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ISSN 2237-6003 SAÚDE Revista Científica do Claretiano – Centro Universitário v. 4, n. 1, jan./dez. 2015

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ISSN 2237-6003

SAÚDERevista Cientí� ca do Claretiano – Centro Universitário

v. 4, n. 1, jan./dez. 2015

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Revista Científica do Claretiano – Centro Universitário

SAÚDE

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Reitoria / RectorateReitor: Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanor PivaPró-reitor Administrativo: Pe. Luiz Claudemir BotteonPró-reitor Acadêmico: Prof. Ms. Luís Cláudio de AlmeidaPró-reitor de Extensão e Ação Comunitária: Prof. Ms. Pe. José Paulo Gatti

Conselho editorial / Publish CommitteProf.ª Dra. Antonia Maria Rosa (UNEMAT)Prof.ª Ms. Beatriz Cardoso Lobato (USP)Prof. Dr. Bernardino Geraldo Alves Souto (UFSCar)Prof.ª Dra. Carolina Daniel Lima-Alvarez (UFRN)Prof. Dr. Daniel dos Santos (UNIFRAN e UNIPAM)Prof. Dr. Daniel Ferreira Moreira Lobato (UNIFAL)Prof.ª Dra. David Michel de Oliveira (UFG)Prof. Ms. Douglas de Assis Teles Santos (UNEB)Prof. Ms. Edson Donizetti Verri (CLARETIANO; UNAERP)Prof.ª Dra. Eloisa Maria Gatti Regueiro (CLARETIANO; UNIFAFIBE)Prof.ª Dra. Érika da Silva Bronzi (CLARETIANO)Prof.ª Dra. Fabíola Rainato Gabriel (CLARETIANO)Prof. Dr. Fabrício Azevedo Voltarelli (UFMT)Prof.ª Dra. Geni de Araújo Costa (UFU)Prof.ª Dra. Giseli Cristina Galati Toledo (CLARETIANO)Prof.ª Dra. Janaína Paula Costa da Silva (UFRN/ FACISA)Prof. Dr. José Eduardo Costa de Oliveira (CEUM)Prof. Dr. Julio Sergio Marchini (USP)Prof.ª Dra. Kamilla Tays Marrara (UNICEP)Prof. Dr. Leonardo Cesar de Carvalho (UNIFAL)Prof.ª Dra. Ligia Sousa (UNIFAL)Prof. Dr. Luis Fabiano Barbosa (UEMG)Prof. Dr. Maurício Borges de Oliveira (UNIVÁS)Prof.ª Dra. Odete Messa Torres (UNIPAMPA)Prof. Dr. Paulo Augusto Costa Chereguini (UFC)Prof.ª Dra. Renata Pedrolongo Basso-Vanelli (UFSCar)Prof. Ms. Roberto Carlos Vieira Junior (UNEMAT)Prof.ª Ms. Silvia Beatriz Serra Baruki (UFMS/ CEPAN)

Informações Gerais / General InformationPeriodicidade: AnualNúmero de páginas: 132 páginasNúmero de artigos: 7 artigos neste volumeMancha/Formato: 11,3 x 18 cm / 15 x 21 cm

Os artigos são de inteira responsabilidade de seus autores.

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Saúde Batatais v. 4 n. 1 p. 1-132 jan./dez. 2015

ISSN 2237-6003

Revista Científica do Claretiano – Centro Universitário

SAÚDE

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© 2015 Ação Educacional Claretiana

Equipe editorial / Editorial teamEditora responsável: Prof.ª Dra. Eloisa Maria Gatti RegueiroEditor assistente: Prof. Ms. Rafael Menari Archanjo

Equipe técnica / Technical staffNormatização: Dandara Louise Vieira MatavelliRevisão: Felipe Aleixo e Talita Cristina BartolomeuProjeto gráfico: Luis Antonio Guimarães ToloiCapa: Raphael Fantacini de Oliveira

Direitos autorais / CopyrightTodos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do autor e da Ação Educacional Claretiana.

Permuta / ExchangeOs pedidos de permuta devem ser encaminhados à Biblioteca da Instituição:

Claretiano – Centro UniversitárioRua Dom Bosco, 466 – Castelo14300-000 – Batatais - SPTel. (16) 3660 [email protected]

Bibliotecária / LibrarianAna Carolina Guimarães – CRB-8/9344

610 S272

Saúde : revista científica do Claretiano - Centro Universitário – v.4, n.1 (jan./dez. 2015) -. – Batatais, SP : Claretiano, 2015. 132 p.

Anual. ISSN: 2237-6003 1. Saúde - Periódicos. I. Saúde : revista científica do Claretiano – Centro Universitário.

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Sumário / Contents

Editorial / Editor’s note ............................................................ 7

ARTIGO ORIGINAL / ORIGINAL PAPER

Estratégias de educação alimentar e nutricional para crianças como ferramentas de educação em saúde para Unidades Básicas de Saúde ..................................................................................... 9Food and nutrition education strategies for children and health education tools to Basic Health Unit

Efeitos do treinamento combinado na reabilitação pulmonar de paciente com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC) ... 23Effects of combined training in pulmonary rehabilitation in patient with Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD)

REVISÃO DE LITERATURA / LITERATURE REVIEW

A importância do treinamento muscular respiratório no pré e pós--operatório de cirurgia cardíaca: revisão bibliográfica .............. 43The importance of respiratory muscle training in the preoperative and postoperative cardiac surgery: review

Relação entre a técnica de sutura e a reabilitação no pós-operatório de tenorrafia dos flexores de dedos da mão: revisão da literatura ..................................................................................... 55Relationship between the suture technique and rehabilitation in tenorrhaphy postoperative of the finger flexors: literature review

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RELATO DE CASO / CASE REPORT

Efeitos do treinamento físico combinado sobre a composição corporal e o perfil lipídico de uma mulher obesa ...................... 73Combined effects of physical training on body composition and lipid profile of an obese woman

RELATO DE EXPERIÊNCIA / EXPERIENCE REPORT

Projeto Claretiano Solidário: a academia comprometida com a transformação da sociedade ....................................................... 89Claretiano Solidarity Project: academia committed to the society transformation

RESENHA / WRITE UP

Resenha do livro “O jogo da cultura e a cultura do jogo: por uma semiótica da corporeidade” ........................................................ 117The book review “The game culture and the culture game: to a semiotics of corporeality”

Política Editorial / Editorial Policy .......................................... 127

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Saúde, Batatais, v. 4, n. 1, p. 7-8, jan./dez. 2015

Editorial / Editor’s note

Encerra‐se mais uma Edição da Revista Saúde, concebida com a perspectiva de ser um canal de divulgação científica interna e externa visando à consolidação das atividades de pesquisa dos cursos da Saúde do Claretiano – Centro Universitário. Pouco a pouco, essa meta tem sido alcançada pelo grande envolvimento do corpo editorial da revista e dos profissionais envolvidos. Além disso, o estabelecimento de parcerias com outras universidades, na consolidação do periódico na comunidade científica, tem crescido dia a dia.

A importância no mundo acadêmico de um instrumento de divulgação científica torna‐se indispensável para um professor/pesquisador/profissional e seus discentes. Não basta estar munido do conhecimento sobre o método científico, mas também saber comunicar e compartilhar as descobertas acadêmicas.

Diante dessa realidade e com a necessidade de estabelecer--se “cientificamente”, estimulando a publicação dos resultados de pesquisa dos docentes e discentes, bem como da comunidade cien-tífica relacionada à saúde, as temáticas trazidas para a apreciação e discussão de nossos leitores figuram e instigam-nos de muitos modos por meio de dois artigos científicos, um relato de caso, duas revisões de literatura, um relato de experiência e uma resenha.

Essa instigação se inicia com um artigo da Nutrição, cujo desafio é apresentar estratégias e atividades de educação alimentar e nutricional para crianças como ferramentas de educação em saúde nas Unidades Básicas de Saúde, a fim de diminuir o risco de desenvolvimento de doenças crônicas desde a infância.

Em seguida, há uma contribuição da Fisioterapia evidenciando a influência do exercício físico na capacidade funcional, refletida no melhor desempenho das atividades de vida diária e melhora da qualidade de vida de pneumopatas.

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Ainda sob a ótica da Fisioterapia, temos duas revisões da literatura, com a contribuição específica da Fisioterapia Respiratória, atuando no auxílio à recuperação de pacientes submetidos à cirurgia cardíaca que podem apresentar complicações pulmonares; e da Fisioterapia Ortopédica, apresentando uma revisão sobre a influência que o tipo de sutura tem na determinação do protocolo de reabilitação no pós-operatório de tenorrafia dos flexores de dedos da mão.

Continuando nossa leitura e tendo com pauta a saúde e a qualidade de vida, o profissional da Educação Física apresenta-nos, em um relato de caso, um problema de saúde pública crescente: a obesidade, mostrando-nos os benefícios da prática regular de atividade física como um tratamento não farmacológico e eficaz nessa população.

Posteriormente, há um importante relato de experiência multidisciplinar referente a um projeto institucional que evidencia o comprometimento da academia com a transformação da sociedade e o necessário aperfeiçoamento dos valores humanos e da autonomia crítica dos acadêmicos.

Concluindo a quarta edição, há uma intrigante resenha, na qual o profissional da Educação Física nos explica “sobre um novo modo de entender o Movimento Humano, considerando-o como linguagem, que se expressa na existência dos indivíduos, por meio da cultura do jogo”.

Finalizamos mais uma edição já ansiando as próximas que virão.

Boa leitura!

Prof.ª Dra. Eloisa Maria Gatti RegueiroEditora responsável

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Saúde, Batatais, v. 4, n. 1, p. 9-22, jan./dez. 2015

Estratégias de educação alimentar e nutricional para crianças como ferramentas de educação em saúde para Unidades Básicas de Saúde

Isadora Massariolli Manssur SILVA1 Giseli Cristina Galati TOLEDO2

Resumo: A educação alimentar e nutricional é essencial no trabalho da educação em saúde e deve ser iniciada o quanto antes para diminuir o risco de desenvolvimento de doenças crônicas. O presente estudo tem como objetivo apresentar estratégias e atividades de educação alimentar e nutricional para crianças como ferramentas de educação em saúde para Unidades Básicas de Saúde. Foram coletadas dez estratégias e atividades realizadas em grupos, a partir do registro de atas e pastas de grupos de Educação Alimentar e Nutricional desenvolvidas com crianças em uma Unidade Básica de Saúde. As atividades selecionadas incluem temas sobre alimentação saudável, higiene, atividade física, açúcares e gorduras, e grupos alimentares. As estratégias apresentadas trabalham com o lúdico, utilizando teatros, jogos, brincadeiras, oficinas práticas com alimentos e vídeos. Essas estratégias de educação alimentar e nutricional selecionadas podem ser utilizadas como ferramentas na saúde para promover orientações e mudanças alimentares em crianças, pois permitem o interesse e envolvimento no aprendizado.

Palavras-chave: Educação Alimentar e Nutricional. Estratégias de Educação Nutricional. Atividades Lúdicas.

1 Isadora Massariolli Manssur Silva. Graduanda em Nutrição pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2 Giseli Cristina Galati Toledo. Doutora e Mestre em Ciências Médicas pela Universidade de São Paulo (USP). Graduada em Nutrição pela Universidade Federal de Alfenas (UFAL). Docente do Curso de Nutrição do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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Food and nutrition education strategies for children and health education tools to Basic Health Unit

Isadora Massariolli Manssur SILVAGiseli Cristina Galati TOLEDO

Abstract: Food and nutrition education is essential for the health education work and should be initiated as soon as possible to attempted to decrease the risk of developing chronic diseases. The purpose of the current study was to presenting strategies with food and nutrition education activities for children as tools in health education to Basic Health Unit. Ten strategies and activities in groups were collected from the registry certificates and folders groups Food and Nutrition Education developed with children in a Basic Health Unit. The selected activities include themes about healthy eating, hygiene, physical activity, sugars and fats, and food groups. The methods were presented such as playful time, theater, games, jokes, practical workshops with food and videos. These selected food and nutrition education strategies can be used as tools to promote health guidelines and dietary changes in children because they allow them to be interested and engaged in learning.

Keywords: Food and Nutrition Education. Strategies for Nutrition Education. Playful Activities.

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1. INTRODUÇÃO

A preocupação com a qualidade da alimentação e a qualidade de vida está crescendo a cada dia. A relação da alimentação de má qualidade com o aparecimento de doenças causa grande preocupação e, assim, buscam-se alternativas mais saudáveis para a alimentação, objetivando evitar doenças e alcançar uma vida melhor (BOOG, 2013).

A educação em saúde visa a autocapacitação dos indivíduos para lidar com problemas fundamentais do cotidiano como a nutrição, o desenvolvimento biopsicológico e a reprodução. A educação nutricional torna-se essencial no trabalho da educação em saúde, pois a saúde física e mental depende do estado nutricional do indivíduo (TURANO; ALMEIDA, 1999).

A educação alimentar e nutricional deve ser iniciada logo na infância, quando os hábitos alimentares estão sendo estabelecidos, sendo necessário oferecer às crianças uma alimentação balanceada para proporcionar um crescimento e desenvolvimento adequados, e, assim, na vida adulta, ela mesma saberá escolher seus alimentos, optando pelos mais saudáveis para ter uma alimentação equilibrada. Em contrapartida, pelo do hábito alimentar não saudável a criança está mais exposta ao risco de desenvolvimento de doenças cardiovasculares, osteoporose, hipertensão, diabetes e outras doenças na vida adulta, tornando ainda mais necessária esta intervenção, a fim de prevenir tais doenças (BARBOSA, 2009).

Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE, 2010), resultados apontados pela Pesquisa de Orçamento Familiar (POF) de 2008/2009 mostram que houve um significativo aumento de excesso de peso e obesidade entre as crianças de 5 a 19 anos, do ano de 1989 para o ano de 2008/2009. Entre as crianças de 5 a 9 anos, do sexo masculino, o excesso de peso teve um aumento de 15% para 34,8%, e no sexo feminino esse aumento foi de 11,9% para 32%. Com relação à obesidade, a mudança foi de 4,1% para 16,6% no sexo masculino e 2,4% para 11,8% no sexo feminino. Entre as crianças de 10 a 19 anos do sexo masculino o excesso de peso aumentou de 7,7% para 21,7% e no sexo feminino a diferença

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foi de 13,9% para 19,4%. Com relação à obesidade, a mudança foi de 1,5% para 5,9% no sexo masculino e 2,2% para 4% no sexo feminino.

Esse atual panorama de excesso de peso e obesidade em crianças traz a necessidade do desenvolvimento de estratégias de educação alimentar e nutricional direcionadas para tal público na saúde e/ou na educação para promover a saúde e prevenir a obesidade e suas complicações. Para trabalhar com estratégias de educação alimentar e nutricional, o educador ou profissional precisa ser didático, ou seja, planejar as ações de como deverão ocorrer os processos de ensino. Ele deve despertar o interesse dos educandos aos conteúdos ministrados, facilitar a participação dos mesmos nos processos de ensino através de diferentes técnicas, facilitar a aprendizagem, e aumentar o rendimento dos educandos na aquisição de novos conhecimentos (LINDEN, 2005).

Segundo estudo realizado por Martins, Walder e Rubiatti (2010), o trabalho com estratégias de educação nutricional com crianças em uma escola resultou no aumento da construção de conhecimentos sobre assunto, diminuição no consumo de refrigerantes, aumento do consumo de verduras e legumes, maior abertura para experimentar novos alimentos, além da influencia das crianças na modificação da alimentação da família. Outro estudo realizado por Vargas et al. (2011) com adolescentes de escolas públicas aponta mudanças na alimentação, com menor consumo de lanches vendidos por ambulantes, não substituição do almoço e jantar por lanches e redução no consumo de fast food, ressaltando, assim, a eficácia das intervenções de educação nutricional.

O trabalho de Salvi e Ceni (2009) mostrou que atividades lúdicas de educação alimentar e nutricional que utilizam estratégias como história, atividades artísticas, teatros, jogos e músicas direcionadas para crianças proporcionaram maior interação com os alimentos, assimilação de novos conceitos, resultando, assim, em um aprendizado contínuo e sequencial sobre nutrição e alimentação.

Dessa forma, as estratégias de educação alimentar e nutricional são de grande valia para a modificação dos hábitos alimentares na infância e adolescência, promovendo a alimentação

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saudável e, assim, conter o avanço do sobrepeso e obesidade que estão relacionados ao desenvolvimento de doenças crônicas futuras.

As atividades lúdicas são estratégias para trabalhar em educação alimentar e nutricional, pois elas permitem a experiência completa do momento, associando o ato, o pensamento e o sentimento. Por meio delas, a criança brinca, joga, diverte-se, sente, pensa, aprende e desenvolve-se. Os tipos de atividades lúdicas são: brincar, desenhar, dançar, jogar, dramatizar e fazer teatro de fantoches (MALUF, 2008).

Assim, o presente estudo tem como objetivo apresentar estratégias e atividade de educação alimentar e nutricional para crianças como ferramentas de educação em saúde para Unidades Básicas de Saúde.

2. METODOLOGIA

Trata-se de um estudo transversal descritivo, onde as estratégias e atividades de Educação Alimentar e Nutricional aqui apresentadas foram coletadas a partir do registro de atas e pastas de grupos de Educação Alimentar e Nutricional desenvolvidas com crianças na Unidade Básica de Saúde João de Souza Marques, em Batatais-SP, onde funcionam duas Estratégias de Saúde da Família.

As atividades desenvolvidas na Unidade Básica de Saúde são realizadas com a parceria entre o curso de Nutrição do Claretiano – Centro Universitário de Batatais e a Prefeitura de Batatais-SP. Cabe aos graduandos do curso elaborar e aplicar as atividades que são trabalhadas em grupos, sob a supervisão do professor responsável pela supervisão do estágio de Nutrição.

As atividades aqui consideradas foram de registros realizados em duas pastas e duas atas entre 2009 a 2014, e direcionadas para faixas etárias de 2 a 12 anos. Foram selecionadas as estratégias mais motivadoras utilizadas em atividades em grupo, e que possuíam como principal característica a ludicidade e que pudessem propiciar modificação de práticas alimentares e de estilo de vida. Portanto, foram selecionadas atividades que se utilizaram de estratégias como:

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teatros, jogos, brincadeiras, dinâmicas, dramatizações, desenhos, entre outras (GENI [...], 2010; NutriBrink [...], 2011; Grupo [...], 2013; NutriAlegria [...], 2014). Foram excluídas do registro todas as atividades que não possuíam descrição de materiais, métodos e resultados e que não utilizaram o lúdico.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise das duas pastas e atas de registros permitiu a seleção de dez atividades educativas para crianças de 2 a 12 anos, que podem propiciar mudanças alimentares e nutricionais. Os temas abordados nas atividades foram alimentação saudável, higiene, atividade física, açúcares e gorduras e grupos alimentares. Todas as atividades foram descritas de forma a apresentar seus objetivos e métodos de desenvolvimento (Figura1).

As atividades apresentadas neste trabalho permitem sua utilização como ferramentas para educação nutricional em atendimentos clínicos ou em grupo em serviços de saúde, sendo necessário em algumas situações ou realidades adaptações dos métodos e recursos utilizados.

Figura 1. Estratégias de educação alimentar e nutricional utilizadas como ferramenta para mudanças alimentares e nutricionais em atendimento em grupos, desenvolvidas em uma Unidade Básica de Saúde, Batatais/SP, 2014.

TEMA DESCRIÇÃO“Comer pra que? Pra que comer?”

Objetivo: explicar o porquê de nos alimentarmos e como ter uma boa alimentação. Público alvo: crianças e 2 a 12 anos. Descrição da atividade: dinâmica “O que comer?”: apresentação de quatro sacolas transparentes que contêm diversos tipos de alimentos. Sacola A (doces, refrigerantes e salgadinhos); sacola B (vegetais e frutas); sacola C (arroz, carne, feijão, leite e pão); sacola D (um pouco de cada alimento das outras sacolas). As crianças escolhem uma sacola e devem dizer qual o conteúdo presente nela e depois todos discutem qual sacola devemos escolher para ter uma alimentação saudável.

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TEMA DESCRIÇÃO“Teatro Educativo: conhecendo os grupo dos alimentos e suas funções no organismo”

Objetivo: mostrar, através de fantoches, quais são os grupos alimentares, suas funções e como ter uma alimentação saudável. Público alvo: crianças e 2 à 12 anos.Descrição da atividade: contar a história do Salgadão, um menino que come apenas alimentos não saudáveis, e do Ervilho, um menino que tem uma alimentação balanceada. Assim, é apresentada a dificuldade do Salgadão em tirar notas boas na disciplina de Educação Física por conta de sua obesidade e do cansaço que ela causa; o Ervilho tenta ajudá-lo apresentando os seus amigos: arroz, feijão, carne, leita, frutas, legumes, verduras, açúcar e gordura, e cada um falam sobre a sua importância. No final, o Salgadão fica motivado a mudar seus hábitos alimentares.

“Comer bem é viver melhor”

Objetivo: incentivar o consumo de alimentos saudáveis. Público alvo: crianças e 2 a 12 anos.Descrição da atividade: consiste em um jogo de tabuleiro onde as “casas” são feitas em folhas sulfite e as “peças” são as próprias crianças. As crianças jogam o dado e andam as respectivas casas; em cada uma há perguntas sobre nutrição, onde respondem para seguir em frente. Algumas “casas” possuem ponto de interrogação onde as crianças devem comer um alimento saudável com os olhos vendados e tentar descobrir que alimento é esse.

“Higiene das mãos” Descrição da atividade: explicar a maneira correta de higienizar as mãos e a sua importância, para termos boa saúde, livre de bactérias. Público alvo: crianças e 2 a 12 anos.Descrição da atividade: é feita a dinâmica onde os olhos das crianças são vendados e as mãos delas são pintadas com tinta guache, assim, elas precisam lavar as mãos sem enxergar onde está sujo. Assim que terminam de lavar as mãos, a venda é retirada e elas podem ver se lavaram direito as mãos através dos restos de guache.

“Horta e Pomar” Objetivo: identificar a variedade de frutas, verduras e legumes que fazem parte da horta e de pomar. Público alvo: crianças e 2 a 12 anos.Descrição da atividade: é feita uma árvore com papel pardo e cartolina verde para simbolizar o pomar, e um canteiro de papel pardo para simbolizar a horta. As crianças estouram uma bexiga que, no seu interior, contêm a figura de um alimento que elas devem identificar e dizer se fazem parte da horta ou do pomar. Após a atividade, as crianças montam a sua própria horta. Para isso, utiliza-se garrafa pet, terra vegetal e mudas de alface.

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TEMA DESCRIÇÃO“Gordura: a vilã ou a mocinha?”

