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A revolução americana Antecedentes: Um Conflito Económico entre a Metrópole e as Colónias Na altura, travava-se a guerra dos sete anos e os colonos sentiam-se agradecidos pela proteção que a metrópole oferecia ameaças estrangeiras. No fim da guerra, a Inglaterra sai vencedora. Agora sem a concorrência francesa abria-se um grande campo de expansão para o oeste aos colonos ingleses na América. Porém as suas expectativas não se realizaram. Já que uma proclamação real reservava aos índios na América o território a oeste dos Apalaches. A Inglaterra que passava por dificuldades financeiras devido à guerra, decidiu pedir aos colonos americanos um contributo para se recuperarem, alegando que a guerra se tinha travado para salvaguardar os respetivos territórios. Este contributo traduziu-se num conjunto de taxas aduaneiras, votadas pelo Parlamento. Iriam onerar as importações coloniais de melaço, papel, vidro, chumbo e chá. E determinou-se um imposto de selo sobre os documentos legais e as publicações periódicas. Gerindo o império como um todo, governado pela metrópole, as autoridades britânicas seguiam a teoria mercantilista do exclusivo comercial. Determinaram que as mercadorias da América do Norte só poderiam ser exportadas para a Inglaterra ou outras colónias inglesas, enquanto que as mercadorias europeias só seriam importadas através de Londres. Todas estas medidas foram consideradas um ultraje pelos colonos americanos. A Reação das Colónias: da Contestação aos Impostos à Declaração da Independência Os colonos americanos não se encontravam representados no Parlamento. Tais circunstâncias faziam os impostos votados aparentar ilegais e ameaçadores, isto foi a conclusão a que chegou a Stamp Act Congress, que contou com a presença de delegados das nove colonias. Aí se proclamou que aos cidadãos ingleses, residente ou não na Inglaterra, não lhes poderia ser imposto qualquer contribuição que não tivesse sido aprovada pelos seus representantes. Posteriormente, nalguns portos na América os comerciantes, boicotavam as mercadorias inglesas, favorecendo a entrada, por contrabando, de mercadorias estrangeiras. E “Os Filhos da Liberdade” obrigavam os vendedores de papel de selo à demissão. O governo de Londres revoga, então, as taxas, a exceçao da de chá. Ao qual o monopólio de venda foi concedido a Companhia das Índias, privando os americanos dos lucros de transporte e revenda do produto. Este vasto movimento de protestos culminou com o Boston Tea Party, um dos episódios carismáticos desta revolução. Este aconteceu em 1773, em

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A revolução americana

Antecedentes: Um Conflito Económico entre a Metrópole e as Colónias

Na altura, travava-se a guerra dos sete anos e os colonos sentiam-se agradecidos pela proteção que a metrópole oferecia ameaças estrangeiras. No fim da guerra, a Inglaterra sai vencedora. Agora sem a concorrência francesa abria-se um grande campo de expansão para o oeste aos colonos ingleses na América. Porém as suas expectativas não se realizaram. Já que uma proclamação real reservava aos índios na América o território a oeste dos Apalaches. A Inglaterra que passava por dificuldades financeiras devido à guerra, decidiu pedir aos colonos americanos um contributo para se recuperarem, alegando que a guerra se tinha travado para salvaguardar os respetivos territórios.

Este contributo traduziu-se num conjunto de taxas aduaneiras, votadas pelo Parlamento. Iriam onerar as importações coloniais de melaço, papel, vidro, chumbo e chá. E determinou-se um imposto de selo sobre os documentos legais e as publicações periódicas. Gerindo o império como um todo, governado pela metrópole, as autoridades britânicas seguiam a teoria mercantilista do exclusivo comercial. Determinaram que as mercadorias da América do Norte só poderiam ser exportadas para a Inglaterra ou outras colónias inglesas, enquanto que as mercadorias europeias só seriam importadas através de Londres. Todas estas medidas foram consideradas um ultraje pelos colonos americanos.

