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Feliz, grata, com amor redobrado pela vida, aos 33 anos, Sofia Ribeiro não está só muito bonita: é um exemplo de força interior. Depois de ter superado um cancro da mama, agora é tempo de reposicionar prioridades, celebrar o lado simples dos dias – todos os dias – e descobrir esta «nova versão» de si, com a qual também nós temos muito a aprender. POR NAZARÉ TOCHA ~ FOTOGRAFIA CARLOS RAMOS ASSISTENTE DE FOTOGRAFIA NUNO BEJA PRODUÇÃO DE MODA MAFALDA ALVES CABELOS HELENA VAZ PEREIRA MAQUILHAGEM CARINA QUINTILIANO RIBEIRO Sofia

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Page 1: RIBEIRO - glam.com.pt › wp-content › uploads › 2018 › 04 › Sofia-Ribeiro_P… · Sou muito mais feliz onde há sol e mar. Brincar com os meus cães é outra coisa que me

Feliz, grata, com amor redobrado pela vida, aos 33 anos, Sofia Ribeiro não está só muito bonita: é um exemplo

de força interior. Depois de ter superado um cancro da mama, agora é tempo de reposicionar prioridades, celebrar

o lado simples dos dias – todos os dias – e descobrir esta «nova versão» de si, com a qual também

nós temos muito a aprender.

P O R N A Z A R É T O C H A ~ F O T O G R A F I A C A R L O S R A M O S

A S S I S T E N T E D E F O T O G R A F I A N U N O B E J A

P R O D U Ç Ã O D E M O D A M A F A L D A A L V E S

C A B E L O S H E L E N A V A Z P E R E I R A M A Q U I L H A G E M C A R I N A Q U I N T I L I A N O

RIBEIROSofia

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ABRIL 2018 / prevenir 2322 prevenir / ABRIL 2018

PERGUNTAS &

RESPOSTAS

3 segredos para se sentir sempre bonita

«Dormir bem, comer bem e praticar atividade física.»

3 alimentos saudáveis que adora

«Não consigo dizer só três, por isso revelo os meus preferidos:

gengibre, limão, canela, abacate, banana, beterraba,

ovo, nozes, feijão, farinha de tapioca e agrião.»

3 rituais

para ter uma pele luminosa e um cabelo saudável

«Cortar as pontas de três em três meses, evitar tintas e químicos e hidratar bem. Beber muita água, tentar dormir oito horas, limpar

e hidratar bem a pele e fazer uma esfoliação com mel

e açúcar de coco uma vez por mês.»

3 lemas de vida «Força, foco e fé.»

Ainda estou a conhecer esta nova versão de mim. No entanto, acho que a mudança que mais salta

à vista é a vontade imensa que tenho de viverP+Rv Descobrimos, nesta sessão fotográfica, uma Sofia cheia de energia, decidida, mas serena também. É assim que a vemos. É assim que se sente? Obrigada. Sim, é exatamente assim que me sinto. É uma fase em que procuro viver de forma mais descomplicada tudo o que esta vida me propõe. v Quais são hoje os seus rituais diários de vida saudável?Entre a gestão do tempo de trabalho e a minha vida social e familiar, tento cada vez mais manter um estilo de vida saudável. Sempre que tenho tempo extra, vou até à praia caminhar ou ao ginásio, onde, sozinha ou com a ajuda do meu personal trainer, faço treino funcional alternado com exercícios cardio. Ainda estou numa fase de recuperar a resistência e os meus músculos. Devido aos efeitos da quimioterapia, perde-se muita massa muscular. Os músculos, tendões, articulações ficam mais frágeis. Felizmente, a minha genética é boa e, mesmo durante os tratamentos, tentava fazer alguma atividade física sempre que tinha força e, por isso, está tudo a correr muito bem. Em relação à alimentação, procuro beber, pelo menos, um litro e meio de água por dia e comer, sobretudo, fruta, legumes e verduras. Prefiro o peixe à carne (evito a vermelha). A minha alimentação passa por evitar fritos,

farinhas, processados, enlatados, açúcar e sal, privilegiando o que a terra nos dá de mais saudável. v Fora do trabalho, o que lhe dá mais prazer fazer?Cozinhar. Amo cozinhar! Alegra- -me, faço-o quase todos os dias. É um enorme prazer. Passar o fim de semana com as minhas sobrinhas lindas, entre brincadeiras e mimos, também me dá anos de vida. Viajar! Se pudesse faria, no mínimo, uma viagem por mês. Não sendo possível, sempre que posso, rumo preferencialmente ao calor. Sou muito mais feliz onde há sol e mar. Brincar com os meus cães é outra coisa que me faz carregar as energias. Escrever. Já o fazia, mas, enquanto estive doente, senti mais vontade de o fazer e, hoje, é algo que me faz bem. Juntar os meus à volta da mesa e passar horas na conversa é das coisas que mais gosto de fazer.v Contou-nos, em 2013, que sempre foi cuidadosa em relação à sua saúde. Hoje, passada a fase de tratamentos para superar um cancro da mama, tem novos cuidados? Sim, claro. Não imagino outra possibilidade. Passei a estar ainda mais atenta aos sinais do meu corpo. Nós tendemos a não prestar atenção aos sinais que nos vai dando, tal é a correria e a azáfama do dia a dia, mas, se prestarmos atenção, ele dá-nos os sinais todos. Por exemplo,

