revista universitária de psicologia nº2 - 2013

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10 Mitos Sobre a Psicologia Novos Rumos na Prática em Psicologia Novos Rumos na Formação em Psicologia Os Rumos do Tempo na Psicologia A Psicologia na Universidade de Aveiro A Psicologia no Rio de Janeiro Interdisciplinaridade na Psicologia Intervenção Precoce em Portugal Novos Rumos na Investigação em Psicologia Publicação Semestral 2,50 (IVA Incluído) Portugal Continental RUP / N.02 ISSN: 2182-4258 Março 2013 XX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia Investigação em Neurociências e Renovação das Práticas Terapêuticas: Dia Mundial da Saúde Mental A Psicologia Clínica e da Saúde: Terapia Cognitivo-Comportamental Instituições Internacionais de Investigação em Psicologia

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Edição Nº2 da Revista Universitária de Psicologia. Agora podes ter acesso a todas as RUPs de forma digital e gratuita. Visita-nos: facebook.com/rupanep

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10 Mitos Sobre a Psicologia

Novos Rumos naPrática em Psicologia

Novos Rumos na Formação em Psicologia

Os Rumos do Tempo na Psicologia

A Psicologia na Universidade de Aveiro

A Psicologia no Rio de Janeiro

Interdisciplinaridade na Psicologia

Intervenção Precoce em Portugal

Novos Rumos na Investigação em Psicologia

Publicação Semestral

€ 2,50 (IVA Incluído)

Portugal Continental

RUP / N.02

ISSN: 2182-4258

Março 2013

XX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia

Investigação em Neurociências e Renovação das Práticas Terapêuticas: Dia Mundial da Saúde Mental

A Psicologia Clínica e da Saúde: Terapia Cognitivo-Comportamental

Instituições Internacionais de Investigação em Psicologia

35TH INTERNATIONAL SCHOOL PSYCHOLOGY ASSOCIATION CONFERENCE

17 - 20 JULY 2013 | PORTO - PORTUGAL

THE FUTURE OF SCHOOL PSYCHOLOGY SERVICES:LINKING CREATIVITYAND CHILDREN’S NEEDS www.ispaopp2013conference.pt | [email protected]

02 RUP Nº2

ADMINISTRAÇÃ[email protected]

EQUIPA [email protected]

COMISSÃO DE REVISÃO CIENTÍ[email protected]

DEPARTAMENTO JURÍDICO, FINANCEIRO E [email protected]

DEPARTAMENTO PUBLICIDADE E [email protected]

[email protected]

CONTACTOSJoão Carlos Arruda — Administrador965 118 710

Victor E.C. Ortuño — Cordenador do Departamento Jurídico, Financeiro e Tesouraria917 334 130

Nota Editorial

A vida é um caminho, um percurso feito das mais variadas experiências – esperadas e inesperadas, positivas e negativas, solitárias ou partilhadas – e, tal como em todos os caminhos, surge a necessidade de fazermos escolhas ao longo do percurso. É por isso importante estarmos atentos aos novos rumos que nos vão sendo apresentados a cada etapa, para sabermos escolher com a razão e com o coração, aqueles que fazem mais sentido num dado momento, numa dada situação. Estes novos rumos vão-nos sendo apresentados nos espaços e nos tempos que percorremos, mas também, por vezes, dentro de nós próprios. São novos rumos que nos fazem crescer, descobrir e partir à aventura que constitui aprender novas experiências no mundo à nossa volta, no nosso passado, presente e futuro e dentro de nós próprios. Neste contexto, a Psicologia tem muito para nos oferecer enquanto estudantes, futuros psicólogos e, sobretudo, enquanto seres humanos em constante crescimento. A Psicologia dá-nos informação e conhecimento, mas sobretudo sensibilidade, para olharmos para os novos rumos que temos pela frente com uma perspectiva mais completa de quem somos e do que está à nossa volta.É por esta razão que, na sua segunda edição, a Revista Universitária de Psicologia se foca no tema “Novos Rumos”… Porque importa conhecermos bem quem somos e quais os rumos à nossa disposição para crescermos e nos desenvolvermos.

Assim, começamos por olhar a Psicologia como ciência humana que é, livres de preconceitos e mitos que muitas vezes ainda se mantém e apresentamos os novos rumos que se vão distinguindo, ao nível da investigação, da prática e da formação em Psicologia. Novos rumos esses que certamente surpreenderão até o estudante mais informado de tão variados que são e de tantas áreas diferentes e novas que abrangem.

Apresentamos também, nesta edição, uma perspectiva que tem vindo a ganhar terreno na Psicologia e que move especialistas de muitos cantos do mundo, a Perspectiva Temporal, que teve direito à sua primeira conferência internacional em Coimbra no início deste ano lectivo e na qual a RUP não poderia deixar de estar presente. Seria igualmente impensável não marcarmos presença no XX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia, momento tão importante para o rumo dos estudantes de Psicologia. Os nossos repórteres estiveram ainda na comemoração do Dia Mundial da Saúde Mental, onde se discutiu a investigação em Neurociências e a renovação das práticas terapêuticas. Tal discussão deu-nos o mote para procurar mais sobre métodos e abordagens actualmente a ganhar ou consolidar os seus rumos dentro da Psicologia, os quais não poderíamos deixar de partilhar nesta edição. À semelhança da edição anterior, incluímos também exemplos do que significa estudar e investigar Psicologia no nosso país e no estrangeiro, mostrando a diversidade de experiências e rumos que se podem assumir a nível nacional e internacional.

É, assim, com muito orgulho que lançamos esta edição, dedicada aos novos rumos assumidos pela Psicologia, que nos mostram inequivocamente o ritmo acelerado de crescimento de desenvolvimento de uma ciência curiosa, inquieta e dinâmica, em busca de respostas para as necessidades e aspirações humanas.

NOTA EDITORIAL

RUP Nº2 03

A vida é um caminho, um percurso feito das mais variadas experiências – esperadas e inesperadas, positivas e negativas, solitárias ou partilhadas – e, tal como em todos os caminhos, surge a necessidade de fazermos escolhas ao longo do percurso.

Alice Morgado, Editora RUP

ISSN: 2182-4258

Alice Morgado, Editora RUP

À medida que a Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP) se reergue e começa a tornar-se mais visível na agenda de todos os estudantes de Psicologia, há uma pergunta que, facilmente, se pode colocar: “O que significa estar na ANEP ou participar nos seus eventos?”

À medida que a Associação Nacional de Estudantes de Psicologia (ANEP) se reergue e começa a tornar-se mais visível na agenda de todos os estudantes de Psicologia, há uma pergunta que, facilmente, se pode colocar: “O que significa estar na ANEP ou participar nos seus even-tos?” Uma vez que somos uma organização sem fins lu-crativos, cujo trabalho assenta numa base de trabalho voluntário, há uma premissa que para nós é funda-mental: a envolvência e a execução de tudo numa per-spetiva de bem-estar, alegria, crescimento e descoberta. Tal como referia Aristóteles, “o todo é maior do que a simples soma das partes”, ou seja, aquando da reunião de estudantes sob o signo da ANEP emerge um clima muito próprio, o qual é facilmente explicado através de palavras quando é experienciado. É neste sentido que esta direção tem como preocupação e prioridade que os seus eventos acarretem consigo valores, comportamen-tos, atitudes e uma determinada forma de estar, ou seja, uma cultura específica que designamos por “o Espírito ANEP”. Assim e, uma vez que o ENEP é um dos even-tos principais da ANEP, onde centenas de estudantes de psicologia se reúnem, não havia melhor local para pro-movermos o Espírito ANEP. Este nosso propósito não poderia ter sido melhor cumprido. Durante os dias 1, 2 e 3 de Março, em plenas terras minhotas, mais concreta-mente Ofir, viveu-se um verdadeiro recital deste “espíri-to”. Mais de duas centenas de estudantes comungaram de um clima verdadeiramente harmonioso, onde foi notório para quem teve a oportunidade de experienciar este evento que houve mais do que um mero aglomer-ado de pessoas. Houve a comunhão de um programa científico muito interessante e diversificado abordando as mais diversas áreas da Psicologia, com um programa social extremamente rico e com um cariz de forte en-volvência, fomentando o crescimento interpessoal e in-trapessoal das pessoas envolvidas.

Esta foi uma oportunidade única de quem está neste momento a trilhar o percurso académico de Psi-cologia de viver momentos únicos e inesquecíveis. É sobre este signo que pretendemos continuar a pautar as nossas atividades e condutas: o Espírito ANEP.

Saudações académicas,

Espírito ANEP

Texto de João Paulo Petiz (Vice-Presidente da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia e Vice-Member Representative of European Federation of Psychology Students’ Associations) e Maria Inês Maltez (Vogal da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia)

ESPÍRITO ANEP

04 RUP Nº2

EDITORAAlice Morgado

REDACÇÃOAlice Morgado / Ana Carolina Pascoal / Ana Rita Martins / Andreia Jesus / Cristiana Moura / Daniela Valente / Diana Nogueira / Filipa Fontoura / Mafalda Sobral / Mariana Ambrósio / Mariana Guarino / Mariana Mendes / Nádia Costa / Patrícia Pereira / Patrícia van Beveren

FOTOGRAFIADiogo Saldanha / Nádia Costa / Roberto Botelho / Tiago Perdigão / Vanessa Mendes

LOGOTIPOAndré Rocha

GRAFISMOInês João / Tiago Perdigão

CAPATiago Perdigão

GRÁFICA

Com o apoio de:

NÚMERO 02 • NOVOS RUMOSAbril 2013 / Publicação Semestral

Novos RumosA Psicologia aqui e agora

Os conteúdos desta revista não seguem as regras do novo acordo ortográfico.

FICHA TÉCNICA

RUP Nº2 05

///// ISSN: 2182-4258 //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Interdita a reprodução parcial

ou total dos textos, fotografias ou ilustrações sobre quaisquer meios e para quaisquer fins sem previa autorização es-

crita da Administração da RUP/ANEP /////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Editora: Alice

Morgado ///// Administrador: João Carlos Arruda ///// Director da Comissão de Revisão Cientifica: Pedro Belo ///// Ti-

ragem 1000 Exemplares ///// Periodicidade: Semestral ///// Produção: Organismo Autónomo Revista Universitária de

Psicologia da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia ///// Propriedade: Associação Nacional de Estudantes

de Psicologia - ANEP //////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////////// Asso-

ciação Nacional de Estudantes de Psicologia - ANEP ///// Faculdade de Psicologia //////////Alameda da Universidade /////

1649-013 Lisboa ///// Portugal //////////////////////////////// Revista Universitária de Psicologia da Associação Nacional de

Estudantes de Psicologia - RUP/ANEP ///// 3000 Coimbra ///// Portugal //////////////////////////////////////////////////////////

O tempo, na sua concepção comum, é uma dimensão quantitativa e objectiva que organiza a vida humana e reparte os milénios em séculos, anos, meses, semanas, dias, horas, minutos e até em segundos. O tempo é mais do que uma “série ininterrupta e eterna de instantes” e “medida arbitrária de duração das coisas” como proclama o dicionário. Segundo Kant, o tempo possui tanto uma realidade empírica como uma idealidade transcendental, constituindo esta uma forma à priori do sentido interno que estrutura e torna possível a cognição de objectos e experiências. p. 33-41

Texto de Andreia Jesus e Patrícia van Beveren

Dez Mitos sobre a Psicologia

Novos Rumos na Formação em Psicologia

Novos Rumos na Investigação em Psicologia

Os Rumos do Tempo na Psicologia

Novos Rumos

Índice

ÍNDICE

E será que é mesmo assim? Será que não anda toda uma sociedade enganada ao sabor de mitos e crenças incorrectas? p. 10-17

Texto Alice Morgado, Andreia Jesus,

Mariana Ambrósio, Mariana Guarino,

Patrícia Pereira

Biofeedback: Tudo o que o corpo conta sobre a mente. p. 28-32

Texto Diana Nogueira

A investigação em Psicologia tem, ao longo dos tempos, evoluído e travado descobertas que muito têm despertado o interesse da Ciência. Estar a par do que de melhor acontece no nosso País e não só deve ser – e é – um dos maiores desejos de quem é ou sonha ser Psicólogo. Como tal, não podíamos de deixar de partilhar 4 das áreas que mais se têm destacado por novas descobertas, pelo crescente aumento no ritmo de investigação e por serem áreas que nos despertam a curiosidade. p. 18-22

Texto Cristiana Moura, Filipa Fontoura

Novos Rumos na Prática em Psicologia

Quando o palco é o mundo, qual será o melhor cenário para apresentar a peça da vida? p. 18-22

Texto Mariana Guarino

06 RUP Nº2

A Psicologia aqui e agoraÍNDICE

XX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia

A Psicologia Clínica e da Saúde: Terapia Cognitivo-Comportamental

A Psicologia na Universidade de Aveiro

Intervenção Precoce em Portugal

A Psicologia no Rio de Janeiro

Instituições Internacionais de Investigação em Psicologia

Próximos eventos em Psicologia p. 94-96

O Trabalho em Equipa: Interdisciplinaridade na PsicologiaInvestigação em Neurociências

e Renovação das Práticas Terapêuticas: Dia Mundial da Saúde Mental

A 28 de Fevereiro, pelas 19 horas, na página do facebook do XX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia (ENEP), já se encontrava uma fotografia de alguns membros da comissão organizadora do evento a apelar àquele que ficaria marcado como um grande fim-de-semana na vida de todos os participantes. p. 44-50

Texto Andreia Jesus, Mafalda Sobral,

Mariana Guarino

Uma cabeça que pensa e um corpo que sente e faz. E eu, onde estou? p. 56-61

Texto Ana Rita Martins

“Uma incubadora de conhecimento, competência e excelência.” p. 72-75Texto Daniela Valente, com

colaboração de Filipa Fontoura

A Intervenção Precoce em Portugal teve um percurso notável nos últimos anos. Ao longo das últimas cinco décadas, muitas foram as crianças e as famílias que usufruíram deste apoio. p. 62-65

Texto Nádia Costa

Ao chegar à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deparo-me com um dos pontos de excelência em investigação e formação, tendo sido considerada pelo QS World University Rankings, em 2012, a melhor universidade federal do Brasil. p. 76-79Texto Mariana de Matos Mendes

Uma amostra de várias associações/sociedades de destaque de diversas áreas da Psicologia p. 80-93

Texto Patrícia van Beveren

Mas o que pretendemos realmente dizer quando falamos em interdisciplinaridade? p. 66-71

Texto Carolina Pascoal

Na manhã do dia Mundial da Saúde Mental, 10 de Outubro, saíram dois autocarros da Avenida Sá da Bandeira, Coimbra com um único rumo: Conferência sobre a Investigação em Neurociências e Renovação das Práticas Terapêuticas. Em poucos minutos, o Pólo Sobral Cid, que serviu de palco à respectiva conferência ficou repleto e, entre os muitos estudantes, a presença de vários profissionais também foi notória. p. 44-50

Texto Andreia Jesus, Mariana Guarino

RUP Nº2 07

08 RUP Nº2

Novos Rumos• Dez Mitos sobre a Psicologia, 10-17

• Novos Rumos na Investigação em Psicologia, 18-22 • Novos Rumos na Prática em Psicologia Psicologia, 23-27

• Novos Rumos na Formação em Psicologia, 28-32

• Os Rumos do Tempo na Psicologia, 33-41

RUP Nº2 09

“O mito é o nada que é tudoO mesmo sol que abre os céusÉ um mito brilhante e mudo"Fernando Pessoa

Um idoso, no auge dos seus 90 anos de idade, traz consigo uma história, muitas experiências, inúmeras vivências. Um idoso é um bebé que nasceu pequenino e que, de mão dada a algumas figuras vinculativas, se desenvolveu apoiado nas crenças que lhe foram sendo ensi-nadas, acreditando nos valores que lhe foram sendo transmitidos e vivendo consoante o que foi experienciando ao longo do seu percurso. Em muitos momentos, com certeza, esse bebé, na altura já adolescente, jovem ou até adul-to, viu-se confrontado com opiniões de outras pessoas sobre si, opiniões erradas baseadas em suposições, em boatos, em histórias irrealistas. Em alguns momen-tos aquele ser humano deparou-se com afirmações sobre si descabidas, sem sen-tido. Contudo, ele soube esclarecê-las, umas vezes melhor outras pior, mas suficientemente bem para hoje, com os tais 90 anos, ainda tão bem existir.

Embora Ebbinghaus considere que a Psicologia tenha uma história curta, apesar do seu longo passado, a verda-de é que, tal como o idoso de 90 anos, também a Psicologia, com os seus 134 anos de existência (consideremos o nas-cimento desta ciência com a criação do laboratório em Leipzig), tem uma história repleta de momentos impor-tantes, de marcos relevantes. E, da

mesma forma que o idoso ao longo da sua vida se foi confrontando com algu-mas suposições erróneas a seu respeito, também a Psicologia, no seu percurso, se foi deparando com algumas crenças erradas sobre si própria. A essas crenças hoje, e neste artigo, chamamos mitos!

Os mitos, neste contexto, não são mais do que convicções irrealis-tas de uma sociedade que, ao crescer, foi acreditando em ideias como a de que os psicólogos tendem a inven-tar problemas que não existem, que qualquer pessoa com alguma capa-cidade de escuta pode desempenhar o trabalho do psicólogo, que evocar problemas psicológicos é uma for-ma fácil de ilibar um arguido de um crime e que é preciso ter-se cuidado com estes profissionais pois eles, para além de estarem constantemente a analisar as pessoas e a ler-lhes a men-te, facilmente manipulam os outros.

Dez Mitos sobre a Psicologia

DEZ MITOS SOBRE A PSICOLOGIA

(...) a Psicologia, no seu percurso, se foi deparando com algumas crenças erradas sobre si própria.

10 RUP Nº2

Texto de Alice Morgado, Andreia Jesus, Mariana Ambrósio, Mariana Guarino, Patrícia Pereira Fotografias de Diogo Saldanha, Cátia Parreiral

E será que é mesmo assim? Será que não anda toda uma sociedade en-ganada ao sabor de mitos e crenças incorrectas?

Mito nº1: Os psicólogos agem como leitores de men-te, conseguindo saber só de olhar para as pessoas o que elas pensam.

Quando alguém afirma ser psicó-logo perante outros, estes têm um pensamento, quase inevitável, de que é preciso ter atenção ao modo como se comportam e pensam, pois aquele alguém ali presente é capaz de “ler pensamentos”. Todavia, é importante ressaltar que o pensa-mento é pessoal e intransmissível simplesmente pelo olhar. Nele re-side parte da personalidade privada e única que caracteriza cada ser hu-mano.

O psicólogo, que dedicou o seu tempo e vida a aprender e a com-preender os outros, não é capaz de olhar e adivinhar quais os pensa-mentos que atormentam ou fazem sorrir dada pessoa. Este é apenas alguém que, com a ajuda de teorias longamente estudadas e de metodo-logias empiricamente suportadas, é

naturalmente influenciados pelas suas emoções, ainda que inconscien-temente, o que, à semelhança de um indivíduo não dotado de formação em Psicologia, poderá dificultar a forma de lidar com os problemas.

Mito nº3: Recorrer a um psicólogo é um luxo destinado apenas aos mais ricos.

O reconhecimento da Psicologia como uma necessidade é, nos nos-sos dias, uma utopia, uma vez que quer o sistema de saúde – onde as comparticipações a este tipo de es-pecialidade são praticamente ine-xistentes – quer a sociedade – que associa a ideia de recorrer a um psi-cólogo apenas em casos extremos de desequilíbrio mental – ignoram esta necessidade do ser humano. Na opi-nião da Dra. Cristiana Dias, psicó-loga há 6 anos, a grande maioria das vezes o que acontece é que “quem necessita de acompanhamento clí-nico e tem margem financeira para o fazer, desloca-se a um psicólogo, quem não tem permanece desprovi-do deste cuidado”.

(...) o paciente é alguém que o psicólogo consegue entender e em cuja perspectiva se consegue colocar. Todavia, é alguém diferente de si próprio (...)

capaz de analisar os indícios comporta mentais para corroborar ou não uma dada hipótese. Por outras palavras, o psicólogo apenas aprende, durante a sua formação e prática, a estar atento a alguns sinais e a perceber que um determinado tom de voz, uma forma de vestir, a concordância ou não das emoções com o discurso ou a própria organização do discurso poderão dar algumas pistas sobre o estado em que um indivíduo se encontra.

Em suma, o psicólogo poderá apenas realizar inferências acerca do estado mental do sujeito através do seu comportamento, não podendo adivinhar os seus pensamentos. Ne-nhum psicólogo poderá “entrar” na mente de outra pessoa sem que esta o permita e sem que partilhe um pou-co de si e da sua história. Em suma, a Psicologia é uma ciência baseada na EMPATIA, não na TELEPATIA.

Mito nº2: Se um psicólogo está habilitado para ajudar as outras pessoas na resolução dos seus problemas terá de conseguir lidar também com os problemas que o afectam.

Antes de partirmos para a desmis-tificação deste mito, recolhemos al-gumas opiniões junto de indivíduos de várias idades, no sentido de per-ceber o quanto este incide na nossa sociedade ou se, pelo contrário, não é pensado com tanta frequência. Felizmente, a maioria das pessoas entrevistadas afirma não concordar com tal, argumentando que todos nós precisamos de ajuda e que tal

como um médico não se consegue muitas vezes tratar, também os psi-cólogos podem ter dificuldades em ultrapassar os seus problemas. Al-guns consideram normal o facto de um psicólogo nem sempre conseguir lidar com as suas dificuldades, uma vez que nestes estão presentes facto-res emocionais que lhes são difíceis de controlar ou isolar. Dois dos en-trevistados acreditam, ainda, que um psicólogo pode ter mais dificuldade em lidar com os seus próprios pro-blemas do que uma pessoa comum tem em lidar com os seus. No en-tanto, também há quem pense e as-severe que um bom psicólogo deve possuir a capacidade de aplicar a si próprio os princípios terapêuticos que utiliza com os seus pacientes, distanciando-se dos seus problemas e resolvendo-os como se fossem de outra pessoa.

Na verdade, este mito baseia-se numa crença irrealista. Em primei-ro lugar, um psicólogo observa o seu paciente com um olhar diferente da-quele que utiliza para si próprio, ou seja, o paciente é alguém que o psi-cólogo consegue entender e em cuja perspectiva se consegue colocar. To-davia, é alguém diferente de si pró-prio e, tal como todos nós, a forma como olhamos os outros e os seus problemas é muito diferente daquela com que nos observamos a nós mes-mos e aos nossos anseios. Em segun-do lugar, como seres humanos, é-nos difícil sermos imparciais connosco próprios e com os nossos sentimen-tos. Desta forma, os julgamentos do psicólogo acerca de si mesmo serão

NOVOS RUMOS

Quando alguém afirma ser psicólogo perante outros, estes têm um pensamento, quase inevitável, de que é preciso ter

atenção ao modo como se comportam e pensam, pois aquele alguém ali presente é capaz de “ler pensamentos”.

RUP Nº2 11

(...) os cortes resultantes dos programas de austeri-dade poderão levar, não apenas a uma diminuição do número de Psicólogos nos hospitais e centros de saúde, mas também, ao decréscimo da procu-ra global dos serviços de saúde mental, (...)

12 RUP Nº2

Joana Barros, de 30 anos, quan-do abordada de forma aleatória so-bre as possíveis vantagens de se ter um acompanhamento psicológico responde, com veemência, que “to-dos merecemos ser felizes e o facto de termos mais um instrumento que nos pode ajudar a ultrapassar algu-mas situações é uma opção muito tentadora e que devemos aprovei-tar”, sendo que, na opinião desta ci-dadã, “o psicólogo não pode ser uma bengala, algo em que nos apoiemos como desculpa para não lidarmos com os problemas”. Esta não termi-na sem antes acrescentar que o Ho-mem não é uma ilha e por isso preci-sa de alguém que, não substituindo os amigos, o ajude a resolver os seus problemas/dificuldades e ainda o auxilie na elaboração de um plano/estratégia de vida. A Dra. Cristia-na, a este respeito, afirma que “to-dos temos problemas e todos temos predisposição, uns mais que outros, para procurar ajuda psicológica caso não consigamos lidar com alguma situação”. Sendo assim, podemos fa-cilmente concluir, que genericamen-te procurar ajuda psicológica não é um luxo, devendo “ir ao psicólogo quem de facto se sente motivado a mudar/ultrapassar algo na sua vida”.

(...) todos merecemos ser felizes e o facto de termos mais um instrumento que nos pode ajudar a ultrapassar algumas situações é uma opção muito tentadora e que devemos aproveitar (...)

DEZ MITOS SOBRE A PSICOLOGIA

RUP Nº2 13

Mito nº4: Só recorre à ajuda de um psicólogo quem tem um problema psicológico.

Muitas são as pessoas que se baseiam nesta crença para justificar a sua re-cusa na procura de um profissional ou para pôr em causa alguém que re-corra a aconselhamento psicológico. Contudo, a maioria não consegue sequer traduzir o que entende por problema psicológico, sendo típico da nossa sociedade associar a este vo-cábulo problemas mentais que ser-vem, muitas vezes, de desculpa para categorizar e rotular as pessoas. No entender de uma cidadã abordada na rua, “se se tem um problema que, de alguma forma, pode condicionar as rotinas diárias, então, deve recor-rer-se sim a um especialista”. Segun-do a jovem inquirida, é não só bom como também “eficiente, em termos financeiros e de tempo, recorrer-se atempadamente a técnicos que, pela sua experiência e formação, são as pessoas mais indicadas para prestar o auxílio necessário”.

Mito nº5: Os psicólogos tendem a “inventar” problemas que não existem nos seus pacientes.

Nos últimos anos, felizmente, este mito tem perdido os seus “apoian-tes”. As pessoas começam a acom-panhar alguns avanços da ciência e começam também a compreender o avanço que a Psicologia tem dado. Para compreender de que forma é que este mito pode ainda persistir, foram entrevistadas algumas pessoas. A maioria disse acreditar que tal se-ria completamente falso, uma vez que acreditam que os psicólogos têm a obrigação e exercem as suas fun-ções com grande profissionalismo, tendo como objectivo principal aju-dar o paciente e não provocar situa-ções dúbias relativamente aos seus problemas. Contudo, uma minoria demonstrou ter a opinião de que o psicólogo, efectivamente, “inventa” problemas que não existem, embora de maneira inconsciente e inocente.

Na perspectiva desta psicóloga “metade das pessoas que aparecem em contexto clínico surgem sem problemas que mereçam intervenção clínica mas sim, e acima de tudo, a necessitar de alguém com quem possam desabafar. A outra metade da população que procura ajuda são pessoas que já se encontram numa fase tão crítica e grave que o psicólo-go emerge como alguém a quem se recorre apenas em último recurso”. Deste modo e desmistificando a ideia irrealista que serve de mote a muitas conversas sobre a procura de ajuda psicológica, o psicólogo tanto pode, de facto, emergir para prestar auxílio a uma pessoa que apresente algum tipo de dificuldade que não consiga ultrapassar sozinha, como também pode surgir apenas no con-texto de alguém que dá ao outro o seu ouvido, e um pouco da sua voz, com a particularidade de que tem um ouvido e uma voz especializadas e particularmente preparadas para aconselhar e ajudar.

A profissional Cristiana Dias con-sidera que “quem não tem nenhum problema psicológico pode sempre ir ao psicólogo”, até porque “o facto de se procurar ajuda psicológica já sig-nifica algo”.