A Reação das Colónias: da Contestação aos Impostos à Declaração da Independência

Os colonos americanos não se encontravam representados no Parlamento. Tais circunstâncias faziam os impostos votados aparentar ilegais e ameaçadores, isto foi a conclusão a que chegou a Stamp Act Congress, que contou com a presença de delegados das nove colonias. Aí se proclamou que aos cidadãos ingleses, residente ou não na Inglaterra, não lhes poderia ser imposto qualquer contribuição que não tivesse sido aprovada pelos seus representantes. Posteriormente, nalguns portos na América os comerciantes, boicotavam as mercadorias inglesas, favorecendo a entrada, por contrabando, de mercadorias estrangeiras. E “Os Filhos da Liberdade” obrigavam os vendedores de papel de selo à demissão. O governo de Londres revoga, então, as taxas, a exceçao da de chá. Ao qual o monopólio de venda foi concedido a Companhia das Índias, privando os americanos dos lucros de transporte e revenda do produto.

Este vasto movimento de protestos culminou com o Boston Tea Party, um dos episódios carismáticos desta revolução. Este aconteceu em 1773, em Boston, quando um grupo de jovens disfarçados de índios lança ao mar a carga de chá transportada pelos navios da Companhia. Depois disso, o rei ordenou o encerramento do porto de Boston, a ocupação da cidade por regimentos ingleses e exigiu o pagamento de uma indemnização. A repressão que se abateu sobre Boston faz surgir um sentimento de solidariedade nos americanos que mais tarde se tornaria uma consciência nacional. Convicta que é necessário unir as colonias e separa-las da metrópole repressora, a América encontra-se pronta para a luta. E ao contrário do que acontecera no primeiro Congresso de Filadelfia, onde foram poucas as vozes a clamar pela separação da Inglaterra e preferindo a defesa dos direitos pela via negocial. Agora, todo um dispositivo revolucionário se organizou. Construíram-se comités de correspondência, reuniram-se armas, trainaram-se milícias… O objetivo era alcançar a independência para se construir uma sociedade mais livre e democrática. A frente do movimento revolucionário encontravam-se as colonias de Massachusetts e virgínia, colonias ricas e bastante povoadas.

A revolução teve início em abril de 1773, na aldeia de Lexington, quando uma coluna inglesa, enviada para apreender armas ilegais, foi atacada pela população. Os americanos foram declarados rebeldes e foram enviadas tropas para esmagar a revolta americana. Na América foram publicados jornais e panfletos que legitimavam a insubordinação. Entre eles o de Thomas Paine, “Senso Comum”, ficou famoso e virou a

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opinião americana contra o monarca inglês. Nesse mesmo ano Thomas Jefferson redigiu a Declaração da Independência, que todas as colonias aprovaram no Segundo Congresso de Filadelfia.

A Criação da República Federal dos Estados Unidos da América

Os americanos não se encontravam a altura de travar a guerra da independência, sendo o exército britânico bem armado e disciplinado. Assim, George Washington foi escolhido para comandante do futuro exército, simultaneamente, iniciou-se uma forte ação diplomática na Europa, como forma de angariar fundos. Os franceses, apesar de não se esqueceram da sua derrota com Inglaterra uns anos atras, não se quiseram comprometer de imediato. Só após a batalha Saratoga, quando derrotaram um pequeno exército britânico, é que a França se inclinou para uma aliança oficial. Celebrada no ano seguinte, foram enviados homens, barcos, armas e dinheiro. Juntou-se, também, o apoio de Espanha, que contribuiu com dinheiro e um esquadra para a causa americana. Anos mais tarde, o principal exército inglês foi derrotado em Yorktown. Atacado por franceses e espanhóis no Mediterrâneo e com derrotas navais na costa da Índia, infligidas pela França, a Inglaterra decidiu-se pelas negociações de paz. Pelo Tratado de Versalhes reconheceu-se a independência das 13 colónias, entregando-lhes os territórios entre os Grandes Lagos, Oaio, Mississípi e os Montes Apalaches. A frança recuperou alguns territórios e à Espanha foi restituída a Florida.

