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Ricardo Bordeaux Rêgo Mudança no Mercado de Capitais Brasileiro: Subscrições Privadas Versus Ofertas Públicas de Ações após o Plano Real TESE DE DOUTORADO DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas Rio de Janeiro Junho de 2004

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Page 1: Ricardo Bordeaux Rêgo · Murilo Alambert e Dr.Valdecy Leite, pelas importantes sugestões; Ao Prof. João Carlos Guedes Jr., amigo de tantos anos, cuja ajuda foi fundamental

Ricardo Bordeaux Rêgo

Mudança no Mercado de Capitais Brasileiro: Subscrições Privadas Versus Ofertas Públicas de Ações após o Plano Real

TESE DE DOUTORADO

DEPARTAMENTO DE ADMINISTRAÇÃO

Programa de Pós-Graduação em Administração de Empresas

Rio de Janeiro

Junho de 2004

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Ricardo Bordeaux Rêgo

Mudança no Mercado de Capitais Brasileiro: Subscrições Privadas Versus Ofertas Públicas de Ações após o Plano Real

Tese de Doutorado

Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas da PUC-Rio como requisito parcial para obtenção do título de Doutor em Administração de Empresas.

Orientador: Walter Lee Ness Jr.

Rio de Janeiro

Junho de 2004

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Ricardo Bordeaux Rêgo

Mudança no Mercado de Capitais Brasileiro: Subscrições Privadas versus Ofertas Públicas de Ações após o Plano Real

Tese apresentada como requisito parcial para obtenção do grau de Doutor pelo Programa de Pós-graduação em Administração de Empresas da PUC-Rio. Aprovada pela Comissão Examinadora abaixo assinada.

Prof. Walter Lee Ness Jr. Orientador

Departamento de Administração- PUC-Rio

Prof. Antônio Carlos Figueiredo Pinto Departamento de Administração -PUC-Rio

Prof. Luiz Felipe Jacques da Motta Departamento de Administração -PUC-Rio

Prof. Ricardo Pereira Câmara Leal COPPEAD/UFRJ

Prof. Roberto Marcos da Silva Montezano Faculdades IBMEC-RJ

Prof. João Pontes Nogueira Vice Decano de Pós-Graduação

do Centro de Ciências Sociais - PUC-Rio

Rio de Janeiro, 15 de junho de 2004

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Todos os direitos reservados. E proibida a reprodução total ou parcial do trabalho sem autorização da universidade, do autor e do orientador.

Ricardo Bordeaux Rêgo é Doutor e Mestre em Administração de Empresas - Finanças pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro; Especialista em Engª de Produção e Engº Civil também pela PUC-Rio. Foi diretor técnico da Fernandes, Bordeaux & Del Cima Engª e Construção Ltda., Engº da Cia. Cervejaria Brahma e executivo na H. Stern Joalheiros. É professor em cursos de administração (graduação e MBA’s), assim como consultor em diversas empresas nas áreas de Custo do Capital, Avaliação de Negócios, Estratégia Financeira, Administração do Capital de Giro, Mercado de Capitais e Governança Corporativa. Co-autor de livros e artigos acadêmicos.

Ficha Catalográfica

CDD: 658

Rêgo, Ricardo Bordeaux Mudança no mercado de capitais brasileiro:

subscrições privadas versus ofertas públicas de açõesapós o Plano Real / Ricardo Bordeaux Rêgo ;orientador: Walter Lee Ness Jr.. – Rio de Janeiro :PUC, Departamento de Administração, 2004.

193 f. ; 30 cm Tese (doutorado) – Pontifícia Universidade

Católica do Rio de Janeiro, Departamento deAdministração.

Inclui referências bibliográficas. 1. Administração – Teses. 2. Emissões

privadas de ações. 3. Emissões públicas de ações. 4.Estrutura de capital. 5. Eficiência de mercado. 6.Mercado primário de ações. 7. Mercado de capitais. I.Ness Jr., Walter Lee. II. Pontifícia UniversidadeCatólica do Rio de Janeiro. Departamento deAdministração. III. Título.

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Aos meus pais, Maria Flora e Heli e à minha esposa Karen, com amor.

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Agradecimentos

Ao Prof. Dr Walter Lee Ness, Jr, amigo e mestre, pela confiança depositada,

dedicação, paciência e pelos importantes ensinamentos transmitidos, que

possibilitaram a realização desta tese;

Aos Professores do Programa de Doutorado do Departamento de Administração

da PUC-Rio, em especial, doutores Helène Bertrand, Diana Macedo-Soares,

Jorge Ferreira, José Carlos Sardinha, Paulo Cesar Motta, Roberto Moreno,

Sérgio Proença Leitão, Sylvia Constant Vergara e Walter Lee Ness Jr;

Aos funcionários do Departamento de Administração, Maria Teresa Campos,

Gilson de Souza e Leopoldo Pereira da Fonseca pela sua boa vontade,

competência e presteza;

Ao Prof Ricardo Leal, grande incentivador da minha opção acadêmica, pelos

artigos, sugestões e correções feitas a este trabalho;

Ao Prof. Roberto Montezano pela paciente revisão e importantes sugestões feitas

a esta tese;

Aos Professores Antônio Carlos Figueiredo e Luiz Felipe Jacques da Motta, pelas

importantes correções e sugestões recebidas;

Aos Padres Jesuítas, incansáveis educadores, que têm dado, desde os tempos do

Colégio Santo Inácio, importante contribuição à minha formação;

À Capes, ao CNPQ e à PUC-Rio, pelo inestimável apoio, que tornou possível a

minha dedicação a este trabalho;

À Social Sciences Research Network, pelo inestimável apoio, disponibilizando o

acesso a artigos e periódicos utilizados neste trabalho;

À Karina Matesco Nunes pela imensa ajuda durante a pesquisa de dados;

Ao Prof. Paulo Fiúza Bocater, in memoriam, brilhante professor, grande

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incentivador da minha vocação acadêmica;

Ao Prof. Dr Luís Filipe Rossi, amigo, sócio e colega de turma, pelo incentivo

durante o curso, pelos conselhos, paciência e ajuda nesta caminhada;

Aos Profs. Murilo Alambert e Dr.Valdecy Leite, pelas importantes sugestões;

Ao Prof. João Carlos Guedes Jr., amigo de tantos anos, cuja ajuda foi fundamental

para a conclusão deste trabalho;

Ao Prof. Maurício Rocha Alves de Carvalho, grande amigo, pela primeira

oportunidade de lecionar, além do incentivo e apoio constantes;

Aos grandes amigos, Prof. Guilherme Pereira de Carvalho e Dílson Del Cima de

Alvarenga Menezes, pelo constante incentivo e profícuas trocas de idéias;

Ao meu querido Tio-Avô Plínio de Hollanda Maia, que desde a minha infância,

com muito carinho e paciência, incentivou o gosto pelo mercado de capitais,

transmitindo sua importante experiência;

Ao meu querido Tio Oziel Tavares Bordeaux Rêgo, grande incentivador da minha

vocação de pesquisador, com livros, lições e a profundidade de sua prosa;

Ao meu padrinho Antônio Cândido Tavares Bordeaux Rêgo e minha madrinha,

Neyse Lavoie de Hollanda Maia, pelo incentivo e pela orientação recebida durante

toda a vida;

Aos meus queridos tios Wilson e Luiz Carlos de Hollanda Maia, pelas

importantes lições, conselhos e incentivo;

Aos meus amados, pais Maria Flora e Heli e esposa Karen, e à minha família, pela

paciência com que aceitaram minhas limitações decorrentes da intensa dedicação

demandada por este trabalho.

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Resumo

Rêgo, Ricardo Bordeaux; Ness Jr., Walter Lee (Orientador). Mudança no Mercado de Capitais Brasileiro: Subscrições Privadas versus Ofertas Públicas de Ações após o Plano Real. Rio de Janeiro, 2004. 204p. Tese de Doutorado - Departamento de Administração, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

Esta tese investiga a decisão por emissões públicas ou particulares de ações

no Brasil. É apresentada uma revisão da literatura nacional e internacional sobre o

assunto. É relatada a evidência empírica no Brasil. Dois modelos são construídos

de forma a elucidar o problema investigado, à luz da literatura revista e da

evidência empírica: Análise Discriminante e Regressão Logística. A legislação

relativa às emissões e ações no Brasil é resumida. Os resultados apontam para

maior propensão à emissão privada de empresas estatais ou holdings, com menor

lucratividade (maiores prejuízos), que realizaram emissões de menor porte,

apresentavam maior concentração de propriedade, endividamento e menor

liquidez em Bolsa de Valores.

Palavras-chave Emissões privadas de ações; emissões públicas de ações; estrutura de

capital; eficiência de mercado; mercado primário de ações; mercado de capitais.

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Abstract

Rêgo, Ricardo Bordeaux; Ness Jr., Walter Lee (Advisor). Brazilian’s Capital Market Change: Private versus Public Stock Placements after Plano Real. Rio de Janeiro, 2004. 204p. Doctorate Thesis - Departamento de Administração, Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.

This dissertation studies the decision for public issues or private

placements of equity in Brazil as a source of capital. The national and

international literature on the subject is reviewed. The empirical evidence of

placements of the Brazilian capital market and the characteristics of the issuers are

also presented. After the discussion of the evidence and literature, two models are

constructed: Multiple Discriminant Analysis and Logistic Regression, relating the

characteristics of firms to the decision of type of issue. The regulation of stock

issues is also discussed. The results show that firms with less liquid stocks, more

debt, lower returns on equity and profits, more concentration of control and

smaller issues, more probably use private issues.

Keywords Private Stock Issues; Public Stock Issues; Capital Structure; Market

Efficiency; Capital Markets.

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Sumário

1. INTRODUÇÃO 14 1.1 Organização da Tese 18 2. O MERCADO DE CAPITAIS BRASILEIRO

20

2.1 – Panorama Geral 20 2.1.1 – Taxas de juros no Brasil 20 2.1.2 – A questão cambial no Brasil 22 2.1.3 – Produto Interno Bruto no Brasil após o Plano Real 23 2.1.4 – Capitalização do Mercado – empresas listadas, pulverização dos negócios

24

2.1.5 – Concentração de Mercado e Liquidez 31 2.2 – Regulamentação 32 2.2.1 – Emissões Públicas e Particulares 32 2.2.2 – Mercado Primário e Regulamentação do aumento de capital via emissão de ações

35

3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

40

3.1 – Processo Decisório para Emissão de Ações 40 3.2 – Estrutura de Capital 43 3.2.1 – A Estrutura de Capital Alvo 44 3.2.2 – A Teoria da Hierarquia ou Ordem de Captação – pecking order

46

3.2.3 – Oportunismo – mercados em alta 49 3.2.4 – A Rentabilidade das Empresas no Brasil 57 3.3 – Eficiência de Mercado 61 3.3.1 – Concentração de Propriedade: Evidência Nacional e Internacional 62 3.3.2 – O Papel dos underwriters e o Custo das Emissões Públicas no Brasil

70

3.3.3 – Porte das empresas emissoras 74 3.3.4 – Assimetria tributária 77 3.3.5 – Diversificação 77 3.3.6 – Liquidez em Bolsa 79 3.4 – Resumo da Discussão da Literatura 81 4. QUESTÕES DE PESQUISA E HIPÓTESES

87

4.1 – Quanto às empresas emissoras de ações 87 5. METODOLOGIA

97

5.1 – Tipo de pesquisa 97 5.2 – Universo e Amostra 97 5.3 – Coleta dos Dados 99 5.4 – Tratamento dos Dados 100

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5.4.1 – Definição das variáveis utilizadas e apresentação dos métodos estatísticos utilizados na investigação

101

5.5 – Estatísticas Descritivas, Análise Discriminante e Regressão Logística

104

5.5.1 – Determinação das Estatísticas Descritivas 104 5.5.2 – Análise Discriminante – construção do modelo 106 5.5.3 – O Modelo de Regressão Logística 115 5.6 – Limitações do método 124 6. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

128

6.1 – Análise discriminante 128 6.1.1 – Estatísticas descritivas 129 6.1.2 –Testes de diferenças de médias entre grupos e variáveis, correlações e igualdade matrizes de dispersão

133

6.1.3 – Modelo discriminante: testes de adequação, função discriminante padronizada, matriz estrutural e função discriminante classificadora

136

6.1.4 – Tabela de classificação e adequação do modelo discriminante 140 6.2 – Regressão Logística 142 6.2.1 – Regressão Logística – seleção das variáveis categorizadas e estimação do modelo

143

6.2.2 – Tabelas de classificação e verificação da adequação do modelo logístico

146

6.3 – Análise dos Resultados – questões de pesquisa e hipóteses 147 7. CONCLUSÕES

158

7.1 – Objetivos 158 7.2 – Limitações 158 7.3 –Discussão dos Resultados 159 7.4 – Sugestões para futuras pesquisas 167 8. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

168

ANEXO I - Instrução CVM nº 400/2003 aumento de capital via emissão de ações

173 ANEXO II - Emissões de ações no Brasil de janeiro de 1995 a dezembro de 2002

176

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Lista de figuras Figura 1 – Valor do Dólar Americano em Reais 1995-2002 22 Figura 2 – PIB - Crescimento Real Anual e Índice Acumulado (1994-2002) 23 Figura 3 – Volume Mensal de Emissões Particulares de Ações Versus IBOVESPA – jan/1995 a dez/2002

28

Figura 4 – Número de Emissões Particulares de Ações Versus IBOVESPA – jan/1995 a dez/2002

29

Figura 5 – Volume Mensal de Emissões Públicas de Ações Versus IBOVESPA – jan/1995 a dez/2002

30

Figura 6 – Número de Emissões Públicas de Ações Versus IBOVESPA – jan/1995 a dez/2002

30

Figura 7 – Distribuição univariada dos fatores de classificação Z 111 Figura 8 – Fluxograma teórico da análise discriminante empregada, baseado em Hair (1998)

113

Figura 9 – Gráfico de Valor esperado de Y para o Modelo Logístico 117 Figura 10 – Fluxograma teórico da regressão logística 122 Figura 11 – Valores da função discriminante para os casos em que a emissão foi pública(=0)

141

Figura 12 – Valores da função discriminante para os casos em que a emissão foi particular (=1) 142

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Lista de tabelas

Tabela 1 – Aumentos de Capital via Subscrição de Empresas Registradas para Negociação em Bolsa (Valores em R$ milhões) – 1993-2002

15

Tabela 2 – Comportamento das taxas anuais de juros e de inflação ao longo do período de janeiro de 1995 a dezembro de 2002

20

Tabela 3 – Capitalização Relativa (% do PIB) - 1995-2002 25 Tabela 4 – Número de Empresas Listadas em Bolsa – 1995-2002 26 Tabela 5 – Companhias Listadas na Bovespa e Valor de Mercado em Dólares

27

Tabela 6 – Retorno sobre Patrimônio Líquido (RoE) de Empresas Brasileiras Listadas para Negociação em Bolsa de Valores, 1994-2002

58

Tabela 7 – Médias de Concentração de Propriedade no Brasil em 2000 – Amostra de 225 companhias listadas na Bovespa

65

Tabela 8 – Concentração de Propriedade na Alemanha, no Japão e Estados Unido

66

Tabela 9 – O custo das emissões públicas de ações no período 2000 a 2002 73 Tabela 10 – Percentuais da amostra utilizada em número de observações e volume em relação à amostra original apresentada na Tabela 1

98

Tabela 11 – Estatísticas Descritivas para as variáveis inicialmente definidas 105 Tabela 12 – Categorização das Variáveis para a Regressão Logística 119 Tabela 13 – Testes de Linearidade para as relações entre a variável dependente e as independentes

120

Tabela 14 – Estatísticas descritivas das variáveis transformadas 130 Tabela 15 – Comportamento das médias e dos desvios-padrão entre os grupos de emissões públicas e privadas (0 e 1)

131

Tabela 16 – Teste de igualdade de médias de grupos 134 Tabela 17 – Matriz de correlações entre as variáveis 134 Tabela 18 – Autovalores e Wilk’s Lambda 136 Tabela 19 – Coeficientes padronizados para a função discriminante canônica.

137

Tabela 20 – Matriz Estrutural – variáveis ordenadas pelo tamanho da correlação dentro da função

137

Tabela 21 – Função Discriminante Canônica: coeficientes não padronizados

138

Tabela 22 – Valores da função nos centróides de cada grupo 139 Tabela 23 – Resultados da classificação 140 Tabela 24 – Histórico de Convergência de Coeficientes 143 Tabela 25 – Variáveis na Equação: 144 Tabela 26 – Teste para os coeficientes do modelo 146 Tabela 27 – Matriz de Classificação –Resultado com ponderação 147 Tabela 28 – Resultado com dados sem Ponderação em negrito 148 Tabela 29 – Teste para o modelo com validação cruzada, sem ponderação, com amostras aleatórias

149

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Lista de quadros Quadro 1 – Custos de registro de emissões junto à CVM 71 Quadro 2 – Resumo dos motivos para a decisão por emissão particular de ações e variáveis a serem utilizadas na investigação

86

Quadro 3 – Teste de Hipóteses para diferença entre médias 88 Quadro 4 – Relações substantivas esperadas na decisão por emissões privadas de ações

96

Quadro 5 – Proposta de tratamento dos dados, passos a serem seguidos, propósitos e os processos estatísticos utilizados

103

Quadro 6 – Sinais esperados e obtidos nos testes das hipóteses, com relação ao comportamento das emissões privadas a partir das características estudadas

156

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1 Introdução

As empresas podem levantar capital através da retenção de lucros, emissão

ou contratação de dívida, ou da emissão de ações. A emissão de ações pode ser

pública ou particular (privada). A emissão pública se dá através de bancos de

investimento, conhecidos como underwriters, e está sujeita às regras e à

fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). A emissão particular é

realizada para pequenos grupos de investidores pré-determinados ou para os atuais

acionistas, a custos menos expressivos e mais rapidamente, por estarem liberadas

das exigências para as emissões públicas.

Ferreira e Brooks (2000) ressaltam a importância do estudo das emissões

particulares de ações e a deficiência da literatura sobre o assunto. Apontam

algumas diferenças entre as emissões públicas e privadas: estas são de

implementação mais rápida e apresentam custos diretos e indiretos mais baixos.

Os custos diretos são relacionados aos procedimentos de emissão. Os

indiretos, afirmam Ferreira e Brooks, geralmente mais relevantes, estão

relacionados à assimetria de informações entre os controladores e o público em

geral sobre o real valor da empresa emissora. Se a assimetria for elevada, as

emissões públicas apresentam maior deságio em relação ao valor percebido pelos

controladores. Isso os direciona às emissões públicas em momentos de alta. Fora

desses momentos, ou emitem privadamente ou não emitem. Os autores apontam

maior freqüência de emissões privadas nos Estados Unidos em empresas de alta

tecnologia, com pouco acesso ao endividamento, geralmente envolvidas em

fusões ou vendas em bloco para grupos de acionistas1.

No Brasil, a dispersão de empresas que realizaram emissões privadas tem

sido bem maior, atingindo praticamente todos os setores. Este trabalho visa

explicar a decisão preferencial pela realização das emissões privadas de ações,

realizadas por companhias abertas. O período de estudo se inicia imediatamente

após o Plano Real até o final de 2002.

1 Vendas em bloco são realizadas para grupos de pessoas que manifestam formalmente o desejo de investir na subscrição particular.

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15

As empresas, balizadas por suas características contábeis e de

relacionamento com o mercado de capitais, assim como pelo seu tipo de gestão,

tomam suas decisões de captação de recursos de longo prazo. Dessa forma,

explicar a decisão pelo tipo de emissão de ações (pública ou privada) como forma

de capitalização das empresas é o objeto deste estudo.

Emissões primárias de ações são realizadas pelas empresas. Podem ser

particulares ou públicas. As primeiras são também denominadas privadas e se

destinam aos acionistas da companhia emissora e não necessitam de registro na

Comissão de Valores Mobiliários (CVM). As emissões públicas se destinam ao

público em geral e necessitam de registro de oferta pública e outros

procedimentos regulamentados pela CVM. Mais adiante o processo de emissão de

ações será formalmente apresentado.

A Tabela 1 apresenta os aumentos de capital via emissão de ações para

empresas registradas para negociação em bolsa no período entre janeiro de 1993 e

dezembro de 2002.

Tabela 1 - Aumentos de Capital via Subscrição de Empresas Registradas para

Negociação em Bolsa ( Valores em R$ milhões) – 1993-2002.

Públicas Privadas

Emissões Públicas/ emissão total de

ações (1995-2002)

Totais emissão de ações (1995-2002)

Ano Volume Número Volume Número % do

volume% do

número Volume Número

1993 n.d* 24 n.d 19 - 55,8% - 431994 n.d* 45 n.d. 43 - 51,1% - 881995 1.832 30 4.489 46 29,0% 39,5% 6.321 761996 8.9492 24 3.633 82 71,1% 22,6% 12.582 1061997 4.633 23 6.433 100 41,9% 18,7% 11.067 1231998 3.849 20 13.462 112 22,2% 15,2% 17.311 1321999 1.763 10 13.956 98 11,2% 9,3% 15.719 1082000 2.317 6 9.135 79 20,2% 7,1% 11.452 852001 1.353 6 7.748 76 14,9% 7,3% 9.101 822002 1.050 4 11.190 60 8,6% 6,3% 12.240 64Total 95-02

25.747 123 70.046 653 26,9% 15,9% 95.793 776

Fonte: Ness (2000), BOVESPA - Demonstrativos de Evolução do Capital Social das

Empresas e CVM, Informativo, vários números. * não disponível.

2 Inclui a gigantesca emissão pública do Banco do Brasil (R$7,821 bilhões) subscrita quase na sua totalidade pelo Governo Federal (o que praticamente a tornaria a emissão particular).

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16

A evidência empírica apresentada sugere uma mudança no mercado de

capitais nacional sob o ponto de vista da crescente ênfase em subscrições

particulares ao invés de ofertas públicas de ações. De fato, as subscrições

públicas têm caído em participação percentual no volume e no número total de

subscrições. Nos anos de 1993 e 1994, o número de emissões públicas representou

mais de cinqüenta por cento do total. Na média dos anos entre 1995 e 2002,

inclusive, a participação das públicas no número total caiu para 15,9 por cento.

Isso significa que as particulares têm aumentado de expressão, o que não deixa de

ser intrigante, já que ambas envolvem aporte de capital próprio na companhia.

Esse fenômeno foi mencionado por Ness (2000), apontando que cerca de

vinte por cento das empresas registradas para negociação em bolsa de valores

realizavam subscrições particulares anualmente.

Esse comportamento pode ter sido o reflexo de: concentração de

propriedade/controle, assimetria informacional, menor custo das subscrições

particulares, assimetria tributária, de empresas públicas e privadas buscando

reestruturação3 e também do pequeno volume em reais de alguns aumentos de

capital, entre outros fatores. A explicação deste fenômeno é o propósito deste

trabalho.

Colocando sob a forma de pergunta o que se pretende investigar neste

trabalho, pode-se enunciá-lo da seguinte forma: Por que as empresas brasileiras

de capital aberto passaram a utilizar preferencialmente emissões particulares de

ações em lugar de ofertas públicas depois do Plano Real?

Os objetivos deste trabalho são:

• Identificar os fatores que motivaram a decisão das empresas pelas

emissões particulares e não emissões públicas no período estudado;

• Objetivos intermediários:

• Apresentar o comportamento histórico das emissões primárias e

particulares entre 1995 e 2002;

3 Um exemplo é a emissão de ações da Net ( ex-Globo Cabo) para a quitação de dívidas.

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17

• Determinar as variáveis relevantes para a obtenção do conjunto de

características (perfil) de uma empresa no que diz respeito às questões em

estudo.

• Estudar os perfis das empresas que realizaram emissões particulares e

ofertas públicas no período 1995-2002;

Delimitação do Estudo:

O presente trabalho foca o período compreendido entre janeiro de 1995 e

dezembro de 2002 no que diz respeito ao aumento de capital das empresas através

de emissões de ações particulares e públicas. O período de estudo foi definido

dessa forma devido à estabilização da moeda após o Plano Real. Como o Plano foi

implantado em julho de 1994, optou-se pela coleta dos dados sobre as empresas

emissoras somente a partir de 1995. Além disso, não há levantamentos de

emissões particulares de ações anteriores a 1993: as informações sobre emissões

particulares somente são obtidas de boletins da Bovespa publicados em jornais

econômicos. Seu levantamento pode ser impreciso.

Outro problema que se procurou evitar foi a existência de várias moedas no

Brasil, antes do Plano Real. A conversão dos valores emitidos segundo índices de

inflação ou cotações de moedas estrangeiras poderia gerar maior imprecisão nos

levantamentos dos dados. Além disso, as variáveis contábeis necessárias para a

descrição das empresas no período anterior às emissões apresentavam muitos

valores faltantes em períodos anteriores a 1995. Isso levaria, em alguns casos, à

redução da amostra e, em outros, à perda de precisão pela adoção de

procedimentos estatísticos menos robustos.

Ao final desta tese há uma seção que trata especificamente das limitações do

método e dos procedimentos adotados.

Justificativa e Motivação para o Trabalho:

O mercado primário de ações pode ser uma importante fonte de recursos

para as empresas. No Brasil, a sua importância tem sido objeto de estudos e de

ações diretas para incentivá-lo, como o lançamento pela BOVESPA do Novo

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Mercado, onde só são negociadas ações com direito a voto. Ele constitui uma

seção segmentada da bolsa tradicional, munido de uma regulamentação privada,

com regras que visam garantir maior proteção aos acionistas minoritários.

Este trabalho assume importância, no âmbito nacional, ao explicar a decisão

da maioria das empresas emissoras por emissões particulares de ações, ao invés de

emissões públicas. A descoberta dos fatores ou variáveis que expliquem essa

decisão possibilita um aprofundamento da discussão sobre o mercado primário

brasileiro, em que pese a evidência apontada pela Tabela 1 apresentada. Esta

constitui uma contribuição inédita para o conhecimento deste mercado. Além

disso, a compreensão das variáveis determinantes da decisão por emissões

privadas poderá dar subsídios para a formulação de políticas e/ou

regulamentações que incentivem as emissões de ações no mercado de capitais

brasileiro.

No âmbito internacional, também é reduzido o estudo de emissões

particulares de ações. Com efeito, Cronqvist et alli (2001), que as estudaram na

Suécia, ressaltaram que a falta de trabalhos sobre a motivação da sua escolha, fora

dos Estados Unidos e Japão, impede uma análise comparativa. Nesse sentido, o

presente trabalho traz uma importante contribuição ao tratar do processo de

escolha de emissões privadas (particulares) para o mercado brasileiro,

possibilitando uma melhor compreensão do fenômeno e futura comparação com

outras nações.

1.1 Organização da Tese

A tese está estruturada da seguinte forma: o capítulo 2 descreve omercado

de capitais brasileiro e resume sua regulamentação no que diz respeito às emissões

de ações. São também apresentados aspectos da conjuntura nacional no período

estudado; o capítulo 3 apresenta a revisão bibliográfica, analisando as principais

teorias explicativas e resultados empíricos ligados ao aumento de capital via

emissão de ações: estrutura de capital - alvo, oportunismo e pecking order;

eficiência de mercado – assimetria de informações, assimetria tributária e custos

de emissões . A partir do conjunto de variáveis consideradas relevantes para este

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19

trabalho, será desenvolvido o processo decisório para a emissão de ações. Os

principais estudos da literatura nacional e internacional são apresentados de forma

a fundamentar as hipóteses a serem apresentadas no capítulo 4 e testadas na parte

empírica da tese.

O capítulo 4 apresenta as questões de pesquisa e as hipóteses a serem

testadas.

O capítulo 5 apresenta a metodologia utilizada nos testes das hipóteses.

São descritos a amostra, a coleta e o tratamento dos dados e definidas as variáveis

a serem utilizadas. São apresentadas as limitações do método.

O capítulo 6 apresenta os resultados. São respondidas as questões de

pesquisa e hipóteses, bem como analisados os resultados.

O capítulo 7 apresenta as conclusões e as sugestões para futuras pesquisas

relacionadas com o tema desta tese.

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20

2 O Mercado de Capitais Brasileiro

2.1 Panorama Geral

Desde o Plano Real, em julho de 1994, o Brasil tem experimentado um

processo de estabilização da moeda eleito pelo governo como uma de suas metas

mais prioritárias. Esta ênfase tem apresentado como característica a prática de

elevadas taxas de juros, de modo a restringir a liquidez de recursos no mercado de

capitais e, dessa forma, ter melhores meios para o controle da inflação.

2.1.1 Taxas de juros no Brasil

Os juros praticados em uma economia têm impacto na tomada de decisão

para investimentos produtivos. O empresário buscará remuneração para seu

capital superior àquela que obteria com a simples aplicação em títulos do governo

ou em fundos neles lastreados. Um indício disto é o modelo desenvolvido por

Sharpe (1964) e Lintner(1965), que obtém o retorno que deve ser exigido por um

investidor com capital próprio. Este retorno é calculado a partir da soma da taxa

livre de risco e do prêmio pelo risco da carteira de mercado multiplicado pelo

peso do fator de risco da empresa. A taxa livre de risco pode ser a taxa praticada

pelo governo federal para a remuneração de seus títulos da dívida pública,

aproximando-se, no Brasil, do retorno líquido de impostos da Selic ou do CDI

(taxa para depósitos interbancários). Dessa forma, elevados patamares de juros,

acarretam custo de oportunidade elevado aos investidores. Ao utilizar métodos de

avaliação de projetos que levem em conta o desconto de futuros fluxos de caixa a

taxas que reflitam o custo de oportunidade do capital e/ou o custo do capital de

terceiros, os executivos têm maior dificuldade de obter projetos geradores de

valor. A relação é inversa: quanto maior o custo do capital, menores os valores

presentes dos futuros fluxos de caixa de projetos.

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21

Além disso, a elevação dos custos do capital de terceiros (juros), impacta

também no curto prazo, trazendo dificuldades para as empresas obterem o

necessário capital de giro para seus negócios. Decisões de investimento no

passado podem se tornar um tormento para os gestores atuais, quando

confrontados com amortizações e pagamentos de juros de compromissos antigos.

Se os fluxos de caixa atuais não forem bons o suficiente para honrá-los, não

restará as empresas senão a busca por capital próprio, a custo mais elevado (risco

maior), via emissão pública ou particular de ações.

O problema é particularmente dramático no Brasil, já que a cultura de

investimento a longo prazo no capital das empresas não parece estar consolidada.

A capitalização do nosso mercado de ações em relação ao Produto Interno Bruto

(PIB) se situa muito abaixo da norte americana e dos países europeus, conforme

será apresentado adiante. Há uma grande proporção de recursos investidos em

títulos do governo, e os altos juros pagos por esses papéis nos últimos anos

tenderam a agravar essa situação. Reforça esse argumento o elevado patamar das

taxas de juros no período estudado, como nos mostra a Tabela 2.

Tabela 2 - Comportamento das taxas anuais de juros e de inflação ao longo do

período de janeiro de 1995 a dezembro de 2002

Ano

Juros

(CDI)4

%

TJLP

%

Inflação

(IGP-M)

%

Inflação

(INPC) %

Juros Reais (CDI)

Deflacionados por:

IGP-M INPC

Juros Reais (TJLP)

Deflacionados por:

IGP-M INPC

1995 53,06 23,37 15,24 21,98 32,82 25,48 7,05 1,14

1996 27,17 16,04 9,19 9,12 16,47 16,54 6,27 6,34

1997 24,58 10,13 7,74 4,34 15,63 19,40 2,22 5,55

1998 28,58 11,66 1,79 2,46 26,32 25,49 9,70 8,98

1999 25,13 13,22 20,10 8,43 4,19 15,44 -5,73 4,42

2000 17,32 10,75 9,95 5,27 6,70 11,45 0,73 5,21

2001 17,05 9,48 10,82 9,24 5,62 7,15 -1,21 0,22

2002 19,09 9,9 25,3 14,74 -4,96 3,79 -12,29 -4,21

Fontes: Bacen e IPEA

4 Obtidos a partir dos fatores mensais do CDI, publicados pelo Banco Central, acumulados para cada ano.

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22

As empresas que necessitam de crédito incorrem em custos efetivos mais

elevados do que as taxas acima listadas. Uma saída seria o endividamento via

linhas de crédito do BNDES, a juros mais baixos, obtendo ainda o benefício fiscal

(juros são dedutíveis na declaração de renda pessoa jurídica apurada pelo lucro

real). Porém, os recursos do BNDES não financiam a totalidade dos projetos de

investimento nem as necessidades de capital de giro não associadas diretamente

com os projetos financiados. Dessa forma, nem todas as empresas conseguem

obter recursos no BNDES.

Em 2002 ocorreu uma aceleração da inflação no final do ano, o que tornou

as taxas de juros reais negativas pela TJLP e baixas pelo IGP-M. No início de

2003, o Banco Central do Brasil aumentou as taxas de juros como forma de conter

a inflação. Este processo tem sido revertido a partir do segundo semestre daquele

ano, com a gradativa redução das taxas de juros básicas. Importante ressaltar que

toda a movimentação de taxas de juros foi inicialmente motivada pela âncora

cambial adotada no Plano Real.

2.1.2 A questão cambial no Brasil

O Brasil tem sido, consistentemente, bastante procurado por estrangeiros

para investimento, seja através das privatizações de companhias estatais, da

compra de empresas privadas nacionais ou do investimento direto5. Esse pode ser

um reflexo da política de estabilização econômica que, por outro lado, tanto tem

punido a atividade produtiva nacional, em que pesem as elevadas taxas de juros.

Nesse sentido, a captação da poupança interna através da emissão de ações

poderia ser um caminho para financiar crescimento econômico, tão necessário

para que se atendam às demandas sociais latentes.

Apesar do livre acesso ao capital estrangeiro para financiamento e

investimentos diretos, o País enfrentou expressivas desvalorizações do Real em

janeiro de 1999, em 2001 e 2002, conforme ilustra a Figura 1 abaixo. Isto pode

ter representado importante perda para os empresários brasileiros que optaram

5 Indústria automobilística, por exemplo.

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23

pela captação de recursos via dívida em moeda estrangeira. De forma análoga, os

investidores estrangeiros que diretamente aportaram capital em empresas

nacionais podem ter visto minguar seus resultados denominados na moeda do seu

país de origem a partir das desvalorizações do Real.

Figura 1 – Valor do Dólar Americano em Reais 1995-2002

0

0,5

1

1,5

2

2,5

3

3,5

4

4,5

2/1/

95

2/7/

95

2/1/

96

2/7/

96

2/1/

97

2/7/

97

2/1/

98

2/7/

98

2/1/

99

2/7/

99

2/1/

00

2/7/

00

2/1/

01

2/7/

01

2/1/

02

2/7/

02

Fonte: Banco Central do Brasil

2.1.3 Produto Interno Bruto no Brasil após o Plano Real

O comportamento do PIB após o Plano Real pode ter sido influenciado

pelas elevadas taxas de juros e pelo comportamento do câmbio. A Figura 2

apresenta o comportamento do PIB real, e o seu crescimento anual entre 1995 e

2002, inclusive.

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24

Figura 2 – PIB - Crescimento Real Anual e Índice Acumulado (1994-2002)

0,0

20,0

40,0

60,0

80,0

100,0

120,0

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002Anos

Índi

ce d

o PI

B (

2003

=100

)

0,0

1,0

2,0

3,0

4,0

5,0

6,0

7,0

Cre

scim

ento

Rea

l(%)

Índice PIB - 2003 = 100

Taxas Reais de Variação do PIB

Fonte: Banco Central do Brasil

Pode-se observar uma queda expressiva nas taxas de crescimento anual do

PIB entre 1994 e 1998, havendo uma recuperação em 2000 e nova queda para

patamares inferiores a 2 por cento em 2001 e 2002. A partir da evidência

apresentada na Figura 2, pode-se inferir que os anos estudados neste trabalho não

foram bons para a economia do Brasil no tocante ao seu crescimento. Isso pode

ter, de alguma forma, influenciado as decisões de captação de recursos das

empresas, em especial, as de capital aberto, com acesso às emissões públicas e

privadas de ações. Oscilações no câmbio, elevados juros e baixo crescimento

econômico podem ter criado um cenário em que a busca de capital próprio fosse a

melhor solução para os problemas enfrentados. Um importante indicador da

expressão do capital próprio é a capitalização de mercado, apresentada a seguir.

2.1.4 Capitalização do Mercado – empresas listadas, pulverização dos negócios

O mercado de capitais brasileiro apresenta-se pequeno, em relação ao

tamanho da economia brasileira. Em relação ao Produto Interno Bruto (PIB), o

valor de mercado das ações no Brasil evoluiu de 21% em 1995 para cerca de 28%

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25

em 2002. Nos Estados Unidos a relação era de cerca de 93,5% em 1995 e cerca de

106% do seu PIB em 2002. A Tabela 3 resume os dados para uma amostra de

países emergentes e desenvolvidos.

Tabela 3- Capitalização Relativa (% do PIB) - 1995-2002

Países Emergentes Países Industrializados

Brasil Chile México

Coréia

do Sul China

Estados

Unidos

Reino

Unido

Alemanha Itália

Japão

1995 21,0 101,2 31,7 37,2 7,02 93,48 118,6 23,5 9,09

67,02

1996 28,0 87,1 32,1 26,7 14,5 108,2 138,0 27,9 0,81

64,07

1997 31,6 87,3 39,1 8,8 23,6 129,0 150,3 39,0 9,51

50,07

1998 20,4 65,4 21,8 36,1 25,1 144,0 166,7 50,6 7,24

62,0

1999 43,8 93,5 32,0 75,4 32,3 180,4 195,5 67,9 1,58

99,3

2000 38,2 80,6 21,6 32,2 30,2 154,9 181,3 67,7 1,41

67,0

2001 37,0 84,7 20,4 46,1 28,8 137,1 152,2 57,8 8,40

55,1

2002 28,3 74,5 16,2 46,8 37,4 105,8 114,6 34,5 0,16

51,8

Média 31,0 84,3 26,9 38,7 24,9 131,6 152,2 46,1 2,28 64,5

Mediana 29,9 85,9 26,8 36,7 26,9 133,1 151,2 44,8 3,70 63,0

Fonte : CVM- Dados Comparativos de Mercados Selecionados

Exceto pelo Chile, os países emergentes da amostra apresentam uma

capitalização média em torno de 30 por cento do PIB. Já os industrializados, se

apresentam em três patamares: um envolvendo Estados Unidos e Reino Unido, em

torno de 150 por cento; outro abrangendo Alemanha e Itália, por volta de 40 por

cento e, finalmente, o Japão, por volta de 60 por cento do PIB. Os mercados de

capitais dos países mais desenvolvidos apresentam expressão maior do que o

brasileiro, acentuada pela diferença entre os respectivos produtos internos brutos.

Com uma capitalização tão pequena no mercado brasileiro, buscar recursos

através das emissões públicas de ações pode se tornar muito difícil. Além disso, o

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26

número de empresas listadas em Bolsa, apresentados na Tabela 4 abaixo, também

apresenta diferenças expressivas entre os países emergentes e industrializados.

Tabela 4 – Número de Empresas Listadas em Bolsa – 1995-2002

Países Emergentes Países Industrializados

Brasil Chile México Coréia do Sul China

Estados Unidos

Reino Unido

Alemanha

Itália Japão

1995 544 282 185 721 1.537 8.160 2.502 - 254 1.791

1996 551 290 193 760 1.501 8.783 2.623 - 248 1.833

1997 545 294 198 776 799 8.823 2.513 - 239 1.865

1998 527 287 195 748 909 8.461 2.423 662 243 1.890

1999 478 282 190 712 947 8.512 2.274 851 270 1.935

2000 459 261 177 702 1.086 7.858 2.374 983 297 2.096

2001 428 249 172 688 1.154 7.074 2.332 983 294 2.141

2002 395 246 169 679 1.223 6.590 2.272 934 295 2.153

Variação

(%) no

período -27,4 -12,8 -8,6 -5,8 -20,4 -19,2 -9,2 41,1 16,1 20,2

Fonte : CVM- Dados Comparativos de Mercados Selecionados

Pode-se notar a redução do número de empresas listadas em Bolsa no Brasil

foi a maior da amostra de países (menos 27,4 por cento) . Essa redução é um sinal

de que as aberturas de capital no período estudado foram suplantadas pelo efeito

do fechamento de capital somado às incorporações, fusões e extinções de

empresas. Esses números sugerem um certo empobrecimento de oportunidades de

investimento no mercado de capitais brasileiro. De fato, a Tabela 5 apresenta,

apenas para o Brasil, o número de companhias abertas, o valor de mercado em

dólares americanos e suas respectivas variações no período 1995 a 2002.

