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revista portuguesa de ciências do desporto Volume 1 · Nº 2 Janeiro·Junho 2001

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revista portuguesa deciências do desporto Volume 1 · Nº 2

Janeiro·Junho 2001

revista portuguesa de ciências do desportoVol. 1, N

º 2Janeiro·Junho 2001

INVESTIGAÇÃO

Capacidade aeróbia em futebolistas de eliteem função da posição específica no jogoP.J. Santos, J.M. SoaresAvaliação isocinética da força muscularde atletas em função do desporto praticado,idade, sexo e posições específicasJ.Magalhães, J.Oliveira, A.Ascensão, J.M.C. SoaresCrescimento, maturação, aptidão física,força explosiva e habilidades motoras específicas.Estudo em jovens futebolistas e não futebolistasdo sexo masculino dos 12 aos 16 anos de idadeSeabra, J.A. Maia, R.GargantaO jogo como fonte de stress no basquetebol infanto-juvenilD. De Rose Jr., S.R. Deschamps, P. KorsakasDesporto de crianças e jovens– um estudo sobre as idades de iniciaçãoFrancisco M. Silva, Larissa Fernandes, Flórida O. CelaniAs actividades desportivas no Porto de 1900J.V. Ferreira, A.G. Ferreira

Publicação semestralVol. 1, Nº 2, Janeiro·Junho 2001ISSN 1645–0523, Dep. Legal 161033/01

REVISÃO

A importância da depilação no rendimentodesportivo em nataçãoJ.P. Vilas-BoasMiopatia do Exercício. Anatomopatologia e FisiopatologiaJ.A. Duarte, M.P. Mota, M.J. Neuparth,H.J. Appell, J.M.C. Soares

A RPCD é subsidiada pelo

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DirectorJorge O. Bento [[email protected]]

EditorAntónio T. Marques [[email protected]]

Corpo editorialAmândio Graça [[email protected]]Ana Maria Duarte [[email protected]]Eunice Lebre [[email protected]]João Paulo Vilas-Boas [[email protected]]Jorge Mota [[email protected]]José Alberto Duarte [[email protected]]José Alberto Moura e Castro [[email protected]]José Maia [[email protected]]José Pedro Sarmento [[email protected]]Júlio Garganta [[email protected]]Ovídio Costa [[email protected]]Rui Garcia [[email protected]]

Design gráfico e paginaçãoArmando Vilas Boas [www.avbdesign.com]CapaImagem de Armando Vilas Boas [[email protected]] eTeresa Oliveira Lacerda [[email protected]], integrante doprojecto «Formas do Desporto» [www.fcdef.up.pt/Galeria/FormasDoDesporto]. Modelo: Rogério Paz.Impressão e acabamentoMultitema [www.multitema.pt]

Assinatura AnualPortugal e Europa: 3500$, Brasil e PALOP: 5000$ (USD 28),outros países: 5500$ (USD 30)Preço deste númeroPortugal e Europa: 2000$, Brasil e PALOP: 2750$ (USD 15),outros países: 3000$ (USD 17)Tiragem500 exemplaresCopyrightA reprodução de artigos, gráficos ou fotografias só é permitidacom autorização escrita do Director.

Endereço para correspondênciaRevista Portuguesa de Ciências do DesportoFaculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física daUniversidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 91 · 4200.450 Porto · PortugalTel: +351–225074700Fax: +351–[email protected]

ConsultoresAdroaldo Gaya (Universidade Federal Rio Grande Sul)Alberto Amadio (Universidade São Paulo)Alfredo Faria Júnior (Universidade Estado Rio Janeiro)Almir Liberato Silva (Universidade do Amazonas)Anthony Sargeant (Universidade Manchester)Antônio Carlos Guimarães (Universidade Fed. Rio Grande Sul)António da Paula Brito (Universidade Técnica Lisboa)António Prista (Universidade Pedagógica Moçambique)Apolônio do Carmo (Universidade Federal Uberlândia)Carlos Carvalho (Instituto Superior da Maia)Carlos Neto (Universidade Técnica Lisboa)Cláudio Gil Araújo (Universidade Federal Rio Janeiro)Dartagnan P. Guedes (Universidade Estadual Londrina)Eckhard Meinberg (Universidade Desporto Colónia)Eduardo Archetti (Universidade de Oslo)Francisco Carreiro da Costa (Universidade Técnica Lisboa)Francisco Martins Silva (Universidade Federal Paraíba)Gaston Beunen (Universidade Católica Lovaina)Glória Balagué (Universidade Chicago)Go Tani (Universidade São Paulo)Gustavo Pires (Universidade Técnica Lisboa)Hans-Joachim Appell (Universidade Desporto Colónia)Hermínio Barreto (Universidade Técnica Lisboa)Hugo Lovisolo (Universidade Gama Filho)Ian Franks (Universidade de British Columbia)Jan Cabri (Universidade Técnica de Lisboa)Jean Francis Gréhaigne (Universidade de Besançon)Jens Bangsbo (Universidade de Copenhaga)João Abrantes (Universidade Técnica Lisboa)José Borges Gouveia (Universidade de Aveiro)José Gomes Pereira (Universidade Técnica Lisboa)José Manuel Constantino (Universidade Lusófona)Juarez Nascimento (Universidade Federal Santa Catarina)Jürgen Weineck (Universidade Erlangen)Lamartine Pereira da Costa (Universidade Gama Filho)Luís Sardinha (Universidade Técnica Lisboa)Manoel Costa (Universidade de Pernambuco)Manuel Patrício (Universidade de Évora)Markus Nahas (Universidade Federal Santa Catarina)Margarida Matos (Universidade Técnica Lisboa)Maria José Mosquera González (INEF Galiza)Paulo Machado (Universidade Minho)Pilar Sánchez (Universidade Múrcia)Robert Brustad (Universidade Northern Colorado)Robert Malina (Universidade Estado Michigan)Sidónio Serpa (Universidade Técnica Lisboa)Turíbio Leite (Universidade Federal São Paulo)Valdir Barbanti (Universidade São Paulo)Víctor Matsudo (UNIFEC)Víctor da Fonseca (Universidade Técnica Lisboa)Víctor Lopes (Instituto Politécnico Bragança)

Revista Portuguesa de Ciências do DesportoPublicação semestral da Faculdade de Ciências doDesporto e de Educação Física da Universidade do PortoVol. 1, Nº 2, Janeiro·Junho 2001, ISSN 1645-0523. Dep. Legal 161033/01

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Revista Portuguesa deCiências do Desporto

Vol. 1, Nº 2, Janeiro·Junho 2001ISSN 1645-0523Dep. Legal 161033/01

ARTIGOS DE INVESTIGAÇÃOCapacidade aeróbia em futebolistas de eliteem função da posição específica no jogoP.J. Santos, J.M. SoaresAvaliação isocinética da força muscular de atletasem função do desporto praticado, idade,sexo e posições específicasJ.Magalhães, J.Oliveira, A.Ascensão, J.M.C. SoaresCrescimento, maturação, aptidão física,força explosiva e habilidades motoras específicas.Estudo em jovens futebolistas e não futebolistasdo sexo masculino dos 12 aos 16 anos de idadeSeabra, J.A. Maia, R.GargantaO jogo como fonte de stressno basquetebol infanto-juvenilD. De Rose Jr., S.R. Deschamps, P. KorsakasDesporto de crianças e jovens– um estudo sobre as idades de iniciaçãoFrancisco M. Silva, Larissa Fernandes,Flórida O. CelaniAs actividades desportivas no Porto de 1900J.V. Ferreira, A.G. Ferreira

ARTIGOS DE REVISÃOA importância da depilação norendimento desportivo em nataçãoJ.P. Vilas-BoasMiopatia do Exercício.Anatomopatologia e FisiopatologiaJ.A. Duarte, M.P. Mota, M.J. Neuparth,H.J. Appell, J.M.C. Soares

INFORMAÇÃOEncontro “A Universidade nos anos 2000”.Síntese e conclusões

A RPCD é subsidiada pelo

Centro de Estudos e Formação DesportivaMinistério da Juventude e Desporto

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É nossa sina não caber no berço. Desde os primórdios quesomos emigrantes. O português pré-histórico já eraaventureiro, navegador, missionário, semeador de cultura.(…) Todos os caminhos transversais de Portugal vêm ter aomar. Verificá-lo, é avivar na consciência a nossa razão deser. Que nascemos para embarcar. Ou de imediato, ou nalembrança ou na imaginação.

Miguel Torga

Uma noite quente e estrelada ergue-se por cima doconvés do navio em que viajamos ao longo do rioChao Phraya que banha Banguecoque. O luar deprata refulge nas águas e alumia-nos os olhosesbugalhados, quando o guia turístico anuncia aembaixada de Pro-tu-Ked, levantada na insuperávelbrancura do estilo manuelino.O nosso anfitrião apercebe-se da emoção e fala-nosde Portugal com respeito, admiração e afecto: «Foi oprimeiro povo europeu que aqui chegou e foi o únicoque não veio para destruir. Veio portador deintenções e propósitos de construir.»Perguntamos-lhe o que é que os tailandeses sabemdo Portugal contemporâneo. A resposta chegapronta e cabal: «É isso que aprendemos na escola.Não é preciso saber mais, porque o sentido dahistória não se perde.»Estas palavras adentram-nos a alma como se fossemfantasmas erguidos das pegadas sonâmbulasdeixadas nestas e em tantas outras paragens pelahumana condição da gesta lusitana. Igrejas queapontam o céu, cruzes que redimem para aeternidade, misericórdias e instituições de auxílioque associam os homens como semelhantes, nomesque misturam o sangue e as pessoas. Na África, noBrasil, na Índia, na Indonésia, na China e no Japão,

Nota editorial«Das lusofonias»

Jorge Bento

por todo o lado se confirma o acerto do Pe. AntónioVieira, de que Deus nos deu «tão pouca terra para onascimento, e tantas para a sepultura. Para nascer,pouca terra; para morrer toda a terra; para nascer,Portugal; para morrer o Mundo.» Em toda a parte seouve o eco da Cantiga de Ceilão, de Jorge de Sena, aatravessar distâncias de oceanos, a murmurar ohábito de serões e vigílias, de solidões, tédios esaudades que, apesar de outros povos, de outrosdomínios e de outros reinos, ficaram para semprenas memórias teimosas de gente abandonada edissolvida, presa por um fio a um país esquecido eque se esquece ao longe, palavra a palavra.Sim, o mundo é, de um extremo ao outro, umalitania de pegadas sonâmbulas, de pisadas indeléveisde um passado cujo sentido e memória projectamlusofonias pelos séculos fora. Falam-nos de umtempo que já não existe e funcionam como espelhoda realidade. Testemunham que, mais do que opoder e o dinheiro, foram a alucinação, a inquietaçãodispersiva, a atracção da errância e da diáspora, ademanda de espaços abertos, o absurdo e o sonho, ofado e a procura do destino os marcos cimeiros dacolonização portuguesa. Uma aventura em que oépico ganha a forma e a substância do poético, nãosendo por acaso que a obra maior da nossa literaturaé um poema e que o género da poesia se inscreve nacarne e na alma de cada português. É tudo isso quefaz com que os dois mundos – o colonizado e ocolonizador – continuem tão unidos no afecto e nalembrança das gentes.A Lusofonia é assim um facto incontornável, mesmoque a contragosto de algumas vontades. É a retomado orgulho de continuarmos a ser o que semprefomos: esforçados, autónomos, remediados, ufanos

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da nossa mediania; e ricos, sim, de humanidade e desonho de aventura. Ela impõe-se como um desafio,perante a onda opressiva da globalização emamericanês, a convidar-nos a reinventar a nossaidentidade etnocultural de nómadas planetários, deromeiros do Santo Espírito, de peregrinos das setepartidas, de cidadãos do mundo. Um desafio donosso achamento interior, posto pela dificuldade nãode sermos, mas antes de nos conhecermos ecompreendermos. Sem o enfrentarmos, alerta-nosTorga, «sem um sonho a encher-nos o vazio da noiteda vida, como poderíamos amanhecer contentes denós?»Na trajectória da Lusofonia emerge, sobranceira eem antecipação, a animação polimórfica epolissémica das diferenças. E a sua aceitação. Elasperdem o carácter de limites e fronteiras para setornarem interiores ao conhecimento de nós, dosoutros e das coisas. Ou seja, a diferença e a

alteridade integram a norma e deixam de ser aexcepção; o mesmo é dizer que o universal éfabricado pelo diferente e deve ser dito no plural. Eisassim o nosso passado a ganhar razão e a encontrar-se justificado e plasmado na nova lógica paradoxal epluridimensional que hoje desponta no mapa damulticulturalidade.Em suma, é no projecto das Lusofonias e nas suasmatrizes que esta publicação se inscreve. Daí quenão façamos correcções em textos recebidos doBrasil ou de outros Países; não os submeteremos ànorma da grafia vigente em Portugal. E é o mesmoprincípio de abertura que nos levará a aceitar, dequando em vez, textos em inglês ou francês oucastelhano, desde que a sua relevância o justifique.Apenas não abriremos mão do facto desta revista serconsagrada à Ciência do Desporto. Não há nela lugarpara escritos que se insiram noutra ordem depreocupações.

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ARTIGOS DEINVESTIGAÇÃO

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Capacidade aeróbia em futebolistas de eliteem função da posição específica no jogo

P. J. SantosJ. M. SoaresFaculdade de Ciências do Desporto e de Educação FísicaUniversidade do Porto, Porto, Portugal

RESUMOVários investigadores consideram que a capacidade aeróbiadesempenha um papel decisivo no futebol. Váriasinvestigações acerca das exigências energéticas e do padrão deactividades dos jogadores de elite durante um jogo de futebolpermitiram concluir que a grande maioria das acções sãomarcadamente aeróbias (4,18). No entanto, foram descritasdiferenças acentuadas em função da posição desempenhadapelo jogador em campo (1). O propósito deste estudo foiavaliar a capacidade aeróbia dos jogadores, de acordo com asua função, recorrendo ao limiar aeróbio-anaeróbio (12).Investigámos 91 futebolistas seniores de equipes da 1ª LigaNacional que foram agrupados de acordo com a sua posição emjogo: centrais (n=17), avançados (n=24), laterais (n=14) emédios (n=36). A velocidade de corrida correspondente a umaconcentração sanguínea de 4mmol/l (V4) foi considerada comomedida critério na determinação do limiar aeróbio-anaeróbio.Utilizámos velocidades de corrida entre 3.0 e 4.2m/s comincrementos de 0.4m/s e patamares de carga superiores a5min30s. Após cada patamar, o teste era interrompido durante1min para recolher sangue capilar do lóbulo da orelha eposteriormente analisado num YSI 1500L Sport. Notratamento estatístico dos dados recorremos à análise devariância a um factor e ao teste de múltipla comparação aposteriori de Scheffée. O nível de significância foi estabelecidoem 5%. Os valores médios da V4 em cada grupo foram de3.66±0.27m/s (centrais), 3.70±0.19m/s (avançados),3.88±0.24m/s (laterais) e 3.89±0.22m/s (médios). Foramencontradas diferenças significativas na capacidade aeróbiaentre as quatro posições (F=5.98, p<0.05): centrais versusmédios e avançados versus médios. Em suma, os nossos dadosevidenciaram diferenças significativas na capacidade aeróbiados futebolistas em função da posição ocupada no jogo. Essasdiferenças são semelhantes às descritas por outros autoresrelativamente à distância máxima total percorrida em jogo.Deste modo, consideramos que a determinação da V4 podeconstituir um instrumento fundamental na determinação doperfil aeróbio dos jogadores, possibilitando ainda umaindividualização do treino aeróbio.

Palavras-chave: futebol, elite, capacidade aeróbia, limiaranaeróbio, lactato

ABSTRACTAerobic capacity differences among soccer playersaccording to their function in the game

Several researchers uphold the notion that aerobic capacityplays a decisive role in soccer play. In fact, investigationsconcerning the energy demands and the pattern of activities ofelite players during a soccer match allowed to conclude thatmost of the actions are markedly aerobic (4,18). Nevertheless,considerable differences have been reported according to theplayer’s position in the game (1). Thus the purpose of thisstudy was to evaluate the player’s aerobic capacity according totheir function using the aerobic-anaerobic threshold (12). Weinvestigated 91 Portuguese top male senior soccer players fromseveral 1st League teams which were grouped according totheir function in the game: defenders (n=17), forwards(n=24), full-backs (n=14) and mid-fielders (n=36). Therunning speed at a blood lactate concentration of 4mmol/l (V4)was used as criterion for the aerobic-anaerobic thresholddetermination. We’ve used running speeds ranging from 3.0 to4.2m/s with increments of 0.4m/s and steps above 5min30s.Following each loading level the test was interrupted for 1minto take blood samples from the ear lobe which were analysedusing an YSI 1500L Sport. Statistical analysis included Anovaand a Scheffe post hoc test. Mean results in the V4 for eachgroup was 3.66±0.27m/s (defenders), 3.70±0.19m/s(forwards), 3.88±0.24m/s (full-backs) and 3.89±0.22m/s(mid-fielders). Significant results were achieved concerningthe V4 among the four game positions (F=5.98, p<0.05):defenders versus mid-fielders and forwards versus mid-fielders.In conclusion, our data evidenced significant differences inaerobic capacity according to the player’s function in the game,which are similar to those reported by other authors inrelation to the distance covered during a match. We considerthat these results strongly suggest that V4 determinationmight be seen both as an important tool for determiningsoccer player’s aerobic profile and for allowing theindividualisation of aerobic training.

Key words: soccer, elite, aerobic capacity, anaerobic threshold,lactate

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INTRODUÇÃOO futebol é um jogo extremamente complexo doponto de vista fisiológico, com acções específicas queevidenciam uma tipologia de esforço de grandediversidade e que, em termos metabólicos, apelam afontes energéticas claramente distintas. De facto, ofutebolista, dada a natureza intermitente do seuesforço e a ampla faixa de intensidades que ocaracteriza, tem de privilegiar no seu treino aspectostão distintos como o desenvolvimento da forçaexplosiva, da velocidade, da resistência anaeróbia eda resistência aeróbia.Entre os distintos sistemas energéticos quesustentam as acções de jogo, vários têm sido osautores que referem o metabolismo aeróbio comoconstituindo o suporte energético fundamental parauma partida de futebol. Com efeito, investigaçõesacerca das exigências energéticas e do padrão deactividades evidenciados pelos jogadores de elitedurante um jogo, permitiram concluir que a maioriadas acções são acentuadamente aeróbias esuportadas pelo metabolismo oxidativo (4, 18). Adistância média total percorrida pelos jogadoresdurante uma partida de 90min situa-se em torno dos11km (4, 23), o que vem reforçar a noção de que,para um futebolista de topo, é fundamental possuiruma boa preparação aeróbia. A este propósito, têm sido descritas diferençasacentuadas da performance aeróbia nestes jogadoresconsoante a sua função em campo (1, 5, 7). Noentanto, a quase totalidade destas investigações temsido conduzida em laboratório, razão pela qual osresultados obtidos pouca aplicabilidade têm notrabalho de campo do atleta.Com base no anteriormente exposto, foi objectivoprincipal deste estudo investigar eventuaisdiferenças a nível da capacidade aeróbia entrefutebolistas de elite, de acordo com a sua função nojogo (defesas, centrais, médios e laterais). Para aavaliação aeróbia dos sujeitos recorremos ao limiaraeróbio-anaeróbio, mas utilizámos um teste deterreno de simples execução e, simultaneamente,capaz de fornecer dados transferíveis para o treinodos atletas.

MATERIAL E MÉTODOSA amostra deste estudo foi constituída por 91futebolistas seniores portugueses pertencentes aequipas da 1ª Liga.Recorremos ao limiar aeróbio-anaeróbio paradeterminar a capacidade aeróbia dos jogadores,tendo utilizado um teste de terreno realizado numapista sintética de atletismo (400m) com 4 patamaresde intensidade crescente. As distâncias situaram-seentre 1200m e 1600m (fig. I), tendo os atletascorrido sempre a uma velocidade constante duranteum período nunca inferior a 5’30”.Para assegurar um ritmo de corrida uniforme foramassinalados os tempos de passagem (avisos sonoros)em cada 200m durante a realização dos patamares decarga. As velocidades utilizadas variaram entre 3.0 e4.6m/s e os incrementos de carga foram de 0.4m/spor patamar (quadro I).

V (m/s)

4.6

4.2

3.8

3.4

3.0

2.6

0 81 5 76432 9

Distância (Km)

Fig. I – Representação gráfica da dinâmica de carga referente aoteste de terreno utilizado na avaliação da capacidade aeróbia dosfutebolistas e andebolistas. Foram utilizadas distâncias de 1200m(3.0 e 3.4m/s) e 1600m (3.8, 4.2 e 4.6m/s) por patamar eincrementos de 0.4m/s.

P.J. Santos. J.M. Soares

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v (m/s) 400m 800m 1200m 1600m

3.0 2’13"33 4’26"67 6’40"00 –3.4 1’57"65 3’55"29 5’52"94 –3.8 1’45"26 3’30"53 5’15"79 7’01"054.2 1’35"24 3’10"48 4’45"71 6’20"954.6 1’26"96 2’53"91 4’20"87 5’47"83

Quadro I – Tabela utilizada nos testes de terreno com indicação dosrespectivos tempos de passagem (cada 400m) para as váriasvelocidades (m/s) correspondentes aos patamares de carga utilizados.

No final de cada percurso o teste era interrompidodurante 1 min para recolher sangue capilar do lóbuloda orelha para determinação imediata daconcentração sanguínea de lactato utilizando umYSI-1500L Sport. O teste era dado como concluídoquando o atleta ultrapassava uma concentraçãosanguínea de 4mmol/l de lactato.Como critério de detecção do limiar aeróbio-anaeróbio utilizámos a velocidade de corridacorrespondente a uma concentração sanguínea de4mmol/l (V4) determinada por interpolação linear apartir dos dados obtidos nos testes de terreno.No tratamento estatístico dos dados, além dadeterminação dos valores médios e do desvio padrão,foram utilizados a análise de variância a um factor e oteste de múltipla comparação a posteriori de Scheffée.O nível de significância foi estabelecido em 5%.

RESULTADOSOs valores médios para a amostra relativos à idade,altura e peso foram de 25±2.6 anos, 177.8±4.1 cm e72.8±4.5 kg, respectivamente. O valor médiocorrespondente ao limiar aeróbio-anaeróbio foi de3.85±0.28m/s. Os resultados da ANOVA para aposição ocupada pelos jogadores evidencioudiferenças estatisticamente significativas(F=5.98,p<0.05). Os valores médios da V4 porposição no jogo podem ser observados na fig. II. Oteste de múltipla comparação a posteriori expressoudiferenças significativas somente entre médios vscentrais e médios vs avançados.

V4 (m/s)

3.663.7

3.88 3.89

centrais avançados laterais médios

n=17 n=24 n=14 n=36

4.2

4.1

4

3.9

3.8

3.7

3.6

3.5

3.4

Fig.II – Comparação entre os valores médios (±dp) da V4 (expressaem m/s) no grupo de futebolistas em função da posição ocupadapelos jogadores na equipa.

DISCUSSÃOVários estudos realizados nos últimos 10 anos ecentrados na análise de jogo têm evidenciado queum jogador de futebol percorre em jogo umadistância total de 10 a 12Km (3, 4, 6, 13, 15, 17, 22).No entanto, sabe-se que os vários elementos de umaequipa percorrem distâncias bem diferentes deacordo com a sua função no jogo (4, 22). Ao longodas últimas décadas verificou-se um aumentoprogressivo da distância total percorrida (DTP) emjogo, tendo sido referido, a partir da análise dasdistâncias percorridas em campeonatos do mundo,que esse valor aumentou mais de 100% entre osmundiais da Suiça (1954) e de Itália (1990), ou seja,mais especificamente, de 4500m para 10000m,respectivamente (21). Vários autores têmigualmente descrito níveis diferenciados de condiçãoaeróbia em futebolistas consoante a sua posição nojogo. Com efeito, estudos acerca da potência máximaaeróbia em futebolistas revelaram níveis diferentesde acordo com a função desempenhada (1, 5, 7, 16).Uma investigação recente (20) refere mesmo que aDTP em jogo depende de forma significativa dacapacidade aeróbia dos jogadores e que 60% da DTPpode ser explicada pelo nível aeróbio do atleta. Emsuma, os dados da literatura sugerem que jogadores

Limiar anaeróbio em futebolistas

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2001, vol. 1, nº 2 [7–12]

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de diferentes posições não só percorrem distânciasdiferentes, como igualmente apresentam performancesaeróbias distintas.No entanto, são escassos os estudos nestamodalidade em que tenham sido utilizados testes deterreno específicos para avaliar a performance aeróbiados sujeitos. Uma investigação recente (14)utilizando o Yo-Yo intermittent endurance test (2),revelou diferenças significativas de resistência entrelaterais e médios versus centrais e avançados(n=327). Porém, não conhecemos nenhumainvestigação no terreno que tenha procuradodeterminar as diferenças a nível da capacidadeaeróbia por posição com base no limiar anaeróbio.Com efeito, apesar de Bangsbo (1) ter utilizado olimiar anaeróbio num estudo com objectivossemelhantes, fê-lo, contudo, recorrendo àinvestigação laboratorial.A grande vantagem da investigação no terreno é,obviamente, o grande transfere que permite dessainformação para o trabalho de campo do atleta.Deste modo, possibilita não apenas a recolha dedados fundamentais para a caracterização fisiológicados jogadores, como permite ainda a obtenção dedados preciosos para a equipa técnica, no sentido derentabilizar, tanto quanto possível, o treino dessesatletas. Adicionalmente, quanto mais investigaçãofor efectuada com base neste tipo de testes, tantomaior será a hipótese de fazer a validação cruzadados dados de forma a optimizar a metodologiautilizada neste tipo de pesquisas.Relativamente ao valor médio da V4 obtida pelosfutebolistas da nossa amostra (3.85m/s),verificámos que foi muito semelhante à descrita numestudo similar (8) envolvendo tanto jogadoresamadores (n=15) como profissionais (n=15) docampeonato alemão. Nessa investigação não foramencontradas diferenças significativas da capacidadeaeróbia entre grupos, com os profissionais aapresentarem um valor de 3.71m/s e os amadores3.90m/s. Outras investigações realizadas comselecções nacionais alemãs referem valores médiosde 4.15m/s e de 4.05m/s (10,11). No entanto, essestestes foram realizados em laboratório e utilizandopatamares de 3min, o que implica umasobrevalorização da V4 (9) relativamente à utilizaçãode patamares de 5min (ou superiores).

Em relação aos resultados obtidos em função daposição ocupada na equipa, os valores mais elevadosencontrados nos médios (3.89m/s) e laterais(3.88m/s) versus avançados (3.70m/s) e centrais(3.66m/s), são algo semelhantes aos descritos porBangsbo (1) que também refere valores deresistência superiores nos médios relativamente aoscentrais, embora utilizando como referência avelocidade de corrida (tapete rolante)correspondente a uma concentração sanguínea delactato de 3mmol/l (V3).A melhor V4 evidenciada pelos médios resulta,provavelmente, da função de ligação entre defesas eatacantes, o que implica um maior volume de corridasustentada (1,4). Com efeito, pensamos que asdiferenças significativas encontradas entre médiosversus centrais e médios versus avançados, poderão,entre outros factores, estar relacionadas com a maiordistância percorrida tanto em treino como emcompetição, em resultado da especificidade dasfunções desempenhadas.Também os resultados da literatura a nível dapotência aeróbia em futebolistas de alto nível (1, 16)referem valores mais elevados nos médios,comparativamente a defesas centrais e guarda-redes.Resultados concordantes são descritos num outroestudo (19) com uma amostra que incluía jogadoresportugueses da 1ª divisão nacional (n=44), com osvalores mais elevados a serem exibidos pelos médiose laterais (59.5 e 59.3ml/min/Kg, respectivamente)relativamente aos centrais (56.8ml/min/Kg) eavançados (54.9ml/min/Kg).Os dados emergentes desta investigação permitiramconstatar que, em termos fisiológicos, as exigênciasimpostas a jogadores que ocupem posiçõesdiferentes no terreno de jogo podem ser, do ponto devista aeróbio, substancialmente distintas. Futuraspesquisas realizadas no terreno com base no limiaranaeróbio permitirão, entre outras coisas, aelaboração de tabelas com valores de referência porposição. Dada a grande aplicabilidade prática destetipo de trabalhos, consideramos que eles podemconstituir uma mais valia tanto em termos deinvestigação, como nos aspectos relacionados com ocontrolo de treino dos atletas.Adicionalmente, dados provenientes de outrasinvestigações parecem ainda sugerir que os

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CORRESPONDÊNCIAPaulo Jorge Miranda SantosFaculdade de Ciências do Desportoe de Educação FísicaUniversidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugal[[email protected]]

futebolistas que percorrem maiores distâncias emsituação de jogo são, simultaneamente, aqueles queexibem níveis superiores de capacidade aeróbia (20).Deste modo, se aceitarmos que a DTP pode ser umfactor importante no jogo, então seguramente que odesenvolvimento da capacidade aeróbia será umfactor a contemplar no planeamento de treino deuma equipa de futebol. Nesta perspectiva, oconhecimento da V4 por posição pode ser uminstrumento importante para a equipa técnica nosentido de ultrapassar eventuais carências a nível dascapacidades físicas de alguns jogadores.Em suma, os nossos dados evidenciaram diferençassignificativas na capacidade aeróbia dos futebolistasem função da posição ocupada no jogo. Essasdiferenças são semelhantes às descritas por outrosautores tanto em relação à DTP em jogo, como aosvalores de potência e de capacidade aeróbias.Adicionalmente, consideramos que a determinaçãoda V4 através de um simples teste de terreno podeconstituir um instrumento fundamental nadeterminação do perfil aeróbio dos jogadores,possibilitando ainda uma individualização do treinoaeróbio por permitir uma aplicação quase imediatados dados obtidos no trabalho de campo dos atletas.

Limiar anaeróbio em futebolistas

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Avaliação isocinética da força muscular de atletas em função dodesporto praticado, idade, sexo e posições específicas

J. MagalhãesJ. OliveiraA. AscensãoJ.M.C. Soares

Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação FísicaUniversidade do Porto, Porto, Portugal

RESUMOA força muscular dos membros inferiores é considerada umimportante factor da prestação no futebol e voleibol, comosuporte de habilidades e acções motoras específicas. Por isso,tal como em outras capacidades motoras, como por exemplo aresistência, tarefas específicas, idade, sexo e diferentes funçõesespecíficas, poderão induzir diferentes padrões dedesenvolvimento da força muscular. Alguns investigadoressugerem que níveis insuficientes de força poderão estarassociados a um risco acrescido de lesão dos tecidos moles. Porestas razões, a avaliação e controlo da força muscular assumemuma importância particular na monitorização dos efeitos dosprogramas de treino bem como na despistagem de factores derisco de lesão. A avaliação isocinética da força forneceinformação relevante através de indicadores como o torquemáximo, as diferenças bilaterais de força e a razão antagonista/agonista dos membros dominante e não dominante.Deste modo, o objectivo fundamental deste trabalho foidescrever e comparar os perfis isocinéticos da força emfutebolistas e voleibolistas de diferentes idades, sexo e funçõesespecíficas.Utilizando um dinamómetro isocinético (Biodex – System 2)avaliaram-se os torques máximos concêntricos com correcçãogravítica dos músculos flexores e extensores do joelho emprotocolo de 5 repetições máximas à velocidade angular de360°.seg.-1 (6.28 rad.seg.-1) e 3 repetições máximas a 90°.seg.-1

(1.57 rad.seg.-1).Em conclusão, podemos dizer que o carácter específico daactividade funcional das modalidades desportivas estudadas, aidade e a função específica não se constituem per se factoresindutores de desequilíbrio bilateral da força muscular dosmembros inferiores. Contudo, no que concerne à razão I/Q, amodalidade desportiva praticada e o sexo, mesmo em sujeitostreinados, parecem ser factores que influenciam o perfilisocinético de força.

