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ROBERTO REQUIÃOGovernador do Estado do Paraná

VALTER BIANCHINISecretário de Estado da Agricultura e do Abastecimento

INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ - IAPAR

JOSÉ AUGUSTO TEIXEIRA DE FREITAS PICHETHDiretor-Presidente

ARNALDO COLOZZI FILHODiretor Técnico-Científico

ALTAIR SEBASTIÃO DORIGODiretor de Administração e Finanças

MARIA LÚCIA CROCHEMOREDiretora de Gestão de Pessoas

INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ

DOCUMENTO Nº 29MARÇO/07

Londrina 2007

MUDANÇAS GLOBAIS DO CLIMAIAPAR e SEAB em busca de soluções

Dalziza de Oliveira (Coordenadora)

COMITÊ EDITORIAL

Rui Gomes Carneiro – CoordenadorSéphora Cloé Rezende CordeiroSueli Souza Martinez - Editora ExecutivaTelma Passini

EDITOR REVISOR

Álisson Néri

DIAGRAMAÇÃO

Devanir de Souza Moraes

CAPA

Jonas Galdino / Maria Giovana Yoshino Sonomura

DISTRIBUIÇÃO

Área de Difusão de Tecnologia - [email protected] / (43) 3376-2373

TIRAGEM: 1.000 exemplares

Todos os direitos reservados

É permitida a reprodução parcial, desde que citada a fonte.É proibida a reprodução total desta obra.

INSTITUTO AGRONÔMICO DO PARANÁ

Impresso no Brasil / Printed in Brazil

2007

M943 Mudanças globais do clima: IAPAR e SEAB em busca de soluções/ Dalziza de Oliveira, Paulo Henrique Caramori e LeocádioGrodzki. Londrina: IAPAR, 2007.

22 p. (IAPAR. Documento, 29)

1. Mudanças climáticas. 2. Climatologia. I. Oliveira, Dalzizade. I. Caramori, Paulo Henrique. III. Grodzki, Leocádio. IV.Instituto Agronômico do Paraná, Londrina. V. Série.

CDD577.22

AUTORES

Dalziza de OliveiraEnga. Agra. Dra. pesquisadora da Área de Ecofisiologia

IAPAR – [email protected]

Paulo Henrique CaramoriEng. Agr. Dr. pesquisador da Área de Ecofisiologia

IAPAR – [email protected]

Leocádio GrodzkiEng. Agr. Dr. pesquisador da Área de Ecofisiologia

IAPAR – Unidade Regional de Pesquisa Leste – [email protected]

Revisão técnicaArnaldo Colozzi Filho

Eng. Agr. Dr. pesquisador da Área de SolosDiretor Técnico-Científico

IAPAR – [email protected]

APRESENTAÇÃO

Esta publicação foi gerada dentro do âmbito do Fórum Paranaense deMudanças Climáticas Globais, criado pelo Governo do Estado em 2005 com oobjetivo de divulgar o conhecimento científico referente às mudanças globaisdo clima junto à população paranaense.

Assim, o Instituto Agronômico do Paraná (IAPAR) e a Secretaria de Estadoda Agricultura e do Abastecimento (SEAB) expõem neste documento algumasdas linhas de atuação que têm seguido, já há mais de 30 anos, visando a proveros agricultores paranaenses de tecnologias agrícolas que causem menosproblemas para a atmosfera e para o meio ambiente em geral.

Muitas dessas tecnologias já estão sendo adotadas pelos agricultores,graças à integração entre as atividades da pesquisa e da extensão rural (EMATER-PR), mas talvez haja outras que ainda não sejam adotadas na sua região e vocêpoderá contribuir, buscando informações sobre como colocá-las em prática. Vejano final do texto como buscar respostas para suas dúvidas junto aospesquisadores do IAPAR.

Cada um de nós pode fazer uma grande diferença nessa luta em defesado ambiente. Participe você também!

