roberto farias - catálogo

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    Este livro foi impresso pela Gráca Stamppa LTDA. 

    Formato 180 x 250 mm, Miolo 220 págs.

    em Couche Ma t te LD - IMP 90 g /m2 , 

    1x1 cores, Miolo 48 págs. em Couche Matte LD -

    IMP 90 g/m2, 4x4 cores, Capa Supremo LD 300 g/ m2, 4x1 cores, Heliográca PB (Miolo), Heliográca

    Colorida (Miolo) e utilizou as fontes Adobe Garamond

    Pro, Century, Helvética e Helvética Narrow.

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    HADIJA CHALUPE DA SILVA SIMPLÍCIO NETO

    (org.)

    OS MÚLTIPLOS LUGARES DE ROBERTO FARIAS

    1ª edição

    Rio de Janeiro Jurubeba Produções

    2012

    Ministério da Cultura apresenta

    Banco do Brasil apresenta e patrocina

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    5Os múltiplos lugares de Roberto Farias

    O Ministério da Cultura e o Banco do Brasil apresentam Os múltiploslugares de Roberto Farias, retrospectiva completa dos seus longas-metragens,acompanhada de outros títulos de sua filmografia além da função de diretor. A programação inclui também parte de sua extensa atividade na televisão nointuito de demonstrar a diversidade de funções e papéis desempenhados poresse autêntico homem de cinema.

    Este ano, comemora-se 80 anos deste realizador, nascido em Nova Friburgona década de 1930. Sua trajetória pessoal e profissional confunde-se com aprópria história do cinema e do audiovisual brasileiro das últimas sete décadas.Diretor, produtor, distribuidor, empresário, articulador de políticas públicaspara o desenvolvimento do audiovisual, o percurso de Roberto Farias começadentro da chanchada, move-se com o Cinema Novo, a gestação da Embrafilme,passa pelos primeiros diálogos do cinema com a televisão e chega até os diasde hoje. Do trabalho como assistente em diversas produções e de seu primeirolonga, Rico ri à toa  (1957), até Os Trapalhões no Auto da Compadecida  (1987),chegando aos muitos projetos para a televisão, os diferentes lugares ocupadospor Roberto Farias espelham sua rara versatilidade e autoridade na definição

    dos limites e possibilidades do trabalho audiovisual. Farias é um emblema– para além de suas próprias realizações, conquistas, promessas, impasses edesafios enfrentados pela área do audiovisual no Brasil.

    Mais do que uma merecida homenagem, o Centro Cultural do Banco doBrasil, ao realizar a mostra Os múltiplos lugares de Roberto Farias, coma colaboração da Cinemateca Brasileira, não só oferece às novas geraçõesde realizadores, jovens críticos, cinéfilos e público em geral a oportunidadede conhecer melhor a obra desse ícone do cinema nacional, como tambémreafirma seu compromisso com a valorização da expressão audiovisual do País.

    Centro Cultural Banco do Brasil

       F  o

       t  o  :

       A  r  q  u

       i  v  o  p  e  s  s  o  a

       l   d  e

       R  o

       b  e  r   t  o

       F  a  r   i  a  s

       R  o   b  e  r   t  o   F  a  r   i  a  s   d  u  r  a  n   t  e  a  s   f   l  m  a  g

      e  n  s   d  e   R  o   b  e  r   t  o   C  a  r   l  o  s  e  m

      r   i   t  m  o   d  e  a  v  e  n   t  u  r  a

       (   1   9   6   7   )

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    7Os múltiplos lugares de Roberto Farias

       F  o

       t  o  :

       A  r  q  u

       i  v  o  p  e  s  s  o  a

       l   d  e

       R  o

       b  e  r   t  o

       F  a  r   i  a  s

       G  e  r   i  c   i  n   ó   M  e   d  e   i  r  o  s  e   R  o   b  e  r   t  o   F  a  r

       i  a  s   d  u  r  a  n   t  e  a  s   f   l  m  a  g  e  n  s   d  e   R  o   b  e  r   t  o

       C  a  r   l  o  s  e  m

      r   i   t  m  o   d  e  a  v  e  n   t  u  r  a

       (   1   9   6   7

       )

    É com muito prazer que a Cinemateca Brasileira se faz presente comoparceira na realização desta homenagem a Roberto Farias, um dos cineastasmais expressivos do cinema brasileiro.

     A obra que resulta de sua rica trajetória, ainda em curso, é surpreendentepela diversidade de gêneros sempre marcados por um aspecto de autoria. Apreservação de vários títulos e a confecção de novas cópias, trabalho efetivadopela Cinemateca, permite devolver ao público um conjunto de filmesfundamentais da cinematografia brasileira.

    Vale destacar o papel da Cinemateca Brasileira não só na suaresponsabilidade de preservação e restauração, mas também de difusão eformação. Participar ao lado de tantos outros – empresas, organizações,instituições – tem sido a estratégia da Cinemateca para avançar nocumprimento de sua missão. Nesta mostra temos a satisfação de vermosreforçada a relação com a universidade – a aproximação gerada porinteresses comuns é enriquecedora para ambas as partes, já que há umacomplementaridade nas ações desenvolvidas por essas instituições.

     A pesquisa e o ensino de cinema sempre estiveram vinculados à Cinematecaem função dos filmes que preserva e abriga, da sua biblioteca e centro dedocumentação. Várias gerações foram formadas, e continuam sendo, tendocomo base esse acervo. Direcionar essa competência para, entre outras ações,interagir com a sociedade com o foco na formação de público, e beneficiaro ensino e a formação em suas várias vertentes, é função fundamental daCinemateca Brasileira.

    Nesse sentido, a participação neste evento evidencia a importânciada parceria com todas as entidades envolvidas e, principalmente, com aUniversidade Federal Fluminense.

    Cinemateca Brasileira 

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    9Os múltiplos lugares de Roberto Farias

    Por que Roberto?

    1. Este projeto começou a ser desenvolvido pelo Curso de Cinema daUniversidade Federal Fluminense, em conjunto com seu Programa de Pós-graduação em Comunicação, em 2010, quando resolvemos dedicar umsemestre da disciplina optativa Estudo Específico do Cineasta Brasileiro ao realizador Roberto Farias. A exemplo de outras bem-sucedidas disciplinasanteriores, esta era mais uma forma de reforçar a integração pedagógica entrea graduação e a pós. A perspectiva dessa disciplina vinculada ainda à ideia deum cinema de autor (ou de diretor, realizador) contou com o interesse e aparceria direta de Roberto. Desde a gestação da ideia, o realizador não só semostrou disposto a fornecer cópias de todos os seus longas-metragens paraexibição e análise em aula, como também concordou em disponibilizar seutempo em dois encontros com os alunos e numa rica e produtiva Aula Magna,proferida em 6 de outubro de 2011.

    Para nós, professores, a oportunidade de se debruçar a fundo, e de formacronológica, sobre a obra de um de nossos mais importantes e influentesrealizadores era também a chance de rever certos paradigmas críticos —

    especialmente a tensão entre conceitos geralmente contraditórios como autoriae gênero. E, talvez mais importante ainda, revê-los diante de uma nova geraçãodistante daqueles filmes, ainda que se considere um possível contato com seuúltimo longa exibido nos cinemas, Os Trapalhões no Auto da Compadecida , de1987. A experiência certamente produziria novas reações e olhares.

     À medida que os fi lmes eram exibidos, analisados e discutidos emaula, e que diversas abordagens e temas de pesquisa eram apresentadosaos alunos como possíveis trabalhos monográficos finais, foi ficando paranós muito claro que tínhamos a chance de produzir ali material novo,fresco, que pudesse, na medida do possível, tentar reavaliar toda a potência

    daqueles filmes. Especialmente, poderíamos esclarecer dúvidas, abrir novasquestões, rever argumentos ultrapassados, preencher vazios, construirpontes para uma parcial, porém substanciosa revisão da própria históriado cinema brasileiro das últimas sete décadas. Um projeto tão ambiciosoquanto desafiador. 

    Um pouco depois da metade do semestre, e motivados pelos alunos –especialmente os de pós-graduação – conscientes da importância de queestávamos realizando algo importante de forma fechada, na universidade,resolvemos pensar em formas de disponibilizar parte daquelas descobertas.

       F  o

       t  o  :

       A  r  q  u

       i  v  o  p  e  s  s  o  a

       l   d  e

       R  o

       b  e  r   t  o

       F  a  r   i  a  s

       R  o

       b  e  r   t  o

       F  a  r   i  a  s  e

       d   i   t  a  n

       d  o

       (   1   9   7   2   )

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    Vislumbramos a possibilidade de desenvolver um projeto que tambémpudesse servir como justa homenagem a esse realizador que completa80 anos em 2012. Foram se concretizando um projeto de retrospectiva,

    seminários, curso, exposição e edição de um livro-catálogo. O interesse e oapoio do Centro Cultural Banco do Brasil, parceiro fundamental do Cursode Cinema da UFF na realização de mostras e especialmente de cursosconjuntos, mostraram-se fundamentais. Foi também fundamental a parceriada Cinemateca Brasileira na confecção de novas cópias e restauração detítulos que já se encontravam razoavelmente comprometidos, como Cidadeameaçada , Selva trágica  e No mundo da Lua .

    Enquanto projeto pedagógico, este ciclo de eventos aponta aos alunos decinema e audiovisual as múltiplas atividades relacionadas a nosso campode trabalho, ou seja, a complexa organização de mostras retrospectivas, a

    importância de uma curadoria, a busca, localização e restauração de cópias,a seleção de materiais, a edição de textos, entre outras tarefas necessárias. Etorna visível a socialização do conhecimento produzido dentro do universoainda muitas vezes fechado da universidade pública no Brasil.