Palavras-chave: força, avaliação isocinética, futebol, voleibol

ABSTRACTIsokinetic strength assessment in athletes of different sports,ages, gender and positional roles

Leg muscle strength is considered to be an important factor ofperformance in volleyball and soccer, supporting specific motorskills and actions. Therefore, like in other capacities such asendurance, specific tasks, age, gender and specific positionalroles may induce different strength patterns. Additionally,several authors argue that strength weaknesses and/orunbalances are related to soft tissue injury risk. For thesereasons, strength assessment and control is of critical value formonitoring the effects of training programs and injury riskfactors. Isokinetic evaluation provides relevant informationthrough indicators such as peak torque, bilateral strengthdifferences in leg extensor (Ext) and flexor (Flex) muscles andantagonist/agonist strength ratios in dominant (D) and non-dominant (ND) limb.Thus, the main purpose of the present investigation was toevaluate and to compare isokinetic strength profiles of soccerand volleyball players by gender, age and different positionalroles, with respect to peak torque, bilateral strengthdifferences and antagonist/agonist ratio.Using an isokinetic dynamometry (Biodex – System 2), soccerand volleyball players were evaluated. Maximal gravitycorrected concentric peak torque of knee extensor and flexormuscles were measured during a 5-repetition at 360º. sec.-1

(6.28 rad.sec.-1) and a 3-repetition protocol at 90º. sec.-1 (1.57rad.sec.-1).In summary the specific demands of soccer and volleyball, ageand position roles do not induce bilateral leg unbalance.However, concerning H/Q ratio, sports and gender, even intrained subjects, seem to influence isokinetic strength profile.

Key words: strength, isokinetic, testing, soccer, volleyball

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J. Magalhães, J. Oliveira, A. Ascenção, J.M.C. Soares

INTRODUÇÃOA força muscular é uma importante componente daprestação desportiva. Por essa razão a avaliação daforça muscular com recurso à dinamometriaisocinética é largamente utilizada. Tem sido sugeridoque as diferenças bilaterais de força e a razão dostorques máximos antagonista/agonista estãorelacionadas com as exigências específicas dosdiversos desportos (9, 10). Deste modo, o padrãomotor de uma determinada modalidade desportivapoderá influenciar o perfil funcional dos atletas. Ainvestigação em jogos desportivos tem demonstradoque também as posições/funções dos jogadorescontribuem para uma adaptação funcional específica(5, 14, 28, 32). Por último, os estudos no domínio daaptidão física considerando o efeito da idade, docrescimento, da maturação e ainda, o efeito do treinoapontam para diferenças da força muscular entrejovens e atletas adultos (para ref.’s ver 7, 36). Um outrodomínio da investigação tem incidido no estudocomparativo da aptidão funcional entre sujeitos desexos distintos (8). No entanto, no que concerne aeventuais diferenças de padrão no perfil bilateral daforça isocinética e da razão antagonista/agonista ainformação disponível é relativamente escassa.Em jogos desportivos como o futebol e o voleibol, osgrupos musculares quadriceps e os isquiotibiais sãosolicitados suportando diversas habilidades motorastais como, por exemplo, a corrida, os saltos, ospasses ou os remates. Estes grupos musculares queenvolvem a articulação do joelho desempenham,igualmente, um importante papel na estabilidadedesta articulação assim como na prevenção de lesões(1, 2, 41). De facto, alguns estudos sugerem que a boafuncionalidade dinâmica dos músculosestabilizadores do joelho pode ser determinante naprevenção e/ou na limitação da severidade de lesõesdos tecidos moles (3, 25, 26).Apesar de escassa, a informação disponívelrelativamente ao efeito da idade aponta para padrõesde evolução crescente dos torques máximos e darazão antagonista/agonista (7, 20). Adicionalmente, osresultados da investigação relativamente ao efeitodas tarefas no perfil da força muscular isocinéticasugerem uma adaptação funcional específica (9, 38, 39).Deste modo, o objectivo do presente trabalho é o deavaliar e comparar o perfil das diferenças bilaterais

de força e a razão isquiotibiais/quadriceps (I/Q) emdiferentes desportos, idades, sexos e funçõesespecíficas.

METODOLOGIAO presente trabalho enquadra-se num projecto decontrolo e avaliação do treino de atletas de altorendimento sendo composto por três estudosdistintos. No primeiro (Estudo 1) descrevemos ecomparamos o perfil isocinético da força muscularde atletas de diferentes desportos (voleibolistas vs.futebolistas) e idades. No segundo (Estudo 2)comparamos sujeitos de sexo diferente relativamenteà razão antagonista/agonista. Finalmente, noterceiro (Estudo 3) comparamos perfis de atletas dediferentes funções específicas.

AMOSTRAEstudo 1Foram avaliados vinte e oito (28) voleibolistasadultos de elite subdivididos em dois grupos,dezoito (18) seniores (idade: 23.9±2.3 anos; peso:83.6±5.8 Kg; altura: 190.8±4.5 cm) e dez (10)juniores (idade: 17.3±0.8 anos; peso: 82.6±9.3 Kg;altura: 188.2±2.9 cm), catorze (14) voleibolistas deelite sub-16 e quarenta e seis (46) futebolistasadultos de elite (idade: 25.2±3.5 anos; peso:75.3±6.0 Kg; altura: 178.3±6.0 cm).

Estudo 2Avaliaram-se vinte e cinco (25) voleibolistas do sexomasculino pertencendo à selecção nacionalportuguesa (idade: 21.0±3.7 anos; peso: 83.6±6.2Kg; altura: 190.9 ±3.8 cm) e dez (10) voleibolistasdo sexo feminino de uma equipa da 1ª divisão docampeonato nacional (idade: 25.0±4.3 anos; peso:70.0±4.9 Kg; altura: 178.5 ±3.3 cm).

Estudo 3Foram avaliados quarenta e sete (47) futebolistasprofissionais (idade: 25.1±3.6 anos; peso: 75.2±7.3kg; altura: 178.8±4.0 cm) de diferentes equipas da ILiga Profissional portuguesa. Deste grupo desujeitos avaliamos três (3) guarda-redes, seis (6)laterais, dez (10) centrais, quinze (15) médios etreze (13) avançados.

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Avaliação isocinética da força

INSTRUMENTOS E PROCEDIMENTOS DE AVALIAÇÃOForam avaliados em dinamómetro isocinético (Biodex– System 2) com correcção gravítica os torquesmáximos concêntricos dos músculos flexores eextensores do joelho às velocidades angulares de360°.seg.-1 (6.28 rad.seg.-1) e 90°.seg.-1 (1.57rad.seg.-1). No Estudo 3 apenas se considerou aúltima das velocidades angulares referidas.Os atletas avaliados realizaram um período deactivação geral em cicloergómetro (Monark E-824)com uma resistência correspondente a 2% do pesocorporal durante um período de 5 minutos. Emseguida os sujeitos foram sentados na cadeira dodinamómetro e estabilizado o seu posicionamentocom recurso a cintos colocados ao nível do tronco, doabdómen e da coxa, no sentido de prevenirmovimentos acessórios. O joelho a avaliar foiposicionado a 90° da flexão (0° = extensão completa)e o eixo de rotação do braço da alavanca dodinamómetro alinhado com a parte lateral do côndilofemoral. Após os procedimentos de posicionamento edos alinhamentos foi pedido aos sujeitos a testar queefectuassem alguns movimentos de flexão e extensãoa intensidade sub-máxima no sentido de completar operíodo de activação muscular e também parafamiliarização com o equipamento e procedimentosde testagem. Todos os sujeitos foram instruídos paracolocarem de forma confortável os braços cruzadossobre o tronco tendo em vista o isolamento da acçãodos grupos musculares responsáveis pela extensão eflexão do joelho.

Protocolo de avaliaçãoA avaliação consistiu na realização de 5 repetições àvelocidade angular de 360°.seg.-1 e 3 repetições a90°.seg.-1, por esta ordem e em cada um dosmembros. Entre séries foi realizada uma pausa derepouso com a duração de 1,5 minutos. Para o estudo3 apenas foram realizadas avaliações a 90°.seg.-1

EstatísticaForam utilizadas as medidas da estatística descritiva,média e desvio-padrão e para a comparação de médiaso t-Test de medidas independentes, a ANOVAfactorial e o teste não paramétrico Kruskall-Wallis. Onível de significância foi estabelecido em 5%.

RESULTADOS

Estudo 1Os principais resultados acerca da comparação entrefutebolistas e voleibolistas são apresentados noquadro 1.

Quadro 1 – Diferenças bilaterais de força (%) e razão (%) isquiotibiais/quadriceps (I/Q) dos futebolistas vs. voleibolistas adultos, a diferentesvelocidades angulares.

Vel. Diferenças bilaterais de força Razão I/Q

Músculos Futebol Voleibol Futebol Voleibol360 Extensores 7.1±6.3 7.2±5.8 D# 80.2±13.3 78.3±12.790 7.1±6.3 10.1±6.9 57.4±6.7 50.4±7.2**360 Flexores 12.3±8.4 14.2±12.4 ND# 82.5±13.3 82.0±11.9

90 10.6±8.0 6.9±5.5** 56.1±8.2 50.5±6.4**

*(°.seg.-1) ** Diferença significativa (futebolistas vs.voleibolistas); p<0,05

# D (membro dominante); ND (membro não dominante).

Os resultados que se reportam às diferençasbilaterais de força entre futebolistas e voleibolistasadultos mostram que apenas nos músculos flexores,quando avaliados à velocidade de 90º.seg.-1, seencontram diferenças significativas. A comparaçãodas razões I/Q revelou-se estatisticamentesignificativa entre grupos, mas apenas à velocidadeangular de 90°.seg.-1. Porém, a comparação demédias da razão I/Q entre os membros dominante enão dominante dentro de cada grupo, nãoapresentou diferenças significativas.Os resultados das diferenças bilaterais de força e darazão I/Q em voleibolistas de diferentes idades sãoapresentados no quadro 2.

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A análise dos resultados revela a existência dediferenças significativas na razão I/Q entre acategoria júnior e a de sub 16.

Estudo 2Os principais resultados são apresentados no quadro3 (razão I/Q em percentagem).

Quadro 3 – Razão I/Q (%) em ambos os sexos a diferentes velocidades(em º.seg.-1)

Velocidade Membro Masculino Feminino

360 Dominante 80,03 ± 13,14* 66,77 ± 13Não Dominante 83,88 ± 12,12 75,81 ± 9,28

90 Dominante 50,07 ± 7,28 * 44,06 ± 6,96Não Dominante 50,72 ± 7,43 * 44,47 ± 4,16

* estatisticamente significativo (masculino vs. feminino) p 0,05

A razão convencional concêntrica I/Q aumentoucom a velocidade angular, quer nos sujeitos do sexo

masculino, quer nos do sexo feminino (quadro 3).Foram encontradas diferenças estatisticamentesignificativas entre os grupos no membro dominantea altas velocidades (360º.seg.-1) e nos membrosdominante e não dominante a baixas velocidades(90º.seg.-1). Este indicador, quando determinado abaixa velocidade (90º.seg.-1), apresentou valoresinferiores aos habitualmente sugeridos comoreferência.

Estudo 3Para a globalidade da amostra, os valores médios dasdiferenças bilaterais de força nos músculosextensores e flexores foram 8.2% ±4.9 e 7.9% ±4.7,respectivamente. A razão I/Q (em percentagem) nomembro dominante foi de 54.9±6.6 e no nãodominante de 55.9±6.4.Os resultados referentes a cada uma das funçõesespecíficas são apresentados no quadro 4.

Quadro 2 - Diferenças bilaterais de força (%) e razão (%) isquiotibiais/quadriceps (I/Q) em voleibolistas de diferentes idades.

Vel.* Diferenças bilaterais de força Razão I/QSeniores Juniores Sub 16 # Seniores Juniores Sub 16

360 Extensores 7.8±6.2 7.0±5.4 7.8±5.2 D 74.0±13.5 83.5±13.2 61.9±14.0**90 8.9±5.9 14.8±12.0 7.2±5.8 50.1±8.6 50.4±3.7 48.0±4.2360 Flexores 10.8±7.5 14.0±7.8 14.8±16.5 ND 81.5±10.4 83.2±14.7 75.9±12.890 5.1±4.5 10.2±6.4 9.6±7.2 50.4±5.8 52.4±9.2 51.1±9.4

* Velocidade (°.seg.-1) ; # D (membro dominante); ND (membro não dominante)** Diferença significativa (juniores vs. Sub 16); p<0,05

Quadro 4 – Torque máximo (Nm), diferenças bilaterais (%) e razão I/Q (%) em futebolistas de diferentes funções específicas.

Torque máximo Diferenças bilaterais Razão I/QFunções Ext - D Ext - ND Flex - D Flex - ND Ext Flex D ND

G-Redes 278.6±27.6 240.9±16.8 148.8±27.3 132.3±26.4 13.3±4.4 11.3±2.0 53.1±4.9 54.6±7.8Centrais 244.4±25.5 237.6±21.5 124.5±6.7 125.6±16.1 10.1±7.9 9.0±8.2 51.4±5.9 53.3±9.7Laterais 250.9±31.5 237.9±33 141.9±15.1 134.4±14.1 8.4±5.7 6.4±3.5 56.8±6.9 57.1±7.2Médios 227.4±24.3 216.9±28.5 124.9±19.4 123.4±19.1 5.6±4.2 9.2±7.5 55.2±6.7 56.7±5.2Avançados 241.1±42.2 231.5±32.6 130.9±20.3 128.8±21.2 8.2±6.4 6.9±2.8 54.8±7.0 55.6±5.4

J. Magalhães, J. Oliveira, A. Ascenção, J.M.C. Soares

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DISCUSSÃOOs resultados do estudo 1 não evidenciaramdiferenças bilaterais de força entre voleibolistas efutebolistas, com excepção da diferença significativaencontrada nos músculos flexores do joelho quandoavaliados a 90º.seg-1. Estes resultados parecemrealçar o carácter bilateral destas modalidades.Efectivamente, a frequente utilização de algumashabilidades específicas do futebol com manifestapreferência lateral, como por exemplo o passe, oremate, os tackles e/ou aspectos específicos dotreino, contrariamente ao que seria de esperar, nãoinduzem incrementos pronunciados da força nomembro dominante e, consequentemente, diferençasbilaterais acentuadas. Também Bennell et al. (6) nãoencontraram diferenças bilaterais significativas nosmúsculos flexores do joelho em 102 jogadores defutebol australiano. No entanto, num estudoefectuado por Wang et al. (39) em voleibolistas, foramencontradas diferenças significativas de força nosmúsculos rotadores do ombro, quando avaliados emmodo isocinético, entre o membro superiordominante e não dominante. Para os autores, autilização sistemática de um dos membrosrelativamente ao outro nas acções de remate e doserviço poderá justificar as diferenças encontradas.Deste modo, e tendo em conta que no voleibol alógica da utilização dos membros superiores éanáloga à dos membros inferiores no futebol, aausência de diferenças entre os grupos do nossoestudo poderá eventualmente ser explicada: (i) pelaparticipação mais activa e diferenciada quanto aomodo contráctil do membro inferior não dominantenas acções de passe e remate do futebolista (27); (ii)pela menor frequência absoluta da realização deacções unilaterais de alta intensidade do futebolistacomparativamente com as acções de serviço e remateutilizadas pelos voleibolistas (para refs ver 28, 33).Efectivamente, num estudo com jovens futebolistasitalianos(11), a exemplo dos nossos resultados, nãoforam encontradas diferenças bilaterais de forçaentre os membros dominante e não dominante.Mognoni et al. (30) encontraram torques máximosmais elevados na extensão do joelho do membroinferior não dominante comparativamente aodominante, ainda que não tenham referido o modode contracção utilizado. Estes resultados realçam a

importância da intensidade do trabalho desenvolvidopelo membro inferior não dominante, como perna deapoio, na realização de algumas acções motorascaracterísticas do futebol e, consequentemente,reflectem a influência destas acções nos ganhos deforça do membro contralateral.De salientar ainda no nosso estudo que, para ambasas modalidades, todos os valores encontrados nesteparâmetro se encontram dentro dos critériosconsiderados adequados, i.e., inferiores a 10-15% (9),podendo por isso considerar-se que os voleibolistas eos futebolistas são atletas funcionalmenteequilibrados (quadro 1).A razão de força antagonista/agonista tem sidoassociada com as exigências específicas da actividadefuncional dos desportos (10). Os nossos resultadosparecem confirmar este facto. À velocidade angularde 90°.seg.-1 encontramos diferenças significativasentre os voleibolistas e futebolistas. Os primeirosapresentam uma razão mais baixa do que osfutebolistas, por apresentarem maior fraqueza dosisquiotibiais. Este facto pode dever-se àscaracterísticas da modalidade (29), o que no caso dovoleibol resulta para o quadriceps numa solicitaçãofrequente em muitas das acções típicas, ou/e porinsuficiente trabalho compensatório de força dosmúsculos isquiotibiais. Pese embora possamos estarperante um facto resultante de uma adaptaçãoespecífica às exigências do voleibol, este facto poderepresentar um factor de risco acrescido à ocorrênciade lesões nos tecidos moles (4, 29, 40, 41). SegundoAagaard et al. (3), valores da razão I/Q inferiores acerca de 60%, quando avaliados a baixas velocidades,poderão aumentar a susceptibilidade de ocorrênciade lesões. Alguns autores (para ref.’s ver 20) sugerem queos aumentos acentuados da força do quadricepsinduzidos pelo treino poderão estar associados àdiminuição da co-activação antagonista dosmúsculos isquiotibiais (37), favorecendo asusceptibilidade de lesões no joelho, nomeadamentede stress tensional no ligamento cruzado anterior(LCA), por decréscimo das forças estabilizadorasdesta articulação.Diversos autores (1, 3, 24) têm sugerido que a razão I/Q poderá ser interpretada como um indicador dacapacidade dos isquiotibiais em contrariar atranslação anterior da tíbia relativamente ao fémur

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(shear forces), particularmente nos últimos ângulosde extensão do joelho e durante a realização decontracções intensas do quadriceps. Da mesma forma,os resultados de alguns estudos com recurso àelectromiografia (1, 15) sugerem que a co-activaçãodos isquiotibiais, nomeadamente do biceps femoral(1), poderá também representar um mecanismo deestabilidade articular durante a rotação interna datíbia na extensão do joelho. De facto, devido àlocalização externa da inserção distal deste músculo,a rotação interna da tíbia nos movimentos deextensão do joelho parece ser contrariada pela acçãoantagonista do biceps femoral. Por estas razões, estesautores sugerem que a força produzida pelosisquiotibiais enquanto antagonistas no movimentode extensão do joelho, poderá determinar índices deco-activação com carácter de protecção funcional daarticulação, nomeadamente da integridade do LCA.Este ligamento, sendo considerado uma dasestruturas mais importantes na restrição daamplitude do movimento de gaveta da tíbiarelativamente ao fémur durante a extensão dojoelho, é sujeito a grande stress (29). Por isso, noestudo epidemiológico das lesões nos jogosdesportivos colectivos (16, 17, 21), a lesão do LCAconstitui-se como uma das mais frequentes (34).Em estudos com animais e humanos (15) tem sidoreferida a existência de um mecanismo de reflexoneural por parte do LCA na activação dosisquiotibiais e também dos gémeos (15) durante aextensão do joelho. Para além disso, DeLuca eMambrito(13) sugerem que em alguns tipos demovimentos, nomeadamente naqueles em que deforma antecipada é prevista uma respostaneuromuscular compensatória, parece existir ummecanismo de condução neural comum, ou tambémdenominado de activação neural proporcional, emque o sistema nervoso central parece controlar deforma sistemática e coordenada a activação demotoneurónios agonistas e antagonistas. Destaforma, parece provável que movimentos de extensãodo joelho representem situações em que, por ummecanismo de activação neural proporcionalagonista-antagonista, a força compensatóriaproduzida pelos isquiotibiais é antecipadadiminuindo o stress induzido ao LCA pela contracçãodo quadriceps.

Num estudo com velocistas (22) foi analisada aimportância da força produzida pelos isquiotibiaiscomo factor de prevenção de lesões neste mesmogrupo muscular. Verificou-se que os atletaslesionados, quando comparados com os nãolesionados, apresentavam baixos índices de forçanesse grupo muscular e, consequentemente, darazão I/Q quando avaliada de forma excêntrica numamplo espectro de velocidades angulares e de formaconcêntrica a 30º.seg.-1. Desta forma, poderemosconsiderar este parâmetro isocinético como umaimportante referência da estabilidade da articulaçãodo joelho e da prevenção de lesões nos músculosflexores.De salientar ainda que estudos comparativos dasalterações neuromusculares induzidas por diferentestipos de exercício sugerem que, após exercíciointenso prolongado do tipo intermitente, se registamdiminuições significativas da força muscular geradapelos isquiotibiais e incrementos no tempo de atrasoelectromecânico deste grupo muscular. Estes factosnão só comprometem a estabilidade da articulaçãodo joelho por aumento da laxidez articular, comorepresentam uma forte ameaça à integridade do LCA(18, 29). Desta forma, realça-se a importância da forçaproduzida pelos isquiotibiais, enquanto músculosantagonistas, como factor de prevenção daintegridade desta articulação, em especial durante arealização de exercícios intensos e prolongados decarácter intermitente, como por exemplo um jogo defutebol ou de voleibol.Segundo Aagaard et al. (3, 4) a razão entre o torquemáximo dos isquiotibiais no modo excêntrico e otorque máximo do quadriceps no modo concêntrico,ao contrário da por nós utilizada (concêntrico/concêntrico), parece ser, do ponto de vista funcional,mais específica do padrão de movimentos de flexão eextensão realizados em torno da articulação dojoelho em determinadas acções motoras, como porexemplo o remate do futebolista. Nesta perspectiva,a avaliação dos músculos flexores do joelho érealizada no modo excêntrico, já que esse é o padrãode co-activação desenvolvido enquanto grupomuscular antagonista em diversas acções motoras,particularmente na desaceleração do membroinferior nas últimas fases da extensão do joelho. Noentanto, este método de avaliação poderá apresentar

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dificuldades de operacionalização, tornando-seinviável como instrumento massivo de controlo eacompanhamento do treino em atletas de altorendimento. A avaliação desta relação de força nomodo concêntrico/excêntrico pode não só revelar-semuito demorada em virtude das característicastécnicas do dinamómetro, como também serinfluenciada pelo factor aprendizagem. Devido à suaelevada exigência coordenativa, a avaliação demovimentos isocinéticos no modo excêntrico, semexperiências anteriores, é complexa, podendodistorcer os resultados.Os dados relativos às diferenças bilaterais de força eda razão I/Q em diferentes idades, com excepção darazão I/Q entre atletas juniores e sub16 no membrodominante a 360º.seg.-1, não evidenciaram diferençassignificativas entre os grupos. Do nossoconhecimento, não existem estudos acerca do efeitoda idade no perfil de força muscular, avaliada emdinamómetros isocinéticos em voleibolistas.Contudo, num estudo efectuado com futebolistas deelite (20) foram encontradas diferenças significativasna razão recíproca (torque excêntrico máximo dosisquiotibiais dividido pelo torque concêntricomáximo do quadriceps) do membro inferiordominante com a idade. O facto de tais diferençasnão terem sido igualmente encontradas no membroinferior não dominante, levou os autores a concluirque provavelmente o efeito da adaptação ao treinoespecífico, nomeadamente pela maior cargaexcêntrica a que está sujeito o membro dominanteno futebol de alto nível, poderá ter tido maiorinfluência na diferenciação da razão I/Q do que ofactor idade. De salientar ainda que, no referidoestudo, tais diferenças reportam-se a avaliaçõesrealizadas em modos de contracção diferentesdaqueles por nós utilizados. Porém, quandoavaliados no modo concêntrico/concêntrico, aexemplo dos nossos resultados, os autores nãoencontraram diferenças significativas entre osgrupos de diferentes idades. No mesmo estudo, nasavaliações realizadas no modo excêntrico/excêntrico,a razão I/Q alterou-se significativamente com aidade em todo o espectro de velocidades angularesutilizado. No que diz respeito à razão recíproca(excêntrico/concêntrico), apenas à velocidadeangular de 300º.seg.-1 foram encontradas diferenças

significativas entre futebolistas jovens e adultos.Assim, considerando a nossa amostra e de acordocom os resultados obtidos, ao contrário do sugeridopor Calmels e Minaire (10) não parece existir umpadrão diferenciado de desenvolvimento da força doquadriceps e dos isquiotibiais com a idade. Assimsendo, a idade não parece induzir alteraçõessignificativas no padrão do equilíbrio bilateral daforça muscular dos membros inferiores e na razãoantagonista/agonista quando avaliada no modoconcêntrico.Os resultados obtidos no estudo 2 quanto à razão I/Q revelam que, à excepção do membro nãodominante a 360º.seg.-1, os sujeitos do sexofeminino apresentam valores significativamente maisbaixos do que os do sexo masculino. Para alémdisso, ambos os grupos, com especial destaque parao do sexo feminino, apresentam valores quepodemos considerar baixos. Tal como sugerido nadiscussão dos resultados do estudo 1, a explicaçãopara este facto poderá advir das característicasfuncionais das principais acções de jogo. De facto, novoleibol, a hipersolicitação do grupo muscularquadriceps e/ou um reduzido treino de força dos seusantagonistas poderá explicar este perfil de força. Deforma idêntica aos nossos resultados, Griffin et al.(19) verificaram que em sujeitos adultos destreinadosa razão I/Q, independentemente do tipo decontracção e das velocidades utilizadas, erasignificativamente inferior no sexo feminino.Assim, sugerimos que o treino do voleibol não será,por si só, susceptível de alterar as diferençasrelativas de força entre os isquiotibiais e o quadriceps,mantendo-se o efeito do sexo mesmo em sujeitostreinados. Dada a escassez de estudos quereproduzam e esclareçam, de forma clara, o efeito dosexo nas alterações da razão I/Q, provavelmente orecurso ao estudo de factores de naturezamorfológica, mecânica e neuromuscular poderáconcorrer para uma explicação adicional dainfluência do sexo neste parâmetro.De acordo com os resultados obtidos no estudo 3, asdiferentes funções específicas dos futebolistas e ainerente actividade funcional que lhes está associadanão parecem induzir padrões distintos no perfilisocinético da força muscular dos membrosinferiores. A similaridade encontrada no nosso

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estudo entre as diferentes funções específicascontraria a tendência dos resultados obtidos numoutro estudo (38), pelo menos no que diz respeito aostorques máximos entre guarda-redes e avançados,quando determinados a baixas velocidades. Porém,nesse estudo não é fornecida qualquer informaçãoacerca das diferenças bilaterais ou da razão I/Q. Damesma forma, Oberg et al. (31) verificaram que arazão I/Q é significativamente mais elevada nosavançados comparativamente com os guarda-redes edefesas. Para estes autores, os elevados torquesobtidos na avaliação dos músculos extensores dojoelho nos guarda-redes e defesas poderão justificaros baixos valores da razão I/Q. Eventualmente,alterações da metodologia do treino, da concepçãodo jogo, nomeadamente a maior atenção ao treinocompensatório da força muscular e a polivalência detarefas realizadas, bem como a crescente utilizaçãoindiferenciada da técnica com ambos os membros,terão conduzido nos últimos anos a umaindiferenciação do perfil de força muscular dosfutebolistas de diferentes posições específicas,justificando os nossos resultados.As diferenças bilaterais de força e a razão I/Qencontradas nos futebolistas das diferentes posiçõesespecíficas vão de encontro aos valores normativossugeridos na literatura (3, 9, 10, 23, 35) para avaliações abaixa velocidade (inferiores a 10-15% e cerca de 50-60%, respectivamente) e por nós encontrados noestudo 1. De facto, apesar de algumas habilidadesespecíficas do futebol serem habitualmenterealizadas em jogo ou no treino com preferêncialateral, os nossos resultados sugerem que,independentemente da função desempenhada, osatletas avaliados são funcionalmente equilibrados.No que diz respeito à razão I/Q, os valores médiosobtidos em atletas de algumas posições específicas(e.g. centrais e guarda-redes) encontram-sepróximos dos valores mínimos referidos comoadequados, o que poderá ser justificado quer pelaelevada predominância de solicitação do grupomuscular quadriceps em algumas habilidades técnicas,quer pelo insuficiente treino compensatório da forçados músculos isquiotibiais. De facto, De Proft et al.(12) registaram um incremento de 77% no torquemáximo dos flexores do joelho quando introduziramduas sessões semanais de treino de força para esse

grupo muscular no programa anual de uma equipade futebol belga. Na opinião dos autores, estaalteração pronunciada poderá significar umainsuficiente solicitação deste grupo musculardurante as acções típicas do futebol em treino e nacompetição e, portanto, a necessidade de treinocompensatório sistemático.Em conclusão e tendo em conta os resultados dosnossos estudos, podemos dizer que o carácterespecífico da actividade funcional das modalidadesdesportivas estudadas, a idade e a função específicanão se constituem per se factores indutores dedesequilíbrio bilateral da força muscular dosmembros inferiores. Contudo, no que concerne àrazão I/Q, a modalidade desportiva praticada e osexo, mesmo em sujeitos treinados, parecem serfactores que influenciam o perfil isocinético de força.

CORRESPONDÊNCIAJosé OliveiraFaculdade de Ciências do Desportoe de Educação FísicaUniversidade do PortoR. Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugal[[email protected]]

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Crescimento, maturação, aptidão física, força explosiva ehabilidades motoras específicas. Estudo em jovens futebolistas enão futebolistas do sexo masculino dos 12 aos 16 anos de idade

ABSTRACTGrowth, maturation, physical fitness, explosive strength andspecific motor skills. A study in Portuguese young soccer playersand sedentary young people from 12 to 16 years old.

This study had the following purposes: to investigate theimpact of selection and training on body build, physical fitness(PF), explosive strenght (ES) and specific motor skills (SMS)in Portuguese young soccer players.Sample included 226 subjects, 12 through 16 years of age,divided in 3 groups (G1-infants; G2-beginners; G3-juveniles) ofsoccer players (SP) and sedentary subjects (SS) of the same age.Somatic measures included height, weight, girths, breadthsand skinfolds. Body composition assessed fat mass and thelean mass with Boileau et al. (1985) formula. Somatotype wasrated according to the Heath-Carter method (1967). Genitaldevelopment was evaluated by the Tanner method (1962).Physical fitness was measured by the AAHPERD (1987) testbattery performance related. The evaluation of the ES wasaccomplished through the Bosco (1983) procedures, and SMSwith the test battery of the Federação Portuguesa de Futebol(1986). Statistical procedures included: mean, standarddeviation, Qui-Square, the t-test and ANCOVA.In G1 maturation, selection and training had no relevant effectfavouring SP in comparison with SY in the somatic structureand ES. On the contrary, it was verified that training had animpact on SP in the great majority of components of the PFexcept standing long jump and 12 minute run.In G2 maturation, selection and training had no effect favouringSP, in the weight, meso and ecto somatotype components, SJand CMJ. On the other hand, on SP, training had an impact in fatmass, endomorphy and in the majority of the components of thePF, but not standing long jump and 12 minute run.In G3 there was no remarkable effect of maturation, selectionand training favouring SP relatively to SY, in the endomorphy,SJ and CMJ. On the contrary, it was stated, on SP, thattraining had an impact in weight, in lean mass and in thegreat majority components of PF but not standing long jumpand 12 minute run.

Key Words: Growth, Maturation, Physical Fitness, Explosivestrength, Motor skills.

RESUMOEste estudo investiga o impacto da maturação, da selecção e dotreino na estrutura somática (ES), na aptidão física (AF), naforça explosiva (FE) e nas habilidades motoras específicas(HME) de jovens jogadores de futebol. A amostra é constituídapor 226 sujeitos com idades compreendidas entre os 12 e os 16anos distribuídos por 3 grupos (G1-infantis; G2-iniciados eG2-juvenis) de jogadores de futebol (JF) e de jovenssedentários (JS) do mesmo escalão etário. As medidassomáticas analisadas incluíram a altura, o peso, os perímetros,os diâmetros e pregas de adiposidade subcutânea quepermitiram estimar dois compartimentos da massa corporal eo somatótipo. O desenvolvimento genital foi avaliado atravésdas tabelas descritas por Tanner (1962). A AF foi avaliada pelabateria de testes da AAHPERD relacionada com a performance edescrita em Kirkendall et al. (1987). A avaliação da FE foirealizada através do protocolo descrito por Bosco et al. (1983).As HME foram avaliadas de acordo com a bateria de testes daFederação Portuguesa de Futebol (1986). Os procedimentosestatísticos incluíram a média aritmética, desvio-padrão, t-teste de medidas independentes e a ANCOVA. No G1 amaturação, a selecção e o treino não tiveram um efeitosignificativo favorecendo os JF relativamente aos JS naestrutura somática e na força explosiva. Pelo contrário,constatou-se que o treino tinha um impacto nos futebolistasna grande maioria das componentes da AF, à excepção da forçainferior e resistência aeróbica. No G2 a maturação, a selecção eo treino não tiveram um efeito favorecendo os JF no peso, nomesomorfismo, no ectomorfismo, no SE e no SCM. Pelocontrário, nos futebolistas, o treino tinha um impacto, namassa gorda, no endomorfismo e na grande maioria dascomponentes da AF, exceptuando a força inferior e resistênciaaeróbica. No G3, e de igual forma, não houve um efeitomarcado da maturação, da selecção e do treino favorecendo osJF relativamente aos JS no endomorfismo, no SE e no SCM.Contudo, constatou-se, através dos resultados apresentadospelos futebolistas, que o treino tinha um impacto no peso, namassa magra, e na grande maioria das componentes da AF,exceptuando a força inferior e a resistência aeróbica.

