revista san - 5cnsan

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Encontros Temáticos em quatro regiões Comida de verdade é in natura, é minimamente processada Um guia do comer bem Ministra Tereza Campello fala sobre a saída do Brasil do Mapa da Fome Betinho, a esperança equilibrista SAN Revista Segurança Alimentar e Nutricional 1ª Edição – 3 a 6 de novembro de 2015

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RevistA SAN - 5ª Conferência Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional

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  • Encontros Temticos em quatro regies

    Comida de verdade in natura, minimamente processada

    Um guia do comer bem

    Ministra Tereza Campellofala sobre a sada do

    Brasil do Mapa da Fome

    Betinho, a esperana equilibrista

    SANRevistaSegurana Alimentar e Nutricional

    1 Edio 3 a 6 de novembro de 2015

  • Sumrio5 Apresentao

    6 Narrativas do Brasil

    8 Quatro encontros

    10 Imagens dos encontros

    12 Entrevista: Brasil tem trajetria vitoriosa

    15 Notoriedade Internacional

    16 Enquete: O que comida de verdade?

    18 Uma guia para a comida de verdade

    20 Vamos jogar?

    21 Perfil:VandanaShiva

    24 Entrevista: Brasil sem fome

    25 Razes do Brasil

    26 Artigo: O ato de comer

    Expediente Revista SAN uma publicao direcionada ao pblico da 5 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional.

    Redao e edioAssessoria de Comunicao ConseaCoordenadoraMichelle Andrade

    JornalistasBeatriz EvaristoCarlos Eduardo FonsecaMarcelo TorresPatricia Sousa

    Colaborao Ascom/MDSAscom/CaisanCGFome/MRE

    Fotografiacapa Carlos Eduardo Fonseca

    Diagramao Miguel Cunha

    ConseaPalcio do Planalto, Anexo I, sala C2Praa dos Trs PoderesCEP: 70.150-900 Braslia-DFTelefones: (61) 3411.2747/2746Site: http://www.planalto.gov.br/conseaE-mail: [email protected]

    Tiragem: 2.500 exemplares

  • 5 Conferncia Nacional de

    Segurana Alimentare Nutricional

    /segurancaalimentar/segurancaalimentar

  • APRESENTAOO que comida de verdade para os

    brasileiros e as brasileiras? O que (e por que) estamos ou no estamos comendo? Ser que estamos nos alimentando bem? Ser que estamos preservando nossos hbitos e costumes alimentares? Como esto os ndices de desnutrio, sobrepe-so e obesidade no Brasil? Estas e outras questes estaro presentes nos debates da 5 Conferncia Nacional e Segurana Alimentar e Nutricional, que ser realiza-da de 3 a 6 de novembro, em Braslia.

    Depois de realizadas as etapas muni-cipais, seguidas por regionais ou territo-riais e de passar pelas 26 estaduais e a do Distrito Federal, agora chegou a vez da Conferncia Nacional, o grande en-contro, que vai reunir uma ampla diver-sidade, juntar as contribuies de todo o pas, tudo num evento que simboliza e ao mesmo tempo celebra a pluralidade e a democracia participativa.

    A 5 Conferncia Nacional ser realiza-da num contexto que apresenta avanos, conquistas, desafios e ameaas de retro-cesso. Se, por um lado, o Brasil melhorou significativamente os ndices de seguran-a alimentar e nutricional, o que redun-dou na sada do pas do Mapa da Fome (segundo anunciou a FAO em 2014), por outro lado nos preocupam o avano dos agrotxicos, dos transgnicos e dos ndi-ces de sobrepeso e obesidade. H que se lembrar, sempre, da situao de grupos sociais vulnerveis, entre eles os negros, quilombolas, indgenas e povos e comu-nidades tradicionais.

    Neste ano, participei dos quatro en-contros temticos preparatrios e de um bom nmero de conferncias estaduais, e delas trouxe as marcas do entusiasmo e da esperana renovada, o que me leva a acreditar no pleno xito da etapa na-cional.

    Sejam todos(as) bem-vindos(as) 5 Conferncia Nacional e Segurana Ali-mentar e Nutricional.

    Maria Emlia Pacheco Presidenta do Consea

    Foto: Divulgao/Consea

  • Primeiro, foram as vozes nos municpios, onde tudo co-mea. Estas se juntaram a outras e ecoaram por entre os territrios e regies. E estes se encontraram nas etapas estaduais e fizeram os ltimos ajustes nas propostas. Hou-ve ainda quatro encontros temticos relacionando Segu-rana Alimentar e Nutricional com Amaznia, gua, Mu-lheres e Povos e Comunidades Tradicionais at as ideias e propostas serem juntadas para o grande caldeiro do encontro nacional, que ocorre agora em novembro.

    A riqueza dos relatrios [recebidos das conferncias es-taduais] enorme e tem uma incrvel diversidade, que a maior fortuna do territrio e do povo brasileiro, ava-lia a equipe que elaborou o Caderno de Debates da 5 Conferncia Nacional, formada por Marlia Leo, Luciana Chermont Kaminski e Mariana Gomes. Diversidade si-nnimo de pluralidade, multiplicidade, diferentesngulos de visoou deabordagem, heterogeneidade e variedade, diz o documento.

    As vozes das conferncias que chegam a Braslia trazem narrativas que concebem a comida de verdade como fru-to de hbitos alimentares saudveis, que respeitam tra-dies e que falam histrias da gente e da terra. Como disse a presidenta do Conselho Nacional de Segurana Ali-mentar e Nutricional (Consea), Maria Emlia Pacheco, em algumas etapas estaduais: Comida patrimnio, comida no mercadoria. Segundo ela, a comida possui valor e simbologia que vo alm do seu aspecto fsico e material. Falar de comida falar de afeto, falar de memria, falar de partilha.

    As propostas das conferncias estaduais e encontros te-mticos esto reunidas e sistematizadas numa publicao chamada Caderno de Debates, que os participantes usa-ro nas discusses nos grupos de trabalho. Nesses gru-pos, sero discutidas questes como: o que comida de verdade; quais foram os avanos; quais so os obstculos; quem produz e onde/como se produz o alimento de ver-dade.

    As vozes que chegaram dos estados e dos encontros te-mticos tambm revelam a luta pelos direitos territoriais e livre uso da biodiversidade, a democratizao do acesso terra e gua, o acesso aos mercados locais e aos meios de produo, as sementes e aos recursos naturais, o for-talecimento da produo, distribuio e do consumo local dos alimentos.

    O documento reafirma que a Conferncia Nacional o r-go mximo do Sistema Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Sisan). Ela deve olhar para frente e apresen-tar novas propostas. Mas, para enxergar o futuro, pre-ciso olhar tambm para o presente e o passado. Este o momento maior do dilogo social para o aprimoramento da Poltica e do Plano Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional.

