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“Além da capital, pelo Saneamento do Maranhão”: a instituição do Serviço de Profilaxia Rural (1918-1924) Mariza Pinheiro Bezerra Introdução No dia 3 de junho de 1919, às 9 horas, uma comitiva formada por cerca de 40 autoridades locais e representantes federais partia do centro de São Luís, capital do Maranhão, em direção a Vila do Anil, região distante cerca de 6 km do perímetro urbano da capital. Na ocasião, bondes e automóveis conduziam esta comitiva formada por políticos, médicos, comerciantes, religiosos e educadores que julgavam testemunhar uma nova fase na saúde pública do Maranhão. O jornal local Pacotilha acompanhava o evento e, no dia seguinte, estampava matéria fornecendo detalhes daquele acontecimento. Em clima festivo, esta espécie de marcha para o interior da ilha de São Luís, chegou às 10 horas no Posto Profilático do Anil, o primeiro montado pela comissão de Profilaxia Rural do estado. Raul Almeida Magalhães, bacteriologista que atuava no Instituto de Manguinhos, no Rio de Janeiro, ali desempenhava a função de chefe do Serviço de Profilaxia Rural do Maranhão. Diante das autoridades, o médico fez um breve discurso sobre a importância daquela iniciativa que visava combater as endemias que acometiam a sorte das populações que habitavam as áreas rurais. Após o discurso, “ouviram-se aplausos e a banda de música local executou várias peças do seu repertório(PACOTILHA, 04.06.1919). Esta espécie de espetáculo científico, que passou pelas ruas de São Luís, adentrou o interior da ilha e que virou notícia de jornal, tratava-se de uma das primeiras ações do movimento pelo saneamento rural do Brasil no Maranhão. Delimitava, na ótica de médicos e autoridades que atuavam no estado, um momento de inserção do considerado longínquo, e mesmo, negligenciado Maranhão no rol das preocupações das políticas federais. Doutoranda em História das Ciências e da Saúde (COC-FIOCRUZ). Bolsista CAPES. Orientadores: Jaime Larry Benchimol e Juliana Manzoni. Email: [email protected]

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“Além da capital, pelo Saneamento do Maranhão”: a instituição do Serviço de Profilaxia

Rural (1918-1924)

Mariza Pinheiro Bezerra

Introdução

No dia 3 de junho de 1919, às 9 horas, uma comitiva formada por cerca de 40

autoridades locais e representantes federais partia do centro de São Luís, capital do Maranhão,

em direção a Vila do Anil, região distante cerca de 6 km do perímetro urbano da capital. Na

ocasião, bondes e automóveis conduziam esta comitiva formada por políticos, médicos,

comerciantes, religiosos e educadores que julgavam testemunhar uma nova fase na saúde

pública do Maranhão. O jornal local Pacotilha acompanhava o evento e, no dia seguinte,

estampava matéria fornecendo detalhes daquele acontecimento.

Em clima festivo, esta espécie de marcha para o interior da ilha de São Luís, chegou

às 10 horas no Posto Profilático do Anil, o primeiro montado pela comissão de Profilaxia Rural

do estado. Raul Almeida Magalhães, bacteriologista que atuava no Instituto de Manguinhos, no

Rio de Janeiro, ali desempenhava a função de chefe do Serviço de Profilaxia Rural do

Maranhão. Diante das autoridades, o médico fez um breve discurso sobre a importância daquela

iniciativa que visava combater as endemias que acometiam a sorte das populações que

habitavam as áreas rurais. Após o discurso, “ouviram-se aplausos e a banda de música local

executou várias peças do seu repertório” (PACOTILHA, 04.06.1919).

Esta espécie de “espetáculo científico”, que passou pelas ruas de São Luís, adentrou

o interior da ilha e que virou notícia de jornal, tratava-se de uma das primeiras ações do

movimento pelo saneamento rural do Brasil no Maranhão. Delimitava, na ótica de médicos e

autoridades que atuavam no estado, um momento de inserção do considerado longínquo, e

mesmo, negligenciado Maranhão no rol das preocupações das políticas federais.

Doutoranda em História das Ciências e da Saúde (COC-FIOCRUZ). Bolsista CAPES. Orientadores: Jaime Larry

Benchimol e Juliana Manzoni. Email: [email protected]

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Este evento, esquecido em um jornal de época, instigou-me a buscar entender que

nova fase na saúde pública julgava pertencer autoridades políticas e sanitárias daquela época.

