revista o campeão, nº 161

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1 JANEIRO DE 2015 BRASIL #161 JANEIRO DE 2015 ANO 15 www.revistaocampeao.com.br NESTA EDIÇÃO: Estamos sem educação? O PISA é uma avaliação realizada a cada três anos pela OCDE. Participam estudantes com 15 anos de idade. A avaliação pretende aferir o quanto os alunos aprenderam em sala de aula e também fornecer subsídio para políticas de educação. A Coreia fez o dever de casa enquanto que entre 65 nações participantes, estamos na lanterna! DIVULGAÇÃO EDITORIAL: Cabo de guerra ...................................................... P. 04 n Creches fechadas nas férias .................................................. P. 05 n Que país é esse? ......................................................................... P. 06 n Lição de casa, melhor desempenho ................................. P. 08 n Artimanha para inflar presença no ENEM ...................... P. 10 n A escolha das escolas de seus filhos................................. P. 16 n Os métodos da Coreia do Sul e da Finlândia ................ P. 18 n Dia a dia em uma escola dos EUA ..................................... P. 03 n Reserva de vagas ........................................................................ P. 22 n Nossa escola é desonesta ...................................................... P. 24

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Publicação mensal destinada à família em geral. Tema principal: "Estamos sem educação?"

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Page 1: Revista O Campeão, Nº 161

1 JANEIRO DE 2015

BRASIL

#161 • JANEIRO DE 2015ANO 15 www.revistaocampeao.com.br

NESTA EDIÇÃO:

Estamos sem educação?

O PISA é uma avaliação realizada a cada três anos pela OCDE. Participam estudantes com 15 anos de idade. A avaliação pretende aferir

o quanto os alunos aprenderam em sala de aula e também fornecer subsídio para políticas de educação. A Coreia fez o dever de casa enquanto que entre 65 nações participantes, estamos na lanterna!

D I V U L G A Ç Ã O

EDITORIAL: Cabo de guerra ......................................................P. 04n Creches fechadas nas férias ..................................................P. 05n Que país é esse? .........................................................................P. 06n Lição de casa, melhor desempenho .................................P. 08n Artimanha para inflar presença no ENEM ......................P. 10

n A escolha das escolas de seus filhos .................................P. 16n Os métodos da Coreia do Sul e da Finlândia ................P. 18n Dia a dia em uma escola dos EUA .....................................P. 03n Reserva de vagas ........................................................................P. 22n Nossa escola é desonesta ......................................................P. 24

Page 2: Revista O Campeão, Nº 161

ZD REPRESENTAÇÕES S/C LTDA Rua São Luiz, 390 - Jd. São Jorge - Nova Odessa/SP - CEP 13460-000

EDITOREurípedes de Freitas

TIRAGEM10.000 exemplares

DISTRIBUIÇÃO GRATUITAEm Nova Odessa:

bancos, condomínios fechados e prédios;

Em Sumaré: semáforos.

NOSSAS EDIÇÕES NA INTERNETwww.revistaocampeao.com.br

IMPRESSÃOGráfica São Francisco

FALE CONOSCO

3466-432898101-9044

[email protected]

TELEFONES ÚTEIS, ESPECIAIS E ESSENCIAIS

O MELHOR DO COMÉRCIO E DOS PRESTADORES DE SERVIÇOS ESTÁ AQUI!

ÍNDICE

NOVA ODESSA

Biblioteca Municipal .................. 3466-2196CODEN........................................ 3476-8500Conselho Tutelar .........................3466-5901Fórum ............................................3466-5997Hospital ........................................ 3476-8194Revista O Campeão ................... 3466-4328Polícia Civil .................................. 3466-1399Polícia Militar ............................... 3466-1320Segam .......................................... 3466-1900Táxi Central.................................. 3466-7042

ECT - Correioss .................... 0800-725-7282

SUMARÉBiblioteca Pública de Sumaré .. 3828-8342Prefeitura Municipal ....................3399.5100 Câmara de Vereadores ...............3873.1891Fórum ............................................3873.2811Delegacia da Mulher ..................3873.3493 Ciretran .........................................3883.7100Guarda Municipal ....................... 3873-2656Conselho Tutelar ...3828-7893 / 3873-2122Procon ...........................................3873.1071Hospital Dr. Leandro Franceschini ... 3828.4700DAE ..................................... 0800-015-10-25

ALIMENTAÇÃO

Lanches, pizzas ............................ 11/14Rodízio de Pizza ................................. 21Marmitex ............................................06Panificadora .......................................06Cerveja, Tábua de frios, quenga ...... 20Salgadinhos para festas .................... 21

ARTIGOS ESPORTIVOS .................. 06

AUTOS / PEÇAS / SERVIÇOS

Auto center, lava rápido, freios ........ 22Auto peças, auto elétrica ...................22Borracheiro, Posto de gasolina, Vidros, Radiadores ............................ 22

ASSISTÊNCIA TÉCNICA

Eletrodomésticos ..........................16/17

BELEZA

Cabelo, Noivas ..................................10Cosméticos ....................................... 07

CONSTRUÇÃO

Impermeabilização ............................19Madeiras ............................................19Marcenaria, planejados ............... 03/11Pisos e azulejos ..................................19Calhas ................................................19

DECORAÇÃO

Cortinas, Estofados ..................... 16/17

ESCOLAS

Teatro Musical, Ballet clássico,

Sapateado, Fotografia .......................04Auto-Escola ........................................23Ginástica para o cérebro ...................13FESTAS/SERVIÇOSArtigos para festas .............................14Salões para eventos ...........................14Aluguel de trajes ...............................10IMOBILIÁRIAS ................................. 15

MODAFeminina, Masculina, Infantil ....... 06/13Plus Size, cama, mesa, banho .......... 12Moda com atendimento VIP ............ 24

ESPORTEMaterial esportivo ..............................06

PAPELARIAXerox, Produtos p/ informática ..........06

SERVIÇOSGinástica para o cérebro ...................13Empréstimos ......................................19Seguros .............................................. 17Filtros para água ................................18Locação de roupas: noivas, noivos ... 16Táxi ..................................................... 17Sapataria consertos ...........................19

SAÚDEAcademia ...........................................06Farmácias ...........................................08Odontologia ................................ 05/08Veterinária, Pet ............................. 12/16

100 DIREITOS HUMANOSDenúncias de violação de direitos das crianças e adolescentes, idosos, LGBT e moradores de rua;

102 LISTAPara obter número de telefone a partir do nome ou endereço e mudanças de telefones fixos;

0800-0101010 CPFLPara informações sobre falta de energia ou reclações do boleto de cobrança

146 RECEITA FEDERALPara informações sobre restituição do imposto de renda, CPF e agendadmento de serviços;

1331 ANATELPara denúncia de abuso das operadoras de telefonia

135 PREVIDÊNCIA SOCIALPara agendar atendimento sobre a aposentadoria ou requerer serviços como auxílio-doença

158 MIN. DO TRABALHOPara informações sobre legislação trabalhista, seguro-desemprego, abono salarial e programas sociais;

167 ANEELAgência Nacional de Energia Elétrica Para denúncia de abuso das operadoras de energia elétrica;

193 BOMBEIROS

194 POLÍCIA FEDERALPara obter documentação de estrangeiros, fazer denúncia de tráfico de drogas e de mercadorias ilícitas

181

191

3476-8193 OU 192

190

193DISQUE DENÚNCIA

POLÍCIA ROD. FEDERAL

CENTRAL DE AMBULÂNCIAS OU SAMU

POLÍCIA MILITAR

BOMBEIROS

u DAVITA ( 3466-3199 Das 08 às 20h00 - Domingos e feriados 08 h00 às 13h00

u DIA% ( 0800 775 1080 - Sumaré e Nova Odessa08 às 20h00 - Domingos e feriados 08h00 às 14h00u GUELERE (Picerno) ( 3828-2997 7h30 às 21h00 - Domingos e feriados 08 h00 às 13h00

u PAGUE MENOS ( 3466-810008 às 22h00 - Sábado 08 às 21h00 - Domingos e feriados 08 h00 às 20h00

u PARANÁ ( 3883-5978 ( 3476-3770

08 às 21h00 - Domingos e feriados 08h00 às 08h00u POUPAR: ( 3476-591108 às 21h00 - Domingos e feriados 08h00 às 18h00u SANTANA (Picerno) ( 3873-600608 às 20h00 - Domingos e feriados 08 h00 às 13h00u SÃO VICENTE ( 3466-895008 às 22h00 - Domingos e feriados 08 h00 às 20h00u VAREJÃO SHOPPING FRUTAS ( 3476-310308 às 19h30 - Domingos e feriados 08h00 às 12h30

Supermercados - horários de funcionamento

Page 3: Revista O Campeão, Nº 161

JANEIRO DE 2015 03

PONTO DE VISTA

A escolha da escola de seus filhos é uma das mais difíceis a ser feita por uma mãe e por um pai de fa-mília. Primeiro porque a maioria dos pais não sabe exatamente o que está escolhendo, nem sabe o que está fazendo. Basicamente, vocês estão terceirizando uma im-portante função materna e paterna.

