revista_ilust_18

48
   w    w    w  .    r    e    v     i    s     t    a     i      l    u    s     t    r    a    r  .    c    o    m   1   8    /   2   0   1   0 Especial Com: Lúcia Hiratsuka, Shaun Tan, Mariana Newlands, Mauricio de Sousa, Rogério Coelho, Cris Eich, e colunas de Brad Holland e Renato Alarcão    w    w    w  .    r    e    v     i    s     t    a     i      l    u    s     t    r    a    r  .    c    o    m

Upload: vlansky

Post on 07-Apr-2018

220 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 1/48

   w

   w   w .   r   e   v    i   s    t   a    i     l   u   s    t   r   a   r .   c   o   m

  1  8 

  /  2  0

  1  0

   w   w   w .   r   e   v    i   s    t   a    i     l   u   s    t   r   a

   r .   c   o   m

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 2/48

ENDEREÇO DO SITE: www.revistailustrar.com 

2a 2b

ricardo antunes

são paulo / Lisboa 

[email protected]

www.ricardoantunes.com

Dia 1 é dia de

ilustração infantil...uando decidimos fazer a primeira edição especial da Revista Ilustrar, lá

atrás na edição nº 4, uma porção de opções haviam surgido para a edição, e todasmuito boas... difícil era saber por qual optar, e mais difícil ainda segurar a vontadeenorme de fazer de cada edição uma edição especial.

Tivemos a edição especial sobre ilustradoras (nº 4), depois a edição especial sobregrande mestres (nº 8) e agora sobre ilustração infantil, um tema que toca a todosporque nos acompanha desde sempre - e para alguns em especial faz parte daprópria formação.

Para contar sobre isso temos nesta edição o trabalho delicado de Lúcia Hiratsuka naseção Portfolio; o colorido e inspirador Sketchbook de Mariana Newlands; um Passoa Passo incrível de uma ilustração da Revista Recreio, feito por Rogério Coelho.

As 15 perguntas cam a cargo de Cris Eich e suas aquarelas cheias de vida, e aseção internacional ca por conta do premiado ilustrador australiano Shaun Tan.

Além das tradicionais colunas de Brad Holland e Renato Alarcão falando sobreilustração infantil, teremos uma terceira coluna especial, assinada por Mauricio deSousa, falando sobre Monteiro Lobato.

Espero que gostem, e dia 1 de novembro tem mais.

Um grande abraço

Q

• EDITORIAL: ...............................................................2

• PORTFOLIO: Lúcia Hiratsuka .........................................4

• COLUNA INTERNACIONAL: Brad Holland .............10 • INTERNACIONAL: Shaun Tan ..................................15 • SKETCHBOOK: Mariana Newlands ...............................24

• COLUNA ESPECIAL: Mauricio de Sousa .....................31

• STEP BY STEP: Rogério Coelho ............................... 32

• COLUNA NACIONAL: Renato Alarcão .......................36

• 15 PERGUNTAS PARA: Cris Eich ..............................40

• CURTAS ....................................................................... 47

• LINKS DE IMPORTÂNCIA .......................................48

DIREÇÃO, COORDENAÇÃO E ARTE-FINAL: Ricardo Antunes [email protected]

DIREÇÃO DE ARTE: Neno Dutra - [email protected]  Ricardo Antunes - [email protected]

REDAÇÃO: Ricardo Antunes - [email protected]

REVISÃO: Helena Jansen - [email protected]

COLABORARAM NESTA EDIÇÃO:

 

ILUSTRAÇÃO DE CAPA: Cris Eich - [email protected]

PUBLICIDADE: [email protected]

DIREITOS DE REPRODUÇÃO: Esta revista pode ser copiada, impressa, publicada, postada,distribuída e divulgada livremente, desde que seja na íntegra, gratuitamente, sem qualqueralteração, edição, revisão ou cortes, juntamente com os créditos aos autores e co-autores.

Os direitos de todas as imagens pertencem aos respectivos ilustradores de cada seção.

Angelo Shuman (Divulgação) - [email protected]

José Alberto Lovetro / Jal (Mauricio de Sousa) - [email protected]   F  o   t  o  :

  a  r  q  u   i  v  o   R   i  c  a  r   d  o   A  n   t  u  n  e  s

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 3/48

Receba detalhes da produção einformações extras sobre ilustração,

arte e cultura, acompanhando a revistade três formas diferentes na internet:

• Twitter: revistailustrar 

• Facebook: Revista Ilustrar 

• Orkut: comunidade

Revista Ilustrar 

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 4/48

LÚCIAHIRATSUKA

escendente de japoneses e nascidano interior de São Paulo, Lúcia Hiratsuka tem

dedicado toda a sua carreira à ilustraçãode livros infantis e juvenis, o que lhe

rendeu diversos prêmios.

A inuência da origem japonesaé evidente em seus trabalhos,mais ainda por ter sido aluna de

um dos grande mestres do sumi-ê- pintura tradicional japonesa -Massao Okinaka (ver RevistaIlustrar nº 9), e também por

ter estudado livros ilustrados naUniversidade de Educaçãode Fukuoka, no Japão.

O resultado é um trabalhodelicado e expressivo,

como podemos vera seguir.

Estudei na Faculdade de Belas Artesem São Paulo, onde tive as primeirasorientações de desenho e composição.

Depois de me formar, participei dediversas ocinas, pintei a óleo duranteuns quatro anos.

Estive, por um ano, na Universidade deEducação de Fukuoka, onde pesquisei

mais sobre os ehons (picture-books).

E aprendi o sumi-ê com MassaoOkinaka, artista plástico que introduziue divulgou essa técnica no Brasil.

Paralelamente estudei sobre narrativa,frequentei aulas de Literatura Infantile Juvenil na USP, como aluna especial;e participei muito de ocinas de escrita.

O C O M E Ç O

D

4a 4b

Lúcia Hiratsuka 

São paulo

[email protected]

www.luciahiratsuka.com.br

   ©    L

   ú  c   i  a   H

   i  r  a   t  s  u   k  a

   F  o   t  o  :  a  r  q  u   i  v  o   L   ú  c   i  a   H   i  r  a   t  s  u   k  a

  P  O  R

  T  F  O  L  I  O  :

  L   Ú  C  I  A   H

  I  R  A  T  S  U  K  A

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 5/48

Acho que a maior inuência é a minhavivência na roça até os dez anos.

Cada vez mais eu venho buscandoexpressar a textura da terra, asensação do vento, os movimentosdos capins. A inuência da arteoriental também é forte.

Falando dos artistas, lembro queno período de pintura a óleo euolhava principalmente as obras deMatisse, Paul Klee, Vieira da Silvae Dienbenkorn.

Na ilustração de livros posso citarChihiro Iwasaki, Mitsumasa Anno,Suekichi Akaba, Binette Schroeder,Lizbeth Zwerger, Helme Heine.

E no Brasil, minhas referênciasforam Angela Lago, Ciça Fittipaldi,Ricardo Azevedo e Eva Furnari.

P R I N C I P A I SI N F L U Ê N C I A S

Esteve presente desde que eu eracriança, por conta dos livros e revistas

 japonesas, com muitas ilustrações. Masao sair da faculdade eu não sabia qualcaminho seguir.

Até que conheci a Eva Furnari e elame incentivou, deu as primeirasorientações como ilustradora; numsegundo momento, aprendi com ela

também sobre narrativa. O primeirolivro que publiquei foi em 1984.

Nessa época, não havia tantaspossibilidades no mercado editorial.E isso me permitiu aprimorar devagar.

Trabalhava num banco e me dedicavaaos estudos da Literatura Infantil eJuvenil. Somente no início dos anos

90 é que consegui ilustrar mais.

Paralelamente aos trabalhos solicitadospelas editoras, fui elaborando osprojetos pessoais. O que me fascinaé pensar nesse diálogo do desenhoe da palavra, contar uma histórianesse suporte que é o livro.

 A I L U S T R A Ç Ã OI N F A N T I L

5a 5b

  P  O  R

  T  F  O  L  I  O  :

  L   Ú  C  I  A   H

  I  R  A  T  S  U  K  A

  P  O  R

  T  F  O  L  I  O  :

  LÚ

  C  I  A   H

  I  R  A  T  S  U  K  A

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 6/48

Sempre que me sinto perdida, recorroà minha infância. Se desanimar coma prossão, é só lembrar o quanto eugostava de rabiscar no chão do quintal,sonhando um dia trabalhar com isso.

E eu reencontro o caminho. Recontoas lendas japonesas porque ainda meencantam e me intrigam. E, quandopreciso de mais ideias, vou buscar namemória e recorro também à memória

da minha família.

Agora chegou a vez de uma série delivros que trazem como pano de fundoa roça e o quintal. É o meu lado caipira,mas traz um leve toque oriental.

São histórias simples - a apostafeita com o avô, o tio que assustavacrianças, o cachorro que sumiu, alguémque chega de longe trazendo um

mundo diferente, brincadeira com oscaracóis... levei bastante tempo paraencontrar a forma para contá-las.

São cções, não utilizo o tom dememória, nem o espaço rural éidealizado; as recordações dãoapenas um impulso inicial.

A essência está no sentimento daspersonagens, que tento expressar

com cores, pinceladas, vazio, palavras;enm, todas as ferramentas que possuo.

Contando, parece que tudo foiplanejado. Mas não, me perdi váriasvezes, tentei até publicá-los em outrosmomentos, outros formatos; não foramadiante porque não era a hora.

Espero que as histórias tenhamadquirido vida própria.

O T E M AD O S L I V R O S

Fui aprender o sumi-ê com MassaoOkinaka para melhorar a pincelada, epensando “quem sabe faço cartões denatal para os amigos nessa técnica?” 

Nem imaginava que seria tãoimportante para o meu trabalho. Umdia, surgiu a oportunidade de ilustrar

poesias e eu achei que cairia bem.

Os editores gostaram. E os amigoscaram sem os cartões.

Sempre gostei de usar o espaçovazio; agora estou abusando do

branco. Busco a simplicidade cadavez mais, desde a composição até

o material.

Faz tempo que rompi com a ideiade estilo que me preocupava quandoestava começando.

Se acho que a ilustração sintonizou-seperfeitamente com o texto ou o roteiro,aí sigo por esse caminho.

