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2 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

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Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 3

ITEM

N

Helvecio Mattana SaturninoEDITOR

E-MAIL: [email protected]

Cooperativismo, desenvolvimentocientífico, tecnológico e inovações

esta edição da ITEM permeiam diferentesformas de cooperativismo, todas de altíssimarelevância, sempre a desafiar a inteligência

dos homens, despertando colaborações em favor damelhor utilização da água.

Ao celebrar os 10 anos do Consórcio Brasileirode Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café), bem como do seu Núcleo de Irrigação, evi-dencia-se um programa cooperativo de pesquisa quetem frutificado conhecimentos em favor de boas ino-vações para as cadeias produtivas.

O exemplo da evolução sobre o manejo estraté-gico dos sistemas de produção da cafeicultura irriga-da com o estresse hídrico controlado, faz da interdis-ciplinaridade decorrente do maior aprendizado so-bre as relações hídricas do cafeeiro, uma alicianteprovocação para mudanças nos sistemas produtivose desafios para mais pesquisas.

Está aí uma inovação sendo validada, difundidae celebrada pelos produtores, mostrando a capaci-dade da planta em responder aos comandos de umequilibrado sistema de produção. Isso despertaquestionamentos, fazendo fluir o bom debate, evi-denciando a montagem de um sistema produtivoamealhado de fundamentos científicos e metodoló-gicos, muitas vezes adquiridos alhures, com investi-mentos na pós-graduação e outros meios de aperfei-çoamentos, capacitando brasileiros em centros deexcelência no exterior e no Brasil. É esse continuadocooperativismo ao longo do tempo, um processo aser constantemente bem realimentado com recursose renovados desafios, que faz fluir cada vez melhor otrabalho cooperativo. Uma interlocução que redun-da em maior foco no mercado, com prospecções aprovocar avanços na biotecnologia, na maximizaçãodo aproveitamento dos recursos naturais, especial-mente a água para a irrigação.

Nessa integração tecnológica entre produtores,professores, estudantes de graduação e pós-gradua-ção, cientistas os mais diversos, dirigentes de organi-zações dos produtores, segmentos industriais e ex-portadores, são formatadas propostas de pesquisasque se multiplicam no berço de um amplo universode instituições que formam o CBP&D/Café, com acoordenação da Embrapa Café.

A ABID, ao editar a ITEM 48, na virada do século,trouxe à baila esse inteligente arranjo cooperativo depesquisa, que soma e desperta muitas competênciasem favor do desenvolvimento sustentável desse agro-negócio. Assim, vale registrar os parabéns por essadécada e evidenciar os desafios futuros com o elencode participantes que abrilhantam esta edição.

O cooperativismo em torno da água, com umarede de cooperativas de produção e de crédito, siste-mas Itambé e Crediminas, centrais que conjugamesforços na agregação de valores ao leite e aos recur-sos financeiros, permitiu que a ABID, na qualidadede Comitê Nacional Brasileiro da ICID, pudesse ce-lebrar o Dia Mundial da Água, deflagrando a ban-deira desse cooperativismo e do fomento à irrigação,dando sua resposta a um chamado mundial.

O questionamento sobre o cooperativismo e decomo fazer dele um veículo para facilitar o desenvol-vimento sustentável, é motivo de muitas reflexões.Há uma inquietação com vistas a melhorar os apara-tos legais, fazendo com que as cooperativas possamdesempenhar melhor o grande papel que lhes cabeneste século, dentre os desafios do milênio.

Mas, independente do aspecto formal, que preci-sa ser trabalhado com urgência, é auspicioso obser-var a força do associativismo, das parcerias e dos maisdiversos arranjos que movem o cooperativismo emfavor do agronegócio café do Brasil. E é movido poresse espírito cooperativista que a ABID, no afã demelhor desempenhar seu papel, aguarda a atençãode cada associado, de cada leitor.

Nessa linha de raciocínio da cooperação e dossinergismos a serem explorados, vale agendar, de 07a 12/10/2007, o XVII Conird em Mossoró, RN.

Os mais diversos sistemas e métodos de irrigação

têm delineado uma nova geografia para a cafeicul-

tura brasileira, fazendo-a cada vez mais competitiva.

Para dar permanente suporte a esse continuado

avanço, vale destacar o Consórcio Brasileiro de

Pesquisa e Desenvolvimento do Café (CBP&D/Café),

que ao celebrar 10 anos de existência, com expressi-

vos resultados decorrentes desse modelo cooperati-

vo de pesquisa, é destaque desta capa. Tendo como

base a foto de Gilberto Melo, evidencia-se o quanto

se pode progredir com o bom manejo da irrigação.

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REVISTA TRIMESTRAL DA ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA

DE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM – ABID

N.º 73 - 1.º TRIMESTRE DE 2007ISSN 0102-115X

ITEMITEMIRRIGAÇÃO & TECNOLOGIA MODERNA

CCCCCONSELHOONSELHOONSELHOONSELHOONSELHO D D D D DIRETORIRETORIRETORIRETORIRETOR DDDDDAAAAA ABID ABID ABID ABID ABIDALFREDO TEIXEIRA MENDES; ALFONSO A. SLEUTJES; ANTÔNIO ALVESSOARES; MARCELO BORGES LOPES ; DEVANIR GARCIA DOS SANTOS;DURVAL DOURADO NETO; FRANCISCO NUEVO; HELVECIO MATTANA

SATURNINO; MANFREDO PIRES CARDOSO; RAMON RODRIGUES

DDDDDIRETORIAIRETORIAIRETORIAIRETORIAIRETORIA DDDDDAAAAA ABID ABID ABID ABID ABIDHELVECIO MATTANA SATURNINO (PRESIDENTE E DIRETOR-EXECUTIVO);MANFREDO PIRES CARDOSO (VICE-PRESIDENTE); ANTÔNIO ALFREDO

TEIXEIRA MENDES; ANTÔNIO ALVES SOARES; DURVAL DOURADO NETO;RAMON RODRIGUES, COMO DIRETORES. DIRETOR ESPECIAL: DEMETRIOSCHRISTOFIDIS

SSSSSÓCIOSÓCIOSÓCIOSÓCIOSÓCIOS P P P P PAAAAATROCINADORESTROCINADORESTROCINADORESTROCINADORESTROCINADORES C C C C CLALALALALASSESSESSESSESSE I I I I I DDDDDAAAAA ABID ABID ABID ABID ABIDAMANCO; LINDSAY AMÉRICA DO SUL; VALMONT DO BRASIL

CCCCCONSELHOONSELHOONSELHOONSELHOONSELHO E E E E EDITORIALDITORIALDITORIALDITORIALDITORIAL DDDDDAAAAA ITEM ITEM ITEM ITEM ITEMANTÔNIO ALFREDO TEIXEIRA MENDES; FERNANDO ANTÔNIO

RODRIGUEZ; HELVECIO MATTANA SATURNINO; HYPÉRIDES PEREIRA DE

MACEDO; JORGE KHOURY; JOSÉ CARLOS CARVALHO; SALASSIERBERNARDO

CCCCCOMITÊOMITÊOMITÊOMITÊOMITÊ E E E E EXECUTIVXECUTIVXECUTIVXECUTIVXECUTIVOOOOO DDDDDAAAAA ITEM ITEM ITEM ITEM ITEMANTÔNIO A. SOARES; DEVANIR GARCIA DOS SANTOS; FRANCISCO DE

SOUZA; GENOVEVA RUISDIAS; HELVECIO MATTANA SATURNINO

EEEEEDITORDITORDITORDITORDITOR::::: HELVECIO MATTANA SATURNINO

E-MAIL: [email protected]; abid@pib.com.brJJJJJORNALISTORNALISTORNALISTORNALISTORNALISTAAAAA R R R R RESPONSÁVELESPONSÁVELESPONSÁVELESPONSÁVELESPONSÁVEL: GENOVEVA RUISDIAS (MTB/MG 01630 JP).

E-MAIL: [email protected] E ruisdias@globalconn.com.brEEEEENTREVISTNTREVISTNTREVISTNTREVISTNTREVISTAAAAASSSSS EEEEE REPORREPORREPORREPORREPORTTTTTAAAAAGENSGENSGENSGENSGENS: : : : : GENOVEVA RUISDIAS.CCCCCOLABOROLABOROLABOROLABOROLABORADORESADORESADORESADORESADORES: ALAN CARVALHO ANDRADE; ANTÔNIO FERNANDO

GUERRA; ANTÔNIO FERNANDO DE SOUZA; ANTÔNIO DE PÁDUA NACIF;ASSESSORIA DE COMUNICAÇÃO SOCIAL DA EMBRAPA; CIBELE AGUIAR;CLÁUDIO SANZONOWICZ; EVERARDO MANTOVANI; GUSTAVO COSTARODRIGUES; GUY CARVALHO RIBEIRO FILHO; LAÉRCIO ZAMBOLIM;LUIZ FÁBIO RIBEIRO; OMAR CRUZ ROCHA; E PAULO MAURITY DOS

REIS TOLEDO

RRRRREVISÃOEVISÃOEVISÃOEVISÃOEVISÃO: MARLENE A. RIBEIRO GOMIDE, ROSELY A. R. BATTISTA

CCCCCORREÇÃOORREÇÃOORREÇÃOORREÇÃOORREÇÃO GRÁFICAGRÁFICAGRÁFICAGRÁFICAGRÁFICA: : : : : FABRICIANO CHAVES AMARAL

FFFFFOTOGROTOGROTOGROTOGROTOGRAFIAAFIAAFIAAFIAAFIASSSSS EEEEE ILILILILILUSTRUSTRUSTRUSTRUSTRAÇÕESAÇÕESAÇÕESAÇÕESAÇÕES: ARQUIVOS DA AGÊNCIA NACIONAL DE

ÁGUAS; EMBRAPA; EMBRAPA CAFÉ; EMBRAPA CERRADOS; INCAPER;SERRA DO CABRAL AGRO-INDÚSTRIA S.A.; ANTÔNIO FERNANDO

GUERRA; FELIPE CASSIANO; FRANCISCO LOPES FILHO; GENOVEVA

RUISDIAS; GILBERTO MELO; GUY CARVALHO RIBEIRO FILHO;HELVECIO MATTANA SATURNINO; E TUMORU SERA.

PPPPPUBLICIDUBLICIDUBLICIDUBLICIDUBLICIDADEADEADEADEADE: ABID – [email protected] OU FAX: (61) 3274-7245.PPPPPROJETOROJETOROJETOROJETOROJETO EEEEE EDIÇÃOEDIÇÃOEDIÇÃOEDIÇÃOEDIÇÃO GRÁFICAGRÁFICAGRÁFICAGRÁFICAGRÁFICA: GRUPO DE DESIGN GRÁFICO

TEL: (31) 3225-5065 FAX: (31) [email protected] – BELO HORIZONTE MG

TTTTTIRIRIRIRIRAAAAAGEMGEMGEMGEMGEM: : : : : 6.000 EXEMPLARES.

ENDEREÇO PENDEREÇO PENDEREÇO PENDEREÇO PENDEREÇO PARARARARARA CORRESPONDÊNCIAA CORRESPONDÊNCIAA CORRESPONDÊNCIAA CORRESPONDÊNCIAA CORRESPONDÊNCIAAAAAASSOCIAÇÃOSSOCIAÇÃOSSOCIAÇÃOSSOCIAÇÃOSSOCIAÇÃO B B B B BRRRRRAAAAASILEIRSILEIRSILEIRSILEIRSILEIRAAAAA DEDEDEDEDE I I I I IRRIGRRIGRRIGRRIGRRIGAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO EEEEE D D D D DRENARENARENARENARENAGEMGEMGEMGEMGEM – ABID – ABID – ABID – ABID – ABIDSCLRN 712, BSCLRN 712, BSCLRN 712, BSCLRN 712, BSCLRN 712, BLOCOLOCOLOCOLOCOLOCO C, 18 – C C, 18 – C C, 18 – C C, 18 – C C, 18 – CEPEPEPEPEP 70760-533 – B 70760-533 – B 70760-533 – B 70760-533 – B 70760-533 – BRRRRRAAAAASÍLIASÍLIASÍLIASÍLIASÍLIA DF DF DF DF DFFFFFFONEONEONEONEONE: (61) 3273-2154 : (61) 3273-2154 : (61) 3273-2154 : (61) 3273-2154 : (61) 3273-2154 EEEEE (61) 3272-3191 – F (61) 3272-3191 – F (61) 3272-3191 – F (61) 3272-3191 – F (61) 3272-3191 – FAAAAAXXXXX: (61)3274-7245: (61)3274-7245: (61)3274-7245: (61)3274-7245: (61)3274-7245E-E-E-E-E-MAILSMAILSMAILSMAILSMAILS: : : : : [email protected] e [email protected]@pib.com.br e [email protected]@pib.com.br e [email protected]@pib.com.br e [email protected]@pib.com.br e [email protected]

PPPPPREÇOREÇOREÇOREÇOREÇO DODODODODO NÚMERONÚMERONÚMERONÚMERONÚMERO AAAAAVULSOVULSOVULSOVULSOVULSO DDDDDAAAAA REVISTREVISTREVISTREVISTREVISTAAAAA::::: R$ 10,00 (DEZ REAIS).OOOOOBSERBSERBSERBSERBSERVVVVVAÇÕESAÇÕESAÇÕESAÇÕESAÇÕES::::: OS ARTIGOS ASSINADOS SÃO DE RESPONSABILIDADE DE SEUS

AUTORES, NÃO TRADUZINDO, NECESSARIAMENTE, A OPINIÃO DA ABID.A REPRODUÇÃO TOTAL OU PARCIAL PODE SER FEITA, DESDE QUE CITADA

A FONTE.AS CARTAS ENVIADAS À REVISTA OU A SEUS RESPONSÁVEIS PODEM OU NÃO

SER PUBLICADAS. A REDAÇÃO AVISA QUE SE RESERVA O DIREITO DE

EDITÁ-LAS, BUSCANDO NÃO ALTERAR O TEOR E PRESERVAR A IDÉIA GERAL

DO TEXTO.ESSE TRABALHO SÓ SE VIABILIZOU GRAÇAS À ABNEGAÇÃO DE MUITOS

PROFISSIONAIS E AO APOIO DE INSTITUIÇÕES PÚBLICAS E PRIVADAS.

LEIA NESTA EDIÇÃO:

Cartas aos leitores – Página 6

Publicações – Página 8

Balanço do CBP&D: Balanço do CBP&D: Balanço do CBP&D: Balanço do CBP&D: Balanço do CBP&D: eeeeem 10 anos dem 10 anos dem 10 anos dem 10 anos dem 10 anos deinvestimentos em pesquisa, café brasileiroinvestimentos em pesquisa, café brasileiroinvestimentos em pesquisa, café brasileiroinvestimentos em pesquisa, café brasileiroinvestimentos em pesquisa, café brasileirodobra produtividade e melhora a qualidade.dobra produtividade e melhora a qualidade.dobra produtividade e melhora a qualidade.dobra produtividade e melhora a qualidade.dobra produtividade e melhora a qualidade.Página 10

Quanto melhor a qualidade do café, maior oQuanto melhor a qualidade do café, maior oQuanto melhor a qualidade do café, maior oQuanto melhor a qualidade do café, maior oQuanto melhor a qualidade do café, maior odesenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimentodesenvolvimento – Entrevista com o presidenteda Embrapa, Sílvio Crestana. Página 22

CBP&D/Café vira modelo para formação deCBP&D/Café vira modelo para formação deCBP&D/Café vira modelo para formação deCBP&D/Café vira modelo para formação deCBP&D/Café vira modelo para formação depólos de excelência de C&T em Minas Geraispólos de excelência de C&T em Minas Geraispólos de excelência de C&T em Minas Geraispólos de excelência de C&T em Minas Geraispólos de excelência de C&T em Minas Gerais– O secretário de Ciência de Tecnologia e EnsinoSuperior de Minas Gerais, Alberto DuquePortugal, afirma: mais importante que umaunidade de pesquisa é usar racionalmente ascompetências e estruturas já instaladas. Página 24

Entre o presente e o futuro da pesquisa daEntre o presente e o futuro da pesquisa daEntre o presente e o futuro da pesquisa daEntre o presente e o futuro da pesquisa daEntre o presente e o futuro da pesquisa dacafeicultura irrigada em Minas Gerais, o maiorcafeicultura irrigada em Minas Gerais, o maiorcafeicultura irrigada em Minas Gerais, o maiorcafeicultura irrigada em Minas Gerais, o maiorcafeicultura irrigada em Minas Gerais, o maiorprodutor de café. produtor de café. produtor de café. produtor de café. produtor de café. Página 26

Irrigação abre novas áreas de plantio para o caféIrrigação abre novas áreas de plantio para o caféIrrigação abre novas áreas de plantio para o caféIrrigação abre novas áreas de plantio para o caféIrrigação abre novas áreas de plantio para o caféde qualidade em Minas Gerais. de qualidade em Minas Gerais. de qualidade em Minas Gerais. de qualidade em Minas Gerais. de qualidade em Minas Gerais. Página 32

PPPPPolítica cafeeira: Quem tem medo doolítica cafeeira: Quem tem medo doolítica cafeeira: Quem tem medo doolítica cafeeira: Quem tem medo doolítica cafeeira: Quem tem medo dodrawbackdrawbackdrawbackdrawbackdrawback? ? ? ? ? Página 34

PPPPPapel dos concursos de café. apel dos concursos de café. apel dos concursos de café. apel dos concursos de café. apel dos concursos de café. Página 38

Nacif analisa o hoje e o amanhã da cafeiculturaNacif analisa o hoje e o amanhã da cafeiculturaNacif analisa o hoje e o amanhã da cafeiculturaNacif analisa o hoje e o amanhã da cafeiculturaNacif analisa o hoje e o amanhã da cafeiculturabrasileirabrasileirabrasileirabrasileirabrasileira – Além do câmbio desvalorizado, oex-coordenador do CBP&D/Café aponta seispontos problemáticos e linhas futuras para apesquisa da cafeicultura brasileira, onde airrigação ganha destaque. Página 40

RRRRRoberto Roberto Roberto Roberto Roberto Rodrigues: “odrigues: “odrigues: “odrigues: “odrigues: “A legislação brasileiraA legislação brasileiraA legislação brasileiraA legislação brasileiraA legislação brasileirasobre cooperativismo está velha.”sobre cooperativismo está velha.”sobre cooperativismo está velha.”sobre cooperativismo está velha.”sobre cooperativismo está velha.” – Para oex-ministro da Agricultura e especialista emcooperativismo, é preciso compreender comooperar e entender o cooperativismo comoinstrumento para correção do social através deações econômicas. Página 44

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Centro de Inteligência do Café: como o cafeicultorCentro de Inteligência do Café: como o cafeicultorCentro de Inteligência do Café: como o cafeicultorCentro de Inteligência do Café: como o cafeicultorCentro de Inteligência do Café: como o cafeicultorirrigante pode usufruir melhor das informações?irrigante pode usufruir melhor das informações?irrigante pode usufruir melhor das informações?irrigante pode usufruir melhor das informações?irrigante pode usufruir melhor das informações? – Há umano e meio, pela Internet, está no ar o site do Centro deInteligência do Café, com uma série de informaçõesestratégicas, que poderão servir como instrumento para atomada de decisões de quem lida com o assunto. Página 48

Cafeicultura irrigada eficiente é mais vantajosa para oCafeicultura irrigada eficiente é mais vantajosa para oCafeicultura irrigada eficiente é mais vantajosa para oCafeicultura irrigada eficiente é mais vantajosa para oCafeicultura irrigada eficiente é mais vantajosa para oprodutor. produtor. produtor. produtor. produtor. Página 50

Sistema de produção de café irrigado: um novo enfoqueSistema de produção de café irrigado: um novo enfoqueSistema de produção de café irrigado: um novo enfoqueSistema de produção de café irrigado: um novo enfoqueSistema de produção de café irrigado: um novo enfoque –Artigo dos pesquisadores Antônio Fernando Guerra, OmarCruz Rocha, Gustavo Costa Rodrigues, Cláudio Sanzonowicz,Guy Carvalho Ribeiro Filho, Paulo Maurity dos Reis Toledo eLuiz Fábio Ribeiro. Página 52

Modelo Equilibrado de PModelo Equilibrado de PModelo Equilibrado de PModelo Equilibrado de PModelo Equilibrado de Produção de Cafés Especiais:rodução de Cafés Especiais:rodução de Cafés Especiais:rodução de Cafés Especiais:rodução de Cafés Especiais:viabilidade econômicaviabilidade econômicaviabilidade econômicaviabilidade econômicaviabilidade econômica – Artigo dos pesquisadores GuyCarvalho Ribeiro Filho, Antônio Fernando Guerra, OmarCruz Rocha e Gustavo Costa Rodrigues. Página 62

Influência da irrigação no progresso de doenças e pragasInfluência da irrigação no progresso de doenças e pragasInfluência da irrigação no progresso de doenças e pragasInfluência da irrigação no progresso de doenças e pragasInfluência da irrigação no progresso de doenças e pragasdo cafeeirodo cafeeirodo cafeeirodo cafeeirodo cafeeiro – Artigo dos pesquisadores Laércio Zambolim,Antônio Fernando de Souza e Everardo Mantovani.Página 67

OpiniõesOpiniõesOpiniõesOpiniõesOpiniões – Setor produtivo fala sobre a importância dairrigação para a qualidade do café e do sistema de produçãoda cafeicultura irrigada com o manejo controlado do estressehídrico. Página 77

Água: cobrança no meio rural ainda é polêmicaÁgua: cobrança no meio rural ainda é polêmicaÁgua: cobrança no meio rural ainda é polêmicaÁgua: cobrança no meio rural ainda é polêmicaÁgua: cobrança no meio rural ainda é polêmica – A cobrançapelo uso da água, um dos instrumentos previstos na Lei dasÁguas (Lei no 9.433/97), que instituiu a Política Nacional deRecursos Hídricos, foi objeto de um dos concorridos debatespromovidos durante a Fenicafé 2007, em Araguari, MinasGerais. Página 85

FFFFFuturo da agricultura: seremos supridores de alimentos parauturo da agricultura: seremos supridores de alimentos parauturo da agricultura: seremos supridores de alimentos parauturo da agricultura: seremos supridores de alimentos parauturo da agricultura: seremos supridores de alimentos parao mundo? O professor e coordenador do Centro deo mundo? O professor e coordenador do Centro deo mundo? O professor e coordenador do Centro deo mundo? O professor e coordenador do Centro deo mundo? O professor e coordenador do Centro deAgronegócio da FGV , RAgronegócio da FGV , RAgronegócio da FGV , RAgronegócio da FGV , RAgronegócio da FGV , Roberto Roberto Roberto Roberto Roberto Rodrigues, responde.odrigues, responde.odrigues, responde.odrigues, responde.odrigues, responde.Página 88

Economia de energia – Cartilhas da Cemig mostram comoEconomia de energia – Cartilhas da Cemig mostram comoEconomia de energia – Cartilhas da Cemig mostram comoEconomia de energia – Cartilhas da Cemig mostram comoEconomia de energia – Cartilhas da Cemig mostram comoos produtores podem economizar energia elétrica e ter maisos produtores podem economizar energia elétrica e ter maisos produtores podem economizar energia elétrica e ter maisos produtores podem economizar energia elétrica e ter maisos produtores podem economizar energia elétrica e ter maisganhos na produção do café e do leite. ganhos na produção do café e do leite. ganhos na produção do café e do leite. ganhos na produção do café e do leite. ganhos na produção do café e do leite. Página 92

Dia Mundial da Água e o Cooperativismo. Dia Mundial da Água e o Cooperativismo. Dia Mundial da Água e o Cooperativismo. Dia Mundial da Água e o Cooperativismo. Dia Mundial da Água e o Cooperativismo. Página 94

Navegando pela Internet – Página 98

Classificados – Página 98

O Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Caféestá celebrando 10 anos de existência, com a produtividadebrasileira passando de 10 sacas/ha em 1996 para 20 sacas/haem 2007. Os cafeicultores e suas organizações têm interagidocada vez mais com esse modelo cooperativo de pesquisa,fazendo do consórcio um continuado instrumento paramelhorar seus negócios.

Para Silvio Crestana, presidente daEmbrapa e do Conselho Diretor doCBP&D/Café, a pesquisa representao instrumento que possibilita amodernização e a atração daquelesque participam da cadeia produtivado café. Em entrevista à ITEM, elefalou sobre os 10 anos de existênciado consórcio

Durante o Simpósio Brasileiro de Pesquisa em CafeiculturaIrrigada, na Fenicafé 2007 realizada em Araguari, MG, apalestra sobre o sistema de produção da cafeicultura irrigadacom o manejo controlado do estresse hídrico lotou oauditório do evento. Os pesquisadores envolvidos nessetrabalho elaboraram um artigo especial para a ITEM.

Em comemoração ao DiaMundial da Água, a ABID,

juntamente com os sistemascooperativos Itambé e

Crediminas, em parceria comoutras organizações, promoveu

em Prudente de Moraes, MG, umintenso dia de trabalho em

torno do Programa Cooperativode Irrigação na Pecuária (PCIP).

Lideranças do agronegócio do café,como Humberto Santa Cruz,presidente da Aiba, opinaram sobreo sistema de produção com omanejo da irrigação com o estressehídrico controlado e a fertilizaçãocom fósforo, após a apresentaçãodos pesquisadores do CBP&D/Caféno Agrocafé, em Salvador, e noFenicafé 2007, em Araguari, MG

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CARTASleitores

Nações Unidas e o Dia Mundialda Água – Mensagem doSecretário-Geral

“World Water Day is celebrated this year with aspecial focus on ´Coping with Water Scarcity’.

Water scarcity can be physical, economic orinstitutional and can fluctuate over time and space.Today, about 700 million in 43 countries suffer fromwater scarcity, and by 2025 this figure could increaseto more than 3 billion people.

The state of the world’s waters remains fragile,and the need for an integrated and sustainableapproach to water resource management is aspressing as ever. Available supplies are under greatduress as a result of high population growth, un-sustainable consumption patterns, poor managementpractices, pollution, inadequate investment ininfrastructure and low efficiency in water-use.

Yet even more water will be needed in thefuture: to grow food, to provide clean drinking waterand sanitation services, to operate industries and tosupport expanding cities. The water-supply-demandgap is likely to grow wider still, threatening economicand social development and environmental sustain-ability. Integrated water resource management willbe of crucial importance in overcoming waterscarcity. So will international cooperation, since manyof the world’s rivers and aquifers are shared amongcountries. Such cooperation can also promoteharmonious cross-border ties in general.

The Millennium Development Goals have helpedto highlight the importance of access to safe drinkingwater supplies and adequate sanitation, whichundeniably separates people living healthy andproductive lives from those living in poverty and whoare most vulnerable to various life-threateningdiseases. Making good on the global water andsanitation agenda is crucial to eradicating povertyand achieving the other development goals.

The way forward is clear: strengtheninginstitutional capacity and governance at all levels,promoting more technology transfer, mobilizing morefinancial resources, and scaling up good practices andlessons learned. On this World Water Day, I call onthe United Nations system and all stakeholders toforge stronger partnerships and take more concertedaction, not only this year, but throughout the entireInternational Decade for Action: ´Water for Life’ ,2005-2015.”

Projeto de Lei da PolíticaNacional de Irrigação

“O Projeto de Lei da Política Nacional de Irriga-ção chegou à Comissão de Agricultura e já tem comorelator nomeado, o deputado Afonso Hamm (PP-RS).Na semana passada, foram iniciados os requerimen-tos para a realização de Audiências Públicas na Câ-mara e encontros (reuniões), no Rio Grande do Sul,Goiás e Petrolina/Juazeiro, para a discussão do PL.”(Rodrigo Dolabella, assessor técnico da Câmara dosDeputados, Brasília, DF, e associado da ABID).

Csei/Abimaq tem novaDiretoria

“No último dia 13/03/2007, foi realizada a elei-ção para renovação da Diretoria da Câmara Setorialde Equipamentos de Irrigação (CSEI), a qual passoua contar com a formação descrita a seguir e repre-sentará o setor no biênio 2007-2008:

Marcelo Borges Lopes, da Valmont Indústria eComércio Ltda., presidente; Julimar Clemento de Sou-za, da Lindsay América do Sul Ltda., vice-presidente;Ângelo Tadeu Piassetta, da Irrigabrasil Indústria eComércio de Máquinas Ltda.; Francisco de Assis S.Nuevo, da Amanco Brasil S. A.; Jorge Luiz Zanatta,da Edra do Brasil Indústria e Comércio Ltda.; PedroGomes Del Posso, da Imbil – Indústria e Manutençãode Bombas Ita Ltda., como diretores-conselheiros.”(Carlos Eduardo De Marchi, gerente executivo daCâmara Setorial de Equipamentos de Irrigação – Csei).

Fruticultor tem novo teto definanciamento no FEAP

“Reunião do Conselho de Orientação do Fundode Expansão do Agronegócio Paulista (Feap), presi-dido pelo Secretário de Agricultura João Sampaio,

O Dia Mundial da Água foi comemorado com alertas e cuidados

6 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

FOTO: ANA

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Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 7

decidiu ampliar o limite de financiamento para a li-nha de crédito destinada à irrigação na fruticultura.O teto da linha aumenta de R$ 20 mil por produtor,com juros de 4 % ao ano, para R$ 30 mil, atendendoà demanda do setor, e também compatível à eleva-ção dos equipamentos. Esta linha de financiamento,como as outras 26 existentes dentro do Feap, atendea produtores rurais com renda bruta anual de até R$215 mil e oferece melhores condições de pagamen-to, chega até cinco anos e um dos menores juros doPaís. O pequeno fruticultor pode financiar para a com-pra de motobomba movida à eletricidade ou outrafonte de energia, destinada à captação e distribui-ção de água.

O estado de São Paulo é um dos maiores produ-tores de frutas de mesa do País e maior produtor delaranja para indústria, responsável por 97% das ex-portações brasileiras de suco de laranja. Uma das re-giões de destaque na fruticultura fica no circuito dasfrutas, no entorno de Campinas. De lá saem as frutasde caroço ( pêssego, nectarina), figo , caqui e grandeprodução de uvas também. Formado por pequenaspropriedades, os fruticultores são os que mais pro-curam esta linha de financiamento do FEAP. São R$ 2milhões de contratos já firmados.” (Secretaria deAgricultura de São Paulo).

Programa Cooperativo de Irrigaçãona Pecuária chega a Unaí

”Após o lançamento do programa ocorrido nodia 23/03/2007 em Prudente de Morais (MG), cujaapresentação foi voltada para técnicos, estaremosrealizando a partir de agora uma série de palestrasvoltadas para produtores de leite nas cooperativasassociadas ao Sistema Itambé. No dia 04/05/2007, no município mineiro de Unaí, no auditório da Coo-perativa Agropecuária Unaí Ltda (Capul) , estaremosrealizando a primeira palestra técnica sobre Irriga-ção de Pastagens e a apresentação do ProgramaCooperativo de Irrigação na Pecuária (PCIP) para oscooperados da Capul.” (José Paulo Felipe, da Asses-soria de Suprimento de Leite da Itambé, MG).

Opinião sobre a ITEM 71/72“Gostei da ITEM, ela incentiva bastante o uso da

irrigação, principalmente o pequeno produtor. O quemais me chamou atenção foi ver como a revista abor-da o uso racional da água e o manejo da irrigação,fazendo-o de forma clara e coesa. Até gostaria depropor uma maior divulgação da ITEM e da ABID,aproveitando nosso evento, chamado Porteira Aden-tro, que acontece nas Faculdades Associadas deUberaba (Fazu), nos dias 1 e 2 de junho, realizadopelos alunos, onde são mostrados diversos traba-lhos.” (Guilherme Becker, Uberaba, Minas Gerais, pore-mail).

Mensagem do Secretário-Geralda Icid, com a provocação dopresidente Peter Lee sobre 10tópicos da irrigação no mundo

“As you are already aware of, the President Leebrought out top 10 core issues that could perhapsrevolutionize our sector in his recent message in ICIDNewsletter (http://www.icid.org).

1. Farmer controlled water supply, or total channelcontrol or downstream control of canals; call it whatyou will, but essentially an extension of the controlthat came with groundwater, applied to surfacesources and large systems.

2. Emitter delivery systems for precision irrigationand for undulating terrain, not just through dripsystems but also through centre pivots, especiallythose that can be moved from centre to centre, andwith sweeps programmed to serve typical farmblocks. Such technologies can bring irrigation to areaspreviously thought capable only of purely rainfedproduction.

3. Wetting front indicator, a technologyrecognised for its outstanding potential by a WatSaveaward, but not yet widely appreciated.

4. Drain controllers, also exampled by WatSaveawards, for their capability to improve control of soilmoisture and stimulate sub-irrigation.

5. Wetting-drying rice, another important watersaving technology that WatSave has recognised inits widespread application in China.

6. No-till (NT) or minimum tillage technologiesalready used to conserve erodible soils and nutrients,and save fuel, but which can also conserve water inirrigated as well as rainfed production.

7. Fresh-saline irrigation, where saline andbrackish water is used for part of the growing periodwithout much loss of yield or detriment to the soilstructure.

8. Salt and drought tolerant food crops, perhapsused in conjunction with 7, or independently,especially where irrigation is ephemeral or onlysupplementary.

Programa Cooperativo de Irrigação na Pecuária vai serapresentado na Cooperativa Agropecuária de Unaí (Capul)

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FOTO: GENOVEVA RUIS DIAS

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9. Remote sensing coupled with the Internet andmobile communications to help the farmer witheverything from establishing land tenure tooperational forecasting.

10. Drainage, an “old” technology but one whichwe must not forget can improve and sustainproduction in rather more parts of the world thanirrigation on its own.

During discussions with other agencies like WorldWater Council (WWC), IWALC and others like WorldBank, the proposal to identify key areas was receivedwith enthusiasm. The World Bank (Dr. SalahDarghouth) proposed an idea of an E-Conference onthe top 10 technologies outlined in the message ofPresident Lee.

The Central Office intends to create an ‘E-Group’that could bring out appropriate issues on the listedtop 10 technologies. We intend to consider a followup during the IEC in Sacramento, USA, 2007. The finaloutcome will help ICID to suggest suitablerecommendations for WWF-5, Unesco-IHP’s ‘WorldWater Assessment Report-III’ and IWALC.

The ‘E-forum’ shall have the following features.Group Name: icid_top10techGroup Homepage: http://groups.yahoo.com/

group/icid_top10techGroup e-mail: [email protected].”(M. Gopalakrishnan, Secretary General of Icid)

ErramosNo artigo “Coeficientes de cultura para cafeei-

ros (coffea arábica L.) no Cerrado”, favor inserir osgráficos abaixo no lugar das Figuras 2 e 4, páginas85 e 86 da ITEM 69/70:

Figura 2 - Evapotranspiração média mensal do cafeeiro durante a fase deformação (2001 e 2002)

Figura 4 - Evapotranspiração média mensal do cafeeiro durante o período deprodução (2003 a 2005).

(Mensagem enviada pelo pesquisador AntônioFernando Guerra, da Embrapa Cerrados).

PUBLICAÇAnais do IX Simpósio Brasileirode Pesquisa em CafeiculturaIrrigadaPara quem deseja conhecer osmais recentes trabalhos depesquisa em cafeicultura irri-gada, não pode deixar de lera edição dos Anais do IXSimpósio Brasileiro de Pesqui-sa em Cafeicultura Irrigada,realizado em Araguari, MinasGerais. O simpósio aconteceuem conjunto com o XII Encon-tro Nacional de Irrigação da Cafeicultura no Cerradoe a X Feira de Irrigação em Café do Brasil, no períodode 28 a 30/03/2007. Esse conjunto de tradicionaiseventos, com grande participação de técnicos, pro-dutores, autoridades, fabricantes e revendedores deequipamentos, entre outros interessados.

A publicação dos Anais traz o resumo de 32 traba-lhos, preparados por diferentes pesquisadores liga-dos ao CBP&D/Café, através do seu Núcleo de Cafei-cultura Irrigada, atualmente coordenado pelo pro-fessor da Uniube, André Luís Teixeira Fernandes.

Nome da publicação: Anais do IX Simpósio Brasilei-ro de Pesquisa em Cafeicultura Irrigada.No de páginas: 162Tiragem: 1.000 exemplaresPara maiores informações e obtenção da publicação,procurar: Associação dos Cafeicultores de Araguari(ACA) – Rua Jaime Gomes, 418, Centro, Araguari, MG,CEP 38440-000. Fone: (34) 3242.8888E-mail: [email protected]

Hidros: dimensionamento desistemas hidroagrícolasEssa publicação constitui umaproposição diferenciada emrelação à literatura científicatradicional. Cada capítulo cor-responde a um software de-senvolvido pelo Grupo de Pes-quisa em Recursos Hídricos doDepartamento de EngenhariaAgrícola da Universidade Fede-ral de Viçosa (GPRH), sendocomposto de uma parte dedicada à documentaçãotécnica e outra ao respectivo manual de utilização.

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ÇÕESA obra é acompanhada por um CD-ROM, também intituladoHidros, o qual é constituído de seis softwares voltados aodimensionamento de obras hidráulicas e destinados à execu-ção das seguintes funções: determinação dos parâmetros daequação de chuvas intensas para um grande número de locali-dades brasileiras (Plúvio 2.1); dimensionamento de canais paraa condução de água (Canal); dimensionamento e manejo desistemas de drenagem de superfície (Dreno 2.0); racionaliza-ção do uso das principais práticas conservacionistas utilizadaspara o controle da erosão em áreas agrícolas; seleção,dimensionamento e otimização da implantação de sistemas deterraceamento, considerando as condições da área agrícola ana-lisada (Terraço 3.0); dimensionamento de sistemas de drena-gem e bacias de acumulação em estradas não pavimentadas(Estradas); obtenção do hidrograma de escoamento superfi-cial ao longo de uma encosta ou em seções transversais docanal de terraços ou drenos de superfície (Hidrograma 2.1).Todos estes softwares estão também disponíveis, gratuitamente,no site www.ufv.br/dea/gprh.

O livro, de autoria de Fernando F. Pruski et al., foi produzidopara atender às constantes solicitações de usuários dessessoftwares, com um texto para suprir orientações adicionaisàquelas já disponíveis nos próprios softwares. Com essa publi-cação, busca-se atender a essa antiga reivindicação dos usuá-rios. Espera-se que ela possa ser de grande utilidade a todos osprofissionais e estudantes envolvidos com o projeto de obrashidráulicas, sobretudo às destinadas ao controle da erosãohídrica.

Nome da publicação: Hidros: dimensionamento de sistemashidroagrícolasNo de páginas: 259Edição: 2006Preço do exemplar: R$ 54,00Para aquisição e maiores informações:Editora UFV (www.ufv.br) Fone: (31) 3899-1518

Irrigação localizada para a cultura docafé: dimensionamento de sistemasde irrigaçãoCom o apoio do Consórcio Brasileiro dePesquisa e Desenvolvimento do Café, co-ordenado pela Embrapa Café, o BoletimTécnico da Universidade de Uberaba(Uniube) no 01/2006, 2ª edição, publi-cou um assunto de interesse dos cafei-cultores irrigantes.

Sob o título: “Dimensionamento desistemas de irrigação localizada para acultura do café”, de autoria dos profes-

sores André Luís Teixeira Fernandes e Luís César DiasDrumond, esse boletim traz informações práticas so-bre diferentes sistemas de irrigação localizada –gotejamento, microaspersão e tubos perfurados alaser –, e os diferentes aspectos que envolvem a im-plantação de cada um deles.

Enfoca também o processo de implantação e proble-mas, como o de entupimento, os quais poderão ocor-rer em irrigação localizada, além de apontar vanta-gens, desvantagens e limitações desses sistemas.

Boletim Técnico da Uniube 01/2005 – 2a ediçãoAssunto: Dimensionamento de sistemas de irrigaçãolocalizada para a cultura do caféNo de páginas: 40Autores: André Luís Teixeira Fernandes e Luís CésarDias DrumondExemplares desta publicação poderão ser solicitadosao: Programa de Educação à Distância da Universida-de de Uberaba – Campus Aeroporto, Av. Nenê Sabino,1.801, Salas: 2X43 e 2X49, Uberaba-MG, CEP 38055-500. Fone: (34) 3319.8841 e fax: (34) 3314.8910.E-mail: [email protected]

No combate e no controle daerosão hídricaO livro “Conservação de solo eágua: práticas mecânicas para ocontrole da erosão hídrica”, deautoria de Fernando F. Pruski,apresenta uma contribuição téc-nico-científica com o objetivo deminimizar o processo erosivo.São contemplados assuntoscomo: processo físico de ocor-rência da erosão hídrica; fatoresque interferem na erosão hídrica do solo; principaismodelos para estimar as perdas de solo em áreas agrí-colas; práticas mecânicas para o controle da erosãohídrica em áreas agrícolas e em estradas não pavi-mentadas; e modelos computacionais desenvolvidospelo Grupo de Pesquisa em Recursos Hídricos da Uni-versidade Federal de Viçosa, visando o controle daerosão.

Foram contempladas na elaboração do livro não ape-nas as questões de interesse dos estudantes, mastambém dos profissionais envolvidos em projetos desistemas para o controle da erosão.

Publicação: Conservação de solo e água: práticasmecânicas para o controle da erosão hídricaNo de páginas: 240Edição: 2006Preço: R$ 35,00Para maiores informações e aquisição: Editora UFV(www.ufv.br) Fone: (31) 3899-1518

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BALANÇO

Em 10 anos de investimentos empesquisa, café brasileiro dobra

produtividade e melhora a qualidadeA cafeicultura irrigada, hoje,

ocupa 10% da área plantada com

café no Brasil ou 220 mil hectares

e responde por 22% da produção

nacional do produto, com uma

produtividade média entre 25 e 52

sacas beneficiadas por hectare,

dependendo da região.

H á 10 anos, desde a criação do ConsórcioBrasileiro de Pesquisa e Desenvolvimen-to do Café (CBP&D/Café), reunindo

mais de 40 instituições de pesquisa, a produtivi-dade da cafeicultura brasileira dobrou, passan-do de uma produção média de 10 sacas porhectare, em 1997, para 20 sacas, em 2006. Nomesmo período, a área plantada da cultura caiu13,3%, passando de 2,4 milhões de hectares para2,08 milhões. Até 2006, o parque cafeeiro na-cional aplicou recursos da ordem de R$ 87 mi-lhões nas áreas de pesquisa e desenvolvimento.Em 2007, os recursos aprovados para a pesquisasão de R$ 12 milhões, representando quase R$100 milhões de investimentos em 10 anos. Os

Em 10 anos,o CBP&D/Café

está aplicandorecursos da

ordem deR$100 milhões

em pesquisacom o café

FOTO: EMBRAPA CERRADOS

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recursos aplicados para elevar a produtividadee aumentar a qualidade do produto garantiramum retorno de R$ 30, para cada R$ 1 investidono período.

Nesse período, que vem sendo denominadopelo setor cafeeiro nacional como “década má-gica”, a irrigação contribuiu para o aumento deimportantes avanços tecnológicos da cultura.Hoje, o País conta com uma área de 220 mil hec-tares de café irrigado, o que representa 10% doparque cafeeiro brasileiro. Segundo GabrielBartholo, gerente-geral da Embrapa Café, co-ordenadora do CBP&D/Café, a irrigação é umfator de alta importância para a cafeicultura,principalmente nas regiões consideradas margi-nais, onde há um déficit hídrico acentuado. “Airrigação tem proporcionado melhorias substan-ciais na produção e na produtividade da cafei-cultura , fazendo com que os investimentos pos-sam ser amortizados em curto prazo”, afirmaBartholo.

Importância do Núcleo deCafeicultura Irrigada doCBP&D/Café

Gabriel Bartholo esclarece ainda que, com aaplicação de procedimentos corretos do mane-jo da irrigação, há uma grande contribuição paraa melhoria da qualidade do café, que pode sercomprovada através de trabalhos mais recentesem tecnologias geradas e já disponibilizadas comrelação ao estresse hídrico. Monitorando a irri-gação, pode-se estimular o florescimento e amaturação bem uniformes e, como conseqüên-cia, obter um café de alta qualidade.

Entre os trabalhos desenvolvidos pelo Nú-cleo de Irrigação do CBP&D/Café, criadodurante o simpósio de pesquisas cafeeiras, rea-

lizado em Araguari, em 1997, há outrastecnologias já disponibilizadas, visando à eco-nomia de energia e de água no processo de irri-gação. O sistema de irrigação por malha para ocafé, mais apropriado para o pequeno produ-tor, desenvolvido em consórcio com a Universi-dade de Uberaba (Uniube) é considerado sim-ples, de baixo custo e promove uma rentabilida-de maior em termos de produção. Vários ou-tros trabalhos como o impacto da água sobredoenças e pragas vêm sendo estudados. Culti-vares adaptadas à irrigação, em diferentes am-bientes, constituem outro estudo que mostra acontribuição desse Núcleo para a cafeicultura.

