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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO ROSANA CATARINA RODRIGUES DE LIMA CONHECIMENTO ESPECIALIZADO DO PROFESSOR DOS ANOS INICIAIS NO ÂMBITO DA MULTIPLICAÇÃO: uma metassíntese de teses produzidas entre 2001 e 2012 em diferentes contextos formativos CAMPINAS 2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ROSANA CATARINA RODRIGUES DE LIMA

CONHECIMENTO ESPECIALIZADO DO

PROFESSOR DOS ANOS INICIAIS NO ÂMBITO DA

MULTIPLICAÇÃO: uma metassíntese de teses

produzidas entre 2001 e 2012 em diferentes contextos

formativos

CAMPINAS

2018

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ROSANA CATARINA RODRIGUES DE LIMA

CONHECIMENTO ESPECIALIZADO DO

PROFESSOR DOS ANOS INICIAIS NO ÂMBITO DA

MULTIPLICAÇÃO: uma metassíntese de teses

produzidas entre 2001 e 2012 em diferentes contextos

formativos

Tese de Doutorado apresentada ao

Programa de Pós- Graduação em

Educação da Faculdade de Educação da

Universidade Estadual de Campinas para

obtenção do título de Doutora em

Educação na área de concentração de

Educação.

Orientador: Dario Fiorentini

O ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA ROSANA

CATARINA RODRIGUES DE LIMA, E ORIENTADA PELO

PROF. DR. DARIO FIORENTINI.

CAMPINAS

2018

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

TESE DE DOUTORADO

CONHECIMENTO ESPECIALIZADO DO

PROFESSOR DOS ANOS INICIAIS NO ÂMBITO DA

MULTIPLICAÇÃO: uma metassíntese de teses

produzidas entre 2001 e 2012 em diferentes contextos

formativos

Autora: Rosana Catarina Rodrigues de Lima

COMISSÃO JULGADORA:

Prof. Dr. Dario Fiorentini

Profa. Dra. Cármen Lúcia Brancaglion Passos

Profa. Dra. Marisol Vieira Melo

Prof. Dr. Carlos Miguel da Silva Ribeiro

Profa. Dra. Ana Leticia Losano

A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

2018

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Agradecimentos

No decorrer deste trabalho, muitas pessoas e instituições contribuíram das mais

diversas formas para sua construção. Mais do que agradecer, desejo compartilhar com todas

elas a satisfação da realização desta pesquisa. Citar, de modo especial, algumas dessas

pessoas e instituições não significa a falta de reconhecimento pela colaboração das demais.

A Deus, que em Seu infinito amor me deu sabedoria, saúde e perseverança para

superar os obstáculos enfrentados na caminhada desse estudo.

À minha mãe, que foi capaz de compreender minhas ausências até mesmo nos

almoços de domingo e, de maneira especial, ao meu pai, que está em outro plano.

Ao meu marido Roberto, por incentivar à busca por mais conhecimento

acadêmico e por caminhar sempre ao meu lado em todos os momentos desse percurso!

Ao meu filho Artur por ter feito de minhas ausências um tempo necessário para o

seu próprio amadurecimento.

Ao prof. Dario, pelo discernimento e competência na orientação desta pesquisa,

pelo incentivo constante e pelas inúmeras aprendizagens que me proporcionou no âmbito

deste estudo e do Projeto Universal. O trabalho realizado no Projeto Universal foi uma

experiência ímpar na minha trajetória acadêmica. Muito obrigada!

Às professoras Alessandra Almeida, Franciana Castro, Dora Megid, Cármen

Passos, Marisol Melo, Leticia Losano e ao professor Miguel Ribeiro, participantes das

Bancas de pré-qualificação, qualificação e defesa, pela leitura cuidadosa e pelas sugestões

críticas, que contribuíram para o enriquecimento deste trabalho. Também à professora

Marlova Caldatto, por sua presença na data da defesa.

Aos professores do Programa de Pós-Graduação em Educação da FE, que em

diferentes perspectivas, colaboraram na minha formação acadêmica, em especial, às

professoras Dione L. de Carvalho, Anna Regina L. de Moura e ao professor Sérgio

Lorenzato, que sempre me incentivaram nesta caminhada!

À CAPES, pela bolsa concedida, que oportunizou um período de dedicação

exclusiva a esse campo de pesquisa.

Aos colegas do GdS, pelas parcerias na organização de eventos, cadernos de

resumos e e-books, de modo especial ao Marquinhos e Eliane pela preciosa interlocução

durante os trabalhos desenvolvidos.

Aos colegas do grupo de pesquisa PraPeM – Prática Pedagógica em

Matemática: as leituras críticas e o apoio emocional de cada um de vocês foram

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fundamentais para chegar a esta conquista. Neste percurso vocês se tornaram amigos que,

em suas particularidades, marcaram minha trajetória.

À Marta, Lílian, Marielli e Wellington pelas palavras encorajadoras em

diferentes fases dessa caminhada.

Aos professores do GEPFPM, Adair, Cármen, Dario, Dora, Eliane, Lílian, Maria

Aparecida, Regina, Renata, Rosana Miskulin e Vanessa; pela convivência e inúmeras

aprendizagens e (re)significações relativas à pesquisa sobre formação de professores.

Aos professores que participaram do Projeto Universal, pelas possibilidades de

interlocução sobre as pesquisas brasileiras no âmbito da formação do PEM realizadas no

decorrer dos três Seminários.

Aos colegas do grupo CIEspMat pelas valiosas discussões relativa ao

conhecimento interpretativo e especializado do professor no âmbito de diferentes conteúdos

matemáticos.

Às professoras Zélia e Jucileide e à formadora Massako. Em nome dessas,

agradeço a todas minhas ex-alunas de Pedagogia, aos professores e formadores

participantes do GREPEM – Mauá - que possibilitaram constituir-me formadora e, ainda

tornar-me formadora e pesquisadora.

Às professoras Vera Bonilha e Leda Farah, pela dedicação cuidadosa na revisão

final do texto.

Aos meus familiares e amigos mais próximos, que sempre me apoiaram,

especialmente meu irmão, cunhadas, sobrinhos e primos. Ao meu sogro e em especial a

minha sogra que me apoiou o tempo todo com a sua fé e com palavras de esperança.

Aos amigos da Comunidade, que sabiamente compreenderam minhas ausências

no período de desenvolvimento deste estudo.

Aos funcionários da Faculdade de Educação, de modo especial aos da Pós-

graduação e aos da Biblioteca, a solicitude de cada um de vocês fez a diferença nesses

quatro anos de dedicação exclusiva à pesquisa!

A todos os amigos, que, permaneceram na torcida pela finalização de mais essa

etapa da minha formação acadêmica, meus sinceros agradecimentos!

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RESUMO

A multiplicação é considerada uma das quatro operações elementares trabalhadas desde os

primeiros anos de escolarização. Entretanto, pesquisas revelam que seu estudo e sua

aprendizagem requerem uma prática pedagógica própria e específica, que utilizem estratégias

e tarefas para explorar os diferentes sentidos e significados de multiplicação. Esse fato aponta

para a necessidade de investigar o conhecimento do professor referente aos aspectos

matemáticos e didático-pedagógicos do ensino deste conteúdo. Assim esta pesquisa buscou

investigar a abordagem dada por pesquisas acadêmicas brasileiras ao conhecimento

especializado do professor que ensina matemática (PEM) nos anos iniciais de escolarização

em relação à multiplicação, e para isso, utilizou como referências o Mathematical Knowledge

for Teaching (MKT) de Deborah Ball e colaborares e, o modelo analítico surgido

recentemente, o Mathematics Teacher’s Specialized Knowledge (MTSK) de José Carrillo e

colaboradores. Para tanto foi, inicialmente, realizado um mapeamento de 229 teses e

dissertações que investigaram o PEM nesse nível de ensino e que fizeram parte do corpus do

Projeto “Mapeamento e estado da arte da pesquisa brasileira sobre o professor que ensina

Matemática”, produzido no período de 2001 a 2012 em programas de pós-graduação stricto

sensu nas áreas de Educação e Ensino da Capes. Nesses 229 estudos, 45 teses de doutorado e

184 dissertações de mestrado, foram destacadas as principais tendências temáticas aí

privilegiadas e, em seguida, visando a um estudo aprofundado sobre o conhecimento

especializado do PEM nos anos iniciais do ensino básico, foram selecionados aqueles que

tratavam do conhecimento matemático do PEM ou de sua formação matemática e didático-

pedagógica. Assim, de 12 teses de doutorado identificadas como investigações sobre o

conhecimento matemático de professores ou futuros professores em diferentes processos

formativos, foram selecionados, para uma revisão sistemática na modalidade metassíntese,

três estudos que analisaram conhecimentos do PEM relativos à multiplicação, dentre outros.

Com o objetivo de identificar os conhecimentos especializados do PEM no âmbito da

multiplicação, foi produzida, primeiramente, uma síntese interpretativa de cada um dos

estudos e, a seguir, uma síntese integrativa deles, isto é, uma metassíntese, a qual revelou

tanto possibilidades e contribuições relevantes quanto limitações e lacunas sobre os processos

formativos dos professores e a investigação desses processos, tendo em vista o conhecimento

especializado do professor que ensina multiplicação nos anos iniciais de escolarização. Os

resultados obtidos pelas três sínteses interpretativas e pela integrativa evidenciam a

complexidade da relação entre o domínio consciente do conhecimento especializado por parte

dos formadores e as estratégias e práticas de formação inicial ou continuada para que os

professores ou futuros professores possam mobilizar e efetivamente se apropriar desses

conhecimentos especializados para ensinar multiplicação nos anos iniciais.

PALAVRAS-CHAVE: Metassíntese; Professor que ensina matemática; Mapeamento de

pesquisas; Multiplicação; Formação de professores; Conhecimento especializado do

professor; Anos iniciais do Ensino Fundamental; Educação Matemática.

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ABSTRACT

Multiplication is considered one of the four elementary operations studied since the

first years of schooling. However, researches reveal that its study and learning require

an own and particular pedagogical practice, which makes use of strategies and tasks to

explore the multiplication different sense and meanings. This fact points to the need

for an investigation of the teacher’s knowledge related to mathematics and didactic--

pedagogic aspects of this context learning. Thus, this research has tried to investigate

the approach given by Brazilian academic researches to the specialized knowledge of

the professional who teaches mathematics (PEM) in the first years of schooling in

relation to multiplication and, for this purpose it has been used the Mathematical

Knowledge for Teaching (MKT), from Deborah Ball and contributors, besides the

more recent analytic model, the Mathematics Teacher’s Specializaed Knowledge

(MTSK), from José Carrillo and contributors. For this, it was initially carried out a

mapping of 229 theses and dissertations which have investigated the PEM in this

teaching level and have participated in the corpus of the project “Mapping and

condition of the art of Brazilian research about the professor who teaches

Mathematics” (“Mapeamento e estado da arte da pesquisa brasileira sobre o professor

que ensina Matemática”), produced in the period from 2001 to 2012 in stricto sensu

postgraduate programs in the areas of Education and Teaching of Capes. Among these

studies, 45 doctoral theses and 184 master’s dissertations, have been highlighted the

main thematic trends privileged by researchers and, after that, aiming a deeply study

on the PEM specialized study in the early years of the basic education, those dealing

with PEM mathematics knowledge or its mathematics and didactic-pedagogic

formation. Thus, from 12 doctoral theses identified as investigations on teachers or

future teachers mathematics knowledge in formative different processes, for a

systematic review in the meta-synthesis mode, were selected three studies which

analyzed PEM knowledges related to multiplication, among others. In order to identify

the PEM specialized knowledge in multiplication scope, it has been produced, first, a

synthesis interpretive of each one of the studies and, after, an integrating synthesis of

them, that is, a meta-synthesis, which has revealed as much possibilities and

contributions considerable as limitations and omissions about the teachers formatting

processes and their investigation, in view of the specialized knowledge of the

professional who teaches multiplication in the first years of schooling. The results

obtained by the three interpretive synthesis and the integrating one show the

complexity of the relation between the conscious dominion of the specialized

knowledge from the formers and the strategies as well the practices of the beginning or

continued formation in order the teachers or future teachers may mobilize and

effectively to appropriate themselves of these specialized knowledges to teach

multiplication in the first years.

KEY-WORDS: Meta-synthesis; Teacher who teaches mathematics; Mapping of

research; Multiplication; Teaching Formation; Teacher specialized knowledge; Early

years of Elementary Education; Mathematics Education.

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RESUMEN

La multiplicación se considera una de las cuatro operaciones elementales trabajadas desde los

primeros años de escolarización. Sin embargo, investigaciones revelan que su estudio y su

aprendizaje requieren una práctica pedagógica propia y específica, que utilicen estrategias y

tareas para explorar los diferentes sentidos y significados de multiplicación. Este hecho

apunta a la necesidad de investigar el conocimiento del profesor referente a los aspectos

matemáticos y didáctico-pedagógicos de la enseñanza de este contenido. Así esta

investigación buscó investigar el abordaje dado por investigaciones académicas brasileñas al

conocimiento especializado del profesor que enseña matemáticas (PEM) en los años iniciales

de escolarización en relación a la multiplicación, y para ello, utilizó como referencias o

Mathematical Knowledge for Teaching (MKT) de Deborah Ball y sus colaboradores y, el

modelo analítico surgido recientemente, el Mathematics Teacher’s Specialized Knowledge

(MTSK) de José Carrillo y colaboradores. Para ello, inicialmente, se realizó un mapeo de 229

tesis y disertaciones que investigaron al PEM en ese nivel de enseñanza y que hicieram parte

del corpus del Proyecto "Mapping y estado del arte de la investigación brasileña sobre el

profesor que enseña Matemáticas", producido en el período de 2001 a 2012 en programas de

posgraduación stricto sensu en las áreas de la Educación y de Enseñanza de la Capes. En estos

229 estudios, 45 tesis de doctorado y 184 disertaciones de maestría, se destacaron las

principales tendencias temáticas allí privilegiadas y, a continuación, con vistas a un estudio en

profundidad sobre el conocimiento especializado del PEM en los años iniciales de la

enseñanza básica, se seleccionaron aquellos que trataban del conocimiento matemático del

PEM o de su formación matemática y didáctico-pedagógica. Así, de 12 tesis de doctorado

identificadas como investigaciones sobre el conocimiento matemático de profesores o futuros

profesores en diferentes procesos formativos, fueron seleccionados, para una revisión

sistemática en la modalidad metassíntesis, tres estudios que analizaron conocimientos del

PEM relativos a la multiplicación, entre otros. Con el objetivo de identificar los

conocimientos especializados del PEM en el ámbito de la multiplicación, se produjo, primero,

una síntesis interpretativa de cada uno de los estudios y, a continuación, una síntesis

integrativa de ellos, es decir, una metassíntesis, la cual reveló tanto posibilidades y las

contribuciones relevantes como limitaciones y lagunas sobre los procesos formativos de los

profesores y la investigación de estos procesos, teniendo en cuenta el conocimiento

especializado del profesor que enseña multiplicación en los años iniciales de escolarización.

Los resultados obtenidos por las tres síntesis interpretativas y por la integrativa evidencian la

complejidad de la relación entre el dominio consciente del conocimiento especializado por

parte de los formadores y las estrategias y prácticas de formación inicial o continuada para

que los profesores o futuros profesores puedan movilizar y efectivamente apropiarse de esos

conocimientos especializados para enseñar la multiplicación en los años iniciales.

PALABRAS CLAVE: Metasíntesis; profesor que enseña matemáticas; Mapping de la

investigación; Multiplicación; Formación de profesores; Conocimiento especializado del

profesor; Años iniciales de la enseñanza fundamental; Educación Matemática.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES:

Figura 1- Etapas desenvolvidas para a definição do corpus do estudo metassintético.

Figura 2 - Distribuição das teses e das dissertações brasileiras sobre PEM nos anos iniciais e

sua formação, produzidas no período de 2001 a 2012.

Figura 3- Domínios do Conhecimento Matemático para o Ensino

Figura 4 - Modelo MTSK

Figura 5 - Exemplos de algoritmos da multiplicação

Figura 6 - Esquema de triangulação de sujeitos e fontes de informações

Figura 7- Ficha roteiro de tarefa sobre a multiplicação

Figura 8 - Registro individual da aluna Tayná sobre multiplicação

Figura 9 - Registro do grupo Tayná/Andressa/Andreia – Multiplicação

Figura 10 - Registro de dois modos do grupo Tayná/Andressa/Andréias multiplicar 23 por 67

Figura 11- Registro do grupo Tayná/Andressa/Andréias multiplicar 23 por 12

Figura 12 - Cartaz do grupo Tayná/Andressa/Andréia e a respectiva apresentação oral

Figura 13 - Excerto do cartaz do grupo Tayná/Andressa/Andréia

Figura 14 - Recorte relativo a discussão oral do grupo Tayná/Andressa/Andréia

Figura 15- Explicação da aluna Andréia

Figura 16 - Representação horizontal auxiliar para a resolução do problema proposto por

Maria

Figura 17 - Representação vertical auxiliar para a resolução do problema proposto

Figura 18- Problema e a estratégia de resolução

Figura 19 - Representação da estratégia de resolução do problema

Quadro 1- Distribuição anual, por modalidade, das pesquisas sobre o PEM nos anos iniciais

produzidas de 2001 a 2012.

Quadro 2 - Distribuição das teses identificadas no foco Saberes docentes e conhecimentos do

PEM nos anos iniciais, por temas matemáticos.

Quadro 3 - Síntese dos instrumentos de coleta de dados utilizados

Quadro 4 - Exemplos de multiplicação e de divisão relacionados com ideia de grupos

equivalentes

Quadro 5 - Exemplos de multiplicação e de divisão relacionados com a ideia de multiplicação

comparativa

Quadro 6- Exemplos de multiplicação e de divisão relacionados com a ideia de proporção

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Quadro 7- Exemplos de multiplicação e de divisão relacionados com a ideia de representação

retangular

Quadro 8- Exemplos de multiplicação e de divisão relacionados com a ideia de combinatória

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LISTA DE TABELA:

Tabela 1: Distribuição dos problemas de acordo com os eixos do Campo Conceitual

Multiplicativo

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LISTA DE SIGLAS:

ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas

ANPEd – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

BNCC – Base Nacional Comum Curricular

CAPES – Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior

CCK – Common Content Knowledge

CDM – Conocimiento Didáctico-Matemático

CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (até 1974,

Conselho Nacional de Pesquisas)

DO – Doutorado

EAM – Ensino Aprendizagem de Matemática

FE/Unicamp – Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas

GdS – Grupo de Sábado

GEPFPM – Grupo de Estudo e Pesquisa em Formação de Professor de Matemática

GREPEM – Grupo de Estudo Pluridisciplinar com foco em Educação Matemática

HCK – Horizon Content Knowledge

IMECC – Instituto de Matemática, Estatística e Computação Científica –– Unicamp

KCC – Knowledge of Content and Curriculum

KCS – Knowledge of Content and Students

KCT – Knowledge of Content and Teaching

KFLM – Knowledge of Features of Learning Mathematics

KMLS – Knowledge of Mathematics Learning Standards

KMT – Knowledge of Mathematics Teaching

KoT – Knowledge of Topics

KPM – Knowledge of Practice of Mathematics

KQ – Knowledge Quartet

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KSM – Knowledge of the Structure of Mathematics

LDB – Lei de Diretrizes e Base da Educação

MA – Mestrado Acadêmico

MP – Mestrado Profissional

MTSK – Mathematics Teacher’s Specialized Knowledge

NCTM – National Council of Teachers of Mathematics

PARFOR – Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica

PCK – Pedagogical Content Knowledge

PCN – Parâmetros Curriculares Nacionais de Matemática –

PEM – Professor que ensina Matemática

PISA – Programme for International Student Assessment

PMV – Prefeitura Municipal de Vitória

PraPEM – Prática Pedagógica em Educação Matemática

PUCC – Pontifícia Universidade Católica de Campinas

PUC-Campinas – Pontifícia Universidade Católica de Campinas

SCK – Specialized Content Knowledge

SHIAM – Seminário de Histórias e Investigações de/em Aulas de Matemática

SMK – Subject Matter Knowledge

SND – Sistema de numeração decimal

UFSCar – Universidade Federal de São Carlos

Unesp – Universidade Estadual Paulista

UniFeI – Universidade Federal de Itajubá

UniP – Universidade Paulista

USF – Universidade São Francisco

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SUMÁRIO

APRESENTAÇÃO ................................................................................................................... 17

CAPÍTULO 1 - PERCURSO DA PESQUISADORA E A GÊNESE DO OBJETO DE

ESTUDO: o conhecimento especializado do PEM .................................................................. 19

CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS ................ 36

2.1 Fundamentos metodológicos da pesquisa .......................................................................... 36

2.2 Procedimentos metodológicos ............................................................................................ 42

2.2.1 PEM nos anos iniciais: primeira etapa da seleção das pesquisas .................................... 45

2.2.2 Focos temáticos das pesquisas sobre o PEM nos anos iniciais: um olhar em busca do

conhecimento ............................................................................................................................ 50

2.2.3 Saberes e conhecimento do PEM nos anos iniciais: uma aproximação das teses em busca

da multiplicação ........................................................................................................................ 51

CAPÍTULO 3 - CONHECIMENTO ESPECIALIZADO DO PROFESSOR QUE ENSINA

MATEMÁTICA: um olhar para a multiplicação ..................................................................... 56

3.1 Panorama da formação do professor que ensina matemática nos anos iniciais.................. 56

3.2 Campo de conhecimento da multiplicação para o ensino e a aprendizagem escolar nos

primeiros anos de escolarização ............................................................................................... 58

3.3 Conhecimento especializado do professor que ensina matemática .................................... 75

3.4 Conhecimento especializado do professor que ensina matemática: um olhar na/para a

multiplicação ............................................................................................................................ 81

3.4.1 Knowledge of Topics (KoT)............................................................................................ 82

3.4.2 Knowledge of the Structure of Mathematics (KSM)....................................................... 85

3.4.3 Knowledge of Practice of Mathematics (KPM) .............................................................. 87

3.4.4 Knowledge of Mathematics Teaching (KMT) ................................................................ 88

3.4.5 Knowledge of Features of Learning Mathematics (KFLM) ............................................ 91

3.4.6 Knowledge of Mathematics Learning Standards (KMLS) .............................................. 91

CAPÍTULO 4 - SÍNTESES INTERPRETATIVAS DAS TESES: UM OLHAR PARA O

CONHECIMENTO ESPECIALIZADO DO PEM SOBRE A MULTIPLICAÇÃO ............... 94

4.1 – Síntese interpretativa do estudo de Megid (2009) ........................................................... 95

4.1.1 - Trajetória da pesquisadora e conexões com o problema investigado ........................... 95

4.1.2 - Estrutura e caminhos da pesquisa ................................................................................. 97

4.1.3 - Alguns aspectos metodológicos da investigação e o processo formativo ................... 102

4.1.4 – Conhecimento especializado para ensinar multiplicação: alguns indícios identificados

na tese de Megid (2009) ......................................................................................................... 105

4.2 – Síntese interpretativa do estudo de Silva (2009) ........................................................... 124

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4.2.1 – Trajetória da pesquisadora e conexões com o problema investigado ......................... 124

4.2.2 – Estrutura e caminhos da pesquisa ............................................................................... 127

4.2.3 - Alguns aspectos metodológicos da investigação e o processo formativo ................... 133

4.2.4 – Conhecimento especializado para ensinar multiplicação: alguns indícios identificados

na tese de Silva (2009)............................................................................................................ 136

4.3 Síntese interpretativa do estudo de Merlini (2012) .......................................................... 146

4.3.1 Alguns aspectos metodológicos da investigação e o processo formativo ..................... 146

4.3.2 Conhecimento especializado para ensinar multiplicação: alguns indícios identificados na

tese de Merlini (2012)............................................................................................................. 149

CAPÍTULO 5 - SÍNTESE INTEGRATIVA E ALGUMAS DISCUSSÕES ......................... 161

CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................. 168

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 171

APÊNDICE 1: Resumo das pesquisas que constituíram o estudo metassintético ................. 181

APÊNDICE 2 - Relação de Dissertações e Teses Brasileiras que versam sobre o Professor que

Ensina Matemática nos Anos Iniciais defendidas em Programas de Pós-Graduação Stricto

Sensu - Período de 2001 a 2012.............................................................................................. 184

APÊNDICE 3 Ficha 1 (Projeto Universal) ― Mapeamento de dissertações/teses que têm o

professor que ensina Matemática como foco de estudo/análise ............................................. 201

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APRESENTAÇÃO O estudo que aqui apresentamos foi gradativamente construído e (re)construído

nos últimos quatro anos, sem contudo restringir-se a eles. A meu ver esta pesquisa teve suas

origens nas experiências vividas, nas reflexões e nas investigações tecidas ao longo dos 20 e

poucos anos de caminhos percorridos por mim nas áreas da Educação e da Educação

Matemática, sob diferentes perspectivas: estudante-futura professora, professora, formadora,

pesquisadora, em diferentes contextos e espaços formativos.

Nesta perspectiva, com a compreensão de que o término deste estudo implica na

sistematização de um processo investigativo que visou ao acesso ao conhecimento produzido

nesse espaço e tempo, é chegada a hora de apresentar o que foi produzido.

A busca por compreender a complexidade da formação/profissão docente que

ensina matemática nos primeiros anos de escolarização, tecida a partir/pela minha experiência

vivida como docente de matemática na Educação Básica e formadora de professores que

ensinam matemática, mobilizou-me a investigar o conhecimento especializado do Professor

que Ensina Matemática (PEM) nos anos iniciais1, de modo particular em relação a uma das

operações aritméticas: a multiplicação.

Revisitar e relatar minha experiência como formadora permitiu-me evidenciar

demandas relativas ao conhecimento do PEM necessário para ensinar matemática, tendo em

vista a prática desse profissional em sala de aula. Afinal, saber multiplicar é condição

necessária ao professor para ensiná-la, entretanto, somente essa condição não o qualifica para

o ensino dessa operação. “Para a docência em matemática é importante que o professor saiba

justificar esses procedimentos, conheça outros procedimentos histórico-culturalmente

produzidos, conheça os conceitos e ideias atuais, bem como a evolução histórica dos

mesmos”. (FIORENTINI; OLIVEIRA, 2013, p. 924-925)

A convicção do papel pertinente da inter-relação entre teoria e prática, decorrente

da literatura que permeou as experiências vividas na minha trajetória acadêmico-profissional,

com a receptividade de integrantes do grupo de pesquisa denominado Grupo de Estudo e

Pesquisa em Formação de Professor de Matemática - GEPFPM2 - que iniciara um Projeto de

1 Neste trabalho denominamos por anos iniciais a fase escolar compreendida pela Educação Infantil e a primeira

etapa do Ensino Fundamental I – do 1º ao 5º ano. 2 Grupo interinstitucional, com sede na Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas

(FE/Unicamp), que congrega pesquisadores de cinco universidades: Universidade Estadual de Campinas

(Unicamp); Universidade Estadual Paulista (Unesp/Rio Claro); Universidade Federal de São Carlos (UFSCar);

Pontifícia Universidade Católica de Campinas (PUC-Campinas); Universidade São Francisco (USF);

Universidade Federal de Itajubá (UniFeI) e Universidade Paulista (Unip).

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âmbito nacional relativo ao Mapeamento e ao Estado da Arte da pesquisa que tinha como foco

de estudo o PEM, mobilizou-me a adentrar o contexto das pesquisas brasileiras para

investigar o conhecimento especializado do PEM nos anos iniciais em relação à

multiplicação. Motivada, de um lado, pelos estudos do Grupo GEPFPM relacionados ao

professor que ensina matemática, sob diferentes modalidades de revisão sistemática e, de

outro, pelos estudos e discussões que vinham sendo desenvolvidos acerca do conhecimento

especializado do professor, no grupo Prática Pedagógica em Educação Matemática - PraPEM,

esta tese foi se constituindo. Assim, esta pesquisa buscou investigar de modo mais específico

o conhecimento especializado do professor para o ensino de multiplicação nos anos iniciais a

partir de um estudo de revisão sistemática, especificamente da metassíntese de duas teses de

doutorado que trataram das quatro operações em seus processos formativos.

Para permitir ao leitor uma visão ampla do relatório desta pesquisa, organizamos

os principais registros deste processo em cinco capítulos descritos a seguir.

No primeiro capítulo, apresentamos um recorte de minha trajetória de

pesquisadora e a problemática que deu origem a esta pesquisa bem como a construção de seu

objeto de estudo.

No segundo capítulo, trazemos a Metodologia da pesquisa, sua justificativa, seus

objetivos e o detalhamento dos procedimentos metodológicos. Neste capítulo, explicamos os

critérios adotados na constituição do corpus para o desenvolvimento da metassíntese.

No capítulo 3, mostramos os aspectos teóricos relacionados ao professor que

ensina matemática nos anos iniciais e sua formação e, principalmente, seu conhecimento

necessário para ensinar multiplicação, com destaque para o conhecimento especializado na

perspectiva do modelo Mathematics Teacher’s Specialized Knowledge (MTSK) de Carrillo et

al. (2013).

No capítulo 4, expomos as sínteses interpretativas das três teses selecionadas a

partir de critérios explicitados no capítulo metodológico, em que analisamos e interpretamos

indícios do conhecimento especializado sobre multiplicação dos professores que ensinam

matemática nos anos iniciais, tendo tomado como lente analítica os subdomínios do modelo

Mathematics Teacher’s Specialized Knowledge (MTSK) de Carrillo et al. (2013)

Finalmente, no capítulo 5, apresentamos uma síntese integrativa das três teses,

momento que reservamos para tecer a metassíntese final do estudo e as considerações finais.

Em seguida, as referências bibliográficas e os apêndices que contêm a lista das teses e das

dissertações relativas ao PEM nos anos iniciais.

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CAPÍTULO 1 - PERCURSO DA PESQUISADORA E A GÊNESE DO OBJETO

DE ESTUDO: o conhecimento especializado do PEM

De onde venho? Para onde vou? Quais motivos me levaram a escolher a profissão

docente, e ainda, por que professora de matemática? Rememorar minha trajetória, minha

formação discente e docente pôde contribuir para uma reflexão de meus próprios estudos, que,

entremeadas pelas leituras realizadas, buscam compreender os processos formativos no

sentido de elucidar os problemas e as fragilidades postas no âmbito da formação docente em

um dado espaço-tempo. Das minhas lembranças, posso afirmar que o EU que hoje escreve

esta história se constituiu a partir de cenas, detalhes, movimentos, quase imperceptíveis a olho

nu, algumas vezes escritos e, portanto, mais refletidos.

Ao perscrutar minha trajetória de estudante e professora, sobretudo meus

caminhos e percursos de formação e de formadora nos mais diferentes espaços e tempos, pude

perceber e compreender questões importantes e relevantes sobre o processo de me constituir

professora, formadora e pesquisadora, ao longo desses anos, e, assim, acredito estar

continuamente me ressignificando.

Filha de pais que concluíram apenas o antigo primário3, realizei toda minha

formação básica, desde o pré-primário, passando pelo Ensino Fundamental, até o Ensino

Médio, em duas4 escolas da rede pública estadual, na cidade de Campinas. Uma exceção

ocorreu quando cursava a 4ª série e minha família mudou-se para outro estado, lá

permanecemos pouco menos de seis meses e, em seguida, retornamos para Campinas.

Embora sejam poucas as lembranças desse período, descrevê-lo aqui, fez-me

repensar sobre o importante papel do registro. Hoje o compreendendo como parte integrante

do processo formativo de meu desenvolvimento. Para ressignificar práticas e conhecimentos,

decorrentes de um processo formativo, é necessário ter acesso e conhecer esse processo.

Como isso tem sido proposto pelas agências de formação? É indicado ao sujeito da formação

registrar suas experiências de modo a refletir e ressignificá-las? Que conhecimentos têm sido

considerados e tratados?

3 Num cenário de árdua e gratificante conquista, em especial destaco uma das falas da minha mãe, que guardo

comigo: “Dos seis irmãos, só eu pude terminar o primário, e, aprendi a ler e escrever”. Esta fala, tornou-se um

“chavão” quando por vezes conversava conosco para expressar sua dedicação na intenção de nos incentivar a

estudar além do 4º ano, o que muito valorizava. 4 Em uma delas cursei desde o pré-primário até a 8ª série que, hoje, equivale ao 9º ano do Ensino Fundamental

II; e na outra cursei o Ensino Médio.

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As leituras relacionadas à formação do professor e ao desenvolvimento

profissional docente despertaram em mim uma necessidade e um olhar mais atento para as

experiências discentes, tentando compreender como elas podem ter influenciado minhas

escolhas pela carreira docente. Das lembranças trazidas do percurso desse processo formativo,

é difícil deixar de citar brevemente o papel de duas professoras: Cecilia e Malu. Cecília foi

minha primeira professora, quando ingressei na escola aos seis anos, momento único para

qualquer estudante. Malu foi uma de minhas professoras de matemática no Ensino Médio, de

quem trago boas lembranças.

A atenção e a afetividade da professora Cecília por seus alunos parecem ter

inspirado meu caminhar à docência. Uma professora apaixonada por sua profissão que

procurava estar sempre atenta à individualidade de seus alunos. Cabe destacar que a atenção e

o zelo proporcionado a cada aluno pela professora Cecília eram especiais, no sentido de

compreender, naquela época, que cada uma de “suas crianças” constituía-se um ser único e,

portanto, o tratamento dado só faria sentido se fosse singular e atendesse às demandas de cada

um. Lembro-me de que ela tinha argumentos para que cada um de seus alunos se motivasse a

participar das comemorações, as quais envolviam danças, cartazes com lantejoulas, ou

coreografias belíssimas para as festas da escola. Um de seus argumentos está presente em

minha mente, até os dias de hoje: “Você pode fazer/pintar cada vez melhor!” Vez ou outra,

ela nos chamava à sua mesa para conversar, e tantas outras ela mesma se sentava à mesa junto

de nós!

Com certeza, mesmo que de modo natural, essa professora exerceu uma forte

influência quanto ao meu caminhar para a docência e, com isso, foi possível perceber o

quanto a relação professor-aluno implica em escolhas ao longo de nossa vida. Discutir

questões relacionadas à diversidade é uma prática bastante recente, mas entendo que já,

naquela época, a professora Cecília tinha esse tipo de preocupação, quando dispensava

atenção aos alunos que se sobressaíam, mas também àqueles que pouco participavam.

E a professora Malu de matemática? Bem, acho que antes vou resgatar um

pouquinho do percurso decorrido para chegar ao Ensino Médio e assim apresentá-la, pois,

afinal, esse caminho não foi tão simples e nem linear quanto possa parecer.

No Ensino Fundamental II, sentia-me incentivada pelas professoras, quando, nos

poucos (ou melhor, raríssimos) momentos organizados em duplas nas aulas de matemática da

6ª série, atual 7º ano, propunham-nos a trocar ideias (discutir) acerca dos exercícios

resolvidos. Essa prática de desenvolver o ensino e a aprendizagem da matemática – em que

buscava compreender meus colegas, e também ser compreendida em relação às diferentes

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resoluções dos exercícios – fazia muito sentido para mim, passando a me identificar com a

docência. Junto com essa identificação, havia também o convívio com uma prima, que me era

mais próxima e com uma amiga de infância a quem tive sempre como irmã. A prima cursava

o Colégio Normal, tendo sido a primeira professora a formar-se em nossa família; fato esse

entrelaçado às recordações da professora Cecília, me inspirou, então de forma mais

consciente, a optar pela docência como perspectiva profissional.

Hoje, investigando um pouco mais a fundo sobre essas fontes de inspiração,

percebo que, desde o início do ginásio, atual Ensino Fundamental II, de certa forma, eu já

alimentava um sonho de ser professora, porém, sem ainda enveredar para o Curso de

Magistério5. Naquela época optei por estudar no colégio Vitor Meireles e assim enfrentei o

desafio de fazer o antigo vestibulinho para poder cursá-lo. Passar pelo exame e poder

ingressar nesse colégio foi uma verdadeira conquista, mas também um momento de angústias,

tempo das primeiras rupturas de um passado-presente-futuro: Estudo ou trabalho? Com o

apoio de minha mãe, que sempre cuidou da nossa casa sem exercer outra profissão e de meu

irmão que, à época, fazia o técnico profissionalizante, optei, mesmo sabendo das dificuldades

que enfrentaria, pelo estudo. Pude, assim, concretizar o sonho de estudar no Colégio Estadual

de 2º Grau Vitor Meireles!

Tudo parecia novo neste colégio, principalmente com a presença de professores

militares. Ao final do 1º colegial6 (que era básico a todos os ingressantes), fazíamos a opção

por uma das áreas de interesse que pretendíamos atuar profissionalmente: exatas, humanas ou

biológicas. Optei por cursar a área de exatas, porque, além de gostar de matemática, disciplina

de minha preferência até então, era nessa área que eu obtivera as melhores notas no Ensino

Fundamental.

Foi no primeiro ano, numa fase ainda de adaptação ao novo colégio, que conheci a

professora Malu. Com estatura de aproximadamente 1,60m, cabelos cacheados, olhos cor de

mel, e sua pasta com livros e materiais que colocava sobre a mesa, destacou-se positivamente

dentre os demais professores de matemática com os quais havia estudado na Educação Básica.

Malu era uma professora compreensiva quanto às dúvidas dos alunos, independente da

questão que se colocava. Firme em suas decisões, sempre procurava incentivar o estudo, em

especial o da matemática, enfatizando que o “fazer matemática”, ainda que sem chegar ao

resultado “correto”, sempre proporcionaria aprendizagens matemáticas. Mesmo com um

5 A Lei Federal no 5.692/71 denominava o curso de formação de professores para as séries iniciais do antigo 1º

grau (1ª a 4ª séries, atualmente 1º ao 5º ano) de Curso de Magistério, no qual o professor era habilitado para

ministrar aulas nesse nível de ensino. 6 Atualmente 1º ano do Ensino Médio.

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programa preestabelecido a ser seguido rigidamente, Malu dificilmente oferecia uma resposta

pronta para esclarecer as dúvidas surgidas “pelos colegas”. Ao contrário, quase sempre,

lançava questionamentos à sala, instigando-nos a estabelecer relações que nos levassem à

compreensão dos conceitos matemáticos, ao invés de reproduzir mecanicamente os

conteúdos, por meio de exercícios repetitivos. Aqui, cabe destacar o motivo que digo “pelos

colegas”: À época, um pouco introvertida, raríssimas vezes eu expunha minhas dúvidas diante

da sala.

Malu foi uma das poucas professoras da Educação Básica que tentava explicar os

porquês dos procedimentos ou algoritmos matemáticos. Lembro-me, por exemplo, do porquê

da famosa regra da “troca de sinal” no cálculo de equações. Malu diferenciava-se em relação

ao ensino e ao modo como tratava o conhecimento matemático. Como já foi dito, suas

intervenções não se pautavam em simples “dar” respostas; ao contrário, fazia

questionamentos para que percorrêssemos um caminho até elas. Interpreto, hoje, que essa

postura a fazia estimada e respeitada pelos alunos da sala.

Lembro-me de que uma das dificuldades relativas à regra de sinais referia-se ao

porquê da troca de sinal em alguns casos e não em outros. Embora não me recorde dos

números, a questão relacionava-se à “troca de sinais” dos termos envolvidos nas equações

quando um elemento mudava de um lado para o outro. Como exemplo do uso de regras sem

compreensão dos porquês, era comum que a resolução da equação 8 + 6x = 20 resultasse

equivocadamente em -2, quando concebia a “troca de sinais” no lugar da “operação inversa”

na resolução da equação, como exemplificado a seguir:

+6x = 12, ao passar o +6 para o outro lado ficava x = 12/-6, ou seja x = -2.

Antes de apontar o certo ou o errado, Malu propunha que justificássemos o

resultado e, como normalmente substituíamos o resultado obtido pelo x, para verificar a

validade ou não da igualdade, isto é se o valor obtido era ou não raiz da equação, percebíamos

que havia algum problema com o resultado obtido. Isto porque, ao substituir a raiz obtida, x =

-2 na equação, observávamos que o valor encontrado não se referia à raiz da equação.

Mais que somente repetir a frase: o que muda é a operação do termo que passa de

um lado para o outro, e não apenas o sinal, a profa. Malu interessava-se por explicar, a seu

modo, o porquê dessa mudança. Entendemos que esse conhecimento profissional de Malu

parecia aproximar-se do conhecimento especializado na perspectiva de Carrillo et al. (2013).

Essa breve caracterização da prática pedagógica da professora Malu nos remete

também ao conhecimento e à aprendizagem na prática na perspectiva de Lave (2001) a qual

dialoga com quatro premissas. De modo especial, destacamos a 1ª delas que afirma que o

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conhecimento se constrói e se transforma ao ser usado (Lave, 2001), pois o trabalho da profa.

Malu parecia se desenvolver numa perspectiva em que buscava estabelecer uma relação entre

o conhecimento e um conteúdo que estava parcialmente aberto em relação à história a ser

tecida.

Tantos anos se passaram e reviver essa memória, a partir dos estudos, das leituras

e das discussões atuais, no âmbito da educação matemática, especialmente aqueles

relacionados à formação de professores, faz-nos perceber, na prática docente de Malu,

indícios do domínio do conhecimento especializado do conteúdo matemático para o ensino,

conforme Ball, Thames e Phelps (2008) e que se diferencia do conhecimento comum do

conteúdo, aquele que todo cidadão precisa saber. Para explicar o porquê da troca de sinais,

não bastava que Malu dominasse o conhecimento comum, muitas vezes equivocadamente

compreendido como sendo a “regra de sinais”. Como professora há a necessidade de ter

domínio de outros dois conhecimentos específicos: o especializado para ensinar matemática e

o conteúdo matemático no horizonte (BALL; THAMES; PHELPS, 2008).

Esse diferencial encontrado em apenas uma professora durante toda minha

trajetória estudantil, leva-me a questionar sobre o problema da formação do professor,

especificamente do professor que ensina matemática nos anos iniciais da Educação Básica.

Sabemos que a formação inicial deste professor é precária no Brasil, sobretudo no que se

refere aos conteúdos escolares. No caso do conhecimento específico de matemática, várias

pesquisas têm mostrado que a maioria dos alunos que ingressam nos cursos de magistério até

início dos anos 2000 e, a partir de 2007, também nos cursos superiores (Licenciatura em

Pedagogia, Normal Superior), apresenta “significativo déficit cultural”, principalmente em

matemática (FIORENTINI, 2008; OLIVEIRA, 2007), motivo pelo qual muitos deles acabam

optando por estes cursos para “fugir” da matemática (Ortega, 2011).

Bem, revisitar esse processo formativo me permitiu refletir sobre as escolhas

realizadas nessa trajetória. Enquanto a professora Cecília inspirou-me para a docência, Malu

me inspirou à docência em matemática. Assim, decidida pela docência, principalmente na

área de exatas, antes mesmo de finalizar o colégio dei início à busca por um emprego que

pudesse custear meus estudos, pois, embora já tivesse definido cursar a licenciatura em

matemática, isso dependeria da realização de um trabalho remunerado. Ansiosa em dar

continuidade aos estudos, logo encontrei um emprego e já ao final de novembro de 1982,

comecei a trabalhar em uma loja, o que permitiu inscrever-me nos últimos dias para o

vestibular do ano seguinte.

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Assim, junto com essa decisão, houve a primeira ruptura com o ensino em tempo

integral, pois, embora quisesse me dedicar integralmente à licenciatura, não poderia, naquele

momento, abrir mão do trabalho iniciado.

Desta forma, iniciei a Licenciatura Plena em Ciências – Habilitação em

Matemática pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCC no ano de 1983.

Matriculei-me no período noturno, o que me possibilitou trabalhar durante o dia em uma

empresa multinacional.

Apesar das boas notas na Educação Básica, surgiram dificuldades na matemática

da Licenciatura, e não foram poucas! Os problemas não estavam somente nas derivadas ou

nas integrais. Trazíamos também os nós deixados pela matemática elementar que, embora

acreditássemos dominar, eram frutos de um processo de ensino e aprendizagem baseado no

paradigma do exercício (SKOVSMOSE, 2000) que privilegiava a sintaxe (procedimentos e

regras operatórias) em detrimento da semântica (conceitos e significados da matemática

escolar). Entretanto, esse problema pretendia persistir uma vez que, também nas diferentes

disciplinas do curso de Licenciatura em Matemática, o paradigma do exercício continuou

sendo dominante, estabelecendo uma ínfima relação entre o que e como ensinar matemática

na Educação Básica.

Naquela época me questionava de que modo aquelas integrais, derivadas de 1ª, 2ª

ou 3ª ordem que, naquele momento, pareciam tão difíceis ou tão sem sentido, poderiam nos

ajudar a ensinar matemática na Educação Básica. Qual era o papel das inúmeras listas de

exercícios? Seria para nos ensinar a ser melhores professores? Qual aproximação daquela

prática com as aulas de didática ou de prática pedagógica em matemática? Afinal, quais

conhecimentos matemáticos do curso contribuíram para aprender a ensinar matemática na

Educação Básica? São eles valorizados nas Licenciaturas?

No decorrer do curso, de modo especial nos momentos de Estágio, essas questões

ressurgiam com maior intensidade, revelando uma certa carência de conhecimentos para

assumir a sala de aula. Concluí o último ano da graduação com a certeza de que ainda não

estava preparada para ensinar a disciplina. Entretanto, após concluir a licenciatura, resolvi

assumir o desafio de aprender a ensinar matemática na prática, tendo, a princípio, assumido

aulas de Ciências e Matemática na Rede Estadual de Ensino do Estado de São Paulo em

escolas do município de Campinas – SP.

Com quatro anos atuando na rede estadual, passei a lecionar também em escolas

da Rede Municipal de Campinas. O diferencial dessa experiência foi ter participado, com

outros professores da rede municipal de encontros semanais de formação continuada sob a

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coordenação de um professor formador vinculado à Faculdade de Educação – FE/Unicamp.

Nestes encontros7, buscava-se problematizar as práticas dos professores participantes. Este foi

o primeiro espaço formativo do qual participei em que podíamos discutir sobre a nossa prática

pedagógica com professores experientes ou não, que, em sua maioria, enfrentavam diferentes

desafios relativos ao ensino de matemática.

Recordo-me que, nesses encontros, era proposta a formação de pequenos grupos,

tendo em vista o interesse dos participantes, às vezes por temas, às vezes por série escolar.

Nesses pequenos grupos, elegíamos algum tema que pudesse atender aos anseios dos

participantes e, para isso, cada um expunha as dificuldades nascidas em sua prática

pedagógica. Esse primeiro momento, quase sempre nos trazia algo novo e cada relato era

contributivo para que pudéssemos refletir sobre nossas práticas. Por vezes, quando

escolhíamos trabalhar com determinados temas, como por exemplo as frações no âmbito das

operações, formávamos um só grupo com professores das diferentes séries, o que, de certa

forma, permitia a troca de experiências em relação ao conteúdo curricular, sob a perspectiva

de compreender a abordagem dada ao tema ao longo das quatro séries do Ensino Fundamental

II8. Nesse resgate, fico a questionar: que conhecimentos matemáticos produzidos nesse espaço

contribuíram para nosso conhecimento profissional para ensinar matemática? Que

conhecimentos sobre frações eram trabalhados nos diferentes anos?

Esses encontros eram necessários e relevantes, mas ainda não eram suficientes.

Como havia uma inconstância na participação dos integrantes em cada um dos encontros, isso

impedia, por vezes, a continuidade de atividades por mais de um ou dois encontros. Outro

item a destacar refere-se à ausência de registros escritos das discussões realizadas nos

pequenos grupos. Embora os registros escritos sejam um desafio à formação em qualquer das

etapas, ele tem um papel muito importante no processo formativo. Nesta formação, pude

discutir um pouco mais o conhecimento curricular, mas, como já salientei, não foi suficiente.

Atuando nas redes Estadual e Municipal, ministrei aulas de Matemática do 6º ano

ao 9º ano do Ensino Fundamental e do 1º ao 3º ano do Ensino Médio. À medida que me

deparava com alguns dos desafios postos ao ensino de matemática na Educação Básica, fui

percebendo que algumas das dificuldades dos meus alunos poderiam não ser deles, mas talvez

7 Esses encontros aconteciam todas às quartas-feiras em local preestabelecido no início do ano letivo. Nesse dia

da semana, não havia aulas de matemática nas escolas da rede municipal, para que os professores dessa

disciplina pudessem participar dessa formação, sendo remunerados pelas horas de formação continuada quando

participavam. 8 Hoje correspondente ao 6º, 7º 8º e 9º ano do Ensino Fundamental II.

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decorrentes de meu modo de “ensinar”, o que está intrinsicamente relacionado ao meu

processo de formação e ao meu conhecimento profissional/docente.

Em busca de respostas às inquietações que trazia acerca do ensinaraprender9

matemática, procurei participar de seminários e congressos, oficinas, minicursos, enfim, de

outros espaços formativos que pudessem contribuir para minha prática pedagógica no

percurso docente. Esses espaços foram, sem dúvida, muito contributivos! Neles sempre me

deparava com novos conhecimentos, entretanto, parecia não ter espaço para aprofundar os

conhecimentos que eu já trazia da sala de aula, ou, não eram conhecimentos? Por vezes me

perguntei, onde estaria a professora Malu? Raramente encontrava espaços que permitissem

problematizar minha prática de sala de aula ou discutir alguns dos porquês trazidos pelos

alunos aos quais nem sempre tinha resposta.

Minhas inquietações em relação ao ensino e aprendizagem de matemática

levaram-me a buscar em 1992 algumas respostas no curso de Especialização em Matemática

para Professores do Ensino Fundamental e Médio, oferecido pelo Instituto de Matemática,

Estatística e Computação Científica – IMECC – Unicamp. Embora com uma proposta de se

aproximar das necessidades do professor de matemática para sua atuação em sala de aula, esse

espaço privilegiava os conteúdos matemáticos do Ensino Médio, que, numa perspectiva ainda

pautada na racionalidade técnica, não tinha a preocupação com os demais elementos tão

necessários ao ensinaraprender como, por exemplo, os conteúdos curriculares e a prática

pedagógica dos professores. Embora o IMECC trabalhe a matemática do Ensino Médio, esse

curso não problematizou/discutiu o conhecimento matemático especializado para ensinar, ou

melhor, o que acontece na prática escolar, principalmente na prática matemática dos

professores que frequentavam o curso de especialização. Por vezes, observava que os

formadores acreditavam que saber mais matemática era suficiente para o professor ensiná-la

melhor em sua prática. Mas, essa “matemática a mais” oferecida no curso não deu conta de

responder às minhas inquietações quanto à prática de ensinar matemática, pois o curso não

privilegiava o conhecimento especializado necessário para ensiná-la (BALL; THAMES;

PHELPS, 2008). Muitos pesquisadores têm questionado acerca deste problema e vários

estudos e experiências têm sido realizados para enfrentar e compreender essa problemática.

Entretanto, ao perceber que essa formação matemática complementar não

respondia às minhas necessidades como professora de matemática, conjecturei que o

problema talvez estivesse relacionado a questões de natureza didático-pedagógica. Nessa

9 Assim como Carvalho e Fiorentini (2013, p. 11): “utilizamos esta palavra composta porque ela expressa a

complexidade e a dialética de como percebemos a relação entre o ensino e a aprendizagem”.

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época, atuando no Ensino Médio e iniciando um trabalho10 na Educação de Jovens e Adultos

(EJA), novos desafios me mobilizaram a buscar, em 1996, a Licenciatura em Pedagogia.

Neste trajeto, a Licenciatura em Pedagogia ampliou minha visão pedagógica da prática

escolar, mas pouco acrescentou sobre o conhecimento especializado do professor que ensina

matemática (CARRILLO et al., 2013) nos anos iniciais, tendo sido, inclusive, surpreendida, à

época, com a pequena carga didática destinada à formação matemática nesse curso.

No âmbito da Educação Matemática, diferentes estudos (CURI, 2005;

D’AMBROSIO, 2005; MEGID, 2009; MOTA, 2012) têm evidenciado um parco espaço

destinado às discussões sobre aspectos conceituais e metodológicos da matemática na

formação inicial dos professores que atuam na Educação infantil e nos anos iniciais do Ensino

Fundamental. Castro e Fiorentini (2017) realizaram um estudo comparativo Brasil-Portugal

sobre a formação inicial de professores para a Educação Infantil (EI) e para os Anos Iniciais

(AI), e, dentre outros resultados, problematizam um dos diferenciais entre as duas legislações

analisadas:

Aqui cabe destacar, como diferencial em relação à legislação brasileira, a

valorização dos conteúdos de ensino na formação dos professores. Por exemplo,

para a formação na área de Matemática a legislação portuguesa exige o

cumprimento mínimo de 30 cr, ou seja, cerca de 900h de estudo, excluindo-se, neste

total, a carga horária destinada ao estágio na docência na área de matemática.

(CASTRO; FIORENTINI, 2017, p. 8)

Os resultados desse estudo comparativo evidenciam, na prática, que, enquanto, no

Brasil, os cursos de Pedagogia reservam uma média de 130h de estudos teóricos e práticos

voltados à formação matemática para a docência; em Portugal, os cursos de formação de

professores para os anos iniciais reservam uma média de 1.200h para a formação em educação

matemática, sendo 272h no âmbito do mestrado profissionalizante, curso obrigatório para

ingresso no magistério (CASTRO; FIORENTINI, 2017). Esses resultados apontam para a

urgência da reformulação dos cursos de licenciatura em Pedagogia, inclusive da própria

legislação brasileira.

Considerando que a última reformulação do curso de licenciatura em Pedagogia é

relativamente recente (BRASIL, 2006), a alternativa para enfrentar o reduzido espaço

reservado à matemática (JESUS, 2011) na formação inicial do professor dos anos iniciais de

escolarização tem sido a realização, pelas próprias escolas (no caso das escolas privadas), ou

pelas secretarias municipais e estaduais de educação (no caso das escolas públicas), de cursos

10 Atuei por quatro anos como professora de Educação de Jovens e Adultos – curso presencial, e três anos como

orientadora de aprendizagem na Educação de Jovens e Adultos do Telecurso 2º grau – Ensino Médio.

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de formação continuada. Entretanto, conforme Gatti (2008), o entendimento de como essa

formação vem sendo realizada também tem sido problemático.

[...] ora se restringe o significado da expressão [formação continuada] aos limites de

cursos estruturados e formalizados oferecidos após a graduação, ou após ingresso no

exercício do magistério, ora ele é tomado de modo amplo e genérico, como

compreendendo qualquer tipo de atividade que venha a contribuir para o

desempenho profissional – horas de trabalho coletivo na escola, reuniões

pedagógicas, trocas cotidianas com os pares, participação na gestão escolar,

congressos, seminários, cursos de diversas naturezas e formatos, oferecidos pelas

Secretarias de Educação ou outras instituições para pessoal em exercício nos

sistemas de ensino, relações profissionais virtuais, processos diversos a distância

(vídeo ou teleconferências, cursos via internet etc.), grupos de sensibilização

profissional, enfim, tudo que possa oferecer ocasião de informação, reflexão,

discussão e trocas que favoreçam o aprimoramento profissional, em qualquer de

seus ângulos, em qualquer situação. Uma vastidão de possibilidades dentro do rótulo

de educação continuada. (GATTI, 2008, p. 57)

Tendo passado por diferentes tipos de formação continuada, dentre as

possibilidades apontadas por Gatti (2008), reafirmo a preocupação de Megid e Lima (2018)

de que o fato de essas formações nem sempre estarem presentes no cotidiano do professor,

pois quase não encontram suporte no interior das escolas, isso implicará em pouca influência

na mudança das práticas pedagógicas de maneira profunda.

