revista ordem dos médicos nº112 setembro/outubro 2010

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Revista Ordem dos Médicos Ano 26 - Nº112 Setembro/Outubro 2010

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Page 1: Revista Ordem dos Médicos Nº112 Setembro/Outubro 2010
Page 2: Revista Ordem dos Médicos Nº112 Setembro/Outubro 2010

Subespecialidade deDermatopatologia

08 Utilização de título

académico

08 Novos corpos sociais da

AMPIF

10 Ficheiro clínico em uni-

dade privada – eliminaçãode dados clínicos

12 Declaração: Técnicas de

Procriação MedicamenteAssistida – Posição doCNPMA

16 Horário de trabalho –

carreira especial médica

18 Calendário Eleitoral

Petição defende grau demestre para licenciadoscom 5 e 6 anos de curso

21 Petição

22 O Professor

26 Dispensa de medicamentos

restritos nas farmácias deoficina

Respondendo ao desafio deNietzsche (parte 3 de 3)por Nuno Sanches deAlmeida Machado

30 Saibam todos quantos... ...

por A Direcção do ACMP

31 Afinal, Deus existe! ou, o

erro de Nietzschpor André Pereira da SilvaForjaz de Sampaio

34 10 anos sobre o desapa-

recimento do ProfessorManuel Machado Macedopor José Pedro dos ReisLavrador

36 Balanço positivo duma

experiência minimamenteinvasivapor Andrea Marinho Quintas

38 A Justiça na nossa Saúde

por Francisco de Paula Fong

40 Internato Médico – que

futuro? por Frederico Furriel

42 Os Médicos do Trabalho

privilegiam essencialmentea prevençãopor Alvaro Durão

45 O filme por Diana Teresa de

Lima Martins

47 Defeito orçamental, uma

doença crónica dademocracia portuguesa

por M. M. Camilo Sequeira

A Dança do Mar

Prémios SOPEAM 09

Ideias em Medicina – 1ª parte

HISTÓRIAS DA HISTÓRIA54

CULTURA53

INFORMAÇÃO06

ACTUALIDADE20

NOTA DE ABERTURA04

S U M Á R I O

Ano 26 – N.º 112 – Setembro/Outubro 2010

PROPRIEDADE:

Centro Editor Livreiro da Ordem

dos Médicos, Sociedade Unipessoal, Lda.

SEDE: Av. Almirante Gago Coutinho, 151

1749-084 Lisboa • Tel.: 218 427 100

Redacção, Produção

e Serviços de Publicidade:

Av. Almirante Gago Coutinho, 151

1749-084 Lisboa

E-mail: [email protected]

Tel.: 218 437 750 – Fax: 218 437 751

Director:

Pedro Nunes

Directores-Adjuntos:

José Moreira da Silva

José Ávila Costa

João de Deus

Directora Executiva:

Paula Fortunato

E-mail: [email protected]

Redactores Principais:

José Ávila Costa,

João de Deus e Paula Fortunato

Secretariado:

Miguel Reis

Dep. Comercial:

Helena Pereira

Dep. Financeiro:

Maria João Pacheco

Dep. Gráfico:

CELOM

Impressão:

SOGAPAL, Sociedade Gráfica da Paiã, S. A.

Av.ª dos Cavaleiros 35-35A – Carnaxide

Depósito Legal: 7421/85

Preço Avulso: 1,60 Euros

Periodicidade: Mensal

Tiragem: 40.500 exemplares

(11 números anuais)

Isento de registo no ICS nos termos do nº 1, alínea

a do artigo 12 do Decreto Regulamentar nº 8/99

Nota da redacção: Os artigos de opinião e outros artigos assinados são da inteira responsabilidade dosautores, não representando qualquer tomada de posição por parte da Revista da Ordem dos Médicos.

Ficha TécnicaFicha Técnica

OPINIÃO28

MédicosOrdem dos

REVISTA

Page 3: Revista Ordem dos Médicos Nº112 Setembro/Outubro 2010

4 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

NOTA DE ABERTURA

A avidez por factos cresceu, cres-ceu tanto até que distorceu a pala-vra. Factos são hoje um conceitoobscuro que balança perigosamen-te entre a inexistência, justamenteo estado mais contrário de facto quepodemos invocar, e a vaga ideia deque alguma coisa se terá passado.A inexistência é simples, mas curio-samente muito mais difícil de pro-var do que o facto quando existe.Isto é, se porventura alguém se quei-xa a um canal de TV, por exemplo,de algo que não existiu, passa isso aser o facto e desmenti-lo é uma ta-refa hercúlea sem sucesso previsí-vel.A vaga ideia de que algo se terá pas-sado pode assumir vários aspectos:passou-se algo, mas não foi bem aqui-lo; não foi aquilo que se passou masparece; ou mesmo, não foi aquiloque se passou mas poderia ter sido.Temos, portanto, palavras de termi-nologia vaga, como inexistência, algo,aquilo e parece ou verbos no con-dicional, como poderia.E por que razão está o conceito tãodistorcido? Por razões associadasnormalmente à teoria económica:trata-se de um caso simples de ofer-ta demasiado escassa perante tantaprocura. Isto é, a procura de factoscomeçou a ser tão grande que aprodução normal deixou de lhe darresposta. Desgraçadamente paraquase todos, menos para quem temque superar audiências, a única saídapara esta dramática situação foi aprodução de factos a partir dainexistência e das matérias vagas.Nas minhas funções na Ordem dosMédicos esta questão é crónica, sen-do que tem uns episódios agudosviolentíssimos. Sinto-a muito e nadaposso fazer, a não ser desabafar um

É a economia, estúpido!pouco, como é o caso agora. Souaqui inúmeras vezes contactado paradar resposta a inexistências, a coisasque apenas parecem ser, ou que,mesmo não tendo sido, poderiamter sucedido. Confesso que nemsempre me aguento sem um ou ou-tro aparte, muitas vezes impercep-tível, ou – até porque a minha ideiade jornalismo continua a ser bela,séria, rigorosa, estimulante – umcomentário satírico. Procuro sem-pre, em nome dos mais elevados in-teresses, que isso não belisque a boarelação que a Ordem deve mantercom os jornalistas.Com os anos de jornalismo sufici-entes para saber agir neste quadroe até com dois anos e meio comoassessor de imprensa na área dapolítica a um nível que eu chamariaduro, mesmo assim sou ainda sur-preendido, tantos são os factosinexistentes a que tenho que tentardar resposta.Vivemos assim, num cenário encena-do, e não na paisagem natural queseria desejável, onde tudo cresceriae se afirmaria com naturalidade, emque se chegaria à verdade e à menti-ra pela via da sustentação, da prova,dos argumentos, da soma dos factos.Vivendo então uma encenação co-meçamos a saber com o que é quepodemos contar. Mas estranha-mente isso não nos descansa, por-que o que sabemos é que podemoscontar com tudo e que para tudotemos que estar preparados.Nas funções que desempenho tenhoque estar preparado para calmamen-te esmiuçar os «factos», sem belis-car os seus autores, desmontar osargumentos sem ferir a susceptibili-dade de quem os emite, explicar osprocessos não dando ar de que sei

mais ou tenho um ponto de vistaassente em bases mais rigorosas doque o meu interlocutor (quando éo caso).Perguntam-me o que é que a Or-dem tem a dizer sobre os dois mé-dicos que são suspeitos de uma frau-de qualquer. Lá explico que isso écom a polícia, não é com a Ordem eestico-me na paciência para adver-tir que a Ordem tem mais de 40 milmédicos registados e trabalharãouns milhares menos do que isso, masainda assim muitos milhares, o quesignifica que dois, seis ou uma dúziade fraudes detectadas serão aindaassim, estatisticamente, praticamen-te nulas.A encenação montada por causa dodéfice da oferta de factos tem sidodevastadora para todos. Para a clas-se médica também. Mas não o temsido menos para os jornalistas. E istoé tanto mais curioso, quanto estasduas profissões normalmente seencontram no top da confiança dasociedade. E têm pontos em comum:pode dizer-se, prosaicamente, que ojornalismo tem a ver com os direi-tos e a cidadania, mas não o tem me-nos a medicina.É muito curioso se pensarmos noque é que tem mudado tanto e tãorapidamente ao longo dos temposhistóricos mais próximos. O jorna-lismo cresceu de importância e co-locou-se como uma actividade vitalpara a sociedade contemporânea. Equando assim foi, passou a ser alvode interesses variados, mas sobre-tudo económicos, de mercado. Di-ria hoje que o jornalismo nunca foiperfeito, mas já foi melhor do que éagora.A medicina é vital, cresceu, desen-volveu-se, deu resposta a situações

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5Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

de doença que há meio século atrásestavam na prateleira dos esqueci-mentos. E nunca tendo sido perfei-ta, é um bem indispensável, que pa-rece também já ter vivido melhoresdias, atacada hoje pela falta de con-dições para o exercício, pela nega-ção de princípios, por ódios corpo-rativos e de interesses e por den-tro de si própria, desalmada de umaideia matizada mas comum.Que mudou então, para que estasduas actividades sofressem hoje, deformas diversas, uma ameaça sériade retrocesso? A economia, o su-premo interesse dos resultados, os

critérios de avaliação da gestão.O tempo em que os iluminados serefastelavam na frase da campanhapresidencial de Bill Clinton já lá vai?Não, mas deveria. «É a economia,estúpido!», um dos claims mais for-tes desse longínquo 92 do séculopassado, criado pelo homem do mar-keting político, James Carville, que-reria dizer alguma coisa muito gran-de de forma pequena.A frase que correu mundo levou-nos aos mercados, à lei da oferta eda procura, aos objectivos exclusi-vamente monetários e financeiros.Para bem da medicina e do jornalis-

mo, o que, de acordo com os prin-cípios mais elementares significa parao bem da sociedade e do seu desen-volvimento, precisamos de quem in-vente uma nova frase que rasgueesta encenação e nos coloque nonosso cenário natural, o do desen-volvimento, com competitividade,com produtividade, com crescimen-to, é certo, mas com o humanismode regresso.

Diamantino Cabanas

Assessor de ImprensaOrdem dos Médicos

NOTA DE ABERTURA

ONE DAY SEMINARONE DAY SEMINARAssinale na sua Agenda que no dia 21 de Janeiro de 2011se realiza na Aula Magna da Faculdade de Medicina daUniversidade de Lisboa/Hospital de Santa Maria umSeminário organizado pelo Instituto de Medicina Preventivaque especialmente lhe interessa.

O Evento visa pôr em evidência e propiciar a troca de experiências e discussão sobre aSaúde dos Profissionais da Saúde e, mais especificamente, o impacto que a actividadeprofissional tem na Saúde dos Médicos, e esta na saúde dos seus concidadãos.

Conta com a presença da Professora Erica Frank da Universidade de Emory, fundadora einvestigadora principal de «Healthy Doc = Healthy Patient» e autora do Estudo da Saúdedos Médicos Canadianos, Inquérito que utilizou o Questionário que foi traduzido e adaptadopara desenvolver o Estudo da Saúde dos Médicos Portugueses.

Até 21 de Novembro pode apresentar resumo de comunicação que queira apresentar paragarantir uma presença honrosa de autores portugueses no programa científico do Seminário.

Para pedir mais informação, e dar sugestões, pode contactar:[email protected]

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6 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

I N F O R M A Ç Ã O

SUBESPECIALIDADE DE DERMATOPATOLOGIA

(Experiência acumulada – «Grandfather’s clause»)

A candidatura para a obtenção do Diploma em Dermatopatologia segundo a «experiência acumulada» (grandfather’sclause) indicada na alínea b) do capítulo IV da proposta aprovada pela comissão para a criação da subespecialidade eenviada em 13 de Janeiro de 2010, ao Conselho Nacional Executivo, tem que obedecer aos seguintes requisitos:

1. Ter pelo menos 5 anos, de exercício na actividade de estudo e diagnóstico histopatológico das afecções cutâneas.2. Ter um número mínimo de 2000 exames anuais, sendo cerca de 20% referentes a patologia cutânea inflamatória.3. Ter tido participação em actividades científicas médicas, nacionais e/ou internacionais, se possível com apresenta-

ção de comunicações ou publicações de artigos, no âmbito da Dermatopatologia.4. Participar ou ter participado no ensino da Dermatopatologia, nomeadamente a médicos dos internatos de Anato-

mia Patológica e/ou de Dermatologia e Venereologia.5. A candidatura deve ser acompanhada pelo curriculum vitae.6. A apreciação da candidatura deve ser efectuada por um Júri constituído por 4 membros, dois por cada especialida-

de, nomeados pelas respectivas direcções dos colégios. Dois dos membros nomeados, um de cada especialidade,devem ter pertencido à Comissão que elaborou a proposta para a criação da subespecialidade. Contudo, serádesejável que os dois restantes sejam independentes desta mesma comissão.

7. A obtenção do Diploma por este processo só será possível durante um período transitório até 2 anos após acriação da Subespecialidade.

Qualificação em Dermatopatologia

I - Justificação e condições para a criação da Subespecialidade de DermatopatologiaA Dermatopatologia é a área da ciência médica que aborda o diagnóstico histológico das doenças com expressão cutânea.O seu exercício deve ser fundado numa boa correlação anatomo-clínica e num intercâmbio de informações entre clínicose patologistas. É fundamental que estes últimos tenham conhecimentos do foro clínico, e que os Dermatologistas tenhamconhecimentos do foro da Anatomia Patológica, para uma correcta e sólida elaboração do diagnóstico final.É nossa convicção que a Anatomia Patológica e a Dermatologia beneficiarão, quer do ponto de vista académico querprático, com a colaboração de Anátomo-Patologistas e Dermatologistas para a formação específica em Dermato-patologia.O objectivo da criação da subespecialidade será garantir que os médicos que exercem Dermatopatologia tenham forma-ção adequada nas duas áreas, por forma a assegurar um nível mais elevado de qualidade e exigência no exercício destaárea, tendo como único e principal objectivo o doente.A criação desta subespecialidade deverá ser feita através da definição e elaboração de programas de formação específicosque tenham a concordância dos Colégios de ambas as especialidades.

II - Formação:-Destina-se a Dermatologistas e Anátomo-Patologistas que já completaram o treino nas respectivas especialidades e quetenham mantido contacto com a dermatopatologia durante o tempo de internato e/ou período após o mesmo.-os programas de treino desta subespecialidade devem ser feitos em articulação entre os Colégios de Anatomia Patológicae Dermatovenereologia para que se adquira uma qualidade uniforme de formação e sejam identificados os centros comcapacidade formativa.

ORDEM DOS MÉDICOSCOMISSÃO DE AVALIAÇÃO DA CRIAÇÃO DA SUBESPECIALIDADE DE DERMATOPATOLOGIA

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7Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

- deve ser dirigida e supervisionada por um Dermatopatologista qualificado (Patologista ou Dermatologista) ou, inicialmen-te e na ausência destes, por Patologistas e/ou Dermatologistas que reconhecidamente tenham tempo de experiênciarelevante e qualidade científica (grandfather’s clause).-deve ser efectuado em clínicas universitárias, hospitais ou centros dermatológicos (ou, preferencialmente, de forma articu-lada em estágios complementares em mais do que um destes), que tenham idoneidade reconhecida pela Ordem dosMédicos, nas especialidades de Anatomia Patológica e Dermatovenereologia.-deve dar treino na interpretação dos resultados obtidos por técnicas complementares como a histoquímica,imunofluorescência, imunohistoquímica, citogenética, biologia molecular e microscopia electrónica.- deve ter a duração de 2 anos (a tempo inteiro). Os Dermatologistas deverão permanecer pelo menos 6 meses numServiço de Anatomia Patológica a praticar patologia cirúrgica geral e os patologistas um igual período de tempo a praticarDermatologia.- o período de formação deve terminar com um exame teórico-prático.

III – Centros de formação/treino em Dermatopatologia:Serviços de Anatomia Patológica e Dermatovenereologia, com idoneidade reconhecida pela Ordem dos Médicos, com asseguintes características:

- Laboratório de Anatomia Patológica:Espaço e equipamento técnico para: histologia de rotina, histoquímica, imunofluorescência, imunohistoquímica eacesso fácil a técnicas moleculares.

- Pessoal:Médicos com qualificação em Dermatopatologia, devendo haver um Dermatopatologista por cada três formandos.Técnicos qualificados

- Espécimes:Um número mínimo de 2000 amostras de pele por ano (incluindo casos referenciados e casos de consulta), sendopelo menos 500 de patologia inflamatória.

- Colecções organizadas de lâminas- Equipamento:

Microscópios de projecção ou microscópios de observação múltipla.Equipamento informático- Sala de reuniões.- Biblioteca com livros de texto e periódicos ou acesso fácil aos mesmos.

IV – Obtenção do Diploma em Dermatopatologia:a) Exame teórico-prático, que deve ser precedido de uma avaliação positiva na fase formativa e efectuado por um júriconstituído por Dermatopatologistas, que inclua Anátomo-patologistas e Dermatologistas.b) Experiência acumulada (grandfather’s clause) – Esta cláusula aplica-se a Anátomo-patologistas e Dermatologistas comexperiência relevante e acumulada em Dermatopatologia mediante a aprovação curricular por ambos os Colégios.A obtenção do Diploma por este processo só será possível durante um período transitório, até 2 anos após a criação daSubespecialidade.c) Emissão do diploma:Ordem dos Médicos – Colégios das especialidades.

Lisboa, 13 de Novembro de 2009

A Comissão da Criação da Subespecialidade de Dermatopatologia

Prof. Doutor António Vasco Beltrão Poiares Baptista (Coordenador)Dr. Fernando Henrique Pires Pardal de Oliveira

Dra. Maria Joaninha Madalena de Palma Mendonça da Costa RosaDra. Ana Maria Marques de Almeida Afonso

Dra. Esmeralda Maria Seco do ValeDra. Maria Isabel Gomes Martins Ruas de Faro Viana

Prof. Doutor Óscar Eduardo Henriques Correia Tellechea

I N F O R M A Ç Ã O

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8 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

I N F O R M A Ç Ã O

Parecer 7/2010 Conselho Nacional de Ética e Deontologia Médicas sobre utilização detítulo académico

Perguntou o Dr. ——— se poderia utilizar o título de Doutor na sua prática de radiologia, título este adquirido emdoutoramento em Gestão na área de Recursos Humanos.Afirma o nosso Código Deontológico no seu art. 18º ponto 1. d) que o título académico pode ser usado nos casos em que«…exerçam ou tenham exercido de forma sustentada a docência da disciplina correspondente à actividade clínica divulgada».Acrescentando no ponto 2 «É particularmente vedado aos médicos utilizar na prática clínica quaisquer títulos derivadosde provas, concursos que não correspondam à área específica de especialização clínica e que não tenham obtido a préviaconcordância da Ordem»Neste contexto, pensamos que deverá o Dr. ———— abster-se de utilizar na sua prática clínica o título académico obtidonoutra área profissionalAliás a legislação geral nacional e europeia vai no mesmo sentido, e classifica inclusive como «Publicidade enganosa» autilização de títulos, mesmo que verdadeiros, que não correspondam à área de especialização anunciada.Obviamente que isto não se aplica a cartões de visita ou outros documentos não clínicos.

Resolução aprovada na Reunião do CNEDM de 13/01/2010

Utilização de título académicoNa sequência de deliberação do CNE de 06.07.2010, sobre o assunto supra

mencionado, encarrega-me o Senhor Presidente de solicitar a publicação do

seguinte texto na próxima ROM:

DirecçãoPresidente Graça Coutinho Cédula Profissional n.º 27452Vice-Presidente Ester Freitas Cédula Profissional n.º 32370Secretário-Geral Teotónio Albuquerque Cédula Profissional n.º 34006Vogal Isabel Fonseca Santos Cédula Profissional n.º 27461Vogal Heitor Costa Cédula Profissional n.º 35255

Assembleia GeralPresidente José Aleixo Dias Cédula Profissional n.º 23473Vogal Pedra Freitas Cédula Profissional n.º 24840Vogal Luis Frade Cédula Profissional n.º 28234Vogal Suplente Maria João Queiroz Cédula Profissional n.º 24330

Conselho FiscalPresidente Anabela Cardoso Cédula Profissional n.º 34801Vogal António Neves da Silva Cédula Profissional n.º 18873Vogal Luis Reis Cédula Profissional n.º 20093

Novos corpos sociais da AMPIFNa sequência do resultado do processo eleitoral que teve lugar no passa-

do dia 30 de Junho, apresentam-se os nomes e funções da lista candidata

aos Corpos Sociais da AMPIF para o próximo biénio:

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10 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

Da exposição que nos foi presente não é possível apurar asrazões pelas quais o doente pretende a eliminação dos ele-mentos clínicos constantes da sua ficha, facto que determi-na a apreciação genérica que faremos sobre a questão co-locada.Vejamos, pois, o que estabelecem as normas deontológicas,designadamente o Código Deontológico (CDOM) e a legis-lação em vigor.

