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ROZANE DA CRUZ MORAES

DESEMPENHO ESCOLAR: INTERAÇÃO ENTRE A ESCOLA E A FAMÍLIA

CASCAVEL

2012

PROGRAMA DE

DESENVOLVIMENTO

EDUCACIONAL

ROZANE DA CRUZ MORAES

DESEMPENHO ESCOLAR: INTERAÇÃO ENTRE A ESCOLA E A FAMÍLIA

Unidade Didática apresentada ao Programa de Desenvolvimento Educacional - PDE sob orientação do Prof. Ms. Marcos Antonio Recchia.

Cascavel

2012

FICHA PARA IDENTIFICAÇÃO PRODUÇÃO DIDÁTICO – PEDAGÓGICA TURMA - PDE/2012

Título: Desempenho escolar: interação entre a escola e a família

Autor Rozane da Cruz Moraes

Disciplina/Área (ingresso no PDE)

Pedagogia

Escola de Implementação do Projeto e sua localização

Colégio Estadual de Jardim Santa Felicidade

Município da escola Cascavel

Núcleo Regional de Educação

Cascavel

Professor Orientador Marcos Antonio Recchia

Instituição de Ensino Superior

Universidade do Oeste do Paraná - UNIOESTE

Relação Interdisciplinar

(indicar, caso haja, as diferentes disciplinas compreendidas no trabalho)

Resumo A produção didática advém dos recorrentes problemas relacionados ao desempenho escolar e pelo questionamento se o mesmo tem relação direta com a dinâmica e/ou configuração familiar. Serão realizados 8 encontros com professores para estudo e discussões a partir de literatura específica, filmes e narrativas autobiográficas.

Palavras-chave Escola; família; desempenho escolar.

Formato do Material Didático

Unidade Didática

Público alvo Professores

UNIDADE DIDÁTICA 1 Apresentação

Este trabalho caracteriza-se como uma Unidade Didática resultado e

consequência do objeto de estudo do Projeto de Intervenção Pedagógica PDE –

2012, cuja pesquisa foi intitulada Desempenho escolar: interação entre a

escola e a família, objetivando compreender se o mau desempenho escolar está

relacionado á dinâmica e/ou configuração familiar.

A referida intervenção pedagógica se efetivará no primeiro semestre letivo

de 2013, junto ao corpo docente, equipe pedagógica e direção do Colégio

Estadual de Jardim Santo Felicidade – Cascavel – Paraná. Serão realizados 8

encontros presenciais de três horas e meia e uma hora destinada a leitura prévia

dos textos, totalizando uma carga horária de 36 horas certificados pela

UNIOESTE.

A temática deste projeto de intervenção pedagógica justifica-se devido à

percepção no discurso de alguns professores, dessa instituição de ensino, que a

forma como as famílias estão organizadas, hoje, influenciam na aprendizagem do

aluno, ou seja, os problemas de aprendizagem estão sendo atribuídos, de certa

forma, sobre as famílias consideradas desestruturadas. Há certa “culpabilidade”,

do fracasso escolar recaindo sobre as mesmas.

Na experiência profissional, cotidianamente, se ouve afirmações em

conversas na sala dos professores, nos corredores que: “[...] o aluno fulano de tal

não aprende, também olha a família que ele tem, a situação que ele vive, é uma

família desestruturada [...]” descrevendo a vida familiar de alguns alunos.

Percebe-se com isso, que na maioria das vezes, a organização familiar é

apontada como responsável pelo fracasso de seus filhos na escola.

Nota-se também que nos Conselhos de Classe ouvem-se observações e

julgamentos em relação às famílias dos alunos, as quais influenciam

sobremaneira nas decisões tomadas pelos professores no que tange ao processo

de ensino e aprendizagem de determinados alunos, sendo levada em

consideração sua vida familiar para retenção ou aprovação do mesmo.

Considerando também como uma das causas que prejudicam o

desempenho escolar de maneira recorrente, estão os episódios de indisciplina e

violência, em suas diversas modalidades. Tais manifestações instigam os

profissionais deste Colégio a justificar tais episódios como conseqüência do mau

comportamento de seus alunos pela educação recebida em casa.

Com base nestas constatações, este projeto se justifica pela necessidade

de questionar respostas simplistas para os problemas relacionados ao

desempenho escolar e por objetivar estabelecer um diálogo, entre o corpo

docente, equipe pedagógica e direção do Colégio Estadual de Jardim Santa

Felicidade na busca de analisar e compreender essa problemática. Acredita-se na

necessidade de averiguar se de fato a educação que os alunos recebem em casa

tem uma influência direta em seu desempenho escolar.

