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DICIONRIOSE E S T U D O S LINGSTICOS
D O P O R T U G U S M E D I E V A L
U M P R O J E C T O D E E Q U I P A -
Maria Francisca Xavier
O tema destes EncontrosLiterdisciplinaresda FCSH-UNL - A Cincia
na Universidade - sugere que seja feito o enquadramento, embora muito
resumidamente, da investigao que vou apresentar na unidade de investiga
o em que vem sendo desenvolvida - o Centro de
Lingstica
da Universi
dade Nova de Lisboa - CLUNL.
A entrada da
Lingstica
na Universidade Nova tem uma histria quase
to longa como a prpria instituio, e o actual Centro de
Lingstica
resulta
da restruturao recente do Centro de Estudos Comparados de Lnguas e
Literaturas M odem as, criado por deciso do Senado da Universidade com o
apoio da ento Junta Nacional de Investigao Cientfica e Tecnolgica -
JNICT,
pouco tempo aps a criao, em 1977, da Faculdade de Cincias
Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.
No seu incio, pretendia-se que o Centro reunisse a investigao liter
ria e
lingstica
dos docentes do Departamento de Lnguas e Literaturas
Modemas existente na altura, o qual reunia as lnguas romnicas e germni
cas, as literaturas e a lingstica. Porm, do mesmo modo que o
Departamento se dividiu em cinco, do Centro foram saindo vrios grupos ao
longo dos anos, at que, h apenas um ano, se concretizou a separao do
gmpo de
Lingstica
do gm po que restava das Literaturas, dando origem ao
Centro de
Lingstica
e a dois outros Centros de Literatura, um de Estudos
Anglo-Portugueses
e o outro de Estudos Portugueses.
O potencial cientfico do Centro e a sua capacidade para integrar estu
dantes na investigao em curso tm, no entanto, dificuldades em se expan
dir satisfatoriamente devido s srias limitaes de espao da Faculdade,
para as quais o projecto de um Laboratrio Associado em instalaes
pr-
Revista da Faculdade de Cincias Sociais e Humanas, n. 14, Lisboa, Edies Colibri,
2001,
p p. 25-37
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Maria Francisca Xavier
prias agora a nica
idia
confortadora, ainda que a sua concretizao seja
problemtica e longnqua, talvez mesmo invivel. A certeza, porm, de que
a invest igao
lingstica
tem de se projectar em associao com outras
reas,
em particular, das cincias sociais e humanas e da engenharia da lingua
gem, aumenta e assegura o seu interesse e utilidade na formao universitria,
bem como na preparao dos estudantes para diversas sadas profissionais.
O oramento do Centro, at h poucos anos muito reduzido, tem vindo
a aumentar nos ltimos anos atravs de financiamentos plurianuais que
resultam de candidaturas e das respectivas avaliaes extemas de quatro em
quatro anos. O Centro tem tambm apresentado projectos a concursos para
financiamento especfico, inicialmen te aos program as da JN ICT e a outros
ao abrigo de Acordos Intemacionais , e mais recentemente aos programas
Scrates, Leonardo, Lngua, Praxis XXI e Sapiens99. A classificao de
mu ito bom obtida pelo C LU NL na avaliao real izada por peri tos estrangei
ros, em finais de 1999, vem aumentar o oramento do Centro, agora acres
cido de financiamento programtico obtido, tambm, atravs de candidatura.
O Centro tem invest ido, part icularmente, em apetrechamento inform
tico e na criao de arquivos e dicionrios electrnicos essenciais para o
novo modo de trabalhar em Lingstica. O CLUNL dispe de um conjunto
considervel de
corpora
textuais informatizados, de bases de dados de dicio
nrios, de terminologias e de bibliografias de grande interesse para a inves
tigao
lingstica,
tanto
sincrnica
como
diacrnica,
em especial, da lngua
portuguesa.
O Centro de
Lingstica
da UNL - CLUNL - engloba a invest igao
em equipa e os projectos individuais da maioria dos docentes do Departa
mento de
Lingstica
da FCSH, o que tem reflexos na ligao saudvel entre
a investigao e a docncia. Deste modo, o Centro est organizado em cinco
linhas de investigao que cobrem tambm as reas disciplinares do ensino
graduado e psgraduado da
Lingstica
na Faculdade, nomeadamente
{www.fcsh. unl.pt/clunl/):
L.I. 1 -
Lingstica
Comparada, coordenada por M.Francisca Xavier
L.I.
