revolucao cubana - mais a esquerda que o castrismo

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  • 7/31/2019 Revolucao Cubana - Mais a Esquerda Que o Castrismo

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    Revoluo CubanaMais esquerda que o Castrismo

    Jnior Bell

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    2009Projeto de capa: Luiz Carioca

    Diagramao: Farrer

    (C) Copyleft - livre, e inclusive incentivada, a reproduo deste livro, para finsestritamente no comerciais, desde que a fonte seja citada e esta nota includa.

    Fasca Publicaes Libertriaswww.editorafaisca.net

    [email protected]@riseup.net

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    Sumrio

    Revoluo Cubana . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4Moncada e Bayamo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6Revoluo em dois frontes: O iate Granma e os sindicatos . . . . . . . . 6A Revoluo conhece seus heris . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9A Revoluo conhece seus viles . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11A nova cara de uma Revoluo trada . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 12A Revoluo desconhece seus heris e viles . . . . . . . . . . . . . . . 13A Revoluo Cubana por outro ngulo - Livros e artigos . . . . . . . . 14A Revoluo Cubana por outro ngulo - Sites . . . . . . . . . . . . . . . 15

    Agradecimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 16

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    Em 1ode janeiro de 2009 completa-se 50 anos da Revoluo Cubana. Nestemesmo dia, em 1959, Fidel Castro destrona Fulgencio Bastista e torna-se o novoditador da ilha. Este artigo trata das histrias desta revoluo e daqueles queterminaram trados por ela.

    Uma mudana poltica que apenas coloque as mesmas estruturas a serviode um novo grupo social, de um partido ou de um chefe no muda para o traba-lhador sua condio de explorado, e para o cidado sua condio de dominado.Uma mudana como esta no uma revoluo social, a menos que se entendacomo tal uma simples substituio de governantes atravs de um golpe de Es-tado ou de uma insurreio armada. E foi isso que aconteceu em Cuba: Bas-tista foi substitudo por Castro. E para consolidar sua hegemonia e perpetuar-seno poder, Castro serviu-se de um pretexto ideolgico, a revoluo marxista,identificando esta com a sua pessoa e vice-versa. Mas no era isso que OctvioAlberola pensava 50 anos atrs.

    Alberola tambm estava no Mxico quando os primeiros cubanos do M26J(Movimentos 26 de Julho, em homenagem ao dia do levante de Moncada eBayamo) chegaram para o exlio, em 1955. A maioria deixou a ilha aps a anistiado ditador Batista, que beneficiou inmeros guerrilheiros dos ataques aos quar-tis de Moncada e Bayamo, entre eles os irmos Castro, Antonio Lpez Fernn-

    dez (conhecido como Mico Lpez) e Gustavo Arcos. O bravo Camilo Cienfuegose Mario Chanes de Armas em breve se incorporariam ao grupo, abandonando oexlio nos Estados Unidos. O Mxico era o pas perfeito para aninhar expatriadosrebeldes: alm de localizar-se a poucas horas de barco de Cuba, conhecido porsua cordial hospitalidade com exilados polticos. O pas foi o porto seguro paragrande parte dos anarquistas que fugiram aps o dbcle da Guerra Civil Espa-nhola, e muitos deles, juntar-se-iam ao M26J para lutar em Cuba. Este apreopelos rebeldes absolutamente compreensvel: durante toda sua histria o M-xico combateu as mais diversas facetas do imperialismo, desde o mercantilismo

    espanhol at o esquizofrnico capitalismo norte-americano (vide o levante doEjrcito Zapatista de Liberacin Nacional, em 1ode janeiro de 1994). Sua Revolu-o acontecera apenas quatro dcadas antes, heris como Villa, Zapata e FloresMagn ainda reverberavam na memria do povo. Esse legado era a prova cabalque garantiria o carimbo de entrada na aduana para os guerrilheiros cubanos. Aidia de Fidel era reagrupar o M26J, e partir para Cuba somando foras para arevoluo.