Por isso, o objetivo deste estudo é analisar as origens e o funcionamento inicial do Serviço de

Profilaxia Rural no Maranhão, chefiado, a princípio, pelo médico Raul Almeida Magalhães,

funcionário da saúde pública no Distrito Federal. Serão apresentadas as motivações para o

estabelecimento desta iniciativa, caracterizando as ações empreendidas por Almeida

Magalhães, à época nomeado diretor do serviço. Busco entender como foi gestada a primeira

política federal voltada para as endemias rurais em terras maranhenses, serviço que prometia

sanear a capital ludovicense1, suas zonas periféricas e as margens do rio Itapecuru.

As informações sobre as ações iniciais do Serviço de Profilaxia Rural do Maranhão

foram auferidas através do relatório intitulado A prophylaxia rural redigido pelo Dr. Almeida

Magalhães e publicado no jornal local Pacotilha (21.10.1919). Trata-se de um documento

destinado ao Ministro da Justiça e Negócios interiores, que tinha como finalidade fazer um

balanço do primeiro trimestre da missão (maio a junho de 1919).

Além desse, utilizei três relatórios elaborados pelo médico Cassio Miranda, que

tinham como objetivo descrever as atividades deste médico e prestar contas da verba federal

utilizada. O primeiro, de caráter trimestral, foi publicado no Diário Oficial do Estado do

Maranhão, em 1920, e estava direcionado ao diretor do Instituto Oswaldo Cruz, Carlos Chagas.

O segundo relatório era semestral e estava direcionado ao governador do Maranhão, Godofredo

Viana. Este documento, produzido em 1923, refere-se ao primeiro semestre do ano de 1922, e

traz maiores informações sobre o período citado, além de 10 fotografias que retratam o

desempenho da Filial do IOC no Maranhão. Por fim, utilizei um relatório produzido por

Miranda, ainda em 1923, no momento que substituía o dr. Raul Almeida de Magalhães, como

chefe interino do Serviço de Saneamento e Profilaxia Rural do Maranhão.2

Serviço de Profilaxia Rural no Maranhão: concepções norteadoras

1 Nome atribuído aos indivíduos nascidos em São Luís, capital do Maranhão. Termo usado, também, para

denominar algo natural de São Luís. 2 Esta análise não tem a finalidade de julgar os discursos em termos de verdade e falsidade das ideias e práticas ali

definidas e, sim, recuperar e compreender historicamente as ações voltadas à saúde pública veiculadas àquela

época, sobretudo, àquelas voltadas ao combate das endemias rurais prevalentes.

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Viabilizado através do decreto n. 81, de 22 de outubro de 1918, lei que autorizava

o governo do Maranhão firmar contrato com o governo federal (FERNANDES, 2003, p.94-95),

o Serviço de Profilaxia Rural foi uma campanha idealizada com a finalidade de combater

especialmente a febre amarela, mas ganhou maiores proporções devido a constatações feitas

pelo dr. Almeida Magalhães, chefe da missão. Segundo aponta em levantamento inicial, além

da febre amarela, malária, úlceras, lepra, verminoses, leishmaniose eram doenças prevalentes

na capital e interior do Maranhão.

De início, o Serviço de Profilaxia Rural passou a funcionar no final de abril de 1919

e era formado por dois inspetores sanitários, o médico carioca Raul Almeida Magalhães e o

médico maranhense Carlos Peixoto da Costa Rodrigues, ambos funcionários da saúde pública

no Distrito Federal. Além desses, registra-se nessa comissão a presença do médico Cassio

Miranda, responsável por instalar naquele mesmo ano uma filial do Instituto Oswaldo Cruz em

São Luís, capital do Maranhão (GAZETA DE NOTÍCIAS, 14.03.1919).

Naquele ano, a chegada do serviço de profilaxia rural estava revestida de

expectativas, algo que incentivava a emergência de discursos que traziam à tona a esperança

que os ludovicenses depositavam naquela ação federal de combate a doenças. Por exemplo,

dias após a chegada da equipe liderada pelo dr. Almeida Magalhães o jornal Pacotilha

(06.05.1919) anunciava que “a terra maranhense vae sentir, dentro de pouco tempo, os

benefícios de uma séria campanha de profilaxia”. Em seguida, o jornal prometia que esta

campanha de higiene era “defensiva e agressiva” ao mesmo tempo, estabelecendo, assim, uma

tônica bem ampla para a missão, uma vez que estaria “contra os males vários que flagelam,

desde as enfermidades com caráter epidêmico, restrito ou pandêmico, até as moléstias que

fazem parte das endemias no quadro nosológico daquela unidade da federação”.

