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Cadernos CEDES n.07 CEDES – CENTRO DE ESTUDOS DIREITO E SOCIEDADE IUPERJ – INSTITUTO DE PESQUISAS DO RIO DE JANEIRO ESMPU - ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO COMO INSTÂNCIA EXTRAJUDICIAL DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS E OS SINDICATOS Pesquisadores: Rodrigo de Lacerda Carelli (Coord.) João Hilário Valentim Bernardo Braga Pasqualette Rio de Janeiro – 2006

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Cadernos CEDES n.07

CEDES – CENTRO DE ESTUDOS DIREITO E SOCIEDADE

IUPERJ – INSTITUTO DE PESQUISAS DO RIO DE JANEIRO

ESMPU - ESCOLA SUPERIOR DO MINISTÉRIO PÚBLICO DA UNIÃO

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO COMO INSTÂNCIA

EXTRAJUDICIAL DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS E OS SINDICATOS

Pesquisadores:

Rodrigo de Lacerda Carelli (Coord.)

João Hilário Valentim

Bernardo Braga Pasqualette

Rio de Janeiro – 2006

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO COMO INSTÂNCIA EXTRAJUDICIAL

DE SOLUÇÃO DE CONFLITOS E OS SINDICATOS

Rodrigo de Lacerda Carelli (coordenador)

João Hilário Valentim

Bernardo Braga Pasqualette

INTRODUÇÃO

A presente pesquisa tem por base o convênio realizado entre a ESMPU - Escola

Superior do Ministério Público do Trabalho e o CEDES – Centro de Estudos Direito e

Sociedade do IUPERJ – Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro, que tem dentre

suas finalidades o estudo de questões relevantes para o Ministério Público.

A observação e análise da atuação extrajudicial do Ministério Público do Trabalho, em

especial a decorrente da provocação dos sindicatos através do oferecimento de denúncias ou

representações, é o objetivo primeiro deste estudo, que tem, ainda, por propósito entender a

natureza da relação dos sindicatos com o Ministério Público do Trabalho, verificar se está ou

não a ocorrer a superposição de atuação destas instituições, além de procurar identificar como

os sindicatos têm compreendido o “fazer ministerial”, ou seja, a atuação do “parquet” em

relação às suas demandas.

A pesquisa se dividiu em três partes.

(1) Na primeira, uma contextualização histórico-jurídica, que se fez necessária para

melhor compreendermos o ambiente no qual as relações entre os sindicatos e o

“parquet” estão se constituindo;

(2) A segunda compreende uma análise de natureza quantitativa dos dados coletados.

Tem por fundamento dados relativos às matérias prevalentes nas denúncias

apresentadas ao Ministério Público do Trabalho pelas entidades sindicais, aos quais se

somam o resultado das investigações originadas por essas denúncias e a categoria de

trabalhadores representados pelas entidades sindicais;

(3) Com fundamento nestes dados, realizou-se uma pesquisa de natureza qualitativa,

realizada por intermédio de entrevistas com os principais sindicatos demandantes,

conforme apurado na parte quantitativa.

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O capítulo “1” apresenta a contextualização histórico-jurídica. O capitulo “2” contém

a análise da parte quantitativa da pesquisa, que foi realizada a partir de dados coletados na

Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região (com atuação em todo o Estado do Rio de

Janeiro), no período compreendido entre os anos de 2002 e 2004 – corte temporal.

Num primeiro momento identificou-se, dentre as investigações realizadas pelo

“parquet”, aquelas que tiveram por origem a denúncia de iniciativa dos sindicatos1.

Posteriormente, procurou-se identificar na natureza das matérias que foram objeto das

denúncias apresentadas pelos sindicatos, bem como o resultado dessas investigações.

Empreendeu-se também a identificação das categorias profissionais que mais vezes

formularam denuncias ao Ministério Público do Trabalho.

Concluída esta primeira fase, iniciou-se a parte qualitativa da pesquisa, apresentada no

Capítulo “3”, que consistiu na realização de entrevistas com representantes das entidades

sindicais que mais denúncias apresentaram ao Ministério Público do Trabalho no Estado do

Rio de Janeiro. Para tanto, foi elaborado um questionário que serviu de base para a realização

das entrevistas.

Com as entrevistas, buscou-se compreender as razões e as motivações que levaram os

sindicatos a provocar a atuação do Ministério Público do Trabalho, bem como a existência ou

não de atuação conjunta e a percepção geral de como as entidades sindicais têm visto a

atuação do “parquet”. Isso teve como objetivo a compreensão de como a sociedade civil, mais

particularmente os sindicatos, têm entendido a natureza da atuação do Ministério Público, se

como mero substituto dos sindicatos nos conflitos de interesses, ou nova arena de busca de

direitos.

O Capítulo 4 contém a análise crítica dos dados coletados nas partes quantitativa e

qualitativa, separando-se metodologicamente os pontos importantes apresentados pelos dados.

Por fim, apresenta-se uma conclusão da pesquisa realizada, indicando, ainda, possíveis

roteiros para a melhor compreensão da interface Ministério Público do Trabalho e sindicatos.

1 As investigações realizadas pelo Ministério Público tem por origem denuncias de origens várias, tais como as de trabalhadores, instituições públicas (Ministério do Trabalho e Emprego, Justiça do Trabalho, Ministérios Públicos Federal e Estadual, dentre outras) e privadas (associações civis, organizações não governamentais), além das decorrentes de atuação de ofício do próprio “parquet” trabalhista.

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CAPÍTULO 1

CONTEXTO HISTÓRICO E JURÍDICO

A defesa de interesses e direitos de natureza trabalhista pelos sindicatos no Brasil a

partir do Estado Novo passou a sofrer forte ingerência do Estado, que definiu não só a arena,

como também o modo segundo o qual os conflitos seriam dirimidos.

O Estado, além de chamar para si o papel regulamentador das relações de trabalho,

criou uma burocracia com competência não só de elaborar parte das normas jurídicas, como

também responsável por fiscalizar a aplicação e cumprimento das normas editadas pelo

Estado e disciplinadoras da relação capital e trabalho.

Aos sindicatos, em apertada síntese, foi atribuída a competência para representar o

grupo profissional – categoria profissional -, defendendo os interesses e direitos individuais e

coletivos. Os individuais, regra geral, eram defendidos através do oferecimento de

orientações, formação profissional e, na ocorrência de lesão de direitos, o sindicato prestava

assistência jurídica por ocasião da proposição de reclamações trabalhistas perante a Justiça do

Trabalho.

No plano coletivo o sindicato tinha a função negociar novas condições salariais e de

trabalho, através do entendimento e acordo celebrado diretamente como empregador ou com

os sindicatos patronais. Quanto ocorria a frustração da negociação os sindicatos podiam

ajuizar perante a Justiça do Trabalho uma ação coletiva, denominada de dissídio coletivo (de

natureza econômica), por meio da qual a Justiça do Trabalho, no exercício de seu Poder

Normativo, fixava por decisão judicial o novo valor do salário e das novas condições de

trabalho.

Os sindicatos também podiam, ainda, ajuizar dissídios coletivos (chamados de

natureza jurídica) objetivando obter a interpretação da Justiça do Trabalho sobre determinada

norma, como meio pacificador da divergência de interpretação entre empregados e

empregadores. Podiam, ainda, ajuizar ações de cumprimento em nome de seus associados,

objetivando dar cumprimento as decisões dos tribunais trabalhistas em dissídios coletivos não

respeitadas pelos empregadores.

Importa destacar que o modelo de organização sindical no Brasil foi elaborado pelo

Estado e que, em síntese, favorecia o surgimento de uma “passividade” política das

representações sindicais, a cooptação dessas lideranças para os interesses defendidos do

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Estado, o distanciamento das direções sindicais dos reais interesses dos trabalhadores

representados e a sobrevivência econômica e política destas direções independentemente da

dos trabalhadores.

Este afastamento entre direção e interesses reais dos trabalhadores foi possível graças

a criação de uma estrutura piramidal rígida (que tinha na base os sindicatos, como instâncias

intermediárias as federações sindicais e no ápice, as confederações), custeada por uma

contribuição compulsória descontada dos salários dos trabalhadores (imposto sindical, depois

denominado de contribuição sindical), a proibição da existência de mais de um sindicato de

um determinado grupo profissional numa mesma região geográfica (unicidade sindical), a

necessidade de reconhecimento pelo Estado da existência válida das entidades sindicais

através da outorga da carta de reconhecimento sindical, da imposição de um modelo de

estatuto sindical elaborado pelo Estado, além da possibilidade da atuação temporárias de

direções sindicais como juízes – vogais, depois denominados de juízes classistas – na Justiça

do Trabalho.

Esta estrutura se manteve ao longo dos tempos com poucas modificações. Na

atualidade, ainda persiste a imposição de contribuição compulsória, a proibição de mais de um

sindicato da mesma categoria profissional na mesma base territorial, o monopólio da

representação dos interesses e direitos dos trabalhadores não filiados ao sindicato.

Para Adalberto Cardoso2, ainda com a criação das centrais sindicais, o sindicalismo

brasileiro continuou altamente fragmentado. Com a Constituição de 1988, manteve-se a

unicidade sindical e o imposto sindical, apesar de vedar ao Estado qualquer tipo de

interferência nas relações sindicais. Assim, inaugurou-se um período de “meia liberdade

sindical”.

A partir de 1988, há um aumento no número de sindicatos, o que sugere duas

conclusões distintas: a pulverização dos sindicatos, com seu enfraquecimento ou a

organização de interesses. Representando a primeira vertente temos Márcio Pochmann3, que

aponta as seguintes características do sindicalismo brasileiro: fragmentação, descentralização,

assistencialismo e burocratização, tornando extremamente frágil o movimento sindical pátrio.

Na segunda vertente, temos Adalberto Cardoso4, que, concordando com a característica de

2 CARDOSO, Adalberto Moreira. Sindicatos, Trabalhadores e a Coqueluche Neoliberal. A era Vargas acabou? Rio de Janeiro: editora Fundação Getúlio Vargas, 1999, p. 29. 3 POCHMANN, Márcio. “Mudança e Continuidade na Organização Sindical Brasileira no Período Recente”. In OLIVEIRA, Carlos Eduardo Barbosa de. MATTOSO, Jorge Eduardo Levi (Orgs.) Crise e Trabalho no Brasil:Modernidade ou Volta ao Passado. São Paulo: Scritta, 1996. 4 Ob. Cit., p. 43.

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fragmentação, não concorda com a conclusão de fragilização, mas sim em uma “organização

de interesses”.

Aparentemente a razão está na primeira corrente, já que o processo de reestruturação

produtiva, trazendo em seu bojo o fenômeno da “terceirização”, causou uma pulverização

ainda maior nos sindicatos, fazendo com que trabalhadores com os mesmos interesses,

trabalhando na mesma empresa, sejam legalmente representados por sindicatos diversos.5 As

empresas, baseadas no direito vigente, não reconhecem os sindicatos que representam os

trabalhadores diretamente contratados pela empresa principal como representantes dos

trabalhadores terceirizados e subcontratados, porém, esses sindicatos sentem-se como

legítimos representantes dos interesses tanto dos empregados diretamente como os

perifericamente contratados. Tornam-se, então, desconexas a representação de fato com a

representação legal, causando uma fratura no coletivo do trabalho.6

Além do problema da fragmentação, o sindicalismo encontrou nos anos 80 e 90 um

sério entrave à defesa jurídica dos trabalhadores, com a interpretação do Enunciado n° 310 do

Tribunal Superior do Trabalho e Instrução Normativa nº 04/937, que impunha uma série de

restrições à defesa judicial coletiva dos interesses dos trabalhadores. Soma-se a isso tudo a

própria crise do Direito do Trabalho e a concorrência internacional pelo trabalho8, gerando

uma tendência à mera manutenção do trabalho, em detrimento a direitos dos trabalhadores, e

o surgimento de uma nova função para a negociação coletiva, que é a própria “flexibilização”

do Direito do Trabalho, no sentido de redução dos direitos dos trabalhadores.9

Não obstante tais fatos, o movimento sindical passou por um processo de renovação a

partir de fins da década de setenta e início dos anos oitenta, em especial, na região Sudeste,

movimento que veio a conhecido como “novo sindicalismo” e que almejava, em síntese,

maior liberdade de negociação direta entre empregados e empregadores e a revisão da

legislação sindical, de modo a torná-la menos rígida. Setores deste novo sindicalismo

apregoavam, inclusive, o afastamento do Estado da regulamentação das relações de trabalho,

bem como o fim do poder normativo da Justiça do Trabalho e, por conseguinte, dos dissídios

coletivos (em especial os de natureza econômica).

5 CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e Intermediação de Mão-de-Obra. Rio de Janeiro: Renovar, 2003. 6 CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Ob. Cit. 7 recentemente revogados. 8 E mesmo a luta dentro do mesmo País pelo trabalho, quando vemos os Estados lutando pela mudança das instalações fabris de outras regiões, na chamada “guerra fiscal” 9 SUPIOT, Alain (dir.). Au-delá de l’emploi. Transformations du Travail et Devenir du Droit du Travail en Europe. Paris: Flammarion, 1999, p. 142.

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Para estes setores do movimento sindical o que se pretendia em essência era oxigenar,

democratizar as relações “capital e trabalho”, afastando o Estado de seu contexto e deixando

que empregados e empregadores pudessem, por intermédio da negociação coletiva, regular os

seus interesses e definir as novas condições de trabalho, privilegiando a autonomia privada

coletiva em detrimento da intervenção estatal.

Entretanto, em síntese, o trato dos conflitos trabalhistas efetivar-se-ia “à moda antiga”,

qual seja, processos judiciais individuais, por vezes plúrimos (com vários reclamantes), ou

ajuizados pelos sindicatos como substitutos processuais dos associados e, no plano coletivo, a

solução do conflito pela via da criação de novas condições de trabalho e novos patamares

salariais obtidos por meio da negociação coletiva direta e não mais por decisão judicial em

dissídios coletivos. Chegou-se a propor um modelo “alternativo” de negociação coletiva

espelhada na experiência italiana da “negociação coletiva articulada”; proposta que no Brasil

recebeu o nome de “contrato coletivo de trabalho”10.

É de se destacar que parte do movimento sindical passou a defender uma maior

liberdade na organização sindical o que devia culminar, inclusive, na sua reorganização. A

defesa da ratificação da Convenção 87, sobre liberdade sindical, da Organização Internacional

do Trabalho – OIT, volta a ser defendida e, por fim, surge no seio da organização dos

trabalhadores novas centrais sindicais.

Se no plano político as direções sindicais estavam empenhadas neste processo de

renovação e remodelação, suas assessorias sindicais e departamentos jurídicos, quando não

empenhados também nesse processo, estavam organizados e patrocinavam a defesa dos

interesses e direitos dos trabalhadores, tanto no plano individual quanto coletivo, nos moldes

antigos ou quando não, dentro desta nova ótica da negociação coletiva.

Por outro lado, o fenômeno da coletivização das sociedades modernas e, por

conseguinte, da massificação de seus conflitos, levou diversos pesquisadores a investigar os

fenômenos decorrentes dessa realidade.

Fruto desses estudos, a estruturação de uma nova categoria jurídica de interesses – os

difusos, para uns, metaindividuais, para outros – e a conseqüente preocupação com a

efetividade dos meios de sua tutela, com a titularidade, legitimidade para agir na defesa

desses interesses e as necessárias adequações e mesmo, construção de novos ritos

procedimentais, levou, como tem levado, a uma profunda modificação e reelaboração

doutrinária no campo do direito civil e processual civil.

10 SIQUEIRA NETO, José Francisco. Contrato coletivo de trabalho: perspectiva de rompimento com a legalidade repressiva. São Paulo: LTR, 1991. p.32.

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Desde os primeiros estudos de Mauro Cappelletti11, em meados da década de setenta,

vários outros autores têm centrado suas pesquisas no tema dos interesses difusos, a exemplo

dos italianos Vincenzo Vigoriti, Domenico Borghesi, Alberto Germano, Nicoló Trocher,

dentre outros12.