    Octvio Alberola um espanhol radicado nas lutas anti-franquistas. Viviano Mxico desde dezembro de 1939, quando aportou no pas com seus pais e

    outros muitos refugiados espanhis. Foi na universidade que teve contato comos primeiros exilados latino-americanos vindos da Venezuela, Repblica Domi-

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    nicana, Peru e Cuba. Foi com eles que, neste perodo, constituiu a Frente Anti-ditatorial Latino-americana, representando as juventudes anti-franquistas. Suasaes logo chegaram aos ouvidos dos rebeldes do M26J, que vislumbraram nogrupo a possibilidade de um suporte propagandstico internacional, que sabiamser to imprescindvel tanto durante quanto aps a revoluo. O acordo eraque a Frente fornecesse instrumental de propaganda e solidariedade a partir domomento em que os revolucionrios aportassem novamente em Cuba. Comopagamento a esta importante ajuda da Frente, o M26J prometeu contribuircom as guerrilhas que Octvio e seus confrades comeavam a planejar junto aosexilados espanhis das Juventudes Libertria e Republicana, que explodiriamno Mxico em 1959. Octvio mantinha boas relaes com membros da ALC (As-sociao Libertria Cubana) e passou a receber e ajudar exilados libertrios quefugiam da ditadura de Batista por suas atividades clandestinas. A multiplici-dade ideolgica somava insgnias a cada novo exilado, e, por vezes, Alberolateve de abandonar a sua vida de que lhe caracterstica para conter os nimos:tive que intervir pessoalmente para evitar enfrentamentos violentos entre par-tidrios do 26 de Julho e outros grupos opositores a Batista, que no aceitavamque lhes impusessem a liderana castrista. Sempre tratei de convencer a uns e aoutros de que a luta contra ditadura deveria ser prioritria, que as ambies pes-

    soais ou de partido deveriam ser mantidas em segundo plano. Por isso, aindaque no fim Fidel tenha imposto sua hegemonia e sua ditadura tenha se prolon-gado por tantos anos, continuo acreditando que nosso dever naquele momentoera o de lutar, e o fizemos, contra a ditadura de Batista.

    Naquele de apenas 26 anos e muitas aventuras arribava pela primeira vez emsolo mexicano. Seu nome era Ernesto Guevara Lynch de La Serna. Contava-setrs anos desde que o jovem Guevara iniciara um cmbio profundo em sua vida.Tudo comeou em dezembro de 1951 quando ele e Alberto Granado decidiramconhecer a Amrica do Sul abordo de uma Norton 500 cilindradas, conhecida

    como La Poderosa. Treze mil quilmetros aps sarem de Buenos Aires, elesoptam por encerrar a peripcia em solo venezuelano. Era julho de 1952, Granadofoi para Caracas trabalhar num leprosrio enquanto Guevara conseguiu enfiar-se num vo de carga de volta a Rosrio, na Argentina. Era um novo homem,marxista convicto e decidido a seguir mudando, crescendo como um ser hu-mano comprometido. E isso inclua uma nova peregrinao, agora por Equador,Bolvia, Panam, Costa Rica, Peru, Nicargua, Honduras, El Savador e Guate-mala. Neste ltimo pas recebeu o apelido de Che - expresso muito comumna Argentina e Uruguai para denominar amigo ou camarada. L conheceu

    ico Lpez, tornaram-se amigos e emputeceram-se juntos assistindo o golpe or-questrado pela CIA para derrubar o ento presidente decidiram que era hora de

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    partir para a ao. Mas sem cometer os mesmos erros de Moncada.

    Moncada e Bayamo

    Era uma data estratgica para um levante, 26 de julho de 1953, perodo de car-naval em Cuba. Mesmo assim, tudo saiu completamente errado. Liderados pe-los irmos Castro e Abel Santamara, cerca de 115 jovens guerrilheiros partirampara um ataque armado e longamente planejado contra os quartis de Moncadae Carlos Manuel de Cspedes, em Bayamo. Entre estes jovens estavam Mario

    Chanes de Armas e Gustavo Arcos. Todos utilizavam uniformes semelhantesaos dos soldados batistianos, j que o plano era confundi-los e tomar Moncadade surpresa. Fidel alugou um Buick verde: passar-se-ia por general adentrandopelo porto trs, junto a Gustavo Arcos. Em outro flanco da retaguarda chegariaSantamara para finalizar o ataque. Ral Castro ficou encarregado de conter oquartel em Bayamo, para que no fosse possvel o envio de reforo. No se sabese por prvio aviso ou puro azar, no exato momento da ao, 400 soldados deBatista saiam de Moncada com comarcas comemorativas do carnaval grudadasnos uniformes. Os rebeldes no sabiam deste adereo e viram-se no apenas