O médico maranhense Justo Jansen, em publicação intitulada O saneamento do

Maranhão demonstra expectativa positiva em relação ao serviço montado, mesmo após dois

anos de funcionamento. No discurso que apresento a seguir, o médico denota um ideal de

serviço médico da época, revestido da ideia de “missão civilizatória” e de inserção da população

doente no projeto modernizador da República:

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O serviço de saneamento do Maranhão instalado nesta capital, estenderá a sua

influência benéfica até os mais longitudinais pontos por meio de postos médicos.

Assim como o magistrado conduz a lei aos mais remotos lugares, o sacerdote, a

religião; o professor, o ensino; ao médico compete ir de cidade e cidade, de vila em

vila, e de povoado em povoado espalhando a educação higiênica, fazendo alvorecer

no espírito de cada habitante a certeza de que poderá prolongar a vida, emancipar-se

das causas que a deprimem mediante os preceitos da moderna profilaxia e terapia. Só

assim o Brasil terá um povo apto ao trabalho. Livre dos germens que lhe destroem o

organismo deixará o sertanejo em evidenciar com toda a exuberância, a robustez física

e com esta o soerguimento das qualidades morais e intelectuais (JANSEN, 1921, p.8-

9).

Algumas questões emergem quando nos aproximamos dos escritos de época que

tratam da instalação desse tipo de serviço em regiões distantes de capitais que, à época, estavam

na vanguarda da saúde pública. Isso por que, trata-se de um momento de inserção do Maranhão,

para além de sua capital, no movimento pelo saneamento do Brasil, período que “revelou”

populações desassistidas pelas políticas públicas.

Segundo Lima & Hochman (2000) este período estava regido pela ideia de um

“Brasil doente” que impulsionava o movimento pelo saneamento do país. Trata-se de um

contexto que “revelou” populações desassistidas pelas políticas públicas, através de viagens e

expedições científicas ao interior do Brasil. Com isso, ficava explícita a presença de “um outro

Brasil”, essencialmente “rural”, “sertanejo”, com sua população doente, em completo estado de

pobreza e sem qualquer identificação nacional. Em consequência disto, os sertões seriam objeto

de “planos de salvação nacional”, materializando-se em ações como a Liga Pró-Saneamento do

Brasil.

Prevalece nesses discursos um certo modo de compreender o Brasil através de suas

ausências, sendo que esses locais passavam a ser reconhecidos através do binômio “abandono

e doença”, e subsumidos no conceito “sertões”. Estes, passaram a constituir uma categoria

relacionada às dimensões política e social, não se restringindo à “referência simbólica ou

geográfica” do interior do país. Com isso, serão desenvolvidos “planos de salvação nacional”,

concretizando-se em ações como a Liga Pró-Saneamento do Brasil, criada em 1918 (LIMA;

HOCHMAN, 2000). Nestes planos destaca-se, inicialmente, a instituição do Serviço de

Profilaxia Rural no Paraná, Minas Gerais e, por último, Maranhão, materializando uma

intervenção mais efetiva das políticas federais em âmbito local.

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Nesta lógica, o Maranhão, à época pertencente à longínqua e genérica região Norte

do Brasil, passava a ser concebido pelas autoridades federais, como sertão e, do ano de 1918

em diante, figurava na agenda de autoridades médicas, que visavam combater doenças que

comprometiam o fortalecimento da nação3. Naquele momento, as viagens realizadas por

médicos e autoridades sanitárias rumo à territórios poucos conhecidos passavam a ser

compreendidas como “expedições civilizatórias”, que tinham como finalidade integrar tais

regiões ao projeto modernizador dos anos iniciais da primeira República (LIMA, 2013, p.116).

Outro ponto importante a ser considerado como concepção norteadora para

instalação de um Serviço de Profilaxia Rural no Maranhão, diz respeito à consolidação do

Instituto de Manguinhos como “agência do poder central”, com seus cientistas “reconhecidos”

e que se “reconhecerão como agentes e porta-vozes da nação” (BENCHIMOL; TEIXEIRA,

1993, p.16). Afinal, os dois médicos designados para liderar as duas frentes de saneamento rural

no Maranhão, dr. Almeida Magalhães e dr. Cassio Miranda, (Serviço de Profilaxia Rural e Filial

do IOC no Maranhão, respectivamente), eram provenientes do IOC, instituição que estava na

vanguarda das pesquisas na área de microbiologia.