No Brasil, destacam-se os pioneiros trabalhos realizados por Ada Pellegrini

Grinover13, José Carlos Barbosa Moreira14, Nelson Nery Júnior, Édis Milaré15, Hugo Nigro

Mazzilli16, dentre inúmeros outros autores. Vários desses doutrinadores eram membros do

Ministério Público do Estado de São Paulo, o que contribuiu de modo relevante para que esta

temática fosse aos poucos incorporada na atuação institucional daquele “parquet” e,

posteriormente, nos demais ramos da instituição.

A estes estudos outros se somaram e ao longo do tempo foram perpassando por

diferentes ramos do Direito, seja o Constitucional, Econômico, Penal, Administrativo,

Agrário, Processual Civil e, inclusive, o do Trabalho e Processo do Trabalho.

Os estudos e trabalho desses doutrinadores pátrios possibilitaram a apresentação de

projeto de lei sobre a proteção dos interesses difusos que, após discussões e apresentação de

várias sugestões que propiciaram o aprimoramento do texto original, veio, enfim, a se

consolidar no ordenamento jurídico nacional, na edição da Lei nº 7.347/85, que disciplinou a

ação civil pública por danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de

valor artístico, estético, historio, turístico e paisagístico. 17

Aprovada com veto parcial, que suprimiu de seu texto as expressões qualquer outro

interesse difuso e qualquer interesse difuso, teve a Lei nº 7.347/85 incorporada

posteriormente em seu texto as expressões vetadas com a sanção da Lei nº 8.078/90 – Código

11 CAPPELLETTI, Mauro. “Formações sociais e interesses coletivos diante da justiça civil”. Tradução de Nelson Renato Palaia Ribeiro de Campos. Revista de Processo, São Paulo, n.5, p.128-159. 12 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Associação civil e interesses difusos no Direito Processual Civil Brasileiro. São Paulo: Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1989. Dissertação (Mestrado em Direito). p.19. 13 GRINOVER, Ada Pellegrini. “A problemática dos interesses difusos”. In: _________ (Coord.). A tutela dos interesses difusos. São Paulo: Max Limonad, 1984, parte A, p.29-45. 14 MOREIRA, José Carlos Barbosa. A proteção jurisdicional dos interesses coletivos ou difusos. In: GRINOVER, Ada Pellegrini (Coord.). A tutela dos interesses difusos. São Paulo: Max Limonad, 1984, parte A, p.98-106. 15 NERY JÚNIOR, Nelson, FERRAZ, Antônio Augusto Mello de Camargo e MILARÉ, Édis. A ação civil pública e a tutela jurisdicional dos interesses difusos. São Paulo: Saraiva, 1984. 218p. 16 MAZZILLI, Hugo Nigro MILARÉ, Édis e FERRAZ, Antônio Augusto de Camargo. O Ministério Público e a questão ambiental na Constituição. Revista Forense, Rio de Janeiro, 82(294): 155-294, abr./jun. 1986. 17 Para um exame mais detalhado das discussões e tramitação do projeto de lei no Congresso Nacional, veja FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Associação civil e interesses difusos no Direito Processual Civil Brasileiro. São Paulo: Faculdade de Direito, 1989. 317p. Dissertação (Mestrado em Direito) - Faculdade de Direito, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, l989, p.185-223.

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de Defesa do Consumidor – o que possibilitou, por fim, a defesa judicial através da ação civil

pública de qualquer interesse difuso ou coletivo.

Quanto ao Ministério Público importa salientar que a Constituição de 1988 assinalou

importantíssimos avanços, em especial pela incorporação à Instituição de parte das funções e

do ideário da proposta de “defensor do povo”, pretendida na constituinte como Instituição

autônoma18. Em síntese, o Ministério Público transitou ‘efetivamente’ da função de

advogado do ‘principi’ à do ‘populus’, tornando-se um dos principais litigantes do Estado no

Brasil19. Para alguns autores nenhuma instituição pública saiu tão fortalecida e tão prestigiada

com a Constituição de 1988 como o “parquet”20.

Ainda estão em discussão no meio acadêmico as razões que levaram à sociedade a

canalizar suas pretensões por meio do Ministério Público, sendo uma pista a de que

reduziriam os custos relativos de organização e acesso dos interesses sociais tanto em relação

ao Estado, quanto em relação à própria sociedade.21

A Constituição de 1988, ao reposicionar o Ministério Público e fornecendo-lhe

instrumentos para a garantia coletiva de direitos preservou a relevância do papel civilizatório

do direito na sociedade brasileira,22 favorecendo o crescimento do fenômeno da

“Judicialização da Política”.23

Os avanços incorporados ao Ministério Público na Constituinte moldaram um novo e

relevante perfil, de interesse não só da Instituição, como de toda a sociedade civil, em especial

na tutela dos direitos coletivos e difusos.

Registre-se, como já afirmado em outra oportunidade, que não se pretende defender a

idéia de que o Ministério Público deva assumir a defesa da sociedade civil de forma

totalizadora, nem que deva substituir a organização dos diversos segmentos sociais na defesa

de seus interesses e direitos, mas sim que funcione o Parquet como um co-partícipe do

processo de construção da cidadania, da defesa de interesses de minorias, excluídos e

18 LOPES, Júlio Aurélio Vianna. Democracia e cidadania: o novo Ministério Público Brasileiro. Rio de Janeiro, Lumen Juris, 2000, pp. 217-8. 19 Idem, p. 216. 20 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. “O Ministério Público do Trabalho e a nova Constituição”. In ROMITA, Arion Sayon. Curso de Direito Constitucional do Trabalho: estudos em homenagem ao professor Amauri Mascaro Nascimento. São Paulo, LTr, 1991, v. 2, p. 176. 21 VIANNA LOPES, Júlio Aurélio. Ob. Cit. p. 220. 22 VIANNA, Luiz Werneck. BURGOS, Marcelo. “Revolução Processual do Direito e Democracia Progressiva”. In VIANNA, Luiz Werneck (org.) A Democracia e os Três Poderes no Brasil. 23 CITTADINO, Gisele. “Judicialização da Política, Constitucionalismo Democrático e Separação de Poderes”. In VIANNA, Luiz Werneck (org.). Ob. Cit. p. 17-42. Também VIANNA, Luiz Werneck et al. A Judicialização da Política e das Relações Sociais no Brasil. Rio de Janeiro: Revan, 1999.

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marginalizados, contribuindo, ainda, para a organização desses segmentos, e, enfim, para a

construção de uma sociedade mais justa, humana, igualitária e democrática24.

Nos termos do art. 127 da Constituição Federal, o Ministério Público é instituição

permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem

jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis. Em 1993,

com a edição da Lei Complementar nº 75 e da Lei nº 8.625/92, o Ministério Público foi,

enfim, remodelado.

Estas mudanças se fizeram sentir também no Ministério Público do Trabalho – MPT

que, nos seus primórdios, tinha suas atividades restritas à atividade de órgão interveniente25 e

no início da década de noventa, a Instituição começou a atuar de modo mais incisivo como

órgão agente, inspirado pelo sopro renovador dos novos ventos constitucionais passou a atuar

na defesa dos interesses coletivos na seara trabalhista, numa nova perspectiva, qual seja, a

desenhada pela teoria da tutela dos interesses metaindividuais26.

Necessário se faz destacar que, em um primeiro momento a discussão acerca dos

interesses metaindiduais e das suas formas de tutela passou ao largo da ação e da reflexão do

movimento sindical, bem como de suas assessorias jurídicas, seja em razão dos fatos já

elencados, como também em razão das mudanças no cenário econômico e político mundial –

com reflexos no plano nacional -, como a queda do muro de Berlim, o a desconstrução, o

enfraquecimento do comunismo e do socialismo, como alternativas as economias de mercado,

a recessão econômica, a crise do estado do bem estar social, o recrudescimento de concepções

políticas conservadoras e liberais, as propostas de flexibilização, de precarização das relações

de trabalho (terceirizações, subcontratação de mão-de-obra, falsas cooperativas de trabalho), a

24 VALENTIM, João Hilário. Aids e relações de trabalho. Rio de Janeiro: Impetus. 2003. p.286. 25 Na égide da Constituição anterior, o MPT tinha sua atividade fiscalizadora limitada a: a) emitir pareceres prévios nos processos judiciais; b) funcionar nas sessões dos tribunais, participando dos debates; c) recorrer das decisões que ferissem a lei: d) ajuizar dissídios coletivos em caso de greve; e) ajuizar ações para a defesa de interesses de menores sem representante legal, e f) presidir as mesas apuradoras de eleições sindicais, conf. FERNANDEZ FILHO, Rogério Rodriguez. O Ministério Público do Trabalho na Constituição de 1988. São Paulo: Faculdade de Direito, 1989 (Dissertação de Mestrado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade de São Paulo, 1997, pp. 24-5. 26 O Ministério Público do Trabalho tem se destacado na defesa da ordem jurídica trabalhista, contribuindo para o resgate da dignidade do trabalhador e para a valorização de sua humanidade. Várias são as suas atribuições, bem como vários são os instrumentos de que dispõe. O Ministério Público atua como custos legis (órgão interveniente) e como órgão agente. Para a execução de seu mister, tanto na esfera judicial, quanto administrativa (extrajudicial), o MPT se vale de diversos instrumentos processuais e administrativos, a exemplo da Ação Civil Pública, da Ação Civil Coletiva, do Inquérito Civil, de outras ações judiciais (art. 129, III, CF/88 e art. 83, I, LC no 75/93), da realização de audiências públicas (art. 83, VII, LC no 75/93), do poder de requisição (art. 129, VIII, CF/88, e art. 83, XII, LC no 75/93), expedição de Recomendações de Adequação de Conduta (art. 129, IV, CF/88), mediação, arbitragem (art. 83, XI, LC no 75/93 e art. 83, XI, da LC no 75/93), celebração de Termos de Compromisso de Ajuste de Conduta (art. 5º, § 6º, da Lei no 7.347/85) e realização de diligências (art. 129, VIII, CF/88 e art. 83, XII, LC no 75/93).

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extinção de postos de trabalho tanto por motivos de natureza conjuntural, quanto estrutural,

com a conseqüente retração da ação sindical.

No plano judicial, a interpretação dada pelo Tribunal Superior do Trabalho ao inciso

III, do art. 8º da Constituição, que assegurou aos sindicatos a defesa dos interesses individuais

e coletivos da categoria, tanto na via judicial, quanto administrativa, através da publicação do

Enunciado de Súmula nº 31027 limitou consideravelmente não só a ação sindical, como

também a difusão da reflexão jurídica acerca da defesa dos interesses coletivos de seus

representados pelos sindicatos. O Enunciado só foi cancelado em fim de 2003.

Não obstante tais fatos, certo é que aos poucos as entidades sindicais têm procurado

atuar de forma diferente na tutela dos interesses de seus representados, se valendo, por vezes,

das teorias que informam a tutela dos interesses metaindividuais, legitimados que estão para a

proposição deste novo leque de ações coletivas28, ou pelo menos têm provocado a atuação do

Ministério Público na tutela desses interesses.

Compreender como tem se desenvolvido a relação entre os sindicatos e o Ministério

Público, bem como tentar esclarecer os motivos que levam os sindicatos a provocar a atuação

ministerial, é o propósito desta pesquisa.

27 Enunciado nº 310 - SUBSTITUIÇÃO PROCESSUAL. SINDICATO. I - O art. 8º, inciso III, da Constituição da República não assegura a substituição processual pelo sindicato. II - A substituição processual autorizada ao sindicato pelas Leis nºs 6.708, de 30.10.1979, e 7.238, de 29.10.1984, limitada aos associados, restringe-se às demandas que visem aos reajustes salariais previstos em lei, ajuizadas até 03.07.1989, data em que entrou em vigor a Lei nº 7.788. III - A Lei nº 7.788/1989, em seu art. 8º, assegurou, durante sua vigência, a legitimidade do sindicato como substituto processual da categoria. IV - A substituição processual autorizada pela Lei nº 8.073, de 30.07.1990, ao sindicato alcança todos os integrantes da categoria e é restrita às demandas que visem à satisfação de reajustes salariais específicos resultantes de disposição prevista em lei de política salarial. V - Em qualquer ação proposta pelo sindicato como substituto processual, todos os substituídos serão individualizados na petição inicial e, para o início da execução, devidamente identificados pelo número da Carteira de Trabalho e Previdência Social ou de qualquer documento de identidade. VI - É lícito aos substituídos integrar a lide como assistente litisconsorcial, acordar, transigir e renunciar, independentemente de autorização ou anuência do substituto. VII - Na liquidação da sentença exeqüenda, promovida pelo substituto, serão individualizados os valores devidos a cada substituído, cujos depósitos para quitação serão levantados através de guias expedidas em seu nome ou de procurador com poderes especiais para esse fim, inclusive nas ações de cumprimento. VIII - Quando o sindicato for o autor da ação na condição de substituto processual, não serão devidos honorários advocatícios. (Res. 1/1993, DJ 06.05.1993), (Cancelado pela Res. 119/2003, DJ 01.10.2003) 28 - Neste sentido é o entendimento de FIORILLO, Celso A. Pacheco. Os sindicatos e a defesa dos interesses difusos: no direito processual civil brasileiro. São Paulo: RT. 1995; NAHAS, Thereza Christina. Legitimidade ativa dos sindicatos: defesa dos direitos e interesses individuais homogêneos no processo do trabalho. São Paulo: Atlas. 2001; SANTOS, Ronaldo Lima dos. Sindicatos e ações coletivas: acesso à justiça, jurisdição coletiva e tutela dos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos. São Paulo: LTr. 2003.

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CAPÍTULO 2

DADOS QUANTITATIVOS

AS REPRESENTAÇÕES REALIZADAS PELOS SINDICATOS

1. METODOLOGIA

A primeira tarefa realizada foi a obtenção dos dados relativos à parte quantitativa da

pesquisa, tendo sido utilizado o sistema de controle dos procedimentos administrativos da

Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região (Rio de Janeiro), a partir do qual se

selecionou uma amostra, relativa a todas as representações (denúncias) realizadas por

entidades sindicais entre os anos de 2002 e 2004.

A pesquisa quantitativa levou em conta os seguintes aspectos: sindicato demandante,

atividade econômica à qual pertence o sindicato, matéria da denúncia e o resultado.

Quanto às matérias demandadas, utilizou-se a tipologia de classificação da

Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região (Rio de Janeiro).

• lide simulada29;

• administração pública [terceirização, admissão sem concurso público e intermediação

ilícita];

• discriminação;

• fraude a relação de emprego [trabalho temporário, cooperativas, intermediação ilícita,

terceirização];

• greve [greve, coação de trabalhadores para não participar];

• liberdade sindical [liberdade sindical, liberdade de organização, homologação de

Termo de Rescisão de Contrato de Trabalho, contribuição, liberdade de filiação];

• meio ambiente do trabalho [insalubridade, PCMSO, Norma Regulamentadora, recusa

de emissão de Comunicação de Acidente de Trabalho, acidente de trabalho, CIPA];

• sem matéria definida ou especificada no registro da Procuradoria Regional do

Trabalho;

29 Lide simulada é o nome que se dá à falta de conflito de interesses em um processo judicial, sendo este utilizado para um fim ilícito, como a redução de direitos do trabalhador. Na sua maior parte ocorre com a contratação pelo empregador de advogado para o trabalhador, entrando na Justiça do Trabalho com ação trabalhista para pagamento a menor de verbas rescisórias trabalhistas.

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• sonegação [de direitos e verbas trabalhistas, férias, contratação irregular, atraso e

retenção de salários, gratificação natalina, rescisão contratual irregular, falta de

registro de contrato de trabalho, auxílio-alimentação - Programa Alimentação do

Trabalhador - PAT, vale-transporte, atraso e retenção de salários, FGTS, descontos

irregulares, inobservância de salário mínimo ou piso salarial, retenção de CTPS];

• residual [proteção do trabalho da pessoa portadora de deficiência - PPD - reserva de

vagas, mediação, coação de trabalhadores, jornada de trabalho].

