rpba boletim de jurisprudência fiscal - edição n.º 2 de 2015

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Boletim de Jurisprudência Fiscal Edição n.º 2/2015 (Abril) Mais-valias imobiliárias (artigo 51.º do CIRS) Decisão arbitral no processo n.º 300/2014-T, de 2 de Outubro de 2014 Entendeu o Tribunal Arbitral do CAAD que os custos financeiros com empréstimos (juros), embora assentes numa livre escolha do sujeito passivo, poderão encontrar-se intrinsecamente ligados à aquisição, valorização e alienação de um imóvel, e à consequente obtenção de rendimento. Não tendo sido impugnada a veracidade dos empréstimos contraídos, e estando tais custos devidamente documentados, concluiu o Tribunal que os mesmos deveriam ser aceites como encargos no âmbito do cálculo da mais-valia imobiliária, nos termos do artigo 51.º, n.º 1, alínea a), do Código do IRS, existindo um nexo de causalidade entre o ganho sujeito a tributação e os custos financeiros em apreço. Tal entendimento é também relevante na esfera de tributação dos fundos de investimento imobiliário, de acordo com o regime ainda em vigor, na medida em que o apuramento das respectivas mais e menos valias é efectuado de acordo com o disposto no Código do IRS, nos termos do artigo 22.º, n.º 6, alínea b), do Estatuto dos Benefícios Fiscais. Para obter mais informações sobre este tema contacte: Ana Rita Pereira / rita@rpba.pt Cláusula geral anti-abuso (artigo 63.º do CPPT) Acórdão Surgicare do TJUE, correspondente ao processo n.º C-662/13, de 12 de Fevereiro de 2015 A Surgicare Unidades de Saúde, S.A. (“Surgicare”), construiu e equipou uma unidade hospitalar entre 2003 e 2007, ano em que cedeu a exploração da mesma à Clínica Parque dos Poetas (“Clínica”), entidade detida pelos mesmos accionistas e integrando o mesmo grupo societário. Tendo considerado a referida cessão sujeita a IVA, a Surgicare deduziu o IVA suportado na criação da referida unidade, através do método da afectação real, ao IVA liquidado à Clínica a título de rendas. A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), no âmbito de uma inspecção, considerou que a referida cessão teve como único propósito o de permitir à Surgicare justificar a posteriori um direito à dedução do IVA que não existiria se ela própria tivesse explorado a unidade hospitalar que construiu e equipou. Por conseguinte, considerou abusiva a dedução. O Supremo Tribunal Administrativo considerou que a AT deve respeitar o procedimento previsto no artigo 63.º do CPPT quando suspeite da existência de uma prática abusiva, mas submeteu a questão ao Tribunal de Justiça da União Europeia por o IVA ser de génese comunitária. Este decidiu que a Directiva 2006/112/CE não se opõe à aplicação prévia e obrigatória de um procedimento administrativo nacional como o previsto no artigo 63.º do CPPT quando a AT suspeite da existência de uma prática abusiva. Para obter mais informações sobre este tema contacte: Bruno Botelho Antunes / bruno@rpba.pt

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Boletim de Jurisprudência Fiscal Edição n.º 2/2015 (Abril)

Mais-valias imobiliárias

(artigo 51.º do CIRS)

Decisão arbitral no processo n.º

300/2014-T, de 2 de Outubro de

2014

Entendeu o Tribunal Arbitral do

CAAD que os custos financeiros com

empréstimos (juros), embora assentes

numa livre escolha do sujeito passivo,

poderão encontrar-se intrinsecamente

ligados à aquisição, valorização e

alienação de um imóvel, e à

consequente obtenção de rendimento.

Não tendo sido impugnada a

veracidade dos empréstimos

contraídos, e estando tais custos

devidamente documentados, concluiu

o Tribunal que os mesmos deveriam

ser aceites como encargos no âmbito do

cálculo da mais-valia imobiliária, nos

termos do artigo 51.º, n.º 1, alínea a), do

Código do IRS, existindo um nexo de

causalidade entre o ganho sujeito a

tributação e os custos financeiros em

apreço. Tal entendimento é também

relevante na esfera de tributação dos

fundos de investimento imobiliário, de

acordo com o regime ainda em vigor,

na medida em que o apuramento das

respectivas mais e menos valias é

efectuado de acordo com o disposto no

Código do IRS, nos termos do artigo

22.º, n.º 6, alínea b), do Estatuto dos

Benefícios Fiscais.

Para obter mais informações sobre

este tema contacte: Ana Rita Pereira

/ [email protected]

Cláusula geral anti-abuso (artigo 63.º do

CPPT)

Acórdão Surgicare do TJUE,

correspondente ao processo n.º C-662/13, de

12 de Fevereiro de 2015

A Surgicare – Unidades de Saúde, S.A.

(“Surgicare”), construiu e equipou uma unidade

hospitalar entre 2003 e 2007, ano em que cedeu a

exploração da mesma à Clínica Parque dos

Poetas (“Clínica”), entidade detida pelos

mesmos accionistas e integrando o mesmo

grupo societário. Tendo considerado a referida

cessão sujeita a IVA, a Surgicare deduziu o IVA

suportado na criação da referida unidade,

através do método da afectação real, ao IVA

liquidado à Clínica a título de rendas.

A Autoridade Tributária e Aduaneira (AT), no

âmbito de uma inspecção, considerou que a

referida cessão teve como único propósito o de

permitir à Surgicare justificar a posteriori um

direito à dedução do IVA que não existiria se ela

própria tivesse explorado a unidade hospitalar

que construiu e equipou. Por conseguinte,

considerou abusiva a dedução. O Supremo

Tribunal Administrativo considerou que a AT

deve respeitar o procedimento previsto no artigo

63.º do CPPT quando suspeite da existência de

uma prática abusiva, mas submeteu a questão ao

Tribunal de Justiça da União Europeia por o IVA

ser de génese comunitária.

Este decidiu que a Directiva 2006/112/CE não se

opõe à aplicação prévia e obrigatória de um

procedimento administrativo nacional como o

previsto no artigo 63.º do CPPT quando a AT

suspeite da existência de uma prática abusiva.

Para obter mais informações sobre este tema

contacte: Bruno Botelho Antunes /

[email protected]