rodrigues, charmene ribeiro. as ações psicopolíticas no

55
0 ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CAEPE 2015 MONOGRAFIA (CAEPE 2015) As ações psicopolíticas no ambiente das Nações e o processo de contenção dessa ameaça no Brasil. Professora CHARMENE RIBEIRO RODRIGUES

Upload: phamhuong

Post on 07-Jan-2017

214 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

0

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA

DEPARTAMENTO DE ESTUDOS CAEPE 2015 MONOGRAFIA (CAEPE 2015)

As ações psicopolíticas no ambiente das Nações e o

processo de contenção dessa ameaça no Brasil.

Professora

CHARMENE RIBEIRO RODRIGUES

1

CHARMENE RIBEIRO RODRIGUES

AS AÇÕES PSICOPOLÍTICAS NO AMBIENTE DAS NAÇÕES E O PROCESSO DE CONTENÇÃO DESSA AMEAÇA NO

BRASIL.

Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia. Orientador: Cel. Luiz Cláudio de Souza Gomes (EB)

Rio de Janeiro 2015

2

C2015 ESG Este trabalho, nos termos de legislação

que resguarda os direitos autorais, é considerado propriedade da ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (ESG). É permitida a transcrição parcial de textos do trabalho, ou mencioná-los, para comentários e citações, desde que sem propósitos comerciais e que seja feita a referência bibliográfica completa. Os conceitos expressos neste trabalho são de responsabilidade do autor e não expressam qualquer orientação institucional da ESG. _________________________________

Professora Charmene Ribeiro Rodrigues

RODRIGUES, Charmene. TÍTULO DA OBRA: AS AÇÕES PSICOPOLÍTICAS NO AMBIENTE DAS NAÇÕES E O PROCESSO DE

CONTENÇÃO DESSA AMEAÇA NO BRASIL.

Professora Charmene Ribeiro Rodrigues. - Rio de Janeiro: ESG, ano 2015.

50 f.: il. Orientador: Cel. Luiz Cláudio de Souza Gomes (EB)

Trabalho de Conclusão de Curso – Monografia apresentada ao Departamento de Estudos da Escola Superior de Guerra como requisito à obtenção do diploma do Curso de Altos Estudos de Política e Estratégia (CAEPE), ano 2015.

1. Psicopolítica. 2. Propaganda. 3. Ação indireta.4.Contrapropaganda.

3

DEDICATÓRIA

A Deus que dotou os homens de inteligência e discernimento. Ao estimado orientador Cel. Luiz Cláudio de Souza Gomes (EB), que dedicou horas afinco a direcionar o conhecimento contido nesta monografia. A todos da família que durante o meu período de formação contribuíram com ensinamentos e incentivos. A minha gratidão, em especial ao meu esposo, Tiago do Amaral Rodrigues, pela compreensão, como resposta aos momentos de minhas ausências e omissões, em dedicação às atividades da ESG.

4

AGRADECIMENTOS Aos meus professores de todas as épocas por terem sido responsáveis por parte considerável da minha formação e do meu aprendizado. Aos estagiários da melhor Turma do CAEPE pelo convívio harmonioso de todas as horas. Ao Corpo Permanente da ESG pelos ensinamentos e orientações que me fizeram refletir, cada vez mais, sobre a importância de se estudar o Brasil com a responsabilidade implícita de ter que melhorar.

5

“ Palavras mansas e preparativos crescentes são sinais de que o inimigo está prestes a avançar. Linguagem violenta e ímpetos de avanço como que para o ataque são sinais de que ele irá se retirar. ”

Sun Tzu

6

RESUMO Esta monografia abordará a problemática da dominação sem armas no ambiente

das nações, bem como as formas de conter esse tipo de ameaça no Brasil. A técnica da psicopolítica, representada em ações internas pela subversão psicológica inconsciente e externas pela subversão do ambiente, é uma nova modalidade de guerra, cuja arma utilizada é o Processo de Transformação Molecular e da construção de um Senso Comum, derivado de ideologia difusa e subordinada a uma verdade acrítica, segundo RAGAZZINI. Lamentavelmente, desde a Revolução Francesa, há relatos da persuasão, propaganda, desmoralização e contrariedades nas informações, para que as massas, motivadas pelo apelo afetivo de seus líderes construam uma revolução. Por muito tempo, as guerras mundiais e os conflitos diplomáticos foram decididos pela estratégia direta (exércitos contra exércitos). Na história da humanidade, durante a II Guerra Mundial, no século passado, legitimou-se a guerra psicológica, cuja finalidade era enfraquecer o moral dos soldados e confundir o inimigo pela desinformação. Desde então, as técnicas de guerra psicológica passaram a ser aprimoradas e usadas nas propagandas políticas, contra as liberdades individuais, as instituições e a soberania dos países alvo. Devido às atuações estratégicas indiretas, identificadas no território brasileiro, destaca-se a importância de trazer à luz as teorias geopolíticas do General Meira Mattos (discente e analista da Escola Superior de Guerra) para conter ameaças de ações psicopolíticas no território brasileiro. As Estratégias de contenção, elaboradas a partir do Pensamento Estratégico do General Meira Mattos, destacam a importância da dissuasão, da persuasão, da convicção e da participação espontânea dos brasileiros, e o desenvolvimento fomentado pela elaboração de planejamento estratégico de longo prazo, originado do ato de pensar os problemas do Brasil. Palavras Chave:

Psicopolítica. Propaganda. Ação indireta. Contrapropaganda.

7

ABSTRACT

This monograph deals with the problem of domination without the use of weapons in the international stage, as well as ways to fight this kind of threat in Brazil. The psychopolitical technique, which is carried out through unconscious psychological and environmental subversion, is a new form of waging war, the weapon of which is the so-called “Molecular Transformation Process” and the construction of a new “common sense” derived from a diffuse ideology and subordinated to an acritical truth, according to RAGAZZINI. Unfortunately, since the French Revolution, there have been reports of persuasion, propaganda, demoralization and counterinformation, in order that the masses, motivated through their leaders' charismatic appeal, enact a “revolution.” For a long time, wars and diplomatic conflicts throughout the world have been decided through direct strategy (armies agains armies). Since World War II last Century, psychological warfare came to be considered a legitimate weapon with the aim of weakening the morale of soldiers and confusing the enemy through disinformation. Since then, “psychological war” techniques have been refined and used in political propaganda and against personal freedoms, institutions and the sovereignty of target countries. Due to indirect strategic actions, identified within Brazilian territory, this monograph emphasizes the importance of making use of the geopolitical theories of Gen. Meira Mattos (teacher and analyst in the Escola Superior de Guerra) in order to contain the threat of psychopolitical actions within the national territory. The containment strategies, elaborated from the strategic thought of Gen. Meira Mattos, emphasize the importance of dissuasion, persuasion, conviction and spontaneous participation of Brazilians, as well as the development fostered by long-term strategic planning, originated in the act of thinking on Brazil's problems.

Keywords: Psychopolicy. Propaganda. Subversion. Against propaganda.

8

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

COTER Comando de Operações Terrestres do Exército Brasileiro EUA Estados Unidos da América SS Schutzstaffel, unidade paramilitar Nazista

9

SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO------------------------------------------------------------------------

10

2 CONCEITOS E FUNDAMENTOS------------------------------------------------ 11 2.1 PSICOPOLÍTICA---------------------------------------------------------------------- 11 2.1.1 A Teoria da Psicopolítica--------------------------------------------------------- 11 2.1.2 A Psicopolítica nominada Religião-------------------------------------------- 16 2.1.3 A Psicopolítica na Filosofia------------------------------------------------------ 17 2.1.4 Foucault: a contribuição para a psicopolítica----------------------------- 20 2.1.5 Atuação da Psicopolítica no indivíduo-------------------------------------- 22 2.2 PONEROLOGIA ---------------------------------------------------------------------- 25 2.3 PROPAGANDA E PSICOPOLÍTICA -------------------------------------------- 29 2.4 GUERRA PSICOLÓGICA ---------------------------------------------------------

33

3 O HISTÓRICO DO USO DA PROPAGANDA POLÍTICA NAS NAÇÕES E NO BRASIL EM TEMPOS DE PAZ E DE GUERRA.

38

3.1 DE JOANA D’ARC A REVOLUÇÃO FRANCESA---------------------------- 38 3.1.1 Guerras Mundiais------------------------------------------------------------------- 39 3.1.2 O Pré- Foquismo--------------------------------------------------------------------- 41 3.1.3 A Propaganda Norte Americana------------------------------------------------ 43 3.1.4 O Terrorismo-------------------------------------------------------------------------- 44 4 AS ESTRATÉGIAS DE CONTENÇÃO À AMEAÇA DE AÇÕES

PSICOPOLÍTICAS NO BRASIL, FUNDAMENTADAS NOS ESTUDOS DO GENERAL MEIRA MATTOS. --------------------------------

47

5 CONCLUSÃO------------------------------------------------------------------------- 52 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS--------------------------------------------- 53

10

1 INTRODUÇÃO

O uso de técnicas psicológicas ganhou sofisticação e, como nunca, passou a compor o rol das ações estratégicas mais eficientes, pois se apropria dos bens do inimigo, sem danificá-los e domina-se uma nação sem armas.

A partir do conhecimento sobre ações indiretas por meio da psicopolítica o presente estudo apresenta três momentos importantes. O primeiro momento aborda os conceitos teóricos fundamentais sobre psicopolítica, ponerologia, propaganda política e guerra psicológica.

O segundo Momento dá ênfase ao aspecto histórico do uso da propaganda política em tempos de paz e de guerra no Brasil e no âmbito das Nações.

E por último, o terceiro momento destaca, a partir da visão do General Meira Mattos, os meios legais para conter a ameaça de ações psicopolítica no Brasil, na atual conjuntura do século XXI.

A pior ameaça é aquela que não pode ser percebida e identificada para contê-la e as ações indiretas psicopolíticas representam este risco invisível que exige das Instituições de Defesa uma capacidade dissuasiva pontual, uma atividade persuasiva presente, ambas somadas à promoção do desenvolvimento humano, ao planejamento estratégico de longo prazo e à definição dos objetivos de governo e de Estado.

11

2 CONCEITOS E FUNDAMENTOS

2.1 PSICOPOLÍTICA Segundo Mienviellle, o primeiro estudo sobre a Psicopolítica foi divulgado em

1955, por Charles Stickley, logo em 1956, Kenneth Goff divulgou texto usado pelo renomado policial Laurenti Beria da antiga União Soviética.

O termo psicopolítica é referência ao aspecto político e coletivo. De acordo com Mienvielle (1963, p.2):

[ ...] pela pratica da Psicopolítica, povos inteiros se convertem em laboratórios onde indivíduos ou grupos, mais ou menos grandes, de indivíduos são submetidos, com diferentes técnicas, ao tratamento de domesticação, como se fossem animais vulgares, dos quais não se trata senão de ter maior rendimento com o menor esforço .Dessa forma, ciências nobilíssimas, como a Política e a Economia, que até aqui eram consideradas com ciências de valor humano, convertem-se em técnicas de domesticação coletiva, que não ultrapassam a esfera da fisiologia animal. 2.1.1 A TEORIA DA PSICOPOLÍTICA

No livro, Psicopolítica: a guerra psico-cerebral o autor Mienvielle, narra a

experiência de Kenneth Golf, no curso de psicopolítica, no qual participou no Kremilin, na antiga União Soviética.

A obra descreve a técnica de psicopolítica, com o fim de dominar países sem armas e conquistar nações sem conflitos.

A Psicopolitica é a arte e a ciência de obter e manter um domínio sobre o pensamento e as convicções dos homens, dos funcionários, dos organismos e das massas para conquistar as nações inimigas por meio do tratamento mental. Segundo Mienvielle (1963, p.48):

O homem e um animal de estímulos reações. Sua capacidade de raciocínio e, inclusive, sua ética e sua moral dependem desse mecanismo de reflexos condicionados. Isto já foi demonstrado por alguns russos, como Pavlov, e tais princípios tem sido utilizado para reduzir os recalcitrantes, educar crianças e produzir um comportamento ótimo em determinados setores humanos. Ao não ter vontade própria e facilmente dirigido por seus reflexos. [...] basta criar um estímulo, na anatomia cerebral do homem, para que tal estimulo reaja e responda cada vez que o solicite uma ordem externa. [...] O funcionamento dos reflexos condicionados é de fácil compreensão, o corpo cria imagens de todos os atos que se sucederam no meio circundante. Quando esse meio inclui a brutalidade, o terror e a violência [...]. [...] Se o indivíduo é maltratado no momento em que fixa a imagem mental, os maus-tratos voltarão a manifestar-se cada vez que a situação se

12

reproduza por ordem externa. [...] A sensação da dor, uma vez implantada, agirá como vigilantes, porque a experiência ensina, ao indivíduo, que não pode lutar e que será castigado se desobedecer a determinadas pessoas. A técnica de psicopolítica é uma ação estratégica indireta, cuja finalidade é a

subversão interna por meio da influência do ambiente externo. A psicopolítica atua sob duas formas de subversão: a interna (a conquista das mentes e dos corações, ou seja, psicológica) e a externa (a subversão da nação alvo pela atividade psicopolítica). Segundo Mienvielle (1963):

[...] compõe-se de duas frentes de ação traduzidas em duas formas de guerra: uma externa e outra interna. A externa e a guerra subversiva convencional, por meio da ideologia, da desmoralização dos governantes civis e militares, da subversão das massas, da desestabilização da ordem social vigente, do terrorismo e das guerrilhas, entre outras atividades afins. Por sua vez, a guerra interna e a psicopolítica, que é também subversiva, mas agora, a subversão da mente humana. Enquanto a guerra externa atua no ser social, a guerra psicopolítica atua no ser humano.