    2. Ainda bebê, Roberto já frequentava o Cine Teatro Leal no colo desua mãe de apenas 17 anos, Dona Anna, na Nova Friburgo dos anos 30,uma cidade serrana de vida pacata e onde o bilhete de entrada do cinemacustava apenas 400 réis. Depois a mãe, quando frequentava sozinha oCine Eldorado, lhe contava os filmes que via, uma qualidade de narradoraherdada do avô, exímio contador de histórias. Este fascínio pelos dramas

    e comédias registrados na primeira infância iria acompanhar Roberto pelavida inteira. Agora, já maduro, uns dias antes de completar seus 80 anos, elenos confessa, na tranquilidade de seu sítio em Caledônia, que assiste quandopode a alguns capítulos de novela, analisando sua estrutura dramática, odesenvolvimento das tramas e a caracterização dos personagens, para vercomo anda a dramaturgia popular. Mas lá atrás, quando se viu mesmoaprisionado pelas imagens e sons, Roberto optou pela imagem, desde queganhou de Dona Anna, aos 14 anos, sua primeira câmera fotográfica. Umaexperiência tão marcante que ele guarda até hoje suas primeiras fotos deanjos, túmulos e cemitérios, e o que pode talvez ser considerado seu primeirotrabalho de direção – fotografar seu irmão mais novo, Reginaldo, sentado

    no parapeito de uma janela, segurando um passarinho e deixando umalágrima escorrer pelo rosto.  Mise en scène  perfeita, controle da iluminaçãonatural, direção de ator, enquadramento – ali se encontravam indícios deuma vocação indiscutível. É esse interesse que o fez se voltar para a técnicafotográfica e por conta disto se tornar amigo do filho do dono de umaótica local, aprender a revelar e criar o Clube de Fotografia, e realizar seuprimeiro filme em 8mm com a câmera emprestada pelo pai. Era um bangue-bangue, claro, a referência genérica mais afinada com o melhor cinemade Hollywood, que alimentava aquelas telas e aquelas imaginações na friaSerra do Mar. Foi no curso científico que Roberto ficou amigo de um rapaz

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    chamado Dickson, alguns anos mais velho, o Gaúgo, cuja família tinha umhotel na cidade. Dickson era nada mais nada menos que irmão de WatsonMacedo, o já então célebre diretor de Este mundo é um pandeiro (1947),

    ... E o mundo se diverte   (1948) e outros filmes que começavam a marcarsua carreira. Roberto começa a conviver com personalidades do mundo docinema além de Macedo: Alinor Azevedo, Aurora Duarte, Edgard Brasil, Anselmo Duarte. Macedo é também um contador de histórias, que juntocom Dona Anna e Seu Carlos vai completar o trio de narradores-mestresque fará de Roberto um incansável caçador e colecionador de boas histórias.Macedo gostava de recontar dramas que tinha ouvido ou visto para avaliaro impacto das narrativas sobre os ouvintes e foi assim que Roberto ouviu Asombra da outra , um drama sobre dupla personalidade que tinha sido umabem-sucedida novela da Rádio Nacional, baseado no romance Elza e Helena ,de Gastão Cruls, admirando o método fabular do realizador. Encantado

    com este universo, Roberto viu ali um campo de trabalho profissional edecidiu tentar a sorte na capital. Pensou em fazer Belas Artes, até porquetinha algum talento para o desenho, mas desistiu da ideia. Pensou emfazer arquitetura, fez o pré-vestibular. Concluiu o científico e, instalado nacasa do tio Wilmar, em São Gonçalo, começou a frequentar a Atlântida,onde, em 1949, rodava-se Carnaval no fogo, com o elenco estelar dacompanhia, Anselmo Duarte, Eliana, Oscarito e Grande Otelo, AdelaideChiozzo, Wilson Grey, José Lewgoy. Roberto, na qualidade de fotógrafode still  do filme  Maior que o ódio, de 1951, é contratado por um conto equinhentos, e adentra finalmente no mundo do entretenimento... pela porta

    da frente. E lá aprendeu o conselho de seus mestres: ser útil, necessário eindispensável, qualidades essenciais para se fazer cinema. Munido dessasreflexões Roberto construirá uma carreira no audiovisual com característicasrealmente múltiplas e que farão jus à sua vontade de aprender, experimentar,diversificar suas atuações tanto na realização propriamente dita quanto noamplo espectro de atividades possibilitadas pela área.

    3. Voltando às motivações principais que originaram este projeto decuradoria (desdobrado de uma sequência de cursos oferecidos tanto nagraduação do Departamento de Cinema e Vídeo da UFF quanto em sua pós-graduação em Comunicação), um feixe de questões centradas na atualizaçãodas teorias sobre gêneros cinematográficos (cursos oferecidos sobre o musicale o filme noir ) ganharam ênfase. Muito em razão das constantes acusaçõesque líamos a respeito de um “diretor sem estilo”, “apenas um artesão” e poraí afora. O estudo detalhado dos conceitos de gênero, conforme sugeridospelas leituras e discussões de, entre outros, Steve Neale e Rick Altman, acabavalevando sempre e inescapavelmente ao questionamento também de noçõesde autoria.1 Na revisão histórica das origens desses conceitos – em especialo de autoria –, o caminho a ser percorrido traçava uma linha que vinha

    1. Ver, por exemplo, o ensaio “Questions of Genre”, de Steve Neale, publicado em Film Genre Reader III ,antologia organizada por Barry Keith (Austin: University of Texas Press, 2003) e o clássico estudo de Rick Altman“A Semantic/Syntactic Approach to Film Genre”, nessa mesma antologia.

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    das vanguardas dos anos 20, encontrava em 1948 a célebre formulação dacaméra-stylo, a câmera caneta de Alexandre Astruc, e chegava ao momento-chave de consolidação do cinema de autor e de sua  politique  defendida com

    fervor pelos jovens críticos e depois cineastas da Nouvelle Vague, mais tardetambém adaptada e popularizada no contexto norte-americano pela verve eentusiasmo do crítico Andrew Sarris, recentemente falecido.2 Entre 1959, anoem que o jovem autor François ruffaut ganhou reconhecimento em Cannespor seu Os incompreendidos, até 1963, quando é a vez de Fellini levar a Palmade Ouro por 8 ½ (aqui ele mesmo como o diretor-autor-celebridade sendoobjeto de um olhar reflexivo radicalmente irônico e distanciado), o debateentre autoria e gênero ganhou potência, sempre pelo viés francês ditado pelainfluente Cahiers du Cinéma . Nos termos do debate havia uma polarizaçãomuito clara entre autor e artesão, que incluía a hierarquização do primeiroconceito, sempre valorizado como superior em relação ao segundo. E também

    a certeza da possibilidade de ser autor , dentro dos limites impostos pelo gênero,no esquema industrial de Hollywood, conforme exemplificavam Hitchcock,Ford, Hawks, Ray, Preminger, Minnelli, entre outros. Mas a oposição francesaentre autor e artesão aqui chegou pela verve de Glauber Rocha, que nãotitubeou em rotular Roberto Farias de artesão nas páginas de seu influenteRevisão crítica do cinema brasileiro, ainda que se equilibrando nos elogios.3

     Ao começar a rever os filmes de Roberto Farias de forma cronológica, nossaintuição era a de tentar des-hierarquizar esses termos, fundi-los, problematizá-los. E, com esse intuito, nada melhor do que contextualizar o próprioRoberto nas origens do cinema moderno brasileiro a partir da revolução do

    Cinema Novo.Nada como o tempo e a possibilidade de contacto com boa parte de uma

    filmografia esquecida e pouco exibida para reajustar determinadas coisas erever, especialmente, certos (pré)conceitos. Em primeiro lugar, vale relembrarque não foi o vencedor da Palma de Ouro em Cannes em 1962, O pagador de promessas , de Anselmo Duarte, que ajudou a chamar atenção para o modernocinema brasileiro dos anos 60. Bem próximo dele, o terceiro longa-metragemde Roberto Farias, Cidade ameaçada   (1960), esteve na mesma Cannesselecionado para competição, lado a lado com, entre outros,  A aventura , de Antonioni, Herança da carne , de Minnelli, A fonte da donzela , de Bergman, A

    chave , de Ichikawa, Nunca aos domingos , de Dassin, A adolescente , de Buñuele  A doce vida , de Fellini – este, o vencedor incontestável daquele ano. Aoambientar um drama de tintas noir  em cenários neorrealistas da periferia deSão Paulo, Roberto Farias, então com 28 anos, era, talvez, o diretor mais jovem ali em competição naquele ano.4 Jovem, curioso e principalmenteatento ao que acontecia de mais inovador e instigante em termos de linguagem

    2. SARRIS, Andrew. The American Cinema; directors and directions, 1929-1968 . New York: Dutton, 1968.3. ROCHA, Glauber. Revisão crítica do cinema brasileiro. São Paulo: Cosac & Naify, 2003. pp. 136-138.4. Vale lembrar que, anteriormente, o cinema brasileiro já havia apresentado em Cannes os flmes Caiçara (1950),de Adolfo Celi e O cangaceiro  (1953), de Lima Barreto.

    F  o t   o: A r  q ui  v  o p

     e s  s  o al   d  eR o b  er  t   oF  ar i   a s 

    R o b  er  t   oF  ar i   a s  eR e gi  n al   d  oF  ar i   a d  ur  an t   e a s f 

    l  m a g en s  d  eN om un d  o d  aL  u a (  1  9  5  8 

     )  

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    cinematográfica no ano em que consagrou, exatamente na figura de Fellinie seu filme vencedor, um momento-chave na consolidação do jovem cinemade autor  que tomava conta do mundo, inaugurado um ano antes com a já

    citada premiação de ruffaut e seus Os incompreendidos , também em Cannes.Sabemos da importância dos festivais de cinema europeus no desenho doscinemas novos mundo afora, em especial o que se fazia pela América Latina, eRoberto Farias é um dos protagonistas desse momento de construção do queficou chamado de cinema moderno.