SUMÁRIO

MUDANÇAS GLOBAIS DO CLIMA.................................................................. 9

EFEITO ESTUFA ....................................................................................10

QUAIS OS PRINCIPAIS IMPACTOS PREVISTOS? ................................................. 12

POSSIBILIDADES DE MITIGAÇÃO: PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO LIMPO..............13

COMO CONVIVER COM OS IMPACTOS DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA AGRICULTURA? ..14

11IAPAR e SEAB em busca de soluções

MUDANÇAS GLOBAIS DO CLIMA

Mudanças climáticas, efeito estufa ou aquecimento global são termosrelativos a um mesmo problema e têm ocupado cada vez mais espaço na mídiabrasileira e mundial. Embora haja uma variação natural do clima de ano paraano, há fortes evidências de que são as atividades humanas que estãoaumentando exageradamente a concentração dos gases causadores do efeitoestufa (GEEs). Entre os principais GEEs estão o vapor d’água, o dióxido decarbono (CO2), o metano (CH4), os óxidos nitrosos (N 2O), os CFCs, que já foramproibidos no passado devido aos danos causados à camada de ozônio, e osaerossóis (materiais particulados, como poeira e fumaça).

As concentrações atmosféricas dos GEEs (especialmente o CO2) vêmaumentando continuamente devido ao crescente uso de energia fóssil (petróleo,carvão e gás) e às mudanças no padrão de uso do solo, como na agricultura,urbanização e desmatamento.

Desde a Revolução Industrial, as concentrações atmosféricas de dióxidode carbono (CO2) aumentaram 25%, por conta da utilização crescente doschamados combustíveis fósseis (petróleo, carvão e gás), na razão de 0,4% aoano, o equivalente a 6 bilhões de toneladas de carbono por ano. Acredita-se quemetade dessas emissões é absorvida pelos vegetais e oceanos, enquanto a outrametade permanece na atmosfera.

Esses gases estão provocando um aquecimento exagerado da atmosfera(Fig. 1), que poderá vir a representar um aumento de 1,4°C até 5,8°C até 2100.Esse aumento pode parecer pequeno, mas isso não é verdade, uma vez quepequenas alterações na média da temperatura do planeta podem resultar emgrandes catástrofes para o ambiente e para todos os seres vivos. Entre asevidências do aquecimento global está a elevação do nível médio dos mares eoceanos, que aumentou entre 10 cm e 20 cm durante o século XX. Está sendoobservado o derretimento de áreas polares e também de geleiras das montanhasaltas, cuja cobertura de neve está regredindo rapidamente.

Ainda é difícil saber com certeza como o clima irá mudar em cadaregião do planeta. As mudanças no regime de temperatura podem afetartambém o regime de chuvas, intensidade dos ventos e outros. Contudo, apreocupação é grande com relação aos países em desenvolvimento, como oBrasil, que poderão sofrer muito mais com as mudanças climáticas do queos países desenvolvidos. Análises indicam que os países mais vulneráveisserão os que dependem mais diretamente da agricultura e os que já seressentem de secas ou outras variações climáticas.

12 Mudanças Globais do Clima

EFEITO ESTUFA

Quem já entrou em uma estufa de hortaliças sabe que, num dia frio, asensação é muito agradável, pois dentro da estufa é bem mais quente doque fora dela. Contudo, entrar na mesma estufa num dia de verão não énada agradável, pois o calor chega a ser insuportável. Se adicionássemosmais uma camada de filme plástico sobre essa estufa, a retenção de caloraumentaria, causando um aquecimento adicional. Pois isso é o que estamosfazendo ao emitir cada vez mais gases-estufa para a atmosfera.

O efeito estufa é um fenômeno natural que sempre existiu e queviabiliza a vida no nosso planeta (Fig. 2). Presentes na atmosfera, os GEEsaumentam a interceptação das radiações de ondas longas emitidas ourefletidas pela superfície da Terra (calor). Essa retenção de calor próximo àsuperfície terrestre evita que o planeta se torne tórrido de dia e gelado durantea noite (como a Lua, por exemplo). Em excesso, entretanto, o efeito estufacausa um superaquecimento, que pode ter conseqüências desastrosas, comoo derretimento de parte das calotas polares e a conseqüente elevação donível dos oceanos, inundando o litoral dos continentes.