A guerra piscopolítica mental pode atingir alvos coletivos e individuais. No âmbito coletivo, usa-se o argumento de que o homem faz parte corpo

político e econômico, cuja lealdade à cabeça (o Estado superior) deve ser prioridade. Mienvielle (1963, p.22) descreve:

[...] O homem é um aglomerado de células, e seria errado considera-Io como indivíduo. As colônias de células vão-se constituindo em diversos órgãos do corpo, os quais, por sua vez, vão-se unindo para formar o conjunto. Desse modo, vemos que o homem já e, por si, um organismo político, ainda que não o consideremos em grupo. A enfermidade poderia ser vista como deslealdade, pois, ao se manifestar, origina a rebelião de uma parte da anatomia contra o resto do conjunto; dessa maneira, produz-se, de fato, uma revolução interna. Quando o coração, ao isolar-se do grupo, se nega a solidarizar-se e servir ao resto do organismo, vemos que o funcionamento de Todo, o corpo se transforma devido a essa rebelião. O coração rebela-se porque não pode ou não quer cooperar com o resto do corpo. Se permitimos ao coração rebelar-se, os rins, seguindo seu exemplo, podem por sua vez rebelar-se também e negar-se a trabalhar em benefício do organismo. Essa rebelião, ao estender-se a outros órgãos e ao sistema glandular, ocasiona a morte do indivíduo. [...]

A obediência é lealdade, inclusive, os rebeldes e desobedientes devem ser educados, seja por meio da inculcação ou pela dor. Mienvielle (1963, p.23) destaca:

A crença no individualismo áspero, no determinismo pessoal, na rebeldia, na imaginação e no poder criativo pessoal e tendência que predispõe as massas contra o bem de um Estado Superior. [...] Sem dúvida, se considerarmos o mal que os germes e bactérias hostis provocam no organismo, advertimos que, em favor do organismo atacado, esses elementos nocivos tem que ser dominados. [...]

13

O político Mao Tsé-Tung fez o uso da psicopolítica, a partir de 1929, quando se tornou presidente da China. A tática da sentimentalização contraditória (esperança e pavor) foi usada na propaganda política com sucesso, resultou na mudança cultural radical, construída a longo prazo, e na hegemonia ideológica inculcada no pensamento coletivo.

No âmbito coletivo, a técnica, na prática, é executada na seguinte orientação: o agente psicopolítico atua no imaginário coletivo das populações, insuflando às massas o desejo de prosperidade em meio à realidade de privação, ameaçando-as de perdas por deslealdade ao governo, impondo o medo e anulando as vontades que restringem as liberdades individuais.

Além de usar o terror para transformar os membros comuns do partido em engrenagem e máquina, Mao também atuava sobre os colegas de alto escalão. Seu objetivo era dobrá-los e torná-los submissos [...] (CHANG; HALLIDAY, 2012, f. 253).

Nos momentos prósperos, o agente psicopolítico denuncia, messianicamente,

que a riqueza está nas mãos da elite, inculcando nos mais prósperos o sentimento de culpa e nas massas desfavorecidas a ira e o ressentimento aos indivíduos rotulados de favorecidos materialmente, dividindo, portanto, a nação.

Citando Mao Tsé-Tung 1, no mundo, há apenas três lugares onde o ser humano encontra a igualdade, no sol, no ar e nos banheiros.

Na crise, o agente põe culpa nos ricos e na classe dirigente do país, fomenta a revolta coletiva, através da retórica da injustiça social e sugere como solução impostos altos para os ricos. Segundo Mao Tsé-Tung, para cada erro do partido, culpe os outros [...] elogie a cada sucesso e rescreva a história de forma Invertida.

A paranóia implícita, segundo análise de Wallrstein2( apud SCRUTON, 2014), é o que resulta da retórica de ataque, ou seja, após a escolha do objeto do ódio, dá-se uma personalidade jurídica ao indivíduo ou grupo, o qual almeja desmoralizar pela desconstrução moral e pela retórica descritiva. Desta forma, persuade os ouvintes sem ser questionado.

1 CHANG, Jung. HALLIDAY, Jon. Tradução: SOARES, Pedro Maia. A história desconhecida de MAO. Companhia Das Letras. São Paulo. 2012. 2 Immanuel Wallerstein, Historical Capitalism, op. Cit., p 53. Immanuel Wallerstein,The Mordern world system, vol.1 de Mordem systems Theory. New York,1974; Historical capitalism. London,1983.

14

A teoria do sentir em nome da vítima é uma forma eficaz, utilizada para conseguir ouvintes, limitar questionamentos e justificar o desprezo pelos elementos acusados. Conforme, Wallrstein (apud SCRUTON, 2014, p.164):

[...] A transformação emocional é crucial, a qual enfeita a neutralidade das relações de produção com atributos morais de injustiça e opressão. [...] nos convida a culpar o que não pode ser culpado e a nos vingarmos de erros imaginários cometidos contra os inocentes. [...]

Mienvielle (1963) destaca que o agente de influência psicopolítico atua predominantemente nos aspectos econômicos e políticos para fomentar sentimentos negativos, histeria coletiva e caos.

A partir das ações agressivas da população, o ator psicopolítico, suborna as instituições e logra legitimidade para aprovação de novas leis, conforme o plano psicopolítico.

Enquanto a população está distraída com meias verdades, retóricas bondosas do agente psicopolítico, os legisladores impõem leis e protocolos de interesse externo.

Mienvielle (1963, p.27) destaca o processo de dominação da política e da economia do país alvo pela ação psicopolítica e descreve:

Os ricos, os especialistas em finanças, os conhecedores de assuntos de governo são os objetivos especiais do psicopolítico. A este cabe a tarefa de anular os indivíduos que pudessem frear ou por a perder os planos [...]. Por isso, de cada personagem endinheirado, cada estadista, cada político bem informado e capaz, deve colocar-se ao lado um agente psicopolítico em posição de confiança. [...] se junto a cada homem rico ou influente colocar-se um agente psicopolítico que, mediante seus conselhos ou por intermédio da esposa ou filha, possa dirigir a atuação de tal personagem e assim embrulhar ou transtornar a política econômica do país; e quando chegar o momento propício de anular para sempre esse homem influente, poder-se-á administrar-lhe o tratamento adequado para conseguir sua total eliminação, [...] impulsionando-o ao suicídio.[...] Colocado junto às pessoas influentes de um pais, o agente psicopolítico também pode chegar a modificar a política, em outros terrenos para benefício de nossa causa. [...]

A conquista de confiança dos políticos e dos estadistas é primordial para os agentes de influência, pois é por meio da aproximação dos atores estatais que os mesmos controlam e neutralizam ações legais governamentais contra os interesses subversivos.

[...] todos aqueles que haviam feito alguma crítica no passado a ele, tiveram de fazer autocríticas humilhantes e prometer-lhe fidelidade [...] (CHANG; HALLIDAY, 2012, f.253)

15

A elite intelectualizada é o alvo das ações psicopolíticas, os agentes de influência usam técnicas de desmoralização, o rótulo odioso, e a simplificação de ideias.

O desgaste causado pela retórica desmoralizadora gera uma certa ansiedade na vítima e descontrole dos níveis de neurotransmissores, por fim, levando à depressão clínica3.

Como a elite deve ser substituída por outra no plano de subversão externa, o agente psicopolítico fomenta situações de desmoralização, assassina a reputação das vítimas4 ou de um grupo. O processo inicia ao nominar as vítimas de insanas, logo, a credibilidade delas é minada, até o que falam é ridicularizado.

O próximo passo a seguir é o isolamento, que produz sintomas de depressão clínica e por fim o resultado será o suicídio. Segundo CHANG e HALLIDAY (2012):

[...] Mao Tsé-Tung acusou seus rivais de falarem mal de outros a estrangeiros. Mas nenhum deles se entregou a alguma coisa remotamente parecida com o assassinato de personalidades que MAO praticava. [...] A mingua de informação provocava aos poucos a morte cerebral ajudada pela ausência de qualquer escoadouro para o pensamento, ninguém podia se comunicar com ninguém, ou colocar as suas ideias no papel em particular [...] em muitas mentes espreitava o medo de pensar, que parecia não apenas inútil, mas perigoso. [...] [...] desde a primavera de 1942, transformara em crime o próprio humor. O regime inventou uma nova transgressão genérica falar em palavras esquisitas pela qual, e qualquer coisa [...] podia provocar rótulo de espião. [...] [...] as vítimas continuaram trancadas, vivendo na incerteza e no tormento, enquanto as forças de segurança começavam a examinar para ver se havia alguns casos verdadeiros suspeitos de espionagem. [...] para muitos o suicídio era a única forma de acabar com o calvário, [...] os ferimentos abertos em suas mentes e corações são realmente profundos.

O estado de privação das massas e o controle excessivo dos serviços são meios de ação indireta eficazes, cuja finalidade é dominar uma Nação sem armas.

O imposto sobre grãos é igual a colheita de todo ano; o Estado tomava a quantidade astronômica de 92%[...] não sobrava comida depois de pagar imposto. Um grande número de camponeses tentava fugir. (CHANG e HALLIDAY, 2012, f.274). [...] O sistema sufocava a iniciativa e deixava as pessoas com medo de propor melhorias, pois qualquer sugestão se tornava uma acusação política letal. O pessoal técnico todo foge no primeiro momento oportuno. (CHANG, e HALLIDAY, 2012, f.275).

3Em nosso cérebro há mensageiros químicos chamados neurotransmissores, os quais transmitem estímulos neuronais de um neurônio para outro, e dependendo da região cerebral podem atuar nas emoções. 4 TUMA, Romeu Jr. Na Obra: Assassinato de Reputações- um crime de Estado. O autor descreve a experiência negativa que obteve no meio político: a crise de confiança e a desmoralização fomentada por pessoas próximas à sua função, cuja motivação era puramente política.

16

O controle dos meios de produção é o fim da psicopolítica para que tal ação influencie no comportamento coletivo. Segundo, Mienvielle (1963, p.29):

[...] se queremos desequilibrar um indivíduo, não temos mais que saciar ou privar alguém por um período superior aos limites razoáveis, e teremos provocado um transtorno mental. Um exemplo simples disso e a alternância de pressões demasiado baixas e demasiado altas em uma câmara, excelente procedimento psicopolítico. As pressões rapidamente alternadas provocam um caos no qual o indivíduo não pode atuar e no qual outros forçosamente assumirão o controle. [...]. Essencialmente, em um país faz-se necessário eliminar os cobiçosos, por qualquer meio que seja, e então criar e manter um estado de semi-privação nas massas, com o fim de assumir o poder e controlar por completo essa nação.

2.1.2 A PSICOPOLÍTICA NOMINADA DE RELIGIÃO

Segundo Mienvielle (1963, p. 55): O indivíduo e o objetivo da Psicopolítica. Tem que rebaixar o homem em sua estrutura espiritual, até degradá-lo a condição puramente animal; tem que o obrigar a não pensar em si mesmo, nem em seus semelhantes como capazes de resistência espiritual e de nobreza. No Brasil, a Teologia da Libertação, é uma vertente religiosa do catolicismo

importada da Alemanha pelo frei Leonardo Boff, teólogo brasileiro, que logrou unir metáforas ideológicas às concepções doutrinárias religiosas.

Com o passar do tempo, o glossário ideológico substituiu a terminologia teológica católica de forma imperceptível e sútil, dando aos dogmas da religião um caráter ideológico.5

O General Coutinho (2012), no seu livro, A Revolução Gramscista no Ocidente, relata o fato de que a Igreja católica é alvo da ação indireta com fins ideológicos por meio do ecletismo religioso, que é manifestado pelo compromisso, pela fidelidade opcional e pelo relativismo moral.

O chamado espírito de cisão de Gramsci, também citado na obra do General Coutinho, define-se como uma ampla ação no aspecto psicológico, político e ideológico, que esvazia a essência moral das instituições, levando-as a perda funcional e o esvaziamento da ética, ante a sociedade.

Marta Harnecker, a filósofa chilena, descreve, na sua obra, El socialismo de Umbral en el Siglo XXI, uma sugestão de ação indireta nos moldes de Antônio Gramsci 5 Antônio Gramsci, nos seus escritos: Cartas do Cárcere e Cadernos do Cárcere, enfatizava a importância da ideologia sobre a religião, os valores e as tradições.

17

no processo de desconstrução e reconstrução, com o fim substituir elementos essenciais da religião pela ideologia. A autora utiliza de eufemismo na linguagem para obter maior aceitabilidade dos ouvintes, e enfatiza a importância do mito para convencer aos seus leitores e ouvintes, de que a revolução é o único meio para construir uma efetiva paz social. Segundo, Harnecker (1999, p.260, tradução nossa),

As Mudanças na Igreja católica surgiram a partir do Concilio Vaticano II (1962‐1965) e chegaram no ápice na Conferência de Medellín em 1968, com o surgimento da Teologia da Libertação e do movimento das comunidades de base cristã. Há que destacar, a ação do sacerdote Camilo Torres, que morreu combatendo na Guerrilha da ELN na Colômbia. A morte do padre na guerrilha colombiana, trouxe mudanças na concepção de valores cristão inclusive, induz aos cristãos a participar na revolução. O Pe. Camilo Torres foi muito influenciado pela revolução cubana e pelo pensamento teológico europeu progressista, conhecida como a teologia da revolução. A teologia inculca sua noção de amor eficaz fundamentando que a revolução é a forma mais ampla e eficaz para a concretização do amor. Por fim, Camilo Torres se une ao ELN e morre no combate em 1966.6

A ação indireta da psicopolítica é sutil e transcende à legalidade independente da Instituição e das opiniões contrárias. A repetição de palavras de ordem, em nome da justiça a ser feita, é mera retórica que paralisa qualquer ação legal contra o ilegal legitimado.