    Mas em seu período de formação, como fotógrafo de still   e depoisassistente de direção, Roberto vivenciou na prática e na teoria uma espéciede tensão entre diferentes desejos  de cinema. Dentro da própria AtlântidaCinematográfica, onde iniciou sua carreira, o aprendizado no dia a dia daprodutora o colocava diante de personalidades tão diferentes quanto um José

    Carlos Burle, Alinor Azevedo, Watson Macedo ou, ainda, J. B. anko; e,fora da Atlântida, o argentino Carlos Hugo Christensen. Melodrama, filmepolicial, chanchada, gêneros diferentes o desafiavam diante de um bem-vindoecletismo de estilos e propostas, perfeito para um iniciante. O ano de 1957,quando realiza seu primeiro longa, Rico ri à toa , é também o ano de Rio, ZonaNorte , a segunda experiência de Nelson Pereira dos Santos alinhada com ospreceitos defendidos pelo neorrealismo italiano e já colocados em prática noanterior com Rio, 40 graus , dois filmes polêmicos, amplamente debatidos pelacrítica. Em nossa reavaliação do rótulo de eclético e “sem estilo” dirigido aRoberto Farias, a participação de Grande Otelo entre Rio, Zona Norte  e osfilmes dirigidos por Roberto Um candango na Belacap (1961) e O assalto

    ao trem pagador   (1962), nos trazia uma inesperada e bem-vinda conexãoentre o realizador e o ator para pensar, bem distante das diferenças, algumasinsuspeitadas relações entre neorrealismo e chanchada a partir exatamente daversatilidade desse fenomenal ator, capaz de cruzar, com total competência,segurança e familiaridade as fronteiras entre a comédia popular e o drama,algo já demonstrado na bem-sucedida parceria com Oscarito, ou em filmescomo Também somos irmãos  (1949) de Burle, ou Amei um bicheiro (1952), de Jorge Ileli e Paulo Wanderley.5

    Filmado em 1963 e ainda sob o impacto da explosão que foi seu filmedo ano anterior, O assalto ao trem pagador , Roberto Farias encontrava-

    se ali completamente afinado com o que de mais interessante acontecia nocinema brasileiro e no cinema mundial. No Brasil, vivia na pele e participavaprofissionalmente do efervescente clima que animava as artes em geral e ocinema em particular, sempre lembrado nesse especialíssimo ano de 1963 pelaprodução de obras como Vidas secas , de Nelson Pereira dos Santos, Os fuzis , deRuy Guerra, e Deus e o diabo na terra do sol , de Glauber Rocha.

    5. Além de chamar atenção também para o fato de que não foi Macunaíma que “resgatou” Otelo da chanchada,uma vez que esse ator também está presente e permaneceu sempre em cena durante a consolidação do CinemaNovo.

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    Selva trágica  exemplifica muito bem a sintonia de Roberto Farias como cinema moderno. Das lições trazidas pelo impacto e a influência doneorrealismo destacam-se, em especial, as experiências de um cinema

    ficcional realizado fora de estúdios, em locações naturais, como já havia sidoexperimentado por Roberto na já citada periferia paulista de Cidade ameaçada .Ou seja, um cinema que buscava a maior interação com o mundo exatamenteao incorporar o acaso, o inusitado, a surpresa, as relações diretas com umprocesso social que pudesse ser materializado na expressão audiovisual. Ostraços absorvidos pelas lições do neorrealismo definiram um momentoespecial na cultura da segunda metade do século XX, quando, a partir dofinal da II Guerra Mundial, testemunhou-se a urgência na concretização depromessas de transformações sociais e de democracia. A inspiração vinha daItália, especialmente do cinema ali produzido entre 1945 e 1952, e aqui jáabsorvida e transformada no trabalho de Alex Viany em Agulha no palheiro

    (1953), nos filmes de Nelson Pereira dos Santos já citados e também em O grande momento (1958), de Roberto Santos.

    Com a recusa dos ambientes mais “seguros” das filmagens em estúdio,abriu-se o caminho para uma redescoberta do país e do Brasil rural, numprimeiro momento com ênfase absoluta no sertão nordestino, que passou a sero cenário maior dessa agenda estético-política. Nessa busca de interiorização,também a região rural do sul de Mato Grosso, na fronteira com o Paraguai,cenário de Selva trágica , transformou-se em um lócus privilegiado debusca de compreensão e da possível e utópica resolução de graves dilemassocioeconômicos, como a permanência de um insuportável regime escravagista

    em áreas rurais. O contato com a realidade pró-fílmica longe dos estúdiosajudou também no cruzamento e contaminação de estilos de representaçãoaté então opostos. écnicas, abordagens e formas mais identificadas com odocumentário passaram também a ser mescladas à ficção.

     Adaptado de um romance homônimo de Hernâni Donato e ambientadonas plantações de mate do hoje Mato Grosso do Sul, fronteira com o Paraguai(próximo a Ponta Porã), Selva trágica   é uma denúncia das condições detrabalho escravo e do tratamento desumano e cruel imposto pelos proprietáriosde terra através de seus capitães do mato e capatazes locais. As filmagens emlocação, aproveitando o cenário natural das plantações de mate, exibem um

    preto e branco contrastado na fotografia de José Rosa, com matizes de cinzavariados para valorizar enquadramentos que transformam homens e paisagensem protagonistas. Em alguns momentos, em especial, através de segurosmovimentos de câmera na mão, histórias individuais ganham um carátercoletivo e o drama da injustiça social salta na tela com potência e vida. Umdesses momentos exibe outra lição do cinema moderno via Neorrealismo e deinflexão baziniana: o uso do plano-sequência.

    O cotidiano opressivo dos catadores de mate explode na tela nasequência em que exibe, em tom ostensivamente documental, o preparo

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    e o transporte de imensos fardos de folhas de mate compactadas dasplantações até o paiol de pesagem e torrefação. Em vários planos, todoo processo é bem detalhado como a colheita, a compactação das folhas e

    galhos e a arrumação do fardo, com ênfase no trabalho gestual do corpo,mãos e pés. Em princípio não se veem os rostos dos mateiros. Na medidaem que o catador arruma o fardo, um capataz se aproxima aos poucos. Umcorte em continuidade reenquadra o catador na lateral; ao fundo, assistidapor uma pequena plateia diegética, uma mulher com uma criança decolo, tal como nós espectadores, observa toda a ação que se desenrola alià nossa frente. O plano-sequência inicia-se então com o catador ajeitandoem sua testa a faixa de couro que segura o fardo e o equilibra em suascostas. Em primeiro plano à esquerda, ocupando boa parte da imagem, asbotas do capataz parecem, em princípio, vigiar o catador que, ao fundo,completamente abaixado e submisso, vai tentando, aos poucos e com muita

    dificuldade, levantar o fardo sobre as costas. Um solo de violão sublinhadramaticamente a ação enquanto o catador vem se arrastando para frente,em direção ao capataz. Com muito esforço ele vai conseguindo, aos poucos,aprumar-se, equilibrando-se precariamente até as pernas do capataz que,também aos poucos e sincronizadamente, ajeita sua perna direita de formaa, afinal, servir de apoio e suporte para que o catador consiga impulso parase levantar e carregar o fardo. O mateiro então ajeita seu pé esquerdo paraconseguir mais apoio e equilíbrio e, finalmente, pouco a pouco, consegue selevantar e caminha para frente, sempre num precário equilíbrio, saindo doquadro pela esquerda. Um corte em continuidade permanece nele, seguido

    da mulher com a criança de colo, enquanto a câmera na mão, agora emplano mais aberto e descritivo, também registra outros catadores na mesmafunção. O solo de violão ganha o acompanhamento de um solene coralque amplia, assim, o drama coletivo que ali se desenrola. Alguns planosisolam os catadores que passam, detalhando em plano médio a postura,a faixa na testa que aguenta o peso, os braços que tentam equilibrar opeso insuportável dos imensos fardos em uma iconografia forte que evocao trabalho de formigas carregando folhas.6 Os rostos, incluindo os dospersonagens interpretados por Reginaldo Faria e Jofre Soares, avançam emclose-up até o desfoque, encarando, ao final, os espectadores. No centro dasequência, destacamos o plano contínuo, sem cortes, que desenvolve, por

    si, uma narrativa completa em seu desdobramento de ação, com início,meio e fim, criando uma tensão exasperante.

    Estamos diante de uma das lições mais caras do Neorrealismo em seurespeito pela integridade do registro em espaço e tempo reais, conformeelogiado e defendido por André Bazin, ou seja, a realidade assim captada emsua imediatez, sem artifícios, na observação do gesto cotidiano, repetido, dotrabalho, do corpo. Esse formato sendo consagrado exatamente a partir desua relação com o registro real e da denúncia das relações de trabalho escravo.

    6. Agradecemos a Carlos Brandão pela pertinente sugestão dessa imagem metafórica.   F  o   t  o  :

       A  r  q  u

       i  v  o  p  e  s  s  o  a

       l   d  e

       R  o

       b  e  r   t  o

       F  a  r   i  a  s

       R  e  g   i  n  a   l   d  o   F  a  r   i  a  e   R  e   j  a  n  e   M  e   d  e   i  r

      o  s  e  m    S

      e   l  v  a   t  r   á  g   i  c  a

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    O próprio Roberto explica:

    O personagem da cena é real. Eu poderia fazer o mesmo com Reginaldo Fariaquando ele tinha de se levantar com o fardo, mas sempre pareceria artificial, porisso optei por um homem do mate, alguém que fazia aquilo todos os dias parasobreviver, receber um vale para tirar seus mantimentos no armazém e ficar sempredevendo, sem poder escapar daquela escravidão.7 

    Hoje em dia, sem dúvida alguma, concordamos todos que a realidade ésempre uma construção e que a inocência da crença no realismo intrínsecodo meio (cine)fotográfico defendida por Bazin também é página virada nateoria do cinema, especialmente no confronto entre a produção de imagemfotoanalógica do passado e as imagens de síntese digitais de hoje. Entretanto, ostempos atuais também são marcados por uma espécie de ceticismo compulsivo,além de um relativismo cínico sobre verdades consagradas e ortodoxas. alvez,

    mais que antes, este seja um momento privilegiado de interpelar a realidade e orealismo bazinianos através da revisão não só de boa parte do chamado cinemabrasileiro moderno como também, por oposição e contraste, da produçãode novas imagens digitais. Ou seja, um trabalho que nos ajude a sobreporimagens que possam, como numa fusão, dobrar, desdobrar e redobrar passadoe presente num fluxo contínuo que emociona e move o espectador. Em Selvatrágica  encontramos ecos concretos do mais “puro” realismo baziniano: semcortes, privilegiando espaço e duração contínuos, um hábil controle da mise enscène  sustentando um fragmento enquadrado de uma realidade que se espalhapara fora dos limites do quadro, ampliado. A revisão de Selva trágica  nos levou

    também a refletir sobre o cenário tecnológico atual de produção de imagensdigitais, trazendo dúvidas sobre a anterior relação entre imagem e objeto.Será que a digitalização das imagens cortou realmente o cordão umbilicalentre imagem e referente conforme toda a base que sustenta a teoria realistade Bazin? A transparência exaltada e defendida por ele ficou opaca com asimagens digitais? Parte da proposta desenvolvida nos cursos em torno da obrade Roberto Farias aqui, na revisão e recuperação de Bazin aos tempos atuaise a partir de uma sequência de Selva trágica , deixava claro que a encenaçãocinematográfica do real pode ser contada de formas bastante diferentes e queseria bem mais produtivo falarmos de realismos, no plural, para dar conta dealgumas possibilidades e efeitos oferecidos pelas tecnologias contemporâneas.

