revista pilotis número 28
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Publicação interna do Colégio São Luís (SP) . Mais sobre o CSL no site www.saoluis.orgTRANSCRIPT
O cenáriO atual dO Brasil e a visãO de nOssOs alunOs sOBre Os sete principais temas deBatidOs
durante O períOdO eleitOral, que agOra sãO cOlOcadOs diante de nOssO gOvernante.
os 7 pilares da administração brasileira vs 1 novo presidente eleito
TECNOLOGIAMenos fila na
hora de buscar seu filho
MISSÃO RURAL
Experiênciade vida
NOTURNOTardes de
cinema
Revista Pilotis # 28 - novembro/dezembro de 2014
Produção interna dos alunos e educadores
do Colégio São Luís
A capa deste número da Pilotis não é de brincadeira. Brinca, sim, é verdade,
com um placar que certamente ficará engasgado para sempre na memória do
País do Futebol. Mas, no fundo, é só isto: um placar de uma partida de uma
Copa do Mundo. Folclore...
7 x 1, aqui, aponta para a seriedade que é o desafio de continuar construindo
o Brasil. Assim, pode-se argumentar que o evento mais importante do ano fo-
ram as eleições de outubro passado. Politicamente, não há nada mais univer-
sal no nosso País do que eleger os representantes do Poder Executivo federal
e estadual, além de Senadores e dos Deputados Federais. O bem que se pode
fazer por meio desses cargos tem incidência sobre todos os brasileiros, além
das repercussões internacionais inerentes ao mundo globalizado.
E a Pilotis vai mais além: da zona rural de Montes Claros, MG, ao Oriente
Médio e suas complexidades. De uma reflexão profunda sobre o processo de
avaliação dentro da Pedagogia Inaciana ao testemunho de um antigo aluno
sobre o seu trabalho com a NASA.
Encerrando este “ano que vale 200”, celebrando o bicentenário da restaura-
ção universal da Companhia de Jesus (1814-2014), a Pilotis é uma vitrine do
CSL: fiel à sua história, reverente para com a sua memória, dinâmico, inova-
dor, buscando excelência e qualidade em tudo o que faz, “antenado”, conec-
tado e aberto ao mundo e à sociedade em que está inserido.
Obrigado por mais este ano a todos vocês que fazem o São Luís tornar-se o
que é chamado a ser por vocação!
Boa leitura!
Pe. Eduardo Henriques, SJ
Diretor-Geral do Colégio São Luís
Edição/Jornalista rEsponsávElMarcia Guerra - DECOM
Departamento de Comunicação (MTB 2435)
diagramação E proJEto gráficoAndré Cantarino - DECOM
rEvisãoDepartamento de Publicações
rEportagEmAdriana Messias Alves – Prof.ª de Redação do EFCarolina P. Graziano – Prof.ª de Redação do EM
Daniela A. Cury Rojas – Prof.ª de Geografia do EFDenise Krein – Ex-assessora técnico pedagógica
Fábio Olliani – Coordenador da Ed. Física e EsportesGilberto Teixeira – Professor de História do EM
Noturno e Coord. do Centro de Memória do CSLIracy Gomes – Assessora de Formação Cristã
Julia Braun – Estagiária do DECOMJussane Pavan – Prof.ª de Redação do EM NoturnoKely Cristina Pasquali – Prof.ª de Matemática do EF
Marcelo Martins – Coordenador do DTAMarcia Guerra – Coordenadora do DECOM
Margarete da Penha Sevilha – Prof.ª de Ciências do EFMoacyr Nogueira – Professor de Geografia do EM
Nilza Guimarães – Professora de ArtesPilar Baptista – Ex-estagiária e colaboradorado DECOM
Rafael Facchini – Aluno da 3.ª série EMTuna Serzedello – Assessor do DECOM
colaboração Tuna Serzedello - DECOM
dirEção-gEralPe. Eduardo Henriques, SJ
dirEçãoBenedita de Lourdes Massaro
Jairo Nogueira Cardoso Luiz Antonio Nunes Palermo
Rua Haddock Lobo, 400 - Cerqueira César
CEP 01414-902 / São Paulo, SP
Tel.: 11 3138 9600 / www.saoluis.org
A Revista Pilotis é uma publicação
interna do Colégio São Luís.
Revista Pilotis # 28 - novembro/dezembro de 2014
Os 7 pilares da administração
brasileira vs 1 novo
presidente eleito
32 artigoOriente Médio: Um breve
relato da situação atual e
dos conflitos da região.
48antigo alunoAo infinito e além!
22
Leia mais matérias completas no site
www.issuu.com/revistapilotis
na web
projeto interdisciplinarVai chover?
interaMiZadePrazer em “vestir a camisa”
estudo do MeioNovos olhares no contexto da educação
tecnologiaMenos fila na hora de buscar seu filho
sisteMa de qualidadeDe Miami a Antofagasta em busa da qualidade
Missão ruralExperiência de vida
língua inglesaTOEFL no Colégio São Luís
bienal de artesAsas do Tempo: Arte, memória em movimento
eventoSINU na veia
teatroConexões 2014. Uma edição bem-temperada
ensino Médio noturnoTardes de cinema
históriaPadre Guy
Faça você MesMoUma coruja pra lá de útil!
cultura
4
7
8
11
12
14
17
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30
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40
44
46
18
avaliaçãoAvaliar para quê?
Os impactos gerados pelo constante aumento das emissões mundiais de gases
de efeito estufa podem ser cada vez mais graves e até irreversíveis. Essa é a
conclusão do estudo mais recente feito pelo Painel Intergovernamental sobre
Mudanças Climáticas (IPCC), que será divulgado oficialmente neste mês.
As mudanças climáticas pelas quais o planeta passa inspiraram a criação do projeto
interdisciplinar Estação Meteorológica no ano de 2007, realizado com as turmas do 6.º
ano EF. Esse projeto tem por objetivo despertar o interesse dos alunos pelas questões
meteorológicas por meio da observação do céu, da realização de medidas das condi-
ções do tempo, do tratamento dos dados e das discussões sobre esse importante tema.
Entendemos que o projeto Estação Meteorológica contempla as etapas do Paradigma
Pedagógico Inaciano e o conteúdo programático das disciplinas envolvidas.
O tema mudanças ClimátiCas inspirOu a CriaçãO dO prOjetO interdisCiplinar estaçãO meteOrOlógiCa, que envOlve as disCiplinas de
CiênCias, geOgrafia, matemátiCa e redaçãO.
Por AdriAnA MessiAs Alves, ProfessorA de redAção;dAnielA AnselMi Cury rojAs, ProfessorA de GeoGrAfiA;
Kely CristinA PAsquAli, ProfessorA de MAteMátiCA eMArGArete dA PenhA sevilhA, ProfessorA de CiênCiAs.
vai chover?
PROJETO INTERDISCIPLINAR
4 | Revista Pilotis
contextoA contextualização realizada nas aulas
de Ciências e Geografia iniciou-se com o
levantamento de questões do cotidiano:
Vai chover? A umidade do ar está baixa?
A amplitude térmica de hoje será inverti-
da? A qualidade do ar está ruim? As con-
dições da atmosfera estão favoráveis à
dispersão dos poluentes? A temperatura
da Terra está aumentando?
Se a Terra continuar se aquecendo no pa-
drão atual, os cientistas preveem um ce-
nário devastador para as próximas déca-
das. A hipótese é de que haja destruição
em massa de plantas e animais, déficit na
produção de alimentos, inundações cos-
teiras, aumento da pobreza e fome, além
de perdas econômicas em todo o mundo.
experiênciaA experiência foi realizada por meio da
utilização de diferentes instrumentos de
medida das condições do tempo, como
barômetro (pressão atmosférica), higrô-
metro e psicrômetro (umidade do ar),
termômetro ambiental, termômetro de
máxima e mínima e termômetro de solo
(temperaturas), além de pluviômetro
(quantidade de chuva). Em caso de chuva,
media-se seu grau de acidez. Os alunos
utilizaram a biruta e a rosa-dos-ventos
(GPS) para identificar a direção e a Escala
Beaufort para estimar a velocidade dos
ventos. Além disso, eles observaram o céu
para avaliar seu grau de cobertura e iden-
tificaram os diferentes tipos de nuvens. A
altitude foi avaliada por um altímetro.
As medições foram realizadas no período
de 18 a 29 de agosto de 2014, durante o
recreio, obedecendo a uma escala de 15
alunos por dia. Elas resultaram em mo-
mentos de aprendizado significativo. Os
alunos se mostraram muito interessados
e motivados porque puderam aplicar,
em uma situação real, os conteúdos que
aprenderam no Laboratório de Ciências.
Durante as aulas teóricas, os alunos pude-
ram compreender os fatores geográficos
que interferem no clima, como a latitude, a
altitude, a maritimidade, a continentalida-
de e a transpiração dos vegetais. Propomos
a eles situações práticas e exercícios de
aplicação para que identificassem de que
maneira esses fatores interferem na dinâ-
mica climática de várias regiões do planeta.
A avaliação levou em consideração os seguintes aspectos:
• Envolvimento no processo de coleta de dados.
• Organização das informações e confecção dos gráficos.
• Análise dos dados coletados e apresentação dos resultados.
• Respeito e colaboração no trabalho em equipe.
Acreditamos que esse projeto tenha contribuído para a formação integral do/a
aluno/a, mostrando-lhe que as ações humanas interferem na vida do planeta Terra:
“Escolhe pois a vida, para que vivas, tu e a tua descendência.” Deuteronômio 30,19.
avaliação:
“Os alunos se mostraram muito interessados
e motivados porque puderam aplicar, em uma
situação real, os conteúdos que aprenderam
no Laboratório de Ciências.”
PROJeTO InTeRDISCIPLInaR
Revista Pilotis | 5
Foram trazidas para as aulas várias curio-
sidades sobre as questões climáticas no
mundo. Informações sobre a previsão do
tempo para o dia também foram pesquisa-
das e apresentadas pelos próprios alunos.
Após a coleta dos dados na Estação Me-
teorológica e seu registro na apostila de
laboratório, chegou o momento de se
trabalhar com o tratamento dessas infor-
mações nas aulas de Matemática. Com
as informações organizadas em tabelas,
e tendo algumas noções básicas da pla-
nilha eletrônica Excel, os gráficos foram
construídos em duplas no Laboratório de
Informática. Os alunos construíram gráfi-
cos comparativos de barras múltiplas e de
linhas, escolheram o layout e nomearam
adequadamente cada um dos elementos
dos gráficos (eixo horizontal e eixo verti-
cal, título e legenda).
reFlexãoA análise dos dados coletados permitiu a
reflexão sobre a relação entre as condições
da atmosfera e a previsão do tempo. Am-
pliando o tema, discutimos a intensificação
do efeito estufa, correlacionando as ques-
tões climáticas às atividades humanas.
A partir dessas atividades, as crianças po-
derão realizar várias ações individuais e/
ou coletivas com o objetivo de reduzir a
poluição do ar. Entre elas, podemos citar:
andar mais a pé e de bicicleta, dar prefe-
rência ao transporte coletivo e às fontes
alternativas de energia, organizar caro-
nas, plantar árvores, entre outras.
Para finalizar do projeto, todas essas ques-
tões e também os dados coletados e ana-
lisados foram utilizados para a produção
de um texto jornalístico, gênero estudado
nas aulas de Redação. Os estudantes, or-
ganizados em duplas, foram protagonistas
da situação vivenciada, mas se colocaram
na posição de redatores em 3.ª pessoa,
relatando de forma imparcial os principais
fatos, transformando-os em notícia.
Por meio da elaboração de um título cha-
mativo e de um lead (primeiro parágrafo
da notícia) bem elaborado, os alunos in-
formaram à comunidade do Colégio São
Luís o que o 6.º ano realizou, quem fo-
ram as pessoas envolvidas no fato, como
o fato se deu, onde e quando ocorreu, e
por que se constituiu dessa forma.
Confira as fotos do projeto em um
álbum especial no Flickr do Colégio:
www.flickr.com/photos/saoluis/sets
VeJa MaIS nO FLICKR
PROJETO INTERDISCIPLINAR
“A partir dessas
atividades, as
crianças poderão
realizar várias ações
individuais e/ou
coletivas, com o
objetivo de reduzir
a poluição do ar.”
6 | Revista Pilotis
Os JOgOs InteramIzade dO dIurnO acOnteceram entre Os dIas 26 de setembrO e 02 de OutubrO e dO nOturnO entre Os dIas 17 e 19 de OutubrO, nO csL.
Mais um Interamizade chegou
e nós, como professores,
sentimos o mesmo “frio na
barriga” que os alunos sentem todo ano.
Como não se envolver com um grupo
que se reúne semanalmente, no meio de
provas, trabalhos, viagens de Estudo do
Meio, e que, ao mesmo tempo, trabalha
a sua modalidade, aprofundando sua
técnica, aprendendo mais um pouco so-
bre tática e, principalmente, entendendo
o que é ser para o outro? Pois é exata-
mente isso que as modalidades esportivas
coletivas fazem com os alunos. Quantos
jogos, campeonatos, vitórias, derrotas,
quantos momentos inesquecíveis viven-
ciamos com esses grupos! Como é bom,
num tempo em que o mundo pede pres-
sa e as coisas boas passam depressa,
poder ter a lembrança de um gol ines-
quecível, uma cesta no último segundo,
aquele bloqueio que decide uma partida.
Sendo assim, não tem como não sentir
esse “friozinho na barriga”.
De roupa novaFoi o XXIV Interamizade do CSL e nossa
torcida, que se autoproclamou a QUA-
DRICULADA, fez com que o uniforme
não perdesse aquele desenho. Os alunos
que jogaram seu primeiro Interamizade
– que durante as Escolinhas de Esporte
viviam nos perguntando quando chega-
ria a sua vez e sonhando com esse mo-
mento – e os alunos que jogaram seus
últimos jogos – aqueles que sempre re-
presentaram o Colégio com a “alma”,
levaram a Tocha e as Bandeiras e estive-
ram estampados nos banners são verda-
deiros exemplos do Esporte no São Luís.
Assim como tantos ex-alunos que hoje
dirigem as Associações Atléticas de suas
respectivas universidades e que sempre
aparecem para nos lembrar do sentido
de nosso trabalho.
Em 2014, mais de quarenta colégios par-
ticiparam de nossos jogos. De 26 de se-
tembro a 19 de outubro, mais de cem
partidas foram jogadas. Ainda parece
que escuto: “O São Luís que vai jogar.
Quadriculada vai estar lá!”.
Por Fabio oliani,coordenador de educação Física e esPortes
Os Jogos Interamizade contaram, neste ano,
com um novo hotsite, para que todos pudessem
acompanhar a tabela de jogos e as fotos do evento.
