N O , iPíégado na Igre ja de N., Senlíola dos É a f t y r e s

a j i de A g o s t o á n o i t e ^ na-entiada da so%

l e m n e Procissão de p e n i t e n c i a , que féz a

«xempiar I rmandade de N, Senhora ^ie Jesus.

P O R JOSÉ* A G O S T I N H O D E M A C E D O .

Pregador de S. A. R. o Príncipe Regente N. Senhor. É

SEGUNDA EDICAÔ

M

L I S B O A ,

NA TYPOQRA FÍÇA ROLLANDIÂNA. J H E F 0

I ö I 4. 4 % Li J

Com Licença da Méza da JX;iembargo do Paço.

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wo % \-WiMS A

5 7 ; Èáfi

Vende-se na loja de JoaÕ Benri» ques, Livreiro na rua Agusta, N.ol*. jünfo á Praça da Qomnurcio•

i 1

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< 3 )

A D V E R T Ê N C I A

P R E L I M I N A R .

t T i

1 que em os annaes do minis-tério do Púlpito se na6 possaõ apontar cirçumstaneias análogas ás que acom-panháraò o presente Discurso.. Hurn Templo vasto , qual he o de N . Senho-

ra d o s M a r t y r e s , hum Auditor io , que por hum cálcujo moderado chegaria a cinco mil pessoas de hum , e outro sexo j hum silencio universal, e pro-fundo , sem que o mais pequeno rumor o interrompesse ; huma compunçaó ex-pressa no semblante , e na aptitude de tantos , e ta o diversos individuüs , sao cousas ou nunca , ou ranssimas vezes vistas. A attençao com que foi escuta-do , deo lugar a conhecer o bom , e santo efíeito * que produziria. Lagrimas de penitencia , e iium damOr unanime pela Divina Misericórdia. Estes pode-rosos motivos me obrigaó a publica-lo pela estampa, O s que o naö escutäraö,

A u

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o desejaô ler. Eia pois eu lho offere-^o nâÕ com a intenção de lhe extor-quir applausos , porque eüenaÕ lison-gea os ouvidos , mas còm o sincero desejo de que a sua leitura os obrigue a itiíplorar em silencio a Divina M i -sericórdia , de que tanto necessitamos. •Se a estes agradar o Discurso, eu fica-rei cabalmente satisfeito. N ó s existi-mos em hum século , no qual passaö a verdades os mesmos paradoxos. M e -nos ainda a approvaçao dos bons me satisfará que a censura dos absortos nas meditações políticas dos Jornaes Francezes. Para se conhecer que hum Discurso he perfeito, basta unicamen-te que elles digaô , que he falto de provas, que tem digressões fastidiosas, que o estillo he desigual , e incorreto. O emprego , a profissaö , o caracter ; os juramentos, e b Compromisso da Irmandade destes homens , he dizer mal de tudo o que he essencialmente b o m , e as sua- caninas invectivas , saò os mais icoií pletos Panegyricos que se podem fazer aos homens de bem*

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D K

P R E C E S.

Si conversas popnhts meas deprecatas me \fuc-rit , ega exa adiam de Co elo , et sanabo ter-iam coram. .»,

Se o meu povo convert ido deprecar a minti*

misericórdia , eu o ouvirei do Ceo , e sair

varei a sua Pátria.

Tnda que seja muito limitado , e muito pequeno o entendimento hu-

mano , muito eircunscripta?, e muita débeis as suas luzes , muito acanhada a sua ^enetraçao ; ainda que se nao en-tranhe em profundas indagações , co-nhece até com evidência que na ordem fysica cio mundo nao existe , nem pode existir hum só eíFeito ; que nao proce-da d'huma causa sensível. He verda^ de , que nem sempre atinamos com es-

Paralip. L. 11

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( ? ) . ta causa , e ò estreito circulo dos nos-sos conhecimentos naó rompe a expres-sa sombra , em que os mysterios , e os arcanos da natureza se envolvem • fica confundido o orgulho íilosofico, e pa-ra sempre escondidas as causas , que indaga , e pertende descortinar. M a s ainda que o conhecimento destas cau-sas lhe seja vedado, com tudo elle sa-be que existem , porque existem , e saõ patentes os seus effeitos. N ó s vemos os alternativos estos do Occeano, e con-cluímos , que este espantoso fenomeno tem huma causa sensível em o seio da natureza. •

Vemos que este brilhante corpo , a que chamamos luz , e que nos tor-na visível o Universo , se esparge , , e derrama subitamente e concluímos, que taó portentoso efFeito , deve ter também huma causa portentosa , hum poderoso motivo , e huma razaõ suffi-ciente. E"ta marcha invariavel da na-tureza fysica , este encadeamento pas-Tnoso de eiFeitos , e causas , também se descobre , e patentêa a nossos olhos na ordem moral. Neste cáhos , nesta perpétua confusaö de acontecimentos,

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ff

( 7 ) neste contínuo tumulto', e combate das paixões, ha hum fio , e ainda que nos seja imperceptivel, elle existe com tu-d o , e naò.hà huma sóacçaõ , quená6 tenha huma caufea sufficiente. Seja em-bora intrincado este labyr into % todo elle he formado de huma cadêa , on-de já mais se encontra a interrumpçaõ de hum só fusil. M a s na ordem sobre-natural da revelaçaé, onde o espirito humano adquirio a verdadeira , e in-deficiente luz da verdade , na6 a p pa-rece hum só effeito , do qual se na5 descubra immediatamente a sua'causa,-, j á mais fica incógnita ao nosso enten-dimento. Se a revelaçaõ nos diz , que hum Dilúvio universal inundara a terí ra , e transtornára , e desconcertara ä primitiva harmonia deste entendimen* to naõ se affàdíga na indagaçaõ da sua causa , e em quanto a soberba igno-rância dos Sábios procura explicar, e Jia6 pôde , por meio das Leis fysicas este espantoso acontecimento , recor-rendo á marcha irregular de hum Co* mêta , a •inclinaçaò do eixo da mes-ma terra sobre o plano da ec l ipt ica , ao choque estranha de outro corpo,

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. ; ( 8 ) o u fe oufcro G l o b o o homem fíeí, e dócil aos Oráculos da Religião sabe, que e^a-carastrofe da sua habitaçaé nao-tivera outra causa mais do que a vontade , e a justiça do ÓmnipOtente. Deos he o Arbitro da natureza , elle lie o seu Legislador , a hum aceno da sua cabeça tremeo o mundo y elle in-clinou os Ceo§ , e desceo , contemplou os crimes dos homens, e os qui.z pu-rur ,, mandou ao mar que transgredisse as suas barreiras , chamou as nuvens , e ellas se amontoáraó , abrio as por-tas do ahysmo , e as1 torrentes corre-rão , e desta maneira quiz punir os crimes dos habitantes da mesma ter-ra. Nós conelu imos que este tao seve-ro c as ti go na ö te v e outra causa m a is que os delictos dos homens, que pro-v o c a i a indignaçao d'hum Deos , e accendem na sua Dextra Qmnipotente os raios de sua vingança. He isto que nos' ánunçiaõ os Sagrados ,QraculöSí» e o ques nós como verdadeiros fiéis hu-mildes , :e respeitosamente acreditamos* JFoáa a carne havia corrompido seus caminhos ,. e.> abandonado os da justi-ça , corria pelas espaçosas varedás da

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iniqüidade. Eu arrancarei , diz o Im* mortal , eu arrancarei da face da terra esse homem , que as minhas mãos criá-rao ; humJIageUo assoíador irá punir seu c r i m e , e satisfazer a minha Justi-ça. T o d o s os estragos , que os homens soffrem , quando parece que a mesma natureza se arma em seu extermínio, tem a sua causa original verdadeira, e eíHciente na Justiça de peos . C o m estes estragos fora6 sempre ameaçados os peccadores , e entre todos parece qüe campêa alardeando mais raios o hor-rível , e pavoroso flagello da guerra , üagello inundador , como lhe chama Isaias: Flagellum inundam , que traz em seu seio todos os males para os derramar como torrentes em o G l o b o , derrama o sangue , e até parece que faz cansar a mesma morte no sacrifí-cio de tantas victimas ; transforma os homens como em féras brutas de di-versas especies , para se accommette-rem e 'ataçalharem encarniçadas , e insasiaveis s e m p r e t o r n a as Cidades ermas , os campos pingues cultivados , em solidoes espantosas ; a fartura , e a abundância em indigencia , e fome } a