Uma década do CBP&D/Café

O modelo de gestão do Consórcio encontra-se plenamente consolidado em seu desenvolvi-mento e revolucionou o sistema de pesquisa. “Naverdade, as instituições trabalhavam isolada-mente e, hoje, estamos conseguindo, através doConsórcio, integrá-las de forma que os traba-lhos são discutidos no âmbito dos núcleos dereferência, onde participam todas as envolvidase, a partir daí, há a integração e a interaçãoinstitucional e disciplinar”, afirma o gerente daEmbrapa Café.

São mais de 40 instituições reunidas por ummodelo pluralista, democraticamente partici-pativo, com coordenação em nível nacional eexecução descentralizada. Todo trabalho depesquisa é orientado para as necessidades dosclientes, cafeicultores, indústria, comércio, go-verno e consumidor final.

Com a formação do Consórcio, conseguiu-se otimizar os recursos financeiros, materiais,físicos e, principalmente, humanos, mobilizan-do-se as inteligências brasileiras para o setor. Nomodelo estabelecido, trabalham, aproximada-mente, 1.400 pessoas, entre pesquisadores,professores, estudantes de graduação e pós-gra-duação, estagiários, bolsistas e extensionistas quetêm uma importância fundamental para o de-senvolvimento de tecnologias, independente dotempo de dedicação de cada um aos projetos depesquisa na cafeicultura.

O Consórcio é considerado um fatorestimulador para o desenvolvimento da pesqui-sa e conseguiu reunir esse pool de instituições e,através delas, um gama de pesquisadores, pro-fessores e estudantes. Além disso, o Consórciopromove uma forte integração com toda a ca-deia desse agronegócio, principalmente com oleque de produtores e suas organizações. “Tudoisso contribuiu para que conseguíssemos, numespaço de tempo menor, levar essa tecnologiaao sistema produtivo”, afirma Bartholo.

Gabriel Bartholo: “Airrigação é da mais

alta importânciapara a cafeicultura,principalmente nasregiões com déficithídrico acentuado,

bem como paramelhor manejar acultura e agregar

valor à produção”

FOTO: EMBRAPA CAFÉ

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16,00 ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ...........................................................................................................................................................................................

14,00 ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ...........................................................................................................................................................................................

12,00 ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ...........................................................................................................................................................................................

10,00 ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ...........................................................................................................................................................................................

8,00 ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ...........................................................................................................................................................................................

6,00 ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ...........................................................................................................................................................................................

4,00 ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ...........................................................................................................................................................................................

2,00 ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ........................................................................................................................................................................................... ...........................................................................................................................................................................................

00,00 .......................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

Setor cafeeiro aplauderesultados do Consórcio

Gabriel Bartholo prevê um futuro bastantepromissor para o Consórcio, porque a cafeicul-tura vem crescendo, com tendências de expan-são de outras áreas. Segundo ele, as instituiçõesconsorciadas devem estar atentas nos 12 Esta-dos brasileiros produtores de café para ajustar amelhor forma de exploração da cultura. “Paraisso, estamos desenvolvendo um programa, queé a Produção Integrada de Café, onde estabele-cemos critérios e boas práticas agrícolas para quesejam um dos fatores de maior desenvolvimen-to para o setor produtivo do café”, afirma ele.

“Os produtores e diversos outros elos dascadeias produtivas têm nos dado esse retorno,colocando, de maneira muito contundente, que,se não fosse o trabalho abnegado dessas insti-tuições e dos pesquisadores, a cafeicultura ain-da estaria num patamar bem atrasado”, consi-dera Bartholo.

Um exemplo dessas manifestações foi dadodurante o 8o Agrocafé, realizado em Salvador,de 05 a 07/03/2007. Líderes da cafeicultura esta-dual, como Sílvio Leite, presidente da Associa-ção dos Cafeicultores da Bahia (Assocafé) eHumberto Santa Cruz, presidente da Associa-ção dos Agricultores e Irrigantes do Oeste daBahia (Aiba) deram testemunhos em relação àpesquisa realizada com o estresse controlado docafé, desenvolvida em Barreiras, na Bahia. Ini-cialmente, eles não acreditaram nesse avançocientífico, mas depois que viram os resultadosde validação regional da tecnologia, ficaramentusiasmados com essa prática, testemunhan-do publicamente sobre os ganhos proporciona-dos por essa integração de esforços advinda doConsórcio.

Um pouco da história

Com a extinção do Instituto Brasileiro doCafé (IBC), em 1990, o setor ficou sem amparogovernamental, como falta de políticas para oordenamento da oferta, descontrole da produ-ção, falta de mecanismos de apoio à cadeiaagroindustrial do café e redução da participa-ção brasileira nas exportações mundiais. Era oIBC, criado em 1952, quem oferecia assistênciatécnica e econômica à cafeicultura através dogerenciamento do Fundo de Defesa da Econo-mia Cafeeira (Funcafé), instituído em 1986, comrecursos provenientes de cotas de contribuiçãosobre exportações de café.

Diante desse quadro, diversos agentes desseagronegócio promoveram uma mobilização paraorganizar um novo mecanismo de gestão para osetor. Em 1996, foi criado o ConselhoDeliberativo de Política do Café (CDPC), coma finalidade de formular políticas públicas refe-rentes a produção, comercialização, exportaçãoe marketing, bem como estabelecer um progra-ma de pesquisa de suporte ao desenvolvimentoda cadeia agroindustrial do café.

Criação do Consórcio

O Ministério da Agricultura, Pecuária eAbastecimento (Mapa) e o Ministério da Indús-tria, do Comércio e do Turismo (Mict) decidi-ram criar, em agosto de 1996, o Programa Na-cional de Pesquisa e Desenvolvimento do Café(PNP&D), contendo proposição de trabalhoconjunto e harmônico para diversas instituiçõesenvolvidas em P&D e transferência de tecnolo-gia, para o agronegócio café brasileiro.

A criação do Consórcio deu-se em 1997, coma participação de dez tradicionais instituições de

Recursos aplicados no Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento do Café – CBP&D/Café no período de 1997 a 2006

1997

1998

1999

2000

2001

2002

2003

2004

2005

2006

1,20

10,80 12,00 12,00

14,00

5,10 4,60

7,72

11,47

7,56

R$ milhões

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14 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

pesquisa cafeeira: Empresa Baiana de Desen-volvimento Agrícola S/A (EBDA), EmpresaBrasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa),Instituto Capixaba de Pesquisa, Assistência Téc-nica e Extensão Rural (Incaper), Empresa dePesquisa Agropecuária de Minas Gerais(Epamig), Instituto Agronômico de Campinas(IAC), Instituto Agronômico do Paraná (Iapar),Empresa de Pesquisa Agropecuária do Rio deJaneiro (Pesagro/Rio), Secretaria de Apoio Ru-ral e Cooperativismo do Ministério da Agricul-tura, Pecuária e Abastecimento (Mapa/Sarc),Universidade Federal de Lavras (Ufla) e Uni-versidade Federal de Viçosa (UFV).

O Consórcio é considerado braço científicoe tecnológico do Conselho Deliberativo da Po-lítica do Café, um colegiado formado por todosos segmentos do agronegócio. Juntos, são dis-cutidas e estabelecidas as diretrizes do Progra-ma Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento doCafé.

Hoje, o Consórcio é responsável pela execu-ção do maior programa mundial de desenvolvi-mento do café, que compreende centenas deações de pesquisa e transferência de tecnologia.

Os projetos estão estruturados em 12 núcleosdisciplinares de referência, que respondem àsnecessidades prioritárias identificadas pelo agro-negócio.

Avanços científicos etransferência dosconhecimentos pautam açõesdo CBP&D/Café

“Estamos gerando a tecnologia, que uma vezvalidada, é transferida ao sistema produtivo atra-vés de vários mecanismos, mormente com otrabalho de extensão. Nessa seqüência da trans-ferência de tecnologia, temos alcançado os ob-jetivos de aumentar a produtividade e melhorara qualidade”, considera Gabriel Bartholo.

Existem várias formas de estimular o produ-tor para que melhore sua atividade cafeeira.Uma delas são os concursos de qualidade docafé, espalhados por todo o Brasil. O Consórciocom o setor privado e os serviços de extensãotem promovido concursos regionais em regiõescafeeiras, que depois se estendem aos Estados.Com a participação da Associação Brasileira daIndústria Cafeeira (Abic) é realizado o Concur-so Nacional de Café. É expressivo o número deprodutores que vêm melhorando a qualidade doseu produto. “Basta dizer que regiões cafeeirasque tradicionalmente eram produtoras de ca-fé inferior, como a Zona da Mata de MinasGerais, com o trabalho desenvolvido com os pro-dutores por meio de associações, passando to-das as informações tecnológicas, resultou namelhoria sensível da qualidade do café”, afirmaBartholo.

Em face das perspectivas futuras de altera-ções climáticas, o CBP&D/Café está-se preca-vendo, a fim de identificar quais são as ações depesquisa que deverão ser incrementadas para aconvivência com essa nova situação. GabrielBartholo afirmou que vários trabalhos já reali-zados ajustam-se a essa nova realidade. Para osetor de produção, existe um gama de tecnolo-gias que promoverão o incremento na produti-vidade. “Agora, temos ouvido o setor privado,para encontrarmos um rumo que precisamosadotar com as pesquisas, em decorrência da de-manda dos setores de industrialização, comer-cialização e exportação. O trabalho voltado parao manejo sustentável das bacias hidrográficas ea racional utilização da água na cafeiculturairrigada, como permanentemente articulado epromovido pela ABID, tem favorecido a inter-locução com toda a cadeia desse agronegócio,com substanciais ganhos dentro das proposiçõesdo CNP&D/Café”, finaliza ele. �

Doze núcleos de referência doCBP&D/Café e seus coordenadores1. Manejo da lavoura cafeeira

Sérgio Parreiras Pereira - [email protected]

2. Transferência e Difusão de TecnologiaRubens José Guimarães - [email protected]

3. Colheita, pós-colheita e qualidade do caféPaulo Cézar Correa - [email protected]

4. Pragas do cafeeiroMaurício Sérgio Zacarias - [email protected]

5. Doenças e nematóides do cafeeiroLaércio Zambolim - [email protected]

6. Agroclimatologia e fisiologia do cafeeiroJosé Donizeti Alves - [email protected]

7. Solos e nutrição do cafeeiroHermínia Emília P. Martinez - [email protected]

8. Socioeconomia, mercado e qualidade total na cadeiaagroindustrial do caféFlavia Maria de Mello Bliska - [email protected]

9. Industrialização e qualidade do caféEsdras Sundfeld - [email protected]

10.Genética e melhoramento do cafeeiroAymbiré Francisco Almeida da Fonseca [email protected]

11. Cafeicultura irrigadaAndré Luís Teixeira Fernandes - [email protected]

12. Biotecnologia aplicada à cadeia produtiva do caféAlan Carvalho Andrade - [email protected]

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Ao longo dos 10 anos de existência do Con-sórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvimentodo Café (CBP&D/Café), a pesquisa vem desenvol-vendo manejos otimizados, em que são consor-ciadas técnicas de colheita mais racionais, a téc-nicas de preparo mais adequadas às condiçõesregionais, com o objetivo de melhorar a qualida-de do produto.

Mas o cafeicultor que adota a irrigação na cul-tura do café precisa se prevenir. Torna-se neces-sário investir um pouco mais na fase de colheitae pós-colheita, pois a quantidade de produto co-lhido numa determinada faixa de maturação e ofluxo de seu processamento mudam, exigindomais agilidade do produtor para dar conta de pro-cessar um volume maior de café num espaço detempo menor.

“A colheita e a pós-colheita tentam garantir alongevidade da qualidade do produto”, garantePaulo César Afonso Júnior, pesquisador daEmbrapa Café e um dos quatro coordenadoresdo Núcleo de Pós-Colheita do CBP&D/Café, aolado dos professores Paulo César Correia, da Uni-versidade Federal de Viçosa (UFV), Flávio MeiraBorém, da Universidade Federal de Lavras (Ufla)e do pesquisador Júlio César de Souza, da Em-presa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais(Epamig).

Fase que exige mais cuidadodo irrigante

Gastos com a colheita e pós-colheita chegama representar 30% do custo da produção do café.Desenvolver tecnologias que aumentem a efi-ciência das colheitas mecânica e manual, em di-ferentes condições de produção, é prioridade im-portante para a pesquisa brasileira. Paulo Césarlembra ao irrigante que a ciência de aumentar arenda e o ganho de qualidade do café está emfazer investimentos no processo de pós-colheita,de acordo com sua capacidade de colheita emquantidade e qualidade.

“O que buscamos é manter a qualidade quevem da colheita, principalmente com o conceitode que por ser perecível, o produto deve ser tra-tado rapidamente e da melhor forma possível”,considera o pesquisador. Para isso, técnicas deprocessamento via úmida em ambientes ou lo-

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COLHEITA E PÓS-COLHEITA:PREVINA-SE: QUEM INVESTE EM IRRIGAÇÃO, COLHE MAIS

Paulo CésarAfonso Júnior

cais de condições adversas têmsido muito úteis na manutençãoda qualidade, como é o caso daZona da Mata de Minas Gerais,algumas regiões do Paraná, doEspírito Santo e outras regiõesonde existem microclimas des-favoráveis à secagem tradicio-nal do produto, lembra ele.

Década deresultados

A utilização de variedadesmelhoradas, em que as preco-ces são intercaladas com as mais tardias, faz comque esse fluxo de produção se dê em quantidademuito maior do que o observado, para quem nãoutiliza essas técnicas. Os avanços no manejo es-tratégico da irrigação, com maior uniformidadede floração, podem ser ferramentas para atenuarou agravar os apertos na colheita. O produtor quenão tem área adequada de terreiro e equaciona-mento de seus equipamentos de pós-colheita vaiter problemas relacionados com a perda de qua-lidade, além da elevação de custos de produção.Também terá que contratar mais mão-de-obrapara dar conta da quantidade produzida e, pro-vavelmente, terá que acelerar o seu processo desecagem, que, se não for feito de forma adequa-da, irá contribuir para a perda de qualidade. “Pen-sar em melhorias no sistema produtivo implicanecessariamente na racionalização do sistema depós-colheita. Caso contrário, pode-se perder todoo investimento anterior”, alerta Paulo César.

Ao longo dos 10 anos de existência do Con-sórcio de Pesquisa, destacam-se as tecnologiasassociadas à pós-secagem do café. “Hoje, temos,principalmente para o pequeno produtor, condi-ções de levar tecnologia de secagem de forma aces-sível e que atenda à manutenção do potencial dequalidade do produto”, garante Paulo César.

Ele destaca, como resultados obtidos, algu-mas modalidades de secadores, que aproveitama própria estrutura anterior do produtor, quandose adapta um sistema mecânico ao tradicional deterreiro, como é o caso do secador híbrido.

Algumas técnicas de manejo foram associadasa essa inovação tecnológica como rodo-enleirador,

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terreiros suspensos e melhorados com aquecimen-to e ventilação forçada. Com relação ao armaze-namento, um manejo mais racional, voltado paraa manutenção da qualidade do ambiente de ar-mazenamento.

Papel da irrigação, diantedas mudanças climáticas

Para o pesquisador, a irrigação é fundamen-tal, não só como técnica de manejo para contor-nar problemas de escassez de água, mas tambémrelacionada com o processo biológico, a questãoda bianualidade, da uniformização de florada edo tipo de produto que está sendo obtido.

Algumas regiões não sobrevivem sem a irri-gação, como o oeste da Bahia. Outras, não so-brevivem sem a irrigação, por ser ela um veículode suprimento mineral. Paulo César acredita quenum futuro próximo, em função das modifica-ções climáticas mundiais provocadas pelo aque-cimento global, essa tecnologia irá ganhar umpapel a mais.

“A irrigação vai contribuir para a manutenção dacafeicultura em algumas regiões e a introdução deoutras regiões no processo produtivo.Temos que verificar o que vai acontecer com a irriga-ção e quais os fatores associados a ela que vão terreflexos na qualidade e nas técnicas de colheita e pós-colheita que usamos hoje”, prevê o pesquisador.

“A irrigação está garantindoum novo zoneamento para acafeicultura”, garante AndréLuís Teixeira Fernandes, profes-sor da Uniube e coordenador doNúcleo de Cafeicultura Irrigadado Consórcio Brasileiro de Pes-quisa e Desenvolvimento doCafé (CBP&D/Café), coordenadopela Embrapa Café.

O café é uma das culturasque ocupa a maior extensão emáreas irrigadas no Brasil, cercade 220 a 230 mil hectares.“Quanto maior a porcentagemde área irrigada de uma região,maior será a produtividade mé-

dia, afirma André. Com 100% da cafeicultura irri-gada, o oeste da Bahia, com 52 sacas de café be-neficiado por hectare, detém a maior produtivi-dade média brasileira. Outras áreas com altitu-des abaixo de 500 metros, como a da região dePirapora, em Minas Gerais e no norte de Minas,com altas temperaturas e déficit hídrico, estãoimplantando cafeicultura irrigada com sucesso.“É uma quebra total de paradigmas em relação ao

CAFÉ IRRIGADO ABRE NOVAS FRONTEIRAS

André LuísTeixeira

Fernandes

que a pesquisa indicava há 10 anos”, constata André.“A cafeicultura irrigada é uma atividade de pro-

dução que exige altos investimentos, custa de R$10mil a R$12 mil/ha para sua implantação. Não bastaapenas jogar a água na quantidade e horário certos.É uma atividade empresarial e envolve desde qualifi-cação de mão-de-obra, redução de custos, otimizaçãodo uso da água e da energia, fertirrigação até a ava-liação de sistemas de irrigação. A expansão da áreairrigada da cafeicultura para regiões que até poucotempo não eram recomendadas pela pesquisa, devi-do a altas temperaturas e baixas altitudes, abre no-vas perspectivas para o crescimento da atividade noBrasil, provocando os estudiosos a desenvolverem no-vos sistemas produtivos”, analisa André Fernandes.

Como nasceu o Núcleo deCafeicultura Irrigada doConsórcio

O Núcleo de Cafeicultura Irrigada (NCI) do CBP&D/Café nasceu há 10 anos em Araguari, durante aFenicafé, ao ensejo de uma palestra sobre cafeicultu-ra irrigada, com a participação de produtores daregião e a equipe técnica voltada para o setor. “Parti-

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cipo desde o primeiro encontro, já que essa é umaregião onde 95% das lavouras de café são irrigadas eexiste um grande interesse pelo assunto. Atualmen-te, a Fenicafé programa três dias de simpósio de pes-quisas, consegue reunir 15 mil pessoas que visitam afeira e promove grande quantidade de negócios dasempresas de irrigação, empresas de fertilizantes edefensivos, além da troca de experiência de produ-tores, estudantes de graduação e pós-graduação”,analisa André.

A irrigação do café foi pesquisada isoladamentepor diferentes institutos de pesquisa nas décadas de1960 e 1970, quando praticamente parou. Voltoucom força total, principalmente para a área de Cer-rado, com a formação do NCI, constituído por pro-fissionais de importantes entidades como Ufla, UFV,Iapar, IAC, Epamig, Embrapa e Uniube, entre outros,integrando o CBP&D/Café. “Havia muito parapesquisar”, relata André. “Ninguém sabia qual era omelhor sistema, como fazer fertirrigação, se era me-lhor dar estresse ou não”.

Resultados e conquistas dapesquisa com a irrigação docafé em 10 anos

Foram várias as vertentes trabalhadas e implan-tadas pela pesquisa, com a constituição do NCI doCBP&D/Café, justamente aqui, em Araguari, há umadécada. Na área de sistemas de irrigação, a grandenovidade foi o plantio circular em pivô central com ouso da LEPA. Comparado com o sistema convencio-nal, que é irrigação em área total, consegue-se umaeconomia de 30% a 40% de energia. É uma tecnolo-gia bem trabalhada dentro do NCI, com diversos li-vros publicados e matérias técnicas em periódicos,como as da revista ITEM. “Qualquer pivô implantadoatualmente no Brasil utiliza a tecnologia de plantiocircular de café sob pivô central”, comenta André.

Outra tecnologia adaptada e mais voltada para o

pequeno produtor, que mudou a realidade da ca-feicultura em muitas regiões brasileiras, é a dosistema de irrigação por aspersão em malha. “Éuma tecnologia fantástica, a qual chamamos“fusquinha da irrigação”, com baixo preço demanutenção e de fácil instalação”, garante André.O gotejamento também foi enfocado e, atualmen-te, está sendo afinada a tecnologia para manejoda solução de solo na fertirrigação.

Quanto ao manejo da cafeicultura irrigada,substancialmente aprimorado com o desenvolvi-mento dos trabalhos do NCI e de todos os outrosnúcleos do consórcio, aproveitando-se a interdis-ciplinaridade proporcionada por essa integração,vale mencionar o trabalho de organização de in-formações da UFV, num pacote tecnológico dis-ponível ao produtor, que foca todo o sistema, ouso correto da água e da energia. Nesses 10 anosde existência do NCI foram pesquisados assuntosque os produtores estavam precisando muito.Com isso, a maior parte dos resultados são apli-cáveis ao dia-a-dia de cada um, podendo hojeoferecer alternativas de sistemas produtivos comsubstanciais economias de água, energia, mão-de-obra e operações de máquinas, incluindo-seagregações de valor ao café, dado ao melhormanejo da irrigação. Tudo isso como fruto dosomatório de esforços e racionalização de aplica-ção de recursos, com atuação em todas as regiõescafeeiras, em um continuado trabalho de pes-quisa, que precisa ser cada vez mais reforçado,diante dos desafios que temos para esta próximadécada e para o futuro.

Em termos da cultura do café em sistemas irri-gados, foram definidos os coeficientes de culturae lâminas adequadas de irrigação para cada regiãodo Brasil. “É preciso entender que tudo é novo emcafeicultura irrigada. Regiões antes nunca pen-sadas para o plantio do café estão sendo conquis-tadas para a cultura com o apoio da irrigação”,finaliza o coordenador do NCI do CBP&D/Café.

EVERARDO CHARTUNI MANTOVANI

PROFESSOR TITULAR DO DEA/UFV, VIÇOSA, MGE-MAIL: [email protected]

Durante a evolução da cafeicultura irrigada noBrasil, diversos foram os enfoques. Inicialmente, aúnica preocupação era o aumento da produtividade.Em um segundo momento, foi a necessidade de sis-temas automáticos que otimizassem os processos e

NOVOS PARADIGMAS DA CAFEICULTURA IRRIGADA

a necessidade de mão-de-obra. Posteriormente,foi o ajuste do sistema de produção com vistas apotencializar a produtividade. No momento, jun-to com os demais pontos, a modernização da ca-feicultura irrigada e da agricultura como um todo,está sendo conduzida pelos parâmetros da agri-cultura sustentável, com a integração de todosos fatores que interferem na produção. Nesse con-texto, é fundamental a utilização eficiente da

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18 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 200718 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

temente da região (baixa ou elevada demanda deirrigação), além da elevação da produtividade, a irri-gação proporciona a manutenção da produção aolongo das safras.

Caracterização da produçãocafeeira irrigada no Brasil

A área total da cafeicultura irrigada é estimadaentre 8% e 10% do parque cafeeiro brasileiro, em-bora não existam levantamentos conclusivos sobreeste tema. A área irrigada de café Arábica é da or-dem de 120 mil hectares distribuídos principalmentepelas áreas do Triângulo Mineiro, Alto Paranaíba,Norte e Nordeste de Minas Gerais, Chapada e Oesteda Bahia, regiões cafeeiras do estado de Goiás e doDistrito Federal e, também, áreas cafeeiras tradicio-nais de São Paulo. Nestas áreas, a cafeicultura utilizasistemas modernos de aspersão por pivô central eirrigação localizada por gotejamento.

Em relação ao café Conillon, os levantamentossão ainda mais escassos, sendo que os percentuaisultrapassam a 80%, se considerarmos, além da irri-gação tecnificada e durante grande parte do ano,juntamente com a irrigação de apoio ou tambémdenominada de “salvação”.

No mapa acima, apresenta-se a distribuição geo-gráfica das principais áreas irrigadas de café no Brasil.

água, energia e outros insumos, possibilitandoaltas produtividades associadas à conservação am-biental, sendo este, sem dúvida, o grande desafiofuturo da cafeicultura irrigada.

Outro desafio atual e futuro é a necessidadeda permanente conscientização de que cafeicul-tura irrigada não significa o mesmo que cafeicultu-ra tradicional mais água, e que o uso inadequadodas técnicas de irrigação promove uma perda debenefícios e uma grande probabilidade de pro-blemas ambientais, que a sociedade não aceitamais e que propiciaram os programas decertificação e rastreabilidade.

Para se alcançar o êxito na cafeicultura irriga-da, é fundamental o manejo adequado de todosos fatores que interferem no desenvolvimento dacultura. São necessárias pesquisas para angariardados específicos sobre o cultivo irrigado, dispo-nibilizando informações confiáveis aos técnicos eoperadores de equipamentos de irrigação. Assima irrigação não deve ser considerada isoladamen-te, mas sim, como parte de um conjunto de técni-cas utilizadas para garantir a produção econômicado cafeeiro, com adequados manejos dos recur-sos naturais.

Assim, apesar da maior concentração das áreasirrigadas, em regiões onde existem restriçõeshídricas significativas para períodos extensos doano, é grande também a implantação de projetosde irrigação em áreas tradicionais de cafeiculturade sequeiro, onde os avanços da irrigação têmpermitido vantagens competitivas, resultando emmaior produtividade da lavoura e melhor quali-dade do produto final.

Em termos de tecnologia, a irrigação vem sedesenvolvendo acentuadamente nos últimos anos.É possível encontrar no mercado equipamentos esistemas modernos que atendem as mais distin-tas condições. Existem várias possibilidades de ir-rigação do cafeeiro e a escolha de qualquer umadelas depende de uma série de fatores, destacan-do-se o tipo de solo, a topografia e o tamanho daárea, os fatores climáticos, os fatores relaciona-dos ao manejo da cultura, o déficit hídrico, a ca-pacidade de investimento do produtor e o custodo sistema de irrigação.

O cafeeiro tem sido irrigado, normalmente,com sistemas pressurizados do tipo aspersão egotejamento. Dentre os sistemas de irrigação exis-tentes e de maiores potenciais, destacam-se a ir-rigação por aspersão convencional fixa do tipomalha, o pivô central com aplicação localizada etotal e o gotejamento.

A irrigação, se bem feita, proporciona incre-mento de produtividade do cafeeiro independen-

CONJUNTURA DOSETOR CAFEEIRONO BRASIL(Dados de 2006/7)

Produção (em milhões de sacas beneficiadas de 60kg) 45,51

Área de café em produção (em milhões de hectares) 2,15

Produtividade (sc/ha) 19,75

Área de café em formação (milhões de hectares) 0,169

Exportações (milhões de US$) 2,928

Consumo interno (milhões de sacas) 16,33

Consumo interno por habit/ano (em Kg) 4,27

Área de café irrigado (em mil hectares) 220

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Os avanços mundiais na Biotecnologia, a mobili-zação das inteligências e o progressivo trabalho nosprogramas de pós-graduação fazem um grande di-ferencial nesse palpitante setor. Os trabalhos volta-dos para o bom entendimento das relações hídricase nutricionais do cafeeiro, especialmente no manejoestratégico da irrigação para agregação de valor commaior uniformidade da floração e da colheita, estãoem pauta.

Com a conclusão, em 2004, da primeira etapa deseqüenciamento do genoma do café, os pesquisado-res do Consórcio de Pesquisa e Desenvolvimento doCafé (CBP&D/Café) passaram a prospectar para en-contrar entre os 35 mil genes distintos mapeados,aqueles considerados importantes e de interesse agro-nômico. “É a chamada fase do genoma funcional”,anuncia o coordenador do Núcleo de Biotecnologiado CBP&D/Café, o engenheiro agrônomo Alan Car-valho Andrade, formado pela Universidade Federalde Lavras, com PhD na Universidade de Wargen, naHolanda.

O seqüenciamento do genoma total de organis-mos superiores, como o cafeeiro, é uma tarefa difí-cil, devido à sua complexidade e tamanho. O ProjetoGenoma Café optou pelo seqüenciamento de Frag-mentos de Seqüências Expressas (Expressed SequenceTags), onde apenas os genes expressos pelo organis-mo são seqüenciados. Utilizando essa metodologia,foram obtidas 200 mil seqüências de segmentos deDNA preparadas a partir de folhas, raízes, sementes,frutos etc.

Na fase do genoma funcional, estão sendo iden-tificados os genes que determinam e influenciam aqualidade do café, que vão dar um aroma melhor, osdesenvolvidos com tolerância às pragas e doenças etambém aqueles que podem condicionar ou gerarplantas com maior eficiência no uso dos recursoshídricos. A utilização adequada de genes representauma grande economia de tempo para os programasde melhoramento de plantas.

Para se ter uma idéia de como um programa demelhoramento das culturas pode ser acelerado, em1972, o Programa Integrado de PesquisasAgropecuárias de Minas Gerais (Pipaemg), que ante-cedeu à criação da Embrapa e deu origem à Empresade Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig),trouxe de Oeiras, Portugal, uma série de variedadesde café para serem melhoradas através dos traba-lhos de pesquisa desenvolvidos pelos pesquisadoresmineiros do sistema estadual, que conta com o sig-nificativo concurso dos professores da UFV e Ufla.

PROJETO GENOMA CAFÉ: UMA FERRAMENTA PARA ACELERARO MELHORAMENTO DE VARIEDADES

Recentemente, portanto após 35 anos, os resulta-dos desse trabalho começaram a chegar às mãosdos cafeicultores, através de sementes das novascultivares.

“Acreditamos que com a utilização dessas fer-ramentas tecnológicas, integradas ao processo demelhoramento genético, consigamos ter mais efi-ciência e reduzir pela metade o tempo de geraçãode uma nova variedade. Então, dentro de 10 a 15anos, iremos ter resultados práticos em termos devariedades melhoradas geneticamente disponíveispara o produtor”, afirma Alan Andrade.

Trabalho integrado nomelhoramentodas plantas

Algumas entidadesque integram o CBP&D/Café estão-se incorporan-do a esse trabalho de me-lhoramento genético, uti-lizando resultados do Pro-jeto Genoma e da Biotec-nologia. “Já contamoscom a colaboração do Ins-tituto Capixaba de Pesqui-sa, Assistência Técnica eExtensão Rural (Incaper) eagora, estamos nos inte-grando à Epamig, buscan-do usar os materiais dosprogramas de melhoramento da Empresa. A partirde então, vamos começar a utilizar essas ferramen-tas que irão possibilitar o aceleramento do proces-so de melhoramento”, analisa Alan.

Ele explica que, no melhoramento clássico, éfeita uma análise fenotípica (mais visual), e, com otrabalho do Genoma do Café, permite-se ter umaradiografia mais precisa da carga genética do ma-terial.

Os trabalhos de pesquisa desenvolvidos peloConsórcio na área de qualidade atraíram a aten-ção da IllyCaffè, indústria italiana com a qualrecentemente foi estabelecido um trabalho de par-ceria. A IllyCaffè está há mais de 70 anos no mer-cado e, hoje, é uma das maiores empresas domundo no processamento de café expresso, res-ponsável pela exportação do produto para maisde 140 países.

Alan CarvalhoAndrade

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ALAN CARVALHO ANDRADE

ENG. AGRON., MSC., PHD., COORDENADOR DO NÚCLEO DE

BIOTECNOLOGIA DO CBP&D-CAFÉ E PESQUISADOR DA EMBRAPA RECURSOS

GENÉTICOS E BIOTECNOLOGIA, CP. 02372, CEP 70770-900,BRASÍLIA, DF, FONE: (61) 3448-4795, FAX: (61) 3340-3658,

[email protected]

O advento das técnicas avançadas da biologiatais como a genômica, tem possibilitado a gera-ção de uma enorme quantidade de informaçõesgenéticas (seqüências de DNA) que podem auxi-liar e acelerar os programas de melhoramentogenético das espécies de plantas cultivadas. Exem-plo disto é a base de dados brasileira do GenomaCafé (Vieira et al. 2006), uma iniciativa pioneirano mundo, construída com o apoio do CBP&D/Café, que possibilitou a identificação de mais de33 mil genes distintos e que está sendo atualmentetrabalhada, no sentido de se identificar aquelesgenes que são de real importância agronômica erelevantes para a aplicação e utilização prática(marcadores), nos programas de melhoramentogenético do cafeeiro.

Considerando-se a estreita base genética quedeu origem ao parque cafeeiro nacional, são ine-gáveis e meritórios os progressos obtidos pelosprogramas brasileiros de melhoramento genéticodo café, desenvolvidos nas diversas instituiçõesde pesquisa, que fazem parte do CBP&D/Cafécomo o IAC, o Iapar, o Incaper e a Epamig, UFV,Ufla, entre outras. Esses avanços obtidos no de-senvolvimento de novas variedades com caracte-

A cooperação técnica com a IllyCaffè vai en-globar duas linhas de pesquisa principais: aumen-tar a qualidade do café pela identificação e estudodas proteínas, com o auxílio da genômica e daproteômica; e aumentar o poder germinativo dassementes, a partir de estudos de microscopia parao desenvolvimento de células. Além disso, a coo-peração deve englobar também estudos para apri-morar os processos de pós-colheita do café, comosecagem, entre outros.

Café transgênico

Segundo Alan Andrade, dentro do CBP&D/Café,na Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia,existem pelo menos três trabalhos que envolvemEngenharia Genética. Dois deles estão voltados

para tolerância à broca do café e nematóides e outrovoltado para uniformidade de maturação. Esses traba-lhos estão em nível de pesquisa e não têm objetivo co-mercial.

Desses trabalhos, o de maturação é classificadocomo intragênico, porque envolve genes da própriaespécie. Ele busca simplesmente alterar a expressãode um gene do próprio café. Já o trabalho de resis-tência a pragas, busca gens de fora. Nessa pesquisa,existe espaço para trabalhos de Engenharia Genéti-ca, sem o uso de características externas. Já no tra-balho de resistência à broca existe a transgenia, e ogene é uma alfamilase de bacilos de IBP.

“Também estamos preocupados com o alerta glo-bal das mudanças climáticas e, com certeza, a Biotec-nologia vai ter muito como colaborar nessa área paraacelerar os processos para obtenção de novas varie-dades, mais adaptadas”, considera Alan Andrade.

A BIOTECNOLOGIA NA CAFEICULTURA

rísticas agronômicas superiores são ainda mais lou-váveis, em se tratando de culturas perenes como ocafé, que levam cerca de 30 anos para a sua obten-ção.

Os programas de melhoramento convencional,tradicionalmente desenvolvidos no Brasil, têm sidofundamentados na seleção de indivíduos com carac-terísticas superiores, em sua maioria de cruzamentosintra e interespecíficos, seguidos de retrocruzamentoscom variedades de C. arábica. Importante notar, quetodo esse processo de seleção é realizado na maioriados casos, com base em características fenotípicasvisuais sendo, portanto, limitado a esse nível dedetalhamento.

Identificados os genes de interesse, será possívela implantação da metodologia de seleção assistidapor marcadores, nos programas de melhoramento ge-nético do cafeeiro, acelerando e reduzindo os custosno processo de obtenção de novas variedades. A im-plantação dessas metodologias terá grande impactono melhoramento genético, principalmente nos ca-sos em que as características desejáveis são de difícilavaliação visual e também no caso de característicasgovernadas por vários genes ou quantitativas (Figu-ra 1). Além disto, as informações de seqüênciasnucleotídicas do genoma do cafeeiro disponibilizamtambém, os meios para a identificação das ferramen-tas (promotores, reguladores etc) para a utilizaçãoda Engenharia Genética nos casos em que não existavariabilidade genética natural disponível, garantin-do a sustentabilidade da cultura.

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Os resultados das pesquisas biotecnológicas docafeeiro, propiciam aos diversos setores da cafeicul-tura brasileira, caracterizar em nível molecular asvariedades existentes (certificação), garantindo aidentidade e pureza genética dos cultivares lançadose grãos comercializados; auxiliar o melhoramento ge-nético na obtenção rápida de novos cultivares e napropagação clonal de híbridos, utilizando-se as téc-nicas de propagação in vitro (embriogênese somáti-ca); além de possibilitar o maior entendimento dafisiologia e rotas metabólicas da planta de café,criando novas perspectivas para o melhoramento ge-nético.

Neste sentido, resultados iniciais da integraçãodas técnicas proteômicas e metabolômicas aosestudos de genômica funcional sinalizam para umgrande salto nos conhecimentos de fisiologia e bio-química do cafeeiro, que irão auxiliar no desenvolvi-mento de novos sistemas de produção, novasmetodologias de avaliação fenotípica, com ganhosem eficiência e qualidade para esta cultura de impor-

tância histórica para o país, que é o café. Umadas áreas de especial atenção é a do manejo es-tratégico de sistemas de produção do cafeeiroirrigado, utilizando-se essas ferramentas da Bio-tecnologia para o melhor entendimento doconjunto de fatores fisiológicos, bioquímicos enutricionais que são norteados e/ou influenciamnos resultados da aplicação do estresse hídricocontrolado.

Referências BibliográficasVieira L.G.E. et al. (2006). Brazilian coffee genomeproject: an EST-based genomic resource. Braz J PlantPhysiol 18: 95-108.

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FIGURA 1Representação esquemática (resumida), da aplicaçãode seleção assistida por marcadores moleculares nosprogramas de melhoramento genético do cafeeiro.Somente um par de cromossomos está representa-do, sendo que na espécie de C. arábica [2x(2n=22)].Os ganhos com a aplicação desta tecnologia, seri-am obtidos principalmente na identificação deindivíduos contendo os alelos de interesse já nosestágios iniciais de mudas, sem necessidade de ca-racterização fenotípica no campo, além de maiorrapidez na obtenção de indivíduos homozigotos, nasgerações subseqüentes.

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Quanto melhor a qualidade docafé, maior o desenvolvimento

E N T R E V I S T A

O presidente da Embrapa e do ConselhoDiretor do Consórcio Brasileiro de

Pesquisa e Desenvolvimento do Café(CBP&D/Café)*, Sílvio Crestana, destacou

em sua entrevista sobre os 10 anos doConsórcio, o papel da pesquisa comoinstrumento de modernização para a

sustentabilidade e melhoria da eqüidadesocial e econômica da cadeia produtiva,

num processo em busca da melhorqualidade para o café brasileiro.

ITEM – Gostaria que o senhor me falassesobre a importância do Consórcio para odesenvolvimento da cafeicultura nacionale para a melhoria da qualidade do cafénacional.Crestana – O desenvolvimento da cafeicultu-ra brasileira depende da convergência dasações dos agentes que atuam nesta cadeiaprodutiva, direta ou indiretamente, às quaisconcorrem para um mesmo resultado. Nestesentido, o Consórcio Brasileiro de Pesquisa eDesenvolvimento do Café – CBP&D/Café, quecongrega as mais conceituadas instituiçõesde pesquisa em café do País, envolve aindaoutros agentes econômicos e sociais que te-nham vinculação com a cafeicultura em seusdiferentes segmentos, incluindo o poder exe-cutivo. Assim, o Consórcio constitui-se numarranjo institucional de fundamental impor-tância para a cafeicultura brasileira, por pro-mover ações capazes de dar sustentaçãotecnológica e econômica ao agronegócio café,por meio do sinergismo e integração dasinstituições de pesquisa entre si e todos osdemais componentes do setor cafeeiro, nosentido de estender e consolidar a capacida-de de identificação de oportunidades e gera-

ção de novas tecnologias, necessários aopleno desenvolvimento do café brasileiro.Na mesma direção, as conquistas são vasta-mente difundidas, por meio de mecanismosque viabilizem o intercâmbio constante dasinformações geradas, possibilitando que osbenefícios sejam democratizados aos agentesda cadeia produtiva. É assim que o Consórcioamplia a competitividade da cafeicultura bra-sileira, por meio do desenvolvimento de ino-vações tecnológicas e popularização de seuacesso, corroborando para a sustentabilidadedeste agronegócio.Torna-se importante destacar que as expe-riências com novas tecnologias no cultivo docafé têm trazido resultados significativos aoadensamento do plantio, racionalização dostratos culturais, uso eficiente de sistemas deirrigação, seletividade na colheita e maiorescuidados no tratamento pós-colheita, comreflexos na redução de custos, no aumento daprodutividade e, principalmente, na melhoriade qualidade do produto final.Pode-se dizer que a produção brasileira decafé sofreu uma revolução em termos detecnologia, que duplicou a produtividade,melhorou a qualidade e consolidou a diversi-dade dos cafés do Brasil, o que tornou o paíso produtor mais competitivo do mundo.

ITEM – Uma das inovações do Consórcio éo seu modelo de gestão, com a participa-ção de entidades e universidades que sededicam à pesquisa do produto, promo-vendo treinamento e formação de pessoal,além do desenvolvimento de teses de mes-trado e doutorado. Qual é a sua opiniãosobre o modelo adotado?Crestana – Em seu modelo de gestão, oConsórcio não desperdiça seu capital intelec-tual, ao valorizar investimentos nesta área,com a percepção de que a ciência e a tecnolo-gia são fundamentais para o desenvolvimen-

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SÍLVIO CRESTANA

to sustentável do agronegócio café. Aplicaseus recursos em atividades que são intrínse-cas à ciência, tecnologia e inovação, e por isso,já está colhendo dividendos dos investimen-tos feitos no setor. Pesquisadores, professo-res, estudantes e extensionistas constituem osrecursos humanos do Consórcio, em sua gran-de maioria, com formação de mestrado edoutorado nas mais diversas áreas de conhe-cimento.Grandes esforços foram empreendidos peloConsórcio para capacitar produtores, técni-cos e agentes de difusão e transferência detecnologia com o intuito de repassar os co-nhecimentos adquiridos. Ao completar 10 anosde existência neste ano, o Consórcio, atravésda realização de simpósios, congressos, cur-sos, dias-de-campo e outras atividades deextensão levou informações a mais de 500 milpessoas. Bem como o acesso, de forma sim-ples e sistematizada, de aproximadamente2.500 publicações técnico-científicas.O Consórcio sempre investiu em recursos hu-manos, na formação e treinamento de espe-cialistas para o setor cafeeiro, por acreditarque o ponto central do desenvolvimento e dacompetitividade do negócio perpassa pelaqualificação de seus profissionais. Isto porque

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convencidos de que na Sociedade do Conhe-cimento e da Inovação o principal ativo para odesenvolvimento de uma instituição, de umaatividade ou mesmo de um país são seustalentos, seus recursos humanos, sua gente.Daí, apostarmos nossas fichas nesse investi-mento.

ITEM – A cafeicultura nacional é uma dasprincipais culturas da pauta de exportaçãobrasileira. O consumo interno do café tam-bém aumentou bastante nos últimos anos.Mesmo assim, o setor encontra-se desca-pitalizado. Como a pesquisa pode ajudaresse produtor para o aumento da rentabi-lidade da cultura e sua capitalização?Crestana – O Brasil é conhecido como umexportador de quantidade, e não de qualida-de, recebendo preços mais baixos do que amédia. Incitados pela perda de mercado, pro-dutores brasileiros têm tomado iniciativas paramelhorar a qualidade do produto, investindoem novas variedades melhores adaptadas ecom foco em qualidade, além da utilização detécnicas de manejo e pós-colheita mais ade-quadas aos diferentes sistemas produtivos.Esse movimento tem resultado na difusão denovas tecnologias e da seleção de cafés dequalidade superior, com maior produtividadee redução dos custos de produção.A pesquisa representa o instrumento que pos-sibilita estas mudanças de modernização comvistas a atrair todos os que participam destacadeia produtiva, para a sustentabilidade emelhoria da eqüidade social e econômica dacadeia, em um processo que busca melhorara qualidade do café brasileiro e, conseqüente-mente, a rentabilidade do setor. �

Crestana: “O CBP&D/Cafélevou informações paramais de 500 mil pessoasem 10 anos de existência”

FOTO

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(*) Fazem parte do Conselho Diretor do CBP&D/Caféas seguintes instituições, fundadoras do consórcio:Embrapa, EBDA, Epamig, Iapar, Incaper, IAC, UFV,Ufla, Sarc/Mapa e Pesagro.

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Alberto DuquePortugal era

presidente daEmbrapa,quando o

CBP&D/Café foiconstituído

O secretário de Ciência, Tecnologia eEnsino Superior de Minas Gerais,

Alberto Duque Portugal, considera aidéia inovadora e ousada e afirma:

“Mais importante que uma unidade depesquisa é usar racionalmente as

competências e estruturas já instaladas.”