Acesse: www.saoluis.org/interamizade
nOVO SITe
InTeRaMIzaDe
O prazer em
“vestir a camisa”
Revista Pilotis | 7
ESTUDO DO MEIO
no contexto da educação
novos olhares
Alunos dA 2.ª série do ensino médio viAjAm pArA omAhA, usA.
Por Carolina ProsPero Graziano,Professora de redação da 2.ª série eM.
8 | Revista Pilotis
Meio-dia de um domingo. Dia
dos Pais. No portão E7 do gi-
gantesco aeroporto de Atlan-
ta, um grupo de trinta e quatro ado-
lescentes ouvia, sentado em roda, que
nenhum de nós sairia dos Estados Unidos
naquele dia. Estavam todos sem banho
havia mais de vinte e quatro horas, além
de cansados pela noite passada ali. Mas
nenhuma palavra de revolta foi ouvida.
Esse foi um momento marcante na via-
gem realizada por um grupo de alunos da
2.ª série do Ensino Médio do Colégio São
Luís para a Universidade de Creighton,
em Omaha. Caso os dias anteriores não
tivessem causado grande impacto, esse
ocorrido talvez tivesse sobrepujado to-
dos os outros. Felizmente, não foi isso o
que aconteceu.
A proposta desse Estudo do Meio era
conhecer de perto a vida em um outro
país, entrando em contato com hábitos
diferentes, entendendo um outro mo-
delo de pensamento, comunicando-se
em uma língua que não a materna. Por
isso, foram evitados os destinos turísticos
americanos, muitas vezes já desbravados
por alguns dos nossos alunos. O objetivo
era ter uma experiência autêntica, não só
dentro de uma instituição jesuíta, como é
a bela Universidade de Creighton, mas no
interior de uma nova comunidade.
Convidada para fazer parte da equipe
que acompanharia os estudantes, eu não
sabia bem o que esperar. Já havia ouvido
falar, em algumas reuniões, das ativida-
des que eram realizadas por lá. Mas ou-
vir não esclarecia o suficiente. Somente
quando vivenciei o programa, dia após
dia, tive a real dimensão do que ele signi-
ficava em termos humanos e cognitivos.
A programação é elaborada de forma que
os alunos possam ter uma compreensão
global da vida em Omaha - a passada, a
presente e a futura. Assim, conhecemos
uma fazenda viva, que recria a vida na
região em tempos passados, com pes-
soas da comunidade assumindo o papel
de atores; fomos ao principal museu da
cidade, localizado em uma antiga estação
de trem, tendo como guia um simpático
velhinho cuja própria história se mistura
com a do lugar; conhecemos os prin-
cipais departamentos da Universidade,
entendendo como funciona o modelo de
ensino superior norte-americano; vimos
um jogo de beisebol ao lado de muitas
famílias da região; dançamos jazz no par-
que, apesar de o tempo não ter colabora-
do como gostaríamos; conhecemos em-
presas da região, que deram aos nossos
jovens perspectivas de quem eles podem
vir a ser amanhã. Todas essas atividades
somaram-se às aulas de inglês frequenta-
das diariamente, focadas em expressões e
“Todas essas atividades
somaram-se às aulas
de inglês frequentadas
diariamente.”
eSTUDO DO MeIO
Revista Pilotis | 9
estruturas úteis ao acompanhamento de
cada um desses eventos. Um programa,
como se pode observar, bastante amplo e
interessante, que certamente contribuiu
para o desenvolvimento intelectual, cul-
tural e linguístico dos nossos alunos.
No entanto, os efeitos não foram apenas
acadêmicos. É preciso destacar o quanto
a experiência trouxe de amadurecimento
aos estudantes, devido a todas as novi-
dades envolvidas. Na Universidade, por
exemplo, os quartos e banheiros eram
compartilhados, o que exigia paciência
e muito jogo de cintura. Os cartões e as
chaves eram de responsabilidade dos alu-
nos, e perdê-los implicaria arcar com as
consequências. Os horários eram rígidos
- um elemento cultural do País - e pre-
cisavam ser seguidos, sem que ninguém
tivesse de lembrá-los disso. Lidar com es-
sas questões não foi fácil, mas certamen-
te ajudou os nossos meninos e meninas a
crescer. Ajudou-os a olhar para si sem o
apoio de terceiros; a resolver os próprios
problemas, a pensar em soluções cabíveis
para o grupo. Ali, eles se descobriram ca-
pazes de tomar conta da sua própria vida,
e descobriram também que essa vida só
existe e faz sentido dentro de uma coleti-
vidade. Lições preciosas para o presente e
o futuro de cada um.
Além disso, as amizades e experiências
compartilhadas estimularam a prática do
inglês em contexto, desinibindo-os de
forma geral. Qual não foi meu espanto
ao ouvir vozes (até então quase inaudí-
veis na sala de aula) conversando com
segurança em um idioma estrangeiro!
Ou ao ver o rosto sempre sério sorrindo,
ou os olhos sempre distraídos focados
no empacotamento de comida para os
mais necessitados. Tantas e gratas sur-
presas, que só a convivência diária pôde
me propiciar. Um novo olhar sobre alu-
nos que, sem querer, muitas vezes asso-
ciamos apenas ao desempenho em nos-
sa disciplina.
Depois dessa descrição, acredito que fica
mais fácil entender a cena que abre este
artigo. Diante de um grupo unido e ama-
durecido, que experimentou inúmeros
momentos de aprendizado e alegria, o
atraso do voo, embora incômodo e ines-
perado, resumiu-se apenas a um contor-
nável desvio de percurso.
É claro que uma experiência tão marcante
não poderia deixar de ter seus desdobra-
mentos na rotina escolar. A disciplina de
Redação se beneficiará profundamente
dela, já que os alunos produzirão jornais
ao longo do terceiro bimestre, nos quais
incluirão textos sobre o Estudo do Meio.
Além disso, uma exposição de fotografias
artísticas está em processo de produção,
após oficina do professor Paulo Sutti,
como forma de valorizar um olhar mais
apurado sobre essa outra realidade. Isso
sem contar o blog escrito durante a via-
gem, que nos ajudou a promover a refle-
xão sobre o que foi vivido por meio do
relato constante. Todos esses trabalhos
atestam a validade e a importância desse
tipo de proposta, que extrapola os muros
escolares e prepara os nossos estudantes,
integralmente, para o mundo.
ESTUDO DO MEIO
Saiba um pouco mais sobre como foi
a viagem no blog escrito pelos alunos:
www.10daysomaha.wordpress.com
O bLOg Da TURMa
10 | Revista Pilotis
O Colégio São Luís, buscando
aprimorar seus serviços, trouxe
uma inovação para toda sua co-
munidade em agosto deste ano: o aplica-
tivo Filho sem Fila.
Esse aplicativo determina um raio de
distância de 300 m do CSL, a partir do
qual os pais podem avisar o Colégio de
sua chegada, acessando o aplicativo pelo
celular. Dessa maneira, o auxiliar que está
na galeria recebe o comunicado e pode
chamar o filho, que fica em uma área re-
servada para o embarque.
O intuito dessa ferramenta é ratificar as
ações de educação no trânsito que o Co-
légio exerce há algum tempo em nossa
região e com a nossa comunidade.
Em 2013, instalamos o sistema de som
na galeria, o que diminuiu consideravel-
mente o tempo de espera dos pais. Ago-
ra, o Filho sem Fila vem complementar
esse trabalho, pois agiliza a organização
no momento do embarque dos alunos na
rua interna.
O aplicativo funciona no horário de sa-
ída do período da manhã, entre 12h e
13h15, e do período da tarde, entre 18h
e 19h15.
na hOra de Buscar seu filhOMenOS FILa O aplicativO FiLhO sem FiLA está sendO utilizadO cOm sucessO pelOs pais dO csl desde agOstO deste anO.
Por Marcelo Martins,coordenador do dta
TeCnOLOgIa
Revista Pilotis | 11
de miami a
antOfagasta,
em Busca da
Na indústria, repetir os mesmos
procedimentos na elaboração de
um produto garante a sua qua-
lidade. Mas, o que garante a qualidade
na escola?
Em uma escola, a repetição de certas
práticas com alunos diferentes não leva
necessariamente ao mesmo resultado.
O ideal de uma escola é que todos os
seus alunos tenham o máximo de apro-
veitamento e que eles sejam desafiados
a aprender em sua capacidade máxima,
o que, sabemos, varia de aluno para alu-
no. Uma escola de qualidade deve estar
comprometida com a formação integral
de todos os seus alunos.
educação jesuítaPara uma escola ligada à Companhia de
Jesus, essa formação passa por uma visão
integral da pessoa, pelo desenvolvimento
de suas faculdades espirituais (memória,
entendimento e vontade), pessoais (tra-
dição e cultura) e pelo fortalecimento do
indivíduo enquanto ser livre, para que
ele possa desenvolver ao máximo suas
potencialidades a serviço dos outros, em
busca do bem comum.
gestão escolarTraçar as estratégias não é uma tarefa
simples. Para facilitar o desafio vivido
diariamente pelos educadores do Colé-
gio São Luís, a FLACSI (Federação Latino-
-americana dos Colégios Jesuítas) criou
um Sistema de Qualidade na Gestão Es-
colar para ser aplicado a todos os colégios
jesuítas, de Miami a Antofagasta, Chile.
Esse sistema, criado sob encomenda para
ser aplicado em colégios da Companhia
de Jesus, começou a ser desenvolvido em
2011 por especialistas da Universidade
Por Tuna Serzedello,deParTamenTo de ComuniCação
SiStema de Qualidade
qUaLIDaDe
12 | Revista Pilotis
Alberto Hurtado do Chile e da Univer-
sidade Católica do Uruguai. Sua imple-
mentação começou em 2013, em colé-
gios da América espanhola.
Agora, em 2014, o sistema começa a ser
testado em colégios brasileiros e três são
os pioneiros: Colégio Medianeira de Curi-
tiba, Colégio Diocesano de Teresina e o
Colégio São Luís em São Paulo.
passo a passoA primeira etapa da implantação do
sistema já está em andamento. Foram
criadas quatro equipes, uma para cada
âmbito do projeto: pedagógico curricu-
lar; clima escolar; organização, estrutura
e recursos; e família e comunidade. Todas
elas com foco na aprendizagem integral
do estudante.
O objetivo desta primeira etapa é fazer
uma autoavaliação e identificar os ob-
jetivos conquistados na aprendizagem.
Em seguida, na etapa 2, serão definidas
metas para a elaboração dos planos de
melhoria, cuja implantação deverá ocor-
rer em um prazo de 20 meses. Ao final
de 20 meses, uma auditoria da FLACSI
virá conferir os frutos desse processo.
Depois disso, o ciclo recomeça com uma
nova autoavaliação.
O sistema foi criado com base no pedido
dos diretores dos colégios, visando ga-
rantir o cumprimento da missão jesuítica
na educação. O CSL foi escolhido como
um dos pioneiros no Brasil por já ter in-
corporado em sua cultura a realização
de planejamentos estratégicos de metas,
autoavaliações, pesquisas com institutos
externos, e por ser um centro curioso,
interessado em novas práticas, que au-
mentem a eficácia dos nossos métodos
inacianos de educação.
SISTeMa De qUaLIDaDe
FOCOAPRENDIZAGEM
INTEGRAL
40%25%
10%25%
CLIMA ESCOLAR
FAMÍLIA ECOMUNIDADE
ORGANIZAÇÃO,ESTRUTURA E RECURSOS
PEDAGÓGICO CURRICULAR
Mais informações sobre o “Sistema de
Calidad en la Gestión Escolar” podem ser
obtidas no site da FLACSI: www.flacsi.net
SaIba MaIS
“Uma escola de
qualidade deve estar
comprometida com a
formação integral de
todos os seus alunos.”
Revista Pilotis | 13
A Missão RuRAl fAz os Alunos MeRgulhAReM eM uMA ReAlidAde difeRente
dAquelA eM que eles viveM e pRopoRcionA-lhes
MoMentos inesquecíveis.
MISSÃO RURAL
A Experiência de Comunhão e Participação
– Missão Rural – é uma experiência de
inserção para acolher e se deixar acolher,
uma oportunidade de comunhão com pessoas
que, na simplicidade, trabalham e confiam na ge-
nerosidade da natureza, um apelo à participação
nos afazeres do dia a dia e à solidariedade, pro-
motora de uma sociedade igualitária; enfim, um
convite a valorizar as pequenas coisas, porque na
verdade elas são grandes.
incrível é poucoPor Victor Sá – 2.ª série EM, turma 3
Desde pequeno, já ouvia falar da chamada Missão
Rural. Lembro-me de uma vez, se não me enga-
no no 9.º ano, quando alguns colegas e eu fomos
chamados para ouvir relatos de alunos que tinham
acabado de voltar da Missão. Nessa reunião, além
de ouvir as histórias daquele lugar simples e má-
gico, conheci aquele café extremamente doce e
aquele pão de queijo parecido com um biscoito de
polvilho que hoje me são tão familiares. A partir de
então, decidi que iria.
por Iracy Gomes, assessora deFormação crIstã do 6.º ano eFFotos carolIne FarIa lamaIta
experiência de vida
14 | Revista Pilotis
MISSÃO RURAL
No segundo ano do EM veio o convite, logo me
inscrevi e me certifiquei de que meus amigos fi-
zessem o mesmo. Chegado o dia da ida, nos di-
rigimos ao Colégio, para depois, na rodoviária,
pegarmos o ônibus e enfrentarmos as 15 horas na
estrada. A ansiedade era grande: aquela viagem
tinha gosto de aventura; mas o frio na barriga e a
dúvida também eram. Muitas vezes me vi questio-
nando se deixar o conforto de casa para me meter
no meio do nada realmente valia a pena.
Ao chegar em Montes Claros, fomos acolhidos em
mais uma das casas dos jesuítas. Lá tomamos café
da manhã e fomos divididos em dois grupos para
que fôssemos encaminhados para as comunidades
rurais em que ficaríamos. No meu grupo, havia
duas amigas que ficariam na mesma comunidade
que eu: Mavi e Clara. Nós ficaríamos em Chapadi-
nha. Pegamos uma van e partimos para deixar as
10 pessoas de meu grupo em suas famílias. Fui o úl-
timo a ser deixado, o que significou mais 5 horas de
viagem. Mas foi bom, ia conhecendo as novas fa-
mílias e as casas de meus amigos, o que só aumen-
tava a curiosidade para saber como seria a minha.
Finalmente cheguei em minha casa: era uma fa-
zenda bem afastada das demais e a casa em si
tinha muitos cômodos bem espaçosos, mas todos
simples, somente com o necessário. Nilza, uma
mulher muito simpática, logo veio me receber.
Depois ia conhecer seus dois filhos, Felipe, de 16
anos, e Thiago, de 17. No começo é estranho,
você se sente um pouco deslocado, vai testando
sua liberdade dentro da família e tentando conhe-
cer um pouco mais de cada um. Mas essa estra-
nheza passa rápido, acontece de forma natural,
você logo se sente parte daquela família e à von-
tade com eles.
