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Revista ORDEM DOS MÉDICOS . Janeiro 2005 3 ESTATUTO EDITORIAL No cumprimento das exigências da Lei de Imprensa, importa que se torne pú- blico o nosso estatuto editorial: A Revista da Ordem dos Médicos é uma publicação periódica que disponibiliza informação de referência de carácter científico e profissional, sem qualquer dependência de ordem ideológica, po- lítica e económica. A Revista da Ordem dos Médicos apre- senta-se como uma publicação de in- formação especializada, de expansão na- cional, com um corpo redactorial su- pervisionado por especialistas em áre- as inerentes aos assuntos desenvolvi- dos, cujo objectivo fundamental é a di- vulgação de informação, na área da medicina/saúde, de carácter científico e profissional, nas suas várias verten- tes, nomeadamente na vertente ética e disciplinar, pretendendo ser um canal privilegiado de sensibilização e promo- ção dessas questões. Assume-se como uma publicação infor- mativa, cuja orientação e objectivos apontam para o respeito pela Consti- tuição da República Portuguesa, pelos princípios deontológicos da imprensa e pela ética jornalística e profissional, não prosseguindo apenas fins comerci- ais, garantindo o respeito pela boa fé dos leitores, não encobrindo ou detur- pando a informação que dirige aos médicos, bem como às várias institui- ções (hospitalares, pedagógicas, cientí- ficas profissionais e de solidariedade social) com actividade neste domínio. A Revista da Ordem dos Médicos apre- senta-se como uma ferramenta de in- formação e formação de todos os pro- fissionais médicos e de quantos se in- teressam pelas questões do exercício da medicina e pela saúde. Encarando a saúde e o exercício da me- dicina como uma das componentes mais relevantes da vida humana, promotora da qualidade de vida, do relacionamen- to e cooperação entre comunidades, da afirmação de Portugal no mundo e da consolidação de relações entre os po- vos, a Revista da Ordem dos Médicos procura, nomeadamente, divulgar o tra- balho desenvolvido pela Ordem dos Médicos, enquanto estrutura represen- tativa da classe, quer a nível nacional quer no estrangeiro, prestigiando sem- pre o seu bom nome. Na prossecução dos seus objectivos de informação e aproximação da comuni- dade internacional, procurará estabe- lecer protocolos de cooperação com entidades dos países onde se encon- trem comunidades de emigrantes por- tugueses e com organizações congéne- res dos países que compõem a União Europeia e os Países de Língua Oficial Portuguesa. A Revista da Ordem dos Médicos ba- seia-se em critérios de rigor, objectivi- dade, honestidade e isenção no trata- mento da informação, procura o escla- recimentos dos seus leitores e recusa o recurso ao sensacionalismo e outros métodos menos éticos. A Revista da Ordem dos Médicos com- promete-se a respeitar os direitos e de- veres que estão inerentes à liberdade de expressão e ao direito de informar. A Revista da Ordem dos Médicos pri- vilegia, no seu conteúdo, a informação, que possibilite e garanta a expressão e o confronto das diversas correntes de opinião. A Revista da Ordem dos Médicos dife- rencia muito claramente os artigos de conteúdo opinativo dos artigos infor- mativos, reservando-se, todavia, o direi- to de relacionar, interpretar e comen- tar os factos e acontecimentos do âm- bito da profissão médica. A Revista da Ordem dos Médicos privi- legia o diálogo com os leitores e pro- move a participação dos mesmos e o consequente debate dos principais te- mas da actualidade profissional, tendo em vista a discussão de questões de inte- resse geral e a troca de ideias entre aque- les que se preocupam e dedicam à me- dicina e, consequentemente, à saúde. A Revista da Ordem dos Médicos re- conhecerá, em condições de igualda- de e eficácia, o direito de resposta a todas as pessoas (singulares ou co- lectivas) que se considerem prejudi- cadas pela publicação de qualquer artigo que possa afectar a sua repu- tação ou boa imagem. A Revista da Ordem dos Médicos não é dependente de simples argu- mentos economicistas nem de mer- cado. A Revista da Ordem dos Médicos é escrita e produzida no cumprimen- to das orientações e princípios defi- nidos neste Estatuto Editorial e pela sua Direcção. Estatuto Redactorial Os artigos e trabalhos assinados são da responsabilidade dos respectivos autores. A sua publicação apenas en- volve, por parte da Revista, um juízo sobre o interesse informativo dos mesmos, não significando necessari- amente concordância com as opini- ões neles expostas. Os sumários, notas marginais, anotações e artigos não assinados são da responsabilida- de da redacção. A Revista da Ordem dos Médicos re- serva-se o direito de publicar ou não os trabalhos recebidos e de sugerir qualquer alteração que se lhe afigu- re necessária, por razões de pagina- ção. Depois de aprovados para pu- blicação, os originais já não poderão ser substancialmente modificados. A reprodução integral ou parcial de qualquer texto, por qualquer meio possível, será punida nos termos da Legislação referente aos direitos de autor. Toda e qualquer reprodução de textos e imagens da Revista da Ordem dos Médicos deverá obter o prévio consentimento deste órgão de informação, representado para o efeito pela sua Direcção. O Director da Revista da Ordem dos Médicos Germano de Sousa

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Page 1: Rom 53 On Line - Ordem dos Médicos – Portal Oficialcientífico e profissional, sem qualquer dependência de ordem ideológica, po-lítica e económica. A Revista da Ordem dos Médicos

Revista ORDEM DOS MÉDICOS . Janeiro 2005 3

ESTATUTO EDITORIAL

No cumprimento das exigências da Leide Imprensa, importa que se torne pú-blico o nosso estatuto editorial:

A Revista da Ordem dos Médicos é umapublicação periódica que disponibilizainformação de referência de caráctercientífico e profissional, sem qualquerdependência de ordem ideológica, po-lítica e económica.

A Revista da Ordem dos Médicos apre-senta-se como uma publicação de in-formação especializada, de expansão na-cional, com um corpo redactorial su-pervisionado por especialistas em áre-as inerentes aos assuntos desenvolvi-dos, cujo objectivo fundamental é a di-vulgação de informação, na área damedicina/saúde, de carácter científicoe profissional, nas suas várias verten-tes, nomeadamente na vertente ética edisciplinar, pretendendo ser um canalprivilegiado de sensibilização e promo-ção dessas questões.

Assume-se como uma publicação infor-mativa, cuja orientação e objectivosapontam para o respeito pela Consti-tuição da República Portuguesa, pelosprincípios deontológicos da imprensae pela ética jornalística e profissional,não prosseguindo apenas fins comerci-ais, garantindo o respeito pela boa fédos leitores, não encobrindo ou detur-pando a informação que dirige aosmédicos, bem como às várias institui-ções (hospitalares, pedagógicas, cientí-ficas profissionais e de solidariedadesocial) com actividade neste domínio.

A Revista da Ordem dos Médicos apre-senta-se como uma ferramenta de in-formação e formação de todos os pro-fissionais médicos e de quantos se in-teressam pelas questões do exercícioda medicina e pela saúde.

Encarando a saúde e o exercício da me-dicina como uma das componentes maisrelevantes da vida humana, promotorada qualidade de vida, do relacionamen-to e cooperação entre comunidades, daafirmação de Portugal no mundo e daconsolidação de relações entre os po-

vos, a Revista da Ordem dos Médicosprocura, nomeadamente, divulgar o tra-balho desenvolvido pela Ordem dosMédicos, enquanto estrutura represen-tativa da classe, quer a nível nacionalquer no estrangeiro, prestigiando sem-pre o seu bom nome.

Na prossecução dos seus objectivos deinformação e aproximação da comuni-dade internacional, procurará estabe-lecer protocolos de cooperação comentidades dos países onde se encon-trem comunidades de emigrantes por-tugueses e com organizações congéne-res dos países que compõem a UniãoEuropeia e os Países de Língua OficialPortuguesa.

A Revista da Ordem dos Médicos ba-seia-se em critérios de rigor, objectivi-dade, honestidade e isenção no trata-mento da informação, procura o escla-recimentos dos seus leitores e recusao recurso ao sensacionalismo e outrosmétodos menos éticos.

A Revista da Ordem dos Médicos com-promete-se a respeitar os direitos e de-veres que estão inerentes à liberdadede expressão e ao direito de informar.

A Revista da Ordem dos Médicos pri-vilegia, no seu conteúdo, a informação,que possibilite e garanta a expressão eo confronto das diversas correntes deopinião.

A Revista da Ordem dos Médicos dife-rencia muito claramente os artigos deconteúdo opinativo dos artigos infor-mativos, reservando-se, todavia, o direi-to de relacionar, interpretar e comen-tar os factos e acontecimentos do âm-bito da profissão médica.

A Revista da Ordem dos Médicos privi-legia o diálogo com os leitores e pro-move a participação dos mesmos e oconsequente debate dos principais te-mas da actualidade profissional, tendo emvista a discussão de questões de inte-resse geral e a troca de ideias entre aque-les que se preocupam e dedicam à me-dicina e, consequentemente, à saúde.

A Revista da Ordem dos Médicos re-conhecerá, em condições de igualda-de e eficácia, o direito de resposta atodas as pessoas (singulares ou co-lectivas) que se considerem prejudi-cadas pela publicação de qualquerartigo que possa afectar a sua repu-tação ou boa imagem.

A Revista da Ordem dos Médicosnão é dependente de simples argu-mentos economicistas nem de mer-cado.

A Revista da Ordem dos Médicos éescrita e produzida no cumprimen-to das orientações e princípios defi-nidos neste Estatuto Editorial e pelasua Direcção.

Estatuto RedactorialOs artigos e trabalhos assinados sãoda responsabilidade dos respectivosautores. A sua publicação apenas en-volve, por parte da Revista, um juízosobre o interesse informativo dosmesmos, não significando necessari-amente concordância com as opini-ões neles expostas. Os sumários,notas marginais, anotações e artigosnão assinados são da responsabilida-de da redacção.A Revista da Ordem dos Médicos re-serva-se o direito de publicar ou nãoos trabalhos recebidos e de sugerirqualquer alteração que se lhe afigu-re necessária, por razões de pagina-ção. Depois de aprovados para pu-blicação, os originais já não poderãoser substancialmente modificados.A reprodução integral ou parcial dequalquer texto, por qualquer meiopossível, será punida nos termos daLegislação referente aos direitos deautor. Toda e qualquer reproduçãode textos e imagens da Revista daOrdem dos Médicos deverá obter oprévio consentimento deste órgãode informação, representado para oefeito pela sua Direcção.

O Director da Revista da Ordemdos Médicos

Germano de Sousa

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4 Revista ORDEM DOS MÉDICOS . Janeiro 2005

Ficha Técnica

Ano 21 - N.º 53 - Janeiro 2005

PROPRIEDADE:

Centro Editor Livreiro da Ordemdos Médicos, Sociedade Unipessoal, Lda.

SEDE: Av. Almirante Gago Coutinho, 1511749-084 Lisboa • Tel.: 218 427 100

Redacção, Produçãoe Serviços de Publicidade:

Av. Almirante Reis, 242 - 2.º Esq.º1000-057 LISBOA

E-mail: [email protected]. 218 437 750 - Fax. 218 437 751

Director:J. Germano de Sousa

Directores-Adjuntos:Miguel Leão

António Reis MarquesPedro Nunes

Redactores Principais:Miguel Guimarães,

Rui Nogueira, J. Gil de Morais

Directora Executiva: Paula Fortunato

Dep. Editorial:Paula Fortunato

Miguel Reis

Dep. Comercial:Helena Pereira

Dep. Financeiro:Maria João Pacheco

Dep. Gráfico:CELOM

Capa de: Carlos Rodrigues

Impressão: SOGAPAL, Sociedade Gráfica da Paiã, S. A.Av.ª dos Cavaleiros 35-35A – Carnaxide

Inscrição no ICS: 108374Depósito Legal: 7421/85Preço Avulso: 1,6 EurosPeriodicidade: Mensal

Tiragem: 32.000 exemplares(11 números anuais)

Ficha TécnicaS U M Á R I O

MédicosREV

IST

A

Ordem dos3 ESTESTESTESTESTAAAAATUTTUTTUTTUTTUTO EDITO EDITO EDITO EDITO EDITORIALORIALORIALORIALORIAL

6 INFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃOINFORMAÇÃO

Inclui parecer do ConselhoNacional Executivo sobreconsulta telefónica e actomédico. Inclui igualmenteuma súmula das actividadesdo Conselho Nacional paraa Qualidade da Ordem dosMédicos.

12 ELEIÇÕESELEIÇÕESELEIÇÕESELEIÇÕESELEIÇÕES

Inclui os discursos detomada de posse dosPresidentes das trêsSecções Regionais daOrdem dos Médicos.

26 OPINIÃOOPINIÃOOPINIÃOOPINIÃOOPINIÃO

Sub EspecialidadesPediátricas – O Caso daNeonatologiade Maria Teresa Neto

28 Plano Nacional para aHepatite Cde Rui Tato Marinho

30 AGENDAGENDAGENDAGENDAGENDAAAAA

32 ACTUACTUACTUACTUACTUALIDALIDALIDALIDALIDADEADEADEADEADE

Relação Doente-Médico:um VerdadeiroEncontro com o OutroReportagem da conferência«A relação doente-médico»proferida por Jorge Biscaiano âmbito do ciclo deconversas sobre bioéticaorganizado pela Associaçãode Estudantes da Faculdadede Ciências Médicas.

36 HISTÓRIASHISTÓRIASHISTÓRIASHISTÓRIASHISTÓRIASDDDDDA HISTÓRIAA HISTÓRIAA HISTÓRIAA HISTÓRIAA HISTÓRIA

Ribeiro Sanches, oMédico dos Czarespor João-Maria Nabais

38 EncruzilhadaHipocráticapor A. Coutinho Miranda

42 NONONONONOTÍCIASTÍCIASTÍCIASTÍCIASTÍCIAS

Inclui informação sobrePós-Graduação emAcupunctura

43 LEGISLAÇÃO/LEGISLAÇÃO/LEGISLAÇÃO/LEGISLAÇÃO/LEGISLAÇÃO//NO/NO/NO/NO/NOTÍCIASTÍCIASTÍCIASTÍCIASTÍCIAS

Nesta página encontraráum resumo da legislaçãopublicada no mês deDezembro e algumasnotícias da actualidade.

45 CULCULCULCULCULTURATURATURATURATURA

Inclui alguns destaques delançamentos nas áreasmusical e literária.

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6 Revista ORDEM DOS MÉDICOS . Janeiro 2005

Parecer sobre tecnologiasde informação da saúdeaprovado em CNE de 9/11/2004

1ª - A “consulta telefónica” confi-gura um acto médico?

2ª - Em que condições pode a“consulta telefónica” configurarum acto médico?

1ª QuestãoEm 13/2/2001, o CNE reunido no Por-to entendeu homologar um parecerelaborado pelo Presidente da Ordemdos Médicos no qual se consideravaque o atendimento telefónico, semprévio estabelecimento da relaçãomédico-doente não constituía um actomédico. Tal como então se escrevia “Oacto médico decorre sempre da rela-ção directa entre o médico e o doen-te e compreende como dado princi-pal, a observação directa do doentecom recolha de sinais objectivos, paraalém naturalmente da anamnese eobtenção de elementos complemen-

I N F O R M A Ç Ã OConselho Nacional Executivo

Tecnologias de informação da Saúdetares de diagnóstico. Todos estes da-dos são integrados pelo médico e per-mitem o diagnóstico e consequente-mente a terapêutica. O conjunto des-tes dados tipifica o acto médico e sóquando eles se conjugam se estabele-ce. Quando esta relação entre o mé-dico e o doente não se dá, toda a es-trutura do acto médico deixa de exis-tir”. Ou seja, “uma opinião expressapelo telefone a propósito de uma des-crição de sintomas feitas pelo própriodoente ou por quem o representa, semprévia observação do doente nãocorresponde a um acto médico e nãoenvolve responsabilidade civil ou cri-minal do médico”.Assim qualquer conselho ou opiniãoque o médico entenda emitir, nestascircunstâncias pelo telefone ou pelaInternet, integra-se nos dever geral deauxílio, não configura um acto médicoe como tal não é susceptível de hono-rários.

2ª QuestãoNo mesmo parecer foi também con-siderado que o médico, após a primei-

ra consulta presencial e contacto di-recto com o doente passa a clínicoassistente do mesmo. A partir daí aresponsabilidade para com o seu do-ente passa naturalmente a ser total,designadamente no que respeita ao seuacompanhamento e vigilância, mesmoque o faça utilizando o telefone ou aInternet. Assim a chamada telefónicafeita pelo médico, para acompanhar evigiar a evolução do seu doente ou aconsulta telefónica realizada pelo do-ente no sentido de esclarecer dúvidas,acertar a terapêutica, dar conta doevoluir dos seus sintomas ou da suaconvalescença, integram-se na conti-nuação do acto médico inicial, são oequivalente a uma segunda consulta econfiguram portanto um acto médico.Tal como considera o Conselho Naci-onal de Ética e Deontologia Médicasda OM (CNEDM), no seu parecer deJulho de 2003, a consulta telefónicarealizada nestas circunstâncias, “emcontinuidade de cuidados” tem “omesmo grau de responsabilidade deconsulta presencial para o médico quea pratique”.