    identificados, mas interceptados. E bala. Iniciou-se um tiroteio, Fidel tentouatropelar os soldados com o Buick e acabou enfiando o carro no muro. Santama-ra estava a par do fracasso, mas decidiu prosseguir para um ataque ainda maisfrustrante. Por sua vez, os homens de Ral tambm foram pegos em Bayamo:o ataque surpresa que haviam programado fora cancelado, pois o guia - ummorador da regio - desaparecera misteriosamente no dia anterior. Tentaramatacar assim mesmo e terminaram facilmente vencidos. No total, 18 rebeldes fo-ram assassinados, e cerca de 70 presos, entre eles Fidel (encontrado uma semanadepois escondido na Sierra Maestra), Ral, Santamara - que foi violentamentetorturado, tendo um olho arrancado antes de ser morto - e Mario Chanes. Gus-tavo Arcos ficou gravemente ferido com uma bala alojada nas vrtebras. Massobreviveu. A pena atribuda a Fidel foi de 15 anos, mas ele e outros guerrilhei-ros foram beneficiados por um indulto aps 22 meses, e rumaram para o exliono Mxico.

    Revoluo em dois frontes: O iate Granma e os sindicatos

    O fato que os rebeldes cubanos estavam se movimentando rapidamente no M-

    xico. Os exilados passam a organizar-se para apoiar, ainda que distncia, ossindicatos que pressionavam fortemente o governo ditatorial na ilha, enquanto

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    muitos outros se juntam ao M26J. Fidel parte para uma incurso pelos EUA econsegue 50 mil dlares divulgando os planos de sua Revoluo verde-olivapara os ricos exilados cubanos: o objetivo declarado pelos rebeldes populaoe aos patrocinadores no era transformar Cuba em uma ditadura, at porqueos nicos lderes declaradamente comunistas at aquele momento eram apenasGuevara e Ral Castro. A proposta revolucionria dos rebeldes - ao menos atFidel conclamar-se ditador e estabelecer um regime marxista-leninista - era: pro-mover uma profunda reforma agrria, retomar a constituio de 1940 (derru-

    bada pelo golpe de estado de Batista), combater a corrupo e o analfabetismo,promover a modernizao industrial, confiscar terras tomadas ilegalmente e res-taurar a democracia.

    Foi nesta poca que os rebeldes descobriram Alberto Bayo, um velho comba-tente de tendncia marxista durante a Guerra Civil Espanhola, em uma pequenafbrica de mveis no Mxico. Ele foi ento recrutado para ensinar aos cubanosa arte da guerrilha. Numa fazenda perto da cidade de Chalco, chamada SantaRosa, Bayo ensinou os truques e manhas para utilizar a mata a seu favor, produ-zir bombas, manejar armas, destruir tanques, abater avies etc. O relevo e a florada fazenda reproduziam com certa semelhana as condies que encontrariamnas serras de Cuba.

    Enquanto isso, na ilha, proletariado e campesinato concatenavam-se em seusorganismos e sindicatos. A gente da plancie, como eram chamados os resis-tentes das cidades - ligados ao M26J ou no -, avanavam com aes de propa-ganda e presso poltica. As vertentes ideolgicas que efervesciam nas cidadeseram ainda mais dspares que no Mxico.

    Os sindicatos e as milcias foram de extrema importncia para o sucesso darevoluo, combinados a outros fatores, entre os quais se destaca a insatisfaoda populao para com o regime de Batista. Alm da classe operria, os cam-poneses e os estudantes tambm desempenharam papel relevante. Para alguns

    estudiosos, o papel dos camponeses foi determinante, pois conheciam bem a re-gio da Sierra Maestra, o que teria favorecido a vitria da revoluo, explica acientista social Priscila Morrone, responsvel pelo estudo Processo de Instituci-onalizao da Revoluo Cubana.

    Um dos cabeas da plancie era Frank Pas, um nacionalista moderado, cri-ador da Ao Revolucionria Oriental que em 1953 decidiu fundir-se ao M26J.Havia tambm Jos Echeverra do Diretrio Estudantil Revolucionrio, um anti-comunista rebelde. Entretanto, talvez a principal sebe de resistncia estava nostrabalhadores unidos em classe que pressionavam politicamente a ditadura de

    Batista. Alguns deles passaram a se encontrar na Rua Jess Mara, 310. L se lo-calizava a sede da ALC e a redao de um importante veculo de propaganda e

