revista noize #02 - abril de 2007

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Paul is Dead Origem do Psytrance Less Than Jake Sérgio Dias Tonho Crocco Apanhador Só

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É NOIZE.

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Billy Corgan quer so-nhar com os Smashing Pumpkins Depois da mal-sucedida experiência com o Zwan, Billy Corgan reativa o Smashing Pumpkins, justificando que quer seus sonhos e sua banda de volta. Da formação original, apenas ele e Jimmy Chamberlin trabalham no álbum Zeitgeist, prometido para julho. En-quanto o novo disco não fica pronto, a ban-da marcará o seu retorno em Paris, dia 22 de maio. O Smashing Pumpkins tem ainda participações em festivais europeus a partir de junho, e também foi confirmado para a edição norte-americana do V Festival, em agosto. Será a primeira turnê dos Smashing Pumpkins em mais de seis anos.

Simpsons é a vida real

Duas novidades para os apreciadores de um dos melhores desenhos de todos os tempos: a primeira é que, segundo a grava-dora Warner, os caras do Green Day apa-recerão no longa metragem dos Simpsons, a ser lançado nos EUA em 27 de julho. Embora os caras da 20th Century Fox não confirmem, a gravadora garante inclusive uma música de Billy Joe e sua turminha de dois. Curiosos podem tentar ver os caras em alguns dos trailers do filme que rolam YouTube afora.A segunda—e mais interessante—das no-vas é que o mercadinho do indiano Apu Nahasapeemapetilon pode (quase) virar realidade: a famosa rede de lojas de conve-niências 7-Eleven afirmou que está tentan-do fechar acordo com os produtores do seriado. Caso tudo se concretize, em bre-ve as fachadas das lojas passarão por re-formas para que se pareçam com o Kwik-E-Mart. Além disso, as prateleiras também receberão produtos inspirados no dese-nho, como o cereal do Krusty e o Buzz Cola. Obviamente, a novidade fica só pros gringos.

Eles sabem o que vocês fizeram verão passado

Houve uma época em que ele aprontou, e as autoridades inglesas parecem não ter es-quecido os transtornos. Por sua ficha crimi-nal não ser das mais limpas, o rapper Snoop Dogg foi barrado em �ondres, e não pode- foi barrado em �ondres, e não pode-rá fazer a turnê Snoop Pass the Puff, ao lado de Puff Daddy. O moço até que tentou ar-gumentar, dizendo que aquilo (brigas e ou-tros assuntos) era coisa do passado. Não adiantou, e o visto foi negado.Semelhante fato aconteceu com o Minis-tro da Cultura, que há trinta anos foi pre-so com maconha ali em Floripa. O pessoal da imigração americana não esqueceu o in-cidente, e Gil foi interrogado quando ten-tava entrar no país no mês de março. Ele vinha do Canadá, em viagem pela sua últi-ma turnê, Gil Luminoso.

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Dois dias de evento e 60 atrações

Em São Paulo, nos dias 4 e 5 de maio, rola a 8a edição do festival de música eletrônica Skol Beats.

Serão 30 horas de programação com um line-up diversificado: na sexta, destaque para �ife Is a �oop; no sábado, para The Crystal Method. Os ingressos podem ser adquiridos na loja Colcci do Shopping Igua-temi (Porto Alegre). Mais informações em www.skolbeats.com.br.

Björk está de “Volta”

Sempre inovando, a islandesa Björk, de-pois de um tempo parada, promete vol-tar com um disco mais pop e dançante.

O álbum, intitulado Volta, traz um design de cores fortes e um certo ambiente mágico, que reflete “uma espécie de celebração do antigo, mas ao mesmo tempo do néon”, se-gundo a própria Björk.A cantora e compositora, em entrevista à revista inglesa Les Inrockuptibles, antecipou algumas características do novo álbum, que conta com a participação do produtor Tim-baland. Volta estará à venda na Europa a par-tir de 7 de maio. Aqui no Brasil, ainda não há data prevista.

no imaginário das pessoas.Quem pretendia ver os californianos do In-cubus também pode esquecer, já que uma tendinite afastou o guitarrista Mike Einziger. Mike terá que se submeter a uma cirurgia e ficará longe dos palcos por uns bons dois ou três meses. Ficamos no aguardo.

Perlla lançará na terra do sol nascente seu primeiro CD, Quero Ser Livre. Os shows acontecem em Toyohashi, Hiroshima, Nu-mazo, Gunma e Komaki.

Michael Jackson fatura às custas de fãs japone-ses e vira robô gigante

O “rei do pop” parece disposto a restaurar a imagem arranhada nos últimos anos. De-pois de colocar à venda a propriedade sobre os direitos de suas músicas, participou de um evento inusitado em Tóquio: não chegou a cantar, mas cada convidado precisou des-pender R$ 7.500 para um encontro de cerca de 30 segundos com o pop star, incluindo um aperto de mão e uma foto. O pior é que mais de 300 fãs encheram os bolsos de Michael. Fora isso, o cantor prepara um novo disco para ainda este ano, e mantém o envolvi-mento com bizarrices: sua réplica gigante, uma espécie de estátua-robô, seria instalada no deserto de Nevada, perto de �as Vegas.

Integrantes do Black Sabbath realizam turnê com novo nome Ronnie James Dio e os colegas de Black Sabbath Tony Iommi, Terry “Geezer” Bu- Tony Iommi, Terry “Geezer” Bu-tler e Vinny Appice se reuniram novamen-te e partiram em turnê pelo Heaven and Hell. Isso mesmo, leitor: Heaven and Hell, uma referência ao álbum de estréia de Dio com o Sabbath, em 1980. Querendo evitar qualquer identificação com outras fases da banda, adotaram o nome e executam ape-nas músicas da fase em que Dio foi vocalista. Após a turnê, ainda está indefinido o futuro do Heaven and Hell. Dio fala em cada um tomar o seu rumo, enquanto Iommi não descarta a continuidade. Já o Black Sabbath original, capitaneado por Ozzy Osbourne, prepara o seu retorno para 2008—embora a previsão inicial fosse 2007.

MC Perlla em turnê no Japão

A funkeira pretende agitar os brasileiros que moram no Japão com o hit “Tremendo Vacilão” e com sua versão de “Totalmente Demais”. Do dia 28 de abril a 5 de maio,

Sem Guns & Incubus por enquanto

Como era de se esperar, as apresentações do Guns N’ Roses no Brasil foram adiadas. Não vale a pena se prolongar falando de Axl Rose, já que o cara não é nem um pou-co chegado a compromissos. Como se não bastasse, o tal do Chinese Democracy segue

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O programa infantil Teletubbies já não é mais tão criança. Completando 10 anos de exibição, a venda de produtos licenciados da série está estimada em US$ 1 bilhão. Nada mau, não? Eles já foram considerados impróprios para o público-alvo (crianças em idade pré-escolar) por supostamen-te prejudicar o aprendizado da fala. Além disso, um dos personagens, o popular Tinky

Winky, segundo um ativista cristão, foi acu-sado de “exibir o modo de vida gay”. A BBC internacional irá lançar uma coleção de aniversário, que inclui dois DVDs com os dez episódios mais populares e os melho-res momentos do programa. Em 11 de de-zembro, os Teletubbies se apresentarão em um show. Eventos especiais estão previstos para o fim do ano em diversos países.

Para quem não curte armazenar os e-mails mais importantes e ainda é mão-de-vaca e não tá por gastar um tostão sequer impri-mindo toda essa papelada, o Google resol-ve os seus problemas. A nova invenção é o Google Paper, primeiro você escolhe o que quer imprimir; depois, tudo será empacota-do e enviado gratuitamente para qualquer lugar do mundo. Além disso, fotos também poderão ser impressas em alta qualidade.O custo é compensado com as propagan-das que aparecerão no verso da folha, sen-do que não há limites de uso. Para não ha-ver desperdícios, o papel já é feito de 96%

Google Paper!

Teletubbies—10 anos de “sapequices” e polêmicas

Extrato Orgânico de Soja Pós-Consumida, porque o Google se preocupa com o meio ambiente e com o futuro da natureza.Maravilha, não? Tá achando uma beleza, pensando em imprimir os 514 e-mails dos seus amigos virtuais e ainda tá planejando faturar uma grana como agradecimento para montar álbuns com as fotos das via-gens da tia, da prima e da avó? Que pena, bobinho: 1º de Abril!A notícia correu nas páginas da internet, mas tudo não passou de uma tradicional piadinha do Google no Dia dos Bobos.

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Quando vê, setembro já passou e chegou de novo! O fato é que nem precisa esperar até lá para acompanhar o rock gaúcho em cima dos palcos. Desde o dia 3 de março está rolando, no Garagem Hermética, o GIG Rock Contest. O concurso acontece todas as quintas-feiras, às 22h. São sempre três bandas que se apresentam; ao cidadão pre-sente, cabe votar, por meio de cédulas, em uma delas—classificando-a para as semi-finais. Ao todo, serão seis grupos selecio-nados, dos quais quatro já são conhecidos: Morfina, Aspas, Tapete Persa e Damn �aser Vampires. Se você não apareceu nas elimi-natórias e está a fim, ainda restam chances: neste dia 12, sai a última semifinalista (a disputa é entre Pelicano, Andina e Revulsô-nica). As duas ganhadoras serão conhecidas

Gig Rock do Sul

nas noites dos dias 19 e 26. As campeãs co-memoram tocando no Garagem Herméti-ca dia 3 de maio, pois acabaram de garantir sua participação no GIG III, ano que vem. Já a segunda edição do GIG Rock está com data marcada há tempos: o festival gaúcho de rock independente ocorrerá nos dias 2 e 3 de setembro. Serão, ao todo, 23 ban-das do Brasil e uma da vizinha Argentina. Entre os grupos gaúchos a se apresentar, estão Pata de Elefante, Carolas, Supergui-dis e Tomate Maravilha. Pode ser que seja uma mão vir até o sul para tocar uma noite, mas mesmo assim bandas de outras regiões como São Paulo, Minas Gerias, Bahia e Goi-ás estarão no festival. É o sul fazendo jus à fama de roqueiro.