Os GEEs são emitidos a partir de processos como a respiração (daspessoas, plantas e animais), processos orgânicos de fermentação queliberam metano, tais como o processo digestivo de animais ruminantes, afermentação do lixo ou de biomassa e, também, por acidentes ambientaiscomo vazamentos de gás ou de petróleo. Uma síntese das principaisatividades humanas responsáveis pela emissão dos GEEs no planeta éapresentada na Fig. 3.

Figura 1. Temperatura global média incluindo as terras e oceanos do planeta, desde 1960. Fonte: NOAA (agosto, 2003)

1960 1970 1980 1980 2000

0,75

0,50

0,25

0,00

-0,25

-0,50

13IAPAR e SEAB em busca de soluções

Alguns outros processos resultantes da ação humana que emitem CO2

para a atmosfera são:

a) As queimadas e derrubadas de florestas. É nesse setor que está o maiorcomprometimento do Brasil em relação à emissão global, devido aodesmatamento. Na queima de florestas, as emissões de CO 2 decorremdo processo de liberação do carbono contido na biomassa;

b) A queima de lixo;c) Os meios de transporte propelidos a partir de combustíveis fósseis;d) As indústrias em geral;

Figura 3. Atividades econômicas responsáveis pela emissão dos principais gases causadores doefeito estufa: gás carbônico (CO2), metano (CH4) e óxido nitroso (N2O).

Fonte: IPCC-SAR (1996)

Figura 2. Efeito estufa e o aumento da concentração de CO2 na atmosfera.

Fonte: Econergy Brasil

INDÚSTRIAS E USODE COMBUSTÍVEIS

FÓSSEIS

AGRICULTURA

MUDANÇASNO USO

DA TERRA

IPCC-SAR, 1996

66% 14%

20%

INDÚSTRIAS E USODE COMBUSTÍVEIS

FÓSSEIS

AGRICULTURA

MUDANÇASNO USO

DA TERRA

IPCC-SAR, 1996

66% 14%

20%

CO2

CH4

N2O

CO2

CH4

N2O

CO2

CH4

N2O

CO2

CH4

N2O

14 Mudanças Globais do Clima

e) O processo digestivo de ruminantes como bovinos, búfalos, cabras eovelhas, que elimina gás metano;

f) O cultivo do arroz irrigado, fonte de metano, que é problema em algunspaíses asiáticos onde o arroz é importante atividade agrícola;

g) Os aterros sanitários, onde há emissão de gases como o metano que équeimado para ser transformado em dióxido de carbono.

QUAIS OS PRINCIPAIS IMPACTOS PREVISTOS?

O Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC, sigla eminglês), órgão das Nações Unidas, reúne os principais cientistas que estudamesse problema. Criado em 1988, o IPCC já produziu quatro relatórios: 1990, 1995,2001 e 2007. Os cientistas que integram o painel avaliam os resultados de milharesde pesquisas realizadas pelas principais universidades do mundo todo. Ascertezas anunciadas pelo relatório, portanto, advêm de pesquisas já publicadase discutidas pela comunidade científica.

O relatório divulgado pelo IPCC em fevereiro de 2007 mostra que osimpactos do aquecimento global podem ser dramáticos. Já existe consenso deque o processo é irreversível e o máximo que se conseguirá nas próximas décadasé buscar mecanismos de adaptação e ajuste às mudanças. Há indicações de queos países tropicais como o Brasil serão os mais dramaticamente afetados.

O setor agropecuário deverá ser o mais diretamente afetado, pois éextremamente dependente das condições do tempo. As previsões indicamaumento tanto da média da temperatura como também da sua variabilidade.Isso significa que a ocorrência de eventos extremos deve aumentar, com períodosexcepcionalmente chuvosos ou secos, quentes demais ou de menos. Essasoscilações terão diferenças regionais importantes e, seguramente, levarão a umaredefinição do mapa da produção agrícola.