2. ANÁLISE DOS DADOS

Os dados levantados pela pesquisa são os seguintes:

A – Total de representações, independentemente da natureza do denunciante:

Representações autuadas em 2002: 1798

Representações autuadas em 2003: 1848

Representações autuadas em 2004: 2075

REPRESENTAÇÕES

1848

2075

1798

representações

representações 1798 1848 2075

2002 2003 2004

B – Total de Representações que tiveram como denunciantes entidades sindicais:

Representações com Denunciante Sindicato no ano de 2002: 169

Representações com Denunciante Sindicato no ano de 2003: 149

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Representações com Denunciante Sindicato no ano de 2004: 214

REPRESENTAÇÕES REALIZADAS POR SINDICATOS

214

169149

0

50

100

150

200

250

representações

representações 169 149 214

2002 2003 2004

Percebe-se, assim, que, apesar do aumento gradual das representações em número

total, as denúncias dos sindicatos diminuíram no ano de 2003, coincidentemente ou não, o

primeiro ano do governo Lula, quando grande parte dos integrantes do movimento sindical,

principalmente cutista, passou a ocupar cargos no governo federal. Entretanto, no ano

posterior, retomou-se o crescimento, podendo significar uma reorganização dentro do

movimento ou incremento de falta de confiança na perspectiva de mudanças sociais até então

desenhadas ou propagadas na propaganda eleitoral.

As denúncias (representações) apresentadas foram, para fins de análise, classificadas

e/ou agrupadas de diversos modos. As classificações e os resultados obtidos estão destacados

abaixo.

Analisando os sindicatos denunciantes por ramo de atividade, temos que elas foram

percentualmente apresentadas pelos seguintes ramos:

• serviços - 51%

• comércio – 7%

• indústria – 42%

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3. PRINCIPAIS SINDICATOS DEMANDANTES

Considerando os sindicatos denunciantes, os 7 (sete) que mais denúncias apresentaram

ao MPT, chegou-se à distribuição apresentada no gráfico abaixo:

Principais Sindicatos que demandaram o Ministério Público

11,3%10,8%

10,0%

9,4%7,2%5,1%5,1%

41,1%

Sind. trab. - Comunicação e telecomunicação

Sind. trab. - Bancário

Sind. trab. - Estab. Ensino

Sind. trab. - Ind. Construção

Sind. trab. - Serviços

Sind. trab. - Beneficiamento/petróleo

Sind. trab. - Comércio

Outros

Quase sessenta por cento das demandas por sindicatos estão relacionados a somente

sete segmentos profissionais. Qual a razão? São os grupos profissionais mais precarizados ou

mais pelegos? Ou onde o movimento do trabalhador mais organizado?

Os sindicatos com mais demandas são aqueles da área de telecomunicações,

justamente o segmento profissional que mais tem sofrido com extrema precarização das

condições de trabalho, tendo inclusive sido encontradas diversas situações de trabalho

degradante, inclusive veiculadas na imprensa.

Outro setor econômico com alto nível de terceirização é o segundo maior denunciante,

representante da categoria dos bancários, historicamente de lutas e vitórias tanto no âmbito

legislativo quanto negocial, que viu o enxugamento da base em função do processo de

automação combinado com formas de precarização com terceirização, seja sob forma de

“correspondentes bancários” e desvirtuamento do contrato de estágio.

Os dois primeiros maiores demandantes são as categorias com maior nível de

precarização ocasionado pela terceirização, inclusive com esvaziamento em alto grau da

categoria em termos numéricos, eis que passaram, pelo sistema sindical brasileiro, a serem

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representados legalmente pelos sindicatos de empregados dos prestadores de serviço, que em

sua maior parte não pertencem à categoria das empresas tomadoras de serviço, evidenciando o

fenômeno da fragmentação da organização sindical, com o conseqüente enfraquecimento do

coletivo trabalhador.

Neste contexto, pode-se intuir que a ação sindical realizada diretamente pelas

organizações representativas dos trabalhadores não têm tido eficiência no combate à

precarização, buscando, por conseqüência, o envolvimento de outras instituições nesta luta,

em especial, o Ministério Público do Trabalho.

A próxima categoria a se apresentar é aquela sobre a construção civil.

As matérias que mais levaram esse sindicato a procurar o Ministério Público do

Trabalho foram o meio ambiente do trabalho, sonegação de verbas trabalhistas (não somente

no curso da relação trabalhista, bem como no fim do contrato de trabalho) e, por fim, a

contratação de trabalhadores, em fraude aos direitos dos trabalhadores, por sociedades

formalmente constituídas como cooperativas.

Em primeiro lugar, foi encontrado o meio ambiente do trabalho. Esse dado não é de se

assustar, eis que a atividade econômica traz por sua natureza grandes riscos à saúde e à vida

dos trabalhadores, fato que é corroborado pela existência de uma norma regulamentar

específica para esse setor, a Norma Regulamentar nº 18, altamente detalhada.

Tais riscos são potencializados pela falta de respeito às normas de proteção ambiental,

tanto individual quanto coletiva, ocorrente na categoria, que tem o maior nível de mortalidade

de todos os setores da economia30.

As denúncias relativas à contratação de trabalhadores de forma precária, como as

cooperativas, têm como sentido primeiro a redução de custos do empregador na contratação

de mão-de-obra, mesma lógica que se verifica na falta de aporte de recursos pelo patronato na

proteção do meio ambiente do trabalho. Formas precárias de trabalho, na maior parte das

vezes, também querem dizer falta de treinamento, piores condições de trabalho e tentativa do

real empregador de fugir da responsabilidade, inclusive quanto à proteção ambiental31.

Quanto à supressão de direitos trabalhistas, a política de enxugamento de custos se

completa com o não pagamento dos direitos definidos na legislação. Tornaram-se comuns

denúncias de falta de pagamento de verbas rescisórias e de outros direitos assegurados pela

legislação laboral. Com relação às verbas rescisórias, virou prática costumeira o seu simples 30 Conforme estatística do Ministério do Trabalho e Emprego, relativa ao ano de 2003, em 14/08/2006, <<http://www.mte.gov.br/Empregador/segsau/estatisticas/acidentes/estatistica/2003/UF12grupos.pdf>> 31 Sobre a questão, ver relatório que demonstra a existência, em nível mundial, da tentativa de fuga da responsabilidade sobre os trabalhadores: INTERNATIONAL LABOUR OFFICE. The Employment Relationship. Genebra: ILO, 2005.

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não pagamento, deslocando o acerto para as comissões de conciliação prévia ou para a Justiça

do Trabalho, onde há possibilidade de redução do custo se implementa pela facilidade da

celebração de “acordos” nos quais, regra geral, as verbas não são pagas em sua totalidade

realmente devidas.

O quarto setor sindical que mais movimentou, no período pesquisado, o Ministério

Público do Trabalho, foi aqueles da categoria empresarial de serviços, compreendida pelos

setores de serviço público, empresas de terceirização e profissionais liberais.

Quanto à terceirização, acima já falamos, que é a fonte, ou canal, de quase toda

precarização atual, sendo explicável assim ser parte importante nos demandantes do

Ministério Público. Já os sindicatos dos servidores públicos, que, como visto acima, apesar da

pouca implicação no número total das demandas, são notoriamente de alta organização e

atuação, decorrente da estabilidade que detêm os trabalhadores na maior parte dos casos. Esse

setor tem sofrido, a partir do consenso de Washington, um desmonte de sua estruturação

básica, pela contratação precarizada, sem concurso público, de diversos trabalhadores, ao

contrário do que ocorria anteriormente, não obstante a orientação da Constituição de 1988

sobre a obrigatoriedade do certame público. Assim, natural a busca do Ministério Público do

Trabalho para a tentativa de impedir o desmonte da máquina, eis que as portas negociais

políticas se encontraram quase que totalmente fechadas, principalmente no período

pesquisado. Além disso, convém lembrar a existência de um núcleo especializado em

irregularidades na administração pública, de grande atividade e competência junto aos

diversos níveis de governo, o que incentiva a procura ao “parquet”32.

A mesma lógica é encontrada no setor petroleiro, que é, em sua maioria, ligado à

empresa estatal Petrobras, na qual se verificou, nos últimos anos, grande troca de empregados

diretos por trabalhadores terceirizados, ocasionando altos níveis de insegurança no meio

ambiente do trabalho, com ocorrência de diversos acidentes com os trabalhadores33.

32 Promovido pelo Jornal de concursos públicos “Folha Dirigida”, junto com a UNESCO, o prêmio Personalidade Cidadania foi entregue, nos últimos dois anos, a Procuradores do Trabalho, Cássio Casagrande e João Batista Berthier. 33 DRUCK, Maria da Graça. Terceirização: Desfordizando A Fábrica - um estudo do Complexo Petroquímico. Salvador/São Paulo: Edufba/Boitempo, 1999 e CARELLI, Rodrigo de Lacerda. Terceirização e Intermediação de Mão-de-obra. Rio de Janeiro: Renovar, 2003.

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4. MATÉRIAS DEMANDADAS

As principais matérias que foram objeto de denúncia dos sindicatos junto ao MPT

foram as seguintes:

Principais matérias que foram objeto de denúncia para o Ministério Público

35,1%

4,2%

6,5%15,2%5,3%

15,7%

18,0%

Sonegação

Lide Simulada

Administração Pública

Fraude à relação de emprego

Liberdade Sindical

Meio ambiente

Outros

Em primeiro lugar, temos o não-cumprimento das obrigações contratuais pelo

empregador com a conseqüente sonegação de verbas e direitos trabalhistas, irregularidades

mais comuns no âmbito trabalhista, tanto em relação às apresentadas às Delegacias Regionais

do Trabalho, à Justiça do Trabalho e, como não poderia deixar de ser, ao próprio Ministério

Público do Trabalho. Constata-se que nem o mínimo que se espera de contraprestação da

relação de trabalho é cumprida, em termos gerais, pelos empregadores. Demonstra também a

ineficácia do Estado e das instituições de defesa dos direitos do trabalho em fazer valer o

pagamento do mínimo na proteção dos trabalhadores, causando, certamente, um sentimento

de não-pertencimento à sociedade brasileira dessas pessoas largadas à própria sorte.

A fraude à relação de emprego está intimamente ligada à questão da sonegação, porém

sob a forma de um ardil.34 Espera-se com a fraude a redução dos direitos (ou mesmo a sua

eliminação, como nos casos de falsas cooperativas e fraude por meio de criação de pessoas

34 Como afirmou o filósofo romano Cícero, “quanto à injustiça é cometida de duas maneiras; pela violência e pela fraude. Uma pertence à raposa, outra ao leão. Todas as duas são indignas do homem, mas a fraude é mais odiosa. De todas as injustiças, a mais abominável é a desses homens que, quando enganam, procuram parecer homens de bem”.

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jurídicas) e quem sabe, como se verificou acima, ainda não é paga ao trabalhador a

contraprestação mínima aos trabalhadores terceirizados.

Em segundo lugar, encontramos a liberdade sindical. Assim, outro direito básico do

trabalhador, que é a garantia da livre associação profissional, demanda grande preocupação

nos sindicatos. De certa forma, o desrespeito no âmbito individual se projeta para o plano

coletivo, de modo que não é de se espantar que aquele que não respeita os direitos mínimos da

relação empregatícia não tem interesse que este se organize para a defesa de seus interesses.

O meio ambiente do trabalho, típica atuação de defesa de direitos difusos, inata

matéria de atuação do “parquet”, ficou em quarto lugar entre as representações realizadas

pelos sindicatos. Pode demonstrar, por não estar entre os primeiros, que os sindicatos ainda

estão mais preocupados em garantir o mínimo existencial dos trabalhadores, como verbas

salariais e derivados. Assim, as questões relacionadas com a melhoria das condições de

segurança no trabalho ficam postergadas, necessária também neste caso a atuação ex officio

do Ministério Público do Trabalho nessa questão.

Ramo de Atividade

7%

51% 42%

comércio indústria serviços

Discriminados segundo a natureza jurídica do setor ao qual se vinculam, chegou-se à

seguinte distribuição das denúncias apresentadas pelos sindicatos:

• serviço público – 5%

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• iniciativa privada – 95%

O dado indica o novo leque de atividades realizadas pelo “parquet” laboral, pois,

anteriormente ao novo perfil desenhado pela Constituição Federal de 1988, o MPT atuava,

mesmo que na condição de órgão agente, exclusivamente quando envolvidos entes públicos

na relação de trabalho.

Por outro lado, importa destacar que o que pode justificar a pequena demanda do

Ministério Público do Trabalho por sindicatos de trabalhadores do setor público, além da

circunstância de serem naturalmente em menor número, é o fato de que o seu regime jurídico,

em grande parte, tem natureza estatutária, o que afastaria a atuação do Ministério Público

laboral.

Há outras possíveis variáveis para explicação do fenômeno: da competência da Justiça

do Trabalho ser normalmente baseada na relação empregado x empregador, diferente da

relação Estado x servidor; a ação sindical do setor público historicamente se estruturou de

modo diverso do sindicalismo privado; garantia de emprego dos servidores públicos; maior

politização dos embates servidores x estado; limitação de celebração de convenção coletiva de

trabalho e acordo coletivo de trabalho, de instauração de dissídio coletivo.

Considerando o local de prestação de serviço ou o local do dano ou onde a

irregularidade denunciada foi cometida, tem-se a seguinte distribuição:

• urbano – 99%

• rural – 1%

Tal porcentagem ínfima de participação dos sindicatos rurais evidencia alguns

aspectos: a falta de interiorização do Ministério Público do Trabalho, localizando-se quase

que exclusivamente na Capital do Estado, fazendo com que a maioria das demandas

apresentadas esteja relacionada aos grandes centros urbanos, e, em especial, ao grande Rio de

Janeiro; no mesmo diapasão, tal estrutura dificulta o recurso dos pequenos sindicatos rurais ao

Ministério Público do Trabalho; e que ainda há certa incipiência do movimento sindical rural

no Rio de Janeiro.

Acerca do andamento das investigações na Procuradoria do Trabalho do Rio de

Janeiro, constatou-se que as denúncias colacionadas no período, de origem sindical, estão:

• arquivadas – 35%

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• arquivadas com ação – 4%

• arquivadas com ação e com apensamento – 1%

• arquivadas com apensamento – 15%

• arquivadas com termo de compromisso de ajustamento de conduta– 6%

• arquivadas com termo de compromisso de ajustamento de conduta e ação – 1%

• ativas – 36%

• ativas com termo de ajustamento de conduta – 2%

De certa forma, o índice de solução pode ser considerado elevado, pois, do total,

somente 36% das denúncias apresentadas, após três anos, continuavam ativas sem conclusão.

Por outro lado, infelizmente não há, a partir do sistema da Procuradoria Regional do

Trabalho da 1ª Região, como se buscar a razão da grande maioria dos arquivamentos, eis que

somente são explicados aqueles realizados por ação ou por termo de compromisso, podendo

estar neste número soluções espontâneas ou inexistência ou não comprovação da lesão na

investigação.

O índice de apensamento de denúncias demonstra que há uma certa confluência de

representações com o mesmo objeto. Não é possível perceber, entretanto, as razões das

repetências de denúncias, vez que os dados apurados não demonstram o motivo que isso

acontece. Pode-se especular, por exemplo, que tal repetição está relacionada à falta de

controle das denúncias apresentadas pelo sindicato; a falta de acompanhamento do andamento

dos procedimentos pelo sindicato; a falta de comunicação entre as entidades sindicais e o

“parquet”; ou mesmo a persistência no tempo de determinados tipos de lesões trabalhistas em

certos grupos profissionais, sejam esses decorrentes de práticas localizadas naquele segmento

profissional ou de práticas empresariais disseminadas, como por exemplo, precarização via

terceirização ou cooperativas de mão-de-obra.