    Retornando à presença e sintonia de Roberto Farias com o cinema maisavançado do início dos anos 60 no Brasil e no exterior, e sempre tentandoaproximar filmes e diretores supostamente opostos, resolvemos tambémcolocar lado a lado a sequência aqui detalhada de Selva trágica  com outromomento-chave de Glauber Rocha: a longa sequência da penitência dovaqueiro Manuel (Geraldo del Rey), de joelhos, carregando uma pedra nacabeça morro acima no Monte Santo em Deus e o diabo na terra do sol . ambémlançando mão da câmera na mão — em excelente trabalho de Waldemar

    7. Em e-mail pessoal aos autores deste texto, em 14/6/2012.

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    Lima — Glauber estabelece um contato íntimo com a personagem e, pelorespeito à integridade espaço-temporal, acentua o imediatismo e o efeitode atualidade da experiência representada. O espectador, tal qual em Selva

    trágica , é obrigado a suportar um corpo a corpo entre câmera e personagem,chegando, de novo, à exasperação. A comparação era irresistível e pode nosajudar a, ao contrário de oposições e hierarquizações tradicionais, buscar maissemelhanças do que diferenças numa reavaliação do papel e da importância deRoberto Farias na consolidação do Cinema Novo brasileiro. Para enriqueceressa comparação, vale notar a presença nos dois filmes do ator Maurício doValle, e do montador Rafael Justo Valverde. Um outro ator-ícone do CinemaNovo, Jofre Soares, também está no filme de Roberto Farias, sem dúvida, umgrande momento do cinema brasileiro.

     Algumas dessas e de outras reflexões desenvolvidas ao longo de dois

    semestres dedicados ao estudo da obra e dos diferentes papéis assumidos porRoberto Farias ao longo de toda uma vida dedicada ao cinema e à televisãobrasileiros encontram-se, em parte, apresentadas neste livro-catálogo. Seja naseleção de textos um pouco mais alentados produzidos pelos alunos de pós-graduação (mestrado e doutorado), seja na compilação de precisas observações,insuspeitadas intuições e reações por parte de uma novíssima geração de alunosde graduação que teve o privilégio de conhecer esses filmes pela primeira vez,a experiência pedagógica e o prazer de ver, rever e discutir alguns clássicosdo cinema brasileiro moderno em sala de aula, nos dão sempre a certezado muito que há a se fazer, (re)descobrir e revalorizar nesse universo rico erecompensador do cinema brasileiro. Além dos autores aqui apresentados,

    agradecemos a todos os alunos pelas contribuições trazidas e pelo revigoranteestímulo com o qual todos nós, professores e discentes, aprendemos sempre:Bruno avares, Caio Neves de Castro, Daniel Nolasco de Souza, Fabio LuizGonçalves Mendes, Fernanda Cavalieri Fontes, Gabriela Santana Franca,Giovani Zenati de Barros, Giuliano Jorge Magalhães da Silva, Jocimar SoaresDias Junior, Leandro Calixto Soares, Livia de Fatima A. Borges, Louise CastroSmith Gonzaga, Luiz (Giban) Paulo Gomes Neves, Mayara Del Bem Guarino,Nicole Guimarães de Oliveira Costa, Roberson Hoberdan Correa, Rodrigo Augusto Ferreira de Moraes, Ronaldo Land da Silva, ayana Nascimento,todos da graduação. Da pós, nosso reconhecimento e agradecimento vão paraHadija Chalupe da Silva, Joice Scavone, José Eduardo Kahale, Pedro PeixotoCuri e Simplício Neto.

    unico Amancio e João Luiz Vieira, curadores.

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    21Os múltiplos lugares de Roberto Farias

       I   l  u  s

       t  r  a  ç

       ã  o  :   Z

       i  r  a

       l   d  o

     A ilustração ao lado foi feita especialmente para a mostra Os múltiploslugares de Roberto Farias por Ziraldo. A parceria entre o ilustrador e o diretoré antiga e rendeu cartazes fortes e inesquecíveis, como os dos filmes O assalto

    ao trem pagador , Toda donzela tem um pai que é uma fera , Selva trágica , RobertoCarlos e o diamante cor-de-rosa  e Roberto Carlos a 300 km por hora  (além de Os paqueras  e Aventuras com tio Maneco, filmes da RFFarias).

    Sobre a opção por adaptar um dos cartazes que havia feito e a escolha dequal seria, Ziraldo diz que, além desse ser um dos primeiros cartazes de autordo cinema brasileiro, fica feliz em fazer parte da história de Toda donzela temum pai que é uma fera . Ziraldo conta que, à época, Roberto comentou quehavia decidido fazer uma comédia; falou da peça de Gláucio Gil e que achavaque ela renderia um ótimo filme.

    (Em depoimento exclusivo)

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    BIOFILMOGRAFIA 26

    ENSAIOS 48

    Nacional/popular: o gramsciano Roberto Farias  50

    José Carlos Monteiro

    Roberto Farias em ritmo de Cinema Novo  66

    Fabián Núñes

    Anotações sobre a gênese de um produtor  80Luís Alberto Rocha Melo

    Roberto bom de papo  96Flávia Seligman

    Chanchada, flme policial e Roberto Farias:observações sobre o cinema comercial brasileiroe a nova geração de cineastas  108Rafael de Luna Freire

    ENTREVISTA EXCLUSIVA 120

    Sumário

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     ARTIGOS 130

    Os múltiplos Farias: uma análise sobre Toda donzela temum pai que é uma fera e Os paqueras   132Luiz Giban

    A música original de Remo Usai no flme O assalto aotrem pagador   136Joice Scavone

    “Não vai ser mole me acompanhar”: Roberto Carlose a sinergia no cinema  juvenil brasileiro  144

    Pedro Curi

    Cidade trágica, selva ameaçada  150Simplício Neto

    Roberto Carlos em ritmo de aventura, o 7 ½  de Farias  158Zeca Kahale

    Roberto Farias e a expansão internacionaldo cinema brasileiro  164Hadija Chalupe

    QUADRINHOS 170

    ROBERTO FARIAS EM RITMO DE JUVENTUDE 176

    Três vezes Roberto Farias  178Bruno Tavares

    Sobre Adeus, marido meu  184Caio Neves

    Pra frente Brasil , o primeiro flme-evento políticodo cinema brasileiro  188Fábio Mendes

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    Quarta Nobre : o contexto dos teleflmes deRoberto Farias para a Rede Globo em 1983  192Fábio Mendes

    Um candango na Belacap   196Fernanda Cavalieri

    Dois Robertos em ritmo de musical 200

    Jocimar Dias Jr.

    O assalto ao trem pagador  e a apropriação da realidade  204Leandro Soares

    Um caminho para nossa comédia  208

    Louise Smith

    Roberto Farias e a década de 60  210Mariana B. Ramos

    Roberto Farias no caso Ancinav  214Mayara Del Bem Guarino

    Impressões sobre Roberto Farias e o mundo  218Roberson Hoberdan Corrêa

    O fabuloso Fittipaldi  e o encontro extraordinárioentre Marcos Valle e Roberto Farias 222

    Tayane Nascimento

    Roberto Farias e a Embraflme  228Gabriela Santana Franca

    FILMOGRAFIA 232

    DIRETOR

    Rico ri à toa  234

    No mundo da Lua  236

    Cidade ameaçada  238

    Um candango na Belacap   240

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    O assalto ao trem pagador   242

    Selva trágica  244

    Toda donzela tem um pai que é uma fera  246

    Roberto Carlos em ritmo de aventura  248

    Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa  250

    Roberto Carlos a 300 km por hora  252

    O fabuloso Fittipaldi   254

    Pra frente Brasil   256

    Os Trapalhões no Auto da Compadecida  258

    ASSISTENTE DE DIREÇÃO, PRODUÇÃO E STILL

    Aviso aos navegantes; Aí vem o Barão e É fogo na roupa  260

    Areias ardentes; Maior que o ódio e O petróleo é nosso   261

    Mãos sangrentas; Leonora dos Sete Mares e Rio fantasia  262

    A Baronesa transviada  263

    PRODUTOR

    Os paqueras; Meu nome é Lampião  e Azyllo muito louco   264

    Estranho triângulo; Aventuras com tio Maneco  ePra quem fca tchau!   265

    Em família; Som, amor e curtição  e Toda nudezserá castigada  266

    Os machões; Caingangue, a pontaria do diabo  eA Rainha Diaba  267

    O casal; Quem tem medo de lobisomem?  e O agrante   268

    Barra pesada; Mar de rosas  e Aguenta coração   269

    Com licença, eu vou à luta e O casamentode Romeu e Julieta  270

    TELEVISÃO

    Diretor 271

    Autor 272

    Outros 272

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    1.Biofilmografia

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    1932  Nasce Roberto Figueira de Faria em NovaFriburgo, RJ, em 27 de março. Seu pai, GuniforteFigueira de Faria (1922-1981) ganhava a vidanum pequeno açougue na cidade, e sua mãe, AnnaMalta Pereira de Faria (1915-1996), dona de casa.Seus avós paternos, Antônio Figueira de Fariae Rita Pinto de Faria, eram portugueses da Ilhada Madeira (Estreito de Câmara de Lobos). Seuavô materno, Carlos Menezes, era natural de SãoFidélis, estado do Rio, e a avô materna, Philomena

    Pereira Cordoeira, também era portuguesa comoos avós paternos, só que natural de rás-os-Montes(Freguesia de Vila de Fontes, Conselho de Régua).

    1933  Em 30 de novembro, nasce seu primeiroirmão, Rivanides (Riva) Figueira de Faria, tambémem Nova Friburgo.

    1937  Nasce seu segundo irmão, ReginaldoFigueira de Faria, em 11 de junho. Em sua infância,desde cedo, Roberto frequentava as sessões do Cineheatro Leal, no centro da cidade, levado pelasua mãe. Sua alfabetização aconteceu na escolaparticular da professora Cely Ennes. Já o ginásioe o científico foram feitos no Colégio Modelo. Ainda menino, ganhou uma câmera fotográfica damãe e sua primeira fotografia registrou um túmulode um cemitério em Friburgo. Ainda bastante jovem, fotografava recriando cenas e dirigindo oirmão Reginaldo.