Metallica em mi?

A produção de Rick Rubin pode resultar em um Metallica muito diferente no pró-ximo disco do

grupo, ainda sem data de lançamento de-finida—pelo menos para os fãs e músicos amadores da banda. Acostumados a afinar os instrumentos em mi bemol, por suges-tão de Rick, os metaleiros podem adotar simplesmente o mi, que “talvez fique me-lhor”, de acordo com o produtor. O novo disco ainda não tem nome ou letras, mas passou por um processo de composição diferente dos demais. Durante a turnê do

ano passado, o Metallica esteve acompa-nhado do glorioso Pro Tools, que registrou jams e riffs originadores das novas músicas. Outra diferença entre as sessões de St. Anger (2003) e as do novo disco é o am-biente: mais tranqüilos e leves após serem aconselhados pelo psiquiatra Phil Towle, os músicos se divertem quase como no início, deixando para trás o clima tenso e incômo-do dos últimos anos.

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Depois de anos sendo transferidas ilegal-mente por programinhas tipo eMule e Bit-Torrent, parece que finalmente as músicas dos Beatles vão ser comercializadas online. Já faz alguns meses desde que surgiu na rede a notícia de que o catálogo dos ga-rotos seria vendido via web. Mais recente-mente, foi Steve Jobs, CEO da Apple, quem anunciou as músicas dos garotos de �iver-pool como possíveis integrantes da iTunes Music Store. Agora, a EMI (detentora do catálogo dos Beatles) chegou a um acordo com a Apple, Inc.—a dos iMacs, iPods, iTunes, etc.—, e promete que as canções da maçã inglesa serão disponibilizadas em alta qualidade so-nora, passando por um processo digital de tratamento. Assim, espera-se que, em breve, usuários da iTunes Music Store possam ad-quirir álbuns inteiros ou músicas individuais dos Beatles com um clique do mouse. Toda expectativa em torno da venda das músicas decorre de uma antiga polêmica envolvendo a disputa entre a Apple Corps, de propriedade dos integrantes dos Beatles, e a Apple Inc. de Jobs. Em 1991, as empresas

entraram num acordo que estabelecia que a Apple Corps seria a única autorizada a atuar no ramo da música. Com a ascensão do computador como ferramenta multimí-dia, manter este afastamento tornou-se, no mínimo, desvantajoso em relação aos con-correntes. Começava aí a segunda parte da briga entre as maçãs, com o lançamento da loja do iTunes e do player iPod. Infelizmen-te para a Apple dos besouros, a batalha foi vencida pela turma de Jobs, e o jogo inver-tido. Agora é a Apple Inc. quem diz onde a gravadora pode ou não pode atuar.A supremacia de Jobs foi comemorada até mesmo pelos rapazes da Apple Corps: o gerente da companhia disse esperar uma ótima relação com a Apple Inc.—que goza de tamanha popularidade que, em 2004, quando brigavam na corte britânica devido ao rompimento do contrato estabelecido em 91, o próprio juiz encarregado pelo caso disse usar um iPod. Se não pode ven-cer seu inimigo, junte-se a ele. Ou melhor, submeta-se.

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Grass Blues. Um lugar pequeno, no início da Bowery Avenue, em East Village, Manhattan.Foi nesse bar com chão de carpete que, desde 1973, bandas desconhecidas como Ramones, Blondie, Misfits e MC5 começaram a mostrar os seus acordes. Fora o lado musical, o CBGB ser-viu de palco para o movimento punk no início dos anos 70. Iniciava-se a “cultura do foda-se”: negação ao sistema e liberdade de expressão.Contudo, três meses antes da viagem, caiu a bom-ba: o CBGB fechou. Após diversos problemas com a prefeitura (relativos ao barulho) e algumas dívidas, Hilly Kristal, o dono, decidira encerrar as atividades de um dos maiores templos culturais do mundo. Foi duro lidar com a decepção de não con-seguir conhecer esse lugar. Com outros atrativos em mente, rumei para New York com esperança de, pelo menos, bater fotos embaixo do famoso toldo branco com letras em vermelho.Em fevereiro, desci do metrô na Bleecker Street. Caminhando lentamente, olhava para os lados, buscando algo que ilustrasse o que eu já tinha lido sobre o início do movimento punk. �embrei de uma conversa que tive com o produtor dos Ramo-nes, Daniel Rey, quando ele veio para Porto Alegre gravar com a Tequila Baby: “East Village já não é mais um lugar cool. Manhattan está muito cara, os músicos não moram mais por lá”, disse ele.

Segui até a esquina com a Bowery e comecei a pro-curar ansiosamente o toldo branco do CBGB no nº 315, correndo os olhos pelos prédios. �embro de ver o 313: “Yeah! É o próximo… e… ué? Cadê o toldo??? Não está aberto para visitação???”“Acabou”, pensei. Caí de joelhos e fiquei olhando a estrutura vazia—apenas os arcos do imponente e imundo toldo branco. Não havia mais nada! Tentei me convencer de que talvez eu estivesse no lugar errado. Mas não; ali, um dia, foi o CBGB.A rua estava vazia. Já não havia mais nenhum indí-cio da importância cultural do passado—era ou-tro mundo. Na parede, havia frases de fãs que esti-veram lá e tiveram a mesma decepção que eu. Uma resumiu meu sentimento: “R.I.P., CBGB”. Fiquei atônito, observando as ruínas do templo. Um lugar dessa importância merecia um museu! �á, estavam cartazes dos shows que ocorreram ao longo dos anos. Tive que me contentar com uma foto “no que sobrou”. A meia quadra dali, na esquina da Bowery com a 2nd Street, fora feita uma merecida home-nagem, rebatizando a esquina para “Joey Ramone Place”. No entanto, para o atual ambiente mundial de marketing, o CBGB apenas mudou de endereço, indo para �os Angeles (?), onde reabrirá em breve. Ficamos órfãos de um grande templo cultural e histórico em prol da sanidade da vizinhança e da política de bons costumes da prefeitura.

Edição Nova Iorquepor Andrei Fonseca

O FIM DE UM SONHO: CBGB VAI SER POP

“O senhor sabe melhor que eu quais os mo-tivos para se viajar para New York City”. Essa foi a frase que eu disse para o oficial da Imi-gração norte-americana, em janeiro de 2007. Realmente, New York dispensa apresentações. Porém, uma das minhas razões para conhecê-la causaria surpresa para o sisudo oficial: visitar o CBGB. Quebrando a sigla, fica Country Blue-Depois de anos sendo transferidas ilegal-

mente por programinhas tipo eMule e Bit-Torrent, parece que finalmente as músicas dos Beatles vão ser comercializadas online. Já faz alguns meses desde que surgiu na rede a notícia de que o catálogo dos ga-rotos seria vendido via web. Mais recente-mente, foi Steve Jobs, CEO da Apple, quem anunciou as músicas dos garotos de �iver-pool como possíveis integrantes da iTunes Music Store. Agora, a EMI (detentora do catálogo dos Beatles) chegou a um acordo com a Apple, Inc.—a dos iMacs, iPods, iTunes, etc.—, e promete que as canções da maçã inglesa serão disponibilizadas em alta qualidade so-nora, passando por um processo digital de tratamento. Assim, espera-se que, em breve, usuários da iTunes Music Store possam ad-quirir álbuns inteiros ou músicas individuais dos Beatles com um clique do mouse. Toda expectativa em torno da venda das músicas decorre de uma antiga polêmica envolvendo a disputa entre a Apple Corps, de propriedade dos integrantes dos Beatles, e a Apple Inc. de Jobs. Em 1991, as empresas

entraram num acordo que estabelecia que a Apple Corps seria a única autorizada a atuar no ramo da música. Com a ascensão do computador como ferramenta multimí-dia, manter este afastamento tornou-se, no mínimo, desvantajoso em relação aos con-correntes. Começava aí a segunda parte da briga entre as maçãs, com o lançamento da loja do iTunes e do player iPod. Infelizmen-te para a Apple dos besouros, a batalha foi vencida pela turma de Jobs, e o jogo inver-tido. Agora é a Apple Inc. quem diz onde a gravadora pode ou não pode atuar.A supremacia de Jobs foi comemorada até mesmo pelos rapazes da Apple Corps: o gerente da companhia disse esperar uma ótima relação com a Apple Inc.—que goza de tamanha popularidade que, em 2004, quando brigavam na corte britânica devido ao rompimento do contrato estabelecido em 91, o próprio juiz encarregado pelo caso disse usar um iPod. Se não pode ven-cer seu inimigo, junte-se a ele. Ou melhor, submeta-se.

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Desde cedo eu soube quem eles eram. Meu irmão mais velho cantarolava para mim “Nati Gol foi passear / vinte anos namorar talvez” (música “Rita �ee”, dos Mutantes, aquela do teclado irresistível do Arnaldo Batista).Ele trocava Rita �ee por Nati Gol, meu apelido de infância devido a minha in-crível capacidade futebolística naquela época.Antes, muito antes de escolher ser jor-nalista, eu sabia quem eram os Mutantes e que o seu guitarrista era Sérgio Dias. Neste carnaval, o cara se meteu numa chácara no meio do nada e tocou para 1700 fãs inveterados do rock’n’roll. Para quem foi ao quase indescritível Festival Psicodália de Carnaval 2007, em Santa Catarina, o show de Sérgio Dias foi uma dádiva generosa (para uma cobertura completa do Festival, vai lá: www.noize.com.br). Dá para imaginar o tamanho da minha emoção quando, ao final daquela defloração musical, corri até a pousada para fazer a coletiva de imprensa. Com-pletamente molhada da chuva que caía, lá estava eu na minha primeira grande entrevista. Sorrindo sempre de emoção, nervosismo, euforia e admiração, era O Cara que fez tudo aquilo para a música brasileira, bem perto de mim. A primeira pergunta foi de um dos re-pórteres que estavam por ali. Queria saber sobre outros shows do Sérgio na região sul. “Não, não, foi só esse. Quer dizer, esse foi a primeira escapada que eu consegui dar de Mutantes depois de um ano”, explicou. Enquanto isso, eu ti-nha acabado de chegar. Atrasei-me bem pouco, pois o gravador havia dado pau. Como que por milagre, fé, muitos tapas e viradas de lado da fita K7, ele voltou a funcionar a tempo! Os dois lugares ao lado do Sérgio já estavam ocupados. Confortei-me na mesa de centro em frente a ele, que usava um quepe estilo piloto de avião, e decolamos.

