revogação prisão preventiva ylcon

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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO PLANTONISTA URGENTE – RÉU PRESO Bem-aventurados os que observam a justiça... (Salmos 106:3) YLCON RODRIGUES DE JESUS, brasileiro, solteiro, auxiliar de serviços operacionais, portador da Carteira de Identidade RG nº 3071134 SPTC/ES, inscrito no CPF/MF sob o nº 137.751.257-60, residente e domiciliado na Rua Rui Barbosa, nº 351, Santo André, Vitória/ES, vem respeitosamente a presença de V. Exa., requerer REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA com supedâneo no artigo 316 do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito a seguir expostas: DOS FATOS ______________________________________________________ Rua General Osório Vitória/ES www.marceloserafim.jud.adv.br Nº 162, 1º Andar Bairro: Centro [email protected]

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Page 1: Revogação Prisão Preventiva Ylcon

EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO PLANTONISTA

URGENTE – RÉU PRESO

Bem-aventurados os que observam a justiça...

(Salmos 106:3)

YLCON RODRIGUES DE JESUS, brasileiro, solteiro, auxiliar de serviços operacionais, portador

da Carteira de Identidade RG nº 3071134 SPTC/ES, inscrito no CPF/MF sob o nº 137.751.257-

60, residente e domiciliado na Rua Rui Barbosa, nº 351, Santo André, Vitória/ES, vem

respeitosamente a presença de V. Exa., requerer REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA com

supedâneo no artigo 316 do Código de Processo Penal, pelas razões de fato e de direito a

seguir expostas:

DOS FATOS

Ab initio, quadra registrar que, consta do Inquérito Policial que, na noite do dia 29/11/2015, o

acusado ao avistar uma motocicleta parada na lateral da via, para atravessar a BR 101, sem

dizer uma só palavra, “deu um pulo” no ocupante de aludida motocicleta, fazendo-o cair ao

chão. Incontinenti, consta de referido I.P., que o paciente tentou evadir-se do local, já

montado na motocicleta, somente não logrando êxito em seu intento, devido a ação de

transeuntes, que o imobilizaram até a chegada da viatura da Polícia Militar. Encontrando-se

hodiernamente preso e recolhido no CTV - CENTRO DE TRIAGEM DE VIANA.

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Page 2: Revogação Prisão Preventiva Ylcon

Cumpre ressaltar que, desde o início da persecução penal até a presente data, o acusado nada

fez para que justificasse seu encarceramento, não atentou contra a ordem pública, não tentou

atrapalhar a instrução criminal, não ofereceu qualquer resistência e sequer coloca em risco a

integridade de outrem. Não há, portanto, preenchimento de requisito legal para a

manutenção de sua prisão.

O acusado é mantido preso há cerca de 3 (três) semanas, sem sequer existir motivo plausível.

Haja vista, desde o início tem se comprometido a colaborar com toda a persecução penal, no

que couber, de forma que seu encarceramento torna-se obsoleto. Da mesma forma, o acusado

é trabalhador honesto, tem residência fixa e nunca se envolveu em nenhum processo criminal.

Diante da desnecessidade de sua manutenção na prisão, a revogação da prisão preventiva é

medida que se mostra salutar.

É a síntese do necessário.

DO DIREITO

Sobreleva-se importante esthesir que, a prisão cautelar é medida excepcional, regida pelo

princípio da necessidade, mediante a demonstração do fumus boni iuris e do periculum in

libertatis, porquanto restringe o estado de liberdade de uma pessoa, que ainda não foi julgada

e tem a seu favor a presunção constitucional da inocência, nos termos do art. 5º da

Constituição Federal.

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Page 3: Revogação Prisão Preventiva Ylcon

No mesmo sentido o artigo 7º da Convenção Americana sobre Direitos Humanos – Pacto de

San José da Costa Rica (1969) – que declara o direito a um julgamento em prazo razoável, sob

pena de incorrer em arbitrariedade.

A manutenção da prisão do acusado não merece prosperar, uma vez que este não preenche os

requisitos da prisão preventiva elencados no artigo 312 do CPP.

O acusado possui residência fixa e pretende colaborar com toda a persecução penal, no que

couber. Não oferece risco à instrução criminal, razão pela qual não justifica a prisão

preventiva.

A previsão dos artigos 316 e 319 do CPP é clara quanto a possibilidade de sua revogação, bem

como do caráter excepcional da prisão preventiva. Esses dois dispositivos legais deixam claro

que a prisão preventiva é medida subsidiária e não pode ser decretada ou convertida sem que

antes tenha sido imposta uma medida cautelar alternativa e, ainda em último caso.

Nesse sentido o professor Luiz Flávio Gomes:

A prisão preventiva não é apenas a ultima ratio. Ela é a extrema ratio da ultima

ratio. A regra é a liberdade; a exceção são as cautelares restritivas da liberdade

(art. 319, CPP); dentre elas, vem por último, a prisão, por expressa previsão legal1.

Nesse mesmo sentido, a jurisprudência assim explana:

Não demonstrada, suficientemente, a necessidade da prisão preventiva, merece

prosperar o pedido de sua desconstituição. Recurso provido2.