(...) o psicólogo tanto pode, de facto, emergir para prestar auxílio a uma pessoa que apresente algum tipo de dificuldade que não consiga ultrapassar sozinha, como também pode surgir apenas no contexto de alguém que dá ao outro o seu ouvido, e um pouco da sua voz (...)

NOVOS RUMOS

14 RUP Nº2

Na verdade estamos perante um mito, uma convicção irrealista. Em primeiro lugar, é importante salien-tar que o psicólogo analisa bastante bem a situação de cada um dos su-jeitos, seja através do exame mental, de forma a perceber como estes se encontram em cada campo da sua vida e em que grau ou através da identificação das dificuldades e po-tencialidades do sujeito. Em segun-do lugar, só quando tem a certeza é que o psicólogo faz os devidos juízos, declarando com certeza as perturba-ções ou dificuldades que afectam o paciente em causa. Em suma, é importante salientar que o objecti-vo principal do psicólogo é contri-buir para a saúde psíquica de todo e qualquer paciente, não “criar-lhe” problemas.

Mito nº6: Qualquer pessoa com capacidade de escuta pode desempenhar o papel de psicólogo.

A figura do psicólogo é associada, muitas vezes, a uma postura de aber-tura e a uma boa capacidade de ouvir e dialogar com o outro. Na verdade, um bom psicólogo enquadra-se nes-te modelo, mas não basta saber ouvir para conseguir chegar ao “fundo da questão”. Os amigos são normal-mente os responsáveis por ouvirem a maior parte das nossas preocupações e angústias, sendo a sua presença crucial em todo o nosso desenvolvi-mento. No entanto, como referido, não basta saber ouvir para resolver problemas do foro psicológico. É en-tão necessária a colaboração de um profissional, que para além de com-preender o sujeito, o ajuda a resol-ver os seus problemas de forma mais consistente e especializada. A propó-sito deste mito, foram entrevistados vários indivíduos com idades com-preendidas entre os 18 e os 30 anos. Segundo as respostas obtidas, uma pessoa comum não tem as mesmas

Mito nº7: Os psicólogos são contra o uso de psicofármacos e, portanto, não complementam o seu uso com a psicoterapia.

Actualmente a utilização de psico-fármacos concomitantemente com o tratamento psicológico é cada vez mais comum, o que tem originado diversas reflexões entre os profissionais que ac-tuam na área da saúde, principalmente

os psicólogos. Segundo o Dr. Carlos Pires, Psicólogo Clínico e professor de Psicofarmacologia Clínica para Psicólogos na Faculdade de Psico-logia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, “não se pode afirmar que os psicólogos são contra o uso de psicotrópicos (aqui incluindo psicofármacos e produtos herbais). Tal seria pouco razoável vis-to que revelaria uma atitude baseada simplesmente num preconceito.” Na verdade, diversas pesquisas apontam para a eficácia dos resultados através da utilização simultânea de psicofár-macos e terapia psicológica.

A crença irrealista de que os psi-cólogos são contra a utilização de psi-cofármacos é muitas vezes deturpada pelo sentido crítico destes profissio-nais que, como o Dr. Carlos Pires afirma, é justificada pelo facto de os psicofármacos serem acompanhados por reacções adversas frequente e po-tencialmente severas, que são muito subvalorizadas, e pelo facto de a in-vestigação científica indicar que tais substâncias são muito menos eficazes e eficientes do que a indústria far-macêutica e a literatura psiquiátrica, em geral, afirmam ser. Deste modo, tais factos não levam à exclusão to-tal da utilização dos psicofármacos, por parte dos psicólogos (tendo em conta que existem países onde estes profissionais os podem prescrever), mas fazem com que a sua prescrição siga o modelo psicológico, segundo o qual os fármacos devem ser utilizados secundariamente e pontualmente, como refere o Dr. Carlos Pires, já que “a autonomia pessoal (auto-controlo) é um objectivo essencial da interven-ção terapêutica, o que implica que a pessoa aprenda a conhecer e a ma-nusear os factores que conduzem aos comportamentos disfuncionais”. As-sim, ainda que seja importante reco-nhecer os avanços científicos e os seus contributos é também fundamental discernir quando é realmente neces-sário medicar o sofrimento humano!

capacidades que um psicólogo, pois não saberá interpretar devidamente a situação e, consequentemente, resol-ver o problema/dificuldade. Alguns afirmam, ainda, que todos sabemos dar conselhos, mas que poderão não ser muitas vezes os mais acertados nem adequados ao contexto.

Ora, o psicólogo tem formação para conseguir analisar a situação, quais as perguntas a fazer e qual a melhor forma de incidir em deter-minadas temáticas. O profissional escuta o seu paciente no sentido de perceber o que o faz sofrer, como e porquê, e de que forma isso pode-rá implicar limitações no seu dia-a-dia. Além disso, tem em conta a sua história de desenvolvimento, bem como o contexto social e afectivo em que se encontra. Por mais que um amigo seja um amigo, a verda-de é que não substitui um psicólogo, nem um psicólogo, por mais creden-ciado que seja, substitui um amigo.

(...) a autonomia pessoal (auto-controlo) é um objectivo essencial da intervenção terapêutica, o que implica que a pessoa aprenda a conhecer e a manusear os factores que conduzem aos comportamentos disfuncionais (...)

DEZ MITOS SOBRE A PSICOLOGIA

RUP Nº2 15

NOVOS RUMOS

Supõe-se que o presente mito parta de uma má interpretação da constatação de William James, de que usamos uma

pequena parte da nossa capacidade mental (...)

Mito nº8: Devido aos seus conhecimentos, os psicólogos conseguem facilmente manipular os outros.

Muitos dos pacientes que chegam à terapia correm o risco de se tornarem dependentes dos seus terapeutas devido à sua falta de estratégias de coping, entre outros factores.

Porém, o psicólogo tem como função, precisamente, a promoção da autonomia do paciente, sendo que esta é incompatível com a manipulação do mesmo. Um psicólogo aconselha, dirige e focaliza o seu paciente, mas em momento algum pode utilizar os seus conhecimentos ou retórica para manipular os comportamentos, pensamentos e sentimentos, dado que estes são orientados pelo próprio, em função das suas percepções.

Assim, o psicólogo é responsável pelo desenvolvimento e promoção de competências pessoais e sociais no seu paciente, como é o caso da autonomia, por exemplo, sendo que a ética pela qual se rege impede quaisquer comportamentos abusivos dos seus conhecimentos e metodologias.

Mito nº9: Só utilizamos 10% do nosso cérebro.

Imaginemos que um leitor deste artigo se encontra a lê-lo num parque relativamente perto da estrada, em pleno inverno, enquanto come uma sandes e ouve uma das nocturnes de Frédéric Chopin (poderia ser qualquer outro género musical). Simultaneamente pousa uma mosca na revista e o leitor afugenta-a,

voltando a emergir com atenção no que prendia a sua concentração. Enquanto isto, a sua saciedade estava a ser satisfeita pela sandes (e pelos químicos que o hipotálamo troca com o estômago e demais estruturas envolvidas), o processamento visual da informação estava a ocorrer e os sons do parque e da estrada eram então também processados, embora pudessem não penetrar na atenção. Neste seguimento, o leitor estava com um determinado nível de conforto onde quer que estivesse sentado, por exemplo num banco (este sentido do seu corpo é denominado por propriocepção), as reflexões de luz da paisagem eram interpretadas como cor e havia um determinado sentimento de fundo, que permitiria determinar o estado emocional do leitor naquele espaço de tempo. Tudo isto enquanto assimilava e codificava a informação do artigo.

Ora bem, acabou de virtualmente usar 100% do seu cérebro, ainda para mais tendo em conta que esta situação foi completamente imaginada nos últimos segundos (o que não invalida que tivesse mesmo acontecido). De facto, embora usemos percentagens menores do que 100% num dado momento (não sendo 10% uma hipótese necessária e exclusiva), virtualmente usamos o cérebro na sua totalidade, se formos avaliar segundo um quadro de referência temporal adequado. Imagine-se só se 90% do seu cérebro fosse inactivo...

Supõe-se que o presente mito parta de uma má interpretação da

constatação de William James, de que usamos uma pequena parte da nossa capacidade mental, e que tenha sido perpetuado, essencialmente, numa tentativa de explicar vários fenómenos de natureza estranha ou como oportunidade de marketing – quem não quereria aumentar a percentagem de uso do seu próprio cérebro? Tal sucedeu-se, sobretudo, devido à constatação, digamos oficial, deste mito por Lowell Thomas no prefácio do seu livro How to Win Friends and Influence People, em 1936, fazendo com que nunca mais perdesse o fulgor na cultura mediática e no senso-comum.

Mito nº10: O hemisfério direito é responsável pela emoção e criatividade e o esquerdo pelo raciocínio lógico e linear.

Dada a vasta quantidade de mitos que surgem de uma má interpretação acerca do funcionamento cerebral, e no seguimento do mito anterior, par-timos para a desmistificação de mais uma convicção irrealista: a de que o hemisfério direito é criativo, intuitivo, artístico e emocional e o hemisfério esquerdo é responsável pela resolução de problemas, raciocínios lineares, ló-gicos e matemáticos. Na verdade, os dois hemisférios são intrinsecamente co-dependentes e complementares nas actividades referidas! Este mito teve origem nos anos 60 em estudos clássicos com sujeitos epilépticos sub-metidos a uma cirurgia que quebrava severamente a comunicação entre os dois hemisférios, demostrando que,

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DEZ MITOS SOBRE A PSICOLOGIA

do estímulo, os dois lados não eram conscientes um do outro, respon-dendo de maneira e estilo diferentes. Contudo, a análise de pacientes sau-dáveis evidenciou que esta assimetria notável não se verificava, refutando a hipótese de que os dois hemisférios se distinguem no que às funções glo-bais da cognição humana se refere.

Tomemos o exemplo da lingua-gem que, segundo o presente mito, é responsabilidade única do lado esquerdo do cérebro humano. Ac-tualmente, e segundo técnicas de imagiologia modernas, sabe-se que os processos gramaticais e a pronún-cia são resultantes da actividade em determinadas regiões hemisféricas esquerdas, enquanto que o ênfase e a entoação têm maior represen-tatividade no hemisfério direito. Podemos deste modo concluir que funções outrora atribuídas ao he-misfério esquerdo integram tan-to este como o direito e vice-versa.

Mais explicitamente, todos os comportamentos complexos e fun-ções cognitivas (seja a criatividade, imaginação, tomada de decisão, raciocínio lógico-dedutivo, entre outos) requerem um conjunto de acções integradas de várias zonas ce-rebrais de ambos os hemisférios.

É surpreendente verificar que muito daquilo que se acredita à primeira vista ser verdade sobre a Psicologia na realidade não o é. No mundo de hoje, onde a informação falaciosa acerca desta área é tão vul-garizada e difundida quanto a real, é essencial termos senso crítico e conhecimentos reais, pois, tal como Francis Galton afirmou, conheci-mento é poder!

Acima de tudo, e neste contexto, conhecer o que é realmente a Psico-logia e do que realmente se ocupa poderá ajudar muitos a tomar uma decisão mais consciente e convicta quando se trata de recorrer aos ser-viços de um psicólogo.

(...) todos os comportamentos complexos e funções cognitivas (seja a criatividade, imaginação, tomada de decisão, raciocínio lógico-dedutivo, entre outos) requerem um conjunto de acções integradas de várias zonas cerebrais de ambos os hemisférios.

NOVOS RUMOS

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A Psicologia Forense (PF) descreve--se como a Psicologia aplicada aos sis-temas judiciais, aos propósitos do Di-reito. Em particular, na Universidade de Aveiro (UA), a PF é recente, pois teve o seu início aquando do mes-trado no ano lectivo de 2009/2010. Beatriz Oliveira e Laura Alho, bol-seiras de doutoramento da Fundação para a Ciência e a Tecnologia (FCT), fazem parte dos primeiros mestres em PF da UA e encontram-se aí inseridas na investigação na área. Duas linhas de investigação em desenvolvimento, no momento na UA, são o estudo da detecção da mentira e a aplicação dos odores corporais na PF. Beatriz Oliveira iniciou os seus estudos ao nível da detecção da mentira aquan-do da sua dissertação de mestrado e, actualmente, no âmbito do seu dou-toramento na UA (orientação dos Professores Doutores Isabel Santos e Carlos F. Silva) em parceria com a Universidade de Portsmouth, conti-nua a investigar, seguindo as directi-vas da literatura actual, que sugere o desenvolvimento de novas técnicas de entrevista que permitam a discrimi-nação de pistas verbais e não-verbais em “mentirosos” e “honestos”, com

foco nas pistas do discurso. Pretende igualmente desenvolver novas técni-cas que coloquem em evidência po-tenciais diferenças entre “mentirosos” e “honestos” no que concerne a pistas psicofisiológicas como a resposta de condutância da pele e a eletroencefa-lografia, em particular através do pa-radigma do conhecimento culpado.

Na área dos odores corporais, Laura Alho também iniciou os seus estudos durante a realização da dis-sertação e, presentemente, também no âmbito do seu doutoramento (orientação dos Professores Doutores Sandra Soares e Carlos F. Silva), em colaboração com o Instituto Karo-linska, na Suécia. Este tem como ob-jectivo o estudo da identificação de odores em situação de crime como auxílio no reconhecimento de possí-veis perpetradores, através de alinha-mentos olfactivos, visando em última instância a diminuição da probabili-dade de erro na identificação de sus-peitos. Para isso, a sua investigação pretende determinar o número ópti-mo de estímulos olfactivos, manipu-lar o intervalo de retenção, o tipo de aprendizagem associado, e manipular a condição odor alvo presente e odor

alvo ausente nos alinhamentos, à se-melhança da literatura referente ao testemunho ocular.

Outro estudo a decorrer na UA com a colaboração de vários investi-gadores de diferentes áreas da Psico-logia, visa a identificação de marca-dores psicofisiológicos da dimensão externalizante da personalidade tan-to em populações não clínicas (estu-dantes universitários) como em po-pulações de reclusos.

A Psicologia Experimental de-fine-se pelo estudo laboratorial dos processos cognitivos básicos tais como percepção, memória, aprendi-zagem, motivação e emoção. Alguma da investigação em Psicologia Expe-rimental, também, na Universidade de Aveiro (UA) assenta actualmente em temáticas relacionadas com os processos de percepção e atenção e neste momento estão a ser elaborados estudos comportamentais e psicofi-siológicos relacionados com o proces-samento de faces, percepção de odo-res e personalidade financiados pela FCT e pela Fundação Bial. Em rela-ção ao processamento de faces, uma das linhas de investigação está a ser

A investigação em Psicologia tem, ao longo dos tempos, evoluído e travado descobertas que muito têm despertado o interesse da Ciência. Estar a par do que de melhor acontece no nosso País e não só deve ser – e é – um dos maiores desejos de quem é ou sonha ser Psicólogo. Como tal, não podíamos de deixar de partilhar 4 das áreas que mais se têm destacado por novas descobertas, pelo crescente aumento no ritmo de investigação e por serem áreas que nos despertam a curiosidade.

Novos Rumos na Investigação em Psicologia

Texto de Cristiana Moura, Filipa Fontoura Fotografias de Cátia Parreiral, Roberto Botelho e Universidade de Aveiro

NOVOS RUMOS NA INVESTIGAÇÃO DA PSICOLOGIA

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NOVOS RUMOS

NOVOS RUMOS NA INVESTIGAÇÃO DA PSICOLOGIA

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desenvolvida pelos Professores Dou-tores Isabel Santos e Carlos F. Silva e pelas doutorandas Ana Pereira e Ma-riana Carrito. Um dos projectos a de-correr, realizado em colaboração com o Doutor Chris Longmore da Univer-sidade de Plymouth, Reino Unido, diz respeito ao estudo da aprendiza-gem de faces novas, nomeadamente ao processo pelo qual faces não fa-miliares se tornam familiares. Nesse sentido, as tarefas experimentais de-senvolvidas incluem a apresentação de faces estáticas e em movimento, com um registo paralelo de correlatos com-portamentais e fisiológicos associados a este processo de aprendizagem.

Outro dos projectos pretende igualmente estudar o processamento de faces, nomeadamente as preferên-cias de atractividade, num panorama evolucionista. Este projecto, que se encontra a ser desenvolvido em par-ceria com a equipa do Perception Lab da Universidade de St. Andrews, Es-cócia, liderada pelo Professor Doutor David Perrett, tem como objectivo

compreender os processos psicoló-gicos envolvidos nos julgamentos de atractividade inerentes à observa-ção de faces de potenciais parceiros, numa perspectiva comportamental e psicofisiológica.

Numa perspectiva um pouco di-ferente, estuda-se também o proces-samento de expressões faciais relacio-nadas com diferenças individuais de personalidade. Com esta investigação pretende-se explorar os enviesamen-tos cognitivos negativos de pessoas com neuroticismo elevado em tarefas comportamentais e psicofisiológicas. Está igualmente a ser desenvolvida, pelos Professores Doutores Sandra Soares e Carlos F. Silva e pela dou-toranda Jacqueline Ferreira, outra li-nha de investigação relacionada com a percepção de odores corporais: o estudo tem como objectivo investi-gar a capacidade dos seres humanos em discriminar odores de indivíduos saudáveis e doentes, e posteriormente analisar os substratos neuronais sub-jacentes a esta discriminação. Este

trabalho conta ainda com a cola-boração do Professor Doutor Mats Olsson do Instituto de Karolinska, Suécia.

A Psicologia Evolucionista, esta é vista como uma abordagem teórica que procura estudar traços mentais e psicológicos (a memória, a percep-ção e linguagem), como adaptações ou processos adaptativos. O termo Psicologia Evolucionista ganhou particular relevo a partir da déca-da de 90 com a publicação do livro "The Adapted Mind. Evolutionary Psychology and Generation of Cul-ture”, de Barkov, Cosmides e Tooby.

Ao abordar esta área, teremos que destacar o papel essencial de Charles Darwin e os seus trabalhos relativos à selecção natural e selecção sexual, as bases da Psicologia Evolucionista. Mas não só, também é necessário sa-lientar a importância que os traba-lhos de Mendel, Hamilton, Trivers, entre muitos outros que se debru-çaram sobre esta área da Psicologia.

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O seu objectivo máximo é entender a evolução da mente (nomeadamente os seus mecanismo e as partes).

Esta área de investigação procura dar resposta a uma questão antiga, que se centra na dicotomia entre a biologia e a cultura, ou a natureza e a criação. O cerne desta ciência está na junção da ciência cognitiva com a biologia evolucionista (Confer et al., 2010).

Um factor característico desta área de estudo é o facto de ser relativamen-te recente e, como tal, é heterogénea, com pontos de vista bastante diversi-ficados. Particularmente, na Universi-dade do Minho, André Silva orienta-do pela Professora Dr.ª Joana Arantes, responsável pelas investigações em Psicologia Evolutiva na Universidade do Minho e Universidade de Can-terbury, Nova Zelândia, centra a sua linha da sua investigação nas questões relacionadas com a atracção interpes-soal. De facto, a comunidade cientí-fica e a cultura popular têm demons-trado bastante interesse em todas as questões relacionadas com a atracção

interpessoal, porém, na sua maioria, as considerações centram-se nas cog-nições explícitas, isto é, naquilo que as pessoas dizem umas das outras. O objectivo principal da investigação é perceber o que ocorre no sistema implícito – em termos da memória, atenção e percepção temporal – no momento em que alguém vê uma pessoa atraente do sexo oposto. As-sim, propõe-se pela primeira vez que o sistema cognitivo implícito evoluiu como um todo unitário para aumen-tar o sucesso reprodutivo humano. No decorrer do primeiro ano do seu doutoramento, André tem procura-do traduzir e adaptar alguns instru-mentos para a população portuguesa assim como desenvolver actividades experimentais que possam elucidar sobre o papel da atracção nas cog-nições implícitas. Particularmente, neste momento está na fase de im-plementação de um desenho experi-mental que, utilizando um equipa-mento de eye-tracking, irá permitir quantificar os processos atencionais

dos participantes quando obser-vam pessoas atraentes e não atraen-tes, bem como verificar se pessoas atraentes são posteriormente relem-bradas mais facilmente que pessoas não atraentes. Posteriormente, pre-tende-se averiguar se é possível efec-tuar predições sobre a estabilidade de um relacionamento através da mani-pulação ou mera quantificação dos processos implícitos.

Por último, não seria possível terminar este artigo sem abordar-mos as Neurociências, que se cen-tram no estudo do sistema nervoso, das suas composições moleculares e bioquímicas e do modo como estas se manifestam nas nossas activida-des intelectuais, como a lingua-gem, a resolução de problemas e acções. Podem-se considerar, des-te modo, áreas multidisciplinares com o principal objectivo de des-crever e explicar os mecanismos neuronais subjacentes à activida-de cognitiva, perceptiva e motora.

NOVOS RUMOS

Para conhecer o cérebro tem que se ter em conta as operações que o mes-mo é capaz de elaborar tal como o seu desempenho. A Neuropsicologia está focada no estudo das inter-rela-ções entre o funcionamento biológi-co e psicológico das situações. Estuda a linguagem, motricidade, a percep-ção, atenção e memória, mais parti-cularmente, estuda a localização ce-rebral e funcionamento neuronal das mesmas. Segundo o Dr. André Car-valho, psicólogo clínico, o objectivo da Neuropsicologia passa pela "com-preensão do funcionamento cerebral da pessoa através do desempenho de tarefas estruturadas, passíveis de se relacionarem com o seu diagnóstico neurológico e/ou psiquiátrico". A Neuropsicologia, oferece, pois, um importante contributo em inúmeras áreas, como por exemplo nos exames neuropsicológicos precoces, longitu-dinais e no diagnóstico transversal em doenças como, por exemplo, o Alzheimer (para cujo conhecimen-to científico esta área tem oferecido um importante contributo). As pes-quisas estão centradas, pois, em no-vas formas de avaliar e desenvolver estratégias e técnicas que permitam proporcionar uma melhor qualidade de vida às pessoas. Nas últimas dé-cadas as neurociências, em particular a Neuropsicologia, tem sido alvo de um grande desenvolvimento teóri-co, no entanto ainda existem alguns problemas teóricos e metodológicos que dizem respeito à relação que existe entre o cérebro e a mente, re-lação que ainda não foi devidamente explicada, sendo essa uma linha de pesquisa que necessita de um maior investimento.

Foi publicado recentemente o artigo "Beneficial effect of repetitive transcranial magnetic stimulation combined with cognitive training for the treatment of Alzheimer's di-sease: a proof of concept study", da autoria de Jonathan Bentwich e seus colegas. Este documento científico

aborda a doença de Alzheimer, um tipo de demência que é mais comum em pessoas de idade avançada e que se manifesta por distúrbios cogniti-vos e comportamentais que inter-ferem marcadamente com funções sociais e ocupacionais. Esta demên-cia afecta milhões de pessoas, nú-mero que tende a aumentar devido ao envelhecimento da população. A medicação actualmente usada para o tratamento da doença de Alzheimer tem um efeito temporário, sendo que os autores apresentam, no refe-rido artigo, a chamada estimulação magnética transcraniana (TMS). Trata-se de uma técnica não evasi-va que gera uma corrente eléctrica induzindo modulação na excitabili-dade cortical. O objectivo proposto pelos autores era o de tratar os doen-tes com Alzheimer combinando al-tas frequências repetitivas de TMS intercalando com COG (treino cog-nitivo). Os objectivos primeiros fo-ram melhorar a média da avaliação

da doença de Alzheimer na escala cognitiva e a impressão clínica global relativa à mudança. A Neuropsico-logia é, como se pode concluir, uma área em crescimento cada vez mais acentuado, sendo o artigo anterior-mente mencionado prova do poten-cial desta área no tratamento ou na melhoria da qualidade de vida do ser humano.

Todas as áreas mencionadas têm características em comum: apresen-tam um grande número de estudos recentes que anseiam marcar pela diferença e são heterogéneas, poden-do suscitar pontos de vista bastante diversificados. A todo o instante no-vas conquistas e descobertas assolam o mundo da investigação, a espécie humana, coloca em nós o querer des-cobrir mais e melhor tendo como ob-jectivo o auto-conhecimento. Todas estas áreas trazem consigo um novo olhar sobre a actualidade, mostrando o melhor que se faz em Portugal.

NOVOS RUMOS NA INVESTIGAÇÃO DA PSICOLOGIA

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Quando o palco é o mundo, qual será o melhor cenário para apresentar a peça da vida?

Novos Rumos na Prática em Psicologia

Texto de Mariana Guarino Fotografias de Diogo Saldanha

Uma casa modesta rodeada pelo verde do quintal, com cordeirinhos acabados de nascer a saltarem de couve em couve e a correrem atrás das galinhas como uma criança que corre atrás da cauda do gato, onde entra um vizinho, diz bom dia, diz boa tarde, vem a qualquer hora, pega num pão, dá uma trinca e dois dedos de conversa e assim se faz a vida?

Ou a ilustre casa, imaculadamente arrumada, um “Bom dia, Senhor Doutor” quando se sai de casa de manhã e um “Boa noite, Senhora Doutora” quando se entra em casa à noite, com o barulho da vida a acontecer como banda sonora, umas vezes mais atribulada que outras, apitos em demasia, palavras mais ofensivas gritadas a plenos pulmões, mas a fazer a vida acontecer?

E haverá um palco perfeito? Não terá a escolha do palco a ver com os personagens que o pisam? E com o momento da cena? E até com o de-correr da peça? Mas como? E já ago-ra… porquê? Não somos nós todos personagens da mesma peça? E terá o palco influência nisso?

NOVOS RUMOS

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NOVOS RUMOS NA PRÁTICA EM PSICOLOGIA

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Kurt Lewin, psicólogo social, foi o primeiro a pensar sobre a influên-cia dos palcos na representação do papel de cada um na peça da vida. A curiosidade sobre como poderia o meio ambiente e as relações com ele estabelecidas influenciar o modo de vida das pessoas, o modo como elas agiam, reagiam e se organizavam falou mais alto e assim surgiu, talvez não com este “rótulo”, a Psicologia Ambiental –“estudo das transacções entre o indivíduo e o seu meio am-biente (Gifford, 2007) ou o estudo das relações recíprocas entre o com-portamento humano e o ambiente natural e construído. Na prática é uma área da Psicologia Aplicada que procura compreender o comporta-mento humano integrado no con-texto físico e social em que ele ocor-re”, como nos disse a Dra. Fátima Bernardo, Psicóloga do Ambiente na Universidade de Évora, acrescen-tando ainda que “ser psicólogo do ambiente é estudar ou intervir tendo sempre em conta esta inter-relação comportamento-meio”.

A Psicologia Ambiental emergiu então no final dos anos 50 e desen-volveu-se durante o decorrer dos anos 60, com um especial destaque para o ano de 1958, há 55 anos atrás, em que um grupo de investigadores, com o apoio do Instituto Nacional de Saúde Mental dos Estados Uni-dos – onde a preocupação sobre o impacto do ambiente físico no com-portamento humano se fazia sentir de um modo bastante acentuado – desenvolveu uma investigação com o intuito de indagar a influência das características espaciais/arquitectu-rais de um hospital psiquiátrico no comportamento dos doentes. Ainda no contexto histórico podemos assi-nalar, em 1968, a fundação da En-vironmental Design Research Asso-ciation (EDRA) e, um ano depois, a criação da revista "Environment and Behavior". Já na Europa, a criação da associação que hoje se intitula de

International Association for People-Environment Studies apenas surgiu em 1981, concomitantemente com a publicação do Journal of environ-mental Psychology, na Universidade de Surrey.