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    confronto ideolgico, o Solidariedad Gastronomica, com redao de Claudio Mart-nez, Casto Mosc, Juan R. Alvarez, Jos Rodriguez e Roberto Cabanellas. Nestapoca, segundo Frank Fernndez em seu livro El Anarquismo en Cuba (aindasem traduo para o portugus), o jornal levava quase sete anos com periodici-dade mensal quando a tenso revolucionria comeou a borbulhar. O problema que havia muita desconfiana sobre a verdadeira ambio de Fidel, pois seusseguidores o queriam converter, ainda naquela poca, num caudilho, explicaAlberola, que se mantinha muito prximo a ALC e seus exilados naquele pe-rodo. Entretanto, o M26J contava com militantes anarquistas e, sem dvidas,era o fronte da batalha. Cientes disso, seu dever revolucionrio lhes dizia paraapoi-lo. Ainda assim, em 1956, quando o Granma j aportava em Las Colo-radas, a ALC lana um comunicado intitulado Projees Libertrias denunci-ando a ditadura de Batista e alertando para as atitudes arbitrrias vindas doscastristas.

    Por sua vez, no Mxico, os exilados davam os retoques finais no plano do IateGranma (do ingls, Grandmother, que depois se tornaria o nome do veculooficial do governo castrista). O barco era uma banheira velha que Fidel des-cobriu em Tuxpn, ento propriedade de um norte-americano chamado RobertBruce Erickson, custava 15 mil dlares que foram pagos por Carlos Socorrs, pre-sidente conservador deposto por Batista que cumpria exlio nos Estados Unidos.O iate tinha capacidade para vinte ocupantes, mas os guerrilheiros somavam 82(isso porque Gustavo Arcos teve de adiar sua ida por conta de graves problemasde sade), fora armamentos e utenslios para agentar os 2.2 mil quilmetros deviagem. Partiram no dia 25 de novembro de 1954 com previso de cinco diasno mar. O problema que com o iate superlotado e um motor pouco potente,o percurso mostrou-se mais demorado. O atraso foi de dois dias, mas o pior detudo seria uma falha no rdio que impossibilitou que o Granma avisasse sobreos percalos aos companheiros da ilha. Esse simples problema de comunicao

    implodiu todo o planejamento: Celia Snchez, uma mulher da plancie res-ponsvel por apresentar Fidel a Huber Matos (um dos grandes nomes da Revo-luo), recepcion-los-ia na praia de Nigero com 50 homens, jipes, armamentose comida. Ataques contra quartis ocorreriam concomitantemente, e Frank Pasestava encarregado de confrontar as instalaes militares em Santiago de Cuba eMocanda. As aes foram levadas a cabo, mas, alm do atraso, o Granma acabouaportando em Las Coloradas - 25 mil quilmetros adiante em direo austral -pois havia sido avistado por um helicptero. Sem o clmax, as preliminares noforam muito teis. O Granma acabou encalhado num manguezal sem qualquer

    auxlio, a nica vantagem aparente era o anonimato. Mas isto comeou a mudarquando Tato Vega - um campons da regio - percebeu a movimentao estra-

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    nha e se aproximou oferecendo-se como guia Sierra Maestra adentro, o que foiprontamente aceito. No dia cinco de dezembro, aps mais de 48 horas na mata,Tato despediu-se e partiu, sua tarefa estava cumprida. Entretanto, mal sabiam osrebeldes que o campons alertara a Guarda Rural de Batista sobre sua presena.Poucas horas depois os pelotes 12 e 13 pegaram os rebeldes numa emboscadasurpresa e traioeira. Resultado: 70, dos 82 rebeldes foram assassinados. O azarde Batista foi que Guevara, Cienfuegos, Mario Chanes, e os irmos Castro esta-vam entre os sobreviventes.

    A Revoluo conhece seus heris

    No Mxico, a Frente Anti-Ditatorial Latino-Americana matinha a palavra: as-sim que aconteceu o desembarque de Fidel e Che em Cuba, no Iate Granma,meu contato com o M26J passou a ser com o Comandante De La Rosa. Orga-nizei atos de propaganda e solidariedade, alguns deles junto irm mais novade Fidel, e participamos da constituio do Movimento Espanhol em 1959 com

    jovens exilados espanhis, muitos deles tambm haviam ajudado o M26J na lutacontra Batista, relembra Octvio. Enquanto isso, na Sierra Maestra, os rebeldes

    seguiam somando homens a suas fileiras, a maioria camponeses dispostos a lu-tar. interessante notar que, na teoria marxista, os camponeses sempre foramtratados como sujeitos menores do ponto de vista da pragmtica revolucion-ria. Seu status de proprietrio de terras e detentor dos instrumentos de traba-lho delegava-lhe a alcunha de pequeno burgus. Ainda assim, o campesinatosempre foi um suporte imprescindvel para os levantes insurrecionais, desde aRssia at Chiapas. E em Cuba no foi diferente: eles no apenas engrossa-ram quantitativamente o movimento rebelde, mas qualificaram-no a partir deseu conhecimento geogrfico das serras, da intensa sensibilidade que lidam com

    a mata e, principalmente, atravs do furor insurrecional que partilham com ajustia.