Descobri que Thiago já estava na faculdade, fazia
Agronomia e adorava andar a cavalo. Já Felipe ain-
da estava no EM, gostava de ler e, melhor de tudo,
ouvia Legião e Engenheiros do Havaí, duas bandas
de que eu gosto muito, o que rendeu muita con-
versa. Nilza se mostrou uma mulher muito bata-
lhadora e sempre aberta para conversa, era só me
sentar à mesa da cozinha que ela logo começava
a puxar assunto, além de tudo era ótima cozinhei-
ra. Eles me trataram muitíssimo bem, mas tive de
“No começo
é estranho,
você se sente
um pouco
deslocado,
mas essa
estranheza
passa rápido,
acontece de
forma natural.”
Revista Pilotis | 15
implorar para ajudar, não queriam me dar nenhum
trabalho. Mas, depois de muito esforço, consegui
ajudar na horta, colher laranjas, limpar o engenho
de farinha e cuidar dos sete cachorros de lá.
Vivi momentos incríveis. Num deles, estava mon-
tado num cavalo no topo de uma colina, olhando
aquela paisagem linda e árida, com Skank tocando
no celular de Felipe, e naquele instante me senti
infinito. Outro momento foi a ida à feira para ven-
der farinha, também com o Felipe. Na feira, eu co-
nheci uma realidade muito diferente, muita gente
parava para conversar comigo e saber de onde eu
era, e também ficou clara a rivalidade entre atleti-
canos e cruzeirenses. Ainda na feira, tive a sorte de
encontrar mais 5 amigos da Missão e então pude-
mos compartilhar nossas experiências, saber como
cada um estava e renovar as energias.
Houve também uma festa de forró, na qual pude
encontrar mais amigos do CSL com suas famílias
rurais, e me diverti muito, além de conhecer mais
daquela cultura, mesmo brasileira, bem diferente
da nossa: a festa junina deles deixa a nossa no chi-
nelo. Se eu fosse contar tudo o que aconteceu lá,
teria de escrever um livro, e não um texto, mas es-
ses foram os momentos que mais marcaram.
Muitas vezes me pego pensando nessa viagem e
a saudade vem forte. Ainda converso com Nilza,
Thiago e Felipe e não vejo a hora de voltar. Ela
me fez perceber que é possível ser feliz com muito
pouco, mas também me fez dar valor a, por exem-
plo, um mercado próximo de casa ou ao forro do
telhado. Agora, não tenho dúvidas de que esse
“meio do nada” é mágico e o recomendo a todos.
superaçãoPor Marina Saraiva – 2.ª série EM, turma 3
Confesso que tive de pensar muito antes de acei-
tar ir para Montes Claros, tinha muito medo de
não me acostumar com outro estilo de vida, de
sentir falta da minha família e do meu dia a dia.
Então eu pensei: “De que adianta eu me isolar no
mundo que já conheço enquanto milhares de pes-
soas vivem uma realidade totalmente diferente?”
E não me arrependi de minha decisão, agora não
só visitei uma nova realidade, como conheci pes-
soas que me trataram com muito carinho e vivem
bem mais felizes com muito menos do que eu te-
nho em casa. Isso me ensinou a respeitar o pouco
e a dar valor a tudo que tenho. Foi uma experiên-
cia indescritível, realmente recomendo!
“Conheci
pessoas que
me trataram
com muito
carinho e
vivem bem
mais felizes
com muito
menos do
que eu tenho
em casa.”
MISSÃO RURAL
16 | Revista Pilotis
Por Julia Braun,estagiária do deCoM.
LÍngUa IngLeSa
A cada ano, cerca de um milhão de pessoas
em todo o mundo avalia seus conheci-
mentos da língua inglesa com o TOEFL.
Desde o mês de agosto, o Colégio São Luís passou
a integrar o grupo de instituições autorizadas a
aplicar essa prova, após receber a Certificação do
ETS – Educacional Testing Service, uma conceitua-
da instituição americana.
o testeO TOEFL - Test of English as a Foreign Language -
é o maior exame destinado a comprovar o nível de
proficiência em língua inglesa, e é obrigatório para
quem deseja ingressar em universidades americanas.
Aceito no mundo todo, em mais de 9000 insti-
tuições, o certificado é concedido àqueles que
possuem competência para usar e compreender o
inglês de nível universitário.
A prova é composta por quatro partes: compreen-
são de texto, compreensão auditiva, exame oral e
exame escrito. Todas essas habilidades requeridas
são necessárias para comprovar a capacidade do
candidato de realizar atividades de nível acadêmi-
co na língua estrangeira.
O resultado varia de 0 a 120 pontos e é composto
pela soma dos pontos obtidos em cada uma das
quatro partes, que variam de 0 a 30. Quem define
a nota mínima necessária no teste é a instituição de
ensino na qual os futuros alunos desejam ingressar.
Segundo o ETS, as notas são divulgadas cerca de 15
dias após a realização do exame e podem ser visu-
alizadas por meio do cadastro de cada participante.
o colégioInteiramente realizada no computador, a prova
será sempre ministrada nos laboratórios do sexto
andar do São Luís, aos sábados de manhã. Alunos,
ex-alunos, pais, professores e funcionários podem
prestar o TOEFL. A avaliação também será destina-
da ao público externo.
Essa conquista concretiza mais um pouco a inten-
ção do Colégio de internacionalizar o ensino ofere-
cido. Projetos como o Estudo do Meio em uma ci-
dade de Nebraska, nos Estados Unidos, e parcerias
com universidades da Rede Jesuíta de Educação
já anunciam o desejo de abrir os horizontes dos
alunos e de inseri-los no mundo da globalização.
quero prestar!Os interessados em realizar o teste devem se ins-
crever diretamente no site do Educacional Testing
Service (www.ets.org) e selecionar o Colégio São
Luís como local da prova. O recomendável é que
o cadastramento seja feito com um mês e meio
de antecedência. O valor da prova é de U$ 215,
pagos diretamente ao ETS.
Para saber mais basta entrar em contato
pelo e-mail [email protected].
MaIS InFORMaÇÕeS
DesDe agosto, o CsL tornou-se uma Das instituições autorizaDas a apLiCar a prova.
Revista Pilotis | 17
avaliação
avaliar
PaRa qUê?
Por Denise Krein
18 | Revista Pilotis
O que impulsiona e inspira os ide-
ais educativos do Colégio São
Luís é a Pedagogia Inaciana, pro-
posta pedagógica da Companhia de Je-
sus explicitada em diversos documentos.
A Pedagogia Inaciana é mais do que uma
metodologia de ensino, ela nos apresenta
uma perspectiva quanto à pessoa que se
pretende formar em um colégio jesuíta
e nos sugere um caminho para que os
valores inacianos sejam incorporados no
processo de ensino e aprendizagem.
A Pedagogia Inaciana propõe-nos que a
construção do conhecimento pelo aluno,
mediada pelo professor, ocorra em cinco
momentos que se inter-relacionam: contex-
to, experiência, reflexão, ação e avaliação.
Pode-se verificar que a avaliação é um
dos momentos da ação educativa de um
colégio jesuíta. De acordo com o Projeto
Pedagógico do Colégio São Luís, a avalia-
ção é uma ação educativa que proporcio-
na ao aluno e ao professor a possibilidade
de um permanente diagnóstico dos pon-
tos positivos e negativos do processo de
ensino e aprendizagem, indicando as ne-
cessidades de novas intervenções. Assim,
a avaliação fornece subsídios para que a
excelência, inspiração do Magis Inaciano,
seja alcançada.
Dentro de uma instituição jesuíta, a ava-
liação não assume um caráter classificató-
rio, mas promove a consciência individual
do que foi possível alcançar. O professor
tem a oportunidade de refletir sobre o tra-
balho desenvolvido, e o aluno, de verificar
os avanços e as dificuldades na sua apren-
dizagem, para que, juntos, busquem me-
lhores resultados, não no sentido da com-
paração de um aluno com outro, mas no
sentido da comparação do aluno consigo
mesmo, tendo como desafio a autossu-
peração. O aluno é sempre incentivado a
dar o melhor de si, a superar seus próprios
limites e a desenvolver ao máximo suas
potencialidades individuais.
A avaliação tem muitas finalidades. Ela
orienta a ação do professor, proporcio-
na elementos para a reflexão constante
sobre a prática docente, permite a veri-
ficação das competências e habilidades
desenvolvidas pelos alunos, incentiva a
revisão e reconstrução das formas de en-
sinar e dos instrumentos pedagógicos e
fornece subsídios para a tomada de cons-
ciência dos sujeitos envolvidos no proces-
so de ensino e aprendizagem. Quanto ao
aluno, ele tem a possibilidade de identifi-
car o que deve melhorar e de rever suas
atitudes em relação à construção do co-
nhecimento, assumindo um papel ativo
na sua aprendizagem, o que é muito im-
portante em um colégio jesuíta, já que a
proposta é formar pessoas competentes,
conscientes, reflexivas e comprometidas,
impelidas a agir com liberdade e por op-
ções pessoais, mas sempre assumindo a
responsabilidade sobre as próprias ações.
Além de tudo isso, a avalição também
é um momento privilegiado de aprendi-
zagem. Isso porque ela permite que os
alunos aprendam com o erro, descubram
aVaLIaÇãO
AV
ALI
AÇ
ÃO
CONTEXTO EXPERIÊN
CIA
AÇÃO REFLEXÃO
PARADIGMAPEDAGÓGICO
INACIANO
Revista Pilotis | 19
formas de lidar com suas próprias emo-
ções, gerenciem o tempo, desenvolvam
autonomia. Ainda propicia a construção
de competências e habilidades importan-
tes na sociedade moderna, pois, depen-
dendo do tipo de avaliação, ela favorece
que os alunos aprendam a expor seus
pontos de vista, ouçam e respeitem opini-
ões diferentes da sua, trabalhem de forma
colaborativa e cooperativa, convivam com
os colegas, busquem informações, produ-
zam conhecimento e resolvam problemas
complexos, entre tantas outras coisas.
Para que atinja seus fins, a avaliação precisa
ser processual, sistemática e dinâmica, de
forma a favorecer ajustes constantes para
o efetivo trabalho educativo. Essa visão,
portanto, não reduz a avaliação a provas,
embora elas sejam de grande importância.
É por isso que outras formas de avaliação
estão presentes no Colégio São Luís.
A elaboração de qualquer instrumento
de avaliação não é uma tarefa simples e
fácil, pois ele precisa ser coerente e com-
patível com o trabalho pedagógico rea-
lizado, adequado às situações didáticas
propostas e ao nível de desenvolvimento
dos alunos, levando-se em conta sua fai-
xa etária. A avaliação deve ser clara, pre-
cisa, de modo a comunicar exatamente
sua proposta, com comandos adequa-
dos. Além disso, necessita de parâmetros
claros para atribuição de valor, pois, sen-
do um diagnóstico, uma constatação, ela
qualifica o que está sendo avaliado pela
comparação entre os resultados alcança-
dos e um padrão esperado, o que permi-
te uma quantificação desses resultados.
Para que a avaliação seja efetiva, ela tam-
bém precisa ser focada no que é essencial
e relevante para a aprendizagem do alu-
no. Assim, o professor deve ter clareza do
que é importante e fundamental naquele
momento da vida escolar do aluno, para
que a profundidade e complexidade do
que é avaliado sejam apropriadas.
Por saber que a avaliação é um tema que
exige estudo e aprofundamento constan-
te por parte do corpo docente, o Colégio
São Luís desenvolve um trabalho formati-
vo com os seus professores. No início des-
te ano, por exemplo, durante a Semana
Pedagógica, o professor Cipriano Luckesi,
renomado doutor em Educação e espe-
cialista em avaliação da aprendizagem,
ministrou uma palestra aos professores,
na qual se refletiu sobre o papel da avalia-
ção. Ao terminar a palestra, Cipriano Lu-
ckesi afirmou que a avaliação é um ato de
amor. Um ato de amor, pois o professor,
ao avaliar o aluno, dispõe-se a acolhê-lo,
em oposição a excluí-lo e puni-lo.
A ideia de que a avaliação é um ato de
amor e de acolhimento está totalmente
em consonância com a proposta pedagó-
gica de um colégio jesuíta. O professor
precisa dispor-se a conhecer o que o alu-
no aprendeu, o que o aluno conseguiu
atingir naquele estágio particular de de-
senvolvimento, e, sobretudo, dispor-se a
assumir a sua contribuição para a apren-
dizagem, revendo suas ações, na busca
do que é melhor para o processo forma-
tivo do aluno. Desse modo, o professor
também assume a parte que lhe cabe no
processo de ensino e aprendizagem, e a
avaliação assume o caráter de construção
desse processo, e não de finalização dele.
avaliação
“O aluno é sempre incentivado a dar o
melhor de si, a superar seus próprios
limites e a desenvolver ao máximo
suas potencialidades individuais.”
20 | Revista Pilotis
A sétima edição da Bienal de Artes
dos Colégios Jesuítas aconteceu
nos dias 08, 09, 10 e 11 de outubro,
no Colégio Santo Inácio, no Rio de Janeiro.
O evento é mais que um encontro para
a produção intensa da Arte. Ele é um
dos inúmeros frutos de um trabalho com
o qual a equipe se fortalece e aprende
constantemente junto aos nossos alu-
nos. Essa edição da Bienal de Artes teve
em vista a futura Província Brasil da Com-
panhia de Jesus e se situou em “dois
períodos de uma mesma história, num
mesmo espírito”.
Neste ano, em que a Companhia de Jesus
celebra os 200 anos de sua Restauração,
a Bienal de Artes teve como tema Asas
do Tempo: arte, memória em movimen-
to, e fez parte da história de integração
de nossos alunos com a Arte e a Cultura,
que é proposta do projeto educativo da
Companhia de Jesus.
“A caminhada de nossos alunos no mun-
do da Arte e da Cultura se ampliará para
além de nossos olhos e corações. Acre-
ditamos que a experiência da Bienal de
Artes contribuirá com a nova Província
Brasil e com outros projetos que surgirão,
fomentando cada vez mais a sensibiliza-
ção e a educação do olhar dos nossos
educadores e alunos para aquilo que é
Belo e Divino.” (Texto retirado do docu-
mento oficial da VII Bienal de Arte – RJ)
arte, memória em mOvimentOaSaS DO TeMPO:
Confira as fotos da VII Bienal
de Artes em um álbum
especial no Flickr do Colégio:
www.flickr.com/saoluis/sets
SaIba MaIS
Por NILZA GUIMArÃES,ProFESSorA DE ArTES.
bIenaL De aRTeS
Revista Pilotis | 21
CaPa
22 | Revista Pilotis
Vamos fazer um pequeno teste. Você já pas-
sou 24 horas sem reclamar de alguma coisa
em relação à nossa cidade, ao nosso estado
ou ao nosso País?