Até finais dos anos 50 tudo o que havia eram cidades tecnocráticas em que se sabia bastante sobre planea-mento mas pouco se imaginava que a maneira como se construíam as cidades influenciava a qualidade de vida das pessoas. No entanto, a in-satisfação da abordagem egocêntrica do design, o desejo de um design mais centrado na pessoa e ainda a vasta destruição das cidades euro-peias, durante a II Guerra Mundial, assim como a sua consequente neces-sidade de reconstrução, contribuíram para que uma corrente emergisse no sentido de se indagar esta mesma in-fluência.

Ainda assim, apesar dos seus es-forços, a Psicologia Ambiental ainda não se conseguiu impor suficiente-mente para insistir na necessidade de se ter em conta a dimensão hu-mana. A verdade é que nos últimos 50 anos essa mesma dimensão foi clara e evidentemente negligencia-da no planeamento urbano: o meio rural foi colocado, um pouco, em segundo plano e o urbano levado ao expoente máximo. O principal ob-jectivo e preocupação não passava por proporcionar, nem qualidade de vida, nem bem-estar às pessoas. O importante era construir – e cons-truir muito e muito grande e muito bonito – não interessava se isso sufo-cava o ser humano, se abafava o ar, se matava o ambiente, não… interes-sava construir: prédios, arranha-céus, hospitais, estabelecimentos prisio-nais, grandes cadeias de hotéis, … ridiculamente descurou-se, e leia-se com atenção, não o sítio onde os ou-tros vivem, mas sim o sítio onde nós vivemos. As cidades, tal como disse Jan Gehl, devem ser criadas para as pessoas, “para o convívio ao nível dos

olhos, para a qualidade de vida” e tal deixou de acontecer. Segundo este ar-quitecto, as cidades começaram a ser construídas como edificações indivi-duais, em vez de conglomerações de espaços urbanos, onde o carro passou a espremer “a vida urbana para fora do espaço público”.

E porquê? Culpa dos arquitectos? Será que quando um arquitecto de-senha um projecto não tem em con-sideração o factor social e humano? Quando projecta um edifício quais são os determinantes que ele tem em linha de conta? Apenas as dimensões? Somente o seu fim? Ou também con-sidera o meio envolvente? Ponderará ele o que rodeará o edifício? E quem o habitará/utilizará? Segundo Jan Gehl os arquitectos cada vez mais planeiam a cidade como se ela fosse vista “pela janela do avião”, quando na verdade os deveriam planear vistos da rua. A ordem foi invertida e hoje, erronea-mente, pensa-se “primeiro nos edifí-cios, depois nos espaços livres e por fim nas pessoas”.

Na perspectiva do arquitecto, os profissionais seus colegas estão mais preocupados com a forma do que com a vida, estão focados nas tendên-cias, quando na realidade o que é real-mente importante é o térreo, o que se passa ao nível da rua, sendo isso o que é essencial para a qualidade de vida urbana. Nas palavras de Jan Gehl, “é preciso ter um estudo especial onde as pessoas sejam mais importantes do que o skyline”. E ainda recorrendo às suas palavras, que por sua vez se so-correm de Ralph Erskine: “para se ser um bom arquitecto é preciso primei-ro amar as pessoas, porque a arquitec-tura é, afinal, uma arte que lida com a moldura da vida das pessoas; é a arte que as emoldura!”

E o que são as pessoas? E o que querem elas? Se pudessem escolher uma moldura para as suas vidas que género seria? Será que conseguiriam escolher apenas uma ou optariam por várias, consoante o dia e o momento?

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As pessoas não são mais do que a sociedade que, enquanto comuni-dade, “representa uma unidade so-cial, de raiz territorial, caracterizada por relações de identidade, partilha, proximidade afectiva ou emocional, com base numa língua, numa cren-ça e/ou numa etnia; pode também considerar-se como sendo um agre-gado social de base racional e vo-luntária cujas relações se definiram como fragmentárias, segmentárias, impessoais e secundárias”, como nos definiu a socióloga Fátima Louren-ço quando interrogada sobre uma definição de sociedade, esclarecendo que “não existem sociedades consi-deradas boas ou más, elas apenas são uma construção social, ou seja um produto das interações e estratégias dos indivíduos”.

Contudo, como dizia Luís Vaz de Camões, “todo o mundo é composto de mudança” e também as socieda-des, com o mudar dos tempos e das gerações, sofrem alterações, modifi-

cam os seus hábitos, transformam os seus costumes, inventam e reinven-tam novas formas e fórmulas de vida. E se, João Pedro, um adolescente de 14 anos, que sempre viveu na aldeia, considera que isso não lhe traz van-tagens nenhumas, pois os recursos são escassos, desde a “ausência das grandes superfícies comerciais, das zonas de lazer e de entretenimento, de serviços de saúde, à falta de meios de transportes”, assim como “o facto de a vida estar muito mais limitada, sendo as possibilidades muito mais reduzidas” já uma idosa de 78 anos, Irene, igualmente aldeã desde sem-pre, considera que embora a cidade ofereça muito mais oportunidades e que é no meio urbano que, a nível profissional, as pessoas se podem de-senvolver, por exemplo, “o ambiente na aldeia é muito mais saudável. Vi-ver na cidade é viver dentro de uma gaiola”. Segundo Irene, o “trabalho de campo é mais exigente a nível fí-sico e menos a nível mental”, mas,

no entender da mesma, “muito mais saudável”, porque no “campo respi-ra-se ar puro, respira-se alegria.” Esta argumenta que “na aldeia sabe-se o que se come, porque se come o que se planta, fala-se com as pessoas, a vida é menos apressada, mais saudável, … é melhor!”

A Socióloga Fátima Lourenço afirma que “o meio onde se vive in-fluencia efectivamente a vida dos in-divíduos”, isto porque “na sociedade rural existe a primazia do «nós» e na urbana a do «eu», do individualismo”. A Psicóloga Fátima Bernardo, por sua vez, e quando questionada acerca dos diferentes impactos que cada meio pode causar, faz referência a Louis Wirth, da famosa Escola de Chicago, no livro The City, de 1925, que “de-fendia que o citadino era uma vítima da sobredensidade populacional das cidades o que conduzia a uma so-breestimulação cognitiva, a um enfra-quecimento das relações sociais” e, con-sequentemente, ao isolamento social.

NOVOS RUMOS

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A mesma reforça a posição de Louis Wirth afirmando que “a investiga-ção aponta um conjunto de efeitos negativos da vida nas cidades, que decorrem essencialmente da sobre-densidade populacional e da sobres-timulação cognitiva. Em comparação com a vida rural as cidades contém mais factores indutores de stress, maior percepção de insegurança, menor número de comportamentos de afiliação (como cumprimentar vizinhos, as pessoas que passam na rua, ou até mesmo olhar nos olhos dos transeuntes) e ainda um menor número de comportamentos pró-so-ciais (comportamentos de ajuda)”.

Todavia, uma adolescente, não menos adolescente que o anterior – João Pedro –, e um idoso não mais do que Irene, mas agora residentes des-de sempre na cidade, testemunham satisfeitos com a sua vida, alegando que na cidade existem mais facilida-des, “estando tudo «mais à mão»”.

Contudo, a jovem reconhece que

“o nível de poluição é consideravel-mente menor na aldeia e o contacto com a natureza claramente maior”. Ainda assim, considera mais vanta-joso viver na cidade. Opinião esta não muito diferente do seu sénior concidadão que considera que a “ci-dade tem mais atractivos do que a al-deia”, reconhecendo contudo que “na aldeia também existem vantagens: uma vida mais calma, um ar mas puro e alimentos mais saudáveis.”

Sendo assim, será mais salutar vi-ver numa aldeia ou no meio urbano? Nas palavras da psicóloga do am-biente, “talvez muitos médicos nos dissessem que viver no campo expõe o indivíduo a menores fontes induto-ras de stress e de riscos para a saúde. Do mesmo modo a Psicologia podia responder. Mas a vida é muito mais complicada do que isto e nem sempre o meio rural dá resposta às necessida-des actuais das pessoas (como empre-go, acesso à cultura, saúde...). Assim, a questão é: benéfico para quê? Para

cada um de nós esta resposta é dada de modo diferente tendo em conta as nossas expectativas e motivações.”

Fátima Lourenço esclarece-nos que “cada individuo é um ser único e individual”, por isso viver no meio rural ou urbano e sentir-se bem com isso “depende da sua personalidade e da sua forma de estar na socieda-de”. No entanto, “o contexto onde nasceu e cresceu pode influenciar a sua conduta, o que pode influen-ciá-lo a gostar, ou a considerar mais saudável, viver em meio rural ou urbano”.

Esta questão, como reitera Fáti-ma Bernardo, “é ainda mais compli-cada de responder, porque em cada situação o ser humano faz uma ava-liação dos custos dos benefícios de viver em determinado local e decide em função dessa análise. Contudo, essa análise é subjectiva e ainda mais é determinada pelas opções anterio-res que o sujeito fez”. A profissional na área exemplifica com a situação

NOVOS RUMOS NA PRÁTICA EM PSICOLOGIA

RUP Nº2 27

de um cidadão que, imagine-se, “con-sidera que viver no centro de uma ci-dade é muito positivo porque reduz as suas deslocações diárias, permite o acesso a um conjunto de infra-es-truturas, etc, mas que, por razões económicas, tem que optar por viver na zona suburbana da cidade”. Nes-te caso, este cidadão vê-se obrigado a “sobrevalorizar os aspectos positivos de viver na zona suburbana (menor ruído, menor poluição, maior proxi-midade com a natureza, etc) e des-valorizar os aspectos positivos antes considerados, para manter uma con-sonância entre o seu comportamento e as suas atitudes”. Facilmente, con-cluímos que, de facto, esta não é uma questão objectiva que permite uma e uma só resposta, assim como, muitas vezes (se não mesmo a maioria) de-pende do indivíduo – da sua persona-lidade e educação.

Isaurinda, uma adulta que nasceu e viveu parte da sua juventude no campo, decidiu ir viver para a cida-de, no início da sua adultez, “porque foi onde encontrei trabalho e, porque queria continuar a estudar. Radican-do-me na cidade não tinha que me deslocar para a aldeia, onde morava, utilizando o tempo das deslocações, tão precioso, para os estudos. Quan-do fiz a mudança a experiência foi maravilhosa; na altura, viver na ci-dade, num apartamento, era muito valorizado e, além disso, poupava muito tempo e dinheiro nas desloca-ções. Contudo, com o tempo come-cei a sentir falta da «liberdade» que é viver no campo.” Apesar das saudades que sente do campo e do desejo de regressar um dia ao meio rural, Isau-rinda não hesita em responder afir-mativamente quando questionada se, sabendo o que sabe hoje, mudava na mesma: “sim, mudava, porque era a única forma de atingir os meus ob-jectivos – estudar e encontrar o tra-balho que gostava”. Segundo Isaurin-da, “a vida no campo é muito mais saudável, tranquila, livre e sociável.

Na cidade, embora existam mais pessoas, a verdade é que ninguém conhece ninguém, ninguém fala com ninguém. No entanto só se pode dizer isto de alma cheia depois de se ter tido ambas as experiências”.

O palco é, realmente, só um: o mundo! Mas a forma como cada pes-soa o pinta depende das cores que cada um tem, da maneira como as quer conjugar, da moldura que lhe quer colocar e até da personagem que quer vestir e representar quando entrar em cena. Porque para algumas pessoas (ou melhor, em algumas eta-pas da vida), azáfama, carros, apitos, gritos, papéis, o telefone que não pára de tocar, “já estamos atrasados outra vez”, reuniões, “onde estão as chaves do carro?”, o trânsito, os au-tocarros, o elevador que não chega, milhões de pessoas na rua, um em-prego, uma família, um cargo im-portante, é o que é vida! Porque, no entender delas, foi para isso que tra-balharam, foi para aquilo que os seus pais se esforçaram. E vêem outras representações de vida como meras utopias, crenças ilusórias que só leva-rão à desilusão de quem nelas acredi-ta, porque hoje é preciso muito mais do que amor e felicidade, é preciso garra, a vida assim exige isso mesmo. Aliás, a vida é isso mesmo!

Para outras pessoas, noutros mo-mentos, a serenidade do campo, a tranquilidade que lhes chega do lado de fora da janela quando o dia nas-ce e o único barulho que se ouve é o cantar do galo, em que as coisas acontecem a um ritmo muito mais calmo e menos stressante, em que é possível fazer-se tudo sem que, para tal, um dia tenha de ter 25horas, e ainda dá tempo para ser feliz. Para estas pessoas, é mais importante a noite de cinema em casa, em que pais e filhos se aconchegam no sofá e, à volta do quentinho da lareira, vêem um filme da Disney, aquele que já viram 30 vezes, mas que não

se cansam porque enquanto os pe-quenos estão concentrados e felizes a olhar para a televisão nós, os pais, mesmo atrás, contemplamos o fruto do nosso amor. E haverá agitação, emprego, cargo importante algum que pague tamanha riqueza? Haverá vida melhor do que esta?

Pois bem, na verdade e generi-camente, uma representação não é mais vida do que outra, não traz mais felicidade e talvez nem sequer possamos dizer que alguma seja a mais saudável, porque nós somos to-dos diferentes e não temos de gostar todos do mesmo. Contudo sabemos, isso sim, que as relações recíprocas entre o comportamento humano e o ambiente natural são de extrema im-portância e que não devem ser des-curadas nem colocadas em segundo plano, daí a importância de pôr em prática a Psicologia Ambiental que se debruça precisamente sobre o estudo dessas transacções que o indivíduo estabelece com o meio. Construa-mos as nossas relações e preservemos o nosso ambiente… que teremos com certeza um palco suficiente-mente iluminado para poder entrar em cena e brilhar no nosso papel!

NOVOS RUMOS

NOVOS RUMOS NA FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA

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Biofeedback: Tudo o que o corpo conta sobre a mente.

Novos Rumos na Formação em Psicologia

Texto de Diana Nogueira Fotografias de Diogo Saldanha

O ser humano é um puzzle no qual o corpo e a mente funcionam como duas metades, onde aspectos fisiológicos se interligam e misturam com estados psicológicos e emocio-nais. Numa disciplina centrada no ser humano, como a Psicologia, tra-tar o paciente sem considerar qual-quer uma das partes é promover o seu bem-estar de forma incompleta e até mesmo ineficaz.

Ler a mente é ler também o cor-po. São dois capítulos de um mesmo livro. E tu, psicólogo e aprendiz, já leste as duas metades? Conheces o elo mente-corpo? E sabes, se neces-sário, tirar o livro da prateleira e uti-lizá-lo em plena consulta? Já paras-te para escutar que gritos da mente ecoam no corpo?

O termo biofeedback designa um conjunto de procedimentos terapêu-ticos cujos objetivos são a auto-regu-lação física e emocional, a consciên-cia corporal e o controlo voluntário de determinadas funções psicofisio-lógicas, dependentes maioritaria-mente do sistema nervoso autóno-mo. Como meta final, pretende-se que o indivíduo adquira competên-cias de auto-controlo e auto-cons-ciência que lhe permitam manter e restabelecer, a qualquer momento, a homeostase corporal.

Nesta técnica terapêutica, o paciente obtém conhecimento de determi-nados processos fisiológicos do seu organismo, através de instrumentos eletrónicos que captam, integram e amplificam os sinais vitais, conver-tendo-os em informações perceptí-veis para o indivíduo (e.g., imagens, sons, vibrações, gráficos). Confron-tado, em tempo real, com esses si-nais, o paciente consciencializa-se de processos e manifestações internas subjacentes a estados emocionais e comportamentos, podendo, me-diante esforço voluntário, controlar as funções fisiológicas (e.g., ritmo cardíaco, tensão arterial, tonicidade muscular, actividade elétrica cere-bral) e as emoções associadas (e.g., medo, stress, ansiedade). Deste modo, a resposta desadaptativa é tor-nada perceptível e consciente através de mecanismos visuais ou auditivos, em tempo real, facilitando, conse-quentemente, a emissão do input correcto. O biofeedback é um recurso tera-pêutico não invasivo, não medica-mentoso, baseado no conhecimento da ligação mente-corpo que procura defender o potencial humano para controlar queixas psicossomáticas e biopsicofísicas. É actualmente um campo multidisciplinar, aplicado, não apenas na Psicologia, como tam-bém em áreas como a Medicina, En-genharia Biomédica e outros campos da saúde física e psicológica.

Origens e bases do biofeedback

O biofeedback baseia-se nas teorias da aprendizagem (e.g., modelagem, refor-ço positivo, condicionamento operan-te), na teoria cognitivo-comportamen-tal e no pressuposto de que a cognição afecta o comportamento, podendo ser monitorizada e alterada e sendo pos-sível a mudança comportamental me-diante alterações fisiológicas.

Wolpe (1958, cit. in Conceição & Gimenes, 2004) foi um dos pri-meiros autores a utilizar parâmetros físicos em terapias comportamentais, nomeadamente na construção da hierarquia de acontecimentos aver-sivos utilizada na dessensibilização sistemática. O autor salientou a im-portância de considerar indicadores como a actividade electrodérmica na dessensibilização sistemática de fobias específicas, pela sua objectividade e pela influência mútua entre corpo e mente. A técnica do biofeedback assenta ainda nos estudos de Miller e colaboradores que provaram ser possível controlar funções biológicas em contexto laboratorial, através da aprendizagem e do condicionamento.

Actualmente, o biofeedback as-sume-se como uma terapia holística que reconhece que mudanças emo-cionais afectam os mecanismos orgâ-nicos e que as dinâmicas psicofisioló-gicas afectam domínios psicológicos do indivíduo. Está relacionado com

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a ascensão e influência da psicofisio-logia que salienta as relações mente-corpo e as integra em intervenções específicas. Baseia-se também em trabalhos pioneiros de Galvani, Jung, Jacobson e Schultz, que salientam a interligação entre o sistema nervoso autónomo e os estados emocionais, afectivos e comportamentais.

Etapas do biofeedback

O treino e prática em biofeedback po-dem ser fragmentados em várias etapas.

Primeiramente, e antes de se sub-meter a técnicas de biofeedback, o paciente é avaliado de forma holís-tica, sendo averiguados aspectos dos vários domínios da sua vida, como a sua história pessoal, estratégias de co-ping utilizadas, relações significativas e factores precipitantes do problema, seja ele físico e/ou psicológico.

Posteriormente, estabelece-se uma linha de base em que se registam os si-nais vitais e os indicadores fisiológicos de interesse. Mediante essa linha de base, delineiam-se objectivos a curto e a longo prazo, que podem consistir

em aumentar ou diminuir a activi-dade fisiológica medida. Essa linha de base deve acompanhar cada ses-são e vai permitir avaliar a eficácia da intervenção, através da comparação dos valores iniciais com os valores fi-siológicos finais.

Em cada sessão de biofeedback, o paciente é preparado para a detec-ção do sinal ou resposta fisiológica, contactando com eléctrodos, trans-dutores ou sensores que permitem a conversão de sinais fisiológicos em informação eléctrica. Nesta fase, são trabalhadas condições de melhora-mento do sinal, de modo a evitar a interferência de ruídos ou condições inapropriadas a uma medida objec-tiva. A informação obtida deve ser apresentada ao paciente de tal modo que este a consiga interpretar. Por exemplo, a temperatura da pele é apresentada em valores numéricos (graus Celsius), a frequência cardía-ca em gráficos com linhas e valores que são explicados e ensinados ao paciente, as variações do tónus mus-cular são apresentadas através de sons e imagens, a actividade cerebral através de ondas.

Com a ajuda do psicólogo, o pa-ciente identifica indicadores de bom funcionamento fisiológico e indica-dores de actividades disfuncionais e toma consciência das consequências de comportamentos desadaptativos. Psicólogo e paciente estabelecem va-lores a alcançar em cada sessão, para cada actividade fisiológica na qual se está a intervir e, com o auxílio de outras técnicas (e.g., relaxamento, respiração diafragmática), o pacien-te tenta progressivamente atingir os valores correspondentes ao bom funcionamento na respectiva função (e.g., cardíaca, respiratória, muscu-lar, cerebral). O objectivo do treino pode ser o de manter uma resposta adequada, modificar um funciona-mento incorrecto ou controlar de-terminados sintomas.

A orientação e reforço por par-te do psicólogo terapeuta são im-prescindíveis para o sucesso da in-tervenção. Simón (2002) destaca a importância desse reforço explícito para um aumento das realizações bem-sucedidas na actividade pro-posta. Embora a consciência sobre os malefícios das disfuncionalidades

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orgânicas possa ser suficiente para incentivar o paciente, é importante introduzir outras técnicas comporta-mentais facilitadoras das mudanças de comportamento, nomeadamente a nível da relação terapêutica.

No final de cada sessão, o pacien-te deve ser informado sobre a evolu-ção do seu treino, sobre aspectos que devem ser corrigidos futuramente e deve receber recomendações para prosseguir o seu treino em casa, de forma autónoma.

A técnica de biofeedback termina quando o paciente consegue repro-duzir, no seu quotidiano, o condi-cionamento aprendido na sessão. Por outras palavras, a intervenção é bem-sucedida quando o indivíduo conse-gue alterar, de forma voluntária e au-to-controlada, sintomas disfuncionais para sensações de bem-estar físico e psicológico, sem a necessidade de ser confrontado com indicadores depen-dentes de um aparelho electrónico. Consequentemente, o número de sessões necessárias é variável e está de-pendente da evolução individual e da motivação do paciente.

Regularmente são realizadas ain-da sessões de seguimento clínico, de modo a avaliar a manutenção das capacidades de auto-regulação sem presença de feedback.

Em todo este processo, importa salientar o papel activo do paciente. A evolução terapêutica e consequen-te qualidade de vida do indivíduo após o biofeedback depende da sua motivação, envolvimento, das suas características atencionais, da sua persistência e disponibilidade para prosseguir os treinos em casa.

Benefícios do biofeedback na Psicologia

Vários autores (e.g., Moraved, 2008; Neto, 2010; Simón, 2002) advogam as potencialidades do biofeedback, defendendo a reestruturação cogniti-va guiada por sinais psicofisiológicos. Defendem que esta técnica facilita a implementação de outras formas de terapia, potenciando a modificação de padrões comportamentais e de pensamento associados a queixas físicas e a transtornos de somatiza-ção. Efectivamente, este método tem ganho influência na prática profis-sional dos psicólogos da saúde, pois permite a monitorização psicofisio-lógica das sessões de psicoterapia, utilizando as reações do sistema ner-voso autónomo para a identificação de emoções não expressas.

Actualmente, a utilização cres-cente do biofeedback por psicólogos de todo o mundo deve-se à panóplia de vantagens demonstradas em di-versas áreas de aplicação. Nomea-damente, Simón (2002) afirma que o biofeedback, isoladamente ou em conjunto com outras modalidades terapêuticas, melhora a capacidade de compreender e regular processos psicofisiológicos básicos, de redu-zir os níveis de activação, ansieda-de e stress, de controlar os efeitos nocivos de acontecimentos de vida stressantes para a saúde e de reduzir a intensidade de determinados sinto-mas físicos e o consequente impacto psicológico de determinadas doenças na auto-estima e no à-vontade social dos pacientes.

O biofeedback tem sido utilizado no controlo da ansiedade, do stress e outros problemas psicológicos. É comumente uma forma de confron-to dos pacientes com as consequên-cias a nível fisiológico de comporta-mentos de risco, funcionando como motivação para mudanças compor-tamentais e promovendo a adesão terapêutica.

Neste sentido, o biofeedback tem sido amplamente utilizado como forma de potenciar outras técnicas terapêuticas, como treinos de res-piração e relaxamento na terapia cognitivo-comportamental. Se os pacientes observarem o seu padrão respiratório natural, predominan-temente toráxico ou abdominal, e forem confrontados com evidências de desadaptação, poderão mais facil-mente integrar as indicações do psi-cólogo no sentido de executar uma respiração controlada, integrante das terapias que estão a decorrer.

Efectivamente, a prática do bio-feedback que envolve elevada concen-tração e treino é capaz de despoletar respostas antagónicas às de ansiedade e stress, bloqueando a manifestação física desses estados. O paciente, atra-vés do biofeedback, aprende ainda a controlar cognições e sensações ne-gativas, pois condicionar as respostas corporais associadas a esses estados re-quer que haja uma reestruturação psi-cológica, sendo os seus pensamentos e emoções condicionadas também, o que justifica a utilização desta práti-ca em Psicologia, principalmente na área clínica e da saúde.

Adicionalmente, um mecanismo específico de feedback baseado nas on-das cerebrais – o neurofeedback – tem ganho popularidade, pois intervém directamente nos circuitos neuronais. Como os indicadores fisiológicos uti-lizados se reportam directamente à actividade cerebral, o treino efectuado é mais eficaz a nível do sistema ner-voso autónomo e outras regiões cere-brais, permitindo não só a diminuição do stress, mas também melhorias na atenção e concentração, potenciação da criatividade, planeamento e dispo-nibilidade física, maior capacidade de empenho profissional, maior equilí-brio emocional e autoconfiança e me-lhorias na memória.

Por todas estas aplicações, embo-ra existam vários tipos de biofeedba-ck, com base no tipo de indicadores

NOVOS RUMOS NA FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA

fisiológicos (e.g., respiratórios, car-díacos), o neurofeedback é de todos o que tem revelado mais benefícios no campo da intervenção psicológica (Birk, 1073). Para além disso, pelo elo que o biofeedback estabelece en-tre a Psicologia e a Medicina, esta técnica é particularmente útil para psicólogos que trabalhem com pa-cientes com distúrbios da percepção corporal, como pessoas com sensa-ção de membro fantasma.

Em suma, o grande contributo do biofeedback neste sentido é o de dar a conhecer as alterações fisioló-gicas prejudiciais relacionados com determinados estados emocionais de modo a contrariar tais estados até atingir condições fisiológicas ideais (Neto, 2010; Simón, 2002).

A Formação em Biofeedback como Novo Rumo de Formação

Embora ainda não exista formação específica em biofeedback, esta téc-nica terapêutica tem sido cada vez mais abordada na formação em di-versas áreas, como na Medicina, En-fermagem, Fisioterapia e Psicologia.

Os modelos que enfatizam a re-lação mente-corpo como ferramenta imprescindível a qualquer intervenção terapêutica, seja essa predominante-mente física ou psicológica, orientam cada vez mais o ensino nas áreas da saúde. Especificamente, na Psicologia, as intervenções centram-se cada vez mais nos pressupostos centrais do bio-feedback, pelo que futuros psicólogos são cada vez mais expostos aos funda-mentos teóricos dessa técnica. Embora ainda não seja uma área implementada em massa em Portugal, o biofeedback tem ganho importância no ensino da Psicologia. Os futuros psicólogos portugueses são continuamente cons-ciencializados para os sintomas físicos de origem psicológica e do impacto do bem-estar fisiológico para a tran-

quilidade emocional, o que tem pre-parado caminho, gradualmente, para técnicas cada vez mais centradas nesse interface mente-corpo. Tal preocupa-ção em manter presentes os princípios do biofeedback salienta-se, sobretudo, na Psicologia da Saúde, embora seja transversal a todas as áreas de conhe-cimento em Psicologia. E, de facto, quando analisamos os currículos de Psicologia das Universidades portugue-sas, percebemos indirectamente, o peso que o biofeedback tem conquistado na formação de futuros psicólogos, ainda que a um nível principalmente teórico.