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27

Tabela 5 – Companhias Listadas na Bovespa e Valor de Mercado em Dólares

Valor de Mercado da

Bovespa

(bilhões de dólares)

Variação

Percentual

Companhias

Listadas na Bovespa

Variação

Percentual

1995 147.636 - 544 -

1996 216.906 46,9 551 1,3

1997 255.478 17,8 545 -1,1

1998 160.886 -37,0 527 -3,3

1999 227.962 41,7 478 -9,3

2000 226.152 -0,8 459 -4,0

2001 186.238 -17,6 428 -6,8

2002 126.761 -31,9 395 -7,7

Variação Total (%) -14,1 Variação Total (%) -27,4

Fonte: CVM

Os números corroboram a impressão de empobrecimento do mercado de

capitais brasileiro, tanto em capitalização, com uma redução de 14 por cento no

período, como em número de empresas listadas, com redução de 27,4 por cento.

Dessa forma, o surto de emissões particulares de ações, no Brasil, após o Plano

Real, não deveria estar relacionado ao nível de atividade do mercado.

As Figuras 3 e 4, abaixo relacionam o índice IBOVESPA e o volume e

número mensal de emissões particulares de ações, respectivamente.

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28

Figura 3 – Volume Mensal de Emissões Particulares de Ações Versus

IBOVESPA - jan/1995 a dez/2002

0,00

1.000.000.000,00

2.000.000.000,00

3.000.000.000,00

4.000.000.000,00

5.000.000.000,00

6.000.000.000,00

7.000.000.000,00

8.000.000.000,00

jan/95

mai/95

set/9

5jan

/96

mai/96

set/9

6jan

/97

mai/97

set/9

7jan

/98

mai/98

set/9

8jan

/99

mai/99

set/9

9jan

/00

mai/00

set/0

0jan

/01

mai/01

set/0

1jan

/02

mai/02

set/0

2

Vok

ume

Men

sal d

e E

mis

sões

Par

ticul

ares

(Rea

is)

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

20.000

IBO

VE

SPA

(pon

tos)

Volume Mensal de Emissões Particulares de Ações IBOVESPA Mensal

Fonte: Bovespa

As emissões particulares de ações, através do volume emitido, não parecem

estar relacionadas com o índice IBOVESPA.

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29

Figura 4 – Número de Emissões Particulares de Ações Versus

IBOVESPA – jan /1995 a dez/2002

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

20.000

jan/95

mai/95

set/9

5jan

/96

mai/96

set/9

6jan

/97

mai/97

set/9

7jan

/98

mai/98

set/9

8jan

/99

mai/99

set/9

9jan

/00

mai/00

set/0

0jan

/01

mai/01

set/0

1jan

/02

mai/02

set/0

2

IBO

VE

SPA

(pon

tos)

0

5

10

15

20

25

30

35

40

Núm

ero

de E

mis

sões

Número de Emissões Particulares de Ações Ibovespa Mensal

Fonte: Bovespa

No que tange ao número de emissões particulares de ações, o gráfico sugere

alguma relação, em especial, até setembro de 1999. A partir de 2000, apesar da

intensidade da ocorrência das emissões ser menor, parece haver alguma relação

entre o número de emissões particulares de ações e a lucratividade medida pelo

IBOVESPA.

As Figuras 5 e 6, abaixo, relacionam o índice IBOVESPA e o volume e

número mensal de emissões públicas de ações, respectivamente.

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30

Figura 5 – Volume Mensal de Emissões Públicas de Ações Versus IBOVESPA –

jan/1995 a dez/2002

0,00

500.000.000,00

1.000.000.000,00

1.500.000.000,00

2.000.000.000,00

2.500.000.000,00

3.000.000.000,00

3.500.000.000,00

4.000.000.000,00

4.500.000.000,00

5.000.000.000,00

jan/95

jul/95

jan/96

jul/96

jan/97

jul/97

jan/98

jul/98

jan/99

jul/99

jan/00

jul/00

jan/01

jul/01

jan/02

jul/02

Vok

ume

Men

sal d

e E

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sões

Púb

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(Rea

is)

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

20.000

IBO

VE

SPA

(pon

tos)

Volume Mensal de Emissões Públicas de Ações IBOVESPA Mensal

Fonte: Bovespa

Figura 6 – Número de Emissões Públicas de Ações Versus IBOVESPA –

jan/1995 a dez/2002

0

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

20.000

jan/95

mai/95

set/9

5jan

/96

mai/96

set/9

6jan

/97

mai/97

set/9

7jan

/98

mai/98

set/9

8jan

/99

mai/99

set/9

9jan

/00

mai/00

set/0

0jan

/01

mai/01

set/0

1jan

/02

mai/02

set/0

2

Meses

IBO

VESP

A (p

onto

s)

01

23

456

78

91011

1213

1415

Núm

ero

de E

mis

sões

Púb

licas

Men

sais

Nº de Emissões Públicas de Ações IBOVESPA (pontos)

Fonte: Bovespa e CVM

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O volume e o número de emissões públicas de ações parece ter alguma

relação até setembro de 1999. A partir deste ponto, há uma drástica redução tanto

de volume quanto da ocorrência de emissões públicas. Isso sugere que o

oportunismo, tão presente no Brasil na década de 80, verificado nos trabalhos de

Da Costa (1990) e Leal (1993 e 2004), foi substituído ou suplantado por outros

fatores determinantes na tomada de decisão de captação de recursos. O objetivo

desta tese é definir os fatores determinantes e utilizá-los para explicar o fenômeno.

2.1.5 Concentração de Mercado e Liquidez

A liquidez das ações na BOVESPA é muito concentrada em poucos papéis.

Com efeito, Ness (2000) e Carvalho (2000) apresentam dados para a concentração

de negócios naquele mercado. Entre 1991 e 1993 as 5 por cento das ações mais

negociadas concentraram 83,4% do volume negociado. Já entre 1996 e 1998, esta

concentração caiu para 75,7% do total negociado, conferindo-nos o sexto lugar

no ranking mundial de mercados concentrados. Carvalho, analisando o período

entre julho de 1997 e julho de 1998 revelou que apenas 4,1% das empresas

apresentaram liquidez diária. Cerca de 80% das ações foram negociadas em

menos de 240 pregões. Prosseguindo, Carvalho afirma que 50% das empresas

foram transacionadas em menos de 25% dos pregões.

Empresas com alta liquidez apresentariam bom potencial para emitir ações

ao público. O que dizer, então da grande maioria das empresas, com média ou

baixa liquidez? Como obter recursos via emissão de ações se sua negociação no

mercado secundário é tão insignificante? Se, por um lado, a oferta pública seria

um meio para obtenção de liquidez, através da visibilidade dos lançamentos de

ações, prospectos e divulgação de informações sobre as empresas, por outro a

solução poderia ser a emissão particular de ações.

Além disso, a busca, realizada por potenciais investidores, de informações

sobre empresas pouco transacionadas pode ser menor do que por aquelas mais

negociadas. Isto reforçaria o problema da assimetria informacional, tornando os

investidores menos confiantes nas menos líquidas no advento de suas emissões.

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Há que se observar que as aberturas de capital não estão associadas a

empresas com liquidez, já que não participam do mercado. Para estas, os fatores

determinantes de sua emissão não estão relacionados à sua liquidez prévia em

Bolsa de Valores.

A regulamentação do mercado de capitais brasileiro sofreu, em 2001, uma

importante mudança, com a aprovação da nova Lei das Sociedades Anônimas.

Além disso, várias Instruções Normativas foram editadas pela CVM para

regulamentar a emissão de ações.

2.2 Regulamentação

2.2.1 Emissões Públicas e Particulares

Entende-se por oferta ou subscrição pública de ações a emissão de ações

para aumento de capital, respeitado o direito de preferência dos atuais acionistas

(salvo disposição contrária no estatuto da empresa) de modo a lhes garantir a

manutenção, se assim desejarem, da proporção existente do capital social,

conforme reza o artigo 171 da Lei das SA (Lei nº10.303)6. No artigo 170, a Lei

define que, uma vez realizados três quartos do capital social inicial, a companhia

pode aumentá-lo através de subscrição pública ou particular de ações. O prazo de

exercício do direito de preferência não pode ser inferior a trinta dias. A partir

desse instante, as eventuais sobras podem ser oferecidas em mercado de balcão

em benefício da companhia ou rateadas nas proporções dos valores previamente

subscritos pelos acionistas inscritos nas listas de sobras.

O artigo 7º da Instrução Normativa nº 400/2003, baseado na Lei nº 6.385, de

7 de dezembro de 1976, considera pública a subscrição de ações ofertadas

mediante utilização de listas ou boletins de subscrição, folhetos prospectos ou

anúncios destinados ao público. Além disso, a procura de novos subscritores não

acionistas através de empregados, administradores, pessoas físicas ou jurídicas

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integrantes ou não do sistema de distribuição de valores mobiliários. Finalmente,

os negócios realizados em loja, escritório ou estabelecimentos abertos ao público

ou com a utilização de serviços públicos de comunicação, desde que não dirigidos

a acionistas da companhia emissora. A subscrição pública7 depende de prévio

registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) e somente pode ser realizada

com a intermediação de instituição financeira, conforme o artigo 82 da Lei das

SA.

Emissões particulares, também denominadas ofertas de direitos, são

entendidas como subscrições de ações pelos atuais acionistas, sem oferta pública

de ações. No caso de sobras, estas poderão ser rateadas entre os atuais acionistas

que assim o desejarem, respeitadas as proporções dos valores previamente

subscritos pelos acionistas inscritos nas listas de sobras. A subscrição particular

se processará segundo o que for deliberado na assembléia geral ou pelo conselho

de administração, de acordo com o estatuto da empresa.

No Brasil, a evidência empírica apresentada na Tabela 1 tem apontado nos

últimos anos para um aumento do volume de emissões particulares de ações e

redução das ofertas públicas. Essa é uma prática de capitalização via aporte de

capital próprio dos acionistas.

A motivação para a oferta de direitos pode estar ligada à relação entre o

custo de oportunidade do capital próprio dos acionistas, como apresentado

anteriormente e o custo dos financiamentos externos, em que pese sua

acessibilidade pelas empresas. Pouca acessibilidade a financiamentos externos ou

elevado custo, direcionaria à emissão de ações. As condições de mercado (muita

ou pouca atividade) e o custo das ofertas públicas de ações, pesariam, então, na

decisão sobre o tipo de emissão: privada ou pública.

As ofertas públicas de ações têm um custo maior que as particulares. A

obrigatoriedade da existência de uma instituição financeira intermediária,

denominada underwriter, traz embutido um custo de coordenação, comissão de

6 Lei nº 10.303, complementada pela Medida Provisória nº 8 e pelo Decreto nº 3.995, todos de 31 de outubro de 2001. Note-se que a Medida Provisória nº 8 foi convertida na Lei 10.411 de 26 fevereiro de 2002. 7A Instrução CVM n° 400/2003 que alterou a de nº370/2002, define subscrições públicas no seu Art. 6º,que será apresentado na íntegra no Anexo I.

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colocação e, se for por garantia firme ou stand by8, comissão para garantia da

colocação da emissão. Há, ainda, o deságio no preço das ações a serem emitidas,

de modo a dar liquidez à emissão. Além disso a CVM cobra uma taxa para

registro da oferta pública. Estes custos serão detalhados mais adiante. Dessa

forma, não se trata apenas de uma escolha de como obter capital próprio, estando

também envolvidos custos diferenciados.

O acesso das empresas às ofertas públicas de ações está sujeito a uma série

de condições operacionais relacionadas com sua atividade e capacidade de

geração de resultados. Além disso, os critérios para concessão de crédito são

restritivos, em especial, para empresas em dificuldades. As médias e grandes

empresas, entretanto, têm tido, no BNDES, uma importante fonte de

financiamento a baixo custo relativo para seus projetos. De fato, entre janeiro de

1995 e dezembro de 2002, o BNDES desembolsou cerca de 158 bilhões de reais

em empréstimos9. Desse modo, devem existir características estruturais e

contábeis nas empresas que balizem o processo decisório de captação de recursos

de longo prazo.

2.2.2 Mercado Primário e Regulamentação do aumento de capital via emissão de ações

Esta seção apresenta uma revisão da legislação que regula o funcionamento

do mercado de capitais brasileiro. O foco é na regulamentação das emissões de

ações.

As emissões de ações no Brasil são regulamentadas pela Comissão de

Valores Mobiliários, segundo a Instrução CVM nº400/2003, que modificou a

Instrução CVM nº 370/2002, que, por sua vez, modificou a Instrução CVM

nº13/1980. A instrução dispõe acerca de aumento de capital por subscrição de

ações e registro de distribuição de ações mediante subscrição pública, de que

tratam os arts. 82 e 170, da Lei no 6.404, de 15 de dezembro de 1976 modificados

8 Esse processo está descrito na seção 3.3.2. 9 Fonte: Banco Central do Brasil

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pela Lei 10.303/2001, com fundamento também no disposto nos artigos 4º, inciso

VI, 8º, inciso I e 19, § 5º, e 21 da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976.

Na legislação acima há alguns aspectos a serem ressaltados. Fica clara a

distinção legal entre emissão particular e emissão pública de ações. A emissão

pública incorre, por força da regulamentação em custos adicionais de divulgação

de informações e colocação dos títulos no mercado. Além disso, traz embutida,

para as emissões veteranas10 a presunção de liquidez para os papéis junto ao

mercado, sem a qual eles dificilmente seriam absorvidos.

A Lei das Sociedades Anônimas (nº 6.404/76) sofreu várias alterações na

Reforma promovida pelas Leis 10.303/2001 e Lei 10.411 de 26 de fevereiro de

2002.

A legislação anteriormente vigente permitia a emissão de ações sem direito

a voto até um volume equivalente a dois terços do capital total. Dessa forma, o

controle absoluto da empresa podia ser exercido com apenas um sexto do capital

total. As novas aberturas de capital, entretanto, segundo a nova Lei, deverão

respeitar a proporção de cinqüenta por cento para cada tipo de ação. A Lei

estabelece, ainda, um prazo de três anos para que as empresas façam a transição às

novas regras. Esse aspecto, entretanto, poderá se constituir em mais um

empecilho a novas aberturas de capital, quando comparado ao mecanismo

anterior: se não desejar reduzir sua participação no capital da empresa (não

subscrevendo na totalidade sua participação da emissão), em especial no votante,

o controlador simplesmente evitará emitir novas ações.

Entretanto, há determinações que conferem maiores poderes aos

minoritários:

Os acionistas ordinários minoritários passarão a ter o direito a receber 80 por

cento do valor pago ao controlador em operação de venda. Anteriormente não

havia obrigação de uma oferta aos minoritários11

10 Emissões veteranas são emissões de empresas já abertas, e não emissões para abertura de capital inicial. 11 As empresas estatais estão excluídas desta regra. Esse dispositivo tem a denominação de tag along..

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Os conselhos de administração das empresas deverão ter a participação de um

representante dos minoritários detentores de ações preferenciais, desde que

estes possuam ao menos 10 por cento do capital total. No caso dos acionistas

ordinários, a proporção deverá ser de 15 por cento do total das ações com

direito a voto.

Em caso de fechamento de capital, uma oferta pública deverá ser feita pelo

controlador para a compra das ações dos minoritários com base no valor

justo12

Em caso de fechamento “branco”, ou seja, informal, em que as empresas

mantém o capital aberto mas tomam medidas prejudiciais aos minoritários os

poderes da CVM ficam maiores no sentido de coibir a prática.

Ficou estabelecida a prisão de um a oito anos para quem utilizar informação

privilegiada de uma empresa de capital aberto em benefício próprio ou de

terceiros. Na legislação anterior somente havia a previsão de uma multa

nesses casos.

As empresas deverão manter um comitê de auditoria, com membros

independentes, de modo a acompanhar os seus demonstrativos contábeis.

Os novos lançamentos de ações em bolsa deverão ser por meio de ações com

direito a voto (ordinárias) e de preferenciais em proporções iguais. Atualmente

a legislação estabelece que sejam de um terço e dois terços respectivamente.

A CVM se torna independente e com maiores poderes para fiscalizar o

mercado de capitais.

O Anexo I apresenta a Instrução CVM nº 400/2003 que dispõe sobre o

aumento de capital via emissão de ações.

12 Os acionistas minoritários poderão pedir nova avaliação de preço com base em critérios estabelecidos pela CVM.

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A seguir são apresentados alguns comentários à lei relevantes a este

trabalho, apontados por Wald (2002).

O primeiro aspecto é a questão da governança corporativa. A nova Lei

faculta às empresas, que prevejam em seus estatutos a inclusão de um conselheiro

a ser eleito pelos empregados. Além disso, não há mais a obrigatoriedade de que

os conselheiros sejam acionistas, abrindo espaço para a utilização de especialistas

mais independentes nas funções de conselheiro. Desse modo, se procurou dar

espaço ao aprofundamento da governança corporativa, sujeita, ainda, ao desejo

dos controladores.

Entretanto, prossegue Wald, em última análise, se aos controladores não

interessar a transparência, as boas práticas de governança, a participação dos

minoritários no conselho, e mesmo um conselho mais efetivo, poderão continuar

concetradamente comandando a empresa. Essa, certamente, não seria a postura de

quem deseja ter seus papéis com alta liquidez e o mercado de capitais como fonte

de capital para o crescimento de sua empresa.

Uma conseqüência previsível, nessa hipótese, seria a preferência pela

realização de emissões particulares de ações, mantendo as proporções dos

acionistas controladores inalteradas.

As regras de transparência foram aprimoradas na Lei 10303/2001. Esta

concedeu à CVM poderes para assegurar aos acionistas melhor qualidade de

informação de modo que possam ter melhores meios para tomar decisões e votar

nas assembléias. Segundo Wald (2002), a Instrução nº 319, de 3/12/1999, editada

pela CVM, já tratava da matéria, dispondo sobre a divulgação de informações nas

operações de incorporação, fusão e cisão de companhias abertas. A Instrução

definiu prazos maiores para a divulgação e análise de informações pelos

acionistas, condicionando as datas das assembléias pertinentes àqueles prazos.

Novamente aqui, a melhoria da regulamentação favorecendo aos minoritários

pode ter efeitos opostos: empresas mais transparentes e interessadas no capital dos

minoritários poderiam se beneficiar da transparência e obter maior liquidez para

emissões públicas. Por outro lado, empresas mais concentradas em propriedade

podem se desinteressar de vez pela captação pública e partir para subscrições

particulares, ou mesmo para o fechamento do capital.

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Ainda segundo Wald (2002), os relatórios e as assembléias das empresas de

capital aberto devem divulgar todos os elementos necessários à avaliação, pelos

acionistas, da situação financeira das empresas e dos seus negócios. Isto deveria

incluir o regime de remuneração de executivos, opções de compra de ações, o

número total de ações, e as vantagens e benefícios diretos e indiretos da

administração. Este esforço não seria, segundo o autor, um privilégio concedido a

alguns, mas um direito de todo acionista.

A nova Lei conferiu, de fato, poderes à CVM para fazer valer esta diretriz e

criar, desse modo, melhores condições de capitalização das empresas via mercado

de capitais.

Os conflitos entre controladores e acionistas minoritários passaram a ter

tratamento novo da legislação aprovada, dentro do esforço para melhorar o

relacionamento entre controladores e minoritários.

A reforma da Lei das SA. foi considerada um avanço por alguns e

insuficiente sob o ponto de vista de outros especialistas no assunto.

Apresenta-se aqui, a título de exemplo, duas opiniões representativas, cada

uma, de uma corrente: Salomão Filho (2002), considera que, embora a qualidade

de informações aos minoritários tenha sido aprimorada, a Lei continuou a não dar

a esses o poder de utilizá-las em favor da empresa. Os interesses, pondera,

continuam identificados aos dos controladores, deixando à justiça o poder de

reconhecer formalmente um eventual conflito de interesses.

Por outro lado, Wald (2002), considera oportuna a proteção ao investidor,

em especial nos conflitos entre controladores e minoritários, facultando a solução

por via arbitral, evitando-se, dessa forma, a morosidade da justiça comum.

A matéria jurídica, por si só, dá margem a interpretações sob perspectivas

divergentes. No âmbito deste trabalho, a importância da legislação está na reação

dos investidores à sua dinâmica. Entretanto, como será visto adiante, na evidência

empírica levantada, no que diz respeito às emissões de ações, os eventuais

benefícios da nova Lei ainda não apresentaram influência comprovada em

características como concentração de propriedade e controle das empresas de

capital aberto no Brasil.

Ações como a criação do Novo Mercado pela Bovespa têm procurado dar

proteção adequada aos investidores minoritários. Com efeito, verificou-se em

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2002, na tentativa (não realizada) de venda de ações do Banco do Brasil em poder

do Tesouro para pulverizar o capital, um esforço do próprio Governo no sentido

de incentivar o Novo Mercado. As ações do Banco do Brasil foram totalmente

convertidas em ordinárias nominativas, com direito a voto e, com aquela venda, se

consumada, ao menos 25 por cento do capital total estaria em poder dos

minoritários, exigência para a negociação no Novo Mercado.

Além disso, a questão da governança corporativa13 tem alcançado muita

ênfase por parte das entidades que regulam e fiscalizam os mercados de ações no

Brasil. Com efeito, segundo o relatório anual da CVM (2000), o objetivo da sua

declaração pública de apoio ao Novo Mercado é estimular a prática da boa

governança corporativa e a proteção aos acionistas minoritários. Importante

ressaltar que a CVM, cujos poderes foram ampliados pela reforma da Lei das SA,

desempenha papel fundamental na fiscalização das emissões públicas de ações.

Para alavancar o desenvolvimento das empresas de tecnologia no Brasil, a

emissão de ações poderá desempenhar papel importante na sua capitalização.

Empresas de alto potencial de crescimento necessitam de capital de risco para

financiar sua expansão. O Novo Mercado foca nessas empresas, que deverão ser

mais transparentes em termos de informações e de governança corporativa. Esse

movimento da BOVESPA sugere que o mercado primário tradicional não tem

atendido adequadamente às necessidades dos acionistas minoritários. Isso pode ter

dificultado a utilização do mecanismo da emissão primária pública de ações como

forma de capitalização. Esse poderia ser um dos fatores explicativos do aumento

das emissões particulares observado nos últimos anos.

13 Governança corporativa é o conjunto de práticas gerenciais e de relacionamento com os acionistas que balizam o comportamento da empresa no mercado de capitais. A CVM edita, ainda, a Cartilha de Gov. Corporativa, que, em conjunto com Código de Boas Práticas do Instituto Brasileiro de Governança Corporativa, são de cumprimento voluntário pelas empresas.

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3 Revisão Bibliográfica

Este capítulo tratará da revisão bibliográfica. Está subdividido em quatro

seções. Na primeira, será apresentado um arcabouço teórico para o processo

decisório de emissão de ações. Na segunda, será apresentada a literatura

consultada sobre estrutura de capital. A terceira tratará da assimetria de

informações, da propriedade e concentração. A quarta seção fará um resumo da

discussão da literatura.

3.1 Processo Decisório para Emissão de Ações

A construção de um arcabouço teórico para o estudo de emissões de ações

deve focar no processo decisório a que são submetidos os controladores da

empresa emissora. Nesse sentido, o trabalho de Ferreira e Brooks (2000) sugere

um esquema de raciocínio já utilizado anteriormente por Myers e Majluf (1984),

adaptado para este trabalho, apresentado a seguir.

Os administradores/controladores das empresas que não podem utilizar

lucros retidos ou endividamento para financiar novos projetos, ou mesmo, têm

como projeto a quitação ou o alongamento do perfil de suas dívidas, procurarão

maximizar o valor das ações existentes, e se verão diante das opções:

1. emitir publicamente;

2. emitir privadamente com assimetria de informações14 sobre o valor do

projeto de investimento;

3. emitir privadamente sem assimetria de informações sobre o valor do

projeto;

4. não emitir ações.

14 Entende-se por assimetria de informações sobre o valor do projeto o melhor conhecimento, por parte dos controladores, do valor do projeto de investimento motivador da emissão.

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As equações abaixo, respectivamente, ilustram as opções.

( )

( )

( )

a

baETbaE

Tba

baETaE

Ta

baEEP

PmáxV exist

++⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−++

−+

++⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛−+

++⎟⎟⎠

⎞⎜⎜⎝

⎛+

=

*

*

*

Onde:

P é o valor de mercado da empresa levando em conta a assimetria de

informações entre os participantes do mercado;

a é o valor real do capital próprio;

b é o valor presente líquido da oportunidade de investimento;

E é o valor líquido da emissão para que se possa realizar o investimento ;

T é o desconto no preço dado na emissão privada aos investidores para

compensá-los pelos custos da busca por informações que levem à determinação

do valor da empresa;

Algumas considerações se tornam importantes:

a) o valor P , obtido através da emissão pública de ações, embute os custos

de emissões públicas e o deságio exigido pelo mercado para dar maior

liquidez à emissão. Como observam Ferreira e Brooks (2000), se a-P>0,

o mercado estará sub-avaliando a empresa, o que poderá levar à emissão

privada, se T for suficientemente pequeno. Se, por outro lado, a-P<0, o

mercado estará super-avaliando a empresa, incentivando a emissão pública

de ações. Leal (1993) constatou que as empresas procuram emitir

publicamente em momentos de alta como forma de compensar esse

deságio. Isto será estudado de forma mais aprofundada adiante.

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b) O valor T, do desconto dado aos investidores na emissão privada, para

compensar seus custos pela busca de informações, se for muito elevado,

conforme pontuam Ferreira e Brooks (2000), inibirá a realização da

emissão privada. Dessa forma, a decisão será ou pela emissão pública, ou

pela não realização de emissão alguma, nesse caso, rejeitando o projeto de

investimento ou reestruturação.

c) O valor T torna-se menos relevante no caso de elevada concentração de

propriedade. Os controladores responderiam, nesse caso, pela quase

totalidade da emissão, sendo-lhes até vantajosa a não participação dos

minoritários – estes veriam sua participação acionária ser diluída. Aos

controladores caberia, nesse caso, adquirir as sobras dos minoritários a

preços compensadores. Aqui, nota-se a assimetria de informações a

serviço dos controladores da empresa emissora.

d) Quanto maior for o valor de b, VPL do projeto, maior a chance de ocorrer

financiamento via emissão de ações (pública ou privada).

e) Se houver dúvida com relação ao valor de b, os investidores na emissão

privada estariam dispostos a pagar um valor compreendido entre a segunda

e a terceira expressões acima, dependendo do seu grau de desinformação.

Essa interpretação, oferecida por Ferreira e Brooks (2000), pode explicar o

fenômeno da concentração de propriedade no Brasil, a ser apresentado

adiante: a pouca percepção de valor por parte de minoritários aumentaria a

sobras a serem adquiridas pelo bloco controlador, elevando a concentração

de propriedade.

Surgem, então, a partir do quadro conceitual acima proposto, duas linhas

teóricas a serem estudadas nesta revisão de literatura:

a) Estrutura de capital – as diversas teorias sobre a decisão de estrutura de

capital lançarão luz sobre o tema pesquisado, possibilitando a obtenção de

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determinantes da decisão por emissão pública ou privada de ações no

Brasil.

b) Eficiência de mercado – a assimetria de informações e seus fatores

geradores, tais como a concentração de propriedade e expectativas de

resultados; assimetria tributária; o papel dos underwriters e os custos de

emissões públicas de ações no Brasil; aspectos do mercado de capitais –

concentração de mercado e liquidez.

3.2 Estrutura de Capital

No estudo da decisão de captação de capital próprio via emissões públicas

ou particulares de ações, existem importantes teorias que envolvem a estrutura de

capital de uma empresa.

As empresas utilizam, para financiar seus projetos, capital próprio (dos

acionistas) e capital de terceiros (dos credores). Segundo Megginson (1997),

entende-se por estrutura de capital de uma empresa a composição do seu capital

para financiamento de longo prazo através da proporção entre capital próprio

(acionistas) e o de terceiros (credores). As estruturas de capital, segundo o autor,

podem apresentar padrões nacionais, de modo que as características históricas,

institucionais e culturais de cada nação poderiam desempenhar um papel

importante na sua definição.

No Brasil, desde o advento do Plano Real, as taxas de juros têm se mantido

elevadas (vide Tabela 2). Isso acaba por tornar o capital de terceiros de longo

prazo mais escasso. Os títulos do governo tendem a canalizar a liquidez para

aplicações a eles atreladas. Além disso, não se imagina que se possa obter de

investidores ou instituições financeiras empréstimos expressivos abaixo das taxas

de juros oferecidas pelo Governo para financiar sua própria dívida. Para correr o

risco de dar crédito às empresas os investidores exigiriam um prêmio, colocando

em patamares elevadíssimos os custos do capital de terceiros. A alternativa é o

financiamento de longo prazo via recursos do BNDES, que pode não ter como dar

vazão a toda a necessidade de capital das empresas brasileiras.

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Desse modo, na busca de capital para seus investimentos, as empresas

confrontadas com os altos custos financeiros, poderiam se interessar por emissões

de ações. Com efeito, a influência das elevadas taxas de juros decorrentes do

Plano Real sobre o comportamento das emissões de ações no período

imediatamente após o plano foi sugerida por Bordeaux-Rêgo e Leal (1997).

A estrutura de capital que minimiza o custo de capital para a empresa é

conhecida como estrutura de capital-alvo.

3.2.1 A Estrutura de Capital Alvo

O trabalho seminal de Modigliani e Miller (1963), que revisou e ampliou o

trabalho antecedente de ambos em 1958, procurou explicar a decisão de estrutura

de capital para uma empresa sujeita a impostos sobre a renda. Tratando os

encargos financeiros com juros como despesas, os autores provaram ser vantajoso

o endividamento sob o ponto de vista dos acionistas. As despesas financeiras

seriam dedutíveis da renda tributável, gerando benefícios fiscais relevantes. Seu

trabalho foi revisado por Stiglitz (1969), que constatou a importância dos custos

das dificuldades financeiras, também chamados de custos de falência, como

limitadores do endividamento. De fato, o aumento de endividamento traria como

conseqüência elevação de riscos sob o ponto de vista dos acionistas e dos

credores, corroendo as suas vantagens fiscais. Nesse sentido, o trabalho de Altman

(1984) apresenta evidência de que os custos das dificuldades financeiras são

suficientes para tornar desvantajoso o endividamento excessivo.

Como estabelecer uma relação ideal entre as proporções de capital próprio e

de terceiros tem sido objeto de pesquisa. A esta proporção se denomina estrutura

de capital alvo. Segundo Ross et al (1995), uma empresa típica procura escolher a

relação entre o capital próprio e o de terceiros que equilibre o benefício fiscal do

uso de capital de terceiros com o custo esperado de dificuldades financeiras. A

teoria da estrutura de capital alvo afirma que o custo das dificuldades financeiras

reduz as vantagens do benefício fiscal até que se atinja um patamar de

endividamento limite.

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O benefício fiscal deriva-se do fato dos juros serem tratados como despesas

financeiras, não estando sujeitos, dessa forma, à tributação sobre a renda. A sua

dedução para empresas que apurem impostos pelo lucro real configura um

subsídio ao endividamento. O custo das dificuldades financeiras é oriundo da

elevação do risco decorrente da elevação do endividamento da empresa. Entre

outros aspectos, pode-se citar a falta de flexibilidade financeira, a renegociação de

dívidas, ou mesmo os custos de advogados contratados para obter melhores

condições de pagamento. Um exemplo disto é o caso da Enron, que gastou em

2003 um bilhão de dólares americanos com advogados para lidar com as suas

dificuldades financeiras.

Naturalmente, as informações sobre a situação financeira das empresas são

de conhecimento imediato de seus controladores. Nesse sentido, Ross et al. (1995)

afirmam que os executivos com conhecimento prévio sobre as dificuldades

financeiras de uma empresa, tenderiam a captar recursos via emissão pública de

ações. Isto poderia levar a um desconto maior no preço da oferta no caso do

mercado perceber a manobra. Com efeito, os investidores poderiam imaginar que

os controladores somente emitiram por perceber que o preço estaria elevado em

relação ao justo valor. Isto tornaria também onerosa a emissão de ações ao

público, sob o ponto de vista dos controladores.

Com efeito, Megginson (1997) aponta para o fato de importantes pesquisas

em estrutura de capital mostrarem que os preços das ações sobem quando do

anúncio de elevação no endividamento das empresas e descem quando são

oferecidas novas ações (emissões públicas). Mikkelson (1983), por sua vez,

afirma que reduções no endividamento provocam retornos negativos nas ações das

empresas.

Mikkelson e Parch (1986) estudaram uma amostra de emissões de ações

ordinárias e debêntures conversíveis, no período 1972-1982 de 360 empresas

listadas na Bolsa de New York e na American Stock Exchange. Os autores

verificaram existir relação negativa entre o valor da emissão de ações ordinárias e

debêntures conversíveis e o valor da empresa na data do anúncio da emissão. A

resposta do mercado, desvalorizando as ações seria resultado da sua percepção de

emissão de ações a preços inflados. Resultado coerente com o de Myers e Majluf

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46

(1984), que afirmaram serem negativas as reações do mercado a emissões de

ações e debêntures conversíveis.

No Brasil, Ness e Pereira (1980) não encontraram significância na relação

entre o grau de endividamento e a ocorrência de emissões públicas de ações.

Resultado similar foi obtido por Furtado (1997), ao não encontrar relação

estatisticamente significativa entre a variação da alavancagem e a alteração do

valor da empresa emissora no processo de emissão.

Sem uma explicação definitiva para o fato, continua-se a realizar pesquisas

nesta direção, já que o fenômeno observado é intrigante. No entanto, a

interpretação dada pelo mercado às emissões de ações pode significar um fator

inibidor de emissões públicas, não deixando outra alternativa de obtenção de

capital senão as emissões particulares, destinadas aos atuais acionistas.

Nesse sentido, o grau de endividamento de uma empresa pode ser um fator

determinante da decisão de emissão de ações de forma pública ou particular:

elevado endividamento traria custos de dificuldades financeiras que tornariam

necessária ou recomendável a emissão de ações. Há que se observar, entretanto,

que a relação entre endividamento e valor da empresa pode não ser linear.

Entretanto, a expectativa de desvalorização da empresa a partir da percepção dos

investidores de sobrevalorização de emissões públicas de ações, tornaria mais

interessante a emissão de forma particular.

A teoria de estrutura de capital alvo tem como concorrente a teoria da

hierarquia ou ordem de captação (pecking order).

3.2.2 A Teoria da Hierarquia ou Ordem de Captação – pecking order

Uma outra explicação para a estrutura de capital foi fornecida por Myers

(1984) e Myers e Majluf (1984). Os autores apresentaram a pecking order, ou

ordem de captação, como sendo uma hierarquia entre alternativas de obtenção de

recursos. Em primeiro lugar a empresa financiaria seus projetos com retenção de

lucros, em segundo com capital de terceiros e por último através da emissão de

ações. A razão deste comportamento estaria na assimetria de informações que

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daria aos executivos o privilégio de estabelecer sua estrutura de capital segundo

suas conveniências.

O trabalho de Asquith e Mullins (1986) chegou a conclusões coerentes com

as de Myers e Majluf (1984). Segundo os autores, a queda do valor da empresa na

data do anúncio seria positivamente relacionada ao volume da emissão pública de

ações. Este resultado sugere que o volume da emissão pode ser um importante

determinante na decisão de emitir pública ou privadamente ações: por este

raciocínio, as maiores emissões tenderiam a ser privadas.

Ao analisarem uma amostra aleatória de 360 empresas listadas nas Bolsas

de New York ou American, Mikkelson e Parch (1986) encontraram que o

financiamento externo não é um evento freqüente para muitas empresas. De fato,

44 por cento das empresas estudadas não buscaram nenhum recurso externo via

emissão de títulos (dívida ou ações) para financiamento de suas atividades. Além

disso, cerca de dois terços da amostra não ofereceram títulos ao mercado para

obtenção de caixa no período entre 1972 e 1982. Isto reforçou, de certa forma, os

argumentos da pecking order, de que as empresas só buscariam recursos externos

se não estivessem com geração interna de caixa suficiente.

Os argumentos de Myers (1984) também foram reforçados mais

recentemente por Shyam-Sunder e Myers (1999). Os autores analisaram uma

amostra de 157 empresas industriais, da base de dados Industrial Compustat, entre

1971 e 1989, tendo como dados o índice de endividamento (de longo prazo)

contábil, concluíram pela maior confiança nos modelos baseados na hierarquia de

fontes de captação (pecking order) como explicação para a estrutura de capital das

empresas. Com efeito, os testes realizados com aqueles modelos apresentaram

maior poder de explanação do que os modelos de estrutura de capital alvo.

Os trabalhos acima citados, entretanto, são refutados por Fama e French

(2003). Analisando uma amostra de empresas do NYSE, AMEX e Nasdaq para o

período entre 1973 e 2002, os autores encontraram uma significativa redução do

número de empresas não emissoras de ações. De fato, 24 por cento, em média, das

empresas da amostra entre 1973 e 1982 não realizavam emissões de ações

anualmente. Essa proporção se reduziu para 9 por cento no período compreendido

entre 1993 e 2002. Quando se trata das maiores empresas, os números são,

respectivamente, 11 por cento e 2 por cento. O percentual anual de empresas com

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emissões líquidas de ações partem de 54 por cento por anos entre 1973 e 1982, se

elevam a 62 por cento entre 1983 e 1992, atingindo 72 por cento entre 1993 e

2002. Esse crescimento, segundo os autores, foi alcançado através das empresas

menores. As empresas maiores apresentaram elevados percentuais,

respectivamente, 72, 66 e 67 por cento15. Segundo os autores, uma possível

explicação para o fracasso da pecking order seria a possibilidade de realizar

emissões com baixos custos de transação e menores problemas ligados à

assimetria de informações.

No Brasil, o trabalho de Ferreira e Brasil (1997) realizou um teste

preliminar da pecking order em uma amostra de 11 sociedades anônimas do setor

textil, entre 1987 a 1995. O resultado apontou para a coerência entre o

preconizado pela pecking order e o comportamento das empresas estudadas.

Dessa forma, essa teoria se mostrou adequada para explicar o comportamento das

empresas estudadas face à decisão de estrutura de capital.

Furtado (1997), após a revisão de literatura sobre hierarquia de captação de

recursos, afirma que os resultados de Myers e Majluf (1984) e Aquith e Mullins

(1986), entre outros, têm importância para a formulação da estratégia financeira

de empresa de capital aberto. Segundo o autor, seria racional as empresas darem

preferência ao financiamento com recursos gerados internamente, preterindo a

emissão de ações. Isso também estaria associado ao elevado custo de emissão

pública das ações. Dessa forma, surge como possível determinante da decisão de

emissão pública ou privada de ações, o custo incorrido no tipo de emissão. Os

resultados de Furtado, entretanto, não encontraram significância na relação entre a

alavancagem financeira e alterações de valor da empresa no processo de emissão.

Há outras situações em que a decisão de estrutura de capital parece estar

mais associada ao aproveitamento de boas oportunidades (altas nas bolsas de

valores, por exemplo) do que às teorias de estrutura de capital alvo ou pecking

order. É o que será apresentado a seguir.

15 Os autores incluíram em sua amostras as empresas que emitiram ações através de: emissões públicas e privadas, fusões, dívidas conversíveis, planos de compra diretas de ações, opções de compra de ações, planos de benefícios de empregados.

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3.2.3 Oportunismo – mercados em alta

A percepção, pelo público, das dificuldades enfrentadas por uma empresa,

pode levá-las a conceder descontos nos preços de emissões públicas de suas ações.

Um desconto excessivo, forçado por uma alta probabilidade de dificuldades

financeiras, aliado ao alto custo da emissão, poderia inviabilizar uma oferta

pública, deixando como última alternativa a emissão privada (particular). Em

empresas com alta concentração de controle, como no Brasil, essa poderia ser uma

opção bem adequada. Dessa forma, somente os controladores e os atuais

acionistas adquiririam a emissão, não alterando as proporções de capital. Se os

minoritários se recusassem a adquirir, a concentração poderia até aumentar. As

emissões públicas seriam, dentro desta lógica, realizadas em períodos de alta,

evitando que o oferecimento de descontos viesse a prejudicar aos atuais

acionistas, e constituindo uma capitalização mais “justa” (o desconto seria

compensado pelos preços inflados de um mercado em alta).

Os pontos de vista acima são coerentes com os do trabalho de Baker e

Wurgler (2001), que sugerem que as empresas de menor alavancagem

(endividamento) tendem a ser as que captaram recursos do mercado de capitais

quando suas cotações estavam altas (medidas pelo índice market-to-book ou

preço de mercado/valor contábil). Segundo os autores, a tendência de emitir mais

ações quando o mercado está em alta ao invés de emitir dívida, provoca efeitos

importantes na estrutura de capital das empresas. Estes efeitos dificilmente são

explicados pelas tradicionais teorias de estrutura de capital (estrutura de capital

alvo e ordem ou hierarquia de captação).