Antigamente quem educava os filhos eram os próprios pais. Era dos pais que os filhos recebiam os ensinamentos, os valores, a ética e a moral, e a profissão a seguir, seja marceneiro ou ferreiro.

Antes de 1620, a educação era basicamente um livro lido em voz alta na cozinha pelo único mem-bro da família que sabia ler. A Bí-blia. Hoje, há famílias que sequer livros possuem nas suas casas.

A maioria das pessoas acha, corretamente, que as melhores escolas são aquelas que têm os melhores professores. Deveriam ser, mas curiosamente a maioria dos pais não escolhe usando esse critério. Tanto é que nem conver-sam com os futuros professores, às vezes nem sabem quem serão.

Pais normalmente avaliam o prédio, as instalações, o tamanho da biblioteca, o tamanho do play-ground e do jardim, o menor preço de mensalidade, mas não sentam pelo menos uma hora para assis-tir a uma aula dos professores.

Poucas escolas sequer anun-ciam os currículos dos seus pro-fessores, as notas que eles tiraram no vestibular, o QI de cada um, e se eles estão no primeiro ou no terceiro casamento, para quem se preocupa com o “investimento paternal” dos que serão os guias

STEPHEN KANITZ,Consultor de empresas e conferencista, mestre em Administração de Empresas pela Harvard Business School e bacharel em Contabilidade pela Universidade de São Paulo. Em 1975 criou a edição anual Melhores e Maiores da revista Exame, determinando as empresas com melhor desempenho global de cada ano.

terá colegas cujos pais colocam suas famílias em primeiro lugar.

Se você encontrar motoristas particulares e seguranças, você já sabe que seu filho terá colegas cujos pais são do tipo G, são os endinheirados que não têm tempo nem para buscar os filhos no co-légio. Nesse caso, você terá mais preocupações com drogas, valores, ética, e terá de explicar para os seus filhos o que significa a ex-pressão “famílias alternativas” nas quais um filho fica com a mãe num dia, e no outro fica com o pai.

Se você quer os seus filhos compartilhando os seus valores, coloque seu filho numa escola cujos pais compartilham os seus valores.

A escolha das escolas de seus filhos

‘‘A maioria das pessoas acha, corretamente, que as melhores escolas são aquelas que têm os melhores professores”

de seus filhos. Muitos acham que as escolas com os melhores alunos, com as melhores notas no ENEM, terão os melhores professores, por definição. Ledo engano. Notas no ENEM podem ser um resultado es-tatístico enganoso. Isto porque as melhores escolas muitas vezes são aquelas que selecionam os melho-res alunos. Se os melhores alunos são os que entram na escola, os que saem da mesma escola também serão os melhores, independente-mente do que tenha sido ensinado.

Essa estratégia, usada pelas melhores escolas, até tem um no-me, chama-se o “arco do triunfo”: selecione os melhores alunos da cidade, coloque-os em fila, man-de-os passar debaixo de um arco, e, voilà, os que passam serão os melhores da cidade. Basta ter um playground, biblioteca fantástica e instalações boas que o número de pais interessados será maior do que o de vagas, permitindo um processo de seleção. O processo de seleção permite aceitar os alunos mais inteligentes, e excluir os que têm QI menos, justamente os que mais precisam da escola.

Nas universidades públicas nem instalações boas são necessá-rias, é só dar aula de graça para

ter mais candidatos do que vagas. E aí, o ensino público acaba só ensinando os mais inteligentes, para os quais o ensino nem fa-rá diferença - nem positiva nem negativamente. É isso o que a maioria dos professores quer, não correr risco de má avaliação.

O ensino público deveria ser organizado por bairros, sem vesti-bular, para os menos inteligentes que precisam muito mais de pro-fessores do que os primeiros colo-cados no vestibular. Se o seu filho não entrar na melhor escola, não se preocupe, isso não significa que ele não terá os melhores professores.

Os reis da Inglaterra não iam para as melhores escolas, eles ti-nham tutores. Em vez de terceirizar a educação de seus filhos, seja o tutor do seu próprio filho. Compre 480 livros que é o que ele conseguirá ler, caso se dedique a ler dois livros por mês por vinte anos. Entre no-vos, usados e baixados da internet, isso não vai custar mais que R$ R$ 8.000,00. Ao longo de 20 anos, serão R$ 400,00 por ano. Dá para encarar. Mesmo assim são poucas as famílias que compram 480 li-vros para os seus filhos, além dos obrigatórios para fins escolares.

Em vez de se locomover para a melhor escola do outro lado da cidade, ele agora poderá ir para a escola do bairro, terá tempo para ler aqueles livros, e terá um cérebro não impregnado de CO2 e fuli-gem - e dez pontos de QI a menos.

A escola de bairro é fácil de escolher. Fique uma tarde na hora da saída e converse com quem está buscando a criançada. Se forem pais como você, seu filho

Page 4: Revista O Campeão, Nº 161

04 JANEIRO DE 2015

EDITORIAL

Cabo de guerra

C abo de guerra é uma ati-vidade esportiva onde duas equipes disputam

entre si um teste de força entre si. A regra determina que cada equipe deve ser composta de oito integrantes. Os competi-dores ficam dispostos em linha reta, seguidos ao longo da cor-da. Entre os dois grupos existe uma linha central. A corda é marcada em seu ponto central e em dois outros pontos distantes quatro metros de seu centro.

A disputa é iniciada com os dois times tendo a marca central da corda coincidindo com a linha central do chão.

O objetivo do jogo é puxar o grupo oponente, fazendo com

que ele cruze a linha central com sua marca de quatro metros da corda. Outra forma de vencer a disputa é conseguir fazer o oponente cometer uma falta.

Tomando-se como analogia o jogo acima, poderíamos sem nenhum exagero figurar nossa sociedade em um dos lados da corda, e do outro, a classe polí-tica, que embora muito menor, conseguiu ao longo da histó-ria não permitir que a maioria dos brasileiros tivesse acesso à educação e assim, manteve tudo como sempre esteve.

Nas páginas seguintes, O Campeão tem a satisfação de poder refletir abalizados pontos de vistas a respeito.

PALESTRA

EVASÃO ESCOLARPÚBLICO ALVO:

Pais que não conseguem levar seus filhos à escola

Dia 30/01 (sexta-feira), às 14h30

PALESTRANTES:DRA. MICHELLI VIEIRA

DO LAGO RUESTA CHANGMAN Juíza de Direito da Vara da Infância

e Juventude de Nova Odessa

DR. ANDRÉ MARROIG Médico Psicanalista Especialista em Medicina

Familiar e Comunitária pela Unicamp e Coordenador do Projeto: Limite, Sem Limites

ENTRADA GRATUITA E VAGAS LIMITADAS!

Inscrições até o dia 26/01/2015, pelo e-mail: [email protected]

Somente será fornecido atestado de comparecimento às famílias oficialmente convocadas pela

Vara da Infância e Juventude ou pelo Conselho Tutelar

LOCAL: AUDITÓRIO DO IZ – INSTITUTO DE ZOOTECNIA Rua Heitor Penteado, 56 - Centro - Nova Odessa

“Sr. Editor:Escrevo para agradecer a opor-tunidade da entrevista e dizer que ficou muito bonita a edição. Certamente estaremos em conta-to para novas publicações interes-santes à nossa comunidade. ...Para complementar o agradec-imento, não poderia deixar de consignar que vocês respeitaram o que foi colocado por mim na en-trevista, e isso é... Michelli Ruesta Changman, Juíza

de Direito da 2ª Vara de Nova Odessa” – dezembro/2014

****“Prezado Sr. Editor:Nossa presidente acusou o rece-bimento de O Campeão no Portal dos Nobres, onde reside. A mes-ma solicitou-nos contatar vosso veículo para eventual parceria...Juan Piva, assessor de imprensa, IEMA - Instituto de Educação e Meio Ambiente, Nova Odessa” – dezembro/2014

15 anos! Uma caminhada...

Page 5: Revista O Campeão, Nº 161

JANEIRO DE 2015 05

EDUCAÇÃO

Fechamento de creches nas fériasMEC autoriza fechamento de creches e pré-escolas durante as férias

O Ministério da Educação (MEC) autorizou o fe-chamento de creches e

pré-escolas durante o período de férias. O órgão homologou um parecer do Conselho Nacional de Educação (CNE), que defende a necessidade de recesso escolar para que instituições de edu-cação infantil possam realizar serviços de manutenção em seus prédios, além de avaliar práticas pedagógicas e repla-nejar o currículo de professores.

O posicionamento do CNE foi concedido em 2011, atendendo a uma consulta feita pela Secre-tária Municipal de Educação de São Paulo. À época, a secreta-ria justificou que o fechamento das unidades durante as férias

deveria ocorrer para eventuais reformas e trabalhos de dedeti-zação e desratização, que não poderiam ser realizados no perío-do de funcionamento regular em razão do risco de contaminação que oferecem aos alunos.

