revogação prisão preventiva ylcon
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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO PLANTONISTA
URGENTE – RÉU PRESO
Bem-aventurados os que observam a justiça...
(Salmos 106:3)
YLCON RODRIGUES DE JESUS, brasileiro, solteiro, auxiliar de serviços operacionais, portador
da Carteira de Identidade RG nº 3071134 SPTC/ES, inscrito no CPF/MF sob o nº 137.751.257-
60, residente e domiciliado na Rua Rui Barbosa, nº 351, Santo André, Vitória/ES, vem
respeitosamente a presença de V. Exa., requerer REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA com
supedâneo no artigo 316 do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito a
seguir expostas:
DOS FATOS
Ab initio, quadra registrar que, consta do Inquérito Policial que, na noite do dia 29/11/2015, o
acusado ao avistar uma motocicleta parada na lateral da via, para atravessar a BR 101, sem
dizer uma só palavra, “deu um pulo” no ocupante de aludida motocicleta, fazendo-o cair ao
chão. Incontinenti, consta de referido I.P., que o paciente tentou evadir-se do local, já
montado na motocicleta, somente não logrando êxito em seu intento, devido a ação de
transeuntes, que o imobilizaram até a chegada da viatura da Polícia Militar. Encontrando-se
hodiernamente preso e recolhido no CTV - CENTRO DE TRIAGEM DE VIANA.
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Cumpre ressaltar que, desde o início da persecução penal até a presente data, o acusado nada
fez para que justificasse seu encarceramento, não atentou contra a ordem pública, não tentou
atrapalhar a instrução criminal, não ofereceu qualquer resistência e sequer coloca em risco a
integridade de outrem. Não há, portanto, preenchimento de requisito legal para a
manutenção de sua prisão.
O acusado é mantido preso há cerca de 3 (três) semanas, sem sequer existir motivo plausível.
Haja vista, desde o início tem se comprometido a colaborar com toda a persecução penal, no
que couber, de forma que seu encarceramento torna-se obsoleto. Da mesma forma, o acusado
é trabalhador honesto, tem residência fixa e nunca se envolveu em nenhum processo criminal.
Diante da desnecessidade de sua manutenção na prisão, a revogação da prisão preventiva é
medida que se mostra salutar.
É a síntese do necessário.
DO DIREITO
Sobreleva-se importante esthesir que, a prisão cautelar é medida excepcional, regida pelo
princípio da necessidade, mediante a demonstração do fumus boni iuris e do periculum in
libertatis, porquanto restringe o estado de liberdade de uma pessoa, que ainda não foi julgada
e tem a seu favor a presunção constitucional da inocência, nos termos do art. 5º da
Constituição Federal.
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No mesmo sentido o artigo 7º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de
San José da Costa Rica (1969) – que declara o direito a um julgamento em prazo razoável, sob
pena de incorrer em arbitrariedade.
A manutenção da prisão do acusado não merece prosperar, uma vez que este não preenche os
requisitos da prisão preventiva elencados no artigo 312 do CPP.
O acusado possui residência fixa e pretende colaborar com toda a persecução penal, no que
couber. Não oferece risco à instrução criminal, razão pela qual não justifica a prisão
preventiva.
A previsão dos artigos 316 e 319 do CPP é clara quanto a possibilidade de sua revogação, bem
como do caráter excepcional da prisão preventiva. Esses dois dispositivos legais deixam claro
que a prisão preventiva é medida subsidiária e não pode ser decretada ou convertida sem que
antes tenha sido imposta uma medida cautelar alternativa e, ainda em último caso.
Nesse sentido o professor Luiz Flávio Gomes:
A prisão preventiva não é apenas a ultima ratio. Ela é a extrema ratio da ultima
ratio. A regra é a liberdade; a exceção são as cautelares restritivas da liberdade
(art. 319, CPP); dentre elas, vem por último, a prisão, por expressa previsão legal1.
Nesse mesmo sentido, a jurisprudência assim explana:
Não demonstrada, suficientemente, a necessidade da prisão preventiva, merece
prosperar o pedido de sua desconstituição. Recurso provido2.
1 GOMES, Luiz Flávio. Prisão e Medidas cautelares – Comentários à Lei 12.403/2011. São Paulo: RT, 2011.2 RSTJ 106430
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Pelo exposto, verifica-se que a concessão da liberdade ao acusado, é medida que se impõe,
face o constrangimento ilegal em razão do excesso de prazo já existente, o que, aliás, tende a
se prolongar.
Verifica-se que o decreto de prisão preventiva expedido pela autoridade coatora mostra-se
totalmente equivocado quanto a sua fundamentação, tornando-a inválida.