O biofeedback enquanto técnica aceite e praticada é relativamente re-cente, o que justificará a ausência de notoriedade nos cursos de Psicologia em Portugal. Contudo, perspectiva--se, claramente, a sua potencial inte-gração na formação em Psicologia, quando constatamos a sua actualida-de e a sua similaridade com os princi-pais pressupostos actualmente aceites e praticados na profissão. O número crescente de licenciados e mestres em Psicologia a procurar formação com-plementar em biofeedback e a inte-grar workshops extra-curriculares de

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professores especialistas nessa técnica é reflexo dessa potencialidade. Por outro lado, a procura de psicólogos com alguma formação em biofeedba-ck por clínicas e equipas de projectos científicos tem alertado a própria co-munidade docente e os alunos para a necessidade crescente de uma for-mação inovadora, multidisciplinar e actual, que permite resultados objec-tivos e mensuráveis. Nesse sentido, verifica-se uma maior iniciativa dos alunos na aprendizagem sobre esta temática, constatando-se particular e crescente interesse de mestrandos e doutorandos.

O incontestável desenvolvimen-to da investigação em neurociências e os contributos do estudo da rela-ção entre sistema nervoso autónomo e emoções propiciam o desenvolvi-mento do biofeedback. Se o grande desafio dos tempos passados foi a introdução dos estudos neuropsico-lógicos na formação em Psicologia, actualmente o maior desafio passa por aplicar os saberes obtidos sobre as formas como mente e corpo se influenciam mutuamente. Torna-se, pois, claro que o futuro da Psicologia passará pelo interface com a tecnolo-gia e com os conhecimentos a nível fisiológico o que necessariamente le-vará a uma crescente integração do biofeedback no estudo e na forma-ção em Psicologia.

—Referências

Birk, L. (1973). Biofeedback: Behavioral Medicine. Grune and Stratton: New York.

Conceição, M.I.G., & Gimenes, L.S. (2004). O uso de biofeedback em paciente tetraplégica com sensação de membro fantasma. Interação em Psicologia, 8, 123-128.

Low, J., & Reed, A. (2000). Electromyograpy explained: principles and practice. Botterworth Heinenann, 157-180.

Meireles, H., & Monteiro, A.C. (1979). Aplicação de um método de BF-EMG em terapêutica do comportamento a propósito de um caso de fobia. Análise psicológica, 2, 255-262.

Moravec, C. S. (2008). Biofeedback therapy in cardiovascular disease: rationale and research overview. Cleveland Clinic Journal of Medicine, 75, 35-38.

Neto, A.R.N. (2010). Biofeedback em terapia cognitivo-comportamental. Arq Med Hosp Fac Cienc Med Santa Casa São Paulo, 55, 127-132.

Simón, M.A. (2002). Biofeedback: manual de técnicas de terapia e modificação do comportamento. Santos: São Paulo.

Schwartz, M.S., & Andrasik, F. (2003). Biofeedback: a practitioner’s guide. New York: The Guildford Press.

NOVOS RUMOS NA FORMAÇÃO EM PSICOLOGIA

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NOVOS RUMOS

O tempo, na sua concepção comum, é uma dimensão quantitativa e objectiva que organiza a vida humana e reparte os milénios em séculos, anos, meses, semanas, dias, horas, minutos e até em segundos. O tempo é mais do que uma “série ininterrupta e eterna de instantes” e “medida arbitrária de duração das coisas” como proclama o dicionário. Segundo Kant, o tempo possui tanto uma realidade empírica como uma idealidade transcendental, constituindo esta uma forma à priori do sentido interno que estrutura e torna possível a cognição de objectos e experiências.

Os Rumos do Tempo na Psicologia

Texto de Andreia Jesus e Patrícia van Beveren Fotografias de Roberto Botelho, Diogo Saldanha e Vanessa Mendes

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O tempo, na sua concepção comum, é uma dimensão quantitativa e ob-jectiva que organiza a vida humana e reparte os milénios em séculos, anos, meses, semanas, dias, horas, minutos e até em segundos. O tempo é mais do que uma “série ininterrupta e eterna de instantes” e “medida arbitrária de duração das coisas” como proclama o dicionário. Segundo Kant, o tempo possui tanto uma realidade empírica como uma idealidade transcendental, constituindo esta uma forma à prio-ri do sentido interno que estrutura e torna possível a cognição de objectos e experiências.

O tempo é então um fenómeno complexo e transversal a várias dis-ciplinas, estudado, desde as artes às ciências, desde há muito tempo. De facto, em relação à Psicologia, o seu estudo remete para os primórdios desta disciplina, desde a criação do 1º laboratório experimental em 1879, por Wundt. Nessa altura, interessava apenas a sua natureza quantitativa, em medidas do tempo de reacção entre estímulos e respostas. Com a psica-nálise transfere-se o foco para o efeito das experiências passadas na mente e no comportamento. Mais tarde, foi com o surgimento do cognitivismo, em resposta ao behaviorismo onde o tempo perdeu qualquer relevância, desenvolveu-se a chamada “Perspec-tiva Temporal” (PT) (Ortuño, Paixão & Janeiro, 2011).

Introduzido o conceito em 1939 por Frank, a integração desta abor-dagem deveu-se às investigações de Lewin em 1959 sobre o processo de estabelecimento de objectivos e o seu

impacto na estrutura da mente. Se-gundo ele (1965), a PT consiste na “totalidade das perspectivas do indiví-duo sobre o seu futuro e passado psico-lógicos, existentes num determinado momento” presente e, deste modo, a temporalidade (1948) constitui uma dimensão organizadora do campo psicológico, contribuindo para a sua extensão progressiva e para o impacto motivacional dos objectos com o res-pectivo sinal temporal (passado, pre-sente ou futuro).

Desde as últimas três decadas que, para além dos pressupostos supracita-dos, a perspectiva temporal tem tido em consideração, não apenas a per-cepção temporal de cada indivíduo, mas a influência do tempo nos grupos e nas sociedades. O estudo do desen-volvimento da PT ao longo do ciclo de vida, demonstrou que este é um processo complexo e longo, no qual interagem vários aspectos psicológicos, como a maturação cognitiva e sócio-afectiva, bem como aspectos de cariz social e cultural. Deste modo, Zim-bardo e Boyd (1999) definem a PT como um “processo inconsciente pelo qual o fluxo contínuo de experiências pessoais e sociais são atribuídos às ca-tegorias temporais (...) que ajudam a dar a ordem, coerência e significado a esses eventos”. Presente (variáveis am-bientais e biológicas), passado (memó-rias passadas que se realacionam com o momento presente) e futuro (expec-tativa de um determinado resultado e do seu impacto para o próprio, face a um comportamento/atitude) exercem uma influência distinta na mente e no comportamento humano.

O estudo do desenvolvimento da PT ao longo do ciclo de vida, demonstrou que este é um processo complexo e longo,

no qual interagem vários aspectos psicológicos, (...)

OS RUMOS DO TEMPO NA PSICOLOGIA

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O modelo inicial, proposto por Zimbardo e Boyd (1999) tinha cin-co dimensões temporais (Ortuño, Paixão & Janeiro, 2011):

Passado NegativoSentimentos de ansiedade, repulsa e raiva para com o passado;

Passado PositivoPerspectiva positiva, afectuosa e sen-timental do passado;

Presente FatalistaPercepção negativa e incontornável dos acontecimentos;

Presente HedonistaVisão que ignora as possíveis con-sequências, em prole da busca de sensações, emoções e satisfação de prazeres;

FuturoOrienta o pensamento e o compor-tamento do indivíduo para a defini-ção e prossecução de objectivos/pro-jectos a médio/longo prazo.

NOVOS RUMOS

Este modelo pode complementar-se com duas outras dimensões temporais:

Futuro TranscendentalRelacionado com as crenças dos in-divíduos sobre a eventual vida após a morte e de como as suas acções podem vir a influenciar a mesma;

Visão Negativa de FuturoRelativa às incertezas, angústias e preo-cupações face à incerteza que o futuro representa.

Para uma compreensão plena do po-tencial da Perspectiva Temporal, é necessário atender à sua natureza mul-tidimensional: apesar de relacionadas entre si, as dimensões temporais de-vem ser vistas como independentes, pois relacionam-se de forma distinta com a mente e o comportamento hu-mano. Neste sentido, diversos estudos demonstram a relação específica entre cada uma das dimensões temporais e comportamentos e cognições.

De um modo geral, diversos es-tudos na área demonstram que uma

Perspectiva Temporal de Futuro promo-ve comportamentos adaptativos e fun-cionais, por exemplo: comportamentos pró-ambientais, aproveitamento aca-démico, desenvolvimento vocacional e atitudes e comportamentos empreen-dedores. Acresce ainda que indivíduos considerados como religiosos tendem a apresentar uma maior PT de Futuro Transcendental. Contrariamente, as di-mensões Passado Negativo, Presente Fa-talista e Presente Hedonista (em níveis elevados) relacionam-se com comporta-mentos de risco, que põem em causa um desenvolvimento saudável, tais como: condução perigosa, consumo de taba-co e de álcool, consumo de cannabis, procrastinação, transmissão de doenças sexuais e gravidezes não planeadas.

Alguns autores salientam que mui-tas investigações focam a influência comportamental de uma única di-mensão temporal, restringindo a am-pla compreensão do impacto psicosso-cial da PT. A título de exemplo, tem sido verificada uma tendência para a avaliação do impacto comportamental da PT de futuro.

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Por este motivo, é importante não só avaliar o impacto individual de cada dimensão, mas avaliar as dimensões de passado e futuro, enquadradas num bem-estar subjectivo e na satisfação com a vida, contemplando uma PT equilibra-da, assim como relacionar as diferenças na PT com variáveis cognitivas e sociais.

Os resultados obtidos através das diversas investigações efectuadas até ao momento permitem à PT actuar sobre os contextos, através de estratégias de detecção e prevenção da desarmonia das dimensões temporais em grupos de indivíduos. Exemplo disso são as cam-panhas de prevenção e minimização de riscos que enfatizam as consequências negativas a longo prazo de determinado comportamento (ex.: “Fumar provo-ca cancro do pulmão!”). No entanto, e como adverte a Professora Doutora Paula Paixão da Faculdade de Psicolo-gia e Ciências da Educação da Univer-sidade de Coimbra, essa estratégia “terá efeitos em sujeitos que são fortemente orientados por uma Perspectiva Tem-poral de Futuro, no entanto (...) o nos-so foco não devia ser nesses indivíduos, já que eles já apresentam a capacidade de pensar nas futuras consequências dos seus actos.” Neste sentido, recomenda que as campanhas sejam essencialmen-te “orientadas para os indivíduos com uma forte Perspectiva Temporal de Pre-sente, seja este Hedonista ou Fatalista, já que são estes que falham na capaci-dade de abstracção, pelo que não têm a mesma capacidade de predição de futu-ras consequências.”

A todos os jovens, possíveis inte-ressados nesta área, segundo a reflexão da Prof. Dra. Paula Paixão, a PT é uma área com futuro “já estabelecida na Psicologia, em diversos dos seus domínios (...) que procura articular de uma forma harmoniosa teoria, inves-tigação e prática, e que vai certamente conhecer novos e importantes desen-volvimentos na interface da Psicologia com as neurociências”.

A nível internacional, a PT tem uma grande expansão ao ser objecto de investigação em inúmeros países que abrangem todos os continentes. Um grupo de investigadores de mais de vinte países, têm desenvolvido estudos transculturais nesta área e divulgado os estudos recentes em conferências inter-nacionais. “A organização da primeira ICTP (International Conference on

Time Perspective) foi o passo lógico seguinte no aprofundar destas rela-ções internacionais para o desenvolvi-mento do estudo da Perspectiva Tem-poral” como comentou a Prof. Dra. Paula Paixão.

Para além da detecção e prevenção de problemas, a PT permite uma intervenção psicológica directa ao possibilitar o tratamento de pessoas com uma perspectiva temporal

desadequada, de onde possam incorrer situações de risco que comprometem o desenvolvimento do próprio.

(...) a PT é uma área com futuro “já estabelecida na Psicologia, em diversos dos seus domínios (...) que procura articular de uma forma harmoniosa teoria, investigação e prática, e que vai certamente conhecer novos e importantes desenvolvimentos na interface da Psicologia com as neurociências”.

OS RUMOS DO TEMPO NA PSICOLOGIA

First International Conference on Time Perspective: Converging Paths in Psychology Time Theory and Research (Ist ICTP)

De facto, nos dias 5, 6, 7 e 8 de Setembro de 2012, Coimbra aco-lheu investigadores de todo o mun-do, naquela que foi a primeira confe-rência sobre a Perspectiva Temporal: First International Conference on Time Perspective: Converging Pa-ths in Psychology Time Theory and Research (Ist ICTP). Esta foi orga-nizada pelo Instituto de Psicologia Cognitiva, Desenvolvimento Voca-cional e Social da Universidade de Coimbra em conjunto com o Gru-po de Pesquisa em Psicologia Social da Universidade de Lyon. Segundo o Dr. José Tomás da Silva, membro pertencente do comité científico, “a ideia seminal do 1º Congresso In-ternacional sobre Perspectiva Tem-poral surgiu em Istambul (Turquia) no decurso do European Congress of Psychology (ECP) 2011” e a “sua organização e implementação demo-rou pouco mais de um ano”.

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NOVOS RUMOS

Os principais comités que estive-ram na base da organização da con-ferência foram o comité científico, do qual a Directora da Faculdade de Psicologia e Ciências da Educação da Universidade de Coimbra, Luísa Morgado fez parte e o comité de or-ganização, constituído por profissio-nais originários de Portugal, Bélgica e França. Importa referir, ainda, que foram mais de 20 os colaboradores que se voluntariaram na organização deste evento de dimensão interna-cional que incidiu no estudo cientí-fico do tempo psicológico e do seu papel no comportamento humano. A este respeito, o Dr. José Tomás da Silva refere que “o numeroso grupo de estudantes que voluntariamente participou como staff da conferência mostrou um comportamento excep-cional e a todos níveis exemplar em termos de empenho, comprometi-mento, responsabilidade e dedicação altruísta”.

A Ist ICTP contou com a pre-sença de cerca de 300 participantes,

provenientes de 5 continentes, repre-sentando cerca de 42 países distintos – incluindo Alemanha, Japão, Tur-quia, Israel, Grécia, Rússia, Dubai entre outros – que se reuniram com o intuito de reflectir sobre o impacto da perspectiva temporal na vida do ser humano.

Durante quatro dias consecuti-vos, foram diversas as actividades realizadas, das quais se destacam os workshops, as lectures, apresenta-ções orais, simpósios e apresentações em poster, que permitiram apreen-der que, tal como Philip Zimbardo afirma, “a perspectiva temporal é das influências mais poderosas sobre o comportamento humano”.

. Reconhecido internacional-mente como a “voz e rosto da Psi-cologia americana contemporânea”, Philip Zimbardo em conjunto com Willy Lens, Jenefer Husman e Mark Savickas foram os principais keyno-te speakers que, segundo o Dr. José Tomás da Silva “foram muito impor-tantes, quer para a enorme adesão e

(...) “o numeroso grupo de estudantes que voluntariamente participou como staff da conferência mostrou um comportamento excepcional e a todos níveis exemplar em termos de empenho, comprometimento, responsabilidade e dedicação altruísta”. A Ist ICTP contou com a presença de cerca de 300 participantes, provenientes de 5 continentes, representando cerca de 42 países distintos – incluindo Alemanha, Japão, Turquia, Israel, Grécia, Rússia, Dubai entre outros (...)

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OS RUMOS DO TEMPO NA PSICOLOGIA

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NOVOS RUMOS

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afluência que tivemos no congresso (…) quer para a qualidade do mes-mo”, uma vez que estes “represen-tam diferentes escolas e linhas de pensamento sobre o tema”. Na sua opinião “a fertilização cruzada das distintas posições teóricas não deixa-rá de ter frutos na inovação e evolu-ção do trabalho de investigação que futuramente se realizará nesta área científica”.

Para além do programa científi-co, a Ist ICTP incluiu no seu pro-grama actividades sociais e culturais, tais como a visita à Universidade de Coimbra, a visita ao Museu Macha-do de Castro e um jantar de gala.

Depois de quatro dias propícios ao crescimento e desenvolvimento pessoal de cada um dos participan-tes, o feedback geral sobre a First International Conference on Time Perspective revelou-se bastante posi-tivo, tal como Fernando Abreu, par-ticipante e colaborador, demonstrou ao afirmar que “para além do tema em si nos oferecer outros quadros de referência para a análise e conheci-mento do comportamento huma-no, as minhas expectativas foram ultrapassadas, assisti a bons debates,

formais e informais, interagi com pessoas de (quase) todo o mundo, e ainda conheci mais do amplo, rico e (in)explorado campo de conheci-mento que a Perspectiva Temporal constitui.” Já nas palavras do Dr. José Tomás da Silva, “a conferência foi um sucesso, tanto no plano científico como no social, como o atestam os diversos e-mails que os conferencis-tas amavelmente nos têm endereçado manifestando o seu apreço e agrade-cimento pelo modo excelente como o evento decorreu”. Acrescenta, ainda, que “todos os ingredientes essenciais de uma boa organização científica (keynote speakers e conferencistas com elevado gabarito, comités orga-nizador e científico dinâmicos e em-penhados) confluíram para criar um evento inolvidável para todos aqueles que nele participaram”.

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NOVOS RUMOS

42 RUP Nº2

A Psicologiaaqui e agora• XX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia, 44-50 • Investigação em Neurociências e Renovação das Práticas Terapêuticas: Dia Mundial da Saúde Mental, 52-55

• A Psicologia Clínica e da Saúde: Terapia Cognitivo-Comportamental, 56-61

• Intervenção Precoce em Portugal, 62-65

• O Trabalho em Equipa: Interdisciplinaridade na Psicologia, 66-71

• A Psicologia na Universidade de Aveiro, 72-75

• A Psicologia no Rio de Janeiro, 76-79

• Instituições Internacionais de Investigação em Psicologia, 80-93

• Próximos eventos em Psicologia, 94-96

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XX ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES DE PSICOLOGIA

A 28 de Fevereiro, pelas 19 horas, na página do facebook do XX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia (ENEP), já se encontrava uma fotografia de alguns membros da comissão organizadora do evento a apelar àquele que ficaria marcado como um grande fim-de-semana na vida de todos os participantes.

XX Encontro Nacionalde Estudantes de Psicologia

Texto de Andreia Jesus, Mafalda Sobral e Mariana Guarino Fotografias de Nádia Costa

Assim que o primeiro autocarro chegasse ao Axis Hotel Ofir, no dia 1 de Março, tudo tinha de estar operacional e qualquer elemento da comissão organizadora teria de estar disponível para resolver um eventual problema que surgisse ou qualquer dúvida que fosse necessário esclare-cer. A partir daquele momento o XX ENEP tinha começado e só acaba-va no Domingo. Agora era mesmo a sério!

Primeiro tratou-se de colocar to-dos os participantes nos seus quartos e de seguida dirigi-los ao auditório para se proceder à cerimónia ofi-cial de abertura do encontro. Esta foi encetada por João Paulo Petiz, vice-presidente da Associação Na-cional de Estudantes de Psicologia (ANEP), que apresentou os elemen-tos da mesa: o Senhor Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugueses, Dr. Telmo Baptista, o presidente da Comissão Organizadora do XX ENEP, João Pedro Estanqueiro, o presidente da ANEP, João Andrade, e o vereador da Câmara Municipal de Esposende, Dr. Rui Pereira.

João Pedro Estanqueiro, depois de cumprimentar todos os presentes no auditório, explicou que perspec-tivar o XX ENEP como um evento científico seria bastante redutor, pelo

que, para o comprovar, este ano a comissão organizadora se empenhou bastante em promover um progra-ma social forte, “o que não significa que se tenha descurado o programa científico”. O presidente da comis-são organizadora não encerrou o seu discurso sem antes mencionar que foram 17 as instituições represen-tadas no evento bem como dedicar algumas palavras de agradecimento a várias pessoas que foram cruciais para que este se erguesse. Após estas palavras, ditas e ouvidas com grande sentimento, foi oficialmente declara-do aberto o XX Encontro Nacional de Estudantes de Psicologia.

Após uma forte ovação ao discur-so de João Pedro Estanqueiro, o Dr. Rui Pereira congratulou o mesmo pela iniciativa, aproveitando para referir que “o governo devia colocar os olhos nos jovens e ver que é ne-les que deve apostar”. O vereador da CM de Esposende realçou a presen-ça de tantos jovens neste encontro, provenientes de todos os pontos do país, confessando desejar “que as expectativas de todos não saiam de-fraudadas”. Para finalizar o seu dis-curso, o vereador desejou que todos desfrutassem de Esposende e deixou a esperança de que “um dia regres-sem para beneficiar do slogan desta

cidade: Esposende, um privilégio da natureza!”

Seguiu-se o Senhor Bastonário da Ordem dos Psicólogos Portugue-ses (OPP), Dr. Telmo Baptista, que confessou sentir-se profundamente agradado com todo o ambiente que se vivia no auditório do Axis Hotel Ofir, congratulando a comissão organizado-ra por tal feito. Em todo o seu discur-so, alertou para a necessidade de uma competência proactiva nos jovens, a fim de estes terem ideias novas e ino-vadoras que tragam ao país uma lufada de ar fresco e que assim o tirem do ma-rasmo em que se encontra. O Senhor Bastonário referiu ainda que a OPP não só se tem preocupado em dotar os psicólogos de competências éticas como também tem tentado promo-ver a capacidade empreendedora dos mesmos. Nesta linha de raciocínio, o Dr. Telmo Baptista chamou a aten-ção para a importância do convívio e das dinâmicas de grupo, dado que as competências que se desenvolvem nes-tas interacções nos permitem crescer, contribuindo para a nossa formação enquanto pessoas e profissionais. Nes-te sentido, o Dr. Telmo considerou que “o ENEP está substancialmente melhor neste aspecto, uma vez que não está, como nos anteriores, fo-cado apenas na vertente científica”.

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A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

Para terminar, o Bastonário afirmou que em qualquer desafio “compete a cada um fazer a sua parte!”, e que “participar em iniciativas deste gé-nero é muito importante, pois cada vez menos um empregador olha para a média da faculdade. Importa que sejamos agentes do nosso trabalho, temos de ser embaixadores de inicia-tivas.”

Por último, mas não menos im-portante, discursou o presidente da Associação Nacional de Estudantes de Psicologia, João Andrade, que também congratulou a comissão organizadora do ENEP pelo seu ex-celente trabalho. Como mote do seu discurso, o mesmo disse que “este é o ENEP preparado de nós para vós; este é o vosso ENEP!”. Acrescentou ainda que a ANEP está a crescer dia após dia, o que faz sentido, segundo o presidente desta associação, pois

do o presidente desta associação, pois a Ordem por si só não conseguirá colmatar todas as dificuldades que se sentem na profissão, sendo neces-sária esta união. Para terminar, João Andrade desejou que todos os par-ticipantes gostassem das actividades preparadas para eles, que o XX ENEP ficasse marcado na vida de cada um de forma bastante positiva e que to-dos fizessem parte desta história.

Sendo o ENEP um encontro or-ganizado por estudantes para estu-dantes, tal como a Revista Univer-sitária de Psicologia (RUP), um seu organismo autónomo, o encontro contou com um momento formativo da RUP, cuja finalidade foi a de dar a conhecer o seu habitual funciona-mento, bem como o espírito que esta equipa integra. Assim, pelas 10 ho-ras da manhã de Sábado iniciou-se a Oficina RUP, com a apresentação da

Comissão de Revisão Científica da RUP. Pedro Almeida, estudante da FPCEUC e elemento desta comis-são, debruçou-se sobre a relevância da publicação de artigos científicos, de fazer Ciência, justificando que não se trata “somente de produzir conhecimento mas sim de disse-minação e difusão da comunidade científica e do público em geral”, destacando, como função do cien-tista, “aumentar a qualidade de vida das pessoas, por forma a que a sua in-vestigação consiga ter uma influên-cia positiva na vida das pessoas e na sociedade em geral”. Seguiu-se Fer-nando Abreu, outro elemento desta equipa e também aluno da mesma faculdade, que apresentou a estrutu-ra que um artigo científico deve se-guir, assim como os procedimentos e regras que regem a Comissão de Re-visão Científica, nomeadamente no

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XX ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES DE PSICOLOGIA

processo de submissão de artigos que a RUP em formato digital segue. Por fim, para ilustrar e dar a conhecer dois artigos que já foram submetidos para a RUP Digital, Ricardo Viegas e Rui Vais, alunos da FPCE-UC, disponibilizaram-se a apresentar os seus trabalhos e experiência. A se-gunda parte da formação iniciou-se de uma forma um pouco peculiar, já que o administrador da RUP, João Carlos Arruda, se apresentou com um chapéu de cozinheiro na cabeça e com mais dois ajudantes, André Fernandes, membro da administra-ção, e Andreia Jesus, elemento da equipa editorial, ambos de avental e frigideira na mão. Isto porque a for-mação se intitulou de “Como estre-lar um ovo?”, metáfora esta aplicada à concepção de uma mini revista. Assim os participantes foram dividi-dos aleatoriamente em dois grupos:

equipa editorial, orientada nesta di-nâmica de grupo pela Andreia Jesus, e equipa administrativa, coordenada aqui pelo André Fernandes. Dividi-dos os estudantes pelas duas equipas, explicou-se então o que havia a fa-zer: uma revista de 8 páginas, em 20 minutos! No final, e embora os 20 minutos tenham sido ultrapassados, a verdade é que a revista com o título “Psicologia do Ovo” foi realizada e todos os participantes saíram satis-feitos da Oficina, de tal modo que houve até quem mostrasse interesse em integrar a revista.

À semelhança da RUP, também a OPP teve um espaço e momento no XX ENEP. Este foi essencialmen-te dedicado a uma sessão de esclare-cimento, que ocorreu no Domingo à tarde, conduzida pelo Dr. Victor Coelho, secretário da OPP. O objec-tivo foi o de debater, em conjunto

com os participantes, temas como a internacionalização dos psicólogos, os estágios profissionais em Psicologia e a situação profissional dos psicólogos em Portugal. No que diz respeito ao estágio fornecido pela OPP, foram es-clarecidas quais as três principais fases, nomeadamente o projecto de estágio, o tempo de contacto (estágio propria-mente dito) e o relatório de estágio. Foi ainda referido que os estágios a nível europeu são também possíveis, sendo para tal necessário o apoio de dois orientadores, um em Portugal e outro no país escolhido, tal como o cumprimento dos dois códigos deon-tológicos da prática profissional em cada um dos países. Para além disto, foi, também, motivo de debate o “vo-luntariado” em Psicologia, onde foi deixada a esperança de, a longo prazo, os profissionais verem concretizada a possibilidade de serem remunerados

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A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

pela sua prestação de serviços. Con-tudo, foi referido e discutido várias vezes, como ponto negativo e reforça-dor desta questão, a conjuntura actual em que o nosso país se encontra: uma crise que se prolonga, segundo o Dr. Victor Coelho, desde 1998.