O parecer aprovado pelo MEC justifica que as creches e pré

-escolas são estabelecimentos educacionais e não têm funções meramente assistencialistas. “As necessidades de atendimento a crianças em dias ou horários que não coincidam com o perío-do de atividades educacionais (...) deverão ser equacionadas segundo os critérios próprios da assistência social”, diz. Em outro trecho, o texto afirma é adequado a creches e pré-es-colas adotar “uma estrutura curricular que se fundamente no planejamento de atividades durante um período, sendo nor-mal e plenamente aceitável a existência de intervalo”. O pare-

cer do CNE foi uma resposta ao questionamento da Secretaria de Educação da cidade de São Paulo. Mas, ao ser aprovado pelo MEC, pode ser utilizado como diretriz em todo o país.

DEPÓSITO DE CRIANÇAS. O Campeão observa que os no-vos tempos da economia levou as mães, cuidadoras naturais dos

filhos, a buscarem no mercado de trabalho ajuda para aumento da renda familiar - mas onde deixar as crianças nas férias escolares?

O MEC, foi apressado. Tal qual o secretário de transportes que precisa andar de ônibus para en-tender o transporte coletivo, esse órgão deveria ter discutido com a sociedade essa nova situação. FONTE: REVISTA VEJA

D I V U L G A Ç Ã O

Page 6: Revista O Campeão, Nº 161

06 JANEIRO DE 2015

EDUCAÇÃO

Que país é esse?Que país é esse em que a professora tem de cobrar as fotocópias usadas nas aulas, ou apelar por fazer vaquinha para custear uma viagem de estudos ao museu de ciências?

E nquanto informam que na Coreia o professor é valori-zado ao ponto de ser o me-

lhor partido para casamento, e a escola o valoriza ainda mais ofere-cendo todo recurso para extrair o melhor de seus alunos, no Brasil o professor ganha troféu por driblar as dificuldades de sua escola pro-curando a motivar seus alunos...

Uma discussão sobre o valor arrecadado pela professora pa-ra custear fotocópias usadas nas aulas de matemática deu origem a uma proposta pedagógica pre-miada – o ideal não seria dispensar prêmio a essa professora e dar a todo mestre escolar o mínimo de estrutura em sua sala de aula?

O projeto Aprendendo a Pou-par, desenvolvido com alunos do oitavo ano do ensino fundamen-tal da Escola Estadual de Edu-cação Básica Professor Mathias Schütz, em Ivoti, região metro-politana de Porto Alegre, foi um

dos vencedores do 8.º Prêmio Professores do Brasil, promovi-do pelo Ministério da Educação.

De acordo com a professora de matemática Denise Brandão Kern, autora do projeto, alguns alunos consideravam alto o va-lor a ser pago pelas cópias. Ela propôs aos estudantes que ano-tassem todos os gastos. “Assim, poderiam identificar se aquele valor era justo”, esclarece. De acordo com Denise, o envolvimen-to dos pais e de outras pessoas da comunidade no processo de discussão e de reflexão sobre o tema enriqueceu a aprendizagem.

De março a outubro de 2013, os alunos atendidos pelo projeto par-ticiparam de diversas atividades, tanto internas, em sala de aula, quanto externas, durante passeios. Em visita a um supermercado, os estudantes tiveram como tarefa anotar os produtos que custavam centavos e os preços daqueles

mais consumidos nos lanches. Durante visita a uma agência bancária, puderam conversar com o gerente a respeito do fun-cionamento do estabelecimento.

Outra atividade foi a abertu-ra de uma conta de poupança da turma, com previsão de depósitos mensais. O total arrecadado ao final do projeto permitiu cus-tear uma viagem de estudos ao Museu de Ciências e Tecnologia da Pontifícia Universidade Cató-lica (PUC) do Rio Grande do Sul, em Porto Alegre. “Com o dinheiro economizado, conseguimos pagar o ônibus e os ingressos. E ainda sobraram R$ 6,50 para cada um”, revela a professora. Em sala de aula, o conteúdo sobre números decimais foi trabalhado a partir dos valores pesquisados no super-mercado. “As discussões ajudaram os alunos, que aprenderam a se posicionar com respeito, a ouvir e a argumentar”, esclarece a pro-

fessora. “As aulas contribuíram na formação da cidadania.”

RECONHECIMENTO. Para Denise, receber o Prêmio Professores do Brasil representa reconhecimento.

“O trabalho de um professor, em nosso país, ainda é pouco valo-rizado, e a visibilidade que um prêmio como esse nos dá ajuda a acreditar que vale a pena ser professor”, enfatiza. “Estar entre os selecionados é uma forma de representar a classe dos professo-res que lutam dia a dia para fazer a diferença na educação no Brasil.”

Essa professora fez a sua parte em se preparar, pois Denise tem li-cenciatura plena em ciências e em matemática e mestrado em ensino de ciências exatas. Há 25 anos no magistério, ela diz esperar que sua influência seja sempre positiva na vida dos alunos e os ajude a fazer boas escolhas. FÁTIMA SCHENINI

PORTALDOPROFESSOR.MEC.GOV.BR

D I V U L G A Ç Ã O

Page 7: Revista O Campeão, Nº 161

JANEIRO DE 2015 07

EDUCAÇÃO

Dia a dia em uma escola dos EUADIA LONGO. Nas escolas norte-americanas, os alunos estudam em período integral

- das 8 às 16 horas - e não existe horário noturno. Cada aula dura aproximadamente uma hora e há seis ou sete disciplinas por dia. No total, são cerca de oito horas de ralação.

INDEPENDENTES. Na época do Ensino Médio, que por lá se chama high school (do 9º ao 12º ano), a maioria dos estudantes já têm carteira de habilitação e vai para a aula dirigindo o próprio carro - nos EUA, a carta de motorista pode ser tirada aos 16. Os alunos também têm liberdade de sair para dar uma voltinha nos intervalos.

ESTUDANTES NÔMADES. Na high school, os professores é que recebem os alunos na sala de aula. A galera não tem

carteira fixa e precisa carregar o material de uma classe para outra. É por causa do vaivém de gente e de material que existem os armários com cadeados no corredor, onde é possível guardar os pertences.

HORA DO RANGO. O intervalo serve para os alunos almoçarem. Ele acontece entre 12 e 14 horas. Nos bandejões, os alunos formam fila e pagam, em média, US$ 2 pelo almoço. Os estudantes que não têm condições de pagar recebem um auxílio da escola.

QUER MAIS? Além das aulas optativas, os alunos podem participar de clubes de estudo após o fim das aulas. Neles, há cursos como liderança, redação e debate político. Todos eles podem dar créditos ao aluno, mas,

caso esteja pendurado em alguma disciplina, a escola pode recusar sua inscrição.

ANO LETIVO. O ano letivo dos norte-americanos começa em agosto ou setembro e termina em maio ou junho. As férias deles são em julho (para aproveitarem o verão), com alguns dias de descanso entre o Natal e o Ano Novo.

VOCÊ MANDA. Nos EUA, os alunos escolhem o que querem estudar. Há disciplinas obrigatórias, como matemática, inglês, ciências, história, economia e governo dos EUA. O resto são aulas optativas, como educação artística, música, esportes e teatro. Em certas escolas, é possível aprender cuidados com horta, marcenaria e culinária.

PUNIÇÃO. Há seis tipos de punição para os alunos baderneiros. Elas vão desde o simples comunicado no caderno, que precisa ser assinado pelos pais, até as detenções, em que o aluno precisa ficar por algumas horas ou mesmo um sábado inteiro na escola, estudando. E há também as suspensões e expulsões, iguais às do Brasil.

ESPORTES. Entre os esportes optativos, o futebol só pode ser praticado por meninas, enquanto o futebol americano é exclusivo para os meninos.

O BOLETIM. A partir do quinto ano, as notas nos EUA vão de A a F:A - De 90 a 100 pontosB - De 80 a 89 pontosC - De 70 a 79 pontosD - De 60 a 69 pontosF - Abaixo de 59 pontos

EDUCAÇÃO

FONTE: SITE DO DEPARTAMENTO DE EDUCAÇÃO DOS EUA

Page 8: Revista O Campeão, Nº 161

08 JANEIRO DE 2015

EDUCAÇÃO

Lição de casa dá melhor desempenhoPor que alunos que fazem lição de casa têm melhor desempenho escolar?

N ão é raro ver os estu-dantes reclamando e alegando falta de tempo.

Porém, pesquisas mostram que estudantes que costumam fazer as lições de casa têm melhor desempenho escolar, ou seja, ao dar lição para os estudantes o professor está possibilitando que o aluno fixe os conteúdos e construa conhecimento por si próprio. Com isso, não apenas as notas escolares melhorarão, mas ele aprenderá habilidades muito importantes como inde-pendência e responsabilidade.

Pesquisas relacionam o há-bito de fazer lição de casa e a melhora do rendimento escolar.

Uma pesquisa feita por Cláu-dio Ferraz e Maurício Fernandes, do Departamento de Economia da PUC-RJ, concluiu que quem faz lição de casa tem um melhor rendimento escolar. Os estudiosos chegaram a essa conclusão tendo

como base os dados do SARESP, o Sistema de Avaliação do Rendi-mento Escolar do Estado de São Paulo, entre os anos de 2007 e 2009.

Nesse sistema de avaliação, são aplicadas tanto provas como questionários, o que permite que os pesquisadores tenham acesso a uma ampla base de dados para uma análise completa. Os alunos que recebiam uma quantidade de lição de casa menor, ou que não faziam as lições indicadas pelos professores, tiveram um desempe-nho inferior na avaliação do que os que se dedicavam às atividades propostas após a aula. Os que faziam lição de casa tiveram uma média 14% maior em língua portu-guesa e 10% maior em matemática.