O trânsito sempre carregado pela manhã, a falta
de placas indicativas ou a rua esburacada certa-
mente são motivos diários de descontentamento.
Contas de luz, de água ou do supermercado, caras
demais, com impostos embutidos, não dão trégua.
O medo ao sair de casa, estamos sempre olhando
para todos os lados, sem abrir os vidros do carro
e rezando para que nem nós nem nossa família
sejamos vítimas de assalto ou de outra violência.
O nariz, constantemente trancado pela poluição e
pela falta de chuva.
A revista Pilotis conversou com alguns alunos de
diversas faixas etárias sobre a situação atual de São
Paulo e do Brasil e pediu a eles que comentassem
e indicassem algumas soluções possíveis para cada
item lembrado. Até o fechamento da revista, os
estudantes ainda não sabiam quem seria o próxi-
mo presidente brasileiro.
Saiba mais o que pensam nossos alunos sobre o
mundo em que vivemos e o que as próximas gera-
ções querem realizar para mudar os principais pro-
blemas e as deficiências da nossa sociedade.
O cenáriO atual dO Brasil e a visãO de nOssOs alunOs sOBre Os sete principais temas deBatidOs durante O períOdO eleitOral, que agOra sãO cOlOcadOs diante de nOssO gOvernante.
por Marcia Guerra e Julia Braun,departaMento de coMunicação.
os 7 pilares da administração brasileira vs 1 novo presidente eleito
CaPa
Revista Pilotis | 23
O Brasil, em 2013,
registrou 13 milhões
de analfabetos com 15
anos ou mais, segundo
dados divulgados re-
centemente pela PNAD
(Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicí-
lios), do IBGE (Instituto
Brasileiro de Geografia
e Estatística).
A taxa de desemprego,
em 2013, teve seu pri-
meiro aumento desde
2009. De 6,1% passou
para 6,5% de brasi-
leiros sem trabalho,
segundo a PNAD.
De acordo com dados
do ano de 2010 do
IBGE, estão preser-
vados apenas 12%
da área original da
Mata Atlântica, o
bioma mais devastado
do País. Já o Pampa
Gaúcho e o Cerrado
perderam, respectiva-
mente, 54% e 49,1%
da sua área original.
Segundo o TSE, o
índice de abstenção
nas eleições de 2014
subiu de 19,39% no
primeiro turno para
21,1% no segundo.
Em números absolu-
tos, 30,14 milhões de
eleitores deixaram de
ir às urnas no segun-
do turno.
a atual situação do brasil
“A saúde pública é uma questão emergencial. Há
necessidade de maior número de hospitais pú-
blicos para que as pessoas sejam atendidas mais
rapidamente e não em macas nos corredores.”
Michaela – 2.1
“Já aconteceu comigo de ir no único hospital da cidade e não ter nem soro,
e não dá para fazer nada sem soro. Não vejo como um hospital pode estar
aberto sem materiais básicos. Para mudar isso, temos que investir em saúde,
investir em lugares como o que eu falei, que só têm um hospital e têm um
déficit de saúde muito grande. Sem essas condições básicas nenhum médico
quer trabalhar, não adianta muito contratar médicos de outros países se você
não tiver hospitais para eles trabalharem.” Luiza, 3.1
SAÚDE1capa
24 | Revista Pilotis
O índice que mede a
concentração de renda
no País piorou para
0,498 (quanto mais
perto do zero, menor
a desigualdade) em
2013. De acordo com
o jornal O Estado de
São Paulo, “o esgota-
mento do crescimento
econômico desde 2011
torna ainda mais difícil
seguir distribuindo
renda. Para piorar, as
razões desse esgota-
mento (baixa qualifica-
ção da mão de obra,
infraestrutura defi-
ciente, burocracia, má
regulação, custo fiscal)
atingem em cheio a
distribuição de renda”.
No início deste ano, o
CFM (Conselho Federal
de Medicina) apresen-
tou um relatório após
visitar oito hospitais de
urgência da rede públi-
ca, indicando proble-
mas estruturais no SUS
que ferem a dignidade
e os direitos da popu-
lação. Pacientes em
macas e em colchões
pelo chão, demora
para o atendimento no
PS e falta de água nos
banheiros são alguns
dos muitos cenários de
caos encontrados.
O trânsito – conside-
rado por 70% dos
paulistanos como
“ruim” ou “péssimo”
em pesquisa realizada
pelo Ibope – tende a
ficar ainda pior com o
aumento do núme-
ro de pessoas que
possuem carro. Em
2013, somavam 52%
e, neste ano, são 62%.
Em contrapartida,
o governo facilita a
compra de automóveis
e, ao mesmo tempo,
aumenta o número de
ciclofaixas pela capital.
Frotas de ônibus con-
tinuam com número
estagnado, assim
como obras do Metrô
e de trens.
Segundo dados do
IBGE, São Paulo está
entre os oito muni-
cípios detentores do
maior número de
favelas no Brasil, com
612, seguido pelo
Rio de Janeiro, com
513. As favelas são
uma alternativa para
pessoas carentes, e as
ocupações indevidas
aumentam a cada ano
na capital.
Mais de 50 mil pessoas
foram assassinadas em
nosso país em 2012,
segundo o Relatório
Global sobre Homicí-
dios (Global Study on
Homicide 2013). Esse
número equivale a 11%
do total mundial. O
Brasil está em 7.º lugar
no ranking de países
com maior número de
assassinatos. O que
deveria ser obrigação do
Estado – cuidar da segu-
rança pública dos seus
cidadãos – não acontece
e as pessoas estão
cada vez mais expostas
à violência urbana.
“A segurança pública é uma questão do Brasil e a
demora da polícia e da justiça em resolver os casos,
além das pessoas que saem da cadeia sem terem
mudado e já cometem novos crimes. Outra ques-
tão é o preconceito, não só de cor, mas também
de religião e de opção sexual. Cada pessoa tem
direito de escolher o que quer ser.” Pedro – 6.4
capa
sEGuraNça
“Eu prenderia todas as pessoas que fizessem coi-
sas ruins, melhoraria todas elas e depois liberta-
ria.” Maria Eduarda – 3.5
Revista Pilotis | 25
“A divulgação e o compartilhamento de informa-
ções sobre a política brasileira é importante para
que a nossa geração conheça, se envolva e enten-
da que política faz parte da vida de todos. Even-
tos como o que aconteceu no final de setembro,
o qual foi realizado por iniciativa dos alunos do
Ensino Médio e que trouxe, com a ajuda dos pro-
fessores e convidados, a história e a situação da
política no País, são um bom exemplo. Outros pro-
jetos que o Colégio incentiva e promove, como o
de realizar ações em instituições carentes, também
conseguem desenvolver os valores morais e éticos
que faltam em nossa sociedade.” Victor – 2.3
“Deveria haver na escola uma educação política desde cedo para que as crian-
ças e depois os jovens pudessem entender a real importância do voto, para
que acabasse esse distanciamento entre as pessoas e a política.” Marina – 2.3
“A questão da moradia no Brasil poderia ser re-
solvida com a expansão de algumas cidades do in-
terior que estão em ascensão. O governo poderia
oferecer ou facilitar o trabalho e a moradia nesses
locais para que as pessoas saíssem das grandes ci-
dades.” Ottavio Augusto – 9.2
“O aumento das favelas, que acontece pelo fato
de as pessoas estarem mais pobres e não consegui-
rem comprar as suas casas, é um problema para as
cidades grandes. E também a falta de água, que
pode ser melhorada com ações simples como o
que fazemos em casa: enquanto a água do chu-
veiro esquenta, você pode guardar em um balde
para usar no lugar de dar a descarga.” Sofia – 6.5
Moradia
cidadania
capa
26 | Revista Pilotis
“O investimento na educação é a chave para tudo, pois é um processo lento,
mas que ‘conserta’ vários outros problemas da sociedade. Lembrando que
não só a construção de mais escolas é importante, mas também, principal-
mente, o investimento na formação de professores.” Luís Felipe – 9.2
“Eu construiria mais creches, hospitais e escolas e
também mudaria policiais para eles trabalharem
melhor. Não roubaria dinheiro e ia diminuir os as-
saltos.” Paola – 3.5
EduCação“Educação é a base de tudo. A pessoa que tem mais informações consegue
mais e melhores empregos, ganha um salário e faz a economia girar. É impor-
tante dizer que a educação não se resume somente à formal, de conteúdo
ensinado na escola. Há também a formação de valores morais. Atualmente,
a nossa sociedade está totalmente distorcida em relação à ética. O governo
deveria ter uma política mais rigorosa em relação à educação pública brasilei-
ra. Outra boa ação seria a obrigatoriedade de todos os funcionários públicos
colocarem seus filhos em escolas públicas. Seriam obrigados a olhar por elas
e melhorar a qualidade do ensino. Para isso também seria necessário o envol-
vimento da comunidade como um todo, as pessoas teriam de deixar o como-
dismo e o individualismo de lado e se aproximar mais da política. O sistema de
avaliação também deveria mudar, pois o vestibular avalia somente um dia da
capacidade do aluno de fazer prova e não o seu real conhecimento. O sistema
que deveria ser adotado seria o de avaliação do histórico escolar do aluno e
entrevistas para conhecer a sua capacidade.” Léo – 2.2
“As universidades, como a USP, precisam se atualizar. Há necessidade de um
incentivo por parte do governo para que os currículos e os professores sejam
atualizados. Um bom exemplo disso é a Engenharia da USP.” Paulo – 2.1
capa
Revista Pilotis | 27
TRANSPORTE
MEIO AMBIENTE
“Eu não deixaria nin-
guém poluir nem gastar
água. Construiria escolas
e cuidaria da natureza.”
Gabriela – 3.6
“Eu não deixaria poluírem rios.” João Pedro – 3.6
“Eu mandaria melhorar a poluição e também não
fumarem, senão iriam todos presos.”
Carlos Eduardo – 3.6
“O maior problema de
São Paulo é a poluição.
Tem muita propaganda
sobre o que se pode fa-
zer, mas a solução é fácil
e pode ser feita por qual-
quer um: uma carona
solidária ou a reciclagem
de lixo, por exemplo.”
Giovana – 6.5
“O desmatamento das
florestas contribui com
o aquecimento global
e pode ser combatido
com a ajuda do gover-
no em patrulhar as áre-
as verdes, e também de
cada um de nós, plan-
tando novas árvores.”
Felipe – 6.4
“Eu acho que o transporte no Brasil não é muito
bom, mas também não é muito ruim. Ajuda as pes-
soas a se locomoverem, mas é ruim nas horas que
está muito cheio. Como tem pouco, lota demais
e aí é muito complicado. Mas nos horários mais
vazios ajuda bastante. Para melhorar podiam in-
cluir mais linhas e aumentar o número de metrôs.”
Júlia – 8.2
“Na Linha Amarela do metrô a qualidade é muito
boa, só que na linha vermelha a qualidade é dife-
rente. Eu acho que existe um pouco dessa dife-
rença entre as condições das linhas e isso deveria
se estabilizar, de forma que deixasse todas iguais.
Deveria ter mais assentos e ser mais rápido.”
Giovanna – 9.3
“O transporte público atualmente é bem cheio,
não tem cadeira para todo mundo. Acho que o
governo tinha que investir no transporte.”
Mateus – 8.2
capa
28 | Revista Pilotis
Aconteceu nos dias 12, 13 e 14
de setembro a VIII Simulação In-
terna das Nações Unidas (SINU),
que contou com 150 participantes dos
três anos do Ensino Médio do São Luís e
do Colégio São Francisco Xavier, e alunos
a partir do 9º ano do Ensino Fundamen-
tal, de ambos os colégios, como staff.
organiZação reconhecidaA SINU vem sendo aperfeiçoada pelos
organizadores há oito anos e se tornou
um dos principais eventos do colégio, re-
conhecido entre as escolas de São Paulo
tanto por sua organização quanto por sua
qualidade acadêmica. Nesse sentido, para
elevar ainda mais o nível do evento, este
ano a equipe organizadora apresentou
duas novidades: a presença de duas se-
cretárias acadêmicas e de secretários ge-
rais e administrativo-financeiros adjuntos,
que contribuíram enormemente para a
preparação da simulação. No total, foram
seis secretários e 16 diretores, estes distri-
buídos por cinco comitês: o Conselho de
Segurança das Nações Unidas (CSNU), o
Conselho de Direitos Humanos (CDH), o
Grupo dos 20 (G-20), o Tribunal de Nu-
remberg (TN) e o Comitê de Imprensa (CI).
uM só tiMeUma das marcas do São Luís, a SINU é
um evento que, embora organizado por
alunos do terceiro ano, envolve todos os
setores do Colégio, passando pelo Almo-
xarifado, pelos Departamentos de Comu-
nicação e de Tecnologia, pela Tesouraria,
pelas Coordenações e pela Direção. São
oito meses de preparação, que incluem
a escolha dos comitês e temas, inúmeras
reuniões, a preparação dos guias de estu-
do, a busca incansável por patrocinadores,
a compra de todos os materiais e brindes,
o aviso nas salas de aula e muito mais,
para que tudo esteja pronto na hora certa.
vivência e aprendiZadoTambém pelo fato de ser organizada por
alunos, a SINU é uma possibilidade única.
Tanto para quem participa quanto para
quem organiza, ela representa vivenciar
uma experiência ímpar. Por um lado, os
delegados fazem contato com o mundo
diplomático e com a realidade da ONU, à
qual a SINU procura ser o mais fiel possí-
vel; exercitam a oratória, a argumentação
e o diálogo; estudam temas históricos e
atualidades importantes para o vestibular,
para a compreensão do nosso contexto
atual e para a formação como cidadãos,
e exercitam o lado humanitário, tão valo-
rizado pelo colégio. Por outro lado, os or-
ganizadores enfrentam enormes desafios,
uma vez que ter a SINU nas mãos é uma
enorme responsabilidade, que exige com-
prometimento e dedicação incansáveis.
#vaisinuQuando a gente é menor e ouve no
Colégio que “a SINU é top”, desconfia,
porque acha que não deve ser tão le-
gal estudar e ficar lá um fim de semana
debatendo um assunto que, aparente-
mente, não tem nada a ver com a nos-
sa vida. Mas, quando a gente participa
pela primeira vez, se encanta. A SINU
tem muito disto: ela encanta as pessoas.