Questionamos: As famílias apontadas como desestruturadas interferem na

aprendizagem de seus filhos, bem como, na qualidade de relacionamento entre

professor e aluno? Averiguar como é a vida do aluno em sua família, é de fato um

meio de ajudá-lo no processo de aprendizagem? É função da escola investigar o

que acontece no seio familiar de seus alunos? As diferentes constituições

familiares podem ser responsabilizadas pelo fracasso escolar?

Tendo em vista esta problemática o objetivo desta Unidade Didática é

subsidiar as equipes pedagógicas possibilitando algumas análises e discussões a

cerca desse tema, bem como sugerir fundamentação teórica para apoio e

possíveis encaminhamentos.

Nesta intervenção pedagógica pretende-se problematizar as diferentes

composições familiares compreendendo suas formas de organização e

constituição, analisando se de fato as famílias podem ser responsabilizadas pelo

fracasso de seus filhos na escola. Para que isso se efetive de fato iniciaremos

repensando a função de sermos profissionais da educação - professor, a prática

docente de maneira a tomá-la como fundamental para a transformação e

mudança social, compreendendo a importância e necessidade de ser um

profissional competente e de qualidade.

Nesta perspectiva não podemos deixar de compreender a realidade, a

sociedade em que estamos inseridos, portanto faremos uma discussão a cerca da

formação do aluno e do professor nesta sociedade, debatendo algumas questões

sociais envolvidas no espaço escolar. E para finalizar faremos um estudo a

respeito da função de cada ambiente de aprendizagem – escola e família – o que

elas devem fazer e assumir enquanto responsáveis pela formação do aluno e

filho.

As dinâmicas de grupo, filme, a análise de alguns conceitos, leituras

dirigidas e orientadas, depoimentos, roda de conversa com profissionais da área

para debater o papel social da escola e da família, mesa redonda para refletir e

tirar dúvida, alguns vídeos e leituras de pequenas situações problemas

enfrentadas nos espaços escolares fará parte da aplicabilidade dessa Unidade

Didática.

Tais encaminhamentos servirão de base para discussão e compreensão do

tema abordado, bem como análise do trabalho docente e seu comprometimento

em ser um educador.

2 Desenvolvimento da Temática

Iniciaremos o trabalho fazendo uma retomada de como entendemos a

nossa profissão de educador e quanto ela é importante na formação do ser

humano que temos em nossas mãos diariamente. Para isso os dois primeiros

encontros serão voltados a repensar a prática docente e alguns conceitos que

norteiam o nosso trabalho, pois é mediante a tais compreensões que

direcionamos nossa postura dentro do espaço escolar.

PRIMEIRO ENCONTRO

Tema - Posturas em sala de aula

Filme: Como uma estrela na terra

Objetivos: Buscar respostas positivas e encorajadoras mediante a problemática

do cotidiano escolar.

Compreender suas falhas e limites enquanto educador, assumindo uma postura

de comprometimento e responsabilidade frente à formação do seu aluno.

Problematizando: Que marca está deixando nos seus alunos?

Como faço a diferença na vida das crianças que passam em minhas mãos?

Temos caso como o menino do filme em nossa sala de aula?

Como faço para ajudá-lo a superar seus limites e barreiras?

SEGUNDO ENCONTRO

Tema - Repensando a prática docente e reavaliando conceitos.

Objetivo: Repensar sua prática docente analisando alguns conceitos como

educação, escola, conhecimento, ensino, aprendizagem e sociedade.

Problematizando

Repensar a prática pedagógica analisando seu perfil profissional realizando uma

retomada histórica de como se tornou professor e se ainda está disposto a lutar e

continuar nesta caminhada. Cada professor receberá uma folha contendo as

perguntas.

Individualmente pensará e escreverá sobre elas.

Em seguida formar duplas para conversar e debater sobre as questões.

1- Como escolheu ser professor? Você gosta do que faz? Essa profissão que

você escolheu lhe satisfaz? Faz isso por opção, porque gosta?

2- “Ninguém quer e/ou gosta de estar na escola” “O professor não gosta de estar

na escola, o diretor não quer estar na escola, o pedagogo não quer estar na

escola, os alunos não querem estar na escola”. Mediante essa problemática

pense nas questões a seguir: a escola é para quem e para quê? Porque temos

escola?

3- A escola está permeada principalmente numa relação entre dois protagonistas

– professor e aluno – como ocorre essa relação?

4- O que mais o agrada e desagrada na sua profissão? O que você pode fazer

para melhorar tais situações de desagrado?