Objetivo: analisar os conhecimentos das crianças a respeito dos diferentes tipos de gorduras. Público alvo: crianças e 2 a 12 anos.Descrição da atividade: consiste em um jogo de perguntas e respostas. Primeiro é passado é um vídeo com explicação sobre os diferentes tipos de gordura, sua importância e malefícios; em seguida as crianças são divididas em grupos que devem responder perguntas a respeito do tema; quando acertar a pergunta o grupo ganha uma gordurinha e quando errar ganha três gordurinhas, assim, o grupo com menos gordurinhas é o vencedor.

“Açúcares e Atividade Física”

Objetivo: analisar os conhecimentos das crianças a respeito do açúcar e, ao mesmo tempo, estimular a prática de exercício físico. Público alvo: crianças e 2 a 12 anos.Descrição da atividade: jogo de perguntas “verdadeiras ou falsas”, onde as crianças são divididas em grupos e cada grupo escolhe uma ficha de perguntas sobre o tema; se o grupo acertar a resposta ganha um ponto, se errar deve escolher outra ficha que na qual contém uma atividade física e todo o grupo deve realizá-la.

“Cabra-cega” Objetivo: realizar um teste sensorial com as a crianças para que elas percebam a diferença entre um alimento preparado de duas maneiras diferentes. Público alvo: crianças e 2 a 12 anos.Descrição da atividade: a criança fica com os olhos vendados e, quando os alimentos são oferecidos, ela precisa cheirá-los e come-los, tentando descobrir o que é e a diferença entre um e outro.

“Trabalhando com a Pirâmide Alimentar”

Objetivo: analisar o entendimento das crianças a respeito dos grupos dos alimentos: construtores, reguladores, energéticos e energéticos extras. Público alvo: crianças e 2 a 12 anos.Descrição da atividade: é entregue a cada criança uma pirâmide alimentar e recortes de alimentos que devem ser colados em seus respectivos lugares. Ao final da atividade, pontuam-se os acertos de cada uma e é explicado novamente como os alimentos são distribuídos na pirâmide e qual a função de cada um.

“Vendinha da Nutrição”

Objetivo: orientar as crianças sobre a importância de uma alimentação saudável através das compras. Público alvo: crianças e 2 a 12 anos.Descrição da atividade: as crianças devem fazer uma “compra” de dez itens que gostariam de ter em casa e de comer. Ao final da compra, cada criança deve explicar o motivo de ter comprado os alimentos que colocaram na sacola. No final, é explicada a importância de fazer compras com os pais em supermercados.

Fonte: Acervo do autor (2014).

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Muitos especialistas consideram os métodos educacionais ativos mais eficazes para a aprendizagem do que a instrução formal, pois assim o educando é o agente de sua própria aprendizagem e não apenas um receptor de informações e normas (TURANO; ALMEIDA, 1999).

Como dito anteriormente, o lúdico pode ser utilizado como estratégia de educação nutricional. O emprego educativo do jogo oportuniza a aprendizagem do indivíduo, seu conhecimento e sua concepção de homem e mundo (AWAD, 2006).

Nesse sentido, podemos aprender brincando. Nas atividades de aprendizado, o lúdico é ferramenta pedagógica importante, pois pode contribuir para o desenvolvimento intelectual, cognitivo e afetivo do ser além de propiciar à criança interagir e intervir em seu meio social de forma significativa e prazerosa.

Estudo realizado em duas escolas da Rede Municipal de Educação de Curitiba no ano de 2011, com 70 crianças em fase escolar, entre sete e onze anos de idade, mostrou que a utilização de fantoches como meio de intervenção na educação nutricional obteve bons resultados, aumentando o conhecimento das crianças a respeito dos hábitos alimentares saudáveis. Tanto o conhecimento sobre macro e micronutrientes quanto o de escolhas de alimentos saudáveis mostraram resultados positivos após a intervenção (OLIVEIRA; COSTA; ROCHA, 2011).

Outro estudo, realizado por Fernandes e Cols (2009) mostrou que um programa de educação nutricional ministrado a partir de métodos lúdico-educativos, utilizando jogos, teatros de fantoches, cartazes, brincadeiras, músicas e histórias infantis, também apresentou bons resultados, com diminuição significante no consumo de sucos artificiais. Também mostrou redução no consumo de salgadinhos artificiais, bala, pirulito, goma de mascar e pipoca industrializada, porém, não foi um resultado estatisticamente significante, mas demonstra importantes mudanças no consumo alimentar desses alunos que passaram por intervenção nutricional. Além disso, houve maior ingestão dos alimentos cujo consumo foi incentivado durante a intervenção como os cereais matinais e sanduíches.

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Outra estratégia de educação nutricional que pode ser trabalhada é a oficina culinária. Com ela, o ato de fazer, criar e degustar as preparações estimula a criança a consumir o alimento, pelo fato de ela mesma ter participado de todo o processo de produção (ROTENBERG et al., 2011). Além disso, pode-se trabalhar com a análise sensorial para estimular o consumo de novos alimentos que não fazem parte do hábito alimentar da criança. O estímulo dos cinco sentidos, fazendo com que a criança apalpe, ouça os sons durante o manuseio, cheire e deguste o alimento, promove as percepções e o incentivo do consumo dos alimentos, diminuindo o medo do que é novo para elas (COELHO; SILVA, 2011).

Uma estratégia muito importante a ser trabalhada é a educação nutricional no âmbito familiar. Na última década, estudos têm mostrado que o ambiente familiar possui fortes efeitos no comportamento alimentar das crianças. Por exemplo, o maior conhecimento dos pais sobre nutrição está associado a dietas mais saudáveis e menor peso corporal em crianças (HENDRIE, 2011 apud HENDRIE et al., 2013). Estudo apontado por Hendrie et al. (2013) mostra que o maior conhecimento sobre nutrição pelos pais resultou na diminuição da ingestão de gorduras saturadas pelos filhos.

Por meio das estratégias apresentadas é possível observar que existem diferentes formas para trabalhar com a educação nutricional e algumas delas já mostraram resultados positivos ainda que tenham sido trabalhadas em curto período de tempo. Isso mostra a importância dessas estratégias de educação alimentar e nutricional, juntamente com os métodos e ferramentas adequados, para promover mudanças no hábito alimentar, alcançando uma alimentação saudável.

4. CONCLUSÃO

As estratégias de educação alimentar e nutricional selecionadas neste artigo podem permitir o envolvimento da criança, despertando o seu interesse e consequentemente aumentar o aprendizado e proporcionar mudanças alimentares e nutricionais a longo prazo.

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As estratégias aqui apresentadas mostram as diferentes formas que a educação alimentar e nutricional pode ser introduzida, sempre buscando o aprendizado de uma maneira lúdica e prazerosa. É preciso ressaltar que o trabalhado de educação nutricional também deve ser feito no âmbito familiar, já que o mesmo tem forte influência na alimentação das crianças.

É preciso lembrar que as estratégias devem ser trabalhadas de forma contínua, pois os hábitos alimentares não são modificados em curto período de tempo, necessitando de um aprendizado a longo prazo.

Na literatura, poucas são as referências de estratégias de educação alimentar e nutricional direcionadas para crianças, o que torna importante estudos como este, que busquem divulgar estratégias que possam ser utilizadas na saúde para promover mudanças alimentares e nutricionais. Assim, fazem-se necessários mais estudos na área para ampliar cada vez mais esse campo da Nutrição.

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Efeitos do treinamento combinado na reabilitação pulmonar de paciente com Doença Pulmonar Obstrutiva Crônica (DPOC)

Guilherme Antonio de OLIVEIRA1

Leonardo de Souza ZARATIN2

Edson Donizetti VERRI3

Jacqueline Rodrigues de Freitas VIANNA4

Resumo: O objetivo deste trabalho é verificar a influência do exercício físico aeróbio combinado com exercícios de resistência muscular localizada na melhora da capacidade funcional cardiorrespiratória, força muscular periférica (FMP), dispneia, atividades de vida diária (AVDs) e qualidade de vida (QV) de paciente com DPOC, submetido a um programa de reabilitação pulmonar (PRP). Trata-se de uma pesquisa do tipo relato de caso, com paciente do sexo masculino, 70 anos de idade, submetido a um PRP por um período de 10 meses, utilizando teste de caminhada de 6 minutos, teste incremental de membros inferiores (TIMMII) e teste de endurance de membros superiores (MMSS) e de membros inferiores (MMII), teste de 1 repetição máxima (1RM), avaliação de dispneia, teste de atividade de vida diária (AVDs) e avaliação da QV relacionada à saúde. Verificou-se aumento da distância percorrida no TC6 e melhor desempenho nos testes incrementais, de 1 RM, de endurance, na graduação da dispneia, nas AVDs e na pontuação do questionário de QV. O PRP proporcionou melhora da capacidade funcional cardiorrespiratória, da tolerância ao exercício e da FMP de MMSS e MMII com melhor desempenho nas AVD e consequente melhora da QV, com redução do risco de morbimortalidade com base na distância percorrida no TC6.

Palavras-chave: DPOC. Reabilitação Pulmonar. Treinamento de Força. Treinamento Aeróbio. Qualidade de Vida.1 Guilherme Antonio de Oliveira. Graduado em Fisioterapia e Pós-graduado em Fisioterapia Cardiorrespiratória Geral e Intensiva pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2 Leonardo de Souza Zaratin. Graduado em Fisioterapia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.3 Edson Donizetti Verri. Doutorando em Biologia Oral pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Biologia e Patologia Buco-Dental pela Universidade de Campinas (UNICAMP). Graduado em Fisioterapia pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Docente do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.4 Jacqueline Rodrigues de Freitas Vianna. Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Fisioterapia Respiratória da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Saúde na Comunidade pela Universidade de São Paulo (USP). Graduada em Fisioterapia pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP). Docente do curso de Fisioterapia do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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Effects of combined training in pulmonary rehabilitation in patient with Chronic Obstructive Pulmonary Disease (COPD)

Guilherme Antonio de OLIVEIRALeonardo de Souza ZARATIN

Edson Donizetti VERRIJacqueline Rodrigues de Freitas VIANNA

Abstract: The aim of this study was to investigate the influence of aerobic exercise combined with exercises for muscular endurance in improving cardiopulmonary functional capacity in peripheral muscle strength and quality of life (QL) in a patient with chronic obstructive pulmonary disease (COPD) underwent a pulmonary rehabilitation program (PRP). This research a case study with a male patient, 70 years old submitted to a pulmonary rehabilitation program for a period of 10 months, using 6-minute walk test, incremental test of lower limbs and endurance test of upper and lower limbs, one repetition maximum test , assessment of dyspnoea, daily life activity test and evaluation of health-related quality of life. There was an increase in the distance walked in the 6-minute walk test and better performance on tests of upper and lower members incremental, 1-RM test, endurance, from the graduation of dyspnoea, in the activities of daily life and in scoring of the life quality questionnaire. The provided pulmonary rehabilitation program improves functional capacity, cardiorespiratory exercise tolerance and peripheral muscle strength of upper and lower limbs, with better performance in activities of daily living and consequent improvement of quality of life, with a risk reduction of morbidity and mortality based on distance travelled in the 6-minute walk test.

Keywords: COPD. Pulmonary Rehabilitation. Strength Training. Aerobic Training. Quality of Life.

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1. INTRODUÇÃO

A Doença pulmonar obstrutiva crônica (DPOC) é uma doença pulmonar grave com repercussão sistêmica causada principalmente por uma exposição constante e prolongada ao tabagismo (LAIZO, 2009). É prevenível e tratável, caracterizada por uma limitação persistente ao fluxo de ar que é progressiva e se associa com uma resposta inflamatória pulmonar anômala às partículas ou gases nocivos (BAGATIN; JARDIM; STIRBULOV, 2006). Com exacerbações e comorbidades que contribuem para a gravidade em geral da enfermidade (HAN et al., 2012).

Na DPOC, a inflamação sistêmica inclui presença de estresse oxidativo sistêmico, concentrações anormais de citocinas circulantes e ativação das células inflamatórias. O processo inflamatório atua na musculatura esquelética, hipotrofiando-a e causando intolerância ao exercício. A disfunção muscular esquelética inclui a perda progressiva de massa muscular e a presença de várias anomalias bioenergéticas. Tais efeitos sistêmicos contribuem para a limitação da capacidade física do paciente e declínio da qualidade de vida (QV) relacionada à saúde (LAIZO, 2009; KUNIKOSHITA et al., 2006).

Os principais fatores que contribuem para a intolerância ao exercício na DPOC são: aumento do trabalho respiratório, hiperinsuflação dinâmica, disfunção muscular respiratória, anormalidade nas trocas gasosas, limitação cardiovascular, disfunção muscular esquelética, comprometimento nutricional e alguns fatores psicológicos como ansiedade e medo (CAROLYN; ROCHESTER, 2003).

A disfunção da musculatura periférica compromete a capacidade de exercício em pacientes com DPOC. A redução da FM relaciona-se com a capacidade física e com a intensidade de sintomas durante o teste de exercício incremental, independentemente da função pulmonar. A interrupção do teste incremental (TI) é causada, na maioria das vezes, pelos sintomas de dispneia e dor nos membros inferiores (MMII), demonstrando que ao esforço físico, o sintoma

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limitante não é somente as alterações ventilatórias, mas também a deficiência da musculatura periférica (SILVA et al., 2008).

A gravidade da doença pode ser estabelecida pela intensidade da dispneia, que é um sintoma associado ao desempenho no exercício e, portanto, à QV (O’DONNELL et al., 2007 apud CAMARGO; PEREIRA, 2010).

Um componente importante no tratamento da DPOC é a Reabilitação Pulmonar (RP), que atualmente engloba inúmeros recursos e métodos de treinamento físico geral, muscular respiratório e de fisioterapia respiratória (IKE et al., 2010; DOMINGUES; ALMEIDA, 2010). A sua eficácia tem sido associada aos componentes relacionados à atividade física como a combinação das modalidades de exercícios aeróbios e exercícios resistidos, associados aos exercícios respiratórios (DOURADO; GODOY, 2004). A redução da dispneia tem sido um dos principais objetivos a serem alcançados com a RP (O’DONNELL et al., 2007 apud CAMARGO; PEREIRA, 2010).

O objetivo deste estudo foi verificar a influência do exercício físico aeróbio combinado com os exercícios de resistência muscular localizada na melhora da capacidade funcional cardiorrespiratória, força muscular periférica (FMP), dispneia, atividades de vida diária (AVDs) e qualidade de vida (QV) de paciente com DPOC, submetido a um programa de reabilitação pulmonar (PRP).

2. MATERIAIS E MÉTODOS

Pesquisa do tipo relato de caso, com paciente do sexo masculino, 70 anos, peso 58 Kg, altura 1.65m, com diagnóstico clínico de DPOC, submetido a um PRP do Projeto de Iniciação científica – Programa de Reabilitação Cardiopulmonar e Metabólica, realizado na academia do Claretiano – Centro Universitário de Batatais-SP.

De acordo com a resolução 466/12 do Conselho Nacional de Saúde, o estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética da Instituição (protocolo n. 67/2011) e o indivíduo assinou um termo formal de consentimento livre e esclarecido.

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Foi avaliada a capacidade funcional cardiorrespiratória por meio do teste de caminhada de 6 minutos (TC6), segundo protocolo da American Thoracic Society (ATS, 2002) e o teste incremental de MMII (TIMMII) com protocolo de Harbor modificado (WASSERMAN et al., 1999) e teste incremental de membros superiores (TIMMSS) com a diagonal primária do método de FNP (Facilitação Neuromuscular proprioceptiva) – Método Kabat (VOSS; IONTA; MYERS et al., 1987). O protocolo de Harbor modificado tem a duração total de 11’ a 15’ e realizado com velocidade de 1 a 4,5 mph (1,6Km/h – 7,2 Km/h) e incrementos de 1% inclinação a cada minuto após 3’ de aquecimento na velocidade confortável elegida pelo paciente, o teste é interrompido pelo paciente com sintoma limitado ou interrompido pelo avaliador em caso de alterações hemodinâmicas e/ou respiratórias. O método com diagonal primária de FNP (Facilitação Neuromuscular proprioceptiva) foi realizado com carga inicial de 0,5Kg progressivamente aumentada em 0,5 Kg a cada sequência de dois minutos, com 1 minuto de repouso até o limite de tolerância do paciente.

Para avaliar a endurance de MMII, o teste de endurance de carga constante com a mesma velocidade e 90% da carga máxima do TIMMII, e para avaliar a FMP foi realizado o teste de uma repetição máxima (1RM), segundo recomendações descritas por Powers e Howley (2000), utilizando equipamentos de musculação e halteres. A remada articulada foi utilizada para o teste com o músculo grande dorsal, legg articulado para o músculo quadríceps e tríceps sural, mesa flexora para isquiotibiais, cadeira abdutora para abdutores de quadril, cadeira adutora para adutores de quadril, barra reta em DD para peitorais, halteres para bíceps, tríceps e deltóide fibras médias. Foi iniciado o teste com alongamento dinâmico e aquecimento prévio com 10 repetições no próprio aparelho ou halter, com carga confortável e, após um intervalo de 1 minuto, iniciou-se a primeira carga com incrementos após cada tentativa com intervalos de 3 minutos entre o máximo de cinco tentativas para se determinar 1 RM.

Para todos os testes foram monitorizados a frequência respiratória e cardíaca (FR e FC), a saturação periférica de oxigênio (SpO2), a pressão arterial sistólica e diastólica (PAS e PAD) e o

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índice de esforço percebido para dispneia e cansaço de membros pela escala de Borg modificada EB-CR10.

O grau de dispneia nas atividades cotidianas foi graduado pela escala de dispneia do Medical Research Council modificada (mMRC) (KOVELIS, 2008) e a atividade de vida diária foi avaliada por um teste elaborado com algumas AVDs, de acordo com as possibilidades de avaliação do Projeto de iniciação científica da instituição, avaliando atividades de cuidados pessoais e atividades físicas com base na escala London Chest Activity of Daily Living (LCADL), versão brasileira (PITA et al., 2008), com objetivo de avaliar as alterações nos sinais vitais após treinamento físico. E a QV foi avaliada pelo questionário do Hospital Saint George (SGRQ) (SOUSA; JARDIM; JONES, 2000; CAMELIER, et al., 2006), com três domínios (sintomas, atividades e impacto da doença), divididos em 76 itens. Cada domínio tem uma pontuação máxima possível; os pontos de cada resposta são somados e o total é apresentado como um percentual do máximo e, valores acima de 10% refletem uma qualidade de vida alterada naquele domínio ou na pontuação total.

No PRP da instituição, normalmente os testes eram realizados pré, após 6 meses e 10 meses do protocolo de treinamento e o TC6 também é reavaliado após 3 meses e outros testes apenas pré e após 10 meses do programa. Neste estudo, somente o TIMMSS não foi realizado aos 6 meses devido ao não comparecimento do paciente no dia do agendamento das reavaliações e só foi possível realizar aos 8 meses devido à internação por exacerbação no período logo após os 6 meses.

O PRP foi realizado com frequência de 2 vezes semanais por um período de 10 meses, com duração de 1 hora e 45 minutos, no período vespertino das 14 horas às 15 horas e 45 minutos. O PRP foi subdivido em fases com 15 minutos de aquecimento com exercícios intervalados, 36 minutos de treinamento aeróbio em esteira ergométrica, com carga de 80% do TIMMII, 24 minutos de treinamento de MMSS com 50% de carga do TIMMSS, com as diagonais primárias e secundárias de FNP do Método Kabat, 2 séries de 2 minutos com intervalo de 1minuto de repouso e 15

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minutos de treinamento resistido de MMSS e MMII, intercalados nos 2 dias da semana, realizados com halteres e equipamentos de musculação, com carga inicial de 60% com progressão para 80% do teste de 1RM e finalizado o treinamento com desaquecimento com alongamentos estático de cadeia anterior e posterior por 10 minutos e relaxamento induzido por 5 min.

3. RESULTADOS

Paciente portador de DPOC com índice de massa corporal (IMC) de 21,3 kg/m2 e diagnóstico clínico relatado no encaminhamento médico com o código internacional de doença – CID J44. 9 ao PRP, porém, sem apresentação da prova de função realizada pelo médico pneumologista. Segue abaixo a descrição dos resultados de todos os testes avaliados.

Teste de caminhada de 6 minutos

As distâncias percorridas no TC6 pré e após 3 meses, 5 meses e 10 meses do PRP podem ser observadas no Gráfico 1. Houve aumento progressivo da distância percorrida, não havendo queda de SpO2, nos testes após o PRP. O paciente atingiu a distância percorrida prevista pela equação de Enright e Sherril (1998), que é de 483,05 metros após 3 meses do PRP. Quanto à dispneia, inicialmente a graduação pela EB-CR10 era grau 3 e após o 5º mês do programa era zero; a dispneia no exercício pela EB-CR10 mostrou queda no exercício máximo de 10 pontos para 3 pontos.

O paciente tinha história de internações em média a cada 3 meses no ano, nos últimos 5 anos e durante o período de 10 meses do PRP, apresentou apenas 1 internação no período do inverno.

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Gráfico 1. Distância percorrida no TC6 durante PRP.

Teste incremental de membros inferiores (TIMMII) e teste endurance

O desempenho no TIMMII (velocidade, inclinação, tempo e distância) e as variações da FC e EB-CR10 no momento pré e após 6 e 10 meses do PRP mostram um aumento de 200 metros na distância percorrida, com redução da FC ao repouso e aumento no exercício máximo, revelando melhor condicionamento aeróbio e dessensibilização da dispneia, com queda de 7 pontos na EB-CR10 (Gráfico 2 e 3). No teste de endurance, que foi realizado após 10 meses do PRP, verificou-se aumento de apenas 1 minuto no tem-po de exercício, aumento inferior à mínima diferença clinicamente significativa.

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Gráfico 2. Variáveis do Teste Incremental de MMII durante PRP.

Velocidade (Km/h)

Inclinação (%)

Tempo (min)

Distância (m)

TIMMII (10 meses) 5 8 11 900

TIMMII (6meses) 4,5 9 12 700

TIMMII (Início) 3,5 9 12 700

Velocidade (Km/h) Inclinação (%) Tempo (min) Distância (m)

Gráfico 3. Dados de FC e EB-CR10 durante os Testes Incrementais de MMII.

97

150

0 10

85

135

0 3

75

127

0 3

1°Teste 2° Teste 3° Teste

FC Rep FC Ex Máx BORG Rep BORg Ex Máx

Teste incremental de MMSS (TIMMSS)

A carga máxima inicial e após 8 e 10 meses do PRP foi de 0,5Kg, como mostra o gráfico 4. Uma limitação observada foi a queixa de dor no ombro devido a tendinite de manguito rotador de ombro D e E.

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Gráfico 4. Carga máxima alcançada no teste incremental de MMSS após 10 meses do Programa de Reabilitação Pulmonar.