    Em 1958, diretamente da selva, os rebeldes ganham um importante aliado,to potente quanto uma artilharia anti-area: sob a direo de Guevara, a RdioRebelde entra no ar com um alcance razovel que logo se estenderia para todo oterritrio. Outro fato importante ocorre em maro do mesmo ano: um ferrenhorevolucionrio desembarca num avio de carga no relevo da Sierra Maestra. EraHuber Matos - que se tornaria um dos principais nomes da revoluo. Ele vinhada Costa Rica e trazia consigo armamentos e homens. Foi saudado por Castro e

    seus soldados e, pela coragem, recebeu a honraria de comandante. A chegada ea bravura de Matos foram fatores cruciais para a vitria rebelde. Alm do mais,

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    como escreve Fernndez em El Anarquismo en Cuba: em meados de 1958 aburguesia compreende que Batista e todo o seu aparato repressivo est a pontode perder o poder. Os interesses norte-americanos e cubanos esto em perigo e

    j no consideram o ditador como um aliado. Unidos numa frente comum de in-teresses, estes setores decidem apoiar econmica e politicamente a rebelio. Cas-tro obtm vrios milhes de dlares em doaes para comprar mais armas comoprmio pela sua resistncia nas montanhas de Oriente por quase dois anos. Osfundos para a causa revolucionria, que alcanaram alguns centos de milharesde dlares, foram doados entre setembro e novembro de 1958 por vrias firmasde negcios capitalistas importantes, tais como os Hermanos Babn, a indstriado rum Bacardi, industriais, comerciantes, donos de centrais aucareiras, ou seja,a alta burguesia e os capitalistas cubanos. Atuaram pensando em seus interessesafetados pelo conflito, opostos ditadura de Batista, e de passo para ganhar asimpatia dos rebeldes.

    A estratgia foquista utilizada pelos rebeldes era perfeita para a topologiada ilha, mas se mostrou intil posteriormente no Congo e Bolvia - incurses li-deradas e fracassadas por Guevara. Ral Castro agregava aliados e suportavacom certa tranqilidade o setor oriental - com a ajuda de militantes como LuisLunsuan, anarquista prximo da ALC. Nesta posio ele no colaborava na re-

    sistncia, mas comandava com maestria a fileira mais avanada dos rebeldes.Guevara e Cienfuegos compunham a regio central da Sierra Maestra, onde mi-litava Plcido Mndez - ilustre militante libertrio tambm simpatizante da ALC- e sabotavam instalaes que proviriam os quartis centrais batistianos.

    Enquanto isso, nas cidades, a presso proletria ganha ares insurrecionais,expressos em especial pelas poucas publicaes que logravam seguir circulandoem tempos de censura, priso, torturas e assassinatos. Os rebeldes ganhavamfora na selva, em certa medida, pois os trabalhadores seguravam as investidasditatoriais nas cidades. Frank Fernndez em El Anarquismo en Cuba escreve

    sobre uma destas publicaes, talvez a mais importante do ponto de vista li-bertrio: Com a dificuldade dos tempos sombrios, Solidaridad Gastronmicacontinuava sendo publicado mensalmente, respondendo, como de costume, defesa dos libertrios em geral (...). Dirigiam a publicao Juan R. Alvarez, Do-mingo Alonso e Manuel Gonzlez, todos de boa origem libertria. A redao,no final dessa dcada, continuava em Jess Maria, 310, sede da ALC. As v-rias incurses repressivas do governo nunca tiveram eficcia contra a sede daALC, isso conferiu uma aura de segurana que se espalhou por diversos setoresda luta revolucionria nas cidades. Tambm por conta do sucesso e agressivi-

    dade propagandstica do Solidariedad, a sede na Jess Mara passa a ser abrigopara reunies de diversos destacamentos, desde o Diretrio Revolucionrio at

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    o prprio M26J.Percebendo o avano rebelde, Batista resolveu lidar com o assunto da ma-

    neira mais simples: varrendo-os do mapa com a chamada Operao Verano.Destacou uma frota de dez mil homens bem armados e mal treinados, fora a-rea e tanques para combater aqueles que, na poca, somavam 300 guerrilheiros.Mas, desta vez, tudo saiu errado para Batista. Os ensinamentos de Bayo fo-ram cruciais na resistncia rebelde, que nem precisou deslocar o fronte de RalCasto para os auxiliar, tamanha foi a facilidade e a virulncia com que os rebel-des opuseram-se ao ataque. Grande parte desta vitria se deve, novamente, aoscamponeses, que no apenas somaram-se resistncia num momento de crise,mas tambm ofereceram abrigo, dados, informaes e todo o apoio necessriopara a vitria do M26J.