Palavras-chave: Crescimento; Maturação; Aptidão Física; ForçaExplosiva; Habilidades Motoras.

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2001, vol. 1, nº 2 [22–35]

A. SeabraJ.A. MaiaR. GargantaFaculdade de Ciências do Desporto e de Educação FísicaUniversidade do Porto, Porto, Portugal

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Aptidão física e habilidades motoras em jovens futebolistas

1. INTRODUÇÃOA “evolução” do Futebol, enquanto jogo desportivocolectivo, tem passado, cada vez mais, pelo estudoe sistematização de elementos relativos a duasrealidades interdependentes: o jogo e o jogador (25).No que se refere ao jogo, têm sido realizadosestudos com diferentes focagens e alcances diversos(ver por exemplo: 1, 19, 23, 26, 28, 44). O mesmo tem ocorridopara o “indivíduo que joga”, isto é, o jogador.Contudo, os trabalhos efectuados circunscrevem-se,essencialmente, ao Futebol de alto nível e aojogador sénior.No que concerne à criança e ao jovem jogador deFutebol importa salientar que as pesquisas sãoescassas. Tal facto não parece ser muitocompreensível dado que o jovem atleta se encontranuma das primeiras etapas da sua preparação eformação e que visam o alto rendimento desportivo.Torna-se imperioso conhecer e sistematizar a maiorquantidade e diversidade de informação acerca dosjovens que são submetidos, desde muito cedo, aactividades físicas organizadas, altamenteespecializadas e sistemáticas, sobretudo no que àresposta ao treino e competição dizem respeito.Facilmente podemos constatar que os jovens,futebolistas e não futebolistas, da mesma idade esexo, apresentam diferenças significativas ao níveldos aspectos somáticos, da aptidão física geral eespecífica, e das respectivas habilidades. Contudo,nem sempre é claro se tal diferenciação é devida aotreino, à variabilidade maturacional que caracterizaos jovens no período pubertário, ou ao processo deselecção de jovens utilizado no Futebol. Parece-nosfundamental esclarecer de modo adequado estasquestões.O treino e a actividade física regular são geralmenteinterpretados como tendo uma influência favorávelno crescimento, na maturação e na aptidão física dacriança e do jovem (37). No entanto, a performancemotora dos adolescentes do sexo masculino estásignificativamente relacionada com o seu estatutomaturacional. Os rapazes maturacionalmenteavançados evidenciam, geralmente, melhoresperformances do que os atrasados na maturação (36).Segundo Bailey & Mirwald (6), a variabilidade doestatuto maturacional caracteriza os jovens quepraticam desporto, sendo especialmente evidente no

período pubertário. De facto, nos rapazes, entre os 9e os 16 anos, as variações associadas com amaturação biológica são muito significativas (32).Assim, ao afirmar-se que os jovens atletas sãodiferentes dos não atletas da sua idade e sexo,devemos questionar se tal é devido ao treino ou àvariabilidade do processo de maturação, dado queuma grande parte das diferenças nas dimensões,forma, composição do corpo e performance égovernada pelo estatuto maturacional (34).Contudo, além do treino e variação no estatutomaturacional, outro factor parece perfilar-sedeterminante, isto é, o processo de selecção para umdeterminado desporto. Os jovens atletas onde sevislumbra algum sucesso na sua resposta ao treino ecompetição, são um grupo altamente seleccionado,tomando por base geralmente as suas habilidades, eem alguns desportos, o tamanho dos sujeitos (6, 32).Consideramos, pois, relevante identificar os efeitosdo treino intensivo e sistemático, da maturação e doprocesso de selecção, sobre os aspectos somáticos,aptidão física geral e específica e habilidades nospraticantes desta modalidade. Este motivo é tantomais importante quando se sabe que nunca foirealizado nenhum estudo sobre esta temática emPortugal, e que são bem escassas as pesquisaspublicadas internacionalmente.O presente estudo tem, pois, por motivo centralidentificar o efeito da maturação, da selecção e dotreino na estrutura somática, na aptidão física, naforça explosiva e nas habilidades motoras específicasem jovens futebolistas.

2. MATERIAL E MÉTODOS2.1. AmostraA amostra é constituída por 226 sujeitos do sexomasculino de idade cronológica compreendida entreos 12 e os 16 anos. Cento e trinta e nove (139) sãopraticantes de Futebol federado, pertencentes aequipas de níveis competitivos diferenciados: 47integrados numa das melhores equipas nacionais; 48pertencem a uma equipa que “luta” pelo apuramentopara as fases finais; e 44 a uma outra empenhada nasubida aos Campeonatos Nacionais. Oitenta e setesão estudantes do 2º e 3º Ciclo do Ensino Básico,que nunca praticaram de modo regular qualqueractividade desportiva, excepção feita para as aulas

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curriculares de Educação Física.Os sujeitos da amostra foram distribuídos por trêsescalões existentes na modalidade Futebol: infantis(com idade cronológica entre os 10 e os 12 anos;futebolistas=11.74±0.44; nãofutebolistas=11.97±0.49), iniciados (entre os 13 eos 14 anos; futebolistas=13.52±0.50, nãofutebolistas=13.53±0.50) e juvenis (entre os 15 eos 16 anos de idade; futebolistas=16.09±0.54, nãofutebolistas=15.93±0.54).

2.2. Metodologia2.2.1. Estrutura somática e maturaçãoForam efectuadas 10 medidas somáticas, incluindo,além da altura e do peso, diâmetros, perímetros epregas de adiposidade subcutânea. O protocoloutilizado foi o proposto pelo International WorkingGroup on Kinanthropometry (IWGK), descrito por Ross& Marfell-Jones (45) e por Borms (14). A composiçãocorporal incluiu o cálculo da massa gorda e da massaisenta de gordura de acordo com as propostas deBoileau et al. (12). O somatótipo foi determinado deacordo com o método de Heath-Carter (29). Odesenvolvimento genital foi avaliado através dascartas descritas por Tanner (50).No Quadro 1 está referenciada a distribuição dossujeitos dos dois grupos por nível de maturaçãosexual secundária.

Quadro 1 – Distribuição dos elementos da amostra pelos diferentesestádios de maturação, de acordo com o escalão.

Futebolistas Não Futebolistas

Estádio deMaturação 1 2 3 4 5 1 2 3 4 5Infantis 5 32 9 – – 7 20 2 – –Iniciados – 7 17 20 3 – 13 6 9 2Juvenis – – 16 30 – – – 2 17 9

2.2.2. Aptidão FísicaA avaliação da aptidão física foi efectuada de acordocom a bateria de testes propostos pela AAHPERDrelacionada com a performance e descrita em

Kirkendall et al. (31). Esta bateria propõe-se avaliar aaptidão física em função das seguintes componentes:(1) força superior - elevações na barra; (2) forçamédia - abdominais; (3) força inferior - saltohorizontal; (4) agilidade - corrida vai e vem; (5)velocidade - corrida de 50 metros; e (6) corrida de12 minutos - resistência.

2.2.3. Força ExplosivaA avaliação da força explosiva foi realizada atravésdo protocolo descrito por Bosco et al. (16). Para oefeito cada sujeito realizou três saltos: (1) saltovertical máximo a partir de uma posição estática(SE); (2) salto vertical máximo comcontramovimento (SCM); e (3) saltos verticaismáximos consecutivos durante um período de 15segundos (PMM).

2.2.4. Habilidades Motoras EspecíficasA avaliação das habilidades motoras específicas doFutebol foi efectuada com base numa bateria detestes da Federação Portuguesa de Futebol (21). Ostestes pretendem descrever o nível de aptidão nasseguintes habilidades: (1) domínio e controlo dabola com o pé; (2) domínio e controlo da bola com acabeça; (3) dribling / passe; (4) passe; (5) remate;(6) condução / velocidade.

2.3. Procedimentos EstatísticosOs procedimentos estatísticos utilizados foram osseguintes: média aritmética, desvio-padrão, teste deQui-quadrado, t-teste de medidas independentes eanálise de covariância (ANCOVA). O programaestatístico utilizado foi o Systat 5.0 e o nível designificância foi mantido em 5%.

3. RESULTADOSOs resultados das variáveis serão apresentados(numa tabela e somatocarta) pelos diferentesescalões competitivos.

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3.1.1. InfantisQuadro 2 – Média (x), desvio padrão (sd), valor da estatística t e significado estatístico (p) da diferença de médias entre os infantis comdiferente prática desportiva.

Futebolistas Não FutebolistasVariáveis x ± sd x ± sd t pMedidas SomáticasAltura 149.14 ± 6.74 147.46 ± 6.53 1.06 0.295Peso 42.53 ± 5.62 42.11 ± 7.82 0.27 0.787Composição CorporalMassa gorda 6.44 ± 2.82 7.76 ± 4.72 - 1.51 0.135Massa magra 36.09 ± 3.84 34.31 ± 3.81 1.96 0.053SomatótipoEndomorfismo 2.50 ± 1.10 3.14 ± 1.86 - 1.87 0.064Mesomorfismo 4.44 ± 0.58 4.58 ± 0.84 - 0.87 0.385Ectomorfismo 2.77 ± 0.93 2.60 ± 1.13 0.69 0.488Aptidão FísicaElevações na barra 0.94 ± 0.98 0.79 ± 1.13 0.60 0.551Abdominais 38.91 ± 7.68 28.25 ± 7.25 5.92 0.000Salto horizontal 1.69 ± 0.18 1.58 ± 0.17 2.65 0.01Corrida vai e vem 10.69 ± 1.61 12.14 ± 0.74 - 4.48 0.000Corrida de 50 metros 8.88 ± 0.62 9.74 ± 0.74 - 5.34 0.000Corrida de 12 minutos 2346.09 ± 348.86 2035.71 ± 486.03 3.19 0.002Força ExplosivaSE 26.30 ± 4.50 25.29 ± 4.41 0.94 0.350SCM 26.57 ± 4.89 25.62 ± 4.13 0.86 0.391PMM 26.04 ± 5.99 24.73 ± 4.96 0.97 0.334Hab. Mot. EspecíficasDomínio e controlo pé 30.80 ± 26.2 8.52 ± 6.27 4.49 0.000Domínio e controlo cabeça 6.70 ± 3.91 3.69 ± 2.10 3.81 0.000Dribling / passe 7.74 ± 0.77 12.11 ± 3.46 - 8.27 0.000Passe 2.37 ± 1.16 1.59 ± 1.02 2.98 0.000Remate 6.96 ± 3.04 5.00 ± 3.17 2.67 0.009Condução / velocidade 13.79 ± 0.82 17.22 ± 2.95 - 7.48 0.000

Futebolistas Não futebolistas

Mesomorfo

Endomorfo Ectomorfo

Figura 1 – Somatocarta dos infantis.

No escalão de infantis, os resultados encontradosrevelaram diferenças estatisticamente significativasfavorecendo os futebolistas, na maturação genital,nos abdominais, no salto horizontal, na corrida vai evem, na corrida de 50 metros, na corrida de 12minutos e em todas as habilidades motorasespecíficas.Ao removermos o efeito da maturação através daANCOVA, constatamos que as diferenças existentescontinuaram a ser estatisticamente significativas, àexcepção do salto horizontal e da corrida de 12minutos.

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3.1.2. IniciadosQuadro 3 – Média (x), desvio padrão (sd), valor da estatística t e significado estatístico (p) da diferença de médias entre os iniciados comdiferente prática desportiva.

Futebolistas Não FutebolistasVariáveis x ± sd x ± sd t pMedidas SomáticasAltura 162.41 ± 8.27 155.48 ± 9.84 3.36 0.001Peso 52.31 ± 8.21 48.86 ± 11.70 1.53 0.129Composição CorporalMassa gorda 6.79 ± 1.95 8.73 ± 5.38 - 2.26 0.026Massa magra 45.52 ± 7.04 40.39 ± 7.62 3.02 0.003SomatótipoEndomorfismo 1.95 ± 0.50 3.07 ± 1.83 - 3.98 0.000Mesomorfismo 4.15 ± 0.99 4.55 ± 1.50 - 1.43 0.156Ectomorfismo 3.30 ± 0.81 2.96 ± 1.10 1.55 0.124Aptidão FísicaElevações na barra 3.34 ± 2.57 0.87 ± 1.20 4.99 0.000Abdominais 43.91 ± 5.87 32.90 ± 7.36 7.33 0.000Salto horizontal 1.89 ± 0.20 1.70 ± 0.28 3.41 0.001Corrida vai e vem 10.76 ± 0.83 11.66 ± 0.98 - 4.38 0.000Corrida de 50 metros 8.42 ± 0.40 9.36 ± 1.17 - 5.10 0.000Corrida de 12 minutos 2553.11 ± 255.75 2245.16 ± 507.27 3.54 0.001Força ExplosivaSE 30.30 ± 4.78 28.04 ± 6.31 1.81 0.075SCM 31.39 ± 4.89 28.77 ± 6.94 1.96 0.053PMM 31.98 ± 5.53 26.50 ± 6.63 3.96 0.000Hab. Mot. EspecíficasDomínio e controlo pé 47.66 ± 45.12 12.73 ± 11.39 4.15 0.000Domínio e controlo cabeça 9.55 ± 7.75 4.90 ± 4.71 2.95 0.004Dribling / passe 8.23 ± 1.13 11.68 ± 3.23 - 6.73 0.000Passe 2.79 ± 1.6 2.10 ± 1.54 1.86 0.06Remate 6.51 ± 3.35 4.77 ± 3.03 2.31 0.02Condução / velocidade 14.04 ± 1.48 16.51 ± 2.57 - 5.37 0.000

Mesomorfo

Endomorfo Ectomorfo

Futebolistas Não futebolistas

Figura 2 – Somatocarta dos iniciados.

No escalão de iniciados existem diferençasestatisticamente significativas favorecendo osfutebolistas na altura, na massa gorda, na massamagra, no endomorfismo, no estatuto maturacional,nas elevações na barra, nos abdominais, no saltohorizontal, na corrida vai e vem, na corrida de 50metros, na corrida de 12 minutos, na PMM e emtodas as habilidades à excepção da prova de passe.Contudo, ao removermos o efeito da maturaçãoatravés da ANCOVA, constatamos que deixaram dese verificar diferenças estatisticamente significativasna altura, na massa magra, no salto horizontal, nacorrida de 12 minutos e na PMM.

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3.1.3. JuvenisQuadro 4 – Média (x), desvio padrão (sd), valor da estatística t e significado estatístico (p) da diferença de médias entre os juvenis comdiferente prática desportiva.

Futebolistas Não FutebolistasVariáveis x ± sd x ± sd t pMedidas SomáticasAltura 173.41 ± 6.66 167.99 ± 7.76 3.19 0.002Peso 70.38 ± 6.41 58.95 ± 8.85 6.43 0.000Composição CorporalMassa gorda 10.85 ± 3.17 8.93 ± 4.92 2.05 0.044Massa magra 59.53 ± 5.15 50.02 ± 6.89 6.77 0.000SomatótipoEndomorfismo 2.39 ± 0.76 2.51 ± 1.55 - 0.46 0.644Mesomorfismo 4.59 ± 1.08 4.06 ± 0.94 2.11 0.038Ectomorfismo 2.21 ± 1.03 3.14 ± 1.39 - 3.29 0.002Aptidão FísicaElevações na barra 5.13 ± 3.61 2.64 ± 1.97 3.35 0.001Abdominais 50.26 ± 6.30 34.75 ± 6.87 9.93 0.000Salto horizontal 2.15 ± 0.14 1.96 ± 1.26 4.01 0.000Corrida vai e vem 10.18 ± 0.65 10.87 ± 0.83 - 3.99 0.000Corrida de 50 metros 7.36 ± 0.35 8.41 ± 0.64 - 9.18 0.000Corrida de 12 minutos 2769.65 ± 335.82 2502.68 ± 420.13 3.01 0.004Força ExplosivaSE 34.52 ± 5.09 32.26 ± 5.17 1.84 0.069SCM 35.89 ± 5.17 33.81 ± 5.47 1.64 0.105PMM 34.26 ± 6.96 29.21 ± 9.81 2.59 0.012Hab. Mot. EspecíficasDomínio e controlo pé 55.69 ± 34.19 17.71 ± 19.6 5.36 0.000Domínio e controlo cabeça 14.69 ± 9.13 6.71 ± 7.04 3.96 0.000Dribling / passe 8.83 ± 1.28 10.41 ± 2.98 - 3.16 0.002Passe 2.67 ± 1.41 2 .00 ± 1.41 1.98 0.04Remate 6.04 ± 3.13 4.96 ± 2.32 1.58 0.11Condução / velocidade 13.76 ± 0.86 15.33 ± 2.31 - 4.2 0.000

Futebolistas Não futebolistas

Mesomorfo

Endomorfo Ectomorfo

Figura 3 – Somatocarta dos juvenis.

No escalão de juvenis, os futebolistas apresentamresultados significativamente superiores na altura,no peso, na massa gorda, na massa magra, nomesomorfismo, no ectomorfismo, no estatutomaturacional, nas elevações na barra, nosabdominais, no salto horizontal, na corrida vai evem, na corrida de 50 metros, na corrida de 12minutos, na PMM e em todas as habilidades àexcepção da prova de remate.No entanto, ao removermos o efeito da maturaçãoatravés da ANCOVA, podemos constatar que àexcepção do peso e da massa magra, as diferençasexistentes deixaram de ser estatisticamentesignificativas na altura, na massa gorda, nomesomorfismo, no ectomorfismo, no saltohorizontal, na corrida de 12 minutos e na PMM.

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4. DISCUSSÃO

4.1. Estrutura somática e maturação4.1.1. Altura e pesoNo presente estudo, os futebolistas constituintes danossa amostra manifestaram claramente, em ambosos escalões, resultados superiores aos nãofutebolistas nas medidas somáticas altura e peso. Noque diz respeito à altura, foram encontradasdiferenças estatisticamente significativas entre osfutebolistas e os não futebolistas, no escalão deiniciados e de juvenis. Relativamente ao peso, asdiferenças evidenciadas entre os dois grupos só seregistaram significativas no escalão de juvenis.Por outro lado, constatou-se ainda, em todos osescalões, que os futebolistas apresentavam umestatuto maturacional mais avançado que os nãofutebolistas.Estes resultados estão em concordância com os deoutros autores (6, 32, 35, 37) que referem que grandeparte dos rapazes atletas tendem a estar maisavançados em termos maturacionais do que osjovens da mesma idade cronológica que nãopraticam qualquer desporto. Este facto poderáexplicar as diferenças dimensionais e ponderais dosjovens avançados maturacionalmente relativamenteaos jovens atrasados, que são sempre mais baixos eleves. Daqui que se questione se tais diferençasentre jovens futebolistas e não futebolistas sãodevidas ao treino, à selecção ou, pelo contrário,resultantes exclusivamente do processo normal decrescimento somático e maturação.A remoção do factor maturação mostrou ainexistência de diferenças significativas na altura.Este facto mostrou claramente que a altura é umamedida somática fortemente dependente davariância maturacional, a que se associa umaheritabilidade elevada, sobretudo nos parâmetros dosalto pubertário.Quando se considera o estatuto maturacional dossujeitos, o treino regular não apresenta um efeitoestimulador no crescimento estatural para além doque se espera do genótipo dos sujeitos (6, 32, 38) emcondições adequadas do envolvimento.No peso, mesmo após a remoção do efeito damaturação, as diferenças mantiveram-seestatisticamente significativas. Tal sugere que o

treino é um dos agentes que influencia esta medidasomática. Malina (37) refere que rapazes adolescentestendem a aumentar o seu peso em associação àactividade físico-desportiva regular. Estes ganhosdevem estar relacionados com o aumento da massaisenta de gordura (massa muscular) que ocorredurante e após o pico de velocidade de altura e seprolonga até ao adulto jovem. A este efeito há aacrescentar os estímulos provenientes do própriotreino sobre a massa isenta de gordura.

4.1.2. Composição corporalOs resultados encontrados neste trabalho mostraramno escalão de infantis e de iniciados, valoressuperiores de massa gorda dos não futebolistasrelativamente aos futebolistas. No escalão de juvenisos futebolistas apresentaram resultados superiores,contudo as diferenças só se revelaramestatisticamente significativas no escalão deiniciados e de juvenis.Do mesmo modo, na massa isenta de gordura, só seregistaram diferenças estatisticamente significativasentre os grupos nos escalões de iniciados e de juvenis.Estes resultados estão em concordância com os deBailey & Martin (5) e de Malina (35) - os rapazesmais activos e os atletas infanto-juvenis possuemuma menor massa gorda e maior massa isenta degordura (massa muscular) quando comparados comos moderadamente ou normalmente activos e osnão atletas.Contudo, e segundo alguns autores (7, 12), acomposição corporal altera-se consideravelmentedurante o processo normal de crescimento somático,sobretudo na fase pubertária e pós-pubertária sendo,por isso, extremamente difícil separar as alteraçõesque são devidas ao treino daquelas que estãoassociadas ao crescimento e maturação. Apósremoção do efeito maturacional verificou-se que namassa gorda as diferenças se mantinhamestatisticamente significativas no escalão deiniciados. O mesmo não aconteceu no de juvenis. Namassa isenta de gordura as diferenças deixaram deser estatisticamente significativas no escalão deiniciados e mantiveram-se no de juvenis.Beunen (8) e Malina (37) referem que nos rapazes amassa isenta de gordura (i. e. a massa muscular)está associada ao processo maturacional sendo que

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tal associação é relativamente fraca durante ainfância e moderadamente forte no períodopubertário. Os resultados encontrados salientam oefeito positivo da actividade física regular e o dotreino no aumento da massa isenta de gorduraparticularmente no período pós-pubertário (escalãode juvenis).

4.1.3. SomatótipoNo que diz respeito à morfologia externa do corpo(somatótipo) e particularmente às suascomponentes, pudemos constatar a existência dediferenças entre futebolistas e não futebolistas nosdiferentes escalões.No escalão de infantis, os somatótipos médios nãodiferiram significativamente entre os dois grupos.No escalão de iniciados, os não futebolistasapresentaram valores superiores na componenteendomórfica. Após remoção do efeito da maturaçãoas diferenças permaneceram estatisticamentesignificativas. Nos juvenis, os futebolistas revelaramresultados significativamente superiores nacomponente endomórfica e inferiores naectomórfica. Contudo, após remoção do efeito damaturação as diferenças deixaram de serestatisticamente significativas.Neste estudo, pudemos constatar, tanto nosfutebolistas como nos não futebolistas, que acomponente mesomórfica é dominante. Estacomponente diminui os seus resultados do escalãode infantis para o de iniciados para voltar aevidenciar valores mais elevados nos juvenis. Carter(18) refere que, nos rapazes atletas, a tendência paraaumentar em mesomorfia é um fenómeno evidenteda adolescência até à idade adulta. Este facto éigualmente verdadeiro para as populações nãoatléticas. Contudo, e de acordo com alguns autores(20, 30, 49), a mesomorfia diminui ligeiramente nosrapazes, quer atletas quer não atletas, do take-offpara o pico de velocidade da altura (PVA). Estadiminuição está provavelmente relacionada com oaumento em ectomorfia. Isto é, verifica-se primeiroum aumento da linearidade, para após o PVA seconstatar um aumento do peso e umapredominância da mesomorfia.Nesta pesquisa os não futebolistas, em todos osescalões, revelam valores superiores na componente

endomórfica. Tal circunstância é clara na literaturasomatotipológica.Carter (18) refere estudos de somatótipos realizadosem atletas de alto nível mostrando a predominânciada mesomorfia relativamente à endomorfia. Estepadrão é diverso daquele presente em amostras dereferência e em atletas de baixo nível competitivo.De acordo com este autor, o treino e a participaçãoem desportos tendem a aumentar a mesomorfia e adiminuir a endomorfia.

4.2. Aptidão física4.2.1. Força superiorNesta componente da aptidão física, os futebolistasevidenciaram resultados superiores aos nãofutebolistas em todos os escalões.No escalão de infantis, os valores apresentados pelosfutebolistas apesar de superiores não foramsignificativamente diferentes dos manifestados pelosnão futebolistas, uma vez que foram poucos oselementos da amostra que conseguiram realizar umaelevação na barra.Nos escalões de iniciados e de juvenis, os resultadosencontrados para os futebolistas foram muitosuperiores e significativamente diferentes dosapresentados pelos não futebolistas.Na prova de elevações na barra, o efeito gravítico temuma importância fundamental nas performanceseventualmente realizadas, uma vez que o sujeito temnecessidade de mover e suportar o seu peso corporalcontra a acção da gravidade. Fleishman (22) encontrounesta prova uma correlação negativa entre o pesocorporal e a performance, ou seja, quanto maior o pesocorporal do sujeito piores são as performancesrealizadas. Esta relação é corroborada pelo facto doaumento do peso corporal e das dimensões linearescondicionarem alometricamente a performance (ver por

exemplo 2). Enquanto a área de secção transversa dosmúsculos aumenta para L2, a massa é proporcional aL3, implicando uma desvantagem nítida dos sujeitosdimensionalmente superiores (ver 3).Safrit (46) adiciona a circunstância da performancenesta prova estar negativamente correlacionada coma gordura corporal. Neste estudo, os não futebolistasapresentam valores de composição corporal e demorfologia externa muito diferentes dosevidenciados pelos futebolistas.

Aptidão física e habilidades motoras em jovens futebolistas

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Relativamente à composição corporal, podemosverificar que no escalão de iniciados, os nãofutebolistas manifestam valores superiores de massagorda (+1.94kg) e menores de massa isenta degordura (-5.13kg).No escalão de juvenis, os valores de massa gordatornam-se semelhantes, enquanto que na massaisenta de gordura as diferenças entre futebolistas enão futebolistas se tornam muito superiores(9.51kg). Por outro lado, nestes dois escalões, osfutebolistas revelam uma morfologia externadiferenciada da dos não futebolistas. Enquanto nosfutebolistas predomina a componente mesomórficaque exprime a robustez do esqueleto e odesenvolvimento da musculatura, nos nãofutebolistas prevalece a componente endomórficaque, como se sabe, exprime a tendência para aadiposidade. Estes factos justificam, também, partedo diferencial de resultados obtidos.No entanto, e como suspeitávamos que a maturaçãofosse um factor capaz de influenciar estes resultados,removemos o seu efeito. Após a remoção,constatámos que as diferenças existentes entrefutebolistas e não futebolistas se mantinhamestatisticamente significativas. Estes resultadossugerem que o treino é um dos factores responsáveispela melhoria da performance desta componente daaptidão física.

4.2.2. Força médiaOs futebolistas apresentaram valoressignificativamente superiores aos evidenciados pelosnão futebolistas em todos os escalões.Resultados diferentes foram encontrados porVerschuur (51) e Beunen et al. (11) em amostras dejovens activos e inactivos dado não encontraremdiferenças de realce entre eles. No entanto, Beunen(8) refere que nos rapazes com idades compreendidasentre os 12 e os 13 anos este teste estánegativamente correlacionado com a idadeesquelética, contrariamente ao que acontece acimados 14 anos de idade onde todas as capacidadesmotoras estão positivamente correlacionadas com aidade esquelética. Desse modo, atendendo ao citadoanteriormente e ao facto de sabermos que todas ascomponentes da aptidão física revelam alterações emfunção do crescimento e da maturação, procurámos

conhecer o possível efeito que a maturação poderiater tido sobre os resultados encontrados.Nesta prova, mesmo após a remoção do efeito damaturação as diferenças existentes entre futebolistase não futebolistas mantêm-se significativas. Estesresultados vêm assim mostrar, uma vez mais, que otreino tem uma influência relevante na melhoria dacapacidade de força-resistência da musculaturaabdominal.

4.2.3. Força inferiorOs resultados encontrados nesta componenteevidenciam valores superiores nos futebolistas emtodos os escalões. As diferenças encontradas foramsempre estatisticamente significativas.Resultados diferentes foram encontrados porVerschuur (51) no estudo longitudinal que realizoucom crianças activas e inactivas dos 13 aos 16 anos.Nesse trabalho, e na prova de salto horizontal, nãoforam encontradas diferenças entre as criançasactivas e inactivas.Tal como referimos anteriormente, no sexomasculino a força muscular aumenta linearmentecom a idade cronológica desde o inicío da infânciaaté aproximadamente os 13/14 anos, havendo apartir daí uma marcada aceleração no seudesenvolvimento (38, 24).É pois natural que, em cada intervalo de idade, osrapazes avançados maturacionalmente apresentemuma maior força muscular do que os rapazesatrasados na maturação. Essas diferenças na forçaentre grupos de diferente maturação são maisevidentes entre os 13 e os 16 anos de idade (24).Ao removermos o efeito da maturação verificamos,em todos os escalões, que as diferenças deixaram deser significativas. Isto sugere a elevada importânciado factor maturacional e a eventual ausência doefeito substancial do treino.

4.2.4. AgilidadeNesta prova e em todos os escalões, os futebolistasevidenciaram valores significativamente superioresaos não futebolistas.Verschuur (51) salientou as diferenças significativasde crianças e jovens activas relativamente aosinactivos, a que se parece associar um efeitointeractivo maturação x treino.

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No Futebol, o único trabalho encontrado foirealizado por Garganta et al. (27) com jovensfutebolistas de nível competitivo diferenciado (elite/não elite). Na prova de agilidade, os futebolistas deelite evidenciaram valores significativamenteinferiores relativamente aos de não elite.Pelo contrário, na pesquisa longitudinal realizadapor Beunen et al. (11) com crianças activas e inactivasdos 13 aos 18 anos não foram encontradasdiferenças de realce.Deste modo, e a exemplo do fizemos com as outrascomponentes, procuramos saber se nesta prova asdiferenças existentes entre futebolistas e nãofutebolistas eram devidas ao efeito da maturação. Apósremoção da maturação as diferenças mantinham-seestatisticamente significativas, o que nos leva a pensarque o treino tem uma influência positiva no aumentoda performance da corrida de vai e vem.

4.2.5. VelocidadeOs valores médios obtidos para a corrida de 50metros evidenciaram em todos os escalões uma“superioridade” estatisticamente significativa dosfutebolistas relativamente aos não futebolistas.Sobral (48) refere que do ponto de vista “evolutivo”se verifica um incremento acentuado da velocidadede deslocamento, avaliada através de provas decorrida curta (20 a 50 metros), dos 5 aos 16 anos deidade. O mesmo autor refere ainda que nos rapazesentre os 10 e os 13 anos se observa um aumentoregular das prestações. Marques et al. (40) salientameste aspecto ao referir que nos rapazes, a partir doperíodo pubertário, há uma maior percentagem demassa muscular e um desenvolvimento superior dacapacidade anaeróbica o que como sabemosdetermina os resultados desta componente.Desse modo, e uma vez que a componente velocidadeé condicionada pelo desenvolvimento geral doindivíduo e muito particularmente pela suamaturação biológica (39), torna-se importante saber seos resultados encontrados nesta prova eram devidos àmaturação. Para o efeito removemos a maturaçãotendo constatado que as diferenças até aí existentesse mantinham estatisticamente significativas.Estes resultados parecem evidenciar que amaturação não tem uma influência significativasobre esta componente da aptidão física. Pelo

contrário, o treino e a selecção utilizada no Futebolpoderão ser os principais factores responsáveis pelosresultados obtidos.