Se o regime de chuvas realmente for alterado, todas as atividadesrelacionadas aos corpos hídricos serão afetadas. O Brasil é um país fortementedependente da hidroeletricidade, e onde ocorrer redução de chuvas haveráproblema na geração de energia. A captação de água pode ser prejudicada, sendonecessário aumentar investimentos em saneamento para evitar transbordamentodos sistemas de tratamento de esgoto em casos de cheias.

O setor de saúde poderá sofrer um grande efeito, pois há indicações deaumento da incidência de doenças tropicais. Deverão se alastrar, por exemplo,doenças tropicais transmissíveis por vetores, como malária e dengue, além dedoenças de veiculação hídrica.

15IAPAR e SEAB em busca de soluções

O mapa do turismo também poderá sofrer modificações, especialmentenas áreas costeiras, que concentram a maioria dos turistas. Isso irá gerar efeitosde encadeamento em diversos setores de serviços associados (hospedagem,alimentação, transporte, entre outros).

Mesmo setores que aparentemente estão distantes do mundo naturalacabarão sendo afetados. Um exemplo é o setor de seguros: a maior incidênciade desastres levará à necessidade de se precaver contra o aumento de sinistros.

POSSIBILIDADES DE MITIGAÇÃO:PROJETOS DE DESENVOLVIMENTO LIMPO

Efeitos econômicos positivos podem ser esperados em função deinvestimentos que visem à redução das emissões de GEEs. O Brasil já se destacacomo líder em projetos de gerenciamento de lixo para obter créditos de carbonoatravés da redução de emissões de metano, através do Mecanismo deDesenvolvimento Limpo (MDL). O metano é queimado para ser transformadoem gás carbônico, que possui um poder de aquecimento global muitas vezesmenor que o do metano. Por isso, a queima do biogás, que escapa dos depósitosde lixo reduz o aquecimento global, além de poder gerar eletricidade.

Projetos de conversão de plantas industriais visando a reduzir emissõesde GEEs resultantes da atividade manufatureira, como óxido nitroso ehidrofluorcarbonos deverão atrair projetos de MDL. Esses gases têm grandepoder de aquecimento global, e a redução nas suas emissões podem gerar grandevolume de créditos de carbono.

Outra possibilidade são projetos de reflorestamento, uma vez que asárvores capturam carbono da atmosfera através da fotossíntese. Projetos deMDL envolvendo reflorestamento se aplicam tanto a espécies florestaisnativas quanto a exóticas. Também são elegíveis para obtenção de créditosde carbono, projetos que busquem aumento da eficiência energética ou usode fontes renováveis de energia. Nessa linha, entram os projetos de uso debiocombustíveis em frotas cativas. O Brasil dispõe de alta participação decombustíveis renováveis de origem vegetal, através do etanol e do biodiesel,que se encontram atualmente em fase de expansão. Há a necessidade,contudo, de se criar um mecanismo eficiente de certificação dessesbiocombustíveis para garantir que sua produção não esteja criando novosproblemas ambientais e sociais.

16 Mudanças Globais do Clima

Bela Vista do Paraíso

Ibiporã

CambaráBandeirantes

JoaquimTávora

Telêmaco Borba

Campo Mourão

Paranavaí

UmuaramaXambrê

Palotina

Nova Cantu

Cascavel

Laranjeiras do SulGuarapuava

Irati

Lapa

Cerro Azul

Guaraqueçaba

Morretes

Pinhais

Planalto

Francisco Beltrão

Pato BrancoClevelândia

Palmas

Ponta Grossa

Londrina

Medianeira

SEDE - Londrina

Pólo Regional - 2

Estação Experimental - 17

Estação Agrometeorológica - 23

Laboratório de Análise de Solo - 5

COMO CONVIVER COM OS IMPACTOSDAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS NA AGRICULTURA?