NOIZE: Num festival destes, é fá-cil perceber a influência que você teve nestas bandas, como é que é isso para você? Sérgio Dias: O show que a gente fez, por exemplo, com Mutantes, agora em São Paulo, tinha 80 mil pessoas lá no Ipi-ranga. Aí, no Rio, no Claro Hall, tinha um monte de gente também. Pitchfork tinha 20 mil pessoas. Mas não faz diferença, entende? Por que vocês… é inacreditá-vel a energia de vocês, e isso se traduz na música dentro do palco. Tô vindo

de um ano de Mutantes, você imagina o que significa isso para mim. E agora, fazer um show meu foi muito legal. Mas muito, muito, muito legal mesmo. Foi tão bom ver as pessoas cantando “Estação da �uz”, foi tão legal, foi maravilhoso. Es-tou muito feliz, tô contente demais.

NOIZE: Algum significado especial de ter cantado “Escravo da Revo-lução” para essa galera? Sérgio: Ah, com certeza! Esse disco eu fiz para vocês, bicho. Para essa geração.

Vocês são os filhos do silêncio. Também a juventude putrefata cadáver da ex-creção, quando não fazem nada. Vocês têm agora de lutar contra o resultado do golpe de 64 que devastou a cultu-ra de vocês, devastou tudo que vocês poderiam estar tendo e não estão. Por isso é tão importante essa volta de Mu-tantes, para provar para vocês que nada é impossível e que sim, dá para fazer as coisas. As letras do Estação da Luz são extremamente significativas para mim. Foi um disco que eu fiz para a minha filha e para as amigas e amigos dela, que eram a mesma coisa que vocês. Quando eu via eles ouvindo Janis Joplin e um monte de gente que não existe mais. Até Mutantes não existia, entende? Como é que uma geração inteira tinha ido nos mortos, entende? Para mim foi muito chocante. OK, Janis Joplin, Jimi Hendrix, todas as pessoas que eles não podiam viver o que eu vivi. Eu vi os ca-ras tocarem, eles não podem. Não tem o próximo disco que vai sair.

NOIZE: Eu compreendo o que você diz, eu sinto isso. Mas é lindo ver vocês voltando. Eu estava lá em Copacabana e vi os Stones e o rock’n’roll em vocês, além dessa galera toda…Sérgio: Pois é, agora o importante é vocês conseguirem traduzir isso em algo maior e não ser dependentes dessa encrenca toda, o tal chamado “merca-do de peixes da música”. Vocês estão vendo um festival (Psicodália, o próprio) que tem 3 mil pessoas, por volta disso. Em um lugar que é difícil de chegar, é longe, mas é maravilhoso. Não vejo por que não ter no próximo 10, 15, 20 mil pessoas, entende? Cabe a vocês da im-prensa dar o valor necessário ao que esses caras estão fazendo. Para que seja divulgado para pessoas como vocês que vivem por aí afora, para que chegue a informação. Vocês são a veia-mestra desta coisa toda. Vocês são o veículo.

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NOIZE: Musicalmente, descobriu algo novo? Sérgio: Tem muita gente estupenda. Por exemplo, foi genial ter visto a banda anterior que tocou. Maravilhosa, muito legal, muito séria, uma banda boa (O Sebbo / PR). Black Maria é uma banda genial. Björk, lógico. Tem tanta gente aqui no Brasil que está fazendo coisa inteligente e interessante. A minha des-coberta da própria Zélia; quando eu a convidei eu não sabia o que ela fazia. Eu convidei por que tinha encontrado ela e a gente casou energeticamente. Agora, quando eu vi a música dela, quando eu a vi cantar, malandro… eu caí de costas. Eu conheci muito a Elis. A gente viveu muito juntos. E o nível chega perto. É difícil de falar porque é um ícone muito grande. A Zélia é uma grande cantora e isso tem sido uma grande inspiração para mim.

NOIZE: Dá para ver que você no palco é puta maestro. “One, two, three” e a galera pára de tocar. Os erros te incomodam? Sérgio: Os erros fazem parte de tudo. Eles são necessários. Não existe erro. Existem pontos de vista musicais. Você pega um cara que está acostumado a ouvir Mozart e bota ele para ouvir Stravinsky, ele vai dizer que aquilo é um inferno. E vice-versa. Então, são pontos de vista. Tocando com John Mc�aughlin uma vez, nós estávamos explorando o que seria teoricamente o erro. Por exemplo, o que eu toquei aqui hoje à noite, que tom era aquele? Não tem tom, não existe tom. Se você for pen-sar tudo é um universo de bom gosto. Você olha para o céu, para terra, para as flores, para as pessoas, isso tudo é um universo. E nota, são treze. Quase igual ao nosso sistema solar, né? Que agora foi destituído de um. Mas você vê, to-das elas são relativas. Se todas elas são relativas, como é que você pode ter um erro? Se você a faz consciente. OK, a

harmonia pode estar em dó e eu tocan-do em dó sustenido, como toquei. Ou em si, meio tom abaixo, onde for. O que importa é o teu bom gosto e liberdade de se permitir fazer o que outra pessoa talvez achasse errado.

NOIZE: A música serve para re-flexão. Tu poderias dizer uma, duas que mudaram as tuas perspecti-vas? SÉRGIO: A primeira música que eu to-quei hoje, “Rain”. Essa música eu fiz em três minutos, música e letra, por que foi

uma lavagem interna mesmo. A letra fala tudo isso, ela é inteira isso. Essa é uma música que é assim. Uma música que te-nha mudado a minha vida? “Cidadão da Terra” foi uma música que eu fiz depois de assistir o Alice Cooper entrar no Anhembizinho com bandeira do Brasil. Eu não entendi nada, e disse “que é isso que esse cara tá fazendo, tá pescando voto” e fiquei revoltado. Eu tava viajan-do. Daí fui para o Copan e escrevi tudo: “eu não sou daqui / não sou de lá / eu sou de qualquer lugar / meu passaporte é espacial / sou cidadão da terra”. Então

foi assim que nasceu, e isso é um fato. Ela nasceu de ver aquela caretice, en-tende? Que diabos ele tava fazendo, que hipocrisia. Nunca viu o Brasil e colocou a camiseta.

NOIZE: Três coisas que El Justicie-ro poderia dar ao Brasil.Sérgio: Vou citar o que o Kennedy fa-lou: “Não é o que o país pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo país”. O voto de vocês é a coisa mais importante do mundo, a união de vocês é a coisa mais importante do mundo. A sua rebelião, que é inerente da juventude, a sua revolução, isso é im-portante. Vocês estão vivendo a rebarba da revolução deles. Cabe a vocês agora fazer a sua revolução e mudar o país para o jeito que vocês querem. O Brasil é o país mais maravilhoso do mundo, tem um monte de coisas fantásticas, só que agora a gente vive abaixo do AI-6. Que é o AI-6? É uma maneira muito simples, daqueles que nos controlam, de manter todos separados, que é o medo. Por exemplo: no BBB, os caras estão confinados, não podem sair. Se for ver, você vive igualzinho. Você tam-bém se tranca dentro de casa; pára no sinal e fecha a janela. Olha para o cara morrendo de desconfiança, não sabe se ele vai te assaltar ou não. Essa realidade que está acontecendo no Rio de Janeiro e em São Paulo, principalmente, é um estupro. Se não foi pensado, é genial, entende? Como tática de manipulação de um povo. Você faz o próprio cara se trancar. Vamos dizer que São Paulo não é capaz; se não me engano, tem 60% do PIB do Brasil. Não tem dinheiro e inteli-gência suficiente dentro da nossa polícia para parar o que eles quiserem? Isso é bullshit, papo furado. Rio de Janeiro não tem potencial de homens e de inteligên-cia? Inteligência eu digo da polícia secre-ta, mesmo. Em dois segundos, se quises-sem, acabavam isso. Agora, por que não acabam, né? Tem interesse político, tem

Não tem dinhei-ro e inteligência suficiente dentro da nossa polícia para parar o que

eles quiserem? Isso é “bullshit”.

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interesse monetário, interesses interna-cionais. Não interessa ao mundo que o Brasil cresça. Interessa que o Brasil fi-que aí, quietinho, numa boa e a gente olhando as vacas e dizendo “puta, que legal,hein? Pô, uma vaca, a gente tem vaca”, e você guiando um Renault, em vez de um brasileiro. A gente tinha os carros feitos e concebidos no Brasil an-tes do golpe de 64.

NOIZE: Sentiu falta da Régulus (guitarra única produzida na dé-cada de 60 pelo seu irmão mais velho) hoje?Sérgio: Hoje? Foi gozado tocar com a Fender Stratocaster, foi muito gozado.

Fazia um ano que não tocava com ela. Deveria ter trazido a outra também. Eu não vou usar a Régulus comigo, nunca. Eu vou usar a Régulus com Mutantes. Eu tô construindo uma nova agora, com o marido de uma amiga minha, a �uciane. Vai ser semi-acústica, só que mais avan-çada do que essa. Tem que achar um novo nome de estrela para dar a ela.

NOIZE: O melhor solo de guitar-ra?Sérgio: Eu recebi um grande cumpri-mento que foi agora no solo de “Ando Meio Desligado” no Fillmore (Califór-nia, 24 de julho de 2006). O técnico de monitor de lá, velhinho,

chegou para mim depois do solo, quan-do eu tava saindo do palco, ele disse: “one of the best leads that I’ve ever he-ard in here”. Isso para mim foi… ele viu o mundo lá dentro [do Fillmore].

NOIZE: Ah, uma última: e Porto Alegre, alguma previsão de shows por lá? Sérgio: Tem previsão, sim. Agora eu não lembro exatamente.