Esses resultados indicam que estimular o aluno a estudar fora da escola traz resultados muito positivos para o seu desempenho, e que a lição de casa é uma forma muito eficaz de estimular essa prática. É uma maneira de esti-mulá-los a refletir sobre o que foi visto em sala, ler e rever o conteú-do passado e pensar criticamente sobre ele. Embora o benefício te-nha sido comprovado, a pesquisa

mostrou também que passar lição de casa não é algo comum na rede pública paulista, pois penas 5% dos professores de língua por-tuguesa e 14% dos professores de matemática têm esse hábito.

OUTRAS VANTAGENS. A lição reforça o aprendizado ao fazer com que o aluno leia e formule dúvidas. Por isso é uma prática de estudo diário que fortalece o aprendizado. Além disso, fazer li-ção de casa aumenta a interação do estudante com os pais e, mes-mo que indiretamente, chama os responsáveis a se envolverem com o aprendizado da criança.

Com isso, os pais conseguem descobrir o que está acontecendo na escola, qual conteúdo está sendo discutido em sala de aula e se tornam mais presentes na educação escolar dos filhos.

A lição de casa também desper-ta para autonomia e responsabili-dade, melhora o pensamento cri-tico e chama o aluno para estudar fora da sala de aula. No entanto, é importante lembrar que, para ter efeitos positivos, é preciso dosar as tarefas, orientar aos alunos sobre como fazer as atividades e dar tempo suficiente para que eles possam completá-las. WP.WPENSAR.COM.BR

D I V U L G A Ç Ã O

Page 9: Revista O Campeão, Nº 161

JANEIRO DE 2015 09

PISA

O que é que a China tem?Com Xangai campeã em todas as categorias e mais três regiões no topo do PISA 2012, esta é a pergunta que não quer calar no mundo da Educação

C ursos de reforço são a norma para todo estudan-te; período de estudo é,

no mínimo, de 12 horas por dia.Tem Educação? Tem, sim, se-

nhor. Grande estrela do PISA 2012, a toda-poderosa asiática surpreendeu aparecendo em quatro lugares entre as seis primeiras posições desse ran-king internacional, considerado o maior balizador da área. Entre as 65 economias avaliadas, Xan-gai repetiu a proeza de 2009 e ficou em primeiríssimo, obtendo as maiores notas nas três cate-gorias - Matemática,Leitura e Ciências; Hong Kong ficou em 2º em Leitura e Ciências e em 3º em Matemática; Taipé, em 4º em Ma-temática, 7º em Leitura e 13º em Ciências; e Macau em 6º em Ma-temática e 16º nas outras duas disciplinas. No mesmo ranking geral, o Brasil ocupa o 58º lugar.

Essa lavada chinesa, porém, não foi muito bem digerida mun-do afora. Jornais britânicos, como Finantial Times e The Guardian, questionaram os resultados: será que Xangai e essas outras regiões refletem mesmo a Educação de toda a República Popular da China?

• 23,7 milhões de habitantes na província, 14 milhões na cidade (a maior do mundo).

• Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) em 2012: 0,908 (muito elevado);

• Contribui com 1/8 do PIB da China; • 764 escolas primárias e 754 escolas secundárias

para 1,4 milhão de estudantes; • 20% das escolas são particulares; • Bicampeã no PISA (2009 e 2012) em todas as categorias.

FONTE: EDUCARPARACRESCER.ABRIL.COM.BR

Xangai em números

Estamos falando de um país imenso em extensão (o 3º maior do mundo), com a maior popu-lação do planeta (1,35 bilhão de pessoas), uma vasta zona rural (onde vivem 656 milhões de habitantes) e uma agressiva eco-nomia capitalista (a 2ª mais bem posicionada, perdendo apenas para os Estados Unidos), estra-nhamente inserida no contexto de um Estado semicomunista.

A controvérsia começa na per-gunta básica: por que a China, diferentemente de todos os ou-tros países, aparece dividida em regiões? E por que só aparecem essas quatro no ranking - onde estão as outras 30 regiões? O portal Time World (world.time.com) não usou meias palavras:

“China trapaceia no ranking do sistema estudantil mundial”, noticiou no último dia 4 de de

D I V U L G A Ç Ã O

bro, completando logo abaixo: “Pequim deve fornecer dados nacionais aos avaliadores, em vez de resultados de pequenas minorias de estudantes de elite”.

Polêmicas à parte, o fato é que, mesmo que apenas os estados brasileiros de melhor desempenho (Espírito Santo e Distrito Federal) fossem avalia-dos, ainda assim ficaríamos bem longe do posicionamento chinês no ranking. Portanto, é possível que tenhamos muito a aprender com a China como um todo.

A OCDE (Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico), responsável pelo PI-SA (sigla para Programme for In-ternational Student Assessment, ou Programa de Avaliação Inter-nacional de Alunos), não poupa elogios à província de Xangai e à região autônoma de Hong Kong.

Em 1990, circulava em Xangai o slogan “cidade da primeira clas-se, Educação de primeira classe”.

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(SEM) EDUCAÇÃO

Artimanha para inflar presença no ENEMEscola campeã do ENEM ocupa, ao mesmo tempo, 1º e 569º lugar do ranking

A primeira colocada no ENEM não é uma escola, é uma artimanha jurídi-

ca que faz com que os alunos tenham suas notas computadas em duas listas diferentes.

A escola que se auto intitula a primeira colocada no Exame Na-cional do Ensino Médio (ENEM) ocupa, ao mesmo tempo, a 1ª e a 569ª posição no ranking que a imprensa faz com os resultados do ENEM. E faz 5 anos que a escola usa do mesmo expe-diente (fingir ser outra escola para ficar em primeiro lugar no ENEM) e ninguém toma nenhuma providência.

Como ela fez isto? Fácil. A escola, localizada na Avenida Paulista, em 2009 separou nu-ma sala diferente os alunos que acertavam mais questões em suas provas internas. Trouxe, inclusive, alguns alunos de suas franquias pela grande São Paulo. E “criou” uma outra escola (abriu outro CNPJ), mesmo estando no mesmo espaço físico. E de lá pra cá esta ‘outra escola’ todo ano é a primeira colocada no ENEM. A 569ª posição é a que melhor reflete as condições da escola. O 1º lugar é uma farsa.

A primeira colocada no ENEM NÃO é uma escola, é uma artimanha jurídica que faz com que os alunos tenham suas notas computadas em duas

listas diferentes. Uma minoria que acerta muitas questões vai para o CNPJ novo e fica em primeiro lugar no ENEM. Todos os demais – a maioria – fica no CNPJ antigo e tem resultados muito ruins no ENEM (em 2013 a 569ª colocação).

Todos estudam no mesmo pré-dio, com os mesmos professo-res, com o mesmo material, no mesmo horário, convivendo no mesmo pátio e no mesmo horário de intervalo. O resultado (1º ou 569º) não é diferente por qualquer motivo pedagógico. É diferente porque a escola selecionou quem ela queria que fizesse as provas para representar o novo CNPJ.

D I V U L G A Ç Ã O

O Campeão pergunta:Na caminhada do homem, por

que em todo quartel-general

(econômico/militar, etc.) os valores humanos

sempre são subvalorizados?

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JANEIRO DE 2015 11

D I V U L G A Ç Ã O

No Rio de Janeiro tivemos mais um desses absurdos. A terceira colocada nacional, que nunca tinha aparecido nem perto das primeiras nacionais e nem nas primeiras posições do Rio de Janeiro, este ano apareceu em terceiro lugar nacionalmente. Mas uma análise um pouquinho mais aprofundada mostra que a escola em 2013 dividiu-se em 13 unidades diferentes (eram menos em outros anos, vários bairros do Rio receberam uma segunda unidade) e a unidade que aparece em terceiro lugar nacional teve somente 15 alunos que fizeram a prova. E sabe qual a posição de todas as 13 unidades da escola ? Aí vai : 3ª, 13ª, 19ª, 387ª, 509ª, 610ª, 739ª, 2105ª, 1549ª, 1034ª, 1010ª,

No Rio a mesma instituição é a 3ª colocada e a 2015ª

958ª, 764ª. É isto mesmo. A escola conseguiu ser as mesmo tempo a 3ª melhor escola e a 2105ª do ENEM 2013, e isto passando por escola 1010, escola 1034, escola 1549. É obvio e ululante, estas escolas foram criadas somente para aparecer entre as primeiras colocadas no ENEM. Mandaram pra “lá” quem acerta mais ques-tões entre seus centenas, ou até milhares de alunos, e criaram uma ilusão de que possuem as melhores escolas do Brasil. Tem dúvida? Tente matricular seu filho em alguma destas duas escolas. Sim, você vai conseguir (se puder pagar quanto eles pe-dem), mas não na turma que eles tanto usam como propaganda.