    Biofilmografia de Roberto Farias

    Roberto Farias (1939) com

    uniforme da escola de D. Cely,

    em Nova Friburgo

    Primeira foto tirada por Roberto

    Farias, um túmulo no cemitério

    de Nova Friburgo, RJ (1946)

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    29Os múltiplos lugares de Roberto Farias

    Os irmãos Riva Faria, Roberto Farias e Reginaldo Faria (1942)

    B I   O F I  L M O  G R A F I  A 

      |   

    B i    o f  l   m o  g r   a f   a  d   e R  o  b   e r   t   o F  a r  i    a  s 

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    Os múltiplos lugares de Roberto Farias30

    1945  Seu interesse pela fotografia e pelo cinemavai se ampliando. Ainda menino, gostava deprojetar imagens para a família na parede da

    cozinha utilizando-se de uma caixa de sapatoimprovisada como “projetor”. Aos 15 anos, juntocom o colega Paulo Cesar Moraes, funda um clubede fotografia.

    1947  Nasce Rogério Figueira de Faria, seu terceiroirmão, em 2 de junho.

    1948  Aos 16 anos, ao solicitar uma nova certidãode nascimento para o alistamento militar, descobre

    um “s” acrescido ao seu sobrenome Faria. Revoltadocom a burocracia para tirar o “s”, decidiu mantê-lo daí para frente, inaugurando o ramo “Farias”da família.

    1945 - 1949  Anos de juventude em Friburgo. As sessões semanais de cinema continuam agorano Cine Eldorado, na Praça Getúlio Vargas, e osprimeiros contatos mais diretos com profissionaisde cinema se dão através de Dickson Macedo, seucolega no científico e irmão mais novo do então jácélebre diretor de comédias musicais da AtlântidaCinematográfica, Watson Macedo. É através deDickson que Roberto se aproxima do grupo da Atlântida, que vinha do Rio hospedar-se no HotelFriburguense, de D. Januária, mãe dos imãosMacedo. Ali encontra, além de Watson Macedo,também o roteirista Alinor Azevedo, o cenógrafo,roteirista e diretor Cajado Filho, o fotógrafo EdgarBrasil, o músico Bené Nunes, os atores AnselmoDuarte e Ilka Soares. Seu interesse pelo cinema

    aumenta motivado pelo convívio com o grupoda Atlântida, com o qual, entre os 16 e 18 anos,manteve-se sempre muito próximo.

    1950 - 1951 Aos 18 anos, decide vir para o Riopara estudar arquitetura e hospeda-se na casa deum tio, Wilmar Cordoeira, em São Gonçalo. Aomesmo tempo em que se preparava para o vestibularde arquitetura, frequentava também um curso

    Silvio Lago, Roberto Farias,

    Wanda Kunzel, Watson Macedo

    e Pauloca (1949)

    Reginaldo Faria, aos 11 anos,

    fotografado (e dirigido) pelo

    irmão Roberto Farias

        B    i   o    f    l   m   o   g   r   a    f   a    d   e    R   o    b   e   r   t   o    F   a   r    i   a   s

        | 

     

       B   I   O   F

       I   L   M   O   G   R   A   F   I   A

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    31Os múltiplos lugares de Roberto Farias

    B I   O F I  L M O  G R A F I  A 

      |   

    B i    o f  l   m o  g r   a f   a  d   e R  o  b   e r   t   o F  a r  i    a  s 

    independente de belas artes, com aulas de pinturae desenho. E, sempre que podia, vinha ao Rio paravisitar os estúdios da Atlântida, situados à Rua

    Visconde do Rio Branco, 51, demonstrando seuinteresse em conseguir algum trabalho por lá. Numfinal de semana em Friburgo, encontrou-se com Anselmo Duarte, que lhe disse, enfim, que o diretor José Carlos Burle tinha conseguido uma posiçãopara ele. No final desse ano, Roberto começa atrabalhar como fotógrafo de  still , inaugurandona Atlântida a função de assistente de direção naprodução Maior que o ódio, filme policial dirigidopor Burle; e também como assistente de direção e

    fotógrafo de still  na produção da comédia Aviso aosnavegantes , de Watson Macedo.

    1951 - 1952  Assistente de direção em  Aí vemo Barão, de Watson Macedo, “filme de meio deano” da Atlântida. Assistente de direção em Areiasardentes , do realizador de origem croata J. B. anko,um drama da Atlântida, com Fada Santoro, CyllFarney e Renato Restier. Durante a rodagem dessefilme, em Cabo Frio, desenvolve sua paixão pelaaviação e por cenas de ação e perigo, voando numavião pela primeira vez em acrobacias e piruetasaéreas.

    1952  Watson Macedo decide se desligar da Atlântida e tornar-se independente. Roberto tambémsai dos estúdios e fica desempregado. Em Friburgo,o diretor J. B. anko conta para Roberto que estavaroteirizando O garimpeiro,  romance de Bernardode Guimarães sobre mineração, e o convida paraajudá-lo nessa adaptação que, graças à intervenção

    de Roberto, atualiza os diálogos do século XIX paraos tempos atuais, ganhando assim, um tom maiscoloquial. Watson Macedo dirige a comédia É fogona roupa  nos estúdios da Brasil Vita Filme, na Muda,ijuca, de propriedade da atriz Carmen Santos eemprega Roberto Farias como assistente de direção.Filmado no Hotel Quitandinha, em Petrópolis, ofilme trazia em seu elenco, Violeta Ferraz, Ankito,Heloísa Helena e Adelaide Chiozzo, entre outros.

    Filmagens de É fogo na roupa.Ao fundo estão Edgar Brasil

    e um assistente. Da esquerda

    para direita Watson Macedo,

    Geny Macedo, Raimundo

    Campesato, Ivon Cury e Roberto

    Farias (1952)

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    Os múltiplos lugares de Roberto Farias32

    1953 - 1954 Mais uma vez assistente de direção de Watson Macedo na produção de O petróleo é nosso,estrelado por Violeta Ferraz, Catalano, Nancy

     Wanderley e Zezé Macedo, estreando no cinema.

    1954 - 1955 Convidado pelo diretor argentinoCarlos Hugo Christensen para ser seu assistentede produção no épico drama prisional  Mãossangrentas , com filmagens em exteriores na Florestada ijuca e interiores em São Paulo. A produçãoera da Companhia Cinematográfica Maristela,estrelada pelo já então célebre ator mexicano Arturode Córdova. Em princípios de 55, foi novamente

    assistente de Christensen na produção Leonora dosSete Mares , melodrama estrelado por Arturo deCórdova e Suzana Freyre.

    1955  Em 30 de junho, casa-se com Maria JoséChícharo, nascida no Funchal, Ilha da Madeira, em17 de maio de 1933.

    1956 Nasce Rosângela Figueira de Faria, sua únicairmã, em 17 de fevereiro, em Nova Friburgo.

    1956 Assistente de produção de Watson Macedono musical Rio fantasia , com Eliana, John Herbert,rio Irakitan, Renato Murce.

    1956 - 1957 Última assistência de direção para Watson Macedo na comédia A baronesa transviada ,com Dercy Gonçalves. Escreve o roteiro como irmão Riva, prepara a produção e dirige seuprimeiro longa-metragem, a comédia Rico ri à toa ,

    rodada nos estúdios da Flama Filmes, no bairrode Laranjeiras, com Zé rindade, Violeta Ferraz,Silvinha Chiozzo e Zezé Macedo no elenco. Orçadoem um milhão de cruzeiros, o filme foi realizadograças a um empréstimo que seu pai tomou de umagiota, no valor de 200 mil cruzeiros, mesmo valorda casa da família em Friburgo, e a ser pago em120 dias. O filme contou também com o apoiodo produtor Murilo Seabra, filho da atriz Carmen

    Anna Malta Pereira de Faria,

    mãe de Roberto Farias (1950)

    Guniforte Figueira de Faria, pai

    de Roberto Farias

        B    i   o    f    l   m   o   g   r   a    f   a    d   e    R   o    b   e   r   t   o    F   a   r    i   a   s

        | 

     

       B   I   O   F

       I   L   M   O   G   R   A   F   I   A

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    33Os múltiplos lugares de Roberto Farias

    Lançamento do filme Rico ri àtoa (1957) – fila no Cine Roxyna Av. Nossa Senhora de

    Copacabana (Rio de Janeiro)

    Santos, além de Cláudio Castilho e Og Araújo. Em120 dias o filme foi feito, lançado e pago. Sucessode público, provocou filas enormes no Cine Roxy,

    em Copacabana, durante o seu lançamento emsetembro de 1957. Em 19 de junho daquele mesmoano, durante as filmagens, nascia Mauro Chícharode Farias, seu primeiro filho, em Nova Friburgo.

    1958  Dirige a comédia No mundo da Lua ,estrelada por Walter D’Ávila, Violeta Ferraz e seuirmão Reginaldo Faria, rodada nos estúdios daBrasil Vita Filme. Nasce seu segundo filho, LuísMário (Lui) Chícharo de Farias, em 9 de setembro,

    em Nova Friburgo.

    1959 - 1960 Em São Paulo, dirige a produçãoCidade ameaçada , com Reginaldo Faria e Eva Wilma, rodada nos es túdios da Vera Cruz eem diversas locações da periferia paulistana,incluindo o Canindé. O filme recebe inúmerosprêmios Brasil afora, entre os quais o de melhordireção pela Associação Brasileira dos CronistasCinematográficos. Indicado para representar

    o Brasil no Festival de Cannes, concorre com,entre outros,  A fonte da donzela , de IngmarBergman,  A chave , de Kon Ichikawa, Nuncaaos domingos , de Jules Dassin,  A aventura , deMichelangelo Antonioni,  A balada do soldado,de Grigori Chukhrai,  A adolescente , de LuisBuñuel, Herança da carne , de Vincente Minnellie A doce vida , de Federico Fellini, filme vencedorda Palma de Ouro daquele ano. Seu terceirofilho, Maurício Chícharo de Farias, nasce em 25de outubro, em Nova Friburgo.