O General Coutinho (2012), ainda destaca que o conceito de legalidade vai sendo substituído pelo conceito de legitimidade, ou seja, a norma legal perde a eficácia diante da violação dita social legítima, na forma de invasão de terras, de ocupação de imóveis e de prédios públicos, cujas ações ganham status de atuações éticas devido à correspondência e às justificativas baseadas em reivindicações justas.

2.1.3 A PSICOPOLÍTICA NA FILOSOFIA

O filósofo Gramsci7, entre 1914 e 1926, publicou um livro e escreveu artigos,

jornais e revistas. Segundo apresentado no vídeo: Antônio Gramsci y la Revolución 6 1134. Pero los cambios que empiezan a ocurrir en la Iglesia Católica a partir del Concilio Vaticano II (1962‐1965) y que culminan con la Conferencia de Medellín en 1968, la aparición de la Teología de la Liberación y el movimiento de comunidades cristianas de base, a lo que hay que agregar la gesta del sacerdote Camilo Torres, que muere combatiendo en la guerrilla del ELN en Colombia, van cambiando esta injusta apreciación del papel que pueden jugar los cristianos en la revolución. Camilo Torres fue muy impactado por la revolución cubana y el pensamiento teológico europeo más progresista: la llamada Teología de la Revolución, plantea su noción del amor eficaz sosteniendo que la revolución es la manera más amplia y eficaz de realizar el amor y, consecuentemente con su pensamiento, se integra a la guerrilla del ELN y muere en combate en 1966. 7Baseado no Vídeo: Antonio Gramsci y Revolución Cultural- Galeón producciones radio televisivas, ediciones- DUC IN ALTUM- Buenos Aires Argentina).

18

Cultural, o periódico mais admirado pelos leitores de Gramsci na Itália foi L’ordine Nuovo, que contribuiu para o seu sucesso em 1929 a 1936, na prisão, escreveu inúmeras notas nominadas Cuaderni de Cárcere, e tais escritos instruem o papel dos intelectuais na sociedade e na tomada de poder.

Os cadernos estão divididos em temas, possuem 50 volumes e expressam uma reflexão sobre o marxismo e o ocidente. As cartas ensinam a estudar e contêm dicas das bibliografias nas quais o público militante deveria instruir-se. A obra Cadernos do Cárcere é mais importante que as cartas, porque apresenta a essência da filosofia de Gramsci como uma práxis, ou seja uma síntese do passado cultural construída por conceitos diversos, vindos do Renascentismo (o antropocentrismo), da Reforma Protestante (o anti- catolicismo), da Revolução Francesa (o Jacobinismo), do Liberalismo laico inglês (o materialismo) do Marxismo (a luta de classes e o controle dos meios de produção).

O filósofo Antônio Gramsci deixou uma extensa obra que fundamenta as ações de psicopolitica, pois ao aproximar o intelectual do povo8e ao dogmatizar a pseudo ciência ideologizada costruída por si, persuade, até hoje, corações e mentes, desconstroi, suavemente, as instituições, neutraliza a intenção de contrariedade dos apartos coercivos da sociedade e a partir do conformismo coletivo, cria-se um pensamento hegemônico capaz de efetivar o domínio sem as armas.

Gramsci provou que consegue submeter as massas acriticamente sob o pretesto da credibilidade científica e do pensamento relativo por meio das hipóteses, contrariando a linha estratégica de Mao Tsé-Tung que usou da coerção para dominar e para realizar a revolução cultural.

O autor provou obter resultados superiores às estratégias utilizadas pelo chinês MaoTsé-Tung ao dar autoridade, legitimar e institucionalizar suas ideias nas universidades do mundo todo.

Após dominar o mundo das ideias, o autor explicita o segundo passo, de extrema importância para a ação indireta psicopolítca: o ato de legislar. Segundo Gramsci, somente os intelectuais tem o direito de compor leis, pois eles são os únicos capacitados para corrigir distorções na visão de mundo. Portanto, ao dar autoridade máxima, legitimidade e credibilidade aos intelectuais, acriticamente, a população 8 Enumerações tiradas do livro de Roger Scruton: Pensadores da Nova Esquerda. Editora. É Realizações, São Paulo, 2014.

19

ingênua é conduzida cegamente pelos agentes psicopolíticos à morte, porque estes, intencionalmente farão leis dogmáticas, nas quais as vítimas serão coniventes, já que acreditarão nas meias verdades. Por fim, sem perceber serão conduzidas ao suicído na forma institucionalizada, sem que tenham a plena ciência do fato.

O filósofo destaca que, antes de mudar as mentalidades, tem-se que modificar a essência dos valores das massas, pois entre o Estado e as massas há várias trincheiras culturais, que separam a elite estatal do povo. No entanto, para sintetizar o pensamento de Gramsci, a batalha no campo das ideias deve ser vencida e as trincheiras culturais derrubadas pela educação.

A conquista da hegemonia é mais importante que a tomada do poder, segundo Mao Tsé-Tung (apud CHANG e HALLIDAY, 2012) não é através das montanhas, mas por meio das instituições que a revolução leva um certo tempo para lograr a mudança de mentalidade da maioria.

O General Coutinho (2012), em sua obra sobre Gramsci, explicita a estratégia baseada no pensamento do filósofo italiano, e a ampliação do Estado por meio das organizações hegemônicas que indicam a direção política e cultural ao mesmo tempo que executam funções públicas que antes pertenciam exclusivamente à esfera estatal. O fenômeno da sociedade ampliada é uma síntese composta pela hegemonia (domínio), pelo consenso (coerção) e pela direção (comando).

Segundo General Coutinho (2012), Antônio Gramsci destaca a importância de neutralizar as instituições e as convicções ideológicas que são barreira para a vitória da revolução. O filósofo a nominou de guerra de posição, cuja meta principal é a construção de um senso comum9, por meio do conjunto de elementos materiais, organizações e instituições.

A execução do plano é por meio de infiltração de agentes de influência nas inumeráveis organizações tais como, partidos políticos, órgãos de comunicação social (mídia), igrejas (particularmente a Católica), escolas, Forças Armadas e na Segurança Pública.

O amplo trabalho psicológico, político e ideológico é um processo contínuo que tem os seguintes objetivos: enfraquecer a sustentação legal política e a opinião pública; desconstruir e isolar a sociedade; desmoralizar e modificar a função orgânica 9 O senso comum é a expressão objetiva de hegemonia que uma classe exerce sobre a sociedade civil e que a transforma em classe dirigente.

20

das instituições, além da quebra do comprometimento ético com o denuncismo; constranger e inibir por meio do patrulhamento ideológico executado pelos intelectuais orgânicos10 nas escolas, no judiciário, nos órgãos de comunicação social; e por fim, esvaziar dos valores religiosos morais, cívicos e da tradição histórica do país.

O partido estado é o centro de difusão do senso comum hegemônico em conjunto com outros organismos, conforme explicado por General Coutinho (2012, p.59):

Trata-se de elaborar uma filosofia que se torne o senso comum renovado, coerente com a filosofia popular e com fins buscados no processo político ideológico no qual tudo deve estar inserido. [...] O elemento dinâmico do sistema de difusão, como educador, transformador da cultura e elaborador de uma consciência coletiva homogênea é o intelectual orgânico. [...] é preciso uma unidade e contato direto, uma identidade imediata entre o intelectual e as massas[...].

Complementando a tese do General Coutinho (2012) sobre a estratégia do

consenso de Gramsci, as organizações não governamentais e os organismos intermediários democráticos passam a assumir funções estatais no seio da sociedade. O ativismo linguístico, por meio das palavras de ordem relacionadas aos direitos humanos, ao ambientalismo, ao pacifismo, ao antirracismo, à promoção social, e aos direitos das minorias, não passa de meros mecanismos retóricos e psicolinguísticos para difundir a ideologia e torná-la o centro do consenso.

2.1.4 FOUCAULT: A CONTRIBUIÇÃO PARA A PSICOPOLÍTICA.

A psicopolítica enfatiza a importância da eliminação de conceitos como bem e mal, buscando libertar a sociedade dos parâmetros morais antigos. Esta dinâmica da psicopolítica é justificável por ser uma ação indireta, tendo como meio a psicologia e com o fim a subversão de mentes e corações.

A desconstrução dos valores morais e as polifonias11 são propícias para introduzir uma nova ideologia ou novo dogma, ou outra verdade absoluta.

10 Os intelectuais orgânicos são os agentes responsáveis pela reforma intelectual e moral, cuja finalidade é a de elevar as classes ditas populares à classe nacional; adequar a cultura popular; exercer a hegemonia e o consenso; capacitar ao exercício do poder a nova elite; superar o senso comum; conscientizar politicamente, ideologicamente e eticamente as classes subalternas e formar o consenso. 11 A polifonia tem como principal propriedade a diversidade de vozes controversas no interior de um texto. Conforme a tese do linguista russo Mikhail Bakhtin.

21

Segundo Foucault (apud SCRUTON, 2014) soube aprimorar o que já se usava como técnica distraidora na política: o discurso contra o inimigo único.

Segundo González (2015, tradução nossa): O paramoralismo é um mecanismo linguístico expresso por meio da persuasão. Trata-se de um argumento ou pensamento que é disseminado e dá a impressão de ter uma motivação ética, mesmo que a verdadeira intencionalidade seja o próprio interesse ou pela adesão de um sistema de regras que os assuntos coerentes não são considerados. Um exemplo é a ruptura do espírito da lei, para aderir a letra da lei, ou seja, a partir da lei da palmada, perseguir os pais. Além do mais é um fenômeno psicológico contagioso onde receptor da mensagem é vulnerável a absorver erroneamente um princípio ou motivo por meio de um argumento viciado, no qual se identifica. Em suma, um indivíduo bem-intencionado pode ser enganado, involuntariamente ao apoiar uma causa ou propagar uma ideologia na qual não está de acordo. O uso generalizado do paramoralismo numa sociedade explicita traços de uma democracia doente (patocracia).

O paramoralismo12 é a base para a criação de falsos valores que passarão a preencher o vácuo moral, restado do processo de desconstrução e dos princípios originais. Logo, o ato hipócrita de desmascarar uma situação amoral, por meio do apelo afetivo, constrói um cenário heroico e passa a fomentar sentimentos de ódio, de culpa, e faz com que o receptor não pense no conteúdo das mensagens que recebe e somente as reproduza, conforme lhe foi dito. Por fim, geralmente, a mensagem ilógica repetida muitas vezes, de engano passa ter aparência de verdade.

Foucault (apud SCRUTON, 2014, p. 59), subjetiva a realidade, não é o que você diz, mas o fato de dizer, ou seja, a verdade é produto do discurso e do relativismo conveniente aos interesses daqueles que almejam ter ou manter o poder.

12 Un paramoralismo es un dispositivo lingüístico de persuasión. Se trata de un argumento o razonamiento que se lanza con el fin de dar la impresión de que es impulsado por las preocupaciones éticas, aún bajo el escrutinio de que no puede demostrarse completamente como tal y es, de hecho, impulsado por el interés propio o por la adhesión a un sistema de reglas en que los asuntos de conciencia no son considerados. Un ejemplo de uso general sería: ruptura del espíritu de la ley, con el fin de adherirse a la letra de la ley. parábola del buen samaritano. Además de ello, es un fenómeno psicológico contagioso: la persona en el extremo receptor es vulnerable a atribuir erróneamente un principio o motivación (con el que fácilmente se identifica) el argumento dado, y de ese modo se identifica erróneamente con este viciado argumento. De este modo, un individuo bien intencionado puede ser engañado involuntariamente en apoyar una causa o propagar una ideología con la que su propia conciencia no está de acuerdo. El uso generalizado de paramoralismos en la sociedad es un rasgo definitorio de una patocracia. (Álvaro González) Fonte: <http://es.sott.net/article/20582-Encadenados-a-nosotros-a-mismos> Acesso em 11 de julho de 2015.

22

Cada episteme (estrutura do saber), segundo Foucault (apud SCRUTON, 2014, p. 60), é a serva de algum poder ascendente, e tem como função a construção de uma verdade que sirva aos interesses dos poderosos.

A campanha propagandista Foucaltiana tem a necessidade de encontrar um inimigo perfeito e a estética estará sempre sobre a ética. Portanto, segundo Foucault (apud SCRUTON, 2014), o apelo emocional, a retórica, a linguagem metafórica, os símbolos e os mitos estarão sempre escondendo a verdadeira intencionalidade do agente de influência nos discursos e nas palavras de ordem repetidas inúmeras vezes.

2.1.5 A ATUAÇÃO DA PSICOPOLÍTICA NO INDIVÍDUO A psicopolítica atinge o subconsciente do ser humano e o modifica, devido à assimilação de informações cotidianas por meio dos sentidos e não pela razão. Segundo Mienvielle (1963 p.2):

A psicopolítica também é conhecida como a técnica de domesticação coletiva, é uma prática de transformação do homem, pelas teorias da psicanálise da escola Freudiana sobre o armazenamento de fundo que é consciência de tudo que o homem assimila de informação no cotidiano, mesmo sem perceber por meio dos sentidos. Somada ás teorias dos reflexos condicionados, elaboradas nas experiências de Pavlov que complementam o pensamento Freudiano e fundamentam cientificamente a psicopolítica. Após a conquista da transformação individual e coletiva, a segunda meta da

psicopolítica é a lealdade. Segundo Meinvielle (1963, p.22), a lealdade é justificada por meio da tese de

que o homem é parte de um organismo político. Num corpo saudável, os seus órgãos trabalham solidariamente sem se isolar, tampouco se rebelar contra outros órgãos do sistema. Portanto, um grupo desleal significa a parte doente do corpo que deve ser extirpada.