5- O que está no “pacote” de ser professor? O que vem junto com a nossa

profissão que não temos como deixar de lado nem mesmo fugir ou fingir que

não existe?

6- Quais elementos constroem a ação docente?

7- Quais os elementos constituintes da organização do trabalho pedagógico?

8- Quais fatores influenciam na organização do trabalho pedagógico?

Para conclusão deste encontro será desenvolvida a seguinte dinâmica: divide-

se um espaço em duas partes, em um lado, concordo outro discordo. Conforme a

leitura das afirmações1 os professores devem posicionar se a favor ou contra as

ideias apresentadas, justificando sua escolha.

Texto de apoio: “Diz-me como ensinas, dir-te-ei quem és e vice-versa”.

Antônio Nóvoa (1995).

TERCEIRO ENCONTRO

Tema - Famílias e suas organizações na atualidade

Objetivos: Perceber e caracterizar as diferentes formas de organizações

familiares.

Propiciar o diálogo entre professores, equipe e direção instigando momentos de

reflexão e análise das ações pedagógicas.

Desmistificar, desmontar o imaginário dos professores em relação à influência da

família sobre o desempenho escolar.

Problematizando: Podemos afirmar que o mau desempenho escolar está

diretamente relacionado à dinâmica e/ou configuração familiar?

Como você compreende a posição familiar no processo de ensino e

aprendizagem?

Qual a responsabilidade da família na atuação escolar?

Debata e discussão sobre as questões apresentadas.

Exposição das diferentes respostas.

Ouvir depoimentos dos professores sobre sua composição familiar e sua história

de vida escolar.

Narrativas autobibliográficas - História de vida: depoimentos de cinco pessoas

com histórias de sucesso na escola e que tiveram as famílias “ditas

desestruturadas” em sua casa para “desmanchar”, desmistificar, desmontar o

imaginário dos professores em relação à influência da família sobre o

desempenho escolar.

Debate das questões: plenária das conclusões e repertório de dúvidas aos cinco

voluntários da história de sua vida escolar e familiar.

Considerações finais: Cada participante expõe sua conclusão sobre as

questões apresentadas neste encontro.

1 Anexo 1

QUARTO ENCONTRO

Tema - Características das organizações familiares da atualidade

Objetivo: Compreender o processo histórico da formação familiar da atualidade e

suas implicações no processo ensino e aprendizagem.

Problematizando: A maneira como as famílias estão organizadas hoje

influenciam a vida escolar de seus filhos?

Para responder essa questão e compreender como ocorre esse processo

de formação familiar e suas implicações no processo de ensino e aprendizagem

será feito uma exposição de slides dos seguintes capítulos de Sayão e Aquino

(2004).

Livro: Em defesa da escola:

a) A escola, a família e suas fronteiras (p. 61 a70)

b) Benditos professores (p.71 a 81)

c) O aluno como ele é (p. 93 a 103)

Livro: Família: modos de usar (2010)

a) Em nome do filho (p.13 a 25)

b) O upgrade da família (p. 27 a 33)

c) “Lares”: onde estão? (p.41 a 49)

d) Adultos: procuram-se (p.61 a 71)

Conversação e debate na medida em que as dúvidas e sugestões forem

surgindo.

QUINTO ENCONTRO

Tema - Relações existentes e pertinentes entre escola e família.

Objetivo: Identificar a função da escola e da família no processo de ensino e

aprendizagem.

Problematizando: Qual é o papel da família e da escola na formação do

aluno/filho?

Para responder a esta questão, será proporcionado dois momentos: primeiro

leitura e discussão do texto abaixo, “Desempenho escolar: interação entre

escola e família” Moraes (2012).

No segundo momento será usada a técnica de Mesa Redonda – para uma

Roda de Conversas com profissionais especialistas sobre o tema. No momento

da conversa cada especialista terá 10 minutos para expor sobre o tema (qual a

função da família e da escola na formação do aluno/filho) ao final todos poderão

se dirigir aos próprios componentes da mesa discordando, confirmando,

questionando entre si.

Logo após as discussões internas da mesa os participantes do projeto

poderão fazer suas intervenções com perguntas, colocações, dúvidas entre

outras.

DESEMPENHO ESCOLAR: INTERAÇÃO ENTRE ESCOLA E FAMÍLIA

Rozane da Cruz Moraes2

A escola surge da necessidade de uma educação formal padronizada e

controlada por pessoas que dominam as informações e consequentemente detém

o poder de decisões na sociedade a qual fazemos parte. Perrenoud, 2000,

confirma essa ideia quando diz que:

É certo que os notáveis controlam a escola desde a sua fundação e jamais se privam, através dos parlamentos, das municipalidades, das comissões escolares e de outras formas menos confessáveis de influência, de criar, e depois conservar, uma escola de acordo com seus desejos (p.109).