    O Caderno de Debates registra: necessrio lutar pela manuteno das conquistas, barrar o retrocesso, resistir s crises e ameaas e acreditar que as propostas que se-ro pactuadas na 5 Conferncia serviro ao fortalecimen-to da nossa democracia e das conexes entre o campo e a

    Narrativas

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  • do Brasil

    cidade, em defesa da comida de verdade no campo e na cidade, por direitos humanos e soberania alimentar.

    A publicao tambm destaca os princpios lembrados nas conferncias estaduais e nos encontros temticos. Um deles diz que comida de verdade vem de sistemas ali-mentares socialmente e ambientalmente sustentveis. E que as prticas tradicionais de produo agrcola familiar, camponesa, de povos e comunidades tradicionais e siste-mas agroecolgicos produzem comida de verdade para o campo e para a cidade. Registram que o ato de produzir, de escolher, de cozinhar e de compartilhar alimentos de verdade um ato poltico.

    As narrativas sadas das conferncias estaduais e encon-tros temticos falam que a fome a violao de um di-reito humano. Que as polticas pblicas devem priorizar os mais vulnerveis, como os povos indgenas, povos e comunidades tradicionais e populaes urbanas em si-tuao de misria, segmentos da populao negra e as famlias cuja pessoa de referncia mulher.

    Que a pobreza e fome andam juntas, possuem causas mltiplas e requerem polticas pblicas articuladas en-tre diferentes setores. Que a produo agrcola familiar e camponesa tem papel central na produo da comida de verdade consumida pelo povo brasileiro. Que os agricul-tores familiares camponeses e os povos e comunidades tradicionais so os sujeitos de direito para as polticas de fortalecimento da produo familiar e agroecolgia. Que a agrobiodiversidade um bem comum da natureza e do povo brasileiro.

    As vozes que chegam ao grande encontro nacional sinali-zam que uma poltica nacional de abastecimento alimen-tar fundamental para a efetividade do Sisan, o Sistema Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional, uma de-manda que j vem das quatro conferncias anteriores. Comida de verdade, dizem as vozes do Brasil, deve ter preo justo e ser acessvel a todos.

    Lembram que o acesso terra, ao territrio e ao livre uso da biodiversidade condio bsica para a realizao do direito humano alimentao adequada de grupos so-ciais rurais, povos indgenas e povos e comunidades tradi-cionais. Que a soberania alimentar dos povos indgenas e das comunidades tradicionais rurais depende da demar-cao e da regularizao de suas terras e territrios.

    Outro aspecto muito importante que os participantes dos eventos preparatrios enfatizaram que a alimentao adequada e saudvel mais do que a mera ingesto de nutrientes, que ela vem principalmente de alimentos in natura e de sistemas socialmente e ambientalmente sus-tentveis e que est associada a outros fatores. Por isso, o acesso a diferentes saberes e sabores amplia a autono-mia das pessoas em suas escolhas alimentares. Foto: Divulgao/Consea

    Foto: Ubirajara Machado/MDS

    Foto: Ana Nascimento/MDS

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  • AmazniaA cidade de Belm (PA) recebeu o primeiro encontro te-mtico em junho de 2015. Indgenas, extrativistas, ribeiri-nhos, pescadores, populaes negras e quilombolas, agri-cultores familiares, pesquisadores, movimentos sociais, povos de terreiro e de matriz africana estiveram reunidos para falar sobre suas experincias e preocupaes com a preservao da regio amaznica. Sobre o tema Sobera-nia e Segurana Alimentar e Nutricional na Amaznia, o encontro se props a aprofundar a compreenso sobre as especificidades dos sistemas alimentares na Amaznia e discutir os avanos, desafios e caminhos para constru-o da soberania e da segurana alimentar e nutricional da populao urbana e dos povos da floresta e das guas. A carta poltica do encontro destaca que o modelo de desenvolvimento adotado pelo Brasil ameaa os sis-temas alimentares da Amaznia. Esses sistemas alimen-tares so hoje ameaados por um modelo de desenvol-vimento, adotado pelo Estado brasileiro, marcado pela expanso de monoculturas, pela concentrao de terras, pela implantao de grandes projetos de infraestrutura, pela construo de barragens, pelo desmatamento e ou-tras graves ofensas sociobiodiversidade, alm de amea-as aos direitos conquistados, revela.

    Comida de verdade, na Amaznia, entendida como patrimnio cultural e expresso de modos de vida tradicionais, onde tm grande relevncia os laos de soli-dariedade e reciprocidade nas comunidades, diz o docu-mento. oriunda de sistemas alimentares caracterizados por uma biodiversidade extremamente rica, representa-da pelo valioso conhecimento tradicional de seus povos sobre as plantas comestveis e medicinais, frutos, semen-tes, razes, fauna silvestre e aqutica e peixes, completa.

    Mulheres Realizado em Porto Alegre (RS), o encontro abordou a atuao das mulheres na soberania e segurana alimen-tar e nutricional. Mulheres do campo, da floresta e das guas apresentaram suas experincias na produo de alimentos e os desafios enfrentados para garantir a sade na mesa e a renda no campo. No h como avanar se no entendermos que as relaes sociais de gnero, a superao na subordina-o das mulheres e a sua emancipao esto associadas progressiva construo de soberania e segurana alimen-tar e nutricional, disse a presidenta do Conselho Nacio-nal de Segurana Alimentar e Nutricional (Consea), Maria Emlia Pacheco, durante a abertura do encontro temtico.

    Encontros Temticos em quatro regies

    Foto: Divulgao/Consea

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  • Encontros Temticos em quatro regies Amaznia, mulheres, gua e comunidades tradicionais foram os temas escolhidos para os debates dos encontros preparatrios realizados nos meses que antecederam a 5 Conferncia de Segurana Alimentar e Nutricional. Cerca de 600 representantes da sociedade civil e de governo de vrias regies do pas participaram das discusses e da formulao das cartas polticas com propostas e recomendaes para a atuao do poder pblico.

    A representatividade das mulheres na garantia ao direito humano alimentao adequada expressiva no pas. No Programa de Aquisio de Alimentos (PAA), a par-ticipao das mulheres cresceu. Em 2009, elas representa-vam 21% dos fornecedores. De acordo com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), o nmero de forne-cedoras subiu para 50% em 2014. Os dados mostram que, na regio Nordeste, a participao feminina no PAA de 60%. De acordo com o Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS), em 93% das 14 milhes de famlias que recebem a transferncia de renda, as mu-lheres so as responsveis pela retirada do dinheiro e administrao familiar. Entre as propostas que resultaram na carta polti-ca do encontro de mulheres, est o fortalecimento de po-lticas que contribuem para a eliminao da desigualdade de gnero, etnia e raa, incluindo processos educacionais e de formao que desnaturalizem a diviso sexual do tra-balho destinada exclusivamente s mulheres e construa novos paradigmas de responsabilidades compartilhadas entre homens e mulheres na esfera privada (cuidado e re-produo social) e na esfera pblica (participao social e poltica).

    guaO acesso da populao gua de qualidade norteou os debates do encontro temtico realizado em So Paulo (SP), em setembro. Acesso e direito a gua era agenda estratgica, mas agora universal, pois a carncia de gua tambm est chegando a grandes aglomerados e no Su-deste, disse a ministra do Desenvolvimento Social e Com-bate Fome, Tereza Campello. O encontro se props a aprofundar a compreen-so sobre a relao existente entre o direito humano gua e o direito humano alimentao adequada, consi-derando os avanos realizados na promoo do acesso gua, no contexto das polticas de promoo da seguran-a alimentar e nutricional, e os desafios e caminhos para a garantia do acesso pleno gua, entendida como alimen-to primeiro e fundamental.