O modelo político a adotar pelo jovem Estado não se mostrou claro logo de seguida. Os pequenos Estados, como Geórgia, uma federação bastante descentralizada em que cada Estado seria praticamente autónomo. Thomas Jefferson foi o seu defensor. Enquanto que os Estados de maior dimensão, como Nova Iorque, desejavam um governo central forte. E como seu defensor tinham George Washington. Depois de longas discussões, os representantes de 12 das 13 colónias chegaram a um acordo. A constituição (diploma que define as regras da vida política) assinada instituiu a Republica dos Estados Unidos da América sob a forma de um república federal, na qual um Estado central poderoso se ocuparia da defesa e relações internacionais e os outros Estados federados, da justiça e administração, autoridade policial e do sistema de ensino.

A constituição adotou o princípio da divisão dos poderes e do seu equilíbrio através de uma fiscalização mútua. O poder legislativo foi confiado a um Congresso, formado por duas câmaras, que votava as leis e o orçamento. Eleito por quatro anos, por sufrágio universal indireto, o Presidente detinha o poder executivo, comandava os exércitos e escolhia o governo. George Washington tive a honra de ser o primeiro presidente dos EUA. Um Tribunal Supremo, que reunia nove membros nomeados pelo presidente, regulava os conflitos entre Estados. As emendas reforçavam a salvaguarda dos direitos do Homem. Processado sob a Égide das Luzes, o nascimento da nação americana criou o primeiro país descolonizado e a primeira república democrática que fundamentava no voto dos seus cidadãos a escolha dos órgãos máximos da soberania (Congresso e Presidente da República).

A Revolução Francesa

A frança nas vésperas da Revolução

Uma sociedade anacrónica (ultrapassada)

Os franceses viviam num regime social profundamente injusto e de desigualitário. A velha sociedade de ordens do Antigo Regime privilegiava a nobreza e o clero, apenas uma pequena porção da população. Na mão dos nobres encontravam-se as rendas provenientes da posse de um quarto do solo francês, a quase totalidade dos cargos ministeriais e diplomáticos, assim como os lugares de maior importância no exército e da hierarquia religiosa. Ao Clero pertencia 10% das terras mais ricas, das quais recolhiam rendas e direitos de origem feudal. Recebiam, também, a dízima eclesiástica, obrigatória a todos e não pagavam impostos, assim como a nobreza. No Terceiro Estado, os camponeses representavam 80% da população. Suportavam pesadas cargas tributárias. O contínuo empobrecimento tornava-os uma grande força de oposição.

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O povo miúdo das cidades procurava emprego nas manufaturas, nos portos, nos serviços domésticos. Eram vítimas de reduzidos salários e eram seduzidos pelas críticas aos ricos e privilegiados que liam nos imensos opúsculos e panfletos que circulavam pelas ruas. Bem mais desafogados viviam os proprietários das manufaturas, os grandes mercadores e os homens de negócios, que aplicavam as suas fortunas na compra de imoveis citadinos e bens fundiários. Esta burguesia endinheirada constituía a elite do Terceiro Estado. Entre o povo miúdo e os grandes burgueses, encontravam-se os mestres de ofícios e lojistas, os advogados, os médicos, os intelectuais. Que estariam incluídos na pequena e média burguesias.

Todos os estratos burgueses sentiam os mesmos ódios e frustrações. Nas lojas maçónicas, nos salões e nos cafés invocavam os direitos humanos da liberdade e igualdade e criticavam os privilégios que o nascimento proporcionava aos nobres. Mais trabalhadores e instruídos, os burgueses viam fugir os altos cargos na administração pública, restando-lhes no exército os lugares de oficial subalterno (que está sob as ordens de outros). As ambições políticas levaram-nos à contestação e à destruição de Antigo Regime.