9 de Fevereiro - Prof. Doutor Jorge MirandaA Constituição da República Portuguesa no horizonte da

construção europeia

23 de Fevereiro - Mestre Sérgio CaboO Banco Central Europeu e a Moeda Única

9 de Março - Prof. Doutor Guilherme de Oliveira MartinsA Convenção de 2002-2003 e o Debate Constitucional Europeu

23 de Março - Prof. Doutor Manuel José do CarmoFerreira

A ideia de Europa na Filosofia Contemporânea

6 de Abril - Prof. Doutor Acílio da Silva Estanqueiro RochaA ideia de Europa em Ortega Y Gasset

20 de Abril - Prof. Doutor Leonel Ribeiro dos SantosA ideia de Europa no Pensamento de Kant

4 de Maio - Prof. Doutor António TeloA Alemanha e a Construção Europeia

18 de Maio - General Pedro Pezarat CorreiaQue política de defesa para a Europa?

1 de Junho - Eng.º Carlos PimentaA política de ambiente na União Europeia

15 de Junho - Prof. Doutor José Barata-MouraUm olhar crítico sobre a Europa da Educação e da Cultura

Ciclo de Conferências Cidadania e construção europeiaCoordenação: Prof. Doutor Viriato Soromenho-Marques

Local: Museu da Presidência da República – Palácio Nacional de Belém, Praça Afonso de Albuquerque, Lisboa;Contactos: Tel.: 21 361 46 60; Fax: 21 361 47 64; E-mail: [email protected]

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8 Revista ORDEM DOS MÉDICOS . Janeiro 2005

I N F O R M A Ç Ã OCNQOM

Apontamentos do Conselho Nacionalpara a Qualidade da Ordem dos Médicos...caminante, no hay camino,sehace camino al andar.

Antonio Machado (1875-1938)

Por Susana Parente

Chegando ao fim um ciclo de vida doConselho Nacional para a Qualidade daOrdem dos Médicos (CNQOM) é opor-tuno transmitir a todos os colegas a sín-tese daquilo que foram os princípiosorientadores da nossa intervenção juntodos médicos, no seio da OM e de comonos foi possível levá-los à prática. Será decerto modo uma análise e também umaherança.Assistimos à criação do CNQOM numaaltura em que de há muito se falava emQualidade (Q) no âmbito da Medicina,quando já despontavam experiências nes-ta área por todo o país, conduzidas demodo mais empírico ou mais científicomas, quando, ainda, definir Qualidade noexercício da Medicina era não um con-ceito mas um conjunto de imagens queespelhavam diferentes conceitos colhidosde outros contextos e perante os quais

os médicos menos envolvidos nesta áreasentiam alguma perplexidade.

Por isso desde logo privilegiámos ainformação de carácter geral sobrecomo identificar Q quando nos de-bruçamos sobre o exercício da me-dicina.

Orientámos a nossa acção em pequenosfóruns em Lisboa, Coimbra e Porto ondediscutimos assuntos como Q e sistemasda Q, Risco e sua gestão. Foi o momentode promovermos um curso de metodo-logia da Q de âmbito nacional com a pre-sença de convidados de Maastricht, gen-te de há muito tempo com experiênciaacumulada no dia a dia, factor de facilita-ção num contacto que se pretendeu cur-to mas efectivo.

Promovemos a estreita ligação daOM aos médicos e defendemos oprincípio de que só seremoscredíveis quando capazes de de-monstrar pela prática que estesprincípios que enunciamos conse-

guem induzir mudanças e nesseprocesso claramente perceberquando podemos gerar melhoriasou quando tal nos está vedado pelo

contexto em que estamos inseridos.Através dum protocolo estabelecido en-tre o CNQOM, a Secção Regional doSul e o H. do Espírito Santo, em Évora(figura 1), durante dezoito meses acom-panhámos vários serviços que de modovoluntário envolveram os seus profissio-nais num processo simultâneo de apren-dizagem através da concepção e execu-ção de projectos de inovação e/oumelhoria de acordo com as necessida-des verificadas em cada um dos serviçosaderentes.O resultado daquela intervenção foi apre-sentado publicamente, no decurso da suaevolução e quando finalizado, em momen-tos de discussão demonstrativos do graude responsabilização que cada grupo as-sumiu e de excelente efeito pedagógico.Participaram grupos tão distintos quan-to a cirurgia geral e a pediatria, a imuno-hemoterapia e a esterilização, controlode infecção e a neurologia, a patologia

Figura 2

Figura 1

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10 Revista ORDEM DOS MÉDICOS . Janeiro 2005

I N F O R M A Ç Ã O

clínica e o bloco operatório.Obtivemos sucessos mas não podemosesquecer os insucessos e as suas causasporque eles nos ajudaram a compreen-der quais as limitações que no dia a dianos assistem.

Decorre ainda um outro protocolo como H. da Força Aérea (figuras 2 e 3), emLisboa, tendo como objectivo final a cer-tificação do serviço de ginecologia e obs-tetrícia , um dos mais recentes daquelehospital. Num hospital em rejuvenesci-mento representa este trabalho uma notade afirmação do serviço e representa –ao que sabemos – a primeira relaçãoinstitucional formal entre um hospital mi-litar e a OM.

Entendemos como fulcral o papeldo médico em qualquer processode avaliação, natural quando fala-mos de avaliações interpares, masfulcral quando falamos de organiza-ções de saúde sendo certo que nãoexistem cuidados médicos sem co-ordenação e responsabilidade médi-cas, responsáveis em grande partepelos resultados a obter. Evocamosassim a importância do papel domédico nas avaliações internas e ex-ternas (processos de certificação e/ou acreditação) da Qualidade.

Entendemos ser necessário estimu-lar esta vertente da nossa activida-de compreendendo que para de-sempenhar bem esse papel não bas-ta saber medicina...

Com o apoio da Secção Regional doNorte conduzimos um curso de audito-

res técnicos da Q onde forem adquiri-dos conhecimentos relativos aos diferen-tes sistemas de Q aplicáveis aos cuidadosde saúde e competências relativas ao de-senvolvimento prático duma auditoria -2002 (figuras 4 e 5).

A colaboração entre a Ordem dos Mé-dicos, Ordem dos Farmacêuticos (OF),Associação Portuguesa de Analistas Clí-nicos e Associação Portuguesa dos Mé-dicos Patologistas deu lugar a dois cur-sos específicos para auditores ISO segun-do a norma ISO NP 9001-2000 paramédicos e farmacêuticos da área labora-torial e que decorreram na OM em Lis-boa e na OF, no Porto (2003).Ainda em Lisboa decorreu uma jornadade trabalho para onde convidámos umnúmero restrito de médicos de todo opaís com a finalidade de manipularem omanual da Q específico para laboratóri-os da Joint Comission International e co-mentarem o seu conteúdo no contextoportuguês, antes do seu lançamento mun-dial (2001).

Envolver a OM em processos de avalia-ção externa através dos seus auditoresseria certamente uma forma de respon-sabilização da OM perante a SociedadeCivil enquanto nos permitiria uma visãodetalhada e simultaneamente de conjun-to dos sistemas e das organizações emque os médicos trabalham.

Promover a implementação da Qno âmbito da OM implica, natural-mente, trabalhar junto dos seus ór-gãos técnicos e estimular aexplicitação dos seus princípios deQ, suporte básico da aprendizageme prática médicas e a sua avaliação.

Desde o início das nossas intervençõesfoi evidente o interesse de um númerosignificativo dos colegas em actividadesconjuntas.Com a colaboração dos colégios de Ana-tomia Patológica, Imunoterapia e Patolo-gia Clínica definiu-se a estrutura do Proce-sso Pré-Analítico por eles reconhecida.

Iniciámos junto dos colégios um percur-so que tem vindo a ser longo e está ainda

longe da definição de princípios básicospor parte de alguns colégios enquantooutros evidenciam de há muitoexplicitações de qualidade com elevadograu de detalhe, particularmente quandonos debruçamos sobre áreas de maiorcomponente laboratorial, com forte pesodo nível de «standardização».Através de um inquérito foi feito o le-vantamento inicial da actividade dos co-légios (25% taxa de resposta) constatan-do-se a existência de grande disparidaderelativamente à observância de critériosexplícitos para a aceitação da idoneidadeformativa durante o internato comple-mentar. Também, a forma como é defini-da essa idoneidade era (e ainda é, emcertos contextos) tão rigorosa a pontode exigir uma auditoria ou tão simplificadaque concedida através de uma mera in-formação escrita.Quanto à definição de necessidades es-truturais e funcionais mínimas para odesempenho duma área de forma autó-noma, na grande maioria dos casos elanão está contemplada.Procurámos nos dois últimos anos en-volver os colégios através de encontrosonde lhes pedimos que expusessem assuas experiências e actividades na áreada Q de modo a poder partilhá-los e noscolocassem questões que pudessemajudá-los a percorrer esse caminho, sefosse caso disso.Utilizando como referência o diagramade Ishikawa propusemos como primeiropasso e como objectivos major a criaçãoem devido tempo de uma definição demínimos de estrutura da Q nos aspectosfísicos e funcionais a observar quer paraa definição de serviços idóneos para for-mação no âmbito do internato comple-mentar, quer para a definição da capaci-dade de exercício autónomo duma es-pecialidade – aspecto este muito poucotrabalhado até agora na maior parte dasáreas, como já referimos.Fomos solicitando a cada colégio a iden-tificação de, pelo menos, um critério eindicador(es) para cada uma daquelasduas áreas.No encontro mais recente (Dezembrode 2004) alguns aspectos foramconsensualizados como referências a se-guir por todos:

Figura 3

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Revista ORDEM DOS MÉDICOS . Janeiro 2005 11

• necessidade de definição de competên-cias;• criação de manual de boas práticas emtodas as especialidades contemplando osaspectos essenciais relativamente a com-petências, ambiente de trabalho (incluin-do métodos) e uso de dispositivos médi-cos, de acordo com necessidades específi-cas.Adopção de indicadores na área da for-mação e do exercício autónomo;• necessidade de implementação de au-ditorias internas e externas, estas comode excepcional interesse no reconheci-mento de idoneidades;• levar a debate a actual avaliação de in-ternos.Hoje ainda continua a ser sensível aassimetria de práticas verificada.

É um trabalho sempre por terminar poisas necessidades e dúvidas sucedem-se.Mas é com certeza da maior relevância e,por isso mesmo, tentámos sempre res-ponder às solicitações que nos foramchegando e esperamos ter iniciado umtrabalho consistente.

Procurámos também dar a palavraaos médicos.

À cerca de um mês (Dez. 2004) decor-reu na Casa do Médico no Porto, um fó-rum organizado com a colaboração daSecção Regional do Norte onde colegasoriundos de diferentes pontos do paísquiseram apresentar as suas actividadesem termos de projectos de qualidade, noâmbito da melhoria contínua, da inova-ção e mesmo de certificação e acredita-ção.O diálogo desenvolvido permite-nos afir-mar do interesse de momentos destanatureza, como forma de conhecer o quese vai produzindo e compreender quaisas dificuldades encontradas e os suces-sos obtidos.

A mais valia de todo o nosso trabalhoreside certamente na presença de umnúmero crescente de colégios nestesencontros (45% de taxa máxima de pre-senças) procurando informação que lhespermita evoluir mais rapidamente emsintonia dentro da Ordem dos Médicos.

Tão importante como mencionar umpercurso é falar das dificuldades que va-mos encontrando.Solicitações contínuas a médicos já de simuito absorvidos por actividades assis-tenciais, docentes ou outras são penali-zadas porque preteridas em relação aacções mais imediatistas talvez com me-lhor retribuição qualquer que seja a suanatureza.Rotações nos órgãos executivos e con-sultivos da OM com agendamentos dife-rentes, causam atrasos inevitáveis emopções e decisões que podem pautar-sepor importantes e urgentes.

Reafirmamos que os médicos estão pre-ocupados e que estão disponíveis emnúmero significativo para melhorar o seupresente e o seu futuro através da suaintervenção junto da OM.

Ao finalizar esta súmula devemos regis-tar com apreço o esforço de todos aque-les que de perto connosco têm trabalha-do e a vontade imensa de grande núme-ro de médicos que lutam por uma medi-cina digna que procure afastar-se de umaprática industrial, olhando pessoas ecuidando-as como peças numa qualquercadeia de actividade produtiva, mas antesaproximando a sua prática médica dostão propagados valores dos cuidadosmédicos personalizados em que o doen-

te seja ouvido e seja tranquilizado e sejarestabelecida a aliança dos doentes comos MÉDICOS e a MEDICINA na buscado bem estar de que todos somos dig-nos, médicos e doentes.

Actividades prioritárias no percurso daQ no seio da Ordem continuarão a seralgo fácil de identificar.Novas abordagens à Q no nosso ambi-ente e ao papel da OM surgem natural-mente, porque novas necessidades sur-gem, porque se desenham novas meto-dologias.

Os médicos e a sua Ordem saberão en-contrar o seu caminho.

I N F O R M A Ç Ã O

Figura 4

Figura 5

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12 Revista ORDEM DOS MÉDICOS . Janeiro 2005

ELEIÇÕES Tomada de posse

Aqueles que me conhecem já sabem quesou avesso a discursos pois sou mais umhomem de acção e de trabalho, mastratando-se da minha própria tomadade posse como Presidente deste Con-selho Regional não podia, naturalmente,deixar de dizer algumas palavras. Começava, em primeiro lugar, por cum-primentar a lista concorrente que dis-

putou connosco as eleições para estaSecção Regional, na pessoa do Dr. Car-los Santos, embora ele não esteja aquipresente por motivos de ordem profis-sional.Espero poder contar com a sua colabo-ração e com a de todos os médicos destaSecção Regional, ao nível dos váriosÓrgãos, Comissões, Colégios da Espe-cialidade, como a nível individual, pois sóassim poderemos desempenhar com su-cesso as funções para que este Conse-lho está vocacionado, tendo semprecomo objectivo prioritário e fundamen-tal a melhoria da qualidade nos serviçosde saúde e, consequentemente, amelhoria da assistência a todos os do-entes, sem qualquer tipo de discrimina-ção. Em segundo lugar, gostava de cumpri-mentar os membros da Ordem dosMédicos que cessaram funções e quederam um contributo notável para obom funcionamento desta Ordem.Sim, porque agora está muito em vogadizer-se que a Ordem só serve para re-ceber as quotas dos seus associados!Porém, aqueles que fazem essa críticanão se apercebem do muito trabalhoinvisível que é feito por todos nós, Con-selho Regional, Conselho Disciplinar,Conselhos Distritais e Membros Con-sultivos, Colégios de Especialidade eComissões Técnicas Regionais.Fazem parte desse trabalho centenas depareceres de âmbito jurídico e técnico,de nomeações como peritos, de inqué-ritos no âmbito disciplinar, de opiniõessobre projectos de decretos-lei, um semnúmero de realizações em prol da cul-tura, a publicação regular da revista“NORTEMÉDICO”, entre outros. Em terceiro lugar, quero prestar a mi-nha homenagem ao Conselho Discipli-nar cessante, que teve um trabalhociclópico ao inquirir, julgar e pronunciardezenas, para não dizer centenas, de pro-cessos para inquérito e apreciação.

Em quarto lugar, uma palavra de apreçopara o meu querido amigo Miguel Leão,que cessa funções como Presidente doConselho Regional, e que é uma figuraincontornável da Ordem dos Médicos,como dizia o Prof. Doutor José ManuelSilva, numa entrevista recente à comuni-cação social.

Foi com ele que muito aprendemos e, aocontrário do que alguns vaticinam, espe-ro que não tenha morrido “politicamen-te”, para que possamos continuar a con-tar com ele para os tempos difíceis quese avizinham. Quero ainda cumprimentar não só oscolegas que se candidataram às outrasSecções Regionais e que foram eleitos,mas também os que o não foram, poistodos contribuíram para a elevação dacampanha e destas eleições.Finalmente, quero cumprimentar todosos colegas eleitos e nomeados que hojetomaram posse e que nos vão acompa-nhar nesta caminhada nos próximos trêsanos. Todos nós estamos empenhados em fa-zer passar a mensagem que defendemosno nosso programa e em trazer para aOM todos os colegas que desejamos sin-tam esta casa como sua.Nesta tomada de posse não vos voumassacrar com o programa que delinea-mos para este triénio, porque foi ampla-mente divulgado, não só através dosencartes que enviamos, mas também du-rante a campanha eleitoral nas várias vi-sitas que fomos fazendo a hospitais ecentros de saúde, por toda a área da Sec-ção Regional. O programa foi publicitado, sufragado eé ele que queremos fazer cumprir.Naquilo que a nós diz respeito, podemcontar com a nossa firme determinação.Em matérias que dependerem dos ou-tros Conselhos Regionais e do Conse-lho Nacional Executivo tudo faremos paradefender o programa proposto, procu-

José PedrJosé PedrJosé PedrJosé PedrJosé Pedro Moro Moro Moro Moro Moreira da Silvaeira da Silvaeira da Silvaeira da Silvaeira da Silva

Teve lugar no dia 14 deJaneiro a tomada deposse dos órgãos daSecção Regional doNorte da Ordem dosMédicos. De seguidareproduz-se o discursodo presidente eleito doConselho Regional doNorte, José PedroMoreira da Silva.