Entendo que a tentativa, quase ininterrupta, de aprimorar a prática pedagógica

relativa ao ensino de matemática, me motivou a investigar sobre como o domínio da teoria

pode influenciar o processo de ensino, de modo que continuei a buscar o aperfeiçoamento e a

atualização profissional. Minha trajetória aqui explicitada, aliada à minha necessidade de

procurar novos horizontes, levou-me ao mestrado, na linha de pesquisa Tecnologias da

Informação e Educação Matemática, cujo ingresso se deu no segundo semestre do ano de

2001, na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

Foi neste momento que passei a me interessar em conhecer com profundidade o

trabalho de matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental, tendo desenvolvido uma

dissertação intitulada: Introduzindo o conceito de média aritmética na 4ª série do Ensino

Fundamental usando o ambiente computacional (LIMA, 2005). Com o intuito de conhecer o

trabalho de matemática desenvolvido neste ciclo, pautado na então recente inclusão do bloco

de conteúdos Tratamento da Informação, proposto a partir de 1997 pelos Parâmetros

Curriculares Nacionais de Matemática - PCN (BRASIL, 1997), o objetivo do estudo foi

investigar a introdução do conceito de média aritmética com base no uso das representações

gráficas e com o auxílio do ambiente computacional, dentro do qual foi empregado o

software Tabletop. Concluí que a introdução ao conceito de média aritmética, baseada na

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representação gráfica, foi favorecida pelo emprego do software Tabletop, visto que ele

possibilitou ao aluno a descoberta de propriedades e relações envolvidas no Campo

Conceitual constituído pela leitura e pela interpretação de gráficos e da média aritmética. Essa

minha aproximação com professores e alunos dos anos iniciais fomentou questionamentos

acerca do conhecimento matemático oferecido aos professores não especialistas de

matemática.

Conhecer o contexto de ensino neste nível de escolaridade (dos anos iniciais do

Ensino Fundamental)11 me instigava, visto que eram quatro anos de estudos em que as

matemáticas devem ser ensinadas. Mas que matemáticas precisam ser ensinadas e aprendidas

nessa fase? Que matemáticas precisam conhecer os professores que aí ensinam? Afinal, que

conhecimentos especializados são desejáveis ao professor que ensina matemática - PEM - nos

anos iniciais?

Após longos anos lecionando em três turnos na Educação Básica, ao iniciar o

mestrado, retomei com maior intensidade minha participação em seminários, encontros e

congressos, voltados à Educação e à Educação Matemática, como o fazia também no início de

carreira. No mesmo ano de ingresso no mestrado, fui convidada a assumir aulas de

matemática em um Curso de Administração, em uma instituição particular de Ensino

Superior na região do ABC12 em São Paulo. Embora minha intenção fosse lecionar no Curso

de Pedagogia, a grade curricular do Curso nessa instituição estava estruturada para oferecer

disciplinas envolvendo matemática somente nos dois últimos semestres, e ele ainda estava

iniciando a primeira turma. Dessa forma assumi as aulas no Curso de Administração, e, com

isso, pude me aproximar da proposta do Curso de Pedagogia.

Em 2003, já atuando no ensino superior há quase três anos, passei a ministrar

aulas no curso de Licenciatura Plena em Pedagogia da Faculdade de Mauá – FAMA, atuando

nos dois componentes relacionados à matemática que eram oferecidos nos 5º e 6º semestres,

isto é, no penúltimo ano do curso. O componente “Fundamentos e Metodologia da

Matemática”13 I – Fundamentos I - era desenvolvido no 5º semestre e apresentava como

proposta analisar e discutir o ensino de matemática na Educação Infantil. No 6º semestre, o

componente “Fundamentos e Metodologia da Matemática II”– Fundamentos II - incluía em

sua ementa a proposta de auxiliar o futuro pedagogo a compreender a construção do

11 Somente em 06/02/2006, foi sancionada a Lei nº 11.274, que regulamenta o ensino fundamental de 9 anos,

passando a cinco anos os anos iniciais do Ensino Fundamental. 12 A Região do ABC, no estado de São Paulo, também conhecida por Grande ABC e ABC paulista, faz parte da

região metropolitana da capital paulista. A sigla ABC é determinada pelo nome de seus principais municípios:

Santo André, São Bernardo e São Caetano. 13 A carga horária destinada a cada uma das disciplinas FMM I e FMM II era de 40horas/semestre.

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pensamento lógico-matemático, como base para dominar e articular os conteúdos e

metodologias específicas da área de Matemática para os anos iniciais do Ensino Fundamental

I.

As turmas iniciais eram formadas por estudantes, entre as quais algumas já

atuavam na Educação Infantil, outras nos anos iniciais do Ensino Fundamental, outras em

ambos os níveis, e ainda havia as que nunca tinham ministrado aulas. As que atuavam

possuíam o antigo curso de Magistério, o que as legitimava a exercer a atividade docente

nestes níveis. Entre aquelas que não atuavam, algumas haviam interrompido seus estudos e

decidido retornar após os filhos crescerem, e havia ainda, em menor quantidade, as recém-

concluintes do Ensino Médio.

De modo geral, as licenciandas demonstravam uma necessidade em romper com o

ensino de matemática que tinham recebido e aprender aqueles conteúdos e procedimentos que

pretendiam ensinar aos seus alunos. Destaco a afirmação de uma dessas alunas - aqui

identificada com o nome fictício de Ana - “Professora..., se eu tivesse aprendido matemática

assim, talvez tivesse me interessado mais...”. Essa afirmação surgiu durante uma breve

discussão realizada em sala, quanto ao questionamento inicial relativo à dificuldade ou não

em realizar o cálculo de divisão, em especial, com um único dígito na chave.

Após afirmarem14 que isto era simples, propus a realização dos seguintes cálculos:

a) 35:5 b) 37:5 c) 35:0.

Rapidamente os cálculos foram realizados, ou melhor, os resultados foram

verbalizados quase imediatamente, e, além da discussão dos diferentes procedimentos15 e das

respostas encontradas para 37:5, a que realmente se alongou foi 35:0. As respostas indicadas

pelas alunas para esse cálculo foram, em sua grande maioria (aproximadamente 80%) 35,

algumas alunas (15%) afirmavam ser zero e outras, diante da discussão das colegas entre 35 e

zero preferiram indicar simplesmente não sei.

Foi uma longa discussão, pois apresentavam um argumento que consideravam

fortíssimo: “Se tenho 35 e não tenho ninguém para dividir, vou ficar com 35, não é

professora?”.

Mesmo sabendo que elas esperavam uma resposta, priorizei considerar a

aprendizagem que se estrutura a partir dos desafios enfrentados e, nesta perspectiva, não pude

14 Mais de 90% das alunas da turma responderam que, em relação à divisão com um número na “chave”, não

tinham problema. 15 Os dois procedimentos utilizados pautaram-se exclusivamente no algoritmo da divisão (algumas utilizaram o

método curto; e outras, o longo)

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deixar de responder à questão com outra pergunta16: Como vocês encontraram o resultado da

divisão de 35:5? ... E de 37:5?17 Muitas estudantes permaneciam resistentes em registrar o

cálculo por escrito, algumas porque achavam muito simples por já saberem o resultado, outras

até mesmo por medo de “armar” errado, parecendo considerar que o algoritmo é a única

forma de realizar a divisão. Eu tinha como propósito que as alunas investigassem as relações18

existentes entre os termos da divisão: dividendo, divisor, quociente e resto e, assim, instigá-

las a encontrar um resultado coerente para o cálculo: 35:0. Duas ou três alunas procuraram o

resultado, usando a calculadora, e mostraram-se surpresas com a resposta apresentada no

visor: “error., mas por quê?” Era cada vez mais perceptível a necessidade de uma discussão

conceitual da divisão, da multiplicação, enfim das operações.

Bem, o caminho nem sempre era curto, mas à medida que exploravam as relações

existentes entre os cálculos propostos: 35:5 e 35:0, iam descobrindo que não encontrariam o

quociente, nos casos da divisão por zero.

Assim, ao descobrir a inexistência de um quociente para a divisão por zero,

significativamente concluíram ser impossível dividir não apenas o 35, mas qualquer outro

número por zero19. Com essas “pequenas-grandes” descobertas fui percebendo os caminhos

possíveis para despertar o interesse e o prazer dessas estudantes em se transformarem em

professoras-pesquisadoras em matemática. E foi assim que a matemática começava a fazer

sentido na vida dessas alunas. Isto era perceptível pela alegria expressa no sorriso das alunas

nos momentos em que expunham suas descobertas matemáticas, mas, sobretudo, pelos

questionamentos críticos que passaram a fazer.

Com o passar dos anos, pude observar um aumento expressivo do número de

estudantes de Pedagogia que, ao finalizar as disciplinas relacionadas à matemática,

reivindicavam um espaço maior, na grade curricular, para dar continuidade às discussões e

aos estudos sobre o ensino dessa disciplina. Pareciam ter encontrado uma matemática que lhes

fazia sentido, e que não as assustava mais. Fui percebendo que buscavam sobretudo, conhecer

uma matemática para ensinar, tendo em vista sua futura atuação em sala de aula.

16 Inicialmente, isso as incomodava um pouco, entretanto com o passar das aulas, as alunas percebiam-se cada

vez mais como protagonistas da construção do seu próprio conhecimento, envolvendo-se cada vez mais com as

atividades realizadas nas aulas. 17 Neste momento, minha expectativa pautava-se em observar qual a estratégia usada pelas alunas para realização

do cálculo e, assim, solicitei que registrassem por escrito no próprio caderno. 18 A problematização permitiria discutir aspectos relacionados à ordem das operações na resolução de expressões

numéricas. 19 Para um aprofundamento da discussão, fez-se necessário discutir acerca das duas diferentes ideias de divisão:

repartir igualmente e, medir.

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Entretanto, o espaço para a formação matemática se mantinha reduzido, aliás não

apenas dela, mas também dos fundamentos de todas as demais disciplinas: Matemática,

Língua Portuguesa, Ciências, História e outras.

E assim, continuando minhas buscas, após participar do II Seminário de Histórias

e Investigações de/em Aulas de Matemática - II SHIAM em julho de 2008, comecei a

participar das reuniões do Grupo de Sábado - GdS. Participar de um grupo constituído

predominantemente por professores que ensinam matemática, atuantes em distintas áreas do

conhecimento e de diferentes níveis de ensino que se reúnem para discutir sobre práticas

pedagógicas de matemática aos sábados, incentivou-me a organizar um espaço extracurricular

para atender aos anseios das alunas diante do ensino de matemática, de modo também a

contribuir para a melhoria de minha prática como formadora de professores.

Dessa forma, considero que minha entrada no GdS motivou-me fortemente a

enfrentar os desafios postos para a organização do Grupo de Estudo Pluridisciplinar com foco

em Educação Matemática, sendo este o contexto em que nasceu o GREPEM. Este grupo teve

início em 2009 e foi se constituindo em um ambiente de estudo, pesquisa e desenvolvimento

de ações que pudessem contribuir para um ensino significativo de matemática desde os anos

iniciais da Educação Básica. Integrado por alunos do Curso de Pedagogia, professores de

Matemática, Didática e Psicologia promovia um ambiente de aproximação dos docentes da

prática pedagógica da sala de aula e o aprofundamento teórico relativo às demandas trazidas

pelas alunas.

Hoje, comparando minha própria trajetória de formação e as demandas destas

futuras professoras, percebo que há, em comum, o desejo e a necessidade de ampliar e

aprofundar os estudos sobre as matemáticas fundamentais que habilitam o professor para o

ensino. Mas que matemáticas seriam essas? Fiorentini e Oliveira (2013, p. 924-925) me

ajudam a encontrar uma possível resposta que me parece muito plausível:

Quando nos referimos à necessidade de o professor conhecer com profundidade as

matemáticas, especialmente a escolar, queremos dizer que não basta o professor

dominar procedimentos matemáticos e saber utilizá-los em demonstrações ou na

resolução de exercícios e problemas. Para a docência em matemática é importante

que o professor saiba justificar esses procedimentos, conheça outros procedimentos

histórico-culturalmente produzidos, conheça os conceitos e ideias atuais, bem como

a evolução histórica dos mesmos.

Assim sendo, evidencia-se ainda mais o destaque da relação teoria-prática, visto

que a busca constante para a melhoria da prática me leva a compreender a demanda por

investigar os conhecimentos matemáticos do PEM nos anos iniciais em diferentes contextos

formativos.

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Uma preocupação com a formação de professores foi se delineando desde as

inquietações trazidas dos mais de dez anos de docência na Educação Básica, acentuando-se a

partir da atuação como formadora no Curso de Licenciatura em Pedagogia na região do ABC

- SP, e, formadora no PARFOR20 – PUC Campinas. Essas inquietações me incentivaram a

retomar os estudos de pós-graduação, tencionando investigar a formação de professores, com

foco nos conhecimentos do professor que ensina matemática.

Quando iniciei as atividades de doutoramento tinha como objetivo investigar as

aprendizagens dos professores atuantes nos Anos Iniciais da Educação Básica, participantes

de um grupo colaborativo. Esse intento foi se transformando à medida que realizava estudos e

discussões no âmbito do grupo de pesquisa Prática Pedagógica em Educação Matemática

(PraPEM) e do GEPFPM, e nas discussões ocorridas com o professor orientador em

diferentes momentos: sessões de orientação; atividades relativa ao Projeto Universal; ou

ainda, organização das disciplinas dos programas de estágio docente, momentos esses

singulares de articulação teoria e prática no processo de pesquisa.

Minha participação no grupo de pesquisa GEPFPM permitiu-me experienciar

praticamente todas as fases de desenvolvimento do Projeto Universal, aprovado pelo

CNPq/2013, intitulado “Mapeamento e Estado da Arte da Pesquisa Brasileira sobre o

Professor que ensina Matemática”21 que vigorou e se desenvolveu entre 2013 e 2016. O

objetivo geral do Projeto foi: “mapear, descrever, sistematizar as pesquisas brasileiras

produzidas no âmbito dos programas de Pós-Graduação stricto sensu das áreas de Educação

e Ensino da CAPES, no período de 2001 a 2012, que tem como foco de estudo o professor

que ensina matemática”.

Ao longo de minha participação no projeto Universal, chamou minha atenção, ao

final do 2º semestre/2014, o fato de ter encontrado um número significativo de pesquisas (em

torno de 200 trabalhos) relativas ao professor que ensina matemática nos anos iniciais de

escolarização. Isso me motivou a redirecionar meu projeto de tese de doutorado, centrando

foco de atenção nesse conjunto de trabalhos. Buscamos primeiramente mapear estes trabalhos,

identificando os principais campos ou focos de estudo e, posteriormente, fazer um recorte

para um estudo mais aprofundado do tipo estado do conhecimento ou metanálise de trabalhos

20 PARFOR - Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica com modalidade presencial foi

um programa emergencial instituído para atender o disposto no artigo 11, inciso III do Decreto nº 6.755, de 29 de

janeiro de 2009 e implantado em regime de colaboração entre a Capes, os estados, os municípios, o Distrito

Federal e as Instituições de Educação Superior – IES. 21 Projeto elaborado e desenvolvido pelo GEPFPM, sob a coordenação geral do professor doutor Dario Fiorentini

(FE/Unicamp) (PQ-1D/CNPq), que foi submetido e aprovado pelo CNPq (486505/2013-8). Em nossa pesquisa

sempre que nos referirmos a esse projeto, usaremos a denominação: “Projeto Mapeamento e Estado da Arte do

PEM” ou “Projeto Universal”.

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que tinha como foco de estudo a formação matemática do professor que ensina matemática

nos anos iniciais de escolarização.

Paralelamente a este trabalho no GEPFPM, no Grupo de Pesquisa PraPEM, tendo

em vista o ingresso, em 2015, do professor Miguel Ribeiro como docente na FE/Unicamp,

demos início uma série de estudos e discussões sobre o conhecimento especializado do

professor de matemática (MTKS) e que tem José Carrillo e colaboradores como principais

referências (CARRILLO et al., 2013). Trata-se de uma temática que veio ao encontro de

minhas necessidades epistemológicas, o que contribuiu para a construção de meu objeto de

estudo de doutorado.

Os estudos de Carrillo et al. (2013) tiveram origem nos estudos de Shulman

(1986, 1987) e, principalmente, nos de Ball, Thames e Phelps (2008) acerca do conhecimento

profissional docente, tomando como referência o ensino de matemática.

Ball, Thames e Phelps (2008), baseando-se os estudos de Shulman no contexto do

ensino de matemática, separam dois domínios básicos do conhecimento matemático do

professor no contexto do ensino: conhecimento do conteúdo da matéria de ensino e

conhecimento pedagógico do conteúdo. Em relação ao “conhecimento do conteúdo da matéria

de ensino”, identifica três subdomínios, a saber: conhecimento comum de matemática (que

todos devem saber); conhecimento especializado do conteúdo (que todo professor que ensina

matemática deve saber); e conhecimento matemático no horizonte (conhecimento ampliado

da matemática como campo acadêmico e profissional). O domínio do “conhecimento

pedagógico do conteúdo”, de outro lado, contém três subdomínios: conhecimento do

conteúdo e dos alunos; conhecimento do conteúdo e do ensino; e conhecimento do conteúdo e

do currículo.

Carrillo et al. (2013), tomando o conhecimento especializado de Ball, Thames e

Phelps (2008) como chave, constroem o modelo do conhecimento especializado do professor

de matemática ou “Mathematics Teacher’s Specialised Knowledge” (MTSK), distinguindo,

em relação ao conteúdo de matemática, três subdomínios [Conhecimento dos temas (KoT);

conhecimento da estrutura da matemática (KSM); conhecimento da prática matemática

(KPM)]; e em relação ao conhecimento didático do conteúdo, também três subdomínios

[conhecimento do Ensino de Matemática (KMT); Conhecimento das características da

Aprendizagem da matemática (KFLM); conhecimento dos currículo para aprendizagem

matemática (KSML)].

Ancorada nesses autores, defino a seguinte questão orientadora da pesquisa de

metassíntese de estudos acadêmicos brasileiros que tem como foco de estudo a formação

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matemática do PEM nos iniciais de escolarização: que conhecimentos especializados do

professor que ensina matemática nos anos iniciais são concebidos, identificados e tratados

pelas pesquisas acadêmicas no Brasil?

O conceito de conhecimento especializado do professor é bastante recente, e o que

seria esse conhecimento especializado está em processo de construção, cabendo à pesquisa

investigá-lo, tratá-lo e sistematizá-lo. Entretanto, isso não significa afirmar que esse

conhecimento especializado só passou a existir após sua conceituação. Elementos desse

conhecimento certamente estão presentes ou subjacentes às práticas cotidianas dos

professores e também em investigações já desenvolvidas. Investigar evidências desse

conhecimento especializado em práticas e pesquisa pretéritas é o desafio do pesquisador que

desenvolve estudos de revisão sistemática, como é o caso do presente estudo em relação às

pesquisas traduzidas em dissertações e teses sobre formação de professores que ensinam

matemática na área da Educação Matemática. Nesse sentido, é pertinente não olhar apenas

para as pesquisas em desenvolvimento, mas também para aquelas já produzidas em tópicos de

nosso interesse, como é o caso da Multiplicação. Para investigar esse tipo de conhecimento

não é suficiente fazer o Estado da Arte do conhecimento. É necessário, principalmente,

desenvolver revisões sistemáticas sobre estudos precedentes, mesmo que eles não tenham

discutido o que significa conhecimento especializado. Este é o caso deste estudo que tem

como objeto de análise os indícios de conhecimento especializado do PEM presente em

pesquisas que tiveram o campo da multiplicação discutido em seus estudos.

No capítulo que segue buscaremos detalhar o processo de desenvolvimento dessa

pesquisa, apresentando os fundamentos metodológicos e os procedimentos metodológicos

utilizados nas duas fases que a compõem: o mapeamento da pesquisa e a metassíntese.

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CAPÍTULO 2 - FUNDAMENTOS E PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

Nossa participação no projeto “Mapeamento e Estado da Arte da Pesquisa

Brasileira sobre o Professor que Ensina Matemática” assim como nas discussões teórico-

metodológicas desenvolvidas em cada uma de suas fases, possibilitou-nos experienciar uma

visão panorâmica dos diferentes focos temáticos relativo às 858 pesquisas (teses e

dissertações), que constituíram o corpus do referido projeto. Considerando a problemática do

presente estudo relativa ao conhecimento especializado do PEM nos anos iniciais, a

experiência vivenciada impulsionou nossa proposta em investigar acerca do tratamento dado a

esse conhecimento nas pesquisas brasileiras, mobilizando-nos, de modo especial, a

desenvolver uma metassíntese de pesquisas.

Neste capítulo, apresentamos os fundamentos metodológicos que subsidiaram esta

pesquisa e os procedimentos metodológicos desenvolvidos nas diferentes etapas do estudo.

2.1 Fundamentos metodológicos da pesquisa

Nos últimos anos22, percebemos um aumento expressivo de pesquisas em

diferentes áreas do conhecimento, dentre elas a Educação Matemática, e, de modo mais

específico, em investigações relativas à formação de professores que ensinam matemática e

seu desenvolvimento profissional (FERREIRA et al., 2000; FIORENTINI et al., 2002;

FIORENTINI; PASSOS; LIMA, 2016; GATTI; BARRETO; ANDRÉ, 2011; MELO, 2013;

PASSOS et al., 2006). Este fato, consequentemente, tem gerado uma produção significativa

de novos conhecimentos sobre as mais variadas temáticas que constituem esse campo de

pesquisa.

No âmbito da Educação Matemática, pesquisa recente sobre o PEM e sua

formação discute a relação entre o aumento do número de pesquisas proporcionalmente ao

aumento do número de programas de pós-graduação na área de Educação e de Ensino, no

período 2000 a 2013, período esse que coincide com esta pesquisa.

Na área da Educação, no período de 2000 a 2013, o número de programas mais que

dobrou, passando de 54 a 121 programas (62 mestrados e doutorados, 50 mestrados

e 9 mestrados profissionais). Na área de Ensino, no mesmo período, os programas

passaram de 7, em 2001, para 104 programas, em 2012, sendo 21 mestrados e

22 Estamos considerando o período a partir do ano de 2006 em que passou a ser obrigatória a disponibilização

online das teses e das dissertações.

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doutorados, 3 somente doutorados, 20 somente mestrados acadêmicos e 60

mestrados profissionais. (FIORENTINI; PASSOS; LIMA, 2016, p. 32)

Nossa afirmação quanto ao aumento significativo do número de pesquisas

relacionados ao PEM e sua formação se apoia na comparação dos resultados dos

mapeamentos apresentados em duas pesquisas realizadas pelo GEPFPM, sendo uma em 2002

e outra mais recente, no ano de 2016. A primeira, que se refere aos 25 anos da pesquisa

brasileira sobre formação de professores que ensinam Matemática (FIORENTINI et al., 2002)

identificou 112 teses e dissertações produzidas no Brasil no período de 1978 a 2002 e, a

segunda, realizada no âmbito do projeto “Mapeamento e Estado da Arte da Pesquisa

Brasileira sobre o Professor que Ensina Matemática” encontrou 858 pesquisas produzidas

entre os anos de 2001 e 2012. Pretendendo, de certa maneira, dar continuidade ao balanço

anterior, foram incluídos os dois últimos anos do levantamento anterior23. Cabe destacar que,

no mapeamento realizado em 2016, as pesquisas não se restringem à formação do professor

que ensina matemática, seja ela inicial, continuada ou ainda, inicial e continuada. Nesta nova

configuração, devido à demanda, à ampliação do número de pesquisas produzidas e ao avanço

do próprio campo, tendo o professor como protagonista, foram consideradas as pesquisas

relacionadas ao professor que ensina matemática e que trazem compreensões sobre o

professor, o seu trabalho e a sua constituição e a identidade profissional:

[...] considerando os estudos mais recentes acerca do professor com impacto em sua

formação ou desenvolvimento profissional, houve a necessidade de ampliação do

foco para “o professor que ensina Matemática”, congregando, assim, não somente

pesquisas voltadas à formação inicial e continuada de professores, mas também

pesquisas que envolvem estudos sobre outros contextos e aspectos (práticas

profissionais, saberes ou conhecimentos docentes, identidade profissional, trajetória

de professores, crenças e concepções de professores) que estão nitidamente

relacionados à vida, à formação e ao desenvolvimento profissional do PEM.

(FIORENTINI; PASSOS; LIMA, 2016, p. 22)

O aumento significativo de trabalhos sobre o PEM, nesses últimos anos, implicou

no aprofundamento de estudos relativos à configuração de um campo de pesquisa

denominado “Professor que ensina Matemática – PEM”,- que o GEPFPM vem realizando,

apoiado nos estudos de Marcelo Garcia (1999), Roldão (2007) e André (2010). Ancorados

nesses estudos, Fiorentini, Passos e Lima (2016) definem o PEM como um campo emergente

de pesquisa e enfatizam que

23 A retomada dos dois últimos anos do mapeamento anterior contribui para contemplar os trabalhos que

porventura possam não ter sido incluídos, especialmente se considerar a disponibilização de trabalhos em

bibliotecas digitais ou no banco de teses da Capes, relativo àquele período.

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embora possamos reconhecer o PEM como um campo investigativo emergente e

promissor de estudo, sua caracterização e sua descrição só são possíveis mediante a

produção de pesquisa nesse campo e a realização de estudos de revisão sistemática

dessa produção acadêmica, como são os estudos nas modalidades do estado da arte

e da metanálise das pesquisas que têm o PEM como objeto de investigação.

(FIORENTINI; PASSOS; LIMA, 2016, p. 21)

Este fato nos leva a destacar duas questões relevantes para a proposta da nossa

pesquisa. A primeira refere-se às inúmeras contribuições trazidas pelas teses e dissertações,

sobretudo no âmbito da comunidade científica. A outra refere-se ao acúmulo das informações,

isto é, dessas inúmeras contribuições, que podem induzir à dispersão do conhecimento

produzido num dado espaço e tempo, sem que elas sejam sintetizadas e discutidas e

promovam avanços nas futuras produções da respectiva área. Estes dois aspectos corroboram

as ideias de Fiorentini, Passos e Lima (2016) quanto à demanda por estudos de revisão

sistemática e a relevância delas.

Assim, em busca de identificar os conhecimentos especializados do professor que

ensina matemática nos anos iniciais, optamos por investigar as dissertações e as teses

brasileiras, produzidas no período de 2001 a 2012 nos diferentes contextos de formação, com

vistas a compreender como esses conhecimentos têm sido concebidos e tratados nas pesquisas

brasileiras. Uma análise aprofundada das pesquisas em tela deve trazer elucidações sobre o

conhecimento especializado do professor que ensina matemática nos anos iniciais,

contribuindo para fomentar debates relativos às demandas que se impõem, neste início de

século/milênio, à formação e ao desenvolvimento profissional dos professores. Entretanto,

devido à amplitude do tema, centramo-nos em investigar o conhecimento especializado sobre

multiplicação do PEM nos primeiros anos de escolarização.

Nesta pesquisa, procuramos aprofundar, em diferentes aspectos do conhecimento

do PEM relativo à multiplicação, uma das operações cujo ensino deve ser pautado no

oferecimento de muitas oportunidades para que os alunos explorem suas próprias estratégias,

caso contrário, o algoritmo tradicional da multiplicação pode constituir-se no mais difícil

dentre aqueles das quatro operações, conforme destaca Van de Walle (2009).

É neste contexto que visamos responder à seguinte questão de pesquisa: que

conhecimentos especializados do professor que ensina multiplicação nos anos iniciais são

concebidos, identificados e tratados pelas pesquisas acadêmicas no Brasil? Em busca de

resposta a essa questão, estabelecemos o seguinte objetivo para a presente pesquisa: descrever

e analisar os indícios de conhecimento especializado do professor para ensinar multiplicação

nos primeiros anos de escolarização, que se encontram subjacentes ou presentes em pesquisas

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brasileiras produzidas nos programas de pós-graduação stricto sensu nas áreas de Educação e

Ensino no período de 2001 a 2012.

Nesse sentido, nossa investigação caracteriza-se como uma pesquisa de revisão

sistemática que, segundo Fiorentini e Lorenzato (2006, p. 71), é uma “modalidade de estudo

que se propõe a realizar análises históricas e/ou revisão de estudos ou processos tendo como

material de análise documentos escritos e/ou produções culturais garimpados a partir de

arquivos e acervos”. Dentre os vários estudos da modalidade de revisão, três foram destacados

pelos autores: a metanálise, os estudos do estado da arte e os estudos tipicamente históricos.

Mais recentemente, o GEPFPM apresentou em um dos maiores eventos de

pesquisa em Educação – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação

(ANPEd) – as diferentes modalidades de pesquisa de revisão sistemática, denominando-as de

“Mapeamento de pesquisas, estado da arte da pesquisa ou estado do conhecimento, metanálise

e metassíntese” (GEPFPM, 2017). Vale destacar a distinção explicitada pelo grupo em

relação ao equívoco que pode ocorrer entre os estudos de revisão bibliográfica e o de revisão

sistemática:

Embora a revisão sistemática utilize como fonte de dados, à semelhança dos

estudos de revisão bibliográfica, a literatura de um determinado campo ou tema de

estudo, ela diferencia-se da revisão bibliográfica por utilizar um processo metódico

e rigoroso de busca e seleção de fontes primárias, de coleta de dados/informações,

de análise/interpretação, e de sistematização e produção de sínteses integradoras das

evidências encontradas. (GEPFPM, 2017, p. 2, grifo dos autores)

As pesquisas de revisão sistemática quase sempre partem do mapeamento,

aprofundando-se nas temáticas de interesse dos pesquisadores que dele se apropriam.

Fiorentini, Passos e Lima (2016, p. 18) compreendem o mapeamento de pesquisas como

sendo um

[...] processo sistemático de levantamento e descrição de informações acerca das

pesquisas produzidas sobre um campo específico de estudo, abrangendo um

determinado espaço (lugar) e período de tempo. Essas informações dizem respeito

aos aspectos físicos dessa produção (descrevendo onde, quando e quantos estudos

foram produzidos ao longo do período e quem foram os autores e participantes dessa

produção), bem como aos seus aspectos teórico-metodológicos e temáticos.

Fazemos o uso do termo “modalidade”, apoiando-nos no estudo sobre revisão

sistemática do GEPFPM e, nesse caso, cabe destacar que essa modalidade de pesquisa tem se

destacado em diferentes campos de pesquisa, dado o crescimento das produções científicas.

Em especial as pesquisas sobre formação de professores têm sido foco de constante discussão

em seminários e congressos, seja no contexto nacional ou internacional, o que implica na

demanda pela sistematização do conhecimento produzido.

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Nesta perspectiva, a proposta deste estudo em compreender o tratamento dado ao

conhecimento especializado do professor para ensinar multiplicação nos primeiros anos de

escolarização demandou, numa primeira etapa, sistematizar as teses e as dissertações

brasileiras, cujas temáticas estivessem relacionadas ao PEM nos primeiros anos de

escolarização produzidas em programas de pós-graduação stricto sensu nas áreas de Educação

e Ensino da Capes no período de 2001 a 2012, e, para isso, procedemos inicialmente ao

mapeamento desses estudos.

Ao considerar as temáticas emergentes dessa sistematização, buscamos identificar

as pesquisas que focalizaram aspectos do conhecimento ou saberes do professor que ensina

matemática nos anos iniciais. Com vistas a aprofundar de modo específico os conhecimentos

relativos à multiplicação, optamos por desenvolver uma metassíntese a partir de

especificamente três teses de doutorado, desenvolvidas em contextos de formação inicial ou

continuada.

Segundo Fiorentini e Coelho (2012), a metassíntese representa uma tentativa

sistemática e rigorosa de realização de leituras de segunda ordem acerca das interpretações

encontradas nos estudos qualitativos (de campo) de primeira ordem. Para os autores, essa

modalidade de revisão sistemática envolve duas etapas.

A primeira delas consiste na elaboração de sínteses interpretativas de cada um

dos estudos, extraindo evidências qualitativas acerca do problema “o fenômeno investigado”.

Na segunda etapa, o pesquisador busca confrontar ou contrastar as evidências produzidas na

síntese interpretativa, relacionando-as e produzindo uma síntese integrativa ou

problematizadora do fenômeno investigado.

Mobilizados em identificar aspectos do conhecimento especializado do PEM nos

anos iniciais em pesquisas produzidas em outra perspectiva, que não a do conhecimento

especializado, buscamos apoio nos trabalhos de Coelho (2017), Fiorentini e Coelho (2012),

Fiorentini e Crecci (2017), GEPFPM (2017), que realizaram estudos na modalidade

metassíntese.

A metassíntese, produzida por Fiorentini e Coelho (2012), teve por objetivo

compreender o processo de aprendizagem profissional decorrente da participação do

professor-pesquisador em uma comunidade investigativa. Inicialmente realizaram um

levantamento de 15 pesquisas acadêmicas, cujos autores eram PEM na escola básica, além de

pertencer a um grupo de pesquisa também buscavam realizar discussões de pesquisa sobre a

prática numa perspectiva colaborativa. Realizada a leitura desses trabalhos, os autores

escolheram para a realização de um primeiro ensaio de metassíntese duas dissertações de

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mestrado que investigaram o problema relacionado à exclusão escolar dos alunos com

dificuldades em matemáticas e as alternativas para enfrentá-lo. Nesse trabalho, Fiorentini e

Coelho (2012) interpretaram e descreveram os indícios de aprendizagem profissional das

professoras-pesquisadoras, mediante análise/interpretação do conteúdo dos textos

dissertativos e produziram uma metassíntese dessas interpretações.

Essa modalidade de revisão sistemática vem sendo discutida por pesquisadores

em diferentes áreas de investigação, e a partir dos estudos de Schreiber et al. (1997), Godfrey

e Denby (2006, p. 32, tradução nossa) apresentam a seguinte compreensão dada ao uso do

termo metassíntese qualitativa, que, para eles:

Metassíntese qualitativa é um termo que tem sido usado para descrever o amálgama

de estudos qualitativos individuais com o objetivo de procurar entender e explicar as

descobertas de um grupo de estudos afins. Não se trata de uma revisão integrada de

literatura qualitativa sobre um tema, nem de uma análise secundária de dados

primários. É uma análise das descobertas dos estudos selecionados incluídos na base

de suas relevâncias para a questão de pesquisa.24

Um outro estudo de metassíntese, produzido por Fiorentini e Crecci (2017)

investigou o modo como as pesquisas brasileiras, no contexto da formação continuada,

concebem e investigam os saberes e os conhecimentos profissionais de PEM e sua relação

com as práticas profissionais. Ao finalizar o mapeamento das 46 teses de doutorado sobre

formação continuada produzidas entre 2001 e 2012, Fiorentini e Crecci (2017) identificaram

13 estudos com foco investigativo nos conhecimentos e nos saberes profissionais do professor

que ensina matemática, constituindo assim, o corpus da revisão sistemática com 13 estudos.

Elaboraram uma síntese interpretativa de cada um deles. As sínteses resultantes foram

organizadas em três grupos de trabalhos afins: enquanto o primeiro grupo constituiu-se de

pesquisas com foco nos saberes/conhecimentos docentes relativos à Educação Estatística; o

segundo grupo, de pesquisas centradas nos conhecimentos docentes relativos ao ensino de

temas específicos de matemática; e o terceiro grupo em três teses que não focaram um

conteúdo específico em seu processo investigativo. Foi produzida uma síntese integrativa de

cada um desses grupos e, para finalizar, realizaram um balanço em que discutem os principais

resultados obtidos, evidenciando possibilidades, limites e desafios da pesquisa acadêmica

acerca da temática investigada.

24 Qualitative meta-synthesis is a term that has been used to refer to the amalgamation of individual qualitative

studies with the aim of seeking to understand and explain the findings of a group of similar studies. It is not an

integrated review of qualitative literature on a topic, nor a secondary analysis of primary data. It is an analysis

of the findings of the included studies selected on the basis of their relevance to the research question

(GODFREY; DENBY, 2006, p. 32).

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Esses autores apontam para a necessidade de realização de mais estudos de

revisão sistemática na modalidade de metassíntese e destacam algumas de suas possibilidades.

Uma delas relaciona-se à dificuldade de realizar uma metassíntese com muitos trabalhos. Este

tipo de estudo requer leituras e interpretações atentas e circunstanciadas por parte do

pesquisador, fato que pode indicar ser preferível realizar uma metassíntese de dois ou três

trabalhos (ou até de um só trabalho) em detrimento de uma quantidade superior, por exemplo,

a dez estudos (FIORENTINI; CRECCI, 2017).

Nesta pesquisa, assumimos o estudo de metassíntese na perspectiva do GEPFPM

(2017, p. 12), que enfatiza o olhar para o fenômeno investigado a partir de uma outra

perspectiva, especificando o objetivo dessa modalidade de pesquisa:

O objetivo da metassíntese é adquirir maior compreensão e atingir um nível

conceitual ou de desenvolvimento teórico acerca de um tema, problema ou

fenômeno investigado, obtendo um resultado, isto é, uma síntese que vai além do

que foi obtido pelos estudos primários, produzindo novas compreensões e

perspectivas.

Definidos os objetivos e assumindo a metassíntese de pesquisas como a

modalidade de revisão sistemática a ser utilizada nesta tese, no próximo item descrevemos os

procedimentos utilizados na seleção das dissertações e das teses que tomaram como foco de

investigação o professor que ensina matemática nos primeiros anos de escolarização.

2.2 Procedimentos metodológicos

A significativa produção de conhecimento gerada pelas pesquisas acadêmicas

relacionadas à formação de professores evidencia a importância do tema (GATTI;

BARRETO; ANDRÉ, 2011). Entretanto, para perceber os avanços e as carências dessa

produção, este fato também parece apontar para a demanda por estudos que desenvolvam a

sistematização desse conhecimento. Com essa finalidade, os estudos de revisão sistemática

quase sempre partem do mapeamento dessas pesquisas, que, dentre outros aspectos, visa

organizar as principais temáticas de interesse dos pesquisadores envolvidos, o que permite

revelar não apenas temas emergentes, mas também os carentes por aprofundamento teórico-

metodológico.

Assim sendo, o processo experienciado pela pesquisadora desta tese, no âmbito do

Projeto Universal que identificou e mapeou 858 pesquisas (teses e dissertações)25 sobre o

PEM produzidas nos programas de Pós-Graduação stricto sensu das áreas de Educação e

25 O corpus da referida pesquisa está disponibilizado no link https://www.fe.unicamp.br/pf-

fe/pf/subportais/biblioteca/fev-2017/e-book-mapeamento-pesquisa-pem.pdf a toda comunidade acadêmica.

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Ensino, no período de 2001 a 2012, proporcionou uma maior compreensão das modalidades

de pesquisas envolvendo revisões sistemáticas. Em suas duas fases, o projeto foi desenvolvido

numa perspectiva colaborativa pelos membros do GEPFPM que, dentre outras atividades,

oportunizou estudos e debates realizados em três seminários de discussão, que envolveram a

participação de 38 pesquisadores que atuam com a linha de formação de professores,

abrangendo as cinco regiões brasileiras.

A primeira fase constituiu-se prioritariamente do fichamento26 e do mapeamento

das teses e das dissertações relacionadas ao PEM, e sua formação que foi subdividida em sete

regionais do País27. A partir desse mapeamento produzido, na segunda foram realizados

estudos descritivos e analíticos de temáticas e problemáticas específicas do corpus geral desse

mapeamento. Dentre outras atividades, o projeto oportunizou estudos e debates realizados em

três seminários de discussão.

No primeiro seminário realizado em 2014, a coordenação do Projeto promoveu a

interlocução entre a equipe participante e dois pesquisadores externos, Dra. Paola Sztajn

(Estados Unidos) e Prof. Dr. Sílvio Gamboa (Unicamp). Esses especialistas em Mapeamento

e Estado da Arte da pesquisa puderam contribuir para uma maior aproximação dos

pesquisadores participantes em relação ao objeto de estudo assim como para a discussão da

versão inicial proposta pelo GEPFPM do formulário para o fichamento das teses e das

dissertações.

Marcando o fechamento da primeira fase do Projeto no segundo seminário

realizado em 2015, cada uma das regionais apresentou a primeira versão do mapeamento

descritivo local, os quais receberam avaliações e contribuições de um leitor crítico de outra

regional e de duas pesquisadoras externas: Profa. Dra. Maria do Céu Roldão (Universidade

Católica Portuguesa, Portugal) e a Profa. Dra. Marli André (PUC-SP). Nesse Seminário foi

dado o início à segunda fase do Projeto, ou seja, as discussões e os planejamentos das

propostas de estudos descritivos temáticos e específicos relativos a revisões sistemáticas sobre

o PEM a ser desenvolvidos pelos pesquisadores participantes.

Por fim, no terceiro seminário ocorrido em 2016 foi apresentada uma versão

inicial dos estudos descritivos28 produzidos sobre o PEM. Tais estudos foram apreciados

pelos pesquisadores externos Profa. Dra. Lurdes Serrazina (Instituto Politécnico de Lisboa -

26 O formulário desse fichamento foi produzido no âmbito do Projeto “Mapeamento e estado da arte da pesquisa

brasileira sobre o professor que ensina Matemática” e encontra-se disponibilizado no Apêndice 3. 27Centro-Oeste, Nordeste, Norte, Sul, Minas Gerais, Rio de Janeiro/Espírito Santo e São Paulo.

28 Estudos que foram predefinidos no II Seminário.

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Portugal) e Profa. Laurizete Ferraguti Passos (PUC-SP), as quais ofereceram contribuições

para o aprimoramento deles em vista de futuras publicações.

Tais estudos e debates foram essenciais para o desenvolvimento e o

aprofundamento do estudo relativo à revisão sistemática da presente pesquisa de doutorado,

mobilizando-nos a investigar sobre o conhecimento especializado a partir das pesquisas

emergentes desse projeto, restringindo-nos às teses e às dissertações relativas ao PEM nos

anos iniciais.

Na condição de participante e secretária do Projeto Universal, estivemos imersos

nesse processo e, então, estabelecemos um primeiro recorte que nos permitisse identificar

todas as pesquisas relacionadas ao PEM nos anos iniciais desenvolvidas nos diferentes

contextos formativos, assim como as pesquisas relativas ao PEM nos anos iniciais, que,

embora não centrassem suas análises nos processos de formação inicial e/ou continuada,

investigaram outros aspectos do PEM nos anos iniciais (FIORENTINI; PASSOS; LIMA,

2016).

Considerando nosso interesse em investigar o conhecimento especializado do

PEM nos anos iniciais, de modo especial no âmbito da multiplicação, inicialmente

procedemos a um mapeamento das pesquisas que envolveram esses professores no período de

2001 a 2012. Este mapeamento permitiu que tivéssemos uma visão panorâmica das

dissertações e das teses relativas ao PEM nos anos iniciais produzidas nesse período. Isso

posto, ao focar no conhecimento especializado do PEM nos anos iniciais, encontramos em

Carrillo et al., 2013 e em Carrillo, 2014 uma possibilidade para análise dos trabalhos à luz do

modelo Mathematics Teacher’s Specialized Knowledge – MTSK. Desse modo ressaltamos

que, embora o corpus contemple estudos produzidos entre os anos de 2001 e 2012, a

teorização de nossas análises é de 2013. Reconheço que, apesar de ter vindo ao encontro das

minhas necessidades epistemológicas, analisar estudos produzidos entre 2001 e 2012 a partir

das lentes do MTSK tornou-se um trabalho desafiador, uma vez que só, recentemente, ao final

de 2016 havia tomado conhecimento dessa teoria, além do que se trata de uma teorização

posterior às utilizadas nos estudos produzidos naquele período.

A seguir apresentamos um esquema das principais etapas do mapeamento relativo

ao PEM nos anos iniciais. Inicialmente partimos do mapeamento geral, de um universo de

858 trabalhos, até definirmos o nosso corpus de três teses de doutorado, dentre as quais

realizamos um estudo metassintético. Essa sistematização se realizou em quatro etapas,

conforme elucida a Figura1.

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Figura 1- Etapas desenvolvidas para a definição do corpus do estudo metassintético

Fonte: Elaborada pela pesquisadora

O esquema sintetiza as quatro etapas realizadas nesta pesquisa, que vai desde a

sistematização das 229 pesquisas sobre o PEM nos anos iniciais até a seleção das três teses de

doutorado metassintetizadas no capítulo 4, que são descritas a seguir.

2.2.1 PEM nos anos iniciais: primeira etapa da seleção das pesquisas

Com o intuito de obter uma visão panorâmica da produção das teses e das

dissertações brasileiras sobre o PEM nos anos iniciais, realizamos um mapeamento daquelas

produzidas nos programas de Pós-Graduação stricto sensu das áreas de Educação e Ensino, no

período de 2001 a 2012. Para isso, efetuamos a busca no banco de dados elaborado,

coletivamente, pelos participantes do Projeto Universal. Esse banco de dados consistia em

uma planilha do programa Excel, que continha as principais informações das 858 pesquisas

organizadas nos seguintes campos:

Regional

Instituição

Modalidade/Nível: Mestrado Acadêmico (MA), Mestrado

Profissional (MP), Doutorado (DO)

Ano (Defesa)

Referência (Cf ABNT)

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Título Pesquisa

Autor

Orientador

Link do fichamento

Link do trabalho completo.

Assim, para selecionar as teses e as dissertações relacionadas de modo específico

ao PEM nos anos iniciais, procedemos à análise desse Banco de Dados em três momentos: (a)

busca por títulos contendo termos específicos, (b) (re)leitura dos títulos, (c) leitura dos

resumos.

(a) Busca por termos específicos no título

No primeiro momento, utilizamos o recurso de filtro do Excel para realizar, no

título das pesquisas disponibilizadas no acervo do Projeto Universal, uma busca por termos

que acreditamos contemplar os aspectos relativo ao PEM nos anos iniciais: anos iniciais,

séries iniciais29, polivalente, pedagogo(a), pedagogia, formação, professor generalista,

primeiros anos do Ensino Fundamental, professor não especialista. Nesse momento, cada

estudo identificado com pelo menos um desses termos teve sua linha destacada e, a princípio,

foram pré-selecionados como possíveis pesquisas a compor o mapeamento deste estudo.

De modo semelhante a Melo (2013), decidimos não nos limitar apenas aos termos

citados anteriormente, para identificar os estudos que nos interessavam e, desse modo

consideramos pertinente analisar, num segundo momento, o título dos trabalhos que não

tiveram suas linhas destacadas no momento anterior.

(b) (Re)leitura dos títulos

A (re)leitura dos títulos realizada no segundo momento, justifica-se pela

percepção da pesquisadora em relação a alguns títulos de pesquisas, que, embora não

contivessem os termos definidos a priori, ainda assim poderiam ter o PEM nos anos iniciais

como foco temático e, portanto, precisariam ser incluídas no mapeamento inicial desta

pesquisa. Trazemos como exemplo as seguintes investigações intituladas: “Professores em

contexto formativo: um estudo do processo de mudanças de concepções sobre o ensino da

matemática” ou “Aprendendo e ensinando o sistema de numeração decimal: uma contribuição

29Ao considerarmos o intervalo de tempo das pesquisas analisadas, salientamos que houve uma mudança no

sistema educacional, especialmente no Ensino Fundamental, de oito séries para nove anos. Por isso os dois

termos “séries” e “anos” iniciais foram contemplados na busca.

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à prática pedagógica do professor”. Ambas não continham os termos definidos a priori,

entretanto essas duas pesquisas envolviam o PEM dos anos iniciais e, portanto, foram

incluídas como possíveis estudos relativos ao foco temático.

Ao final dessa primeira seleção, foram identificados 244 trabalhos com

possibilidades de pertencimento deste mapeamento. A expressão “com possibilidades de

pertencimento” justifica-se pelo fato de que mesmo alguns títulos contendo determinados

termos, como por exemplo “formação”, nem sempre se referiam a estudos relacionados ao

PEM nos anos iniciais. Um desses casos ocorreu com a pesquisa intitulada “O estágio na

Licenciatura em Matemática: um espaço de formação compartilhada de professores”

(ANDRADE, 2012) que, tendo por foco a aprendizagem na docência, objetivou analisar as

potencialidades de um trabalho compartilhado entre professores de Matemática e futuros

professores. Nessa pesquisa o termo “formação” que consta do título relaciona-se com o

futuro professor de Matemática30 e, deste modo, por não contemplar o PEM nos anos iniciais,

seria posteriormente excluída do mapeamento.

(c) Leitura dos resumos

Identificadas as possíveis pesquisas relacionadas ao PEM nos anos iniciais, no

terceiro momento procedemos à leitura dos resumos de cada um dos 244 estudos,

confrontando com os fichamentos produzidos em uma das fases do Projeto Universal por seus

integrantes. Em alguns casos o confronto entre esses dois documentos (fichamento e resumo)

relativo às pesquisas foi salutar para definir sua pertença ao conjunto de trabalhos, visto que

nem sempre o resumo apresentava as informações necessárias para definir a sua inserção.

Ao fim desse processo de releitura documental, identificamos 229 pesquisas que

constituíram essa etapa de seleção das pesquisas relativa ao PEM nos anos iniciais, cuja

caracterização descreveremos na sequência.

Caracterização da produção acadêmica sobre o PEM nos anos iniciais (2001-2012)

A partir do levantamento realizado, encontramos 229 trabalhos, ou seja, quase

27% das pesquisas brasileiras produzidas relativas ao PEM nos primeiros anos de

30 Considerado professor especialista de Matemática, que normalmente, leciona a disciplina de matemática na

Educação Básica do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental ou no Ensino Médio.

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escolarização, sendo 45 teses de doutorado, 161 dissertações de mestrado acadêmico e 23

dissertações de mestrado profissional, conforme pode ser observado na Figura 2.

Figura 2 - Distribuição das teses e das dissertações brasileiras sobre PEM nos anos

iniciais e sua formação, produzidas no período de 2001 a 2012

Fonte: Elaborada pela pesquisadora

Conforme a Figura 2, as teses de doutorado constituem aproximadamente 20%

das pesquisas brasileiras sobre o PEM nos primeiros anos de escolarização, enquanto as

dissertações equivalem a pouco mais 80% das pesquisas, dessas, 87,5% produzidas no âmbito

do Mestrado Acadêmico e 12,5% no Mestrado Profissional. Cabe destacar as regiões

brasileiras em que se deu essa produção, para que possamos identificar não somente as

regiões em que há escassez de pesquisas relativas aos anos iniciais do PEM, mas também

onde há uma maior concentração dessas pesquisas.

O Quadro 1 apresenta uma síntese da distribuição das 229 pesquisas em que

organizamos os estudos segundo a modalidade/nível e ano em que foram produzidas as

pesquisas relativas ao Professor que ensina matemática nos anos iniciais de escolarização.

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Quadro 1- Distribuição anual, por modalidade, das pesquisas sobre o PEM nos anos iniciais

produzidas de 2001 a 2012

Ano Sul Centro-Oeste Sudeste Nordeste Norte

Total

%

MA MP DO MA MP DO MA MP DO MA MP DO MA MP DO

2001 - - - - - - 1 - - - - - - - - 1 0.44

2002 - - - - - - 2 - 1 - - - - - - 3 1.31

2003 3 - - - - - 3 - 2 - - - - - - 8 3.49

2004 - - - - - - 2 - 1 - - - 1 - - 4 1.75

2005 1 - - 1 - - 1 - 3 - 1 - - - - 7 3.06

2006 1 - - 3 - - 5 2 1 3 - - - - - 15 6.55

2007 3 - 1 2 - - 6 3 4 3 - 1 1 - - 24 10.48

2008 4 - 1 2 - - 9 4 3 4 - 1 1 - - 29 12.66

2009 9 - 2 7 - 1 8 1 4 1 - 2 1 - - 36 15.72

2010 7 - - 3 - - 9 4 1 3 - - 1 - - 28 12.23

2011 1 - 1 1 - - 7 2 4 8 2 2 - - - 28 12.23

2012 6 1 1 3 - 1 15 3 6 8 - 1 1 - - 46 20.09

Sub 35 1 6 22 - 2 68 19 30 30 3 7 6 - - 229 100

Total 42 24 117 40 6 229 100

Fonte: Organizado pela autora desta pesquisa.

Os dados apresentados no Quadro 1 evidenciam dois aspectos que merecem ser

destacados. O primeiro deles refere-se ao ínfimo número de pesquisas produzidas sobre o

PEM nos anos iniciais no período de 2001 a 2005, totalizando 23 pesquisas em cinco anos,

indicando assim uma média inferior a cinco pesquisas/ano. O segundo aspecto refere-se ao

crescimento da produção de pesquisas sobre o PEM nos anos iniciais no período coincidente

ao recorte temporal dessa pesquisa, visto que, em 2011, apenas uma pesquisa fora produzida e

no ano de 2012 houve um salto para 46 trabalhos, o que representa 60% do total dessas

pesquisas, ou seja, 139 foram defendidas nos quatro últimos anos desse mapeamento (2009 –

2012).

Em relação às dissertações de mestrado, podemos evidenciar a concentração de

pesquisas na região sudeste, com 87 trabalhos produzidos, ou seja, mais de 47% das

dissertações brasileiras sobre o PEM nos anos iniciais, sendo 68 delas na modalidade

acadêmico e 19 na modalidade profissional. O Sul foi a segunda região com maior número de

dissertações (36) produzidas: 35 MA e um MP. Na sequência, a região nordeste com 33

dissertações (30 MA e 3 MP); a região centro-oeste com 22 dissertações de mestrado

acadêmico, e a região norte com 6 dissertações de mestrado acadêmico.

A primeira pesquisa de doutorado identificada sobre o professor que ensina

matemática nos anos iniciais deste período foi produzida na região sudeste no ano de 2001.

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Embora não seja proposta desse trabalho fazer um histórico dos programas de pós-graduação,

cabe salientar que essa foi a região em que surgiram os primeiros programas de doutorado no

País (FIORENTINI, 1994; FIORENTINI; PASSOS; LIMA, 2016). Outro aspecto a ser

observado é que 30 teses de doutorado foram produzidas na região sudeste, o que equivale a

65% do total de teses produzidas no período, sendo as outras 16 distribuídas entre o Sul, o

Nordeste e o Centro-Oeste.

Vários outros aspectos poderiam ser descritos acerca desse conjunto de pesquisas,

entretanto, para não distanciarmos do foco do nosso objeto de estudo – o conhecimento

especializado do PEM no âmbito da multiplicação –, a seguir apresentamos o caminho

percorrido que nos conduziram até o processo metassintético elaborado nesta pesquisa.

2.2.2 Focos temáticos das pesquisas sobre o PEM nos anos iniciais: um olhar em busca do

conhecimento

Ao realizar uma primeira leitura dos resumos das 229 pesquisas, observamos que

seus focos de estudo se aproximavam daqueles elencados por Fiorentini, Passos e Lima

(2016) e Nacarato et al. (2016), ao discutirem, respectivamente, o PEM como campo de

estudo e as tendências temáticas da pesquisa brasileira que tem o PEM como campo de estudo

decorrentes do Projeto Universal. Assim sendo, buscamos apoio nos focos investigativos

indicados e discutidos nessas pesquisas, ressaltando, porém, que, tendo em vista as

especificidades das pesquisas brasileiras sobre o PEM nos anos iniciais, por vezes eram

necessárias algumas adaptações para proceder ao mapeamento desses 229 estudos.