1

1,5 1,5

00,20,40,60,8

11,21,41,6

TIMMSS (início)

TIMMSS (8 meses)

TIMMSS (10 meses)

Carga Máxima (Kg)

Teste de 1 RM

O treinamento resistido inicialmente foi com carga de 60% de 1RM e foram aumentados 5% para os uniarticulados e 10% grupos musculares após 4 semanas de treinamento aeróbio, até 80% de 1RM. Houve um aumento da carga máxima após 10 meses do PRP de 2Kg para tríceps, 5Kg para peitoral, de 1Kg para deltoide, 20Kg para quadríceps, 9Kg para gastrocnêmio, 5Kg para isquiotibiais, 10Kg para abdutores (ABD) e 10Kg para adutores (ADD) (Gráfico 5).

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Gráfico 5. Carga máxima alcançada no teste 1RM após 10 meses do Programa de Reabilitação Pulmonar.

Avaliação da qualidade de vida (QV) pelo questionário do Hospital Saint George (SGRQ)

Os valores da pontuação do SGRQ acima de 10% refletem um comprometimento da QV nos domínios: sintomas, restrições às AVDs e impacto da doença. E após 10 meses de realização do PRP,

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verifica-se que ocorreram alterações significativas, considerando a diferença mínima clinicamente significativa de 4% (Tabela 1).

Tabela 1. Domínios do SGRQ pré e pós PRP.

Parâmetro SGRQ % Pré-PRP Pós-PRP

Sintomas 71,17 37,93

Atividade 66,95 41,10

Impacto 30,08 18,36

Total 49,13 28,51 *PRP: programa de reabilitação pulmonar; SGRQ: Questionário do Hospital Saint George na Doença Respiratória; Dados apresentados em valores %.

Teste de AVDs

Houve alteração na SpO2 em 3 ou mais pontos nas atividades de lavar o rosto, retirar a camisa e andar na esteira com velocidade de 2,5 Km/h com 4% de inclinação por 5’ e redução da FC nas atividades de descalçar sapatos (de 13 bpm) e calçar sapatos (de 30 bpm) e andar na esteira com velocidade de 2,5 Km/h, 4% de inclinação por 5’ (de 23 bpm), indicando melhora no consumo de oxigênio e na resposta cardiovascular ao esforço. Quanto ao índice de esforço percebido, houve redução de 3 pontos na EB-CR10 na atividade de andar na esteira, com velocidade de 2,5 Km/h com 4% de inclinação por 5’ (Tabela 2).

Tabela 2. Variáveis relacionadas ao Teste de AVDs.

SpO2 EB-CR10 FC

AVDs Início Após 10m Início Após

10m Início Após 10m

Escovar dentes 93% 94% 0 0 92 bpm 95 bpmLavar o rosto 90% 95% 0 0 92 bpm 91 bpmPentear cabelo 94% 94% 0 0 94 bpm 94 bpm

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SpO2 EB-CR10 FC

AVDs Início Após 10m Início Após

10m Início Após 10m

Retirar camisa 92% 95% 0 0 89 bpm 91 bpmVestir camisa 94% 94% 0 0 90 bpm 90 bpmDescalçar sapatos 95% 95% 0 0 101bpm 88 bpmCalçar sapatos 91% 93% 0 0 108bpm 78 bpmAgachar-se (3x) 95% 95% 0 0 92 bpm 92 bpm

Andar 50m c/ peso de 5Kg 92% 92% 0 0 106bpm 103

bpm

Andar esteira (2,5 Km/h/4 % inclinação por 5’

87% 93% 3 0 116bpm 93 bpm

*AVD: Atividades de vida diária; SpO2: Saturação periférica de oxigênio; EB-CR10: índice de esforço percebido IEP; FC: frequência cardíaca.

4. DISCUSSÃO

Um crescente número de estudos vem evidenciando os efeitos de diferentes PRP no recondicionamento do sistema cardiorrespiratório e na restrição ao aumento das limitações já acentuadas no paciente. O objetivo deste relato de caso foi verificar o impacto do exercício físico aeróbio combinado com os exercícios de resistência muscular localizada na melhora da capacidade funcional cardiorrespiratória, FMP, dispneia, AVD e QV de um paciente com DPOC submetido a PRP. Os resultados apontaram a efetividade do treinamento combinado com treino aeróbio e resistido de alta intensidade (80% TIMMII e do teste de 1RM), resultando em maior tolerância ao exercício, menor sensação de dispneia, maior FMP e impacto positivo na QV relacionada à saúde.

Ribeiro et al. (2005), analisando a tolerância ao exercício físi-co e a sensação de dispneia em pacientes com DPOC após um PRP de oito semanas, verificaram que não houve diferença significativa nas variáveis fisiológicas e nem na sensação de dispneia após o PRP, porém, observaram um aumento estaticamente significativo na distância percorrida no TC6 após PRP. Ferreira et al. (2009), ao avaliarem a eficácia do treinamento de exercício com protocolo

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de marcha no impacto da QV e na capacidade de exercício, tam-bém verificaram que não houve diferença significativa na distância percorrida no TC6 após o treinamento de exercício, porém, houve redução da FC, traduzindo, assim, uma melhora na performance final.

Hernandes et al. (2009) avaliaram a capacidade máxima de exercício com o TIMMII em cicloergômetro, com objetivo de caracterizar o nível de AVD de uma amostra de 70 pacientes divididos em 2 grupos, sendo 40 portadores de DPOC e 30 indivíduos como grupo controle (idosos saudáveis), e evidenciaram que os pacientes portadores de DPOC são menos ativos em suas AVD quando comparados a idosos saudáveis.

Neste relato, no TIMMII, houve aumento da velocidade e da distância percorrida com redução da FC, bem como do índice de esforço percebido pela escala EB-CR10 ao repouso e ao exercício máximo; a distância percorrida no TC6 aumentou consideravelmente nos quatro testes realizados, progressivamente após 3, 6 e 10 meses. O aumento de 250 metros após PRP é bem superior à distância mínima clinicamente significativa de 25 metros como recentemente evidenciada por Holland et al. (2010), assim como revela a redução do risco de exacerbação, internação e mortalidade, com base no recente estudo de Spruit et al. (2012), já que a distância percorrida prévia era inferior a 334 metros e pós- -treinamento é superior a 357 metros, distâncias mínimas relacionadas respectivamente à predição de morte e de exacerbação relacionada à admissão hospitalar.

Severo e Rech (2006), após revisão bibliográfica, relatam que o treinamento de MMSS é uma importante ferramenta em um PRP e que os exercícios com levantamento de peso acima dos ombros são os que oferecem resultados mais satisfatórios. Zanchet et al. (2005) observaram melhora significativa na carga máxima obtida no TIMMSS após 6 semanas de treinamento de MMSS com o método de FNP de Kabat em 27 pacientes com DPOC. Neste relato, não se verificou melhora significativa no tempo de endurance de MMII, porém, houve aumento de 0,5 Kg na carga máxima obtida no TIMSS.

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Estudos têm demonstrado que a fraqueza muscular contribui na intolerância ao exercício de portadores de DPOC. No entanto, ainda não existe consenso quanto à aplicação do treino de força em pacientes com doença pulmonar (VONBANK et al., 2012). Possani et al. (2009), para quantificar a redução da FMP que ocorre após um protocolo de fadiga em MMII e MMSS dominantes e a sua recuperação imediata, utilizaram um protocolo de protocolo de fadiga com três séries 10 repetições com 80% da carga máxima obtida pelo paciente no teste de 1 RM e observaram um predomínio na fadiga nos flexores de cotovelo em relação aos extensores de cotovelo em pacientes com DPOC.

Ike et al. (2010) avaliaram o efeito do exercício resistido de MMSS no ganho de FMP e na capacidade funcional em 12 pacientes com DPOC (moderado a muito grave), divididos em dois grupos, sendo grupo controle (GC) e grupo treinado (GT) e constataram que após o tratamento um aumento significativo da FM no GT nos exercícios de supino e pulley e no GC não encontraram diferença significativa nos períodos pré e pós tratamento.

Dourado et al. (2004) avaliaram, após 36 sessões de treinamento, a função pulmonar, força e resistência muscular, capacidade máxima de exercício (VO2max), resistência aeróbia com carga constante na esteira, TC6, QV e sensação de dispneia de 15 pacientes com DPOC. Em 8 pacientes utilizou treinamento de força isolado com três séries de 8-12 repetições em máquinas de musculação e intensidade variando entre 50-80% de 1RM e em 7 pacientes treinamento combinado de força com halteres (duas séries de 8-12 repetições com 50-80% de 1RM) com exercício aeróbio leve (caminhada livre), verificando melhora significativa da FMP e do TC6 em ambos os grupos sem diferença estatística entre eles. Entretanto, ressaltou que, no grupo de treinamento de força isolado, houve melhora significativa da resistência muscular de quadríceps, resistência aeróbia com carga constante na esteira e no escore de QV.

A avaliação dos níveis de QV tem sido objeto da maioria dos estudos com DPOC, como os que já foram citados, segundo Dourado et al. (2009) a redução da sensação de dispneia após

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programas de condicionamento físico é um importante preditor da diferença clinicamente significativa da QV em pacientes com DPOC e reforçam a importância de estratégias de PRP visando à redução desse sintoma e à interrupção do ciclo de dispneia em espiral comumente encontrado nos pacientes com DPOC.

Neste relato de caso, com treinamento de força com 80% de 1RM combinado com treinamento aeróbio de alta intensidade (80%), verificou-se aumento na carga máxima obtida de todos os músculos testados após tratamento, assim como melhora da dispneia, da SpO2, da FC em algumas AVDs e mudança considerável na QV, considerando a diferença mínima clinicamente significativa de 4% nos três domínios estudados do questionário SGRQ.

5. CONCLUSÃO

Ainda não está estabelecida a duração e a intensidade ideal de treinamento de endurance combinado com o treinamento de força no paciente com DPOC. Entretanto, o treinamento combinado de alta intensidade, com exercício físico aeróbio em esteira e treinamento de força muscular de MMSS e MMII proporcionaram vários benefícios, como a melhora da tolerância ao exercício, melhor desempenho das AVDs, aumento da FMP de MMSS e MMII e melhora da QV, de um paciente com redução importante da capacidade funcional e alto risco de morbimortalidade com base na distância percorrida no TC6.

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A importância do treinamento muscular respiratório no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca: revisão bibliográfica

Pauline Adéle CALEGARI1

Jacqueline Rodrigues Freitas VIANNA2

Resumo: Pacientes submetidos à cirurgia cardíaca podem apresentar complicações pulmonares, e a fisioterapia respiratória tem auxiliado na recuperação desses pacientes. Dentre as principais complicações, está a perda funcional dos músculos respiratórios. O objetivo deste trabalho foi descrever, após revisão bibliográfica, a importância do treinamento muscular respiratório no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca, assim como verificar os seus efeitos e benefícios na recuperação pós-operatória. A atuação no pré e pós-operatório tem sido relacionada à redução de complicações pulmonares e recuperação mais rápida. O treinamento de força muscular respiratória reestabelece a função pulmonar e colabora para a melhor desobstrução das vias aéreas, evitando a fadiga muscular respiratória.

Palavras-chave: Revascularização Miocárdica. Exercícios Respiratórios. Modalidades de Fisioterapia. Resultado de Tratamento.

1 Pauline Adéle Calegari. Especialista em Fisioterapia Cardiorrespiratória Geral e Intensiva pelo Claretiano – Centro Universitário. Graduada em Fisioterapia pela mesma instituição. E-mail: <[email protected]>.2 Jacqueline Rodrigues Freitas Vianna. Doutoranda pelo Programa de Pós-graduação em Fisioterapia, Processos de Avaliação e Intervenção em Fisioterapia Respiratória da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Ciências Médicas pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP – USP). Especialista em Fisioterapia Respiratória pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP). Bacharel em Fisioterapia pela Universidade Católica de Petrópolis (UCP). E-mail: <[email protected]>.

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The importance of respiratory muscle training in the preoperative and postoperative cardiac surgery: review

Pauline Adéle CALEGARIJacqueline Rodrigues Freitas VIANNA

Abstract: People undergoing a cardiac surgery may show pulmonary complications, and the respiratory physiotherapy has been aiding in the recovery of these patients. The functional loss of the respiratory muscles is among the main complications. The objective of this study was to describe, after a literature review, the importance of respiratory muscle training in pre-and post-cardiac surgery, as well as monitor its effects and benefits in postoperative recovery. The performance before and after surgery has been related to reduce pulmonary complications and faster recovery. The respiratory muscle strength training restores lung function and contributes to the best airway clearance, preventing respiratory muscle fatigue.

Keywords: Myocardial Revascularization. Breathing Exercises. Physical Therapy Modalities. Treatment Outcome.

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1. INTRODUÇÃO

A função dos músculos respiratórios pode ser afetada na presença de doenças relacionadas ao coração, situação em que os pacientes podem apresentar fraqueza e falência da musculatura respiratória (FORGIARINI et al., 2007).

Quase todos os pacientes sofrem disfunção alveolar após cirurgia cardíaca, e a estimulação respiratória central e a função muscular respiratória estão deprimidas no pós-operatório por uma combinação de efeitos farmacológicos e desarranjos mecânicos da função torácica (NICOLAU; STEFANINI, 2002).

A cirurgia cardíaca ocasiona reduções dos volumes e das capacidades pulmonares, assim como redução da força muscular respiratória, o que contribui para o aumento da incidência de complicações respiratórias (TITOTO et al., 2005).

Segundo Schnaider et al. (2010), a ocorrência de complicações pulmonares pós-operatórias (CPP) está vinculada a fatores de risco inerentes à anestesia, ao ato operatório e à condição clínica prévia do paciente.

Deve-se levar em conta que pacientes após a revascularização miocárdica se tornam propensos a desenvolver complicações pulmonares, decorrentes de intervenções intraoperatórias, como a anestesia, circulação extracorpórea, toracotomia ou esternotomia, estado hemodinâmico do paciente, tipo e duração da cirurgia, dor e colocação de drenos torácicos, resultando em redução de volumes e capacidades pulmonares, alterações dos valores de oxigenação sanguínea e, principalmente, na redução da expansibilidade pulmonar, o que propicia a instalação de quadros de atelectasias e pneumonias. O efeito deletério da cirurgia cardíaca sobre a função pulmonar pode resultar em maiores índices de morbimortalidade, maior tempo de internação hospitalar e, ainda, maior dispêndio de recursos físicos e financeiros (BARROS et al., 2010).

A avaliação da função pulmonar, a espirometria e a manovacuometria são procedimentos de baixo custo aplicáveis antes da cirurgia para estratificação de riscos relacionados a alterações da

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função pulmonar e da força muscular respiratória, fatores de risco para a doença cardiovascular (SCHNAIDER et al., 2010). E, para Meneghetti et al. (2011), a compreensão e a quantificação da força da musculatura respiratória têm despertado cada vez mais grande interesse. A busca de métodos de avaliação eficazes e precisos tem sido uma constante para planejar e programar uma intervenção efetiva.

A fisioterapia tem sido considerada um componente fundamental na reabilitação de pacientes cirúrgicos cardiovasculares com o intuito de melhorar o condicionamento cardiovascular e evitar ocorrências tromboembólicas e posturas antálgicas, oferecendo maior independência física e segurança para alta hospitalar e posterior recuperação das atividades de vida diária (TITOTO et al., 2005).

Borges et al. (2006) dizem que, na cirurgia cardíaca, a recuperação está ligada à reabilitação. A fisioterapia tem sua eficácia estabelecida na literatura, principalmente na abordagem de problemas respiratórios, sendo considerada essencial no período pós-operatório.

Barros et al. (2010) falam, em seu trabalho, que, dentre os diversos procedimentos empregados pela fisioterapia respiratória em pacientes pós-operados em geral, está o treinamento da força muscular respiratória, que pode ser útil no restabelecimento da função pulmonar, em maior eficácia na desobstrução das vias aéreas, por intermédio de tosse efetiva, além de potencialmente prevenir a fadiga muscular respiratória.

Meneghetti et al. (2011) afirmam ser o manovacuômetro o dispositivo mais utilizado para verificar a força da musculatura respiratória; este mede pressões negativas e positivas e permite realizar uma avaliação não invasiva de forma simples, rápida, além de possibilitar uma quantificação da força desses músculos.

No pré-operatório, se o paciente já apresenta fraqueza muscular inspiratória, esta pode estar relacionada com a capacidade funcional (SCHNAIDER et al., 2010). E, segundo Romanini et al. (2007), a cirurgia cardíaca ocasiona a redução da força dos músculos respiratórios; com isso, os exercícios respiratórios no pré-operatório previnem as complicações pós- cirúrgicas, diminuindo a incidência de atelectasias, hipoxemia e ineficácia da tosse.

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O objetivo deste trabalho foi descrever, após uma revisão bibliográfica, a importância da fisioterapia no pré e pós-operatório de cirurgia cardíaca evidenciando o treinamento muscular respiratório, assim como verificar os seus efeitos e benefícios na recuperação pós-operatória.

Ferreira, Rodrigues e Évora (2009) mostraram que os valores de pressão inspiratória máxima (PImáx) e pressão expiratória máxi-ma (PEmáx) estão cada vez menores no pós-operatório de cirurgia cardíaca comparados com os valores do pré-operatório. Assim como citado pelos mesmos autores, a fisioterapia no pré-operatório ajuda a minimizar e a prevenir complicações que possam ocorrer no pós--operatório de uma cirurgia cardíaca.

2. METODOLOGIA

O estudo foi realizado através de uma revisão bibliográfica em base de dados eletrônica: Scielo, Medline, Google Acadêmico. Foram inclusos apenas artigos publicados entre os anos de 2005 a 2012, no idioma português, classificados como Ensaio Clínico (EC) ou Ensaio Clínico Randomizado (ECR).

Os artigos foram selecionados com descritores: revasculari-zação miocárdica, exercícios respiratórios, modalidades de fisiote-rapia, resultado de tratamento.

Após a pesquisa nas bases de dados eletrônicas, 20 artigos foram encontrados e classificados como relevantes para este estudo.

Dessa análise, oito estudos foram excluídos por não apresen-tarem dados significantes para a pesquisa. Finalmente, 11 artigos foram incluídos nesta revisão por atender todos os critérios pré--estabelecidos na metodologia.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A fisioterapia no pós-operatório tem sido considerada um componente fundamental na reabilitação de pacientes cirúrgicos cardiovasculares com o intuito de melhorar o condicionamento

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cardiovascular e evitar ocorrências tromboembólicas e posturas antálgicas, oferecendo maior independência física e segurança para alta hospitalar e posterior recuperação das atividades de vida diária (TITOTO et al., 2005).

No estudo de Leguisano, Kalil e Furlani (2005), verificou-se que pacientes tiveram intervenção fisioterapêutica no pré e pós--operatório e receberam alta hospitalar antes dos que não tiveram nenhum tipo de atendimento.

O estudo de Renault, Costa-Val e Rossetti (2008) mostrou que a cirurgia cardíaca leva a alterações das funções pulmonares e que a intervenção fisioterapêutica causa a reversão delas. Nos primeiros dias de pós-operatório, quando não há cooperação do paciente e existe a presença de drenos, a respiração com pressão positiva intermitente (RPPI) e dois níveis de pressão positiva nas vias aéreas (Bilevel) são recursos efetivos na reversão da disfunção pulmonar e prevenção de complicações.

Arcêncio et al. (2008) citam que a aplicação de uma pressão positiva expiratória final (PEEP) pode promover uma distribuição mais homogênea da ventilação pulmonar através dos canais colaterais interbronquiais, prevenindo o colapso na expiração. A ventilação colateral é importante para o funcionamento normal dos pulmões. Então, a intervenção fisioterapêutica associada à aplicação de PEEP por meio de uma máscara em um circuito pressurizado pode ser eficaz para minimizar as complicações pós-operatórias. A PEEP também auxilia na remoção de secreções para os brônquios principais, facilitando a sua expectoração. Uma menor incidência de complicações foi observada em um grupo de pacientes no qual a intervenção fisioterapêutica foi associada à aplicação de PEEP.

A função dos músculos respiratórios pode estar afetada na presença de doenças relacionadas ao coração, situação em que os pacientes podem apresentar fraqueza e falência da musculatura respiratória (FORGIARINI et al., 2007). Segundo Romanini et al. (2007), a força muscular respiratória aumenta diretamente com a melhora clínica do paciente no pós-operatório, provavelmente pela diminuição da dor em consequência da retirada dos drenos,

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pela melhora dos componentes elásticos da caixa torácica pelo processo de cicatrização. Segundo Leguisamo et al. (2005), a orientação de exercícios ventilatórios consiste na adequação do tempo inspiratório e expiratório e, da profundidade ventilatória ao padrão muscular ventilatório mais adequado, tanto no que se refere à frequência respiratória quanto ao volume corrente. Além disso, a orientação no pré-operatório visa a iniciar o paciente a utilizar corretamente a musculatura ventilatória e a fazê-lo entender os diferentes tipos de padrões ventilatórios, por meio de demonstração prática nesse processo de orientação.

Para Barros et al. (2010), no primeiro dia de cirurgia de revascularização, ocorre diminuição importante da força muscular respiratória, mostrada pela diminuição das pressões inspiratória e expiratórias máximas, diminuição do pico de fluxo e volume corrente. A utilização do treinamento muscular respiratório recupera os valores de pressão inspiratórios, expiratório, volume corrente e pico de fluxo.

Segundo Arcêncio et al. (2008), aumentos progressivos de carga linear com aumento de força e endurance dos músculos respiratórios em pacientes de alto risco para cirurgia eletiva de revascularização do miocárdio foram capazes de reduzir o risco de complicações pulmonares grau 2 (tosse produtiva, broncoespasmo, hipoxemia, atelectasia e hipercapnia).

De acordo com Romanini et al. (2007), após a retirada dos drenos, o paciente melhora seu grau de mobilidade atingindo melhor postura, diminuindo, consequentemente, o grau da fraqueza muscular respiratória e melhorando seu mecanismo de ação.

No estudo de Renault, Costa-Val e Rossetti (2009), a função da musculatura respiratória é afetada diretamente pela incisão torácica, dor, paresia e/ou disfunção diafragmática, além da anestesia e posicionamento na mesa cirúrgica, que favorecem deslocamento cefálico do diafragma, com redução da capacidade residual funcional (CRF).

Arcêncio et al. (2008) relatam a importância da intervenção do treinamento muscular inspiratório através de aparelho com carga linear baseada em 30% da pressão inspiratória máxima.

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Romanini et al. (2007) utilizaram os métodos de RPPI e incentivador respiratório (IR) e verificaram que o método RPPI se mostrou mais eficaz que o IR em relação à reversão da hipoxemia; porém, para melhorar a força muscular respiratória, o IR foi mais efetivo.