No terreno da Psicopolítica a deslealdade implica em indisciplina total contra às autoridades (agentes psicopolíticos), portanto, quem expressa contrariedade deve ser punido e eliminado para que o plano de poder não seja maculado.

Lembrando que a psicopolítica é a técnica de domesticação coletiva por meio dos estímulos sensoriais. No que tange à lealdade coletiva, esta somente é alcançada por meio de retaliações, que são feitas por meios indiretos, cuja finalidade é de educar o desleal para conduzi-lo ao caminho correto e ao mesmo tempo, mostrar à vítima de

23

que o sofrimento é consequência da sua desobediência, não sendo, no entanto, resultado de ações estatais, tampouco do regime.

A constância na coerção modifica a personalidade dos rebeldes, usando de julgamentos construídos por falsas provas e tensão psicológica, ao justificar o sofrimento da vítima e relacioná-la ao ato de insubordinação contra o pensamento hegemônico.

Quando o agente psicopolítico culpa a vítima pelos próprios sofrimentos, por meio das provas falsas, logra confundir a pessoa alvo, e a convence de que a culpa dos infortúnios, é por ela ter feito escolhas erradas, começando pelas próprias convicções que destoam da maioria das pessoas. Assim sendo, a vítima deve mudar a sua convicção ou será isolada do meio social pela desmoralização.

Nem todas as pessoas, apesar da coerção e do sofrimento, têm as suas opiniões modificadas. Portanto, o agente psicopolítico provoca na vítima uma neurose moderada, desequilibrando-a mentalmente para conduzi-la ao suicídio. Afinal, indivíduos que destoam do pensamento uniforme devem ser eliminados, para que os planos de poder não estejam em risco.

Para o agente psicopolítico, a acusação é o meio mais eficaz para corrigir os rebeldes.

Segundo Meinvielle (1963), no capítulo da sua obra nominado de Fidelidade, o autor descreve a ação de desmoralização e constrangimento, no entanto, a caracteriza como um ato constante perante ao público, cuja forma é indireta.

A longo prazo, descontrói-se a reputação e a sanidade da pessoa alvo por meio das dúvidas sobre a sua sanidade mental, portanto a difamação é o meio usado para convencer as pessoas mais próximas de que a vítima é insana mental.

Ao rotular o indivíduo de doente mental, o agente psicopolítico, desqualifica qualquer argumento da vítima, inclusive logra intensificar a calúnia, alegando que a família dela também é insana. Tudo isso para desqualificar, também os familiares caso tenham a intenção de defender o parente.

Destaca Meinvielle (1963) que o medo da incapacidade está enraizado no pensamento coletivo das pessoas que vivem no Ocidente, portanto, existe uma brecha para que os agentes psicopolíticos atuem como desmoralizadores e eliminem o oponente rotulando o indivíduo de louco.

24

O fato de julgar alguém como insano, é tirar-lhe a liberdade, é condenar esta pessoa ao isolamento, e ao esquecimento. Inclusive, pode privar as vítimas até de possuírem bens, já que são impotentes e não podem ter este direito.

O indivíduo rotulado de louco nunca poderá dar testemunhos, tampouco fazer queixas de alguém, afinal quem lhe dará credibilidade?

Infelizmente, a ação psicopolítica é banalizada, e por isso, as instituições são alvos vulneráveis e fáceis de serem subvertidas. Quanto menos se espera, os agentes psicopolíticos causam um quadro de insegurança Institucional indescritível, pois conseguem destruir a saúde física e mental dos funcionários leais ao serviço por meio do assédio moral ou sexual e dão méritos aos vícios e aos descasos dos maus funcionários.

Assim, invertem-se os valores, premiando as más ações e castigando aqueles que se destacam no exercício da função.

Os prejuízos para uma nação são incontáveis, desde o aspecto econômico até na questão da garantia da ordem.

A desmoralização destrói todo patrimônio humano das instituições porque dissemina a paranóia, a depressão entre outras patologias de ordem psicológica, que afetam os valores institucionais, a coerência dos decisores e a seriedade na prestação de serviço.

A psicopolítica corrói as instituições profundamente, pois atinge as pessoas e consecutivamente as instituições. Lembrando que pessoas adoentadas, esgotadas e desestimuladas serão mais suscetíveis às ações indiretas e darão brechas aos problemas de Segurança Institucional.

Os óbices como o descaso, a falta de zelo com as instituições e a inobservância aos princípios legais, facilitam a ação livre dos agentes psicopolíticos no ambiente laboral. Portanto, sem que as autoridades percebam, a subversão (o domínio sem armas)13 acontece, e quando menos se espera, o povo perde a nação e o país delega a sua soberania para um poder estrangeiro pacificamente.

13 O autor Julio Meinvielle (1963) relata na resenha de seu livro, que a expressão domínio sem armas foi dita por krushov a Kennedy para referir- se à técnica de psicopolítica como arma de conquista.

25

2.2. PONEROLOGIA

O psiquiatra e escritor polonês Lobaczewski (2014) é autor do estudo que nominou de ponerologia. Segundo o autor, a patocracia é uma democracia adoentada por uma elite e uma minoria sociopatas.

Os líderes com perfil antissocial são egocêntricos e tenazes, pois impõem o seu próprio mundo conceitual sobre a população na qual representa. Como identificar os maus líderes que podem adoecer uma nação?

Em geral, sociopatas usam linguagem dupla e amam abusar dos recursos linguísticos como eufemismos e neologismos na forma sugestiva, pois além de neutralizar as críticas, persuadem as massas sem parecer muito autoritário.

As pegadas que estes líderes patológicos deixam são as do terror psicológico, aumentando a sensação de insegurança, a paranoia coletiva concretizada pela confusão de ideias e o medo de questionar a legalidade das ações deles contra a população.

A mentira e as imoralidades facilitam a aceitação de qualquer ideologia, afinal, quando a população perde o senso da verdade e os parâmetros éticos, logo, o vazio deixado pelos valores essenciais, passa a ser preenchido por qualquer meia verdade.

O paramoralismo, ou moral relativa, é o que facilita a aproximação do mau líder com o povo, contendo os ânimos insatisfeitos e possíveis manifestações dos cidadãos contra a sua forma egocêntrica de liderar.

O sociopata no poder cria uma nova meritocracia baseada nos vícios e nas paranoias, inclusive converte o que é detestável em virtudes dogmáticas.

Os líderes subjugam as massas pelo bloqueio reverso, que é o efeito de desesperar as massas com discursos desconectados, nos quais misturam conceitos do mundo real às promessas utópicas messiânicas. O temor produzido nas populações, acaba deixando-as sujeitas a acreditar em tudo que os líderes patológicos afirmam, ainda que as retóricas sejam absurdas e ilógicas.

A superioridade ganha amplitude por meio do paralogismo; ou seja, a minoria sociopata coloca-se superior aos demais.

Segundo Domenach, a propaganda dá ênfase na linguagem afetiva, nos símbolos, e no fundo musical contagiante, e é útil para alcançar as pessoas, cujas

26

personalidades estão marcadas pela frustação e pelo senso acrítico. Já os soberbos por desacreditarem e subestimarem as intenções e as ações incoerentes divulgadas nas propagandas, estes, passam a ser facilmente enganados pela elite sociopata.

A hegemonia é estratégica para os planos de poder de um sociopata. No entanto, eliminar indivíduos que obtenham alguma liderança é primordial para uma patocracia.

Numa democracia doente os assuntos militares são incômodos para os líderes sociopatas, portanto, descontruir exércitos, afastando os vocacionados para a função é garantir a existência da patocracia.14

Afinal, lesar os talentos natos é fundamental para a elite patocrática, pois quanto maior for o número de frustrados, melhor será a receptividade da população às propagandas.

As guerras e as guerrilhas também são estratégicas para o governo patocrático, porque uma nação enfraquecida é subserviente à elite sociopata.

A divisão da população é útil para a liderança patocrática, pois enquanto o povo se mata, a elite patocrática permanece no poder e corrompe as estruturas do estado sem ser incomodada.

O aumento de benesses pecuniárias, a manipulação de dados, a valorização do personalismo, o excesso de propaganda e constantes repetições das mentiras tornam qualquer ficção científica digna de fé.

O judiciário é o poder que tende a ser mais útil aos líderes sociopatas devido a influência que exerce sobre a vontade dos cidadãos por meio da legitimidade da lei.

No momento em que os grupos de pressão da sociedade se manifestam, os sociopatas no poder distorcem o fato e interpretam o clamor popular segundo os seus próprios interesses egocêntricos. Contudo, a elite sociopata usa da retórica, das figuras de linguagem, da linguagem dupla e do discurso do politicamente correto para confundir e para acobertar a verdadeira intencionalidade. Após enganar os cidadãos, os sociopatas compõem leis moralizantes, cuja finalidade é neutralizar qualquer crítica ao governo patocrático.

14 A patocracia, segundo Lobaczewisk (2014) é uma democracia adoentada pela minoria sociopata. Fonte: < http//www.bibliotecapleyades.net/sociopolítica/sociopol_ponerotogy61.htm> Acesso em 11 de julho de 2015.

27

Enquanto a população está distraída, segregada em grupos, atacando-se mutuamente, de forma histérica induzidas pelo discurso politicamente correto, a elite patocrática, outorga leis, por meio de decretos, e cerceiam ainda mais as liberdades individuais dos cidadãos.

O condicionamento mental sobre o ato de pensar é fomentado pelos grupos de pressão subordinados à elite patocrática.

Os slogans e os discursos simplificados são mecanismos eficazes para atrair e distrair facilmente às massas.

A propaganda ilude a população até certo ponto, produzindo a sensação de que este grupo é onipresente e onipotente (Síndrome Mágico de OZ)15.

Quando a população manifesta algum tipo de imunidade mental, a sociedade se divide entre pessoas normais e a minoria sociopata.

A função da ideologia é a de servir de cortina de fumaça para ocultar as verdadeiras intencionalidades. Sob o disfarce da ideologia, a minoria sociopata justifica os seus atos, aos poucos dominam outros territórios e se servem das riquezas furtadas como se fossem prêmios.

Se nenhuma providência for tomada em prol da população subjugada ao poder tirânico dos patocratas, uma nova oligarquia surge, formada por sociopatas e de servidores leais, que agridem a população por se sentirem constantemente ameaçados pelos cidadãos normais.

A partir do aumento da coerção da minoria patocrata contra a população, a sensação de insegurança é intensificada e traz diversos malefícios à psique coletiva.

A debilidade das Instituições constituídas surge devido à divisão servidores. Enquanto cidadãos estão distraídos com questões secundárias, deixam de cuidar da integridade das instituições e das atividades fim, abrindo, inclusive, espaço para as ações ponerológicas e colaborando com estas.

A idiotização coletiva pela doutrinação e pelos métodos experimentais de engenharia social é usada para mudar as mentes imperceptivelmente. Neste aspecto 15Síndrome Mágico de OZ- Grifo pessoal. O personagem Mágico de OZ, protagonista no clássico infantil de mesmo nome, constrói uma imagem de poder sob uma aparência falsa de autoridade, feita por elementos visuais sonoros de grande efeito ilusório. Contudo, o supracitado personagem, compara-se com os falsos líderes sociopatas que usam de sofisticadas técnicas de propagandas para ter uma imagem de autoridade ante a população que na verdade é falsa.

28

há uma tentativa de patologizar coletivamente usando ideologias remodeladas, cujo fim é a dominação absoluta do grupo sociopata sobre o povo.

O reconhecimento internacional é primordial para a patocracia, pois a aprovação mundial dá credibilidade e legitimidade às ações da minoria patocrata, mesmo ilegais.

A falta de produtividade dos cidadãos torna-se regra sob governo de patocratas. Afinal, há que fomentar desvios psicológicos e fomentar os vícios, além de pô-los em status de regra. Ao generalizar vícios, os líderes sociopatas ensinam à população a justificar e minimizar os atos ilícitos.

Complementando os estudos de Lobaczewski (2014), associando-o com os estudos da psiquiatra Drª Ana Beatriz Barbosa, autora do livro, mentes perigosas que relaciona a personalidade antissocial com um sistema construído por uma elite sociopata. A psiquiatra e autora destaca a problemática da cultura sociopata no seu artigo, a cultura psicopática está no ar16.

A citação do artigo da Barbosa (2008, p.192) esclarece o processo ponerológico na cultura:

No campo da ficção, os sociopatas também tem conquistado valorosos espaços. Até bem pouco tempo atrás, nas novelas, nos romances e nos filmes, torcíamos e nos identificávamos com os personagens do bem que, em geral eram vitimados pelas diversas circunstancias dos enredos, mas que se mantinham éticos e triunfavam no final. Hoje, ficamos fascinados e atraídos pelos vilões e é para eles que dirigimos nossa torcida. E quando estes bandidos são ricos e poderosos acabam por se transformar em sedutores de primeira grandeza. Assim de forma quase natural estamos abandonando os mocinhos e seus ideais morais de justiça e solidariedade. Os heróis do novo tempo são maldosos, inescrupulosos e isentos de sentimento de culpa. Já os personagens bonzinhos despertam em nós um sentimento de pena e até certa intolerância com os seus discursos utópicos e ingênuos. Os heróis do passado estão se tornando os otários dos tempos modernos.