A princípio, organizamos as 229 pesquisas a partir dos focos indicados no

fichamento produzido no âmbito do Projeto Universal. A partir dessa organização, fizemos a

leitura dos resumos das pesquisas integrantes de cada um dos focos e sempre que

observávamos aproximações das pesquisas em outros focos além daquele já indicado no

fichamento, optamos por descrevê-las nos dois e, por vezes, nos três dos focos dos quais mais

se aproximavam, o que, em nosso entendimento, permitiria que o estudo possa ser

identificado e acessível aos pesquisadores que a procuram.

Novamente, para que não nos distanciemos do nosso objeto de estudo – o

conhecimento especializado sobre multiplicação do PEM nos anos iniciais –, apresentamos

os sete focos de estudo em que mapeamos o conjunto das 229 pesquisas relacionadas ao PEM

nos anos iniciais e sua respectiva quantidade de trabalhos. A somatória da quantidade de

trabalhos em cada um dos focos ultrapassou a quantidade de 229 pesquisas, uma vez que

alguns deles haviam sido relacionados em mais de um foco de estudo.

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(a) Saberes docentes e Conhecimentos do PEM nos anos iniciais – 95 pesquisas.

(b) Aprendizagem docente e desenvolvimento profissional do PEM nos anos

iniciais – 78 pesquisas.

(c) Atitudes, crenças, concepções e representação do PEM nos anos iniciais – 57

pesquisas.

(d) Cursos, licenciaturas e programas de formação inicial relativos ao PEM nos

anos iniciais – 14 pesquisas.

(e) História na/da formação do PEM nos anos iniciais – 13 pesquisas.

(f) Características e condições do trabalho docente, inclusive saúde ou estresse do

PEM nos anos iniciais – 5 pesquisas.

(g) Identidade e a profissionalidade docente do PEM nos anos iniciais – 3

pesquisas.

Considerando o nosso interesse em investigar o conhecimento especializado do

PEM no âmbito da multiplicação e a identificação nesta etapa de 95 pesquisas relacionadas ao

foco (a) Saberes docentes e conhecimento do PEM nos anos iniciais, isso nos a constatar a

demanda por um novo recorte, de modo a viabilizar o desenvolvimento de uma metassíntese

com poucos estudos. No próximo item apresentamos os procedimentos utilizados na etapa

final para chegar \à seleção das três teses.

2.2.3 Saberes e conhecimento do PEM nos anos iniciais: uma aproximação das teses em

busca da multiplicação

Em relação à modalidade das 95 pesquisas selecionadas na etapa anterior,

identificamos 71 estudos de mestrado e 24 de doutorado. Assim, ao identificar 24 teses de

doutorado relacionadas ao foco Saberes docentes e conhecimentos do PEM nos anos iniciais,

optamos por selecionar, dentre elas, aquelas que tratassem, de modo mais específico, dos

diferentes aspectos do conhecimento matemático31 do PEM nos anos iniciais. Esta opção

ancora-se na hipótese de que o maior tempo destinado aos estudos de doutorado32 pode

proporcionar às investigações realizadas um embasamento teórico e analítico mais profundo

e, portanto, produzir resultados e compreensões que atendam aos propósitos da presente

pesquisa, no sentido de identificar conhecimentos especializados para ensinar multiplicação

nos anos iniciais de escolarização.

Dessa forma, com o intuito de localizar as teses de nosso interesse, revisitamos

cada um dos 24 resumos e, quando necessário, recorríamos aos trabalhos completos.

31 Independentemente do conteúdo/tema matemático. 32 O que indica um maior tempo para o desenvolvimento da pesquisa.

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52

Nessa etapa, identificamos 12 teses, cujas investigações desenvolvidas em

diferentes contextos de formação33 apresentavam discussões ou análises relativas a

determinados temas matemáticos que, por proximidade de assunto, foram organizadas em

quatro subgrupos, sendo esses apresentados no momento do exame de qualificação, como

possíveis estudos para aprofundamento. O Quadro 2 apresenta as teses selecionadas nessa

etapa.

Quadro 2 - Distribuição das teses identificadas no foco Saberes docentes e conhecimentos do PEM nos

anos iniciais, por temas matemáticos.

Tema Ano Autor Instituição Título

Sis

tem

a d

e n

um

eraçã

o d

ecim

al

e

Oper

açõ

es

2009 MEGID, M. A. B. A. Unicamp

Formação inicial de professoras mediada pela

escrita e pela análise de narrativas sobre

operações numéricas

2009 SANTOS, M. B. Q.

C. P. dos PUC-SP Ensino da Matemática em cursos de Pedagogia: a

formação do professor polivalente

2009 SILVA, S. A. F. da UFES Aprendizagens de professores num grupo de

estudos sobre Matemática nas séries iniciais

2011 FREIRE, R. S. UFC Desenvolvimento de conceitos algébricos por

professores dos anos iniciais do Ensino

Fundamental

2012 AZEVEDO, P. D. de

UFSCar

O conhecimento matemático na Educação Infantil:

o movimento de um grupo de professoras em

processo de formação continuada

2012 MERLINI, V. L.

PUC-SP

As potencialidades de um processo formativo

para a reflexão na e sobre a prática de uma

professora das séries iniciais: um estudo de caso

2012 SANTOS, A. dos PUC-SP Processos de formação colaborativa com foco no

Campo conceitual Multiplicativo: um caminho

possível com professores polivalentes

Geo

met

ria

2009 SILVA, S. A. F. da UFES Aprendizagens de professores num grupo de

estudos sobre Matemática nas séries iniciais

2011 LAMONATO, M. UFSCar A exploração-investigação Matemática:

potencialidades na formação contínua de

professores

2012 AZEVEDO, P. D. de

UFSCar

O conhecimento matemático na Educação Infantil:

o movimento de um grupo de professoras em

processo de formação continuada

Est

atí

stic

a

2003 LOPES, C. A. E.

Unicamp

O conhecimento profissional dos professores e suas

relações com estatística e probabilidade na

Educação Infantil

2011 LEMOS, M. P. F.

PUC-SP

O desenvolvimento profissional de professores do

1º ao 5º ano do Ensino Fundamental em um

processo de formação para o ensino e a

aprendizagem das medidas de tendência central

2011 RODRIGUES, J. M.

S. UFPR

A probabilidade como componente curricular na

formação Matemática inicial de professores

polivalentes

2012 AZEVEDO, P. D. de

UFSCar

O conhecimento matemático na Educação Infantil:

o movimento de um grupo de professoras em

processo de formação continuada

33 Sendo duas delas desenvolvidas a partir de um mesmo processo formativo (Merlini, 2012 e Santos, 2012)

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53

Med

idas

2008 CUNHA, Micheline

Riscallah Kanaan da Unicamp

Estudo das elaborações dos professores sobre o

conceito de medida em atividades de ensino

Fonte: Organizado pela pesquisadora

A partir desse recorte, realizamos uma leitura transversal das teses que integravam

o tema Sistema de numeração decimal e Operações.

Tendo em vista nosso objetivo de descrever e analisar os indícios de

conhecimento especializado do professor para ensinar multiplicação nos primeiros anos de

escolarização e que se encontram subjacentes ou presentes em pesquisas brasileiras

produzidas nos programas de pós-graduação stricto sensu nas áreas de Educação e Ensino,

no período de 2001 a 2012, optamos por analisar com maior profundidade três teses de

doutorado que abordaram este conteúdo. Duas delas, a de Merlini (2012) e Silva (2009) foram

desenvolvidas em contexto de formação continuada; e a de Megid (2009), em contexto da

formação inicial.

Embora a tese de Santos (2012) também apresente contribuições para o estudo do

conhecimento especializado do PEM sobre multiplicação, escolhemos, devido ao reduzido

espaço-tempo que dispúnhamos para o desenvolvimento da pesquisa de doutorado, priorizar a

revisão sistemática de três teses que tivessem sido desenvolvidas a partir de processos

formativos diferenciados.

Deste modo, definidas as três teses que integram nosso estudo metassintético –

Megid (2009), Silva (2009) e Merlini (2012) – passamos, a seguir, a descrever os

procedimentos metodológicos utilizados no desenvolvimento da metassíntese.

Procedimentos de análise das três teses constituintes do corpus da metassíntese

Para proceder à síntese interpretativa, primeiramente realizamos uma leitura na

íntegra de cada uma das teses, a partir da qual identificamos os principais elementos

considerados contributivos para compreender o conhecimento especializado do PEM nos anos

iniciais em relação à multiplicação. Na sequência, revisitamos cada uma das teses, elaborando

um fichamento analítico34, levando em conta os principais aspectos relativos:

à trajetória da pesquisadora;

34 A elaboração dos fichamentos analíticos e a produção da síntese interpretativa seguiram a mesma ordem das

teses conforme indicado no Quadro 2: Iniciamos por Megid (2009) seguida da de Silva (2009) e, ao final, a de

Merlini (2012).

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ao caminho e aos procedimentos metodológicos;

às principais bases teóricas;

ao processo formativo investigado (tarefas, temas matemáticos abordados,

episódios relativos à multiplicação, resultados relativos à multiplicação,

dentre outros);

aos excertos sobre multiplicação.

Ao finalizar o fichamento analítico de cada tese, foi produzida sua síntese

interpretativa que, de modo geral, inicialmente tencionou contextualizar a pesquisa,

envolvendo os principais aspectos metodológicos da investigação e do processo formativo,

além de uma breve trajetória das pesquisadoras-formadoras.

Enquanto as sínteses interpretativas das teses de Megid (2009) e Silva (2009)

tenham sido distribuídas em quatro tópicos35, a de Merlini (2012) foi subdividida em apenas

dois. Isso se justifica uma vez que, embora já tivéssemos elaborado o fichamento analítico da

tese de Merlini, não havíamos produzido sua síntese interpretativa na data proposta para o

depósito da versão a ser enviada à banca de defesa desta pesquisa. Apesar de compreender a

relevância da pesquisa de Merlini (2012) para o nosso estudo, o tempo demandado nas

análises e nas sínteses interpretativas das duas primeiras teses foi maior que o previsto, o que,

de certa forma, influenciou na redução do tempo destinado à produção da síntese

interpretativa da terceira tese.

Entretanto, foi sugerida por alguns integrantes da banca de defesa, a pertinência

da inclusão do estudo de Merlini (2012) no corpus de análise da pesquisa, tendo em vista que

ela traz outros elementos do conhecimento especializado do professor que não estavam

presentes nos dois estudos anteriores. Assim sendo, tendo em vista o prazo de 60 dias para o

depósito final da Tese, produzimos a síntese interpretativa da tese de Merlini, centrando foco

em dois aspectos: no processo metodológico da investigação e no processo formativo,

destacando o conhecimento especializado para ensinar multiplicação. Após finalizar a síntese

interpretativa de Merlini (2012), revisitamos as sínteses interpretativas de Megid (2009) e de

Silva (2009) e passamos a produzir uma síntese integrativa dos três estudos.

Ao iniciar as sínteses interpretativas, a princípio pensamos em denominar os itens

relativos a cada uma das teses de modo a identificar as características marcantes utilizadas em

35 Trajetória da pesquisadora e conexões com o problema investigado; a estrutura e o caminho da pesquisa;

alguns aspectos metodológicos da investigação e o processo formativo; Conhecimento especializado para ensinar

multiplicação: alguns indícios identificados na Tese.

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suas pesquisas propondo-nos, por exemplo, a intitulá-las de Percursos narrativos e

explorações matemáticas do estudo de Megid (2009); O caminhar e as metáforas de Silva

(2009); e, Reflexões da professora Maria no estudo de Merlini (2012). Entretanto ao

apresentar tal proposta como possível caminho para a estrutura da síntese interpretativa ao

orientador e, em interlocução, aos pares do grupo PraPEM, foi possível perceber que esse

talvez não fosse um bom caminho. Entendemos que tal estrutura, se por um lado poderia

proporcionar uma identidade a cada uma das teses, por outro dificultaria ao leitor perceber as

convergências ou as divergências entre os mesmos aspectos das diferentes teses.

Isso posto, cada uma das sínteses interpretativas foi identificada por:

Síntese interpretativa do estudo de Megid (2009).

Síntese interpretativa do estudo de Silva (2009).

Síntese interpretativa do estudo de Merlini (2012).

Assim, apoiados em Fiorentini e Crecci (2017), ressaltamos que essas sínteses

interpretativas não se constituem de resumos, mas de uma elaboração construída pela

pesquisadora a partir da análise e da interpretação de cada uma das teses, evidenciando os

principais aspectos que interessam ao processo de metassíntese desta pesquisa.

Para a elaboração das sínteses interpretativas, criamos nossas próprias

interpretações a partir de excertos36 relativos a diferentes aspectos sobre o conhecimento do

PEM nos anos iniciais sobre multiplicação, identificados em cada uma das teses.

Finalizadas as sínteses interpretativas das três teses, procedemos à produção da

síntese integrativa, onde procuramos evidenciar os conhecimentos especializados para o

ensino de multiplicação em busca de produzir uma compreensão acerca do tratamento dado

por pesquisas brasileiras no período de 2001 a 2012.

No próximo capítulo, trazemos uma discussão teórica acerca do ensino de

multiplicação e do conhecimento especializado do professor com um olhar na multiplicação, a

qual contribuiu sobremaneira para identificar o conhecimento especializado do PEM nos anos

iniciais sobre multiplicação nas teses metassintetizadas.

36 Pré-selecionados no decorrer da elaboração do fichamento analítico.

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CAPÍTULO 3 - CONHECIMENTO ESPECIALIZADO DO PROFESSOR QUE

ENSINA MATEMÁTICA: um olhar para a multiplicação

No movimento que se estabelece no desenvolvimento de uma pesquisa, é

fundamental a realização de escolhas teórico-metodológicas para o encaminhamento do

estudo que se quer proceder. Nesse sentido, à medida que realizávamos as leituras das

pesquisas brasileiras sobre formação, sobretudo as que tratavam do conhecimento relativo às

operações aritméticas e, em especial, as teses que abordaram a multiplicação, consideramos

pertinente trazer uma discussão teórica que verse sobre dois aspectos.

Um deles refere-se ao campo de conhecimento da multiplicação para o ensino e

aprendizagem escolar nos anos iniciais. O outro é relativo ao conhecimento profissional do

PEM37, em que discorremos sobre as bases teóricas que consideramos contributivas para

analisar e compreender os problemas revelados nas pesquisas brasileiras sobre o

conhecimento especializado do professor para ensinar multiplicação nos anos iniciais de

escolarização. Em relação ao conhecimento especializado, optamos em apresentar e discutir o

modelo Mathematics Teacher’s Specialized Knowledge (Carrillo et al., 2013), cuja sigla

MTSK dirá respeito também à expressão em português: Conhecimento especializado do

professor que ensina matemática.

A princípio, apresentamos um breve panorama da formação do PEM nos

primeiros anos de escolarização com vistas a compreender a base sobre a qual vem se

construindo o conhecimento matemático necessário ao professor ou futuro professor no atual

contexto brasileiro.

3.1 Panorama da formação do professor que ensina matemática nos anos iniciais

Para discutir sobre o conhecimento profissional do PEM, que atua neste nível de

ensino, apresentamos inicialmente a organização da Educação Básica no Brasil, de modo a

compreender as diretrizes que orientam a formação do professor, sujeitos desta pesquisa.

Quanto à organização, o sistema educacional brasileiro é composto por dois níveis

escolares: Educação Básica e Educação Superior e, embora essa composição não seja

novidade, cabe destacar algumas alterações postas pela nova Lei de Diretrizes e Base da

Educação (LDB) nº 9.394/1996, que nos encaminha a importantes reflexões sobre o PEM e

37 Em nossa pesquisa, sempre que utilizarmos a expressão “PEM”, estaremos nos referindo ao professor que

ensina matemática nos anos iniciais da Educação Básica, considerando neste estudo como uma etapa que

contempla a Educação Infantil e os cinco primeiros anos do Ensino fundamental.

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57

sua formação. Uma delas refere-se à inserção da Educação Infantil como etapa da Educação

Básica; e a outra, à formação docente mínima dos professores que atuam nos primeiros anos

de escolarização.

A partir da promulgação da lei nº 9.394/1996, a Educação Básica, anteriormente

formada somente pelo Ensino Fundamental e Ensino Médio, passou a incluir a Educação

Infantil, conforme o artigo 29: “A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem

como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus

aspectos físico, psicológico, intelectual e social, completando a ação da família e da

comunidade” (BRASIL, 1996).

A inserção da Educação Infantil como etapa da Educação Básica trata-se de uma

conquista obtida após longos anos de enfrentamento e desafios postos pelo reconhecimento

dessa etapa de ensino. Tendo em vista que a Constituição Federal assegura aos trabalhadores

o direito à assistência gratuita aos filhos e aos dependentes de 0 a 6 anos de idade em creches

e pré-escolas, Garcia (2006) destaca o caráter educacional que passam a ter as creches e as

pré-escolas para além do assistencial, uma vez que as instituições de Educação Infantil

desvinculam-se da assistência social e passam a integrar a Educação Básica.

Com o reconhecimento da Educação Infantil como parte integrante da Educação

Básica, revelam-se novas exigências à formação e à profissionalização docente uma vez que

se observa uma preocupação com o aprimoramento do trabalho deste profissional em diversas

áreas do conhecimento na rotina da Educação Infantil (AZEVEDO, 2012; BRASIL, 1998).

Neste contexto, segundo o Referencial Curricular para a Educação Infantil

(BRASIL, 1998), são definidos os objetivos e os conteúdos relativos ao ensino de matemática,

de modo que sua abordagem, para a faixa etária de 0 a 3 anos, tenha como meta

“proporcionar oportunidades para que as crianças desenvolvam a capacidade de: estabelecer

aproximações a algumas noções matemáticas presentes no seu cotidiano, como contagem,

relações espaciais, etc.” (BRASIL, 1998, p. 216). Essa finalidade deve ser aprofundada e

ampliada para a faixa de quatro a seis anos, com o intuito de garantir oportunidades para

comunicação das ideias matemáticas e confiança de suas estratégias.

A Resolução nº 5, de 17 de dezembro de 2009, fixa as diretrizes curriculares

nacionais para a Educação Infantil, concebendo o currículo como um:

Conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças

com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, ambiental,

científico e tecnológico, de modo a promover o desenvolvimento integral de

crianças de 0 a 5 anos de idade. (BRASIL, 2010, p.12)

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58

A pesquisa de Lopes (2003, p. 19) levanta uma discussão sobre o currículo e os

educadores matemáticos na Educação Infantil. Ele destaca que “os profissionais da Educação

Infantil devem ser competentes em suas tarefas, considerando o momento sócio-histórico de

um mundo complexo e contraditório”, e acrescenta que esta etapa da Educação Básica requer

um currículo integrado uma vez que a percepção de mundo tida pela criança se dá de forma

holística, no lugar de compreendê-lo como um conhecimento isolado, visão essa reforçada por

Bujes (2001) e Oliveira (2002) e Zabalza (1987).

De modo mais específico, ao investigar as contribuições de um processo

formativo, voltado à produção e à ressignificação de conhecimentos matemáticos e

metodológicos com professores de Educação Infantil, Azevedo (2012, p. 158) aponta que nem

sempre os “professores têm consciência de todos os conceitos matemáticos envolvidos nas

brincadeiras, nas histórias infantis, ou nos materiais pedagógicos”.

Assim sendo, a partir dessas considerações, há de se destacar a importância do

educador/professor que atua na Educação Infantil, salientando uma responsabilidade mais

ampla, em relação ao currículo. Entretanto, pesquisas recentes vêm apontando e enfatizando

as fragilidades postas à formação dos professores, em especial, quanto ao conhecimento do

professor que ensina matemática nos anos iniciais, seja no âmbito da formação inicial

(AMARAL, 2007; BIAJONE, 2006; GUIMARÃES, 2005; MOTA, 2012; SANTOS, 2009)

ou na formação continuada (AZEVEDO, 2012; GIMENES, 2006; LOPES, 2003;

MARQUESIN, 2007).

3.2 Campo de conhecimento da multiplicação para o ensino e a aprendizagem escolar

nos primeiros anos de escolarização

Para uma compreensão mais aprofundada sobre o conhecimento do PEM

relacionado à multiplicação, surgiu a necessidade de tecer uma discussão teórica acerca do

campo de conhecimento da multiplicação para o ensino e aprendizagem no âmbito escolar a

qual passa a ser tratada nesta seção.

Com base na literatura, encontramos estudos que assumem como identidade da

multiplicação um método geral comum, no qual podemos considerar uma abordagem

tradicional do professor no processo de ensino da operação de multiplicação como tendo o

sentido de adição de parcelas iguais (BORBA et al., 2008; MAGINA; SANTOS; MERLINI,

2014; MENDES; BROCARDO; OLIVEIRA, 2013).

Embora o ensino dessa operação no sentido de parcelas iguais seja também

encontrado nas orientações curriculares de caráter internacional, como expresso no

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documento National Council of Teacher’s of Mathematics – NCTM – (2000), é indicado que

se aprofunde a sua compreensão. Esse documento destaca aspectos gerais a serem valorizados

na abordagem da multiplicação em dois momentos: nos três primeiros anos de escolarização

devem ser exploradas diversas situações relacionadas à multiplicação, com ênfase às que

correspondem à soma de grupos iguais (concepção da operação de multiplicação pela

operação de adição – adição de parcelas iguais); do 3º ao 5º anos, propõe-se um

aprofundamento na compreensão da multiplicação, uma vez que, nesses anos de

escolarização, ocorre um aumento considerável dos números, bem como se amplia o universo

de conjuntos numéricos, como por exemplo para o conjunto dos racionais positivos

representados na forma decimal.

Mendes, Brocardo e Oliveira (2013) pautam-se nos estudos de Verschaffel, Greer

e Corte (2007), ao afirmarem a ampla investigação que vem sendo realizada desde os anos 90

do século XX sobre a aprendizagem das operações aritméticas, especificamente, com foco em

turmas ou pequenos grupos de alunos que interagem em sala de aula. Fuson (2003) destaca

que, dentre esses estudos, foi identificada uma quantidade inferior de trabalhos relacionados

às operações de multiplicação e divisão.

Mendes (2012) ressalta a importância de que o ensino e a aprendizagem da

multiplicação sejam realizados numa perspectiva em que se considere o desenvolvimento do

sentido de número. Ainda que essa expressão tenha um significado muito amplo e seja

utilizada em contextos distintos, o desenvolvimento do sentido de número é considerado

fundamental pelos educadores matemáticos, e tem sido referido, em documentos curriculares

diversos, como um dos objetivos centrais da aprendizagem da matemática, especificamente

nos anos iniciais de escolarização. Dentre as caracterizações referidas em diferentes estudos,

destacamos a proposta de McIntosh, Reys e Reys (1992, p. 3):

O sentido de número refere-se a uma compreensão geral do indivíduo sobre os

números e as operações juntamente com a capacidade e predisposição para usar essa

compreensão de modo flexível para fazer juízos matemáticos e para desenvolver

estratégias úteis na manipulação dos números e das operações. Reflete uma

capacidade e uma predisposição para usar os números e os métodos de cálculo como

um meio de comunicação, processamento e tratamento de informação.

Independentemente do contexto formativo em que se encontra o PEM nos anos

iniciais, há que se rediscutir o conhecimento do conteúdo matemático a ser trabalhado nesses

contextos. É importante que o conhecimento matemático trabalhado na formação desse

profissional seja relevante para o ensino da disciplina, visto que o professor deve ter um

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conhecimento que lhe permita abordar o conteúdo com sentido e significado. No

enfrentamento da problemática relativa à formação docente, Fiorentini e Oliveira (2013)

discutem o lugar das matemáticas na Licenciatura em Matemática: problematizar quais

matemáticas e quais práticas formativas têm sido desenvolvidas e, para isso apontam algumas

alternativas como:

[...] constituir grupos de estudo de formadores que congregam matemáticos e

educadores matemáticos preocupados e engajados em atuar e investigar,

conjuntamente, a formação docente, tanto no que se refere à formação matemática

quanto à formação didático-pedagógica relacionada ao ensino e à aprendizagem da

matemática, isto é, inter-relacionando o que e o como se ensina e avalia (didática)

com as finalidades, potencialidades e as consequências formativas desse ensino

(pedagogia). (FIORENTINI; OLIVEIRA, 2013, p. 934)

Destacar tais alternativas podem revelar ambientes profícuos para uma

aproximação necessária entre o conhecimento matemático do professor e o papel relevante da

formação do PEM nos anos iniciais para ensinar multiplicação numa perspectiva mais ampla,

sem restrição ao uso de algoritmos, ou com destaque a uma única compreensão da

multiplicação como soma de parcelas iguais.

Segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais – PCN38 (BRASIL, 2000), no

contexto educacional brasileiro, também é dado um maior destaque à multiplicação

compreendida como adição de parcelas iguais. Entretanto, esse mesmo documento destaca a

insuficiência desta ideia para a compreensão de situações que não sejam substancialmente

aditivas e desperta a atenção a possíveis equívocos relacionados à comutatividade da

multiplicação no contexto matemático e das situações que nem sempre são válidas. Como

exemplo, embora seja sintaticamente correta e seus produtos sejam

equivalentes, semanticamente, encontramos situações nas quais as expressões não se

traduzem em relações equivalentes. Nas orientações didáticas que integram esse documento, é

enfatizada a importância em saber distinguir o multiplicando (o número que se repete) do

multiplicador (o número de repetições a serem feitas), dada a existência de diferentes

contextos em que é impossível inverter os papéis definidos por cada um deles. Tais questões

podem ser compreendidas a partir do problema que propomos como exemplo:

Quantas horas mensais deve cumprir um funcionário que teve como proposta um

trabalho com carga de 6 horas/dia a ser realizada em 26 dias de cada mês?

38 Estamos nos referindo aos Parâmetros Curriculares Nacionais (1ª a 4ª Série) Volume 3 – Matemática – que no

contexto atual corresponde do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental.

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A esse problema associa-se a expressão matemática 26 x 6, na qual o 6 é

interpretado como o número que se repete; e o 26, como o número que indica a quantidade de

repetições do segundo número, ou seja de modo abreviado temos:

6 + 6 + 6 + 6 + 6 + 6 + ...+ 6

26 vezes

Ao tomar por base essa interpretação, definem-se diferentes atribuições para cada

um desses valores, sendo o número que se repete 6 (horas/dia) considerado multiplicando; e

o número de repetições 26 (dias), o multiplicador. No problema descrito, é impossível

inverter a quantidade de dias pela quantidade de horas trabalhadas/dia, visto que o dia tem

somente 24 horas. Assim sendo, embora o resultado de 26 x 6 seja matematicamente

equivalente ao resultado de 6 x 26, visto que ambos resultam em 156 – denominado por

produto – tal equivalência atende às questões relacionadas à sintaxe matemática, sem

contudo contemplar suas questões semânticas. Portanto, identificar e distinguir cada um dos

valores envolvidos na multiplicação – o valor que se repete (multiplicando) – e o número de

repetições (multiplicador) são conhecimentos importantes para PEM no enfrentamento de

problemas relacionados ao ensino de multiplicação.

Para além das situações que envolvem a multiplicação como um caso particular da

adição, o documento39 (PCN de Matemática) destaca quatro grupos de significados

correspondentes à multiplicação a serem exploradas nos anos iniciais do Ensino Fundamental,

independentemente de qualquer hierarquização.

Um primeiro grupo envolve a ideia de multiplicação comparativa: Marta tem 4

selos e João tem 5 vezes mais selos que ela. Quantos selos tem João? Um segundo grupo

aborda a comparação entre razões, envolvendo a ideia da proporcionalidade: Marta vai

comprar três pacotes de chocolate. Cada pacote custa R$ 8,00. Quanto ela vai pagar pelos

três pacotes? Um terceiro grupo envolve significado relativo à configuração retangular: Num

pequeno auditório, as cadeiras estão dispostas em 7 fileiras e 8 colunas. Quantas cadeiras há

no auditório? E, um quarto grupo envolvendo significado associado à combinatória: Tendo

duas saias – uma preta (P) e uma branca (B) – e três blusas – uma rosa (R), uma azul (A) e

uma cinza (C) -, de quantas maneiras diferentes posso me vestir?

De modo mais específico, é sugerido como conteúdos conceituais e

procedimentais o cálculo de multiplicação por meio de estratégias pessoais para os 1ºs e 2ºs

39 Embora as orientações didáticas utilizem constantemente a expressão situações relacionadas à multiplicação e

à divisão, consideramos em nosso estudo de modo específico o que envolve a multiplicação, foco da presente

pesquisa.

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anos, enquanto para o 3º e 4º ano é proposto fazer “Análise, interpretação, formulação de

situações-problema, compreendendo os diferentes significados das operações envolvendo

números naturais e racionais” (BRASIL, 2000, p. 87).

Assim como destacado pelo documento, compreendemos o importante papel dos

problemas nos anos iniciais no sentido de propiciar a interação dos estudantes com diferentes

significados da multiplicação, promovendo o reconhecimento de que “um mesmo problema

pode ser resolvido por diferentes operações, assim como uma mesma operação pode estar

associada a diferentes problemas” (Brasil, 2000, p. 112, impresso).

Entretanto, há de se ressaltar a necessidade em se discutir como esses diferentes

significados podem ser abordados no ensino, de modo a torná-lo mais eficaz, o que demanda,

sobretudo, investigações acerca dos conhecimentos especializados do PEM sobre

multiplicação.

Em Portugal, segundo Mendes, Brocardo e Oliveira (2011), nos dois primeiros

anos escolares, trabalha-se a transição entre a adição de parcelas iguais para o conceito de

multiplicação. Sem restringir-se a essa transição, as pesquisadoras destacam que, nesse

mesmo nível de escolaridade, também é trabalhada a multiplicação com o sentido

combinatório e com a compreensão da memorização de fatos decorrentes das tabuadas do 2,

do 5 e do 10. De acordo com o currículo português, é no 3º ano que se completa o estudo das

tabuadas, desenvolve-se o trabalho com números não inteiros e se constrói o algoritmo da

multiplicação. As autoras destacam os sete aspectos considerados essenciais na aprendizagem

de multiplicação no 3º ano, enfatizando que o último deles deve ser aprofundado nos anos

subsequentes:

A consolidação do entendimento de um grupo como uma unidade; a propriedade

distributiva da multiplicação em relação à adição; propriedade comutativa; os

padrões de valor de posição associados à multiplicação por 10; propriedade

associativa da multiplicação; a compreensão da relação inversa entre a multiplicação

e a divisão; compreensão do sentido proporcional da multiplicação. (MENDES;

BROCARDO; OLIVEIRA, 2011, p. 3)

Consideramos pertinente destacar que, dentre os sete aspectos indicados no

currículo português como essenciais para a aprendizagem de multiplicação no 3º ano, três

deles relacionam-se às propriedades distributiva, comutativa e associativa. Mendes, Brocardo

e Oliveira (2011, p. 3) enfatizam, também, outro aspecto: “os padrões de valor de posição

associados à multiplicação por 10”. Essa ênfase vai ao encontro da competência matemática

desejável ao 1º ciclo do ensino daquele país no que se refere aos números inteiros,

fracionários e às quatro operações, que devem permitir uma “clara compreensão do sistema de

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numeração de posição e do modo como este se relaciona com os algoritmos das quatro

operações” (RIBEIRO; CARRILLO, 2011, p. 410).

Magina, Santos e Merlini (2014), de certa forma, contestam o ensino tardio da

multiplicação e da divisão nas escolas brasileiras o que, segundo elas, habitualmente ocorre a

partir do 4º ano. Apoiados nos estudos de Nunes (1997, 2005) e Piaget (1975, 1996), para os

quais “crianças a partir dos seis anos de idade já são capazes de resolver, de modo prático,

algumas situações envolvendo as noções de multiplicação e divisão” (MAGINA; SANTOS;

MERLINI, 2014, p. 518), os autores indicam que tais indícios parecem ser ignorados na

elaboração do currículo de matemática proposto aos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Segundo Magina, Santos e Merlini (2014), o ensino tardio da multiplicação e da

divisão nas escolas brasileiras pode estar relacionado, dentre outros aspectos, à concepção de

currículo que orienta a prática pedagógica, quando este é compreendido a partir de uma

ordenação fixa quanto à aprendizagem das operações elementares: inicialmente adição,

seguida da subtração e, por fim, multiplicação e divisão. Os autores enfatizam que, sob esta

ótica, evidencia-se a introdução do conceito de multiplicação como soma de parcelas iguais, o

qual só pode ser ensinado após o trabalho realizado com a adição. Sequencialmente, propõe-

se o aumento na quantidade de parcelas, mobilizando a transição entre a adição de parcelas

repetidas e o uso a multiplicação do número pela quantidade de parcelas. E, ao final, amplia-

se a magnitude de um dos fatores de modo a instituir o uso do algoritmo.

No contexto atual da educação brasileira, de acordo com a recente versão da Base

Nacional Comum Curricular (BNCC)40 (BRASIL, 2017), o conteúdo Multiplicação integra a

unidade temática: Números. Nesse documento, no âmbito dos Anos Iniciais do Ensino

Fundamental, é proposto que o ensino da multiplicação se inicie a partir do 2º ano e perpasse

os anos subsequentes, 3º, 4º e 5º anos, sendo indicados dois objetos de conhecimento e

respectivas habilidades a serem desenvolvidas em cada um deles.

Os dois objetos de conhecimento para o 2º ano referem-se a problemas, sendo um

deles envolvendo adição de parcelas iguais (multiplicação); e o outro. significados de dobro,

metade, triplo e terça parte. Para ambos, propõe-se que sejam desenvolvidas habilidades

relativas tanto à resolução como à elaboração de problemas. Nesse ano escolar, enquanto as

habilidades para o primeiro objeto de conhecimento focam na “multiplicação (por 2, 3, 4 e 5)

com a ideia de adição de parcelas iguais por meio de estratégias e formas de registro pessoais,

40O documento é constituído por cinco unidades temáticas, que, segundo os autores, se encontram

correlacionadas e buscam orientar a formulação de habilidades a ser desenvolvidas ao longo do Ensino

Fundamental: Números, Álgebra, Geometria, Grandezas e Medidas, Probabilidade e Estatística.

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utilizando ou não suporte de imagens e/ou material manipulável” (BRASIL, 2017, p. 238-

239), as habilidades para o segundo objeto envolvem as ideias de “dobro, metade, triplo e

terça parte, com o suporte de imagens ou material manipulável, utilizando estratégias

pessoais” (BRASIL, 2017, p. 238-239).

Em relação à proposta do PCN, o desenvolvimento de habilidades relativas à

elaboração de problemas é antecipado pela BNCC para o 2º ano de escolaridade. Outro

aspecto a destacar refere-se ao fato de que, ao focar na multiplicação por 2, 3, 4 e 5,

entendemos que parece indicar, ainda que implicitamente, o trabalho com as referidas

tabuadas e, nesse sentido, talvez seja pertinente questionar: como tem se dado o ensino da

tabuada? Que conhecimentos podem ser mobilizados nas formações do PEM de modo que lhe

permita aprofundar seus conhecimentos para ensinar multiplicação?

Para o 3º ano, o documento indica dois outros objetos de conhecimento:

“Construção de fatos fundamentais da adição, subtração e multiplicação, reta numérica, e

Problemas envolvendo diferentes significados da multiplicação e da divisão41: adição de

parcelas iguais, configuração retangular, repartição em partes iguais e medida” (BRASIL,

2017, p. 242-243). Quanto às habilidades para o primeiro objeto, requerem-se a construção e a

utilização de fatos básicos da adição e da multiplicação para o cálculo mental ou escrito, e,

para o segundo, “resolver e elaborar problemas de multiplicação (por 2, 3, 4, 5 e 10) com os

significados de adição de parcelas iguais e elementos apresentados em disposição retangular,

utilizando diferentes estratégias de cálculo e registros” (BRASIL, 2017, p. 242-243).

Dentre os demais objetos de conhecimento propostos para 4º ano, o ensino da

multiplicação é explicitado em dois deles, e é também indicado o trabalho com a

proporcionalidade.

Para o objeto de conhecimento “composição e decomposição de um número

natural de até cinco ordens, por meio de adições e multiplicações por potências de 10” a

habilidade proposta consiste em “mostrar, por decomposição e composição, que todo número

natural pode ser escrito por meio de adições e multiplicações por potências de dez, para

compreender o sistema de numeração decimal e desenvolver estratégias de cálculo”. Para o

outro objeto, qual seja, “problemas envolvendo diferentes significados da multiplicação e da

divisão: adição de parcelas iguais, configuração retangular, proporcionalidade, repartição

equitativa e medida”, as habilidades requeridas consistem em “resolver e elaborar problemas

envolvendo diferentes significados da multiplicação (adição de parcelas iguais, organização

41 Para este objeto de conhecimento, destacamos somente as habilidades relacionadas à multiplicação, visto esse

ser o interesse do presente estudo.

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retangular e proporcionalidade), utilizando estratégias diversas, como cálculo por estimativa,

cálculo mental e algoritmos” (BRASIL, 2017, p. 246-247). É proposto para esse mesmo ano o

trabalho com o objeto “propriedades das operações para o desenvolvimento de diferentes

estratégias de cálculo com números naturais”, de modo a desenvolver habilidades relativas ao

uso das propriedades para a realização de cálculo das diferentes operações. É sugerido, ainda,

o trabalho com problemas simples de contagem, utilizando-se de estratégias pessoais para

combinar elementos de duas coleções (BRASIL, 2017, p. 246).

Por fim, é para o 5º ano do Ensino Fundamental que se indicam problemas

envolvendo a multiplicação de números racionais, restringindo-se à representação decimal

finita. É também neste ano que é explicitado o trabalho com o sentido de combinação, sendo

considerado neste documento um objeto de conhecimento relacionado a problemas de

contagem que requer uma habilidade envolvendo princípio multiplicativo. Para um dos

objetos de conhecimento, as habilidades propostas consistem em

resolver e elaborar problemas de multiplicação e divisão com números

naturais e com números racionais cuja representação decimal é finita (com

multiplicador natural e divisor natural e diferente de zero), utilizando

estratégias diversas, como cálculo por estimativa, cálculo mental e

algoritmos. (BRASIL, 2017, p. 250-251)

Quanto ao objeto de conhecimento relacionado à combinatória, as habilidades a

desenvolver pautam-se em

resolver e elaborar problemas simples de contagem envolvendo o princípio

multiplicativo, como a determinação do número de agrupamentos possíveis

ao se combinar cada elemento de uma coleção com todos os elementos de

outra coleção, por meio de diagramas de árvore ou por tabelas. (BRASIL,

2017, p. 250-251)

Com base ainda na BNCC na Educação Infantil, primeira etapa da Educação

Básica, devem ser assegurados seis direitos de aprendizagem e desenvolvimento: Conviver,

brincar, participar, explorar, expressar, conhecer-se. Para a realização desse processo de

aprendizagem e desenvolvimento, o documento organiza os objetivos em cinco campos de

experiências42 a saber: O eu, o outros e o nós; Corpo, gestos e movimentos; Traços, sons,

cores e formas; Oralidade e escrita; Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações,

sendo este último o campo em que se encontram propostos os objetivos de aprendizagem

relacionados à matemática. Dentre os objetivos sugeridos para o trabalho no campo de

42Segundo o documento, esses campos de experiências “constituem um arranjo curricular que acolhe as situações

e as experiências concretas da vida cotidiana das crianças e seus saberes, entrelaçando-os aos conhecimentos que

fazem parte de patrimônio cultural” (BRASIL, 2017, p. 36),

Quanto aos objetivos, foram organizados considerando três faixa-etárias: crianças de zero a 1ano e seis meses;

crianças de 1 ano e 7 meses a 3 anos e 11 meses; crianças de 4 anos a 5 anos e 11 meses.

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experiências –Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações –, não foram

identificados temas que estejam explicitamente relacionados ao trabalho com multiplicação.

Numa síntese dos principais pontos referentes à abordagem dada pela BNCC, podemos dizer

que o ensino de multiplicação é proposto a partir do 2º ano, iniciando com o sentido de soma

de parcelas iguais com foco nos múltiplos de 2, 3, 4 e 5, envolvendo as ideias de dobro e

triplo, considerando estratégias e formas de registros pessoais. Para o ano seguinte (3º),

indica-se a construção dos fatos fundamentais da multiplicação e, ampliando-se o foco para os

múltiplos de 2, 3, 4, 5 e 10, os problemas passam a envolver também o sentido de

configuração retangular. Para esse ano, o documento sugere o trabalho com diferentes

estratégias de cálculo e registros, considerando o cálculo mental e escrito. Para o 4º ano, os

problemas passam a envolver também um outro significado da multiplicação, o da

proporcionalidade; além do desenvolvimento de habilidades que potencializem a

compreensão do sistema de numeração decimal, explorando por exemplo, a composição e

decomposição de números naturais, por meio de adições e multiplicações. Ao final desta etapa

escolar, para o 5º ano é indicado o ensino de multiplicação de números racionais,

restringindo-se à sua representação com finitas casas decimais e o trabalho com problemas

envolvendo a multiplicação no sentido de combinatória.

A partir dessa síntese, podemos destacar alguns aspectos sobre o ensino de

multiplicação, que podem impactar os próximos estudos que buscam identificar e

compreender os conhecimentos considerados necessários ao PEM para ensiná-la.

Em nossa compreensão da proposta contida no documento, é possível evidenciar

que, até o 5º ano do Ensino Fundamental, deve ser contemplado o ensino de todos os

significados da multiplicação: adição de parcelas iguais, comparação multiplicativa,

configuração retangular, proporcionalidade e combinatória.

Outro aspecto refere-se ao fato de que a proposta, em nosso entendimento, não

sinaliza, pelo menos de modo explícito, um trabalho aprofundado relativo às tabelas de

multiplicação ou tabuada, uma vez que, embora o documento da BNCC indique como

obrigatória a multiplicação por 2, 3, 4, 5, e 10 para os anos iniciais do EF, não traz referências

ou orientações acerca desse assunto.

Não estamos aqui defendendo a inserção das tabelas ou das tabuadas, mas

problematizando a ausência de objetos de conhecimento relacionados à compreensão e à

memorização delas, uma vez que essas apresentam regularidades passíveis de exploração e

generalização. Assim sendo, consideramos pertinente problematizar a recomendação sobre a

multiplicação por 2, 3, 4, 5, e 10, pois entendemos que não basta ao professor ensinar tabuada,

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mas sim conhecer as possibilidades de como ela pode ser explorada de modo a potencializar

as relações a serem estabelecidas com os diferentes temas da matemática. A aprendizagem

dos “fatos fundamentais da multiplicação” pode ser proporcionada e potencializada pela

exploração e busca de regularidades contidas nessas tabelas.

Outro aspecto a destacar refere-se ao momento em que se propõe o trabalho com

problemas simples de contagem, utilizando estratégias pessoais para combinar elementos de

duas coleções (4ºano), o qual tem continuidade no 5º ano por meio de diagramas de árvores

ou tabelas. A indicação desse trabalho para os 4º e 5º anos parece ir em sentido contrário ao

proposto, por exemplo, em Portugal. Segundo Mendes, Brocardo e Oliveira (2011), pelo

currículo de Portugal, já nos dois primeiros anos escolares, além da transição entre a adição de

parcelas iguais para o conceito de multiplicação, também é trabalhada a multiplicação com o

sentido combinatório e com a compreensão da memorização de fatos decorrentes das tabuadas

do 2, do 5 e do 10.

Assim, parece ser notável repensar o espaço destinado ao estudo e ao

aprofundamento de aspectos relativos ao conhecimento curricular nos diferentes contextos

formativos uma vez que, segundo Serrazina (2012), não basta ao professor conhecer a

matemática que ensina, mas cumpre-lhe também dominar o currículo a ser ensinado,

ampliando esse conhecimento para os demais anos em que está trabalhando.

Ao discutir o conhecimento matemático para ensinar, interligado aos

conhecimentos didático, curricular, dos recursos, dos alunos e do contexto, a autora destaca a

importância de o professor “possuir uma visão global do currículo a ensinar no ensino

fundamental e um conhecimento aprofundado do ciclo de ensino em que trabalha, de modo a

que conheça como as ideias matemáticas se vão ampliando e como as relacionar”

(SERRAZINA, 2012, p. 272) no âmbito da multiplicação. Outra ideia destacada pela autora e

geralmente interiorizada pelos alunos:

[...] é a de que “multiplicar dois números dá sempre um número maior”, que, mais

uma vez, é válida no conjunto dos números naturais, mas que deixa de ser uma

verdade universal quando se passa ao conjunto dos números racionais. Estas

“fraseschave”, quando memorizadas como verdades pelos alunos, podem vir a

transformar-se, posteriormente, em conceções erradas que estes usam de modo

inconsciente quando o conjunto numérico é alargado. (SERRAZINA, 2012, p. 272)

Nessa perspectiva, cabe destacar que Magina, Santos e Merlini (2014) enfatizam

não ser contrários a iniciar o trabalho da multiplicação por meio da adição de parcelas iguais,

uma vez que tal procedimento indica a continuidade entre ambas as operações. Entretanto, os

autores levantam questões relacionadas a esse procedimento a partir de aspectos didáticos,

conceituais e cognitivos.

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Quanto ao aspecto didático, as ideias desses autores confluem com a discussão de

Serrazina, ao afirmarem que a restrição ao referido procedimento “implica considerar que

multiplicação sempre aumenta, o que não é verdade em outro domínio numérico como, por

exemplo, no campo dos números racionais ( )” (MAGINA; SANTOS;

MERLINI, 2014, p. 518).

Em relação ao aspecto conceitual, esses autores apontam uma evidente

descontinuidade entre as operações de adição e multiplicação, indicando uma ruptura entre

ambas. Na visão deles, enquanto as situações que contemplam o raciocínio aditivo envolvem

um só invariante operatório em que se considera a relação parte e todo; em todas as situações

que envolvem o raciocínio multiplicativo, o invariante operatório constitui-se de uma relação

fixa entre duas ou mais quantidades que podem ser de naturezas iguais ou distintas.

Quanto ao aspecto cognitivo, Magina, Santos e Merlini (2014) destacam a

necessidade do domínio de uma gama considerável de situações por parte do aluno de modo

que ele possa ampliar seus conhecimentos acerca desse campo conceitual, ainda que se

considere somente o conjunto dos naturais. Tais situações apresentam diferentes graus de

complexidade, o que exige grande investimento cognitivo do aluno para compreendê-los e

resolvê-los. Esses autores complementam que é na interação do estudante com esse conjunto

de situações envolvendo distintos raciocínios que ocorrem a apropriação e a expansão do

campo conceitual multiplicativo.

Tal compreensão apoia-se na relevância já apontada por Serrazina (2012) acerca

do conhecimento matemático do PEM. Considerando que a ele cabe organizar e planejar as

aulas, torna-se imperativo que, em sua formação, seja a inicial ou a continuada, lhe sejam

oferecidas oportunidades para problematizar e ressignificar seus conhecimentos matemáticos,

de modo a possibilitar a organização de tarefas que mobilizem distintos raciocínios relativos à

multiplicação.

Segundo Isoda e Olfos (2011), a redefinição dos objetivos das escolas primárias

em diversos países, ocorrida nas últimas décadas, passou a priorizar habilidades mais

complexas, tais como a resolução de problemas e a comunicação em detrimento de

conhecimentos isolados. Apoiados em Treffers et al. (2001), os autores indicam como metas

para o ensino de matemática: estabelecer conexões entre aritmética e experiência cotidiana;

adquirir habilidades básicas; compreender a linguagem matemática e aplicações em situações

práticas; refletir acerca das atividades matemáticas e validar seus resultados; estabelecer

relações, regras, padrões e estruturas; descrever e utilizar estratégias investigativas; e

desenvolver raciocínio. Dentre as tendências internacionais para o ensino da multiplicação,

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Isoda e Olfos (2011) destacam a contextualização e a presença do princípio da extensão.

Segundo eles, a contextualização43 “significa dar significado aos números e operações

relacionando-as com situações significativas de cada dia, do mundo real ou o mundo

significativo das crianças” (ISODA; OLFOS, 2011, p. 25-26).

Para compreender as questões relacionadas ao contexto, é importante apresentar o

sentido usado por Isoda e Olfos (2011, p. 25), ou seja: “evento, problema ou situação derivada

da realidade, o que é significativo para as crianças ou que elas podem imaginar44”, pois

consideram que elas utilizam métodos matemáticos pautadas em sua própria experiência. Os

autores explicitam a diferenciação entre contexto e situações, considerando o contexto como

uma dimensão mais ampla, que pode ser encontrado no mundo próprio da matemática.

Explicam que

o contexto fornece um significado concreto e fornece a base para as relações

matemáticas relevantes ou operações realizadas pela criança. As situações podem ser

esquematizadas de experiências cotidianas tais como viajar de ônibus, comprar e

gerenciar dinheiro. Contexto também pode ser encontrado no mundo da própria

matemática, como no caso das propriedades de números primos, dando origem a

contextos aritméticos ou matemáticos. (ISODA; OLFOS, 2011, p. 25)

No que diz respeito à organização e à propositura de tarefas, Fosnot e Dolk (2001)

enfatizam a relevância em se propor contextos a partir dos quais se estruturem

progressivamente a multiplicação, por exemplo, iniciar com grupos de objetos com o mesmo

cardinal e prosseguir para situações relativas a grupos de objetos aos quais se associe uma

disposição retangular.

Cabe salientar que Fosnot e Dolk (2001) consideram que a aprendizagem da

multiplicação deva pautar-se na construção das big ideas, compreendidas pelas relações que o

aluno estabelece com as estruturas da própria matemática. Para estes autores, compreender as

estruturas relacionadas à multiplicação significa compreender a estrutura multiplicativa em si

e as relações entre as partes e o todo da própria estrutura. Destacam como big ideas referente

à multiplicação: unitizing, ou seja, a compreensão de um grupo como unidade; a propriedade

distributiva da multiplicação em relação à adição e à subtração; a propriedade comutativa e a

43Por exemplo, na resolução 63-47, um estudante pode pensar em uma diferença entre as idades das pessoas,

porque duas pessoas terão a mesma diferença de idade em três anos, o problema poderia ser substituído por 66-

50, o que é mais fácil de resolver. Dessa forma, um problema formal é contextualizado em uma situação de

idades. 44Tradução nossa do original: “El contexto es un evento, asunto o situación derivada de la realidad, el cual es

significativo para los niños o el cual ellos pueden imaginar. Los niños usan métodos matemáticos a raíz de su

propia experiencia” (ISODA; OLFOS, 2011, p. 25).

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propriedade associativa da multiplicação; e os padrões de valor de posição associados à

multiplicação por dez.

A presença do princípio da extensão no ensino da multiplicação tem sido

considerada uma ideia central nas atuais propostas curriculares, que tomam como pressuposto

as abordagens de aprendizagem modernas (ISODA; OLFOS, 2011). Para eles, o ensino da

matemática escolar traça, como um de seus objetivos, levar os alunos a adquirir conceitos, os

quais devem ser posteriormente (re)conceituados em campos explicativos mais gerais. O

processo de extensão relaciona-se ao aprofundamento que é dado ao objeto de aprendizagem e

à disponibilidade de diferentes representações desses objetos.

Entendemos que Mendes, Brocardo e Oliveira (2011) assumem o princípio da

extensão no ensino da multiplicação, ao organizarem uma trajetória de aprendizagem sobre

esse conteúdo. Tal entendimento pauta-se na afirmação de que

planejar o ensino da multiplicação envolve mais do que estruturar as ideias

matemáticas envolvidas nessa operação. É igualmente importante pensar em como

podem os alunos aprender, como podem progredir na sua aprendizagem e ter

presente que nem todos aprendem ao mesmo ritmo e de igual modo. (MENDES;

BROCARDO; OLIVEIRA, 2011, p. 1-2)

Podemos compreender esse princípio da extensão ao ensino da multiplicação a

partir do trabalho de aprofundamento acerca dessa temática, indicado por Isoda e Olfos

(2011), a realizar-se em três momentos.

Para esses autores, o ensino da multiplicação com números naturais deve ter como

ponto de partida proporcionar aos estudantes a compreensão do produto como o número de

elementos resultante de grupos de números iguais de elementos repetitivos. Segundo eles,

essa ideia pode ser facilmente transferida de quantidades para medidas, o que pode contribuir

para a compreensão de unidade de medida que se relaciona com a ideia de proporcionalidade.

Compreendem que a extensão do conceito de “unidade” é essencial, e, assim como Fosnot e

Dolk (2001), destacam que este conceito é obtido a partir da ideia de grupo.

Trabalhado o conceito de unidade, num segundo momento propõe-se o estudo das

tabelas de multiplicação. Neste momento, também se observa o princípio da extensão, uma

vez que nesta etapa é trabalhado o procedimento relativo ao conceito de multiplicação com

números de um dígito. Inicia-se com as tabelas do 2 ao 5, seguidas pelas do 6 ao 9 e a

multiplicação por 1. Mais adiante, o ensino da multiplicação é seguido por 0, 10 e potências

de 10. Pelo currículo japonês, considera-se importante destacar nesta etapa as propriedades da

multiplicação, a princípio com os números pequenos e, a seguir, com aumento gradativo

deles.

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O terceiro momento é destinado ao estudo da multiplicação com multidígitos, em

que se dá continuidade à extensão conceitual da multiplicação. Nesta fase é proposto que os

estudantes explorem estratégias e desenvolvam métodos para multiplicar números naturais

com mais de um algarismo. Inicia-se o trabalho com dezenas por unidades, passando para

dezenas por dezenas e demais combinações. Afirmam que em vários países essa extensão é

realizada já na 3ª série. A visível impossibilidade de memorização implica na busca por novos

modos de multiplicar, o que oportuniza aos estudantes a descoberta de estratégias escritas que,

gradativamente, encaminhem ao algoritmo (ISODA; OLFOS, 2011). Por fim, a extensão da

multiplicação para os decimais, frações e negativos é indicada para os anos subsequentes, a

partir do 4º ano.

***Ao considerar a introdução da multiplicação por meio de parcelas iguais por

diferentes pesquisadores e documentos curriculares, cabe destacar o estudo de Jacob e Willis

(2003, p. 461) que investigou o processo que envolve a “transformação” realizada entre o

raciocínio aditivo e o raciocínio multiplicativo dos estudantes. Os autores identificaram cinco

fases em que se desenvolve o raciocínio multiplicativo, denominadas por: “One-to-one

counting; additive composition; many-to-one counters; multiplicative relations; e, operate on

the operator”.

Jacob e Willis (2003) ressaltam o desenvolvimento gradativo da compreensão da

multiplicação em cada uma dessas fases, à medida que as crianças realizam tarefas

multiplicativas e sugerem/consideram a existência de uma fase, nomeadamente a “many-to-

one counters” em que ocorre a transição entre o raciocínio aditivo e o raciocínio

multiplicativo. Para isso, é importante que o professor reconheça padrões de raciocínio que o

auxiliem a interpretar as respostas das crianças, de modo a reconhecer o progresso em relação

ao raciocínio multiplicativo. Com base nessas informações é que o professor deverá propor

tarefas que potencializem progressões nas diferentes fases do raciocínio multiplicativo.