2 - Lex icolog ia, Lexicografia e Term inologia, co orden ada por M .
Teresa Lino
L.I. 3 - Sem ntica, coord enad a por M . He nriqueta Ca m pos
L.I. 4 -
Lingstica
Histrica, coordenada por M . Teresa Broc ardo
L.I. 5 - Pragm tica, coord enad a por Ad riano R odrigue s
Os interesses especficos de cada uma das linhas de investigao do
CLUNL podem ser resumidos transcrevendo apenas o essencial de pequenos
excertos retirados dos
objectivos
cientficos includos no ltimo Relatrio do
novo Centro de
Lingstica
da UNL.
http://www.fcsh/http://unl.pt/clunl/http://unl.pt/clunl/http://www.fcsh/ -
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Dicionrios e Estudos Lingsticos do Portugus Medieval 2
A Linha de Investigao 1 - Lingstica Com parada - desenvolve
actividade em dois domnios complementares: (i) estudos
lingsticos,
no
mbito do lxico e da sintaxe comparada relativamente aos processos de
aquisio, variao e mudana, e (ii) criao de
corpora
textuais informati
zados,
de bases de dados e de dicionrios electrnicos, tanto do Latim tardio
como do Portugus Medieval e do Portugus Lngua nativa e no nativa.
A Linha de Investigao 2 - Lexicologia, Lexicografia e Term inolo
gia - enquadra a sua investigao em modelos tericos e metodolgicos em
constante articulao com a
Lingstica
e a Informtica (Informtica de
Orientao Textual, Lexicomtica e
Termintica)
e, por vezes, em interde
pendncia com as Novas Tecnologias da Informao. Criou e desenvolve
arquivos electrnicos de terminologias e de
corpora
em diversos dom nios.
A Linha de Investigao 3 - Sem ntica - procura descrever e expli
car factos lingsticosdo Portugus Europeu no quadro da Teoria das Ope
raes Predicativas e Enunciativas. Visa a construo de gramticas locais a
partir de temas especficos nos domnios da determinao nominal e verbal,
tendo presente a singularidade de cada termo e a sua interrelao com outros
termos na cadeia de operaes subjacentes actividade da linguagem.
A Linha de Investigao 4 - LingsticaHistrica - tem privilegiado,
entre outras, questes que se prendem com o tratamento de fontes para estu
dos lingsticos diacrnicos, critrios para o estabelecimento e codificao
decorpora,anlise
lingstica
de diversos tipos de fontes textuais, aspectos
da morfologia histrica do portugus e est a desenvolver uma base de
dados bibliogrficos de Histria da Lngua Portuguesa.
A Linha de Investigao 5 - Pragm tica - foi recentemente constitu
da com o objectivo de proceder anlise de um corpusde interaces insti
tucionais.
neste enquadramento institucional que se desenvolvem os Dicion
rios e os EstudosLingsticos do Portugus Medieval de que se pretende
dar conta aqui.
Trata-se, fundamentalmente, da investigao que uma equipa interdis
ciplinar tem vindo a realizar, tendo por base edies de textos antigos de
reconhecido interesse lingstico,histrico e cultural que constituem oCor
pus Informatizado do Portugus Medieval - CIPM- do CLUN L.
O CIPM est a ser construdo desde 1993 com a colaborao de lin
gistas, historiadores, estudiosos de literatura e de cultura medieval da
FCSH, da FLUL e da Universidade de Oxford, e tambm com a presena
constante de estudantes. Actualmente com m ais de trs milhes de palavras,
o CIPM incorpora textos latinos da actual regio portuguesa dos sculos IX
a
Xn
e textos portugueses dos sculos
Xn
a XV I.