Como sabido, ilações abstratas acerca da gravidade do delito em apuração e de clamor público
são argumentos inválidos para fundamentar a medida excepcional que é a prisão preventiva.
O decreto de prisão preventiva deve ser fundamentado em alguma das hipóteses do art.312
do CPP.
DA DECISÃO QUE TRANSFORMOU A PRISÃO EM FLAGRANTE EM PRISÃO PREVENTIVA
Convém salientar que a decisão que converteu a prisão em flagrante do acusado em prisão
preventiva, encontra-se manchada pela pecha da ilegalidade, como infra quedar-se-á
demonstrado.
Para tanto imperioso se faz colacionar excerto desta, verbis:
Aos trinta (30) dias do mês de novembro (11) do ano de dois mil e quinze
(2015), na sala de Audiências do CTV – Centro De Triagem de Viana, sob
a presidência do Juiz de Direito VINÍCIUS DONÁ DE SOUZA comigo
assessor Jurídico ao final nomeado, foi aberta a Audiência de
Custódia realizada pelo Serviço de Plantão de Flagrantes do Poder
Judiciário do Espírito Santo, instituído pela Resolução nº 13/2015,
publicada no DJ de 10/04/2015, nos autos do procedimento acima
indicado. Ausente o Ministério Público Estadual. Presente a Defensoria ______________________________________________________Rua General Osório Vitória/ES www.marceloserafim.jud.adv.br Nº 162, 1º Andar Bairro: Centro [email protected]
Pública Estadual. Cumpridas as formalidades legais, foi apresentado o
autuado YLCON RODRIGUES DE JESUS que declara não possuir advogado
constituído, razão pela qual será acompanhado pela Defensoria Pública
Estadual. Iniciados os trabalhos, foi o autuado entrevistado pelo
Magistrado, após contato prévio com a defesa, sendo o conteúdo da
entrevista registrado em mídia. A Defesa requereu a concessão da
liberdade provisória mediante a aplicação de outra medida cautelar
diversa da prisão, conforme registrado em mídia. Pelo Juiz de Direito foi
proferida a seguinte DECISÃO: “Vistos. Cuida-se de auto de prisão em
flagrante delito lavrado em desfavor do autuado acima mencionado, por
imputação de prática do crime tipificado no Art. 157, caput, do CPB. Ao
analisar os autos, com base no art. 310, do CPP, verifico que este Juízo
foi provocado formalmente através da comunicação da prisão em
flagrante realizada pela Autoridade Policial, o que equivale à
representação pela decretação da prisão preventiva dos autuados.
Primeiramente, constato que não existem vícios formais ou materiais
que venham a macular a peça, razão pela qual considero a prisão em
flagrante perfeita e sem vícios. Feito isso, passo a analisar se a hipótese
comporta a conversão da prisão flagrante delito em prisão preventiva,
considerando a análise de seus pressupostos e requisitos. À luz do que
garante a Constituição da República, no art. 5º, inciso LXVI, ninguém será
levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade
provisória, com ou sem fiança. Portanto, é indubitável que a prisão
anterior à sentença condenatória é medida de exceção, somente
devendo ser mantida ou decretada quando evidente a sua necessidade
ou imprescindibilidade, eis que a regra é a de que o indiciado tem o
direito de se defender em liberdade. Considerando essa orientação, cabe
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analisar a presença dos pressupostos para a decretação da prisão
preventiva, previstos no art. 313 do CPP. Neste contexto, tendo sido
imputada aos autuados a prática dos delitos tipificados no Art. 157,
caput, do CPB, evidencia-se a presença do pressuposto objetivo previsto
no art. 313 do CPP. REALIZADAS PESQUISAS NOS SISTEMAS JUDICIAIS:
INFOPEN, SIEP, BNMP E EJUD CONSTATOU-SE QUE O AUTUADO NÃO
POSSUI REGISTROS CRIMINAIS, CONFORME EXTRATOS
ANEXOS. Firmada essa premissa, resta analisar se os requisitos para a
decretação da prisão preventiva, previstos no art. 312, do CPP estão
presentes. Não obstante, verifica-se pelo auto de prisão em flagrante
delito que estão presentes a materialidade delitiva, bem como de
indícios de autoria, além do que se acham também presentes
fundamentos que autorizam a custódia excepcional. ASSIM, A
GRAVIDADE CONCRETA DA CONDUTA DO AUTUADO, GERA RISCO
PARA A PAZ SOCIAL, POIS EXISTE A REITERAÇÃO CRIMINOSA DO
AUTUADO, RESPONDENDO A OUTRAS AÇÕES PENAIS, ESTANDO
PATENTE O PERICULUM LIBERTATIS, ASSIM COMO O FUMUS COMISSI
DELICTI. Ante o exposto, CONVERTO a prisão em flagrante delito do
indiciado em PRISÃO PREVENTIVA para garantir a ordem pública e para
assegurar a aplicação da lei penal. Expeça-se o Mandado de Prisão
Preventiva com validade até 29/11/2031, considerando o prazo
prescricional. Após os procedimentos de praxe, remetam-se os autos ao
Juízo competente para regular distribuição. Nada mais havendo, deu-se
por encerrado o presente termo. Eu, Leomar Littig, Assessor Jurídico, o
digitei, indo por todos devidamente assinado.