    O fracasso visceral de Batista mostrou sua incapacidade e tambm o quovulnervel era seu exrcito. Percebendo isto, Fidel ordenou que as tropas avan-assem rumo capital. Che e Cienfuegos foram enviados para Santa Clara. Ci-enfuegos partiu com apenas 60 homens mas, durante o trajeto, uma vez mais,contou com total apoio dos camponeses chegando para a batalha com um pe-loto de quase 500 homens. Quando Che e Cienfuegos tomaram Santa Clara,a notcia da derrota iminente chega at Batista. Sem mais recursos, o ditador

    foge em 30 de dezembro levando 40 milhes de dlares consigo para a Espanhafranquista. Sem comando nem moral, o caminho est livre para os irmos Cas-tros rumarem at a vitria em Santiago de Cuba, j que, naquela cidade, HuberMatos coordenou a frente de batalha e o cerco. O caminho para Havana no foiuma batalha, mas uma comitiva, a marcha da vitria da revoluo.

    A Revoluo conhece seus viles

    Em 16 de fevereiro de 1959, Fidel Castro assume o cargo de primeiro-ministrode Cuba. Os primeiros passos no ps-revoluo foram, de certa forma, consen-suais: baixa de 50% nos aluguis, 30% na taxa de luz, 25% nos livros escolares,confisco dos bens de Batista e seus parceiros, interveno em empresas suspeitasde favorecimento ilcito. Mas a principal renovao aconteceu em 17 de abril de1959, uma profunda reforma agrria escrita pelo ento comandante do ExrcitoRebelde, Humberto Sor Marn: todas as propriedades com mais de 420 hectaresforam repartidas, o que deixou os norteamericanos emputecidos, j que 75% detoda rea cultivvel da ilha lhes pertencia. Com tais medidas, cerca de 255 mil

    cubanos que compunham a elite fugiram para os Estados Unidos entre 1959 e1961.

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    At este momento estava tudo dentro do acordo, incluindo neste bojo a ne-cessria reforma agrria. Entretanto, aqueles eram anos de Guerra Fria, bipola-ridade. Ento as coisas comearam a guinar para um autoritarismo que muitolembra a URSS de Stlin. Castro aproximou-se de Nikita Kruschev num acordoeconmico bastante interessante: a URSS ofereceu crdito, petrleo e alimentosilimitados e ainda, de brinde, comprometeu-se a importar cinco milhes de to-neladas de acar de Cuba at 1965.

    Sendo assim, a tenso aumentava entre Havana e Washington. O presidenteEisenhower assinou um plano anti-Castro e ordenou o boicote econmico; emoposio a este ato, Castro nacionalizou os bancos e petrolferas da ilha, grandeparte norte-americana como Texaco, Shell e o City Bank. Em 03 de janeiro de1961, os EUA cortam oficialmente relaes com Cuba e, em 15 de abril do mesmoano, o jovem e recm-eleito presidente Kennedy autoriza a estpida e fracassadatentativa de invaso pela Baa dos Porcos. Era tudo que a Revoluo Cubana noprecisava. Muito menos seus revolucionrios no-castristas.

    A nova cara de uma Revoluo trada

    Em 1ode maio de 1961 - o Dia do Trabalhador - Fidel Castro, pela primeiravez, afirma que Cuba um pas socialista, de tendncia marxista-leninista, revo-gando as eleies diretas e conclamando-se O Ditador. A partir deste momento,o molde ideolgico estava dado e a histria j demonstrara em tinta de sangueo que aconteceria caso algum fosse tachado de contra-revolucionrio: Umaacusao de contra-revolucionrio uma passagem priso ou uma viagem aoparedo de fuzilamento, escreve Frank Fernndez. Esta atitude, que desenca-dearia a perseguio, morte ou exlio de muitos deu carta branca para que Fidelliquidasse violentamente toda a oposio interna a seu governo, fosse conser-