O mesmo mode-lo de gestão depesquisa adota-do pelo Consór-cio Brasileiro dePesquisa e Desen-volvimento doCafé (CBP&D/Café), aprovei-tando as compe-tências de pes-quisa já instala-das no País, idéiaconcebida emMinas Gerais,deverá ser ado-tado pela área deA g r o e n e r g i a ,uma nova uni-dade de pesquisada Embrapa.

Também servirá de exemplo em Minas Gerais,na área de C&T, para a formação de pólos deexcelência em cadeias importantes para o Esta-do, segundo anunciou Alberto Duque Portugal,secretário de Ciência e Tecnologia de MinasGerais. “A idéia é seguir a mesma lógica adota-da pelo consórcio”, afirma ele.

Com a extinção do IBC, Mário Ramos Vilela,na época presidente da Empresa de PesquisaAgropecuária de Minas Gerais (Epamig) acha-va que a Embrapa precisava envolver-se com apesquisa com café em nível nacional. “Inovaçãoera a palavra-chave”, afirma Vilela, lembrandoa experiência de norte-americanos durante aguerra, quando os investimentos públicos paraC&T minguaram, e da forte tradição existente

CBP&D/Café vira modelo paraformação de pólos de excelência

de C&T em Minas Geraisde união de inteligências em pesquisa do Pro-grama Integrado de Pesquisas Agropecuárias deMinas Gerais, (Pipaemg). Esse Programa, pordeterminação do governador Rondon Pachecoe do secretário da Agricultura, Alysson Pauli-nelli, foi elaborado e coordenado por HelvecioMattana Saturnino, tendo o trabalho iniciado em1971/1972. O programa de pesquisa cafeeira foio primeiro a tomar corpo, com efetiva articula-ção do governo de Minas com o Ministério daIndústria e Comércio e o IBC, com um coorde-nado somatório de recursos humanos, físicos efinanceiros, principalmente com o concurso dasUniversidades Federais de Viçosa e de Lavras,a emergente pós-graduação e trabalhos junto aosprodutores. Decorridos cinco anos de constitui-ção do Pipaemg e com a instituição da Embrapae da Epamig, esse Programa Integrado motivoua celebração de um amplo convênio, instituin-do-se o Sistema Estatual de Pesquisa Agrope-cuária de Minas Gerais, firmado por todos osorganismos ligados ao setor da pesquisa àquelaépoca, perenizando esses princípios e fundamen-tos em Minas Gerais.

A idéia de formação do CBP&D/Café nas-ceu em 1993, quando o engenheiro agrônomo,Mário Vilela era presidente da Empresa de Pes-quisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig).Essa idéia originou-se de recursos insuficientespara a pesquisa e em experiências anteriores dejunção de esforços.

Apoio Político

Para tentar resolver o problema de gestão dosetor nacional da cafeicultura, o deputado fede-ral, Carlos Melles, que também já havia sidopesquisador da Epamig na área do café, e o de-putado Silas Brasileiro, formaram uma comis-são especial sobre o assunto na Câmara Fede-ral. Essa comissão apontou para a criação doConselho Deliberativo da Política Cafeeira(CDPC) e de um Programa Nacional de Pesqui-sa do Café. Em 1996, o então presidente Fer-nando Henrique Cardoso sancionou a lei queinstitucionalizou esse processo.

Na época, quem presidia a Embrapa era otambém ex-pesquisador da Epamig, Alberto Du-

FOTO: EMBRAPA

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Alguns nomes de importância na formação do CBP&D/Café: Mário Vilela, oidealizador; Antônio de Pádua Nacif, o estruturador; o deputado e ex-ministroCarlos Melles e o ex-deputado, Silas Brasileiro, os apoios políticos

que Portugal, hoje, secretário de Ciência e Tecno-logia de Minas Gerais. E, para coordenar esse Pro-grama Nacional de Pesquisa do Café, foi escolhi-do o engenheiro agrônomo, Antônio de PáduaNacif, experiente produtor e pesquisador, tambémremanescente do programa mineiro de pesquisa.A partir daí, o Consórcio Brasileiro de Pesquisae Desenvolvimento do Café começou a tomarcorpo.

“Nacif, com habilidade e poder de articulação,foi o verdadeiro artífice que montou toda a estru-tura do Consórcio. O grande desafio era conciliaros espaços institucionais”, afirmou Portugal, que,como presidente da Embrapa, passou a presidir oConselho do CBP&D/Café, ao lado dos reitoresdas universidades e dos presidentes das institui-ções envolvidas. Hoje, são mais de 40 instituiçõesque compõem a estrutura do Consórcio.

Sem recursos financeiros, nãohaveria o CBP&D/Café

O Funcafé foi outro ponto importante para aconsolidação do CBP&D/Café. “Sem ele, prova-velmente, o Consórcio não teria vingado”, acredi-ta Alberto Portugal. Esse exemplo serve comoreflexão para a importância de criar fundossetoriais, por segmento ou cadeia produtiva. “Te-nho batalhado, nos últimos anos, pela idéia de quea cada tonelada de produto que entra na indústriade processamento, seja de soja, de café, de carneou de leite, haver um “delta XXXXX” que ficaria retidonum fundo a ser administrado pelo próprio setor.Esses recursos seriam utilizados para financiar pes-quisa, fazer promoção, capacitação e assim pordiante.”

Usando a capilaridade que dispunha, oCBP&D/Café conseguia ficar próximo aos produ-tores através de instituições no PR, MG, SP, BA,ES, RO e outros. “Isso trazia uma proximidademuito maior do setor, que um centro nacional iso-lado”, analisa ele.

Portugal considera que mesmo com críticas dealguns segmentos, de que o Consórcio permitiuque a pesquisa ficasse um pouco desvinculada dasnecessidades de mercado, os resultados obtidos fo-ram extremamente significantes. Desde a extinçãodo IBC, a pesquisa em cafeicultura estava prati-camente paralisada no Brasil. Havia algum esfor-ço localizado em poucas universidades, na Epamig,no Iapar e no Procafé. “O consórcio permitiu umanova dinâmica. Apareceram novas variedades, sis-temas de manejo, técnicas e equipamentos paramelhorar a secagem de café, caminhamos para omapeamento do genoma do café e a questão doCafé e Saúde que tiveram grandes avanços”, enu-mera o ex-presidente da Embrapa. �

C&T e irrigação: futuros desafios

Para o secretário de Ciência e Tecnologia de MinasGerais, a irrigação é uma área de conhecimento da agri-cultura cada vez mais importante. “Com ela, aumenta-sea produtividade e, com isso, reduz-se a demanda por no-vas áreas”, considera ele, afirmando que o fato traz re-flexos para a questão ambiental, porque evita a pressãopor desmatamento de novas áreas, além da capacidadede reciclagem da água.

“A agricultura é uma grande consumidora e purifica-dora de água”, lembra ele, considerando que a revistaITEM e a ABID, através da liderança de HelvecioSaturnino, têm a importante missão de mostrar à socie-dade brasileira o que a agricultura irrigada realmenterepresenta em termos de utilização da água.

No caso da C&T, Portugal traça três grandes desafiospara Minas Gerais:

1. Necessidade de investimentos nos parâmetros bá-sicos da questão da gestão ambiental e de recursoshídricos. Muitas vezes, tem-se utilizado no trabalho deplanejamento e de monitoramento de fiscalização refe-rências empíricas, que não têm um bom embasamentocientífico sólido aplicável às condições de clima tropicale subtropical.

2. Formação de um arcabouço institucional, tanto naquestão de legislação, quanto na questão de organização.Minas Gerais avançou na organização e estruturação daSecretaria de Meio Ambiente. Já há um avanço na legis-lação, mas essa é uma área que deve ser tratada com aten-ção, para se ter um arcabouço institucional adequado. Éimportante preservar e manejar os recursos naturais eambientais, mas a legislação não pode ser um impedi-mento ao investimento empresarial em novas áreas deirrigação. Um exemplo marcante é o caso do Rio Gran-de, que possui uma importante área de agricultura irri-gada do lado de São Paulo, enquanto é incipiente do ladomineiro. Essa questão merece um estudo mais aprofun-dado sobre suas causas.

3. O último desafio é fazer a inovação acontecer. Ogrande desafio do Brasil hoje é transformar conhecimentoe tecnologia em riqueza, fazer com que a tecnologia che-gue ao chão da fazenda e da indústria.

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Produtores e integrantes doCBP&D/Café mostram os

resultados das pesquisas eapontam os desafios futuros

m Minas Gerais, a cafeicultura irrigadaocupa uma área de 78 mil hectares, divi-didos por diferentes regiões (Quadro 1)

e tem uma produção anual de 2,695 milhões desacas de café beneficiado. Percentualmente, aregião que mais irriga o café é a Nordeste (94%da área cultivada), que tem boa parte de seu ter-ritório incluído na região mineira da Sudene. Asregiões do Alto Paranaíba e do Triângulo Mi-neiro têm a maior área de café irrigado: 42 milhectares, que responde por uma produção anualde 1,6 milhão de sacas.

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Entre o presente e o futuro dapesquisa da cafeicultura irrigada em

Minas Gerais, maior produtor de caféAtualmente, o Cerrado responde por 18%

da produção mineira de café - cerca de 3,9 mi-lhões de sacas por ano. Há uma significativa áreade lavouras irrigadas e o café do Cerrado é defi-nido como um produto diferenciado dos demaisde outras regiões do Estado. A produtividadedo café na região estava em torno de 28 a 30sacas/ha e, depois que o CBP&D/Café iniciouas pesquisas, há 10 anos, houve um importanteincremento na produtividade (a média regionalatual é de 40 sacas/ha). Vale salientar os traba-lhos de redução do espaçamento, do manejo dairrigação e da fisiologia do cafeeiro, para indu-zir uniformidade da florada, entre outros. Alémda produtividade, temos a qualidade do cafécada vez melhor, afirma Ramon Olini, presiden-te da Associação dos Cafeicultores de Araguari.

O engenheiro agrônomo, professor e PhD emirrigação Luiz Antônio Lima, gerente de proje-

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Maiorprodutividade emais qualidadedo café são osdois principais

incrementosobtidos pelapesquisa na

última década

FOTO: EMBRAPA CERRADOS

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QUADRO 1 – Cafeicultura Irrigada em Minas Gerais

Região % da área Área irrigada Produtividade Produção irrigada (ha) (SC.ben/ha) (SC.ben)

Nordeste de MG 94 11.000 47 550.000

Alto Paranaíba eTriângulo Mineiro (MG) 30 42.000 36 1.600.000

Sul e Oeste de Minas Gerais 2 11.000 36 400.000

Zona da Mata (MG) 1 3.000 35 110.000

Vale do Jequitinhonha (MG) 7 1.000 35 35.000

Fonte: NCI/CBP&D/Café

tos especiais da Universidade Federal de Lavras(Ufla), integrante do CBP&D/Café, fala do fu-turo. Ele considera prematuras as previsões emrelação às possíveis transformações no zonea-mento agrícola brasileiro da cafeicultura, devi-do ao cenário traçado pelo Painel Intergover-namental de Mudanças Climáticas, órgão cria-do pela ONU. Lima concorda que a cafeiculturadeverá expandir-se geograficamente no territó-rio brasileiro, não migrando para lugares tradi-cionalmente frios que poderão estar mais aptosà cultura, mas também para áreas mais quentes,pela adoção de novas tecnologias e novas varie-dades.

Com base nos valores divulgados tradicional-mente para temperatura e altitude ideais paracafeicultura, há previsões de que a cafeiculturavolte a migrar em direção ao sul do Brasil. En-tretanto, ele lembra também que na direção in-versa, está ocorrendo um aumento no númerode projetos de sucesso, com produção em áreasde baixa altitude e intenso calor como a regiãoNorte de Minas Gerais, incluindo Pirapora,Januária, Jaíba e outras.

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Irrigação como garantiade produção e de qualidadepara o café

“A irrigação das lavouras de café tem elimi-nado as frustrações de safras decorrentes devariações climáticas, cada vez mais comuns, es-pecialmente na região Sul de Minas Gerais.Quanto à viabilidade da cafeicultura irrigada, ex-perimentos conduzidos em Lavras, com pivôcentral e gotejamento, têm demonstrado aumen-tos na produtividade de mais de 100%. No casodo pivô central, a produtividade anual ao longode cinco safras saltou de 24 para 50 sacas/ha.

Quanto à qualidade do café, vários projetosencontram-se em andamento e já apontam paradiferenças em teores de fenóis, grau Brix e ou-tros parâmetros, quando se comparam lavourasirrigadas com lavouras de sequeiro. A irrigaçãotambém tem proporcionado colheita de grãosmaiores. Creio que em breve, haverá resultadosconclusivos bastante interessantes nesse tema,além dos que já existem”, analisa o professorLuiz Lima (Quadro 2).

Luiz Lima: cafeicultura irrigada no sul de Minas Gerais Ramon Olini: cafeicultura irrigada no Cerrado mineiro

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No Espírito Santo, 2º produtorde café do Brasil, o desafio émelhorar o Conillon

O Espírito Santo, segundo produtor nacio-nal, tem a maior área irrigada de café do Brasil,estimada em mais de 130 mil hectares planta-dos com café Conillon (dados do InstitutoCapixaba de Pesquisa, Assistência Técnica eExtensão Rural – Incaper), que é matéria-pri-ma do solúvel. Neutro, ele pode ser adicionadosem alterar o gosto do Arábica, apenas para fa-zer volume. No Estado, produz-se os dois tipos.As regiões mais frias são adequadas ao Arábicae as mais quentes, ao Conillon.

Nos últimos 13 anos, a produção capixaba deConillon foi ampliada em cerca 200% (de 2,4para 7,2 milhões de sacas) e a produtividade em

cerca de 170%, ante a um acréscimo de áreaplantada de apenas 14%. Esses números fantás-ticos, que incluíram o Norte do Espírito Santocomo uma das regiões de maior evolução da ca-feicultura mundial, foram obtidos graças à ca-pacidade empreendedora dos cafeicultorescapixabas, que adotam tecnologias geradas noEstado, como novas variedades, métodos denutrição, práticas de manejo, novos métodos deirrigação, dentre tantas outras, segundo EnioBergoli, presidente do Incaper, um dos integran-tes do CBP&D/Café.

Ações da pesquisa capixabaAções da pesquisa capixabaAções da pesquisa capixabaAções da pesquisa capixabaAções da pesquisa capixaba

Para Bergoli, o programa de pesquisa etransferência de tecnologias, conduzido atual-mente para o café no Estado do Espírito San-to, encontra-se adequadamente voltado aosanseios dos cafeicultores capixabas. Segundoele, o Estado tem recebido nesse período uminquestionável apoio do consórcio às ações depesquisa e transferência de tecnologias para acafeicultura. A contribuição do trabalho doIncaper é destacada, principalmente, na cafei-cultura do Conillon.

Atualmente, estão sendo desenvolvidas açõesde pesquisa voltadas para as áreas mais priori-tárias ou limitantes à evolução do agronegóciocafé. Essas demandas são estabelecidas consi-derando todos os segmentos envolvidos, numprocesso participativo, facilitado no Estado, emface de o Incaper trabalhar com pesquisa, assis-tência técnica e extensão rural.

“Estamos orgulhosos de sermos uma das dezinstituições fundadoras do CBP&D/Café, doqual participamos desde as primeiras discussões,incentivando, sugerindo, propondo. Agora te-mos participado ativamente dos direciona-mentos que o consórcio necessita, de modo aadequá-lo às necessidades de cada momentopara melhor alcançarmos as metas estabelecidase mantê-lo como uma organização capaz deatender às expectativas de nossos clientes”, afir-ma o presidente da Incaper.

Paraná, quarto maior produtorde café do Brasil, moderniza osetor cafeeiro estadual

O estado do Paraná, que nos anos 60 foi omaior produtor de café do País e viu sua cafei-cultura entrar em forte decadência a partir dosanos 80, vem, mais recentemente, trabalhandonuma transformação modernizadora do setorcafeeiro. A base dessa transformação é a tecno-

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Enio Bergoli:”O ES tem a maior

área de caféirrigado do Brasil -

130 mil haplantados com

Conillon”

QUADRO 2 – Cinco principais pontos para o futuro dacafeicultura irrigada*:

1. Disponibilidade de água para irrigação será limitante.

2. Novas variedades apropriadas para cafeicultura irrigadadeverão surgir.

3. Reúso da água de lavagem e despolpa do café nairrigação serão cada vez mais intensos.

4. Novas tecnologias surgirão para readequação dogotejamento enterrado para café.

5. Novas técnicas de manejo ideal de irrigação,fertirrigação e déficit hídrico surgirão para melhoria daqualidade da bebida.

* Indicados pelo professor Luiz Antônio Lima, da Ufla.

FOTO: INCAPER

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logia decorrente da pesquisa do Instituto Agro-nômico do Paraná (Iapar), integrante doCBP&D/Café. Mesmo nas fases de crise, quan-do parecia que o café já tinha encerrado seu ci-clo no Estado, o Iapar nunca deixou de pesquisaro produto. Tanto que, a equipe de pesquisado-res desse Instituto conseguiu, em meados de1990, formular o “Modelo Tecnológico do CaféAdensado”, um formidável e inédito exemplo desíntese tecnológica, que requereu a consolida-ção de pesquisas de diversas disciplinas, além dodesenvolvimento, pelo grupo de pesquisadores,de uma visão geral estratégica, integrando va-riáveis agronômicas, ambientais, socioeconômi-cas e de qualidade do produto.

É esse modelo tecnológico que está dandosustentabilidade à nova cafeicultura do Paraná,agora centrada nas pequenas e médias proprie-dades familiares. A retomada da produção dá-se não mais em termos quantitativos como nopassado, mas em um novo patamar qualitativo,com a adoção das variedades de porte baixo etotalmente resistentes à ferrugem (cultivar Iapar59); manejo integrado de pragas, doenças enematóides; manejo ecológico do solo, com re-cuperação gradativa da sua fertilidade; o usoracional do fator trabalho, associado aos con-ceitos de diversificação integrada; a redução dosefeitos de geadas, com o zoneamento e técnicasde alerta e prevenção; a melhoria da qualidadedo café, com novas formas de colheita eprocessamento e outras que compõem o pacotede mais de 75 tecnologias que, no conjunto, con-cretizam o “Modelo Tecnológico do CaféAdensado”.

O pesquisador do Iapar, Florindo Dalberto,diz ser possível afirmar que toda essa transfor-mação econômica e produtiva em curso certa-mente não estaria acontecendo sem a existênciado CBP&D/Café. A equipe de pesquisadores doIapar estaria desestruturada, se não tivesseacontecido o incentivo no momento certo paracontinuar a pesquisa, readequar equipamentose condições de trabalho e de articulação como omeio técnico e produtivo do Estado. “E, sinto-nizar a pesquisa até então conduzida no Iaparcom outras instituições consorciadas, produzin-do sinergias importantes para acelerar a concre-tização do Modelo Tecnológico do Café Aden-sado”, analisa Dalberto.

Como modelo organizacional, Dalberto Con-sidera o Consórcio inovador por configurar umaampla rede de pesquisa, aberta e democratica-mente participativa, juntando instituições dediferentes naturezas, origens e culturas, o quesempre foi uma dificuldade no Brasil. “Essa redeno café revela-se um sucesso absoluto, pelosgrandes resultados que vem alcançando. É uma

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construção inédita, porque, pela primeira vez noBrasil, significou a inserção formal do conceitode política tecnológica como um componente dapolítica global de desenvolvimento do café noPaís”, afirma o pesquisador do Iapar.

Irrigação, uma prática a ser intensificadaIrrigação, uma prática a ser intensificadaIrrigação, uma prática a ser intensificadaIrrigação, uma prática a ser intensificadaIrrigação, uma prática a ser intensificada

A irrigação ainda não é praticada em largaescala no Paraná. Existem alguns pequenos pro-dutores que estão, pontualmente, praticandoessa tecnologia, especialmente nas regiões maisquentes, secas e baixas, no chamado Arenito doParaná.

“Mas, acreditamos que, com o processotransformar o café do Paraná numa produçãoaltamente intensiva, especialmente com o mo-delo do café adensado, a tecnologia da irriga-ção vai passar a ser regularmente introduzida,conforme progride o processo de intensificaçãoda cafeicultura paranaense”, afirma Dalberto.

Os pesquisadores do Iapar acreditam que airrigação, além de garantir a produção em pe-ríodos de secas prolongadas, poderá contribuirem muito para a melhoria da qualidade, tendoem vista o aumento do tamanho médio dos grãosque se obtém com o controle do fluxo de águano solo e na planta. Na cafeicultura intensiva, éuma prática economicamente viável.

O CBP&D/Café apóia no Iapar uma linhade pesquisa voltada a estabelecer modelos fisio-lógicos para predizer a produção e respostas aestresses ambientais. Dentro dessa linha, pre-sentemente, são conduzidos estudos com lisíme-tros, para a obtenção de dados básicos da dinâ-mica da água no solo e na planta, que darão basepara respostas a questões ligadas à irrigação. Nomomento, o Iapar tem condições de, rapidamen-te, adaptar para as condições do Paraná as pes-quisas sobre irrigação conduzidas pelo Consór-cio em outras regiões cafeeiras do país.

Florindo Dalberto:“A transformaçãoeconômica eprodutiva do caféno PR deve muitoao CBP&D/Café”

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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30 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 200730 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

Fazuoli defende um melhor equacionamento de pesquisadoresno Comitê de Pesquisa e Desenvolvimento do Café

Pesquisadores do IACdefendem o aprimoramentoda gestão do CBP&D/Café

O pesquisador do Instituto Agronômico deCampinas (IAC), Luiz Carlos Fazuoli, um dosvencedores do prêmio Frederico de MenezesVeiga, concedido pela Embrapa, em 2007, de-fende um melhor equacionamento da participa-ção de pesquisadores no Comitê de Pesquisa eDesenvolvimento do Café (CTP), instância quedá o parecer final sobre os projetos de pesquisaa serem conduzidos pelo CBP&D/Café.

O modelo de gestão do Consórcio, apesar deter funcionado bem nesses 10 anos de pesquisa,necessita ser aprimorado, na opinião do pesqui-sador. Como exemplo, ele cita projetos especí-ficos, que deveriam ser sugeridos e induzidospelo CTP e pelo Comitê de Pesquisa. Fazuolidefende o aprimoramento do acompanhamen-to das pesquisas, uma maior transparência porparte da gestão do Consórcio e a premiação dosmelhores projetos.

Outro pesquisador do IAC, Roberto Thoma-ziello, considera importante a reavaliação dos10 anos de Consórcio e a promoção de ajustes.Ambos consideram pioneira a idéia do Consór-cio que é exemplo para outros setores comomodelo de gerenciamento de pesquisa.

Linhas de pesquisa sugeridasLinhas de pesquisa sugeridasLinhas de pesquisa sugeridasLinhas de pesquisa sugeridasLinhas de pesquisa sugeridas

Fazuoli considera que todos os pesquisado-res de café do País deveriam esforçar-se para queo Consórcio tenha grande durabilidade. ”Os re-

sultados têm contribuído para a pujância e sus-tentabilidade da cafeicultura brasileira. Há ne-cessidade de rever algumas prioridades emalguns núcleos, tendo em vista o mercado, oaquecimento global e as mudanças climáticas”,afirma ele.

Na área de melhoramento, ele considera ne-cessário avançar em cultivares tolerantes à secae/ou ao calor, tanto de Coffea arabica, como C.canephora ou híbridos interespecíficos. “Pode-mos agregar valor ao café, conhecendo melhora variabilidade para qualidade da bebida e osatributos químicos”, afirma ele.

O pesquisador defende o desenvolvimento decultivares com resistência múltipla a pragas,doenças e nematóides, multiplicados ou nãovegetativamente, estudos do sistema radicular eseleção de cafeeiros para maior eficiência na ab-sorção de nutrientes. E, ainda, a investigação deplantas mais adequadas à colheita e a promo-ção de estudos de resistência a outras doenças epragas.

Thomaziello afirma que há sempre necessi-dade de buscar novos conhecimentos, pois temsido muito comum o uso pelos produtores de“tecnologias milagrosas”, apregoadas sem qual-quer base científica, que prometem aumentosde produtividade. Ele levanta algumas linhas depesquisa que deveriam ser mais exploradascomo: aminoácidos, hormônios, fosfitos, silícioe gesso em altas dosagens. E, devido às mudan-ças climáticas provocadas pelo aquecimentoglobal, novas cultivares, evolução de pragas edoenças; adaptação de cultivares atuais à novasituação, consorciação do café com espécies flo-restais e plantas de cultivo comercial, além dairrigação. �

Thomazielloacha importante

a promoção deajustes, depoisde 10 anos de

consórcio

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FOTO: CIBELE AGUIAR

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Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 31Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 31

Sobrevivência e evolução da cafeiculturano estado de São Paulo

O estado de São Paulo, que liderou a produçãode café no passado, mas se rendeu à industrializa-ção como foco de sua economia, continua como omaior pólo tecnológico de apoio à cultura. Noâmbito do Consórcio Brasileiro de Pesquisa eDesenvolvimento do Café (CBP&D/Café), estão in-tegrados importantes centros de pesquisa e tec-nologia, como o Instituto Agronômico de Campinas(IAC), Instituto Biológico (IB), Instituto de EconomiaAgrícola (IEA), Instituto de Tecnologia de Alimen-tos (Ital), Embrapa Instrumentação Agropecuária,Fundação Getúlio Vargas (FGV), Instituto AdolfoLutz, Coordenadoria de Assistência Técnica Inte-gral (Cati), além das universidades USP (Escola Su-perior de Agricultura Luiz de Queiroz – Esalq) eUnicamp.

Integradas, estas instituições têm dedicado es-forços para o levantamento e prospecção de de-mandas tecnológicas na cadeia produtiva do café.Com equipes multidisciplinares, apóiam o desen-volvimento da cafeicultura por meio de pesquisa,desenvolvimento e transferência de tecnologia,com assistência técnica orientada por cerca de 15Pólos Regionais de Desenvolvimento (EDR-Cati),localizados nas principais regiões produtoras doEstado.

Embora a cafeicultura em São Paulo tenha per-dido espaço, principalmente para a cana-de-açú-car e citros, configura-se ainda como importanteatividade para geração de emprego e renda, prin-cipalmente para pequenos e médios produtores.Para garantir sua permanência, a cafeiculturapaulista vem progressivamente adotando novastécnicas de produção, com cuidados na pós-colhei-ta, visando novos nichos para comercialização.Dentre os avanços, destacam-se o adensamento docultivo, a utilização da irrigação e a difusão dasboas práticas agrícolas e cuidados na pós-colhei-ta, visando o aumento da qualidade final do pro-duto e a sustentabilidade do agronegócio.

Pesquisadores têm destacado a introdução doplantio comercial de café robusta, no estado deSão Paulo, como estratégica para atender à amplarede de empresas de industrialização, visando re-duzir a importação de cafés de outros Estados e oscustos desse processo. Porém, para a introduçãodessas lavouras em áreas marginais para o caféArábica, a irrigação será fundamental para sua vi-abilidade.

Com a intensificação dos debates e preocupa-ções acerca do aquecimento global e sua influênciana cafeicultura, a classe científica tem direcionado

esforços para a seleção e aprimoramento de ma-teriais tolerantes a temperaturas mais elevadas eà seca. Também é objeto de estudo a adoção demanejos que minimizem os efeitos do aumentoda temperatura, como o uso de arborização,manejo adequado do mato e o aperfeiçoamentode técnicas de irrigação.

Números no Estado

Segundo dados da Conab, na safra 2006/2007, São Paulo foi o terceiro maior produtor na-cional e o segundo de café Arábica, com 10,5%da produção nacional, atrás de Minas Gerais, quedetém a liderança com 51,7%, e à frente doParaná, com 5,2%. Nessa safra, a produçãopaulista foi de 4,5 milhões de sacas de café bene-ficiado (100% Arábica), com uma produtividademédia de 21,07 sacas/ha. Em comparação com asafra anterior, verificou-se um incremento de38,7% na produção e de 44,5% na produtivida-de. A estimativa da Conab para a próxima safra(2007/2008) é para uma produção entre 2,3 e 2,4milhões de sacas, com perda que varia entre47,7% e 45,9%, quando comparada com a dasafra anterior, causada por problemas climáticosna fase de floração.

A cafeicultura irrigada abrange cerca de 3%da área plantada no Estado, com uma produtivi-dade média de 40 sacas beneficiadas porhectare.As áreas irrigadas respondem pela pro-dução de cerca de 200 mil sacas por ano.

O principal sistema adotado é o gotejamento,com grandes empreendimentos sendo instaladosnos últimos anos, em especial nas regiões de Fran-ca e Garça. Comparando-se com o Brasil, São Pau-lo ainda irriga pouco, mas convém salientar queo aumento da produtividade é fantástico.

A cafeicultura paulista caracteriza-se pela pro-dução em pequenas áreas, compatível com a pro-dução familiar. O café é produzido em cerca de20 mil propriedades rurais, com tamanho médioem torno de 8ha. Com relação ao perfil da indús-tria de café, São Paulo é responsável por cerca de48% do café torrado e moído consumido no Bra-sil e por 80% da industrialização do café solúvelbrasileiro. Cerca de 250 torrefadoras estãoestabelecidas no Estado, absorvendo em tornode 4,3 milhões de sacas de café por ano e geran-do em torno de 8 mil empregos diretos (Pesquisaelaborada por Cibele Aguiar, jornalista daEmbrapa Café).

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do Ferraz, que completa dizendo não ser possí-vel encontrar mais no Estado, uma extensão deterras com altitude acima de mil metros, propí-cias a um café de alta qualidade.

Já o paulistano Domingos Rubião A. MeiraNetto, que há 15 anos cultiva frutas irrigadas ecria gado Caracu, na propriedade localizada emuma região de Semi-Árido, resolveu transfor-mar-se em cafeicultor há dois anos e meio. Plan-tando parte da área com café semi-adensado eutilizando diferentes sistemas de irrigação, eleestá obtendo produtividades altíssimas de cafébeneficiado por hectare, 131 sacas/ha, enquan-to a média brasileira é de 14 sacas/ha. “É bebidamole e de qualidade, a maior parte vendi para aIlly Café. Os custos são altos, mas com uma pro-dutividade boa assim, mesmo com o dólar aopreço que está, dá para agüentar”, afirma ele.

Novo pólo agroindustrial nonordeste mineiro

“Primeiramente, fizemos o projeto, defini-mos a variedade, sistema de irrigação e realiza-mos o plantio do primeiro pivô, no final de 2006e início de 2007”, explica Leonardo Goldfeld,diretor de Planejamento da Serra do CabralAgro-Indústria S/A. Segundo ele, estão sendoplantados 200 hectares por ano sob pivôs cen-trais, escalonadamente, até completar 2 mil hec-tares, com a utilização de tecnologia de ponta.

Irrigação abre novas áreasde plantio para o café de qualidade

em Minas Gerais

Irrigação abre novas áreasde plantio para o café de qualidade

em Minas Gerais

Plantio de mudasde café na

Serra do CabralAgro-indústria S.A.

D

A irrigação está delineando uma novageografia no mapa brasileiro e

proporcionando novo zoneamentoclimático para a cafeicultura nacional.

São novas áreas, nunca antesimaginadas, que estão sendo abertas

com o cultivo do café em diferentesaltitudes e climas, todas elas contandocom a irrigação como instrumento de

apoio e de certeza para novosinvestimentos.

ois exemplos interessantes estão sendoimplantados em Minas Gerais: um nomunicípio de Berizal, norte do Estado,

a cerca de 650 km da capital mineira, na Fazen-da Olho D’Água e Três Lagoas e outro na re-gião Nordeste, a 300 km de Belo Horizonte, nasproximidades de Pirapora, numa localidade de-nominada Serra do Cabral, onde um empreen-dimento florestal de 80 mil hectares está-se trans-formando num pólo agroindustrial de café, pró-ximo à outra fronteira com menos de 500 metrosde altitude, nos municípios de Lassance, Pirapora,Várzea da Palma e Buritizeiro, também comdesenvolvimento da cafeicultura irrigada.

“A Serra do Cabral é hoje a última fronteirapara a produção de café de qualidade em MinasGerais”, afirma o engenheiro agrônomo Fernan-

FOTO: SERRA DO CABRAL AGRO-INDÚSTRIA S.A.

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“Verificamos que a região poderá tornar-seum grande pólo agrícola, propício a diversasculturas. O café irrigado nos deu muita seguran-ça. Procuramos diversos consultores que foramlá e gostaram muito do local. Vai ser um produ-to de primeira qualidade, se fizermos um bommanejo”, considera ele. Nas proximidades daSerra do Cabral, o café irrigado vem sendo plan-tado a 500 metros de altitude nos municípiosde Lassance, Pirapora, Várzea da Palma eBuritizeiro.

O engenheiro agrônomo Fernando Ferrazentende que, com a irrigação, diminui-se muitoo risco de insucesso, colocando a água no mo-mento que a cultura precisa. “Hoje, todo em-presário que quer ter sucesso em sua atividade,localizada do centro do Estado para o Norte,recomendaria que utilizasse irrigação como se-gurança para o seu negócio.” A primeira colhei-ta será em 2009, e a expectativa é de obter umaprodutividade média de 70 sacas/ha.

O empreendimento proporciona atualmentecerca de mil empregos diretos e indiretos, masaté a implantação total do projeto em 10 anos,esse número chegará a 40 mil. O relacionamentocom o setor de meio ambiente de Minas Geraisnão poderia ser melhor. Além da área de 20% dereserva ambiental já averbada, a empresa desti-nou mais 40 mil hectares para preservação per-manente, onde desenvolve um trabalho de edu-cação ambiental junto à comunidade local. “Nofinal de março de 2007, obtivemos junto aoCopam um licenciamento corretivo para a áreatotal do empreendimento”, afirma Leo Goldfeld.

Alta produtividade e café dequalidade

A Fazenda Olho D’Água e Três Lagoas estálocalizada em Berizal, área mineira da Sudene,região de Semi-Árido, às margens da represaMachado Mineiro, norte de Minas, que geraenergia para a Cemig. “Exploro economicamen-te a fruticultura e o café irrigado e uso todos ostipos de sistemas de irrigação, da microaspersãoao gotejamento”, afirma Domingos Rubião.

“Somos os pioneiros na região em certifica-ção de café, através da Utz Kapeh, e a maiorparte do produto é destinada à exportação. Aqualidade de minhas frutas também é de primei-ra. Tenho bananas-caturra e prata que vendopara fornecedores da Ceasa de Belo Horizontee de Ribeirão Preto. Meus citros seguem para oNordeste e a manga para São Paulo.”

Segundo Rubião, o uso da irrigação naregião é uma questão de sobrevivência. “Dossistemas que utilizo, pela simplicidade e pela efi-

ciência, prefiro pivô central. Também utilizogotejamento, que hoje, com os filtros de areia ede disco, não oferecem mais problemas de en-tupimento.”

A região não tem cooperativa e o produtorutilizou financiamento rural no início do projeto,através do Banco do Nordeste. “Praticamente,hoje, não uso crédito oficial, devido à burocracia.Meus recursos, na grande maioria, são próprios,o que limita minha atividade. Considero-me demédio para grande produtor e poderia estar fa-zendo muito mais”, encerra ele. �

Leonardo Goldfelde Fernando Ferrazquerem formar umnovo póloagroindustrial docafé no NE mineiro

Domingos Rubião:produtividadesaltíssimas com cafésemi-adensado eirrigado no nortede Minas

FOTOS: GENOVEVA RUIS DIAS

A empresa Serra do Cabral Agro-indústria S.A. ocupa 80 mil ha na região nordestede Minas Gerais, próxima a Pirapora

Represa deTrês Marias

Serra do Cabral

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POLÍTICA CAFEEIRA

Quem tem medo do drawback?Malta afirma que o Brasil só sairá ganhando

no mercado externo do café, quando puder ex-portar o produto com maior valor agregado.”E,quando digo valor agregado, é um produto in-dustrializado, com marca brasileira. Isso estáacontecendo com o café solúvel, que é o únicoelo da cadeia café, que exporta o equivalente a3,5 milhões de sacas por ano e metade com mar-ca brasileira. Estamos na Rússia, Países Árabese Ásia. Temos vários mercados atendidos comcafés com a marca brasileira”, afirma ele.

Já Celso Luis Rodrigues Vegro, pesquisadordo Instituto de Economia Agrícola, considera odrawback uma ferramenta necessária, importan-te para a atração de investimentos, que vai tor-nar o agronegócio do café mais robusto e tendea fortalecer o negócio como um todo a longoprazo. “Uma indústria que não tem opções decrescimento tende a minguar e a desaparecer.A proteção do agronegócio café passa pela re-gulamentação do drawback”, analisa ele.

Mauro Moitinho Malta, diretor-execu-tivo da Associação Brasileira da Indús-tria de Café Solúvel (Abics), considera

que o cafeicultor brasileiro conseguiu resultadosimportantes nos últimos 10 anos. Ele aplicou osinvestimentos, reduziu custos e aumentou a pro-dutividade e a qualidade, mas não conseguiu fi-car com o ganho desse trabalho em suas mãos.“Seis empresas compram 60% a 70% de todo ocafé do mundo, fazem estoques e, com isso, do-minam o mercado”, considera ele.

Mesmo temendo as conseqüências econômicas, os produtores consideram o drawback do café inevitável

FOTO: EMBRAPA CAFÉ

Importar matéria-prima de outros paísespara formar novos blends com o café

brasileiro e reexportá-lo com um valoragregado muito maior. Esse assunto viroupolêmica durante o 8o Agrocafé, realizado

em Salvador, em março de 2007.

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Liberdade para importar

Para Vegro, a liberdade de importar é estra-tégia para garantir condição de horizontes parao investimento privado. O crescimento do con-sumo na Ásia basicamente deve-se ao café solú-vel. Hoje, o crescimento do café vem muito maisdo consumo do solúvel, principalmente naRússia, na Polônia e na Coréia, do que do torra-do e moído. “Se não tivermos condições de tor-nar nossa indústria competitiva, vamos ficar foradesses mercados. Há condições de trazer maté-ria-prima de outros países, ‘blendá-lo’ com onosso, processar e reexportar dentro de um apa-rato legal regulamentado, em que haja uma es-trutura empresarial coerente com as delibera-ções. “Não há porque ter medo do drawback”,analisa o pesquisador.

Mauro Moitinho afirma que, falar emdrawback, não significa desvalorizar o café bra-sileiro. “Na verdade, esse é um instrumento quevai facilitar o acesso do café brasileiro aos mer-cados consumidores. Esses mercados estão acos-tumados com outro tipo de blend, em que semisturam cafés brasileiro, colombiano, da Amé-rica Central e da África”, afirma.

Moitinho diz que existe uma marca de caféitaliano que usa no seu blend 60% de café brasi-leiro, torra esse café na Itália e exporta para oBrasil. “E o que está acontecendo? O Brasil nãopermite que façamos o drawback de matéria-prima. O que se quer fazer no Brasil é o mesmodrawback que faz esse torrador italiano, masexportando com nossa marca. Aí, vamos con-quistar o mercado. Esse blend exige que se utili-zem cafés colombiano, africano e brasileiro”.

Quem perde com o drawback

José Luís Rufino, engenheiro agrônomo, comdoutorado em Economia Rural e pesquisadordo Consórcio Brasileiro de Pesquisa e Desen-volvimento do Café, considera que as justifica-tivas para se fazer drawback em café são duas eambas falsas. A primeira é que os preços doscafés asiáticos, principalmente dos Conillons, sãomais baixos do que os dos brasileiros. “Mas, con-siderando a questão da política monetária decada país, verifica-se que o Brasil está com ocâmbio supervalorizado, ao contrário dos paí-ses asiáticos. Por isso, em termos de dólar, oscafés asiáticos ficam mais baratos do que os ca-fés brasileiros”, argumenta ele, considerandoque isso representa a correção de um problemamacroeconômico em cima do preço de um pro-duto, que sofre com a super-valorização do câm-bio brasileiro.

Outra questão em relaçãoà competitividade, mostraRufino, é que a comunidadetécnica e o setor produtivo bra-sileiro estão fazendo um gran-de esforço para conduzir umacafeicultura de forma susten-tável, econômica, social e am-biental e, de repente, importa-separa drawback cafés de paísesque não têm esse mesmo res-peito. “Isso nos leva a uma se-gunda premissa, a de que coma liberalização do mercado, to-dos os agentes envolvidos ga-nham. Isso não é verdade. Osomatório geral pode ser posi-tivo com essa liberalização,mas alguns segmentos perdem.A economia mundial benefi-cia-se, mas, potencialmente, osegmento que perderia seria osdos cafeicultores brasileiros”,afirma ele.

Rufino lembra outras ques-tões importantes:. Por que aeconomia européia não liberaa importação de leite, onde osomatório dos ganhos seria ge-ral? Por que os EUA sobreta-xam o álcool brasileiro? Sóperdem o pecuarista europeu,que ficaria sem apoio no cam-po, e o produtor americano demilho. Por que então vamos li-berar a importação de café depaíses asiáticos que não respei-tam o meio ambiente, em de-trimento do nosso cafeicultor,que gera renda e emprego?

Agregação de valor

O consultor do Centro de Inteligência doCafé, Carlos Brando, que tem uma vasta expe-riência internacional sobre o mercado de café etem o privilégio de visitar, todos os anos, de 15 a20 países produtores de café, é pragmático emsua opinião. A única saída para resolver os pro-blemas da cafeicultura é a agregação de valorao produto. “E, para isso, precisamos não só queo café verde seja competitivo, mas também oproduto industrializado”, afirma ele, que vê queo café verde como commodity sempre muda dedestino. Às vezes, está no porto de Roterdanpara ir para a Bélgica, mas vai para a Itália. Ouvai novamente de navio para o Japão.

FOTOS: GENOVEVA RUIS DIAS

Mauro Moitinho, diretor-executivoda Abics

Celso Vegro, pesquisador do IEA

José Luís Rufino, pesquisador doCBP&D/Café

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Ele considera que, com o produto industria-lizado, não é assim, pois depende de marca.“Tem-se que criar um esforço em função dessamarca. As marcas dos países desenvolvidos têmpreço estável. Não se pode introduzir uma mar-ca e depois, em função de escassez local de

matéria-prima, deixar que elasuma”. Ele relata o que aconte-ceu com o café brasileiro solúvelque abriu, a duras penas, o mer-cado da Rússia e na época doGustavo Franco, com o dólar va-lendo um por um, tornou-se ummercado das multinacionais.”Entendo a preocupação do pro-dutor: por que vender mais ba-rato? Existe risco de doenças?No Ministério da Agriculturaexiste todo um aparato para fa-

zer a análise disso”, analisa Brando. E continua:“Estamos falando de uma transferência de re-cursos. Se hoje o café Robusta brasileiro estácaro e o vietnamita barato, existem duas opções:ou o produtor do Robusta vende mais barato ouimporta. Para quê? Para não perder o mercadoque vai comprar o produto desse produtor bra-sileiro e para sempre. O que ficou bem claro paranós nos estudos é que, se a importação for auto-rizada, será por curto prazo e esporádica”, afir-ma ele.

Embora o produto vietnamita seja mais ba-rato que o brasileiro, Brando considera que exis-tem outros custos como frete, manutenção deestoques, expurgos, entre outros. “É necessárioum planejamento complicado e arriscado paraessa importação, enquanto o produto brasileiroestá aqui do lado”, conclui.

Com a palavra, o produtor

Luiz Marcos Suplicy Hafers, presidente daAssociação dos Cafeicultores do Paraná, consi-dera que o Brasil tem todas as qualidades paradominar o mercado mundial de café, mas faltaainda uma liderança moderna para entender queo mais importante é o consumidor. “O produtoré importante, mas não é o decisivo”, entendeele.

Para Hafers, o drawback é inevitável. O pro-dutor tem razão de ter medo e a indústria solú-vel tem razão de necessitar do drawback. “Te-mos que tratar do assunto como necessidadeconjunta, pois o drawback do algodão foi umdesastre. Isso passa por uma negociação inteli-gente e não implicante, conduzida pelas partesinteressadas. No mundo moderno, o mercado éindutor, o governo é regulador e nós somos osexecutores”, analisa ele.

Alexandre Gonzaga, diretor-executivo daBrazil Speciality Coffee Association (BSCA),considera o drawback uma questão polêmica edifícil de prever as conseqüências. “Não tenhoraízes profundas na cafeicultura, sempre traba-lhei no setor de forma empresarial. Consideroque a posição do produtor tem que ser de ga-nhar tempo para ajustar a produção ou desen-volver outras atividades”, afirma ele.