4.2.6. Resistência aeróbicaOs futebolistas percorreram distâncias muitosuperiores aos não futebolistas.Segundo Mirwald et al. (41) e Marques et al. (40), osvalores médios, nas provas de resistência aeróbicaavaliadas indirectamente aumentam com a idade.Com o aparecimento da puberdade, os rapazesmostram um aumento da potência aeróbica que estáclaramente relacionado com o pico de velocidade daaltura (41). Borms (13) confirma este aspecto ao referirque nos rapazes atletas, após os 12 anos de idade, háum aumento na sensibilidade ao treino do sistemacárdio-circulatório, decorrendo daqui um aumentoda capacidade aeróbica. Durante a fase decrescimento pubertário regista-se um aumento dapotência máxima aeróbica independentemente daprática ou não de actividade física. Contudo, a idadebiológica parece influenciar a potência aeróbica,dado existir uma correlação positiva entre esses doisfactores. Bailey (4) salienta que entre os 8 e os 15anos de idade, os indivíduos maturacionalmenteavançados revelam um maior consumo máximo deoxigénio do que os atrasados na maturação.Vrijens & Van Cauter (52) realizaram um estudo comjovens futebolistas com idades compreendidas entreos 10 e os 13 anos com o objectivo de avaliar ainfluência da idade biológica em diferentescomponentes da aptidão física. Uma dascomponentes avaliadas foi a capacidade aeróbicanuma prova de corrida de 6 minutos. Os resultadosencontrados mostraram valores mais baixos decapacidade aeróbica nos indivíduos atrasados namaturação. Contudo, as diferenças encontradas nãoforam estatisticamente significativas, dada a reduçãoda dimensão da amostra (n=66).Também aqui procurámos verificar se as diferençasexistentes entre futebolistas e não futebolistas eramdevidas ao efeito maturacional. Ao remover amaturação verificou-se que as diferenças deixaramde existir. Daqui que a maturação deva serconsiderado o factor influenciador das diferenças deresultados desta prova. O treino por si só não pareceter um efeito positivo na melhoria da performance

Aptidão física e habilidades motoras em jovens futebolistas

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desta componente da aptidão física nos futebolistasestudados.Beunen (8) reforça este aspecto ao referir as elevadascorrelações entre estatuto maturacional e consumomáximo de oxigénio. Contudo, quando o consumomáximo foi expresso em termos relativos ascorrelações passaram a ser baixas e deixaram de sersignificativas.

4.3. Força explosivaNo SE e no SCM, os resultados obtidos nosdiferentes escalões não apresentam diferençasestatisticamente significativas. Contudo, os valoresmais elevados expressos pelos futebolistas no testedo SE e no SCM poderão ser devidos a um melhoraproveitamento da energia elástica e da capacidadecontráctil do músculo. Bosco et al. (17) referem que opotencial elástico do músculo esquelético humano éuma propriedade que pode ser melhorada através dotreino. Deste modo, o aumento do número de anosde treino conduz a uma melhoria do aproveitamentoda contracção concêntrica no ciclo de estiramento/encurtamento. A comparação dos valores obtidos noSCM com os do SE permite constatar que os valoresencontrados no SCM são superiores, facto que vem“confirmar” que o pré-alongamento muscularaumenta a força produzida durante a contracçãoconcêntrica imediata.No teste da PMM os futebolistas apresentaramvalores superiores aos não futebolistas em todos osescalões. No entanto, as diferenças estatisticamentesignificativas só ocorrem nos escalões de iniciadose de juvenis.Contudo, constatámos que após remoção do efeitoda maturação as diferenças até aí existentes nosescalões de iniciados e de juvenis deixaram deexistir. A maturação, nestes escalões, revelou-se umfactor influenciador dos resultados, contribuindodessa forma para diferenciar futebolistas e nãofutebolistas.Segundo Beunen & Malina (9), o facto dos níveis deforça serem superiores nos indivíduos maisadiantados no estatuto maturacional reflecte emparte um maior tamanho corporal e uma maiorquantidade de massa isenta de gordura. De acordocom estes autores, os indivíduos mais avançados noprocesso de maturação estão mais predispostos para

conseguirem resultados superiores em tarefas quefaçam apelo à capacidade de força ou de força-velocidade (potência), como por exemplo os saltos,os lançamentos e os sprints.Desse modo, nos rapazes, as correlações entre aforça muscular, a prestação desportiva e osindicadores de maturação esquelética e sexualtendem a ser mais elevadas entre os 13 e os 16 anosde idade, sendo mais evidentes, nesta faixa etária, asdiferenças na força muscular entre os mais e osmenos adiantados no processo de maturação. Domesmo modo, Vrijens & Van Cauter (52) aoestudarem a influência da maturação esquelética nodesenvolvimento somático e na prestação motora de66 jovens futebolistas, com idades cronológicascompreendidas entre os 10 e os 13 anos, concluiramque a capacidade motora força muscular éinfluenciada pela maturação esquelética.Os resultados deste trabalho estão em concordânciacom os alcançados por Bosco & Luhtanen (15) noestudo que realizaram com futebolistas e nãofutebolistas dos escalões de iniciados (14 anos) e dejuvenis (16 anos). Nessa pesquisa,independentemente do escalão, os futebolistasapresentaram sempre valores superiores aos nãofutebolistas nos vários testes de força explosivarealizados. No entanto, as diferenças encontradasentre futebolistas e não futebolistas, nos diferentestestes, apenas foram estatisticamente significativasno escalão de juvenis.O estatuto maturacional é um factor que influencia onível de desenvolvimento da força muscular,nomeadamente nas formas de manifestação de força-velocidade e de força máxima, com especialincidência entre os 13 e os 16 anos de idade. Nestaconformidade e concluindo, não podemos referirclaramente se estes resultados são devidos ao treino,visto que o processo de maturação biológicainfluencia e condiciona os resultados alcançadospelos futebolistas e pelos não futebolistas.

4.4. Habilidades motoras específicasOs resultados médios obtidos no presente estudoevidenciam, em todas as habilidades motorasespecíficas do Futebol, uma superioridade dosfutebolistas em relação aos não futebolistas. Acomparação destes resultados permitiu ainda

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verificar a existência de diferenças com significadoestatístico em todas as habilidades específicas, àexcepção do passe no escalão de iniciados e doremate no escalão de juvenis.Mas a que serão devidas estas diferenças tãosignificativas existentes entre futebolistas e nãofutebolistas nas várias habilidades? Será que o treinoe a maturação tiveram alguma influência nosresultados alcançados?Nesta temática e contrariamente ao que fizemos nasanteriores, não removemos o efeito da maturaçãopois segundo alguns autores (47, 52, 53) a maturaçãonão parece ter uma grande influência sobre ashabilidades motoras específicas. Pelo contrário, otreino e o número de anos de prática de Futebolparecem ter uma acção positiva na melhoria destashabilidades.Vrijens & Van Cauter (52) não encontraram nenhumacorrelação entre a maturação e as habilidadesespecíficas do Futebol, ao passo que com o treino e onúmero de anos de prática desta modalidade oscoeficientes de correlação foram altamentesignificativos. Zaichkowsky et al. (53) referemigualmente que a experiência (aprendizagem etreino) é um factor crítico na aquisição dashabilidades específicas, pelo que as criançastreinadas têm melhores performances do que as nãotreinadas. Schmidt (47) salienta este mesmo aspectoao mencionar a existência de muitos factores queaumentam a capacidade de performance dashabilidades específicas, realçando a experiência e aprática. Segundo este autor, os atletas de altorendimento apresentam elevados níveis dehabilidades, devido essencialmente à quantidade detempo e de prática que aplicam na sua preparação.Daqui que um alto nível de prática de elevadaqualidade seja um factor crítico no desenvolvimentodas habilidades motoras específicas.

5. CONCLUSÕESNo escalão de infantis a maturação teve um efeitosignificativo favorecendo os futebolistas na forçainferior e na resistência aeróbica. O treino teve umimpacto nos resultados dos futebolistas na forçamédia, na agilidade e na velocidade. A selecção, amaturação e o treino não evidenciaram qualquerefeito significativo favorecendo os futebolistas na

estrutura somática e na força explosiva.No escalão de iniciados a maturação teve um efeitosignificativo favorecendo os futebolistas na altura, namassa isenta de gordura, na força inferior, naresistência aeróbica e na PMM. O treino mostrou umimpacto relevante nos futebolistas na massa gorda,no endomorfismo, na força superior e média, naagilidade e na velocidade. Pelo contrário, amaturação, a selecção e o treino não tiveramqualquer efeito nos futebolistas, no que se refere aopeso, mesomorfismo, ectomorfismo, SE e SCM.No escalão de juvenis a maturação teve um efeitosignificativo favorecendo os futebolistas na altura, namassa gorda, no mesomorfismo, na força inferior, naresistência aeróbica e na PMM. O treino mostrou umimpacto nos resultados apresentados pelosfutebolistas no peso, na massa isenta de gordura, naforça superior e média, na agilidade e na velocidade.Contudo, não houve um efeito marcado damaturação, da selecção e do treino favorecendo osfutebolistas, no endomorfismo, no SE e no SCM.

CORRESPONDÊNCIAJosé MaiaFaculdade de Ciências do Desportoe de Educação FísicaUniversidade do PortoR. Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugal[[email protected]]

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Aptidão física e habilidades motoras em jovens futebolistas

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D. De Rose Jr., S.R. Deschamps, P. Korsakas

O jogo como fonte de stress no basquetebol infanto-juvenil

D. De Rose Jr.S.R. DeschampsP. Korsakas

Escola de Educação Física e EsporteUniversidade de São Paulo, São Paulo, Brasil

RESUMOO jogo de basquetebol é uma fonte potencial de stress paraatletas. Os diferentes fatores que compõem esse jogo geramsituações que podem influenciar no desempenho dos atletas.Neste estudo procurou-se identificar as situações específicasdo jogo e que são entendidas como causadoras de stress poratletas infanto-juvenis e classificá-las de acordo com o nível destress que causam aos mesmos. Participaram do estudo 136jogadores de basquetebol, com idade variando entre 15 e 18anos, sendo 61 moças e 75 rapazes, todos vinculados a clubesdo Estado de São Paulo e competindo em eventos oficiaisorganizados pela Federação Paulista de Basketball. Essesatletas responderam ao Formulário para Identificação deSituações de Stress no Basquetebol (FISSB). Os resultadosmostraram que as principais situações causadoras de stressestavam relacionadas aos seguintes fatores específicos:“competência”, “dificuldade do jogo”; “arbitragem”; “técnico”e “companheiros de equipe”. Apesar de haver diferençassignificativas nos níveis de stress apontados pelas meninas, emrelação aos meninos, houve uma correlação muito forte entre aclassificação das situações (rs = 0.9027; p < 0.01). Essesresultados mostram a importância do jogo, como fonte de stresse servem para que técnicos e atletas possam melhor entender oprocesso competitivo e diminuir o impacto dessas situações nodesempenho dos atletas.

Palavras-chave: Stress competitivo, basquetebol, esporte infanto-juvenil e competição esportiva.

ABSTRACTGame as a source of stress with young basketball players

The basketball game is a potential source of stress for theathletes. The different aspects of the game lead to situationsthat can influence the players’ performance. In this study thepurpose was to identify and rank the game stressful situations,according to the opinion of basketball youth athletes. Theresearch was made with 136 basketball players (61 girls and 75boys) with age ranging from 15 to 18 years old. All of themwere playing basketball for clubs at State of São Paulo andcompeting in events organized by the regional basketballleague. The athletes answered the Formulary for Identificationof Stressful Situations in Basketball (FISSB). The resultsshowed that the most stressful situations in the game wererelated to the following specific factors: “competence”, “taskdifficulty”; “referees”; “coaches” and “teammates”. Althoughthere was significant differences in the level of stress betweengirls and boys, there was a strong correlation between bothsexes concerned to the rank of the (rs = 0.9027; p < 0.01).These results show the importance of game situations as stresssource and contribute for the understanding of the competitiveprocess by coaches and athletes in order to decrease theinfluence of stress in athletes’ performance.

Key Words: Competitive stress; basketball; youth sport; sportcompetition.

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2001, vol. 1, nº 2 [36–44]

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Stress específico do jogo de basquetebol

INTRODUÇÃOO basquetebol pode ser considerado um esportecomplexo, que envolve um processo dinâmico econtínuo de situações específicas. Para atingir umnível de execução considerado adequado os atletasdevem estar preparados fisicamente, tecnicamente etaticamente. Esses fatores, aliados aos aspectospsicológicos envolvidos na prática de qualqueresporte competitivo, são decisivos na determinaçãodo desempenho dos atletas e, até mesmo, nadefinição dos resultados dos jogos.Entre os aspectos psicológicos que fazem parte dequalquer contexto competitivo, o stress pode serconsiderado um dos fatores preponderantes nadeterminação do desempenho, não se desprezando ainfluência da ansiedade, da motivação, daagressividade, da concentração, da atenção e dacoesão de grupo, entre outros.Lidar com as situações provocadoras de stress emanter os níveis adequados de ansiedade sãofundamentais para a manutenção de um estadoaceitável que permita ao atleta, além dedesempenhar em níveis apropriados, tomar decisõesimportantes em diferentes momentos do jogo.Pode-se imaginar que atletas experientes, com grandenúmero de participações em eventos internacionais,tenham melhores condições de lidar com as situaçõescausadoras de stress próprias de uma competição epossam manter seus níveis de ansiedade dentro depadrões aceitáveis. No entanto, a pressão dessascompetições pode provocar rupturas nessescomportamentos, pelas consequências que o fracassonessas situações pode gerar.Imagina-se também que atletas em início de carreira,apesar de participarem de eventos menos tensos ecom consequências não tão importantes, tenhamdificuldades em lidar com as situações do contextocompetitivo ou externas a ele e que levem a umdesempenho inadequado, exatamente pela falta deexperiência.Todas essas considerações despertam o interessepelo estudo detalhado desse componente presenteno processo competitivo, para que se elucidemalgumas dúvidas e para que se tenham melhorescondições de lidar com as situações causadoras destress, diminuindo seu impacto no desempenho dosatletas envolvidos.

REVISÃO DE LITERATURAOs esportes coletivos caracterizam-se por umasequência de ações e tomadas de decisão encadeadascom a participação de dois ou mais jogadores (13). O basquetebol apresenta uma grande variação deações durante o jogo, fazendo com que esta seja umadas mais complexas modalidades esportivas queainda apresenta limitações relacionadas ao espaço eao tempo de jogo. O jogo no basquetebol estáestruturado com base em três aspectos sequenciais einterdependentes: fundamentos, situações ondeocorre a combinação desses fundamentos e aspectostáticos de defesa e ataque. A boa execução dessescomponentes estruturais depende basicamente dascapacidades físicas, coordenativas e perceptuais,além das habilidades motoras e cognitivas (4, 18).Os componentes físicos, coordenativos, perceptuais,técnicos e táticos inseridos nas situações do própriojogo e aliados às exigências psicológicas , fazem dobasquetebol um esporte muito complexo,proporcionando uma gama infindável de análises,inúmeras opções e uma grande variabilidade desituações. Tudo isto exige muita preparação porparte dos atletas, inclusive em relação aos fatorespsicológicos envolvidos em sua práticaO basquetebol exige três fatores básicos para a suaprática: concentração, controle e confiança. O atletaprecisa estar focalizado na tarefa, controlando suasemoções e confiando na sua capacidade de realizá-la.O atleta tem que ter auto controle e não deixar que asemoções influenciem nas decisões a serem tomadas.É um ajuste delicado entre mente e corpo (18).No contexto competitivo, o basquetebol é umesporte potencialmente gerador de stress, no qual osatletas são solicitados a desempenhar de forma ideal,sob circunstâncias dinâmicas que exigem grandeatenção, concentração e participação ativa, mediadaspor pressões diversas como tempo de jogo,adversários, arbitragem, além de fatores comonecessidade de vencer, obtenção de status social,recompensa e necessidade de reconhecimento, queno conjunto podem afetar o rendimento (6, 16).Assim como nos demais esportes coletivos, obasquetebol tem como fontes geradoras de stress assituações direta ou indiretamente relacionadas aoprocesso competitivo. As situações diretamenterelacionadas ao processo competitivo são aquelas

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que acontecem ao longo desse processo, desde otreinamento até o jogo propriamente dito e podemdepender exclusivamente do indivíduo ou doambiente, ou de ambos em uma combinaçãomultivariada de fatores. Já as situaçõesindiretamente relacionadas ao processo competitivosão aquelas que acontecem no cotidiano do atleta eque podem afetar seu desempenho competitivo (6).A literatura especializada não apresenta um númeromuito expressivo de estudos relacionandobasquetebol e situações de stress competitivo,dificultando a análise desse fenômeno. Estudosmostram diversos aspectos da relação stress/desempenho no basquetebol, como por exemplosituações externas à competição, comportamentodos atletas, situações específicas de jogo, reações eexpectativas. Também apresentam amostras variadasem relação ao sexo, faixa etária e nível dos atletas. Amaioria foi realizado com atletas adultos dediferentes níveis. Algumas das situações causadorasde stress encontradas nesses estudos sãodemonstradas a seguir: fadiga (principalmente nofinal da partida), falta de condicionamento físico,erros técnicos (perder bolas, errar arremessos, errarpasses, cometer violações), ser excluído do jogo com5 faltas, ser substituído por deficiência técnica,perder para equipes de menor expressão técnica,excesso de treinamento, incompatibilidade comtécnico e companheiros de equipe e arbitragem(1, 7, 10, 16, 17).Especificamente no Brasil, foi realizada umapesquisa com jogadores e jogadoras de basquetebolde nível internacional (participantes de JogosOlímpicos e Campeonatos Mundiais de Basquetebol)na qual foram identificadas 126 diferentes situaçõesde stress das quais 114 referiam-se diretamente aoprocesso competitivo. Entre elas, 44 aconteciamdurante o jogo, mostrando a importância dessemomento do processo para os atletas (6).De acordo com essa pesquisa, as situaçõescausadoras de stress específico de jogo foramrelacionadas, de acordo com suas características esimilaridades a fontes específicas, assimdenominadas:

– Importância e dificuldade do jogo (7 situações)– Competência e dificuldade da tarefa (6 situações)– Estado físico (3 situações)– Adversários (3 situações)– Arbitragem (3 situações)– Torcida (4 situações)– Companheiros de equipe (7 situações)– Técnico (9 situações)– Infra-estrutura (2 situações)

Portanto, sendo o jogo o momento no qual o atletademonstra suas habilidades e fraquezas, é nele quemuitas situações se concretizam e apontam parauma maior incidência do stress, provocando níveiselevados de ansiedade e preocupações que podemlevar a um desempenho inadequado. Isto podeocorrer tanto em atletas adultos (como mostra amaioria dos estudos citados) como também e,principalmente, com jovens em fase de formação eque ainda não conseguem lidar de forma adequadacom as situações estressantes de uma partida debasquetebol.Estudar a influência dessas situações relacionadas aeste momento tão importante é fundamental paraque se possa melhor entender o comportamento dosatletas e o quanto ele pode ser afetado quando desua ocorrência.Neste estudo, especificamente, procurou-seidentificar as situações próprias de jogo que podemcausar stress elevado em atletas de basquetebol decategorias de base (cadetes, infanto-juvenis ejuvenis), classificar essas situações de acordo com aincidência de respostas dadas pelos atletas aoinstrumento utilizado para a finalidade e compararessa classificação em função do sexo

MÉTODOSAntes de se abordar especificamente a metodologiadeste estudo é importante que se frise que o fatorespecífico “jogo” e suas fontes e situações de stressfazem parte de um contexto analisado com atletas denível internacional e que teve prosseguimento com acriação de um Formulário para Identificação deSituações de Stress no Basquetebol (FISSB) paraatletas de categorias de base, que será especificadono item “instrumento”.

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AmostraParticiparam do estudo 136 jogadores debasquetebol (75 rapazes e 61 moças) com idadevariando entre 15 e 19 anos, todos atletas de clubesfiliados à Federação Paulista de Basketball,disputando regularmente campeonatos organizadospela entidade. A média de idade do grupo foi igual a17 anos e 6 meses.De acordo com a posição específica, participaram: 35armadores (bases), 45 pivôs (postes) e 56 alas(extremos). A grande maioria dos atletas tinhaexperiência de, pelo menos, 4 anos de prática dobasquetebol (97 – 71%) e somente 1 atleta praticavahá menos de um ano. Desta forma pode-seconsiderar o grupo bastante experiente.Outro dado importante da amostra é o nível decompetição frequentada pelos atletas. Todos, semexceção, participaram de campeonatos estaduaispromovidos pela Federação Paulista de Basketball.Vinte, participaram de torneios nacionaisrepresentando a Seleção do Estado de São Paulo; 10participaram de torneios Sul Americanosrepresentando o país e 11 estiveram emcampeonatos mundiais da categoria juvenil.

InstrumentoComo já foi citado anteriormente, para este estudofoi criado um formulário para identificação desituações causadoras de stress no basquetebol decategorias menores, que teve como base o estudodesenvolvido por De Rose Jr. (6) com atletasadultos de nível internacional, participantes deCampeonatos Mundiais de Basquetebol e JogosOlímpicos, com a inclusão e adaptação de novassituações em função da faixa etária dos atletas queseriam submetidos às futuras análises (no casoatletas de 15 a 19 anos) e de uma nova fonte destress, que não foi citada pelos atletas de altorendimento, mas que por se tratar de jovenspoderia causar algum tipo de stress, ou seja, os pais.O Formulário para Identificação de Situações deStress no Basquetebol (FISSB), como foidenominado, passou por um processo de validaçãode conteúdo feito por especialistas da área e,posteriormente, pelo processo de análise daconsistência interna de seus itens realizado peloInstituto de Matemática e Estatística da

Universidade de São Paulo que utilizando o índiceAlpha de Cronbach, encontrou um valor de 0,98,considerado muito alto para instrumentos dessanatureza (3).O FISSB foi dividido em 4 partes: 1- ficha deidentificação do atleta (anexo 1); 2- questões sobrefatores extra competitivos ; 3- questões sobre fatorescompetitivos (anexo 2) e 4- questões abertas sobreníveis de expectativa, objetivos e motivos quelevaram os atletas à prática do basquetebol.As situações apresentadas nas partes 2 e 3 foramassociadas a uma escala de intensidade de stress, comvalores variando de 0 = não provoca nenhum stress a5 = provoca stress muito elevado.Para este artigo foram valorizados somente asquestões diretamente relacionadas ao fator“jogo”, conforme classificação apresentada porDe Rose Jr. (6).

ProcedimentosO FISSB foi administrado aos atletas após contatocom os técnicos responsáveis e sua autorização paraa realização do estudo. Os atletas foram instruídos arespeito do preenchimento do formulário e lhes foidada a opção de participar ou não do estudo. Aosatletas que concordaram com a participação foientregue um formulário em envelope fechado, com arecomendação de que tinham que respondê-lo edevolvê-lo no prazo de 15 dias, também em envelopefechado, ao próprio autor.Ao receberem as orientações sobre o preenchimentodo formulário, os atletas tomaram conhecimento doprojeto e a garantia da manutenção do sigilo dosdados.

Análise dos dadosPara atender os objetivos deste estudo, foramconsideradas as situações associadas ao fatorespecífico denominado “jogo”, de acordo com acategorização pré determinada (6). Este fator, após amodificação e adequação dos itens, é composto por63 situações (anexo 2).As situações foram classificadas considerando-se osvalores percentuais da somatória das respostas dosníveis 4 (provoca muito stress) e 5 (provoca stressmuito elevado). Foi também estabelecida acorrelação entre as classificações em função do

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sexo, através do Coeficiente de Correlação dePostos de Spearman.Realizou-se ainda a comparação dos níveis de stressde cada um dos grupos em função do sexo com autilização da Análise de Variância (ANOVA).

RESULTADOSDe acordo com a opinião dos atletas, as situações dejogo que mais causam stress estão relacionadas afontes como: arbitragem, técnico, competência,dificuldade do jogo e companheiros de equipe. Emambos os sexos as situações relacionadas a essasfontes específicas se sobressaíram sobre as demaissituações, como mostra a tabela 1.

Tabela 1 – Médias dos níveis de stress de cada fonte específica emfunção do sexo.

Fonte Específicas de Stress Masc Fem

Competência e Dificuldade do Jogo 2.93 3.26Estado físico 2.51 2.66Adversários 2.19 3.09Arbitragem 3.31 3.45Torcida 1.83 2.04Companheiros de Equipe 2.83 3.40Técnico 3.10 3.60Pais 1.25 1.22Estrutura e Local de jogo 2.34 1.97Média Geral 2.61 2.68

O nível de stress atribuído às situações apresentadasno FISSB foi significativamente maior para asjogadoras (p < 0.01). Inicialmente pensou-se que estadiferença estivesse relacionada com a situação 43 quese refere especificamente a menstruação. Destaforma, ela foi excluída do indicador de stress e aindaassim a média de stress das mulheres foi maior que ados rapazes. Através do teste t para comparação demédias, observou-se que a diferença eraestatisticamente significante (t = 2,82; p < 0.01).As tabelas 2 e 3 mostram as 10 situações quecausaram mais stress nos meninos e nas meninas,respectivamente. Para este cálculo foramconsiderados os valores de frequência relativa (%)da somatória das respostas dos níveis 4 e 5 doFISSB.

Tabela 2 – 10 situações que mais provocam stress em jogo, de acordocom a opinião dos jogadores (valores percentuais)

Cl. Situação Valor %

1 34-Cometer erros que provocam a derrota da equipe 77.32 25-Perder jogo praticamente ganho 68.93 31-Repetir os mesmos erros 68.04 50-Arbitragem que te prejudica 64.05 24-Perder para equipe tecnicamente inferior 62.76 33-Cometer erros em momentos decisivos 61.37 68-Técnico que privilegia determinado jogador 60.08 60-Companheiro egoísta 58.79 30-Jogar abaixo de seu padrão normal 56.010 69-Técnico que só critica 54.710 70-Técnico que não reconhece o esforço do jogador 54.7

Tabela 3 – 10 situações que mais provocam stress em jogo, de acordocom a opinião das jogadoras (valores percentuais)

Cl. Situação Valor %

1 31-Repetir os mesmos erros 88.12 60-Companheiro egoísta 80.33 25-Perder jogo praticamente ganho 77.14 34-Cometer erros que provocam a derrota da equipe 77.05 63-Companheira que cobra ou reclama muito 73.86 30-Jogar abaixo de seu padrão normal 77.17 37-Ser excluída do jogo 70.58 24-Perder para equipe tecnicamente inferior 70.19 68-Técnico que privilegia determinado jogador 65.610 70-Técnico que não reconhece o esforço do jogador 64.0

Apesar da diferença do nível de stress para cada situaçãoe de ser esta diferença estatisticamente significante,notou-se que havia forte concordância quanto à ordemdessas situações entre rapazes e moças. Este fato podeser observado através do valor do Coeficiente deCorrelação de Postos de Spearman (rs = 0.90; p<0.01). Isto também se confirma quando comparada aordem de classificação das fontes (apontadas na tabela1), onde rs = 0.88 (p < 0.01).Algumas situações que a princípio imaginava-se quetivessem uma grande importância e que poderiamser interpretadas como causadoras de stress nãoforam citadas com grande frequência e nem com aintensidade esperada. Referem-se especificamente àpresença dos pais na competição e à sua participaçãona vida esportiva dos filhos e à influência da torcidano desempenho desses atletas.

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DISCUSSÃO E CONCLUSÕESO resultado que mostra as meninas com maior nívelde stress em relação aos meninos é confirmado poroutros estudos que compararam variáveispsicológicas entre os sexos, especialmente o stress e aansiedade. Alguns estudos realizados com atletasbrasileiros, na mesma faixa etária, apontam que osníveis de stress e ansiedade são, naturalmente,maiores nas meninas devido a fatores inerentes àprópria estrutura dos sexos e também a fatoressociais. É muito comum que a mulher sofradeterminadas pressões quando pratica esportes,porque esta ainda é uma atividade muito relacionadaao sexo masculino. Isto faz com que as mulherestenham que demonstrar mais enfaticamente suacapacidade competitiva. Outro fator que se consideraé que a mulher expressa de forma mais sincera seussentimentos do que o homem, principalmenteaqueles relacionados a preocupações, fraquezas emedos (5, 7, 8).A fonte que causou níveis de stress mais elevados,tanto para os rapazes quanto para as moças, foi a“arbitragem”, que engloba três situações específicas(discussão com árbitros; arbitragem que prejudicavocê e arbitragem que prejudica a equipe). Estaúltima é, de todas as situações de jogo a queapresenta o maior peso na definição do índice destress (3). Outros estudos com jogadores debasquetebol mostram que a arbitragem é um dosfatores mais citados (6, 7, 14, 16, 17). Hádeterminadas situações relacionadas à arbitragemque podem levar o atleta a reações inesperadas e atémesmo agressivas, sendo que alguns atletas ascolocam como pontos críticos em suas carreirasesportivas (6).Ao se analisar cada uma das situações, nota-se que asque estão relacionadas à fonte “competência edificuldade do jogo” ocupam lugar de destaque entreas mais frequentes, pois dependem quase queexclusivamente do desempenho individual e são elasas responsáveis pela exposição de suas habilidades oufraquezas, contribuindo, muitas vezes, para o fracassoindividual ou coletivo. Este fato também pode serverificado em outros esportes, principalmente ofutebol e o handebol como mostram estudosrealizados com atletas de diferentes níveis nessesesportes (2, 6, 7, 9, 15, 16, 19).

Outra fonte muito importante de stress em jogo,segundo os atletas, é o “técnico”, pois suas atitudese posturas podem causar níveis elevados de stress einterferir diretamente no seu desempenho. Técnicosinjustos, técnicos que não reconhecem o esforço dosatletas e aqueles que somente criticam sem apontarsoluções, parecem contribuir de forma importantepara elevados níveis de stress dos atletas durante ojogo no caso dos esportes coletivos, mas tambémdurante as provas típicas de esportes individuais,tais como a natação, o atletismo, a patinação e oremo (2, 7, 9, 11, 12, 14, 15, 19, 20).Finalmente, considerando-se as cinco fontes maisimportantes de stress observa-se a importância dosconflitos com companheiros de equipe. Egoísmo ecobrança exagerada são os aspectos mais citados eque provocam o maior nível de stress entre os atletas.Outras situações envolvendo companheiros deequipe também são citadas em estudos com atletasde diferentes esportes. Entre elas: discussões, invejae prepotência (2, 6, 9, 11, 19).Em relação a ordem das situações de jogo causadorasde stress, em função da frequência relativa dasrespostas nos níveis 4 e 5 do FISSB, ficou nítido,pelo resultado da correlação que, apesar da diferençados níveis de stress, há uma concordância naclassificação dessas situações, mostrando que podehaver um perfil definido daquilo que, efetivamente,causa stress em situações específicas de jogo.Este resultado também foi obtido em estudos comidentificação de sintomas de stress pré-competitivoem atletas infanto-juvenis, demonstrando que assituações e os sintomas de stress, apesar de seremidentificados em diferentes níveis, aparecem em umaordem muito similar em ambos os sexos (5, 8).

CONCLUSÕESComo era de se esperar, as ocorrências de jogo sãomuito marcantes pois têm uma influência direta noresultado e na avaliação a qual os atletas sãosubmetidos. Ou seja, o que acontece em jogo émuito mais evidente do que aquilo que acontece emtreinamento ou em qualquer outra situação na qualo atleta não esteja exposto diretamente.Além disto, verificou-se que a incidência dasrespostas nos níveis mais elevados de stress foisignificativamente maior nas meninas, reforçando o

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resultado de outros estudos que apontaram esteresultado.No entanto, a ordem de classificação das situações,apesar da diferença de nível de stress, apresentouuma concordância muito grande, atestando queexiste uma opinião muito parecida sobre o queprovoca realmente stress em jogo.Todos os resultados e conclusões obtidas a partirdeste estudo servem como subsídio para quetécnicos e atletas entendam melhor o processocompetitivo, sob o ponto de vista do stress causadopor ele, e possam trabalhar para diminuir seuimpacto sobre o desempenho dos atletas,melhorando seu resultado final e,consequentemente, o de sua equipe.

NOTA(a) Esta terminologia é adotada pela Federação Paulista de

Basketball (Brasil) para identificar atletas com idadesvariando de 15 a 19 anos.