Desde sua implantação, em 1972, o IAPAR tem como meta odesenvolvimento de tecnologias agropecuárias de baixo impacto sobre o meioambiente. Presente em todo o Estado, com suas estações experimentais, camposde produção de sementes, laboratórios e rede meteorológica (Fig. 4), o IAPARsempre buscou gerar tecnologias adaptadas às demandas regionais.

Figura 4. Localização das unidades físicas do IAPAR no Estado do Paraná.

Um trabalho importante que SEAB, IAPAR e EMATER-PR têm feito desdea década de 70 se refere ao combate à erosão. O combate à erosão é fundamentalporque é nas camadas mais superficiais do solo que se concentra a maiorquantidade de carbono, armazenado na forma de matéria orgânica (Fig. 5). Afim de evitar que a força da água carregue as partículas de solo diluídas naenxurrada, é fundamental que se mantenha o solo coberto o ano todo. Com essacompreensão, os pesquisadores do IAPAR se uniram a outras lideranças dosetor agrícola para estudar e difundir a técnica do plantio direto, hoje largamenteadotada pelos produtores paranaenses. No plantio direto, os restos culturaissão mantidos sobre o solo após a colheita dos grãos, protegendo-o da erosão. Oplantio seguinte é feito sobre a palha, apenas sulcando-se o solo, sem uso de

17IAPAR e SEAB em busca de soluções

arado ou grade. A permanência da palha na superfície reduz sua taxa dedecomposição, contribuindo com a manutenção ou mesmo elevação dos teoresde matéria orgânica do solo. Por isso, com o plantio direto deixa-se de emitircarbono para a atmosfera, ou essa emissão é imensamente reduzida,principalmente quando se compara ao cultivo convencional, que incorpora osrestos vegetais ao solo através da aração, ou ao uso do fogo para queimar osrestos culturais (Fig. 6). O uso do fogo na agricultura é uma prática ultrapassadaque tem que ser evitada a todo custo, principalmente nesse momento em que oplaneta corre perigo com o aquecimento global (Fig. 7).

Figura 5. Erosão causada pelo manejo inadequado do solo.

Figura 6. Conservação do solo. À frente, soja cultivada no sistema de plantio direto. Ao fundo,sistema de plantio convencional mostrando o solo exposto.

A B

18 Mudanças Globais do Clima

Com o aumento da ocorrência de períodos secos e aumento também datemperatura do ar, o papel do produtor rural na interceptação da água daschuvas, sua infiltração no solo e no cuidado com as nascentes passará a serfundamental e poderá definir a viabilidade ou não dos empreendimentosagrícolas. Aí surge outra grande vantagem do plantio direto: o solo coberto compalha aquece menos, causando menos evapotranspiração (combinação daevaporação do solo mais a transpiração das plantas), ou seja, há uma economiade água em relação ao plantio convencional. Outra vantagem do plantio direto:o maior teor de carbono, na forma de matéria orgânica, resulta em maiorarmazenamento de água no solo. Assim, além de oferecer um saldo positivocom relação ao ciclo do carbono, as áreas de plantio direto ainda têm a vantagemde suportar melhor os períodos de estiagem e as altas temperaturas do ar.

Mas o trabalho do IAPAR não se restringiu ao plantio direto. As equipesde adubação e nutrição de plantas sempre buscaram alternativas para reduzir ouso de fertilizantes químicos nos cultivos agrícolas . A maioria dessesfertilizantes químicos são subprodutos do petróleo e contribuem para oagravamento do efeito estufa, principalmente alguns adubos nitrogenados queemitem óxido nitroso (N

2O). O agricultor pode encaminhar suas amostras de

solo ao IAPAR para conhecer a real necessidade de adubação, a fim de evitardesperdícios, que resultam em prejuízos financeiros e danos ambientais.