Um outro recorte realizado foi agrupar as denúncias por matéria, conforme

classificação interna da Coordenadoria de órgão agente do “parquet” – a CODIN –

Coordenadoria de Defesa dos Interesses e Direitos Coletivos e Difusos - e, considerando os

sindicatos que mais denúncias apresentaram ao Ministério Público do Trabalho, verificar a

quantidade em termos percentuais das denúncias apresentadas pelos sindicatos escolhidos

sobre as matérias definidas.

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5. PRINCIPAIS SINDICATOS DEMANDANTES EM RELAÇÃO A CADA MATÉRIA DENUNCIADA

Desta forma, pôde-se constatar o percentual de denúncias apresentadas pelos

sindicatos sobre cada matéria definida, a saber:

Matéria: meio ambiente do trabalho:

Meio Ambiente do Trabalho - maiores demandantes

59%14%

12%

4% 2% 9%

Sind. Comunicação/Telecomunicação Sind. ComércioSind. Ind. Construção Civil Sind. Ind. AlimentaçãoSind. Transp. Rodoviários Outros

Deste gráfico extraem-se questões intrigantes, como a participação maior do sindicato

do comércio do que o da construção civil, eis que neste último setor tem um ambiente do

trabalho historicamente mais perigoso ao trabalhador do que o do comércio, tendo inclusive

uma Norma Regulamentar de Segurança e Saúde do Trabalhador específica para a

atividade35, além do que o setor da construção civil está classificado pelos órgãos

governamentais como tendo grau 4 (máximo) de risco da atividade, para efeitos de

insalubridade e que são vários os acidentes, inclusive fatais, que notoriamente ocorrem nessa

atividade. Pode demonstrar, assim, uma pouca preocupação dos sindicatos dessa categoria na

questão da segurança e saúde do trabalhador, demandando uma maior atuação de ofício do

Ministério Público do Trabalho.

35 Norma Regulamentar nº 18 do Ministério do Trabalho e Emprego.

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Matéria: administração pública

Categoria profissional (sindicatos) x Administração Pública (matéria)

42,9%

19,0%9,5%

9,5%

19,0%

Sind. Servidores Públicos

Sind. Servidores Terceirizados

Sind. Ind. Beneficiamento/Petróleo

Sind. Comércio

Outros

A terceirização na administração pública, com a conseqüente precarização das formas

de contratação e das condições de execução do trabalho, vem se alastrando de tal forma que as

demandas formuladas pelos sindicatos dos trabalhadores em empresas terceirizadas já

representam quase a metade daquelas apresentadas pelos sindicatos dos típicos de servidores

públicos. Vislumbra-se aqui o surgimento de um novo grupo profissional, daqueles

trabalhadores que se relacionam de forma atípica e precarizada com a administração pública,

e que,, na estrutura sindical legal atual, não são representados pelos sindicatos tradicionais do

serviço público. Esse grupo, além das condições precárias de trabalho, convive no seu dia-a-

dia com inúmeras irregularidades, o que tem levado a uma atividade de maior expressão do

Ministério Público do Trabalho36.

Entretanto, não se consegue perceber a razão do que os sindicatos do comércio

estarem demandando com o tema “administração pública”.

36 As formas clássicas de contratação de servidores se davam pelo regime estatutário, celetista ou especial. A partir de 1988, o requisito do concurso público se tornou obrigatório, bem como a definição de um regime jurídico único em cada nível da federação. Porém, posteriormente, esta regra foi alterada pela Emenda Constitucional n° 19, ainda em discussão no Supremo Tribunal Federal. Não obstante tais formas de contratação, certo é que nos últimos anos se incrementou a contratação “de trabalhadores públicos” por meio de “prestação de serviços”, “cooperativas”, “terceirização”, “consultoria”, “ONG”, “OSCIP”, “fundações”, “falsos temporários”, dentre outras formas, para escape da regra constitucional do concurso público.

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Matéria: liberdade sindical

Liberdade Sindical - Maiores Demandantes

12%12%

12%

12%

52%

Sind. ComércioSind. TurismoSind. Transporte aéreosSind. EducaçãoOutros

Percebe-se que o tema está bem diluído entre as categorias, eis que quatro ramos estão

juntos em primeiro lugar, com o mesmo percentual, e o restante das categorias representa

mais da metade das denúncias. No total foram 19 (dezenove) representações sobre liberdade

sindical, sendo 2 (duas) apresentadas pelo sindicato dos empregados no comércio, outras 2

(duas) por sindicatos dos empregados em turismo, 2 (duas) pelo sindicato do aeronautas, (1)

uma pelo sindicato dos professores e (1) outra pelo sindicato de administração escolar e outras

9 (nove) por sindicatos diversos, tais como, do sindicato dos bancários (2), pelo sindicato do

asseio e conservação (1), duas pelo sindicato dos médicos (2), outra pela federação dos

médicos (1), uma pelo sindicato dos servidores públicos (1); e outra pelo sindicato dos

trabalhadores em empresas de ferrovias.

Hoje temos um sistema de liberdade sindical mitigada, destoando do preconizado pela

legislação internacional, como a Convenção n° 87 da Organização Internacional do Trabalho,

que não foi ratificada pelo governo brasileiro. Essa convenção, que está entre as fundamentais

da OIT, prevê a plena liberdade sindical, o que não ocorre em nosso País, onde vige o sistema

de sindicatos únicos nas categorias (unicidade sindical) e previsão de contribuição sindical

compulsória. Por outro lado, há a liberdade de filiar-se ou não prevista na Constituição

Federal de 1988.

A liberdade sindical defendida pelo Ministério Público do Trabalho se estende à

garantia do trabalhador filiar-se ou não, além do combate a prática de atos anti-sindicais,

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inclusive aqueles realizados pelos próprios sindicatos. Também há firme atuação na defesa do

direito de greve, que vem sendo malferido pelos empregadores.

Matéria: sonegação de verbas trabalhistas

Categoria profissional (sindicatos) x Sonegação (matéria)

17,1%

13,0%

8,9%7,3%6,5%

47,2%

Sind. Educação

Sind. Ind. Vestuário

Sind. Comércio

Sind. Ind. Construção Civil

Sind. Saúde

Outros

Corroborando a parte qualitativa da pesquisa, os sindicatos do ramo da Educação têm

como maior preocupação a sonegação de direitos e verbas trabalhistas, seguida pelo vestuário,

comércio, construção civil e saúde. Tais questões, típicas do direito do trabalho tradicional,

envolvem questões pecuniárias e contratuais, classicamente defendidas pelos sindicatos.

Assim, esses sindicatos atuam de forma mais clássica, na defesa dos interesses em sentido

estrito (ou mais imediatos) dos trabalhadores, e não da forma preconizada pelas novas

diretrizes da Organização Internacional do Trabalho37.

37 Conforme o texto: ILO, Fight Poverty – Organize!. Genebra: 2005, ILO, os sindicatos devem atuar de forma mais abrangente na política nacional, inclusive quanto aos direitos dos não-sindicalizados, desempregados e subempregados.

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Matéria: fraude a relação de emprego

Categoria profissional (sindicatos) x Fraude à relação de empregos (matéria)

33,3%

17,6%13,7%5,9%

5,9%

23,5%

Sind. Serv. Bancários

Serviços Terceirizados

Sind. Comunicação/Telecomunicação

Sind. Ind. Extrativista

Sind. Saúde

Outros

A questão das fraudes à relação de emprego, que envolve os temas da terceirização e

do fornecimento de mão-de-obra por cooperativas, atingiu principalmente os ramos bancários,

saúde (principalmente com a contratação de “cooperativas” para o fornecimento de mão-de-

obra sem garantia de direitos) e telefônicos. Interessante a ausência dos eletricitários entre os

maiores denunciantes, eis que as atividades desse setor foram, após a privatização do

segmento, altamente terceirizadas. Outro ponto a se destacar é a presença em segundo lugar

dos próprios sindicatos dos terceirizados, demonstrando que esse segmento tem alto nível de

demanda própria, ocasionada, muito provavelmente, pela falta de garantia dos direitos mais

básicos a esses trabalhadores. Isto porque, como se sabe, a terceirização no Brasil nada mais é

do que um mero fornecimento de mão-de-obra, que traz consigo a redução de direitos e

benefícios. Assim, além dessa redução já “natural” de direitos, esses pequenos benefícios que

ainda mantêm lhe estão sendo sonegados. É a precarização da precarização.

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CAPÍTULO 3

DADOS QUALITATIVOS - AS ENTREVISTAS COM OS SINDICATOS

Na presente parte da pesquisa, buscou-se ouvir diretamente os sindicatos para verificar

a razão da busca do Ministério Público para a solução de problemas dos trabalhadores

pertencentes à categoria respectiva, a fim de se constatar a visão do meio sindical sobre o

Ministério Público e de pensar a natureza da própria atividade do “parquet” laboral.

1. METODOLOGIA

Para a eleição das entidades sindicais a serem ouvidas, foi realizada a elaboração de

uma tipologia dos sindicatos, levando-se em conta a estrutura legal sindical brasileira, que é

realizada a partir das categorias econômicas das empresas empregadoras. Para tanto, tomou-se

como referência o disposto no art. 577 da CLT e anexos, tendo sido realizados alguns

agrupamentos, e o resultado foi o seguinte:

1- Cooperativa

2- Transporte

3- Telecomunicação

4- Educação

5- Indústria

6- Serviços Públicos

7- Serviços

8- Petroleiro

9- Bancários

10- Comércio

11- Turismo

12- Saúde

13- Agricultura

Definidos os grupos profissionais, promoveu-se a identificação dos sindicatos que

mais têm demandado o Ministério Público do Trabalho e, posteriormente, definiu-se o critério

para identificar as lideranças sindicais a serem entrevistadas.

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Identificaram-se, então, os maiores demandantes e, a partir daí, partiu-se para a

entrevista dos dirigentes sindicais das entidades que mais têm demandado o MPT, conforme

relação a seguir:

I – Eletricitários

II – Telefônicos

III – Bancários

IV – Construção civil

V – Serviços – prestadores de serviços de limpeza (asseio e conservação)

VI – Petroleiros

VII – Da área de ensino

Para a realização das entrevistas, na medida do possível, foram contatados os

dirigentes sindicais que tinham conhecimento das denúncias apresentadas ao MPT ou das

questões denunciadas. Nem sempre isso foi possível. Entre os sindicatos selecionados, o dos

eletricitários foi o único com o qual não se conseguiu contato e, portanto, não foi entrevistado.

Para as entrevistas foi elaborado um questionário-base, que serviu de roteiro para

todos os encontros. Os dados coletados no MPT foram utilizados para a formulação do

questionário, com o objetivo de:

a – identificar por sindicato as matérias objeto das denúncias;

b – levar em conta o resultado da atuação do MPT por sindicato, dando especial

atenção às soluções extrajudiciais (celebração de Termo de Compromisso de

Ajustamento de Conduta).

No período de 16.12.05 até 10.02.06 foram entrevistados os dirigentes sindicais,

obtendo-se os seguintes resultados, em ordem das entrevistas.

2. ENTREVISTA COM O SINDICATO SINPRO-RIO

2.1 – APRESENTAÇÃO

O Sindicato dos Professores do Rio de Janeiro – SINPRO-RIO representa os interesses

de todos os professores da iniciativa privada, da educação básica, do ensino superior, dos

cursos livres, dos preparatórios de ensino complementar ou profissional, inclusive os não

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seriados, dos cursos de línguas, tendo como base territorial os municípios do Rio de Janeiro,

Paracambi, Itaguaí e Seropédica. Este sindicato tem 75 anos de atuação, fundado em 1931 (o

primeiro sindicato de professores do Brasil), criado no dia 31 de maio, após o decreto de

Vargas de regulamentação da atividade sindical, sendo atualmente filiado à Central Única dos

Trabalhadores – CUT.

Foram entrevistados o coordenador jurídico e diretor jurídico, estando ambos há pouco

tempo no sindicato, após a vitória de sua chapa nas eleições sindicais.

O sindicato apresentou no período investigado dezessete denúncias ao Ministério

Público do Trabalho, sendo o objeto com maior número de ocorrências a “sonegação de

direitos trabalhistas”.

2.2 – A ENTREVISTA

Os entrevistados, dado o pouco período de tempo no qual estavam no sindicato (menos

de três meses), afirmaram não ter pleno conhecimento da relação da entidade com o

Ministério Público do Trabalho, nem mesmo conhecendo profundamente a própria história do

sindicato, tendo inclusive sido realizada a entrevista na sala improvisada na qual estava

alocado o departamento jurídico.

Afirmaram os entrevistados que realmente a principal preocupação da categoria é a

falta ou atraso de pagamento de salários, descumprimento de itens da convenção coletiva e

outras verbas trabalhistas.

Inicialmente, afirmaram que a entidade sindical tenta resolver os problemas de forma

negociada, diretamente com as instituições de ensino, e somente no caso de não solucionado o

problema, são procurados a Delegacia Regional do Trabalho, e, posteriormente, como último

recurso, o Ministério Público do Trabalho.

Por diversas vezes na entrevista foi salientado como principal problema do

relacionamento com o Ministério Público do Trabalho a demora na obtenção de resultados.

Alegaram os entrevistados que o Ministério Público do Trabalho é ineficiente, pois “não

cumpre o que a Constituição determina, ele não observa prazo, não observa nada, você entra

com um requerimento e demora de dois a três anos para obter uma resposta mínima. Os

procedimentos prévios demoram muito”. Acreditam que as falhas e o atraso se devem ao fato

de ser o “aparato público (...) inexpressivo para atender a crescente demanda”.

Perguntados se realizavam, com relação ao fato denunciado, alguma atividade após a

representação, os sindicalistas responderam de forma negativa, eis que a busca do Ministério

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Público do Trabalho “é a última via, quando a via negocial já está esgotada. (...) Quando

existe uma reclamação que chega ao nosso conhecimento, nós tentamos resolver o problema

pela via da negociação, geralmente indo até a própria escola. Caso não obtenhamos sucesso

nessa empreitada inicial, marcamos uma espécie de “mesa-redonda” junto à DRT e

solicitamos que esta venha a intermediar uma solução para a composição desta situação. Caso

a DRT também não obtenha sucesso, restam duas opções: ingressar com uma ação trabalhista

ou pedir a interveniência do MPT”.

Afirmaram que não participam na coleta de provas pelo “parquet”, pelo fato de ser

“difícil acompanhar as investigações, pois estas são essencialmente documentais, quando

muito as partes são intimadas para audiência”. A fala dos dirigentes, no entanto, deixam

maiores pistas para os propósitos da presente pesquisa, ao afirmar que “os metalúrgicos

possuem questões ambientais muito mais agudas e, dessa forma, existe a necessidade de

diligências emergenciais. Este não é o caso do sindicato dos professores, o que acaba

reduzindo o papel investigativo do MPT”. Assim, devido à própria natureza dos problemas da

categoria, a atuação interativa entre sindicato e Ministério Público não seria tão intensa.

Acerca das questões que porventura não são levadas ao Ministério Público do

Trabalho, informa o sindicato entrevistado que são justamente aqueles casos que seriam “mais

facilmente resolvidos via ação individual direta na Justiça do Trabalho. Na maioria dos casos

trata-se de pequenos descumprimentos da legislação trabalhista a nível individual”.

Acredita que tais problemas, no entanto, tornam-se mais dispersos e constantes devido

à demora dos órgãos que deveriam coibir tais atitudes, como a Justiça do Trabalho, a

Delegacia Regional do Trabalho e o próprio Ministério Publico do Trabalho.