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CORRESPONDÊNCIADante de Rose Jr.Rua Rio Grande do Sul, 770, ap. 11309510-021 São Caetano do Sul – São PauloBrasil[[email protected]]

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ANEXO 1 – FORMULÁRIO PARA IDENTIFICAÇÃO DE SITUAÇÕES DE STRESS NO BASQUETEBOLFicha de identificação de atleta

Nome: __________________________ Nasc. ___/___/___ M ( ) F( )

Escolaridade: 1º grau ( ) série ____ 2º grau ( ) série ___ 3º grau ( )

Clube/entidade: ______________________________________________

Telefone para contato: ________________ email: ________________

Posição: _________________

Há quanto tempo pratica Basquetebol?1. menos de 1 ano ( )2. 1 a 2 anos ( )3. 2 a 3 anos ( )4. 3 a 4 anos ( )5. 4 a 5 anos ( )6. mais de 5 anos ( )

Qual o nível mais alto de competição que você já participou?1. Municipal ( )2. Estadual ( )3. Nacional ( )4. Sulamericano ( )5. Panamericano ( )6. Mundial ( )7. Olimpíada ( )

Você já participou de Seleções? Sim ( ) Não ( )

Regional/Estadual Nacional

Quantas vezes? _______ _______

1ª vez (ano)? _______ _______

última vez (ano)? _______ _______

Data: ___/___/___

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ANEXO 2 – FORMULÁRIO PARA IDENTIFICAÇÃO DE SITUAÇÕES DE STRESS NO BASQUETEBOL

(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)(0) (1) (2) (3) (4) (5) (99)

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II – Situações competitivas de stress – “jogo”

Cometer erros em momentos decisivos ..........................Cometer erros que provocam a derrota da equipe ..........Cometer violações (andada, 3 segundos, 2 saídas, etc)Tomar falta técnica ........................................................Ser excluído do jogo ......................................................Não tentar (omitir-se no jogo) ..........................................Aquecimento inadequado...............................................Jogar em mau estado físico ............................................Jogar contundido ............................................................Jogar doente ...................................................................Jogar menstruada ...........................................................Adversário desleal ..........................................................Adversário convencido ...................................................Adversário provocador............... ....................................Adversário que tenta pressionar a arbitragem ..............Discussão com adversário .............................................Arbitragem prejudica a sua equipe ou um companheiroArbitragem prejudica você .............................................Discussão com árbitros ...................................................Torcida a favor que comete injustiça ............................Torcida a favor que cobra muito ....................................Falta de reconhecimento da torcida ..............................Agressões físicas e morais por parte da torcida..............Manifestações da torcida contrária..................................Omissão de um companheiro de equipe .......................Displicência de um companheiro de equipe ..................Companheiro que não cumpre seu papel no jogo .........Companheiro egoísta .....................................................Companheiro que não se esforça ..................................Companheiro que não entende o que você quer fazer ..Companheiro que cobra ou reclama muito ...................Técnico que cobra em exagero ....................................Técnico que comete injustiças com jogador ................Técnico que não deixa claro papel jogador na equipeTécnico que não deixa jogador à vontade na quadra ..Técnico que privilegia determinado jogador .................Técnico que só critica ...................................................Técnico que não reconhece esforço do jogador ...........Técnico que só enxerga o lado negativo .......................Técnico que não sabe lidar com a equipe ....................Técnico que toma decisões erradas ou que não sabe tomardecisões ............................................................Técnico que grita muito ................................................Presença do seu pai no jogo .........................................Presença da sua mãe no jogo .......................................Interferência dos pais no seu desempenho ....................Pais que dão palpites (conselhos) durante o jogo... .......Pais que gritam muito durante o jogo ............................Pais que não se manifestam durante o jogo ..................Pais que cobram muito durante o jogo...........................Local inadequado para competições (quadra, piso,iluminação, vestiários) ...............................................Material inadequado jogo (bolas, aparelhos, uniforme)

Jogos decisivos ..............................................................Momentos decisivos de um jogo ....................................Jogo fácil que complica ................................................Perder para uma equipe tecnicamente inferior ..............Perder jogo praticamente ganho ....................................A competição em si ........................................................Sair com cinco faltas ......................................................Ficar na reserva ..............................................................Ser substituído ...............................................................Competir/jogar abaixo do seu padrão normal..................Repetir os mesmos erros .................................................Cometer erros técnicos (errar arremessos, errar passes)

3334353637383940414243444546474849505152535455565758596061626364656667686970717273

747576777879808182

83

212223242526272829303132

(forma reduzida – o original contém 140 situações competitivas)

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Desporto de crianças e jovens– um estudo sobre as idades de iniciação

Francisco M. SilvaLarissa FernandesFlórida O. CelaniUniversidade Federal da Paraíba, João Pessoa, Brasil

RESUMOA elevada importância da prática desportiva, ao lado doacentuado aumento de competições num quadro desportivoaltamente especializado, determina a necessidade departicipações precoces e exige maior atenção na preparação dosjovens desportistas. No que pese os estudos sobre o assunto,persistem dúvidas sobre a idade em que as crianças estariamaptas para se iniciarem numa prática desportiva sistemática. Otrabalho aqui apresentado procurou identificar as idades emque as crianças, na cidade de João Pessoa, estão sendo iniciadasna atividade desportiva, relacionando-as com asrecomendações da literatura especializada. Foramentrevistados 93 treinadores de 10 modalidades, escolhidasentre as de maior representatividade no contexto desportivo doEstado. Uma ampla pesquisa bibliográfica revelou as idadesmais recomendadas para iniciação desportiva nas diversasmodalidades, cujos dados indicaram, para os desportosindividuais, uma predominância na faixa dos 8 –12 anos, commédia de 8,9. Para as modalidades coletivas as recomendaçõessituaram-se entre os 8-14 anos, com média de 11,7. Os dadosdos questionários revelaram, para as modalidades coletivas,que 74% dos treinadores recomendaram como idade ideal afaixa dos 9-12, enquanto nos desportos individuais apredominância situou-se entre 5–10 anos, com 58% dasindicações. Verificou-se ainda uma marcante divergência entreas idades que os treinadores apontaram como ideais e aquelasem que, realmente, o processo está acontecendo, idades reais.As principais justificativas para essa divergência vão desde aimposição dos dirigentes à cobrança de resultados pelos pais edirigentes.

Palavras-chave: Iniciação desportiva, iniciação precoce,treinamento de jovens

ABSTRACTChildren and youth in Sport.A study about the ages of the beginning of sport practices

The importance of sport and the increase in the number ofspecialised competitions determines the necessity ofprecocious participation of youth in competition and a largerattention to their sporting preparation.Doubts persist in the literature regarding the ideal age forchildren to begin systematic sporting practices. This work triedto identify the age children began sport practice in the town ofJoão Pessoa (Brazil) and compare the results with the opinionof coaches regarding the ideal age to begin sporting practiceswithin their fields.93 coaches in 10 sporting fields (both collective and individualsports) were interviewed.The results showed that: (i) in collective sports, 74% ofcoaches suggested as the ideal age to begin sporting practicesthe 9-12 age group and (ii) in individual sports, 58% ofcoaches suggested as the ideal age to begin sporting practicesthe 9-12 age group.There is also a marked difference between the real starting agein sport and the opinion of the coaches in the combined fieldsquestioned. The justifications for this difference can be foundin the assessments/rules of the sporting directors/heads aswell as in the pressure from the parents.

Key Words: Children and youth sports, ages to begin sportingpractices, precocious participation

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1. INTRODUÇÃOA marcante e cada vez mais crescente universalidadedo desporto tem atribuído-lhe importantes tarefas eresponsabilidades no que se refere à formação dascrianças e jovens. No que pese as grandes ereconhecidas contribuições da prática desportivapara o desenvolvimento físico e psicossocial do serhumano, ainda é pequeno o número de estudosrealizados na especificidade do treinamento com osmais jovens.O nível de compreensão sobre a adequação daprática desportiva aos estágios de desenvolvimento ecaracterísticas psicomotoras da criança e do jovemapresenta-se, ainda, relativamente frágil,principalmente se considerarmos as particularidadesdas várias modalidades desportivas e seus efeitos noorganismo. Mesmo em estudos mais recentescontinuam a persistir dúvidas sobre as idades emque as crianças e jovens estariam preparados para seiniciarem numa prática desportiva sistemática e deque forma deveria ocorrer essa inserção.É importante assinalar que o treino com crianças ejovens tem nuances que o diferencia do treinamentodos adultos. Em razão das características eparticularidades determinadas pelos níveis dedesenvolvimento físico, psíquico e afetivorelacionados aos estágios de crescimento edesenvolvimento, torna-se imprescindível diferenciaros objetivos, os conteúdos e os processos detreinamento dos jovens e dos adultos.Em primeira instância, as preocupações devem seorientar para situar a real dimensão da adequaçãodesse processo à idade e ao nível de desenvolvimentoatual da criança e do jovem, assim como asperspectivas de desenvolvimento a longo prazo.Indagações do tipo: com que idade as crianças estãoaptas para se iniciarem na prática desportiva? quepré-requisitos deverão atender para se iniciaremnuma prática desportiva especializada? há vantagensem se iniciar precocemente na prática de umdesporto? são preocupações para as quais as ciênciasdo desporto ainda não encontraram respostas eexplicações satisfatórias. Há de se considerar que atépouco tempo o treino dos jovens foi uma reproduçãoou, no máximo, uma simples adaptação dosprocedimentos e organização do desporto derendimento. “Os treinadores de jovens tendem a

pautar seus pensamentos e condutas pelosestereótipos vigentes no treino dos atletas do maisalto nível de rendimento” (30, p.10).Na teoria do treinamento, a temática tem sidoabordada a partir de dois conceitos: treinabilidade eperíodo crítico ou sensível. O primeiro consiste emdefinir se um gesto encontra-se no estágio ideal paraser desenvolvido, ou seja: O jovem ao iniciar suapreparação especializada já deverá ter adquirido umvariado repertório motor e uma atitude positiva paraaprender habilidades de complexidade progressiva? Osegundo conceito se orienta no sentido de identificaro momento adequado à produção de determinadosefeitos de treino. “Sensitivos são os períodos detreino em que as crianças dominam da melhormaneira possível as técnicas aprendidas” (20 p. 45).No processo de treinamento com jovens asorientações acerca das idades consideradas ideaispara a iniciação desportiva são estabelecidas combase nas características condicionadas pelodesenvolvimento etário tendo como preocupaçãocentral contribuir para a formação dos jovens emseus vários aspectos (psicológico, físico, sócio-afetivo) de uma forma equilibrada e harmoniosa.Durante as primeiras etapas do aprendizadodesportivo deve-se estabelecer as bases para orendimento elevado evitando exigências deresultados imediatos. Dessa forma, a práticadesportiva infantil, mesmo orientada para aconsecução de bons resultados, não pode deixar deprivilegiar as contribuições dessa mesma prática naformação do ser humano. Para Filin (17), existemzonas de idades (psicológica e biológica) favoráveisao processo de iniciação desportiva que poderãoservir de parâmetros orientadores, facilitando assimos processos de seleção e iniciação à práticadesportiva.A respeito da idade para iniciação desportiva,identifica-se uma predominância de orientações parao plano das capacidades coordenativas econdicionais, notadamente no que concerne aodesenvolvimento dessas capacidades, sem, noentanto, relacioná-las com as necessidades eexigências da prática concreta do desporto. Pouco seconhece a respeito dos efeitos de uma atividadedesportiva especializada sobre o organismo e apersonalidade em formação. Marques expressa sua

Francisco M. Silva, Larissa Fernandes, Flórida O. Celani

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preocupação indagando: “Como apoiar os maisjovens no seu percurso para o alto rendimento semcomprometer a sua educação, limitar a suapersonalidade, hipotecar a sua saúde” (22 p.17).Atualmente existe a tendência de se reduzir a idadede iniciação em muitas modalidades desportivas,criando dúvidas e gerando questionamentos emtorno da chamada “especialização precoce”, definidapor Persone (29) como uma atividade desportivapredominantemente competitiva, com elevadadedicação aos treinamentos e desenvolvida antes dapuberdade.As razões pelas quais se procura justificar a práticadesportiva precoce envolvem as características doatual sistema desportivo, a busca de êxitos e vitóriasem curto prazo e as atitudes dos pais em relação aoenvolvimento dos filhos na prática desportiva.A crescente importância social do fenômenodesportivo, ao lado de um acentuado aumento naoferta de competições num quadro desportivo cadavez mais especializado, passou a definir novasexigências no domínio da preparação e determinou anecessidade de participações e especializações cadavez mais precoces.Nesse contexto torna-se imperiosa a necessidade deinvestigações no sentido de contribuir para adefinição das faixas etárias mais adequadas àiniciação desportiva e orientar os processos depreparação em conformidade com as características eparticularidades dos estágios de desenvolvimentodas crianças e dos jovens.Nessa linha de preocupação, o Laboratório deEstudos e Pesquisas do Treinamento – LEPET, daUniversidade Federal da Paraíba, vem realizando umtrabalho que procura estudar as idades de iniciaçãodesportiva para identificar possíveis relações entreidade, nível de resultados e longevidade desportiva.O trabalho aqui apresentado, como parte do projetoacima referido buscou, identificar a idadeconsiderada ideala e a idade realb em que as criançasestão sendo iniciadas na prática de uma atividadedesportiva, a partir das opiniões dos treinadores e deautores de textos relacionados com o assunto naperspectiva de identificar pontos de convergência edivergência entre teoria e prática da iniciaçãodesportiva e, ao mesmo tempo, contribuir para adefinição de orientações relacionadas com a idade de

iniciação em grupos de modalidades comcaracterísticas comuns.

2. METODOLOGIAMetodologicamente, este trabalho, apesar de abordara mesma temática, desenvolveu-se através de duasetapas, diferenciando-se pelos objetivos propostos epelas fontes pesquisadas. A primeira etapa consistiunuma pesquisa bibliográfica para identificar naliteratura especializada as principais tendênciassobre as idades recomendadas para a iniciaçãodesportiva. Na segunda etapa foi realizada umapesquisa de campo envolvendo treinadores eprofessores, através da aplicação de um questionáriopara levantar informações relativas às idades deiniciação desportiva recomendadas e praticadas poressa mesma população.A amostra foi constituída por 93 treinadores de 10modalidades desportivas (Atletismo, Natação, Judô,Tênis, Ginástica Artística e Rítmica, Futsal, Futebol,Handebol, Basquetebol e Voleibol) da cidade de JoãoPessoa. O critério de seleção da amostra foi definidosegundo a representatividade e importância que cadamodalidade assume no contexto desportivo doEstado. Deste modo, foram escolhidos no mínimoum e no máximo três treinadores por modalidade,considerando as seguintes situações:

– Treinadores de clubes e associações onde exista aprática da iniciação desportiva

– Treinadores de seleções das categorias de base– Treinadores de equipes das escolas privadas e

públicas– Treinadores de empresas, academias, etc.– Professores de universidades, enquanto

instituições de formação

Os dados coletados foram tratados estatisticamentee analisados qualitativamente conforme as suasnaturezas, no sentido de permitir a comparação eanálise dos mesmos à luz da teoria que fundamentaeste trabalho.

3. APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS3.1 - Pesquisa bibliográficaDe acordo com os objetivos e estratégiasmetodológicas definidas para o projeto procurou-se

Idades de iniciação desportiva

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identificar na literatura especializada as opiniões dosautores em relação à idade recomendada parainiciação desportiva nas diversas modalidades.Uma análise da bibliografia publicada nos últimosanos permite afirmar que o tema “IniciaçãoDesportiva de Crianças e Jovens” tem sido bastantediscutido, constituindo-se assunto polêmico, porémpouco explorado nas suas implicações físicas,

Quadro 1 – Idades recomendadas pelos autores para iniciação desportiva

Modalidades ind. Idade de inicação Autores

Atletismo 10 – 12 Bompa (1998), Filin (1996); Utecht in Filin, (1996)7 – 8 Balsewitsch in Tubino, (1979)

12 – 14 Bondartchuck, A.(1989); Nilsson L. (1995); Oliver (1995)8 – 12 Ferreira, P. (1989)9 – 12 Fernandez, F. G.(1995)

Natação 3 – 7 Vonhausen in Tubino (1979), Bauermeister in Tubino (1979)7 – 9 Bompa (1994), Filin (1996) Draper, J (1999)

9 – 10 Caunsilmen in Filin (1990)

Ginásticas(Artística e Rítmica) 6 – 11 Bompa (1998), Filin (1996), Persone (1983)

6 – 8

Judô 8 – 10 Bompa (1998)12 Sobral (1994)

Tênis 6 – 8 Bompa (1998), Filin (1996)

Média: 8.9 Desvio: 2.5 Variância: 6.61

Modalidades col. Idade de inicação Autores

Basquetebol 12 – 14 Bompa (1998), Filin (1996)

Futebol 10 – 12 Bompa (1998), Filin (1996),12 – 14 Sobral (1994)

Futsal 10 – 12 Bompa (1998), Filin (1996)

Handebol 9 Filin (1996)

Voleibol 10 – 12 Bompa (1994), Filin (1996)11 – 13

Média: 11.7 Desvio: 1.4 Variância: 1.89

Desportos em geral 7 – 8 Loth in Persone (1983), Baissas (s/data)8 – 12 Bal’Selvich (1983), Riordan in Persone (1983), Coelho (1985),9 – 10 Persone (1983), Hahn, E.(1989), Martin, D.(1983),6 – 14 Marques (1990), Filin (1996),

10 – 14 Carnevali (1987), Proença, J.(1992), Arens O. (1983)10 – 12 Weineck, J.(1999)

Média Geral: 9.9 Desvio: 2.5 Variância: 6.19

Francisco M. Silva, Larissa Fernandes, Flórida O. Celani

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psicológicas e sociais. Verificou-se a existência deuma inconstância na abordagem metodológica eparticularmente nas idades consideradas ideais parao início da prática desportiva organizada esistemática.O quadro 1, aponta indicações para a iniciaçãodesportiva no conjunto das diversas modalidades ena especificidade de cada uma delas.

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Pelos dados expostos no quadro anterior, constata-seuma certa divergência nas opiniões dos autoresconsultados. Apesar das discordâncias foi possívelidentificar tendências dominantes, em termos defaixas etárias com maior incidência de opiniões paraos desportos individuais, para as práticas coletivas epara o conjunto das modalidades.Para os desportos individuais, as idades maisrecomendadas situam-se na faixa dos 8 –12 anos deidade com média de 8,9 anos e desvio de 2,5. Aindaem relação às modalidades individuais, verifica-seque entre o atletismo e a natação situam-se asmaiores discrepâncias. A primeira comrecomendações para iniciação mais tardia, mesmosendo perfeitamente identificável umapredominância na faixa dos 8 – 12 anos, enquanto nanatação as orientações vão no sentido de que ainiciação ocorra em idades mais baixas.As modalidades coletivas são as que apresentaram, emtermos de recomendações teóricas, indicações parainiciação em idades mais avançadas com variações quevão dos 8 aos 14 anos, sendo que, na maioria dasindicações, a faixa dos 10-12 anos foi a maisrecomendada com média de 11,7 anos e desvio de 1,4.Em relação aos desportos em geral verificou-se umagrande variação de idade: 6 aos 14 anos. No entantoa tendência predominante aponta para os 8-12 anos,possibilitando a definição de uma tendência médiaem torno de 9,9 com desvio de 2,5.Reforçando a idéia amplamente aceita de que acapacidade de rendimento desportivo depende daeficácia das exigências de rendimento e sua

adequação aos níveis de desenvolvimento dos pré-requisitos individuais, os quais se situam numcomplexo decorrente dos processos de crescimento,maturação e desenvolvimento, foi possível verificaruma convergência entre os autores estudados,possibilitando a definição de uma tendênciapredominante entre os 8-12 anos de idade. Verifica-se ainda que as modalidades individuais e coletivas,analisadas isoladamente, apresentam divergências nosentido de se recomendar que a iniciação nosdesportos coletivos ocorra mais tardiamente do quenos individuais.Finalmente, percebe-se que, segundo a maioria dosautores estudados, as crianças na faixa dos 8 – 12anos encontram-se na fase de desenvolvimento maisapropriada para a aquisição das habilidades básicasnecessárias à maioria das modalidades desportivas.

3.2 - Estudo empíricoNesta parte do trabalho serão apresentados ediscutidos os dados levantados através doquestionário (ver Anexo) aplicado aos treinadores,relativamente às idades recomendadas para ainiciação desportiva, partindo-se do pressuposto deque os treinadores em alguns casos, mesmoaceitando e defendendo uma idade ideal, praticamoutra, neste trabalho denominada de idade real.Os dados obtidos com a aplicação do questionárioestão sistematizados e apresentados de formaresumida no quadro 2, considerando cadamodalidade isoladamente e o conjunto dasmodalidades individuais e coletivas.

Idades de iniciação desportiva

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Quadro 2 – Idades recomendadas pelos treinadores

Idade ideal para iniciação desportivaIdades Modalidades coletivas Modalidades individuais Ind. e Col. (a+b)(anos) H V B Fs Fb Soma(a) % A G J N T Soma(b) % Total %

5 – 6 0 0 0 2 3 05 10 0 4 5 5 2 16 37 21 22,57 – 8 0 2 2 2 1 07 14 1 0 3 2 0 06 14 13 149 – 10 6 5 6 5 3 25 50 2 2 0 2 3 09 21 34 36,511 – 12 5 3 2 0 2 12 24 3 0 0 2 0 05 12 17 18,313 – 14 0 0 0 0 1 01 2 4 0 0 2 0 06 14 7 7,5Outras 0 0 0 0 0 00 0 0 1 0 0 0 01 2 1 1,1Total 11 10 10 09 10 50 100 10 07 08 13 05 43 100 93 100

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Nos dados apresentados verifica-se uma consideráveldivergência entre as opiniões dos treinadores sobreas idades que consideram ideais para a iniciaçãodesportiva, quer no tocante ao conjunto dasmodalidades, quer no interior de uma mesmamodalidade. Como se pode perceber, os dadosexpostos no quadro acima apontam variações quevão dos 5-6 anos até os 13-14. No entanto, ao seanalisar a maior concentração de opiniões em tornodas faixas etárias indicadas verifica-se o seguinte:

– Nas modalidades coletivas as faixas etárias dos 9-10 e 11-12 anos foram as que apresentaram maiorconcentração de opções com 25 e 12 casosrespectivamente. De forma que nessas duas faixasetárias concentraram-se 74% das opiniões dostreinadores pesquisados.

– No conjunto das modalidades individuais as faixasetárias dos 5 - 6 e 9 – 10 anos são as maisindicadas com 16 e 09 ocorrências,respectivamente, das 43 apuradas, definindo umpercentual em torno das referidas faixas da ordemdos 58%.

– Uma análise conjunta das modalidades individuaise coletivas indica que 85 dos 93 treinadoresestudados situaram suas opiniões nas faixas etáriasdos 5-6 aos 11-12 anos, com destacadapredominância para a faixa dos 9 – 10 anos.

Dessa forma, foi possível identificar tendências bemdefinidas e distintas no conjunto das práticasdesportivas individuais e coletivas. Para os desportoscoletivos, reforçando a orientação predominanteidentificada na pesquisa bibliográfica, constatou-se

que as idades de iniciação recomendadas são maisavançadas do que para os desportos individuais.Verificou-se, ainda, a ocorrência de diferençassignificativas entre as modalidades de uma mesmacategoria, sejam elas individuais ou coletivas.Ainda em relação ao quadro 2, os dados relacionadoscom a denominada “idade real” apresentam oseguinte comportamento:

– Para os desportos coletivos, diferentemente dasidades ideais, as maiores concentrações situaram-se nas faixas dos 7-8 e 9-10 anos cada uma com 14freqüências, representando 56% das opiniõesmanifestas.

– Nas modalidades individuais, as idades maisapontadas foram os 5-6 e 7-8 anos, com 13 e 10casos respectivamente dos 43 analisados,merecendo destaque também a faixa dos 13 – 14anos com 21% das opções manifestas.

– No conjunto das modalidades individuais ecoletivas quase 50% dos entrevistados afirmaramque estão iniciando seus alunos entre os 5-6 e 7-8anos de idade. Essa situação comparada com oquadro das idades ideais, onde se verifica queapenas 36.5% dos entrevistados apontaram asidades dos 5-6 e 7-8 como ideais para a iniciaçãodesportiva, indica uma certa divergência entre oque os treinadores estudados apontam como ideale aquilo que, de fato, ocorre na prática dotreinamento. Essa tendência fica reforçada ao severificar que no quadro das idades reais fica nítidaa tendência de uma distribuição mais equilibradaentre as três faixas etárias mais elevadas (9-10, 11-12 e 13-14 anos), enquanto no quadro das idades

Francisco M. Silva, Larissa Fernandes, Flórida O. Celani

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto, 2001, vol. 1, nº 2 [45–55]

Idade real para iniciação desportivaIdades Modalidades coletivas Modalidades individuais Ind. e Col. (a+b)(anos) H V B Fs Fb Soma(a) % A G J N T Soma(b) % Total %

5 – 6 1 1 0 4 2 08 16 0 0 6 6 1 13 30 21 22,67 – 8 4 1 2 4 3 14 28 0 3 2 5 0 10 23 24 25,89 – 10 3 4 5 0 2 14 28 0 1 0 2 0 03 7 17 18,311 – 12 1 3 2 1 3 10 20 3 1 0 0 1 05 12 15 16,113 – 14 2 1 0 0 0 03 6 7 0 0 0 2 09 21 12 12,9Outras 0 0 1 0 0 01 2 0 2 0 0 1 03 7 4 4,3Total 11 10 10 09 10 50 100 10 07 08 13 05 43 100 93 100

H = Handebol; V = Voleibol; N= Natação; B = Basquetebol; J = Judô; T = Tênis; G = Ginásticas (Artística e Rítmica); Fs = Futsal;Fb = Futebol; A = Atletismo

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ideais há uma forte concentração em torno dos 9 –10 anos. Esses dados indicam que a iniciaçãodesportiva, na prática dos treinadoresentrevistados, ocorre em idades mais precoces doque aquelas que eles apontam como as maisindicadas.

Ao se comparar esses dados com as informações daliteratura (Quadro 1), percebe-se uma maiorproximidade entre a literatura e as tendênciaspredominantes nas opiniões dos treinadores, emtermos de idades ideais. No entanto, quando osdados da pesquisa bibliográfica são confrontadoscom as idades reais é possível identificar uma maiordiscrepância no sentido de reforçar a tendência parainiciação em idades mais baixas, que, apesar depraticadas, não são defendidas pelos treinadoresentrevistados, até porque não estão respaldadas pelaliteratura especializada.Efetivamente, o assunto está longe de serconsiderado concluído. A atual situação revela umafastamento, até certo ponto incompreensível, entreaqueles a quem compete à aplicação dosconhecimentos próprios da Teoria da EducaçãoFísica e dos Desportos e as orientações fornecidaspor esses mesmos conhecimentos, apesar da suainsuficiência e relativa fragilidade.O estudo aqui apresentado procurou tambémidentificar entre os entrevistados as razões para adivergência entre idades ideal e real.A partir dos resultados obtidos na pesquisa foi possívelexpressar no Quadro 3 os principais motivosapresentados pelos treinadores como sendo justificativaspara as idades consideradas ideais e aquelas em que defato a iniciação desportiva está ocorrendo, neste trabalhodenominadas de idades reais.As justificativas para as idades ideais que ostreinadores apresentam baseiam-sefundamentalmente em características psíquicas ecognitivas das crianças e jovens. Nestas idades, osprincipais fatores que os treinadores destacam nascrianças e jovens como propícios ao aprendizadodesportivo são a ludicidade e as capacidades depercepção e facilidade para aprendizagem dos gestos.No plano das idades reais as justificativas sefundamentam em aspectos de ordem social, onde sesobressaem as cobranças de resultados por parte dos

clubes e dos próprios pais.Dessa forma, fica evidente o entendimento dostreinadores de que a idade apropriada para ainiciação desportiva é aquela em que o jovem seencontra mais apto e receptivo para exploração edesenvolvimento da sua ludicidade, da coordenaçãomotora e com maiores potencialidades para oaprendizado de gestos específicos. Contudo, naprática, o que se percebe é a antecipação desseprocesso por imposições de clubes, escolas e muitasvezes, pela cobrança antecipada de participações emcompetições desportivas e consecução de resultadosexpressivos.

Quadro 3 – Principais justificativas para as idades ideal e real

Idade ideal

Ludicidade – 21%Percepção e Coordenação motora – 19%Aprendizado dos gestos específicos – 15%Relação criança, mundo e meio ambiente – 15%Precocidade / Bons resultados – 15%Maior capacidade / assimilação – 15%

Idade real

Imposição do clube para competições ecobrança de resultados imediatos – 36%Cobrança dos pais – 29%Dificuldade de acesso – 15%Falta de estrutura do clube – 11%Desmotivação das crianças – 09%

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS E RECOMENDAÇÕESPelos dados apresentados, não foi possível identificaruma idade específica ou ideal de iniciaçãodesportiva, mas tendências médias por modalidades.Verificou-se que as modalidades desportivas, emrazão das suas especificidades e característicaspróprias, exigem idades diferenciadas para oprocesso de iniciação.Ficou constatado que a maioria os treinadores aofalarem da idade para iniciação desportiva situamsuas opiniões numa faixa muito ampla que vai dos 5-6 aos 11-12 anos, com forte concentração em tornodos 9-10 anos de idade, enquanto os dados daliteratura indicam uma nítida tendência para os 8 -12 anos de idade.

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Constatou-se ainda uma marcante divergência entreas idades que os treinadores apontam como ideais (9– 10 anos) e aquelas em que realmente o processoestá ocorrendo (5 – 8 anos).As principais indicações levantadas para justificaressa divergência vão desde a imposição dosdirigentes à cobrança de resultados imediatos porparte de pais e dirigentes.Pelas conclusões obtidas é plausível e pertinente aformulação de algumas recomendações, tais como:A prática desportiva para as crianças e os jovensmesmo tendo como objetivo descobrir e orientartalentos para o desporto de rendimento e portantoorientada para a busca do campeão, não pode perderde vista os seguintes princípios:

– Contribuir prioritariamente para a formação dacriança e do jovem, considerando ainterdependência dos aspectos físicos, psicológicose sócio-afetivos, de forma equilibrada eharmoniosa.

– Atender à aprendizagem multilateral e aodesenvolvimento e aperfeiçoamento das técnicas emovimentos básicos como pré-condição para aespecialização.

– Dedicar atenção especial ao desenvolvimento dogosto pela prática desportiva e compreensão dosefeitos positivos dessa prática.

– Orientar as expectativas do iniciante de formarealista, atendendo às necessidades, interesses epossibilidades de cada praticante, evitando osmodelos e imagens veiculadas pelo desporto deelevados resultados praticado pelos adultos.

– Evitar que a prática desportiva dos mais jovens seoriente pelos processos reguladores do máximorendimento e do resultado elevado. O desportodeve se moldar no sentido de atender àsnecessidades dessa população, assumindo umpapel formativo e adaptado às circunstâncias ecaracterísticas individuais.

NOTASa) Neste trabalho “idade ideal” é aquela apontada pelos

treinadores e estudiosos da matéria (pesquisa bibliográfica)b) Idade real é aquela em que, efetivamente, os alunos e atletas

dos treinadores investigados e das equipes e modalidadesintegrantes da amostra iniciaram-se na prática desportiva.

Francisco M. Silva, Larissa Fernandes, Flórida O. Celani

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CORRESPONDÊNCIAFrancisco Martins da SilvaAv. Edson Ramalho, 397 – Ap. 302 – ManaíraCEP 58.038-100 – João Pessoa – PBBrasil[[email protected]]

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ANEXO – QUESTIONÁRIO

1. APRESENTAÇÃOSr. Professor/ treinadorEste questionário destina-se à coleta de parte das informações necessárias à realização de uma pesquisa sobreiniciação desportiva, que está sendo conduzida pelos integrantes do Laboratório de Estudos e Pesquisa doTreinamento - LEPET, da Universidade Federal da Paraíba. As informações aqui levantadas serão utilizadas,exclusivamente, para a elaboração do referido trabalho e será resguardado o anonimato das mesmas. Nestaparte do trabalho objetivamos, prioritariamente, identificar a opinião dos professores/treinadores em relaçãoà faixa etária ideal para a iniciação desportiva, além de verificar a faixa etária real em que essa iniciação estáocorrendo.

2. IDENTIFICAÇÃO Local de Trabalho: ___________________________________________ Modalidade em que trabalha:___________________________________ Tempo em que trabalha com a referida modalidade: _________________ Nível de escolaridade:_________________________________________

3. QUESTÕES3.1. Dentre as faixas etárias abaixo, indique a que você considera ideal para a iniciação desportiva, na suamodalidade:

( ) 5 a 6 anos ( ) 7 a 8 anos( ) 9 a 10 anos ( ) 11 a 12 anos( ) 13 a 14 anos ( ) outros _______________________

3.2 De acordo com a resposta anterior, numere de 1 a 3, em ordem de prioridade, as três afirmações que maisjustificam a sua opção.