Segundo Gonzaga, a cafeicultura brasileiraenvolve um universo de 15 milhões de pessoas eé necessário haver regras de transição, para queo fato possa ser suavizado e resolvido de manei-ra inteligente.” Não podemos abrir, globalizar,criando no Brasil uma situação irreal para que aindústria se adapte”, defende ele. E o lembraque, há 10 anos, o produtor corria da certifica-ção. Hoje, é o contrário, ele corre atrás, pois estáatrasado. Mesmo não se dizendo contrário à ope-ração, Gonzaga deixa uma pergunta no ar:“Quais são os benefícios e os custos sociais des-sa operação?” �

Alexandre Gonzaga, da BSCA

Carlos Brando,do CIC

Luiz Hafers, presidente da Associação dos Cafeicultores do Paraná e a artistaplástica Valéria Vidigal, tendo como cenário os quadros dela sobre o tema café

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

FOTO: GENOVEVA RUIS DIAS

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Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 373º trimestre 2005 • Nº 67 • ITEM 37

A próxima revista, ITEM 74,2º trimestre de 2007,

já está em fase de edição.

Em 2001, uma rica programaçãodo XI CONIRD e 4th IRCEW, emFortaleza, CE, registrada na Item 50,com a edição dos 2 anais e de um livroem inglês e a inserção internacional da ABID,incluindo-se a presença do presidente da ICID,como retratado na Item 50 e 51.

Em 2002, o XII CONIRD em Uberlândia, MG,com os anais em CD e a programação na Item 55.

Em 2003, o XIII CONIRD em Juazeiro, BA, comos anais em CD e a programação na Item 59.

Em 2004, o XIV CONIRD em Porto Alegre, RS,com os anais em CD e a programação na Item 63.

Em 2005, o XV CONIRD em Teresina, PI, comos anais em CD e a programação na Item 67.

Em 2006, o XVI CONIRD em Goiânia, GO, comos anais em CD e a programação na Item 69/70.

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ASSOCIAÇÃO BRASILEIRADE IRRIGAÇÃO E DRENAGEM

É O COMITÊ NACIONALBRASILEIRO DA

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Mossoró RN7 a 12 de outubro de 2007AGENDE ESSE ENCONTRO comos agronegócios calcados naagricultura irrigada. Temas nacionaise internacionais voltados para o usosustentável da água e geração deriquezas e empregos noSemi-Árido brasileiro.

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38 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

duzir cafés para diferentes segmentos”, destaca.A opinião de Andrea Illy é confirmada pela

expressiva participação do café brasileiro nosblends oferecidos pela IllyCaffè, cerca de 50%,com uma média de 200 mil sacas comercializadasanualmente. Esta compra é realizada diretamen-te com os produtores, com ágio médio de 30%sobre o preço do mercado commodity. Na safra2006/2007 houve um incremento de 7% na com-pra do café brasileiro, comparado à safra ante-rior. E enfatiza: “O café brasileiro é o melhorcafé do mundo para expresso, responsável peloforte corpo e cremosidade da bebida”.

Andrea Illy faz parte da terceira geração deindustriais apaixonados por cafés, desde a cria-ção da marca pelo avô Francesco Illy e da inces-sante busca do pai, Ernesto Illy, pelo expressoperfeito. Hoje, o grupo possui oito subsidiáriase uma coligada, emprega cerca de 600 pessoas etem seu produto à venda em mais de 140 países,onde são servidos, diariamente, mais de seismilhões do espresso Illy.

Papel dos concursos naqualidade do café brasileiro

P38 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

O presidente da Association for Scienseand Information on Coffee (Asic) e da

torrefadora italiana IllyCaffè, Andrea Illy,em recente visita a Campinas, SP,

destacou a evolução do agronegóciobrasileiro nos últimos anos, quando o

País passou a vigorar como importanteprodutor também para indústria de cafés

do segmento Premium, que incluemcafés destacados pela alta qualidade dabebida, como o gourmet e o expresso.

ara o empresário, o aumento da quali-dade no processo produtivo e a maiorpercepção e valorização dos consumido-

res foram os grandes motivadores dessa transfor-mação da imagem do café brasileiro. “Com o au-mento da qualidade, o Brasil tornou-se o verda-deiro líder do mercado, com possibilidade de pro-

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Regiões como a Zona da Mata de Minas Gerais não eram produtoras de café de qualidade. Hoje, elas têm ganhado prêmios seguidamente em concursosde qualidade de café

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Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 39

Pioneiro do Cerrado

O produtor José Carlos Grossi, presidenteda Alto Cafezal Comércio, Importação e Expor-tação Ltda. tornou-se o primeiro e único forne-cedor todos os anos da IllyCaffè, desde 1990. “AIllyCaffè foi a empresa que nos acordou para aqualidade. Não sabíamos que o nosso café eratão bom, e os concursos da Illy nos despertoupara isso”, afirma Grossi. Segundo ele, o produ-tor tem que cumprir as exigências da empresa efornecer cafés de boa qualidade, com maturaçãohomogênea, bem preparados.

Quando a Illy começou a comprar café noBrasil, suas compras eram concentradas no Cer-rado. Hoje, ela estendeu seu interesse para aZona da Mata e para o Sul de Minas. E outrasregiões como a Zona da Mata de Minas, que nãoera produtora de café de qualidade, hoje temganhado prêmios seguidamente, mostrando queproduz cafés excelentes. Para Grossi, o pós-co-lheita é uma etapa de produção muito impor-tante nesse trabalho da Illy.

Segundo Nathan Herszkowicz, diretor daAssociação Brasileira da Indústria de Café(Abic), os concursos são uma ferramenta fan-tástica, tanto de capacitação dos produtores,quanto de estímulo, para que busquem melhorqualidade. “Funcionam como uma cadeia deexemplos positivos, e os concursos garantemdestaque, projeção e valor para os cafés maisbem produzidos. Esses concursos constituemuma vitrine importante para os consumidores econtribuem para acabar com o estigma de que omelhor café é o exportado. O brasileiro estáaprendendo rapidamente a tomar um café dequalidade”, considera ele.

A Abic criou, em 2004, o Programa de Qua-lidade do Café (PQC), que é o programa decertificação da bebida café e não apenas da pu-reza do pó, como era o selo da pureza criado em1989, que cumpriu um papel importante e con-tinua existindo.

Incentivos à Ciência

De acordo com o coordenador do CBP&D/Café e gerente-geral da Embrapa Café, GabrielBartholo, são notórios os incentivos da IllyCaffèpara o aprimoramento do setor produtivo docafé brasileiro, com a celebração do tradicional“Prêmio Brasil de Qualidade do Café para Ex-presso”, em sua 16a edição. A realização do prê-mio incentivou a criação de outros prêmios nasprincipais regiões produtoras e, hoje, a qualida-de do produto é almejada pela maioria dos ca-feicultores. A Universidade Illy do Café, que

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FOTO: CIBELE AGUIAR

Andrea Illy,presidente daIllyCaffè: “O cafébrasileiro é o melhordo mundo para oexpresso”

José CarlosGrossi: pioneiro efornecedor anualda IllyCaffè desde1990

passou a ser uma das sete filiais da UniversitàDel Caffè, fundada em Trieste (Itália) e recebeo nome Universidade do Café Brasil, também éoutro motivador de treinamento e especializa-ção para profissionais ligados ao agronegóciocafé.

Para Andrea Illy, os pesquisadores brasilei-ros priorizam os estudos visando a produtivida-de e o manejo das lavouras, embora seja cres-cente o número de pesquisas para obter maisqualidade de bebida. Esta percepção de deman-da, segundo Illy, contribui para incentivar a ado-ção de tecnologia e boas práticas agronômicas,respeitando-se as diferenças de cada região pro-dutora.

Ele destaca ainda o sucesso da estratégiabrasileira para o aumento do consumo inter-no, incentivado pela melhor qualidade do pro-duto, bem como a campanha para informar aoconsumidor sobre os efeitos benéficos do caféna saúde. Neste contexto de evolução, AndreaIlly cita a integração das instituições de pesquisareunidas no CBP&D/Café como motivador dageração e transferência de tecnologia e conhe-cimento.

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Nacif analisa o hoje e o amanhãda cafeicultura irrigada

dução deverá cair na próxima safra, estimadaentre 31,6 e 32,5 milhões de sacas pela Conab.

Para Nacif, a cafeicultura irrigada vem ga-nhando espaço e importância cada vez maio-res, por diversos motivos. O principal deles é odéficit hídrico, tanto nas regiões tradicionais decultivo e, principalmente, nas novas regiões deexpansão da cafeicultura. No oeste baiano airrigação é obrigatória e ganhos estão sendo ob-tidos com os refinamentos das técnicas de irri-gação. Destaca-se também o uso de irrigaçãopara suplementar as deficiências hídricas, prin-cipalmente as que coincidem com fases críticaspara a cultura, como tem ocorrido no Sul deMinas Gerais, principal região cafeeira do País.“A irrigação influi na produtividade da culturae diminui os custos de produção, funcionandotambém como um seguro contra a frustraçãoda safra”, considera Nacif. A seguir, ele apon-ta alguns pontos importantes, para os quais osetor de produção do agronegócio do café deveatentar:

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Além do câmbio desvalorizado, o ex-coordenador do CBP&D/Café apontamais seis pontos que representam ocalcanhar de Aquiles da cafeicultura

brasileira, onde a irrigação ganhadestaque positivo a cada safra

olítica cambial desfavorável, custos cres-centes de insumos e de mão-de-obra,equipamentos mais adequados para o

café irrigado, necessidade de agregar valor aoproduto, aquecimento global e mais tecnologia,especialmente para as novas áreas de cultivo.Esses são alguns dos problemas vividos pela ca-feicultura brasileira analisados pelo produtor eex-gerente-geral da Embrapa Café, o agrônomoAntônio de Pádua Nacif. Mesmo assim, o Brasilproduziu cerca de 42,5 milhões de sacas de caféna safra 2006/2007, atingindo uma produtivida-de média de 19,75 sacas/ha, respondendo por26% das exportações mundiais. Mas essa pro-

FOTO: TUMORU SERA

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1. Clima e desenvolvimento

A abertura de novas áreas de cultivo em re-giões de clima quente trouxe uma realidade di-ferente que permite um crescimento vigoroso docafeeiro em todos os meses do ano, fato nãoobservado nas regiões tradicionais, de climaameno, onde o café tem seu crescimento aéreointerrompido nos meses mais frios, fim do outo-no e inverno, de maio a setembro. O número deramos e de nós que se formam é muito maior,elevando a capacidade produtiva da lavoura.Uma vantagem que depende da irrigação parasuprir todos os processos biológicos das plantas,arrefecer o excessivo calor e garantir a sobrevi-vência das lavouras. Devido ao preço dessasterras, topografia apropriada para a completamecanização das lavouras, disponibilidade deágua e perspectivas de elevadas produtividadese ótimas condições para secagem dos frutos eobtenção de cafés especiais, é de se esperar umincremento substancial da cafeicultura irrigada,especialmente quando a pesquisa começa aapontar soluções mais vantajosas para o setor.

2. Uniformidade de maturação eagregação de valor

A cafeicultura nas novas regiões de expan-são teve início sem o devido aporte tecnológicoe tem pago elevado preço por essa ousadia. Con-tudo, pesquisas recentes têm trazido boas luzespara o manejo adequado da irrigação, tanto emáreas tradicionais de cultivo como as de novasfronteiras, com ganhos reais em termos ambien-tais, de qualidade do produto colhido e de eco-nomia de água e energia. A proposta das pes-quisas para o manejo da cultura, com o déficithídrico assistido, trouxe uniformidade defloração e de maturação dos frutos, menor per-centagem de verdes e secos na colheita, portan-to, com menor número de defeitos e melhorqualidade da bebida. Isto é agregar valor à la-voura, revertido ao cafeicultor.

3. Indústria de equipamentos de irrigação

A indústria tem de oferecer ao cafeicultorequipamentos com padrões mínimos de quali-dade e que venham acompanhados de pacotetecnológico, que leve em conta recomendaçõese mecanismos especialmente voltados para acafeicultura irrigada. Portanto, não basta dizerque a irrigação é positiva. Antes de tudo, ela temque funcionar para que permita obter cafés emquantidade, qualidade, baixo custo e sem degra-dação do meio ambiente.

4. Irrigação e meioambiente

Preocupo-me com alixiviação de nutrientes ecom o uso de granuladosde solo, principalmentefungicidas e inseticidas,que podem contaminar olençol freático, além dadegradação dos solos. Pre-ocupo-me também com autilização de águas resi-duais, dejetos de animaise outros subprodutos daagroindústria e seus im-pactos ao meio ambiente.Para levar tudo a bomtermo é preciso investirem pesquisa e, por parte do cafeicultor, a con-tratação de adequados projetos de irrigação,bem como de treinamento e capacitação derecursos humanos. Vejo aí um fértil campo aser desenvolvido com mais investimento empesquisa.

5. Água e ajustamento das fertilizações

Tudo que se tem hoje em dia, em termos detecnologia da fertilização, foi com base em es-tudos de sequeiro. Com o adequado manejo dairrigação os níveis críticos dos nutrientes preci-sam ser calibrados para as mais diversas condi-ções e fases fenológicas do cafeeiro.

6. Mecanização da lavoura e uso demão-de-obra

A cafeicultura tradicional desenvolveu-secom base em mão-de-obra barata. Com o dólardesvalorizado e o encarecimento da mão-de-obra rural, de 1998 para 2006, os gastos com ser-viços para cultivo de um hectare de café salta-ram de R$ 1.300,00, para R$2.500,00, ou seja,95% de aumento, acompanhados dos insumosque subiram 130%. A favor da produção, o pre-ço médio da saca de café saltou de US$ 46, em2002, um dos piores preços da história mundialdo café, para US$ 120, em 2006 (+158%), pre-ço esse sempre sonhado pelo setor. Nesse mes-mo período, o dólar despencou de R$ 3,00 paraR$ 2,18 (- 82%), somando com a alta dosinsumos e da mão-de-obra. Na conjugação des-ses três fatores, as perdas da produção têm sidoequivalentes a US$ 25.00 anuais/saca nos últi-mos cinco anos.

Nacif chama aatenção parasete pontosimportantespara o futuroda cafeiculturairrigada

FOTO: EMBRAPA CAFÉ

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No Sul de Minas, no sistema tradicional decultivo, as operações manuais da lavoura e as decolheita somam 42% do custo total de produ-ção, com uma produtividade de 50 sacas/ha. NaBahia, para o sistema mecanizado e irrigado, ocusto da mão-de-obra fica em 16% do custo deprodução, para uma produtividade de 60 sacas/ha. Então, fugir do uso intensivo de mão-de-obratorna-se um imperativo para quem deseja per-manecer na cafeicultura. Assim, já se observa oabandono da atividade em regiões montanho-sas, dependente de mão-de-obra intensiva, emfavor da cafeicultura mecanizada.

7. Aquecimento global

Em regiões tradicionais de cultivo, uma ele-vação das temperaturas mínimas durante o ou-tono/inverno pode vir a desinibir o repousovegetativo do cafeeiro. Com a irrigação, ter-se-iaa possibilidade do desenvolvimento do cafeeirodurante todo o ano, com aumento da produti-vidade. Esse é um cenário provável, e de certomodo vantajoso, até que as temperaturas máxi-mas, especialmente as de verão, não venham acomprometer a produção.

O cultivo do café sombreado com algumaspalmeiras, como a macaúba, e outras espéciesprodutoras de sombra e óleo, como a cutieira,podem mitigar os efeitos das altas temperatu-

ras, constituindo-se em mais uma alternativapara se pesquisar, principalmente em cultivosirrigados. Trata-se também de interessante con-jugação de interesses com o Programa Nacionalde Produção de Biodiesel.

As ameaças de aquecimento global nos obri-gam a andar depressa. Fingir que o problemanão existe, ou que temos um grande e sustentá-vel programa de pesquisas, é falta de conheci-mento aprofundado e de responsabilidade.

Um exemplo como alerta: houve um grandee merecido destaque pela descoberta de um caféde baixa cafeína no banco de germoplasma doIAC. Faço questão de relembrar que essa plan-ta fantástica estava lá há 17 anos e foi “desco-berta” graças ao apoio à pesquisa dado peloCDPC, através do Consórcio. Um fato a eviden-ciar o quanto se pode fazer, somando-se os es-forços, para que não haja descasos para com apesquisa cafeeira diante das eminentes amea-ças do aquecimento global. Temos que mobili-zar nossos recursos com a máxima urgência.

A organização das informações e a disponi-bilidade das mesmas para todo o universo de in-teressados é um permanente desafio. Há muitoa se fazer nesse campo. Um destacado feito doCBP&D/Café é a biblioteca eletrônica do café,cuja administração está sob a responsabilidadede uma das consorciadas, a UFV, através de suaBibliloteca Central. �

Maior atenção paraas indicações dosníveis críticos de

nutrientes nafertilização do caféirrigado, uma dica

para o futuro dapesquisa

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FRENTE PARLAMENTARDO CAFÉ EXAMINA PROPOSTAEMERGENCIAL PARA SOLUÇÃODA CRISE DO SETOR

A Frente Parlamentar do Café, formadapor deputados federais representantes deestados produtores, esteve reunida no dia14/03/2007, na Comissão de Agricultura, Pe-cuária, Abastecimento e DesenvolvimentoRural da Câmara Federal, a fim de examinaruma proposta emergencial apresentada peloConselho Nacional do Café e pela ComissãoNacional do Café da Confederação Nacionalda Agricultura. É uma tentativa para solucio-nar a crise decorrente do vencimento de par-celas de operação de alongamento das dívi-das do setor cafeeiro, de que trata a Lei no

10.437, de 2002.Segundo o deputado federal e ex-minis-

tro Carlos Melles, são 1.900 municípios bra-sileiros que têm no café a maior fonte derenda e emprego. “O café perdeu a impor-tância política, por ter perdido a importânciaeconômica, mas não perdeu a social, pois oproduto é um instrumento de combate à fomee distribuição de renda”, afirmou Melles, du-rante a reunião. Segundo ele, em 1990, o pro-dutor ficava com 30% do PIB final do café.Hoje, está ficando com apenas 6%.

Descapitalização do produtor

Para Maurício Miarelli, presidente doConselho Nacional do Café, a dívida da ca-feicultura é uma crise consolidada em 2002 e,durante quatro anos, a obrigação do produ-tor era pagar apenas 5,75%/ano de juros. Apartir de 2003 e 2004, elas começaram a ven-cer e, em função da inadimplência, a parcelapassou para 9,5%/ano e, depois do vencimen-to, passou a ser aplicada a taxa Selic, maisjuros de mora de 1%, inviabilizando aindamais a questão do pagamento.

Enquanto isso, o preço do café está a US$110/ US$ 120 no mercado mundial, conside-rado excelente. “Mas com a taxa de câmbiopraticada de R$ 2,10 pelo País, mais uma vezo Brasil está ficando para trás. Nos últimos10 anos, ficou muito clara a perda total decompetitividade do setor, o preço da saca decafé recebido pelo produtor subiu 69%, en-quanto os custos da mão-de-obra subiram

125% e de fertilizantes, 130%, no mesmo pe-ríodo”, demonstra ele. Segundo Maurício, tec-nicamente pode-se provar que a cafeiculturaestá passando por dificuldades e precisa doapoio político.

De acordo com os dados da CNA, levanta-dos junto ao Banco Central, a inadimplênciadas operações alongadas no âmbito da Reso-lução no 2.906, nos dez Estados produtores decafé mostrava, em 04/08/2006, um percentualde inadimplência de 17,37%, atingindo a 4.066contratos. O maior número de inadimplentesencontra-se em Minas Gerais, com 2.434 ope-rações, seguido pelo Paraná, com 430 e SãoPaulo, com 330. Levantamento recente doBanco do Brasil mostrou que metade dos re-cursos liberados para o café foi feita por meiode cooperativas de produtores rurais.

Breno Pereira Mesquita, presidente da Co-missão Nacional do Café da CNA, considerasério o endividamento do setor, pois faz comque o produtor não consiga obter recursos emparte alguma e pode até fazer com que ele parede produzir.

O deputado federal mineiro, Paulo Piau,membro da Comissão da Agricultura, Pecuá-ria, Abastecimento e Desenvolvimento Rural,teceu considerações sobre a globalização ealertou: “Estamos competindo com o resto domundo e quem produz só a matéria-prima estácondenado a morrer. O caminho é agregarvalor ao produto, e o cooperativismo é um ins-trumento que o produtor tem para isso.”

No amplo debate, evidenciou-se a impor-tância dos mecanismos para que haja capitali-zação do setor, passando pelo equacionamentodos acúmulos de dívidas, falta de uma adequa-da cesta de produtos de seguros para a agri-cultura e de mecanismos que favoreçam omaior aproveitamento do desenvolvimentocientífico e tecnológico que se tem logrado nacafeicultura, a exemplo do que tem sido evi-denciado com o manejo da irrigação e os tra-balhos do CBP&D/Café.

Na Câmara Federal,a FrenteParlamentar doCafé reúne-se natentativa desolucionar a crisedo setor

FOTO: GENOVEVA RUIS DIAS

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Desafios do cooperativismona cafeicultura

Um dos grandes desafios para o CBP&D/Café, como tema de pesquisas, estudos e orga-nização de informações, é a gestão dos conhe-cimentos em favor da melhor estruturação dosistema cooperativo na cafeicultura, fortalecen-do-o. Há toda uma logística a ser mais aprimo-rada, mais estudada e pesquisada, que vai daorganização da produção até todo o leque dosmercados interno e externo, que pode ser maisbem estruturada, para que o Brasil ganhe cadavez mais com a produção cafeeira.

Nos últimos anos, cinco cooperativas quebra-ram. Foram as de Garças; de Espera Feliz, com6 mil cooperados, dos quais 50% meeiros; deMuzambinho; de Iguape; de Poços de Caldas,uma cooperativa com excelência de gestão econsiderada a melhor no mercado de exporta-ção. “E outras mais vão quebrar”, avisa o depu-tado e ex-ministro Carlos Melles.

Ao mesmo tempo, no painel sobre associati-vismo e cooperativismo realizado no Agrocafé,constatou-se uma clara correlação entre existên-cia de cooperativas e prosperidade da cafeicul-tura nas mais diversas regiões. Ou seja, que esse

ROBERTO RODRIGUES

“A legislação brasileirasobre cooperativismo

está velha.”A lei brasileira sobre cooperativismo data de 1971 e o País

mudou muito nos últimos 36 anos, inclusive com aConstituição de 1988, que trata de assuntos muito

importantes ligados ao cooperativismo. RobertoRodrigues, ex-ministro da Agricultura, lembra que a

segunda questão é a formação de recursos humanosvoltados para a gestão do cooperativismo, com a visão de

desenvolvimento econômico sustentado. Ele consideraque o Sistema de Cooperativas de Crédito do Brasil

(Sicoob), hoje, está permitindo avançar na questão detreinamento de pessoal, mas é necessário investir em

gestão, formando pessoas que administrem cooperativas,segundo o conceito dual de desenvolvimento econômico.

44 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

P ara Rodrigues, o principal problema dacrise do setor é de gestão. A cooperativanão é um fim em si mesma, mas um ins-

trumento de desenvolvimento, administrada sobessa ótica. “Quem pensa que cooperativa é umaempresa como qualquer outra, acaba colocan-do em risco o sistema cooperativo”, consideraele. “O cooperativismo é uma questão ligada àárea cultural e a cooperativa é instrumento deuma doutrina, cuja definição clássica visa corri-gir o social, através do econômico. Portanto, temduas vertentes: a social e a econômica. Ecompatibilizar as duas é, ao mesmo tempo, abeleza e a fraqueza do movimento coopera-tivista, porque é muito difícil o equilíbrio entreelas. As pessoas tendem a privilegiar uma ououtra”, afirma ele.

Para o ex-ministro e especialista em coopera-tivismo, palestrante da Fenicafé 2007, é precisocompreender como se pode operar o coopera-tivismo como instrumento para correção do so-cial através de ações econômicas. “Em algunspaíses, essa dicotomia entre o social e o econô-mico chega a impedir uma legislação adequadae a devida formação de recursos humanos parao setor. No meu ponto de vista, o que tem falta-do no Brasil, em primeiro lugar, é uma leimoderna sobre o assunto”, garante ele.

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esforço associativista sempre foi indispensávelpara um sólido avanço do setor.

“O perverso risco da atividade cai sobre oprodutor e o sistema financeiro abandona osfundamentos e princípios do crédito rural, agra-vando o processo de inadimplência dos produ-tores e aumentando o estoque de endivida-mentos. É uma situação dolorida e difícil quevem sendo tratada com insensibilidade pelogoverno federal”, garante Melles. Segundo o par-lamentar, que também é presidente de uma coo-perativa, a Cooparaíso, faltam vontade e decisãopolítica para instrumentos mínimos necessáriosao produtor: créditos de custeio e comercializa-ção, preço mínimo de garantia e seguro de ren-da, considerados fundamentais. Ele explica queo produtor não consegue cumprir seus compro-missos com a cooperativa, fazendo com que elaentre num processo de inadimplência junto aoBanco. A seguir, o depoimento de dois dirigen-tes de cooperativas, que mostram como driblara crise.

“Acredito no pulso forte”

Claudionor Dutra Neto, presidente da Co-operativa Mista Agropecuária Conquistense(Coopmac/BA), com sede em Vitória da Con-quista.

“Cooperativismo é uma atividade difícil delevar ou fazer. A pessoa tem que entrar no siste-ma cooperativista por livre e espontânea vonta-de, aceitar que o direito é igual para todos, bemcomo a liberdade de ir e vir. Encontramos difi-culdades, porque as pessoas vêem a cooperativa

como propriedade só delas. O próprio associa-do quer exercer o ato cooperativista em benefí-cio dele, sem entender que a cooperativa, comoum todo, é que tem que ser beneficiada.

Percebe-se que temos avançado nesse pro-cesso. Nossa cooperativa é antiga. Existe desde1960. Apesar de hoje ter 200 sócios, já teve 3.500.Talvez, o grande número de sócios a tenha leva-do ao fracasso. Foi um processo muito sofrido etivemos que fazer uma reestruturação.

Sou presidente da cooperativa há 4 anos. Nãoacredito muito em fracassos, devido a desvios eroubos como causa para o fim de algumas coo-perativas. Pode até haver, mas a exemplo danossa cooperativa que teve um fracasso muitogrande há 10 anos, atribuo os problemas à mágestão e falta de comando.

O sucesso de uma cooperativa deve-se pri-meiro a um pulso forte, caso contrário, o coope-rado toma conta e a cooperativa quebra. É pre-ciso brigar com o sócio, porque ele acha que oproblema dele é superior ao de todos. A ques-tão de formação especializada para o coopera-tivismo é importante, mas para quem não temperfil de gestor, não adianta. Um gestor tem quesaber dizer ´não‘ e ´não pode‘. Tem que cobrare ter um perfil em todas as questões administra-tivas. Lidar com amigos e pessoas não é fácil.”

Agregando valor à produção

“A Cooperativa de Cafeicultores de São Se-bastião é bem vista, disputada, com fama de sera mais moderna. Conta com, aproximadamen-te, 4.600 associados, sendo 80% deles pequenosprodutores. Foi a primeira a possuir uma gestãoprofissional há 10 anos e é dirigida por um gru-po preparado, competente. Como presidente, eue o conselho defendemos o produtor e os dire-

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Claudionor Dutra:sucesso é pulsoforte

Carlos Melles: em defesa da cooperativa-empresa

FOTO: GENOVEVA RUIS DIAS

FOTO: ARQUIVO PESSOAL

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46 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 200746 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

tores defendem a cooperativa-empresa. Essa éuma regra que tem dado certo. Passamos difi-culdades como todos, mas como exemplo decooperativa que põe o produtor em primeiroplano, que dá a ele a transparência e a legitimi-dade da defesa. Tem faltado isso ao sistema co-operativo, afirma Melles.

“A excrescência maior é a defasagem desintonia, quando, há dois anos, a taxa de jurospara a agricultura não poderia ser maior do que3% a 4%. No entanto, o governo cobra essa taxa,uma parte com juros de 9,75% e outra a 1,5% e2%. Isso num momento em que os custos deprodução sobem fora da hora, aumentando asincertezas do produtor. Os bancos cobram deimediato 3% de aumento real de capital, emcima da taxa anual. Abrimos uma cooperativade crédito com apoio do Funcafé e a queremosmelhor do que as que têm feito só o papel debanco, repassando recursos a 8,75% ou 9,75%a.a.

Estamos com novidades no sistema coope-rativo de produção, abrindo empresas com pro-pósitos específicos para atrair empresários quequeiram ser parceiros no processo cooperativo.Podem ser empresários ou produtores-empre-sários, parceiros na área financeira, na área deinteresse da cooperativa, buscando uma relaçãono círculo virtuoso, em termos de cadeia, parachegar ao consumidor de maneira mais comple-ta e calçar com mais segurança a produção.”

Trabalhando com qualidade

Para Evanete Peres Domingues, assessora daCooperativa de Café do Cerrado (Cocacer), ocooperativismo é a melhor forma de união, àmedida que a união fortalece. “Além disso, exis-

tem os incentivos fiscais, o que traz vantagenspara o produtor. Também tivemos problemasfinanceiros com a nossa cooperativa, pois opatrimônio dela foi comprado através de fi-nanciamentos pesados e, a partir daí, criou-se ateoria de não pagar. E não há negócio que fruti-fique, se não houver investimentos. Hoje, a cul-tura em relação a isso mudou muito. Estamosquase expurgando esse passado e moldando acooperativa como produtiva. Nossa cooperativaé somente uma prestadora de serviços, não co-mercializamos nada. Somos um armazém querebeneficia o café. Ele já vem beneficiado dasfazendas, cada produtor tem seu produto empilhas individualizadas, com endereço próprio,controlado por computador e mapa em três di-mensões. A qualquer hora, o produtor pode, pelaInternet, acionar o seu extrato. Temos hoje, 100mil sacas no armazém e cada saca tem o nome eo sobrenome do produtor.

Rebeneficiar é ventilar, tirar os ardidos, pre-tos e verdes, preparar o café para exportaçãocom uma qualidade maior; é baixar uma bicacorrida que tem em medida de 80 a 140 defeitospara cada 100 gramas para 86 defeitos (padrãoBM&F) ou para 15 defeitos (padrão de café es-pecial). A Illy, por exemplo, trabalha com 12defeitos. E o que a cooperativa faz? Ela provatodo café que entra no armazém, faz a classifi-cação do café e, se o lote alcança mais de 70pontos pelo padrão da Sociedade Americana deCafés Especiais, ele passa a ser considerado umcafé superior ou especial. A partir daí, vamosfazer um preparo desse café para que ele tenhaum mercado diferenciado.

Nossa cooperativa também tem a certificaçãodo Café do Cerrado e da Utz Kapth, que é umaentidade certificadora internacional equivalen-te ao processo de certificação europeu.” �

FOTO: GENOVEVA RUIS DIAS

Evanete e Evanildo Peres,irmãos unidos para o

crescimento da Cooperativade Café do Cerrado

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A Cooperativa de Crédito Rural de Araguari(Sicoob Aracredi) tem 14 anos de existência e cer-ca de 1.300 cooperados. Em 2006, operou R$ 9,8milhões em financiamentos, emprestando mais doque a agência local do BB. Para Reinaldo Caetano,fundador-presidente da Aracredi, o cooperativismode crédito tem um papel importantíssimo no pro-cesso de desenvolvimento. “Esse dinheiro foi re-passado para o produtor com juros de 9,5% aoano, uma taxa relativamente barata, tendo em vistaa situação do País.”

Para Evanildo Peres, presidente da Cooperati-va de Produção de Cafeicultores do Cerrado deAraguari (Cocacer), há oito anos, com 132 coope-rados, o cooperativismo, na verdade, é umaforma de juntar produtores para estarem mais pre-parados para enfrentar o mercado e usufruirmelhor das novas tecnologias. “Quanto ao coope-rativismo de crédito, este é o melhor caminho.Porque fazer isso com o setor privado ou estatal?Vamos fazer isso com um Banco que é nosso”, con-voca ele.

Como fortalecer o créditocooperativo

Para utilizar o crédito cooperativo, o produtor temque ser cooperado e o empréstimo é feito dentro dasgarantias normais do crédito rural. No caso daAracredi, na cafeicultura, que representa 50% do PIBmunicipal, os recursos são do Funcafé, que vêm atra-vés do Banco Cooperativo do Brasil S/A (Bancoob).

“Em 2006, fizemos ainda financiamentos decerca de R$ 1,5 milhão com outros recursos doTesouro, a 8,75% para custeio da pecuária leiteiramunicipal, atendendo cerca de 150 cooperados,pequenos produtores”, mostra Caetano, conside-rando que Araguari, além do café, é consideradauma grande bacia leiteira regional.

O produtor abre a sua conta na cooperativade crédito e acha que está lidando com um Banconormal. “Ele não vê que somos isentos de opera-ções financeiras (IOF) e podemos conduzir a coope-rativa sem cobrar nenhuma taxa de mensalidadepara manutenção da conta, talão de cheques, docs,teds e extratos. E o investimento que ele faz é ad-quirir uma cota no valor de R$ 150,00, que ao lon-go dos anos, à medida que ele vai movimentando,vai sendo capitalizada”, conta ele, citando comoexemplo sua própria cota que ao longo de 14 anose das movimentações financeiras promovidas porele, passou a valer quase R$ 4 mil.

O produtor precisa de maisparcerias

Responsávelpor uma coopera-tiva de produção,Evanildo Peres,considera que aAracredi precisariaatender mais aoutras culturas,além do café e dapecuária. “Deveriaser mais atuante,fazer parceriascom outras coo-perativas para teruma linha de cré-dito mais abran-gente”, reclamaele, considerandoainda que a coo-perativa de crédito também poderia cobrar me-nos pelos financiamentos.

E, continua: “O Brasil passou por uma fase emque um grande número de cooperativas quebrouno chamado ‘efeito dominó’, por má administra-ção, falta de estabilidade econômica e de políticaagrícola. O produtor acabou arcando com os dé-bitos e aquelas cooperativas que não quebraram,acabaram cobrando muito do produtor.”

É dessa forma que ele analisa o espírito de des-confiança e de afastamento do produtor doassociativismo. “Ficou o conceito de que a coope-rativa faz mal”, comenta ele.

Para ele, a cooperativa deve existir para ajudarno desenvolvimento da agricultura além da por-teira, agregando valor à cultura, industrializando,embalando, comercializando. “Se pegarmos o pro-dutor na cadeia do agronegócio, veremos que elefica com a fatia menor e a cooperativa passa a seruma ferramenta fantástica para agregação de va-lor à sua produção”, analisa Peres. No Cocacer, édesenvolvido todo um trabalho de prestação deserviços ao produtor no preparo de agregação devalor aos cafés especiais. “Mantemos parcerias comexportadores e o café sai daqui pronto para ex-portação, diminuindo a cadeia de participação deoutras empresas. Colocamos o produto direto noembarque para exportação e o valor agregado docafé volta para o produtor”, conclui o presidenteda Cocacer.

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ARACREDI INCREMENTA O CAFÉ COM LEITE DE ARAGUARI

Reinaldo Caetanoé fundador epresidente daAracredi há14 anos

FOTO: GENOVEVA RUIS DIAS

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Há um ano e meio, pela Internet, está no ar o site doCentro de Inteligência do Café, onde poderá ser

encontrada uma série de informações estratégicas, queservirão como instrumento para a tomada de decisões

de quem lida com o assunto.

CENTRO DE INTELIGÊNCIA DO CAFÉ

Como o cafeicultor irrigante podeusufruir melhor das informações?

Agricultura dos Estados produtores, Embrapa,Conab, Mapa, o Dcaf, Abic, Abics, Cecafé, CNAe CNC. Dentro do Conselho Técnico, existeminstituições como universidades e institutos.“Utiliza-se o site como ferramenta de comuni-cação entre esses segmentos, onde o usuárionormal não tem acesso”, afirma ele.

Um banco de informações àdisposição de quem lida com o café

Pela Internet, o endereço é www.cicbr.org.br. É o site do Centro de Inteligência do Café(CIC), onde todos os agentes envolvidos noagronegócio café poderão encontrar uma sériede informações que lhes servirão como impor-tante ferramenta para tomada de decisões. Pormeio do cruzamento de informações, o interes-sado poderá montar gráficos em poucos segun-dos e encontrar respostas que rápidas.

O CIC é uma idéia que surgiu há 10 anos, nacabeça do paulista Carlos Henrique Jorge Bran-do, consultor da P&A Marketing Internacionale que ganhou força e apoio político de interes-sados ao longo de vários encontros, simpósios econgressos sobre o café. Mesmo tendo um cará-ter nacional, recebeu recursos do Estado maiorprodutor de café no Brasil para ter sua demar-ragem. Sua instalação foi possível graças aos re-cursos alocados pelo governador Aécio Neves,por meio da Secretaria de Estado de Agricultu-ra, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais(Seapa/MG), quando o deputado Silas Brasilei-ro respondia pela pasta. Hoje, já com uma folhade serviços para mostrar, o CIC deverá transfor-mar-se numa ONG (Organização não-governa-mental) ou Oscip (Organização da sociedadecivil de interesse público). Para conhecer mais so-bre o assunto, nada melhor do que conversar como autor da idéia, Carlos Brando.

ITEM – O que representa o CIC?Brando – O CIC é uma ferramenta para se criar noPaís pensamento estratégico. O Brasil hoje tem amaior produção e exportação de café verde, é o mai-or exportador de café solúvel e é o segundo maiorconsumidor do mundo. Temos uma cafeicultura ex-

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O irrigante, por exemplo, poderá terinformações específicas em relação aomercado. “Sabemos que a cafeicultu-ra irrigada permite segurança ao pro-dutor em relação à sua safra. Com isso,além da CPR, ele poderá firmar com-promissos futuros e realizar vendasantecipadas”, afirma Aguinaldo Joséde Lima, superintendente executivo doCentro de Inteligência do Café (CIC),explicando que um dos trabalhos doCentro é prospectar oportunidades nospaíses consumidores, por meio do Ser-viço de Inteligência do Mercado, ondeseis técnicos ficam diariamente vascu-lhando informações em todo o mundosobre o produto, formas de consumo,oportunidades, tudo relacionado como mercado.

Para Aguinaldo, o CIC tem um tra-balho que envolve todo o agronegócio,da produção ao comércio. É um gigan-tesco banco de dados, onde se obtêminformações sobre todas as questõesestatísticas. “A abrangência do traba-lho é muito grande para que o produtoranalise e crie sua estratégia. Sabemosque nem todos os produtores terãocondições de fazer isso. É uma ques-tão de experiência, vivência e estraté-gia. Daí, a importância fundamentaldo papel das cooperativas, que pode-rão fazer isso para o produtor”, consi-dera ele.

Segundo Aguinaldo Lima, existe dentro dosite uma área com informações privilegiadas,fornecidas por meio de senha e destinadas aosintegrantes dos Conselhos Gestor e Técnico doCIC. O Conselho Gestor é formado pelosmantenedores do CIC, que são as secretarias de

Carlos Brando

Agnaldo José deLima

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tremamente competitiva e empresas extremamenteeficientes, mas dificuldades em pensar coletivamen-te. O CIC existe para passar por cima dos interessesindividuais e setoriais e pensar na cafeicultura brasi-leira como um todo. Falamos em criar instrumentose levantar dados. Depois, vêm as análises, que nãosão conclusivas e nem recomendações políticas. Oobjetivo do CIC é colocar as cartas na mesa, que vãoser lidas de forma diferente por atores distintos. Omérito disso tudo é fazer a cafeicultura pensar junto.E ela tem dificuldades para isso, porque os setoresenvolvidos são muito fortes: produção, comércio eindústria, que têm, aparentemente, posições anta-gônicas. Muitas vezes, eles têm que passar por cimadesse antagonismo paroquial e pensar a longo pra-zo. Essa é a missão do CIC.

ITEM – Quem está por trás do CIC?Brando – Hoje, nos dois Conselhos do CIC (Gestor eTécnico) estão representados todos os setores:produtores, comerciantes, torradores, indústria de so-lúveis, governo e fornecedores de insumos, equipa-mentos e serviços financeiros. Quem comanda o CICé todo o agronegócio. No Conselho Gestor, está ge-ralmente o presidente da entidade e no Conselho Téc-nico, o executivo. São as mesmas entidades que serepetem, com diferentes graus de autoridade.

ITEM – Quem dirige o site do CIC?Brando – São três níveis de decisão. Pelo estatuto, ve-mos que o Conselho Gestor toma as decisões políticase de financiamento; ao Conselho Técnico, cabem asescolhas de temas e linhas de trabalho. Já as decisõesdo dia-a-dia são do núcleo operacional (Diretoria Exe-cutiva) que contrata parceiros e consultores, atualizao site etc. O CIC é uma idéia nossa de 10 anos atrás eencontramos abrigo na Secretaria de Agricultura deMinas, na época do deputado Silas Brasileiro. Conti-nuamos como consultores, criando os conceitos,estruturação e idéias na questão de conteúdo. OAguinaldo José de Lima, que também é consultor daempresa JLima, trata das questões políticas e a Uni-versidade Federal de Lavras (Ufla) é a criadora dasferramentas, gráficos etc. O embrião surgiu da expe-riência das várias discussões, encontros e simpósios.

ITEM – Qual é o trabalho do CIC na questão dodrawback do café?Brando – O CIC cria bases para uma discussão racio-nal, sem interferências políticas. Na minha opinião,com o drawback temos mais a ganhar do que a per-der. Mas, não se pode esquecer de que vai haverperdedores num determinado ponto, para se preser-var o futuro. Quando se produz um café torrado emoído, a visão é outra. E 99% do café vendido nomundo, é composto por, pelo menos, cinco origens,provavelmente dez. Então, dificilmente vai-se conse-guir conquistar um mercado e aumentar a participa-ção nacional, com marcas 100% brasileiras. Vamos

precisar de cafés de outros países, porque essa é umaexigência do consumidor mundial.

ITEM – E a certificação do café como o café doCerrado, como funciona?Brando – A certificação funciona bem em nichos decafés certificados especiais que representam menosde 5% do mercado. É um mercado que paga um pre-ço muito bom. Tem que se ver a situação em doisníveis: a certificação do mercado de nicho, de cafésespeciais. Agora, está começando a ser desenvolvidoum outro nível de certificação, que é a de meio am-biente, a trabalhista, que tem um volume muitomaior. É a que o Japão está pedindo, a rastreabilidadee a segurança alimentar.

ITEM – Os custos de produção pesam muito parao produtor. Como o CIC pode ajudar nisso?Brando – Trabalhando, por exemplo, no banco dedados de custos de produção. Existe muita gorduranesse assunto. Uma das coisas que este banco vaigarantir é apresentar valores de referência regionais.Não adianta comparar os custos no Sul de Minas comos de Barreiras, BA. São tecnologias diferentes. Essaé uma maneira importante de o CIC contribuir, criarum sistema de levantamento de custos que permitacomparações de uma região para outra e dentro deuma região, de um produtor para outro.

ITEM – A transformação do CIC numa ONG/Oscipaponta uma tendência de crescimento desse serviço?Brando – Essa é uma realidade que precisava ser re-conhecida, porque o CIC pertence à cafeicultura bra-sileira e tem que ser uma ONG sem fins lucrativos. Sóque, se no primeiro momento fosse feita uma ONG,sem uma folha de trabalho para mostrar, seria muitocomplicado o seu financiamento. Hoje, acham-se pa-trocinadores. Os latinos têm muita dificuldade emtirar dinheiro do bolso para patrocinar uma idéia. Pre-cisávamos de um padrinho institucional que foi a Se-cretaria de Estado de Agricultura Pecuária e Abaste-cimento de Minas Gerais. Agora, a aposta é que osetor privado vá assumir isso. �

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Pela internet,o site do CIC éwww.cicbr.org.br

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Ao utilizar um programa de softwaredo Sebrae, denominado Educampo, o

pesquisador José Luís Rufino, ativoparticipante do Consórcio Brasileiro de

Pesquisa e Desenvolvimento do Café,mostrou que a eficiência na prática da

cafeicultura irrigada traz maisbenefícios para o produtor do que a

cafeicultura de sequeiro(ver resultados no Quadro 1).

diferença está na eficiência no ma-nejo da cafeicultura irrigada”, con-sidera ele. O Educampo é um pro-

jeto que busca, através da capacitação gerenciale tecnológica de grupos de produtores rurais,desenvolver aspectos de gestão da propriedade,tornando-os mais eficientes e competitivos.