Afirmou o sindicato que “o empregador, percebendo que tanto a ação perante a Justiça

do Trabalho quanto a fiscalização são muito lentas, acaba se favorecendo deste fato. (...) Uma

solicitação de fiscalização pode levar até mesmo um ano para que seja realizada, além de não

haver muita atuação de ofício, ou seja, se parte do pressuposto que está tudo muito bem. Bom,

essa fiscalização é muito demorada, por exemplo, chega essa época do ano e o décimo-

terceiro salário não é pago, nós encaminhamos uma solicitação de denúncia e esta só é

realizada em setembro. Quando a fiscalização chega o assunto já esfriou completamente, os

professores já fizeram um acordo para, pelo menos receber alguma coisa, o que nunca

significa o que realmente era devido e, ainda por cima, aparenta que o sindicato nada fez para

efetivamente resolver o problema. Toda essa gama de burocracia estatal que o empresariado

conhece, eles acabam valendo-se disto. Existem escolas que tem atraso no pagamento de

salários como hábito e, até mesmo, incentivando que os professores venham a recorrer à

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Justiça do Trabalho. Eles fazem isto, pois sabem que irá demorar por volta de quatro ou cinco

meses e, dessa forma, ele terá tempo para se capitalizar”. Acredita que “uma ação coletiva do

MPT seria uma solução a se pensar, hoje isso se tornou um problema crônico, devemos pensar

em uma solução que venha a impedir que a conduta prejudicial aos trabalhadores torne

novamente a ocorrer”.

Por fim, informa que o sindicato pretende buscar uma parceria com o Ministério

Público do Trabalho, pois acredita que, após a Constituição de 1988, os sindicatos “ganharam

um aliado e um aliado de peso, tendo em vista que agora este ator adquiriu várias funções, já

que ele atua, investiga, participa efetivamente da lide em questão”.

Perguntado se houve uma mudança de relacionamento das empresas após a

investigação pelo Ministério Público do Trabalho, respondeu o sindicato que sim, eis que “os

empregadores passam a negociar conosco de maneira mais respeitosa. Até mesmo pelo fato

deles já terem notado que a nossa postura é combativa e que nós vamos sempre estar ‘em

cima’, eles passam a nos respeitar mais”.

3. ENTREVISTA COM O SINDICATO SINDIPETRO-RJ

3.1 – APRESENTAÇÃO

O Sindipetro-RJ, fundado em 1959, representa os trabalhadores da indústria do

petróleo do estado do Rio de Janeiro, exceto os de Duque de Caxias (Sindipetro-Caxias) e os

da Bacia de Campos. Estes últimos estão em processo de sindicalização no Sindipetro-NF,

criado em 1996, por desmembramento da base do Sindipetro-RJ. Por isso, os petroleiros do

Norte Fluminense ainda estão legalmente sindicalizados no Sindipetro-RJ. Este sindicato é

filiado à Central Única dos Trabalhadores (CUT).

Foi entrevistado o diretor da área de saúde do sindicato.

No período investigado, o sindicato entrevistado realizou vinte e duas representações,

em sua maioria relativas ao meio ambiente do trabalho, mas também constando temas como

inserção da pessoa portadora de deficiência e falta de concurso público para o provimento de

cargos na Petrobrás.

3.2 – A ENTREVISTA

Por ocasião da entrevista, o dirigente confirmou que os maiores problemas

vivenciados pela categoria profissional coincidem com os temas que foram apresentados em

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maior número ao Ministério Público do Trabalho. Afirmou que “o problema da terceirização

ilícita é o maior desafio que nós enfrentamos. (...) Este problema tornou-se rotina na

Petrobrás, que passou a terceirizar vários setores da empresa, muitos deles que não podem ser

considerados como atividade meio. É o caso, por exemplo, da área ligada a análise de

sistemas, eu sou concursado desde 1985 como analista de sistemas, mas hoje a maioria dos

trabalhadores desta área são terceirizados que não possuem vínculo de emprego direto com a

Petrobrás. Este quadro cria uma série de problemas, uma vez que o trabalhador terceirizado é

um trabalhador que tem o seu posto de trabalho sempre ameaçado, ele não goza da mesma

garantia que os concursados têm em relação à continuidade do seu contrato de trabalho. Nesta

perspectiva, torna-se um trabalhador sem voz ou reivindicação, interessado apenas em manter

seu posto de trabalho face as dificuldades impostas pelo desemprego à realidade do país”.

Continua: “Esse quadro, além de criar uma maior instabilidade no ambiente de

trabalho, aumenta também as chances de se verificarem acidentes de trabalho. Eu explico: um

trabalhador que realizou concurso e, portanto, goza de estabilidade prevista na própria

Constituição, pode, em conformidade com a nossa convenção coletiva, se recusar a adotar

determinado procedimento solicitado pelo seu superior hierárquico desde que esta solicitação

venha a pro em risco a sua integridade física ou a dos demais colegas e que ele fundamente as

razões que o levaram a recusar à adoção daquela tarefa específica. Agora, eu pergunto: será

que um trabalhador terceirizado poderá adotar comportamento semelhante? E, em caso

afirmativo, continuará este nos quadros de funcionários que prestam serviços a Petrobrás após

a próxima renovação de contrato? Em relação a este problema especificamente, como você

bem observou, existem vários procedimentos ativos investigando o problema, mas a empresa

se nega em entrar em acordo com o MPT e o sindicato, optando pela via litigiosa. Ainda não

há TAC assinado nem qualquer perspectiva de resolver o problema, embora haja interesse e

atuação do MPT no sentido de resolver a questão”.

Sobre o outro problema trazido ao Ministério Público do Trabalho, que é o relativo ao

meio ambiente do trabalho, o sindicalista ressalta a atuação tanto do Ministério Público do

Trabalho quanto o Ministério Público Estadual, afirmando que “a atuação do MPT bem como

a atuação do MPE fez com que a empresa começasse a se importar mais com esta questão,

agora, o fator diferencial foi a questão do “Marketing Social”, as questões ligadas a acidentes

ambientais possuem uma magnitude muito grande, não são questões localizadas, mas sim,

questões que tem amplitude em escala mundial e, sobretudo, arranham por demais a imagem

da empresa”.

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Salienta outros casos que o sindicato tem procurado o “parquet” laboral, como a

discriminação de trabalhadores, por meio de restrições na hora da empresa estatal de petróleo

contratar. Exemplifica: “trabalhadores com idade avançada eram aprovados nos concursos

públicos nos testes gerais para seleção, mas, posteriormente, eram reprovados durante o

exame médico sob o pretexto de um pretenso desvio de coluna. Ora, esse é um problema que,

em maior ou menor grau, atinge grande parte da população. Outro exemplo que posso citar foi

a criação de um exame para aferir a densidade corporal dos trabalhadores, a fim de se evitar

que fossem contratados trabalhadores de massa corporal muito alto. No linguajar popular o

que se pretendia era se evitar a contratação de trabalhadores obesos, pois estes ocupariam

teoricamente dois lugares nos helicópteros que levam e buscam os trabalhadores para as

plataformas e também ocupariam dois lugares nas barcas designadas para socorrer os

funcionários em caso de acidente. O MPT é muito importante nestas questões, pois nos

ajudam a configurar as hipóteses como também atuam impedindo a continuidade deste tipo de

prática”.

O sindicalista também apresenta mais um caso encaminhado ao MPT que entende ser

de relevância: “Outro exemplo pode ser constatado no caso das empresas prestadoras de

serviço que ganham um adicional de 3% a 5% em suas faturas, caso consigam executar a

respectiva prestação de serviços sem que seja verificada a ocorrência de acidentes de trabalho.

Esta política estimula estas empresas a ocultar eventuais acidentes para aferir lucro máximo

em relação aos contratos celebrados com a Petrobrás. O MPT atua ao lado do sindicato,

adotando uma postura contrária a essa política empresarial. Como eu já falei anteriormente,

acidentes sempre podem ocorrer, o que uma empresa consciente de sua responsabilidade deve

fazer é adotar todas as medidas preventivas necessárias para minimizar ao máximo a

possibilidade de acidentes ocorrerem. O MPT já ingressou com uma Ação Civil Pública para

discutir judicialmente esta questão e esta sendo muito importante para ajudar-nos a resolver

este assunto”.

Respondendo se há temas ou problemas que não são levados ao Ministério Público, o

sindicalista, em resposta, afirmou que a maior parte dos assuntos não são encaminhados ao

“parquet”, realizando-se uma triagem prévia, procurando “levar ao MPT questões que tenham

amplitude, maior relevância e, sobretudo, dimensão coletiva. Neste sentido, estão excluídas as

questões de cunho eminentemente individual ou que sejam consideradas muito pontuais.

Além disso, estão descartadas as controvérsias nas quais a vítima se nega a depor sobre o fato,

uma vez que o ônus da prova incumbe àquele que alega o fato e a ausência da prova

testemunhal dificulta bastante comprovarmos aquilo que estamos alegando, e também as

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questões relacionadas ao assédio moral, já que esta normalmente se resolve através da

ouvidoria da própria empresa.”

Quanto às providências tomadas pelo sindicato antes da denúncia do caso ao

“parquet”, afirmou que o sindicato, pela sua experiência, já sabe quais questões há

possibilidade de negociação direta com a empresa.

Perguntado sobre a participação do sindicato nas investigações, respondeu que

depende do procurador, havendo a necessidade de maior interação entre sindicato e Ministério

Público. Exemplifica: “Quando a demanda é sorteada para um procurador que adota esta

postura que acabei de descrever, o sindicato consegue ter uma atuação pró-ativa durante todo

o desenrolar do inquérito, ou seja, tendo uma atuação incisiva na sua configuração. Nestes

casos, o nosso papel passa a ser muito maior do que o de simples denunciante, nós levamos e

encorajamos testemunhas a depor, municiamos o MPT com uma série de informações de que

ele necessita e ajudamos esta entidade a constituir prova. Contudo, existem procuradores que

nem sequer nos recebem, penso que eles não querem relacionar a sua imagem com o

sindicalismo. Na minha opinião, os procuradores devem receber e ouvir ambas as partes, tanto

os empresários quanto os sindicalistas, sempre mantendo a sua postura neutra e eqüidistante

diante da questão. Já nestes casos, é muito difícil receber informações de como anda o

procedimento, quanto mais participar das investigações”.

Salientou a conquista de um aliado com o novo perfil do Ministério Público,

preocupando, no entanto, com a falta de estrutura para atendimento do enorme número de

demanda ofertada pela sociedade.

Quanto à postura da empresa após a atuação do Ministério Público, o dirigente sindical

afirmou que “em alguns casos a empresa passa a nos respeitar mais, ou, melhor ainda, passa a

tomar uma série de precauções a fim de evitar que o problema torne a se repetir e,

conseqüentemente, gere uma nova denúncia de igual teor. Um exemplo positivo é o da

Transpetro que retirou cartazes que estimulavam a prática de ocultamento de acidentes os

substituindo por outros que estimulavam os trabalhadores a reduzir os riscos de acidentes (a

ação contempla outros pedidos além da substituição dos cartazes, tendo prosseguido em

relação aos pedidos residuais não contemplados). Um exemplo negativo é o caso da

terceirização ilícita, pois, embora já existam vários procedimentos prévios e, até mesmo,

algumas ações, não houve ainda qualquer tentativa por parte da empresa em negociar uma

solução para o impasse, ao revés, esta se mostra relutante em compor à lide amigavelmente,

preferindo a demorada via judicial para solucionar a questão”.

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Afirmando que a maioria dos Termos de Compromisso de Ajustamento de Conduta

são respeitados pela empresa, ressalta, no entanto, que a maioria das investigações ainda estão

em curso no MPT, e que o ônus da demora é suportado pelos trabalhadores.

4. ENTREVISTA COM O SINDICATO SINTRACONST-RJ (CONSTRUÇÃO CIVIL)

4.1 – APRESENTAÇÃO

O sindicato (Sindicato dos Trabalhadores da Construção Civil no Rio de Janeiro) foi

fundado em 01/01/1931, com o nome de “Aliança dos Operários nas Indústrias da Construção

Civil do Rio de Janeiro, de acordo com o decreto nº 19.770 de 19/03/1931, Em 1939 a

Aliança foi transformada em Sindicato, por decreto baixado pelo na época Presidente da

República do Brasil, Getúlio Dornelles Vargas, sendo Ministro do Trabalho Lindolfo Boeckel

Collor. A atual diretoria encontra-se na gestão desde 2001.

O diretor sindical entrevistado foi o vice-presidente do sindicato, que representa, na

cidade do Rio de Janeiro, além dos trabalhadores da Construção Civil, aqueles de outros

segmentos, quais são: trabalhadores em empresas de mármores e granitos e montagem

industrial.

As questões que mais foram denunciadas por este sindicato foram a rescisão irregular

de contrato de trabalho e falta de cumprimento das normas de segurança e saúde do

trabalhador (meio ambiente de trabalho).

O sindicato tem uma base de cento e vinte mil trabalhadores, tendo cinqüenta e um mil

associados.

4.2 – A ENTREVISTA

Inicialmente, perguntado sobre as maiores questões trazidas para o Ministério Público

do Trabalho, informou que, atualmente, o principal problema enfrentado é o da terceirização,

indicando que cerca de 90% de uma obra, hoje em dia, é composta de trabalhadores

terceirizados, resultando em má qualidade nos trabalhos, pelo pouco investimento nos

trabalhadores e alta rotatividade. Por outro lado, informa que, em seu setor, já foi extirpada a

fraude à relação de emprego por meio de cooperativas de mão-de-obra, que havia em grande

número, reputando fundamental a atuação do Ministério Público e o combate que foi

realizado pelo próprio sindicato.

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Que em todos os casos que denunciou ao Ministério Público, anteriormente o sindicato

havia comparecido à empresa e tentou solucionar a questão, não tendo sido possível.

Quanto à relação com a empresa após a denúncia ao “parquet”, o sindicalista informa

que a empresa passou a tratar o sindicato “com mais respeito”.

Informou que pequenos problemas, como falta de pagamento de verbas rescisórias,

são tratados no próprio sindicato, ou na comissão de conciliação prévia que mantém. Afirmou

que somente as questões que não conseguem solucionar, que são poucas, são encaminhadas

ao Ministério Público.

Diante da pergunta referente às providências tomadas pelo sindicato após a denúncia,

afirmou o dirigente que “diariamente estamos no canteiro, independentemente do retorno

dado pelo MPT. Nós continuamos a acompanhar a situação denunciada e, caso seja uma

questão mais grave, que envolva mais responsabilidade à nível de segurança, nós intervimos

imediatamente, independentemente da atuação do MPT ou não”.

Prossegue dizendo: “nós municiamos o MPT com muitas informações, tudo o que está

contido no nosso arquivo. O trabalho efetivo na base gera uma relação próxima entre

trabalhador e sindicato e, desta forma, cria uma espécie de vínculo de confiança entre ambos.

Sendo assim, os trabalhadores se sentem encorajados para depor, pois confiam no nosso

trabalho. Conseguimos, então, cooperar com o MPT neste sentido, na produção de provas

testemunhais, pois a categoria confia plenamente no seu sindicato e, dessa maneira, se

revelam estimulados e confiantes para depor quando nós assim solicitamos”.

Acredita que os principais problemas quanto ao relacionamento do sindicato com o

Ministério Público são a demora na resolução das questões e a falta de retorno quanto ao

resultado e andamento. Quanto à primeira falha, entende que é causada por falta de pessoal e

infra-estrutura. Outra falha, em seu ponto de vista, é que muitas vezes o Ministério Público se

limita a chamar a empresa para depor, sendo que entende que deveria fazer como o sindicato e

ir ao canteiro de obras. Entende haver a falta de interlocução com a entidade sindical.

Informa que com relação aos termos de compromisso de ajustamento de conduta

(TAC), quando são firmados, as empresas os cumprem. Porém, entende que o MPT deveria

tratar a questão de forma mais abrangente, pois as empresas, geralmente, atuam em todo o

Estado, enquanto que a base do sindicato se limita ao município do Rio de Janeiro.