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rando consensos ou maiorias para queos objectivos aí expressos sejamadoptados como política nacional daOrdem dos Médicos. Gostava, no entanto, de aproveitar estaoportunidade para partilhar convoscooutras preocupações. A primeira diz respeito à necessidadede promover a defesa de uma das princi-pais razões de ser da Ordem, ou seja,uma assistência qualificada aos doentessem discriminação económica, de raça oucredo religioso. As novas concepções economicistas, co-locadas em prática pelo Ministério daSaúde, tendem claramente a preterir aqualidade e humanidade da assistência, emfavor de uma poupança, o que dificilmen-te se pode admitir.É certamente importante poupar, com-bater o desperdício e gerir melhor osdinheiros públicos, mas nunca se deveperder de vista que o importante é hu-manizar os serviços e prestar os melho-res cuidados médicos, independentemen-te dos custos e da capacidade económicados doentes, porque a vida humana nãotem valor calculável.Esta tendência vai gerar, inevitavelmen-te, uma inadmissível desnatação do sis-tema com evidente prejuízo dos maisnecessitados, dos doentes crónicos edos mais graves. A minha segunda preocupação, e pude--me aperceber dela, agora durante o meupériplo pela Região Norte, são as condi-ções por vezes precárias e difíceis em quemuitos colegas trabalham, não só ao ní-vel de instalações como também de equi-pamentos.

A Ordem terá que ter uma palavra a di-zer sobre esse esquecimento do poderpolítico para com os médicos, mas tam-bém para com os doentes, pois algunsdos locais são mesmo indignos. A minha terceira preocupação é oalheamento dos médicos, em geral, rela-tivamente aos problemas da saúde sen-do, como é sabido, que nada poderá serfeito sem o seu contributo. Veja-se, a estepropósito, a diminuta participação ocor-rida neste acto eleitoral.

Teremos que ter mais Ordem nos locaisde trabalho, mais Ordem na formação,mais Ordem no terreno, para o que con-voco desde já todos os colegas.Uma quarta, mas não menos importante,preocupação diz respeito ao sibilino ata-que que tem sido feito às Carreiras Mé-dicas, único garante da qualificação, segu-rança, e preservação da prática, do ensi-no e do conhecimento médico.A gravidade desta situação, carreiras au-sentes ou fortemente depauperadas, im-põe um combate tenaz e frontal, para oqual, meus caros colegas, podem desde jácontar com este Conselho Regional. Preocupa-me também a questão das ido-neidades dos serviços. Penso que estastêm sido satisfatoriamente atribuídas pelomeritório esforço dos vários Colégios deEspecialidade, mas é preciso ir mais aléme lançar as bases para a creditação dospróprios serviços, devendo a OM pro-mover cursos, encontros e colóquios quecontribuam para uma melhor qualifica-ção dos médicos e para que haja um sa-ber consensual, na abordagem das pato-logias específicas, em cada especialidade.Gostaria ainda de salientar que temosde ser nós, os médicos, aproveitando anossa posição privilegiada na relaçãomédico-doente, a promover uma pos-tura mais rigorosa e humanista juntodestes, nas explicações dos actos mé-dicos, nos consentimentos informados,os quais evitarão, com toda a certeza,alguns atritos e conflitos. Finalmente, e para não vos demorar mais,porque a noite vai longa e todos desejamcertamente o justo repouso do fim-de--semana, espero que os meus amigos, osmeus pais, irmãos e tios, a minha mulherAlice e os meus filhos Marta, Nuno eMiguel perdoem as minhas ausências, fal-ta de paciência e de tempo que, aliás, vãoter de suportar por mais três anos, emprol da vida associativa que aceitei abra-çar, com muito gosto e determinaçãoporque esta nossa causa é justa.

Para terminar peço a todos que nos aju-dem a levar este mandato, que agora co-meça, a bom porto e aceitem as minhasmelhores saudações.

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Boa noite colegas.

Durante alguns anos preocupámo-nos e, da melhor for-ma possível, tentámos preparar-nos para colaborar coma Ordem dos Médicos. Mas há algo que nunca nos lem-brámos de fazer, que foi elaborar o discurso desta toma-da de posse. Perdoem-me, portanto, a menor qualidadedeste improviso.

Em primeiro lugar gostaria de cumprimentar o Prof. Germa-no de Sousa, digníssimo Bastonário da Ordem dos Médicos,o Dr. Pedro Nunes, Bastonário eleito da Ordem dos Médi-cos, os demais Colegas da mesa, os representantes de outrasOrdens Profissionais que hoje nos honraram com a sua pre-sença, o Presidente do Conselho Directivo da Faculdade deMedicina da Beira Interior e todos os demais colegas e ami-gos aqui presentes.

Ao Bastonário e Presidente da Secção Regional do Centrocessantes não posso deixar de saudar particularmente e re-conhecer e saudar o máximo empenho e boa vontade comque, durante seis anos, lideraram os respectivos pelouros.Também uma palavra e um cumprimento especial para oscolegas da lista B, que peço que me permitam personificarno meu amigo Duarte Nuno Vieira. São normais as críticasque trocámos durante a campanha, pois não partilhávamosexactamente o mesmo projecto, caso contrário seria natu-ral que tivesse existido uma única lista no Centro. Estiveramem confronto duas filosofias diferentes, que nunca sabere-mos qual a melhor e qual a pior, pois não podem as duaslistas concretizá-las em paralelo no terreno. Porém, todosnós estávamos imbuídos de um espírito de máxima dedica-ção à causa da Ordem e à tentativa de resolução dos gravesproblemas que actualmente nos afectam. Mas é evidente que,terminadas as eleições, terminaram as críticas, pelo que ago-ra estamos do mesmo lado da barricada e procuraremos,como qualquer um dos eleitos o faria, trabalhar em conjuntocom todos para bem da Ordem, para bem da Classe, parabem da saúde em Portugal e para bem dos doentes.

Quero cumprimentar, ainda, a Dra. Isabel Caixeiro, o Dr. JoséPedro Moreira da Silva e o meu bom amigo Dr. Miguel Leão.

Nestas saudações envolvo todos os colegas que já assumi-ram estas ou outras funções na Ordem e que, também eles,lhe dedicaram o melhor do seu esforço, pois a nossa vidaprofissional é extremamente exigente e, apesar de o fazer-mos com todo o voluntarismo, nem sempre é fácil conciliaras obrigações e responsabilidades que vamos assumindo aolongo da vida.

Com uma dedicação incondicional, tudo faremos para nãodesmerecermos o trabalho desenvolvido à frente da Ordempelos colegas que a têm liderado. Pretendemos mesmo, per-mitam-nos essa ilusão, fazer mais e melhor, ainda que com aconsciência que o melhor é sempre um conceito relativoque depende, em cada momento, do que é possível ser feito,face aos múltiplos interesses e grupos que condicionam asaúde em Portugal. As grandes conquistas da Classe Médicanas duas últimas décadas estão a ser postas em causa e va-mos ter de voltar a lutar por elas, por vezes com algumaradicalidade, palavra e comportamento que não nos assusta.

Uma das questões que mais nos preocupa, pelo que repre-senta e pelas suas implicações, é a credibilidade da Classejunto da opinião pública que, ano após ano, vem sendo deli-berada e sucessivamente minada e vilipendiada por uma es-tratégia que visa enfraquecer-nos.

ELEIÇÕES Tomada de posse

José Manuel MonteirJosé Manuel MonteirJosé Manuel MonteirJosé Manuel MonteirJosé Manuel Monteiro Caro Caro Caro Caro Carvalho e Silvavalho e Silvavalho e Silvavalho e Silvavalho e Silva

No dia 12 de Janeiro realizou-se acerimónia de tomada de posse dosórgãos da Secção Regional do Centro daOrdem dos Médicos. De seguidareproduz-se o discurso do presidenteeleito do Conselho Regional do Centro,José Manuel Monteiro Carvalho e Silva.

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Nós sabemos que os Médicos são o espelho da própriasociedade. Naturalmente, não são santos, nem é de exigirque o sejam. Como qualquer cidadão, têm as suas qualida-des e os seus defeitos, os seus sonhos e as suas ambições,as suas fragilidades e as suas dificuldades, as suas alegrias eas suas tristezas. Mas, independentemente de tudo, procu-ram fazer o melhor pelos seus doentes, pois eles próprios,em algum período das suas vidas, também já foram doentese sabem quão frágil fica alguém quando tem de confiar oseu corpo e a sua vida a um estranho. São estes ingredien-tes que transformam a relação médico-doente numainigualável e profundamente gratificante entrega e confian-ça total do segundo relati-vamente ao primeiro.

Infelizmente, esta imagemdo Médico tem sidodistorcida pelos meios po-líticos e por alguma comu-nicação social e, curiosa-mente, como Classe, é pos-ta em causa pela própria po-pulação. No entanto, apesarde todos estes escolhos quevamos sentindo pelo cami-nho, nós vemos, no contac-to com os nossos doentes,que ainda somos respeita-dos. De uma forma talvez menos fácil de encontrar nou-tras profissões, todos os dias temos a satisfação de fazeralguma coisa por alguém, melhorando o seu estado de saú-de física e psíquica, tão agredido pela sociedade agreste emque hoje vivemos, talvez o factor principal para o sucessivoaumento do consumo de ansiolíticos e anti-depressivos.

Neste campo a Ordem dos Médicos tem de trabalhar in-cansavelmente para recuperar uma posição de máximacredibilidade junto da opinião pública, questão na qual esta-

mos em total consonância com o Bastonário eleito, quepretende que a Ordem seja um referencial de dignidade ede confiança por parte da população. É fundamental paradar mais força à Ordem. Para atingir esse desiderato vaiser necessário desenvolver um trabalho permanente, inte-ligente e transparente, em que a Classe, entre outros as-pectos, vai ter de assumir com humildade algumas das suaslimitações e dificuldades, mas sempre demonstrando quese esforça por reduzir ao mínimo o erro por insuficienteformação e que não tolera a negligência. A própria socieda-de terá que reconhecer que aonde há um ser humano existepotencial de erro.

Um dos nossos objectivoscentrais será o de corres-ponder aos anseios dos co-legas do centro, que queremuma Ordem mais aberta,mais participada e mais pre-ocupada na resolução dosseus problemas e na res-posta às suas necessidades.Para isso, vamos cumprir aalínea f do artigo 44 dos es-tatutos, que determina aeleição de delegados daOrdem em todas as insti-tuições de saúde. Para evi-

tar duplicações fá-lo-emos aonde não trabalharem colegasque façam parte dos actuais corpos directivos agoraempossados. Também vamos procurar obter os e-mails etelemóveis de todos os colegas, com o compromisso sole-ne de nunca serem utilizados para fins comerciais oueleitoralistas. Em plena sociedade da comunicação não fazqualquer sentido que a Ordem não recorra às novas tec-nologias para divulgar as suas iniciativas e comunicar rápidae quase gratuitamente com os colegas. Esta tremenda faltade informação é uma das principais razões para a baixaafluência de Médicos às iniciativas técnicas, científicas e cul-turais da Ordem.

Ainda neste campo, vamos dar indicações para que, na pá-gina da Secção Regional do Centro, seja criado um meca-nismo de auscultação permanente e informal do sentir daClasse relativamente aos projectos e problemas que, emcada momento, se depararem à Ordem. Apesar de eleitospor larga maioria, não queremos arrogar-nos a exclusivida-de das decisões sobre questões que a todos irão afectar eque não foram sufragadas no nosso programa.

Nesta linha de comportamento, uma das nossas primeirasiniciativas será a de lançar um inquérito sobre a Casa doMédico, um projecto há muito anos acarinhado pela Secçãomas nunca concretizado e relativamente ao qual nunca seprocedeu à auscultação da Classe quanto ao figurino a im-

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plementar e local a seleccionar. O relativo desafogo finan-ceiro com que herdámos a Secção permitir-nos-á avançarcom passos rápidos e seguros no arranque deste ambicio-so projecto.

Para não me alongar demasiado, terminaria este curto voosobre as nossas intenções dizendo que iremos procurarconvencer a Ordem a ser mais activa e interventiva na de-finição da política de saúde a nível nacional. Da política desaúde depende o enquadramento técnico-jurídico do exer-cício da Medicina. Se não influenciarmos a fonte legislativa,acontecerá o mesmo que com qualquer nascente impura,que inquina todo a caudal que dela brota. Se actuarmos naorigem conseguiremos que a produção legislativa esteja maisde acordo com os princípios humanistas da Medicina. Esta-remos a defender a Medicina e os doentes de uma formamais eficaz.

Na verdade, gostaríamos que a Ordem dos Médicos fosseum parceiro verdadeiramente incontornável na definiçãoda política de saúde a nível nacional e que contribuísse paraum Consenso Nacional que evitasse que a Saúde continu-asse a ser gerida aos solavancos, origem de múltiplos pro-blemas e graves prejuízos. Veja-se o exemplo das PPP, que opartido melhor posicionado para vencer as eleições já afir-mou que iria reequacionar, atitude com a qual concordopessoalmente. No entanto, depois dos grandes investimen-tos privados que já foram feitos com a perspectiva de 10concursos para as PPP, apesar da legitimidade que o Estadotem em mudar de política, é natural que os grupos priva-dos vejam defraudadas as suas expectativas e acabem porsofrer alguns danos económicos. Os próprios doentes aca-barão por ser os mais atingidos pelos efeitos secundáriosde uma política de saúde feita aos ziguezagues.

Para a resolução dos problemas da saúde em Portugal écada vez mais evidente e essencial que exista um Consen-so Nacional para a Saúde. Acreditamos que a Ordem dosMédicos deve estar na primeira linha da defesa e promo-ção desse Consenso, e sempre disponível para uma es-treita colaboração com todas as forças vivas da sociedadee com todos os partidos políticos. Por isso, vamos lançara iniciativa de enviar uma série de quesitos sobre saúdeaos partidos políticos e convidá-los para um debate orga-nizado pela Secção Regional do Centro ainda antes daseleições. Onde esperamos ver discutidos, de uma formapositiva e construtiva alguns dos problemas que afectama Classe, a Saúde e os Doentes, com a consciência de queestes últimos são os que estão numa posição maisfragilizada e, por consequência, aqueles que mais sofremcom os erros e as indefinições de uma política de saúdede curto prazo.

Os quesitos que agora seleccionámos para este primeirodebate são os seguintes:

1. O que pensam sobre a Ordem dos Médicos como umpotencial parceiro ou dinamizador de um Consenso Naci-onal para a Saúde?2. Acham necessária a aprovação de uma lei do Acto Médi-co? Em que moldes?3. Qual o futuro do SNS como base estruturante de todo oSistema Nacional de Saúde?4. Aceitam a realização de auditorias independentes aosvários modelos de gestão da saúde?5. Que modelos de gestão para os Centros de Saúde? Par-cerias, participação das autarquias, privatização, RRE,... apli-cação do dec. lei 60/2003?6. Qual o programa para a área do medicamento [genéri-cos (efectivo controlo de qualidade), novo modelo de re-ceita, monopólio das farmácias, prescrição por DCI, acessoonline aos medicamentos efectivamente disponíveis nas far-mácias]?7. Preconizam o relançamento da Medicina Convenciona-da?8. Preocupam-se com o potencial desemprego Médico e oexercício de Medicina indiferenciada?9. Qual o papel do médico nos vários sistemas organizativos– Contrato individual de trabalho, contrato colectivo tra-balho, carreiras, concursos, gestão... ?10. Para defesa da Saúde Pública e investimento na preven-ção considerariam a possibilidade da implementação de cam-panhas de educação da população para um estilo de vidasaudável em colaboração/coordenação com a Ordem dosMédicos?

Para concluir, resta-me reafirmar que estamos disponíveispara colaborar de uma forma séria e honesta com o Basto-nário eleito e os restantes elementos do CNE, que temosna Secção Regional do Centro e nos respectivos DistritosMédicos um excelente e coeso conjunto de Colegas deelevada qualidade e determinação, verdadeiramente capa-zes e com muita vontade de trabalhar em prol do prestígioda Ordem dos Médicos e da dignificação da Classe Médica.

Tomada de posse ELEIÇÕES

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Colegas, AmigosIlustres Convidados

Neste momento solene em que pe-rante tantas testemunhas assumimoso compromisso de cumprir as funçõespara que fomos eleitos, quero deixarexpresso o reconhecimento a todosos Colegas que se empenharam nes-tas eleições. Aos que conseguiramsufragar os seus projectos e aos quenão obtiveram apoio suficiente paraos seus programas e, em particular, atodos os médicos que exprimiram asua opinião e vontade através do voto.Estas eleições decorreram em perío-

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do particularmente conturbado parao país e para a prática da Medicina.Neste últimos anos foram introduzi-das alterações na organização do Ser-viço Nacional de Saúde que ameaçama sua continuidade e a equidade doacesso dos cidadãos aos cuidados desaúde.Foram feitas mudanças intempestivas,motivadas apenas por factores econo-micistas, sem atender à finalidade últi-ma do Serviço Nacional de Saúde pre-vista na Constituição e sem ter sidofeita a avaliação de experiências emcurso (como preconizam os manuaisde gestão).Conhecemos várias Ministras e Minis-tros de Saúde.A todos disponibilizámos o nosso co-nhecimento técnico e a nossa experi-ência; uns perceberam a bondade dosnossos argumentos, outros convenci-dos da sua verdade absoluta teimaramnas suas decisões.Conseguimos evitar danos maiores.Combatemos a burocrática receitamédica, impedindo a substituição deprescrição médica.Combatemos o decreto de gestão dosCentros de Saúde e integramos o gru-po de trabalho que procura definir asregras de aplicação.Conseguimos a publicação do Diplo-ma do Internato Médico, apesar de todaa desinformação, e estaremos firmespela sua regulamentação adequada.