Citando a autora, a luta contra a cultura sociopática é a luta pelo que há de mais humano em cada um de nós. Em outras palavras, não cabe à sociedade fazer qualquer concessão ao estilo sociopático de viver, se há o interesse de prezar pelos valores éticos, morais e pela liberdade dos brasileiros.

16 O Artigo é parte da obra mentes perigosas.

29

2.3 A PROPAGANDA E A PSICOPOLÍTICA A Obra a Propaganda Política de Jean Marie Domenach (2010) 17 nomina as

técnicas de propaganda em leis e critica o uso dos meios persuasivos para meros fins de poder pelo poder. Segundo o autor, a história prova os efeitos negativos desta prática usada pelos personalistas e líderes sociopatas.

As leis e técnicas, segundo Domenach (2010, p.18) são: Lei de simplificação e do inimigo único; Lei de ampliação e desfiguração; Lei de orquestração; Lei de transfusão Lei de unanimidade e de contágio; e por fim, a Contrapropaganda. 1) A Lei de simplificação e do inimigo único:

A sintetização, a simplificação e o uso de slogan são essenciais para alcançar os objetivos propagandísticos. A forma textual é clara, em frases curtas e ritmadas, pode ser facilmente retida pela memória.

Os gestos e os símbolos são elementos complementares essenciais para ajudar na inculcação da mensagem. Já, a palavra de ordem tem conteúdo tático: resume o objetivo a atingir.

Abaixo seguem alguns exemplos de textos onde se aplicam esta lei: - Direitos universais da Revolução Francesa; e - V britânico, adotado como símbolo aliado;

2) A Lei de ampliação e desfiguração: A ampliação exagerada das notícias é um processo jornalístico empregado

correntemente pela imprensa de todos os partidos. A ênfase nas evidências e nas informações favoráveis aos seus objetivos, como por exemplo: a frase casual de um político; a passagem de um avião ou de um navio desconhecidos; ou fatos ameaçadores à soberania de um país; por último, a hábil utilização de citações destacadas.

O uso de hipérboles, a gradação verbal e a linguagem irônica no discurso ampliam o valor semântico das expressões utilizadas no discurso.

Os exemplos abaixo são relativos ao uso desta lei por adjetivos com função de hipérbole: 17A Propaganda Política: Ridendo Castigat More de Jean Marie Domenach - Fonte:<https://solpoliticos.wordpress.com/2010/03/04/a-propaganda-politica-por-jean-marie-domenach>. Detalhes: <file:///C|/site/LivrosGrátis/apropagandapolitica.htm>/ >. Acesso em 20 de abril de 2015.

30

-Roosevelt realiza uma arbitragem, recusada pelos grevistas, e, sim: -Os grevistas respondem à estúpida política social de Roosevelt com a recusa da arbitragem.

-O Dragão Vermelho vem comprando tudo, no mundo todo. (Aumenta uma ação com fins propagandísticos). 3) A Lei de orquestração, é a repetição de temas estratégicos, ou seja, a palavra de ordem deve estar inserida entre discursos. Afinal, as ideias lembradas serão as repetidas inúmeras vezes.

Segundo Domenach (2010, p.23) destaca: A propaganda deve limitar-se a pequeno número de ideias e repeti-las incansavelmente. As massas não se lembrarão das ideias mais simples a menos que sejam repetidas centenas de vezes. As alterações nela introduzidas não devem jamais prejudicar o fundo dos ensinamentos a cuja difusão nos propomos, mas apenas a forma. A palavra de ordem deve ser apresentada sob diferentes aspectos, embora sempre figurando, condensada, em uma fórmula invariável, à maneira de conclusão.

Vejam os exemplos abaixo de lei de orquestração por meio da inculcação de ideias em formas diversificadas de discurso direto ou indireto:

-Proletários, Uni-vos! - A união dos proletariados é a solução contra a opressão burguesa.

4) A Lei de transfusão, é o uso de opiniões preconcebidas, dos preconceitos e dos estereótipos pré-existentes, também de mitos nacionais para fomentar sentimentos de ódio, de fobias e de preconceitos tradicionais.

Em princípio, todo orador sabe que não deve contradizer a plateia, mas declarar-se de acordo com a mesma para obter maior receptividade do público. Segundo o publicitário americano Lippmann em Public Opinion, o primeiro passo a ser dado por um líder político é identificar o sentimento do seu público, e a partir deste ponto construir associações sentimentais que explorem o gosto popular.

Dar imediatamente razão à plateia é administrar sentimentos conscientes e inconscientes que a propaganda almeja atingir com a sua mensagem.

Portanto, explorar estereótipos pré-existentes, é o meio mais eficaz para executar a transfusão de convicção sem questionamentos do receptor. Compara-se a um conselho de um profissional renomado, cuja credibilidade é alta em relação ao recém-formado.

31

Um exemplo de aplicabilidade de lei de transferência é a tradição anti-britânica na França, devido ao antecedente histórico marcante ocorrido com Joana D’arc e Napoleão. 5) A Lei de unanimidade e de contágio, a sondagem de opinião para harmonizar, unificar e criar um senso comum em prol de um projeto de poder para fabricar uma unanimidade artificial.

Segundo Domenach (2010, p.31):

A unanimidade é ao mesmo tempo uma demonstração de força. Um dos alvos essenciais da propaganda é manifestar a onipresença dos adeptos e a superioridade deles sobre o adversário. Os símbolos, as insígnias, as bandeiras, os uniformes, os cantos, constituem um clima de força indispensável à propaganda. Trata-se de mostrar que estamos lá e que somos os mais fortes. Não se poderia explicar de outro modo os esforços dos partidos visando a impor seus oradores, seus gritos de guerra ou seus cantos e tornar-se donos do terreno, ao preço às vezes, de sangrentos tumultos. Uniformes, inscrições, hinos criam uma impressão de presença difusa que retempera os simpatizantes e desmoraliza os adversários.

O resultado do uso desta lei, é a espiral do silêncio, que segundo a pesquisadora Nöelle,18 o resultado é um processo em espiral que incita os indivíduos a perceber as mudanças de opinião e a segui-las até que uma opinião se estabelece como atitude prevalecente, enquanto as outras opiniões são rejeitadas ou evitadas por todos, à exceção dos duros de espírito.

Os exemplos abaixo são referentes à lei de unanimidade: -Nós, o povo inglês. Todas as proclamações e todos os manifestos se principiam pela

manifestação de unanimidade: -As mulheres da França exigem.... 6) Contrapropaganda, também conhecida como combate à propaganda

adversa. Segundo Dominach (2010), a contrapropaganda é o combate às teses do adversário usando a propaganda com algumas regras.

18 A pesquisadora alemã Elisabeth Nöelle-Neumann destaca os efeitos dos meios de comunicação de massa nas opiniões coletivas. Na Alemanha, entre 1965 e 1972, durante as campanhas eleitorais Nöelle-Neumann percebeu uma súbita mudança de opinião, dos eleitores, na reta final do processo de eleição. De acordo com seus estudos, ao mudar de opinião, os eleitores buscavam se aproximar das opiniões que julgavam dominantes. Nessa teoria o importante são as opiniões dominantes, e estas tendem a se refletir nos meios, a opinião individual passa por um processo de crivo do coletivo para ganhar a força. Fonte: < https://teoriasdacomunicacao2.wordpress.com/teoria-espiral-do-silencio/> Acesso em 4 de outubro de 2015.

32

A primeira regra destacada pelo autor é conhecer os temas do adversário, quando se identifica os assuntos, a propaganda adversa é desmontada nos seus próprios elementos constitutivos e isolados. Portanto, há necessidade de classificar os itens por ordem de importância e contra argumentá-los.

Ao trazer os elementos simbólicos semânticos e composições verbais complexas à lógica, o verdadeiro conteúdo pobre e contraditório da mensagem surge. Portanto, a cada argumento propagandístico vago rebatido, automaticamente revela em partes a propaganda adversa.

A segunda regra destacada por Domenach (2010), diz que a ação contra a propaganda adversa deve ser baseada na identificação dos pontos fracos, pois atacá-los é o preceito fundamental da contrapropaganda. Quando se encontra o ponto central entre o mais débil ao mais hesitante, ali concentra-se a propaganda.

O autor chegou à supracitada regra, depois que relacionou as técnicas de guerra psicológica da Primeira Guerra Mundial com as estratégias de contrapropaganda usadas para conter as leis da propaganda ideológica.

As técnicas de guerra psicológica da Primeira Guerra focavam-se nas desmoralizações mútuas entre russos, alemães e aliados. Em meio ao emaranhado de mensagens, a solução encontrada sob ruído foi buscar os pontos fracos dos adversários e explorá-los no processo de contrapropaganda.

Assim surgiu a regra fundamental da contrapropaganda: identifique o ponto fraco do oponente e procure destacá-lo.

Domenach (2010, p.32) sintetiza as regras da contrapropaganda, afirmando ser um equívoco atacar a propaganda adversa quando esta for forte, pois ao contestá-la fortalece a opinião dos crentes.

A contrapropaganda deve combater a opinião adversa, a partir da mesma opinião por meio da Lei de transfusão da propaganda.

Por fim, segundo Domenach (2010, p.49), destaca que a liberdade não é ensinada, mas a educação a predispõe, portanto, a contrapropaganda, por si só, não é o único meio para conter ações indiretas psicopolíticas.

A liberdade, como todas as coisas humanas, não funciona validamente senão sobre um fundo de hábitos adquiridos. Para completar nossa análise do condicionamento, é preciso aduzir esta outra experiência: os animais de Pavlov são tanto mais receptivos quanto mais tempo tiverem sido habituados ao servilismo assim os cachorrinhos educados na prisão; em compensação, tanto mais refratários serão, quanto mais livremente tiverem vivido, e o reflexo

33

da liberdade neles será mais desenvolvido. A doença totalitária não está fora do homem e nenhuma técnica é mais bacilar que outra; ela está no homem e é aí que cumpre tratá-la, não preparando autômatos e sim cidadãos responsáveis

2.4 GUERRA PSICOLÓGICA

O terrorismo gerou o império do medo, devido às inúmeras propagandas

disseminadas pelos meios de comunicação e internet. Afinal, a pauta negativa é mais rentável porque atrai o maior número de pessoas.

O conjunto das ações psicológicas, cujos alvos são as expressões Política, Militar e Econômica, é conhecido como guerra total19, pois se utiliza da propaganda para desmoralizar o oponente, baixar o moral e submeter a vontade do inimigo à intenção adversa.

A pesquisadora afirma que ao ignorar a estratégia do engodo, o ocidente perecerá de loucura coletiva; sendo, portanto, presa fácil na guerra psicopolítica, Segundo GENERAL CANELLHAS (apud Labin20,1964):

O ocidente morrerá de uma psicose que se chama o complexo de Marte, que consiste em só ver, só compreender, só temer a grande guerra quente e deixando inteiramente descoberta a frente decisiva [...] Preocupa-se em armar o braço, deixando passivamente que o adversário lhe desarme o espírito.

Além do cenário militar, existe a estratégia de ação indireta por meio do fomento do desânimo, da abdicação e da derrota moral, cujos efeitos atingem os centros de decisão e consecutivamente toda a população.

A obra do General Carlos Meira Mattos explicita alguns conceitos de ações indiretas de Sun Tzu que direcionou duas formas de ação indireta, uma pré-guerra e outra durante a batalha. 19Guerra total é um conceito dito moderno de um conflito, de alcance ilimitado; no qual as partes beligerantes entram numa fase de mobilização total de todos os seus recursos, humanos, industriais, agrícolas, militares, naturais e tecnológicos para o esforço de guerra. Na guerra total não existe muita diferença entre combatentes e não-combatentes, já que cada cidadão de um país em particular, soldados e civis, pode ser considerado como parte de seu esforço de guerra. Também não há diferenciação entre recursos militares e civis. Baylis, John; Wirtz, James J.; Gray, Colin S., eds. (2012), Strategy in the Contemporary World (4, illustrated ed.), Oxford University Press, p. 55, ISBN 9780199694785 Disponível em:<https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerra_total> Acesso em 04 de outubro de 2015. 20________________. Conferencia ministrada no Instituto de Defesa Nacional Português, em 15 de dezembro de 1982, pelo General José Luís Almiro Canelhas. A pesquisadora Suzane Labin publicou o livro Encima da Hora, em Portugal, sobre ação indireta no Ocidente, no ano de 1964, que foi citado na palestra do General Canelhas.

34

A estratégia pré-guerra de Sun Tzu tem as seguintes diretrizes: lançamento de atividades clandestinas; desmoralização através de boatos falsos e informações contraditórias; infiltrar-se no interior do território do inimigo; e enfraquecer o moral e a vontade de resistir.

Já a estratégia de guerra de Sun Tzu está sintetizada por meio: da frustração desestimulando o plano do inimigo; da desavença e da crise de confiança; da multiplicação de espiões e de agentes (que devem estar em toda a parte colhendo informações, semeando discórdias e fomentando subversão); e da desmoralização e isolamento o inimigo, inclusive rompendo a resistência do oponente, assim o inimigo cairá sem combate e seu exército conquistado, suas cidades ocupadas e seus governos substituídos.

O planejamento estratégico a partir de uma análise detalhada do inimigo são aspectos primordiais para vencer a guerra, segundo o general chinês, pioneiro da ação indireta.

Após Sun Tzu, Mao Tsé-Tung é considerado o segundo estrategista a usar a ação indireta.