( ) Identidade entre o caráter lúdico inerente ao desporto e a faixa etária apresentada.( ) A criança que começa cedo obtém melhores resultados.( ) Nessa idade os meninos/meninas encontram-se mais aptos para o desenvolvimento de habilidadesmotoras.( ) Nessa idade, o desenvolvimento físico da criança é compatível com as necessidades da práticadesportiva.( ) Os meninos/meninas apresentam maior interesse pelos ensinamentos relacionados com a práticadesportiva.( ) A partir dessa idade, a criança já possui estruturas psicológicas capazes de suportar as exigênciasimpostas pelo treinamento.( ) É a idade ideal para favorecer a inserção e o relacionamento da criança com o mundo e o meio ambienteem que vive.( ) Faixa etária ideal para desenvolver a percepção espaço-temporal e a coordenação geral das crianças.( ) Contribui para um melhor desempenho técnico na modalidade.( ) Outros_______________________________________________________________________________________________________________

Francisco M. Silva, Larissa Fernandes, Flórida O. Celani

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3.3. Caso tenha sido influenciado por estudiosos, na concretização das opiniões apresentadas nas questõesanteriores, indique os autores e títulos que fundamentam suas opiniões.________________________________________________________________________________________________________________________

3.4. Na sua prática como professor/treinador, indique a faixa etária em que, de fato (idade real), estáocorrendo a iniciação desportiva das crianças e jovens.

( ) 5 a 6 anos ( ) 7 a 8 anos( ) 9 a 10 anos ( ) 11 a 12 anos( ) 13 a 14 anos ( ) outros _______________________

Caso a opção indicada na questão anterior, se apresente diferente da opinião que você manifestou na questãono 3.1, responda as questões seguintes:

3.5. Considerando as afirmações abaixo e a diferença entre as faixas etárias indicadas nas questões no 3.1 e3.4 (idades ideal e real), numere de 1 a 3, em ordem de prioridade, as afirmações que, na sua opinião, maisjustificam a diferença apresentada.

( ) Desmotivação das crianças pela prática desportiva.( ) Cobrança de resultados precoce por parte dos pais.( ) Imposição do clube/ou instituição para participação em competições nas categorias mirins e infantis.( ) O clube/ou instituição não apóia a prática desportiva na faixa etária considerada ideal.( ) Falta de estrutura do clube/ou instituição, para o trabalho na faixa etária considerada ideal.( ) O clube/ou instituição cobra resultados imediatos e constantes.( ) Preciso do emprego, daí não interfiro em assuntos relativos ao aspecto administrativo das equipes.( ) Pouca oferta de opções e dificuldade de acesso das crianças/jovens à prática orientada e sistemática de

uma atividade desportiva.( ) Outros______________________________________________________________________________________________________________

3.6. Aponte, numerando de 1 a 3 em ordem de prioridade, três desvantagens que essa divergência de idadespode vir a ocasionar.

( ) Pode causar alterações no desenvolvimento psicomotor.( ) Dificulta a assimilação da técnica.( ) O atleta deixa de conseguir bons resultados e acaba se desestimulando.( ) Provoca problemas no sistema cardiorespiratório.( ) Dificulta o desenvolvimento das habilidades motoras específicas.( ) Favorece a criação e desenvolvimento de vícios e deformações motoras.( ) Provoca problemas de ordem articular.( ) Provoca lesões músculo-esqueléticas.( ) Dificulta o desenvolvimento das qualidades físicas básicas e específicas.( ) Antecipa a obtenção de resultados, mas reduz a vida atlética do praticante.( ) Contribui para a realização de resultados elevados, mas provoca instabilidade nos resultados.( ) Outros _________________________________________________

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As actividades desportivas no Porto de 1900

José V. FerreiraFaculdade de Ciências do Desporto e de Educação FísicaUniversidade do Porto, Porto, Portugal

António. G. FerreiraFaculdade de Psicologia e de Ciências da EducaçãoUniversidade de Coimbra, Coimbra, Portugal

RESUMONum livro publicado na década de quarenta, criticava-se osportuenses desse tempo por se considerarem desportistasquando só cuidavam de assistir aos jogos do seu clube e adiscutir sobre o futebol. Alegava o seu autor que no Porto de1900 se praticava a natação, o jogo do pau, a esgrima, aequitação, a ginástica, o remo, o ciclismo, a tauromaquia, olevantamento de peso e halteres e que a juventude nãodescuidava as práticas físicas, nem desconhecia a competiçãodesportiva.No sentido de verificarmos a qualidade da referida opinião,pretendemos neste artigo dar conta das actividades físicas edesportivas mais relevantes para o Porto no início do últimoséculo do segundo milénio, bem como descortinar qual orelevo que estas então assumiam para a sociedade da segundamaior cidade do país, a partir do impacto que elas tiveram emdois jornais aí publicados.

Palavras-chave: Desportos, modalidades, Porto, jornais, 1900.

ABSTRACTThe sporting practices in the city of Porto in the year 1900

A book published in the 1940’s criticised the people of Portobecause they considered themselves as sports people when allthey did was watch their own team’s games and argue aboutfootball. Its author alleged that, in Porto in 1900, people tookpart in swimming, “jogo do pau”, fencing, equestrian events,gymnastics, rowing, cycling, bullfighting and weightlifting, andthat young people were neither disinterested in physicalactivity nor in competitive sport.In order to establish the quality of the abovementionedopinion, we intend, with this article, to highlight the range ofsports activities in Porto, at the beginning of the last century.We also intend to reveal the social importance of theseactivities in the country‘ s second largest city, based on theimpact they had on two newspapers published at that time.

Key Words: Sports and activities, Porto, newspapers, 1900.

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Num livro publicado na já longínqua década dequarenta, Arnaldo Leite, querendo criticar osconterrâneos do seu tempo por se consideraremdesportistas quando só cuidavam de assistir aosjogos do seu clube e a discutir futebol, afirmava que,afinal, não havia razão para se pensar que asociedade de então devotava mais cuidado à práticadas actividades desportivas que a da transição doséculo XIX para o XX. Alegava o referido autor quejá no Porto de 1900 se verificava a prática danatação, da esgrima, da ginástica, do jogo do pau, doremo, do ciclismo, do levantamento de pesos ehalteres, etc. e que a juventude desse tempo nãodescuidava as práticas físicas, nem desconhecia acompetição desportiva (2).O texto no entanto merece uma atitude crítica. Elereflecte uma opinião de alguém censurador daatitude passiva que as pessoas já entãoapresentavam relativamente ao fenómenodesportivo e, principalmente, ao excessivo apegodevotado aos assuntos do futebol. De facto,Arnaldo Leite não se mostrava muito entusiastadesta modalidade. Explicava ele claramente a suaposição, temendo apodarem-no de anti-desportista: “Eu não detesto todas as bolas e atésimpatizo com a bola com “b”, pequeno: - bola dotênis, bola do pingue-pongue, bola do hóquei, bolado bilhar, etc., etc... A minha embirração é com aoutra, a tal, a marmanjona, que tantos estragoscausa. Essa é que eu não engulo. Talvez por sergrande demais...” (2, p. 57).O futebol era já um desporto arrastador demultidões e, por isso, quase monopolizava asatenções das pessoas, impedindo-as de se dedicarema outros desportos ou actividades. Na opinião deArnaldo Leite, a bola estava para o desporto, como ofado para a rádio e a revista para o teatro; atendência para baixo era bem evidente nisto tudo(2). Ora o referido autor, remando contra a maré,pretendia defender que tal situação não representavanenhum progresso relativamente ao ambientelúdico-desportivo vivido no início do século. Paraele, o balanço era bem evidente:“Em 1900 – Sem bola: Educação Física. Desportistasamadores. Desenvolvimento da raça.Em 1949 – Com bola: Zero a zero. Desportistasprofissionais. Desenvolvimento da “massa” (2, p. 52).

Esta posição de Arnaldo Leite tem o seu interesseporquanto, resultando da sua experiência, apresentaum valor testemunhal. Todavia, a sua postura críticaexigiu que procurássemos confirmar, numa outrafonte, elementos mais elucidativos sobre o impactodas actividades desportivas, na sociedade portuense,durante o ano de 1900.A escolha recaiu nos jornais diários que, então, sepublicavam no Porto e, para isso, procurámo-los naBiblioteca Pública Municipal desta cidade.Infelizmente, o estado dos referidos diárioscomplicou a nossa tarefa. O Jornal de Notícias estavademasiado deteriorado e, por conseguinte, não foipossível consultá-lo; o Comércio do Porto e o Primeirode Janeiro também não estavam em bom estado eacessíveis aos leitores, mas, depois de algunscontactos com uma funcionária superior,encontrámos uma solução para o problema:utilizámos o Comércio do Porto para o primeirosemestre e o Primeiro de Janeiro para o segundo.Os dois jornais tinham bastante em comum. Paraalém de serem ambos editados na cidade do Porto,saíam os dois nos mesmos dias da semana, não sepublicando, porém, à segunda-feira, eram diáriosgeneralistas, possuíam o mesmo número de páginas(4) e as colunas tinham a mesma largura (5,5 cm).Entre os aspectos a distingui-los, estava o seutamanho: o Comércio do Porto media 77 cm de alturae 44 de largura e o Primeiro de Janeiro tinha asdimensões de 64,5 cm de altura e 44 de largura. Emambos os jornais, a primeira página acolhia os artigosmais importantes, entre os quais se destacava apolítica portuguesa e as notícias sobre o estrangeiro.Por vezes, entre outras referências, lá aparecia uma ououtra sobre algo relacionado com actividades físicas edesportivas. A terceira e a quarta páginas destinavam-se quase exclusivamente à publicidadeNa pesquisa efectuada nos mencionados jornais,optámos por recolher todas as referênciasrelacionadas com actividades físicas e desportivas,quer relatassem competições, demonstrações epráticas físicas, quer dissessem respeito a anúnciosde provas, de espectáculos e de materiaisdesportivos ou mesmo a notícias de reuniões declubes e de associações desportivas.O resultado da recolha efectuada pode traduzir-se,sintética e globalmente, no quadro 1:

Desporto no Porto de 1900

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Como podemos verificar no quadro 1, o panoramadesportivo de 1900 era muito diferente do actual eaté do de 1949, ano em que foi escrito o texto deArnaldo Leite que referimos. Em menos de umséculo ou mesmo de meio, Portugal viu surgir edesenvolver-se um considerável número demodalidades, o que alterou por completo o quadrodesportivo português. Não admira que alguns, comoo fazia Arnaldo Leite, se sentissem pouco adaptadosa tal transformação e reagissem tecendo críticas que,normalmente, assentavam sobre a modalidadedespertadora de maior interesse. De facto, devia-lhes

parecer preocupante a pujança do futebol, quandoem 1900 se podia percorrer as páginas de um jornaldiário sem se encontrar uma única referência à suaprática.Olhando bem para o quadro 1, vê-se, no entanto,que não é só o futebol a estar ausente dos jornaiscompulsados. Nenhum dos desportos maispraticados actualmente aparecem aludidos. Aliás,não encontrámos notícias de qualquer desporto debola, a não ser que consideremos o registo do ténisnum anúncio de venda de um palacete a possuir umcampo para a prática deste jogo (5).

Quadro 1 – Número de referências sobre as várias modalidades físico-desportivas, no ano de 1900.

Actividades Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Agt Set Out Nov Dez Total

Atletismo 2 2Caça 3 5 2 10 2 4 1 27Canoagem 5 4 9Ciclismo 3 1+5* 3* 17+3* 8 13 20 4 3 80Equitação 1 5 6Esgrima 5 2 7Ginástica 16 37 3 4 1 1 3 10 7 2 84J.Tradicionais 2 8 10Luta 1 1Natação 3 1 4Passeios Fluviais 1 4 2 7Patinagem 3 4 6 4 17Ténis 1 1 2Tiro 4 8 3 6 1 1 2 1 26Touradas 1 13 46 33 20 113Total 19 49 1 9 11 5 10 30 89 77 40 14 3 395

* Cicloturismo

Gráfico 1 – Histograma sobre o número de referências no tocante às diversas actividades desportivas, no ano de 1900.

20

2 0

4 0

6 0

8 0

10 0

12 0

2 7

9

8 0

6 7

8 4

101 4 7

17

2

2 6

1 1 3

J.V. Ferreira, A.G. Ferreira

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Analisando o gráfico 1, podemos ver que asactividades contempladas com maior número dereferências nos jornais foram as corridas de touros, ociclismo, a caça e o tiro; por seu turno, a luta, oatletismo, o ténis e a natação foram pouquíssimasvezes mencionadas.Por certo, hoje em dia, estranhar-se-á queconsideremos as corridas de touros no âmbito daanálise das práticas físicas e desportivas. No entanto,elas gozavam de imensa popularidade em todo o país,sendo algo surpreendente que encontrássemos tantasreferências relativas a povoações situadas a norte dorio Mondego. Parece-nos que as touradas estavampara as populações do início do século, como ofutebol para as de hoje. Será que o futebol veio ocuparo espaço outrora pertencente à tauromaquia?Ao observarmos o quadro 1 e o gráfico 1,apreciaremos certamente a posição relativa daginástica, mas convém explicitar que um número tãoalto de referências advém de elas contemplarem domesmo modo a ginástica acrobática praticada noscircos. De facto, se excluíssemos as notícias relativasaos circos, nem uma dúzia de referências obteríamospara a ginástica. Todavia, é preciso ter-se em contaque não era tão nítida como actualmente a

diferenciação entre a ginástica artística e algunsexercícios atléticos praticados nos circos.Perspectivando a análise a partir de critérios actuais,é o ciclismo que merece maior atenção dos jornais.No entanto, também aqui temos diversos tipos depráticas: competições velocipédicas, corridas onde seprivilegiava sobretudo o aspecto lúdico e ocicloturismo. Estas duas últimas práticas eram organizadas peloReal Velo Clube do Porto e nelas podiam participarhomens e mulheres. No Palácio de Cristalrealizavam-se, por exemplo, corridas de fitas paraum e outro sexo e, com a participação de homens emulheres, desenvolveram-se vários passeios acidades como a Aveiro e Braga (4 e 5).Quanto às competições de bicicleta, o grandepromotor delas era o mesmo Velo Clube, masigualmente se empenhavam nesta tarefa algumascasas vendedoras de velocípedes como a FerreiraReal e a Garagem Lusitana (4 e 5).No sentido de ficarmos a perceber o nível destamodalidade no virar do século, vejamos o quadro decompetições organizadas pelo Real Velo Clube doPorto no velódromo Maria Amélia, em 1900, paracomemorar o sétimo aniversário do seu nascimento:

Quadro 2 – Provas de ciclismo promovidas pelo Velo Clube, em 1900, nos festejos comemorativos do seu 7º aniversário.

Prova Séries (nº) Distância metros Corredores Vencedor Prémio(série/final) (total) (réis)

Resistência Profissional 2 900/3600 9 José Bento Pessoa 20.000Handicap 1 1800 4 Tomás da Silva Castro Objecto arteNacional Amadores 2 900/1500 10 L. Lacerda Pinto RelógioNacional Profissional 1 1800 9 António Lopes 11.000

Numa apreciação genérica, facilmente verificamosque as corridas se destinavam a amadores e aprofissionais, tanto mais que a prova denominada de“handicap” era especialmente reservada aos sóciosamadores do Real Velo Clube do Porto. Olhando,tanto a globalidade do evento desportivo como cadauma das provas em particular, vemos que o númerodos corredores participantes era escasso o queparece traduzir ainda um incipiente desenvolvimentoda modalidade. Devemos esclarecer que os ciclistasprofissionais a participarem na prova “Nacional”

foram os mesmos a competirem na de “Resistência”.No entanto, entre estes nove corredoresencontrámos profissionais originários de Lisboa,Viseu, Figueira da Foz, Aveiro, Braga e Porto o queparece demonstrar já uma implantação damodalidade a nível nacional.Curiosamente, a patinagem, embora se tratasse deuma modalidade bem diferente do ciclismo, apareciaassociada sobretudo a iniciativas do Velo Clube doPorto. As actividades registadas aconteciam nosmeses de Inverno, ou seja, de Janeiro a Abril,

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período em que não se organizavam competições deciclismo. Corridas de patins, corridas de fitas e deobstáculos em patins para ambos os sexos eramcompetições muito queridas dos sócios do VeloClube, as quais se realizavam todas as semanas,normalmente, nas noites de quinta-feira e sábado,no Palácio de Cristal, em recinto fechado (4 e 5).Juntamente com a patinagem, a caça e o tiroperfazem um trio de modalidades que registavamum número de referências entre as quinze e astrinta, ou seja, posicionavam-se como um grupointermédio, não conhecendo a popularidade dastouradas ou do ciclismo, mas merecendo muito maisatenção que muitas outras. Note-se que a caçaregistou vinte e sete referências e o tiro vinte e seis,número superior ao da patinagem e bem longe doobtido pelos jogos tradicionais a alcançarem apenasa dezena. A caça tinha o seu maior número denotícias no Verão e, através delas, procurava-se dar aconhecer os locais repovoados de caça, bem como

disciplinar a arte venatória. O tiro, por sua vez, erauma actividade de Primavera e Verão e, durante estetempo, o Clube de Caçadores do Porto organizava,no terreno de Salgueiros, dois tipos de torneios: tiroa chumbo e à bala (4 e 5).Para além destas, as outras modalidades quase nãotinham expressão. De entre elas, o remo/canoagemera a actividade desportiva mais noticiada, seguindo-se os passeios fluviais, a esgrima e a equitação (4 e5). Para aquilatarmos a qualidade das competiçõesde remo/canoagem organizadas pelos BombeirosVoluntários do Porto em 1900, atentemos noprograma: 1ª corrida – Escaleres de 4 remos; 2ªcorrida – Sapatas a duplo remo; 3ª corrida - “Pic-nics”; 4ª corrida – Caíque; 5ª corrida – Barcossaveiros a dois remos (5).As referências às modalidades parecem indicar umaactividade física mais concentrada em determinadasépocas do ano, conforme podemos ver no quadro 3 eno gráfico 2.

Quadro 3 – Número de referências, por trimestre, no que diz respeito a algumas actividades desportivas, no ano de 1900.

Actividades 1º Trimestre 2º Trimestre 3º Trimestre 4º Trimestre Total

Caça 8 0 14 5 27Ciclismo 3 29 41 7 80Ginástica 56 5 4 19 84Jogos tradicionais 0 0 10 0 10Patinagem 13 4 0 0 17Tiro 0 12 10 4 26Touradas 0 1 92 20 113Total 80 51 171 55 357

Gráfico 2 – Histograma sobre o número de referências, por trimestre, relativo a algumas actividades desportivas, no ano de 1900

J.V. Ferreira, A.G. Ferreira

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100

80

60

40

20

0

1º Trimestre 2º Trimestre 3º Trimestre 4º Trimestre

Caça Ciclismo Ginástica Jogospopulares

Patinagem Tiro Touradas

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Parece evidente que é, no Verão, no 3º trimestre quehá maior prática das actividades físicas mencionadas,tendo-se encontrado o número de 171 referências,muito acima das 80 do 1º semestre e mais ainda das55 e 51, respectivamente, do 4º e 2º semestres.Analisando com maior pormenor, vemos que ociclismo e o tiro são modalidades praticadaspreferentemente na Primavera e no Verão. Por seuturno, a ginástica é uma disciplina maisdesenvolvida no Outono e especialmente no Inverno.

CONCLUSÃODe tudo o que foi dito, se colige que, quer ao nívelda variedade das modalidades, quer ao nível dasreferências, a prática desportiva no norte do país erabastante pobre. Excluídas as touradas e asactividades referentes ao circo, praticamente só ociclismo tinha alguma expressão. Depois dociclismo, unicamente a caça e o tiro pareciam teralguma importância, tendo em conta o número dereferências, uma vez que só elas ultrapassavam onúmero de 20.Levando em atenção os dados colhidos nos jornais,não parece haver razão para a opinião do ArnaldoLeite. É natural que ele se tivesse referido aoconjunto das actividades praticadas pela juventude e,portanto, não devidamente organizadas. De qualquermodo, parece ser evidente que as práticasdesportivas ainda não mobilizavam os jornais.

CORRESPONDÊNCIAJosé Vítor FerreiraFaculdade de Ciências do Desportoe de Educação FísicaUniversidade do PortoRua Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugal[[email protected]]

BIBLIOGRAFIA1. Ferreira, J. V., Ferreira A. G. (1997). La gymnastique à Portoà la fin du XIX ème siècle et l‘action de Paulo Lauret. In Atti del1º Seminario Europeo di Storia dello Sport. Roma, p. 180-184.2. Gama, A. (1952). O “Porto 1900”: crónicas. Porto: LivrariaFigueirinhas.3. Hasse, M. (1993). O divertimento do corpo. Corpo, Lazer eDesporto, na transição do século XIX para o século XX, em Portugal.Tese de Doutoramento. Lisboa: UTL / FMH.4. J. Comércio do Porto (1900). 1º semestre.5. J. Primeiro de Janeiro (1900). 2º semestre.6. Parreira, L. L. (1937). Os desportos na formação moral.Revista a saúde escolar. 18: 520-523.7. Pontes, J. (1934). Quási um século de desporto. Lisboa:Sociedade Nacional de Tipografia.8. Vaquinhas, I. M. (1992). O conceito de decadência“fisiológica da raça” e o desenvolvimento do desporto emPortugal. Finais do século XIX / princípios do século XX.Revista História das Ideias. 14: 365-388.

Desporto no Porto de 1900

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ARTIGOS DEREVISÃO

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A importância da depilação no rendimento desportivo em natação

J. P. Vilas-BoasFaculdade de Ciências do Desporto e de Educação FísicaUniversidade do Porto, Porto, Portugal

RESUMOO rendimento desportivo de alto nível é hoje determinado pelocontrolo de uma multiplicidade de detalhes que concorrempara a máxima expressão das capacidades de realização dodesportista. No domínio da natação, vem-se assistindo a umprogressivo incremento dos cuidados com a hidrodinâmicaresistiva, os quais ganharam uma expressão particular com osurgimento dos novos fatos integrais, quer para senhoras, querpara homens. Na mesma linha de preocupações, os hábitos dedepilação pré-competitiva foram-se instituindo na comunidadedesportiva da natação, apesar de persistir uma grandecontrovérsia acerca da utilidade e repercussões desteprocedimento. O objectivo do presente trabalho consiste emrever o estado actual de conhecimentos a este respeito, deforma a proporcionar uma síntese com relevância operativa nodomínio da preparação desportiva de nadadores.

Palavras-chave: Natação, Biomecânica, arrasto hidrodinâmico,depilação.

ABSTRACTThe importance of hair shave on swimming performance

Top level performance in sports is, nowadays, determined bythe control of a complex of details that converge to themaximal expression of the performance potential. Inswimming, it’s noticeable a progressive improvement of caresabout hydrodynamical constraints to the performance,specially after the appearance of the new body suits fromdifferent companies. Pointing in the same direction is thetradition of shaving body hair previously to a maincompetition, despite some controversy about it’s utility andconsequences. The purpose of this work is to review the actualstate of the art about this topic, in order to provide aoperational synthesis with operative relevance for thepreparation of swimmers to competition.

Key Words: Swimming, Biomechanics, hydrodynamic drag, hairshaving

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1. INTRODUÇÃOPelo facto da natação se desenvolver num meio físicocom características mecânicas específicas, colocam-se ao nadador problemas igualmente específicos ou,se se quiser, apenas similares a alguns dos que secolocam a actividades realizadas a alta velocidade nomeio aéreo (e.g., corrida de velocidade, ciclismo,patinagem no gelo, ski, etc.). Nestas modalidadessão evidentes as preocupações de naturezaaerodinâmica, consubstanciadas, por exemplo, nautilização de equipamentos especiais que, nos JogosOlímpicos de Seoul/1988, culminou com os fatosintegrais, elásticos e com touca, utilizados pelosvelocistas da equipa de atletismo dos EUA. Asvantagens da utilização deste tipo de equipamentoforam evidenciadas por Kyle e Caiozzo (14), autoresque, estudando em túnel de vento a aerodinâmica doequipamento desportivo dos corredores develocidade e fundo, concluiram que a utilização deequipamento apropriado, incluindo a cobertura docabelo, pode permitir reduzir o arrasto aerodinâmicoentre 0.5 e 6%; salientaram ainda que uma reduçãoem 2% do arrasto pode permitir uma redução de0.01s no tempo dos 100 m e de 5.7s no tempo deprova da maratona.Se cuidados como este parecem ser legitimados pelaaplicação dos conhecimentos relativos à mecânica defluidos à prática do atletismo (14), do ciclismo (13),do ski (20) e da patinagem de velocidade (25),procedimentos similares sê-lo-ão também,certamente, em natação, já que se a velocidade dedeslocamento é consideravelmente inferior, aviscosidade do fluido envolvente é, emcontrapartida, significativamente superior.Ao nível da mecânica dos fluidos têm sido, emnatação, insistentemente tratadas as questõesrelativas ao entendimento da mecânica propulsiva eresistiva, maioritariamente numa perspectiva deaperfeiçoamento das técnicas de nado e de definiçãodo morfotipo ideal do nadador. Porém, para alémdestes aspectos, existem a este nível outros que serevestem também de grande relevância prática,nomeadamente para a fundamentação de opçõesrelativas à preparação específica da prestaçãocompetitiva e que não têm sido tão frequentementeobjecto de investigação. Referimo-nos,concretamente, às possibilidades de minimização do

efeito de outras variáveis passivas (não dependentesda técnica) determinantes da intensidade da força dearrasto oposta ao deslocamento do nadador, i.e.,equipamento desportivo e características dasuperfície de contacto do nadador com a água. Aimportância destas fica bem expressa nos resultadosde van Manen e Rijken (26), que registaram umaredução de 9% na intensidade do arrasto a que sesujeita uma nadadora em consequência da utilizaçãode um fato de competição relativamente a quandonada despida, e de Toussaint et al. (23), autores queverificaram uma redução do arrasto hidrodinâmicoactivo em natação - crawl - como consequência dautilização de um fato de triatlo em neoprene; estaredução foi de 14% à velocidade de 1.25 m.s-1 e de12% a 1.5 m.s-1 e pode permitir um aumento de ±5% na velocidade de nado. O efeito foi atribuídoquer a uma mais pronunciada flutuabilidade, quer auma redução do arrasto de fricção.Das variáveis passivas determinantes do arrasto aque se sujeita o nadador, uma das que maisinsistentemente é referida é o nível dedesenvolvimento da pilosidade na superfície decontacto do nadador com a água, o que temjustificado a generalização do hábito dos nadadoresse depilarem antes de competições importantes.Apesar deste ser um procedimento adoptado desdehá muito pelos nadadores, só mais recentementesurgiram evidencias científicas que o parecemsubstanciar. O objectivo deste trabalho éperspectivar, com base na literatura disponível, ointeresse da prática da depilação pré-competitiva emnatação, com especial incidência nas suasrepercussões hidrodinâmicas, nomeadamente notocante a um eventual efeito na redução daintensidade da força de arrasto hidrodinâmico.

2. DESENVOLVIMENTO DO PROBLEMADe há muito que os nadadores, os técnicos e osinvestigadores revelam preocupações importantesrelativamente às possibilidades de minimização daintensidade da força de arrasto hidrodinâmicooposta ao deslocamento do corpo humano na água.São exemplos recentes dos cuidados tidos a essenível: (i) a continuada investigação no domínio doarrasto; (ii) os esforços de evolução das técnicas denado através da minimização do arrasto; (iii) a

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evolução dos fatos de banho, que passou pelo “fatointegral” apresentado pelas nadadoras da estafetasueca nos campeonatos do mundo de Madrid ’86 eagora retomados pela TYR, e culminou com os fatosintegrais femininos e masculinos, sejam os Fast Skinda Speedo, ou os seus congéneres da Arena, da TYR eda Adidas e (iv) a manutenção dos hábitos dedepilação completa da superfície cutânea exposta aocontacto com a água, incluindo a cabeça.Segundo Sharp et al. (21), desde a década de 50 queos nadadores se depilam e poucos serão os recordesmundiais e americanos estabelecidos nos últimosanos que não tenham sido precedidos daquelaprática. Porém, a par da generalização desteprocedimento, parece que, durante muito tempo,não se conseguiram obter suficientes evidênciasempíricas e argumentos teóricos que o suportem.A depilação parece ter por finalidade principalminimizar a componente de fricção da força dearrasto total, uma vez que, para além da densidade eda viscosidade do fluido, a extensão e rugosidade dasuperfície de contacto do nadador com a água(pilosidade e textura da pele, textura do fato debanho e da touca), constituem os seus principaisfactores determinantes (4, 8). No mesmo sentido setem justificado o hábito de revestir a superfíciecutânea com substâncias gordurosas diversas, bemassim como a opção por tecidos de textura lisa naconcepção de fatos de banho (2, 16).

2.1. Importância do arrasto de fricção em nataçãoNa literatura especializada pode constatar-se que,muito embora as opiniões não sejam unânimes, amaioria dos autores considera que o arrasto defricção desempenha, em natação, um papel desomenos importância relativamente às componentesde pressão e de onda. Kozel (12) refere que, pelomenos para baixas velocidades da nado, o arrasto depressão desempenha um papel predominante naintensidade da força de arrasto oposta aodeslocamento do nadador. Counsilman (6),reportando-se a nadadores, e Prance e Schmidt-Nielsen (19), referindo-se a patos, salientam que,para velocidades elevadas, o arrasto de ondadesempenha um papel preponderante na intensidadedo arrasto total e Clarys (3) refere que, atendendoaos valores supostamente muito elevados do arrasto

de pressão, o arrasto de fricção é desprezível emnatação. O mesmo autor refere que, em qualquercircunstância, o escoamento da água em torno docorpo humano é turbulento, reduzindo assim aimportância relativa do arrasto de fricção eimplicando valores elevados do arrasto de pressão.Na mesma perspectiva, Gadd (9) refere que, para omesmo valor do Número de Reynolds (Re), ocoeficiente de arrasto (CD) é, para o Homem emdecúbito ventral, aproximadamente 13 vezessuperior ao de um corpo hidrodinâmico, o que setraduz num regime de escoamento turbulento e numacentuado arrasto de pressão.Clarys (3) não encontrou uma correlaçãoestatisticamente significativa entre a intensidade daforça de arrasto e a área de superfície corporal, tendo,porém, verificado o oposto para a área de secçãomáxima transversal à direcção de deslocamento e paraa razão altura/volume. Estes parâmetros constituem-se, entretanto, como elementos determinantes,respectivamente, do arrasto de pressão e do arrasto deonda. Miyashita e Tsunoda (17) também nãoconstataram correlações estatisticamentesignificativas entre o arrasto e a superfície corporaldos nadadores. Em contrapartida, Karpovich (11),Alley (1) e Counsilman (7) referem que a intensidadeda força de arrasto passivo é tanto superior quantomaior for a superfície corporal do nadador.Cazorla (2) refere que o arrasto de fricção énegligenciável em nadadores, só representando umaparcela significativa do arrasto total para corposhidrodinâmicos deslocando-se a velocidades muitoelevadas. Nesta perspectiva, qualquer eventualredução da intensidade do arrasto de fricçãodecorrente de práticas de depilação ou outras, nãoteria expressão significativa na prestação desportivado nadador (7).Um argumento teórico parece reforçar as opiniõesrelativas ao reduzido significado do arrasto defricção em natação: para valores elevados do númerode Reynolds (Re) - como presumivelmente ocorre nocaso do corpo humano - o escoamento ésupostamente turbulento (4, 8). Nestas condições,Douglas et al. (8) referem que, para que se respeite acondição fundamental de não deslocamento daspartículas de fluido adjacentes à superfície do corpo,é imprescindível que se estabeleça uma subcamada

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laminar no interior da camada limite, na zonaimediatamente adjacente à superfície do corpo. Esta,para todos os efeitos práticos, tornaria o corpohidraulicamente liso, conduzindo à possíveldesvalorização do efeito resistivo da componente defricção da força de arrasto (8).Contrariando o pressuposto fundamental doargumento anteriormente exposto, Hay e Thayer(10), num trabalho realizado com o objectivo dedesenvolver uma técnica de visualização do regimede escoamento da água em torno do corpo donadador, referem que o escoamento da água emtorno do corpo do brucista natural - técnicaondulada - parece ser maioritariamente laminar,prevalecendo o arrasto de fricção relativamente aoarrasto de pressão. Por seu lado, Ungerecht (24)questiona a validade de Re como indicador rigorosodo regime de escoamento de fluidos em torno decorpos que mudam continuamente de forma, peloque valores de Re muito elevados não implicariam,nestas condições, que o escoamento fossenecessariamente turbulento. É, de resto, nestaperspectiva que o clássico paradoxo do golfinhopoderia encontrar solução na possibilidade doescoamento se manter laminar para valores de Resuperiores ao valor crítico (9). No mesmo sentido,Clarys (3) salienta que, devido às constantesvariações de forma e posição do corpo, muitos dosprincípios fundamentais da hidrodinâmica doscorpos rígidos não podem ser directamente aplicadosao estudo do nadador. Miyashita e Tsunoda (17)referem também este tipo de preocupações,reportando-se especialmente às dificuldades deaplicação da equação D=1/2rV2CDS à determinaçãodo arrasto (D) para corpos não rígidos.Parece-nos lícito, portanto, admitir que aos valoresde Re apresentados na literatura para o corpohumano possa não corresponder, necessariamente,um regime de escoamento turbulento, situação queconferiria maior relevância ao arrasto de fricção.Nesta perspectiva, Larsen et al. (15) referem quepara corpos que se deslocam na superfície livre deum líquido, como os barcos e os nadadores, oarrasto de fricção representa entre 18 a 20% doarrasto total.