A Conjuntura Económico-Financeira

Em 1789, França era um país próspero, os seus burgueses faziam fortunas com o comércio colonial. Paris era uma grande metrópole e o luxo de Versalhes servia de paradigma a outros países. No entanto, uma profunda crise económica aproximava-se. Os proprietários agrícolas debatiam-se com a baixa de preços e de lucros do trigo e do vinho. Violentas tempestades fizeram perder as colheitas de várias regiões e fez subir os preços. Instalou-se uma crise de subsistência que levou ao aumento da percentagem de mortes. A indústria não se encontrava em melhores condições, devido ao Tratado de livre-câmbio que favorecia a importação dos tecidos ingleses. Instalou-se o desemprego. À crise junta-se o défice crónico das finanças. As receitas não eram suficientes para cobrir as despesas do Estado. Estas relacionavam-se com o exército, constantemente envolvido em guerras, com as obras públicas e a instrução, os gastos impopulares da corte, com as pensões e os próprios encargos da dívida pública, causada pelos sucessivos empréstimos. A origem do défice foi a injusta sociedade de ordens, que isentava o clero e a nobreza de contribuições, privando os cofres reais de ampliarem as suas receitas.

A Inoperância de Poder Político e o Agravamento das Tensões Sociais

Durante o reinado de Luís XVI ocorreram várias tentativas de resolução da crise económico-financeira. O ministro Turgot liberalizou o comércio dos cereais e propôs que a corveia real fosse substituída por uma subvenção territorial que abrangeria todos os proprietários. Os privilegiados alarmaram-se e Luís XVI despediu o ministro. Assim como outros, que procuravam reformar a administração local e o sistema fiscal, abolindo privilégios tributários e nivelando os impostos. Os Parlamentos e a Assembleia dos Notáveis, controlados por representantes da nobreza constituíram uma permanente oposição às tentativas de reformas políticas.

Fizeram crer que a miséria do povo se fazia dever, não às isenções fiscais dos privilegiados mas à incompetência do absolutismo régio. Contribuíram, por isso, para o clima de violência, pilhagens e motins vividos, quando a fome e o desemprego cresceram. Incapaz de controlar a agitação social, Luís XVI convoca os Estados Gerais para maio de 1789 e convidou os franceses a exprimirem as suas reclamações e seus anseios. São elaborados os Cadernos de Queixas que informam dos antagonismos e tensões vividos na sociedade francesa. De uma monarquia controlada por uma constituição e assembleias pretendia-se a salvaguarda da liberdade individual e da justiça social. Os franceses esperavam do rei o remédio para as suas infelicidades.

Da Nação Soberana ao Triunfo da Revolução Burguesa

A Nação Soberana Dos Estados Gerais à Assembleia Constituinte

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A abertura dos Estados Gerais realizou-se em Versalhes, na maior das expectativas. Não só porque o absolutismo francês abandonara a consulta daquela assembleia mas porque o Terceiro Estado reivindicava o voto por cabeça e não por ordem. Contudo, as expectativas do Terceiro Estado não se realizaram. O Clero e a nobreza mostraram-se intransigente na defesa do voto por ordem que, certamente, os favorecia. Foi a incapacidade de decidir de Luís XVI que fez eclodir o primeiro ato revolucionário. Os deputados do Terceiro Estado decidiram forma a Assembleia Nacional, constituída por eles. A que caberia, no futuro, decidir todas as ações que monarca deveria executar.

Em consequência, a Nação Soberana tornou-se a fonte do poder legislativo e a nova autoridade política. A monarquia absoluta chegara ao fim. Dias depois, os deputados juraram não se separar enquanto na redigirem uma Constituição para França, a nova assembleia recebeu o nome de Assembleia Nacional Constituinte.

A Desagregação da Ordem Social do Antigo Regime

A Tomada da Bastilha

A Tomada da Bastilha, sucedida a 14 de julho de 1789, foi considerada o acontecimento emblemático da Revolução Francesa. Tratou-se de uma ação violenta do povo parisiense, revoltado comas altas dos preços do pão e indignados com a desconfiança do rei face à Assembleia. No início de julho, Luís XVI colocou às portas de Paris 50 mil homens. Receosa de uma “conjuntura aristocrática”, a burguesia formou uma milícia, que veio a ser a Guarda Nacional. A Bastilha era a fortaleza-prisão do absolutismo, nada deteve a multidão que la de dirigiu. A Bastilha foi demolida e o governador massacrado.