O empresário dele (salvador da pátria!) estava por ali e disse que seria em maio, dia 26, no teatro do SESI, com os Mu-tantes.

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TextoFernando Corrêa

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Paul McCartney era um cara legal, um bom músico e um boa-pinta. Infelizmente, nessas de ficar virando a noite fazen-do festa, ele meteu o carro num poste, bateu as botas e quase acabou com a maior banda da história do rock. Quase. A sorte grande foi que os produtores dos Beatles, através de concur-sos Inglaterra afora, consegui-ram encontrar o irmão gêmeo desconhecido de “McCarty”. Reza a lenda…

Tudo aconteceu na madrugada de uma

quarta-feira, 9 de novembro de 1966. Às cinco da matina, um Paul McCartney irrita-do após discutir com os colegas de banda distraiu-se, não viu que o sinal ficou verme-lho e bateu direto num poste de luz. O Aus-tin-Healey incendiou, e Paul teve a cabeça fraturada e incinerada em meio às chamas que consumiram seu carro. Os Beatles ti-nham lançado recentemente o Revolver, mais um marco posto por eles na história da música, um álbum de psicodelia pulsante e rara criatividade. A história dos meninos de �iverpool podia ter acabado ali, não fos-se o achado dos empresários da banda, que fizeram um concurso às pressas para en-contrar um substituto para McCartney. E encontraram. Saído de um ventre dife-

rente, mas fabricado aos mesmos moldes. A Mãe Natureza fora esperta, e garantira dois McCartneys, para o caso de um parar de funcionar. David William Campbell, ou Billy, tinha a voz um pouquinho diferente e compunha músicas mais maduras e pro-fundas. Tinha também uma cicatriz no lábio, que segundo Billy, era conseqüência de um acidente de moto sofrido em 1965. E todo mundo acreditou. E Paul se revirou no tú-mulo, enquanto aqui na terra, um impostor fazia sucesso às suas custas. Mas ei, não teriam os Beatles continuando a existir às custas de Billy? Foi só em 1969 que, a partir da fala de um homem chamado Tom, na rádio WKNR de Detroit, se tornou pública a morte de Paul. As evidências eram pistas deixadas pelos

três Beatles restantes nas capas dos discos da banda. É engraçado, mas havia pistas até antes de Paul morrer. Na capa de Rubber Soul, John, George, Ringo e Billy olham sé-rios pro túmulo de Paul, que não aparece na foto. Seriam os besouros os novos pro-fetas? Teriam eles feito um pacto com o dia-bo e ofertado Paul como cordeirinho?

Excite-me, defunto

No fim dos anos 1960, os Beatles já haviam explodido e seus discos continuavam ino-vadores. O Rubber Soul deu início a uma longa viagem, cada vez mais psicodélica, culminando no lançamento do revolucio-nário Sgt. Pepper’s Lonely Hearts Club Band. O Peppers foi gravado no mesmo estúdio e

época em que o gênio-louco Syd Barrett e o resto da turma do Pink Floyd concebiam The Piper at the Gates of Dawn. Estes dois álbuns são, para muitos, as obras seminais do rock progressivo—o que apenas reforça nossa opinião: David William Campbel is God. Barrett também, é claro.Buscar novas evidências era uma diversão para os fãs de Beatles. De certo, havia aque-les fanáticos por teorias conspiratórias que realmente levavam tudo muito a sério. Qualquer um teria achado divertido pro-curar símbolos que remetessem à suposta morte de Paul nas grandes capas dos �Ps. As informações foram coletadas ao longo das décadas, e nós da NOIZE destacamos as mais legais em três tipos: as (mais que) duvidosas, que contradizem a lenda, por

terem aparecido antes da suposta quarta-feira; as huuuumm!, que vão do lançamento do Sgt.Pepper’s ao Magical Mystery Tour, e são repletas de simbologias; e, por fim, as descaradas, já que a partir do White Album, os próprios Beatles resolveram participar de toda aquela suruba conspiratória.

Elementar, meu caro

O Rubber Soul é a Mãe Dinah das capas que compõem nosso dossiê. Isso porque o MacCa original nem tinha se estatelado e o encarte já trazia as dicas. A começar pelo título do disco, “Alma de Borracha”. Seria uma possível alusão à morte, uma alma de mentira? Para confirmar a tal hipótese, os produtores do disco botaram a imagem da Texto

Fernando Corrêa

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banda olhando pra um túmulo, que não foi enquadrado na foto. Já existem pistas até nas letras, como em “I’m looking through you”: “eu olho através de você, e você já não é mais o mesmo… a única diferença é que você está aí embaixo”. Há quem diga que o disco antecessor, Help!, também se-ria uma pista da morte de Paul, mas pára lá, o posto de Mãe Dinah é do Rubber Soul.

Boiando no formol

À medida que a morte de Paul se apro-ximava, as pistas também ficavam mais interessantes. A capa do Revolver, lançado na mesma época em que o besouro bai-xista bateu as botas, não é uma foto, mas um desenho, já que o sósia Billy ainda não

fora selecionado. Bastante convincente, hãn? Aliás, nesse álbum McCartney toca o solo de guitarra no início de “Taxman”, que para os conspirados, fala do taxider-mista (aquele que conserva cadáveres em formol). Humm.

Billy está aqui

Um Paul exalando formol originou um disco viajante. A capa do Sgt. Pepper’s se-ria a foto do enterro do Beatle falecido, representado pelas flores que formam um baixo para canhoto, que por sua vez tem uma corda a menos, uma corda “morta”. Aquele mundaréu de gente importante—morta ou esquecida—está ali para ver o enterro dum cara famoso: McCartney, que

cercado pelos companheiros parece mais um recorte, como seus convidados, do que uma pessoa de verdade. É na faixa-título do Sgt. Peppers que Billy é apresentado aos fãs. “So let me introduce to you the one and only Billy Shears”. O “Shears” não passa de uma maneira subli-minar de dizer “is here”. Então, “deixe-me apresentar pra vocês, o grande Billy che-gou”. Nas músicas que seguem, o acidente é explicado: Paul foi dar uma olhadinha pra Rita (“�ovely Rita”), não viu o sinal mu-dar e explodiu os miolos (“A Day in the �ife”). Não havia nada a fazer para salvar sua vida (“Goog morning, Good morning”). O marco psicodélico da carreira Beatle é também um marco das pistas para nosso acontecimento de estudo.

Submarino, mágico e misterioso

Daí tem as mãos sobre as cabeças. Essa é quase uma linhagem de pistas, que apare-cem pela primeira vez na capa do Sgt. Pep-Pep-pers e em seguida na de Yellow Submarine. Uma mão aberta paira sobre a cabeça de um Paul desenhado. Para muitos, é uma simbologia para a morte ou a benção de alguém prestes a partir pro outro plano. Para completar, aquele submarino amare-lo que aparece no meio da montanha ver-de representa o caixão de Paul. O Magical Mystery Tour traz na capa Billy-Paul de preto e os outros integrantes de branco. No livrinho da primeira edição em vinil, detalhes interessantes contribuem

pra matar Paul um pouquinho mais. Há uma foto dele com um papel onde está es-crito “Eu era você”, e outra com um cravo preto no chapéu. Além disso, aqui come-ça a história de MacCa aparecer descalço, como são enterrados os mortos. No fim de “Strawberry Fields Forever”, pode-se escutar um sussurro “I buried Paul” (eu enterrei Paul).

The Beatles???

No “Álbum Branco”, os Fab Four resolve-ram entrar na dança, e as coisas come-çaram a ficar mais divertidas. Sabe aquela história de mensagem subliminar, da Xuxa louvando a satanás? Pois The Beatles (o disco) esconde diversas declarações a

respeito da morte de MacCa, que podem ser ouvidas executando-se as músicas ao contrário. George choraminga o nome de Paul algumas vezes à medida que “While my guitar gently weeps” chega ao fim. Um trecho de falação sem sentido em “I’m so tired”, se tocado do lado reverso, revela a frase: “Paul is dead man, miss him, miss him”. Para finalizar, em “Revolution 9” ao contrário, pode-se ouvir “Turn me on, dead man” (Excite-me, homem morto) repetida inúmeras vezes. Se escutada normalmente, revela-se apenas um “Number nine, num-ber nine, number nine, number nine, num-ber nine, number ni…” Tá, chega.

A rua da amargura

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Mas foi na capa de Abbey Road que o envol-vimento dos Beatles no mito Paul is Dead atingiu o auge. Foi também esta a capa que deu início à falação conspiratória. O encar-te é um banquete para os conspirados. O quarteto atravessa a Abbey Road em for-mação fúnebre: John é o padre de branco, Ringo está vestido como o responsável pelo funeral, Paul está descalço, de olhos fechados, com o cigarro na mão direita (você sabe que ele era canhoto, certo?), e George está vestido como um legítimo coveiro. A placa do fusquinha exibe a es-critura “28 IF”, que significa que Paul teria 28 anos se estivesse vivo. Não importa que, na verdade, ele tivesse 27. Em “Come Together”, MacCa apela para que os três Beatles (one and one and one is three) ve-

nham a seu enterro (come together over me)—e certamente eles foram.

Um dia a lagoa seca

O Let It Be tem o menor número de dicas entre os álbuns citados nessa matéria. Tal-vez ninguém mais tivesse saco de procurar, talvez os caras da banda não falassem mais de coisas que pudessem virar combustível pra a eterna queima do carro de MacCa. A capa do álbum, porém, traz mais uma vez Paul em uma posição destoante dos outros Beatles, como que significando que ele não pertencia ao grupo da mesma forma como os demais integrantes. E o interessante (acredite, é interessante) é que, mesmo no Let It Be… Naked, lançado em 2003, tro-

caram a foto do George mas mantiveram a distinção de McCartney para os outros. Sinister…

64 If And Alive (chega de matar o homem)

E não é que, depois de décadas sobrevi-vendo a conspiradores agourentos e sen-do morto diariamente nos quatro cantos do globo, Paul McCartney chegou aos 64 com cicatriz no lábio e tudo! Ou essa his-tória de Paul is Dead nunca passou de uma brincadeira divertida, ou o Billy Campbell é o cara! Por isso, essa edição da NOIZE é dedicada a ele, o homem que salvou os Beatles, e conseqüentemente, salvou o rock! William Campbell pode não passar de um espectro, de uma presença imate-

rial no imaginário dos beatlemaníacos, mas a história dos besouros não seria a mesma sem ele. Em 1970, a maior banda de todos os tempos chegou ao fim. Com Paul, foram importantíssimos para a estabilização do rock’n’roll como música pop. Graças a Billy, o experimentalismo entrou em cena e as barreiras do rock foram quebradas. Em 1980, John �ennon morreu assassinado. O episódio, obviamente, gerou comoção em todos cantos do mundo. Infelizmente, não acharam um sósia à altura de John.