O S U M I - Ê

6a 6b

  P  O  R

  T  F  O  L  I  O  :

  L   Ú  C  I  A   H

  I  R  A  T  S  U  K  A

  P  O  R

  T  F  O  L  I  O  :

  LÚ

  C  I  A   H

  I  R  A  T  S  U  K  A

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 7/48

Massao Okinaka teve uma vidade intensa dedicação às artes.

Nas vezes em que saíamos emgrupo para desenhar, enquanto osoutros relaxavam admirando umapaisagem, ele buscava um motivo,

um enquadramento para a sua pintura.

Okinaka sensei não era de losofarmuito durante as aulas, mas ensinouque, depois do aprendizado com omestre, o aluno teria que rompere buscar o próprio caminho.

* Para saber mais sobreMassao Okinaka, veja a ediçãoda Revista Ilustrar nº 9.

M A S S A O O K I N A K A

7a 7b

  P  O  R

  T  F  O  L  I  O  :

  L   Ú  C  I  A   H

  I  R  A  T  S  U  K  A

  P  O  R

  T  F  O  L  I  O  :

  LÚ

  C  I  A   H

  I  R  A  T  S  U  K  A

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 8/488a 8b

  P  O  R

  T  F  O  L  I  O  :

  L   Ú  C  I  A   H

  I  R  A  T  S  U  K  A

  P  O  R

  T  F  O  L  I  O  :

  LÚ

  C  I  A   H

  I  R  A  T  S  U  K  A

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 9/489a 9b

  P  O  R

  T  F  O  L  I  O  :

  L   Ú  C  I  A   H

  I  R  A  T  S  U  K  A

  P  O  R

  T  F  O  L  I  O  :

  LÚ

  C  I  A   H

  I  R  A  T  S  U  K  A

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 10/48

A Noite de Qpor Brad Holland

A seguir, uma entrevista feita pela editoraFausta Orecchio, em Turim, Itália, comBrad Holland, depois de ter ilustrado olivro “A Noite de Q”, publicado por Fausta.

Fausta Orecchio: Brad, você acabou defazer lgumas pinturas para o nosso novolivro, “La Notte di Q” (A Noite de Q). Asimagens são um pouco sombrias para

um livro infantil. Você gostou de trazereste tipo de profundidade a um contode fadas?Brad Holland: Bem, ele é chamadode “A Noite de Q.” Se tivesse sidochamado de “A tarde ensolarada de Q”,as imagens teriam sido mais otimistas.

FO: Sim, mas de alguma forma achoque ainda teria alguns toques escuros.BH: Bem, a luz intensa cria sombrasintensas.

FO: A história é tanto um conto de fadasquanto uma fábula política, não acha?BH: Um conto de fadas no sentido

clássico. O mal vem a uma cidade.Algumas pessoas se entregam, outrasresistem.

FO: Na Feira do Livro de Turim,alguém na plateia sugeriu que o soldadocom a vassoura era um símbolo delimpeza étnica.BH: Bem, na verdade eu desenheio soldado com uma vassoura porqueme recordei que, quando a Primeira

Guerra Mundial começou, os EUA nãotinham um exército permanente e ossoldados treinaram com vassourasem vez de ries.

FO: A arte feita para as crianças deveriaser diferente de outros tipos de arte?BH: Eu não sei se você conseguiriaadivinhar com sucesso o que sepassa na cabeça de uma criança.Até uma certa idade, as crianças sãomuito inuenciáveis. Elas respondema expressões exageradas e gestosamplos, então suponho que elasrespondam a estímulos semelhantes naarte. Coelhos com grandes olhos, caras

de palhaço...

As crianças são muito rápidas parapegar dicas de comportamento, muitomesmo; então você pode manipularo estado de espírito delas até certoponto, embora não necessariamenteem qualquer direção previsível. Vocêpode sorrir como um gambá para umgaroto e ele vai sorrir de volta e darrisadinhas. A próxima criança que vocêtentar o mesmo vai chorar loucamente.

Você nunca vai saber se o assustou ouse ele está apenas irritado porque vocêestá tentando fazê-lo de idiota.

FO: A que tipo de livros você reagiaquando era criança?BH: Minha mãe sempre insistia emler para mim histórias que nuncaacrescentavam nada - o trenzinhotrabalhador que estava sempretentando subir a colina era um de seusfavoritos. Coisas como essa. Eu nuncagostei deles.

Mas a mãe de minha mãe costumavaler para mim estes grandes e antigoscontos de fadas alemães, onde ascrianças se perdem na oresta e asbruxas tentam colocá-las no forno. Esseera o tipo de história que me mantinhaacordado por noites pensando se nãohavia um monstro debaixo da cama.

FO: Você se lembra de alguma históriaem particular?BH: Com certeza. Um crocodilo quefalava a um macaco montado em suascostas, e depois comeu-o. Um coelhoque criou uma armadilha para o sol,pegou-o, prendeu-o, e em seguida tiroufora sua longa cauda ardente. Meufavorito era o Príncipe Feliz, um contode fadas de Oscar Wilde.

FO: O que havia de especial nessahistória?BH: Sempre que a vovó me perguntavaqual a história que queria ouvir, eusempre dizia: “Vamos ler ‘Andorinha,Andorinha, Pequena Andorinha!’”.Esse era um refrão que apareciarecorrentemente na história. Elebrotava tantas vezes que era comoum trecho da Pedra de Roseta paramim. Eu não conseguia ler quando

10a 10b

Brad holland

estados uni dos

[email protected]

www.bradholland.net

  C  O  L  U  N  A 

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  B  R  A  D 

  H  O  L  L  A  N  D

   ©    B

  r  a   d

   H  o   l   l  a  n   d

   F  o   t  o  :  a  r  q  u   i  v  o   B  r  a   d   H  o   l   l  a  n   d

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 11/48

tinha quatro anos, mas eu podia seguiros símbolos na página e reconheciaaquela particular conguração daspalavras. Então eu aprendi a identicar

 “andorinha, andorinha, pequenaandorinha” como uma frase inteira -o que signicava que eu sabia duaspalavras. Então, porque eu tinhavirtualmente memorizado a história, eupoderia escolher outras palavras queestavam perto delas e outras palavrasperto dessas, e assim por diante.

FO: Então essa foi a maneira que vocêconseguiu ler?BH: Sim. Na época em que andavano jardim de infância, eu era maisou menos um decifrador de livros.Claro, me deparava constantementecom diversas palavras enormes quesimplesmente tinha de contornar, maseu assumia esse esforço. É por issoque nunca tive muita paciência para ashistórias que estavam nos ensinando naescola. “See Spot Run”, “See Dick HitJane” (http://www.tagnwag.com). Isso

eram coisas muito minguadas depoisque você lê O Príncipe Feliz.

FO: O Príncipe Feliz é uma históriabastante triste.BH: Sim, é, mas é sobre o amor, e oamor muitas vezes é uma história triste.

FO: Muita gente pensa que históriascomo essa são para assustar crianças etorná-las inseguras.BH: Você não deveria falar baixocom as crianças. Você tem que fazerconcessões pela experiência delas,mas - depois de uma certa idade - nãopela compreensão delas. Se elas nãoentendem alguma coisa, irão armazenarisso lá atrás em suas mentes até quealgo nas suas experiências destraveisso. Pode demorar anos, mas acabapor não se perder muito.

FO: Então você não se incomodaria sesuas imagens deixassem as criançasintrigadas?BH: Não. Se uma imagem éconvincente ela será transmitidaadiante às crianças. A compreensãoseguirá por dias, semanas, anos. Ébom fazer com que as crianças seperguntem sobre o signicado dascoisas. O mundo está cheio de coisasque elas nunca vão entender, entãoelas devem se acostumar a isso.

FO: Eu gostei do que você disse naabertura de sua exposição, quandocontou a história sobre seu pai lendopara você.BH: Sim, meu pai não era do tipo quetratava uma criança como um bebê.Ele teria lido a você qualquer coisa queestivesse lendo para ele próprio. Minhamãe sempre dizia, “Walt, ele não podecompreender essas coisas”. E o meu paidiria apenas: “Ele não precisa entender”.

FO: Ele sabia que você estavaconseguindo retirar algo...BH: Bem, de qualquer maneira ele

sabia que eu estava prestando atenção.Lembro que uma vez ele tinha umlivrinho barato de 25 centavos sobreGenghis Khan que ele pegou na farmácia.Ele começou a ler aquilo para mim nomeio de um capítulo. Foi tudo um borrãopara mim. Quem foi Gengis Khan? O queera um Khan? O que era uma horda?Depois de um tempo, meu pai me dissepara parar de fazer perguntas ou eledaria um nó no meu rabo.

11a 11b

  C  O  L  U  N  A 

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  B  R  A  D 

  H  O  L  L  A  N  D

  C  O  L  U  N  A 

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  B  R  A  D 

  H  O  L  L  A  N  D

   ©    B

  r  a   d   H  o   l   l  a  n   d

© Brad Holland

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 12/48

FO: Um o quê?BH: Era sua maneira de dizer “Abaixea voz e ouça”. Sempre que ele me liacoisas desse tipo, a força de seu própriointeresse me levava junto. Acho queaprender sobre as coisas dessa maneiraé como o bloqueio em frente a umapintura - primeiro você tem a sensaçãode algo; os detalhes podem vir maistarde. Isso aguça a sua intuição para

absorver as coisas dessa maneira.

FO: Para criar um Gestalt.BH: Bem, sim, mas também porqueé bom para fazer as crianças seperguntarem o que as coisas signicam.Tantas coisas na vida são como a raizquadrada de dois. Você nunca pode

atribuir um valor a ela, ou dividi-laou resolvê-la, assim você apenas lhedá um nome e a move ao longo daequação. É um pedaço indigesto, eé o melhor que você pode fazer.

FO: Eu tive uma experiênciasemelhante com meu pai. Quando eutinha cinco anos eu adorava o circo,então meu pai me deu um livro sobre

o circo. Eram 700 páginas. Claro, eunão poderia lê-lo - mas eu ainda tenhoo livro.BH: Sim, dando às crianças muitomais para que elas compreendam criacuriosidade. Talvez seja por isso quetemos uma atitude similar ao fazerlivros para crianças.

FO: Sim, eu também acho. Outrapessoa com quem você parece ter umaatitude semelhante é o Steven Heller(diretor de arte americano, jornalista,crítico, autor e editor especializado em

temas relacionados ao design grácoe ilustração). Ele tem escrito váriosartigos sobre o seu trabalho. E poralguns deles, percebi que vocês sãotambém amigos pessoais.BH: Sim, velhos amigos. Steve e eutrabalhamos em um monte de jornaishippies juntos.

