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4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CATALÃO/GO - RUA CRISTIANO AIRES, 125, CENTRO, CATALÃO/GO - Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara Ambiental da comarca de Catalão/GO O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, com fundamento nos autos de Inquérito Civil Público n. 015/2011, vem perante este juízo propor AÇÃO CIVIL PÚBLICA em face de: SUPERINTENDÊNCIA MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTO DE CATALÃO (SAE) , pessoa jurídica de direito público interno (autarquia municipal), com sede na rua Kafves Abrão, n. 660, bairro São Francisco, Catalão/GO, CNPJ 04.750.108/0001-52, representada pelo Superintendente Fernando Vaz de Ulhoa; MUNICÍPIO DE CATALÃO , pessoa jurídica de direito público interno, com sede na rua Nassim Agel, n. 505, centro, Catalão/GO, representado pelo Prefeito Municipal Velomar Gonçalves Rios ou pelo Procurador-Geral do Município de Catalão, Celso Luís Dias Calixto; e JOSÉ CARLOS RAMPELOTTI , brasileiro, casado, agricultor; JOÃO CLÁUDIO RAMPELOTTI , brasileiro, casado, agricultor; JAIRO CELSON RAMPELOTTI, brasileiro, casado, agricultor; JAIME CÉZAR RAMPELOTTI , brasileiro, casado, agricultor. Pelos seguintes motivos: No dia 31 de outubro de 2011 foi instaurado o inquérito civil público n. 015/2011, com o objetivo de apurar degradação ambiental em área definida como de “preservação permanente”, situada em zona de relevante interesse ambiental, conforme Leis Municipais n. 2210/04 e 2211/04, denominada Pasto do Pedrinho, com área de 53.58.50 ha., 1

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4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CATALÃO/GO - RUA CRISTIANO AIRES, 125, CENTRO, CATALÃO/GO -

Excelentíssimo Senhor Juiz de Direito da Vara Ambiental da comarca de Catalão/GO

O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE GOIÁS, com

fundamento nos autos de Inquérito Civil Público n. 015/2011, vem perante este juízo propor

AÇÃO CIVIL PÚBLICA em face de:

• SUPERINTENDÊNCIA MUNICIPAL DE ÁGUA E ESGOTO DE CATALÃO

(SAE), pessoa jurídica de direito público interno (autarquia municipal), com sede na

rua Kafves Abrão, n. 660, bairro São Francisco, Catalão/GO, CNPJ

04.750.108/0001-52, representada pelo Superintendente Fernando Vaz de Ulhoa;

• MUNICÍPIO DE CATALÃO , pessoa jurídica de direito público interno, com sede

na rua Nassim Agel, n. 505, centro, Catalão/GO, representado pelo Prefeito

Municipal Velomar Gonçalves Rios ou pelo Procurador-Geral do Município de

Catalão, Celso Luís Dias Calixto; e

• JOSÉ CARLOS RAMPELOTTI , brasileiro, casado, agricultor;

• JOÃO CLÁUDIO RAMPELOTTI , brasileiro, casado, agricultor;

• JAIRO CELSON RAMPELOTTI, brasileiro, casado, agricultor;

• JAIME CÉZAR RAMPELOTTI , brasileiro, casado, agricultor.

Pelos seguintes motivos:

No dia 31 de outubro de 2011 foi instaurado o inquérito civil público

n. 015/2011, com o objetivo de apurar degradação ambiental em área definida como de

“preservação permanente”, situada em zona de relevante interesse ambiental, conforme Leis

Municipais n. 2210/04 e 2211/04, denominada Pasto do Pedrinho, com área de 53.58.50 ha.,

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4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CATALÃO/GO - RUA CRISTIANO AIRES, 125, CENTRO, CATALÃO/GO -

e matrícula 13.323 do CRI de Catalão.

Em expediente da Câmara de Vereadores do Município de Catalão,

datado de 22 de novembro de 2011, o Ministério Público foi informado que iniciativa de lei

visando modificar a destinação da área denominada Pasto do Pedrinho foi remetida pelo

Poder Executivo à Câmara de Vereadores, porém, o mencionado projeto de lei está com a

tramitação suspensa. Logo, a área denominada Pasto do Pedrinho continua com o status

de área de preservação permanente incrustada em zona de relevante interesse

ambiental.

Está encartado nos autos, também, documento denominado

Declaração de Viabilidade Ambiental (DVA – fls. 65/100), confeccionado pelo engenheiro

ambiental André dos Santos Oliveira (CREA 16709/D-GO), a pedido de José Carlos

Rampelotti, cuja a intenção é provocar a mudança da classificação da área em que está o

Pasto do Pedrinho, de zona de relevante interesse ambiental (ZUPA), para zona de expansão

urbana (ZEU), com o claro objetivo de se implantar no local um empreendimento imobiliário

do tipo condomínio fechado – fl. 08 do DVA. Depreende-se do DVA que a área tem sido alvo

de permanente degradação, provocada, por exemplo, com o descarte de resíduos sólidos no

local, utilização do local para a execução de “trilhas” por motociclistas, queimadas,

lançamento de resíduos oriundos da lavagem de filtros pela SAE, e etc. Ainda de acordo com

o engenheiro, a implantação de um empreendimento imobiliário no local traria significativos

ganhos ambientais, pois além da vigilância sobre a área, seria implantado sistema de

captação de esgoto e água pluvial que contemplaria outros bairros lindeiros, dentre outras

vantagens ambientais.

Se vê, desde logo, que a área denominada Pasto do Pedrinho,

doravante chamada simplesmente de Pasto do Pedrinho, é alvo de intensa disputa: de um

lado, a necessidade de preservá-lo, dados seus atributos jurídicos, ambientais e culturais; e de

outro, a intenção manifesta de fracioná-lo em lotes para a ocupação urbana, tendo em vista o

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4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CATALÃO/GO - RUA CRISTIANO AIRES, 125, CENTRO, CATALÃO/GO -

alto valor imobiliário do local.

Perfilhando a primeira alternativa, por ser mais consentânea com o

disposto no art. 225 da Constituição Federal, e por estar em sintonia com as legislações

municipal e federal que se aplicam à espécie, o Ministério Público propõe esta ação civil

pública, tanto para obrigar a realização de obras de recuperação ambiental, como também

para impor obrigações de não fazer, consistentes na proibição de diversas atividades nocivas

que recaem sobre o Pasto do Pedrinho.

Relativamente aos fatos e fundamentos jurídicos, tendo em vista a

complexidade e variedade das situações abordadas, a petição desta ação civil pública está

organizada em três tópicos fundamentais: o primeiro, refere-se à caracterização jurídica do

Pasto do Pedrinho; o segundo, refere-se à relevância ambiental do Pasto do Pedrinho; e o

terceiro diz respeito às diversas formas de degradação que estão sendo impostas ao Pasto do

Pedrinho, com a indicação do respectivos responsáveis.

1 - Dos fatos e fundamentos jurídicos:

1.1 Caracterização jurídica do Pasto do Pedrinho

Sobre o Pasto do Pedrinho a legislação municipal estabelece o

seguinte:

LEI Nº 2.210, DE 05 DE AGOSTO DE 2.004 - PLANO DIRETOR

(...)

Art. 12. O macro-zoneamento regional e territorial de Catalão é definido pelas seguintes

Zonas e Áreas de Uso:

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IV - Área de preservação permanente – A.P.P., áreas destinadas à preservação permanente

dos córregos e nascentes, matas e áreas impróprias para urbanização;

(...)

Art. 14. Não serão permitidos parcelamentos do solo em terrenos impróprios.

(...)