Enquanto isso, a equipe de microbiologia de solos tem buscado associaçõesbenéficas de organismos microscópicos com as raízes, a fim de que as plantas

Figura 7. Uso do fogo para desmatamento e limpeza de terrenos: tecnologia ultrapassada, que devolvetodo o carbono que estava fixado na vegetação para a atmosfera, agravando o efeito estufa.

A B

19IAPAR e SEAB em busca de soluções

obtenham da própria natureza os nutrientes necessários ao seu desenvolvimento.Assim é o caso do nitrogênio, que pode ser obtido pelas plantas diretamente doar atmosférico, através do rizóbio (Fig. 8). Desde 1998, já está disponível aosprodutores de feijão uma estirpe de rizóbio selecionada pelo IAPAR, que seadapta às condições de clima e solo do Paraná, e reduz a necessidade de aplicaçãode nitrogênio no feijoeiro. Adubos nitrogenados como a uréia e a amônia estãoentre os derivados de petróleo mais importados pelo Brasil nas últimas décadas,sendo um dos componentes mais caros no custo de produção.

Figura 8. Raízes de plantas leguminosas com nódulos de rizóbio. Eles fixam o Nitrogênio do ar, queserá usado pela planta hospedeira para produzir proteínas.

A pesquisa desenvolveu também técnicas de manejo racional de pragas,doenças e plantas daninhas. O manejo racional tem por objetivo reduzir o usode agrotóxicos usados na agricultura, protegendo quem os aplica, o ambiente, etambém reduzindo o impacto sobre a atmosfera, já que esses produtos são, emsua maioria, derivados do petróleo.

A fim de viabilizar a agricultura orgânica, que dispensa o uso deagroquímicos, o IAPAR tem estudado o uso de produtos naturais para ocontrole de pragas, como é o caso do Nim, uma árvore originária da Índiacujas folhas, sementes e casca são usadas para produzir um bioinseticida queage sobre grande número de insetos-praga, com a vantagem adicional de serbiodegradável (Fig. 9).

Os adubos verdes usados para cobertura do solo no inverno ou verãoconstituem outra forma de evitar a exposição do solo, reduzindo as perdas desolo causadas pelas chuvas e pelo vento, e a emissão de partículas de solo naforma de poeira, que também altera o balanço de energia do planeta. São hojemais de 15 espécies recomendadas de adubos verdes, que permitem manter adiversidade de microrganismos do solo ao longo do ano e resultam em aumentono teor de carbono orgânico do solo.

A B

20 Mudanças Globais do Clima

Figura 9. Nim. A: árvore adulta; B: frutos maduros; C: produtos diversos gerados a partir do nim.

Com sua rede de estações, o IAPAR tem coletado, consistido e analisadoos dados climáticos que indicam que já houve, ao longo desses 30 anos, aumentomédio de 1,5°C nas temperaturas mínimas registradas na madrugada. Essasséries de dados meteorológicos de boa qualidade permitiram à equipe do IAPARliderar a elaboração do Zoneamento Agrícola para a maioria das culturas deimportância agrícola no Estado (Fig. 10). Os estudos climáticos buscaramidentificar as épocas do ano em que há maiores riscos de ocorrência de geadas,secas e excesso de chuvas. Uma vez identificadas as épocas de risco, pôde-sedefinir as datas de plantio com maior chance de sucesso, de acordo com o tipode cultivar e o sistema de plantio adotado em cada região.

A introdução e adaptação de espécies florestais, como a seringueira noNoroeste do Estado, permitem neutralizar as emissões de gases do efeito estufae ainda obter renda complementar aos produtores através dos créditos decarbono (Fig. 11). Pesquisa coordenada pelo IAPAR em 2002 indicou que um

21IAPAR e SEAB em busca de soluções

seringal comercial, nas condições do Noroeste, fixa aproximadamente 90toneladas de carbono ao longo de 15 anos (Fig. 12). Essas taxas são bastantesatisfatórias e semelhantes a resultados obtidos na Malásia, o maior exportadorde borracha natural do mundo.

Figura 10. Mapa do zoneamento agrícola do feijão das águas: aplicação da informação meteorológicapara reduzir os riscos de perda de safras.