Empresas com perspectivas ruins de negócios também podem realizar

emissões. O trabalho de Loughran e Ritter (1995) concluiu que emitir ações não é

bom para os investidores, pois as empresas que assim fizeram entre 1970 e 1990

foram uma péssima opção de investimento. Considerando os resultados das

empresas que realizaram emissões públicas iniciais, o retorno médio anual foi de

apenas cinco por cento. Os retornos das que emitiram sazonadamente16 foi de sete

16 Emissão sazonada ocorre quando a empresa volta a emitir ao público após a emissão inicial.

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por cento. Comparando com empresas com a mesma capitalização de mercado

que não emitiram, pelo mesmo período, esses percentuais seriam,

respectivamente, doze por cento e quinze por cento ao ano (compostos). Uma

ressalva ao seu trabalho é o fato de não ter sido considerado o risco na

comparação entre as empresas, feita somente quanto à sua capitalização de

mercado.

Os mesmos autores, em trabalho mais recente (1997), analisando as

emissões sazonadas entre 1979 e 1989 nos mercados norte americanos, (NYSE,

AMEX e Nasdaq), encontram que novas ofertas de ações podem ser utilizadas

como previsão de mau desempenho operacional subsequente das empresas

emissoras. O desempenho é pior do que em empresas não emissoras que tenham

ativos similares, sejam da mesma indústria e operacionalmente tenha resultados

parecidos. Novamente, aqui, há que se ressalvar a questão do risco das empresas,

que não foi considerada.

A explicação para o mau desempenho reside, segundo Loughran e Ritter

(1997), no fato de algumas empresas aproveitarem janelas de oportunidade em

momentos de alta no mercado, enquanto que outras manobrariam com os

resultados com vistas à emissão. De um modo ou de outro, os resultados após as

emissões não seriam bons, trazendo retornos menores aos investidores. Os

autores apontam para uma pecking order dinâmica, onde a emissão teria

prioridade em momentos de alta do mercado de ações, ao contrário da maneira

estática concebida por Myers (1984). Em ambos os trabalhos depreende-se que a

assimetria de informações possibilita aos controladores a montagem de estratégias

que possam levar a prejuízos aos investidores. Importante ressaltar que a emissão

pública, conforme sugerido, é uma alternativa utilizada por empresas em

dificuldades ou com más perspectivas em momentos de alta nas bolsas.

O trabalho de Loughran, Ritter e Rydqvist (1994) estudou as emissões de

ações em amostra de vinte e cinco países, incluindo emergentes e desenvolvidos.

Os autores concluíram que em todos eles as companhias emissoras foram sub-

apreçadas no curto prazo. Os retornos para os investidores iniciais foram, desse

modo, elevados. A intensidade desses retornos iniciais, os autores constataram,

era influenciada por fatores como: o grau de interferência do governo, o tempo

decorrido entre a fixação do preço da oferta no processo de emissão e o grau de

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risco da empresa emissora. Na análise feita em 12 dos 25 países, encontrou-se

uma correlação positiva entre o volume de emissões e o nível de preços do

mercado de ações ajustado pela inflação. Isto vem fundamentar, de certa forma, a

decisão oportunista pela emissão pública de ações. Desse modo, surge como

potencial determinante da decisão de emissão pública de ações o nível de preços

do mercado, por exemplo, representado pelo índice IBOVESPA ajustado pela

inflação, no Brasil.

Outro trabalho que chegou a conclusões similares quanto ao oportunismo

foi o de Lerner (1994). Uma amostra de 350 emissões de empresas americanas de

capital fechado, do setor de biotecnologia, com capitalistas de risco no controle,

entre janeiro de 1978 e setembro de 1992. O autor examinou o timing da abertura

de capital e os investimentos privados. Encontrou que as empresas abrem o capital

em momentos de pico de valorização dos mercados. Os capitalistas de risco que

emitem periodicamente parecem ser eficientes na decisão de abrir o capital. A

sincronização com momentos de alta proporcionaria ganhos excepcionais aos

emissores.

Há outras explicações, porém, para os baixos resultados proporcionados

pelas companhias emissoras. Brav e Gompers (1997), divergem de Ritter (1991)

e Loughran e Ritter (1995) ao mostrar que os retornos aos investidores de

aberturas de capital em empresas sem capital de risco (venture capital) são

significativamente menores do que aqueles de empresas com capitalista de risco.

Da mesma forma, se situam abaixo dos índices comparativos (benchmarks)

quando adequadamente ponderados (os retornos têm pesos iguais). Além disso,

segundo os autores, a má performance em empresas emissoras apontada por

Loughran e Ritter (1995) também não é resultado apenas do fato de haverem

emitido ações. Ela depende do tipo da empresa e não do fato de ter emitido ações.

O mau desempenho das empresas com baixo índice valor patrimonial/de mercado

pode ter, segundo Brav e Gompers (1997), várias explicações. Em primeiro lugar,

choques inesperados podem ter atingido as pequenas empresas nos Estados

Unidos no início e meados dos anos 80. Dessa forma, seus resultados declinaram

naquele período e não se recuperaram após a recessão, conforme apontaram Fama

e French (1995).

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De fato, na investigação sobre o mau desempenho das emissões públicas

iniciais e as emissões sazonadas entre 1975 e 1992, Brav, Geczy e Gompers

(1998) encontraram que os retornos das empresas que emitem são compatíveis

com empresas similares (tamanho e relação patrimônio líquido/mercado) que não

emitem. Este fato sugere que os parâmetros dos emissores não são únicos,

podendo fazer parte de movimentos de preços mais sistemáticos. Concluem,

ainda, que emissões primárias têm desempenho pior do que as ofertas secundárias

subseqüentes. Uma explicação para esta diferença reside no fato de que as

empresas que abrem capital são as menores, com menor relação valor

contábil/mercado e que as veteranas se distribuem mais amplamente. Pequenas

empresas veteranas, entretanto, também apresentam mau desempenho após as

emissões.

Os autores concluem, da mesma forma que Fama (1998), que seus

resultados podem indicar que não se tenha chegado ainda ao modelo correto de

retornos dos investidores nas empresas. O comportamento do investidor poderia

estar afetando várias empresas simultaneamente no mercado, indicando a

necessidade de se formular uma teoria comportamental mais ampla.

Por outro lado, o modelo desenvolvido por Brav (2000) sugere que o

aumento de liquidez e eficiência informacional dos mercados públicos de capitais

os torna fontes de capital mais atraentes. Isso está coerente com o aumento do

número de aberturas de capital através de emissões públicas iniciais (IPO’s) em

fases de maior liquidez do mercado. A evidência empírica no Brasil também

corrobora este resultado (v. Leal, 1993, 2004). Aqui tem ocorrido um aumento de

emissões públicas iniciais em fases de maior liquidez. Essa liquidez pode estar

associada a um menor deságio que viabilize a emissão. A questão da assimetria de

informação parece estar relacionada a este fenômeno. Os controladores,

percebendo os preços inflados, se sentiriam mais encorajados à emissão.

Outro aspecto importante na assimetria de informações é a aparente

renúncia dos controladores aos excepcionais ganhos proporcionados pelas

diferenças entre os preços de oferta das emissões e as cotações dos primeiros

negócios em Bolsa. Isso foi objeto de investigação por Loughran e Ritter (2000).

Estudando 3025 empresas que abriram o capital nos Estados Unidos entre 1990 e

1998, os autores apuraram que os emissores deixaram “sobre a mesa” US$ 27

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bilhões17. Isto dá uma média de US$9,1 milhões por abertura de capital. Esse

valor representa mais do que o dobro das despesas com o lançamento, e cerca de

três anos de lucros acumulados das empresas emissoras.

As explicações para o fenômeno, segundo os autores, são várias: os

emissores, apesar de deixarem de realizar um lucro com a venda a preços menores

do que o do primeiro dia de mercado, sentem-se “felizes” por ver valorizadas as

suas ações remanescentes. Além disso, o desconto no preço seria uma forma de

compensação aos underwriters, que poderiam ficar com ações das emissões e

auferir lucros. Por outro lado, os emissores prefeririam deixar de ganhar a pagar

taxas mais altas aos underwriters. A assimetria de informação também neste caso

parece estar presente. Melhor do que o mercado, os controladores teriam, a priori,

condições de avaliar o potencial de seus negócios. Olhando para casos extremos,

uma empresa potencialmente muito boa e uma outra potencialmente muito ruim,

em ambas os controladores/emissores se beneficiariam. Para realizar os projetos

na empresa boa necessitariam do dinheiro dos novos acionistas, valorizando suas

ações remanescentes. No caso da empresa ruim estariam vendendo algo a preço

bem superior ao justo. Isso, de certa forma, explica a ocorrência de deságio em

emissões públicas de ações. O público (através do underwriter) perceberia a

montagem e exigiria um prêmio de retorno inicial.

O trabalho recente de Pastor-Llorca e Martín-Ugedo (2004) focou em 44

emissões públicas realizadas na Espanha entre 1989 e 1996. Os resultados

apontaram, coerentemente com os trabalhos acima relacionados, para um mau

desempenho dos papéis após a emissão, durante os três anos seguintes. Os autores

encontraram melhorias no desempenho contábil antes das emissões e declínio

após.

O mau desempenho de empresas emissoras públicas de ações está coerente

com a evidência empírica no Brasil.

No Brasil, da Costa (1990), Amaral (1990), Leal (1993 e 2004) e Charchat

(2000) estudaram as emissões primárias e a questão do deságio, constatando sua

importância na década de 80. As empresas, concluíram, tenderiam a sincronizar

suas emissões com fases de alta. Essas fases de alta, melhor percebidas pelos

17 Diferença entre o preço de emissão e o valor de fechamento no primeiro dia de negociação em Bolsa, vezes o número de ações emitido.

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contrladores, agravadas pela natureza estreita do mercado de capitais brasileiro,

surgiam como oportunidades de ganhos excepcionais.

De fato, ao analisar uma amostra no período 1981-1985 das emissões

sazonadas de ações no Brasil, Amaral (1990) concluiu que as empresas procuram

inflar o preço das ações no mercado à vista de modo que possam dar o desconto

(deságio) desejado pelo mercado para tornar a emissão atraente. Dessa forma, elas

procuram efetuar emissões em fases de alta nas bolsas. Essa composição de

planejamento com oportunismo está coerente com o aumento observado de

emissões em épocas de maior liquidez no mercado.

O trabalho de Charchat (2000) focou nas aberturas de capital realizadas, no

Brasil, após o Plano Cruzado, entre março e agosto de 1986. Foram encontradas

evidências do aproveitamento, pelas empresas emissoras, do que chamou “janela

de oportunidade” causada pelo aumento de emissões públicas naquele período. Os

resultados, porém, obtidos com a aquisição daquelas ações, não foi bom para os

investidores.

Charchat comparou os indicadores de desempenho das empresas emissoras

com os das 500 maiores empresas do Brasil, no mesmo período e eles foram

consistentemente inferiores, ano a ano entre 1986 e 1996. Além de evidenciar o

oportunismo das emissões públicas em momentos de euforia no mercado, o

trabalho mostra o seu péssimo desempenho: das 24 empresas que abriram o

capital, 10 foram vendidas ou tiveram alteração no grupo controlador e 9 pediram

concordata. Analisando as empresas sobreviventes, o autor observou que elas

tiveram um procedimento conservador, evitando endividamento e procurando

manter um elevado nível de liquidez. Em que pese o cenário desfavorável com o

retorno da inflação em 1987 e outros choques na economia, os investidores podem

ter ficado com a impressão de que emissões públicas, em especial, aberturas de

capital, não são um bom negócio.

O trabalho de Leal (2004) também sugere o oportunismo. O autor,

analisando as aberturas de capital no Brasil, entre 1979 e 1992, constatou que 57%

delas ocorreram em 1986, ano marcado pelo aquecimento do mercado de capitais

devido ao Plano Cruzado.

Estudando os lucros auferidos pelos controladores, Leal e Bocater (1992)

apontaram o fato de que investidores institucionais com acesso privilegiado

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podem auferir lucros monopolísticos, economic rents na forma de elevados

retornos iniciais. Com efeito, observam, para o período de 1980-1990, os retornos

nos primeiros dias de negócios chegam a 78,5 por cento em média no Brasil. Este

aspecto da natureza estreita do mercado brasileiro pode ser, segundo os autores,

extremamente prejudicial à eqüidade do processo de colocação dos papéis. Os

autores afirmam que o mercado brasileiro não utiliza a garantia de acesso,

valendo-se do chamado procedimento diferenciado que leva a uma redução do

número de compradores no processo de colocação pública de ações e pode

reforçar a natureza do mercado estreito. Em alguns casos, permite rentabilidade

excessiva aos investidores em detrimento da empresa emissora.

Ness e Pereira (1980), por sua vez, para uma amostra de emissões realizadas

entre 1971 e 1977, afirmaram que os emissores desejariam a pulverização maior

possível dos papéis e um preço de emissão um pouco abaixo do preço de

equilíbrio esperado no mercado secundário garantindo, dessa forma, liquidez e

prêmio aos investidores.

Pode-se observar que o problema do deságio nas emissões públicas de ações

tem sido apontado em importantes trabalhos no Brasil. Uma forma de evitar o

deságio e a perda de valor para os atuais acionistas é a emissão particular de

ações, que somente será útil para a empresa se a sua adesão for maciça. Uma

elevada concentração de propriedade explicaria esta decisão, tornando irrelevante

a participação de minoritários no processo.

Quanto às emissões públicas, torna-se importante explicar os mecanismos

de colocação de ações no mercado. Nesse sentido, Leal (1993) resumiu que o

mecanismo utilizado pelas empresas para captar recursos é a subscrição, que pode

ser privada ou pública. Em qualquer dos casos, os acionistas atuais têm

preferência para adquirir novas ações, direito assegurado por lei, desde que

previsto no estatuto da empresa.

Sob o ponto de vista das regras de emissão, Ness e Pereira (1980) e Leal e

Bocater (1992), ponderam que o leilão competitivo seria o meio mais adequado

para o estabelecimento de um preço de emissão que refletisse o preço de

equilíbrio esperado no mercado secundário através dos lances recebidos. Segundo

Leal e Bocater, a obrigatoriedade da garantia de acesso e do leilão elevaria o

número de investidores no mercado secundário dos títulos emitidos, o que

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melhoraria a liquidez e reduziria o poder dos grandes compradores institucionais.

O que se apreende desses trabalhos a possibilidade do público participar das

emissões em condições menos desfavoráveis poderá melhorar o aspecto estreito

do nosso mercado de capitais.

Os resultados acima sugerem a ocorrência de assimetria de informação,

privilegiando os acionistas controladores e executivos das empresas, em

detrimento do público investidor, em geral. Isso poderia ajudar a explicar o

movimento nas emissões particulares de ações nos últimos anos. Na falta de altas

expressivas no mercado, os executivos/controladores, conhecedores do seu

negócio, do mercado e das oportunidades de novos investimentos, estariam em

melhores condições para projetar resultados. Dessa forma, poderiam decidir emitir

privadamente para auferir “sozinhos” os benefícios esperados.

O trabalho de Eid Jr. (1996) foi desenvolvido a partir de uma amostra de

161 empresas brasileiras que responderam a um questionário enviado a um total

de 1.126. Foram questionadas sobre o tipo de decisão de estrutura de capital que

realizavam: estrutura de capital alvo, pecking order ou oportunismo. Das

empresas que responderam ao questionário, 59% eram sociedades anônimas18,

35% sociedades por cotas de responsabilidade limitada e 6% era composto por

associações, fundações e outras. As empresas estatais representavam apenas 2,5%

do total de respostas, e as micro e pequenas empresas estiveram praticamente

ausentes nas respostas19.

Os resultados apontaram para a idéia de oportunismo na captação de

recursos (47% das respostas): as empresas utilizam a fonte de financiamento

economicamente mais proveitosa sem se preocupar com a estrutura de capital (

não tomam como fixas as relações entre os componentes da estrutura de capital).

É sugerido, também, que um grande número de empresas (40% das respostas)

considera a existência de uma hierarquia de captação predeterminada da maneira

prevista pela teoria de assimetria de informações20, por motivos de sobrevivência,

independência e flexibilidade financeira. Os resultados obtidos apontam, ainda,

uma hierarquia diferente da prevista na pecking order. A pesquisa registrou a

18 Sendo 19 empresas de capital aberto e 76 de capital fechado. 19 90% tenham faturamento anual entre R$ 20 milhões e R$ 500 milhões. 20 Conforme Myers e Majluf (1984), as decisões de estrutura de capital são tomadas levando em conta o desequilíbrio de informações entre a empresa e os investidores.

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seguinte ordem: primeiro o capital de terceiros, apesar das taxas elevadas de juros,

seguido pela emissão de ações (capital próprio) e pelos lucros retidos. Essa ordem,

pondera Eid Jr., seria explicada pelos juros subsidiados de linhas de fomento

(FINAME, por exemplo), e pela baixa lucratividade das empresas no período

estudado.

Importante mencionar que, das empresas respondentes, 72,7% tinham a

direção nas mãos de executivos não ligados por laços de parentesco com as

famílias controladoras. Além disso, 95,1% dos respondentes possuíam um nível

de escolaridade de 3º grau completo ou pós graduação. Dessa forma, as respostas

vieram dos profissionais/empresas mais preparados em termos de conhecimento

da teoria e da utilização das técnicas financeiras ministradas nas escolas.

As características do mercado de capitais brasileiro, em particular,

apresentadas no capítulo 2, suscitaram, ao longo dos anos diversos trabalhos. A

rentabilidade das empresas é um importante aspecto na definição de sua estrutura

de capital.

3.2.4 A Rentabilidade das Empresas no Brasil

No ambiente recessivo que o Brasil atravessou a partir de 1994 muitas

empresas tiveram dificuldades para gerar caixa suficiente para manter suas

operações. A Tabela 6 mostra a baixa rentabilidade média das companhias abertas

brasileiras no período 1994-2002 e o grande número de empresas que arcaram

com prejuízos. Este aspecto poderia incentivar os acionistas controladores a

aportar capital via emissões particulares para evitar o colapso. O público

investidor, por sua vez, teria pouco interesse em investir em ofertas públicas de

empresas com resultados recentes e perspectivas aparentemente tão negativas.

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Tabela 6 – Retorno sobre Patrimônio Líquido (RoE) de Empresas Brasileiras

Listadas para Negociação em Bolsa de Valores, 1994-2002

Não

Financeiras RoE Instituições

Financeiras RoE Total

listado RoE

Ano Número % Número % Número %

1994 439 4,35% 67 7,35% 506 4,65%

1995 446 1,54% 67 -51,63% 513 -1,92%

1996 443 3,46% 58 -11,36% 501 1,87%

1997 451 5,77% 52 9,21% 503 6,10%

1998 505 3,87% 51 -5,69% 556 2,89%

1999 465 2,11% 45 13,63% 510 3,20%

2000 430 9,14% 41 8,52% 471 9,07%

2001 410 7,72% 42 13,91% 452 8,53%

2002 384 -1,40% 40 18,55% 424 1,52%

Média 4,06% Média 0,28% Média 3,99%

Fonte: Ness (2002)-Compilado a partir dos Demonstrativos Financeiros recebidos pela Bovespa e publicados na Gazeta Mercantil.

O período examinado também coincide com o esforço de privatizar

empresas estatais no Brasil. Foi necessário um reforço de capital anterior à

privatização para colocar uma empresa estatal saneada em situação financeira

adequada para ser privatizada. Em outros casos, como os bancos federais e alguns

estaduais, foi decidido manter o banco com controle governamental. Portanto,

para satisfazer exigências de adequação de capital, pela regulamentação bancária

brasileira e pelo Acordo de Basiléia, significativos aumentos de capital foram

necessários para sanear a instituição financeira. Como o subscritor era um

governo, não havia necessidade de registrar uma oferta pública, apesar de, em

1996, o gigantesco aumento de capital do Banco do Brasil ter sido registrado

como oferta pública. Houve, de fato, uma tentativa de venda aos acionistas

minoritários e ao público, que não absorveram a emissão.

No Brasil, o perfil contábil/financeiro das empresas emissoras de ações foi

objeto de diversos estudos. Em primeiro lugar, o trabalho seminal de Ness e

Pereira (1980), estudando ofertas públicas no Brasil entre 1971 e 1977,. testou

como variáveis explicativas para o uso do mercado primário o porte, a localização

da sede, existência ou não de incentivos fiscais, endividamento medido pela

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relação exigível total/passivo total, tipo de controle (estatal, estrangeiro),

rentabilidade média do patrimônio líquido e seu desvio padrão. Também foram

testados o crescimento do faturamento, o crescimento do ativo total e a média da

liquidez corrente.

Com relação às ofertas públicas, os autores encontraram que as empresas

com maior rentabilidade utilizaram menos o mercado primário de ações. Isso,

segundo os autores, sugere que as empresas que geraram mais recursos

internamente não necessitavam ou desejavam recorrer às emissões de ações para

obter capital. As empresas que mais se utilizaram do mecanismo eram as de

taxas de crescimento de faturamento inferiores. Um elevado desvio padrão na

rentabilidade também estaria relacionado a um maior número de emissões

públicas. Esses resultados contrariaram as expectativas iniciais dos autores.

Ness e Pereira concluíram que a ineficiência do mercado poderia explicar a

alta percentagem das empresas que realizaram emissões públicas sem apresentar

características econômico financeiras atraentes para o investidor. Os autores

sugerem, em sua conclusão, que o porte, a imagem e o conceito das empresas na

sociedade eram os fatores mais importantes para a obtenção de recursos no

mercado primário, quer via ofertas públicas, quer via subscrições. Apreende-se

desse trabalho que a imagem das empresas emissoras estaria mais associada ao

seu tamanho e reputação pública do que aos indicadores financeiros e contábeis

normalmente utilizados. Essa seria uma forte evidência da ineficiência de mercado

existente àquele tempo no Brasil, e que talvez ainda exista.

O trabalho de Da Costa (1990), por sua vez, testou variáveis contábeis e

financeiras em uma amostra de empresas que realizaram emissões públicas de

ações no Brasil entre 1981 e 1985. As empresas mais lucrativas, com maiores

despesas financeiras e aquelas com captação para financiamento de projetos,

apresentavam menor deságio, constituindo uma aplicação pior para os primeiros

investidores em Bolsa, se seu interesse fosse especular no curto prazo. No entanto,

olhando-se para o longo prazo, poderia ser uma boa oportunidade investir em

empresas com bons projetos. Dessa forma, realizar emissões públicas para esse

tipo de empresa seria o mais adequado.

Leal (2004) afirma que empresas com melhor histórico de retornos sobre o

patrimônio ou sobre o ativo total, tendem a representar um risco menor,

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possibilitando menores retornos iniciais após a emissão, o que equivale dizer que

há um menor deságio no valor da ação. Pode-se inferir do raciocínio proposto por

Leal, que essas empresas teriam menor propensão à emissão particular, já que a

emissão pública não acarretaria diluição a preços aviltantes da participação dos

acionistas originais.

Na Europa, o padrão no geral, e italiano, no particular, segundo Pagano,

Panetta e Zingales (1998) aponta para aberturas de capital ligadas à reorganização

das contas das empresas (quitação ou reestruturação de dívidas, por exemplo) e

não para financiar o crescimento.

Esse resultado está coerente com os de Rydqvist e Högholm (1995) para a

Suécia em uma amostra de empresas que abriram o capital entre 1970 e 1991.

Coerentemente, Subrahmanyam e Titman (1999), através de seu modelo teórico,

concluíram que as empresas em expansão e a incerteza quanto à demanda futura

podem tornar o financiamento público mais atraente. Empresas com elevada

volatilidade nos resultados passados e uma expectativa de crescimento

constituiriam atraente fonte de investimentos.

Para financiar seu crescimento as empresas necessitam de recursos que

podem ser lucros reinvestidos, financiamento externo via emissão de ações ou de

dívida. Dessa forma, a motivação dos emissores deve ter sofrido importante

influência dos resultados obtidos pelas empresas nos períodos que antecederam as

emissões.

A decisão entre financiamento público ou privado por ações e o

desenvolvimento dos mercados de capitais nos países emergentes foram estudados

por Subrahmanyam e Titman (1999). As fontes de informação foram classificadas

pelos autores em casuais e custosas21. Quanto à decisão de financiamento, os

autores concluíram que ele deve ser público quando a informação casual é mais

importante ou freqüente, enquanto que deverá ser privado se a obtenção de

informações for custosa. O benefício da abertura de capital depende e está

diretamente relacionado com o tamanho do mercado de capitais. Quando as ações

se tornam mais acessíveis ao público e ocorre o aumento do mercado, a base de

investidores pode criar um ciclo virtuoso, estimulando mais empresas a abrir o

21Casuais não são resultado de pesquisa, surgindo por acaso. Custosas são obtidas através de analistas ou pesquisadores que demandam recursos para suas pesquisas.

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capital, encorajando mais investidores em potencial a comprarem ações. A

natureza estreita de um mercado, por outro lado, pode ser um desestímulo para a

abertura de capital das empresas, provocando um ciclo vicioso oposto.

Além disso, as emissões particulares também podem ter sido motivadas pelo

elevado endividamento das empresas. Baixos resultados, choques econômicos,

volatilidade cambial podem ter tido seu impacto nas empresas, que , esgotada sua

capacidade de endividamento, não tiveram outra alternativa a não ser a emissão de

ações. Em que pese a situação de dificuldades financeiras, talvez a única forma de

captação tenha sido a emissão particular de ações. Esta hipótese será formalmente

apresentada no próximo capítulo e testada adiante.

O importante conceito de eficiência de mercado, apresentado a seguir, foi

estudado direta ou indiretamente no mercado brasileiro, especialmente no que diz

respeito à concentração de propriedade e às conseqüências da assimetria de

informações.

3.3 Eficiência de Mercado

A Hipótese dos Mercados Eficientes foi desenvolvida por Eugene Fama

(1970). Segundo ela, os preços dos ativos financeiros refletem todas as

informações disponíveis relevantes. Isso compreenderia as informações passadas e

as atuais, incorporando-as às expectativas de preços futuros. Resumidamente,

haveria três formas de eficiência: fraca, semi-forte e forte.

Na forma fraca, os preços atuais dos ativos incorporariam todas as

informações históricas. Não haveria correlação entre preços no passado e no

presente, e esses se comportariam como se trilhando um caminho aleatório

(random walk).

Na forma semi-forte, os preços refletiriam todas as informações públicas

disponíveis. Desse modo, estariam incluídas todas as informações passadas, atuais

e expectativas futuras. Os preços se alterariam instantaneamente a partir de

qualquer mudança de expectativa.

Na forma forte, os preços refletiriam todas as informações públicas e

privadas disponíveis.

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A qualidade e a velocidade de circulação das informações e o acesso a essas

constituem o cerne da eficiência de mercado. Mercados mais capitalizados, com

mais investidores em busca de informações, tendem a ser mais eficientes.

Para se testar a eficiência de mercado, Fama (1991) estabeleceu quatro tipos

de testes, a saber: testes de previsibilidade de retornos; testes de ajuste de preços;

testes para informações privadas, e testes para avaliação fundamentalista.

Furtado (1997) estudou 76 emissões públicas sazonadas de ações realizadas

por 41 empresas, no Brasil, entre 1988 e 1996. Constatou que houve queda de

preços das ações após o anúncio da emissão. Entretanto, ao contrário dos

mercados mais desenvolvidos, a queda não foi instantânea, ocorrendo, aqui, em

média, ao longo de doze dias após o anúncio. Furtado afirma que isso demonstra a

pouca eficiência de mercado, no Brasil, com relação à emissão pública de ações.

A eficiência de mercado assume relevância neste trabalho pela natureza

assimétrica das informações no mercado de capitais brasileiro: os controladores

das empresas têm informações que o mercado não possui e podem, a partir delas,

desenvolver estratégias ligadas à emissão de ações de modo a maximizar sua

própria riqueza. Esse procedimento poderia acarretar prejuízos aos minoritários,

adquirentes de emissões públicas ou privadas, variando as conseqüências

conforme o tipo de emissão.

Dessa forma, torna-se importante estudar a concentração de propriedade, as

práticas de governança corporativa, e características relevantes do mercado de

capitais brasileiro, tais como: liquidez, volume, número de empresas listadas,

nível de atividade e concentração de negócios.

3.3.1 Concentração de Propriedade: Evidência Nacional e Internacional

Quando os interesses dos controladores são colocados acima dos da empresa

e, conseqüentemente, dos acionistas minoritários, ocorre o chamado custo do

agente22, que pode ser um importante fator na decisão de capitalização via

22 O custo do agente é aquele incorrido pelo desvio de conduta dos executivos ao maximizar valor para si ao invés de o fazer para os proprietários da empresa. Trata-se de um conflito de interesses entre agentes e os principais (controladores).

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emissão de ações. De fato, a forma de emissão de ações pode estar a serviço de

uma estratégia maximização de valor para os controladores e expropriação dos

minoritários. A emissão pública a preços inflados em momentos de euforia é um

exemplo disso: os adquirentes das novas ações estão pagando acima do justo, fato

este de conhecimento dos controladores.

Lidar com essas dificuldades é um desafio para as autoridades reguladoras

do mercado de capitais no Brasil. Conforme Valadares e Leal (2000), são

necessários mecanismos que assegurem que os controladores ajam no interesse

dos investidores na empresa. Estes mecanismos, no entanto, são diferentes para

empresas de propriedade concentrada ou difusa. No primeiro caso, o tipo de

conflito de interesses se dá pela tendência do controlador/proprietário majoritário

reduzir os fluxos aos minoritários. Na segunda, o conflito se estabelece entre os

proprietários (detentores do controle acionário) e os executivos (que podem até ser

acionistas minoritários), mas que poderão agir no sentido dos próprios interesses.

No Brasil, a concentração de propriedade tende a inibir a capitalização via

emissão pública de ações. Os elevados custos da emissão pública assim como o

provável pouco interesse em diluir o capital explicariam este fato23. Aspectos

culturais envolvem a questão da diluição do capital. Além disso, os investidores

podem não estar interessados em adquirir ações. Esses podem ser importantes

fatores explicativos da ocorrência das emissões particulares, destinadas aos atuais

acionistas e não ao público em geral.

As relações entre controladores e minoritários podem significar fator

expressivo na capitalização das empresas via emissão de ações. Para melhor

compreensão da redução do número de empresas abertas apresentado na Tabela 4,

procura-se elucidar a questão do controle das empresas de capital aberto no país,

cuja evidência foi apresentada por Valadares e Leal (2000), Leal, Da Silva e

Valadares (2000) e Da Silva (2002).

O primeiro trabalho estuda a estrutura de propriedade de 325 empresas

brasileiras listadas na Bovespa em 1996, e encontra um alto grau de concentração.

O acionista majoritário concentra em média 41% do capital total, enquanto que os

cinco maiores acionistas concentram 61%. No que diz respeito às ações com

23 No decorrer da seção isso ficará claro.

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direito a voto, 62,5% das empresas possuem um acionista com mais de 50% das

ações ordinárias. Apenas 11% das empresas não possuem ações sem direito a voto

e as empresas têm, em média, apenas 54% do capital total com direito a voto24.

Os autores constatam também que há uma maior participação, no controle, de

companhias e investidores institucionais menores, o que coloca o Brasil em um

perfil mais próximo ao de países como Alemanha, França e Itália, do que Estados

Unidos e Inglaterra. O trabalho de Leal e Valadares (2002) encontrou o mesmo

resultado para 1998.

No Brasil, ponderam, a mudança de controle ocorre por meio de disputas

entre blocos. Grupos de investidores adquirem blocos de ações de outros grupos e,

dessa forma, o controle da empresa. Por sua vez, a falta de proteção aos acionistas

minoritários eleva o valor do controle com uma grande concentração de

propriedade. Uma conseqüência possível, segundo Valadares e Leal (2000), seria

um mercado de ações menos desenvolvido. Com efeito, conforme a Tabela 3, o

valor de mercado das ações no Brasil em relação ao Produto Interno Bruto era, em

2002 de 28,3%. Enquanto isso, nos Estados Unidos era de 105,8% e no Reino

Unido de 114,6%. Na Itália, onde a proteção aos minoritários é menor que nos

dois últimos, a proporção no mesmo ano era de 40,2%.

Leal, da Silva e Valadares (2000) analisaram, uma amostra de 225 empresas

não controladas pelo governo listadas na Bovespa entre 1996 e 1998, que

representam cerca de 70% da sua capitalização total incluindo as controladas pelo

governo e mais de 90% excluindo-as. Os resultados apontam para uma

concentração de 73% das ações com direito a voto nas mãos dos cinco principais

acionistas. Estes detêm 49% do capital total. O maior acionista controla 48%, em

média, das ações com direito a voto e 33% do capital total.

Esses resultados estão coerentes com os encontrados por Valadares e Leal

(2000), para o ano de 1996, em uma amostra com 325 empresas de capital aberto

no Brasil. Com efeito, considerando as companhias com um investidor

majoritário, este possui 74% das ações com direito a voto, 51% do capital total e

24 Isso evidencia que os controladores no Brasil não se valeram do direito de controlar as empresas com cerca de 1/6 do capital total (metade mais uma ação de capital votante que podia ser 1/3 do capital total.

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22% do capital não votante. Considerando a amostra inteira, os cinco maiores

investidores possuem 82% do capital votante e 61% do capital total.

O trabalho de Da Silva (2002), deu continuidade aos acima citados,

estudando uma amostra de 225 empresas de capital aberto no Brasil para o ano de

2000. Nas companhias com investidor majoritário, ele concentra em média 69%

do capital votante e 40% do capital total. Considerando a amostra inteira, os três

maiores acionistas possuem 81% do capital com direito a voto e 50% do capital

total. A Tabela 7 resume os seus resultados:

Tabela 7– Médias de Concentração de Propriedade no Brasil em 2000 –

Amostra de 225 companhias listadas na Bovespa.

Companhias com um acionista majoritário

(203)

Companhias sem acionista majoritário (22)

Total da amostra (225)

Acionista Capital Votante

Capital Total

Capital Votante

Capital Total Capital Votante

Capital Total

Maior Acionista

69% 40% 40% 24% 66% 38%

3 maiores acionistas

83% 51% 61% 39% 81% 50%

Fonte: Da Silva (2002)

Com tanta concentração, isto já em si inibiria a ocorrência de ofertas

públicas. De fato, Da Silva (2002) em suas conclusões aponta para a evidência

estatística de que a alta concentração está associada a elevados níveis de

alavancagem financeira. Ora, o elevado endividamento pode ser um fator inibidor

de emissões públicas de ações, pelo risco das dificuldades financeiras, o que seria

um fator de desestímulo aos investidores. Com as emissões particulares isso não

ocorreria, pois os atuais acionistas teriam interesses na empresa e poderiam,

portanto, aportar capital para reduzir o endividamento.

Com efeito, os controladores não incorreriam nos custos elevados de uma

emissão pública apenas para colocar as sobras para o mercado. Estas poderiam ser

adquiridas pelos próprios controladores. Há que se notar, ainda, que os

minoritários quase não possuem direito a voto, concentrando-se nas ações

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preferenciais. Dessa forma, não têm instrumento de pressão sobre os executivos

de modo a evitar a expropriação.

O trabalho de Siffert (1998) apresenta um quadro com a concentração de

propriedade na Alemanha, Japão e Estados Unidos. A Tabela 8 resume seus

resultados.

Tabela 8 – Concentração de Propriedade na Alemanha, no Japão e Estados

Unidos

Percentual do capital votante controlado pelo maior acionista

Alemanha – 550

maiores cias.

abertas e fechadas

(1994)

Japão- 1.321

cias. listadas nas

Bolsas de Tóquio,

Osaka e Nagoya

(1995)

Estados Unidos –todas as

cias. americanas

listadas na S&P500,

S&P MidCap400 e

S&P SmallCap600

(1994)

0<x<10 3,2 61,1 66,0

10<x<25 6,9 21,3 17,4

25<x<50 16,7 12,9 13,0

50<x<75 31,9 4,7 2,1

75<x<100 41,3 - 1,5

Fonte: Siffert (1998) e Dietl (1998)

Pode-se observar que, enquanto na Alemanha, 73,2 por cento das 550

maiores empresas têm mais de 50 por cento do capital nas mãos do maior

acionista, no Japão e nos Estados Unidos os números são, respectivamente, 4,7 e

3,6 por cento. Há que se notar que a capitalização de mercado, como percentual

do PIB, no ano de 1995, para a Alemanha, Japão e Estados Unidos era,

respectivamente, 23,5%, 67,0% e 93,5%, conforme apresentado na Tabela 3. Os

números sugerem que a elevada concentração de propriedade não constitui um

incentivo à capitalização de mercado.

A baixa capitalização de mercado pode ser um fator inibidor de emissões

públicas de ações. De fato, a oferta pública de ações em um mercado pouco

capitalizado pode ter maiores dificuldades de obter compradores, levando a

procedimentos como o oferecimento de um maior deságio.

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Na literatura internacional, Zingales (1995) estudou a propriedade e a

decisão de abrir capital sob o ponto de vista de um proprietário que deseja

maximizar o valor para si através da venda de sua empresa. Através da abertura de

capital, o empreendedor poderia alterar a proporção entre direitos de controle e de

fluxos de caixa, de modo a negociar o controle com um potencial comprador. O

modelo desenvolvido prevê que vendas diretas em bloco são melhores quando o

comprador potencial de uma empresa deve reduzir seus fluxos de caixa esperados.

Dessa forma, manter parcela da empresa em suas mãos não maximizará o valor

para o empreendedor.

Por outro lado, segundo o modelo de Zingales (1995), se há a expectativa do

comprador potencial elevar os fluxos de caixa da empresa, o empreendedor

poderá abrir o capital para extrair do mercado o ganho do aumento esperado, sem

ter que barganhar com o comprador. O controle seria negociado com o comprador

em uma segunda fase. Os aspectos de necessidade de capital para investimento e

diversificação de risco são menos relevantes do que o de desinvestimento, foco do

estudo. O ponto de vista do modelo é a maximização do valor para o

empreendedor, o que nem sempre vem ao encontro aos interesses da sociedade.

Este é um ponto de conflito potencial entre empreendedores, minoritários e a

sociedade25 em geral.

Os resultados acima são coerentes com os encontrados por Pagano, Panetta

e Zingales (1998), para o mercado italiano. O estudo aponta para uma alta taxa de

mudança de controle acionário após aberturas de capital, mesmo quando o grupo

controlador retém elevadas parcelas do capital após a abertura. Isto sugere que a

emissão teria como objetivo a valorização do controle face um potencial

comprador.

Gomes (2000) propõe um modelo voltado para o comportamento dos

controladores após a abertura de capital em mercados com pouca proteção aos

minoritários (como o brasileiro, por exemplo). Gomes mostra que, mesmo sem a

proteção de mecanismos legais aos pequenos investidores, os controladores

podem desenvolver estratégias que não busquem valor através da expropriação

dos demais acionistas. Essas estratégias, demonstra o trabalho, causam um “efeito

25 O mercado, a economia, o público em geral.

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reputação26” que leva a uma substancial valorização das ações, reduz as

ineficiências relativas aos conflitos de interesses entre controladores e

minoritários e facilitam as emissões primárias e secundárias de ações. Dessa

forma, o controlador agirá de forma estratégica, evitando apropriar-se de

benefícios privados, de modo a poder vender ações a preços mais elevados. Sendo

assim, a venda de sua participação na empresa ao longo do tempo lhe permitirá

auferir lucros da valorização das ações que não existiriam se a expropriação fosse

praticada (e imediatamente revelada) ao mercado.

No modelo proposto, Gomes (2000) aponta como razão para ida ao mercado

a diversificação de riscos, ao contrário do apontado acima por Zingales (1995),

que afirmou ser a motivação a extração de valor dos potenciais compradores. Para

Gomes, a sinalização ao mercado seria multiperiódica, através da construção de

uma reputação a longo prazo. O trabalho de Rydqvist e Hogholm (1995),

abordando uma amostra das empresas que emitiram ações na Suécia entre 1970 e

1991, encontrou evidências que são coerentes com o modelo proposto por Gomes.

Dois anos antes de abrir o capital, a concentração média de propriedade de ações

em mãos dos controladores era de 90 por cento. Logo após a abertura de capital

inicial, esta concentração foi reduzida a 57 por cento e cinco anos após, para 36

por cento.

Segundo Bianchi e Casavolta (1995), citados por Valadares e Leal (2000)

na Itália, dentre as 500 maiores empresas não financeiras, 95% têm um acionista

individual detendo mais de 50% do capital total. Tal concentração de propriedade

deve trazer algum benefício ao controlador, que pode estar associado à

expropriação dos minoritários, pouco protegidos por uma legislação precária.

Com efeito, Leal, da Silva e Valadares (2000) encontram alguma evidência

de relação entre as estruturas de propriedade e controle e avaliação da companhia.

O valor é maior quanto menor for a concentração de propriedade e controle. Isto

contraria o trabalho citado de Jensen e Meckling (1976), que considerou a

concentração de controle vantajosa para a avaliação da empresa. Segundo Jensen

e Meckling (1976), os grandes investidores seriam melhores no monitoramento

26A boa reputação desenvolvida pelos controladores, ao não expropriar os minoritários e ao realizar esforços gerenciais maiores, provoca uma expectativa positiva no mercado, elevando os preços da ações das empresas a despeito da falta de proteção oficial.