No fim da tarde de Domingo, de-correu uma conferência que contou com a presença de cinco profissio-nais da primeira Unidade Laborato-rial de Investigação em Sexualidade Humana em Portugal – SexLab. Esta dedica-se, exclusivamente, à investi-gação experimental e psicofisiológica de diferentes aspectos da sexualidade humana. A primeira profissional a apresentar o seu trabalho foi a Dra. Joana Carvalho, que falou sobre “O Estudo da Psicofisiologia do Sexo em Portugal”, seguindo-se a Dra. Sandra Vilarinho, com o tema “Consulta de Saúde Sexual e Estudo da Eficácia

Terapêutica”, a Dra. Cátia Oliveira, que apresentou o trabalho que está a desenvolver actualmente, trazendo como tema “A Dor Sexual na Mu-lher Portuguesa: Preditores da In-tensidade da Dor”, o Dr. Pedro Laja e, por fim, a Dra. Manuela Peixoto, cujas temáticas se referiram ao “Efei-to de Stroop e a Excitação Sexual: Diferenças entre os Homens com e sem Disfunção Sexual Quando Ex-postos a Estimulação Erótica” e ao “Funcionamento Sexual em Gays e Lébicas: Factores de Vulnerabilidade em Disfunções Sexuais”, respectiva-mente. Quando terminadas as apre-sentações foi aberto um espaço para dúvidas onde o tratamento para a dor sexual e sexologia forense foram os principais temas debatidos, encer-rando-se, deste modo, uma apreciá-vel e informativa conferência.

Para além de todas as actividades

científicas supracitadas foram tam-bém muitas as lectures e workshops realizados por professores de insti-tuições de todo o país. Todas estas actividades foram possíveis graças à equipa responsável pelo programa científico que, como afirmou o coor-denador da mesma, Miguel Gonçal-ves, de Maio a Agosto teve os seus elementos “focados no planeamento, ou seja no desenho, do ENEP em si. Queríamos ter convidados que abor-dassem temáticas que não poderiam ser facilmente dadas em salas de aula, professores que falassem de te-mas diferentes e apelativos e, acima de tudo, temas pouco comuns.” Na visão de João Pedro Estanqueiro, “o programa científico teve uma quali-dade tremenda, como aliás já é mar-ca registada do ENEP, fornecendo ao estudante uma formação de enorme qualidade e que será, sem sombra de

XX ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES DE PSICOLOGIA

48 RUP Nº2

dúvidas, útil e essencial ao seu futu-ro académico e profissional. Assim, o pelouro do programa científico (na pessoa do Miguel Gonçalves e as suas “meninas”) só tem de estar or-gulhoso pela extraordinária compo-nente científica do XX ENEP.”

A nível social, o XX ENEP cum-priu aquilo que prometeu: reforçar a ligação e interacção entre os estu-dantes de psicologia de norte a sul do país. Desde um grito a uma dan-ça, a uma noite de casino, atraves-sando um momento fugaz em que sorrisos e palavras foram trocados pela primeira vez, passando por uma luta de almofadas entre professores e alunos até a um mural de cusquices, o plano social destacou-se pelo em-penho, criatividade e magnífica con-cretização. Nas palavras da equipa de Tiago Adegas, coordenador do pro-grama social, os resultados de meses de trabalho revelaram-se excelentes, e “catapultaram o plano social para outro nível”, como refere Rui Vais, membro desta equipa.

Para finalizar o XX ENEP, no fi-nal da tarde de Domingo, foi João Paulo Petiz quem iniciou a sessão oficial de encerramento ao ques-tionar e verificar que a maioria dos participantes estava ali presente pela primeira vez. Desde logo agradeceu, em nome da comissão organizadora, a comparência e o envolvimento de todos, procedendo a um pedido de desculpas por alguma coisa que te-nha corrido menos bem. O vice-pre-sidente da ANEP aproveitou ainda para convidar todos os estudantes de psicologia ali presentes a participar na organização de um futuro ENEP.

Terminado o discurso direcciona-do para o público foi a vez de dirigir, calorosamente e entre palmas, toda atenção para cada um dos elementos pertencentes à comissão organizado-ra, procedendo-se à apresentação in-dividual de cada um. Todo este calor estudantil foi mantido pelo visiona-mento dos melhores momentos do

XX ENEP compilados num magni-ficente vídeo, aplaudido por todos.

E porque a coesão grupal foi de-terminante no XX Encontro Nacio-nal de Estudantes de Psicologia, este terminou exactamente da mesma maneira que começou: com um roll call – BakaDance – que proporcio-nou momentos inesquecíveis e per-mitiu a todos os participantes fazer, durante 3 dias consecutivos, o que melhor sabem fazer: ser estudantes de psicologia. Como disse o presidente da ANEP é “difícil imaginar grandes melhorias nos próximos ENEP, o que gera um excelente sentimento de de-ver cumprido e de saudade”.

No fim da sessão de encerramen-to, à porta do auditório recolheram-se algumas opiniões aleatórias acerca de todo o encontro e o balanço fi-nal foi bastante positivo, isto por-que não houve nenhum estudante

que mostrasse descontentamento, aborrecimento, desagrado ou sequer arrependimento. Frases como “gos-tei muito”, “foi muito construtivo”, “o programa social estava óptimo”, “correspondeu sem dúvida às expec-tativas” foram predominantes na re-colha final de impressões.

Fernando Miguel Costa, aluno da Universidade do Minho, afirmou ter ido ao XX ENEP pela primeira vez e sem grandes expectativas, sen-do que saía do encontro satisfeito, embora o programa social lhe te-nha agradado mais que o científi-co, garantindo que para o ano, se o evento se mantiver perto do Norte, ele voltará a participar. Do mesmo modo, da Universidade de Coim-bra, Ângela João e Ana Rita Mouro consideraram ter valido a pena terem ido, encarando o ENEP como uma grande oportunidade para conhecer

pessoas quer da UC quer de outros sítios do país, o que é muito impor-tante: “aqui o social é mesmo a parte forte!”. Segundo Ana Rita Mouro, o encontro foi muitíssimo bem orga-nizado, a comissão transmitiu sem-pre muita calma, confiança e um espirito de união formidável o que tranquilizou sempre muito todos os participantes em muitos momentos.

E já mesmo na recta final do en-contro, momentos antes de se irem embora, ora de pé à espera para fazer o check-out, ora sentados no sofá ou nas escada, ou até mesmo no chão, a verdade é que apesar do cansaço visí-vel na cara de todos os participantes, a felicidade estava estampada no ros-to de cada um e não se vislumbrava qualquer indício de arrependimen-to. Foram 3 dias e 2 noites que, para quem não esteve, podem ser vistos como apenas um fim-de-semana

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

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50 RUP Nº2

como tantos outros, um fim-de-se-mana que, ainda por cima, privou a maioria dos participantes de irem a casa e de estarem com a família, de receberem o abraço bom da avó, os miminhos da mãe, os carinhos do pai e ainda os beijinhos da/o namorada/o, mas a verdade é que foi muito mais que isso, foi muito mais que apenas um fim-de-semana: foram muitas horas, foram numer-osos momentos que artigo nenhum algum dia conseguiria transmitir, até porque o mais importante ficaria sempre por dizer.

João Pedro Estanqueiro, depois do final do evento, fez questão de frisar que “se o ENEP foi o melhor de sempre, também foi porque con-tou com a melhor Comissão Organi-

zadora de sempre. Obrigado!” E é a essa mesma Comissão Organizadora do grande XX ENEP, incluindo o seu presidente, que nós queremos não só dar os parabéns pelo excelente tra-balho desenvolvido como também, e acima de tudo, queremos agradecer por nos terem permitido fazer parte da história. Apenas lamentamos que o próximo ENEP seja só para o ano. Fica contudo aqui a promessa de lá nos encontramos. Até lá!Fizemos história!

XX ENCONTRO NACIONAL DE ESTUDANTES DE PSICOLOGIA

Na manhã do dia Mundial da Saúde Mental, 10 de Outubro, saíram dois autocarros da Avenida Sá da Bandeira, Coimbra com um único rumo: Conferência sobre a Investigação em Neurociências e Renovação das Práticas Terapêuticas.

Em poucos minutos, o Pólo Sobral Cid, que serviu de palco à conferên-cia ficou repleto e, entre os muitos estudantes, a presença de vários pro-fissionais também foi notória.

A organização da conferência foi realizada por três entidades, nomea-damente pela Associação de Apoio ao Desenvolvimento Vocacional, Formação e Inclusão de Pessoas com Esquizofrenia – Associação ReCriar Caminhos –, pelo Instituto de Psi-cologia Cognitiva, Desenvolvimento Vocacional e Social – IPCDVS – da Universidade de Coimbra e, por últi-mo, pelo Centro Hospitalar Univer-sitário de Coimbra – CHUC.

Tal como referiu o Dr. Viegas Abreu, presidente da Associação Re-Criar Caminhos, quando questiona-do acerca do público-alvo, “embora a conferência fosse aberta a todas as pessoas interessadas nos temas em análise, houve, sem dúvida, a preocu-pação de que a conferência atingisse os profissionais de saúde e os inves-tigadores em neurociências eventual-mente interessados na interacção entre a actividade cerebral e os pro-cessos de intervenção terapêutica”.

Nas palavras do Mestre Pedro Belo, bolseiro e investigador de ges-tão científica no IPCDVS, a ReCriar Caminhos “desde a sua criação, em Outubro de 2008, tem vindo a co-memorar o dia da Saúde Mental com várias actividades de carácter científi-co e cultural, entre as quais se incluiu, em 2012, a conferência «Investigação em Neurociências e Renovação das práticas terapêuticas»”, afirmando-se esta temática relevante, pois as doen-ças mentais ainda permanecem, em muitos aspectos, envoltas pelo estig-ma social que sobre elas recai, como referiu também o Dr. Viegas Abreu. No seu entender, os órgãos de comu-nicação social, quando se referem a este assunto, exploram “a vertente sensacionalista de notícias, que são

transmitidas sem suficiente análise (…), o que frequentemente reforça o estigma social”. Por todas as razões supracitadas, do ponto de vista de-stas entidades, torna-se então ainda mais importante a missão de sensibi-lizar e de informar a sociedade actual sobre a presente temática.

O Mestre Pedro Belo não quis terminar sem antes referir que foi também objectivo desta conferência “apresentar alguns resultados impor-tantes da investigação que está a ser desenvolvida, neste caso em Inglat-erra, bem como das práticas terapêu-ticas feitas em Portugal”.

A conferência foi encetada pelo Dr. Viegas Abreu, que saudou e agradeceu a todos os elementos ali presentes, esclarecendo, de segui-da, que uma das muitas formas de combater o estigma acima referido passa por “difundir os conhecimen-tos científicos sobre a realidade das doenças mentais, por noticiar os resultados das investigações acerca dos diversos e múltiplos factores e as condições de vulnerabilidade fa-voráveis à emergência das doenças e por divulgar a existência de novas

Investigação em Neurociências e Renovação das Práticas Terapêuticas —Dia Mundial da Saúde Mental

Texto de Andreia Jesus e Mariana Guarino Fotografias de Vanessa Mendes

(...) as doenças mentais ainda permanecem, em muitos aspectos, envoltas pelo estigma social que sobre elas recai, (...)

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INVESTIGAÇÃO EM NEUROCIÊNCIAS E RENOVAÇÃO DAS PRÁTICAS TERAPÊUTICAS - DIA MUNDIAL DA SAÚDE MENTAL

(...) a persistência da Associação ReCriar Caminhos em procurar, desbravar e o mais importante… encontrar Caminhos para todos os doentes e os seus familiares. (...)

práticas terapêuticas integradas que permitem, para além da estabili-zação dos sintomas mais graves, a recuperação das pessoas doentes e a sua inclusão”. O professor fez ainda referência ao auto-estigma das pes-soas doentes e o “pacto de silêncio” das famílias das mesmas, abrindo-se aqui o vasto campo de intervenção psico-educativa e alertando para a necessidade de “informar e orientar as famílias” de modo a “ajudá-las a superar os medos e os sentimentos de culpa ou de vergonha”. Imper-ativo é também “educá-las a actuar como cuidadores informais e co-laboradores dos profissionais de saúde que se ocupam do processo de reabilitação e da indispensável autonomia do familiar doente”. O Dr. Viegas Abreu terminou o seu discurso com agradecimentos à Dr. Madalena Alrarcão, Vice Reitora da Universidade de Coimbra, ao Dr. José Martins Nunes, presidente da administração do Centro Hospita-lar da Universidade de Coimbra, ao Dr. António Prieto, presidente da administração do Hospital Sobral Cid, ao Dr. Horácio Firmino, por ter aceite o convite para moderar a conferência em questão, e aos Drs. Tiago Marques Reis e Fernando Po-cinho por também terem aceite o convite para partilharem com todos os presentes os seus conhecimentos.

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A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

INVESTIGAÇÃO EM NEUROCIÊNCIAS E RENOVAÇÃO DAS PRÁTICAS TERAPÊUTICAS - DIA MUNDIAL DA SAÚDE MENTAL

54 RUP Nº2

O discurso do Dr. Horácio Firmi-no incidiu sobre a reorganização da área da saúde mental, a psiquiatria, que, a seu ver, abrirá novos centros de saúde mental, encontrando na soli-dariedade um forte pilar, tal como os tempos obrigam. Seguiu-se a Dra. Ma-dalena Alarcão que referiu a persistên-cia da Associação ReCriar Caminhos em procurar, desbravar e o mais im-portante… encontrar Caminhos para todos os doentes e os seus familiares. Esta profissional e docente da Facul-dade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coim-bra congratula a Associação por nunca desistir de tentar chegar à solução para os problemas, permitindo e possibil-itando o acesso a tantas actividades diferentes. Antes de encerrar o seu breve discurso, também felicitou todos os estudantes ali presentes por aprove-itarem estas oportunidades, porque, e citando a mesma, “a aprendizagem faz-se de diversas formas.”

Depois de proferidos ambos os dis-cursos, o Dr. Horácio Firmino, mode-rador da conferência, introduziu o Dr. Fernando Pocinho – Psicólogo Clíni-co e Psicoterapeuta nos CHUC – cuja intervenção se intitulou “Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais e Neu-rociências”, permitindo “mostrar uma abordagem integradora destas psico-terapias nos casos de saúde mental, revelando os seus efeitos positivos na actividade cerebral”, tal como referiu o bolseiro e investigador Pedro Belo.

Concluída a intervenção do Dr. Fernando Pocinho, o moderador da conferência deu a palavra ao segundo conferencista convidado: Dr. Tiago Reis – Psiquiatra e Investigador na Universidade de Londres, que trou-xe o tema “O papel da Neuro Ima-gem na Prática Clínica”. Nas palavras do Mestre Pedro Belo este é um dos “investigadores de neuroimagem que mais se tem destacado na co-munidade científica”, sendo por isso de extrema importância a apresen-tação do seu trabalho no nosso país.

Finalizada a intervenção do Dr. Tiago Reis e com o intuito de esclarecer as dúvidas do público, foi dada a oportu-nidade de interrogar os conferencistas sobre as temáticas abordadas, encer-rando-se deste modo o debate sobre a “Investigação em Neurociências e Renovação das Práticas Terapêuticas”.

Embora as expectativas para a conferência fossem elevadas, na pers-pectiva de Pedro Belo, a realidade su-perou-as, “dada a adesão massiva de participantes”. Concluindo ainda que “a importância deste dia foi assinala-da de forma bastante positiva junto da população universitária e da socie-dade”, esperando, “acima de tudo, ter contribuído para uma maior chama-da de atenção para a problemática da Saúde Mental”.

A Associação ReCriar Caminhos promoveu, para além da conferência,

espectáculo “Amor Controverso” que consistiu na leitura encenada de poemas de amor, de autores portu-gueses. Este espectáculo contou com a colaboração do grupo “Controversos” – grupo de poesia e teatro da ReCriar Caminhos – e com o “Interdito” – grupo de teatro da Faculdade de Psi-cologia e de Ciências da Educação da UC.

Em jeito de conclusão, o Dr. Vie-gas Abreu refere que “embora com finalidades específicas distintas, tanto a conferência como o espectáculo de Leituras encenadas contribuíram de forma significativa para assinalar o Dia Mundial da Saúde Mental, evi-denciando que a recuperação das pes-soas com doença mental é possível, tal como a sua inserção na comunidade, quando valorizadas as suas competên-cias e desenvolvidos os seus talentos”.

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Uma cabeça que pensa e um corpo que sente e faz. E eu, onde estou?

A Psicologia Clínica e da Saúde: Terapia Cognitivo-Comportamental

Texto de Ana Rita Martins Fotografias de Vanessa Mendes, Tiago Perdigão e Diogo Saldanha

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A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

Não sei quem és e tu também não sabes quem eu sou. Não faz mal. Até porque há quem diga que poucos são aqueles que sabem quem são, defen-dendo que não somos o que pensa-mos, não somos o que sentimos, não somos o que fazemos. Apesar disso, tu e eu somos dois. Contudo, ainda que eu não saiba, a minha cabeça parece saber muito bem quem eu sou e fazer questão de mo recordar todos os dias, repetindo “tu és assim”, “nunca foste capaz de”, “não podes fazer isso”, “tens de ser mais aquilo”, etc. Mas será que eu serei o que ela diz? E então talvez de dois passemos a quatro: eu, os meus pensamentos, tu e os teus pensamen-tos. Já lá voltamos…

Porém, duas coisas sei neste mo-mento. Sei que estou a escrever umas palavras para ti e que tu, por outro lado, estás a ler, a ver ou simplesmente a folhear a RUP. E porque utilizamos uma mesma linguagem entendemo--nos, mesmo sem nos conhecermos. E por isso, este artigo (que não vou adjectivar porque sei que o farás, se já não o fazes agora, por mim) preten-de encetar em si uma proposta. Pára, lê e deixa-te desafiar. Porque ler talvez seja diferente daquilo que a tua cabeça te diz acerca do que lês; porque estar sentado talvez seja diferente do que a tua cabeça te conta sobre o estar senta-do; porque a linguagem utilizada para descrever e avaliar a realidade talvez seja diferente dessa realidade. Desafia--te a pensar o teu pensamento e a ex-perimentar a tua experiência. Confuso? Estranho? Um Disparate? Talvez. Mas só experimentando saberás. Ao fazê-lo poderás descobrir coisas engraçadas ou incomodativas ou outra coisa qualquer ou simplesmente não descobrir nada. Também não faz mal. Porque o não descobrir nada é já em si uma desco-berta. Permite-te desafiar e desafia-te.

De facto, a Psicologia, no campo Cognitivo-Comportamental, tem-nos presenteado com agradáveis surpresas e desconcertantes desafios. Estes têm protagonistas, gente informada pelas

preocupações das pessoas e necessida-des da sociedade, procurando susten-tação empírica na análise aprofundada e permanente que desenvolvem em diferentes áreas, utilizando, na base, o modelo cognitivo-comportamental. Pessoas que se figuram já como um produto da novidade do aprofunda-mento dessas questões essencialmente porque, ao procurar conhecer todo o processo, permanecem descontentes, um descontentamento que os embe-be de criatividade. Pedimos assim a colaboração do Professor Doutor José Pinto Gouveia e da Professora Dou-tora Cristina Canavarro, professores catedráticos da Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universi-dade de Coimbra (FPCE-UC) e inves-tigadores na área da Psicologia Clínica e da Saúde, subárea Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC).

Ainda que por vezes tenhamos essa ilusão (mais uma de tantas ilusões que o ser humano teima em criar. Também já lá vamos, deixa-te estar.), nenhuma ideia inovadora surge por acaso. De facto, são necessárias circunstâncias que preparem os tempos para que alguma coisa de diferente tenha a oportunida-de de ser criada e entendida como rele-vante e de manifesta utilidade. Com-preende-se, portanto, a importância de entender os marcos históricos basilares desta área de saber.

Reportando-se às origens do mo-delo em referência, os professores re-cordam que, em Portugal, o interesse começa com a Terapia do Comporta-mento, em 1972, simultaneamente nas cidades Coimbra e Lisboa, localizando as primeiras actividades nos Serviços da Clínica Psiquiátrica dos Hospitais da Universidade de Coimbra e no Hos-pital Júlio de Matos, em Lisboa. Com a fundação, em 1977, pelo Decreto-Lei nº 12/77 de 20 de Janeiro, dos “Cursos Superiores de Psicologia”, em Coimbra, Porto e Lisboa, mais tarde integrados nas Faculdades de Psicolo-gia e de Ciências da Educação criadas pelo Decreto-Lei nº 529/80 de 5 de

Novembro, este interesse alargou-se às faculdades e concretizou-se na adop-ção de áreas curriculares sobre o mo-delo.

(E enquanto lês esta história, que eu achei engraçado contar-te, con-segues aperceber-te que a tua cabeça não pára de te bombardear de pen-samentos? Tenta ir percebendo o que fazes com eles. Acreditas no que eles te dizem? Muito, pouco, tudo, nada? Reages ao que te pedem/exigem? Ris do que te contam?) Mas continuemos nós, agora, quatro.

Em 1980 constitui-se a Associação Portuguesa de Terapia do Comporta-mento (APTC), tornando-se, três anos depois, membro efectivo da European Association for Behaviour Therapy (EABT). A 5 de Abril de 1984, com o objectivo de promover a divulgação, formação e intervenção com base nas TCC, é fundada a Associação Portu-guesa de Terapia Comportamental e Cognitiva (APTCC). Destaca-se, ain-da, a mudança de nome da EABT para European Association for Behaviour and Cognitive Therapy (EABCT), a 11 de Setembro de 1992, durante o 22º Congresso, realizado na cidade de Coimbra; mudança que, segundo a Professora Doutora Cristina Cana-varro, reforça a importância das va-riáveis cognitivas e a relevância da sua operacionalização do ponto de vista terapêutico. A Professora, ao reflectir sobre este movimento gradual de ex-pansão, reconhecimento e aceitação deste ramo da Psicologia, acrescenta que desde a década de 80 até à actua-lidade “presta-se melhor formação, os modelos tornaram-se mais sofisticados e requintados, conseguindo-se pensar as problemáticas de uma forma mais elaborada, científica e validada empi-ricamente”. Paralelamente, o Professor Doutor Pinto Gouveia acentua o gran-de desenvolvimento da área ao colocar a hipótese de que esta “é hoje, talvez, o tipo de terapia, a nível da Europa e dos Estados Unidos da América, mais uti-lizado e com maior apoio empírico”.

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Contudo, o Professor considera que a principal dificuldade no ensino des-ta área relaciona-se com o facto de a TCC, por não ter um modelo teórico muito rígido, se ter começado a apli-car a várias perturbações psicológicas, surgindo, em consequência, peque-nas variações e sub-modelos. Assim, segundo o Professor, o termo TCC não define um tipo de terapia espe-cífica, englobando terapias mais com-portamentais, baseadas nos princípios do condicionamento, ou cognitivas, como terapia à la Beck, ou constru-tivistas e desenvolvimentais ou ainda cognitivo-emocionais, entre outras.

Compreendido este percurso e le-vantadas estas questões, sobrepõe-se, agora, uma maior: Mas afinal em que consiste a TCC? Apesar da multipli-cidade de abordagens conceptuais, os Professores da FPCE-UC referem que aquilo que define este tipo de te-rapia é, essencialmente, a aderência a um conjunto de princípios que estru-turam a metodologia de avaliação e intervenção.

A TCC é uma abordagem psico-lógica que, tendo por base princípios científicos com eficácia validada em-piricamente para um vasto conjunto de problemas psicológicos e da saúde, coloca terapeutas e doentes/clientes a trabalhar juntos na identificação e compreensão das dificuldades actuais em função da relação entre pensa-mentos, emoções e comportamentos. Assentando no estabelecimento de uma relação terapêutica pautada pela aceitação incondicional e empatia pela pessoa, suas fragilidades e poten-cialidades, e, paralelamente, motiva-dora do processo de mudança, pre-tende-se: (1) avaliar e compreender as dificuldades actuais da pessoa tendo em conta o seu início e desenvolvi-mento bem como a sua história de desenvolvimento e de aprendizagens prévias, integrando toda a informa-ção numa formulação idiossincrática do funcionamento psicológico da pessoa; (2) estabelecer um contrato

psicológico que comprometa te-rapeuta e doente/cliente no/para o processo terapêutico; (3) definir objectivos determinantes e orienta-dores de uma intervenção cogniti-vo-comportamental funcional adap-tada às características da pessoa; (4) implementar estratégias cognitivas, emocionais e/ou comportamentais eficazes na resolução das suas dificul-dades e na promoção de auto-conhe-cimento; (5) monitorizar e avaliar continuamente o processo terapêu-tico, trabalhando-se no sentido de, gradualmente, a pessoa se autono-mizar e se tornar o “terapeuta” de si próprio.

Para a Professora Cristina Cana-varro, o seu modelo conceptual e respectiva ligação à prática, pelas fer-ramentas específicas e pragmáticas de actuação em diversos contextos e pelos protocolos de avaliação e in-tervenção estruturados e validados, são aspectos distintivos desta área de especialização, sugerindo que “naquilo que é o tempo pedagógico que uma pessoa tem para se formar e começar a intervir, penso que este é um bom modelo de formação”. Na perspectiva do Professor Pinto Gouveia, esta área distingue-se pela concepção da mente humana, do seu funcionamento e possibilidades, bem como pela preocupação que coloca nos processos. Explica (e eu desafio-te) que se trata de separar o produto do processo: “uma coisa é o pensamento que aparece feito, ou-tra é o processo pelo qual se chega até esse pensamento específico. Vi-vemos hipnotizados pelo produto e não vemos o processo, tal como num espectáculo de ilusionismo. Quando vemos o processo deixamos de ficar tão fascinados e presos no produto e percebemos como, desde pequenos, somos condicionados para reagir a produtos sem perceber o processo.” (E tu? Reages aos produtos/pensa-mentos automáticos ou procuras compreender todo o processo?).

Deriva do exposto que o ensino da TCC, na perspectiva dos Professores entrevistados, implica, inevitavel-mente, uma “grande ligação à in-vestigação, por um lado, e à prática clínica, por outro; sendo esta proxi-midade, concretizada no ensino de modelos conceptuais e de protocolos terapêuticos apoiados tanto na ex-periência da prática clínica como na validade empírica da investigação, considerada uma marca distintiva da área. Sintetizam: “Aqui ensina-se a formação que se tem, aquilo que se investiga e também o que se faz e fun-ciona na prática clínica”.

Neste sentido, quando questio-nados sobre a aplicação das TCC as respostas são concordantes, enun-ciando as perturbações de ansiedade (pânico, fobias, específicas e social, perturbação obsessivo-compulsiva, perturbação stress pós-traumático, perturbação da ansiedade generali-zada), perturbações de humor (com destaque para quadros depressivos e de perturbação bipolar), perturbações do comportamento alimentar, pro-blemas nas crianças e adolescentes, problemas relacionados com a saúde, dor crónica, consumo de substâncias, questões desenvolvimentais e de ciclo de vida, esquizofrenia e psicose, pro-blemas associados a dificuldades de aprendizagem, perturbações do sono, entre outros. A Professora investi-gadora na FPCE-UC salienta que a aplicação da TCC ultrapassa o con-texto clínico e da saúde na medida em que “aposta na compreensão do comportamento humano, não ape-nas o perturbado e psicopatológico, pois todo ele se rege pelas mesmas leis de aprendizagem e desenvolvimento, motivo pelo qual o modelo pode ser útil em áreas da educação, organiza-cionais e sociais”.