VII - Áreas de preservação permanente, ou àquelas onde a poluição impeça condições

sanitárias suportáveis.

(…)

Art. 15 - A Zona Urbana subdivide-se:

I - Zona Urbana de Usos Diversificados (ZUD), que compreende áreas parceladas ou

ocupadas, destinadas a usos urbanos múltiplos - residenciais, comerciais, de serviço e

industriais - variáveis em porte, tipo e densidade com as características físicas, sócio-

econômicas e de patrimônio urbano (praças, logradouros parques lineares etc)

II - Zona de relevante interesse ambiental (ZUPA), como as ocupadas por matas nativas,

as de proteção de mananciais, as de declividade superior a 47% (quarenta e sete por cento),

as de reflorestamento com declividade superior a 30% (trinta por cento) e as de restauração

da mata ciliar dos cursos d´água, especialmente do rio Pirapitinga;

III - Zona Urbana de Preservação Relativa (ZUPR), que compreende áreas não

parceladas e não ocupadas, com declividade entre 30% (trinta por cento) e 47% (quarenta e

sete por cento), consideradas como inadequadas ao uso urbano pelas condições físicas

adversas do entorno, dificultando ou impossibilitando a articulação adequada com a malha

urbana;

IV - Zona de Expansão Urbana (ZEU), que compreende áreas não parceladas e não

ocupadas, com declividade inferior a 30% (trinta por cento), consideradas como apropriadas

ao parcelamento para fins urbanos.

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4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CATALÃO/GO - RUA CRISTIANO AIRES, 125, CENTRO, CATALÃO/GO -

Parágrafo Terceiro - Nas áreas compreendidas na ZUPA somente serão permitidas

atividades relacionadas, direta ou indiretamente, com as funções específicas de preservação

do patrimônio natural.

(...)

Art. 43 - Loteamentos, só serão admitidos nos terrenos definidos como Zona de

Expansão Urbana nesta Lei, obedecidas as disposições da legislação complementar relativa

ao parcelamento do solo para fins urbanos.

Parágrafo Único - Os loteamentos deverão ser submetidos a processos de licenciamento

junto ao órgão de controle ambiental competente, considerando os impactos sobre o meio

físico natural.

LEI Nº 2.211, DE 05 DE AGOSTO DE 2.004 - USO E OCUPAÇÃO DO SOLO

URBANO

Art. 1º - Esta Lei estabelece normas de uso e ocupação do solo no município, observadas as

disposições da Lei que institui o Plano Diretor de Desenvolvimento Sustentável Urbano e

Ambiental de Catalão (PDUA).

(…)

Art. 3º - Constitui-se em ANEXO desta Lei o mapa representativo das Zonas de Uso e

Ocupação do Solo e Áreas Especiais, na escala de 1:10.000 (um por dez mil) 1 .

(...)

Art. 5º - O território municipal de Catalão, conforme as disposições do PDUA, compõe-se

das seguintes zonas

I - Zona Urbana;

II - Zona de Expansão Urbana;

1 Mapa de fl. 48, anexo ao Plano Diretor, define o Pasto do Pedrinho como APP;

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4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CATALÃO/GO - RUA CRISTIANO AIRES, 125, CENTRO, CATALÃO/GO -

III - Zona de Uso Alternativo do Solo.

Parágrafo Primeiro - Considera-se como Zona Urbana a área parcelada dentro do território

urbano.

Parágrafo Segundo - Considera-se como Zona de Expansão Urbana a área sujeita a

parcelamento dentro do território Urbano.

Parágrafo Terceiro - Considera-se como Zona de Uso Alternativo do Solo a área não

parcelada do território municipal.

(...)

Art. 6º - A Zona Urbana, de que trata o Parágrafo Primeiro do Art. 5 desta Lei, subdivide-se

em:

I - Zona Urbana de Usos Diversificados (ZUD);

II - Zona Urbana de Usos Especiais (ZUE);

III- Zona Urbana de Preservação Absoluta (ZUPA);

IV - Zona Urbana de Preservação Relativa (ZUPR).

Parágrafo Primeiro - A Zona Urbana de Usos Diversificados (ZUD), atendendo o que

dispõe o PDUA quanto à correspondência do uso e ocupação do solo com as características

físicas, ambientais, sócio-econômicas e infra-estruturais de cada segmento urbano,

subdivide-se em:

I - Zona Urbana de Usos Diversificados - 1 (ZUD-1), que compreende áreas com

predominância residencial e com menores índices de ocupação do solo;

II - Zona Urbana de Usos Diversificados - 2 (ZUD-2), que compreende áreas com

predominância residencial e com maiores índices de ocupação do solo;

III - Zona Urbana de Usos Diversificados - 3 (ZUD-3), que compreende áreas com

predominância comercial e com menores índices de ocupação do solo;

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4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CATALÃO/GO - RUA CRISTIANO AIRES, 125, CENTRO, CATALÃO/GO -

IV - Zona Urbana de Usos Diversificados - 4 (ZUD-4), que compreende áreas com

predominância comercial e com maiores índices de ocupação do solo.

Parágrafo Segundo - A Zona Urbana de Usos Especiais (ZUE), conforme dispõe o PDUA,

compreende áreas destinadas exclusivamente a usos comerciais, de serviços e industriais

sujeitos a licenciamento especial para concepção, instalação e operação, subdividindo-se em:

I - Zona Urbana de Usos Especiais - 1 (ZUE-1), que admite atividades industriais de médio

potencial poluente e atividades especiais de comércio e serviços, com licenciamento prévio

para instalação e operação subordinado, nos termos da Lei que instituiu o PDUA, a estudos

de impacto de vizinhança, de impacto cultural (quando for o caso) e de impacto ambiental;

II - Zona Urbana de Usos Especiais - 2 (ZUE-2), que admite atividades industriais de grande

potencial poluente e atividades especiais de comércio e serviços, com licenciamento prévio

para instalação e operação subordinado, nos termos da Lei que instituiu o PDUA, a estudos

de impacto de vizinhança, cultural (quando for o caso), estudos de impacto ambiental e

estudos de controle urbano e ambiental, bem como a planos de encerramento quando for o

caso.

Parágrafo Terceiro - A Zona Urbana de Preservação Absoluta, conforme dispõe o

PDUA, compreende áreas consideradas de conservação permanente pelas legislações

ambientais da União e do Estado, como as ocupadas por matas nativas, as de proteção

de nascentes e margens de águas correntes e dormentes, as de declividade superior a

47% (quarenta e sete por cento) e as de revegetação em terrenos com declividade

superior a 30% (trinta por cento) com vegetação de valor ecológico, nas quais, só serão

permitidas atividades relacionadas com as respectivas funções de sustentabilidade

destas.

Parágrafo Quarto - A Zona Urbana de Preservação Relativa, conforme dispõe o PDUA,

compreende áreas não parceladas e não ocupadas, com declividade entre 30% (trinta por

cento) e 47% (quarenta e sete por cento), consideradas como inadequadas ao uso urbano,

onde serão admitidos chacreamentos, centros de lazer, clubes recreativos, hotéis fazenda,

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4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CATALÃO/GO - RUA CRISTIANO AIRES, 125, CENTRO, CATALÃO/GO -

acampamentos e afins, bem como atividades de reflorestamento com fins comerciais, desde

que obedecidas as normas municipais pertinentes e observada a obrigatoriedade de

licenciamento pelo órgão municipal de controle ambiental (órgão seccional municipal de

meio ambiente).

Parágrafo Quinto - As zonas de uso e ocupação do solo de que trata este artigo

encontram-se representadas no ANEXO mencionado no Art. 3 desta Lei.