O incio da constituio do CIPM realizou-se no mbito de um projecto
intitulado Gram tica do Portugus Medieval. Contributos para a sua
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28 M aria Francisca Xavier
Caracterizao , subsidiado pela
ex-JNICT
de 1993 a 1996, e o alargam ento
posterior do CIPM, entre 1996-2000, foi financiado ao abrigo do projecto
''Corpora do Portugus Medieval. Etiquetagem e Segmentao Automti
cas ,
FCT/PRAXIS
XX I: 2/2.2/CSH/778/95.
Para dar uma
idia
do trabalho desenvolvido com vista ao alargamento
do CIPM, transcreve-se a seguir a lista dos textos tratados no ano de
1999/2000 . Foram, ento, digitalizados e/ou corrigidos, adaptados, anotados
e integrados no CIPM os seguintes textos do sculo
XIII
ao sculo
XV^:
T O X - Textos Notariais do Arquivo de Textos do Portugus Antigo de
Stephen Parkinson (ed.) nova verso em suporte digital (Dezembro
de 1998).
DN - Documentos Notariais dos Sculos XII a XVIde A .M. M artins (ed.)
nova verso em suporte digital (1999).
VS - Vidas de Santos de um Manuscrito Alcobacence de
Ivo
Castroetalii
(eds.) (1985) Vidas de Santos de um Manuscrito Alcobacence (Cod.
Ale.CCLXVI/ANTT
2 274), Lisboa, LN .I.C. pp. 16-52;59-83.
CGE - Crnica Geral de Espanha de 1344 de Lus Filipe Lindley Cintra
(ed.) (1951)CrnicaGeral de Espanha de 1344,Lisboa, I.N.C.M.
CAXL/CAXP -
Crnica de Afonso X
(Ms L/P) de Lus Filipe Lindley
Cintra (ed.) (1951) Crnica Geral de Espanha de 1344, Lisboa,
I.N.C.M.
HRP - Histria dos Reis de Portugal de Lus Filipe Lindley Cintra (ed.)
(1951)C rnica G eral de Espanha de 1344,Lisboa, I.N.C.M.
CRB - Chronica dos Reis de Bisnaga de David Lopes (ed.) (1897) Chro-
nica dos Reis de Bisnaga,Lisboa, Imprensa N acional.
LE -
Livro da Ensinana de Bem Cavalgar Toda Sela
de Joseph M.
Piei
(ed.) (1944)
Livro da Ensinana de Bem Cavalgar Toda Sela.
Lis
boa, Bertrand. (Texto editado com emendas posteriores de Joo
Dion sio e separao de palavras da bolseira A na Castro).
L C - Leal Conselheiro de Joseph M.
Piei
(ed.) (1942) Leal Conselheiro,
Lisboa, Livraria Bertrand. (Texto editado com emendas posteriores
de Joo D ionsio e separao de palavras da bolseira Ana C astro).
C P - Castelo Perigoso de J. A. S. Neto (ed.) (1997), Duas Leituras do
Tratado Asctico-Mstico Castelo Perigoso,
Dissertao de Douto
ramento, So Paulo, Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias
Humanas, USP. (Texto editado com emendas posteriores de Irene
Nunes com a colaborao do bolseiro Manuel Freitas, pp. 125-243).
'
Veja-se a constituio actual do CIPM em Xavier; Crispim (2000) e em /http://cipm.fcsh.
unl.pt/.
http://cipm.fcsh/http://unl.pt/http://unl.pt/http://cipm.fcsh/ -
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icionrios e EstudosLingsticosd o Portugus M edieval
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O E -
Orto do Esposo de B.Maler, (ed.) (1956) Orto do Esposo. Texto
Crtico,Vol.
I, Rio de Janeiro, M .E.C., Instituto N acional do Livro.
C D - Chancelarias Portuguesas: D. Duarte (1433-1435) de J.A. Dias
(ed.) (1998/99)
Chancelarias Portuguesas. D. Duarte.
Vol. I,
Tomos
1
e 2; Vol. n. Lisboa, Centro de Estudos Histricos da UNL,
com a colaborao do bolseiro Pedro Pinto.
No existindo um Dicionrio do Portugus M edieval, um dos principais
interesses da equipa interessada nos estudos sobre o Portugus Medieval tem
sido a preparao de glossrios, de dicionrios electrnicos e de listagens de
palavras com a respectiva classificao morfolgica dos textos inseridos no
CIPM, como uma etapa prvia para a elaborao do Dicionrio.