Há que se considerar que o discurso de Oswaldo Cruz, depois que assumiu a

liderança do saneamento da Capital Federal e a direção de Manguinhos em 1902, estava

marcado pela importância dada à dilatação de fronteiras tanto da política sanitária como das

ações do Instituto nos três campos em que vinha se firmando: “fabricação de produtos

biológicos, pesquisa e ensino” (BENCHIMOL; TEIXEIRA, 1993, p.19), o que denotava uma

concepção mais ampla de ciência, para além de uma visão imediatista da política sanitária.4

3 Atualmente o Maranhão está inserido na região nordeste, seguindo a última definição regional do IBGE de 1970.

Ao referi-lo com parte da região norte, neste estudo, quero enfatizar que essas delimitações eram muito instáveis

no início do século XX. A região norte do Brasil, muitas vezes, era uma denominação genérica dada por

autoridades políticas e intelectuais da época para regiões consideradas longínquas, atrasadas, em relação ao Rio

de Janeiro e São Paulo. Com a expansão do movimento pelo saneamento do Brasil rural, reconhecido por uma

“consciência de interdependência” ou “consciência social”, ou ainda, “senso de responsabilidade” em relação aos

problemas de saúde pública (HOCHMAN, 2012, p.28), o Maranhão, principalmente a partir de 1910, passou a ser

concebido, também, como sertão. 4 Segundo Benchimol e Teixeira (1993, p.19-20) a dilatação das fronteiras de ação do instituto também tinha uma

“conotação geográfica”, pois seus cientistas, à semelhança das instituições europeias que serviam aos projetos

colonialistas na África e Ásia, poderiam combater doenças responsabilizadas pelos entraves ao capitalismo.

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Ações prioritárias: organização do serviço e a importância do diagnóstico laboratorial

A primeira providência tomada pelo Serviço de Profilaxia Rural no Maranhão,

como retratou seu chefe Almeida Magalhães (1919, p.3), foi abrir um curso prático de

microscopia clínica. A razão para viabilizar esta empresa foi a dificuldade para encontrar

“pessoal idôneo”, como disse, para composição do quadro de funcionários da instituição. O

próximo passo foi anunciar concurso para aquisição de funcionários.

Durante o mês de maio de 1919 o curso funcionou regularmente. Os candidatos

receberam instruções teóricas e práticas sobre princípios de hematologia e coprologia. O

objetivo era identificar, através de diagnóstico parasitológico, diversas modalidades da malária

e ovos de helmintos.

O desenvolvimento de técnicas desta natureza estava sintonizado aos preceitos de

higiene da época que atribuíam relevância à prática laboratorial para consecução de eficientes

ações de saúde pública. Sobre isso, Cunningham (1992, p.209) explica que o advento do

laboratório mudou “radicalmente a identidade das doenças infecciosas”, como a peste bubônica,

por exemplo.

Isso ocorre por que a medicina laboratorial está alicerçada na ideia de que cada

doença possui uma “causa única”, “identificável”, exclusivamente, através do laboratório,

conforme argumenta Cunningham (1992, p.209). Em consequência disso, esta prática seria

capaz de afastar qualquer diagnóstico calcado em suspeitas e, consequentemente, seria capaz

de retirar de cena doenças comumente apresentadas como “mistas” (CUNNINGHAM, 1992,

p.223). Nesta lógica, a indeterminação da real causa das doenças inviabilizava ou tonava

ineficaz qualquer ação voltada ao enfrentamento de enfermidades.5

Sintonizado aos princípios do sanitarismo vigente, para o qual o estabelecimento

do diagnóstico é fundamental para os trabalhos posteriores, o Serviço de Profilaxia Rural

5 É importante citar, que essa importância dada à prática laboratorial tem dois aspectos que devem ser considerados:

em primeiro lugar, o reducionismo, afinal todo o complexo de fatores biológicos e sociais implicados no

desencadeamento da doença como fenômenos individual ou coletivo, nessa ótica pode ser encoberto. Em segundo

lugar, na prática, o advento da medicina de laboratório nem sempre elimina as ambiguidades, uma vez que

diagnósticos diferenciais, indeterminados ou mesmo equivocados, por vezes prevalecem. Vale lembrar que, por

muito tempo, por exemplo, febre amarela e malária seriam confundidas no Nordeste do Brasil e em outras partes.