O expediente é usado por cen-tenas de escolas em todo o Brasil. Não, isto não é exclusividade destas duas escolas. No Brasil todo temos centenas de escolas que trabalham com a regra na mão para tentar parecer que são a melhor e depois divulgar, em suas propagandas, que são a me-lhor escola do país, do estado, da

região, da cidade e, em cidades grandes, como várias capitais, até mesmo que é a melhor escola de um determinado bairro.

Uma curiosidade é que a ‘pri-meira’ colocada no ENEM não aprovaria, se consideramos que seus cerca de 40 selecionados alunos tivessem a nota média divulgada no ENEM, NENHUM aluno para o curso de Medicina nas Federais mais tradicionais do Sudeste. E, pior, a escola verdadeira, aquela que faz a captação dos alunos que mais gabaritam em simulados, não aprovaria ninguém (se consi-derarmos que todos tivessem a média divulgada para a escola) em nenhum curso muito ou media-mente concorrido. Eles ficariam com nota média um pouco menor que 624 pontos, o que significa um pouco mais de um desvio pa-drão em relação ao aluno médio nacional, o que é um desastre pedagógico se consideramos as condições socioeconômicas dos alunos e o valor de sua mensali-dade (superior a dois mil reais).

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(SEM) EDUCAÇÃO

‘Receita’ para ficar entre as primeiras no ENEMAntes de explicar a “receita” para alcançar os primeiros lu-gares nestas divulgações já digo, de antemão, que não adianta o MEC simplesmente falar que ele não faz e não divulga ranking, que quem faz isto é a impren-sa. Pode até ser que hoje seja assim, mas algumas vezes, em anos anteriores, o MEC tinha ferramentas, em seu site, que classificava as escolas por ordem de nota, igual ao que fazemos com uma tabela de Excel. O MEC trabalhou para incentivar os atuais ranqueamentos.

A receita é simples para uma escola estar entre as primeiras colocadas: Tenha uma mensa-lidade alta (famílias de maior capital econômico tendem a ter maior capital cultural), selecio-ne seus alunos com prova e/ou entrevistas (assim sua ‘escola’ já irá iniciar o ensino médio com os alunos que tendem a acertar mais questões do tipo ENEM/Vestibular), separe os alunos que acertam mais questões nos simu-lados e faça a matrícula destes num outro CNPJ, dê a esta ’nova escola’ um nome parecido ao da sua escola principal. Distribua bolsas para os alunos de outras escolas que acertam muitas ques-tões em seus simulados abertos, mesmo que a família destes alu-nos tenham plenas condições de pagar pelo curso (mas se o aluno não tiver condições econômicas de frequentar a sua escola você pode até ‘pagar’ para que ele

citei. Tem algumas que usam todos. Até as públicas melhores colocadas usam de um destes expedientes (elas selecionam os alunos com prova, que chamam de ‘vestibulinho’. Já começam o primeiro ano com quem, entre seus inscritos, acertam mais questões. Boa parte de seus alu-nos são provenientes de famílias de boas condições econômicas e/ou cultural).

O que é fundamental entender é, que do jeito que analisamos as notas do ENEM, que na média nacional são muito baixas para todas as escolas, tanto públicas como particulares (é bom expli-car que 600 não é 60%, e 700 não é 70%, a nota do ENEM é dada em uma escala de desvio padrão) só conseguimos descobrir onde estão os alunos de melhores con-dições sócio econômicas. Só isto.

Notas são todas muito baixas, inclusive das escolas particula-res melhores colocadas

Qualquer média, nas quatro provas objetivas, abaixo de 700

(700 é algo, para 2013, entre 80 e 90 acertos de um total de 180 questões) é muito baixa para escolas particulares. Uma no-ta abaixo de 600 (600 foi, para 2013, um pouco mais ou pouco menos de 60 acertos nas 180 questões) demonstra que os três anos de ensino médio serviram para quase nada na formação do aluno, seja em escola pública ou particular. A média 600, nas quatro provas objetivas já é um desastre total na formação do aluno. A média 500, que é a nota do aluno mediano (o aluno do meio na escala de notas), é um desastre ainda maior, e metade dos alunos que estavam no tercei-ro ano e fizeram o ENEM ficaram com nota menor que 500 (em uma distribuição de desvio padrão metade da distribuição da amos-tra fica acima de 500 e metade fica abaixo de 500). Lembro que, como a nota é dada em desvio padrão, de média 500 e desvio 100, o aluno nunca zera, mes-mo que erre todas as questões.

esteja entre seus matriculados). Por fim não admita, em nenhuma hipótese, que alunos de inclusão (com necessidades especiais) estejam na escola (no CNPJ) que você deseja que apareça bem no ENEM. Depois disto é só correr pra galera e contar para a sociedade a lorota de que sua escola é a melhor do país, do estado, da metrópole, da região, ou – para delírio de muitos – a melhor colocada do ENEM no bairro.

Todas as escolas nas primei-ras colocações no ENEM usam um ou mais dos expedientes que

D I V U L G A Ç Ã O

“Inchar nota no ENEM é um expediente usado por centenas de escolas em todo o Brasil.” O fator econÔmico fala alto.

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JANEIRO DE 2015 13

de saber isto é saber ‘onde ele estava’ quando entrou no ensino médio e ‘onde ele chegou’ quando saiu dele. Dessa forma todos nós saberemos se o método, o mate-rial, os professores, a estrutura e tudo mais ao redor do aluno, na escola, colaboraram para sua formação no ensino médio ou se essa formação foi tão somente fruto de seu amadurecimento, de sua estrutura familiar e de sua convivência em sociedade.

A nota, das escolas, tem que ser dada à diferença entre onde ela recebeu a turma e até onde ela caminhou com ela. E não tem jeito, a única forma de fazer isto é criar um exame no fim do nono

ano do ensino fundamental para que os alunos o façam e tenham seus resultados comparados com o que venham a ter no ENEM. E este exame precisa ter alguma coisa com poder de incentivo su-ficiente para atrair a maior parte dos alunos brasileiros a realizá-lo. E que se dediquem a estudar para ele. O ENEM tem algum tipo de incentivo a isto, com a possibilidade do aluno entrar em uma Universidade, mas ele não é absoluto. Milhões de pessoas que estão no ensino médio, mas não acreditam na perspectiva, de fato, de passar em uma Uni-versidade Pública não chegam nem a fazer a inscrição para o

MATEUS PRADO,Cursou Ciências Sociais e Gestão de Políticas Públicas na Universidade de São Paulo (USP). Fundou em 2000 a ONG Henfil Educação e Sustentabilidade, onde é presidente de honra, à frente de projetos como o Cursinho Comunitário Henfil e a revista Glocal. Também oferece assessoria pedagógica a escolas como especialista no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). É autor de materiais didáticos, como o Guia Prático Enem. - Estadão, 27/12/2014

E existe solução para que o indi-cador seja mais claro e objetivo, tenha função pedagógica e não seja instrumento de propaganda de algumas escolas mal intencio-nadas? Sim, claro que há. Primeiro é óbvio que ter algum indicador é melhor do que não ter nenhum. Neste sentido é melhor a nota do ENEM, para avaliar as escolas, do que nada. Mas este indicador foi jogado ao país sem maiores expli-cações de seu significado e imedia-tamente apoderado pelas escolas e pelos sistemas de ensino que querem passar a impressão que as primeiras colocações são da res-ponsabilidade deles. Não são. São resultado da história de vida dos alunos que as escolas captaram.

Escolas, ou sistemas de ensino, que usam de pelo menos alguns destes expedientes estão muito pouco preocupados com o desen-volvimento da Educação e com as reformas necessárias para que o Ensino Médio seja de fato uma porta de oportunidades com menor diferenças para ricos e pobres.

O ENEM, como avaliador do ensino médio, precisa criar me-canismos para que a sociedade possa olhar para uma escola e saber o que de fato ela acrescen-tou ao aluno. E a única forma

Como melhorar a avaliação das escolas de Ensino Médio?

ENEM – muitas vezes fazem, mas deixam de comparecer nos dias do exame ou simplesmente ‘aban-donam’ a prova pela metade em um ou nos dois dias de Prova (isto acontece principalmente em Matemática, a última prova, no caderno de provas, do segundo dia do exame). Com o ‘jeitinho’ que centenas de escolas usam pra burlar a avaliação feita pe-lo ENEM, e o consequente ran-king, nos deparamos com uma grande distorção entre esses resultados e o das escolas que não utilizam o artifício e, com essa situação, quem sai perden-do mais uma vez é a sociedade.

D I V U L G A Ç Ã O

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14 JANEIRO DE 2015

EDUCAÇÃO

Cotuca é a melhor escola públicaÉ o primeiro colégio público a aparecer no ranking do Enem sobre as melhores instituições do Brasil

O Colégio Técnico de Campinas (Cotuca), da Universidade Estadual

de Campinas (Unicamp), não conseguiu entrar no ranking das cem melhores escolas do Brasil, listado pelo Ministério da Educação (MEC) e divul-gado dia 22 de dezembro pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Entretanto, o Cotuca foi a primeira escola pública do estado de São Paulo a aparecer na lista geral: está na 116.ª posição. Tirou 654,90 na parte objetiva da prova. De acordo com o ranking nacional, entre as cem maiores notas, só sete são de escolas públicas.