2.2. Repercussões da depilação no rendimentodesportivo de nadadoresMuito embora alguns dos argumentos atrásreferidos questionem de alguma forma o interessedas práticas tendentes a minimizar a intensidade doarrasto de fricção que já referimos, estas mantêm-se muito difundidas, sobretudo entre os nadadoresde mais elevado nível. A questão fundamental quese coloca é a de se saber até que ponto é que sejustificam, por interferirem positivamente nacapacidade de rendimento desportivo dosnadadores e, de entre elas, principalmente adepilação, já que se constitui como umprocedimento pelo menos incómodo para onadador.A divergência de opiniões e a inconsistência dosargumentos hidrodinâmicos e empíricos parecemnão ter, nos últimos anos, contribuído decisivamentepara a sua afirmação ou abandono. Counsilman (7)refere a inexistência de qualquer evidência válidaque substancie a hipótese segundo a qual a depilaçãoreduz o arrasto de fricção de forma suficiente parainfluenciar significativamente a performance. Sharp etal. (21) salientam por seu lado não existir, até então,qualquer literatura publicada que suporte ou refute ainfluência desta prática na melhoria da prestaçãodesportiva. Por outro lado, Mrazek (18) refere umamelhoria de 1.2% no rendimento competitivo emconsequência da depilação e Costill et al. (5)salientam que a depilação pode contribuir para umaelevação da performance em 3 a 4%.O reconhecimento do efeito supostamente positivoda depilação tendo por base os resultadosdesportivos decorre do facto de, quando depilados,os nadadores realizarem as suas melhoresperformances. No entanto, os atletas depilam-seapenas para as competições mais importantes, ouseja, exactamente para aquelas que apontam os“picos de forma” do processo de treino, facto quenaturalmente compromete a possibilidade de seestabelecerem relações causais entre depilação erendimento desportivo (27).Atendendo a este estado de coisas, parece serperfeitamente lícito que, na dúvida, os nadadoresmantenham as referidas práticas de depilação e afinse que os técnicos as prescrevam. Esta posição pareceser reforçada pela opinião de alguns autores,

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segundo a qual a depilação poderia influenciarpositivamente o rendimento desportivo do nadador,quanto mais não fosse por se repercutirfavoravelmente nas sensações quinestésicas e napredisposição psicológica do indivíduo para acompetição (7, 18, 2, 16).A inconsistência dos argumentos relativos àmelhoria das sensações quinestésicas parece, porém,ser pelo menos tão acentuada quanto a dosreferentes às repercussões hidrodinâmicas dadepilação, restringindo-se, segundo Sharp et al. (21),ao domínio especulativo. Na mesma perspectiva,parece desajustado o incentivo às práticas dedepilação apenas com o objectivo de favorecer apredisposição psicológica do atleta, uma vez que apsicologia desportiva dispõe de meios de intervençãomais eficazes e menos cruentos.Em síntese, se não são razões sólidas de naturezahidrodinâmica a conferir legitimidade à prática dedepilação pré-competitiva e procedimentossimilares, não parecem ser razões de naturezapsicológica ou quinestésica a consegui-lo.Há já algum tempo, porém, foram publicadasevidências que parecem contribuir, se não de formainequívoca, pelo menos de forma importante para oesclarecimento do problema. Referimo-nos muitoconcretamente aos resultados dos estudos de Sharpet al. (21) e de Sharp e Costill (22).Sharp et al. (21) constataram, em dois diasconsecutivos, uma redução da razão lactatemia/velocidade (economia) para a técnica de crawl emconsequência da depilação. As diferenças entre aprovas realizadas antes e depois da depilação foramestatisticamente significativas (p<0.05) quer paravelocidades submáximas, quer para velocidadesmáximas. No primeiro caso a diferença média foi de28 (±7) % e, no segundo, de 23 (±3) %.Segundo os mesmos autores, muito embora nãoexistam suficientes dados publicados a esse respeitoe as generalizações sejam obviamente difíceis, odecréscimo da lactatemia correspondente a umadada velocidade ao longo de uma época desportiva,em consequência do treino, varia entre 27 e 35%,permitindo a depilação, de um dia para o outro, porsi só, reduções de 23 a 28%. Se a isto juntarmos que,em termos de performance, os resultados de Sharp etal. (21) apontam para uma redução de 6.6 s no

tempo de prova em 200m livres, podemos verificarque conferem grande relevância às repercussõesdesportivas da depilação. Naturalmente queresultados tão exuberantes sugerem grandeponderação na sua interpretação e, naturalmente,recomendam a realização de aproximações ulterioresque confirmem ou infirmem as respectivasconclusões. O mesmo decorre da reduzida extensãoda amostra testada (n=6) e o também reduzidopoder discriminativo do indicador utilizado.Importa, portanto, conseguir-se novos contributosque esclareçam mais consistentemente estaproblemática, nomeadamente no que respeita àefectiva importância da depilação e, sobretudo, dasua aparente influência poder decorrer, ou não, deuma diminuição do arrasto de fricção. De facto, ametodologia empregue por Sharp et al. (21) nãoexclui a possibilidade do aumento da economiamotora se dever, no todo ou em parte, a umaumento da eficiência propulsiva decorrente de umamelhoria das sensações quinestésicas. Isto,entretanto, já seria possível se se comparassemdirectamente as forças de arrasto activo nas duassituações ou, pelo menos, se as diferenças registadasem natação livre não se observassem em nataçãoestacionária para os mesmos indivíduos. Osresultados de Sharp et al. (21) impunham, portantofuturos desenvolvimentos experimentais, os quaisforam tentados por Sharp e Costill (22).Tendo por base estes pressupostos, Sharp e Costill(22) estudaram o efeito da depilação na respostafisiológica de 13 nadadores a um teste de nataçãolivre e a um teste de natação estacionária (tetheredswimming) e as suas repercussões na desaceleraçãoverificada durante o deslize após uma impulsãomáxima na parede testa da piscina, num outro grupode 18 nadadores.No primeira parte deste estudo, os 13 indivíduosforam divididos em dois grupos: um grupoexperimental (n=9) e um grupo controlo (n=4).Todos os indivíduos realizaram dois testes de 365.8m bruços à mesma velocidade (90% do melhortempo de treino), separados de uma semana, e doistestes de 8 mn em natação estacionária com cargasprogressivas, também separados de uma semana. Nosegundo teste de natação livre e de nataçãoestacionária os indivíduos do grupo experimental

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depilaram-se e os indivíduos do grupo controlo não.Os autores puderam constatar que entre os doistestes de natação livre: (i) a distância percorrida porciclo aumentou significativamente (0.24 m/ciclo,p<0.05) no grupo experimental e não variou nogrupo controlo; (ii) o VO2 determinado nosprimeiros 40 s de recuperação diminuiusignificativamente (p<0.05) no grupo experimental(0.33 l.mn-1) não tendo sido testado no grupocontrolo; (iii) a lactatemia de 2 mn de recuperaçãodiminuiu significativamente (p<0.05) no segundoteste para o grupo experimental (- 1.68 mmol.l-1 -21%) e aumentou para o grupo controlo (+ 1.55mmol.l-1) e (iv) a frequência cardíaca diminuiutambém no grupo experimental (- 6 bat.mn-1) e nãovariou no grupo controlo. Entre os dois testes denatação estacionária constataram que a frequênciacardíaca, o VO2 do último minuto de esforço e alactatemia de 2 mn não variaram a qualquer dasintensidades entre o primeiro e o segundo teste,quer para o grupo controlo quer para o grupoexperimental, tendo podido observar que também aforça propulsiva e a potência máximas não variaramsignificativamente entre o primeiro e o segundoteste para qualquer dos grupos.Na segunda parte do estudo, os 18 indivíduos foramdivididos em dois grupos de 9, um servindo comogrupo controlo e outro como grupo experimental.Todos os indivíduos realizaram duas séries de 6impulsões da parede testa da piscina em diasconsecutivos, tendo os indivíduos do grupoexperimental sido depilados antes da segunda série. Avelocidade máxima após a impulsão foi similar paraos dois grupos e para o primeiro e segundo testes. Adesaceleração, porém, foi significativamente inferiorno grupo experimental quando os indivíduos seencontravam depilados, não tendo sido registadasdiferenças significativas entre o primeiro e segundoteste para o grupo controlo. A aceleração negativainstantânea foi superior para velocidades elevadas einferior para velocidades mais baixas.O decréscimo na concentração sanguínea de lactatoobservada em consequência da depilação por Sharp eCostill (22) é semelhante à registada por Sharp et al.(21) - 23% - e a ausência de alterações no grupocontrolo sugere que as primeiras não se ficaram adever às actividades desenvolvidas pelos nadadores

no período que mediou entre os dois testes. Apesarde, por dificuldades com o equipamento deavaliação, não terem registado o VO2 no grupocontrolo e de, por isso, não poderem afirmar que ocusto energético foi reduzido em consequência dadepilação, os autores referem não lhes parecercoerente, em face dos resultados obtidos, que ogrupo controlo tenha experimentado uma elevaçãoda economia motora.Os resultados obtidos em natação livre, quandocomparados com os de natação estacionária,sugerem que a depilação reduziu o arrasto e,consequentemente, o custo energético da nataçãolivre, não se repercutindo na natação estacionáriaporque o arrasto activo tem, nesta situação, umainfluência muito reduzida ou inexistente. Estaperspectiva é reforçada se se considerar que ahabilidade para produzir força propulsiva não sealterou, tendo, todavia, aumentado a distânciapercorrida por ciclo em consequência da depilação.Os resultados de acelerometria passiva concorremtambém para a mesma conclusão.Uma última questão prende-se com a componentedo arrasto que, possivelmente, terá sido maisinfluenciada pela depilação. Na opinião de Sharp eCostill (22), quer o arrasto de fricção, quer o depressão e de onda podem ser influenciados poraquele procedimento. Todavia, repercutindo-se estemais nas características da superfície de contactoentre o corpo do nadador e do fluido, parece-nos serlícito esperar que o arrasto do fricção seja aquele quemais significativamente é afectado pela depilação, oque, a ser verdade, lhe confere uma expressão norendimento desportivo em natação que, como vimos,não é reconhecida por diferentes autores.Os resultados dos estudos de Sharp et al. (21) e deSharp e Costill (22) parecem-nos: (i) conferirsignificação objectiva e legitimar a tradicional práticade depilação pré-competitiva dos nadadores, pelomenos enquanto não estiverem disponíveisevidências em contrário e (ii) sublinhar, junto dostécnicos, a potencialmente elevada relevânciadesportiva dos progressos de natureza técnica emgeral e hidrodinâmica em particular, numa altura emque as preocupações a este nível parecem ainda serpouco relevantes no contexto global das tarefas depreparação desportiva de nadadores.

J.P. Vilas-Boas

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3. CONCLUSÕESDo que acabamos de expor, parece-nos possívelretirar as seguintes conclusões:

(i) Em nadadores, as práticas de depilação pré-competitiva e similares, não se têmfundamentado em dados empíricos e emargumentos hidrodinâmicos teóricossuficientemente consistentes.

(ii) Justificações de natureza psicológica ouquinestésica parecem não ser suficientes paralegitimar as práticas referidas.

(iii) Os dados disponíveis na literatura apontam paraum claro favorecimento da prestação desportivaem natação como consequência da prática dedepilação pré-competitiva, o qual parece serimputável a vantagens de naturezahidrodinâmica.

(iv) As repercussões dos progressos técnicos emgeral e hidrodinâmicos em particular poderãotraduzir-se em significativas vantagensdesportivas, pelo que importará conferircrescente importância a estas questões noâmbito dos programas de treino e de preparaçãodesportiva de nadadores.

CORRESPONDÊNCIAJ. Paulo Vilas-BoasFaculdade de Ciências do Desportoe de Educação Física da Universidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200 PortoPortugal[[email protected]]

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Miopatia do Exercício. Anatomopatologia e Fisiopatologia

J. A. DuarteM.P. MotaM.J. NeuparthH.J. AppellJ.M.C. SoaresFaculdade de Ciências do Desporto e Educação FísicaUniversidade do Porto, Porto, Portugal

ABSTRACTExercise induced muscle damage.Anatomopathology and Physiopathology.

Exhaustive and unusual physical exercise induces structuraland ultra-structural alterations in skeletal muscular whosephysiopathology is still unclear. These alterations are describedin detail, giving special importance to irregularities of crossstriated pattern, paleness with Schiff periodic acid,vacuolization, segmental necrosis, central nuclei, activation ofsatellite cells and fibroblasts, intra-cellular edema and to themuscular inflammatory reaction with phagocytes infiltration.Their onset times and hypothetical underlying mechanisms arealso analyzed. In the origin of these anomalies are metabolicand mechanical factors whose contribution is conditioned bythe type of exercise. Experimental data suggests thatmorphological characteristics of muscle damage induced byexercise are variable according to the metabolic or mechanicalstress of exercise.

Key Words: Exercise induced muscle damages, structuraldamages, Physiopathology.

RESUMOO exercício físico exaustivo e inabitual induz alteraçõesestruturais e ultra-estruturais musculares esqueléticas cujafisiopatologia é ainda pouco clara. Neste trabalho sãodescritas, em pormenor, essas alterações observadas apósexercício, dando especial realce às irregularidades do padrãoestriado, à palidez de coloração com o ácido periódico deSchiff, à vacuolização sarcoplasmática, às áreas de necrosesegmentar, à presença de núcleos centrais, à activação dascélulas satélite e fibroblastos, ao edema intra-celular e àreacção inflamatória muscular com infiltração de fagócitos. Sãoainda analisados os seus tempos de aparecimento e oshipotéticos mecanismos subjacentes. Na génese destasanomalias parecem estar factores de natureza metabólica emecânica, sendo a participação de cada um condicionada pelotipo de exercício efectuado. Tudo indica que o quadroanatomopatológico seja variável, com predominância de um ououtro tipo de alterações, em função do exercício realizado.

Palavras-chave: Miopatia do exercício, alterações estruturaismusculares, fisiopatologia, factores condicionantes.

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A miopatia do exercício (MEx) é uma entidadeanatomopatológica induzida pela realização deexercícios físicos extenuantes ou inabituais, limitadaa algumas áreas do tecido muscular estriadoesquelético, surgindo tanto em animais normais delaboratório como em humanos clinicamentesaudáveis (8, 9, 12, 16, 20, 22). É identificada, noHomem e no modelo animal, pela elevação dasenzimas lisossómicas musculares, pela elevaçãoplasmática de várias proteínas musculares, pelasalterações estruturais e ultra-estruturais muscularese pela diminuição da força máxima voluntária einvoluntária não atribuível à fadiga (3, 4, 5, 13, 17,20). No Homem, a sensação retardada dedesconforto muscular e a captação aumentada deprodutos radioactivos pelos músculos lesados sãotambém sinais clinicamente importantes (6, 7, 13).Se o termo “miopatia” parece ser abusivo, o seucarácter necrótico, catabólico e inflamatório, apesarde transitório (7), justifica a designação. Da mesmaforma, muitas das alterações funcionais emorfológicas musculares de origem endócrina,metabólica ou medicamentosa são tambémdesignadas por miopatias, apesar de transitórias ereversíveis (para refs. ver 7). Importa referir quealterações estruturais e ultra-estruturaissemelhantes àquelas encontradas após exercícioexaustivo e inabitual, são também observadas emdoentes com poliomiosite e distrofia muscular. Defacto, sendo muito limitado o número de reacçõesbásicas das fibras musculares aos vários estímulosagressivos, é natural que diferentes agressõespossam induzir a mesma reacção celular (1, 2, 10,11, 21). Assim, não é de estranhar que as lesõesdescritas para a MEx não sejam específicas desta,sendo, por isso, encontradas em outras patologiasmusculares.Em contraste com as lesões agudas motivadas pelaprática desportiva, tais como as rupturasmusculares, este estado patológico do músculoesquelético é caracterizado por possuir uma naturezaretardada (3, 4, 5, 7, 17). De facto, as alteraçõesestruturais associadas à miopatia do exercício sãobem diferentes daquelas induzidas por exercíciosfísicos violentos. Essas traduzem-se, habitualmente,por dilaceração e/ou ruptura de pequenas veias e dasfibras musculares, com possível formação de

hematomas, de aparecimento súbito, sendovulgarmente causadas por contusões externas oupela aplicação de forças musculares excessivas.De acordo com os dados experimentais (para refs.ver 7), a MEx não é uma doença musculargeneralizada, restringindo-se apenas a um pequenogrupo de músculos, dependente do exercíciorealizado. A intensidade das lesões, bem como apercentagem de fibras atingidas pelas anomaliashistológicas, estão dependentes de numerososfactores (para refs. ver 6, 7, 17), tendo principaldestaque: (i) a intensidade e a duração do exercícioefectuado, (ii) o músculo observado, (iii) o tipo defibra muscular analisada, (iv) o tempo que medeiaentre a finalização do exercício e a recolha daamostra, (v) o nível de treino do indivíduo, (vi) otipo de contracção predominantemente realizado,(vii) o modelo experimental utilizado, (viii) a idadedo modelo experimental e (ix) o estado de inervaçãodo músculo em causa.A descrição das lesões histológicas associadas à MExnem sempre é concordante de autor para autor emconsequência não só dos factores condicionantesatrás mencionados, mas também das diferençasevidenciadas no horário de recolha das amostras edos objectivos do trabalho (para refs. ver 6, 7).

Figura 1. Fotografias de microscopia óptica de músculogastrocnémius, em corte transversal (A, 393x) e longitudinal (B,493x) de animal sacrificado 24 horas após exercício, mostrando umespaço intersticial alargado (#) e a presença de fibras (*) com áreasde necrose segmentar (parcial). É visível, junto de uma áreanecrosada (setas), uma infiltração celular, provavelmente defagócitos. As fibras adjacentes possuem uma estrutura normal.

De uma maneira simples, poderíamos definir asalterações morfológicas da MEx como lesões decarácter focal, sub-letais e letais (com posteriornecrose), atingindo pequenas áreas de algumas dasfibras recrutadas (Fig. 1) (3, 4, 7, 17).Conciliando os dados experimentais (8, 9, 16),facilmente se conclui que estas alterações, letais e

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sub-letais induzidas pelo exercício, são idênticas àsdescritas para a célula em geral, apresentando, noentanto, alterações histológicas adicionais que estão,naturalmente, relacionadas com a especialização dafibra muscular.Um tipo de alterações, consequente da diferenciaçãoda fibra muscular, é vulgarmente encontrado, emcortes longitudinais à microscopia de luz, logo apósa finalização do exercício físico e consiste,estruturalmente, na desorganização do padrãoestriado (Fig. 2 e 3).

Figura 2. Fotografias de microscopia óptica (A, 615x) e electrónica (B,918x) em corte longitudinal, de músculo soleus de animaissacrificados logo após exercício, mostrando a presença deirregularidades do padrão estriado (*) intervaladas com zonas decontracção das miofibrilas (setas).

Esta desorganização, habitualmente designada porirregularidade do padrão estriado, manifesta-se porum alargamento das bandas isotrópicas (I) eanisotrópicas (A), com esbatimento da coloraçãomuscular, estando frequentemente intercalada poráreas onde a largura das bandas I se encontradiminuída, apesar das dimensões das bandas Apermanecerem constantes, sugerindo interacção dasproteínas contrácteis nessas zonas (3, 6, 7). Emconsequência, a coloração muscular nessas áreas émais carregada (Fig. 2 e 3).

Figura 3. Fotografias de microscopia óptica, do músculo soleus, emcorte longitudinal (A, 313x; B, 615x), de animais sacrificados logoapós exercício, mostrando irregularidades do padrão estriado (*)intervaladas por zonas de contracção das miofibrilas (setas). Denotar que estas zonas de interacção miofibrilar estão intimamenterelacionadas com o sarcolema.

De acordo com a literatura (6, 7), estas alteraçõesestruturais poderão ter uma origem mecânica, umavez que (1) são observadas logo após a finalizaçãodo exercício físico, (2) parecem relacionar-sedirectamente com a percentagem de contracçõesexcêntricas realizadas, (3) a sua incidência eintensidade não se modificam em função do tempodecorrido após exercício e (4) revelam umacoloração pálida, talvez pela diminuição de materialcontráctil induzida pela tracção mecânica.Consequente às fortes tracções mecânicas a que asfibras se sujeitam, não só as proteínas contrácteis edo citosqueleto podem ficar afectadas, mas tambémas diferentes membranas celulares podem seratingidas (Fig. 3), com a consequente perda dahomeostasia celular a vários iões, particularmente aoião cálcio (14).Em termos ultra-estruturais, as irregularidades dopadrão estriado, observadas à microscopia de luz,parecem corresponder às alterações nas linhas Z, taiscomo a disrupção, o esbatimento ou a extensão domaterial dessas linhas para as bandas I adjacentes (6,7). Esta anomalia, atinge, frequentemente, atotalidade das linhas Z dos sarcómeros adjacentes,ocupando, frequentemente, toda a largura da fibramuscular. Em muitos casos, o número desarcómeros em série atingidos ultrapassa as duasdezenas (6). À microscopia electrónica, as zonas demaior coloração que as intercalam resultam, defacto, da diminuição do comprimento dossarcómeros, com acentuada redução das bandas Isem qualquer alteração nas dimensões das bandas A(Fig. 2). Quadro morfológico semelhante podetambém ser encontrado em indivíduos saudáveis eassintomáticos, embora com menor incidência eintensidade (resultados não publicados). Estas zonasde maior densidade tecidual correspondem,necessariamente, a áreas onde as proteínascontrácteis interagem, sugerindo, por isso, aexistência de grandes quantidades de ião cálciosarcoplasmático disponível para ligação à troponinaC (7, 14). Este ião poderá ter origem extra-celular,por atingimento sarcolemal, como a Fig. 3 sugere, ouintra-celular, por perda da permeabilidade selectivada membrana do retículo sarcoplasmático (16).Logo após a finalização do exercício físico,particularmente se este tiver um predomínio de

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contracções concêntricas, um outro tipo de alteraçãoestrutural, frequentemente observada à microscopiade luz, consiste na irregularidade de coloração aoácido periódico de Schiff (PAS) verificada entre asdiferentes fibras musculares.

Figura 4. Fotografias de microscopia óptica, em corte longitudinal (A,393x), e electrónica (B, 1267x), em corte transversal, do músculosoleus, de animais sacrificados logo após exercício, mostrandofibras portadoras de vacuolização sarcoplasmática (setas), semirregularidades do padrão estriado. Na fotografia B é de realçar oalargamento do espaço inter-miofibrilar, traduzindo edema intra-celular (*), e o swelling mitocondrial (#) bastante acentuado.

Nas fibras de tonalidade mais pálida, sugerindo ummenor conteúdo em glicogénio e, por isso,testemunhando o seu recrutamento durante oexercício, são também frequentemente observadosinúmeros vacúolos sarcoplasmáticos (Fig. 4). Estasfibras, à análise ultra-estrutural, apresentam ummaior espaço inter-miofibrilar bem como a presençade mitocôndrias edemaciadas (“swelling”mitocondrial), de matriz pálida e comirregularidades das suas cristas (Fig. 4).Exceptuando a ligeira dilatação do retículosarcoplasmático, verificada nas fibras portadoras dasanomalias mitocondriais, os restantes organelos nãoapresentam, habitualmente, qualquer alteração dignade registo imediatamente após o exercício. Para alémda deplecção de glicogénio, também o edema intra-celular (Fig. 4 e 5) pode ser responsabilizado pelatonalidade mais pálida destas fibras. O edema intra-celular pode ser perfeitamente justificado pelaineficácia da ATPase transportadora de Na+/K+,motivando uma concentração crescente de sódio nointerior da fibra, arrastando consigo água do espaçointersticial. Simultaneamente, verifica-se uma saídade potássio com a consequente diminuição do pHintra-celular (para refs. ver 14).

Figura 5. Fotografias de microscopia electrónica (A, 1339x), em cortetransversal, e de microscopia óptica (B, 493x) em corte longitudinal,de um animal sacrificado 48 horas após exercício. Na fotografia A,na fibra inferior, é notório o edema intra-celular (*) e doislisossomas secundários (setas). Na fotografia B é evidente umazona com irregularidades do padrão estriado (*), onde se tornadifícil identificar as bandas isotrópicas e anisotrópicas, e uma áreade infiltração de fagócitos (setas).

A vacuolização sarcoplasmática parece ser, emgrande parte, o resultado das anomaliasmitocondriais observadas em microscopiaelectrónica. No entanto, é provável que a ligeiradilatação do retículo sarcoplasmático, consequenteao edema intra-celular, possa também contribuir,ainda que de forma menos intensa, para essefenómeno (6). O facto destas anomalias seremobservadas após exercícios com predomínio decontracções concêntricas, de atingirem a suaexpressão máxima algumas horas após a finalizaçãodo exercício e de ocorrerem em fibras pálidas àcoloração pelo PAS, sugere uma origem metabólicapara estas alterações (3, 6, 7, 18, 19). Umahipotética explicação para a ocorrência destesfenómenos poderá estar relacionada com a perdacelular da homeostasia ao ião cálcio (7, 15, 16).Assim, consequente ao progressivo aumento daconcentração sarcoplasmática do ião cálcio e àcaptação deste ião pelas mitocôndrias adjacentes,verifica-se uma redução da permeabilidade selectivada membrana interna mitocondrial com oconsequente edema (com atenuação do gradienteprotónico) e desacoplação da fosforilação oxidativa(para refs. ver 14). Situação idêntica pode tambémser motivada pela elevação térmica tecidual (7, 14).Esta poderia ser uma hipotética explicação para aocorrência de vacuolização sarcoplasmática emfibras depleccionadas em glicogénio mas nãoportadoras de áreas com interacção das suasproteínas contrácteis (Fig. 4).

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Um outro tipo de anomalias, também relacionadocom a diferenciação das fibras e que difereligeiramente da descrição feita para a célula emgeral, tem a ver com o facto da fibra muscular serum sincício morfológico que, quando sujeito a umestímulo lesivo letal, não degenera de uma formaintegral mas sim parcial (Fig. 1 e 6), ficando osnúcleos das áreas não atingidas a assegurar ofuncionamento dessas zonas (7).

Figura 6. Fotografias de microscopia óptica, do músculo soleus emcorte longitudinal (A, 493x; B, 493x), de animais sacrificados 48horas após exercício, com a presença de zonas de necrosesegmentar (*) infiltradas por fagócitos. É ainda observada umafibra com alguma vacuolização (#) e núcleos centrais (setas).

O aparecimento destas áreas de necrose segmentarsó se verifica, normalmente, algumas horas após otérmino do exercício. De facto, um a dois dias após oexercício físico, todo o quadro anatomopatológico setorna mais exuberante, caracterizando a naturezaretardada da MEx.Durante este período, as irregularidades do padrãoestriado continuam a ser observadas, diferindoestruturalmente, contudo, daquelas observadas logoapós a finalização do exercício. Há uma menordefinição da estriação com a consequente dificuldadeou mesmo impossibilidade de identificação dasbandas A e I (Fig. 5).Tudo indica que haja uma substituição, progressiva,das características das irregularidades do padrãoestriado ao longo do tempo pós-exercício (6). Estasuposição parece apoiar a hipótese de que adisrupção miofibrilar, verificada durante arealização do exercício físico, pode expor os seuscomponentes estruturais à acção de proteasesneutras ou alcalinas que se encontram no espaçointer-miofibrilar, provavelmente associadas aoretículo sarcoplasmático (6, 7, 15) agravando, destaforma, as lesões preexistentes. É possível que as

elevadas concentrações sarcoplasmáticas de iãocálcio possam contribuir para a activação destasenzimas (para refs. ver 7).

Figura 7. Fotografias de microscopia óptica, em corte longitudinal (A,393x) e transversal (B, 493x) do músculo soleus, de animaissacrificados 48 horas após exercício, mostrando edema intersticial(*) e zonas com desaparecimento das bandas I e vacuolizaçãosimultânea (setas). É ainda possível observar-se uma fibra emnecrose de coagulação ladeada por fibras normais (#).

Zonas com redução ou desaparecimento total dasbandas I continuam a ser observadas muitas horasapós a finalização do exercício e, particularmentenestas áreas, a vacuolização sarcoplasmática éperfeitamente identificável (Fig. 7). Esta constataçãovem reforçar a hipótese da perda da homeostasiacelular ao cálcio como uma das possíveis etiologiaspara as alterações encontradas (15, 16).Nas fibras portadoras de alterações estruturais, àanálise por microscopia electrónica, é notório, com oaumento do tempo pós-exercício, o progressivoincremento do volume mitocondrial (comirregularidades da matriz e das cristas), maisproeminente nas zonas sub-sarcolemais, emboratambém observado nas regiões inter-miofibrilares(6), assim como a existência de mitocôndrias,intercaladas, com aspecto normal (Fig. 4 e 5). Oespaço inter-miofibrilar mantém-se aumentado (Fig.5) e as anomalias das linhas Z, do retículosarcoplasmático e do comprimento dos sarcómerossão também observadas com mais evidência.Nestas fases pós-exercício é possível detectar-se umaumento dos complexos de Golgi, dos corposresiduais, dos vacúolos autofágicos e dos lisossomasprimários e/ou secundários (Fig. 5). Estes são, semdúvida, sinais morfológicos reveladores de umaactividade autofágica aumentada (6, 7). Estasevidências são principalmente visíveis no espaço sub-sarcolemal das fibras que circundam as áreas lesadase principalmente nas fibras com elevado conteúdo

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mitocondrial (para refs. ver 6). Estes sinaishistológicos de autofagia, nomeadamente os vacúolosautofágicos e os corpos esfero-membranosos, sãopouco frequentes na primeira hora após a finalizaçãodo exercício, aparecendo com maior frequência entreo 2º e o 7º dia (para refs. ver 6).Em termos gerais, tudo indica que ao longo do tempoapós exercício, as fibras agredidas iniciam umprocesso de autodestruição, lisando as miofibrilas epromovendo não só a disrupção das mitocôndrias, dosarcolema e do retículo sarcoplasmático, mas tambéma autofagocitose e a activação lisossómica (6, 7). Asanomalias histológicas musculares, motivadas poreste processo intrínseco às próprias fibras, apesar deapresentarem algumas características próprias,relacionadas com a diferenciação celular, constituemum bom exemplo da acentuada analogia morfológicaverificada na resposta dos diferentes tecidos àagressão em geral (3, 17). O facto da respostamorfológica muscular induzida pelos diferentes tiposde estímulos lesivos ser também análoga (1, 2, 8, 10,11, 19, 21), reforça ainda mais a hipótese dosmecanismos bioquímicos de degradação celular seremcomuns às diferentes agressões.Entre 4 a 6 horas pós-exercício, é vulgar observar-sea infiltração, em grande quantidade, demononucleares, bem como de algunspolimorfonucleares, com carácter focal, bemevidente na periferia das áreas necrosadas (Fig. 5, 6,8, 9 e 10).

Figura 8. Fotografias de microscopia electrónica (A, 1540x) emicroscopia óptica (B, 615x), do músculo soleus, de animaissacrificados 24 horas após exercício. É notória uma célula comvacúolos típicos (setas) das “Natural Killer Cell”, e uma área deinfiltração de mononucleares e polimorfonucleares (*) ondetambém são visíveis algumas estruturas celulares,hipoteticamente mioblastos e miotúbulos.