Entende que a nova atuação do Ministério Público é positiva, porém critica a falta de

integração com os sindicatos, as federações e as confederações. Acrescenta: “Nós

denunciamos a empresa e para ela esquivar-se da nossa denúncia, muda a sua base territorial,

migra para outro município. Eu acho que o MPT devia continuar as suas investigações com

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base nos dados extraídos da denúncia que nós produzimos e não arquivá-la pela perda do seu

objeto. Cada um tem a sua opinião de acordo com aquilo que pensa ser melhor para si e para a

sua categoria, eu sempre me manifesto a nível do estado do Rio de Janeiro, a empresa hoje

está no Rio, mas amanhã pode estar em São Paulo, não pode? O MPT não tem o alcance exato

destas questões, acho que deveria ser feita uma grande parceria entre MPT, Ministério do

Trabalho, todos os níveis do segmento sindical e, inclusive, o setor patronal, para discutirmos

estas questões que eu estou levantando. Eu acho, ainda, que nós devíamos ter um atendimento

especial por parte do MPT devido a nossa questão ambiental ser mais aguda e envolver de

forma muito acentuada a segurança do trabalhador”.

5 – ENTREVISTA COM O SINDICATO SEAC-RJ – SINDICATO DAS EMPRESAS DE ASSEIO E

CONSERVAÇÃO DO RIO DE JANEIRO

5.1 – APRESENTAÇÃO

Trata-se do sindicato patronal que representa o segmento das empresas de asseio e

conservação, tendo sido entrevistado o presidente do sindicato. A entidade foi criada em

1963.

A maioria de suas representações se relacionava com o tema de fraude com utilização

de cooperativas de mão-de-obra.

5.2 – A ENTREVISTA

Acerca da matéria mais denunciada pelo sindicato, informou que “além de

enfrentarmos o problema da competição predatória, pois apenas no estado do Rio de Janeiro o

segmento congrega cerca de 1100 empresas, sendo, portanto, um segmento altamente

competitivo, enfrentamos também o problema da concorrência desleal das cooperativas de

trabalho que por terem isenções fiscais e tributárias nas licitações, conseguem obter uma

vantagem competitiva em relação as nossas empresas e praticar preços muito inferiores.

Porém, o MPT já atentou para esta questão e tem sido um aliado muito importante no combate

a estas cooperativas de fachada. Na verdade, apesar de se auto-entitularem cooperativas de

trabalho, elas nada mais são que empresas irregularmente constituídas”.

Informa, entretanto, que “o problema envolvendo cooperativas deixou de ser, nos

últimos anos, a nossa principal questão. Tal fato se deve principalmente a atuação do MPT

que tem desenvolvido um belo trabalho reprimindo a ação das cooperativas que atuam de

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forma fraudulenta e também tem atuado junto aos tomadores do serviço para que estes

venham a se abster de contratar estas cooperativas para desempenharem serviços nos quais

estejam presentes os requisitos previstos na CLT para a configuração da relação de emprego.

Os tomadores já estão se conscientizando de que, muitas vezes, os cooperados são

empregados que não possuem os benefícios previstos na legislação decorrentes de uma

relação de emprego e, no final das contas, os próprios tomadores terão que suportar este

custo”.

Perguntado sobre a relação das empresas após a atuação do Ministério Público, aduziu

que, “sem dúvida, houve uma mudança na mentalidade dos tomadores, a atuação do MPT

junto a empresas como Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, Fundação Oswaldo Cruz e

Petrobrás, entre outras, foi muito eficaz. Todos estas, embora de forma diferentes, sofreram

algum tipo de interpelação por parte do MPT e modificaram a sua conduta em relação ao que

tange a contratação de cooperativas irregulares. Destaco, ainda, que esta modificação de

postura não aconteceu somente a nível do estado do Rio de Janeiro, mas também, em âmbito

nacional”.

Outro problema levantado é a inadimplência das empresas contratantes, o que geraria

falta de pagamento de salários dos trabalhadores, principalmente quando quem contrata é ente

público, em particular destaca o município do Rio de Janeiro, o estado do Rio de Janeiro e

hoje, até mesmo, a União, através das autarquias e das empresas públicas. “Todos,

infelizmente, estão pagando mal”, assevera.

Entende que “a postura do MPT é a de buscar a parceria, o entendimento, a efetiva

solução do problema. Acrescento, também, que eles têm sido nossos parceiros também nas

novas questões, com as cotas para deficientes físicos e também a questão do menor aprendiz.

Importante frisar, ainda, que o MPT entende os nuances do mercado, ele é capaz de

interpretar a lei e buscar a razoabilidade. Já a DRT é muito mais positivista, cobra dos

sindicatos o conteúdo estrito do texto legal, sem considerar as peculiaridades e especificidades

atinentes ao caso concreto. Neste ponto, posso afirmar que o MPT busca o equilíbrio na

relação capital-trabalho, ele consegue entender melhor as necessidades de cada parte

envolvida na questão e, sobretudo, busca uma conciliação que seja benéfica para ambas as

partes.”

Como os outros sindicatos, reclamou da falta de celeridade do Ministério Público na

resposta aos problemas trazidos.

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6 – ENTREVISTA COM O SINDICATO SEEBM-RJ E FEEB-RJ/ES (SEGMENTO DOS BANCÁRIOS –

FEDERAÇÃO E SINDICATO)

Neste caso, foram entrevistados diretores da Feeb-RJ/ES (Federação dos Empregados

em Estabelecimentos Bancários no Rio de Janeiro e Espírito Santo) e do Seebm-RJ (Sindicato

dos Empregados em Estabelecimentos bancários do Rio de Janeiro). A Federação tem 47 anos

de história e 13 sindicatos filiados no Rio de Janeiro e Espírito Santo. Dentre eles, o Seebm-

RJ, que iniciou suas atividades como “Associação dos Funcionários de Bancos do Rio de

Janeiro”, fundada em 05 de novembro de 1929, sendo transformada, em 17 de janeiro, em

Federação dos Bancários do Brasil, com sede na Avenida Rio Branco, 151. Em 1931, a

Federação dos Bancários do Brasil passa a chamar-se Sindicato Brasileiro de Bancários. O

Decreto 19.770, de março, regulamenta a Lei de Sindicalização que impõe a unicidade

sindical. Em 1941, passa-se a chamar “Sindicato dos Empregados em Estabelecimentos

Bancários do Distrito Federal”. Teve em sua história diversos casos de intervenções

governamentais, inclusive sob força policial. Atualmente, são filiados à Central Única dos

Trabalhadores – CUT.

As maiores demandas dos sindicatos no Ministério Público do Trabalho foram a

terceirização ilícita e coação de trabalhadores, em desrespeito ao exercício do direito de greve.

6.2 – A ENTREVISTA

Sobre os temas que mais demandaram perante o “parquet” laboral, as entidades

sindicais disseram que realmente a terceirização veio, junto com a automação, reduzir

“drasticamente” a categoria que representam, sendo que, no seu entender, “no caso da

terceirização ilícita, o MPT tem atuado brilhantemente, ressalto que na categoria bancária não

existe terceirização lícita, exceto nas áreas de asseio e conservação e vigilância. Todas as

outras atividades bancárias são consideradas atividades fins e, portanto, não podem ser

terceirizadas”.38

38 O entendimento no Poder Judiciário brasileiro sobre a licitude ou não da terceirização está baseado na súmula 331 do Tribunal Superior do Trabalho: “I - A contratação de trabalhadores por empresa interposta é ilegal, formando-se o vínculo diretamente com o tomador dos serviços, salvo no caso de trabalho temporário (Lei nº 6.019, de 03-01-74); II - A contratação irregular de trabalhador, através de empresa interposta, não gera vínculo de emprego com os órgãos da Administração Pública Direta, Indireta ou Fundacional (Art. 37, II, da Constituição da República); III - Não forma vínculo de emprego com o tomador a contratação de serviços de vigilância (Lei nº 7.102, de 20-06-1983), de conservação e limpeza, bem como a de serviços especializados ligados à atividade-meio do tomador, desde que inexistente a pessoalidade e a subordinação direta; IV - O inadimplemento das obrigações trabalhistas, por parte do empregador, implica a responsabilidade subsidiária do

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E continuaram: “O MPT coopera à medida que o sindicato faz as denúncias, e posso

dizer, o MPT tem atuado efetivamente em relação a elas. Eu diria que o único problema que

existe nesta parceria entre sindicato e MPT é a morosidade da justiça que, obviamente, foge

ao controle de ambas as partes. O MPT traz uma resposta rápida, apresentando uma

alternativa para a solução do caso concreto, mas a lentidão judicial impede que o resultado

venha a ser alcançado. Por exemplo, uma denúncia feita em 1998 contra a terceirização do

“City-Phone”, que é o atendimento telefônico do CityBank. Neste caso, a matriz do banco fica

em São Paulo e as nossas denúncias são encaminhadas para lá. É necessário lembrar que

excetuando-se o HSBC cuja matriz é em Curitiba, todas as outras matrizes situam-se em São

Paulo. Isso poderia ser modificado na estrutura do MPT, pois, até o processo chegar lá e ser

nomeado um procurador para atuar junto à denúncia demora muito, o melhor seria que se o

processo tivesse sido iniciado aqui no Rio de Janeiro, este também fosse concluído aqui. (...)

No caso que eu relatei do City-Phone o MPT conseguiu que fosse revogada a terceirização

ilícita em relação aos trabalhadores que não haviam sido contratados na qualidade de

bancários e conseguiu também que todos fossem contratados pelo próprio banco, totalizando,

na época, cerca de 150 trabalhadores no Rio de Janeiro, São Paulo e Salvador”.

Quanto ao outro ponto de maior procura do Ministério Público do trabalho, que é o

direito de greve, que representa 35% das denúncias, o sindicato explicou o problema

enfrentado: “Com relação à greve, o nosso maior problema é o direito de propriedade.

Explico: os banqueiros com base nos dispositivos legais que regulamentam a posse, passaram

a utilizar o instrumento do Interdito Proibitório (IP) para impedir e cercear o direito

constitucional do sindicato mobilizar-se para realizar uma greve. No final da ditadura a

mobilização sindical era muito maior, o nosso sindicato fez grandes greves no final da década

de 80. Por exemplo, em março de 1987, salvo engano, realizamos uma greve nacional durante

oito dias, na qual paralisamos cerca de 900 mil trabalhadores. Em 1988 e 1989 repetimos a

dose só que em menores proporções, ou seja, a década de 80 teve um nível de mobilização,

especificamente em relação ao sindicato dos bancários, muito maior do que o atual.

Entretanto, na década de 80 a rotatividade que existia não retirava o emprego definitivamente

do bancário, ele saía de um banco e ia trabalhar em outro. Com o advento da automação, já na

década de 90, este fato simplesmente deixou de existir, se o bancário é demitido de

determinado banco é muito difícil ele conseguir retornar ao segmento bancário. Este processo tomador dos serviços, quanto àquelas obrigações, inclusive quanto aos órgãos da administração direta, das autarquias, das fundações públicas, das empresas públicas e das sociedades de economia mista, desde que hajam participado da relação processual e constem também do título executivo judicial (art. 71 da Lei nº 8.666, de 21.06.1993)”. (Alterado pela Res. 96/2000, DJ 18.09.2000)”.

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enfraquece a mobilização da categoria para o enfrentamento da classe patronal, sobretudo no

que tange as campanhas salariais. Nesta perspectiva, além do panorama desalentador, os

banqueiros passaram a utilizar o instrumento do IP tanto nas paralisações pontuais em

determinados bancos bem como nas paralisações de caráter geral decorrentes da campanha

salarial e que abrangem toda a categoria. Eles ingressam perante o judiciário com o pedido de

IP com antecipação de tutela e o juiz concede na hora, meia hora depois está o oficial de

justiça junto com a polícia na porta do banco para retirar o sindicato, sob pena de multas

pesadas e, até mesmo, prisão. O pior aspecto não pode ser considerado nem a prisão, mas,

sim, a imposição de multas que consideramos impagáveis, como, por exemplo, vinte,

cinqüenta, e até cem mil reais”.

E foi mais claro ainda em seu interesse na atuação do Ministério Público do Trabalho:

“Existe uma ação do MPT, até porque nós levamos ao conhecimento deles muitas denúncias

acerca desta má utilização do IP. Porém, o que salvou realmente a situação foi a promulgação

da emenda constitucional n.º 45, porque a partir da sua vigência o sindicato pleiteou que essas

ações passassem a ser julgadas na Justiça do Trabalho e não na justiça comum como ocorria

outrora. Destaco que na Justiça do Trabalho temos um acolhimento muito maior em relação a

justiça comum, é muito difícil para o juiz de uma vara cível aferir a legalidade de uma greve.

Desde que se iniciou este processo, que já virou uma verdadeira indústria, em 1995, tivemos

cerca de cem IPs, logo, a emenda n.º 45 irá servir para frear este processo. Penso que o MPT

tem o papel de intervir perante a Justiça do Trabalho para impedir a indústria do IP e, é com

esta finalidade, que o sindicato demanda o MPT nesta questão. Reitero que o

desencadeamento do processo grevista deriva diretamente das nossas próprias ações sindicais,

o auxílio do qual necessitamos é que o MPT não deixe que este nosso direito, garantido pela

constituição, seja violado”.

O sindicato dos bancários, segundo os dados estatísticos da amostra pesquisada, tem

nas suas denúncias a maior porcentagem de resultado das investigações com ações civis

públicas ajuizadas pelo Ministério Público do Trabalho. Demandado sobre esse resultado,

afirmaram da dificuldade de acompanhamento das ações por parte das entidades sindicais, o

que seria uma falha tanto do “parquet” quanto da entidade sindical. Acreditam existir falta de

comunicação e transparência na atuação do Ministério Público, sugerindo “da mesma forma

que podemos consultar o “site” da Justiça do Trabalho para verificar o andamento de

determinado processo, seria conveniente que pudéssemos realizar o mesmo procedimento no

“site” do MPT. Poderia, então, ser criado um sistema que propiciasse-nos a realização de

consultas virtuais, esta é uma deficiência que poderia ser corrigida.” Continuando a sugestão:

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“Ainda sobre este assunto, como se discute muito o sigilo dos PPs39 para garantir o seu êxito

final, poderia se pensar em trabalhar com áreas reservadas dentro do próprio site do MPT,

cada sindicato teria uma senha e, dessa forma, ele poderia consultar os processos nos quais

tivesse interesse”.

Quanto às ações com resultado positivo, os diretores sindicais avaliam: “Posso afirmar

que inicialmente eles começam a cumprir, mas, depois, arrumam um jeito de burlar a decisão

imposta pela justiça. Por exemplo, nós ganhamos uma ação em face do Banco Morada e após

a sua aquisição pelo Bradesco a situação voltou a ser como era antes. Em relação ao caso

Finasa, ocorreu à mesma situação descrita anteriormente. Já o caso da Losango consiste num

dos processos mais “emperrados” aqui dentro, como ela já foi propriedade de três instituições

diferentes, dificulta muito a ação do MPT. Posso sintetizar, afirmando que é inegável que

houve avanços, muitas decisões em sentido favorável, agora, existem também muitos casos

nos quais os bancos acabam encontrando uma forma de descumprir a decisão judicial”.

Perguntado acerca da existência de questões que não são levadas ao “parquet”,

informaram que: “Posso afirmar que, de uns dois anos para cá, raros são os problemas mos

quais nós não compartilhamos com o MPT. Todas as nossas questões são levadas a ele, até

mesmo questões novas, como é o caso do assédio moral. Por exemplo, nós trouxemos a

questão do Itaú ter obrigado todos os seus gerentes a cederem o seu direito de imagem para o

banco, também estamos denunciando o fato de muitos bancos utilizarem programas que

favorecem ao primeiro emprego em atividades fins, ou seja, nós trazemos quase todas as

nossas questões. Outras vezes, apesar de não se tratar de um grupo significativo de

trabalhadores, mas consistem em transgressões tão ilícitas e imorais que, apesar de

consideramos pontuais, nós trazemos à cognição do MPT”.

Salientaram ainda que grande parte do movimento sindical ainda desconfia da Justiça,

tendo-a como uma opositora ao invés de aliada, preferindo a ação sindical às ações políticas,

como a greve.