    O territrio brasileiro contm cerca de 12% de toda a gua doce do planeta. Ao todo, so 200 mil mi-crobacias espalhadas em 12 regies hidrogrficas, como as bacias do So Francisco, do Paran e a Amaznica (a mais extensa do mundo e 60% dela localizada no Brasil). um enorme potencial hdrico, mas apesar da abun-

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  • dncia, os recursos hdricos brasileiros no so ines-gotveis e, alm disso, esto distribudos no territrio de forma desigual, diz a carta poltica do encontro. Para evitar o desperdcio de gua no sistema de irrigao tradicional usado pelo agronegcio, o documen-to sugere que sejam desenvolvidas polticas de uso ra-cional da gua para facilitar o aumento da produo da agricultura familiar e camponesa, como irrigao por as-perso ou por gotejamento e irrigao de salvao.

    Populaes negras, povos e comunidades tradicionais Em outubro, representantes de movimentos so-ciais e de governo estiveram reunidos em So Lus (MA) para debater os avanos e desafios na garantia do direito alimentao adequada e saudvel para populao negra e povos e comunidades tradicionais no pas. O Encontro Temtico Soberania e Segurana Alimentar e Nutricional para Populao Negra e Povos e Comunidades Tradicio-nais reuniu cerca de 180 participantes de todas as re-gies do pas. O encontro serviu para discutir tambm a sada do Brasil do Mapa da Fome. O encontro tambm colo-cou na pauta a criao de Plano de Segurana Alimentar e Nutricional pensado para a populao negra do campo e da cidade e para os povos e comunidades tradicionais e comunidades de matriz africana e povo de terreiro, disse o conselheiro Edgard Moura. A nova lei da biodiversidade, a demarcao de terras, as polticas pblicas de segurana alimentar e nu-tricional, as prticas alimentares tradicionais e o racismo institucional foram alguns dos temas abordados nos de-bates. De acordo com o documento final do encontro, preciso garantir a regularizao fundiria das terras tra-dicionais e de uso comunitrio, respeitando os modos de vida dos povos e comunidades tradicionais.

    A carta poltica reflete a preocupao dos mo-vimentos sociais com a soberania alimentar desses povos e prope que seja garantido o acesso s sementes tradicionais coletadas nos territrios de povos indgenas e conserva-das nos Bancos de Germoplasma da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria (Embra-pa), reafirmando seus direitos sobre as se-mentes como patrimnio cultural. Alm disso, efetivar faixas livres de transgnicos e agro-txicos nas proximidades dos quilombolas e adotar a metodologia participativa, do Projeto Nova Cartografia Social, para a identificao de territrios tradicionais.

    Imagens dos encontrosgua

    Amaznia

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  • Imagens dos encontrosPopulaes negras, povos e comunidades tradicionais

    gua

    Mulheres

    Foto: Divulgao/Consea Foto: Divulgao/Consea

    Foto: Divulgao/Consea

    Foto: Divulgao/Consea

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  • Foto: Ana Nascimento/MDS

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  • Brasil tem trajetria vitoriosa

    Ministra Tereza Campello fala sobre como o pas colocou a agenda de segurana alimentar

    no centro das polticas pblicas e saiu do Mapa Mundial da Fome

    Ministra,a5ConfernciaNacionaldeSeguranaAli-mentar e Nutricional ter como tema Comida de ver-dade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar. O que a senhora entende por comida de verdade? Quando penso em comida de verdade, penso na comida que a minha av fazia: arroz, feijo, couve-flor, verdura, berinjela. nisso que penso quando alimento a minha fi-lha: dar a ela a comida mais saudvel, que esse arrozi-nho, esse feijozinho, carne, coisa fresca, feita em casa. E todo brasileiro tem direito a isso tambm, principalmente as crianas. esse o debate que a conferncia far. O Brasil tem uma trajetria vitoriosa ao discutir seguran-a alimentar. Acho que a gente avanou muito quando construiu uma poltica de segurana alimentar que no se limitou somente a garantir que as famlias tivessem dinheiro para comprar comida. A gente tem um conceito de segurana alimentar e de soberania alimentar que um conceito mais amplo e que consiste em a populao ter acesso aos alimentos, ou seja, no s ter renda, mas ter alimentos disponveis nos locais de venda, ter alimen-tos produzidos de forma saudvel, alm de garantir que a gente desperdice o mnimo de comida possvel. A gente pegou todos os elementos e construiu uma polti-ca. Essa poltica est na Embrapa, na Conab, no Ministrio da Sade, nas polticas de nutrio, na merenda escolar, ela est no conjunto de polticas pblicas do governo fe-deral, dos Estados e dos municpios. Acho que essa confe-rncia vai dar um salto ainda maior para que a gente com-plete a nossa grade de poltica de segurana alimentar e nutricional.

    O Plano Plurianual de Investimentos para o perodo de 2016 a 2019, que o governo mandou ao Congresso, estabelece metas para ampliar a oferta e tambm o consumo de alimentos saudveis. Qual a estratgia do governo para isso?O Brasil acertou em colocar a agenda de segurana ali-mentar no centro das nossas preocupaes em 2003. Na-quela ocasio, a prioridade era acabar com a fome. J aumentamos muito a produo de alimentos no Bra-sil, esse alimento de verdade, arroz, feijo, fruta, verduras e legumes, porque ns fortalecemos muito a agricultura familiar, ao construir uma poltica de compras pblicas e ampliar o acesso a crdito e ao seguro. Neste momento, a agenda da segurana alimentar precisa enfrentar o desa-fio de combater a obesidade e o sobrepeso, um problema grave em pases desenvolvidos e que tambm prejudica a sade dos brasileiros.Uma pesquisa do Ministrio da Sade nas capitais brasilei-ras divulgada no ano passado apontou que 52,5% da po-pulao adulta est com excesso de peso; 17,9% dos adul-tos so obesos. O percentual de adultos que consomem frutas e hortalias em cinco ou mais dias da semana de apenas 36,5%. Uma outra pesquisa do IBGE, mais recente, mostra que quase um tero das crianas com menos de dois anos de idade j bebe refrigerante ou aqueles sucos artificiais, cheios de acar. E mais de 60% das crianas comem bolachas e bolos. Isso representa um consumo elevado de gordura tambm. O problema da segurana alimentar deixou de ser a desnutrio crnica e passa a ser enfrentar a obesidade e os problemas de sade decor-rentes dela. Em crianas e em adultos.