Dividimos o aluguel de um escritórioperto da Union Square, em Manhattan.

Chamávamos o escritório de Editora Asilo.

FO: Isso foi uma editora verdadeira?BH: Não. Mais como um asilo real.Nunca tivemos dinheiro suciente para

comprar uma impressora. Começamoscom o pé direito, mas hippies sendohippies, o escritório virou uma espéciede clube para as pessoas que nãotinham ar-condicionado em casa.

Steve fazia a direção de arte de um jornal político, um jornal de Rock & Roll,um jornal para drogados, um jornal desexo, uma entrevista de Andy Warhol eum jornal feminista chamado Bitch.

12a 12b

  C  O  L  U  N  A 

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  B  R  A  D 

  H  O  L  L  A  N  D

  C  O  L  U  N  A 

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  B  R  A  D 

  H  O  L  L  A  N  D

   ©    B

  r  a   d   H  o   l   l  a  n   d

   ©    B

  r  a   d   H  o   l   l  a  n   d

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 13/48

FO: Tudo ao mesmo tempo?BH: Sim, era tipo uma loja-faz-tudo.Steve apenas alinhava todas estaspáginas e fazia o layout delas, umaapós a outra. Ele era muito prolíco.

FO: E você fez desenhos para esses jornais?BH: Na maioria deles, sim. Não posso

dizer que z várias coisas durante esseperíodo que eu colocaria na minhalista de Grandes Êxitos, mas tenho ummonte de coisas fora do meu sistemaque eu precisava publicar.

FO: O que você quer dizer?BH: Às vezes você tem um monte depersonalidades extras acumuladasdentro de você - como sobras detodas as identidades que você absorveà medida que desenvolve meios deexpressar sua própria identidade.

Você precisa expelir todas as coisasque não se ajustam. A forma como

uma febre faz as toxinas saírem pelosuor. Steve e eu estávamos fazendoisso. Separar todas as coisas que nósestávamos nos tornando de todas ascoisas que poderíamos ter sido, setivéssemos nos tornado outra coisa.

FO: Sua menção de muitaspersonalidades levanta uma questãointeressante. Eu faço uma distinçãoentre os ilustradores que expressam asi próprios, e aqueles que modicamseu estilo para atender diferenteslivros. Qual deles é você?BH: Eu expresso a mim própriomodicando o meu estilo para combinar

com a minha intenção.

FO: E qual é a sua relação com designgráco? O design nunca arruinaria oefeito de sua arte?BH: O design gráco é uma questãode fazer as decisões corretas. Às vezesa decisão certa é deixar uma imagem

sozinha. Eu costumo fazer o design deimagens ao invés de compô-las, entãoadicionar muito design nelas pode àsvezes ser a decisão errada.

FO: Existe uma característica sobre odesign gráco que é amigável ao seutrabalho?BH: Meu estilo é bastante direto.

Funciona melhor quando você não tentaenfeitá-lo.

FO: Uma última pergunta: Por que vocêescolheu trabalhar com uma pequenaeditora na Itália?BH: Porque você me pediu para fazero tipo de livro que nenhum editoramericano jamais me pediu para fazer.

Como eu disse, é um conto de fadas, nosentido da raiz da palavra. Não é umahistória que foi encolhida para caber emum mundo encolhido. Mostra um garotoem eventos que são maiores do que ele- que é o que todos precisamos se nós

não estivermos sendo anões morais.

Mas é um livro que vai do sombriopara a luz. A história começa com umapagão e termina quando as luzesse acendem. Ainda assim, ele não teengana em pensar que as luzes podemnunca ir embora outra vez. É um contode fadas de advertência, como osmelhores contos de fadas são.

É o tipo da história que a minha avóteria lido para mim, e estou feliz porvocê ter me dado a chance de fazê-lo.Eu trabalharia com você a qualquermomento.

Copyright © 2006 Brad Holland eOrecchio Fausta, Publicado por OrecchioAcerbo, em Roma

13a 13b

  C  O  L  U  N  A 

  I  N

  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  B  R  A  D 

  H  O  L  L  A  N  D

  C  O  L  U  N  A 

  I  N

  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  B  R  A  D 

  H  O  L  L  A  N  D

© Brad Holland

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 14/4814a 14b

  C  O  L  U  N  A 

  I  N

  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  B  R  A  D 

  H  O  L  L  A  N  D

  C  O  L  U  N  A 

  I  N

  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  B  R  A  D 

  H  O  L  L  A  N  D

   ©    B

  r  a   d   H  o   l   l  a  n   d

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 15/48

SHAUN TANascido em 1974

na cidade de Freemantle,na Austrália, o renomadoilustrador e escritor ShaunTan já ilustrou para diversosautores, mas são os livrosque ele mesmo escreveu(e que também ilustrou)que têm tido êxito mundial.

Apresenta sempre umuniverso muito particulare mundos de fantasia queusa como metáfora para

mostrar sua visão do mundoe da vida, como nos livrosThe Red Tree, The Lost Thingsou o celebrado The Arrival,que ganhou vários prêmios.

A seguir tivemos umaentrevista exclusiva ondeShaun conta sobre seusmundos, sobre a realidadee sobre articular ideias.

N

Shaun Tan tem dado inúmerasentrevistas pelo mundo, a grandemaioria delas quase sempre com asmesmas perguntas (“Como começou”,

 “Quais as suas inuências”, “Como éo seu processo de criação”, etc).

Por isso, para evitar repetidasrespostas, Shaun tem disponível emseu site uma seção de perguntas

frequentes, onde poderão encontrardiversas respostas para todas essasquestões mais usuais.

Portanto a nossa entrevista tenta seaprofundar mais no universo de ShaunTan a partir dessas questões. O acessoao FAQ é em:

www.shauntan.net/faq1.html

IN TRODU Ç ÃO

15a 15b

Shaun tan

australia 

[email protected]

www.shauntan.net

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

   ©    S

   h  a  u  n

   T  a  n

   F  o   t  o  :  a  r  q  u   i  v  o   S   h  a  u  n   T  a  n

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 16/48

Sim, porque elas são abertas eexíveis. Tenho percebido ao longodos anos que a tarefa de um ilustradoré provocar ideias, e não revelá-las, eque cada imagem é como um estranhoespelho como exemplo da realidade,e cabe ao leitor encontrar seu própriosignicado.

Também acho que não importa oquanto do realismo você usa, uma obrade arte é sempre um pouco abstrata dealguma forma, é sempre uma metáfora,apenas uma representação imaginária.

Eu não vejo uma grande diferençaentre uma imagem muito realista euma muito surrealista. Ambas sãoestranhas, à sua própria maneira.

Muitos i lustradores e escri torescostumam usar o real i smo comoforma de l inguagem. No seu caso é ooposto; no geral você usa a fantasiacomo forma de expressão. Acha queas metáforas são melhores para acomunicação?

Acho que você tem que aceitar quetodos vivem em um universo privadodiferente, e isto é especialmenteverdade quando se comparam adultose crianças.

Acho que para as crianças, o mundoainda é um lugar muito estranho,aberto a múltiplas interpretações - e euacho que na verdade é a visão correta.

Como adultos, tendemos a esquecerisso um pouco, porque aprendemossignicados xos que são úteis eparecem funcionar repetidas vezes.

O risco é que nos esquecemos queo mundo ainda é estranho. Acho quea arte e as histórias muitas vezesajudam a nos lembrar dessa estranhezafundamental, e ao fazê-lo, podem fazeruma conexão entre adultos e crianças.

E de que forma as metáforas esimbol ismos faci l i tam na comunicaçãocom crianças e adultos?

Essa é uma pergunta interessante.Para começar, não vejo meu trabalhocomo escapista, de buscar um mundoalternativo.

Ao contrário, eu estou tentando chegarmais perto do real, apenas por olhar

a vida real de um outro ângulo. Porexemplo, na minha história “The LostThing”, o mundo de fantasia é umacidade pós-industrial, onde todo mundosó está interessado nas coisas que eles

 já conhecem.

Na verdade é um mundo de fantasiachato. Mas é igualmente fascinantepara nós, olhando de fora. Do mesmomodo, a nossa própria realidade

certamente pode parecer chata eaborrecida a maior parte do tempo,mas isso é apenas porque paramosde questioná-la ou olhá-la de maneiradiferente; nós acreditamos que ascoisas estão “normais”.

É sempre interessante quando umvisitante de outro país encontra osdetalhes da nossa vida cotidiana – ea vê como sendo muito rara e exótica.

Vejo a arte como um tipo semelhantede viagem internacional.

A maioria das minhas históriascircundam em torno deste tema, aquestão do que é familiar e o que éestranho, o que é chato e o que éinteressante. Minha teoria é que elassão muitas vezes as mesmas coisas.

Em seus l ivros, você cria quasesempre mundos próprios. O mundoreal é mais chato que o imaginário?

16a 16b

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 17/48

Sim, penso que sim. Quando pinto, eutendo a me concentrar em um assuntomuito particular, que eu estou vendocom meus olhos.

Eu ainda estou mudando e abstraindoo que eu vejo, mas ainda estáintensamente ligado a uma experiênciavisual direta.

Quando escrevo e ilustro histórias, euacho que estou olhando para as coisascom a minha mente.

Eu só me rero às minhas memórias,bem como às memórias de outraspessoas na minha ilustração.Por exemplo, “The Arrival” é baseado

em muitas histórias de imigrantesque eu estava pesquisando por muitotempo; “The Rabbits” é um recontarsurrealista da colonização da Austrália.

Meus livros são mais uma espécie deconversa pública, e as minhas pinturasse mantêm razoavelmente pessoaise privadas.

Não sei bem o porquê disso... é sócomo eu acabei fazendo coisas. Maisuma vez, eu não diria que minhaspinturas são mais “realistas” do que osmeus livros, elas apenas parecem sermais especícas sobre o assunto, porexemplo, elas são sobre uma árvore emparticular, uma rua ou uma pessoa emparticular.

Os livros são mais ou menos sobre tudoe todos (incluindo coisas inexistentes),então os seus temas são muito gerais.

No entanto, apesar de seus l ivrose suas i lustrações falarem doimaginário, suas pinturas são maisreal is tas. É uma busca por um outroponto de vista?

Eu acho que é essencial, e na minhaprópria cultura - a Austrália pós-industrial - muitas vezes subestimado.