Sobre as providências tomadas pelos sindicatos antes da denúncia ao Ministério

Público do Trabalho, informaram que realizam “a mobilização dos trabalhadores e a greve.

Nosso objetivo é tornar pública esta ação do empregador que consideramos nociva aos

trabalhadores. Muitas vezes, tentamos também algum tipo de via negocial com o próprio

banco que dificilmente obtém algum resultado prático devido à disparidade das forças

colocadas em disputa”.

39 PP - Procedimentos Preparatórios de Inquérito Civil, forma de procedimento de investigação do Ministério Público do Trabalho, também chamado de Procedimento Investigatório.

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Acreditam que não participam muito das investigações do “parquet”, às vezes

juntando provas e realizando diligências conjuntas.

Quanto ao novo perfil do Ministério Público, em particular de seu ramo trabalhista,

afirmaram que “o MPT, da década de 90 para cá, mudou bastante a sua feição. Logicamente,

o seu corpo também foi mudando gradativamente, entrou uma equipe nova, com novos

paradigmas. As modificações foram muito boas, o que acho que ainda falta é melhorar a

relação de comunicação com os sindicatos e também nós passarmos a levar as questões que

estamos pensando, mas, que por diferentes motivos, não levamos ao conhecimento do MPT”.

Perguntados sobre se há mudança no relacionamento entre a empresa e os sindicatos

após a atuação do Ministério Público, afirmaram que “Depende, essencialmente, do resultado

obtido após esta intervenção do MPT a qual você se referiu. Quando o resultado é positivo,

apesar da empresa ficar mais “braba” conosco, notamos uma modificação de postura. Já se

esta intervenção não surte nenhum resultado prático, as empresas ficam mais incisivas em

relação àquelas posturas que nós combatemos. Casos práticos são os da Losango e do Banco

Morada”.

Com relação aos Termos de Compromisso firmados, responderam: “Eu tive

experiência com dois TACs40. Um foi celebrado com o Banco Real e, em relação a este TAC,

a decisão foi cumprida efetivamente. Já o ABN foi diferente, celebramos um TAC e após

várias mudanças em relação aos controladores da financeira, o problema permaneceu.” E: “Os

bancos, de uma forma geral, costumam cumprir os TACs até conseguir modificar a relação de

trabalho. Eles acabam arrumando um jeito de descumprir a decisão”.

E aduziram: As denúncias que o sindicato oferece ao MPT e este por algum motivo dá

vazão à imprensa sobre os fatos ocorridos, muda completamente a postura das empresas

transgressoras, elas buscam rapidamente uma maneira de eliminar o problema. Quando a

imprensa fica sabendo, nós notamos uma significativa melhora no resultado prático da

questão e, sobretudo, maior empenho da própria empresa denunciada em resolver o problema.

Entretanto, como a maioria das denúncias não segue este caminho, a resposta é quase sempre

muito dura por parte das empresas”.

40 Abreviatura de Termos de Compromisso de Ajustamento de Conduta, instrumento que dispõe o Ministério Público para resolver a questão no âmbito administrativo, podendo ser executado na Justiça caso não sejam cumpridas as obrigações nele previstas.

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7 – ENTREVISTA COM O SINDICATO SINTTEL-RJ

O Sinttel-RJ – Sindicatos do Empregados em Empresas de Telecomunicações do Rio

de Janeiro tem sua base territorial todo o Estado do Rio de Janeiro. O Sinttel/Rio tem sua

origem no Centro Operário dos Empregados da Light e Companhias Associadas, criado em

1926. Em outubro de 1930, obedecendo às determinações do governo Getúlio Vargas, o

Centro foi desmembrado, dando origem ao Sindicato de Carris Urbanos e outras entidades. Já

em outubro daquele mesmo ano foi fundada a Associação Profissional dos Trabalhadores em

Empresas Telefônicas, tendo como presidente da Junta Governativa encarregada de organizar

a nova entidade, a telefonista Ângela da Costa Leite, funcionária da Companhia Telefônica

Brasileira (CTB). Em 1º de agosto de 1941 o Departamento Nacional do Trabalho concedeu a

Carta Sindical, transformando a Associação em Sindicato dos Trabalhadores em Empresas

Telefônicas do Rio de Janeiro.

É filiado à CUT – Central Única dos Trabalhadores.

Foi entrevistada a Diretora da área de saúde e condições de trabalho da entidade

sindical.

A maior parte das suas denúncias se refere a terceirização ilícita e a meio ambiente do

trabalho.

7.2 – A ENTREVISTA

Perguntada sobre os pontos que mais denunciam ao “parquet”, afirmou a dirigente

sindical: em relação à terceirização trata-se de um problema mais antigo, intimamente

relacionado com a questão da privatização das empresas telefônicas. Todavia, hoje esse

quadro foi nivelado, são poucos os trabalhadores que não são terceirizados nas grandes

empresas. Gostaria de ressalvar que esses casos eu não realizo um acompanhamento muito de

perto. Para te dar um exemplo, realizamos uma denúncia contra a terceirização do

atendimento 102 da Telemar, a empresa resolveu, então, transferir o serviço para o estado da

Bahia. É aquele velho dilema, ou você se adapta ou fica de fora. E qual foi o resultado prático

deste quadro que eu acabei de relatar? A denúncia foi arquivada, perdeu o seu objeto, não

existem mais os postos de trabalho que eram o alvo da denúncia que oferecemos”.

Quanto ao meio ambiente do trabalho, afirmou a sindicalista que “essas denúncias são

oriundas de demissões quando a empresa utiliza o exame médico “periódico” e o “de

retorno”. Ou seja, eles utilizam este exame do trabalhador para mandá-lo embora. Ressalto,

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ainda, que o trabalhador tem poucas chances de acesso a este exame, tem uns que nem fazem,

é muito complicado”.

Com relação à atuação do Ministério Público do Trabalho, criticou: “as respostas são

muito, muito, muito demoradas, resposta objetiva ainda não existiu em relação a estas

denúncias que você tem aí”.

Com relações às falhas que vê no “parquet”, aduziu: “eu observo que o MPT podia ter

uma integração maior com os sindicatos. Eu sou representante da classe junto à Codin,41 mas

a minha participação era muito reduzida, são vários segmentos representados nestas reuniões

(CREA, DRT, Feema, entre outros). Observei, ainda, que o MPT não gosta da presença do

sindicato nestas reuniões, ele prefere pessoas com condições e formação acadêmica. Já na

minha opinião acho que a participação do sindicato é muito importante, mas, muitas vezes, a

preocupação é com o discurso, com o embate, parece que eles acham que o sindicalista é

aquela pessoa que não possui discernimento”.

Afirma que deveria haver uma integração maior, citando um exemplo: “uma vez eu fui

em uma fiscalização, após muita insistência, com o MPT para que eu pudesse participar.

Neste caso específico, tive participação ativa, pois tinha conhecimento de quais eram os locais

físicos do estabelecimento fiscalizado nos quais poderiam estar ocorrendo abusos contra os

trabalhadores”. Como auxílio ao trabalho do “parquet”, informou que o sindicato costuma

prestar informações e ajudar na colheita de provas.

Disse ainda que previamente às denúncias, por medo de expor os trabalhadores e

devido à “intransigência” das empresas atualmente, não costuma tentar negociação direta com

os empregadores.

Reclamou também do excesso de formalismo e da distância mantida pelos membros

do Ministério Público, bem como a dificuldade em acompanhar as investigações, sugerindo

inclusive a existência de um número de protocolo para localização das denúncias, como

acontece na Delegacia Regional do Trabalho.

Concluiu dizendo que tanto os trabalhadores quanto o sindicato sentem-se

“desamparados” nesse momento, pois não vêem os problemas sendo resolvidos.

41 CODIN – Coordenadoria de Defesa de Direitos e Interesses Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos, divisão interna da Procuradoria Regional do Trabalho da 1ª Região, cujos procuradores são responsáveis pelas investigações e ações civis públicas.

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CAPÍTULO 4

CONSIDERAÇÕES CRÍTICAS

(1) O Ministério Público do Trabalho, em seu novo perfil institucional, ainda é um

ente a ser descoberto pela sociedade e por si próprio. Entretanto, com base nos dados

qualitativos levantados, pode-se dizer que as entidades sindicais já começam a perceber seu

sentido e finalidade, bem como suas diferentes áreas de atuação e motivações de agir.

Inicialmente, demonstram as respostas fornecidas pela totalidade dos entrevistados que

as questões postas ao “parquet” são aquelas que atingem uma coletividade de trabalhadores

determinada ou mesmo indeterminada, resolvendo em seu próprio âmbito sindical os casos

individuais trazidos pelos trabalhadores, como afirmou, por exemplo, o sindicato da

construção civil. Ao trazerem ao Ministério Público principalmente questões como a

terceirização e o meio ambiente de trabalho, problemas que atingem uma coletividade

indeterminada de trabalhadores, que inclusive transcendem a própria categoria, sendo,

destarte, de natureza difusa, demonstram que estão começando a perceber certa natureza

diversa na defesa pelo “parquet” dos direitos dos trabalhadores.

Alguns sindicatos já percebem plenamente a natureza da forma e motivação de

atuação do “parquet”, como afirmou o representante da Federação dos Bancários: “Penso que

o MPT tem o papel de intervir perante a Justiça do Trabalho para impedir a “indústria” do

Interdito Proibitório e, é com esta finalidade que o sindicato demanda o MPT nesta questão.

Reitero que o desencadeamento do processo grevista deriva diretamente das nossas próprias

ações sindicais, o auxílio do qual necessitamos é que o MPT não deixe que este nosso direito,

garantido pela constituição, seja violado”. Ou seja, quanto aos direitos e demandas dos

trabalhadores que originaram a greve, caberá ao próprio sindicato tentar resolver, por meio de

suas ações sindicais, na disputa de interesses com o empregador. Agora, a demanda formulada

ao Ministério Público do Trabalho é de outra natureza, tendo por objetivo assegurar o

exercício do direito fundamental de greve pela categoria (ou pelo coletivo de

trabalhadores).

Até um dos sindicatos que têm como denúncia principal ao Ministério Público do

Trabalho a falta de pagamento de verbas trabalhistas, matéria historicamente típica de tutela

pelos sindicatos, percebe o verdadeiro papel do “parquet”, como afirmou o dirigente sindical

dos professores: “os metalúrgicos possuem questões ambientais muito mais agudas e, dessa

forma, existe a necessidade de diligências emergenciais. Este não é o caso do sindicato dos

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professores, o que acaba reduzindo o papel investigativo do MPT”. Assim, este sindicato

reconhece que, se a sua categoria tivesse problemas que ultrapassassem a questão individual

ou coletiva da categoria representada, ou mesmo se fossem mais complexas, a atividade do

Ministério Público do Trabalho teria maior papel, não somente pela perspectiva diferente na

tutela de direitos e interesses, como também por conta do instrumental diferenciado existente

nas mãos do “parquet”, como o inquérito civil e suas prerrogativas legais de livre trânsito,

tomada de depoimentos e requisição de documentos de entidades públicas ou privadas.

Mesmo questões citadas que não foram objeto de denúncia dos sindicatos demonstram

a diversidade na natureza de defesa de direitos entre os sindicatos e o Ministério Público,

como afirmou o representante dos bancários: “a questão racial dentro dos bancos, a qual o

sindicato não denuncia, o MPT só está ciente porque uma ONG realizou esta denúncia42”.

A própria constatação do fato de que um sindicato patronal, o Sindicato das Empresas

de Asseio e Conservação, é um dos que mais denunciam perante o “parquet” laboral,

demonstra que o Ministério Público não defende interesses classistas ou corporativos

específicos do denunciante, mas sim busca proteger a ordem jurídica justa trabalhista, e

conseqüentemente, o trabalhador, sob a ótica e a perspectiva dos direitos humanos e

fundamentais. Isto porque, se o interesse que leva o sindicato patronal a denunciar é que, por

exemplo, cooperativas de mão-de-obra não tomem o mercado das empresas as quais ele

representa, o Ministério Público do Trabalho recebe e processa a denúncia não para a defesa

do interesse das empresas, mas sim, objetivando com sua atuação a defesa dos direitos sociais

dos trabalhadores, que são lesados pela prática da precarização via pseudocooperativas, com

negação da dignidade do trabalhador pela ausência total de direitos. Então, não importa o

móvel do denunciante, mas a constatação da possibilidade de existência de lesão aos direitos

fundamentais dos trabalhadores subjacente à denúncia.

Numa outra perspectiva, as entidades sindicais também passam a perceber a diferença

de atuação entre o Ministério Público do Trabalho e o Ministério do Trabalho e Emprego, por

meio da Delegacia Regional do Trabalho (DRT). É o que se depreende dos depoimentos do

sindicato das empresas de asseio e conservação, que afirma a posição “positivista” da DRT,

de estrito cumprimento legal, e a abertura do Ministério Público do Trabalho para a discussão

42 O Ministério Público do Trabalho, mesmo sem a participação das entidades sindicais dos bancários, realiza, por meio Coordenadoria Nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação no Trabalho / CORDIGUALDADE, um programa de inserção racial nos bancos, com o ajuizamento de diversas ações civis públicas em face de entidades bancárias, demonstrando a não contratação de pessoas de raça negra e requerendo a criação de vagas para tais trabalhadores em desvantagem.

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e implantação de novas questões, como a inserção da pessoa portadora de deficiência e o

menor aprendiz.

Depreende-se também das entrevistas que quase todos os sindicatos percebem no novo

perfil constitucional e legal do Ministério Público do Trabalho como mais um espaço público

de atuação na defesa dos trabalhadores, já o vendo como um verdadeiro parceiro, como se

verifica na fala do representante dos professores, já citada acima: “ganharam um aliado e um

aliado de peso, tendo em vista que agora este ator adquiriu várias funções, já que ele atua,

investiga, participa efetivamente da lide em questão”. Nesse sentido, é a opinião do diretor do

sindicato dos petroleiros: “sem dúvida que ganhamos um aliado para ajudar a resolver nossas

questões. Tanto o MPT quanto o MPE são sempre muito solícitos aos anseios sindicais,

sempre nos recebendo com toda a deferência e preocupados em dar uma resposta efetiva para

a controvérsia que levamos ao seu conhecimento”. A exceção se deu pela categoria dos

telefônicos, cuja visão frente ao Ministério Público é amplamente negativa. A razão deste

entendimento pode ser deduzida pelo cenário que está a frente de seu sindicato: a categoria

veio a ser dizimada pela terceirização avassaladora de todas as atividades pela principal

empresa de telefonia que atua no Estado do Rio de Janeiro, acarretando precarização total das

condições de trabalho, inclusive de saúde e segurança do trabalhador, quadro até então não

resolvido mesmo com as dezenas de ações civis públicas ajuizadas pelo “parquet” laboral em

face da empresa43.

Outro ponto diz respeito à importância da atuação do Ministério Público do Trabalho

quando as questões ultrapassam a base territorial de atuação do sindicato. Essa questão é

ressaltada pelo representante do sindicato dos trabalhadores da construção civil, já citada

acima, que acredita ser necessária uma atuação conectada nacionalmente, não somente dentro

do MPT, mas com relação às entidades sindicais superiores, como as federações e

confederações. A mesma preocupação é exposta na entrevista da sindicalista representante

dos telefônicos, quando, ao denunciar certa questão, informou que toda a área da empresa fora

transferida para outro Estado, tendo sua denúncia sido arquivada, ao invés de ter sido

encaminhada para o novo estado onde a atividade passou a ser desenvolvida.

Este último fato demonstra a necessidade de um novo modo de percepção do membro

do Ministério Público sobre a sua própria atuação, quanto à sua natureza ou forma de agir,

43 Cabe explicitar, igualmente, que, à época da entrevista, o Ministério Público do Trabalho havia com diversas ações rescisórias e intervenções em acordos judiciais em ações coletivas ajuizadas por esse sindicato, que no entender do “parquet” vieram a lesar milhares de trabalhadores, estando em clara posição de conflito institucional.

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aprimorando os instrumentos e a integração e sintonia entre os órgãos em todo o território

nacional.