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C t o ) _ liberdade em ferros; a independencií erh-escravidaô ; os Reinos mais flore-centes em melancólicos cemiterios ; a Patria em desterro ; a alegria em pran-to ; e o contentamento em luto , e tris^ tes relíquias da humanidade , que fi-caõ desoladas na terra / n a o offerecem mais que o espectaculo da viuvez , e orfandade» Se eu nao vira este pavoro-so quadro tao ao vivo expresso em tan-tas paginas da Escritura ^ onde se nos píntaõ tantos cativeiros , calamidades $ e assolações espantosas , trazidas a Is-rael , e a Judá , como pendèntes dos fios • da espada inimiga de tantas Na*-Coes barbaras , bastaria deter a vista, ou abranger com o entendimento a niiseranda scena , que nos tem ofFere-cido á Europa , e oíferece ainda desde o Vistula até ao T ibre , desde o T é j o are ao Bosfofo. Qual he o I m p é r i o , que naö verta , e goteje sangue dos fu n d os gol pes , q ire tem receb 1 d o , e que talvez naò scjaó cicatrisàdos ! O h Yheatro dá Europa , que sanguinojen-ta atroz , e detestável Tragédia pode figurar-se minha levantada imagina-çaó , que cm ti naö -tenhaô represem-

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( XX > tado vinte annos de huma guerra pro-segiuda , e empenhada com tanta cruel-dade , e contumacia !

Quem nos invadio com perfídia ? A guerra. Quem affugentou o melhor dos Í homens , e o mais humano dos Prín-cipes ? A guerra. Quem procurou des-baratar a N a ç a ò , solapar os alicerces da Monarchia , estancar os thesouros , abolir o Çommercio, esmorecer a A g r i -cultura j eestacionar a industria , pa-ralisar tantos braços ? A guerra. Quem fez derramar tantas lagrimas , palpi-tar tantos toraçoes , tremer tantas fa-Hiilias , espavorir tantas matronas ? A guerra. Quem nos enche de tantos sus-tos , quem tao profundamente nos consr terna , quem derrama sobre nossos sem-blantes tanta paiidez , quem nos sof-foca em pranto/quem nos affòga em a m a r g u r a , nos rodêa , e aperta o co-raçaõ .de tantas ancias ? A guerra , e só a guerra. As espadas que. lámpejaõ, as bandeiras que tremuiaô os canhões que se assestao , o fogo que rompe fu-rioso contra as nossas praças , os fe-rozes ginetes que cobrem , talaö , e devastaõ nossos campos, ps ferros que

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C » ) se nos preparaÕ , e rugem ; eís-aquf quem nos obriga a levantarmos este enternecido pranto até aos Ceos , es-tes clamores que vaõ tocar o Solio da Divina Misericórdia. Este fkgel ío des-truidor da 'guerra he hum effeito da Divina Justiça , elle naÕ tem outra cau-sa. Eu SOXJ o Senhor , eu formo a p a z , eu crio '% e accendo a guerra. Oh se-vera justiça de hum Deos oífèndido! E-Ifa naê sé pôde satisfazer senaó, de duas diversas maneiras, ou pela exe-cução , e complemento do castigo , ou pela satisfação que lhe dermos pela pe-nitencia. Eu naÕ faço mais queannun-ciar verdades expressas nas Escritu* r a s , authorizadas em os annaes da Na-çaô escolhidas Deos a pune com a guer^ ra , ou se cumpria o castigo no e r l terminio , na assolaçaõ , no cativeiro, m transrnígraçaõ. para as margens bar-baras dos Rios de Babytonia , ou na; satisfaçao prompta das lagrimas , e da penitencia. 'O consternado povo levan-tava a voz , as lagrimas corriaó, e a cerriz até alii dura se embrandecia , e humilhava o Deos propicio olhava dos Ceos para seus estragos , e lhe

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C 13 ) mandava o auxi l io , e se com padecia das suas desventuras.

N ó s sentimos o castigo existente, a pavorosa trombeta da guerra deo j á o sinal dentro dos limites do nosso Império , e no coraçaó de huma fér-til , e abundosa Província lança já fu-mosas labaredas y e raios este facho abrazador. A Justiça do Senhor se de-ve satisfazer, e eis-aqui a alternativa em que nos vemös, e os dois pontos 110 meio dos quaes existimos , ou ulti-mar-se o castigo , ou suspender-se peía nossa penitencia. Diante de teus olhos está a agua , e o fogo , oh Portugal , eu te faíio com as expressões do Sá-b i o ; a tua escolha pende da tua von-tade , 011 a ch a m m a e x t e rmi n a d o ra da guerra , ou a agua salutifera das la-grimas da penitencia. Destes princí-pios taó evidentes por si mesmo dima-naó naturalmente estas tres proposi-ções.

L

A guerra he hum castigo da D i -vina Justiça , nós o sentimos.

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( m )

A Justiça Divina para sua cabàl satisfaçao exige o com pi emento do castigo j a guerra será extermin adora.

III .

A Misericórdia Divina nos ofere-ce ainda os meios da penitencia para suspendermos o flagello da guerra , e vencermos a mais justa de todas ás causas.

Que Orador se tem visto, até ago-ra encarregado de huma missaô mais relevante ? Eu devo advogar a causa de Deos diante dos homens, eu devo advogar a causa dos homens diante de Deos. Exporei a razaõ da Divina Justiça aos olhos dos homens, eu ex-porei a penitencia dos homens aos olhos de Deos;

Senhores, esquecei-vos do O r a d o r , e attendei ao Discurso : longe d'entre vós aquelle espirito frio do compaça-do calculo , da enfatica difficü , e so* b^rba critica dos incontentaveis pi-

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gmeos da humana sabedoria , que su§» tentando o estéril compaço de infru-ctuosas regras, que mal conhecem , e nunca empregariaô, querem que se lhes entretenha vãmente o espirito , quando se trata de converter sériamente os co-* rações. - .

D I S C U R S O .

l ^ A I he a desgraça , a corrupçaô, e a malícia dos tempos em que exis-timos , que antes de entrar na exposi-ção desta gravíssima matéria , -eu me vejo obrigado a acudir a huma objec-ç a õ , e abater hum adyersario , que se desde já o nao deixar' destruído , se nte tornará importuno inquietador em toda a marcha do meu discurso. Nes-ses dourados asylos da era pula , e da ociosidade em torno de cujos marmo-ros bofetes , como estatuas sobre seus pedestais , estaõ eternamente sentadas a estupidez , a mysteriosa , e systema-tica iniqüidade, levantará a voz a so-berba insipiencia , e dirá coai perti-nácia , e com aquelle orgulho filoso-íico , que se manifesta em o riso da ma-lignidade ? que estes tempos se volvem

• , - V ,

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Í M ) . tao infelizes , porque assim o traz com* sigo o theor natural das causas segun-das , e dos humanos conselhos , sem que nelles tenha parte a Justiça Divi-na , particularmente irada contra nós neste flagello da guerra , com que so-mos feridos. Este he o grande , o in* contrastavel, o temeroso, e o profun-do argumento da escola do mysterio, e 'do entonado Filosofísmo. Deste mes-mo argumento se podiaõ ter servido também os Israelitas nas suas calami-dades , e assim illudir as vivas repre-hensoeS'de seus Profetas. Faltava aca-so naquelles1 dias maíignidade aos in-fluxos , intemperie ao Ceo , malícia aos honiens para os poder inculpar dos communs , e particulares desastres ? Faltava crueldade a Faraó , ciúme aos

• Felisteos , avareza , e soberba a O l o -fernes , e a Nabuco , para lhes poder imputar as ser vis cadéas , as batalhas perdidas, as assolaçoes, e os cativei- | ros ? He verdade com tudo que os He-breqs , os indóceis ^ e duros Hebreos nao se servira6 jamais deste argumen-to : nós o vemos manifesto nas Santas Escrituras, Jamais a espada da guerra,