Turma da Mônica:www.monica.com.br/comics/paul/

Paul is Alive

Billy Campbell não se contentou em salvar os Beatles. Em 1970, depois de anunciar o fim da banda—que moral, hein?—, o sósia genial partiu com tudo para a carreira solo. �endas à parte, McCartney construiu uma discografia sólida, destacando-se por se-guir na ativa até hoje. Em 1993, MacCa lançou o álbum Paul is Live, cuja capa é uma correção para todas as pis-tas de Abbey Road. Na placa do fusquinha lê-se “51 IS”, referindo-se à idade de Paul em 93. O cigarro foi, inclusive, trocado por um cachorro que puxa Paul com a mão esquerda. Opa, peraí; e aquela história de vender alma pro diabo—Paul sendo levado pelo cão? Sugestivo…

E agora?

É, pessoal, Paul não morreu—é tudo histó-ria de gente louca por conspiração. Deve ter sido o mesmo grupo que inventou que Elvis está vivo, que o Homem não pisou na lua, que os caras do Kiss pisavam em pin-tinhos nos shows e que o hambúrguer do McDonalds era feito de minhoca. E o pior é que querem matar o homem, mesmo. Segundo o tablóide Sunday Mirror, um intruso adentrou a mansão de McCart-ney dirigindo um carro em alta velocidade. Os guardinhas da propriedade não tiveram coragem de ficar na frente. A sorte grande foi que uma árvore no jardim manteve-se imóvel e interceptou o possível assassino. Isso daria uma música dos Beatles.

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Pasmem, amigos! Nem só de terninhos de brechó vive o cenário musical gaúcho. Sem querer comparar nada, um dos grandes nomes da vez é a banda Apanhador Só. Conhecida pela percussão feita com elementos—no mínimo—surpreendentes, o quinteto é formado por Alexandre, Carina, Felipe, Drusko e Fernão. Eles lançaram seu EP Embrulho para �evar, carimbado um a um, terminaram de gravar e já editam o clipe da música Maria Augusta. No início de abril eles vão para Sampa fazer show e uma coletânea do Trama Universitário sairá com duas de suas composições… são tantos os feitos que 2007 promete. A NOIZE foi trocar uma idéia com essa galera gente finíssima.

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NOIZE: A primeira vez que ouvi falar de vocês foi pela percussão maluca com aro de bicicleta, pane-la e balão. De onde surgiu a idéia de tocar esses objetos? Carina: Eram os três, o power trio ali (Xande, Drusko, Fernão). As composi-ções eram trabalhadas e estavam preci-sando de algum elemento. O Xande até comentava que queria um percussionis-ta, mas o Drusko era relutante da idéia.Drusko: Eu não lembro disso. (risos).Cari: A gente começou a inventar uma percussão não tradicional. Vir com elementos já conhecidos vai para um formato que não nos interessa. Daí, resolvemos fazer um ensaio de expe-rimentação. O Drusko na bateria e eu, o Xande e o Fernão a tocar tudo que tinha pelo lugar que a gente ensaiava. O Fernando começou a tocar um bumbo no colchão, e nós a raspar no estrado da cama. E aí saiu um som que a gente achou fantástico, só que não conseguía-mos levar todos esses elementos para o show; “Tá, vamos reduzir toda essa idéia em alguma coisa”, daí nós juntamos coi-sas que caberiam dentro de uma mala.

NOIZE: Qual o objeto que não ser-ve de percussão? Já tentou algum que não deu?Felipe: Nós tentamos spray esses dias...Cari: Bala de goma—como é que a gente vai fazer isso? Talvez um chocalho gosmento (risos).

NOIZE: Em novembro de 2006, vocês participaram do evento do Trama Universitário, no Rio, e abriram o show da Maria Rita. O que isso rendeu para a banda? Cari: Acho que uma visibilidade. A gen-te nunca tinha tocado fora daqui, foi a primeira vez. Muitas pessoas do Rio

mesmo, que não conheciam, começa-

ram a conhecer, a vir atrás. O fato de ter ganhado o Festival, mesmo quem não assistiu o show foi ver que banda é que tinha ganhado. O público aumentou um pouco. Xande: Bastante. Foi quando começou a ser mais falada a banda. Até por sair mais na imprensa. Foi quando a gente começou a ter o nosso público, fazer show com tranqüilidade de que ia ter gente. Felipe: Rendeu para nós a experiência de viajar.Xande: Tocar para uma galera, 5 mil pessoas. Ver como um evento grande pode ser organizado tão na boa. A equi-pe da Trama é muito tranqüila. Ver que o mundo não é tão difícil.NOIZE: O intuito agora é crescer

em outras regiões do Brasil?Xande: Nós pegamos agora o projeto do FUNPROARTE para ver se a gente ganha o financiamento municipal e gra-va o primeiro álbum. Se rolar, a gente pretende conseguir um selo de fora do estado para poder distribuir para todo Brasil. Não tem nenhuma razão razoável para a gente só querer ficar por aqui.

NOIZE: Como é que está o cená-rio musical de Porto Alegre para a Apanhador Só?Alexandre: Tá sendo bom, tá cada vez melhor. Drusko: No início tinha uma resistên-cia, mas agora tá abrindo. NOIZE: Sentem uma diferença no público de fora em relação ao de

Porto Alegre? Xande: A diferença do público é que o de lá parece estar muito mais disposto a conhecer coisas novas e a entender coisas novas.Cari: Eles estão curiosos. De vasculhar na internet…Xande: É, curiosidade. Eu acho que agora está virando para cá.Felipe: Acho que agora abriu a portei-ra. É a impressão que dá. Fica feio quem tá com a internet em casa, a galera que curte isso, tem internet e não busca, não aproveita o que a ela pode te dar. A gente tem um contato com uma parte do público pela internet.

NOIZE: Essas histórias de vídeos no YouTube, músicas na net, é um baita quebra galho para uma ban-da independente…Xande: Claro. Tu tem toda a produção na tua mão. Não depende dos meios.Felipe: É um veículo de mídia que tu controla. Tu divulga o teu negócio e es-pera que as pessoas busquem. Xande: Essa é a graça da história toda. O público que escolhe. Antes tu gostava do que chegava até ti, agora o público que vai atrás da informação.

NOIZE: O mais maravilhoso e o mais penoso de ser uma banda in-dependente?Xande: O mais maravilhoso é ter liber-dade total e não precisar prestar contas a ninguém. O mais penoso é ter que fazer tudo.Fernão: Carregar o amplificador. (ri-sos)Xande: Não poder ficar deitado no sofá esperando que alguma coisa acon-teça. Já fui lá, gravei e agora vão lançar, vão fazer a capa, prensar e distribuir.Cari: Distribuir que é o mais difícil.

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Você está numa rave, são seis da manhã, o sol está raiando e você olha aquela multidão ensandecida, pulando sem pa-rar embalada ao som do Psy no maior gás, como se tivessem recém despertado de um sono profundo. Mas não, aquela galera passou a noite inteira dançando, sem se abalar, e vai seguir no pique por mais sabe-se lá quanto tempo. Essa cena você provavelmente já presenciou ou até já foi protagonista dela. Mas você já parou pra pensar como isso começou? De onde surgiu essa música? Afinal, de onde veio o Psy?

Na Europa, claro! Pééééé… errado! Estados Unidos? Muito menos. Pensou um pouquinho, ligou os fatos, agora sim: em Israel; os melhores DJs são de lá.

Também não! O Psychedelic Trance, ou Psy, veio da Índia, mais precisamente do lado oeste do país, em Goa, um lugar de areias brancas e praias paradisíacas.

Atraídos por suas belezas e fugindo das baixas temperaturas do inverno, hippies, mochileiros e alternativos da Europa e dos EUA escolheram Goa como pon-to de encontro. Essa mistura de perfis, junto com elementos da contracultura Indiana, começou a ebulir em festas à beira do mar. As festas, inicialmente esporádicas, tornaram-se marca regis-trada do litoral de Goa. No início, eram regadas a rock e reggae, mas no come-ço da década de 90 os jovens europeus agregaram uma nova batida que já fazia parte de suas noitadas; chegava a Goa a

TextoFred Vittola

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música eletrônica. Foram incorporados elementos da sonoridade oriental, bem como ritmos menos industriais do que aqueles tão comuns ao techno urbano que bombava na Europa. O resultado foi uma música mais orgânica, mais fa-cilmente assimilável, que estimulava não só estados próximos ao transe místico, associados aos mantras indianos, mas também uma maior harmonia com os ambientes naturais e ao ar livre. Deco-rações feitas com cores fluorescentes e desenhos da mitologia indiana davam o tom de psicodelia. O objetivo era levar os participantes a experimentar uma atmosfera muito especial—não só de música, mas de uma vivência única de liberdade e tolerância, da dança sem regras, das viagens psicodélicas e espi-rituais. Foi assim que nasceu o chamado Goa Trance.

A temporada de chuvas, quando che-gava à Índia, levava junto os forasteiros de volta para seus países. Mas, com eles, viajava também a cultura de Goa, suas histórias, ritmos e toda aquela musicali-dade espiritual experimentados. Os “ve-ranistas” de Goa multiplicaram as festas inspiradas no estilo local. Assim como Goa influenciou o formato inicial do trance, as localidades onde o estilo foi florescendo também o influenciaram. A Inglaterra, um dos berços ocidentais do Trance, produziu uma forma inteligente e sofisticada da nova música, tal como a inovadora e revolucionária contribuição para a história do rock com Beatles e Stones.