Segundo Van de Walle (2009), há indicações de que crianças na Educação Infantil

e no 1º ano têm sido exitosas na resolução de problemas de multiplicação. Este autor afirma

que muitos dos programas tradicionais ensinam a multiplicação anteriormente à divisão, e

destaca que combinar ambas as operações, logo após a multiplicação ser introduzida, pode

contribuir para a percepção de como elas se relacionam. Revela que, de modo geral, os

currículos abordam esses temas, sobretudo no 3º ano, tendo continuidade no 4º e no 5º ano.

Isso posto, embora o presente estudo tenha optado em discutir, de modo mais

específico, o conhecimento relativo à multiplicação do professor que ensina matemática nos

anos iniciais, consideramos que os estudos desenvolvidos sobre estruturas multiplicativas

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sejam contributivos para as discussões sobre o tema deste trabalho. Os estudos voltados às

estruturas multiplicativas apoiam-se na Teoria dos Campos Conceituais45, proposta por

Gerard Vergnaud (1982, 1983, 1988, 1996).

Para Vergnaud (1982), o conhecimento está organizado em campos conceituais,

cujo domínio ocorre ao longo de um largo período de tempo por meio da experiência,

maturidade e aprendizagem. Assim, o campo conceitual é definido como “um conjunto de

situações cujo domínio requer uma variedade de conceitos, procedimentos e representações

simbólicas firmemente unidos uns aos outros” (VERGNAUD, 1990, p. 23). Desse modo, o

conhecimento emerge dos problemas a serem resolvidos e das situações a serem dominadas,

ou seja, a partir da ação que o sujeito exerce sobre a situação proposta (VERGNAUD, 1990,

1994). Este autor enfatiza o papel da resolução de problemas, afirmando que

resolver problemas é a fonte e o critério do conhecimento operacional. Precisamos

ter esta ideia sempre em mente e sermos capazes de oferecer aos alunos situações

que visem a estender o significado de um conceito e a avaliar as habilidades e as

concepções dos estudantes. (VERGNAUD, 1990, p. 22)

Ao tomar por base a Teoria dos Campos Conceituais, Magina, Santos e Merlini

(2011, p. 2) vêm desenvolvendo pesquisas relativas ao Campo Conceitual Multiplicativo, e

destacam, para esse campo, os seguintes conceitos: “funções lineares e não-lineares, o espaço

vetorial, a análise dimensional, a fração, razão, proporção, número racional, multiplicação e

divisão”.

Estes autores consideram a estrutura multiplicativa constituída por dois tipos de

relações: quaternárias (a) e ternárias (b), sendo a primeira constituída por dois eixos

envolvendo proporção, a simples e a composta; e a segunda, por outros dois eixos, a saber, a

comparação multiplicativa e o produto de medidas.

Cada um dos dois eixos pertencentes às relações quaternárias é constituído por

duas classes: correspondência um para muitos e correspondência muitos para muitos, sendo

que ambas podem ser trabalhadas com dois tipos de quantidades: discreta e contínua.

Apresentamos cada um dos eixos pertencentes a tais relações, a partir de Magina, Santos e

Merlini (2014, p. 522-523).

Eixo 1 – Proporções simples: envolvem dois tipos de situações:

Correspondência um para muitos (a relação entre as quantidades está explícita):

o Ex.: Um carro tem quatro rodas. Quantas rodas têm cinco carros?

45Segundo Lima (2005), trata-se de uma teoria cognitivista que busca propiciar uma estrutura coerente e alguns

princípios básicos ao estudo do desenvolvimento e da aprendizagem das competências complexas, sobretudo as

que dependem da ciência e da técnica.

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Correspondência muitos para muitos (a relação entre as quantidades está implícita):

o Ex.: Três carros têm 12 rodas, quantas rodas têm 5 carros?

o A cada cinco bombons comprados, a loja Boa Compra dá três caramelos de

brinde. Se Ana comprar 15 bombons, quantos caramelos ela ganhará?

Eixo 2 – Proporções múltiplas: trata-se de uma classe de situações que envolvem uma relação

quaternária entre mais de duas quantidades relacionadas duas a duas. Por exemplo: pessoas,

litros de água e dias. Como no eixo anterior, esse também abrange dois tipos de situações:

Correspondência um para muitos:

o Ex.: Uma pessoa deveria beber em média 5 litros de água em dois dias. Qual é

o consumo mensal (30 dias) de 5 pessoas?

Correspondência muitos para muitos:

o Um grupo de 50 pessoas vai passar 28 dias de férias no campo. Eles precisam

comprar uma quantidade de açúcar suficiente. Eles sabem que a média de

consumo por semana para 10 pessoas é de 4Kg. Quantos quilos de açúcar

elas precisam comprar?

Diferentemente das relações quaternárias, as relações ternárias possuem classes

distintas. Nelas, enquanto o eixo comparação multiplicativa constitui-se pelas classes referido

desconhecido e relação desconhecida (admitindo o trabalho com quantidades discretas e

contínuas), o eixo produto de medida tem como classes configuração retangular e

combinatória. Cabe destacar que, para essas duas últimas classes, só é trabalhado um tipo de

quantidade em cada uma delas, sendo respectivamente quantidade contínua e discreta. As

ternárias abarcam relações que tratam de dois elementos, de naturezas iguais ou distintas, que

se compõem para formar um terceiro elemento:

Por exemplo, multiplicam-se centímetros por centímetros (unidade de medida

linear), resultando centímetros quadrados (unidade de medida de superfície) ou,

ainda, meninos dançarinos x meninas dançarinas, produzindo pares de dançarinos.

Em outras palavras, os dois elementos (quantidade de meninos e meninas) estão

ligados por uma relação multiplicativa que resultará o número total de pares

possíveis, isto é, o produto entre o conjunto de meninos (por exemplo: formado por

três meninos) e o conjunto de meninas (por exemplo: formado por quatro meninas)

resulta no conjunto de possíveis pares.

(MAGINA; SANTOS; MERLINI, 2014, p. 522)

A seguir, descrevemos cada um dos eixos que compõem as relações ternárias a

partir dos estudos de Magina, Santos e Merlini (2014, p. 522-523),

Eixo 3 – Comparação multiplicativa: as situações que fazem parte desse eixo englobam a

comparação multiplicativa entre duas quantidades de mesma natureza. Já no início da

escolarização, situações envolvendo a relação de dobro e de metade são exploradas e se

configuram como protótipo dessa classe de situação, como por exemplo: João tem a metade

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da quantia de Maria. Se João tem R$ 10,00, qual é a quantia de Maria? A seguir destacamos

alguns exemplos:

Relação desconhecida

o Comprei uma boneca por R$21,00 e uma bola por R$3,00. Quantas vezes a

boneca foi mais cara que a bola?

Referente desconhecido

o A idade de Paulo é 5 vezes maior que a idade do seu filho. Paulo tem 30 anos.

Qual é a idade do seu filho?

Referido desconhecido

o A idade de Paulo é 5 vezes maior que a idade do seu filho. Seu filho tem 6

anos. Qual é a idade de Paulo?

Eixo 4 – Produto de medidas: esse eixo é constituído por duas classes: (a) situações

envolvendo a ideia de configuração retangular, (b) situações envolvendo a ideia de

combinatória.

Configuração retangular – são situações em que as quantidades representam certas

medidas dispostas na horizontal e na vertical, dispostas de forma retangular.

o Exemplo: Qual a área de um terreno de formato retangular, sabendo que tem

15 metros de frente e 35 metros de comprimento?

Combinatória – a ideia presente nessa classe remete à noção do produto cartesiano

entre dois conjuntos disjuntos (A∩ B = ∅).

o Exemplo: Numa festa há quatro meninas e três meninos. Cada menino quer

dançar com cada uma das meninas, e cada menina também quer dançar com

cada um dos meninos. Quantos pares diferentes de menino-menina são

possíveis de serem formados?

Em estudo que analisou o desempenho de estudantes dos 3º e 5º anos do Ensino

Fundamental, envolvendo problemas pertencentes a duas classes: um para muitos e muitos

para muitos do eixo 1 - Proporção simples, Magina, Santos e Merlini (2014) destacam que a

formação e a expansão do campo conceitual multiplicativo por parte dos estudantes pode ser

promovida à medida que o professor lhes ofereça diferentes problemas que trabalham relações

quaternárias e ternárias a partir de seus respectivos eixos e classes.

Diante dos estudos analisados nesta seção, reconhecemos a complexidade posta

ao ensino de multiplicação, sobretudo nos anos iniciais do Ensino Fundamental em que a

formação do PEM no Brasil é ainda precária.

Portanto, com base nas discussões tecidas até o presente momento, entendemos a

pertinência em reafirmar o papel relevante das pesquisas na produção de conhecimento,

compreendido aqui não como algo pronto e acabado, mas como um objeto em contínuo

movimento. As discussões tratadas nessa seção abordaram diferentes aspectos relativos ao

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ensino e à aprendizagem de multiplicação tendo por base pesquisas e documentos oficiais

desenvolvidos em contexto nacional e internacional, contribuindo, assim, para ampliar e

compreender a problemática deste estudo.

É significativo destacar a constatação de um consenso relativo ao ensino de

multiplicação nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a qual se refere às indicações

apontadas por pesquisas quanto ao ensino de multiplicação desenvolvido, de modo geral, a

partir de uma abordagem tradicional, ou seja, basicamente no sentido de soma de parcelas

iguais (BORBA et al., 2008; MAGINA; SANTOS; MERLINI, 2014; MENDES;

BROCARDO; OLIVEIRA, 2013).

Portanto, compreendemos que investigar o que as teses brasileiras apresentam

sobre o conhecimento do professor que ensina matemática nos primeiros anos de

escolarização poderá contribuir para repensar a formação docente do PEM. Afinal, quais

conhecimentos matemáticos são desejáveis na formação do PEM nos iniciais de

escolarização? Diante do zoom dado pelo presente estudo em relação ao conhecimento sobre

multiplicação, outras questões emergem deste contexto: quais os conhecimentos

especializados com foco na multiplicação podem ser identificados nas teses desenvolvidas em

diferentes contextos formativos do PEM nos primeiros anos de escolarização? Ou ainda, quais

desses conhecimentos especializados, com foco na multiplicação, podem/necessitam ser

mobilizados nos diferentes contextos formativos do PEM nos primeiros anos de

escolarização?

3.3 Conhecimento especializado do professor que ensina matemática

Para se pensar em formação de professor e educação de qualidade, é

imprescindível ter clareza sobre o conhecimento a ser proposto nos processos formativos,

visando ao desenvolvimento profissional do professor. Logo, tão importante quanto investigar

a formação desse docente, é buscar identificar e compreender quais conhecimentos

matemáticos têm sido tratados e privilegiados nas pesquisas, de modo especial, naquelas

pertencentes ao corpus do presente estudo.

Com a finalidade de compreender o que as pesquisas relacionadas à formação de

professores abordam sobre o conhecimento do professor que ensina matemática nos anos

iniciais, nos diferentes contextos de formação tratados nesta investigação, revisitamos estudos

que discutem o modo como o conhecimento matemático vem sendo trabalhado na escola.

Para D’Ambrosio e Lopes (2015, p. 270), por exemplo,

o conhecimento matemático, na maioria das vezes, tem sido proporcionado pela

escola a partir da autoridade do professor e do livro didático, sem um entrelace entre

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conjeturas e argumentos para a validade desse conhecimento. As ideias de

possibilidades, diversidades e incertezas raramente fazem parte desse espaço

formativo. Pouco se tem possibilitado aos alunos tornarem-se conhecedores da

Matemática, de maneira a serem capazes de avaliar e redimensionar o seu próprio

conhecimento e de discutir a legitimidade de suas elaborações matemáticas.

O destaque indicado pelas autoras pode ser evidenciado a partir dos resultados

apresentados por estudantes brasileiros no exame do Programme for International Student

Assessment – PISA46 que, mesmo demonstrando uma melhora em relação aos resultados

iniciais (2000), a proficiência matemática desses jovens ainda está longe de ser alcançada.

Assim, corroborando o estudo de Martins (2011), compreendemos que uma das condições

para um ensino de qualidade relaciona-se ao conhecimento que o professor tem da disciplina.

Ponte e Serrazina (2000, p. 15), nesse aspecto, salientam que

o professor precisa de se sentir à vontade na matemática que ensina. Para isso tem de

conhecer bem os conceitos, técnicas e processos matemáticos que intervêm neste

nível de escolaridade. Necessita de ter uma boa noção do que são as grandes ideias

da matemática e qual o seu papel no mundo de hoje. Precisa de ter uma noção clara

de todo o desenvolvimento do currículo de matemática no 1.º ciclo de educação

básica.

No contexto de um programa de formação contínua em matemática para

professores do 1º ciclo, Martins (2011) investigou o desenvolvimento profissional dos

professores envolvidos e discutiu o conhecimento profissional deles. A autora apresentou a

abordagem sobre os diferentes tipos de conhecimentos utilizados por professores para ensinar,

na perspectiva de vários autores, dentre eles, Azcárate (1998), Elbaz (1983), Grossman (1995)

e Guimarães (1999). A partir de Azcárate (1998), por exemplo, sinalizou que a maioria das

investigações realizadas nesse campo vem utilizando como referente, desde a década de 1980,

as propostas de Shulman.

Ao discutir o conhecimento do professor para ensinar matemática e as relações

desse com o desenvolvimento da confiança para ensiná-la, Serrazina (2014) também acentua

as contribuições de Shulman, reafirmando que “a ideia de que só se pode ensinar o que se

sabe tem vindo a ser discutida entre os educadores matemáticos, designadamente a partir dos

trabalhos de Shulman” (SERRAZINA, 2014, p. 1052). A afirmação da autora implica

diretamente na relação que se estabelece entre o conhecimento do professor e o processo

ensino-aprendizagem do aluno.

46

Esta avaliação de âmbito internacional mede o nível educacional de jovens de 15 anos por meio de provas de

Leitura, Matemática e Ciências. Esta avaliação tem como um de seus principais objetivos produzir indicadores

que favoreçam para as discussões relacionadas à qualidade da educação básica de modo a subsidiar políticas

nacionais de melhoria da educação dos países participantes e demais países.

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77

Assim, cumpre destacar o estudo de Shulman que compreende o conteúdo do

ensino como sendo o principal aspecto do conhecimento profissional. Foi neste cenário

investigativo que o modelo de Shulman (1986) toma como foco o conhecimento profissional

do professor, distinguindo-o em três categorias:

Conhecimento do Conteúdo - relaciona-se à compreensão que o professor tem

sobre determinada disciplina, considerando fatos e conceitos. Isso implica no

entendimento das estruturas substantivas e sintáticas da disciplina, o que irá

influenciar em suas escolhas sobre o que e como ensiná-la.

Conhecimento Pedagógico do Conteúdo - trata-se de um conhecimento que vai

além do conteúdo a ser ensinado, englobando variados aspectos de um

determinado conteúdo necessários ao seu ensino. Considera que o conteúdo,

como objeto de ensino-aprendizagem, seja explorado de modo articulado aos

procedimentos didáticos.

Conhecimento Curricular - refere-se ao conhecimento que os professores

têm, não apenas sobre os programas de ensino, mas também acerca das

diretrizes estabelecidas para o ensino nas diferentes esferas governamentais,

sobre os materiais que podem ser utilizados nas disciplinas específicas, ou seja,

uma visão diacrônica em relação aos conteúdos estudados de uma mesma

disciplina; uma capacidade de relacionar os conteúdos trabalhados com outras

disciplinas do mesmo ano (SHULMAN, 1986).

Ao discutir esse modelo, Fiorentini, Souza Jr. e Melo (2011) destacam sua

relevância quanto à atenção dada a aspectos considerados fundamentais na formação teórica

do professor, sem, contudo, deixar de alertar quanto à existência de fortes limitações do

modelo em contextos de prática docente reflexiva.

O modelo de Shulman (1986) refere-se ao conhecimento profissional de modo

geral e, embora aponte para a importância do conhecimento do conteúdo, o faz sem

aprofundar-se nas especificidades desse conhecimento em relação ao ensino de matemática.

Nos estudos realizados no grupo PraPEM, buscamos discutir e aprofundar os

aportes teóricos acerca do conhecimento do professor para o ensino de matemática, iniciando

pelos estudos de Ball, Hill e Bass (2005); Ball, Thames e Phelps (2008); e, a seguir, o de

Carrillo (2014).

Ball, Hill e Bass (2005), apoiados nas propostas de Shulman, discutem sobre a

necessidade de o professor apresentar um conhecimento do conteúdo específico de

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matemática, o que reverberou no modelo Mathematical Knowledge for Teaching (MKT)

(BALL; THAMES; PHELPS, 2008).

O modelo MKT pode ser entendido por “Conhecimento Matemático para o

Ensino”. Como indicado na Figura 3, o MKT é composto por dois domínios, sendo cada um

deles constituído por três subdomínios. Um dos domínios refere-se ao Subject Matter

Knowledge (SMK) e é constituído pelos subdomínios Common Content Knowledge (CCK),

Horizon Content Knowledge (HCK) e Specialized Content Knowledge (SCK). O outro

domínio, o Pedagogical Content Knowledge (PCK), constitui-se por outros três subdomínios,

a saber: Knowledge of Content and Students (KCS), Knowledge of Content and Teaching

(KCT) e o Knowledge of Content and Curriculum (KCC).

Figura 3- Domínios do Conhecimento Matemático para o Ensino

Fonte: Ball, Thames e Phelps (2008, p. 403)

Considerando a teoria sobre o conhecimento nos moldes de Shulman, que indica a

diferenciação entre o conhecimento específico e o conhecimento para ensinar, o modelo

trazido por Ball e seus colaboradores não foi o único a dedicar-se ao conhecimento

matemático do professor. Assim, como assinala Carrillo (2014, p.116, tradução nossa), outros

modelos têm surgindo, além do MKT:

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- Knowledge Quartet (KQ) (Rowland, Turner, Thwaites y Huckstep, 2009), que

considera uma dimensão para as conexões entre os conteúdos e outra para situações

de contingência;

- Conocimiento Didáctico-Matemático (CDM) (Godino, 2009), que propõe um

refinamento dos subdomínios do MKT, considerando as facetas epistemológica,

cognitiva, afetiva, interações, mediações e ecológica, e seus correspondentes níveis

de análise e avaliação47

.

Ao mesmo tempo em que esse autor aponta o pioneirismo do modelo teórico

sobre o Conhecimento Matemático para o Ensino, desenvolvido por Ball e seus

colaboradores, considerando sua relevância para descrever os conhecimentos essenciais na

prática dos professores, realça também que, nesse modelo, a “descrição sobre o conhecimento

dos professores é parcial, omitindo outras dimensões igualmente importantes, tais como

crenças e conhecimento dos professores que não estão especificamente relacionados a

questões matemáticas48” (CARRILLO et al., 2013, p. 2.985-2.986, tradução nossa).

É neste contexto, norteado pelo modelo MKT e as conexões presentes no modelo

KQ, que o modelo Mathematics Teacher’s Specialized Knowledge (MTSK) foi desenvolvido

por um grupo de pesquisadores da Universidade de Huelva (CARRILLO et al., 2013;

CARRILLO, 2014).

Com o intuito de transcender as limitações do modelo MKT, observadas em

diferentes estudos (CARRILLO et al., 2013; MONTES, CONTRERAS, CARRILLO, 2013),

o modelo MTSK é constituído por dois domínios relativo ao Mathematical Knowledge (MK)

e o Pedagogical Content Knowledge (PCK), que são permeados pelas beliefs, que

representam as crenças e as concepções dos professores no âmbito de todos os subdomínios

que integram o modelo MTSK.

O Mathematical Knowledge encontra-se organizado por três subdomínios

Knowledge of Topics (KoT), Knowledge of the Structure of Mathematics (KSM) e o

Knowledge of Practices of Mathematics (KPM). O Pedagogical Content Knowledge (PCK)

também está organizado em três subdomínios: Knowledge of Mathematics Teaching (KMT),

Knowledge of Features of Learning Mathematics (KFLM) e Knowledge of Mathematics

Learning Standards (KMLS). Uma síntese do modelo pode ser observada na Figura 4:

47

“Knowledge Quartet (KQ) (Rowland, Turner, Thwaites y Huckstep, 2009), con la consideración de una

dimensión para las conexiones entre contenidos y otra para las situaciones de contingencia;

- Conocimiento Didáctico-Matemático (CDM) (Godino, 2009), que propone un refinamiento de los subdominios

del MKT a partir de la consideración de las facetas epistemológica, cognitiva, afectiva, interaccional,

mediacional y ecológica, con correspondientes niveles de análisis y consignas para su evaluación”. 48 “[…]’description of teachers’ knowledge is partial, omitting other equally important dimensions, such as

teachers’ beliefs and knowledge not specifically related to mathematical”.

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Figura 4- Modelo MTSK

Fonte: Carrillo et al. (2013)

Considerando o modelo teórico MTSK, ora representado pela Figura 4,

percebenos a complexidade que envolve cada um dos domínios do conhecimento do

professor, quais sejam, o conhecimento matemático e o conhecimento pedagógico do

conteúdo. Cada um desses domínios compreende três subdomínios que envolvem

conhecimentos de naturezas distintas, além das crenças que os permeiam.

Assim como Ribeiro e Carrillo (2011), compreendemos o quanto é imprescindível

que a formação de professores tenha foco no que seja efetivamente necessário para ensinar.

Assim sendo, pretendemos nos aprofundar no modelo Mathematics Teacher’s Specialized

Knowledge (MTSK), em especial, nos três subdomínios do conhecimento matemático (MK) e

no subdomínio Knowledge of Mathematics Teaching (KMT) que integram o PCK, com o

propósito de identificar os conhecimentos especializados do PEM e o tratamento dado a eles

nas pesquisas acadêmicas brasileiras investigadas neste estudo.

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Por fim, reafirmando que a presente pesquisa tem como objeto de estudo o

conhecimento especializado do PEM, na próxima seção apresentamos os principais elementos

que constituem cada um dos três subdomínios do Knowledge Mathematics, de modo especial

com uma lente direcionada à multiplicação, e, uma breve descrição dos três subdomínios do

Pedagogical Content Knowledge (PCK), com ênfase no KMT.

3.4 Conhecimento especializado do professor que ensina matemática: um olhar

na/para a multiplicação

Neste item pretendemos discutir com maior profundidade os domínios do modelo

Mathematics Teacher’s Specialized Knowledge (MTSK), para tanto apresentaremos os

domínios MK e PCK com seus respectivos subdomínios. Ressaltamos que atribuímos certa

ênfase aos subdomínios, cujas dimensões nos ajudam a analisar os conhecimentos por nós

identificados nas três teses que constituem o corpus do metaestudo desta pesquisa.

Quanto ao domínio Mathematical Knowledge (MK), o destaque caberá aos

subdomínios Knowledge of Topics (KoT) e, Knowledge of the Structure of Mathematics

(KSM); e quanto ao Pedagogical Content Knowledge (PCK), a ênfase será ao subdomínio

Knowledge of Mathematics Teaching (KMT). Para isso, tomamos por base as definições de

Carrillo et al. (2013), Flores, Escudero e Aguilar (2013), Flores-Medrano et al. (2014),

Montes, Contreras e Carrillo (2013) e Moriel Junior e Carrillo (2014).

O estudo de Ribeiro et al. (2014) evidencia que as operações se configuram

como um dos conteúdos críticos, quando se considera a relação entre as dificuldades dos

alunos e o conhecimento do professor. Apesar da constatação das dificuldades dos alunos em

relação às operações, as investigações sobre essa temática têm se concentrado

substancialmente nos alunos, em seus raciocínios ou aspectos correlatos, considerando-os não

apenas como origem, mas sobretudo como produto dessa problemática.

O foco dado a tais investigações caminha no mesmo sentido que vem sendo

discutido nos estudos de Martins e Ribeiro (2013), os quais destacam ser raras as

investigações direcionadas a identificar aspectos do conhecimento matemático que estejam

especificamente associados à necessidade da atuação docente visando contribuir para a

melhoria dessa formação.

Em vista disso, trazemos a seguir uma discussão que abrange os diferentes

elementos que compõem cada um dos subdomínios do MK, com o intuito de exemplificar

com diferentes dimensões que envolvem os conhecimentos relacionados ao tema

multiplicação.

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3.4.1 Knowledge of Topics (KoT)

O subdomínio Knowledge of Topics (KoT) pode ser compreendido como o

conhecimento de temas matemáticos. Ele é constituído por aspectos do conhecimento que

transcendem ao conteúdo disciplinar da matéria, sem limitar-se ao conteúdo como objeto de

ensino e aprendizagem, que nesta pesquisa refere-se à multiplicação.

Consiste de um conhecimento profundo dos conteúdos escolares, considerando-se

que o professor deve conhecer o tema que está ensinando numa perspectiva mais abrangente

do aquela que os alunos aprendem (MUÑOZ-CATALÁN et al., 2015).

Segundo Flores-Medrano et al. (2014), no KoT são propostas cinco dimensões do

conhecimento que, correlacionadas, buscam caracterizar determinado tema no subdomínio do

KoT, as quais são fundamentais de serem abordadas pelo professor. Essas cinco dimensões

referem-se a fenomenologia, propriedades e seus fundamentos, registros de representação,

definições e procedimentos. A seguir, apresentamos cada uma dessas dimensões,

exemplificando-as com aspectos relacionados à multiplicação.

Fenomenologia: nesta dimensão são considerados os conhecimentos relacionados aos

aspectos fenomenológicos do tópico, como por exemplo, a origem do conceito e dos usos e

aplicações do tema dentro da própria matemática. No caso da multiplicação, essa tem suas

origens na extensão da adição, para o caso específico de repetidas parcelas iguais. Da mesma

forma como ocorre no campo das frações, em que é fundamental “identificar quando uma

fração expressa uma relação parte-todo (discreta ou contínua), a comparação de duas

quantidades discretas ou duas medidas, o resultado de uma divisão entre dois inteiros ou atua

como operador”49 (CONTRERAS et al., 2017, p.5), na multiplicação é essencial que sejam

identificados os diferentes significados expressos por ela, entre eles a soma de parcelas iguais,

a multiplicação comparativa, a configuração retangular, a combinatória, a proporcionalidade.

Propriedades e seus fundamentos: esta dimensão considera o conhecimento do

professor referente às propriedades e aos fundamentos atribuídos a determinado tema ou

procedimento específico. Nesta dimensão, alguns dos conhecimentos do PEM referem-se às

propriedades da multiplicação, como por exemplo:

Propriedade Comutativa: a ordem dos fatores envolvidos na multiplicação não

altera o resultado da operação:

Se , , então temos que . Isso é, operacionalmente, o

resultado de a × b é equivalente ao resultado de b × a.

49Tradução nossa para “identificar cuándo una fracción expresa una relación parte-todo (discreta o continua), la

comparación de dos cantidades discretas o dos medidas, el resultado de una división entre dos números enteros

o actúa como operador” (CONTRERAS et al., 2017, p.5).

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Propriedade Associativa: o agrupamento ou associação dos fatores,

independentemente da ordem, não altera o resultado da operação:

Se , então temos que .

Propriedade Distributiva: um número multiplicado pela soma de duas ou mais

parcelas é equivalente à soma dos produtos de cada uma das parcelas pelo

respectivo número, ou seja:

.

Tal propriedade é válida também para a distribuição em relação à subtração.

Elemento Neutro: o número 1 é o elemento neutro da multiplicação nos números

reais, pois qualquer número real multiplicado por 1 resulta nele mesmo, isto é,

.

Elemento inverso: para todo número real , existe um outro número real

, tal que o produto é igual ao número 1. Tal número é igual ao

quociente .

Fechamento: o produto de dois ou mais números racionais é sempre um número

racional. Entretanto, o produto de dois números irracionais nem sempre é um

número irracional, por exemplo, é igual a 2, que é racional.

Anulação: a multiplicação de qualquer número real por zero resulta em zero. Isto é,

qualquer que seja a,

.

Também estariam contidas nesta dimensão do conhecimento, as definições e as

demonstrações informais, ainda que não sejam incorretas do ponto de vista do pensamento

matemático, como as que são realizadas através de exemplos, verificações, modelagem ou

outros (FLORES-MEDRANO et. Al, 2014).

Registros de representação: outra dimensão do conhecimento do professor que ensina

matemática refere-se às distintas formas de representação (numérica, gráfica, verbal, analítica,

etc.) relativas a cada um dos temas/tópicos a serem abordados. Diferentes formas de

representação também podem estar associadas com a notação e com o vocabulário adequado

(FLORES-MEDRANO et al., 2014).

No que se diz respeito à multiplicação, o sistema de representação pode ser

contemplado, por exemplo, por registros verbais (multiplicando, multiplicador, produto);

simbólico (×, ·, ou *), numéricos 5(2 + 20); pictóricos, dentre outros.

Nessa dimensão do KoT, da mesma forma que Contreras, Montes, Climent e

Carrillo (2017) consideram por elementos de linguagem associada ao tema frações (fração

irredutível, fração equivalente, fração imprópria, numerador, denominador), podem ser

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entendidos como elementos da linguagem associados com a multiplicação, por exemplo as

expressões: fatores, múltiplos, dobro, triplo, entre outros.

Definições: de modo semelhante como acontece na matemática escolar em que

comumente o objeto matemático é definido a partir de uma série de propriedades que o

atendem (FLORES-MEDRANO et al., 2014), nesta dimensão o conhecimento pode ser

considerado pelo conjunto de propriedades que definem o objeto matemático, assim como as

formas alternativas que o professor usa para definir esse objeto, sem, contudo, incluir o

conhecimento das características necessárias à definição. Assim como acontece no âmbito das

frações, onde é desejável ao professor conhecer que a fração pode ser definida como o

quociente de números inteiros ou como a representação de uma relação de equivalência no

conjunto dos números racionais (CONTRERAS et al., 2017), no contexto da multiplicação

compreendemos que também é esperado que o professor conheça que esta operação, no

âmbito dos naturais, pode sempre ser definida também como a soma de parcelas iguais em

que

a × b ou a · b

(a)

a × b = b + b + b + ... + b

O número b refere-se à parcela que se repete, o qual é denominado por multiplicando.

O número a>1 refere-se ao número de vezes que b se repete, o qual é denominado por

multiplicador.

Aos dois números envolvidos, multiplicando e multiplicador, dá-se o nome de fatores;

e o resultado, nomeia-se por produto.

Vale destacar que, ao registrar na forma vertical, normalmente se apresenta

a

× b e se lê b vezes a.

Procedimentos: nesta dimensão é considerado, por exemplo, o conhecimento de

algoritmos convencionais ou alternativos, envolvendo conhecimentos relativos ao modo como

os algoritmos são usados, condições suficientes para seu uso, fundamentos dos algoritmos

(porquês) e as características que o objeto resultante associa ao tópico trabalhado.

Assim, para compreender por que ao dividir duas frações “multiplicamos em cruz”,

como algoritmo convencional, ou compreender que existem procedimentos

alternativos, tal como encontrar duas frações equivalentes às dadas, com o mesmo

denominador, e que o resultado é obtido pela divisão de seus numeradores, faz parte

dessa dimensão do conhecimento especializado. (CONTRERAS et al., 2017, p.5)

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De modo semelhante, conhecer o algoritmo convencional da multiplicação e

outros alternativos integram essa dimensão do conhecimento. Como exemplos desses

algoritmos, destacamos alguns deles indicados em pesquisa sobre o tema, sendo o primeiro

considerado um algoritmo convencional, conforme a Figura 5.

Figura 5- Exemplos de algoritmos da multiplicação

Fonte: Fuson (2003, p. 303)

Conhecer algoritmos alternativos permite ao professor problematizar e explorar

distintos significados e procedimentos da multiplicação, favorecendo compreender questões

relacionadas a como se faz, quando se faz, porque se faz, potencializando, assim, caracterizar os

resultados relativos aos distintos significados.

3.4.2 Knowledge of the Structure of Mathematics (KSM)

Ao discutir a produção de tarefas de distintas perspectivas com um olhar para o

conhecimento especializado do professor e do formador, Ribeiro (2016) destaca que a

aprendizagem matemática dos alunos relaciona-se intensamente com a “qualidade da

matemática explorada, aos objetivos matemáticos perseguidos e às formas em que essa

matemática é explorada com os estudantes [...], deixando a ‘porta aberta’ para futuras

aprendizagens” (RIBEIRO, 2016, p.2). Entendemos essa “porta aberta” compreendida a partir

das dimensões do conhecimento pertencentes ao subdomínio KSM que é constituído por

conhecimentos das relações que o professor pode estabelecer entre diferentes conteúdos a

ensinar em determinado ano escolar ou em outros níveis escolares. Conforme ressaltam

Montes et al. (2013), o KSM contempla especificamente as conexões entre temas

matemáticos. Já para Contreras et al. (2017), o conhecimento de conexões estabelecidas entre

os objetos matemáticos é a essência do Knowledge of the Structure of Mathematics.

Para Flores-Medrano et al. (2014), são dois os aspectos que geram conexões que

interessam ao KSM: a temporalidade compreendida numa perspectiva sequencial que gera

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conexões de complexidade e simplificação; e a delimitação de objetos matemáticos que geram

conexões intraconceituais e interconceituais.

Entretanto, sendo as conexões intraconceituais contempladas no KoT, no

subdomínio KSM são consideradas as conexões interconceituais. Esses autores propõem

quatro dimensões do conhecimento, nomeadamente: Conexões de Complexificação,

Conexões de Simplificação, Conexões de Conteúdos Transversais e Conexões Auxiliares.

Conexões de complexificação: as conexões matemáticas que integram essa

dimensão do conhecimento estão associadas às conexões que se estabelecem entre os

conteúdos que estão sendo abordados e aqueles a serem ensinados futuramente, em outros

anos escolares. Ensinar a matemática elementar tendo por base a matemática avançada, no

sentido de Klein (1993), se reflete na projeção dos conteúdos ensinados que potencializam o

ensino dos conteúdos futuros.

No caso da multiplicação, entendemos o conhecimento que um professor tem do

trabalho de fatoração, simplificação de frações, expressões numéricas e algébricas como uma

complexidade das atividades envolvendo a multiplicação e a propriedade distributiva em

relação à adição ou à subtração como parte desta dimensão do conhecimento.

Por exemplo, por meio de problemas ou aglomerados de problemas, na

perspectiva de Van de Walle (2009), envolvendo operações de adição e multiplicação, pode-

se, intencionalmente, problematizar questões relativas à ordem em que se realizam as

operações, o que é fundamental para compreender os porquês e dar sentido às “regras” usadas

na resolução de expressões numéricas. Como por exemplo:

1) Comprei cinco pacotes com quatro figurinhas cada e ganhei três pacotes com

4 figurinhas cada, com quantas figurinhas fiquei?

5 x 4 + 3 x 4

2) Ganhei cinco figurinhas de um amigo e comprei três pacotes com 4 figurinhas

cada, com quantas figurinhas fiquei?

5 + 3 x 4

Conexões de conteúdos transversais: as conexões matemáticas que constituem

essa dimensão do conhecimento referem-se à natureza de objetos matemáticos específicos

que, embora tenham abordagens sob várias formas e em diferentes contextos no transcorrer

dos anos escolares, tais objetos podem ser compreendidos a partir de uma característica

comum. No contexto da multiplicação, podemos exemplificar com os conteúdos de

proporção, razão, porcentagem, função afim, que, implicitamente, envolvem a

proporcionalidade que é uma característica comum a todos esses temas. Assim, para discutir a

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proporcionalidade no ensino de função, o professor pode fazer uso do conteúdo de proporção,

sendo ambos conteúdos permeados, em comum, pela multiplicação na discussão da

proporcionalidade, uma vez que existe um fator de proporcionalidade comum aos dois temas,

conforme esquema elaborado a seguir:

Razão/ proporção Função

2 : 4 = 4 : 8

x 2

x 2

f(2) = 4

f(4) = 8

f (n) = 2 . n

Conexões auxiliares: esta dimensão considera conexões auxiliares e, no caso da

multiplicação, podemos, por exemplo, fazer uso da divisão como conexão auxiliar para

encontrar o número que deve ser atribuído ao multiplicando em determinados problemas. Em

casos onde necessite descobrir a relação um para muitos, é desejável um conhecimento que

permita descobrir o multiplicador para que se obtenha a proporcionalidade em qualquer

quantia a ser multiplicada em determinado problema.

No problema que segue, por exemplo, a divisão pode ser compreendida como uma

conexão auxiliar, uma vez que a divisão não se trata, aqui, de uma conexão intraconceitual

entre as operações de multiplicação e divisão.

Para confeccionar três carros são necessárias 12 rodas, quantas rodas preciso

para confeccionar 5 carros?

Carros Rodas

3 :3 12 :3

1 4

5 5 x 4 = 20

No problema proposto, é expectável que se identifique, dentre outras alternativas,

a relação um para muitos, recorrendo à divisão, e de modo especial, ao máximo divisor

comum, que pode ser considerado conhecimentos constituintes dessa dimensão, ou seja das

conexões auxiliares do KSM.

3.4.3 Knowledge of Practice of Mathematics (KPM)

O subdomínio Knowledge of Practice of Mathematics (KPM) abarca o

conhecimento relacionado às formas de conhecer, criar ou produzir na área de matemática –

conhecimento sintático – aspectos da comunicação matemática, raciocínio e prova

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matemática. Está incluído nesse subdomínio o conhecimento sobre o que é definir, as

características da definição e seu papel na construção do conhecimento matemático.

No âmbito dos procedimentos em matemática, podemos incluir o reconhecimento

de contraexemplos para invalidar uma conjectura. No caso da multiplicação: um exemplo

pode ser dado a partir da questão: o produto de dois números quaisquer resulta sempre em um

valor maior que um dos fatores? Compreender a multiplicação para além dos números

naturais permite ao professor apresentar contraexemplos (como por exemplo: 0,5 x 0,4) que

resultam valores inferiores aos fatores envolvidos na multiplicação. Desde que um de seus

fatores não seja o elemento neutro da multiplicação, ou seja, o multiplicador ou multiplicando

não pode ser o número 1.

O conhecimento de uma demonstração específica do tema, no entanto, integra o

subdomínio do KoT. O subdomínio KPM é importante tanto para o professor “dar solidez ao

próprio conhecimento, como para saber gerir os raciocínios matemáticos colocados em jogo

por seus alunos na hora de aceitá-los, refutá-los ou refiná-los” (FLORES-MEDRANO et al.,

2014, p. 8).

Cabe destacar que a discussão que acabamos de tecer do Mathematical

Knowledge (MK), em especial dos três subdomínios que o constituem, não teve a pretensão

de delimitar todos os conhecimentos que integram as diferentes dimensões de cada

subdomínio, tendo em vista a complexidade do tema e o movimento contínuo de investigação

das dimensões do conhecimento especializado para o PEM.

Ao contrário, buscamos apenas encetar alguns exemplos relativos ao

conhecimento de multiplicação de modo a oferecer uma maior visibilidade à demanda de

investigações relativa ao conhecimento especializado do PEM relacionado à multiplicação.

No próximo item, passamos a discutir os elementos que compõem cada um dos

subdomínios que constituem o Pedagogical Content Knowledge (PCK), tencionando

exemplificar com conhecimentos didáticos relacionados ao tema multiplicação. Neste

domínio, daremos ênfase às dimensões do conhecimento que integram o subdomínio

Knowledge of Mathematics Teaching (KMT), tendo em vista a mobilização das diferentes

dimensões desse conhecimento nas pesquisas pertencentes às teses que constituem o corpus

do nosso metaestudo.

3.4.4 Knowledge of Mathematics Teaching (KMT)

Segundo Flores-Medrano et al. (2014), pertencem a esse subdomínio

conhecimentos relativos a recursos, materiais, às formas de apresentar o conteúdo e suas

potencialidades para ensiná-lo, assim como ao conhecimento de exemplos que sejam

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adequados para cada conteúdo, intenção ou contexto específico. Os autores enfatizam que os

conhecimentos deste subdomínio são intrinsicamente dependentes dos temas matemáticos em

si, excluindo, por exemplo, os conhecimentos resultantes de uma visão pedagógica de modo

geral como, por exemplo, proposta de trabalho em duplas ou grupo.

Ao discutir e caracterizar os conhecimentos do subdomínio Knowledge of

Mathematics Teaching (KMT), Escudero-Ávila, Contreras e Vasco (2016) apresentam três

dimensões desse conhecimento, a saber: conhecimento de teorias de ensino associadas a um

conteúdo matemático, conhecimento de características matemáticas específicas de recursos

didáticos para o ensino do conteúdo matemático e conhecimento de estratégias, técnicas e

tarefas para o ensino do conteúdo matemático. A seguir, discutimos essas três dimensões.

Conhecimento de teorias de ensino associadas a um conteúdo matemático: essa

dimensão compreende, dentre outros aspectos, o conhecimento que o professor possa ter em

relação a teorias específicas da Educação Matemática ou de observações e reflexões da

atividade matemática da aula, as quais podem ser provenientes de pesquisas, propostas

didáticas contidas no currículo ou de experiências anteriores do professor (ESCUDERO-

ÁVILA; CONTRERAS; VASCO, 2016).

Por exemplo, conhecer as quatro etapas de uma aula investigativa, a partir dos

estudos de Ponte, Brocardo e Oliveira (2003), que envolvem: (a) preparação, por parte do

professor, de uma atividade exploratória e inquiridora para os alunos; (b) introdução da

atividade e arranque da sua realização pelos alunos; (c) realização, em grupo, da atividade e

da elaboração do relatório da atividade desenvolvida; (d) socialização e discussão coletiva dos

resultados produzidos pelos grupos.

O conhecimento das potencialidades desse tipo de tarefa associado à

multiplicação para o desenvolvimento de tarefas para a aula, e do ambiente para o trabalho

matemático dessas atividades, integra essa dimensão do conhecimento especializado do PEM.

Os conhecimentos dessa dimensão tratam de aspectos teóricos que derivam de estudos

específicos da Didática da Matemática como disciplina científica.

Conhecimento das características matemáticas específicas de recursos didáticos

para o ensino do conteúdo matemático: nesta dimensão são considerados os conhecimentos

relativos às características matemáticas específicas associadas aos recursos didáticos, sejam

eles materiais ou virtuais para ensinar matemática (livro texto, régua, calculadora, softwares,

material manipulável estruturado, entre outros), assim como os benefícios e dificuldades

associados ao uso destes recursos como apoio para o ensino de determinado tema matemático

(FLORES-MEDRANO et al., 2014).

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Conhecimento das estratégias, técnicas e tarefas para o ensino do conteúdo

matemático: a despeito de esta dimensão do conhecimento estabelecer intensa relação à

anterior, aqui o foco se volta à intencionalidade do professor em relação ao ensino de um

determinado tema matemático. Portanto, esta dimensão abarca o conhecimento sobre o

potencial matemático de certas sequências de atividades, tarefas, estratégias ou técnicas

didáticas na abordagem de um tema em casos particulares de ensino, de modo a atingir o

objetivo proposto. Dentre os aspectos que integram essa dimensão do conhecimento, podemos

considerar: a escolha de exemplos potentes para representar o conteúdo, considerando o

tempo disponível e a intencionalidade da proposta, os elementos que denotam a

intencionalidade do professor ao ensinar determinado tema (FLORES-MEDRANO et al.,

2014).

Segundo Escudero-Ávila, Contreras e Vasco (2016) também são incluídos nessa

dimensão os conhecimentos que abordam uma sequência estruturada de exemplos para

auxiliar na compreensão do significado de um conteúdo matemático, assim como o

conhecimento das condições específicas da sala para a qual se direcionam tais sequências.

Para esses autores, os aspectos dessa dimensão do conhecimento capacitam o professor a

optar/selecionar materiais (livro didático, por exemplo) em função dos benefícios que trazem

para o processo de aprendizagem.

Um exemplo que pode integrar essa dimensão de conhecimento refere-se à

elaboração e à implementação de cadeia de tarefas (ROCHA; MENINO, 2009), cujo estudo

apresenta uma cadeia para desenvolver estratégias de multiplicação. No estudo foram

desenvolvidas quatro tarefas intencionalmente focadas na transição do cálculo por contagem

para o cálculo por estruturação, apoiados na exploração de contextos envolvendo a disposição

retangular de objetos. Para esses autores, o uso de cadeia de tarefas torna-se imprescindível

quando se pretende que a competência matemática se amplie ao longo das experiências

matemáticas dos alunos.

Outro exemplo trata das cadeias numéricas, que objetiva desenvolver nos alunos

o cálculo mental eficiente que contribua a explicitar “determinadas ideias e procedimentos de

cálculo associados a propriedades dos números e multiplicação” (MENDES; BROCARDO;

OLIVEIRA, 2013, p. 143).

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3.4.5 Knowledge of Features of Learning Mathematics (KFLM)

No subdomínio Knowledge of Features of Learnig Mathematics (KFLM) estão

incluídas diferentes dimensões do conhecimento relacionadas às características de

aprendizagem inerentes ao conteúdo matemático. Segundo Flores-Medrano et al. (2014), o

foco principal do processo de aprendizagem a ser analisado volta-se ao conteúdo matemático

como objeto de aprendizagem, tendo por interesse compreender o conhecimento relacionado

às características de aprendizagem decorrentes da interação do aluno com o conteúdo

matemático, e não nas características do primeiro.

Flores-Medrano et al. (2014) apresentam e discutem as quatro dimensões de

conhecimento incluídas nesse subdomínio a saber: formas de aprendizagem, fortalezas e

dificuldades associadas com a aprendizagem, formas de interação dos alunos com o conteúdo

matemático e concepções dos estudantes sobre matemática

Formas de aprendizagem: nesta dimensão, os autores consideram o conhecimento

do professor relativo aos modos de aprendizagem associados à natureza do conteúdo

matemático.

Fortalezas e dificuldades associadas com a aprendizagem: o foco desta dimensão

relaciona-se ao conhecimento do professor relativo a erros, obstáculos e dificuldades

associados à matemática de modo geral e a um determinado tema específico.

Formas de interação dos alunos com o conteúdo matemático: esta dimensão

envolve os conhecimentos que o professor possui acerca dos processos e estratégias de

aprendizagem dos estudantes, sejam eles convencionais ou não e dos conhecimentos relativos

à comunicação/linguagem e aos termos utilizados para abordar um conteúdo específico.

Concepções dos estudantes sobre Matemática: nesta dimensão estão incluídos os

conhecimentos que o professor possui em relação aos interesses e às expectativas dos

estudantes acerca da disciplina, como, por exemplo, o conhecimento que prejulga em relação

a facilidade ou dificuldade que os alunos associam a diferentes áreas da matemática.

3.4.6 Knowledge of Mathematics Learning Standards (KMLS)

O subdomínio Knowledge of Mathematics Learning Standards (KMLS) inclui os

conhecimentos dos padrões de aprendizagem matemática que têm como principais fontes

currículos institucionais ou não e resultados de pesquisas relacionadas ao estágio de

conhecimento matemático que podem vir de professores experientes. Na perspectiva do

MTSK, um padrão de aprendizagem é compreendido como “instrumento” que indica o nível

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de habilidades atribuídas aos estudantes em determinado momento escolar para que eles

possam entender, construir e conhecer a matemática.

Para este subdomínio, Flores-Medrano et al. (2014) apresentam e discutem três

dimensões de conhecimento: conteúdos matemáticos elementares a ensinar, conhecimento ao

nível de desenvolvimento conceitual e procedimental esperado e sequenciação de diversos

temas.

Conteúdos matemáticos elementares a ensinar: esta dimensão envolve o

conhecimento do professor acerca de quais conteúdos matemáticos devem ser ensinados no

ano escolar em que está atuando, assim como quais habilidades específicas são esperadas para

desenvolver com estudantes desse ano escolar.

Conhecimento ao nível de desenvolvimento conceitual e procedimental esperado:

refere-se ao conhecimento que o estudante apresenta para um tema/conteúdo em determinado

momento/ano escolar. No caso da multiplicação, entendemos que conhecer o tipo de

procedimento, ou o sentido da multiplicação que se espera de um estudante, por exemplo, do

segundo ano, faz parte dessa dimensão do conhecimento.

Sequenciação de diversos temas: Esta dimensão de conhecimento refere-se ao

encadeamento de temas, seja no mesmo ano/curso ou em anos anteriores50 e subsequentes51.

Como exemplo para a multiplicação, pela proposta contida na BNCC, no 2º ano a

multiplicação (por 2, 3, 4 e 5) deve ser trabalhada de modo a desenvolver habilidades relativas

tanto à elaboração como à resolução de problemas, envolvendo adição de parcelas iguais, e os

significados de dobro, metade, terça parte.

No 3º ano, estende-se para os fatos básicos da multiplicação (por 2, 3, 4, 5, 10),

para o cálculo mental ou escrito, para a resolução e a elaboração de problemas de

multiplicação, envolvendo os significados de adição de parcelas iguais e elementos

apresentados em disposição retangular.

Além dos significados já trabalhados, no 4º ano é incluído o trabalho com a

proporcionalidade, utilizando estratégias diversas como cálculo por estimativa, cálculo mental

e algoritmos, reconhecendo que as regras do SND podem ser estendidas para representação

decimal de um número racional, relacionando-os aos décimos e aos centésimos no contexto

do sistema monetário brasileiro.

50 Conhecimento das habilidades prévias que o estudante tem para enfrentar as tarefas. 51 Conhecimento da potencialidade a ser desenvolvida em relação a um determinado assunto.

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E, para o 5º ano se propõem problemas envolvendo a multiplicação de números

racionais52 em sua representação decimal, sendo finalmente explicitado o trabalho com o

sentido de combinatória, que envolve o princípio multiplicativo.

Em síntese, este capítulo apresentou uma discussão teórica sobre os principais

aspectos relativos ao ensino e à aprendizagem de multiplicação nos anos iniciais do Ensino

Fundamental de modo a compreender e aprofundar nossos conhecimentos acerca desse campo

de conhecimento. A seguir discutimos o conhecimento especializado do professor que ensina

matemática e descrevemos o modelo Mathematics Teacher’s Specialized Knowledge

(MTSK), visando identificar alguns dos conhecimentos especializados que integram as

diferentes dimensões do conhecimento nos subdomínios do Mathematical Knowledge (MK) e

do Pedagogical Content Knowledge (PCK).

Com base nos referencias discutidos nesse capítulo, passamos a apresentar nossas

análises a partir das sínteses interpretativas das três teses relativa ao PEM nos anos iniciais

que constituíram o corpus deste estudo metassintético.

52 Com restrição à representação decimal finita.

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CAPÍTULO 4 - SÍNTESES INTERPRETATIVAS DAS TESES: UM OLHAR

PARA O CONHECIMENTO ESPECIALIZADO DO PEM SOBRE A

MULTIPLICAÇÃO

Neste capítulo, buscamos produzir sínteses interpretativas das três teses que

constituíram o corpus de análise relativo à metassíntese do presente estudo, sendo elas a de

Megid (2009), a de Silva (2009) e a de Merlini (2012). Apoiados em Fiorentini e Crecci

(2017), afirmo que essas sínteses não se restringem a resumir os trabalhos. Elas resultam da

elaboração da pesquisadora a partir da análise e da interpretação de cada um desses trabalhos,

com destaque aos aspectos que nos interessam, tendo em vista o foco de estudo da presente

pesquisa: o conhecimento especializado do PEM sobre ensino e a aprendizagem da

multiplicação nos anos iniciais da escolarização.

Para cada uma das sínteses interpretativas apresentamos, inicialmente, a trajetória

de cada pesquisadora, por entender que os desafios enfrentados por elas podem ter

influenciado suas escolhas em relação à definição ou à seleção dos conhecimentos tratados no

processo formativo. A vital relevância em apresentá-la deve-se ao fato de que, ao

compreender a trajetória profissional do formador, se podem desvendar importantes relações

entre sua trajetória e os diferentes aspectos do conhecimento matemático por ele privilegiado

na formação do PEM nos anos iniciais.

Na sequência, de modo a contextualizá-las, descrevemos o caminho

metodológico, destacando o objetivo e a questão ou problema investigativo, o contexto e os

sujeitos, o processo metodológico utilizado e as principais bases teóricas.

Por fim, a ênfase deste capítulo se dará, sobretudo, a partir de nossas intepretações

e análises dos dados e das análises apresentadas nas três teses já referidas, que apresentaram

discussões sobre diferentes aspectos relativos à multiplicação, uma no contexto de formação

inicial e outras duas em contexto de formação continuada.

Nosso interesse em revisitar essas teses objetiva identificar conhecimentos

especializados sobre multiplicação dos PEM, tomando como lente os subdomínios do MTSK.

Nossas análises e interpretações desenvolvem-se a partir dos indícios53 desses conhecimentos,

uma vez que, apesar de os trabalhos terem sido produzidos numa outra perspectiva,

entendemos que, certamente, encontraríamos aspectos do conhecimento especializado do

53 Aqui utilizamos o termo indício no sentido de oferecer sinais ou indicações de conhecimento especializado,

diferentemente do sentido considerado na estrutura analítica do MTSK em que indícios se configuram como

oportunidades de formular perguntas para indagar a amplitude e a profundidade de tal conhecimento.

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PEM nos anos iniciais relativos à multiplicação, e analisá-los a luz da teoria do MTSK pode

contribuir para identificar e ampliar a compreensão desse campo de pesquisa.

4.1 – Síntese interpretativa do estudo de Megid (2009)

Nesta seção apresentamos uma síntese interpretativa da tese desenvolvida por

Megid (2009) com estudantes de um Curso de Pedagogia no contexto de disciplinas voltadas

ao ensino de matemática. Sua investigação caracterizou-se como uma pesquisa-ação

estratégica com base em Franco (2005) que, permeada pela escrita de memórias e narrativas

de aprendizagem das participantes, reuniu também características de uma pesquisa narrativa

(CLANDININ; CONNELLY, 2000). Dentre outros instrumentos, Megid (2009) organizou o

corpus de análise a partir das narrativas orais e escritas das resoluções das tarefas propostas

sob uma perspectiva exploratória, realizadas em diferentes momentos, ora individualmente

ora em pequenos grupos.

Esta seção subdivide-se em tópicos nos quais apresentamos o percurso da

pesquisadora e as relações que foram se estabelecendo ao longo de sua investigação, os

principais aportes teóricos e um breve contexto do processo formativo, os aspectos

metodológicos da pesquisa, finalizando com nossas interpretações relativas ao conhecimento

especializado para ensinar multiplicação nos anos iniciais identificados na tese de Megid

(2009).

4.1.1 - Trajetória da pesquisadora e conexões com o problema investigado

A trajetória docente de Megid teve início na Educação Infantil onde lecionou por seis

anos, passando depois por lecionar quatro anos nos anos iniciais do Ensino Fundamental.

Com formação em processamento de dados, portanto sem ainda ter cursado o Magistério54,

prezava por continuar a lecionar nos anos iniciais, o que a motivou cursar duas licenciaturas,

Pedagogia e Matemática, que lhe habilitaram à docência nos anos iniciais e finais do Ensino

Fundamental.

Compreender a constituição dos alunos em relação ao estudo de matemática foi

uma busca incessante da pesquisadora, o que pode ser evidenciado quando narra seus 29 anos

de atuação docente na Educação Infantil e no Ensino Fundamental. Destaca a construção do

conhecimento da profissão, ou seja, do seu “eu” professora, relacionando-o com a percepção

da necessidade que tinha em se informar cada vez mais (MEGID, 2009). Nessas buscas,

retornou à universidade, após 15 anos afastada, e encontrou no curso de especialização

54 Magistério – curso de nível médio para lecionar nos anos iniciais e Ed. Infantil.

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intitulado “Ciência, Arte e Prática Pedagógica” a importância do trabalho em grupo de

professores, cujo ambiente permitia trocas de experiências, o que potencializou seu gosto

pelos estudos compartilhados.