A Abolição dos Direitos Feudais

Em finais de julho inícios de agosto, ocorreu uma autêntica revolução camponesa em França. Pressionados pela fome, devido às más colheitas dos últimos anos, os camponeses lutavam pela emancipação completa de terras e a libertação individual das cargas feudais. Atacaram castelos, queimaram registos senhoriais e até mataram senhores que lhes fizessem frente. Conhecido por Grande Medo, este movimento impulsivo e irracional, levou os nobres a consentirem a supressão dos direitos e privilégios feudais. Mais tarde, a Assembleia determinou:

A abolição das corveias e servidões pessoais A supressão da dízima à Igreja A possibilidade de resgatar rendas e foros A eliminação de jurisdições A supressão da compra de cargos públicos E a livre admissão aos empregos públicos civis e militares

Existia agora uma sociedade livre, baseada na igualdade de todos perante a lei.

A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão

Os deputados da Assembleia Nacional Constituinte entenderam que era necessário elaborar uma Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, que legitimasse as conquistas obtidas em relação ao rei e aos privilegiados e fundamenta-se a nova constituição. Considerada a certidão de óbito do Antigo Regime, a declaração lançou as bases da nova sociedade social e política. Proclamou que todos têm iguais direitos, o direito à liberdade, à propriedade, segurança e à resistência à opressão, e condenou os privilégios da sociedade de ordens. Reconheceu que a autoridade dos governos residia na Nação e que a sua finalidade era salvaguardar os direitos do Homem. Rejeitou o absolutismo, a arbitrariedade jurídica e a intolerância religiosa. A Declaração francesa foi o primeiro texto público do liberalismo político a encarar o Homem como um cidadão competente para intervir na governação.

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A Constituição Civil do Clero

O Clero perdeu todos os seus privilégios, sofreu a abolição dos direitos feudais e confisco dos seus bens. Desprovido de rendimentos, o Clero foi, então, reorganizado. A Constituição Civil do Clero, votada pela Assembleia em 1790, atribuiu aos membros do Clero a mera qualidade de funcionários do Estado. E exigia-lhes um juramento de fidelidade à Nação e ao rei. Foi um dos diplomas mais controversos da Revolução. Mereceu a condenação do Papa e dividiu os franceses.

A Reorganização Administrativa e Económica

Coube à Assembleia Nacional Constituinte instituir uma nova organização administrativa, mais descentralizada. As antigas províncias deram lugar a 83 departamentos, cantões e comunas. Órgãos eleitos e funcionários pagados pelo Estado encarregavam-se de aplicar as leis, superintender no ensino, na salubridade, nas obras públicas, no policiamento, na cobrança de impostos e no exercício da justiça. Estabelece-se uma nova fiscalidade, onde todos os grupos sociais ficaram sujeitos ao imposto direto sobre receitas e rendimentos. Quanto à organização económica, empreendeu-se a unificação do mercado interno, eliminando as alfândegas internas e os monopólios. Um uniforme sistema de pesos e medidas que facilitasse nas trocas. Na agricultura, estabeleceu-se a liberdade de cultivo e de emparcelamento, no entanto, salvaguardaram-se os baldios, no interesse de camponeses mais pobres. Na indústria, as medidas foram mais radicais, aboliram-se as corporações e declarou-se a liberdade de empresa. Em suma, institui-se o princípio da liberdade económica.

A Constituição de 1791 (Monarquia Constitucional)

Em 1791, França era uma monarquia constitucional. Votada pela Assembleia Nacional e jurada pelo rei, a Constituição de 1791 consagrou a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, a soberania nacional e a separação dos poderes. Na Nação residia a soberania, declarada una e indivisível, era constituída por todos os cidadãos. No entanto ainda se distinguiam, por critérios de fortuna, os cidadãos ativos dos passivos. Para se ser cidadão ativo exigia-se o pagamento de uma imposto direto igual ou superior à três dias de trabalho, idade equivalente ou superior à 25 anos e exclusivamente homens. Por considerar que só o desafogo económico permitia a instrução e o esclarecimento necessários para o correto exercício do voto, a Assembleia instituiu o sufrágio censitário. Cabia a este a escolha dos verdadeiros eleitores, que pagavam um imposto igual ou superior a sete dias de trabalho e a estes cabia a eleição dos 745 deputados da Assembleia Legislativa.