Nas cenas underground, essas festas fo-ram aumentando de tamanho—atrain-do cada vez mais adeptos e trazendo à

tona um revival das velhas aspirações dos movimentos hippie e da contracultura dos anos 60 e 70, com muita liberdade de expressão. Na Alemanha, as pessoas que se conheceram nas festas da Índia passaram a se encontrar regularmen-te num local desconhecido chamado Waldheim, entre 1989 e 1990. O lugar começou a ficar cheio demais, a ponto de as pessoas que não conseguiam en-trar passarem a dançar no meio da rua mesmo. A Alemanha recém tinha posto abaixo o Muro de Berlim, e qualquer movimento que inspirasse liberdade de expressão era bem-vindo.

Quando voltava o inverno europeu, era hora de retornar às praias mágicas. Esse vaivém promovia um intercâmbio de estilos, enriquecendo o Psy e transfor-mando Goa num dos centros de música eletrônica mais inovador do planeta. A grande gama de possibilidades que resultaram das experiências de criar músicas psicodélicas através de sinteti-zadores dos anos 80 causou uma inun-dação de criatividade que se espalhou pelo globo. A reputação de Goa como um paraíso aumentava e trazia cada vez mais viajantes do mundo inteiro.

Em 1998, já havia quatro vezes o nú-mero de turistas de 1994. Assim, a lon-ga relação cultivada entre os ravers e moradores foi destruída. Tudo passou a custar mais caro, pois os indianos perceberam o imenso potencial finan-ceiro que aqueles visitantes de países abastados estavam trazendo para Goa; o espírito original de Goa sumiu feito fumaça em pouco tempo. O mainstream, a mídia e as grandes empresas passaram a perceber o “fenômeno Goa”, apesar do seu auge já ter passado. Resumindo: a decadência havia batido na porta da cena goa-trance.

Paralelamente, o psy-trance conseguiu manter sua chama acesa em Israel, gra-

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ças a um acordo político que permitia aos israelenses obterem vistos para a Índia. Como o serviço militar de Israel é muito rígido—todos, ao completa-rem 18 anos (inclusive mulheres), são obrigados a servir ao exército por pelo menos três anos—, muitos jovens pas-saram a procurar as belas praias locais. Assim, as praias da Índia foram invadidas pelos israelenses, que desenvolveram a sua própria cena psy-trance. O trance israelense atingiu o auge da popularida-de, a ponto de tocar em rádios e atingir as paradas de sucesso de Israel.

A popularidade do psy-trance tam-bém começou a se desenvolver em outras partes do mundo: o Brasil é considerado um país com cena forte. Atualmente, o Psy está entre os estilos de música eletrônica que mais crescem no Brasil. O caráter alternativo e underground, marca re-gistrada desde seus primeiros mo-mentos, continua servindo de ante-paro contra a excessiva comercia-lização dos eventos e garantindo a dose necessária de autenticidade.

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No começo dos anos 90, enquan-to o som pesado e sujo do grunge surgia em Seattle e o hardcore era reinventado na Califórnia, do outro lado dos Estados Unidos nascia uma banda que misturava hardco-re com trompetes, saxofones e uma levada ska.

O �ess Than Jake foi formado em Gainesville, na Flórida, pelos amigos Chris Demakes, Vinnie Fiorello e Roger Manga-nelli. A formação inicial era power trio clássico, influenciado por De-De-scendents e outros gru- e outros gru-pos de punk e hardco-re. No entanto, o som característico do �ess Than Jake tomou forma com a entrada da trom-petista Jessica Mills.Inspirados pelo grupo inglês Snuff, os três inte-grantes experimentaram acrescentar instrumen-tos de sopro às músicas da banda. Aos poucos, o som pesado do hardcore foi ganhando uma levada mais leve e cadenciada. As letras de protesto social, características da música punk, se misturaram às histórias de amor, garo-tas e conflitos do universo colegial.Com um EP debaixo do braço, saíram a apresentar-se pelo circuito noturno de Gainesville e arredores. Em uma das apresentações, Vinnie conheceu um mú-sico da banda de abertura. Na conversa, o jovem lhe contou que havia tocado trompete nos tempos de escola. A idéia de acrescentar um trompetista à banda agradou a Vinnie, que convidou o novo amigo para aparecer em um de seus en-saios. Como não lembrava mais o nome

do trompetista—recordava-se apenas de seu instrumento dourado—,Vinnie passou a chamá-lo de “Buddy”, que de-pois virou Buddy “Goldfinger” Schaub.A bordo de uma van Chevrolet ‘79, o quinteto enfrentou sua primeira turnê pelo país. Era a primeira grande viagem do grupo—e a última da van, que teve seu motor incendiado depois de bra-vos 48 dias de estrada. O automóvel, carinhosamente chamado de “Blue and White”, foi homenageado postumamen-te em 2002, no álbum batizado Goodbye

Blue and White. Além do pop punk que fazem, misturan-do trompetes e saxofones em suas me-lodias, o lado irreverente é outra marca do �TJ. O nome do primeiro álbum da banda, Pezcore (1995, recentemente re-masterizado por seu 10º aniversário), é uma referência às balinhas de menta Pez, de grande popularidade entre os gringos. Na verdade, o sucesso maior são os pequenos dispensers onde as ba-las vêm guardadas. Ao longo dos anos, as balas Pez motivaram colecionadores, convenções e leilões das embalagens

mais raras. Mas no caso do �ess Than Jake, não pára por aí: Vinnie e Roger têm os dispensers das balinhas Pez tatuados! Vai entender… Vinnie inclusive partici-pará de um longa-metragem sobre as balas Pez. A formação atual do �ess Than Jake conta com o saxofonista Peter “JR” Wasilewski no lugar de Jessica Mills, que largou a banda para tornar-se professo-ra. Antes de sua entrada, em 2000, o �TJ acompanhou a turnê norte-americana do Bon Jovi, abrindo os shows do gru-

po. Seguir a estrada junto de uma banda de grande visibilidade trouxe suas vantagens—além de to-car em estádios lotados, a banda teve a oportunida-de de mostrar seu estilo para públicos gigantescos. Contudo, para Vinnie Fio-Fio-rello, “o melhor mesmo foi ouvir o Bon Jovi falar a palavra ‘pussy’”.Ano passado a banda lan-çou In with the Out Crowd, seu sétimo álbum, e no começo de 2007 tocou durante seis dias segui-dos, dedicando uma noite para cada disco já produ-zido. Esta maratona de shows será repetida em setembro, desta vez em

�ondres. Antes disso, o �ess Than Jake faz uma escala no Brasil, para uma turnê que inclui Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro. A abertura da temporada bra-sileira será em Porto Alegre, dia 25 de Abril. Para quem não conhece a banda, é uma bela oportunidade de curtir um hardcore diferente; para quem já co-nhece o som, é uma oportunidade úni-ca; para os fãs de música em geral, um motivo para comemorar—a cidade de Porto Alegre é presença cada vez mais confirmada na lista das bandas que se aventuram a passar pelo Brasil.

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Não é porque eles copiaram nosso nome que vamos guardar mágoas. Mui-to pelo contrário: presenteamos a nos-sa xará com a gravação de um single e ainda demos uma colher de chá para a gurizada soltar o verbo.

MÚSICA“Antes mesmo de saber tocar, ganhei uma guitarra”. —Vinícius“Eu tô sempre ouvindo música ou com-pondo. Todo dia escrevo alguma coisa. A música é essencial”. —Thomaz

FAMA“Temos uma galerinha fiel.” —Ber“A banda foi crescendo, no Orkut nos-sa letra já tá nos profiles das gurias.” —Thomaz

FUTURO“Quero fazer sucesso, mas com maturi-dade em primeiro lugar”. —Leonardo“Seja como for, quero estar seguindo a carreira musical”. —Bernardo

A NOISE“Coloca aí que apesar das caras de “gurizão”, somos bem queridos (risos). —Vinícius“A banda deveria tocar reggae”. —Ber“Cala a boca, não fala m… Não escre-ve isso na entrevista! Pelo Ber, a gente tocava pagode, ele tem até uma banda.” —Leo

A NOIZE“Irada e inovadora. Espero que a revista continue incentivando quem tá come-çando e abrindo portas”. —Vinícius

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Pela capa, bem que a primeira música po-deria ser “Put Your Hands On Me”, do

terceiro álbum da cantora. Em vez disso, Joss escolheu como single a não menos dançante “Tell Me ‘Bout It”. Misturando soul, pop, hip-hop e sonoridade feminina, Introducing Joss Stone é considerado pela moça como “verda-deiramente eu”. Além de composições pró-prias, há uma faixa com a rapper �auryn Hill nos vocais. Por hora lançado só na gringa, o CD é um dos mais baixados no iTunes. Nati

A bruxa aí é, para muitos, a responsável pelo fim dos Beatles. Num espasmo de sen-

satez, Yoko Ono chamou seu novo disco—uma coleção de músicas suas mexidas por bandas convidadas—de “Yes, I’m a Witch”. “Death of Samantha” revelou-se uma música bonita, ao menos no instrumental a la Pink Floyd. Vered-ito? Recomendado para beatlemaníacos xiitas que queiram rir das faixas desastrosas e sentir-se confusos ao bater o pezinho pra uma que outra. Nando

Já estaria bom se Kassin fosse apenas produtor dos �os Hermanos e músico

da excelente Orquestra Imperial, mas o rapaz não se contenta. Em seu projeto, em conjunto com Moreno Veloso e Domenico (o “+2”), Kas-sin assume a postura de compositor, cantor, e ainda produtor. O grupo faz a junção da música moderna com a MPB dos anos 70. Destaques para a abre-alas “O seu lugar”, “Pra �embrar”, e “Mensagem”. Rock e MPB; clássico e atual. Para nenhum antigo ou moderno botar defeito. R.R.