Temos consciência que estamos a vi-ver um período de instabilidade naci-onal que se manifesta a todos os ní-veis.Não sabemos quem os portuguesesvão escolher para governar o país nospróximos quatro anos.Não conhecemos ainda os programasde governo dos diversos partidos po-líticos, nem o que preconizam para aSaúde em particular.Mas temos consciência que os próxi-mos anos vão ser difíceis e exigentes.

Maria Isabel Agostinho CaixeirMaria Isabel Agostinho CaixeirMaria Isabel Agostinho CaixeirMaria Isabel Agostinho CaixeirMaria Isabel Agostinho Caixeirooooo

Temos consciência que será necessá-ria muita firmeza e ponderação,combatividade e intransigência na de-fesa dos princípios éticos e técnicosda nossa profissão.

Podem contar com esta Mesa da As-sembleia Regional, este Conselho Re-gional Sul, este Conselho DisciplinarRegional, este Conselho Fiscal Regio-nal. Podem contar com a nossa experi-ência, o nosso entusiasmo e dedicação.Podem contar comigo, com a minhatotal disponibilidade e empenho paracoordenar com eficácia uma equipaque alia a sabedoria do João Sequeiraà juventude do Ricardo Mexia, o co-nhecimento da Universidade do RaulMesquita Lima ao espírito cartesianodo Francisco Madaíl, a experiência demedicina privada de Fátima Araújo aoconhecimento da mente humana doAntónio Sampaio, a eloquência doEduardo Santana à experiência de vidado José Manuel Esteves e, muito emparticular, o conhecimento e experi-ência da área financeira e da gestão daOrdem de Manuela Santos e o conhe-cimento e experiência da área hospi-talar e dos dossiers nacionais e inter-nacionais do João de Deus.Podem contar connosco!Podem contar com a nossa vontadede lutar por uma Ordem dos Médicosactuante, unida, independente do po-der político, que representa e defen-de todos os Médicos.

Diz-nos a experiência de muitos anosa trabalhar em Hospitais, Centros deSaúde, consultórios ou clínicas que sepode melhorar a eficácia da organiza-ção das unidades de saúde, que é obri-gatório evitar o desperdício e que qual-quer reforma ou mudança provocasempre receio e desconfiança.Sabemos que os recursos não são ines-gotáveis e que é mandatório utilizá--los de forma mais eficaz.Mas também sabemos que não é pos-

A Tomada de posse dosórgãos da Secção Regionaldo Sul teve lugar no dia 11de Janeiro. Em seguidareproduz-se o discurso dapresidente eleita doConselho Regional do Sul,Maria Isabel AgostinhoCaixeiro.

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sível desenvolver reformas sustenta-das na Saúde sem os médicos ou con-tra os médicos .Sabemos que o desenvolvimento da ci-ência médica se faz cada vez mais nosentido da multidisciplinariedade e dotrabalho em equipa com outros pro-fissionais de Saúde, mas com áreas es-pecíficas de intervenção.Sabemos também que o centro da nos-sa actuação é a saúde dos cidadãos,que acreditam em nós e no nosso co-nhecimento e capacidade de resolveros problemas de doença, de os acon-selhar na defesa da sua saúde e de osapoiar no caminho difícil para umamorte com dignidade.

Não podemos aceitar que se fomentea ideia que médicos e doentes são ini-migos, numa confrontação diária deerros e negligências para engrossar osucesso dos meios de comunicaçãosocial.Os médicos e os cidadãos têm direitoa trabalhar e a serem tratados em uni-dades de saúde seguras, em que exis-tam condições técnicas de acordo como conhecimento médico actualizado,condições de trabalho adequadas a umexercício médico de qualidade, e umacultura de prevenção de “acidentes desaúde” que evite acontecimentos lesi-vos para quem necessita dos cuidadosde saúde.É mandatório criar-se uma cultura deprevenção como já existe noutras áre-as, como na Aeronáutica e na Medici-na do Trabalho.Cada acidente/incidente deve ser no-tificado, analisado e avaliado de modoa evitar que voltem a acontecer casossemelhantes.Estes “acidentes de saúde” têm quedeixar de ser automaticamente enca-rados e noticiados como erro médicoou negligência médica na procura deum culpado, mas antes passarem a serutilizados como ferramentas para umsistema nacional para a melhoria dasegurança do doente.

Partilhamos da ideia do Bastonárioeleito, Dr. Pedro Nunes, de criar umGabinete do Doente a nível nacional.

Vamos desenvolver o Gabinete doDoente da Secção Regional do Sul e,para isso, contamos também com oempenhamento dos ConselhosDistritais.Ouvir os doentes, as suas queixas ereclamações permite-nos identificarsituações de má prática que podemoriginar procedimento disciplinar, mastambém os mais comuns problemasde má comunicação, mau relaciona-mento interpessoal ou organizaçãodesadequada dos serviços que tam-bém podem ser causa de “acidentesde saúde”.

Mas não chega aproximar a Ordemdos cidadãos, importa também apro-ximar a Ordem dos Médicos e osMédicos da Ordem, para que quandoalgum Colega disser “A Ordem nãofaz nada” tenha a consciência pesadade também nada ter feito!

- Para conseguirmos esta aproxima-ção aos Médicos contamos com o em-penhamento dos Conselhos Distritais,contamos com: António Pedro Soureno Oeste, Gildásio Martins dos San-tos no Algarve, Fátima Rosado da Fon-seca em Évora, Manuel França Gomesna Madeira, Eduardo Pacheco nos Aço-res, José Poças em Setúbal, Vítor Be-zerra em Santarém, António Luís Ri-beiro em Portalegre, José Carlos Rei-na em Beja, Alexandre Lourenço emLisboa-Cidade, Carlos Quaresma na

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Grande Lisboa, com todos os Colegaseleitos para os Órgãos Distritais e to-dos os membros consultivos do Con-selho Regional.

Para operacionalizar esta proximida-de:

- Vamos realizar reuniões do Conse-lho Regional com uma calendarizaçãomensal prévia com todos os Conse-lhos Distritais, antecedida de visita aosHospitais e Centros de Saúde locais,para um melhor conhecimento das re-alidades.

- Vamos criar delegados da Ordem noslocais de trabalho, que nos permitamter conhecimento em tempo real dosproblemas que surgem no exercícioquotidiano dos médicos.

- Vamos manter e desenvolver a auto-nomia e correspondente responsabi-lização dos Conselhos Distritais paraa resolução de situações de implica-ção local, e apoiar, como temos feito,no que formos solicitados.

- Vamos manter e desenvolver os meiosde informação e comunicação com osmédicos da Secção Regional do Sul atra-vés do Medi.com, dando a conhecer edivulgando todas as actividades realiza-das, promovendo o debate dos temasde actualidade médica.- Vamos chamar os Colegas mais no-vos para participarem na Ordem queé de todos, mantendo a colaboração

com os seus representantes e associ-ações como o Conselho Nacional doMédico Interno e Associação Nacio-nal do Médico Interno, e ouvindo asassociações de estudantes de Medici-na.

- Vamos continuar a organizar e apoi-ar eventos culturais de música, cine-ma, História da Medicina, debates, ex-posições, etc.

- Vamos desenvolver um Gabinete deApoio e Defesa do Médico que inte-gre as vertentes de apoio ao médicoque está doente e de apoio e defesado médico vitima de violência ou in-justamente acusado. Para isso iremosdefinir as regras de utilização do Fun-do de Defesa do Médico da SecçãoRegional do Sul, já existente.

- Vamos concretizar o nosso projectode solidariedade de construção daCasa do Médico do Sul de modo apoder receber e apoiar Colegas semapoio sócio-familiar que lhes permi-tam condições de vida com dignidade.

Estamos disponíveis para trabalhar naorganização interna que melhore a efi-cácia dos serviços que prestamos aosmédicos.Estamos disponíveis para trabalharcom todas as organizações médicaspela unidade dos médicos.

Assumimos o compromisso de cum-prir o programa sufragado pelo Cole-gas que nos elegeram.

Estaremos também disponíveis parareunir, criticar, debater políticas, suge-rir alterações, negociar legislação comqualquer Ministro de Saúde de qual-quer Governo de qualquer partidopolítico que venha a ser escolhido pe-los portugueses.Integrados que estamos na sociedadedemocrática, o respeito pela escolhados portugueses deve sobrelevar anossa própria opinião nessa matéria.Tal não nos impedirá de sermos in-transigentes nos princípios éticos etécnicos, sensatos e credíveis porque

independentes.

Para os que já se regozijam pensandoque a Ordem vai ficar refém de lutasinternas e não vai funcionar, vamos de-monstrar que com firmeza, bom sen-so e respeito mútuo, procurando o quenos une e ultrapassando pormenoresque nos possam dividir, levaremos abom termo o nosso projecto.Vamos demonstrar que a Ordem sa-berá ser forte, actuante, credível e in-dependente.

Foi este o mandato que nos foi dadopelos Colegas.

É este o mandato que respeitaremos.

Tomada de posse ELEIÇÕES

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Um interessantíssimo artigo do Prof.Doutor Coelho Rosa sobre a sub es-pecialidade de Nefrologia Pediátrica,publicado recentemente na ActaPediátrica Portuguesa (1), teve o mé-rito de tornar muito claro para mimque, as dificuldades para iniciar efecti-vamente o ensino das sub especialida-des, são provavelmente comuns às vá-rias áreas pediátricas.Quando, em 1998 (2), tiveram inicioas negociações para as sub especiali-dades, a neonatologia portuguesa mo-derna tinha já 20 anos de idade, eraexercida por pediatras que trabalha-vam apenas com recém-nascidos (RN),muitos deles em dedicação exclusivae o grau de competência tinha come-çado a ser atribuído 8 anos atrás apósum período de formação específica –os Ciclos de Estudos Especiais (CEE)ou, por consenso, pelo Ministério daSaúde. Para nós, era uma sub especia-lidade, ainda que não reconhecida pelaOrdem dos Médicos. Os CEE de Neo-natologia, pela primeira vez expressoscomo necessários no relatório daComissão Nacional de Saúde Mater-na e Infantil, em 1989 (3), tiveram iní-cio logo em 1990 (4). Os primeirosciclos tiveram a duração de 6 mesesporque, na sequência do processo dereorganização da perinatologia emPortugal, se tornou muito urgente au-mentar as equipas dos Hospitais deApoio Perinatal Diferenciado e formarequipas nos Hospitais de ApoioPerinatal, com pediatras com compe-tência em Neonatologia. Logo que asmaiores carências foram colmatadasfoi possível aumentar o tempo de for-mação para os 12 meses que ainda hojese mantém.Foi portanto com alguma expectativae muito entusiasmo que aguardámosa sub especialidade. O processo en-tregue na Ordem dos Médicos incluiu

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Sub Especialidades PediátricasO caso da Neonatologia

desde o início o programa de forma-ção, definido para 2 anos, minucioso,descriminado, adaptado do programaproposto pela European Society forPaediatric Research (5, 6), e que aindahoje está conforme com o daEuropean Society of Neonatology.Como nas outras sub especialidades,o Conselho Nacional Executivo daOrdem dos Médicos nomeou um JúriNacional para admissão por consensoe foi dado um período de 6 meses paraentrega de curricula com aquela fina-

lidade, um processo que se revelariaincompreensivelmente arrastado, comanos de duração mas que, finalmente,foi desbloqueado.Estou em crer que somos dos paísesmais adiantados na Europa no que res-peita à sub especialização em Neona-tologia, como já éramos os primeirosa ter formalmente a competência emNeonatologia. Contudo, parecendoque tudo estava resolvido é aqui que,na realidade, começam a surgir os pro-blemas.O primeiro diz respeito ao regime detrabalho em que pode ser feita estaaprendizagem uma vez que os 2 anosda sub especialidade só podem ser

cumpridos após obtenção do título depediatra e, imediatamente após obten-ção do título, o pediatra é desvinculadoda função pública. É quase certo que oMinistério da Saúde não vai prolongaro tempo de contratação para que sefaça essa formação. Contudo, caso sejaesta a solução escolhida, é possível en-curtar os 2 anos de formação, englo-bando nela os 6 meses de estágio emneonatologia do internato de pedia-tria ou até mais, uma vez que o inte-ressado pode escolher estagiar emneonatologia durante os períodos deopção. Esse tempo, programado comessa intenção, pode ser bem aprovei-tado se a sub especialidade conside-rar essa hipótese como válida.Se esta hipótese só pode ser resolvi-da pelo Ministério da Saúde outra háque só pode ser resolvida pela Ordemdos Médicos/Colégio de Pediatria: in-cluir este período de sub especializa-ção no internato de pediatria. Seriauma forma elegante de resolver o pro-blema, a solução serviria todas as subespecialidades pediátricas, mas o inter-nato de pediatria teria que ser modifi-cado. Uma das hipóteses era o Inter-nato ter um tronco comum de forma-ção em Pediatria com a duração de 3anos e, quem quisesse aprofundar asua formação ou ter uma sub especia-lidade - neonatologia, nefrologia, infec-ciologia ou outra - tinha mais 2 anospara o fazer. Os pediatras com 3 anosde formação podiam exercer pediatrianos centros de saúde, hospitais comserviço de pediatria geral ou clínicaprivada; os pediatras com 5 anos po-diam ser pediatras comunitários ouconcorrer a hospitais com serviço depediatria de referência. O sistema ti-nha a vantagem de formar pediatrasem 3 anos, como no passado, tornan-do possível que todas as crianças ti-vessem pediatra. Aliás, a necessidade

A solução destesproblemas é muito

urgente. Já perdemosmuitos anos deformação em

neonatologia (...). Éurgente formarneonatologistas.

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Maria Teresa NetoUnidade de Cuidados Intensivos Neonatais

Hospital de Dona Estefânia

de aumentar o tempo de formação de3 para 5 anos, foi precisamente por-que as sub especialidades eram tantase tão diferenciadas que os 3 anos nãoeram suficientes. Agora, elas seriamretiradas da formação obrigatória e sóas faria quem escolhesse essa opção.Contudo, o que se discute é precisa-mente o contrário: fazer, no início daespecialidade, um tronco comum demedicina. Isto significa que, à pediatria,será roubado 1 ano se, dos 5 actuais,1 for dedicado à medicina do adulto.Se a medida parece muito adequadaquando se fala de medicina do adultoo mesmo não acontece com a pedia-tria. É óbvio que conhecimentos mé-dicos são sempre bem vindos mas ti-rar tempo de formação em pediatriaé um erro. A pediatria é a medicinainterna da criança e não é por estaser mais pequena que demora menostempo a aprender. Antes pelo contrá-rio, é mais concentrada e mais ampla,tem a genética, o desenvolvimento, ocrescimento e muitas outras áreas quenão se estudam na idade adulta.O segundo problema diz respeito àidoneidade dos serviços que vão for-mar neonatologistas. As característicasnecessárias para uma unidade de saú-de ser considerada idónea para essefim foram definidas no documento ini-cial, mas quem reconhece a idoneida-de? A Ordem dos Médicos? O Colé-gio de Pediatria? Algum organismoeuropeu criado para o efeito? Na rea-lidade ainda não está decidido comoserão acreditados os centros de for-mação, nem em Portugal nem na Eu-ropa.Por outro lado, as especificidades sãomuitas e muito particulares fazendoprever que nenhuma unidade consigaaglutinar todas as características quelhe permitam, isoladamente, ser umcentro de formação. Estas dificuldadessugerem que a melhor política será acongregação de unidades para formarum centro, dando assim também res-posta a um dos requisitos de que oneonatologista deve ser formado em,pelo menos, 2 hospitais, um dos quaisdeve ser universitário.O terceiro problema diz respeito ao

ciclo de estudos especiais deneonatologia. Seria de prever que, umavez existindo a sub especialidade deneonatologia deixasse de haver estetipo de formação. Não sei se será li-near este raciocínio. Os pediatras queforem formados em neonatologia se-rão aquilo a que chamo osneonatologistas de terceira geração, overdadeiro internista do recém-nasci-do (RN), abarcando todos os âmbitosda patologia peri e neonatal e todosos órgãos, com uma sólida formaçãoclínica, imagiológica, terapêutica, de téc-nicas invasivas, etc. Não tem sentidoque um médico tão especializado, cujaformação tanto custou, seja colocadonum local onde, supostamente, nãoestão os mais doentes dos RN - asunidades de cuidados intensivosneonatais dos Hospitais de ApoioPerinatal Diferenciado. Mas, nas uni-dades de cuidados especiais (UCEN)dos Hospitais de Apoio Perinatal, háRN doentes. Sem querer minimizar otrabalho do pediatra, deve entender--se que um RN doente ou um RN exgrande pré-termo em fase de cresci-mento, será melhor cuidado por quemaprendeu especificamente a fazer isso,com mais treino dos que os 6 mesesde neonatologia do internato de pedi-atria. Essas UCEN devem integrar nasua equipa pelo menos um pediatracom competência em neonatologia. Adescentralização, a capacidade de po-der enviar para o hospital de origemum RN que já não necessita de cuida-dos intensivos, tem dado muito bonsresultados, mas só tem sido possívelporque lá está um pediatra com com-petência para o cuidar. Daí a necessi-dade de dar continuidade aos Ciclosde Estudos Especiais de Neonatolo-gia, uma formação mais curta, que con-tinuará a atribuir a competência.Finalmente pergunta-se: a quem com-pete resolver estes problemas? O po-der político, o Ministério da Saúde, nemtem conhecimento deles e portantonão é suposto que os resolva. Suspeita--se mesmo que, conhecendo-os, nãoesteja interessado em fazê-lo. Mas écom o Ministério da Saúde que as con-versações têm que se fazer. A Ordem

dos Médicos parece ser o organismomais apropriado para sugerir soluçõese pressionar decisões. É um parceiroindispensável. Mas há outras entidades,formadas por profissionais que traba-lham no campo e conhecem as dificul-dades que, na minha opinião, constitu-em parceiros importantíssimos nas ne-gociações: a Comissão Nacional deSaúde da Mulher e da Criança e a Sec-ção de Neonatologia da Sociedade Por-tuguesa de Pediatria uma vez que, aambas, o que interessa mesmo é a saú-de do RN.A solução destes problemas é muitourgente. Já perdemos muitos anos deformação em neonatologia, o núcleodas equipas de muitas UCIN é aindaconstituído pelos elementos que asinauguraram há 20 anos, estão velhase em fase de reforma. É urgente for-mar neonatologistas. Penso que asquatro entidades aqui referidas devemenvidar todos os esforços para queisso se torne uma realidade no maiscurto espaço de tempo.