Desde que a escola tornou-se obrigatória é “a mesma para todos” em se

tratando do ensino público, Perrenoud (2000) expõe que essa escolaridade

obrigatória constitui-se numa maneira de privar os pais de seu poder educativo,

para “entrarem no molde” de bons cristãos, de bons cidadãos e mais tarde em

bons trabalhadores e posteriormente bons consumidores. Para esse autor

A escola tornou-se obrigatória porque as crianças não tinham espontaneamente vontade de freqüentá-la, nem os pais a necessidade de confiar seus filhos a ela. Eles preferiam mantê-los em casa, principalmente para fazê-los trabalhar desde a mais tenra idade. A escolarização obrigatória arrancou as crianças de sua família, a partir dos seis anos, por razões mais ou menos confessáveis. Tratava-se, por um lado, de garantir sua instrução, de protegê-las da exploração, dos

2 Este texto foi produzido pela professora PDE Rozane da Cruz Moraes (2012), para fins de

fundamentação teórica do projeto de pesquisa.

maus tratos, da dependência. Por outro lado, o objetivo era moralizar sua educação, por meio da educação cívica, da higiene, da disciplina, mas também normatizá-la, a começar pela aprendizagem de uma língua escolar que não era a língua falada na família no seu dia a dia (p.110).

Sendo assim, os pais são levados a acreditar que lá, na escola, os filhos

estão sendo bem atendidos e bem preparados para enfrentar a vida, que somente

através de uma formação acadêmica consegue melhores condições de vida. E

cada vez mais a escola torna-se peça chave no desenvolvimento da criança

tornando-a um capital para o futuro.

Apesar disso, na década de 90, rompe-se a idéia de parceria e os pais, por

sua vez, assumem a responsabilidade pela indisciplina e o fracasso escolar de

seus filhos. “A disciplina e aprendizagem passam a ser tomados como

determinados pela atuação da família, como se a escola nada tivesse a ver com

isso” (AQUINO, 2010, p. 100). Os profissionais da escola responsabilizam os pais

por uma questão pedagógica que cabe a ela. Como diz Aquino (2010)

Essa importação de discursos externos ao campo pedagógico é fatal para a ação escolar, uma vez que acarreta a indiferenciação dos lugares institucionais de filho e de aluno. Quem está na escola é o aluno; na família, o filho. Essas duas figuras institucionais não necessariamente coincidem ou devem coincidir. Este é o segredo da autonomia (p.101).

Para Sayão e Aquino são graves as consequências dessas duas últimas

décadas de ensino. A escola não consegue direcionar sua real função e tenta o

que é mais grave ainda na visão desses autores, desempenhar a função de

segunda família do aluno, abdicando do conhecimento científico, a escola

confunde sua função com a de ser pai e mãe e exigem a presença dos pais no

universo pedagógico.

Quando a escola passa a focalizar boa parte do seu trabalho na família,

ocorrem consequências sérias “tempo e energia dos professores gastos sem ser

com seu aluno” (SAYÃO, 2004, p. 62). O conhecimento é posto em segundo lugar

e a função social da escola está comprometida.

As escolas estão preocupadas em dizer como a família deve agir e ser,

como deve proceder com seus filhos, aquele bate papo com as coordenadoras e

professores conhecendo a intimidade das famílias. Em contra partida mandam

tarefas e querem que os pais sejam obrigados a fazer junto ou cobrar de seus

filhos que façam e quando não fazem mandam bilhetes ou anotações no caderno

pedindo aos pais que tomem alguma atitude. Isso é totalmente uma inversão de

papéis.

A escola imagina que pode se estruturar, para seus alunos, de forma que compense a falta da família. Como se isso fosse possível... Não é, ponto final. A pior conseqüência desse rumo que a escola tomou é que desse modo, os alunos ficam carentes de família e de escola também. Ou seja, querendo ser família, a escola deixa de ser escola. Que confusão. Confusão essa, aliás, que provoca um conflito sem fim entre família e escola. Cobranças e pressões recíprocas (SAYÃO, 2004, p.62 e 63).

A questão do conhecimento é muito séria na escola porque ele está sendo

misturado/mesclado com questões de aparente proximidade como afeto, prazer

ou amizade. Para conseguir que os alunos façam ou queiram fazer as atividades

em sala de aula os professores tem utilizado essas armadilhas, que só fazem

aumentar a falta de respeito entre eles.