Atenção que, apesar da sua vali-dade comprovada, a história da TCC está por fazer (e esta história, que eu achei engraçado contar-te, tem agora uma reviravolta inquietante).

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Um desenvolvimento recente, mere-cedor de destaque pela mudança de paradigma que enceta, diz respeito às TCC Contextuais ou de 3ª Geração que, tendo por base a Relational Fra-me Theory e o Mindfulness, postula que (1) o contexto influencia o com-portamento; (2) o importante é a re-lação que se tem com o pensamento e não o conteúdo deste; (3) o pensa-mento é essencialmente linguagem, isto é, pensar é derivar relações entre estímulos arbitrariamente mas apli-cados de forma não arbitrária; (4) a linguagem leva muitas vezes o ser hu-mano a responder a coisas ignorando aspectos contextuais e os estímulos ambientais; enuncia o Professor Pin-to Gouveia, um dos principais inves-tigadores e formadores deste tipo de abordagens. Deste modo, o principal problema do seguimento de regras rígidas verbais é que elas restringem o comportamento humano, tornan-do-o mais inflexível, pois quanto me-nos a regra atinge as consequências

desejadas mais se segue essa regra e, por conseguinte, mais rígida ela fica. Desta forma, o Professor explica que estas terapias, nas quais se inserem o Mindfulness e a Terapia Focada na Aceitação e na Compaixão, não ten-do pretensões de desenvolver rees-truturação cognitiva, procuram antes ajudar a pessoa a “observar o que está a acontecer consigo, sem se agarrar às tempestades que estão a acontecer”, ou seja, compreender que “os pensa-mentos são só pensamentos e não a realidade”.

A nível nacional, a formação em TCC é uma realidade em muitas uni-versidades públicas e privadas ainda que, segundo os Professores, nem sempre a orientação e organização dos cursos seja convergente por ra-zões de tradição, equipas de investi-gação, docentes da área, entre outras. “De uma forma geral os portugueses sabem pouco sobre o que andam a fazer os outros portugueses”, são as palavras do Professor Pinto Gouveia

ao apontar um primeiro desafio, na esfera comunicacional, entre investiga-dores e profissionais da área. No do-mínio social, outro desafio relevante, segundo a Professora Cristina Cana-varro, prende-se com a problemática da empregabilidade e do desenvolvi-mento de carreira dos jovens, ao qual o Professor Pinto Gouveia acrescenta a necessidade de controlar e exigir qua-lificações às pessoas que exercem Psi-cologia. Ambos consideram, no domí-nio específico da formação em TCC, que a aposta numa sólida formação, possibilitando um ensino mais estru-turado não apenas no campo teórico mas reforçando o desenvolvimento de competências específicas do saber-fa-zer, com mais tempo de supervisão e potenciador de uma atitude reflexiva, activa e crítica por parte dos alunos, é uma prioridade. “De facto, o principal desafio é formarmos alunos capazes de intervir bem e que saibam consumir e construir informação. Porque estamos a formar profissionais e porque o co-

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nhecimento avança muito depressa, é necessária actualização constante e uma aprendizagem para além das pare-des das faculdades, ao longo da vida”, refere a Professora Cristina Canavarro. No plano conceptual, destacam a liga-ção, abertura e desenvolvimento das neurociências, da Psicologia Evolu-cionária, das Teorias das Mentalidades Sociais, das TCC Contextuais ou de 3ª geração, das questões de comunicação, por parte de profissionais de diferen-tes áreas, nas instituições de saúde, e, ainda, do apoio psicoterapêutico via internet; bem como a aplicação desses princípios, e respectiva concretização em guidelines empiricamente valida-das, a diferentes fases do ciclo de vida, a diferentes problemas ligados à saúde e à doença, às perturbações da persona-lidade e do comportamento anti-social e à psicopatologia em geral. De forma transversal, reforçam a importância do fortalecimento de redes internacionais de trabalho, onde a European Asso-ciation for Behavioural and Cognitive

Therapies tem um papel fundamental.Dirigindo-se aos estudantes, in-

centivam os alunos a aprender, a pro-curar informação e desenvolvê-la, a serem activos, curiosos e críticos no seu percurso académico, a não endos-sar rigidamente modelo nenhum, a envolverem-se no seu processo forma-tivo, a pensar por si próprios e a seguir as suas convicções. A Professora con-clui: “para um aluno faz toda a dife-rença ter um bom professor, mas para um professor também faz toda a dife-rença ter bons alunos; porque são um estímulo, por todas as perguntas que colocam, por todos os olhares atentos, por toda a responsabilidade sentida. E assim, em conjunto, aprende-se mais e o conhecimento cresce”.

Penso ser importante ressalvar que este pequeno artigo constitui-se como uma primeira aproximação de divul-gação muito genérica de uma área de especialidade cuja complexidade ul-trapassa a abordagem geral aqui efec-tuada, pelo que arrisco-me a não ser

totalmente justa por não citar todos os seus principais precursores nem desenvolver todas as noções/teorias/aplicações centrais.

A ti, leitor, mais do que possibilitar um conjunto de respostas, que, como vês, não seriam mais do que interpre-tações e significados afastados da rea-lidade, pretendeu-se lançar-te numa rampa de desafios. Desafia-te a pensar o teu pensamento e a experimentar a tua experiência. E a perceber a dife-rença. Porque, pelos vistos, o pensa-mento e a linguagem podem ser úteis (sem eles não te podia contar esta his-tória que eu achei ser engraçada para te contar) mas, de facto, nem sempre o são. E quando não o são podem dar uma grande dor de cabeça e levar-te a um psicólogo, por exemplo, cogniti-vo-comportamental.

Pois, lamento que, depois desta leitura, continues, certamente, sem saber quem és. Pelo menos eu conti-nuo. Mas olha, penso que não faz mal.

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A Intervenção Precoce em Portugal teve um percurso notável nos últimos anos. Ao longo das últimas cinco décadas, muitas foram as crianças e as famílias que usufruíram deste apoio.

Intervenção Precoce em Portugal

Texto de Nádia Costa Fotografias de Nádia Costa e Tiago Perdigão

Os primeiros programas de Interven-ção Precoce (I.P.) em Portugal surgiram na década de 60, e tinham três princí-pios básicos: 1. A sociedade é responsável pela pro-tecção e prestação de cuidados às crian-ças de idades precoces; 2. Devem ser asseguradas as necessi-dades educativas especiais das crianças mais vulneráveis, devido a situações de deficiência ou consequência do cresci-mento em condições de pobreza/pri-vação;3. É preferível a prevenção ao trata-mento e a I.P. à remediação. Estes pro-gramas que começaram por se dirigir a crianças socialmente desfavorecidas ra-pidamente foram alargados a crianças com deficiência, oferecendo não ape-nas apoio domiciliário, mas também apoio em centros especializados.

Estes programas seguiam, funda-mentalmente, o modelo médico. Os cuidados e a educação para as crianças até aos 6 anos de idade (amas, creches, jardins de infância) eram essencialmen-te da responsabilidade do Ministério da Saúde e Assistência, passando mais tar-de a estar a cargo da Segurança Social e depois do Ministério da Educação. As crianças com paralisia e com problemas motores eram atendidas nos centros de referência de Reabilitação de Paralisia Cerebral (Lisboa, Porto e Coimbra), que integravam técnicos de diferentes

trabalhando de forma diferenciada. Aqui já era possível aceder a uma equi-pa multidisciplinar, que via a criança como um todo. Nesta fase, os progra-mas existentes focavam-se essencial-mente na criança. “Os pais além de não serem envolvidos na intervenção, eram muitas vezes culpabilizados pe-los profissionais que eram vistos como experts” (Boavida, 1992 in Alves, M., 2009, p.32; Serrano & Correia, 1998).

Com a Revolução de Abril, dão-se verdadeiras modificações na socieda-de portuguesa e, nomeadamente, no atendimento às crianças com deficiên-cia, com as famosas Cooperativas de Crianças Inadaptadas (CERCIS). Es-tas cooperativas surgiram da iniciativa dos pais, sob a tutela do Ministério da Educação. Apesar de haver uma mu-dança significativa no atendimento a estas crianças e nos recursos utilizados, mantém-se o problema do não aten-dimento, nestas estruturas, de crianças com idade inferior aos seis anos.

A Divisão de Educação Especial no Ministério da Educação surge por volta de 1973, e contribuiu para o início do movimento da integração destas crianças. Nesta fase, raras eram as crianças com deficiência aceites nos jardins-de-infância, tal como havia um número reduzido de crianças, com idade inferior a seis anos, acompanha-das por estas equipas.

Devido à falta de recursos existente, a maioria das crianças com deficiência permanecia em casa, e somente os casos de deficiências mais graves eram detectados pelas estruturas de saúde. A partir de 1974, assiste-se a uma maior integração destas crianças por parte das instituições privadas e de solidariedade social, sendo que, algumas delas benefi-ciavam do apoio dos serviços de orien-tação domiciliária (região de Lisboa e do Porto), ou das educadoras das equi-pas de educação especial do Ministério da Educação. Segundo Bairrão (2000), “considerava-se “em risco”, toda a criança portadora de uma deficiência, que tivesse sido sujeita a problemas no período pré, peri ou pós-natal ou ain-da, com privações várias – nutrição, graves carências socioeconómicas, in-capacidade materna, marginalização familiar ou outra.”

Com o decorrer dos anos foi-se ge-neralizando a importância de desenvol-ver novas formas mais eficazes de apoio e de intervenção às crianças com defi-ciência. Começou, então, a falar-se de identificação ou detecção precoce. Sur-giu também a necessidade de estimu-lação precoce, quer no sector da saúde quer nos sectores da educação e da se-gurança social. Apesar destes avanços, a identificação e detecção das crianças com problemas continuou a ser tardia, ocorrendo, geralmente, no início da es-

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colaridade obrigatória. O atendimen-to das crianças nas faixas etárias mais precoces, caracterizava-se por orienta-ções genéricas às famílias e por presta-ção de apoios especializados à criança, sendo estes de cariz reabilitativo (Bair-rão, J.R. & Almeida, I. C., 2002).

O primeiro programa de I.P. coor-denado, multidisciplinar, inter-ser-viços, envolvendo serviços de saúde, educação e segurança social, usando os recursos existentes na comunidade foi o Projecto Integrado de Interven-ção Precoce (PIIP), que surgiu em Coimbra no ano de 1989. Este adop-tou o Método Trans-serviços, que permitiu aos profissionais coordenar apoios para além das suas especialida-des.Foi então revelada a importância do envolvimento dos pais na estimu-lação dos filhos, como co-terapeutas e co-tutores, e por consequência, no sucesso dos programas educativos.

“Não faz hoje em dia em nenhu-ma parte do mundo, qualquer sentido continuar a intervir apenas nos pro-

blemas específicos da criança. Não faz qualquer sentido ignorar a família ou reconhecê-la apenas quando neces-sitamos de alguém que implemente actividades centradas nos problemas particulares da criança (e chamando a isto Intervenção Precoce centrada na família). Não faz também qualquer sentido reduzir a I.P. à aplicação de um programa de estimulação mais ou menos estruturado, aplicado em casa, numa creche ou numa instituição, envolvendo só técnicos, só família ou ambos.” (Boavida, J. E., 1995 in En-contro Nacional de Intervenção Preco-ce, 3º (1995), A família na intervenção precoce : da filosofia à acção. Coimbra. Fundação Calouste Gulbenkian).

Em 1998 surge a Associação Na-cional de Intervenção Precoce (ANIP), com o objectivo de disseminar as mi-nar as boas-práticas em intervenção precoce a nível nacional.“A Associa-ção Nacional de Intervenção Precoce (ANIP) é uma organização que con-grega pais, profissionais e investiga-

dos processos de Intervenção Precoce (IP) em Portugal, através das quatro grandes áreas de intervenção defi-nidas na respectiva missão: apoio à implementação da IP a nível nacio-nal, formação, investigação e apoio a crianças, famílias e técnicos de IP. A ANIP surgiu como resultado da experiência transdisciplinar e inter-serviços do Projecto Integrado de Intervenção Precoce do Distrito de Coimbra (PIIP), bem como das ne-cessidades identificadas nesse âmbi-to e tem construído muitas das suas competências e experiência através da colaboração nesse projecto, tal como da participação em outros projectos e iniciativas interinstitucionais (por exemplo, mediante parcerias com as Universidades de Aveiro, Minho e Porto) que o seu próprio desenvol-vimento qualificado exigiu, inclusi-ve no âmbito internacional.” ANIP (2010). ANIP: Instituição de Refe-rência na Intervenção Precoce. Revis-ta Diversidades, nº27.

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Sistema Nacional de Intervenção Precoce na Infância

Em 2009, através do Decreto-Lei nº 281/2009 de 6 de Outubro a I.P. passa a ser definida como um conjunto de medidas de apoio inte-grado, centrado na criança e na fa-mília, que inclui acções de natureza preventiva e reabilitativa, designada-mente no âmbito da saúde, educação e acção social. Este serviço pode ser prestado em diferentes contextos, preferencialmente no ambiente na-tural da criança, e desenvolve-se ten-do por base uma relação de parceria com a família. Visa a promoção do desenvolvimento das crianças, em idades precoces, com deficiências ou incapacidade, atraso de desenvolvi-mento ou em risco grave de atraso de desenvolvimento, bem como a melhoria da qualidade de vida da criança e sua família, através de uma abordagem transdisciplinar.

No referido Decreto-Lei estabele-ce-se a constituição do Sistema Na-cional de Intervenção Precoce na Infância (SNIPI). Neste sistema são abrangidas crianças entre os 0 e os 6 anos de idade, com alterações nas funções ou estruturas do corpo, que limitam a participação nas activida-des típicas para a respectiva idade e contexto social, ou com risco grave de atraso de desenvolvimento, bem como as suas famílias. Por outras palavras, são elegíveis para acesso ao SNIPI todas as crianças com alte-rações nas funções ou estruturas do corpo ou em risco grave de atraso de desenvolvimento que acumulem 4 ou mais factores de risco biológico e/ou ambiental. O SNIPI funciona, em todo o território nacional, por articulação dos Ministérios da Saú-de, Educação e Segurança Social, em colaboração directa com as famílias, e é coordenado pela Comissão de Coordenação do SNIPI.

De acordo com o artigo 4º do

Decreto-Lei, o SNIPI tem como ob-jectivos: a) Assegurar às crianças a protecção dos seus direitos e o desenvolvimen-to das suas capacidades, através de acções de IPI em todo o território nacional; b) Detectar e sinalizar todas as crian-ças em risco de alterações ou alte-rações nas funções e estruturas do corpo, ou risco grave de atraso de desenvolvimento; c) Intervir, após a detecção e sinaliza-ção nos termos da alínea anterior, em função das necessidades do contexto familiar de cada criança elegível, de modo a prevenir ou reduzir os riscos de atraso de desenvolvimento; d) Apoiar as famílias no acesso a ser-viços e recursos dos sistemas da se-gurança social, da saúde e educação; e) Envolver a comunidade através da criação de mecanismos articulados de suporte social.

Cabe às Equipas Locais de In-tervenção (ELI), o apoio directo às

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famílias, sendo que para cada caso há um responsável. Não obstante, toda a equipa está a par dos casos e contribui para as decisões tomadas acerca da intervenção. As ELI reú-nem semanalmente para debater os casos em apoio e analisar novas re-ferenciações que vão surgindo. Estas equipas são, por norma, sediadas nos Centros de Saúde, sendo ideal-mente constituídas por profissionais das seguintes áreas: Educação, En-fermagem, Fisioterapia, Medicina, Psicologia, Serviço Social e Terapia da Fala. Os membros das ELI deslo-cam-se aos domicílios, creches e jar-dins-de-infância, colmatando a lacu-na existente anteriormente, relativa à distância que existia entre serviços e famílias.

Verifica-se, assim, uma maior articulação entre serviços, nomea-damente: médico de família, insti-tuições de solidariedade social, Hos-pital Pediátrico, Segurança Social e, nalguns casos, Comissão de Protec-ção a Crianças e Jovens.

As famílias detêm sempre a deci-são final, sendo que, primeiramente decidem se querem receber o apoio do SNIPI (no caso de haver cum-primento dos critérios de elegibili-dade), e posteriormente, decidem os moldes em que o apoio será dado, sendo que, é possível que seja um apoio no contexto educativo, no domicílio ou misto. Estes tipos de apoio implicam sempre o envolvi-mento dos pais, educadores e qual-quer outra pessoa importante para o desenvolvimento da criança. Um dos objectivos do SNIPI é capacitar as famílias e os educadores, para que sejam capazes de estimular o desen-volvimento da criança, no dia-a-dia. Sabe-se que uma hora de apoio se-manal nestas idades não é o suficien-te, assim sendo, a capacitação pelos técnicos de I.P. tem como objectivo que o desenvolvimento da criança seja estimulado todos os dias, nos seus vários contextos.

Os técnicos de I.P. podem tam-bém, acompanhar as crianças e famí-lias às consultas sempre que os pais assim desejarem.

Assim, o apoio que os técnicos de I.P. prestam às famílias é muito di-versificado e global, passando pelas várias situações do quotidiano em que as famílias sentem necessidade de ajuda.

Actualmente, o SNIPI apoia mi-lhares de famílias em todo o país, através de centenas de técnicos que têm como intuito contribuir para proporcionar uma vida mais feliz a estas crianças e às suas famílias.

—Referências

Alves, M. (2010). Intervenção precoce e edu-cação especial: práticas de intervenção cen-tradas na família. Psicosoma.

ANIP (2010). ANIP: Instituição de Referên-cia na Intervenção Precoce. Revista Diversi-dades, 27: 28,29

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http://gritodemudanca.blogspot.pt/2010/02/intervencao-precoce-em-portugal-parte-2.html

RUP Nº2 65

É bastante recorrente falarmos de interdisciplinaridade no quotidiano. Diariamente somos confrontados com situações que exigem o estabelecimento de um diálogo entre diversos saberes distintos, partindo de disciplinas igualmente distintas e que, nunca se sobrepondo uns aos outros, se revelam complementares na busca de objectivos comuns. Mas o que pretendemos realmente dizer quando falamos em interdisciplinaridade?

O Trabalho em Equipa: Interdisciplinaridade na Psicologia

Texto de Carolina Pascoal Fotografias de Diogo Saldanha, Vanessa Mendes e Tiago Perdigão

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O TRABALHO EM EQUIPA: INTERDISCIPLINARIDADE NA PSICOLOGIA

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

(...) as disciplinas cada vez mais se vão começando a unir, reconhecendo que o estabelecimento de limites rígidos e

barreiras impenetráveis constitui não mais que um entrave à sua evolução.

Apesar de este ser um conceito bastante recorrente no nosso quoti-diano, nem sempre é fácil encontrar um sentido ou definição que possa esclarecer-nos de forma definitiva sobre este conceito, e as dúvidas per-manecem repetindo-se. Existem no entanto algumas definições, propos-tas por autores como Ferreira e As-sumpção, que certamente nos con-seguirão melhor elucidar; Segundo Ferreira (1993) – “ A Interdisciplina-ridade deve ser compreendida como um acto de troca, de reciprocidade entre disciplinas e ciências. É uma atitude, uma externalização de uma visão de mundo de natureza holísti-ca, uma visão de totalidade.” Segun-do Assumpção (1993) “nomeia um encontro que pode ocorrer entre os seres -inter- num certo fazer -dade- a partir da direccionalidade da cons-ciência, pretendendo compreender o objecto, com ele relacionar-se e comunicar”. As definições propostas pelos autores levam-nos a compreen-der que a interdisciplinaridade é um processo de troca de saberes, uma força propulsiva que leva os vários especialistas a moverem-se além das especificidades que caracterizam a sua área de conhecimento, aceitando os contributos de outras. Visto que várias disciplinas se cruzam e com-plementam na persecução de maio-res e melhores resultados, podemos afirmar que se trata, sem grande margem para dúvidas, de um pro-cesso de entreajuda, que automati-camente traz consigo aprendizagem. No entanto, existem ainda algumas

divergências quanto aos possíveis usos deste tipo de abordagens. Ainda não podemos falar de uma definição concreta e universal e o material teó-rico relativo a estas temáticas ainda é escasso e de acessibilidade limita-da. Mas é inegável que se trata de um fenómeno que ocorre na prática profissional diária, ao qual devemos render-nos ainda que os critérios não estejam totalmente definidos. Cada vez mais somos confrontados com

áreas do conhecimento que conju-gam nomes de disciplinas distintas: Psicomotricidade, Neurolinguística, Biomecânica, Biotecnologia, e estes são apenas alguns exemplos. Desta forma se verifica que as disciplinas cada vez mais se vão começando a unir, reconhecendo que o estabele-cimento de limites rígidos e barrei-ras impenetráveis constitui não mais que um entrave à sua evolução.

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À medida que avançamos na ex-ploração deste tema, há no entanto alguns pontos aos quais devemos prestar especial atenção, pois podem levar a conclusões erradas. Em pri-meiro lugar devemos ter em conta que a interdisciplinaridade não deve ser entendida como uma aproxima-ção aleatória de pontos de vista ou opiniões que, na sua sobreposição, não pressupõem qualquer conexão lógica. “A aproximação pela via da interdisciplinaridade depende sem-pre do estabelecimento de um tema de interesse que constitua um foco central, lançando sobre ele olhares de diferentes perspectivas, investi-gando-o sob diferentes pontos de vista ou discursos, por meio do esta-belecimento do conhecimento acu-mulado, com outros interlocutores, ou através da nossa própria atitude de abertura a vários modos de pensa-mento” (Fazenda, 1995).

Uma outra questão que se revela legítima é a questão da identidade: não poderá a prática interdiscipli-nar intervir negativamente na credi-bilidade e identidade de uma dada disciplina? Ou seja, de que modo podemos estabelecer uma relação de entreajuda e contributo profissional com os outros, sem tentar reduzi-los a nós mesmos ou deixar que nos re-duzam a si mesmos, caindo num “va-le-tudo” inconsciente?

Em primeiro lugar é importante termos consciência de que adoptar uma abordagem interdisciplinar não significa necessariamente um aban-dono da nossa disciplina. Pressupõe, sim, nunca sendo demais recordar, um

espaço de abertura à interlocução, re-visão e crítica quando isso se impuser como necessário. A interdisciplinari-dade postula, aliás, que se reconheça a pertença a uma disciplina, visto ser esta a única forma de podermos dela divergir sem dela nos esquecermos. É precisamente ao dominarmos um determinado saber, que se torna mais fácil compreendermos que os eventos que marcam na prática o quotidia-no, e que se expõem diante de nós, não podem guiar-se ou organizar-se por lógicas lineares e imutáveis. É este domínio que nos alerta para as limitações daquilo a que chamamos “pesquisa em laboratório”, fecha-da às imprescindíveis contribuições de tudo o que emana do exterior, e que nos dá conta da necessidade de contar com a toda a amálgama de co-nhecimentos que nos rodeiam, com a multiplicidade de olhares de todos os envolvidos.

Cada vez parecemos mais conven-cidos que, por razões de múltipla na-tureza, a Psicologia oferece excelentes condições para o estabelecimento de parcerias com outros saberes, auxi-liando e sendo auxiliada, facto que podemos observar diariamente na prática. Tomemos o exemplo da prá-tica psicológica em contexto forense.

Como sabemos, o diálogo de sa-beres de que a Psicologia é uma parce-la é cada vez mais essencial à escolha das acções de regulação social, à con-cepção e interpretação das leis, à de-finição das políticas de prevenção, à construção das decisões judiciais, que assentam numa análise multidiscipli-nar da realidade das acções humanas.

O melhor conhecimento do com-portamento humano e do seu con-texto é uma exigência da boa aplica-ção do Direito, da boa administração da Justiça, que procuram de forma crescente, não exclusivamente punir as condutas desviantes e proteger a sociedade, mas igualmente encon-trar os meios necessários para pre-veni-las. E é neste sentido que os profissionais da Psicologia podem intervir, procedendo à recolha de informação, percepção, apreciação e avaliação dos factos, fornecendo apreciações e pareceres amplamente credíveis decorrentes de prática e sa-ber técnico-científico especializado. É bastante recorrente que num con-texto jurídico e na necessidade de proceder a tomadas de decisão legais seja necessário conhecer a personali-dade do indivíduo, os seus contextos de vida a vários níveis, as suas carac-terísticas psíquicas e o seu grau de socialização. É importante conhecer de que espécie de afecção sofre o su-jeito e a extensão das suas incapaci-dades, antes de determinar qualquer decisão legal, dominando o psicó-logo forense os saberes requeridos para auxiliar neste processo. Para tal deve, portanto, dominar o mínimo de conhecimentos de Direito visto ser o Sistema Jurídico o seu principal cliente num contexto forense.

Um outro exemplo que evidencia a necessidade de estabelecer relações de interdisciplinaridade num contexto de prática psicológica, é o caso da Psico-farmacologia. À partida pode parecer-nos desnecessário que os psicólogos ne-cessitem de dominar conhecimentos

(...) a Psicologia oferece excelentes condições para o estabelecimento de parcerias com outros saberes, auxiliando

e sendo auxiliada (...)

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O TRABALHO EM EQUIPA: INTERDISCIPLINARIDADE NA PSICOLOGIA

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

relativos à indústria farmacológica, visto não estarem autorizados a pro-ceder à prescrição medicamentosa no decorrer das suas intervenções. No entanto estes conhecimentos são im-portantes na medida em que grande parte das pessoas que solicitam acom-panhamento psicológico se apresenta já medicada, evidenciando alterações comportamentais devidas à medica-ção e que devem ser tidas em conta no decorrer da intervenção. Antes da década de 90 as pessoas que con-sultavam o psicólogo estavam sem medicação ou pouco medicadas, ac-tualmente, a maioria das pessoas que vão ao psicólogo estão polimedicadas, muitas vezes com um ou dois anti-depressivos, uma ou duas benzodia-zepinas e frequentemente, com um antipsicótico. Daí a necessidade de os profissionais de saúde mental estarem cientes dos efeitos dos psicotrópicos utilizados pelos seus pacientes, na medida em que estes podem desen-cadear efeitos adversos, acrescentando sintomatologia a situações já existen-tes. A Figura 1 ilustra o aumento de prescrição de anti-depressivos em Portugal no espaço de tempo com-preendido entre 1995 e 2001; como podemos ver deu-se um aumento sig-nificativo o que só reforça a extrema importância, para os psicólogos, dos conhecimentos de psicofarmacologia, bem como dos efeitos decorrentes da medicação. Estes conhecimentos auxiliam também o estabelecimento e fortalecimento de relações com ou-tros profissionais tais como médicos e farmacêuticos, permitindo um diálo-go mais rico e congruente.

Um outro exemplo prende-se com o trabalho dos psicólogos no contexto organizacional. Os psicó-logos que exercem as suas funções no seio de empresas ou organizações são recorrentemente confrontados com desafios, tais como auxiliar na constituição de equipas de trabalho coesas, no desenvolvimento de meios que visem tornar as unidades mais

atractivas e na definição de estra-tégias com vista a aumentar a eficácia e produtividade, no sentido de fazer face à crescente competitividade que toda a conjuntura externa, na qual estas empresas nascem e crescem, oferece. Para tal estes psicólogos ne-cessitam de dominar conhecimentos na área do Marketing, Gestão e até Economia.

