roteiro da lei do processo eletrônico

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ROTEIRO DA LEI 11.419/2006 PROCESSO JUDICIAL INFORMATIZADO Ana Amelia Menna Barreto No próximo mês de março entra em vigor a Lei 11.419/06 dispondo sobre a informatização do processo judicial, aplicada indistintamente aos processos civil, penal, trabalhista e aos juizados especiais em qualquer grau de jurisdição (art. 1º, § 1º). O diploma legal instituiu o critério de adesão voluntária aos órgãos do Poder Judiciário que desejem desenvolver sistemas eletrônicos de processamento de ações judiciais por meio de autos digitais (art. 4º, 8º e 16), cabendo a cada qual a regulamentação no âmbito de suas respectivas competências (art. 18). Nas alterações promovidas no Código de Processo Civil também se localiza o caráter espontâneo de adesão, estabelecidos pelos artigos 38, parágrafo único; 154, § 2º; 164, parágrafo único; 169, § 2º; 202, § 3º; 237 parágrafo único e 556, parágrafo único. Pelas constantes referências do novo diploma quanto à necessidade de utilização de certificados segundo lei específica, constata-se a exclusiva aceitação de certificados gerados pela Infra-Estrutura de Chaves Pública Brasileira - ICP-Brasil (arts. 1º, § 2º, a; 4º, § 1º; CPC art. 38, parágrafo único; art. 154, parágrafo único e art. 202, § 3º). Em regime preferencial os sistemas a serem desenvolvidos devem adotar programas com código aberto, priorizando-se a padronização, sendo capazes de identificar os casos de ocorrência de prevenção, litispendência e coisa julgada (art. 14 e parágrafo único).

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ROTEIRO DA LEI 11.419/2006

PROCESSO JUDICIAL INFORMATIZADO

Ana Amelia Menna Barreto

No próximo mês de março entra em vigor a Lei 11.419/06 dispondo sobre a

informatização do processo judicial, aplicada indistintamente aos processos

civil, penal, trabalhista e aos juizados especiais em qualquer grau de jurisdição

(art. 1º, § 1º).

O diploma legal instituiu o critério de adesão voluntária aos órgãos do Poder

Judiciário que desejem desenvolver sistemas eletrônicos de processamento de

ações judiciais por meio de autos digitais (art. 4º, 8º e 16), cabendo a cada qual

a regulamentação no âmbito de suas respectivas competências (art. 18).

Nas alterações promovidas no Código de Processo Civil também se localiza o

caráter espontâneo de adesão, estabelecidos pelos artigos 38, parágrafo único;

154, § 2º; 164, parágrafo único; 169, § 2º; 202, § 3º; 237 parágrafo único e 556,

parágrafo único.

Pelas constantes referências do novo diploma quanto à necessidade de

utilização de certificados segundo lei específica, constata-se a exclusiva

aceitação de certificados gerados pela Infra-Estrutura de Chaves Pública

Brasileira - ICP-Brasil (arts. 1º, § 2º, a; 4º, § 1º; CPC art. 38, parágrafo único;

art. 154, parágrafo único e art. 202, § 3º).

Em regime preferencial os sistemas a serem desenvolvidos devem adotar

programas com código aberto, priorizando-se a padronização, sendo capazes

de identificar os casos de ocorrência de prevenção, litispendência e coisa

julgada (art. 14 e parágrafo único).

Os Tribunais que ofereçam sistema de processamento eletrônico devem

manter equipamentos de digitalização e de acesso à internet à disposição dos

interessados, para distribuição de peças processuais (art. 10, § 3º).

Cabe ao Poder Judiciário oferecer estrutura tecnológica capaz de proteger os

autos do processo eletrônico por meio de sistemas de segurança de acesso e

armazenagem que garanta a preservação e integridade dos dados (art. 12, §

1º).

Facultativamente é admitida a criação do Diário de Justiça Eletrônico (art. 4º),

disponibilizado em sítio próprio para publicação de atos judiciais,

administrativos e comunicações em geral, assinados digitalmente por

Autoridade Certificadora credenciada (art. 4º, § 1º).

Previsto o emprego da assinatura eletrônica pelos juízes em todos os graus de

jurisdição (CPC, art. 164, parágrafo único), este se torna obrigatória nas cartas

de ordem, precatória e rogatória expedidas por meio eletrônico (CPC, art. 202,

§ 3º).

Os livros cartorários e demais repositórios de seus órgãos podem ser gerados

e armazenados em meio totalmente eletrônico (art. 16).