    1961 Em plena euforia da inauguração de Brasíliae baseado numa sugestão do próprio produtorHerbert Richers, Roberto Farias desenvolve oargumento, roteiriza e dirige a comédia Umcandango na Belacap, com Ankito fazendo duplacom Grande Otelo. No elenco, Vera Regina,Marina Marcel, Milton Carneiro, Wilson Grey.

    Roberto Farias (centro), com

    sua primeira mulher Maria

    José Chícharo de Farias, seu

    filho Mauro Farias e o irmãoReginaldo Faria, durante um

    intervalo das filmagens de

    Cidade ameaçada.

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    Os múltiplos lugares de Roberto Farias34

    Credencial de Roberto Farias no Festival de Cannes, com o flme Cidade ameaçada

    Bilhete elogioso redigido pelo Primeiro Ministro Tancredo Neves logo após a exibição do flme O assaltoao trem pagador  no Palácio da Alvorada (1962)

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    35Os múltiplos lugares de Roberto Farias

    1962 - 1974 Indicado pelo amigo e ator RonaldoLupo, entra para o Sindicato Nacional da IndústriaCinematográfica – SNIC, assume o cargo de

    secretário e, posteriormente, de diretor e presidenteem duas gestões consecutivas.

    1962 Baseado num assalto real que aconteceradois anos antes em Japeri, no interior fluminense,Roberto Farias escreveu o roteiro com a colaboraçãode Luiz Carlos Barreto e dirigiu O assalto ao trem pagador , um clássico do cinema policial brasileiro.Estrelado por Reginaldo Faria, Grande Otelo,Eliezer Gomes (selecionado entre dezenas de

    candidatos ao papel do bandido ião Medonho), Jorge Dória, Ruth de Souza, Luiza Maranhão,Helena Ignez, entre outros. Em 9 de julho o filmeganhou uma exibição muito especial no Palácioda Alvorada, na presença do vice-presidente JoãoGoulart, de sua mulher Maria Tereza Goulart, emais Brochado da Rocha, ancredo Neves, HermesLima, Santiago Dantas e Evandro Lins e Silva, quedeixaram suas impressões registradas num bloco depapel da Presidência da República. Grande sucessode público e crítica, O assalto ao trem pagador  foiexibido no Festival de Veneza nesse ano e, emseguida, lançado internacionalmente em mais de35 países. Colecionando diversos prêmios no Brasile no exterior, o filme contribuiu decisivamente parachamar a atenção do mundo para o cinema que sefazia no Brasil nos primeiros anos dessa década.

    1963 - 1964 Adapta e dirige o romance de HernâniDonato, Selva trágica , com filmagens realizadas nosul do Mato Grosso, próximo à fronteira com oParaguai. No elenco, Aurélio eixeira, ReginaldoFaria, Rejane Medeiros, Maurício do Valle, JofreSoares. O filme dá a Reginaldo Faria o prêmio“Governador do Estado de São Paulo” de melhorator. Nesse período, Roberto e seus irmãos Rivae Reginaldo se estabelecem como produtores,criando a R. F. Farias Produções Cinematográficas,que ficou conhecida como REFEFÊ.

    Eliezer Gomes na seleção de

    atores para o papel do bandido

    Tião Medonho no flme O assaltoao trem pagador 

    Hernâni Donato, Roberto Farias

    e Herbert Richers conversando

    sobre a adaptação do romance

    Selva trágica (1962)

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    1965 Para resolver dificuldades de comercializaçãoe distribuição do filme brasileiro, funda a Difilmcom mais nove realizadores. Além dele e de

    seu irmão Riva Faria, o grupo incluía GlauberRocha, Nelson Pereira dos Santos, Luiz CarlosBarreto, Carlos Diegues, Paulo Cezar Saraceni,Roberto Santos, Joaquim Pedro de Andrade, LeonHirszman e Rex Endsley. Experiência elogiadano exterior, inclusive pelo pessoal da NouvelleVague, serviu como embrião e laboratório para acriação da futura Embrafilme. Em sua primeiraexperiência na televisão, dirige com Mauro Sallesna então novata Rede Globo o programa de V

    Câmara indiscreta , filmado em 16mm. A atraçãoera uma versão brasileira do programa de Vnorte-americano Candid Camera , precursor daspopulares pegadinhas. Com a apresentação deRenato Consorte e Paulo Roberto, unia quadros dooriginal americano com outros filmados no Brasil.Com um elenco de humoristas formado por Mariaereza, Renato Consorte – um dos apresentadoresdo programa – Armando Barroso – que tambémera produtor – e Don Rossé Cavaca, pseudônimodo jornalista, poeta e humorista José Martins de Araújo Jr. A atração foi exibida com sucesso naemissora até 1967, sendo retirada do ar pelos altoscustos de produção.

    1966  Adapta, com John Herbert, roteiriza edirige para o cinema a peça teatral de sucesso,Toda donzela tem um pai que é uma fera , comtexto de Gláucio Gill. Rodado em quatro semanas

    com interiores filmados no apartamento daatriz Leonor Amar, em Copacabana. Produzidopela RFF e distribuído pela Difilm, Toda donzela  pode ser considerado um precursor da comédia decostumes carioca.

    1967  Nasce sua filha Marise Chícharo de Fariasem 1º de fevereiro, no Rio de Janeiro.

    Mauro e Marise Farias, flhos de

    Roberto Farias

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    Parceiros de trabalho de Roberto, os flhos Mauro, Lui e Maurício Farias (1966)

    Roberto Carlos e Roberto Farias no Cristo Redentor (RJ) durante uma pausa nas flmagens de RobertoCarlos em ritmo de aventura (1967)

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    1967 - 1968  Com locações na Flórida (CaboKennedy), Nova York, São Paulo e Rio de Janeiro,e entusiasmado com o sucesso de Os reis do iê iê

    iê  ( A Hard Day`s Night ), do inglês Richard Lester,Roberto Farias escreve o argumento e dirigeRoberto Carlos em ritmo de aventura , primeiro filmeda trilogia estrelada por Roberto Carlos, que seria,originalmente, produzida por Jean Manzon. Alémdo cantor, o filme traz em seu elenco o eterno vilãodas chanchadas José Lewgoy e mais ReginaldoFaria. Roberto, num helicóptero, fotografa uma dascenas mais eletrizantes do filme, ao cruzar o túneldo Pasmado por dentro, em direção a Copacabana.

    1968 - 1969  Funda a distribuidora IpanemaFilmes, associado a Riva Faria, Jarbas Barbosa e JeceValadão. Produz e distribui Os paqueras , comédiade enorme sucesso, escrita e dirigida por ReginaldoFaria. Rodado em três países (Israel, Japão e Brasil),Roberto Carlos e o diamante cor-de-rosa , distribuídopela Ipanema Filmes, segundo exemplar da trilogia pop estrelado pelo cantor, com direção, roteiro ecâmera de Roberto Farias. Inspirado pelo enigma

    das possíveis inscrições fenícias na Pedra da Gávea,o filme, de grande sucesso, traz no elenco a trincaconsagrada da Jovem Guarda. Além de RobertoCarlos, Wanderléa e Erasmo Carlos, estão noelenco, entre outros, José Lewgoy e Paulo Porto.

    1970  Coproduz  Azyllo muito louco, adaptaçãode um conto de Machado de Assis, dirigido porNelson Pereira dos Santos e filmado em Paraty.

    1971 A RFF produz e a Ipanema Filmes distribuiEm família , dirigido por Paulo Porto a partirde um argumento de Oduvaldo Vianna Filho,premiado no Festival de Moscou com a medalhade prata. No elenco, Rodolfo Arena, Iracema de Alencar, Paulo Porto, Odete Lara, Anecy Rocha,Fernanda Montenegro e Procópio Ferreira, emsua última aparição no cinema. Nesse mesmoano e voltado para o público infanto-juvenil,a RFF produz  Aventura s com tio Maneco,

    Roberto Carlos nas filmagens

    de Roberto Carlos em ritmo deaventura (1967)

    Wanderléa, Roberto Farias,

    Cleonice Braga (Nicinha) eRoberto Carlos diante do Buda

    de Kamakura, Japão, nas

    flmagens de Roberto Carlos e odiamante cor-de-rosa (1968)

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    com direção, roteiro e argumento de FlávioMigliaccio e Roberto Farias. O papel títulotambém ficou a cargo de Migliaccio, enquanto que

    os três sobrinhos foram interpretados pelos trêsfilhos de Roberto Farias. Em 1978 o filme ganhouuma sequência, Maneco, o super tio, com Migliacciorepetindo o papel e, mais uma vez, assinando oargumento, o roteiro e a direção.

    1971 O terceiro e último filme com RobertoCarlos, Roberto Carlos a 300 km por hora, tambémcontou com o trabalho de câmera de Roberto Farias.Baseado num original de Bráulio Pedroso, Roberto

    assina o roteiro e assume a direção do filme que trazem seu elenco Erasmo Carlos, Raul Cortez, OtelloZeloni (em seu último filme), Reginaldo Faria eMario Benvenutti.

    1971 - 1972 A paixão pela velocidade associadaà ação e aventura motivaram Roberto Fariasa realizar seu único documentário, O fabulosoFittipaldi , uma ideia de Hector Babenco. O filmeacompanha a trajetória do famoso automobilista

    desde os campeonatos de kart  até o bicampeonatomundial da Fórmula 1. Com fotografia de JoséMedeiros e Jorge Bodanzky, e música dos irmãosMarcos e Paulo Sérgio Vale. A RFF coproduz e aIpanema Filmes distribui Toda nudez será castigada ,adaptado da peça homônima de Nelson Rodrigues,com direção e roteiro de Arnaldo Jabor.

    1974  Roberto Farias torna-se diretor-geral daEmbrafilme, cargo que irá ocupar até 1979,

    período conhecido como “era de ouro” da empresaestatal, quando a ocupação do mercado exibidorcinematográfico no país pela produção brasileirachegou perto de 40%, algo inédito até então e quenunca mais se repetiria. Na RFF produz A RainhaDiaba , dirigido por Antonio Carlos da Fontoura.Conhece Ruth Figueiredo de Albuquerque, suasegunda esposa, quando era assessora de WalterGraciosa, o então diretor-geral da Embrafilme.

    Roberto Farias ao assumir a

    diretoria geral da Embraflme. Da

    esquerda para direita, O Ministro

    da Educação Ney Braga, Dr.