Na coleta de dados apresentados referentesàs safras de 2004 e 2006, o pesquisador contoucom a colaboração de Luiz Gustavo Rabelo,Fabiano Plazza, Rodrigo Ticle e José Eduardo,técnicos regionais integrantes do Projeto. Ou-tro resultado que está demandando uma análi-

se mais apurada, refere-se aos custos da práticada irrigação no café dos municípios de Araguarie Patrocínio. Os dados apontam para uma prá-tica com custos mais vantajosos no segundomunicípio (ver Quadro 2).

Ênfase ao gerenciamento

Segundo Rufino, o trabalho do Educampoapresenta um diferencial muito interessante queé o de dar ênfase aos aspectos gerenciais. Naprática, os responsáveis pelo Projeto contam comum software que faz com que os custos geremindicadores com os quais pode-se analisar o es-tado da lavoura do ponto de vista econômico. Éfeita análise junto ao produtor desses indicado-res e são estabelecidas metas para a correção derumos e aproveitamento das potencialidades edos pontos fortes da lavoura.

Pelos dados mostrados, os custos da cafei-cultura irrigada praticada em Patrocínio forammais vantajosos que os de Araguari. O pesqui-sador mostra ser possível corrigir esses núme-ros.

Rufino considera que os dados de custos ser-vem de alerta para mostrar que alguma coisaerrada está acontecendo na cafeicultura irriga-da de Araguari, quando comparada com a dePatrocínio. “Está na hora de as pessoas que tra-balham com manejo de irrigação da cafeiculturadiscutirem quais são as reais causas. Levanta-mos algumas hipóteses como: estande comlavouras mais velhas, número de plantas anali-sadas e sistemas de irrigação mais antigos emAraguari. Agora, os cafeicultores e a associaçãoprecisam verificar quais são as reais causas”,analisa ele.

E como ter acesso ao Educando? Inicialmen-te, a associação de cafeicultores deve procuraro Sebrae para obter as informações necessáriase verificar as normas e os procedimentos para aefetivação de uma parceria. O Sebrae não aten-de ao produtor individualmente. �

Cafeicultura irrigada eficiente émais vantajosa para o produtor

O que faz o Projeto Educampo Café

• acompanhamento técnico da lavoura;

• anotação dos dados relevantes;

• organização dos dados financeiros;

• determinação dos custos de produção;

• elaboração de indicadores técnicos e econômicos;

• análise dos dados e das informações;

• estabelecimento de metas e orientação quanto à estruturadisponível e aos processos utilizados.

“A

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Com irrigação Sem irrigaçãoEspecificação Unidade Valor (R$) Médio Valor (R$) MédioÁrea Plantada ha 28,91 19,08Produção por Área Plantada Sacas/ha 40,96 35,50Margem Bruta por Área Plantada R$/ha 5.362,94 4063,53Margem Líquida por Área Plantada R$/ha 4.240,34 2994,17Lucro por Área Plantada R$/ha 3.779,12 2614,71Margem Bruta por Saca R$/Saca 130,63 121,21Margem Líquida por Saca R$/Saca 103,28 89,31Lucro por Saca R$/Saca 92,05 77,99

QUADRO 2 – Composição do custo operacional efetivo da cafeicultura irrigada

Custo Operacional Efetivo (COE) Com irrigaçãoAraguari Patrocínio

Mão-de-obra Administrativa (Fixa) 14,19 10,24Educampo 0,26 0,21Adubação do Solo 27,30 25,72Adubação Foliar 2,97 1,95Controle de Pragas e Doenças 14,79 13,19Controle de Plantas Daninhas 1,17 0,44Tratos Culturais 0,20 2,09Colheita 16,27 19,37Pós-colheita 2,35 5,88Energia e Combustível 9,22 9,91Impostos e Taxas 3,63 2,21Reparos de Benfeitorias e Máquinas 5,41 6,71Outros Gastos 2,25 2,09Total do COE 100,00 100,00

FOTO: GUY CARVALHO

Café irrigado nooeste da Bahiacom o uso domanejocontrolado doestresse hídrico

QUADRO 1 – Indicadores técnicos e econômicos

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Caracterização da cafeiculturairrigada tradicional

Nos sistemas de produção de caféirrigado predominante até então,pressupõe-se que a irrigação deva serfeita durante todo o ano e com altafreqüência, chegando a serrecomendadas irrigações diárias. Nessecontexto, o cafeeiro Arábica, origináriodas florestas tropicais da Etiópia, sujeitoa um período seco e bem definido de trêsa quatro meses (outubro a janeiro), nãoconsegue ajustar sua fenologia de modoque resulte em floração e maturaçãouniformes. O resultado é a ocorrência devários períodos de floração comconseqüente desuniformidade namaturação dos grãos (Figs. 1 e 2).

Sistema de produção de caféirrigado: um novo enfoque

Sistema de produção de caféirrigado: um novo enfoque

ANTONIO FERNANDO GUERRA

ENG. AGRÍC., M.SC., PHD., PESQ. EMBRAPA CERRADOS, CP. 08233,CEP73310-970, PLANALTINA, DF, FONE: (61) 3388-9862

FAX: (61) 3388-9879, [email protected]

OMAR CRUZ ROCHA

ENG. AGRON., M.SC., PESQ. EMBRAPA CERRADOS,[email protected]

GUSTAVO COSTA RODRIGUES

ENG. AGRON., M.SC., DR., PESQ. EMBRAPA CERRADOS,[email protected]

CLÁUDIO SANZONOWICZ

ENG. AGRON., M.SC., DR., PESQ. EMBRAPA CERRADOS,[email protected]

GUY CARVALHO RIBEIRO FILHO

ENG. AGRON., CONSULTOR GUY CARVALHO CONSULTORIA,[email protected]

PAULO MAURITY DOS REIS TOLEDO

ENG. AGRON., M.SC., BOLSISTA DO CBP&D/ CAFÉ,[email protected]

LUIZ FÁBIO RIBEIRO

ENG. AGRON., BOLSISTA DA EMBRAPA CERRADOS; [email protected]

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FOTO: GUY CARVALHO

Café commaturação

uniforme e dequalidade a ser

colhido emmaio de 2007,

Fazenda daAgronol,

Barreiras, BA

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Pressupondo que o modelo de produção devaser equilibrado e analisando essas consideraçõesanteriores, pode-se inferir que há necessidadede repensar o sistema produtivo de café irriga-do, buscando novos conhecimentos que permi-tam torná-lo eficiente, competitivo e, conseqüen-temente, sustentável.

Novo enfoque para o sistemade produção

Maior produtividade com estabilidade deprodução, melhor qualidade dos grãos e redu-ção dos custos de produção são os três pilaresbásicos para dar sustentabilidade à cafeiculturairrigada brasileira. Nesse contexto, os sistemasde produção existentes necessitam ser aprimo-rados a partir do desenvolvimento de novastecnologias e da adequação das tecnologias dis-poníveis às demandas da planta e às ofertasedafoclimáticas regionais, visando proporcionarmaior competitividade ao produto nos merca-dos interno e externo. Nos sistemas produtivosatuais há conhecimentos considerados prontose definitivos, quando, na verdade não os são,como é o caso da necessidade de irrigações comalta freqüência, a bienalidade na produção do

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E ssa forma de manejo causa prejuízossobre vários aspectos: os grãos prove-nientes da varrição normalmente são ar-

didos e não apresentam boa qualidade para omercado; uso intensivo de máquinas e mão-de-obra, para obter cerca de 40% de grãos cerejaspara serem despolpados e comercializados comocafé especial e colheita de alta porcentagem degrãos verdes, impróprios para o mercado de cafésespeciais, que são comercializados no mercadointerno a preços mais baixos. Vale salientar quemesmo os grãos cerejas despolpados normal-mente apresentam alta porcentagem de grãosdenominados conchas e malformados, impró-prios para o mercado de cafés especiais.

Nas regiões onde predomina a cafeiculturairrigada, os solos normalmente apresentam boadrenagem. No entanto, solos arenosos e argilo-sos requerem em torno de 18 a 24 horas, respec-tivamente, para atingir a condição de capacidadede campo, após a ocorrência de chuva ou irriga-ção. Isso, por si só, demonstra a incoerência emirrigar com alta freqüência, uma vez que o solopermanece em condição de encharcamento namaior parte do tempo, o que não é apropriadopara o desenvolvimento do cafeeiro. Essa práti-ca tem prejudicado o sistema radicular dos ca-feeiros, reduzindo sua capacidade de absorverágua e nutrientes, o que resulta no aparecimen-to de sintomas de deficiências nutricionais equeimaduras das folhas e botões florais, nota-damente do lado que recebe maior radiaçãosolar direta. Como conseqüência dos sintomasinduzidos de deficiências nutricionais há aumen-to do uso de insumos na tentativa, não atingida,de solucionar o problema. Esse conjunto de er-ros técnicos resulta, normalmente, em lavourasde baixa produtividade e qualidade dos grãos ealto custo de condução. Sendo assim, torna-seimprescindível esclarecer que manejar a irriga-ção significa gerir adequadamente o espaço po-roso do solo, para que o sistema radicular dasplantas disponha de água e ar em quantidadesadequadas, de modo que venha a potencializaro desenvolvimento e o metabolismo das raízes,resultando em absorção equilibrada dos nutrien-tes.

Outro aspecto que deve ser discutido é abienalidade de produção do cafeeiro que é acei-ta como sendo intrínseca da planta de café. Acei-tar essa tese pressupõe aplicação diferenciadade fertilizantes com base apenas na carga pen-dente das lavouras. Essa forma de manejar aslavouras intensifica os efeitos da bienalidade,pois a planta ajusta sua produção atual, o cres-cimento e a formação de gemas reprodutivaspara a próxima safra, de acordo com o aportede nutrientes.

FIGURA 1Floradas sucessivasdo cafeeiroresultante domanejo inadequadoda cultura

FIGURA 2Baixa uniformidadede maturaçãoresultante domanejo inadequadoda cultura

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café e a baixa exigência de fósforo dos cafeeirosadultos. A simples aceitação desses conhecimen-tos prejudica substancialmente a evoluçãotecnológica necessária ao aprimoramento dossistemas produtivos. Aceitar a discussão sobreAceitar a discussão sobreAceitar a discussão sobreAceitar a discussão sobreAceitar a discussão sobreesses temas é o primeiro passo para refinar oesses temas é o primeiro passo para refinar oesses temas é o primeiro passo para refinar oesses temas é o primeiro passo para refinar oesses temas é o primeiro passo para refinar oconhecimento e implementar as mudanças ne-conhecimento e implementar as mudanças ne-conhecimento e implementar as mudanças ne-conhecimento e implementar as mudanças ne-conhecimento e implementar as mudanças ne-cessárias à otimização da cafeicultura irrigadacessárias à otimização da cafeicultura irrigadacessárias à otimização da cafeicultura irrigadacessárias à otimização da cafeicultura irrigadacessárias à otimização da cafeicultura irrigadanacional.nacional.nacional.nacional.nacional.

Com base nos resultados de pesquisa doCBP&D/Café, em trabalhos sob a responsabili-dade da Embrapa Cerrados, foram propostastrês principais mudanças no sistema de produ-ção de café irrigado, as quais envolvem:

a) suspender as irrigações dos cafeeiros porum período definido, para submeter as plantasa um estresse hídrico moderado e permitir quehaja uma sincronização do desenvolvimento dasgemas reprodutivas e, conseqüentemente, uni-formidade de florada e maturação;

b) manejar as irrigações de forma adequa-da, usando medidas de tensão de água no soloou o Programa de monitoramento de irrigaçãodisponível gratuitamente na página da EmbrapaCerrado;

c) ajustar a oferta de nutrientes no momen-to certo e em quantidades adequadas para ga-rantir o desenvolvimento, o enchimento dosgrãos e o crescimento de novos ramos e nós paraa próxima safra.

Demonstrações e validaçõescom produtores

Concomitante ao desenvolvimento da pes-quisa, a condução de unidades de validação etransferência de tecnologias no oeste do estadoda Bahia e sul do estado de Minas Gerais, emáreas certificadas de produção de café, tem sidode grande importância para consubstanciar osbenefícios das novas tecnologias geradas. Nooeste da Bahia, em áreas de produção da Fa-zenda Agronol e da AdecoAgro (FazendasMimoso, Lagoa do Oeste e Rio de Janeiro), ostrabalhos de validação foram orientados paramelhorar a qualidade dos cafés, mantendo a pro-dutividade e reduzindo os custos de conduçãodas lavouras. No sul de Minas Gerais o trabalhode validação de tecnologia objetiva reduzir onúmero de floradas, ajustar o aporte nutricionalà demanda dos cafeeiros, buscando também es-tabilidade de produção, melhoria da qualidadedo café e redução de custos de produção da ati-vidade.

Metodologia de pesquisa e devalidação de tecnologia

O trabalho básico de pesquisa está sendodesenvolvido no Campo Experimental daEmbrapa Cerrados, em Planaltina - DF, em umaárea de 8 hectares, irrigada por pivô central, euma área de 2 hectares, sem irrigação. A áreairrigada foi dividida em quatro quadrantes de 2hectares, para testar os quatro regimes hídricosirrigados. Avaliaram-se os efeitos da aplicaçãode água durante todo o ano, a suspensão da irri-gação até que o potencial de água na folha atin-gisse –1,5 MPa e –2,0 MPa, e a suplementaçãode água após a floração induzida por chuva esem irrigação. Experimentos com doses de fós-foro (0 a 400 kg/ha de P2O5), nitrogênio (0 a 800kg/ha de N) e potássio (0 a 800 kg/ha de K2O)estão sendo conduzidos em todos os regimeshídricos em cafeeiros (Coffea arábica L.), cv.Catuaí Rubi MG1192, implantados em feverei-ro de 2001, no espaçamento de 2,80 m por 0,50m. Experimentos de espaçamento entre linhasde planta estão sendo conduzidos usando cafe-eiros das cultivares Iapar 59, Acaia Cerrados eTopázio MG 1190, implantados em dezembro de2000. As aplicações de água foram feitas sem-pre que as plantas consumiam cerca de 50% daágua disponível. Medidas do conteúdo de águano perfil do solo, feitas com sondas de perfil deum metro de profundidade (Profile probe Del-ta-T), foram usadas para monitorar as irrigações.A quantidade de água aplicada por irrigação foicalculada para repor o conteúdo de água da ca-mada de solo de 0,40 m até a condição de capa-cidade de campo (- 0,008 MPa).

O potencial de água na folha foi medido emfolhas funcionais, do terceiro ou quarto par defolhas, usando-se uma bomba de Scholander.Para obter valores de potencial de água na fo-lha, possíveis de ser extrapolados, as leituras fo-ram feitas entre 3 e 5 horas da madrugada, an-tes do amanhecer. Avaliações do crescimentodos cafeeiros foram feitas ao longo do ano,5buscando parametrizar o crescimento compen-satório, após o período de estresse hídrico.

As parcelas experimentais de todos os trata-mentos foram colhidas manualmente. Concluí-da a colheita, separaram-se dez amostras de 100frutos para avaliação da uniformidade dematuração, obtendo-se, assim, a porcentagem defrutos verde, cereja e seco em cada tratamento.Após secagem em terreiro de cimento, até atin-gir 12% de umidade (BU), realizou-se a pesa-gem do café em coco. Finalmente, o café foibeneficiado para obter o rendimento e as classi-ficações por peneira e tipo.

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Com o objetivo de verificar possíveis diferen-ças nas respostas das lavouras em função dasdiferenças de solo, sistemas de irrigação e for-ma de condução das lavouras, as unidades devalidação de tecnologia foram selecionadas emáreas que representavam todas essas possibili-dades. Na Fazenda Agronol, o estresse hídricofoi aplicado em áreas de café podado e não po-dado, irrigado por pivô central (Lepa), em solocom 17% de argila. Na Fazenda Lagoa do Oeste,a tecnologia foi aplicada em uma área experi-mental com 21 variedades, irrigadas por goteja-mento e plantadas em diferentes espaçamentos,em solo com 33% de argila. Além dessa área, atecnologia também foi aplicada em lavouras co-merciais irrigadas por pivô central (Lepa) egotejamento. Na Fazenda Mimoso, a tecnologiafoi aplicada em áreas comerciais com cafeeirospodados e não podados, irrigados por pivô cen-tral em solos com 35% de argila.

Nas áreas de validação, foi utilizado o mes-mo procedimento descrito para a área experi-mental da Embrapa Cerrados, nas medições dopotencial de água na folha.

À semelhança do que foi feito na área expe-rimental, avaliou-se o crescimento do cafeeiropara confirmar a ocorrência do crescimentocompensatório nas lavouras comerciais.

Resultados de pesquisa evalidação de tecnologia

Apesar dos resultados conflitantes deCRISOTO et al. (1992), DRINNAN &MENZEL (1994) e SOARES et al. (2001), quan-to à necessidade de uso de um período deestresse hídrico para uniformização de floradae maturação, os trabalhos de pesquisa desenvol-vidos na Embrapa Cerrados (GUERRA et al.2005; GUERRA et al. 2006a; GUERRA et al.2006b) permitiram sistematizar a tecnologia doestresse hídrico controlado, para uniformizaçãode florada e maturação. Esses mesmos trabalhospossibilitaram o desenvolvimento de um progra-ma de manejo de irrigação (Monitoramento deMonitoramento deMonitoramento deMonitoramento deMonitoramento deirrigaçãoirrigaçãoirrigaçãoirrigaçãoirrigação), disponibilizado gratuitamente napágina da Embrapa Cerrados (www.cpac.embrapa.br), e indicaram a necessidade de ajus-tar o fornecimento de nutrientes, notadamenteo fósforo, para reduzir os efeitos da bienalidadedo café.

Os resultados também mostram que oestresse hídrico controlado deve ser visto comouma ferramenta para sincronização da floradae organização do crescimento do cafeeiro, den-tro de um sistema de produção equilibrado. As-

sim, para adoção dessa ferramenta, deve-se ajus-tar o sistema de produção e buscar aprimorar aspráticas de cultivo, colheita e pós-colheita, demodo que supra as condições necessárias paraque o cafeeiro expresse seu potencial produtivo,dando condições para um melhor aproveitamen-to do trabalho das plantas com a conseqüentevalorização do produto.

Até o momento, as unidades demonstrativasde validação do oeste da Bahia já passaram pordois períodos de floração (2005 e 2006) e umacolheita (2006).

Na safra 2005/2006 da Fazenda Agronol, como retorno das irrigações após o período deestresse hídrico, a floração foi intensa e unifor-me (Fig. 3). Como conseqüência da uniformiza-ção da florada, a maturação dos grãos resultouem 83% de frutos cereja no momento da colhei-ta (Figs. 4, 5 e 6). A produtividade em 2006, emuma área de 55 ha, foi de 73 sacas ha .

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FIGURA 3Floração uniformeapós estressehídrico na FazendaAgronol –oeste da Bahia

FIGURA 4Maturaçãouniforme apósestresse hídrico naFazenda Agronol –oeste da Bahia

FIGURA 5Descarregamentode café cerejadireto do campopara processa-mento na FazendaAgronol –oeste da Bahia

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Após o segundo período de estresse hídrico,ocorreu crescimento vigoroso e novamente afloração foi uniforme (Fig. 7). Houve um exce-lente pegamento da florada e, conseqüentemen-te, a lavoura irá repetir a safra sem demonstrarqualquer efeito de bienalidade (Fig. 8).

Dentre os pontos positivos da tecnologia, valesalientar a redução significativa do consumo deágua e energia, resultante da prática do manejode irrigação e do período do estresse hídrico, ea redução de 40% nas operações de máquinasna colheita, com significativo impacto no custoda produção. As várias operações de colheita,anteriormente necessárias para maximizar aobtenção de grãos cerejas, reduziram-se a umapassada de colheitadeira, uma catação manuale uma varrição mecânica.

56 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

Quanto à qualidade do café, os maiores be-nefícios foram a redução de grãos defeituosos ea obtenção de cafés de bebida estritamente mole.Os cafés das unidades demonstrativas apresen-taram-se com menor porcentagem de grãos que-brados, melhor aparência e cheiro. Finalmente,vale salientar o melhor aproveitamento dosgrãos da varrição que, anteriormente, eram des-tinados ao mercado interno e, agora, por seremcolhidos com a superfície do solo seca, apresen-tam melhor qualidade, podendo ser comerciali-zados a preços mais compensadores.

Na AdecoAgro (Fazendas Mimoso e Lagoado Oeste), após a aplicação do estresse hídrico,em 2005, houve floração intensa e uniforme emtodas as áreas de validação, independente davariedade de café, do espaçamento de plantio,do método de irrigação (aspersão ou gotejamen-to), do tipo de solo e da forma de condução dalavoura em cafeeiros podados e não podados(Fig. 9). Como conseqüência, a maturação dosgrãos foi uniforme, resultando em 83% e 72%de grãos cerejas nas Fazendas Lagoa do Oestee Mimoso, respectivamente (Fig. 10). Essasrespostas em áreas comerciais confirmam osresultados das pesquisas obtidos na área experi-mental da Embrapa Cerrados, nos últimos seisanos.

FIGURA 9 – Floração uniforme após estresse hídrico naAdecoAgro (Fazenda Lagoa do Oeste – oeste da Bahia)

FIGURA 10 – Maturação uniforme após estresse hídrico naAdecoAgro (Fazenda Lagoa do Oeste – oeste da Bahia

FIGURA 6Terreiro com café

despolpado naFazenda Agronol –

oeste da Bahia

FIGURA 7Florada uniforme

no segundo ano deaplicação de

estresse hídrico naFazenda Agronol –

oeste da Bahia

FIGURA 8Desenvolvimento

uniforme de frutose crescimento

vigoroso para apróxima safra, apóso segundo períodode estresse hídrico,na Fazenda Agronol

– oeste da Bahia

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Nos campos de validação da Fazenda Lagoado Oeste, em uma área de 80 hectares, a produ-tividade atingiu valores superiores a 70 sc/ha, oque permitiu otimizar a produção de cafédespolpado (Fig. 11). Na Fazenda Mimoso, emuma área de 70 hectares, a produtividade foi de76 sc/ha. Nessa fazenda, a capacidade de colhei-ta e de beneficiamento ficou aquém da necessá-ria. Isso demonstrou que há necessidade de ajus-tar todo o sistema de produção para usufruir detodos os benefícios desse novo sistema de pro-dução do cafeeiro irrigado. Nesse caso, só hou-ve condições de atender a 47% da produçãocomo café despolpado.

custos de colheita que representam uma parce-la significativa do custo de produção. Diferenteda opção usada pela Fazenda Agronol, que man-teve a catação manual, nas Fazendas Lagoa doOeste e Mimoso optou-se por duas passadas decolheitadeira mecânica e uma varrição. Dessemodo, foi possível eliminar o repasse manual queonerava em média o custo de colheita em R$800,00 por hectare. Essa estratégia determinouuma redução do custo de colheita em mais de40%. Portanto, a estratégia de colheita deveráser ajustada, conforme as condições presentesem cada situação. Outro ponto de fundamentalrelevância foi o melhor aproveitamento dosgrãos da varrição que, colhidos no seco, apre-sentaram qualidade para exportação.

Após o segundo período de estresse hídrico,nas Fazendas Lagoa do Oeste e Mimoso, os ca-feeiros cresceram adequadamente para repetira safra. No entanto, houve significativa variaçãono desempenho das lavouras. Algumas áreas deprodução floresceram e tiveram um excelentepegamento da florada e, conseqüentemente, vãorepetir a safra. Por outro lado, houve áreas emque a florada não pegou e áreas em que os no-vos nós não apresentaram gemas reprodutivas,demonstrando que havia outro fator dentro dosistema de cultivo que necessitava ser ajustadopara que as plantas pudessem produzir todos osanos (Fig. 12 e 13).

Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 57

FIGURA 11 – Terreiro com café despolpado após estresse hídricona AdecoAgro (Fazenda Lagoa do Oeste – oeste da Bahia)

Dentre os pontos positivos relatados, pode-se citar a redução significativa do consumo deágua e energia. Usando o manejo de irrigaçãocom base na tensiometria, ajustado pelo pesqui-sador Euzébio Medrado da Silva (ProjetoRaioba), ou o Programa de Monitoramento deIrrigação da Embrapa Cerrados, em conjuntocom a suspensão das irrigações por 70 dias, noperíodo mais seco do ano, obteve-se uma redu-ção de 53% da água e energia normalmente usa-das na irrigação, quando praticada a irrigaçãodiária dos cafeeiros. A importância dessa estra-tégia de manejo da água não pode ser vista ape-nas como economia dos insumos água e energia.Representa também a melhor opção de evitarperdas de nutrientes por lixiviação e fornecercondições propícias de umidade do solo, paraque as raízes possam respirar adequadamente eatender à demanda nutricional da planta, o queresulta em um desenvolvimento vigoroso doscafeeiros. A melhoria da qualidade do café foioutro fator de fundamental importância. A uni-formidade de maturação resultou em uma re-dução de 20% para 10% dos grãos defeituosos,o que determinou aumento significativo na ren-da do produtor.

Do ponto de vista dos produtores, o fator demaior impacto foi a redução das operações e

FIGURA 12Crescimento deramos comausência de gemasreprodutivasresultante do baixoaporte nutricional,notadamente ofósforo, de umalavoura na FazendaLagoa do Oeste –oeste da Bahia

FIGURA 13Baixo pegamentode florada causadopela não aplicaçãode fósforo em umalavoura na FazendaLagoa do Oeste –oeste da Bahia

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Após analisar cuidadosamente as possíveisdiferenças entre o que vinha sendo feito nasáreas de pesquisa da Embrapa Cerrados e nohistórico das análises químicas do solo e folha e,ainda, adubações nas lavouras com potencialpara repetir a safra e nas áreas onde os nós nãoformaram gemas reprodutivas, chegou-se a con-clusão que a aplicação ou não de fósforo era oprincipal fator que diferenciava as áreas com re-petição de safra das de baixo pegamento deflorada. Vale salientar que até mesmo os cafeei-ros cultivados em áreas com mais de 50 ppm deP2O5 no solo, mas que não receberam fósforona adubação de manutenção apresentaram sin-tomas de deficiência de fósforo e pouca ou ne-nhuma formação de gemas reprodutivas epegamento da florada (Fig. 14). Por outro lado,áreas com 5 ppm de P2O5 no solo, que recebe-ram doses razoáveis de fósforo, da ordem de 100a 120 kg/há , mostraram bom desempenho nodesenvolvimento de gemas reprodutivas e nopegamento da florada.

Considerando os resultados de pesquisa daEmbrapa Cerrados que mostram resposta lineara fósforo (Fig. 15), o comportamento das lavou-ras de anos anteriores, em relação às doses de

P2O5, e o objetivo de produzir safras anuais, emtorno de 60 a 70 sacas/ha, a equipe técnica daAdecoAgro, orientada pelo engenheiro agrôno-mo Guy Carvalho, fundamentada nas recomen-dações da Embrapa Cerrados, aplicou 300 kg/ha de P2O5, em todas as lavouras de café, semconsiderar os níveis de fósforo do solo. Isso por-que não foi possível observar qualquer relaçãoentre os níveis de fósforo resultantes das análisesquímicas de solo e o desempenho das lavouras.

Independentemente da magnitude da cargapendente, as lavouras que receberam P2O5 maiscedo, setembro ou início de outubro de 2006,apresentaram altas taxas de crescimento, comnós longos e folhas verdes e grandes, já em de-zembro de 2006 (Fig. 16). Isso demonstrou queo menor vigor das plantas após o florescimentoestava associado à deficiência de fósforo, quepodia ser visualmente observada em dois mo-mentos bem distintos: no mês de fevereiro, iníciodo enchimento de grãos e formação de novasgemas reprodutivas; e no período de floraçãoem setembro. Outro fator importante foi o cres-cimento vigoroso de raízes absorventes superfi-ciais no local onde se concentrou a aplicação deP2O5 (Fig. 17). Vale salientar que essa respostainicial dos cafeeiros à aplicação de 300 kg/ha deP2O5 reforçam os resultados obtidos na EmbrapaCerrados e, de certa forma, contradizem os re-sultados apresentados por BATAGLIA (2004),que indica a necessidade de baixas doses de fós-foro na adubação de manutenção dos cafeeiros.Os resultados dessas observações na lavoura su-gerem que o fósforo obtido nas análises quími-cas do solo está, de alguma forma, indisponívelpara as plantas. Além da adsorção do fósforopelas partículas de solos, a formação de precipi-tados de baixa solubilidade, como o fosfato decálcio, fosfato de ferro e fosfato de alumínio,pode estar ocorrendo em escala significativa, re-duzindo a disponibilidade do fósforo para os ca-feeiros (MENGEL & KIRKBY, 1987).

58 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

FIGURA 15 – Produtividade de café beneficiado em funçãode adubação de manutenção com doses anuais de P2O5,variando de zero a 400 kg/ha, em cafeeiros adultos

FIGURA 16 – Crescimento vegetativo vigoroso em lavourascom alta carga na AdecoAgro (Fazenda Mimoso), no oeste daBahia, após aplicação de 300 kg/ha de P2O5

FIGURA 14Sintoma dedeficiência

generalizada defósforo no período

de floração de 2005,que resultou em

baixo pegamento daflorada em 2006

90

70

50

30

10

Doses de P2O3 (kg/ha)

PRO

DUTI

VIDA

DE (

90 s

c/ha

)

0 100 200 300 400

Y = 0,0763x + 41,603R2 = 0,9265

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Se considerar que os cafeeiros precisam cres-cer adequadamente todo ano, formando novosnós nos ramos plagiotrópicos, para garantir asafra seguinte, a mesma importância deveria serdada ao fornecimento de fósforo para aos cafe-eiros adultos.

Dessa forma, concentrar a aplicação desseelemento, visando saturar os sítios de fixação dosolo nos momentos de maior demanda pela plan-ta, pode ser a forma mais adequada parabeneficiá-las na competição por esse nutriente.Acredita-se que a baixa exportação de fósforopelos grãos de café, quando comparado a ou-tros elementos, levou os técnicos envolvidos nes-sa cultura a não se preocuparem com esse ferti-lizante nas lavouras adultas. Por outro lado, háuma enorme quantidade de trabalhos que mos-tra a importância do fósforo na formação doscafeeiros.

De modo geral, deve-se atentar para que oprograma de adubação das lavouras não seja fun-damentado exclusivamente na carga pendente.É importante que as aplicações de fertilizantesobjetivem o crescimento de novos ramos e nóspara a próxima safra. Portanto, fertilizantes comalta mobilidade no solo como nitrogênio e po-tássio devem ser aplicados com maiorparcelamento. Já o fósforo, deve ser parceladopelo menos em duas fases críticas da cultura,sendo dois terços da dose aplicados no final doperíodo de suspensão das irrigações ou após oretorno das irrigações (quando aplicado via águade irrigação), e um terço em dezembro, antesdo início do enchimento de grãos e diferencia-ção das gemas reprodutivas.

Os resultados iniciais da validação de tecno-logia da Fazenda Santa Helena, município deAlfenas – MG, indicam a viabilidade da tecno-logia de estresse hídrico para reduzir significati-vamente o número de floradas dos cafeeirosnaquela região. Normalmente, nessa região, os

cafeeiros apresentam, em média, seis eventos defloração por ano com conseqüente desuniformi-dade na maturação dos grãos. Com a suspensãodas irrigações durante o período de junho a se-tembro, durante dois anos consecutivos, ocor-reu uma redução de eventos de floração de 50%,o que contribuiu para ganhos expressivos na qua-lidade final do produto. A aplicação de fósforoem doses compatíveis com os resultados daEmbrapa Cerrados resultou em um crescimen-to vigoroso dos cafeeiros na área de validação eem lavouras comerciais da região, demonstran-do que o ajuste nutricional é necessário tambémnas lavouras sem irrigação para garantir a cargaatual, o crescimento das plantas e o pegamentoda florada da próxima safra (Fig. 18 e 19).

Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 59

FIGURA 17 – Crescimento vigoroso de raízes superficiais emlavouras da AdecoAgro (Fazenda Mimoso), no oeste da Bahia,após aplicação de 300 kg/ha de P2O5

Finalmente, vale salientar que vários proble-mas levantados anteriormente pelos produtores,como a alta presença de flores defeituosas(estrelinhas), requeima, floradas fora de época,baixo aproveitamento dos grãos provenientes davarrição, custo elevado de colheita, alta porcen-tagem de grãos defeituosos, etc., já foramminimizados com as modificações implemen-tadas nesse sistema de produção. No entanto, ofoco atual é o aprimoramento das práticasculturais do sistema de cultivo, objetivandominimizar os efeitos da bienalidade, que

FIGURA 18Uniformidade dodesenvolvimentodos frutos emlavouras desequeiro, com altacarga, nomunicípio deAlfenas - MinasGerais, apósaplicação de 300kg/ha de P2O5

FIGURA 19Crescimentovegetativovigoroso emlavouras desequeiro, com altacarga, na FazendaParaíso – CaboVerde – MG, apósaplicação de 300kg/ha de P2O5

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60 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

acredita ser intrínsecos do manejo a que estãosubmetidas as lavouras e não da planta de caféem si.

Embora sejam resultados iniciais, essasconstatações em lavouras comerciais, com oacompanhamento dos produtores e técnicos res-ponsáveis, confirmam a validação de resultadosda pesquisa da Embrapa Cerrados, os quaisensejam um amplo intercâmbio, visando apri-moramentos, com o concurso de todo o univer-so, no qual se insere este trabalho, que é o doConsórcio Brasileiro de Pesquisa e Desenvolvi-mento do Café (CNP&D/Café), com a amplainterdisciplinaridade proporcionada por esseConsórcio. Diante da baixa exportação deósforo pelos grãos, enquanto pesquisas mais de-talhadas não são feitas para explicar essa defi-ciência de fósforo em solos com níveis de P2O5considerados adequados, os produtores não de-vem negligenciar sua importância se quiseremreduzir a bienalidade de produção de suas la-vouras e lograr maior produtividade.

Considerações finais

Em regiões com período seco bem definido,a suspensão das irrigações, no período de 24 dejunho a 04 de setembro, mostrou-se eficaz parasincronizar o desenvolvimento das gemasreprodutivas e uniformizar a floração e a matu-ração dos cafeeiros. A sincronização do desen-volvimento das gemas reprodutivas normalmenteocorre na segunda quinzena de agosto, quandoas temperaturas mínimas estão em elevação.Nessa época, as plantas devem estar submetidasa um estresse hídrico moderado, para evitar aabertura dos botões florais mais desenvolvidose apressar o desenvolvimento dos mais atrasa-dos. Para atingir essa condição, a suspensão dasirrigações deve ser feita em torno de 24 de ju-nho, para permitir o consumo da água disponí-vel no perfil do solo e atingir o nível de estresseadequado.

O retorno das irrigações em 04 de setembropossibilita a abertura de mais de 85% das floressem correr o risco de prejuízos causados pelaqueima dos botões florais, quando há ocorrên-cia de temperaturas elevadas (>34 ºC), no finalde setembro.

Após o período de estresse hídrico, a lâminade retorno das irrigações deve ser de 40 mm eaplicada em irrigações subseqüentes de formaque preencha com água o perfil de solo, até 40ou 50 cm. A seguir, as aplicações de água para acultura devem ser feitas com base em critérios

racionais de manejo, para suprir as necessida-des de água da planta e permitir a presença dear no solo, visando potencializar o metabolismoradicular.

Em área de produção irrigada, onde ocor-rem chuvas ocasionais no período de suspensãodas irrigações, como é o caso do Sul de Minas,esse sistema é aplicável e já vem sendo usadopara reduzir o número de floradas. Após iniciaro período de estresse, se ocorrer precipitaçãosignificativa para desencadear o processo deabertura parcial das flores, deve-se completar alâmina precipitada para 40 mm, o que será sufi-ciente para manter um nível de umidade no solo,adequado para o pegamento desses chumbinhos.Após completar os 40 mm com irrigação, deve-se novamente suspendê-la e deixar as plantas sobestresse hídrico, para sincronizar o desenvolvi-mento do restante das gemas reprodutivas.Quando retornar às irrigações, haverá a abertu-ra do restante das flores e a expansão dos grãosprovenientes das diferentes floradas, simultane-amente.

A nutrição do cafeeiro não deve ser feitaapenas considerando a carga pendente. O cres-cimento de novos ramos e nós para a produçãoda próxima safra deve ser o principal foco daadubação. Desse modo, o crescimento compen-satório vigoroso dos ramos após a floração deveocorrer para garantir a próxima safra e reduzira bienalidade de produção. As doses de 500 a600 kg/ha de N e de K20, normalmente aplica-das em lavouras com potencial produtivo de 60a 70 sc/ha, condizem com os resultados de pes-quisa obtidos na Embrapa Cerrados e tornam-se adequadas para satisfazer as necessidades doscafeeiros . No entanto, no caso do P2O5, tantoos resultados experimentais, como o desenvol-vimento das lavouras no oeste da Bahia e no sulde Minas Gerais, indicam que a dose anual a seraplicada é de pelo menos 300 kg/ha. Os melho-res resultados, até o momento, sugerem que aaplicação de 200 kg/ha de P2O5 deve ser feitaantes do retorno das irrigações, quando de for-ma mecânica ou manual, concentrada na proje-ção da saia dos cafeeiros, ou após o pegamentodos chumbinhos, quando aplicado via água deirrigação no sistema de aspersão. A segundaaplicação deve ser feita em dezembro, visandosuprir a demanda de fósforo para o enchimentodos grãos, manutenção do crescimento vegeta-tivo e formação e diferenciação das gemas,processos que ocorrem simultaneamente no ca-feeiro. Desse modo, é possível garantir o cresci-mento dos ramos e a formação de novas gemasreprodutivas responsáveis pela próxima safra,reduzindo os efeitos da bienalidade de produção

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do cafeeiro. Esses resultados e essas recomen-dações de um sistema equilibrado de manejo dacafeicultura irrigada, com base em validaçõesdos produtores, é uma recomendação que o con-tinuado trabalho proporcionado pelo CBP&D/Café, com a ampla mobilização de cientistas ecursos de graduação e pós-graduação em todo oBrasil, haverá de provocar mais pesquisas, deba-tes, mais organizações de informações, fazendodo aprimoramento do sistema aqui recomenda-do uma base para muitos outros aprimoramen-tos, desafios e substanciais oportunidades demais evoluções no agronegócio café. �

REFERÊNCIAREFERÊNCIAREFERÊNCIAREFERÊNCIAREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIOGRÁFICAS BIBLIOGRÁFICASSSSS

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Três momentos da validação do sistema manejo dairrigação com controle do estresse hídrico na FazendaMimoso, em Barreiras, no oeste da Bahia

Última fase do estresse hídrico em 18/agosto/2006

Floração sob irrigação, após o estresse hídrico, em 01/setembro/2006

Cafeeiros em produção, um mês antes da colheita a ser feita em maio/2007

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62 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

Modelo equilibrado deprodução de cafés especiais:

viabilidade econômica

GUY CARVALHO RIBEIRO FILHO

ENG. AGRO. CONSULTOR GUY CARVALHO CONSULTORIA,[email protected]

ANTONIO FERNANDO GUERRA

ENG. AGRÍC., M.SC., PHD., PESQ. EMBRAPA CERRADOS,[email protected]

OMAR CRUZ ROCHA

ENG. AGRO., M.SC., PESQ. EMBRAPA CERRADOS,[email protected]

GUSTAVO COSTA RODRIGUES

ENG. AGRO., M.SC., DR, PESQ. EMBRAPA CERRADOS,[email protected]

62 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

A certificação de sistema de gestão socioambientaltrouxe às fazendas produtoras de cafés especiais

não só o desafio de cumprir as normas eprocedimentos, mas também a oportunidade derever o modelo de produção e comercialização,

questionar os conceitos aplicados e buscartecnologias sustentáveis para adequação do

processo, tornando-as mais competitivas.

O s empresários investiram em infra-estru-turas e na construção de parcerias e re-lações comerciais duradouras com os

clientes. A revisão de conceitos e quebra deparadigmas foi conseqüência natural na buscapor manejos racionais mais sustentáveis, quepermitiam ganhos em qualidade e produtivida-de de forma economicamente viável. Os resul-tados de pesquisas de projetos do ConsórcioBrasileiro de Pesquisa e Desenvolvimento doCafé (CBP&D/Café) estão sendo fundamentaisnessa evolução. As tecnologias já estão disponí-veis para uso imediato pelos técnicos e cafeicul-tores.

Neste trabalho, são apresentadas informa-ções sobre os custos de quatro sistemas de pro-dução. Os fundamentos da sustentabilidade, daresponsabilidade social e do respeito ao meioambiente, estão descritos e disponíveis no sitewww.bsca.com.br, no “Sistema de GestãoSocioambiental para a Produção”. As principaisinovações tecnológicas incorporadas aos siste-mas de produção estão no trabalho “Sistema deProdução de Café Irrigado: Um Novo Enfoque”,desta edição da ITEM.

Custos de produção eviabilidade

Os custos de produção do café estão direta-mente relacionados com o sistema de produçãoutilizado. Para plantios adensados e tradicionais,o custo da mão-de-obra é mais elevado e, paraos sistemas mecanizados e irrigados, os insumospodem representar até 50% do custo total daatividade.

Dessa forma, a concepção de cada sistemade produção e a introdução de inovações paramelhorá-lo exigem análises, adequações, cons-tantes atualizações junto aos trabalhos da pes-quisa e uma atenta gestão dos custos. O uso denovas tecnologias é ferramenta importante para

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Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 63

o êxito dos empreendimentos mas, sem umaacurada análise de custos, é difícil garantir osucesso de sua utilização. Ao retratar quatrodistintos sistemas de produção, com base em le-vantamentos junto aos produtores, busca-se sub-sidiar mecanismos de tomadas de decisões, queé o objetivo deste trabalho.

Considerações para elaboração dos custosapresentados no Quadro 1:

• Sistema tradicional• Sistema tradicional• Sistema tradicional• Sistema tradicional• Sistema tradicional: refere-se a plantiosmais antigos com maior espaçamento entre plan-tas, o que resulta em baixa população (<3.500pl/ha). Caracteriza-se pelo plantio em covas comduas plantas, pelo uso intensivo de mão-de-obrae baixo uso de insumos e de máquinas agrícolas.

• Sistema adensado: • Sistema adensado: • Sistema adensado: • Sistema adensado: • Sistema adensado: refere-se a plantios maisjovens, em pequenas propriedades em relevosmais montanhosos. Este sistema é caracteriza-do por estandes mais altos (> 4.000 pl/ha), ele-vado uso de mão-de-obra e insumos agrícolas,quando comparado ao sistema tradicional, po-rém baixo índice de mecanização.

• Sistema renque mecanizado:• Sistema renque mecanizado:• Sistema renque mecanizado:• Sistema renque mecanizado:• Sistema renque mecanizado: neste siste-ma, o plantio é feito em linha ou renque, emáreas planas e estandes mais altos (>3.500 pl/ha). Caracteriza-se por apresentar maior neces-sidade de insumos e principalmente pelo usointensivo de máquinas agrícolas, inclusive colhei-ta mecânica.

• Sistema mecanizado irrigado:• Sistema mecanizado irrigado:• Sistema mecanizado irrigado:• Sistema mecanizado irrigado:• Sistema mecanizado irrigado: refere-se aplantios mais recentes com estandes mais altos(>3.500 pl/ha), normalmente implantados emáreas antes consideradas marginais para a cul-tura de café, porém viabilizados pela irrigação euso intenso de fertilizantes, defensivos e de me-canização.

• A produtividade• A produtividade• A produtividade• A produtividade• A produtividade nos diversos sistemas deprodução trata-se de média móvel.

• Os coeficientes• Os coeficientes• Os coeficientes• Os coeficientes• Os coeficientes usados foram extraídos dotrabalho de planejamento agrícola individuali-zado por talhões em diversas fazendas no sul deMinas e oeste da Bahia.

• Os serviços e insumos• Os serviços e insumos• Os serviços e insumos• Os serviços e insumos• Os serviços e insumos nos diversos siste-mas estão projetados, levando em conta a pro-dutividade e a adequação ao novo modelo equi-librado de produção.

• F• F• F• F• Fertilidade:ertilidade:ertilidade:ertilidade:ertilidade: os índices de fertilidade fo-ram corrigidos em todos os sistemas, proporcio-nais aos níveis adequados resultante, da pesquisadesenvolvida na Embrapa Cerrados, consideran-do o aumento na dose de fósforo.

• Controles fitossanitarios: • Controles fitossanitarios: • Controles fitossanitarios: • Controles fitossanitarios: • Controles fitossanitarios: os custos comcontroles fitossanitários demonstram a eficiên-cia do MIP, com redução de uso de defensivosagrícolas atualmente utilizados. O uso de pro-dutos específicos, registrados para a cultura nomomento certo, garante controles eficientes semdesequilíbrios e custos adicionais.