A Região Metropolitana de Campinas (RMC) só tem quatro escolas entre as 100 melhores – e todas particulares. São elas: Etapa, que ficou em 52º lugar, com

677,78 pontos; Colégio Visconde de Porto Seguro, em 80º, com 664,62 de nota; Instituto Educacio-nal Imaculada, em 90°, com 661,45; e Colégio Monteiro Lobato, de Mogi Guaçu, em 98°, com 660,01.

Neste ano, todas as dez esco-las com as maiores médias nas provas objetivas do Enem são privadas e cinco colégios têm menos de 45 alunos por sala.

A listagem foi elaborada com base nas médias obtidas pelas escolas no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2013 e demostra o domínio da qualidade da rede privada ante à pública.

Essa é a primeira vez que os dados trouxeram a classifica-ção socioeconômica das esco-las - uma reivindicação antiga de especialistas, uma vez que esse aspecto é um dos que mais influenciam o sucesso escolar.

O Colégio, pode valorizar essa colocação por adotar linha de atuação com prefeituras na elaboração de currículos, con-teúdos programáticos, cursos de extensão, além de manter contato com as empresas para desenvolvimento de projetos.

Além dos cursos técnicos semestrais, o colégio também oferece o Ensino Médio comum e cursos de extensão. Ele é nacionalmente conhecido por sua qualidade e por possuir um vestibular (popularmente chamado de vestibulinho) com grande concorrência, superando a relação candidato/vaga de mui-tos cursos do ensino superior da rede pública. É considerado pelo mercado de trabalho e pelo meio acadêmico como um dos melho-res colégios técnicos do Brasil. CORREIO.COM

O prédio do Cotuca, no bairro Botafogo, foi tombado como patrimônio histórico: construção é de 1918 e está interditado

C R É D I T O

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Lições indígenasIncrível! Parece que nossos indígenas

estão tendo mais facilidade para se enquadrarem à nova realidade

educacional do que o Estado brasileiro

A comunidade indígena Kotiria (Wanano), loca-lizada na fronteira do

Brasil com a Colômbia, possui um modelo de educação que tem uma relação estrita com as con-dições de vida de seus morado-res. Para eles, o desenvolvimento educacional dos membros da comunidade interfere nas con-dições de vida de todos, pois a gestão escolar (escolha de professores e disciplinas. por exemplo) é pensada coletivamen-te, longe da burocracia exigida pelas secretarias municipais e estaduais de educação.

Para chegar a essa conclusão, a pesquisadora da Faculdade de Educação da USP (FE), Aline Abbonizio, passou dois meses junto às 33 famílias que integram o povo Kotiria e participou ativamente das atividades escolares e comu-nitárias, prestando assessoria pedagógica que incluíam aulas de informática para alunos do ensino fundamental e médio. O resultado gerou a tese Educação escolar e indígena como ino-vação educacional: a escola e as aspirações de futuro das comunidades.

Aline partiu da observação

exemplo, é garantida em partes pelos ensinamentos passados por pais e avós ao longo do pro-cesso de cultivo de mandioca em uma roça feita especialmente para este fim. Por contar com o problema de escassez sazonal de alimentos na comunidade, a escola Kotiria se articulou, então, com um instituto públi-co do Amazonas para realizar oficinas de manejo agroflorestal e psicultura que atraiu muitos ex-alunos e pais. A pesquisadora cita este caso para demonstrar o nível de articulação entre as partes estudadas.

Com a pesquisa, pode-se con-cluir que o sistema educacional indígena é capaz de incorporar elementos positivos do sistema tradicional para se aprimorar. Aline cita a recente formação de professores licenciados pelo sistema universitário, constituin-do a primeira geração com esse nível acadêmico. Tal aprimora-mento, afirma Aline, quando atrelado à profissionalização em áreas como saúde produção agrícola, “gera uma expectativa mais geral de que a elevação dos níveis de estudo deve contribuir para melhorar as condições de vida comunitária”. ARIANE ALVES

que o nexo entre escola e me-lhoria de vida aparecia com frequência nas pesquisas re-lacionadas às comunidades in-

dígenas brasileiras. Percebeu, então, que a escola é entendida como um bem comunitário. A alimentação dos alunos, por

A pesquisadora Aline Abbonizio: a escola é percebida pelo povo Kotiria como um bem comunitário

A R Q U I V O P E S S O A L

“A educação é a mais poderosa arma pela qual se pode mudaro mundo.”

NELSON MANDELA1918-2013

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16 JANEIRO DE 2015

EDUCAÇÃO

Avaliar para mudarO Pisa (Programme for International Student Assessment) é uma avaliação realizada a cada três anos pela OCDE, Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico

P articipam estudantes com 15 anos de idade. A ava-liação pretende aferir o

quanto os alunos aprenderam em sala de aula, mas também se conseguem aplicar conheci-mentos na solução de problemas reais. Outro objetivo da avaliação é fornecer subsídio para políticas de educação. Em 2012, 510.000 jovens de 65 países ou regiões econômicas delimitadas (caso de Xangai) aplicaram a prova. No Brasil, foram 19.877 estudantes, divididos em 837 escolas.

O ensino nas escolas públicas brasileiras é, em geral, muito ruim. Ponto. Resta saber se ele está melhorando. O relatório do Pisa, mais importante avaliação da educação internacional, publi-cado em dezembro, mostra que a formação oferecida nas escolas (públicas e privadas) do país vem avançando desde 2000, quando a primeira edição do levantamento

foi lançada. Contudo, o movimento ascendente vem perdendo força muito antes de colocar o Brasil ao lado dos melhores ou até mesmo dos medianos. Isso faz com que especialistas sentenciem: para avançar mais, o país terá que pro-mover reformas profundas. “Não cresceremos mais sem isso”, diz Priscila Cruz, diretora-executiva do Todos pela Educação, ONG que atua ao mesmo tempo vigiando e propondo políticas públicas.

Comparadas as notas das avaliações de 2009 e 2012, o Brasil - 58º do novo ranking - caiu em leitura (412 pontos para 410), marcou passo em ciências (405) e registrou me-lhora em matemática (386 para 391). Praticamente estagnado na faixa dos 400 pontos, o país permanece distante dos líderes do levantamento - a província chinesa de Xangai, por exemplo, com média geral de 588 pontos

ensino jovens que, em média, possuem baixíssimo nível de proficiência. Notas em torno dos 600 são sinal de que os estudantes dominam habili-dades refinadas fundamentais para lidar com tarefas do dia a dia, incluindo o trabalho. Isso porque o objetivo do Pisa não é descobrir se os alunos memori-zaram conteúdos vistos em aula, mas, sim, se conseguem usar conhecimentos aprendidos para solucionar questões semelhantes às vividas fora da escola.

São Paulo tem educação abaixo da média do país no Pisa

- e se mantém na vizinhança de nações como Albânia, Tunísia. A pontuação não é decorativa.

Estar na faixa dos 400 pon-tos significa manter na rede de

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Avanço do Brasil na educação perde fôlego, revela o Pisa. Apenas quatro redes estaduais de ensino do Brasil têm resultados superiores à média geral do país no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa, na sigla em inglês) de 2012. A rede de São Paulo, o Estado mais rico, está abaixo da média nacional. Os dados desagregados são do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep), que trabalha com a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) na realização do Pisa. A OCDE realiza a avaliação em 34 países considerados de primeiro mundo e em outros convidados, como o Brasil. Nesta última edição da avaliação, o país ocupou o 57º lugar entre 65 nações. O índice geral leva em consideração as redes particular e pública. Quando separadas apenas as redes estaduais (que concentram 85% das matrículas do ensino médio, fase em que está a maioria dos alunos avaliados no Pisa), o cenário é ainda mais preocupante. A rede estadual de Santa Catarina, a mais bem colocada do país, está a 75 pontos de distância da média dos países ricos. Essa pontuação equivale a quase dois anos de aprendizado. São Paulo - A rede estadual de São Paulo está um ponto abaixo da média geral do país. Apenas na área de matemática o resultado paulista é superior ao nacional. Se São Paulo fosse um país, estaria na 58ª posição, abaixo de Brasil, Uruguai e Chile e acima somente de oito países, incluindo Jordânia, Argentina, Colômbia e Peru. Para a professora Maria Izabel Noronha, presidente do Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo (Apeoesp), os resultados mostram uma falta de continuidade na política educacional nos últimos 20 anos. “São Paulo tem tomado medidas muito pontuais na educação, responde a questões emergenciais. Falta um plano estadual de educação, um projeto articulado”, diz Maria Izabel. A consultora em educação Ilona Becskeházy concorda que o sistema educacional ainda é deficiente, mas ressalta que a amostra do Pisa para a rede estadual pode esconder alguns aspectos positivos. “São Paulo é a rede que tem mais gente dentro da escola e mais gente no ensino médio. Fica difícil penalizar”, afima. O argumento é o mesmo utilizado pela Secretaria Estadual de Educação: “As escolas estaduais de São Paulo são caracterizadas pelo atendimento universal, inclusivo, e que respeita a diversidade da maior rede de ensino do país, com 4,3 milhões de alunos.” Em nota, a pasta refutou a comparação da rede estadual com a média geral do país, afirmando que o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), do governo federal, aponta evolução no desempenho dos alunos. No Ideb de 2011, o ensino médio de São Paulo teve melhora, mas os dois ciclos do ensino fundamental ficaram estagnados, com o mesmo resultado no índice de 2009. - ESTADÃO, THINKSTOCK, VEJA

Apenas quatro redes estaduais tiveram resultados superiores à média nacional

Xangai afrontou a tese que é impossível continuar subindo quando já se está no topo e avançou 13, batendo nos 613 pontos. São 222 pontos a mais do que o Brasil.

