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Rumo a uma Saúde Rumo a uma Saúde Persecutória? Persecutória? Responsabilidade Pessoal e Responsabilidade Pessoal e Culpabilização Preventiva Culpabilização Preventiva

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Rumo a uma Saúde Rumo a uma Saúde Persecutória? Persecutória?

Responsabilidade Pessoal e Responsabilidade Pessoal e Culpabilização PreventivaCulpabilização Preventiva

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• Este texto talvez, se ‘defina’ sob a ‘rubrica’ do campo dos ‘estudos sociais das ciências da saúde’ (social science studies of health – SSSH). Sob essa perspectiva, são analisados certos aspectos dos sistemas vigentes de produção de conhecimentos e tecnologias em saúde.

• E sua capacidade de gerar perplexidades, impasses e insatisfações, ainda que admitamos sua potência e efetividade em muitos níveis.

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•Enfatizamos aqui os Limites da Responsabilidade (LR) - relacionados com o emprego da concepção de Responsabilidade Individual (RI), em termos de sua aplicação como fórmula persuasiva nos discursos e práticas da promoção da saúde e nas propostas de controle dos riscos - representados por hábitos como o tabagismo, o sedentarismo, consumo de álcool e/ou outras drogas e dietas pouco frugais.

• É necessário exagerar, não por radicalismo, mas, para tentar neutralizar a sensação de que a ‘situação atual’ não é passível de mudanças importantes de rumo.

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•Isto aparece claramente no documento do Ministério da Saúde “Diretrizes operacionais: Pactos pela vida, em defesa do SUS e de Gestão (2006)” • Item E. ‘Promoção de saúde, com ênfase na atividade física regular e alimentação saudável’.•Objetivos: b. Enfatizar a mudança de comportamento da pop. bras. de forma a internalizar a responsabilidade individual da prática de atividade física regular, alimentação adequada e combate ao tabagismo’ (Pg 13).

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• Os discursos sobre a saúde estão localizados em determinados momentos históricos.

• É necessário conhecer as razões porque se legitimam ao ajustarem-se à ordem econômica, política e social onde são gerados, são sustentados e se reproduzem. Há que perguntar-se que tipo de discurso(s) permitem conhecer aos humanos.

• Os discursos sobre os riscos à saúde são construções contextuais, de caráter normativo, vinculadas também outros interesses.

• Dependem de definições a respeito do “ser humano” (se há uma essência humana...), o tipo de sociedade que se pretende (e os modos de chegar a ela).

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A Saúde Pública atual tem muito desse ‘espírito moderno’. Ou seja, se baseia na crença ilustrada do valor da ciência e da racionalidade para sustentar sua legitimidade social em direção a melhores condições de saúde.

• Em síntese: • Idéia de primazia do individualismo, onde ‘agentes

racionais’ exercem suas ações otimizando custos em busca de benefícios;

• A ausência de coesão social entre as prioridades das elites;

• Um clima de descrença quanto à autoridade política doss governos;

• Uma ênfase excessiva em relação ao papel do Mercado como instância reguladora das sociedades modernas democráticas e a primazia do econômico sobre o político.

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• A noção de responsabilidade. • Este tema permite enfoques ético-filosóficos, jurídico-

legais que não cabem aqui.

• A idéia de responsabilidade está vinculada à noção de obrigação dos indivíduos a responder a níveis de regulação e controle de suas ações por meio de algum compromisso.

• Subentende a idéia de existir uma suposta capacidade de resposta para quem as instâncias/agentes que estiverem encarregados (in charge)

• Responsabilidade é uma idéia normativa que permite arranjos essenciais à organização dos coletivos humanos.

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“Errar é humano, mas, mais humano ainda é jogar a culpa nos outros”

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• O princípio da prevenção/precaução está cada vez mais prevalente em situações em que se busca estabelecer cenários futuros.

• A prevenção dos riscos apresenta ambivalências. Segundo perspectivas às vezes imponderáveis, podem levar a medidas de retardamento ou a ações urgentes.