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  • Para que a gente possa proteger essas famlias, proteger essas crianas, a gente precisa ampliar a oferta de alimen-tos, mas tambm construir polticas que conscientizem a populao, por meio da educao alimentar. Precisamos de campanhas de informao para que a populao saiba que fritura faz mal, que aumenta o risco de problemas car-dacos, de entupimento das veias, de problemas circulat-rios. Tem muita criana hoje com diabetes, com presso alta, coisa que a gente no tinha no Brasil 15, 20, 30 anos atrs. Estamos propondo um amplo pacto que envolva os governos federal, estaduais e municipais, que envolva as escolas, o setor privado, os setores ligados comunicao para que a gente possa conscientizar a populao e me-lhorar a oferta de alimento protegendo principalmente as crianas. Esse pacto caminhar junto com a manuteno de aes de uma agenda construda ao longo dos ltimos anos.Sobreessaagenda,o relatrio OEstadodaAlimen-tao e Agricultura de 2015, divulgado em outubro pela Organizao das Naes Unidas para Alimentao e Agricultura (FAO), destaca programas sociais brasileiros comoexemplos.Citaespecificamenteo Programa de Aquisio de Alimen-tos, o PAA, o Bolsa Famlia e o Progra-ma Nacional de Alimentao Escolar (PNAE). Esse reconhecimento importante. A FAO j vinha apontando o Brasil como exemplo. Em 2014, o pas saiu do Mapa da Fome das Naes Unidas depois de reduzir em mais de 80% o percentual da populao em condio de subalimenta-o. Para a FAO, isso foi resultado de um conjunto de polticas pblicas que au-mentou a renda da parcela mais pobre da populao. E no foi s o Bolsa Famlia, que comple-menta a renda de quase 14 milhes de famlias no Brasil, foram os aumentos reais do salrio mnimo e do empre-go. Em 2014, a FAO tambm deu grande destaque para o programa de merenda escolar. Todos os dias, 43 milhes de crianas e jovens recebem alimentao nas escolas p-blicas. Isso equivale alimentar uma Argentina por dia. No relatrio deste ano, houve uma meno especfica ao Programa de Aquisio de Alimentos, o PAA. A FAO diz que o Brasil foi o primeiro pas a desenvolver uma estra-tgia de segurana alimentar que conecta a compra da produo dos agricultores familiares com a um programa institucional de compra de alimentos. Em 10 anos, o PAA comprou mais de 3 milhes de toneladas de alimentos de 200 mil famlias de agricultores. Isso significa que pude-mos oferecer alimentos de melhor qualidade na meren-da escolar, por exemplo, aumentando a renda dos agri-cultores familiares. Um estudo mostra que o rendimento dos agricultores mais pobres aumentou 88% acima da in-flao durante o primeiro mandato da presidenta Dilma Rousseff _ e sem contar os benefcios do Bolsa Famlia. OscortesnoOramento,decorrentesdoajustefiscal,esto prejudicando esses programas, ministra? Estamos passando por um momento importante, no s no Brasil, mas na economia mundial. E, de fato, o ajuste uma necessidade hoje no pas. Mas esse ajuste no pode prejudicar a populao mais pobre. O oramento para o Bolsa Famlia para o ano que vem est preservado. A me-renda escolar est preservada. Alguns programas, como o caso do PAA, tiveram uma reduo no oramento. Ao mesmo tempo, estamos construindo estratgicas para

    que a gente possa continuar comprando da agricultura familiar garantindo as compras pblicas. Antes, as cestas de alimentos que eram compradas pelo Ministrio do De-senvolvimento Social no eram compradas exclusivamen-te da agricultura familiar, agora ns estamos comprando, ou seja, no PAA, mas as compras de alimentos feitas pelo MDS agora so feitas pela agricultura familiar. Ou-tro exemplo: as compras do Ministrio da Defesa para os quartis esto tambm sendo feitas da agricultura fami-liar. Isto mais do que compensar a reduo que tivemos do oramento do PAA.

    A senhora diria que o problema da fome foi resolvido no Brasil? O Brasil saiu do Mapa da Fome das Naes Unidas quan-do conseguiu reduzir o percentual da populao passan-do fome a menos de 5%. Segundo a FAO, o Brasil tem 1,7% de sua populao em situao de subalimentao. Para um pas que tinha, h dez anos, 10% da populao nes-sa situao, isso parece pouco. O Brasil avanou muito,

    mas ainda h muito a fazer. No podemos descansar enquanto houver um brasilei-ro em situao de insegurana alimentar. Precisamos avanar e ampliar o acesso alimentao saudvel e avanar tambm no desenvolvimento de polticas especfi-cas para pblicos com caractersticas mui-to peculiares, como o caso dos indgenas.

    O Brasil vive uma recesso. A senhora avalia que isso pode representar um risco de retrocesso nos avanos sociais que o pas conquistou? importante saber que, nesses momentos de crise, os gastos sociais so ainda mais importantes, programas de proteo populao de baixa renda. O Bolsa Famlia um desses programas de proteo.

    O programa de cisternas outro desses programas de proteo. O PAA programa de proteo tambm. Ento, a nossa rede de proteo foi fortalecida para alm da aposentadoria, do Benefcio de Proteo Continuada. Nos momentos de crise, esses programas so mais ainda necessrios. em um momento de crise que a populao mais pobre e mais carente precisa do nosso apoio. nesse momento que o Bolsa Famlia tem de continuar. Garantindo no apenas proteo para os mais pobres, mas permitindo tambm que a economia funcione melhor.

    Para encerrar, qual a mensagem a senhora gostaria de deixar aos participantes da Conferncia?Acho que o Brasil tem muito a comemorar por ter optado por construir uma poltica de segurana alimentar e nu-tricional. Samos do Mapa da Fome e, hoje, a questo da alimentao saudvel est no centro da pauta da poltica pblica no Brasil todo. Estamos iniciando a construo do nosso Sistema, que o Sisan, o Sistema de Segurana Ali-mentar e Nutricional. Ele ainda um sistema muito novo, est na sua fase inicial. Ele s ser construdo se contar com o apoio, a colaborao e a participao de todo mun-do: os governos estaduais, municipais, federal, as enti-dades da sociedade civil. E s tem uma forma de a gente continuar avanando no Brasil: com transparncia e com controle social. Os nossos conselhos de segurana alimen-tar e nutricional, o Consea Federal, dos estados e dos mu-nicpios tm de continuar ativos e participantes para que a gente avance cada vez mais, no apenas superando a desigualdade, mas melhorando a qualidade da alimenta-o da populao.