O início da procura do Ministério Público para a resolução de novas questões, que

envolvem os direitos fundamentais da pessoa humana no trabalho, como assédio moral,

discriminação a obesos e idosos, o próprio meio ambiente do trabalho, denota essa chave

diferenciada da atuação do “parquet”, que o faz se diferenciar da defesa clássica realizada

pelo sindicato.

Como afirmou a categoria dos bancários, apesar de não atingirem grande quantidade

de trabalhadores, certos casos, pela lesão a direitos fundamentais de alguns trabalhadores,

devem ser levados ao Ministério Público. Assim, independe a extensão quantitativa do dano,

mas sim, a sua natureza de ofensa a direitos fundamentais.

(2) Passando a outro tema recorrente nas entrevistas, é importante destacar a relação

entre o “parquet” e os veículos de imprensa44. Percebe-se pelas entrevistas que quando as

atuações e ações do Ministério Público do Trabalho são apresentadas na imprensa, os

resultados são mais efetivos, como afirmou o representante dos bancários: “As denúncias que

o sindicato oferece ao MPT e este por algum motivo dá vazão a imprensa sobre os fatos

ocorridos, muda completamente a postura das empresas transgressoras, elas buscam

rapidamente uma maneira de eliminar o problema. Quando a imprensa fica sabendo, nós

notamos uma significativa melhora no resultado prático da questão e, sobretudo, maior

empenho da própria empresa denunciada em resolver o problema”. Tal fato é corroborado

pelo discurso do representante dos petroleiros, quando afirmou que “a atuação do MPT bem

como a atuação do MPE fez com que a empresa começasse a se importar mais com esta

questão”. Destaca, ainda, o entrevistado que, no entanto, “o fator diferencial foi a questão do

‘Marketing Social’. As questões ligadas a acidentes ambientais possuem uma magnitude

muito grande, não são questões localizadas, mas sim, questões que tem amplitude em escala

mundial e, sobretudo, arranham por demais a imagem da empresa”. Assim, segundo os

sindicatos, quando há a notícia da atuação do Ministério Público quanto a determinada

44 Sobre a questão das instituições judiciárias e a imprensa, sob chave positiva a opinião de Ronald Dworkin em BADINTER, Robert. BREYER, Stephen.. (org.) Les Entretiens de Provence. Le Role du Juge dans la Société Contemporaine. Paris: Fayard/Sourbonne, 2003. Na mesma obra, ver opiniões que percebem a questão com mais reservas, pelo poder resultante da união da mídia e as instituições jurídicas, principalmente quanto a possíveis lesões ao princípio da presunção de inocência. A questão também vem sendo discutida na sociedade brasileira, inclusive existindo projeto de lei, chamado pejorativamente de “lei da mordaça”, que pretende restringir a divulgação de investigações do Ministério Público para a imprensa.

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questão, e a repercussão na sociedade é ou pode ser negativa, buscam as empresas de mais

rapidamente resolver a questão.

(3) As entrevistas demonstraram que houve uma mudança de atitude das empresas

frente ao sindicato após a investigação da questão pelo Ministério Público do Trabalho.

Conforme afirmou o representante dos trabalhadores da Construção Civil, após as denúncias e

a conseqüente investigação pelo órgão ministerial as empresas passaram a respeitar mais o

sindicato, opinião da qual concorda o sindicalista representante dos professores, quando disse

que “as empresas passam a negociar (...) de forma mais respeitosa”, mesmo que não ocorra a

resolução da questão.

Ou seja, a atividade investigatória do Ministério Público do Trabalho, e o novo espaço

público aberto pela ação extrajudicial do “parquet’, trazem como conseqüência colateral o

fortalecimento das tradicionais ações sindicais. Assim, pode-se afirmar que a mera existência

desse espaço público de resolução de conflitos, ou ainda, de defesa e resguardo de direitos,

acaba por refletir positivamente na atuação sindical, ao invés de tomar seu espaço e suas

funções.

(4) Por outro lado, os sindicatos entrevistados apontaram vários defeitos e falhas na

organização e atuação do Ministério Público do Trabalho. O primeiro deles, que aparece em

todas as entrevistas, é a questão da lentidão.

De fato, a demora em certos casos na resposta do Ministério Público parece ser a

questão que mais aflige as entidades sindicais. E essa falta de agilidade é somada com aquela

já conhecida morosidade da Justiça, sendo motivo de até de desesperança para os dirigentes

sindicais, como é o caso da representante dos telefônicos.

Outros sindicalistas chegaram a afirmar de forma peremptória a ineficiência da

instituição, justamente face à demora de respostas nos procedimentos investigatórios, como

no caso do representante dos professores, ao exemplificar a demora de dois ou três anos para

uma simples resposta das investigações.

Realmente, a maioria das questões que envolvem a atuação do Ministério Público do

Trabalho não tem condições de aguardar muito tempo para a sua solução. Seja no meio

ambiente do trabalho, onde em jogo está a vida ou integridade física dos trabalhadores, seja na

sonegação de salários e consectários, onde a capacidade de sobrevivência do trabalhador e de

sua família ou fruição de bens materiais são ameaçadas, as questões decorrentes da relação de

trabalho têm uma urgência intrínseca. E a falta de agilidade traz consigo, como afirmaram

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alguns sindicalistas, o incentivo aos empregadores ao descumprimento das normas laborais.

Ou seja, além da não resolução do problema colocado, há o reforço do sentimento de que vale

a pena descumprir a legislação, podendo acarretar novas lesões aos trabalhadores.

Como salientado nas entrevistas e demonstrado pelos dados levantados, hoje o

Ministério Público do Trabalho vem recebendo uma quantidade crescente de demandas, não

somente dos sindicatos, mas de toda a sociedade. E, apesar dos esforços recentes da

Procuradoria Geral do Trabalho, as condições materiais, seja em relação a espaço físico ou de

servidores, ainda deixam muito a desejar, tornando tarefa bastante difícil a finalização de

todas as investigações que são distribuídas a cada membro. Soma-se ainda, no caso do Rio de

Janeiro, o grande número dos procuradores que atuam exclusivamente na função interventiva

em ações de terceiros, que é realizada ainda nos moldes pré-Constituição de 1988.

Apesar das dificuldades estruturais, as respostas não podem sofrer delongas

inaceitáveis, sob pena de descrédito e esvaziamento da própria instituição.

A solução poderia estar em uma construção de juízo discricionário da instituição, com

base em uma definição de política institucional, que tenha por foco a atuação somente na

existência de lesão a direitos fundamentais dos trabalhadores que, pela sua natureza ou

abrangência, adquiram relevância social. Além disso, há a necessidade de uma

regulamentação do inquérito civil e do procedimento investigatório, com imposição de prazos

e conseqüente fiscalização pelos órgãos competentes. A demora ou decurso do prazo imposto

pela regulamentação deveriam ser justificados pelo membro, podendo com isso haver um

controle da própria sociedade sobre a atuação do procurador.

(5) Ao lado do problema do vagar das investigações, foram ressaltados problemas de

falta de transparência e de falha na interlocução e comunicação dos membros do “parquet”

laboral com os sindicatos.

A falta de transparência está relacionada com a dificuldade de acompanhamento dos

sindicatos no andamento das investigações às quais deram origem. Várias sugestões foram

colocadas, como a aposição de número de protocolo nas representações para futuro

acompanhamento e possibilidade de verificação do andamento pela Internet.

De fato, o sistema de acompanhamento processual ainda é incipiente na Procuradoria

Regional da 1ª Região, originado do pouco tempo da atuação do “parquet” na tutela de

direitos difusos e coletivos, e deve ser aperfeiçoado, com vistas a oferecer à sociedade a

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transparência que uma instituição democrática exige45. Neste sentido, importa destacar as

providências que vêm sido tomadas, tanto a nível nacional quanto regional, na construção de

um sistema de informática que permita melhor fruição das informações dos procedimentos

investigatórios.

Com a ressalva do exclusivo interesse da investigação e dos sigilos legais e

constitucionais, todos os procedimentos investigatórios são públicos e a publicidade e a

transparência devem ser a regra. Somente com transparência que a instituição será realmente

democrática, em seu sentido mais amplo, de órgão estatal que existe em função e com

participação e controle da sociedade.

(6) Outro ponto negativo ressaltado foi o excesso de formalismo exigido por certos

membros, o que afastaria as entidades sindicais e seus dirigentes de um contato que rendesse

mais frutos.

Ressaltou-se, também, a necessidade dos membros do Ministério Publico do Trabalho

de não se aterem a tomar depoimentos e expedição de ofícios, havendo a necessidade de

realização de inspeções nos locais de trabalho, para conhecimento e resolução de problemas,

como, por exemplo, afirmou o representante dos trabalhadores na Construção Civil.

A diferença entre “promotores de gabinetes” e “promotores de fatos” (funciona este

último como articulador político, atuando mais em proximidade dos fatos) como estratégias

ou tendências antagônicas de atuação do Ministério Público já foi levantado pela literatura46,

sendo apontada a maior aproximação entre a comunidade e os membros que optam pelo

segundo tipo, que se entendem como fator de transformação da sociedade.

45 DURKHEIM, Émile. Lições de Sociologia. São Paulo: Martins Fontes, 2002. Apesar de não ser conhecido pelo estudo da transparência e democracia, esta conclusão de Durkheim é meritória por trazer requisito às vezes esquecido importante para qualquer sistema que almeje ser democrático. 46 SILVA, Cátia Aida. Justiça em Jogo. São Paulo: Fapesp/Edusp, 2001

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CONCLUSÕES

A principal constatação derivada do presente estudo é a existência de naturezas

diversas da atuação do Ministério Público do Trabalho daquela realizada pelas entidades

sindicais.

Essa conclusão se extrai a partir da percepção do presente estudo da existência de

pautas, objetivos e preocupações distintas entre o Ministério Público e os sindicatos.

Enquanto o “parquet” se volta para questões que abrangem direitos fundamentais dos

trabalhadores, atingindo, às vezes, questões de interesses difusos na sociedade trabalhadora ou

mesmo na sociedade em geral, as entidades sindicais se voltam para a defesa de interesses

próprios da categoria representada, dentro do limite da representação. Ou seja, enquanto o

Ministério Público do Trabalho, com sua missão constitucional de defesa da sociedade e do

regime democrático, defende os trabalhadores sob a ótica dos direitos fundamentais dos

trabalhadores ou direitos humanos, independentemente de qual categoria ou localidade onde

estes habitem ou trabalhem, os sindicatos defendem os trabalhadores de acordo com seus

interesses em jogo, às vezes até negociando direitos e conquistando outros, por meio de

negociação coletiva com as empresas ou seus representantes sindicais.

Essa diferença de atuação é fundamental para se definir os limites de atuação do

próprio Ministério Público. Ao se perceber como defensor da sociedade trabalhadora sob a

ótica de direitos fundamentais ou direitos humanos, a defesa de interesses ou direitos de

natureza meramente pecuniária é mais propriamente defendida pelos sindicatos. Esses limites

devem ser esclarecidos para serem evitados alguns problemas apontados pelos próprios

sindicatos, como a demora na resposta aos problemas trazidos, ocasionados pela enorme

demanda de investigações realizadas simultaneamente pelo Ministério Público do Trabalho.

Também é importante essa delimitação para evitar problemas de concorrência na

competência, com certa racionalização no trato e no enfrentamento das questões enfrentadas,

o que parece que a pesquisa aponta na prática estar se desenhando, tendo em vista que os

sindicatos estão buscando o Ministério Público justamente para a defesa de direitos difusos e

mais amplos do que os meros interesses da categoria, na ótica de direitos fundamentais ou

humanos dos trabalhadores.

Outro ponto evidente resultado da pesquisa é a premente necessidade de

regulamentação da atividade extrajudicial ministerial, nos inquéritos civis e demais

procedimentos investigatórios. A demora na resolução dos problemas pode significar a perda

total do direito que deveria ser resguardado, sendo que seus ônus não pode ser suportados pela

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comunidade defendida, ou seja, os trabalhadores e seus direitos fundamentais. Assim, na

necessária regulamentação deve constar prazos para o fim das investigações. A falta de

regulamentação ainda tem levado à adoção pelos procuradores de metodologias variadas para

enfrentamento de problemas por vezes idênticos ou similares, contribuindo, em muitos casos,

para o retardamento desnecessário de soluções das investigações. Isso ficou evidente nas

entrevistas, ao ser afirmado que a boa solução dependeria de qual procurador fosse

responsável pela investigação.

O problema da desorganização, também ressaltado na pesquisa, tem levado, por vezes,

mais de uma investigação sobre o mesmo objeto e o mesmo denunciado tramitando

simultaneamente, sob a responsabilidade de procurados distintos, ocasionando, além do

problema de possibilidade de soluções diversas, perda de tempo e desperdício de recursos já

escassos.

Também evidente a necessidade de uma desburocratização da atuação extrajudicial,

mais informal e com incremento dos canais de comunicação entre o Ministério Público e a

sociedade. Muitas vezes o excesso de formalismo tem comprometido, como verificado, o

trabalho conjunto dos sindicatos com o Ministério Público.

Há a necessidade, também, de aprimoramento da publicidade dos atos ministeriais,

com o fito de propiciar melhor acompanhamento pelo denunciado do andamento das

investigações, possibilitando ainda, eventualmente, que o denunciante ou outros interessados

possam contribuir, ou mesmo fiscalizar, para o deslinde dos procedimentos investigatórios.

A maior publicidade da atuação do Ministério Público também deve ocorrer por meio

dos órgãos de imprensa, sendo estes grandes aliados quando de graves lesões aos direitos

humanos dos trabalhadores, fazendo com que a solução, como foi visto na pesquisa, seja

alcançada de forma mais rápida e eficaz. Há a necessidade de incremento de articulação do

Ministério Público com a imprensa, sendo um caminho que deve ser incentivado e

aprimorado. Na busca dessa aproximação, é importante ter o cuidado para que essa

articulação não ofenda direitos dos investigados, e que não implique em condenação sumária

desses. Ao contrário, devem ser salientados e demonstrados os fatos e a visão do Ministério

Público sobre a situação.

A maior transparência e publicidade do Ministério Público favorecem transformar, o

que já vem ocorrendo, o “parquet” em novo espaço público a ser utilizado pelas entidades

sindicais para a defesa dos direitos dos seus representados, desde que esses direitos estejam na

ótica dos direitos fundamentais. Assim, quando um direito de sua categoria ultrapassar a

questões de direitos pecuniários ou condições de trabalho, podem os sindicatos buscar a

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defesa desses direitos, sem a necessidade de se buscar a Justiça do Trabalho, em um espaço

público mais veloz e menos burocrático, como deve ser o Ministério Público do Trabalho.

O Ministério Público do Trabalho deve ser órgão de solução rápida de direitos

fundamentais que transcendem o mero interesse patrimonial, para tanto deve a instituição

compreender que o bem realizar seu papel constitucional implica no exercício de um juízo

discricionário tendente a escolher para solucionar assuntos de relevância social. A

compreensão pela instituição da necessidade do exercício dessa discricionariedade é, de certa

forma, condição sine qua non de sua própria vitalidade, enquanto órgão ou agência estatal

capaz de efetivamente contribuir para a solução de lesões a direitos fundamentais no trabalho

de grande monta. Neste contexto, a compreensão da efetiva atuação ministerial se pode

depreender um papel educativo que tem, dentre outras possibilidades ou funções, capacidade

de inibir novas lesões.

Ao revés, caso não seja compreendida/percebida essa necessidade, corre-se o risco do

Ministério Público perder credibilidade pela tentativa de agasalhar e resolver todo e qualquer

tipo de lesão trabalhista, transformando-o em arremedo de substituto da Justiça do Trabalho, o

que não é nem deve ser o caso.

O novo papel ministerial deve ser apreendido dentro de um contexto de seletividade e

de especialização, mecanismos indispensáveis para coibir a lesão de grande monta aos direitos

fundamentais dos trabalhadores.

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