Bibliografia1. Coelho Rosa F. Nefrologia Pediátricaem Portugal. Acta Pediatr Port 2004; 35(4): 303-52. Cuidados de Saúde Materna eNeonatal. Relatório da Comissão Na-cional de Saúde Materna e Infantil, Lis-boa, 19893. Ordem dos Médicos. Deliberaçãodo Conselho Nacional Executivo deAbril de 19984. DR II série, nº 169 de 24/07/1990,pp81885. Recommendations for the trainingof neonatology in Europe. Draft28.10.966. Documentos de trabalho do Con-selho Coordenador para a sub espe-cialidade de Neonatologia

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A hepatite C é um importante problema de saúde públicaafectando, segundo a Organização Mundial de Saúde, 170milhões de pessoas ou 3% da população mundial e 1% doseuropeus. Estima-se que em Portugal existam cerca de150.000 indivíduos infectados, 1,5% da população; Françatem 1,2% de infectados, Itália 3% e Espanha entre 1,6--2,6%. É uma entidade complexa do ponto de vista médi-co, individual, familiar, social e epidemiológica. Trata-se deuma doença infecciosa frequente, susceptível de preven-ção e de tratamento. O vírus da hepatite C (VHC) é 4vezes mais frequente e 10 vezes mais infeccioso do que ovírus da SIDA.A infecção pelo VHC é quase sempre assintomática e deevolução a longo prazo, cujas consequências crónicas comoa cirrose hepática ou o cancro primitivo do fígado (carci-noma hepatocelular) podem surgir ao fim de algumas dé-cadas (20 a 40 anos) após a infecção. Existe na actualidadetratamento eficaz, conduzindo à cura definitiva em cercade 60% dos casos. Os custos envolvidos nas várias fasesda doença, têm tendência a crescer, dado que se prevê oaumento do número dos doentes diagnosticados e trata-dos, bem como do número de casos de cirrose hepática,cancros do fígado e transplantes hepáticos associados aoVHC, como aliás é mencionado no Plano Nacional de Saúde2004 - 2010.

Plano Estratégico Nacional?

A informação é indubitavelmente a forma mais eficaz erentável em qualquer estratégia de saúde pública. Paraminimizar as complicações da hepatite C é necessáriodesenvolver campanhas de informação dirigidas aos do-entes, familiares, pessoal de saúde (médicos, enfermagem,farmacêuticos, entre outros), grupos ditos de risco e àpopulação em geral. É fulcral desmistificar e aliviar o es-tigma a ela associada (“doença grave”, “pior que a SIDA”,“mortal”, “risco elevado de cancro”, “sem cura”) esclare-cendo sobre as formas de prevenção, modo de transmis-são e possibilidade de cura efectiva. A hepatite C não éexclusiva dos toxicodependentes: com efeito, cerca de 40%dos novos casos não são utilizadores de drogas injectadas.A par disso, deverão também ser desenvolvidos esforçospara avaliar a situação epidemiológica em Portugal, no-meadamente a prevalência nacional para se avaliar o im-pacto futuro da hepatite C no nosso país. A abordagem dahepatite C seria mais consistente no âmbito de um “PlanoEstratégico Nacional de Prevenção e Controlo da Hepati-te C”.Qualquer plano estratégico deverá obedecer a três gran-des objectivos fundamentais:

Plano Nacional para a Hepatite C1 – INFORMAR - Desenvolver todos os esforços paraaumentar o conhecimento da hepatite C nos indivíduosinfectados, profissionais de saúde e população em geral.2 – PREVENIR - Reforçar as medidas de prevenção pri-mária e desenvolver estratégias de redução de riscos, paradiminuir a transmissão do VHC.3 – TRATAR - Melhorar os cuidados médicos a quemtem hepatite C.

Rastreio do VHC

Tratando-se de uma doença praticamente assintomática enão se justificando o rastreio a toda a população, importapromover a detecção dos indivíduos infectados nos gru-pos ditos de risco.O objectivo principal do rastreio consiste em identificar apopulação infectada para minimizar os riscos para os pró-prios, para a família e para a sociedade em geral. Os gru-pos de risco a rastrear são:• Utilizadores de drogas injectadas, nem que tenha sido

uma vez na vida, mesmo aqueles que não se consideremtoxicodependentes

• Quem tenha efectuado transfusões de sangue antes de1992 e de factores de coagulação antes de 1987

• Quem tenha recorrido a piercings, tatuagens, acupunctura,manicura, podologista, mesoterapia, tratamentos de es-tética em locais que não seja possível assegurar a segu-rança do material injectável

• Utilização de seringas de vidro reutilizáveis (muito fre-quente há alguns anos)

• Indivíduos com transaminases alteradas• Filhos cujas mães são anti-VHC positivas• Membros do agregado familiar de doentes com hepatite

C• Pessoal de saúde com história de contaminação aciden-

tal• Indíviduos com múltiplos parceiros sexuais que não uti-

lizem protecção (preservativo)• Doentes VIH positivos• Hemodializados, transplantados renais, hemofílicos• Indivíduos seguidos em consultas de Doenças de Trans-

missão Sexual• Eventualmente, imigrantes de países de elevado risco,

como é o caso da Moldávia em que a prevalência doVHC poderá atingir cifras na ordem dos 10%

O rastreio deve ser efectuado através do teste imunoen-zimático anti-VHC, cujas sensibilidade e especificidade sãosuperiores a 99%.Dados de outros países indicam que o doente “tipo”, di-

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agnosticado de novo, é do sexo masculino e tem entre 30a 50 anos de idade. A forma de transmissão é a toxicode-pendência em 60% dos casos, a via sexual em 15%, trans-fusões antes de 1992 em 10%, pessoal de saúde em 5%.Em 10% das situações não se identifica o modo de trans-missão.Estima-se que só cerca de um quarto dos infectados es-tão diagnosticados. A identificação de novos indivíduos anti--VHC positivos através do rastreio dirigido, é uma opor-tunidade para informar sobre o modo de evitar o agrava-mento da doença (vacinar contra as hepatites A e B, evi-tar consumo de álcool, acesso aos cuidados médicos comeventual tratamento) e de reduzir o risco de transmissãoa outros. Calcula-se que o número de casos crónicos dia-gnosticados aumente 3 a 4 vezes nas próximas décadas, oque irá colocar alguns desafios ao Sistema Nacional deSaúde.

Toxicodependência - Programas de trocade seringas

A hepatite C é praticamente epidémica neste grupo derisco afectando cerca de 70-80% dos toxicodependentes,variando entre 40-95% consoante os grupos estudados.Relativamente ao problema da toxicodependência comdrogas injectadas (70 a 100 mil de acordo com os dadosoficiais) - ainda não resolvido e não controlado na nossasociedade - importa promover, ampliar e esclarecer a so-ciedade em geral sobre os programas de redução de ris-cos (programas de troca de seringas - PTS), procurandoque além das farmácias, outras entidades estejam empe-nhadas na sua aplicação e divulgação. Existe ampla evidên-cia científica que estes programas de troca de seringassão a medida mais eficaz para a redução de riscos para osconsumidores e para a própria sociedade, reduzindo-se onúmero de novos casos de infecção (VHC, SIDA), overdoses,infecções locais (abcessos, celulites, etc). Por outro lado, onúmero de seringas potencialmente contaminadas em cir-culação ou “perdidas” irá diminuir, reduzindo-se o riscode transmissão das diversas infecções. É fulcral transmitira este grupo de risco o facto de que o contágio podeocorrer, além da seringa e da agulha, através do restantematerial usado no consumo i.e. algodão, colher, carica, água,etc.Os PTS devem ser estendidos às prisões. Pelo menos me-tade da população prisional é consumidora de drogas porvia intravenosa, fenómeno não exclusivo de Portugal, ecerca de 30% tem hepatite C. Algumas experiências pilotoem países europeus (Alemanha, Espanha, Suíça) mostraram--se eficazes na redução dos riscos, constituindo uma opor-tunidade única para promover o acesso de uma camadade população com muitos problemas pessoais e sociaisaos profissionais de saúde (médicos, enfermagem, psicó-logos) e, consequentemente, a melhores e mais cuidadosde saúde.

Plano Nacional Estratégico de Prevençãoe Controlo da Hepatite C

Para um “Plano Nacional Estratégico de Prevenção eControlo da Hepatite C” eficaz e amplo, as autorida-des de saúde deverão ocupar um papel central eaglutinador como sejam o Ministério da Saúde, aDirecção-Geral da Saúde e o Instituto Nacional de Saú-de Dr. Ricardo Jorge. Alguns países têm desenvolvidorecentemente planos nacionais de abordagem da hepa-tite C como sejam a França (1999), Reino Unido (2002),Brasil (2003), Austrália (1999), Estados Unidos da Amé-rica (2001 de âmbito nacional e mais recentemente em12 estados americanos). Os toxicodependentes deve-rão ser um alvo estratégico a atingir. Com efeito, osutilizadores de drogas injectadas custam à sociedade,em recursos de saúde, perda de produtividade, aciden-tes e crime, verbas muito avultadas. Quem se injectatêm um elevado risco de contrair SIDA, bem como ashepatites C, B e A. Por outro lado, depois de infectadoscom essas doenças, poderão ter um efeito multiplicador,dado que existe um risco real de contaminarem os com-panheiros de consumo injectável, os parceiros sexuais,os familiares directos e os recém-nascidos, no caso demães infectadas.A informação deverá basear-se na desmistificação, ten-tando retirar o estigma muitas vezes ligado à infecção peloVHC, transmitindo ideias correctas e actualizadas sobreas formas de transmissão, grupos de risco (toxicodepen-dentes, indivíduos com múltiplos parceiros sexuais, pro-fissionais de saúde, locais de colocação de piercings, tatu-agens, manicures, podologistas, barbearias, tratamentos deestética, etc), consequências da doença, sintomatologia,formas de tratamento, factores de agravamento (consu-mo excessivo de álcool) e modos de prevenção.Têm que ser elaboradas normas de orientação para osprofissionais de saúde (guidelines), criada uma linha telefó-nica grátis não só para estes (por ex. “O que fazer emcaso de contaminação acidental?”) como também para opúblico. Deveria ser implementada a divulgação de folhe-tos, cartazes, site na internet, cursos de actualização (mé-dicos, emfermagem, farmacêuticos), campanhas nos orgãosde comunicação social, intervenção na população escolardesde o ensino básico.

Rui Tato MarinhoGastroenterologista - Hospital de Santa MariaProfessor da Faculdade de Medicina de Lisboa

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O plano estratégico tem que ser pensado e participadopelos vários actores da sociedade com eventual inte-resse directo na infecção VHC:Ministério da Saúde, Direcção-Geral da Saúde, Institu-to Nacional de Saúde Dr. Ricardo Jorge, Instituto Por-tuguês de Sangue, Comissão Nacional de Luta contra aSIDA, Instituto da Droga e da Toxicodependência,Direcção-Geral dos Serviços Prisionais, SociedadesCientíficas (Médicos – gastrenterologia, hepatologia,doenças infecciosas, psiquiatria, medicina familiar, saú-de pública, nefrologia, pediatria, entre outras), Associa-ções de Doentes (hepatites, transplantados hepáticos,insuficientes renais, ligadas à infecção VIH, hemofílicos),Associação Nacional de Farmácias, Laboratórios da In-dústria Farmacêutica, Jornalistas (imprensa, rádio, TV),especialistas de marketing, instituições religiosas, milita-res, Centros de Apoio a Toxicodependentes (CAT),Agências de Comunicação, psicólogos, assistentes soci-ais, políticos do poder central e poder local, Forças deSegurança, Ministério da Educação para se chegar à po-pulação escolar, associações ligadas a barbearia, mani-cura, podologia, indústria cosmética e de beleza, locaisonde se efectue a colocação de piercings, tatuagens,acupunctura e Organizações não Governamentais liga-das à recuperação de toxicodependentes. Nestes gru-pos pluridisciplinares deverá existir a figura de um “co-ordenador da hepatite C”. Poderá ser útil a utilizaçãode figuras públicas, não obrigatoriamente toxicodepen-dentes, para ampliar o impacto mediático do plano.

Conclusão

Em conclusão, dada a prevalência mundial (3,0%) e aestimativa nacional (1,5%), a dimensão da infecção nosutilizadores de drogas injectadas (70-80%), o aumentoprevisível das consequências da infecção crónica peloVHC (cirrose hepática, carcinoma hepatocelular, neces-sidade de transplante hepático) e os custos envolvidosna abordagem destes doentes (internamentos, tratamen-tos com antivíricos, transplante hepático) justifica-seplenamente que as autoridades oficiais de saúde cen-tralizem, elaborem e implementem um Plano Nacio-nal Estratégico para a Prevenção e Controlo daHepatite C. Calcula-se também que com a divulgaçãoda necessidade do rastreio nos grupos de risco o nú-mero de infectados diagnosticados aumente significati-vamente. Dado o estigma frequentemente associado aesta infecção e as consequências pessoais e sociais daídecorrentes, a necessidade de transmitir de uma formaestruturada a informação correcta e actualizada cienti-ficamente aos doentes, profissionais de saúde e à po-pulação em geral impõe-se que o plano seja implemen-tado a curto prazo.