(...)

Art. 7º - A Zona de Expansão Urbana (ZEU), de que trata o Parágrafo Segundo do Art. 5º

desta Lei, compreende áreas não parceladas e não ocupadas, com declividade inferior a 30%

(trinta por cento), para as quais a Prefeitura poderá examinar pedidos de aprovação de

parcelamentos do solo para fins urbanos, observadas as disposições da Lei Federal 6.766/79

e suas alterações e da Lei Municipal de Parcelamento do Solo Para Fins Urbanos, bem

como, conforme dispõe o PDUA, as conclusões de estudos de impacto ambiental e de

vizinhança.

Parágrafo Primeiro - A ZEU, em função da variação dos parâmetros de ocupação do solo e

das dimensões mínimas de lote, subdivide-se em:

I - Zona de Expansão Urbana - 1 (ZEU-1), que compreende áreas onde serão admitidos

parcelamentos residenciais unifamiliares, em lotes com área mínima de 1.000 m2 (mil metros

quadrados), observados os seguintes parâmetros de ocupação:

a) Coeficiente de Aproveitamento máximo: 0,8 (oito décimos);

b) Taxa de Ocupação máxima: 0,4 (quatro décimos);

c) Taxa de Permeabilidade mínima: 0,4 (quatro décimos);

II - Zona de Expansão Urbana - 2 (ZEU-2), que compreende áreas onde serão admitidos

parcelamentos residenciais unifamiliares, em lotes com área mínima de 360 m2 (trezentos e

sessenta metros quadrados), observados os seguintes parâmetros de ocupação:

a) Coeficiente de Aproveitamento máximo: 1,0 (um inteiro);

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4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CATALÃO/GO - RUA CRISTIANO AIRES, 125, CENTRO, CATALÃO/GO -

b) Taxa de Ocupação máxima: 0,5 (cinco décimos);

c) Taxa de Permeabilidade mínima: 0,2 (dois décimos);

III - Zona de Expansão Urbana - 3 (ZEU-3), que compreende áreas onde serão admitidos

parcelamentos predominantemente residenciais, em lotes com área mínima de 450 m2

(quatrocentos e cinqüenta metros quadrados), observados os seguintes parâmetros de

ocupação:

a) Coeficiente de Aproveitamento máximo: 1,5 (um e meio);

b) Taxa de Ocupação máxima: 0,4 (quatro décimos);

c) Taxa de Permeabilidade mínima: 0,2 (vinte décimos).

Parágrafo Segundo - As zonas de expansão urbana de que trata este artigo estão

indicadas no ANEXO mencionado no Art. 3º desta Lei 2 .

Parágrafo Terceiro - As partes das áreas pertencentes à Zona de Expansão Urbana, que nos

processos de parcelamento forem consideradas de aproveitamento urbano inviável, face às

suas condições físicas ou ambientais, deverão ser convertidas em ZUPA ou ZUPR, conforme

couber, quando das respectivas aprovações pela Prefeitura.

Parágrafo Quarto - Nos estudos de impacto ambiental e de vizinhança mencionados no

caput deste artigo, deverão ser obrigatoriamente levadas em consideração, sem prejuízo de

outras exigências específicas determinadas pela Prefeitura, as relações entre as condições de

solo e as declividades do terreno, bem como as possibilidades de inundações.

Art. 8 - A Zona de Uso Alternativo do Solo, considerando o que dispõe o PDUA, subdivide-

se em:

I - Zona de Uso Alternativo do Solo de Preservação Absoluta (ZRPA), compreendendo áreas

consideradas de conservação permanente pelas legislações ambientais da União e do Estado,

a ser regulamentada por legislação própria, observado o que dispõem estas legislações;

2 Mapa de fl. 48;

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II - Zona de Uso Alternativo do Solo de Preservação Relativa (ZRPR), compreendendo áreas

de usos rurais compatibilizados com o meio ambiente, a ser regulamentada por legislação

específica complementar.

(...)

Art.13º - Nas zonas ZUPA, ZUPR, ZRPA e ZRPR, os usos deverão considerar o que

dispõem os artigos 6 e 8 desta Lei.

As retrotranscritas normas municipais encontram plena guarida no

texto constitucional, pois cabe ao Município legislar sobre assuntos de interesse local (art.

30, inciso I, da CF); promover, no que couber, adequado ordenamento territorial, mediante

planejamento e controle do uso, do parcelamento e da ocupação do solo urbano (art. 30, inc.

VIII, da CF); e proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas

(art. 23, inciso VI, da CF).

Além da sintonia constitucional, as normas municipais de proteção ao

Pasto do Pedrinho, sejam aquelas relativas à limitação de uso e ocupação do solo, sejam

aquelas voltadas especificamente para a proteção ambiental, vão ao encontro daquilo que

está disposto no Código Florestal – Lei 12.651/2012, que estabelece como princípio da

proteção e uso sustentável das florestas e demais formas de vegetação nativa, dentre outros, a

responsabilidade comum de União, Estados, Distrito Federal e Municípios, em

colaboração com a sociedade civil, na criação de políticas para a preservação e

restauração da vegetação nativa e de suas funções ecológicas e sociais nas áreas urbanas

e rurais (art. 1º, inciso VI).

A mesma lei, no que se refere à definição de área de preservação

permanente (APP), estatui, no art. 3º, inciso II, que é a área protegida, coberta ou não por

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vegetação nativa, com a função ambiental de preservar os recursos hídricos, a

paisagem, a estabilidade geológica e a biodiversidade, facilitar o fluxo gênico de fauna e

flora, proteger o solo e assegurar o bem-estar das populações humanas. Logo adiante, ao

tratar de APP em áreas urbanas, o Código Florestal estabelece: no caso de áreas urbanas,

assim entendidas as compreendidas nos perímetros urbanos definidos por lei municipal, e nas

regiões metropolitanas e aglomerações urbanas, observar-se-á o disposto nos respectivos

Planos Diretores e Leis Municipais de Uso do Solo, sem prejuízo do disposto nos incisos

do caput (§10 do art. 4º).

Possibilitando o alargamento do conceito de área de preservação,

previu o Código Florestal a possibilidade de instituição de outras áreas de preservação

permanente, por ato do Chefe do Poder Executivo, para atender às seguintes finalidades,

dentre outras: I - conter a erosão do solo e mitigar riscos de enchentes e deslizamentos de

terra e de rocha; (…) IV - abrigar exemplares da fauna ou da flora ameaçados de

extinção; V - proteger sítios de excepcional beleza ou de valor científico, cultural ou

histórico; (…) VII - assegurar condições de bem-estar público (incisos do art. 6 do

Código Florestal).

Assim, o que se observa é a possibilidade do Município, tanto por

autorização constitucional, como também por expressas disposições do Código Florestal,

respeitados os limites mínimos previstos no art. 4º do mencionado Código, dispor a respeito

das áreas de preservação permanente, mormente aquelas situadas em zona urbana,

estabelecendo outras restrições. Especificamente no que se refere à proteção ambiental,

entende a melhor doutrina que “não há dúvidas que a competência dos Municípios, em

matéria ambiental, faz-se necessária, especialmente por se tratar de seu peculiar interesse,

não podendo ficar à mercê das normas estaduais e federais. Registre-se ainda que os

Municípios poderá até restringir as normas estaduais e federais, tornando-as mais

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4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CATALÃO/GO - RUA CRISTIANO AIRES, 125, CENTRO, CATALÃO/GO -

protetivas” (SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual de Direito Ambiental, 8ª edição. São Paulo:

Saraiva, 2010, p. 187/188).