Eu quase não me tornei um artista porque,como adolescente, o sistema educativoparecia ignorar as artes plásticas como

sendo a extremidade inferior dentro doespectro dos acadêmicos, ou de algumaforma “não séria”.

Não era associada com o desempenhoacadêmico. No entanto, muitos dosproblemas que vejo na sociedadeem geral me parece serem causadospela falta de imaginação criativa, ouquestionamento artístico.

As artes tendem a ser vistas comoum pouco de cobertura de açúcarsobre o bolo da sociedade, mas devemser parte do bolo, como o Direito, aMedicina, a Ciência, a Agricultura eassim por diante.

Acho que é importante para as criançasque sejam incentivadas a prosseguirqualquer interesse artístico quetenham, e a maximizar o espírito inatoque muitas vezes podem ser suprimidosna vida adulta, quando as pressões de

outras responsabilidades intervêm.

É muito difícil ser artista e se manterinspirado, então eu sinto algumaobrigação de encorajar os outros.

Eu encontro muitos adultos que, maistarde na vida, se arrependem de nãoterem buscado seus interesses artísticosquando eram crianças ou adolescentes.

 Além das adaptações de seus livros parafilmes e peças de teatro, você tem estadoenvolvido em vários outros projetos,alguns relacionados às crianças. Qual aimportância do estímulo da arte, pinturae escrita desde criança?

17a 17b

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 18/48

Eles são muito interessantes, porquenão se misturam simplesmente, elessão um pouco como óleo e água.

O texto é muito “cinético” - ele semove em uma determinada maneira,e as imagens parecem mais lentas ouatemporais. Isso pode ser complicado,porque você realmente não lê e vê aomesmo tempo, você tende a fazê-losum pouco separadamente.

Estou constantemente tentandoresolver esse problema, ou fazer amaior parte dele. Tento manter meustextos muito concisos e com uma

certa distância das minhas imagens - eraramente “dizer” a mesma coisa.

Talvez mais interessante do quepalavras ou imagens seja a brechaentre eles: onde o leitor tem que entrare fazer uma conexão interpretativa.

Em termos de criação, estouconstantemente mudando de texto

para imagem. Eu costumo estar comimagens, então começo a escrever,como uma maneira de tentar descobriro que essas imagens são, realmente.

Isso pode afetar a imagem, que euirei redesenhar muitas vezes, e assimafetar o texto - e assim por diante. Écomo uma conversa constante entredois elementos, que estão falandode uma ideia similar, usando vozesseparadas.

 Você é um autor que desenvolveseus próprios textos e imagens.Para você, especi f i camente, e paraos seus trabalhos, como vê a relaçãoentre esses dois meios em termosde narrativa?

Percebo que você se sente obrigadoa contar uma história para si mesmo,quando todas as palavras sãoremovidas.

E essa história de repente se tornaincrivelmente exível e há umsentimento também de que não hápressão para entender ou não entenderas coisas - não há nenhuma vozautoritária.

Acho que narrativas sem palavrascomeçam a ser “lidas” mais como umaexposição de pintura, em vez de umahistória escrita.

 Você já declarou que tem pensadomui to mais na narrativa visual,sem texto (como aconteceu em “The

 Arrival”). De que forma isso podeinf luenciar a imaginação do le i tor?

18a 18b

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 19/48

Metade do tempo é gasto fazendopesquisas e vários rascunhos - “TheArrival” passou por mais versões doque eu gostaria de pensar!

Acho que depois de dois anos e meio,eu ainda não tinha um trabalho real

 “acabado” para apresentar - nada comque eu estivesse feliz, pelo menos

- mas eu tinha um monte de bem-organizadas ideias não renadas.

A segunda metade do projeto foi oaperfeiçoamento posterior, a maiorparte do tempo a ser gastosicamente preparando cadaimagem em lápis grate.

É um longo e tedioso trabalho, maseu aprecio a lentidão dele. Estouconstantemente editando ideias até om, e tenho tempo para reconsiderartudo cuidadosamente.

Cada um dos seus l ivros demorou pelomenos um ano para ser produzido,e “The Arrival” levou quase 5 anos.Mui to desse tempo foi dedicado à qualfase dos l ivros?

Basicamente, eu sempre tenho quecomeçar com alguma coisa. Então eumantenho um sketchbook e faço ummonte de desenhos de observação,bem como consulto a minha bibliotecade livros ou imagens digitais coletadas.

Independentemente do surrealismonas minhas pinturas, eu quase semprecomeço com a observação cuidadosade uma coisa real, quer seja umatorradeira, uma coruja ou uma nuvem.

A real inventividade vem de combinar, juntas, inuências aparentementenão relacionadas, e martelando-as emalguma forma signicativa usandouma espécie de seleção natural.

Estou constantemente desenhando eapagando (lápis na mão, borracha naoutra), e a imagem se transforma emalgo que - espero - transcende suasreferências originais.

Ela se torna uma criação totalmentenova. Mas se eu tentar desenhar sem umponto de referência, sempre acabo comalgo maçante ou repetitivo - e muitasvezes não consigo sequer começar.

 Você já declarou uma vez que“pintura e desenho para mimnão são sobre criação, mas sobretransformação”. Poderia falarsobre isso?

19a 19b

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 20/48

Sabe, eu não tenho certeza. Acho que aspessoas são tão espertas quanto sempretêm sido, ou talvez até mais espertas.

Estamos também muito alfabetizadosvisualmente, temos acesso a incríveisideias e informações, e somos muitomais educados do que os nossosantepassados.

Então eu não acho que há um problemaaí. No entanto, as coisas estão uindomuito rápido, e é possível que a atençãotenha diminuído...

Eu sempre sinto que a minha estádiminuindo o tempo todo! Uma coisaque eu gosto na pintura e escrita éque elas são uma mídia bem lenta econtemplativa - por um momento elascalam um monte de ruído e nos fazemolhar para dentro.

Eu acho que a interioridade é a chavepara poderosas, coerentes e duradouras

ideias.Muito do que vemos todos os dias ésupercialmente impressionante, masnuma análise mais aprofundada nãoresiste a um exame minucioso.

Arte e livros para mim são todos sobreesse exame, separando as partessignicativas das partes de distração.

No geral, em mui tos comentários que você já fez, algo sempre presente éo concei to de arti cular ideias, maisimportante do que desenhar bem ouescrever bem. Acha que o mundohoje em dia tem pensado menos?

20a 20b

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

  I  N  T  E  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 21/48

21a 21b

  I  N  T  E

  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

  I  N  T  E

  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 22/48

22a 22b

  I  N  T  E

  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

  I  N  T  E

  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 23/48

23a 23b

  I  N  T  E

  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

  I  N  T  E

  R  N  A  C  I  O  N  A  L  :

  S  H  A

  U  N 

  T  A  N

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 24/48

MARIANA

NEWLANDS

 “O sketchbook é aquele espaçoonde a gente desenha sem deixaro lado racional agir, sem pressa,sem pressão.

Para mim, é o lugar de ondesaem, em geral, os meus melhoresdesenhos, exatamente porque nãotive tempo de pensar sobre eles,então eles são completamentelivres e naturais.

Também é o espaço de descobrir oque a gente nem sabia que queriadesenhar.

E de aprender sem querer, comos acasos que vão acontecendoao longo dos rabiscos, dasmanchas, do que parece erradomas no m é certo.

Sou grande fã dos acasos edos erros, eles geram coisasinteressantíssimas.” 

esigner gráca, ilustradora infantile fotógrafa, a carioca Mariana Newlands trabalha

para diversas editoras fazendo projetos grácosde capas e miolos de livro e ilustrações de

livros infantis.

Estudou desenho industrial na PUC-Rioe graphic design/computer graphics naParsons School of Design (NYC); fezmestrado em Literatura, de novo naPUC-Rio, defendendo uma dissertação

sobre Bibliomania, onde falou sobreo livro como objeto, o amor pelos

livros e as relações das pessoascom eles.

Além de ilustrar livros dediversos autores, os poucosMariana tem publicado seuspróprios livros.

D

24a 24b

mariana newlands

Rio de janeiro

[email protected]

www.interludio.net

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

   ©    M

  a  r   i  a  n  a   N  e  w   l  a  n   d  s

   F  o   t  o  :  a  r  q  u   i  v  o   M  a  r   i  a  n  a   N  e  w   l  a  n   d  s

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 25/48

 “O sketchbook ajuda noaprimoramento do trabalhocomo ilustradora pela liberdadeque ele dá.

A possibilidade de explorar,de inventar.

E, claro, quanto mais a gentedesenha, mais a gente aprendesobre o nosso próprio traço, sobreo caminho que ele vai tomando.

O sketchbook é essencial paratodo ilustrador descobrir doque é capaz.

Acho inclusive que devia serobrigatório o estudante deilustração manter um sketchbookcomo acontece em muitas escolasde arte dos EUA, por exemplo.” 

25a 25b

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 26/48

 “Gosto de desenhar gurashumanas e animais.

Não sou de paisagens oucenários. Meu negócio épersonagem.

Gosto deles porque, quandodesenho, já imagino apersonalidade: como é a casadele, que tipo de cortina eletem na sala, se ele bebe leiteou café de manhã, qual jornalele lê, e todas essas bobagensque denem e que a gentevai imaginando só de fazeruma sobrancelha mais altaou mais baixa.” 

26a 26b

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 27/48

27a 27b

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 28/48

28a 28b

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 29/48

29a 29b

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 30/48

30a 30b

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

  S  K  E

  T  C  H  B  O  O  K  :

  M

  A  R  I  A

  N  A 

  N  E  W

  L  A  N  D  S

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 31/48

O que estou lendo(ou relendo)...por Mauricio de Sousa

Depois de passar pela corte portuguesa,pela guerra dos quadrinhos, porempinadores de pipas, pelos bruxosmeninos e por vampiros bem apessoados,voltei ao velho e grande amor: os livrosinfantis de Monteiro Lobato.

Depois de muitos e muitos anos, o textoainda me encanta e surpreende.Como não tenho problema com adiferença de linguagem (vivi e falei oportuguês do Sítio do Picapau), estoufazendo uma gostosa releitura.

Para tanto, em vez de sair catando oslivros da minha infância pelas estantes,aproveitei que já zeram isso: em 1982,a Editora Brasiliense publicou a obrainfantil completa de Lobato, por ocasiãodo centenário do seu nascimento. Etem sido uma delícia reler e “rever” astraquinagens da turminha da Emília.Iluminadas pela inteligência, argúcia,ousadia do polêmico escritor.