Schnaider et al. (2010) mostraram através da inspirometria de incentivo que indivíduos que apresentaram disfunção muscular pré-operatória também apresentaram maiores alterações espirométricas pré-operatórias, o que indica associação com os fatores de risco. O grupo que apresentou fraqueza muscular respiratória no pré-operatório apresentou maior risco para desenvolver complicações pulmonares no pós-operatório.

Segundo Barros et al. (2010), o treinamento da força muscular respiratória em pacientes de pós-operatório de cirurgia cardíaca pode ser útil no restabelecimento da função pulmonar. Pode, também, promover melhor eficácia na desobstrução das vias aéreas, por intermédio de tosse efetiva, além de potencialmente prevenir a fadiga muscular respiratória.

Ferreira, Rodrigues e Évora (2009), avaliando a pressão inspiratória máxima, pressão expiratória máxima na pressão de pico, através do volume residual e capacidade pulmonar total, respectivamente, por intermédio de um manovacuômetro, parâmetros espirométricos e gasometria arterial, observaram que o treinamento muscular inspiratório propiciou aumento na capacidade vital forçada, ventilação voluntária máxima e na relação entre o volume expirado forçado no primeiro segundo e a capacidade vital forçada, assim como nas pressões expiratória e inspiratória máxima e melhores valores nos gases sanguíneos antes e depois da cirurgia de forma similar.

Forgiarini et al. (2007) avaliaram pacientes com insuficiência cardíaca de classe funcional II e III através da manovacuometria e espirometria e verificaram que a função pulmonar e a força muscular respiratória estão prejudicadas e que os indivíduos da classe III apresentam maior prejuízo que os da classe funcional II, principalmente redução da pressão expiratória máxima.

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Em suma, os recursos mais empregados pela fisioterapia respiratória são manobras de higiene brônquica e expansão pulmonar por meio dos suportes de pressão: a pressão positiva contínua nas vias aéreas (CPAP); dois níveis de pressão na via aérea (BIPAP); pressão positiva expiratória nas vias aéreas (EPAP); RPPI e o uso de inspirômetro de incentivo (II), que constituem recursos seguros e de fácil aplicação no período pós-operatório. A aplicação de exercícios de respiração profunda, estímulo à tosse, manobras de vibração na caixa torácica e o CPAP podem prevenir a deterioração da função pulmonar e reduzir a incidência de complicações pulmonares (ARCÊNCIO et al., 2008).

Ainda não existem protocolos bem estabelecidos que abordem o treinamento muscular respiratório. Por isso, foram encontrados poucos artigos relacionados ao assunto.

4. CONCLUSÃO

As disfunções respiratórias no pós-operatório cardíaco são geralmente multifatoriais e podem estar presentes possivelmente porque, nos dias de hoje, as cirurgias de revascularização miocárdica são realizadas em pacientes mais frágeis (alto risco), com maior tendência a limitações de reserva funcional e, muitas vezes, com maior idade associada (BARROS et al., 2010).

Os estudos revelam que a cirurgia cardíaca ocasiona várias alterações nas funções pulmonares, tais como a diminuição da força da musculatura respiratória, e que a fisioterapia tem se mostrado eficaz na melhora de pacientes submetidos a cirurgias cardíacas, com intervenções no pré-operatório e pós-operatório, diminuindo os riscos de complicações e promovendo uma recuperação mais rápida.

O treinamento de força muscular respiratória no pós-operatório reestabelece a função pulmonar e colabora para a melhor desobstrução das vias aéreas, evitando, assim, a fadiga muscular respiratória. Entretanto, poucos estudos descrevem o treinamento muscular respiratório nesses pacientes, fazendo-se necessários estudos com desenhos dos protocolos de treinamento, mostrando efetivamente o

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momento de se iniciar e quais os melhores métodos e cargas a serem utilizados.

REFERÊNCIAS

ARCÊNCIO, L. et al. Cuidados pré e pós-operatórios em cirurgia cardiotorácica: uma abordagem fisioterapêutica. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, v. 23, n. 3, p. 400-410, 2008. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-76382008000300019&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 jan. 2015.

BARROS, G. F. et al. Treinamento muscular respiratório na revascularização do miocárdio. Revista Brasileira de Cirurgia Cardiovascular, v. 25, n. 4, p. 483-490, 2010. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-76382010000400011&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 mar. 2015.

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FERREIRA, P. E. G.; RODRIGUES, A. J.; ÉVORA, P. R. B. Efeitos de um programa de reabilitação da musculatura inspiratória no pós-operatório de cirurgia cardíaca. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, v. 92, n. 4, p. 275-282, 2009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2009000400005&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 mar. 2015.

FORGIARINI, L. A. J. et al. Avaliação da força muscular respiratória e da função pulmonar em pacientes com insuficiência cardíaca. Arquivo Brasileiro de Cardiologia, Porto Alegre, v. 89, n.1, p. 36-41, 2007. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0066-782X2007001300007&script=sci_arttext>. Acesso em: 12 mar. 2015.

LEGUISAMO, C. P.; KALIL, R. A. K.; FURLANI, A. P. A efetividade de uma proposta fisioterapêutica pré-operatória para cirurgia de revascularização do miocárdio. Braz J Cardiovasc Surg, v. 20, n. 2, p. 134-141, 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/rbccv/v20n2/25414.pdf>. Acesso em: 12 mar. 2015.

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Relação entre a técnica de sutura e a reabilitação no pós-operatório de tenorrafia dos flexores de dedos da mão: revisão da literatura

Edson Alves BARROS JÚNIOR1

Ivair MATIAS JÚNIOR2

Gabriel Venturoso CAPELOSI3

Maria Carolina Dalla Vecchia VIEIRA4

Resumo: A lesão dos tendões flexores dos dedos da mão é muito comum e grave, pois afeta a função de preensão da mão e seu tratamento é complexo, necessitando de reparo cirúrgico. Segundo a literatura, além da escolha da sutura, o outro problema é obter um tendão que deslize livremente restaurando a função normal, fazendo com que a escolha do programa de reabilitação seja muito importante. Os programas de reabilitação, após o reparo primário do tendão flexor, são variados e devem ser considerados a partir do paciente, do grau do trauma, dos tecidos envolvidos e da sutura realizada. O objetivo deste estudo foi realizar uma revisão bibliográfica sobre a influência que o tipo de sutura tem na determinação do protocolo de reabilitação. Após a revisão, os autores concluíram que a sutura de Kessler modificada se apresenta como uma técnica bem difundida nos protocolos de reabilitação que adotaram mobilização precoce passiva inicialmente e posteriormente mobilização ativa.

Palavras-chave: Cirurgia da Mão. Terapia da Mão. Lesão de Tendão Flexor. Tenorrafia. Técnicas de Sutura.1 Edson Alves Barros Júnior. Mestre em Bioengenharia pela Universidade de São Paulo (USP). Graduado em Fisioterapia pela Universidade de Ribeirão Preto (UNAERP). Coordenador e Docente do Curso de Graduação em Fisioterapia do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.2 Ivair Matias Júnior. Doutorando em Cirurgia e Anatomia pela Universidade de São Paulo (USP). Mestre em Ciências Médicas pela mesma instituição. Graduado em Fisioterapia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.3 Gabriel Venturoso Capelosi. Graduado em Fisioterapia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.4 Maria Carolina Dalla Vecchia Vieira. Graduanda em Fisioterapia pelo Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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Relationship between the suture technique and rehabilitation in tenorrhaphy postoperative of the finger flexors: literature review

Edson Alves BARROS JÚNIORIvair MATIAS JÚNIOR

Gabriel Venturoso CAPELOSIMaria Carolina Dalla Vecchia VIEIRA

Abstract: The flexor tendons injury of the fingers is very common and severe as it affects the hand hold function and its treatment is complex, requiring surgical repair. According to the literature, besides the choice of the suture, another problem is to obtain a freely sliding tendon of restoring a normal function. So, the choice of the rehabilitation program is very important. The rehabilitation programs after primary repair of the flexor tendon are varied and should be considered the patient, the degree of trauma, tissue involved and the held suture. A key strength of the present study was to conduct a literature review about the influence on the suture type has in determining the rehabilitation protocol. After reviewing, the authors concluded that the modified Kessler suture appears as a widespread technique in rehabilitation protocols have adopted: passive early mobilization initially and subsequently active mobilization.

Keywords: Hand Surgery Hand Therapy Flexor Tendon Injury. Tenorrhaphy. Suture Techniques.

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1. INTRODUÇÃO

As lesões traumáticas da mão podem acarretar sequelas decorrentes de deficiências motoras ou sensitivas, muitas vezes permanentes, afetando tanto as atividades funcionais do dia a dia, bem como as profissionais antes exercidas.

No estudo em que foi realizada a análise de prontuários, no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (HCFMRP-USP), os autores observaram que de um número de 47.120 casos atendidos, 42,5% eram traumas de mão, com um predomínio das fraturas e lesões dos tendões flexores e nervos (FONSECA et al., 2006).

Dados semelhantes foram obtidos em um estudo sobre traumas de mão no Hospital Maria Amélia Lins (HMAL) da Fundação Hospitalar do Estado de Minas Gerais (FHEMIG), Setor de Terapia da Mão do Hospital, onde há o relato de que, em 2006, a Previdência Social registrou 171.609 acidentes de trabalho envolvendo mão, punho e dedos, o que representa aproximadamente 36% do total de acidentes ocorridos naquele ano (SOUZA et al., 2008).

Um dos grandes desafios na prática da cirurgia e reabilitação após lesão dos tendões flexores da mão é a restauração da função. Na maioria das vezes, as lesões tendinosas não ocorrem isoladamente, e são frequentes as lesões da pele e de outras estruturas moles adjacentes, algumas vezes lesões nervosas e fratura, o que pode promover ainda maior morbidade (BUENDIA, 2005; MATTAR JUNIOR; AZZE, 2006).

Segundo os especialistas, além do problema da sutura que deve reparar o tendão e seu leito para uma adequada união, outra questão é obter um tendão que deslize livremente restaurando a função manual normal (MATTAR JUNIOR; AZZE, 2006).

Autores relatam que é importante compreender e buscar informação a respeito da nutrição e cicatrização tendinosa, bem como demais fatores que influenciam a formação de aderência restritiva ao redor dos tendões reparados (BUENDIA, 2005; BEREDJIKLIAN, 2003).

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Os modelos de programas de reabilitação utilizados na abordagem pós-operatória são distribuídos nas categorias: de programa de reabilitação para o tendão imobilizado, mobilização passiva precoce e mobilização ativa precoce.

Para a mobilização ativa (24 a 48 horas após o reparo), os cuidados se relacionam ao risco de re-ruptura do tendão caso haja carga excessiva, porém esse método pode prover menor processo de aderência e uma migração proximal do tendão em cicatrização (BRAGA-SILVA et al., 2005; SEVERO et al., 2005).

Nesse contexto, o objetivo deste estudo foi realizar uma revisão para atualização literária sobre a influência que o tipo de sutura tem na determinação do protocolo de reabilitação após tenorrafia dos tendões flexores da mão.

2. METODOLODIA

Este estudo teve caráter transversal com abordagem bibliográfica, visando à revisão literária por meio de livros, artigos científicos e sites como Bireme, Scielo, PUBMED, CAPES/MEC, pesquisados na biblioteca do Claretiano – Centro Universitário.

As palavras-chave para busca foram: Cirurgia da Mão, Terapia da Mão, Tendão Flexor, Lesão de Tendão Flexor, Tenorrafia, Técnicas de Suturas; Hand Surgery, Hand Therapy, Injury Tendons, Suture, Suture Tecniques. Fizeram parte dos critérios de inclusão artigos publicados a partir do ano de 2001 a 2010, em português e inglês. Os dados coletados foram apresentados por meio de tabela e gráficos.

3. RESULTADOS

De um total de 50 artigos encontrados no período de 2000 a 2010, foram selecionados 19, sendo 6 artigos científicos nacionais e 13 artigos científicos internacionais publicados no período de 2001 a 2010 (Gráfico 1).

Os conteúdos encontrados foram 5 artigos sobre conceitos básicos das lesões de tendões flexores, 4 deles tratavam da

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comparação entre técnicas de tenorrafia. E 10 artigos abordavam a técnica de sutura e programas de reabilitação com protocolo ativo e passivo (Gráfico 2).

Gráfico 1. Amostragem de Artigos.

Gráfico 2. Amostragem por Temas.

02468

10

105

4

Nº Artigos Abordagem ComparaçãoSuturas Nacionais Internacionais

Nº Artigos Abordagem Conceitos Básicos

Nº Artigos Abordagem Sutura e Protocolos

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4. DISCUSSÃO

No estudo de Mattar Junior e Azze (2006) foi encontrado que graças aos avanços do material de sutura, do instrumental usado, de técnicas mais delicadas e de um pós-operatório bem conduzido para promover cicatrização intrínseca do tendão, o prognóstico das suturas primárias melhorou muito. Considera-se que a sutura primária (24 horas), feita em condições ideais, por cirurgião habilitado e associada à reabilitação adequada, traz, na maioria dos casos, bom resultado funcional.

A técnica de sutura tendinosa ideal deve fundamentalmente manter coesos os cotos do tendão lesado, não interferindo nos processos biológicos da cicatrização, nem mesmo no mecanismo de deslizamento do tendão, desde as fases mais precoces do tratamento.

Com relação aos materiais de suturas, o estudo de Muller et al. (2003) aponta que as características relevantes do fio cirúrgico na sutura de tecido biológico são que a reação tecidual, que deve ser mínima, e a resistência adequada às forças de tração que ocorrem durante a cicatrização. A resistência imediata da sutura depende da técnica cirúrgica, ou seja, do tipo de ponto realizado e do material de sutura, ou seja, do tipo de fio utilizado, e com relação às técnicas deve ser considerada também a rigidez do material (módulo de elasticidade).

Com relação às técnicas utilizadas, atualmente existem vários autores que estudam novas técnicas e realizam comparações. O estudo de Severo et al. (2005) avaliou 11 técnicas mais usadas no mundo e duas desenvolvidas pelo autor denominadas Brasil 1 e Brasil 2, as técnicas hoje em uso se diferenciam pelos protocolos, sendo divididas em; Duas passadas: KC – Kessler – sutura continua no epitendão; KH – Kessler – sutura de Halsted no epitendão. Quatro Passadas: C- Cruciate; KD - Kessler duplo; I – Indiana; B1- Brasil 1; B2- Brasil 2; T – Tsuge; KB – Kleinert – modificado de Bunnel; Seis passadas: TI – Tsai; Y – Yoshizu S – Savage. Oito passadas: P- Pittsburgh.

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Braga-Silva et al. (2005) apontam que dois métodos de mobilização são utilizados no pós-operatório: a mobilização passiva precoce e mobilização ativa precoce. Os programas de mobilização ativa são indicados para pacientes colaborativos e motivados que compreendem o programa de exercícios e suas precauções. A mobilização precoce pós-operatória diminui a formação de aderências peritendinosas devido ao deslizamento dos tendões e em relação aos tecidos circunjacentes.

O estudo de Mattar Junior e Azze (2006) aponta que um programa de mobilização passiva pode ser indicado após o reparo do tendão flexor, pelas seguintes razões: em crianças e adultos incapazes de compreender e acompanhar protocolo de mobilização ativa, lesões associadas às estruturas adjacentes, tais como fratura, e aos transtornos e as condições de saúde que afetam a cicatrização de tecidos, tais como a artrite reumatoide. Nesses casos, é necessária uma maior proteção do tendão reparado até que haja uma cicatrização adequada. Em contrapartida, a mobilização tendinosa tardia será dificultada pela formação de aderência excessiva e perda de deslizamento tendinoso.

Hung et al. (2005) relatam que a maioria dos cirurgiões utiliza protocolos de mobilização precoce passiva ou com flexão passiva e extensão ativa, os quais apresentam resultados satisfatórios e previsíveis, quando bem conduzidos por profissionais com experiência em reabilitação da mão. No entanto, vários autores sugerem que protocolos que incluam a flexão ativa precoce podem ter resultados comparáveis e diminuir complicações como aderências, deformidade em flexão e déficit de extensão.

Fukushima et al. (2005) realizaram um levantamento literário sobre os resultados de técnicas de sutura associado a ensaios experimentais de resistência mecânica. Os artigos selecionados identificavam-se quanto ao tipo de tendão (cadáveres humanos), local (tendão Flexor Profundo dedos (FPD), Flexor Superficial Dedos (FSD)). Diferenciaram-se quanto ao uso da técnica e fio; sendo 1º estudo: Kessler modificado, técnicas de ancoragem, Método Indiana, fio 4.0 com sutura combinada no epitendão; 2º estudo: 13 técnicas diferentes, fio de nylon 4.0 na sutura central

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e na periferia; 3º estudo: técnica de Cruciate com fio 3.0 de poliéster, Cruciate com fio 4.0 e Tenofix, utilizou-se também em algumas técnicas sutura circunferencial epitendínea com fio 5.0 de polipropileno monofilamentar.

Observou-se um grande número de trabalhos com testes diferentes, e a confiabilidade destes é restritas, devido serem trabalhos experimentais, realizados em cadáveres e, com isso, não reproduzindo o real ambiente, (ocorrendo uma distância entre as condições favoráveis), considera as técnicas de 4 passadas mais indicada pelos critérios de força, rigidez e energia de absorção; nos protocolos de tratamento, as restrições feitas pelos autores são quanto aos cuidados na ruptura do tendão na utilização do protocolo ativo, vários médicos evitam a técnica por esse motivo, porém ela se mostra mais efetiva do que a imobilização pelo fato da formação de aderências e a tenólises.

Muller et al. (2003) realizaram um estudo experimental realizado com tendões de cães, avaliando o desempenho de 3 fios: Mononylon, Prolene e Ethibond. A avaliação realizada testou biomecanicamente a resistência à tração e a rigidez (módulo de elasticidade) das suturas tendinosas executadas com esses três tipos diferentes de fios cirúrgicos. A sutura analisada foi a de Kessler modificada por Mason e Allen, com sutura continua do epitendão fio Mononylon 6.0. Os resultados não demonstraram diferença estatisticamente significativa nos parâmetros carga máxima e módulo de elasticidade entre os tendões tratados, independentemente do tipo de fio, sendo todos inferiores ao respectivo grupo controle. No parâmetro alongamento relativo na carga máxima, o fio de nylon mostrou resultado superior ao dos outros fios (que tiveram resultado semelhante ao controle), sugerindo formação de gap antes da ruptura.

No estudo de Buendia et al. (2005) foram utilizados cadáveres humanos e realizados testes experimentais para ação biomecânica (força máxima da sutura, formação de gap e o índice de rigidez) de 3 técnicas de suturas: Kessler modificada, Técnica de Ancoragem (proposta por Ulson), método de Indiana (Strickland). Os resultados apontam que a Técnica de Ancoragem (proposta por Ulson) se

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mostrou estatisticamente com valores mais absolutos em relação às demais técnicas. Acredita-se que, pelo fato desta apresentar um sistema de ancoragem tendinosa proximal e distal, para alivio da interface deste reparo, sendo utilizada após a realização da sutura pela Técnica de Kessler modificada. Os autores destacaram os seguintes aspectos: a importância das características mecânicas das suturas, da boa coaptação dos cotos, do deslizamento do tendão pós-tenorrafia, da influência do protocolo precoce, dos riscos da mobilização precoce (ruptura) e da obtenção de uma cicatrização intrínseca mais rápida.

Devido à variedade de protocolos quanto à pesquisa com diferentes espécies animais, material e instrumental, Severo et al. (2005) analisaram biomecanicamente os vários tipos de técnicas existentes e relataram a dificuldade em diferenciar uma sutura que apresente maior resistência, força e que permita mobilidade precoce passiva, ou passiva e ativa, sem que haja ruptura do reparo cirúrgico. As considerações sobre o estudo são que as técnicas de quatro passadas: Kessler duplo, Brasil-1, Cruciate, Brasil 2 e Indiana demonstraram-se suturas disponíveis no arsenal de reparos em tendões flexores, que não formam um tendão volumoso, permitindo adequando deslizamento, boa cicatrização com força e resistência que permitem a mobilidade não só passiva, mas também ativa precoce.

Resultados positivos foram encontrados no trabalho de Braga-Silva et al. (2005), em que selecionou 82 pacientes que sofreram ruptura dos tendões flexores na zona II. Após tenorrafia, um protocolo de mobilização ativa foi iniciado 12 horas após a cirurgia, a técnica de tenorrafia utilizada foi a de Kessler, modificada com fio nylon 3.0, associada a uma sutura epitendinosa contínua fio nylon 5.0. Os resultados desse trabalho foram 98,2% bons ou excelentes, conforme classificação de Strickland, e comparáveis a outros estudos, a taxa de ruptura foi de 6,09 %, porém o resultado final desses pacientes com ruptura foi satisfatório. Os autores apontam como riscos da utilização da mobilização ativa precoce a deiscência e ruptura, mas mostram a vantagem desse protocolo, que confere melhor cicatrização, não formação de aderência e bom deslizamento.

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Os resultados da mobilização ativa em pacientes com lesão na zona II, reparadas com técnica de Kessler modificada, fio de nylon 4.0, sutura circunferência de fio nylon 6.0, submetidos à mobilização precoce ativa, no terceiro dia pós-operatório, comparados aos resultados obtidos em lesões de outras zonas no estudo de Pang et al. (2005) foram classificados como bom a excelentes (zona II 71% e outras zonas 77%).

Batista e Araujo (2007) utilizaram a mobilização passiva como tratamento pós-operatório de tenorrafia tardia na zona II de 82 pacientes, mesmo sendo a mobilização precoce detentora de 80% bons resultados; neste caso, optou-se em não utilizá-la. Realizou-se a sutura proximal de Pulvertaft e Kessler e Nissim, com fio monofilamentar de prolene 4-0 e distal de Bunnell modificada. O trabalho apresentou 39% bons resultados, os autores evidenciam que, na literatura, se tem encontrado uma média de 36 a 56% de bons e excelentes resultados nessas reconstruções com o protocolo de mobilização passiva e 77 % com a mobilização ativa. Os autores observaram que as características psicológicas e biológicas do paciente interferem nos resultados.

Trumble et al. (2010), em estudo prospectivo e randomizado, compararam os efeitos dos protocolos precoce passivo e ativo, com 103 pacientes com lesão na zona II, técnica de sutura: Striclkland fio de poliester de 3.0, sutura epitendinosa 6.0, monofilamento prolene, e observaram que os pacientes em um programa de terapia ativa tinham um alcance melhor total do movimento, com menor contraturas em flexão, bem como pontuação que caracteriza maior satisfação do que aqueles em um protocolo de terapia passiva.