Dessa forma, sobre a região denominada “Pasto do Pedrinho” pelo

menos três situações impedem o parcelamento e a ocupação do solo, e exigem a completa

proteção e restauração da área. São elas:

A primeira: a região do “Pasto do Pedrinho” não está incluída em

Zona de Expansão Urbana. Pelos artigos 43 da Lei 2210/04 (loteamentos só serão

admitidos nos terrenos definidos como Zona de Expansão Urbana nesta Lei); e 7º, caput, e

parágrafos 1º, 2º e 3º, da Lei 2211/04, somente em áreas definidas como sendo de

Expansão Urbana serão admitidos parcelamento e ocupação do solo.

A segunda: a região do “Pasto do Pedrinho” foi definida como zona

de relevante interesse ambiental (ZUPA). Pelos artigos 15, inciso II, da Lei 2210/04; e 5º,

inciso I e 6º, inciso III e parágrafo único, da Lei 2211/04, em tais áreas somente são

admitidas atividades relacionadas com as respectivas funções de sustentabilidade destas.

A terceira: é fato notório que na região do “Pasto do Pedrinho” há

diversos locais definidos pelo Código Florestal como área de preservação permanente,

de sorte que as restrições para a proteção ambiental tornam o empreendimento

desaconselhável (art. 147, inc. VII, da Lei 2210/04).

1.2 Relevância ambiental do Pasto do Pedrinho

No curso do inquérito civil público foram coletados diversos estudos

realizados sobre o Pasto do Pedrinho. Esses estudos, provenientes das mais variadas fontes

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(pesquisadores, alunos e professores de universidades, técnicos do Ministério Público, etc.) e

realizados em espaços de tempo diversos (entre 2000 e 2012) refletem a importância

ambiental do Pasto do Pedrinho, tanto intrinsecamente, com extrinsecamente, como fator de

promoção da sadia qualidade de vida da população catalana.

Conquanto outros estudos, mormente sobre a importância

sociocultural do Pasto do Pedrinho, devam ser feitos, as informações já coligidas bastam à

demonstração de premente preservação e recuperação da área. Vejamos:

• É uma área de reserva ambiental única e com extraordinária beleza cênica, composta por

vários ambientes naturais e com formações fitofisionômica de espécies vegetais do bioma do Cerrado, com

extratos e substratos herbáceo, arbustos e arbóreo, impar dentro do mosaico paisagístico da área urbana de

Catalão (fl.03);

• O Pasto do Pedrinho, sempre foi considerado uma área pública, fazendo parte da história, da

cultura e memória dos Catalanos, quer pelas relações objetivas, quer pelas relações subjetivas e imateriais,

computando o alto valor histórico e valoração econômico da biodiversidade, segundo a Convenção sobre

Diversidade Biológica - CDB – tais como: valor de uso direto (VUD); valor de uso indireto (VUI); valor de

opção (VO); valores de não uso (VNO); valor de herança – natural e genética (VH); e valor econômico total

(VET) (fl.03);

• Estudos apontados pela Agência Nacional das Águas – ANA – indica que a Bacia

Hidrográfica do Rio Paranaíba, unidade territorial de gestão e planejamento, a qual está inserida a cidade de

Catalão, terá um crescimento vertiginoso, saindo de 8 milhões e 500 mil habitantes, em 2005, para 24 milhões

de habitantes em 2025, devendo concentrar, esse enorme contingente no entorno de Brasília-DF, no entorno de

Goiânia-GO e nas dez maiores e mais dinâmicas cidades de Minas Gerais e de Goiás, observando que a cidade

de Catalão é uma destas indicações (fl. 04);

• Considerando que as autoridades e instituições nacionais e internacionais vinculadas ao

planejamento urbano e políticas de saúde pública, física e mental, tem chamado a atenção para a gestão urbana,

no que diz respeito a qualidade e bem estar de vida da população, como exemplo os programas das Nações

Unidas, denominada de “Cidades Saudáveis”, e ainda para a manutenção de saudibilidade ambiental, a

recomendação de no mínimo de 12,00 metros quadrados de área verde por habitante, observando que a cidade

de Catalão está muito distante deste acatamento (fl. 04);

• Considerando que a cidade de Catalão se situa geograficamente dentro do Bioma de Cerrado,

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4ª PROMOTORIA DE JUSTIÇA DA COMARCA DE CATALÃO/GO - RUA CRISTIANO AIRES, 125, CENTRO, CATALÃO/GO -

com a potencialização negativa dos efeitos climáticos sazonais pelas atividades urbanas e antrópicas, sendo que

a umidade relativa do ar tem descido aos extremos de tolerâncias biológicas do ser humano, e ainda insere-se,

que a área urbana está exprimida entre dois distritos e setores industriais metalmecânico e minero-químicos,

com comprovada incidência de poluição e contaminação atmosférica de agentes orgânicos (ETE da SAE),

químicos, fisico-químicos, gases, matéria particulada e indícios de agentes radioativos (rádionuclídeos de

urânio, tório, rádio, radônio e outros) (fl.05);

• A vegetação no local encontra-se parcialmente preservada com o domínio da vegetação de

cerrado strictu sensu, esta vegetação é característica do Cerrado, e é composta por exemplares arbustivo-

arboréos, de caules e galhos grossos e retorcidos, distribuídos de forma ligeiramente esparsa, intercalados por

uma cobertura de ervas, gramíneas e espécies semi-arbustivas (fl. 72);

• Nas áreas próximas aos cursos d'água (nascentes e córregos) predomina a vegetação típica de

mata ciliar que é caracterizada como uma vegetação associada à proximidade do lençol freático, situadas sob

solos mais férteis e com maior disponibilidade hídrica, o que lhes atribui uma característica mais densa (fl. 72);

• O Pasto do Pedrinho foi classificado no microzoneamento como Zona de Relevante Interesse

Ambiental (ZUPA), estas áreas são caracterizadas como áreas “ocupadas por matas nativas, as de proteção de

mananciais, as de declividade superior a 47%, as de reflorestamento com declividade superior a 30% e as de

restauração da mata ciliar dos cursos d´água, especialmente o rio Pirapitinga” (fl.73);

• Documento oriundo da Secretaria Municipal de Meio Ambiente (SEMMAC) de Catalão/GO,

diz que "a área denominada como "Pasto do Pedrínho", por apresentar relevância sócio-ambiental foi

caracterizada pela PDDUA, Lei 2.210/04, no art 15°, inciso II como ZUPA - Zona Urbana de Preservação

Absoluta e Lei de Uso e Ocupação do Solo 2.211/2004 no art. 5° inciso I e art. 6°, inciso III, estabelece que na

área em questão somente serão permitidas atividades com as funções específicas de preservação do patrimônio

natural” (fl.120);

• É fato notório que na região do "Pasto do Pedrinho" há diversos locais definidos pelo Código

Florestal como área de preservação permanente (art. 2º da Lei 4.771/65 – curso d´água, nascentes, declividade

acentuada do terreno), de sorte que as restrições para a proteção ambiental tornam o empreendimento

desaconselhável (art. 147, inc. VII. da Lei 2.210/04) (fl. 120);

• Laudo Técnico para constatação de degradação ambiental em Área de Preservação

Permanente - APP - Pasto do Pedrinho, realizado pelos Professores do Departamento de Geografia da

Universidade Federal de Goiás - Campus Catalão, a saber: Laurindo Elias Pedrosa, Odelfa Rosa e Valdivino

Borges de Lima que, em 11 de novembro de 2001, mediante solicitação do Ministério Público do Estado de