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AAAAA G E N DG E N DG E N DG E N DG E N D AAAAA1.º Ciclo de Conferências de Saúde do Centrode Estudos Ibéricos – Saúde sem Fronteirasde Maio 2004 a Maio de 2005(1 conferência por mês)Local: Sala da Assembleia Municipal – GuardaContactos: Telef./Fax.: 271 220 212;E-mail: [email protected]

22º Encontro Nacional de Clínica Geral9 a 12 de Março de 2005Local: Tivoli Marina HotelContactos: Telef.: 217 615 250 Fax.: 271 933 145;E-mail: [email protected]

3rd European HIV Drug Resistance Workshop31 de Março a 2 de Abril de 2005Local: Atenas, GréciaContactos: Telef.:218 422 700

VI Encontro Coninbrigae SalusCuidados Articulados14 e 15 de Abril de 2005Local: Hotel Tryp - CoimbraContactos: Telef.: 239 484 287 Fax.: 239 484 779;E-mail: [email protected]

EULAR 2005 – European Congress ofRheumatology8 a 11 Junho de 2005Local: Viena (Áustria)Contactos: Viagens Abreu, S. A. - Dept. Congressos;Tel.: 222043590 - Fax: 222043693

11th World Congress on Pain21 a 26 de Agosto de 2005Local: Sydney, AustráliaContactos: Telef.:218 422 700

Ecco 13 - The European Cancer Conference30 de Outubro a 3 de Novembro de 2005Local: Paris, FrançaContactos: [email protected]

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José Luís Archer, em representaçãode Esperança Pina, director do De-partamento de Deontologia, Bioé-tica e Direito Médico da FCM – de-partamento que apoiou a Associa-ção de Estudantes nesta sua inicia-tiva -, apresentou o orador referin-do, entre outras coisas, a facto deJorge Biscaia ter sido o fundador doCentro de Estudos de Bioética, ins-tituição na qual é presidente da di-recção, bem como o facto de tercriado e dirigir a revista «Cadernosde Bioética». Não fossem estesmotivos suficientes para explicar aimportância da conferência profe-rida por Jorge Biscaia, José Luís Ar-cher falou igualmente da sua «sen-

Relação doente-médico:um verdadeiro encontro com o outroTeve lugar no dia 8 de Novembro de 2004 a conferência «A relaçãodoente-médico», proferida por Jorge Biscaia. Foi mais uma conversa sobrebioética do ciclo organizado pela Associação de Estudantes da Faculdadede Ciências Médicas, aqui representada por Alexandre Santos.

sibilidade» enquanto ser humano, oque, sem necessitar de mais requi-sitos, habilita o orador a falar so-bre uma relação tão complexa comoé a relação doente-médico, uma re-lação na qual os sentimentos sãocom certeza uma parte fundamen-tal.Começando por referir que todasas relações partem de apelos, dabusca de encontros entre duas pes-soas, Jorge Biscaia explicou que«não se pode separar na relaçãodoente-médico o apelo daquele daresposta do médico». Em temposidos, em que apesar do pouco avan-ço da medicina (em termos do co-nhecimento da doença, causas, dia-gnóstico, técnicas, etc.), «o médicoera visto como um mágico», «oacompanhamento era feito de pala-vras e presença» até ao regredir dadoença. Hoje, a extraordinária evo-lução da medicina trouxe vantagense desvantagens para esta relaçãonem sempre fácil: «o progresso au-mentou a longevidade», mas junta-mente com a visão dos médicoscomo deuses capazes de tudo, quese verifica na actualidade pelo me-nos ao nível das expectativas dosdoentes, e com os «espantosos su-cessos reais ou prometidos», o sen-tido crítico também cresceu, «aspessoas tornaram-se mais exigen-tes» e qualquer insucesso passou aser visto imediatamente como sen-do culpa do médico, «aumentandoa agressividade do doente». Mas, da

parte do médico, este continuou ater que avaliar os riscos e benefíci-os que toda a terapêutica implica,os per igos dos exames maisinvasivos ainda que mais eficazes, aproblemática dos custos muito ele-vados e nem sempre lógicos peran-te os reduzidos benefícios que sepodem esperar em determinadoscasos, e continuou a ter que lidarcom um grau de incerteza que sópode ser ultrapassado através deopções baseadas em critérios deprobabilidades. Uma forma de ten-tar resolver este novo ‘contratem-po’ numa relação de importânciafundamental para o sucesso tera-pêutico, solução defendida por Jor-ge Biscaia, é o estabelecimento deuma responsabilidade objectiva para«através de um seguro, ressarcir osdanos causados, mesmo que nãoexista culpa do médico».

Valorização do contactoafectivo

Neste momento, segundo o confe-rencista, o que se verifica é que omédico se colocou numa «posiçãode defesa», recorrendo para isso aoconsentimento do doente em rela-ção às intervenções e opções tera-pêuticas. «Mas esse não é um con-sentimento que represente a parti-cipação activa do doente na opçãoterapêutica», não passando de umaassinatura num papel que faz comque se perca o vinculo de confiança

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fundamental na relação aqui em cau-sa. «O paternalismo, resultante daconfiança quase ilimitada no médi-co, é assim substituído por uma as-sinatura muitas vezes feita à portada sala de operações». Será estauma solução menos perniciosa?Poder-se-á considerar que uma re-lação baseada num falso consenti-mento esclarecido, numa falsa en-volvência do doente na sua terapêu-tica, é mais equilibrada que a (dese-quilibrada) confiança cega que nopassado os doentes depositavam no

seu médico? Segundo o presidenteda direcção do Centro de Estudosde Bioética, esta evolução teve comoconsequência a deterioração da re-lação doente-médico, a qual sofrehoje de uma espécie de anonima-to... «Enquanto antigamente o mé-dico de família conhecia os avós, ospais e os filhos e já tinha ido a casado doente, hoje há um afastamentoclaro: o médico não é escolhido eas comunicações são feitas de for-ma fria e impessoal. (...) Perdeu-seo papel do médico enquanto con-selheiro. Os profissionais refugia-ram-se na técnica/ciência e o doen-te não é visto como uma pessoa,mas antes como parte de uma esta-tística.» Explicando a importânciado toque afectivo, algo que seriareferido por uma das médicas pre-sentes na assistência como «uma ap-tidão que devia ser ensinada noscursos de medicina», Jorge Biscaiareferiu que «a tentação da técnicaé essa: não tocar nas pessoas». Se-gundo o interlocutor está-se a per-der uma ópt ima poss ib i l idaderelacional pois, muitas vezes, «otempo que se passa com o doentenão é valorizado», o que se tornacada vez mais difícil se pensarmosque os médicos são, hoje em dia,

muito pressionados no sentido deterem em conta a necessidade deeficácia económica, existindo mes-mo casos em que o tempo de con-sulta é contado e coarctado por in-dicação hierárquica superior. Para oorador não existem dúvidas quantoao caminho a seguir: «por maioresdificuldades – burocráticas, adminis-trativas, técnicas - que o sistema co-loque, o médico tem que respon-der com a sua humanidade, acolhen-do o doente e procurando melho-rar o seu estado. (...) Temos que tera capacidade de ver o doente comomerecedor da nossa atenção», poisa competência do médico «medir--se-á por parâmetros muito além dasua aptidão técnica». Deverá, comofoi referido nesta conversa, existiruma superação da técnica nesta re-lação entre duas pessoas, em que ocontacto afectivo deve ser valoriza-do («a capac idade re lac iona lcorresponde a uma garantia bioéti-ca do médico»).Factor igualmente citado como fun-damental na relação doente-médicofoi o segredo profissional pois o res-peito pelo valor da intimidade e daprivacidade do doente é a pedrabasilar da confiança que este depo-sita no profissional de medicina. Ain-da que a autonomia tenha natural-mente limitações deverá ser respei-tada, devendo efectuar-se uma ex-plicação «com bom senso», «sem-pre numa atitude de respeito e de-fendendo a dignidade do doente».«Temos que ouvir, observar e ex-plicar».Referindo a necessidade do médicoter consciência da sua própria vul-nerabilidade e capacidade para acei-tar o fracasso (caso contrário po-derá originar-se uma situação deobstinação terapêutica, igualmentenociva), Jorge Biscaia concluiu ex-plicando que o profissional deveráestar disponível para participar nosofrimento do outro, «participar,com compaixão, mantendo um cer-to afastamento», proporcionandoaquilo que definiu como «um ver-dadeiro encontro com o outro».

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H I S T Ó R I A S d a H I S T Ó R I A

Como era habitual nesta época, os filhos da grande famíliajudaica optavam ou pela Arte Médica ou de Boticário, ocu-pando nós por isso mesmo, a maior parte dos cargos pordireito próprio, nestas artes.Assim, era vulgar sermos considerados pelos vizinhoscristãos-velhos de acordo com a história da Humanidade,como renegados e feiticeiros, detentores de sortilégios compoderes quase demoníacos. O ambiente da terra beirã, co-berta de montanhas, frio, neve e ainda pouco habitada, davaazo a lendas, querenças e demais fantasias; no tempo donosso leitor chamar-me-iam um homem da interioridade.Talvez para este comportamento ancestral de desconfian-ça e despeito, contribuísse a proverbial prosperidade eco-nómica dos judeus sefarditas, sempre fruto de uma luta epersistência familiar prolongada, de gerações, aliada a quali-dades de trabalho e resistência pouco habituais nesta velhaterra lusitana, antiga de seiscentos anos.Portugal, já nesta altura a viver acima das suas riquezas ehaveres (como parece continuar a ser uma característicaendémica nos trezentos anos seguintes) e sem fazer nadapara se cuidar, devido à sua índole ociosa, passadista doantigo Império, agora quase falido, vai-se tornar cada vezmais uma sociedade fechada, ensimesmada, mesquinha, in-vejosa, sendo um dos sinais o seu fanatismo, a que aInquisição deste tempo (famosa policia religiosaultracatólica) pela sua intolerância religiosa perseguia, en-

clausurava e mandava queimar qualquerhomem ou mulher que fugisse às nor-mas do costume, baseadas estas na tra-dicional doutrina católica com profun-das raízes conservadoras e antijudaica.

Uma vida erranteA minha débil constituição física aliadaa um perfil hipocondríaco, não irá alte-rar a dedicação ao estudo e à desco-berta devido em parte ao meu espíritocurioso, apesar dos caprichos dos tem-pos e do Homem.Ainda com doze anos, já sabia música,

Ribeiro Sanches, o Médico dos Czareslia fluentemente castelhano, latim e todos os livros que mevinham parar à mão, tais como os de Plutarco e Montaigne,razão segundo uns devido à minha inteligência superior eelevado espírito de observação.Devido à pressão familiar do lado paterno, com um tio ju-risconsulto, versado em leis, vou ainda cedo para Coimbrapara me inscrever no curso de Direito, em 1716.Aqui, mais uma vez, insatisfeito com o meio (ao fazer uma“reflexão muito profunda acerca da decadência da universida-de”) e o estudo aborrecido das leis e da filosofia “aprendera nossa filosofia era pior que não a aprender”, que me provo-cam efeitos indesejáveis e outros distúrbios funcionais,moléstias estas acentuadas pelo esforço em excesso dedi-cado ao estudo, exs. enxaquecas, desmaios, dores de estô-mago…Entre 1717-18, para tentar perceber o que se passava co-migo, vencendo a minha insegurança interior, começo a lertudo o que me vem parar às mãos, incluindo livros médicos.Nestes pareço ter encontrado algum conforto espiritualpara os meus males, um deles em especial – os Aforismos deHipócrates, que pela forte ligação entre a ciência prática e afilosofia especulativa vai mudar em definitivo, o meu rumoprofissional, assim como perder a noiva, minha prima, maiso seu belo dote de judia.O ambiente era muito pouco disciplinado o que aliado aoestado de rebeldia latente dos alunos perante o ensino (queme desgostava sobremaneira), mais o meu frágil estado físi-co (organismo débil e enfermiço), vai-me facilitar a transfe-rência, a meu pedido, para Salamanca, no ano seguinte.Recebo, por isso facilmente o grau de doutor em Medicina,pela Universidade de Salamanca em 1722.Em todas as épocas da nossa história, homens nos maisvariados campos da ciência, de modo mais sentido na Medi-cina, trocaram a terra de origem por um País estrangeiroonde pudessem exercer a sua profissão com outra sabedo-ria e paz de espírito. As grandes escolas da Península Ibéri-ca limitavam-se a transmitir o saber dos textos antigos, cujaautoridade não era questionada, votando o ensino e a prá-tica médica, a uma paralisante inércia.Para Ribeiro Sanches, jovem médico, acabado de regressar,o País não oferecia grandes perspectivas, isolado e malquistopor judeu na sua pátria.Já em Portugal, apesar da intolerância e preconceitos domeio, instalo-me temporariamente em Benavente – aí re-paro que as águas estagnadas são a causa de febres e ou-tros morbos que as pessoas de Salvaterra manifestavam demodo intermitente.Em 1726, por denúncias feitas à Inquisição por um familiar,pela prática do judaísmo sou obrigado a exilar-me à pressa,partindo pela calada da noite, num barco ancorado em Lis-boa.Após breves passagens por Génova, Montpellier, Londres

Nasci a 7 de Março de 1699 na vila fronteiriçade Penamacor – Beira Alta, e o meu nome debaptismo é António Nunes Ribeiro Sanches.A minha família é de sangue judaico– os meus pais Simão Nunes e Ana NunesRibeiro são abastados comerciantes da região,cristãos-novos descendentes de outro grandemédico Francisco Sanches (1551-1623).

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(onde dou aulas e exerço medicina) e Bordéus, chego aLeiden, na Holanda, onde assisto às aulas do célebre pro-fessor Boherhaave, considerado o maior docente de medi-cina do seu tempo. Ai torno-me um dos seus discípulosdilectos mais distintos.Na Europa, sopram já os ventos do Iluminismo (os filósofosque difundiam o novo espírito do século julgavam-se pro-motores da luz e do conhecimento, sendo, por isso, chama-dos de iluministas) movimento que vinha ganhando expres-são nos escritos de Locke, Montesquieu, Voltaire e outros.Em 1731, sob a sua recomendação parto para Rússia. Aíexerço importantes cargos como médico dos exércitos im-periais, e depois do Corpo Imperial dos Cadetes de SãoPetersburgo (colégio reservado à mais alta aristocracia rus-sa), tendo por último sido nomeado médico da czarina AnaIvanovna. Ao mesmo tempo correspondo-me com os me-lhores espíritos europeus da época.A longa permanência na Rússia e o contacto com os seusdiferentes povos e raças, permitem-me fazer importantesobservações etnológicas que comunico a Buffon, que o re-fere no 3º Volume da sua História Natural.Em 1747, de regresso a Paris, sou recebido por Frederico oGrande da Prússia. É-me depois atribuída uma tença porCatarina II da Rússia de quem fui médico. Aqui na cidadedas Luzes acabo os meus dias, a 14 de Outubro de 1783.

ObraAs luzes da razão humana, adquiridas pela observação daNatureza e pelo livre exercício, irrompiam no obscurantis-mo secular do pensamento preliminar, cristalizado pelosdogmas da escolástica.A obra de Ribeiro Sanches, no seu humanismo iluminista,em muitos aspectos pioneira e reformadora, é enorme,repartindo-se por diversos domínios, como a etnologia, amedicina, a educação, a arte ou a ética, beneficiando docarácter internacional do ensino universitário da época.A Medicina foi um campo onde os judeus, não só em Por-tugal, mas em todo o mundo, se tornaram célebres. RibeiroSanches, sendo um nome grande da história da medicinauniversal, levou uma vida de recolhimento e estudo.Na medicina, onde se distinguiu na venereologia, escreveu apedido de D‘Alembert e Diderot para a Enciclopédia. Man-teve relações científicas e de amizade com os grande vultosda ciência do tempo. Publicou, neste domínio, obras, comoo Tratado da Conservação da Saúde dos Povos, Observaçõessobre as Doenças Venéreas, etc.As bases da reforma do ensino médico em Portugal foramo objecto do seu Método para Aprender a Estudar Medicina,escrito a pedido do Governo de Lisboa. No seu projecto,Sanches vai mais longe do que Verney:• Amplia o conjunto dos saberes exigidos aos candidatosao curso de medicina;• Sugere a criação de um colégio dedicado ao ensino dasciências médicas;• Propõe a construção de um hospital escolar, dotado deum número suficiente de camas, completado pelo teatroanatómico, o jardim botânico, o laboratório e a botica;

• Galeno e Hipócrates seriam substituídos pelo eclectismoda medicina de Boherhaave;• A profissão médica seria unificada, com a integração dacirurgia no ensino universitário.Sobre a educação, ética, política, ou mesmo na filosofia, évasta a sua obra, revelando-se um convicto defensor doIluminismo Científico e um reformador: Cartas sobre a Edu-cação da Mocidade (1760) é uma das mais importantes dabibliografia pedagógica do século XVIII, a favor da laicizaçãodo ensino e da sociedade em geral, a par da espiritualizaçãoda acção da Igreja.Considerado por muitos como um verdadeiro enciclope-dista (médico, filósofo, pedagogo, historiador, etc.), escrevelargas dezenas de manuscritos, dos quais apenas nove fo-ram publicados em vida.O seu nome está na primeira fila dos grandes mestres dopensamento europeu da sua época, em confronto com umPaís retrógrado, beato, paralisado pela inércia e arreigado àvanglória do passado.Era o progresso contra a rotina preguiçosa, a justiça contrao erro, a civilização contra a falta de cultura, a razão contraa inverdade.

Cena finalRibeiro Sanches é o grande pioneiro da saúde pública, sen-do considerado o primeiro higienista, que permanece con-temporâneo pelo alcance da sua visão esclarecida e pelaforça das convicções. As suas ideias foram aplicadas nasreformas pombalinas da Educação e Medicina.Manteve bons vínculos a instituições da cultura internacio-nal muito importantes da Europa, como seja ser corres-pondente da Academia Internacional de Paris. Era membroda Sociedade Real de Londres e membro da Academia de S.Petersburgo. Defendeu relações científicas com os restan-tes elementos do grupo da Enciclopédia que muito contri-bui para o desencadear da Revolução Francesa.Recordo que em 1999 se passaram trezentos anos sobre onascimento deste reformador da medicina e do ensino, quefoi apenas, um dos maiores vultos da ciência e da medicinado século XVIII e continua tão pouco conhecido entre nós.