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assumiu a direção do Posto de Socorro aos Ulcerados, reconhecendo-o como Posto da Capital

e prometendo diagnósticos mais eficazes para as chamadas “úlceras” tão comuns na população.

Além desse, o Serviço inaugurou, como mencionamos no início do texto, um posto na periferia

de São Luís, localizado na Vila do Anil. Auxiliava nos diagnósticos a filial do IOC recém

instituída em São Luís:

Procurando com a colaboração do dr. Costa Rodrigues, diretor atual do posto, e do dr.

Cassio Miranda do Instituto Oswaldo Cruz, determinar a etiopatogenia dessas ulceras

– que em forte porcentagem estropiam as populações baldas de recursos deste Estado

– verificamos que esses processos ulcerativos correm por conta do conhecido

phagledenismo tropical, determinado por uma simbiose fuso espiralar assinalada pela

primeira vez por Le Dantec e posteriormente por Vincent, Coyon, Del Vechio e

outros. De fato, nos esfregaços feitos com material retirado dessas ulceras ora

constatava a existência de bacilos fusiformes, ora de espirilos, sendo raros os casos

em que se verificou a coexistência dos elementos patogênicos acima referidos

(MAGALHÃES, 1919, p.3).

O posto de socorro aos ulcerados foi fundado pelo médico maranhense Achilles

Lisboa e sobrevivia, principalmente, através do auxílio da caridade. Com a passagem da direção

do posto para o Serviço de Profilaxia recém instituído, essa assistência transformou-se em uma

espécie de “policlínica” que oferecia à população atendimento médico e farmacêutico.

Através de análise dos primeiros meses de atuação da nova direção, Almeida

Magalhães concluiu que as úlceras predominantes eram provenientes de um tipo de

“phagledenismo tropical”, como citou. Além desse tipo, predominavam úlceras provenientes

de manifestações sifilíticas e de leishmaniose.

Agravava a situação o fato dos ulcerados apresentarem-se com verminoses que

debilitavam cada vez mais seus organismos:

Concorrendo e contribuindo para a constituição dessas ulceras, que se apresentam em

todo o estado com frequência dolorosamente acabrunhadora, a miséria e discrasia

sanguínea, decorrente da uncinariose, constituem talvez os fatores principais desse

grande flagelo a juntar-se aos outros que dizimam as populações de nosso hinterland.

O serviço não está, infelizmente, apercebido de recursos para combater com eficácia

esse mal (MAGALHÃES, 1919, p.3).

Isso por que, argumenta Magalhães, as injeções de novoarzenobenzol utilizadas

como tratamento mais eficaz só fazem efeito quando associadas à dieta adequada e repouso,

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algo inviável para população mais carente. Nesta lógica, a presença de um Hospital de

Profilaxia Rural, o Hospital Central, inaugurado em 1921, tornava-se cada vez mais necessário:

Os ulcerados, em quase totalidade pertencentes às classes pobres, ou são obrigados a

um trabalho exaustivo para manutenção de sua existência, ou entregam-se a

mendicância, claudicando a esmolar, horas a fio, pelas ruas da cidade. Malnutridos,

anemiados pelo estado discrásico do meio interno, andrajosos, seminus, estropiados

e manquejantes, necessitam esses míseros ulcerados [de] uma assistência alimentar e

terapêutica que, evidentemente, só poderão encontrar no hospital.

A malária também foi objeto de significativa atenção do Serviço de Profilaxia.

Almeida Magalhães (1919, p.3) identificou em relatório as áreas mais afetadas pela doença no

interior do estado: margens dos rios Turiaçu, Itapecuru, Pindaré Mirim, Grajaú e Parnaíba.

Conforme citou, “paga a população sertaneja um grande e pesado tributo à malária, máxime na

estação chuvosa”. Identificou, também, que na cidade de São Luís e em localidades vizinhas a

doença imperava. Bairros como Codozinho, Baixinha e Madre Deus, regiões próximas do

centro urbano da cidade, apresentavam inúmeros casos.

No centro da cidade, em ruas onde residem pessoas de tratamento, várias verificações

microscópicas positivas têm documentado a existência de malária nas suas

modalidades mais frequentes: a terçã benigna e maligna. Para melhor demonstrar o

grau de endemicidade da moléstia na capital, basta referir que no mês de julho, só em

uma casa à Rua Oswaldo Cruz (a principal da cidade) tive ocasião de medicar oito

doentes de paludismo, após verificação parasitológica em três enfermos da

modalidade maligna da parasitose.