1 GOMES, Luiz Flávio. Prisão e Medidas cautelares – Comentários à Lei 12.403/2011. São Paulo: RT, 2011.2 RSTJ 106430

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Page 4: Revogação Prisão Preventiva Ylcon

Pelo exposto, verifica-se que a concessão da liberdade ao acusado, é medida que se impõe,

face o constrangimento ilegal em razão do excesso de prazo já existente, o que, aliás, tende a

se prolongar.

Verifica-se que o decreto de prisão preventiva expedido pela autoridade coatora mostra-se

totalmente equivocado quanto a sua fundamentação, tornando-a inválida.

Como sabido, ilações abstratas acerca da gravidade do delito em apuração e de clamor público

são argumentos inválidos para fundamentar a medida excepcional que é a prisão preventiva.

O decreto de prisão preventiva deve ser fundamentado em alguma das hipóteses do art.312

do CPP.

DA DECISÃO QUE TRANSFORMOU A PRISÃO EM FLAGRANTE EM PRISÃO PREVENTIVA

Convém salientar que a decisão que converteu a prisão em flagrante do acusado em prisão

preventiva, encontra-se manchada pela pecha da ilegalidade, como infra quedar-se-á

demonstrado.

Para tanto imperioso se faz colacionar excerto desta, verbis:

Aos trinta (30) dias do mês de novembro (11) do ano de dois mil e quinze

(2015), na sala de Audiências do CTV – Centro De Triagem de Viana, sob

a presidência do Juiz de Direito VINÍCIUS DONÁ DE SOUZA comigo

assessor Jurídico ao final nomeado, foi aberta a Audiência de

Custódia realizada pelo Serviço de Plantão de Flagrantes do Poder

Judiciário do Espírito Santo, instituído pela Resolução nº 13/2015,

publicada no DJ de 10/04/2015, nos autos do procedimento acima

indicado. Ausente o Ministério Público Estadual. Presente a Defensoria ______________________________________________________Rua General Osório Vitória/ES www.marceloserafim.jud.adv.br Nº 162, 1º Andar Bairro: Centro [email protected]

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Pública Estadual. Cumpridas as formalidades legais, foi apresentado o

autuado YLCON RODRIGUES DE JESUS que declara não possuir advogado

constituído, razão pela qual será acompanhado pela Defensoria Pública

Estadual. Iniciados os trabalhos, foi o autuado entrevistado pelo

Magistrado, após contato prévio com a defesa, sendo o conteúdo da

entrevista registrado em mídia. A Defesa requereu a concessão da

liberdade provisória mediante a aplicação de outra medida cautelar

diversa da prisão, conforme registrado em mídia. Pelo Juiz de Direito foi

proferida a seguinte DECISÃO: “Vistos. Cuida-se de auto de prisão em

flagrante delito lavrado em desfavor do autuado acima mencionado, por

imputação de prática do crime tipificado no Art. 157, caput, do CPB. Ao

analisar os autos, com base no art. 310, do CPP, verifico que este Juízo

foi provocado formalmente através da comunicação da prisão em

flagrante realizada pela Autoridade Policial, o que equivale à

representação pela decretação da prisão preventiva dos autuados.

Primeiramente, constato que não existem vícios formais ou materiais

que venham a macular a peça, razão pela qual considero a prisão em

flagrante perfeita e sem vícios. Feito isso, passo a analisar se a hipótese

comporta a conversão da prisão flagrante delito em prisão preventiva,

considerando a análise de seus pressupostos e requisitos. À luz do que

garante a Constituição da República, no art. 5º, inciso LXVI, ninguém será

levado à prisão ou nela mantido, quando a lei admitir a liberdade

provisória, com ou sem fiança. Portanto, é indubitável que a prisão

anterior à sentença condenatória é medida de exceção, somente

devendo ser mantida ou decretada quando evidente a sua necessidade

ou imprescindibilidade, eis que a regra é a de que o indiciado tem o

direito de se defender em liberdade. Considerando essa orientação, cabe

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Page 6: Revogação Prisão Preventiva Ylcon

analisar a presença dos pressupostos para a decretação da prisão

preventiva, previstos no art. 313 do CPP. Neste contexto, tendo sido

imputada aos autuados a prática dos delitos tipificados no Art. 157,

caput, do CPB, evidencia-se a presença do pressuposto objetivo previsto

no art. 313 do CPP. REALIZADAS PESQUISAS NOS SISTEMAS JUDICIAIS:

INFOPEN, SIEP, BNMP E EJUD CONSTATOU-SE QUE O AUTUADO NÃO

POSSUI REGISTROS CRIMINAIS, CONFORME EXTRATOS

ANEXOS. Firmada essa premissa, resta analisar se os requisitos para a

decretação da prisão preventiva, previstos no art. 312, do CPP estão

presentes. Não obstante, verifica-se pelo auto de prisão em flagrante

delito que estão presentes a materialidade delitiva, bem como de

indícios de autoria, além do que se acham também presentes

fundamentos que autorizam a custódia excepcional. ASSIM, A

GRAVIDADE CONCRETA DA CONDUTA DO AUTUADO, GERA RISCO

PARA A PAZ SOCIAL, POIS EXISTE A REITERAÇÃO CRIMINOSA DO

AUTUADO, RESPONDENDO A OUTRAS AÇÕES PENAIS, ESTANDO

PATENTE O PERICULUM LIBERTATIS, ASSIM COMO O FUMUS COMISSI

DELICTI. Ante o exposto, CONVERTO a prisão em flagrante delito do

indiciado em PRISÃO PREVENTIVA para garantir a ordem pública e para

assegurar a aplicação da lei penal. Expeça-se o Mandado de Prisão

Preventiva com validade até 29/11/2031, considerando o prazo

prescricional. Após os procedimentos de praxe, remetam-se os autos ao

Juízo competente para regular distribuição. Nada mais havendo, deu-se

por encerrado o presente termo. Eu, Leomar Littig, Assessor Jurídico, o

digitei, indo por todos devidamente assinado.

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Sendo que in casu, a decisão que converteu a prisão em flagrante em prisão preventiva, em

seu decisum, conforme alhures demonstrado afirmou inadvertidamente que existe a

reiteração criminosa do autuado, por encontra este respondendo a outras ações penais,

estando patente o periculum libertatis.

Todavia, antes disso, a mesma decisão judicial informa que, realizadas pesquisas nos sistemas

judiciais: INFOPEN, SIEP, BNMP e EJUD constatou-se que o autuado não possui registros

criminais, conforme extratos anexos.

Após constatado esse equívoco, que mancha com a pecha da ilegalidade a decisão que

transformou a prisão em flagrante em prisão preventiva, convém esthesir que, a prisão

preventiva tem a natureza de prisão cautelar e, por isso, apenas se justifica ante a

demonstração clara por parte do Magistrado de razões de cautela fundadas em elementos

inequívocos de convicção.

Nesse sentido a farta e uníssona jurisprudência deste Egrégio Tribunal de Justiça:

Conforme os reiterados precedentes recentes de nossas Cortes

Superiores, a decisão que decreta uma medida constritiva, como a prisão

preventiva ou a internação provisória de menor infrator, deve ser

suficientemente fundamentada, explicitando os dados objetivos e

concretos que demonstrem que a custódia provisória se mostra

imprescindível, não bastando, para isto, a mera repetição da disposição

legal ou a existência de indícios de autoria e materialidade delitiva3.

O indeferimento do pedido de liberdade provisória feito em favor de

quem foi detido em flagrante deve ser, em regra, concretamente

fundamentado, devendo os requisitos da prisão preventiva ser expostos

3 TJMG. HC nº 1.0000.04.414178-6/000. 1ª Câmara Criminal. Rel. Márcia Milanez. Publ. 23/11/2004______________________________________________________Rua General Osório Vitória/ES www.marceloserafim.jud.adv.br Nº 162, 1º Andar Bairro: Centro [email protected]

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e justificados sob a luz da relação dos fatos e do direito postos na

pretensão, sob pena de relegar ao arbítrio toda e qualquer restrição à

liberdade do indivíduo4.

Sendo o nosso sistema presidido pelo regime de liberdade individual,

qualquer medida que vise à privação da liberdade do cidadão deve ser

revestida da indispensável fundamentação, declinando o magistrado as

razões pelas quais se faz necessária a medida acauteladora, não

bastando a simples alusão à aplicação da lei penal e à ordem pública, ou

mesmo referir-se à presença dos requisitos do art. 312 do CPP, vez que o

princípio constitucional, inserto no art. 93, inc. IX, da Carta Magna, exige

concreta motivação. Ordem concedida5.

Fica claro, portanto, em face do sólido respaldo jurisprudencial à tese ora sustentada, que o

decreto de prisão preventiva é equivocado em sua fundamentação, tornando-o inválido,

conforme alhures afirmado.

Ilegal e arbitrário, portanto, o encarceramento do acusado, razão pela qual impõe-se a

revogação da prisão preventiva, restituindo-lhe a liberdade.

DO PEDIDO

Ante o exposto, requer-se:

a. A revogação da prisão preventiva, por ausência de requisitos para sua manutenção e

pelo equívoco na fundamentação do periculum libertatis, ínsito a decisão que

4 TJMG. HC nº 1.0000.06.441145-7/000. 4ª Câmara Criminal. Rel. William Silvestrini. Publ. 18/08/2006

5 TJMG. HC nº 1.0000.05.422987-7/000. 5ª Câmara Criminal. Rel. Antônio Armando dos Anjos. Publ. 03/09/2005______________________________________________________Rua General Osório Vitória/ES www.marceloserafim.jud.adv.br Nº 162, 1º Andar Bairro: Centro [email protected]

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transformou a prisão em flagrante em prisão preventiva, com a expedição do

respectivo alvará de soltura.

b. A intimação do Ilustre representante do Ministério Público, nos termos da lei.

Termos em que

Pede e aguarda Deferimento

Vitória/ ES, 28 de dezembro de 2015.

_________________________MARCELO SERAFIM DE SOUZAADVOGADO - OAB/ES 18.472

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