Mas o livrão – um tijolo – não temsomente os contos. Tem muito dahistória da vida de Lobato e, para minhasatisfação pessoal, tudo sobre todos osilustradores da sua obra.

Daí me lembro que depois dos gibis,

quando estes não me satisfaziam maisa fome intelectual, foram os livros deMonteiro Lobato que alicerçaram meucaminho rumo à literatura global... que metransformaram em um leitor compulsivo.

Como considero “Os Trabalhos deHércules” o momento maior das obrasinfantis de Lobato (seu último trabalhono gênero), recomecei a ler o autor apartir desse “grand nale”. E reaprendoGrécia clássica, seus escultores, seuslósofos, mitologia, com o tempero sem

cerimônia da turminha da Emília. Dela,principalmente. Em seguida voltarei paraos outros livros, enfeixados na ediçãoespecial. Até chegar na origem do sítio:As Reinações de Narizinho.

Depois dos bruxos e dos vampiros deoutros autores lá de longe, vou deassombrações bem caboclas, como asque já me assustavam mesmo antesde ler Lobato, trazidas pelas históriascontadas pela minha vó Dita.

Quer sentir o Brasil na linguagem purae sem cerimônia de algum tempo atrás?Tire seu Lobato da estante e refastele-se. Conheça – ou reconheça – o escritor

destemido de uma época turbulentada nossa história política. Admire-secom sua antevisão do futuro, brigandopelo aço e pelo petróleo antes de estesexistirem no país, e perceba que duranteessa guerra que travava contra o atraso,semeava ideias e livros para as crianças.Os melhores de todos os tempos.

Delícia reler e reencontrar a turma daEmília.

Lobato não morre.

31a 31b

Mauricio de sousa 

são paulo

[email protected]

www.turmadamonica.com.br

  C  O  L  U  N  A   E

  S  P  E  C  I  A  L  :

  M

  A  U  R  i

  C  I  O 

  D  E 

  S  O  U  S  A

   ©    M

  a  u  r   i  c   i  o   d  e   S  o  u  s  a

   F  o   t  o  :  a  r  q  u   i  v  o   M  a  u  r   i  c   i  o   d  e   S  o  u  s  a

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 32/48

ROGÉRIO

COELHOlustrador prossional desde 1997,

Rogério Coelho já ilustrou mais de60 livros de literatura infanto-juvenil,ilustrou para diversas revistas ecolaborou em mais de uma centenade livros didáticos para as principaiseditoras brasileiras.

Além disso é colaborador frequente daRevista Recreio e revista Ciência Hoje

das Crianças, duas grandes referênciassobre publicações infantis.

Seus trabalhos já tiveram oreconhecimento e premiação emdiversos salões e exposições.

O passo a passo a seguir é justamentede uma ilustração produzida para amais recente edição da Revista Recreio,onde Rogério mostra em detalhes o seuprocesso.

I

Em cima dessa marcação bem soltavou denindo melhor os desenhos,essa será a versão que apresentareipara a aprovação da editora. Nessafase faço somente o desenho de base

do passatempo, não incluo todos os objetosque vão ser procurados e nem aqueles que

farão a distração visual do leitor, isso fareidepois direto na nalização.

Com o desenho limpo uso alguns tons decinza para deixar o trabalho com uma melhorvisualização de planos e também para daruma valorizada na sua apresentação.

Colaboro com a revistaRecreio desde 2003, jáilustrei quase todas aspautas da revista, e em2009 me ofereceram a

possibilidade de colaborar naseção “Cadê?”, onde ela ocupaas páginas centrais da revistae é uma grande ilustraçãodupla entulhada de elementosonde os pequenos leitoresdesaam sua sanidade (e

conseqüentemente dos seuspais) buscando pequenosobjetos, bichinhos e outroselementos escondidos nabagunça.

O tempo de trabalho emcima de uma ilustraçãonesse padrão é em média 25horas, ou seja, dois dias e meio de trabalho.Nunca trabalhei para essa seção com umbrieng denido; geralmente sugiro os temasconverso com a editora para ver a viabilidade,e depois de fecharmos o tema começo osestudos até chegar numa composição que julgue adequada. Primeiramente faço umamarcação geral da composição, denindoposicionamentos e pesos, então faço meus

esboços usando uma tablet (uma Geniussurradissima) e o Photoshop CS4.

Durante muito tempo z os esboços a lápis,mas para ganhar tempo e deixar os processosmais dinâmicos z essa opção, para mimo resultado é parecido; a única coisa quelamento é não ter mais os originais a lápis,mas desenhar direto com a tablet agilizoumuito meu trabalho.

32a 32b

Rogério coelho

CURITIBA 

[email protected]

www.rogeriocoelho.carbonmade.com

  S  T  E

  P 

  B  Y 

  S  T  E  P  :

  R  O  G   É  R  I  O 

  C  O  E  L  H  O

   ©    R

  o  g   é  r   i  o   C  o  e   l   h  o

   F  o   t  o  :  a  r  q  u   i  v  o   R  o  g   é  r   i  o   C  o  e   l   h  o

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 33/48

Com toda a pintura de base pronta,começo a aplicar as texturas. Essastexturas foram produzidas a mão depoisdigitalizadas, tenho um banco de imagenscom muitas texturas que produzi a partir

de pinturas com aquarela e acrílica. Geralmenteao nalizar uma ilustração como essa uso duastexturas diferentes.Primeiro trabalho com uma camada no modomultiply em cima de cada camada de base,

nessa fase do trabalho procuro ser o maisintuitivo possível e deixar a pintura uir comose estivesse trabalhando em meio físico; vouabrindo várias camadas intermediárias, tantono modo multiply quanto em modo normal,sombreando e iluminando cada camada de base.Essa é a fase mais rápida da nalização. Trabalhonessa etapa com um pincel seco congurado emmodo multiply  /normal com as congurações depincel wet edges e smoothing ligados.

Depois da ilustração ser aprovadapela revista, começo a nalizaçãomarcando todas as cores de base dailustração. Sempre vou organizando porplanos e nomeando todas as camadas,

essa é uma fase muito importante pois essaorganização do arquivo irá agilizar meutrabalho mais tarde. Sei que devem existir

outras formas de trabalhar para chegar nessemesmo resultado, mas essa é a forma com queme sinto mais a vontade. Nessa fase uso todasas camadas em modo normal e um pincelseco congurado no modo dissolve com ascongurações de pincel shape dinamics, dual brush e smoothing ligados para conseguir terum acabamento mais solto com granulados.

Chegamos nesse passo como odesenho todo pintado, costumo chamaressa etapa de arte-nal, é uma etapaonde vou denir a ilustração com traço.

Em cima de cada grupo de camadas com atextura já aplicada abro uma nova camada em

modo normal e com o pincel drop shadow com as congurações shape dinamics esmoothing ligadas em modo dissolve vouaplicando o traço que geralmente é coloridoe nalizando cada grupo de camadas - aorganização de planos feita anteriormenteé muito útil nessa etapa.

Com a ilustração praticamente prontaé o momento de inserir os objetosque irão ser responsáveis por toda adistração visual, que é o objetivo daatividade proposta na seção.

Geralmente faço tudo direto usando o mesmo

pincel que utilizei no passo 5, fazendovários desenhos pequenos espalhados.Normalmente faço 20 a 25 desenhos edepois vou duplicando alguns e outros não;no nal das contas teremos uma grandemassa de desenhos pequenos espalhadosestrategicamente por toda a ilustração.

33a 33b

  S  T  E

  P 

  B  Y 

  S  T  E  P  :

  R  O  G   É  R  I  O 

  C  O  E  L  H  O

  S  T  E

  P 

  B  Y 

  S  T  E  P  :

  R  O  GÉ

  R  I  O 

  C  O  E  L  H  O

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 34/48

Hora de denir os desenhos que oleitor irá procurar: normalmente faço20 desenhos, tudo direto, utilizandoo mesmo pincel do passo 5. Essesdesenhos têm que ter uma boa clareza,

mas também não podem ser tão destacados aponto de facilitar o passatempo.

Nesse tipo de ilustração a idéia não é facilitar,nem para o leitor e nem para o ilustrador...

Com a ilustra nalizada, guardo aversão aberta em camadas, gerouma cópia em duas camadas, umacom a ilustração inteira fechadae outra solta com os objetos que

serão procurados.

Assim o pessoal da revista pode escolher os

desenhos que irão usar, tirar algum - se for ocaso - ou reposicionar.

Coloco no FTP da Recreio e co esperandoa revista ser publicada para ver se tereicondições de encontrar os desenhos depoisdessas quase 25 horas de trabalho convivendocom a ilustração.

34a 34b

  S  T  E

  P 

  B  Y 

  S  T  E  P  :

  R  O  G   É  R  I  O 

  C  O  E  L  H  O

  S  T  E

  P 

  B  Y 

  S  T  E  P  :

  R  O  GÉ

  R  I  O 

  C  O  E  L  H  O

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 35/48

35a 35b

  S  T  E

  P 

  B  Y 

  S  T  E  P  :

  R  O  G   É  R  I  O 

  C  O  E  L  H  O

  S  T  E

  P 

  B  Y 

  S  T  E  P  :

  R  O  GÉ

  R  I  O 

  C  O  E  L  H  O

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 36/48

Muitos ArtistasReunidos em Um Só

Quando criança, antes de sequerpensar em tornar-me artista, imagineique seria veterinário. Minha casa eraum zoológico: cães, gatos, papagaios,pássaros e até um quati nós tínhamos.Vi muitos partos de bichos e, em duasocasiões, quei surpreso ao descobrirque a gata e a cachorrinha davamde mamar aos seus lhotes trocados,sem quaisquer “dramas de consciência”.Ah, a infância…

Lembro-me que, nas muitas idasao veterinário, um quadro na parededa sala de espera da clínica mechamava atenção. Nele estava escrito:

 “O veterinário reúne 41 médicos em 1:ele é obstetra, infectologista, cirurgião,ortopedista, oncologista…” 

Talvez o desao de ter que estudar41 vezes mais do que em qualqueroutra prossão tenha feito eu mudarde ideia quanto a ser veterinário.Cresci e tornei-me ilustrador,uma prossão bastante diferentedaquela dos meus planos originais.Curiosamente, encontrei no meu novo

caminho algumas semelhanças com oque dizia aquele quadrinho que tantasvezes li na sala de espera com algumbicho “dodói” no colo.