Foi neste contexto que a pesquisadora passou a buscar a produção e a negociação

de significados entre alunos e também entre alunos e professora, sobretudo quando investigou

“os saberes discentes e docentes produzidos ‘em ação’ nas aulas de matemática de uma 6ª

série do Ensino Fundamental sobre o tema Números Relativos” (MEGID, 2009, p. 3). Atenta

aos desafios postos à educação básica, tais experiências mobilizaram-na a investigar, como

dissertação de mestrado, os conhecimentos matemáticos trabalhados e a importância da

interação entre os diferentes atores para que o aluno verbalize e represente matematicamente

suas ideias55.

Em continuidade ao movimento de constituir-se professora, passou a lecionar

disciplinas relacionadas à didática e à metodologia da matemática no curso de Pedagogia,

enfrentando novos desafios, então, no âmbito da formação inicial de professores.

Entendemos que o gosto pelos estudos compartilhados parece ter reverberado em

sua prática docente, uma vez que o enfrentamento à nova situação se desenvolveu em

sincronia com seu ingresso no Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Formação de Professores

de Matemática - GEPFPM, vinculado ao Grupo de Pesquisa Prapem (Prática Pedagógica de

Ensino em Matemática).

Foi nesse contexto que, como formadora de professores no curso de Pedagogia

voltada à formação matemática e didático-pedagógica do PEM nos anos iniciais e seu contato,

no GEPFPM, com a Pesquisa Narrativa, procurou novos conhecimentos para formar as

futuras PEM na infância, tendo resultado desse processo sua pesquisa de doutorado.

A pesquisadora tencionou, na tese de doutorado, investigar a aprendizagem das

futuras professoras em relação às quatro operações aritméticas elementares, mediante uso de

narrativas relacionadas às memórias de aprendizagem das estudantes ao longo da vida, e teve

por base atividades reflexivas e tarefas exploratório-investigativas, na tentativa de responder à

seguinte questão de pesquisa:

Que contribuições as narrativas e as dinâmicas de cooperação em um contexto de

prática reflexiva e exploratório-investigativa, envolvendo as operações aritméticas

elementares, podem trazer ao processo de constituição de professoras que irão

ensinar matemática para os primeiros anos do Ensino Fundamental? (MEGID, 2009,

p. 5)

55 Dissertação intitulada: “O processo de produção e elaboração dos conhecimentos pelos alunos e o processo de

produção de conhecimentos pedagógicos e profissionais pela professora” (MEGID, 2009, p. 3).

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A escrita da trajetória da pesquisadora Megid (2009), aliada aos itens que

trazemos na sequência, estabelece uma breve retrospectiva que nos auxilia a compreender a

organização do processo formativo narrado e analisado em sua tese. Evidenciar o contexto e

as motivações da pesquisadora permite uma maior compreensão acerca de suas escolhas,

contribuindo, assim, para que possamos discutir o conhecimento matemático do PEM na

infância, visando identificar conhecimentos especializados que possam contribuir em sua

atividade docente.

No próximo item, apresentamos a organização da tese de Megid (2009), com

destaque aos principais referenciais, de modo a proporcionar uma visão panorâmica geral de

sua pesquisa.

4.1.2 - Estrutura e caminhos da pesquisa

A tese de Megid56 (2009) investigou o processo de (re)significação do sistema de

numeração decimal e das quatro operações aritméticas básicas de alunas de um curso de

Pedagogia, durante a disciplina Ensino Aprendizagem de Matemática (EAM). Centrada na

(re)construção de saberes, de modo mais específico nas operações aritméticas fundamentais

das alunas participantes de um curso de formação para a docência, destaca como objetivo

investigativo:

analisar e interpretar como se dá o processo de aprendizagem profissional e de

(re)significação dessas noções pelas alunas participantes, bem como os indícios de

mudança de relação com a matemática e seu ensino que elas apresentam ao longo da

experiência formativa, quando utilizados recursos das dinâmicas de cooperação e

das narrativas. (MEGID, 2009, p. 50)

Sua pesquisa adota como aporte teórico Freitas (2006), Josso (2004, 2006), e

Suárez (2008), principalmente em relação às narrativas e às escritas de si; Fiorentini (2006) e

Nacarato (2008), relativo aos conteúdos matemáticos e didático-pedagógicos; e Alrø e

Skovsmose (2006), quanto às dinâmicas de cooperação. Contempla ainda os estudos de

Castro (2003) no que se refere às tarefas exploratório-investigativas, além das contribuições

de Powel e Bairral (2006) para as escritas de narrativas propostas durante a formação.

Em nossa compreensão, o objetivo investigativo e o aporte teórico adotado pela

pesquisadora nos indicam possibilidades de alguns conhecimentos especializados por parte da

formadora-pesquisadora. Ela explicita em seus objetivos e questão investigativa o uso de

conhecimentos fundamentado em teorias resultantes de investigação em Educação

Matemática, tais como as dinâmicas de cooperação e o uso de narrativas; e uma proposta de

56 Sempre que necessário, usaremos a expressão “tese de Megid” para nos referirmos à tese de Megid (2009).

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formação pautada em contexto de prática reflexiva e exploratório-investigativa. Esse

conhecimento parece integrar uma das dimensões do subdomínio KMT (ESCUDERO-

ÁVILA; CONTRERAS; VASCO, 2016), visto que a experiência prévia da formadora em

relação a tais práticas combinadas com o conhecimento de teorias de ensino associadas a

determinados conteúdos matemáticos (ESCUDERO-ÁVILA; CONTRERAS; VASCO,

2016), podem ter contribuído para que ela fizesse uso desse conhecimento no delineamento da

formação proposta (SCHOENFELD; KILPATRICK, 2008).

Com base nesses referenciais, a pesquisadora focou suas análises em busca de

possíveis (re)significações e aprendizagens de conhecimentos das futuras professoras em

relação às operações aritméticas, a partir de atividades realizadas em experiência formativa

desenvolvida no contexto de formação inicial. Segundo ela, o contexto permeado pelas

Práticas Reflexivas e Exploratório-Investigativas envolveu, dentre outros instrumentos, as

escritas de narrativas de aprendizagem das estudantes, as quais foram tomadas como material

de análise por Megid. O recorte apresentado em sua pesquisa descreve e analisa as tarefas e as

atividades desenvolvidas no processo formativo, conforme a seguinte sequência:

a) o sistema indo-arábico e o trabalho com o ábaco; b) a atividade do cálculo mental;

c) a atividade envolvendo a adição; d) a descoberta do material dourado; e) a adição

e a subtração no ábaco; f) as reflexões sobre a subtração; g) os jogos como auxílio

na aprendizagem da adição e da subtração; h) a multiplicação; i) a tão esperada

divisão. (MEGID, 2009, p. 76)

Ao analisarmos as atividades que integraram a proposta do processo formativo,

encontramos indícios de conhecimentos relativos à sequência de diferentes conteúdos

(KMLS), cuja dimensão é atribuída ao encadeamento de conteúdos, sejam eles no mesmo

ano/curso ou em anos anteriores e subsequentes. A ordem atribuída às tarefas propostas na

formação visou contemplar uma sequência indicada por documentos oficiais.

As práticas desenvolvidas em sala de aula, sobretudo as relacionadas às operações

aritméticas, passavam por três momentos distintos: a princípio as estudantes registravam

individualmente em seus cadernos de narrativas sua própria resolução, usando o cálculo

mental e o algoritmo, conforme aprendido na escola. Feito isso, em duplas ou trios narravam

seus procedimentos umas às outras, discutiam-nos, e, em meio a negociações elaboravam um

registro único do grupo. O terceiro momento destinava-se à socialização, com a turma da sala,

dos diferentes registros de cada grupo, em busca da reconstrução de estratégias na realização

dos cálculos e alternativas diferenciadas para o ensino de algoritmos, fossem eles

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convencionais ou não. A nosso ver, essa dinâmica contribuía para promover a (re)significação

de conceitos e propriedades de cada um dos conteúdos abordados.

A proposta formativa de Megid (2009) privilegiou, em suas aulas, tarefas e

atividades por ela denominadas como Práticas reflexivas e exploratório-investigativas.

Esperava, a partir da vivência e da reflexão dessas práticas, que esse processo formativo

ajudasse a compreender os aspectos matemáticos vivenciados anteriormente ou que pouco

sabiam, mas que lhes proporcionassem refletir sobre suas crenças, mobilizando-as a ir além da

repetição dos procedimentos que costumavam vivenciar na escola básica.

Percebemos que, fundamentada na literatura e em suas reflexões sobre sua própria

prática, a pesquisadora concebia esse57 processo formativo como um dos caminhos possíveis

para rever a formação inicial dos professores que ensinam matemática na infância. Este fato,

em nossa análise, oferece indícios de duas importantes dimensões do conhecimento

especializado acerca das Teorias de ensino (KMT) (ESCUDERO-ÁVILA; CONTRERAS;

VASCO, 2016). Uma delas, relativa ao conhecimento de teorias de ensino associada a um

conteúdo matemático (ESCUDERO-ÁVILA; CONTRERAS; VASCO, 2016), uma vez que se

apoia em teorias da Educação Matemática e em suas experiências como professora. A outra,

relativa ao conhecimento de estratégias, técnicas e tarefas para ensinar um tema matemático

(FLORES-MEDRANO et al., 2014), ao considerar estratégias e técnicas didáticas específicas

com vistas a atingir o objetivo proposto para a formação (FLORES-MEDRANO et al., 2014).

Ao assumir essa proposta formativa, apoia-se em Fiorentini (2004) e Freitas

(2006), para discutir o processo constitutivo do futuro professor que tende a tornar-se o

principal protagonista de sua formação e desenvolvimento profissional, quando engajado

nessas práticas em ambiente de colaboração. Neste processo, Megid (2009) defende a

necessidade da inserção do licenciando em “um jogo incessante de estranhamento,

problematização e ressignificação sobre o que fez e aprendeu no passado, o que pensa e faz no

presente, e sobre o que poderá fazer no futuro, quando assumir a docência” (MEGID;

FIORENTINI, 2011, p. 181).

Assim, objetivando que as alunas se reconhecessem como protagonistas de seu

desenvolvimento profissional, Megid escolheu estratégias que lhes proporcionassem trilhar

caminhos para (re)construir conceitos básicos de aritmética, julgados por elas como de difícil

compreensão. Para este percurso, elegeu a escrita de narrativas e histórias de vida, apoiada em

57 Tarefas e atividades denominadas por Práticas reflexivas e exploratório-investigativas.

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Chaves (2000), Freitas e Fiorentini (2007), Josso (2004) e Souza (2006b), por entender que

este recurso metodológico é importante uma vez que

na medida em que permite que suas histórias e narrativas possam ser revistas por

cada aluna e também pelo grupo de alunas, destacando: os valores pessoais que

tinham; os saberes teóricos e práticos que possuíam; os caminhos que tencionavam

percorrer durante a formação inicial no curso de Pedagogia; os saberes teóricos e

para a prática que pretendiam construir. (MEGID, 2009, p. 18)

Nessa perspectiva, a pesquisadora tomou como pressuposto a necessidade de

problematizar as práticas vivenciadas pelas alunas no decorrer de sua trajetória e, para tanto,

convidou-as a resgatar histórias e episódios de aulas de matemática vivenciadas por elas desde

o Ensino Fundamental, por compreender que o trabalho realizado com as escritas

oportunizaria “o cruzamento da sua vida pessoal e a construção de sua prática docente”

(MEGID, 2009, p. 21-22), trazendo significativas contribuições à

(re)construção dos conceitos aritméticos envolvidos nas operações fundamentais,

seu emprego, suas formas de operar, tínhamos a intenção de que elas pudessem não

apenas construir saberes no que se refere à matemática das séries iniciais, mas

também organizar saberes para a docência. Superar as técnicas e os algoritmos com

os quais conviveram, na maioria das vezes sem perceber o sentido, os cálculos que

decoraram de forma descontextualizada, para compreenderem o quê, como e para

que irão ensinar matemática na sua prática docente.

No que se refere às experiências da formação inicial e suas possíveis

consequências à formação dos professores, a pesquisadora, apoiada em Larrosa (1995),

destaca a importância de se superar a repetição de jargões, raramente compreendidos,

utilizando-se de três ou quatro palavras descontextualizadas e geralmente sem sentido

intrínseco ao conteúdo. Assim, a pesquisadora buscou que as estudantes, a partir da escrita de

suas trajetórias, pudessem compreender os conceitos que estão subjacentes, (re)construindo os

conceitos matemáticos para além da dimensão técnica.

Alguns aspectos do conhecimento matemático e suas relações com a escrita

A opção da pesquisadora em problematizar as práticas das alunas a partir de suas

trajetórias, convidando-as a escrever suas narrativas e socializá-las com o grupo, encontram

respaldo na compreensão de que as reflexões acerca das experiências lhes proporcionariam

aprendizagens tanto no que tange à matemática como à atuação docente. Ela ressalta que o

conhecimento não provém da experiência por si só, pois essa apenas terá sentido e

significado se acompanhada de atos mentais e reflexões. Fundamentada em Powell e Bairral

(2006), enfatiza ainda a função “catalisadora de reflexões críticas” oferecidas pela escrita nos

planos individual e coletivo. Nas palavras da pesquisadora, esses autores “apontam a escrita

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101

como recurso de natureza metacognitiva que se torna fundamental no processo de

aprendizagem de conceitos matemáticos, bem como na resolução de problemas” (MEGID,

2009, p. 23).

Ao estabelecer a relação entre a escrita, a (re)significação dos conceitos, os

procedimentos matemáticos e o conhecimento matemático, Megid, amparada em Powell e

Bairral (2006), afirma que os autores denominam de “matematização mediante o registro

escrito” o conhecimento matemático que surge por meio da escrita e, segundo ela,

consideram que é possível construir um processo de matematização quando há uma

integração da pessoa com um grupo em que todos têm oportunidade de dar

significados às idéias matemáticas. Essas idéias são constituídas e apresentadas

através de gestos, de desenhos, de narrativas ou de muitas outras formas úteis para

que o pensamento possa ser compartilhado. Assim, matematizar é um processo

natural, próprio de todos os homens e mulheres, que se desenvolve a partir da

tomada de consciência dos aspectos vivenciados. (MEGID, 2009, p. 23)

Desse modo, ao considerar as inquietações das alunas quanto às operações

aritméticas, ansiosas por resolvê-las corretamente58, a pesquisadora problematiza que as

“práticas utilizadas para o cálculo aritmético nas escolas fundamentais, os algoritmos

veiculados, representam uma entre as tantas produções humanas construídas no decorrer da

história para facilitar o cálculo” (MEGID, 2009, p. 26, grifo da autora) e, embora compreenda

a necessidade de que os algoritmos sejam abordados no contexto escolar, defende que não

devem ser o ponto de partida, mas sim de chegada,

de um caminho que se inicia com as ações concretas dos alunos, passando por suas

estratégias pessoais, muitas vezes ancoradas nas habilidades do cálculo mental. A

socialização dos recursos usados pelos diferentes alunos poderá promover uma

aproximação à resolução de cálculos de uma maneira mais simples, cabendo aos

alunos escolher seus próprios recursos. Somente ao final, caso o próprio grupo ainda

não tenha (re)construído os algoritmos tradicionais, estes poderiam ser apresentados

pelo professor. (MEGID, 2009, p. 28-29)

Uma vez apresentados a trajetória e os caminhos da pesquisa de Megid (2009),

cabe destacar que ela privilegiou a exploração dos possíveis modos para resolver mentalmente

as operações básicas, sendo seus procedimentos registrados pelas alunas individualmente em

seus cadernos. Na sequência, as resoluções eram discutidas em duplas ou trios e, por fim,

socializadas com grupo sala, momento em que eram relatados e analisados os diferentes

procedimentos de cálculo mental utilizados pelas integrantes de cada grupo. Conforme

destaca a pesquisadora, oportunizar que os alunos expressem a matemática a partir da escrita

contribui para que eles relacionem o que já sabem ao conhecimento matemático a ser

58 Consideravam resolver corretamente, se utilizassem o algoritmo ensinado nas escolas.

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102

trabalhado, além de que a escrita permite a retomada de experiências, possibilitando superar

dificuldades anteriores.

Em nosso entendimento, ao utilizar as narrativas como recurso de natureza

metacognitiva na aprendizagem matemática das alunas de Pedagogia, identificamos indícios

de conhecimentos que integram a dimensão das formas de aprendizagem (KFLM), uma vez

que a formadora-pesquisadora parece ter utilizado as narrativas como uma forma de

aprendizagem associada à natureza do conteúdo matemático.

4.1.3 - Alguns aspectos metodológicos da investigação e o processo formativo

Ao considerar que uma investigação tem como ponto de partida um problema,

é importante destacar que este, quase sempre, vai sendo delineado processualmente, muitas

vezes no decorrer da trajetória profissional e/ou acadêmica do pesquisador. A opção pelo

trabalho com narrativas envolvendo as aprendizagens matemáticas, tem sua origem no

percurso formativo da pesquisadora, que, perpassando o cotidiano da sala de aula, os cursos

de especialização e o mestrado pôde perceber a fragilidade da simples resolução de exercícios

ou problemas nas aulas de matemática. Romper com essa tradição cultural de ensinar

matemática passa necessariamente pela formação do professor de matemática com ênfase na

problematização dessa prática. E, entendemos que o processo de escrita, vivenciado pela

autora por ocasião de sua monografia no curso de especialização, com a continuidade no

mestrado, contribuiu para que tomasse por prática, como formadora de professores, o

incentivo ao registro escrito de seus estudantes sobre esse processo de problematização.

Ao perceber as potencialidades da escrita na problematização e na

compreensão dos conteúdos a serem desenvolvidos pelos futuros professores nas aulas de

matemática do Ensino Fundamental, Megid formula a hipótese de que a “utilização do recurso

de narrativas reflexivas no processo ensino-aprendizagem de matemática poderia constituir-se

numa dimensão formativa e auxiliar ao desenvolvimento dos saberes docentes das professoras

em formação” (MEGID, 2009, p. 47), e, procura, então, investigar as potencialidades desse

recurso no espaço da universidade.

Ao analisar a pesquisa em tela, foi possível evidenciar a relação estabelecida entre

teoria-prática da pesquisadora quando, por exemplo, optava pelo uso das narrativas. Megid,

desse modo, evidenciou conceber a formação como um espaço importante de (re)significação

do conhecimento matemático, compreendendo-a como um processo contínuo e permanente já

no contexto da formação inicial.

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103

Assim sendo, apesar da ênfase dada à coleta de dados no 1º semestre durante a

disciplina “Ensino-Aprendizagem de Matemática A”, a pesquisadora manteria o contato com

as alunas em disciplinas ministradas nos três semestres subsequentes. Para ela, o tempo

relativamente longo pode ser explicado “em função da natureza dos processos formativos, os

quais são mais bem percebidos e compreendidos a partir de uma perspectiva diacrônica do

que de uma perspectiva apenas sincrônica” (MEGID, 2009, p. 48).

Tendo em vista a natureza do processo formativo desenvolvido nesses dois anos,

compreendemos que diferentes dimensões do conhecimento especializado possam ter sido

exploradas a partir das relações passíveis de serem estabelecidas, por exemplo, entre os

momentos em que eram protagonistas de sua aprendizagem e os estágios curriculares. Há que

se destacar o papel do estudo numa perspectiva longitudinal no sentido de viabilizar a

realização de entrevistas e de escritas de narrativas em momentos diferenciados do processo

formativo.

Embora em nossa pesquisa, tenhamos optado por investigar as tarefas referentes

às atividades relacionadas à multiplicação, trazemos, o Quando 3, que mostra uma síntese

com os instrumentos utilizados para a coleta de dados pela pesquisadora em cada um dos

semestres em suas respectivas disciplinas.

Quadro 3 –Síntese dos instrumentos de coleta de dados utilizados

1º semestre de 2007

Ensino

Aprendizagem de

Matemática A

2º semestre de 2007

Ensino

Aprendizagem de

Matemática B

1º semestre de 2008

Ensino

Aprendizagem de

Matemática C

2º semestre

de 2008

Inst

rum

ento

de

cole

ta d

e d

ad

os

Aplicação de três

tarefas exploratório-

investigativas.

Escrita de

narrativas.

Gravações em

áudio e vídeo

durante os trabalhos

em classe e nas

apresentações dos

grupos.

Narrativa final,

envolvendo aspectos da

divisão.

Relatos finais das

aprendizagens nos anos

iniciais acerca das

operações fundamentais.

Entrevistas individuais

audiogravadas com seis

alunas participantes do

grupo.

Entrevistas individuais

audiogravadas com duas

alunas do grupo.

Última atividade com as

alunas: narrativa coletiva a

respeito das ações

realizadas nas três

disciplinas.

Gravação em vídeo da

construção coletiva da

narrativa.

Narrativa

final escrita

das três

alunas

escolhidas

para a

composição

das

narrativas de

formação.

Fonte: Dados extraídos de Megid (2009, p. 49)

A síntese dos instrumentos apresentada no Quadro 3 pode, implicitamente,

expressar a quantidade de material produzido a ser analisado pela pesquisadora. Entretanto,

dado o objetivo investigativo da experiência do processo formativo em

analisar e interpretar como se dá o processo de aprendizagem profissional e de

(re)significação dessas noções pelas alunas participantes, bem como os indícios de

mudança de relação com a matemática e seu ensino que elas apresentam ao longo da

experiência formativa, quando utilizados recursos das dinâmicas de cooperação e

das narrativas (MEGID, 2009, p. 50-51),

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a pesquisadora optou por construir o processo analítico, tecendo sua narrativa em dois

caminhos: o primeiro constitui-se pelas narrativas centradas nas operações fundamentais, em

que faz discussões a partir dos registros orais e escritos das alunas em geral, dos cartazes

realizados em grupos e das anotações apontadas nos cadernos de memórias. O segundo, a

partir da difícil decisão em eleger a narrativa de formação de uma das alunas – Andressa –,

definida por critério de ser a única aluna participante que, à época, atuava59 com crianças de

1ª a 4ª série do Ensino Fundamental.

Assim, após definir e organizar o corpus de análise da tese, a pesquisadora

desenvolveu suas análises, baseada na triangulação das fontes de dados e das alunas

participantes da pesquisa, seguindo o modelo usado por Lopes (1998), conforme se vê na

Figura 6.

Figura 6 – Esquema de triangulação de sujeitos e fontes de informações

Fonte: Megid (2009, p. 52)

A Figura 6 sintetiza o cenário investigativo da pesquisa, que teve como

elementos centrais para a coleta de informações três polos distintos, constituídos

simultaneamente em sujeitos e objetos de investigação: a professora-pesquisadora; as alunas

(em ações individuais); os pequenos grupos (duplas, trios ou a turma toda). A pesquisadora

destaca que o trabalho realizado em colaboração nos grupos, os debates e as discussões, as

59 Sua atuação era como professora de reforço em escola regular.

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exposições orais e os cartazes, além das narrativas coletivas, contribuíram para que as alunas

superassem suas individualidades e se tornassem sujeito-objeto coletivo (MEGID, 2009).

Após essa breve síntese interpretativa da tese de Megid (2009), apresentamos, na

sequência, nossas interpretações acerca dos principais episódios dentre os quais identificamos

discussões relativas ao nosso tema de interesse, qual seja a multiplicação. Assim, a partir das

análises tecidas por Megid, desenvolvemos nossas análises e interpretações com auxílio dos

autores que abordam questões relativas ao campo da multiplicação discutidas no capítulo 3 e

com as lentes do conhecimento especializado do professor que ensina matemática na

perspectiva do MTSK (Carrillo et al., 2013).

4.1.4 – Conhecimento especializado para ensinar multiplicação: alguns indícios identificados

na tese de Megid (2009)

A tese de Megid (2009) apresentou e analisou diversos episódios envolvendo

conteúdos relativo ao Sistema de Numeração Decimal e às operações de adição, subtração,

multiplicação e divisão, realizadas em diferentes etapas de trabalho. Com base nas tarefas

exploratórias, sua proposta privilegiou as dinâmicas de cooperação e as narrativas, tendo

atuado como formadora-pesquisadora.

O nosso objetivo em revisitar sua tese consiste em descrever e analisar os indícios

de conhecimento especializado do professor para ensinar multiplicação nos primeiros anos de

escolarização que se encontram subjacentes ou presentes em pesquisas brasileiras produzidas

nos programas de pós-graduação stricto sensu nas áreas de Educação e Ensino, no período de

2001 a 2012 e, para isso, nos concentramos em focar alguns dos episódios que mobilizam ou

exploram conhecimentos matemáticos docentes relativos ao ensino de multiplicação.

Entretanto, considerando que tais episódios decorrem da tarefa proposta ao grupo sala,

realizamos inicialmente uma discussão acerca dos conhecimentos especializados que

pudemos identificar na tarefa elaborada pela formadora para, na sequência, tecer algumas

análises relativas aos episódios.

Baseada no conceito “cenários de investigação” de Alro e Skovsmose (2006, p.

56), a pesquisadora construiu um ambiente para a realização de atividades pautadas no que

denominou de práticas exploratório-investigativas.

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Para problematizar as diferentes estratégias e possibilidades de cálculo aritmético,

a formadora inicialmente propôs a realização de uma atividade envolvendo cálculo mental60

na perspectiva de Parra (1996), com objetivo de levar as alunas a compreender “que a melhor

maneira para resolver um cálculo, para uma pessoa, não necessariamente o será para outra”

(MEGID, 2009, p. 88). Após a realização e a discussão dessa atividade, foram propostas

tarefas relativas à adição e à subtração, ao uso do material dourado, além de jogos para

auxiliar a compreensão da adição e da subtração.

Na sequência, a formadora propôs o desenvolvimento da tarefa de multiplicação,

em três etapas diferentes, descrita na Figura 7.

Figura 7- Ficha roteiro de tarefa sobre a multiplicação

Fonte: Megid (2009, p. 121)

Em nossa análise, relativamente à tarefa proposta, convém destacar algumas

dimensões do conhecimento especializado relativo ao PEM que pudemos identificar em

diferentes domínios integrantes do modelo MTSK.

A formadora elaborou as tarefas de multiplicação, considerando a construção de

um ambiente de aprendizagem e, para isso, tomou por base o conceito de “cenários de

investigação”, compreendendo-o como um conhecimento resultante de investigações em

Educação Matemática. Este fato nos oferece indícios de conhecimento de uma das dimensões

que integra o KMT relativo ao conhecimento de teorias sobre o ensino por parte da

formadora.

60 Nesta tarefa inicial, as alunas organizaram-se em grupos e trabalharam as quatro operações aritméticas.

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Em nossa compreensão, ao traçar como objetivos da tarefa: Conhecer, explorar,

representar e caracterizar a multiplicação, e, Reconhecer as propriedades da multiplicação e

suas aplicações, a proposta da formadora parece favorecer a mobilização das big ideas da

multiplicação na perspectiva de Fosnot e Dolk (2011). Neste sentido, entendemos que, para

atingir tais objetivos (da tarefa), é fundamental ao formador um conhecimento aprofundado de

multiplicação, considerando, por exemplo, a compreensão de um grupo como unidade

unitizing, a propriedade distributiva da multiplicação em relação à adição e à subtração; a

propriedade comutativa e a propriedade associativa da multiplicação; e os padrões de valor de

posição associados à multiplicação por dez, ou seja, as big ideas, conforme Fosnot e Dolk

(2011). Embora a problematização e a exploração das tarefas possam desempenhar um papel

importante na mobilização das big ideas na formação do PEM, há que se investigar o

conhecimento que se espera do formador do PEM.

Após essa breve análise da tarefa aplicada às alunas de Pedagogia, selecionei

alguns registros de episódios apresentados e analisados por Megid (2009), nos quais

identificamos conhecimentos especializados do PEM com foco na multiplicação.

Eles se referem aos excertos das discussões trazidas por integrantes do primeiro

grupo, ao apresentar e discutir o cartaz com a turma61, acerca da realização de tarefas de

multiplicação. Outros registros selecionados referem-se ao cartaz e a excertos de apresentação

oral de outros dois grupos que, em minhas análises, se complementam, tendo sido

selecionados pela riqueza de conhecimentos mobilizados.

O foco de análise desses excertos consistiu em identificar e analisar o

conhecimento especializado, com ênfase nos três subdomínios do Mathematical Knowledge

(MK) mobilizados nesse contexto, e, no subdomínio Knowledge of Mathematics Teaching

(KMT) que integra o domínio Pedagogical Content Knowledge (PCK).

Neste primeiro episódio, discutimos as tarefas e as atividades de multiplicação

realizadas a partir de reflexões individuais, atividades em pequenos grupos e socialização do

trabalho realizado com a turma toda. A Figura 8 apresenta a atividade realizada

individualmente pela aluna Tayná, iniciando pelo algoritmo tradicional, seguido de suas

explicações e procedimentos alternativos.

61 Deste primeiro grupo, analisamos episódios desenvolvidos nos três momentos acerca da realização de tarefas

de multiplicação. A escolha por esse grupo deve-se ao fato de podermos complementar as análises com outros

conhecimentos que pudessem ser mobilizados nas apresentações de grupos subsequentes a ele.

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Figura 8- Registro individual da aluna Tayná sobre multiplicação

Fonte: Megid (2009, p. 122)

Quando Megid analisou o registro individual da aluna Tayná, ela destacou a

percepção da aluna acerca de iniciar a operação pelas unidades ou dezenas; isto é, da esquerda

para a direita ou da direita para a esquerda. Megid parece associar essa percepção como sendo

(2)

(1)

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109

resultante de um processo que teve seu início com as explorações anteriormente realizadas

com a operação de adição.

Agora, no trabalho com tarefas de multiplicação, ao utilizar e explicar um

procedimento não tradicional, a aluna percebeu que também na multiplicação não há a

obrigatoriedade em iniciar a operação pela unidade. “O interessante é que na 1ª operação eu

comecei a multiplicação pela unidade, e na 2ª operação eu comecei pela dezena” (Registro de

Tayná [MEGID, 2009, p. 122]).

Em nossa interpretação, na perspectiva do MTSK, a percepção da aluna oferece

indícios de conhecimento referente às propriedades e aos fundamentos da multiplicação

(KoT) visto que, conforme destaque na Figura em (1)62, a princípio utilizou informalmente a

propriedade distributiva em relação à adição. Na sequência, posteriormente, no destaque (2)

da figura, buscou generalizar o uso informal da distributiva para qualquer situação de

multiplicação, exemplificando ainda com números envolvendo a ordem das centenas.

Consideramos, assim como Megid, que este é um forte argumento, pois o uso de

um procedimento não convencional, no caso a decomposição aditiva de um dos fatores

envolvidos na multiplicação 23 × 2, pode ter auxiliado a explicitar as duas parcelas resultantes

da multiplicação de cada uma das parcelas oriundas da decomposição, como podemos

observar a seguir:

Decompondo

aditivamente o 23:

Recorrendo à propriedade

distributiva

46

Em nossa interpretação, a solicitação de que a operação fosse realizada de mais de

uma maneira denota um conhecimento especializado, por parte da formadora referente à

dimensão do Conhecimento e das estratégias, técnicas e tarefas para ensinar um conteúdo

matemático (KMT) que dentre outros aspectos, Flores-Medrano et al. (2014) ressaltam como

conhecimentos integrantes da dimensão do conhecimento relativa à escolha de exemplos

potentes para representar o conteúdo, considerando o tempo disponível e a intencionalidade

da proposta do professor ao ensinar determinado tema, neste caso a multiplicação.

Decorrente desse fato, há indícios de que, ao estabelecer a relação entre a

estratégia utilizada – decomposição aditiva – e a multiplicação, a futura PEM nos anos iniciais

explicita um conhecimento relativo à propriedade distributiva da multiplicação, sendo essa

62 Destaques (1) e (2) apontados por nós na Figura 7

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uma dimensão do conhecimento matemático referente as propriedades e fundamentos

atribuídos a determinado tema ou procedimento específico (KoT).

Compreendemos que o uso do procedimento alternativo realizado pelas alunas

parece fazer parte de “frutos iniciais” do trabalho previamente desenvolvido no processo

formativo em análise, que teve como ponto de partida a exploração do cálculo mental,

realizado a partir das tarefas que antecederam as quatro operações. Assim, entendemos que a

sequência de tarefas elaboradas pela formadora parece reunir conhecimentos sobre o

potencial matemático de uma determinada sequência de atividades, tarefas na abordagem

das operações aritméticas, de modo a atingir o objetivo proposto, que se constitui em uma

dimensão do conhecimento que integra o KMT.

Ainda que representada informalmente, a decomposição aditiva (20 e 3) parece ter

favorecido o uso da propriedade distributiva, possibilitando ao estudante estabelecer a relação

entre esses resultados e a operação de adição, evidenciando que a soma de a e b equivale à

soma de b e a. Comprovada essa relação de equivalência entre as parcelas, ainda que não

tenha sido explicitada, pode ter favorecido a percepção de que a multiplicação pode iniciar

por qualquer um dos algarismos dos fatores envolvidos na operação, e, nesse aspecto, as

relações observadas entre tais procedimentos matemáticos podem ter mobilizado diferentes

dimensões do conhecimento que integram os subdomínios do Mathematics Teacher’s

Specialized Knowledge associados à operação de multiplicação do futuro PEM.

Em nossas análises, compreendemos que a natureza da tarefa proposta numa

perspectiva exploratório-investigativa, referindo-nos de modo mais específico ao primeiro

momento em que as alunas foram convidadas a escrever, individualmente, “com palavras” a

forma utilizada para resolver duas das operações explicando os procedimentos escolhidos,

denota um conhecimento que integra uma outra dimensão do KMT, a que envolve

conhecimentos de teorias de ensino associadas a um conteúdo matemático (ESCUDERO-

ÁVILA; CONTRERAS; VASCO, 2016). Este fato encontra respaldo na opção da formadora

pela proposta do trabalho com narrativas e tarefas exploratórias, pautadas em Teorias da

Educação Matemática.

Comunicar por escrito o modo pelo qual resolveram as operações parece ter

mobilizado o sentido matemático de conhecimentos que eram ressignificados à medida que a

sintaxe e a semântica puderam ser exploradas de maneira inter-relacionada no decorrer do

processo. Isso posto, entendemos que o conhecimento produzido em contexto de tarefas

exploratório-investigativas pode ser altamente contributivo nos processos formativos na

medida em que viabiliza ao professor justificar os procedimentos utilizados e conhecer outros,

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relacionando-se à sua necessidade em conhecer profundamente a matemática que ensina

(FIORENTINI; OLIVEIRA, 2013).

Megid (2009) ressalta que teve como intenção oferecer um ambiente que

permitisse o envolvimento das alunas, levando-as a reflexões acerca das tarefas propostas, de

modo a promover um processo de investigação. Entretanto, cabe explicitar que, embora em

seu estudo tenha optado por nomear as atividades utilizadas de “práticas reflexivas e

exploratório-investigativas”, sua proposta quanto ao processo de investigação apoia-se no

sentido de Alro e Skovsmose (2006, p. 123): “Realizar uma investigação significa abandonar

a comodidade da certeza e deixar-se levar pela curiosidade”.

Em nossa interpretação, essa proposta parece ter promovido certos conflitos entre

o modo de fazer matemática das estudantes individualmente e no coletivo do grupo,

mobilizando-as a encontrar e ressignificar os caminhos para o trabalho com multiplicação. Na

Figura 9, apresentamos a síntese do grupo registrada pela própria Tayná.

Figura 9- Registro do grupo Tayná/Andressa/Andreia – Multiplicação

Fonte: Megid (2009, p. 123)

(1)

(2)

(3)

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Na segunda etapa do processo formativo, outros conhecimentos profissionais

foram identificados por Megid (2009). Em sua análise, a autora destacou que muitas das

considerações contidas no registro de Tayná foram também registradas na síntese do grupo,

fato este que se deve à semelhança dos procedimentos utilizados individualmente pelas

integrantes do grupo.

Entretanto, em nosso zoom sobre as três etapas realizadas por esta equipe de

estudantes, inferimos que o fato de a aluna Tayná ter elaborado a síntese do grupo pode ter

influenciado a ênfase do que ela própria tenha realizado em suas tarefas individuais. Portanto,

cabe problematizar o papel de cada um dos participantes de uma equipe em processo de

formação de professores, um aspecto que talvez demande mais investigações nos contextos de

formação inicial.

Em nossa interpretação, destacar essa questão evidencia-se contributiva para

compreender como se dá a mobilização de conhecimentos do professor/futuro professor em

processo formativo, pois, nessa segunda etapa, ao que tudo indica, parece ter havido uma

tentativa de sistematização dos “achados matemáticos” das alunas, o que pode ter ocorrido a

partir da discussão do material produzido individualmente. Tal discussão foi possível devido

ao planejamento inicial da pesquisadora/autora que disponibilizou um espaço-tempo

suficiente que permitiu a realização dessa atividade, em sala de aula, na segunda etapa

proposta.

Embora todas as alunas tivessem inicialmente realizado a operação utilizando o

método convencional, no registro do grupo fica explícito a descoberta de outros métodos

como destaques (1) (Fig. 9) para resolver as multiplicações para além do convencional.

Utilizaram a decomposição dos fatores e apoiaram-se nos princípios da propriedade

distributiva para desenvolver a multiplicação. A afirmação do grupo parece oferecer indícios

de conhecimentos que integram a dimensão dos Procedimentos relativo à multiplicação

(KoT), uma vez que os procedimentos alternativos utilizados podem ajudar na compreensão

dos fundamentos do algoritmo (CONTRERAS et al., 2017).

Ao explicar o primeiro procedimento63 utilizado, elas enfatizaram a

potencialidade desse para que seus alunos (as crianças da escola) compreendam a relação de

ordem – centenas, dezenas, unidades (c.d.u) – associando-os aos valores absolutos e relativos.

Entendemos que essa relação estabelecida pelas futuras PEM evidencia indícios de

conhecimentos que integram a dimensão das conexões interconceituais (KSM), uma vez que

63 Conforme expresso no destaque (2) da Figura 9.

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se constitui de conhecimentos de relações estabelecidas entre diferentes conteúdos a ensinar

em diferentes níveis escolares (MONTES et al., 2013). Compreendemos que o conhecimento

de procedimentos alternativos para a multiplicação não seja suficiente, mas talvez

fundamental para que o PEM nos anos iniciais sinta-se à vontade na matemática que ensina

(PONTE; SERRAZINA, 2000).

Ao analisarmos o registro síntese deste grupo, encontramos indícios de que a

discussão ocorrida nos grupos permitiu uma negociação de sentido dos procedimentos

utilizados individualmente, os quais parecem ter sido contributivas à promoção de outros

conhecimentos relativos à multiplicação. Destacamos, na Figura 10, os principais indícios que

identificamos, consoantes ao referencial teórico discutido em nossa pesquisa.

Figura 10 - Registro de dois modos do grupo Tayná/Andressa/Andréia multiplicar 23 por 67

10a 10b

Fonte: Megid (2009, p. 123)

No registro da síntese do grupo, as alunas apresentaram dois procedimentos

parecidos para efetuar a multiplicação de 23 × 67.

No primeiro (Fig. 10a), se utilizaram da decomposição linear dos números e,

informalmente, ao aplicar a propriedade distributiva, apoiaram-se no cálculo mental para

multiplicar as parcelas duas a duas. Ao registrar, detalhadamente, destacaram o “e”,

indicando-o com um “+”, na busca de melhor compreender ou explicar (a si próprias e às

colegas) o sentido a ele atribuído, ou seja, cada um dos valores refere-se a uma parcela

resultante da multiplicação a ser somada para a obtenção do produto.

Ao descrever o segundo procedimento (Fig. 10b), embora utilizassem a

decomposição dos números e a propriedade distributiva, desta vez, as alunas “armarram” as

contas verticalmente, o que parece tentar mesclar os dois métodos que vinham utilizando: o

convencional e o alternativo. Nesse está implícito o uso da propriedade distributiva, seguida

do uso do algoritmo convencional da multiplicação, conhecimentos que integram a dimensão

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das propriedades e dos fundamentos da multiplicação (KoT). Ao justificar esse procedimento,

elas relataram que “nesse tipo de operação utilizamos a separação das casas (dezena e

unidade). É interessante esse modo, pois estimula o aluno a prestar atenção no número e saber

realmente quanto ele vale” (MEGID, 2009, p. 123). Em nossa interpretação, a justificativa da

aluna – futura professora – apresenta indícios de conhecimento especializado relativo ao

ensino de matemática (KMT). O fato de ela explicitar o potencial matemático da estratégia

utilizada na multiplicação, relacionando-a a outros conteúdos matemáticos envolvidos (SND),

integra a dimensão de Conocimiento de las estrategias, técnicas y tareas para la enseñanza

referente ao conteúdo de multiplicação (KMT). Entendemos esse como um conhecimento

especializado do professor para ensinar multiplicação, visto que lhe oferece conhecimentos

para optar por exemplos que considerem o tempo e a intencionalidade proposta ao ensino do

tema (FLORES-MEDRANO et al., 2014) que, neste caso em especial, refere-se à

multiplicação.

Em nosso entendimento, este segundo procedimento oferece indícios de uma

tentativa de aprimoramento dos procedimentos iniciais, que pode ter sido desenvolvida a

partir da confiança que foi sendo adquirida pelas estudantes de Pedagogia em relação aos

aspectos operacionais da multiplicação que, gradativamente, foram sendo compreendidos no

decorrer do processo formativo. Em nossa análise, consideramos ainda que, possivelmente, a

discussão ocorrida na negociação de sentidos parece ter contribuído para que utilizassem

distintas representações, as quais foram sendo “refinadas” para que elas pudessem

compreender, ressignificar e dar sentido à operação de multiplicação.

No último registro produzido na síntese do grupo, evidenciamos a organização das

ideias contidas nos registros iniciais de modo ainda mais detalhado para a compreensão da

decomposição do primeiro número multiplicado pelos valores decompostos aditivamente do

segundo número, indicando os resultados parciais, os quais são totalizados ao final (vide Fig.

11).

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Figura 11 - Registro do grupo Tayná/Andressa/Andréia multiplicar 23 por 12

Fonte: Megid (2009, p. 123)

Em nosso entendimento no registro da operação 23 × 12 (Fig. 11), o grupo quis

evidenciar os valores relativos de cada um dos algarismos que compõem os números

envolvidos na multiplicação de modo ordenado/organizado, com a indicação dos respectivos

subtotais. É possível perceber que, nessa etapa, as alunas explicitaram as multiplicações

resultantes da propriedade distributiva, tentando apresentá-las de modo organizado: iniciando

pelas dezenas e depois pelas unidades, diferentemente do que normalmente se faz ao utilizar o

algoritmo tradicional da multiplicação.

Pensamos também que tais explicitações podem ter sido decorrentes do tipo de

tarefa proposta pela formadora que, numa perspectiva exploratória, oferecia “atividades

abertas, exploratórias e não-diretivas do pensamento do aluno e que apresentam múltiplas

possibilidades de alternativa de tratamento e significação” (FIORENTINI; CRISTOVÃO,

2006, p. 29), o que novamente identificamos como indícios de um conhecimento que integra

uma das dimensões do KMT, a que envolve conhecimentos de teorias de ensino associadas a

um conteúdo matemático (ESCUDERO-ÁVILA; CONTRERAS; VASCO, 2016) por parte da

formadora.

Na sequência64, entendemos que as estudantes aplicaram as ideias da propriedade

distributiva para realizar a operação 5 × 23, considerando, a princípio, os valores absolutos do

multiplicando, o que pode ser observado ao registrarem inicialmente:

5 × 23 2 × 5 = 10 [...]

Entretanto, considerando que a resolução da multiplicação 23 × 12 (Fig. 11) nos

dê indícios de que as alunas já haviam percebido/compreendido o uso do valor relativo na

resolução da multiplicação, ao decompor os fatores envolvidos, compreendemos que elas

buscaram uma alternativa para concluir a expressão a contento. Em decorrência desse fato,

64 Registro da resolução da operação 5 × 23 na Figura 10.

(1)

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entendemos que parece que elas perceberam não fazer sentido o resultado 10, porque, logo na

sequência, se empenharam em “reparar” a resolução, complementando com a multiplicação

por 10, indicando com um “d” que parece indicar dezena: “× 10d”, fazendo o mesmo para o

“×1u” em que o “u” parece indicar unidade.

5 × 23 2 × 5 = 10 × 10d = 100 (sic em relação a primeira igualdade)

3 × 5 = 15 × 1u = 15

Em nosso entendimento, essa complementação nos permite discutir diferentes

aspectos relativos ao conhecimento de multiplicação.

Um deles refere-se à visibilidade dada pelo exemplo anterior de que o uso de

diferentes procedimentos65, de certa forma, exige do professor um conhecimento profundo da

matemática que está a ensinar, uma vez que, o “reparo”, ou seja, o complemento por “× 10d”

parece ser decorrente da compreensão gradativa que vinha sendo realizada em relação à

decomposição e à propriedade distributiva. Tal “reparo” auxiliou a resgatar conhecimentos

relativos ao sistema de numeração decimal (SND), sobretudo, ao especificarem o 10

indicando com um “d” que se trata de dezena (× 10d), e o 1, seguido por “u”, para indicar que

se trata de unidade (×1u).

Apesar do equívoco66 em relação ao uso do sinal de igualdade, as expressões

destacadas acima parecem ter oferecido uma “porta aberta” para futuras aprendizagens

(RIBEIRO, 2016, p. 2), uma vez que, em nosso entendimento, essa representação pode

contribuir para explorar outros temas como, por exemplo, a escrita de um número por meio da

decomposição e o uso da potência de base 10.

Ao finalizar as atividades realizadas pelo grupo de Tayná, apresentamos, na

Figura 12, o cartaz em que as alunas expuseram, e apresentaram as principais etapas da

exploração – terceiro momento –, com as observações e/ou análises da professora formadora,

e em seguida, voltamos nosso olhar para o conhecimento matemático do futuro PEM referente

à multiplicação.

65 Algo que, por vezes, pode parecer “aparentemente” simples. 66 Este equívoco relativo ao sinal de igualdade será problematizado mais adiante.

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Figura 12 - Cartaz do grupo Tayná/Andressa/Andréia e a respectiva apresentação oral

Tayná: Todas resolvemos primeiro da forma

tradicional. Depois, fizemos pela decomposição.

Vimos que trabalhava a adição junto com a

multiplicação.

A segunda foi pela decomposição.

O que a gente quer ressaltar é esta terceira, que foi

bem diferente.

Mas tem que ser vezes 10 novamente, porque o 2 é

da dezena, então é 20.

5 x 2 = 10 x 10 = 100 (sic, em relação à primeira

igualdade)

3 x 5 = 15 x 1 = 15

Formadora: Quem de vocês fez desse jeito?

Andressa: Eu, porque queria fazer de outro

jeito, e porque nunca tinha pensado nisso.

Comecei fazendo a distributiva e aí não deu

certo. Porque percebi que não era 5 x 2.

Agora o outro jeito, o 2º, é o aperfeiçoamento

desse. Com a ajuda da Tayná e da Andréia a

gente fez assim, mas esse modelo é da Andréia.

Formadora: Tayná comentou que não conseguia perceber o porquê daquele 10 vezes 20:

Tayná: Fiquei me perguntando e não conseguia entender. Até perguntei: Gente, por que 20 x 10?

Com a ajuda do grupo é que vi que era da dezena.

Andréia: Esses dois modelos acabam mostrando qual realmente é a posição do número, que o número

não é sempre unidade, às vezes é dezena e aí dá para perceber o porquê do resultado.

Andressa: É perceber a diferença entre o valor absoluto e relativo do número que está dentro da

multiplicação. O valor relativo do 2 é vinte, ele está na dezena.

Fonte: Adaptado de Megid (2009, p. 124-125)

20, porque está na dezena, e 10, porque

também o 1 está na dezena. Aí dá 200.

Daí o 20 de novo, porque o 2 é da

dezena, vezes o 2, dá 40. O 3 vezes o

10, porque o 1 é da dezena, fica 30. E o 3

x 2, que é 6, porque os dois são unidades.

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Ao tomar como um dos focos de análise a aprendizagem docente, Megid (2009)

evidencia, nesse terceiro momento, a percepção das alunas em relação ao valor relativo dos

algarismos que compõem os números. Ao constatar o papel da reflexão em grupo, a

pesquisadora apoia-se em Kraemer (2008), entendendo que os momentos de debate

apresentados mostram a importância das reflexões e das discussões sobre as questões

levantadas em atividades realizadas no âmbito de um grupo restrito de colegas comprometidas

num mesmo trabalho (KRAEMER, 2008 apud MEGID, 2009, p. 125).

Em nossa pesquisa, com foco no conhecimento especializado relativo à

multiplicação, na tese de Megid (2009), analisamos os registros relativos à apresentação pela

equipe de Tayná no coletivo da sala de aula.

Para nós, a justificativa do grupo apresentada por Tayná demonstra que as alunas

do grupo conhecem o algoritmo típico da multiplicação expressa na frase: Todas resolvemos

primeiro da forma tradicional. Compreendemos que este conhecimento se relaciona àquele da

matemática escolar, isto é, um conhecimento comum – no sentido de Ball, Thames e Phelps

(2008) – e que todos devem saber e aprender. Entretanto, há de se frisar que conhecer a forma

tradicional de realizar uma operação de multiplicação é apenas uma das dimensões do

conhecimento deste tema, a que está associada aos procedimentos matemáticos relacionados

ao conteúdo de multiplicação (KoT) no sentido de Carrillo et al. (2013).

Há que se ressaltar que neste subdomínio (KoT), segundo as dimensões do

conhecimento na perspectiva de Escudero-Avila (2015), conhecer os procedimentos

associados a um determinado conteúdo está relacionado ainda com outros dois aspectos, quais

sejam: o “como se faz” e o “quando se pode fazer”. Dentre esses dois aspectos, entendemos

que o primeiro tenha sido contemplado nas discussões tecidas ao longo da pesquisa de Megid

(2009). Quanto ao segundo aspecto, o “quando se pode fazer”, mesmo sem a intencionalidade

de contextualizar a multiplicação, reconhecendo sua importância, a formadora/pesquisadora

salienta ter discutido alguns dos contextos em que poderiam utilizá-lo:

Ela se encontra no sentido do cálculo das diferentes áreas; nas situações que

envolvem o sentido combinatório; nas disposições retangulares; no cálculo da soma

de parcelas iguais, como indicado por vezes pelas alunas, entre outras situações

possíveis. Sendo assim, consideramos importante explorar cada uma delas como

possibilidade de ampliar a compreensão desta operação. (MEGID, 2009, p. 142)

E, neste sentido, cabe ressaltar a potencialidade da tarefa investigativa quanto às

possibilidades em contemplar tais aspectos, diante das solicitações elencadas na tarefa.

Enquanto as três primeiras solicitações da parte individual da tarefa contribuíram para

responder ao “como se faz?”, a última “Diga como esse procedimento seria utilizável em

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qualquer situação de multiplicação”, pôde auxiliar a discussão e a problematizaçãode

“quando se pode fazer?”.

Compreendemos que a discussão e a problematização dos procedimentos

utilizados, nos diferentes contextos de formação, podem ser consideradas fundamentais para

promover o conhecimento especializado do professor que ensina matemática nos anos

iniciais. Entretanto, sabemos que discutir e problematizar cada uma das temáticas demanda

não apenas tempo, mas também um conhecimento especializado do formador. Urge, ainda,

enfatizar que, para além do conhecimento especializado do formador, há tempo as pesquisas

brasileiras acusam que o espaço destinado à formação inicial do professor em quase nada tem

contribuído para que essas problematizações possam efetivamente ocorrer.

Continuando nossas análises, como segunda opção, a mesma estudante Tayná parece

expor com firmeza e propriedade a realização da operação de multiplicação por meio da

decomposição, como se expressa na frase: “Depois, fizemos pela decomposição. Vimos que

trabalhava a adição junto com a multiplicação. A segunda foi pela decomposição”.

A afirmação apresentada no fragmento acima demostra que as integrantes do

grupo tinham um certo conhecimento a respeito da decomposição numérica e isso nos dá

indícios de que estabeleciam alguma relação entre a adição e a multiplicação, quando

destacam que “Vimos que trabalhava a adição junto com a multiplicação”, conforme

explicitaram no registro a seguir, visto na Figura 13.

Figura 13 – Excerto do cartaz do grupo Tayná/Andressa/Andréia

Fonte: Megid (2009, p. 124)

Este conhecimento apresentado pelas graduandas de Pedagogia acerca da

decomposição numérica, quer seja expresso no cartaz ou na exposição oral à turma, –“Depois

fizemos pela decomposição” – está relacionado ao subdomínio dos procedimentos

algorítmicos, que, neste caso, se trata de um procedimento alternativo (KoT). O argumento

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utilizado pelas alunas parece enfatizar o uso da decomposição e justificar esse uso com a

afirmação de que “Vimos que trabalhava a adição junto com a multiplicação”.

As tarefas67 antecedentes à de multiplicação foram também realizadas numa

perspectiva exploratória. As estudantes já haviam discutido outras tarefas – cálculo mental

(T1), adição (T2), adição e subtração (T3) –, em que utilizaram a decomposição dos números

como estratégia para realizar a conta de maneira diferente das quais conheciam. Assim,

embora tenhamos escolhido analisar o conhecimento matemático do PEM relativo às

operações de multiplicação, torna-se imprescindível esse destaque, haja vista terem

estabelecida a relação entre a adição e multiplicação, conforme evidencia a expressão “Vimos

que trabalhava a adição junto com a multiplicação” (KSM). Ao utilizar as lentes do MTSK,

interpretamos que a percepção de que a decomposição aditiva de um ou mais fatores também

poderia ser uma estratégia para realizar a multiplicação parece indicar uma conexão

estabelecida pela estudante entre os tópicos da adição e da multiplicação, o que entendemos

ser característico da dimensão do conhecimento que envolve as conexões relativas à

complexificação de conteúdos matemáticos (KSM).

Passamos, agora, a analisar a estratégia que as próprias graduandas destacaram

por ter sido bem diferente dos demais exemplos, ao expressar: “O que a gente quer ressaltar é

esta terceira, que foi bem diferente”. Isso pode ser observado na Figura 14.

Figura 14 – Recorte relativo a discussão oral do grupo Tayná/Andressa/Andréia

Fonte: Megid (2009, p. 124)

Nessa resolução dois fatos nos chamaram atenção: o uso da propriedade

comutativa e o conflito referente ao valor absoluto e ao valor relativo.

O primeiro deles diz respeito à operação efetivamente proposta que foi 23 x 5,

diferentemente do que a aluna explicitou como sendo por 5 x 23. Se por um lado ela

apresentou implicitamente a aplicação da propriedade comutativa, oferecendo indícios de que

possui determinados conhecimentos relativos à dimensão do conhecimento que integra as

67

Extraídas da pesquisa de Megid (2009), envolveram cálculo mental (T1), adição (T2), subtração e adição (T3).