A relação professor e aluno devem ser baseados no profissionalismo, na

ética, no respeito. “Assumir o lugar de autoridade educativa em relação às

gerações mais novas mostra o grau de amor que temos pela humanidade

(SAYÃO, 2004, p. 79)”.

Na escola dever-se-ia ensinar que é possível estabelecer e manter

relações impessoais justas, sem necessariamente respeitar somente quem está

no meu campo de visão afetiva ou por quem tem afinidades e se parece comigo.

Temos que respeitar os outros justamente pelo fato dele ser diferente de nós, com

isso estaremos aprendendo a conviver democraticamente e com certeza a escola

é o lugar para isso, porque se não o fizer ou não ensinar os alunos a fazê-la, essa

convivência democrática desaparecerá nas próximas décadas. Com base nestes

princípios, entende-se que,

é na escola que ela vai ter de aprender a conviver com os pontos de vista alheios. Neste sentido, a vivência no espaço público escolar é, a rigor, uma experiência de frustração contínua dos anseios individuais. É lá que ela aprende a negociar as demandas e necessidades próprias (AQUINO, 2010, p. 105)

Neste contexto pensamos na função do professor, deverá ser aquele

profissional que mude vidas, altere rotas existenciais, a pessoa que teremos como

referência pela vida a fora. “O essencial nas relações entre educador e educando,

entre autoridade e liberdade, entre pais, mães, filhos e filhas é a reinvenção do

ser humano no aprendizado de sua autonomia” (FREIRE, 2002, p.105).

Nesta relação devemos valorizar a ética e o diálogo “por meio de uma

intervenção segura e precisa, apontando as possibilidades e os limites, orientando

os alunos para que aprendam a se responsabilizar por sua participação” (SAYÃO,

2004, p.89). Neste sentido, Freire (1996) ressalta que:

Os sujeitos dialógicos aprendem e crescem na diferença, sobretudo, no respeito a ela, é a forma de estar sendo coerentemente exigida por seres que, inacabados, assumindo-se como tais, se tornam radicalmente éticos (p. 67)

A partir destas concepções sobre família e escola e sua relação, ou

interação, faz-se necessário compreender e distinguir qual a diferença, entre

instrução/educação formal e educação. Para que cada instância possa assumir

sua função e se possível dividir papéis na formação do sujeito que ao mesmo

tempo é cidadão, filho e aluno.

Esta educação não formal é dita por Codo (2006) como algo que

[...] não tem lugar, ocupa todos os lugares, não tem início ou um fim, acompanha todos os momentos da vida, não tem lócus no sujeito, se espalha por todos os sentidos, todos os gestos, todas as crenças e intenções. Não tem um autor, é obra de todos com quem cada um de nós se encontra e também de quem se quer conhecemos (p. 39).

Portanto, a educação é onipresente por que está em todos os lugares, e

onisciente por que abrange o todo, infinitamente.

Educar formalmente “é o ato mágico e singelo de realizar uma síntese

entre o passado e o futuro. Educar é o ato de reconstruir os laços entre o passado

e o futuro, ensinar o que foi para inventar e re-significar o que será” (CODO, 2006,

p. 43)

Segundo Gallo (2000, p. 02) a educação formal é entendida como

instrução, a qual, “é o ato de instrumentalizar o aluno, fornecendo a ele

os aparatos básicos para que possa se relacionar satisfatoriamente com a

sociedade e com seu mundo”.

Freire (1996) vem contribuir com estas ideias, quando descreve como deve

ser o profissional nesta função de educar formalmente, cuja obrigação é a de

reconstruir todo passado e todo futuro, pois

[...] ensinar, aprender e pesquisar lidam com esses dois momentos do ciclo gnosiológico: o em que se ensina e se aprende o conhecimento já existente e o em que se trabalha a produção do conhecimento ainda não existente. (p. 31)

No entanto, nas escolas o que realmente acontece, é que a educação, de

acordo com Codo (2006), é feita por profissionais especializados, se faz num

prédio próprio, bem ou mal aparelhado para este fim, funciona em horários

determinados, uniformiza com sua marca, passando agora a ter dono, autor, ter

começo e fim, ter critérios e medir em números e avaliar.

Por que, para ele, esta educação surge da necessidade de iniciar a divisão

das tarefas, separando de forma hierárquica os saberes, aquele que ensina e

aquele que aprende, ou seja, a necessidade de sistematizar as diferentes formas

de trabalho. Assim surgem as hierarquias sociais que desencadeiam um processo

de distribuição desigual. O saber passa a servir ao uso político de reforçar a

diferença, no lugar de um saber anterior que afirmava a comunidade.