Para facilitar a extraco de informao dos corpora textuais tem-se
procurado o auxlio de ferramentas informticas. Com o desejo de alcanar
este objectivo, constituiu-se, em 1995, uma equipa mista de
lingistas
e de
informticos, estes ltimos da Faculdade de Cincias e Tecnologia da UN L.-
A primeira ferramenta a ser desenvolvida e adaptada para analisar os
textos do sculo XIII do CIPM foi precisamente um etiquetador morfossin-
tctico autom tico, o qual atribui a cada palavracorpustextual uma etiqueta
de classe de palavra, facilitando de imediato a identificao das palavras que
iro ser objecto de estudo
lexicogrfico.^
A etapa seguinte de preparao do Dicionrio consistiu na concepo
de uma metodologia que permitisse trabalhar os dados, analisando-os em
fases sucessivas relativamente s propriedades morfolgicas, sintcticas e
semnticas, com vista sua incluso nas entradas de
Dicionrio ^.
Um primeiro volume de um Dicionrio de Verbos do Sculo
XIII
organizado por M. Francisca Xavier; Graa Vicente e M. Lourdes Crispim,
foi publicado em 1999. Foram tambm concebidos e iniciados ao abrigo do
projecto FCT/PRAXIS XXI: 2/2.2/CSH/778/95 mais dois dicionrios: um
Dicionrio de Nomes Com uns e de Nomes Prprios,e ainda umDicionrio
de Termosque deu origem a uma base de dados para aTerminologia Portu
guesa Histrica - Jurix^.
Relativamente ao
Dicionrio de Nomes
foi elaborada uma sub-
2
Veja-se Xavier et alii (1999) e, tambm, Xavier, Lopes, Marques, Rocio e Silva (no prelo)
para uma descrio da utilizao de ferramentas informticas no tratamento de textos do
CIPM.
3
O etiquetador foi concebido por Nuno Marques e Gabriel Pereira Lopes e a sua adaptao
ao Portugus Medieval foi
financiada
pela
JNICT/FCT.
^Veja-se Xavier e Vicente (1997) e Xavier (no
prelo ).
5 Veja-se Xavier; Castro e Gonalves (no prelo) e, tambm em breve, em /www.cipm.fcsh.
unl.pt/.
http://www.cipm.fcsh/http://unl.pt/http://unl.pt/http://www.cipm.fcsh/ -
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M aria Francisca Xavier
-classif icao das classes de Nomes Prprios e de Nomes Comuns que ocor
rem em textos n o literrios do sculo XrH^.
Assim, as subclasses de Nomes Prprios (NP) so:
N P - Deus, Santa Trindade...
N P A - No me prrpio de pessoa (ant ropnimo) Ex. : dona Marina Perez,
So Joo...
NP T - No m e prprio de lugar (topnimo) Ex.:
Monte Mayor o Velho,
freguesia de Santa Maria Madalena...
NP C - No m e prprio de insti tuies, etc. Ex.: ordem de Avis, concelho de
Monsaraz...
NA - No m e designativo de pessoa especf ica com propriedade s descri tivas
e que inclui um N P. Ex.:
abadessa de Achelas, mestre de Avis...
NT - No m e design ativo de lugar especfico, sendo duv idoso se se trata de
nome prprio ou de descrio definida. Ex.:fonte do
lamo,
lagoa
grande, lagoa segunda...
N D - Da tas: dias, m eses, ano s, dias festiv os.. . Ex .:
dia de natal, II de
agosto da era de MCCXLII, So Miguel de Outubro...
E as subclasses de Nomes Comuns so:
N C - nom es com uns gerais. Ex.: gua, amor, ter ra .. .
NC p - nom es de profisses/profisssionais, ca rgos/deten tores desses cargos,
parentesco/parentes . Ex.:
chance ler, mestre, pais, prestameiro, her
deiro, sucessor, povoador.
NC a - nom es de animais . Ex.:porco, galinha...
N C t - nomes topogrficos. Ex. : campo, herdade, fonte,
leira,
povoao,
vereda...
N C m - nom es met ro lg icos . Ex .:
moio, spadoa...