o corpo regenera e recupera enquanto dormimos e não damos o devido valor a isso. Enquanto não encaixarmos determinadas prioridades, receio que o futuro seja preocupante. O essencial é mais simples do que, por vezes, imaginamos. v Há um ano, em entrevista à revista Cristina, disse: «O cancro veio por bem na minha vida». O que mudou em si para melhor? Passaram dois anos desde que fiquei a saber que estava doente e iniciei os tratamentos. Passou um ano desde que os terminei. A esta distância, sei que parece uma realidade mais longínqua, mas não. Ainda não sei dizer na totalidade e ao certo o que mudou em mim. Seria bom, mas não é assim tão linear. Eu própria ainda estou a tentar perceber e a descobrir e, sinceramente, acredito que assim será enquanto por cá andar. Ainda estou a conhecer esta nova versão de mim. No entanto, acho que a mudança que mais salta à vista é a vontade imensa que tenho de viver. O respeito e a gratidão que tenho hoje pela vida, por mim, pelas pessoas e coisas que me rodeiam, pelos que amo, assumiram uma proporção que, por mais sensíveis que sejamos, só quando se passa por uma situação limite, se consegue compreender com exatidão do que falo.

Para mim, a perfeição é ter saúde.

A perfeição está em olhar-me

ao espelho e sentir-me feliz com o que vejo

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ABRIL 2018 / prevenir 2524 prevenir / ABRIL 2018

v Tem mais de 600 mil seguidores no Instagram. É um exemplo público de otimismo e esperança. Como lida com essa “responsabilidade”?A responsabilidade que eu acredito ter é a de ser genuína. Essa é a minha única responsabilidade. Hoje, cada um de nós (falando de redes sociais) tem uma responsabilidade social. A de sermos nós próprios, a de sermos autênticos. E, se com isso conseguirmos inspirar ou ajudar alguém, seja em que aspecto for, então estamos cada um de nós a fazer o certo e a caminhar no bom sentido nisto do que é “usar” redes sociais. Sinto-me muito orgulhosa da boa energia que se vive nas minhas redes sociais, é pura e verdadeira. Tanto de mim para os meus seguidores, quanto deles para mim. Há muita generosidade envolvida, muita partilha de alma e não tanto o que é ou não cool, hit, trendy partilhar. Também existe, mas não é o motor. v Num post recente, alertava para a inutilidade de darmos importância a imperfeições físicas. Como cultiva a beleza interior? A beleza interior, que consequentemente transborda para o exterior, passa por não seguirmos padrões ou ideias preconcebidas. Passa, antes de mais, pela aceitação do que somos. E só assim

conseguiremos lidar com isso sem que nos faça mossa, com os dedos apontados por uma sociedade tantas vezes fútil e de valores invertidos. Por que tenho eu que ter vergonha de me mostrar como sou? Hoje, mais do que nunca, todos os dias entram nas nossas casas definições de beleza demasiado severas para o comum dos mortais. Fazem-nos acreditar na perfeição, seja lá o que isso for. Usam-se filtros, roupas, maquilhagem, fazem-se mil e uma dietas disfarçadas de detox, sem muitas vezes se saber exatamente para o que servem ou quais as suas consequências e benefícios. Vale tudo para ter o corpo perfeito?! Para mim, a perfeição é ter saúde. A perfeição está em eu olhar-me ao espelho e sentir-me feliz com o que vejo. Independentemente de ter celulite, estrias, cicatrizes, acne, 50 ou 80 quilos. Aceitarmo- -nos não quer dizer, contudo, que não possamos fazer por melhorar todos os dias. Pelo contrário! Aceitarmo-nos quer dizer que, mesmo querendo melhorar, o faremos por nós e não porque nos foi imposto por esta sociedade. Não há nenhum conselho milagroso que possa partilhar, a não ser no que eu acredito. Não há nada que derrube uma mulher confiante e em paz consigo. Não há nada que lhe tire o brilho! Eu amo-me, eu aceito-me, eu consigo!

v Referiu em entrevistas anteriores que o cancro ainda é um tema tabu e um estigma. O que é que todos deveríamos saber sobre esta doença?Devemos saber que não é uma sentença de morte. É certo que cada vez são mais casos, que já deixou de ser uma doença que ouvíamos falar de um parente longínquo, para passar a ser algo bem presente à nossa volta. No entanto, e felizmente, são também cada vez mais os casos de sucesso e finais felizes do que o contrário. Os estigmas, bem como os tabus sobre qualquer tema, vêm da falta de conhecimento, neste caso, do desconhecimento e da falta de informação real e credível sobre determinado assunto. Nos dias que correm, abrir um jornal onde se pode ler que pessoa tal “morreu de doença prolongada” é inconcebível. Devemos chamar as coisas pelos nomes. Só assim conseguiremos lidar com elas. Só assim conseguimos despertar as pessoas para que se cuidem, para que melhorem o seu estilo de vida, para que, por exemplo, façam os seus exames de rotina sem alarmismos desnecessários, mas com atenção devida ao que nos rodeia. Todos acreditamos saber um bocadinho sobre “cancro” e não é bem verdade. Eu também achei que sabia.