«Artigo 100º(Processo clínico, ficha clínica e exames complementares)

1 – O médico, seja qual for o enquadramento da sua acçãoprofissional, deve registar cuidadosamente os resultados queconsidere relevantes das observações clínicas dos doentes a seucargo, conservando-os ao abrigo de qualquer indiscrição, de acor-do com as normas do segredo médico.2 – A ficha clínica é o registo dos dados clínicos do doente etem como finalidade a memória futura e a comunicaçãoentre os profissionais que tratam ou virão a tratar odoente. Deve, por isso, ser suficientemente clara e detalhadapara cumprir a sua finalidade. (negritados nossos)3 – O médico é o detentor da propriedade intelectual dos regis-tos que elabora, sem prejuízo dos legítimos interesses dos doen-tes e da instituição à qual eventualmente preste os serviçosclínicos a que correspondem tais registos.4 – O doente tem direito a conhecer a informação registada noseu processo clínico, a qual lhe será transmitida, se requerida,pelo próprio médico assistente ou, no caso de instituição de saú-de, por médico designado pelo doente para este efeito.5 – Os exames complementares de diagnóstico e terapêuticadeverão ser-lhe facultados quando este os solicite, aceitando-seno entanto que o material a fornecer seja constituído por cópiascorrespondentes aos elementos constantes do processo clínico.

Artigo 101º(Comunicações)

Sempre que o interesse do doente o exija, o médico deve comu-nicar, sem demora, a qualquer outro médico assistente, os ele-mentos do processo clínico necessários à continuidade dos cuida-dos.»

DEPARTAMENTO JURÍDICO

Ficheiro clínico em unidade privada desaúde – eliminação de dados clínicosFoi solicitado ao Departamento Jurídico que se pronunciasse sobre a possibi-

lidade de um doente poder eliminar os seus dados e processo clínico de um

consultório médico privado.

E, ainda, o

«Artigo 92º(Dados médicos informatizados)

1 – Os ficheiros automatizados, as bases e bancos de dadosmédicos, contendo informações extraídas de histórias clínicassujeitas a segredo médico, devem ser equipados com sistemas,e utilizados com procedimentos de segurança, que impeçam aconsulta, alteração ou destruição de dados por pessoa não auto-rizada a fazê-lo e que permitam detectar desvios de informação.2 – Os ficheiros automatizados, as bases e bancos de dadosmédicos são da responsabilidade de um médico.3 – Os responsáveis pelos ficheiros automatizados, asbases e bancos de dados médicos, bem como as pessoasque, no exercício das suas funções, tenham conhecimen-to dos dados pessoais nele registados, ficam obrigados asegredo médico, mesmo após o termo de funções.(negritados nossos)4 – Os ficheiros automatizados, as bases e bancos de dadosmédicos não podem estar conectados com outro tipo de redesinformáticas, a menos que possam garantir-se as condições desegurança referidas no número 1.»

Tendo a ficha clínica como finalidade a memória futura domédico e ainda que ele não volte a tratar aquele doente emconcreto, os elementos dela constantes interessam tambémao próprio médico, quer na vertente científica, quer na ver-tente judiciária.

Aquilo que importa é que o médico garanta o dever desigilo restringindo o acesso exclusivamente àqueles queprestaram cuidados de saúde ao paciente ou às situaçõesem que esteja em causa a dignidade, honra e legítimos inte-resses do médico ou do doente.

Para garantia do doente releva que, no tratamento da fichaclínica, se tomem as providências adequadas à protecçãoda confidencialidade, promovendo a segurança das instala-ções e equipamentos, o controlo de acesso à informação,bem como o reforço do dever de segredo e da educação

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11Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

deontológica de todos os profissionais do consultório (art.º4º da Lei 12/2005, de 26 de Janeiro).

A utilização da ficha após o doente se opor ao tratamentodos seus dados só poderá ser aceite no exercício do direitode defesa do médico e na medida daquilo que for necessá-rio a essa mesma defesa (vide art.ºs 7º, n.º 4 e 12º, al. a) daLPDP e art.º 88º, al. a) do CDOM).

Em conclusão:

• O doente – titular da informação de saúde, tem di-reito de aceder a toda informação constante do seuficheiro clínico, salvo circunstâncias excepcionais de-vidamente justificadas;

• O acesso a dados constantes de ficha clínica de umaunidade privada de saúde é feito por intermédio deum médico a designar pelo doente;

• Tendo em atenção a eventual necessidade do médi-co defender a sua dignidade, honra e legítimos inte-resses, o paciente não tem o direito de eliminar osdados clínicos colhidos com o seu consentimentono âmbito da actividade médica;

• O médico tem o dever de proteger a confidencia-lidade dos elementos constantes do ficheiro clínicogarantindo a segurança das instalações e equipa-mentos, o controlo de acesso à informação, bemcomo o reforço do dever de segredo e da educa-ção deontológica de todos os profissionais do con-sultório.

O Consultor JurídicoPaulo Sancho2010-07-26

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12 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

I N F O R M A Ç Ã O

Perante a entrada em vigor da lei n.º 9/2010, de 31 deMaio, que «permite o casamento civil entre pessoas domesmo sexo» e face a pedidos formulados junto do Conse-lho Nacional de Procriação Medicamente Assistida (CNPMA),solicitando esclarecimento quanto aos efeitos decorrentesdessa alteração legislativa no acesso às técnicas de procria-ção medicamente assistida (PMA), entende este Conselhoque se justifica uma sua tomada de posição relativamenteàs implicações que aquela modificação do conceito legal«casamento» tem sobre o acesso a essas técnicas.

O núcleo da questão reside em saber se, face ao que seencontra previsto na lei n.º 9/2010, de 31 de Maio, pessoasdo mesmo sexo, casadas entre si, podem ou não recorrer atécnicas de PMA, ou seja, torna-se necessário esclarecer oalcance das condições de admissibilidade às técnicas dePMA.

Nesta conformidade, o CNPMA emite a seguinte declaração:

De acordo com o disposto no n.º 1 do artigo 4º da lei n.º32/2006, de 26 de Julho, «as técnicas de PMA são um mé-todo subsidiário, e não alternativo, de procriação».

Técnicas de Procriação Medicamente

Assistida – Posição do CNPMADECLARAÇÃO

E o n.º 2 dessa mesma norma acrescenta uma outra exi-gência, qual seja, «a utilização de técnicas de PMA só podeverificar-se mediante diagnóstico de infertilidade ou ainda,sendo caso disso, para tratamento de doença grave ou dorisco de transmissão de doenças de origem genética, infec-ciosa ou outras».

E, nesse âmbito, é indispensável clarificar que «infertilidade»é uma doença, ou seja, para além do conteúdo jurídico queessa expressão possa ter, a mesma comporta uma naturezatécnico-científica que não pode ser ultrapassada pelo legis-lador, por se encontrar universalmente definida, nomeada-mente pela Organização Mundial da Saúde.

Em conclusão, por força do estatuído no atrás citado artigo4º da lei n.º 32/2006, de 26 de Julho, não obstante o dis-posto na Lei n.º 9/2010, de 31 de Maio, actualmente o acessoàs técnicas de PMA continua legalmente vedado às pessoasdo mesmo sexo casadas entre si, proibição que se manteráse não for produzida, pela forma constitucionalmente pre-vista, uma alteração legislativa.

Lisboa, 18 de Junho de 2010

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16 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

«Circular Informativa

Na sequência de dúvidas colocadas por diversos serviços e estabelecimentos, relativamente à aplicação do n.º 3 do artigo32° do Decreto-Lei n.º 177/2009, de 4 de Agosto, no que se refere à possibilidade, ou não, de continuar a ser concedidaa dispensa da prestação de serviço de urgência, relativamente aos médicos com idade superior a 55 anos, ou, no caso daurgência nocturna, com idade superior a 50 anos, bem como da redução de uma hora em cada ano no horário de trabalhosemanal, no que respeita aos médicos com idade superior a 55 anos e que trabalhem em regime de dedicação exclusiva há,pelo menos, cinco anos, com horário de 42 horas por semana, entende-se de divulgar os seguintes esclarecimentos:

1. A revisão do regime jurídico das carreiras médicas teve início com a publicação do Decreto-Lei n.º 177/2009, de 4 deAgosto.

Nos termos do artigo 18° deste diploma, sem prejuízo do disposto em instrumento de regulamentação colectiva detrabalho, o período normal de trabalho da carreira especial médica é de 35 horas.

Porém, a título transitório, foi garantido aos trabalhadores médicos, excepto se, por sua opção, transitarem para oregime de trabalho previsto no mencionado Decreto- Lei n.º 177/2009, de 4 de Agosto, o direito a manter os anterio-res regimes de trabalho, remunerações e respectivos direitos inerentes - vide n.º 3 do artigo 32° do citado Decreto-Lein.º 177/2009, de 4 de Agosto.

2. Nestes termos, e apesar da revogação do Decreto-Lei n.º 73/90, de 6 de Março, expressamente prevista na alínea a) doartigo 36º do Decreto-Lei n.º 177/2009, de 4 de Agosto, dever-se-á considerar que, nos termos do n.º 3 do artigo 32ºdo último diploma citado, todos os trabalhadores integrados na carreira especial médica que não tenham optado, eenquanto não optarem, pelo novo regime de horário de trabalho, continuam a estar sujeitos, em matéria de regime,duração e organização de trabalho, ao disposto, consoante o caso, nos artigos 24º, 31º e 39º do Decreto-Lei n.º 73/90,de 6 de Março.

Assim:

a) Os médicos que prestem trabalho em regime de dedicação exclusiva, face ao princípio de incompatibilidadesinerente a este regime de trabalho, continuam a não poder desempenharem, para além das excepções consigna-das nos n.os 4 e 7 do artigo 9º do Decreto-Lei n.º 73/90, de 6 de Março, alterado pelo Decreto-Lei n.º 412/99, de15 de Outubro, qualquer actividade profissional pública ou privada, incluindo o exercício de profissão liberal;

b) Os médjcos com idade superior a 55 anos, que trabalhem em regime de dedicação exclusiva há, pelo menos,cinco anos, com horário de 42 horas por semana, continuam a poder usufruir, sem perda de regalias, da reduçãode uma hora em cada ano no horário de trabalho semanal, até que o mesmo perfaça as 35 horas semanais;

Publicamos de seguida a circular informativa da Administração Central do

Sistema de Saúde n.º 6 /2010 de 6 de Junho de 2010 a propósito da aplicação

do artigo 32° do Decreto-Lei n.º 177/2009, de 4 de Agosto, referente aos direi-

tos inerentes à manutenção do regime de horário de trabalho dos médicos

integrados na carreira especial médica.

I N F O R M A Ç Ã O

Horário de trabalho dos médicos inte-

grados na carreira especial médica

Page 12: Revista Ordem dos Médicos Nº112 Setembro/Outubro 2010

17Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

c) Aos médicos com idade superior a 50 anos continua a poder ser concedida, se a requererem, dispensa daprestação de serviço de urgência ou, sendo o caso, de atendimento permanente, durante o período nocturno;

d) Aos médicos com idade superior a 55 anos continua a poder ser concedida, se a requererem, dispensa daprestação de serviço de urgência ou, sendo o caso, de atendimcnto permanente;

e) Os horários de trabalho dos médicos integrados na extinta carreira médica de clínica geral podem continuar aprever uma carga horária destinada a actividades de natureza não assistencial, no máximo de 5 e 6 horassemanais, respectivamente, para os médicos com horário de 35 e de 42 horas semanais.

3. O entendimento expresso no ponto anterior aplica-se a todos os trabalhadores integrados na carreira especial médicaque não tenham optado pelo novo regime de horário de trabalho, independentemente de serem, ou não, filiados nasorganizações sindicais subscritoras do Acordo Colectivo da Carreira Especial Médica, publicado sob a designação deacordo colectivo de trabalho n.º 2/2009, no Diário da República, 2ª série, n.º 198, de 13 de Outubro.

4. No que respeita ao trabalho extraordinário, concretamente no que respeita ao cálculo e forma de determinação daremuneração correspondente ao trabalho extraordinário prestado em serviço de urgência, entende-se ser de esclare-cer que não tendo sido revogado o Decreto-Lei n.º 44/2007, de 23 de Fevereiro, mantêm-se actuais os esclarecimentosoportunamente veiculados através da Circular Infomativa n.º 8/2007, de 16 de Novembro, desta Administração Cen-tral do Sistema de Saúde, I.P., disponível em www.acss.min-saude.pt.

5. Pela presente circular consideram-se respondidas todas as dúvidas que sobre a matéria aqui em causa tenham sidocolocadas a estes Serviços.

O Presidente do Conselho Directivo,

(Manuel Teixeira)»

I N F O R M A Ç Ã O

Envie-nos os seus artigosPara que a revista da Ordem dos Médicos possa ser sempre o espelho da opinião dos profissionais detodo o país, agradecemos a colaboração de todos os médicos que desejem partilhar as suas opiniões,experiências ou ideias com os colegas, através do envio de artigos para publicação na Revista daOrdem dos Médicos. Os artigos devem ser acompanhados de uma fotografia do autor (tipo passe) epoderão ser enviados para os contactos que se encontram na ficha técnica (morada da redação e/ourespectivo e-mail).

Page 13: Revista Ordem dos Médicos Nº112 Setembro/Outubro 2010

2010

Setembro 1Prazo limite para o anúncio da data das eleições (art.º 5 , R.E.)Data limite para afixação dos cadernos eleitorais (art.º 7, R.E.)

Setembro 16Data limite para a aceitação das reclamações aos cadernos eleitorais (art.º 8, n.º 1, R.E.)

Outubro 1Decisão das reclamações e afixação definitiva dos cadernos eleitorais (art.º 8, n.º 2, R.E.)

Outubro 26Prazo limite para apresentação das candidaturas aos Órgãos Regionais e Órgãos Distritais (art.º10, n.º 1, R.E.)

Novembro 2Prazo limite para a verificação da regularidade das candidaturas e a elegibilidade dos candidatos aos Órgãos Regionais eÓrgãos Distritais (art.º 16, n.º 1, R.E.)

Sem data fixaO prazo limite para a regularização das candidaturas aos Órgãos Regionais e Órgãos Distritais é de 3 dias úteisa contar da notificação do respectivo mandatário (art.º 16, n.º 3, R.E.)O sorteio das listas será feito até 5 dias após a aceitação definitiva das candidaturas (art.º 17, R.E.)

Novembro 10Prazo limite para a apresentação das candidaturas a Presidente da Ordem dos Médicos (art.º 12, n.º 1, R.E.)

Novembro 15Prazo limite para a verificação das condições de elegibilidade das candidaturas a Presidente da Ordem dos Médicos (art.º16, n.º 1, R.E.)

Sem data fixaO prazo limite para a regularização das candidaturas a Presidente da Ordem dos Médicos é de 3 dias úteis acontar da notificação do respectivo mandatário (art.º 16, n.º 3, R.E.)

Novembro 26Prazo limite para o envio dos boletins de voto, carta explicativa sobre o processo eleitoral, exemplar das listas concorren-tes (art.º 19, R.E.)

Dezembro 15Constituição das Assembleias e Secções de voto e acto eleitoral (art.º 5 e 29, R.E.)

Dezembro 20Prazo limite para as reuniões das Comissões Eleitorais Regionais e Comissão Eleitoral Nacional para o apuramento finaldos resultados (art.º 34, R.E.)

Sem data fixaO prazo limite para a impugnação dos Actos Eleitorais para o Presidente e para os Órgãos Regionais é de 7 dias acontar da data do apuramento final dos resultados eleitorais (art.º 35, n.º 1, R.E.)Prazo limite para anúncio da realização da 2ª volta para Presidente da Ordem dos Médicos (art.º 32, n.º 5, R.E.)Prazo limite para o envio dos boletins de voto, carta explicativa sobre o processo eleitoral, identificação dos concorrentes,tudo relativo à 2ª volta da eleição do Presidente da Ordem dos Médicos (art.º 32, n.º 6, R.E.)

2011

Janeiro 19Constituição das Assembleias e Secções de voto e acto eleitoral (art.º 32, n.º 3, R.E.)

Janeiro 24Prazo limite para a reunião da Comissão Eleitoral Nacional para o apuramento final dos resultados (art.º 34, R.E.)

Sem data fixaO prazo limite para a impugnação do Acto Eleitoral para o Presidente é de 7 dias a contar da data do apuramentofinal dos resultados eleitorais da 2ª volta (art.º 35, n.º 1)

CALENDÁRIO ELEITORAL– TRIÉNIO 2011/2013 –

Page 14: Revista Ordem dos Médicos Nº112 Setembro/Outubro 2010

19Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

ELEIÇÕES

Triénio 2011/2013

Anúncio

Nos termos dos art.ºs 5º e 6º do Regulamento Eleitoral, o Conselho Nacional Executivo

anuncia que fixou a data das eleições para os órgãos sociais da Ordem dos Médicos,

relativamente ao triénio 2011/2013, para o dia 15 de Dezembro de 2010.

Os órgãos sociais a eleger são:

- Presidente da Ordem dos Médicos;

- Mesas das Assembleias Regionais do Norte, Centro e Sul;

- Conselhos Regionais do Norte, Centro e Sul;

- Conselhos Disciplinares Regionais do Norte, Centro e Sul;

- Conselhos Fiscais Regionais do Norte, Centro e Sul;

- Mesas das Assembleias Distritais;

- Conselhos Distritais e

- Membros consultivos dos Conselhos Regionais do Norte, Centro e Sul.

Lisboa, 23 de Agosto de 2010

O Conselho Nacional Executivo

Page 15: Revista Ordem dos Médicos Nº112 Setembro/Outubro 2010

20 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

A C T U A L I D A D E

Petição defende grau de mestrepara licenciados com 5 e 6 anos de curso

O Conselho Nacional das Ordens Profission ais reclama a atrobuição do grau

de mestre aos licenciados com licenciaturas de 5 e de 6 anos, obtidas antes

de entrar em vigor a reforma de Bolonha, que reconhece como licenciatura

cursos de três anos curriculares. O CNOP lançou uma petição que visa reco-

lher o número de

assinaturas ne-

cessárias para a

sua discussão e

aprovação no

Parlamento. Pu-

blicamos o texto

do presidente do

CNOP, divulgado

no Público, que

sustenta a peti-

ção, bem como a

própria petição.

Segue-se um arti-

go do Bastonário

da Ordem dos

Médicos de res-

posta a Vital

Moreira, que nas

páginas do mes-

mo jornal produ-

ziu um violento

ataque à impor-

tância das Or-

dens Profissio-

nais.

Page 16: Revista Ordem dos Médicos Nº112 Setembro/Outubro 2010

21Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

A C T U A L I D A D E

Para:Assembleia da República

Exmo. Senhor Presidente da Assem-bleia da República, Os cidadãos a se-guir assinados e identificados vêm, poreste meio requerer que seja dada equi-valência de Mestre aos titulares das an-teriores licenciaturas com formação de5/6 anos, na designação anterior à re-forma de Bolonha.Com a Reforma do Ensino Superior(Decreto-Lei 74/2006, de 24 de Mar-ço), o título académico de licenciadopassou a ser atribuído ao fim de umciclo de estudos de 3 ou de 4 anos,quando no passado o título equivalen-te era designado por bacharel. Pelocontrário, antes da Reforma, à forma-ção superior de 5 anos era atribuídoo título de licenciado.Perante a existência no mercado detrabalho de diferentes formações ecompetências, a que corresponde omesmo título académico, torna-se ne-cessário referenciar o mesmo com aindicação do período em que foi ob-tido.Acresce que a Portaria n.º 782/2009,que estabelece a Regulamentação doQuadro Nacional de Qualificações(QNQ), ignora a diferença anterior-mente referida, pois no Anexo III atri-buiu o mesmo nível ao bacharelato eà licenciatura (nível 6), sem diferenci-ar se os títulos foram obtidos antes oudepois da Reforma.Esta classificação desvaloriza, de for-ma gravosa, injusta e incompreensível,a qualificação profissional de centenasde milhar de licenciados pré-Bolonhana medida em que, não só colide como reconhecimento das suas qualifica-ções profissionais, aceite há dezenas deanos pela Sociedade, como também co-

Petição – Equivalência de Mestre aostitulares das anteriores licenciaturas

com formação de 5/6 anoslide com o próprio ordenamento jurídi-co nacional, em especial na parte refe-rente ao reconhecimento nas forma-ções de nível superior, nomeadamentecom o estabelecido na Lei n.º 9/2009,de 4 de Março, relativa a reconheci-mento de qualificações profissionais.