V
A medida que outros textos vo sendo estudados, novas classes devero
ser incorporadas noDicionrio de Nom es do Portugus Medieval.
A Terminologia Portuguesa Histrica, iniciada recentemente, pode ser
consultada num a base de dados - Jurix - que dispe dos seguintes cam pos:
6
A investigao que levou preparao de glossrios e concepo dos Dicionrios de
Nomes e de Termos foifinanciadapela FCT/PRAXIS XXI.
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DicionrioseEstudos Lingsticos do Portugus Medieval 31
(i) Ved eta do termo ,
(ii) Inform ao gram atical,
(iii) Pronncia,
(iv) Etimologia,
(v) Fon te da etimologia,
(vi) Definio,
(vii) Fo nte da definio ,
(viii) Variantes grficas,
(ix) Fo ntes textua is da(s) oco rrncia(s),
(x) Tem as em que se integra o termo,
(xi) Term os relacion ado s.
Por exemplo:
(i) Ve deta do termo :
herdamento
(ii) Informao gram atical: Nom e
(iii) Pronncia: -
(iv) Etimo logia: De herdar+-mento
(v) Fon te da etimologia: DE LP
{Dicionrio Etimolgico da Lngua
Portuguesa)
(vi) Definio: Heran a ou propriedade (herdada)
(vii) Fonte da definio:
Foro Real,
vol. 2, pg.
151
(viii) V arian tes grficas: erdam ento, e(r)dam(en)to, erdam (en)to,
erdam(en)tos, e(r)dame~to, erdamentho, erda[me~thlo, erda-
me~tho,
h(er)dametos
(ix) Fon tes textuais da(s) ocorrncia(s):
Chancelaria de Afonso III
01 2 ; 0 2 7 ;
Docum entos Notariais
00 3; 019; 040; 0 41 ; 042 ; 09 5;
Histria do Galego-Portugus 058...
(x) Tem as em que se integra o termo: cm bio, doa o, em prazam en-
to, procurao, relato/testemunho, sentena, testamento
(xi) Term os relacion ado s: herana, herdad e, herdadu ra, m anda, testa
mento
Com o intuito de consolidar o trabalho em equipa e com objectivos bem
definidos a serem atingidos em perodos determinados, dois projectos foram
submetidos ao programa de financiamento Sapiens 99, em Janeiro de 2000,
e embora apenas um tenha directamente a ver com os estudos sobre o Portu
gus Medieval, o segundo tambm interessante e til para estes estudos,
porque prope uma discusso sobre aspectos actuais da reflexo
lingstica
terica que so, necessariamente, pertinentes para a explicao dos factos de
variao e mudana da Histria da Lngua Portuguesa.
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M aria Francisca Xavier
(I) Sapiens99:
Lxico e Sintaxe do Verbo no Portugus M edieval
Responsvel: Maria Francisca Xavier
O projecto tem como objectivo contribuir para um melhor conhecimento
do lxico e do sistema
lingstico
na origem e na histria da lngua portugue
sa, desde o perodo pr-histrico at aos finais do sculo XV, atravs do estu
do da estmtura da frase e da sintaxe do verbo numa perspectiva comparada.
Os dados empricos so extrados do CIPM e esto a ser estudados pelo
grupo em dois campos intimamente relacionados - o lxico e a sintaxe do
Portugus Medieval.
No que respeita ao lxico, continuar a ser desenvolvido um dicionrio
de verbos - na linha de Xavier, Vicente e Crispim orgs. (1999) Dicionrio
de Verbos Portugueses do Sculo
XIII
Edio da L.I.
1
do CLUNL.
(i) Constituiro o
corpus
para o estudo das entradas lexicais alguns
textos latinos dos sculos XI-XII, os textos portugueses dos scu
los Xn-Xm recentemente informatizados, e alguns textos dos
sculos
XrV
e XV, todos integrados no CIPM.
(ii) Todas as formas verbais devero ser identificadas, extradas e mor-
fologicamente classificadas, conservando as variantes grficas e a
informao relevante da sua fonte textual.
(iii) Sero preparadas as concordncias necessrias.