Quando você está lá, naquele ambiente
especial, com seus amigos, vendo toda
aquela gente preparada e interessada,
querendo mudar o mundo para melhor,
você realmente vê que sim, estamos no
caminho certo. E isso não tem preço. Este
é o verdadeiro legado da SINU: mostrar
que tudo dá para fazer, mostrar que nós
podemos, sim, fazer a diferença. Porque,
como me disse certa vez o Rodolfo Uras,
um dos organizadores da VII SINU, da
qual eu participei, “a SINU é como um
filho”. #vaiSINU
Oitava ediçãO dO eventO OrganizadO e divulgadO pelOs alunOs dO Csl para Os própriOs alunOs.
por rafael lourenço facchini, aluno da 3.ª série eM
na veiaSInU
eVenTO
Revista Pilotis | 29
Há oito anos acontece o Projeto Conexões de Teatro para Jovens, com textos
inéditos da nova dramaturgia. Esse trabalho, realizado por meio da parceria
entre o Colégio São Luís, o British Council, a Cultura Inglesa, a Escola Superior
de Artes Célia Helena e o National Theatre de Londres, é uma preciosidade e tem fo-
mentado um pequeno tremor de terra no campo do teatro estudantil.
Nos oito anos do projeto, observamos como os estudantes são transformados pelo
contato com o teatro. É contagiante. Grupos que trazem outros grupos, que lotam o
teatro nas apresentações da Mostra, que indicam, que leem, que pesquisam, que se
assistem, que se orgulham.
colhendo FrutosJá temos História, e, neste ano, comemoramos algumas conquistas. Espetáculos da
Mostra do Conexões de 2013 (A Estática, Celular: o show e Submarino) estiveram em
cartaz na cidade de São Paulo, com ótimo público. A autora Claudia Schapira ganhou
o prêmio Shell de dramaturgia com o texto escrito para o Conexões em 2011 (Con-
uma edição
Por Tuna Serzedello,deParTamenTo de ComuniCação
teatro
bem temperada
30 | Revista Pilotis
tos que cantam sobre pousospássaros). O
coletivo Apoena continua excursionando
por festivais de teatro no estado de SP
com a peça Flor da Pele, encenada por
ele em 2012 e escrita por uma ex-aluna
do projeto, Mariana Marteleto.
Além disso, temos a inauguração do
novo site do Projeto Conexões (www.
conexoes.org.br), no qual são disponi-
bilizados os textos impressos aqui e nos
livros de outras edições (dos autores que
autorizaram), para leitura e download em
português e em inglês. Isso certamente
amplia ainda mais os limites do projeto.
ex-aluno escritorNesta edição, temos o orgulho de apresen-
tar outra prata da casa: José Arthur Ridolfo,
ex-aluno do Colégio São Luís e participante
do Conexões entre 2008 e 2011, é um dos
autores deste portfólio. Sua peça, A Voz do
Silêncio, trata sobre jovens inconformados
com o sistema e que traçam um plano para
mudá-lo. Inspirado nas manifestações de
junho de 2013, o nosso Zé – do alto dos
seus 20 anos – apresenta uma apaixona-
da visão sobre a sua fé na capacidade de
mudança dos jovens. Essa visão é compar-
tilhada pela equipe do projeto, que tem o
prazer de publicar a sua primeira peça.
Realidade das escolas, presente na rea-
lidade dos grupos e nos palcos do pro-
jeto, a voz dos jovens poderá ser ouvida
também por meio do texto escrito por
um coletivo de jovens escoceses, o gru-
po Junction25 de Glasgow, que escreveu
a peça Anoesis. O título faz referência à
palavra grega que significa “um estado
de pura emoção sem nenhum significado
cognitivo”. Na peça, feita para ser adap-
tada às vozes dos integrantes dos grupos
que a escolherem, o alvo é o sistema edu-
cacional. Avaliações, políticas públicas,
currículos, nada escapa a essa torrente de
sensações proposta pelo texto.
Mais históriasJovens são críticos, rebeldes, têm opiniões
fortes e, é claro, são muito divertidos. A
edição 2014 do Projeto Conexões nos traz
dois exemplos muito distintos de comé-
dias jovens. O parlapatão e palhaço Hugo
Possolo escreveu Cérebro à vinagrete, que
“tempera” muito bem humor e mistério.
Um casal de namorados tem de desvendar
o roubo dos gabaritos de uma prova e aca-
ba se envolvendo com uma estranha seita.
Uma deliciosa confusão que mistura fil-
mes de ação com personagens de Gógol.
O autor escocês Gregory Burke escreveu
Mentiroso para o National Theatre de
Londres em 2006. Essa foi uma das peças
mais populares daquele ano do projeto
Connections. Por aqui, não poderia ter
sido diferente. A combinação dos perso-
nagens e situações que levam o protago-
nista a mentir compulsivamente são sim-
plesmente hilárias.
Um dos acontecimentos muito celebra-
dos em 2014 foi o 450º aniversário de
nascimento do mais importante dra-
maturgo de todos os tempos: William
Shakespeare. Fiel aos seus princípios, o
Conexões convidou o brasileiro Marcos
Barbosa para adaptar para o projeto uma
peça, inédita no Brasil, de Shakespeare:
Cimbelino. Desse encontro entre Marco,
Shakespeare e Cimbelino, nasceu o tex-
to Cimbelino XXI: um ensaio, que nos
mostra a essência de um grupo de jovens
que tenta montar uma peça e nos sugere
como entender esse clássico nos dias de
hoje. Uma peça engraçada, poética e que
faz uma importante reflexão sobre o pa-
pel do artista em sua época.
Um portfólio entusiasmante para um gru-
po de jovens entusiasmado pelo teatro e
que realizará, com certeza, espetáculos
que marcarão a história. A história de
vida de cada um deles.
Mais informações sobre o projeto e a Mostra
encontram-se no site www.conexoes.org.br.
SaIba MaIS
TeaTRO
Revista Pilotis | 31
ORIenTeMÉDIO
um Breve relatO da situaçãO atual e dOs cOnflitOs da regiãO.
POR MOaCyR nOgUeIRa,PROFeSSOR De geOgRaFIa.
aRTIgO
32 | Revista Pilotis
Oriente Médio é a denomina-
ção que os europeus deram à
porção ocidental do continen-
te asiático, diferenciando-a do extremo
Oriente, situado às margens do Oceano
Pacífico. A área compreende o Levante
Mediterrâneo1, as Penínsulas da Anató-
lia e Arábica, a Planície da Mesopotâmia,
o Irã e o Afeganistão; abrangendo uma
área de aproximadamente 7 milhões de
km² – menor que o território brasileiro,
com 8,5 milhões de Km² – dividida em
18 países.
Seu ambiente natural é diverso. Predomi-
nam formações planálticas e desérticas. O
clima árido é o elemento mais marcante,
com chuvas escassas, e é determinante de
uma vegetação estépica2, composta por
arbustos secos, e de uma rede hidrográfi-
ca pobre, com inúmeros rios temporários,
ueds3, exceto os rios Tigre e Eufrates, na
Mesopotâmia, e o rio Jordão, endorreico4,
na Palestina, que deságua no Mar Morto.
Sua população constitui um mosaico de
culturas e nacionalidades. Caracteriza-se
por grande diversidade étnica – com pre-
dominância dos semitas5 –, linguística (o
árabe é a língua com maior número de
falantes) e religiosa – com predomínio do
islamismo6, e suas várias denominações
(sunitas, xiitas, alauitas etc.), além de ju-
deus e inúmeras comunidades cristãs, de
diversas denominações.
No que se refere à economia, é uma re-
gião periférica. Têm grande importância
as atividades comerciais e o turismo. Há
pouca industrialização. Embora existam
várias áreas de agricultura irrigada, per-
sistem práticas tradicionais, como a agri-
cultura mediterrânea7 e o pastoreio nô-
made8. No entanto, é no Oriente Médio
que estão as maiores reservas mundiais
de petróleo. No Golfo Pérsico, especifica-
mente, está mais da metade das reservas
mundiais desse combustível fóssil que se
constitui na principal matriz energética
mundial. Daí a importância dessa região
para a economia mundial.
Sob o ponto de vista político, é uma re-
gião instável. São inúmeros os conflitos
e diversas suas motivações. Em muitos
momentos, sobretudo na história recente
da região, a instabilidade política regional
dissemina-se pelo mundo todo.
Os cOnflitOs – uma breve história da instabilidade pOlítica regiOnalAo se tratar dos conflitos no Oriente Mé-
dio, muitas vezes parte-se de algumas
ideias amplamente disseminadas, por
exemplo: a ideia de que esses conflitos
são generalizados, de que eles sempre
existiram ou, ainda, de que é impossível
entendê-los. Pode-se ainda atribuir-lhes
generalizações, como a afirmação de que
eles estão relacionados ao petróleo ou às
diferenças étnicas e religiosas.
Não se pode dizer que essas ideias sejam
de todo incorretas, mas são generaliza-
ções e, portanto, são imprecisas. Essas
generalizações têm a função de explicar
os acontecimentos no Oriente Médio de
uma forma mais simples, o que contribui
para reforçar, muitas vezes, uma visão
preconceituosa e excessivamente ociden-
aRTIgO
Revista Pilotis | 33
tal acerca das questões daquela região.
Atualmente, podem ser identificadas no
Oriente Médio as seguintes áreas de ten-
são: a Palestina, o Golfo Pérsico, o Afega-
nistão, a Síria e o norte do Iraque.
A PAlestinAOs conflitos na região da Palestina têm
como pivô o Estado de Israel.
Em 1947, a ONU – Organização das Na-
ções Unidos – propôs uma partilha para
a região da Palestina, visando acomodar
dois povos sem Estado9 – árabes pales-
tinos e judeus. A Palestina passara a ser
mandato britânico em 1922, como parte
dos entendimentos relativos ao Tratado
Sikes-Picot, de 1918, formalizado entre a
Inglaterra e a França para dividir o espólio
do Império Turco-Otomano, derrotado na
Primeira Guerra Mundial (1914-1918).
A proposta feita foi recusada pelos vizi-
nhos árabes desses novos Estados, Egito,
Líbano, Síria, Transjordânia – atual Jordâ-
nia –, entre outros, pois estes entendiam
que os palestinos árabes seriam prejudi-
cados com a partilha e que um Estado
judeu se constituiria como um corpo
estranho na região, onde predominavam
árabes e muçulmanos. Vale lembrar que
a ONU, que começou a operar em 24 de
outubro de 1945, não tinha a autoridade
que tem hoje.
Estabeleceu-se uma situação de impasse
que chegou ao fim em 15 de maio de
1948, quando o Sr. David Ben Gurion de-
clarou, em Tel Aviv, a criação do Estado
de Israel, pondo fim à diáspora judaica10
de quase 2000 anos.
A criação do Estado de Israel deu início
às guerras11 árabe-israelenses. Foram
quatro: a primeira, a Guerra de Indepen-
dência, entre 1948 e 1949; a Guerra do
Suez, em 1956; a Guerra dos Seis Dias,
em 1967; e a Guerra do Yom Kippur12,
em 1973. Esta última foi o estopim para
a Primeira Crise do Petróleo13.
Em 1982, Israel invadiu o Líbano – Ope-
ração Paz na Galileia –, mas essa ação
não pode ser considerada uma guerra,
pois teve a anuência do governo, então
cristão, libanês. Nessa operação, os obje-
tivos de Israel eram desarmar grupos de
palestinos que atacavam o norte de Israel
a partir do Líbano e combater a OLP –
Organização para a Libertação da Pales-
tina14 –, liderada por Yasser Arafat, que
acabou expulso do País.
Em 1987, teve início a Intifada, a revolta
popular palestina nos territórios da Faixa
de Gaza e da Cisjordânia. Reivindicavam-
-se esses territórios para a formação de
um Estado Palestino.
A revolta palestina gradativamente ganhou
apoio internacional e seu relativo sucesso
levou representantes palestinos e o Estado
de Israel às negociações na década de 90.
Em 1993, com o Acordo de Paz de Oslo,
foi criada a Autoridade Palestina, e vários
outros acordos se seguiram.
aRTIgO
34 | Revista Pilotis
Apesar desse avanço, o Estado Palestino
autônomo e soberano não se efetivou.
Os maiores obstáculos para a sua con-
solidação são: o status de Jerusalém15, o
controle dos mananciais hídricos, o esta-
belecimento de fronteiras defensáveis, a
retirada dos assentamentos israelenses, o
retorno dos refugiados e, principalmente,
as ações terroristas.
Diante desse impasse, em 2000, teve iní-
cio a Intifada Al Aqsa. Nessa nova etapa
do movimento emancipacionista pales-
tino, estes lutam pelo cumprimento dos
acordos firmados na década de 90.
Em 2004, os palestinos passaram a ter au-
tonomia sobre a Faixa de Gaza, e a Cisjor-
dânia passaria gradativamente ao contro-
le palestino, conforme os assentamentos
israelenses e suas tropas fossem retirados.
Foram essas ações terroristas, sobretudo
as atribuídas ao Hamas16, que levaram
Israel, em julho de 2014, a iniciar a Ope-
ração Limite Protetor, que consiste em
bombardeios a alvos ligados ao grupo ter-
rorista (principalmente a túneis utilizados
por milicianos) e na invasão terrestre para
localizar e neutralizar grupos hostis, cap-
turar armas e, principalmente, mísseis que
são lançados contra o território israelense.
Além dos danos materiais, tanto os aten-
tados do Hamas quanto a operação is-
raelense fazem inúmeras vítimas civis, a
despeito dos pedidos internacionais por
um cessar-fogo definitivo.
O GOlfO PérsicOA Revolução Islâmica no Irã, de 1979,
pode ser indicada como um marco para
se entenderem os conflitos modernos na
região do Golfo Pérsico.
Naquele ano, os muçulmanos xiitas17, li-
derados pelo Aiatolá18 Khomeini, toma-
ram o poder no País, derrubando o Xá
Mohammad Reza Pahlevi, governante
autoritário que era um dos maiores alia-
dos dos Estados Unidos no Oriente Médio
e que tentara reduzir a influência dos reli-
giosos xiitas, ocidentalizando o País.
O combate à influência ocidental e, prin-
cipalmente, à dos Estados Unidos, consi-
derados o Grande Satã, serviu como mo-
tivação para a derrubada do regime do
Xá e trouxe um grande temor à economia
mundial, pois os xiitas – agora no poder
– ameaçaram fechar o Estreito de Ormuz,
impedindo o escoamento de petróleo do
Golfo Pérsico, o que levou o mundo à Se-
gunda Crise do Petróleo19.
Um paliativo para a crise desencadeada
pela Revolução Iraniana foi a Guerra do
Golfo, 1980-1988, entre o Irã dos funda-
mentalistas xiitas e o Iraque, liderado pelo
ditador Saddam Hussein.
Em 1988, com o fim da Guerra Irã x Ira-
que, 1 milhão de mortos depois, os xiitas
permaneciam no poder no Irã, mas não
eram mais uma ameaça tão grande. Sa-
ddam Hussein enfrentava uma crise sem
precedentes – economia destruída, gran-
de endividamento, oposição crescente.
Nesse contexto, buscou um inimigo ex-
terno. Invadiu o Kuwait em 02 de agosto
de 1990, sob o pretexto de que o País,
durante a guerra, explorara petróleo em
uma zona de fronteira, prejudicando o
Iraque. Além disso, Saddam Hussein ar-
gumentava que o Kuwait foi parte do ter-
ritório iraquiano e que sua incorporação
era uma questão de soberania.