Exposição de Motivos:

Nos termos dos acordos do processode Bolonha, de que Portugal é desde oprimeiro momento signatário, ocorreurecentemente no nosso País umareestruturação profunda do quadrolegal do sistema do ensino superior. ODecreto-Lei n.º 74/2006, de 24 deMarço, alterado pelo Decreto-Lei n.º107/2008, de 25 de Junho, tendo comoreferência a segunda alteração à Leide Bases do Sistema Educativo adop-tada pela Lei n.º 49/2005 de 30 deAgosto, estabelece, na perspectiva dapreparação para a generalidade dasprofissões, dois graus académicos deformação superior principais:a) O grau de licenciado, correspon-dente ao 1º ciclo de estudos do Espa-ço Europeu do Ensino Superior, acor-dado pelos ministros do ensino supe-rior na sua reunião em Bergen, Noru-ega, em Maio de 2005, no âmbito doprocesso de Bolonha – cf. especialmen-te o artigo 5º do Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de Março, alterado peloDecreto-Lei n.º 107/2008, de 25 deJunho, supra-citado.b) O grau de mestre, correspondenteao 2º ciclo de estudos do Espaço Eu-ropeu do Ensino Superior, acordadopelos ministros do ensino superior nareunião de Bergen, supra-mencionada– cf. especialmente o artigo 15º doreferido Decreto-Lei n.º 74/2006, de

24 de Março, alterado pelo Decreto-Lei n.º 107/2008.

Entendeu o poder político adoptar adesignação de licenciatura para osnovos primeiros ciclos de formação.Esta decisão, dificilmente entendível,mas que naturalmente se respeita noquadro democrático, levantou desdeo primeiro momento, em muitos cida-dãos, uma grande preocupação sobrefuturas confusões entre designação ecompetências associadas, com a cor-respondente injustiça que se poderiaperspectivar.As licenciaturas anteriores à reformacorrespondiam, na generalidade, a for-mações acumuladas correspondentesa ciclos longos, que conferiam qualifi-cações de base reconhecidas pela So-ciedade como adequadas para o iní-cio de exercício de profissões com res-ponsabilidade e níveis de complexida-de elevadas.A portaria n.º 782/2009 adopta no seuAnexo III um alinhamento de reconhe-cimento de qualificações de ‘Bachare-latos e Licenciaturas’, sem qualquer re-conhecimento da diferença inequívo-ca de qualificações entre as novas li-cenciaturas, primeiros ciclos que têmde facto relação com os antigos bacha-relatos, e as antigas licenciaturas, querepresentam um nível acima do dosbacharelatos.Não é curial que, fazendo o Anexo III,e bem, menção expressa a um grau doanterior sistema, o bacharelato, nãofaça igualmente menção expressa aooutro grau desse mesmo sistema, a li-cenciatura. Não pode ser omitido queo termo «licenciado» se refere a níveisde formação académica marcadamentediferentes, consoante diga respeito ao

Page 17: Revista Ordem dos Médicos Nº112 Setembro/Outubro 2010

22 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

A C T U A L I D A D E

sistema anterior, ou ao que está actu-almente em vigor.A realidade é que, tal facto, é inaceita-velmente lesivo dos direitos dos titula-res de licenciaturas anteriores à pre-sente reforma.É necessário que fique claro, para osempregadores e para a sociedade emgeral, que apesar de se estar a adop-tar, por decisão legal, a mesma desig-nação, está efectivamente a referir-sea níveis de qualificação diferentes, sen-do adequado que a actual licenciaturaesteja associada ao nível 6 (no mesmonível do antigo bacharelato) e a antigalicenciatura dos regimes de ciclo lon-go anteriores ao Decreto-Lei n.º 74/2006, de 24 de Março, de que são ti-tulares muitas centenas de milhares delicenciados, figure no nível imediata-mente superior, nível 7, nível com cor-respondência ao do actual mestrado.E ainda:– Estando convictos que a equipara-ção proposta é uma ideia de princípio

válida, e defensora dos interesses detodos os licenciados, sejam ou nãomembros das Ordens Profissionais eprofissionais que se formaram antes doProcesso de Bolonha;– Tendo presente que a Lei define quesão as Instituições de Ensino Superiorque têm competência para atribuir estetipo específico de equivalência;– Tendo, ainda, em conta que as Or-dens Profissionais têm tido conheci-mento de procedimentos e exigênciasmuito diferentes consoante a Univer-sidade, para a atribuição de equivalên-cia quando solicitada;– Tendo em consideração que é ne-cessária uma base objectiva, uma ques-tão concreta colocada para que aAssembleia da República se veja nanecessidade de legislar;– Tendo em consideração a objectivi-dade do actual comprometimento dediversas situações de progressão de car-reira, de candidatura a concursos pú-blicos, ou da definição da prioridade

curricular dos licenciados pré-Bolonha,cujo percurso material compreende umtotal efectivo de cinco ou mais anoslectivos, agora prejudicado pela modi-ficação meramente formal da designa-ção da estrutura três mais dois, actualMestrado (integrado);– Que não poderão ser compatíveisrealidades distintas, como é o caso daslicenciaturas antes e pós Bolonha, umacorrespondendo ao actual primeiro esegundo ciclo, cinco/seis anos, e a ou-tra apenas ao primeiro ciclo.

Proposta:Os signatários requerem que seja dadaequivalência de Mestre aos titularesdas anteriores licenciaturas universi-tárias com formação de 5/6 anos, nadesignação pré-reforma de Bolonha.Os signatários

A petição pode ser assinada online emhttp://www.peticaopubl ica.com/?pi=pet1

O Professor não gosta de médicos. Éum facto conhecido, em si mesmo ba-nal, digamos até não inesperado nocontexto da história e da idade.É que noutros tempos os médicos es-condiam as limitações da ciência sobuma capa de autoconfiança por vezesarrogante. É certo que nesses temposde antanho, medicina e dolorosas in-jecções intramusculares eram concei-tos sinónimos. É certo que em temposda meninice do Professor qualquerangina numa tenra garganta garantiaum abaixa-línguas de madeira seca eum impositivo aaaaah por interminá-veis segundos, enquanto o ogre de batabranca se comprazia no espreitar atrásda lanterna.Por tudo isto que a todos os da idadedo Professor afasta de Esculápio ou qui-çá por alguma amarga recordação detempos de faculdade, que disso já nãosei nem todos vivemos, definitivamenteo Professor não gosta de médicos.Aliás, partilha tal sentimento com o seu

O Professoramigo do peito Correia de Campos, aquem tanto apoiou enquanto ministro,produzindo os sábios pareceres comque ele se orientou.Mas o Professor tem, para além dosmédicos, um ódio ainda mais particular.Algo que lhe remexe as entranhas sóde ouvir falar e em que não perde opor-tunidade de zurzir quando os acasosde pena lhe dão motivo. Esse ódio é oque nutre pelas ordens profissionais e,como se compreende, dentre estas, comparticular ênfase pela dos médicos.Leitor diário, que sou, do Público, pas-so normalmente por cima da opiniãodo Professor, mas não hesito a parar enele me deter quando por debaixo dasua conhecida cara de avô lá aparecea fotografia de uma porta envidraçadado edifício da Gago Coutinho com quesempre decora os artigos em que nosinsulta.Claro que com tão maus fígados con-tra os médicos e com todo o seu pas-sado político não seria de esperar ou-

tro sentimento para com as Ordens.As Ordens representam aquela parcelade poderes que o Estado, em reconhe-cimento da sua incapacidade, decidiuconstitucionalmente delegar nas pro-fissões complexas, diferenciadas eauto-organizadas.Deputado que foi na Constituinte, atéhoje me espanta como deixou passaressa verdadeira violentação do seu ide-al de todos arrumadinhos como funci-onários públicos, todos iguais, todosperfilados. Porventura, e isso ninguémme fez saber, foi alguma luta perdida, ecomo o homem sai do partido mas opartido não sai do homem, a luta ain-da hoje continua.Dêmos assim por adquirido que o Pro-fessor não gosta da Ordem dos Médi-cos. Tal sentir, tal pulsão de alma, talrazão de existir associada ao douradoexílio de Bruxelas deram-lhe agora otempo e o ensejo de mais uma vez de-sancar com a sua pena de empenhadoescriba na sua nemesis.

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23Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

A C T U A L I D A D E

Fê-lo com gosto, com raiva, com emo-ção, mas, como normalmente em ca-sos que tais, com óbvia falta de razãotão clara que só ao ridículo se expôs.Treslendo ou quiçá passando os olhos– que isto de ler com atenção não épara gente ocupada – pela primeira eúltima páginas da edição de sábado,14 de Agosto, do Público, concluiu quea Ordem dos Médicos confessara can-didamente (expressão sua) a sua (dela)incapacidade para regular os desman-dos de alguns dos seus membros.Se tivesse lido o bem escrito artigo dajornalista Alexandra Campos, teriapercebido que fora eu próprio que pre-tendera chamar a atenção para a im-possibilidade de a Ordem, com a es-trutura que lhe está consignada peloEstatuto Disciplinar, desempenhar ca-bal e atempadamente a sua missão.Claro que eu poderia ter procuradobranquear a situação, ou até demons-trar que fosse qual tivesse sido a juste-za da análise da Ordem nada teriacontribuído para evitar a tragédia agoraacontecida.Poderia ter avocado em defesa da mi-nha dama que um organismo profissio-nalizado de um país pretensamentemais organizado (a Inspecção-Geral daSaúde da Holanda) confrontado com14 casos graves de igual cirurgião, háigual número de anos, nada tinha con-cluído.Poderia até, como hoje parece sertão comum, deixado escapar alguma

informação em segredo de justiçapara desviar a atenção do «respeitá-vel público» como em espectáculosde magia.Não o quis fazer. Coloquei proposita-damente o dedo na ferida e assumi pu-blicamente que, com o seu EstatutoDisciplinar (cinco médicos não remu-nerados que recebem mais de 350queixas por ano, só na região Sul) eraimpossível à Ordem desempenhar ca-balmente a sua missão.E quis fazê-lo e assumi-lo porque tal-vez com o apoio da opinião públicaseja possível modificar este estado decoisas. Porque como todos parecemignorar, mas o Professor por certo nãoignora, quem publica os decretos quedeterminam a forma de funcionamen-to da Ordem não é ela própria massim o Governo ou a Assembleia da Re-pública.E se o Professor, que é de Direito econselheiro de ministros, não o sabe,mal vai o país. Se não o sabe, podemoslegitimamente perguntar-nos como talignorância trepou à cátedra de Coim-bra, currículo aparentemente bastan-te para cabeça-de-lista ao ParlamentoEuropeu.Mas se pelo contrário não ignora, eatento à política portuguesa me ouviudurante anos a fio exigir a mudançade Estatuto da Ordem e Dec-Lei queoutorga o Estatuto Disciplinar não po-de escrever, como o fez: «Se [a Ordem)não tem meios devia providenciar para

os obter. Não está na discricionarie-dade da Ordem desempenhar ou nãoas suas funções públicas. Elas são deexercício obrigatório.»Ao pôr as coisas nestes termos, saben-do que a obtenção de meios depen-deu sempre e exclusivamente da pu-blicação de um Dec-Lei, acto que a Or-dem não pode, mas o seu amigo Cor-reia de Campos podia mas não quispraticar, o Professor exibiu uma des-pudorada desonestidade intelectual.Aquilo que o povo habitualmente de-signa de «esperteza saloia», sem des-primor para os ditos.Claro que quem lê o Público não sedeixa levar nestas «cantigas» e era es-cusado ter-me dado ao trabalho de es-crever este artigo. Mas democrata quesou desde sempre, mesmo no tempoem que tal conceito representava paraalguns defender formas chiques de di-tadura, preocupo-me com o uso siste-mático destas espertezas no diálogodemocrático.Preocupo-me pelo que estes hábitosde tertúlia irresponsável e «chicoes-pertismo» de debate de café provocamna confiança dos portugueses no seusistema político.Preocupo-me tanto mais quanto oscultores de tais hábitos levam copio-sas sovas nas urnas infligidas por jo-vens advogados recém-chegados àpolítica.

Pedro Nunes

Benefícios para médicos com a CP

A CP LONGO CURSO celebrou Acordo Comercial para venda de bilhetes em regime de tarifárioespecial, proporcionando aos colaboradores e associados da ORDEM DOS MÉDICOS a aquisição apreços mais vantajosos nos seus comboios Alfa Pendular e Intercidades, respectivamente, nas ClassesConforto e 1.ª classe. A consulta das condições desse acordo pode ser consultada no portal da OM(www.ordemdosmedicos.pt) em benefícios sociais.Associado a diferentes regimes de parceria, proporciona ainda preços competitivos na utilização deparques de estacionamento em Pragal, Lisboa Oriente, Porto e Braga, aluguer de viaturas no destino paraas viagens de ida/volta e ainda descontos em algumas unidades hoteleiras.Segurança, rapidez, comodidade e conforto, são as condições garantidas para um aproveitamento totaldo tempo de viagem, tornando o comboio na opção certa para a sua deslocação de trabalho.

Page 19: Revista Ordem dos Médicos Nº112 Setembro/Outubro 2010

25Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

A C T U A L I D A D E

Passagem do Ano 2010-2011

Grande Viagem à Argentina

(30 de Dezembro a 13 de Janeiro)

«Buenos Aires, Calafate, Glaciar Perito Moreno, Ushuaia, Punta

Arenas, Puerto Natales, Torres del Paine, Santiago do Chile»

O Programa das Viagens promovidas pelo Distrito do Algarve

da Ordem dos Médicos para 2010, inclui a Viagem de Fim de

Ano na Argentina com Cruzeiro opcional no Stella Australis no

Estreito de Magalhães e Cabo Horn. O Programa foi preparado

pela Agência Mundiviagens, que nos ofereceu a garantia de um conhecimento real das

condições locais e a melhor proposta na relação qualidade/preço.

- Informações mais detalhadas poderão ser obtidas contactando:

Distrito Médico do AlgarveE-mail: [email protected].: 289 864 950; Fax: 289 864 951

- As reservas deverão ser feitas directamente na Agência Mundiviagens

Agência MundiviagensSr. Mário DominguesRua Lethes, 51 R/ch8000-387 FaroEmail: [email protected]@mundiviagens.webside.ptTel.: 289 803 922 * Fax.: 289 803 922

Page 20: Revista Ordem dos Médicos Nº112 Setembro/Outubro 2010

26 Revista ORDEM DOS MÉDICOS • Setembro/Outubro 2010

«Exmo. Sr. Presidente da Assembleiada República,

Há muito que a Associação Nacionalde Farmácias tem vindo a propor quea distribuição de medicamentos de dis-pensa restrita pudesse passar a ser fei-ta nas farmácias de oficina. Essa ques-tão foi aliás incluída no famoso «Com-promisso para a Saúde», como uma dasevidentes contrapartidas do Governopara a liberalização da propriedade dafarmácia a que a ANF formalmente seopunha.

Esta solução tem tido uma forte opo-sição de diversos sectores, incluindoda Ordem dos Médicos e tem sériosinconvenientes para o interesse públi-co e para os utentes. De facto estesmedicamentos, onde se destacam ostratamentos oncológicos e do HIV, re-querem especiais cuidados na sua dis-ponibilização aos utentes, que desacon-selham a sua entrega a entidades pri-vadas.

Existem questões de diverso tipo, comoa da monitorização da toma, da dispo-nibilidade de todos os tipos de medi-camentos, da confidencialidade dosutentes, entre outras. De resto, a justi-ficação de maior proximidade geográ-fica em que costuma assentar esta pro-posta, pode ser resolvida de outra for-ma, por exemplo diminuindo a frequên-

Dispensa de medicamentosrestritos nas farmácias de oficina

Bernardino Soares deputado do grupo parlamentar do Partido Comunista

Português interpelou o Ministério da Saúde quanto à dispensa de medica-

mentos restritos nas farmácias de oficina. Transcreve-se de seguida a missiva

enviada ao Ministério da Saúde onde são colocadas algumas questões sobre

esta temática.

cia das deslocações necessárias ou, emcaso de descentralização, aproveitan-do a rede do Serviço Nacional de Saú-de. Não se compreende que se consi-derem desde logo as farmácias de ofi-cina, sem que se utilizem os centrosde saúde como pontos possíveis paraesta proximidade.

Mas o segredo mais bem guardado destaquestão é o do pagamento à AssociaçãoNacional de Farmácias por este servi-ço. A ANF tem dito que não exige amargem habitual que lhe cabe no pre-ço dos medicamentos, que é neste casomuito elevado, mas que pretende o pa-gamento de uma taxa por cada acto dedispensa de medicamento.

Em concreto a ANF tem vindo a pro-por uma taxa correspondente a 6% dovalor do medicamento, o que implica-rá certamente elevados custos para oServiço Nacional de Saúde. É curiosoque num momento em que o Gover-no restringe a despesa com medica-mentos, preparando-se para transferirmais custos para os utentes, se prepa-re ao mesmo tempo um gasto desne-cessário adicional de centenas de mi-lhões de euros.

Preocupante é também a perspectivaque esta medida pode vir a abrir parano futuro se procurar impor um co-pagamento pelos utentes das graves

doenças tratadas com estes medica-mentos de prescrição restrita.

Assim, e ao abrigo das disposições le-gais e regimentais aplicáveis, venhorequerer através de V. Exa., ao SenhorMinistra da Saúde, resposta às se-guintes perguntas:

- Se o Governo está a considerar dis-ponibilizar em farmácias de oficina me-dicamentos de prescrição restrita, ac-tualmente dispensados exclusivamen-te em hospitais públicos?

- Que medicamentos serão abrangidospor esta alteração?

- Que taxa vai ser atribuída às farmá-cias por este serviço?

- Qual o custo acrescido total destamedida?

Palácio de São Bento, 6 de Abril de2010

Bernardino Soares

Deputado»

A C T U A L I D A D E

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De modo a aprofundar um pouco maisos conceitos que acabei de explicitar,irei clarificar o meu discurso.Vejamos quais os Ramos do conheci-mento Humano (Razão Humana), quenos poderiam orientar, enquanto So-ciedade, para atingirmos maiores ní-veis de felicidade (curto, médio e lon-go prazo), através da alteração do siste-ma de Valores tradicional ou vigente, econstatemos o quão persuasivas sãoessas orientações ou esses argumentos.Analisemos primeiramente a Filosofia.Ora, como todos sabemos, a Filosofia,como não se presta ao método cientí-fico, não é capaz de fazer previsões sé-rias em relação ao Mundo e como tal,as «teorias» que esta postula em rela-ção à Realidade, não têm qualquer soli-dez, nem qualquer poder de previsão.Tratam-se apenas de especulações. Por-tanto a Filosofia não nos poderia orien-tar em busca de maiores níveis de felici-dade para a Sociedade como um todo!Quanto ao Ramo do conhecimentoHumano (Razão Humana), há que ana-lisar a Sociologia (supostamente seriaesta a nossa melhor ferramenta paraconcretizar o desafio proposto), a qualse demarca da Filosofia e é entendidacomo um ramo científico do conheci-

Respondendo ao desafio de Nietzsche:Que Valores abraçar num Mundo sem Deus?