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dos gerentes. Naturalmente, ações dos controladores que firam os interesses da

empresa acabam por penalizar a eles próprios, através dos fluxos auferidos por

suas participações. Este seria um fator inibidor de procedimentos prejudiciais aos

acionistas em geral.

Importante se faz ressaltar a questão da separação entre controle e

propriedade. Onde os investidores são executivos, não há separação entre controle

e propriedade.

Cabe aqui um comentário sobre o trabalho de Claessens et al (1999), que

estudou a expropriação de minoritários no leste asiático. Utilizando um grande

banco de dados de companhias de capital aberto em nove países daquela região,

os autores encontraram uma relação positiva entre expropriação e separação dos

direitos de fluxos de caixa (propriedade) e controle.

O trabalho aponta como possíveis conflitos de interesse entre controladores

e minoritários: baixos dividendos (gerando altas taxas de reinvestimento e

enriquecendo os controladores), transferência de lucros para empresas mantidas

pelos controladores e expropriação explícita, através da busca de objetivos

empresariais divorciados da maximização de valor para os acionistas. Os

resultados mostram uma perda de valor associada à maior concentração de

controle, consistentemente com os trabalhos de Shleifer e Vishny (1997) e Mork

et al (1988). Entretanto, contraditoriamente, reconhecem, assim como Jensen e

Meckling (1976), que a concentração da propriedade de direitos de fluxos de

caixa afetam positivamente o valor de mercado da empresa. Segundo os autores, a

separação entre propriedade e controle nas empresas financeiras no Japão também

foi associada à sua má avaliação pelo mercado. Os resultados de expropriação

foram mais expressivos nas amostras da Indonésia, Filipinas e Tailândia.

Esta seção abordou a concentração de propriedade e os conflitos de

interesses entre controladores e minoritários. Diversos trabalhos foram revistos e

apontaram, em sua maioria, para a má avaliação de empresas com controle

concentrado. Surge, desse modo, como potencial determinante da decisão de

emitir ações pública ou privadamente, a concentração de propriedade nas

empresas emissoras. Este se constitui em um indício de que, no Brasil, tais

empresas tenderiam a realizar emissões particulares de ações ao invés de emissões

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públicas devido à alta concentração de propriedade existente. Esta hipótese será

formalmente apresentada no próximo capítulo e testada adiante.

Um aspecto a ser estudado, que pode ser um fator complementar à

concentração de propriedades, é o papel dos underwriters. Esses intermediários,

dependendo de seu número e perfil, podem desempenhar um importante papel no

acesso e na formação de preço das emissões públicas.

3.3.2 O Papel dos underwriters e o Custo das Emissões Públicas no Brasil

A análise do perfil das empresas emissoras é feita pelos grandes

intermediários no lançamento das emissões ao mercado, os chamados

underwriters. Ocorre que, no Brasil, há uma concentração de emissões em poucos

intermediários financeiros.

Com efeito, conforme Ness (2000), em 1999, no Brasil, os oito maiores

bancos intermediários concentraram oitenta por cento do valor total das emissões

de ações, debêntures simples, debêntures conversíveis e commercial papers.

Cinco desses bancos, incluindo os três primeiros, eram de capital nacional. A

existência de tal concentração eleva muito o poder de negociação dos

intermediários em detrimento do das empresas emissoras, o que pode levar a

descontos (deságios) elevados, mesmo em casos de empresas com bom perfil de

risco.

Essa situação pode ficar particularmente mais acentuada no caso de

empresas com pouco acesso ao crédito, em dificuldades financeiras, que teriam no

mercado primário a última oportunidade de levantar capital. Há que se ressaltar

que os grandes underwriters também são as grandes fontes de crédito, já que são

bancos sólidos com grande patrimônio e carteira de clientes. Não há, na prática,

no Brasil, separação entre os underwriters e os bancos comerciais. A emissão

particular, nesses casos, poderia ser uma solução, já que evitaria o underwriter.

A questão do custo financeiro é abordada por Leal (2000) como um dos

fatores que inibem a abertura de capital, junto com a falta de proteção ao

minoritário e o processo de underwriting. Ele foca nos três fatores acima, mas

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pondera que também contam os custos de disclosure, ou de dar informações ao

mercado, e de manter a empresa aberta.

A crescente tendência para empresas utilizar a emissão particular via a

oferta de direitos de subscrição aos seus acionistas pode estar ligada à relação

entre os custos de ofertas públicas comparadas com subscrições particulares, e

entre o custo de oportunidade do capital próprio dos acionistas, o custo dos

financiamentos externos e a acessibilidade de financiamentos pelas empresas.

Três são os tipos de custos envolvidos numa oferta pública que não ocorrem

para a emissão particular: custo de registro com a CVM, comissões de

underwriting, e o deságio no preço de subscrição. O processo de registro envolve

o pagamento de taxas à CVM conforme o Quadro 1, abaixo e as comissões de

underwriting (coordenação, garantia e colocação) que somadas, normalmente

variam entre 2% e 10% do valor da emissão27. Em operações stand-by onde

acionistas existentes tem o direito preferencial de subscrição, os custos em relação

ao lote efetivamente vendido pelo pool às vezes são significativamente maiores do

que as percentagens citadas acima em que as comissões de coordenação e garantia

são montantes fixos ou relacionados a um valor maior do que as ações

efetivamente colocadas. A oferta pública adicionalmente envolve custos de

divulgação e marketing da operação.

Quadro 1 – Custos de registro de emissões junto à CVM

Tipo de Operação Alíquota

Registro de emissão de ações para emissão pública 0,30%

Registro de emissão de bônus de subscrição para emissão pública 0,16%

Obs: Os valores estão limitados a 100.000 Ufir por registro (R$ 82.870,00)28

Fonte: CVM

Com relação à emissão pública de ações, Casagrande et ali.(2000)

apresentam os custos, classificando-os em quatro grupos:

27 Para emissões públicas menores há uma perda de escala, já que os underwriters têm um patamar mínimo de remuneração dos seus serviços Emissões públicas menores teriam um custo relativo mais elevado, portanto. 28 A UFIR ficou extinta a partir de 27/10/2000 (arts. 29, § 3º, e 37 da MP nº 2.095-70/2000). A UFIR utilizada pela CVM é a de janeiro de 1996

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a) Custos legais e institucionais, ligados ao cumprimento de exigências

legais, tais como taxas, serviços e outros.

b) Custos de publicação e marketing do prospecto de lançamento e

divulgação da operação junto aos atuais acionistas.

c) Custos de intermediação financeira, que remunerarão a coordenação da

distribuição e as garantias de colocação.

d) Custos internos, relativos à alocação de pessoal da empresa para

acompanhar o processo de emissão.

Segundo Leal, (1993), a mediana do custo de underwriting era de 8,12% da

emissão, para a amostra de todas as aberturas de capital por ofertas públicas no

Brasil entre 1979 e 1992. Com efeito, um levantamento dos custos de

intermediação financeira das emissões públicas de ações, no Brasil, para os anos

de 2000 a 2002 é apresentado na Tabela 9, abaixo. Nota-se que subscrições

públicas de empresas ligadas a grupos financeiros incorrem em custos bem mais

baixos do que as demais. A oferta de garantias de colocação tende a onerar os

custos de intermediação do underwriter, o que pode ser um desestímulo à emissão

pública de ações.

Rocca (2001) aponta que, no Brasil, os custos de underwriting ficam entre

3% e 4% para emissões de maior porte e chegam a 10% para emissões menores.

Isso sugere que emissões muito pequenas possam tender a ser do tipo privado. O

que se nota, a partir da Tabela 9, é que essa comissão apresenta, nos últimos anos,

patamares reduzidos, em relação aos da referida pesquisa. Entretanto, os custos

apresentados ainda são elevados em relação aos capitais obtidos.

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Tabela 9 – O custo das emissões públicas de ações no período 2000 a 2002

Empresa data emis. púb bruta custos % valor líquido

2002

NET 07/08/02 597.495.760 6.852.870 1,15% 590.642.890

Epilife 11/10/02 6.345.700 64.000 1,01% 6.281.700

Marcopolo 26/09/02 95.454.547 2.390.643 2,50% 93.063.904

CCR 15/01/02 656.491.400 24.784.200 3,78% 631.707.200

Total 1.355.787.407 34.091.713 2,51% 1.321.695.694

2.001

Petrobahia 17/03/01 6.999.000 21.097 0,30% 6.977.903

Mehir

Holdings 29/03/01 2.100.000 166.800 7,94% 1.933.200

Nova

Marlim 14/11/01 128.700.000 386.100 0,30% 128.313.900

Bradesco 02/03/01 400.500.000 782.870 0,2% 399.717.130

Bradespar 15/02/01 414.997.507 1.182.870 0,29% 413.814.637

Faz R Boi

Gordo 20/08/01 315.000.000 25.282.870 8,03% 289.717.130

Total 1.268.296.507 27.822.607 2,19% 1.240.473.900

2.000

Bradesco 09/02/00 465.500.000 742.870 0,16% 464.757.130

Duratex 19/10/00 190.800.000 4.852.870 2,54% 185.947.130

Klabin 30/11/00 278.144.960 5.145.108 1,85% 272.999.852

Idéias Net 9/05/00 33.000.000 1.749.000 5,30% 31.251.000

DTC 13/04/00 2.900.000 30.450 1,05% 2.869550

Duratex 20/08/00 4.852.870 82.870 1,71% 4.800.000

Total 975.197.830 12.603.168 1,29% 962.594.662

Fonte: CVM –Levantado pelo autor- prospectos de distribuição públicas de

ações.

O deságio, ou seja, a diferença entre o preço da oferta pública e o preço

subseqüente em bolsa de valores, representa um custo aos acionistas antigos no

caso de novos investidores conseguirem investir a preços menores do que os de

mercado. Esse deságio, entretanto, pode ser necessário para vender o grande lote

de ações que constitui a oferta pública ou pode representar um benefício excessivo

para o investidor na oferta pública.

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Ness e Pereira (1980) mediram o retorno médio em excesso do investidor,

em aberturas de capital na década 70, em mais de 100%, e Leal (1993), em mais

que 50% na década 80. Isso está coerente com os resultados de Leal (2004), que

apontam para um retorno médio de 74% (mediana de 31,6%) no primeiro dia de

negócios, na sua amostra de aberturas de capital entre 1979 e 1992. Entende-se

por retorno médio em excesso do investidor, o retorno dado pelo preço de

subscrição e pelo preço médio do primeiro dia de negociação ou pregão de bolsa,

ajustado pelo movimento do indicador entre estas datas.

Além disso, segundo Leal (2004), um investidor que houvesse adquirido

ações de todos as aberturas de capital ao preço de fechamento do primeiro dia de

negociação, teria, após exatos três anos, apenas 31% da rentabilidade auferida

com o investimento no IBOVESPA. Realmente, os números sugerem que investir

em aberturas de capital naquele período (1979-1992), no Brasil, e manter o

investimento no longo prazo, não foi um bom negócio.

Todos os custos citados acima são evitados pela emissão particular. Não há

underwriter nem registro de emissão na CVM. Além disso, como os próprios

acionistas subscreveriam a emissão ao preço com deságio, apenas acionistas

existentes que não exercessem seu direito de subscrição efetivamente teriam sua

participação na empresa diluída pelo deságio no preço. Este pode ser um fator

importante na tomada de decisão pelas emissões particulares de ações.

3.3.3 Porte das empresas emissoras

A questão da influência do porte na emissão de ações é controversa. No

Brasil, Ness e Pereira (1980), estudando ofertas públicas entre 1971 e 1977,

concluíram que as empresas de maior porte, medido pelo patrimônio líquido,

utilizavam menos as subscrições como fonte de financiamento. Uma possível

explicação seria o fato de que empresas maiores realizariam emissões mais

vultosas, sendo forçadas a um deságio maior. Além disso, o mercado nacional

pode ser insuficiente para atender à demanda por capital das maiores empresas.

Essas, por sua vez, poderiam ter maior regularidade na geração interna de

recursos, necessitando menos de recursos externos.

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Por outro lado, Leal (1992) concluiu que as emissões primárias brasileiras

com altos retornos iniciais tendem a estar associadas àquelas de pequeno porte, de

empresas com alta alavancagem e performance passada fraca. Neste caso, porém,

mais do que o porte, o que parece influenciar é o elevado endividamento e a baixa

rentabilidade, levando o investidor a exigir deságio maior.

Furtado (1997), no entanto, afirma que o volume da emissão é apresenta

relação negativa com a variação de valor da empresa na data do anúncio,

resultado, segundo ele, “conhecido na comunidade de investimentos”29. Dessa

forma, maiores emissões provocariam, quando anunciadas ao público, maiores

perdas de valor de mercado da empresa. No que diz respeito ao porte da empresa

emissora, medido pelo seu valor de mercado, entretanto, Furtado constatou que as

empresas de maior porte perdiam menos valor do que as menores. Uma possível

explicação, concluiu, seria a redução da assimetria de informações nas empresas

maiores. Por despertar maior atenção do mercado, suas informações seriam

melhor disseminadas no mercado e mais instituições participando da emissão.

Dessa forma, o impacto da emissão seria menos negativo do que o de uma

empresa de menor porte. Esse resultado era o esperado por Ness e Pereira (1980)

que, entretanto, não se confirmou.

Brav e Gompers (1997), por sua vez, relacionam a assimetria de

informações e o volume das emissões. Para emissões menores, mais direcionadas

a investidores individuais, a busca por informações é menos expressiva do que

aquela patrocinada por investidores institucionais, mais interessados nas emissões

mais volumosas. Nesse sentido, a assimetria estaria mais presente nas empresas

menores, já que para um investidor institucional não seria viável investir muito em

obtenção de informação sobre elas. Neste universo de pequenos investidores, a

possibilidade de um comportamento não racional torna-se maior, o que é

explicado por Black (1986), em seu estudo sobre anomalias financeiras. O

pequeno investidor compraria ações de empresas com baixa relação valor

patrimonial/de mercado como se fossem bilhetes de loteria, um comportamento

pouco racional.

29 Furtado (1997) p. 33.

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Nesse sentido, os resultados de Cronqvist e Nilsson (2001) apontam que

empresas menores, com algum projeto especulativo, em dificuldades financeiras,

preferem realizar emissões públicas com garantia através de um underwriter

independente. O desinteresse dos controladores em participar da garantia através

da aquisição de sobras seria explicado pelo fato do underwriter não representar

um perigo ao seu controle, já que estes intermediários não costumam ficar por

muito tempo com as eventuais sobras que lhe couberem. Sendo assim, os

controladores não veriam nos intermediários uma ameaça à sua posição

dominante. O perigo existiria apenas se houvesse um grande comprador disposto a

permanecer com o bloco adquirido.

Quanto à idade das empresas, o que pode estar relacionado ao porte,

Pagano, Panetta e Zingales (1998), estudando as aberturas de capital na Itália

encontram padrões de similaridade entre mercados de capitais dos países da

Europa Continental, ao contrário dos países anglo-saxões. As empresas que abrem

capital na Itália são mais antigas do que as norte-americanas. Com efeito, nos

Estados Unidos, muitas empresas recém abertas se tornam públicas abrindo o

capital e crescem aceleradamente, conforme apontam Mikkelson et al. (1997). O

tamanho menor, neste caso estaria mais relacionado à abertura de capital via

emissão pública, como forma de alavancar os investimentos.

Depreende-se da leitura que o porte e o volume das emissões, per se, não

são capazes de explicar a decisão de emissão de ações. Nota-se que os trabalhos

revistos não conseguem estabelecer um padrão único de comportamento dos

emissores face ao volume da emissão versus porte da empresas. No entanto, pode

ser que se encontre um padrão de comportamento no estudo das emissões

privadas e públicas no Brasil.

Espera-se que emissões mais volumosas sejam realizadas por empresas de

maior porte e tendam a ser feitas de forma pública. Desse modo, o deságio

prejudicial aos controladores seria evitado pelo efeito reputação. Portanto,

empresas maiores devem realizar emissões públicas. De fato, não seria o volume

emitido uma proxy para o porte da empresa?

Além disso, emissões menores têm um custo relativo maior, já que há custo

mínimos ou fixos de emissão. Na construção das hipóteses, no próximo capítulo,

isso será definido à luz da literatura como um todo.

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O interesse dos investidores nas emissões de ações pode estar ligado a

questões tributárias. Algum tipo de benefício fiscal do investimento em ações

pode servir como fator de incentivo ao investimento.

3.3.4 Assimetria tributária

No Brasil, é menos oneroso para o investidor em ações receber sua

remuneração na forma de dividendos que não são tributados (e em juros sobre

capital próprio) do que em ganhos de capital que foram tributados à alíquota de

10% e, iniciando em 2002, a 20%. Procianoy e Poli (1994) mostraram que, nesse

caso, seria interessante para a empresa aumentar suas distribuições aos acionistas

e, se precisar recursos para investir, chamar recursos de volta à empresa via

subscrição de ações. Como os recursos viriam dos dividendos distribuídos, não

haveria a necessidade de oferta pública mas simplesmente uma emissão

particular.

Não há, ainda, estudos que mostrem que empresas estão seguindo essa

estratégia de aumentar o percentual de distribuição de lucros e usando subscrições

para retorno de recursos financeiros à empresa. No entanto, este poderia ser um

fator a mais na tomada de decisão de emissão particular de ações.

Ness e Zani (2001), porém, também não encontraram evidência de que

tenha havido aumento da emissão de ações e redução do grau de endividamento

por causa da introdução dos juros sobre o capital próprio. Desse modo, essa

variável, a assimetria tributária, não será objeto de teste neste trabalho, ficando

como sugestão para futuras pesquisas.

3.3.5 Diversificação

O princípio da diversificação, na teoria de finanças, prevê que o risco de

uma carteira com diversos ativos seja menor que o de um único ativo que ofereça

o mesmo retorno da carteira. A razão está na compensação dos riscos individuais,

através da correlação baixa positiva ou negativa entre os retornos de alguns ativos

da carteira, provocando a redução do seu risco total. Dentro desse raciocínio,

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pode-se imaginar que investidores em carteiras diversificadas exijam um prêmio

menor do que se fossem segmentados, concentrados em um país, setor ou

empresa.

De fato, Chemmanur e Fulghieri (1999) e Pagano et. al. (1998) apresentam

modelos que apontam como maior vantagem da abertura de capital via emissão de

ações o fato do capital público ser mais barato que o financiamento privado pela

possibilidade de diversificação de portfólio. Essa diversificação reduziria a taxa

requerida pelo público, tornando-a mais vantajosa do que o custo de capital

próprio dos atuais acionistas ou de algum investidor de risco. Segundo os autores,

o risco de investir em apenas uma empresa seria maior do que o experimentado

pelo investidor externo, com acesso a um portfólio diversificado. Essa vantagem,

entretanto, estaria sujeita ao balanço entre o custo da avaliação da empresa pelo

público e o prêmio de risco exigido pelos capitalistas de risco.

No Brasil, o investimento estrangeiro em alguns casos corrobora este

raciocínio. Na aquisição do controle de empresas nacionais (Banco Real, Banespa,

por exemplo) houve expressivo pagamento de ágio em relação às expectativas do

mercado. Naturalmente, fatores como penetração no mercado e aproveitamento

da base instalada contribuíram para a construção do valor percebido pelos

estrangeiros, mas o seu capital globalizado e diversificado pode ter tido

importante papel na sua disposição de pagar mais caro.

Para o mercado italiano, Pagano et. al. (1998) encontram significante

redução de taxas de juros cobradas às empresas que abrem o capital. Embora seja

discutível a generalização deste resultado, a estrutura de capital de uma empresa

que obtenha recursos de acionistas e não de dívida para financiar seus projetos

apresentaria menor alavancagem, o que deveria melhorar seu perfil de risco para

os provedores de capital via débito.

Ao emitir ações para os atuais acionistas através de subscrições particulares,

o impacto na estrutura de capital é similar ao de uma emissão pública. A emissão

particular, da mesma forma que a pública, reduz a relação dívida/capital próprio,

o que torna mais confortável a situação da empresa face aos credores. Isso pode

tornar possível a obtenção de empréstimos a juros mais baixos, devido à melhor

avaliação de risco que a empresa terá a partir do endividamento mais baixo.

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No Brasil, o mercado da ações tem apresentado ciclos de atividade em que

surge como uma importante origem de recursos para as empresas. As empresas

para se capitalizarem podem emitir ações e buscar, junto ao público, sócios

minoritários que, dessa forma, participarão dos seus resultados. Naturalmente, este

não é um processo simples. Como visto no capítulo 2, para estar em condições de

emitir ações uma empresa tem que atender a um conjunto amplo de exigências

feitas pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Além disso, a colocação de ações e sua absorção pelo mercado estão sujeitas

ao custo de capital próprio no país. Esse representa uma taxa de desconto que os

investidores utilizam para estimar o valor de mercado de uma empresa. Dessa

forma, quanto maior essa taxa, menor será o valor atribuído à companhia. Leal

(2000) demonstra que este custo é elevado, levando os emissores à tentativa de

sincronizar suas emissões com momentos de alta ou mesmo de euforia de

mercado. As despesas com a colocação dos papéis (underwriting) e o desconto

dado o preço das ações para aumentar a liquidez também são fatores importantes.

Premidos pelas taxas de juros historicamente elevadas, que tendem a

deprimir os preços das ações, e pelas restrições de atratividade do mercado

primário, os empresários parecem estar com poucas alternativas para o

financiamento de suas necessidades de expansão, ou mesmo manutenção dos

negócios. Se os recursos gerados internamente não forem suficiente, a emissão de

ações pode surgir como a derradeira alternativa viável de capitalização.

O tipo de investidor pode determinar sua percepção do risco de um negócio

ou emissão de ações. De fato, segundo Leal (2000), o cálculo do custo do capital

próprio varia de acordo com o perfil do investidor. Nesse sentido, seria

interessante pesquisar a influência do tipo de investidor na forma de emissão das

ações. A investigação desse aspecto não será realizada neste trabalho, ficando

como sugestão para futuras pesquisas.

3.3.6 Liquidez em Bolsa

A evidência apresentada por Ness (2000) e Carvalho (2000), e citada na

seção 2.1.5, evidenciou a elevada concentração de negócios, no Brasil, em poucas

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ações. De fato, cerca de 76 por cento dos negócios com ações, entre 1996 e 1998

estavam concentrados em apenas 5 por cento das ações negociadas em Bolsa. Essa

elevada concentração sugere que as emissões públicas de empresas com menor

liquidez teriam menos possibilidades de sucesso: seria difícil encontrar

compradores para emissões públicas se as ações das empresas fossem pouco

negociadas em Bolsa.

Butler et. ali (2002) estudaram uma amostra de 2387 emissões sazonadas,

entre 1993 e 2000. A amostra incluiu 1456 empresas listadas no Nasdaq, 104

empresas listadas na Amex e 827 da NYSE. Os autores constataram que a liquidez

afeta o valor das empresas, através da sua capacidade de obtenção de capital

através de endividamento ou emissão de ações. Os resultados mostram que as

empresas com maior liquidez em Bolsa têm acesso mais rápido ao mercado e

conseguem emitir com menores custos de intermediação financeira. Entre as vinte

por cento menos líquidas e as vinte por cento mais líquidas, a diferença de custos

de intermediação chega a 107%, e o tempo de acesso ao mercado é 120% maior.

Esse resultado foi ainda expressivo em emissões maiores. Segundo os autores,

esses resultados sugerem que o custo marginal da falta de liquidez seria maior nas

emissões mais volumosas. Isso sugere que emissões volumosas realizadas por

empresas de pouca liquidez teriam maior dificuldade de absorção pelo mercado.

Dessa forma, segundo o quadro conceitual proposto por Ferreira e Brooks (2000),

empresas com menor liquidez estariam mais propensas a realizar emissões

privadas, evitando os maiores custos da emissão pública. Essa hipótese será

formalmente proposta no próximo capítulo.

Os resultados acima estão coerentes com os de Charchat (2000) e Leal

(1993), que verificaram o aumento de emissões públicas em momentos de maior

liquidez no mercado (euforia). Um aumento geral de liquidez incentivaria o

aumento de emissões públicas de ações, o que poderia acarretar uma redução nos

custos de emissão. Isso se deveria ao ganho de escala com a maior quantidade de

emissões e à maior possibilidade de sucesso da colocação.

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3.4 Resumo da Discussão da Literatura

O capítulo 2 delineou algumas características macroeconômicas do Brasil,

do mercado de capitais brasileiro e da legislação reguladora. Ficou evidente o

esforço realizado pelo Governo, entidades e Congresso Nacional (através da

discussão e aprovação da nova Lei das Sociedades Anônimas) para promover o

mercado de capitais. O resultado foi uma reforma na legislação trazendo alguns

avanços no sentido da fiscalização do mercado e da proteção aos direitos dos

minoritários.

A evidência empírica apresentada, entretanto, ainda não trouxe resultados

desses esforços. De fato, apresentou-se um panorama do mercado de capitais

brasileiro com redução do número de empresas listadas, baixa capitalização em

relação ao PIB e grande concentração de negócios em poucas empresas. Esse pode

ser um reflexo do maior nível de exigência, pelos investidores, de informações e

procedimentos em atenção aos minoritários. Isso poderia inibir, por exemplo, a

permanência de empresas de controle muito concentrado no mercado de capitais,

incentivando o seu fechamento de capital: os elevados custos de manutenção da

empresa aberta não seriam compensados pelo acesso ao mercado de capitais via

bolsa de valores.

Além disso, a concentração do controle poderia incentivar a redução das

emissões públicas. Estas, incorrendo em custos mais elevados, e sem conseguir

atrair os investidores, em geral, têm, de fato, tido reduzidos seu volume e

número. Como alternativa para capitalização teria ocorrido o crescimento

expressivo das emissões privadas. Isso está coerente com o processo decisório

proposto por Ferreira e Brooks (2000): o controlador procuraria maximizar o valor

de suas ações escolhendo emitir ações pública ou privadamente, ou não emitir.

A revisão de literatura de Estrutura de Capital apontou um conjunto de

ilações, listadas a seguir.

A hierarquia na captação de recursos, pecking order, parece de alguma

forma presente, conforme sugerido por Ferreira e Brasil (1997), e Furtado (1997):

as empresas teriam menos interesse em emitir ações do que títulos de dívida para

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financiar seu crescimento. O reinvestimento de lucros retidos seria um caminho

mais natural e interessante aos empresários brasileiros e aos controladores

estrangeiros. Entretanto, confrontados com a necessidade de recursos, poderiam

preferencialmente aportar capital através da emissão de ações de forma privada.

Isso seria mais acentuado nos casos de elevada concentração de propriedade, já

que não valeria a pena incorrer nos custos de emissões públicas.

O oportunismo nas emissões públicas de ações esteve aparentemente

presente, até o início de 1999, a partir dos gráficos apresentados nas Figuras 5 e 6.

Embora o teste da sua efetiva ocorrência seja um aspecto importante, optou-se por

deixar essa pesquisa para futuros trabalhos. Reconhece-se, entretanto, que a

influência do nível de atividade do mercado possa ter importância na

determinação da forma de emissão de ações.

O oportunismo na captação de recursos foi a resposta mais freqüente na

pesquisa de Eid Jr (1996), com 47 por cento dos casos, seguido, com 40 por cento,

da pecking order modificada, com os lucros vindo em último lugar na hierarquia.

De sua pesquisa surge a lucratividade ruim das empresas como explicação para o

seu comportamento face à decisão de captação.

Além disso, empresas com quadros crônicos de prejuízos não teriam como

seduzir investidores a adquirir suas emissões de ações, não lhes restando senão as

emissões aos atuais acionistas como fonte de recursos para quitação de dívidas e

financiamento do crescimento. Isso sugere uma tendência à emissão particular de

ações em empresas com dificuldades financeiras. Coerentemente, Da Costa (1990)

e Leal (2004) sugerem que a emissão pública de ações seria mais vantajosa, pelo

menor deságio, para as empresas mais lucrativas.

Dessa forma, as seguintes variáveis, relacionadas com a situação

contábil/financeira das empresas, apresentam relevância como determinantes da

decisão de emitir ações pública ou privadamente: a lucratividade, o lucro em

dinheiro, a dívida de longo prazo e o grau de endividamento.

A outra vertente de pesquisa neste trabalho tratou da eficiência de mercado.

Existem características do mercado de capitais brasileiro que teriam influência

relevante na decisão de emitir ações pública ou privadamente.

As questões da concentração de propriedade e controle das empresas de

capital aberto no Brasil, bem como a liquidez dos papéis em bolsa, foram

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apresentadas à luz da literatura revista. Os trabalhos que focaram no Brasil

apontaram que empresário nacional, ao que parece, não estaria muito interessado

em pulverizar o capital das empresas através da emissão de ações. Isso torna

importante a investigação com mais profundidade da influência das características

de controle (concentrado ou não) das empresas, na tomada de decisão de emissão

de ações. A intuição, a partir da revisão bibliográfica é de que empresas com

maior concentração de controle tenderiam a emitir privadamente.

Um aspecto complementar a esse raciocínio é o da liquidez em Bolsa. No

capítulo 2 viu-se que liquidez é muito concentrada em poucos papéis. Dessa

forma, existem poucas empresas com muita liquidez e muitas empresas com baixa

ou nenhuma liquidez.

Sob o ponto de vista de uma empresa que vá emitir ações, se seus papéis

tiverem muita liquidez, pode ser que a emissão pública se torne interessante: a

busca por informações será mais intensa, reduzindo a assimetria e o deságio. Por

outro lado, as empresas com menor liquidez em bolsa tenderiam a emitir de forma

privada, especialmente, se o controle fosse mais concentrado. Essas hipóteses

estarão formalmente apresentadas no próximo capítulo.

O custo das emissões públicas e particulares foi apresentado de modo a dar

subsídios para a se inferir a tomada de decisão de controladores na captação de

recursos. Altos custos de colocação de ações no mercado primário se contrapõem

a custos bem mais reduzidos incorridos nas emissões particulares. Essa assimetria

parece ser um fator de incentivo à chamada de capital aos atuais acionistas. Dessa

forma, as emissões muito pequenas tenderiam a ser realizadas de forma particular,

para não incorrer em custos fixos elevados em relação ao capital obtido. Os

underwriters não teriam interesse em pequenas emissões, tornando seu custo

inviável. Desse modo as regras de custos de emissões de ações não afetariam

todas as empresas da mesma forma, onerando mais as emissões menores.

Optou-se por não testar como variável o custo de emissão, pois o

levantamento, caso a caso, mostrou-se extremamente difícil. O acesso aos

prospectos de lançamento de mais de uma centena de emissões públicas provou-se

inviável. No entanto, a inclusão do porte das empresas como variável atende a

esse aspecto: as emissões de empresas maiores, com maior prestígio junto aos

underwriters, tendem a custar proporcionalmente menos.

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Estudou-se, pesquisando a literatura, a questão do porte das empresas

emissoras. De fato, pode-se, por um lado, esperar encontrar que emissões

maiores, tendam a ser feitas na forma privada, evitando o deságio, em especial,

nas empresas com elevada concentração de propriedade. Entretanto, a literatura

revelou que empresas de maior porte tendem a oferecer menor deságio, devido,

entre outros, ao efeito de sua reputação. Há que se tomar uma decisão: tamanho da

emissão é uma proxy para porte da empresa? Entende-se que sim: empresas

maiores realizam emissões maiores ou não realizam emissão nenhuma, se

puderem gerar recursos internamente. Dessa forma, pode ser que elas emitam

menos freqüentemente, embora com volumes maiores. Essa hipótese será

apresentada no próximo capítulo.

A assimetria tributária não será testada: as regras tributárias são as mesmas

para todas as empresas, impossibilitando a obtenção de grupos distintos de

empresas emissoras segundo este critério.

A literatura internacional consultada corroborou a intuição de que altas

concentrações de propriedade estariam associadas à expropriação de minoritários.

Há, aqui, algo circular: muita concentração leva à expropriação de minoritários, o

que leva o mercado a tratar com desinteresse as emissões públicas e o empresário

a captar recursos dentro do universo de acionistas da empresa.

Além disso, o tipo de empresa pode estar relacionado à forma de emissão.

De fato houve, no período estudado, um processo de privatização de empresas

estatais. Segundo Siffert(1998), no período 1990 a 1997, entre as cem maiores

empresas não financeiras, houve a redução de 45 por cento do número de

empresas de controle estatal no Brasil (de 38 a 21 empresas). Antes, de serem

vendidas pelo Governo, essas empresas passaram por reestruturações, que

demandaram aportes de capital via emissões públicas ou privadas de ações. Sendo

o Governo o maior acionista, isso pode ter enviesado a decisão para emissões

privadas.

Siffert (1998) apontou, também entre 1990 e 1997, para o aumento de cinco

para dezenove do número de empresas que denominou de propriedade minoritária

dominante. Trata-se de empresas com controle compartilhado entre fundos de

pensão, investidores estrangeiros e empresas nacionais. No que diz respeito às

empresas estrangeiras, seu número, em 1997, entre as cem maiores do Brasil ficou

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em 33, contra 27 em 1990. Já em relação a empresas de controle familiar, os

números foram, respectivamente, 27 e 26. Nota-se o aumento do número de

empresas com controle estrangeiro e ligeira redução das de controle familiar.

Além disso, a participação percentual das empresas familiares na receita das cem

maiores empresas brasileiras caiu de 23 para 16 por cento no período 1990-1997.

Isto sugere que as empresas familiares possam ter tido maiores dificuldades de

geração de resultados.

Para que se possa ter um panorama mais completo, optou-se por classificar

as empresas entre estatais, privadas ou holdings. As de controle estrangeiro

ficaram incluídas nas duas últimas categorias, embora se reconheça, a partir do

trabalho de Ness e Pereira(1980) e de Siffert (1998), que poderia ter relevância

separá-las. As holdings foram incluídas por participarem do capital de várias

empresas e terem a tendência de maior concentração de propriedade: grupos

pequenos de capitalistas utilizariam esse expediente para terem participação e/ou

controlar o capital de várias empresas.

No Quadro 2, abaixo, são relacionados os motivos para diferenciar as

empresas quanto à decisão de emissão pública ou privada de ações, e o conjunto

de variáveis que surgem a partir da revisão de literatura. Nem todas serão

investigadas, conforme justificado acima.

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Quadro 2 – Resumo dos motivos para a decisão por emissão particular de ações

e variáveis a serem utilizadas na investigação Motivo Variáveis

1- Estrutura de Capital Baixa atratividade da empresa para

emissão pública. Necessidade de capital para realizar projetos ou redução de dívidas.

Endividamento (elevado) e (baixa) Lucratividade; Lucro líquido, Exigível de Longo prazo e Exig. de L. Prazo/Patr. Líquido

Mercados em alta favorecem a emissão pública de ações - Oportunismo

Nível do IBOVESPA no tempo.

2- Eficiência de Mercado

Concentração de propriedade (gerando assimetria de informações) inibindo a emissão pública.

Percentual de propriedade das ações com direito a voto em mãos dos três principais acionistas.

Elevado custo da emissão pública. Custo percentual da emissão pública em relação ao total emitido.

Emissões mais volumosas tenderiam a ser públicas, por serem realizadas por empresas de maior porte: efeito da melhor imagem associada ao maior porte.

Volume emitido em Reais.

Empresas de maior porte e prestígio emitiriam publicamente.

Porte medido pelo patrimônio líquido ou pelo ativo total.

Falta de liquidez em bolsa, inibindo as emissões públicas –elevada concentração de negócios em poucos papéis no Brasil

Liquidez em Bolsa – Volume negociado e/ou número de negócios

Empresas estatais em reestruturação podem ter realizado emissões particulares. Holdings de controle concentrado, também.

Tipo de Empresa: Estatal, Privada ou Holding.

Assimetria Tributária30

Não há: as regras tributárias são as mesmas, impossibilitando a obtenção de grupos distintos de empresas emissoras por este criitério

Diversificação – risco percebido pelo investidor (acionista)

Tipo de investidor predominante: globalizado, doméstico, institucional, ou Governo.

No próximo capítulo serão apresentadas as questões de pesquisa e as

hipóteses explicativas derivadas da revisão de literatura e da intuição por ela

estimulada.

30 Quando o lucro líquido e o lucro acumulado forem menores do que zero a empresa não poderá fazer o pagamento de dividendos e captar de volta esses recursos através de subscrições particulares.

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4 Questões de Pesquisa e Hipóteses

A presente investigação está focada na tomada de decisão por emissões de

ações através de ofertas públicas ou de subscrições particulares no Brasil. Já que

as emissões de ações, sejam privadas ou públicas, constituem busca de capital

próprio, por que as primeiras crescem expressivamente em um cenário de

expressiva redução da emissão pública de ações? Que fatores são relevantes para

explicar o fenômeno?

A unidade de observação serão as emissões, independentemente do volume

individual em razão de que um corte por volume implicaria na perda de

importantes informações, limitando a análise e a consistência das conclusões. Por

exemplo, três emissões a cada quadrimestre de R$1.000.000,00 passariam ter o

mesmo efeito de uma emissão anual de R$3.000.000,00. Ora, o objeto deste

estudo é explicar a tomada de decisão da emissão em razão das características das

empresas emissoras imediatamente antes da emissão. A aglutinação dos pontos de

observação invalidaria quaisquer conclusões. A seguinte questão de pesquisa emerge a partir da literatura consultada e da

evidência empírica preliminar.

4.1 Quanto às empresas emissoras de ações

A literatura revista sugere que companhias menores, com dificuldades

financeiras, controle concentrado, baixa lucratividade, baixa liquidez em bolsa e

sem condições para obter mais crédito para financiar seu crescimento são as que

emitem ações como forma de captação de recursos. Além disso, os poucos direitos

assegurados pela legislação vigente no Brasil aos acionistas ordinários

minoritários e detentores de ações preferenciais, aliados ao elevado custo de

underwriting e assimetria informacional (controle concentrado), tornariam as

emissões particulares mais atraentes àquelas empresas.

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Questão de pesquisa: qual o perfil das empresas emissoras de ações no

Brasil, entre 1995 e 2002?

Questão derivada: 1.1 - Quais os fatores relevantes para a obtenção do

perfil?

Para a resposta à questão de pesquisa, foram formuladas seis hipóteses, a

partir de duas linhas gerais, a saber: Estrutura de Capital e Eficiência de Mercado.

Para o teste das hipóteses relacionadas a seguir, o seguinte procedimento foi

realizado quanto ao espaço amostral.

Espaço Amostral:

O espaço amostral das emissões foi particionado da seguinte forma: são

populações de emissões realizadas no período estudado classificadas segundo as

variáveis observacionais (ligadas às características das empresas emissoras).

Dessa forma, para cada hipótese, construiu-se um quadro, apresentado

abaixo.

Quadro 3 – Teste de Hipóteses para diferença entre médias31

Realidade

Decisão Estatística H0: não há diferença H1: há diferença

H0: não há diferença

entre as médias

1- α β= Erro Tipo II

H1: há diferença α= Erro Tipo I 1-β=Força

Onde:

• α= erro Tipo I: é a probabilidade de rejeitar a hipótese nula quando ela

for verdadeira. No presente trabalho este nível de significância está

definido em 5% (α=0,05), salvo menção específica.

31 Segundo Hair (1998).

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• β= Erro Tipo II: é a probabilidade de não rejeitar a hipótese nula quando

ela for falsa;

• 1-β=Força: é a probabilidade de rejeitar corretamente a hipótese nula

quando ela for falsa.

A importância do tamanho da amostra é função da significância desejada

(α). Para amostra deste trabalho, com mais de cem observações de emissões

públicas e mais de quinhentas de emissões particulares, a força do modelo se situa

próxima de 0,8 para as emissões públicas e de 1,0 para emissões particulares, o

que, segundo Hair (1998), está dentro do recomendável.

Os testes das hipóteses abaixo serão feitos entre as médias das

características das empresas emissoras de forma privada ou pública, medidas a

partir das variáveis escolhidas a partir da literatura revista, a serem formalmente

definidas adiante.

A seguir, será apresentada a característica Estrutura de Capital e as hipóteses

para elucidá-la.

Linha 1: Estrutura de Capital das Empresas Emissoras

Hipótese 1: as empresas com maiores chances de dificuldades financeiras

(alto endividamento)32, estão entre as que mais realizaram emissões privadas no

período 1995-2002

(H0) a freqüência de emissões privadas feitas por empresas de alto

endividamento, medido pela razão entre o exigível de longo prazo e o patrimônio

líquido no exercício anterior à emissão, é igual à freqüência de emissões privadas

feitas pelas demais empresas.

(H1) não é igual.

32 o alto endividamento pode trazer dificuldades financeiras quando os fluxos de caixa previstos não ocorrem.

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Justificativa: segundo Cronqvist et al (2001), empresas com alto grau de

incerteza sobre seu valor seriam mais propensas à emissão particular de ações.

Empresas em dificuldades financeiras estão nesta categoria. No Brasil, Ness e

Pereira (1980) não encontraram significância na relação entre alavancagem

financeira e a ocorrência de emissões públicas. Da mesma forma, Furtado (1997)

não encontrou relação estatisticamente significativa entre a variação da

alavancagem e a alteração do valor da empresa emissora no processo de emissão.