A ONU determinou a imediata retirada
de tropas iraquianas do Kuwait. Saddan
Hussein recusou-se a retirar suas tropas
do País e desafiou a ONU, que determi-
nou a criação de uma força multinacional
aRTIgO
“Os conflitos na região da
Palestina têm como pivô
o estado de israel.”
Revista Pilotis | 35
para libertar o Kuwait. Essa força foi for-
mada e liderada pelos Estados Unidos e
o processo para a libertação do Kuwait
começou em 16 de janeiro de 1991.
Ao Iraque derrotado foram impostas
duas condições: primeiro, duas zonas de
exclusão aérea ao Norte e ao Sul, para a
proteção de curdos e de xiitas, respecti-
vamente, que eram comumente atacados
por Saddan Hussein; a segunda condição
era a obrigatoriedade do País permitir,
sempre que a ONU solicitasse, inspeções
de seu arsenal, devido ao fato de o Iraque
ter usado armas químicas contra minorias
curdas durante a guerra contra o Irã. A
recusa de Saddan Hussein em permitir
tais inspeções e a suspeita de que o País
mantinha estoques de armas químicas le-
varam à invasão do Iraque, em 2003, pela
coalizão anglo-americana, que depôs o
ditador, o qual foi julgado e condenado
à morte em seu País.
O AfegAnistãOOs conflitos no Afeganistão intensificam-
-se em 1979, quando a então URSS20 in-
vade o País para apoiar o governo socia-
lista de lá, o qual enfrentava uma revolta
muçulmana. Durante uma década, os
soviéticos tentaram, em vão, destruir os
mujahedins21. O conflito interno destruiu
o País, que já era um dos mais pobres do
mundo. E foi durante esse conflito que
surgiu a Al Qaeda22.
Os soviéticos retiraram-se em 1989 e o
Afeganistão mergulhou em uma guerra
interna entre suas inúmeras etnias. Em
1990, o País voltou-se contra os Estados
Unidos, que instalavam tropas na Arábia
Saudita – terra santa islâmica, onde está
Mecca23. Durante esse conflito interno, o
Talebã24 ascendeu ao poder.
Em 2001, o Talebã governava o Afega-
nistão e seu líder, mulah25 Omar, declarou
apoio irrestrito à Al Qaeda e ao seu líder,
Osama Bin Laden, inclusive valorizando
os feitos de 11 de setembro daquele ano
nos Estados Unidos.
Esse apoio serviu como pretexto para a
invasão de uma coalizão anglo-america-
na no Afeganistão. Com isso, a precária
estrutura do Talebã foi destruída e foi
eleito um presidente; mas, até hoje, o go-
verno pós-Talebã não teve competência
para neutralizar os mujahedins que até
hoje afrontam o governo.
A SíriAA guerra civil na Síria teve início com as
manifestações populares, em janeiro
de 2011 – no contexto da denominada
Primavera Árabe26 – contra o regime de
Bashar Al Assad, ditador que herdara o
poder de seu pai, Hafez Assad, em 2000.
Em março do mesmo ano, após severa
repressão, a revolta popular transformou-
-se numa guerra civil, fazendo inúmeras
vítimas civis e levando milhões a abando-
narem suas casas e a buscarem refúgio
em países vizinhos.
O conflito intensificou-se quando a Ir-
mandade Islâmica passou a apoiar os
rebeldes. Bashar Al Assad foi acusado de
utilizar armas químicas contra os rebeldes.
Em 2014, foram realizadas eleições e o
ditador obteve quase 90% dos votos, o
que gerou protestos da oposição, que o
acusou de fraude. Porém, o ditador per-
manece no poder.
Rússia e China são contrárias a uma in-
tervenção internacional no País, o que
na prática possibilitaria aos Estados Uni-
dos inserirem-se ainda mais na região.
Por isso, as duas potências ameaçam
vetar quaisquer propostas intervencio-
nistas na Síria por intermédio do Conse-
lho de Segurança da ONU27, do qual são
membros permanentes.
O EstadO IslâmIcOEstado Islâmico do Iraque e do Levante
autoproclamado califado28 jihadista suni-
ta. Formado por membros remanescentes
dos grupos Estado Islâmico do Iraque, Al-
-Qaeda no Iraque e Shura Mujahideen,
além de outros grupos insurgentes meno-
res. Criado em 29 de junho de 2014, seu
líder – califa – é Abu Bakr al-Baghdadi.
Nas áreas dominadas pelo Estado Islâmi-
co, a conversão ao islamismo é obrigató-
ria e vigora a charia – o código de leis
islâmico. Além disso, o Estado Islâmico
persegue minorias, como os muçulmanos
xiitas, os cristãos armênios e os drusos29.
Em setembro de 2014, ele iniciou o exter-
mínio sistemático de uma minoria cristã
que fala o aramaico, considerado patri-
mônio da humanidade.
“A Revolução islâmica no irã, de 1979,
pode ser indicada como um marco para
se entenderem os conflitos modernos
na região do Golfo Pérsico.”
aRTIgO
36 | Revista Pilotis
1Levante Mediterrâneo corresponde à região do
litoral do Mar Mediterrâneo que compreende o nor-
te da Península do Sinai, o litoral da Faixa de Gaza,
de Israel, do Líbano, da Síria e da Península da Ana-
tólia, Turquia.
2Estepe: vegetação arbustiva com poucas formações
arbóreas. A denominação deriva do russo: степи step.
3Ueds são rios temporários, que existem apenas em
épocas de chuva. A denominação deriva da pala-
vra francesa oued, que é uma derivação do árabe
.wadi يداولا
4Drenagem endorreica: diferente da drenagem
exorreica, que corre para os oceanos e mares, ela
termina no continente, numa lagoa ou mar fechado.
5Semita: conjunto etnolinguístico composto por
vários povos que compartilham as mesmas origens
culturais, com destaque para os árabes e os hebreus.
A acepção bíblica da expressão tem sua origem no
Gênesis, que faz referência aos descendentes de Sem
ou, do hebraico, םש Shem, filho de Noé.
6Islamismo: religião monoteísta surgida no século
VII da Era Cristã. Tem Maomé, ou Mohammed, como
profeta, e seu livro sagrado é o Corão.
7Agricultura mediterrânea: sistema de cultivo tra-
dicional que se caracteriza por pequenas proprieda-
des e mão de obra abundante devido à natureza dos
cultivos (oliveiras, figueira e videiras).
8Pastoreio nômade é uma prática de criação rudi-
mentar bastante antiga, disseminada por áreas desér-
ticas e semidesérticas e que consiste no deslocamen-
to constante de um rebanho, geralmente pequeno,
em busca de recursos como alimentos e água. É uma
atividade que antecede a pecuária moderna e está
associada a espécies mais rústicas de gado, como ca-
prinos, ovinos e o dromedário.
9Estado: organismo político-jurídico constituído
por um território, população, autogoverno, leis
e soberania.
10Diáspora judaica: período histórico iniciado no sé-
culo I da Era Cristã, com o processo de desjudaização
da Judeia pelos romanos, no qual os judeus viveram
fora da Palestina – Terra Prometida.
11Guerra: conflito armado entre Estados.
12Yom Kippur: o mais sagrado dos feriados judaicos
- Dia do Perdão.
13Primeira Crise do Petróleo: elevação abrupta dos
preços do barril do petróleo, em setembro de 1973,
decorrente de um boicote feito pelos países do Golfo
Pérsico, devido ao apoio ocidental a Israel na Guerra
do Yom Kippur.
14OLP – Organização para a Libertação da Palestina:
organização criada em 1964 com o objetivo de re-
presentar a população palestina no processo de rei-
vindicação de um Estado nacional. Foi admitida na
ONU em 1982.
15Jerusalém: cidade sagrada para judeus, cristãos
e muçulmanos, situada na Cisjordânia, à margem
oeste do rio Jordão, considerada capital por Israel e
reivindicada pelos palestinos para ser a capital de seu
futuro país.
16Hamas ou “Movimento de Resistência Islâmica”:
organização palestina sunita que atua nas áreas polí-
tica e filantrópica. Por meio de facções armadas, pro-
move ações terroristas contra Israel.
17Xiita: ramo do islamismo cujos seguidores acredi-
tam ser descendentes do profeta Maomé – Muham-
mad. Os xiitas não fazem distinção entre vida religio-
sa e a secular. Entendem que o líder político deve ser
o líder religioso.
18Aiatolá: para os muçulmanos xiitas, é o mais alto
dignitário na hierarquia religiosa.
19Segunda Crise do Petróleo: ocorreu em 1979,
após a chegada dos xiitas ao poder no Irã, o que
trouxe um grande temor – sobretudo entre os países
ocidentais – de que o novo governo do País bloque-
asse o Estreito de Ormuz e, assim, impedisse o esco-
amento do petróleo dessa região, a maior produtora
mundial de petróleo.
20URSS: Estado socialista que existiu entre 1922 e
1991, formado por 15 repúblicas: Rússia, Bielorrús-
sia, Ucrânia, Moldávia, Lituânia, Letônia, Estônia,
Armênia, Geórgia, Azerbaijão, Turcomenistão, Ca-
zaquistão, Quirquistão, Tadjiquistão e Uzbequistão.
Constituiu-se na 2.ª economia mundial. Superpotên-
cia militar e nuclear, fez oposição ao poder dos Esta-
dos Unidos durante o período da Guerra Fria.
21Mujahedins: guerreiros de Allah que lutam pelo
islamismo, admitindo inclusive o martírio.
22Al Qaeda: organização fundamentalista islâmica
internacional que luta contra a influência ocidental,
principalmente, sobre assuntos islâmicos.
23Mecca: a mais sagrada cidade para os islâmicos,
situada na Arábia Saudita.
24Talebã: grupo fundamentalista sunita que luta pelo
poder no Afeganistão e contra a influência ocidental
no País, considerada impura.
25Mulah: homem/líder islâmico instruído na teologia
islâmica e na lei sagrada – a charia.
26Primavera Árabe: série de movimentos de origem
popular que teve início na Tunísia, em 2010, e que
rapidamente se espalhou pelo norte da África – Líbia
e Egito – e por países do Oriente Médio, principal-
mente os de regime autoritário – Síria e Iêmen.
27Conselho de Segurança da ONU: organismo da
ONU responsável por resolver questões relativas aos
conflitos entre os países. Formado por 15 países, sen-
do 5 membros permanentes, com poder de veto so-
bre as decisões do organismo – o P5 e dez membros
temporários (2 anos), o T10.
28Califado: forma de governo tipicamente islâmica.
O califa fundamenta sua autoridade política na do
profeta Maomé.
29Drusos: comunidade religiosa composta por apro-
ximadamente 1 milhão de indivíduos, que se disse-
minou por territórios do Líbano, Israel, Síria, Turquia
e Jordânia. Falantes do árabe, não são considerados
muçulmanos pelos praticantes do islamismo.
glossário
aRTIgO
Revista Pilotis | 37
O projeto Tardes de Cinema é um
encontro quinzenal em que
assistimos (Professora Jussane
Pavan, de Redação, Professor Gilberto
Teixeira, de História, e alunos do EM No-
turno) a filmes que estão fora do circuito
convencional de cinema.
o antesProcuramos apresentar aos alunos filmes
desconhecidos deles, que tragam junto
ao seu enredo reflexões que nos façam
entender um pouco melhor o mundo e o
ser humano.
Esse encontro é iniciado com uma discus-
são sobre o filme a que iremos assistir, uma
breve biografia do diretor da obra e tam-
bém algumas características marcantes que
devem ser salientadas para melhor com-
preensão e apreciação da obra artística.
e o depoisApós a sessão, fazemos uma discussão
sobre tudo o que envolve a arte do ci-
nema: a direção, a atuação, a direção de
arte, a trilha sonora, entre outras coisas.
Isso tudo tem como objetivo formar um
público ativo e interessado pela sétima
arte, que consiga perceber e desvendar
pequenos detalhes das obras mais mar-
cantes que já foram criadas e também
daquelas que ainda serão.
uM pouco de tudo – coM qualidadeO primeiro tema do projeto foi a adoles-
cência e aqueles que estão à margem do
comum. Assistimos a filmes como Mary
e Max, Conte comigo e Ghost world.
Depois, começamos a fazer uma mostra
de diretores famosos. Nesse momento,
conhecemos um pouco melhor a vida e
a obra de algumas figuras de destaque,
como Hitchcock, Roman Polanski e Ta-
rantino. Mais à frente, iniciamos um tour
pelo mundo, passamos pelo cinema lati-
no-americano e agora estamos vendo o
cinema europeu.
É sempre um prazer o momento do cine-
ma. É nele que conseguimos nos esque-
cer um pouco do cotidiano e mergulhar
na liberdade da arte.
Tardes de
CIneMapor Jussane pavan, professora de redação.
enSInO MÉDIO nOTURnO
38 | Revista Pilotis
o que os alunos têM a diZer?“O Cineminha não é só um ‘extra’ que o
Colégio nos proporciona, é algo mais. Ele
muda seu olhar cinematográfico. Sabe
quando você vai ao cinema sozinho e de
repente percebe que ir acompanhado é
mil vezes melhor? O Cineminha é algo
como ir acompanhado ao cinema, só que
melhor (acredite!), porque a sala está lo-
tada de amigos cinéfilos!
Lembro com perfeição da primeira vez que
fui ao Cineminha. Também lembro quan-
do me peguei indicando metade dos filmes
que conheci no Cineminha e comentando
os diretores que nos foram apresentados
como se fôssemos amigos íntimos.
É gratificante poder participar desse pro-
jeto. Quando vi, estava até fazendo um
curso de cinema e pensando em entrar
nesse maravilhoso mundo cinemato-
gráfico! É uma ótima quebra de rotina,
chegando a deixar seu dia mais colorido,
porque não vemos filmes como em um
domingo tedioso, nós os comentamos
como um todo, tiramos deles o seu me-
lhor e o melhor de nós também.”
(Gabrielle Neves, 2.2)
“O cinema é uma arte que sempre me
interessou, devido a sua grandiosa com-
plexidade. Muitos não percebem a difi-
culdade e todo o trabalho envolvido para
fazer um filme de qualidade.
O Cineminha é um ótimo projeto criado
por dois professores que admiro muito: a
Jussane e o Giba. Esse projeto, além de
mostrar filmes que não são muito vistos
normalmente, nos faz analisá-los de for-
ma reflexiva, tentando entender o que
queriam dizer com o filme e interpretan-
do os detalhes que passam despercebi-
dos pela maioria. Depois de frequentar
o Cineminha, passei a ver os filmes com
outros olhos, não mais só como uma for-
ma de entretenimento.
Dentro daquela sala pequena, junto de
pessoas que também apreciam o cinema
e gostam desse projeto, talvez até mais
do que eu, me sinto muito bem, como
se nada mais importasse, só aqueles mo-
mentos durante os filmes e as discussões
sobre eles. Me sinto vivo.”