    vadora ou libertria. No Mxico, a ajuda que a Frente esperava nunca chegou.Em contrapartida, muitos companheiros exilados aportaram no pas de Zapatafugindo daqueles que, anos atrs, eram seus companheiros. Para consolidarsua hegemonia e perpetuar-se no poder, Castro serviu-se de uma cartada ideo-lgica, a revoluo marxista, identificando esta sua pessoa e vice-versa. Eleno foi o primeiro a dar essa cartada, antes Stalin, Mao e muitos dos chefes daslutas de descolonizao na sia e frica j o haviam dado para chegar ao podere perpetuar-se nele. Da que, como todos esses casos, em Cuba tambm esse tipode revoluo significou somente a imposio de uma ditadura totalitria e de

    capitalismo de Estado. Ou seja, os trabalhadores obedecendo e trabalhando. Opoder e os privilgios para os burocratas, com sua nova nomenclatura, sublinha

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    Octvio.EmCuba,o Solidariedad Gastronmica e a ALC entram na clandestinidade. Era

    o fim da liberdade de pensamento e imprensa. Os sindicatos tentaram rebelar-se, mas estavam atados ao Estado. O fato foi que, ainda antes de Fidel declararCuba socialista, o CTCR (Confederacin de Trabajadores de Cuba Revoluciona-ria) fora tomado por lideranas do PCC (Partido Comunista Cubano) em seu XCongresso, conhecido como o Congresso das Melancias (verde-oliva por fora,a cor do M26J; e vermelho por dentro, a cor do PCC). Mesmo aps presso e dis-cursos inflamados de Ral Castro e Martinez Snchez, o PCC no logrou firmarcandidatura nica, que representaria delegados dos sindicatos independen-tes, do M26J, e do prprio PCC. A manobra macabra no funcionou a priori, en-tretanto, como escreve Frank Fernndez, sabendo da importncia vital daquelecongresso, Fidel se deslocou pessoalmente at a reunio e conclamou a todos adefender a revoluo atravs de lderes verdadeiramente revolucionrios.Ou seja, os lderes do PCC. E assim estava imposta a amarra governamental quecalou os sindicatos cubanos. Alguns anarquistas tentaram rebelar-se em armas:os focos guerrilheiros estavam em diferentes partes, em especial na Serra Oci-dental, perto de Havana. Somaram-se militantes s frentes de Pedro Snchez,em San Cristbal, e de Francisco Robaina, na prpria Serra Ocidental. Os focos

    foram rapidamente destrudos pelo exrcito de Castro.

    A Revoluo desconhece seus heris e viles

    No levante libertrio, segundo relato de Casto Mosc em El Anarquismo enCuba, foram assassinados: Rolando Tamargo e Ventura Surez, fuzilados; Se-

    bastin Aguilar filho, assassinado a tiros; Eusebio Otero apareceu morto em suacasa; Ral Negrn, acossado pela perseguio, se suicidou ateando-se fogo. Por

    outra parte, alm de Mosc, foram detidos e condenados a penas de priso osseguintes companheiros: Modesto Pieiro, Floreal Barrera, Suria Linsuan, Ma-nuel Gonzlez, Jos Acea, Isidro Mosc, Norberto Torres, Sicinio Torres, JosMandado Marcos, Plcido Mndez e Luis Linsuan, oficiais estes dois ltimosdo Ejrcito Rebelde (Exrcito Rebelde). Francisco Aguirre morreu na priso, Vic-toriano Hernndez, doente e cego pelas torturas carcerrias, suicidou-se; e JosAlvarez Micheltorena morreu poucas semanas antes de sair da priso. CastoMosc, como citado acima, foi preso na sede da ALC - que abrigara membros doM26J durante a revoluo. Logrou um indulto e rumou para o exlio no Mxico.

    Humberto Sor Marin, comandante do Exrcito Rebelde desde a Sierra Ma-estra, foi o responsvel por escrever o projeto de reforma agrria levada a cabo

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    por Castro em 1959. Era anticomunista e foi acusado de conspirar contra a re-voluo. Apesar de conhecer Fidel h mais de 50 anos, foi fuzilado em abril de1961 com mais de 20 disparos.

    Mrio Chanes de Armas lutou ao lado de Castro desde o levante de Moncadae foi um dos sobreviventes na emboscada aps o desembarque do Iate Granma.Percebendo o rumo autoritrio e ditatorial do ps-revoluo, Chanes foi incisivoem suas crticas e por isso terminou condenado por conspirar com palavras.Fidel ainda o acusou de o tentar matar, mas nunca logrou sequer uma provacontra Chanes. Ainda assim, Chanes foi condenado a 30 anos de priso, a penamais longa dada a um prisioneiro poltico at hoje. L soube do nascimento emorte de seu filho Mario, assim como o falecimento de seu irmo. Apenas poucotempo depois de sua segunda condenao, em 16 de julho de 1991, conseguiu apermisso para seguir para o exlio. Morreu em 2006.