(parte 3 de 3)

mento, pois segundo afirma, utiliza ométodo científico na sua construçãoteórica... Porém existem problemasmetodológicos sérios no seu seio, de-vido às características especiais do seuobjecto de estudo – comunidades deseres Humanos – e à forma como aSociologia obtém os seus dados paraanálise e construção de teorias expli-cativas da Sociedade. Devido a estesproblemas metodológicos e à enormecomplexidade do objecto de estudo,entre outros factores, a Sociologia nãopertence ao grupo das ciências, diga-mos, de primeira linha ou mais «séri-as» ou sólidas, pertence antes ao gru-po das chamadas ciências Sociais ouciências Humanas.De facto, ainda hoje, tal como no pas-sado, subsiste a discussão e a dúvidaacerca da Sociologia ser ou não dignado epíteto ciência (seja ela de primei-ra ou segunda linha). Isto acontece por-que a Sociologia ainda não demons-trou de forma inequívoca possuir a ca-pacidade de explicar o passado e pre-ver o futuro (em termos da Sociedadecomo um todo), de uma forma superi-or ao acaso (ou superior à Filosofia,da qual se tenta afastar e superiorizar).Não demonstrou, de forma inequívo-ca, qualquer capacidade de previsão(da sociedade como um todo) aprovei-tável. Portanto, verdadeiramente, nãopode ser considerada uma ciência. Nãoapresenta qualquer solidez como fer-ramenta de previsão e, portanto, nãoservirá como guia à sociedade, paraobtermos maiores patamares de Felici-dade, através da modificação do Siste-ma de Valores vigente ou tradicional.Assim, todos os passos que forem gui-ados pela Filosofia ou Sociologia serãopassos dados no escuro, serão lancesaleatórios ou passos aleatórios no infi-nito das possibilidades. Quando a so-

ciedade muda o seu sistema de Valo-res vigente ou tradicional, na promes-sa (por parte da Filosofia ou Sociolo-gia) de maiores níveis de Felicidadepara todos, o que estamos realmentea fazer é a dar passos aleatórios, ouseja, estamos a efectuar mudanças aoacaso e não, mudanças dirigidas paraa Felicidade!Desta feita, desde Nietzsche (ou mes-mo antes) com a sua célebre condena-ção de Deus – «Deus está morto» (cf.Stewart R. 1998: 82), até aos nossosdias, temos assistido a uma transforma-ção, cada vez mais rápida, dos nossossistemas de Valores (da Sociedade),guiada pelo novo ímpeto da Razão Hu-mana ou do ego da Razão Humana, e,pela promessa de maiores patamaresde Felicidade para a Sociedade...O que aconteceu realmente foi um au-mento exponencial da taxa de mutação(mudanças aleatórias) do ADN cultural,mais precisamente, neste caso, do ADNdo Sistema de Valores da Sociedade!Como já foi referido, este sistema deValores tradicional condensava em sias Boas Soluções para o problema dareprodução e sobrevivência, tinha sidoescolhido, após uma infinidade de se-lecções, confrontos e vitórias! O queacontecerá se aumentarmos exponen-cialmente a taxa de mutação destas in-formações (sistema de Valores)? Oravejamos o que aconteceria se aumen-tássemos exponencialmente a taxa demutação do nosso ADN celular: emrelativamente poucas gerações, o serHumano iria perder as suas capacida-des biológicas, motoras, físicas. Iríamosgradualmente (de geração em geração)perdendo função e «potência». A nos-sa capacidade de reprodução e sobre-vivência iria diminuir, de geração emgeração, até que, a espécie Humana,seria confrontada com a inevitabilidade

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e agonia da extinção. Seria um proces-so de degeneração, decadência e extin-ção! A morte seria a última palavra des-te processo gradual de definhar, seriao alienar das Boas Soluções que a Se-lecção Natural encontrara para o pro-blema da reprodução e sobrevivência.Comparando, portanto, o sistema devalores com o ADN celular, apercebe-mo-nos que o aumento exponencialda taxa de mutação do Sistema de Va-lores da Sociedade, levará à degeneres-cência, decadência, diminuição da ca-pacidade de sobrevivência, da capaci-dade de reprodução, à agonia da «im-potência», ao definhar «mais ou me-nos lento» e portanto, à infelicidade!As mutações devem cessar antes queseja tarde de mais!Com esta reflexão pretendi demons-trar que o sistema de Valores que nosdá maiores garantias de sermos felizesé o sistema de Valores vigente, tradicio-nal da nossa Sociedade! É o sistemaque está realmente feito à nossa medi-da, e não à medida que nós julgámosque temos! Seguir a Moral vigente, nãoé agir de má fé, não é uma fraude, nemé insustentável, é simplesmente a ati-tude mais inteligente face à condiçãoHumana, a qual não podemos mudar!É esquecermos os sonhos impossíveise viver com o que temos. É confor-marmo-nos com o que não é possívelmudar, e aprender a ser feliz nesta novacondição!Existe, assim, um fundamento sólido noqual podemos basear a Moral vigenteou tradicional! O primeiro critério desolidez é o facto da Moral realmentefuncionar e ter funcionado em tempospassados, assegurando-nos que pode-mos encontrar com grande probabili-dade a felicidade com este sistema valo-rativo. Sabemos que todas as tentati-vas Humanas para compreender total-mente e prever com a mínima segu-rança o Ser Humano e as comunida-des de seres humanos falharam. Porisso, existe uma justificação forte emrelação à Superioridade do sistema deValores vigente ou tradicional. É o me-lhor possível? Não sabemos. É o pior?Não, pois «eliminou» outros «sistemasde Valores» que com «ele» competi-

ram e além disso, consegue alcançar afelicidade para a maioria das pessoas.Assim, este conhecimento apresenta-se como o mais sólido conhecimentoa que temos acesso, pois apresenta-setal como a ciência, como um modelosuperior a todos os outros que se co-nhecem, mas que não sabemos se é oúltimo ou melhor modelo possível.Porém temos que fundar ou basear anossa vida no melhor fundamento aque temos acesso, e esse fundamentonão é rocha pura, antes uma misturade rocha e barro! É esta a sina do Ho-mem, não ter acesso à certeza! Porémo nosso conhecimento, apesar de im-perfeito, é melhor do que nada!Podemos de novo ancorar a nossa vidaa alguma coisa... racional... e emocional!Desta forma cessa o desafio de Nietz-sche (e a crise que gerou em todosnós), desafio esse que tem origem naconclusão da inexistência de Deus.Deus esse que sustentava e justificavaos Valores tradicionais e vigentes dasociedade, pois possuía uma inteligên-cia enorme, muito maior que a nossaRazão (não conseguiríamos sequer en-tender os Seus desígnios e Sabedoria,tal a diferença de magnitude e escalada Razão Divina face à Razão Huma-na) e agia sobre nós para nosso bem,porque somos os seus filhos amados.Então, quando Ele deu «as tábuas daLei» ao povo de Israel, eles não pensa-ram duas vezes antes de as aceitar, poisera certamente para o seu bem.Penso que mostrei que o processoevolutivo da nossa cultura e sistema deValores, que vem ocorrendo em escalasde tempo que nos é difícil percepcionar,tem precisamente as características deDeus que justificavam a adesão aos Va-lores tradicionais pelos crentes em Deus!Fica assim resolvida o que muita gente(e eu próprio) considera a questão fi-losófica mais importante e urgente coma qual nos deparamos na actualidade!É como que uma vitória da Moral so-bre a Ética, ou uma transformação daMoral em Ética!Penso que conseguimos decifrar asimplicações das duas conclusões, econstatar que a porta da felicidade nãoficou fechada...

Gostaria de deixar um conjunto defrases sobre felicidade, escritos porautores reconhecidos, que mostram alimitação da nossa Razão (e a sabedo-ria da Natureza), no que diz respeito aencontrar a felicidade, e que vêm nosentido do que temos vindo a discutiraté ao momento:

«A felicidade não é alcançada commais facilidade por aqueles que a

procuram directamente.»Bertrand Russel

(Morris D. 2007: 157)

«A felicidade é... um subproduto queobtemos quando fazemos outra coisa.»

Aldous Huxley(Morris D. 2007: 157)

«A felicidade... surge por acaso. Sefizermos dela o objectivo da busca,

nunca a alcançaremos.»Nathaniel Hawthorne(Morris D. 2007: 158)

«A felicidade, quando não é procura-da, é muitas vezes encontrada.»

George Arliss(Morris D. 2007: 158)

BIBLIOGRAFIA

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Congeminações….é a palavra exactapara descrever o artigo do Drº J. M.Pavão acerca das eleições no ACMP.Inverdades sobre uma Assembleia emque não participou, descrevendo fac-tos unilateralmente relatados, com aagravante de ter obrigação de conhe-cer os Estatutos.Manifesta frustação por não ter sidoautorizado a discursar noutra Assem-bleia cujo ponto único era a votaçãopara os corpos sociais.

Saibam todos quantos... ...Tendo sido membro da Direcção doACMP em lista eleita por apenas 13votos, não aceita que 406 sócios, nú-mero pela primeira vez alcançado, tives-sem votado na lista concorrente.A Assembleia Eleitoral decorreu ver-gonhosamente, não condizente com aclasse profissional de onde emana,obrigando o Presidente da Mesa a cha-mar a polícia para impedir o roubo devotos e do livro de presenças, finali-zando com a expulsão dos elementos

provocadores, elementos esses já an-tes expulsos de sócios pela Direcçãopor comportamento indigno.A Assembleia de Abril tem acta e oacto eleitoral foi efectuado segundo asnormas estatutárias.Pela nossa parte vamos continuar atrabalhar com um programa exequível,respeitando os Estatutos e defenden-do o espírito daqueles que fundarameste Clube.

A Direcção do ACMP

Lisboa: Sinais de Fogo.Mueller, R. F.; Young, I. D. (2001): Emery’sElements of Medical Genetics. 11th Edition.Edinburgh/London/New York/Philadelphia/Sydney/Toronto: Churchill Livingstone.Nolt, J. (2002): The Human brain. An intro-duction to it’s functional anatomy. USA: Mosby.Siegel, D. (1999): The developing Mind. How

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Friederich Nietzsch nasceu na Ale-manha em 1844, filho de um clérigoluterano. Quem ler a sua autobiogra-fia ECCE HOMO (de 1888) fica a co-nhecer as suas ideias. Detestava osalemães – «só acredito na culturafrancesa e encaro tudo na Europaque se considera ‘cultura’ como ummal entendido» e era um anticristo– «Se não leio, mas amo Pascal comoa vítima mais instruída da cristanda-de...; Talvez eu até tenha inveja deStendhal. Roubou-me a melhor tira-da ateia jocosa que eu poderia terpronunciado: ‘A única desculpa deDeus é que não existe’... Eu própriodisse algures: ‘Qual foi, até agora, amaior objecção à existência?Deus...’».

Afinal, Deus existe!ou, o erro de Nietzsch

Li com atenção o artigo de opinião que saiu na revista da Ordem dos Médi-

cos de Maio/Junho 2010, onde um colega concluiu que não existem Deus nem

o livre arbítrio. E quero desde já agradecer o trabalho realizado, porque são

estas «verdades» tal como os «factos» de «O Código Da Vinci» que nos fa-

zem acordar da monotonia diária e rever o que é a Verdade, ou a nossa opi-

nião (depende do ponto de vista).

Nietzsch acusava e adjectivava a reli-gião de mentira, de que o ideal afasta-va o homem da realidade. Ele, que nãoconheceu o amor sincero de uma mu-lher, que contraiu sífilis que viria a matá-lo em 1900 após 11 anos de paralisiamental e física, afirmava que o amor erauma forma de egoísmo! Segundo ele oamor sexual estava maculado pela in-venção da moral religiosa, que esta eraum factor da decadência ocidental comcerca de dois mil anos de duração!

O homem que nunca quis nem espe-rou nada do que atingiu, tudo aconte-ceu por acaso, considerava-se o super-homem, alguém que intelectualmentevivia acima da gentalha, nunca definin-do as características dessa sua proprie-dade excepcional para lá da auto-baju-lação e da colagem a mestres comoWagner. De retórica percebia ele, quan-do refere que não pode conceber umaantítese para egoísta como o não egoís-ta porque o amor é sempre egoísta,mesmo que a moral assim o não en-tenda! Um homem que, para mim, nun-ca conheceu o amor, mas o interesse ea solidão.

Tenho obviamente uma opinião diver-sa de Nietzsch e do ateu epicuristaque assina o artigo referido. Cerca doano 300 a.C., Epicuro fundou em Ate-nas uma escola de filosofia, que de-senvolveu a ética do prazer de Aris-

tipo e combinou-a com a teoria ato-mista de Demócrito, e o seu lema se-ria «Estranho, aqui serás feliz. Aqui, oprazer é o bem supremo». Quandodiz «...todos os fenómenos que nósexperimentamos na nossa consciên-cia têm uma base material e é essabase material que determina o que sepassa na nossa consciência» está acair no erro reducionista do Profes-sor António Damásio explicado noseu «O erro de Descartes». Na ver-tente moral das implicações dainexistência de Deus («não mais po-demos dizer: cometer adultério émau») nem me atrevo a fazer comen-tários pois a minha suposta ausênciade livre arbítrio conduziria a produ-zir afirmações ofensivas dirigidas aocaro colega. Por último, achei peri-goso ter afirmado que a conclusão dainexistência de Deus teria como re-acção emocional (subjectiva) imedia-ta a hipótese do suicídio, mas que talnão acontece porque prevalece a Ra-zão (que é neutra)! Todo o ateu é umavítima da secularização, tecnicização,racionalização, egocentrização e desu-manização modernas.

Quem quiser ler o meu opúsculo «Pá-ginas Soltas; Pára, lê-me e reflecte» po-derá desenvolver as ideias que aquiresumirei. O Homem é composto porum corpo (com forma e substância),por uma mente (que tem forma, mas

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não tem substância, não obstante anecessidade de suporte neuronal) epor uma ALMA. A alma, tal comoDEUS, por não ter forma nem subs-tância física é incognoscível, não épassível de ser cientificamente conhe-cida. Mas tal não é o mesmo que di-zer que não existe, porque manifesta-se. Costumo dar o exemplo da VON-TADE que temos para desenvolveruma acção. Esta é uma característicada alma, não se justifica pela lógica,razão ou mente. Eu tenho vontade defazer uma cadeira assim como Deusteve vontade de fazer o Universo. Noacto de criar, o espírito precede a ma-téria. Deus existe, mas não se provanem que existe, nem que não existe.Crê-se em Deus com fé.

Passo a transcrever os pensamentos etestemunhos de Blaise Pascal, IsaacNewton, Alexis Carrel, Bento XVI, acer-ca de Deus. Todos eles com uma inte-ligência superior à minha!

Blaise Pascal (1623-1662), aos 11 anoscompõe um tratado dos sons e «des-cobre» sozinho todos os teoremas dageometria euclidiana. Aos 16 anos ima-gina uma «máquina aritmética» que éconsiderada, e com razão, a primeiramáquina de calcular. No seu livro«Pensamentos» refere: «556:...Pode-semuito bem conhecer Deus sem co-nhecer a sua miséria e conhecer a suamiséria sem conhecer Deus. Mas nãose pode conhecer Jesus Cristo semconhecer ao mesmo tempo Deus e asua miséria.(...) Todos aqueles queprocuram Deus fora de Jesus Cristoe que se detêm na natureza, ou nãoencontram nenhuma luz que os satis-faça, ou acabam por conceber ummeio de conhecer Deus e de o servirsem mediador, e desse modo caem noateísmo ou no deísmo, que são duascoisas que a religião cristã abominaquase por igual.»

Isaac Newton (1643-1727), que dis-pensa apresentações, disse: «A gravi-dade explica os movimentos dos pla-netas, mas não pode explicar quem co-locou os planetas em movimento», e

«A maravilhosa disposição e harmo-nia do universo só pode ter tido ori-gem segundo o plano de um Ser quetudo sabe e tudo pode. Isso fica sendoa minha última e mais elevada desco-berta.»

Alexis Carrel, prémio Nobel de Medi-cina escreveu no seu livro «A Prece»:«Para Nós, homens do Ocidente, a ra-zão parece muito superior à intuição.Preferimos, muito mais, a inteligênciaao sentimento. A ciência triunfa ao pas-so que a religião se extingue. Segui-mos Descartes e menosprezamos Pas-cal.»; «É à má qualidade do indivíduoque se deve atribuir o ruir da nossacivilização.»; «Não há dúvida que o êxi-to na vida exige o desenvolvimento in-tegral de cada uma das nossas activi-dades fisiológicas, intelectuais, afectivase espirituais. O espírito é, ao mesmotempo, razão e sentimento. Devemos,portanto, amar ao mesmo tempo a be-leza da ciência e a beleza de Deus. De-vemos escutar Pascal com tanto fer-vor como escutamos Descartes.»

Transcrevo agora um excerto da ter-ceira carta encíclica de S.S. Bento XVI:(pág. 110-111) «Longe de Deus, o ho-mem vive inquieto e está mal. A alie-nação social e psicológica e as inú-meras neuroses que caracterizam associedades opulentas devem-se tam-bém a causas de ordem espiritual.Uma sociedade do bem-estar, materi-almente desenvolvida mas oprimentepara a alma, não está, por si mesma,orientada para o autêntico desenvol-vimento. As novas formas de escravi-dão da droga e o desespero em quecaem tantas pessoas têm uma expli-cação não só sociológica e psicológi-ca, mas essencialmente espiritual. Ovazio em que a alma se sente aban-donada, embora no meio de tantasterapias para o corpo e para a mente,gera sofrimento. Não há desenvolvi-mento pleno nem bem comum uni-versal sem o bem espiritual e moraldas pessoas, consideradas na sua to-talidade de alma e corpo.»

Jostein Gaarder, «O mundo de So-

fia»: (pág. 235) «Uma outra caracte-rística racionalista clara é o facto deLocke achar que é inerente à razãohumana saber que Deus existe./– Tal-vez tivesse razão./– Em quê?/– Emdizer que Deus existe.»; (pág.293)«–E, por fim, também não podemos pro-var com a nossa razão a existênciade Deus. Nesta questão, os racio-nalistas – por exemplo, Descartes –tinham tentado provar que Deusexiste porque temos a ideia de umser perfeito. Outros – por exemplo,Aristóteles e S. Tomás de Aquino –eram da opinião que Deus tinha queexistir porque tudo tem de ter umaprimeira causa. Kant rejeitou ambasas provas da existência de Deus.Nem a razão nem a experiência têmfundamento seguro para afirmaremque Deus existe. Para ele, a suposi-ção de que o homem tem uma almaimortal, que Deus existe e que ohomem tem o livre arbítrio era umacondição imprescindível para a mo-ral. Ao contrário de Descartes, Kantsublinha expressamente que não foia razão que o levou até aí, mas a fé.»

José Enes, ex-reitor da Universidadedos Açores, «Estudos e Ensaios»: (pág.204) «De tudo quanto viemos apuran-do, a experiência religiosa do homemculto caracteriza-se pela manifestaçãode Deus como pessoa destinante, queimpõe ao homem a coabitação emconformidade com uma ética».

Até mesmo o cantor Boss AC no ál-bum «preto no branco», música«Break U» featuring Olavo Bilac e Va-lete diz «Muda tu o mundo, porquetodos nós somos Deus/O mundomuda a cada gesto teu (...)/Tu ouvesmas não escutas, olhas mas não vês/Os outros somos nós e nós somosvocês».

A todos os leitores deixo uma receitapessoal:

A força do corpo aumenta com o exer-cício; a da mente com a leitura; a daalma com a oração. Para seres fortecaminha, lê e ora.

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A minha presença nesta cerimóniacomo representante da Faculdade deCiências Médicas de Lisboa e da re-presentação do colega da Faculdadede Medicina de Lisboa, justificadas pe-las classificações obtidas nos respecti-vos cursos de Medicina que no anotransacto culminaram, foram rapida-

CEMMM – 10 anos sobre o desaparecimento

do Professor Manuel Machado Macedo

mente entendidas à medida que o no-velo da vida do Professor Manuel Ma-chado Macedo ia sendo desenrolada-mente evocado. A sua preocupaçãocom a formação dos mais novos e acrença no seu trabalho e nas suas ca-pacidades trouxe-nos aquela sala, emrepresentação das centenas que ago-ra iniciam a sua actividade médica.Mais do que o reconhecimento do tra-balho pessoal, foi a confirmação de queeste nada é senão parte do todo que osustenta e justifica. Foi a exaltação daequipa que orienta e estrutura o tra-balho individual por oposição ao es-forço solitário. Foi a celebração do es-tatuto embutido em cada um de con-tínuo aprendiz e de humilde colabora-dor na edificação e constante remo-delação do conhecimento médico. Pelapessoa de Manuel Machado Macedo,foram enaltecidos os educadores daactual geração médica, guiando pelo

No passado dia 21 do mês de Maio, decorreu na Ordem dos Médicos a ceri-

mónia em memória dos dez anos passados sobre a morte do Professor Ma-

nuel Machado Macedo, organizada e orientada pelo Centro de Estudos de

Professor Manuel Machado Macedo (CEMMM). Cerimónia íntima e simbóli-

ca, foi pontuada por laivos de emoção dos que mais proximamente privaram

com ele e por memórias do médico e, acima de tudo, da pessoa. Assumiu-se

como um momento privilegiado para o conhecimento da sua vida e obras

médica, cultural e humana.

seu exemplo os referenciais axiológicoshumanos a colocar ao serviço do co-lega e do doente.É na medida em que cada um conhe-cer e recordar a personalidade dos queo antecederam, que se constituirá pes-soa mais completa e mais médico parao doente que vier ao seu encontro. Éa compreensão de que cada profissãotem uma história, à qual a medicinanão é excepção, que desperta a von-tade de compreender os alicerces dosaber que se escondem por detrás decada uma delas. Se a finalidade sub-jacente ao conhecimento é a constan-te melhoria do condicionalismo viven-cial humano, surge como corolário queo serviço à pessoa é o objectivo últi-mo de todo o acto médico. Lembran-do os que se regeram e colocaram emprática estes princípios, mantemos vivoe actual o desejo de os tornar umarealidade na nossa prática diária.