    Samos do Mapa da Fome e, hoje,

    a questo da alimentao

    saudvel est no centro da pauta

    da poltica pblica no Brasil todo.

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  • Notoriedadeinternacional

    Representantes de governos, organismos in-ternacionais e movimentos sociais de todos os cantos do mundo participaro do Encontro Inter-nacional, que antecede a 5 Conferncia de Se-gurana Alimentar e Nutricional, nos dias 2 e 3 de novembro, em Braslia. So aguardados cerca de 150 participantes. O objetivo compartilhar a experincia brasileira no desenvolvimento de programas e polticas pblicas para garantir a se-gurana alimentar e nutricional no pas. De acordo com o ex-presidente e conselheiro do Conselho Nacional de Segurana Alimentar e Nu-tricional (Consea), Renato S. Maluf, as polticas de segurana alimentar e nutricional adotadas no Brasil ganharam bastante notoriedade inter-nacional, principalmente, com a difuso da estra-

    tgia Fome Zero, uma agenda presidencial inten-sa e muito envolvimento das redes de sociedade civil. O encontro ser uma oportunidade para deba-ter sobre a participao da sociedade civil em distintas instncias vcomo o Mecanismo da So-ciedade Civil do Comit de Segurana Alimentar das Naes Unidas (CSA), a Reunio Especializa-da da Agricultura Familiar (Reaf) do Mercosul e o Conselho de Segurana Alimentar da CPLP, entre outros. Ns do Consea temos compromisso com o for-talecimento da participao social em polticas de soberania e segurana alimentar e nutricional em todos os pases com os quais o Brasil coope-ra, explica o conselheiro Renato S. Maluf.

    Olhar sobre o ConseaA atuao do Consea tem sido objeto de interesse de vrios pases. Delegaes estrangeiras, em misso oficial no pas, tem visitado o conselho para conhecer de perto como funciona a participao social no conselho e os programas em segurana alimentar e nutricional e de agricultura familiar desenvolvidas no Brasil.

    Nos ltimos dois anos, o Consea recebeu as delegaes de El Salvador, Filipinas, Egito, Colmbia, Reino Unido, Zmbia, Etipia, Angola, ndia, Bangladesh, Bolvia, Timor Leste, Repblica Dominicana, Tunsia, Sudo e So Tom e Prncipe. Representantes da frica do Sul, Mxico, Indonsia e Canad tambm esti-veram em reunies plenrias do conselho como ouvintes.

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  • O que comida de verdade?

    GilMarcos(Sergipe),presidente da Comisso de

    Presidentes de Conseas EstaduaisTodo cidado tem direito a

    uma alimentao adequada, permanente e respeitando a sua determinada cultura. respeitar

    a necessidade individual que cada um tem e quando cada pessoa se

    sinta vontade para se alimentar. Cada regio do pas tem seu

    cardpio alimentar diferenciado, mas todo respeitando uma

    mxima da alimentao que nutrir a todos permanentemente.

    Comida de verdade tambm que o cidado tenha terra pra

    produzir seu alimento e vender o excedente. Isso que comida de

    verdade.

    Para DelsoOliveira(Sergipe),Comida de verdade no s quantidade. qualidade! No adianta me alimentar de milho, se esse milho vem contaminado de agrotxico, se transgnico, se no me d garantias da procedncia. E se o leite que tomo vem de uma vaca que ingeriu agrotxicos? Ento no s encher a barriga. No adianta me entupir de biscoitos de saquinhos... pois no sabemos nem direito o que vem no saquinho. O rtulo no informa direito. possvel hoje ver pessoas tomando refrigerante no caf da manh... isso enche a barriga, mas no alimenta. A nutrio de fato implica em considerar aspectos culturais e a qualidade do alimento.

    Ktia Mendona (Amap),presidente do Consea Estadual

    Para o norte, a comida que podemos comer sem nenhum tipo de agrotxico, com a garantia do direito humano

    alimentao adequada. a garantia de espao e da cultura amapaense, nortista, onde comida de verdade que todos comam e bebam com qualidade de vida para que a sade seja bem considerada. direito, garantia e proteo.

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  • Eduardo Amaral Borges (Acre), conselheiro do Consea Nacional aquela comida que representa o que a cultura do brasileiro, do povo indgena, do quilombola, do extrativista, do agricultor... aquela comida que sabemos sua origem, como produzida, que efetivamente tenha o papel de nutrir pessoas, famlias, livre de aditivos e ingredientes industriais, mais prxima do natural e diversificada. Enfim, a comida que produzida com gosto. Que produzida por pessoas que saibam para quem esto produzindo e saibam qual o bem que proporciona. Que consumida por pessoas que saibam quem a produz e o papel delas na sociedade.

    Comer. Rezar. Amar. Comida patrimnio cultural. acessrio de crenas e religies. pretexto para juntar famlia, amigos, parceiros. E muito mais, na viso de quem entende do assunto: os conselheiros do Consea Nacional ;)

    Oldia Lyra - me Torody (Rio de Janeiro) , conselheira do Consea NacionalPara ns, povos e comunidades tradicionais de matriz africana, o corpo o altar dos nossos deuses. Ento se a comida, a terra e a semente so saudveis, os nossos deuses vo manter a conexo, a ancestralidade e a vida no dia-a-dia.

    Werner Fuchs (Paran), conselheiro do Consea Nacional uma comida produzida com solidariedade. produzida em conjunto. Ela expressa solidariedade e a interdependncia entre as pessoas: rea rural depende da rea urbana e vice-versa. Essas so formas que constroem uma nao, uma forma de convvio e de dignidade humana. uma forma em que pessoas se sentem dignificadas, tm um alimento saudvel, de boa qualidade e produzido com esse sentimento de solidariedade.

    Edgard Moura (SoPaulo),

    conselheiro do Consea Nacional

    Comida de verdade todo alimento feito

    respeitando as culturas e as tradies. Respeitando o seu local, suas crenas.

    Posso dizer que a gua uma comida, alm

    de frutas, arroz, feijo, o po... aquilo que

    minha cultura e minha tradio reconhecem

    como alimento saudvel e nutritivo.

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  • Um guia para a

    comida de verdade

    Uma pesquisa realizada pelo Ministrio da Sade e divulgada em abril deste ano revelou nmeros preocupantes: 52,5% dos brasileiros adul-tos esto com sobrepeso e, destes, 17,9% j esto obesos. Os dados so da Pesquisa Vigilncia de Fatores de Risco e Proteo para Doen-as Crnicas por Inqurito Telefnico (Vigitel), aplicada em 2014, ouvin-do 41 mil pessoas nas 27 capitais brasileiras.

    Na sequncia histrica da mesma pesquisa, os ndices mostram n-meros crescentes. O sobrepeso em 2006 era 42,6%, subiu para 50,8% em 2013 e chegou a 52,5% em 2014. J a obesidade era de 11,8% em 2006, subiu para 17,5% em 2013 e passou a ser 17,9% no ano passado. Esses dados, inclusive, motivaram o Conselho Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Consea) a escolher como tema da 5 Confe-rncia Nacional a alimentao saudvel. Por isso o lema do encontro Comida de verdade no campo e na cidade, por direitos e soberania alimentar.