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propriedades e fundamentos da multiplicação (KoT); por outro, identificamos aí um

conhecimento diferencial, no sentido de que, do ponto de vista algébrico (propriedade

comutativa), “a x b” pode ser equivalente (ou igual) a “b x a”, mas, em termos de

representação do processo multiplicativo, essas expressões representam relações diferentes,

tendo em vista a convenção de que o primeiro número é o operador (o multiplicador) e o

segundo é o que sofre a operação (o multiplicando). Tanto o conhecimento da propriedade

comutativa da multiplicação como o da definição de multiplicação, – sendo o primeiro termo

o multiplicador e o segundo o multiplicando – integram o subdomínio do conhecimento do

tema da multiplicação (KoT), bem como o conhecimento relativo à fenomenologia que

envolve os significados da multiplicação, como por exemplo a disposição retangular, a

combinatória, a proporcionalidade, entre outros (KoT).

O segundo fato refere-se ao que as alunas consideraram como “bem diferente”. A

aluna tentou aplicar a propriedade distributiva representando a decomposição do fator 23,

considerando o valor absoluto dos dígitos, sem ater-se à posição que estes ocupavam. Ao

registrar o procedimento “bem diferente”, constatou que deveria novamente multiplicar por

10, ao perceber o valor posicional do 2 na casa das dezenas:

“Mas tem que ser vezes 10 novamente, porque o 2 é da dezena, então é 20.”

Nessa afirmação, podemos perceber a mobilização de conhecimentos em termos

matemáticos “dezena”, o qual está relacionado ao conteúdo de ordens que integram o sistema

de numeração decimal (SND).

Assim, ao considerarmos que o ensino das propriedades da multiplicação

atualmente é proposto para o 4º ano (BRASIL, 2017), a discussão tecida nos permite

identificar diferentes dimensões do conhecimento matemático relativo ao tema. Para ensinar

as propriedades de multiplicação, especificamente a distributiva, é fundamental ao professor

compreender outros objetos de conhecimento, tais como ordem, valor posicional, composição

e decomposição de números, conteúdos relacionados ao SND propostos para o 2º ano.

Percebe-se assim uma outra dimensão do conhecimento do PEM – as conexões de

simplificação (KSM) – uma vez que o conhecimento do PEM relativo à propriedade

distributiva esteve o tempo todo relacionado a conhecimentos de conteúdos trabalhados em

anos anteriores.

Ao continuarem a explicação do cartaz, as alunas justificaram a necessidade de

multiplicar por 10, apresentando a expressão:

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5 x 2 = 10 x 10 = 100 (sic, em relação à primeira igualdade)

3 x 5 = 15 x 1 = 15

Ao analisar a transcrição, podemos afirmar que a pesquisadora-formadora

percebeu e sinalizou o erro em relação à igualdade. Entretanto, dado seu foco de análise

centrado nas aprendizagens ocorridas no processo formativo, não encontramos evidências de

ter tratado ou problematizado esse aspecto com as futuras professoras.

Em nosso entendimento, ao multiplicar novamente por 10 expresso em “5 x 2 =

10 x 10 = 100 (sic, em relação à primeira igualdade)”, a expressão pode ter sido registrada a

partir da compreensão da aluna quanto ao valor posicional do algarismo 2 como 20. Portanto,

sabendo que o produto entre 5 x 20 seria 100, parece ter tentado expressar um modo de

encontrar o resultado “100” e, com isso, validar o valor obtido. Nessa situação identificamos

a tentativa da aluna como indício de uma das dimensões do conhecimento relativo à

comunicação em matemática que integra o subdomínio do (KPM).

Com olhar investigativo voltado ao conhecimento matemático, produzido ou não,

entendemos a necessidade de uma análise mais aprofundada dessa expressão em relação ao

uso da igualdade com PEM nos anos iniciais. Em nossa pesquisa, problematizar a

inadequação do registro realizado por Andressa mobiliza a identificação de um conhecimento

matemático pertencente ao subdomínio da estrutura da matemática no âmbito das conexões

(KSM) (MONTES et al., 2013).

Pensamos que o erro indicado pode ser decorrente de um sentido de igualdade

amplamente utilizado nos anos iniciais, qual seja: “o resultado é”. Há fortes indícios de que

Andressa não tenha tido oportunidade, em sua trajetória escolar, de explorar de maneira

significativa discussões acerca do uso da igualdade no sentido de equivalência de valores.

Considerando a equivalência como uma das ideias fundamentais68 para o

desenvolvimento do pensamento matemático, corroboramos a ideia de Fiorentini (2000, p. 8),

ao defender que o conceito ou sentido de igualdade como equivalência (vale tanto quanto que)

deveria ser explorado e problematizado pelos formadores e professores desde os anos iniciais

de escolarização, pois “um ensino inadequado da aritmética, nas séries iniciais, poderia levar

as crianças a ver ‘o igual’ como um ‘operador’ que dá uma resposta e não como um símbolo

relacional que expressa equivalência, no sentido de ‘é o mesmo que’”.

É nesse sentido que identificamos o conhecimento matemático relativo à

“igualdade no sentido de equivalência de valores”, associado à dimensão do conhecimento

68Segundo Brasil (2017) as demais ideias tratadas como fundamentais referem-se à ordem, proporcionalidade,

interdependência, representação, variação e aproximação. O documento indica que tais ideias devem ser

convertidas, na escola, em objetos de conhecimento (p. 224).

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que integra as conexões de maior complexidade (KSM) ao longo do currículo, como é o caso

da álgebra. Compreender o conceito de igualdade como um símbolo relacional que expressa a

equivalência é um conhecimento especializado importante ao PEM nos anos iniciais. Tal

entendimento poderá promover um trabalho adequado no ensino da aritmética, de modo que

ele possa ser articulado ao estudo formal da álgebra em anos subsequentes.

Finalizando a explicação da tarefa apresentada pelo grupo, Andressa afirmou que

o segundo69 procedimento utilizado se tratava de um aperfeiçoamento do primeiro e, para

fazê-lo, tomaram por base o modelo da Andréia, como vemos na Figura 15.

Figura 15- Explicação da aluna Andréia

Fonte: Megid (2009, p. 124)

A princípio, Tayná não havia compreendido o porquê da multiplicação 20 x 10.

Entretanto, a discussão empreendida no grupo, com posterior apresentação70a toda classe,

parece ter contribuído para seu entendimento. Megid (2009) acentua que as reflexões

realizadas em grupo promoveram a percepção das alunas quanto à importância do valor

relativo dos algarismos, uma vez que puderam constatar que multiplicar um algarismo

posicionado na casa das dezenas trará como resultado tantas dezenas quantas resultarem de

sua multiplicação.

Essa afirmação parece indicar o conhecimento de diferentes registros de

representação associados a um mesmo conteúdo matemático (KoT), além de conexões de

simplificação da representação da multiplicação.

Compreendemos que a discussão tecida nos diferentes momentos, seja entre as

integrantes do grupo ou no grupo sala, amplia o entendimento sintático-semântico, indicando

que essa prática é altamente formativa para o licenciando em Pedagogia. A comunicação

estabelecida nesse ambiente parece permitir ao aluno vivenciar e perceber-se como construtor

de seu conhecimento matemático por meio das relações que vai estabelecendo no decorrer das

apresentações e das interações com o outro.

69 Referem-se ao 2º como o modo linear de resolver a operação. 70 Os trechos dessa discussão podem ser encontrados no excerto completo disponibilizado na figura 11.

20, porque está na dezena, e 10, porque

também o 1 está na dezena. Aí dá 200.

Daí o 20 de novo, porque o 2 é da dezena,

vezes o 2, dá 40. O 3 vezes o 10, porque o

1 é da dezena, fica 30. E o 3 x 2, que é 6,

porque os dois são unidades.

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124

Concluindo essas análises iniciais, cabe ressaltar a potencialidade da tarefa

investigativa quanto às possibilidades em contemplar diferentes aspectos do conhecimento

para ensinar multiplicação, dada a intencionalidade dos objetivos (matemáticos) elencados na

tarefa. Embora, de um lado, algumas das questões da parte individual da tarefa contribuam

para responder ao “como se faz?”, outras podem auxiliar a problematizar sobre “quando se

pode fazer?”

O enfrentamento que o aluno assume diante dos questionamentos que surgem a

partir das tarefas propostas parece contribuir para que, na busca de outras estratégias de

resolução, as alunas encontrem/descubram propriedades não apenas por elas próprias

(propriedades), mas que, de fato, lhes tragam sentido para o que estão fazendo, isto é para um

fazer matemático que, ao ser compreendido, possa também ser explorado na prática de ensino.

4.2 – Síntese interpretativa do estudo de Silva (2009)

Nesta seção apresentamos uma síntese interpretativa da tese desenvolvida por

Silva (2009), que analisou as aprendizagens das professoras participantes de um grupo de

estudos sobre matemática nas séries iniciais. O subtítulo adotado nesta seção tem o objetivo

de caracterizar o delineamento dado à pesquisa de Silva (2009), que utilizou metáforas para

reunir os temas que se inter-relacionavam com a aprendizagem do professor, destacando que

alguns deles foram sendo descobertos no caminhar da pesquisa. Embora inicialmente tivesse

uma expectativa de tratar-se de pesquisa da própria prática, seu estudo longitudinal,

desenvolvido ao longo de dois anos, foi caracterizado como pesquisa qualitativa com

perspectiva humanística, centrada num estudo de caso.

Iniciamos pela apresentação do percurso da pesquisadora e das relações que foram

se estabelecendo ao longo de sua investigação. Na sequência, trazemos os principais aportes

teóricos e um breve contexto do processo formativo, que prossegue com os aspectos

metodológicos da pesquisa. Por fim, tecemos nossas análises do conhecimento especializado

para ensinar multiplicação nos anos iniciais.

4.2.1 – Trajetória da pesquisadora e conexões com o problema investigado

Ao interpretarmos os percursos da pesquisadora (SILVA, 2009), pudemos

evidenciar a ênfase dada à sua experiência profissional em sua opção para trabalhar com a

formação continuada de professores. Ao licenciar-se em matemática no ano 2000, relata ter

dificuldades quanto à compreensão em relação a determinados processos de ensino, à

aprendizagem e à avaliação de matemática que permeiam a atividade profissional do

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professor. Embora não descreva tais dificuldades, atribui a elas a carência de debates acerca

do assunto no contexto de sua formação inicial.

Já tendo atuado como professora do Ensino Médio, à época da pesquisa atuava

como professora nas séries finais do Ensino Fundamental71 na Prefeitura Municipal de Vitória

(PMV) no estado do Espírito Santo e no Ensino Superior. Afirma que essas experiências

possibilitaram ampliar sua compreensão acerca do ensino de matemática. Nesse percurso

pôde constatar que diversos outros professores pareciam passar por dificuldades semelhantes

às suas, pois não lhes era oferecido um espaço, que, em nossa interpretação refere-se não só

ao físico, mas também ao temporal, para discussões pertinentes ao ensino, à aprendizagem e à

avaliação em matemática.

O trânsito entre os diferentes níveis de ensino fê-la certificar-se de que: “em

alguns casos, professores acabavam por ‘culpar’ outros profissionais de níveis de ensino

anteriores, quando identificavam ‘problemas na aprendizagem dos alunos em matemática”

(SILVA, 2009, p. 18). Dentre outras inquietações, esse conjunto de fatores a encorajou a

investigar algumas das causas desses problemas em seu cotidiano.

Para além disso, em nossa leitura, interpretamos que outras experiências da

pesquisadora provocaram conflitos contributivos à sua decisão de investigar sobre a

matemática desenvolvida nas séries iniciais, sendo elas: o trabalho com professores das séries

iniciais na escola em que lecionava e os encontros de formação continuada oferecidos pela

rede municipal de Vitória (ES). Compreendemos que a experiência, como formadora de

professores, tenha gerado reflexões acerca da crença da pesquisadora – professora de

matemática – sobre quem é esse professor que ensina matemática nos anos inicias. Foi a partir

dessas vivências que passou a (des)construir a crença de que “esses professores eram

malpreparados e não desejavam aprender ou aprofundar seus conhecimentos em conteúdos

matemáticos” (SILVA, 2009, p. 19). Em sua atuação como formadora, percebeu o desejo

desses professores em aprender e modificar suas práticas em aulas de matemática, mas

destaca a falta de condições que lhes eram oferecidas para isso: “Com um novo olhar, passei a

conceber esses profissionais como sujeitos aprendentes” (SILVA, 2009, p. 20).

Dada a nossa preocupação em discutir o que as pesquisas trazem sobre o

conhecimento especializado sobre multiplicação do PEM nos anos iniciais, algumas das

dificuldades explicitadas por professores no percurso experienciado em formações

continuadas por Silva (2009) nos chamaram a atenção. A partir das discussões sobre os

71 Atualmente corresponde aos Anos Finais do Ensino Fundamental: 6º ao 9º ano.

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desafios e as dificuldades encontradas por professores em curso que objetivou apresentar as

propostas para o ensino de matemática das Diretrizes Curriculares para o Ensino

Fundamental, a pesquisadora pôde notar “certa vontade por parte de alguns professores em

superar determinadas dificuldades explicitadas, de continuarem a aprender” (SILVA, 2009,

p. 19). E afirma: “Precisavam, portanto, de estudar conteúdos matemáticos” (SILVA, 2009,

p. 19). Suas percepções tomam por base algumas das alegações dos professores descritas por

ela, dentre as quais destacamos:

Devido às mudanças ocorridas nos últimos anos, sentem-se desorientados quanto ao

conteúdo matemático e respectivas metodologias.

Desconhecimento de conteúdos que sejam importantes para o aprendizado do aluno.

Críticas ao livro didático, em relação ao distanciamento deste com a realidade do

aluno e à inadequação de alguns exercícios.

Para finalizar o caminho trilhado pela pesquisadora, frisamos, ainda, sua

participação em grupo de estudos junto com professores de matemática, espaços esses que,

segundo ela, propiciam “momentos de trabalho coletivo” (SILVA, 2009, p. 20)., que

permitem aos professores se conhecerem também como aprendizes. Isso porque foi aí que, ao

considerar o relato de eventos e os fatos ocorridos nas aulas de matemática, os estudos e

ideias sobre assuntos matemáticos, as leituras de educação matemática e educação, percebeu a

potencialidade de propostas diferenciadas de formação continuada que, perspectivada numa

formação mais ampla, poderia contribuir para a prática de sala de aula.

As experiências apresentadas nessa seção nos ajudam a compreender o percurso

da pesquisadora e o movimento no qual esteve envolvida como professora de matemática em

processo de reflexão crítica sobre a formação continuada. Durante esse caminho, muitas

foram as questões que motivaram a pesquisa de Silva (2009). Incentivada pelas discussões do

grupo de estudo, seu interesse, a princípio, incidia abordar na pesquisa a investigação sobre a

própria prática, entretanto, ao longo do trabalho, foi percebendo que a investigação permearia

as reflexões ocorridas com as professoras sobre suas práticas, não podendo, portanto, ser ela

própria o foco do estudo.

A partir de então, considerando os demais focos que haviam surgido no

desenvolvimento do trabalho, em função do tempo a produzir a pesquisa, Silva (2009) decidiu

tomar como eixo central de sua pesquisa as aprendizagens das professoras dos anos iniciais,

resultantes da participação em um grupo de estudos e acompanhamento em suas aulas de

matemática. Em nossa interpretação, este movimento em busca do eixo central da pesquisa de

Silva (2009) nos leva a destacar a pertinência de estudos de cunho teórico-bibliográfico, em

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especial, a metassíntese, no sentido de evidenciar outros conhecimentos a partir da

diversidade de focos que podem ter sido pouco explorados naquele dado espaço de tempo.

Isso posto, buscamos identificar os conhecimentos do PEM acerca da multiplicação a partir

das aprendizagens resultantes no processo formativo produzido na pesquisa de Silva (2009).

4.2.2 – Estrutura e caminhos da pesquisa

As experiências relatadas por Silva (2009) a encorajaram a formar um grupo de

estudos que lhe permitisse investigar as aprendizagens das professoras sobre matemática nos

anos iniciais e em suas práticas pedagógicas, decorrentes desse contexto de formação

continuada. O grupo inicial foi constituído por cinco professoras, sendo duas atuantes nos

anos iniciais72, duas nos anos finais73 do Ensino Fundamental e uma professora da

universidade74. Ao acompanhar a participação intensa e contínua das professoras nos

encontros do grupo de estudo, realizados no ano de 2006, a pesquisadora motivou-se a

encaminhar um estudo longitudinal, o que contribuiu para propor um acompanhamento das

aulas de matemática das professoras que atuavam nos anos iniciais. Desse modo, apesar de

seu olhar inicialmente voltado ao grupo, o movimento realizado em seu estudo longitudinal,

ao longo de dois anos, provocou-a a analisar algumas aprendizagens das professoras “no

processo coletivo de explicitar, discutir e refletir, criticamente, alguns aspectos do processo de

ensino, aprendizagem e avaliação de matemática das séries iniciais” (SILVA, 2009, p. 17).

O referencial teórico utilizado por Silva (2009) foi se complementando no

movimento da pesquisa, diante de situações em que a pesquisadora percebia os diferentes

tópicos/temas que se inter-relacionavam à aprendizagem dos professores. A autora buscou

aprofundar-se em quatro eixos teóricos: aprendizagem docente; ensino e aprendizagem e

avaliação de matemática; formação de professores que ensinam matemática; e, aspectos

afetivos e suas relações com aprendizagem docente. Para compreender melhor sua pesquisa,

apresentamos, a seguir, uma breve visão panorâmica de cada um desses eixos.

Quanto ao primeiro eixo aprendizagem docente, procurou restringir-se a autores

que tratassem da aprendizagem do ponto de vista do professor em contexto de grupo de

estudo sobre matemática de professores dos anos iniciais, com a preocupação em analisar o

modo de aprender dos adultos. A pesquisadora buscou aprofundamento teórico nos estudos de

Colinvaux (2007), Freire (1996), Llinares e Krainer (2006), Mizukami (2004, 2006), Nacarato

72 Suzana e Beatriz 73 Lúcia e Sandra (pesquisadora) 74 Vânia – coorientadora do trabalho

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(2000), Polenttini e Sabaraense (1999), Rocha (2005) e Vigotsky (1988) e, ao considerar o

processo ensino e aprendizagem, esclarece que, em sua pesquisa, não os separaria, mas apenas

focaria seu estudo em parte desse processo, ou seja, na aprendizagem.

Para investigar a aprendizagem gerada a partir da reflexão crítica com as

professoras, a pesquisadora defende a ideia de compreender o professor não como sujeito,

mas como parceiro da pesquisa desenvolvida em contexto de grupo de estudo. Dessa forma,

utilizou em suas análises as ideias sobre reflexão crítica concebidas por Llinares e Krainer

(2006), Schön (2000/1998) e Serrazina (2003).

Quanto às discussões relativas à metacognição, apoiou-se em Santos (1993, 1994,

1995) e para definir sua compreensão acerca desse assunto, tomou por base os estudos de

Bairral e Rodriguez (2005), Davis, Nunes e Nunes (2005), Ferreira (2003), Jou e Sperb

(2006), Ribeiro (2003) e Santos (1995). Para a pesquisadora, uma melhor compreensão sobre

o tema contribuiria com sua pesquisa de modo a conduzir as “professoras a terem

conhecimento e controle intencional acerca de seus processos cognitivos e os produtos desses

e também para desenvolverem a habilidade de monitoramento e auto-regulação para

potencializar sua atividade cognitiva” (SILVA, 2009, p. 50).

Em relação ao conhecimento de professores, tema que interessa à nossa

investigação, Silva (2009), apresenta uma breve revisão bibliográfica sobre o tema,

ancorando-se em estudos de Bairral (2003), Fennema e Franke (1992), Llinares e Krainer

(2006), Ponte (2001), Serrazina (2003) e Shulman (1986), Embora não tenha tecido qualquer

discussão acerca das diferentes nomenclaturas utilizadas em relação aos termos saberes e

conhecimentos, destaca que utilizaria em sua pesquisa a palavra conhecimentos. A partir da

revisão apresentada no trabalho, define uma categorização dos conhecimentos dos professores

para utilizar em seu estudo:

o Conhecimento dos Conteúdos Matemáticos: o que se relaciona com a

apropriação dos conceitos matemáticos pelos professores e seleção dos conteúdos

matemáticos ensinados.

o Conhecimento Pedagógico: modos como os professores abordam o trabalho dos

conteúdos em sala de aula, assim como se apropriam do contrato didático.

o Conhecimento Pedagógico Matemático: modos como os professores trabalham

conteúdos específicos de matemática com seus alunos.

o Conhecimento do Currículo de Matemática: organização dos conteúdos

matemáticos pelo professor.

o Conhecimento dos Alunos: que se relaciona às aprendizagens, ao aspecto

emocional e cognitivo dos alunos. (SILVA, 2009, p. 53)

Em nossa interpretação, a categorização definida por Silva (2009) baseia-se nos

estudos de Shulman e seus colaboradores (1986), sem, no entanto, ficar restrita a ele, pois esse

autor não tratou de modo específico do conhecimento matemático.

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Em relação ao segundo eixo, ensino e aprendizagem e avaliação de matemática:

a pesquisa apresenta breve revisão bibliográfica referente a conceitos e conteúdos

matemáticos, identificados como incidentes críticos no decorrer da pesquisa, sendo estes:

geometria e a resolução de problemas, envolvendo as operações fundamentais. Tendo em

vista nosso interesse em investigar os conhecimentos especializados para ensinar

multiplicação, em nossa síntese interpretativa da tese de Silva (2009) destacamos, de modo

mais específico, o que foi investigado em relação às operações fundamentais. Esta

pesquisadora aborda as quatro operações em conjunto com a resolução de problemas, visto

que, no processo formativo, elas estavam usualmente envolvidas por situações problema e

suas resoluções.

Em nossa interpretação, o destaque, concedido às operações aritméticas no

decorrer do processo formativo desenvolvido pela pesquisadora, relaciona-se com a

problemática do presente estudo, ao afirmar que

mesmo sendo uma abordagem e conteúdo amplamente trabalhado pelas professoras,

olhamo-la, diferentemente, e percebemos que solicitava a apreendermos alguns

conceitos que envolvem as operações fundamentais de maneira aprofundada e

diferenciada. (SILVA, 2009, p.61)

A pesquisadora-formadora reconhece a intensidade de trabalhos que têm sido

desenvolvidos sobre as operações nos anos iniciais75 e frisa que, embora não tenha

informações sobre a compreensão do referido tema por parte das crianças com base em sua

experiência, admite como parâmetros os questionamentos sobre a compreensão das crianças

analisadas por professores dos anos finais do Ensino Fundamental. Neste sentido, vem se

questionando, também, se os próprios professores licenciados em matemática se apropriam

claramente das ideias subjacentes às quatro operações elementares (adição, subtração,

multiplicação e divisão).

É pertinente destacar o reconhecimento da pesquisadora de que ampliar as

discussões acerca da compreensão das operações com as professoras favoreceria, a todas as

integrantes do grupo, o entendimento das operações fundamentais Essa percepção tem origem

na falta de clareza de cada uma das integrantes em relação a todos os aspectos e sentidos de

cada operação no decorrer das discussões realizadas nos encontros.

Para discutir a compreensão acerca das operações, no âmbito da formação de

professores, a autora partiu dos argumentos apresentados por Jesus (2005, p. 93), tais como:

75 Abrantes, Serrazina e Oliveira (1999), Brasil (1997), Carraher, Carraher e Schielman (2003,1988), Selva e

Borba (2005), Vasconcellos (1998).

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Crianças com uma sólida compreensão das operações estão aptas a usá-las

significativamente e com flexibilidade. [...] contrariamente, aprender regras e

procedimentos sem entendimento pode provocar sérias consequências a longo prazo

e que não se vêem imediatamente. Se os procedimentos são aprendidos como peças

soltas de informação sem conexão com o conhecimento conceptual, os alunos tem

maior dificuldade de os relembrar e transpor para os outros contextos.

Apoiada nessa afirmação, Silva (2009) ampliou sua discussão sobre o

entendimento que os professores têm sobre as operações, pois, se eles não tiverem construído

uma sólida compreensão das operações, certamente apresentarão dificuldades em trabalhar o

tema com seus alunos (SILVA, 2009).

Sem se aprofundar nos estudos realizados por Piaget, Kamii e Vergnaud, a

pesquisadora aborda as operações fundamentais, considerando separadamente adição e

subtração ou campo aditivo; e a multiplicação e divisão ou campo multiplicativo. Apresenta

as ideias subjacentes a cada uma das operações e as relações entre elas de modo a situar suas

discussões. Para discutir a multiplicação e a divisão ou campo multiplicativo utilizou como

referenciais: Carraher (1998), Correa (2006), Correa e Spinillo (2004), Greer (1992), Nunes et

al. (2005), Saiz (1996) e Selva (1998).

Quanto aos estudos sobre multiplicação, também contemplados no campo

multiplicativo ou estruturas multiplicativas, Silva (2009) reconhece a necessidade em

aprofundar os conhecimentos, como professores, sobre as ideias que envolvem essa operação.

Destaca a ênfase dada ao significado de multiplicação associado à adição de parcelas

repetidas, ao se trabalhar com as estruturas multiplicativas, o que pode dificultar a exploração

dos demais significados que podem ser atribuídos às estruturas multiplicativas.

A seguir, apresentamos os significados e respectivos exemplos sobre as estruturas

multiplicativas que, na perspectiva de Silva (2009), se encontram organizados em cinco

grupos, conforme Quadro 4.

Quadro 4 - Exemplos de multiplicação e de divisão relacionados com ideia de grupos equivalentes

1) Problemas relacionados aos grupos equivalentes

Multiplicação

Divisão partitiva Divisão quotativa

Matheus comprou cinco pacotes

de figurinhas com três

figurinhas em casa um. Quantas

figurinhas Matheus conseguiu

com essa compra?

Matheus comprou 5 pacotes de

figurinhas e agora tem 15

figurinhas. Quantas figurinhas

tem em cada pacote?

Matheus comprou pacotes de

figurinhas e agora tem 15

figurinhas. Se em cada pacote

vêm 3 figurinhas, quantos

pacotes ele comprou? Fonte: Silva (2009, p. 75)

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131

Quadro 5 - Exemplos de multiplicação e de divisão relacionados com a ideia de multiplicação

comparativa

2) Multiplicação comparativa ou comparação multiplicativa

Multiplicação

Divisão partitiva Divisão quotativa

Ana possui cinco bonecas e

Rosangela possui três vezes

mais bonecas que Ana.

Rosangela possui quantas

bonecas?

Rosangela possui 15 bonecas,

sabemos que ela tem três vezes

mais bonecas que Ana. Quantas

bonecas a Ana tem?

Rosangela possui 15 bonecas e

Ana 5 bonecas. Quantas vezes é

que Rosangela tem a mais

bonecas que Ana?

Fonte: Silva (2009, p. 75)

Quadro 6- Exemplos de multiplicação e de divisão relacionados com a ideia de proporção

3) Comparação entre “razões” – Ideia de “proporção”

Multiplicação

Divisão partitiva Divisão quotativa

Um carro se move a uma

velocidade média de 60 km por

hora. Quantos quilômetros esse

carro percorreu em 5 horas?

Um carro percorreu 300 km em

5 horas. Se percorrer sempre à

mesma velocidade, quantos km

andou por hora?

Um carro se move a uma

velocidade média de 60 km por

hora. Quantas horas demora

para percorrer 300 km? Fonte: Silva (2009, p. 75)

Quadro 7- Exemplos de multiplicação e de divisão relacionados com a ideia de representação

retangular

4) “Representação retangular”

Multiplicação

Divisão partitiva Divisão quotativa

Uma sala de aula possui cinco

filas com seis carteiras cada

uma. Quantas crianças no

máximo podem estar nessa sala?

Numa sala de aula tem 30 carteiras dispostas em filas com a mesma

quantidade de carteiras. Quantas carteiras tem em cada uma das 5

filas?

Fonte: Silva (2009, p. 75)

Quadro 8- Exemplos de multiplicação e de divisão relacionados com a ideia de combinatória

5) “Combinatória”

Multiplicação

Divisão partitiva Divisão quotativa

Numa sorveteria existem cinco

sabores diferentes de sorvete e

três coberturas diferentes. De

quantos modos podemos fazer

um sorvete de um sabor com

uma cobertura?

Uma sorveteria faz 15 tipos de sorvetes com coberturas diferentes.

Sabendo que essa sorveteria oferece 5 sabores de sorvete, quantas

são as coberturas?

Fonte: Silva (2009, p. 75)

Apresentado um panorama das ideias relacionadas às operações fundamentais, a

autora finaliza o segundo eixo com uma breve discussão sobre avaliação, baseando-se no

estudo de Santos (1997), que permeou as discussões sobre formas de avaliação da

aprendizagem pessoal e dos alunos.

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Já no terceiro eixo Formação de professores que ensinam matemática, a

pesquisadora apresenta de forma concisa alguns estudos que vêm discutindo a formação de

professores nos mais variados contextos. De modo mais amplo, destaca aqueles que tratam de

formação em diferentes contextos, seja inicial ou continuada (FIORENTINI, 2003;

FIORENTINI; NACARATO, 2005; NACARATO; PAIVA, 2006; SILVER, 2006). Dentre os

estudos realizados no contexto da formação inicial, buscou apoiar-se em Curi (2005), Nasser e

Santos (1994), Nasser e Tinoco (1997), Reis (2007), Santos-Wagner. Na formação continuada

analisou os estudos de Jiménez Espinosa (2002), Ferreira (2003, 2003a), Gimenes (2006),

Marquesin (2007), Nacarato (2000) e Silva (2007). Considerando o tipo de formação que

desejavam desenvolver, procurou contribuições nas leituras de Cury (2001), Geraldi,

Fiorentini e Pereira (1998), Krainer e Peter-Koop (2003), Moreira e David (2005), Peter-Koop

et al. (2003), Saraiva e Ponte (2003).

Embora tenha pesquisado esses vários trabalhos sobre formação de professores,

enfatiza que nem todos foram utilizados em suas análises e, uma vez que o foco se relacionou

à aprendizagem do professor dos anos iniciais, buscou apoio nos estudos de Serrazina (2003)

que enfatiza a necessidade em desenvolver atitudes de investigação e questionamentos

relativos à matemática do professor, quando envolvido em contextos formativos “além de

desenvolver uma abertura em relação à experimentação e à inovação” (SILVA, 2009, p. 81).

Por fim, no quarto eixo Aspectos afetivos e suas relações com aprendizagem

docente, a pesquisadora procurou estudos que lhe permitiram um olhar mais amplo para

compreender as influências de diferentes aspectos afetivos dos professores em relação aos

processos de ensino e aprendizagem de matemática. Para a autora, o estudo desses aspectos

foi contributivo para investigar a aprendizagem do professor, considerando que o profissional

não está desprendido da pessoa do professor que ensina matemática. Apresenta neste eixo

uma revisão do tema, com base em estudos relativos às crenças e às concepções (CURY,

2004; GÓMEZ CHACÓN, 2003; MORON; BRITO, 2005; THOMPSON, 1992); em estudos

mais específicos relacionados às atitudes (GONÇALEZ; BRITO, 2002; MATOS, 1992;

MENDUNI, 2003; MORON; BRITO, 2005; PIROLA; BRITO, 2005); e na abordagem dada

às pesquisas realizadas pelo grupo Psycology of Education Mathematics – PME entre os anos

de 1976 a 2006, por meio de uma síntese organizada por Gutiérrez e Boero (2006).

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133

4.2.3 - Alguns aspectos metodológicos da investigação e o processo formativo

Com a finalidade de compreender e analisar quais são e como acontecem as

aprendizagens dos professores participantes do grupo de estudo, a investigação, de natureza

qualitativa (CHAPMAN, 2005, 2006; FIORENTINI; LORENZATO, 2006; FLICK, 2004;

LINCOLN; GUBA, 1985) desenvolve um estudo longitudinal num período de 2 anos e 4

meses.

A pesquisadora explicita que, influenciada pelas leituras de Ponte (2002) e Ponte

e Serrazina (2003) em conjunto com sua experiência no grupo de estudo, pensou, a princípio,

em desenvolver uma investigação da própria prática. Entretanto, os questionamentos e os

comentários tecidos por colegas e professores da banca de qualificação e novas leituras,

levaram-na a perceber as dificuldades de propor essa abordagem uma vez que não atuava

diretamente nos anos iniciais.

Sendo assim, a pesquisadora, percebendo-se como investigadora iniciante, foi

ressignificando o conceito de investigação da própria prática e, dado seu objetivo em

investigar a complexidade relativa à aprendizagem das professoras participantes do grupo,

constatou a necessidade em delimitar a metodologia. Nesse movimento, ao considerar que

“cada professora estava num estágio de desenvolvimento profissional e agindo de forma

diferenciada no que se refere a sua participação, interação e vivência no grupo” (SILVA,

2009, p. 104), era preciso “expressar a particularidade da situação envolvida e a análise

detalhada de cada professora” (SILVA, 2009, p. 104), e num processo de idas e vindas

encaminha sua pesquisa trabalhando

com o procedimento metodológico de estudo de caso, quando olhamos para cada

professora em seu contexto diferenciado e em sua interação com o grupo, e que

possui algumas características da pesquisa-ação, na formação, constituição e

desenvolvimento das atividades do grupo, ao interagirmos e intervirmos inclusive

nas atitudes das professoras participantes. (SILVA, 2009, p. 106)

Neste momento, cabe destacar que esses conflitos contribuíram para compreender

o processo de um modo mais amplo, visto que, concomitantemente às intervenções na prática,

era também necessário refletir sobre ela. Apoiada em Fiorentini (2004), a pesquisadora

preocupava-se mais em desenvolver uma pesquisa qualitativa que envolvesse a formação

continuada de professores, do que, propriamente, definir rigorosamente um enquadramento

teórico-metodológico para a pesquisa.

Assim, considerando o estudo longitudinal, há de se considerar o amplo material

coletado na pesquisa de campo, uma vez que foram utilizados diferentes instrumentos. Alguns

deles perpassaram todo o estudo, enquanto outros apenas em alguns momentos e, por vezes,

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sofreram algumas modificações de acordo com a demanda do estudo. Ainda que nem todos os

instrumentos tenham sido analisados, cabe indicá-los, tendo em vista o conjunto de

instrumentos utilizados que constituiu o processo formativo do grupo de estudos analisado em

sua pesquisa.

Os principais instrumentos de sua pesquisa pautaram-se em atividades utilizando

metáforas; textos escritos pelas professoras em forma de narrativas, memórias, histórias de

aulas e relatos de experiência; cadernos de bordo da pesquisadora, sobre o grupo e sobre as

observações e/ou participações em aulas de matemática das professoras; relatos e reflexões

escritas e compartilhadas por e-mail com a coorientadora; gravações em áudio de encontros

do grupo e aulas; registros obtidos de atividades trabalhadas em sala de aula; materiais

impressos e aplicados pelas professoras; avaliações sobre a pesquisa; entrevistas

semiestruturadas, individuais e coletivas.

O grupo começou a constituir-se no ano de 2006. É interessante destacar que o

reduzido número de participantes no grupo era algo que incomodava a pesquisadora em

alguns momentos, o que foi levado para discussão no momento da qualificação. Em nosso

entendimento, esse incômodo parece ter perdurado ainda em outros momentos, tendo em vista

os aspectos salientados quando ela subdividiu os quatro momentos de sua pesquisa com

ênfase no número de participantes em cada um deles.

I - Constituição do grupo: 13 encontros em 2006. Um estudo exploratório inicial

acerca de aprendizagens, concepções, crenças e atitudes em relação à matemática das três

professoras76: Beatriz77, Susana78 e Sandra(P), que promoveu reflexões crítico-pessoais das

envolvidas;

II – Ingresso da Profa. Vania:o grupo então com quatro participantes79, sentiu-se

fortalecido e percebeu a necessidade de aproximação da realidade da sala de aula das duas

professoras atuantes nos anos iniciais.

III – Novas professoras (duas80) passaram a fazer parte do grupo entre 2007 e 2008.–

Uma delas (Lucia) iniciou em 07/2008 e seguiu participando de alguns encontros de 2008; a

outra (Elisa) compareceu apenas em dois encontros. O curto espaço de tempo frequentado

76 Grifo nosso. 77

Atua no magistério há mais de 30 anos, com graduação em Letras Português/UFES e pós-graduação em

Planejamento Educacional. 78 Atua no magistério há mais de 20 anos, cursou Magistério no Instituto de Educação (Vitória), com graduação

em Pedagogia/UFES e pós-graduação em Supervisão Escolar. Atua como Professora dos anos iniciais do Ensino

Fundamental e, como pedagoga, em escolas da Prefeitura Municipal de Vitória. 79 Grifo nosso. 80 Grifo nosso.

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135

pela segunda e a descontinuidade da presença da primeira dificultaram a obtenção de dados

dessas professoras para a pesquisa de Silva (2009).

IV – Atividades de 2008: grupo consolidado com características próprias.

Conhecendo-se entre si, o grupo trabalhava de modo mais consciente e independente. Nesta

etapa, segundo a autora, foram realizadas “algumas descobertas importantes sobre a influência

do grupo em nossas aulas de matemática e sobre nossas crenças e atitudes em relação a esse

conteúdo” (SILVA, 2009, p. 113-114).

Nesses quatro momentos da pesquisa, foram abordados diferentes conteúdos

matemáticos ensinados nos anos iniciais, porém, segundo a pesquisadora, os que mais se

destacaram nas discussões do grupo referem-se a:

Números: inteiros, decimais e frações.

Quatro operações: adição, subtração, multiplicação e divisão.

Geometria plana e espacial: formas e medidas.

Observamos que, com exceção de estatística ou tratamento da informação,

praticamente todo o conteúdo parece ter tido destaque nas discussões desenvolvidas no

processo formativo proposto. A pesquisadora apresenta suas análises subdivididas em dois

itens: resolução de problemas e geometria. Com base em seus referenciais teóricos, analisou

as “aprendizagens das professoras em uma formação continuada ocorrida num grupo de

estudos sobre matemática nas séries iniciais e em suas práticas pedagógicas” (SILVA, 2009,

p. 27), investigando as seguintes questões:

Que aprendizagens das professoras participantes se destacam num grupo de estudos

e em suas práticas pedagógicas? Que relações entre aprendizagens de professoras e

alguns aspectos afetivos são evidenciadas num grupo de estudos de matemática?

Como percebemos a influência do grupo de estudos de matemática nas

aprendizagens das professoras participantes e em suas práticas? (SILVA, 2009, p.

27)

Portanto, percebemos que, seja nos objetivos ou nas questões investigativas, a

preocupação da pesquisadora era em relação à aprendizagem das professoras em contexto de

um grupo de estudo.

Após essa breve síntese do percurso da pesquisa de Silva (2009) e de seu

contexto, apresentamos, a seguir, as análises e as intepretações dos indícios do conhecimento

especializado do professor que ensina matemática relativo ao ensino de multiplicação, que foi

tratado e evidenciado pela pesquisa.

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4.2.4 – Conhecimento especializado para ensinar multiplicação: alguns indícios identificados

na tese de Silva (2009)

Dando continuidade à síntese interpretativa do estudo de Silva (2009), trazemos

nesta seção os recortes de discussões tecidas em sua tese que envolveram aspectos da

multiplicação. Esses serão revisitados em nossa pesquisa com outro objetivo, ou seja, nosso

interesse consiste em descrever e analisar os indícios de conhecimento especializado do

professor para ensinar multiplicação nos primeiros anos de escolarização e que se

encontram subjacentes ou presentes em pesquisas brasileiras produzidas nos programas de

pós-graduação stricto sensu nas áreas de Educação e Ensino, no período de 2001 a 2012.

Portanto, dentre os incidentes críticos81 ou significativos analisados na pesquisa de Silva

(2009), teceremos nossas análises sobre dois que apresentaram discussões relativas ao

conteúdo de multiplicação. Enquanto um deles tratou de questões conceituais, o outro focou

algumas questões mais operacionais, envolvendo números racionais em sua representação

decimal.

A princípio, traremos o incidente crítico que nos permite discutir algumas

questões conceituais sobre a multiplicação. A atividade relativa a esse incidente foi

desenvolvida no segundo momento do caminhar do grupo que, ocorrida sua fase inicial de

constituição, passa a fortalecer-se graças aos questionamentos das professoras participantes e

à aproximação com a realidade da sala de aula.

As discussões acontecidas no grupo levaram-nas a um estudo sobre as quatro

operações, o qual foi realizado por meio da análise de problemas. A proposta da atividade

organizada pela formadora consistiu em selecionar 18 problemas82 em grupos de operações

semelhantes, os quais foram, posteriormente, separados em problemas que apresentassem a

mesma ideia operatória. Conforme proposto, os problemas foram agrupados, e, após

identificar e discutir os que envolviam as ideias de adição e subtração, o grupo tentou

identificar os significados de multiplicação envolvidos em cada um dos seis problemas

encontrados sobre o tema:

1) Joana tem 5 irmãs e distribuiu (sic) para cada uma delas 3 tíquetes para a peça

de teatro. De quantos tíquetes Joana precisa?

2) Um jardineiro plantou 16 canteiros de margaridas, com 8 mudas em cada

canteiro. Quantas mudas ele plantou ao todo?

3) Eu tenho 4 vasos de flores e quero colocar 3 rosas em cada vaso. Quantas rosas

eu preciso ter?

81Apoiada em Lopez e Real (2003), Silva considerou como “momentos ou incidentes significativos aqueles

apresentados pelos professores participantes do grupo, como os que representavam possíveis situações que

incluíam sucesso ou insucesso nas situações de ensino” (SILVA, 2009, p. 131, grifo do autor). 82 Atividade extraída do livro de Santos (1997).

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4) Uma banda escolar tem 8 filas de instrumentista, com 7 membros em cada fila.

Quantos alunos estão na banda?

5) Eu tenho 3 camisas de cores diferentes e 4 shorts de cores distintas. Quantos

trajes distintos eu posso formar?

6) Sorvete Sem Nome tem 6 sabores de sorvete e 8 coberturas diferentes. Quantos

sorvetes de casquinhas diferentes podem ser feitos?

(SILVA, 2009, p. 178)

A seguir apresentamos os excertos83 dos diálogos84 tecidos entre o grupo no

contexto em que discutiam os significados relativos à operação de multiplicação:

Susana: Agora tem a multiplicação, né.

[...]

Eu [Formadora]: Multiplicação, vamos lá...

Susana: Eu tenho 3 vasos de flores e quero colocar 3 rosas em cada vaso. Quantas

rosas eu preciso ter? Combinatória?

Eu [Formadora]: Não,... Parcelas iguais,...

Susana: Parcelas iguais...

Eu [Formadora]: Sim,..., 4 vasos, 3 rosas em cada uma. Parcelas iguais

Transcrição da gravação de áudio de 19/mar/07

(SILVA, 2009, p. 177)

A partir de nosso olhar para esse diálogo, observamos a ênfase dada pela

professora Susana quanto à tentativa de identificar o significado da multiplicação no

problema, reduzindo sua atenção aos demais aspectos envolvidos no problema85.

Interpretamos que o equívoco apresentado em relação aos valores pode relacionar-

se à dimensão do conhecimento relativo aos Registros de Representação (KoT). Com foco em

um dos elementos do problema, isto é, no significado da multiplicação, a professora Susana,

centrada nesse objetivo, parece ter limitado sua atenção aos valores efetivamente apresentados

no problema. Desse modo, cabe destacar o importante papel dos registros de representações

nos processos formativos, visto que é comum o professor reportar-se a tais equívocos em

relação às atividades desenvolvidas por seus próprios alunos.

Essa observação leva-nos a problematizar a natureza das dimensões do

conhecimento que constituem as tarefas propostas nos diferentes contextos formativos, que

parecem privilegiar ora questões relacionadas à sintaxe, ora relacionadas à semântica.

Entendemos que ambos aspectos do conhecimento matemático – o sintático e o semântico –

precisam ser explorados de maneira inter-relacionada nos processos formativos. Desse

entendimento, ressalta-se uma das dimensões do conhecimento do PEM ainda pouco

83 Estes dados, apresentados na tese de Silva (2009) refere-se à transcrição da gravação de áudio de 19/mar/07). 84 As falas correspondentes a cada uma das professoras encontram-se identificadas pelo nome de cada uma delas

(Susana ou Beatriz). Entretanto, para as falas da formadora-pesquisadora, manteremos o termo “Eu” utilizado

originalmente na tese em análise, complementado por [Formadora], o que resulta em Eu-Formadora. Desse

modo, o leitor poderá identificar cada um dos atores envolvidos no decorrer de nossas análises. 85 Essa nossa observação relativa aos valores, refere-se a um aparente equívoco ocorrido por parte da professora

em relação à quantidade efetivamente indicada - 4 vasos e não 3 como relatado por ela no diálogo.

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discutida: a do conhecimento de teorias de ensino associadas a um conteúdo matemático

(KMT) (ESCUDERO-ÁVILA; CONTRERAS; VASCO, 2016).

Outra constatação refere-se ao entendimento do problema dos vasos apresentado

pela professora Susana, que o identificou como envolvendo a ideia de “combinatória”.

Com base no diálogo apresentado, entendemos que, se por um lado, parece ter

faltado espaço-tempo para a professora Susana defender sua opção por “combinatória”, por

outro, o seu aceite quanto a “parcelas iguais...” sem defender sua opção inicial (combinatória)

parece indicar uma carência de exemplos potentes que caracterizem os distintos significados

de multiplicação por parte da professora Susana. Esse fato parece indicar a demanda de

investigações que se aprofundem no tema.

Esta comprovação relaciona-se com a dimensão do conhecimento relativa a

estratégias, técnicas e tarefas para o ensino de conteúdo matemático (KMT) (FLORES-

MEDRANO et al., 2014). A exploração de exemplos potentes relacionados aos significados

de multiplicação implica no aumento do conhecimento do PEM sobre a matemática e de

como as crianças podem aprendê-la, além de que tais aspectos podem ampliar as discussões

sobre a qualidade dos materiais de ensino (ESCUDERO-ÁVILA; CONTRERAS; VASCO,

2016).

Em nossa compreensão, a ausência em explicitar os motivos que levaram a

professora Susana a optar pelo significado de combinatória para o problema dos vasos pode

ter tolhido uma negociação dos significados da multiplicação em relação ao problema

proposto. Temos por hipótese que uma discussão sobre os motivos pelos quais a professora

Susana considerava o problema contendo a ideia de combinatória poderia mobilizar outros

conhecimentos matemáticos e potencializar aproximações de outros significados da

multiplicação.

Com base em Serrazina (2012, p. 271), destacamos que “o tipo e a qualidade das

perguntas que o professor consegue fazer aos seus alunos é um fator determinante do

ambiente de aprendizagem que lhes proporciona”, o que compreendemos que possa também

ser extensivo aos formadores de professores.

Em nossa compreensão, problematizar os diferentes significados de multiplicação

pode contribuir para que o PEM nos anos iniciais mobilize conhecimentos acerca de

propriedades e fundamentos da multiplicação característicos do subdomínio KoT.

A seguir, destacamos o diálogo ocorrido no grupo em que as participantes

discutem qual a ideia que envolve o problema: “Um jardineiro plantou 16 canteiros de

margaridas, com oito mudas em cada canteiro. Quantas mudas ele plantou ao todo?”:

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Susana: Esta daqui está parecendo,..., um jardineiro...

Beatriz: Um jardineiro plantou 16 canteiros de margaridas, com oito mudas em cada

canteiro. Quantas mudas ele plantou ao todo?

Eu [Formadora]: (concordou) um jardineiro plantou 16 com 8 em cada uma,...,

parcelas iguais.

Transcrição da gravação de áudio de 19/mar/07

(SILVA, 2009, p. 177)

Em continuidade ao diálogo anterior, observamos que, antes mesmo de as

professoras tentarem responder, a formadora já havia indicado que a ideia de multiplicação,

associada ao problema, é a adição de parcelas iguais. Em nossa interpretação, entendemos

que, talvez, as professoras ainda não tivessem consolidado a compreensão de outros

significados da multiplicação e, portanto, pautavam-se na identidade de multiplicação numa

abordagem tradicional de ensino, considerando-a basicamente no sentido de adição de

parcelas iguais (BORBA et al., 2008; MAGINA; SANTOS; MERLINI, 2014; MENDES;

BROCARDO; OLIVEIRA, 2013). A despeito da concordância expressa pelo “concordou”,

por parte da formadora, pelo menos nos registros da tese, o diálogo não apresenta respostas

das professoras Susana e Beatriz, mas somente o da formadora, indicando-a como “...parcelas

iguais”.

No decorrer dessas análises, sentimos a necessidade de destacar o papel da

comunicação nos processos formativos como elemento que favorece a negociação de sentidos

e significados do conhecimento matemático. O fato de concordar não impede que se

problematize a resposta, por exemplo, com a solicitação de uma justificativa. É a partir dela,

quase sempre, que o formador poderá identificar os reais conhecimentos matemáticos do

professor, fomentando assim um aprofundamento ou uma ampliação deles. Temos por

hipótese que solicitar às professoras representações distintas para solucionar o problema do

“jardineiro” poderia levar o grupo a aproximar-se de outros significados da multiplicação, os

quais, por serem conhecimentos relacionados aos aspectos fenomenológicos da multiplicação

(KoT), fazem parte do conjunto de conhecimentos fundamentais para o PEM. Entendemos

que a situação envolvida no problema sugere uma representação em que o grupo de objetos se

associa a uma disposição retangular, o que, segundo Fosnot e Dolk (2001), são relevantes para

estruturar progressivamente a multiplicação.

Na discussão realizada sobre o significado de multiplicação que envolveu o

terceiro problema, apesar da pronta resposta dada por Susana – “parcelas iguais...” – notamos

que houve um desafio diante do enunciado de um dos problemas identificados no âmbito da

multiplicação.

Susana: Já... Joana tem 5 irmãs e distribuiu para cada uma delas 3 tíquetes para a

peça de teatro. De quantos tíquetes Joana precisa? Também é de parcelas iguais...

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Eu [Formadora]: Eu acho que essa pergunta está errada. Deveria ser “de quantos

tíquetes Joana precisou?”. Se ela já distribuiu...

Susana: Alguma coisa está estranha, alguma coisa não está batendo.

[...]

Eu [Formadora]: Eu vi isso, mas depois eu parei e olhei que ela distribuiu para cada

uma três, então é a ideia de parcelas iguais... Mais o quê?

Transcrição da gravação de áudio de 19/mar/07

(SILVA, 2009, p. 177-178)

Em nossa interpretação, a afirmação inicial da professora Suzana “Também é de

parcelas iguais”, se configurava como uma boa oportunidade para problematizar o

significado da multiplicação como soma de parcelas iguais, associado ao conceito de divisão

como operação inversa da multiplicação. Problematizar a situação permitiria que o diálogo

tecido neste contexto pudesse ultrapassar o nível da simples identificação dos significados da

multiplicação, possibilitando a mobilização, por parte dos participantes (professoras e

formadora) de novos sentidos para esses significados.

Cabe, neste problema, devido à forma como foi elaborado o enunciado,

problematizar também um aspecto importante do conhecimento especializado do PEM nos

primeiros anos de escolarização – benefícios e dificuldades correspondentes ao uso de

recursos e problemas no ensino de determinado tema matemático – que, à medida que for

compreendido e reconhecido, poderá ser contributivo na organização de futuros processos

formativos.

Em nossa compreensão, essa dimensão do conhecimento especializado relaciona-

se à reformulação do problema, proposto diretamente pela formadora, no sentido de adequá-lo

coerentemente ao objetivo proposto pela tarefa. Isto nos oferece indícios de consciência (isto

é, conhecimento) e intencionalidade do formador em explorar uma dimensão dos

conhecimentos do PEM, os quais envolvem as características matemáticas específicas dos

recursos didáticos para ensinar determinado conteúdo matemático (KMT). Como já

informado, os problemas em discussão foram retirados de um livro didático, sendo esse um

dos principais recursos que o PEM nos anos iniciais utiliza para ensinar multiplicação.

Conhecer os benefícios e as dificuldades do uso do livro didático para o ensino de

multiplicação faz parte do conhecimento especializado do PEM. Assim como destacam

Escudero-Ávila, Contreras e Vasco (2016), compreendemos que os aspectos relativos a essa

dimensão do conhecimento capacitam o professor a selecionar os materiais didáticos em

função dos benefícios oferecidos para a aprendizagem dos alunos. Entretanto enfatizamos que

essas questões, além de serem identificadas, necessitam ser problematizadas e discutidas pelo

PEM, principalmente em contextos de formação continuada aspecto este que, na nossa

interpretação, poderia ter sido mais bem explorado pela formadora-pesquisadora.

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Como vimos até aqui, os três problemas analisados acabaram sendo assumidos

pelas professoras como situações que enfatizavam a multiplicação como a ideia de soma de

parcelas iguais. A seguir, apresentamos os três últimos problemas.

Susana: Uma banda escolar, num é? Tem 8 filas de instrumentista, com 7 membros

em cada fila...Agora a ideia de combinatória, .. Tem o sorvete sem nome que tem 6

sabores de sorvete e 8 coberturas...E a outra que eu tenho camisas de cores

diferentes e 4 shorts cores distintas. Não é isso? Deu para entender. Com uns

probleminhas desses é alguma coisa simples de você [...]etá... né.

Transcrição da gravação de áudio de 19/mar/07

(SILVA, 2009, p. 178, grifo da autora)

Este recorte é uma continuidade da discussão anterior e, com base nele, não foi

possível identificar o significado de multiplicação atribuído ao problema da “banda escolar”

pela professora Susana, uma vez que, sem concluir seu raciocínio em relação a ele, a

professora parece buscar os problemas envolvendo a ideia de combinatória.

Entretanto, Silva (2009) em suas análises, afirma ter identificado duas das ideias

de multiplicação nos seis problemas discutidos/propostos: os quatro primeiros referem-se à

soma de parcelas iguais; e os dois últimos, à ideia de combinatória. A formadora-

pesquisadora86 descreve em suas análises que as professoras tiveram a impressão de que

outras ideias poderiam estar associadas à soma de parcelas iguais, mas elas não conseguiram

identificar as possíveis sutilezas que envolviam os problemas, devido à falta de conhecimento

que tinham sobre os significados de multiplicação. Apesar de terem relacionado os quatro

primeiros problemas envolvendo o significado de soma de parcelas iguais, ela destaca que, em

alguns livros87, o segundo e terceiro (sic)88 problemas denotam o significado de configuração

retangular.

Esse fato merece uma discussão mais aprofundada, e vale destacar esses dois

problemas:

(2) Um jardineiro plantou 16 canteiros de margaridas, com 8 mudas em cada

canteiro. Quantas mudas ele plantou ao todo?

(4) Uma banda escolar tem 8 filas de instrumentista, com 7 membros em cada

fila. Quantos alunos estão na banda?

Em nossa compreensão, considerar esses dois problemas como soma de parcelas

iguais parece indicar a forte relação das professoras com esse significado da multiplicação.

Logo, embora as professoras percebessem alguma sutileza, como parece ter ocorrido, decidem

optar pelo significado que já conhecem e que dão conta para resolver o problema no sentido

86 Neste momento na posição de pesquisadora. 87 Silva remete-se ao PCN (BRASIL, 1997). 88 Entendemos que Silva pretendia se referir aos 2º e 4º problemas.

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de especificamente obter um resultado. Entretanto, a nosso ver, obter um resultado pode não

estar associado a aspectos conceituais, entendemos que a multiplicação não pode ser reduzida

somente aos aspectos operacionais, ou somente aos aspectos conceituais.