Figura 11. Vista de um seringal adulto com produção de látex, no Noroeste do Paraná.

21Jul-20Ago

11Ago -10Set

Agosto

11Set-20Out

Setembro

Agosto

Setembro

21Ago -20Set

10Ago -10Set

Agosto

Jul - Ago

11Ago-20Set

10Set-10Out

Setembro

Outubro

11Out-15Nov

21Set-20Out

11Ago-10Set

11Jul-20Ago

21Set-20Out

10Set-20Out

Épocas de semeadura por regiões homogêneas

22 Mudanças Globais do Clima

Outra técnica ambientalmente amigável e com possibilidades no mercadode carbono são os sistemas agrosilvipastoris , onde se associam a produçãovegetal, florestal e a pecuária. Um exemplo disso são as pastagens arborizadas.Pesquisa realizada no Noroeste do estado mostrou que a arborização trouxebenefícios tanto para as pastagens, que apresentaram melhor qualidade, quantopara as vacas de leite, que buscavam a sombra das árvores para aumentar seuconforto térmico, pastejavam por períodos mais longos e, conseqüentemente,aumentaram sua produção de leite.

A arborização de cafezais mostra também efeitos benéficos tanto navitalidade e longevidade dos pés de café, como na proteção contra geadas.Cafezais arborizados têm apresentado temperaturas de 3°C a 5°C superioresaos não arborizados durante o período mais frio do ano, permitindo asobrevivência das plantas mesmo em anos de geadas severas. Por outro lado,nos dias quentes, o ambiente ameno propiciado pela arborização é amplamentefavorável à produção de cafés, com excelente qualidade de bebida (Fig. 13).

A pesquisa em melhoramento vegetal do IAPAR, ao longo de seus 35anos, já contribuiu com o lançamento de cerca de 150 cultivares com amplaadaptação às diferentes condições de clima e solo do estado, sempre visando àprodutividade com redução no uso de insumos. E em tempos de mudança, oIAPAR segue buscando novas espécies e cultivares que se adaptem às condiçõesadversas que as mudanças climáticas estão nos indicando.

Figura 12. Conteúdo de carbono em tronco, galhos, folhas e raízes de seringueiras com idades de 3,5 e 15 anos.

Conte

údo

de

carb

ono

(Mg/h

a)

3,5

0

20

40

60

100

80

5,5 15,0

Tronco

Galhos

Folhas

Raízes

Idade (anos)

23IAPAR e SEAB em busca de soluções

Figura 13. Café arborizado. A: com leucena; B: com bananeiras.

O Estado do Paraná vem também se estruturando para a “Era daAgroenergia” através do Programa Paranaense de Bioenergia, lançado emnovembro de 2003 com a finalidade de gerir e fomentar ações de pesquisa edesenvolvimento, aplicações e uso da biomassa no Paraná. Em trabalhoconjunto, IAPAR e TECPAR têm buscado as melhores fontes de óleosvegetais para produção de biodiesel (Fig. 14). O biodiesel tem a vantagemde poluir menos (emite menos CO2, menos fumaça e menos enxofre do queo diesel de petróleo) e afetar positivamente a balança comercial brasileira.

As mudanças climáticas apresentam novos desafios ao setor agrícolae indicam a necessidade de maior aporte de recursos para a pesquisa agrícolado Estado (Fig. 15). Soluções continuarão a ser buscadas pelo IAPAR, semprecom o objetivo de obter modelos agrícolas que sejam sustentáveis do pontode vista sócio-econômico e ambiental.

A

B

24 Mudanças Globais do Clima

DÚVIDASEnvie suas questões para [email protected]

Figura 15. IAPAR: há 35 anos desenvolvendo tecnologias sustentáveis.

Figura 14. Algumas das oleaginosas que estão sendo estudadas pelo IAPAR para produção debiodiesel. A: girassol; B: mamona; C: tungue; D: cártamo; E: amendoim; F: naboforrageiro.