Entretanto, o fator endividamento foi considerado pelos autores importante para a

investigação da decisão de emissão de ações, e será testado neste trabalho.

Hipótese 2: as empresas com menor lucratividade, medida pela razão entre o

lucro líquido e o patrimônio líquido, medidos em dólares americanos no exercício

anterior à emissão,33 são as que utilizaram mais as emissões privadas.

(H0) a freqüência de emissões privadas realizadas por empresas mais

lucrativas é igual à freqüência de emissões privadas realizadas pelas empresas

menos lucrativas.

(H1) não é igual.

Justificativa: empresas com maior lucratividade têm a atenção do mercado e

possivelmente apresentariam diferenças pouco expressivas de avaliação,

eliminando a vantagem aos atuais acionistas na emissão privada (assimetria

informacional). Leal (2004) afirma que empresas com melhor histórico de

retornos sobre o patrimônio ou sobre o ativo total, tendem a representar um risco

menor, possibilitando um menor deságio no valor da ação. Da mesma forma, Da

Costa apontou que as empresas mais lucrativas apresentavam menor deságio na

emissão pública.

A hipótese 2a, a seguir, contempla apenas o lucro medido em dinheiro. Isto

se deve ao fato de haver, potencialmente, problemas estatísticos com a variável

lucratividade devido à influência do patrimônio liquido na sua composição.

33 Os dados para essa variável foram obtidos na moeda americana para o período indicado.

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Hipótese 2a: as empresas com menor lucro medido em dólares americanos

no exercício anterior à emissão são as que utilizaram mais as emissões privadas.

(H0) a freqüência de emissões privadas realizadas por empresas com maior

lucro é igual à freqüência de emissões privadas realizadas pelas empresas menos

lucrativas.

(H1) não é igual.

Justificativa: os mesmos argumentos da hipótese número dois.

A seguir, as hipóteses relacionadas com a linha de eficiência de mercado

serão apresentadas.

Linha 2: Eficiência de Mercado

Hipótese 3: empresas de controle mais concentrado estão entre as que mais

utilizaram emissões privadas.

(H0) a freqüência de emissões privadas feitas por empresas de controle

concentrado, medido pelo percentual de controle dos três maiores acionistas, é

igual à freqüência de emissões privadas feitas pelas demais empresas

(H1) não é igual.

Justificativa: a manutenção do controle seria mais fácil com a aquisição da

emissão pelos próprios controladores. Há, ainda, o elevado custo de emissão

pública em relação à emissão particular e o deságio motivado pela expectativa de

expropriação de minoritários. Nesse sentido, os trabalhos de Da Silva (2002), Leal

e Valadares (2002) e Leal, Da Silva e Valadares (2000), evidenciam a elevada

concentração de propriedade das empresas de capital aberto no Brasil. Esse fato

deve estar relacionado com o elevado número de emissões privadas de ações.

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Hipótese 4: as empresas de maior porte, medido pelo patrimônio líquido,

estão entre as que utilizaram menos as emissões privadas.

(H0) a freqüência de emissões privadas feitas por empresas de maior porte

medido pelo patrimônio líquido é igual à freqüência de emissões privadas feitas

pelas demais empresas.

(H1) não é igual.

Justificativa: Furtado (1997) constatou que as empresas emissoras públicas

de ações de maior porte, medido pelo seu valor de mercado perdiam menos valor

do que as de menor porte. Por despertar maior atenção, suas informações seriam

melhor disseminadas no mercado. Esse era o resultado esperado por Ness e

Pereira (1980) que, entretanto não se confirmou. Sua explicação para resultado

divergente consistiu no reconhecimento do porte da empresa como sendo um fator

importante para a obtenção de recursos internos ou via dívida. Dentro do quadro

conceitual proposto por Ferreira e Brooks(2000), o grande porte poderia permitir

às empresas um custo total menor de emissão pública de ações. Assim, a forma de

maximização de valor para o acionista controlador seria a emissão pública de

ações, em que pese a boa aceitação do público pelos seus papéis.

Hipótese 5: as maiores emissões, medidas pelo volume emitido, não foram

emissões privadas.

(H0) os volumes médios das emissões públicas e privadas são iguais.

(H1) não são iguais.

Justificativa: oferta maior de ações sinalizaria uma empresa de maior porte,

com melhor reputação e menor assimetria de informações. Da Costa (1990),

entretanto, concluiu que as empresas de maior porte, ao efetuarem emissões

maiores no mercado brasileiro ofereciam maior deságio. Leal (1993) apontou o

fato das empresas escolherem momentos de alta para sincronizar suas emissões, o

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que poderia também estar ligado ao deságio necessário para dar liquidez à

emissão pública. Há que se considerar, entretanto, que a relação entre tamanho da

emissão e tipo de emissão pode ser não linear: emissões muito pequenas

tenderiam a ser privadas em função do elevado custo relativo (remuneração

mínima exigida pelos underwriters, propaganda, impressão de prospecto, entre

ouras). Por outro lado, as empresas de grande porte gozariam de vantagens de

escala nas suas emissões. À luz da literatura, portanto, não se obteve unanimidade

na explicação. Optou-se por considerar o maior porte, medido pelo valor da

emissão, um fator determinante na decisão de emissão pública para as maiores

empresas.

Hipótese 6: as empresas com maior liquidez em Bolsa, medida pelo volume

negociado no ano da emissão, estão entre as que utilizaram menos as emissões

privadas.

(H0) a freqüência de emissões privadas feitas por empresas de maior

liquidez medida pelo volume negociado em Bolsa, no ano da emissão, é igual à

freqüência de emissões privadas feitas pelas demais empresas.

(H1) não é igual.

Justificativa: uma maior liquidez em Bolsa seria um incentivo à captação de

recursos via emissão pública de ações, já que o grau de informação do mercado

sobre os papéis seria elevado. Os resultados de Butler et ali. (2002) mostram que

as empresas com maior liquidez em Bolsa têm acesso mais rápido ao mercado e

conseguem emitir com menores custos de intermediação financeira. Além disso,

Charchat (2000) e Leal (1993) constatam um aumento de emissões públicas de

ações em momentos de euforia do mercado. Essa euforia poderia levar a uma

elevação da liquidez dos papéis pelo ingresso de novos investidores em busca de

ganhos. A percepção da maior liquidez, por sua vez, poderia levar os

controladores de empresas a realizar emissões públicas mesmo com deságio, pois

os preços estariam superavaliados. Dessa forma, segundo o quadro conceitual

proposto por Ferreira e Brooks (2000), empresas com menor liquidez estariam

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mais propensas a realizar emissões privadas, evitando os maiores custos da

emissão pública.

Da mesma forma, a hipótese 6a) abaixo contempla a questão da liquidez,

apenas medindo-a pelo número de negócios realizados no ano da emissão.

Hipótese 6a): as empresas com maior liquidez em Bolsa, medida pelo

número de negócios realizados no ano da emissão, estão entre as que utilizaram

menos as emissões privadas

(H0) a freqüência de emissões privadas feitas por empresas de maior

liquidez em Bolsa, medida pelo número de negócios realizados no ano da

emissão, é igual à freqüência de emissões privadas feitas pelas demais empresas.

(H1) não é igual.

Justificativa: a mesma da hipótese 6.

Hipótese 7: As empresas estatais estão entre as que mais realizaram

emissões privadas de ações.

(H0) a freqüência de emissões privadas feitas por empresas estatais é igual

à freqüência de emissões privadas feitas pelas demais empresas.

(H1) não é igual.

Justificativa: as empresas controladas pelo Governo, em processo de

privatização, necessitavam de recursos para reestruturação. O Governo, com

vistas a privatizá-las, teria que aportar capital, e o faria preferencialmente via

emissões privadas, evitando custos desnecessários. De fato, Siffert (1998) apontou

a redução de trinta e oito para vinte e um do número de estatais entre as cem

maiores empresas brasileiras. Segundo o autor, isso se deveu ao processo de

privatização.

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Hipótese 7a: As empresas do tipo holding estão entre as que mais realizaram

emissões privadas de ações.

(H0) a freqüência de emissões privadas feitas por empresas holdings é igual

à freqüência de emissões privadas feitas pelas demais empresas.

(H1) não é igual.

Justificativa: as empresas controladas por pequenos grupos tenderiam a se

capitalizar via emissões privadas, evitando custos desnecessários. Além disso,

segundo Siffert (1998), houve expressiva redução, de vinte e três para dezesseis

por cento, da participação das empresas familiares na receita das cem maiores

empresas do Brasil, entre 1990 e 1997. Isso pode significar que as holdings

familiares tenham tido mais dificuldade de gerar resultados, o que as tornaria, em

conjunto com a maior concentração de propriedade, mais propensas à realização

de emissões privadas de ações.

Resumindo as hipóteses acima relacionadas, o que se espera encontrar neste

trabalho está no Quadro 4, abaixo, de relações substantivas relativas à decisão por

emissões públicas:

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Quadro 4 – Relações substantivas esperadas na decisão por emissões privadas

de ações

Propensão às Emissões Privadas Sinal esperado

Linha 1 - Estrutura de Capital Hipótese 1 Endividamento= exigível de l. prazo/patr.

líquido positivo

Hipótese 2 Lucratividade= lucro líquido/patr. Líquido

negativo

Hipótese 2a Lucro líquido negativo

Linha 2 – Eficiência de Mercado Hipótese 3 Percentual de propriedade direta de ações

ordinárias dos 3 maiores acionistas positivo

Hipótese 4 Porte : Patrimônio Líquido negativo Hipótese 5 Porte: Valor emitido negativo Hipótese 6 Liquidez medida pelo volume negociado em

bolsa de valores negativo

Hipótese 6a Liquidez medida pelo nº de negócios em bolsa de valores

negativo

Hipótese 7 Empresas estatais positivo Hipótese 7a Empresas holdings positivo

De uma forma discursiva, o que se espera encontrar é que as emissões

particulares devem ser realizadas por empresas estatais ou holdings menores, mais

endividadas, menos lucrativas, que realizem emissões menores, tenham maior

concentração de controle e menor liquidez em bolsa de valores.

Por outro lado, utilizam mais as emissões públicas as empresas privadas

maiores, menos endividadas, mais lucrativas, que realizem emissões maiores,

apresentem controle menos concentrado e maior liquidez em bolsa de valores.

Apresentadas as questões de pesquisa e as hipóteses a serem testadas, o

próximo capítulo tratará da metodologia empregada. Serão apresentados o

construto teórico, a análise discriminante, incluindo as estatísticas descritivas, e a

regressão logística.

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5 METODOLOGIA

Neste capítulo será apresentada a metodologia utilizada na investigação.

Inicialmente o tipo de pesquisa será abordado, seguido do universo e da seleção

da amostra. A coleta dos dados e seu tratamento serão apresentados a seguir, bem

como as limitações do método.

5.1 Tipo de pesquisa

A presente pesquisa é do tipo explicativo segundo a abordagem tradicional

positivista.

5.2 Universo e Amostra

O universo compreende as emissões de ações, públicas e privadas feitas

pelas empresas listadas na Bovespa no período estudado (1995 a 2002, inclusive).

A amostra, no que diz respeito às atividades do mercado primário de ações

no Brasil, consiste nas emissões primárias públicas mensalmente relacionadas

pela CVM e pelas emissões particulares34, levantadas nos demonstrativos da

evolução do capital social das empresas publicados na Gazeta Mercantil pela

Bolsa de Valores de São Paulo, entre janeiro de 1995 e dezembro de 2002.

A pesquisa inicial efetuada e apresentada na Tabela 1 aponta para uma

população total de 776 emissões de ações, sendo 653 particulares e 123 públicas,

entre janeiro de 1995 e dezembro de 2002. Da população original total foram

retiradas 60 emissões correspondentes a 32 empresas com patrimônio líquido

negativo, que inviabilizaria a análise de lucratividade através da razão LL/PL

34 As emissões particulares não são registradas pela CVM, não havendo estatísticas sobre elas naquela Comissão.

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(para prejuízo e PL negativo essa razão seria positiva). Além disso, o patrimônio

líquido negativo também acarretaria distorções na variável grau de endividamento

(exigível de longo prazo/patrimônio líquido). Dessas emissões, 2 foram públicas e

58 privadas. Da amostra foram, também, retiradas as 72 emissões realizadas por

instituições financeiras, para evitar problemas em razão do elevado endividamento

característico do setor. Dessas, 11 eram públicas e 61, privadas. Foram, ainda,

retiradas, 9 emissões (sendo cinco públicas e quatro privadas) de empresas com

falta de dados para algumas das variáveis utilizadas. Após os primeiros testes

estatísticos, foram determinadas 6 emissões (5 públicas e uma privada) que

correspondiam a empresas com endividamento elevadíssimo ou lucratividade

extremamente negativa, que foram retiradas como outliers35. A amostra final

utilizada neste trabalho consistiu, portanto, de 629 emissões, sendo 101 públicas e

528, privadas. A Tabela 10 abaixo apresenta resumo da amostra utilizada neste

trabalho.

Tabela 10 – Percentuais da amostra utilizada em número de observações e

volume em relação à amostra original apresentada na Tabela 1

Emissões Total

Públicas Privadas

Volume R$milhões

Número Volume R$milhões

Número Volume R$milhões

Número

Amostra original

96.250 776 25.747 123 70.046 653

Amostra Final

56.565 629 13524,1 101 43.040,8 528

% da amostra original

58,8% 81,1% 52,5% 82,1% 61,4% 80,9%

Importante ressaltar que a unidade observacional do presente trabalho é a

emissão de ações. Portanto, uma empresa pode apresentar, em diferentes anos do

período estudado, dois tipos de emissão de ações: pública ou privada.

35 As estatísticas descritivas apresentavam distorções, muito embora os modelos discriminante e logístico acabassem por eliminá-las como outliers. Optou-se, porém pela sua retirada, o que acabou por não influenciar as conclusões obtidas.

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A amostra utilizada apresenta, portanto, 81,1% das emissões realizadas entre

janeiro de 1995 e dezembro de 2002, sendo 82,1% das emissões públicas e 80,9%

das particulares.

5.3 Coleta dos Dados

Os dados da pesquisa bibliográfica foram coletados em teses, dissertações,

livros, periódicos, documentos de trabalho universitário e revistas especializadas,

todos eles citados no corpo e relacionados ao final deste trabalho.

Na pesquisa de campo foram obtidos os dados numéricos sobre as emissões,

manualmente, através do cálculo do valor emitido a partir do número de ações

anterior, percentual emitido e preço de cada ação emitida. Esses dados foram

obtidos nos jornais Gazeta Mercantil e Valor Econômico, a partir da dos

demonstrativos de evolução do capital social das empresas divulgados pela

BOVESPA. Ajustes foram feitos no caso de sobras, através do cancelamento de

ações ou manutenção em tesouraria das empresas.

Para o cálculo do valor captado através de emissões privadas foi utilizada a

seguinte fórmula:

⎟⎟⎟⎟

⎜⎜⎜⎜

+−=

1001

*S

NNPValor ex

ex

Onde P é o preço da ação emitida, Nex o número de ações ex-subscrição e S

o percentual da subscrição.

Os dados sobre as características das empresas, tais como seus balanços e

indicadores financeiros36, foram levantados nos Informativos Anuais da CVM,

nos Guias Anuais das Empresas de Capital Aberto editados pela Editora IMF para

os anos de 1994 a 200337, em informativos públicos das próprias empresas e/ou

em outros meios de pesquisa (eletrônica via internet, por exemplo).

36 Índices de endividamento, liquidez em bolsa e lucratividade entre outros. 37 O Informativo do IMF- Companhias Abertas de 2003 apresenta os dados sobre as empresas para os anos de 2000, 2001 e 2002.

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100

Dessa maneira foram obtidos dados sobre patrimônio líquido, lucro líquido,

exigível de longo prazo (dívida), lucratividade (lucro líquido dividido pelo

patrimônio líquido), endividamento (exigível de longo prazo divido pelo

patrimônio líquido) e concentração de propriedade. Essa última foi levantada a

partir da propriedade direta dos três maiores acionistas ordinários listada nos

Informativos Anuais da CVM, por empresa. Optou-se pela propriedade direta por

esta sinalizar a concentração, embora se reconheça que estruturas indiretas de

controle são relevantes, como utilizadas no trabalho de Da Silva (2002), entre

outros. Como o objetivo aqui não era especificamente estudar o controle, utilizou-

se essa simplificação. Os dados sobre o percentual das ações ordinárias de

propriedade dos três maiores acionistas, foram obtidos e somados para cada

empresa emissora para o exercício imediatamente anterior à emissão.

Os dados sobre o comportamento do mercado de capitais brasileiro foram

obtidos a partir dos relatórios periódicos da CVM, da BOVESPA, da ABAMEC,

da CNBV (Comissão Nacional de Bolsas de Valores), bem como de teses,

dissertações e trabalhos acadêmicos. Nessas publicações foram obtidos os dados

relativos à liquidez em bolsa medida em volume e número de negócios realizados

nos anos em que ocorreram as emissões, para cada empresa emissora.

A classificação das empresas em Estatal, Privada ou Holding foi feita

através dos informativos anuais da CVM e dos anuários editados pela Editora

IMF.

A seguir, será apresentado o procedimento para tratamento dos dados.

5.4 Tratamento dos Dados

Para compreender as razões pelas quais empresas de capital aberto no Brasil

decidem emitir ações publica ou privadamente, desenvolveu-se modelo que

explique essa tomada de decisão. A construção do modelo, bem como sua

validação são o objeto das próximas seções.

Em primeiro lugar foi definida a variável dependente. Criou-se uma variável

categórica, do tipo binária, com valor zero para emissões públicas e valor um para

emissões particulares. A seguir, definiu-se as variáveis explicativas relevantes

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para a obtenção do perfil das empresas emissoras, de modo a defini-lo. Este passo

foi facilitado pela literatura revista, especialmente os trabalhos de Ness e Pereira

(1980), Da Costa(1990), Furtado (1997), Siffert (1998), Leal (1993, 2000 e

2004), Leal, da Silva e Valadares((2000), Chachat (2000) e Da Silva (2002), no

Brasil; Cronqvist e Nilsson (2001) e Mikkleson et al.(1997) no âmbito

internacional. A seguir, são apresentadas as variáveis utilizadas e os métodos

estatísticos aplicados.

5.4.1 Definição das variáveis utilizadas e apresentação dos métodos estatísticos utilizados na investigação

As variáveis utilizadas na investigação são38:

i) Relativa às emissões:

• Tipo de emissão: pública (tipo 0) ou privada (tipo 1) :

Emissão Priv=1, Pub= 0

ii) Relativas à Estrutura de Capital referidas ao ano anterior à

emissão.

• Endividamento relativo: exigível de longo prazo dividida pelo patrimônio

líquido:

Endivid ELP/PL

• Endividamento: exigível de longo prazo medida em dólares americanos

(exigível de longo prazo):

Exigível L Prz Us$

38 Os valores em dólares americanos se devem à eventual indisponibilidade de dados em reais nas fontes de pesquisa.

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• Lucratividade relativa: lucro líquido contábil dividido pelo patrimônio

líquido(LL/Pat.Líq.):

Lucrativ. LL/PL

• Lucratividade: lucro líquido medido em dólares americanos:

Lucro Líq. Us$ 1000

iii) Relativas à Eficiência de Mercado:

• grau de assimetria de informação: variável ligada à concentração de

controle (percentual de propriedade das ações com direito a voto dos três

maiores acionistas imediatamente antes da emissão):

perc3Maciord

• Porte: medido pelo Patrimônio Líquido em dólares americandos:

Patrim. Líq.Us$

• Porte: medido pelo Volume emitido, medido em reais:

Valor emit R$

• Liquidez medida pelo volume negociado no ano da emissão, medido em

reais:

Liquid Vol neg

• Liquidez medida pelo número de negócios realizados no ano da emissão:

Liquid nº neg

• Tipo de empresa: Estatal (tipo 0), Privada (tipo 1) ou Holding(tipo 2):

i. Estatal é controlada pelo Estado (Federal, Estadual ou Municipal):

Tipoemp0

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ii. Privada é controlada por empresários ou pessoas jurídicas

privadas brasileiras e estrangeiras: Tipoemp1

iii. Holding é uma empresa que controla o capital de outra(s). Tipoemp2

O tratamento dos dados levantados a partir das variáveis selecionadas a

priori, seguiu os passos apresentados no Quadro 5.

Quadro 5 – Proposta de tratamento dos dados, passos a serem seguidos,

propósitos e os processos estatísticos utilizados

Passos Procedimento Objetivo Método

1 Preparo da base de

dados.

Verificar distorções

que possam ocorrer, ou seja,

se os dados atendem às

premissas dos testes

estatísticos

Médias e freqüências das

variáveis observáveis no

período estudado.

2 Análise de

correlação

Eliminar da amostra

variáveis que tenham alta

correlação entre si.

Matrizes de correlação com

teste de hipótese de

correlação linear two-tailed

3 Análise

Discriminante

Classificar e agrupar

as emissões de acordo com

as características das

empresas emissoras

Análise Discriminante

4 Regressão Logística

com variável

dependente binária.

Desenvolver

regressão para prever a

probabilidade de ocorrência

da emissão privada ou

pública

Regressão Logística

Dada a natureza categórica da variável dependente, emissões públicas ou

privadas, o primeiro método escolhido para explicação e predição foi o da análise

discriminante, apresentado a seguir. Optou-se, a seguir por realizar, também, uma

regressão logística, da forma explicada na próxima seção. As estatísticas

descritivas do fenômeno, à luz das variáveis utilizadas, também serão relatadas na

próxima seção.

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104

5.5 Estatísticas Descritivas, Análise Discriminante e Regressão Logística

Um dos objetivos deste trabalho é classificar os dois grupos de dados

dentro da amostra, separando as emissões particulares ou privadas das emissões

públicas de ações segundo as características apresentadas pelas variáveis acima

relacionadas39. Esta seção está subdividida em três subseções. A primeira trata das

estatísticas descritivas. A segunda apresenta o esquema teórico da análise

discriminante e a terceira o esquema da regressão logística.

5.5.1 Determinação das Estatísticas Descritivas

Para iniciar a análise, inicialmente foi feito o levantamento das estatísticas

descritivas. As médias, medianas, moda, desvios-padrão e variância foram

levantados para se ter uma idéia inicial dos comportamentos das variáveis

estudadas e do fenômeno investigado.

A Tabela 11 apresenta as estatísticas descritivas para as variáveis

inicialmente definidas, já excluídas as empresas com patrimônio líquido negativo

e as instituições financeiras.

39 Características relativas às empresas emissoras.

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Tabela 11 – Estatísticas Descritivas para as variáveis inicialmente definidas

Média

Mediana

Desvio Padrão Nº de observações

válidas

Tip de Emissão

Pública = 0 Variável a priori

Privada = 1

0

TIPOEMP0 Estatal 0,03 0,00 0,17 101

TIPOEMP1 Privada 0,72 1,00 0,45 101

TIPOEMP2 Holding 0,25 0,00 0,43 101

Valor emit R$ 133.902.058,75 50.185.279,00 207.563.991,43 101

perc3Maciord 83,26 89,00 19,14 101

Liquid Vol neg 102.655.584,58 6.068.808,60 267.481.488,78 101

Liquid nº neg 5.556 163 14.095,72 101

Exigível L Prz Us$ 137.246,03 31.755,00 325.468,72 101

Endivid ELP/PL 0,58 0,26 1,27 101

Patrim Líq Us$ 1000 307.539,68 130.426,00 593.955,12 101

Lucro Líq Us$1000 7.196,25 2.073,00 77.779,96 101

Lucrativ.LL/PL -0,11 0,018 1,05 101

1

TIPOEMP0 Estatal 0,13 0,00 0,34 528

TIPOEMP1 Privada 0,58 1,00 0,49 528

TIPOEMP2 Holding 0,29 0,00 0,45 528

Valor emit R$ 81.516.590,06 17.272.164,00 235.028.704,32 528

perc3Maciord 86,58 95,78 16,68 528

Liquid Vol neg 4.163.427.020,19 108.940,51 82.012.471.901,23 528

Liquid nº neg 9.084 36 35.651,73 528

Exigível L Prz Us$ 224.325,66 25298,31 618.245,48 528

Endivid ELP/PL 1,25 0,25 4,33 528

Patrim Líq Us$ 1000 669.853,66 81480,26 2.073.092,47 528

Lucro Líq Us$1000 21.375,49 -0,50 142.754,32 528

Lucrativ.LL/PL -0,50 -0,000042 2,28 528

Total

TIPOEMP0 Estatal 0,08 0,00 0,27 629

TIPOEMP1 Privada 0,65 1,00 0,48 629

TIPOEMP2 Holding 0,27 0,00 0,44 629

Valor emit R$ 107.709.324,42 29.500.000,00 223.090.837,30 629

perc3Maciord 84,92 92,61 18,02 629

Liquid Vol neg 2.133.041.301,76 1.219.373,10 57.981.310.675,41 629

Liquid nº neg 7.320 97 27.144,32 629

Exigível L Prz Us$ 180.785,84 29.831,69 495.569,13 629

Endivid ELP/PL 0,92 0,25 3,20 629

Patrim Líq Us$ 1000 488.696,67 103.746,66 1.534.410,32 629

Lucro Líq Us$1000 14.285,87 226,33 115.080,67 629

Lucrativ.LL/PL -0,31 0,0046 1,78 629

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106

Pode-se observar, a partir das estatísticas descritivas preliminares: as

emissões públicas de ações parecem ser, em média, maiores do que as privadas,

estão relacionadas a empresas privadas, com maior liquidez em Bolsa, menos

endividadas, de menor porte, que apresentam maior lucratividade (de fato,

lucratividade menos negativa). Pode-se notar, também, a menor concentração de

propriedade nas emissões públicas.

As emissões privadas parecem estar relacionadas a empresas do tipo

holding, menos lucrativas (de fato, de maiores perdas), mais endividadas, de

controle mais concentrado, com menor liquidez em Bolsa e de maior porte, o que

é contraditório com o menor volume médio de emissões.

As diferenças de escala apresentadas pelas variáveis, bem como o

atendimento às premissas de normalidade e linearidade levaram a

transformações40, objetivando-se obtenção de normalidade e linearidade de

comportamento necessárias ao desenvolvimento do modelo discriminante. A

seguir é apresentada a construção do modelo passo a passo.

5.5.2 Análise Discriminante – construção do modelo

O método da análise discriminante é apresentado a seguir, com a

fundamentação teórica para a sua aplicação ao problema em questão. O processo

de construção de modelo está subdividido em seis passos.

Passo 1: O Problema de Pesquisa.

São os seguintes os objetivos da análise discriminante múltipla:

• investigar diferenças entre grupos de observações. O pesquisador deve

utilizar a análise discriminante quanto estiver interessado em explicar

diferenças entre grupos de observações de um fenômeno ou classificar

observações em grupos ou classes distintos. No contexto deste trabalho o

40 As transformações processadas serão apresentadas na próxima seção, durante a construção do modelo discriminante.

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que se pretendeu foi explicar a decisão de emissão pública ou privada

segundo diferenças nas características apresentadas pelas variáveis

observadas na amostra.

• determinar a forma mais parcimoniosa possível de distinção entre os

grupos;

• eliminar as variáveis que não contribuam para a distinção entre os grupos;

• testar o modelo obtido comparando as observações empíricas às previsões.

Segundo Hair et. ali (1998), a técnica melhor se enquadra em situações onde

há uma variável categórica dependente e várias variáveis métricas independentes.

Para compreender diferenças entre grupos, o método permite apreender o papel de

cada variável, bem como as combina de modo a obter a discriminação entre

grupos. No capítulo de apresentação dos resultados serão relatadas as variáveis

descartadas e a equação discriminante resultante.

A análise discriminante permite realizar classificações de observações

empíricas que tenham valores para todas as variáveis independentes no modelo.

Para efeitos de previsão, pode-se, dessa forma, inferir o comportamento futuro de

empresas quanto ao processo decisório relativo às emissões públicas ou privadas,

a partir de algumas de suas características (representadas nas variáveis

independentes).

Passo 2: Elaboração da pesquisa – definição das variáveis, amostra e

sub amostras.

A necessidade de utilização da análise discriminante múltipla (ADM)41 vem

do fato de haver dicotomia na variável dependente do problema em análise. De

fato, as emissões podem ser públicas ou privadas, assumindo, respectivamente, a

variável dependente, os valores 0 ou 1. Esse tipo de variável tem a denominação

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de categórica, já que apresenta duas categorias de emissões – pública e privada.

Dessa forma, o que se almeja é classificar quaisquer emissões dentro da amostra

estudada em uma das duas categorias: pública ou privada.

As variáveis independentes foram escolhidas da forma apresentada na seção

5.4.1, a partir da consulta à literatura existente e da disponibilidade de dados para

levantamento. Houve um tratamento prévio no sentido de reduzir os problemas de

escala, já que havia números muito diferentes para serem tratados no mesmo

modelo. Além disso, para atender às premissas de normalidade e linearidade de

relações do modelo, houve a necessidade de algumas transformações42. Sendo

assim, a seguir serão apresentadas as novas variáveis utilizadas no modelo

discriminante, em substituição às originalmente levantadas:

Lucr. Liq Us$1000 ( Log10) (loglucro) – logaritmo decimal do lucro

líquido anual medido em milhares de dólares americanos da empresa emissora no

exercício anterior à emissão.

Valor emit R$ (Log 10) (vlremit) – logaritmo decimal do valor emitido em

reais.

Patrim liq Us$1000 (Log 10) – logaritmo decimal do patrimônio líquido

medido em milhares de dólares americanos no exercício anterior à emissão.

Liquid nº neg (Ln)43 – logaritmo neperiano do número de negócios

realizados com as ações da empresa emissora no ano da emissão.

Liquid Vol neg (Log 10) – logaritmo decimal do volume negociado medido

em reais no ano da emissão

41 Traduzido Inglês Multiple Discriminant Analysis (MDA). 42 De fato, as transformações realizadas melhoraram os plots Normal Q-Q, trazendo as variáveis para níveis aceitáveis de normalidade. Porém, por se reconhecer uma certa fragilidade na premissa de normalidade, optou-se por também construir o modelo logístico, menos restritivo quanto à normalidade. 43 O tipo de logaritmo utilizado (Ln ou Log10) se deveu a melhoria na capacidade preditiva do modelo, após algumas simulações.

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Exigível l prz Us$ (Ln) - logaritmo neperiano do valor total da dívida de

longo przo, medida em dólares americanos no exercício anterior à emissão

Liquidez vol/nº negócios (Ln) – logaritmo neperiano da razão entre o

volume negociado e o número de negócios realizados com as ações da empresa

no ano da emissão44

A amostra foi determinada da maneira descrita na seção 5.2. A utilização de

sub-amostras para validação vai ser apresentada junto com os resultados no

próximo capítulo.

44 Variável definida para dar maior estabilidade ao modelo. É o negócio médio realizado. No caso de ausência de liquidez, zero de volume e de negócios, atribuiu-se à variável o valor zero.

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110

Passo 3: Premissas do modelo discriminante.

A análise discriminante, segundo Hair(1998), envolve a busca de uma

combinação linear de duas ou mais variáveis independentes que melhor farão a

classificação entre grupos previamente definidos. A discriminação será obtida a

partir da determinação dos fatores ou pesos para cada variável de modo que a

variância entre os grupos seja maximizada em relação à variância intra-grupos.

Este é um processo de classificação em que se busca dois grupos de características

homogêneas de forma a distingui-los.

A função discriminante pode ser representada pela seguinte equação45:

nknkkjk XWXWXWbZ ++++= ...2211

onde

jkZ = valor discriminante Z da função discriminante j para a observação k.

b = intercepto

Wi = peso discriminante para a variável independente i.

Xik = variável independente i para a observação k.

O processo da análise discriminante consiste na multiplicação de cada

variável independente por seu peso correspondente e a soma de todos os produtos

obtidos a cada observação. O resultado é o valor Z para cada observação ou

indivíduo na análise. A partir da média dos valores Z para todas as observações

em um determinado grupo, obtém-se o valor Z para o grupo, também chamado de

centróide. No caso deste trabalho serão obtidos dois centróides.

Para que se possa obter uma explicação sobre o comportamento das

emissões na amostra, os centróides obtidos devem ter significância estatística.

Deve-se obter a distribuição dos valores Z para cada um dos grupos. Sendo assim,

duas distribuições surgirão, no caso de dois grupos. Se a interseção entre as

distribuições for pequena, pode-se afirmar que houve discriminação melhor. Se

for grande a superposição entre as distribuições, a discriminação será mais fraca, e

os prognósticos de classificação menos confiáveis.

45 A partir de Hair (1998) pp. 244.

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111

A Figura 7, a seguir, ilustra a situação:

Figura 7 – Distribuição univariada dos fatores de classificação Z

Grupos: X Y

Z

Função Discriminante Boa classificação – superposição pequena

Grupos: X Y

Z

Função Discriminante Má classificação: grande superposição

A análise discriminante multivariada para mais de dois grupos apresenta n-1

funções discriminantes, onde n é o número de grupos. No caso em questão apenas

uma função surgirá do processamento dos dados, já que existem somente dois

grupos.

São premissas para a utilização do modelo discriminante:

• normalidade das distribuições de freqüência das variáveis independentes;

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112

• linearidade das relações;

• ausência de multicolinearidade das variáveis independentes (alta

correlação entre duas ou mais variáveis);

• matrizes de dispersão iguais (homocedasticidade) – ausência de diferenças

significativas das matrizes de variância e covariância dos resíduos para

cada grupo classificado.

As transformações realizadas nas variáveis visaram atender às exigências do

modelo. De fato entre as variáveis originais e as transformadas, utilizadas

efetivamente na construção do modelo, chegou-se ao melhor conjunto possível.

Optou-se por não manipular as variáveis além do já realizado de forma a não

comprometer os resultados do modelo. A homocedasticidade não foi atingida, o

que está explicado na apresentação dos resultados.

No próximo capítulo serão apresentadas e analisadas as estatísticas

descritivas.

A seguir será apresentado o próximo passo, que trata da estimação do

modelo discriminante.

Passo 4: Estimação do modelo discriminante:

As variáveis foram introduzidas passo a passo, pelo método stepwise do

programa estatístico SPSS. Assim, cada uma foi introduzida no modelo segundo

seu poder discriminante. O processo se inicia com a escolha da melhor variável

sob o ponto de vista da classificação categórica. A seguir, a próxima variável é

escolhida dentre as outras de modo que, em conjunto com a primeira, ofereça a

melhor capacidade discriminatória. O processo segue para todas as outras

variáveis da mesma forma. Segundo Hair(1998), este processo se aplica melhor

quando o número de variáveis é maior. À medida que são incluídas, uma por vez,

as próximas variáveis com maior poder explanatório, vai se construindo um

modelo robusto e parcimonioso.

As variáveis escolhidas, assim como o modelo obtido, serão apresentados

no próximo capítulo, junto com os resultados.

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113

Os passos 5 e 6, respectivamente, interpretação e validação dos resultados

da análise discriminante serão apresentados junto com os resultados no próximo

capítulo.A seguir, será apresentado um fluxograma do processo de formulação de

modelo discriminante.

Figura 8 – Fluxograma teórico da análise discriminante empregada, baseado em

Hair (1998)

Passo 1: Problema de Pesquisa:

Objetivos selecionados: • Determinar diferenças significativas entre grupos de

emissões de ações;

• Classificar as observações dos grupos definidos;

• Identificar as dimensões discriminantes entre os grupos.

Passo 2: Desenvolvimento da Pesquisa

• Variável dependente categórica: Emissão Pública = 0;

Privada = 1

• Seleção das variáveis independentes – literatura e

intuição

• Tamanho da amostra

Passo 3: Premissas

• Normalidade das variáveis dependentes;

• Linearidade das relações;

• Verificar e garantir a ausência de multicolienaridade

das variáveis independentes;

• Matrizes de dispersão iguais

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114

Passo 4 a: Estimação do Modelo Discriminante

• Entrada de variáveis passo a passo ou em bloco

Passo 4b: Obter precisão preditiva através de Matrizes

de Classificação

• Determinar o ponto de corte ótimo;

• Especificar o critério para obtenção da aderência do

modelo;

• Determinar o nível de significância estatística da predição.

Passo 5: Interpretação da Função Discriminante

• Há apenas uma função a ser interpretada (dois

grupos a serem discriminados)

Passo 6: Validação dos resultados

discriminantes

• Sub amostras;

• Apresentação dos diferentes perfis de

cada grupo.

Passo 5 a: Avaliação da Função Discriminante

• Pesos (coeficientes);

• Correlações estruturais;

• Valores F

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115

A classificação dos grupos via análise discriminante possibilitará, conforme

os resultados encontrados e apresentados a seguir, uma explicação do

comportamento das emissões a partir das variáveis independentes. No entanto,

para que este trabalho atinja o objetivo de obter uma explicação ampla sobre a

decisão de emitir ações publica ou privadamente, procedeu-se também uma

regressão logística com o mesmo conjunto de dados e variáveis. A coerência de

resultados dos dois modelos embasará conclusões consistentes, e reduzirá os

problemas relativos às limitações do modelo discriminante (exigência de

normalidade e homocedasticidade).

A regressão logística pode ser interpretada, nesse contexto, como uma forma

de validar os resultados obtidos com a análise discriminante. Similar à análise

discriminante, o modelo de regressão logística apresenta algumas diferenças,

ressaltadas na subseção seguinte.

5.5.3 O Modelo de Regressão Logística

O modelo de regressão logística atende aos casos em que a variável

dependente é qualitativa em dois níveis (0,1). Neste trabalho, a decisão entre

emitir ações de forma pública ou privada é a variável dependente qualitativa.

Segundo Sincich(1995), o modelo logístico pode ser apresentado da seguinte

forma:

)1.3.5.4()...exp(1

)...exp()(

21

21

kk

kk

xxxxxx

yEββββ

ββββ+++++

++++=

210

210

onde

y = 1 se emissão é privada;

y = 0 se emissão é pública;

E(y) = Probabilidade (Categoria 1 ocorrer);

x1, x2, ..., xk são variáveis independentes quantitativas ou qualitativas

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116

Pode-se, a partir do modelo logístico, estimar a chance de ocorrência (odds)

do evento y=1, que é a razão entre as probabilidades de ocorrência do evento

y=1:

)2.3.5.4(}]1{1[

}1{}0{}1{

}1{}1{

=−=

===

=≠=

yPyP

yPyP

yPyP

O logaritmo neperiano da chance, é, segundo Menard (1995), o logit de y:

)3.3.5.4(...)(log 21 kk xxxYit ββββ ++++= 210

Pode-se obter a chance(odds) novamente através da exponenciação, ou seja,

pelo cálculo de:

)4.3.5.4()1( ...)(log 21 kk xxxyit eeYChance ββββ ++++ 210===

Pode-se,então retornar à probabilidade de Y=1, através de:

)5.3.5.4()1(1

)1()1(=+

===

ychanceychanceyP , que produz novamente

a equação (4.5.3.1).

A Figura 9 apresenta o gráfico do modelo logístico para uma única variável

independente46:

46 Sincich (1995) pp1040

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117

Figura 9 – Gráfico de Valor esperado de Y para o Modelo Logístico

E(y)

1

)exp(1

)exp()(

xx

yE10

10

++

+=

ββββ

0 x

Conforme ressalta Menard, (1995), a função logit, a chance e a

probabilidade, acima apresentadas, são diferentes maneiras de expressar a mesma

coisa.

A regressão logística não depende tanto quanto a análise discriminante da

igualdade de variância e covariância entre os grupos, conforme Hair (1998)47. Um

exemplo disso é poder utilizar sem problemas variáveis independentes

categóricas, que acarretam problemas de igualdade de variância e covariância.

Além disso, existe a vantagem adicional da possibilidade de analogia com a

regressão múltipla, tanto no exame dos resíduos como na interpretação dos

resultados.

A primeira diferença importante está no estabelecimento de categorias para

as variáveis independentes, de modo a que se tenha apenas variáveis categóricas

no modelo. Isso se mostrou necessário devido à ocorrência de emissões muito

pequenas, e de emissões muito grandes na mesma amostra. Além disso, variáveis

como liquidez, lucratividade, endividamento e concentração de propriedade

também apresentavam essas diferenças. Este procedimento pode reduzir

significativamente a influência de comportamentos não lineares das variáveis.

Dessa forma, esse procedimento tornará mais robustas os resultados da regressão

logística.

47 Por essa razão, optou-se por também construir o modelo logístico. A robustez dos resultados conjuntos das estatísticas descritivas, do modelo discriminante e do modelo logístico confere maior consistência às conclusões deste trabalho.

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118

As variáveis foram categorizadas com igual percentual de observações,

sempre que possível, sendo a primeira categoria a que concentra os menores

valores e a última a que concentra os maiores valores. A variável patrimônio

líquido foi excluída da análise por estar presente na fórmula da lucratividade

(lucro líquido/patrimônio líquido) e endividamento (exigível de longo

prazo/patrimônio líquido). Esse procedimento não comprometerá a análise, pois a

variável valor emitido é, também, uma medida de porte da empresa e está

incluída.