    De olho no problema que uma tendncia mundial o Ministrio da Sade atualizou e publicou no final do ano passado o Guia Alimentar Para a Populao Brasileira. A nova edio da publicao resultado de um amplo processo de construo, contando inclusive com uma consulta pblica que teve 3.125 contribuies, formuladas por 426 cidados e instituies.

    O Guia Alimentar, que dialoga diretamente com o lema da 5 Confe-rncia Nacional (Comida de Verdade no campo e na cidade, por direi-tos e soberania alimentar), traz contexto, informaes e recomenda-es sobre os alimentos. O Consea, inclusive, teve participao ativa no processo, com crticas, sugestes e observaes. As nutricionistas e professoras do Departamento de Nutrio da Universidade de Bra-slia (UnB), Anelise Rizzolo e Elisabetta Recine, que integram a Associa-o Brasileira de Sade Coletiva (Abrasco) e o Consea, participaram da construo da publicao.

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  • Do ponto de vista populacional tivemos mudanas pro-fundas na estrutura de renda e consumo e, por outro lado, a alimentao tem ocupado espaos importantes na mdia em geral com informaes, em grande parte das vezes, limitadas, simplistas e que expressam podero-sos conflitos de interesses, disse a conselheira Elisabetta Recine. Articular a dimenso individual com a coletiva, propor recomendaes que tambm articulem o espao do indivduo com os fatores de determinao social da alimentao e diferenciar-se de uma reportagem descar-tvel so vocaes de um Guia Alimentar, complementa.

    O Guia Alimentar o parmetro norteador das dire-trizes alimentares brasileiras, afirmou Anelise Rizzolo. Nele devem estar contempladas as mltiplas relaes e condies que envolvem as escolhas alimentares, visan-do propor alternativas saudveis, ticas, economicamen-te viveis e sustentveis para o sistema agroalimentar. fundamental que o Guia dialogue com problemticas ge-radoras de insegurana alimentar e nutricional, como o uso abusivo de agrotxicos e a regulao da propaganda de alimentos ultraprocessados, sinalizando o papel das polticas pblicas para seu enfrentamento.

    De acordo com a presidenta do Conselho Estadual de Segurana Alimentar e Nutricional do Piau (Consea-PI), Norma Sueli Alberto, o Guia Alimentar da Populao Brasileira se prope a orientar o consumo alimentar ade-quado e saudvel, individual e coletivo, considerando os aspectos nutricionais, sanitrios, culturais e de sustenta-bilidade ambiental e agro alimentar. Sua elaborao tem carter tcnico e cientfico e est embasada no histri-co dos perfis epidemiolgico, alimentar e nutricional da populao brasileira. Uma abordagem dessa amplitude traz significativos elementos para a promoo e a adeso de prticas alimentares saudveis, para a preveno de doenas e para a segurana alimentar e nutricional no pas.

    A publicao dividida em cinco captulos. O primeiro aborda os princpios que nortearam a elaborao do documento e que justificam o tratamento abrangente dado relao entre alimentao e sade, levando em conta nutrientes, alimentos, combinaes de alimentos, refeies e dimenses culturais e sociais das prticas alimentares. O segundo captulo apresenta recomen-daes gerais sobre a escolha de alimentos, propondo, por exemplo, que a base da nossa alimentao sejam os alimentos in natura ou minimamente processados, va-riados e com origem vegetal.

    No terceiro captulo so mostradas combinaes saudveis de alimentos em refeies. O quarto captu-lo aborda o ato de comer e suas circunstncias, como o tempo, o espao e at mesmo a companhia. J o quinto e ltimo captulo examina fatores que podem ser obs-tculos para a adeso das pessoas s recomendaes: informao, oferta, custo, habilidades culinrias, tempo e publicidade. Por fim, as recomendaes so sintetizadas no quadro Dez Passos para uma Alimentao Adequada e Saudvel.

    Guia Alimentar para a Populao Brasileira Publicao do Ministrio da Sade Onde encontrar: www.saude.com.br/bvs

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    5 Conferncia Nacional de

    Segurana Alimentare Nutricional

    Vamos jogar?O Consea Nacional lanou em outubro o jogoComida de verdade, um pequeno Quiz sobre

    alimentao balanceada e responsvel

    Disponvel no endereo www.consea.com.br/jogo, o jogo des-tinado a adolescentes e adultos. A inteno que, com a prtica no jogo, se aumente a conscincia de quais alimentos so benficos sade e quais elementos da alimen-tao so primordiais.

    O jogo foi criado no formato de Quiz, ou seja, perguntas e respos-tas, e funciona de forma bastante visual. O leiaute do jogo Comida de verdade contou com a colaborao da Cmara Interministerial de Segu-rana Alimentar e Nutricional (Cai-san). J o som e os efeitos sonoros do jogo foram criados e produzidos pelos msicos brasilienses Fernan-do Jatob e Esdras Nogueira, da banda Mveis Coloniais de Acaju.

    Para o secretrio executivo do Consea, Marcelo Gonalves, esta-

    mos oferecendo um jogo divertido para a populao, mas de um as-sunto bastante srio. Alimentao sade, patrimnio cultural, estilo de vida. Enquanto nosso jogo fala de comida de verdade, h jogos famosos que tratam de guloseimas, o que estimula, de forma sutil, o p-blico a adotar hbitos alimentares no saudveis. Estamos comean-do a entender esse tipo de comu-nicao.

    A ideia de criar o jogo surgiu na equipe de comunicao do Consea. O trabalho levou cerca de trs me-ses para ser concludo, incluindo 600 imagens de alimentos diver-sos, selecionadas especialmente pela equipe com o auxlio de uma nutricionista. Foi programado em HTML5, o que permite que o Comi-da de Verdade seja jogado em com-

    putadores, tablets e smartphones. O jogo de cdigo livre, ou seja, com licenciamento aberto para que qualquer pessoa, do governo ou da sociedade civil, possa criar seu pr-prio jogo a partir deste disponvel, desde que citada sua origem.

    De acordo com Michelle Andra-de, coordenadora de comunicao do Consea Nacional, quisemos oferecer produtos de comunica-o que vo alm do lugar-comum. Nossa inteno, afinal, produzir decises de consumo adequadas, saudveis e responsveis. Acredi-tamos que com o jogo, conseguire-mos atingir o pblico mais jovem, to vulnervel diante de estratgias de comunicao da indstria de ali-mentos ultraprocessados.