A beleza interior, que consequentemente transborda para o exterior, passa por não seguirmos

padrões ou ideias preconcebidas. Passa, antes de mais, pela aceitação do que somos

UM DIA NA VIDA DE SOFIA

6h30 «Acordo, tomo meio

copo de água com o sumo de metade de um limão

e vou tomar banho. Faço o meu

pequeno-almoço, que pode variar entre

batido de frutas e vegetais, tapioca e papas de aveia,

por exemplo.»

8h00 «Saio de casa para o estúdio às 7h30

e, por volta das 8h00, já lá estou. Passo habitualmente

o dia a gravar, até por volta das 19h30.»

20h00 «Passeio os meus cães, faço o jantar e estudo para o dia seguinte.»

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ABRIL 2018 / prevenir 2726 prevenir / ABRIL 2018

A G R A D E C I M E N T O S

CONVERSE // H&M // J. BRAND E MALENE BIRGER (NUDE FASHION STORE) // TOUS // UTERQÜE

O cancro tem origem nas nossas células. Um tumor é a multiplicação anormal das mesmas, mas nem todos os tumores são necessariamente cancro. Tudo isto para dizer que sou muito a favor da partilha, da conversa, do debate. Porque acredito profundamente que a informação nunca é demais e retira peso quando um tema é frágil como este. v Que conselhos pode partilhar com os nossos leitores que são amigos e/ou familiares de doentes oncológicos? Cada pessoa é uma pessoa e, naturalmente, lida com a mesma situação de forma distinta. Por essa razão, não haverá uma fórmula para lidar com um cancro quando ele nos bate à porta. Eu só posso falar do meu caso, quanto muito de alguns à minha volta e de partilhas que me foram chegando. A base comum será sempre o respeito. Qualquer que seja a postura de quem enfrenta a

doença, ela deve ser respeitada.

Não julgue. Porque falar é fácil, passar, passa quem consegue. Apoie, seja positivo, dê força, boa energia, amor e humor. No meu caso, foi fundamental. “Brincar” por vezes com situações e momentos que aparentemente não tinham nenhuma graça fez-me relativizar muita coisa. Não é minimizar o problema, é uma forma de aligeirar, o que por si só já tem peso suficiente. E não tenha pena. Alguém que olha para nós com pena é um dos piores sentimentos que se pode sentir. “Tadinha, o que lhe foi acontecer!...” Aconteceu-me a mim, também podia ter sido a ti. Solidariedade é uma outra coisa e é bem-vinda. Chorem, se tiverem vontade, riam, se vos apetecer, mas tentem agir com normalidade, por mais difícil que por vezes seja, pensem que é uma fase e que, se tudo correr bem – assim esperamos –, sairão todos dela juntos, mais fortalecidos e unidos. Deixem chorar, se for o caso, estejam presentes, mas saibam deixar a sós quando preciso. E não façam sentir quem está doente inútil, que já não é bem-vinda/o no “grupo”, convidem para jantar, para fazer o que sempre

fizeram. Deixem-na/o escolher! Não excluam, mesmo que seja para tentar proteger. A proteção a mais é uma espécie de pena. Não ajuda, só perturba. O exercício parece complicado, mas não... No fundo, é só tentarem colocar-se no lugar do outro e ser para os vossos o que gostavam que fossem para vocês se o contrário acontecesse. v Disse-nos, há cinco anos: «É muito importante saber de onde vim, para onde quero ir e o que ando por cá a fazer.» Já encontrou respostas? Perguntas difíceis! Penso que sei e quero acreditar que estou no bom caminho. O meu maior projeto de vida é o que podem chamar o cliché, mas é a mais pura verdade: ser feliz. É nisso que estou focada: em ser o mais feliz que conseguir todos os dias. A vida é hoje e já me mostrou que amanhã tudo muda ou, por vezes, muda hoje mesmo! Por isso, vou vivendo o meu hoje. Tenho vários sonhos e projetos por concretizar, sim, que espero conseguir, como, por exemplo, abrir um restaurante, fazer uma novela no Brasil, construir uma pequena pousada por lá, ser mãe, o maior de todos. Mas, enquanto não os concretizo, vou sonhando com eles e fazendo por isso. v O que é essencial para concretizar esses projetos? Saúde. O resto, com mais ou menos esforço, de uma ou de outra forma, consegue-se. Vamos atrás! v

Não há nada que derrube uma mulher confiante e em paz consigo. Não há nada

que lhe tire o brilho!

É nisso que estou focada: em ser o mais

feliz que conseguir todos os dias. A vida

é hoje e já me mostrou que amanhã tudo

muda ou, por vezes, muda hoje mesmo!