Galanakis et al. (2001) propuseram um estudo prospectivo no qual observaram o efeito de um protocolo de reabilitação em 19 pacientes, nos quais se utilizou a técnica de sutura Kessler modificado com fio de nylon 4.0 e sutura cincunferencial com fio 6.0, e, nos casos de lesão nervosa, o fio de nylon 9.0. Os pacientes foram orientados a realizar flexão-passiva e extensão ativa nas 6 primeiras semanas e, após esse período, exercícios ativos de flexão; em casos em que se observou rigidez, utilizaram-se talas ( extensão dinâmica) em momentos específicos durante os exercícios e à noite. O estudo aponta bons resultados no processo de reabilitação: em 15

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pacientes, excelentes resultados, em 5, bons resultados, e somente em 2 casos ocorreu infecção e 1 ruptura de tendão. Os autores atentam neste trabalho para a importância que deve ser dada à orientação dos pacientes sobre o trauma, sobre os exercícios e como realizá- -los, ou seja, os protocolos de reabilitação necessitam da participação do paciente para obter sucesso no tratamento.

Saini et al. (2010) levantaram um número inicial de 34 pacientes, nos quais ocorreram lesões da zona II a V, reconstruções primárias e tardias, lesões de nervos em alguns casos (mediano e ulnar), a tenorrafia utilizada foi a Kessler, modificada com fio 3.0 prolipopileno e sutura epitendinosa 4.0, com relação aos nervos, realizaram sutura polimida 3.0/8.0. A reabilitação teve início 24 horas após a cirugia, nos casos em que houve lesão nervosa adotaram posicionamento do membro para evitar o stress na estrutura. Os resultados apresentados foram 41% bons a excelentes; e considerando as areas de lesão (zona), a II apresentou valores menores, ocorreram 2 re-rupturas, 1 na zona II e outra na zona VI, contratura em 2 dedos. Considerando a literatura, este estudo apresentou bons resultados.

Em um estudo sobre mobilidade articular dos dedos não lesados no pós-reparo dos tendões flexores, Rabelo et al. (2007) realizaram um estudo em 15 pacientes, a técnica de tenorrafia utilizada foi a de Kessler com fio de nylon 3-0 e a sutura epitendinosa periférica para chuleio foi realizada com nylon de espessura 5-0. Os pacientes foram submetidos a um protocolo de mobilização passiva (Duran Modificado), nos primeiros dias, na quarta semana, iniciaram-se os exercícios de movimentação ativa. A avaliação goniométrica realizou-se a partir dos conceitos ASSH (American Society for Surgery of the Hand) baseado no índice (Mobilização Ativa Total), que demonstrou para os dedos lesados 18,33% com classificação do movimento “bom”, 18,33%, “regular” e 63,34%, “pobre”. Não houve casos de ruptura do tendão suturado, infecção pós-operatória ou deiscência na cicatriz cirúrgica.

Ling et al. (2006), em uma revisão sistemática da literatura publicada em ensaio clínico controlado, realizaram um trabalho que teve como objetivo comparar a eficácia dos protocolos de

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reabilitação com mobilização passiva e ativa e constataram um número maior de re-ruptura nos protocolos ativos, porém os dados não foram suficientes para apoiar qualquer um dos protocolos, os autores acreditam que isso pode ser minimizado por meio de uma educação do paciente.

Ahmad et al. (2007) desenvolveram um estudo com 33 pacientes, no qual utilizaram a técnica de Kessler modificada usando monofilamento não absorvível (Prolene 4) e uma sutura epitendinosa circunferencial contínua de Prolene 6.0. Os autores utilizaram, no sistema de tratamento pós-operatório, o método de Kleinert de mobilização passiva, no término da quarta – quinta semana, iniciou-se o protocolo de movimentanção ativa, não houve relato de re-ruptura do tendão flexor e concluiram que a aplicação da mobilização precoce ativa é essencial no reparo do tendão flexor; 92% dos pacientes apresentaram resultados regular a bons no final da segunda semana, sendo que aumentaram para 97 % no final da oitava semana para bons e excelente.

Saini et al. (2010) realizaram um estudo direcionado às lesões da zona II a V relacionada à mobilização ativa precoce, utilizando a técnica de Kessler modificada com sutura do epitendão de fio Prolipropileno de 3.0 e circunferencial de 4.0; o estudo mostrou 82% de excelentes a bons resultados, com nove razoáveis e pobres.

As lesões traumáticas da mão relacionadas a tendões flexores é um assunto complexo devido às implicações funcionais causadas por tal lesão, cada zona da mão confere características relacionadas à cicatrização, à nutrição e à formação de aderências, o conhecimento da anatomia e cinesiologia é de fundamental importância (BUENDIA et al., 2005; MATTAR JUNIOR; AZZE, 2006).

De acordo com os dados levantados nesta revisão, Beredjklian et al. (2005), Muller et al. (2003), Buendia et al. (2005), Fukushima et al. (2005), Severo et al. (2005), Strickland et al. (2005); Boyer, Goldfarb e Gelberman et al. (2005) e Mattar Junior e Azze (2006) demonstram a necessidade de relacionar as técnicas de tenorrafia com as estruturas adjacentes aos tendões flexores, bem como ao protocolo de reabilitação pós-operatório (Quadro 1).

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Braga-Silva et al. (2005), Ahmad et al. (2007), Batista e Araújo (2007) observaram a necessidade dos estudos clínicos, que devem ser realizados com relação ao levantamento de evidências em pró da comparação de metodologias pós- -operatórias, quantificando e qualificando procedimentos que demonstrem melhores estratégias na reabilitação pós-operatória.

Nos estudos de Severo et al. (2005) e Mattar Junior e Azze (2006) foi encontrada, dentre as técnicas utilizadas, a utilização da sutura de Kessler modificada sendo uma sutura resistente, promovendo força e resistência. Deve-se observar a importância relatada nos estudos quanto aos cuidados com as estruturas adjacentes, sendo isso um fator importante. A técnica de Kessler baseada caracteriza-se pelo fato de utilizar menos fios e assim torna-se menos traumática, gerando menor comprometimento à nutrição e cicatrização do tendão.

Conforme Galanakis et al. (2001), Hung et al. (2005) e Saini et al. (2010), a reabilitação pós-operatória preocupa-se com a re-ruptura do tendão, bom deslizamento, cicatrização intrasinovial, deiscência do tendão, aderência, este trabalho observou resultados de bons a excelentes, utilizando a mobilização precoce ativa, porém com causas de ruptura, sendo esta uma preocupação dos autores.

Nos estudos de Strickland (2005), Ahmad et al. (2007), Rabelo et al. (2007), a utilização da Mobilização Precoce Passiva, por período determinado (média de 4 semanas) e logo após Mobilização ativa, demonstraram bom prognóstico, com resultados finais de bons a excelentes, com incidência baixa ou nula relacionada às complicações.

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Quadro 1. Resultados da Revisão sobre a influência da sutura no protocolo de reabilitação.

AUTOR MODELO SUTURA TIPO DE FIO PROTOCOLO RESULTADOS

Galankis et al., 2001

19 pacientes

Kessler Modificado

Fio Nylon 4,0, sutura circunferência fio 6.0.

Mobilização Precoce passiva nas 6º semanas, após Mobilização precoce Ativa.

Bons Resultados, 1 ruptura, necessidade de participação do paciente

Muller et al., 2003

Tendão de Cães

Kessler Modificado

Mononylon, Ethibond, Prolene.

Imobilização, Mobilização Precoce Ativa, Mobilização Precoce Passiva.

Kessler Modificado associado ao fio Mononylon mostrou-se eficaz evitando gap e ruptura

Fukushima et al., 2005

Tendão de Cadáveres Humanos

Kessler Modificado, Técnicas de Aconragem, Método Indiana e Cruciate.

Tenofix e Polipropileno

Imobilização e Mobilização Precoce Ativa

Técnicas de 4 Passadas, menor lesão aos tecidos e mais confiáveis quando utilizadas com Mobilização Ativa.

Buendia et al., 2005

Tendão de Cadáveres Humanos

Técnica de Ancoragem de Ulson, Método Indiana.

Mobilização Precoce Ativa

AS características mecânicas influenciam no pós-operatório com técnicas ativas

Severo et al., 2005

Revisão Literária

13 Técnicas Kessler duplo, Brasil-1 e 2, Cruciate, Indiana, bons resultados na Mobilização Ativa.

Hung et al., 2005

32 pacientes

Kessler Modificado

Fio Nylon 4.0, sutura epitendinosa de fio Nylon 6.0.

Mobilização Precoce ativa

Kessler modificado oferece, quanto técnica de 6 passadas, Mobilização precoce Ativa bons resultados

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AUTOR MODELO SUTURA TIPO DE FIO PROTOCOLO RESULTADOS

Ling et al., 2006

Revisão Literária

Mobilização Precoce Ativa

Ruptura em Protocolos ativos, porém sem dados para sustentar algum modelo.

Ahmad et al., 2007

33 Pacientes

Kessler Modificado

Prolene 4.0, sutura circunferencial continua com fio Prolene 6.0.

Mobilização Precoce Passiva, após 4 semanas, Mobilização Precoce Ativa

92% regulares / bons nas 4 primeiras semanas e 97% bons /excelentes na 8 semana

Braga-Silva, 2006

82 Pacientes

Kessler Modificado

Fio Nylon 3.0 sutura epitendinosa fio Nylon 6.0

Mobilização Precoce Ativa

98,2% bons a excelentes resultados, Ruptura 6,09% na Mobilização Ativa.

Batista & Araujo. 2007

82 Pacientes

Pulvertaf e Kessler & Nissim

Fio Prolene 4.0 Mobilização Precoce Passiva

Bons a Excelentes 32%, 1,7%, ruptura , características dos pacientes influenciam nos resultados

Rabelo et al., 2007

15 Pacientes

Kessler Modificado

Fio Nylon 3.0, sutura epitendinosa periférica, fio nulon 5.0

Mobilização Precoce Passiva, a partir da 4º semana ativo.

Bons Resultados sem apresentação de reruptura, deiscência.

Trumble et al., 2010

103 Pacientes

Strickland Fio poliéster 3.0, sutura epitendinosa Prolene 6.0

Mobilização Precoce Ativa

Melhores Resultados em Mobilização Precoce Ativa

Saini et al., 2010

25 Pacientes

Kessler Modificado

Fio Prolene 3.0, e sutura circunferencial

Mobilização Precoce Ativa

Re-ruptura de 3% e 82% bons a excelentes resultados

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5. CONCLUSÃO

Conclui-se que as técnicas de tenorrafia devem levar em consideração as estruturas vizinhas ao tendão lacerado; e que a sutura de kessler modificado se apresenta como a técnica mais difundida; além disso, para a escolha do protocolo de reabilitação, melhores resultados foram obtidos em protocolos que adotaram mobilização precoce passiva inicialmente e após período determinado (média de 4 semanas) mobilização ativa.

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Efeitos do treinamento físico combinado sobre a composição corporal e o perfil lipídico de uma mulher obesa

Juliana Victer da Silva FRAGA1

Fabrício Azevedo VOLTARELLI2

Resumo: A obesidade é um dos grandes problemas de saúde pública, visto que aumentou em todas as faixas etárias. Um tratamento não farmacológico indicado é a pratica regular de atividade física, pois gera inúmeros benefícios. Dessa forma, utilizamos o treinamento físico combinado (TFC) em uma mesma sessão. O objetivo foi analisar o efeito do TFC sobre a composição corporal e o perfil lipídico de uma mulher obesa, de 29 anos de idade, 105,2Kg, 1,64 cm, e IMC inicial de grau II. Foram avaliadas as medidas antropométricas (peso, estatura, circunferência), dobras cutâneas e variáveis sanguíneas antes e após a intervenção de 48 semanas. Houve alterações em todas as variáveis estudadas: peso corporal, IMC, composição corporal, antropometria e perfil lipídico. O TFC melhorou a composição corporal, reduziu os diâmetros das circunferências e melhorou o perfil lipídico. Portanto, quando o treinamento é prescrito de forma adequada, pode ser uma excelente estratégia para esses fins.

Palavras-chave: Composição Corporal. Perfil Lipídico. Treinamento Físico Combinado.

1 Juliana Victer da Silva Fraga. Graduada em Educação Física pela Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). E-mail: <[email protected]>.2 Fabrício Azevedo Voltarelli. Doutor e Mestre em Ciência da Motricidade pela Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP). Coordenador do Programa de Pós-Graduação em Educação Física da Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT). E-mail: <[email protected]>.

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Combined effects of physical training on body composition and lipid profile of an obese woman

Juliana Victer da Silva FRAGAFabrício Azevedo VOLTARELLI

Abstract: Obesity is the one largest public health problems, once that has increased in all ages. A non-pharmacological treatment indicated is the regular practice of physical activity because it generates numerous benefits. Thus, we have used the combined physical training (CPT) in the same session. The objective was to analyze the effect of ( CPT) on body composition and lipid profile of 29- year-old obese woman , 105,2 Kg, 1.64 cm, and initial BMI level II obesity. Anthropometric measurements were evaluated (weight, height, circumference), skin folds and blood variables before and after the 48-week intervention. There have been changes in all variables: body weight, BMI, body composition, anthropometry and lipid profile. the( CPT) on body composition and lipid profile.The (CPT) has improved body composition, the lipid profile and it has reduced diameters of circumference. Therefore, it seems that when the training is prescribed properly, it can be an excellent strategy for these purposes.

Keywords: Body Composition. Lipid Profile. Combined Physical Training.

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1. INTRODUÇÃO

A obesidade é considerada um problema de saúde pública mundial, ao passo que pode desencadear diversas patologias, tais como as relacionadas a complicações cardiovasculares, diabetes mellitus tipo II, hipertensão arterial, dislipidemia, depressão, câncer, entre outras (ROBERTS; ROBERGS, 2002).

A Organização Mundial de Saúde (OMS, 2003) divulgou que o excesso de peso afeta mais de um bilhão de pessoas no mundo e que, pelo menos, 300 milhões são clinicamente obesas. Estima-se que, com o passar dos anos, esse número aumente drasticamente caso medidas não sejam tomadas.

De acordo com Guedes (2003), a prática de atividade física diária, em intensidade moderada, é fundamental para a manutenção da saúde, pois mantém e/ou reduz a pressão arterial, melhora a composição corporal, controla os níveis de colesterol, além de aumentar tanto o metabolismo dos ácidos graxos livres como a sensibilidade à insulina. Tais fatos permitem que a atividade física seja considerada como tratamento não farmacológico no que se refere aos males causados pela obesidade.

Com relação às recomendações voltadas à perda de peso, os exercícios mais indicados são os de caráter aeróbio, entre eles caminhar, correr, nadar e pedalar, desde que realizados em intensidade moderada e por um período de tempo considerável (acima de 45 minutos), o que possibilitará a maior utilização dos ácidos graxos livres pelos músculos esqueléticos (GUEDES JR; SOUZA JR; ROCHA, 2008). Porém, os mesmos autores sugerem o acréscimo de um programa de treinamento resistido com o intuito de manter e/ou aumentar a massa magra, melhorando sobremaneira a composição corporal.

Dessa forma, no presente trabalho, optamos pela aplicação do treinamento físico combinado, o qual se caracteriza por ser a associação dos exercícios aeróbios e resistidos em uma mesma sessão de exercício (GUEDES, 2004). Assim, o respectivo trabalho teve como objetivo geral analisar o efeito de um programa de Treinamento Físico Combinado sobre a composição corporal e o

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perfil lipídico de uma mulher obesa e como objetivo específico de avaliar a composição corporal e o perfil lipídico antes e após a intervenção por meio desse programa.

2. METODOLOGIA

O presente trabalho foi de teor direto e descritivo, tratando- -se de um estudo de caso, o qual é definido por Mattos, Rosseto Jr. e Blecher (2008) como a pesquisa que estuda um determinado indivíduo, família ou grupo para investigar aspectos variados ou um evento específico da amostra.

Participou do presente estudo de caso um indivíduo do gênero feminino, sedentário, com 29 anos de idade, pesando inicialmente 105,2kg e estatura de 164 cm, cuja classificação pelo IMC era de obesidade grau II.

A participante foi submetida às avaliações, tais como antropometria (peso, estatura, circunferência), dobras cutâneas e mensurações bioquímicas sanguíneas. Para a obtenção da massa corporal total, foi utilizada uma balança digital de bioimpedância da marca Omrom®, modelo HN-283LA; a voluntária foi pesada em pé, descalça, usando calça leg de ginástica e uma camiseta. A estatura foi aferida por meio de um estadiômetro (Soehnle®), com grau de precisão de 1cm. As dobras cutâneas foram aferidas com um compasso (Lange®), sendo verificado um total de 6 dobras nos seguintes pontos anatômicos, segundo o protocolo de Pollock: tríceps, subescapular, bíceps, abdômen, suprailíaca e coxa medial; foram realizadas três aferições e usou-se a média das mesmas como valor de medida. As análises bioquímicas sanguíneas foram realizadas em um laboratório particular localizado na cidade de Cuiabá-MT, após jejum de 12 horas. A antropometria foi efetuada por meio de uma trena, com divisão em centímetros, sendo aferidas um total de 7 circunferências, segundo protocolo de Pollock: tórax, abdômen, quadril, braço, antebraço, coxa e perna.

Todas as mensurações supracitadas foram realizadas antes e após o macrociclo referente ao programa de treinamento combinado.

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Em relação aos hábitos alimentares da participante, destacamos que não houve mudanças nestes.

O programa de treinamento físico combinado ocorreu em uma academia localizada na cidade de Cuiabá-MT, sendo executado com a frequência de 5 vezes por semana e com duração total de 48 semanas, sendo 50% do tempo do treinamento voltados para os exercícios resistidos e 50% para os exercícios aeróbios.

Protocolo de Treinamento Físico Combinado (TFC)

Os trabalhos iniciaram-se com um alongamento prévio e as quatro primeiras semanas de atividades foram destinadas ao período de adaptação da participante aos exercícios. O delineamento relacionado ao TFC encontra-se na Figura 1 abaixo:

Figura 1. Delineamento referente ao TFC.

* M1= Medida Um refere-se ao pré-teste; M2 = Medida Dois refere-se ao pós-teste.

O treinamento resistido foi composto por exercícios multiarticulares (os quais mobilizam grandes grupos musculares) e, posteriormente, por exercícios uniarticulares, com repetições que variavam de 15 a 30 RM, cujo objetivo era aumentar o gasto calórico

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e melhorar a resistência muscular. Os exercícios para os membros superiores foram: supino reto, remada sentada, puxada pela frente supinada, rosca bíceps na polia e tríceps na polia; os exercícios para membros inferiores foram: leg press, cadeira extensora, flexora em pé, cadeira adutora, cadeira abdutora e panturrilha no leg press 90 graus; os exercícios para abdômen foram: flexão lateral do tronco, abdominal supra na bola e abdominal infra.

O treinamento físico aeróbio foi realizado de forma alternada entre os seguintes aparelhos: esteira ergométrica, elíptico, bicicleta ergométrica e jump. Os exercícios foram realizados em intensidade moderada, de 60 a 80% da frequência cardíaca máxima, calculada pela fórmula de Karvonen (220 – idade), com duração entre 60 a 90 minutos diários, de acordo com as recomendações da Estratégia Mundial sobre Alimentação, Atividade Física e Saúde para manutenção e perda de peso (2005). Os incrementos de carga realizados mensalmente foram através da percepção subjetiva.

Para a análise dos dados foi utilizado o delta percentual para calcular a variação percentual das duas amostras de mesma propriedade.

O projeto de pesquisa que originou o presente trabalho foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa do HUJM (Número do Protocolo: 673/09) e cumpriu os princípios éticos contidos na resolução 196/96.

3. RESULTADOS

Ao final do período de TFC, observamos que a participante apresentou diminuição tanto do peso corporal como do índice de massa corpórea (IMC) (Tabela 1). Como resultado de destaque, o valor do IMC no pré-teste foi de 39,11 Kg/m² e no pós-teste de 35,02 Kg/m², o que resultou na alteração de classificação do grau de obesidade II para o grau de obesidade I.

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Tabela 1. Índice de Massa Corpórea (IMC) e Peso Corporal da participante antes e após o TFC.

Momento da Avaliação IMC (Kg/m²) Peso (kg) Delta Percentual % Pré-teste 39,11 105,2 kg -10,5 Pós-teste 35,02 94,2 kg -10,5

Ainda observamos alterações positivas relacionadas ao perfil lipídico, ou seja, houve diminuição nas concentrações de CT, aumento dos níveis de HDL, bem como reduções nas concentrações de LDL e TG (Figura 2).

Figura 2. Concentrações de CT, HDL, LDL e TG da participane antes e após o TFC.

* CT = colesterol total; HDL = lipoproteínas de alta densidade; LDL = lipoproteína de baixa densidade; TG = triglicerídeos; mm/dl = miligramas por decilitro.

A Tabela 2 contém os resultados referentes à variação do perfil lipídico calculada pelo delta percentual (%Delta) ao final do período de TFC; é possível observar melhoras percentuais em todos os parâmetros analisados.

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Tabela 2. Delta Percentual referente ao perfil lipídico da participante antes e após o TFC.

Variáveis Pré-Teste (mg/dl) Pós-Teste (mg/dl) Delta %Delta CT 213 191 - 22,0 - 10,3 HDL 47 74 27,0 57,4 LDL 148 107 - 41,0 - 27,7 TG 92 52 - 40,0 - 43,5

* CT = colesterol total; HDL = lipoproteínas de alta densidade; LDL = lipoproteína de baixa densidade; TG = triglicerídeos; mg/dl = miligramas por decilitro.

A figura 3 denota redução nos valores de todas as dobras cutâneas analisadas após o TFC.

Figura 3. Valores de dobras cutâneas da participante antes e após o TFC.

A Tabela 3 traz os valores referentes à variação das dobras cutâneas calculada pelo delta percentual (%Delta) ao final do

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período de TFC; é possível observar alterações positivas em todas as regiões analisadas.

Tabela 3. Valores de Delta Percentual das dobras cutâneas da participante após o TFC.

Variáveis Pré-Teste (mm) Pós-Teste (mm) Delta% Delta Tricipital 42 38 - 4,0 - 9,5 Subescapular 46 41 - 5,0 - 10,9 Bíceps 44 35 - 9,0 - 20,5 Abdômen 54 43 - 11,0 - 20,4 Suprailíaca 51 42 - 9,0 - 17,6 Coxa 50 45 - 5,0 - 10,0

Após o TFC, a participante apresentou reduções em todas as medidas de circunferências avaliadas, como observado na Figura 4.

Figura 4. Valores referentes às medidas antropométricas da partici-pante antes e após o TFC.

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Como complemento aos resultados apresentados na Figura 6, efetuamos a análise da variação dos valores de circunferências calculadas pelo delta percentual (%Delta) ao final do TFC. Pôde-se notar que todas as mensurações foram reduzidas, percentualmente, ao final do período de treinamento físico (Tabela 4).

Tabela 4. Valores de Delta Percentual das circunferências da participante após o TFC.