• Irrigação: • Irrigação: • Irrigação: • Irrigação: • Irrigação: os custos da irrigação são refle-xos do manejo racional disponibilizado pelaEmbrapa Cerrados que garante a água necessá-ria ao desenvolvimento dos cafeeiros, semdesperdícios. Já o manejo da irrigação com o es-tresse hídrico trouxe, além das economias emágua, energia e mão-de-obra para a irrigação, aeliminação do repasse manual na colheita, devi-do à uniformidade de maturação do café.

• Juros do capital circulante:• Juros do capital circulante:• Juros do capital circulante:• Juros do capital circulante:• Juros do capital circulante: 8,75% sobre odesembolso (serviços + insumos).

• R• R• R• R• Recuperação de capital:ecuperação de capital:ecuperação de capital:ecuperação de capital:ecuperação de capital: por meio da fór-mula de pagamento, considerando o valor ini-cial e residual, assim como a vida útil de acordocom o bem e juros de 6% ao ano.

• P• P• P• P• Para a lavoura:ara a lavoura:ara a lavoura:ara a lavoura:ara a lavoura: forma de pagamento, ju-ros de 6% ao ano, valor atual para implantaçãoe residual de 70% e vida útil de 15 anos.

• Manutenção de máquinas e benfeitorias:• Manutenção de máquinas e benfeitorias:• Manutenção de máquinas e benfeitorias:• Manutenção de máquinas e benfeitorias:• Manutenção de máquinas e benfeitorias:3% sobre o valor investido considerando a es-trutura de preparo para cafés especiais.

• R• R• R• R• Remuneração da terra:emuneração da terra:emuneração da terra:emuneração da terra:emuneração da terra: 3% sobre o valorde mercado da região.

Na Figura 1, estão apresentados os níveis deprodutividade dos cafeeiros em cada sistema deprodução utilizado. Os valores máximos e míni-mos foram estabelecidos com base nas produ-ções médias de lavouras existentes consideradasmelhores e piores dentro de cada sistema deprodução. No entanto, deve-se salientar que aobtenção de níveis adequados de produtividadeestá sujeito a riscos inerentes de cada modelode produção. Nos sistemas sem irrigação a mádistribuição de chuvas pode comprometer a pro-dução e contribuir para não alcançar as metaspropostas. Nos sistemas irrigados, há um maiorcontrole sobre os fatores que determinam à pro-dutividade sendo, portanto, o sistema que apre-senta o menor risco. Localizado em regiões li-vres de geadas, esse controle é ainda maior.

Na Fig. 2, verifica-se que o custo de produ-ção de café em qualquer sistema depende dosíndices de produtividade. Portanto, obter altaprodutividade e estabilidade de produção sãoformas de reduzir os custoss e aumentar a mar-gem de lucro. Nos níveis atuais de preço de café,

Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 63

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64 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

como os do primeiro trimestre de 2007, so-mente produtores que obtiverem domínio dastecnologias e dos fatores de produção em seusistema, conseguirão obter resultados positivos.Há necessidade de equilibrar os sistemas de pro-dução para aumentar a lucratividade e dar sus-tentabilidade à cafeicultura. Se considerarmosa obtenção das metas máximas de produtivida-de de cada modelo de produção, o sistema me-canizado irrigado apresenta o menor custo deprodução por saca, e possui maior potencial paraatingir e manter as metas estabelecidas, devidoa sua baixa suscetibilidade a fatores climáticos.Assim, os resultados dessa análise indicam quea cafeicultura irrigada, nesse modelo, tem gran-de potencial de utilização, dada a demanda mun-dial por cafés finos e diversos outros fatores.

Ao projetar cenários com preços de caféainda mais baixos, há uma clara tendência depolarização. De um lado, a cafeicultura manualpraticada por pequenos produtores (Agricultu-ra Familiar), com custo cerca de 30% inferior,beneficiados pela informalidade e incentivos. Deoutro lado, grandes produtores e empresas emáreas mecanizadas, beneficiados pela escala ealta tecnologia. Para os demais produtores restao desafio de rapidamente fazer as transforma-ções, adequar o modelo de produção, reduzin-do ainda mais os custos e buscando maior valoragregado em função da melhoria da qualidadee de comercialização, explorando novos arran-jos produtivos e de mercado, com parcerias vol-tadas para a viabilidade econômica de modelosequilibrados de produção, principalmente paracafés especiais.

Exemplos de técnicas quecompõem os custos no modeloequilibrado

Manejo de plantas daninhas:Manejo de plantas daninhas:Manejo de plantas daninhas:Manejo de plantas daninhas:Manejo de plantas daninhas: Eliminaçãoda arruação manual, economia de 30% da mão-de-obra da entressafra e ganhos em conserva-ção de solo e equilíbrio da planta.

PPPPPodas: odas: odas: odas: odas: Revigoramento das plantas comreadequação de sua arquitetura. Para a colheitamanual, possibilita aumento de eficiência e redu-ção de 30% a 40% da demanda de mão-de-obra.

Manejo de irrigação e estresse hídrico:Manejo de irrigação e estresse hídrico:Manejo de irrigação e estresse hídrico:Manejo de irrigação e estresse hídrico:Manejo de irrigação e estresse hídrico: Oconjunto dessas técnicas permite a racionaliza-ção do uso da água na cafeicultura irrigada emelhoria de qualidade do café.

Nutrição equilibrada:Nutrição equilibrada:Nutrição equilibrada:Nutrição equilibrada:Nutrição equilibrada: O crescimento vigo-roso dos cafeeiros após o aumento das doses de

64 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

FIGURA 1 – Produtividade de café beneficiado (sc/ha) para quatrosistemas de produção: tradicional, adensado, mecanizado e mecani-zado irrigado, estabelecidos em função da variação de lavourasexistentes.

FIGURA 2 – Custos de produção por saca de café beneficiado (R$/sc)para os quatro sistemas de produção, em função dos níveis deprodutividade estabelecidos na Figura 1.

Produtividade por sistema – Sc/ha

Tradicional Adensado Mecanizado Mecanizado irrigado

7,0 ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ......................................................................................................................

6,0 ..............................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................................

5,0 ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ......................................................................................................................

4,0 ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ......................................................................................................................

3,0 ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ......................................................................................................................

2,0 ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ......................................................................................................................

1,0 ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ...................................................................................................................... ......................................................................................................................

5,0

3,0

6,0

4,0

5,0

3,5

6,0

4,0

Custo por sistema – Rs/Sc

Tradicional Adensado Mecanizado Mecanizado irrigado

R$ 320 ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................

R$ 300 ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................

R$ 280 ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................

R$ 260 ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................

R$ 240 ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................

R$ 220 ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................

R$ 200 ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................ ................................................................................................................

R$303

R$231

R$281

R$229

R$266

R$212

R$271

R$204

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Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 65Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 65

CUST

O FI

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i-60

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i-50

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i-60

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dade

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0,00

0,0%

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0,00

0,0%

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0010

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pera

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670,

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ita:

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9,00

67,6

534

,9%

3.48

4,80

69,7

035

,3%

1.71

1,20

34,2

219

,7%

1.66

2,40

27,7

115

,5%

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dmin

istr

ação

:74

1,68

12,3

66,

4%62

8,77

12,5

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4%63

7,27

12,7

57,

3%63

2,95

10,5

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9%

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%1.

957,

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8745

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efen

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3325

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,89

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%

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riga

ção:

0,00

0,00

0,0%

0,00

0,00

0,0%

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0,0%

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790,

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,42

6,8%

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3111

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9312

,15

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Sub

-to

tal

(A)

R$1

1.62

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$9.8

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$197

,39

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.700

,76

R$1

74,0

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725,

72R

$178

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1,31

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619,

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33,5

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3,07

11,8

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,7%

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61R

$211

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R$1

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9

R$

280,

00R

$3.0

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$2.4

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$3.4

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9R

$68.

25R

$4.3

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6R

$72,

71

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66 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 200766 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

FIGURA 3 – Arruação química (safra 2005), FazendaLagoa Monte Belo - MG

Conclusão

A grande oportunidade para todos os cafei-cultores, independente da região ou sistema deprodução, está na revisão dos conceitos de pro-dução e comercialização, na quebra deparadigmas e na busca por novas tecnologiassustentáveis. O sistema de produção escolhidodeve ser equilibrado e garantir margem de lu-cro ao cafeicultor, exigindo permanentes revi-sões e acompanhamentos, sempre buscando osavanços proporcionados pela pesquisa, a exem-plo do que tem ocorrido com os trabalhos de-senvolvidos pelo CBP&D/Café. �

FIGURA 4 – Recuperação da capacidade deprodução após poda do cafeeiro, Fazenda Passeio,Monte Belo – MG

FIGURA 5 – Café recém-colhido com alto índice defrutos cerejas- Fazenda Lagoa Oeste - Barreiras - BA

FIGURA 6 – Desenvolvimento vegetativo vigorosoapós aplicação de 300 kg/ha de P2O5 em cafeeiroscom mais de 25 anos de idade, Fazenda Paraíso,Cabo Verde - MG

fósforo nas diversas lavouras é resultado anima-dor, que permite crer em um aumento significa-tivo da produtividade média em todos os siste-mas de produção. Esses resultados em nível delavouras comerciais demonstram que existemproblemas nas recomendações atuais de aduba-ção para lavouras de alta performance e confir-mam os resultados experimentais de requeri-mento de nutrição desenvolvidos na EmbrapaCerrados.

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Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 67Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 67

LAÉRCIO ZAMBOLIM

PROF. TIT. UFV- DEPTO FITOPATOLOGIA, VIÇOSA-MGE-mail: [email protected]

ANTONIO FERNANDO DE SOUZA

DOUTORANDO EM FITOPATOLOGIA PELA UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA,VIÇOSA-MG. E-mail: [email protected]

EVERARDO CHARTUNI MANTOVANI

PROF. TIT. DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA AGRÍCOLA, UNIVERSIDADE

FEDERAL DE VIÇOSA, VIÇOSA-MG. E-mail: [email protected]

Influência da irrigação no progressode doenças e pragas do cafeeiro

QUADRO 1Quais os fatores predispõem o cafeeiro a doenças?

Doenças Fatores de predisposiçãoFerrugem Alta carga pendente, altitude 500

a 1.000 mTemperatura 22°C-26°C, chuva

Mancha-de-olho-pardo Insolação, deficiência edesequilíbrio nutricional, períodolongo de estiagem

Mancha-de-Phoma Vento, altas altitudesMancha-de-Ascochita Alta umidade relativa do ar,

chuvas finas e constantesMancha-aureolada Excesso de umidade, chuvas finas

e constantes injúriaMancha-anular Estresse hídrico, presença do

ácaro-planoAtrofia-de-ramos-do-cafeeiro Presença de cigarrinha, déficit

hídricoNematóides-das-galhas Solo arenoso, alta temperatura,

solo muito úmidoSeca-de-ramos-ponteiros Vários fatores

QUADRO 2Quais os fatores favorecem aos insetos-pragas do cafeeiro?

Insetos-pragas Fatores que favorecemBicho-mineiro Regiões quentes e secas, baixa

umidadeBroca-do-cafeeiro Regiões altas e com alta umidadeÁcaros Regiões secas e quentesCigarras-do-cafeeiro Épocas secas e quente

A

O trabalho interdisciplinarproporcionado pelo CBP&D/Café, ao

impulsionar a pesquisa para o melhorentendimento dos fatos e dos

fenômenos qua afetam a sanidade docafeeiro, tem acumulado conhecimentos

para explicar, cada vez melhor, comocontornar os problemas decorrentes dos

ataques de doenças e pragas.

s doenças do cafeeiro surgem nasplantas, devido a um ou mais fatoresde predisposição, destacando-se a de-

ficiência e o desequilíbrio nutricional, a insola-ção, altas e baixas temperaturas, o excesso deumidade, altitudes elevadas, presença de vento,irrigação deficiente e excessiva, injúrias mecâ-nicas nas plantas entre outras (Quadro 1, Figs.6-14). Os fatores que favorecem aos insetos-pra-gas do cafeeiro estão enumerados no Quadro 2.

As doenças que precisam da presença deágua no estado líquido na superfície foliar são:ferrugem, mancha-de-olho-pardo, mancha-de-Ascochyta, mancha-aureolada e a mancha-de-Phoma. As outras doenças como a mancha-anu-lar (vírus) torna-se mais severa em regiões debaixa umidade e clima quente. O complexo deseca-de-ramos ponteiros (plagiotrópicos) teminúmeras causas, sendo a principal delas o défi-cit hídrico. Os nematóides-das-galhas dependemde alta umidade do solo para se reproduzir eatacar as plantas. O bicho-mineiro das folhas docafeeiro é mais severo em regiões e períodos deseca. Entretanto, mesmo em regiões onde sepratica a irrigação como no Cerrado e no oesteda Bahia é comum acontecer alta severidade dosinsetos-pragas, devido às altas temperaturas pre-dominantes. A broca-do-cafeeiro é favorecidapor alta umidade no interior das plantas. Por-tanto, plantios adensados e o excesso de irriga-ção podem levar a um ataque severo dessa pra-ga. Com relação aos ácaros que atacam o cafe-eiro, o ácaro-vermelho e o ácaro-plano são fa-vorecidos por seca constante.

Dessa forma, cada doença e inseto-praga temsuas próprias exigências quanto ao clima, pre-sença de água, temperatura, umidade e nutrien-

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68 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

tes. Daí a necessidade de planejar o método e alâmina de água de irrigação em áreas de déficithídrico como o Cerrado, oeste da Bahia, nortede Minas etc., para que se possa obter controleracional e econômico das doenças e pragas docafeeiro.

A ferrugem-do-cafeeiro, causada pelo fungoHemileia vastatrix Berk. et Br., é a principaldoença da cultura em todo o mundo. No Brasil,sua presença foi constatada pela primeira vezem 1970, no estado da Bahia, provavelmentevinda da África através de correntes aéreas. Noano seguinte, já era constatada em todos os Es-tados cafeicultores do Brasil e, mais tarde, dis-seminou para vários países da América Latina.O principal dano causado pela doença é a que-da precoce de folhas e seca de ramos lateraisantes da época de florescimento do cafeeiro,refletindo negativamente sobre o pegamento daflorada e produção de frutos no ano seguinte.Se constatada no início da fase de desenvolvi-mento da frutificação, pode causar redução dotamanho dos frutos e aumento dos frutos cho-chos e mal granados, influenciando diretamen-te no tipo, no rendimento e na qualidade do cafécolhido. As perdas provocadas pela doença podevariar de 35% a 50% de acordo com as condi-

ções climáticas da região, suscetibilidade da cul-tivar e carga pendente da planta (ZAMBOLIMet al., 1997; CARVALHO & CHALFOUN,1998).

O fungo Hemileia vastatrix é parasita obri-gatório, isto quer dizer que sua sobrevivênciaocorre somente em tecidos vivos do hospedei-ro, tendo o cafeeiro como única planta hospe-deira conhecida. Nessa planta, ele produz doistipos de esporos chamados uredósporos eteliósporos. Os uredósporos são os mais impor-tantes em termos epidemiológicos, enquanto queos teliósporos não têm importância conhecidano ciclo da doença.

Os uredósporos são disseminados de umaplanta para outra e a longas distâncias, princi-palmente pela ação do vento. A disseminaçãoentre as folhas de uma mesma planta é realiza-da principalmente pelos respingos de água dachuva ou da irrigação. Este fato pode explicara razão pela qual a doença é notada inicialmen-te em focos nas lavouras, para depois dissemi-nar planta a planta em toda área de cultivo(ZAMBOLIM et al.1997).

Os uredósporos requerem água no estado lí-quido para germinar e penetrar nos estômatossituados na face inferior das folhas (RAYNER

FIGURA 1 – Ciclo de vida da ferrugem-do-cafeeiro (Hemileia vastatrix)

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1961; GOMES, 2002). A temperatura ótima parasua germinação varia de 20ºC a 25ºC, na ausên-cia de luz direta e presença de umidade. A ger-minação e a penetração devem-se processar ime-diatamente após a inoculação, porque, uma vezmolhado, o esporo perde sua viabilidade, se fornovamente seco (GALLI, 1971).

No ponto de penetração, que são os estôma-tos, forma-se o apressório (estrutura de fixaçãodo tubo germinativo) e o peg de penetração (es-trutura que penetra os estômatos), para depoisdar origem ao micélio intercelular e os haustó-rios, que constitui o órgão de nutrição do fungonos tecidos do hospedeiro, conforme mostradona Figura 1. Após certo período, que varia prin-cipalmente em função da temperatura, surgemos primeiros sintomas da doença (pústulas) e,logo a seguir, os sinais do fungo sobre as lesões(uredósporos). O período de incubação (tempoem dias desde a germinação e penetração nostecidos da planta, até o aparecimento dos sinto-mas) varia de 18 a 60 dias, o que depende da épo-ca do ano e das condições ambientais. Entretan-to, a duração do ciclo da doença nas épocas maisfavoráveis à doença varia entre 25 e 30 dias.

A doença é mais severa em altitudes médiasde 400-600 m, onde o período de incubação émais curto e mais ciclos da doença ocorrem du-rante o ano. Locais onde as condições predispo-nentes são desfavoráveis à doença, o ciclo é maislongo, superior a 30 dias e pode chegar até a 60dias, dependendo da região e da época do ano.Temperatura acima de 28ºC e abaixo de 18ºCreduz o desenvolvimento da doença, porque pro-longa o tempo de germinação dos uredósporos,a formação dos apressórios, penetração e acolonização dos tecidos do hospedeiro. Dessaforma, o ciclo da ferrugem tem a sua duraçãoaumentada, o que é de importância epidemio-lógica muito grande, visto que poucos ciclos dadoença irão ocorrer durante o ano, mantendosempre baixo o potencial de inóculo nas lavou-ras. Portanto, em regiões cafeeiras com altitu-des elevadas e temperatura média inferior a18ºC ou superior a 28ºC, a doença pode nãocausar danos econômicos na produção, emboraos sintomas ainda possam ser visíveis em algu-mas folhas das plantas.

O cafeeiro é uma planta tipicamente bianual,isto é, de dois em dois anos as plantas apresen-tam alta produção. É justamente nos anos dealta produção que a doença atinge intensidadeelevada nas lavouras. A curva de progresso daferrugem nas regiões tradicionais de cultivo docafé no Brasil segue um padrão bem definido(Fig. 2).

Em anos agrícolas de alta produção, a ferru-gem-do-cafeeiro tem início a partir de dezem-

bro, o que normalmente coincide com a épocadas chuvas e de temperaturas mais elevadas, es-timulando a formação de muitas lesões novasna folha, onde normalmente o período latente émenor e a intensidade da doença aumenta. Apartir de março ou abril, a doença aumenta emescala logarítmica até atingir o máximo de in-fecção nos meses de junho ou julho. A partir daí,a doença decresce devido às baixas temperatu-ras, queda de folhas provocadas pela colheita,senescência natural e devido à desfolhaprovocada pela alta intensidade da doença. Noano agrícola seguinte, como a produção serábaixa, a curva de progresso segue o mesmo pa-drão, mas a incidência da doença normalmentenão ultrapassa 30%-35% (ZAMBOLIM et al.,1997). Portanto, nos anos de alta carga é que sedevem tomar maiores cuidados na proteção dasplantas contra o ataque da ferrugem. Em taissituações, a temperatura, a umidade, o molha-mento foliar e a chuva serão os fatores climáti-cos que, aliados ao índice da doença no campo(incidência da doença), deverão ser monitoradospara se determinarem o início, o intervalo, onúmero de aplicações e até a escolha do tipo defungicida a ser empregado nas atomizações(sistêmico ou protetores). Quando a tempera-tura e a carga de frutos presentes nas plantasnão forem fatores limitantes, outros poderãocondicionar a uma maior intensidade de ataqueda doença como: a freqüência e a intensidadede precipitação e de outras fontes de umidadeatmosférica, quantidade de inóculo presenteantes da estação chuvosa e o grau de enfolha-mento das plantas (BOCK, 1962; ORTOLANI,1971; ALMEIDA, 1986).

Em lavouras em formação, a ferrugem nãoprovoca perdas e o aumento na intensidade da

FIGURA 2 – Curva epidemiológica da ferrugem-do-cafeeiro emfunção da temperatura e da precipitação pluviométrica.

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doença ocorrerá normalmente após a terceiracolheita do cafeeiro. Nessas condições, a pre-sença de água no estado líquido, ausência de luzdireta e temperatura entre 20°C e 25ºC são osprincipais fatores de ambiente que determinama intensidade da doença nas lavouras cultivadascom variedades suscetíveis (SILVA ACUÑA etal. 1998).

Devido à mudança do local de plantio dasáreas tradicionais para as áreas novas do Cerra-do, algumas alterações na curva de progressodessa doença têm sido observadas e sugeridasmudanças no manejo da doença por alguns pes-quisadores. Na maioria dos casos, alteraçõesmicroclimáticas, nutricionais ou a presença dedeficiência hídrica são os principais fatores res-ponsáveis por essas modificações. Tem sido pos-sível observar alterações nas curvas de progres-so da ferrugem-do-cafeeiro nos meses de abril ajunho, tradicionalmente frio e seco, na regiãode São Sebastião do Paraíso, MG, devido a alte-rações no regime de chuvas e das temperaturasdurante esses meses, o que possibilita a manu-tenção de elevados índices da doença, no inícioda estação chuvosa. Índices decrescentes de fer-rugem têm sido constatados em condições decampo, quando a intensidade de precipitaçãopluviométrica é elevada (JULIATTI, 2001).

A cafeicultura irrigada é uma prática que estábastante difundida entre os cafeicultores dasvárias regiões produtoras do Brasil, devido àexpansão de novas fronteiras para as áreas deCerrados, e aos significativos aumentos na pro-dutividade do cafeeiro. Para o cafeicultor, a ir-rigação é uma prática que, além de aumentar aprodutividade, pode proporcionar a obtenção deum produto diferenciado de melhor qualidadee com boas perspectivas de preços no mercado

em regiões inaptas para o cultivo do café(MANTOVANI et al. 2000). Por ser uma práti-ca relativamente recente para a cafeicultura, airrigação dever ser estudada e analisada de formadetalhada, tanto no manejo, quanto no desen-volvimento da cultura. Nesse contexto, observa-se que um dos principais objetivos da instalaçãode sistema de irrigação tem sido a melhoria daprodução e produtividade das plantas. A influên-cia da irrigação sobre as doenças é uma consi-deração de importância secundária, e as doençaspodem reduzir a lucratividade dos produtoresnas áreas irrigadas. Ao consultarmos a literatu-ra, observamos que poucos trabalhos vêmsendo conduzidos com o objetivo de estudar ocomportamento da ferrugem em lavourasirrigadas, bem como, a influência do sistema eda lâmina de irrigação no progresso da doença.

A irrigação do cafeeiro é uma prática que tempossibilitado a obtenção de produto final demelhor qualidade, significativos aumentos deprodução e produtividades mais estáveis princi-palmente na fase de formação das lavouras. Estaprática favoreceu a expansão da cafeiculturabrasileira e permitiu o cultivo do café em áreas,que anteriormente eram limitadas pelas condi-ções pluviométricas.

Diversos resultados de pesquisa têm demons-trado efeito positivo da irrigação sobre a produ-tividade do cafeeiro em várias regiões do País(REIS et al. 1990; CARVALHO, 1998;BONOMO, 1999; Neto 2002; PEIXOTO, 2002;MANTOVANI, 2003). Entretanto, o aumentode produtividade das lavouras irrigadas podepredispor as plantas ao ataque de várias doen-ças do cafeeiro. Sabe-se que a intensidade daferrugem está diretamente relacionada com aprodutividade do cafeeiro e pouco se conhece arespeito do manejo dessas doenças em lavourasirrigadas.

São escassos os trabalhos que envolvem ocomportamento das doenças da parte aérea docafeeiro em função de diferentes lâminas ou sis-temas de irrigação. Alguns trabalhos têm de-monstrado que existe correlação positiva entrea incidência da ferrugem e as lâminas de irriga-ção (JULIATTI et al., 2000). O sistema de irri-gação utilizado também pode interferir no pro-gresso da doença. A intensidade da ferrugemtem sido maior em lavouras irrigadas por pivôcentral do que em lavouras irrigadas por goteja-mento ou tripa (JULIATTI et al., 2000). Nessecaso, o molhamento foliar possibilitou a forma-ção de microclima favorável ao progresso dadoença e a reinoculação freqüente do patógenonas plantas. Em algumas áreas irrigadas, temsido proposta a realização de uma aplicação defungicida sistêmico após a colheita, com o obje-

Diferentesfatores

favorecem adisseminaçãode pragas no

cafeeiro

FOTO: LAÉRCIO ZAMBOLIM

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tivo reduzir o inóculo residual nas lavouras eviabilizar a aplicação de produtos via solo no mêsde dezembro (JULIATTI et al., 2001).

Com a expansão da cafeicultura para áreasirrigadas do Cerrado e o plantio de cultivaresde alta capacidade produtiva, tem sido comumobservar um ataque mais severo da mancha-de-olho-pardo, principalmente nas três primeirassafras. Esta doença é causada pelo fungoCercospora coffeicola Berk. e Cooke e atacatanto folhas quanto frutos, causando desfolha,amadurecimento precoce e queda de frutos eindiretamente a seca de ramos laterais no cafe-eiro. A nutrição deficiente e os baixos níveis deágua no solo são os principais fatores que pre-dispõem o cafeeiro ao ataque dessa doença(ECHANDI 1959; SIDDIQI 1970, ZAMBOLIMet al., 1997; CARVALHO & CHALFOUN, 1998).

Segundo Juliatti et al., 2001, a irrigação é umaferramenta que deve ser trabalhada com muitocuidado, a fim de evitar que outros fatores pos-sam levar a perdas em produtividade, como ele-vação da incidência e severidade da ferrugempela alteração do microclima e do estadonutricional da planta. Nesse contexto, este tra-balho teve como objetivo estudar a associaçãoentre lâminas de irrigação e o controle químicode doenças foliares do cafeeiro irrigado por go-tejamento.

Como a irrigação podeinfluenciar a curva de progressoda ferrugem-do-cafeeiro?

O uso da irrigação também tem levado a umamudança nos espaçamentos tradicionais parasistemas mais adensados de plantio, visando àobtenção de maior produtividade por área. Oadensamento, por si, já é responsável pela for-mação de um microclima favorável ao ataquede H. vastatrix. Nessas condições, a proximidadedas plantas propicia a formação de microclimasfavoráveis à epidemia da ferrugem-do-cafeeirocomo prolongamento do período de molhamen-to foliar dos cafeeiros, aumento da umidaderelativa e redução da insolação no interior daslavouras, possivelmente mantendo a tempera-tura no interior da copa das plantas numa faixaadequada para o desenvolvimento do patógeno.Isto favorece a germinação e a penetração dosuredósporos nos estômatos da planta. Além dis-so, dificulta a chegada de produtos fitossanitáriosaté o alvo, que são as folhas presentes no interiorda planta, interferindo diretamente na eficáciado controle químico. Carvalho (1971) cita que achuva na forma de garoa, o orvalho e a irrigação

são os agentes mais importantes de dissemina-ção da ferrugem dentro de uma planta ou entreplantas na lavoura, quando plantada em espa-çamento muito fechado.

A irrigação, além de propiciar a formaçãode um microclima favorável no interior da cul-tura, também pode aumentar o período de mo-lhamento foliar das plantas, fazendo com quea folhagem permaneça molhada por mais tem-po. Daí a importância de utilizar a irrigação noperíodo noturno, onde as folhas permanecemmolhadas pela ação do orvalho em várias re-giões do País. O início da irrigação no períododa manhã ou no final da tarde prolongariaainda mais o período de molhamento foliar. Airrigação, de maneira geral, aumenta a incidên-cia das doenças fúngicas, pela alteração domicroclima no interior das culturas (ROTEM& PALTI, 1969; CAMARGO, 1989; CARVA-LHO, 1998).

No caso particular da ferrugem-do-cafeeiro,a irrigação por aspersão favorece a dissemina-ção do patógeno entre as plantas nas lavouras emodifica as condições microclimáticas nas áre-as de cultivo. Nos métodos de irrigação por as-persão convencional ou via pivô central, a águaé aspergida sobre a superfície das plantas, asse-melhando-se a chuva, porém com certa unifor-midade. As gotas de água ao atingirem as pús-tulas, captam os esporos e os espalham sobre asuperfície das folhas, direcionando-os para áreasde maior concentração de estômatos. Alémdisso, os uredósporos necessitam da água no es-tado líquido para germinar e penetrar nos estô-matos situados na face inferior das folhas(BURDEKIN, 1960; NUTMAN et al., 1960;BOCK, 1962). Observações em nível de campopermitiram verificar a maneira pela qual a faceinferior da folha é molhada. Isto pode ocorrerda seguinte forma:

a) diretamente pelas gotas de chuva no mo-mento em que as folhas são agitadas pelo vento;

b) pelo escorrimento de água das margensdo limbo para a superfície inferior das folhas;

c) pelas gotículas provenientes do "ricoche-te" das gotas de água na face superior das folhasinferiores. Tais gotículas transportariam osesporos depositados na superfície superior dolimbo para a face abaxial das folhas superiores.Uma gota de água caindo numa lesão libera ime-diatamente os uredósporos que podem-se ele-var até 30 cm da lesão;

d) numa mesma folha, as gotas de água queatingem as pústulas captam os esporos e os es-palham sobre a superfície foliar, determinandoo aparecimento de lesões secundárias próximasàs primárias (RAYNER, 1960). Isso contribuipara uma maior severidade da doença.

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Segundo Bock (1962), a interação entre aintensidade de chuva com sua distribuição,atuando em níveis de inóculo, determina a inci-dência final dos surtos de ferrugem e as propor-ções de seu desenvolvimento ao longo do ano.Carvalho (1971) cita que, quanto maior o diâ-metro de gotas de água, menor será a evoluçãoda ferrugem no campo. Por outro lado, precipi-tação muito leve apresentaria baixa eficiênciana disseminação da doença. Trabalhos realiza-dos com o objetivo de verificar o efeito da lâmi-na de irrigação via pivô central na incidência daferrugem demonstraram que lâminas acima de100% da Evapotranspiração do tanque "classeA" (ECA) promovem a lavagem dos esporos nasfolhas, diminuindo a incidência da ferrugem,tanto no número de folhas infectadas, quantono número de pústulas por folha. Já em lâminasabaixo 100% ECA, funcionam como um agentedisseminador dos uredósporos dentro da própriaplanta, proporcionando uma maior intensidadeda doença (CARVALHO et al., 1998; GOMESet al., 2002).

A irrigação localizada por gotejamento nãoatua na disseminação da doença, mas podefavorecer aumento da sua intensidade, devidoaos significativos aumentos de produtividadedas lavouras e por manter bom vigor vegetativodas plantas, crescimento ativo dos ramosplagiotrópicos e ortotrópicos, interferindo di-retamente no nível de enfolhamento das plan-tas e na alteração do microclima dentro dasáreas de cultivo.

Resultados de pesquisa obtidos na região deAraguari, MG, permitiram concluir que existecorrelação entre intensidade da doença e sis-temas de irrigação. Maiores intensidades dadoença foram observadas nos tratamentos irri-gados por pivô central e mangueira plástica per-

furada, quando comparado ao gotejamento e aotratamento sem irrigação (Quadro 3). Nessecaso, o molhamento foliar proporcionou aumen-to da umidade entre as plantas, formandomicroclima favorável ao progresso da doença epossibilitando a reinoculação freqüente dopatógeno nas plantas. O mesmo não ocorre como sistema de gotejamento, onde a incidência daferrugem foi bem menor, quando comparadocom os outros sistemas. Os autores atribuem essabaixa incidência e severidade da ferrugem à au-sência de molhamento foliar nas plantas (CAR-VALHO, 1998; JULIATTI et al. 2000; PEIXO-TO Jr., 2002).

Nas condições do Triângulo Mineiro, é co-mum a ocorrência tardia da ferrugem-do-cafe-eiro, com picos da doença em áreas com seucontrole químico e irrigadas via pivô central.Nessas áreas, a ferrugem apresenta um compor-tamento cíclico nas parcelas irrigadas por pivôcentral, provavelmente devido ao molhamentofoliar, justificando alterações imediatas no sis-tema de manejo com fungicidas (CARVALHO,1998; JULIATTI et al., 2000a). Em algumas áreasirrigadas, tem sido proposta a realização de umaaplicação de fungicida sistêmico após a colhei-ta, com o objetivo de reduzir o inóculo residualnas lavouras e viabilizar a aplicação de produ-tos via solo no mês de dezembro (JULIATTI etal., 2001). Sabe-se que a maioria dos fungicidassistêmicos perde sua eficiência, quando aplica-dos em lavouras com elevado índice de ferru-gem. Nesse contexto, apesar de ser uma práticaque vem-se tornando comum em algumas regi-ões, ainda carece de estudos, pois pode aumen-tar os custos de produção, sem que o resultadoobtido seja satisfatório. Além disso, o café per-de parte de suas folhas após a colheita, o queelimina grande quantidade desse inóculo pre-sente nas lavouras.

Trabalho conduzido na região de Jabotica-tubas, MG, entre agosto de 2004 e julho de 2006,demonstrou a importância do controle químicoem uma lavoura de 'Catuaí Vermelho', submeti-da a diferentes lâminas de irrigação via goteja-mento. Parcelas que receberam duas aplicaçõesfoliares do fungicida sistêmico epoxiconazole +piraclostrobina, em janeiro e março, apresenta-ram menor incidência da doença e, conseqüen-temente, menores valores de área abaixo dacurva de progresso da ferrugem (AACPF) e pro-dutividade bem superior às parcelas que não re-ceberam a aplicação de fungicida. Os maioresvalores da AACPF foram observados no trata-mento com 100% da lâmina requerida, confir-mando que a incidência da ferrugem está dire-tamente relacionada com a carga de frutos pre-sente nas plantas (Quadro 4).

QUADRO 3 – Valores de área abaixo da curva de progresso daferrugem-do-cafeeiro (AACPF), para a incidência e severidade,nos diferentes sistemas de irrigação e suas respectivas lâminasd'água aplicada (mm/mês)

Sistemas de irrigação e lâminas aplicadas AACPF

Incidência SeveridadeTestemunha (sem irrigação) 1126,87cd 27,62cdGotejamento 60 1123,50cd 29,41bcGotejamento 80 1023,58d 25,20dGotejamento 100 1165,37cd 30,20abcPivô central 100 1207,08bc 27,83cdMangueira plástica perfurada 80 1326,95ab 33,00abMangueira plástica perfurada 100 1457,29a 33,79aMangueira plástica perfurada 120 1244,29bc 30,50abc

Fonte: Peixoto Jr. (2002).

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Em relação à produtividade, observa-se quea máxima foi obtida com a lâmina recomendadapelo software Irriplus, tanto nas parcelas quereceberam a aplicação de fungicida, quanto nasque não receberam nenhum tratamento. Nasparcelas tratadas com fungicida, houve aumentomédio de 76% de produtividade em compara-ção com aquelas que não receberam aplicaçãode fungicida, o que demonstra a importância domanejo adequado das doenças do cafeeiro emáreas irrigadas. Vale ressaltar que a aplicaçãode fungicidas, por si, não aumenta a produtivi-dade da cultura, mas atua diretamente no con-trole das doenças e na retenção foliar da planta,evitando a desfolha e a conseqüente seca de ra-mos do cafeeiro. Entretanto, como o fungicidaempregado possui estrobilurina (piraclostrobi-na) na formulação, admite-se que o aumento deprodutividade pode também estar associado aoefeito fisiológico do produto. Este trabalho de-monstrou que a aplicação de lâmina de irriga-ção acima da recomendada reduziu a produtivi-dade do cafeeiro.

A Figura 3 mostra que a aplicação do fungi-cida epoxiconazole + piraclostrobina promoveucontrole eficiente da ferrugem, mantendo baixoo valor da AACPF, nas diferentes lâminas de ir-rigação.

Ao contrário da ferrugem, à medida que seaumentou a quantidade de água no solo, houveredução na incidência da mancha-de-olho-par-do do cafeeiro (Fig. 4). Os maiores valores daAACPMOP foram observados no tratamentosem irrigação nas duas subparcelas. Estes resul-tados estão de acordo com Echandi (1959), queobservou menor incidência e severidade da man-cha-de-olho-pardo em plantas de café que rece-biam regularmente a irrigação. Mansk (1990)também observou maior incidência da mancha-de-olho-pardo em lavouras novas, com defi-ciência hídrica, expostas ao sol e com nutriçãoinadequada. A falta de umidade do solo podecondicionar a planta à menor absorção de nu-trientes, tornando-a debilitada e mais suscetível

à infecção por C. coffeicola. Na subparcela querecebeu aplicação do fungicida, houve diferen-ça estatística nos valores da AACPMOP, entrediferentes lâminas de irrigação aplicadas (Qua-dro 2). Juliatti et al. (1998) e Talamini et al. (2001)também observaram diferença na intensidade damancha-de-olho-pardo entre as parcelas irriga-das e não-irrigadas. Entretanto, nas parcelas quereceberam a irrigação não houve diferença es-tatística entre as lâminas aplicadas.

Como observado na Figura 5, a produtivida-de máxima foi obtida com a lâmina recomenda-da pelo software Irriplus, tanto nas parcelas quereceberam a aplicação de fungicida, quanto nasque não receberam nenhum tratamento. Os tra-tamentos que receberam 100% da irrigação es-timados a partir do software Irriplus(r) apresen-taram aumento de 73% na produtividade emrelação ao tratamento sem irrigação. Trabalhosrealizados nas condições do Cerrado mineiro,no município de Araguari, em lavouras de cafécom oito anos de idade, cultivar Mundo Novo388-17, também demonstraram efeito positivode sistemas de irrigação, bem como de diferen-tes lâminas no aumento da produtividade da la-voura (Carvalho, 1998; Peixoto, 2002). Em Vi-

QUADRO 4 – Resultados médios de duas safras da AACPF e da produtividade do cafeeiro (em sacas de café bene-ficiado/ha), em função de diferentes lâminas de irrigação nos tratamentos com e sem aplicação de fungicida.

Tratamento Lâmina AACPF ProdutividadeTotal (mm) Com fungicida Sem fungicida Com fungicida Sem fungicida

Sem irrigação 0 180,9 a1 1604,6 a 26,5 c 14,3 b51% da lâmina requerida 740,47 493,3 a 2166,1 a 33,2 bc 21,5 ab100% lâmina requerida2 1452,25 352,9 a 2213,4 a 44,8 a 26,4 a145% da lâmina requerida 2105,86 438,6 a 1981,8 a 42,5 ab 25,0 a

1 Médias seguidas por uma mesma letra na vertical não diferem entre si ao nível de 5% pelo teste Tukey.2 Porcentagem da lâmina recomendada pelo software Irriplus(r).

FIGURA 3 – Área abaixo da curva de progresso da ferrugem-do-cafeeiro (AACPF) em função de diferentes lâminas de irrigação

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çosa-MG, no período de 2000 a 2002, trabalhorealizado numa lavoura de oito anos, da varie-dade Catuaí, mostrou aumento médio de 80%na produtividade em lavouras irrigadas, quandocomparadas ao tratamento não-irrigado(Mantovani 2003).

Nas subparcelas tratadas com fungicidas,houve aumento médio de 76% de produtivida-de em comparação com as subparcelas que nãoreceberam aplicação de fungicida, o que de-monstrou a importância do manejo adequadodas doenças do cafeeiro em áreas irrigadas. Valeressaltar que a aplicação de fungicidas, por si,não aumenta a produtividade da cultura, masatua diretamente no controle das doenças e naretenção foliar da planta, evitando a desfolha ea conseqüente seca de ramos do cafeeiro. En-tretanto, como o fungicida empregado possuiestrobilurina (piraclostrobina) na formulação,admite-se que o aumento de produtividade podetambém estar associado ao efeito fisiológico doproduto.

A fertirrigação é uma técnica muito comumem lavouras irrigadas por gotejamento em ra-zão de vários fatores como qualidade dos fertili-zantes disponíveis no mercado, facilita oparcelamento da adubação e reduz os custos deprodução da propriedade. Entretanto, nos últi-mos tempos tem-se pensado na aplicação defungicidas e inseticidas, visando o controle daferrugem e do bicho-mineiro. Embora existampoucas pesquisas sobre o assunto, esta práticavem sendo testada em sistema que aplicam águade maneira localizada, como pivô central comemissores LEPA e gotejamento, objetivando di-minuir perdas e aumentar a eficiência dos pro-dutos.

Em cafeeiros irrigados via gotejamento, emgeral não se utilizam produtos químicos aplica-dos via água de irrigação, visando o controle daferrugem-do-cafeeiro, por falta de dados expe-rimentais conclusivos. Com o objetivo de difundiresta técnica, Fernandes et al. (2002) desenvol-veram um trabalho experimental para compararalguns programas fitossanitários para o contro-le tanto da ferrugem como do bicho-mineiro. Osistema de irrigação utilizado neste trabalho foio de gotejamento auto-compensante e os pro-dutos químicos foram aplicados através de uminjetor tipo venturi. Nota-se que os tratamentosempregando formulações mais solúveis em água(WG-grânulos dispersíveis em água) apresenta-ram eficiência superior às formulações granula-das (GR) no controle da ferrugem-do-cafeeiro(Quadro 5).

Segundo Rocha (2005), embora a quimigaçãoseja uma técnica bem difundida na agriculturabrasileira em algumas culturas, ela ainda é feitasem embasamento científico, implicando emdesperdícios de produtos por lixiviação no perfildo solo e deriva pela ação do vento, aumentan-do assim, o risco de contaminação ambiental.Ainda faltam resultados de pesquisas mais de-talhados que comprovam a eficiência da téc-nica e seus impactos no ambiente. Além disso,outros cuidados devem ser levados em conside-ração para viabilizar o uso dessa técnica, como:

1- possibilidade de contaminação ambiental,devido à forma inadequada que vem sendo usa-da a quimigação e à falta de legislação específi-ca ao emprego da técnica;

2- desuniformidade na aplicação deagroquímicos, devido à falta de calibração dosinjetores;

3- cuidados com o manejo operacional daquimigação (equipamentos e treinamento dooperador);

4- falta de formulações adequadas e de de-fensivos registrados para quimigação;

5- custos para investimento.

FIGURA 4 – Área abaixo da curva de progresso da mancha-de-olho-pardodo cafeeiro (AACPMOP) em função de diferentes lâminas de irrigação.

FIGURA 5 – Produtividade média do cafeeiro (em sacas beneficiadas/ha) em função de diferentes lâminas de irrigação.

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Assim sendo, a irrigação é uma ferramentaque deve ser trabalhada com muito cuidado, afim de evitar que outros problemas possam le-var à perda de produtividade, com a elevaçãoda incidência e severidade da ferrugem pela al-teração do microclima e do estado nutricionalda planta (JULIATTI et al., 2001).

As pragas que precisam da presença de águano estado líquido na superfície foliar são: bicho-mineiro das folhas do cafeeiro é mais severo emregiões e períodos de seca. Entretanto, mesmoem regiões onde se pratica a irrigação como noCerrado e no oeste da Bahia é comum aconte-cer alta severidade do inseto-praga, devido àsaltas temperaturas predominantes nessas regi-ões. A broca-do-cafeeiro é favorecida por altaumidade no interior das plantas. Portanto, emplantios adensados e o excesso de irrigação podelevar a um ataque severo dessa praga. Com re-lação aos ácaros que atacam o cafeeiro o ácaro-vermelho e o ácaro-plano são favorecidos porseca constante.

Assim, cada doença e inseto-praga têm suaspróprias exigências quanto a clima, presença deágua, temperatura, umidade e nutrientes. Daí anecessidade de planejar o método e a lâmina deágua de irrigação em áreas de déficit hídricocomo o Cerrado, oeste da Bahia, norte de Minasetc., para que se possa obter controle racional eeconômico das doenças e pragas do cafeeiro.

Conclusões

• As doenças e insetos-pragas diferem emseveridade quanto à irrigação do cafeeiro.

• A ferrugem pode ser favorecida ou não,dependendo da lâmina de água de irrigação edo método de irrigação. Os métodos de irriga-ção da parte aérea favorecem mais do que o mé-todo do gotejamento.

• A mancha-de-olho-pardo é desfavorecidapela irrigação em quantidades normais de águade irrigação.

• A mancha-de-Ascochyta e a mancha-aureolada são favorecidas pela água de irriga-ção, principalmente em excesso.

• A mancha-de-Phoma é favorecida por altaumidade relativa do ar.

• O vírus da mancha-anular é desfavorecidopela irrigação.

• Os nematóides-do-cafeeiro são favorecidospor alta umidade do solo.

• O complexo de seca de ramos ponteiros(plagiotrópicos) em geral é favorecido pelo dé-ficit hídrico.