Os cidadãos passivos eram excluídos do sufrágio censitário e de direitos políticos. Nestes se encontravam o povo miúdo das cidades e do campo, os criados e indigentes. Eram indivíduos do sexo masculino, idade igual ou superior à 25 anos, sem condições económicas para pagarem um imposto igual a três dias de trabalho. A lei reconhecia-lhes direitos naturais (liberdade, igualdade, propriedade, segurança) e direitos civis (liberdade de expressão, de crença, reunião e deslocação). As mulheres estavam totalmente afastadas da cidadania. Mas nem por isso deixaram de participar na Revolução, estavam presentes nas manifestações de rua, nos motins provocados pela fome, a inspirar animo aos soldados e nas invasões da Assembleia.

À Assembleia Legislativa competia o poder legislativo, os seus deputados eram eleitos por dois anos e propunham e decretavam as leis, o orçamento e os impostos. No entanto, o rei possuía um direito de veto que lhe permitia suspender as leis durante dois anos, mas jamais poderia dissolver a Assembleia. Foi a propósito do tipo de veto (absoluto um suspensivo) a conceder ao rei que surgiram os conceitos políticos da esquerda e da direita. Como forma de contar mais facilmente os votos dos deputados, sentavam-se à direita do Presidente da Assembleia os aristocratas, partidários do veto absoluto e à esquerda ficaram os patriotas adeptos da limitação do poder real. A direita ficou sinonimo de conservadorismo e a esquerda de mudança. O rei detinha o poder executivo, escolhia e demitia os ministros, mas as decisões necessitavam de ser

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aprovadas por, pelo menos, um deles. Embora comandasse o exército e a marinha, as declarações de guerra e tratados de paz estavam dependentes da concordância da Assembleia Legislativa. Submetido à constituição, o monarca deixa de ser senhor de um poder arbitrário que se coloca acima da lei. É agora apenas o primeiro funcionário do Estado. Quanto ao poder judicial, ficou entregue a juízes eleitos e independentes. Criou-se o Tribunal Superior para julgar os delitos de ministros, deputados e governantes.

Luís XVI e a Revolução

Nascido para ser rei absoluto, Luís XVI nunca esteve de acordo com a Revolução. Nos Estados Gerais, criou entraves às reivindicações do Terceiro Estado e manteve uma atitude de desconfiança com a Assembleia Nacional Constituinte. Foi necessário um levantamento de mulheres para o fazer abandonar Versalhes e instalar-se nas Tulherias. E apos várias recusas finalmente validou a Declaração dos Direitos de homem e do Cidadão e a Constituição Civil do Clero. A hostilidade dos parisienses contribuiu para a sua tentativa de fuga em julho de 1791. Foi detido em Varennes e trazido de volta para Versalhes, este não teve mais condições para governar. Entretanto, os emigrados nobres, que abandonaram o país conspiravam junto dos soberanos estrangeiros contra o novo regime francês. Em 1791, o rei da Prússia e o eleitor da Saxónia redigem a declaração de Pillnitz, em que a invasão de França é prevista com o objetivo de restaurar os poderes de Luís XVI. O início da guerra, em 20de abril de 1891, ocorreu num ambiente de elevada tensão. Abatida pela fome e pela subida de preços e descrente de um regime que os privava do voto, o povo de Paris agitava-se pelas ruas e pressionava a Assembleia. Quando a notícia da invasão de França chegou e a Nação foi declarada em perigo, formaram-se exércitos de federados em Paris. Uma Comuna insurrecional instalou-se na Câmara e executou-se o assalto ao palácio real das Tulherias, o rei foi suspenso pela Assembleia Legislativa. A Constituição de 1791 deixou de funcionar e a monarquia constitucional viu-se inviabilizada, na falta do poder político. Coube à Convenção, a nova Assembleia Constituinte, proclamar a Republica.