Variáveis Pré-Teste (cm) Pós-Teste (cm) Delta %Delta Tórax 113 103,5 - 9,5 - 8,4 Abdômen 120 109,5 - 10,5 - 8,8 Quadril 136 124,5 - 11,5 - 8,5 Braço 40 35 - 5,0 - 12,5 Antebraço 30 26 - 4,0 - 13,3 Coxa 77 71,0 - 6,0 - 7,8 Perna 48 45,0 - 3,0 - 6,3

* Cm = centímetros.

4. DISCUSSÃO

Os resultados do nosso estudo denotaram melhoras significativas em todas as variáveis estudadas: peso corporal, IMC, composição corporal, antropometria e perfil lipídico.

Em relação à redução do peso corporal e do IMC da participante, acreditamos que a mesma está relacionada diretamente à prática regular de atividade física e ao aumento do gasto energético diário. Estudos como o de Ciolac e Guimarães (2004) demonstraram que o maior benefício da atividade física é favorecer a perda e/ou manutenção do peso corporal em médio e longo prazo, além de possibilitar o gasto energético elevado por minutos ou horas após a prática do exercício. Ao final do período de treinamento, a participante do presente estudo teve sua classificação de obesidade alterada (de grau II para grau I). Sendo assim, os fatores de riscos associados a ela consequentemente diminuíram.

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O tecido adiposo é composto por adipócitos, os quais armazenam lipídios. O aumento exacerbado na síntese desse tecido pode levar à ampliação dos diâmetros das circunferências corporais, bem como das dobras cutâneas. Ou seja, com a alteração da composição corporal, os diâmetros das circunferências podem aumentar ou diminuir e as dobras cutâneas ficarem mais ou menos densas. Em nosso estudo, observamos reduções significativas das dobras cutâneas abdominal e suprailíaca e da circunferência abdominal. Esses resultados corroboram os achados do estudo de Reis Filho et al. (2008), o qual submeteu mulheres ao treinamento em circuito (11 voluntárias) e à caminhada (10 voluntárias); após 8 semanas de treinamento, esses autores observaram reduções da gordura corporal total e da gordura abdominal, sendo os resultados mais significativos para as mulheres que treinaram em circuito.

Em outro estudo, desenvolvido por Sant’Ana et al. (2012), 13 indivíduos foram submetidos a um protocolo de treinamento combinado (aeróbio + resistido), sendo 7 do sexo masculino e 6 do sexo feminino. Após 12 semanas de treinamento, foram observadas melhoras tanto na capacidade aeróbia como na composição corporal de ambos os sexos. Resultados similares ocorreram no estudo realizado por Rocca e colaboradores (2008), os quais submeteram 22 mulheres obesas a um protocolo de treinamento combinado durante 12 semanas. Após o período de treinamento, foram observadas, nesse estudo, melhoras no condicionamento cardiovascular, reduções nas circunferências da cintura e do quadril e, consequentemente, na relação cintura- -quadril. Sabe-se que altos valores de circunferência de cintura são positivamente correlacionados a níveis elevados de triglicerídeos circulantes (CAVALCANTI; CARVALHO; BARROS, 2009). Em uma investigação conduzida por Guedes e Guedes (1998) níveis de LDL e de triglicerídeos correlacionaram-se significantemente com a relação cintura/quadril, com coeficientes que variam de 0,32 a 0,55.

É sabido que a gordura armazenada em nossos tecidos é liberada e transportada pelas lipoproteínas na corrente sanguínea. Sendo assim, a obesidade é um fator alarmante para o desenvolvimento de doenças coronarianas, uma vez que o excesso

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de lipídios sanguíneos pode levar ao processo aterosclerótico (LOTTENBERG; MAGLIOCCA; IBORRA, 2010).

A participante do presente estudo apresentava obesidade grau II e era considerada sedentária, e indivíduos com essas características comumente apresentam níveis elevados de triglicerídeos e baixas concentrações de HDL. Quando há altos níveis de TG e LDL no organismo, estes podem se agregar às paredes das artérias de médio e grande calibre, ocasionando obstrução parcial ou total do fluxo sanguíneo, dando origem à aterosclerose. Daí a importância do treinamento físico combinado (aeróbio + resistido) por nós aplicados, o qual promoveu a perda de peso, melhorou a composição corporal, elevou os níveis de HDL e reduziu as concentrações de triglicerídeos.

Um estudo de revisão realizado por Durstine (2002) demonstrou que o treinamento físico aeróbio reduziu os níveis de triglicerídeos. Nessa revisão, notou-se que as maiores reduções ocorreram nos indivíduos sedentários que apresentaram maior diminuição do peso corporal.

Sabe-se, ainda, que a melhora da composição corporal causada pelo treinamento físico pode elevar as concentrações de HDL. Em estudo realizado por Ribeiro e Oliveira (2010), foram empregados dois programas de emagrecimento, o primeiro apenas com restrição calórica e o segundo com restrição calórica associada ao treinamento físico. O grupo que combinou restrição calórica e treinamento físico mostrou alterações mais significativas na composição corporal (redução de peso corporal e IMC) e apresentou valores mais elevados de HDL. Nesse sentido, apesar de, no nosso estudo, não termos acompanhamento à ingestão calórica da participante, só o fato de ela realizar o treinamento combinado resultou em alterações positivas referentes à composição corporal e ao perfil lipídico.

Em nosso estudo, também se obteve redução nas concentrações de LDL e nos níveis de triglicerídeos, fato que favoreceu o aumento no valor de HDL da participante. Acredita- -se que a redução dos triglicerídeos plasmáticos seja devida à ação do exercício físico sobre a resistência à insulina. A diminuição da

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resistência à insulina parece aumentar a atividade da enzima lipase lipoprotéica e reduzir a hidrólise excessiva de triglicerídeos pelo tecido adiposo. A atividade plasmática da enzima lipase lipoprotéica, em geral, não aumenta antes de 4 a 18 horas após o exercício, mas quando aumenta, há elevação na hidrólise dos triglicerídeos, a qual resulta na redução destes no plasma. A elevação nos valores de HDL ocorre principalmente quando os indivíduos possuem valores de HDL baixos e triglicerídeos elevados. Nesse caso, no que se refere ao efeito do exercício físico regular, a redução dos valores de triglicerídeos parece favorecer o aumento do HDL (LOTTENBERG; MAGLIOCCA; IBORRA, 2010; TIBANA e BALSAMO, 2011).

Durstine (2004), após revisão da literatura específica, relatou que indivíduos que se exercitam por mais de uma hora apresentam reduções nos níveis de triglicerídeos após 24 horas. Além disso, quando esses exercícios (aeróbio ou resistido) são praticados em pouco volume, previne-se o aumento dos níveis de LDL, e quando praticado em grande volume, reduz-se os níveis de LDL. Tal fato sugere que indivíduos fisicamente ativos possuem maior capacidade de remover o LDL sanguíneo se comparados aos indivíduos sedentários, o que acarreta menores chances de instalação da aterosclerose. Assim, a prática regular de atividade física é indicada no tratamento não farmacológico contra a obesidade em virtude de todos os seus benefícios, como a melhora da composição corporal e do perfil lipídico.

Os resultados indicaram que um programa de treinamento físico combinado de 48 semanas melhorou a composição corporal e alterou positivamente o perfil lipídico de uma mulher obesa. Portanto, quando a combinação do treinamento é prescrita de forma adequada, ele pode ser uma excelente estratégia para esses fins.

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Projeto Claretiano Solidário: a academia comprometida com a transformação da sociedade

José Paulo GATTI1 Eugenio DANIEL2

Gláucia Costa DEGANI3

Resumo: A Universidade no Brasil constituiu-se a partir da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, configurando uma identidade capaz de articular a observação da realidade, de suas problemáticas, a investigação científica e produção de saberes a partir da discussão das grandes questões que envolvem a vida em sociedade e o necessário aperfeiçoamento dos valores humanos e da autonomia crítica dos acadêmicos. Muito embora a recente legislação privilegie a constituição de instituições de ensino mais voltadas para a formação técnica, tendo em vista as urgentes demandas do capitalismo avançado, resistem no cenário educativo entidades ainda preocupadas com a educação integral do ser humano. Nesse sentido, o Projeto Claretiano Solidário, desenvolvido pelo Claretiano – Centro Universitário de Batatais, representa o esforço, nos limites de sua funcionalidade, de garantir a devida qualificação profissional juntamente com valores inerentes à verdadeira formação cidadã. Os dados coletados nos últimos cinco anos de existência do projeto, agora analisados e relatados, demonstram essa realidade, ao mesmo tempo em que apontam inevitáveis deficiências a serem superadas, além de novos desafios que o futuro projeta.

Palavras-chave: Formação Superior. Extensão Universitária. Projeto Claretiano Solidário.

1 Pe. José Paulo Gatti. Doutorando em Educação pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar). Mestre em Educação pela Universidade Estadual de Londrina (UEL). Licenciado em Letras pela Universidade Federal do Paraná (UFPR). Licenciado em Filosofia pelo Claretiano – Centro Universitário, onde atualmente atua como docente e Pró-Reitor de Extensão e Ação Comunitária. E-mail: <[email protected]>.2 Eugenio Daniel. Mestre em Ciências e Práticas Educacionais pela Universidade de Franca (UNIFRAN). Docente do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.3 Gláucia Costa Degani. Doutoranda em Enfermagem pela Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto (SP). Mestre em Enfermagem pela mesma instituição. Docente do Claretiano – Centro Universitário. E-mail: <[email protected]>.

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Claretiano Solidarity Project: academia committed to the society transformation

José Paulo GATTI Eugenio DANIEL

Gláucia Costa DEGANI

Abstract: The University in Brazil was constituted from the indivisibility of teaching, research and extension, setting an identity to be able to articulate the reality observation, of its problems, scientific research and knowledge production from the discussion of major issues involving life in society and the need to strengthen human values and from academics’ critical autonomy. Although the recent legislation favors the creation of more education institutions focused for technical training, due to the urgent demands of advanced capitalism, some concerned entities still have resisted to educational scenario with the integral education of the human being. Accordingly, the Claretiano Solidarity Project, developed by the Claretiano - University Center of Batatais, is the effort within the limits of its functionality, to ensure appropriate professional qualification along with values inherent in the real civic education. Data collected in the last five years of the project, now analyzed and reported, demonstrate this fact, while pointing inevitable deficiencies to be overcome, as well as new challenges that the future will design.

Keywords: Higher Education. University Extension. Claretian Project Outreach.

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1. EDUCAÇÃO SUPERIOR E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA

O presente artigo pretende avaliar um projeto de extensão universitária – o Projeto Claretiano Solidário – da instituição Claretiano – Centro Universitário da cidade de Batatais-SP, entidade confessional, mantida pela Congregação dos Missionários Filhos do Imaculado Coração de Maria – Claretianos, em seus últimos anos de desenvolvimento, procurando analisar sua relevância social e pedagógica na atenção aos problemas da sociedade e à formação acadêmica.

Como breve contextualização histórica, a discussão sobre as atividades extensionistas da Universidade é bastante recente no cenário brasileiro. Fato é que a própria universidade brasileira demorou a constituir-se, surgindo da união de faculdades isoladas apenas na primeira metade do século XX. Como as universidades se constituíram tardiamente, as primeiras ações de cunho extensionista remontam ao início dos anos 1960, pelos movimentos culturais e políticos liderados pela União Nacional dos Estudantes (UNE), que lançou as bases de uma atividade de extensão quando isso ainda não existia formalmente (POERNER, 1968).

Em 1964, o golpe militar introduziu um regime de ditadura que fechou os espaços de participação política ao longo de duas décadas e consolidou uma política educacional segundo acordos firmados entre o MEC e a USAID (Agência dos Estados Unidos para o desenvolvimento internacional), conforme assinala Cunha (1988). No início dos anos 1980, o regime apresentou sinais de desgaste e iniciou um processo de abertura, os movimentos sociais intensificaram sua atuação e no final da década já se elaborava uma nova concepção da universidade, baseada na reformulação de suas atividades.

A associação das funções ensino, pesquisa e extensão que norteiam a concepção da Universidade no Brasil foi formalmente estabelecida pela Constituição Federal de 1988. Em seu Artigo 207, o documento afirma que “[...] as Universidades gozam de autonomia didático-científica, administrativa e de gestão financeira e patrimonial; e obedecerão ao princípio de indissociabilidade

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entre ensino, pesquisa e extensão” (BRASIL, 1988, p. 138). Nesse sentido, a legislação atendia expectativas que já se elaboravam para a área específica da extensão, conforme a reflexão do Fórum de Pró-reitores de extensão das universidades públicas, criado em 1987:

A Extensão Universitária é o processo educativo, cultural e científico que articula o Ensino e a Pesquisa de forma indissociável e viabiliza a relação transformadora entre universidade e sociedade. A Extensão é uma via de mão dupla, com trânsito assegurado à comunidade académica, que encontrará, na sociedade, a oportunidade de elaboração da práxis de um conhecimento académico. No retorno à Universidade, docentes e discentes trarão um aprendizado que, submetido à reflexão teórica, será acrescido àquele conhecimento. Esse fluxo, que estabelece a troca de saberes sistematizados, académico e popular, terá como consequência: a produção do conhecimento resultante do confronto com a realidade brasileira e regional; a democratização do conhecimento académico e a participação efetiva da comunidade na atuação da Universidade. Além de instrumentalizadora desse processo dialético de teoria/prática, a Extensão é um trabalho interdisciplinar que favorece a visão integrada do social (BRASIL, 2014, n.p.).

Entretanto, apesar de a Constituição Federal de 1988 afirmar o princípio de indissociabilidade entre a tríade ensino, pesquisa e extensão, o conceito parece ter sido retomado apenas de forma vaga na reformulação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDBEN/1996) e passou a ser continuamente descaracterizado pelos sucessivos decretos que regulamentaram a lei. Esse processo principia na diversificação das estruturas institucionais autorizadas a oferecer cursos superiores no país, que, segundo os decretos 2207/97; 2306/97 e 3860/01, sancionados logo após a aprovação da LDBEN (Lei 9394/96), se classificam em Universidades, Centros Universitários, Faculdades Integradas, Faculdades, Institutos ou Escolas Superiores. A indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão passou a não ser necessária em todas as distintas instituições. Somente as Universidades deviam cumprir esse quesito, ficando as demais isentas. No Decreto 3860/01, por sua

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vez, já não havia essa exigência nem mesmo para a instituição universitária (BRASIL, 2001).

Essa realidade, portanto, responde a um novo modelo de formação superior, de bases neoliberais, que defende o surgimento de diferentes instituições de ensino, segundo as exigências mais recentes de um mercado muito diversificado e que anseia por profissionais de nível técnico com capacidade de adaptação diante das constantes inovações tecnológicas. Segundo alguns autores (CUNHA, 1991; SAMPAIO, 2000; DURHAM; SAMPAIO, 2001), tal processo aponta o advento de uma política educacional cuja ênfase está na qualificação profissional, por meio de instituições isoladas, sem qualquer interesse pela pesquisa, mas fundamentalmente restrita à função do ensino. As instituições que não respondem à exigência da associação entre ensino, pesquisa e extensão se voltam, predominantemente, para ensino e formação profissionalizante.

Desde essa nova política, as Universidades, que legalmente ainda respondem ao princípio constitucional de indissociabilidade da tríade, tornam-se instituições diferenciadas no contexto geral do Ensino Superior. Para Castro (2003), a diversificação das instituições permite que a Universidade se torne, preponderantemente, um espaço para a preparação das elites que vão assumir os postos de liderança, enquanto as demais instituições, em maior número, voltam-se para a formação profissional ou técnica, podendo desenvolver, segundo sua especificidade, uma linguagem mais apropriada a essa formação.

Esse quadro, no Ensino Superior no país, aponta para o grave dilema de uma formação superior simplesmente profissionalizante, cuja principal função é a preparação de mão de obra especializada para as diferentes áreas do conhecimento e, portanto, sem nenhum interesse por uma formação de cunho mais humanista, crítica, com a discussão dos grandes temas, o que afeta toda produção do conhecimento. Impõe, ainda, à Universidade, um “rótulo especial” de formadora da classe governante, deturpando gravemente sua identidade de instituição responsável pela pesquisa e produção de conhecimento, interação com a sociedade e universalização

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do conhecimento – portanto, sua identidade como instituição de ensino, pesquisa e extensão.

Em meio a esses novos delineamentos se encontra a dinâmica da extensão, como eixo que estrutura a relação da academia com a sociedade. Já em suas origens, as ações extensionistas representavam uma resposta da academia às distorções e explorações do capital sobre a classe trabalhadora, em fins do século XIX. Basicamente, a extensão surgiu a partir de duas tradições distintas: a europeia, na qual a universidade se unia a outros organismos, na esteira da formação do Estado de bem-estar social, pelos projetos de cunho social para amenizar as explorações do capitalismo; e a norte americana, dentro do espírito pragmático, na qual a universidade desenvolvia projetos ligados à agricultura e às empresas, de modo a aperfeiçoar as tecnologias de produção (MIRRA, 2009). No Brasil, depois das ações da década de 1960 e do regime militar, a reflexão acerca da extensão foi desenvolvida, sobretudo, a partir de 1987, com a criação do Fórum dos Pró-reitores de extensão das universidades públicas (UEL, s.d., n.p.). Em 2003, foi criado o Programa de Extensão Universitária do governo federal, onde estão elencadas as seguintes demandas:

[...] atenção integral à família; combate à fome; erradicação do trabalho infantil; combate ao abuso e à exploração sexual de crianças e adolescentes; juventude e desenvolvimento social; geração de trabalho e renda em economia solidária; promoção e/ou prevenção à saúde; violência urbana; direitos humanos; educação de jovens e adultos; atenção à pessoa idosa, à pessoa com deficiência e às populações indígenas e quilombolas; atividades complementares ao Programa Brasil Alfabetizado; educação ambiental e apoio ao desenvolvimento comunitário; inclusão étnica; apoio à organização e desenvolvimento comunitário; inclusão social dos usuários de drogas; inclusão digital; apoio às atividades de escolas públicas; ensino de ciências (MEC, s.d., n.p.).

Como se pode observar, as demandas apontadas pelo governo exigem essencialmente ações de assistência social. No quadro atual da sociedade produtiva, a universidade vê-se, desse modo, regulada por diretivas que visam redefinir sua identidade e missão social. Isso

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afeta a maneira como o conhecimento é construído e também como pode ser aplicado em benefício da sociedade, além de postular um desafio à toda comunidade universitária de não se deixar dominar pela dinâmica do mercado (TRINDADE, 2001).

O atual quadro de diversificação das instituições autorizadas a oferecer cursos superiores, no entanto, congrega organizações bastante diferentes, desde aquelas estritamente estruturadas como empresas lucrativas, orientadas para a formação de mão de obra especializada, sem preocupação com pesquisa, mas apropriando-se do conhecimento existente, e cujos programas de extensão estão ligados ao setor de marketing, como instrumento de propaganda, até aquelas organizações confessionais, ligadas a organismos com uma ideologia bem evidente – religiosa ou não – , cuja oferta educativa geralmente é de boa qualidade (TRINDADE, 2001).

Essas últimas, por força de seus princípios e sem o interesse comercial, procuram desenvolver, além da oferta de cursos de alta demanda e custos operacionais baixos, atividades de iniciação cientifica, produção de conhecimento e ações extensionistas, segundo os recursos orçamentários disponíveis para essas atividades.

É nesse contexto que se insere o Claretiano – Centro Universitário, com o trabalho dos missionários, vindos a Batatais no ano de 1925 para assumir o Colégio Agrícola São José e, com o passar dos anos, ampliando sua atuação desde a educação infantil até a educação superior.

2. O PROJETO CLARETIANO SOLIDÁRIO

A história do Centro Universitário teve início no ano de 2001, quando recebeu o credenciamento do governo federal. Em 2003, foi criado o Programa Claretiano Solidário (inicialmente denominado CEUSOL – Centro Universitário Solidário), atendendo às disposições regimentais internas da Pró-Reitoria de Extensão e Ação Comunitária. Juntamente com os demais programas da instituição, define-se como um:

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[...] conjunto articulado de projetos e outras ações de extensão (cursos, eventos, prestação de serviços), preferencialmente integradas a atividades de pesquisa e ensino. Tem caráter orgânico-institucional, clareza de diretrizes e orientação para um objetivo comum, sendo executado a médio e longo prazo (CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO, 2009, n. p.).

O aspecto orientador de todas as ações desenvolvidas é dado pela missão institucional:

A missão do Centro Universitário Claretiano inspirada nos valores éticos e cristãos e no carisma claretiano consiste em capacitar a pessoa humana para o exercício profissional e para o compromisso com a vida, mediante uma formação integral; missão esta que se caracteriza pela investigação da verdade, o ensino e a difusão da cultura, que dão pleno significado à vida humana (CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO, s. d., p. 11).

A missão, nesse sentido, articula-se num diálogo e comunhão com a sociedade e se concretiza nos serviços prestados às mais variadas comunidades e segmentos, sempre tendo como referência o espírito apostólico próprio do fundador dos missionários claretianos. Desse modo, a Extensão e Ação Comunitária configuram-se como bases, juntamente com ao ensino e a iniciação à pesquisa, além de colocar em prática a missão institucional.

O Projeto Claretiano Solidário teve início no Mato Grosso, nas cidades de Campinápolis, Novo São Joaquim, Santo Antônio do Leste e Paranatinga. Além do Mato Grosso, em seguida, as atividades foram ampliadas, passando a integrarem Rondônia, onde os Missionários Claretianos também têm atividades missionárias. Atualmente, estão localizados nos municípios de São Miguel do Guaporé, Seringueiras e Porto Velho. No ano de 2008, o projeto iniciou suas atividades em Gilé, em Moçambique, na África. E, em 2012, foi estendido ao município de Boa Vista, Estado de Roraima, onde foi aberto um polo de Educação a Distância e onde a instituição assumiu uma escola de Ensino Fundamental.

A abertura do polo de Roraima, no extremo norte do país, com carências e dificuldades de toda espécie, sobretudo a falta de oportunidades de estudo para a juventude, de maior conhecimento

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nas áreas da saúde, da geração de renda, entre outros, motivou a implantação do projeto com a formação das lideranças.

Todas essas frentes têm em comum as desigualdades sociais e a pobreza generalizada. São áreas historicamente esquecidas pelas políticas governamentais e que demandam grandes investimentos em diferentes setores para erradicar a miséria. Estudos apontam que, apesar do avanço no desenvolvimento de algumas delas, nos últimos anos, ainda há grandes distorções desafiando as políticas de inclusão. A pobreza ainda se apresenta maior nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste do país (PNUD, 2014). O Brasil não é um país pobre, embora apresente um quadro de injustiça social e desigualdade muito grande. No ranking de países que analisam seu índice de desenvolvimento humano (IDH), o país ocupa a 79ª posição entre 187 participantes (PNUD, 2014). Isso significa que ainda há muitas dificuldades a serem superadas nas áreas de educação, assistência social, saúde, distribuição de renda e emprego.