• Este princípio pode ser usado de modo manipulativo, de acordo com as circunstâncias e com os interesses envolvidos na situação.

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• O processo conhecido como “culpar a vítima” teria atualmente outros dois aspectos na promoção da saúde:

• 1) “aterrorizar aos apreensivos” ou “assombrar aos assombráveis” – aos que tentam acompanhar as recomendações de saúde para evitar aos riscos.

• 2) “responsabilizar ao negligente” – aos que se expõem aos riscos à saúde de modo imprudente.

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• A ética da nova higiene é uma maneira de chamar ao controle moral relacionado às noções de auto-cuidado geradas pela promoção individualista da saúde.

• Essa forma de ‘autopromoção da saúde’ reflete o moralismo dominante e a busca de causas evidentes para regular condutas de higiene comportamental em tempos de altos custos para as ações de saúde.

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• Não é nossa intenção depreciar o poder do conhecimento epidemiológico sobre os riscos. Ele é importante para as práticas de prevenção de agravos à saúde.

• Mas, cabe assinalar efeitos exagerados de sua utilização, assim como enfatizar sua vinculação com aspectos indesejáveis nas atuais configurações socioculturais.

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• Os discursos sobre o risco indicam a ambivalência de nossa época.

• Há, ao mesmo tempo, muitas e fortes tentações oferecidas para serem consumidas, mas, com ‘comedimento’ Ou seja: às vezes, é preciso se acorrentar aos mastros para não ceder aos apelos das sereias. Missão possível?

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• Por outro lado, o pensamento paranóide está cada vez mais intenso em nossa época.

• Somos colocados constantemente em una atmosfera conspiratória, muito fértil ao desenvolvimento de pensamentos persecutórios, onde a suspeita se renova em todos os momentos.

• Explicações?• As responsabilidades são difusas e, portanto, confusas,

talvez por efeito dos processos da denominada “globalização econômica”, cujos signos têm o costume de apresentarem-se de modo enigmático.

• Estes signos que não entendemos muito bem podmn intervir intensamente em nossas vidas.

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• Os níveis de atuação do poder se tornaram indistinguíveis , e portanto, desconcertantes.

• A estabilidade de nossas vidas parece estar sendo decidida em lugares inacessíveis, por “entidades misteriosas” que poderiam “maquinar malevolamente” contra nós, sem qualquer preocupação moral, inclusive desconhecendo nossa existência.

• Um contexto muito propício para proliferações paranóides.

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• Este é o cenário para a entrada em cena do homo sanitatis auctor.

• Um ser acossado por ameaças virtuais, indefinidas no espaço e imprevisíveis no tempo.

• E que portanto, deve responsavelmente tomar medidas preventivas.

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• A vida nua – no sentido de sobrevida, sem qualquer dimensão de ação política qualificada é uma das teses de Agamben (1995). E também sua teorização sobre o homo sacer.

• Para os que podem atuar como agentes de consumo, podemos ver as práticas de promoção da saúde como a produção da “sobrevida nua”.

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• Há autores que desenvolvem conceitos como o de “práticas biopolíticas de ascese corporal” – ou seja estratégias de controle disciplinar que geram subjetividades que levam os indivíduos à submissão mediante ênfase ao cuidado-de-si (dietas, por ex).

• Sob este ponto de vista, o controle de nossas vidas ocorre para além dos mecanismos tradicionais de vigilância e regulação por dispositivos jurídicos e policiais.

• Mas, sim por pressões biopolíticas com forte conteúdo moral, como, por exemplo as ações de promoção da saúde.

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• que geram o homo longo aeuo – indivíduo dedicado a sua sobrevivência longeva.

• Ser produzido pelas práticas individualistas e apolíticas de promoção sanitária que estabelecem que o bem supremo é a prolongação da vida em termos essencialmente de longevidade com a máxima qualidade de vida que seja possível obter (e pagar-se...)

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Vigiar(-se) e Prevenir (-se) – Vigiar(-se) e Prevenir (-se) – Risco e responsabilidade Risco e responsabilidade

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