Conclusão dos trabalhos

Retomar juntamente com o grupo e delimitar a função e o espaço da escola e da

família na formação do filho/aluno.

SEXTO ENCONTRO

Tema - A formação do aluno no contexto da sociedade capitalista.

Objetivo: Analisar a formação do ser social na atual sociedade que vivemos

(capitalista) e as múltiplas interferências em sua vida diária.

Problematizando:

1) Que aluno pretendemos formar? Para que essa formação?

2) Que devemos fazer para conseguir dar conta desta formação?

3) Qual o perfil profissional mediante esta formação?

Discutir-se-á as concepções de homem, sociedade, educação,

conhecimento e professor. Com base no vídeo: “Em que mundo vivemos”

disponível em: http://www.youtube.com/watch?v=2v81OBHtTvg acesso em

13/11/2012.

Este vídeo possibilita compreender um pouco de como é a nossa

sociedade “do consumo e do espetáculo” onde as ações de nossa vida são

“miojizada3”. Remete-nos a pensar na educação de filhos, relacionamentos,

modos de trabalho enfim, analisar a forma de organização do tempo e espaço nos

dias atuais.

Leitura do texto: “Trabalho, Educação e Psicologia na sociedade

contemporânea: a formação do indivíduo no contexto da atual

reestruturação produtiva” Rossler (2007). In: Psicologia Histórico – Cultural:

Contribuições para o encontro entre a subjetividade e a educação.

SÉTIMO ENCONTRO

Tema - A dimensão pedagógica no processo de ensino aprendizagem.

Objetivo: Analisar algumas questões pedagógicas vinculadas ao processo ensino

e aprendizagem que nos remetem a não assumirmos o nosso compromisso com

a educação e formação do nosso aluno.

Problematizando

Como está a nossa valorização hoje? O que fez com que deixássemos de ter

reconhecido nosso valor enquanto profissionais competentes, de qualidade,

comprometidos e respeitados perante a sociedade? O que devemos fazer para

recuperar nosso valor?

Leitura do texto – “– Professora, é verdade que ler e escrever é uma coisa

fácil?” Reflexões em torno do processo ensino aprendizagem na

perspectiva Vigotskiana”. Facci (2007).

Estudo dirigido do texto com intervenções e discussões, sobre a

valorização do profissional da educação - os professores que estão ficando,

muitas vezes, na superficialidade e perdendo o significado do seu trabalho que é

ensinar. Até que ponto nossa sociedade valoriza o trabalho e o conhecimento do

professor? Quem está deixando isso acontecer? Como deve ser a ação do

professor no espaço escolar? Alguns encaminhamentos para repensar e reavaliar

a prática pedagógica.

3 Passam e duram muito rápido (3 minutos como miojo).

Se houver transformação, essa é produto do trabalho da educação, do

ensino, do professor, dos profissionais em educação no seu vínculo direto com o

passado e com o futuro, os alunos. Repensar, redefinir, reavaliar o trabalho

pedagógico deveria ser uma prática constante de todos os envolvidos com a

educação, uma vez que ela e somente por ela é chamados a refletir e analisar as

questões sociais, políticas, econômicas de nossa sociedade, se não o fazemos

passamos a servir aos interesses de uma pequena minoria que detém o poder de

decisões e controlam/comandam a grande maioria.

OITAVO ENCONTRO

Tema: Avaliando o projeto

Objetivo: Retomar a questão central do projeto, analisando a significação para o

contexto escolar.

Problematizando

O mau desempenho escolar está relacionado á dinâmica e/ou configuração

familiar?

Exposição das idéias e conclusões apresentadas pelo grupo.

Avaliação do projeto

1. O tema abordado promoveu interesse, curiosidade e participação do

grupo?

2. Os textos e atividades proporcionaram debate, discussões, analise das

práticas pedagógicas?

3. O projeto traz contribuições para sua ação docente? Quais?

4. A organização e execução do projeto proporcionaram um repensar na

função da escola e da família?

5. Cite os aspectos que consideraram satisfatórios e insatisfatórios nos

seguintes itens do projeto.

Satisfatórios Insatisfatórios

Tema/assunto

Objetivos

Materiais de apoio

Textos de apoio

Debates/discussões

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As configurações familiares sofreram alterações significativas conforme as

transformações econômicas, tecnológicas, sociais, politicas e morais.

Um exemplo disso, são as famílias da década de 50, eram numerosas,

estendidas, compreendiam os parentes de segundo grau e agregados próximos,

com relações de pertencimento, laços afetivos sólidos e todos auxiliavam para

educar os filhos.