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Sendo que in casu, a decisão que converteu a prisão em flagrante em prisão preventiva, em
seu decisum, conforme alhures demonstrado afirmou inadvertidamente que existe a
reiteração criminosa do autuado, por encontra este respondendo a outras ações penais,
estando patente o periculum libertatis.
Todavia, antes disso, a mesma decisão judicial informa que, realizadas pesquisas nos sistemas
judiciais: INFOPEN, SIEP, BNMP e EJUD constatou-se que o autuado não possui registros
criminais, conforme extratos anexos.
Após constatado esse equívoco, que mancha com a pecha da ilegalidade a decisão que
transformou a prisão em flagrante em prisão preventiva, convém esthesir que, a prisão
preventiva tem a natureza de prisão cautelar e, por isso, apenas se justifica ante a
demonstração clara por parte do Magistrado de razões de cautela fundadas em elementos
inequívocos de convicção.
Nesse sentido a farta e uníssona jurisprudência deste Egrégio Tribunal de Justiça:
Conforme os reiterados precedentes recentes de nossas Cortes
Superiores, a decisão que decreta uma medida constritiva, como a prisão
preventiva ou a internação provisória de menor infrator, deve ser
suficientemente fundamentada, explicitando os dados objetivos e
concretos que demonstrem que a custódia provisória se mostra
imprescindível, não bastando, para isto, a mera repetição da disposição
legal ou a existência de indícios de autoria e materialidade delitiva3.
O indeferimento do pedido de liberdade provisória feito em favor de
quem foi detido em flagrante deve ser, em regra, concretamente
fundamentado, devendo os requisitos da prisão preventiva ser expostos
3 TJMG. HC nº 1.0000.04.414178-6/000. 1ª Câmara Criminal. Rel. Márcia Milanez. Publ. 23/11/2004______________________________________________________Rua General Osório Vitória/ES www.marceloserafim.jud.adv.br Nº 162, 1º Andar Bairro: Centro [email protected]
e justificados sob a luz da relação dos fatos e do direito postos na
pretensão, sob pena de relegar ao arbítrio toda e qualquer restrição à
liberdade do indivíduo4.
Sendo o nosso sistema presidido pelo regime de liberdade individual,
qualquer medida que vise à privação da liberdade do cidadão deve ser
revestida da indispensável fundamentação, declinando o magistrado as
razões pelas quais se faz necessária a medida acauteladora, não
bastando a simples alusão à aplicação da lei penal e à ordem pública, ou
mesmo referir-se à presença dos requisitos do art. 312 do CPP, vez que o
princípio constitucional, inserto no art. 93, inc. IX, da Carta Magna, exige
concreta motivação. Ordem concedida5.
Fica claro, portanto, em face do sólido respaldo jurisprudencial à tese ora sustentada, que o
decreto de prisão preventiva é equivocado em sua fundamentação, tornando-o inválido,
conforme alhures afirmado.
Ilegal e arbitrário, portanto, o encarceramento do acusado, razão pela qual impõe-se a
revogação da prisão preventiva, restituindo-lhe a liberdade.
DO PEDIDO
Ante o exposto, requer-se:
a. A revogação da prisão preventiva, por ausência de requisitos para sua manutenção e
pelo equívoco na fundamentação do periculum libertatis, ínsito a decisão que
4 TJMG. HC nº 1.0000.06.441145-7/000. 4ª Câmara Criminal. Rel. William Silvestrini. Publ. 18/08/2006
5 TJMG. HC nº 1.0000.05.422987-7/000. 5ª Câmara Criminal. Rel. Antônio Armando dos Anjos. Publ. 03/09/2005______________________________________________________Rua General Osório Vitória/ES www.marceloserafim.jud.adv.br Nº 162, 1º Andar Bairro: Centro [email protected]
transformou a prisão em flagrante em prisão preventiva, com a expedição do
respectivo alvará de soltura.
b. A intimação do Ilustre representante do Ministério Público, nos termos da lei.
Termos em que
Pede e aguarda Deferimento
Vitória/ ES, 28 de dezembro de 2015.
_________________________MARCELO SERAFIM DE SOUZAADVOGADO - OAB/ES 18.472
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