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Protocolo com a Confederação Portuguesa do YogaA Ordem dos Médicos celebrou um protocolo com a Confederação Portuguesa do Yoga (Associação Lusa do Yoga/Yoga Sámkhya Instituto e Fly – Federação Lusa do Yoga) através do qual médicos e funcionários da OM (bem comocônjuges e filhos dependentes) beneficiam de um desconto na taxa de inscrição e mensalidade para aulas de Yoga,nomedamente na sede nacional da Confederação, no Centro do Yoga Balaki Ganesha e nos seus centros filiados.

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Andrea Marinho Quintas

Fazem parte integrante do programade formação do 5º ano do internatocomplementar de Ginecologia e Obs-tetrícia seis meses de estágios opcio-nais. Era esta a oportunidade que an-siava para cumprir um desejo já delonga data: sair do país para traba-lhar noutra realidade, com outrasmaneiras de pensar e de estar, na me-dicina em particular, na vida em ge-ral. Depois de pesquisa aprofundada– bendita internet que nos aproxi-ma de tudo e de todos – candidatei-me a um fellowship em endoscopia gi-necológica, num Hospital do ServiçoNacional de Saúde do Reino Unido,em Londres. A resposta afirmativanão tardou, após apreciação curri-cular e inscrição no General MedicalCouncil.

Balanço positivo duma experiênciaminimamente invasiva

Integrada numa unidade dedicada ape-nas à cirurgia minimamente invasivaginecológica, tive diversas oportunida-des de dedicar-me a uma área da gine-cologia que acredito ser o futuro damaioria das especialidades cirúrgicas-cada vez menos invasivas e realizadasem regime de ambulatório. Toda a ac-tividade clínica e cirúrgica habitual erarealizada num contexto de constantecuriosidade e procura científica, comrealização semanal de fóruns de discus-são, workshops mensais e integraçãoem projectos de investigação. A dispo-nibilidade e o interesse científico eramuma presença diária, praticamente pal-páveis em todas as actividades da Uni-dade. Esse estímulo e essa vontade dequerer fazer sempre mais são podero-sos, dão-nos uma força anímica quefoi sem dúvida uma das grande maisvalias desta experiência.

Um outro aspecto extremamente enri-quecedor de exercer medicina numacidade multicultural prende-se com aenorme variedade de mulheres quetive a oportunidade de ver, no quediz respeito a etnias, nacionalidades,religião e crenças. O modo de viver adoença, de manifestar os sintomas ea própria relação médico-doente re-flectem isso mesmo, num processoque envolve uma constante aprendi-zagem e adaptação. Que nos faz che-gar ao final do dia com um mar denovas ideias da cabeça. Que nos fazquestionar velhas conceitos que,transformar alguns, rejeitar outros,aceitar ainda outros novos. Que nospermite chegar ao fim de uma expe-riência destas estágio com uma sen-sação grande e que nos preenche: euprogredi, evoluí talvez, cresci comcerteza!

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Aspectos mais práticos e igualmenteimportantes estão relacionados, porexemplo, com a contracepção. Méto-dos bem aceites cá em Portugal nãosão necessariamente a primeira esco-lha nesse outro grupo tão heterogé-neo de mulheres. Essa heterogeneidadereflecte também as suas escolhas deentre as diversas alternativas terapêu-ticas que lhes são propostas. A títulode exemplo, a fibromiomatose uterinaque na esmagadora maioria dos casosé tratada com histerectomia, é uma op-ção de último recurso naquela popu-lação, que procura frequentemente mé-todos mais conservadores como,embolização das artérias uterinas oumiomectomia.

Surpreendentemente inspiradora foi aestreita relação profissional entre o mé-dico ginecologista e o médico assisten-te que tive oportunidade de assistir etambém de experimentar. Existe uma

partilha no seguimento clínico do doen-te, com correspondência entre ambosos médicos em cada acto de consulta.Deste modo, o médico assistente estáconstantemente actualizado em rela-ção à situação clínica da doente, o quepor sua vez permite ao Ginecologistauma maior colaboração por parte doMédico Assistente. Cria-se uma rela-ção de inter-cooperação benéfica paratodos, principalmente para o doenteque através do seu Médico Assistentetem um acesso fácil e rápido ao seuGinecologista, sempre que se justifique.

Estes são apenas alguns dos aspectosque considero mais pertinentes e quegostava de partilhar. Para reforçar oquanto acredito nos benefícios dumaexperiência como esta. Para talvez ins-pirar todos aqueles que já pensaramou ainda pensam em trabalhar no es-trangeiro. Para que possamos, porcomparação, apreciar todas as quali-

dades e vantagens do nosso ServiçoNacional de Saúde em que tanto acre-dito não obstante as várias ameaçasao seu bom funcionamento de quetem sido alvo nos últimos anos. Por-que o distanciamento que um estágiono estrangeiro possibilita, confereuma perspectiva que ajuda a tornarcertos pontos mais claros. Tais comoo quão importante um Serviço Naci-onal de Saúde é, bem como a facilida-de de acesso ao mesmo. Como osprincípios que o regem vão de encon-tro aos princípios que todos nós de-claramos quando concluímos a licen-ciatura. Como é possível, acreditan-do no nosso trabalho, sermos todosos dias melhores.

Umas palavras de agradecimento àFundação Calouste Gulbenkien queatravés de «bolsas de estudo no es-trangeiro de curta duração» ajuda atornar sonhos uma realidade.

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Francisco de Paula FongChefe de Serviço de Cardiologia

Isto tem-se aplicado com muita acui-dade aos litígios que opõem os médi-cos às administrações hospitalares,nomeadamente nos concursos e no-meações para cargos da carreira hos-pitalar. Mesmo quando há flagranteatropelo da lei e o médico, naturalmen-te, processa o hospital, passar-se-ão 4ou 5 anos antes que seja lida a primei-ra sentença. Se juntarmos a isso ou-tros 5 a 10 anos para os recursos, aofim deste tempo já o médico se teráaposentado (por idade ou por estar«cheio», razão última esta que se tor-nou a mais habitual entre nós…) ouentão as condições iniciais do concur-so ou da nomeação se terão modifica-do completamente. É um quadro de-sanimador. Conheço colegas que fo-ram preteridos injustamente e não re-clamaram apenas por não acreditaremna eficiência da Justiça. Não acho quetenham feito bem! Quando temos acerteza de que a razão está do nossolado devemos lutar, recorrer aos tribu-nais até às últimas instâncias e denunci-ar publicamente estas situações. Por issovou relatar aqui o meu caso pessoal.Corria o ano de 2005, era eu chefe deserviço do Serviço de Cardiologia doCentro Hospitalar de Coimbra, quan-do o director de serviço se aposentou.Era preciso nomear um novo director.Segundo o disposto no art. 20º, n.º 2do Decreto-Lei n.º188/2003, de 20 deAgosto, «O director de serviço é no-meado de entre os chefes de ser-viço ou, na sua falta, de entre assis-

A Justiça na nossa Saúde

tentes graduados…». Sendo eu o úni-co chefe de serviço, era óbvio que sóeu poderia ser nomeado para o cargo,o que me chegou, aliás, a ser comuni-cado oficiosamente. Para espanto meu,o conselho de administração nomeoua seguir um assistente graduado. Pe-rante o meu protesto, foi-me dito quea sua interpretação da lei era diferen-te! Obviamente não me conformei econtestei de imediato a decisão emsede do Tribunal Administrativo. Restaacrescentar que esse novo director deserviço organizou em tempo recordeo exame para chefe de serviço de Car-diologia, a que só ele concorreu e on-de, como se imagina, ficou em primei-ro lugar… Em 2007, «cheio», aposen-tei-me, e a seguir o C.H.C. passou parao regime de E.P.E.Cinco anos depois de ter instaurado oprocesso, em 26 de Agosto de 2010,veio o Acórdão do Tribunal, que medeu toda a razão. Mais do que isto,nos seus considerandos refere «Efecti-vamente, tomando em consideraçãoaquele normativo, é cristalino quedesapareceu a possibilidade denomeação de um médico assisten-te graduado para o cargo de di-rector de serviço quando o mes-mo serviço disponha de chefes deserviço». E, mais adiante, «…por con-seguinte, sopesando a argumentaçãoacabada de enunciar, é inevitávelconcluir que o acto sob escrutí-nio desrespeitou o estipulado doart.º 20º, n.º 2 do Decreto-Lei n.º 188/2003, padecendo, por isso, do ví-cio de violação da lei.» E conclui«Pelo exposto, acorda-se em julgar

procedente a presente acção, e, emconsequência, anular o acto proferidopelo R. em 15/12/2005, pelo qual foinomeado o contra-interessado para ocargo de Director do Serviço de Car-diologia». É óbvio que o Conselho deAdministração do Centro Hospitalarde Coimbra errou. Deliberadamente,ou porque não foi capaz de interpre-tar correctamente uma lei «cristalina»(sic).É evidente que esta decisão judicialnão vai ter efeitos práticos, uma vezque já estou aposentado e o directorde serviço teve o cuidado de fazer oexame para chefe de serviço depoisde ser director. Mas provei nas instân-cias próprias que a razão estava domeu lado. Os que passaram por cimada Lei terão de dormir com o facto deterem causado danos morais e econó-micos a alguém que dedicou quasetoda a sua vida profissional àquela Ins-tituição. E que há quem ocupe um car-go sabendo que a sua nomeação foibaseada numa ilegalidade. As conse-quências interiores disso dependem daconsciência de cada um. Há um dita-do chinês que se pode traduzir, maisou menos, assim: «cada qual come nagamela que quer.»Os hospitais foram entretanto passan-do para o regime E.P.E., crendo se ca-lhar as Administrações que agora sim,podem nomear para os cargos hospi-talares os amigos que quiserem, semter de dar justificações. Leiam a Lei. Nãomudou tanto assim… E pode ainda ha-ver alguns dos que restam das Carrei-ras Médicas Hospitalares que exijamque ela seja cumprida, como eu fiz.

Tem-se falado muito nos defeitos da justiça portuguesa, principalmente na

sua lentidão e ineficiência. A morosidade com que se arrastam os processos

nos tribunais leva a que, algumas vezes, quando é lida a sentença, já o seu

efeito prático se torna nulo.

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Dir-se-á que existem, porém, algumasilhas de virtude no oceano da mediania.A comunidade médica habituou-se aver o internato médico, nos moldes emque o conhecemos hoje, como uma de-las. A estruturação cuidada e garantiade universalidade são as bases de umainstituição bem-sucedida, que tem pre-parado os médicos portugueses segun-do os melhores padrões de qualidadeinternacionais.É pois com grande pesar que consta-tamos que esta mais-valia está em ris-co. Assistimos hoje ao primado da efi-ciência económica, hegemonicamentecolocada acima de valores sem retor-no patrimonial concreto ou imediato,como é o caso da formação. Assim, osinternos tendem a ser vistos pelas ad-ministrações hospitalares de uma deduas formas: mão de obra facilmentemanuseável e razoavelmente barata ouum fardo económico imposto pela tu-tela.Qualquer uma delas explica o senti-do de propriedade que ascende das

Internato Médico – que futuro?O investimento na formação tem sido um dos instrumentos estratégicos de

desenvolvimento mais negligenciados no nosso país. Embora, em potencial,

seja decisivo para o futuro de toda a sociedade, o carácter diferido dos seus

efeitos torna a adopção de medidas de fundo pouco atractivas, se tivermos

em conta a politica do imediatismo por que se regem os governos de hoje.instituições e que pende sobre os in-ternos, dificultando cada vez mais as-pectos fundamentais como, porexemplo, a realização de estágios par-ciais noutras instituições de refe-rencia.A falta de interesse (da parte do Minis-tério da Saúde e das administraçõeshospitalares, não dos Serviços, que sãofrequentemente reféns das condiçõesproporcionadas pelas estruturas su-perintendentes) em proporcionar con-dições para uma formação de quali-dade é evidente. Há um episódio re-cente que ilustra bem o espírito do-minante: o esforço heróico, por partedas administrações de alguns hospi-tais, em amealhar todos os tostões queconsigam, nem que para isso deixemde pagar os subsídios de deslocaçãolegalmente consagrados aos internosque realizem estágios (obrigatórios,refira-se) a mais de 50 km de distân-cia. Escudam-se, para tal, num imagi-nativo parecer dessa entidade abso-lutamente imparcial e prestigiada queé a ACSS (Administração Central doSistema de Saúde). Casos como estedespertariam um sorriso de escárnioa muitas empresas públicas e priva-das empenhadas na qualificação dosseus quadros em activos de elevadaespecialização, e que para tal não he-sitam em lhes proporcionar todos osmeios necessários. Não por altruísmo,obviamente, mas porque valorizam acompetência e a qualidade, bem comoos dividendos que daí retirarão. OSNS não devia também estar interes-sado no mesmo?

Não poderia, de resto, existir mais es-

pírito de coerência. Há muito tempoque o SNS se excluiu de proporcio-nar a maior parte da formação contí-nua à classe médica, deixando-a en-tregue em larga medida à indústriafarmacêutica – com todas os confli-tos de interesses que daí advêm. Porquê continuar a gastar tanto no in-ternato? Afinal de contas, quanto é queisso proporciona em retorno econó-mico directo?Há depois o imenso paradoxo que apolitica governamental reservou à for-mação médica pós-graduada. Assim,ao mesmo tempo que se procura li-mitar os gastos com pessoal, assiste-se a um desmedido incremento donúmero de licenciados em Medicina,com base em decisões extemporâneas,não sustentadas em qualquer estudotécnico de necessidades, e movidaspelos intentos demagógicos de agir daforma mais instintiva – nem que sejaem contra-ciclo. Por outro lado, nãose vislumbra qualquer preocupação,por parte da tutela, em garantir que aqualidade de formação seja mantida,apesar da pressão que coloca o au-mento do número de internos. Se éque isso interessa.

Todos os factores enunciados amea-çam transformar o internato num sis-tema de formação virtual, vazio emassificado, destinado a atribuir títu-los de forma automática para deleitede uma estatística meramente quanti-tativa. A Ordem dos Médicos tem odever e os instrumentos para evitar queisso não aconteça. Aqui fica o apelopara que esteja atenta e aja proactiva-mente.

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LIVRO: Haja Saúde – O Futuro da Medicina em PortugalFoi lançado em Setembro o livro Haja Saúde, cujas receitas de comercialização revertem na totalidade para a O.N.G.Médicos do Mundo. Este livro equaciona uma das questões centrais da Saúde em Portugal: o acesso à formação emMedicina no sistema de ensino superior do nosso país. Por que razão é este acesso excepcionalmente restrito, excluindodo sistema um considerável número de candidatos a futuros médicos? Porque temos de «importar» médicos de outrospaíses? Perante estas e outras questões, 27 personalidades pronunciam-se, com respostas inquietantes e propostas desolução. André Ribeiro (Estudante de Medicina na Hungria), António Arnaut (Fundador do Sistema Nacional de Saúde),António Gentil Martins (Ex-Bastonário da Ordem dos Médicos), José Pratas Vital (Ex-Director do Hospital Egas Moniz),Maria da Graça Carvalho (Ex-Ministra do Ensino Superior), Maria de Belém Roseira (Ex-Ministra da Saúde), Maria Nunesda Silva (Estudante de Medicina na Republica Checa), Pedro Mota Soares (Líder da Bancada Parlamentar do CDS/PP) eTiago Pereira (Estudante de Medicina em Santiago de Compostela) são algumas das pessoas que apresentam a sua pers-pectiva nesta obra.

Lançamento de «28 anos de Actividades da Sociedade Médica dos Hospitaisda Zona Sul»A publicação «28 anos de Actividades da Sociedade Médica dos Hospitais da Zona Sul», editada pelo Centro EditorLivreiro da Ordem dos Médicos (CELOM), será apresentada durante a Sessão Clínica Inter-Hospitalar, realizada no Hospitaldas Caldas da Rainha, na manhã do próximo dia 26 de Novembro.

«Sociedade Portuguesa de Anestesiologia assinalaDia Mundial da especialidadeNuma iniciativa de sensibilização da população, a Sociedade Portuguesa de Anestesiologia assinalou pela primeira vez oDia Mundial da especialidade e desenvolveu na Gare do Oriente uma série de rastreios, que culminaram numaConsulta de Anestesia. Esta iniciativa pretendia dar a conhecer a Anestesiologia e o anestesiologista, sensibilizando apopulação para as especificidades desta especialidade, informando e desmistificando dúvidas e preconceitos ligados a estaprática médica.Todos os anos, em todo o Mundo, cerca de 230 milhões de doentes são submetidos a anestesia para cirurgias complexas.Cerca de 7 milhões desenvolvem várias complicações associadas a estes procedimentos cirúrgicos, dos quais cerca de ummilhão morre (200.000 na Europa). Em Portugal, mais de 600 mil pessoas são submetidas, por ano, a cirurgia.

N O T I C I A S

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Como ramo da Medicina Preventiva, aMedicina do Trabalho desenvolve-secom a Revolução Industrial e, já noprincípio do Século XX, com a aber-tura de túneis e outras grandes obrasque criaram riscos de acidentes e do-enças relacionadas com o trabalho. Visaa protecção dos trabalhadores, e cons-titui uma actividade interdisciplinar emque colaboram, entre outros profissi-onais, engenheiros ou outros técnicosde segurança, higienistas, e médicos do

Os Médicos do Trabalho privilegiamessencialmente a prevenção

Segundo Dennis, J & Draper, P.1 «El termino ‘Medicina Preventiva’ tiene muy

diferentes significados y el rango de actividades que pretende describir varia

tanto entre los diversos países, como dentro de ellos. Sin embargo,

generalmente contiene alguna referencia al trabajo de los médicos».

Esta asserção sobre Medicina Preventiva é coincidente com a hipótese de

que médicos que privilegiam a prevenção, e têm estilos de vida e comporta-

mentos saudáveis, motivam os seus pacientes a manter e promover a sua

saúde. Esta é uma responsabilidade essencial dos Médicos do Trabalho.2

trabalho. Dada a interdisciplinaridadedestes serviços que, nos locais de tra-balho, privilegiam essencialmente a pre-venção primária e secundária são de-signados por Serviços de Saúde Ocu-pacional ou Serviços de Saúde e Segu-rança no Trabalho.Os Governos têm legislado sobre acriação e funcionamento destes servi-ços que, com a inspiração de Decisõesda Organização Internacional do Tra-balho, da Organização Mundial de Saú-de e da União Europeia, responsabili-zam os Empregadores pela sua cria-ção e funcionamento, com a coopera-ção dos Trabalhadores, para o que de-vem reunir um grupo de profissionaisque possa assessorar a identificação,quantificação e a eliminação ou contro-lo dos factores de risco, promover avigilância da saúde dos trabalhadores,e contribuir para que o ambiente econdições de trabalho sejam tão segu-ros e saudáveis quanto possível.Esta obrigação e responsabilidade le-gal parece não ter sido suficiente paraque todos os Empregadores reconhe-

çam o interesse que estes Serviços têmsob o ponto da qualidade, produtivi-dade e economia e que, tal como al-guns trabalhadores, não quantifiquemas vantagens que resultam de mantere promover a saúde dos homens e mu-lheres que produzem os bens, servi-ços e riquezas necessários.Estão por definir estratégias e desenvol-ver intervenções que evidenciem comomanter e promover a saúde dos cidadãos,e designadamente da população activa,o que é essencial para o desenvolvimen-to que só uma população activa e sau-dável pode propiciar à sociedade.É importante que os Empregadores sai-bam – e exijam – que todos os Progra-mas de Saúde e Segurança no Trabalho,mesmo quando lhes sejam apresenta-dos e prestados por Empresas Presta-doras de Serviços em regime de offshore,tenham em atenção e dêem prioridadea esta responsabilidade, e estejam cons-cientes de que a manutenção da saúdedos trabalhadores é um benefício paraeles, empregadores, para os trabalha-dores e para a sociedade.

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1 Dennis, J & Draper, P. In Enciclopedia de Salud y Seguridad en el Trabajo. Edición española de la versión inglesa de la OIT. Ministerio de TrabajoY Seguridad Social, 1989. Vol. 2, pp 1493-96.2 Durão, A. et al. In A promoção e protecção da saúde do trabalhador em Portugal: a saúde dos médicos. Comunicação feita no 14º Congressoda ANAMT (Associação Nacional de Medicina Brasileira), Gramado, Brasil, Maio 2010.