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, , <! 1 7 ) ä da f o m e , a da pesrilencia se deserri-bainhou em seu damno, que na6 bra-dassem logo : eis-ahi a espada de Deos, cuja mao pezada , e rigorosa elles co-nheciaõ na inclemencia dos Ceos , na ferocidade dos barbaros, e nas mesmas cadêas que arrastavaõ pelas ribeiras dos rios que vao por BabyJonia. E pe-lo que pertence á força daquellas que se dizem causas naturaes, sobre cujas: bases se tem levantado huma Filosofia repugnante á Fé , quem se atreverá a dizer , que o Supremo Regedor do M u n d o , Author , e Creador destas mès-mas causas as haja de tal maneira se-parado de si no momento da creaçaó, que ficassem fóra do alcance de setí po-der , e do dominio de sua Soberania ? Quem se atreverá a dizer que existe alguma cousa no vasto seio da natu-reza , da qual o mesmo Deos se nao possa servir quando a julgar meio op-portuno aos fins de sua justiça , pro-videncia , ou sabedoria ? Se a Ordem natural , ou como quer o filosofismo, o systema das cousas terrenas, naö pó? de servir de instrumento a Deos para punir os erienes 7 então fica destruída

B

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M a Soberania de Deos sobre a natureza , e he este o absurdo com que até es-pezinharão a razao os Protágoras , os Epicuros af i t igos, e os modernos En-ciclopedistas* Quer por ventura a clas-se dos nossos delicados pensadores, dos misteriosos silenciaríos , ou tor-pis^imos fali adores, que sem fazer ma-nifestos , e patentes milagres Deos naó possa punir a posteridade de Ada6 de-sobediente á sua vontade, e proterva em suas obras q e pensamentos ? Pare-ce-me que tenho abatido , e pulveri-zado hum inimigo que me poderia ser molesto , e importuno e.n toda a mar-cha do meu discurso.

Ora este Deos ,que lie o Arbitro Su-premo da natureza , e s te* Su premo Ar-tífice , que se naõ separa jamais da sua obm> este Legislador eterno , que con-serva em vigor uniforme as suas leis , assim como manifesta sensivelmente a sua 'providencia na ordem fysica d o M-üftào , da Jnesma maneira a descobre em a ordem moral da sociedade hu-mana j os Reis govemao com a sua força , e sua luz suprema guia os Le-gisladores quando fôrma 6 suas l e i s ,

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• < i A / J iiá8 lhe lie indifferente a coriduétá das Monarchias T o governo , a conserva-da õ- a prosperidade das Nações ; e s c na Terra tem existidò duas a respeito das quaes os decretos * e as determina»-fofc* de Deos se mostrem mais unifor-mes | mais exactamente semelhantes ^ feaó sem duvida a NaeaÓ Hebrea, e a Nação Pöftugueza Í sobre buma * e ou-tra - velou sempre igual providenqia. N a o pôde ser -mais admirave! a ana-logia j nem mais assombroso o parÉ-lello. O povo de Israel f foi chamado O povo de Deos o povo Portuguez foi chamado * e designado írilperío pa*-ra JCSÜ Ghristo , conforme nós c o m tanta piedade acreditamos, Deos esco-lhe huma família no meio da M e s a -potamia , cercada de batbaros e Ido-latras * para delia formar seu p o v o : Deos escolhe as relíquias dos Goctas em o ÍSÍorte de P o r t u g a l , cercadas , é rodeadas de bárbaros Sarracerios, parâ formar a Naçao Portugeza. Deos | para estabelecer o povo Hebreo na Palesíi-na j afugenta y d e s t f r o e y v e n e © e ex-termina as Nações Barbaras ^ idolatras , eineireum©isã^> qtoâ occupa?a6, e ty->

fi i]

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C 20 ) _ , ranntsavaö aquelles deliciosos, e fér-til issimos Paizes; Deos para estabele-cer o povo Portuguez em todos os li-mites da antiga Lusitania permitte que delia se âffiígentem vencidos os barba-ros Sarracénos , e que vaô acoçados até refugiar-se, e esconder-se nas torri* das arêas da L ibya . Para supremo Che-fe , e conductor de seu povo , Deos es-colhe , e enche de fortaleza , e de vir-tude militar a Josué ; Deos escolhe , e firma até com milagres, para Monar-ca dos Portuguezes Affonso Henri-ques. Josué declara guerra aos barba-ros da Palestina , Affonso Henriques aos da Lusitania.* Ä voz de Josué se suspende o Sol no meio de sua carrei-ra js ás .orações , e súpplicas de Affon-so Henriques lhe mostra a face o Divi-no Sol de justiça , que he Jesu Christo nosso Deos. Josué com o immediato auxilio; v e protecçaõ do Ceó abate as levantadas muralhas de Jericò e en-tra a ferro e fogo pelas portas de Ay , sacrifica sobre os montoes de suas ruínas seus habitadores, e arvora friun* fante os pendöes gloriosos do Senhor Deos dos Exércitos. Affonso Henri*

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( 21 ) ques levanta a lança contra as naquel-le tempo inaccessiveis muralhas de San-tarém , e vê gyrar em torno dos tor-reados muros pelo vasto âmbito dos ares , hum braço alado que empunha-va huma espada , bem como a Arca do Testamento torneou os muros de Jerico , e aquelles tad temidos reparos parece que saõ primeiro abolidos do que vistos , e. entrados; e aproximan-do-se a Lisboa que ainda devia ser a Gapital do seu Império , como Josué em A y , vê despenharem-se , e corre-rem rios de sangue do levantado pro-pugnaculo do seu Castello : eu nada di-go de que este me^mo Templo em que estou fallando nao seja o mais authen-tico , e sagrado testemunho. Quando Moysés levanta as mãos sobre o mon-te , e implora as misericórdias do Deos vivente , Josué derrota nas campinas as falanges armadas dos Amorreos , le-vantando tantos troféos , quantos eracS as súpplicas , e orações de M o y s é s , co-mo com tanta magnificência se expli-cou o eloqüente Bispo de Verona : Ora-tionis opera trophea erigens.. Quan-do S. Theoionio exora o auxilio do

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( 22 ) braço Omnipotente , Affonso Henri-ques alastra os campos de c a d a w e s de Sarracenos , e deixa cobertas $ e gote-ja ntcs de cangue barbaro as muralhas ,: é propugnaculos elevadíssimos de Ce-zimbra , e de Palmela. Josué levanta monumentos sobre as ruínas de Jericó, que testemunhem sua gratidaõ a Deos pelas victorias que lhe dá -contra seus i n i m i g o s A f f o n s o Henriques sobre as ruínas das abatidas Mesquitas levanta inagestosas Basílicas a a Senhor Deos dos Exércitos que lhe dava tantos triun-, fos , e lhe cingia a frente de tantos louros. O povo Hebreo se estabelece na Palestina em forma de Naçaõ &xa , e independente depois que Josué passa o JordaÕ : o povo Portugez se esta-belece em Naçao independente , e le-vanta o seu Governo M o n a i c h i c o , de-pois que Affonso Henriques passa o T é j o , e vai nas dihtadas campinas de Ourique confundir no pó , e no sangue os exerci tos co) liga dos de cin-co Momrçhas Sarraçenõs* O bràzaõ de Israel , o escudo de suas armas , Jie a. A r c a da Al lknça ; o braza& das $rmas, e do escudo Portuguez. sao a.§,

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. . < W * mesmas Chagas do Rèdemptor ão M u n d o , tm

Naõ pôde ser mais exáeta a pro-porção entre hum , e outro povo , e sé he semelhante em seus princípios , o he ainda muito mais em seus? progres-sos , e em sua exaltação. O povo He* breo distinguio-se entre as Nações da terra pela immediata pròteççaé de Deos que à elle se aproximava, com tanto amor , e distiucçaõ , o povo PorKi<-guez entre todos- os povos da Terra M distinguio sempre pela sua adhçsâá â Deos , pelo modo particular com ..que Deos permanecia unido a elle. Q po-vo de Israel foi o objeeto da inveja , e admiraçaõ de toda® as Nações atá as mais distantes da Palestinai^í e , ou do fundo da Arábia . ou do coracaõ da í > a África vinha© os Monarebas admirar a grandeza y e magnifícencia de Jerusa^ lem. O povo Por tu guez nos dias de sua maior gloria , e elevaçaõ recebia as homenagens . e os tributes d^s mais recatadas Monarchias do O riem e , e era o objeeto de respeito e admira-çaõ para todos os povos da Terra. A s armadas de Salomao vencendo' os ma»

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( M ) rés penetraraõ até ás opulentas regioes

. de Ophir , ou seja Sofala como eu jul-g o , ou seja a Costa do Malabar , e C e i l a ó , como opinao alguns interpre-tes ; a estas mesmas regiões só depois das, armas de Salomão chegáraö pri-meiro que os outros povos Europecs as mais terríveis , e poderosas armadas de Mânoel , ou mais feliz , ou mais glorioso Monarcha que Salomão. A R e l í g i a ö , e a lei dada por Deos sobre o S inay , foi sempre a dominante em Israel^; a lei de Jesu Christo foi sem inteVrupçao sempre a dominante em Portugal.