    Alcino Teixeira, Roberto Farias e

    o produtor Jarbas Barbosa

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    1975  Roberto é convidado para o júri doFestival de Huelva, na Espanha. Pela RFF,produz a tragicomédia O flagrante , dirigida pelo

    irmão Reginaldo Faria, e trazendo no elenco,além do próprio Reginaldo, Grande Otelo,Cláudio Marzo, Maria Cláudia, Rodolfo Arenae José Lewgoy.

    1977 - 1978 Com direção e roteiro de ReginaldoFaria, Roberto produz o policial Barra pesada ,baseado em um roteiro original do dramaturgoPlínio Marcos intitulado Nas quebradas da vida .O filme foi premiado no VI Festival do Cinema

    Brasileiro de Gramado. Nesse mesmo ano, a RFF e aEmbrafilme produzem o igualmente premiado Marde rosas , de Ana Carolina, além de Os trombadinhas ,de Anselmo Duarte, Aguenta coração, de ReginaldoFaria e A lira do delírio, de Walter Lima Jr.

    1981 Roberto Farias desenvolve o argumento eescreve o roteiro de Pra frente Brasil , baseado noargumento “Sala escura”, de Reginaldo Faria e PauloMendonça, primeiro filme a tratar diretamente,

    sem subterfúgios ou metáforas, dos “anos dechumbo” da ditadura militar, ambientando essedrama político em junho de 1970, durante aeuforia pela vitória na Copa do Mundo no México.Premiado no X Festival do Cinema Brasileiro deGramado como melhor filme e melhor montagem,recebeu também consagração internacional nosfestivais de Berlim e Huelva, além da “Margaridade Prata” dada pela Conferência Nacional dosBispos do Brasil.

    1982 Após meses de atraso motivados pela censuramilitar, Pra frente Brasil  estreia nos cinemas, semcortes, em 14 de fevereiro, em circuito nacionalde 43 salas.

    1983  Roberto Farias é novamente contratadopela Rede Globo para trabalhar, juntamentecom outros profissionais de cinema, teatro e

    Roberto Farias e Ruth Albuquerque

    em Cannes (1975)

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    Sequência fnal do flme Pra frente Brasil 

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    Filmagens de Pra frente Brasil ,com Dib Lutf e seu assistente,

    Roberto Farias, Tuca Moraes e

    Mauro Farias

    televisão como Ademar Guerra, Antônio Pedro,Leopoldo Serran, Geraldo Casé, EuclydesMarinho, Dênis Carvalho e Marcos Paulo em

    uma série de telefilmes de uma hora e meia deduração a ser exibida em horário nobre. Dirige,dentro do bloco de programação intituladoQuarta Nobre , exibido entre 9 de março e28 de dezembro daquele ano, os mais tardedenominados pela emissora “casos especiais” Mandrake ;  Adeus, marido meu; O outro lado dohorizonte  e Carmem. Após uma reformulação dobloco em setembro para a estreia da novela Eu prometo,  a Quarta Nobre  perde metade de sua

    duração e passa a exibir unitários de uma hora deduração. Nesta fase Farias dirige A bolsa e a vida , A sorte por um triz e Os demônios do Posto Cinco,além de assinar o argumento de O reencontro,dirigido por José Carlos Pieri e roteirizado porseu filho Mauro Farias.

    1983 Dirige na Rede Globo, ao lado de MaurícioFarias, a minissérie em dez capítulos  A máfiano Brasil , exibida entre 10 e 21 de setembro.Roberto participa da elaboração do roteiro finalcom o diretor de núcleo Paulo Afonso Grisolli,assinado pelo autor Leopoldo Serran a partirdo livro de Edson Magalhães. Walter Carvalhoassina a fotografia e Guto Graça Mello, a trilhasonora. Com elenco encabeçado por ReginaldoFaria, Marcia Porto e Paulo Villaça, a históriacentral se foca entre o romance de um líder damáfia (Reginaldo Faria) com uma moça de classe

    média que o coloca em conflito com a própriaorganização a qual pertence.

    1986 Preside o júri do Festival Internacional deCinema do Rio de Janeiro.

    1987 Ocupa outro cargo público, o de presidentedo Concine (Conselho Nacional de Cinema), até1990. Em 1987, junto ao autor Ariano Suassuna,adapta, roteiriza e dirige Os Trapalhões no Auto

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    da Compadecida , aproveitando-se da enormepopularidade do famoso quarteto de cômicos datelevisão e do cinema, em um elenco que ainda

    incluía Raul Cortez, José Dumont, Cláudia Jimenez, Emmanuel Cavalcanti e José Marinho.

    1990 Preside o Júri do XXIII Festival de Brasília doCinema Brasileiro.

    1992  Na Rede Globo faz a direção geral doprograma Você decide , além de codirigir comMauro e Maurício Farias e assinar a direção geralda minissérie policial de Dias Gomes As noivas de

    Copacabana , escrita também por Ferreira Gullar eMarcílio Dias. Exibida entre 2 e 26 de junho em16 capítulos, trazia Miguel Falabella como umassassino serial obcecado por mulheres vestidas denoiva que é perseguido pelo detetive interpretadopor Reginaldo Faria. De 1992 até 2000 assinaa direção geral de Você decide , na V Globo,responsável por mais de 40 edições.

    1993 Codirige com Lui Farias, escreve com Sérgio

    Marques o roteiro final e assina a direção geralda minissérie de Domingos de Oliveira Contos deverão, exibida entre 20 de abril e 14 de maio em 16capítulos. A narrativa mostra a vida de um escritorem crise de meia-idade, interpretado por ReginaldoFaria, que se refugia no litoral fluminense como objetivo de escrever uma minissérie. Dirige oepisódio O porteiro do programa Você decide (10de novembro) e o unitário/caso especial Menino deengenho, adaptado por Geraldo Carneiro a partir

    do romance de José Lins do Rego, exibido no blocoTerça Nobre  em 28 de setembro. No elenco, MárioVitor, Leonardo Lima, Lucélia Santos, FranciscoCuoco e Marcelo Serrado.

    1994  Com direção artística de Carlos Manga,Roberto Farias faz a direção geral e codirigecom Denise Saraceni, Mauro Mendonça Filho eMarcelo de Barreto, a minissérie em 19 capítulos,

    Ruth Albuquerque e Roberto Farias

    durante as gravações de Acelera

    Ayrton  (1986)

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     Memorial de Maria Moura , exibidos entre 17 demaio e 17 de junho. rata-se de uma adaptaçãodo romance homônimo de Rachel de Queiroz,

    com Glória Pires no papel título da saga de umaheroína destemida que busca vingança pela mortede sua mãe e luta contra a insubmissão feminina nasociedade patriarcal do século XIX.

    1995  Dirigida por Roberto Farias e InácioCoqueiro, a polêmica minissérie em 12 capítulos,Decadência , tratava do enriquecimento ilícitode um pastor que explorava seus fiéis no fictícioemplo da Divina Chama. O roteiro trazia a

    assinatura de Dias Gomes.

    2000 Dirige unitários do programa Brava Gente ,como o policial  A coleira do cão  (27 de marçode 2001), adaptado do livro de Rubem Fonseca.O programa trazia histórias fechadas de 30minutos, em geral adaptadas de obras literáriasbrasileiras, exibidas às terças-feiras. A direção denúcleo era de Guel Arraes e Jayme Monjardim.Roberto é convidado para participar da banca

    de doutorado de Flávia Seligman, defendida em25 de agosto na Escola de Comunicações e Artesda Universidade de São Paulo. Presidente do júrido Festival de Cinema Brasileiro de Gramado emembro do Júri e homenageado do Festival deCinema de Viña del Mar, Chile. Em Gramado,recebe homenagens pelos 50 anos de profissãodedicados ao cinema brasileiro.

    2001 A partir de setembro assume a direção geral

    de Brava Gente , na V Globo, série de adaptaçõesde textos da literatura e do teatro brasileiros, exibidaentre dezembro de 2000 e dezembro de 2002.

    2003 Em 17 de março, é convidado para proferiruma Aula Magna na Universidade do Vale do Riodos Sinos – Unisinos.

    Roberto Farias e equipe da

    TV Globo em Tiradentes

    nas gravações da minissérie

    Memorial de Maria Moura (1994)

    Roberto Farias durante as

    gravações do programa especial

    Brava gente , episódio A coleirado cão  (2001)

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    2004 Assina a direção geral e, junto de MauroFarias, trabalha na direção de episódios da comédiaSob nova direção, exibida na Rede Globo nas

    noites de domingo. A série de 120 episódios,protagonizada por Heloisa Perissé e IngridGuimarães, foi iniciada com um episódio piloto,O pinto e o pinguim, exibido em 28 de dezembrodo ano anterior. Estreou na grade fixa em 18 deabril e foi exibida até 8 de julho de 2007, emquatro temporadas.

    2006 Desde esse ano é o Presidente da AcademiaBrasileira de Cinema.

    2007  A Associação de Críticos de Cinema doUruguai, reunida na cidade de Piriapolis, prestahomenagem a Roberto Farias com a exibição, pelaprimeira vez no país, de Pra frente Brasil , filme quepor lá ficou proibido durante 25 anos.

    2008  Assina a direção geral da série Faça suahistória , com uma temporada única de 37 episódios,exibidos entre 6 de abril e 21 de dezembro, com

    direção de Mauro Farias, dentro do núcleo Robertoalma. Assim como Sob nova direção, Faça suahistória  também era exibida aos domingos e teveum episódio piloto, exibido em 27 de dezembrode 2007 com direção de Alexandre Boury. StepanNercessian interpreta o protagonista, o taxistaOswaldir, no episódio piloto e foi substituído porVladimir Brichta na série regular.

    2010  O Centro de Pesquisadores do Cinema

    Brasileiro restaura fotograficamente Rico ri à toa  com a supervisão de Francisco Sérgio Moreira naLabocine. Em setembro o filme tem uma exibiçãode gala no Cine Odeon durante o Festival do Rio2010, em sessão que homenageia também a famíliado ator Zé rindade.