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1. Tornar mais saudáveis, segurose agradáveis os locais e condi-ções de trabalho é uma boaestratégia de gestão: além do au-mento da produtividade e da sa-tisfação dos trabalhadores evitareformas prematuras. A SST pro-picia o desenvolvimento e é van-tajosa para o Estado, Empregado-res e Trabalhadores: tem dimen-são social.Tal como a Saúde, a Informação e aFormação são pilares básicos da vidacolectiva e do desenvolvimento, e nãoencontrámos forma mais significativado respeito que a sociedade deve aoscidadãos que a configuração comolhes proporciona cuidados de manu-tenção e promoção da saúde e lhespropicia uma boa formação.A nível internacional, a defesa e incre-mento da Informação, Formação e Saú-de definem a cultura, os perfis e o va-lor dos Países. Neste mesmo âmbito, aOMS definiu o objectivo «Saúde paraTodos» e aclama o propósito e as ori-entações para que os cidadãos sejam«Activos e Saudáveis» e, mais especifi-camente, defende a saúde dos traba-lhadores.A saúde dos trabalhadores mereceespecial atenção e específicos cuida-dos, não só porque são os responsá-veis pela produção dos bens, serviçose riquezas, mas também porque elesestão expostos aos factores de riscoque podem afectar a saúde de todosos cidadãos e, além destes, aos especí-ficos das suas profissões. A OIT juntaos seus propósitos aos da OMS paravalorizar e defender a saúde dos tra-balhadores, defesa também advogadapelos órgãos do espaço da UniãoEuropeia.Assim, para cumprimento das tarefasde predição dos factores de risco, ca-racterísticos das diversas tarefas e pro-fissões, para além do empenhamentodos empregadores e trabalhadores éindispensável apoio técnico especializa-

Empresas prestadoras de serviços de Saúde e segurançano trabalho – regulação ou regulamentação?

do. Para as intervenções da sua identi-ficação, quantificação e controlo, ou– se possível – eliminação, foram cria-das em Portugal a carreira de Médicodo Trabalho (o Curso de Medicina doTrabalho foi iniciado pelo Instituto Su-perior de Higiene Dr. Ricardo Jorge em1963) e os Engenheiros de Segurançae os Higienistas Industriais obtiverama sua formação pela prática ou no Es-trangeiro.A criação dos Serviços de Saúde e Se-gurança no Trabalho, consagrados emPortugal por legislação na década dosanos 60, previa as modalidades de Ser-viços Internos (próprios das empresas)e de Serviços Inter Empresas (por ramode actividade e relacionados com pro-ximidade). Mas a resistência dos empre-gadores, em grande parte por não te-rem compreendido todas as vantagensde os instalar – e que salientámos noprimeiro parágrafo – foram justifican-do alterações e rectificações legislativase regulamentares que resultaram naproliferação de Empresas Prestadorasde Serviços de Saúde e Segurança noTrabalho.

2. A história das Empresas Pres-tadoras de Serviços de Saúde eSegurança no Trabalho (que de-signaremos por EMPRESAS DESSST) está um pouco por fazer.Quando Empresas com milhares de tra-balhadores, com a aquiescência gover-namental, extinguiram os seus Servi-ços Internos para criar, elas próprias,Empresas de SSST de que suportavamos custos ou, noutros casos, manifes-taram interesse em recorrer a Empre-sas de SSST já existentes em regimede offshore – como prática alternativae cada vez mais actual – ficou criadoum novo paradigma da Saúde dos Tra-balhadores.Outro facto justificado pela pressão dasPequenas Empresas veio a resultar emque os seus trabalhadores passassem– teoricamente – a ter cuidados de vi-

gilância da saúde nos Centros de Saú-de, e que, dadas as dificuldades práti-cas para que isso sucedesse, aumen-tasse a proliferação das Empresas deSSST.

3. Num contexto mais recente, ecomo parte da história das Em-presas de SSST na última déca-da, é relevante não só analisar oprocesso de certificação que, emmuitos casos, continua por fazer,mas também o modelo de concor-rência que praticam.Em que mercados actuam? Que com-petências têm? Têm recursos e equi-pamentos técnicos que os serviçospróprios ou inter-empresas poderiamter? Como valorizam os processos decativação e a relação com os clientes?São ainda poucas as Empresas de SSSTque, em site próprio ou na Internet,facilitam informação sobre o seu per-fil técnico e o perfil dos especialistasao seu serviço. No contexto de mo-dernidade tecnológica, esta dissemi-nação poderia ser factor facilitadortanto para a escolha que os empre-gadores têm que fazer, como para ostrabalhadores conhecerem o que po-dem esperar dos serviços e cuidadosde saúde.A Autoridade das Condições de Tra-balho e a Direcção Geral da Saúde po-deriam contribuir para essa prática,quer motivando que os processos decandidatura à certificação contivessemautorização expressa para divulgar asinformações neles contidas quando asempresas fossem certificadas, ou per-mitindo que as candidaturas fossemapresentadas por via informática e con-tivessem idêntica autorização.Mas outras alternativas poderão serencontradas para que a escolha nãotenha apenas como base o preço oua simpatia dos «comerciais» que di-vulgam as bondades das Empresas deSSST para que, ao tempo, procuramcativar clientes.

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4. Considerámos que as Empre-sas de SSST deveriam garantir acriação de uma mais valia dosserviços de SST que prestam, eserem modelo e indutoras decomportamentos. E ainda pensa-mos que assim deve ser: devemter mais diversas e específicas ca-pacidades e valências que os Ser-viços Próprios de Empresa.O critério para serem seleccionadaspelas instituições ou empresas quea elas recorrem deve obedecer a cri-térios de competência e custo-be-nefício, pelo que devem disponibi-lizar informação sobre o seu perfiltécnico e capacidade para assegu-rar a vigilância da saúde dos traba-lhadores porque se vão responsabi-lizar e para contribuir que as con-dições de trabalho sejam contínuae sequencialmente analisadas a fimde identificar e atenuar as condiçõesperigosas e eliminar ou controlar ris-cos, e de contribuírem para mantere promover a saúde no local de tra-balho.

5. Regulamentação ou Regu-lação?A Regulamentação disponível é sufi-ciente. Mas porque a concorrência en-tre as Empresas de SSST nem sempretem primado pela qualidade, é rele-vante a regulação. Regular as relaçõesdas Empresas de SSST e dos seus téc-nicos geradores/produtores dos cui-dados e serviços com os organismose empresas que aos prestadores dosserviços recorrem para que sejam efi-cientes e eficazes é essencial.Era, e parece ainda ser frequente, que acativação de clientes não tenha comoprioridade a escolha das prestações quemais se adequam às características físi-

cas, mentais e sociais da população alvo,ao tipo e condições de trabalho e aosriscos previsíveis que, necessariamente,devem ser identificados e podem justi-ficar a necessidade de os quantificar,estudar e sugerir as formas de os elimi-nar ou controlar.Continua a ser hábito considerar co-mo as melhores ofertas as que apre-sentam mais baixos preços, sem queseja tido em consideração qualqueroutro factor valorativo das propos-tas. Poderia até julgar-se o número devisitas e avaliações como factor nega-tivo, já que delas poderiam resultarpropostas de investimentos para amelhoria das condições de trabalhoque representariam custos, sem tomarem conta as vantagens que a preven-ção, a satisfação no trabalho e o con-trolo do distresse têm para o aumen-to e qualidade da produção.Regular não é dificultar ou impedir omercado, mas fomentar a competên-cia e qualidade dos serviços.

6. Por esta razão propusemos emdevido tempo um menos com-plexo processo de certificação.O Processo de certificação das Empre-sas de Prestação de Serviços pela Di-recção Geral da Saúde e pela Autori-dade das Condições de Trabalho (antespelo IDICT) tem deixado marcas trau-máticas em relação, entre outros aspec-tos, às listas dos profissionais que asse-guram os trabalhos preventivos e paraa manutenção e promoção da saúde, àindicação dos equipamentos que asEmpresas de SSST devem ter, às dimen-sões das salas de observação médica eà relação dos trabalhadores ao serviçodas empresas a quem os serviços sãoprestados.Com base neste facto, preparámos

uma proposta – que mereceu acordoministerial mas não foi posta em prá-tica – para que, depois da apresenta-ção dos processos de certificação, oIDICT confirmasse a recepção dodossier, e advertisse as muitas cente-nas de empresas requerentes de quea lei definia as condições a que tinhamde obedecer enquanto prestadoras deserviços de SST, e que, em datas quelhes fossem indicadas, teriam visitasperiódicas da Direcção Geral da Saú-de e do Instituto de Desenvolvimentoe Inspecção das Condições de Traba-lho de que poderiam resultar a con-firmação, condicionamento, imposiçãode novas condições ou a cessação daactividade temporária ou definitiva-mente.A ACT admite estar em condiçõesde avaliar a capacidade das empre-sas que apresentaram (por vexes pelaquarta e quinta vez) processos decertificação, algumas das quais, quan-do marcadas as visitas, pedem o seuadiamento.Em nossa opinião, se isto for conse-guido, tanto a ACT como a DGS de-vem fomentar e estimular a compe-tência de regular a actividade das Em-presas de SSST, e não se podem exi-mir a induzir comportamentos e pro-cedimentos adequados, nem à respon-sabilidade de analisar relatórios anu-ais das Empresas de SSST e de pro-mover visitas periódicas às mesmas.É que estão em causa as prestaçõesde serviços e de cuidados que os tra-balhadores necessitam para seremactivos e saudáveis, e para que asempresas produzam bens, serviços eriquezas de qualidade e se desenvol-vam nas melhores condições.

Álvaro Durão

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Iniciei a minha viagem no tempo emBolonha. Portugal sofreu uma reestru-turação profunda do quadro legal dosistema do ensino superior, regulamen-tada pelo Decreto-Lei n.º 74/2006 de24 de Março e, posteriormente, peloDecreto-Lei n.º 107/2008 de 25 de Ju-nho. Após implementação das altera-ções necessárias para o efeito, os alu-nos de Medicina passaram a ter a possi-bilidade de obtenção do grau de mes-tre, num curso igualmente com seisanos, mediante cumprimento das res-pectivas unidades curriculares e elabo-ração de trabalho final. Portanto, e lem-brando um anúncio publicitário, aoslicenciados em 2006 «faltou-lhes umbocadinho assim» para o MestradoIntegrado.Concluída a Faculdade, a expectativada prática profissional. Contudo, o pro-cesso teve início com a divulgação tar-

O filmeChegada à recta final do meu internato e vislumbrando já a luz da especiali-

dade ao fundo do túnel, parei para um ponto de situação. Não resisti a parti-

lhar a sucessão de episódios que têm vindo a compor o filme formativo dos

licenciados em Medicina no ano de 2006 e que se tornaram internos de Medi-

cina Geral e Familiar (MGF) em 2008. Segue-se o trailer das «coincidências»

que atingiram esta coorte de pessoas, algumas mais facilmente digeríveis por

serem inerentes a processos de mudança, outras nem por isso.

dia dos avisos de abertura dos concur-sos para o Internato Médico 2007. Asua publicação em Diário da Repúbli-ca ocorreu numa fase ainda mais tar-dia e acabou por ser, posteriormente,revogada. Não foi publicado, em simul-tâneo, o respectivo mapa de vagas paraa formação específica.Na Prova Nacional de Seriação, foi avez da anulação/alteração da chave re-lativa a dezasseis (sim, dezasseis!) ques-tões deste exame.Ultrapassada esta etapa difícil, não sópela importância do exame em si mastambém pelas emoções geradas em tor-no de uma alteração tão massiva e pou-co justa das respostas, é chegado o AnoComum. Chegou, é um facto, mas tarde.As colocações foram lançadas a 28 deDezembro de 2006 mas anuladas ao fimde algumas horas. O Ano Comum nãoteria início dali a quatro dias, como pre-visto, mas sim com cerca de um mês deatraso. Atraso que, sublinhe-se, teve porbase motivos aos quais os recém-licen-ciados foram completamente alheios.E a saga continuou. Chegada a horade escolher a especialidade, repetiu-sea divulgação tardia dos mapas de va-gas do concurso A. O que era paraacontecer até final de Outubro de 2007concretizou-se apenas no início de No-vembro. Mal menor não fosse a suaposterior anulação e divulgação finalquinze dias depois, a escassas 48 ho-ras do início das escolhas e sem publi-cação em Diário da República.Dado o atraso de um mês no ingresso

no Ano Comum, a formação específi-ca teve início apenas em Fevereiro de2008. Para os internos que escolhe-ram MGF, o plano formativo era de trêsanos. Por sinal, o último com obrigato-riedade de três anos. Na verdade, aPortaria n.º 300/2009 (Diário da Re-pública Série I de 24 de Março de 2009)estabeleceu o novo programa de for-mação específica em MGF com dura-ção de quatro anos, visando «reforçara qualidade da formação médica». Oprograma entrou em vigor a 01 de Ja-neiro de 2010 para os médicos inter-nos que iniciaram a formação especí-fica a partir dessa data. No entanto,aqueles que iniciaram em 2009 pude-ram ainda escolher entre um planoformativo de três ou quatro anos, bas-tando para isso simplesmente manifes-tar a sua pretensão. Mais uma vez, oslicenciados em 2006/internos de MGFem 2008 ficaram a ver «a banda dosquatro anos a passar».A meio do último ano de internato,em nome da verdade, julguei já nãoser possível qualquer outro episódiodigno de filme mas, afinal, há uma novacena do próximo capítulo: o exame fi-nal de especialidade. Para a planifica-ção das actividades para o terceiro ano,os internos baseiam-se no que constaem Diário da República, na Portaria183/2006 de 22 de Fevereiro. Segun-do a mesma, existem duas épocas deavaliação final, a de Janeiro e a de Ju-nho, sendo que «os médicos internosdevem apresentar-se à primeira época

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de avaliação imediatamente a seguir àconclusão com aproveitamento do pro-grama de formação». E mais especificaque se apresentam na época de Janei-ro ou de Junho os internos que termi-nam a formação até 31 de Dezembroou 31 de Maio, respectivamente. Ora,face ao exposto, e se por erros aosquais os internos foram totalmentealheios, o período de formação espe-cífica termina apenas a 31 de Janeiro,o legal seria que a época de avaliaçãofosse a imediatamente a seguir, ou seja,em Junho. E julgo ser com base nestaspremissas legais que os internos doúltimo ano geriram e planearam as suas

actividades do 3º ano, visando natu-ralmente o bom desempenho nas pro-vas de avaliação da época de Junho de2011. Mas parece que existem umas«coisas» que se chamam Portarias eque têm efeitos especiais neste filmeque tenho vindo a descrever. Podemmudar coisas. A qualquer altura. Sur-preendem o espectador mesmo quaseem cima do final. Não avisam que che-gam. Ou avisam em cima da hora. Emudam o final esperado... E foi exac-tamente isso que fez a recente Porta-ria 839/2010 de 01 de Setembro. Se-gundo a mesma, internos que comple-tem a formação específica até 31 de

Janeiro de 2011 farão exame não naépoca de Junho, como previam, masnuma época antecipada, entregandopara tal o curriculum vitae até 05 deFevereiro desse ano.Desde o dia de ingresso em MGF, 01de Fevereiro de 2008, que é conheci-da a data previsível de término para amaioria dos internos: 31 de Janeiro de2011. Terão sido precisos dois anos eoito meses para decidir antecipar aépoca de exame? Um aviso mais atem-pado aos internos não terá sido possí-vel de concretizar?Estará todo este filme formativo amal-diçoado?

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M. M. Camilo SequeiraChefe de Serviço de Medicina Interna

Refiro-me ao defeito orçamental que, co-mo doença crónica, parece ser o pecadooriginal da democracia portuguesa.A notícia já será recebida com algumaindiferença mas os comentários, emboratão repetitivos como a própria notícia,são sentidos por muitos portuguesescomo coisa nova, preocupante e grave.São estes comentários, repetidos àexaustão pelos teóricos das economi-as nos seus diversos quadrantes, queciclicamente perturbam quem vivecom a convicção de estar a ajudar afazer com que o mundo em que teráde morrer seja um pouco melhor doque aquele em que nasceu.E perturbam porque são feitos por pes-soas, que julgamos sabedoras, que aindanão há muito tempo acusavam os co-munistas de se relacionarem com omundo através de uma «cassete» querepetiam insistentemente na convicçãoprofunda de que dessa insistência de-corria a sua validação.O que consideravam uma prova demenoridade mental.No entanto, agora, com outras circuns-tâncias sociais e outras relações de po-der, são os críticos de então que pas-saram a comunicar os seus valores eas suas convicções através de uma lin-guagem que parece a nova versão datão desconsiderada «cassete».O que causa incómodo, perturbação.Porque é claro que é outra «cassete»,são outras palavras.Mas sendo diferentes revelam a mesmafalta de imaginação que era merecedorade censura no nosso passado próximo.

Defeito orçamental, uma doençacrónica da democracia portuguesaDe há uns anos a esta parte somos confrontados, de forma recorrente, com

uma notícia sobre o estado das finanças públicas sempre apresentada com a

mesma linguagem e comentada com o mesmo tipo de observações.

E tal como antes se reconheciam ca-pacidades intelectuais aos teóricoscomunistas que inventavam e repeti-am a sua lenga lenga também hoje sereconhece o mérito intelectual destesnotáveis do tempo presenteE é neste contexto que perturba o ouvirdizer coisas diferentes mas que mos-tram, hoje como ontem, um igual de-feito das suas capacidade de imaginare de sonhar fora das convenções.

O que dizem os comentadores

O comum das análises afirma o seguinte:Que o defeito orçamental se agrava diaa dia; que é necessário corrigi-lo emnome do progresso e da estabilidade;que o Estado tem de penalizar os cida-dãos solicitando a sua compreensãopara sacrifícios actuais que lhes terãode ser impostos pois se destinam a pro-mover benefícios colectivos futuros.E repetem esta «cassete» incansavel-mente.Mas dizem ainda que a correcção dodefeito implica a total liberalização domercado e para isso promovem as te-ses demo liberais totalmente devota-das ao progresso associado à livre con-corrência.E insistem que há Estado a mais navida colectiva; que o conceito EstadoProvidência é passado sem futuro; queo emprego seguro tem de terminar; queo funcionalismo público tem de sermuito reduzido; que as despesas coma saúde devem deixar de ser preocu-pação do Estado; e também as da edu-cação; enfim, que os impostos têm deser aumentados.Em resumo, o que afirmam é que na

sociedade portuguesa quem não sefurta aos impostos e declara de formainequívoca o seu ganho com o traba-lho tem de ganhar menos e de pagarmais impostos.Mas os outros, os que se furtam a essedever, não pertencem a esta equação.Porquanto são cidadãos impolutos queestão acima destas coisas menores quesão os contributos individuais para obem estar colectivo.Até porque eles estão bem, têm capa-cidade para influenciar a máquina dopoder, dão emprego a muitos dos sá-bios comentadores e organizam-se pa-ra que também estes, de forma abso-lutamente legal, não participem nesseesforço colectivo, enfim, são os cida-dãos que dão imagem ao país.Não integram os grupos de anónimosque trabalham apenas com o umbigocomo horizonte pelo que não devemser incomodados.E os da economia paralela também não.Porque é claro que se os sábios (e osoutros) podem pagar por um serviçomil Euros, porque é que hão-de pagarmil duzentos e dez por exemplo?Até porque sabemos que num negó-cio bem conversado, em vez dos mil,talvez se paguem apenas novecentosjá que quando se paga sem IVA pode-se obter sempre mais um descontozito.E se o aumento dos impostos implicarpassar a economia paralela de 20 para25% isso é um problema menor.Porque como os que já têm o costu-me de pagar passarão a pagar mais,no final, a economia paralela cresce umpouco mas o rendimento do Estadotambém cresce o bastante para ficar-mos todos (todos?) satisfeitos.

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E com esta satisfação confirmamos queno nosso país temos dois tipos de cida-dãos: os de mérito e os outros, os quesão simplesmente comuns.

Quem comenta saberá do quefala?