Ora estes dois povos tao cabalmen-te semelhantes nos favores , nas gra-r ças , nas victorias, nas conquistas , nos thesouros dados por D e o s , parece que devem conservar a mesma proporção, a mesma semelhança quando se trata dos castigos , e do rigor da Divina Justiça. S i m , elles sao iguaes nos fa-vores , elles devem ser iguaes nos gol-pes. Sao iguaes nos benefícios, devem ser iguaes nos castigos. E pois Deos se serve dos mesmos instrumentos pa-r f exaltar huma , e outra Naçao j tam-

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• O r ) • . bem se deve servir dos mesmos instrua mentos para as punir , e castigar. Quanto assombro se apodera da mi* nba alma , quando contemplo a terri-veí identidade destes quadros ! Eu con-sidero o povo Hebreo em tres diver-sas Épocas depois de seu formal esta? belecimento em a Palestina Í; ; na sua primeira forma de governo fixo que foraÕ os Juizes; no estado de Theo* çracia pelo governo sacerdotal, no es-tado de Monarchia desde Saul até Se-decias , ultimo Rei de Judá. Que es^ pantosa he a severidade , e a justiça de Deos para com este povo em quaU quer destes estados, quando infringia a lei , quando apostauva ^ quando se prostituía vilmente ao culto dos Deoses estrangeiros ? Quantos flagellos , quan-tos golpes , quantos male s lhe promer-te o Deos das vinganças em o Exoda # em o Leyitico y e Deutèronomto * HorK rorisa~se a lembrança o 'animo falece , naõ só quando os , contempl.i realisados , mas até quando , os escuta p rom ettidos ! A fo me devora do ra , a ^sterijidade da terra ingrata , rebelde * infecunda ao s y o r , e ás fadigss do hç*

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( s » } , , inem , o definhamenro de tantos ho-mens robustos, a mörte prematura de tantos infantes alimentados ainda aô seio maternal donde riravaÖ já m ô lei* t e , porém sangue» A pes ti lenda ain-da mais atroz flagello , que aguça mais a morte a eéga fouce , qual a vio Da* viá em seu# dras, nao sé divisando no vasto âmbito de Jerusalém mais do que cadáveres em lugar-de vassal los, reduzindo quasi a perpetua solidão a Palestina , naÕ distinguindo sexo nem' idade , atropelando todos os foros , e pizando indistinctamente todas as leis da humanidade , e da natureza , fla-gello taõ insaciável como a sepultura. A guerra finalmente • eis-aqui o fla-gello mais freqüente » e mais terrível Com que Deos ameaçou , e castigou seu povo ; e esta he promenida sempre f

e parece que o Senhor conservava as Nações barbaras em torno da Palesti-na para servirem de instrumentos da sua i ra y quando determinava castigar seu povo. Si auâieritis me , bona ter-rae cemecletis, quod si nolueritis dias devorabit vos. Eis-aqui o tem-vel oráculo que annuncia o maior do®

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males a Israel, Huma espada devora-dora , huma espada insaciavel de san-gue , buma espada sempre pendente sobre a sua cabeça , he o flagello sem-pre p ro m p to ) eu joespa ntosp go 1 p e d a -do pelas mãos dos homens , ainda se antolhava a David mais pavoroso , e mais pezado , ,<Jue os golpes dados pe^ la mao do mesmo Deos ,, quando a seq arbítrio se deixou a escolha do castigo que devia punir sua maldade.

Quantas vezes vemos descarregados estes golpes sobre o povo de Israel em o livro dos Juizes l Podemos dizer que ainda tendo aquelle povo á vista o Si-* ñay fumegante , e naõ se tendo ainda de rodo apagado o relâmpago t nem emmudecido o éeo dos trovões idola-trava r e buscava em Deoses feitos p.<!-.. Ias mãos dos homens aquelle auxílio que só podia encontrar no verdadeiro Deos que o libertara da escravidão do E g y p t o . O flagello mais prompto nas mãos da Divina Justiça era o da guer-ra , e;eu vejo huma alternativa contí-nua de escravidaõ , e de liberdade em o povo de Israel : de liberdade , quan-? do permanecia fiei-o bservador 4a lei,.

•.

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, ' J : 8 ) de escravídaö quando sacrificava aos infames Ídolos das Nações : o Senhor permittia que elle fosse como escravo servir , e obedecer áquelles memos Ido-larras, cujos costumes seguia , e abra-çava. A pena mais freqüente de seus deíictos era hum domínio estranho a que passava , ficando primeiro derro-tado , e vencido no campo de batalha. Se eu contemplo este povo no estado^ do Governo Sacerdotal , sempre aos mesmos crimes se seguiao os mesmos castigos; a derrota do exercito de Is-rael , o cativeiro da Arca Santa nas mãos dos Felisteos , a morte dos filhos do Supremo Sacerdote H e l i , saõ ou-tros tantos testemunhos das vinganças do Immortal , que se serve do flagello da guerra para punir os crimes dos ho-mens.

Se a minha vista se alortga pelos success ivos quadros que me offerecem as Épocas de Israel no domínio , ou Governo de seus Monarchas desde o primeiro , que pedira6 aré ao ultimo que tiveraõ , quero d i z e r , desde Saul até Sedecias, eu na6 vejo mais que o flagello assoiador da guerra , sempre

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prompto para punir aquelle povo in-dócil , e ingrato. Sobre as monta-nhas de Gelboé expira Saul , e fica derrotado desbaratado e disperso o exercito , expira Jonathas , e os fortes de Israel sao humilhados. Se o Reina-do de Salamaô se volve pacifico , o Senhor contempla as virtudes de Da-vid , mas já em o Império de R o b o a o , o Reino se divide , a guerra se atêa y

e seu facho inextinguivel leva o incên-dio , a assolaçaÔ, e a morte a toda a parte , e se o ímpio Jeroboao faz pec-car a Israel levantando os infames Ido* los a que mandou sacrificar de todos os lados se desembainha a espada da guerra , que atormenta , fere , e assola aquelle povo contumaz , e rebelde. Pa-rece que o Senhor para vingança sua conserva sempre armados em torno de Israel tantos povos, que lhe declarem a guerra apenas elle abandona os ca-minhos da justiça. O s Monarchas do E g y p t o , os da Syria , e o formidável, e poderoso Império de Babylonia, es-tão sempre armados para cahirem so-bre Israel, e esmaga-lo debaixo do pe-20 de suas armas victoriosas $ quando

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elle se esquece da lei do seu: Deos; Etf nao me quero lembrar do espantoso assedio de Samaria 4 esta lembrança horroriza a minha alma : as Mais che-gaö a devorar seus mesmos filhos > pe* leijando sobre as carnes divididas * ö

^palpitantes que elSas mesmas liaviad alimentado a seu peito com tanto hor-ror da natureza * com tanto assombro do Monárcha que até sobre as mura-lhas da apertada Cidade , rasga cons-ternado o proprio manto real > para dar a conhecer a funda mágoa que lhe dividia o cofaçaâí Basta que detenha-' mos a vista sobre o ultimo extermí-nio daquella Naçaó ameaçada desde o Sinay em o 28 Capu do Deuteronomio * naquelle pavoroso Oráculo , que. pare-ce qu^ vemos agora realizado sobre nós mesmos.- Eu j diz o Senhor eií chamarei de muito longe huma Na» çaô feroz j e; guerreira ^ que desfraldan-do os estandartes correrá sobre ti com a mesma íigeireza , com o mesmo iuw peto com qUè costuma desferir o vôo« a Agâiá carniceira sobre a«imbeilê pre-za 4 In simihtuâinem Aquilo vo/aft*> tis cum impei u. T u verás dentro em