Principais livros• A dissertation on the origin of the venereal disease (Londres, 1751);• Tratado de Conservação de Saúde dos Povos (Paris, 1756);• Cartas sobre a Educação da Mocidade (Paris, 1760);• Fundamentos da Sociedade Cristã e Política (1760);• Método para aprender a Estudar a Medicina (Paris, 1763);• Mémoire sur les bains de vapeur de Russie, considérés pour la

conservation de la santé et pour la guérison de plusieurs maladies,(Paris, 1779);

• Observations sur les maladies vénériennes (a título póstumo, poriniciativa do seu amigo Andry); (Paris, 1785)

• Maneira de Alimentar e Criar os Enjeitados no Hospital de Moscovo;• Tratado das Paixões da Alma

João-Maria NabaisAssistente Hospitalar Graduado de Pediatria Médica

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H I S T Ó R I A S d a H I S T Ó R I A

Hipócrates nasceu em Cós (c. 460 AC),pequena ilha junto à costa turca, en-tão costa da Caria, em frente deHalicarnasso. A formação médica terásido influenciada por Pitágoras queconsiderava o universo e também ocorpo humano regulados dentro daharmonia dos números; por Demócri-to que via o mundo, e também o cor-po humano constituídos por átomoscom tendência a agrupar-se a outroscom a mesma dimensão, deixando en-tre eles os poros; por Empédocles queadmitia já os quatro humores e elabo-rou alguns princípios como a produ-ção de calor interior em processosinternos como a digestão; função dearrefecimento da respiração; funçãonutritiva do fígado que produz o san-gue que alimenta o corpo.

Com Hipócrates a Medicina libertou--se da magia, as causas e manifesta-ções das doenças passaram a serconsideradas fenómenos naturaissubmetidos a leis; e a profissão mé-dica passou a dispor de um código

Encruzilhada hipocráticade conduta.Revisitar Hipócrates numa perspec-tiva clínica talvez possa ser formula-da a partir das seguintes questões,sempre que possível contrastadascom a actualidade.

Que avanço resultou damedicina hipocrática?

A nova forma de medicina alicerçava--se na observação “desarmada” esem nada de parecido com os recur-sos que o micrótomo e o microscó-pio trouxeram ao séc. XIX ou a na-notecnologia com as suas estruturascom menos de 100 nanómetros,trouxe ao séc. XX.

A clínica hipocrática exercia-se emespaço próprio, a Asclepiade, era umamedicina de cabeceira e fundamenta-va-se no exame disciplinado de sinto-mas e sinais ou anamnese e exame clí-nico. Manifestar interesse, olhar, falar,ouvir e palpar permitiam ainda captara confiança do doente, outro item im-

portante da medicina hipocrática. Dosdados obtidos partia-se para um dia-gnóstico, tratamento e prognósticomuito incipientes. Alguns dos aforismoshipocráticos reflectiam o cuidado como prognóstico, em regra maus, taiscomo o fígado grande e duro, as uri-nas escuras nos doentes febris, o tipode respiração em doentes terminaisou a facies hipocrática. Conhecer oprognóstico permitia ao médico ante-cipar o evoluir da doença e justificar aconfiança dos doentes e familiares nosseus conhecimentos (ver figura).

Na actualidade é um imperativo éticoque ao doente e à família não se deveomitir a verdade. Há uns trinta anostalvez existisse num certo número demédicos seniores alguma reserva re-lativa à verdade em situações delica-das ou de extrema gravidade, que po-deriam mesmo justificar o recurso à“mentira piedosa”.

Na Grécia hipocrática, uma boa partedos médicos exercia de modo

Antíoco (recostado no leito) adoece comuma forma grave de melancolia com

vários meses de duração. O rei Seleuco, àdireita, recorre ao médico Erasistratus, àesquerda que palpa o pulso do enfermo,constata a sua aceleração sempre que amadrasta Berenice, vestida de branco e

acanhada, se aproxima, o que não sucedecom as outras senhoras. Erasistratus

informa o rei que Antioco está apaixonadopela madrasta, em risco de morte e

propõe, relutante, que o rei se separe deBerenice e permita que ela se case comAntioco. De notar que o acto médico de

Erasistratus tem de forma incipiente os 4estadios clássicos da decisão médica

descritas por Hipócrates.

Reprodução da tela de Jaques LouisDavid. Aprendeu pintura como bolseiro emItália, foi depois e em 1789 revolucionárioe amigo de Robespierre, a seguir pintor de

Napoleão e por último exilado emBruxelas onde, então com c. de 70 anos seentregou à pintura inspirada em histórias

famosas da antiguidade.

SABER HIPOCRÁTICO E UMA HISTÓRIA FAMOSA

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A.Coutinho de MirandaAntigo Chefe de Serviço e Director Clínico do

Hospital Curry Cabral

itinerante, deslocava-se de terra emterra e instalava-se no mercado ondeatendia os doentes à vista do público.Poder informar o doente com rapi-dez sobre o mal e do que iria sucedera seguir era marca de sucesso. É deassinalar que os escritos médicos gre-gos não eram normas, como as dosegípcios e caldeus, mas relatosespeculativos, talvez para facilitar aomédico argumentar junto do públicoque assistia à consulta. Os médicositinerantes não possuíam estudos masestavam prevenidos sobre a importân-cia de detalhes como orientação daslocalidades, predomínio dos ventos sevoltados para poente, origem da águaque bebiam ou presença de regiõespantanosas.

Quanto à etiologia e o diagnóstico, re-cordo um caso de febre prolongada,surgida no pósoperatório de uma si-tuação obstétrica. O perfil da tempe-ratura revelou uma febre terçã, talcomo a terá descrito Hipócrates e queacabaria por cumprir os critérios demalária pós transfusional. Hoje o dia-gnóstico é um dado preliminar indis-pensável, no mínimo recomendável,que veio trazer à própria rotina clíni-ca uma precisão, rapidez e importân-cia inconcebíveis há poucos anos. Talsucede por exemplo nos diagnósticosgenético intra-uterino ou anatómicosda tomografia computorizada e res-sonância magnética.

Havia já algumacorrespondência entreo pensamento e a acção,a teoria e a prática?

A anatomia de superfície resultava deum raciocínio por analogia ao que sepassava no animal e correspondia aoconhecimento empírico obtido emanimais sacrificados num intento má-gico ou necessidade alimentar comose reflecte no velho dito português “sequeres conhecer o teu corpo, mata oteu porco”. Ao tempo havia relutânciaem examinar o cadáver do homem –cara data ai vermi.Também se possuía algum conheci-

mento sistematizado sobre a evoluçãodas feridas que deviam permanecerlimpas e secas e a Iliade já descrevera147 casos de ferimentos por armas deguerra; conheciam-se regras essenci-ais do tratamento das fracturas (imo-bilização, alinhamento e movimentosprecoces); tinha-se a ideia da impor-tância do que entra no organismo (ali-mento) e do que dele sai (excreção);admitia-se a mudança gradual dos ali-mentos no processo, tal como na co-zedura ao fogo; existia alguma quime-ra do que seria o desenvolvimento fetala partir do ovo embrionado da gali-nha. É de realçar que o desporto e aguerra teriam contribuído para o bomtratamento de fracturas e feridas demodo a recuperar o guerreiro ou atle-ta bem e depressa. Era tambémpreocupante para os gregos assegu-rar a boa forma física, ou fitness, comose diz hoje.

O exame do sangue coagulado teriapermitido elaborar uma teoria a par-tir de quatro zonas: a mais escura oubílis negra; a amarelada sobrenadanteou bílis amarela; a matéria de topo oufleuma; e o próprio sangue. Admitia--se que os quatro humores man-tinham-se em equilíbrio ou isonomiano saudável e em desequilíbrio com oexcesso de um deles na doença. Estateoria disponibilizava uma explicaçãoengenhosa da doença a que não falta-va algum requinte quando foi enrique-

cida com as quatro estações e as qua-tro qualidades que as definem: o calor,o frio, a humidade e a secura (ver es-quema).

A fleuma aumentava nas afecções res-piratórias do Inverno; a bílis amarelacaracterizava as diarreias e os vómi-tos; o sangue já era considerado umatributo vital, mas a sua remoção po-deria ter interesse semelhante ao quesucedia com a menstruação e aepistaxis; a bílis negra podia aparecernas excreções e no vómito.

Não sendo removidos, o excedentedos humores determinava uma evolu-ção da doença em três fases: a inicialou acridade, a de estado ou de coze-dura e a de solução. Em termos actu-ais uma entidade como a bronquitepode evoluir por fases – irritativa eexudativa inicial, produtiva a seguir eresolutiva por último. Esta sequênciaé característica e pode incluir umaquarta fase cicatricial e crónica. Hojea inflamação é um fenómeno extre-mamente complexo, em redes-cobrimento permanente nas suas com-ponentes celular, exudativa, imunoló-

SABER HIPOCRÁTICO E TEORIA DOS “4” HUMORESHIPÓCRATES Humores Estações do Ano Tempo Idades do Homem Órgão

Sangue Primavera Quente/Húmido Adolescente Coração

Bílis amarela Verão Quente/Seco Jovem Fígado

Bílis negra Outono Frio/Seco Adulto Rins

Fleuma Inverno Frio/Húmido Idoso Cérebro

GALENO Elementos Natureza Gostos e cores Tipos de febre Momentos do dia Temperamentos

Ar Vermelho/doce Contínua Manhã Calmo

Fogo Amarelo/amarg Terçâ Meio dia Exuberante

Terra Negro/acido Quartâ Entardecer Obstinado

Água Branco/salgado Quotidiana Anoitecer Ocioso

ESCOLÁSTICA Apóstolos Planetas Comportamento Temperamento Zodíaco

S. Marcos Júpiter Lídio Sanguíneo Gémeos Touro Carneiro

S. Paulo Marte Frigio Colérico Virgem Leão Cancer

S. João Saturno Mixolídio Melancólico Sagitário Escorpião Balança

S. Pedro Lua Dório Fleumático Peixes Aquário Capricórnio

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1997

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gica, genética e molecular; explica mui-to do que se passa na doença e nacura e fornece pistas para novos dia-gnósticos e medicamentos.

Quanto à Práxis, Hipócrates definiadiáalogo singular médico doente deum ponto de vista «triangular» (do-ente, doença e médico), e a doençacomo resultado de um desequilíbriodas leis da natureza a que o doentereage como um todo, mesmo “paratratar um olho, devemos tratar a ca-beça e todo o organismo”. É interes-sante o ponto de vista da OMS aoconsiderar a saúde “um estado de per-feito bem estar físico, mental e sociale não apenas a ausência de doençasou deficiências físicas”. O enunciadoé recordado para o contrastar como enunciado hipocrática curto, sim-ples e directo ao insistir na harmoniado homem dentro de si próprio e nanatureza. A definição da OMS é umpouco longa, talvez um pouco condi-cionada e pode criar problemas deansiedade ao doente, dificuldades aomédico e uma maior medicalização,quando o primeiro exige “afinal jáestou bom ou ainda estou doente?”.A atitude actual considera a saúdemais como um conceito do que umadefinição. Hipócrates também já seteria apercebido das limitações pro-fissionais profissionais no mais pere-ne dos seus aforismos “a vida é brevee a arte é longa; a oportunidade é pas-

sageira, a experiência arriscada, o jul-gamento difícil”.

Ainda persistiam vestígiosmitológicos na medicinahipocrática?

É conhecido que o ”Juramento de Hi-pócrates” consagra na sua forma de1771 uma invocação mitológicaintrodutória nos termos seguintes“Juro por Apolo o médico, por Escu-lapio, por Higeia e Panaceia que aca-to este juramento e que o procura-rei cumprir com todas as minhas for-ças físicas e intelectuais.”

A invocação apoia-se num antagonis-mo entre duas atitudes inconciliáveisao começar com um apelo místico depoderes ocultos e terminar com umapromessa da inteligência. Alguns de-talhes parecem vir ao encontro des-ta interpretação, como se depreendedos eventos de cariz mitológico, fan-tástico e irreal que influenciavam avida e a saúde dos primeiros gregos(ver caixa 1).

O duplo castigo de Apolo e Asclépiopoderia justificar a estratégia do ju-ramento como garante de Hipócra-tes em não interferir na ordem esta-belecida, nem participar nas intrigasque a animavam. Também a reter dahistória a ascensão de Asclépio aoOlimpo depois de uma participação

mitológica inicial menos feliz e a divi-são da medicina nos seus dois ramostradicionais.

É também um apontamento históri-co que muitos dos seus personagensse apropriem de algumas qualidadesde outros intervenientes com a maiordas sem cerimónias o que Asclépioilustra quando os romanos atribuíramas suas qualidades a Esculápio, seuequivalente mitológico. Aliás a famade Asclépio já beneficiara da do Egíp-cio Imhotep que vivera nos anos 2600AC e cujas qualidades e instrumen-tos cirurgicos são celebrados nas co-lunas e paredes do Templo de Kom--ombo como o “primeiro e maiormédico, o primeiro e maior filósofo eo primeiro e maior construtor de pi-râmides”.

A própria “Teoria dos 4 humores”também ressentiria a influência mito-lógica. Eram 4 os filhos de Zeus(Hermes, Apolo, Artemiza e Dionísio),4 os cavalos que puxavam o carro deApolo e 4 o número das suas filhas.Era ainda 4, o número que represen-tava a cobra, ainda hoje símbolo damedicina, e então o símbolo do equi-líbrio e harmonia bem como da ac-ção medicamentosa; tudo afinal vir-tudes que a cobra captava da intimi-dade da terra, seu habitat natural, eque justificava a sua indicação comoalimento valioso (ver caixa II).

H I S T Ó R I A S d a H I S T Ó R I A

• Certo dia Apolo, deus da Medicina, encontrou a prince-sa Coronis por quem de imediato se apaixonou e comquem viveu uma história de amor. A princesa omitiu oencontro e a gravidez resultante e manteve a data decasamento antes aprazada com o príncipe Ictis da Arcádia.Apolo, ciumento e com a cooperação de Artemiza, fulmi-nou Ictis com uma seta implacável.• Apolo conseguiu retirar o filho antes da mãe Coronisser incinerada na pira funerária, a quem chamou Asclépio,e foi entregue aos cuidados de Pelion e do centauro Chirug,responsáveis pela sua educação na arte de curar. Asclépioiria tornar-se muito eficiente e capaz de ressuscitar osmortos o que diminuiu, como se diria hoje a “produtivi-dade” de Hades que apresentou queixa junto de Zeus

pela falta de três mortos. A queixa desencadeou a ira deZeus que fulminou Asclépio com o seu raio. Apolo vin-gou-se de Zeus fulminando os três ciclopes fabricantesdas setas de Zeus. O desentendimento dos deuses termi-nou com Apolo condenado e destinado a viver como umsimples mortal nos sete anos seguintes.• Asclépio iria ser ressuscitado e ascender a deus doOlimpo. Casou-se com Epione de quem teve dois filhos,Podalírio e Machaon que se notabilizaram na guerra deTróia como médicos. Tiveram ainda quatro filhas, duasdas quais responsáveis por dois dos principais sectoresda medicina: Higeia que se ocupava da higiene e preve-nia a doença e Panaceia que se dedicava ao seu trata-mento e cura.

I - MITOLOGIA E MEDICINA HIPOCRÁTICA

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Revista ORDEM DOS MÉDICOS . Janeiro 2005 41

Existiam já critériosde “ciência” na teoriahipocrática?

Apesar da contribuição da medicinahipocrática, as suas possibilidades co-meçaram a esgotar-se com o correrdo tempo. A simetria dos «quatro» ti-nha perdido a simplicidade inicial, osvários aditamentos de Galeno e dosescolásticos tinham aumentado a suacomplexidade e os meios terapêuticoscada vez mais enérgicos e para resulta-dos cada vez mais duvidosos com os“clistérium donare, postia seignare, ensuitapurgare”. Nos fins do séc. XVII a medi-cina de cabeceira atingia o seu nadir eas quatro comédias de Moliére (inclu-indo o célebre “Malade Imaginaire”)mostravam uma Medicina bloqueada.A Medicina só ascenderia ao plano ci-entífico a partir do Renascimento vin-do a ganhar o rumo actual com o fran-cês Claude Bernard (1813 – 1878). Assuas quatro principais contribuiçõesmarcam o nascer da fisiologia e são aidentificação dos nervos vaso moto-res; os efeitos do curare na placa mo-triz; a descoberta da função glicogénicahepática; o estudo do suco pancreáti-co. A sua obra mais importante foi a“Introdução ao estudo da Medicina ex-perimental” onde descreve as suas ex-periências; propõe a ciência experi-mental (a que a medicina pertence)com quatro estádios: observação, hi-pótese, experiência, conclusão; e defi-ne a constância do meio interior ouhomostasia como “equilíbrio estávelentre elementos interdependentes as-segurado por mecanismos fisiológi-cos”; exemplificável com os limites es-treitos de variação de certos valoresclínicos e laboratoriais como o pH dosangue, a tensão arterial ou a tempe-ratura entre outros.

Circunscrever a Medicinadentro do rigor da ciêncianão reduz as suasvirtualidades?

É conhecido existir na medicina al-gum desajustamento entre a Ciên-

cia relacionada com o conhecimen-to, a tecnologia e aspectos afins e aPraxis que adopta o raciocínio ci-entífico, valoriza o senso clínico,aprende com a experiência e nãoesquece os princípios éticos entreoutros.

Dos preceitos da Práxis definidosno Juramento muitos são actuais etranscendentes. Uns relacionam-secom a própria vida privada do mé-dico que deve dar precedência à vidaprofissional para benefício dos do-entes. Outros defendem a privaci-dade dos doentes para tudo o que“ver ou ouvir… no exercício da mi-nha profissão ou fora dela e que nãoconvenha ser divulgado guardarei si-lêncio”. Ainda um último proclamaque, mesmo instado, “não darei dro-ga mortífera nem a aconselharei”.