(Vinícius Borges, 2.2)
“Eu me lembro da primeira vez que fui
ao Cineminha, e o filme era Conta comi-
go (Stand by Me). Não poderia explicar
em palavras o quão importante esse fil-
me foi para mim ou o quão importante
o Cineminha se tornou pra mim a partir
daquele momento.
O mais interessante sobre as discussões é
o quanto elas nos mostram o melhor da
vida e o melhor de nós. Nos torna mais
críticos em relação à arte e em relação a
tudo o que nos cerca. Análises que vão
além de luz e movimentação de câmera.
Analisamos o sentimento que a história
quer passar.
Tenho muitas dúvidas sobre o futuro. Não
sei se quero Exatas, Humanas ou Bioló-
gicas. A minha única certeza, que tenho
graças a essa maravilhosa iniciativa, é que
o cinema... ah, o cinema, eu quero para
sempre comigo.”
(Juliana de Almeida, 2.2)
“Bem... O que dizer do Cineminha? Ou
melhor, o que não dizer do Cineminha?
Segundo o Dicionário Brasileiro da Língua
Portuguesa (Jornal da Tarde), cinema sig-
nifica ‘arte ou ciência da cinematografia’.
Se analisarmos o significado de arte no
mesmo dicionário, teremos: o ‘conjun-
to de regras para fazer ou dizer alguma
coisa com perfeição’. Logo, o cinema é
arte, busca a perfeição e, quando entro
no Cineminha do Colégio São Luís, sinto
como se estivesse entrando num mundo
perfeito, onde tenho acesso a toda a per-
feição que envolve a arte do cinema. Lá,
eu consigo esquecer qualquer problema,
simplesmente desligar minha mente do
mundo real, e ligá-la no mundo fictício.
Tantas discussões e reflexões sobre os te-
mas abordados nos filmes exibidos, pro-
postas pelos professores – maravilhosos
professores, aliás –, fazem com que mi-
nha cabeça trabalhe direito e expandem
meus conhecimentos. O Cineminha me
proporciona uma eterna aprendizagem e
sei que, a cada filme que é exibido, me
torno um pouco mais culto e, para mim,
isso é muito importante. É um projeto
maravilhoso, que me traz conhecimento,
alegria e cultura. Só tenho a agradecer
aos meus queridos mestres, Jussane e
Gilberto, por criarem esse lindo, grande
e excelente projeto.”
(Vinícius Vieira M. Lima, 2.2)
enSInO MÉDIO nOTURnO
Revista Pilotis | 39
HISTÓRIA
p a d r e
Por Gilberto teixeira,Professor de História e coordenador
do centro de MeMória do csl.
40 | Revista Pilotis
Quem quer que se aproxime do
centro de Nova Friburgo não
pode deixar de notar a presença
imponente da fileira de palmeiras impe-
riais que se distribuem, no alto do morro,
diante do majestoso prédio do Colégio
Anchieta. De bem longe, elas atraíram
minha atenção na manhã ensolarada do
dia 28 de maio de 2014. Naquela oca-
sião, subi a longa rampa que dá acesso
ao prédio chamado carinhosamente de
Château pelos antigos moradores do lu-
gar. Meu propósito ali era encontrar-me
com um homem que, do alto de seus
83 anos de idade, e em plena atividade
como reitor daquele colégio, pode ser
considerado um dos mais importantes
dirigentes de colégios no seio da comu-
nidade jesuíta: o padre Guy Jorge Ruffier.
O objetivo do encontro era realizar uma
entrevista – talvez a última grande entre-
vista concedida por ele – para um projeto
de História Oral de vida dos ex-reitores
do Colégio São Luís, que se encontra em
fase de elaboração.
Naquela ocasião, ao encontrá-lo tão so-
lícito, gentil e disposto, absolutamente
nada me faria supor que o caprichoso
destino não permitiria que ele vislumbras-
se o produto final de sua generosa dis-
posição: uma das mais belas entrevistas
que tive a honra de colher. A realização
de um trabalho como esse nos revela a
um só tempo a transitoriedade da vida
e a importância de agirmos com diligên-
cia e celeridade quando nosso objetivo é
capturar e compartilhar a sabedoria da
experiência de longas vidas dedicadas a
um ideal.
Durante quase duas horas, à luz quen-
tinha do sol de maio que entrava pelo
janelão da sala, conversamos sobre sua
vida, infância, primeiros anos de novicia-
do, e sobre os desafios de dirigir grandes
colégios por todo o País. A mais viva im-
pressão que a conversa deixou em mim
foi a de um homem absolutamente de-
terminado e firme, mas compassivo e, so-
bretudo, profundamente coerente.
a origeM e a inFânciaPadre Guy era de uma família de imigran-
tes franceses que foi muito profícua em
relação a padres. Três de seus irmãos mais
velhos, antes dele, abraçaram a vocação
sacerdotal e jesuítica. As cartas por eles es-
critas à família, segundo o padre Guy, fo-
ram as sementes de sua própria vocação:
“Lembro-me de que o correio deixava as
cartas e eu ia correndo para recolhê-las,
passava pela cozinha para preparar um
copo de água com açúcar e ia para sala
para abri-las e lê-las com a minha mãe. O
copo de açúcar, claro, era para ela, que
invariavelmente desmanchava-se em lá-
grimas... Mas havia tanta ternura, e ao
mesmo tempo tanta esperança naquelas
belas missivas, e tal cumplicidade entre
mim e minha mãe no sentimento pela
ausência de meus irmãos que esses mo-
mentos inesquecíveis de minha infância
foram decisivos na descoberta de minha
própria vocação. (...)”
Desde muito cedo, ele demonstrou um
olhar atento às injustiças e disposição e
coragem para combatê-las. A despeito de
sua ascendência francesa, ele lembrava
com revolta o tratamento que os brasilei-
ros deram, em sua terra natal (a cidade de
Rio Grande), aos cidadãos de origem ale-
mã durante a Segunda Guerra Mundial:
“Eu era apenas um garotinho quando os
destinos do mundo estavam se decidin-
do na Segunda Guerra Mundial. Vivi este
ambiente francófilo lá em Rio Grande.
Havia muitos alemães vivendo ali, muitos
eram comerciantes de casas que traziam
seus nomes e quando as coisas engros-
saram vi coisas que me marcaram muito.
Não podia entender, ainda criança, como
homens pudessem virar animais selva-
gens! Vi pessoas invadindo casas comer-
ciais alemãs e atirando pela janela coisas
preciosas, arruinando vidas de vizinhos,
pessoas da comunidade, pelo simples
fato de serem alemãs. O povo aplaudia
HISTÓRIa
“eu era apenas um garotinho quando os
destinos do mundo estavam se decidindo
na segunda Guerra mundial.”
Revista Pilotis | 41
aqueles atos de selvageria como se es-
tivessem numa tourada! E eu, francês
de origem, muitas vezes envolvi-me em
brigas defendendo alemães, às vezes ao
custo de um nariz quebrado!”
experiências e vocaçãoDurante toda a sua formação nos pri-
meiros anos, a experiência que mais o
marcou e com a qual teve mais prazer foi
a do magistério, fase obrigatória da for-
mação de jesuítas, cumprida no mesmo
Colégio Anchieta, do qual muitos anos
depois seria reitor. Experimentando as di-
ferentes facetas do trabalho no Colégio,
convivendo e trabalhando com alunos,
professores e pais, o padre Guy parece
ter encontrado aquilo que mais o fascina-
va. Mas, antes de assumir definitivamen-
te essa vocação, ele lembrou com muita
gratidão que seus superiores na ordem
ainda o destinaram a estudar Teologia na
Universidade Gregoriana em Roma. Além
de Roma, ele também estudou catequese
em Bruxelas e lá descobriu sua profunda
vocação para o trabalho com os jovens.
No Brasil, ele desenvolveu muito essa vo-
cação sendo animador de pastoral nos
primeiros anos de retorno ao País. Padre
Guy trabalhou com jovens no Rio de Ja-
neiro, nos duros anos da ditadura militar.
Junto com muitas lembranças de lutas e
enfrentamento contra os poderosos, ele
lembrou também uma bela história de
concórdia e entendimento naqueles tem-
pos em que tais coisas foram tão raras:
“Mas naqueles anos havia uma sede de
justiça e o povo pensante estava muito
presente, de forma que comecei a dar
aulas de catequese para os pais dos alu-
nos. Foi um sucesso danado, em pouco
tempo tínhamos uma sala cheia de pais e
nos reuníamos uma vez por semana. Isso
foi um divisor de águas no trabalho de
pastoral do Santo Inácio, pois a adesão
dos pais deu muito mais força ao traba-
lho com os alunos. Inclusive, entre esses
pais, havia um coronel do exército e esse
coronel, que tinha uma cabeça muito
boa, começou a se entusiasmar. Ele di-
zia aos pais mais próximos dele: ‘Esse
padre, afinal, não é tão perigoso quanto
estão dizendo!’ Então um dia ele me dis-
se: ‘Padre, venha comigo!’ Então fomos
juntos ao Campo dos Afonsos, onde es-
tava sediado o CINEMAR (Centro de In-
formações da Marinha). Chegando lá, ele
apresentou as patentes dele, era superior
aos outros, foi lá no arquivo e tirou todas
as fichas em que havia alusões a mim e
me mostrou. Olhei espantado para toda
aquela informação coletada a meu res-
peito. Isso abriu um canal de confiança
entre nós. Naquele momento histórico,
isso foi muito importante, pois havia mui-
ta incompreensão e falta de diálogo entre
as diferentes formas de pensamento, o
que, naquele cenário, estava se tornando
perigoso para muita gente.”
história e trabalhoComo reitor de colégio, a primeira expe-
riência do padre Guy foi no Colégio An-
tônio Vieira de Salvador, onde ele atuou
de 1980 a 1988. Suas memórias desse
tempo são muito felizes, repletas de his-
tórias sobre a bondade e a fé do povo
baiano. Sem nenhum preconceito, com a
mente aberta que sempre o caracterizou,
ele disse:
“Havia um jesuíta que trabalhava comigo
no Colégio, creio que ele ainda está lá,
cuja mãe era uma Mãe de Santo de um
terreiro próximo. O filho era muito devo-
to, um jesuíta fervoroso, mas a sua mãe
nos convidava a ir às festas umbandistas
no terreiro dela e lá íamos nós! Havia um
HISTÓRIA
“As diferenças entre
as religiões muitas
vezes são muito mais
de caráter cultural
do que religioso.”
42 | Revista Pilotis
profícuo diálogo inter-religioso naquela
cidade e, como se sabe, isso é cada vez
mais raro... As diferenças entre as religi-
ões muitas vezes são muito mais de cará-
ter cultural do que religioso propriamen-
te. Claro que se nascesse na Índia seria
hindu e não católico, mas provavelmente
teria os mesmos valores...”
no são luísDepois desse colégio, o padre atuou
como reitor em sete dos catorze colé-
gios jesuítas no Brasil, contando inclusi-
ve com sua inesquecível passagem pelo
CSL (1999-2005). Foram anos de intenso
aprendizado para ele e de grande benefí-
cio para os colégios por onde ele passou.
Ao mesmo tempo em que dirigia esses
colégios, ele ainda encontrou tempo para
ser presidente de uma entidade nacional,
a AEC (Associação de Educação Católica),
o que lhe deu uma ampla visão da educa-
ção praticada no País por todas as escolas
católicas e não apenas pelas jesuítas. As
histórias da sua atuação nessas institui-
ções são fonte inspiradora. Em cada uma
delas, revela-se o homem paciente, mas
decidido; aberto a sugestões, mas muito
convicto de seus princípios. Seu grande
pragmatismo combinado com uma len-
dária parcimônia fez com que ele ficasse
conhecido como um reitor cuja especiali-
dade era recuperar colégios em dificulda-
des. Ele mesmo, com um sorriso irônico,
admitia essa característica, afirmando:
“Acho que sou isso mesmo, mas não te-
nho grandes méritos em ser assim. Isso
tem tudo a ver com a minha própria for-
mação. Meu pai me mandava lustrar os
sapatos da casa e, se faltava um único
centavo no troco do que foi pago pelo
serviço, ele me chamava à sua presença
de noite: ‘Onde está o troco?’ e tinha que
dar conta de tudo. Exatidão, coerência e
honestidade. Esses valores se adquirem
no início da vida, quando se vive numa
família que acredita neles e os cultiva.”
Posso afirmar que as quase duas horas
que durou a entrevista passaram tão rapi-
damente que eu nem me dei conta. Cada
uma de suas histórias me transportava a
um tempo diferente, a um conjunto de
problemas, desafios, e a um conjunto de
soluções nascidas do discernimento ina-
ciano de um experimentado educador.
Amarrando todas elas, destacava-se se a
personalidade daquele que as viveu com
coerência e no serviço aos demais.
A notícia de seu falecimento chegou até
mim apenas no dia 2 de agosto, embora
tenha acontecido no dia 23 de julho. No
dia de sua morte, fazia exatos 55 dias que
eu tinha mergulhado na história daquela
vida tão rica e cheia de lições. Desde en-
tão, vinha trabalhando no seu depoimen-
to e dando-lhe a forma definitiva com a
qual figurará no produto final de nosso
trabalho. Ansiava pelo momento em que
ele pudesse ler seu depoimento e pudés-
semos discutir os seus detalhes. Esse dia
jamais chegará...
Por mais tristeza que possa ter causado
a todos nós o falecimento do padre Guy,
ela não se compara à alegria de termos
sido todos testemunhas da vida plena de
realizações que ele compartilhou conos-
co. Nas palavras de seu depoimento ele
está mais vivo do que nunca e como sem-
pre foi em vida, sua experiência continu-
ará sendo uma eterna inspiração àqueles
que virão.
HISTÓRIa
“exatidão, coerência e honestidade. esses valores
se adquirem no início da vida, quando se vive
numa família que acredita neles e os cultiva.”
Revista Pilotis | 43
faça você mesmo
Para visualizar todas as fotos do passo a passo, acesse
o álbum “Marcador de página de Coruja” no nosso
Flickr: www.flickr.com/photos/saoluis/sets
PaSSO a PaSSO DeTaLHaDO nO FLICKR
Quer aprender a fazer um marcador de página diferente e muito fofo? Acompanhe
o nosso passo a passo e deixe os seus momentos de leitura muito mais divertidos e
bonitos. É fácil de fazer e com certeza será uma ótima atividade familiar!
1Recorte os moldes do corpo, das asas,
dos olhos, do bico e das patas da coruja.
Com um lápis, risque os pedaços colori-
dos de EVA, contornando os moldes.
2Em seguida, recorte os desenhos. Não se
esqueça de desenhar e recortar as asas e
as patas duas vezes, para formar os pa-
res; e o corpo azul também, para cobrir
os dois lados do CD.