Muito mais que um mero desenhista,o ilustrador tem por missão criar napágina em branco mundos e gentes,personagens cativantes, indumentária,orquestrar coadjuvantes, comporcenários, padronagens, texturas,

iluminação, enquadramentos,expressões faciais, estabelecer paletade cores, pensar no design… Temosenm que ser vários artistas em um!

Desde que tornei-me artista, meugrande interesse sempre foi ilustrarliteratura. Na minha formação tivea sorte de conviver com mestres cujotrabalho também trazia esse foconarrativo. No entanto, por mais queo exemplo deles me servisse de norte,por mais aulas de desenho e pinturaque frequentasse, sempre senti faltade uma orientação teórica maisespecíca e detalhada a respeito.

Acabei encontrando em bonslivros meus guias no processo deaprendizagem sobre a arte narrativa.

Ao que me parece, a maior parteda literatura teórica sobre a arte deilustrar está escrita em inglês. No casoda literatura infantil, especicamente,a oferta de literatura especializadaabordando objetivamente os princípiosda criação de ilustrações para criançasé ampla, mas ainda assim muitomenor do que as coletâneas de

artistas, catálogos de exposições etc.Tivemos recentemente no Brasil algunslançamentos de livros teóricos sobre otema. Participei de um destes livros, “Oque é Qualidade em Ilustração infantil-Com a palavra o ilustrador” (editora

DCL), organizado pela escritora IedaOliveira, que traz interessantes artigose depoimentos de diversos artistascomo Ângela Lago, Nelson Cruz, OdilonMoraes, dentre outros.

Ainda assim percebo que há quese ampliar ainda mais o número depublicações que versem teoricamentee em profundidade sobre este tema.Os exemplos que me escapam podem

estar nas prateleiras de bibliotecasuniversitárias que guardam tesesacadêmicas. Chegarão um dia àslivrarias? Duvido.

Frequentemente, ao lidar com jovens

artistas ainda em formação, seja emcursos ou em análises de portfolio,vejo que muitos manifestam o sonhode trabalhar com ilustração paraliteratura infantil. A eles costumo fazersempre algumas recomendações, sendoa primeira delas que vejam muitoslivros infantis. A ilustradora brasileiraIonit Zilberman, por exemplo, lembraque foi exatamente assim o início doseu caminho. “Cursei artes plásticas

por Renato Alarcão

   ©    I  o

  n   i   t   Z   i   l   b  e  r  m  a  n

36a 36b

renato alarcão

Rio de janeiro

[email protected]

www.renatoalarcao.com.br

  C  O  L  U  N  A 

  N  A

  C  I  O  N  A  L  :

  R  E  N  A  T  O

   A  L  A  R  C   Ã  O

   ©    R  e

  n  a   t  o   A   l  a  r  c   ã  o

   F  o   t  o  :  a  r  q  u   i  v  o   R  e  n  a   t  o   A   l  a  r  c   ã  o

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 37/48

na FAAP, e logo fui trabalhar numalivraria”, conta, “Fui imediatamenteatraída pelos livros infantis e lembroque meu fascínio tinha a ver com amaneira como algumas histórias eramcontadas…”.

Ionit cita o fato de que a formação doilustrador, no Brasil, se dá basicamentede maneira autodidata (e com escassaliteratura a respeito). Ela lembra aindaque as referências do ilustrador de

livros infantis não devem partir apenasdo universo da literatura infantil; “épreciso ‘beber’ em todas as fontespossíveis”, conforme disse ter ouvidonuma ocina com o artista Isidro Ferrer.

Muitos artistas que desejam ilustrarliteratura infantil subestimam ainteligência das crianças ao crer quebasta criar personagens “fonhos”,compor cenas e situações pueris e

 “cuti-fó”; enm, usar e abusar da

paleta dos clichês como recurso paracontar histórias para os pequenos.Foi com esta frase-provocaçãoque conclamei alguns ilustradoresa participar deste artigo com umdepoimento. O ilustrador Rui de Oliveira,em seu livro “Pelos Jardins Boboli” 

(Editora Nova Fronteira), anteriormente, já chamava atenção - à sua maneirabem peculiar - para este problema:

 “Os bonequinhos que podemosclassicar como “doces de coco” podemser ilustrações apetitosas e açucaradasbastante aceitas como infantis, fato quenão esconde sua outra face, nauseantee repetitiva. São ilustrações queparecem padrões têxteis para quartose enxovais de crianças, ou mesmopapel de embrulho para presentes.” 

Ricardo Azevedo, ilustrador epesquisador de literatura e ilustração

infantil, aponta que muitos recursoscostumam ser utilizados em desenhosdestinados às crianças, destacandocriticamente dois deles: a busca deimagens imitando movimentos, ea valorização de olhos e olhares.

 “Walt Disney era um especialistanesses recursos”, lembra ele, “paraseduzir o leitor, usava e abusava depersonagens em pretensos movimentos,quase sempre de olhos grandes,

procedimentos utilizados em ambosos casos para denir emoções: alegria,meiguice, espanto, cobiça, raiva,ingenuidade, dúvida, pressa, medoetc.”. Azevedo recorda ainda que graçasaos quadrinhos de Disney e outros, taisrecursos se alastraram, inuenciaram

muita gente e passaram a serassociados à quase tudo o que tem sidoproduzido para crianças. “Movimentos eolhares, sem dúvida, prendem bastantea atenção e costumam seduzir”, alertao ilustrador, “o problema é que, a meuver, por serem explícitos demais, emgeral não passam de estereótipos, ouseja, fórmulas prontas que retiramdo leitor o espaço para que ele possaadensar sua leitura pessoal e criarsua interpretação.” 

Mas anal, o que deve ter a boailustração para crianças ? Existemprincípios que possam nortear sua

excelência? Boa parte das respostasque nos chegaram aponta para umaorigem primordial que é a relaçãodialética da imagem com o texto.

Ciça Fittipaldi, por exemplo, sustentaque o trabalho do ilustrador paratextos literários direcionados ao leitorinfantil prende-se primeiramente àsquestões de leitura, “capazes de trazerà tona as zonas mais profundas do   ©

    R   i  c  a  r   d  o   A  z  e  v  e   d  o

   ©    A

   l   ê   R  a  m  p  a  z  o

37a 37b

  C  O  L  U  N  A 

  N  A

  C  I  O  N  A  L  :

  R  E  N  A  T  O

   A  L  A  R  C   Ã  O

  C  O  L  U  N  A 

  N  A

  C  I  O  N  A  L  :

  R  E  N  A  T  O

   A  L  A  R  CÃ

  O

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 38/48

texto, suas sensações, suas diferentesvozes, sua cultura visual especíca, suamulticulturalidade”. Ela conta que voltaao texto muitas outras vezes para,”compaciência, retirar os elementos de fácil

visualização, fazer surgir as zonas maisobscuras onde vale a pena lançar luz ouonde resta um espaço a ser criado…”.

Assim, prossegue a artista, “começamosa ver o texto além daquela imaginaçãosuscitada pelo prazer da primeira leitura(ou desprazer, se for o caso). Nestazona de percepção e atribuição desentidos, começa o trabalho de parceriaentre palavra e imagem, entre imagem

mental, verbal, poética e visual.” 

O ilustrador Alê Rampazo acreditaque uma boa ilustração de literaturainfantil “tem que oferecer mais do que

simplesmente servir como mero tradutor;mais que simplesmente transpor o quediz um texto para as páginas”. Para elea ilustração deve oferecer possibilidadesinventivas para a criança, ir além dahistória contada textualmente. Nãoprecisa ser necessariamente um desenhosurreal ou abstrato, ou ter elementos quedesviem radicalmente dos rumos queo texto pretende tomar, mas, mesmonuma solução mais gurativa, podem

ser inseridos detalhes da história - ou nahistória - que o próprio texto não contou.

A visão de Rampazo complementaaquela expresa por Rui de Oliveira,que diz que a ilustração não se originadiretamente do texto, mas de sua aura.

 “Com relação ao texto, ela é sempreum prisma, jamais um espelho”, bateo martelo, o mestre.

Já o artista Maurício Veneza defendeque “a imagem pode ser “fonha”, estar

 “na moda” ou ser feita com seriedadee prossionalismo, mas se não foradequada ao texto e ao leitor, nãocumprirá sua função”. Ele aponta aindaque, tanto nós, ilustradores, quantoescritores, professores, pais e críticostendemos a nos servir de critérios deavaliação excessivamente adultos,deixando de lado ou em último lugar acriança-leitora (até mesmo a que umdia fomos) e depois camos surpresosquando aquele livro maravilhoso eabarrotado de prêmios nãoconsegue despertar o interessedo leitor.

Já o ilustrador Luiz Catani, quetrabalhou na Disney e hojepublica a série infantil na França,

 “Ralette et Ses Amis”, noslembra quão importante tambémé levar em conta a faixa etáriapara quem se ilustra. Ele contaque na sua série “Ralette”, ésempre orientado a adequar ashistórias e as ilustrações parafaixas etárias de crianças de6 a 8, 8 a 10 e 10 a 12 anos.Sobre este mesmo aspecto,

Ciça Fittipaldi defende que oilustrador deve encontrar umalinguagem visual adequadaaos leitores a quem endereçaseu trabalho; entretanto, nãodeve se restringir a regras xasditadas por “faixas etárias” ouretiradas dos compêndios depsicologia e pedagogia.

Há outras questões importantes

abordadas pelos ilustradores comquem conversei. Uma delas fala sobreo estilo das ilustrações para criancas.Ricardo Azevedo, por exemplo,considera mais interessantes asimagens menos explícitas, menosliterais e previsíveis. “Prero um certodistanciamento e ambiguidade” dizele, “e que os desenhos não denamos sentimentos dos personagens”.Ele sustenta que estas imagens comsignicado mais exível e imprecisodialogam com o texto, têm maischances de aumentar as possibilidadesde interpretação e o imaginário doleitor e são as que costumam ser asmais ricas e desaadoras para eles,independentemente da faixa de idade.

Já Luiz Catani vai numa direção opostae diz gostar de sempre dar um toquede humor nas suas ilustrações e fazerpersonagens com os quais o públicoleitor se identique. “Personagensfortes ajudam muito!”, defende ele.