(iv) Com base na anlise das frases delimitadas nas concordncias, e
recorrendo tambm aos textos completos, sempre que for neces
srio, sero identificados os contextos que permitem descrever a
informao lexical de cada verbo.
(v) As entradas lexicais incluem:
a) a vedeta do verbo
-i-verbos
relacionados),
b) a etimologia,
c) as formas grficas atestadas classificadas,
d) o(s) significado(s) em Portugus Actual,
e) a(s) estmtura(s)
argumental/is,
f) a(s) estrutura(s) de subcategorizao,
g) o(s) exemplo(s).
A informao trabalhada dever ser introduzida na base de dados do
Dicionrio de Verbos do Portugus Medieval -DVPM.^
^
Concebida com o apoio informtico do Eng.
Inf
Lus Reis.
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Dicionrios e Estudos Lingsticos do Portugus Medieval
Base de Dados do DVPM
Definio de Relaes no Access
s
Microsoft Access
[R
O trabalho realizado para a preparao da informao sobre os verbos a
inserir na base de dados do DVPM igualmente til para outros estudos lin
gsticos. Efectivamente, o estudo da estrutura da frase e da sintaxe do verbo
numa perspectiva
diacrnica
e comparada est a ser desenvolvido atravs da
anlise sistemtica das construes em que ocorrem os verbos das diferentes
classes. Em seguida, tipificam-se as ordens de constituintes pertinentes e
procura-se caracterizar as projeces funcionais das estruturas das oraes
seguintes:
infinitivas complementos de verbos de controlo, de elevao, modais,
causativos e perceptivos - M. Cristina V. da Silva
transitivas, intransitivas e inacusativas - M. Alexandra Fiis
adjuntas no finitas com verbos flexionados e no flexionados -
Maria Lobo
possessivas com os verbos ter , haver , possuir , ser e estar -
Ana C astro
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Maria Francisca Xavier
A reflexo continuada e a discusso aberta do grupo com outros inves
tigadores so estimuladas, por um lado, pela focalizao num tema abran
gente - o estudo da sintaxe do verbo e da estrutura da frase - , por ou tro lado,
pela necessidade de confrontar as diferentes teorias e propostas avanadas
na explicao de
fenmenos
lexicais e morfossintcticos de outras lnguas,
dialectos e estados de lngua, tais como:
(i) os sistemas de auxiliar;
(ii) as diversas realizaes de caso;
(iii) as ordens de constituintes diferentes;
(iv) a inverso do sujeito;
(v) o posicionamento varivel dos pronomes clticos;
(vi) a interpolao de constituintes entre o cltico e o verbo ;
(vii) determinantes e pronom es.
Espera-se conseguir identificar os movimentos estritamente sintcticos,
separando-os dos artifcios estilsticos prprios dos diferentes tipos de tex
tos, o que permitir um melhor entendimento dos processos implicados na
mudana e na variao lingsticas, tomando possvel uma viso mais pro
funda e detalhada da sintaxediacrnicado Portugus.
(II) Sapiens99:
(Non-)Universality of functional categories
Responsvel: Joo Costa
O
objectivo do projecto desenvolver investigao sobre o debate res-
peitante ao domnio funcional da estmtura da frase.
Duas hipteses so defendidas na literatura recente:
(i) as categorias funcionais so projectadas uniformemente e universal
mente;
(ii)
poder haver variao
lingstica
intema a uma lngua e variao
nas diferentes lnguas relativamente ao domnio funcional da frase.
Est em curso o estudo de vrias construes defectivas de maneira a
poder ser avaliada a validade da hiptese de que as categorias funcionais s
so projectadas quando necessrio, nomeadam ente:
construes gemndivas e participiais;
construes cansativas;
topicalizao em contextos no finitos;
fala telegrfica das crianas.
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icionrios e Estudos Lingsticos do Portugus Medieval 35
Sero construdos testes empricos para determinar se a estmtura fun
cional ou no projectada nestes domnios,
e
sero avanados argumentos a
favor ou contra a universalidade das categorias funcionais.
Uma das grandes vantagens da complementariedade de projectos de
natureza terica e descritiva, simultaneamente, de dados sincrnicos e dia
crnicos
reside no facto de ser possvel, relativamente sincronia, constmir
testes empricos que, relativamente diacronia, no so vivies, podendo
estes contribuir para formular hipteses de explicao dos fenm enos que os
dados histricos revelam.