Assim, o Projeto Claretiano Solidário procura direcionar suas práticas, suas perspectivas, recursos materiais e o conhecimento de seus quadros profissionais para promover a saúde, a educação, a cultura, a ciência e a comunicação por meio de cursos, oficinas, prestação de serviços, enfim, diferentes meios que possibilitem à população direitos básicos, vida digna e conhecimento, em semanas intensivas ao longo do ano.

Os profissionais da saúde agem ativamente e de forma concreta na promoção humana com ações e trabalhos de orientação às famílias, tendo como foco utilizar seus conhecimentos prévios, orientar e promover a saúde alimentar e a prevenção de doenças que podem se desenvolver devido a uma alimentação inadequada, além de outros cuidados necessários. As ações educativas visam à conscientização quanto a procedimentos básicos, bem como a partilha e difusão de conhecimentos que possam alavancar processos de transformação social.

3. O INÍCIO DA COLETA DE DADOS

A partir de ano 2010, o projeto Claretiano Solidário iniciou uma coleta de dados em suas atividades. Como foi dito acima,

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esse estudo vem divulgar e analisar os resultados das avaliações realizadas durante os últimos cinco anos de existência do projeto.

Os locais de estudo foram os municípios de São Miguel do Guaporé, Seringueiras, Porto Velho, alguns vilarejos e lugarejos próximos a esses municípios. Os equipamentos e a equipe alocaram-se na praça da igreja matriz das cidades participantes, como também em escolas urbanas e da via rural, em aldeias e em comunidades vizinhas, nos períodos da manhã e tarde, durante as semanas intensivas dos cinco respectivos anos. A população foi composta por pessoas presentes nos locais de estudo, voluntárias do projeto, após receberem orientações da equipe, constituindo, assim, uma amostra por conveniência. Os participantes souberam da realização do projeto por meio de divulgação em missas, anúncios em carros de som e em escolas. Os dados foram coletados por meio de uma ficha preestabelecida, utilizada nas entrevistas e avaliações e atualizada a partir do ano 2015. Foi preenchida pelos alunos dos cursos de Enfermagem e Nutrição do Claretiano – Centro Universitário de Batatais, supervisionados pelos professores das respectivas áreas. A ficha utilizada está ilustrada na Figura 1.

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Figura 1. Ficha de coleta de dados para alunos do projeto Claretiano Solidário, entre 2010-2014. Batatais, 2015.

Objetivo – Avaliar a prevalência do Diabetes Mellitus (DM), Hipertensão Arterial (HÁ), e outros fatores de risco para doenças cardiovasculares Nome_____________________________________ Nasc. ____/____/_______ Idade___ Endereço_______________________________________________________ Cidade________________ Profissão_____________________ Raça________ Fumante ( ) sim ( ) não Quantos cigarros dia________ Peso______________ Altura____________ Bebida alcoólica ( )sim ( )não Está em jejum? ( )sim ( )não Há quantas horas?_______________________ Diabético ( )sim ( )não Familiar diabético ( ) sim ( ) não Outras doenças? ( ) sim ( ) não Quais?______________________________ P.A._________mmHg Glicosimetria_________mg/dl IMC_____________ Utiliza algum medicamento? ( ) sim ( ) não Quais?_________________________________________________________ Atividade Física ( ) sim ( ) não Quantas vezes por semana?________________________________________Faz uso de ervas medicinais ( ) sim ( ) não Chá ( ) Banho ( ) Emplasto ( ) Faz uso de bebida alcoólica ( ) sim ( )não Quantas vezes por semana?________ Qual?__________________________Última consulta médica?_________________________________________ Finalidade____________________________________________________

Resultado P.A_________mmHg Glicosimetria_________mg/dl IMC______________

A coleta de dados foi feita pelos alunos de Enfermagem, por meio de entrevistas. Eles também aferiam a pressão arterial, a glicosimetria e forneciam orientações sobre saúde, tais como higiene corporal, sexualidade, tomada de medicamentos e outros assuntos questionados no momento. Os acadêmicos da Nutrição realizavam medidas de peso e altura, circunferências abdominais e o cálculo do Índice de Massa Corporal. Destaca-se que estudantes e professores de outras áreas também participam do projeto, porém

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seus dados não estão contemplados na presente ficha e, assim, não foram citados nesta pesquisa.

Para a análise dos dados quantitativos, foram realizados alguns agrupamentos para facilitar sua compreensão, por meio de análises estatísticas.

Em relação às questões éticas da investigação científica envolvendo seres humanos, é preciso lembrar que o projeto está inscrito na Plataforma Brasil, atendendo todas as disposições legais.

4. RESULTADOS OBTIDOS E DISCUSSÃO

Os resultados a seguir procedem dos dados coletados pelos alunos e professores do projeto a partir de entrevistas e avaliações dos participantes voluntários nos cincos anos contemplados. Assim, foram realizadas 3089 avaliações, as quais foram distribuídas por ano e ressalta-se que uma mesma pessoa poderia participar do projeto em vários anos consecutivos. Essas informações estão ilustradas na Figura 2:

Figura 2. Distribuição das avaliações realizadas pelo Projeto Claretiano Solidário, entre os anos 2010 e 2014, de acordo com o ano de coleta. Batatais, 2015.

Nos dois primeiros anos avaliados, a abrangência era essencialmente na área urbana e central dos municípios participantes, sendo que o aumento significativo observado nos últimos três anos se deveu especialmente pela expansão das atividades em locais

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como vilas e lugarejos próximos, além da ampla divulgação e da presença dos cooperantes, pessoas ligadas à instituição claretiana, atuando na região.

Na Tabela 1, pode-se notar que a cidade predominante na participação do projeto é São Miguel do Guaporé, seguida de Seringueiras.

Tabela 1. Distribuição das avaliações realizadas pelo Projeto Claretiano Solidário, entre os anos 2010 e 2014, segundo cidades participantes. Batatais, 2015.

Local Quantidade Porcentagem %

São Miguel do Guaporé 1537 49,76

Seringueiras 1026 33,21

Porto Velho 346 11,20

Santana do Guaporé 101 3,27

Quilombo 27 0,87

Outras 52 1,63

Total 3089 100,00

Essa constatação se justificava pelo fato de que em ambas as cidades se encontram as paróquias claretianas. Além disso, elas participam do projeto desde a sua criação. A capital de Rondônia, Porto Velho, foi incluída no projeto apenas nos últimos dois anos e sua participação acontece por meio de uma vila situada a 17 quilômetros do centro da capital. Já a localidade “Santana do Guaporé” corresponde a uma vila pertencente ao município de Seringueiras, e “Quilombo”, uma comunidade quilombola pertencente também ao município de Seringueiras.

Em termos demográficos, dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE (2014) revelaram que a cidade

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de Seringueiras apresentava um total de 12.543 habitantes, e São Miguel do Guaporé, 23.803 habitantes.

As idades dos assistidos variaram entre três e 88 anos, com média de 41,5 anos. Na Tabela 2, pode-se verificar que a faixa etária entre 20 e 60 anos foi a que obteve maior distribuição.

Tabela 2. Distribuição das avaliações realizadas pelo Projeto Cla-retiano Solidário, entre os anos 2010 e 2014, segundo faixa etária. Batatais, 2015.

Intervalo de faixa etária

Quantidade Porcentagem%

Idade não preenchida 16 0,52

0 a 10 anos 53 1,72

11 a 20 anos 381 12,33

21 a 30 anos 471 15,25

31 a 40 anos 594 19,23

41 a 50 anos 616 19,94

51 a 60 anos 485 15,70

61 a 70 anos 282 9,13

71 anos ou mais 191 6,18

Total 3089 100,0%

Atualmente, a maioria da população brasileira é adulta, o que vem ao encontro dos resultados obtidos. Além disso, os adultos são o público-alvo do projeto e dos meios de divulgação utilizados. As crianças, na maioria das vezes, participaram do projeto por estarem acompanhadas dos pais.

No Brasil, segundo dados do IBGE (2009), a população estava distribuída da seguinte forma: 64,5% de pessoas entre 15 e

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59 anos; 25,5%, entre zero e 14 anos; e 10,0% de pessoas com 60 anos ou mais. Há de se destacar a estimativa para o ano de 2050 com a proporção de 57,1% adultos, 13,1% crianças e adolescentes e 29,8% idosos, indicando um envelhecimento progressivo e rápido da população. Assim, esses dados apontam para a atual necessidade de atenção a essa parcela populacional.

Na Figura 3, consta a representação gráfica das principais profissões/ocupações relatadas pelos participantes, com distribuição semelhante entre agricultores/lavradores/rurais/rurícolas e do lar/dona de casa.

Figura 3. Representação gráfica das avaliações realizadas pelo Projeto Claretiano Solidário, entre os anos 2010 e 2014, segundo profissão/ocupação. Batatais, 2015.

Segundo informações do próprio município de São Miguel do Guaporé (SÃO MIGUEL DO GUAPORÉ, 2014), a atividade econômica predominante do local é a agrícola, com tendências ao aumento do número de criações pecuárias. Possivelmente, a participação de pessoas autodenominadas “do lar”/“dona de casa” se dê pelo fácil acesso e disponibilidade no projeto, o qual atuou nos períodos da manhã e tarde.

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Em relação à cor da pele autorreferida, predominou a cor branca, seguido da parda, conforme demonstra da Figura 4. Há de se considerar que, em 32,47% das fichas, essa informação não estava preenchida. Esse tópico demonstra a pluralidade étnica da região e traz consigo heterogeneidade aos dados.

Figura 4. Representação gráfica das avaliações realizadas pelo Projeto Claretiano Solidário, entre os anos 2010 e 2014, segundo raça ou cor autorreferida. Batatais, 2015.

Em relação ao hábito de fumar, a maioria dos entrevistados negou, conforme se visualiza na Figura 5. Entre os que afirmaram ter esse hábito, a média de cigarros por dia foi dez.

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Figura 5. Representação gráfica das avaliações realizadas pelo Projeto Claretiano Solidário, entre os anos 2010 e 2014, segundo o hábito de fumar. Batatais, 2015.

O tabagismo é definido como uma doença resultante da dependência de nicotina e é responsável por mais de 50 doenças diferentes, dentre elas as doenças cardiovasculares, o câncer e as doenças respiratórias obstrutivas crônicas. Alguns fatores influenciam o hábito de fumar, como seu fácil acesso, pelo baixo preço, as atividades de promoção e publicidade, associando-o a imagens de beleza, sucesso, liberdade, poder, inteligência e outros atributos desejados (BRASIL, 2003).

O número de cigarros consumidos diariamente é uma informação importante, pois a dependência à nicotina é classificada pela quantidade de cigarros utilizados durante o dia, sendo menos de 10 cigarros/dia a pontuação mínima para dependência e mais de 31cigarros/dia a máxima, proporcionalmente associados aos riscos de adoecimento (REICHERT et al., 2008). Assim, como apontaram os resultados, aqueles que fumam podem ser classificados com dependentes e, nesse sentido, podem ser alvo de orientações de estratégias para cessação do tabagismo.

De acordo com a Figura 6, quanto ao hábito de ingerir bebi-das alcoólicas, a maioria também afirmou não fazer uso. Deve-se

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ressaltar que nesse estudo não foi contemplado o tipo da bebida nem sua frequência de consumo.

Figura 6. Representação gráfica das avaliações realizadas pelo Projeto Claretiano Solidário, entre os anos 2010 e 2014, segundo uso de bebidas alcoólicas. Batatais, 2015.

Sabe-se que o alcoolismo, por ser uma doença com implicações sociais, psicológicas, econômicas e políticas, vem sendo associado à criminalidade e a práticas antissociais, pois evidencia o aumento na gravidade das lesões e a diminuição dos anos potenciais de vida da população, expondo as pessoas a comportamentos de risco (BRASIL, 2004). Como o caso dos cigarros, o fácil acesso à bebida alcoólica e a questão cultural do consumo no país perpetuam seu uso e abuso, e, portanto, faz-se necessário a criação de espaços para a prática de esportes, atividades de lazer ou outras estratégias que estimulem o não consumo e mesmo o não abuso de bebidas alcoólicas.

Praticar atividade física também parece não ser hábito para 1652 pessoas entrevistadas, 53,48% do total. Ser ativo fisicamente traz benefícios à saúde, desde os psicossociais, até os cardiovasculares, a redução das chances de desenvolver cânceres, dos níveis de colesterol e tolerância à glicose e da ação da insulina, entre outros (BRASIL, 2014). O acesso a locais para práticas

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esportivas e profissionais de educação física para acompanhar tais iniciativas são aspectos fundamentais para que a atividade física seja realizada com segurança e favoreça um desenvolvimento saudável.

Na Tabela 3, evidenciam-se os valores glicêmicos casuais encontrados durante a realização do projeto, predominando a normalidade, seguida de valores pré-diabéticos.

Tabela 3. Distribuição das avaliações realizadas pelo Projeto Cla-retiano Solidário, entre os anos 2010 e 2014, segundo intervalos glicêmicos em mg/dL. Batatais, 2015.

Intervalo de glicosimetria Quantidade Porcentagem

0 – 50 14 0,45%

51 – 100 1345 43,54%

101 – 150 1328 42,99%

151 – 200 162 5,24%

201 – 250 36 1,17%

251 – 300 17 0,55%

> 301 36 1,17%

Não informados 151 4,89%

Total 3089 100,0%

Para a suspeita do Diabetes Mellitus – DM, leva-se em consideração o valor da glicemia casual acima de 200mg/dl associado a sintomas de perda inexplicada de peso, poliúria, polidipsia e polifagia (BRASIL, 2013b). O exame da glicosimetria é um exame simples, com custo barato e que atua como método de identificação precoce da doença, por meio da retirada de uma simples gota de sangue. O exame realizado para o projeto foi feito sem considerar o intervalo de jejum do indivíduo, constituindo, assim, o índice da glicemia casual. Grande parte da população ainda desconhece a presença da doença, o

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que pode facilitar a ocorrência de suas complicações, especialmente as cardiovasculares (BRASIL, 2013b).

Aqueles indivíduos com valores glicêmicos entre 110-249mg/dL, considerada condição pré-diabética, devem ser orientados para a prevenção do diabetes, por meio de uma alimentação saudável e hábitos ativos de vida, além da reavaliação periódica com glicemia em jejum. Os fatores de risco para o desenvolvimento do diabetes envolvem ter 45 anos de vida ou mais, ter histórico familiar da doença, hipertensão arterial, dislipidemias, inatividade física, obesidade, dentre outros (BRASIL, 2013b).

Embora, nesse estudo, não se tenha realizado associações entre as variáveis “prática de atividade física” e “valores glicêmicos”, pensa-se que investir em orientações que promovam mudança do estilo de vida para formas mais ativas possam reduzir os valores glicêmicos encontrados para a condição pré-diabética.

Na Tabela 4, evidenciam-se os valores pressóricos encontrados durante a realização do projeto, predominando a normalidade.

Tabela 4. Distribuição das avaliações realizadas pelo Projeto Cla-retiano Solidário, entre os anos 2010 e 2014, segundo intervalos pressóricos em mmHg. Batatais, 2015.

Pressão Arterial Sistólica (PAS) Pressão Arterial Diastólica (PAD)

Intervalo Número Porcentagem Intervalo Número Porcentagem

< 140 2288 74,07% < 80 959 31,05%

≥ 140 e < 160

439 14,21% ≥ 80 e < 90 1199 38,82%

≥ 160 e < 190 182 5,89%

≥ 90 e < 100 494 15,99%

≥ 190 14 0,45% ≥ 100 271 8,77%

Ignorado 166 5,37% Ignorado 166 5,37%

TOTAL 3089 100,00% TOTAL 3089 100,00%

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A hipertensão arterial – HA é uma doença causada por fatores diversos e caracteriza-se pelo valor sustentado da pressão arterial acima ou igual a 140/90mmHg, sendo 140 a pressão sistólica e 90 a pressão diastólica. Em longo prazo, tais níveis pressóricos susten-tados levam o indivíduo a complicações cardiovasculares, renais e encefálicas, sem contar a perda da qualidade de vida. Para valores sustentados acima de 140/90mmHg, o risco duplica-se (BRASIL, 2013c).

O diagnóstico não requer tecnologia avançada, porém apenas uma medição não é suficiente para caracterizar HA. Sugere-se que seja medida a pressão arterial em três momentos alternados, com intervalo de uma semana e calculada a média dos valores (BRASIL, 2013c).

Aos indivíduos que apresentaram os valores entre 140-159 e 80-90 seria aconselhável medir em outras duas ocasiões. Além disso, cabe a orientação quanto ao estilo vida, que deve incluir uma alimentação saudável, consumindo menos sal, controlando peso corporal, praticando atividade física, abandonando o tabagismo e reduzindo o consumo de álcool excessivo (BRASIL, 2013c).

Dos valores obtidos dos pesos e alturas da população para o cálculo do Índice de Massa Corporal – IMC foram considerados os valores de referências para: muito abaixo do peso (IMC<17), abaixo do peso (IMC entre 17 e 18,49), normal (IMC entre 18,5 e 24,99), sobrepeso (IMC entre 25 e 29,99), obesidade I (IMC entre 30 e 34,99), obesidade II (IMC entre 35 e 39,99), obesidade III (IMC acima de 40).

Assim, a Figura 7 apresenta o predomínio de pessoas com IMC normal, seguida daqueles com sobrepeso.

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Figura 7. Representação gráfica das avaliações realizadas pelo Projeto Claretiano Solidário, entre os anos 2010 e 2014, segundo Índice de Massa Corpórea – IMC. Batatais, 2015.

O IMC, além de classificar o indivíduo com relação ao peso, também é um indicador de riscos para a saúde e tem relação com várias complicações metabólicas, tais como o aumento da pressão arterial, dos níveis de colesterol e triglicerídeos sanguíneos e resistência à insulina. A obesidade, representada pelo IMC≥30, é o agravo de caráter multifatorial decorrente de balanço energético positivo que favorece o acúmulo de gordura (BRASIL, 2013a).

Sugere-se que os resultados alcançados podem decorrer de uma alimentação inadequada, com excesso no consumo de sal e/ou falta de nutrientes necessários ou até pela presença de massa muscular em detrimento da massa lipídica. No entanto, para complementar essas informações, seria necessária uma avaliação nutricional ampla e um recordatório alimentar de 24 horas.

A prevenção precoce da obesidade é um importante aspecto para a promoção de saúde e redução da morbimortalidade, que está além de enfatizar questões puramente estéticas, mas sim constitui

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desafios à saúde pública, pois exige um plano de cuidados individual (BRASIL, 2013a).

Os relatos sobre o uso de medicamentos tiveram 61,77% respostas negativas, 36,00% respostas afirmativas e em 2,23% essa informação não foi obtida. Embora os participantes não tenham sido questionados sobre quais medicamentos utilizavam e se foram prescritos ou não pelo médico, sabe-se que a adesão ao tratamento e o acesso aos medicamentos em algumas regiões do país ainda é baixa – mesmo com a existência de programas governamentais para esse fim, a acessibilidade ainda é um desafio.

Em contrapartida, o uso de ervas com fins medicinais compôs 38,62% da população em estudo. Há de se considerar que uma mesma pessoa poderia fazer uso de medicamentos alopáticos ou prescritos pelo médico e de ervas, concomitantemente.

Veiga-Júnior, Pinto e Maciel (2005) relatam que o uso de medicamentos alopáticos ainda é baixo pelas populações carentes, dada as dificuldades de acesso aos centros de atendimento, à obtenção de exames e aos próprios medicamentos. Em virtude disso, o uso das plantas medicinais é mais frequente. O que poucos sabem é que a toxicidade de plantas medicinais é um problema sério de saúde pública. Os efeitos adversos das plantas usadas com fins medicinais, possíveis adulterações e toxidez, bem como a interação com outras drogas, ocorrem comumente e devem ser esclarecidas. Os profissionais de saúde devem atentar para essa realidade e fornecer orientações específicas e direcionadas a essa população para que observe e previna tais consequências.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS

A diversificação de identidade das instituições que ofertam cursos superiores no país atendeu, como foi exposto, aos interesses da sociedade produtiva na atualidade, cada vez mais complexa e necessitada de especializações sempre mais específicas – necessitada, sobretudo, de uma formação alinhada aos desafios da alta tecnologia em constante transformação.

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As distintas instituições surgidas voltaram-se para essas urgências e, em grande medida, abandonaram a perspectiva de uma formação integral do ser humano, capaz de considerar os aspectos técnicos sem perder de vista a dimensão humanizadora da educação, de desenvolvimento de valores e do senso crítico.

Iniciativas como o Projeto Claretiano Solidário, nesse sentido, estão em contradição com o modelo hegemônico, uma vez que ainda procuram resgatar os vários aspectos envolvidos no processo educativo: a relação de continuidade entre os saberes construídos na Universidade e as demandas da sociedade em suas carências; a sintonia entre a necessária formação técnica e uma intervenção crítica na sociedade, de modo a transformá-la; a observação constante da realidade, sua problematização e a investigação científica em busca do conhecimento capaz de aperfeiçoar as condições de vida das pessoas e de seu ambiente.

Nesse sentido, os onze anos de existência do Projeto Claretiano Solidário demonstram a consolidação das atividades realizadas nos municípios participantes e a confiança da comunidade no trabalho da equipe, uma vez que os números ascendem com o passar dos anos, desde que foi iniciada a coleta de dados.

Em relação a esses dados, como foi possível observar, as características que definiram a população participante foram: procedência do município São Miguel do Guaporé, com média de idade de 41,5 anos, atividade profissional/ocupacional distribuída em sua maioria entre agricultores/lavradores/rurais/rurícolas e do lar/dona de casa, demonstrando a pluralidade étnica da região. Em relação aos hábitos e estilo de vida, grande parte não relatou uso de tabaco e álcool, da mesma forma, não apresentam o hábito de praticar atividade física. Sobre as medições da glicemia capilar e pressão arterial, apresentaram valores próximos aos considerados normais. Grande parte da população relatou não fazer de medicamentos e de ervas para fins medicinais.

Esses resultados apontam para a necessidade de direcionar os planos de atuação do projeto para atender as necessidades dessa população, sejam elas relacionadas à saúde ou não. Em especial, os hábitos de vida saudáveis precisam ser enfatizados e estimulados,

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especialmente entre aqueles que se encontram em situação de risco: quadro precursor da hipertensão arterial, obesidade, diabetes mellitus, tabagismo e alcoolismo.

Para aperfeiçoar os dados, sugere-se a inclusão de informações para avaliação, tais como o sexo, tipo de bebida alcoólica, sua frequência e dosagem; avaliação nutricional; modalidade da prática de atividade física e sua frequência; classe medicamentosa e avaliação do uso contínuo do medicamento.