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C 31 ) em te&é muros esta Naçao impudett-tissima üaõ despiedada , e barbara , que nem ^perdoe ao velho curvado de-baixo do ^ezo dos ánnos , nem se en-terneça escutando os suspiros g e ven-do correr as lagrimas , e até 0 sangue do innocente meninoGentçm procâ* cimmam , nm defirat seni nec mistreatur parvuli< Será estranha pa-ra ti a linguagem que estes bárbaros failáraõ: Gujus linguam intelligere non foieris» E para que conhecessem este povo que ainda então nao existia , lo-g o se lhes diz em os Números que se-rão os Romanos;, e que virão dos por-tos da Italia em Galés armadas : JTtf-: nlent in triremibus de Italia„

E com effeito , Senhores, apenas o povo chegou ao ultimo cumulo da maldade depois do cativeiro de Baby-lonia , e cumpridos os limites da Di-vina Justiça em hum longo cativeiro., » sem que se lhe seguisse a total emen-da 1, depois der haver sido victima da ferocidade, dos sacrilégios , e da ra-pacidade de Antiocho > Deos cumpre sua promessa , chama os Romanos > so-berbos Gonquistadores, e dá comple-

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mento á 'ameaçadora Profecia <fe Da-iiiei : Delebit populus 'cum Duce ven-turoi T i r o se aproxima a Jertrsalem depois de ter devastado * e subjugado a Palestina v e ate agora inda a histo-ria do Mundo nos naÕ oífereceo hum espectacuío mais JastiíriöSq.'.':Os aperta^ dos cercos de Maíselha , de Sagunto ,\ e de Numancia s a o n a d a , ou apenas sombras quando os cotejo , e os com- : paro com o assedio de Jerusalem.Ve-jo morrer hum milhão , e cem mil He- f breos pelo ferro , pelo fogo , e pela fo-me. Vejo arder o Templo do Deos v i ^ v o , correr como em derretida lava os metaes preciosos que lhes serviaô de ornamento , converterem-se em cinzas os pomposos: Palacios de.Siaô , demo-

1 - lirèm-se , arráncarem-se para sempre a-. quelles muros , aquelias levantadas tor-;-

res j aquèllesysoberbissimos bastiões que a magnanimidade de Cyro mandara le-vantar, e que o libertado povo , e os Sacerdotes entre cânticos festivaes ti-nhaâ edificado ; vejo abolidos para sempre os sacrifícios, abolida áquellaH Naçaõ > e seus pequenos restos -Vendia dos como escraYos desapparecerem con-f

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fundidos entre os povos que os insul-tava 6. Vejo unicamente ruínas eternas , cujo espectaculo consterna até o mes-mo coraçaô do Conquistador , nem hum só Profeta lhe fica,, que sobre as fumantes cinzas entorne, como outro Jeremias , mais ardentes lagrimas , e busque com os olhos affogados em pranto o lugar onde existira Jerusa-lém. Vejo a Palestina convertida em hum ermo , e nelía nao se verá jamais nem throno , nem a l tar , nem cul to , nem Sacerdócio: tudo vejo envolto no mesmo pó que encobre as ruinas de T y r o , as de Babylonia , as de Palmy-ra , as de P e r s é p o l i s . . . . basta*

Acabou-se a Naçaõ > a sua heran-ça passou a estranhos ; a guerra a ex-terminou, e foi a guerra o c a s t i g o , e a pena de seuô delictos. O h Portu-gal ! se tu tens sido semelhante á Pa-lestina em os favores , porque o naõ serás também nos castigos ? T u , se-melhante na ingratidaô , serás seme-lhante na pena , e hum Deos que se tem mostrado para comtigo taõ mise-ricordioso , também se mostrará hum s Ç n À Deos vingativo, Se os crimes

3 # l l N v ^ -

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( 34 ) nuafem , e se multiplicarem i ultimar-se-ha o castigo ; porque a justiça de Deos deve ficar cabalmente satisfeita. Hum silencio aterrador se apodera de mim , a minha alma se immerge em hu-ma espantosa meditaçaô, á vista do nosso premente estado. N a o he preciso que eu revolva na memória as épocas antigas para conhecer a identidade do procedimento da Divina Justiça^ a res-peito de Israel , e de Portugal na pu-nição de seus idênticos , e semelhantes 3 *

crimes. A f o m e , a pestilencia tem der-rotado este Paiz como derrotou a Pa-lestina^ O s dias de D. Duarte nos offe-recem a mais terrível scena da mor-tandade pelas mãos da pestilencia. Jo-s i a s , que buscava a gloria da N a ç a ó , expira varado com huma lança nos campos de Magedo. D. Sebastiao aca-ba alanceado em os campos Africanos. Israel vai em cadêas nos dias de M a -nasses , e de Sedecias servir por seten-ta annos ao Rei de Babylonia ; Portu-gal passou a domínio estranho sem Monarcha natural , e proprio , suppor-tando hum j u g o pezadissimo , e arras-tando ser vis cadêas pelo espaço de ses-

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C 3 5* ) sentâ anpos , e sempre he a guerra que peza sobre hum e outro povo , que o fere , que o fkgeila , que o opprime : sempre he a guerra o açoute de que se serve a Divina Justiça para castigar huma e outra N a ç a Ô , assim como foi sempre a abundancia da paz o prêmio , e a recompensa das virtudes de huma e outra NaçaÔ.

E que temos nós até agora v i s t o , e sentido, oh Portuguezes ! A guerra, E naÕ reconhecemos este açoute ex-terminador em o cativeiro de noves

mezes ? Que outra cousa fo i senão hu-ma severidade da Divina Justiça , ira-da contra nossos crimes, a destruição, ainda que momentânea , da nossa So-berania , e independência ? A s horrí-veis , e pezadissimas exacçoes j ou con-tribuições ? O saque de tantas C i d a -des ? A dilapidaçaô de tantos thesou-ros ,? A violaçao de tantos direitos , de tantas leis ? O insulto feito a tantos Cidadãos honrados , a tantas matronas honestas , a tantas Virgens castíssi-mas , a tantos Sacerdotes respeitáveis, a tantos Tribunaes magestosos , e a toda huma Nação aviltada > e escar

C ; Í

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( ^ ) hecida? Que outra cousa he mais que hum flageilo da Divina Justiça esta in-vasàõ pertinacissima que sentimos , es-tas cadêas que se nos preparaó , esta dominaçaÕ que se nos ameaça , estas espadas que lampejaõ , estes canhões que se acestaõ , estes assédios que se destinaõ ás nossas Praças; esta guerra taõ injusta , taõ barbara , e nunca já-mais provocada com que de novo se attenta contra a nossa existencia natu-ral , e política ? A h ! que a vista des-te espectaculo até a mais teimosa , e descarada incredulidade dos terríveis mysteriosos se vê obrigada a exc lamar, que he hum flageilo da Divina Justi-ça , e naó natural resultado do fio , ou cadêa dos acontecimentos humanos , da soberba , da raiva , da cubiça , da ambiçaõ de hum monstro , em cujo coraçaõ nao só se familiarizáraõ todos os crimes , mas até se convertêraô em natureza.