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EDUCAÇÃO

Coreia do Sul e Finlândia são exemplos de como se investir na educaçãoMesmo com sistemas distintos, ensino de ambos os países pode servir de modelo para a educação brasileira

D ois países com dimensões, culturas e sistemas es-colares bastante diferen-

tes vêm conseguindo resultados parecidos, nas últimas décadas, na missão de educar crianças e adolescentes com excelência. A Coreia do Sul e a Finlândia costumam ocupar posições de destaque nos rankings do Progra-ma Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa), exame que mede o quanto alunos de mais de seis dezenas de países – in-cluindo o Brasil – aprendem em leitura, matemática e ciências.

O destaque na comparação internacional, na qual os brasi-leiros não conseguem ficar entre os 50 melhores, é conquistado apesar de contrastes entre os mo-delos. Ambos, porém, oferecem lições capazes de catapultar o desempenho do Brasil. Enquanto os coreanos aplicam um sistema baseado na tradicional disciplina, com muitas horas diárias de es-tudo e investimentos pesados do governo, os finlandeses são bem menos formais e aplicam com-

D I V U L G A Ç Ã O

parativamente menos dinheiro no sistema educacional. O pilar que sustenta os dois modelos, porém, é o mesmo: seleção e formação de professores de ponta, com reconhecimento profissional e boas condições de trabalho.

Na Coreia, a prioridade é a educação básica. Todas as es-colas têm dois turnos, e os me-lhores professores estão lá, não no Ensino Superior – comenta o doutor em Educação e diretor regional do Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (Senac) no Estado, José Paulo da Rosa,

que visitou o país oriental em 2009. Na Finlândia, a disputa pelo posto de professor da rede pública é tão grande que apenas 10% dos candidatos conseguem vaga nos cursos de formação.

Veja outros segredos que fazem destes países modelos de excelên-cia educacional e que lições podem ser adaptadas para o Brasil:

GESTÃO. O modelo de sucesso implantado pela Coreia do Sul combina um dos mais elevados investimentos governamentais do mundo – com 7,6% do PIB destinado à educação – com a determinação das famílias do

país de garantir um aprendiza-do de alto nível para crianças e adolescentes. Para isso, os pais costumam se envolver na gestão dos colégios. Os educadores, que são bem pagos e trabalham em escolas com excelente infraestrutura, são auxiliados e monitorados pelos pais dos alunos, em um dos maiores diferenciais do modelo coreano. Lá, as famílias ajudam a organizar as escolas.

– Encontrei pais dentro da sala de aula, acompanhando o profes-sor – surpreende-se José Paulo da Rosa. Os pais podem fazer parte do chamado Conselho da Escola

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Coreia do Sul e Finlândia são exemplos de como se investir na educação

Quase todas as escolas têm associações de pais atuantes, que se encontram regularmente e escolhem representantes para cada sala ou série. Esses “delegados” servem de ponte entre os demais pais e a administração da escola. Outros atuam como voluntários em serviços de apoio, como monitores de trânsito em frente à instituição, seguranças nos quarteirões ao redor do colégio, nas cafeterias, bibliotecas ou em passeios. Como estão constantemente nas escolas, acompanham de perto o que acontece na sala de aula, conhecem o currículo e os recursos - assim, podem cobrar dos filhos e das autoridades. Um dos fatores mais comuns para o sucesso de um sistema educacional, na Coreia do Sul os professores também são muito valorizados socialmente. Além de serem bem pagos - no topo da carreira, com a formação mínima exigida, recebem mais de US$ 80 mil, atrás apenas de Luxemburgo e da Suíça entre os países da OCDE - contam com grande reconhecimento da sociedade. É muito comum, inclusive, que alguns dos principais educadores do país trabalhem na Educação Básica, e não no Ensino Superior. Em países como o Brasil, os professores com melhor formação costumam estar nas universidades. Em 2005, o governo coreano começou a investir fortemente em tecnologia de informação e comunicação nas escolas, distribuindo equipamentos como laptops. Também lançou um programa pelo qual os alunos podem acessar o conteúdo pela internet, a partir de qualquer computador. Agora, há um projeto para digitalizar todo o conteúdo do currículo até 2015 - quando escolas de ensino Fundamental e Médio contarão com livros didáticos em versão informatizada.

Família integrada até na sala de aulacom um grau de autonomia que per-mite interferir na seleção e na promo-ção de professores, organizar eventos de reciclagem profissional e outras atividades cruciais para o funciona-mento de uma instituição de ensino.

– Faz parte de um programa do governo que dá aos pais acesso direto ao processo educativo dos filhos – observa o professor So-leiman Dias, brasileiro que atua no país oriental.

Além disso, o foco, público e privado, é na Educação Básica. Assim, boa parte dos investimentos e dos melhores educadores estão no equivalente aos ensinos Fun-damental e Médio, enquanto no Brasil a excelência se concentra no Superior.

FONTES: ZH.CLICRBS.COM.BR, SESC/SP,

PROBLEMAS BRASILEIROS E MINISTÉRIO DE

RELAÇÕES EXTERIORES DA FINLÂNDIA

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EDUCAÇÃO

Atendimento ao primeiro sinal de dificuldadeAs lições vindas

da Coreia do Sul

Na Finlândia, a profissão de professor tem status semelhante à medicina. Isso não quer dizer que o rendimento de um educador se equipare ao de um médico – enquanto o primeiro recebe, em média, US$ 2,7 mil mensais, o segundo ganha acima de US$ 6 mil. O que faz o magistério competir em igualdade com outras carreiras de ponta é o reconhecimento social, a autonomia e as boas condições de infraestrutura. O governo nacional estabelece definições gerais do currículo, mas cada professor pode adaptá-lo às características locais. Isso cria um ambiente de profissionais altamente motivados. O país consegue excelentes resultados mesmo sem grandes investimentos – o salário dos professores fica na média dos países europeus, assim como a verba da educação por aluno. O segredo está em aplicar a maior parte do dinheiro diretamente nas escolas e salas de aula. Isso é possível graças a um sistema enxuto – em que até os diretores costumam lecionar –, e poucas instâncias burocráticas. A estrutura administrativa inclui as autoridades federais da área e os governos municipais, que respondem pela maior parte das escolas. Os coreanos sabem que construíram uma nação que já deu certo graças à revolução pela educação. Basta olhar para os jardins da universidade Postech para ter um exemplo disso: a instituição reservou um terreno de 300 metros quadrados onde pretende espetar estátuas de bronze dos futuros prêmios Nobel produzidos nas suas salas de aula. “Estamos obcecados com essa idéia”, diz o diretor Oh Dong-Ho. Ninguém duvida de que vão conseguir concretizá-la.

Escolas com autonomia e boas condições

Cada escola conta com uma “tro-pa de elite” para garantir que ne-nhum estudante fique para trás em rendimento. Ao primeiro sinal de dificuldade, o professor pede a interferência de outro educador. Esse colega, pelo sistema chamado de “educação especial”, se dedica a atender as dificuldades específicas do aluno. Ao longo da vida esco-lar, não é raro qualquer estudante finlandês ser encaminhado para o professor especial – e isso não é encarado como fracasso. Dire-tor e professores se reúnem para discutir a situação de cada aluno.

Em cada escola finlandesa, os professores estão permanente-mente atentos ao aproveitamento dos alunos. Ao primeiro sinal de dificuldade em aprender qual-quer conteúdo, soa um alerta que mobiliza toda a escola. O professor pede ajuda a um professor especial, dedicado a derrubar barreiras à aprendiza-gem. Além disso, todos os casos são discutidos por um “comitê de socorro” que pode incluir o diretor, psicólogo, outros pro-fessores e até pais.

Esse tipo de estratégia desper-ta tanta confiança no sucesso das escolas que o governo finlandês não impõe qualquer tipo de avalia-ção externa – para surpresa dos milhares de estrangeiros que cos-tumam visitar a Finlândia em bus-ca de receitas para seus próprios sistemas educacionais. Isso só é possível graças a outro fator: a ex-trema qualificação dos educadores.

Esse nível de autonomia, que permite ainda a cada professor ajustar o currículo básico na-cional à sua realidade local, conta com uma força de traba-lho habilitada com diploma de mestrado e selecionada entre a elite dos estudantes do país. E os finlandeses conseguem selecionar os melhores alunos mesmo sem pagar salários acima da média entre os países euro-peus – o que atrai os jovens é o respeito social, a autonomia e as boas condições de trabalho encontradas nos colégios.

Tempo integral e atividades extraclasse. Uma explicação para o fato de os estudantes coreanos despontarem nos exames internacionais enquanto

os brasileiros patinam nas últimas colocações é simples: os orientais simplesmente estudam mais.