Goiás - 3ª Promotoria de Justiça de Catalão - Curadoria do Meio Ambiente, conforme Ofício n° 234/01,

apresentaram o Laudo Técnico (fl. 128):

◦ Na ocasião foi apresentada uma caracterização da área (Anexo IV) que permite dizer da

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sua relevância para a população catalana, pois são poucos os sítios urbanos em Goiás que possuem tão

importante área verde "incrustada" no seio da cidade e que possibilita aos catalanos, um sentido público que

deve ser preservado e disponibilizado para todos (fl.128);

◦ Evidencia-se a riqueza florística e faunística da área, bem como a relevância por conta

das nascentes e cursos d'água e sua importância histórica, social e ambiental para a população catalana;

◦ A importância da área enquanto Biota do "Pasto do Pedrinho". A área conhecida

localmente como "Pasto do Pedrinho" possui cobertura Vegetal predominantemente nativa com variações

estruturais diversas e características de Cerrado. As fisionomias vegetais ocorrentes na área variam de Cerrado

Rupestre, Campo Rupestre, Cerrado Denso, Cerradão e Mata de Galeria, sendo as duas primeiras do tipo

Campestre, as duas últimas Florestais e as demais das Formações Típicas do Cerrado, assim representante dos

três tipos existentes na classificação usual, conforme EMBRAPA (1998) e Ferreira (2003) (fl. 129);

◦ Muitas espécies vegetais ocorrentes nas fisionomias da cobertura vegetal nativa são

conhecidamente, adaptadas aos seus tipos fisionômicos, devido a condições ambientais características de cada

um destes ambientes. Várias das espécies são frutíferas e muitas outras são de uso na medicina popular,

inclusive utilizadas pela população local e de uso por raizeiros e populares do município. Duas espécies

vegetais arbóreas ocorrentes na área estão presentes na lista oficial de espécies ameaçadas de extinção do

IBAMA, sendo a Aroeira-verdadeira (Myracrodruon urundeuva) e o Mogno (Swietenia macrophylla); sendo a

primeira nativa do Bioma Cerrado e ocorrente na região; e a segunda originada da Floresta Amazônica, portanto

inserida por pretéritos freqüentadores ou moradores da propriedade (fl.129);

◦ Em termos de composição vegetal, na área podem ser encontradas pelo menos 110

espécies botânicas lenhosas, as quais pertencem a 40 famílias. As famílias representadas com maior número de

espécies são: Fabaceae, com 23 espécies (várias indicadoras de solo deficiente em nitrogênio),

Melastomataceae, com nove espécies, Vochysiaceae, Rubiaceae (indicadoras de solo rico em alumínio) e

Malpighiaceae, com seis espécies cada. As famílias Araliaceae, Combretaceae, Connaraceae, Ebenaceae,

Erythroxylaceae, Lythraceae, Moraceae, Nyctaginaceae, Ochnaceae, Piperaceae, Proteaceae, Rutaceae,

Salicaceae, Sapotaceae, Siparunaceae, Solanaceae, Styracaceae, Urticaceae, Velloziaceae e Verbenaceae foram

amostradas com apenas uma espécie. As espécies de porte herbáceo e arbustivo não estão incluídas nesta

listagem, mas sabe-se que podem apresentar riqueza de biodiversidade bem maior (fl. 129);

◦ Os ambientes naturais abrigam fauna composta basicamente por pequenos mamíferos

terrestres e voadores, aves, anfíbios, répteis, insetos diversos, dentre vários outros grupos animais, porém este

tipo de levantamento ainda não foi realizado na área (fl. 129);

◦ A área como um todo apresenta elevado potencial à pesquisa, prática esportiva (ciclismo,

motociclismo, caminhadas, arborismo, entre outras formas de lazer), educação ambiental, ecoturismo e recreio

da população;

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◦ É área de beleza cênica singular, principalmente devido ao fato de estar próxima à

população e por complementar a paisagem pretérita original da região, encontrada nos tempos de colonização

da região, observada pelos visitantes que freqüentam um dos mais visitados cartões postais da cidade: o mirante

do topo do Morro de São João ou Morro da Saudade (fl. 129);

◦ Ao longo das Matas de Galeria do interior da propriedade podem ser encontradas pelo

menos três cachoeiras (Anexo VI) de porte considerável (pelo menos três metros de desnível) e que ainda são

pouco conhecidas pela população local, bem como a vegetação nativa exuberante e ambiente com microclírna

agradável próximo aos seus poços de águas límpidas que se formaram na base de tais quedas d'água (fl. 130);

◦ Verifica-se que o "Pasto do Pedrinho" apresenta riqueza de espécies comparável a outras

áreas de Cerrado, sendo fundamental a sua conservação como área representativa de parte da fitofisionomia

regional, conforme orientação da Lei N° 9.985. Ocorrendo a preservação da área, esta continuará sendo campo

de pesquisas sobre a flora e fauna do Cerrado na região, conforme algumas que apresentamos em anexo,

inclusive, já publicadas. (Anexo VII) (fl. 130);

◦ A pesquisadora professora Ione Soares da Silva Rocha, aponta os problemas decorrentes

da pouca arborização da área urbana de Catalão e destaca a necessidade de preservação das áreas verdes: Diz

que as árvores desempenham papel fundamental na melhoria das cores e formas vivas e alegres no acinzentado

da massa urbana e a melhoria da saúde física e mental da população, propiciando sensações de tranqüilidade,

bem como, a melhoria do ar que se respira (fl. 133);

◦ Afirma ainda que as plantas desempenham benefícios à saúde física e mental humana e

ao ecossistema, sendo necessárias à qualidade de vida, e pode-se considerar que estão diretamente

proporcionais à melhoria da qualidade ambiental. A expressão qualidade ambiental está ligada à conservação de

ecossistemas e à qualidade de vida. Podendo-se concluir que a vegetação ligada a outros indicadores de

qualidade ambiental, como do ar, da água, do solo e da fauna, é indispensável na diminuição dos muitos e

complexos problemas ambientais urbanos já acumulados nas cidades, como os das ilhas de calor, poluição das

águas e outros (ROCHA 2011, p. 25-6) (fl. 133);

◦ Há que se considerar que Catalão não promoveu a realização do planejamento do

ambiente com ênfase na arborização, por meio da obrigatoriedade de um Plano Diretor de Arborização Urbana e

a destinação obrigatória de parte de multa ambiental arrecadada para plantar árvores, buscando melhorar a

ecodinâmica desses espaços antropizados e degradados. Ao contrário, o que se vê é a mais completa

despreocupação com a arborização e as poucas áreas verdes existentes no sítio urbano, a mencionar a área em

destaque, denominada Pasto do Pedrinho, que há décadas é reclamada pela sociedade catalana, como área a ser

desapropriada e transformada no Parque Público Municipal. É preciso urgentemente repensar as políticas de

Arborização Urbana para a cidade de Catalão, levando-se em consideração o preconizado nas legislações

pertinentes, os anseios da coletividade, a necessidade de mitigar os efeitos da expansão urbana e a ausência de

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áreas verdes. Assim, a criação do Parque Municipal na referida Área auxilia na elaboração/execução de uma

política socioambiental para a municipalidade, especificamente, o sítio urbano (fl. 133);

◦ A área do Pasto do Pedrinho, encontra-se inserida sobre a litologia do Grupo Araxá,

composta por micaxisto com intercalações de quartzitos micáceos. Localmente as rochas do micaxisto que

compõe as sindinais (fundos de vales), por onde as águas fazem seus caminhos estão intemperizados

apresentando alto grau de inabilidade e de porosidade, favorecendo com a alteração química, pela a ação das