    Antônio Grassi, Roberto Farias,

    Marília Pera e Lima Duarte nas

    gravações do episódio Ana Neri ,da série Brava Gente , da TVGlobo (2002)

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    2011  Sua obra e sua contribuição para o cinemae o audiovisual brasileiros viram objeto de estudono Curso de Cinema e no programa de Pós-

    Graduação em Comunicação da UniversidadeFederal Fluminense. Em junho, a cópia restauradade Rico ri à toa  é exibida no VI CineOP – Mostrade Cinema de Ouro Preto, que tematiza o períododas chanchadas naquela edição do festival,especializado em preservação cinematográfica. Junto com Carlos Manga, Roberto é homenageado.No dia 6 de outubro, profere uma Aula Magnano auditório da Faculdade de Direito da UFF.Convidado para ser o presidente do júri do Festival

    do Rio em outubro. Em novembro, ao lado doinglês erry Gilliam, é o grande homenageadodo VI Funchal Film Festival, na Ilha da Madeira,Portugal, com a exibição de vários de seus filmes e aoutorga do Prêmio Cidade do Funchal ao conjuntode sua obra. Recebe também uma homenagem doConselho do Estreito de Câmara de Lobos, emtributo a seus antepassados madeirenses.

    2012  Roberto trabalha em diversos projetos: numroteiro sobre Jango Goulart, outro intitulado Entreo céu e a terra , um episódio do programa BravaGente , do qual ele irá filmar um longa-metrageme, em preparação com a produtora Casablanca,um projeto chamado provisoriamente Rondon eo hóspede americano. Junto com Gustavo Dahl (inmemoriam) e Reginaldo Faria, é homenageadopela Universo Produção durante a realização doVII CineOP – Mostra de Cinema de Ouro Preto.

    Sua família agora inclui, além dos filhos e noras,também dez netos. Em 7 de agosto o CentroCultural Banco do Brasil, no Rio de Janeiro, abrea mostra Os múltiplos lugares de Roberto Farias,completa retrospectiva de seus filmes como diretor,acompanhada de seminários, debates, mostrasparalelas com seleção de seus trabalhos para atelevisão e também como produtor. Em setembro amostra é exibida no Centro Cultural Banco do Brasilem São Paulo e também na Cinemateca Brasileira.

    Roberto Farias durante a

    premiação do Grande Prêmio

    do Cinema Brasileiro, no Teatro

    João Caetano (2011)

        B    i   o    f    l   m   o   g   r   a    f   a    d   e    R   o    b   e   r   t   o    F   a   r    i   a   s

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       B   I   O   F

       I   L   M   O   G   R   A   F   I   A

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    As principais fontes de pesquisa para esta biolmograa foram as transcrições de depoimentos realizadospor Roberto Farias no Museu da Imagem e Som do Rio de Janeiro em 7/7/2011 e 29/2/2012, além da AulaMagna realizada na UFF em 6/10/2011.

    As fotograas que compõem esta biolmograa fazem parte do arquivo pessoal de Roberto Farias e foramgentilmente cedidas pelo cineasta para a composição deste catálogo.

    Roberto Farias durante o Festival CineOP (2012)

       A  c  e  r  v  o   C   i  n  e   O   P   /   U  n   i  v  e  r  s  o   P  r  o   d  u  ç   ã  o .

       F  o   t  o   d  e   L  e  o  n  a  r   d  o   L  a  r  a

    B I   O F I  L M O  G R A F I  A 

      |   

    B i    o f  l   m o  g r   a f   a  d   e R  o  b   e r   t   o F  a r  i    a  s 

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    2.Ensaios

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    Na trajetória de Roberto Farias, o mais significativo ponto de inflexãoestético-ideológica ocorreu quando ele fez O assalto ao trem pagador . Em1962, ano da realização do filme, o momento político nacional exigiadefinições quanto às reformas estruturais preconizadas no governo de JangoGoulart e cobrava uma nova relação entre intelectuais e povo. As artes, cadauma à sua maneira, participavam desse processo, engajando-se com obras queexaltavam os “grupos sociais subalternos” (camponeses, operários, favelados).O Cinema Novo participou, na primeira hora, da luta pelas reformas e secolocou, esteticamente e ideologicamente, na frente ampla da arte engajada.Roberto Farias não estava à margem. Seus filmes, porém, se situavam emuma órbita diferente daquela do inflamado desconstrutivismo cinemanovista

    e privilegiavam uma forma diferente de transmitir aos brasileiros a crençano ideário da transformação do país. Qual era essa forma? A de um cinemanacional-popular destinado a contornar “a tradicional e danosa separação”entre artistas e povo. O filósofo italiano Antonio Gramsci (1891-1937),como ressalta Carlos Nelson Coutinho (GRAMSCI, 1968b), defendia comopressuposto de uma nova cultura e de uma nova arte “o reencontro com osproblemas concretos  da vida social e nacional”. Nesta perspectiva, parece-nosválido colocar a produção de Roberto Farias sob o signo de Gramsci. Não setrata de uma interpretação arbitrária situar a postura do cineasta carioca nohorizonte político-cultural gramsciano, mesmo sabendo que à época (começoda 1960) a maioria da intelligentsia  brasileira – entre as quais os cineastas

    – ainda desconhecia o real significado do conceito do nacional-popularelaborado pelo filósofo da práxis1.

    Egresso da comédia à carioca, o jovem friburguense que não frequentouuniversidade (desistiu de cursar Belas Artes e Arquitetura) nem pertencia à  intelligentsi a do movimento inaugurado por Glauber Rocha se formou naestigmatizada “escola da chanchada”. Como assistente de direção, quase um

    1. O conceito do nacional-popular, assim como o pensamento de Gramsci, só seriam efetivamente difundidosno Brasil a partir da década de 1960, graças, principalmente, ao trabalho revelador de Carlos Nelson Coutinhoe Leandro Konder. Sobre a “recepção de Gramsci no Brasil”, ver Carlos Nelson Coutinho, in Eric J. Hobsbawm,Gramsci in Europa e in America. Bari: Laterza, 1995.

    Nacional/popular: o gramsciano Roberto FariasQuando a arte, particularmente em suas formas coletivas, dirige-se para acriação de um gosto de massa, para a elevação deste gosto, não é “industrial”: édesinteressada, isto é, arte – Antonio Gramsci .

     José Carlos Monteiro

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    “faz-tudo”, aprendera com Watson Macedo, José Carlos Burle, J. B. Tankoe Alinor Azevedo os rudimentos técnicos e, aprimorando-se, tornou-se umvigoroso artesão. Essa experiência o capacitaria a realizar thrillers , comédias

    e dramas de ressonância crítica e popular, como Cidade ameaçada , O assaltoao trem pagador , Selva trágica  e, mais tarde, Pra frente Brasil . Além disso,foi produtor bem-sucedido (com os irmãos, na R. F. Farias) e distribuidorsintonizado com as idiossincrasias do mercado (na Difilm, na IpanemaFilmes) – fatores que o credenciariam a ser o mais competente administradorda controversa história da estatal Embrafilme. Embora figura-chave do nossocinema, Roberto Farias raramente teve realçada sua contribuição na luta pelaconquista de um espaço para os filmes brasileiros. Nem foi devidamentereconhecido como um verdadeiro “autor”. Neste artigo não nos propomosa “reparar uma injustiça”, mas a reavaliar de modo abrangente os termos daincompreensão da sua obra, sobretudo sob a ótica política e cultural.

    Conflito de ideias

     Várias razões explicam tal incompreensão. Primeiramente, a questão daorigem artística: Roberto Farias se profissionalizara em um gênero tido comopouco nobre, a comédia de costumes. A quase totalidade do Cinema Novorepudiava com veemência as chanchadas. Depois, ele não participava donúcleo duro do Cinema Novo2 – não obstante o considerar um movimentobenéfico por mobilizar boa parte da crítica “na luta por melhores condições deprodução”, por sensibilizar “vastas áreas de público” e, enfim, por aproximar“os cineastas mais empenhados”. Tal comunhão de ideias foi insuficiente,

    porém, para agregá-lo às hostes aguerridas de Glauber. Na verdade, o motivoprincipal de sua exclusão consistia no fato de que Roberto Farias não secolocava a serviço de um programa político revolucionário. Esta era a ambiçãoe a meta assumidas do Cinema Novo. Em vez de realizar obras contestadoras,ele optou por um esquema comunicacional com o público – o que não oimpedia de ver de modo solidário a gente humilde e o conflito de classes.

    Quando fez a opção política que o levou ao fronte ideológico (maisespecificamente com Selva trágica ), Roberto Farias não “agiu impulsionadopor um anticapitalismo romântico”. Essa opção resultou, antes de tudo, dasua pragmática “compreensão dos modos de estruturação e funcionamento

    da sociedade capitalista” – um entendimento que pauta a reflexão de Gramscisobre a cultura, a técnica e a economia dos Estados Unidos, cuja hegemoniageopolítica nos anos 1920 é analisada em suas notas sobre o americanismo e amodernização taylorista-fordista 3.

    2. Em um artigo virulento (“Cinema Novo, face morta e crítica”, O Metropolitano , 26/9/1962), Glauber Rochapromovia uma divisão no movimento ao separar os diretores “preocupados com um cinema espetáculo quedê dinheiro e tire prêmios” (Anselmo Duarte, Carlos Coimbra, Rubem Biáfora, Lima Barreto, Roberto Farias)e aqueles preocupados com um cinema “que exprima a transformação da nossa sociedade, comunicando eprocessando esta transformação” (neste grupo estavam Ruy Guerra, Miguel Torres, Alex Viany, Paulo Saraceni,Nelson Pereira dos Santos e o grupo de Cinco vezes favela).3. O exame do “americanismo” de Gramsci, objeto de exaustivas análises na Itália e fora dela, não pode serfeito aqui na dimensão modesta deste artigo. Para uma ulterior compreensão desta problemática e do nexo

    E  N   S  A  I     O   S  

      |   N 

     a  c i    o n  a l    /    p  o  p  u l    a r  :   o  g r   a m s  c i    a n  o R  o  b   e r   t   o F  a r  i    a  s 

     J   o  s  é   C  a r  l    o  s M  o n  t   e i   r   o 

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     Já assinalamos como Roberto Farias partilhou de algumas das teseséticas, estéticas e técnicas do Cinema Novo, mas preferiu a comunicaçãodesprovida de “ideologia revolucionária” como solução para a afirmação

    do nosso cinema e como alternativa para as reformas estruturais do país. Opensamento desenvolvimentista, em voga em praticamente toda a esquerda,o impulsionava mais do que a espetacularização da pobreza e da violência.Esteticamente, sua pauta de referências não