Em média, enquanto um aluno brasileiro passa cerca de quatro horas e meia na escola, no outro lado do mundo esse tempo chega a mais do que o dobro. As crianças coreanas estudam perto de 10 horas, e algumas ainda complementam com atividades extraclasse. No nível equivalente ao Fundamental, mais de 80% das crianças contam

com algum tipo de estudo complementar.

Combate imediato às dificuldades

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Uma pesquisa feita pela Universidade Nacional de Seul chegou a uma conclusão interessante sobre o assunto: para as mulheres da Coréia, o professor é visto como o “melhor partido para casar” porque tem emprego estável, férias longas (raridade no país), jeito para lidar com crianças – e ótimo salário. Além de dinheiro no bolso, ele dispõe de excepcionais condições de trabalho, com dedicação exclusiva a uma só escola e direito a quatro horas diárias para preparar aulas e atender os estudantes. A Coreia leva o ensino tão a sério que até professor de jardim-de-infância precisa ter diploma de ensino superior (e a maioria conta com a pós-graduação).

Na Coreia, ser professor da rede pública significa ter bom salário, e status na sociedade

Aula com o professor-robô. Na Coreia, o investimento tecnológico é algo que impressiona. O país foi um dos primeiros do mundo a equipar escolas com internet de banda larga.

D I V U L G A Ç Ã O

Se apenas 2% dos jovens estudantes brasileiros di-zem sonhar com a profissão de professores, conforme o estudo Atratividade da Carreira Docente no Brasil, na Finlândia a carreira do magistério atrai a elite dos estudantes. Como resultado da grande procura, apenas um em cada 10 candidatos consegue vaga nos cursos universitários que preparam os educadores para atuar nas escolas. A formação é outro diferencial do ensino finlandês – todos os profes-sores precisam contar com o título de mestres em educa-ção para conseguir trabalho.

As lições da Finlândia: Melhores alunos viram professores

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22 JANEIRO DE 2015

EDUCAÇÃO

A reserva de vagas‘Vou aproveitar que sou negro para entrar em uma boa universidade’

V ou chamá-lo de João. Com exceção do seu nome, que é fictício, todo o restante

da história é verdadeira.Conheci João, 15, na festa de

Natal de uma ONG de São Paulo que cuida de crianças e de ado-lescentes retirados da guarda dos pais. Assim como os demais

“irmãos” postiços, João chegou a um dos abrigos da ONG – cha-mados de “lar social” – porque sofreu maus tratos da família.

Como é negro e garoto, as chances de sair do espaço com uma família adotiva diminuem conforme a sua idade aumen-ta. No Brasil, a preferência das famílias na hora de “escolher” uma criança para adotar ain-da é por crianças pequenas e brancas, de preferência meninas. Se não for adotado nos próxi-mos três anos, João sairá do abrigo quando completar 18. Então, terá de seguir sua vida e se sustentar.

O garoto não me contou como chegou ao abrigo: se so-freu violência, abuso ou se foi vítima de negligência familiar. Esses são alguns dos motivos pelos quais muita criança vai parar em abrigos temporários no Brasil, como o que visitei.

Muitas são retiradas das ruas; a maioria é filha de usuários de drogas pesadas.

ÓCULOS RETRÔ. O que sei é que João chegou ao abrigo há alguns anos. E que, além de chamar atenção pelo estilo descolado, com penteado black power e óculos retrô, ele tam-bém se destaca pelas boas notas. Acabou de ser aprovado no ‘ves-tibulinho’ de uma escola pública onde fará ensino médio técnico. Quer ser jornalista.

Claro, quis saber tudo sobre mim: onde me formei, onde come-cei a trabalhar, como é a minha rotina. A cada palavra, tentei incentivá-lo. Dizia que ele tinha de estudar bastante, essas coisas.

“Vou aproveitar que sou negro para entrar em uma boa universi-dade”, disse. Como assim, João?

Ele explicou: “Ser negro agora é vantagem para quem quer estudar porque dá pontos no vestibular em boas univer-sidades públicas. Se não fosse por isso, eu nem pensaria em fazer faculdade.”

Sim, há dez anos, candidatos auto-declarados pretos, pardos e indígenas (classificação do IBGE) passaram a ter vagas reservadas

As cotas deram certo. Mais de uma década depois, a política de inclusão de negros nas universidades apresentam resultados surpreendentes onde eles

têm tirado notas mais altas que a média

C R É D I T O

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SABINE RIGHETTI,Jornalista pela Unesp, mestre e doutoranda em política científica e tecnológica pela Unicamp, onde dá aula na pós-graduação em jornalismo científico do Labjor/Unicamp

no exame de ingresso da UnB, 5ª melhor universidade federal do país, de acordo com o RUF. A reserva de vagas acabou alcan-çando todas as escolas federais do país e, espera-se, deve che-gar às três universidades esta-duais paulistas –USP, Unicamp e Unesp– até 2018 (hoje, USP e Unicamp dão pontos extras no vestibular para pretos, pardos e indígenas e para egressos de escolas públicas).

‘SE NÃO FOSSE ISSO’. Pois bem. Já escrevi muitas vezes sobre cotas e outras formas de ação afirmativa no ensino superior. Também já escrevi aqui sobre a importância da família na edu-cação das crianças e sobre as vantagens de uma boa escola na corrida para a boa universidade. Mas vamos pensar no caso do João: ele não tem família, não tem em quem se espelhar e tam-pouco estudou em uma escola competitiva –dessas que custam, em média, cinco salários mínimos por mês. João tem, no entan-to, um benefício no vestibular.

“Se não fosse isso, eu jamais pensaria em fazer faculdade.”

Eu não sei se João vai concluir o ensino médio ou se entrará

para as estatísticas de quem não termina a última etapa da educação básica (o que acontece com 50% dos alunos no Brasil). Tampouco sei se ele vai entrar em um curso de jornalismo. O que sei é que, hoje, esse garoto tem uma perspectiva por causa das cotas e, consequentemente, ganhou um motivo para se man-ter na escola e para brigar por uma vaga em uma boa univer-sidade. Isso me parece bastante transformador, não?

D I V U L G A Ç Ã O

Por unanimidade, o Supremo Tribunal Federal (STF) validou dia 26/04/2012, a adoção de políticas de reserva

de vagas para garantir o acesso de negros e índios a instituições de ensino superior em todo o país. O tribunal decidiu que as políticas de cotas raciais nas universidades

estão de acordo com a Constituição e são necessárias para corrigir o histórico de discriminação racial no Brasil.

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24 JANEIRO DE 2015

EDUCAÇÃO

‘Nossa escola é desonesta’O sistema é perverso e é nele que as crianças e jovens passam a maior parte de seu tempo

N ossa sociedade está doente a olhos vistos. A educação está tão

atrasada que ficamos vendo acontecimentos morais da mais baixa qualidade. A moral do de-ver (dente por dente, olho por olho - 7/8 anos de idade mental) é a tônica social. Muitos adultos agem e respondem às situações como crianças. Temos que me-lhorar a educação para melhorar a sociedade. A escola continua na inércia e isso é o retrato do nosso país. Se a sociedade é de-sonesta é natural que a escola também o seja porque ela é o seu reflexo direto. Nossa escola é desonesta. As notas, a frequência, os conteúdos, tudo é uma total

abstração. Realmente ninguém pode acreditar no que e feito ali. Alunos acabam o ensino médio sem saber ler e escrever. Como isso pode ter acontecido? Como ele passou ano, após ano? Foi tudo uma fraude e os professo-res, diretores, alunos e a família compactuaram com as mentiras. Ninguém denuncia por achar que estão levando vantagem. O aluno não aprendeu, o professor não ensinou e recebeu seu salário todos os meses. Isso é honesto?

Os professores em nossas es-colas continuam dando aulas nos quadros achando que isso vai influenciar seus alunos e mudar o nível da educação. Isso vem acontecendo há longos anos e a escola continua em vez de formar, deformando os seus alunos.

Os alunos fazem as provas e nada sabem e continuam? Quem autoriza? Veja que é um siste-ma todo combinado. A ética e a moral continuam sendo artigo

de luxo em nossas escolas. Os professores não conseguem en-sinar porque não sabem como se deve fazer e às vezes não acreditam. Um professor que falta, embroma a aula fazendo chamada de 50 alunos quando tem 50’ de aula não poderá falar em ética para esses alunos.

Um professor que usa a prova para coagir seus alunos e man-tê-los quietos e dentro da sala também não pode falar em moral.

O discurso de nossas escolas nada tem a ver com a sua práti-ca. O discurso “Formar cidadãos conscientes” alguém acredita? Não é possível, vemos que nossa população não tem a menor cons-ciência social. O que está aconte-cendo? Dizem uma coisa e reali-zam outra. O que acontece e se dão conteúdos básicos e mínimos.

Não temos, em nosso sistema, respeito pelos alunos e as suas famílias. O sistema é perverso e é nele que as crianças e jo-

vens passam a maior parte de seu tempo. Nossa escola é um retrato do país, logo ele não mudará. Precisamos dar um choque educacional para que depois da mudança educacional tenhamos uma mudança estru-tural na sociedade. A sociedade depende da Escola. BLOG DA BETA

D I V U L G A Ç Ã O