Compreendemos que as “possíveis sutilezas”89 envolvendo esses dois problemas,

cujas ideias foram associadas à soma de parcelas iguais, pudessem estar relacionadas ao

significado de configuração retangular. Neste caso, problematizar tais “sutilezas” – outros

significados da multiplicação – implicaria em aproximações à dimensão do conhecimento

especializado do PEM nos anos iniciais relativo aos aspectos fenomenológicos da

multiplicação. Segundo Mendes, Brocardo e Oliveira (2011), o uso do modelo retangular

contribui na construção e na consolidação do uso das propriedades distributivas e associativas.

Problematizar e discutir tais “sutilezas” poderia ter auxiliado a compreender a

pertinência em identificar as diferentes dimensões do conhecimento relativo à multiplicação

que parecem ser fundamentais ao PEM nos anos iniciais. Como afirma Muñoz-Catalán et al.

(2015), para ter um conhecimento profundo do conteúdo escolar, é preciso que o professor

conheça o tema numa perspectiva mais ampla daquela que os alunos aprendem. O problema

da banda escolar tem potencial para gerar uma discussão acerca do significado de disposição

ou configuração retangular, contribuindo para o aprofundamento de conhecimentos

matemáticos fundamentais ao PEM nos anos iniciais.

A problematização dessa questão parece estabelecer relações com o princípio de

extensão no ensino da multiplicação (ISODA; OLFOS, 2011). Para esses autores, o processo

de extensão relaciona-se ao aprofundamento que é dado ao objeto de aprendizagem e à

disponibilidade de diferentes representações desses objetos. Assim, entendemos que a

proposta de abordagem mais aberta (isto é, exploratória) do problema permite ao professor

transitar pelas big ideas (FOSNOT; DOLK, 2011) referentes à multiplicação. Dentre elas,

destacamos a compreensão de um grupo como unidade; a propriedade distributiva da

multiplicação em relação à adição e à subtração; a propriedade comutativa e a propriedade

associativa da multiplicação.

Um segundo episódio que trouxemos para discutir aspectos do conhecimento

especializado do professor que ensina matemática nos anos iniciais, refere-se aos dados

coletados a partir das observações/participação na sala de aula da professora Susana.

Em continuidade ao trabalho realizado com sua turma na “oficina do material

escolar”, a professora Susana aproveitou determinados contextos de problemas inventados por

89 Conforme expresso pela pesquisadora (SILVA, 2009).

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seus próprios alunos com o propósito de trabalhar conceitos relativos aos números decimais e

suas operações. No decorrer da aula, a professora propôs à turma o seguinte problema:

Anny Gabrieli comprou na papelaria 2 cadernos de R$ 2,00 cada, 1 cx de lápis de

cor por 2,00, estojo de canetinhas pelo mesmo preço, apontador e borracha por 1,00

cada, 1 régua por 1,50 e lápis por 50,00. Como você faria uma tabela disso?

(SILVA, 2009, p. 196)

Este problema foi tema de discussão na reunião do grupo90, cujos excertos são

apresentados por Silva (2009) de modo a descrever o pensamento da professora para

compreender as possíveis relações estabelecidas entre os registros orais e escritos dos valores

monetários envolvidos no problema.

Apesar de a formadora-pesquisadora já, em sala de aula, ter considerado

“estranho” o valor atribuído ao lápis (R$ 50,00), em outro momento a professora declarou que

a escolha havia sido proposital. A opção em usar o referido valor no problema, deveu-se ao

fato de a professora Susana ter percebido que, em atividade anterior uma de suas alunas,

representou 50 centavos por meio do registro escrito como sendo R$50,00. Nesta perspectiva,

a professora compreendeu que o uso desse valor no problema “seria uma situação

provocadora e interessante, para levantar algumas discussões com seus alunos” (SILVA,

2009, p. 196).

A formadora91 destaca que também os alunos questionaram o valor atribuído ao

lápis no problema proposto, e que a aluna explicita que pretendia escrever 50 centavos. Foi

então que a professora passou o problema ao grupo classe, questionando-os sobre como

deveria ser a escrita de 50 centavos. Para melhor compreender o pensamento da professora,

destacamos um trecho extraído da tese de Silva (2009, p.197):

Algumas propostas foram colocadas por eles, dentre as respostas, destacamos a do

aluno que disse que deveria ser 00,50. Nesse momento, a professora perguntou se

haveria necessidade de escrever dois zeros antes da vírgula. Outro aluno observou

que o zero deveria ser colocado após o 50 ficando 0,500. Logo, a professora Susana

iniciou alguns questionamentos sobre a fala do aluno: “colocar outro zero depois do

0,50?”. Ela comentou que ficariam 500 centavos, o que assustou alguns alunos que

perguntaram se com 500 centavos daria para comprar alguma coisa. A explicação

dada pela professora foi que 500 centavos correspondem a 5 reais, logo dava para

comprar alguma coisa. Além disso, ela afirmou que 500 centavos poderiam ser

pensados como 500 moedas de 1 centavo. Assentou também que 1 centavo

corresponde a 1 centésimo de 1 real, isto é, poderíamos repartir 1 real em 100

pedaços e 1 desses representa 1 centavo.

Silva (2009) destaca a articulação entre alguns conteúdos na abordagem do

pensamento da professora, porém, incomodada com a escrita dos 500 centavos como 0,500

aproveitou o encontro do grupo de estudos, nesse mesmo dia, para retomar a discussão.

90 Esta reunião do grupo ocorreu no mesmo dia da observação da aula da professora Susana (03/03/2008). 91 Neste momento na condição de pesquisadora.

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Assim, nesse encontro, a proposta era conversar, discutir e verificar a justificativa

e a explicação da professora sobre a escrita dos 500 centavos e se esta poderia ser ou não

0,500. Após começar a discussão sobre os acontecimentos durante as aulas, a profa. Susana

repetiu sua interpretação sobre os 500 centavos, buscando, de certa forma, justificar o motivo

que a fizera acrescentar um zero, utilizando, agora, dez centavos e sua transformação,

mediante multiplicação, em 100 centavos.

Na compreensão da pesquisadora, para a professora Susana multiplicar um

número por 10 seria o mesmo que acrescentar um zero ao final dele, obtendo 0,100, o que

para ela equivale a 100 centavos. Em suas análises, Silva (2009) reforça que, embora a

professora Susana expressasse verbalmente que o resultado era 1 real (1,00), apesar das

discussões sobre a multiplicação e o uso da vírgula, Suzana não conseguia perceber tais

elementos na operação por ela realizada.

De modo semelhante à pesquisadora, em nossa interpretação também

consideramos que a professora Susana utilizou mecanicamente uma regra operatória da

multiplicação – para multiplicar um número qualquer por 10 basta acrescentar um zero ao

final do número – que, embora seja válida para números inteiros, não o é para os números

racionais não inteiros. Este fato parece relacionar-se com a dimensão do conhecimento que

envolve as potencialidades e as dificuldades associadas à aprendizagem do aluno (KFLM),

neste caso a multiplicação por potências de base 10. Isto porque, normalmente o professor

apresenta uma regra prática em que, ao multiplicar um número inteiro por uma potência de

base 10, basta acrescentar, ao final do número, a mesma quantidade de zeros que indicar o

expoente da base 10. Esse é um modo que facilita a aprendizagem do aluno. Em vista disso,

cabe evidenciar a importância de uma outra dimensão do conhecimento especializado para

ensinar multiplicação – o das conexões – (KSM), uma vez que o sistema de numeração

decimal pode ser considerado um tema estruturante para o ensino das operações ao longo de

toda a escolaridade.

Quanto à aprendizagem dos alunos, essa “pedagogia da facilitância”, comumente

utilizada no ensino da matemática para facilitar uma certa aprendizagem mecânica da

matemática funciona, conforme Jiménez Espinosa (2002), como obstáculos de origem

didática, no sentido de Brousseau (1986), pois são simplificações didáticas introduzidas pelos

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professores visando simplificar a memorização de um fato ou de algum procedimento de

cálculo.

A formadora92 destaca a questão da regra prática, questionando a si mesma e aos

leitores acerca da necessidade de que seja observado o uso de algumas regras.

Em que situações isso é verdade? O que significa acrescentar zeros? Será que nós,

professores de matemática, formadores de professores estamos dando atenção

devida a esse tipo de colocação? Será que acreditamos que isto é algo simples e que

não precisa ser explicado? São perguntas que nos levaram a refletir. (SILVA, 2009,

p. 199).

Entretanto, em nossa interpretação, parece haver um conflito entre dois tipos de

registro, o escrito (que privilegia a sintaxe) e o mental (que privilegia a semântica). O

conhecimento da equivalência entre 1,00 e 100 centavos pode estar relacionado à

familiaridade com o contexto monetário, que permite pensar em quantidades de moedas de

0,10, agrupando-as mentalmente, por exemplo de 5 em 5, o que implica em 2 x 0,50 que

resulta em 1,00. Entendemos que ao defender que 1,00 equivale a 100 centavos, Susana

pauta-se em aspectos fenomenológicos da multiplicação, em especial quanto ao significado de

multiplicação como proporcionalidade (KoT), mas, em termos de representação escrita desses

valores, necessita desenvolver mais estudos em relação ao tratamento sintático desses

registros, principalmente no campo dos racionais não inteiros. Esse tipo de conhecimento

especializado é fundamental para quem pretende ensinar multiplicação nos anos iniciais de

escolarização.

Interpretamos, além disso, que a dificuldade em perceber elementos relativos à

vírgula no registro escrito nos dá indícios de fragilidades por parte da professora referente a

conhecimentos relativos aos padrões de valor de posição associados à multiplicação por 10.

Tais fragilidades de certa forma podem impactar no ensino da multiplicação de números

racionais restritos à representação decimal finita, proposto para ser trabalhado no 5º ano

(BRASIL, 2017).

A seguir, trazemos a síntese interpretativa do estudo de Merlini (2012) que, tal

como a de Silva (2009), se desenvolveu no contexto de formação continuada.

92 Aqui também na condição de pesquisadora.

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4.3 Síntese interpretativa do estudo de Merlini (2012)

Nesta seção apresentamos uma síntese interpretativa da tese de Merlini (2012)

que, integrante de um processo formativo com dimensões colaborativas, desenvolveu um

estudo de caso com uma professora da 3ª série participante de um grupo formado por 14

professoras dos anos iniciais.

A síntese foi subdividida em dois tópicos. No primeiro, mostramos a motivação

de Merlini para pesquisar sobre o tema, seguido dos principais aspectos metodológicos e do

processo formativo desenvolvido na pesquisa. No segundo tópico, tecemos nossas

interpretações acerca de episódios tratados em diferentes momentos de sua pesquisa, com

foco no conhecimento especializado sobre multiplicação do PEM nos anos iniciais à luz do

MTSK.

4.3.1 Alguns aspectos metodológicos da investigação e o processo formativo

A experiência inicial de Merlini como formadora em projeto de formação

continuada93 de professores, acrescida aos questionamentos após os estudos do mestrado,

despertou seu interesse por investigar e trabalhar com formação de professores dos anos

iniciais do Ensino Fundamental. Visando investigar as possibilidades de o professor, a partir

de um processo de formação, expandir seus conhecimentos da prática pedagógica em

matemática, estabelece como objetivo de sua pesquisa de doutorado:

investigar as contribuições e os limites que um processo formativo, com dimensões

colaborativas, proporciona no que tange à reflexão na e sobre a prática de uma

professora das séries iniciais do Ensino Fundamental, no âmbito do Campo

Conceitual Multiplicativo. (MERLINI, 2012, p. 24)

Seu estudo apoiou-se fundamentalmente na Teoria dos Campos Conceituais

(VERGNAUD, 1988, 1990) e, de modo mais específico, nas categorias de base do Campo

Conceitual Multiplicativo (CCM) (VERGNAUD, 1983). Em relação à formação de

professores, adotou como principais aportes teóricos: Candau (1996), Fiorentini (2008, 2009),

93 Projeto denominado “Curso de Especialização em Educação Matemática”.

Esse curso foi financiado pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), uma rede global

de desenvolvimento da Organização das Nações Unidas, presente em 166 países. O curso, além de gratuito,

oferecia aos seus participantes materiais didáticos e apoio financeiro para sua locomoção.

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Fiorentini e Nacarato (2002), Pimenta (2010), Ponte (2009), Schön (2000), Serrazina (2010),

Zeichner (1993, 2008), dentre outros.

A pesquisa, desenvolvida em contexto de formação continuada, apresenta um

estudo de caso em que a pesquisadora atuou como um dos formadores de um processo

formativo com dimensões colaborativas, cujo objetivo era contemplar estratégias formativas

contidas na espiral REPARE em três dimensões: reflexão, planejamento e ação.

Merlini acompanhou uma professora94 da 3ª série95, integrante de um grupo

formado por 14 professoras atuantes em diferentes séries do Ensino Fundamental, em três

momentos distintos:

Inicialmente no processo formativo em que a professora atuava com um subgrupo

de professores da 3ª série do Ensino Fundamental.

Em seguida, em momentos de observação nas aulas da professora, nos quais eram

aplicadas situações relativas ao Campo Conceitual Multiplicativo – CCM -

desenvolvidas no subgrupo da 3ª série.

E finalmente, em entrevistas semiestruturadas realizadas logo após as aulas

observadas.

Com vistas a discutir os elementos tratados nesses diferentes momentos, a

pesquisadora sintetiza um estudo de caso, especificando, detalhadamente, as atividades

desenvolvidas no decorrer do processo formativo de uma das professoras ao longo de três

fases denominadas por: 1) Conhecendo a professora Maria; 2) Acompanhando a professora

Maria; e 3) Fechamento do processo formativo de Maria.

A primeira fase, Conhecendo a professora Maria, permitiu traçar um diagnóstico

das professoras, dividido em duas etapas. Inicialmente foi aplicado um questionário com

intuito de traçar o perfil profissional das professoras participantes. A segunda etapa dessa fase

foi subdividida em três momentos nos quais foram propostas às professoras: i) a elaboração,

individual, de seis problemas distintos relativos ao CCM; ii) a realização, individual, de um

prognóstico do desempenho de seus alunos em relação às 13 situações envolvendo diferentes

94 A professora Maria. 95

A escola em que a pesquisa de Merlini foi realizada, ainda não havia sido reorganizada de acordo com a Lei nº

11 274, aprovada em fevereiro de 2006, que regulamentou o Ensino Fundamental de nove anos. Deste modo, a

escola ainda mantinha a divisão dos anos iniciais em quatro séries.

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eixos do campo multiplicativo; iii) as atividades em grupo em que Maria e as professoras do

3º ano classificariam as situações propostas aos alunos.

Na primeira fase, após a aplicação96 do instrumento diagnóstico para os alunos

das professoras participantes do processo formativo, um dos encontros foi disponibilizado à

socialização dessa experiência pelas professoras. Nessa reunião, foi definida, em comum

acordo pelo grupo e a formadora, a dinâmica dos encontros, considerando: a) Subgrupos com

professoras de uma mesma série; b) Apresentação em painel aberto do registro e das

discussões dos subgrupos. Definida a dinâmica, os subgrupos se organizaram por série e cada

um deles passou a expor a classificação e as análises das 13 situações do diagnóstico.

Ao final das apresentações, a pesquisadora explicitou o intuito em realizar um

estudo de caso, fazendo o convite às professoras que tivessem interesse em colaborar. Embora

tivesse havido o aceite de duas professoras, uma da 1ª série e outra da 3ª série, como a

pesquisadora tivesse interesse em acompanhar uma professora da 3ª série, cujos alunos já

tivessem estudado o Campo Conceitual Multiplicativo formalmente, Merlini encaminhou o

estudo de caso com a profa. Maria da 3ª série.

A segunda fase - Acompanhando a professora Maria - teve seu desenvolvimento

em três momentos: O primeiro deles no decorrer do processo formativo em que esteve

inserida no grupo do 3º ano – G3; o segundo, em sua prática pedagógica; e por último, na

entrevista.

O foco do primeiro momento desta segunda fase direcionou a discussão dos

seguintes eixos97 do Campo Conceitual Multiplicativo: eixo 1: proporção simples; eixo 3:

comparação multiplicativa; eixo 4: produto de medidas (4A configuração retangular e 4B

combinatória). Merlini (2012) subdividiu as estratégias do processo formativo em três etapas:

ação teórica; ação prática; e ação reflexiva, as quais se encontram detalhadas em seu estudo.

Ao final de cada encontro, pautada nas discussões teóricas dos diferentes eixos, no

segundo momento, Maria elaborou com o G3 duas situações que seriam aplicadas a seus

alunos, sendo sua prática pedagógica observada pela formadora-pesquisadora.

96 Dois instrumentos precederam o processo formativo: um prognóstico respondido pelas professoras em relação

ao desempenho de seus alunos acerca das questões contidas no instrumento diagnóstico a ser aplicado aos

alunos; e um instrumento diagnóstico contendo situações do Campo Conceitual Multiplicativo, aplicado aos

alunos por cada uma das professoras participantes. 97 Diante do envolvimento de ideias matemáticas mais complexas das situações pertencentes ao eixo da

proporção múltipla (eixo 2), que, segundo Merlini (2012), extrapolavam o nível de ensino em que se trabalhava,

este não foi foco no processo formativo.

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O terceiro momento refere-se às entrevistas semiestruturadas, realizadas após o

término de cada aula observada, cujo roteiro tinha o intuito de promover reflexões da

professora Maria sobre sua prática pedagógica com seus alunos.

Na terceira e última fase do processo formativo, denominada Fechamento do

processo formativo, foram desenvolvidas as duas últimas atividades realizadas

individualmente não apenas pela professora Maria, mas também pelas demais professoras, ou

seja: 1) elaboração de seis problemas relacionados ao Campo Conceitual Multiplicativo; 2)

questionário relativo à avaliação do processo formativo. Enquanto a primeira atividade

objetivou comparar o tipo de situações elaboradas antes do processo formativo e depois dele,

a segunda contribuiria para repensar novas ações aos processos formativos.

Considerando os distintos momentos contemplados no processo formativo da tese

de Merlini, selecionamos três recortes que abordam a temática da nossa pesquisa, sob os quais

teceremos nossas interpretações relativas ao conhecimento especializado do PEM nos anos

iniciais do Ensino Fundamental.

4.3.2 Conhecimento especializado para ensinar multiplicação: alguns indícios identificados na

tese de Merlini (2012)

Contextualizado o processo formativo e conhecido o objetivo do estudo de

Merlini (2012), apresentamos nesta seção alguns recortes de sua tese que consideramos

essenciais de serem revisitados com as lentes do referencial teórico acerca do conhecimento

especializado do PEM (Carrillo, 2014) nos anos iniciais. Cabe destacar, que, diferentemente

do objetivo de Merlini (2012), o foco da nossa pesquisa consiste em identificar e analisar

indícios do conhecimento especializado do PEM, nos anos iniciais, relativo à multiplicação e

ao seu ensino.

Por isso, em busca de identificar indícios de conhecimento especializado no

âmbito da multiplicação, a princípio interessamo-nos em analisar os seis problemas

elaborados pela professora Maria. Entretanto, a não disponibilização do conjunto de

problemas elaborados no primeiro momento pela profa. Maria, conduziu-nos a revisitar o

estudo, tecendo nossas interpretações acerca de protocolos e episódios apresentados e

discutidos na tese de Merlini (2012), a saber: i) Distribuição de problemas elaborados pelas

professoras por eixo do CCM, ii) Alguns problemas propostos e a prática pedagógica da

profa. Maria

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Consideramos pertinente tecer nossas interpretações sobre o conhecimento

especializado de multiplicação a partir das análises do diagnóstico apresentado por Merlini

(2012). Isso porque os diagnósticos podem indicar os significados de multiplicação que têm

sido privilegiados na elaboração de problemas relativos ao CCM pelas PEM nos anos iniciais,

sendo os significados da multiplicação um dos conhecimentos especializados relativos aos

aspectos fenomenológicos da multiplicação, uma das dimensões do conhecimento relativo à

multiplicação que integra o subdomínio do (KoT). Portanto, iniciamos pela distribuição dos

problemas elaborados pelas professoras.

i) Distribuição de problemas elaborados pelas professoras por eixo do CCM

Antes de discutir e analisar os significados privilegiados na fase de elaboração de

problemas, é importante ressaltar que, dentre um total de 84 problemas elaborados pelas 14

professoras participantes da formação, Merlini identificou 13 considerados incompatíveis com

que havia sido proposto98. Tais problemas foram por ela categorizados em três tipos de

incompatibilidade: (tipo 1) situações pertencentes ao Campo Conceitual Aditivo; (tipo 2)

descrição na linguagem natural de uma operação matemática; (tipo 3) falta de dados.

Portanto, considerando os 71 problemas compatíveis elaborados pelas professoras,

Merlini (2012) os classifica de acordo com os quatro eixos do Campo Conceitual

Multiplicativo, conforme dados disponibilizados em seu estudo,apresentados na Tabela 1.

Tabela 1: Distribuição dos problemas de acordo com os eixos do Campo Conceitual Multiplicativo

Fonte: Merlini (2012, p. 133)

Do mesmo modo que Merlini (2012), podemos afirmar que os dados apresentados

na Tabela 1, indicam que todas as professoras participantes do processo formativo

privilegiaram a elaboração de problemas relacionados ao eixo Proporção simples. A partir

98 Foi solicitada às professoras uma primeira construção de problemas no seguinte formato: “Elaborar nos

espaços abaixo, seis problemas distintos envolvendo multiplicação e/ou divisão (a seu critério)”.

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dessa constatação, ao interpretarmos esses resultados, consideramos ser pertinente

problematizar os resultados relativos ao eixo 3 - comparação multiplicativa; e ao eixo 4 –

produto de medidas – sendo que este último envolve dois significados da multiplicação:

combinatória e configuração retangular.

O primeiro deles refere-se ao baixo percentual da elaboração de problemas99

relativos ao eixo comparação multiplicativa. Este fato nos inquietou e fez com que

levantássemos duas hipóteses, que podem estar relacionadas a possíveis fragilidades relativas

a duas importantes dimensões do conhecimento especializado do PEM nos anos iniciais, a

saber: aos aspectos fenomenológicos que envolvem os significados da multiplicação e aos

registros de representação.

Uma de nossas hipóteses refere-se à possível complexidade em compreender os

problemas deste eixo como problemas relacionados à multiplicação ou do campo

multiplicativo, tendo em vista o uso de expressões em língua materna, tais como dobro, triplo,

metade, terça parte, dentre outros. Nesses casos, a não explicitação de termos específicos da

operação de multiplicação (multiplicar, produto, fatores, dentre outros) pode dificultar que o

professor considere problemas dessa natureza como problemas relacionados à multiplicação

ou ao campo multiplicativo. A outra hipótese refere-se à possibilidade de que os seis

problemas identificados nesse eixo possam ter sido elaborados, em sua maioria, pelas

professoras dos 1ºs ou 2º anos, uma vez que esse significado de multiplicação é proposto para

ser trabalhado nos primeiros anos. Embora não tenhamos como confirmar ou refutar tais

hipóteses, compreendemos serem necessários novos estudos que se dediquem a investigar

com maior profundidade o conhecimento especializado do PEM nos anos iniciais relativo a

este eixo, uma vez que o conhecimento especializado do professor acerca da multiplicação

impacta no ensino que se faz desse tema, não apenas nos anos iniciais, mas em todos os

demais níveis de escolarização.

O segundo diz respeito à elaboração de um único problema relativo ao eixo

produto de medidas com foco no significado de combinatória, formulado pela professora

Maria, qual seja: Paula tem em seu armário cinco blusas e três saias. Quantos conjuntos ela

pode formar? Em suas análises, Merlini (2012) levanta a hipótese de que Maria e/ou os

estudantes poderiam utilizar-se de duas estratégias para a resolução desse problema: uma

refere-se ao CCM em que se multiplica a quantidade de blusas (5) pela quantidade de saias

99 Segundo Merlini (2012), a ideia central desses problemas envolveu relações de “dobro” ou “triplo” entre duas

quantidades.

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(3); e a outra, decorrente da pequena quantidade envolvida no problema, utiliza-se da árvore

de possibilidades, considerando-a como uma estratégia que integra o Campo Conceitual

Aditivo, por partir da contagem de todas as possibilidades, como exemplifica a Figura 16.

Figura 16 – Representação horizontal auxiliar para a resolução do problema proposto por

Maria

Fonte: Merlini (2012, p. 137)

Em nossa interpretação, dentre outras alternativas para a resolução do problema

elaborado por Maria, consideramos ainda que, a partir da árvore de possibilidades, a

professora ou os alunos poderiam também se utilizar da estratégia de comparação

multiplicativa, envolvendo a ideia de proporcionalidade. Por exemplo, se para uma blusa

tenho três opções de conjuntos, tendo o dobro de blusas, terei o dobro de conjuntos e,

portanto, se tenho cinco blusas que é o quíntuplo de blusas, terei também o quíntuplo de

conjuntos, isto é, 5 x 3 = 15.

Entendemos ainda que a utilização da árvore de possibilidades pode não ser uma

estratégia do campo aditivo, principalmente se, após fazê-la, a criança percebe claramente que

se trata do fato de que as três saias se repetem cinco vezes, isto é, repete para cada uma das

cinco blusas chegando à conclusão da quantidade de conjuntos pela multiplicação 5 x 3.

Neste caso, pensamos ser pertinente discutir o papel do professor ou do formador,

considerando que, por vezes, a própria disposição do desenho pode favorecer ao aluno

perceber que a situação envolve uma estrutura multiplicativa.

Desse modo, à medida que o professor/formador passa a explorar outros modos de

desenhar a árvore de possibilidades, é possível que alguns alunos a construam de diferentes

formas, como por exemplo na disposição vertical, como se vê na Figura 17.

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Figura 17 – Representação vertical auxiliar para a resolução do problema proposto

Fonte: Elaborada pela pesquisadora

A disposição vertical da árvore de possibilidades pode favorecer a percepção do

aluno de que obterá a mesma quantidade de conjuntos para cada uma das blusas, e que,

portanto, terá cinco vezes a quantidade de conjuntos obtida para cada uma das blusas, ou seja

5 x 3. Nosso entendimento quanto à potencialidade da disposição vertical apoia-se em uma

das big ideas defendidas por Fosnot e Dolk (2001) para a aprendizagem da multiplicação, a de

unitizing, ou seja, a compreensão de um grupo como unidade. O desenho da árvore de

possibilidades na posição vertical parece favorecer a compreensão de um grupo de três

conjuntos por blusa.

Assim sendo, em nossa compreensão, parece ser importante explorar com o PEM

nos anos iniciais que o uso pelo aluno da árvore de possibilidades, necessariamente não

implica em estratégia integrante do Campo Conceitual Aditivo. O uso que se faz da árvore de

possibilidades dependerá, em parte, dos desafios propostos pelo professor com base na

situação elaborada e do objetivo proposto, o que demanda um conhecimento especializado do

PEM nos anos iniciais. Em especial, entendemos que esta demanda esteja associada à

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dimensão do conhecimento relativo Conhecimento das estratégias, técnicas e tarefas para o

ensino do conteúdo matemático (KMT), uma vez que, dentre outros, dois aspectos integram

essa dimensão do conhecimento especializado: a escolha de exemplos potentes para

representar o conteúdo, considerando o tempo disponível e a intencionalidade da proposta

(FLORES-MEDRANO et al., 2014), e, a sequência estruturada de exemplos para auxiliar na

compreensão do significado de um conteúdo matemático (ESCUDERO-ÁVILA;

CONTRERAS; VASCO, 2016).

Interessados em identificar o conhecimento especializado do PEM nos anos

iniciais no âmbito da multiplicação, concentramo-nos em tentar compreender e problematizar

a ausência da elaboração de problemas, por parte das professoras, envolvendo o significado de

configuração retangular. Em nossa interpretação, essa ausência na elaboração desse tipo de

problema, pelas professoras participantes do processo formativo, parece oferecer indícios de

que a multiplicação com o significado de configuração retangular estivesse sendo muito

pouco utilizado pelas professoras até aquele momento e, até mesmo, talvez, lhes fossem

desconhecidas a relevância e a potencialidades desse significado.

Apoiados em Fosnot e Dolk (2001), enfatizamos a importância da compreensão

da multiplicação envolvendo o significado de configuração retangular por parte dos

professores e formadores. Esses autores destacam que a organização de tarefas seja proposta a

partir de contextos que contribuam para estruturar progressivamente a multiplicação,

iniciando com grupos de objetos com o mesmo cardinal e ir avançando para situações que

envolvem grupos de objetos, aos quais se associem uma disposição retangular.

Em nosso entendimento, a utilização e a exploração de problemas envolvendo os

diferentes significados de multiplicação, aqui de modo especial o de configuração retangular,

podem estar relacionadas às diferentes dimensões do conhecimento especializado que

integram o subdomínio do Knowledge of Mathematics Teaching (ESCUDERO-ÁVILA,

CONTRERAS E VASCO,2016). Nesta perspectiva, ao considerarmos a multiplicação ou o

campo multiplicativo como um tema/conteúdo que, à medida que estabelece conexões com

diferentes conteúdos, perpassam os diversos anos escolares da Educação Básica, há que se

destacar os estudos de Menino e Rocha (2009) e os de Mendes, Brocardo e Oliveira (2013),

que trazem contribuições importantes relativa a estratégias, técnicas e tarefas para o ensino

de multiplicação.

O primeiro estudo apresenta o que os autores denominam de Cadeia de tarefas:

quatro tarefas com foco na transição do cálculo por contagem para o cálculo por estruturação,

apoiando-se na exploração de contextos envolvendo a disposição retangular de objetos. Já o

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segundo, o estudo de Mendes, Brocardo e Oliveira (2013), utiliza-se das Cadeias numéricas

que, focalizando o cálculo mental, parece ser apropriado para elucidar procedimentos de

cálculo associados às propriedades dos números e operações.

As tarefas propostas nesses dois estudos permitem identificar conhecimentos

especializados relativos a estratégias, técnicas e tarefas que consideramos ser fundamentais ao

professor que ensina matemática nos anos iniciais, uma vez que potencializam a

aprendizagem da multiplicação, permitindo estabelecer interconexões entre temas

matemáticos.

Isso posto, entendemos que as tarefas propostas nestes estudos, assim como as

tarefas elaboradas numa perspectiva exploratório-investigativa, dentre outras, podem oferecer

contribuições significativas a processos formativos que se disponham a trabalhar mais

especificamente com a multiplicação ou com o campo multiplicativo.

Para além do conhecimento relativo aos problemas relacionados a cada um dos

eixos100 do PEM nos anos iniciais, é importante que o contexto formativo promova também o

desenvolvimento de outros conhecimentos especializados, como por exemplo, aqueles

relativo a estratégias, técnicas e tarefas de multiplicação que possibilitem ao professor

estabelecer interconexões entre diferentes conteúdos matemáticos, potencializando o ensino

acerca desse tema.

ii) Alguns problemas propostos e a prática pedagógica da profa. Maria

Ao acompanhar as aulas da professora Maria, a pesquisadora Merlini (2012)

percebeu que, em diferentes situações envolvendo o campo multiplicativo, os alunos da

professora Maria pareciam insistir no uso da adição, realizando a contagem e não a

multiplicação. Essa percepção pode ser evidenciada a partir de um dos episódios ocorridos na

prática pedagógica da profa Maria, no qual aplicou aos seus alunos uma situação

desenvolvida no grupo de professoras da 2ª série, denominado de problema da promoção. A

seguir, apresentamos o problema e a Figura 16 que representa a estratégia realizada por um

dos estudantes da sala.

100 O que por si só parece ser um grande desafio.

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Figura 18- Problema e a estratégia de resolução

João foi ao supermercado com sua mãe. Ficou

empolgado com a seguinte promoção em cartaz:

“PROMOÇÃO: Compre 5 barras de chocolate e

ganhe 3 chicletes de bola.”

Se João comprar 15 barras de chocolate, quantos

chicletes de bola ganhará?

Fonte: Merlini (2012, p. 173-174)

Após elaborar o desenho em que representa os três agrupamentos com as cinco

barras de chocolate (retângulos) e outros três com os três chicletes (circunferências), o aluno

respondeu prontamente que João ganharia nove chicletes na compra. Ao questioná-lo sobre

como havia pensado e, mais especificamente, que conta havia realizado para obter o

resultado, a professora Maria recebeu a seguinte resposta do estudante 1: “eu não fiz conta

nenhuma, eu só somei três mais três mais Três. Nove chicletes” (MERLINI, 2012, p. 174).

Na análise desse episódio, Merlini (2012) destaca a possibilidade de que o

estudante não tivesse consciência de que, ao relacionar a cada cinco chocolates, três chicletes,

ele estivesse estabelecendo a proporcionalidade de cinco para três, que, na perspectiva de sua

base teórica, se trata de um teorema em ação.

Já, em nossa interpretação, focamos nossas análises e nosso olhar voltados ao

conhecimento especializado do PEM nos anos iniciais relativo à multiplicação e ao seu

ensino. Observamos que o aluno consegue representar a situação problema de maneira

adequada/coerente por meio de um desenho. Porém, compreendemos que a pequena

quantidade de grupos,101 envolvida na situação proposta, favoreceu que o aluno se apoiasse na

adição de parcelas iguais. Ao se pensar em uma situação ou problema, é fundamental que o

professor pense também na estratégia didática que lhe possibilite explorar as matemáticas

envolvidas numa determinada situação.

Portanto, parece pertinente destacar que o desafio matemático pode se constituir

como uma importante estratégia de aprendizagem dos estudantes. Todavia, o uso que se faz

das estratégias de aprendizagem relaciona-se com o conhecimento especializado do PEM nos

anos iniciais em relação às Formas de Interação dos alunos com o conteúdo matemático, as

quais se constituem em uma das dimensões que integra um dos subdomínios do conhecimento

pedagógico do conteúdo, o Knowledge of Features of Learnig Mathematics (KFLM).

Quanto ao tipo de conhecimento especializado do PEM nos anos iniciais, cabe

problematizar o diálogo tecido entre a professora Maria e o estudante 1:

101 Referimo-nos a grupos no sentido do conceito de unitizing (FOSNOT; DOLK, 2001).

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PROFA. MARIA – Então se comprarmos 15 barras de chocolate ganharemos 9

chicletes? Vocês concordam?

CLASSE – sim, concordamos.

PROFA. MARIA – Muito bem. E se ao invés de 15 barras de chocolate,

comprarmos 20 barras, quantos chicletes ganharíamos?

ESTUDANTE 1 – É fácil, quando a gente aumenta cinco barras, a gente ganha mais

três chicletes. Nove mais três dá 12 chicletes.

PROFA. MARIA – E se forem 30 barras?

ESTUDANTE 1 – Espere um pouco. [nesse ínterim observamos que ele está

fazendo contas] já sei, 18 chicletes.

PROFA. MARIA – Como você chegou nesse resultado? Que conta você efetuou?

ESTUDANTE 1 – Eu já sabia quanto seria com 20 barras, acrescentando mais cinco

e mais cinco tenho 30 barras, então era fazer a mesma coisa do outro lado, 12 mais 3

mais 3, dezoito chicletes, “tá” certo, Professora? (MERLINI, 2012, p. 174-175)

Podemos observar que, a princípio, a professora Maria questionou os alunos da

classe, e teve como resposta, da classe, uma concordância, que se subentende ser uma

manifestação de modo geral.. Entretanto, em nosso entendimento, o tipo de questão “Vocês

concordam?” proporciona uma resposta fechada dos alunos, ou seja: sim ou não, o que pode

inviabilizar a exploração de algumas outras estratégias utilizadas pelos demais alunos,

reduzindo, de certa forma, a interação dos demais alunos com a aprendizagem do conteúdo.

Na sequência, a discussão parece restringir-se à professora Maria e ao estudante 1.

Nesse diálogo, percebemos que a professora passa a questionar o aluno aumentando de modo

gradativo o número de barras de chocolate, supondo que dessa forma ele passaria a utilizar a

multiplicação como estratégia para resolução do problema, o que não aconteceu.

Embora a professora tentasse explorar a situação proposta, partindo da estratégia

utilizada pelo aluno, a natureza dos questionamentos realizados parece não ter oferecido um

desafio ao estudante, uma vez que, para respondê-las, ele não precisou recorrer a outros

conceitos matemáticos além dos que já havia mobilizado até o momento. Isto é, no primeiro

questionamento, o aumento de “mais um grupo” de cinco barras permitiu que o estudante

permanecesse utilizando a mesma estratégia para resolver o problema e, portanto, bastou

adicionar mais três chicletes para solucionar o problema.

A representação pictórica apresentada por ele já indicava sua percepção de que o

aumento de cinco barras de chocolate implicaria também no aumento de três chicletes, o que

pôde ser evidenciado na sua fala: “É fácil, quando a gente aumenta cinco barras, a gente

ganha mais três chicletes. Nove mais três dá 12 chicletes” (MERLINI, 2012, p. 174).

Essa afirmação do estudante desperta em nós uma curiosidade: qual teria sido sua

resposta, ou talvez de outros alunos da sala, se a professora Maria lhes apresentasse a questão:

Se João comprar 50 barras de chocolates, quantos chicletes de bola ganhará? E se fossem

100 ou 150? Que outras estratégias seriam utilizadas não apenas pelo estudante 1, mas

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também pelos demais? A adição de parcelas iguais? A multiplicação por 10? A divisão para

encontrar a quantidade de grupos de 5 barras? Ou ainda, e, se no lugar de 20 barras fosse

diretamente questionada a quantidade de chicletes na compra de 30 barras de chocolate?

Diante dessa curiosidade, outras se revelaram: e se essas questões fossem apresentadas à

professora Maria? Quais seriam as estratégias que ela utilizaria? Em que suas estratégias se

diferenciariam das de seus alunos?

Tal inquietação nos remete à tríade de ensino concebida por Potari e Jaworski

(2002) que inter-relaciona três aspectos relativos à complexidade de ensinar matemática: o

desafio matemático, a sensibilidade do professor em relação aos alunos e a gestão da

aprendizagem. Embora as autoras indiquem forte inter-relação e interdependência entre os

três domínios constituintes da tríade, queremos aqui destacar a compreensão dada ao primeiro

deles: o “desafio matemático: descreve os desafios apresentados aos alunos de forma a

mobilizá-los no raciocínio e na atividade matemática. Isto inclui as tarefas propostas,

colocação de questões e ênfase no processamento metacognitivo102” (POTARI; JAWORSKI,

2002, p. 353), o que nos leva a enfatizar a importância do desafio matemático na perspectiva

trazida pelas autoras.

Entendemos que a situação ou a tarefa proposta não determina, por si própria, um

desafio matemático ao estudante, uma vez que os conhecimentos e raciocínios deles se

diferenciam entre si. Logo, as situações ou as tarefas propostas pelo PEM nos anos iniciais

podem tornar-se potencialmente desafiadoras à medida que o professor desenvolver

conhecimentos especializados que lhe permitam elaborar também as estratégias didáticas

necessárias a atingir o objetivo proposto pela situação ou tarefa, os quais integram a dimensão

de Conhecimento das estratégias, técnicas e tarefas para o ensino do conteúdo matemático

(KMT) FLORES-MEDRANO et al., 2014).

Para finalizar nossa interpretação desse episódio, destacamos a resposta dada por

Maria ao questionamento da formadora feito durante a entrevista. Percebendo que, embora a

professora tentasse levá-los a usar como estratégia a multiplicação, a formadora observou que

esta seria uma segunda situação103 em que os alunos insistiam em resolvê-la usando a adição

e, ao questioná-la: “A que você atribui essa persistência por parte deles?” Merlini (2012, p.

175) obteve a resposta:

102Tradução nossa do original: Mathematical challenge describes the challenges offered to students to engender

mathematical thinking and activity. This includes tasks set, questions posed and emphasis on metacognitive

processing (POTARI; JAWORSKI, 2002, p. 353). 103 De modo semelhante, a professora Maria já havia utilizado essa estratégia em uma outra situação problema, a

dos canteiros de flores da escola.

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PROFA. MARIA – Tenho que admitir que ao introduzir o conceito de

multiplicação, normalmente, trabalho com a soma de parcelas repetidas. Penso que

dessa maneira é mais fácil para que o aluno entenda a multiplicação como uma

forma mais rápida de se chegar ao resultado, ao invés de fazer adições imensas da

mesma parcela. Acho que é por esse motivo que eles insistem tanto em somar as

parcelas, ao invés de multiplicar. (MERLINI, 2012, p. 175)

Do mesmo modo que Merlini (2012), percebemos que a resposta da professora

revela que ela recorreu à soma de parcelas repetidas para introduzir o conceito de

multiplicação, e concordamos que isso não constitui propriamente um problema para a

resolução da situação em questão. Entretanto, o uso exclusivo de situações que reforçam

apenas essa significação pode proporcionar dificuldades para a resolução e a compreensão de

situações multiplicativas que não sejam substancialmente aditivas.

Nesse sentido, em um contexto de formação continuada, entendemos que seria

pertinente retomar o desenho apresentado anteriormente para explorar com o grupo outras

possibilidades de significação da multiplicação a partir da situação principalmente, do

desenho do aluno:

Figura 19 - Representação da estratégia de resolução do problema

Fonte: Merlini (2012, p. 174)

Isto porque, embora o estudante possa ter recorrido ao pensamento aditivo,

pautando-se no significado da multiplicação como adição de parcelas repetidas, em nossa

interpretação, o desenho do aluno oferece ao professor profícuas possibilidades de

problematização a partir da exploração, de outros significados da multiplicação, além de

conexões com outros conteúdos matemáticos, como por exemplo, a divisão, proporção, dentre

outros.

De modo mais específico, compreendemos que quanto aos significados de

multiplicação, o desenho possibilita ao professor explorar os significados de

proporcionalidade/comparação multiplicativa (se ao comprar 3 conjuntos de 5 barras se ganha

9 chicletes, então, por exemplo, para o dobro, isto é para 30 barras se obteria também o dobro

de chicletes ou seja, 18 chicletes), dentre outros, desde que, sensível à aprendizagem dos

alunos (POTARI; JAWORSKI, 2002), ele, o professor, promova desafios matemáticos,

mobilizando-os a procurar outros conceitos para além da adição de parcelas repetidas.

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Entendemos que possibilitar tais discussões com os professores e os professores-

pesquisadores do grupo é fundamental na formação continuada, uma vez que, sobretudo nesse

contexto, se pode, de fato, problematizar os conhecimentos e os conhecimentos especializados

do PEM nos anos iniciais sobre multiplicação, podendo, assim, potencializar a incorporação

desses conhecimentos em sua prática pedagógica. Entendemos que os contextos de formação

continuada podem ser ambientes profícuos para que o formador possa problematizar a prática

pedagógica do professor, permitindo que ele possa, efetivamente, desenvolver conhecimentos

especializados no âmbito da multiplicação.

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CAPÍTULO 5 - SÍNTESE INTEGRATIVA E ALGUMAS DISCUSSÕES

O intuito desta síntese integrativa é sistematizar e problematizar, mediante

interrelação e contraste, o tratamento que foi dado ao conhecimento especializado relativo à

multiplicação pelas três teses de doutorado por nós interpretadas e analisadas no capítulo

anterior: Megid (2009), Silva (2009) e Merlini (2012). Embora elas tenham sido

desenvolvidas em período bem próximo, as sínteses interpretativas tecidas no capítulo IV nos

revelam, de certa forma, perspectivas diferenciadas e complementares para o tratamento do

tema da multiplicação, seja nos processos formativos privilegiados seja nos processos

investigativos realizados acerca do conhecimento sobre ensino de multiplicação do professor

ou futuro professor que ensina matemática nos primeiros anos de escolarização.

Nesse sentido, tentaremos realizar nesta seção um balanço que permita revelar

tanto as possibilidades e contribuições trazidas pelas pesquisas em tela como também as

limitações e os desafios relativos aos processos formativos e à investigação desses processos,

tendo em vista o conhecimento especializado do professor que ensina multiplicação nos anos

iniciais de escolarização.

Primeiramente, cabe destacar que duas das pesquisas, duas realizaram um estudo

longitudinal desenvolvido ao longo de dois anos, e ambas apresentaram como um dos focos

de análise a aprendizagem docente envolvendo, dentre outros temas, o ensino da

multiplicação, e uma delas teve como foco de análise as contribuições de um processo

formativo em relação às reflexões de uma professora sobre o Campo Conceitual

Multiplicativo.

Todas as pesquisadoras atuaram como formadoras de professores dos anos iniciais

no desenrolar de suas pesquisas. Megid (2009) desenvolveu seu estudo no contexto da

formação inicial de futuras professoras no âmbito das disciplinas de Ensino e Aprendizagem

de Matemática. Silva (2009) e Merlini (2012) realizaram suas investigações no contexto da

formação continuada de professoras em serviço nos anos iniciais de escolarização. Silva

(2009), para desenvolver sua pesquisa, formou um grupo de estudos que tinha como foco de

reflexão e análise a prática de ensinar e aprender matemática neste contexto. Merlini (2012),

no entanto, preferiu realizar um estudo de caso no qual acompanhou uma professora de 3ª

série do Ensino Fundamental I em diferentes momentos de seu processo formativo com

dimensões colaborativas no âmbito do Campo Conceitual Multiplicativo.

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Para problematizar e promover a aprendizagem e os conhecimentos sobre ensino

da multiplicação, as três procuraram estabelecer - embora de modos distintos - um ambiente

exploratório de reflexão sobre a prática de ensinar e aprender esse tema, tentando estabelecer

uma inter-relação entre teoria e prática.

Megid (2009) investigou o processo de (re)significação do sistema de numeração

decimal e das quatro operações aritméticas básicas junto a alunas de um curso de Pedagogia,

durante as disciplinas de Ensino Aprendizagem de Matemática, acompanhando-as por quatro

semestres consecutivos. Visando proporcionar às futuras professoras um conhecimento

compreensivo da multiplicação, em termos tanto conceituais como procedimentais, optou por

trabalhar com tarefas exploratório-investigativas, focando o cálculo mental e o cálculo escrito,

sem limitar-se apenas ao algoritmo tradicional ou convencional e à noção de adição de

parcelas iguais. Para problematizar o próprio conhecimento e a prática das estudantes acerca

da multiplicação, lançou mão do uso de narrativas (orais e escritas) para que elas trouxessem

para análise e discussão em classe não apenas suas práticas, procedimentos e conhecimentos

atuais de multiplicação, mas, sobretudo, suas práticas e procedimentos pretéritos vivenciados

ao longo do processo de escolarização.

Silva (2009), por sua vez, optou, em um primeiro momento, por explorar, através

da resolução de problemas, os diferentes significados de multiplicação que caracterizam um

conhecimento especializado para o ensino de multiplicação e que dizem respeito: à adição de

parcelas iguais; ao raciocínio combinatório; ao pensamento proporcional; à configuração

retangular. Em um segundo momento, explorou e discutiu situações, dificuldades e erros

vivenciados pelas próprias professoras em suas práticas de sala de aula.

Merlini (2012) também no contexto de formação continuada, investigou as

contribuições de um processo formativo com dimensões colaborativas analisando as reflexões

na e da prática de uma professora da 3ª série do Ensino Fundamental no âmbito do Campo

Conceitual Multiplicativo. Para isso buscou contemplar como estratégias formativas a

reflexão, o planejamento e a ação (REPARE) visando acompanhar a professora Maria em três

momentos distintos que envolveram sua participação em um subgrupo de professores da 3ª

série; observação de suas aulas, ao aplicar atividades desenvolvidas nesse subgrupo; e,

entrevistas realizadas após a observação das aulas. As entrevistas realizadas pós-aula levaram-

na a propor reflexões à professora Maria frente aos desafios relativos a ênfase em um único

significado da multiplicação ao iniciar o trabalho com essa operação.

A análise da aprendizagem docente evidencia, no caso de Megid (2009), um

ambiente rico de ressignificação dos conceitos e dos procedimentos multiplicativos, graças,

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sobretudo, ao processo de reflexão e análise da própria prática das estudantes em um ambiente

de cooperação e negociação de significados e, principalmente, de problematização da inter-

relação entre a sintaxe e a semântica que perpassa o estudo da multiplicação. De fato, as

análises produzidas pela pesquisadora trazem fortes evidências de que foi esse processo de

reflexão e problematização sobre os procedimentos e seus significados relativos à

multiplicação que contribuiu fortemente para a aprendizagem das futuras professoras de

conhecimentos especializados sobre ensino de multiplicação, dentre os quais destacamos: os

múltiplos modos de explorar, no contexto dos anos iniciais, a operação de multiplicação,

utilizando, com compreensão e significação, o cálculo mental, o cálculo escrito, o algoritmo

convencional e os algoritmos alternativos, bem como os diferentes modos de registrá-los e

comunicá-los.

As análises de Silva (2009), por outro lado, destacam que, nesse estudo, dentre os

diferentes conteúdos matemáticos ensinados nos anos iniciais, as quatro operações foi um dos

tópicos de maior destaque nas discussões desenvolvidas pelo grupo de estudos. Revisitar este

trabalho, desenvolvido em um contexto de formação continuada, também permitiu evidenciar

a importância da inter-relação teoria-prática em seu delineamento e desenvolvimento. O

trânsito dessa pesquisadora pelas diferentes modalidades de ensino, associado ao trabalho

como formadora de professores, mobilizou-a a enfrentar a crença do malpreparo e do

desinteresse dos professores dos anos iniciais em aprender ou aprofundar seus conhecimentos

referentes aos conteúdos matemáticos. Ao priorizar um processo de formação continuada

baseado na inter-relação teoria-prática, passou a percebê-los como sujeitos aprendentes e

interessados em se apropriar dos conhecimentos específicos fundamentais para ensinar

matemática nos anos iniciais.

Essa sinopse de Silva (2009) nos permite evidenciar três aspectos que necessitam

ser compreendidos/estudados, quando se quer investigar o conhecimento do PEM nos anos

iniciais: a crença em relação ao malpreparo e ao desinteresse dos professores em relação a

aprender e aprofundar conhecimentos do campo da matemática; as dificuldades de

compreensão de processos de ensino, aprendizagem e avaliação matemática que envolvem a

profissão docente, resultante da ausência desses elementos no contexto da formação inicial; e

a indicação das quatro operações como tópico de grande destaque nas discussões do grupo.

A complexidade que envolve cada um desses três elementos não permite

elucidações no contexto da presente pesquisa, entretanto cabe problematizá-los no âmbito dos

estudos de revisão sistemática. Entendemos que a relação estabelecida entre as dificuldades

referidas por Silva (2009), relativas ao processo de ensino, aprendizagem e avaliação

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matemática e a ausência desses elementos em sua formação inicial, reforça a necessidade do

aumento de carga horária das disciplinas voltadas ao ensino de Matemática, aumento esse que

tem sido, insistentemente, apontado como urgente e necessário por várias pesquisas

(CASTRO & FIORENTINI, 2017; TAQUES, 2012). Embora nosso estudo também reforce a

necessária ampliação da carga horária de disciplinas voltadas ao ensino de matemática nos

cursos para formação do professor dos anos iniciais, caso das Licenciaturas em Pedagogia,

entendemos que tal ampliação deva se estender também para os cursos de Licenciatura em

Matemática, isso porque praticamente todos os PEM nos anos iniciais tiveram, tiveram como

uma primeira referência sobre a prática de ensinaraprender matemática seus próprios

professores dessa disciplina.

A análise da aprendizagem docente observada no estudo de Merlini (2012) nos

remete à complexidade do ensino de multiplicação no que se refere às possíveis conexões a

serem estabelecidas entre aspectos semânticos e sintáticos da multiplicação. Essa constatação

procede das discussões tecidas entre um estudante e a professora Maria, quando ela tenta

induzir o aluno ao pensamento multiplicativo, sem contudo lhe oferecer desafios que o

levassem a procurar outra estratégia que permitisse ir além do pensamento aditivo. Talvez, a

dificuldade da professora em compreender as cinco barras de chocolate como um grupo, o que

compreendemos tratar-se de um aspecto sintático da multiplicação relacionado com uma das

big ideas da multiplicação tratadas por Fosnot (2001), a de unitizing, pode ter impossibilitado

à professora de explorar outros significados da multiplicação (aspecto semântico). O estudo

permitiu evidenciar as reflexões da professora Maria em relação à sua prática pedagógica,

levando-a a perceber que a ênfase em um dos significados da multiplicação (adição de

parcelas iguais) ao introduzir este conceito, pode comprometer a passagem do pensamento

aditivo ao pensamento multiplicativo.

Em relação aos indícios de mobilização, tratamento e aprendizagem de

conhecimentos especializados do PEM nos anos iniciais, tendo em vista o ensino de

multiplicação e que integram diferentes domínios do modelo MTSK (CARRILLO et al.,

2013), destacamos, no caso de Megid (2009), a exploração da propriedade distributiva da

multiplicação em relação à adição, para efetuar e justificar um procedimento alternativo na

resolução da operação proposta e que diz respeito ao subdomínio do conhecimento

matemático (KoT), integrando a dimensão das definições, propriedades e seus fundamentos e

a dimensão dos procedimentos. Cabe reforçar que o uso de procedimentos alternativos por

parte das futuras professoras, não foi ao acaso. Isso certamente é decorrente do tipo de tarefa

proposta pela formadora – tarefa exploratório-investigativa – sem a qual dificilmente isso

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seria produzido. Compreendemos que o uso desse tipo de tarefa demonstra, por parte da

formadora, a mobilização de um conhecimento especializado que integra um subdomínio do

conhecimento pedagógico da formadora (KMT) de modo especial a dimensão relativa aos

conhecimentos de teorias de ensino associadas a um conteúdo matemático (ESCUDERO-

ÁVILA; CONTRERAS; VASCO, 2016).

Esse tipo de tarefa de natureza mais aberta favoreceu às futuras professoras

problematizar suas significações sobre diferentes aspectos da multiplicação104, permitindo

estabelecer uma intepretação sintático-semântica em relação às ideias e às resoluções

matemáticas produzidas pelas alunas e expressas em suas narrativas.

Já na tese de Silva (2009), observamos que a discussão, a negociação de

significados e a problematização ficaram bastante reduzidas, como evidencia um dos diálogos

estabelecidos entre a formadora e uma das professoras do grupo (Susana)105. Essa

interlocução parece decorrente da natureza da tarefa proposta, uma vez que o tipo de tarefa –

fechada –praticamente não abre espaço para a problematização e a aprendizagem efetiva dos

conhecimentos fundamentais para quem vai ensinar multiplicação.

Embora a formadora tenha tido o mérito de abrir espaço, no processo de formação

continuada, para o relato e a discussão de atividades, erros e dificuldades vivenciados pelas

professoras em suas práticas de sala de aula, é também visível, de outro lado, a ausência de

problematização e tratamento sintático-semântico das situações e das significações trazidas e

produzidas pelas professoras e de seus alunos sobre, por exemplo, a compreensão (semântica)

e o registro ou representação (sintaxe) de números decimais associados ao sistema monetário.

Apesar de saber, por exemplo, que 500 centavos equivalem a 5 reais ou que 100 centavos

equivalem a 1 real, não teve oportunidade para explorar e compreender/justificar

sintaticamente que a representação escrita de 500 centavos e 100 centavos não é

respectivamente 0,500 e 0,100 e que 0,10 x 10 não é igual 0,100. Ou seja, para o professor

que ensina matemática não basta saber somar ou multiplicar valores monetários oralmente,

tão somente no plano semântico. Ele precisa ir além, procurar o porquê desses resultados e

104 Há que se lembrar que, na formação inicial do professor que irá atuar nos anos iniciais do Ensino

Fundamental, há uma carga horária muito limitada para trabalhar todos os temas do campo da Educação

Matemática, tanto do ponto de vista conceitual como didático-pedagógico, tendo em vista o seu ensino. 105 Susana: Agora tem a multiplicação, né.