• O bicho-mineiro é desfavorecido pela irri-gação.

• A broca-do-cafeeiro é favorecida pela irri-gação e alta umidade nas plantas.

• Os ácaros-do-cafeeiro são desfavorecidospela irrigação.

• As cigarras são mais severas durante os pe-ríodos quentes e secos.

• A irrigação associada ao controle de doen-ças do cafeeiro pelo emprego de fungicidastriazóis mais estrobilurinas via foliar aumentoua produtividade em cerca de 12 a 18 sacasbeneficidas de café por hectare no Cerrado.

Os programas de irrigação do cafeeiro de-vem ser sempre associados a programas de con-trole de doenças e insetos-pragas de acordo como manejo integrado, para que se obtenham mai-ores produtividades da cultura. Cada doença einseto-praga são afetados por diferentes condi-ções de umidade, temperatura e quantidade deágua de irrigação. Portanto, deve-se estudar cadacaso em particular em cada região, para se deci-dir qual a melhor estratégia a seguir em relaçãoa lâminas de irrigação e o método aplicado.

QUADRO 5 – Influência de diferentes fungicidas/inseticidas aplicados via gotejamento no controle daferrugem-do-cafeeiro na safra 2001/2002

Tratamentos Dose (kg/ha) e Produtividade Incidência da ferrugem (%)época de aplicação (Sc.ben./ha) 7/1 4/2 4/3 19/3 20/4 20/5 24/6

1. Testemunha --- 25,7 8 21 36 72 82 88 92

2. Cyproconazole 600 WG+ Thiametoxan 250 WG 0,85 (Nov.) + 0,85 (Fev.) 38,7 0 0 0 0,5 3 5 6

3. Cyproconazole 600 WG+ Thiametoxan 250 WG 1,0 (Nov.) + 1,0 (Fev.) 51 0 0 0 0,5 4 6 8

4. Cyproconazole 20GR+ Thiametoxan 10GR 30 (Nov.) + 25 (Fev.) 55 0 0 0 0,5 6 9 12

5. Triadimenol GR+ Aldicarbe GR 40 (Nov.) + 20 (Fev.) 30 0 0 0 20,5 39 47 56

Fonte: Fernandes et al., (2002).

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O P I N I Õ E S

Humberto Santa Cruz - presi-dente da Associação dos Agricul-tores e Irrigantes do Oeste daBahia (Aiba):

“No oeste baiano, temos cerca de14 mil hectares de café irrigadoplantados e cerca de 100 produ-tores na região. Essa técnica de

manejo de irrigação com a utilização do estresse con-trolado desenvolvida pelos técnicos do consórcio depesquisas do café está-se tornando fundamental.Como resultado desse manejo, há uma uniformida-de da planta quanto à florada e, posteriormente,quanto à maturação dos grãos. Com isso, consegue-se tirar 80% a 90% dos grãos numa única semana.Com a qualidade obtida, conseguimos através dastécnicas do cereja descascado ou lavado, um café dealta qualidade, que o Brasil tem tentado vender parao mundo. Além de produção e produtividade, o Paístambém faz qualidade. E, a técnica do estresse hídricotem-se mostrado fundamental, na tentativa de obteressa qualidade. No caso do oeste baiano, a irrigaçãoé fundamental. Não existiria cafeicultura na regiãose não houvesse irrigação. O período de chuvas nes-sa região é bem definido. Chove bem, mas temoscinco a seis meses sem água, e o café não agüentariaisso. O que estamos vendo é que, nesse período decinco a seis meses sem chuvas, ficamos até dois me-

Qual é aimportância dosistema deprodução dacafeicultura irrigadacom o manejocontrolado doestresse hídrico?

Qual aimportância dairrigação para aqualidade do café?

ses sem jogar água no café. Nos outros dois meses,temos que fazer a irrigação. Esse trabalho apresen-tado pelo Dr. Guerra e Dr. Omar, como demonstradona Agrocafé, é uma revolução a instigar a todos nós.Indica expressivos ganhos em vários sentidos e evi-dencia que temos muito a avançar e conhecer, de-mandando mais e mais de todos nós nessa integra-ção proporcionada pelo CBP&D/Café”.

Sílvio Leite - presidente da Asso-ciação dos Cafeicultores da Bahia(Assocafé/BA):

“É essencial o domínio de técni-cas de manejo de irrigação e decolheita mecanizada. Essas são astendências dos próximos anos.Temos números interessantes em

relação à adoção do estresse hídrico controlado e afertilização na cafeicultura irrigada. É uma oportuni-dade de ganharmos em qualidade e em diminuiçãode custos de produção.”

“O Brasil está em outro patamar com a qualidade docafé e alcançou isso com o trabalho duro dos produ-tores, exportadores, pesquisadores, que fizeram mui-tos investimentos. E o mercado cresce em função daqualidade. Enquanto o mercado do café convencio-nal cresce a 2%, o de cafés finos e especiais está aci-ma de 10%. O mais importante é ser cada vez maisespecializado em qualidade, isto é, agregar valor aoproduto. Se os produtores, na mesma área e nasmesmas condições, conseguirem produzir mais e ele-var a qualidade, venderão melhor. Isto é, terão maisreceita, sem ter que fazer novos investimentos.Na região do oste baiano, é essencial o uso da irriga-ção. Por isso, já aprendemos muito e todos os anos,nos 12 em que estamos com a cafeicultura irrigada,aprofundamos nossos conhecimentos de como irri-gar e suas implicações. Estamos em plena evolução.O consórcio de pesquisas tem feito um esforço ex-traordinário, mas considero que estamos ainda numprocesso de aprendizado”.

Nathan Herszkowicz – diretor daAssociação Brasileira da Indústriade Café (Abic):

“Acompanhamos por meio de lei-tura as experiências que vêm sen-do feitas com o estresse hídricono oeste da Bahia e, particular-mente, fiquei impressionado de

ver a uniformidade da maturação dos grãos, quandosubmetidos ao estresse controlado. Acho que esse éum caminho que a pesquisa pode indicar e que podeser de muita valia para a cafeicultura brasileira.”

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O P I N I Õ E S

“A irrigação tem um papel importante nessa décadamágica em que vive o café brasileiro. Ela foi decisiva,para que pudéssemos mais do que duplicar a produ-tividade média da safra brasileira em relação a queobtínhamos na década de 90. Não só a irrigação emsolos de regiões que necessitam dela, como o oesteda Bahia, mas também em todas as regiões produto-ras brasileiras. Regiões como Sul de Minas e MogianaPaulista, onde aparentemente as condições climáti-cas não exigiam a irrigação, vêem-se produtores quea utilizam como ferramenta importante para melho-rar a produtividade, aumentar a produção e regula-rizar a qualidade. De forma que, dos avanços obti-dos nessa década, a irrigação é um dos expoentes”.

Ramon Olini - presidente da As-sociação dos Cafeicultores deAraguari, com 370 produtores as-sociados, num universo de 450produtores de café na região:

“A Fenicafé de 2007 trouxe a pos-sibilidade de colocar na mesmamesa diferentes linhas de pesqui-

sa não concordantes entre si e de cada pesquisadorpoder expor suas idéias. Houve discordâncias técni-cas e científicas, mas o mediador soube conduzir issomuito bem nos temas ´Novidades na Sincronizaçãoda Florada Induzida do Cafeeiro’ e ´Efeitos Fisiológi-cos na Sincronização Induzida do Cafeeiro’. Técni-cos, auditores e pesquisadores, que muitas vezes fi-cam confusos no campo, tiveram a oportunidade defazer suas próprias avaliações.O pacote apresentado pelo Dr. Guerra, Dr. Omar eequipe realmente revolucionou todo o nosso siste-ma de colheita, pois, por meio da irrigação, pode-seter domínio sobre o processo. Por si só, isso já valeu.Mas continuo com a minha opinião dividida comoutros produtores de que num ano haverá alta pro-dutividade, viabilizando a colheita mecânica, mas, emcontrapartida, acontecerá um dano mecânico maiorna lavoura, uma vez que se passa a máquina uma ouduas vezes. É feito o esqueletamento da planta, compoda lateral e poda superior, podendo-se, inclusive,zerar a safra posterior. Seria então um ano de altasafra e o outro, de safra zero. Entendo que o resulta-do do manejo da irrigação com estresse hídrico tam-bém facilita a questão de logística de secagem docafé, porque num ano, tem-se alta safra num talhãoe, no outro, tem-se safra zero. É quando se tem do-mínio sobre a produção. Acredito também que, prin-cipalmente em relação a custos, esse é o caminho dacafeicultura. Para fazer isso, preciso de um café demeia idade para frente, pois para lavouras novas, essatecnologia não é aplicável.”

“Em Araguari, a irrigação não é uma opção, ela éimprescindível. Costuma-se dizer que se não fosse o

advento da irrigação, o café de Araguari não existiriamais. Depois, num segundo momento, estamos ven-do os resultados de pesquisas ao longo de vários anos,muitos deles desenvolvidos em Araguari e na regiãodo Cerrado. Vale dizer que foi lá que nasceu o Nú-cleo de Cafeicultura Irrigada do CBP&D/Café, há 10anos, durante a Fenicafé, uma feira que, a princípio,era um encontro de irrigantes. Com o advento des-sas pesquisas, o produtor hoje pauta-se mais na quan-tidade de água disponibilizada, no tempo adequa-do, na questão do estresse hídrico, além dos subsí-dios científicos para adotar em sua lavoura.”

João Lopes Araújo - presidentede honra da Associação dos Ca-feicultores da Bahia (Assocafé):

“O café de qualidade é inevitá-vel, porque o mundo está, a cadadia, sofisticando seus hábitos, au-mentando a demanda por caféfino e o produtor que não tiver

essa consciência, não terá mais espaço para sobrevi-ver. O mundo demanda por café, mas não aceita maisproduto de qualidade inferior. As novas práticas demanejo da irrigação são fundamentais para a cafei-cultura tecnificada. Não há possibilidade de utilizaro mecanismo do estresse no café sem a irrigação. E oestresse é importante porque vai ajudar o produtor aorganizar a florada e a colheita numa época só, alémde representar barateamento dos custos. Isso ajudao produtor a pensar que é melhor irrigar 5, 10 milpés, e utilizar essa tecnologia, do que plantar umaárea maior sem irrigação. Era inimaginável que sepoderia tirar a água do café, numa região como Bar-reiras, onde não chove seis meses por ano. O estressehídrico controlado é uma tecnologia fantástica queo CBP&D/Café desenvolveu e agora podemos aplicar.Em minha fazenda, em Brejões, BA, o rio era peque-no, mas fiz uma barragem, esperei acumular água,para poder irrigar. Tenho 100 hectares de café irriga-dos por gotejamento e nunca mais vou plantar cafésem irrigação, porque ela assegura a safra.”

Carlos Alberto Paulino da Cos-ta - presidente da Cooxupé/MG:

“A questão do estresse controla-do evita que haja café verde du-rante a colheita, principal vilão daqualidade do café. Esse café ver-de provoca um sabor característi-co que deprecia a bebida. Para a

obtenção de um café com qualidade, são necessárioscuidados na colheita. Quem não tem café de qualida-de, esmera-se na tecnologia do cultivo e conserva essaqualidade se praticar bons tratos no terreiro.

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Os custos da cultura são hoje muito elevados, devidoaos pacotes tecnológicos que temos à nossa disposi-ção. A irrigação representa uma garantia a mais parasua produção.

O cooperativismo desenvolve uma função muito im-portante. Em regiões que não tinham cooperativas,com as crises da cafeicultura, a atividade pratica-mente desapareceu. A cafeicultura só sobreviveu nasregiões onde haviam cooperativas fortes, como noSul de Minas, onde existem as de São Sebastião doParaíso, de Boa Esperança, de Guaxupé, de Varginha,de Três Pontas, todas atuantes, dando suporte aoprodutor e condições de viabilizar a cafeicultura naregião.A Cooxupé, por exemplo, tem 16 filiais e 11.100 co-operados. Na zona do Cerrado, temos quatro filiais,onde, em determinados municípios, a irrigação é pre-dominante ou menor, devido ao microclima.”

Wilson José de Oliveira - presi-dente da Associação dos Cafei-cultores de Patrocínio (Acarpa) ecafeicultor:

“O estresse hídrico é um traba-lho novo, desenvolvido peloCBP&D/Café coordenado pelaEmbrapa Café. Segundo infor-

mações que temos, está dando certo e há um inte-resse muito grande pelo estado da Bahia e tambémpelas regiões Norte e Nordeste de Minas, onde asfloradas são intensas e saem por etapas, às vezestrês floradas, o que provoca a desuniformidade namaturação dos grãos. Para a adoção dessa tecnolo-gia faltam mais experimentos naquelas áreas. Emsetembro, pretendo separar uma área para a ado-ção desse experimento.”

Aguinaldo José de Lima - supe-rintendente-executivo do Centrode Inteligência do Café (CIC):

“O uso de técnicas de manejode irrigação, como o do estressehídrico, é uma novidade. Temosvárias experiências nesse senti-

do, mas nenhuma que tenha veracidade como essadesenvolvida pelo consórcio de pesquisas comsucesso na Bahia e que estamos procurando ab-sorver. Trata-se de nova forma de manejo que tam-bém deve variar de região para região, de solo parasolo. Isso tem que ser estudado um pouco mais,mas com certeza, é fantástico, para que possamoster maior uniformidade na floração e na matura-ção. Lá na frente, isso vai significar qualidade”.

“No Cerrado mineiro, temos 55 municípios e cercade 30% das lavouras são irrigadas. Na região deAraguari, 95% das lavouras são irrigadas; na regiãode Monte Carmelo, o índice de irrigação é de 50% a60%, enquanto que em Patrocínio, a faixa abrangidaé de 30%. São cerca de 900 produtores que utilizamalguma forma de irrigação.A importância da irrigação para o café é total. Hoje,com os grandes investimentos na lavoura do café,não podemos correr riscos de forma alguma. Na mi-nha região, por exemplo, que é de Cerrado, até 10anos atrás dizia-se que não seria necessário irrigaralgumas áreas. No entanto, hoje é necessário irrigaraté em áreas tradicionais. A irrigação tornou-se fun-damental, para garantir produtividade e termos umarelação custo/benefício com sustentabilidade eco-nômica.

Luiz Marcos Suplicy Hafers -presidente da Associação dosCafeicultores do Paraná:

“Fui convencido por um lavradorparanaense de que a qualidadeé uma necessidade. O advento docafé cereja descascado facilitoua melhoria do café do Paraná,

porque o produto de lá apresenta, como defeito, umamaturação irregular, o que limita a boa qualidade.Há um grande esforço para premiar os bons produ-tores e fiquei satisfeito no ano passado, porque umcafeicultor da minha cidade, Ribeirão Claro, PR, ga-nhou um prêmio na cidade de Vitória. Há uma gran-de conscientização do produtor de que café é prazere isso envolve qualidade. O futuro do café é a quali-dade.A irrigação não existia no Paraná, mas hoje está claroque uma irrigação complementar é decisiva para oaumento da produção. Eu, por exemplo, irrigo as la-vouras no plantio, porque diminui custos e riscos, eaumenta a produção. Ainda não estamos irrigandocafé sem produção e esse ano choveu maravilhosa-mente. Mas a irrigação na instalação da lavoura, nãohá dúvida que é altamente compensadora. Cultivocafé no Paraná e no oeste baiano, onde uso irrigaçãoo tempo todo.Na agricultura tropical, se morre aprendendo. Vie-mos para plantar café no oeste baiano com todos oscacoetes e os conhecimentos que tínhamos nas nos-sas regiões, o que não é o ideal. O oeste baiano temuma identidade, uma necessidade, uma possibilida-de que é uma probabilidade diferente. Todos estamosaprendendo com os avanços constantes. Tenho 80hectares plantados no oeste baiano e 140 no Paranáe atendo o mercado interno”.

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Alexandre Gonzaga - diretor-executivo da Brazil SpecialityCoffee Association (BSCA):

“No universo de associados daBSCA, 30% a 40% deles irrigamo café. Muitos produtores irrigampara manter a constância da pro-dução, pois eles querem ter ga-

rantia de produção, devido aos contratos firmados.No Brasil, fui um dos primeiros a irrigar café, nomunicípio de Jaboticatubas, MG, em uma área de300 ha de café com pivô e gotejamento. A irrigaçãoentra como uma ferramenta para dar suporte, comouma garantia de produção. Uma característica im-portante da cafeicultura brasileira é a questão da sus-tentabilidade. Percebemos que no mundo, o Brasil éo que está mais adaptado em termos de condiçõessociais, ambientais e de qualidade. A nova bandeirado mundo é essa, vender produto que tenha concei-to de responsabilidade social, ambiental e de quali-dade. A BSCA tem a certificação, a primeira genuina-mente brasileira e que é aceita internacionalmente.Por meio dessa certificação, o produtor de café espe-cial tem como comprovar a maneira como ele produ-ziu, se o produto é sustentável, ou seja, se preservouos mananciais de água e as matas, se tratou bem otrabalhador/proprietário e também se seu produto temqualidade. Hoje, fala-se muito em gás carbônico. Omundo acordou agora para isso. Nosso grande desa-fio é vender essa nossa imagem. Vendemos essa ima-gem para o Japão e também para os EUA e a Europa.”

Mauro Moitinho Malta - diretor-executivo da Associação Brasilei-ra da Indústria de Café Solúvel(Abics):

“Em 10 anos, de 1996 a 2006,houve uma mudança fundamen-tal em todos os aspectos da ca-feicultura. A cafeicultura brasilei-

ra mudou, graças a investimentos maciços que foramfeitos em pesquisa, na aplicação de tecnologia, emirrigação etc., inclusive com variedades mais produti-vas de café. O mundo está preocupado com o meioambiente, com aspectos sociais e trabalhistas, com ouso adequado da água. E o Brasil passou a ser umlíder em todos esses aspectos. A produção do café noBrasil, talvez seja a mais rígida na legislação trabalhis-ta, na questão ambiental e de uso das águas. Temostodo um arcabouço jurídico que permite ao Brasil mos-trar-se como um produtor de café sustentável. É issoque o mundo está querendo. O mundo não quer maiscomprar um produto que seja produzido por traba-lho escravo ou infantil. E o que está acontecendo naverdade? O mundo consumidor, dos países ricos, divi-diu o mercado produtor em países pobres e ricos. OBrasil ficou no segundo grupo, dos ricos. O Brasil não

tem as mazelas da África, da Ásia, da Colômbia. Mastem 52% do seu parque produtor formado por pe-quenos proprietários, que têm as mesmas dificulda-des dos produtores da África, da Ásia e da Colômbia.Esse mundo consumidor nos vê como vitoriosos.Estamos no mercado da Rússia, dos Países Árabes,da Ásia. Temos vários mercados atendidos com caféscom a marca brasileira. Para fazer isso, o governoteve êxito e mudou a cafeicultura. Agora, tem queter coragem para mudar e deixar de ser um produtore fornecedor de matéria-prima, para ser um grandefornecedor de produtos com maior valor agregado.”

Gianno Brito - produtor de cafée vice-presidente da Assocafé:

“Na região do município de Bar-ra do Choça, Bahia, há um per-centual muito pequeno de pro-dutores familiares que adotamnovas tecnologias, para o cultivodo café. É difícil. O produtor não

aceita de imediato. Às vezes ele tem acesso a essatecnologia, mas é necessário um trabalho de base,de educação, com muitas demonstrações. O produ-tor familiar tem que ser meio como São Tomé, verpara crer. Existem produtores que são exemplos, poiscom dois hectares de café irrigado, conseguem terum padrão de vida muito bom. Porque estão comum nível tecnológico elevado, obtendo altas produ-tividades e conseguindo manter sua família com essaárea plantada.A EBDA faz os dois trabalhos, o de pesquisa e o deassistência técnica. Infelizmente, os recursos são pe-quenos e há dificuldades a enfrentar. Temos muitosresultados de pesquisa que precisam ser levados aoprodutor. Se conseguirmos isso, vamos dobrar outriplicar nossa produtividade. Temos exemplos de pe-queno produtor da região de Piatã que foi campeãonacional da Abic e tivemos, no ano passado, um pe-queno produtor da área de Vitória da Conquista querecebeu o primeiro prêmio de café natural e foi cam-peão brasileiro.”

Márcio Milan - vice-presidenteda Associação Brasileira de Super-mercados (Abras), diretor de Re-lações Institucionais do grupoPão de Açúcar e responsável pelamudança do conceito café den-tro da empresa:

“O varejo tem um papel muitoimportante nesse esforço brasileiro, para aumentaro consumo do café, principalmente o da qualidade.Hoje, o varejo que é um grande agente de mudançase inovação é o canal que poderá fazer isso com per-feição. Porque lá é onde está o consumidor e, todos

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os dias, ele está sendo impactado com novos servi-ços e produtos. O consumidor está muito mais exi-gente em termos de qualidade e o supermercadodesempenha um papel importante para reverter aidéia de que o bom é exportado. Hoje, o supermer-cado oferece ao consumidor o melhor café produzi-do no Brasil.É difícil traduzir a importância do papel da irrigaçãopara a produção de café de qualidade no ponto devenda. Para nós, que primamos pela qualidade, é im-portante que conheçamos esse processo de produ-ção. Isto é, o manejo e o tipo de irrigação utilizadospara a melhoria do café. A primeira e grande barrei-ra que enfrentamos foi conhecer esse café de quali-dade. A segunda, foi acertar a informação com o pró-prio consumidor. Acho que o brasileiro ainda nãoconhece bem o café de qualidade. Começamos a tercontato com esse tipo de café há três anos e essetempo é curto. Acho que levaremos ainda mais trêsanos para sedimentar esse conceito.”

José Carlos Grossi - cafeicultorde Patrocínio, Minas Gerais:

“Esse trabalho do consórcio depesquisas é muito bom e estamosaguardando mais resultados.Gostaria de vê-lo aplicado hámais tempo, para termos umquadro mais consolidado. Sem

dúvida, a irrigação vem aumentando a produtivida-de e garantindo a safra, evitando perdas. Mas, comrelação à qualidade, ainda temos muito a aprender.Temos alguns problemas de maturação. Parece fácilsincronizar a florada, mas precisa-se estudar mais.Produzindo com maior quantidade, no final conse-gue-se alavancar. Com um trabalho bom, consegue-se qualidade, mas é necessário mais empenho dapesquisa nessa área, para que possamos ter melhore maior sincronismo. Faço estresse nas lavouras, mastomo cuidado. No meu entender, o estresse é neces-sário, mas quando ele é quebrado mais cedo ou nãoé provocado, às vezes resulta em não produção. Te-mos que ter muito cuidado com a parte técnica. Fizum trabalho nesse sentido, que não é científico, tor-nando a florada mais concentrada. Mas, quando che-ga na prática do dia-a-dia, na hora da colheita, nãofunciona como a gente espera.”

André Luís Teixeira Fernandes -professor da Uniube e coordena-dor do Núcleo de Pesquisa em Ca-feicultura Irrigada do CBP&D/Café:

“Temos que continuar com aspesquisas regionais, elas são fun-damentais, bem como a valida-

ção de tecnologia em cada região cafeeira. Não gos-to desse negócio de usar uma tecnologia que já exis-te e simplesmente repetir em diferentes regiões. Cadauma das regiões do Brasil, principalmente as irrigadas,tem suas peculiaridades a serem respeitadas. A tec-nologia é fantástica, desenvolvida dentro do Núcleode Cafeicultura Irrigada e apresenta uma série de van-tagens. Mas tem que ser aprimorada, para que oscafeicultores possam usufruir dela em benefício pró-prio. A validação regional em duas ou três safras, éfundamental. Para termos resultados em café, preci-samos, no mínimo, de cinco safras.”

Alemar Braga Rena - fisiologistavegetal, cafeicultor e professoraposentado da Universidade Fe-deral de Viçosa.

“Desde o início do Fenicafé, emque eu falei que seria possível omanejo do café irrigado com oestresse hídrico controlado, fui

muito criticado. Recebi pancada de tudo quanto éjeito, aqui mesmo, dentro desse anfiteatro. Mas otempo foi passando e a gente mostrando que erapossível uma nova cafeicultura irrigada. Na revistaItem (no 48), publicada em 2000, voltei a escrever oque já vinha sendo editado em livros e despertou ointeresse. O consórcio precisava estudar floração docafé. Ainda não está estudando o que estou queren-do, mas já foi um grande avanço, porque a informa-ção fisiológica já existia e o que faltava era a tecnolo-gia, a aplicação disso na prática, pôr para funcionarem condições de campo. É isso o que o Guerra estáfazendo. É um problema tecnológico, de técnica, nãode conhecimento do processo fenológico, que é co-nhecido desde 1928. Foi bom, porque começamos atrabalhar nas nossas condições de fotoperíodo, por-que essas informações vinham do Quênia, da Colôm-bia etc., regiões localizadas a um grau acima ou abai-xo da linha do Equador. Lá, eles têm dois períodosde chuva e um fotoperíodo embutido o ano todo.No Brasil, já é completamente diferente. Fico muitofeliz, é uma grande solução para resolver o principalproblema da cafeicultura brasileira, que é a colheitade frutos de alta qualidade.Quanto ao fim da bienalidade do café, acredito serimpossível para um café produtivo. Um café que pro-duz 80 sacas, como eu tenho em minha lavoura, nãotem energia para diferenciar as gemas que estão alidisponíveis, só irão fazer isso no outro ano. É umproblema energético. Já consegui fazer uma plantaproduzir 120 sacas/ha numa lavoura, ficar maravi-lhosa no outro ano e não dar uma flor. Por quê? Por-que depois dessa produção, não tem jeito de tirarmais café. Acredito que possa diminuir a bienalidade,mas acabar, em lavouras produtivas, com mais de 50sacas/ha, é impossível, ela sempre irá existir.”

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“A água é fundamental para o tipo do café em mi-nha fazenda em Viçosa ou qualquer outra região. Nomeu caso, o tamanho do grão é definido pela dispo-nibilidade de água em dezembro, janeiro, fevereiro eparte de março. Se não tiver, a peneira fica baixa, ocafé vira uma espécie de meia massa, mal desenvol-vido em seus quesitos de qualidade, como o do aro-ma. Com a irrigação, há mais enfolhamento e os fru-tos desenvolvem mais, fica mais sombreado e tudoisso é favorável para o café. Diminui a cercosporiose,melhora tudo.”

Durval Fernandes - coordenadordo Procafé/Mapa do estado de SãoPaulo, após o debate das palestras“Novidades na Sincronização daFlorada do Cafeeiro com DéficitHídrico” e “Efeitos Fisiológicos naSincronização Induzida do Cafeei-ro”, promovido durante o Fenicafé2007, em Araguari, MG:

“Achei que foi uma reunião histórica, porque conse-guiu apresentar opiniões totalmente diferentes quedevem caminhar para um objetivo único, que seria omenor custo e a maior produção. Se unirmos todosesforços e pesquisadores para um caminho único, va-mos ter uma cafeicultura cada vez mais eficiente, pro-dutiva e menos custosa. As divergências são normais,mas nunca devem ser pessoais, devendo sempre exis-tir um respeito profissional. O ser humano tem suasconvicções técnicas e enfrenta divergências em todosos campos, seja na Medicina, seja na Agronomia. AsCiências Biológicas deixam muitas dúvidas no ar e te-mos caminhos a seguir. Cada um tem que ter a con-vicção do que está fazendo. Se há um conjunto deopiniões e todos caminharem num mesmo sentido,haverá um rendimento frutífero muito maior. Vejo essetrabalho como muito importante. Eu era chefe da Es-tação Experimental do IBC de Campinas e trabalheicom o Dr. Ângelo Paes de Camargo e o Dr. GuaraciGuimarães Franco, que são, respectivamente, os maio-res climatologista e fisiologista do Brasil. Eles já fala-vam nesse estresse para uniformizar florada e melho-rar a produção e qualidade do café. Então, isso já vemde muito tempo e de expoentes da pesquisa brasilei-ra. Hoje, o assunto está voltando, nós vamos cami-nhar para isso e o estresse é uma verdade em café.”

Leopoldo Alberto RibeiroSantana - engenheiro agrônomoe gerente responsável pela em-presa Da Terra Atividades RuraisLtda., instalada em Patrocínio eCoromandel, que pertence aogrupo de comércio automotivoDe Paschoal (ligado ao volunta-riado na área educacional):

“O manejo de irrigação induzida é uma iniciativamuito interessante do grupo técnico da Embrapa, emque eles conseguem disciplinar o uso racional efeti-vo da água. Esse método consegue organizar esseperíodo de estresse e acho importantíssimo. Precisá-vamos de trabalhos pontuais e objetivos como esses.Hoje, já se sente firmeza nos dados com a participa-ção efetiva de propriedades/empresas nesse progra-ma. Sente-se que saímos da teoria para o real.”

“A empresa Da Terra engloba quatro áreas que somam6.800 hectares, dos quais 3.900 com café. O restantesão áreas de reserva ambiental, com restrições de pro-dução. São cinco pivôs centrais de 114 ha e irrigaçãocom tripas. Esse último tipo de irrigação é uma solu-ção interessante, porque no nosso caso, temos umperíodo que chamamos de irrigação de ́ savatáge’ (sal-vação), porque estamos salvando o café por um pe-ríodo. Normalmente, ocorre uma chuva em setembro,que induz à emissão floral e depois, há um período dedéficit hídrico acentuado e isso provoca um prejuízomuito grande. A produção da empresa está em tornode 68 a 70 mil sacas anuais. Temos estrutura para até90 mil sacas, com duas unidades de processamento.Estamos fazendo o monitoramento de maturação paraa colheita, descascando cerca de 70% da produção e,no último ano, conseguimos exportar 92% da nossaprodução, um altíssimo percentual de qualidade.”

Linneu Carlos da Costa e Lima -secretário de Produção e Agroe-nergia do Ministério da Agricul-tura, Pecuária e Abastecimento:

“O problema de obtenção daqualidade do café no Brasil mo-dificou. Tínhamos, por exemplo,uma produção muito grande no

Paraná, onde é difícil fazer um café com qualidade.Lá se tem uma maturação desuniforme, um invernochuvoso e o Estado produzia 24 milhões de sacas.Principalmente com a irrigação, a cafeicultura no Bra-sil migrou para o Norte e veio para o Cerrado e paraa Bahia, onde temos cafés de qualidade. Hoje, é evi-dente o aumento do consumo do café, inclusive in-terno, em cima da qualidade. O Brasil superou aque-la fase de produzir uma grande quantidade com máqualidade. Hoje, nosso desafio é outro. É o de aumen-tar a nossa participação no mercado internacional eno consumo interno, satisfazendo o consumidor. Airrigação contribui para essa qualidade, quando bempraticada, cientificamente bem dosada, respeitandoas outorgas de água. Se o Brasil detém 40% da cafei-cultura mundial, deve muito à pesquisa. O seqüen-ciamento de genoma é importante, bem como no-vas práticas e variedades. A liderança mundial do cafévai continuar com o Brasil, por causa da pesquisa.Em 2007, temos garantidos R$ 12 milhões para oprograma do CBP&D/Café.”

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Paulo Sérgio Rebouças Ferraro,superintendente estadual doBanco do Nordeste/BA:

“Nos financiamentos para inves-timentos e custeios, seja o agri-cultor de pequena ou grandeescala, para nós, do Banco doNordeste, interessa que tenha

qualidade na produção da cafeicultura do Estado, fa-zendo com que o café seja referência em nível nacio-nal e mundial. Nosso objetivo é ajudar a construirtodo o elo da cadeia do agronegócio, não só na pro-dução agrícola primária, mas também na agregaçãode valor à economia, fazendo com que tecnologiase modernização de equipamentos agrícolas e deirrigações venham trazer maior produtividade no seg-mento da cafeicultura. Paralelamente, acho que te-mos que induzir cada vez mais o trabalho da comer-cialização, principalmente a dos pequenos agriculto-res. Isso o Banco vem buscando e discutindo comos órgãos em níveis estadual e federal, fazendo comque o produtor possa ter melhor preço e competiti-vidade na cafeicultura. Nossa preocupação é queprecisamos, além do Cerrado, do oeste da Bahia,mas no vale do oeste da Bahia, ter a mesma capaci-dade tecnológica, induzindo o produtor nesse mo-delo tecnológico moderno, fazendo com que seganhe em qualidade e em escala de produtividade.Regiões como Piatã, Barra do Choça, Vitória da Con-quista e Andaraí entraram com o produtor familiare observa-se, cada vez mais, a competitividade e aqualidade dos cafezais.”

Eduardo Sampaio, consultor re-presentante da certificação UtzKapeh no Brasil, com sede naHolanda:

“Nesses últimos 10 anos, obtive-mos ferramentas inimagináveisno processo de produção e tor-refação, fazendo crescer a produ-

ção, baixando o custo e aumentando o consumo. Naverdade, foram grandes desafios vencidos pela ca-deia como um todo.O café, como item alimentar, está presente no CodexAlimentar Europeu e na lei de segurança alimentardo Japão e, apesar de ser um produto de muito pou-co risco à saúde humana, segue as mesmas exigên-cias existentes para verduras, legumes e carnes. (Oque o cara quis dizer?). Desse ponto de vista, temosque estar bem preparados para saber oferecer umcompleto rastreamento do produto para o consumi-dor. Na verdade, a irrigação garante a produção, alémde aumentar a produtividade. É um recurso finito,no ponto de vista de agricultura e de ser humano,então tem que ser bem usada e disciplinada. E de-pois, com o estresse hídrico e manejo tecnológico,podemos assegurar o aumento da qualidade do café.

O professor Carlos Teixeira Mendes, de Piracicaba, em1906, falava em quatro “efes” como diploma de umbom agrônomo. O solo teria que ser fértil, porque ocafé é altamente exigente; fofo, devido à densidade;fresco, porque não pode ter temperatura muito altapara as raízes; e, fundo, devido ao grande sistemaradicular. E, José Peres Romero, outro brilhante agrô-nomo e editor de livros, colocou mais dois “efes”para apimentar essa questão: são os de fauna e deflora. O bom agricultor tem que devolver a terra,como dizia Karl Max, muito mais elaborada e commais fertilidade, que é a base de abastecimento depopulação em termos de conjunto. No Brasil, o serhumano aprende errando, o nosso patrimônio é osolo e a água. Mesmo a duras penas, o produtor vemaprendendo a usá-lo.”

Jair Coser, produtor de café há50 anos, capixaba e maior expor-tador de café do Brasil:

“A irrigação no café, no Brasil,ainda é uma tecnologia nova,mas sem dúvida, vai ser o futuroda nossa cafeicultura. Sou pionei-ro e trabalho com o café há 50

anos, tenho minha vida dedicada ao produto. Tenho3 milhões de pés de café, grande parte Arábica e umapequena parte Conillon. Há 15 anos, minha firma deexportação de café, a Unicafé, tornou-se a maior ex-portadora de café do Brasil e do mundo.Estou praticando um espaçamento menor e come-çando a irrigar. As chuvas estão rareando e estouadensando mais o plantio, com 5 mil pés/ha e exce-lentes resultados. Sem irrigação não se pode pensarnuma produção constante e uniforme. Dos meus trêsmilhões de pés, comecei a irrigar l milhão de pés hádois anos. No Espírito Santo, temos o Conillon irriga-do no Norte, onde há regiões mais baixas e planas,com excelente produtividade, que chega a 100 sacaspor hectare.Planto café Arábica na região da Serra dos Aimorés,que é uma região mais alta, onde, geralmente, o caféé plantado em altitudes superiores a 500 m. Temostudo para dar certo, água e sol. A irrigação está co-meçando no Espírito Santo. Nos próximos 10 anos,acredito que pelo menos 70% dos cafezais do Esta-do serão irrigados.”

Celso Luis Rodrigues Vegro, en-genheiro agrônomo com mestra-do em Economia e pesquisador doInstituto de Economia Agrícola:

“O cenário futuro da cafeicultu-ra brasileira é bastante otimista.Vejo-o com um crescimento de

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demanda sustentável e uma oferta errática, com anosde pequena formação de estoques, seguidos de anoscom mobilização desses estoques para atender à de-manda total. Configura-se esse cenário para as pró-ximas duas safras de 2008/2009, bastante otimistapara cotações e 2009/2010 e 2010/2011 com cota-ções mais dentro da média histórica, sem possibili-dades de grandes ganhos. Poucos são os países quecomeçam a incomodar a liderança brasileira do café,em termos de custos e qualidade. Eu diria que doisdeles são a Índia, onde o consumo interno começa acrescer; outro é o Peru, onde cafeicultores de outroslugares estão sendo atraídos por condições favorá-veis, como terra e mão-de-obra baratas. Eles estãoconduzindo lavouras que já somam 4 milhões de sa-cas de oferta de café de qualidade. Isso nos preocu-pa e são concorrentes que temos que acompanhar.O Brasil tem feito um esforço muito grande paramelhorar a qualidade do seu café dentro da fazenda,no pós-colheita, na estrutura de exportação, nalogística de transporte via naval e as melhorias estãosendo, cada vez mais, reconhecidas pelos clientes. Ocafé cereja descascado em meados da década passa-da e sua disseminação hoje, recuperando regiões querofereciam cafés considerados de baixa qualidade,conseguindo transformar os produtos em especiali-dade gourmet, remodelou a condição de aparecimen-to de oferta de cafés de alta qualidade no Brasil. Tam-bém todas as inovações na área de café natural fo-ram muito significativas, permitindo que nessa áreahaja hoje cafés gourmet de alta qualidade. Todas es-sas inovações permitiram que uma parcela expressi-va do café brasileiro tenha uma boa reputação nomercado nacional e internacional. A expansão do fe-nômeno cafeterias nos grandes centros urbanos e asua necessidade de ser abastecidas por grãos de qua-lidade, gerou um mercado importante para os pro-dutores que investem na qualidade. Todos esses mo-vimentos juntos configuram hoje o País como umagrande nação produtora de volume e de qualidade.”

Ubirajara Santos Amorim, enge-nheiro agrônomo, pequeno pro-dutor, trabalha com café há 20anos e secretário municipal daAgricultura de Barra do Choça,onde há 1.200 produtores, 20 milhectares plantados com café Ará-bica e 35 milhões de cafeeirosque respondem pela produção de

300 a 350 mil sacas/ano, ou seja, que correspondema 20% da produção baiana de café:

“Dentro dos programas desenvolvidos hoje pelomunicípio, por meio da Secretaria da Agricultura, emparceria com alguns órgãos estaduais e federais,membros do consórcio, como a Embrapa Café, Mapae EBDA, temos proporcionado a capacitação de difu-

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são de tecnologia, com alguns programas interessan-tes como os secadores desenvolvidos pelo Consórciode Pesquisa, com pequenos produtores produzindocafé de qualidade e disputando de igual para igualconcursos estaduais de qualidade de café. E, temosconquistado premiações: em 2002, além do primei-ro lugar, conseguimos o 3o e o 4o lugares. Tambémrealizamos no ano passado o concurso municipal deBarra do Choça que premiou cafeicultores de peque-nas associações de agricultura familiar. Em Salvador,no 5o Concurso de Qualidade de Café, eles ficaramentre os 10 melhores cafés da Bahia. Os produtorestêm assimilado as tecnologias para melhoria da qua-lidade do café.Temos uma região com particularidades, commicroclima, localizada a 900 metros de altitude, comboas condições de chuva. Mas, com os veranicos,temos usado irrigação de suplementação e comple-mentação. Temos apenas 10% de nossa área planta-da com cafeicultura irrigada, 90% ainda é de sequei-ro, devido às condições de clima da região. Nossomunicípio tem hoje 1,5 mil propriedades e 50% de-las são de pequenos cafeicultores, principalmente ca-feicultura familiar. O potencial da região para a ca-feicultura pode ser demonstrado pela produtividadeobtida: temos produtores que utilizam a irrigação eobtêm de 90 a 100 sacas por hectare em cafés de 15a 18 anos.

Ramiro Amaral, assessor da pre-sidência da EBDA e responsávelpela coordenação de programas:

“A Bahia tem 25 mil ha de caféConillon concentrado no extremosul da Bahia. É uma cafeiculturanova, tendo por base o trabalhoque o Espírito Santo realizou com

variedades novas, material genético superior. Temosum parque muito moderno, uma cafeicultura empre-sarial. Como ela é montada junto com a fruticultura,a irrigação é fator primordial e vem acompanhandoa cafeicultura desde o início. Temos índices de pro-dutividade bastante diferenciados, elevados e um po-tencial imenso. Com a tendência de crescer em cimado planalto, nos Tabuleiros Costeiros, a irrigação éuma auxiliar nata em função da fruticultura. A Bahiatem um potencial de produzir mais 500 mil sacas, sequiser investir.A EBDA é uma empresa grande, quedeixou de fazer investimentos em infra-estrutura epessoal nos últimos anos e apresenta outros proble-mas que vêm se acumulando, o que tem dificultadoum maior dinamismo na assistência agropecuáriabaiana. Na cafeicultura, por exemplo, são mais de70% de pequenos produtores para dar assistência.Mas, para que isso aconteça, ela tem que solucionartodos esses problemas.” �

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ob a mediação do professor e pesquisa-dor da Esalq/USP, Durval Dourado Neto,a discussão contou também com a parti-

cipação do professor Marcos Vinícius Folegattida Esalq/USP, do cafeicultor e engenheiro agrô-nomo, José Carlos Grossi, do diretor de MeioAmbiente da Associação dos Agricultores eIrrigantes do Oeste da Bahia (Aiba), José CisinoMeneses Lopes, do engenheiro eletricista comespecialidade em Engenharia Ambiental, Leo-cádio Alves Pereira, e do especialista em Recur-sos Hídricos da Agência Nacional de Águas(ANA), Patrick Thadeu Thomas.

Além de esclarecimentos sobre a instituiçãodessa cobrança no meio rural, foram relatados

Água: cobrança no meio ruralainda é polêmica

A cobrança pelo uso da água, um dosinstrumentos previstos na Lei das

Águas (Lei no 9.433/97), que instituiu aPolítica Nacional de Recursos Hídricos,

foi objeto de um dos concorridosdebates promovidos no dia 30/03,

durante a Fenicafé 2007, em Araguari,Minas Gerais.

os resultados obtidos com a recente implanta-ção dessa medida na Bacia dos Rios Piracicaba,Capivari e Jundiaí (PCJ), em São Paulo, e o an-damento dos trabalhos desenvolvidos pelo Co-mitê da Bacia do Rio Araguari.

Mesmo sendo a Lei das Águas consideradaum modelo de gestão democrática, participativae descentralizada dos recursos hídricos, com ocompartilhamento de poder e de responsabilida-de no âmbito estadual e federal e diversos seto-res da sociedade, o debate repetiu os resultadospolêmicos de outros fóruns promovidos recente-mente em função do Dia Mundial da Água.

Apesar de instituída há 10 anos, a Lei aindaprecisa vencer obstáculos para sua implementa-ção, especialmente em relação à cobrança pelouso da água no meio rural. Para o professorFolegatti, que também é o coordenador da Câ-mara Técnica de Uso e Conservação da Águano Meio Rural do Comitê da Bacia do PCJ, odebate de Araguari refletiu as contradições e osproblemas de maturidade dos Comitês de Baciaexistentes no Brasil. “Num país como o nosso,com problemas educacionais, não estamos ha-bituados a discutir localizadamente os nossosproblemas. Temos que aprender a compartilharas questões da água na Bacia, onde moramos ounão teremos sucesso”, garante ele.

A lei nº 9.433/97está completando10 anos e aindaencontraobstáculos parasua totalimplantação

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Uma questão de maturidade

Folegatti referiu-se especialmente a decisõestomadas no âmbito do Comitê da Bacia doParaíba do Sul, que, inicialmente, optou pela nãocobrança pelo uso da água no meio rural e aposição contrária à transposição, adotada peloComitê da Bacia do Rio São Francisco. Para ele,essas duas decisões tomadas pelos Comitês fo-ram errôneas. “E, precisamos aprender com osnossos erros. Os comitês precisam ter maturi-dade, o processo de cobrança é a última instân-cia. Enquanto não se observar essa maturidade,não iniciará a cobrança, porque senão cairemosno descrédito. O que está acontecendo na trans-posição do São Francisco é uma decisão con-trária à do comitê. Mas, também, não houvetempo para que esse comitê tivesse força sufi-ciente”, considera ele.

Segundo Folegatti, a cobrança pelo uso daágua de todos os usuários é um caminho semvolta. “Não vejo outra solução. Entendo e aplau-do, quando o produtor se queixa. Criou-se umalei, mas uma lei diferente que envolve a partici-pação de todos os segmentos e que determinouque os recursos arrecadados ficarão na Bacia.Não posso continuar criticando o governo e fi-car quieto diante de um passivo ambiental deR$ 11 bilhões, que é o que temos na Bacia doPiracicaba”, argumenta ele.