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  • A luta pela preservao da biodiversidade e pela defe-sa da soberania sobre as sementes e os alimentos a marca do ativismo da indiana Vandana Shiva. Formada em Fsica e doutora em Teoria Quntica, ela iniciou pes-quisas interdisciplinares em cincia, tecnologia e poltica ambiental, realizadas no Instituto Indiano de Cincia e no Instituto Indiano de Administrao em Bangalore, n-dia. Em 1982 Vandana Shiva fundou um instituto - a Fun-dao de Pesquisa para a Cincia, Tecnologia e Ecologia em Dehra Dun - dedicado pesquisa independente e de alta qualidade para resolver as questes ecolgicas e so-ciais mais significativas do nosso tempo, trabalhando em estreita parceria com as comunidades locais e movimen-tos sociais.

    Seguindo seus ideiais de construo de um novo mundo, onde as pessoas sejam livres para produzir e consumir alimentos saudveis, em 1991 ela fundou Navdanya, um movimento nacional para proteger a diversidade e a in-tegridade dos recursos vivos - especialmente sementes nativas - e promover a agricultura orgnica e o comrcio justo. Nas ltimas duas dcadas, o movimento alcanou mais de 500 mil homens e mulheres do campo.

    Os esforos da Navdanya resultaram na conservao de mais de 3.000 variedades de arroz de toda a ndia e a organizao estabeleceu 60 bancos de sementes em 16 estados em todo o pas. Vandana Shiva tem contribudo de forma fundamental para mudar a prtica e paradig-mas de agricultura e alimentao. Alm de seu ativismo, ela tambm atuou em grupos de peritos do governo sobre a legislao da biodiversidade e propriedade intelectual. Ela ajudou movimentos na frica, sia, Amrica Latina, Irlanda, Sua e ustria com suas campanhas contra a engenharia gentica. Em 2003, quando os Estados Unidos iniciaram uma disputa contra a Unio Europeia para retirar as proibies e morat-rias sobre culturas e alimentos geneticamente modifica-dos, Vandana Shiva lanou uma campanha global sobre os transgnicos na Organizao Mundial do Comrcio (OMC). As contribuies para as questes de gnero so re-conhecidas nacional e internacionalmente. Seu livro Staying Alive muda dramaticamente a percepo po-pular sobre as mulheres do Terceiro Mundo. Internacionalmente Vandana Shiva aconselha os gover-nos em todo o mundo, e est atualmente trabalhando com o Governo do Buto para fazer o Buto 100% or-gnico. Ela tambm est trabalhando com os governos da Toscana e Roma para criar um futuro agradvel e de esperana para os jovens nestes tempos de crise.

    Fonte: http://vandanashiva.com

    Perfil

    Vandana Shiva

    Marque na agendaPalestra Magna com Vandana Shiva

    Data: 03/11 (tera-feira)Local: Auditrio Mster

    Horrio: a partir das 16h30

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  • facebook.com/segurancaalimentar

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  • O Brasil que saiu Mapa Mundial da Fome, em 2014, que reduziu a mortalidade infantil e a desnutrio, mas que tambm precisa enfrentar a batalha contra a obesidade e o sobrepeso estar representado nos dilogos promovidos pela 5 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional. Na entrevista a seguir, o Secretrio Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional do Ministrio do Desenvolvimento Social e Combate Fome (MDS), Arnoldo de Campos, comenta sobre estes e outros temas. Confira.

    Qual a importncia do processo de conferncias para as polticas de SAN?Participao social, prestao de contas do governo, avaliao de polticas pblicas, definio de novas prioridades, apresentao de crticas, suges-tes e propostas. Tudo isso acontece ao mesmo tempo e ajudao governo e a sociedade a conquistar mais avanos. A histria da segurana alimen-tar e do combate a fome no Brasil uma, antes da participao popular e outra muito melhor depois, com a participao da sociedade. Evolumos muito juntos nessa caminhada e as conferncias foram momentos mui-to importantes para pactuar rumos, definir prioridades conjuntas entre governo e sociedade. Por isso, ns que lutamos para continuar avanan-do e melhorando a vida do nosso povo, acreditamos neste ambiente de dilogo e, por isto, estamos ansiosos pela realizao da 5 Conferncia Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional.

    Quais as perspectivas que se abrem aps a realizao da Conferncia Nacional?As expectativas so as melhores possveis. Esperamos reafir-mar antigos compromissos, como a promoo do acesso ali-mentao, o combate insegurana alimentar que ainda persis-te em alguns grupos populacionais especficos. J alcanamos bons resultados, que levaram o Brasil a sair do Mapa Mundial da Fome. Mas temos muito que fazer para que todas as famlias tenham garantido o seu direito humano alimentao. Tambm queremos que surjam novas prioridades, como a promoo da alimentao saudvel, o enfrentamento do excesso de peso. O Brasil entrou no mapa da obesida-de. Temos que mudar isso. preciso declarar guerra ao alimento de m qualidade e promover novos hbitos alimentares, com base em alimen-tos saudveis, diversificados, valorizar a agricultura familiar, a produo saudvel, agroecolgica, orgnica, livre de agrotxicos e contaminantes. Essa a nossa nova batalha na rea da segurana alimentar.

    Em quais agendas de governo a pauta comida de verdade, no campo e na cidade seguir encontrando eco?Esperamos que essa seja a agenda principal dos prximos quatro anos. Temos que melhorar nossos indicadores na rea de alimentao. O so-brepeso e a obesidade devem parar de crescer e precisamos reduzir as doenas crnicas no transmissveis. Elas esto entre principais causas de morte no pas e diretamente relacionadas s escolhas alimentares que fazemos.Queremos que sejam fortalecidas, qualificadas e ampliadas as polticas pblicas que ajudam o Brasil a produzir mais comida de verdade, que contribuem para o abastecimento e para o acesso aos alimentos saud-veis e tambm para aquelas que ajudam os cidados a acessar informa-es sobre os alimentos que consomem. Esperamos que a 5 Conferncia ajude o governo e a sociedade a definir uma estratgia bem elaborada e consistente para seguirmos avanando como um dos pases que melhor trata a questo da alimentao para sua populao no mundo.

    Entrevista: Arnoldo de Campos

    Brasil sem fome

    Foto: Ubirajara Machado/MDS

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  • Razes do Brasil

    Encontro debate questes indgenas no campo

    da soberania e da segurana alimentar e

    nutricional

    Cerca de 60 representantes de comunidades indgenas de todas as regies do pas estaro reunidos na 5 Conferncia de Segurana Alimentar e Nutricional, em Braslia. Para dar incio aos debates, ser realizado um encontro nos dias 2 e 3 de novembro. Os participantes podero trocar experincias e discutir sobre a demarcao de terras, a produo de alimentos e o novo marco legal da biodiversidade.

    Em todas as edies desse Encontro nas conferncias na-cionais anteriores, houve ampla mobilizao que resultou na aprovao total das propostas relacionadas aos povos indgenas. Todo esse processo tambm fortalece a agenda indgena no campo do direito humano alimentao ade-quada. Por isso, a realizao desse Encontro j se tornou uma tradio bem-sucedida nas Conferncias Nacionais de SAN, explica a assessora tcnica da Secretaria Execu-tiva do Conselho Nacional de Segurana Alimentar (Con-sea), Mirlane Klimach Guimares.