No que se refere aos desafios do projeto extensionista como um todo, cabe superar eventuais resquícios de uma perspectiva meramente assistencialista e/ou propagandística, aperfeiçoando as técnicas de observação e controle da população atendida, valorizando cada vez mais a produção científica de professores e acadêmicos envolvidos, buscando parcerias com os agentes públicos e outras iniciativas particulares que também atuam na região e avaliando constantemente as ações realizadas.

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VEIGA-JÚNIOR, V. F.; PINTO, A. C.; MACIEL, M. A. M. Plantas medicinais: cura segura? Quim. Nova, v. 28, n. 3, p. 519-528, mai./jun. 2005. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-40422005000300026>. Acesso em: 12 fev. 2015.

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Resenha do livro “O jogo da cultura e a cultura do jogo: por uma semiótica da corporeidade”

Sara Noêmia Cavalcanti CORREIA1

Resumo: Esta resenha apresenta a obra “O jogo da cultura e a cultura do jogo: por uma semiótica da corporeidade”, de Pierre Normando Gomes da Silva, com o objetivo de explicar um novo modo de entender o Movimento Humano (MH), considerando-o como linguagem que se expressa na existência dos indivíduos por meio da cultura do jogo. Os gestos, presentes nos jogadores ao brincar, são entendidos aqui como objeto de pesquisa. Esse entendimento se resultou da construção de uma teoria que vem sendo estudada desde 2003, chamada Pedagogia da Corporeidade. Nessa obra, foi possível reconhecer a Pedagogia da Corporeidade por meio de três tipos de manifestações socioculturais: em um sonho, em um poema e em seis exercícios motores – todos analisados por tipos distintos de semiótica: a francesa e a americana.

Palavras-chave: Jogo. Cultura. Linguagem. Semiótica.

1 Sara Noêmia Cavalcanti Correia. Mestranda em Educação Física pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB). Graduada em Educação Física pela mesma instituição. E-mail: <[email protected]>.

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The book review “The game culture and the culture game: to a semiotics of corporeality”

Sara Noêmia Cavalcanti CORREIA

Abstract: This paper has reviewed the piece of work “The game culture and the culture game : for a semiotics of corporeality” by Pierre Normando Gomes da Silva, in order to explain a new way of understanding the Human Movement (HM), considering it as a expressed language in the existence of individuals through the game culture. Gestures, presenting to the players when they play, are understood here as a research object. This understanding resulted from a theory construction that has been studied since 2003, called Pedagogy of Embodiment. In this work, it was possible to recognize the Pedagogy of Embodiment through three types of socio-cultural manifestations: in a dream, in a poem and in six motor skill exercises all of them analyzed from different types of semiotics: the french and the American.

Keywords: Game. Culture. Language. Semiotics.

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Gomes-da-Silva (2011), profissional no cenário da Educação Física brasileira, desenvolve uma teoria que aborda, de forma distinta, o Movimento Humano (MH) quando considera a configuração gestual dos indivíduos, dentro do espaço de jogo, um diálogo contínuo entre a manifestação da vida do jogador e o contexto sociocultural existente no ambiente lúdico.

Assumindo como base epistemológica o livro O jogo da cultura e a cultura do jogo: por uma semiótica da corporeidade, construído desde 2003, foi possível visualizar, por meio de uma análise multirreferencial do MH, envolvendo teorias da fenomenologia existencial, semiótica, psicanálise, antropologia, bioenergética, entre outras, a manifestação dos gestos dos jogadores em algumas situações da experiência humana.

Sendo o gesto a operação expressiva do corpo aplicada a espaços e objetos, uma questão alicerça esse livro: entender as configurações do gesto, a partir de uma multirreferencialidade de abordagens teóricas, transcendendo o entendimento do mover-se à simples motilidade das ações e inações, mas abarcando um modo sensível e holístico de entender o MH, congregando em si distintas

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circunstâncias contextuais de existência do indivíduo, e de suas relações interconectivas com todo o entorno cultural de vivência experimentado pelo sujeito.

Por meio de análises semióticas que o ajudam a decifrar os gestos manifestados no jogo, o autor observa três vivências: o sonho, o poema e seis jogos motores, abordando o MH como configuração do ser no mundo, com especial atenção à cultura do jogo.

Para obter essa compreensão ampla do MH, assumiu-se a abordagem fenomenológica heideggeriana, por conseguir captar o humano na sua corporeidade, unindo o que ele possui de sensível e inteligível como forma reflexiva de a consciência atribuir significado ao mundo.

Há três partes na obra. A primeira, composta de três capítulos, fornece-nos bases teórico-metodológicas para o estudo da corporeidade no jogo, assumindo uma fundamentação plural, abarcando os sentidos sociopolítico, energético e multirreferencial.

A segunda parte delineia essas bases, analisando a cultura como um jogo estrutural. Tomando as ações dos sujeitos nas narrativas onírica e poética, conclui, após exaustiva análise semiótica, que a cultura configura o sujeito social, em pelo menos duas modelizações: Corporeidade do Atiramento e Corporeidade Poetante.

A terceira parte expõe o MH, a partir da semiótica de Peirce e sua relação triádica, com o intuito de elucidar o processo de semiose dos gestos, configurados pela corporeidade, na cultura do jogo.

Vamos mergulhar agora na primeira parte desta obra, na qual o autor nos indica que o MH é entendido a partir da relação entre a motricidade, que está intimamente relacionado à corporeidade e à linguagem, sendo portador de cargas afetivas, originárias das experiências vividas, em constante modulação, que implica a imbricação da motricidade com a corporeidade, instâncias invisíveis que dão ao MH significação.

A motricidade explicada aqui constitui-se em ânimo, alma, intenção, potência, energia de pulsação da existência, capacidade de pôr sentido ao movimento, à forma como o sujeito expressa

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suas ações. E a corporeidade constitui-se como corpo-existência, a pessoa em seu todo, integrada e indivisível nas relações sociais, histórico-políticas, culturais e naturais. A corporeidade manifesta-se no cotidiano, visto ser aí o lugar de estar no mundo, de existência e coexistência, como base na reprodução da vida, em que se dão as trocas energéticas, simbólicas e os vínculos sociais.

A corporeidade forma uma zona interativa e integrativa entre o espaço corporal e o espaço exterior, no qual a potência da motricidade se perfaz e se comunica. É construída pela composição sucessiva de gestos, realizada na comunicação entre o eu e o mundo, em que os movimentos admitem uma intenção de dialogar com os gestos dos outros, assumindo uma tendência geral de agir em situações motoras. É, também, a espacialidade de realização para os gestos adquirirem sentido. Na relação afetiva entre corpo e mundo, ela se situa, promovendo ao atuante a habilidade de desenhar hábitos tipicamente predominantes, disseminadores e incorporadores de conscientizações. Ambas, sendo ações imanentes, entrelaçadas, se referem ao modo de o homem ser no mundo e com o mundo.

Dessa forma, o autor preocupa-se com uma investigação minuciosa sobre o sentido do movimento humano, para aquele que se movimenta, delineando, assim, uma questão central de pesquisa: quais são as configurações dessa corporeidade no mundo vivido. Correlacionando a corporeidade ao fluxo dos gestos do sujeito, delineia-se a hipótese de que essa tendência geral dos gestos exprime o modo de existir do ser-homem no mundo com os outros.

Para Gomes-da-Silva (2011), cultura é um jogo estrutural e simbólico, constituído pela interação de textos narrativos, comunicativos e artísticos, que organizam os valores e as significações, conduzindo as ações sociais a manifestarem-se sob uma lógica que as orienta. E como seria impossível analisar todas as ações sociais, o jogo foi escolhido por ser uma modalidade de ação constante nos comportamentos culturais e por constituir uma maneira excepcional, por ser lúdica a organização de trocas entre seus brincantes, possibilitando uma construção cultural distinta e plural.

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Os paradigmas que nortearam essa abordagem foram o ético e o estético, por constituírem-se, respectivamente, em preocupações com o encontro da autenticidade (que o autor chama de ecologia social e mental), os quais ofertam aos indivíduos possibilidades infindas de recompor sua corporeidade existencial, e de mudar seus hábitos; e o estético, por ser atento às subjetividades e às possibilidades de novas criações e reconfigurações estruturais de si mesmo.

O processo metodológico da pesquisa objetiva captar nas vivências poética, onírica e motora, dentro do entorno corporal, as potencialidades motrizes e as emoções, configurando um inventário do visível, por meio do fluxo dos gestos, para colher o invisível: as configurações da corporeidade, o modo de agir no mundo.

Abordar o movimento humano, destacando-o como linguagem sígnica, carregada de sentido e intenções, configurada pelos gestos vividos no jogo da cultura e na cultura do jogo, na qual convergem em uma análise fenomênica do movimento humano foi tema da tríade de movimentos usados durante o livro, exemplificados por meio de três jogos: o sonho pessoal do autor; o poema de Augusto dos Anjos (Apóstrofe à carne); e os exercícios motores, analisados sob a perspectiva de duas teorias da semiótica: a de R. Barthes, com a análise estrutural das narrativas, e a do S. C. Pierce, com a gramática especulativa.

Em Barthes, tem-se a busca pelo jogo dos códigos, como cerne de análise. Em Pierce, tem-se a semiose, para valorar e entender a natureza, a ação dos signos nos gestos, encerrando, assim, a primeira parte da obra.

Na segunda parte do livro, a configuração dos tipos de corporeidade é melhor explicada por meio da análise minuciosa de duas manifestações sociais: o sonho e o poema. A corporeidade do Atiramento, analisada no sonho, é representada por uma conduta motriz de fuga da consciência, e expressão de movimentações sempre em busca de algo, desvinculada de suas verdadeiras intenções, dispostas por um volume grande de tarefas, mas que o sujeito, além de não conseguir alcançá-las, não se realiza nelas. A corporeidade Poetante, analisada a partir do poema Apóstrofe

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à Carne, de Augusto dos Anjos, é representada por uma conduta motriz que consegue reconstruir uma totalidade de ação perdida no plano da beleza e da criação de novas ações e no plano da restituição da força de potência.

Nessa obra, o jogo é entendido como um espaço de ser, através das ações e inações, que modela os sujeitos sociais tanto na estrutura de comportamento quanto em suas disposições íntimas ou subjetivas. Estudar a cultura do jogo é investigar a força e a beleza que existem no brincar, em que o ambiente de trocas e a constituição de relações, possuidores de resistências a imposições sociais dominantes, é eixo comum norteador e formador de novos hábitos e modos de existir no mundo.

Vale ressaltar a originalidade e inovação presentes nessas análises, com as quais foi possível compor duas partituras musicais, distintas e significativas, representativas de movimentos vividos no jogo onírico e no jogo poético, transpondo à linguagem musical por meio da sucessão rítmica os movimentos que se tornaram audíveis, que encerram a segunda parte dessa obra.

Na terceira parte, o autor questiona-se acerca da tendência dos gestos na cultura do jogo. Para poder explicar essa questão, o autor adentra os conceitos da semiótica Peirciana, expondo a natureza triádica do signo. O autor explica, ainda, que a compreensão da relação triádica, juntamente com os níveis de consciência, forma a base lógica da ciência dos signos, tendo sido dividida por Peirce em três ramos: a Gramática especulativa; a Lógica crítica; e a Retórica especulativa, presentes nessa obra como alicerces para, essencialmente, constituir meios de análises e codificação dos gestos motores.

Sendo assim, a tendência dos gestos, na cultura do jogo, forma a configuração de um texto de características artísticas, tais como: a marcação rítmica e a delimitação espacial; o caráter sociocultural dos jogos; a fluência gestual no transcorrer dos jogos; o entusiasmo das ações dos jogadores; o caráter volátil da ludicidade; a leveza criativa gestual; a veemência das ações sem comedimento energético; a comunicação empática entre os participantes; a avidez em realizar a ação; a sensação de expansão divina; a regeneração

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dos sentimentos; a rediagramação da codificação comunicativa; a construção da harmonia sobre o caos, entre outras.

Destarte, a linguagem do jogo é formada pelas possibilidades icônicas de expressividade e pelas propriedades indiciais da distribuição dos movimentos. É o campo da percepção e da reinvenção do real como possibilidade criadora, favorecendo a formação de novo significado para a existência humana.

Estudar a cultura do jogo é investigar a força do brincar que resiste à imposição do sistema social, com seus padrões de comportamento. O que implica considerar o brincante como sujeito ativo, que percebe, transforma e ressignifica o mundo e o que lhe é arbitrariamente imposto.

Portanto, essa obra possibilita para a área da Educação Física um olhar semiótico para com o Movimento Humano, analisando-o como produção sígnica e subjetiva, como linguagem constitutiva do jogador e da cultura em que se está imerso.

Tem como centro do movimento a comunicação, que abrange tanto o desempenho físico, quanto as intenções e desejos, presentes no ser que se movimenta, integrado com todo o seu entorno ecossocial. Figurando-se em cultura e transformando-se por ela, fornece àqueles que lidam com o MH um espaço de conhecimento e análise do MH, específico e complexo, ainda não muito desperto entre os profissionais de Educação Física.

Assim, a obra em questão destina-se a educadores, sociólogos, antropólogos, pedagogos, psicólogos, estudiosos da cultura, do lazer e da educação física, que se voltam para a compreensão do jogo como texto de cultura ou semiose.

Esta obra representa um referencial teórico e analítico a todo estudo que objetive compreender o papel do MH na configuração dos sujeitos que se movem e da cultura em que essas situações de movimento estão imprimidas. O modo de movimentar-se significa estar em sociedade, em contextos histórico-culturais, bem como em modos de existir, de constituir-se poeticamente, respondendo, de modo criativo, ao entorno.

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REFERÊNCIAS

GOMES-DA-SILVA, P. N. O jogo da cultura e a cultura do jogo: por uma semiótica da corporeidade. João Pessoa: Editora Universitária da UFPB, 2011.

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Política Editorial / Editorial Policy

A Revista Saúde é uma publicação impressa anual, veiculada pelo Claretiano – Centro Universitário, destinada à divulgação científica de pesquisas e projetos nas áreas de Fisioterapia, Nutrição, Enfermagem, Terapia Ocupacional, Educação Física e Psicologia.

Tem como objetivo principal publicar trabalhos que possam contribuir com o debate sobre temas no âmbito da saúde, estimulando o aprofundamento nas questões interdisciplinares.

A Revista Saúde destina-se à publicação de trabalhos inéditos que apresentem resultados de pesquisas bibliográfica e de campo originais, sendo submetidas no formato de: artigos científicos, revisões da literatura, resenhas e relatos de caso ou experiência.

Serão considerados apenas os textos que não estejam sendo submetidos a outra publicação.

As línguas aceitas para publicação são o português, o inglês e o espanhol.

Análise dos trabalhos

A análise dos trabalhos é realizada da seguinte forma:a) Inicialmente os editores avaliam o texto que poderá ser

desqualificado se não estiver de acordo com as normas da ABNT, apresentar problemas na formatação ou tiver redação inadequada (problemas de coesão e coerência).

b) Em uma segunda etapa, os textos selecionados serão enviados a dois membros do conselho editorial que avaliarão as suas qualidades de escrita e conteúdo. Dois pareceres negativos desqualificam o trabalho e, havendo discordância, o parecer de um terceiro membro é solicitado.

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c) Conflito de interesse: no caso da identificação de conflito de interesse da parte dos revisores, o editor encaminhará o manuscrito a outro revisor ad hoc.

d) O autor será comunicado do recebimento do seu trabalho no prazo de até oito dias; e da avaliação do seu trabalho em até 90 dias.

e) O ato de envio de um original para a Revista Saúde implica, automaticamente, na seção dos direitos autorais a ele referentes, devendo a revista ser consultada em caso de republicação. A responsabilidade pelo conteúdo veiculado pelos textos é inteiramente dos autores, isentando-se a Instituição de responder legalmente por qualquer problema a eles vinculado. Ademais, a Revista não se responsabilizará por textos já publicados em outros periódicos. A publicação de artigos não é remunerada.

f) Cabe ao autor conseguir as devidas autorizações de uso de imagens/fotografias com direito autoral protegido, devendo estas ser encaminhadas, quando necessário, junto com o trabalho para a avaliação. Também é do autor a responsabilidade jurídica sobre uso indevido de imagens/fotografias.

g) Pesquisas envolvendo seres vivos: o trabalho deve ser aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Instituição onde o trabalho foi realizado e cumprir os princípios éticos contidos na resolução do CNS 466/12. Na parte “Metodologia”, é preciso constituir o último parágrafo com clara afirmação deste cumprimento.

Publicação

A Revista Saúde aceitará trabalhos para publicação nas seguintes categorias:

1) Artigo científico de professores, pesquisadores ou estudantes: mínimo de 8 e máximo de 15 páginas.

2) Revisão da literatura sobre temas relevantes à área; mínimo de 5 e máximo de 15 páginas.

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3) Resenhas: devem conter todos os dados da obra (editora, ano de publicação, cidade etc.) e estar acompanhadas de imagem da capa da obra; mínimo de 5 e máximo de 8 páginas.

4) Relatos de caso ou experiência: devem conter uma abordagem crítica do evento relatado; mínimo de 5 e máximo de 8 páginas.

Submissão de trabalhos

1) Os trabalhos deverão ser enviados:a) Em dois arquivos, via e-mail, (attachment), em formato

“doc” (Word for Windows). Em um dos arquivos, na primeira página do trabalho, deverá constar apenas o título, sem os nomes dos autores. O segundo arquivo deverá seguir o padrão descrito no ítem 2, incluindo os nomes dos autores.

b) Em caráter de revisão profissional.c) No máximo com 8 autores.d) Com Termo de Responsabilidade devidamente

assinado, escaneado de forma legível e enviado para o e-mail [email protected].

2) O trabalho deve incluir:a) a) A expressão “TÍTULO” seguida do título em língua

portuguesa, em Times New Roman, corpo 12, negrito.b) A expressão “TITLE” seguida do título em língua

inglesa, em Times New Roman, corpo 12, normal.c) A expressão “AUTORIA” seguida do(s) nome(s)

do(s) autor(es) e dos dados de sua(s) procedência(s) – filiação institucional, última titulação, e-mail, telefones para contato. Obs.: os telefones não serão disponibilizados ao público.

d) A expressão “RESUMO” seguida do respectivo resumo em língua portuguesa (entre 100 e 150

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palavras). Sugere-se que no resumo de artigos de pesquisa, seja especificada a orientação metodológica.

e) A expressão “ABSTRACT” seguida do respectivo resumo em língua inglesa (entre 100 e 150 palavras).

f) A expressão “PALAVRAS-CHAVE” seguida de 3 até 5 palavras-chave em língua portuguesa, no singular.

g) A expressão “KEYWORDS”: seguida de 3 até 5 palavras-chave, em língua inglesa, no singular.

h) O texto do trabalho.i) Os vídeos, as fotos ou áudios são opcionais. Todo o

material de mídia digital deve ser testado antes do envio e não ultrapassar 5 minutos de exibição.

Formatação do trabalho

1) Em Times New Roman, corpo 12, entre linhas 1,5 e sem sinalização de início de parágrafo.

2) Para citações longas, usar corpo 10, entre linhas simples, recuo duplo, espaço antes e depois do texto. Citações curtas, até 3 linhas, devem ser colocadas no interior do texto e entre aspas, no mesmo tamanho de fonte do texto (12).

3) Tabelas, quadros, gráficos, ilustrações, fotos e anexos devem vir no interior do texto com respectivas legendas. Para anexos com textos já publicados, deve-se incluir referência bibliográfica.

4) As referências no corpo do texto devem ser apresentadas entre parênteses, com nome do autor em letra maiúscula, seguida de vírgula, seguida de espaço, da expressão “p.”, espaço e o respectivo número da(s) página(s), quando for o caso. Ex.: (FERNANDES, 1994, p. 74). A norma utilizada para a padronização das referências é a da ABNT em vigência.

5) As seções do texto devem ser numeradas, a começar de 1 (na introdução) e ser digitadas em letra maiúscula;

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subtítulos devem ser numerados e digitados com inicial maiúscula.

6) As notas de rodapé devem estar numeradas e destinam-se a explicações complementares, não devendo ser utilizadas para referências bibliográficas.

7) As referências bibliográficas devem vir em ordem alfabética no final do artigo, conforme a ABNT.

8) As expressões estrangeiras devem vir em itálico.

Modelos de Referências Bibliográficas – Padrão ABNT

Livro no todo

PONTES, Benedito Rodrigues. Planejamento, recrutamento e seleção de pessoal. 4. ed. São Paulo: LTr, 2005.

Capítulos de Livros

BUCII, Eugênio; KEHL, Maria Rita. Videologias: ensaios sobre televisão. In: KEHL, Maria Rita. O espetáculo como meio de subjetivação. São Paulo: Boitempo, 2004. cap. 1, p. 42-62.

Livro em meio eletrônico

ASSIS, Joaquim Maria Machado de. A mão e a luva. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1994. Disponível em: <http://machado.mec.gov.br/imagens/stories/pdf/romance/marm02.pdf>. Acesso em: 12 jan. 2011.

Periódico no todo

GESTÃO EMPRESARIAL: Revista Científica do Curso de Administração da Unisul. Tubarão: Unisul, 2002.

Artigos em periódicos

SCHUELTER, Cibele Cristiane. Trabalho voluntário e extensão universitária. Episteme, Tubarão, v. 9, n. 26/27, p. 217-236, mar./out. 2002.

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Artigos de periódico em meio eletrônico

PIZZORNO, Ana Cláudia Philippi et al. Metodologia utilizada pela biblioteca universitária da UNISUL para registro de dados bibliográficos, utilizando o formato MARC 21. Revista ACB, Florianópolis, v. 12, n. 1, p. 143-158, jan./ jun. 2007. Disponível em: <http://www.acbsc.org.br/revista/ojs/viewarticle. php?id=209&layout=abstract>. Acesso em: 14 dez. 2007.

Artigos de publicação relativos a eventos

PASCHOALE, C. Alice no país da geologia e o que ela encontrou lá. In: CONGRESSO BRASILEIRO DE GEOLOGIA, 33. 1984. Rio de Janeiro. Anais... Rio de Janeiro, SBG, 1984. v. 11, p. 5242-5249.

Jornal

ALVES, Márcio Miranda. Venda da indústria cai pelo quarto mês. Diário Catarinense, Florianópolis, 7 dez. 2005. Economia, p. 13-14.

Site

XAVIER, Anderson. Depressão: será que eu tenho? Disponível em: <http:// www.psicologiaaplicada.com.br/depressao-tristeza-desanimo.htm>. Acesso em: 25 nov. 2007.

Verbete

TURQUESA. In: GRANDE enciclopédia barsa. São Paulo: Barsa Planeta Internacional, 2005. p. 215.

Evento

CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA MECÂNICA, 14, 1997, Bauru. Anais... Bauru: UNESP, 1997.