Justus es 'Domine f et rectum ju-àicium tuum : Vós sois recto > Senhor, e muito rectas as decisões dos vossos juízos. Vós punis nossos attentados , castigais nossos de l ic tos , e para jus-

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C V7 ) linear a vossa casa , eaJvogal la dian-te dos homens , eu nao tenho mais que' contemplar-me a m i m , e contemplar os homens. E parece que vos ouço di-zer a respeito de Portugal aquilio mes-mo que dissestes a Moysés sobre o Si-nay a respeito do povo de Israel : D i -mitte me , ut irascatür furor meus, et ãeleam eos. Deixa-me que se exas-pere o meu Furor , e destrua de huma vez este povo de ingratos. M a s ainda que sejaö justificados os vossos proce-dimentos , deixai-me que eu vos faça as mesmas reflexões que Moysés vos fizera. Lembrai-vos, Senhor , que di-riaó estes mesmos ímpios, que nos in-vadem taô soberbamente, que vós nao Sois o Author do nosso Império , e que he vã a esperança que temos em vossa infinita bondade , e misericór-dia. Lembrai-vos que se ficarmos ven-cidos vos insultarão ainda mais com suas blasfêmias» M a s ainda que eu fa-ça estas reflexões a Deos , eu vos nao posso dizer , que o Senhor se appla-cará com a minha v o z , bem como se applacou com a voz de Moysés sobre o Sinay ; Placa tus Dominus uoce Moy-

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K ? 8 ) -sen. C o m tudo eu vos posso dizer,"quê posro que seja taõ justa a causa de Deos , que peça o complemento de sua vingança em nosso extermínio , nós podemos desarmar seu b r a ç o , e fazer parar no meio da carreira ö raio da sua indignaçaó , se tomarmos o parti-do da verdadeira penitencia , prompta , verdadeira , efficaz , e permanente. N a -da vos digo que nao seja authorisado pelas Santas Escrituras , e pelos Orá-culos, do mesmo Deos. A espada de sua justiça estava pendente sobre N i -nive , epela pavorosa voz de hum Pro-feta , o Senhor lhe-jinnuncia a sua su-bversão dentro do espaço de quarenta dias. Cruzaó já sobre ella os raios que a4 devem reduzir a cinzas , abatendo seus muros ; seus palacios , suas sober-bas torres , a terra Se abriria , e dila-taria suas cegas gargantas para a en-golir dentro de seu escuro b o j o , e fe-chando-se sobre ella outra vez , nem deixaria ver mais o lugar onde existi» ra : e com tudo no meio destas terrí-veis ameaças , e já tanto na proximi-dade do precipício , apenas correrão, as lagrimas da penitencia , apenas o im-

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( 39 ) moderado Itixo dos pomposos vestidos se converteo em sacco , e em cilici^ desde o Monarcha até ao ultimo dos vassallos ; apenas a voz do cântico se converteo em luto , e aos lautos ban-quetes se seguio o jejum , e a absti-nência ; Deos suspende o flageilo emi-nente , embainha a espada extermina-d o r a , Ninive existe , e Deos derrama prompto as torrentes da sua misericór-dia sobre hum povo constituído entre os dois extremos , a morte , e a peni-tencia. O complemento do castigo nao se atalha senaõ por meio do arrepen-dimento. Assim o protesta o mesmo Deos ao seu povo : St conversas popu-lus meus deprecatus fuerit, ego exau-riram de Cxlo, et sanabot erram eo-rum. Quem salva a David da rui n a , e da morte ? Quem suspende o castigo que elle mesmo tinha provocado com seu homicídio , e escandaloso adulté-rio ? A penitencia» Apenas o Profeta Isaias se apresenta diante de Ezequias , e lhe intima a necessidade de morrer ,

N como castigo de sua vaidade , e o cons-ternado Monarcha derrama copiosas lagrimas , c os gemidos de sua peni-

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( 40 ) ' tencia sahíraÔ de seu coraçao , o de-

c r e t o se suspende , Deos se mostra pro-picio j e parece se compraz de dar sempre lugar á sua infinita misericór-dia» Se o povo vê cercados os muros de Jerusalem pelos exércitos dos Cal-deos , e hum soberbo General lhe a? meaça fazer arrancar , e incendiar o T e m p l o , e n o meio desta consterna-ção levanta a voz na amargura da pe-nitencia , para implorar a divina mi-sericórdia , Deos annuncia até a victo-ria , protestando-!he que elle mesmo pelejaria contra seus inimigos : H & c dixit Dominus vobzs , nolite timere, tiec p'aveatis bane multituâinem , von esi enim vestra pugna se d Deu ^

Eis-aqui exemplos que devem sus-tentar a nossa esperança , e desterrar o susto , e o pavor dos nossos corações, Se este he o fim que desejamos , pa-rece que para o conseguir nos devemos servir dos mesmos meios ; a peniten-cia . . . ah 1 E he este o estado em que cu vejo Lisboa ? O h quadro horrendo , eu queria separar de ti a vista , foge de ti como aterrada a minha imagi* n a j a õ } a mais viva eloquencia he de-

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, ( 4 r . ) b i l , frôxa , amortecida para te repre-sentar. Lisboa penitente ? . . . Passe-mos rapidamente os olhos pelo quadro actual que ella nos ofleréce em toda a parte descubrimos o crime ; Hon est qui faciat bonum , nor. est usque ad unum. Hum desgraçado fermento de mal levéda , e corrompe toda a ma-ça da Nação. Hum escondido volcaõ guarda dentro em seu seio a matéria de todos os estragos que Portugal sen-te na muito universal corrupção de costumes , ou geral immoralida.de, que tanto império exercita sobre nós. Olha-mos para a administraçaõ da jus t iça , vemos vexaçóes,sobornos , concussões, parcialidade : para ó Commercio , ve-mos falta de fé , enganos , e perfidias em suppostos falidos , e hum conti-nuado , e escandaloso j o g o da menti-ra , e do embuste : para a educação públ ica , e particular, vemos os Pais , as Ma,is de • famílias , os Mestres , ar-rastrando com o proprio exemplo pa-ra a corrupção a incauta juventude: para o luxo , vemos huma especie de mania , ou frenezim em o querer con-servar , e sustentar até no cenuo da

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( 4 2 ) - . mendicidade, s a c r i f í c a n d o - s e a este. ri-dículo f a n t a s m a a honra , a probida-de , o p u d o r , a r e p u t a ç a o , e as virtu-des todas: p a r a o emprego ordinário da v i d a , e vemos huma voluntaria , e e s t u d a d a o c i o s i d a d e ; para os especta-culos t h e a t r a e s , e vemos a escola do vicio p a t e n t e , na 6 o f f e r e c e n d o objectos em q u e o pudor s e n a Õ ofFenda , escu-tando-se mil vezes dizer ao CidadaÕ honrado , que nao pódè conduzir a el-les a sua famiiía para poupar a seus castos ouvidos os échos de tantas ob-scenidades : para esses reductos sober-bamente dourados, que em taças pre-ciosas dao a beber a ruína da saúde, e da razao; e nao vemos mais que a maledicencia , o descaramento , a es-tupidez legisladora : a política estou-rada , e a murmuraçaó venenosa : para a decência pública , vemos huma nu-dez a f F e c t a d a , e provocante , huma prostiruiçaó que naó contente de pro-fanar oè asylos domésticos , e os reti-ros que o crime sempre assustado se vê obrigado a buscar aterrado por sua na-tural feaIdade, quer até contaminar as praças públicas > empenhandc-se até

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( 4 V ) contra o enjôo , e indignaçaÔ que ex-cita até nas almas mais desmoraliza-d a s , para o homem C i d a d a õ , vemos em muitos outros tantos monstros de perfídia inimigos da Patria , a quem devem o ser , a subsistência , a consi-dera ça 6 , e os lugares que occupaõ. T a e s sao as abrazadas pedras ? que este horrendo volcao vomita , e arroja de seu inflammado , e sulforoso seio. M a s que volcaõ h e e s t e ? . . . ah ! vós o sabeis. Essa seita de verdadeiros de-monios coílígados com o juramento do mysterio , e do segredo , que iniciados em ridículas visagens-, vaõ progressi-vamente subindo ao conhecimento do grande arcano , em que aprendem a naõ querer a ReligiaÕ , nem Governo, nem authoridade , nem ordem, nem su-bordinação , nem leis , nem proprietá-rios , nem freio , nem costumes , nem h u m a n i d a d e n e m Pátria , nem socie-dade civil , nem jerarquias , nem dis-tinções moraes, nem virtudes, nem fa- > milias. Desta systematica abominaçaõ. nascem todas as perfidias , todas as en-tregas , e traições, que tanto avijtaö neste desgraçado século o caracter na-

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" ( 44 ) cio na L Daqui vem o descaramento dq

'{ orgulho chamado scienrifíco , com que ociosos perennes se atrevem adentrar den-

j- tro do Santuário dos mais augustos Mysterios. Daqui vem as profanações dos T e m p l o s , a desenvoltura nos tra-jes , a obscenidade nos espectaculos, os excessos do luxo , a liberdade das palavras, os insultos aos Mysterios da R e l i g i ã o , o desprezo das leis. Daqui vem a falta de energia , e patriotismo, ou a hypocrisia destas duas virtudes so-ciaes tao importantes nas terríveis cir-cunstancias de que nos vemos rodea-d o s , as novas de terror, ou de falsa segurança que servem de laços a âni-mos incautos , e desapercebidos ; da-qui nascem essas occultas orgias , quan-do se annunciaõ prosperidades dos nos-sos inimigos , e aqueila mofa atrevi-díssima com que esta mesma devotissi-ma acçaõ será tratada por esses orgu-lhosos , ou fatuos niveladores.