   ©    M

  a  u  r   í  c   i  o   V  e  n  e  z  a

   ©    C

   i  ç  a   F   i   t   t   i  p  a   l   d   i

38a 38b

  C  O  L  U  N  A 

  N  A

  C  I  O  N  A  L  :

  R  E  N  A  T  O

   A  L  A  R  C   Ã  O

  C  O  L  U  N  A 

  N  A

  C  I  O  N  A  L  :

  R  E  N  A  T  O

   A  L  A  R  CÃ

  O

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 39/48

Alê Rampazo nos lembra que aação de uma criança ao retirar umlivro da prateleira de uma livrariaé muitas vezes gerada pelas cores,volumes, texturas ou até mesmoo tal “bonequinho fonho” sobre oqual falamos jocosamente antes. Eleacredita também que um princípiobásico para a ilustração infantil éa força de atração que ela podegerar na criança, sem ater-se arótulos como “bonita ou feia”, massimplesmente como “atrativa”. Eleadvoga que a descoberta do texto emsi é um segundo estágio e não menosimportante, e lembra que este processonormalmente é motivado por um adultoleitor uente.

Sobre este sentimento de atraçãovisual, Rui de Oliveira conta: “Muitasimagens habitaram minha infância,e algumas permaneceram hóspedeseternamente. Por que certas imagensdos livros ilustrados que eu lia me

encantavam mais do que outras? Esseprimeiro elo que desperta nosso olhare transfere a ilustração para nossamemória é um sentimento vago,impreciso, que podemos chamar deencantamento.” 

Quando o assunto é criar ilustraçõespara literatura infantil, a ilustradoraIonit declara que não existe “O” caminho, mas sim vários caminhospossíveis. “Eu não co pensando nascrianças quando faço meu trabalho”,confessa, “eu penso em que históriaestou contando e como é que asimagens se relacionam com o texto, pra

criar um ambiente, pra levar o leitorpra passear, adulto ou criança”. Elacomplementa defendendo que as regrassão necessárias, muitas vezes, para nossituar e organizar mas, em excesso,empobrecem a nossa criação.

 “Crianças gostam muito de coisasengraçadas e também sabemos quea curiosidade e capacidade que elaspossuem para criar e dar sentidos às

palavras e imagens ultrapassam nossas(nem sempre vãs) expectativas”,lembra Ciça Fittipaldi. Vejamos oexemplo do Pequeno Príncipe, quequase todos nós lemos na escola.Há uma cena em que o menino pedeao piloto que desenhe um carneiro.Todas as tentativas são reprovadaspelo príncipe, até que o piloto resolveassim: desenha uma caixa com trêsburaquinhos e diz “aqui dentro estáseu carneiro”. O menino ca supercontente, e o que me parece causaressa felicidade é o fato de o piloto terlhe oferecido, ao invés do carneiropronto, a possibilidade de imaginá-locomo ele mesmo quisesse. (Este brevecauso de Saint-Exupéry nos foi contadopor Ionit).

Rui de Oliveira, em seu livro teórico “Pelos Jardins Boboli”, faz umaimportante declaração: “Seria maisconveniente se, nas escolas de ensinofundamental, a iniciação à leitura dasimagens precedesse a alfabetização

convencional. Certamente teríamos nofuturo melhores leitores e apreciadoresdas artes plásticas, do cinema e daTV, além de cidadãos mais críticos eparticipativos diante de todo o universoicônico que nos cerca.” É impossível nãoconcordar com suas palavras, emborasaibamos da distância que separa ateoria da prática, especialmente noquesito educação no Brasil.

No início do artigo sugeri que oilustrador é um artista peculiar,do tipo que reúne muitos artistasdiferentes em um só (seriam 41,como o veterinário?). Nossas diversas

especialidades e aptidões foram citadase, intencionalmente, deixei para o nala lembrança de que muitos de nóssão também escritores. Acredito queser o autor do texto e das imagens éa manifestação integral do talento doilustrador como contador de histórias.

Recebi dos meus colegas ilustradoresvaliosas informações que, na medidado possível (do espaço…), busquei

compartilhar aqui com vocês,leitores da Ilustrar. Agradeço atodos pela generosidade das suascontribuições: Rui de Oliveira, CiçaFittipaldi, Ionit Zilberman, Luiz Catani,Maurício Veneza, Ricardo Azevedo eAlê Rampazo.

 “Devemos contribuir com ilustraçõesque façam imaginar, pensar, rir, sentir,emocionar. E com coisas bonitas, sim.Porque fazem falta no mundo atual.

Anal, quem disse que o monstromonstruoso dragãozíssimo bufoso émenos belo que o castelo no cabelode ouro negro da princesa das seteestrelas? Todo maldoso tem sua beleza,até pra criar mais convicção, não émesmo?”, conclui Ciça Fittipaldi.

* A Revista Ilustrar agradece a especialparticipação dos seguintes ilustradores:

Alê Rampazo: [email protected]

Luiz Catani: [email protected]://luizcatani.blogspot.com

Ciça Fittipaldi:

[email protected]

Ionit Zilberman: [email protected]/photos/ionit

Maurício Veneza:[email protected]

Ricardo Azevedo: [email protected]

   ©    L

  u   i  z   C  a   t  a  n   i

39a 39b

  C  O  L  U  N  A 

  N  A

  C  I  O  N  A  L  :

  R  E  N  A  T  O

   A  L  A  R  C   Ã  O

  C  O  L  U  N  A 

  N  A

  C  I  O  N  A  L  :

  R  E  N  A  T  O

   A  L  A  R  CÃ

  O

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 40/48

CRIS EICHcarreira da ilustradora Cris Eich

começou em 1983, no porão de umagráca na cidade de Mogi, interior de

São Paulo. Depois se mudou paraSão Paulo no ano seguinte, ondeiniciou seus estudos de desenho,pintura e gravura no Museu LasarSegal, desenho de modelo vivona Pinacoteca do Estado e cursosde iniciação e história da aquarelano SENAC, e mais recentemente

estudando também cerâmica.

Pós-graduada em História da Arte

pela FAAP, a primeira fase comoilustradora foi trabalhando paraagências de publicidade, para depoisse especializar em ilustração infantil,sempre com a técnica da aquarela,onde seus trabalhos cheios de core brilho são característicos.

E o resultado impressiona, jáque ilustrou mais de 60 livros dediversos autores, e vários clássicosda literatura.

Inverta os sujeitos e você terá aresposta: foi a literatura infantil queme trouxe para o universo do desenho(e da arte de museus e gente grandepropriamente dita).

Foi a partir dos livros ilustrados quehavia em minha casa quando eu eragarota que nasceu o encanto e acerteza de querer trabalhar com isso.

COMO UMA PÓS-GRADUADA EM HISTÓRIADA ARTE ACABOU SE TORNANDO ILUSTRADORA DE LIVROS INFANTIS? 1

A

40a 40b

cris eich

guararema - SP

[email protected]

www.gotadaguanopapel.blogspot .com

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :

  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

   ©    C

  r   i  s   E   i  c   h

   F  o   t  o  :  a  r  q  u   i  v  o   C  r   i  s   E   i  c   h

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 41/48

Sujeito de sorte o Mr. Holland;eu mesma só fui ler Oscar Wildedepois dos 30... rsrsrs...

Três coleções me puxaram para omundo da imagem antes mesmoda atenção ao texto despontar:

- Mundo da Criança, The Child’sTreasury, com ilustrações antigase convecionais (da década de 1940)mas graciosíssimas e que habitammeus sonhos até hoje;

- Sítio do Picapau Amarelo, ediçãoda Brasiliense de 73, ilustradopelo Manuel Victor e que foi meuprimeiro norte do que poderiafazer na vida;

- uma edição francesa deDescobrir e Conhecer, com textoscurtos e informativos mas queeram ilustrados deliciosamentepor Pierre Probst e a partir deledescobri a beleza da aquarela.

E QUAIS ERAM ESSES LIVROS, QUE FIZERAM VOCÊ QUERER SER ARTISTA? NA COLUNA DE BRAD HOLLAND ELE CONTA QUE O LIVRO QUE MAIS O MARCOU QUANDO CRIANÇA FOI O CONTO DE FADAS “O PRÍNCIPE FELIZ”,DE OSCAR WILDE, E QUE DEPOIS DESSE LIVRO OS CONTOS COM URSINHOS FICARAM CHATOS.

Decidir sozinha que imagens irãodialogar com o texto é, sim, umatentacão... ai, ai... mas começo apensar no assunto mais por questões

de valorização autoral no mercadoeditorial.

Na verdade não sou boa contadorade causos nem inventora de histórias,prero deixar minhas aquarelas aserviço dos bons textos. Meu ideal seriater liberdade para ilustrar bons textos eestender a literatura ilustrada tambémao público jovem e adulto. Meu sonho.

DEPOIS DE 60 LIVROS ILUSTRADOS DE DIVERSOS ESCRITORES, AINDA NÃO DEU VONTADE DE ESCREVER O SEU PRÓPRIO LIVRO? OU VOCÊ É FUNDAMENTALMENTE UMA ARTISTA VISUAL? 

3

41a 41b

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :

  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :

  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 42/48

A adequação do meu traço se encaixanesse perl.

Na verdade quando foquei a ilustraçãode livros, naturalmente segui para oinfanto-juvenil por ser a realidade domercado brasileiro nesses últimos anos.

Será que mudanças são possíveis?Ah sim, certamente. Tomemos o casodas HQs que conseguiram com sucessomigrar da criançada para os leitoresde todas as idades.

TODOS OS LIVROS QUE VOCÊ ILUSTROU SÃO LIVROS INFANTIS OU JUVENIS. ESSE PÚBLICO É UMA ESCOLHA INTENCIONAL OU É ALGO QUE NATURALMENTE SE DIRECIONOU PELO SEU TIPO DE TRABALHO? 

4Você, quando criança, era maisexigente do que atualmente?

Vejo como percepções diferentes:o adulto é sosticado, exigentequanto à estética ou plasticidadeda imagem enquanto as criançaspedem sinceridade, graça,espontaneidade.

Claro que tento criar uma ilustraçãoque atenta aos dois lados, eu tento...

Quando dá certo me sinto nomelhor dos mundos.

DE UMA CERTA FORMA, ACHA O PÚBLICO INFANTIL MAIS EXIGENTE QUE O ADULTO? 5

Tive até agora pouco contato diretocom a criançada, gostaria de mudarisso, participar mais de encontros comos leitores, tomar umas saias-justasem reuniões com crianças, como asque acontecem em escolas e salõesde livros.

Chacoalhar minha vida tranquiladentro do estúdio, enm. Meu trabalhonão teve repercussão suciente para

chamar a atenção da crítica, apenasalguns amigos gentís, mas essesnão posso contabilizar como crítica...