Consta nos escritos de Magalhães que as medidas preliminares para o combate à

doença foram:

1. Fechamento de centenas de poços e cisternas em toda área urbana;

2. Inserção de petróleo em áreas alagadas;

3. Desmatamento das zonas silvestres;

4. Abertura de drenos para escoamento das águas pluviais;

5. Serviço de sistemático de assistência médica domiciliária aos doentes.

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Mas foram as verminoses as principais enfermidades a serem combatidas pelo

Serviço de Profilaxia Rural, especialmente a uncinariose (ancilostomose). A prática laboratorial

foi utilizada, principalmente, para detectar a presença da doença e de indivíduos portadores.

Por isso, a assistência no posto de profilaxia da capital e da Vila do Anil envolvia a

obrigatoriedade de os doentes trazerem material fecal para submeter à exame. Conforme

argumenta Magalhães (1919, p.3), “positivado o diagnóstico microscópico o encarregado de

medicação administra o vermífugo e fornece ao doente o purgativo para ser ingerido duas horas

depois”.

Há que se considerar que, seguindo os princípios do sanitarismo vigente, a

distribuição de medicamentos nos postos não era o meio mais eficiente para a extinção da

doença. Conforme explica Magalhães (1919, p.3), “o método intensivo ou tratamento

domiciliário é o que melhores benefícios determina”, porém, demandam ações contínuas, que

requerem, mesmo, a presença de guardas sanitários para o acompanhamento da população em

tratamento.

Assim, na ótica do dr. Almeida Magalhães a distribuição de medicamentos em

ambulatório, seria tão somente, um tratamento “coadjuvante” uma vez que o combate à essa

doença necessita além de acompanhamento do paciente o tratamento dos indivíduos portadores,

também responsabilizados pela propagação dos vermes.

O médico aponta que as principais dificuldades para promover o saneamento da

população maranhense, no tocante à extinção das verminoses, corresponde à “obrigatoriedade

da construção de fossas biológicas ou fossas fixas para depuração ou simples receptáculo das

matérias excrementícias” (MAGALHÃES, 1919, p.3). Mas isto era uma realidade inatingível

para uma população que há tempos estava desassistida pelas políticas de saúde do período. Por

isso, Almeida Magalhães limitou-se a elaborar um Regulamento de Profilaxia Rural que estava

em fase de apreciação pelo governo do Estado na época.

Uma Filial do IOC para o Maranhão e o advento de um Hospital Central

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Outra ação que denotava a inserção do Maranhão no movimento pelo Saneamento

do Brasil Rural refere-se à instalação de uma filial do IOC na capital ludovicense.

Desembarcando em São Luís em 20 de maio de 1919, dias depois da chegada do dr. Almeida

Magalhães, o bacteriologista Cassio Miranda, foi responsabilizado por instalar a filial.

Nomeado por Carlos Chagas, de quem foi aluno entre 1913 e 1914, em um curso de

Protozoologia (FIOCRUZ, 2015), o objetivo deste médico e de sua equipe era criar uma filial

do IOC que trabalhasse em conjunto com a Comissão Federal, mas que também desenvolvesse

ações autônomas, como o diagnóstico de doenças, cobrando para isso, taxas a quem pudesse

pagar.

Cassio Miranda recebeu do governador do Estado os prédios de número 22, 30 e 32

da Rua Afonso Pena, no centro de São Luís (MIRANDA, 1923, p.2). Posteriormente, seguiram-

se trabalhos de melhoramento e adaptação dessas casas às atividades da instituição. A estrutura

física da filial foi dividida da seguinte forma: Seção de Bacteriologia, Instituto Vacinogênico,

Secção do Instituto Pasteur (para tratamento e administração da vacina antirrábica) e um Posto

antiofídico.

A análise dos relatórios produzidos pelo médico evidencia certa regularidade dos

serviços prestados pela filial do IOC ao Serviço de Profilaxia (especialmente a seção de

bacteriologia) ali instituído. As ações eram desempenhadas por uma equipe pequena, se

levarmos em consideração a amplitude da Instituição e os problemas de saúde que afligiam o

Maranhão Sertão. As fontes denotam que, até 1922, o quadro de funcionários era composto

por três médicos (Cassio Miranda, Luiz Viana e Heitor Pinto), um funcionário do Instituto Vital

Brazil (Benedicto Laurindo de Moraes), um escriturário (José Mariano da Cunha), três

serventes (Augusto Teixeira Pinto, Benigno Bezerra da Cruz e Avelino Gandra) e 1 chauffer

(Leonel Bezerra da Cruz) (MIRANDA, 1923, p.40-43).