Infelizmente para os portugueses, etambém para os cidadãos de outrasterras pois estes conhecedores brilhan-tes abundam por todo o lado e parti-lham a cartilha, os sábios analistas so-ciais, que assumo como sérios, não pa-rece que tenham razão.E não têm razão no nosso país porqueo que nos falta é vontade de promo-ver um claro «arrumar de casa».Que é variável não integrada nos seusestudos.Porque interfere com o bem estar dealguns desses sábios.Porque questiona a autoridade de al-guns decisores políticos.Porque perturba a estabilidade resultan-te de compadrios que as relações depoder foram criando ao longo dos anos.Porque põe em dúvida a competênciade muitos órgãos intermédios do Poder.E porque desorganiza os votos e a con-tinuidade ou a alternância do «polei-ro» político.Mas também porque exigem coragempessoal, e partidária, para se defende-rem convicções.O que pressupõe que estas têm deexistir o que nem sempre é claro.Mas neste comentário admito que exis-tam.Pelo menos em alguns decisores polí-ticos e em alguns destes analistas.Por isso assumo que a postura socialde todos os agentes do Poder, político,económico, judicial e jornalístico, é, ape-sar das aparências em contrário, orien-tada no sentido de se criar bem estardesinteressado para todos que nasce-ram e vivem neste canto da Europa.Com este pressuposto interroguemo-nos: «como é que se pode arrumar acasa»?Para isso temos de tentar perceberonde está a sua desarrumação.Vamos aceitar que nem todos concor-damos que a invenção do Estado Pro-

vidência é a prova maior de que o Ho-mem é um animal civilizado.Mas já haverá algum consenso se dis-sermos que o Estado Providência é umconceito de paixão construído numtempo de afirmação dos Homens comoiguais entre si e que está a ser destruí-do pela geração que mais benefíciosdele tem retirado.E também se aceitará pacificamente queo Estado Providência funcionou, defacto, durante meio século.Partindo destas duas premissas seráque não é possível, e até desejável co-mo unidade estruturante da vida co-lectiva, que a matriz do conceito sejamodificada sem a descaracterizar, paraa adaptar à nova realidade social?No nosso tempo e no nosso país vive-mos um conflito entre o desejo de cri-ar benefícios para o maior número decidadãos e o desejo de tal propósitonão acentuar o defeito do orçamentodo Estado.E julgo que será aceite por toda a gen-te afirmar que a criação de benefíciosé louvável.Trata-se de qualquer coisa que todosassumimos como adequado ao desen-volvimento embora nos confronte comalgumas dificuldades.Porque nos obriga, a todos sem excep-ção, a desafiarmos a imaginação.Para tentar organizar uma justa, aindaque não equitativa, distribuição des-ses benefícios.Sem critérios de excepção.E com responsabilização dos beneficiários.Ou seja, «se merece, tem».Mas «se não merece e tem» então deveser exemplarmente penalizado comcustos que todos os outros conside-rem que não querem pagar.Com custos que levem os outros que«têm sem merecer» a desistirem, porsi mesmos ou por orientação de tercei-ros, de continuarem a ter.

Exemplos de injustiça social

São muitos estes exemplos. Salientoapenas alguns aparentemente menores.Há quem tenha duas pensões de apo-sentação (aliás, com toda a legitimida-de) e apresente nos serviços de saúde

a de valor mais baixo para ter direitoàs isenções previstas na Lei.Mesmo que a outra pensão seja milio-nária.É um exemplo de quem «tem sem me-recer».Mas ninguém se preocupa com estaquestão e com o desconforto sentidopor quem tem menos do que o deso-nesto e, sabendo do caso, o comentadizendo «eles querem lá saber, só sefosse um pobre é que se interessavam»Porque, de facto, ninguém parece pre-ocupar-se com este tipo de iniquidade.Até porque, entre outras razões, as Co-missões de Protecção de Dados Pes-soais não deixarão de salientar que ocontrolo em causa interfere com a li-berdade individual do cidadão vigaris-ta (ou equivocado, se preferirem).E também porque os Juristas não dei-xarão de encontrar motivos para conti-nuarmos a afunilar os Tribunais comprocessos de defesa desses cidadãosvigaristas que se arrastarão no tempodescredibilizando a Justiça, impedindoo Estado de ser ressarcido de dinhei-ros a que tem direito e permitindo queesse tempo descaracterize os proces-sos com a mira numa amnistia ou numarquivamento.E, infelizmente, esta perversão existe.Não temos que a ignorar por ser desa-gradável.E ainda mais grave é acreditar-se quese o processo transitar em julgado oprovável é que a penalização, se hou-ver, será simbólica, sem qualquer re-sultado pedagógico, porquanto o cri-me é «menor».Talvez até se prefira chamar-lhe «falta»para não estigmatizar o criminoso.Mas é mesmo um crime menor?Mormente aos olhos de quem julga adecisão como favorecimento a um po-deroso?Claro que as nossas Leis pretendemser justas.Mas a impressão do cidadão comum éque também na aplicação da Justiçaexistem duas medidas. E esta suspeiçãonão deve existir.Pelo que uma boa medida seria fazer asLeis sem deixar espaço para este tipo desuspeitas e anular as Leis de excepção.

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Porque estas são, se não todas, quasetodas injustas.E são também justificação para criticaros Legisladores pois o cidadão lê-las-àsempre desta forma: se decidiu assimcom vantagem para este grupo «é por-que havia algum interesse de familiar,amigo ou conhecido com poder» nes-sa formulação legal de excepção.E se calhar, às vezes, têm razão.Aquando da publicação da Lei 90/2009 (muitíssimo melhorada em rela-ção ao Decreto Lei 173-2001 que revo-gou) mantiveram-se os relevantes be-nefícios atribuídos aos incapacitadospor «esclerose múltipla» e alargaram-se esses benefícios aos incapacitadospor «esclerose lateral amiotrófica» quetinham ficado 8 anos esquecidos.Mas o cidadão comum, que até apre-cia o sistema de vantagens particula-res, continua a interrogar-se sobre oporquê desta precisão diagnóstica quedeixa de fora todas as outras doençasdegenerativas do Sistema Nervoso Cen-tral, mesmo as aparentadas com as dobeneficio, algumas das quais mais res-tritivas funcionalmente.(Mas é justo referir-se que esta Lei estábastante melhorada em relação à an-terior porque deixa no ar a possibilida-de de os seus benefícios serem alarga-dos a outras patologias incapacitantesnum futuro mais ou menos próximo).Ou seja, os mal dizentes talvez não te-nham razão.Mas é grave que a interpretação defavorecimento seja aceitável.Porque quando comentada «na rua»se transforma numa verdade possivel.E isto já é inaceitável.Ora o aparelho legislativo portuguêsparece estar inundado de Leis de ex-cepção.E de Leis que são promulgadas semanulação automática das que as con-tradizem assim contribuindo para oalargamento daquele aparelho, comlegislação que diz e se desdiz váriasvezes, em nome da diversidade e dadefesa de particulares que apenas exis-tem na imaginação demasiado elabo-rada desses Legisladores receosos dasua própria sombra.A Lei excepcional mal elaborada é um

«cancro» do aparelho legislativo.Que deve ser prevenido e, quando de-nunciado com razoabilidade, extirpado.E a Lei dos condomínios?A ideia de condomínio, com uma ad-ministração feita pelos seus usufrutuá-rios, deve ter surgido com o objectivode se promover em cada cidadão ohábito de responsabilização de cadaum em relação ao todo «propriedadede um conjunto».Uma espécie de «abc» da cidadania.Mas se a ideia parece boa, entre nós aprática revela-se absurda.Porque se um condómino, seja qual foro motivo, decidir não pagar a sua con-tribuição mensal o único meio de resol-ver o problema é recorrer aos Tribunais.Onde o processo se arrastará anos,interferindo na disponibilidade dos ma-gistrados para tratarem do que, pelasua complexidade, deve ser a sua com-petência.E criando situações nos condomínios deindisciplina total pela impossibilidade dese pressionar o prevaricador, de formasimples, a cumprir a sua obrigação.Para o faltoso enquanto «o pau vai evem» (enquanto o processo se arrastano tempo de tal forma que quando forjulgado ou já não reside naquele lugarou reside mas não recebe oficialmentea correspondência judiciária) as cos-tas folgam-lhe.E no entanto não seria difícil imple-mentar um sistema, como me dizemser o belga, onde há uma figura jurídi-ca destinada a resolver rapidamenteestas situações.Se um condómino belga não pagar asua quota o problema é imediatamen-te referenciado ao «Procurador do Rei»que, sem perder tempo, o resolve.O faltoso pagará o que deve e umamulta por ter obrigado à intervençãodo Estado.E se porventura tiver razão para recu-sar o pagamento também o problemase esclarecerá de imediato, segundo ocódigo do condomínio, sem obrigató-ria intervenção de Advogados e semque se possam utilizar os artifícios econtrovérsias da Lei.De facto entende-se que o que estáem causa é próprio daquela situação

de organização em partilha de um bemcomum não se justificando outro tipode intervenção jurídica.É uma forma de simplificação burocrá-tica que permite a cada cidadão com-preender que as regras de boa convi-vialidade se destinam a ser respeita-das no público e no privado.E é aprender democracia pois, em boaverdade, é treinar a prática da respon-sabilidade e do respeito para com ooutro.Como também o seria uma Lei do ar-rendamento onde se definisse que onão pagamento da renda contratadoimplicaria o imediato abandono da casaalugada.Em vez de termos uma Lei que defen-de o delinquente o que é, no mínimo,absurdo.Mas de facto a Lei promove a criminali-dade sem castigo já que permite que ocriminoso salte de casa em casa todosos anos porquanto o procedimento ju-dicial para uma acção de despejo nãodemora menos do que isso. E aindapermite algumas situações de excep-ção que alongam aquele período detempo com total desrespeito pelo bemestar do proprietário que é ignoradoface ao interesse do inquilino faltoso.Será justo? Será uma Lei adequada aotreino da cidadania?Não é!

Exemplos de injustiça social re-lacionados com os Médicos

Refiro-me às situações de «incapacidadetemporária» para o trabalho e às burlasdas aposentações antecipadas por inca-pacidade para o trabalho por doença.Não há juízos absolutos para decidirnestes particulares.Mas a análise «a posteriori» dos múlti-plos casos que cada um de nós conhe-ce permite perceber que se trata deuma doença crónica do decidir comjustiça, que não sendo problema ex-clusivamente nosso, não deixa de seruma «desarrumação da nossa casa».Temos uma Lei que afirma que quemfor aposentado para uma actividade pordoença «não pode voltar a exercer»essa actividade.

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Mas são seguramente milhares, apesarde não existirem estatísticas, os apo-sentados que continuam a trabalharna sua actividade depois de reforma-dos antecipadamente por incapacida-de para o exercício das mesmas.Não existe, nem parece que venha aexistir, qualquer sistema de controlodestas situações.E não é possível informar os organis-mos profissionais representativos, doafastamento do trabalho dos seus as-sociados por doença incapacitante paraa profissão, mesmo que essa profissãoponha em risco o bem estar de tercei-ros, porque tal atenta contra as liber-dades e direitos individuais.(Apenas é possível avisar a Autorida-de de Saúde no caso dos motoristas.)Mas as entidades guardiãs da defesadestes direitos já não se pronunciamsobre os direitos e liberdades das víti-mas dos potenciais erros que aquelescometam.Do Advogado inapto que deixou cas-tigar o cliente inocente; do Engenhei-ro que errou os cálculos da ponte queconstruiu; do Médico que não tratousegundo a ciência e a arte o seu doen-te; do Técnico de Informática que vi-ciou o sistema eliminando ou adulte-rando o seu trabalho e o de outros;do Operário que não cumpriu as re-gras do seu labor; do Cozinheiro queintoxicou todo um grupo de pessoaspor inabilidade na preparação das re-feições; do Professor que deu informa-ções erradas aos seus alunos que neleconfiaram; do Enfermeiro que trocouas medicações dos seus doentes; e dequantos mais…E também não está prevista uma revi-são periódica da situação de incapaci-dade, 5 ou 10 anos após a reforma,para se avaliar se o contexto aprecia-do continua a ser total e definitivamen-te incapacitante.Tal como também não está previsto queo próprio aposentado, após algum tem-po nesta situação e recuperado dosseus aparentemente definitivos males,reconsidere a sua vida e peça para vol-tar à situação de activo por se sentirpróximo de como era antes.E quer uma quer outra situação per-

turbam os princípios do Estado Provi-dência.Não há a preocupação em o defenderde alguns dos seus exploradores nemde recuperar para ele alguns dos seuseventuais defensores como seriam osque entendessem poder retomar acti-vidade depois de perceberem que osseus males lho permitiam.Não há, de facto, a intenção de trans-formar o direito à aposentação portempo de trabalho activo em algo queo seja de facto.E no entanto já temos uma Lei que,para efeitos de progressão nas carrei-ras do serviço público, considera o tem-po de «baixa» por doença como tem-po não activo perdendo uma promo-ção, em igualdade pontual, quem tiveruma prestação com maior número defaltas ao trabalho.Se esta mesma realidade fosse trans-ferida para a contagem de tempo porantiguidade teria, muito provavelmen-te, significativas boas consequências pa-ra o mundo laboral.Ela obrigava cada trabalhador em inca-pacidade temporária a sentir que o pro-longar inadequado do seu afastamentopor doença significaria, alguns anos maistarde, ter de prolongar o tempo do seuvínculo profissional para atingir o dese-jado número de anos de trabalho activoque permite a reforma automática.E não se veja esta medida como social-mente injusta.Porque não se quer interferir com ovencimento recebido durante a doen-ça, como é habitual fazer-se agora. Pelocontrário, o que parece que se deve-ria implementar era um sistema quemantivesse a totalidade do ordenadodurante a doença mas sem o ganhode um só dia de antiguidade duran-te esse período.Ao se reconhecer a importância dadoença como factor perturbador davida normal de cada um, que se nãopode evitar, mantinha-se o direito aoordenado.Mas reconhecia-se também o facto denão haver trabalho real durante a doen-ça, e isso significar acentuação do tra-balho de outros, com risco de doençapara estes, não se permitindo um acu-

mular artificial de tempo de serviço.Pois esta contagem deve-se referir exclu-sivamente a «tempo efectivo de trabalho».E julgo ser óbvio que uma Lei com estepropósito pedagógico deveria ser pro-mulgada com efeito retroactivo de, pelomenos, dez anos, pois não devem serapenas as Leis que dão vantagens queo devem ter.Esta medida teria como resultado con-frontar muitos dos que se vangloriamde terem conseguido ludibriar o Esta-do com a redução imediata da sua pen-são de reformado.E dava aos que, de entre eles, o quises-sem, a oportunidade de retomarem assuas funções por forma a recupera-rem o tempo de antiguidade efectivaque agora usufruem de forma injustae irregular.Não há normas que sejam absoluta-mente justas.E esta medida, com o seu componentede injustiça relativa em relação a cer-tas doenças de grande disfuncionali-dade, reduziria muito o absentismo queresulta da falta de objectividade decertas queixas.Estas justificam alguma inabilidade dosMédicos para tomarem decisões semrisco de agravamento dos quadros dosseus doentes e algum aproveitamentodestes, demasiado cheios de pena desi mesmos por se julgarem castigadospela doença e com direito a permane-cer, quiçá definitivamente, no culto dassuas limitações e do medo de um devirque, as mais das vezes e felizmente, sóexiste na sua imaginação.Mas ainda na problemática da Saúdeserá que tem sentido oferecer aos emi-grantes, legalizados ou não, indiferen-ciados de facto ou por necessidade,escuros ou claros, um serviço de aten-dimento assistencial sem qualquer cus-to e um receituário que muitas vezesnão conseguem comprar, acentuandoainda mais as suas angústias?Mormente quando se percebe que umafranja significativa destes apenas estádesenraizada, sem referências, em con-dições que os levam a recorrer de for-ma repetida mas ineficaz aos serviçosassistenciais procurando um bem es-tar que apenas se pode encontrar no

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retorno à realidade cultural que, porrazões respeitáveis, abandonaram.É uma situação delicada que exige es-tudo para se procurar evitar que estescidadãos que nos escolheram comopaís de acolhimento se transformem, acurto prazo, em agentes de despesassociais sem qualquer contrapartidaprodutiva.E sem benefício para os próprios por-quanto aquilo que é a sua necessida-de e que melhoraria as suas queixas éalgo que os serviços assistenciais nãotêm para dar.Além de que os medicamentos prescri-tos, sendo habitualmente pouco úteis,são um custo sem sentido que diminuimuito os seus parcos rendimentos.

Mas há mais situações de injusti-ça social

Há actualmente um outro exemplo deinjustiça social gritantemente absurdoque merece ser referenciado neste re-cordar de problemas menores para«arrumar a casa»: a existência de em-presas uninominais, que não criam em-pregos, não partilham dividendos e na-da têm de original que as distinga daactividade liberal individual.(Não falando de outras que, persisten-temente, não têm lucros ou que reco-nhecem falência determinando deses-pero e perdas financeiras dos empre-gados sem que se note repercussão evi-dente nas capacidades económicas dosempregadores.)Mas em relação às uninominais a im-pressão que o cidadão comum cons-trói é que o seu objectivo é permitiraos «Legisladores & Amigos, Lda» iremde férias pelo mundo, comprarem umsofá novo para a sua casa, trocar decarro, fazerem uma festa ou qualqueroutro gasto sumptuário, e incluírem es-

sas despesas na conta da «companhia»assim reduzindo as suas obrigações fis-cais pois, muitas vezes, com tanto gas-to nem lucro alcançarão.Todos sabem que se trata de um artifí-cio para se não cumprirem deveres so-ciais, tal como todos (ou quase) suspei-tam que são criação consciente para,legalmente, os «influentes» se desviaremsem penalização daqueles deveres.Com este artifício, exactamente o mes-mo tipo de despesas do quotidiano,são «trabalho» para os trânsfugas aofisco e são «lazer» para os que sentemos impostos como dever e, de bom oumau grado, os pagam.Os exemplos podem repetir-se.Mas deixo a cada leitor o objectivo deponderarem nos que conhecem.

Conclusão

Fica «no ar» a ideia de que os exem-plos se repetem e que a sua denúnciaseria um caminho para resolvermosalgumas injustiças aparentemente ób-vias.E pretendo que estas pequenas gran-des singularidades da nossa vida co-lectiva provam que necessitamos de sa-ber «arrumar a casa» para, efectiva-mente, eliminarmos o discurso «cassé-tico» sobre o defeito.Terei razão?Admito que não. – Mas também admi-to que o facto de elas corresponderema modelos que se repetem exaustiva-mente no nosso quotidiano, podendooutras sensibilidades referenciarem di-ferentes situações igualmente menoresmas de custos elevadíssimos para to-dos, são, isso sim, demonstrativas deque «a casa está desarrumada».E uma casa desarrumada não acerta opasso com o progresso, com a respon-sabilidade colectiva, com a partilha,

com a solidariedade, com as formas de«humanização plena do homem».Por mais ardilosamente que algumasmedidas sejam propostas ao cidadãopagador de impostos, para serem acei-tes como inevitáveis, a ideia de que tu-do passa por entendimentos a que seassociarão excepções com «o objec-tivo de beneficiar as partes do todoque são habitualmente beneficiadas»conspurca e desacredita o projecto.Mas se essas medidas se associarem aoutras, mesmo que consideradas comomenores, mas que sejam abrangentese eficazmente aplicadas, com real e pe-sada (porque terá de ser necessaria-mente simbólica) penalização do pre-varicador seja ele quem for, então tal-vez seja possível fazer com que hajamais cidadãos a pagar impostos, talvezexistam menos empresas fictícias a per-mitirem fugas legais a este dever e tal-vez se desenvolva em cada cidadão umsentimento de cooperação e respon-sabilidade sociais.Esta forma de estar será a única quepermitirá que o país deixe de viver delamentos e seja expurgado dos que oexploram por viverem apenas olhan-do para si.E faz sentido referir que até estes, ossempre beneficiados, perceberão queo desenvolvimento partilhado implica-rá diminuição da conflitualidade sociale, como natural consequência desta,uma muito melhor segurança quotidia-na individual.E decerto que para eles, como paratodos nós, esta não será uma vanta-gem menor…

(Texto baseado em outro similar envia-do há anos para as direcções das Cen-trais sindicais e para os gabinetes doPrimeiro-Ministro e de um comentadorpolítico)

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Tanto gosto de verO Mar sempre a dançar!Sempre… sempre a bailar…Vejo-o com enorme prazer!Onda vai… onda vemRitmo certo tem!Uma onda se vem quebrarNa areia junto a mim…Quererá convidar-me, assim,A com ela ir bailar?!Logo a seguir, vejo-a recuarPara com outra se encontrarQue também vem a bailar!...

Uma vem…Outra vai!...Uma vem de forma compassadaSeguida de outra mais animada…No meu imaginário vejo-as a valsar!

Absorta, começo a imaginarA música que as faz bailar…Onda vai…Onda vem!...Começo então a bailarCom a onda que me vem beijar!...