Essa dinâmica familiar muda e toma rumos diferentes a partir dos anos 60.

Com a percepção da mudança começa-se uma busca para compreender como

ela se apresenta e ainda como viver bem nesta família. A partir disso, valores e

posições dentro do seio familiar trazem novos conflitos à tona como a separação,

a infidelidade também por parte das mulheres, a guarda dos filhos e a estrutura

matrimonial são postas em segundo plano, enquanto o amor e sexo passam a ser

a razão primordial do casamento, os relacionamentos tornam-se incertos,

indeterminados e inseguros.

Mediante toda esta configuração não se pode ter mais a família de antes.

Ela torna-se um espaço transitório, onde os filhos perderam a identidade de lar e

passam a ser um patrimônio individual, exclusivo e de auto realização pessoal, os

únicos que são permanentes, por isso passam a ser o centro de tudo. Os pais por

sua vez, perdem a “autoridade de pai e mãe” assumindo uma relação de amizade,

companheirismo, defendendo-os e protegendo-os de tudo e todos deixando de

ensinar limites, valores, respeito, não permitindo que enfrentem desafios,

frustrações, medos para poderem crescer, amadurecer e ter condições

emocionais de enfrentar a vida sozinhos.

Neste contexto familiar social está à escola que também sofreu mudanças

e alterações no decorrer dos tempos. Ela passa a assumir parte da educação,

antes destinada a família, quando os pais são obrigados pela Lei da Constituição

Federal de 1998 a mandar os filhos para a escola, tornando-se obrigatória.

Sendo assim, os pais são levados a acreditar que no ambiente escolar, os

filhos estão bem cuidados e estão sendo preparados para enfrentar a vida e o

mundo do trabalho, tornando-se cada vez mais, fundamental no desenvolvimento

das crianças.

Com isso ocorre muitas vezes trocas de funções é a família interferindo e

ditando regras na escola e a escola tentando dizer como a família deve educar e

criar os seus filhos.

Com este trabalho pretende-se compreender que tanto a escola como a

família é responsável pela formação do aluno/filho, mas que cada uma deve fazer

a sua parte neste processo. A família interferir e direcionar a educação não

formal, aquela que está presente em todos os lugares (onipresente), que abrande

todos os momentos de nossa vida (onisciente) acontece com todos com quem

cada um de nós se encontra e convive e ainda pessoas e lugares com os quais

vão conhecer e conviver.

A escola em contra partida deverá trabalhar com a educação formal, ou

seja, deverá garantir o conhecimento científico historicamente acumulado pela

humanidade, instruí-lo, instrumentalizá-lo, fornecendo ao educando condições

para se relacionar com a sociedade e com o mundo.

Se cada instância fizer sua parte de modo seguro, claro, intencional, com

compromisso e responsabilidade, com certeza ter-se-á mais pessoas em

condições de tomar decisões, conhecedoras de seus direitos e deveres,

responsáveis, comprometidas em fazer parte de uma sociedade, na qual a grande

maioria possa viver dignamente.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Constituição Federal, 1988. disponível em http://www.jusbrasil.com.br/legislacao/busca;jsessionid=8A4BF86753F88447645FCB172BE73AED?q=ART.+227+DA+CONSTITUI%C3%87%C3%83O+FEDERAL&s=legislacao acessado em 08/06/2012.

CODO, Wandeley. Educação: carinho e trabalho. 4ª Ed. Petrópolis, RJ : Vozes, 2006.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 25ª Ed. São Paulo : Paz e Bem, 1996. GALLO, Silvio. Transversalidade e educação: pensando uma educação não disciplinar. Disponível em:

http://curso.politeia.org.br/tikiindex.php?page=Transversalidade+e+educa%C3%A7%C3%A3o+de+Silvio+Gallo.Do livro: ALVES, Nilda; GARCIA, Regina Leite (orgs.) O Sentido da Escola. Rio de Janeiro: DP&A,2000. Acessado em 08/06/2012.

MEIRA, Marisa Eugênio Melillo e FACCI, Marilda Gonçalves Dias (org.). Psicologia Histórico – Cultural: Contribuições para o encontro entre a subjetividade e a educação.– São Paulo : Casa do psicólogo, 2007.