O Fall Out Boy, mesmo com os dois pés cravados no modismo estético e duvidoso do emo, está um andar acima de todas as

suas seguidoras e conterrâneas bandas meigas. Infinity On High é pop, grudento e singelamente ornamentado pela bela voz de Patrick Stump. Ouça hits como “The Take Over, The Breaks Over” e “This Ain’t A Sce-ne, It’s An Arms Race” para atestar o talento comercial dos caras. Músi-cas como essas conseguem até atenuar os momentos assustadores do álbum, como o injustificado começo rap de “Thriller” e o coral engraça-dinho de “Hum Hallelujah”. Gustavo Corrêa

O despertar de Neon Bible é denso, profundo e devastado pelo peso da existência. Assim como em Funeral (2004), o Arcade Fire está

apocalíptico e atribulado, melancolicamente rico e belo. Quando mostra-se um pouco mais animado, como na acelerada “Keep The Car Running”, retorna rapidamente ao peso existencial de “Intervention”, desenvolvida sob a égide de órgãos profanos que ironizam e atormentam o fanatismo religioso. Neon Bible é paradoxal, pois apresenta a epidemia do absurdo e oferece o antídoto. Um álbum genial cujo eclipse nos dá forças para en-frentar o calor úmido e opressor do verão gaúcho. Gustavo Corrêa

Depois da festa alucinada, vem sempre a ressaca. É, parece ironia, mas foi exatamente o que aconteceu com os influenciadores (ou geradores) do punk, os Stooges. The Weirdness é um álbum modesto, passando muito longe dos geniais The Stooges, Fun House e Raw Power, lançados no final dos anos 60, começo dos 70. Quando a música “Idea of Fun” caiu nas graças da web, com Iggy Pop gritando “minha idéia de diversão é matar todo mundo”, mui-tos pensaram que essa era a volta definitiva dos bons e velhos Stooges. Errar é humano, e possivelmente foi isso que aconteceu com Iggy e os irmãos Asheton ao concluir este disco. É uma pena, principalmente depois dos grandes shows que a banda estava fazendo, desde sua reunião em 2003. Escute “Idea of Fun”, “Trollin´” e “Free and Freaky”, depois coloque os discos antigos para rodar… R. R.

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Com o MTV Unplugged, o Korn inovou bastan-te e surpreendeu os fãs. O que pode de-

cepcionar alguns ouvintes é a ausência de for-tes batidas e guitarras estonteantes em músicas como “Got the �ife” e “Freak On a �eash”, que ganhou o vocal feminino da Srta. Evanescense Amy �ee. O disco traz 11 faixas, com algumas participações especiais—como a de Robert Smith no medley feito com “Make Me Bad” e “In Between Days”. Vale destacar a faixa “Creep”, do Radiohead, que ganhou um clima superadequa-do à letra e muitos elogios da mídia. Para quem sempre os admirou pela inovação, está aí uma oportunidade de ouvir o Korn de uma maneira especial e diferente. Renata Crawshaw

O segundo disco da banda Identidade traz, novamente, uma boa dose do bom e velho

rock’n’roll gaúcho. O quinteto, formado há mais de sete anos, repete a receita bem-sucedida do primeiro CD, lançado em 2002. O resultado é uma mistura harmoniosa de letras simples e be-las melodias, apresentada num disco dançante, recheado de muito rock’n’roll sessentista.Com Jogo Sujo, fica difícil não lembrar de figu-rões da música gaúcha como Cascavelletes e TNT. Não era pra menos: a direção artística do disco é de Nei Van Soria, além da participação especial do ex-Garotos da Rua, King Jim. Um ál-bum que define a Identidade como uma das (boas) novidades do gênero. Fred Vittola

Capital Inicial é uma banda previsível. An-tes de ouvir qualquer álbum deles, é essen-

cial que o crítico esteja preparado para o mes-mo de antes. Eles vêm fazendo isso há um bom tempo e não podem ser condenados, pois pa-rece dar certo. É o pop açucarado em que as músicas parecem se misturar em um tédio ple-no. Eventualmente, surge alguma referência (Beatles, U2, Jota Quest), mas tudo acaba no mesmo lugar. Eu nunca disse adeus é mais um álbum do Capital Inicial: alguns hits e nenhuma originalidade. Gustavo Corrêa

A banda de Brian Jones—guitarrista e i d e a l i z a d o r, e n c o n t r a d o morto em sua

própria piscina, em 1969—foi formada em 1962 e é uma das mais antigas bandas ainda em atividade. Não apenas viveu um momen-to definitivo para a música, mas o transfor-mou profundamente. Mesmo não sendo o primeiro da banda, Out of Our Heads, de 1965, pode ser considerado o primeiro dis-co realmente importante dos Stones. Além de ter o maior número de canções da dupla Jagger-Richards, mostraria ao mundo a mú-sica que os projetou por definitivo na histó-ria do rock e que, ainda hoje, é o maior hit da banda: “Satisfaction”. Nessa fase, os Stones executam uma sonoridade mais crua, sem maiores preocupações com sofisticação. Com o álbum seguinte, Aftermath, o grupo assinala uma nova fase de músicas melhor elaboradas—o que serviu, também, para que Jones se revelasse um fabuloso instru-mentista e, por sua vez, Mick Jagger e Keith

Em 1971, a banda se junta à Atlantic Records, permitindo que eles criem seu próprio selo, a Rolling Stones Records. Com ele, apa-rece pela primeira vez a boca pintada como logotipo, idealizada por John Pasche, no álbum Stick Fingers, da capa de Andy Warhol. O selo vai levá-los para a França ao encontro de Keith Richards, que descansava em um castelo, com a intenção de se livrar de vez

do uso das drogas—momento que, segundo ele, o tinha carregado de inspiração. Os Stones executaram uma pérola, tida por Mick Jagger como o melhor disco de toda a carreira. Em 1972, Exile On Main St. foi gravado ainda na França, em um estúdio móvel considerado o mais moderno da época. As 18 músicas que o compõem soavam mais brilhantes e de uma energia que fora fielmente transmitida. A canção de abertura, “Rocks Off”, faz um prenúncio do que vem pela frente. “Happy” e “Sweet Virginia” são músicas que correm risco de ficar pelo resto

O mais recente álbum dos Rolling Stones confirma o que todos já sabiam: os Stones são mesmo imortais. O disco, que na versão em vinil é duplo, traz a sensação de que voltamos aos tempos do auge do rock’n’roll. Traz ainda canções com maior apelo melódico, como “�et Me Down Slow”, “Streets Of �ove” e “Biggest Mis-take”. Voltado para as raízes da banda, conta com uma produção

de primeiríssima qualidade, deslizando entre rock, R&B, blues e, por vezes, pelo funk e soul. Das 16 canções, é impossível respirar durante as cinco primeiras, sendo que a de número cin-co apresenta Mick Jagger tocando a guitarra principal. A Bigger Bang pode, sim, ser considerado um dos melhores discos da carreira do grupo.

por Beto Stone d’Os Efervescentes

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Sons tornam-se ima-gens numa overdose sinestésica. Não sei se elogio o DVD, a banda ou o show. Poderia também elogiar James Guthrie, produtor res-

ponsável pela limpeza do áudio—um dos grandes destaques desta reedição em DVD do histórico show gravado em Earls Court em 20 de outubro de 94. Sentei pronto para 145 minutos de show, enquanto Gilmour invadia com seu feeling absurdo a base onírica dos teclados de Richard Wright. E assim começou “Shine on you crazy diamond”, uma espécie de delírio, à medida que as imagens viajantes do telão que compunha a megaestrutura do show ganhavam destaque. Um espetáculo.Este DVD cumpre as principais funções de um vídeo para fanáticos: tem um repertório abran-gente, uma qualidade estúpida de boa e filmagem competente, que varia entre platéia, palco e, o mais importante, closes nos músicos. É certamente um dos maiores espetáculos de rock já montados, e isso quase 15 anos atrás. Fora isso, os extras in-cluem a ótima idéia “Bootlegging the Bootleggers”, com vídeos de músicas que fizeram parte da turnê, mas não do show em Earls Court. O DVD é tão repleto de material adicional que o encarte vem com um mapa para navegar pelos dois discos, que totalizam mais de 4 horas de material.A primeira parte do show é uma salada muito bem temperada com músicas que incluem “One of these days”, lá do Meddle de 1971, até “Keep Talking”, “High Hopes” e “Take it Back”, do Divi-sion Bell, álbum cuja divulgação era o motivo da turnê em questão. O segundo disco é um caso à parte. Dark Side of the Moon é um álbum que não aceita críticas negativas. Eu poderia chorar, dormir e me arrepiar na mesma proporção, tama-nho o êxtase transmitido na execução do álbum ao vivo. Transcendental. O trio feminino… como pude esquecer delas até este ponto? Em The Great Gig in the Sky, elas têm a chance de brilhar, e como brilham! O entrosamento do Floyd é magnífico, mas isso pra mim é pré-requisito quando se fala de uma banda que é pedra fundamental no rock psicodélico e progressivo. Depois da execução completa e triunfal do Dark Side vem o bis, com direito a “Wish You Were Here” e “Comfortably Numb”. Acabo louco como Syd Barrett, sem sua genialidade. “Run �ike Hell” fecha o show e eu já me emocionei demais para ver os (ótimos e numerosos) extras. Nando

�ançado depois da triunfal turnê de 2004, que lotou shows em todos os continentes, Sell Out é um DVD valio-síssimo para fãs do Pixies e para apre-

ciadores do rock sincero e enérgico da banda. Apesar de Black Francis escancarar o descon-forto para gritar com a mesma afinação e con-sistência de outrora, o DVD oferece um passeio pelas principais músicas da banda, gravadas ao vivo durante um show em Paris. Além dessas 27 canções, há também performances em outros cantos do planeta, incluídas na forma de bônus.