C U L T U R A

Na última ROM, por lapso, indicámos oeditor deste livro como sendo PedroMartins. Na verdade trata-se de uma Edi-ção do Autor Jorge Cabral Araújo.

A DANÇA DO MAR

Maria do Carmo Fernandes

Correcção

Prémios SOPEAM2009

Publicamos a lista de premiados

SOPEAM em 2009.

PRÉMIO “ABEL SALAZAR” ENSAIO: Alfredo Ribeiro dosSantos – “HISTÓRIA DA LITERATURA DO PORTO”Menção Honrosa: Armando Moreno – “MEDICINA E MI-TOS”

PRÉMIO “FIALHO DE ALMEIDA” FICÇÃO: António Trabulo– “RETORNADOS – O ADEUS À ÁFRICA”Menção Honrosa: Miguel Miranda – “O REI DOVOLFRÂMIO”

PRÉMIO “MÁRIO BOTAS” PINTURA: Maria Fernanda TorgalMenção Honrosa: Júlio Pêgo

PRÉMIO “SILVA ARAÚJO” FOTOGRAFIA: A. João LuisQueiroz Taborda – “PINTURAS”Menção honrosa: José Carlos Sarmento – “PRAIA DA MI-NHA FANTASIA”

Nota: O Prémio Revelação não foi atribuído

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A sua concepção ou conceito, finali-dade ou utilidade ou o esforço mentalque as impulsiona são objectivo desteensaio. O «pensar clínico» não deixouindiferentes pintores como Picasso aocontrastar o pensamento médico aosda religião e da caridade, Rembrandtao desvendar o movimento dos mús-culos do antebraço numa homenagemao conterrâneo o anatomista Vesálio.O exemplo francês tem em XavierBichat uma primeira ideia ao demons-trar a noção de «tecido», de planos deseparação naturais que delimitam asvísceras ou regiões e cujas alteraçõesna necropsia têm alguma correspon-dência com as queixas dos doentes. Acorrespondência foi confirmada porLaennec «em vida» e com o estetos-cópio em 6 entidades. Claude Bernardalargou o conceito para lá da Clínicae da Anatomia com a Fisiologia, Far-macologia, Toxicologia e a teoria dahemostasia do meio interior. A emprei-tada francesa influenciou hospitaisnoutras capitais europeias (p.e. Hospi-tal São José), durante 1 ano, em enfer-marias com visitas médicas, institucio-nalização das autópsias e debate diag-nóstico. Corvisart estabelecia o con-

IDEIAS EM MEDICINANem sempre anunciadas pela «Eureka» de Arquimedes, as ideias não raro

são «encontradas sem procurar» depois de «procuradas sem encontrar».

tacto entre o Imperador e os médicosparisienses, insistia na valorização dasqueixas dos doentes e recuperou doanonimato a obra austríaca, ondeAuenbrugger descreve a percussãonas doenças do tórax. O mesmo Corvi-sart introduziu a auscultação em Vie-na sem despertar entusiasmos. Um clí-nico austríaco ironisou «sou um ópti-mo músico, tenho um ouvido apuradomas nunca ouvi uma pneumonia to-car violino». Foi o checo J. Skoda quemimpôs a língua alemã na 1.ª conferên-cia médica em Viena sobre a percus-são e auscultação, com o apoio de VonHelmholtz, pai da acústica moderna.Em França a autópsia tornou-se ométodo de estudo quase exclusivo.Bichat declarara mesmo não com-preender como poderiam as ideiaspermanecer claras depois de mais demeia hora ao microscópio numa salaescura. Um matemático, PierreCharles, não convenceu com a esta-tística, já em 1835 quando sugeriu quea sangria poderia aumentar a morta-lidade pela relutância médica em acei-tar a estatística no estudo de fenóme-nos biológicos. O próprio Pasteur tam-bém não impôs as estruturas mi-croscópicas móveis alinhadas «en ban-delletes» ou aos montes «en amas»,identificadas na nomenclatura poste-rior de Koch como estreptococo e es-tafilococo. O químico de Lille tambémnão impressionou os médicos com acausalidade de certas zoonoses comoo carbúnculo e dele comentava-seque «talvez perceba alguma coisa dequímica mas seria melhor deixar aMedicina aos médicos».Outro êxito pasteuriano foi o de li-bertar o vinho francês do gosto áci-do atribuído a «formas microscópi-cas», ambos suprimidos por ligeiroaquecimento; daí o hábito de servir ovinho, depois de arejado à tempera-tura ambiente ou chambré. A deteri-

oração da seda aumentou o seu su-cesso ao associar a causalidade da«pervine» (pontos negros da larva) àdeficiente higiene. A limpeza escrupu-losa das instalações eliminou o fenó-meno e restituiu à seda a resplande-cência, leveza e a fluidez na marchaque faltavam ao linho tradicional, tãodo agrado feminino.O impacto económico das novas idei-as permitiu à França saldar as pesadasmultas alemãs (guerra de 1870) o quede modo definitivo impôs Pasteur jun-to dos franceses mas não junto dosmédicos onde a autópsia e o debatepermaneceram o principal esteio clí-nico. Restaria ainda a Pasteur a glóriada 1.ª cura de um doente com o soroantirábico, a pasteurização (v.g. leite)e a esterilização (cirurgia).Nos fins do séc. 19 a Alemanha já ocu-pava o lugar preponderante na inves-tigação. Koch introduziu os principaismeios de cultura, identificou colóni-as, as características gerais de bacté-rias e cocos e (com Pasteur) criou aBacteriologia. São epopeias a identifi-cação do vibrião da cólera e do agenteda tuberculose. Na década de 1880– 1890 os investigadores alemãesidentificaram ao microscópio as prin-cipais causas das doenças infecciosas.Behring foi aclamado pela seroterapiaantidifterica e a queda vertical dumadoença, considerada a «matança dosinocentes». Ehrlich introduziu a sero-terapia, em Berlim e em Franckfurtonde iniciou a quimioterapia como oprimeiro medicamento antisifilitico,Salvarsan.Virchow consagrou a microscopia e ateoria celular da doença e seus meca-nismo (sepsis, fibrose, necrose, anoxia,tumores e doenças do sangue).Os prémios Nobel (início do séc. 20)prestigiaram a ciência alemã com aatribuição a Von Behring do 1.º deMedicina e a Von Roentgen do 1.º da

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A. Coutinho de Miranda

– 1ª de 2 partes

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Física. Na viragem do século (1895)Wilhelm Roentgen introduziu os Rai-os X, no ano seguinte foi a vez doesfigmomanómetro de Riva-Roci e em1901 o electrocardiograma de WillemEinthoven. Eram os tempos da ilumi-nação das cidades, saneamento bási-co e esgotos e em Lisboa CurryCabral iniciava obras no Hospital deSão José e a construção nos arredo-res da cidade do futuro hospital dedoenças infecciosas, com a ideia deisolar o doente e prevenir o contágioda tuberculose.

As Escolas Médico Cirúrgica e ostempos de Egas e Pulido em San-ta Marta

As Escolas Médico Cirúrgicas (1815, 1836– 1910) inauguraram novos tempos emLisboa (Hospital de São José) e no Porto(Hospital de Santo António) e contri-buiram para o reconhecimento médicoportuguês com a organização do 15.ºCongresso Internacional de Medicina(1904) e a inauguração, para o efeito,do Palácio do Campo de Santana.Duas personalidades insígnes marca-

ram a primeira metade do séc. 20.:Pulido Valente (1884-1963) frequentoua Escola Médico-Cirúrgica de Lisboaem 1909 e era em 1920 professor dePatologia Médica da FML. Uma das suasideias foi a de articular o Serviço deMedicina (Hospital de Santa Marta) eos congéneres em especial o de Cirur-gia. Preocupou-se com a prática dosalunos, observar um grande e diversi-ficado número de doentes, reforçar asbases científicas da profissão, investi-gar com um laboratório próprio emanter o contacto com o médico de-

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O número sete fascinou o Homem desde sempre – sete viagens de Sinbad, o Marinheiro, sete sábios da Grécia, sete idades do Homem(segundo Shakespeare), sete artes medievais. Também são sete os dias da Criação, sete os sacramentos e sete os dias da semana. Nosestabelecimentos medievais dedicados à assistência eram sete as injunções da religião, que o quadro, reproduz para conhecimento ecumprimento dos fiéis e à boa maneira religiosa.A partir do canto inferior direito, e no sentido dos ponteiros do relógio, identifica-se o ajudar do pobre com uma esmola (1); vestir quemnecessita (2); alimentar, dar de comer e beber ao carenciado (3); dar um tecto ou «internamento» a quem necessitar (4); visitar os presos(5); enterrar os mortos (6); acolher os peregrinos (7) – afinal, as tarefas primordiais do internamento e «banco». É interessante recordar oétimo comum de hospital, hotel, hóspede. Emile Forgue um cirurgião francês professor e tratadista com muita audiência no período entre asduas guerras destacava o mérito de novas profissões que vinham surgindo da medicina como os desenhadores, que acompanhavam oscirurgiões, alguns deles verdadeiros artistas e necessários.Museu Boymans Van Beuningen, autor desconhecido, c. 1580, Roterdão – Holanda

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pois deste deixar a universidade. Eramposições que poderão parecer puerismas foram na altura inovadoras. A es-tatura do médico permitiu um saltoqualitativo da profissão, consolidadocom o contrato de um Professor deAnatomia Patológica Volhwill, seguidorde Virchow, refugiado da Alemanha nazie cooperador na divulgação em Por-tugal do método anátomo clínico. Ochoque de conhecimentos entre o clí-nico sagaz e o anatomopatologista nãodeixavam detalhes por explicar e cria-ram, mais que modificaram, a mentali-dade médica portuguesa. Foi experi-ência ininterrupta de uma década, iní-cio dos tempos actuais e são legião osclínicos que beneficiaram da influên-cia de Pulido Valente, em alguns dosquais era possível testemunhar o en-tusiasmo pelo Mestre de tempos pas-sados, ainda em finais de 1990. Algunsnotabilizaram-se na criação de servi-ços e novas especialidades como DiogoFurtado ao criar o 1.º Serviço de Neu-rologia no país (Hospital dos Capu-chos) de modo a atenuar o atraso como que se vinha fazendo no Estrangei-ro. Outro seguidor Fernando Fonsecateve um papel importante na doençainfecciosa (Hospital Curry Cabral) in-teressando-se pelo seu tratamento ediagnóstico laboratorial (que começa-vam a ser possíveis). O centenário donascimento de Fernando Fonseca reu-niu em sessão comemorativa na Fun-dação Gulbenkian (1995) presidida pe-lo seu Presidente, com mais de 400médicos. Na oportunidade foi distri-buído um livro comemorativo onde serelatam acontecimentos da época, in-cluindo a exoneração pública, sem cul-pa formada ou inquérito, de Pulido eum grande número de seguidores em1947, como o próprio Fonseca.Pulido Valente é ainda lembrado pelatertúlia cívica no próprio consultóriocom pessoas de cultura, muitos não-médicos como juristas e artistas comquem mantinha debate alargado a vá-rios temas nacionais. O quadro do pin-tor Abel Manta tornou-se um ícone daMedicina Portuguesa exposto no Mu-seu da Cidade. O risco da exoneraçãoinviabilizava de imediato e atrasou cer-

tamente a divulgação do métodoanatomoclínico, e o advento da Ana-tomia Patológica, Bacteriologia, Análi-ses Clínicas, Citologia e da própria Ci-rurgia e constituiu uma violência cívi-ca, cultural e política inominadas.Egas Moniz (1875-1955) licenciou-see obteve o título de Professor na Fa-culdade de Medicina de Coimbra. Re-conhece estarem as Escolas MédicoCirúrgicas de Lisboa e Porto mais in-tegradas no movimento científico mun-dial enquanto Coimbra continuava«apegada ao velho estatuto pombali-no», sem a separação entre Medicinae a Cirurgia. Moniz mudou-se cedo paraLisboa (FML, Hospital de Santa Marta)e não tardou a mostrar os traços dasua personalidade marcada pela inte-ligência, desassossego científico e umnotável autodidatismo. Entre a Alema-nha então líder do desenvolvimento ci-entífico demasiado longe e a Espanhademasiado perto mas com um Cajal eRio Hortega celebrados optou pelaFrança onde se deslocava várias vezespor ano e o fascinava ouvir «opiniõesfirmadas em factos e observações pró-prias», em serviços com pendor neu-rológico como os de Pierre Marie(Salpetrière), Babinsky (Pitié) Déjerinee Sicard entre outros. Participou dassuas ideias, progressos, interrogações(de manhã clínica, à tarde estudo depeças anatómicas) e era frequentadorregular das Sociedades Médicas pari-sienses. Quando Sicard introduziu olipiodol no diagnóstico da compressãomedular Moniz interrogou-se pela pri-meira vez sobre um processo de visua-lizar as artérias cerebrais. O própriorecorda numa das deslocações a Parisa entrada na sala onde Sicard proce-dia a uma palestra, interrompida pelopróprio que o interpela «vous êtes laM. Moniz (?) est-ce que vous nousapportez du Portugal quelque chosepour faire la localisation des tumeurscérébrales?» Eram assim os dias deMoniz insaciável por aprender, e emParis um homem da casa. Retirado re-corda as horas de escrita o pensamen-to criador que o inspirou, os doentese conceitos da sua Metodologia Cien-tífica. Ecléctico não se coibiu de algum

mundanismo, como a culinária, as ca-sas privadas que frequentou como ado próprio J. Babinsky (Ali Bab, na in-timidade), o «melhor» entre todos etambém «mago» da culinária. Antes dese consagrar à investigação Moniz foraparlamentar, Ministro dos Estrangeiros(Sidónio Pais) e chefe da delegaçãoPortuguesa à Conferência de Paris(1918). A escolha da carreira de in-vestigador pelos 42 anos de idade im-plicou o abandono de qualquer outrafunção que não a medicina. O prémioNobel nasceu duma proposta brasilei-ra no 1.º Congresso Internacional dePsicocirurgia, no Hospital de SantaMarta (1948), aprovada pelos congres-sistas de 27 nacionalidades e atribuí-do no ano seguinte. Também é lembra-do pela influência na criação da Psico-cirurgia, pela obra escrita científica vas-ta e pela arteriografia, ainda hoje in-dispensável no diagnóstico e terapêu-tica dum grande número de situações.As suas «Memórias» merecem a leitu-ra atenta de quem se interesse pelainvestigação clínica ou por mera curi-osidade intelectual; a escrita simples,fácil mas rica e não raro empolgante eexemplar num país onde os médicosactuais nem sempre se sentem enco-rajados a escrever ou divulgar ideiasou meras impressões profissionais.

Algumas interrogações de umaluno da FML (1953-1959), no Hos-pital de Santa Maria

Foram anos especiais – inauguraçãodo Hospital de Santa Maria; ideias no-vas em Medicina (como a estrutura doDNA em 1953); criação legal das espe-cialidades de órgãos; em plena guerrafria; mobilização no período de 1961/74 e pessoal entre o curso terminadoe o internato adiado. Teriam existido«novas ideias» no «meu» curso da FMLhá meio século?Uma novidade no 4.º ano foi a Pato-logia Geral destinada a «suavizar» apassagem das disciplinas básicas, con-cretas, científicas e afirmativas para ashumanas, versáteis e disjuntivas. Eramentão e ainda frequentes, a visão fran-cesa flamejante com a postura «du

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symptome à la maladie» mas os auto-res americanos apostavam na fisiopa-tologia então «en plein essor», comobom meio de transição. Foi encarre-gado da cadeira o Professor da Fa-culdade Fernando Nogueira, já na al-tura Director de Serviço dos Hospi-tais Civis de Lisboa, reputado clínico,exímio no diálogo entre a objectivi-dade da autópsia e a sensibilidade clí-nica.Inovação foi a Deontologia com umaideia não-científica, hoje inseparável daprofissão – as implicações jurídicas doacto médico. Com os colegas HelenaMartins e Helder Martins oferecemo-nospara elaborar as «Folhas» da nova dis-ciplina, junto do responsável MillerGuerra, professor de Neurologia, antigoAssistente de Egas Moniz e futuroBastonário Médico, com boa ligação aosjovens, um raciocínio vigoroso, apoia-do em palavras bem escolhidas, argu-mentação convincente e exposição deextrema elegância.Especialidade introduzida no Curso foia Ortopedia. O nome era uma reminis-cência londrina dos tempos vitorianosdifíceis para a infância desamparada,desprotegida e escoliótica. A especia-lidade iria sofrer nas décadas seguin-tes uma metamorfose – da criança pas-sou a ser cada vez mais do adulto e doidoso; de médica passou a ser mais ci-rúrgica; de convencional tornou-semais arrojada indo ao encontro de no-vas realidades e da importante distor-ção demográfica actual; na altura tal-vez fosse dispensável como disciplinado curso.Novidade foi a dissertação de licencia-tura, o que no meu caso implicou umaentrevista com Miller Guerra que meapresentou a Almeida Lima, figuraintimidativa, depois com maiorconvivialidade, que me propôs um es-

tudo sobre o «circulo venoso perifocal»,uma imagem angiográfica intrigante des-crita por Egas Moniz.; Comigo e comoeu, um outro colega do Liceu Salazar, J.Gama Afonso, ambos quase na data li-mite para preparar a dissertação. Aexigência não era má ideia mas seriacontrariada pelos estudantes, tida comonão oportuna num curso de 6 anos eum de estágio e abolida anos depois.A umas décadas de distância o estudobásico de três anos foi de máxima uti-lidade. A Bacteriologia ministrada no Ins-tituto Câmara Pestana com noções deImunologia por Cândido de Oliveiranão sairia diminuída no confronto coma de qualquer outro país, apesar dasaulas vespertinas e em pleno pospran-dio. A narrativa de uma bactéria poraula era apresentada de modo inexce-dível, para o que contribuía a patinedo ambiente à século 19. As aulas prá-ticas com microscópio individual,Bunsen e Petri, colónias, esfregaço, co-loração e tudo mais era da respon-sabilidade dos jovens e brilhantes as-sistentes Torres Pereira, Carvalho Ara-újo e Jacinto Simões. Tive de «voltar» abacteriologia por razões de carreirahospitalar sem ter tido a necessidadede «refrescar conhecimentos». A outradisciplina de microscópio foi introduzidapor A. Celestino da Costa, histologistae embriologista de renome internacio-nal, influência francesa e autor traduzi-do e apreciado em França. No meu anodava lugar a Xavier Morato, professorda FML e Chefe de Serviço dos Hos-pitais Civis de Lisboa, que como MillerGuerra dava aulas com inexcedível ele-gância, prendendo a atenção do primei-ro ao último minuto. Talvez Miller Guer-ra fosse mais «silábico» com a força napalavra e Xavier Morato mais «se-mântico» com a força na frase. A seme-lhança entre ambos é que nenhum re-

corria a apoios de exposição e amboseram ouvidos em silêncio só perturba-do pelo raspar das esferográficas dasboas alunas da 1.ª fila, do primeiro anoe num imponente anfiteatro.Quando o Hospital foi inaugurado, umprofessor da FML, Cid dos Santos, con-siderou que com o seu gigantismo os«alunos iriam perder-se nos corredo-res e os professores não se iriam en-contrar». Um dos professores, Eduar-do Coelho de quem fui estagiário, eraadmirador da medicina holandesa, se-guidor das ideias de Boerhave e adop-tara a «visita médica» como marca dasua actividade onde não dispensava apresença dos colaboradores. Sensívelaos avanços da Medicina, introduziu edivulgou o cateterismo, insistiu nasnovas tendências da medicina e influ-enciou uma primeira geração decardiologistas e internistas. Contavaentre os seus colaboradores com jo-vens de grande mérito como FernandoPádua, S. Amran, Sales Luís e A.Saragoça, destinados a uma carreira deprestígio. O sucessor, Fernando Pádua,associou as novas tendências demográ-ficas com a elevada incidência de do-ença cardiológica, e divulgou impor-tantes medidas preventivas junto dopúblico.Também influente e ainda da geraçãode E. Coelho, mas mais jovem, foi Ar-sénio Cordeiro com muito brilho didác-tico no modo de expôr e argumentar.Foi responsável com o seu sucessor,Carlos Ribeiro, futuro Bastonário Mé-dico, pela criação da primeira unidadede tratamento intensivo (v. g. cardíaco)em Portugal, no início dos anos 60 pro-fissional e público.A demografia e a «chegada» à cabeceirado paciente de novas ideias vinha do pós-guerra e reformulou a praxis, deontologiae ética médicas.