Um a três dias após o exercício, a respostainflamatória nos músculos agredidos parece estarcompletamente estabelecida, com fagócitosdispersos pelo endomísio e no interior de algumasfibras lesadas (Fig. 8, 9 e 10) (9). Os mononuclearesincluem principalmente macrófagos, originados dosmonócitos que infiltraram o músculo, e algunslinfócitos B, T e linfócitos T citotóxicos (Fig. 8, 9 e10), originando um infiltrado celular semelhante aodescrito nas miopatias inflamatórias, apesar dessainvasão linfocitária, motivada pelo exercício, nemsempre ser descrita na literatura (para refs. ver 7). Ofacto das fibras agredidas poderem expordeterminados antigéneos, até aí estranhos aosistema imunológico, poderá justificar a activação eparticipação linfocitária tanto nas miopatiasinflamatórias como nas lesões consequentes aoexercício (7). A presença de grandes quantidades demonócitos também poderá ser explicada pelo factodos seus factores quimiotácticos específicos serem,aparentemente, os produtos de degradação docolagénio, cujo aparecimento se verifica logo após oexercício (para refs. ver 6, 7). A presença de algunseosinófilos (Fig. 9) poderia sugerir uma etiologiaimunológica, hipótese até agora não confirmada.

Figura 9. Fotografias de microscopia electrónica (A, 1125x) emicroscopia óptica (B, 493x), do músculo soleus, de animaissacrificados 48 horas após exercício, onde são identificados doiseosinófilos (setas), um fibroblasto em actividade (*) e uma área deinfiltração leucocitária (#).

Com excepção do tipo predominante dos leucócitosinvasores, a resposta inflamatória aguda, motivadapela agressão do exercício físico, parece ser idênticaao modelo padrão, estando descritos desgranulaçãomastocitária, elevação do catabolismo muscular,aumento da permeabilidade vascular com edematecidual e presença de factores do complemento, defibrinogénio e de albumina nas zonas lesadas (pararefs. ver 6, 7). Atendendo ao potencial efeito

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citotóxico das substâncias libertadas pelosleucócitos, bem como ao seu carácter não selectivo(9), coloca-se hoje a hipótese que os leucócitospossam contribuir para o exagero, não só dasanormalidades bioquímicas tradutoras de agressãooxidativa, mas também das alterações histológicasdescritas, tal como o observado em situações deisquemia/reperfusão muscular esquelética e cardíaca(para refs. ver. 7). Esta hipótese é reforçada pelaaparente atenuação das lesões musculares, induzidaspela actividade física, exercida por determinadosfármacos com actividade anti-inflamatória (9).

Figura 10. Fotografias de microscopia electrónica de animaissacrificados 24 horas após (A, 1339x) e 96 horas após exercício (B,2108x). É visível uma área necrosada (*) infiltrada com fagócitos(setas) e um fibroblasto em actividade(#).

Algumas horas após o exercício, é usual oaparecimento de núcleos em posição central nasáreas lesadas (Fig. 6 e 11), bem como nas zonasadjacentes a estas (8, 9, 16). Núcleos em posiçãocentral, são um sinal inequívoco de imaturidademuscular e, portanto, de áreas em regeneração ou denovas fibras em crescimento (para refs. ver 6, 7).Estes núcleos provêm da estimulação e daconsequente diferenciação das células satélite emmioblastos com posterior fusão à fibra adjacente. Aocorrência destes núcleos em posição centralconstitui, por isso, um bom indicador da existênciaprévia de lesão muscular. Contudo, é importantefrisar que indivíduos saudáveis, sem história deactividade física recente, podem apresentar núcleoscentrais até 2% do total de fibras observadas (pararefs. ver 6, 7). De facto, no dia-a-dia, pelas agressõesa que as fibras são sujeitas durante o seu normalrecrutamento, existe uma contínua activação decélulas satélite (apesar de possuir uma expressãolimitada), motivando a contínua presença de núcleoscentrais em percentagem reduzida.

Figura 11. Fotografias de microscopia electrónica (A, 1339x), demúsculo soleus de animal sacrificado 24 horas após exercício, e demicroscopia óptica (B, 393x) do músculo gastrocnémius de umanimal sacrificado 1 semana após exercício. É visível uma célulasatélite activada, em fase M, com cromossomas em formação(setas). Podem ser observados núcleos em posição central (setas)e zonas de regeneração onde a estriação ainda não se encontraperfeitamente organizada (*).

Actualmente, pensa-se que estas lesões muscularesassociadas à MEx não resultem exclusivamente dascontracções excêntricas, como até há alguns anos sedefendia (para refs. ver 6, 7). Como atrás ficouexpresso, tudo indica que o quadro anatomopatológicopossa ser inconstante, apresentando um caráctervariável, com maior frequência de um ou outro tipo dealterações estruturais, consoante o predomínio dasobrecarga mecânica ou metabólica do exercícioefectuado. Parece-nos, pois, provável a existência devários padrões de anomalias estruturais muscularesassociadas à MEx, com etiologias aparentementediferentes (3, 6, 7, 18, 19), apesar de possuírem umafisiopatologia semelhante e, de alguma forma,relacionada com a perda da homeostasia celular aocálcio. Independentemente da etiologia e dafisiopatologia, duas a três semanas após o exercício já aestrutura do tecido adquiriu um aspecto normal (6, 7).

CORRESPONDÊNCIAJosé Alberto Ramos DuarteGabinete de Biologia do DesportoFaculdade de Ciências do Desportoe de Educação FísicaUniversidade do PortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoTel: +351 22 5074700[[email protected]]

Alterações estruturais musculares induzidas pelo exercício

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J. A. Duarte, M.P. Mota, M.J. Neuparth, H.J. Appell, J.M.C. Soares

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Nos dias 27 a 30 de Março de 2001 reuniu naFaculdade de Ciências do Desporto e de EducaçãoFísica da Universidade do Porto um representativonúmero de especialistas nacionais que discutiram otema “A Universidade nos anos 2000”, no âmbitodas comemorações dos 25 anos de integração destaFaculdade na Universidade.A reunião foi organizada em 7 painéis: Missão efunções da universidade; Investigação: construção doconhecimento; Utilidade social do conhecimento; Apresença da qualidade e a cultura da organização;Ensino-aprendizagem e didáctica no ensino superior;A multidimensionalidade da ética no ensinosuperior; e A universalidade da universidade.O elevado nível das apresentações e dos debates quese seguiram proporcionaram momentos raros dereflexão sobre um tema da maior actualidade para aUniversidade Portuguesa e para o país.Do encontro emergiram ideias que, pela suaimportância, recomendam a maior divulgação juntode todos – pessoas e instituições – a queminteressam os problemas da universidadeportuguesa.

A universidade moderna nasce no final do Séc. XVIIIprincípio do Séc. XIX com as reformas de Humboldtna Prússia e Napoleão em França. Pensadafundamentalmente como um instrumento deconstrução do Estado-Nação e de modernização dosector público e administrativo, ultrapassou estecarácter utilitário, estabelecendo também umcompromisso com o livre pensamento, as ideias e aatitude crítica. Isto manteve-se durante o estado-providência.

Antes instituição social, a universidade tende hoje aser convertida numa organização empresarial, numainstituição prestadora de serviços em que o produtouniversitário é definido pelo economicismo comoum produto industrial, ainda que de tipo especial.Esta ideia de organização empresarial, aponta paracritérios de gestão racionalizados e optimizados.Nela, as mais valias resultantes do trabalho nãoremunerado dos órgãos de gestão, professores etc.,são completamente destruídas pelos gestoresprofissionais, criando por parte dos universitáriosuma total falta de cooperação, muitas vezesmotivada pela simples reacção ao autoritarismo epesporrência de uma gestão profissionalizante.Esta sedução da universidade pela lógica dasorganizações empresariais, pelo apelo dos mercados,colide com a missão e as funções da universidade, noseu alcance e visão prospectivos, no distanciamentodas modas, na intervenção com espírito crítico. Ecom isto destruindo as forças e capacidadesinovadoras da instituição universitária. Uma certadesordem, tão pouco do agrado dos gestoresprofissionais, parece ser fundamental para que aenergia criativa dos universitários se possa libertar, oque não é possível num ambiente rígido que acontrarie.Apesar de na Europa alguns países ensaiarempassos no sentido da profissionalização da gestãodas universidades – veja-se os casos de países comoa Inglaterra, a Holanda, ou a Noruega – mesmopaíses como os USA repensam este quadro à luzdas experiências de insucesso mais recentes.Alberto Amaral defende claramente um modelo degestão das universidades baseado no saber e

Encontro “A Universidade nos anos 2000”Síntese e conclusões

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conhecimento dos universitários sobre a missão efunções da universidade, embora apoiado naexperiência e competência de assessores nas áreastécnicas da gestão.A universidade é um organismo de complexidadecrescente hoje em crise, por desajustada da realidadesocial entretanto profundamente alterada. Mas jásobreviveu a outras crises. Também esta poderá sersuperada se tiver a capacidade de se pensar,retomando o sentido substantivo da sua missão edas funções que conduzem ao cumprimento daquela.Que universidade queremos? Uma universidadevoltada essencialmente para a criação, preservação eaprofundamento do saber ou para a satisfação dasnecessidades de curto prazo?O isolamento da universidade tradicional no seuespaço físico não deve ter como contrapartida, nauniversidade contemporânea, uma intervenção semlimites no exterior, ou fazer desta um objectivoprimordial. Se hoje se rejeita a figura dauniversidade fechada sobre si própria, a orientaçãoestrita para a satisfação das necessidades de curtoprazo também é prejudicial à universidade. Interessapois preservar a identidade, sem descurar a aberturaao exterior.Como diz o Prof. Adriano Moreira na sua notávelintervenção, a universidade quando pensa já está aintervir. E comprometida com um desígniofundamental da sua própria missão.A missão da universidade resulta de um mandatoque a sociedade civil, através das suas instituições,lhe cometeu. Qual o sentido deste mandato?A procura da verdade, até 1900; a vontade de fazer, apartir desta mesma data. Mais importante do quecompreender a realidade, é transformá-la - Karl Marxdixit - ou a emergência da ideologia dos escombrosda axiologia.Mas é diferente a universidade contemporânea.Pensar, valorar, agir, constitui, na opinião de ManuelPatrício, o triângulo funcional da universidade: oconhecimento, pelo desenvolvimento da ciência; osvalores, pela promoção da cultura; a acçãotransformadora, no desenvolvimento tecnológicosuportado pelo conhecimento científico.Hoje a missão da universidade confronta-se maiscom uma concepção do Homem acerca de si próprio,sob o signo do Ser, da vontade de ser. De um

Homem plenamente Homem. Numa formação epreparação para a vida que tem o estudante comoparte activa do processo de formação, de construção/reconstrução do conhecimento, das exigências dacidadania e não como um receptor passivo dosconhecimentos transmitidos.Adriano Moreira cita Alvin Toffler, para referir que opoder que o saber difundido pela universidadeconfere é um agente de democratização dasociedade, por estar ao alcance de todos os estratossociais. Mas, mais do que a informação quetransmite, por ofício, aos seus discentes, justificar-se-á porventura que a universidade cuide da suaformação e aculturação.Este um grande desígnio da Universidade que,superadas as fases teológica e ideológica, deveráassumir a sua dimensão antropológica. Nãoconstruída unilateralmente na vontade contra ointelecto, mas edificada na afirmação de umauniversidade pluridimensional, plena, com verdade ecom valores. Uma Universidade obra do Homem,para servir a auto-construção do Homem. No reforçodo compromisso com o culto da verdade, avalorização do saber e a intervenção cultural.

Portugal precisa de se afirmar como país produtor doconhecimento. A investigação deve por issoconstituir para todos – Governo, universidades,professores – uma prioridade nacional.Torna-se imperativo estimular a necessidade deperguntar, querer saber, problematizar. A construçãodo saber tem que começar durante a infância, nasidades em que a curiosidade é maior e em que onosso tradicional sistema de educação ainda nãointerveio, inibindo a curiosidade. Estamos adesperdiçar o capital humano, as oportunidades.Vamos a caminho da globalização, mas de umaglobalização em inglês. Só poderemos evitar istocom projectos e realizações. Deve, por isso, serevitado o esvaziamento do nosso país da massacrítica que tem buscado fora de portas as condiçõesque aqui não lhe são oferecidas. A possibilidade detrabalhar em centros avançados no estrangeiro éuma sedução a que os mais dotados não resistem.Aos apelos do regresso contrapõem a inércia daburocracia universitária. Diz um colega português,exilado de circunstância: - no MIT, se preciso de um

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equipamento de investigação pela manhã só tenhode esperar até ao meio-dia. Que não mais existamcircunstâncias que levem ilustres cientistasportugueses a expatriar-se.Deve estimular-se a competitividade, a emulação,entre escolas e universidades. Num desafiopermanente de superação das barreiras.Os doutoramentos em Portugal têm-se quaseconfinado ao espaço e vida académicos. Os doutoresnão são aceites nas empresas. Deve existir um justoequilíbrio entre o interesse científico e a relevânciapara a sociedade, estabelecendo-se formas decooperação com as empresas.A ciência deve pois ser útil. Uma utilidade quesignifique o conhecimento do mundo pelo Homemque nele habita.É a natureza interdisciplinar dos projectos deinvestigação que explica o êxito de muitos dessesprojectos. A interdisciplinaridade na investigaçãoconcorre para o progresso do conhecimento. Devepor isso ser recusado qualquer princípio dahierarquia e ser promovida, cada vez mais, a ideia deinterdisciplinaridade, envolvendo ciências básicas eciências aplicadas, ciências duras e ciências moles.Deve promover-se, de forma consequente, umaconcepção de ciência mais lata. O conhecimentocientífico não é só o que é exacto, é também o outroque não é construído pela linguagem matemática,mas nem por isso é menos rigoroso.A investigação em Portugal não tem sido uniforme.Algumas áreas são mais financiadas do que outras eos fundos têm sido insuficientes para todas.As unidades de investigação estão perantedificuldades: falta de pessoal técnico de apoio àinvestigação, desactualização dos equipamentos,verbas diminutas, problemas resultantes doalheamento dos responsáveis.

A utilidade social do conhecimento feito nasuniversidades nem merece discussão. O que nãosignifica a sua utilização. Uma coisa é a utilidadesocial do conhecimento, outra coisa é a utilizaçãosocial do conhecimento.Os divórcios entre a universidade e a sociedadeencontram concretização nas dificuldades deutilização do conhecimento, que diminuem oumesmo anulam a sua utilidade social. A superação

deste estado de coisas supõe um diálogo mais abertoe descomplexado entre académicos e profissionais.A valorização do conhecimento exige avaliação. Sebem que autónoma na sua acção, a instituiçãouniversitária – quer a pública quer a privada - nãopode furtar-se à exigência da qualidade, aferida nodesempenho, e à acreditação dos conteúdoscurriculares e dos métodos de ensino.Há uma desvalorização da profissão, na qual temum papel importante o laxismo da universidade, daqual saem com aproveitamento todos osestudantes, os bem e os mal preparados, parajustificar as ratios e os orçamentos.O conhecimento só terá utilidade social se sepromover a responsabilidade dos académicos, a suacompetência, uma cultura da exigência. E não háutilidade social do conhecimento sem este estarreferenciado aos valores do novo milénio. Deveprevalecer o primado da comunidade sobre oindivíduo e ser imposta a responsabilidade social,para que os profissionais, na sua actividadeindividual, pensam mais em serviço. Estamos atransformar-nos numa sociedade de direitos e nãode deveres.A aceleração da vida moderna impõe à universidade,como condição de subsistência, a sua rápida, senãosíncrona, adaptação às exigências da sociedade civil.Mas, a avaliação da utilidade social do conhecimentoimplica a análise das necessidades sociais.Devem ser contrariados os excessos deespecialização, em cada um conhece na perfeição oseu papel, mas desconhece o nome e o enredo dapeça. Tem que se repensar a formação nasFaculdades, evitando a proliferação de cursos ecursinhos. Portugal é um país com demasiadoscursos de pós-graduação, sendo que esta é apenasuma estratégia para adiar o desemprego, semutilidade social nenhuma.É acentuada a importância da qualidade da vidainstitucional para a produtividade do ensino e afertilidade da investigação.

A presença da qualidade e a cultura da organizaçãona universidade portuguesa – qual o estado dasituação?Em alguns casos as escolas da universidadeportuguesa não são mais do que “grandes liceus”.

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Permissividade, incapacidade de promoção daequidade, fosso entre o discurso e a prática…Torna-se indispensável apontar problemas, é urgentedefinir critérios, referenciados a padrões elevados:no desenvolvimento de sistemas de regulação daqualidade pedagógica e da qualidade científica, nodesenvolvimento de sistemas de informação, nacriação de observatórios de actividade profissional.

O que ensinar? Como ensinar? A criação científicaé uma aventura intelectual recente, de cerca de 4000 anos. Mas só a paz, no pós-guerra, permitiu, jáneste século, os casamentos interdisciplinares dasciências e das tecnologias que estão a permitir osgrandes avanços.O que deve então mudar? Impõem-se novasdidácticas no ensino? Deverá o ensino continuar aser tradicional, muito centrado no ensino magistral?As aulas teóricas não acabam, o ensino magistral nãoestá esgotado. Aquilo que se ouve, não é o que seesquece mais depressa: depende do que se ouve, daforma como se ouve, do interesse dedicado aoobjecto da lição.Mas há um défice de prestígio do ensino expositivo,já que, sendo o mais praticado, é o mais visado pelascríticas. Deve, por isso, reequilibrar-se o peso dasaulas magistrais, práticas e laboratoriais. Criar umamaior diversidade didáctica, tornando mais atraentesos métodos de ensino, não os fazendo depender dasformas tradicionais.Os docentes do ensino superior devem desenvolvercompetências e ser preparados para ensinar.Revitalizemos a relação mestre/aluno. Como disse oProfessor Nuno Grande, de uma forma radical, auniversidade onde não há a relação mestre/alunonão existe. Se o professor não consegue fazer melhordo que a própria máquina, então algo está mal nonosso ensino.Mas o ensino magistral é, justamente, um dosterrenos onde dificilmente a tecnologia sesubstituirá ao professor, na importância do seupapel, na “retórica”, numa forma de ser e estar queprovoca o pensamento, a inteligência. Os alunosdevem ser confrontados com os problemas que lhesão postos, procurando encontrar respostas, mais doque esperar soluções. Cerca de 25% doconhecimento biológico fica desactualizado num

espaço de quatro anos. Isto significa que, aindadurante a sua estadia na universidade, osconhecimentos dos estudantes de biologia já estãodesactualizados. Os alunos devem pois ser educadospara pensarem que nem tudo o que a universidadelhes diz é verdade.

Num mundo que privilegia o ter em relação ao ser, auniversidade tem valido pelos diplomas queconcede.A ética na universidade deve ser uma ética daresponsabilidade, dos princípios. A universidade foiconstruída sobre valores sociais, está ao serviço dasociedade, e não ao serviço individual. Umasociedade em que os valores individuais fossem osúnicos tenderia a desaparecer.A universidade deve reencontrar-se com o seusentido mais profundo: o do Homem, o dos valores.No inconformismo, contra a medíocridade. Umauniversidade do Homem e para o Homem, norespeito pela Natureza.

CONCLUSÕES1. Muitas das questões referidas e debatidas e as

soluções apresentadas apontam para umamodificação das condições de funcionamento dauniversidade. Mas enquanto vigorarem asrestrições ditadas por condicionalismos de ordemeconómica nada, ou muito pouco, poderá ser feitopara melhorar a situação actual. A solução dosproblemas da universidade, como também deoutros da sociedade portuguesa é, pois, denatureza política.

2. Portugal e a universidade têm saídas para o futuroque têm de passar, inexoravelmente, por: (i) umaprofunda reforma do estado e da sociedade; (ii)uma exigência de empenhamento total; e (iii) umaatitude competitiva, corajosa e responsávelperante os desafios dos principais actores em cadasector da vida portuguesa.

3. A instituição universitária vive uma crise semprecedentes, mas as ofertas de cursos não paramde aumentar. Abrindo-se ao exterior, numaexigência contemporânea, a universidade nãopode perder a identidade, o seu sentido de missão.A universidade deve permanecer uma instituiçãosocial ao serviço do saber e não uma organização

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com uma lógica empresarial. A universidade nãoserve interesses, serve causas!

4. Devem ser repensados os modelos de formação,os métodos de ensino, promovida a aprendizagem,num quadro interdisciplinar, mais aberto, maisflexível, tributário de experiências variadas emculturas diversificadas. Para cabal cumprimento dasua função social, compete à universidadepromover o desenvolvimento mental dos jovensque a frequentam, de par com a transmissão dosconhecimentos que habilitam ao exercício de umaprofissão.

5. A investigação pura, sem limites de tempo e deaplicabilidade, deve ser um objectivo dauniversidade. Esta deve ser pensada como umespaço de liberdade científica e de criação doconhecimento.

6. Deve fazer-se da avaliação um exercíciopermanente, criando sistemas de regulação daqualidade, aferindo o desempenho, os conteúdos eos métodos de ensino.

7. Deve existir uma ética do dever e não uma éticados direitos. Temos de vestir a camisola dauniversidade. Ter o sentido de serviço. O serviçodo professor é uma missão, não uma função. Masé preciso dignificar as carreiras universitárias,acabando com um enquadramento normativoarcaico, no actual Estatuto da Carreira DocenteUniversitária, que prejudica o mérito, os ideais einstitui o carreirismo. Só assim haverá dedicaçãoplena à causa universitária.

8. No princípio de mais um século, restará àuniversidade portuguesa e ao país retomarem osentido da aventura conscientemente assumido.Com a História e a inerente responsabilidade porestímulo, e nunca como paliativo.

9. A contemporaneidade deve ser um valor para auniversidade. Nunca, como hoje, os povos de todoo mundo viveram em condições tão discrepantes.É preciso disponibilizar o saber universaldesenvolvido nas universidades a todas ascomunidades. Temos, por isso, que desenvolver acooperação entre os povos por forma a eliminar asgritantes assimetrias tão visíveis no mundo actuale que a globalização tende a agravar.

A importância dos contributos apresentados a esteencontro justifica a sua publicação. A Universidadedo Porto deverá apoiar a divulgação nasuniversidades portuguesas das actas da reunião,proporcionando aos universitários que não puderamestar presentes neste encontro uma oportunidade dereflexão sobre os temas nele debatidos.

Porto, 30 de Março de 2001

António Teixeira MarquesJosé Ferreira da SilvaMaria Luiza Kent-Smith Amaral

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Tipos de publicaçãoInvestigação original: RPCDpublica artigos originaisrelativos a todas as áreas dasciências do desporto;Revisões da investigação: ARPCD publica artigos desíntese da literatura quecontribuam para ageneralização doconhecimento em ciênciasdo desporto. Artigos demeta-análise e revisõescríticas de literatura são doispossíveis modelos depublicação.Comentários: Comentáriossobre artigos originais esobre revisões dainvestigação são, não sópublicáveis, como sãofrancamente encorajadospelo corpo editorial;Estudos de caso: A RPCDpublica estudos de caso quesejam consideradosrelevantes para as ciênciasdo desporto. O controlorigoroso da metodologia éaqui um parâmetrodeterminante.Revisões de publicações. ARPCD tem uma secção ondesão apresentadas revisões deobras ou artigos publicados eque sejam consideradosrelevantes para as ciênciasdo desporto.

Regras gerais de publicaçãoOs artigos submetidos àRPCD deverão conter dadosoriginais, teóricos ouexperimentais, na área dasciências do desporto. A partesubstancial do artigo nãodeverá ter sido publicada emmais nenhum local. Se partedo artigo foi já apresentadapublicamente deverá ser feitareferência a esse facto nasecção de Agradecimentos.Os artigos submetidos àRPCD serão, numa primeirafase, avaliados peloseditores-chefe e terão comocritérios iniciais de aceitação:

normas de publicação,relação do tópico tratadocom as ciências do desportoe mérito científico. Depoisdesta análise, o artigo, se forconsiderado previamenteaceite, será avaliado por 2“referees” independentes esob a forma de análise“duplamente cega”. Aaceitação de um e a rejeiçãode outro obrigará a uma 3ªconsulta.

Preparação dos manuscritosAspectos gerais:Cada artigo deverá seracompanhado por uma cartade rosto que deverá conter:– Título do artigo e nomes

dos autores;– Declaração de que o artigo

nunca foi previamentepublicado;

Formato– Os manuscritos deverão ser

escritos em papel A4 com3 cm de margem, letra 12 ecom duplo espaço;

– As páginas deverão sernumeradassequencialmente, sendo apágina de título a nº1;

– É obrigatória a entrega de 4cópias;

– Uma das cópias deverá seroriginal onde deverá incluiras ilustrações tambémoriginais;

Dimensões e estilo:– Os artigos deverão ser o

mais sucintos possível; Aespeculação deverá serapenas utilizada quando osdados o permitem e aliteratura não confirma;

– Os artigos serão rejeitadosquando escritos emportuguês ou inglês defraca qualidade linguística;

– As abreviaturas deverão seras referidasinternacionalmente;

Página de título– A página de título deverá

conter a seguinteinformação:

– Especificação do tipo detrabalho (cf. Tipos depublicação);

– Título conciso massuficientementeinformativo;

– Nomes dos autores, com aprimeira e a inicial média(não incluir grausacadémicos)

– “Running head” concisanão excedendo os 45caracteres;

– Nome e local da instituiçãoonde o trabalho foirealizado;

– Nome e morada do autorpara onde toda acorrespondência deverá serenviada;

Página de resumo– Resumo deverá ser

informativo e não deveráreferir-se ao texto do artigo;

– Se o artigo for emportuguês o resumo deveráser feito em português eem inglês

– Deve incluir os resultadosmais importantes quesuportem as conclusões dotrabalho;Deverão ser incluídas 3 a 6palavras-chave;

– Não deverão ser utilizadasabreviaturas;

– O resumo não deveráexceder as 200 palavras;

Introdução– Deverá ser suficientemente

compreensível,explicitando claramente oobjectivo do trabalho erelevando a importância doestudo face ao estadoactual do conhecimento;

– A revisão da literatura nãodeverá ser exaustiva;

Material e métodos– Nesta secção deverá ser

incluída toda a informaçãoque permite aos leitoresrealizarem um trabalho coma mesma metodologia semcontactarem os autores;

– Os métodos deverão serajustados ao objectivo do

estudo; deverão serreplicáveis e com elevadograu de fidelidade;

– Quando utilizadoshumanos deverá serindicado que osprocedimentos utilizadosrespeitam as normasinternacionais deexperimentação comhumanos (Declaração deHelsínquia de 1975);

– Quando utilizados animaisdeverão ser utilizadostodos os princípios éticosde experimentação animale, se possível, deverão sersubmetidos a umacomissão de ética;

– Todas as drogas e químicosutilizados deverão serdesignados pelos nomesgenéricos, princípiosactivos, dosagem edosagem;

– A confidencialidade dossujeitos deverá serestritamente mantida;

– Os métodos estatísticosutilizados deverão sercuidadosamente referidos;

Resultados– Os resultados deverão

apenas conter os dados quesejam relevantes para adiscussão;

– Os resultados só deverãoaparecer uma vez no texto:ou em quadro ou em figura;

– O texto só deverá servirpara relevar os dados maisrelevantes e nunca duplicarinformação;

– A relevância dos resultadosdeverá ser suficientementeexpressa;

– Unidades, quantidades efórmulas deverão serutilizados pelo SistemaInternacional (SI units).

– Todas as medidas deverãoser referidas em unidadesmétricas;

Discussão– Os dados novos e os

aspectos mais importantesdo estudo deverão ser

Revista Portuguesa de Ciências do Desporto

NORMAS DE PUBLICAÇÃO

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relevados de forma clara econcisa;

– Não deverão ser repetidosos resultados jáapresentados;

– A relevância dos dadosdeverá ser referida e acomparação com outrosestudos deverá serestimulada;

– As especulações nãosuportadas pelos métodosestatísticos não deverãoser evitadas;

– Sempre que possível,deverão ser incluídasrecomendações;

– A discussão deverá sercompletada com umparágrafo final onde sãorealçadas as principaisconclusões do estudo.

AgradecimentosSe o artigo tiver sidoparcialmente apresentadopublicamente deverá aquiser referido o facto;Qualquer apoio financeirodeverá ser referido;

Referências– As referências deverão ser

citadas no texto pornúmero e compiladasalfabeticamente eordenadas numericamente;

– Os nomes das revistasdeverão ser abreviadosconforme normasinternacionais (ex: IndexMedicus);

– Todos os autores deverãoser nomeados (não utilizaret al.)

– Apenas artigos ou obrasem situação de “in press”poderão ser citados. Dadosnão publicados deverão serutilizados só em casosexcepcionais sendoassinalados como “dadosnão publicados”;

– Utilização de um númeroelevado de resumos ou deartigos não “peer-reviewed” será umacondição de não aceitação;

Exemplos de referênciasARTIGO DE REVISTA

1 Pincivero DM, LephartSM, Karunakara RA(1998). Reliability andprecision of isokineticstrength and muscularendurance for thequadriceps andhamstrings. Int J SportsMed 18: 113-117

LIVRO COMPLETO

Hudlicka O, Tyler KR(1996). Angiogenesis. Thegrowth of the vascularsystem. London: AcademicPress Inc. Ltd.

CAPÍTULO DE UM LIVRO

Balon TW (1999).Integrative biology of nitricoxide and exercise. In:Holloszy JO (ed.). Exerciseand Sport Science Reviewsvol. 27. Philadelphia:Lippincott Williams &Wilkins, 219-254

FIGURAS

Figuras e ilustraçõesdeverão ser utilizadasquando auxiliam na melhor

compreensão do texto;As figuras deverão sernumeradas em numeraçãoárabe na sequência em queaparecem no texto;Cada figura deverá serimpressa numa folhaseparada com uma legendacurta e concisa;Cada folha deverá ter naparte posterior aidentificação do autor, títulodo artigo. Estas informaçõesdeverão ser escritas a lápis ede forma suave;As figuras e ilustraçõesdeverão ser submetidascom excelente qualidadegráfico, a preto e branco ecom a qualidade necessáriapara serem reproduzidasou reduzidas nas suasdimensões;As fotos de equipamentoou sujeitos deverão serevitadas;

QUADROS

Os quadros deverão serutilizados para apresentaros principais resultados dainvestigação.Deverão ser acompanhadosde um título curto;Os quadros deverão serapresentados com asmesmas regras dasreferidas para as legendas efiguras;Uma nota de rodapé doquadro deverá ser utilizadapara explicar asabreviaturas utilizadas noquadro.

Endereço para envio de artigosRevista Portuguesa deCiências do DesportoFaculdade de Ciências doDesporto e de EducaçãoFísica da Universidade doPortoRua Dr. Plácido Costa, 914200.450 PortoPortugal

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revista portuguesa deciências do desporto Volume 1 · Nº 2

Janeiro·Junho 2001

revista portuguesa de ciências do desportoVol. 1, N

º 2Janeiro·Junho 2001

INVESTIGAÇÃO

Capacidade aeróbia em futebolistas de eliteem função da posição específica no jogoP.J. Santos, J.M. SoaresAvaliação isocinética da força muscularde atletas em função do desporto praticado,idade, sexo e posições específicasJ.Magalhães, J.Oliveira, A.Ascensão, J.M.C. SoaresCrescimento, maturação, aptidão física,força explosiva e habilidades motoras específicas.Estudo em jovens futebolistas e não futebolistasdo sexo masculino dos 12 aos 16 anos de idadeSeabra, J.A. Maia, R.GargantaO jogo como fonte de stress no basquetebol infanto-juvenilD. De Rose Jr., S.R. Deschamps, P. KorsakasDesporto de crianças e jovens– um estudo sobre as idades de iniciaçãoFrancisco M. Silva, Larissa Fernandes, Flórida O. CelaniAs actividades desportivas no Porto de 1900J.V. Ferreira, A.G. Ferreira

Publicação semestralVol. 1, Nº 2, Janeiro·Junho 2001ISSN 1645–0523, Dep. Legal 161033/01

REVISÃO

A importância da depilação no rendimentodesportivo em nataçãoJ.P. Vilas-BoasMiopatia do Exercício. Anatomopatologia e FisiopatologiaJ.A. Duarte, M.P. Mota, M.J. Neuparth,H.J. Appell, J.M.C. Soares

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