águas formações argilosas. Nos interflúvios, topos das colinas, afloram os campos lateríticos, os quartzitos mais

resistentes a ação intempérica e os mantos de regolito, compostos de cascalhamento de granulação variada e

outros fragmentos das rochas, se estendendo pelas encostas das colinas evertentes até aos fundos dos vales por

serem de fácil remobilização pela gravidade e ação das enxurradas (fl. 145);

◦ O clima da área se insere no contexto regional, com destaque para sazonalidade,

revelando um período seco e com menores temperaturas, de maio a setembro e outro período úmido e maiores

temperaturas, de outubro a março, com uma média anual da pluviosidade em torno de 1500 milímetros (fl. 147);

◦ A pedogênese reflete a interação climática e de outros elementos com as características

litoestruturais, com manchas de solos tipos plintossolos (cangas lateriticas), litossolos, cambissolos e rochas

aflorantes (expostas), ás vezes recobertas por camadas do rigolito. Com efeito, a cobertura vegetacional revela a

interface solo, relevo-clima, e a do típico Bioma do Cerrado Brasileiro, salvo para o ambiente em análise, que

apresenta alto grau de descaracterização pela ação antrópica, tem-se nos topos das colinas e nas encostas as

coberturas herbáceas e arbustivas, enquanto que nos vales com solos úmidos e ricos em nutrientes, vegetação

arbórea densa, típica de mata ciliar (fl. 147);

◦ O Pasto do Pedrinho encontra-se na porção noroeste do sítio urbano de Catalão,

limitando-se ao norte com o Jardim Primavera, a nordeste/leste com o bairro São João, ao sul com Bairro Mãe

de Deus, ao sudoeste com o Bairro São José e a norte/noroeste com o Loteamento Elias, loteamento esse recém

implantado, inclusive sob severas críticas de ambientalistas, em função do local apresentar elevada declividade

e outros agravantes de natureza geoambientais. (fl. 163);

◦ A vegetação visualizada na maior parte do terreno é de espécies graminosas artificiais

(brachiána e outras) e outras que avançam sobre a vegetação rasteira nativa. Existem ainda várias manchas

vegetais diferenciadas, dependendo das características do ambiente. Se há mais umidade, mais material

pedogenizado, ou seja, solo mais profundo com a remobilização de material, assenta-se uma vegetação mais

densa e de maior porte arbóreo. Essas manchas vegetais, na maioria das vezes, acompanham os vales, dentro da

área (fl. 163);

◦ Em pesquisas realizadas, foram amostrados 3818 indivíduos pertencentes 131 espécies,

93 gêneros e 42 famílias (Tabela 1), nos três hectares amostrados. Em média foram encontradas 80 espécies por

ha. O Número de espécies e famílias encontradas em cada área e no levantamento total pode ser verificado

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também na Tabela 1. Este número de espécies amostradas está de acordo com levantamentos realizados em

áreas de cerrado (Andrade et ai 2002; Felfili et ai 2002; Júnior et ai 2003; Moura et ai 2007);

◦ As famílias com maior número de espécies foram: Fabaceae (21), Myrtaceae (14) e

Vochysiaceae (8). As famílias Fabaceae, Myrtaceae e Vochysiaceae estão entre as famílias com maior número

de espécies amostrados em áreas de cerrado (Araújo et ai. 1997), sendo as espécies da família Vochysiaceae

acumuladoras de alumínio (Haridasan e Araújo 1988) altamente adaptadas aos solos do cerrado. As dez espécies

de maior IVI foram Pterodon pubescens (Benth.) Benth, Sclerolobium paniculatum Vog., Qualea grandiflora

Mart, Morta, Eugenia efysenterica DC, Plaíhymenia- reticulata Benth, Xylopia aromatica (Lam.) Mart,

Byrsonima coccolobifolia H. B.( Neea íhei/era Oesrt, Myrcia variabilis Mart ex DC. as quais representaram

47,35% do IVI total e 44,76% do número de indivíduos amostrados (Tabela 1) (fl. 176).

Indisputável, pois, que o Pasto Pedrinho, além de gozar do status de

área de preservação permanente, ostenta características ambientais que o tornam digno de

proteção total.

1.3 Diversas formas de degradação que estão sendo impostas ao Pasto do Pedrinho

Não obstante essas relevantes características ambientais e jurídicas, o

Pasto do Pedrinho vem sendo paulatinamente degradado e as mais diversas formas de

degradação também foram alvo de pesquisa e investigação:

• O Pasto do Pedrinho carece de cuidados e planejamento ambiental. Atualmente uma grande

extensão da área é utilizada como área de depósito de entulhos e lixos, é entrecortada em diversos pontos por

estradas que servem como passarela para pedestres e também como meio de diversão para motociclistas.

A área também recebe com frequência as águas de lavagem dos filtros, da Estação de Tratamento de Água

– SAE, localizada às margens do GO-330. Todos esses fatores contribuem para a degradação do solo,

surgimento de pequenas ravinas e consequentemente os processos erosivos (fl.74);

• Laudo Técnico para constatação de degradação ambiental em Área de Preservação

Permanente - APP - Pasto do Pedrinho, realizado pelos Professores do Departamento de Geografia da

Universidade Federal de Goiás - Campus Catalão, a saber: Laurindo Elias Pedrosa, Odelfa Rosa e Valdivino

Borges de Lima que, em 11 de novembro de 2001, mediante solicitação do Ministério Público do Estado de

Goiás - 3ª Promotoria de Justiça de Catalão - Curadoria do Meio Ambiente, conforme Ofício n° 234/01,

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apresentaram o Laudo Técnico (fl. 128):

◦ Na ocasião identificou-se nascentes degradadas, com destaque para aquela situada

na parte norte (divisa com a GO-330), agredida pelos lançamentos de resíduos (descargas da lavagem dos

filtros) da Estação de Tratamento de Águas, à época pertencente à SANEAGO S.A, atualmente sob

responsabilidade da Superintendência de Água e Esgoto (SAE) - Município de Catalão/GO (fl.128)

◦ “o lançamento dos resíduos anteriormente descritos, saem da ETA, por tubulação

subterrânea e transpõe a rodovia GO-330, onde na porção a jusante tem-se um bueiro,

que incide com cabeceira de uma das nascentes do Pasto do Pedrinho, já

caracterizada, em que os impactos são visíveis, podendo ser comprovados por registros

fotográficos em anexo, dando provas de evidências geradas por esta ação de

degradação. As incursões para fins de investigação a área em epígrafe, referendadas

por minuciosa consulta bibliográfica, técnica e científica, possibilitou o seguinte:

◦ A água residual que é lançada na área da nascente é proveniente de lavagem (limpeza)

dos filtros da ETA – SANEAGO (hoje, SAE), (informação extraoficial dos funcionários

da empresa);

◦ O volume é variável indo de 100 mil a 150 mil litros d'água a cada lançamento com uma

frequência de 2 ou 3 vezes por dia, com duração de 6 a 7 minutos, (informação

extraoficial dos funcionários da empresa);

◦ Observou-se no local, na parte a jusante do bueiro de transposição da rodovia, um

ressalto com mais ou menos 50 centímetros, escavado em rocha em sulco como o

registrado na foto 1;

◦ A constatação de resíduos domésticos inorgânicos caminho de escoamento dos efluentes

da ETA (resíduos de lavagem dos filtros);

◦ A constatação de carga de sedimentos estranhos a natureza do ambiente, compostas de

areias e sílicas, comumente chamados de areia lavada, com evidências de material

utilizado nos filtros da ETA;

◦ A construção de escadarias na parte a jusante de bueiro de transposição de excedente

pluvial (enxurradas), construídos em decorrência da abertura das vias de circulação,

comprovando a friabilidade do terreno, sendo estas as formas de quebra de energia da