Mao Tsé-Tung e Lenine21 dividem em fases as ações indiretas. A primeira fase é a de organizar, de consolidar e de prevenir; a segunda fase é a de expandir, e a terceira e última é a fase de decisão.

Detalhando as fases abaixo, compostas por MAO-TSÉ TUNG E LENINE (apud Carlos de Meira Mattos,2011, p. 231) segue-se a explanação abaixo: A primeira Fase: a organização, consolidação e preservação.

Nesta primeira fase, o foco está na preservação das Forças Armadas de domínio e destruição das Forças Armadas do oponente.

Organizar, nesta etapa um local é escolhido para a construção de uma base no país alvo, que seja de difícil acesso às Forças Armadas do país inimigo.

Após lograr, o estabelecimento no país inimigo, um centro de treinamento de voluntários é organizado para formar agitadores e propagandistas que atuem entre as populações, persuadindo-as a serem adeptas da causa revolucionária.

21 Citação retirada da Obra Geopolítica II de Carlos de Meira Mattos, FGV- Rio de Janeiro, 2011.

35

Consolidar e preservar, nesta etapa é construída, em volta de cada base de treinamento, um cinturão protetor de simpatizantes, em condições de assegurar o recrutamento de homens para coleta de informações e suprimento de alimentos.

Dando continuidade ao pensamento de MAO-TSÉ TUNG E LENINE (apud Carlos de Meira Mattos, 2011, p. 232), A segunda fase: a expansão. Nesta segunda fase, a meta é expansão por meio da ação direta (ação armada) e indireta (fomento do medo). Das ações enumera-se as ações de sabotagem, de terrorismo, de sequestros de colaboracionistas e de reacionários; ataques de surpresa a postos políticos e militares. A terceira fase: a decisão. Nesta fase, as instituições responsáveis pela tomada de decisão do país inimigo são ocupadas por colaboradores e dominadas pacificamente, semelhante à estratégia Gramscista de Guerra de Posição, conforme citada pelo General Coutinho (2012, p.36).

As instituições alvo da ação indireta são as que pertencem aos setores do Planejamento, da Logística, da Defesa, do Judiciário, do Legislativo e da Fazenda (sob forma de controle dos meios de produção do país alvo).

Em suma, o foquismo e o gramscismo na América Latina, fundamentam- se nas ações estratégicas de Mao Tsé- Tung e Lenine. Além de serem clandestinas, estas ações foram aperfeiçoadas pela psicopolítica, e passaram a ser eficazes no adestramento das massas e no controle das Instituições do país alvo, por meio da legitimidade.

Segundo General Coutinho (2012, p.79), a estratégia indireta de coexistência pacífica (modelo adotado por Krushev), por meio das ações predominantemente político-eleitoral.

O modelo estratégico de Krushev, não se limitam ao pacifismo, pois ao fundamenta-lo ao pensamento estratégico de MaoTsé-Tung e Lenine, tem como segunda etapa, o uso de braço armado, constituído pelos milicianos populares e por seguimentos aliciados das Forças Armadas do país alvo.

No Brasil, conforme General Coutinho (2012, p. 80) a estratégia de Krushev foi usada no período de (1961-64) primeiramente, por meio do Domínio Político (aliança com o presidente em exercício) concomitante à estratégia Físico do Governo

36

(infiltração, controle e pressões de base e de cúpula), e não propriamente por via eleitoral que teve como desfecho a luta armada.

General Coutinho (2012, p.101) ainda destaca momentos históricos no Brasil, cujas técnicas já foram utilizadas em momentos diferentes, tanto na primeira Investida (a intentona comunista em 1935), quanto na segunda (a via pacífica que antecedeu ao foquismo de 1961-64), foi seguido o modelo leninista do assalto ao poder, malsucedidos, imprudentes e cruéis no país.

Nos dias atuais a ação indireta da psicopolítica no Brasil é intensa, principalmente expressa na cultura e no meio acadêmico. Segundo General Coutinho (2012, p.118), por trás do fenômeno da direção consciente existe a substituição de paradigmas coletivos imperceptíveis, mas que gradualmente, corrói a expressão psicossocial do país, tais como, o conceito de livre opinião (independência intelectual) está sendo substituído pelo politicamente correto (uniformização da opinião coletiva) devido ao patrulhamento ideológico e à orquestração (repetição); o conceito de legalidade está sendo substituído pelo conceito de legitimidade, ou seja, a norma legal perde eficácia diante das reivindicações justas e das ditas violações sociais legítimas; o conceito de dever e compromisso são substituídos pelo direito de ser feliz; o conceito de cidadão é substituído pelo conceito de cidadania (os direitos civis sobre os deveres) que desencadeiam ativismos diversos por meio das organizações não governamentais; e o conceito de sociedade nacional está sendo substituído pelo de sociedade civil, ou seja, a sociedade como um conjunto de pessoas separadas em busca dos seus interesses manifestados nos ativismos.

O General Coutinho (2012, p.123), conclui a sua análise, alertando sobre a situação brasileira perante a antítese leninista nominada por Gramsci de guerra de posição (infiltração nas instituições) e de guerra de movimento (braço armado das milícias), cuja síntese é o assalto do poder.

O risco que a nação, neste momento, é a falta de vontade popular e a incipiência de meios concretos que contenham a de tomada de poder adversa.

O General Meira Mattos (1991, p.153) 22 destaca que as Forças Armadas desempenham um duplo papel no contexto natural, a de instrumento de defesa, e a de pré-defesa. Se não evitar as ações clandestinas na política e as manobras 22 __________O pensamento de Meira Mattos. Revista Fronteiras do Brasil, nº 20, Rio de Janeiro, 1991.

37

paramilitares, ao menos, um preço deve ser imposto aos responsáveis pelas ações adversas.

Reiterando o pensamento do General Meira Mattos (1991), no que tange à missão legal das Forças Armadas e o instrumento jurídico (o artigo 142 da CF/88), cabe à Marinha, ao Exército e à Aeronáutica (instituições permanentes) garantir os poderes constitucionais, a lei e a ordem. Inclusive, atuando preventivamente e coercivamente contra as ações psicopolíticas subversivas que destroem as instituições, ameaçam as vidas dos brasileiros e põem em risco a soberania do país.

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.23

23 Brasil, Constituição Federal de 1988. Disponível em:< http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm> Acesso em 18 de agosto de 2015.

38

3. O HISTÓRICO DO USO DA PROPAGANDA POLÍTICA EM TEMPOS DE PAZ E DE GUERRA.

A propaganda e as suas intenções subjetivas, em tempo de paz, a

propaganda política deveria ser substituída pelos breves informativos, os quais brindariam os princípios, da ética, da legalidade e da publicidade, inclusive, trazendo à luz a verdade, e respeitando a privacidade psicológica de cada cidadão; e em tempo de guerra, a propaganda deveria ser usada entre os exércitos como grande aliada para abreviar o tempo das batalhas.

A história nos convida a não repetir os equívocos do passado, portanto, recordá-la com seus contraditórios, é um ato de liberdade de escolha.

3.1 DE JOANA D’ARC À REVOLUÇÃO FRANCESA.

Segundo Ernest Volkman, a Inteligência inglesa ao perceber que o país estava perdendo a batalha com a França, devido ao sucesso estratégico de Joana D’arc, decidiu desmoralizá-la e desacreditá-la para que a tropa não confiasse mais nas ordens da comandante, e por fim, a Inglaterra saísse como a vitoriosa da guerra contra a França. Volkman (2013, p.53):

Para surpresa dos ingleses, a estratégia utilizada para legitimar à pena de morte de Joana D’arc por meio da calúnia, da criação de um falso tribunal (para julgá-la de herege) e da distribuição de cartazes com acusações, não foi o suficiente para que o Exército Francês perdesse a confiança na comandante. O ato de desmoralização tinha a intenção de fomentar o sentimento de

desespero na população francesa e conduzi-la ao conformismo. No entanto, o resultado foi inverso ao esperado, a população não acreditou na campanha dos ingleses, e logo após executarem Joana D’arc, os compatriotas construíram um símbolo sagrado, a partir da morte da líder e durante duas décadas, os franceses lutaram ardentemente contra os ingleses, e lograram expulsá-los definitivamente de seu território.

Segundo Domenach (2010), a Revolução Francesa foi a primeira guerra de propaganda e a propaganda de guerra bem-sucedida. Os clubes jacobinos, na Revolução Francesa, representaram a expressão organizada do movimento, pois

39

criaram uma rede de grupos de pressão que marchou em Versalhes, manifestou contra as assembleias, fomentou injúrias e violência cujo resultado foi a mudança de paradigmas e da elite na França por meio da força.

A exaltação, a credulidade e o maniqueísmo emocional são regras indispensáveis usadas na retórica, nos folhetos propagandísticos dos movimentos revolucionários do passado, e se assemelham às ações indiretas de hoje.

O discurso messiânico em nome da liberdade foi o elemento central para atingir corações e mentes, inclusive, até os exércitos se inclinaram à propaganda jacobina de Rousseau.

Por fim, segundo DOMENACH (apud Enrst Jünger, 2010, p.8), quando a ideologia se alia aos exércitos existe coesão e entusiasmo no campo interno, porém, no ambiente do inimigo, o que prevalece é a desordem e o medo.

Infelizmente, o impulso e a euforia extrema, fomentados pela a ideologização dos exércitos, no passado, causaram mortes massivas e fratricida, na França da Revolução Francesa e na Alemanha Nazista. Devido às experiências negativas, causadas pela politização dos exércitos, a tendência atual das nações é ter exércitos apolíticos, para que fratricídios sejam prevenidos e nunca mais na história da humanidade, a Força Armada seja usada contra os cidadãos, em nome de ideologias e das instituições provisórias.

3.1.1 AS GUERRAS MUNDIAIS.

Goebbels é o principal realizador da propaganda moderna, em parceria com

Hitler desenvolveu técnicas para conduzir as massas a um clima de ódio e delírio em prol dos objetivos do Reich.

Segundo Domenach (2010), o uso de slogans, de cantos coletivos, de imagens, de mitos, de marchas, e de minutos de silêncio causavam efeitos fisiológicos e psíquicos de um gesto coletivo e produziam delírios comparáveis aos de uma intoxicação.24 24A neurociência já provou que estímulos emocionais desencadeiam reações químicas em nosso cérebro que influenciam a forma como lidamos, reagimos e memorizamos as informações. Para aqueles que trabalham com Marketing, é sempre bom lembrar a frase do prof. Drº Antônio Damásio, uma das maiores autoridades da neurociência mundial que diz, não somos máquinas de pensar, somos máquinas de sentir que pensam. Esse entendimento é crucial para que os profissionais desenvolvam estratégias de comunicação mais certeiras porque a emoção é sim mais importante que a razão.

40

Os adeptos do Nazismo sentiam-se superiores e onipresentes sobre os demais. O ressentimento e os sentimentos negativos alimentavam a ira e a indignação, que passam a ser os ingredientes importantíssimos para receptividade da propaganda política.

Goebbels construiu uma consciência política coletiva e ideológica com status de religião. A dogmatização ideológica é o parâmetro para identificar a doença totalitária por excelência.

Segundo Brant (1967)25, o uso da palavra deve ser criterioso, se o discurso for bem usado pode evitar um conflito armado, neutralizando ações que poriam muitas vidas em risco. No entanto, o mal-uso da palavra poderá causar o caos, incentivar um conflito armado e agravar tensões internacionais, pondo em risco a coexistência pacífica entre os povos.

A Operação Annie foi uma missão, cuja finalidade era minar o moral dos nazistas por meio das operações psicológicas. A emissora secreta nominada de rádio negra foi usada pelos aliados e logrou sucesso na missão, pois conduziu os nazistas ao erro estratégico-militar que resultou no fim da guerra.

O autor faz críticas à propaganda ideológica usada contra a população, abaixo o autor afirma:

(...) nunca as nações dispuseram, anteriormente, de uma arma sutilmente destrutiva, como se pode tornar, em certas circunstancias, a palavra propagada através do espaço. Brant (1967, f.10)

Segundo Brant (1967), após a derrota dos nazistas pelos aliados, várias soluções foram sugeridas para conter o caos psicológico e a loucura coletiva fomentada pela propaganda de Goebbles.

Inclusive, uma escritora norueguesa Sigrid Undset detentora de prêmio Nobel, afirmou que o crescimento do Nazismo na Alemanha, deu-se por causa da loucura coletiva do povo e a única forma de reconstruir a normalidade psicológica no país pós- ________________ Neuromarketing para curioso parte 7- Emoção. Disponível em: <http://www.ideiademarketing.com.br/2015/01/15/neuromarketing-para-curiosos-parte-7-emocao/> Acesso em 5 outubro de 2015. 25 Joseph Errol Brant nasceu em Riga, capital de Letônia, em 10 de agosto de 1912. Naturalizou-se norte-americano e serviu nas fileiras das Forças Armadas Americanas. Em 1942 ingressou na Office of War Information, no setor de rádio propaganda. Relatou a sua experiência no livro, segredos da guerra psicológica: reminiscências da 2ª guerra. Edição: Ridendo Castigat Mores. EbookBrasil.com.

41

guerra, era efetivar uma missão de psiquiatras para tentar amenizar os instintos perversos da população, BRANT (apud Sigrid Undset, p.304).

A prevenção para conter outra forma futura trágica baseada nos fundamentos de Hitler o grande psicólogo negativo é prioridade. Portanto, conter as propagandas ideológicas, cujos instintos humanos passam a sobrepor à razão e à inteligência humana, é certeza de que os erros do passado não se repetirão.