Há, no entanto, alguns dilemas éticos que a interdisciplinarida-de pode trazer, nomeadamente a questão da confidencialidade das informações e comunicação dos dados brutos. Por outras palavras, manter a confidencialidade e pro-teger a privacidade dos pacientes pode constituir uma tarefa difícil para o psicólogo que trabalha em contexto interdisciplinar; tomemos por exemplo, em contexto médico, um paciente em processo de reabi-litação que é acompanhado por vá-rios profissionais de saúde (médico, psicólogo, neurologista). Sabemos que o psicólogo tem o dever ético de manter confidenciais os dados que sejam revelados pelo pacien-te, mas visto que estamos perante uma intervenção interdisciplinar, o psicólogo pode ver-se na obrigação de “desrespeitar” essa confidenciali-dade, pondo a restante equipa mé-dica ao corrente dos dados obtidos. Um outro exemplo prende-se com a protecção dos materiais de testing: os psicólogos têm acesso a uma sé-rie de instrumentos de avaliação que são exclusivos da sua prática, sendo que deve impedir-se o uso de téc-nicas de avaliação psicológica por pessoas não qualificadas, indepen-dentemente da disciplina (Secção 2.06, APA). Mas num contexto in-terdisciplinar isto pode revelar-se di-fícil, abrindo a porta ao surgimento de dilemas éticos que opõem a ne-cessidade de preservar a integridade profissional ao objectivo de colabo-ração e cooperação interdisciplinar.

Uma forma de resolver estes proble-mas, é sensibilizar os técnicos não psicólogos de maneira não condes-cendente, através da realização de seminários, para as complexidades da avaliação (Wong, 1998), bem como sugerir treino em abordagens alternativas, dentro do alcance das práticas e das competências dos cole-gas, no sentido de ajudar a promover uma atmosfera de cooperação.

No decorrer da multiplicidade das interacções que os psicólogos es-tabelecem com as pessoas que servem (indivíduos, grupos ou instituições), estes profissionais tendem a dialo-gar de acordo com as suas teorias de referência, que se revelam únicas e necessárias. Um psicólogo cognitivo-comportamental guiar-se-á pelos mo-delos teóricos subjacentes a esse mes-mo ramo, tal como um psicanalista guiar-se-á por abordagens dinâmicas, que são totalmente diferentes. Porém, estas teorias podem revelar-se insufi-cientes por si só, pois é igualmente ne-cessário o diálogo com supervisores, colegas especializados noutros ramos e até consigo mesmos, na exploração de várias possibilidades de compreen-são, quer as que a própria Psicologia oferece nas suas vertentes, quer as de outras especialidades. É bastante comum que o profissional de saúde mental reencaminhe o seu paciente para um colega cuja abordagem adop-tada se revele mais eficaz no processo de avaliação e até intervenção.

É, então, igualmente essencial, quando falamos da abordagem interdisciplinar num contexto da Psicologia, que exista uma predisposição para a abertura, (...)

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É, então, igualmente essencial, quando falamos da abordagem inter-disciplinar num contexto da Psico-logia, que exista uma predisposição para a abertura, levando ao encontro com os outros. É essencial que os profissionais abandonem a posição de técnicos isolados cujo parecer pre-valece, adoptando antes uma posição de parceiros de investigação, na bus-ca de resultados consensuais. Como refere Eduardo Sá, “um analista não é um oráculo, e não é clínico quando se assume como militante ou funda-mentalista de um qualquer modelo no contexto de uma compreensão que pretenda fazer. (…) Sempre que, na relação analítica, alguém se propõe confirmar modelos ou ir ao encontro do seu próprio narcisismo deixa, seguramente, de ser clínico para se aproximar, perigosamente (para ele e para a pessoa com quem está), de níveis perversos duma rela-ção” (Eduardo Sá).

No entanto, é legítimo pergun-tar como podemos concretizar uma abordagem disciplinar, sendo esta uma condição em construção que ultrapassa ainda tantas dúvidas e in-certezas e que nos impede de falar sobre ela com segurança e tranqui-lidade. A verdade é que, não obs-tante os problemas de comunicação que ainda existem, as disciplinas vão cada vez mais trocando sinais entre si, numa tentativa saudável de apro-ximação. Toda a liberdade que a sub-jectividade nos pode oferecer pode ser assustadora e por vezes revela-se muito mais seguro deixar-nos guiar pelos rigorosos padrões e parâmetros irrefutáveis da objectividade. Es-quecemo-nos que todas estas regras servem para não mais que travar a ousadia necessária a todos os profis-sionais para que se lancem na busca de melhores resultados, alternativas mais viáveis. Estas questões podem levar-nos a pensar que a interdisci-plinaridade é o caminho escolhido pelos rebeldes, quase como um tipo

de prática e conhecimento abando-nado à total falta de critérios. Mas isto é falso! Pressupõe-se sempre que todas as propostas sejam avalia-das, testadas, validadas, partindo do princípio que muitas delas possam trazer-nos importantes mais-valias.

Podemos então encontrar duas principais posições relativas a esta análise da abordagem interdiscipli-nar, debatendo o seu alcance. Por um lado há quem acredite ser neces-sário o estabelecimento de critérios lógicos e coerentes no confronto de domínios: sem esta rigidez, por as-sim dizer, o discurso científico per-deria toda a credibilidade. Por outro lado, há todos os que acreditam que, se seguirmos estrita e irremediavel-mente todos estes critérios, estare-mos para sempre condenados a uma diferenciação, distância, afastamento que em nada nos podem ser favorá-veis. Apesar da interdisciplinaridade percorrer ainda um caminho aciden-tado, visto não termos clareza sobre como a exercer de forma completa e integralmente correcta, isto não deve impedir-nos de continuar a tentar! A ansiedade consequente da suspen-são de um processo, no seu decorrer, não justifica que procuremos a saída mais próxima ou fácil, recorrendo à tranquilidade da certeza adquirida…que de certeza adquirida, na verda-de, nada tem.

Em jeito de conclusão, será per-tinente recorrer a uma expressão de Felix Guattari (1962), que acaba por resumir, de forma bastante sucinta, tudo o que tem vindo a ser exposto relativamente à abordagem interdis-ciplinar: “a ciência pode ser consi-derada sob um ponto de vista eco-lógico; a pesquisa interdisciplinar, ao congregar obrigatoriamente todos os envolvidos, com as suas próprias lin-guagens, e não apenas técnicas que impõem as suas descobertas e as suas falas, exige a aceitação do diferente. As disciplinas seriam então como “ecossistemas vivos” entre os quais é

possível e necessário estabelecer pon-tes. Essas pontes não são possíveis sem mudanças de mentalidade”.

Concluindo, é importante as-sumir a importância da formação técnico-científica nas práticas profis-sionais, nomeadamente na Psicolo-gia, sendo igualmente importante considerar o auto-conhecimento, adoptando uma visão humanista com a intenção de desenvolver a capacidade para aceitar diferentes perspectivas e olhares sobre o mun-do. Neste sentido espera-se que os profissionais sejam capazes de elasti-cidade e mudança, responsáveis pela formação e orientação de cidadãos também eles abertos à variedade de horizontes existenciais e culturais, opostos ao preconceito.

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O TRABALHO EM EQUIPA: INTERDISCIPLINARIDADE NA PSICOLOGIA

Interdisciplinaridade

• Ampliar a formação geral de pesquisadores das especialidades envolvidas, levando-os a reverem o seu papel social e as posturas críticas diante das informações recebidas.

• Proporcionar trocas generalizadas de informação e críticas, contribuindo para a reorganização do meio científico e possibilitar a transformação institucional (no caso, as instituições de saúde) que privilegiem a sociedade e o homem.

• Preparar melhor os indivíduos para a formação profissional, garantindo não apenas uma

• Preparar melhor os indivíduos para a formação profissional, garantindo não apenas uma actuação multiprofissional, mas também uma vivência interdisciplinar fundamentada na unicidade do conhecimento do humano.

• Preparar especialistas para a pesquisa interdisciplinar, fornecendo conceitos para que saibam analisar situações e colocar problemas, e, reconhecendo os limites de sua metodologia, dialogar sobre o trabalho em comum, sobre o confronto dos métodos, sobre a harmonia dos pontos de vista e dos resultados obtidos.

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

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“Uma incubadora de conhecimento, competência e excelência.”“Uma lição de vida a todos os níveis.”“Única. Uma instituição que proporciona uma educação de excelência.”

A Psicologia na Universidade de Aveiro

Texto de Texto de Daniela Valente, com colaboração de Filipa Fontoura Fotografias de Universidade de Aveiro

A Universidade de Aveiro (UA) faz parte das chamadas «universidades no-vas» que foram criadas em Portugal a partir dos anos 70 do séc. XX. A UA nasceu num "berço empresarial" e de-senvolveu-se inicialmente, sobretudo, a partir das Engenharias e da Educa-ção, vertente de formação de professo-res. Esta instituição de ensino superior estrutura-se em 15 departamentos, unidades orgânicas que funcionam como centros de recursos. Destes de-partamentos vários participam em diferentes unidades curriculares de diferentes cursos, o que permite uma economia de escala (por exemplo, o departamento de Matemática assegura as unidades de Matemática das áreas de Engenharia, Gestão, Artes, Edu-cação, Psicologia, etc.). Tal estrutura facilita também o intercâmbio interno em projetos de investigação. Destaca-se ainda, para além da sua estrutura funcional, a arquitectura, localização e enquadramento do Campus na paisa-gem, o que proporciona o privilégio, a quem trabalha, investiga ou estuda na UA, de olhar pela janela e avistar a ria ou a Biblioteca do Siza Vieira.

Segundo Joana de Pinho Cou-tinho de 23 anos e aluna do 2º ano do Mestrado em Psicologia Foren-se, as maiores vantagens de estudar Psicologia na UA são “fazer parte de um curso inovador e ousado, que luta

uma visão da Psicologia enquanto ciência natural do comportamento que procura desenvolver teorias e mo-delos do comportamento e testá-los experimentalmente.” No entanto afirma que o facto de o curso ainda ser muito recente e necessitar de algu-mas modificações curriculares é uma desvantagem. Para a Joana Coutinho, poucas mudanças teriam de ser feitas, e se as houvesse seria a nível de adap-tabilidade de algumas unidades curri-culares. Joana Coutinho considera o Mestrado de Psicologia Forense, que frequenta, verdadeiramente inovador, principalmente pela sua colaboração com o INML (Instituto Nacional de Medicina Legal).

Actualmente esta Universidade enfrenta alguns desafios consideráveis. Em entrevista conjunta ao Professor Doutor Carlos Fernandes da Silva, à Professora Doutora Anabela Maria de Sousa Pereira e à Professora Doutora Ana Cardoso Allen Gomes, foi trans-mitido que um dos grandes desafios passa por conseguir que as atividades de formação e de investigação que têm sido desenvolvidas consigam resistir à crise. Será importante manter as for-mações de 1º Ciclo e reorganizar a oferta de 2º e 3º Ciclos. A nível da for-mação pós-graduada, particularmente ao nível da escola doutoral, a UA, tem vindo a desenvolver parcerias com

instituições nacionais e internacionais ao nível da investigação e docência de mestrados e doutoramentos, sendo clara a necessidade de continuar neste sentido. Segundo os professores, “Por-tugal continua visivelmente aquém de muitos países europeus quanto à percentagem da população que pos-sui escolaridade de nível superior”. A este propósito, Joana Coutinho refere acreditar “que no futuro, com o me-lhoramento da situação económica do país, muitas portas se irão abrir para os Psicólogos Forenses da UA” e que, apesar de existirem outros planos curriculares que lhe suscitam interesse noutros locais do país, “a decisão de estudar em Aveiro não me causa arre-pendimento, pelo contrário, tenho or-gulho em fazer parte desta academia”. De facto, a presença de vários profes-sores de renome no curso de Psicologia da UA são um dos seus pontos mais fortes e maior motivo de orgulho. Por exemplo “a professora e investigadora Anabela Pereira que foi recentemente eleita Presidente da Direção Regional do Norte da Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP), o professor Carlos Fernandes da Silva, professor catedrá-tico com um curriculum invejável, Ana Cardoso Allen Gomes, grande es-pecialista na área do Sono, Sandra Soa-res que foi uma das quatro nomeadas para o prémio de Jovem Investigador

A PSICOLOGIA NA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

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A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

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em Psicologia do ano de 2010, pré-mio atribuído pelo Swedish National Committee for Psychological Scien-ces da Royal Swedish Academy of Science, academia à qual cabe anual-mente a responsabilidade de decidir sobre as personalidades merecedoras de distinção com o Prémio Nobel, entre muitos outros”.

A nível de oportunidades os pro-fessores referem que, estando a UA tão perto da Universidade de Coim-bra e da Universidade do Porto, tem procurado oferecer uma formação que seja complementar ou alternati-va àquilo que já é feito (e bem fei-to) por outras Universidades. Assim, mesmo no caso dos cursos da UA também existentes noutras Univer-sidades próximas, há a preocupação em conceber planos de estudos com características próprias. Segundo os docentes entrevistados, “a UA está a repensar a oferta formativa, tendo em conta os novos desafios do mercado internacional” e, nesta oferta forma-tiva, tem vindo a emergir a colabo-ração com os países da CPLP e em particular os PALOPs. Além disso, existem ofertas formativas comple-mentares aos programas de 1º e 2º ciclos, nomeadamente, um progra-ma de doutoramento, a possibilida-de de fazer formação para ser volun-tário na LUA (Linha Universidade de Aveiro), workshops, palestras e

seminários à disposição dos alunos, organizados tanto pelos professores, como pelo NEP-AAUAV (Núcleo de Estudantes de Psicologia).

Quando questionados mais espe-cificamente sobre a formação da Psi-cologia tanto a um nível geral como particular, os professores chegam a uma resposta unânime. Por um lado, os primeiros ciclos, a nível nacional, deveriam dedicar-se ao ensino da Ciência Psicológica, experimental laboratorial e de campo, fornecendo aos estudantes um núcleo duro de conhecimentos e competências cien-tíficas, numa perspetiva predomi-nante de Psicologia enquanto ciência natural como por exemplo, Ana-tomia e Fisiologia gerais, Atenção, Memória, Psicologia Social, e prática de investigação. Por outro lado, nos segundos ciclos, deveria proceder-se ao ensino de conhecimentos e com-petências de aplicação, baseadas na evidência. Na Universidade de Avei-ro, segundo os entrevistados, tem-se feito este investimento, embora haja ainda um largo caminho a percorrer. Para os professores, existem escolas de Psicologia excelentes no país em diferentes domínios: “os cursos de Psicologia são relativamente recentes no nosso país. Por isso houve todo um caminho que teve de ser trilha-do em Portugal quanto à formação em Psicologia no ensino superior.

A PSICOLOGIA NA UNIVERSIDADE DE AVEIRO

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(...) um curso inovador e ousado, que luta por uma visão da

Psicologia enquanto ciência natural do comportamento que procura desenvolver teorias e modelos do comportamento e testá-los

experimentalmente.” (...)

—* A A3ES é a agência de Avaliação e Acredita-ção do Ensino Superior (A3ES) que tem como principal objectivo proporcionar a melhoria da qualidade do desempenho das instituições de ensino superior e dos seus ciclos de estu-dos e garantir o cumprimento dos requisitos básicos do seu reconhecimento oficial. Mais informação em http://www.a3es.pt/

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

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Temos neste momento ofertas de formação sobre Psicologia no país muito boas, excelentes, em diversos domínios. Há que continuar este trabalho. Além disso, é importante uma maior valorização da Psicologia na sua vertente de ciência natural, a qual tem sido provavelmente a mais descurada da formação dos psicólo-gos (tem-se privilegiado uma visão da Psicologia enquanto ciência social e humana de modo quase exclusivo, limitando o seu âmbito, o que se traduz naturalmente também na for-mação dos próprios psicólogos). Na UA procuramos valorizar este tipo de formação”.

Para os docentes da UA, “a Psi-cologia não pode ser senso comum disfarçado de ciência nem "achismo" ("eu acho que ..."). Entre a autori-dade da evidência e a evidência de autoridade, os psicólogos só podem escolher a primeira (é um imperati-vo ético). A profissão de psicólogo é talvez das mais recentes. Os psicólo-gos foram ganhando a pouco e pou-co um lugar no nosso país”. Assim, de um modo geral, o balanço da sua instituição de ensino tem sido bas-tante satisfatório: “entre os gradua-dos em Psicologia pela UA (i.e., os que completaram os 1º e 2º ciclos aqui), que ainda não chegarão a meia centena, já temos vários ex-alunos a realizar estágio profissional pela Or-dem dos Psicólogos Portugueses e alguns bolseiros de doutoramento. Pretendemos que os licenciados pela

UA possam, pela sua qualidade de formação, sobressair pela positiva no vasto número (16.820) dos psi-cólogos diplomados em Psicologia”. No mesmo sentido, Joana confessa que gostaria de ver a sua Universida-de “crescer cada vez mais, tornar-se mais visível a nível nacional e inter-nacional pela qualidade dos seus cur-sos e investigações arrebatadoras”.

No caso da UA, os seus alunos de Psicologia têm mostrado um comprometimento com a Psicologia, com a vida académica e com a UA, absolutamente excecional,

destacando-se a iniciativa, motivação, empreendedorismo e cidadania ativa.

Ao chegar à Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), deparo-me com um dos pontos de excelência em investigação e formação, tendo sido considerada pelo QS World University Rankings, em 2012, a melhor universidade federal do Brasil.

A Psicologia noRio de Janeiro

Texto de Mariana de Matos Mendes Fotografias de Mariana de Matos Mendes

A PSICOLOGIA NO RIO DE JANEIRO

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A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

Fortemente marcado por uma influência psicanalista, o Instituto de Psicologia (IP) no qual estudei gra-ças a um programa de mobilidade internacional “Outras Mobilidades”, integra o Centro de Filosofia e Ciên-cias Humanas da UFRJ. Tendo sido recriado a partir de um Laboratório de Psicologia da Colónia de Psico-patas, em 1932 foi então convertido no IP com o objectivo de formar e pesquisar em Psicologia. Para além dos cursos de Graduação, conta com cursos pós-graduados como Curso de Mestrado em Psicologia em duas áreas: Psicologia Social e Psicologia da Personalidade. O Doutoramento é disponibilizado em três áreas: Psi-cologia Cognitiva, Psicologia Social e Psicologia da Personalidade. Para além do referido, conta com curso de Especialização em Psicologia Clínica e outros cursos que pretendem esten-der o domínio do IP. A única revista de estudos denomina-se “Boletim de Psicologia”, que tem como objetivo a divulgação de trabalhos, pesquisas e resultados do Instituto. Esta insti-tuição procura contribuir para a apli-cação da Psicologia em variadas áreas como medicina, pedagogia, trabalho industrial e trabalho judicial.

No início foi difícil para mim entender certas posturas e modos de aprender. Não entendia como alunos podiam comer na sala de aula, tratar o Professor apenas pelo nome, ques-tionar o que o Professor dizia, enfim, uma série de questões a que, geral-mente, um aluno português não está habituado. Parece-me óbvia, em Portugal, a nossa aceitação quase que religiosa perante o que nos está a ser leccionado enquanto que durante o tempo que passei no Rio de Janeiro experienciei uma maior abertura à discussão nas salas de aulas. Também a maneira como os Professores levam em conta a opinião do estudante e o modo como os alunos não têm qualquer problema em questionar e revelar a sua opinião, mesmo não

sendo a mesma do professor, revela a grande flexibilidade e comunicação na relação professor-aluno.

É também um ensino mais prá-tico que o nosso. Tive a oportunida-de de visitar escolas e maternidades, apliquei questionários e, dessa forma, acabei por lidar mais directamente com aquilo que posso vir a desejar fazer na área em que me encontro. Parece-me que o que falta ao ensino brasileiro, a teoria, complementa-se com o que falta no português, a prá-tica. Tal como em Portugal, há está-gios supervisionados disponibilizados aos alunos pela Divisão de Psicologia Aplicada, embora na UFRJ se possa frequentá-los durante mais tempo, sensivelmente seis meses, e acabando os alunos por se tornar, por vezes, tu-tores de disciplinas durante esse pe-ríodo experienciando, assim, um lado mais prático da Psicologia. O curso consiste na chamada Graduação, que corresponde à nossa antiga Licencia-tura, e a Pós-graduação ao Mestrado. São cinco anos de graduação e dois de pós-graduação, se o estudante assim o desejar. A ideia com que fiquei foi de que no Rio de Janeiro têm uma pers-pectiva mais abrangente, estando dis-poníveis disciplinas como “Ecologia Social e Comunidades”; “Gestalt te-rapia”; “Humanismo”, etc. No entan-to, em todas as disciplinas que tive, a psicanálise pareceu estar bastante pre-sente e fascinar por completo os alu-nos. Além disso, também estranhei que simples questões, para mim ob-jetivas, fossem pensadas, repensadas e questionadas, vezes e vezes sem conta, sem se chegar a uma conclusão. A for-te influência da psicanálise e a grande base filosófica do ensino deixava-me intrigada. Agora penso que nos falta um pouco disto, precisamos de não nos cingirmos ao que um professor diz e questionarmos, lermos, per-guntarmos. Com efeito, levei desta experiência uma noção mais ampla e completa do que é ser-se estudante universitário.

Quanto aos alunos, parecem bas-tante orgulhosos de pertencer e repre-sentar uma instituição como a UFRJ. Respeitam bastante os professores e muitos anseiam por chegar a estudar fora do país. Na maior parte das ve-zes, depois das aulas (e nisso há uma certa herança portuguesa) vão para al-gum café tomar uma bebida e conver-sar um pouco. Tal como nas aulas, as suas conversas são sempre um tanto ou quanto filosóficas e é muito inte-ressante ouvir as suas opiniões: parece que pensam mais, questionam mais. Reflectir é um exercício que natural-mente gostam e, segundo os colegas com quem contactei, a Psicologia, dentro do Brasil, é um curso de eli-tes. A verdade é que no IP poucos são os que não têm possibilidades, ou que andaram em escolas públicas, e a maior parte parece querer lutar por um país mais equilibrado, menos cor-rupto, mais justo.

Entrevistei uma Professora de quem fui aluna no 1º semestre, Marcela dos Santos Reis, Mestre em Psicologia com ênfase em Avaliação Psicológica. Sobre o Ensino Univer-sitário brasileiro revela que há boas universidades públicas e bons pro-fessores mas ainda há fortes entraves à educação de qualidade, como o fi-nanciamento insuficiente para cobrir as necessidades da área (extensão, pesquisa). Tendo participado numa investigação em Portugal, revela que na avaliação psicológica os dois paí-ses são bastante semelhantes e que, apesar de uma comunicação boa, a transmissão de ideias e instrumentos poderia ser ainda maior. Quando quis saber sobre a empregabilidade, num momento tão difícil para nós portugueses, a Professora Marcela explicou que o Brasil também tem um quadro de desempregados e que dentro destes também há psicólo-gos, pois o mercado não comporta a quantidade de formados, o que faz com que muitos não desempenhem a profissão, muitos a desempenhem

RUP Nº2 77

em paralelo com outras, e outros tra-balhem no sector público: na saúde, na educação, na justiça. No setor público, os contratos são feitos por concurso e os salários variam. A Pro-fessora Marcela revelou ainda que há alunos que podem ser financiados pelo governo para estudarem em es-colas privadas, mas tal financiamento é como um empréstimo, já que pos-teriormente essa importância tem de ser devolvida.

O que me levou a querer fazer intercâmbio foi, essencialmente, a ne-cessidade de me desafiar, de ver quais os meus limites, de me conhecer me-lhor. E, embora nunca tivesse pensa-do que seria mesmo capaz de o fazer, acabei por decidir vir, mesmo que a experiência não fosse tão única, como muitos a caracterizam. Não fui com muitas expectativas, apenas sabia que havia algo que iria gostar, nem que fosse a tão aclamada beleza da cida-de. E realmente é verdade: a Cidade Maravilhosa emociona de tão bonita que é. A combinação de praias, mon-tanhas e florestas deixa qualquer um rendido. O Rio está repleto de pai-sagens como nunca havia visto, que acabam por encantar qualquer um que visite a cidade. No entanto, a ver-dade é que esta cidade também peca em vários aspectos. Não tendo reci-clagem e com o que parece ser uma precária gestão de esgotos, por vezes emana um cheiro imundo, e mesmo o mar, não aconselhável em certas praias, de tempos a tempos é também poluído em praias bastante turísticas, como Copacabana e Ipanema. Além disso, a qualidade de vida é bastante diferente: há muita riqueza de uns, e muita pobreza de outros, o que cho-ca. Nota-se também uma indiferença quanto à pobreza que espero nunca ver no meu país. E, enquanto mui-tos pensam que o Brasil nunca mais cairá, e que só tem tendência para crescer, como potência mundial que se tornou, outros parecem desconfiar da sua própria competência como

país anfitrião da Copa do Mundo e, sobretudo, desconfiam da capacidade da Cidade Maravilhosa albergar os próximos Jogos Olímpicos.

Esta experiência permitiu-me co-nhecer pessoas de outros países, con-tactar com diferentes culturas, e a ver-dade é que no início não foi fácil, pelo menos para mim. Apercebi-me que é muito mais fácil comunicar com al-guém da minha cultura, de todos os modos, pois há um entendimento di-ferente. Vivi com portugueses, espa-nhóis, franceses, alemães, brasileiros e levo de todas as culturas ensinamen-tos. Mudei opiniões, fiz amizades. É interessante termos de nos adaptar às variadas culturas, e, nos últimos me-ses, em que contactei mais com esse espírito, digo decididamente que foi fantástico.

É interessante pensar no Brasil, e no Rio em particular, como estudan-te de Psicologia. Encantei-me com o modo de ser do carioca, pois, apesar de muitas vezes não serem as pessoas mais honestas ou simpáticas do mun-

do, é incrível ver como continuam a dançar e a cantar, em plena rua, mes-mo quando começa a chover de uma maneira que nunca vi. É fantástica a capacidade que têm de preparar e ensaiar as festas carnavalescas, velhos e novos, todos têm “amor à camiso-la”. Vi um pouco do Carnaval Cario-ca e apercebi-me de como esta festa é uma tentativa de fuga em relação à pobreza e dificuldades por que mui-tos passam. Há quem seja contra o Carnaval, quem defenda que é ape-nas lavagem de dinheiros e uma fes-ta dada ao povo para este continuar cego. Talvez seja verdade, acredito. No entanto, nunca vi gente tão feliz e tão ansiosa por esta época.

Conhecer melhor este país aju-dou-me a valorizar de certo modo alguns aspectos do meu país (em termos de segurança, de serviços públicos, de atividades cívicas, etc), proporcionando-me grandes apren-dizagens que levo para a vida. Mui-tos afirmam que não, mas a ideia que formei é de um país que aceita

A PSICOLOGIA NO RIO DE JANEIRO

78 RUP Nº2

melhor as diferenças embora deixe de parte um ponto importante: as classes sociais. Percebi também que o brasi-leiro não é o protótipo de pessoa que está sempre a rir, como muitas vezes idealizamos: não há uma total simpa-tia que muitos perspectivam e não há samba e forró em todo o lado. Cada pessoa é diferente e muitos vivem des-se modo, outros não. É um povo bas-tante diversificado, bastante aberto, e também com muita fé. Falam muito, riem muito, adoram desporto, têm uma queda especial para a dança, um modo diferente do nosso de se sensi-bilizarem e relacionarem!