água, para diminuição da ação de degradação;

◦ Constatação do lançamento dos efluentes sobre as nascentes, por indicar a natureza do

terreno composto de solos hidromórficos, muito susceptível a erosão laminar e por

sulcos, conforme foto 7;

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◦ A constatação de abertura de profundos sulcos no canal de escoamento por onde

progride os efluentes da ETA, sobre rochas do micaxisto altamente intemperizadas com

profundidade variando de 1,20m a 2,00m e largura quase sempre inferior a 0,30m e que

não é verificado tal forma de erosão em outros ambientes de escoamento do excesso

pluvial dentro do Pasto do Pedrinho;

◦ Constatação da degradação da vegetação herbácea e arbustiva na cabeceira da

nascente por fogo, indicando ser queimada intencional (por moradores da localidade ou

por transeuntes) favorecendo a ação erosiva tanto laminar quanto concentrada, das

encostas quanto ao fundo do vale; e

◦ A constatação no médio curso do canal de escoamento um ressalto de aproximadamente

10 metros de altura elaborado pela ação do escoamento dos efluentes da ETA, uma vez

que trabalhos realizados pelos alunos de graduação do curso de Geografia do

CAC/UFG, em 1998, em relatório técnico contatou e registrou por fotografias que a

queda d'água tinha em torno de 5 metros de altura, uma vez que a erosão é em um

contato litológico do quartzito, resistente ao intemperismo de água, com micaxisto

altamente intemperizado e facilmente erodido, como o verificado nos últimos anos.

• A área se caracteriza por um conjunto de nascentes que formam o Córrego, homônimo da

área, sendo tributário da margem esquerda do Ribeirão Pirapitinga. Apesar da maioria das nascentes e dos vales

estarem cobertos pela vegetação natural, ambos vêm sofrendo a ação do crescimento desordenado do espaço

urbano, em função da área ser centralizada e situar-se nas proximidades de vias de circulação de grande

interesse comercial. No local existem diversas erosões que crescem constantemente. E ainda, ocorre a

expansão urbana, que pressiona para a construção e abertura de ruas, que, aos poucos, vão asfixiando a área.

Exemplos são os aterramentos impulsionados pelas construções na porção norte, conforme a Foto 66, (saída

para Goiânia). (fl. 164).

• Também na porção leste, proximidades do Loteamento Elias Safatle, inadequado para o local,

o processo de entulhamento e o escoamento superficial concentrado tem acarretado erosões, perda de solo e

desequilíbrio ambiental. (fl. 164).

• A Prefeitura Municipal de Catalão, para conter as erosões, equivocadamente, e de forma

criminosa, permite o lançamento, não só na área do Pasto do Pedrinho, mas também em outros locais, de

entulhos, piorando a situação de degradação ambiental. Não se contem escavação de erosões depositando

nelas entulhos. É necessário fazer obstáculos, com a própria madeira que está caída no local e/ou outros

materiais do meio. O escoamento superficial, proveniente de parte do Jardim Primavera e das áreas

superiores, direcionado para os vales onde se localizam as nascentes, somado à forte declividade, faz com

que a erosão aumente sistematicamente, já que a quantidade de água escoada é grande, aumentando

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também a quantidade de resíduos de varias naturezas, como lixo doméstico, para dentro da área (fl. 165);

• A área em seu conjunto apresenta ações de degradação, generalizada. Com isso as

nascentes estão mudando da condição de perenes para intermitentes. Assoreamentos e/ou erosões.

Invasão de resíduos líquidos e sólidos de várias naturezas. Corte de vegetação nativa. Fluxos de

escoamento superficial concentrado. Lançamento de efluentes líquidos da ETA/SAE. Pressão urbana.

Outras ações antrópicas (fl. 168);

• Aconselha-se o desvio do escoamento concentrado por tubulação de drenos. Desvio dos

efluentes da ETA/SAE. Plantio de espécies vegetais naturais. Ações educativas com projetos ambientais. Ações

punitivas aos transgressores. Tombamento imediato da área por ser de relevância ambiental e paisagística.

Criação de um Parque Municipal com várias finalidades e usos. E monitoramento periódico (fl. 168).

1.3.1 - Das responsabilidades pela adoção de medidas de recuperação,

mitigação e compensação ambiental

1.3.1.1 - SAE

Sem prejuízo das responsabilidades dos demais requeridos, forçoso

reconhecer que a SAE é responsável por uma importante forma de degradação do Pasto do

Pedrinho. Está demonstrado nos autos que de longa data a SAE promove o lançamento de

resíduos decorrentes da lavagem dos filtros da Estação de Tratamento de Água em uma

nascente situada ao norte do Pasto do Pedrinho, divisa com a GO-330. Como já transcrito,

“o lançamento dos resíduos anteriormente descritos, saem da ETA, por tubulação

subterrânea e transpõe a rodovia GO-330, onde na porção a jusante tem-se um bueiro,

que incide com cabeceira de uma das nascentes do Pasto do Pedrinho, já caracterizada,

em que os impactos são visíveis, podendo ser comprovados por registros fotográficos em

anexo, dando provas de evidências geradas por esta ação de degradação” - fl. 128.

1.3.1.2 - MUNICÍPIO DE CATALÃO

Por omissão no exercício do poder de polícia administrativa, o

requerido Município de Catalão, sistematicamente, permite a deposição de lixo e entulho

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nas imediações do Pasto do Pedrinho . Acresça-se à omissão no exercício do poder de polícia

administrativa, o fato do Município de Catalão não adotar medidas positivas do tipo

educação ambiental, colocação de placas, caçambas e etc., para evitar a deposição

inadequada de lixo e entulhos nos arredores e no interior do Pasto do Pedrinho.

Além disso, o Município de Catalão, visando mitigar ou evitar

erosões, indevidamente, dispõe entulho em áreas erodidas situadas no Pasto do Pedrinho, o

que contribui, significativamente, para a piora do habitat, além de não impedir o avanço das

erosões. Esse processo erosivo, ainda, é agravado pelas águas pluviais oriundas do Jardim

Primavera, que são carreadas para o Pasto do Pedrinho, sem nenhuma preocupação com a

preservação desse importante espaço.

1.3.1.3 - JOSÉ CARLOS RAMPELOTTI; JOÃO CLÁUDIO

RAMPELOTTI; JAIRO CELSON RAMPELOTTI; e JAIME CÉZAR

RAMPELOTTI,

Conquanto não tenham estes requeridos contribuído para o processo de

degradação do Pasto do Pedrinho, depreende-se dos documentos de fls. 378/381 que essa

área foi por eles recentemente adquirida (escritura pública e compra e venda,

devidamente averbada no CRI), em condomínio. Logo, por expressa disposição legal3 e

segundo posicionamento pacífico da jurisprudência4, respondem os requeridos pela

degradação e recuperação da área e pela prevenção de novas formas de degradação.

3 Art. 2º, §2º, do Código Florestal; Art. 7º, §1º, do Código Florestal;4 ADMINISTRATIVO E AMBIENTAL. AGRAVO REGIMENTAL NO RECURSO ESPECIAL.