Estas categorias foram o ponto de partida para as faixas da regressão

logística. A Tabela 12 apresenta os resultados da categorização feita no SPSS.

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119

Tabela 12 – Categorização das Variáveis para a Regressão Logística Variáveis e Categorias Variáveis e Categorias

VALOR_EM

N Perc3maiord N

1 101 Até 3.500.000 1 93 Até 60%

2 120 De 3.500.000 a 14.000.000

2 345 De 60% a 99%

3 139 De 14.000.000 a 44.000.000

3 191 Acima de 99%

4 137 De 44.000.000 a 120.000.000

Total 629

5 132 Acima de 120.000.000

Total 629

LIQVOL/nº neg LN

N ENDIVID N

1 192 Zero 1 135 zero2 69 De 1 a 2K 2 142 Até 18% 3 99 De 2K a 10K 3 137 De 19% a 46%

4 133 De 10K a 30K 4 141 De 47% a 131%

5 136 Acima de 30K 5 74 Maior que 131%

Total 629 Total 629

LUCRO_LÍQ. N LUCRATIV N

1 114 Até –12.200 1 99 -25% ou menos

2 104 Entre –12.200 e -200

2 269 De -25% a 3%

3 142 Entre –200 e 2.350

3 141 De 3% a 10%

4 145 Entre 2.350 e 25.800

4 120 Acima de 10%

5 124 Acima de 25.800 Total 629

Total 629

A Tabela 13 apresenta os testes de linearidade para a relação entre as

variável tipo de emissão (dependente) e as variáveis independentes.

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120

Tabela 13 – Testes de Linearidade para as relações entre a variável dependente

e as independentes

Variáveis e testes VALOR_EM Valor

Erro padrão assintótico T aproximado

Significância aproximada

Gamma -,360 ,051 -6,865 ,000Correlação de

Spearman-,258 ,038 -6,700 ,000

Perc3maiord

Gamma ,122 ,070 1,735 0,083Correlação de

Spearman,069 ,040 1,731 ,084

Liqvol/Nºneg LN

Gamma -,257 ,055 -4,587 ,000Correlação de

Spearman-,181 ,039 -4,589 ,000

Endiv ELP/PL

Gamma ,018 ,057 ,311 ,756

Correlação de Spearman

,012 ,040 ,311 ,756

Lucro Líq. Us$1000

Gamma -,213 ,055 -3,855 ,000

Correlação de Spearman

-,152 ,039 -3,844 ,000

LUCRATIV.LL/PL

Gamma -,293 ,058 -4,933 ,000

Correlação de Spearman

-,191 ,039 -4,862 ,000

TIPOEMP 0

Gamma ,671 ,104 4,795 ,000

Correlação de Spearman

,188 ,034 4,783 ,000

TIPOEMP 1

Gamma -,306 ,077 -3,780 ,000

Correlação de Spearman

-,149 ,039 -3,773 ,000

Para o teste de Correlação de Spearman, se o nível de significância for

menor que 0,05, então a correlação é significativa e as duas variáveis são

linearmente relacionadas. No caso da variável de concentração de controle

(perc3maiord), a significância apresentada é 0,084, o que dá um intervalo de

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121

confiança um pouco menor para a linearidade, mas que foi aceito para a

construção do modelo logístico. Para a variável endividamento (ELP/PL) o valor

da significância é de 0,756, o que dá um intervalo de confiança muito pequeno

para a linearidade. Essa variável será, portanto, desconsiderada no modelo

logístico.

A premissa de linearidade das relações foi testada com sucesso, exceto para

a variável relativa ao endividamento. A seguir, será apresentado o fluxograma do

processo de formulação do modelo de regressão logística. Note-se que os

primeiros três passos são muito similares aos da análise discriminante, e já foram

apresentados nesta seção. Os passos 4 a 6 serão apresentados junto com os

resultados no próximo capítulo.

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122

Figura 10 – Fluxograma teórico da regressão logística48

48 baseado em Hair et. ali., 1998, pp. 314.

Passo 1: Problema de Pesquisa:

Objetivos selecionados: • Determinar diferenças significativas entre grupos de emissões

de ações;

• Classificar as observações dos grupos definidos;

Passo 2: Desenvolvimento da Pesquisa

• Variável dependente categórica: Emissão Pública = 0; Privada = 1

• Seleção das variáveis independentes – literatura e intuição

• Categorização de variáveis independentes

• Tamanho da amostra

• Criação e análise de sub amostras para validação

Passo 3: Premissas

• Linearidade das relações;

Passo 4 a: Estimação do Modelo Logístico

• Entrada de variáveis passo a passo ou em bloco

• Verificação da significância da função logística

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123

Como se pode notar, o modelo logístico é bastante similar ao discriminante.

Trata-se de duas técnicas adequadas à classificação das emissões em públicas ou

privadas segundo as características das empresas emissoras. O objetivo, como foi

salientado antes, é dar consistência aos resultados obtidos com a análise

discriminante. A seguir, serão apresentadas as limitações dos métodos utilizados.

Passo 4b: Obter precisão preditiva através de Matrizes

de Classificação

• Determinar o ponto de corte ótimo;

• Especificar o critério para obtenção da aderência do

modelo;

• Determinar o nível de significância estatística da predição. • Obtenção do estatístico Wald para aferir a significância

Passo 5: Interpretação dos resultados da Função Logística

• Há uma equação similar à função discriminante binária.

• Verifica-se a coerência dos resultados das duas análises

Passo 6: Validação dos resultados

• Sub amostras: duas amostras aleatórias de 50% são criadas para validação do

modelo

• Apresentação de outliers para posterior explicação

• Verificação da capacidade preditiva obtida nas matrizes de classificação com

e sem ponderação (o número de emissões particulares da amostra é muito

maior que o das públicas)

• Comparação com a matriz de classificação da análise discriminante.

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124

5.6 Limitações do método

Dados:

O levantamento sistemático oficial, através da Comissão de Valores

Mobiliários e das Bolsas de Valores, sobre as emissões particulares não existe. Foi

necessária ampla pesquisa em documentos (informativos do mercado, jornais

especializados, entre outros) de modo a estabelecer com confiança uma base

empírica e o período de análise. Nesse sentido, os de levantamentos para os anos

anteriores a 1995 poderiam ser úteis para uma análise comparativa entre os

períodos pré e pós Plano Real. No entanto, esse levantamento se provou inviável,

já que não se pode encontrar os dados completos das emissões nem os relativos às

características das empresas emissoras. A falta de dados contábeis, tais como

endividamento, lucratividade, causaria a eliminação pelo, modelo, de muitas

observações. Técnicas de substituição de valores ausentes por médias ou outro

valor poderiam comprometer a robustez das conclusões. De qualquer forma, a

extensão para períodos anteriores a 1995 fica como sugestão para futuras

pesquisas.

A utilização de dados referidos em dólares americanos, ocorrida em

algumas variáveis, torna relevantes as datas e a forma da conversão. Essa

limitação se deve à instabilidade da moeda nacional, em especial, antes do Plano

Real. Ocorre que, mesmo após o Plano, várias fontes de dados continuaram a

utilizar os dólares americanos como moeda para a denominação de variáveis

contábeis. Isso pode acarretar, de algum modo, distorções. É uma limitação

presente em trabalhos realizados no Brasil.

Modelo Teórico:

A questão da maximização do valor para os acionistas controladores, da

forma colocada por Ferreira e Brooks (2000) pressupõe uma racionalidade que

pode não estar presente no mercado de capitais brasileiro. A noção de

maximização de valor para os controladores pode não ser perseguida como em um

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125

mercado mais desenvolvido. Essa limitação, entretanto, não invalida o modelo

teórico, já que este constitui um quadro conceitual aceito mundialmente. De fato,

as conclusões do trabalho, poderão esclarecer sua adequação ao mercado

brasileiro.

Pensou-se na construção de um modelo decisório do tipo árvore de decisão

para a emissão privada ou pública de ações. Embora a base de dados seja ampla e

as variáveis obtidas sejam explicativas do fenômeno, a relação de causalidade

necessária para a obtenção de uma árvore de decisão é mais complexa do que o

objetivo deste trabalho. Fica como sugestão para futuras pesquisas, a partir dos

resultados aqui apresentados, a busca da relação de causalidade necessária para a

construção de um modelo decisório mais amplo.

As variáveis relativas à lucratividade, endividamento, e patrimônio líquido,

ficaram limitadas aos dados contábeis disponíveis. Dessa forma, ficaram de fora

variáveis que seriam interessantes para dar maior robustez à análise. Pode-se citar

variável ligada ao nível de preço das ações emitidas, em relação à média histórica,

e o nível do IBOVESPA antes da emissão. Essas variáveis poderiam indicar o

oportunismo das emissões públicas e/ou privadas, enriquecendo a análise.

Entretanto, a liquidez muito baixa de grande parte das empresas da amostra

tornaria essa análise frágil. Isso deveria à impossibilidade de cálculo confiável

dos retornos obtidos pelos investidores nas emissões: a pouca liquidez tornaria o

cálculo muito impreciso ou mesmo inviável. Fica, porém, como sugestão para

futuros trabalhos.

Na medida de porte das empresas utilizou-se como proxy o patrimônio

líquido e o valor emitido. Isso excluiu, ativo total, faturamento, geração de caixa,

que poderiam ser variáveis relevantes. A escolha se deveu à maior disponibilidade

do patrimônio líquido nas fontes pesquisadas. Uma outra limitação, é o fato do

lucro líquido poder ser, também, considerado uma medida de porte. Nesse sentido,

os modelos discriminante e logístico providenciam a eliminação de variáveis

correlacionadas, mantendo apenas as que de fato têm poder classificatório.

A questão do risco percebido pelo investidor poderia ter sido abordada

através de uma classificação das empresas por setores da economia. Além disso,

seria interessante conhecer os tipos de investidor que adquiriram as emissões

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públicas e privadas. Fica como sugestão para futuros trabalhos testar o processo

decisório por setor e por tipo de investidor.

Os custos de emissão não se apresentam iguais para todas as empresas. De

fato, empresas maiores, com maior prestígio, tendem a ter custos menores. Seria

interessante abordá-los como uma variável, já que são relevantes dentro do quadro

conceitual proposto. Entretanto, o levantamento dos custos das emissões públicas

apenas para os últimos três anos do estudo, apresentado na Tabela 9, provou-se

particularmente trabalhoso. Além da dificuldade de obtenção dos prospectos em

anos de maior movimento de emissões públicas, o acesso aos custos das emissões

particulares somente seria possível através de entrevistas com pessoas ligadas às

empresas emissoras. Naturalmente, muitas empresas da amostra não mais existem,

tornando impossível a obtenção de todos os dados necessários.

Modelos Empíricos:

A falta de normalidade nas observações das variáveis independentes

prejudica a análise das estatísticas descritivas e da análise discriminante. Para

contornar isso, foi desenvolvido o modelo logístico, menos restritivo quanto às

premissas de normalidade e homocedasticidade da análise discriminante. Suas

conclusões, em conjunto com as dos outros dois procedimentos, darão maior

consistência a este trabalho. Há que se ressaltar que o modelo discriminante tem

sua robustez ligada à capacidade de classificação. Um baixo percentual (inferior a

60%) indicaria fragilidade no modelo.

Além disso, variáveis foram manipuladas com transformações logarítmicas

e razões para que o seu comportamento possibilitasse uma melhor classificação

dos grupos. Procurou-se realizar as transformações com parcimônia de forma a

não limitar demasiadamente o poder classificatório dos modelos. Nesse sentido,

vários modelos alternativos, com variáveis transformadas de diversas formas

foram testados, optando-se pelos de maior poder explanatório.

Os modelos discriminante e de regressão logística empregados partem de

premissas quanto ao comportamento das variáveis. No capítulo de resultados

serão abordadas as suas limitações e os procedimentos (além dos já relatados)

para sua correção.

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127

Neste capítulo foi apresentada a metodologia utilizada na investigação.

Foram explicados o tipo de pesquisa, o universo e a seleção da amostra assim

como a coleta dos dados e seu tratamento. Finalmente, foram apresentadas as

limitações do método e a justificativa para sua utilização. O próximo capítulo fará

a apresentação e a análise dos resultados.

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128

6 Apresentação e análise dos resultados

Este capítulo apresenta os resultados para a investigação do comportamento

das emissões de ações entre janeiro de 1995 e dezembro de 2002. Foram

desenvolvidos três métodos estatísticos para responder às questões de pesquisa:

estatísticas descritivas, modelo discriminante e regressão logística. O que se

procurou, ao optar pelos três foi conferir robustez às conclusões. Os testes foram

realizados sobre um conjunto de variáveis apresentadas anteriormente: valor

emitido; tipo de empresa; lucro líquido; patrimônio líquido; dívida de longo

prazo; lucratividade; endividamento de longo prazo; liquidez medida em volume,

número de negócios e na razão entre eles; concentração de propriedade medida

pelo percentual de controle dos três maiores acionistas. Além dessas há as

variáveis oriundas da transformação de algumas, conforme já relatado. Para tanto,

o capítulo se subdivide em três seções.

A primeira apresenta as estatísticas descritivas das variáveis transformadas e

os resultados da análise discriminante.

A segunda seção apresenta os resultados da regressão logística.

A terceira seção responde à questão de pesquisa e apresenta as evidências

que solucionam as hipóteses levantadas. É feita ainda a análise conjunta dos

resultados das duas seções anteriores e as evidências de coerência entre eles.

6.1 Análise discriminante

Esta seção se subdivide em quatro subseções. Passo a passo serão

apresentados os resultados da construção do modelo e os motivos que levaram a

cada tomada de decisão no processo. Optou-se por esta apresentação no capítulo

de resultados para que fique mais clara a lógica utilizada na construção do

modelo, que dependeu de resultados parciais.

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129

A primeira subseção trata das estatísticas descritivas. A seguinte apresenta

os resultados dos testes diferenças de médias entre grupos e variáveis, correlações

e igualdade matrizes de dispersão, identificando quais são as variáveis mais

interessantes para o modelo. Na subseção três é apresentado o modelo

discriminante, os testes de adequação, a função discriminante padronizada, a

matriz estrutural e a função discriminante classificadora.. Na quarta subseção é

apresentada a tabela de classificação, descrevendo a proporção de acertos de cada

categoria. Será feita a validação do modelo e testada a sua estabilidade.

6.1.1 Estatísticas descritivas

No capítulo anterior foram apresentadas as estatísticas descritivas com as

variáveis originais e as transformações levadas a cabo no sentido de atender às

premissas da análise discriminante.

O modelo discriminante desenvolvido utilizou as variáveis originais e as

modificadas conforme apresentadas nas estatísticas descritivas da Tabela 14, a

seguir.

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130

Tabela 14 – Estatísticas descritivas das variáveis transformadas

Tipo

de Emissão

Pública = 0

Privada = 1

Variáveis

(inclusive as

transformadas)

Média

Mediana

Desvio

Padrão

Nº de observações

válidas

0

Valor emit R$ (log10) 7,64 7,11 0,76 101

Lucrativ.LL/PL -0,11 0,018 1,05 101

Endivid ELP/PL 0,58 0,26 1,27 101

perc3Maciord 83,26 89,00 19,14 101

Liquid vol / no negociado (ln) 7,32 9,25 4,61 101

tipoemp1 0,72 1,00 0,45 101

tipoemp0 0,03 0,00 0,17 101

Lucro Líq Us$1000 (log10) 1,28 3,32 3,64 101

Patr. Líq Us$1000 (log10) 4,70 5,12 1,42 101

1

Valor emit R$ (log10) 7,12 7,24 1,01 528

Lucrativ.LL/PL -0,50 -0,000042 2,28 528

Endivid ELP/PL 1,25 0,25 4,33 528

perc3Maciord 86,58 95,78 16,68 528

Liquid vol / no negociado (ln) 5,92 7,35 4,80 528

tipoemp1 0,58 1,00 0,49 528

tipoemp0 0,13 0,00 0,34 528

Lucro Líq Us$1000 (log10) 0,01 0,00 3,93 528

Patr. Líq Us$1000 (log10) 4,68 4,91 1,37 528

Total

Valor emit R$ (log10) 7,38 7,47 0,93 629

Lucrativ.LL/PL -0,31 0,0046 1,78 629

Endivid ELP/PL 0,92 0,25 3,20 629

perc3Maciord 84,92 92,61 18,02 629

Liquid vol / no negociado (ln) 6,62 8,83 4,76 629

tipoemp1 0,65 1,00 0,48 629

tipoemp0 0,08 0,00 0,27 629

Lucro Líq Us$1000 (log10) 0,65 2,35 3,84 629

Patr. Líq. Líq Us$1000 (log10) 4,69 5,02 1,40 629

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131

Pode-se notar que o problema de escala não está mais presente. As variáveis

transformadas foram normalizadas, dentro do possível, atendendo às premissas do

modelo discriminante49. Importante notar o comportamento mais uniforme dos

desvios-padrão das variáveis transformadas, exceto a lucratividade.

A Tabela 15 apresenta o comportamento das médias e dos desvios-padrão

das variáveis utilizadas entre os grupos.

Tabela 15 – Comportamento das médias e dos desvios-padrão entre os grupos

de emissões públicas e privadas (0 e 1)

Variável Relação

Percentual Relação

percentual

Transformada*

na média entre

grupos de emissões

públicas e privadas

no desvio – padrão

entre grupos

(valor var. privada/val var. pública–1)*100

Valor emit R$ (log10) -6,86 32,16

Lucrativ.LL/PL 343,03 117,61

Endivid ELP/PL 114,50 239,87

perc3Maciord 3,99 -12,86

Liquid vol / no negociado (ln) -19,08 4,13

tipoemp1 -19,55 10,21

tipoemp0 333,59 97,31

Lucro Líq Us$1000 (log10) -99,43 8,16

Patrim. Líq. U$ 1000 (log 10) -0,38 -3,73

Lucro Líq Us$1000 (log10) -99,43 8,16

49 Foram feitos os normal Q-Q plots, evidenciando a “normalização” das variáveis que não estão sendo apresentados.

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132

As seguintes variáveis apresentam diferenças mais expressivas no

comportamento de suas médias entre os grupos de emissoras públicas e privadas:

Lucrativ.LL/PL ,TIPOEMP0, TIPOEMP1, Lucro Líq Us$1000 (log10), Endivid

ELP/PL,Liquid vol / no negociado (ln) e Valor emit R$ (log10).

Os resultados sugerem, a partir das estatísticas descritivas, que as empresas

que emitiram publicamente ações são predominantemente empresas privadas,

ligeiramente maiores pelo patrimônio líquido, mais lucrativas50, menos

endividadas, apresentam maior liquidez em bolsa de valores, e um valor médio

por emissão maior do que as que as que realizaram emissões privadas. A

concentração de propriedade é cerca de três por cento menor para as empresas que

emitem publicamente, enquanto que o lucro líquido medido em dólares é menor

para as emissões privadas. Estas constatações preliminares serão objeto de análise

mais apurada no modelo construído.

A mediana do endividamento das empresas que realizaram emissões

públicas, 26 por cento (média de 58%) é inferior à encontrado por Furtado (1997),

de 53 por cento e à de Charchat (2000), 60 por cento. Além disso, é menor,

também, do que a mediana das 500 maiores empresas do Brasil entre 1986 e1996

(41%). O resultado encontrado, porém, é maior que o de Leal(1993), 16 por cento

de mediana (média 34%). A diferença pode se explicada, em parte pelo fato da

amostra deste trabalho abranger aberturas de capital e emissões veteranas. Nas

empresas que realizaram emissões privadas o endividamento foi ainda maior, 125

por cento, em média (mediana de 25%). O elevado endividamento pode ter

influenciado a decisão por emissões particulares, já que não seria um indicador

bem recebido pelo mercado.

Com relação à lucratividade, as medianas para as emissoras públicas foi de

1,8 por cento (média –11%) e, para as privadas, de praticamente zero (média –

50%). A amostra de Charchat apontou mediana de lucratividade de –3,5 por cento

e a das 500 maiores empresas do Brasil, de 5 por cento. Leal (1993) aponta como

média do retorno sobre o patrimônio líquido de 7 por cento(mediana 6 %) para

50 Na verdade, apresentam prejuízos menores, já que ambas as médias apresentam lucratividade negativa.

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133

sua amostra das empresas que abriram o capital entre 1978 e1992. Ness (2000),

por sua vez aponta que a rentabilidade média das empresas não financeiras

listadas em Bolsa entre 1994 e 2002 foi de 4,06 por cento. Os números

apresentados sugerem que as empresas que realizaram emissões públicas e

privadas no Brasil, no período estudado, tiveram uma performance abaixo do

conjunto das empresas listadas. Esse desempenho foi compatível com o apontado

por Charchat (2000) e pior do que os números de Leal (1993). Isso sugere que os

anos após o Plano Real não foram bons para as empresas que emitiram ações no

período. De fato, as empresas que realizaram emissões são, em sua maioria,

empresas com prejuízos.

A concentração de propriedade apresentou resultados coerentes com os de

Da Silva (2002) e Leal, Da Silva e Valadares (2000). As empresas de capital

aberto no Brasil possuem elevada concentração de propriedade. No que diz

respeito às empresas emissoras, a concentração é maior nas que realizaram

emissões privadas. Isso está coerente com a expectativa de que empresas com

elevada concentração de propriedade tenderiam a evitar os elevados custos das

emissões públicas.

A seguir serão apresentados e analisados os testes univariados de diferenças

entre os grupos e variáveis, identificando quais são as variáveis mais interessantes

para o modelo.

6.1.2 Testes de diferenças de médias entre grupos e variáveis, correlações e igualdade matrizes de dispersão

Os testes de diferenças entre as médias foram realizados no SPSS utilizando

o estatístico Wilk’s lambda para a avaliar a significância estatística do poder

classificatório da função discriminante a ser obtida. A Tabela 16 apresenta os

resultados.

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134

Tabela 16 – Teste de igualdade de médias de grupos

Wilks' Lambda F df1 df2 Sig.

Valor emit R$ (log10) ,920 54,222 1 626 ,000

Lucrativ.LL/PL ,988 7,448 1 626 ,007

Endivid ELP/PL ,989 6,885 1 626 ,009

perc3Maciord ,992 5,373 1 626 ,021

Liquid vol / no negociado (ln) ,978 13,834 1 626 ,000

tipoemp1 ,978 14,112 1 626 ,000

tipoemp0 ,966 21,826 1 626 ,000

Lucro Líq Us$1000 (log10) ,972 17,875 1 626 ,000

Patrim. Líq Us$1000 (log10) ,998 1,523 1 626 ,218

Não se pode rejeitar a hipótese nula de que a variável Patrim, Líq. Us$1000

(Log 10) não apresente diferenças significativas de médias entre os dois grupos de

emissões51. As demais variáveis apresentam significância na diferença entre

médias para as populações de emissões públicas e privadas. A seguir, a matriz de

correlações, apresentada na Tabela 17.

Tabela 17 – Matriz de correlações entre as variáveis Correlação Valor

emit R$ (log10)

Lucrativ. LL/PL

Endivid ELP/PL

perc3Maciord Liquid vol / no negociado (ln)

tipoemp1 tipoemp0 Lucron Líq Us$1000 (log10)

Valor emit R$ (log10)

1,000 ,065 ,067* -,120* ,325* -,019 ,105* ,169*

Lucrativ.LL/PL ,065 1,000 -,676* -,084* ,096** -,030 ,058 ,278**Endivid ELP/PL ,067* -,676* 1,000 ,090* -,047 ,323* ,078 -

,168**perc3Maciord -,120* -,084* ,090* 1,000 -,177** -,026 -,033 -

,166**Liquid vol / no negociado (ln)

,325* ,096** -,047 -,177** 1,000 ,015 ,208** ,327**

tipoemp1 -,019 -,030 ,323* -,026 ,015 1,000 -,412** -,078tipoemp0 ,105* ,058 ,078 -,033 ,208** -,412** 1,000 ,130**Lucro Líq Us$1000 (log10)

,169* ,278** -,168** -,166** ,327** -,078 ,130** 1,000

* significância= 0,01 ** significância =0,0552

51 Para o nível de significância de 5%. 52 A significância das correlações é a probabilidade de erro ao rejeitar a hipótese nula, de diferenças entre médias, sendo ela correta.

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135

A significância superior a 0,05 ocorreu em algumas correlações. Isso

constitui uma limitação do modelo. A categorização de variáveis do modelo

logístico solucionou isso, conforme a Tabela 13, apresentada anteriormente.

Excetuando-se endividamento e lucratividade e tipos de empresa 0 e 1, as

correlações são, em geral, baixas. No coeficiente de correlação entre as empresas

de três tipos (0,1 e 2), o que se espera é que sejam negativas, duas as duas as

correlações. O valor absoluto menor do que 1 pode ser explicado pelo fato de

serem três os tipos de empresas na amostra. O valor depende do número de

observações de cada tipo.

Como o modelo discriminante elimina as variáveis com pouco poder de

classificação e alta colinearidade, quaisquer variáveis dentro do grupo podem

entrar na sua construção. Dessa forma, o conjunto de variáveis acima apresentado

na Tabela 17 foi escolhido para a confecção do modelo.

Todas as variáveis foram, a seguir, introduzidas simultaneamente no

modelo, o que será apresentado na próxima subseção.

Uma premissa do modelo discriminante é igualdade das matrizes de

dispersão. Em que pese o fato de haver variáveis categóricas independentes (tipo

de empresa), foi realizado o teste de Box’M para igualdade das matrizes de

covariância das variáveis independentes para grupos de observações das variáveis

dependentes. A significância obtida foi 0,000, o que equivale dizer que o teste

Box’M não pode rejeitar a hipótese nula de que as matrizes de covariâncias sejam

diferentes. Isso fere a premissa de igualdade das matrizes de covariância. Pode se

dever ao alto valor da razão entre o número de observações e o número de

variáveis. Para contornar isso utilizou-se matrizes de covariâncias separadas para

a classificação.

Como forma de dar maior robustez aos resultados, o modelo de regressão

logística foi desenvolvido para analisar a coerência dos resultados obtidos com a

análise discriminante. Isso também se deveu ao resultado do teste Box’M, acima

apresentado. Optou-se por não mais manipular ou transformar as variáveis de

modo a ajustar o modelo à homocedasticidade, pois o excesso de interferência

poderia ferir a integridade dos resultados e predições. Assumiu-se, portanto, para

a construção do modelo discriminante, a utilização da matriz combinada de

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covariâncias, já que elas se apresentaram desiguais entre os grupos de

observações.

A próxima subseção apresenta o modelo discriminante, os testes de

adequação, a função discriminante padronizada, a matriz estrutural e a função

discriminante classificadora.

6.1.3 Modelo discriminante: testes de adequação, função discriminante padronizada, matriz estrutural e função discriminante classificadora

O modelo discriminante foi processado no SPSS, a partir das variáveis

selecionadas e apresentadas na subseção anterior. Estas foram incluídas em bloco

e no método stepwise (passo a passo).

Primeiramente, serão apresentados os resultados do modelo desenvolvido

com a entrada de variáveis em bloco.

A Tabela 18 apresenta os autovalores (eigenvalues ), que são a principal

estatística de adequação do modelo. Medem a proporção da variância contida na

matriz de correlação. É apresentado, também o teste Wilk’s Lambda, multivariado

também chamado de estatístico U. Seus valores se situam no intervalo entre zero e

um. Valores próximos a zero indicam que grupos de médias são diferentes. O

valor do Wilks’ é 1-0,164= 0,836. Para significância menor do que 0,05, rejeita-se

a hipótese nula de que as médias das funções discriminante sejam iguais, e,

portanto, os grupos diferem estatisticamente.

Tabela 18 – Autovalores e Wilk’s Lambda

Função Autovalores % da Variância Acumulado

%

Correlação Canônica

1 ,196ª 100,0 100,0 ,405

Teste da

Função

Wilks' Lambda Chi-quadrado df Sig.

1 ,838 112,595 8 ,000

Pelo resultado apresentado na Tabela 18, tem-se que .405^2 = 0,164 é a

proporção da variância total explicada pelo modelo. Uma transformação do tipo

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chi-quadrado do Wilks' lambda é utilizada com os graus de liberdade para obter a

significância. Se a significância for menor que 0.10, isso indicará que as médias

entre grupos diferem. Como a significância apresentada na Tabela 18 foi de 0,00,

as médias entre os grupos diferem. Dessa forma, existe relevância estatística no

poder discriminatório da função discriminante.

A seguir são apresentados na Tabela 19 os coeficientes padronizados que

indicam o real efeito de cada variável na classificação dos grupos.

Tabela 19 – Coeficientes padronizados para a função discriminante canônica

Variáveis Função

1

Valor emit R$ (log10) ,723

Lucrativ.LL/PL -,040

Endivid ELP/PL -,326

perc3Maciord -,031

Liquid vol / no negociado (ln) ,116

tipoemp1 ,199

tipoemp0 -,540

Lucro Líq Us$1000 (log10) ,293

A Tabela 20, a seguir, apresenta a hierarquia de importância entre as

variáveis para a classificação dos grupos.

Tabela 20 – Matriz Estrutural – variáveis ordenadas pelo tamanho da correlação

dentro da função

Variáveis Função 1

Valor emit R$ (log10) ,664

TIPOEMP0 -,421

Lucro Líq Us$1000 (log10) ,381

TIPOEMP1 ,339

Liquid vol / no negociado (ln) ,335

Lucrativ.LL/PL ,246

Endivid ELP/PL -,237

perc3Maciord -,209

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As variáveis mais importantes para a discriminação dos grupos (emissões

particulares ou ofertas públicas) são, pela ordem, o logaritmo decimal do valor

médio emitido em reais, a o fato de ser empresa estatal, o logaritmo decimal do

lucro líquido, o fato de ser empresa privada, a liquidez medida pela razão entre o

volume negociado e o número de negócios, a lucratividade, o endividamento e o

percentual de propriedade de ações ordinárias dos três maiores acionistas. Essa

hierarquia poderá servir como base, em futuros trabalhos, para a construção de

uma árvore de decisão da emissão privada de ações.

Para que se possa obter uma explicação dos fatores que levam uma empresa

a emitir ações, privada ou publicamente é necessária a interpretação da equação

discriminante. Para tanto, será apresentada na Tabela 21 a função discriminante.

Tabela 21 – Função Discriminante Canônica: coeficientes não padronizados

Função 1

Valor emit R$ (log10) ,809

Lucrativ.LL/PL -,022

Endivid ELP/PL -,102

perc3Maciord -,002

Liquid vol / no negociado (ln) ,025

TIPOEMP1 ,422

TIPOEMP0 -2,032

Lucro Líq Us$1000 (log10) ,077

(Constante) -6,067

A função acima é a utilizada para calcular o valor do score 53da função

discriminante. Ao se multiplicar os valores de cada variável para cada caso da

amostra pelos respectivos coeficientes, encontra-se o score. O centróide cujo valor

seja mais próximo ao do score encontrado determina a classificação. A seguir, os

valores da função para cada centróide, apresentados na Tabela 22.

53 Score da função: valor assumido pela função discriminante para cada caso observado na amostra.

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Tabela 22 – Valores da função nos centróides de cada grupo

Função

Emissão priv=1pub=0

1

Pública: 0 ,442

Privada: 1 -,442

Os resultados são de fácil interpretação, uma vez que os centróides são de

valor igual e sinais opostos. Dessa forma, as contribuições positivas na equação

favorecem a classificação em emissão pública, enquanto que as negativas

favorecem a classificação como emissão privada.

Assim temos a função discriminante na forma a seguir, já com os

coeficientes e a constante.

Função Discriminante:

101000077000322142200250300201020

02201080900676

LogULucroLiqTipoemptipoempnegLnnonegvolLiquidmaiordpercPLELP

PLiqLucrativLLLogValoremitRZ jk

$,,,./.,,/,

/,$,,

+−+++−−

−−+−=

A partir da equação acima, pode-se notar que as maiores contribuições para

a empresa emitir publicamente(sinais positivos) são o maior logaritmo decimal do

lucro líquido medido em dólares, o maior logaritmo decimal do valor médio

emitido, a maior liquidez em bolsa de valores e o fato de ser empresa privada.

Para as emissões particulares (sinais negativos), as maiores contribuições

estão relacionadas à maior concentração de propriedade, ao fato da empresa ser

estatal , à maior lucratividade medida pela razão entre lucro líquido e patrimônio

líquido no exercício anterior à emissão, e ao maior endividamento.

Os resultados estão coerentes com os observados nas estatísticas

descritivas54, o que reforça a aderência do modelo.

A próxima subseção apresenta os gráficos da função discriminante, a tabela

de classificação e a adequação geral do modelo.

54 Exceto no que diz respeito à lucratividade. Como se pode observar nas descritivas, o desvio-padrão é elevado e isto pode ter influenciado o resultado.

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140

6.1.4 Tabela de classificação e adequação do modelo discriminante

O meio mais adequado de verificar a aderência do modelo é a medição da

quantidade de acertos na predição.

A Tabela 23, a seguir, apresenta os resultados de classificação do modelo.

Os resultados, assim como todos os outros apresentados sai na forma de relatório

do SPSS.

Tabela 23 – Resultados da Classificação55

GrupoPrevisto

Total

Emissão priv=1 pub=0

0 1

Original Contagem 0 227 87 3141 122 192 314

% 0 72,3 27,7 100,01 38,8 61,2 100,0

Validação cruzada

Contagem 0 215 100 314

1 125 189 314% 0 68,3 31,

7100,0

1 39,8 60,2 100,0

Na Validação cruzada, cada caso é classificado pelas funções derivadas de todos os

demais casos.

b 66,7% do grupo original classificado corretamente.

c 64,3% do grupo com validação cruzada classificado corretamente.

O resultado apresentado revela 66,7 por cento de acerto na classificação dos

grupos originais. Quando foi feita a validação cruzada, através da divisão da

amostra em duas partes aleatoriamente escolhidas, os acertos se situam na faixa de

64,3 por cento. Estes números sugerem a estabilidade do modelo. De fato, não

houve perda significativa no percentual de acerto ao se utilizar amostras

aleatórias, demonstrando a força do modelo.

55 Foi utilizada a ponderação com 50% para emissões particulares e 50% para emissões públicas, de modo a se obter o melhor ajuste possível para o modelo. Sem a ponderação seriam 16,33% de emissões públicas e 83,67% de emissões privadas.

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141

A seguir, na Figura 11 são apresentados os gráficos tipo histograma com as

ocorrências para as emissões públicas e privadas.

Figura 11 – Valores da função discriminante para os casos em que a emissão foi

pública(=0)

2,001,75

1,501,25

1,00,75

,50,25

0,00-,25

-,50-,75

-1,00-1,25

-1,50-1,75

-2,00

Função 1

Emissão priv=1 pub=0 = 050

40

30

20

10

0

Pode-se notar que os valores positivos apresentam maior freqüência. O

centróide é 0,442. A Figura 12, a seguir, apresenta os histogramas de freqüência

dos valores da função discriminante para as emissões particulares.

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142

Figura 12 – Valores da função discriminante para os casos em que a emissão foi

particular (=1)

2,502,00

1,501,00

,500,00-,50

-1,00-1,50

-2,00-2,50

-3,00-3,50

-4,00-4,50

Função 1

Emissão priv=1 pub=0 = 150

40

30

20

10

0

Nota-se que a freqüência está mais concentrada nos valores negativos. De

fato o centróide é –0,442, ao passo que para as emissões públicas é +0,442.

A estabilidade do modelo permite que se chegue a algumas conclusões

sobre o fenômeno investigado. Entretanto, em busca de uma consistência ainda

maior, em especial por ter premissas menos restritivas56, optou-se, neste trabalho,

pela construção de modelo de regressão logística.

6.2 Regressão Logística

A primeira subseção apresenta o modelo logístico, a partir das variáveis

categorizadas anteriormente. Na segunda subseção é apresentada a tabela de

classificação, descrevendo a proporção de acertos de cada categoria. Será feita a

validação do modelo através de teste sobre sub amostras aleatórias e verificada a

sua estabilidade.

56 Apenas a linearidade das relações.

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143

6.2.1 Regressão Logística – seleção das variáveis categorizadas e estimação do modelo

No modelo logístico os coeficientes da função são calculados por interação

e param ao atingir uma variação mínima. No presente modelo a convergência

ocorreu após cinco iterações. A Tabela 24 apresenta o histórico de convergência

dos coeficientes. Os coeficientes da função logística estão na linha 4 da tabela

para cada variável.

Tabela 24 – Histórico de Convergência de Coeficientes

Verossimilhança

-2 Log

Coeficientes

Interação Constante vlremit(1) vlremit(2) vlremit(3) vlremit(4) lucra(

1)

Passo1 722,751 1,716 ,738 ,935 1,123 1,798 -,170

2 716,515 2,118 ,936 1,169 1,405 2,270 -,211

3 716,419 2,167 ,961 1,197 1,441 2,334 -,217

4 716,419 2,168 ,962 1,197 1,442 2,335 -,217

lucra(2) lucra(3) nendivid(1) nendivid(2) nendivid(3) nendivid(4)

1 722,751 -,321 -,684 -,059 ,031 ,076 ,504

2 716,515 -,505 -,909 -,059 ,015 ,117 ,683

3 716,419 -,538 -,944 -,059 ,012 ,127 ,710

4 716,419 -,538 -,945 -,059 ,012 ,127 ,711

perc3(1) perc3(2) volqtd(1) volqtd(2) volqtd(3) volqtd(4)

1 722,751 ,154 ,082 ,920 ,036 -,705 -,447

2 716,515 ,191 ,086 1,251 ,065 -,803 -,526

3 716,419 ,194 ,085 1,306 ,069 -,811 -,533

4 716,419 ,194 ,085 1,307 ,069 -,811 -,534

tipoemp1(0) tipoemp1(1) nlucro_l(1) nlucro_l(2) nlucro_l(3) nlucro_l(2)

1 722,751 1,023 -,637 -,115 -,764 -,042 ,130

2 716,515 1,368 -,789 -,153 -,929 ,062 ,254

3 716,419 1,426 -,808 -,157 -,947 ,082 ,279

4 716,419 1,427 -,808 -,157 -,947 ,083 ,279

a: Método: Entrada de cada variável; b: Constante está incluída no modelo. c : Verossimilhança (-2 Log ) inicial: 891,387; d: Estimação terminou na interação 4

pois os estimadores dos parâmetros mudaram menos do que 0,001.

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144

As variáveis na equação logística e suas respectivas significâncias são

apresentadas na Tabela 25, a seguir.

Tabela 25 – Variáveis na Equação

Intervalo de confiança de 95,0% para

EXP(B)

Coeficiente B

S.E. Wald df Sig. Exp(B) -

Abaixo Acima

vlremit 38,842 4 ,000

vlremit(1) -,962 ,325 8,747 1 ,003 ,382 ,202 ,723

vlremit(2) -1,197 327 13,395 1 ,000 ,302 ,159 ,573

vlremit(3) -1,442 ,351 16,854 1 ,000 ,236 ,119 ,471

vlremit(4) -2,335 ,377 38,384 1 ,000 ,097 ,046 ,203

lucra 4,306 3 ,230

lucra(1) -,217 ,318 ,466 1 ,495 ,805 ,432 1,500

lucra(2) -,538 476 1,281 1 ,258 ,584 ,230 1,483

lucra(3) -,945 489 3,730 1 ,053 ,389 ,149 1,014

nendivid 4,325 4 ,364

nendivid(1) -,059 310 ,036 1 ,849 ,942 ,513 1,732

nendivid(2) ,012 330 ,001 1 ,972 1,012 ,530 1,933

nendivid(3) ,127 342 ,137 1 ,711 1,135 ,580 2,221

nendivid(4) ,711 ,419 2,882 1 ,090 2,035 ,896 4,622

perc3 ,580 2 ,748

perc3(1) ,194 ,280 ,481 1 ,488 1,214 ,702 2,099

perc3(2) ,085 ,313 ,074 1 ,786 1,089 ,589 2,012

volqtd 28,559 4 ,000

volqtd(1) 1,307 ,389 11,293 1 ,001 3,695 1,724 7,920

volqtd(2) ,069 ,302 ,052 1 ,819 1,072 ,593 1,938

volqtd(3) -,811 ,296 7,517 1 ,006 ,444 ,249 ,793

volqtd(4) -,534 ,307 3,027 1 ,082 ,587 ,322 1,070

tipoemp0(1) 1,427 ,475 9,034 1 ,003 4,167 1,643 10,568

tipoemp1(1) -,808 ,242 11,123 1 ,001 ,446 ,277 ,717

nlucro_l 12,293 4 ,015

nlucro_l(1) -,157 ,368 ,183 1 ,669 ,854 ,415 1,758

nlucro_l(2) -,947 ,366 6,689 1 ,010 ,388 ,189 ,795

nlucro_l(3) ,083 ,429 ,037 1 ,847 1,086 ,469 2,518

nlucro_l(4) ,279 ,501 ,311 1 ,577 1,322 ,496 3,526

Constante 2,168 ,522 17,258 1 ,000 8,742

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145

Note-se que as variáveis categóricas ressaltadas em negrito não são

significativas a 5%. Dessa forma, o endividamento, a concentração de propriedade

e algumas faixas de lucratividade, volume emitido, liquidez medida pelo log.

neperiano da razão entre volume negociado e nº de negócios, e lucro em dinheiro,

não entrarão no modelo.