PROCESSO ELETRÔNICO

A distribuição da peça inicial de qualquer tipo de ação prescinde da informação

do número do CPF ou CNPJ, ressalvada a hipótese de comprometimento ao

acesso jurisdicional. As peças de acusação criminal devem ser instruídas pelos

membros do Ministério Público com os números de registro do acusado no

Instituto Nacional de Identificação do Ministério da Justiça, caso existente (art.

15 e parágrafo único).

Os votos, acórdãos e demais atos processuais podem ser registrados em

arquivo eletrônico inviolável e assinados eletronicamente, exigida a impressão

nos casos de processo não disponível em meio digital (CPC, art. 556,

parágrafo único).

A conservação dos autos do processo poderá ser efetuada total ou

parcialmente por meio eletrônico (art. 12), dispensada a formação de autos

suplementares (§ 1º).

Havendo necessidade de remessa dos autos a outro juízo ou instância superior

que não disponham de sistema compatível, devem os mesmos ser impressos

em papel (art. 12, § 2º), certificando-se a origem dos documentos produzidos e

a forma de acesso ao banco de dados para a conferência da autenticidade das

peças e respectivas assinaturas digitais (§ 3º). Após a autuação, o processo

segue a tramitação legal aplicada aos processos tradicionais (§ 4º).

Por determinação do magistrado, a exibição, o envio de dados e documentos

necessários à instrução do processo, pode se realizar por meio eletrônico (art.

13).

Para tais efeitos, considera-se cadastro público a base de dados mantida por

concessionária de serviço público ou empresa privada - acessada por qualquer

meio tecnológico - que contenha informações indispensáveis ao exercício da

atividade judicante (art. 13, §§ 1º e 2º).

A procuração assinada digitalmente é admitida desde que certificada por

Autoridade Certificadora credenciada na forma da lei específica (MP 2.200/01).

PRÁTICA DE ATOS PROCESSUAIS

A assinatura eletrônica é indispensável à prática de todos os atos processuais

(art. 2º, art. 4º, § 1º, art. 8º, parágrafo único).

O peticionamento e a prática geral de atos processuais sujeitam-se ao

cumprimento de dois requisitos obrigatórios: a utilização de assinatura digital

baseada em certificado emitido pela cadeia de confiança da ICP-Brasil e o

prévio credenciamento do interessado junto ao Poder Judiciário, através de

procedimento que assegure sua identificação pessoal (art. 2º e § 1º).

Os órgãos do Poder Judiciário ficam autorizados a estabelecer um cadastro

único para credenciamento dos usuários do sistema (art. 2º, § 3º), atribuindo-

lhes o registro e meio de acesso ao sistema e preservando o sigilo, a

identificação e a autenticidade de suas comunicações (art. 2º, § 2º).

A distribuição da petição inicial, a juntada de contestação, recursos e petições

em geral, podem ser realizadas diretamente por advogados públicos e

privados, efetivada automaticamente a autenticação, mediante o fornecimento

pelo sistema de recibo eletrônico de protocolo (art. 10).

Os atos processuais praticados na presença do magistrado podem ser

produzidos e armazenados em arquivo eletrônico inviolável, registrado em

termo assinado digitalmente pelo juiz, escrivão e advogados das partes, desde

que atendidos os requisitos previstos no §§ 2º e 3º do art. 169 do CPC. A

permissão também se aplica aos depoimentos e aos termos de audiência

(CPC, arts. 417, § 1º e art. 457).

Ocorrendo contradições na transcrição, sob pena de preclusão, devem ser

suscitadas no momento da realização do ato e decidida de plano pelo juiz do

feito (CPC, art. 169, § 3 º).

DOCUMENTOS

Digitalização

Os documentos digitalizados no processo eletrônico permanecem disponíveis

para acesso somente às partes e ao Ministério Público, ressalvadas as

disposições legais relativas ao sigilo e segredo de justiça (art. 11, § 6º).

Constatada a inviabilidade técnica de digitalização, devem os documentos ser

apresentados no prazo de dez dias contados da comunicação eletrônica do

fato, devolvidos à parte após o trânsito em julgado (art. 11, § 5º).

As repartições públicas podem apresentar documentos em meio eletrônico,

certificando tratar-se de extrato fiel do documento digitalizado, ou informação

constante de sua base de dados (CPC, art. 399, § 2º).

O detentor do documento público e particular deve preservar os originais do

documento digitalizado até o prazo final para interposição de ação rescisória

(CPC, art. 365, § 1º), cabendo ao juiz determinar o depósito em cartório do

original de documento relevante à instrução processual ou título executivo

extrajudicial (CPC, art. 365, § 2º).