Brant (1967) nomina de extremo da loucura e exemplifica a afirmativa por meio de duas narrativas, a primeira titulada de sala de estar da SS, onde descreve a situação dos prisioneiros condenados pelo nazismo.

Os prisioneiros quando chegavam e sentavam-se num círculo e uma pessoa da roda, convidava os demais para jogar baralho, e de acordo com a carta numerada, indicaria qual modalidade de execução seria utilizada contra si: 1) Injeção Letal aplicada pela própria vítima; 2) ingestão de cianeto de Cáli; 3) enforcamento; 4) chicoteamento até à morte.

A segunda narrativa de Brant (1967, p.328), é sobre o caso do sobrevivente número 137486, entrevistado porque deixa ao leitor a reflexão de que o medo enlouquece, e foi promovendo a desesperança que o Nazismo construiu o império da loucura, onde fraternos prisioneiros se eliminavam mutuamente, por causa do sentimento de pavor pelo temor da morte brutal.

3.1.2 O PRÉ- FOQUISMO

O livro ORVIL26é um apanhado de documentos da época, textos em narrativa detalham o movimento revolucionário foquista na América Latina e no Brasil, que, por meio das guerrilhas urbanas e rurais (no período entre 1964 a 1977) tentou realizar uma revolução aos moldes de Havana no país.

Depois das derrotas consecutivas do movimento revolucionário pelas armas, decidiram adotar a estratégia de Antônio Gramsci, na qual o uso da retórica e das palavras de ordem passaram a ser mais nova do movimento revolucionário contra os brasileiros e instituições.

26 O livro do ORVIL é um conjunto de documentos da época organizados pelos Ten Cel Licio Augusto Ribeiro Maciel e Ten José Conegundes Nascimento.

42

O Gramscismo passou a ser a arma mais poderosa, pois através da técnica indireta gramscista, agentes psicopolíticos passaram a reescrever a história do país, como se os agentes subversivos fossem os verdadeiros heróis e ainda denigrem, por meio de falácias e de inverdades, as Forças Amadas brasileiras que contiveram a ação subversiva mais de uma vez no Brasil, poupando vidas e garantindo a lei e a ordem.

Os agentes de influência usaram a estratégia da infiltração consentida, nos cargos de planejamento e de tomada de decisões nas áreas, da economia, da educação e da comunicação por meio da mídia, no período revolucionário (1964-1985).

O ministério de educação foi desmoralizado por meio de professores agentes psicopolíticos que descontruíram primeiramente as universidades, logo os demais níveis de ensino para destruir a cultura e as tradições brasileiras.

O material didático escolar como: cartilhas e livros tem o papel fundamental na divulgação doutrinária marxista para enfraquecer os valores da sociedade e facilitar o processo de substituição cultural.

O proselitismo ideológico ainda é atrativo para empresários, religiosos e servidores públicos, pois estes asseguram espaços de destaque nos governos devido ao comprometimento com a tese gramscista.

Por fim, o que inspirou os pesquisadores a organizarem e publicarem o livro, foi o conjunto de ataques indiretos por meio da propaganda, o revisionismo histórico e a desmoralização orquestrada na sociedade civil (pelos guerrilheiros derrotados na época). Segundo Maciel; Nascimento (2012, p.2) o livro foi resultado de muita pesquisa:

[...] com isso, as pesquisas foram ampliadas significativamente, incluindo processos, inquéritos, depoimentos de próprio punho de presos, jornais, revistas, gravações de programas de televisão, entrevistas, uma extensa bibliografia nacional e estrangeira e alguns livros de ex- militantes da luta armada. Todas as pesquisas contribuíram para a elaboração do Orvil, diferentemente do trabalho da equipe de D. Paulo Evaristo Arns que, para o livro Brasil Nunca Mais, pesquisou os processos e os inquéritos disponíveis na Justiça Militar, de onde extraiu, apenas, o que interessava, desde que fossem acusações de torturas e críticas aos militares e civis que os combateram e os derrotaram. [...]

43

A falta de contraditório, poderia favorecer à estratégia Gramscista e causar a desordem, a insegurança institucional, além do caos, devido ao fomento do ressentimento coletivo crescente. Conforme, Maciel; Nascimento (2012, p.2):

Passou a predominar no País a versão dos derrotados, que agiam livremente, sem qualquer contestação. As Forças Armadas, disciplinadas, se mantiveram mudas. Aos poucos, a farsa dos revanchistas começou a ser aceita como verdade pelos que não viveram a época da luta armada e do terrorismo e que passaram a acreditar na versão que lhes era imposta pelos meios de comunicação social. Portanto, pode-se afirmar que, o Orvil é um livro com poder de dissuasão

contra a mentira da propaganda adversa. Segundo Maciel; Nascimento (2012, p.3): Um procurador, mais afoito e atirado, afirmou que os militares sonegam dados sobre os desaparecidos. E, de repente, o assunto bombástico desapareceu da mídia, como sempre. Os críticos do livro se recolheram, deixando no ar algumas meias verdades e muitas mentiras 3.1.3 A Propaganda Norte Americana

O livro propaganda, Inc. vendendo o mundo a cultura dos EUA de Nancy Snow

é um relato detalhado sobre o uso da estratégia indireta de propaganda governamental nos EUA e no exterior.

A autora Snow (2013) destaca o projeto verdade e faz crítica ao uso da propaganda governamental americana no exterior para submeter a vontade de outros países ao objetivo estatal americano por meio da promessa de prosperidade, de crescimento das instituições e da ênfase às práticas democráticas no Exterior.

Snow (2013) ainda destaca que as ações indiretas são formatadas pelas políticas externas nas áreas, econômica, educacional, militar e pela difusão cultural, promovida pela rádio Voz da América, que segundo a autora, foi instrumento ativo para a propagação da informação pró-governo americano no exterior.

A autora nomina de manipulação coletiva os meios usados pelo governo americano para conduzir a sua política interna, pois ao fomentar a sensação de segurança aumenta o conformismo e a influência direta pelas emoções da população americana.

44

A diplomacia pública passou a apoiar os objetivos de segurança nacional dos EUA por meio do centro de propaganda institucional (IPI), criado pelo presidente Clinton, que reformulou o Ministério das Relações Exteriores.

O poder suave está identificado na propaganda pela música, pela exposição de arte e programas, pelo intercâmbio internacional, pelos tratados internacionais e pela educação.

A crítica mais intensa feita por Snow (2013) é sobre a estratégia americana fundamentada no poder suave ou soft power, que, no ponto de vista da autora, está explícita na retórica de independência e de liberdade, também na inundação comercial por meio de produtos culturais, cinematográficos, publicações e séries de TV exportadas para o mundo inteiro. 3.1.4 O TERRORISMO

Loretta Napoleoni (2015, p.23) destaca na sua obra a Fênix Islamista, que os meros combatentes do terror e foras da lei do mundo moderno alcançaram status de heróis contra a corrupção.

Após o ataque aos EUA, no 11 de setembro de 2001, surgiu uma nova forma de terrorismo, que gradativamente ganhou controle territorial por meio de reformas sociais e políticas, cujo objetivo é alcançar aprovação popular para construir um estado moderno no qual o mundo deveria confiar.

O reconhecimento internacional é importante para os grupos terroristas, pois a possibilidade de conquista da legitimidade por um grupo clandestino, que destrói a soberania e as instituições de um país alvo, daria meios para que outros grupos ilegais lograssem o direito legítimo de institucionalizar o terror.

Segundo Napoleoni (2015), a filantropia financiada pelos milionários constrói uma base financeira sólida que colabora na ampliação do empreendimento terrorista, que gera riqueza e, consecutivamente, dá meios financeiros para que grupo um clandestino adquira bens estratégicos.

O profundo conhecimento psicológico do oponente é uma nova atitude dos grupos armados terroristas, seguindo a primícias de que conhecer o inimigo é garantir a vitória sobre o mesmo.

45

A autora Napoleoni (2015) ainda destaca a existência de uma dicotomia política construída por meio da retórica pró democracia e pelas ações autoritárias. A população alvo confusa e sem parâmetro agarra-se ao primeiro líder personalista que se apresentar como a única solução para o caos.

Segundo Napoleoni (2015, p.50) existe o Estado- Invisível que é consequência do vácuo estatal, inclusive, mesma, o compara ao poder paralelo.

O Estado– Invisível aterroriza pela coerção, ilude à população com promessas de bem-estar por meio das ações econômicas, fomentando obras de infraestrutura, e buscando a integração política com os outros grupos semelhantes, com a finalidade de alcançar a legitimidade e o reconhecimento internacional.

O recrutamento de estrangeiros para a causa do terror é feito por meio de propagandas repletas de imagens atrativas e frases com efeito persuasivo, como por exemplo: ora, se você quiser combater, é melhor unir-se aos melhores!

O terrorismo privatizou-se, tornou-se filantropia e quando conquista a legitimidade, usa dos programas sociais, da distribuição de renda para manter-se no poder, e fomenta os trabalhos forçados para ter a diminuição de custo de produção, com o fim de comprar a elite local pela lucratividade.

O Estado-Fantasma construído pelo grupo clandestino incorpora algumas características do estado moderno, tais como a legitimidade interna lograda por meio de contrato social (senso comum entre a comunidade local e o grupo clandestino).

A população do país alvo é subestimada à psicopolítica, cujo fim é o controle da reação contrária ao projeto de poder delimitado pelo grupo clandestino.

Os meios de comunicação são usados para divulgar as barbáries e explorar aspectos psicológicos e simbólicos em prol do terrorismo, enquanto a população em estado paranóico permanente, torna-se refém e incapaz de reagir contra as ações indiretas de terror.

Segundo o Tenente Coronel Gouvêia (2012, p.77) 27 do Exército Brasileiro, a exploração simbólica psicológica é intensa no ato terrorista. As estações de metrô, os restaurantes, os edifícios comerciais, entre outros lugares civis são frequentemente alvos de ações terroristas. No entanto, o que parece ser alvo insignificante para a

27 ____________O terrorismo e o direito internacional dos conflitos armados: novos desafios. Na revista Coleção Meira Mattos, Revista das Ciências Militares, nº25, Rio de Janeiro, 1º quadrimestre de 2012.

46

interpretação militar, passa a ser altamente relevante para estratégia do terror, pois seu impacto no psicológico coletivo é intenso.

Tenente Coronel Gouvêia (2012) ainda enfatiza a teoria axiológica sobre a questão dos alvos, sua simbologia no ato terrorista e destaca quais são os pontos mais atacados pelos terroristas, como por exemplo: os bancos e as instalações de entretenimento, porque são lugares que representam os elementos do poder da elite na sociedade e sobre a população.

O ato de degradar o poder do inimigo pela destruição dos seus símbolos de poder, leva à conquista dos corações e das mentes da população a favor dos terroristas, como se estes fossem os libertadores e heróis da nação contra o poder opressor da elite.

Infelizmente, a lógica simbólica do terror ganha legitimidade e aprovação da opinião pública do país alvo, caso não haja uma estratégia para conter as paixões coletivas pelo arquétipo messiânico do libertador clandestino.

Logo, ver-se-á o domínio da nação, primeiramente pelo apelo afetivo a favor do grupo terrorista e, por último, pela insurgência, resultado da legitimação justificada nas hipóteses de uma invasão estrangeira, de um regime ditatorial racial, ou do exercício de legítima defesa amparado no protocolo I da Convenção de Genebra.

47

4. AS ESTRATÉGIAS DE CONTENÇÃO À AMEAÇA DE AÇÕES PSICOPOLÍTICAS NO BRASIL, FUNDAMENTADAS NOS ESTUDOS DO GENERAL MEIRA MATTOS.

O General Meira Mattos destaca na sua obra três aspectos importantes para construção de uma democracia, a dissuasão, a persuasão e a promoção do desenvolvimento por meio do planejamento estratégico de longo prazo.

O autor define a dissuasão como ações de pré-defesa e ações de Defesa e Segurança amparadas legalmente, a partir da Garantia da Lei e da Ordem prevista na Constituição Federal de 1988.

As Forças Armadas desempenham no contexto político um duplo papel de instrumento de defesa, a pré-defesa para desestimular aventuras políticas e militares; se não as evitar ao menos, impondo-lhes um preço a pagar. (MATTOS, General Meira,1991, f. 153)

A visão do General Meira Mattos sobre o artigo 142 da Constituição Federal, no que tange à Garantia da Lei e da Ordem afirma que se destina à defesa da pátria, a garantia dos poderes constitucionais e por qualquer destes a lei e a ordem.

Art. 142. As Forças Armadas, constituídas pela Marinha, pelo Exército e pela Aeronáutica, são instituições nacionais permanentes e regulares, organizadas com base na hierarquia e na disciplina, sob a autoridade suprema do Presidente da República, e destinam-se à defesa da Pátria, à garantia dos poderes constitucionais e, por iniciativa de qualquer destes, da lei e da ordem.

O General Geraldo Luiz Nery, na sua contribuição para o ORVIL, destaca a insuficiência nas estratégias dissuasivas e o descaso pela falta de investimentos, colocando em risco a Defesa Nacional. Conforme MACIEL; NASCIMENTO (apud General Nery 1991, p.5) 28:

Recursos inexistem para o fortalecimento do poder de dissuasão das Forças Armadas, mas sobram para a larga distribuição de incontáveis bolsas assistencialistas, particularmente da injusta e bilionária bolsa-ditadura, usurpando o sofrido contribuinte, a fim de favorecer perversos terroristas. Além disso, eles beneficiam vasta gama de conhecidos aproveitadores, alguns fáceis de encontrar nas bienais do livro, outros visitando os irmãos Castro, verdugos empedernidos da longeva ditadura que, há 53 anos, infelicita o povo cubano.