3Com a cola colorida branca, desenhe bo-
linhas nas asas e na parte de cima da ca-
beça. Com a cola verde, faça o mesmo na
barriga e com a preta desenhe os olhos.
Espere secar.
uma
pra lá de útil!Coruja
44 | Revista Pilotis
faça você mesmo
4No CD, cole as duas pontas do elástico,
uma em cada extremidade oposta. O
elástico de 35 cm é usado para marcar
livros e cadernos médios, mas, caso a in-
tenção seja usar o marcador em um livro
maior, o seu comprimento deve aumen-
tar também.
5Utilizando a cola instantânea, cole um
dos círculos azuis do corpo da corujinha
no CD, cobrindo as pontas do elástico.
No verso do CD, cole o segundo círculo.
6Cole a parte de cima da cabeça próxima
a uma das pontas do elástico, para que o
centro do corpo da coruja fique alinhado
com o livro que você irá marcar. Em se-
guida, cole as asas, a barriga, as patas, os
olhos e o bico da corujinha.
Você Vai precisar de:- 1 CD velho;
- EVA azul, verde, vermelho e branco;
- 1 tesoura sem ponta;
- 1 lápis grafite
- 35 cm de elástico chato;
- 1 embalagem de cola instantânea;
- cola colorida branca, verde e preta;
- folha de moldes (disponível no Flickr).
Revista Pilotis | 45
CULTURa
a ondaO professor Rainer Wenger é escolhido para lecio-
nar autocracia em uma escola na Alemanha. Logo
na primeira aula, decide, para exemplificar melhor
aos alunos o conceito de governo totalitário, criar
um modelo do governo fascista dentro da sala de
aula. O movimento recebe o nome de “A Onda”,
e ganha uniforme e saudação própria. À medida
que vai crescendo, Rainer passa a perder o contro-
le daquilo que iniciou. Os alunos se tornam mais
disciplinados, porém, também violentos. Baseado
em um caso real, que aconteceu em 1967, na Ca-
lifórnia, o longa demonstra que a linha entre a
ideologia e a dominação é bastante tênue.
Título original: Die Welle
Gênero: Drama
Classificação: 16 anos
a trocaVocê trocaria um baú cheio de ouro por um copo
de água e um alfinete? Não, né? Mas o Joaquim
trocou! Afinal, quando se está em um deserto
morrendo de sede, um pouco d’água vale muito
mais que um grande tesouro.
É assim que começa o livro A Troca, que conta a
história de uma coisa que é trocada pela outra, e
depois por outra. “Quanto vale um amor? Depen-
de de quanto dura? Ou depende de quem procu-
ra?”, pergunta a escritora. No final dessa brinca-
deira, após termos solucionado todas as dúvidas,
passamos a entender o verdadeiro valor das coisas
e a pensar mais sobre o que é importante.
Autor: Bia Hetzel
Ilustração: Jean-Claude R. Alphen
Editora: Manati
Como surgiu
o Chapéu de
Cozinheiro?
Durante a Idade
Média, na França, o
trabalho de cozinheiro
era visto com tanta
importância que eles
recebiam um título
militar, o de officiel
de bouche (oficial
da boca). Dentro da
hierarquia da cozinha,
os chapéus brancos
de alturas variáveis
foram adotados para
identificar o posto
exercido por cada um.
Enquanto o chef usava
sempre o mais alto de
todos, os auxiliares
mais simples vestiam
apenas um boné.
46 | Revista Pilotis
CULTURa
coM a Mão na Massa!Criança adora entrar na cozinha procurando guloseimas. Mas quem disse que
criança também não pode aprender a cozinhar? A escola de gastronomia
Minichefs oferece diferentes cursos para ensinar a molecada a preparar vários
pratos. O cardápio muda a cada semana e varia de cozinha mexicana ao menu
que tem a banana como ingrediente principal. A idade mínima para se tornar
um minichef é de 4 anos, e os pais podem assistir às aulas junto com os filhos.
A intenção da escola é propor uma revolução por meio da cozinha, envolven-
do as crianças em uma atmosfera de descoberta e experimentação. Tudo isso
sempre levando em conta a segurança dos pequenos, é claro.
MINICHEFS ESCOLA DE GASTRONOMIA
Horários de aula variados durante a semana e aos sábados pela manhã. O
calendário é divulgado no site: www.minichefs.com.br. Rua Fiandeiras, 828 -
Vila Olímpia. Os preços variam de R$ 90,00 a R$ 427,00 por curso.
uM novo olhar sobre a históriaDentro do Parque Ibirapuera, em um edifício projetado por Oscar Niemeyer,
funciona desde 2004 o Museu Afro Brasil. Ele possui um acervo de mais de
6 mil obras, entre elas, pinturas, esculturas, gravuras, fotografias e peças
etnológicas que ajudam a contar a história dos afrodescendentes no Brasil.
O grande objetivo do curador Emanoel Araújo é que o próprio olhar negro
reconstrua sua história. Assim, ele procura abordar temas como escravidão,
religião, arte, trabalho e até mesmo futebol, porém, sempre buscando fugir
do tradicional ponto de vista triste e estereotipado da trajetória dos negros no
Brasil. O museu possui um acervo permanente, um auditório e uma biblioteca,
e realiza exposições temporárias ao longo do ano.
MUSEU AFRO BRASIL (MAB)
De terça a domingo, das 10h às 17h. Parque do Ibirapuera: Av. Pedro Álvares
Cabral – Portão 10. Gratuito. Evento permanente.
Revista Pilotis | 47
Ivan Aragona certamente não é um antigo aluno comum. Com muita coragem e
garra, em 2008, com apenas 19 anos, conquistou uma vaga na universidade ame-
ricana Indiana Institute of Technology, transferindo-se, após um certo tempo, para
a Colorado State University. Porém, seus sonhos não pararam por aí: Ivan, que se gra-
duou em Engenharia de Produção, Química e minors em Matemática e Italiano, teve
um projeto aprovado e financiado por nada mais, nada menos do que a NASA. Em sua
pesquisa, estudava e propunha formas de como lidar com a questão do transporte de
combustível de outros planetas (como Marte) para a Terra. Hoje, Ivan trabalha junto
ao governo norte-americano, em uma empresa chamada Transportation Technology
Center Inc, que lida com formas de transporte ferroviário – e que tem como clientes,
por exemplo, o Metrô de São Paulo e a companhia Vale do Rio Doce.
Em entrevista à Revista Pilotis, Ivan conta-nos sobre a sua experiência de estudar no
exterior, sobre seu trabalho junto à NASA e sobre a escolha profissional.
anTIgO aLUnO
antigO alunO dO cOlégiO sãO luís fala
sOBre Os pOntOs negativOs e pOsitivOs
da OpçãO pOr uma universidade nO
exteriOr e cOnta sOBre a sua incrível
trajetória, que O levOu a traBalhar na nasa.
Por Pilar BaPtista
aO infinitO E aléM!
48 | Revista Pilotis
isso, desde que cheguei lá, comecei a tra-
balhar como tutor na faculdade e dava
aulas de reforço de Química em um co-
légio da cidade. Esses primeiros traba-
lhos me ajudaram muito a crescer como
pessoa, pois passei a dar valor ao meu
próprio dinheiro, algo que não acontecia
enquanto morei no Brasil, já que, como
eu morava com meus pais, não precisava
me preocupar em pagar as minhas con-
tas. Porém, ao estudar fora do meu país,
tive que enfrentar algumas dificuldades,
como o preconceito por ser estrangeiro
– no começo muitas pessoas davam risa-
da do meu sotaque –, o frio (o inverno
chegava a -30°C), as saudades da comida
brasileira, da família e de meus amigos.
RP - Como começou a sua trajetória
profissional na NASA?
IA - Meu trabalho com a NASA é uma
pesquisa que comecei no meu segundo
ano de faculdade. Tudo começou com
um projeto especial na faculdade e, como
a NASA tem grande interesse por proje-
tos do gênero, eu e meu grupo viajamos
em 2010 para o Alabama para fazer
nossa apresentação em uma conferência
com vários especialistas e astronautas.
Tratava-se de uma pesquisa relacionada
a combustíveis: é possível ir a Marte, po-
rém, carregar o combustível de volta ao
planeta Terra é praticamente impossível.
Nossa ideia era produzir o combustível
em Marte devido às altas concentrações
de gás carbônico. Fomos vencedores do
concurso de melhor projeto do ano e
recebemos uma bolsa para dar continui-
dade à proposta. Como passei a receber
essa ajuda de custo, acabei deixando o
tênis de lado e passei a me dedicar à vida
de pesquisador. Esse momento foi funda-
mental para me ajudar a me tornar quem
sou, além de possibilitar a abertura de
diversas portas em empresas americanas.
Hoje, estou em processo de cidadania
americana, já que, por conta de meus
trabalhos realizados, acabei me tornando
um candidato, com grande potencial, a
cidadão. Além disso, também estagiei na
NASA por três meses, durante o summer
break – as férias de verão – e pude apren-
der muito.
RP - Qual foi, na sua opinião, o maior
desafio de trabalhar em uma empre-
sa desse porte?
IA - Para mim, o momento mais desafia-
dor foi encarar pessoas altamente qua-
lificadas. Não acredito que eu seja alta-
mente inteligente, mas sou uma pessoa
batalhadora, estudei muito para estar ali
Revista Pilotis: Como se deu o proces-
so para que você pudesse estudar em
uma universidade no exterior?
Ivan Aragona: Eu joguei tênis a minha
vida toda, e conseguia conciliar os estu-
dos com os torneios federados e confe-
derados. Eu sempre tive o sonho de me
tornar um tenista profissional, mas infe-
lizmente é muito difícil, e não dependia
somente do meu esforço. Sempre falavam
que, mesmo que eu não conseguisse, eu
poderia estudar no exterior com uma ex-
celente bolsa de estudos. Uma frase que
me marcou, de um técnico espanhol, foi:
“O tênis tem muito a oferecer, não só
uma carreira no profissional”. Existem
empresas qualificadas que auxiliam essa
transição, ajudam a divulgar seu currícu-
lo no tênis e na tradução de documentos
escolares para poder ser aceito em uma
faculdade americana. Foi através desse
procedimento que consegui essa oportu-
nidade de estudar fora do Brasil.
RP - Como você descreveria a experi-
ência de estudar fora do Brasil?
IA - Foi um aprendizado incrível, que
ajudou muito a acelerar meu amadureci-
mento. Nos EUA, existe uma cultura que,
depois dos 16 anos, você deve trabalhar
para ajudar a pagar os seus estudos. Por
anTIgO aLUnO
“Nossa ideia era
produzir o combustível
em marte devido às
altas concentrações
de gás carbônico.”
Revista Pilotis | 49
e com certeza não foi fácil. Por exemplo,
desde o começo, quando fui apresentar
meu projeto, tive muito medo, principal-
mente na hora das perguntas, pois sabia
que estava perante pessoas altamente
qualificadas. Mesmo mais para frente,
em algumas reuniões, confesso que não
entendia absolutamente nada do que
meu chefe estava falando, mas concorda-
va com ele, fingindo saber. Porém, logo
após uma dessas reuniões, eu ia estudar
e procurar entender absolutamente tudo
que havia sido apresentado. Às vezes, de-
morava muito para conseguir entender,
mas, como disse, com muita luta a gente
consegue atingir nossos objetivos.
RP - O Colégio São Luís influenciou de
alguma forma essa sua trajetória? Se
sim, de que maneira?
IA - Se eu voltar a morar no Brasil, o Co-
légio São Luís certamente será o colégio
onde meus filhos irão estudar. Tive uma
base muito importante que, somada à
educação que recebi dos meus pais, foi
determinante para meu amadurecimento
e minhas conquistas. Eu tive professores
extremamente qualificados e respon-
sáveis – e faço questão de citar alguns,
como Denise Krein, Miguel Zein, Eliane
Person, o nosso querido (e já falecido)
professor Martinho – que não somente
foram professores, mas foram também
amigos. Pessoas que me ajudaram e me
aconselharam durante a minha traje-
tória. Não acredito que o professor seja
somente responsável por ensinar a sua
disciplina, acredito que eles sejam tam-
bém verdadeiros mentores para a vida.
Infelizmente, acredito que não tive ma-
turidade suficiente na época para saber
aproveitar tudo o que eles tinham para
me oferecer. Sempre fui um aluno brinca-
lhão, que gostava muito de fazer piadas,
e acho que isso pode ter me prejudicado
um pouco durante minha vida escolar.
RP - Quais lembranças e saudades
você tem do tempo em que estudava
no CSL?
IA - Tenho muita saudade dos meus ami-
gos, da época da escola, momento em
que tudo era muito tranquilo e que mi-
nha maior preocupação era somente es-
tudar. Também tenho saudade de vários
professores e funcionários do Colégio.
Foi, com certeza, minha segunda casa
por três anos. Sempre que venho ao Bra-
sil, visito o CSL para relembrar esses bons
momentos ao ver os professores ensinan-
do e os alunos brincando, levando a vida
que eu levava há quase nove anos.
RP - Você tem algum recado para pas-
sar aos alunos que estão em momen-
to de escolha profissional?
IA - Acredito que tive de me esforçar
muito mais durante esses anos do que
meus amigos que se prepararam melhor
durante o ensino médio e ingressaram
em faculdades brasileiras – batalhei mui-
to, talvez algo que não teria de fazer se
tivesse levado os anos do colegial mais
a sério. Quanto à escolha profissional,
acabei optando pelo curso de Engenha-
ria, baseando-me nas disciplinas de que
mais gostava na escola: Química, Física e
Matemática. A partir daí, fui eliminando
carreiras que jamais faria, para, depois,
quanto àquelas em que tinha interesse,
conversar com pessoas formadas na área,
para que eu começasse a me imaginar
trabalhando naquele determinado ramo.
Quanto à opção de “estudar fora”, acre-
dito que seja uma grande experiência –
e quando digo “fora”, não quero dizer
necessariamente no exterior. Meu irmão,
Marcio Pagano Aragona (formado no Co-
légio São Luís em 2010), por exemplo,
estuda na Universidade Federal de Pelotas
(no curso de Engenharia Hídrica) e, as-
sim como eu quando me mudei para os
Estados Unidos, está aprendendo a lidar
com o fato de cuidar da própria casa e de
sua vida financeira, além de, ao mesmo
tempo, estudar e acreditar que isso é im-
portante. Tais aprendizados são ricos para
o amadurecimento de cada um e, muitas
vezes, não são apreendidos em opções
dentro da própria cidade e universo. Acre-
dito que seja necessário expandir nossos
horizontes quanto ao leque de opções de
universidades, de forma a não nos ater-
mos à USP como única alternativa de ex-
celência, como acontecia antigamente.
“sempre que venho ao Brasil, visito o CsL para
relembrar esses bons momentos ao ver os
professores ensinando e os alunos brincando.”
anTIgO aLUnO
50 | Revista Pilotis
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