    Gustavo Arcos participou do levante de Moncada no mesmo Buick que Fidel,ocasio em que levou um tiro nas vrtebras e quase terminou paraplgico. NoMxico foi cortado do Iate Granma por sua condio de sade. Aps o triunfo darevoluo, Arcos tornou-se embaixador de Cuba em Bruxelas. Atento aos rumosditatoriais de Castro, ops-se publicamente ao ditador e terminou condenado a10 anos de priso, cinco deles cumpridos em crcere privado. Cumprida sua

    pena, pede permisso legal para deixar a ilha, mas o pedido negado. Tentafugir num bote e acaba novamente preso, condenado a mais 14 anos de priso.Arcos cumpriu integralmente sua pena, morreu aos 79 anos em Havana, no anode 2006.

    Huber Matos, o comandante responsvel pelo cerco em Santiago de Cuba,foi nomeado Comandante do Exrcito da provncia de Camagey logo aps avitria da revoluo. Comeou a discordar de Castro assim que este declarouCuba marxista-leninista. Enviou uma carta de demisso ao ditador, que negouseu pedido. Tempos depois remeteu uma segunda carta de renncia, que Cas-

    tro respondeu com o envio de seu ex-companheiro, Camilo Cienfuegos, com aordem de o encarcerar. O objetivo, segundo se sabe, era seu fuzilamento, entre-tanto Castro no o queria transformado em mrtir. Foi condenado a 20 anos porTraio e Sedio, a maioria cumprida na Ilha de Pinos, a mesma onde Fidelesteve preso aps o levante de Moncada. Cumpriu integralmente sua pena ehoje vive nos Estados Unidos.

    A Revoluo Cubana por outro ngulo - Livros e artigos

    Cuba: la compleja coyuntura - Haroldo Dilla

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    15 Jnior Bell

    Cuba: el curso de una transicin incierta - Haroldo Dilla

    Cuba: una revolucin frustrada - Humberto Decarli

    La resurreccin de Che Guevara - Samuel Farber

    Haroldo Dilla and the Cuban Revolution - Louis Proyect

    Cuban Anarchism - Frank Fernndez

    Havana Nocturne - William Morrow

    Fidel: Biografia a Duas Vozes - Ignacio Ramonet Alina: Memrias da Filha de Fidel Castro - Alina Fernndez

    Revolucin y dictadura en Cuba - Abelardo Iglesias

    El Che Guevara - La Biografia - Hugo Gambini

    Che Guevara - A Vida em Vermelho - Jorge G. Castaeda

    Camilo Cienfuegos - Carlos Franqui

    Testimonios sobre la Revolucin Cubana - Agustn Souchy

    A Revoluo Cubana por outro ngulo - Sites

    http://www.anarkismo.net/article/3559 - Entrevista com o neto de Che, Ca-nek Guevara, hoje anarquista heterodoxo e membro do Movimento Liber-trio Cubano.

    http://cubaarchive.org ou http://baracuteycubano.blogspot.com/2008/07/los-

    muertos-de-la-revolucion-son.html - Estudo quantitativo e comparativo entreos mortos durante o perodo revolucionrio (1952 - 1958: 2.741), e durantea ditadura castrista (at junho de 2008: 8.291).

    http://www.cubanet.org/ref/dis/09110701.htm - Carta Pstuma de MiguelAngel Quevedo.

    http://www.nodo50.org/fau/documentos/docum_historicos/docum_fau.htm ehttp://www.nodo50.org/fau/documentos/docum_historicos/docum_fau_2.htm- Anlise da Federao Anarquista Uruguaia sobre a estratgia de guer-

    rilha chamada foquismo, utilizada pelos rebeldes durante a RevoluoCubana.

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    AgradecimentosA Frank Fernndez pela pacincia em responder meus e-mails. A Octvio Al-

    berola pelo detalhado relato e pela cordialidade. A Karina Patrcio e, especial-mente, a Felipe Corra pelos contatos, livros, pitacos e pelo El Libertario desetembro de 2004, atravs do qual tive acesso aos primeiros relatos e idias deAlberola.

    * Jnior Bell militante da Pr-FASP.

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