Para fins de argüição de falsidade, o documento original deve ser preservado

até o trânsito em julgado da sentença (art. 11, §§ 2º e 3º).

Original

Recebe a equivalência de documento original para fins de prova judicial, o

documento produzido eletronicamente que se revista das garantias de origem e

identificação do signatário (art. 11).

Da mesma forma, os extratos digitais de banco de dados, públicos ou privados,

devidamente atestados por seu emitente (CPC, art. 365, V).

Ressalvadas as hipóteses de alegação fundamentada de adulteração de

documento original - antes ou durante o processo de digitalização - os extratos

digitais e quaisquer documentos digitalizados juntados aos autos têm idêntica

força probante dos originais (art. 11, § 1º, CPC, art. 365, VI).

COMUNICAÇÃO ELETRÔNICA E PRAZOS

O ato processual sujeito ao cumprimento de prazo através de petição

eletrônica, se considera tempestivo e efetivado, até as 24 horas de seu último

dia (art. 10, § 1º).

Em sentido oposto ao atual procedimento dos Tribunais, adotando a teoria da

expedição, o texto legal considera realizado o ato processual por meio

eletrônico no dia e hora de seu envio ao sistema disponibilizado pelo Poder

Judiciário, que deve gerar protocolo eletrônico de recebimento da peça (art. 3º).

Quando sujeita ao cumprimento de prazo processual, a petição eletrônica

considera-se tempestiva se transmitida até 24 horas de seu último dia (art. 3º,

parágrafo único).

A publicação eletrônica substitui a publicação oficial por qualquer outro meio,

excetuadas as hipóteses legais que prescindem de intimação ou vista pessoal

(art. 4º, § 2º).

Como data de publicação se considera o primeiro dia útil seguinte ao da

disponibilização da publicação no Diário de Justiça Eletrônico (art. 4º, § 3º),

iniciando-se os prazos processuais no primeiro dia útil seguinte ao determinado

como sendo o da data da publicação (§ 4º).

CITAÇÃO E INTIMAÇÃO

Todas as citações, intimações, notificações e remessas no processo eletrônico

incluído a Fazenda Nacional – são realizadas por meio eletrônico (art. 9º),

considerada como vista pessoal ao interessado quando disponível o acesso à

íntegra dos autos (§ 1º).

Detectada a inviabilidade técnica de utilização do meio eletrônico para

realização de tais atos processuais, podem estes ser praticados segundo as

regras ordinárias (art. 6ª, § 2º), digitalizando-se o documento físico para

posterior destruição.

Os usuários previamente cadastrados no sistema disponibilizado pelo Poder

Judiciário recebem a intimação por meio eletrônico, dispensando-se a

publicação no órgão oficial - inclusive eletrônico (art. 5º) - considerado esta

como pessoal para todos os efeitos legais (§ 6º).

Reputa-se realizada a intimação na data da consulta pelo intimando de seu

teor, devidamente certificada nos autos (art. 5º, § 1º), sendo postergada ao

primeiro dia útil subseqüente, no caso da consulta efetivar-se em dia não útil

(art. 5º, § 2º).

Cabe ao intimando promover a consulta do teor da intimação no prazo de 10

dias corridos da data de seu envio, sujeitando-se que esta se considere como

automaticamente realizada no término do prazo (art. 5º, § 3º).

Alternativamente, podem os Tribunais promover o envio de correspondência

eletrônica de cunho informativo ao usuário interessado, informando o envio da

intimação e a abertura automática do prazo processual (art. 5º, § 4º).

Na hipótese da intimação eletrônica poder causar prejuízo às partes, ou

quando evidenciada qualquer tipo de tentativa de burla ao sistema, cabe ao juiz

determinar outro meio de realização do ato processual (art. 5º, § 5º).

As comunicações oficiais entre órgãos do Poder Judiciário - assim como a

relação deste com os demais Poderes da República - as cartas precatórias,

rogatórias e de ordem, devem fazer uso do meio eletrônico em caráter

preferencial (art. 7º).

Na ocorrência de indisponibilidade do sistema colocado à disposição por

motivo técnico, o ato processual sujeito ao cumprimento de prazo, fica

automaticamente prorrogado para o primeiro dia útil seguinte a solução do

problema (art. 10, § 2º).

Advogada, Professora Mestre e Direito

Presidente da Comissão de Direito e TI da OAB/RJ MIGALHAS: colocada no ar originalmente em 26 de janeiro de 2007