Ainda que me queiraõ oppôr que sempre houve crimes na terra , ainda quando esta seita pestilencial naõ es-Uva arraigada , e estabelecida , porque sempre no coração humano existe hum

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. .< ) fundo de malícia capaz de produzir ö quadro , que tenho exposro dos pre-sentes absurdos j nós palpavelmente co-nhecemos que elles nunca foraõ leva-dos a taõ grande excesso , como ago-ra os vemos ; tem outra impulsaõ , ou-tra causa poderosa , que produz os de-sastrosos eífeitos , de que somos teste* munhas, e também victimas. Em quan-to nao virmos huma mudança univer-sal , naõ se pode dizer que lie eí l icaz, e sincera a penitencia.- Mas nao he es-te só o triste espectaculo , que me of-ferece Lisboa , eu ainda desqubro hum maior excesso de abominaçaõ , e nes-te momento , arrebatado como o Profe-ta Ezequiel , parece-me que ouço hu-ma voz interior, que me diz : Vide abominattones p tf sim as, quas istifa-ciunt bic, Eu naò posso entender este contradictorio procedimento. Quando se falia nos males da guerra , que pe-zaõ sobre nós , eque de taõ perto nos tem fer ido, dizem , que sao gravíssi-mos ,, e insupportáveis; mas quando se díz que saõ hum castigo de Deos, entaõ já naõ saõ insupportáveis como eraö d'antes , e costumando nós ser

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« ( 4 6 )

ambiciosos nas desgraças , exageran-do , e engrandecendo nossas desventu-ras , e as causas do nqsso pranto, so nisso entramos no louco engenho de • - • " . - o.

naõ querer parecer infelizes, para nao confessarmos que somos castigados. T a l v e z este seja o mais pezado dos nossos castigos , quero dizer , huma cegueira de coraçaõ , na qual se sente o flageilo , e nao se quer;; conhecer o braço , , que/o vibra. Se nao sao exces-sivos nossos males , para que nos , la-mentamos? E se saõ excessivos para que negamos que venhaõ cie Deos ? O s peccados se vêem , os infortúnios se sen-tem , e poderemos negar que sejaõ cas-tigos ? E se em fim reconhecemos que saõ castigos , que obstáculos lhes po-mos como penitencia ? Que mudança se observa em nos ? Que verdadeira de-voção se tem augmentado ? Que in-

v dicios apparecem de verdadeira humil-dade , de arrependimento , e de com--punçaõ f N a õ se torna cada vez mais sensivel a profanaçaõ dos T e m p l o s , onde queremos encontrar hum D e o s propicio Mas públicas demonstra-ções de, penitencia apparecem j á aos

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( 47 ) olhos desta Capital. S i m , eu as vejo j mas quem sabe se nestas mesmas ac-ções de piedade se encontrará matéria de reprehensaõ ? E poderão ser indícios de verdadeira penitencia acções conta-minadas talvez com o veneno dos pec-cados na consciência , com a desho-nestidade nos olhos , com a pompa nos vestidos ? Sabei que a alma destas demonstrações foi sempre a compun-çaõ do coraçaõ ; mas porque esta com-punçaõ inquieta a falsa paz do animo, e contradiz as paixões dominantes, e exige hum efficaz proposito da verda-deira reforma , , imaginaõ os homens que certas demonstrações externas sup-praõ tudo isto , e possao mitigar a ira ue Deos. Novo insulto feito ao mesmo Deos , pois parece que lhe dizem que naõ espere outra qualidade de peniten-cia. N a õ vos admireis da minha pro-posiçaõ ; ella nasce da manifesta, in-coherencia , que eu descubro no meio desta Capital. Hoje fazeis está acçaõ de piedade , e á manhã espectaculos profanos , annunciados pelo meio das praças , e ruas com hum apparato naõ só ridicuio , mas ob§eno; parece na

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( 4 « % . . , verdade que lie escarnecer a ira ae Deos juntar quotidianos espectaculos com súppiicas de penitencia , querer contínuos divertimentos no meio de

"contínuas desgraças , e quando nos ve-mos cercados de barbaras espadas, entaó parece que mais nos esquecemos de Deos em nossas acções. Que devo eu chamar a isto ? Fortaleza de ho-mens vis contra o Omnipotente ! For-rai eza em males , que"na6 saó evita-veis por outros caminhos , que uaõ se-jaó os da humildade !

Saó famosos os peccados do povo de Israel antes dos flagellos , mas tam-bém famosa a sua penitencia quando ps sentiaõ : nem vemos nas Escrituras que entaó permanecessem incrédulos , ou contumazes, prostrados ante a Arca do Testamento redobravaõ os gemi-dos , e as lagrimas , levantando mavio-sos clamores, que imploravaõ miseri-córdia. Por ventura seriaö maiores os males que elles soffriao , que os ma-l e s , que nós agora supportamos ? Que scena offerece a nossos olhos Lisboa , ainda que taó distante do horrível thea-tro da guerra ? ^ h ! se nós podessemos

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veis , cuja pobreza he tanto mais a -marga , quanto he mais occulta ! A penúria , e a escacez das produeç.oes da terra já nao pôde ser mais sensível. A mendicidade a cada passo forçada a implorar soccorro , ainda mesmor na desesperaçaô de o conseguir. D e toda a parte lagrimas sem medida , e mui-tas vezes invejadas de quem , ou por empenho , ou por decéro se vê obri^ gado a reprimi-las. Deos desde»os Geos atezando o arco para despedir novas settas de calamidades , e estragos , p a -ra que o temor do futuro nos torne ainda mais grave o castigo presente da guerra devastadora , com que se inten-ta a nossa ultima rui na , e total exter-mínio. Eu creio que pouco mais se pos-sa esperar que hum dilúvio destruidor de todos os viventes.#

Tantas calamidades obrigaö os mesmos incrédulos a bradar como os Magos de Faraó: Digitm Dei est Mc* O mesmo Faraó o confessou obrigado da evidencia dos factos. Digitus Dei est hie. E logo ajunta o Sagrado T e x -to : Et induratur est, mfkamomsn

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( 5 0 ) . Conclusa6 portentosissima e qüe se naõ< devia esperar nem mesmo de hum Faraó. Eu vejo | disse o malvado, que a maò de Deos Omni potente he a que me fere naõ he o acaso i naõ he o en-canto , ou a natureza : eu sinto esta maõ p è z a d a e u a conheço eu naõ a posso negar : com tudo i s to , naõ se conceda a liberdade aos Hebreos , an-tes se aggrave tanto seu j u g o , que el-les naõ possaõ respirar , augmente-se o pezo de suas cadêas, e dupliquem-se os trabalhos , de que elíês se lasti-maõ, Eis-aqui a i magem , que nos con-yém , e que ao vivo nos representa. N a õ he preciso que eu vos diga corno Ministre do Evangelho-, que nesta in-vasaò devastadora', que sentimos, en-tra a maõ de Deos vingadora de seus ultrajes ; nós o dizemos espontanea-mente , e esta verdade se annuncia nas-mesmas praças públicas , nos mesmos crapulosos domicílios do jogo , e da ociosidade. He castigo dè D e o s , lie castigo de Deos ; e esta terceira , e ta6 barbara invasaõ he hum manifesto si-nal da sua ira , e depois desta corifís-saõ , se seguem |em nenhuma detença

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C r i ) as murmu rações, os espectacuíos pro-fanos , a fraude , a.violência , a injus-t i ç a , a vingança , a perfídia , e em muitos ímpios , a quem superficial sc iene ia da política Napolionica infa-tua , a cohspiraçaõ abominavel contra o Throno , e contra o Altar ; e ainda á vista do desengano , e da falsidade das; promessas dos "malvados .nivelado--res, cooperaõ para o estabelecimento do seu malvado systema subvertedor de to-da a harmonia s o c i a l , endurecendo-se seu coraçaõ ainda mais que o de Fa-raó á vista dos imminentes , e já reali-sados castigos ; subministrando desta arte ainda mais armas á justiça de hum Deos offendido, que só podemos applacar com huma verdadeira peni* tencia.