MAS AS CRIANÇAS COSTUMAM SER MAIS EXIGENTES NO SENTIDO DE SEREMMAIS SINCERAS. A CRÍTICA, INFANTIL OU ADULTA, AFETA O SEU TRABALHO DE ALGUMA MANEIRA? 

6

Esta é a deixa para que eu dissesse “liberdade” (rsrs...) mas ainda estoudescobrindo todas as possibilidadesque a fantasia infatil permite.

Por exemplo, ultimamente estouinvestindo em aspectos psicógicos dasimagens, que nem eu entendo direito.

PARA VOCÊ, ESPECIFICAMENTE, O QUE 

MAIS A ATRAI NA NARRATIVA VISUAL DIRECIONADA A CRIANÇAS? 

7

42a 42b

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :

  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :

  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 43/48

Comecei utilizando a aguada aindaquando trabalhava como ilustradoraem agência de publicidade. Usava oguache como se fosse aquarela, commuita transparência, e o resultadome agradava bastante (não seise os diretores de arte e clientescompartilhavam de meu entusiasmo).

Considerei esse período comolaboratório, foi necessário para quea técnica amadurecesse o sucientepara que eu pudesse chegar ao meuobjetivo de ilustrar histórias.

E os livros infantis são ilustrados comaquarelas há mais de cem anos... querodizer, foram ilustrados, porque estamosagora trocando pastilhas de aquarelaspor tablets com excelentes resultados.

 A TÉCNICA DA AQUARELA AJUDA NESSANARRATIVA OU É APENAS UMA OPÇÃO PESSOAL SUA? 

9

Esse é o campo da semiótica,acho eu.

Criei uma ilustração de umacriança defronte a uma orestafechada, escura; essa imagem

me causa um certo desassossego,ela representa para mim, eespero que aos leitores também,algo além: representa odesconhecido, a incerteza,talvez o medo.

O texto não falava disso, masa imagem apareceu assim, tento

então respeitar a mensagemque veio espontaneamentede algum lugar.

QUAIS ASPECTOS? 

8

43a 43b

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :

  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :

  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 44/48

Trabalho como ilustradora há maisde vinte anos; nesse tempo todohouve um natural amadurecimentoda técnica e enriquecimento dorepertório cultural de forma queatualmente, quando recebo um texto,

 já na primeira leitura algumas imagens

aparecem na minha mente: o traçoe elementos da composição, coresambientes e tons de luzes.

Pode parecer um pouco mal-assombrado mas tem sido assim.

Essas imagens que surgem prontascostumam ter melhor resultadodo que as outras em que quebroa cabeça para fazer.

E SOBRE O SEU PROCESSO DE CRIAÇÃO,VOCÊ É MAIS INTUITIVA OU TEM UMMÉTODO DE TRABALHO? 10

Isso faz tempo... livrosa quatro mãos; hoje não

arriscaria te dizer se oresultado era sempre bomou não.

Mas tinha muita briga,um queria assim, o outroassado, já pensou?

Pelo bem da família, cada umfoi desenvolver seu própriotrabalho e atualmente aparceria acontece full timemas é compartilhando asnegociações com clientes(somos concorrentes noeditorial), mostrando as artes

prontas e falando e falandosobre livros infantis (asmeninas, Caié e Juju, já nãoaguentam mais... rsrsrs).

O SEU MARIDO, JEAN CLAUDE  ALPHEN, É TAMBÉM UM GRANDE ILUSTRADOR, ÀS VEZES FAZENDO PARCERIA COM VOCÊ. UMA VEZ QUE A PROFISSÃO DE ILUSTRADOR É UMA FUNÇÃO SOLITÁRIA, APARCERIA ENTRE ILUSTRADORES FUNCIONA SEMPRE? 

11

44a 44b

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 45/48

Entre os amores da minha infância, acoleção do Sítio do Picapau Amarelopublicada pela Brasiliense era a maisquerida. Por quê? Pelas imagens.

Quem era o ilustrador? Um tal de

Manuel Victor, que só descobri quemera num dos primeiros números daIlustrar. Sério, não sabia nada sobreele, se era brasileiro, se ainda eravivo, o que mais tinha feito na vida...

DE TODOS OS CLÁSSICOS QUE VOCÊ JÁ ILUSTROU, QUAL O SEU PREFERIDO? E QUAL LIVRO GOSTARIA DE ILUSTRAR UM DIA? 

15História boa não tem época nemtempo certo, não é? Estão sempresendo revisitadas.

Quando acontece o convite, dá um friona barriga pensar em mudar a carade uma personagem consagrada poreste ou aquele ilustrador mas, vencidaa resistência e a tietagem (porquesou apreciadora e fã também, claro),respiro fundo e aproveito o privilégiode poder deixar meu traço em muitoboa companhia.

Me senti assim com Alice e Emília,pura adrenalina. =)

ENTRE OS VÁRIOS LIVROS ILUSTRADOS POR VOCÊ ESTÃO REEDIÇÕES DE VÁRIOS CONTOS CLÁSSICOS. CONSIDERA DIFÍCIL CRIAR UMANOVA ABORDAGEM VISUAL DE CLÁSSICOS QUE JÁ FORAM INÚMERAS VEZES ILUSTRADOS? 

12

Uma das possibilidades do diálogoverbal-visual é exatamente ampliaro que está sendo dito pelo texto, nãoser apenas a representação dele e,sobretudo, fugir da redundância.

Nossos livros no Brasil ainda são muitocontidos nesse sentido; editores eautores (e para falar a verdade, aténós, ilustradores) preferem deixar ailustração mais amarrada ao texto.

Na Alice me deixaram à vontade, tãoà vontade que resolvi deixar a meninacom os cabelos azuis, ironizandoa grande quantidade de diferentesinterpretações que acontecematualmente com a personagem.

Mil perdões, Arthur Rackham.

JUSTAMENTE EM UM DELES, ALICE NO PAÍS DAS MARAVILHAS, A SUA ALICE É MORENA.

 ATÉ QUE PONTO A INTERPRETAÇÃO PESSOAL DO ARTISTA PODE IR ALÉM DO PREVISTO NO TEXTO, ENRIQUECENDO O CONTEXTO FINAL? 

13

Suposicões, só posso supor o porquê:talvez por não haver muitas obraspublicadas mostrando que o caminhoé possível ou por não conar nacapacidade de os leitores entenderemesse diálogo; investir no risco, sem

dúvida, é uma delas.

Temos que pensar também nadiculdade que é essa parceria darcerto, requer sintonia entre o escritore o ilustrador, deixando um pouco davaidade de lado...

POR QUE ACHA QUE O MERCADO EDITORIAL SEJA ASSIM TÃO CONTIDO? SERIA UMA QUESTÃO CULTURAL OU 

 APENAS JOGANDO PELO SEGURO? 14

Monteiro Lobato que não me ouça,mas acho que sem as ilustrações meuamor seria um pouquinho menor.

Mas então, quando chegou o convitepra ilustrar uma nova versão dosDoze Trabalhos de Hércules, do Lobato, ocoração foi a mil.

O que ainda pretendo ilustrar? Sou

devoradora de livros e tenho necessidadeem traduzir para imagens os textos quemais gosto; então volto a minha intençãode ilustrar a boa literatura que andolendo - e que não tem idade.

45a 45b

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 46/48

46a 46b

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

  1  5 

  P  E  R

  G  U  N  T  A  S 

  P  A  R  A  :  C

  R  I  S 

  E  I  C  H

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 47/48

O ótimo blog “Sobre Capas” é dedicadosomente ao design de capas de livrose sempre com algumas observaçõesbacanas e farto material de primeira.

Toda a pesquisa é feita pelo escritor eeditor Samir Machado, e para quem buscaexcelentes referências esse é o blog:

http://sobrecapas.blogspot.com

Esse site é fundamental paraquem gosta de gravura: no

 “Graphics Atlas” poderá conhecertodos os processos existentes degravura em uma longa lista deopções.

Vai desde intaglio até digital,onde apresentam um histórico decada técnica, comparações entrediferentes impressões, ampliaçõese, para melhor visualização,apresentam até diferentes fontesde luz para se ter uma melhorvisualização do efeito nal. Ótimo:

www.graphicsatlas.org

Quantas vezes não aconteceude assistirmos uma introduçãode lme ou trailer que acabamse mostrando melhores que opróprio lme?

Então no blog “Watch theTitles” dá para assistir algumas

das melhores aberturas docinema. Prepare o saco de pipoca:

www.watchthetitles.com

47a 47b

  C  U  R  T  A  S

T E S OU R OS DA AN I MAÇÃO

TU DO S OBR E G R AV U R A

ES QU EÇA O F I LME , V E JA A ABER TU R A

DES I G N DE CAPAS D E L I V R OS

Outro excelente blog, o “Animation Treasures” se dedica aos cenários,esboços, estudos, ilustrações, quase sempre relacionados a desenhosanimados, mas muitas vezes apresentando artistas de primeiro time:

http://one1more2time3.wordpress.com

8/4/2019 revista_ilust_18

http://slidepdf.com/reader/full/revistailust18 48/48

• GUIA DO ILUSTRADOR - Guia de Orientação Profssional

• ILUSTRAGRUPO - Fórum de Ilustradores do Brasil

• SIB - Sociedade dos Ilustradores do Brasil

•  ACB / HQMIX - Associação dos Cartunistas do Brasil / Troéu HQMIX

• UNIC - União Nacional dos Ilustradores Científcos

•  ABIPRO - Associação Brasileira dos Ilustradores Profssionais

•  AEILIJ - Associação de Escritores e Ilustradores de Literatura Infantil e Juvenil

•  ADG / Brasil - Associação dos Designers Gráfcos / Brasil

•  ABRAWEB - Associação Brasileira de Web Designers

• CCSP - Clube de Criação de São Paulo

www.guiadoilustrador.com.br

http://br.groups.yahoo.com/group/ilustragrupo

www.sib.org.br

www.hqmix.com.br

http://ilustracaocientica.multiply.com

http://abipro.org

www.aeilij.org.br

www.adg.org.br

www.abraweb.com.br

Aqui encontrará o contato da maior parte das agências de publicidadede São Paulo, além de muita notícia sobre publicidade:www.ccsp.com.br

Dia 1 de Novembro tem mais... dia 1 é dia de IlustrarDia 1 de Novembro tem mais... dia 1 é dia de Ilustrar