O modelo logístico resultante é apresentado a seguir através da equação

6.2.1.

))(,,,,,,,,,,,exp(

))(,,,,,,,,,,,exp(

)(

294738111307139454335234421219711962042711808016821

29473811130713945433523442121971196204271180801682

nLucrolVOLQTDVOLQTDLUCRAVLREMITVLREMITVLREMITVLREMITTIPOEMPTIPOEMP

nLucrolVOLQTDVOLQTDLUCRAVLREMITVLREMITVLREMITVLREMITTIPOEMPTIPOEMP

yE

−−+−−−−−−+−+

−−+−−−−−−+−

=

(6.2.1)

A probabilidade da emissão ser particular (y=1)57 é dada pela equação

acima. Sendo assim, todos os sinais positivos revelam associações positivas com

emissões particulares e os negativos associações positivas com emissões

públicas(y=0).

Dessa forma, empresas com maior lucratividade, que realizem emissões

mais volumosas, que tenham tido um lucro líquido maior no exercício anterior,

tenham maior liquidez em bolsa de valores58 e sejam privadas (nem estatais nem

holdings), têm maior probabilidade de realizar emissões públicas. Esse resultado

está coerente com o de Ness e Pereira (1980), no que diz respeito ao porte (cuja

proxy, aqui é o volume emitido).

Por outro lado, empresas que sejam estatais, que realizem emissões

menores, que possuam menor lucratividade e lucro líquido no exercício anterior,

menor liquidez em bolsa de valores, apresentam maior chance de realizarem

emissões particulares.

57 Para uma variável discreta y, o valor da função de densidade de probabilidade f(y) é P(Y=y) probabilidade da variável aleatória Y tomar o valor y. Sendo discreta a variável y, como no caso, assumindo somente os valores 0 e 1, a probabilidade da ocorrência de 1 é p, e a probabilidade de ocorrência de 0 é (1-p). Hill et ali., 2003. 58 O valor positivo 1,307 para a variável volqtd(1), que se refere à razão entre o volume negociado e o nºde negócios realizados no ano da emissão, indica a categoria sem liquidez, ou seja, com nenhum negócio realizado. Isso está coerente com o sinal, pois indica a maior probabilidade de realização de emissão particular neste caso.

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146

Esta subseção apresentou os resultados da construção do modelo logístico a

partir das variáveis categorizadas. A próxima tratará da validação dos resultados

através da verificação da adequação do modelo à amostra e às sub amostras de

teste.

6.2.2 Tabelas de classificação e verificação da adequação do modelo logístico

Esta subseção apresenta a verificação da adequação do modelo logístico.

Serão apresentados os testes estatísticos, para o modelo como um todo, a

proporção da variância explicada, as matrizes de classificação para as diversas sub

amostras utilizadas e o gráfico com os grupos observados e as probabilidades

previstas.

A seguir, a Tabela 26 apresenta o teste para o modelo como um todo.

Apresenta, ainda, a proporção estimada da variância explicada pelo modelo. Na

logística não existe o R2 como na regressão linear mas existem aproximações

como as descritas nesta tabela, a interpretação é semelhante. Este valor indica a

proporção estimada de variância explicada pelo modelo.

Tabela 26 – Teste para os coeficientes do modelo

Chi-

quadrado

Graus de

liberdade

Sig.

Passo 155,560 23 ,000

Bloco 155,560 23 ,000

Mode

lo

155,560 23 ,000

-2 Log verossimilhança Cox & Snell R2 Nagelkerke R2

Passo 1

716,419 ,219 ,292

O resultado aponta para a existência de diferença entre as características das

empresas emissoras entre os grupos de emissões. Pode-se notar que cerca de trinta

por cento da variância é explicada pelo modelo (Nagelkerke R2 é uma espécie de R2

do modelo logístico, segundo Hair et. ali.1998, p.319). Outro teste que será

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147

apresentado a seguir verifica a aderência do modelo no que diz respeito à

classificação da amostra.

A seguir, a Tabela 27 apresenta a matriz de classificação do modelo. Como

a base está ponderada59, deve-se levar em consideração apenas a taxa de acerto

pelas categorias. O total de acerto pode variar de acordo com o peso original das

variáveis.

Tabela 27 – Matriz de Classificação – Resultado com ponderação

Previsto

Emissão

priv=1 pub=0

Porcentagem

Correta

Observado 0 1

Step 1 0 227 87 72,3Tipo de

emissão

Púb=0;

Priv=1

1 102 213 67,6

Percentual total 69,9

a valor de corte=0,500

Note-se que o modelo acerta 72,3 por cento das previsões de emissões

públicas e 67,6 por cento das previsões de emissões particulares. O acerto geral se

situa em 69,9 por cento. Este resultado é melhor do que o da análise discriminante

(66,7%). De fato, o modelo logístico é menos restritivo quanto a premissas de

normalidade e homocedasticidade.

A Tabela 28 apresenta os resultados com dados sem ponderação dos dados

da amostra (há muito mais emissões privadas do que públicas – a ponderação

atribuiu pesos de 50% para cada tipo) com os acertos de previsão em cada

categoria. Como as amostras são diferentes para cada categoria, os resultados sem

ponderação tendem a acertar mais na categoria mais numerosa.

59 Foram atribuídos pesos de modo a eliminar o efeito da assimetria das observações de emissões privadas e públicas. Atribuiu-se a chance a priori de 50% para cada tipo.

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148

Tabela 28 – Resultado com dados sem Ponderação em negrito

Grupo Previsto

Total

0 1

Contagem Emissão

priv=1 pub=0

0 13 88 101

1 9 519 528

Total 22 607 629

% dentro Emissão

priv=1 pub=0

Emissão priv=1

pub=0

0 12,9% 100,0%

1 98,3% 100,0%

Acerto Total 84,6%

O acerto total é elevado para 84,6% quando são levadas em consideração as

proporções originais da amostra, aumentando o acerto na categoria emissão

particular (1) (98,3% ao invés de 68,4%) e reduzindo o acerto na categoria

emissão pública (0) (12,9% ao invés de 72,3%). Isso se deve à assimetria entre os

grupos, pois as emissões particulares representam 83,94% do total. Esse resultado

reforça a importância da ponderação para a obtenção de modelos confiáveis e

estáveis.

Finalmente, para se obter segurança quanto à estabilidade do modelo, foi

realizado teste de validação cruzada, separando os dados da amostra em duas sub-

amostras aleatórias de aproximadamente 50% dos casos. Os números estão

apresentados na Tabela 29:

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149

Tabela 29 – Teste para o modelo com validação cruzada, sem ponderação, com

amostras aleatórias

Grupo Previsto

Total

Aprox.50 % dos casos

(amostra)

0 1

Amostra Aleatória 1 Contagem Emissão priv=1

pub=0

0 84 44 128

1 30 124 154

Total 114 168 282

% dentro

Emissão

priv=1

pub=0

Emissão priv=1

pub=0

0 65,6% 100,

0%

1 80,5

%

100,

0%

Acerto

Total

73,7

%

Amostra Aleatória 2 Contagem Emissão

priv=1 pub=0

0 118 37 155

1 38 117 155

Total 156 154 310

%

dentro

Emissão

priv=1

pub=0

Emissão

priv=1 pub=0

0 76,1% 100,

0%

1 75,4

%

100,

0%

Acerto

Total

75,8

%

Separando o conjunto dos dados em duas amostras aleatórias de

aproximadamente 50% da amostra total, verificou-se que as taxas de acerto não

se modificaram muito (73,7% e 75,8% para cada amostra aleatória,

respectivamente). Além disso, os percentuais de acerto estão próximos para

emissões particulares e públicas o que equivale dizer que o modelo é estável para

qualquer bloco de dados da amostra.

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As duas primeiras seções deste capítulo apresentaram os resultados para as

estatísticas descritivas, para o modelo discriminante e para o modelo de regressão

logística. A robustez dos modelos foi assegurada pela coerência dos resultados

encontrados. A seguir, são respondidas as questões de pesquisa e as hipóteses

propostas.

6.3 Análise dos Resultados – questões de pesquisa e hipóteses

Esta seção responde às questões de pesquisa e às hipóteses levantadas. É

feita ainda a análise conjunta dos resultados das duas seções anteriores e as

evidências de coerência entre eles. Quanto ao perfil das empresas emissoras,

foram testadas as variáveis levantadas na amostra especificada no capítulo 4.

Subdividiu-se a investigação em duas linhas, estrutura de capital e eficiência de

mercado.

Linha 1: Estrutura de Capital

A hipótese número um foi testada a partir de uma variável, o endividamento

sobre o patrimônio líquido no exercício anterior à emissão. Em primeiro lugar, o

endividamento foi testado para inclusão no modelo discriminante e se pode

rejeitar a igualdade de médias entre os grupos de empresas que emitiram

privadamente ou publicamente. Incluído, portanto, no modelo discriminante,

apresentou uma relação positiva com a emissão privada. Este resultado foi

coerente com a estatística descritiva da variável. Não se pode incluir esta variável

no modelo logístico devido ao comportamento instável - não apresentou

significância a 5%. O próprio modelo logístico, rodado no pacote estatístico SPSS

se encarregou de excluir a variável.

Coerentemente com o que se esperava a partir da intuição inicial, a análise

discriminante e as estatísticas descritivas apontaram que o relacionamento entre

endividamento e emissões particulares foi positivo. A hipótese um apontou na

maior propensão à emissão privada de empresas mais endividadas, da forma que

se esperava inicialmente.

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151

A Hipótese número dois abordou a questão do comportamento das emissões

das empresas mais lucrativas. Foi analisada a lucratividade medida pela razão

entre o lucro líquido e o patrimônio líquido medido em dólares americanos no

mesmo período. A hipótese nula pode ser rejeitada. As estatísticas descritivas e o

modelo logístico apontaram no aumento de probabilidade de ocorrência de

emissões privadas por empresas menos lucrativas (ou com maior prejuízo). Houve

significativa diferença entre as médias da lucratividade passada das populações de

emissões particulares e públicas.

O modelo discriminante, no entanto, foi ligeiramente contraditório a esta

evidência. O coeficiente da função discriminante foi de (–0,022), apontando uma

contribuição, ainda que pequena, na direção da emissão privada para empresas

mais lucrativas. Isto pode se dever à influência do patrimônio líquido na

composição da variável. Como não houve diferença significativa entre médias do

patrimônio líquido entre os grupos, não se pode afirmar com certeza. A maior

robustez do modelo logístico quanto às premissas confere a seus resultados maior

confiança em casos contraditórios, como o presente.

A Hipótese número dois “a” abordou a questão do comportamento das

emissões das empresas com maior lucro medido pelo logaritmo do lucro em

dólares do exercício anterior. A hipótese nula pode ser rejeitada. As estatísticas

descritivas, o modelo discriminante e o modelo logístico apontaram no aumento

de probabilidade de ocorrência de emissões privadas por empresas com menor

lucro (ou com maior prejuízo). Houve significativa diferença entre as médias do

lucro passado das populações de emissões particulares e públicas.

A evidência fundamentada nas hipóteses dois e dois “a” está de acordo com

a literatura revista, em especial, com o trabalho de Megginson (1997) que sugere

que as emissões públicas são mais atraentes às empresas lucrativas. No Brasil, Da

Costa(1990) apontou que empresas mais lucrativas incorriam em menor deságio

nas emissões públicas. Coerentemente, Leal (2004) pondera que o melhor

histórico de retornos sobre o patrimônio ou sobre o ativo total, tendem a sinalizar

um risco menor, possibilitando um menor deságio no valor da ação. A

visibilidade de bons resultados pode ser um fator de atração para novos

investidores através de emissões públicas. Por outro lado, a falta de bons

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152

resultados pode funcionar como um fator que dificulte a emissão pública, e, de

certa forma, um estímulo à emissão privada.

A linha dois, apresentada a seguir, tratou da eficiência de mercado.

Linha 2: Eficiência de Mercado

A hipótese três testou a questão da concentração de propriedade (controle)

das empresas. Pode-se rejeitar a hipótese nula de igualdade das médias de

propriedade das ações ordinárias em mãos dos três maiores acionistas nas duas

populações de emissões. A evidência da estatística descritiva e o modelo

discriminante, apontaram na direção de uma maior probabilidade de realização de

emissões particulares em empresas de controle mais concentrado60. Isso está de

acordo com a percepção de que elevados graus de controle levariam à

expropriação de minoritários, possibilitando maior deságio nas emissões públicas.

Encontrou-se uma concentração média de propriedade dos três maiores acionistas

ordinários de 83,26 por cento (mediana 89%) nas empresas que emitiram

publicamente. Nas que realizaram emissões privadas, os números foram,

respectivamente, 86,6 e 95,8 por cento. Para a amostra como um todo, 85 e 92,6

por cento. Esses números são coerentes com os de Da Silva (2002), Leal e

Valadares (2002) e Leal, Da Silva e Valadares(2000), que evidenciaram a elevada

concentração de propriedade das empresas de capital aberto no Brasil.

Empresas com controle concentrado teriam, ainda, a vantagem de custos de

emissão privada mais baixos, já que não necessitariam de registro na CVM,

comissões de colocação, garantia e coordenação por parte de underwriters. Dessa

forma, o controle seria mantido e as necessidades de capital da empresa,

atendidas. Uma observação a esse raciocínio é o fato dos aportes dos sócios

estarem limitados aos seus patrimônios.

Há que se ressaltar, que a concentração de propriedade não é um fato restrito

ao Brasil. Na Alemanha e na Itália, atinge patamares similares. Nos Estados

Unidos, Inglaterra e Japão, há pouquíssima concentração. A evidencia apresentada

no capítulo dois e na Tabela 7, corroboram a impressão de que os mercados mais

60 A regressão logística não incluiu a variável representativa do percentual de controle dos três maiores acionistas.

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153

líquidos estão associados à menor concentração de propriedade. Não foi objetivo

deste trabalho testar esse aspecto, ficando como sugestão para futuras pesquisas.

A hipótese quatro tratou da influência do porte na forma de emissão de

ações. Não se pode rejeitar a igualdade entre as médias do porte medido pelo

patrimônio líquido das empresas que realizaram emissões públicas e particulares.

As estatísticas descritivas apontaram numa muito pequena diferença entre o porte

medido pelo patrimônio líquido de ambas as populações. O teste de diferença

entre as médias não foi significativo a 5% (sig=0.219). Além disso, a elevada

correlação entre o patrimônio líquido e lucratividade, endividamento, liquidez

(vol/nº de neg) e lucro líquido, produziria modelos instáveis tanto discriminante

como logístico. Dessa forma, esta variável foi descartada da análise.

A hipótese cinco tratou do valor médio emitido, uma proxy para porte.. A

hipótese nula de igualdade das médias de valores emitidos entre as populações de

emissões públicas e privadas foi rejeitada. As evidências descritivas, o modelo

discriminante e o modelo logístico apontaram na direção prevista. As maiores

emissões médias foram públicas e não privadas. Furtado (1997) analisando

emissões públicas, concluiu que empresas com maior valor de mercado perdiam

menos valor do que as menores, após as emissões. O valor emitido está

diretamente relacionado com o valor de mercado, o que denota a coerência do

resultado obtido. Além disso, dentro do processo decisório sugerido por Ferreira e

Brooks (2000), o maior porte da emissão poderia trazer um ganho de escala em

relação aos custos de underwriting. Dessa forma, haveria maior probabilidade da

maximização de valor para o controlador ser obtida através da emissão pública. O

deságio não seria função apenas do volume emitido, e sim, de um conjunto de

características: liquidez, endividamento, lucratividade, aquecimento do mercado

de capitais, por exemplo.

Além disso, o grande número de pequenas emissões privadas de empresas

menores pode ter influenciado esse resultado. A relação entre tamanho da emissão

e tipo de emissão pode ser não linear: emissões muito pequenas tenderiam a ser

privadas em função do elevado custo fixo relativo (remuneração mínima exigida

pelos underwriters, publicidade, impressão de prospecto, entre outras).

As hipóteses seis e seis“a” trataram das empresas questão da liquidez em

Bolsa, medida pelo volume negociado e número de negócios, e sua influência na

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154

forma de emissão de ações. Acabou-se por optar pela criação de uma variável

representativa da razão entre o volume negociado e o número de negócios

realizados no ano da emissão, por apresentar um comportamento mais estável e

adequado aos procedimentos estatísticos61. Essa variável pode ser interpretada

como o volume médio por negócio. Um elevado volume médio indicaria maior

interesse dos investidores nas ações. Além disso, há empresas que são negociadas

diariamente sem volumes expressivos. Uma medida pelo número de negócios

apenas poderia ser distorcida se não levasse em consideração o valor médio deles.

Por outro lado, há situações em que grandes volumes são transacionados em

poucos negócios. Vendas em bloco são um exemplo. A variável adotada evita que

apenas o volume seja relevante na análise da liquidez. Pode-se rejeitar a igualdade

entre as médias da liquidez medida pelo logaritmo neperiano da razão entre o

volume e número de negócios (realizados em bolsa no ano da emissão) nas

populações de emissões públicas e particulares.

A evidência das estatísticas descritivas, o modelo discriminante e o modelo

logístico apontaram todos na direção de maior probabilidade de ocorrência de

emissões públicas para empresas com maior liquidez. O modelo logístico

apresentou uma aparente contradição para empresas na faixa de nenhuma liquidez

(nenhum negócio realizado). Uma análise do coeficiente, porém, demonstra a total

coerência, já que, para a faixa em questão, aquele coeficiente aponta emissão

particular. Isso está coerente, pois não restaria ao emissor nenhuma outra

alternativa senão a emissão privada no caso de ausência total de liquidez em

bolsa. Os resultados estão coerentes com Charchat (2000) e Leal (1993) que

constataram aumento do número de emissões públicas em momentos de maior

liquidez. Além disso, a maior liquidez reduziria a assimetria de informação sobre

os papéis, permitindo a redução da percepção de risco dos investidores. Dessa

forma, o deságio seria menor, reduzindo a vantagem em custos da emissão

privada. As empresas que realizaram aberturas de capital no período também não

tinham liquidez em bolsa. O elevado número de emissões particulares em relação

ao total de públicas e, mais acentuadamente, às aberturas de capital, conferem

61 Apresentou melhores plots de normalidade e atendeu à linearidade das relações.

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consistência ao resultado obtido: as aberturas de capital não tiveram relevância

estatística na amostra a ponto de distorcer os resultados.

A hipótese sete previa que as empresas estatais estariam entre as mais

propensas a realizar emissões privadas de ações. A estatística descritiva, a análise

discriminante e a regressão logística apontaram que as empresas estatais teriam

maior probabilidade de realizar emissões privadas. Isso pode ser explicado pelos

resultados de Siffert(1998), que apontaram na expressiva redução do número de

empresas estatais brasileiras entre 1990 e 1997, através do processo de

privatização. As privatizações foram precedidas de reestruturações, obtidas,

principalmente, com aportes do Governo em suas empresas. Esses aportes devem

ter sido, em sua maioria, através de emissões privadas de ações, subscritas pelo

controlador (Governo).

De forma análoga, a hipótese sete “a” foi confirmada pela evidência

descritiva, regressão logística, que excluiu as holdings e estatais do grupo com

maior probabilidade de realizar emissões públicas. Os resultados, embora não tão

robustos como os da hipótese sete, também estão coerentes com os de

Siffert(1998). Seu trabalho apontou, para o período 1990 a 1997, a redução de

vinte e três para dezesseis por cento, da participação das empresas familiares na

receita das cem maiores empresas do Brasil. Isso pode significar que as empresas

familiares tipo holding tenham tido mais dificuldade de gerar resultados,

tornando-as, dessa forma, menos atraentes ao público. Esse aspecto, combinado

com a elevada concentração de propriedade, as tornaria mais propensas à emissão

privada de ações.

O Quadro 6, abaixo, apresenta o resumo das relações substantivas

esperadas e encontradas com relação às emissões públicas.

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156

Quadro 6 – Sinais esperados e obtidos nos testes das hipóteses, com relação ao

comportamento das emissões privadas a partir das características estudadas

Propensão às Emissões Privadas Sinal esperado Sinal obtido

Modelo Linha 1 - Estrutura de Capital

Estatísticas Descritivas Discriminante Logístico

Hipótese 1 Endividamento= (ELP/PL) positivo positivo positivo inconclusivo b

Hipótese 2 Lucratividade= (LL/PL) negativo negativo positivo a negativo

Hipótese 2a Lucro líquido negativo negativo negativo negativo

Linha 2 – Eficiência de Mercado Estatísticas Descritivas Discriminante Logístico

Hipótese 3 Percentual de propriedade direta de ações ordinárias dos 3 maiores acionistas (perc3maiord)

positivo positivo positivo inconclusivo*

Hipótese 4 Porte : (Patrim. Líq Us$100 Log 10) Líquido

negativo negativo inconclusivo * inconclusivo *

Hipótese 5 Porte: Valor médio emitido (valor emit R$(Log10))

negativo negativo negativo negativo

Hipótese 6

Hipótese 6a

Liquidez medida pela razão volume negociado em bolsa de valores/nº de negócios

(Liquid vol/nº neg(Ln))

negativo negativo negativo negativo

Hipótese 7 Empresas estatais (Tipo emp 0)

positivo positivo positivo positivo

Hipótese 7a Empresas holdings (Tipo emp 2)

positivo positivo positivo positivo

* não se pode rejeitar a igualdade entre as médias

a o resultado é marginalmente contrário à expectativa, à evidência das estatísticas

descritivas e do modelo logístico, sendo desprezado.

b a variável foi descartada no modelo de regressão logística.

Pode-se observar, a partir do Quadro acima, que nenhuma hipótese foi

contraditada pela evidência empírica.

A linearidade entre as relações foi testada e aprovada para a regressão

logística. O modelo discriminante, menos robusto, apresentou problemas de

heterocedasticidade e não normalidade que, entretanto, não o impediram de obter

uma boa qualidade de classificação (superior a 64%). O tamanho da amostra

favoreceu a obtenção de bons resultados, possibilitando a retirada de observações

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atípicas, bem como das instituições financeiras, e empresas com patrimônio

líquido negativo sem prejuízo para a capacidade classificatória e preditiva. Dessa

forma, pode-se reduzir a influência de outliers. Testes feitos com amostra maior,

incluindo bancos, não alteraram os resultados obtidos. Os resultados acima

apresentam, portanto, dentro das limitações listadas ao longo do trabalho, robustez

que permita a formulação de conclusões.

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158

7 Conclusões 7.1 Objetivos

O objetivo desta tese foi identificar os fatores que motivaram a decisão das

empresas pelas emissões particulares de ações ao invés de emissões públicas, no

Brasil entre 1995 e 2002. Pra tanto, foram examinadas as emissões públicas e

privadas de ações no Brasil entre 1995 e 2002. No Anexo II estão listadas as 629

emissões, sendo 101 públicas e 528 privadas. As emissões listadas foram

utilizadas nos testes estatísticos. Investigou-se a influência do endividamento e da

lucratividade. Foram também investigados os efeitos do porte medido pelo

patrimônio líquido das empresas e o valor médio emitido na decisão pela emissão

privada ou pública. A concentração de propriedade foi analisada como elemento

para a decisão de emissão. Finalmente, testou-se a liquidez em bolsa de valores e

os tipos de empresas emissoras.

7.2 Limitações

Entre as limitações deste trabalho, pode-se ressaltar a não realização do teste

do efeito da atividade do mercado, medido pelo índice IBOVESPA sobre o

volume e número de emissões. Além disso, a classificação das empresas poderia

incluir as empresas de controle estrangeiro em uma categoria à parte. Os custos de

emissão pública de ações poderiam ser incluídos como variável. Variáveis

contábeis como ativo total, liquidez corrente (ativos circulantes/passivos

circulantes), entre outras poderiam ser incluídas na análise. Essas limitações, bem

como outras já citadas neste trabalho ficam como sugestão para futuras pesquisas.

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159

7.3 Discussão dos Resultados

A hipótese de aumento de emissões particulares em empresas mais

endividadas pode ser confirmada. De fato, as estatísticas descritivas e o modelo

discriminante apontaram para um endividamento maior ocorrendo nas empresas

que realizaram emissões privadas. De fato, o endividamento encontrado foi

elevado em ambos os grupos: as empresas que realizaram emissões públicas de

ações, em média, apresentavam endividamento de 58% sobre o patrimônio

liquido, e as emissoras privadas, 125%. . No Brasil, Ness e Pereira (1980) e

Furtado(1997), não encontraram significância na relação entre alavancagem

financeira e a ocorrência de emissões públicas e a alteração do valor da empresa

no processo de emissão, respectivamente. Os testes realizados neste trabalho

foram, portanto, bem sucedidos e permitem inferir a importância da variável no

processo decisório das emissões de ações. Empresas com mais alto endividamento

recorrem aos seus acionistas e não ao mercado nem a instituições de redito para

obter recursos financeiros.

De fato, a explicação para esse fenômeno pode residir na existência de uma

hierarquia na ordem de captação de recursos, da maneira preconizada por Myers

(1984) e Myers e Majluf (1984) a chamada pecking order. As empresas somente

emitiram ações após atingirem patamares de endividamento mais expressivos,

pois prefeririam dívida à diluição do capital. O elevado endividamento tornaria

desvantajosa a emissão pública devido à maior percepção do risco da empresa,

pelo mercado, provocando maior deságio. Trata-se, portanto, de uma variável

importante na explicação da decisão de emissão ações.

A hipótese número dois, que esperou um aumento nas emissões privadas

das empresas menos lucrativas foi confirmada pelos resultados dos modelo

logístico e pelas estatísticas descritivas62. Esses resultados foram fortemente

confirmados pelos da hipótese dois “a”, que apontou que as empresas com menor

62 como visto anteriormente, o modelo discriminante apresentou coeficiente contraditório, mas de valor muito pouco expressivo, sendo descartado.

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lucro líquido no exercício anterior tenderiam a emitir de forma privada. Isso

sugere que as empresas com maiores prejuízos realizaram emissões particulares.

De fato, empresas menos lucrativas não parecem ser as candidatas melhores aos

parcos recursos do mercado de capitais brasileiro. O ingresso de recursos nas

empresas através de emissões públicas deve pressupor algum tipo de

compensação, o que poderia ser esperado em empresas mais lucrativas. Quem não

for lucrativo recorrerá aos seus acionistas e não ao mercado, para aportes de

capital.

Sob o ponto de vista dos controladores, a emissão pública para empresas

com bons resultados poderia significar vantagem em relação à emissão privada:

conforme Leal (2004), um bom histórico de resultados tende a sinalizar um risco

menor, reduzindo o deságio.

No modelo de Myers (1984), as emissões de ações foram consideradas mais

arriscadas sob o ponto de vista dos acionistas do que as de dívidas. Estes

prefeririam reter lucros, emitir títulos de dívida e títulos híbridos63 antes de emitir

ações. Ora, as emissões públicas foram associadas às empresas mais lucrativas, e

representaram apenas 16,1% do número total de emissões e 23,9% do volume

emitido na amostra estudada64. Estes números, associados à confirmação das

hipóteses dois e dois “a”, sugerem que as empresas com insuficiência de fundos

para realizar seus projetos devido à menor lucratividade teriam optado pelas

emissões particulares. Como são destinadas aos atuais acionistas, estas

representariam para eles menor risco, à luz da teoria de Myers. Esse fato também

pode ter sido intensificado pela falta de acesso ao mercado e baixa liquidez, objeto

das hipóteses nº seis e seis “a” comentadas adiante. Os acionistas não teriam

alternativa a não ser subscrever se quisessem capitalizar a empresa.

A hipótese três, na linha da eficiência de mercado, tratou da concentração de

propriedade nas empresas emissoras. O teste demonstrou, conforme esperado, que

as empresas com maior concentração de propriedade das ações ordinárias em

mãos dos três maiores acionistas, realizaram mais as emissões particulares. Essa

coerência reforça a teoria de que os acionistas controladores de empresa de

63 Conversíveis em ações. 64 Esses números diferem muito pouco das proporções da população total que são, respectivamente, 15,9% e 26,9%.

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propriedade concentrada decidem emitir ações de forma particular de modo a

evitar o deságio e os demais custos nas emissões públicas. Esse fator, agravado

pelos maus resultados passados, endividamento elevado e pouca liquidez em

bolsa, não daria alternativa aos controladores que desejassem maximizar valor (ou

reduzir perdas).

Não se deve reputar apenas ao deságio o ônus de emitir publicamente.

Como visto antes, os custos das emissões públicas são substancialmente

superiores aos das particulares, sendo, portanto, mais um fator de incentivo à

realização das últimas. Como os próprios controladores, em empresas mais

concentradas em propriedade, irão subscrever a maior parte das ações, não faz

sentido incorrer em custos de emissão pública. Além disso, se os controladores

pretendessem subscrever, não faria sentido a emissão pública. Os direitos de

minoritários que não subscreverem podem ser absorvidos pelos controladores.

Assim, coloca-se ao controlador, face à necessidade de fundos de longo

prazo as seguintes opções:

• emitir publicamente a custos mais elevados, com indução ao deságio pelo

underwriter, com potencial diluição do seu controle65, em momento de

euforia. Os preços inflados compensariam os controladores;

• emitir publicamente a custos mais elevados, com indução ao deságio pelo

underwriter, com potencial diluição do seu controle, em momento

eventualmente desfavorável devido a eventual baixa no mercado;

• realizar emissão particular, subscrevendo-a na sua proporção ou maior, se

houver sobras, a custo menor, sem preocupação com mercado ou deságio;

ou

• não emitir, se não houver urgência de fundos, ou se as opções disponíveis

forem piores do que as conseqüências da falta dos recursos.

65A nova Lei das SA obriga a emissão de ações com e sem direito a voto na mesma proporção.

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Se o controlador ainda acredita na empresa e seus projetos, racionalmente

buscará a terceira opção. Se não acredita, o mais racional seria buscar dívida,

evitando colocar mais capital próprio. Naturalmente, a emissão de dívida

dependeria de acesso a crédito.

A quarta hipótese ficou inconclusiva, já que não houve significativa

diferença entre as médias dos portes das empresas emissoras de ações de forma

pública e privada. Isso pode ter sido provocado pela presença do patrimônio

líquido nas variáveis endividamento e lucratividade, bem como sua correlação

com liquidez, lucro líquido e valor emitido. Optou-se, portanto, pela análise da

hipótese cinco, que, de fato, seria uma proxy para porte.

A hipótese número cinco previa a ocorrência de emissões menores em

média, na forma privada. Os resultados apontaram na direção da expectativa. As

empresas emitem menos freqüentemente de forma pública, mas em valor mais

expressivo. Como apontado anteriormente, o peso dos custos de emissões públicas

de ações sobre as emissões menores poderia influenciar esse resultado, levando

aquelas empresa a realizar emissões privadas. As empresas de maior porte, com

emissões maiores, poderiam gozar de ganhos de escala que contrabalançariam a

questão do deságio, especialmente, nas mais lucrativas. Isso está coerente com o

esquema proposto por Ferreira e Brooks (2000), e também com Furtado (1997).

Este concluiu que as emissões públicas de empresas com maior valor de mercado,

acarretavam menor desvalorização, após as emissões. Há uma relação entre o

valor de mercado de uma empresa e o volume de sua emissão. Pode-se inferir que

seja positiva, mas não foi objeto de teste neste trabalho, ficando como sugestão

para futuras pesquisas.

Pode-se associar o volume emitido a uma medida de porte, já que empresas

menores dificilmente realizariam emissões expressivas. Sendo assim, o resultado

não confirma as expectativas formuladas a partir de da Costa (1990), de que as

empresas de maior porte estariam sujeitas a um maior deságio. Isso as o induziria

a realizar menos as emissões públicas, o que estaria de acordo com as conclusões

de Ness e Pereira (1980). Não foi o que se encontrou neste trabalho. Além disso,

a realização de ofertas públicas maiores em média do que as particulares contradiz

também os resultados dos trabalhos de Leal (1993), e Amaral (1990) que

ressaltaram a importância do deságio nas emissões públicas de ações no Brasil.

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Ocorre que, nas emissões particulares o deságio torna-se inócuo como fator

inibidor, já que os atuais acionistas têm o direito de adquirir as ações pelo preço

ofertado e, dessa forma, manter sua proporção do capital. Somente quem não

subscrever será diluído.

Uma possível explicação pode ser provida pelo conjunto das outras

hipóteses. As empresas mais lucrativas, com maior liquidez em bolsa, maiores em

porte, menos concentradas em termos de controle, emitiriam publicamente e

estariam menos sujeitas ao deságio. Sua imagem, liquidez e bons resultados não

levaria o público a exigir um deságio mais expressivo.

De qualquer forma, a emissão pública dependeria da liquidez dos papéis.

Além disso, sem resultados favoráveis para atrair o investimento do público a

liquidez poderia ser muito prejudicada.

As hipóteses números seis e seis “a” trataram da liquidez, associando-a

positivamente a uma maior presença de emissões privadas nas empresas menos

negociadas em bolsa de valores. Isto foi totalmente confirmado pelos testes

realizados, nas estatísticas descritivas e nos modelos discriminante e logístico. A

maior liquidez, medida pelo volume médio por negócio no ano da emissão,

associada à presença de resultados mais favoráveis (hipóteses números dois e dois

“a”, quanto à lucratividade e lucro líquido) serviria, para determinadas empresas,

como um incentivo a buscar investidores fora de seus quadros atuais. Dessa

forma, as emissões públicas não teriam o impacto negativo de percepções do

mercado de assimetria de informações, montagem, enfim, de estratégias de

expropriação de minoritários. A maior liquidez seria um seguro contra a

expropriação, permitindo a qualquer investidor se desfazer dos papéis em caso de

resultados inesperadamente ruins. Qualquer futura tentativa de captação através de

emissões públicas estaria prejudicada e a reputação da empresa abalada, perante o

mercado.

O resultado é coerente com os de Charchat (2000) e Leal (2003), que

apontaram para aumento das emissões em momentos de maior liquidez no

mercado. Um cuidado, há que se ter, em função da liquidez estudada neste

trabalho ser das empresas emissoras, e não a do mercado. De fato, há empresas tão

pouco líquidas, que mesmo em épocas de aquecimento do mercado têm

baixíssima liquidez. Por outro lado, há outras, tão líquidas, que apresentam

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elevada liquidez mesmo nos piores momentos do mercado. Testar isso não foi o

objetivo deste trabalho, ficando como sugestão para futuras pesquisas.

Há coerência entre a maior freqüência das emissões públicas, a maior

liquidez dos papéis, a menor concentração de propriedade e o volume médio

maior associado às emissões públicas. Esses indicadores podem refletir, para

aquelas empresas, um nível maior de disponibilidade de informações pelo

mercado, e, por conseguinte, uma menor incerteza quanto ao seu comportamento

futuro.

Em outros termos, as informações seriam obtidas de forma mais eficiente,

reduzindo a assimetria e melhorando o processo de formação do preço de emissão

de ações. Esse seria menos influenciado pelo volume emitido e permitiria

periódicas captações maiores do que aquelas realizadas por empresas que

emitiram privadamente.

Recente medida tomada pela CVM66, permite o chamado registro de

prateleira, o qual faculta às empresas, a rápida emissão de forma pública após

preencherem uma série de requisitos. Isso poderá favorecer às empresas mais

líquidas a captação de recursos via emissão pública de ações e, de certa forma,

poderá também intensificar o oportunismo, com a sincronização mais precisa com

momentos de alta.

As hipóteses sete, totalmente confirmada, conferiu às empresas estatais,

maior probabilidade de realizar emissões privadas. De fato, o movimento de

privatização e conseqüente redução do número de estatais detectada por Siffert

(1998), corroboram os resultados encontrados. As empresas estatais, em processo

de privatização, receberam vultosos aportes do seu controlador, o Governo,

provavelmente através de emissões privadas. Os resultados de Siffert também

corroboram os da hipótese sete “a”, que associou as holdings à maior

probabilidade de realizar emissões privadas. De fato, o autor aponta redução de

vinte e três para dezesseis por cento, de participação das empresas familiares, na

receita das cem maiores empresas brasileiras, entre 1990 e1997. Isso pode

significar dificuldades para as holdings familiares na geração de recursos,

levando-as, em combinação com a concentração de propriedade, baixa

66 Inst. CVM Nº 400, de 29 de dezembro de 2003.

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lucratividade, e elevado endividamento, às emissões privadas de ações, como

forma de captação.

A pesquisa realizada sugere a baixa eficiência do mercado de capitais

brasileiro. A baixíssima liquidez das empresas emissoras de ações de forma

particular, associada à elevada concentração de propriedade sugerem que a busca

por informações sobre essas empresas possa ser precária. Além disso, através dos

indicadores analisados nas empresas emissoras em geral e no mercado como um

todo (baixa capitalização em face do PIB, concentração de negócios em poucos

papéis, por ex.), pode-se perceber a concentração de propriedade, a baixa liquidez

em geral dos papéis e a baixa lucratividade geral das empresas.

No entanto, a lógica subjacente existente na decisão de captação de recursos

se mostrou coerente com a de mercados mais eficientes e maduros. Os resultados,

sugerem uma hierarquia de tomada de decisão coerente com a pecking order de

Myers(1984). Dessa forma, o comportamento dos controladores, face à

necessidade de novos recursos, não difere dos mercados mais importantes e

considerados mais eficientes como, por exemplo, nos trabalhos de Ferreira e

Brooks (2000), Mikkelson et al. (1986) e Shyam-Sunder e Myers (1999).

Isso contradiz os resultados mais recentes de Fama e French (2003), que

refutaram a pecking order. Deve-se reconhecer, entretanto, que a ocorrência de

emissões de ações em mais de trezentas empresas no período estudado seja

expressiva (a média de empresas de capital aberto no Brasil no mesmo período foi

de 523)67. A escolha predominante por emissões particulares (83,9% em número),

porém, constitui ação que pode evitar a diluição do controle. Dessa forma, seria

uma etapa antes da emissão pública, coerentemente com a teoria de Myers.

A visão pragmática e racional do controlador se confirma, através de sua

opção por formas de captação hierarquicamente ordenadas, segundo sua

conveniência. Dessa forma, ele preferiria reter lucros, emitir dívida, emitir

obrigações conversíveis, emitir ações de forma particular e, por último, emitir

ações ao público em geral. Essa subdivisão na última forma de captação, aplicável

ao Brasil, segundo este trabalho, poderia ser devido à baixa eficiência do nosso

mercado de capitais como sedutor da poupança pública. Ou mesmo devido à fraca

67 Fonte: CVM- Empresas Listadas.

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166

poupança pública. Em última análise, o comportamento das emissões de ações

estudadas seria um reflexo destas situações.

A mudança observada no mercado de capitais brasileiro, representada pela

gradativa redução das emissões públicas em favor das privadas, pode ser

explicada por alguns fatores.

Pode-se citar a dificuldade de nosso mercado em dar liquidez às ações das

empresas de capital aberto, em presença de crescente necessidade de capital em

função da baixa lucratividade e dificuldades financeiras. A falta de volume, baixa

capitalização, concentração de negócios em poucas empresas, elevados custos de

emissões públicas, concentração de propriedade, o poder dos underwriters, entre

outras, são características do nosso mercado que agravam o problema.

Além disso, a década de 90 parece não ter sido boa para as empresas de

capital aberto, devido à sua lucratividade negativa, colocando-as face a

necessidades de capital dificilmente atendidas pelo nosso mercado primário. O

modelo macroeconômico aplicado ao Brasil, após 1994, pode ter agravado uma

situação de dificuldade já presente desde o início da década. Nesse sentido, os

modelos apresentados neste trabalho poderão ser utilizados para a previsão da

forma de emissão de ações, no Brasil. Uma nova mudança, hipoteticamente

detectada no futuro, a partir da observação do comportamento das empresas

emissoras, poderá indicar que o mercado passe a se mover no sentido de dar mais

liquidez às empresas de capital aberto. Entretanto, não foi isso o observado neste

trabalho.

Os modelos de predição desenvolvidos neste trabalho, embora sem essa

motivação, poderão ser utilizados na extensão desta pesquisa para futuras

aplicações.

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167

7.4 Sugestões para futuras pesquisas

Uma pesquisa interessante seria comparar os resultados deste trabalho com

os de uma amostra de empresas que não realizaram nenhuma emissão de ações no

período estudado. Os indicadores poderiam ilustrar a decisão de estrutura de

capital e poder-se-ia ter uma visão mais ampla da captação de recursos para os

seus projetos.