A h ! Senhor! lembrai-vos que fe-ris aquelles Portuguezes , que tantos trabalhos , e fadigas supportáraó , e a tantos riscos , e perigos se expozeraõ para levar vosso nome até aos últimos limites da Terra : aquelles Portuguezes , que nunca deslizáraõ nem hum só pon-to da crença de vossa Santíssima L e i , que ainda que sejaõ p-eccadores ? por-

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que sao homens , nunca jamais apos-tatáraõ da vossa Rel igião f que .se vos tem offendidö , também agora vos-pe-dem taõ humildemente misericórdia. Satisfaça-se vossa justiça com seu ar-rependimento , e com os males ta6 pe-zadós | que ha quasi tres annos tem recebido das mãos de taõ barbaros ini-migos ; derramai a vossa ira contra as gentes , que vos na6 conhecem , sejaõ estas gentes dissipadas y pois são eJlas as que com tanto afinco querem a guer-ra. M a s para enternecer vosso coraçaô eu na6 me quero servir das minhas ex-pressões , saõ minhas , e por isso te-rão pouca Valia f é pouca força na vos-sa augusta presença , eu me servirei das palavras do vosso Profeta Jeremias, que merecêraõ tanto a vossa miséria cordia. Lembrai-vos , Senhor , do que rios fconteceo , e do que já soífremos pelo es pá ço de nove mezes : Re cor-ãaré f Doniimv quid accederit nobis. Volvei os olhos , e vede com attehçâõ o öpprobrio y de que todos ficámos por tanto tempo cobertos. A vôsèà he-rança { e a nossa cahia nas mãos dos barbaros dominadores : Htfreditas nos-

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. C m ) /rvz versa est ad alienos, As nossas casas foraÕ dilapidadas , despidas , e despojadas pelas ímpias mãos de ho-mens estranhos : Domus nostraè ãd extraneos. E m funesto desamparo , e miséria ficámos pupillos, e orfaös sem aquelle bom Pai , que vós nos destes: Pupillt facti sumiis absque Patre. Nos-sas Mais ficárao envoltas no triste man-to das lagrimas , e da desconsolada viuvez : Matres nostrae quasi vidtâ. A mesma agua , com que refrigerá-vamos nossas fauces no ardor da sede causada, por nossa mágoa , foi com-prada a preço de nosso suor : Aquam mstram pecunia bibimus. Ameaçáraõ com despiedado ferro nossos humilha-dos pescoços , e dos fios de suas espa-das vimos mil vezes pendente a nos-sa morte : Cervicibus nostris mina~ baihur. N a ö queriaö dar descanço á. nossos trabalhos , antes os multiplica-' vaó de contínuo , nem podiam os ao menos exhalar hum ai de repouso; Las* sis non ãabatur requies. Dêmos , e entregámos nossas mãos a estes, duros Egypcios , e servimos nós trabalhos mais fatigadores a estes soberbos As-

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. ( * 4 ) syrios , para nos pagarem com o p a 6 , que eiles mesmos nos roubavao ; ÂZgy-pto deaimus % manm , et Assyriis, ut saturaremur pane. Transferírao-se para nós as iniquidades dos que já naó exis-tem : Paires nostri peccaverunt, et rion sunt ,et nos iniquitates eorumpor* tavimus. Homens ignorados, obscu-ros , pequenos por nascimento , verda-deiros escravos da tyrannia, e despo-tismo , feraó os que nos domináraó , e se declaráraö por senhores nossos ab-solutos sem humanidade , e sein jus-ti ça: Servi domina ti su nt nostri. N ao teriarnos na 1 erra quem,nos remisse , e resgatasse de suas mãos, se vós nao inspirasseis o valor , e honra ao nosso mesmo povo , fazendo que levantassem primeiro o estandarte de nossa liberda-de : Non fuit qui redimeret de mana eorum. Vede agora , Senhor, a que es-tado vai sendo reduzida huma Provín-cia deste Reino. Lá vaó fugindo co-mo escondidos dentro em si mesmos, vaó buscando o retiro dos montes , le-vando comsigo o paó de seu sustento , fugindo dos gumes da exterminado-ra : In animabus,, nostris ajferebamus

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M ;> panem nobts a facie glaâii in de-serto.

Basta , Senhor, este espectàculo, que se vai outra vez renovando seja ca-, paz de enternecer o vosso coração , e vos obrigue a ter de nós misericór-d i a . . . . ( * )

F I M .

( * ) A q u i se prostrou o i m m e n s o audi-

tório , que e s c u t a v a , diante de hu ma Imagem

de J. Ç . cruci f icado , e no meio de h u m p r a n -

t o universal , e sentidos clamores , implorou

o Orador a Divina Misericórdia ^ náö podendo

prosegir , por se ver destituído de forças f y s i -

cas f sustentando até este p o n t o a decl<Hnaçaõ

p e j o espaço de huma hora , e dois minutos.

C A T A L O G O .

R V J L S ç Sermões , do R . p . José A g o s t i n h o de MãCéâo que se vèhãerti na frjü de Jo3S Henri-ques , na Rua Augusta N. i, lu t.^v

Sermão de qàarta f e i r a $ e Cinza , pregado

(^J'^^Km t i

ft/jpW » I

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na Santa I g r e j a da Misericórdia de L i s b o a a j

de M a r ç o de i % i 3.

S e r m ã o d?.s do'res de N . S e n h o r a , p r e g a d o

de tarde na R e a l Capel ía dos Paços de Q u e l u z ,

ñ a FèVtividade que jnaniíava fazer a Sereníss ima

S e n h o r a Pr inceza do Brazil , v íuvá » n o a n n o

de i 8 o j .

Pái iagyrico de S . Francisco Xavier ., recita»

d o na Real Cape lia dos P a ç o s de Ç)uéiuz , a j

de D e z e m b r o do anno de i 804 , es tando p r e -

s e n t e S. A . R . o Pr inc ipe R e g e n t e N . S . , que ,

p o r v o t o seu part icular , mandou f e s t e j a r o

m es mo r Santo.

S e r m a 6 pregado na I g r e j a de N. Senhora

dos Martyres a 2 j de N o v e m b r o de 1808 por

oòcasiaõ de Fest iv idade na Fe l iz R e s t a u r a ç a ô

deste R e i n o . % E d i ç a ô 1 8 1 4 .

Sèf i t iaõ de A c ç a ô de G r a ç a s , p e l o m i l a g r o -

so res tabe lec imento da Fe lec idade da Europa ,

p r e g a d o na R e a l Casa de S a n t o A n t o n i o , n a

p o m p o s a S o l e m n i d a d e q u e f e z o S e n a d o da Ga-

mara de Lisboa , no dia 2 de Maio de 1 8 1 4 .

Sermão de A c ç a ô de G r a ç a s pelo m i l a g r o -

so Benef íc io da Paz G e r a l da Europa , p r e g a d o

na Igreja de S. Jul iaõ a 22 de J u n h o de 1 8 1 4 ,

na grande Fest iv idade , que 6 j u i z do P o v o , e

Casa .^os vint-e e quatro da C i d a d e de L i s b o a

c e l e b r á r a ö , a q u e assistíraö os E x c e l l e n t i s s i m o s

S e n h o r e s G o v e r n a d o r e s 4o R e i n o , a C o r t e , é

as pessoas de p is t incçaQ etn todas as Classes

segunda Edição, ' 1 t v.VW^- \ miíWn , um