NOVOA, Antônio (1995). Diz-me como ensinas, dir-te-ei quem és e vice-versa. In. FAZENDA, Ivani Catarina Arantes. (org.) A pesquisa em educação e as transformações do conhecimento. Campinas, SP : Papirus, p. 29

PERRENOUD, Philippe. 10 novas competências para ensinar. Porto Alegre :

Artemed, 2000. ROSSLER, Joao Henrique (2007). Trabalho, Educação e Psicologia na sociedade contemporânea: a formação do indivíduo no contexto da atual reestruturação produtiva. In: MEIRA, Marisa Eugenio Melillo e FACCI, Marilda Gonçalves Dias (org.). Psicologia Histórico – Cultural: Contribuições para o encontro entre a subjetividade e a educação. São Paulo : Casa do psicólogo. p. 93. SAYÃO, Rosely, AQUINO, Julio Groppa. Em defesa da escola. Campinas, SP :

Papirus, 2004. _______. Família: modos de usar. 3ª Ed – Campinas, SP : Papirus, 2010.

ANEXOS Anexo 1 TÉCNICA: VOCÊ CONCORDA OU DISCORDA Questões afirmativas para análise pessoal, após a leitura os participantes se

posicionam e argumentam sua resposta.

Em muitas situações temos insegurança de agir, isso acontece por que

nosso limite de ação é determinado pelo conhecimento que temos das

coisas, a forma como vemos os problemas. Se não compreendemos, não

agimos.

Educação é a forma como a sociedade organiza as pessoas para viverem

nela mesmo.

A escola é a única forma de educar.

Não é a consciência que determina a realidade, mas a realidade que

determina a consciência.

As frustrações fazem parte da vida, poupar nossos filhos/alunos delas é

privá-los da possibilidade de correr riscos e de sobreviver a eles.

A escolaridade obrigatória constitui-se numa maneira de privar os pais de

seu poder educativo, para “entrarem no molde” de bons cristãos, de bons

cidadãos e mais tarde em bons trabalhadores e posteriormente bons

consumidores (Perrenoud, 2000).

Os pais são levados a acreditar que na escola, os filhos estão sendo bem

atendidos e bem preparados para enfrentar a vida, que somente através de

uma formação acadêmica consegue melhores condições de vida. E cada

vez mais a escola torna-se peça chave no desenvolvimento da criança

tornando-a um capital para o futuro.

Quando a escola passa a focalizar boa parte do seu trabalho na família,

ocorrem consequências sérias “tempo e energia dos professores gastos

sem ser com seu aluno” (Sayão, 2004, p. 62) e o conhecimento é posto em

segundo lugar.

A relação professor e aluno devem ser baseados no profissionalismo, na

ética, no respeito. “Assumir o lugar de autoridade educativa em relação às

gerações mais novas mostra o grau de amor que temos pela humanidade

(Sayão, 2004, pag.79)”.

Na escola a criança vai aprender a conviver com os pontos de vista

alheios. Neste sentido, a vivência no espaço escolar é uma experiência de

frustração contínua dos anseios individuais. É lá que aprende a negociar as

demandas e necessidades próprias. (Aquino, 2010, p. 105).

O conhecimento é gerado de dentro para fora. Ele é igual em toda espécie

humana, tempo e espaço.

Eu só vejo, percebo aquilo que conheço.

A relação ensino e aprendizagem são sempre mediadas pelo

conhecimento.

Nós somos resultado de tudo que passou por nós.

Todos os espaços sociais educam, mas somente os espaços escolares é

que tem a excelência de transmitir os conhecimentos científicos.

Anexo 2 CRONOGRAMA DAS ATIVIDADES

Mês/ ano atividade Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho a dezembro

Apresentação do projeto de intervenção pedagógica na escola - 2 horas.

X

Filme: Como uma

estrela na terra. Posturas em sala de aula.

X

Tema: Repensando a prática docente e reavaliando conceitos.

X

Tema: Famílias e suas organizações na atualidade.

X

Tema: Características das organizações familiares da atualidade. Textos de Sayão e Aquino.

X

Tema: Relações existentes e pertinentes entre a escola e a família. Texto de apoio proposto na produção didática.

X

Tema: A formação do aluno no contexto da sociedade capitalista. Texto de apoio: Trabalho, Educação e Psicologia na sociedade contemporânea - João Henrique Rossler – Vídeo: Em que mundo vivemos.

X

Tema: A dimensão pedagógica no processo de ensino aprendizagem. Texto de apoio: Reflexões em torno do processo ensino aprendizagem na perspectiva Vigotskiana – Marilda Gonçalves Dias Facci.

X

Avaliação do projeto e encerramento.

X

Produção do artigo final.

X

OBS: Serão realizados oito encontros de três horas e meia e uma hora destinada à leitura prévia dos textos totalizando uma carga horária de 36 horas, certificado pela UNIOESTE.