Os resultados dos projectos sero apresentados em encontros cientficos
e publicados em livro e na Intemet. O interesse demonstrado por investiga
dores portugueses, brasileiros, espanhis e italianos pela consulta das bases
de dados e dos arquivos electrnicos do Portugus Medieval leva a que a
disponibilizao de
corpora
do CIPM e das bases de dados dos Dicionrios
atravs da Inteme t seja u m dos objectivos a alcanar em 2 0 0 1.
O trabalho aqui relatado s tem sido possvel porque nele tm colabo
rado muitas pessoas. Vrios colegas e estudantes deixaram aqui as suas
contribuies e seguiram os seus caminhos. Com a ajuda de muitos conse
guimos organizar, digitalizar e classificar muita informao til para futuras
investigaes e estam os e m con dies de a disponibilizar para todos os inte
ressados em desenvolver estudos sobre o Portugus Medieval. S uma
equipa periodicamente revista mas sempre aberta a colaboraes extemas
consegue realizar trabalho de natureza interdisciplinar que se revela de inte
resse para diversos domnios.
Equipa e Colaboradores em 2000
Lingstica
M. Francisca Xavier; M. de Lourdes Crispim; Graa Vicente; Joo Costa; Ana
Madeira; Maria Lobo; M. Alexandra Fiis; M. Cristina V . Silva; Ana Castro
Corpora
J. Alves Dias (C.E.H. da UNL); Helder Godinho e Irene Nunes (I.L.M. da FCSH-
-UNL);
Joo Dionsio (Romnicas da FL-UL); Ana M. Martins
(Lingstica
da FL-
-UL);Stephen Parkinson (U. Oxford); Pedro P into; Manuel Freitas; Mafalda Proen-
a e Ana Cristina Gonalves (L.I.
1
do CLUNL)
Processamento de l ngua natural
Gabriel Pereira Lopes; Vitor Rocio; Joaquim F. da Silva e Mrio Alves (FCT-
-UNL);Nuno M arques (U.Aberta/FCT-UNL)
-
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36 Ma ria Francisca Xavier
P ro jec tos sob re o P or tu gu s M ed iev a l fnanciados a t 20 00
- Gram tica do Portugus Med ieval , subsidiado em 1993 ao abrigo do Acordo
JNICT-British
Council. Teve como objectivo projectar os estudos a desenvolver em
equipa constituda por docentes da FCSH-UNL, com Stephen Parker da U. de
Oxford e Ro ger W right da U. de Liverpoo l.
- Gram tica do Portugus Medieval. Contributos para a sua Carac terizao , sub
sidiado pela ex-JNICT, de 1993 a 1996. Este projecto deu incio constituio do
CIPM, ao
Dicionrio de Verbos Portugueses do Sculo XIII
e a outros estudos, de
que se destaca uma dissertao de Mestrado sobre a sintaxe dos clticos em textos
do sculoXIII (Fiis 1997).
- Etiquetagem e Segm entao Automticas de Corpora de Portugus Medieval ,
subsidiado de 1996 a 1999 pela JNICT/FCT. Foram objectivos deste projecto, por
um lado, a constituio de uma equipa mista de
lingistas
e de informticos, por
outro lado, a adaptao e utilizao de ferramentas para classificao e anlise mor-
fossintctica em textos portugueses medievais.
- ''Corpora do Portugus M edieval. Etiquetagem e Segm entao A utomticas ,
subsidiado de 1997 a 2000 pela FCT/PRAXIS XXI: 2/2.2/CSH/778/95. Este pro
jecto permitiu o alargamento cronolgico e tipolgico do CIPM desenvolvido por
uma equipa interdisciplinar constituda por lingistas, historiadores e estudiosos da
literatura e da cultura portuguesas medievais, assim como a elaborao de glos
srios,
o estudo de terminologia antiga, o prosseguimento dos estudos
lingsticos
j
anteriormente iniciados bem como a utilizao de diversas ferramentas automticas
para extraco, anlise e classificao de palavras, expresses e frases (Rocio et alii
e Xavier et alii).
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