A demanda crescente por exames para detectar vermes, amebas e outros

protozoários, inclusive os de paludismo, bacilo de Hansen e outras bactérias patogênicas, filaria

e outros agentes de doenças exigiu que Miranda organizasse um anexo à seção bacteriológica,

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dividindo-o em “seção de exames histopatológicos” e uma seção de “análises química”

(MIRANDA, 1923, p.25).6

Outra ação prioritária da filial corresponde à instalação de um Instituto

Vacinogênico dentro do instituto. Inaugurado em 5 de fevereiro de 1920 esta seção teve suas

primeiras atividades ligadas ao preparo da vacina contra a varíola (MIRANDA, 1920, p.3).

Estabelecidas as seções prioritárias do IOC, Cassio Miranda passou para um

segundo momento de atuação. Em 5 de abril de 1922 foi inaugurada a seção do Instituto Pasteur

na filial, cujo o objetivo era produzir a vacina antirrábica na capital. A última seção da filial

apresentada à população naquela época de estruturação do IOC no Maranhão, diz respeito ao

posto antiofídico que prometia lançar luz em quadro quase generalizado de desconhecimento

sobre as serpentes da região.

Outro evento significativo relacionado ao Serviço de Profilaxia Rural no Maranhão

diz respeito à transformação do antigo Hospital Militar7 em Hospital Central da Profilaxia

Rural. Segundo o médico maranhense Justo Jansen (1921, p.9), em artigo intitulado “O

Saneamento do Maranhão” a adaptação do antigo prédio aos princípios sanitários da época foi

iniciada na administração do dr. Almeida Magalhães, em 1919, e concluída sob a direção do dr.

Carlos Costa Rodrigues, em 1921.

Segundo Justo Jansen (1921, p.10) do antigo prédio só restaram as telhas e paredes

que, após reforma, ganharam aspectos consoantes à assepsia. Assim o autor descreve a estrutura

física do hospital:

O edifício que forma um vasto quadrilátero é de dois pavimentos. As enfermarias

destinadas aos paludados ocupam uma das alas do pavimento superior. Além de lhe

proporcionarem muito conforto, apresentam todas as janelas e portas protegidas por

telas metálicas, vedando cabalmente a entrada dos mosquitos. Assim se evitam a

reinfecção e difusão de moléstias.

6 Observo que além de exames bacteriológicos a filial passa a fazer exames histopatológicos – ou seja mobiliza

especialistas – patologistas – e procedimentos diferentes para identificar não só parasitos, mas também lesões e

estruturas anômalas nos tecidos entregues para investigação pelos médicos ou cirurgiões. O laboratório químico

envolvia, provavelmente, outro tipo de demandas, também diferentes dos exames bacteriológicos. Julgamos

necessário, em estudos futuros, verificar essas ações nos relatórios produzidos por Cassio Miranda. 7 O prédio a que me refiro, atualmente, corresponde ao Hospital Geral Tarquínio Lopes Filho, localizado no bairro

Madre Deus e está sob administração do Governo do Estado do Maranhão. Ao longo do tempo, desde 1713,

período em que foi estabelecido ali os pilares de uma ermida dedicada à Santa que dá nome ao bairro, o prédio

serviu como edifício religioso, Hospital para variolosos, Hospital Militar, Hospital para pestosos, chegando a

abrigar o Serviço de Profilaxia Rural do Maranhão, em 1921 (PAXECO, 1922).

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O hospital ainda dispunha de sala de operações, de espera e de consulta. Contava

com ala para curativos, salas de pesquisa bacteriológicas, de cloroformização, esterilização e

manipulação farmacêutica. Até a publicação de Justo Jansen o aparelho de Raio X ainda não

havia sido instalado, mas já existiam salas disponíveis para este serviço.

Justo Jansen (1921, p.10) reitera que toda estrutura do Hospital obedece

criteriosamente aos preceitos da higiene, como por exemplo, o contato frequente com a

ventilação e a luz direta.

Considerações finais

Registro, portanto, significativa atuação do Serviço de Profilaxia Rural no

Maranhão nos anos iniciais de sua instalação. Observei que esta iniciativa se tratava da

viabilização de uma concepção maior que almejava o enfrentamento de doenças nas zonas

rurais e a inserção da população do interior do Brasil ao processo civilizatório em curso.