DANO AMBIENTAL EM RESERVA LEGAL. DEVER DE RECUPERAÇÃO. OBRIGAÇÃO PROPTER REM. ABRANGÊNCIA DO PROPRIETÁRIO ATUAL, INDEPENDENTEMENTE DE QUEM CAUSOU O DANO. PRECEDENTES. AGRAVO REGIMENTAL NÃO PROVIDO. 1. O atual entendimento do Superior Tribunal de Justiça é de que a obrigação de recuperar a degradação ambiental ocorrida na faixa da reserva legal abrange aquele que é titular da propriedade do imóvel, mesmo que não seja de sua autoria a deflagração do dano, tendo em conta sua natureza propter rem. Precedentes. 2. Agravo regimental não provido. (AgRg no REsp 1137478/SP, Rel. Ministro ARNALDO ESTEVES LIMA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 18/10/2011, DJe 21/10/2011);

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Dos autos do inquérito civil público extrai-se que a área do Pasto do

Pedrinho é local de depósito de entulhos e lixos; é entrecortada em diversos pontos por

estradas que servem como passarela para pedestres e também como meio de diversão para

motociclistas; é dotada de nascentes degradadas; apresenta erosões que crescem

constantemente; sofre com incêndios criminosos, em especial, no período de seca. Enfim, a

área, em seu conjunto, apresenta ações de degradação generalizada. De rigor, pois, para

evitar que o Pasto do Pedrinho continue sofrendo com incêndios criminosos, com a

disposição indevida de entulho e lixo, com a invasão por vândalos, desocupados,

motocicletas e etc., que os atuais proprietários da área sejam instados a promover o

cercamento da área. Além disso, como área está sofrendo degradação generalizada, com

processos erosivos e extinção de nascentes, por exemplo, mister que haja a elaboração de um

Plano de Recuperação de Área Degradada e de um Plano de Prevenção a Incêndios 5 .

2 - Dos pedidos:

Diante do exposto, requer o Ministério Público:

2.1 - o recebimento e processamento desta ação civil pública sob procedimento

ordinário6;

2.2 - a citação dos réus para apresentarem resposta à demanda, nos termos do art.

319 do Código de Processo Civil, com a advertência do art. 285, “in fine”, do

Código de Processo Civil;

5 Ambos eram objeto de Termo de Ajustamento de Conduta proposto ao requerido José Carlos Rampelotti – em anexo, às fls. 392/394 –, que não aceitou os termos da proposta, e nem formulou contraproposta.

6 Tendo em vista o número de requeridos, particulares e Poder Público, e a complexidade da causa (diversas fontes de degradação ambiental impostas ao Pasto do Pedrinho, que vão da deposição irregular de entulho e lixo nas imediações e interior deste, ao escoamento indevido de água pluvial do Jardim Primavera, que certamento exigirão outras perícias), desaconselhável seguir o procedimento sumário, conforme §§ 4º e 5º do art. 277 do Código de Processo Civil, apesar da expressa determinação do art. 2º, §1º, do Código Florestal – Lei 12.651/2012.

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2.3 - a condenação dos requeridos nos seguintes termos:

2.3.1 - SAE:

A) condenação à OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER, consiste na proibição de

lançar no Pasto do Pedrinho descarga de água decorrente da limpeza dos

filtros da estação de tratamento de água, sob pena de embargo da

atividade/impedimento de atividade nociva, conforme art. 461, §5º, do

Código de Processo Civil;

B) condenação à OBRIGAÇÃO DE FAZER: considerando a degradação já

produzida, condenação à obrigação de fazer consistente na elaboração, no

prazo de 45 dias, e execução de um plano de recuperação da área degradada

(PRAD) - nascente situada na parte norte do Pasto do Pedrinho (divisa com

a GO-330) -, a ser elaborado por profissional devidamente habilitado, sob

pena de multa diária, nos termos do art. 287 do Código de Processo Civil;

2.3.2 - MUNICÍPIO DE CATALÃO/GO:

A) condenação à OBRIGAÇÃO DE FAZER: consistente em exercitar o poder

de polícia administrativa a fim de impedir a deposição de lixo e entulho nos

arredores e dentro do Pasto do Pedrinho, sob pena de multa diária, nos

termos do art. 287 do Código de Processo Civil;

B) condenação à OBRIGAÇÃO DE FAZER: consistente na remoção do lixo e

entulho indevidamente dispostos nos arredores e no interior do Pasto do

Pedrinho, sob pena de multa diária, nos termos do art. 287 do Código de

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Processo Civil;

C) condenação à OBRIGAÇÃO DE FAZER, consistente na implantação de

caçambas para coleta de lixo nos arredores do Pasto do Pedrinho, com

recolhimento periódico, e colocação de placas educativas a respeito da

correta disposição de lixo e entulho, sob pena de multa diária, nos termos do

art. 287 do Código de Processo Civil;

D) condenação à OBRIGAÇÃO DE FAZER, consistente na realização de

obras de captação de água pluvial no Jardim Primavera, de sorte que as

águas pluviais não descabem para o Pasto do Pedrinho, sob pena de multa

diária, nos termos do art. 287 do Código de Processo Civil;

E) condenação à OBRIGAÇÃO DE NÃO FAZER, consistente na proibição de

lançar resíduos de construção ou outro tipo de entulho para sanar processos

erosivos no Pasto do Pedrinho, sob pena de multa diária, nos termos do art.

287 do Código de Processo Civil.

2.3.3 - JOSÉ CARLOS RAMPELOTTI; JOÃO CLÁUDIO RAMPELOTTI;

JAIRO CELSON RAMPELOTTI; e JAIME CÉZAR RAMPELOTTI

A) condenação à OBRIGAÇÃO DE FAZER, consistente na obrigação de

elaborar, no prazo de 90 dias, Plano de Recuperação de Área Degradada

(PRAD), no qual devem conter, pelo menos, a identificação e dimensionamento

dos danos ambientais existentes na área, quantitativa e qualitativamente, com

indicação dos respectivos motivos determinantes; a indicação de medidas de

reparação/recuperação; a indicação de medidas mitigadoras; e o prazo para a

realização dessas medidas; e Plano de Prevenção a Incêndios;

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A.1 - No prazo supracitado, o compromissário se compromete a protocolizar

em juízo e perante a Secretaria Municipal de Meio Ambiente, cópia do

respectivo PRAD; também no prazo supracitado, o compromissário se

compromete a protocolizar em juízo e no Corpo de Bombeiros Militar em

Catalão, cópia do respectivo Plano de Prevenção a Incêndios;

A.2 - À 4ª Promotoria de Justiça da comarca de Catalão competirá, no prazo

de 30 dias, avaliar o PRAD e o Plano de Prevenção a Incêndios apresentados,

acatando-os integralmente ou propondo modificações ou refutando-os,

sempre fundamentadamente;

A.3 - Se no prazo de 30 dias a 4ª Promotoria de Justiça não se manifestar,

presumem-se aceitos o PRAD e o Plano de Prevenção a Incêndios;

A.4 - As cláusulas e condições previstas no PRAD e no Plano de Prevenção a

Incêndios, quanto à forma e ao prazo aprovados, passam a fazer parte desta

obrigação e o descumprimento destas ensejarão multa diária, na forma do

art. 287 do Código de Processo Civil.

B) condenação à OBRIGAÇÃO DE FAZER, consistente no cercamento de

toda a área, e posterior manutenção da cerca construída, para impedir o

acesso de vândalos, motociclistas e demais pessoas que praticam degradação

ambiental no local, sob pena de multa diária, na forma do art. 287 do Código

de Processo Civil.

Dá-se à causa o valor de R$ 6.000.000,00, valor de negócio do Pasto

do Pedrinho, conforme doc. De fls. 378/381.

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Conforme art. 18 da Lei 7.347/85, ação isenta de adiantamento de

custas, emolumentos, honorários e quaisquer outras despesas.

Catalão, 22 de outubro de 2012.

Mário Henrique Cardoso Caixeta

Promotor de Justiça

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