A conjuntura nacional nos últimos anos, aliada à crescente presença do

capital estrangeiro no Brasil à emissão de ADR’s de empresas brasileiras,

sugerem, como válida uma extensão deste trabalho, no sentido de verificar o

comportamento das empresas emissoras desses títulos. Seria interessante analisar

os indicadores de situação contábil/financeira, porte, concentração de propriedade

e liquidez em bolsa de valores. Um conjunto de empresas, com tanto acesso a

mercados mais maduros, deverá fornecer informações importantes sobre o

comportamento dos investidores estrangeiros face aos indicadores dessas

empresas.

O oportunismo não foi testado neste trabalho. Apenas se apresentou as

figuras com o IBOVESPA e os números e volumes mensais de emissões públicas

e privadas de ações. Uma importante extensão deste trabalho seria o teste do

oportunismo na amostra que inclui as emissões privadas, já que os trabalhos feitos

no Brasil focaram apenas aberturas de capital e/ou emissões publicas. É possível

que, também, as emissões privadas sejam influenciadas pela atividade do mercado

acionário brasileiro.

O procedimento estatístico empregado poderá ser útil, também, na pesquisa

de perfis mais apurados de empresas emissoras incluindo o controle estrangeiro.

Como já mencionado anteriormente, poder-se-á estender este procedimento aos

diversos setores da economia representados pelas empresas emissoras. Essa

extensão poderá dar uma visão mais ampla do processo decisório aqui exposto.

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173

Anexo I Instrução CVM nº 400/2003 aumento de capital via emissão de ações

A instrução dispõe sobre o aumento de capital por subscrição de ações e

registro de distribuição pública de ações, de que tratam os artigos 82 e 170, da Lei

6.404 de 15 de dezembro de 1976, modificada pela Lei 10.303 de 31 de outubro

de 2001. Além disso, o Colegiado, em reunião realizada em 26 de dezembro de

2003, com fundamento no disposto nos artigos 4º, inciso VI, 8º, inciso I e 19, § 5º,

e 21 da Lei nº 6.385, de 7 de dezembro de 1976 dispôs sobre as condições de

aumento de capital. A seguir serão transcritos na íntegra os artigos pertinentes a

este trabalho.

1. CONDIÇÕES DO AUMENTO

Art. 1o A subscrição de novas ações em aumento de capital de companhia

aberta, mesmo pelos antigos acionistas no exercício de seu direito de preferência,

só pode iniciar-se estando o registro de companhia atualizado (Instrução CVM no

9, de 11.10.79).

Art. 2o O aumento de capital por subscrição de ações pode ser deliberado

pela assembléia geral ou pelo conselho de administração, conforme dispuser o

estatuto.

Art. 3o O anúncio de convocação da assembléia geral para deliberar sobre

aumento de capital mediante subscrição de ações deverá conter, além do local,

data e hora da assembléia, da ordem do dia, da indicação da matéria, o montante,

número, espécie, classe das ações a serem emitidas e outras características do

aumento proposto julgadas necessárias.

Parágrafo único. Em se tratando de companhia com ações admitidas à

negociação em bolsa, deverá ser encaminhado, concomitantemente à publicação,

edital de convocação e respectiva proposta, se houver, à Bolsa de Valores.

Art. 4o A deliberação de aumentar o capital deverá dispor sobre o seguinte:

I - se o aumento será mediante subscrição pública ou particular;

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II - prazo para o exercício do direito de preferência, se houver, e data de seu

início;

III - condições de subscrição, explicitando forma e percentuais de

integralização das ações e a data dos respectivos pagamentos;

IV - características das ações a serem emitidas (quantidade, espécie, classe,

forma, vantagens, restrições e direitos, inclusive quanto à participação ou não nos

dividendos do exercício em curso);

V - necessidade de ratificação da deliberação, se for o caso, por titulares

da(s) classe(s) de ações preferenciais interessadas, caso não tenha sido

previamente aprovada;

VI - preço de emissão e respectiva justificativa ou, se for o caso, delegação

ao conselho de administração, para fixá-lo;

VII - na hipótese de subscrição particular, se a colocação das sobras das

ações não subscritas far-se-á mediante:

a) venda em bolsa, em benefício da companhia; ou

b) rateio, na proporção dos valores subscritos, entre os acionistas que

tiverem pedido, no boletim ou lista de subscrição, reserva de sobras; nesse caso,

mencionar que a condição constará dos boletins e listas de subscrição e o saldo

não rateado será vendido em bolsa, nos termos da alínea anterior;

VIII - em se tratando de subscrição pública:

a) estabelecer qual o procedimento a ser adotado na distribuição,

explicitando o tipo de tratamento que será dado aos interessados em subscrever as

ações, cabendo esclarecer:

a.1) se haverá garantia de acesso a todos os investidores (art. 32); ou

a.2) se será adotado um procedimento diferenciado (art. 33);

b) existindo direito de preferência, se após o seu término e antes da

distribuição pública, haverá rateio das sobras de ações na proporção dos valores

subscritos, entre os acionistas que tiverem pedido, no boletim ou listas de

subscrição, reserva de sobras;

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175

IX - prazo para entrega dos certificados ou títulos múltiplos de ações ou das

cautelas que as representem, se houver, fixado no máximo em 60 (sessenta) dias

após a

SUBSCRIÇÃO PÚBLICA DE AÇÕES

Art. 6o - A constituição da companhia por subscrição pública ou a

distribuição de ações junto ao público, decorrente de aumento de capital,

dependem de prévio registro na Comissão de Valores Mobiliários (CVM).

Art. 7o - Considera-se pública a subscrição de ações ofertadas mediante:

I - a utilização de listas ou boletins de subscrição, folhetos, prospectos ou

anúncios destinados ao público;

II - a procura de novos subscritores não acionistas por meio de empregados,

administradores ou através de pessoas físicas ou jurídicas integrantes ou não do

sistema de distribuição de valores mobiliários;

III - a negociação feita em loja, escritório ou estabelecimento aberto ao

público, ou com a utilização dos serviços públicos de comunicação, quando

dirigida a não acionistas da sociedade emissora.

Art. 8o - A distribuição de ações mediante subscrição pública só pode ser

efetuada no mercado com intermediação das instituições integrantes do sistema de

distribuição de valores mobiliários.

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176

Anexo II

Emissões de ações no Brasil de janeiro de 1995 a dezembro de 200268

Tipo de emissão:

Pública=0

Privada=1 Empresa

Data de

Encerramento da

emissão

Estimativa de Valor

Emitido (R$)

0 Jari 05/01/95 10.215.366,00

0 Sola 10/01/95 20.040.000,00

0 Econômico Empr. 24/01/95 354.482.836,00

0 Unibanco Holding 24/01/95 4.524.102,00

0 Cia Lorenz 27/01/95 10.467.028,00

1 Votorantim Celulose Papel 31/01/95 129.999.443,00

0 Açopalma 02/03/95 35.593.009,00

0 Perdigão 17/04/95 50.000.000,00

1 Caiuá 26/04/95 2.352.900,00

1 Santa Cecília 02/05/95 379.961,00

0 Osa 12/05/95 27.120.000,00

1 Sibra 24/05/95 106.798.669,00

1 Ferro Ligas 25/05/95 172.027.664,00

0 Makro 25/05/95 19.500.000,00

1 Telebrás 25/05/95 740.077.338,00

0 Eluma 01/06/95 30.000.000,00

1 América Leasing 23/06/95 9.744.000,00

0 América Sul 23/06/95 16.497.000,00

0 Bahema 26/06/95 9.000.000,00

1 Lib Part B 04/07/95 1.432.172,00

0 Iven 11/07/95 191.730.015,00

0 Randon Part. 12/07/95 34.559.780,00

1 Dohler 14/07/95 3.203.614,00

0 Electrosilex 01/08/95 25.000.000,00

0 Arbra 14/08/95 8.428.315,00

0 Austral 14/08/95 50.559.777,00

0 Cia Inv. Latinoamericana 14/08/95 303.297.984,00

1 Lojas Hering 16/08/95 2.297.484,00

68 Apenas a amostra utilizada.

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0 Itautec 14/09/95 114.999.976,00

0 Pão de Açucar 22/09/95 107.100.000,00

1 Tel. Borda Campo 28/09/95 2.062.811,00

1 Telerj 28/09/95 163.227.416,00

1 Telesp 28/09/95 155.019.283,00

1 Acesita 29/09/95 94.713.925,00

0 Serrana 29/09/95 86.000.001,00

1 Telebahia 29/09/95 6.493.597,00

1 Telebrasília 29/09/95 2.974.512,00

1 Cemig 06/10/95 121.474.667,00

0 Lojas Arapuã 09/10/95 12.136.500,00

1 Telemig 10/10/95 50.110.361,00

1 Fibam 16/10/95 656.937,00

1 Telepar 18/10/95 1.190.159,00

1 Beta 23/10/95 10.975.071,00

1 Bompreço Bahia 24/10/95 5.109.711,00

1 La Fonte Part. 31/10/95 14.672.867,00

1 Paulista F & Luz 16/11/95 12.204.336,00

1 Unibanco Holding 20/11/95 681.999.992,00

1 CTM Citrus 22/11/95 23.133.156,00

0 Dixie Toga 22/11/95 30.000.000,00

1 Lobrás 28/11/95 14.999.867,00

0 Eluma 29/11/95 55.000.000,00

0 Chapecó 30/11/95 15.000.000,00

1 Agrale 05/12/95 38.601.389,00

0 Wentex 05/12/95 60.300.000,00

0 Wembley 14/12/95 30.000.000,00

1 Bamerindus Part. 15/12/95 239.999.993,00

1 Bérgamo 22/12/95 1.416.696,00

1 Serra Mesa Energia 08/01/96 56.899.103,00

1 Bósforo 18/01/96 888.848,00

0 Ceterp 22/01/96 50.500.000,00

0 Artex 25/01/96 39.102.000,00

0 Wiest 26/01/96 4.999.779,00

1 Aços Villares 30/01/96 76.895.568,00

1 Estado Amazonas 26/02/96 67.184.352,00

0 Paraibuna 04/03/96 59.999.996,00

1 Ceb 14/03/96 4.168.877,00

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178

1 Politeno 18/03/96 9.273.891,00

1 F. L. Cataguazes 19/03/96 15.074.452,00

1 Aquatec 29/03/96 1.320.000,00

1 Cerj 29/03/96 15.953.609,00

0 Mehir Holdings 29/03/96 16.500.144,00

1 Santa Cruz Seg 29/03/96 13.699.444,00

1 Arbra 12/04/96 176.800,00

0 Cambuci 19/04/96 21.648.000,00

1 Coelba 19/04/96 61.443.186,00

1 Arbra 23/04/96 751.785,00

1 Multicanal 23/04/96 65.681,00

1 Globex Utilidades 26/04/96 58.500.001,00

1 Ceterp 29/04/96 1.779.049,00

1 Multicanal 29/04/96 34.949,00

1 Arbra 30/04/96 442.768,00

1 Elbrus 07/05/96 9.452.923,00

1 Embraer 08/05/96 60.000.001,00

1 Telerj 14/05/96 87.688.526,00

1 Tel. Borda Campo 16/05/96 4.007.606,00

1 Telebahia 17/05/96 25.745.963,00

1 Telepar 17/05/96 1.150.894,00

1 Rima 18/05/96 3.541.706,00

1 Arbra 20/05/96 854.504,00

1 Telebrás 20/05/96 1.006.658.209,00

1 Telebrasília 20/05/96 42.298.473,00

1 Telemig 20/05/96 20.159.113,00

1 Telesp 20/05/96 350.404.975,00

1 Ref Pet. Manguinhos 28/05/96 4.299.965,00

1 Brazil Realty 31/05/96 206.000,00

0 Panex 05/06/96 5.000.000,00

1 Bósforo 17/06/96 932.423,00

1 Pilcomayo 17/06/96 8.413.845,00

1 Elbrus 18/06/96 7.944.544,00

0 Autel 27/06/96 1.243.000,00

0 Acesita 05/07/96 163.199.999,00

1 Mcom Wireless 08/07/96 50.174,00

1 Fer. C. Atlant. 12/07/96 24.043,00

1 Melpaper 16/07/96 13.177.058,00

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179

1 Fer. C. Atlant. 17/07/96 63.379.998,00

0 Lorenz 25/07/96 18.000.000,00

1 Embraer 26/07/96 54.999.980,00

1 DF Vasconcellos 01/08/96 973.478,00

1 Dohler 02/08/96 2.891.215,00

1 Teba 14/08/96 20.000.000,00

1 Multicanal 19/08/96 15.813.135,00

1 Polipropileno 29/08/96 37.500.059,00

0 Americas Empr Art. 02/09/96 2.188.352,00

1 Springer 12/09/96 2.016.933,00

0 Celesc 17/09/96 114.799.936,00

1 Saraiva Livros 25/09/96 7.115.838,00

1 Ceterp 30/09/96 1.779.104,00

1 Aços Villares 07/10/96 23.733.168,00

1 VCP 14/10/96 139.999.986,00

0 Brazil Realty 21/10/96 82.552.750,00

0 Master 21/10/96 9.999.574,00

0 Forpart 23/10/96 15.000.000,00

1 Gerdau 23/10/96 75.999.998,00

1 Met. Gerdau 23/10/96 28.999.998,00

1 Sid. Riograndense 23/10/96 54.999.998,00

0 Bompreço 31/10/96 24.396.607,00

0 Multicanal 31/10/96 110.769.229,00

1 Parque Temático 31/10/96 68.516.658,00

1 Wetzel Met. 04/11/96 5.048.763,00

1 Playcenter 25/11/96 10.302.124,00

0 Inds. Arteb 26/11/96 10.000.000,00

1 Parque Temático 26/11/96 10.751.528,00

1 Bósforo 27/11/96 6.623.831,00

1 Adubos Trevo 29/11/96 10.999.998,00

1 Polipropileno 02/12/96 61.402.599,00

1 Quimica Geral 02/12/96 2.519.996,00

1 Arbra 03/12/96 4.094.068,00

1 Cia. Hering 04/12/96 57.444.002,00

0 Hering Téxtil 04/12/96 26.712.386,00

0 Inepar 06/12/96 180.960.000,00

1 Paulista F & Luz 09/12/96 9.735.499,00

1 Fer. C. Atlant. 13/12/96 60.000.000,00

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180

1 América Leasing 20/12/96 9.030.000,00

1 Invicta 20/12/96 1.125.447,00

1 Itautec 21/12/96 79.999.999,00

1 Goitacazes 23/12/96 1.583.168,00

1 América Sul 30/12/96 9.003.750,00

1 Antarctica RN 30/12/96 24.999.984,00

1 Norberto Odebrecht 30/12/96 274.703.908,00

0 Ferronorte 02/01/97 354.000.000,00

1 Arbra 14/01/97 3.055.826,00

1 F. Sul Atlant. 14/01/97 66.120.874,00

1 Artex 24/01/97 42.468.300,00

1 Enersul 28/01/97 90.505.042,00

0 Parque Temático 05/02/97 52.168,00

1 Crefisul 07/02/97 19.938.956,00

1 Polônia Part. 11/02/97 10.926.495,00

1 F. Sul Atlant. 19/02/97 8.029.999,00

1 DF Vasconcellos 20/02/97 2.278.347,00

1 Arbra 25/02/97 407.640,00

1 Bérgamo 25/02/97 1.573,00

1 Mcom Wireless 03/03/97 20.904,00

1 F. Sul Atlant. 05/03/97 13.169.999,00

1 Teba 18/03/97 10.000.000,00

0 La Fonte Part. 24/03/97 99.999.223,00

0 Paulista Energia 24/03/97 9.000.011,00

1 Latinoamericana 02/04/97 11.559.561,00

0 Minaco 03/04/97 6.050.000,00

1 Nordon Met. 03/04/97 2.250.217,00

0 Caemi Metal. 11/04/97 191.283.637,00

1 Mcom Wireless 14/04/97 421.244,00

1 Elekeiroz 18/04/97 30.000.158,00

1 Iriri 18/04/97 1.362.704,00

1 Continental 25/04/97 5.459.999,00

1 Ceterp 28/04/97 25.200.782,00

1 Springer 28/04/97 316.678,00

1 Lojas Hering 30/04/97 2.400.000,00

1 Quimica Geral 30/04/97 12.540.749,00

0 Pão de Açucar 09/05/97 185.415.478,00

1 Tel. Borda Campo 20/05/97 3.486.775,00

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181

1 Telesp 20/05/97 747.342.463,00

1 Liasa 23/05/97 5.249.969,00

1 Telebrasilia 23/05/97 31.609.485,00

1 Telepar 23/05/97 170.507.086,00

1 Forpart 26/05/97 15.100.000,00

1 Itinga 26/05/97 3.632.390,00

0 Latasa 26/05/97 89.217.000,00

1 Monteiro Aranha 26/05/97 15.639.999,00

1 Playcenter 26/05/97 422.652,00

1 Telebahia 26/05/97 76.564.853,00

1 Telemig 26/05/97 44.727.048,00

1 Telerj 26/05/97 497.741.407,00

1 SE Com. Import. 28/05/97 36.249.500,00

0 Americas Empr. Ar. 01/06/97 912.000,00

1 Quimica Geral 03/06/97 10.671.567,00

1 Arbra 11/06/97 372.032,00

1 Dohler 18/06/97 2.431.050,00

1 Cemat 26/06/97 87.460.285,00

1 Iochpe-Maxion 26/06/97 3.100.692,00

0 Bombril 27/06/97 344.039.590,00

0 Rossi Res. 01/07/97 75.500.000,00

1 Bérgamo 02/07/97 1.572.536,00

1 F. Sul Atlant. 13/07/97 529.093,00

0 Copel 18/07/97 622.029.475,00

1 Embraer 25/07/97 171.509.541,00

1 Durex 29/07/97 1.110.337,00

1 Samitri 06/08/97 56.123.953,00

1 Arbra 07/08/97 64.998,00

1 Latinoamericana 08/08/97 1.143.713,00

1 Jungfrau 13/08/97 270,00

0 Cia. Hering 01/09/97 110.400.000,00

0 Unibanco Holding 01/09/97 191.515.000,00

0 Unibanco Holding 01/09/97 84.543.000,00

1 Cemepe 04/09/97 12.623.316,00

1 F. L. Cataguazes 04/09/97 48.181.761,00

1 D. F. Vasconcellos 09/09/97 1.054.847,00

1 Playcenter 09/09/97 12.603.437,00

0 Bompreço 18/09/97 199.987.862,00

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182

0 Eletropaulo 19/09/97 1.489.049.015,00

1 Santa Cruz 30/09/97 74.719.991,00

1 GFTT 07/10/97 1.055.565,00

1 Itaunense 10/10/97 2.000.000,00

1 CTM Citrus 30/10/97 15.999.993,00

1 Continental 04/11/97 21.999.998,00

0 Coteminas 05/11/97 107.299.999,00

1 Petr. São Paulo 06/11/97 6.567.500,00

1 Sabesp 06/11/97 1.099.426,00

1 Inds. Villares 07/11/97 53.401.041,00

1 F. Sul Atlant. 10/11/97 4.939.011,00

1 Forpart 19/11/97 15.000.000,00

1 Comgas 20/11/97 27.500.000,00

1 Telepar 20/11/97 67.147.776,00

1 Telerj 20/11/97 115.619.385,00

1 Telesp 20/11/97 511.658.216,00

1 Parmalat 21/11/97 407.479.182,00

1 Sul América Nac. 24/11/97 15.621.493,00

1 Wembley 24/11/97 18.102.957,00

1 Itinga 26/11/97 11.268.974,00

1 Sé Com. Import. 26/11/97 1.767.676,00

0 Inepar 01/12/97 60.000.000,00

1 Celg 03/12/97 58.936.714,00

1 Polônia Part. 03/12/97 26.366.069,00

1 F. L. Cataguazes 04/12/97 240.468.634,00

1 Teba 04/12/97 39.600.000,00

1 Sabesp 11/12/97 26.222.238,00

1 Itinga 17/12/97 1.143.830,00

1 Itautec 19/12/97 100.001.999,00

1 Saquarema 19/12/97 11.140.802,00

1 Polipropileno 22/12/97 55.895.517,00

1 Casa Anglo 23/12/97 3.999.998,00

0 Inepar Energia 01/01/98 50.000.000,00

1 Cemat 07/01/98 295.001.016,00

1 DF Vasconcellos 09/01/98 339.607,00

1 Gazola 13/01/98 14.574.900,00

1 Serra Mesa Energia 13/01/98 599.852.810,00

1 Itinga 27/01/98 1.982.896,00

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183

0 Eucatex 05/02/98 50.185.279,00

1 Paulista F & Luz 05/02/98 5.063.302,00

1 Sabesp 10/02/98 6.259.198,00

1 Bahia Sul 18/02/98 207.795.935,00

0 Recrusul 13/03/98 13.999.999,00

1 Saraiva Livros 18/03/98 4.095.403,00

1 Continental 20/03/98 22.499.995,00

1 Saquarema 23/03/98 15.331.577,00

1 Picos Part. 24/03/98 16.200.000,00

1 La Fonte Inv. 26/03/98 16.743.666,00

1 União Seguros 31/03/98 29.999.902,00

0 Belgo Mineira 06/04/98 9.983.739,00

1 Melpaper 13/04/98 83.721.704,00

1 Saquarema 22/04/98 3.869.223,00

1 Springer 23/04/98 3.241.736,00

1 Iochpe-Maxion 24/04/98 20.699.993,00

1 Saquarema 24/04/98 5.149.026,00

1 Picos Part. 27/04/98 9.596.236,00

1 Ceterp 28/04/98 13.733.950,00

1 Ferropasa 28/04/98 29.641.104,00

0 Dixie Toga 01/05/98 17.200.000,00

1 F. Sul Atlant. 04/05/98 49.623.097,00

1 Forpart 13/05/98 52.431,00

1 Alpha 14/05/98 5.961.698,00

1 Guaraniana 03/06/98 1.477.006.250,00

1 Telepar 08/06/98 57.055.037,00

1 Telebahia 09/06/98 105.003.798,00

1 Telebrasília 09/06/98 8.261.254,00

1 Telesp 09/06/98 680.287.166,00

1 Arbra 10/06/98 131.592,00

1 Tel. Borda Campo 10/06/98 19.326.070,00

1 Telerj 10/06/98 27.285.607,00

1 Bósforo 22/06/98 21.173.754,00

1 Playcenter 24/06/98 82.426.398,00

1 Telemig 26/06/98 1.378.262,00

1 Picos Part. 29/06/98 13.080.000,00

1 Douat Téxtil 30/06/98 2.080.000,00

1 GFTT 30/06/98 99.883,00

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184

1 Parmalat 30/06/98 66.543.936,00

1 Alpha 01/07/98 40.466.784,00

0 Autel 01/07/98 2.300.000,00

1 Dohler 08/07/98 1.524.752,00

0 Acesita 10/07/98 571.700.000,00

0 Bompreço Bahia 10/07/98 78.493.598,00

1 Caiuá 13/07/98 279.993,00

1 La Fonte Inv. 24/07/98 119.999.670,00

1 La Fonte Part. 24/07/98 46.246.953,00

1 Arteb 03/08/98 28.888.663,00

1 Vulcabrás 11/08/98 5.052.840,00

1 CTM Citrus 14/08/98 24.999.989,00

1 Teba 17/08/98 14.569.425,00

1 Ienergia 19/08/98 49.949.987,00

1 Picos Part. 20/08/98 1.520.000,00

1 Iridium 21/08/98 134.849.519,00

1 Sabesp 25/08/98 3.700.926,00

1 Itinga 28/08/98 38.657.163,00

1 Eucatex 01/09/98 5.013.558,00

1 Playcenter 01/09/98 7.078.892,00

0 Telpart Part. 01/09/98 573.500.000,00

1 Santandernor 03/09/98 292.999.997,00

1 Bósforo 04/09/98 1.913.315,00

0 Antarctica Nordeste 08/09/98 538.912.486,00

1 Bompreço 28/09/98 99.998.568,00

1 Gafisa 28/09/98 6.506.373,00

1 Guaraniana 29/09/98 59.999.986,00

0 Inepar- Fem 01/10/98 33.700.000,00

1 Paulista F & Luz 01/10/98 4.060.167,00

0 Tam- Cia. Inv. 01/10/98 29.500.000,00

1 Piraju Part. 05/10/98 37.476.057,00

1 Piuma Part. 05/10/98 35.690.093,00

1 Pocone Part. 05/10/98 812.204,00

1 Latinoamericana 13/10/98 60.802,00

1 Ciquine Petr. 15/10/98 43.800.000,00

1 Alpha 19/10/98 20.351.713,00

1 Pevê Prédios 23/10/98 49.973.000,00

1 Saquarema 28/10/98 357.810,00

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185

1 Spel Empreend. 28/10/98 253.835,00

1 Serra Mesa Energia 30/10/98 356.026.627,00

1 ABC Supermercados 05/11/98 1.800.000,00

1 Vigor 05/11/98 101.249.879,00

1 Sano 06/11/98 3.849.998,00

1 Belgo Mineira 10/11/98 105.409.629,00

1 ABC Supermercados 11/11/98 7.490.000,00

1 Transul 13/11/98 41.063.805,00

1 Alpha 17/11/98 75.492,00

1 Vulcabrás 25/11/98 14.567.637,00

1 Elebra 27/11/98 6.338.607,00

1 Lojas Americanas 01/12/98 40.815.124,00

1 Bompreço Bahia 04/12/98 99.999.145,00

1 Ferropasa 04/12/98 172.157,00

1 Sabesp 04/12/98 13.754.866,00

1 Tectoy 08/12/98 2.855.259,00

1 Transul 08/12/98 53.880.171,00

1 ABC Supermercados 15/12/98 2.650.000,00

1 Fibrasil 28/12/98 41.934.656,00

1 Vega Eng. 29/12/98 5.006.960,00

0 Caiuá 01/01/99 94.751.643,00

1 Bérgamo 06/01/99 2.497.065,00

1 Nitrocarbono 06/01/99 43.379.620,00

0 White Martins 06/01/99 300.000.000,00

1 Sabesp 07/01/99 14.512.795,00

1 Inepar Ener. 13/01/99 18.670.933,00

1 Adubos Trevo 19/01/99 64.649.922,00

1 Paranapanema 25/01/99 277.804.953,00

1 Paraibuna 26/01/99 137.999.999,00

1 Eluma 27/01/99 146.999.995,00

1 Fras-le 08/02/99 19.250.000,00

1 Springer 10/02/99 3.782.160,00

1 Tupy 10/02/99 84.999.999,00

0 Lamsa 11/02/99 11.462.278,00

1 La Fonte Part. 12/02/99 129.999.924,00

1 Bahia Sul 18/02/99 115.533.855,00

1 Gruçai 09/03/99 339.986,00

1 Iriri 09/03/99 323.538,00

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186

1 Polônia Part. 09/03/99 999.876,00

1 Saquarema 09/03/99 282.863,00

1 ABC Supermercados 12/03/99 10.000.000,00

1 La Fonte Tel. 12/03/99 119.999.867,00

1 Arthur Lange 19/03/99 6.810.000,00

1 CEB 22/03/99 1.362.966,00

1 Itausa 24/03/99 59.999.990,00

1 Parque Temático 07/04/99 41.599.884,00

1 Piuma Part. 09/04/99 70.022.559,00

1 Telerj 12/04/99 1.399.999.992,00

1 Eletropaulo 19/04/99 219.999.996,00

1 LF Tel 22/04/99 98.967.000,00

1 Telesp 22/04/99 127.923.687,00

1 Actori Part. 26/04/99 3.400.000,00

1 Bósforo 28/04/99 3.030.369,00

1 Light 28/04/99 403.280.350,00

1 Playcenter 28/04/99 13.250.179,00

1 Transul 28/04/99 119.999.960,00

1 Albae Part. 05/05/99 11.470.321,00

1 AGF Brasil 11/05/99 102.435.000,00

1 Eucatex 12/05/99 80.019.343,00

1 ABC Supermercados 14/05/99 8.500.000,00

1 Actori Part. 20/05/99 6.500.971,00

1 Bósforo 20/05/99 6.651.101,00

1 Playcenter 20/05/99 26.983.948,00

1 Boavista Arrendamento 21/05/99 84.887.250,00

1 Santista Alimentos 21/05/99 167.000.387,00

1 Parque Temático 25/05/99 22.899.953,00

1 Bosforo 27/05/99 11.192.603,00

1 Elektro 27/05/99 429.649.997,00

1 Playcenter 27/05/99 29.015.023,00

1 Tele Centro Oeste 27/05/99 53.100.000,00

1 Actori Part. 31/05/99 5.563.804,00

1 Telebahia 31/05/99 4.759.392,00

1 Telemig 31/05/99 41.940.803,00

1 Telerj 31/05/99 376.472,00

1 Aditus Part. 10/06/99 2.454.545,00

1 Ambev 10/06/99 19.094.745,00

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187

1 Bósforo 14/06/99 5.881.529,00

0 Playcenter 14/06/99 24.577.664,00

1 ABC Supermercados 15/06/99 28.128.000,00

0 Dohler 15/06/99 1.452.328,00

1 Actori Part. 16/06/99 5.891.424,00

1 Playcenter 16/06/99 225.663,00

1 AES Sul 18/06/99 2.181.175,00

1 Aetatis Part. 25/06/99 2.455,00

1 Alium Part. 25/06/99 2.455,00

0 Aditus Part. 01/07/99 447.714.439,00

1 Fer. C. Atlant. 22/07/99 119.389.116,00

1 All Amer Lat 30/07/99 57.983.314,00

1 Docas 30/07/99 3.896.348,00

1 Pão de Açucar 06/08/99 858.537.810,00

1 Altere Part. 16/08/99 27.087.332,00

1 Amari Part. 16/08/99 27.087.332,00

1 Avidus Part. 16/08/99 27.087.332,00

1 Cia. Hering 31/08/99 84.000.000,00

1 Serra Mesa Energia 01/09/99 49.228.605,00

1 Unibanco Holding 01/09/99 559.220.000,00

0 Parmalat 29/09/99 343.173.232,00

0 Ultrapar Part. 06/10/99 389.890.000,00

1 Indústrias Villares 25/10/99 19.305.994,00

0 Acesita 11/11/99 150.000.000,00

1 Rhodia-Ster 11/11/99 105.844.305,00

1 Globo Cabo 17/11/99 492.839.678,00

1 Coteminas 18/11/99 123.504.267,00

1 Nadir Figueiredo 19/11/99 3.693.809,00

1 Sabesp 23/11/99 31.123.885,00

1 Bompreço Bahia 01/12/99 99.999.446,00

1 Ferropasa 15/12/99 23.735.430,00

1 Sabesp 27/12/99 22.579.794,00

1 Serra Mesa Energia 27/12/99 95.961.932,00

1 América Sul 28/12/99 299.999.994,00

1 Casan 12/01/00 110.729.412,00

1 Itausa 27/01/00 88.499.973,00

1 All Amer Lat 31/01/00 16.024.404,00

0 Dtc Direct to Company 01/02/00 2.900.000,00

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188

1 Ferropasa 09/02/00 74.550.366,00

1 Springer 10/02/00 4.062.320,00

1 Brasmotor 15/02/00 52.399.998,00

1 Multibrás 15/02/00 99.999.979,00

1 Tele Leste Celular 21/02/00 154.039.125,00

1 Vega Eng. 22/02/00 60.451.872,00

1 Telet 25/02/00 140.000.000,00

1 Marisol 10/03/00 9.759.939,00

1 Guaraniana 29/03/00 394.316.069,00

1 AGF Brasil 30/03/00 77.066.000,00

1 Americel 30/03/00 48.674.218,00

1 Sabesp 04/04/00 1.994.414,00

1 Tele Norte Celular 10/04/00 443.723,00

1 Telemig Part. 10/04/00 1.903.755,00

1 Manah 12/04/00 139.999.991,00

1 Celg 18/04/00 508.795.995,00

1 Fert. Serrana 27/04/00 177.999.700,00

1 Serrana 27/04/00 177.999.201,00

1 Elektro 28/04/00 11.207.000,00

1 Tec. Blumenau 04/05/00 3.999.992,00

1 Aetatis Part. 05/05/00 49.999.981,00

1 Altere Part. 05/05/00 27.999.990,00

1 Amari Part. 05/05/00 27.999.990,00

1 Avidus Part. 05/05/00 27.999.990,00

1 Piraju Part. 05/05/00 44.999.753,00

1 Pocone Part. 05/05/00 40.000,00

1 Kepler Weber 08/05/00 67.528.936,00

1 LF Tel 08/05/00 6.607.437,00

1 Telebahia Cel. 16/05/00 187.331.000,00

1 Sano 19/05/00 5.888.412,00

0 Ideiasnet 01/06/00 33.000.000,00

1 Caiuá 12/06/00 100.002.654,00

1 Nitrocarbono 19/06/00 53.999.738,00

1 Pevê Prédios 26/06/00 93.006.686,00

1 Arteb 27/06/00 16.611.112,00

1 Brazil Realty 28/06/00 18.750.455,00

1 Dohler 30/06/00 3.007.761,00

1 Pocone Part. 30/06/00 100.000,00

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0 Embraer 01/07/00 439.824.000,00

1 521 Part. 04/07/00 235.950,00

1 Americel 04/07/00 38.994.667,00

1 Sabesp 18/07/00 1.227.123,00

1 Guaraniana 21/07/00 119.999.982,00

1 Telesp 24/07/00 217.437.706,00

1 Telet 31/07/00 98.922.559,00

1 Elebra 10/08/00 791.375,00

1 Gerasul 16/08/00 33.906.724,00

1 Chapecó 18/08/00 30.499.994,00

1 Telesp Cel. Part. 25/08/00 1.125.084.531,00

1 Finansinos 30/08/00 599.955,00

1 Telepar Celular 30/08/00 118.999.977,00

1 Celulose Irani 29/09/00 8.640.845,00

1 LF Tel 02/10/00 139.476.330,00

1 Sola 03/10/00 15.000.000,00

1 Piraju Part. 04/10/00 86.560.186,00

1 Sauipe 05/10/00 2.546.337,00

1 Chapecó 10/10/00 998.842,00

0 Duratex 19/10/00 190.800.000,00

1 Polônia Part. 10/11/00 140.000,00

1 Ferropasa 20/11/00 55.548.796,00

1 Gerasul 20/11/00 160.000.000,00

1 La Fonte Part. 23/11/00 126.041.559,00

1 Bunge Fertilizantes 24/11/00 177.999.997,00

1 La Fonte Tel. 27/11/00 69.999.942,00

1 ABC Supermercados 29/11/00 18.000.000,00

0 Klabin 13/12/00 278.170.032,00

1 Sabesp 14/12/00 3.566.057,00

1 Telet 20/12/00 58.501.314,00

1 Convexx 26/12/00 45.714.542,00

1 Souto Vidigal 28/12/00 87.221.643,00

0 Bradespar 01/01/01 500.000.000,00

1 Convexx 19/01/01 22.759.310,00

1 Actori Part. 26/01/01 120.000,00

1 Spel Empreend. 26/01/01 74.863,00

1 Metodo Eng. 01/02/01 21.531.764,00

1 All Amer Lat 02/02/01 17.274.491,00

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1 Playcenter 12/02/01 238.142,00

1 Polipropileno 12/02/01 19.591.937,00

1 LF Tel 22/02/01 234.999.967,00

1 Albae Part. 23/02/01 75.000,00

1 Gruçai 23/02/01 84.999,00

0 Petrobahia 01/03/01 6.999.000,00

1 Itausa 06/03/01 134.999.960,00

1 Brasil T. Participações 23/03/01 72.285.279,00

1 Telebrás 23/03/01 11.102.478,00

1 Ideiasnet 26/03/01 6.749.577,00

1 Tele Centro Oeste 27/03/01 16.617.676,00

1 Americel 03/04/01 40.689.980,00

1 Brasil Telecomunicaçòes 04/04/01 53.278.036,00

1 Springer 10/04/01 4.378.500,00

1 Tele Cel Sul 25/04/01 9.896.699,00

1 Comgas 26/04/01 9.258.140,00

1 Pão de Açucar 26/04/01 85.688.720,00

1 Tele Nordeste Celular 30/04/01 10.984.922,00

1 Tele Norte Celular 30/04/01 601.935,00

1 Telemig Part. 30/04/01 9.279.496,00

0 Mehir Holdings 01/05/01 2.100.000,00

1 Guaraniana 03/05/01 17.259.998,00

1 Douat Téxtil 08/05/01 4.491.372,00

1 Telemar Part. 09/05/01 168.271.606,00

1 Aetatis Part. 10/05/01 9.999.498,00

1 Avidus Part. 10/05/01 9.998.712,00

1 Pocone Part. 10/05/01 24.999.978,00

1 Altere Part. 14/05/01 9.998.712,00

1 Adubos Trevo 16/05/01 89.942.589,00

1 Convexx 24/05/01 24.303.535,00

1 Polônia Part. 24/05/01 140.000,00

1 Guaraniana 25/05/01 98.814.224,00

1 Trafo 31/05/01 5.123.700,00

1 Dohler 08/06/01 2.249.995,00

1 Vega Eng. 11/06/01 23.462.313,00

1 Hopi Hari 20/06/01 4.999.634,00

1 Parque Temático 20/06/01 129.709.119,00

1 Gerasul 05/07/01 165.881.813,00

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1 Vega Eng. 18/07/01 6.458.296,00

1 All Amer Lat 30/07/01 19.661.434,00

1 Ideiasnet 30/07/01 2.500.000,00

1 Vega Eng. 15/08/01 9.999.995,00

1 Tec. Blumenau 17/08/01 3.499.997,00

1 Chapecó 23/08/01 2.616.133,00

0 Faz. Reunidas Boi Gordo 01/09/01 315.000.000,00

1 LF Tel 05/09/01 99.999.873,00

1 Eluma 25/09/01 15.919.602,00

1 Gruçai 25/09/01 60.000,00

1 Pocone Part. 25/09/01 30.032.140,00

1 Spel Empreend. 25/09/01 49.834,00

1 Vega Eng. 26/09/01 5.999.997,00

1 Geodex 05/10/01 27.049.729,00

1 Arteb 17/10/01 3.197.085,00

1 Actori Part. 26/10/01 100.025,00

1 Portobello 30/10/01 21.817.440,00

1 CTM Citrus 16/11/01 5.470.783,00

1 Docas Imbituba 20/11/01 5.999.994,00

1 Geodex 21/11/01 24.893.948,00

1 Inepar Tel. 28/11/01 28.069.710,00

0 Nova Marlim Part. 01/12/01 128.700.000,00

1 Eluma 12/12/01 19.999.999,00

1 CPFL Geração 26/12/01 569.965.478,00

1 Amazônia 27/12/01 2.049.932.829,00

1 Nordeste Brasil 28/12/01 2.669.999.504,00

1 Polipropileno 09/01/02 47.176.782,00

1 Springer 11/01/02 5.003.143,00

0 CCR 30/01/02 305.344.818,00

1 CRT Celular 25/02/02 39.548.216,00

1 Tele Sudeste 25/02/02 90.363.056,00

1 Telef Data Brasil 26/02/02 490.864.834,00

1 Actori Part. 05/03/02 108.778,00

1 Brasil T. Participações 26/03/02 71.757.649,00

1 Brasil Telecom 27/03/02 64.642.791,00

1 Tele Nordeste Celular 05/04/02 9.237.885,00

1 Tele Cel Sul 16/04/02 11.606.357,00

1 Guararapes 19/04/02 2.763.106,00

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1 Telemar 26/04/02 169.808.111,00

1 Ceg 29/04/02 11.151.861,00

1 Itausa 29/04/02 148.764.964,00

1 Telemig Part 29/04/02 11.466.147,00

1 Vicunha Têxtil 29/04/02 83.749.981,00

1 Polipropileno Part. 30/04/02 12.656.978,00

1 Dohler 06/06/02 2.499.994,00

1 Pocone Part. 13/06/02 35.038.121,00

1 Ideiasnet 25/06/02 1.799.930,00

1 Telesp Cel. Part. 08/07/02 2.496.958.032,00

1 Sifco 19/07/02 25.483.881,00

1 CPFL Piratininga 12/08/02 71.369.849,00

0 Net 20/08/02 597.500.000,00

1 Eluma 22/08/02 20.000.000,00

1 Geodex 27/08/02 66.930.589,00

1 Oderich 30/08/02 2.600.000,00

0 Marcopolo 01/09/02 95.500.000,00

1 Aetatis Part. 11/09/02 34.998.888,00

1 All Amer Lat 16/09/02 25.410.000,00

1 Suzano Petroq. 20/09/02 483.735.769,00

1 Sifco 26/09/02 16.913.820,00

1 Pocone Part. 14/10/02 31.999.986,00

1 CTM Citrus 31/10/02 23.773.065,00

1 Fab. C. Renaux 31/10/02 3.947.409,00

0 Epilife Empr. e Part. 01/11/02 6.356.500,00

1 Electrolux 13/11/02 300.000.000,00

1 Cerj 10/12/02 370.000.000,00

1 Sifco 18/12/02 5.211.865,00

1 Gruçai 23/12/02 395.981,00

1 J. B. Duarte 30/12/02 440.000,00

1 Sul América Nac. 30/12/02 43.891.543,00