[...]

Eu [Formadora]: Multiplicação, vamos lá...

Susana: Eu tenho 3 vasos de flores e quero colocar 3 rosas em cada vaso. Quantas rosas eu preciso ter?

Combinatória?

Eu [Formadora]: Não,... Parcelas iguais,...

Susana: Parcelas iguais...

Eu [Formadora]: Sim,..., 4 vasos, 3 rosas em cada uma. Parcelas iguais.

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como representar, comunicar e justificar por escrito esses valores, de modo a se habilitar a

explorar e trabalhar essas relações com seus alunos. E entendemos que é nisso que reside o

conhecimento especializado do professor.

Ao finalizar o presente estudo, podemos dizer que a metassíntese produzida

sobre estes três trabalhos nos aponta, em suma, que o professor, para ensinar multiplicação,

deve saber muito mais do que multiplicar com habilidade os números inteiros e racionais ou

saber resolver problemas que envolvam o uso da multiplicação. Para ensinar multiplicação o

PEM nos anos iniciais precisa possuir, sobretudo, conhecimentos especializados (CARRILLO

et al., 2013) que o habilitem a ensinar este tema, tais como:

1) os múltiplos sentidos e significados da multiplicação (KoT) – aspecto explorado, em

parte, por Megid (2009) e Silva (2009), e, elementos esses explorados por Merlini (2012)

com a professora participante de seu estudo de caso com ênfase nos aspectos semânticos

da multiplicação;

2) os múltiplos modos de realizar – com compreensão e significação – a operação de

multiplicação, compreendendo e sabendo justificar os porquês de determinados

procedimentos ou algoritmos (KoT e KPM), seja mediante utilização do cálculo mental

seja mediante cálculo escrito, utilizando algoritmos e representações convencionais e não

convencionais, privilegiando a relação dialética entre sintaxe e semântica, aspecto

fortemente explorado e problematizado por Megid (2009).

3) estratégias ou metodologias de ensino que ajudem a explorar e desenvolver esses

significados de multiplicação (KMT) – aspecto bastante explorado nos três estudos,

embora, às vezes pouco problematizado e discutido com as professoras, como foi o caso

de Silva (2009).

4) situações-problema que permitam promover os múltiplos sentidos e significados de

multiplicação conectados a outras dimensões do conhecimento matemático (KSM, KMT e

KMLS - conforme CARRILLO et al., 2013), como é o caso da adição de parcelas iguais,

da divisão, da combinatória, da proporcionalidade, da geometria (no caso da

configuração/disposição retangular do produto de dois fatores), da álgebra (no caso do

sentido da igualdade como equivalência, da utilização das propriedades comutativa,

distributiva, associativa, elemento neutro da multiplicação, da operação inversa à

multiplicação) etc. Aspecto este parcialmente explorado e problematizado em duas das

pesquisas (Silva, 2009; Megid, 2009), tendo sido este aspecto destacado na pesquisa de

Merlini (2012). Mesmo Silva (2009) tendo buscado em propostas curriculares ou proposto

situações-problema visando promover alguns desses significados, a problematização foi

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pouco efetiva para ajudar as professoras a se apropriarem desses significados, limitando-

se a apenas identificar as possíveis significações e conexões a serem estabelecidas. Megid

(2009), por sua vez, embora não tenha trabalhado com situações-problema, visando essas

conexões de significação, as tarefas exploratório-investigativas implementadas permitiram

às futuras professoras negociarem significados e problematizarem vários procedimentos

operatórios, mediante conexão com a adição, a divisão e álgebra (distributividade,

associatividade, expressões equivalentes), elementos do sistema de numeração decimal,

dentre outros. Por outro lado, Merlini (2012) apesar da reduzida exploração quanto aos

aspectos procedimentais e operatórios em conexão às propriedades no âmbito da

multiplicação, as entrevistas realizadas ao final das aulas possibilitavam reflexões à

professora Maria relacionadas à ênfase dada em um dos significados para introduzir o

conceito de multiplicação. Diferentemente do diagnóstico inicial, em que os problemas

elaborados, pela professora Maria, restringiram-se a problemas relativos a dois eixos (eixo

1 - Proporção simples; e eixo 4 - Produto de medidas – combinatória) do Campo

conceitual Multiplicativo, o foco das discussões do grupo, em explorar diferentes

situações voltadas à ampliação do Campo conceitual multiplicativo, auxiliaram, no

diagnóstico final, Maria a elaborar problemas relativos aos três eixos (1-proporção

simples; 3 – comparação multiplicativa; e 4 – Produto de medidas: configuração

retangular e combinatória), sendo, porém, pouco problematizados no sentido de

estabelecer conexões entre os distintos significados da multiplicação e diferentes

conteúdos matemáticos.

Quanto às formadoras de professores, a metassíntese evidenciou que, além de

precisar dominar os conhecimentos especializados anteriormente descritos, necessitam

também conhecer tarefas e estratégias (ou dinâmicas de significação ou negociação de

significados) que ajudem as professoras ou futuras professoras dos anos iniciais a

problematizar e a promover a aprendizagem e a ressignificação do ensino da multiplicação. A

esse respeito, Serrazina (2012), por exemplo, nos lembra que, na formação inicial ou

continuada, é fundamental que os formadores ofereçam oportunidades para os professores

problematizarem e ressignificarem os conhecimentos matemáticos e didático-pedagógicos, de

modo a possibilitar a organização de tarefas que mobilizem distintos raciocínios relativos à

multiplicação.

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CONCLUSÕES E CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao fazer uma breve retrospectiva da trajetória desta pesquisa, cabe destacar que

este estudo teve origem, primeiramente, nos desafios enfrentados por mim quando atuava

como formadora de professores dos anos iniciais em relação ao campo da Educação

Matemática. Dentre outros aspectos, deparei-me com o reduzido espaço-tempo destinado à

formação específica desses professores, tendo em vista sua futura prática docente nos anos

iniciais do Ensino Fundamental. Trata-se de um problema que não é exclusivo da disciplina

de matemática, como tem apontado D’Ambrósio (2005) e Fiorentini e Castro (2017), mas

também de outras disciplinas como Língua Portuguesa, História, Ciências, Educação Física,

Educação Artística.

A delimitação da problemática da pesquisa, no entanto, surgiu depois, durante

minha participação106 no Projeto “Mapeamento e Estado da Arte da Pesquisa Brasileira sobre

o Professor que Ensina Matemática”, uma pertinente aproximação às pesquisas brasileiras

sobre o PEM e sua formação produzidas no período de 2001 a 2012 em programas de pós-

graduação stricto sensu nas áreas de Educação e Ensino da Capes. Surgiu principalmente

quando tentamos confrontar os estudos brasileiros sobre formação do professor que ensina

matemática com a literatura atual em nível internacional e que apontava para a necessidade de

o professor que atua nos anos iniciais de escolarização se apropriar de um conhecimento

especializado para ensinar matemática (BALL et al. 2008; CARRILLO et al. 2013). Isso me

mobilizou a desenvolver uma pesquisa acerca da aproximação das pesquisas brasileiras ao

conhecimento especializado do professor para ensinar multiplicação nos anos iniciais.

Diante desse problema e considerando, de um lado, sua relevância e, de outro, a

demanda por estudos de revisão sistemática no âmbito da Formação de Professores que

ensinam, optamos por investigar o conhecimento especializado do PEM nos anos iniciais no

âmbito da multiplicação, mobilizou-me, de modo especial, a desenvolver uma metassíntese de

teses de doutorado produzidas no Brasil até o ano de 2013 e que tiveram como foco de estudo

a formação de professores que ensinam multiplicação nos anos iniciais de escolarização. .

Para poder responder à pergunta de pesquisa - Que conhecimentos especializados

do professor que ensina multiplicação nos anos iniciais são concebidos, identificados e

tratados por essas pesquisas - busquei apoio teórico na literatura internacional (FOSNOT &

106 Desde nosso ingresso no doutoramento.

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DOLK 2001; MENDES et al., 2013; MENDES, 2012; CARRILO et al., 2013) e nacional

(BORBA et al., 2008; MAGINA et al., 2014).

Desse modo, a abordagem teórico-metodológica utilizada nesta investigação

possibilitou, por meio das sínteses interpretativas e integrativas, que o presente estudo

evidenciasse diferentes aspectos do conhecimento especializado do PEM nos anos iniciais

sobre multiplicação privilegiados tanto em contexto de formação inicial quanto continuada a

partir de teses produzidas no período de 2001 a 2012.

Os resultados obtidos pelas três sínteses interpretativas e pela integrativa

evidenciam a complexidade da relação entre o domínio consciente do conhecimento

especializado por parte dos formadores e as estratégias e práticas de formação inicial ou

continuada para que os professores ou futuros professores possam mobilizar e efetivamente se

apropriar desses conhecimentos especializados para ensinar multiplicação nos anos iniciais.

Ficou evidente, nesta revisão sistemática, que sem análise e problematização desses

conhecimentos especializados em situações de sala de aula, envolvendo análises e

interpretações dos processos mobilizados pelos professores e pelas crianças em situação de

aprendizagem, os professores dificilmente se apropriam desse conhecimento especializado,

seja na perspectiva de Ball et al. (2008) seja na perspectiva de Carrillo et al. (2013). E esse

processo de aprendizagem docente ganha força e efetividade se envolver, como evidenciaram

os três estudos revisados, uma prática dialógica e colaborativa entre professores e

pesquisadores envolvidos, em uma perspectiva de produção e negociação de significados

sobre o ensinaraprender nos anos iniciais, reafirmando, assim, resultados obtidos por

pesquisas desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa PraPEM (FIORENTINI, 2004, 2013;

CARVALHO & FIORENTINI, 2013; FIORENTINI & CARVALHO, 2015).

Essa constatação, por outro lado, nos permite perceber que, em termos de

identificação e sistematização deste conhecimento especializado da prática de

ensinaraprender, seja a matemática escolar na educação infantil e no Ensino Fundamental,

seja especificamente as quatro operações básicas é ainda um empreendimento a ser

desenvolvido pela comunidade de educadores matemáticos e especialmente pelos formadores

de professores que ensinam matemática. O que conseguimos colocar em evidência neste

estudo de revisão sistemática é apenas a ponta de um iceberg.

Com base neste estudo, sobretudo nas discussões tecidas na síntese integrativa,

pudemos discutir e compreender um pouco sobre o que poderia ser o conhecimento

especializado do professor para ensinar multiplicação nos anos iniciais. E vimos que esse

conhecimento não pode ser prescritivo, mas um conhecimento que ganha visibilidade e

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compreensão, a partir de problematizações da prática de ensinaraprender, seja da prática

pedagógica do professor em serviço, como é o caso da formação continuada investigadas por

Silva (2009) e Merlini (2012); seja na exploração dos processos e conceitos pretéritos

mobilizados e adquiridos por futuras professoras quando eram estudantes da escola básica e

trazidos para o contexto da formação inicial através de narrativas de suas memórias, como

pudemos ver na pesquisa de Megid (2009).

Entretanto, essa possibilidade de problematização, produção e sistematização dos

conhecimentos nos processos formativos e, sobretudo, investigativos, nos trazem alguns

desafios e questionamentos: De que modo o formador do professor que ensina matemática nos

anos iniciais pode contribuir na/para a problematização de conhecimentos do futuro professor

relativo à multiplicação? Como esses conhecimentos sobre isso podem ser percebidos ou

encontrados nas/em pesquisas brasileiras produzidas em programas de pós-graduação stricto

sensu ou em artigos publicados em periódicos científicos no Brasil e no exterior?

Que conhecimentos especializados sobre multiplicação podem possibilitar ao

PEM nos anos iniciais o estabelecimento de conexões entre diferentes conteúdos matemáticos

que contribuam no desenvolvimento do pensamento multiplicativo dos estudantes?

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181

APÊNDICE 1: Resumo das pesquisas que constituíram o estudo metassintético

1. MEGID, Maria Auxiliadora Bueno Andrade. Formação inicial de professoras mediada

pela escrita e pela análise de narrativas sobre operações numéricas. Tese (Doutorado em

Educação). Faculdade de Educação, UNICAMP, Campinas, 2009. (Orientador: Prof. Dr.

Dario Fiorentini).

O trabalho apresenta um estudo sobre a formação inicial de professoras que ensinam

matemática para os anos iniciais do Ensino Fundamental mediada pela escrita e pela análise

de narrativas sobre as operações numéricas. Teve por objetivo analisar e interpretar como se

dá o processo de aprendizagem profissional e de (re)significação do sistema de numeração

decimal e das quatro operações aritméticas básicas em alunas de um curso de Pedagogia, bem

como os indícios de mudança da relação com a matemática e seu ensino ao longo da

experiência formativa, quando utilizados recursos das dinâmicas de cooperação e das

narrativas. No percurso da pesquisa foram utilizados, entre outros autores, aportes teóricos de

Josso (2004; 2006), Freitas (2006) e Suárez (2008) relativamente às narrativas e escritas de si,

e de Fiorentini (2006) e Nacarato (2008) no que se refere aos conteúdos matemáticos e

didático-pedagógicos. A coleta de dados teve por base as dinâmicas de cooperação (Alrø e

Skovsmose, 2006), as práticas reflexivas exploratório investigativas e as escritas de narrativas

pelas alunas. Os dados originaram-se de três fontes distintas: da professora-pesquisadora, das

alunas, individualmente, e do grupo de alunas a partir dos trabalhos colaborativos realizados

em duplas, pequenos grupos ou grupo-classe. Foram coletados por intermédio de registros

escritos, diário de campo e gravações em áudio ou vídeo. As práticas em sala de aula

centraram-se nas quatro operações aritméticas fundamentais: adição, subtração, multiplicação

e divisão. Para cada uma delas ocorreram três etapas de trabalho: uma primeira, onde as

alunas individualmente refletiam sobre a operação em pauta e registravam em seus cadernos

as formas que utilizavam para realizá-las, utilizando o cálculo mental e algoritmos aprendidos

na escola básica; uma segunda, onde em duplas ou pequenos grupos narravam às colegas seus

procedimentos, elaborando um registro único do grupo; e uma terceira, com toda a turma, que

envolvia a socialização dos diferentes registros, em que se buscava a reconstrução de

estratégias utilizadas na realização das operações e também alternativas para o ensino de

algoritmos convencionais ou não. As análises feitas apontam que os procedimentos utilizados

auxiliaram na (re)significação de conceitos matemáticos e na construção de perspectivas

pedagógicas para o ensino de Matemática nos anos iniciais. As aulas e o desenvolvimento da

pesquisa explicitaram as incompreensões das alunas, permitindo a exposição de suas

angústias e ansiedades, o que proporcionou a interlocução entre as vidas das alunas, de seus

ambientes socioculturais e incentivou o processo de desnaturalização da transmissão dos

algoritmos. Foi possível a percepção de que as operações matemáticas podem ser aprendidas a

partir da utilização dos recursos do cálculo mental e da utilização das propriedades a elas

relacionadas, mesmo que de forma intuitiva. Além disso, as narrativas aliadas às dinâmicas de

cooperação potencializadas pelo diálogo mostraram-se ingredientes fundamentais no

ambiente de ensino e aprendizagem.

PALAVRAS CHAVE:

Formação de Professores; Operações Numéricas; Narrativas; Educação Matemática; Ensino

Fundamental; Pedagogia.

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2. SILVA, S. A. F. Aprendizagens de professores num grupo de estudos sobre Matemática

nas séries iniciais. 2009. 365 f. Tese (Doutorado), Universidade Federal do Espírito Santo,

Vitória. 2009.

Esta tese de doutorado foi um estudo longitudinal qualitativo, de dois anos e quatro meses,

que analisou aprendizagens de professoras em um grupo de estudos sobre matemática nas

séries iniciais. Entre os anos de 2006 e 2008, constituímos uma formação continuada em

contexto com um grupo de estudos com as professoras Susana e Beatriz, ambas regentes de

séries iniciais na rede municipal de Vitória. Além dessas, mais três professoras de matemática

participaram do grupo, incluindo a pesquisadora. Realizamos uma investigação do tipo estudo

de casos com perspectiva humanística. Investigamos as seguintes questões: Que

aprendizagens das professoras participantes se destacam num grupo de estudos e em suas

práticas pedagógicas? Que relações entre aprendizagens de professoras e alguns aspectos

afetivos são evidenciadas num grupo de estudos de matemática? Como se percebe a

influência do grupo de estudos de matemática nas aprendizagens das professoras

participantes e em suas práticas pedagógicas? Os dados foram coletados nos encontros

semanais do grupo e nas aulas observadas e/ou participadas das professoras. Dados obtidos

nos incidentes críticos ou significativos da investigação permitiram desvelar aprendizagens

das professoras Susana, Beatriz e da pesquisadora. Obtivemos evidências de algumas

aprendizagens sobre: conhecimentos dos conteúdos matemáticos, em especial o de geometria

e de resolução de problemas envolvendo as quatro operações; conhecimento pedagógico, em

especial o de contrato didático, estabelecido e executado em aulas; conhecimento pedagógico

matemático, ações diferenciadas utilizando escrita nas aulas de matemática e oficinas com

materiais manipulativos; conhecimento do currículo matemático, organização e valorização

de diferentes conteúdos; e conhecimento dos alunos, enquanto aprendizes de matemática.

Notamos como um trabalho diferenciado de formação continuada em contexto, num grupo no

qual atuamos como amigos críticos uns dos outros, influenciou e envolveu as integrantes.

Nesse grupo, as professoras se respeitavam, ouviam e eram ouvidas em suas vitórias e

anseios, opinavam, lançavam propostas e contribuíam para a construção dos diferentes

conhecimentos. Esse comportamento influenciou as aprendizagens e as atitudes das

professoras em relação à matemática, resultando em ressonâncias em suas práticas em sala de

aula. A reflexão crítica contribuiu para que cada professora desenvolvesse sua própria

metacognição, reconhecendo-se de forma consciente, enquanto aprendiz e professora de

matemática. Também concluímos que é importante analisar crenças, concepções e emoções

das professoras na influência de suas atitudes em relação à matemática, ao seu ensino, à

aprendizagem e à avaliação.

Palavras-chave: Aprendizagens; grupo de estudos; matemática das séries iniciais; formação

continuada em contexto.

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3- MERLINI, V. L. As potencialidades de um processo formativo para a reflexão na e sobre

a prática de uma professora das séries iniciais: um estudo de caso. 2012. 262 f. Tese

(Doutorado), Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. 2012.

A presente tese teve por objetivo investigar as contribuições e os limites que um processo

formativo, com dimensões colaborativas, proporciona no que tange à reflexão na e sobre a

prática de uma professora das séries iniciais do Ensino Fundamental, no âmbito do Campo

Conceitual Multiplicativo, e como suporte teórico a Teoria dos Campos Conceituais

(VERGNAUD; 1998, 2008). Para tanto foi realizado um estudo de caso o qual acompanhou

uma professora da 3ª série do Ensino Fundamental em três momentos distintos: (i) no

processo formativo junto ao seu respectivo subgrupo G3 (por série) e as demais professoras

da escola; (ii) na observação de sua aula em que houve a aplicação das situações

desenvolvidas pelo G3, relativas ao Campo Conceitual Multiplicativo; e, logo em seguida a

essa aula, (iii) na entrevista semi-estruturada realizada com a referida professora. Os dados

coletados foram analisados sob três tópicos: (a) os diagnósticos coletados; (b) a expansão dos

conhecimentos teóricos e práticos por meio da vivência e da reflexão da professora; e (c) a

ressignificação das concepções da professora em relação ao Campo Conceitual Multiplicativo

e das suas estratégias didáticas. Os resultados apontam as contribuições e limitações sob três

pontos de vista: didático – a concepção de que a aprendizagem dos estudantes pode ser

construída de forma compartilhada, contudo as discussões a respeito das situações que

contemplaram a operação de divisão foram insuficientes; conceitual – o desenvolvimento da

capacidade de categorizar situações segundo os eixos trabalhados do Campo Conceitual

Multiplicativo, em contraponto a elaboração de uma situação de divisão partitiva afirmando,

de forma equivocada, que se tratava de uma divisão quotitiva; cognitivo – a necessidade de

fazer o estudante entender a situação como um todo, e que sua estratégia de resolução não

estivesse atrelada a alguma palavra-chave, no entanto não foi proporcionado aos estudantes

situações que contemplassem o modelo de divisão quotitiva, que permitissem gerar outros

esquemas cognitivos para sua resolução. Esses resultados levam a concluir que de fato houve

expansão dos conhecimentos no Campo Conceitual Multiplicativo por parte da professora,

contudo é possível que o limitador maior tenha sido o tempo do processo formativo, que fora

restrito.

Palavras-chave: Ensino Fundamental, Formação de professor, Campo Conceitual

Multiplicativo, estudo de caso.

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APÊNDICE 2 - Relação de Dissertações e Teses Brasileiras que versam sobre o Professor

que Ensina Matemática nos Anos Iniciais defendidas em Programas de Pós-Graduação Stricto

Sensu - Período de 2001 a 2012.

1. ABRAHÃO, A. M. C. O professor que ensina Matemática e suas visões sobre a

prática pedagógica. 2007. 195 f. Tese (Doutorado) – Universidade do Estado do Rio

de Janeiro, Rio de Janeiro, 2007.

2. AGUIAR, G. S. Quem ensina matemática no Brasil? Um estudo dos perfis dos

professores a partir dos dados do SAEB de 1997 e 1999. 2001. 164 f. Dissertação

(Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro,

2001.

3. ALENCAR, E. S. Conhecimento profissional docente de professores do 5º ano de uma

escola com bom desempenho em Matemática: o caso das estruturas multiplicativas.

2012. 182 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Bandeirante de São Paulo, São

Paulo, 2012.

4. ALMEIDA, D. P G. Representações sociais do ensino da Matemática e suas relações

com o IDEB. 2011. 141 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de

Pernambuco, Recife, 2011.

5. ALMEIDA, E. O. Como as crianças constroem procedimentos matemáticos:

reconcebendo o fazer matemática na escola entre modelos e esquemas. 2006. 250 f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, Brasília, 2006.

6. ALMEIDA, M. B. A formação inicial de professores no curso de Pedagogia:

constatações sobre a formação matemática para a docência nas séries iniciais do

Ensino Fundamental. 2009. 177 f. Dissertação (Mestrado) – UEM, Maringá, 2009.

7. ALVES, F. T. O. Quando professoras se encontram para estudar Matemática:

saberes em movimento. 2007. 176 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio

Grande do Norte, Natal, 2007.

8. AMARAL, M. H. A estatística e a formação inicial com alunos de um curso de

Pedagogia: reflexões sobre uma sequência didática. 2007. 87 f. Dissertação

(Mestrado Profissional) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,

2007.

9. AMARANTE, A. A. O uso do tinkerplots para exploração de dados por professores

de escolas rurais. 2011. 158 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de

Pernambuco, Recife, 2011.

10. AMARILHA, L. A. Saberes e fazeres docentes referentes ao ensino das formas

geométricas nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental. 2009. 158 f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo

Grande, 2009.

11. ARAÚJO, A. M. A passagem da 4ª para a 5ª série: o que pensam professores dessas

séries sobre os conteúdos essenciais de Matemática. 2003. 227 f. Dissertação

(Mestrado) – UFPR, Curitiba, 2003.

12. ARAÚJO, A. R. Práticas pedagógicas em transformação: contribuições da

interdisciplina Representação do Mundo pela Matemática no curso de Pedagogia a

distância da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. 2009. 133 f. Dissertação

(Mestrado) – UFRGS, Porto Alegre, 2009.

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13. ARAUJO, L. C. Concepções e competências de um grupo de professores polivalentes

relacionadas à leitura e interpretação de tabelas e gráficos. 2007. 167 f. Dissertação

(Mestrado Profissional) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,

2007.

14. ARDILES, R. N. Um estudo sobre as concepções, crenças e atitudes dos professores

em relação a Matemática. 2007. 236 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade

Estadual de Campinas, Campinas, 2007.

15. ARRAIS, U. B. Expressões Aritméticas: crenças, concepções e competências no

entendimento do professor polivalente. 2006. 178 f. Dissertação (Mestrado) –

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2006.

16. AZEVEDO, P. D. O conhecimento matemático na Educação Infantil: o movimento de

um grupo de professoras em processo de formação continuada. 2012. 242 f. Tese

(Doutorado) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2012.

17. BAGÉ, I. B. Proposta para a prática do professor do Ensino Fundamental I de

noções básicas de geometria com o uso de tecnologias. 2008. 199 f. Dissertação

(Mestrado Profissional) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,

2008.

18. BARBIZAN, R. D. A Matemática na visão de professores e alunos de escolas da Rede

Municipal de Ensino do município de Arvorezinha. 2009. 137 f. Dissertação

(Mestrado) – UPF, Passo Fundo, 2009.

19. BARBOSA, C. P. O pensamento geométrico em movimento: um estudo com

professores que lecionam Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental de

uma escola pública de Ouro Preto (MG). 2011. 187 f. Dissertação (Mestrado

Profissional) – Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, 2011.

20. BARBOSA, M. G. Pró-letramento: relações com o saber e o aprender de tutores do

pólo Itapecuru-Mirim/MA. 2008. 134 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade

Federal do Pará, Belém, 2008.

21. BARROS, L. A. P. Desenvolvimento do conceito de avaliação na formação inicial de

professores em atividade colaborativa. 2007. 131 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2007.

22. BATISTA, C. M. S. Percepções e conhecimentos de professoras que ensinam

Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental acerca do ensino de números e

operações. 2012. 148 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Mato

Grosso do Sul, Campo Grande, 2012.

23. BAUMANN, A. P. P. Características da formação de professores de Matemática dos

anos iniciais do Ensino Fundamental com foco nos cursos de Pedagogia e

Matemática. 2009. 241 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista

Campus Rio Claro, Rio Claro, 2009.

24. BENITES, M. C. P. Cálculo mental nos anos iniciais do Ensino Fundamental: dúvidas

e expectativas. 2011. 94 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Oeste Paulista

Campus Presidente Prudente, Presidente Prudente, 2011.

25. BERTINI, L. F. Compartilhando conhecimentos no ensino de Matemática nas séries

iniciais: uma professora no contexto de tarefas investigativas. 2009. 135 f. Dissertação

(Mestrado) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2009.

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186

26. BERTUCCI, M. C. S. Formação continuada de professores que ensinam Matemática

nas séries iniciais: uma experiência em grupo. 2009. 170 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2009.

27. BIAJONE, J. Trabalho de projetos: possibilidades e desafios na formação estatística

do pedagogo. 2006. 246 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual de

Campinas, Campinas, 2006.

28. BOESING, C. A prática da pesquisa nas aulas de Matemática: vivências de

professores do Ensino Fundamental que integram um grupo de estudos. 2009. 110 f.

Dissertação (Mestrado) – PUC-RS, Porto Alegre, 2009.

29. BÖHM, D. Ensino de Matemática em anos iniciais do Ensino Fundamental: um

estudo com professoras egressas de um curso de Pedagogia a distância. 2012. 67 f.

Dissertação (Mestrado) – UFRGS, Porto Alegre, 2012.

30. BORELLI, S. S. Práticas e rotinas de professora do 3º ano do Ensino Fundamental e

o desempenho em Matemática na Prova São Paulo: um estudo de caso. 2011. 208 f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Bandeirante de São Paulo, São Paulo, 2011.

31. BRAGAGNOLO, I. T. Formação inicial de professores: uma interlocução entre a

Matemática das séries iniciais e as questões da realidade social. 2003. 151 f.

Dissertação (Mestrado) – UFSC, Florianópolis. 2003.

32. BRITO, A. C. V. I. L. Geometria na Educação Infantil Formação e saberes necessários

à prática pedagógica. 2012. 134 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Oeste

Paulista Campus Presidente Prudente, Presidente Prudente, 2012.

33. BUCHOLZ, S. D. Conversas ao pé do ouvido: histórias de professoras que ousam

fazer diferente. 2007. 143 f. Dissertação (Mestrado) – UNIJUÍ, Ijuí, 2007.

34. BUKOWTZ, N. S. L. Práticas investigativas em Matemática: uma proposta de

trabalho no curso de Pedagogia. 2005. 140 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal

do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2005.

35. BULOS, A. M. M. A formação em Matemática no curso de Pedagogia: percepções

dos alunos-professores sobre as contribuições para a prática em sala de aula. 2008. 100

f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal da Bahia e Universidade Estadual de

Feira de Santana, Feira de Santana, 2008.

36. BURGO, O. G. O ensino e a aprendizagem do conceito de número na perspectiva

piagetiana: uma análise da concepção de professores da Educação Infantil. 2007. 181

f. Dissertação (Mestrado) – UEM, Maringá, 2007.

37. CALDAS, A. R. Desistência e resistência no trabalho docente: um estudo das

professoras e professores do Ensino Fundamental da rede municipal de educação de

Curitiba. 2007. 173 f. Tese (Doutorado) – UFPR, Curitiba, 2007.

38. CALSON, M. L. A formação do professor dos anos iniciais e suas concepções sobre o

ensino de Matemática. 2009. 119 f. Dissertação (Mestrado) – PUC-RS, Porto Alegre,

2009.

39. CANOVA, R. F. Crença, concepção e competência dos professores do 1º E 2º ciclos

do Ensino Fundamental com relação à fração. 2006. 220 f. Dissertação (Mestrado),

Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo. 2006.

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40. CARNEIRO, R. F. Processos formativos em Matemática de alunas-professoras dos

anos iniciais em um curso a distância de Pedagogia. 2012. 308 f. Tese (Doutorado) –

Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2012.

41. CAROLINO, S. C. Pró-letramento em Matemática: repercussão do processo de

formação continuada na prática pedagógica do professor. 2012. 180 f. Dissertação

(Mestrado) – Universidade Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2012.

42. CARVALHO, M. C. P. A prática do professor de anos iniciais do Ensino da

Matemática e a utilização de recursos tecnológicos. 2012. 200 f. Dissertação

(Mestrado) – Universidade Bandeirante de São Paulo, São Paulo, 2012.

43. CARVALHO, V. G. Resolução de situações-problema interdisciplinares: um caminho

na formação e prática do professor dos anos iniciais da Educação Básica. 2011. 214 f.

Dissertação (Mestrado Profissional) – Centro Federal de Educação Tecnológica Celso

Suckow da Fonseca, Rio de Janeiro, 2011.

44. CAVALCANTE, J. L. Resolução de problema e formação docente: saberes e

vivências no curso de Pedagogia. 2011. 215 f. Dissertação (Mestrado Profissional) –

Universidade Estadual da Paraíba, Campina Grande, 2011.

45. CHAIA, H. H. N. O desempenho em Matemática de alunos dos anos iniciais do

Ensino Fundamental no Projeto Geres: os efeitos da avaliação sobre a prática docente

na escola. 2010. 166 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Católica Dom Bosco,

Campo Grande, 2010.

46. CHIARATO, M. A. L. M. Aprendendo Matemática a distância: a circulação do

conhecimento em um curso de formação de professores para as séries iniciais. 2005.

87 f. Dissertação (Mestrado) – UEL, Londrina, 2005.

47. CIRÍACO, K. T. Conhecimentos e práticas de professores que ensinam Matemática

na infância e suas relações com a ampliação do Ensino Fundamental. 2012. 334 f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista Campus Presidente

Prudente, Presidente Prudente, 2012.

48. CORDEIRO, R. M. A. Análise do processo de formação de professores para o ensino

de Matemática nos anos iniciais. 2011. 97 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade

Federal Rural de Pernambuco, Recife, 2011.

49. COSTA, A. L. P. Interação entre formadores de professores que ensinam Matemática

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142. OLIVEIRA, P. N. A provinha Brasil de Matemática e o conhecimento

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148. PALMA, R. C. D. A produção de sentidos sobre o aprender e ensinar

Matemática na formação inicial de professores para a Educação Infantil e anos

iniciais do Ensino Fundamental. 2010. 196 f. Tese (Doutorado) – Universidade

Estadual de Campinas, Campinas, 2010.

149. PAULINO FILHO, J. Professores em Contexto Formativo: Um Estudo do

Processo de Mudanças de Concepções sobre o Ensino da Matemática. 2008. 254 f.

Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2008.

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195

150. PEREIRA, C. C. M. A formação matemática de professores polivalentes em

início de carreira nos anos iniciais do Ensino Fundamental. 2012. 116 f. Dissertação

(Mestrado) – Universidade São Francisco, Itatiba, 2012.

151. PEREZ, M. Grandezas e Medidas: representações sociais de professores do

Ensino Fundamental. 2008. 202 f. Tese (Doutorado) – UFPR, Curitiba, 2008.

152. PINHEIRO, L. C. O. Episódios de correção: informações sobre como o

professor lida com as produções matemáticas de seus alunos. 2009. 128 f. Dissertação

(Mestrado) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2009.

153. PINTO, M. A. A Educação Matemática no ensino primário na década de

1940: o arquivo escolar da E.E. Barnabé-Santos-SP. 2007. 154 f. Dissertação

(Mestrado) – Universidade Católica de Santos, Santos, 2007.

154. PINTO, V. L. L. S. Formação Matemática de professores dos anos iniciais do

Ensino Fundamental e suas compreensões sobre os conceitos básicos da Aritmética.

2010. 176 f. Dissertação (Mestrado Profissional) – Universidade do Grande Rio,

Duque de Caxias, 2010.

155. POLONI, M. Y. Formação do professor do Ensino Fundamental–Ciclo I: uma

investigação com o uso de Geometria Dinâmica para a (re)construção de conceitos

geométricos. 2010. 242 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Bandeirante de São

Paulo, São Paulo, 2010.

156. POZZOBON, M. C. C. Práticas de ensino de Matemática: regimes e jogos de

verdade na formação do professor de anos iniciais (1960-2000). 2012. 159 f. Tese

(Doutorado) – UNISINOS, São Leopoldo, 2012.

157. PRINCKEN, V. L. Dinâmica das representações sociais da Matemática

reveladas na práxis de professores dos anos iniciais. 2009. 242 f. Dissertação

(Mestrado) – Universidade de Brasília, Brasília, 2009.

158. PURIFICAÇÃO, I. C. Cabri-géomètre na formação continuada de professores

das séries iniciais do Ensino Fundamental: possibilidades e limites. 2005. 291 f. Tese

(Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2005.

159. QUEIROZ, J. C. G. As fontes de saber matemático de professores dos anos

iniciais. 2007. 109 f. Dissertação (Mestrado Profissional) – Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, São Paulo, 2007.

160. REGES, M. A. G. A prática pedagógica de professoras do II ciclo do Ensino

Fundamental no ensino de estruturas aditivas. 2006. 186 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2006.

161. RIBEIRO, A. S. A Geometria na Educação Infantil: concepções e práticas de

professores. 2010. 189 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual Paulista

Campus Presidente Prudente, Presidente Prudente, 2010.

162. RIBEIRO, J. C. Formação continuada e trabalho pedagógico: o caso de uma

professora egressa do curso de Pedagogia para professores em exercício no início de

escolarização - PIE. 2006. 137 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília,

Brasília, 2006.

163. RITZANN, C. D. S. O jogo na atividade de ensino: um estudo das ações

didáticas de professores em formação inicial. 2009. 191 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2009.

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164. ROCHA, C. A. Formação docente e o ensino de problemas combinatórios:

diversos olhares, diferentes conhecimentos. 2011. 192 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2011.

165. RODRIGUES, I. C. Resolução de problemas em aulas de Matemática para

alunos de 1ª a 4ª séries do Ensino Fundamental. 2006. 221 f. Dissertação (Mestrado

Profissional) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2006.

166. RODRIGUES, J. M. S. A probabilidade como componente curricular na

formação Matemática inicial de professores polivalentes. 2011. 151 f. Tese

(Doutorado) – UFPR, Curitiba, 2011.

167. ROMANO, S. S. Formação continuada: um plano para o ensino de

Matemática desenvolvido com professores que atuam nas séries iniciais do Ensino

Fundamental. 2008. 164 f. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica

de São Paulo, São Paulo, 2008.

168. ROSA, M. S. Linguagem Matemática e resolução de problemas: percepções e

utilização na formação inicial do pedagogo. 2009. 115 f. Dissertação (Mestrado) –

ULBRA, Canoas, 2009.

169. ROSAS, M. L. L. Uso do livro didático de Matemática: analisando a prática

docente no ensino do sistema de numeração decimal. 2008. 167 f. Dissertação

(Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2008.

170. SAKAY, L. Análise das contribuições de uma pesquisa-ação de reeducação

matemática para a formação de professoras dos anos iniciais. 2007. 156 f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007.

171. SANATANA, M. B. Geometria e educação infantil: múltiplas imagens,

distintos olhares. 2008. 119 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade do Estado da

Bahia, Salvador, 2008.

172. SANTANA, M. R. M. O acaso, o provável, o determinístico: concepções e

conhecimentos probabilísticos de professores do Ensino Fundamental. 2011. 96 f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2011.

173. SANT'ANNA, A. O uso do lúdico na formação dos professores que ensinam

Matemática. 2012. 188 f. Dissertação (Mestrado Profissional) – Universidade

Cruzeiro do Sul, São Paulo, 2012.

174. SANTOS, A. Processos de formação colaborativa com foco no Campo

Conceitual Multiplicativo: um caminho possível com professoras polivalentes. 2012.

340 f. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,

2012.

175. SANTOS, D. G. C. A Matemática na formação de professores dos anos

iniciais do Ensino Fundamental: saberes e práticas. 2012. 172 f. Dissertação

(Mestrado) – Fundação Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2012.

176. SANTOS, F. A. Práxis docente nas aulas de Matemática reflexões de uma

supervisora-itinerante. 2003. 135 f. Dissertação (Mestrado), Universidade de Uberaba,

Uberaba. 2003.

177. SANTOS, K. B. C. Explorando a compreensão de gráficos nos anos iniciais

do Ensino Fundamental: um estudo com professoras de 4º e 5º anos dos municípios de

Igarassu e Itapissuma. 2012. 129 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de

Pernambuco, Recife, 2012.

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197

178. SANTOS, L. Mudanças na prática docente: um desafio da formação

continuada de professores polivalentes para ensinar Matemática. 2008. 153 f.

Dissertação (Mestrado Profissional) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,

São Paulo, 2008.

179. SANTOS, M. B. Q. C. P. Ensino da Matemática em cursos de Pedagogia: a

formação do professor polivalente. 2009. 205 f. Tese (Doutorado) – Pontifícia

Universidade Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.

180. SANTOS, R. P. O. Uma investigação sobre tendências metodológicas da

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2012. 165 f. Dissertação (Mestrado) – Fundação Universidade Federal de Sergipe, São

Cristóvão, 2012.

181. SANTOS, R. R. Formação continuada de professores sobre estruturas

multiplicativas a partir de sequências didáticas. 2006. 220 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2006.

182. SANTOS, S. A. Experiências narradas no ciberespaço: um olhar para as

formas de se pensar e ser professora que ensina Matemática. 2009. 291 f. Dissertação

(Mestrado) – UFRGS, Porto Alegre, 2009.

183. SANTOS, S. S. O desenvolvimento de conceitos elementares do bloco

tratamento da informação com o auxílio do ambiente computacional: Um estudo de

caso com uma professora de 1º e 2º ciclos do Ensino Fundamental. 2003. 251 f.

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,

2003.

184. SARAIVA, A. C. L. C. Representações sociais da aprendizagem docente de

professores universitários em suas trajetórias de formação. 2005. 296 f. Tese

(Doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2005.

185. SAVI, V. S. F. Memórias e histórias de formação de professores/as dos

primeiros anos escolares (1940-1960). 2012. 92 f. Dissertação (Mestrado) – UNESC,

Criciúma, 2012.

186. SCHASTAI, M. B. Pró-letramento em Matemática: problematizando a

construção do conceito de frações – uma contribuição para a formação de professores.

2012. 204 f. Dissertação (Mestrado Profissional) – UTFPR, Ponta Grossa, 2012.

187. SEBRIAN, R. K. Formação inicial e atuação pedagógica no ensino de

Matemática. 2008. 147 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Cruzeiro do Sul, São

Paulo, 2008.

188. SERRES, F. F. Concepção e prática do ensinar Matemática nos anos iniciais

do Ensino Fundamental: estudo de caso em um curso de Pedagogia a distância. 2010.

104 f. Dissertação (Mestrado) – UFRGS, Porto Alegre, 2010.

189. SILVA, A. C. Formação continuada em Serviço e Prática Pedagógica. 2007.

127 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade de Brasília, Brasília, 2007.

190. SILVA, A. C. Reflexão sobre a Matemática e seu processo de ensino-

aprendizagem: implicações na (re)elaboração de concepções e práticas de professores.

2009. 246 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2009.

191. SILVA, A. F. G. O desafio do desenvolvimento profissional docente: análise da

formação continuada de um grupo de professoras das séries iniciais do Ensino

Fundamental, tendo como objeto de discussão o processo de ensino e aprendizagem

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198

das frações. 2007. 308 f. Tese (Doutorado) – Pontifícia Universidade Católica de São

Paulo, São Paulo, 2007.

192. SILVA, A. P. P. S. A concepção de professores dos anos iniciais do Ensino

Fundamental sobre a construção do conceito de número pela criança. 2012. 180 f.

Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,

2012.

193. SILVA, J. B. R. Formação continuada de professores que ensinam

Matemática: o papel do ábaco na ressignificação da prática pedagógica. 2011. 179 f.

Dissertação (Mestrado Profissional) – Universidade Federal do Rio Grande do Norte,

Natal, 2011.

194. SILVA, M. J. A. Saberes e práticas das professoras do 5º ano, matéria prima

para aprendizagem matemática das crianças. 2011. 176 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade Federal do Ceará, Fortaleza, 2011.

195. SILVA, R. G. Interações entre licenciandos em Matemática e Pedagogia: um

olhar sobre o ensino do tema Grandezas e Medidas. 2010. 184 f. Dissertação

(Mestrado) – Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Campo Grande, 2010.

196. SILVA, S. A. F. Aprendizagens de professores num grupo de estudos sobre

Matemática nas séries iniciais. 2009. 365 f. Tese (Doutorado) – Universidade Federal

do Espírito Santo, Vitória, 2009.

197. SILVA, S. H. Conhecimento de professores polivalentes em geometria:

contribuições da teoria dos registros de representação semiótica. 2011. 167 f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2011.

198. SILVA, S. Professores das séries iniciais em início de carreira: dificuldades,

dilemas e saberes em relação ao ensino da Matemática. 2009. 151 f. Dissertação

(Mestrado Profissional) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,

2009.

199. SILVA, S. S. Matemática na infância: uma construção, diferentes olhares.

2008. 234 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008.

200. SILVA, V. A. Conhecimento Profissional Docente Sobre o Campo Conceitual

Aditivo: uma investigação em um processo formativo. 2012. 158 f. Dissertação

(Mestrado) – Universidade Bandeirante de São Paulo, São Paulo, 2012.

201. SILVEIRA, D. S. Professores dos anos iniciais: experiências com o material

concreto para o ensino de Matemática. 2012. 109 f. Dissertação (Mestrado) – FURG,

Rio Grande, 2012.

202. SOARES, M. F. O jogo de regras na aprendizagem matemática: apropriações

pelo professor do Ensino Fundamental. 2009. 172 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade de Brasília, Brasília, 2009.

203. SOUSA, A. C. G. Representações semióticas e formação docente para o

trabalho com números e operações nos anos iniciais do Ensino Fundamental. 2009.

157 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual do Ceará, Fortaleza, 2009.

204. SOUSA, V. G. Da formação à prática pedagógica: uma reflexão sobre a

formação matemática do pedagogo. 2010. 220 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2010.

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199

205. SOUZA, A. P. G. Contribuições da ACIEPE histórias infantis e Matemática

na perspectiva de egressas do curso de Pedagogia. 2012. 243 f. Tese (Doutorado) –

Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2012.

206. SOUZA, E. S. A prática social do cálculo escrito na formação de professores:

a história como possibilidade de pensar questões. 2004. 264 f. Tese (Doutorado) –

Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2004.

207. SOUZA, J. C. Educação Matemática no curso Pedagogia das Águas: reflexões

dos professores em formação. 2012. 86 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade

Federal do Pará, Belém, 2012.

208. SOUZA, L. O. Motivações para a escolha da Licenciatura em Matemática e

Pedagogia: um estudo com alunos da PUC/SP E UFMT. 2010. 104 f. Dissertação

(Mestrado Profissional) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,

2010.

209. SOUZA, N. S. M. Concepções pedagógicas e práticas docentes em escolas da

rede municipal de Aracaju/SE. 2010. 167 f. Dissertação (Mestrado) – Fundação

Universidade Federal de Sergipe, São Cristóvão, 2010.

210. SOUZA, R. D. Era uma vez... Aprendizagens de professores escrevendo

histórias infantis para ensinar Matemática. 2007. 252 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2007.

211. TANUS, V. L. F. A. O tratamento dado ao erro no processo ensino-

aprendizagem da Matemática, por professores do Ensino Fundamental: encontros e

desencontros entre concepções e práticas. 2008. 236 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade Federal do Mato Grosso, Cuiabá, 2008.

212. TAQUES FILHO, L. S. A formação matemática de futuros pedagogos-

professores das séries iniciais do Ensino Fundamental. 2012. 141 f. Dissertação

(Mestrado) – PUC-PR, Curitiba, 2012.

213. TEIXEIRA, C. B. O ensino de Matemática no 5º ano: o contexto da prática

pedagógica em escolas públicas estaduais de Teresina-PI. 2012. 182 f. Dissertação

(Mestrado) – Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2012.

214. THOMACHESKI, E. G. B. Uma trajetória da Educação Matemática na Rede

Municipal de Ensino de Curitiba: do currículo pensado ao vivido, os olhares dos

sujeitos. 2003. 178 f. Dissertação (Mestrado) – PUC-PR, Curitiba, 2003.

215. TORICELLI, L. A colaboração em um grupo de alunas da Pedagogia que

ensinam (ou ensinarão) Matemática. 2009. 184 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade São Francisco, Itatiba, 2009.

216. TRINDADE, P. C. C. As atitudes em relação à Matemática dos professores

das séries iniciais. 2004. 155 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do

Pará, Belém, 2004.

217. TRUJILLO, W. A formação inicial e os conhecimentos do o que e do como

ensinar Matemática nos anos iniciais do Ensino Fundamental: encontros e

desencontros. 2009. 212 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Mato

Grosso, Cuiabá, 2009.

218. VACCAS, A. A. M. A significação do planejamento de ensino em uma

atividade de formação de professores. 2012. 160 f. Dissertação (Mestrado) –

Universidade de São Paulo, São Paulo, 2012.

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200

219. VALERIANO, W. P. O. Uma análise das influências da realização da Prova

Brasil na atividade pedagógica de professores que ensinam Matemática nos anos

iniciais. 2012. 138 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Goiás,

Goiânia, 2012.

220. VALMORBIDA, T. I. V. A formação do professor das séries iniciais do

Ensino Fundamental e o ensino da Matemática: um estudo de caso. 2008. 108 f.

Dissertação (Mestrado) – UNOESC, Joaçaba, 2008.

221. VASCONCELOS, C. F. B. S. A (re)construção do conceito de dividir na

formação dos professores: o uso do jogo como recurso metodológico. 2008. 159 f.

Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de Alagoas, Maceió, 2008.

222. VECE, J. P. Professores dos anos iniciais e a resolução de problemas em

Matemática. 2010. 150 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Cruzeiro do Sul, São

Paulo, 2010.

223. VERAS, C. M. A estatística nas séries iniciais: uma experiência de formação

com um grupo colaborativo com professores polivalentes. 2010. 136 f. Dissertação

(Mestrado Profissional) – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo,

2010.

224. VILELA, E. O. Eu pesquiso, tu pesquisas, eles ... e quem ensina e quem

aprende Matemática? Um estudo sobre a produção acadêmica do GT Educação

Matemática - Anped (2000 - 2007). 2008. 199 f. Dissertação (Mestrado) – UFSC,

Florianópolis, 2008.

225. WACHILISKI, M. O movimento de constituição da formação continuada na

rede municipal de Curitiba: de 1963 a 2008. 2008. 185 f. Dissertação (Mestrado) –

UFPR, Curitiba, 2008.

226. YAMANAKA, O. Y. Estudo das concepções e competências dos professores:

a passagem da aritmética à introdução da representação algébrica nas séries iniciais do

Ensino Fundamental. 2009. 151 f. Dissertação (Mestrado) – Pontifícia Universidade

Católica de São Paulo, São Paulo, 2009.

227. ZAMBON, A. E. C. A Geometria em cursos de Pedagogia da região de

Presidente Prudente. 2010. 186 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Estadual

Paulista Campus Presidente Prudente, Presidente Prudente, 2010.

228. ZANON, T. X. D. Formação continuada de professores que ensinam

Matemática: o que pensam e sentem sobre ensino, aprendizagem e avaliação. 2011.

300 f. Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal do Espírito Santo, Vitória,

2011.

229. ZIMER, T. T. B. Aprendendo a ensinar Matemática nas séries iniciais do

Ensino Fundamental. 2008. 308 f. Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo,

São Paulo, 2008.

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201

APÊNDICE 3 Ficha 1 (Projeto Universal) ― Mapeamento de dissertações/teses que têm o

professor que ensina Matemática como foco de estudo/análise

FORMULÁRIO DE FICHAMENTO

FICHA 1 (Projeto Universal) ― Mapeamento de dissertações/teses que têm o professor que ensina Matemática como foco de estudo/análise SOBRENOME, Autor. Título. Ano. .xxx p. Diss/Tese (MA, MP, DO em...) - Faculdade ou Instituto, IES, Local. Orientador. Disponível em: Pesquisador responsável pelo fichamento:

Palavras-chave:

Persp

ecti

va d

o A

uto

r d

o t

ra

balh

o

(To

da

a t

ran

scriç

ão

lit

eral

dev

e v

ir e

ntr

e a

spa

s, i

nd

ica

nd

o a

gin

a)

Problema/Objetivos/Objeto/Questão

da pesquisa

Procedimentos Metodológicos Resultados

Relativos ao

Professor que

Ensina

Matemática -

PEM

Principais Referenciais

teóricos

Relativos ao PEM Tipo de Pesquisa

Coleta/produção

dados

Organização

do material de

análise ou

Corpus de

análise

Os objetivos estão explícitos no

trabalho?

Não Sim

Transcreva os objetivos, indicando a

página.

Transcreva os objetivos, indicando a

página.

A questão investigativa está

explícita?

Não Sim

Assinale o(s)foco(s) de análise

Saberes e competências.

Atitudes, crenças e concepções.

Identidade e profissionalidade do

PEM.

Cursos/licenciatura/programas/projetos

de formação inicial.

Cursos/programas de formação

continuada de professores que

envolvem ensino-aprendizagem de matemática.

Características e condições do

trabalho docente, inclusive saúde ou estresse docente, do PEM.

Performance ou desempenho

docente do PEM.

História de professores que

ensinam Matemática.

História da formação do PEM.

Formação, aprendizagem,

desenvolvimento profissional do PEM.

Atuação, pensamento ou saberes do formador de PEM.

Outro:

Natureza da

pesquisa

Teórica,

bibliográfica ou documental

Empírica ou de

campo

Autobiográfica

Abordagem

metodológica da

pesquisa

Qualitativa

Quantitativa

Quali-quanti

Tipo de pesquisa

quanto aos

procedimentos

Etnográfica ou participante.

Laboratório ou

experimental.

Bibliográfica,

documental.

História oral ou de vida.

Pesquisa ação.

Pesquisa da própria prática.

Pesquisa

colaborativa ou

com grupos

colaborativos ou

em comunidade de prática.

Estado da arte,

metanálise.

Estudo de caso:

Instrumentos de

produção de

dados:

Entrevista

(estruturada,

semiestrut. ou narrativa).

Questionário

(fechado, aberto ou misto).

Diário de

Verificar e

escrever qual

foi

efetivamente o

corpus de

análise, isto é,

os materiais,

eventos e

registros que

foram

efetivamente

tomados como

objeto de

análise.

Descrever ou

transcrever

(colocando

entre aspas e

respectiva

página) os

principais

resultados ou

achados da

pesquisa.

Observe que os

resultados

diferem das

conclusões, por

essas últimas

passarem por

um processo

de síntese ou

generalização.

Citar os principais

campos teóricos e seus

respectivos autores que

foram tomados como

base para a concepção

do objeto de pesquisa e

principalmente no

processo de análise e de

produção de resultados

e conclusões.

Exemplos (Veja nota

final)

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202

campo.

Relato ou narrativa (oral ou

escrito).

Videogravação e/ou

audiogravação.

Observação e registro de aulas.

Uso de

protocolo ou ficha para coleta de

dados.

Problema/problemática de partida e

questão investigativa

Relativa ao PEM

Contexto &

Sujeitos

Procedimentos

e Categorias ou

eixos de análise

Principais

conclusões no

que se refere à

prática e ao

campo de

conhecimento

sobre o PEM

Destacar a perspectiva

ou campo teórico e sua

presença durante a

análise

O problema está explícito no

trabalho?

Não Sim

Transcreva o problema, indicando a

página. (Note que o problema não é

a questão investigativa, pois a

pergunta indica o modo ou direção

de abordar um problema)

Como o problema ou problemática

foi tratada até chegar à questão de

pesquisa?

O problema não está relacionado à questão de pesquisa.

Não explicita como chegou.

Não tem questão.

Pela literatura.

Pelo memorial (pessoal ou

acadêmico)

A partir de uma problematização

(teórica e/ou prática).

A partir de resultados de avaliação.

Outros

Assinalar a alternativa e descrever

suscintamente como o autor chegou

à questão investigativa.

O contexto da

pesquisa foi

definido?

Não Sim

Descreva o

contexto da

pesquisa.

Os sujeitos da

pesquisa foram

caracterizados?

Não Sim

Descreva os

sujeitos e

respectivas

características

Transcrever um

recorte em que o

autor explicite

sua concepção de

pesquisa.

Descrição do

processo

analítico:

O responsável

pelo

fichamento

deve tentar

fazer uma

síntese a

respeito desse

processo,

citando,

sempre que

possível, as

próprias

palavras do

autor.

Utilizou

categorias ou

eixos de

análise?

Não

Sim

Citar/descrever

as categorias

ou eixos de

análise,

utilizando as

expressões

próprias do

autor.

Transcrever as

conclusões

produzidas a

partir de

tentativas de

generalização

ou de síntese

das análises e

dos resultados

ou do

confronto

entre os

resultados da

pesquisa e a

parte teórica

ou outros

estudos.

(Indicar a

página)

O autor

aponta

algumas

contribuições

ou

recomendações

à prática de

formação de

professores ou

às políticas

públicas?

Não

Sim

Se sim, citar:

Indicar/descrever se

o campo (ou

perspectiva) teórico

(acima referido) é

contemplado ao

longo de toda a

pesquisa, isto é,

perpassa desde a

construção do objeto

de pesquisa e

sobretudo do

processo de análise e

de produção dos

resultados e

conclusões.

Confirma,

complementa ou

amplia

resultados/conclusões

de outros estudos?

Neste caso, quais?

Persp

ecti

vaP

esq

uis

ad

or

Pro

j_U

niv

Considerações complementares do responsável pelo fichamento.

Contatos: E-mail do responsável pelo fichamento:

Fonte: Fiorentini et al. (2017, p. 41)