Não foi fácil estar longe, princi-palmente no final desta etapa, em que pareceu que ainda havia tanto para fazer e tão pouco tempo para disfru-tar de tudo. Posso dizer que agora me conheço melhor, que sou melhor pessoa e que até que incorporei certos aspectos da cultura brasileira, que me fazem sentir menos turista. Foi das melhores experiências da minha vida e recomendo vivamente a cada pessoa

que estiver a pensar candidatar-se a uma aventura destas. Num momen-to como o enfrentado pelo nosso país, é cada vez mais importante co-nhecer outros mundos, outras opor-tunidades, outros rumos. É essencial

acompanharmos o mundo e não nos cingirmos ao “nosso”. No entanto, a verdade é que o nosso país é sempre o nosso país, e acho que muitos dos in-tercambistas que passaram pelo Brasil concordam com esta afirmação.

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

RUP Nº2 79

Uma amostra de várias associações/sociedades de destaque de diversas áreas da Psicologia

Instituições Internacionais de Investigação em Psicologia

Texto de Patrícia van Beveren Fotografias de Cátia Parreiral, Tiago Perdigão e Nádia Costa

INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA

80 RUP Nº2

Quais são os principais objectivos?

• Promover o avanço da educação na Europa para o benefício comum ao nível da Psicologia do Desenvolvimento;

• Apoiar e direccionar a investigação do desenvolvimento humano num con-texto europeu;

• Atribuir bolsas de estudo;

• Promover a troca de informações ao nível europeu;

• Promover ligações com outras organizações nacionais e internacionais com objectivos semelhantes.

European Association for Developmental Psychology (EADP)

Fundada1914

Presidente Luc Goossens (Bélgica)

Congressos já organizados em 15 cidades de diferentes países por todo o mundo;

Representantes na Inglaterra, Turquia, Escócia, Holanda, Rússia, Suécia e Lituânia.

www.eadp.info

Que tipo de actividades realizam/promovem?

• Congressos Europeus de Psicologia do Desenvolvimento: “European Con-ference on Developmental Psychology” (bianuais);

• Publicação da Revista Europeia de Psicologia do Desenvolvimento: “Euro-pean Journal of Developmental Psychology” (6 edições por ano);

• Atribuição do prémio “George Butterworth Young Scientist Award” (Pré-mio do Cientista Jovem) para promover a excelência na investigação de Psico-logia do Desenvolvimento na Europa;

• Atribuição do prémio “William Thierry Preyer Award” (prémio atribuído a um psicólogo/grupo de psicólogos europeu) para promover e destacar investi-gações actuais de Psicologia do Desenvolvimento;

• Suporte de iniciativas de criação de redes científicas europeias neste campo.

European Association for Developmental Psychology (EADP)

www.eadp.info

Quem são ou quem podem ser os seus membros?

• Qualquer indivíduo que tenha concluído a Universidade ou um nível equi-valente de formação numa área relevante para o estudo do desenvolvimento humano, com uma duração de pelo menos 3 anos;

• Profissionais que publiquem ou tenham publicado trabalhos de investigação que contribuam para a compreensão do desenvolvimento humano;

• Estudantes pós-graduados (em full-time ou part-time) ou que estejam ins-critos para uma pós-graduação no momento da inscrição/renovação.

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

RUP Nº2 81

Que rumo/objectivos pretendem seguir no futuro?

• Desenvolvimento do mais recente projecto “ Early Researchers Union” (União de Jovens Pesquisadores), criado em 2009 e cuja representante em Portugal é a D’Jamila Garcia, destinado a estudantes de doutoramento ou pós-doutoramento (até quatro anos após) interessados na Psicologia do De-senvolvimento. O seu objectivo é:

• Troca de informações e experiências sobre estudos de doutoramento, bolsas de estudo e programas em diferentes países europeus (através do site, fórum de discussão, página do facebook, newsletter mensal, etc.);

• Organização de eventos de forma a ampliar conhecimentos e compe-tências em temas específicos de investigação e questões do mercado de trabalho (escolas de verão/inverno, conferências, etc.);

• Colaborar e fazer publicações conjuntas numa perspectiva internacional.

European Association of Work and Organizational Psychology (EAWOP)

Fundada1991

PresidenteArnold Bakker (Holanda)

www.eawop.org

Quais são os principais objectivos?

• Promover e apoiar o desenvolvimento e a aplicação da Psicologia do Traba-lho e das Organizações na Europa;

• Facilitar as ligações entre cientistas e profissionais que trabalham nesta área em toda a Europa;

• Promover a investigação e a prática no campo da Psicologia do Trabalho e das Organizações.

Que tipo de actividades realizam/promovem?

• Congressos bianuais;

• Escolas de Verão, onde se realizam sessões sobre a actividade de investigação, sessões de grupo, onde os participantes apresentam e discutem a sua própria investigação, apresentação de posters e visitas a empresas;

• Reuniões de pequenos grupos e workshops;

• Publicação de Revistas: European Journal of Work and Organizational Psy-chology, Organizational Psychology Review e o professional e-journal;

• Suporte da criação de grupos de trabalho orientados para objectivos inova-dores e relevantes na Psicologia do Trabalho e das Organizações;

• Como fundadora da Aliança de Psicologia Organizacional (AOP), a EAWOP promove o avanço da ciência e da prática da Psicologia Organizacional, por forma a alargar o seu âmbito de aplicação e contribuição para a sociedade com o intuito de melhorar a qualidade de vida no trabalho;

• Promoção do desenvolvimento do Certificado de Especialização na Psico-logia das Organizações e do Trabalho (WOP), em cooperação com a EFPA;

• A EAWOP está agora a preparar o Primeiro "Worklab", onde a participação de profissionais e de jovens será estimulada;

• Coordenação de um projecto para analisar as lacunas e as semelhanças entre os diferentes países bálticos nos seus currículos WOP e estimular a conver-gência entre eles e congruência com o Certificado de Especialização em WOP.

INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA

82 RUP Nº2

European Association of Work and Organizational Psychology (EAWOP)

www.eawop.org

Quem são ou quem podem ser os seus membros?

• Qualquer pessoa que possua um diploma universitário de Psicologia ou qualquer outra área disciplinar, mas que seja profissionalmente e/ou cientifi-camente activo num campo reconhecido como relevante para a Psicologia das Organizações e do Trabalho;

• Estudante de graduação ou pós-graduação em Psicologia em qualquer uni-versidade europeia e cientificamente activo no campo da Psicologia das Orga-nizações e do Trabalho;

• Reformado que já tenha sido “membro completo”.

Que rumo/objectivos pretendem seguir no futuro?

• Aumentar a adesão à EAWOP, em particular de estudantes e membros cons-tituintes;

• Aumentar a visibilidade da EAWOP dentro da Europa e influenciar a legis-lação europeia em benefício dos objectivos dos Psicólogos da W&O;

• Melhorar os serviços dos membros (reuniões de pequenos grupos, escolas de verão, oficinas de habilidades profissionais e novo site);

• Profissionalizar a EAWOP;

• Desenvolver o trabalho de atribuição de Certificado de Especialização e de Psicologia Organizacional.

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

RUP Nº2 83

European Health Psychology Society (EHPS)

Fundada1986 em Tilburg (Holanda)

PresidenteFalko F. Sniehotta (Reino Unido)

Em estreita relação com a International Association of Applied Psychology (IAAP) e a Federação Europeia de Associações de Psicologia Profissionais (EFPA) e associada ao Departamento de Informação Pública das Nações Unidas (DPI/NGO);

Fundos do Programa Erasmus proporcionaram cursos de formação de curta duração em Psicologia da Saúde para estudantes europeus de pós-graduação

www.ehps.net

Quais são os principais objectivos?

• Promover a investigação teórica e empírica e aplicações da Psicologia da Saúde na Europa;

• Promover o intercâmbio de informações relacionadas com a Psicologia da Saúde com outras associações de todo o mundo.

Que tipo de actividades realizam/promovem?

• Congressos Anuais - organizados anualmente em locais por toda a Europa e contam com cerca de 750 participantes anualmente;

• Publicação da Revista de Psicologia e Saúde: “Psychology and Health” (12 edições por ano);

• Publicação da Revista de Psicologia da Saúde: “Health Psychology Review”, 2ª revista oficial da EHPS (2 edições por ano);

• Publicação da Newsletter do Psicólogo de Saúde Europeu (trimestral);

• Subsídios EHPS - são oferecidas bolsas ao longo do ano aos membros, tais como para a participação em conferências/workshops;

• Directório de membros para que cada um possa contactar com colegas de toda a Europa com interesses semelhantes;

• “Networking”, uma rede com foco no desenvolvimento das relações entre países de Leste e países da Europa Ocidental.

Quem são ou quem podem ser os seus membros?

• Qualquer pessoa que apoie os objectivos da associação.

INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA

84 RUP Nº2

Quais são os principais objectivos?

• Promover a ciência e a prática da Psicologia Aplicada;

• Facilitar a interacção e a comunicação sobre a Psicologia Aplicada em todo o mundo.

Que tipo de actividades realizam/promovem?

• Congressos Internacionais de Psicologia Aplicada, “International Congress of Applied Psychology“ (ICAP) (de quatro em quatro anos);

• Conferências e Encontros (por divisões) Regionais de Psicologia Aplicada;

• Atribuição de três tipos de prémios de forma a destacar a relevância da Psi-cologia Aplicada:

• Prémio pelo impacto internacional na Psicologia Aplicada;

• Prémio pelas contribuições excepcionais para o avanço da profissão nesta área, a nível internacional;

• Prémio pelo melhor contributo de um estudante a um ICAP, atribuí-do em 2006 a Pedro Neves (Professor auxiliar na Faculdade de Econo-mia da Universidade Nova de Lisboa, Doutorado pelo ISCTE em Psi-cologia Social e das Organizações, que actualmente pertence ao quadro de directores da IAAP).

• Publicações:

• Revistas “Applied Psychology” e “Applied Psychology: Health & Well-being”, duas revistas trimestrais que estão entre os melhores periódicos científicos da Psicologia;

• Newsletter bianual;

• Enciclopédia de Psicologia Aplicada (3 volumes);

• Handbook of Applied Psychology;

• 15ª Divisão da IAAP: Divisão de Estudantes, criada em 2002 e tendo como primeiro presidente o português Pedro Neves. Esta divisão visa incentivar a investigação realizada por alunos numa perspectiva internacional.

International Association of Applied Psychology (IAAP)

Fundada1920 (É a mais antiga associação internacional de psicólogos!)

PresidenteJosé M. Peiró (Espanha)

Contém 18 divisões e conta com mais de 1.500 membros em mais de 80 países;

Destacada pelo 25º ICAP (2002), realizado em Singapura, com cerca de 2.500 participantes;

Contribui para a maioria das disciplinas de Psicologia

www.iaapsy.org

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

RUP Nº2 85

International Association of Applied Psychology (IAAP)

www.iaapsy.org

Que rumo/objectivos pretendem seguir no futuro?

• A IACCP está a desenvolver um evento de destaque em Kampala (Uganda) em Novembro de 2013. "O Papel da Psicologia nos Desafios Societais” será o título do Congresso de Psicologia “Eastern Africa Regional Conference of Psychology”, que visa arranjar formas de trazer o conhecimento da Psicologia e soluções para as discussões nacionais e regionais de todos os problemas rela-cionados com o desenvolvimento da região.

INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA

86 RUP Nº2

Quem são ou quem podem ser os seus membros?

• Psicólogos eleitos ou que tenham feito grandes contribuições para a Psico-logia Aplicada;

• Estudantes que se encontrem num programa académico apropriado;

• Qualquer indivíduo que, embora não sendo psicólogo, tenha feito contri-buições para a Psicologia Aplicada, ou que se torne associado da IAAP.

International Association for Cross-Cultural Psychology (IACCP)

Fundada1972

PresidenteYoshi Kashima (Austrália)

Mais de 800 membros de cerca de 65 países.

www.iaccp.org

Quais são os principais objectivos?

• Facilitar a comunicação e a cooperação entre os investigadores que estudam as relações entre cultura e comportamento humano, sobre o avanço de conhe-cimento sobre o funcionamento psicológico dos seres humanos em todas as sociedades humanas;

• Desenvolver, testar e promover as teorias derivadas de investigação cultural e transcultural sobre os fenómenos e processos psicológicos em todos os países;- Incentivar o desenvolvimento de novas metodologias de investigação.

Que tipo de actividades realizam/promovem?

• Congressos internacionais (de dois em dois anos);

• Conferências regionais (na maioria dos anos);

• Publicação da Revista Bimestral de Psicologia Transcultural “Journal of Cross-Cultural Psychology”;

• Publicação da Newsletter de Psicologia Transcultural;

• Patrocínio do prémio de tese de doutoramento, Harry and Pola Triandis Doctoral Thesis Award, atribuído em qualquer área da cultura e da Psicologia.

Quem são ou quem podem ser os seus membros?

• Qualquer pessoa interessada em Psicologia Transcultural, no entanto, ac-tualmente os membros são essencialmente estudantes universitários.

Que rumo/objectivos pretendem seguir no futuro?

• Promoção da Educação Internacional de Grupos de Interesse Especial, “In-ternational Education Special Interest Group” (IE-SIGs), que constitui um projecto recente (formado em 2011) que está em desenvolvimento de modo a proporcionar a troca de informações e de recursos no sentido de apoiar activi-dades educacionais relacionadas com a cultura e Psicologia, em todo o mundo.

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

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INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA

88 RUP Nº2

Que rumo/objectivos pretendem seguir no futuro?

• Apoiar o desenvolvimento do intercâmbio internacional de investigação de modo a alargar o âmbito da sua adesão internacional e intercâmbio de inves-tigação;

• Aumentar a participação de estudantes e desenvolver um grupo de estu-dantes que irão proporcionar aos alunos de todos os países a oportunidade de colaborar com outros estudantes e investigadores de diferentes países.

Quais são os principais objectivos?

• A INS é uma organização científica e educacional com o objectivo de pro-mover a compreensão das relações de comportamento do cérebro;

• Melhorar a comunicação em todo o mundo entre as disciplinas científi-cas que podem contribuir para uma melhor compreensão da relação cérebro-comportamento e, em particular, de distúrbios neuropsicológicos.

Que tipo de actividades realizam/promovem?

• Melhorar os serviços forenses de saúde mental a nível internacional;

• Promover um diálogo internacional sobre a saúde mental forense, em todos os seus aspectos, incluindo a violência e violência familiar;

• Promover a educação, formação e investigação em saúde mental forense;

• Informar as comunidades profissionais e o público em geral sobre as ques-tões actuais desta área;

• Promover e utilizar tecnologias avançadas na busca dos objectivos acima referidos;

• Promover uma ligação formal e informal com organismos que tenham um propósito semelhante.

Quem são ou quem podem ser os seus membros?

• Qualquer indivíduo que esteja envolvido na prática ou na investigação de Psicologia Forense, ou seja, na intersecção entre a Psicologia e a lei.

International Association of Forensic Mental Health Services (IAFMHS)

Fundada1972

PresidenteYoshi Kashima (Austrália)

Conta com a adesão de novos países todos os anos e uma boa visibilidade internacional na América do Norte e na Europa, especialmente no Reino Unido, Alemanha e Holanda, tendo recentemente ganho o interesse de alguns investigadores africanos.

www.iafmhs.org

O que diriam a estudantes de Psicologia interessados na vossa associação?

Diria “...para visitarem o nosso site e a nossa página no facebook, porque ambos fornecem muita informação sobre a nossa organização, mas sobretudo, para irem a um congresso, que é a melhor maneira de terem uma ideia sobre o que a nossa organização é (...). Disponibilizamos um fórum ou plataforma para estabelecer re-lações com investigação que está a ser feita em muitas partes do mundo e constitui um excelente lugar para estudantes com uma mentalidade internacional na nossa área interagirem em rede e ampliarem as suas ligações profissionais.”

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

RUP Nº2 89

International Association of Forensic Mental Health Services (IAFMHS)

www.iafmhs.org

INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA

90 RUP Nº2

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

RUP Nº2 91

O que diriam a estudantes de Psicologia interessados na vossa sociedade?

“Estamos muito interessados em facilitar a participação de alunos na nossa sociedade. Oferecemos taxas de inscrição e adesão reduzidas. E recentemente, criámos um comité de estudantes (...) destinado a desenvolver programas e a atender as necessidades dos nossos alunos. Os alunos têm um papel na criação do programa científico e temos sessões nas nossas reuniões científicas destina-das especificamente aos estudantes.”

International Neuropsychological Society (INS)

Fundada1967

PresidenteSandra Weintraub (EUA)

Tem actualmente mais de 4.500 membros em todo o mundoFortes parcerias com sociedades neuropsicológicas de todo o mundo.

www.the-ins.org

Que rumo/objectivos pretendem seguir no futuro?

• Construção de relações com outras organizações neuropsicológicas, princi-palmente, através da colaboração nas suas reuniões científicas fora da América do Norte.

Quais são os principais objectivos?

• A INS é uma organização científica e educacional com o objectivo de pro-mover a compreensão das relações de comportamento do cérebro.

• Melhorar a comunicação em todo o mundo entre as disciplinas científicas que podem contribuir para uma melhor compreensão da relação cérebro-comportamento e, em particular, de distúrbios neuropsicológicos.

Que tipo de actividades realizam/promovem?

• Reuniões científicas (2 por ano), uma na América do Norte e a outra noutro lugar do mundo;

• Publicação da Revista “JINS - Journal of the International Neuropsychological Society” que publica artigos que cobrem todas as áreas de Neuropsicologia e da interface da Neuropsicologia com outras áreas, tais como neurociência cognitiva.

Quem são ou quem podem ser os seus membros?

• Qualquer pessoa que trabalhe numa área relacionada com as relações do cérebro com o comportamento (neuropsicólogos, neurologistas, psiquiatras, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e outros), tendo uma categoria para estudantes e estagiários.

INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA

92 RUP Nº2

Quem são ou quem podem ser os seus membros?

• Qualquer pessoa (profissionais, estudantes ou reformados) que tenha inte-resse nesta área.

Que rumo/objectivos pretendem seguir no futuro?

• Desenvolvimento de um grande Encontro Internacional de Psicogeriatria em Pequim (China) em Outubro de 2014.

Quais são os principais objectivos?

“IPA…Better Mental Health for Older People”

• Promover uma melhor saúde mental de pessoas mais velhas (transversal a disciplinas, a fronteiras e a questões geriátricas), através de:

• Investigação, desenvolvimento profissional, defesa, promoção da saú-de e desenvolvimento de serviços;

• Promoção da investigação e da educação;

• Incentivo ao intercâmbio internacional de ideias sobre as questões psicogeriátricas;

• Promoção da compreensão intercultural dos mais recentes desenvol-vimentos no campo.

Que tipo de actividades realizam/promovem?

• Congressos Internacionais de Psicogeriatria, realizados nos anos ímpares;

• Portal Educação IPA (educação online);

• Programas IPA - oportunidade para a comunidade IPA discutir, explorar e / ou compartilhar seus conhecimentos, através do fórum de discussão, simpó-sio, conferências, reuniões.

• Publicações:• Site IPA;

• Revista científica “International Psychogeriatrics” (10 edições por ano);

• Newsletter IPA;

• Guia completo de sintomas comportamentais e psicológicos da demência (SPCD);

• Guia para a Psiquiatria da Terceira Idade.

International Psychogeriatric Association (IPA)

Fundada1982

PresidenteJacobo Mintzer (EUA)

Representante de Portugal: Lia Fernandes

Representa mais de 66 países e 28 disciplinas e tem cerca de 1100 membros de diversas áreas do saber associado à saúde geriátrica;

Mantém relações com muitas organizações de relevo, incluindo a Organização Mundial de Saúde, a Associação Mundial de Psiquiatria, etc.

RUP Nº2 93

Que rumo/objectivos pretendem seguir no futuro?

• O Curso de Pós-Graduação Internacional intitulado “Globalização da Psicologia Escolar” é oferecido a todos os alunos de pós-graduação em Psicologia Escolar de qualquer lugar do mundo. O primeiro está a ser realizado de 1 de Fevereiro a 15 de Abril de 2013. Este novo curso constitui o primeiro programa de Psicologia Escolar credenciado pela Associação Internacional de Psicologia Escolar;

• O lançamento da revista IJSEP em 2013;

• A realização do 35º Congresso de 17 a 20 de Julho deste ano no Porto, Portugal!

Quem são ou quem podem ser os seus membros?

• Pessoas com formação em Psicologia Escolar/da Educação em instituições reconhecidas;

• Alunos matriculados em programas de Psicologia Escolar, devendo estes apresentar provas da sua inscrição num programa de Psicologia Escolar reco-nhecido no seu país;

• Pessoas que frequentam os serviços de Psicologia das escolas;

• Organizações com propósitos, missões e objectivos semelhantes aos da ISPA.

Que tipo de actividades realizam/promovem?

• Congressos anuais “Internacional School Psychology Association Conferences”;

• Newsletter trimestral “World Go Round “(WGR);

• Publicação da revista “The International Journal of School & Educational Psy-chology” (IJSEP) com vista à promoção das boas práticas na escola em todo o mundo (1ª edição em 2013).

Quais são os principais objectivos?

• Promover o uso de princípios psicológicos no contexto da educação em todo o mundo, condenando qualquer discriminação de natureza racial, religiosa ou sexual;

• Promover a comunicação entre os profissionais que se dedicam à melhoria da saúde mental de crianças em escolas de todo o mundo;

• Estimular a formação de psicólogos escolares em países onde não haja nenhuns ou muito poucos;

• Promover os direitos psicológicos de todas as crianças do mundo;

• Iniciar e promover a cooperação com outras organizações que trabalham em fins semelhantes aos da ISPA.

International School Psychology Association (ISPA)

Fundada1982

PresidenteJürg Forster (Suíça)

Quase 50 países estão filiados;Reconhecida pelas Nações Unidas como uma organização não-governamental importante em prol das crianças, jovens e das suas famílias.

www.ispaweb.org

A PSICOLOGIA AQUI E AGORA

Quem são ou quem podem ser os seus membros?

• Qualquer pessoa que adira aos objectivos supracitados da SPR pode solicitar a sua adesão nesta sociedade.

• Pessoas que frequentam os serviços de Psicologia das escolas;

• Organizações com propósitos, missões e objectivos semelhantes aos da ISPA.estudantes e estagiários. O que diriam a estudantes de Psicologia interessados na vossa sociedade?

“Se é estudante, clínico, educador, investigador ou está interessado em psi-coterapia, encorajo-o a juntar-se à SPR. As reuniões oferecem grandes opor-tunidades de comunicação e troca com líderes e inovadores do campo e a revista mantê-lo-á a par de assuntos, clinicamente relevantes, e de investigação

Society for Psychotherapy Research (SPR)

Fundada1970

PresidenteGeorge Silberschatz (EUA)

Promove reuniões regulares de investigadores e clínicos de todo o mundo entre secções regionais (Europa, América Latina, América do Norte, Reino Unido) e organizações locais da SPR (Austrália, Itália, Meio-Atlântico, Ohio);

A sua revista oficial é uma revista com sistema de revisão por pares extremamente conceituada.

www.ispaweb.org

Quais são os principais objectivos?

• Incentivar o desenvolvimento da investigação científica em psicoterapia;

• Promover a comunicação, compreensão e utilização dos resultados da in-vestigação;

• Aumentar o valor científico e social da investigação em psicoterapia;

• Contribuir, através da investigação, para aumentar a eficácia das psicoterapias.

Que tipo de actividades realizam/promovem?

• Conferências Internacionais Anuais, de forma a apresentar e discutir a investi-gação/tendências/questões atuais para fomentar e apoiar o envolvimento em ac-tividades da SPR e outras que apoiem o desenvolvimento de investigadores de psicoterapia e do campo de investigação da mesma;

• Conferências Regionais, agendadas periodicamente pelos Capítulos Regionais com o mesmo fim que as anteriores;

• Reuniões regulares de comunicação de ideias, métodos de investigação, desco-bertas e aplicações;

• Publicação da Revista “Psychotherapy Research”, com 6 edições por ano;

• Publicação e divulgação periódica de uma newsletter.

INSTITUIÇÕES INTERNACIONAIS DE INVESTIGAÇÃO EM PSICOLOGIA

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PRÓXIMOS EVENTOS EM PSICOLOGIA

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Próximos eventos em Psicologia

À semelhança da edição anterior, a Revista Universitária de Psicologia elaborou para ti uma lista dos próximos eventos relacionados com a Psicologia. Fomenta o teu gosto por esta área e não fiques apenas pela teoria. A prática poderá levar-te a uma imensidão de Novos Rumos onde o conceito “limite” não existe. Envolve-te e participa!

PRÓXIMOS EVENTOS EM PSICOLOGIA

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Congressos Formações Formações

FARO / UNIV. DO ALGARVE

• 34º Congresso Mundial da Star (Stress and Anxiety International Research): 1, 2 e 3 de Julho de 2013; ordemdospsicologos.pt

• II Congresso Ibero-Americano de Psicologia da Saúde e III Congresso Luso-Brasileiro de Psicologia da Saúde: 4, 5 e 6 de Julho de 2013; ordemdospsicologos.pt

LISBOA

• I Congresso Internacional Envolvimento dos Alunos na Escola – Perspetivas da Psicologia e Educação: 15, 16 e 17 de Julho de 2013; ordemdospsicologos.pt

PORTO

• 35th International School Psychology Association Conference: 17, 18, 19 e 20 de Julho de 2013; ordemdospsicologos.pt

LISBOA

• Curso Intensivo em Clíni-ca Prisional: 20 de Abril de 2013; associacaocentralde-psicologia.pt

• Curso Avançado em Práti-cas de Psicomotricidade do Envelhecimento Patológi-co: 11 de Maio de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

• Curso Avançado em Práticas Psicocorporais em Contexto Terapêutico: 14 de Setembro de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

PORTO

• Curso Prático Relação Terapêutica: 11 de Maio de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

• Curso Prático de Dinâmicas de Grupo em Sala de Aula – Sentir os alunos, agir na turma: 9 de Novembro de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

COIMBRA

• Intervenção Terapêutica na Gaguez: 18 de Maio de 2013; associacaocentralde-psicologia.pt

• Curso Prático de Avaliação e Intervenção em Situações de Trauma: 28 de Setembro de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

Pós-Graduações Pós-Graduações Workshops

LISBOA

• Psicoterapias Cognitivo-Comportamentais de Terceira Geração - Mindfulness e outras abordagens: 13 de Abril de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

• Psicomotricidade: 20 de Abril de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

• Psicologia do Desporto: 26 de Outubro de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

PORTO

• Intervenção Clínica em Psicogerontologia: 6 de Abril de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

• Psicoterapias Cogniti-vo-Comportamentais de Terceira Geração - Mindful-ness e outras abordagens: 6 de Abril de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

• Gestão de Recursos Humanos: 11 de Maio de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

• Neuroeducação (2ª e 3ª Edição): 18 de Maio de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

COIMBRA

• Consulta Psicológica de Orientação Vocacional ao Longo da Vida: 13 de Abril de 2013; associacaocen-traldepsicologia.pt

• Perturbação da Linguagem na Infância: 20 de Abril de 2013; associa-caocentraldepsicologia.pt

• Psicogeriatria: 11 de Maio de 2013; associacao-centraldepsicologia.pt

PORTO

• Psicomotricidade em diferentes contextos de Intervenção: 6 de Julho de 2013; inspsic.pt (Instituto Português de Psicologia)

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