São também profundas outras mo-dificações transcendentes e do quo-tidiano, onde se revêem o médicocom pouca satisfação, o doente commuita insatisfação e Hipócrates commuita perplexidade. É o que se enun-cia a seguir no estilo “triangular” tãoapreciado pelo Pai da Medicina.

A insatisfação do doente tem váriascausas que o conduzem, em boa jus-tiça, a exigir maior rapidez de aten-

dimento, melhores condições assis-tenciais, mais efectiva privacidade,melhor informação, maior seguran-ça, ser participante na decisão clíni-ca, consentimento esclarecido, exi-gência de uma segunda opinião, re-cusa de tratamento, morrer comdignidade, processar o seu médicobem como as instituições de saúdee seus responsáveis.

A pouca satisfação do médico é re-sultado da interactividade comple-xa, por vezes espúria entre os avan-ços da ciência, burocracia excessi-va, custos crescentes, desautoriza-ção das hierarquias, estatização daschefias, entre outras variáveis.

Onde os médicos melhor se revê-em é no legado espectacular que vãodeixando na melhoria geral dos pa-râmetros de saúde a todos os ní-veis designadamente maior esperan-ça de vida, melhor qualidade de vida,apreciável decréscimo da incidênciae morbilidade de muitas doenças, eda mortalidade.

Hipócrates não deixaria certamen-te de concluir que tudo se resolve-ria com uma responsabilidade mé-dica valorizada na sua especificida-de e regulada por jurisprudênciaprópria.

H I S T Ó R I A S d a H I S T Ó R I A

O número 4 (como de resto cadaum dos outros números) continua adeter hoje um significado mágico si-tuado no limiar da ciência mas delanão fazendo parte. Esse sentido má-gico é também linguístico e invadeos mais diversos territórios do co-nhecimento, conforme mostram al-guns exemplos. Uns recordam amagia do vulgar baralho de cartascom os 4 naipes e os 4 Reis (CarlosMagno, David, Alexandre o Grandee César). Outros de natureza histó-rica como o quarto estado, ou sejao publico que frequenta a galeria dosparlamentos e em especial os jorna-

listas. Outros de natureza física comoa quarta dimensão de Einstein e os4 cantos do mundo identificados hojecom 4 zonas do planeta com váriosmilhares de milhas quadradas comcaracterísticas geodésicas comuns euma força de gravidade superior aoresto do planeta; outro exemplo dafísica que tanto modificou a vida daspessoas são os 4 tempos do motorde explosão. Outros de natureza po-lítica como as 4 liberdades procla-madas pelo Presidente Roosevelt em1941: liberdades de falar e de ex-pressão, de crença religiosa, comba-te à pobreza e combate ao medo.

II - O NÚMERO 4 E A MODERNIDADE

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N O T Í C I A S

Insuficiência cardíaca crónicaA AstraZeneca completou o Procedi-mento de Reconhecimento Mútuo Eu-ropeu que avaliou o uso terapêutico docandesartan cilexetil, um antagonista se-lectivo do receptor da angiotensina, notratamento de insuficiência cardíaca cró-nica que com a nova indicação poderáser considerado como terapêutica adi-cional eficaz nos doentes já submetidosa um largo espectro de fármacos, comoinibidores da enzima conversora daangiotensina (ECA) e bloqueadores beta,podendo igualmente ser administradocomo uma alternativa a inibidores daECA, quando estes não são tolerados.

Ensaio ibérico de hipertensãoO grupo Bial promoveu uma reuniãode apresentação dos resultados doprimeiro ensaio ibérico de hiperten-são. Especialistas de várias áreas as-sistiram a este evento em que se de-bateram, entre outras questões, osfactores de risco e em que se discu-tiu o estudo IMISH – IberianMulticentre Imidapri l Study onHypertension, um ensaio clínico queavaliou a eficácia e a tolerabilidade deimidapril versus candersartan e queenvolveu 144 doentes com hiperten-são ligeira e moderada, distribuídospor 12 centros médicos ibéricos.

Reduzir riscos de fracturaDados apresentados na 26ª reuniãoanual da American Society For Bone andMineral Research demonstram que ateriparatida previne o risco de frac-tura óssea, independentemente da ca-pacidade de renovação óssea de cadadoente. Esta análise avaliou a relaçãoentre os marcadores bioquímicosbasais e a capacidade da teriparatidade reduzir a ocorrência de fracturas.O ensaio clínico incluiu 1.637 mulhe-res com osteoporose e mostrou queas doentes com valores basais deBSAP, PINP, NTX e DPD mais eleva-dos tinham um risco aumentado denovas fracturas. A teriparatida redu-ziu significativamente esse risco.

CURSO CURSO CURSO CURSO CURSO DEDEDEDEDE

ACUPUNCTURAACUPUNCTURAACUPUNCTURAACUPUNCTURAACUPUNCTURA

2.º Curso de Pós-Graduação em Acupunctura

CURSO CURSO CURSO CURSO CURSO DEDEDEDEDE

ACUPUNCTURAACUPUNCTURAACUPUNCTURAACUPUNCTURAACUPUNCTURAUniversidade do Porto

Instituto de Ciências Biomédicas Abel Salazar (ICBAS) Universidade de Santiago de Compostela - Master de Acupunctura Sociedade Portuguesa Médica de Acupunctura (SPMA) Ordem dos Médicos da Corunha - Secção de Acupunctores - Espanha Ordem dos Médicos

3.º Curso de Pós-Graduação em AcupuncturaA criação da Competência Médica em Acupunctura pela Ordem dos Médicosem 14 de Maio de 2002 justifica a instituição desta pós-graduação. Sãoobjectivos deste curso promover e desenvolver os conhecimentos deAcupunctura na vertente assistencial e de investigação clínica. Oprograma baseia-se no modelo de curso de pós-graduação aprovadopela Ordem dos Médicos para acesso a Competência.

Destinatários: Licenciados em Medicina inscritos na Ordem dos MédicosCandidaturas: 2 de Maio a 13 de Junho de 2005Curriculum com um máximo de três páginasSelecção de candidatos: 14 a 21 de JunhoInscrições: 1 a 22 de Setembro de 2005Propinas: 2400 eurosNúmero de vagas: 25Duração: 300 horasHorários: 6.ª feira, sábado e domingoLocal: Pós Graduações do ICBAS - Pólo das TaipasCalendário lectivo: início a 7 de Outubro de 2005

InfInfInfInfInfororororormações e Inscrmações e Inscrmações e Inscrmações e Inscrmações e Inscrições:ições:ições:ições:ições:

Secretaria de alunos do ICBASLargo Abel Salazar nº 2

4099-003 PortoTel.: 222 062 211 Fax.: 222 062 232

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Revista ORDEM DOS MÉDICOS . Janeiro 2005 43

1.ª Série - DezembroDecreto-Lei n.º 223/2004, de

2004-12-03Ministério da SaúdeAltera o Estatuto do Serviço Nacionalde Saúde, aprovado pelo Decreto-Lei n.º11/93, de 15 de Janeiro

Portaria n.º 1457-A/2004, de2004-12-06

Ministérios das Finanças e da Adminis-tração Pública e da SaúdeAprova o quadro de pessoal da Entida-de Reguladora da SaúdePortaria n.º 1471/2004, de 2004-

-12-21Ministérios das Actividades Económicase do Trabalho e da SaúdeEstabelece os princípios e regras a quedeve obedecer a dimensão das embala-gens dos medicamentos susceptíveis decomparticipação pelo Estado no respec-tivo preçoPortaria n.º 1474/2004, de 2004-

-12-21Ministério da SaúdeDefine os grupos e subgrupos farmaco-terapêuticos que integram os diferen-tes escalões de comparticipação do Es-

L E G I S L A Ç Ã OPUBLICADA EM DEZEMBRO DE 2004

Vasco Coelho - Consultor Jurídico S. R. S.

tado no preço dos medicamentosPortaria n.º 1486/2004, de 2004-

-12-24Ministérios das Finanças e da Adminis-tração Pública e da SaúdeAutoriza o conselho de administraçãoda Administração Regional de Saúde doNorte a aceitar a adesão da Irmandadeda Santa Casa da Misericórdia do BomJesus de Matosinhos ao contrato de con-venção para a prestação de cuidados desaúde na área da diálisePortaria n.º 1487/2004, de 2004-

-12-24Ministérios das Finanças e da Adminis-tração Pública e da SaúdeAutoriza o conselho de administração daAdministração Regional de Saúde doNorte a aceitar a adesão da TECSAM -Tecnologia e Serviços Médicos, Lda., Cen-tro de Hemodiálise de Vila Real, ao con-trato de convenção para a prestação decuidados de saúde na área da diálisePortaria n.º 1499/2004, de 2004-

-12-28Ministério da SaúdeAprova o programa de formação do anocomum

2.ª Série - Dezembro

Despacho n.º 24988/2004, de03.12

Gabinete do MinistroDelegação de competências no Secre-tário de Estado e no Secretário deEstado-Adjunto

Despacho n.º 27 271/2004, de30.12

Gabinete do Secretário de Estado Ad-junto do Ministro da SaúdeSubdelegação, com a faculdade desubdelegar, nos conselhos de adminis-tração dos hospitais de poderes neces-sários para a prática de diversos actos,com efeitos reportados a 21 de Julhode 2004

Despacho n.º 27 272/2004, de30.12

Gabinete do Secretário de Estado Ad-junto do Ministro da SaúdeSubdelegação nos conselhos de admi-nistração das administrações regionaisde saúde de poderes necessários paraa prática de diversos actos.

Prémio de Investigação em OncologiaA Sociedade Portuguesa de Oncologia anunciou a criaçãodo Prémio de Investigação em Oncologia, com o patrocíniodo Grupo sanofi-aventis. O objectivo do Prémio é incenti-var o espírito de investigação nacional na área de oncologia,sendo que os trabalhos poderão ser entregues até ao dia 31de Maio de 2005, ficando habilitados a um Prémio no valorde 15 mil euros. O trabalho vencedor será publicado, sob aautorização do autor, na revista “Oncology Today”.

Obstipação crónicaOs resultados de uma revisão independente de toda a evi-dência relativa à incidência, prevalência e tratamento daobstipação, publicada no American Journal of Gastroenterology,esclarecem muitos dos mitos relacionados com a obstipaçãocrónica, incluindo o uso de laxantes: especialistas de renomereferem que os laxantes devem ser recomendados precoce-mente no tratamento da obstipação crónica. Entre muitosoutros factos, o artigo «Myths and Misconceptions AboutChronic Constipation» refere que as reivindicações de queos laxantes de contacto provocam lesão no cólon são ex-pressas com base em experiências mal documentadas e nãoforam confirmadas, que qualquer perturbação electrolíticateoricamente possível, decorrente da utilização de um la-

xante de contacto, pode ser minimizada por uma escolhaadequada do fármaco e da dose e que o desenvolvimento deum nível de tolerância aos laxantes é raro na maioria dosutilizadores.

Cancro do cólonA Roche Farmacêutica pediu aprovação adicional na Europae nos Estados Unidos para o capecitabine, destinado a tratardoentes com cancro do cólon após cirurgia (tratamentoadjuvante). A submissão deste pedido às autoridadesregulatórias é baseada nos resultados do estudo X-ACT(Xeloda in Adjuvant Colon Cancer Therapy) que demonstraramque capecitabine, uma quimioterapia oral, pode substituir oregime intravenoso de 5-FU/LV, habitualmente utilizado. Oestudo global envolveu cerca de dois mil doentes e foi apre-sentado pela primeira vez na conferência da Sociedade Ame-ricana de Oncologia (ASCO). O estudo demonstrou que ocapecitabine reduz em 14% o risco de reaparecimento dostumores após cirurgia. O capecitabine também proporcio-nou a poupança de recursos médicos em comparação coma quimioterapia intravenosa (em média, um doente precisouapenas de oito visitas ao hospital, em comparação com apro-ximadamente trinta quando o tratamento é feito com qui-mioterapia intravenosa).

N O T Í C I A S

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Revista ORDEM DOS MÉDICOS . Janeiro 2005 45

C U L T U R AMÚSICA

LUZ CASALSencilla Alegría“Sencilla Alegria” é um “som real, livrede artifícios ou programações electró-nicas”. “Un Nuevo Dia Brillará” é o temade apresentação do 10º á lbumde estúdio de Luz que conta ainda comas participações de Rui Veloso (MiMemoria) Henri Salvador, Pablo Novoa,Pablo Guerrero, Olivier Durand ou JerryGonzalez. De destacar neste trabalho amúsica Negra sombra, tema principal dabanda sonora de Mar Adentro. Negra Som-bra foi gravada anteriormente por Car-los Núnez com Luz Casal.

JOE COCKERHeart & SoulJoe Cocker, é sem dúvida uma das maio-res e mais singulares vozes no panoramamusical mundial, com uma inigualável ca-pacidade para interpretar e cantar músi-cas que já ouvimos noutras vozes, comose fosse a primeira vez que as ouvísse-mos. Heart & Soul, é o seu novo discoonde, se destacam brilhantes interpreta-ções de temas que ao longo dos anos têmmarcado várias gerações. O natural gostomusical de Joe Cocker, é demonstrado emdoze belíssimas canções que ganham umanova dimensão na sua voz única.

NAT KING COLEThe World Of Nat King ColeEm Fevereiro de 2005, completam-se 40anos sobre o desaparecimento de NatKing Cole. Alguns lançamentos reavivama memória dum grande nome da músi-ca norte americana. Uma compilação de28 clássicos de um dos primeiros ar-tistas da Capitol Records que, pela for-ma como abraçou as diferentes cultu-ras do globo interpretando versões emespanhol, italiano, francês, alemão ou ja-ponês, alcançou um sucesso à escalamundial sem precedentes, pautado peloseu registo gracioso e descontraído.

JORGE PALMANorteProduzido, gravado e misturado por Má-rio Barreiros, “Norte” é o segundo tra-balho de originais que Jorge Palma edi-ta nos últimos 15 anos. Apresenta 13temas, a que juntam duas “faixas escon-didas com rabo de fora” como JorgePalma gosta de as nomear, em que asletras são da responsabilidade do pró-prio à excepção de dois temas com le-tras de Carlos Tê (“Valsa de um Ho-mem Carente” e “Demónios Interio-res”) e uma outra com poema de AlBerto (“Acordar Tarde”).

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Recontara Tradição

Ao contráriodo que se pen-sa, é fácil en-contrar umpresente dea n i ve r s á r i opara uma criança exigente. A oferta delivros infantis é imensa e, mesmo nomeio de toda a parafernália, há sem-pre uma obra-prima desconhecida porentre a multidão de obras que nos ha-bituaram a ler.Ao procurar um título para oferecer,acabei apresentado a “Sua Majestade,O Príncipe”. – Publicações Dom Quixote.Com magníficas ilustrações de JúlioVazeler, “Sua Majestade, O Príncipe”,de Bruno Santos, é uma estranha efabulosa viagem a novas formas decontar, a novos modos de abordarantiquíssimos universos infantis, mis-turando-os com o quotidiano normalde uma criança do nosso século. Estamistura torna atraente a leitura. A cri-ança reconhece pontos de contactocom os Universos criados pelo livro eos seus mais actuais mundos quotidia-nos. A simbiose é clara e motivadora.A crainça lerá histórias com saborantigo e simultaneamente reconhece-rá objectos unicamente produto doseu século.Esta mistura é saudável e abre a portaa uma motivação para a leitura, corri-gindo perdas que as crianças sofreramao ter sido eliminado do imaginárioliterário a fantasia e o sonho, a inven-ção e o “maravilhoso”.Apelando a valores como a amizade,fidelidade, camaradagem e esperança,o livro contribui para uma visão maishumana e mais humanizada de novastecnologias e descreve, metaforica-mente, o crescimento saudável de umapersonagem que acaba por nos cati-var desde o início.Presente ideal! Fica-se à espera da se-gunda aventura.

José Pereira Ramos(Director do Centro de Saúde deAmarante)

C U L T U R ALIVROS

Unidade de Tuberculose:Cinco anos de actividadeno Hospital PulidoValente 1999 - 2004

O livro «Unidade de Tuberculose:Cinco anos de actividade no Hos-pital Pulido Valente 1999 – 2004»surgiu de uma parceria entre oDepartamento de Pneumologia –Serviço de Infecciologia Respirató-ria do Hospital Pulido Valente, S.A.e o grupo Bial, e visa assinalar oscinco anos daquela Unidade de Tra-tamento de Doentes com TB. Aapresentação teve lugar na sede daOrdem dos Médicos e foi presididapor Jaime Pina (director do Servi-ço de Infecciologia Respiratória).Esta obra pretende fazer um balan-ço da actividade da Unidade e, si-multaneamente, divulgar metodolo-gias de trabalho inovadoras na abor-dagem destes doentes, na sua maio-ria também infectados pelo VIH.

Critérios emECG paraClínicosGeraisGuia práticodestinado aestudantes demedicina, ainternos e clínicos gerais quetenham que realizar e interpretaro ECG. Realizado com o apoio daAstraZeneca. Contacto do autor:[email protected]