    Os ltimos dados oficiais sobre a segurana alimentar e nutricional dos povos indgenas foram divulgados em 2010 pela Fundao Nacional de Sade (Funasa). Os resultados 1 Inqurito Nacional de Sade e Nutrio dos Povos In-dgenas alertaram o Conselho Nacional de Segurana Ali-mentar e Nutricional (Consea) para a necessidade de um debate mais aprofundado sobre os hbitos alimentares e garantia de direitos desses povos. Os nmeros mostraram 32,7% das mulheres indgenas grvidas com anemia, refle-xo da falta de uma alimentao adequada.

    Para o conselheiro Dourado Tapeba, a segurana alimen-tar dos povos indgenas depende da demarcao do terri-trio e de polticas para estimular a produo de alimen-

    tos. O Consea tem feito a sua parte com as exposies de motivos e as recomendaes. Agora, falta o governo seguir as propostas aprovadas nas conferncias, afirma Dourado.

    De acordo com o Censo Demogrfico realizado pelo Ins-tituto Brasileiro e Geogrfico (IBGE) em 2010, 896.900 mil indgenas vivem no territrio brasileiro. A pesquisa tam-bm identificou 305 etnias diferentes. Do total de indge-nas no Brasil, 36,2% residiam na rea urbana e 63,8% na zona rural.

    INDGENAS NO CONSEAOs povos indgenas esto representadospor quatro entidades no Conselho Nacional de Segurana Alimentar e Nutricional (Consea): Dourado Tapeba,representando a Articulao dos Povos e Organizaes Indgenas do Nordeste, Minas Gerais e Esprito Santo (Apoinme)MariaAuxiliadoraCordeirodaSilva,representando a Coordenao das OrganizaesIndgenas da Amaznia Brasileira (Coiab)Mario Kara,representando a Articulao dos Povos Indgenas da Regio Sul (Arpinsul)SilvioOrtiz,representando o Conselho Aty Guasu Guarani-KaiowaO conselho tambm mantm a Comisso Permanente de Segurana Alimentar e Nutricional dos Povos Indgenas (CP6).

    Foto: Marcelo Camargo/Agncia Brasil

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  • 5 Conferncia Nacional de

    Segurana Alimentare Nutricional

    O ato de comerPor Selvino Heck*

    A alimentao e o ato de comer compem parte impor-tante da cultura de uma sociedade. Esto relacionados identidade e ao sentimento de pertencimento social das pessoas e envolvem, ainda, aspectos relacionados ao tempo e ateno dedicados a estas atividades, ao ambiente onde eles se do, partilha das refeies, ao conhecimento e informaes disponveis sobre alimenta-o, aos rituais e tradies e s possibilidades de escolha e acesso aos alimentos.

    O ato de comer diz, conta, expressa o que uma socie-dade. Nosso patrimnio alimentar resultado do di-logo histrico entre culturas diversas como a dos povos indgenas, dos migrantes forados da frica e das popu-laes migrantes portuguesa, espanhola, italiana, alem e japonesa, entre outras. Somado a isso, os distintos biomas que compem nosso pas proporcionam uma valiosa scio biodiversidade, expressa pela variedade de frutas, verduras, legumes, sementes oleaginosas, cereais e leguminosas, contribuindo no apenas com o nosso patrimnio culinrio, mas tambm com uma imensa dis-ponibilidade de variados nutrientes, essenciais para uma alimentao saudvel.

    Os pargrafos acima fazem parte do Documento de Re-ferncia da 5 Conferncia Nacional de Segurana Ali-mentar e Nutricional, a realizar-se em Braslia de 3 a 6 de novembro, cujo lema Comida de verdade no campo e na cidade: por direitos e soberania alimentar.

    O ato de comer poltico. Nestes tempos difceis, at bi-cudos, onde ventos fortes ameaam a democracia to duramente conquistada na luta e na mobilizao social

    e que est no centro do debate no Brasil, na Amrica La-tina e no mundo, o valor da democracia precisa ser afir-mado em todos os momentos e espaos.

    Sentamos mesa para comer. Sentamos com a nossa famlia, a comunidade. Repartimos o que est sob nos-sos olhos. Todos comem o que e quanto querem. No h diferena, no h privilgios. Ningum mais que nin-gum. Ningum menos que ningum.

    O direito alimentao realiza-se quando h igualda-de. Por isso, todas e todos, mulheres e homens, jovens, crianas e idosos devem ter acesso ao alimento como direito. proibido algum passar fome quando h igual-dade econmica e social. S existe fome quando a desi-gualdade existe e impera.

    Soberania alimentar decidir sobre como e o que pro-duzir; decidir sobre o que e quanto comer; sobre nossa vida e liberdade. no deixar os outros mandarem nos nossos alimentos, portanto, sobre o nosso quintal ou a nossa roa. Comida de verdade , portanto, uma ques-to de soberania alimentar, pois se relaciona ao direito dos povos de decidir sobre o que e como produzir e con-sumir os alimentos. Alimentos adequados e saudveis, sem venenos, no transgnicos.

    Comida de verdade no campo e na cidade cultura e vivncia de valores. A Carta da Amaznia, aprovada no Encontro Temtico Soberania e Segurana Alimentar e Nutricional na Amaznia, acontecido em Belm, diz: Comida de verdade na Amaznia entendida como patrimnio cultural e expresso de modos de vida tra-dicionais, onde tm grande relevncia os laos de soli-dariedade e reciprocidade nas comunidades. oriunda de sistemas alimentares caracterizados por uma biodi-versidade extremamente rica, representada pelo valioso conhecimento tradicional de seus povos sobre as plantas comestveis e medicinais, frutos, sementes, razes, fauna silvestre e aqutica e peixes. A regio amaznica carac-terizada pela riqueza de sua scio biodiversidade.

    A Carta do Encontro Temtico das Mulheres, realizado em Porto Alegre, fala: Destacamos a histrica atuao das mulheres e, em especial, as indgenas, quilombolas e as negras na preservao dos ecossistemas e das se-mentes locais e/ou crioulas, pois elas detm um conheci-mento vasto e tradicional sobre a biodiversidade.

    Comida de verdade no campo e na cidade democracia pura.Mas a democracia do ato de comer deve transbor-dar para a vida real de cada comunidade e para o coti-diano da sociedade. No dilogo e na participao social e popular, constroem-se polticas pblicas que garantem comida de verdade no campo e na cidade. Constri-se soberania, constroem-se direitos e igualdade, constri-se democracia.

    *Selvino Heck assessor especial da Secretaria Geral da Presidncia da Repblica e conselheiro do Conselho Na-cional de Segurana Alimentar e Nutricional (Consea)

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    Segurana Alimentare Nutricional

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