No final da sua mensagem, Folegatti afirmouser um morador da sub-bacia do Piracicaba Mi-rim, pertencente à Bacia do Piracicaba que, porsua vez, pertence à região hidrográfica da Baciado Paraná. “Ou você percebe que participa dis-so, ou não vamos ter sucesso. Não tenho receiode que vamos demorar, mas o importante é quetodos os segmentos estejam discutindo e que adecisão não seja unilateral”. Segundo ele, a de-cisão de cobrança pelo uso da água só ocorreucom sucesso no Piracicaba, porque todos os seg-mentos estavam de acordo. Levou 15 anos paraque houvesse esse consenso.

Avanços, apesar da polêmica

Folegatti considerou um avanço a discussãosobre as áreas de preservação ambiental e dereserva legal existentes nas propriedades rurais.Essas áreas são instituídas pela legislação e acobrança do produtor por elas, prevista no arti-go 102 da Lei das Águas e que deve ser implan-tada na Bacia Hidrográfica do PCJ, precisa serimplementada. “Se fôssemos uma sociedade or-ganizada, teríamos feito um movimento para pa-rar com a bandalheira acontecida recentementeno Congresso Nacional”, afirma ele, consideran-do necessárias a organização e a mobilização do

Lei 9.433/97– Lei das Águas

• Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos.

• Cria o SNGRH (Conselho Nacional, Estadual,Comitês de Bacias, Agências de Águas, ANA).

• Institui cinco instrumentos de gestão paraatingir os objetivos da PNRH:- outorga;- cobrança;- plano de Recursos Hídricos;- enquadramento dos corpos d´água em clas-

ses de uso preponderante; e- sistema de Informações sobre Recursos

Hídricos.

O que é a cobrançapelo uso da Água ?

A cobrança pelo uso da água é umdos instrumentos previstos na Lein.º 9.433/97, que institui a PolíticaNacional de Recursos Hídricos.

Objetivos:• Estimular o uso racional da água.• Gerar recursos financeiros parainvestimentos na recuperação epreservação dos mananciais daregião.

A cobrança não é um imposto, masum preço público condominial,fixado a partir de um pacto entre osusuários e o respectivos Comitês deBacias.

Folegatti: a cobrança pelo usoda água na Bacia do Rio

Piracicaba ocorreu após umconsenso que levou 15 anos de

discussões

FEDERALANA

ESTADUALÓrgão gestor

MUNICIPAL

Convênio integração.Outorga, fiscalização

e cobrança.

COMITÊDE BACIAParlamento

Agência de BaciaANA e pelos governos

GovernamentalNão-

Governamental

• Usuários• Hidroeletricidade• Abastecimento

urbano• Indústria• Irrigação• Navegação• Pesca• Turismo• Universidades• Organizações

Científicas• ONG’S

Organização da gestão da BaciaHidrográfica

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Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 87

meio rural. E destaca a necessidade de participa-ção do produtor rural nos Comitês de Bacia:“É preciso participar, pois estamos desorganiza-dos e desunidos. Se não estivéssemos presentesno Comitê de Piracicaba, a riqueza de 7% do PIBdo País deixaria de existir”, lembra ele.

O cafeicultor José Carlos Grossi lembrou afigura do produtor de água. “Todos nós somosprodutores de água, as águas que saem de nos-sas propriedades vão-se infiltrar e correr paraos rios. Nós coletamos água. Agora, podemosmelhorar isso, fazendo mais cacimbas, manten-do o solo mais coberto e isso já estamos fazen-do”, afirma ele, considerando que as pessoas queassim agem, têm que ser premiadas. “E, assimcomo a água, também produzimos oxigênio. Al-guém nos paga pelo oxigênio e pela água queproduzimos? Não, só nos cobram, esse é o gran-de problema”, queixa-se ele.

Segundo Grossi, Minas Gerais precisa acor-dar, pois no Estado nascem duas das maioresBacias hidrográficas do País: a do São Franciscoe a do Paraná. “Minas chove para alimentar es-sas bacias, mas no período de março a agostonão há precipitação pluviométrica. Precisamossegurar essas águas para o progresso, riqueza ealavancagem da agricultura mineira. E é tão fá-cil construir uma barragem. Quantos empregosserão gerados? Pergunta ele, defendendo maio-res facilidades na área ambiental para a cons-trução de represas.

VALOR DAARRECADAÇÃO

USUÁRIO ANUAL(em milhões de reais)

URBANO 267,60

INDÚSTRIA 164,80

AGRICULTURA IRRIGADA 12,02- Hortaliças 8,44- Amendoim 0,14- Arroz 0,15- Cana-de-açúcar 0,28- Feijão 2,41- Laranja 0,45- Milho irrigado 0,16

TOTAL 434,32

Estimativa de faturamentoanual com a cobrança daágua no estado de São Paulo

Grossi afirma que o relacionamento com osetor ambiental melhorou em Minas Gerais,mas, mesmo assim, ainda existem dificuldades.“O governo tem que fazer a parte dele. A agri-cultura tem um tempo de plantar, um tempopara pagar as contas e não pode ficar esperan-do. Um projeto às vezes leva anos para ser ana-lisado”, finaliza ele. �

Implantação da cobrança pelo uso da água na PCJ - RetrospectivaA experiência da cobrança federal na Bacia Hidrográfica PCJ

a) Consórcio Intermunicipal das Bacias dosrios Piracicaba e Capivari (1989)

b) Dificuldades de implantação análogasàquelas enfrentadas pelo CEIVAP

c) Efetiva implantação da cobrança nos riosde domínio da União em 2006

Deliberações dos Comitês PCJ – 21/10/2005Oficialização do CNRH – 28/11/2005Cadastramento de Usuários – 100 usuários - R$ 11 milhõesRepasse – 3 meses - R$ 2,5 milhõesAdimplência – mar/06 - 98,5%

Quadros da apresentação do prof. Folegatti durante a Fenicafé/2007, em Araguari, MG, no debate sobre “Cobrança pelo Uso daÁgua na Agricultura. É justo?”.

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88 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

Seremos supridores dealimentos para o mundo?

O professor e coordenador do Centro deAgronegócio da FGV, Roberto Rodrigues, responde

Com o objetivo de responder a esta per-gunta, o ex-ministro da Agricultura,Roberto Rodrigues, atual coordenador do

Centro de Agronegócio da Fundação GetúlioVargas e presidente do Conselho Superior doAgronegócio da Fiesp, fez a palestra de abertu-ra da Fenicafé 2007, no dia 28/03/2007, emAraguari, Minas Gerais. Dos dez principais pro-blemas da humanidade nos próximos 50 anosapontados por ele, cinco estão ligados direta-mente à agricultura: energia, água, alimentos,meio ambiente e pobreza. (Quadro 1).

“Considero a água uma questão essencialpara o futuro da humanidade, bem como a pro-dução de alimentos”, destacou em entrevista àITEM. Para Roberto Rodrigues, a vantagem daágua consumida pela irrigação na produção dealimentos, quando comparada com a águaconsumida nos centros urbanos, é que a da agri-cultura bem manejada volta igual ou melhor parao ciclo hidrológico, ou seja, pela infiltração paraalimentar o lençol freático, como também paraa atmosfera, através da evapotranspiração.“Qualquer produto que tenha água, quandomorre, volta para a natureza. Já a águaconsumida nos centros urbanos, geralmente ficapoluída e há dificuldades em ser reaproveitada,salvo altos investimentos em estruturas dereciclagem”, analisa.

Em relação à Fenicafé e ao Simpósio Brasi-leiro de Pesquisa em Cafeicultura Irrigada,Roberto Rodrigues destacou a importância dodesenvolvimento científico e tecnológico e res-saltou o estratégico trabalho do CBP&D/Café,que ele e sua equipe puderam impulsionar noMapa, fortalecendo-o para melhor aproveitamen-to das inteligências brasileiras, estimulando essemodelo cooperativo coordenado pela Embrapa.

Sobre reúso de águas servidas na agriculturairrigada, depurando-as e gerando riquezas,Roberto Rodrigues considera viável, mas sobcondições: “A reciclagem, dependendo do veí-culo poluidor, tem um custo muito alto, o quepoderá inviabilizar a rentabilidade da culturaagrícola. É um fator positivo, cuja operacionali-dade dependerá do custo de seu aproveitamen-to”, esclarece ele.

Os dez maiores problemaspara a humanidade nospróximos 50 anos

Energia EducaçãoÁgua DemocraciaAlimentos PopulaçãoMeio Ambiente DoençasPobreza Terrorismo & Guerra

(Alan MacDiarmid, em São Carlos, SP, abril de 2005)

Grandes Tendências1) Mudanças nas demandas: sabor,

qualidade, rastreabilidade, saúde, meio-ambiente, orgânicos

2) Tendências demográficas• 2000 - 6,07 bilhões de habitantes• 2020 - 7,54 bilhões de habitantes• 2030 - 8,13 bilhões de habitantes (maior crescimento na Ásia)

3) Renda• crescimento da economia mundial para os próximos 10 anos: 3% aa• países desenvolvidos: 2,4%• países em desenvolvimento: 4,6%

4) Tecnologias• meio ambiente: sustentabilidade• biotecnologia• nanotecnologia

88 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

QUADRO 2

QUADRO 1

Quadros da palestra “Perspectivas para o Agronegóciono Brasil em 2007”, proferida por Roberto Rodrigues.

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Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 89

Ao falar sobre o meio ambiente, o ex-ministroRoberto Rodrigues foi enfático ao desmentir algu-mas acusações que constantemente são feitas ao País,especialmente no exterior. Uma delas, refere-se aodesmatamento praticado no Brasil. Existe um enten-dimento da comunidade mundial de que a agricul-tura vai acabar com o mundo. “Precisamos mostrarque o produtor rural sabe cuidar do meio ambien-te.”

Roberto Rodrigues diz estar cansado de ouvir que oBrasil está acabando com a Amazônia. O mundo nãosabe da existência da Amazônia Legal e da FlorestaAmazônica, duas coisas diferentes, lembra ele.1. Utilizando um estudo elaborado pela Embrapaque mostra quantificações florestais no mundo háoito mil anos e no presente, Roberto Rodrigues apon-tou que, ao contrário da fama brasileira no exterior,o País detém o maior índice de sua cobertura vegetaloriginal. Dos 100% de suas florestas primárias, a Áfri-ca detém um percentual de 7,8%, a Ásia 5,6%, aAmérica do Norte 34,4%, a América Central 9,7%, a

América do Sul 54,8%, a Rússia 29,3%, a Oceania22,3% e a Europa apenas 0,3%. Já o Brasil detém69,4% de suas florestas primitivas e, por isso, temmoral para tratar de frente as críticas em relaçãoao assunto desmatamento com os demais paísesdo mundo. (Quadro 5).2. “Também é mentira as acusações de que existetrabalho escravo no Brasil. O que existe, lamenta-velmente, é o trabalho forçado”, apontou o ex-ministro da Agricultura.

Os dados do Quadro 4 indicam que existiamno mundo 12,3 milhões de pessoas, em 2005, queexerciam o trabalho forçado. Rodrigues lembrouque esse assunto é tratado como crime no Brasil ecom os resultados da fiscalização e punição obti-dos (dos 17,7 milhões de trabalhadores no agro-negócio, 4.273 trabalhadores rurais foram consi-derados em exercício de trabalho forçado) fizeramcom que a Organização Internacional do Trabalhoconsiderasse o Brasil como exemplo na luta con-tra o trabalho forçado em seu relatório anual.

Porcentagens das Florestas PrimáriasRemanescentes das Florestas Primárias Originais - 1.000 Km2

FlorestaOriginal

8.000 B.P. % 1.000 % 1.650 % 1.850 % 1.950 % Presente %

África 6.799 100,0 6.459 95,0 5.779 85,0 5.099 75,0 2.380 35,0 527 7,8

Ásia 15.132 100,0 13.619 90,0 11.349 75,0 8.323 55,0 3.783 25,0 844 5,6

América do Norte 10.877 100,0 10.333 95,0 9.245 85,0 8.158 75,0 5.439 50,0 3.737 34,4

Amércia Central 1.779 100,0 1.743 98,0 1.334 75,0 890 50,0 712 40,0 172 9,7

América do Sul 11.709 100,0 11.592 99,0 11.475 98,0 11.124 95,0 8.196 70,0 6.412 54,8

Rússia 11.759 100,0 10.583 90,0 9.407 80,0 7.055 60,0 5.880 50,0 3.448 29,3

Europa 4.690 100,0 3.752 80,0 1.407 30,0 469 10,0 235 5,0 14 0,3Oceânia 1.431 100,0 1.402 98,0 1.288 90,0 1.073 75,0 716 50,0 319 22,3

Mundo 64.176 100,0 59.484 92,7 51.285 79,9 42.190 65,7 27.339 42,6 15.473 24,1

Brasil 6.304 100,0 6.241 99,0 6.178 98,0 5.989 95,0 5.043 80,0 4.378 69,4Fontes: Embrapa

Tendências Ambientais• Mudanças climáticas• A produção agrícola deve, progressiva-

mente, fundamentar-se em práticasconservacionistas.

• Desenvolver-se-ão tecnologias queconservem água, florestas e a fertilida-de natural das terras.

• A Floresta Amazônica será objeto deuma política específica

Exploração de trabalho forçado é umcrime no BrasilMUNDOtrabalho forçado = 12.300.000 pessoas (OIT)

BRASIL• 4.273 trabalhadores rurais em trabalho forçado em 2005.• 17.700.000 de pessoas trabalhando no agronegócio.

O Relatório 2005 da OIT considerou o Brasil como umexemplo na luta contra o trabalho forçado.

Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 89

QUADRO 4QUADRO 3

QUADRO 5

Meio ambiente e as grandes mentiras sobre o Brasil

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90 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

E o café, como fica?O palestrante deu um destaque especial à ca-

feicultura, apresentando quadros que mostrama situação atual da cultura e suas perspectivas.

Exportações Agrícolas Brasileiras:Análise do período 2000-2006

• Crescimento: 161%, de US$ 18,9 bi, para

US$ 49,4 bi (superior ao dobro do comércio

agrícola mundial).

• EUA em 2000: 18% das exportações

EUA hoje: 14,2%.

• China em 2000: 2,8% das exportações

China hoje: 7,6%.

• Rússia em 2000: 2,2% das exportações

Rússia hoje: 6,35%

(Rússia: aumentou as compras de produtos

agrícolas brasileiros em mais de US$ 1 bi

somente em 2005).

• Mercados não tradicionais (Oriente Médio,

Ásia, África e Europa Oriental): taxa de

crescimento 3 vezes superior no período

(Destaques: Irã, Nigéria, Arábia Saudita,

Marrocos, Emirados Árabes, Marrocos,

África do Sul, Egito e Argélia).

O mercado mundial e oagronegócio brasileiro

Depois de mostrar gráficos com o aumentodas produções de grãos, a participação dessesna pauta do mercado externo e os principais mer-cados internacionais, Roberto Rodrigues apre-sentou um quadro com uma análise das expor-tações do País, num período de seis anos, e outrocom as linhas crescentes da participação nacionalno mercado mundial e a importante contribuiçãodo agronegócio brasileiro. (Quadros 6 e 7).

90 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

Leilões de Café - 2003 a 2006 (quantidade - sc/60Kg)

ORIGEM ANOS2003 2004 2005 2006 TOTAL

Funcafé 118.188 882.267 974.197 1.169.290 3.143.942Opções/STN 112.057 553.632 289.358 955.047Total 230.245 1.435.899 1.263.555 1.169.290 4.098.989

QUADRO 9

Leilões de Café - 2003 a 2006 (valores - R$ mil)

ORIGEM ANOS2003 2004 2005 2006 TOTAL

Funcafé 15.597 134.577 154.488 204.069 508.731Opções/STN 15.712 129.029 92.992 237.733Total 31.309 263.606 247.480 204.069 746.464

QUADRO 10

Transparência das informações• Projeto de Aperfeiçoamento Metodológico

do Sistema de Previsão de Safras – Geosafra• Levantamento periódico dos estoques

públicos e privados• Zoneamento agrícola para a cultura do café

QUADRO 11

Política de Garantia de PreçosMínimos - PGPMCom a introdução do café na PGPM, na safra2002/2003, o setor passou a ter acesso àslinhas de financiamento para custeio ecomercialização do MCR – 6.2, além dosrecursos do Funcafé.

QUADRO 12

Plano Nacional de Desenvolvimentodo Agronegócio Café - PNDACOBJETIVO:Gerar renda e desenvolvimento harmônico emtodos os elos da cadeia agroindustrial do café,promovendo a geração de divisas, de emprego,a inserção social e a sustentabilidade ambientalem benefício da sociedade brasileira.

PRIORIDADES:• Recomposição do Funcafé• Transparência das Informações• Política de Garantia de Preços Mínimos – PGPM• Programa Integrado de Marketing dos Cafés

do Brasil – PIM/Café• Programa Nacional de Pesquisa e

Desenvolvimento do Café – P&D/Café

Quadro 8

QUADRO 6

Saldo da BalançaComercial Brasileira

QUADRO 7

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Século XXI, a era da biomassaRoberto Rodrigues abriu um capítulo à parte ao falar da projeção de produção do etanol até

2017 . Se o século XX foi considerado o período da segurança alimentar, ele considera que houveuma mudança nos paradigmas de produção e o século XXI será o da segurança energética. Apontouas razões para a produção de biocombustíveis e energia renovável no mundo. “Nós, no Brasil, estamosliderando esse processo de produção”, comentou.

Por que biocombustíveis?GANHOS AMBIENTAISSeqüestro de carbonoMenor nível de emissão no consumo

RENOVABILIDADECiclo curto de produçãoProcesso controlado pelo homem

ASPECTOS ECONÔMICOSNovo componente de demandaImpactos na balança comercial

ASPECTOS SOCIAISGeração de postos de trabalhoDesconcentração da renda

ASPECTOS POLÍTICOS: DEMOCRACIADesafio para a humanidade: DIVERSIFICAR AS FONTES DE ENERGIA

ConclusõesO ex-ministro da Agricultura mostrou ainda um quadro geral com os subsídios agrícolas concedidos

pelos países produtores, indicando que o Brasil é um dos que apóia menos o setor produtivo, perdendoapenas para a Nova Zelândia. (Quadro 17). Os quadros 15 e 16 indicam um resumo com as perspectivase as barreiras a serem rompidas, para que o agronegócio brasileiro tenha um auspicioso futuro. �

Conclusões1. Temos potencial

• terra disponível• tecnologia• recursos humanos

2. Temos constrangimentos• recursos materiais e financeiros• infra-estrutura e logística• integração real: base legal• negociação internacional

Um PAC para agronegócio brasileiro1. Seguro Rural2. Tecnologia3. Defesa Sanitária4. Verificação, Rastreabilidade e Certificação5. Agregação de Valor6. Desoneração Tributária7. Agroenergia8. Crédito Rural9. Equacionamento do Endividamento Rural10. Outros Temas• Adidos Agrícolas;• Drawback para todos os produtos agropecuários;• Eliminação da reserva de mercado no transporte de

cabotagem;• Eliminação do adicional de frete para a renovação

da marinha mercante incidente nas importações deinsumos agropecuários e na cabotagem;

• Estudar formas de implementação de medidas queestimulem a transformação de Produtores Ruraisde Pessoa Física para Pessoas Jurídicas;

• Agilizar as decisões da CTNBio – quorum;• Eliminar os entraves burocráticos e institucionais

que ainda impedem o funcionamento dos títulosagrícolas existentes, CPR e CDA/WA, bem como aimplementação de medidas que facilitem aoperacionalização dos novos títulos.

Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 91

QUADRO 13

QUADRO 15 QUADRO 16

QUADRO 17

Estimativa de Apoio ao Produtor - PSE(média - 2002-2004)

Século XXI: o início de uma Nova Era

QUADRO 14

´́́́́

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92 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

desperdício de energia elétrica noBrasil representa cerca de 18% do totalconsumido ou 62 mil GWh, equivalen-

tes a 32% da quantidade de energia fornecidapela Companhia Energética de Minas GeraisDistribuidora (Cemig), em 2005. São duas ascartilhas editadas com esse objetivo: uma quetrata do uso eficiente da energia elétrica no pre-paro do café e outra que trata do mesmo assun-to em relação à produção de leite. Somente emrelação à cafeicultura, a Cemig calcula que, se20% dos cafeicultores mineiros adotarem asmedidas recomendadas pelo manual, o consu-mo de energia elétrica poderá ser reduzido em1,5 milhão KWh por safra, número suficientepara atender ao consumo de mais de 400 fazen-das por um ano inteiro.

Segundo o engenheiro agrônomo da Cemig,Antônio Carlos Coutinho, na irrigação, o pri-meiro cuidado é o de nunca comprar um siste-ma de irrigação sem um projeto técnico e umprojeto elétrico. “Ter um profissional capacita-do para projetar as ligações, o dimensionamentode condutores, o sistema de partida e proteçãodos motores e tê-los devidamente instalados porpessoas competentes”, aconselha ele.

Economia de energiaCartilhas da Cemig mostram como os produtores podem economizar

energia elétrica e ter mais ganhos na produção do café e do leite

Descontos para os irrigantes

Sempre que viável, deve-se fazer a opção pelatarifa noturna, que oferece desconto no horáriode 21h30 às 6h. Transformador de 112,5 até 1.000KVA, no Vale do Jequitinhonha e no Polígonodas Secas, o desconto oferecido é de 80% a 90%.Transformador até 75 KVA, o desconto é de 67%a 73%. Para outras regiões de MG, tarifa notur-na tem redução de 80% nos custos de consumopara empreendimentos que demandam maiorescargas (112,5 a 1.000 kva), que também têm quearcar com a tarifa de demanda. Para até 75 kva,a redução é de 67%, sem o ônus da demanda.

Adotar a prática de manejo de irrigação, co-locando a água na hora certa e na quantidadecerta em sua lavoura. Fazer um bom gerencia-mento de seu programa de irrigação. “Se seguiresses passos, o produtor vai economizar energiaelétrica”, afirma Coutinho.

A tarifa verde está embutida na tarifa horo-sazonal e é específica para o grande irrigante.Ao fazer a opção pela tarifa horosazonal verde(THS), o produtor não pode ligar seus equipa-mentos no horário de 18h às 21h, consideradohorário de ponta. Caso ligue, ele poderá ser al-tamente penalizado e pagar um valor de 10 até12 vezes maior que a tarifa normal.

Economia na produção de leite

Já o manual específico para o produtor deleite, que está sendo reeditado, dá orientaçõespara que se façam instalações corretas, dimen-sionem os equipamentos eletrorurais como pi-cadeira, desintegrador, misturador de ração,ordenhadeira, tanque de expansão e também oequipamento de irrigação, indica como evitardesperdícios.

“Com a irrigação o produtor de leite vai pro-duzir mais alimentos para o período da seca ereduzir os custos de produção, realizando umbom negócio”, aponta Coutinho.

No caso do leite, um estudo da Cemig mos-trou que o custo da energia representa em tor-no de 4% da receita bruta do pecuarista. No casoda irrigação na produção de grãos, o custo daenergia pode variar de 4% até 12%, se o produ-tor usá-la de forma racional.

Um trabalho elaborado pela Cemig eEmater-MG em 10 fazendas mineiras mostrou

ser possível economizar até 26%, adotandocuidados ao projetar, instalar e usar a

energia elétrica.

Antônio CarlosCoutinho, da

Cemig

O

92 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

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Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 93

Alguns desperdícios setoriais• Irrigação (pivô central) – 28%;• Avicultura de corte – 27%;• Café (pós-colheita) – 26%;• Irrigação (aspersão convencional) – 23%.

Por quê Uso Racional?• Porque os recursos naturais são finitos e

precisamos preservá-los;

• Porque a energia disponibilizada a partir daracionalização é muito mais barata do queuma geração nova;

• Porque significa aumentar acompetitividade das empresas (indústria,comércio e agropecuária) pela redução doconsumo específico.

Como usar racionalmente aenergia elétrica na irrigação• Projeto de irrigação;

• Projeto elétrico;

• Opção pela tarifa noturna e THS;

• Adoção do manejo da irrigação;

• Avaliação periódica do sistema de irrigação;

• Gerenciamento do projeto de irrigação.

Recomendaçõesquanto ao usoracional de energiaelétrica na irrigação• Caso o irrigante tenha carga ins-

talada superior a 75KVA e deman-da de potência superior a 30kW,poderá fazer opção pela THS;

• Optando pela THS, não funcio-nar o equipamento de irrigaçãono horário de ponta;

• Fazer opção pela Tarifa Noturna;

• Cuidar para que o F.P. não seja< 0,92, evitando com isso pagaro excedente de energia reativa;

• Planejar o funcionamento dosequipamentos durante o mês, detal forma que a demanda con-tratada (assegurada) não seja ul-trapassada;

• Quando se tem mais de um pivô,alternar o funcionamento dosmesmos, em função do estádioda cultura, possibilitando traba-lhar com demandas menores;

• Saber a data da leitura, para evi-tar pagar tarifa de demanda, porutilização inadequada dos equi-pamentos;

• Adotar a prática do manejo dairrigação.

1,86 236 72,92 47,57 25,35 35

1,60 393 121,42 85,59 35,83 30

0,20 37 11,43 3,52 7,91 69

0,70 68 21,01 9,69 11,32 54

0,69 164 50,67 20,78 29,89 59

5,05 180 55,49 33,43 21,66 39

Sind. ProdutoresRurais de Alfenas

Gilberto Luiz deAlmeida

Ernani Batista

Amado LourençoDias

Joaquim ElcioRibeiro

TOTAL / MÉDIA

Fonte: CEMIG Distribuição S/A I.N. = Irrigação Noturna

Alfenas

Botelhos

Pouso Alegre

Itajubá

S.R.Sapucaí

Produtor Município

Áreairrigada

(ha)

Consumode energiaelétrica por

semana(kWh)

Custo daenergiaelétrica

semI.N. (R$)

Custo daenergiaelétrica

comI.N. (R$)

Economia custoda energia elétrica

com I.N

Ganhos com opção pela tarifa noturna

R$ %

Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 93

Quadros da apresentação de Antônio Carlos Coutinho, sobre “Uso racional da energia na cafeicultura irriga-da”, durante a Fenicafé/2007, em Araguari, MG.

Dois bons exemplos de cartilhaseditadas pela Cemig paraorientação do produtor rural

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Empresa de Pesquisa Agropecuária deMinas Gerais (Epamig) foi a hospedeirado evento, que incluiu reunião plená-

ria no Núcleo de Integração de Agronegócios(NIA) e cinco estações de campo na FazendaSanta Rita, em Prudente de Morais, Minas Ge-rais, com a exposição de seus pesquisadores eparceiros.

Cerca de 200 profissionais da área, entre téc-nicos autônomos, da Empresa de AssistênciaTécnica e Extensão Rural de Minas Gerais(Emater/MG) e de outras empresas de assistên-cia técnica, dirigentes das cooperativas ligadasaos sistemas Crediminas e Itambé, profissionaisde empresas de equipamentos e sistemas de ir-rigação, a exemplo da Amanco e da Senninger,representantes da Companhia Energética deMinas Gerais (Cemig), do Instituto de Águas deMinas Gerais (Igam), da Associação do PlantioDireto no Cerrado (APDC), da Empresa Brasi-leira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e deescolas técnicas participaram ativamente doevento, quando foram mostrados diferentesequipamentos de irrigação. Em especial, o sis-tema de irrigação em malha, cuja praticidade

Dia Mundial da Água e oCooperativismo

Em comemoração ao Dia Mundial daÁgua, nada mais apropriado que um

evento em torno do sistemacooperativista e associativista em

favor do desenvolvimentosustentável da agricultura irrigada.

A ABID, juntamente com os sistemascooperativos Itambé e Crediminas,

em parceria com diversas outrasorganizações, no dia 23/03/2007,

promoveu um intenso dia detrabalho, aglutinando dirigentes de

cooperativas e profissionais daassistência técnica articulados entre

si, para trabalharem em torno doPrograma Cooperativo de Irrigação

na Pecuária (PCIP).

AO sistema de irrigação em malha em pastagens foi mostrado aos participantes do dia de campo na Fazenda Santa Rita, da Epamig,em Prudente de Moraes

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para adequação de cada projeto aos mais dife-rentes formatos e tamanhos das áreas, à dispo-nibilidade e qualidade das águas, incluindo-seaí a flexibilidade para reúso de águas servidas,bem como à disponibilidade de recursos finan-ceiros de cada um, podendo ter implantaçõesmoduladas, causou muito interesse e motivações.

“O que importa é verificarmos o que a gestãodo conhecimento pode fazer em nosso benefício,tendo a água como vetor para fazer essa mudan-ça para cada produtor/cooperado, com melhoresperspectivas de negócios e de qualidade de vida”,considerou o presidente da ABID, HelvecioMattana Saturnino. Ele discorreu sobre a filoso-fia do Programa e as mudanças de comporta-mento necessárias, exigindo-se novas posturasde gestão, de acompanhamento do manejo dosanimais e das pastagens, tendo a interação água-solo-forrageira-animal como um conjunto a serexplorado de forma harmônica e sábia.

Fortalecendo o sistemacooperativo de crédito

O objetivo do dia de trabalho era para quecada um pudesse municiar-se de mais informa-ções, compartilhar experiências e despertar parao quanto a agricultura irrigada poderá benefi-ciar do trabalho junto as 29 cooperativas deprodução, afiliadas do sistema Itambé, especialorgulho para os mineiros, por ser a maior indús-tria nacional de laticínios.

Ao promover o trabalho conjugado com osistema de cooperativa de crédito, faz-se comque os recursos imobilizados fortaleçam essessistemas, o patrimônio dos produtores coopera-dos, capitalizando-se o setor. Este é um grandedesafio e um grande salto, com belíssimos exem-plos de bancos cooperativos, como os da Françae da Alemanha, a nos mostrar bons caminhos,que a Crediminas e tantas outras cooperativasde crédito no Brasil já procuram trilhar. “Essemovimento precisa ser bem entendido e contarcom a crescente participação dos cooperados”,salientou Helvecio.

O PCIP tem como base o fortalecimento doprodutor de uma ampla rede de cooperativas,perseguindo a melhor capitalização de cada um,entendendo como fundamental os princípios docooperativismo e do associativismo. A ABID,como catalisadora desse movimento, teve a res-ponsabilidade de articular essas ações, festejan-do-as de forma especial por considerar que aforça do cooperativismo é um grande passo emfavor da utilização dos recursos hídricos paraagregar valor e ampliar o leque de negócios de

cada produtor. A implantação desse Programaem Minas Gerais irá contribuir para o desen-volvimento do setor pecuário do Estado, difun-dindo junto ao setor produtivo o uso correto,econômico e sustentável da água para a produ-ção de pastagens irrigadas.

Origens do PCIP

O PCIP começou a ser discutido desde no-vembro de 2005, num Dia de Campo para osdirigentes da Cooperativa Central de Produto-res Rurais de Minas Gerais (CCPR), da Itambée suas afiliadas, com uma organização parceirada ABID, cujo diretor do empreendimento,Jônadan Ma, associado da ABID, evidenciou oquanto a boa gestão das pastagens irrigadas es-tava redundando em benefícios aos negócios daprodução pecuária da Fazenda Boa Fé, no mu-nicípio mineiro de Conquista.

Lá, a irrigação/fertirrigação é praticada du-rante todo o ano, incluindo o total aproveita-mento do esterco dos bovinos, logrando-seproduções do tyfton 85 da ordem de 50 a 60 to-neladas de MS/ha/ano, digestibilidade superiora 60%, proteína bruta da ordem de 16% a 18%,com os animais pastejando no momento certo,com adoção do sistema rotacionado, maximizan-do-se, assim, o aproveitamento das forragens ea diminuição dos custos de produção. A limita-ção da temperatura nos três meses mais frios,com a menor capacidade de suporte que variade 5 a 10 UA/ha e a espetacular resposta à irri-gação, com o aumento da temperatura e daluminosidade, chegando até 21 UA/ha.

Nesse intercâmbio, com o Jônadan e Adriano,que participaram no XVI Conird de Goiás comoinstrutores de um minicurso, com o espírito dotrabalho cooperativo de fazer permear esses re-sultados em favor das pastagens irrigadas, osacompanhamentos são constantes. As pastagensirrigadas têm provocado substanciais mudançasna Fazenda Boa Fé, incluindo negócios na pe-cuária de corte, na recria de novilhas Holande-sas, na nutrição das vacas Holandesas secas e naexploração das F1 Jersey-Zebu, considerando aspastagens como suficientes para suprir as neces-sidades de mantença, reprodução e produção deaté 10 litros de leite/dia.

Extensão do PCIP

Nesses constantes avanços de gestão da Fa-zenda Boa Fé e dos intercâmbios com os parcei-ros da ABID, despertou-se um maior interesse

Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 95

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da pesquisa pela irrigação em outras forragens,de aplicar o sistema Plantio Direto para nivelara produção ao longo do ano, e associar o plantiode forrageiras de inverno junto às de verão, etc.,criando uma importante agenda para a Epamig.

A pesquisadora Maria Celuta Viana mostrouaos participantes no Dia de Campo, na FazendaSanta Rita, da Epamig, a importância das pes-quisas e demonstrações para cada latitude ealtitude, principalmente com as limitações im-postas por baixas temperaturas em vários locais,fazendo com que as respostas à irrigação nãofossem compensadoras com as espécies degramíneas tropicais em meses como junho, ju-lho e grande parte de agosto.

Outro pesquisador, Waldir Botelho, tambémda Epamig, explicou sobre o sistema PlantioDireto, introduzindo-se a aveia na pastagem dotyfton 85, com os trabalhos da pesquisa, paracompensar a produção com o melhor crescimen-to dessa forragem no inverno. Os profissionaisda Senninger e da Amanco discorreram sobreos aspersores e a concepção do sistema em ma-lha, com estimativas de custos de implantaçãoque podem variar de R$2 mil a R$4 mil/ha.

O pesquisador Geraldo Macedo, da Epamig,evidenciou o potencial da cana, enquanto MiguelGontijo, da Embrapa Milho e Sorgo, falou so-bre o sistema PD e a integração lavoura e pe-cuária. Os pesquisadores Francisco Morel e JoséJoaquim Ferreira, da Epamig, falaram sobre acorrelação água-fertilizantes, o manejo em se-queiro com braquiarinha em pastejo rotacionadode vacas 3/4 Holandês-Zebu, os aspectosnutricionais e o sistema produtivo do mestiço, eo pesquisador José Reinaldo, da Epamig, sobreo Programa com F1 Holandês-Zebu.

Incentivo à parceriaágua/cooperativismo

A concepção do programa fortalece o coo-perativismo, o associativismo e uma ampla, prá-tica e objetiva forma de levar inovações paramuitos, com o envolvimento de um engenhosomecanismo de comprometimento dos maisdiversos atores, aproveitando recursos já dispo-níveis, criando bases para ampliá-los e fortalecê-los cada vez mais.

O sucesso desse encontro ao final do dia foia satisfação dos participantes e vê-los cobrandoos desdobramentos deste, que já temos planejadopara cerca de 10 pólos de apoio/demonstrações,em atividades que serão desenvolvidas esteano, tendo-se como base algumas de nossas co-operativas afiliadas e as da Crediminas, nossobraço financeiro, comemorou o executivo daItambé, Francisco Sobrinho.

O adequado aproveitamento do Programavai exigir mudanças de gestão, para os que qui-serem intensificar a produção com a irrigação.Muitas vezes significa liberar 80% da área dapropriedade para outras atividades, demandan-do-se mais gerência, mais capricho, mais dedi-cação e mais vontade de ganhar com as mudan-ças proporcionadas pela irrigação. “A irrigaçãoé um complemento essencial para o produtorrural: melhora a produtividade da pastagem,cujo efeito é a produção do leite”, afirma JoséLuiz Costa, presidente da Cooperativa Agrícolade Esmeraldas, que congrega 120 fornecedoresde leite para a Itambé, além de mais 100 produ-tores clientes da cooperativa. Segundo ele, al-guma coisa tem que ser feita. “Sou agrônomo eacredito na tecnologia”, considera ele, que pre-tende começar a utilizar irrigação nas pastagensde sua fazenda de 44 hectares, com produçãodiária atual de 120 a 130 litros de leite.

José Carlos Batista, presidente da Coopera-tiva Agrícola da Grande Belo Horizonte, éirrigante no município de Bom Jesus do Ampa-ro, MG e produz, atualmente, 500 litros de lei-te/dia. Como ele já produziu cinco vezes mais,espera voltar à antiga produção, utilizandopastagens irrigadas rotacionadas. “Nosso coo-perado produz, em média, 350 litros de leite e éávido para aprender, necessitando da introdu-ção de novas tecnologias para salvá-lo. Estouvendo esse Programa com muito entusiasmo etorcendo para que dê certo”, afirma ele.

José Antônio Gomes, técnico agrícola eanalista de processos de crédito da Crediminas,considera o produtor rural tradicionalista.“Quando se fala em tecnologia, ele pensa quevai gastar muito, muitas vezes não sendo orien-

A pesquisadorada Epamig, MariaCeluta Viana, emsua apresentaçãono dia de campo

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FOTOS: GENOVEVA RUIS DIAS

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Nº 73 • 1º trimestre 2007 • ITEM 97

tado de que a tecnologia bem direcionada, dáretorno”, comenta. Para ele, a irrigação em pas-tagens representa uma mudança de cultura parao produtor. Desde 2004, José Antônio dedica-se a um trabalho de conscientização junto aosetor produtivo sobre a importância do créditocooperativo, por meio de palestras e seminários.“A preocupação da empresa é fazer um traba-lho de gestão do agronegócio. Não basta empres-tar dinheiro, isso é fácil. Necessário é ver oresultado do produtor, pois o cooperado é a ra-zão de ser de uma cooperativa”, finaliza ele.

Água, energia, tecnologia ecrédito, a combinação necessária

Durante o encontro, houve a divulgação deinformações sobre a obtenção de outorgas parao uso da água, com a distribuição de materialescrito e explanação da especialista JeaneTobelem, do Igam, o mesmo com referência àsinstalações elétricas e aos horários mais favorá-veis para utilização da energia para a irrigação,por Délzio de Aguiar, representante da gerên-cia comercial da Cemig.

Além disso, houve também uma palestra so-bre crédito rural para a aquisição de equipamen-tos de irrigação através dos programas de crédi-to existentes, tendo sido preparada uma cartilhapor todos os atores envolvidos, com explicaçõessobre o projeto de irrigação e sobre os equipa-mentos, demonstrações no campo de explora-ções em sequeiro e sob irrigação.

Foram evidenciadas várias formas de tornaro sistema mais lucrativo, incluindo-se sempre oque é o denominador comum da maioria dosprodutores, ou seja, a exploração do gado mes-tiço em pastagens, comentou Leticiane de Oli-veira Guedes Alves, engenheira agrônoma daCrediminas, ao dizer da importância de os téc-nicos estarem sintonizados para o preparativodos programas com as linhas de crédito descri-tas na cartilha.

No mesmo foco de preparo de bons proje-tos, foi visto como combinar a genética dos ani-mais, com demonstrações práticas com gadomestiço 3/4 Holandês-Zebu e, também, com oF1 Holandês-Zebu. Essa combinação constituium inovador sistema de maximização do apro-veitamento da heterose via cruzamentos bemdirecionados, como alternativas de exploraçãomista da pecuária bovina, incluindo-se cruza-mentos terminais, que combinam maravilhosa-mente com essa intensificação proporcionadapela irrigação pastagens e forragens para corte.

Assim, esse encontro já faz parte dos pre-parativos para um outro maior, fortalecendo oPCIP a ser realizado em setembro de 2007, no-vamente na Fazenda Santa Rita, da Epamig, emPrudente de Morais, quando será trabalhado otema da irrigação em conjunto com o evento doF1. “A combinação dos dois é perfeita”, concluiuCláudio Faccion, gerente da Fazenda Santa Rita,da Epamig, ao encerrar o Dia de Campo. �

O presidente da ABID, Helvecio Saturnino, apresentou o ProgramaCooperativo de Irrigação de Pastagens aos participantes

João CarlosBatista e JoséLuiz Costa,presidentes dascooperativasagrícolas daGrande BeloHorizonte e deEsmeraldas

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www.www. CL A S S I F I C A D O S

.abid.agr.br ou abid.org.brSite da Associação Brasileira de Irrigação eDrenagem, em organização, com informaçõessobre o Congresso Nacional de Irrigação eDrenagem (Conird) e a revista ITEM.

.agricultura.gov.brPortal do Ministério da Agricultura, Pecuáriae Abastecimento. Através dele, pode-se che-gar aos sites de quaisquer órgãos ligados aoMinistério, entre eles: Embrapa, InstitutoNacional de Meteorologia, Ceagesp, Agrofit,Proagro, Secretaria de Apoio Rural e Coope-rativismo etc.

.aiba.com.brSite da Associação de Agricultores e Irrigantesdo Oeste da Bahia, com notícias e informa-ções de interesse de seus associados. Dá aces-so a links de seus parceiros.

.ana.gov.brSite da Agência Nacional de Águas, que trazinformações interessantes para os pratican-tes e interessados na agricultura irrigada.

.apdc.org.brSite da Associação Brasileira do Plantio Dire-to, com notícias sobre o Sistema de PlantioDireto e o jornal Direto no Cerrado.

.bsca.com.brSite da Brazil Specialty Coffee Association(BSCA) ou Associação de Cafés Especiais doBrasil, onde o interessado poderá ficar saben-do tudo sobre o assunto e como certificar-seou filiar-se a essa entidade.

.cicbr.org.brSite do Centro de Inteligência do Café (CIC),onde os interessados no agronegócio cafépoderão encontrar uma série de informaçõesque lhes servirá como ferramenta para to-mada de decisões.

.ceivap.org.brSite do Comitê Integrado do Rio Paraíba doSul, que dá informações sobre o andamentodos trabalhos desenvolvidos nessa bacia hi-drográfica, que foi a primeira do País a co-brar de seus usuários pelo uso da água.

.coffeebreak.com.brSite com notícias atualizadas sobre o agro-negócio café, que dá links de acesso paravários setores de interesse da cafeicultura.-.congressosgo2007.com.brA Sociedade Brasileira de Floricultura e Plan-tas Ornamentais e a Associação Brasileira deCultura de Tecidos de Plantas estarão promo-

98 ITEM • Nº 73 • 1º trimestre 2007

vendo, no período de 10 a 15/09/2007, noCentro de Convenções de Goiânia, GO, o 16o

Congresso Brasileiro de Floricultura e Plan-tas Ornamentais e o 3o Congresso Brasileirode Cultura de Tecidos de Plantas.

.emater.df.gov.brSite da Empresa de Assistência Técnica e Ex-tensão Rural do Distrito Federal, com odownload gratuito do software Rural Pro2005, que permite aos técnicos e aos agri-cultores, de maneira simples e objetiva,analisar o desempenho econômico de suaspropriedades rurais e de suas atividades, fa-tores determinantes para um gerenciamen-to racional da propriedade familiar.

.funarbe.org.brSite da Fundação Arthur Bernardes, que dáapoio à Universidade Federal de Viçosa. Trazinformações sobre o trabalho desenvolvidopor ela e sobre o Centev/UFV, incubadora deempresas com base tecnológica.

.icid.orgSite da International Commission on Irrigationand Drainage (Icid), localizada em Nova Déli,Índia, com notícias internacionais sobre irri-gação e drenagem. Em inglês e francês.

.integracao.gov.brPortal do Ministério da Integração Nacional,onde pode-se chegar às informações daCodevasf (ou pelo site codevasf.gov.br), alémde ter acesso a publicações como o Frutisériese a revista Frutifatos, com edição sob a res-ponsabilidade da Secretaria de Infra-Estru-tura Hídrica.

.mda.gov.brPortal do Ministério do DesenvolvimentoAgrário, com notícias e informações de insti-tuições como o Incra (Instituto Nacional deReforma Agrária) e o Nead (Núcleo de Estu-dos Agrários de Desenvolvimento Rural), alémde notícias de interesse do produtor rural.

.mma.gov.brPortal do Ministério do Meio Ambiente, comnotícias sobre meio ambiente e legislaçãoatualizadas diariamente. Através dele, pode-se chegar a instituições ligadas como a Agên-cia Nacional de Águas, com a política nacionalde recursos hídricos e o Ibama, com a políti-ca nacional do meio ambiente.

.seag.es.gov.br/caféSite da Secretaria de Estado de Agricultura,Abastecimento, Aqüicultura e Pesca do Es-pírito Santo, onde o interessado poderá teracesso às informações atualizadas e históri-cas sobre a cafeicultura praticada no Estado.

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