Assumo a tese de que a presença deste serviço demostrava uma reciprocidade das autoridades

locais com o governo federal, que passava a conceber o Maranhão Norte e Sertão como alvo

de investidas do campo médico-sanitário. Com isso, a cidade de São Luís, àquela época, seria

concebida como ponto estratégico para distribuição de assistência médica, visando a superação

do binômio “abandono – doença”.

Devido o objetivo deste estudo e a ausência de bibliografias que tratem da

instalação do Serviço de Profilaxia Rural no Maranhão, decidi dar ênfase à estruturação que

Almeida Magalhães e Cassio Miranda estabeleceram para as atividades de profilaxia rural no

Maranhão. Percebo que mesmo diante de limitações, importantes ações de combate às doenças

como a verminoses, malária e úlceras foram concretizadas.

Quero destacar que minha intenção não é atribuir a estes médicos total

protagonismo das ações de saúde pública materializadas na época. Acenei a participação de

médicos maranhenses no processo, como Costa Rodrigues e Aquilles Lisboa. Este já havia

estruturado um posto de socorro aos ulcerados em São Luís. Estudos posteriores poderão

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demonstrar as feições internas que o movimento passou a apresentar no estado, especialmente

após os anos iniciais do Serviço de Profilaxia.

Outro ponto importante que deve ser considerado, no intuito de não conceder à

Almeida Magalhães e Cassio Miranda total protagonismo dessas ações, refere-se aos alicerces

das atividades de saneamento na capital. Estas só foram viabilizadas através de negociações

políticas e técnicas, locais e federais, que permitiram iniciativas de combate às endemias rurais

que grassavam no estado.

Por fim, reitero que estudos posteriores também poderão esclarecer em que medida

uma consciência ligada à Saúde Pública foi materializada no estado, com a finalidade de ir além

das medidas emergenciais de combate de doenças, priorizando o desbravamento das fronteiras

do interior do Brasil.

Referências

Documentos

GAZETA DE NOTÍCIAS, 14.03.1919.

JANSEN, Justo. O saneamento do Maranhão. Jornal do Commercio. N. 289, a.95. 1921.

MAGALHÃES, Raul de Almeida. A prophylaxia rural. Pacotilha. 21.10.1919. 5 p.

MIRANDA, Cassio. Relatório da Filial do Instituto Oswaldo Cruz no Maranhão. Diário

Official do Estado do Maranhão, n.127, a.XV. 1920.

___. Relatório do Instituto Oswaldo Cruz referente o primeiro semestre do ano de 1922.

1923.

___. Serviço de Saneamento e Prophilaxia Rural do Maranhão. Relatorio apresentado pelo

Dr. Cassio Miranda, Chefe interino do Serviço, no ano de 1923, à Directoria do Serviço de

Saneamento e Prophilaxia Rural. São Luís, Typogravura Teixeira. 1925.

PACOTILHA. 06.05.1919.

___. 04.06.1919.

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PAXECO, Fran. Geografia do Maranhão. A terra, os produtos e as instituições. São Luís:

Typogravura Teixeira. 1922.

Bibliografia

BENCHIMOL, Jaime Larry e Teixeira, Luiz Antonio. Cobras lagartos e outros bichos. Uma

história comparada dos institutos Oswaldo Cruz e Butantan. Rio de Janeiro Editora

UFRJ/Fiocruz - Casa de Oswaldo Cruz, 1993, pp. 13-91.

CUNINGHAM, Andrew; WILLIAMS, Perry (eds.). The Laboratory Revolution in

Medicine. Cambridge: Cambridge University Press, 1992.

FERNANDES, Henrique Costa Fernandes. Administrações Maranhenses:1822-1929. São

Luís: Instituto Geia, 2003.

FUNDAÇÃO OSWALDO CRUZ, Galeria de presidentes. 2015. Disponível em:

http://portal.fiocruz.br/pt-br/content/galeria-de-presidentes. Acesso: 10.10.2015.

HOCHMAN, Gilberto. A era do saneamento: as bases da política de saúde pública no Brasil.

São Paulo: Hucitec, 2012.

LIMA, Nísia. Um sertão chamado Brasil. São Paulo: Hucitec, 2013.

LIMA, N. T & HOCHMAN, G. Pouca saúde, muita saúva, os males do Brasil são... Discurso

médico-sanitário e interpretação do país. Ciência & Saúde Coletiva. v. 5, nº 2, 2000.