A Obra da Convenção

Girondinos e Montanheses

Em 1792 começou o Ano I da Republica. Apesar de republicanos e burgueses, todos com fortes ligações ao Clube de Jacobinos, distinguia-se entre eles um grupo mais moderado, os Girondinos, alguns dos seus representantes foram Brissot e Roland. E um grupo mais radical, os Montanheses, representados por Robespierre e Danton. O diferendo entre estes dois atingiu o seu auge durante o julgamento de Luís XVI. Considerando-o um traidor, os Montanheses pediram a pena de morte. Já os Girondinos desejavam um julgamento mais compreensivo, bastava-lhes a prisão ou, mesmo, o exilio. Apos o veredicto, Luís XVI foi executado e a monarquia chegara ao fim.

A Pressão dos Sans-Culottes

A revolução francesa, até 1792, foi dirigida pelos burgueses, a partir dessa data surgiu uma nova força social, os Sans-culottes. Estes eram um grupo essencialmente urbano, formado por artífices, lojistas e alguns operários. Tinham rendimentos modestos e pertenciam aos cidadãos passivos que lutavam pela igualdade política e económica. Elaboravam moções e panfletos que faziam chegar à Convenção, intervinham nos seus debates, com a intensão de influenciar as decisões. Esta pressão dos sans-culottes, levou a que, em 1793, os Girondinos se visem afastados de poder. A Convenção agora dominada pelos Montanheses, votou numa nova Constituição, a Constituição do Ano I. Mais democrática que a anterior, instaurava o sufrágio universal direto, reconhecia o referendo para ratificação das leis e incluía uma nova Declaração dos Direitos, que garantia a todos o direito ao trabalho, à assistência, à instrução e à insurreição. No entanto, a constituição nunca foi posta em prática, devido a uma terrível conjuntura interna e externa. Na Provença, em Lião, em Bordéus, estalara a insurreição federalista, fomentada pelos Girondinos. Na Vendeia, monárquicos e católicos erguiam-se contra as tropas republicanas. No exterior, a França batia-se contra uma basta união de

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países europeus, que reagiam à política de anexações territoriais da Convenção e à execução de Luís XVI. Sentindo a Revolução em perigo, a Convenção radicalizou a sua conduta. Após ter expulsado os Girondinos, instituiu um governo revolucionário, no qual ditavam os mais extremistas Jacobinos.

O Governo Revolucionário e o Terror

Profundamente centralizado e ditatorial, o governo revolucionário colocou o interesse do Estado laico e republicano acima dos interesses privados. Sacrificou-se as liberdades individuais à causa da liberdade social, da independência da Nação e da salvação da República. Foi imposta a mobilização geral, com a incorporação no exército de todos os homens solteiros, entre os 18 e 25 anos. A Convenção cedeu à pressão dos sans-culottes. Eliminou a livre concorrência, fixaram-se os salários e os preços. Nacionalizou-se os bens dos emigrantes, decretou-se a partilha dos bens comunais, aboliu-se a feudalidade. No fim do ano, a instrução tornou-se gratuita e obrigatória. A defesa dos direitos humanos assumiu particular relevância na Convenção. Uma política de descristianização foi posta em prática. Perseguiram-se os padres refratários e os constitucionais simpatizantes dos Girondinos. Fecharam-se igrejas, publicou-se um calendário republicano que abolia o domingo e os feriados religiosos. O casamento passou de sacramento a ato civil, que o divórcio podia dissolver. Medidas jurídicas legalizaram a violência. A Lei dos Suspeitos fomentou a denúncia e a arbitrariedade. Foram encarceradas e condenadas `pena de morte milhares de pessoas. A obra da convenção, ditatorial e profundamente repressiva, conseguiu, deste modo, repelir o invasor estrangeiro, retomar a Bélgica e a Renânia, esmagar a revolta da Vendeia e abater a rebelião dos departamentos. A Republica Jacobina parecia salva.

O Fim do Governo Revolucionário e da República Jacobina

O radicalismo jacobino teve, porém, os dias contados. Ardoroso defensor da unidade republicana, Robespierre mandou executar todos os que se atrevessem a critica-lo. A 9 do Termidor, uma conjuntura da Convenção afastou Robespierre do poder e executa-o. Chegara ao fim a fase mais radical e violenta da Revolução Francesa