28_____________ Revista Fronteiras do Brasil, nº20, O pensamento de Meira Mattos, Rio de Janeiro, 1991.

48

O General de Exército Villas Boas29, na sua função como Comandante das Operações Terrestres (COTER) em sua palestra em homenagem ao dia do Soldado, realizada no dia 21 de agosto de 2014 e publicada na Revista do Clube Militar do Rio de Janeiro.

Segundo General Villas Boas (2014, p.22) as estratégias de dissuasão são importantes porque asseguram a presença da Força no território nacional e atendem à Política e à Estratégia Nacional de Defesa.

O General Coutinho (2012) destaca a importância de conter o processo de neutralização do aparelho hegemônico e do aparelho de coerção conforme a estratégia gramscista.

O organismo coletivo30, segundo o General Coutinho (2012, p.55), é formado por um conjunto de organizações, instituições privadas e estatais da sociedade e pela classe política que exerce a função de promoção da propaganda ideológica e de coerção.

Na estratégia gramscista é fundamental a neutralização do sistema defensivo para a tomada de poder.

O espírito de cisão, nominado por Gramsci é um trabalho psicológico, político e ideológico para esvaziar o moral das organizações de defesa.

A retórica de constrangimento, o patrulhamento ideológico, a infiltração de agentes de influência para executar ações de denuncismo e quebrar a coesão interna das instituições e dos aparatos de coerção, torna-se um processo constante de desmoralização e de desconstrução das funções orgânicas das instituições de defesa. Por fim, o enfraquecimento dos aparatos de coerção do Estado é o primeiro passo para prosseguir nos seguintes, que são a reforma intelectual e a transformação moral da sociedade.

General Meira Mattos (2006)31 afirma que a dissuasão, a persuasão e o desenvolvimento são mecanismos defensivos eficazes que desestimulam possíveis 29 _____________ Revista do Clube Militar LXXXXVI, nº454, palestra do General de Exército Villas Boas em homenagem ao dia do Soldado. Rio de Janeiro, Ano de 2014. 30 COUTINHO, Sérgio. A revolução Gramscista no Ocidente: a concepção revolucionária de Antônio Gramsci em cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro. Ed, do Exército, 2012. Capítulo, luta pela hegemonia- organização das classes subalternas, sobre os organismos coletivos. 31 Conceitos baseados no Livro, Claves do pensamento do General Meira Mattos e a Escola Superior de Guerra. ESG. Rio de Janeiro, 2006.

49

aventuras políticas e militares clandestinas, pois neutralizam a imposição de vontades adversas de outros países sobre os interesses da nação brasileira.

Segundo Mattos (2006) nas sociedades livres e abertas predominam os instrumentos de persuasão baseados na convicção, na participação espontânea, no sentimento de obrigação social e na cidadania. Já, nas sociedades totalitárias e fechadas, sob regimes populistas, predominam a coerção constante por meio do patrulhamento ideológico.

O poder na visão de Mattos (2004, p.40) é a soma de recursos materiais e valores psicológicos que o Estado dispõe tendo em vista os objetivos políticos que pretende conquistar ou preservar.32

O autor critica e elabora soluções, no que tange às expressões do poder nacional: psicossocial; política; e militar, para conter ataques de ações indiretas33 que enfraquecem a autonomia do país ante interesses adversos, impostos pela psicopolítica.

A política marca o objetivo, o poder revela os meios disponíveis e a estratégia indica a melhor forma de aplicação dos meios. A afirmação do General Meira Mattos (2006), leva à reflexão de que, ao desconstruir a política com ações psicopolíticas, perdem-se as ações estratégicas por falta de parâmetros para a construção dos objetivos de Governo e de Estado. Do realismo político, General Mattos (2006) destaca dois pilares como solução para a segurança no Brasil: o desenvolvimento (que melhora o índice de desenvolvimento humano) e a restauração do poder nacional pela reconstrução de suas expressões em prol do bem comum, não submissas ao bel prazer de uma minoria sociopata e de seus paralogismos esquizoides.

A via do desenvolvimento, segundo o General Meira Mattos (2006), deve seguir a trilha da modernização dos setores nacionais (tais como, tecnologia, inovação e produção industrial) com o fim de integrar melhor o território brasileiro pelo desenvolvimento. Como meio de medir o poder brasileiro, a contribuição do povo para obter a preservação dos valores, e o progresso nacional, elevando-os ao patamar de

32 Revista coleção Meira Mattos, ciências militares, nº43, Rio de Janeiro, ano 2004. 33 Conceitos baseados no Livro, Claves do pensamento do General Meira Mattos e a Escola Superior de Guerra. ESG. Rio de Janeiro, ano 2006.

50

segurança nacional, GENERAL MEIRA MATTOS (apud Ray Cline, 2006, p.72) sugere a fórmula de Ray Cline.

Pp= (C + E+M) X (S+W+P) Pp= Poder perceptível dos Estados.

C= Massa crítica – população e território. E= Capacidade Econômica. M= Capacidade Militar. S= Conceito Estratégico Adotado por um Estado. W= Vontade Nacional. P= Capacidade de persuadir.

A fórmula de Ray Cline apresenta uma visão ampla, no que tange à capacidade perceptiva e persuasiva dos Estados, concomitante à vontade nacional representada pelas cinco expressões do poder nacional (econômica, psicossocial, política, C eT, e militar).

As relações internacionais como meio dissuasório, segundo o General francês André Beaufre, são o princípio estratégico para paralisar uma agressão de acordo com a política internacional. GENERAL MEIRA MATTOS (apud General Beaufre, 2006). Portanto, destituir o viés ideológico do Ministério de Relações Exteriores34 é garantia de que o Brasil poderá ter autonomia nas escolhas de seus interesses sejam estes, políticos, econômicos, comerciais e estratégicos sem a interferência de atores externos e de agentes de influência do Foro de São Paulo.

A ideologia é o meio, por onde a ação indireta e a propaganda adversa transitam livremente, persuadindo e inculcando opinião adversa para fins de domínio e de enfraquecimento da Nação e das Instituições do país a ser dominada. O General Meira Mattos (2006, p.26) faz crítica à ideologização dogmática e manifesta aversão à irracionalidade do passado, à nacional plasticidade e aos funcionários jacobinos que agem com mentalidade de papel carbono, pois somente

34 _____________ Revista do Clube Militar LXXXXVI, nº454. Jornalista Ruy Fabiano, artigo a militância diplomática. Rio de Janeiro, Ano de 2014.

51

repetem premissas ideológicas acriticamente, possuem o espírito vazio, o temperamento abstrato, facilmente conduzido pelas sensações e emoções.

Em suma, os servientes ideológicos são meros crentes, movidos pela histeria coletiva do momento. Segundo o General Meira Mattos (2006), a estratégia é a luta entre duas vontades e duas inteligências, complementando a reflexão do General Foch de que a estratégia é um jogo de vontade e de inteligência. Sobre a dissuasão, General Meira Mattos (2006, p.44), a caracteriza na apresentação de contra ameaça, pois de forma indireta comunica aos que almejam reagir com violência intencionada, que pensem antes nas consequências da operação, que além de muito onerosa, poderá resultar em muitas perdas de vidas, mesmo sendo uma mera aventura militar, não valerá a pena.

A Expressão Militar dissuasiva deve seguir a forma convencional de trincheiras contra a possibilidade de guerra de guerrilhas na América Latina do século XXI, fomentada por grupos paramilitares, e outras ameaças externas, provindas de países de maior importância, que se destacam na atual conjuntura.

Para alcançar os objetivos estratégicos, no que tange à dissuasão o Ministério da Defesa delineou projetos de monitoramento das fronteiras terrestres, da Zona Exclusiva Econômica Marítima e do Espaço Aéreo brasileiro para garantir a Ordem e a Defesa do país, por meio da atuação das Forças na contenção de possíveis ameaças.

Citando Santo Agostinho, enquanto houver vontade de lutar, haverá esperança de vencer.

52

5 CONCLUSÃO. A ação indireta da psicopolítica não deve ser banalizada, nem subestimada,

pois Sun Tzu, MaoTsé-Tung e Krushev provaram por meio da história da humanidade, que se pode dominar outras nações sem o uso de armas. O resultado é o caos nos países alvos e uma crise de confiança crescente entre as nações,

No século passado, estudos aprofundados de psicologia, como os de Pavlov e de Freud, acrescentaram, às técnicas de ação indireta, o caráter científico.

No mesmo período, diversos ditadores no governo das nações aperfeiçoaram ainda mais as técnicas de ação indireta, empregando-as na forma de propaganda cujas consequências patológicas foram extremas. Uma população inteira perdeu o parâmetro de certo e errado, acreditou cegamente em ideologias que destruíram nações por causa do medo e da paranoia coletiva. A propaganda nas mãos de uma elite sociopata adoece países, portanto a cultura da sociopatia, onde o herói é o bandido e o mocinho é o idiota deve ser banida, e as ações indiretas psicopolíticas neutralizadas, se almejamos uma democracia, onde os cidadãos tenham a garantia das liberdades individuais, vivam no estado de direito próprios do sistema e sejam construtores conscientes do destino do Brasil.

A dissuasão, a persuasão e a promoção do desenvolvimento por meio do planejamento estratégico de longo prazo são instrumentos de pré-defesa eficazes contra a ameaça das ações indiretas psicopolíticas.

Portanto, a importância das Forças Armadas para a manutenção da soberania da nação brasileira e para garantia das liberdades individuais dos brasileiros é de suma importância, e tê-las sempre preparadas e equipadas para exercer a missão constitucional é prioridade.

General Meira Mattos (1991) as Forças Armadas desempenham no contexto nacional um duplo papel de instrumento de defesa e de pré-defesa para desestimular aventuras políticas e militares e se não as evitar, ao menos, imporá um preço a pagar.

53

REFERENCIAS

BARBOSA, Ana Beatriz. Mentes perigosas: o psicopata mora ao lado. Objetiva: Rio de Janeiro, 2008.

ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA (Brasil). O General Meira Mattos e a Escola Superior de Guerra. Rio de Janeiro, 2007. CHANG, Jung; HALLIDAY, Jon. A história desconhecida de MAO. Tradução Pedro Maia Soares São Paulo: Cia das Letras, 2012. COUTINHO, Sérgio. A revolução Gramscista no Ocidente: a concepção revolucionária de Antônio Gramsci em cadernos do Cárcere. Rio de Janeiro: Ed. do Exército, 2012. DOMENACH, Jean Marie. A propaganda Política. Disponível em: Fonte:<https://solpoliticos.wordpress.com/2010/03/04/a-propaganda-politica-por-jean-marie-domenach/>;<https://solpoliticos.files.wordpress.com/2010/03/apropagandapoliticasolpoliticos.pdf>; < file:///C|/site/LivrosGrátis/apropagandapolitica.htm>. Acesso em 20 de abril de 2015. LOBACZEWISKI, Andrew. Ponerologia: psicopatas no Poder. São Paulo: Vide editorial, 2014. HARNECKER, Marta. Haciendo posible lo imposible: la izquierda en el umbral de siglo XXI. Barcelona: Ed. Siglo XXI, 1999. HARNECKER, Marta. Rebelión. 2010. Disponível em: <www.rebelion.org>. Acesso em: xx xx 2015. MARTA Harnecker. In: WIKIPEDIA: a enciclopédia livre. Estados Unidos: Fundação Wikipedia, 2003. Disponível em: <http://es.wikipedia.org/wiki/Marta_Harnecker>. Acesso em: xx jun. 2014. MEINVILLE, Julio. A psicopolítica: a guerra psico-cerebral. Argentina: [s. n.], 1963. PDF. NAPOLEONI, Lorettta. A fênix Islamista: o Estado Islâmico e a reconfiguração do Oriente Médio. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2015.

54

MACIEL, Licio; NASCIMENTO, José Conegundes do. Orvil: tentativas de tomada de poder. São Paulo: Ed. Schoba, 2012. Disponível em: <www.averdadesufocada.com.br>. Acesso em: xx xx 2015. OVERY, Richard. Os ditadores: a Rússia de Stalin e a Alemanha de Hitler. Rio de Janeiro: J. Olympio, 2009. RAGAZZINI, Dario. A teoria da personalidade na sociedade de massas: a contribuição de Gramsci. Campinas: Autores Associados, 2005. RODRIGUES, Charmene. A inteligência de Estado e a garantia das liberdades individuais: os desafios da Inteligência de Estado no contexto de Poder Relativo Transnacional e a atual conjuntura da Nova Ordem Mundial na América Latina do Século XXI. Brasília, 2013. Trabalho apresentado no Curso de Inteligência Operacional. RODRIGUES, Charmene. Educação e revolução: na perspectiva do ORVIL: obra documental e histórica. Rio de Janeiro: [s.n.], 2012. SCHOOYANS, Michel. Evangelho perante a desordem mundial. Portugal: Grifo, 2012. ISBN: 9789788178385. ZIZEK, Slavoj. Vivendo no fim dos tempos. [S.l.]: Bomtempo, 2012. Disponível em: <http://livraria-popular.blogspot.com.br/2012/07/vivendo-no-fim-dos-tempos.html> Acesso em: 15 abr. 2015. SNOW, Nancy. Propaganda, Inc.: vendendo ao mundo a cultura dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Ed. Graphia, 2013. SCRUTON, Roger. Pensadores da nova esquerda. São Paulo: É realizações Ed., 2014. VOLKMAN, Ernest. A história da espionagem. São Paulo: Ed. Escala, 2013.