Se um terço dos cantores de hoje em dia cantassem com a metade do coração e vontade que o mestre da soul music cantava,

com certeza o mundo seria muito mais feliz. Em termos musicais, pelo menos.Marvin Gaye – The Real Thing nos mostra todas as facetas do ídolo, em performances que vão de 1964 a 1981, em estúdio e ao vivo. Traz suces-sos tanto dos tempos em que era um aspirante ao concorrido showbiz americano (como “Hitch Hike” e a confirmadíssima “Pride and Joy”), como de quando já havia se tornado o soul man em pes-soa (como “�et’s get it on” e “I heard it throu-gh the grapevine”). Além de entrevistas entre as músicas, o DVD contém também uma apresenta-ção ao vivo maravilhosa, realizada na Bélgica em 1981.Mas nem tudo foi lindo na vida do cantor. Ele nun-ca teve uma relação boa com seu pai, que após uma discussão em 1983, irritado, pegou uma arma e assassinou Marvin à queima-roupa. O mestre faria 45 anos de idade um dia depois… R.R.

Com o advento do YouTube, bem ou mal, todo conteúdo pre-sente em The Videos 1989-2004 pode ser assistido pela internet. O DVD compila os

videoclipes gravados pelo Metallica do final dos anos oitenta até 2004—é a materialização da vontade da banda de juntar todos seus registros. Os destaques ficam para os excelentes clipes de “One” (versão estendida) e todos da fase do Black Album (1992), na qual a banda encontrava-se em sua melhor forma—tanto comercialmente quanto em termos de composição. Como bônus, traz os vídeos de “2 of One” e “Mama Said”, além da versão teatral de “The Unforgiven” e do trai-ler do filme “Some Kind Of Monster”. O DVD do Metallica é básico e cumpre seu papel. Se não surpreende, também não deixa a desejar. Gus-tavo Corrêa

Precisa apresentar? Num ambiente bre-ga oitentista, Rita �ee sobe ao palco de terno e gravata. Debochada até não

poder mais, sempre performática e melhor a cada segundo, ela deve ter embasbacado as fa-miliazinhas que assistiam à Rede Globo naquela noite. Gravado em 1980, o programa Rita Lee Jones faz parte da série Grandes Nomes pro-duzidos e exibidos pela emissora. Na música “Miss Brasil 2000”, no pano de fundo do palco, mulheres aparecem nuas dispostas pelo Con-gresso Nacional. Outros clássicos como “Esse Tal de Roque Enrow”, “�ança Perfume”, “�uz del Fuego” e “Baila Comigo” estão no DVD, que dura uma hora e não contém extras. Na última música, “Ôrra Meu”, não há bem o que dizer, quanto mais rock, mais a gente gosta. Nati

Com o MTV Unplugged, o Korn inovou bastan-te e surpreendeu os fãs. O que pode de-

cepcionar alguns ouvintes é a ausência de for-tes batidas e guitarras estonteantes em músicas como “Got the �ife” e “Freak On a �eash”, que ganhou o vocal feminino da Srta. Evanescense Amy �ee. O disco traz 11 faixas, com algumas participações especiais—como a de Robert Smith no medley feito com “Make Me Bad” e “In Between Days”. Vale destacar a faixa “Creep”, do Radiohead, que ganhou um clima superadequa-do à letra e muitos elogios da mídia. Para quem sempre os admirou pela inovação, está aí uma oportunidade de ouvir o Korn de uma maneira especial e diferente. Renata Crawshaw

O segundo disco da banda Identidade traz, novamente, uma boa dose do bom e velho

rock’n’roll gaúcho. O quinteto, formado há mais de sete anos, repete a receita bem-sucedida do primeiro CD, lançado em 2002. O resultado é uma mistura harmoniosa de letras simples e be-las melodias, apresentada num disco dançante, recheado de muito rock’n’roll sessentista.Com Jogo Sujo, fica difícil não lembrar de figu-rões da música gaúcha como Cascavelletes e TNT. Não era pra menos: a direção artística do disco é de Nei Van Soria, além da participação especial do ex-Garotos da Rua, King Jim. Um ál-bum que define a Identidade como uma das (boas) novidades do gênero. Fred Vittola

Capital Inicial é uma banda previsível. An-tes de ouvir qualquer álbum deles, é essen-

cial que o crítico esteja preparado para o mes-mo de antes. Eles vêm fazendo isso há um bom tempo e não podem ser condenados, pois pa-rece dar certo. É o pop açucarado em que as músicas parecem se misturar em um tédio ple-no. Eventualmente, surge alguma referência (Beatles, U2, Jota Quest), mas tudo acaba no mesmo lugar. Eu nunca disse adeus é mais um álbum do Capital Inicial: alguns hits e nenhuma originalidade. Gustavo Corrêa

A banda de Brian Jones—guitarrista e i d e a l i z a d o r, e n c o n t r a d o morto em sua

própria piscina, em 1969—foi formada em 1962 e é uma das mais antigas bandas ainda em atividade. Não apenas viveu um momen-to definitivo para a música, mas o transfor-mou profundamente. Mesmo não sendo o primeiro da banda, Out of Our Heads, de 1965, pode ser considerado o primeiro dis-co realmente importante dos Stones. Além de ter o maior número de canções da dupla Jagger-Richards, mostraria ao mundo a mú-sica que os projetou por definitivo na histó-ria do rock e que, ainda hoje, é o maior hit da banda: “Satisfaction”. Nessa fase, os Stones executam uma sonoridade mais crua, sem maiores preocupações com sofisticação. Com o álbum seguinte, Aftermath, o grupo assinala uma nova fase de músicas melhor elaboradas—o que serviu, também, para que Jones se revelasse um fabuloso instru-mentista e, por sua vez, Mick Jagger e Keith

Em 1971, a banda se junta à Atlantic Records, permitindo que eles criem seu próprio selo, a Rolling Stones Records. Com ele, apa-rece pela primeira vez a boca pintada como logotipo, idealizada por John Pasche, no álbum Stick Fingers, da capa de Andy Warhol. O selo vai levá-los para a França ao encontro de Keith Richards, que descansava em um castelo, com a intenção de se livrar de vez

do uso das drogas—momento que, segundo ele, o tinha carregado de inspiração. Os Stones executaram uma pérola, tida por Mick Jagger como o melhor disco de toda a carreira. Em 1972, Exile On Main St. foi gravado ainda na França, em um estúdio móvel considerado o mais moderno da época. As 18 músicas que o compõem soavam mais brilhantes e de uma energia que fora fielmente transmitida. A canção de abertura, “Rocks Off”, faz um prenúncio do que vem pela frente. “Happy” e “Sweet Virginia” são músicas que correm risco de ficar pelo resto

O mais recente álbum dos Rolling Stones confirma o que todos já sabiam: os Stones são mesmo imortais. O disco, que na versão em vinil é duplo, traz a sensação de que voltamos aos tempos do auge do rock’n’roll. Traz ainda canções com maior apelo melódico, como “�et Me Down Slow”, “Streets Of �ove” e “Biggest Mis-take”. Voltado para as raízes da banda, conta com uma produção

de primeiríssima qualidade, deslizando entre rock, R&B, blues e, por vezes, pelo funk e soul. Das 16 canções, é impossível respirar durante as cinco primeiras, sendo que a de número cin-co apresenta Mick Jagger tocando a guitarra principal. A Bigger Bang pode, sim, ser considerado um dos melhores discos da carreira do grupo.

por Beto Stone d’Os Efervescentes

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Quais as chances de um filme sobre bunda fracassar no Brasil? Nulas, certo? Errado. Em primeiro lugar, a sinopse da fita—um cara que se apaixona por uma bunda—é, no mí-nimo, bizarra. Isso sem falar no título: Cheiro de Ralo. Por essas e outras, encontrar quem apostasse na inusitada idéia era tarefa das mais complicadas. Os grandes estúdios e fi-nanciadores fugiram do projeto como diabo da cruz. E sem apoio financeiro não se faz ci-nema em lugar nenhum, certo? Errado de novo. Como os produtores não quiseram abrir mão do título, e muito menos da bun-da, o jeito foi bancar o filme com recursos próprios. Na base da vaquinha mesmo. E não é que o negócio vingou?Baseado no livro homônimo escrito por Lourenço Muterelli, Cheiro de Ralo conta a história de outro �ourenço (interpretado por Selton Mello), um sujeito que trabalha numa loja de penhores. �á, ele passa seus dias inúteis se divertindo com o desespero das pessoas que o procuram para trocar pertences por dinheiro. Além de apreciar a desgraça alheia, �ourenço torna-se cada vez

mais obcecado por um desagradável cheiro de ralo que insiste em perturbá-lo (daí o tí-tulo esquisito) e, de quebra, acaba se apaixo-nando à primeira vista por uma bunda. Mas apenas pela bunda, não pela dona, cujo rosto sequer reconhece.Com um orçamento de 330 mil contos, pou-co para um longa-metragem, o filme com-prova que barato não é sinônimo de chinela-gem. A produção é excelente e o elenco está de parabéns, com destaque para o desempe-nho de Selton Mello. Fosse outro em seu lu-gar, o papel cairia numa completa canastrice. Comédia trash na medida certa. Pedro Alen Castro

de Heitor Dhalia (2007)

de Tata Amaral

Há trabalhos que caem nas graças da mídia e o povo acaba acatando, quando não o contrário. Se o produto vende, eles aproveitam. Depois de ser apresentado na 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e passar na telinha da Globo como minissérie, em fevereiro estreou nos cinemas brasileiros o filme Antônia. O longa-metragem é assinado pela diretora paulista Tata Amaral e conta a história de quatro mulheres que tentam sobreviver cantando rap. Quem interpreta as canto-ras no filme são moças que levam essa vida também fora das telas. Ex-integrante do grupo RZO, Negra �i é acompanhada por Quelynah, Cindy e �eilah Moreno. O CD da trilha sonora tem ao todo vinte músicas, e dentre elas várias foram com-postas pelo quarteto. Na faixa três, as meninas cantam “Killing me softly with his song”, bastante conhecida pela versão do grupo Fugges, na voz da grande �auryn Hill. O disco está repleto de participações de rappers brasileiros. Max B.O. assume o papel de mestre de cerimônia fazendo um “Freestyle” na faixa sete e chaman-do o grupo Antônia para o palco. Outra participação fica por conta de Kamau na música “Tudo Nosso”, afirmando que o rap é “a voz e a trilha sonora de quem acredita na mudança”. Slim Rimografia e Thaíde, precursor do rap brasileiro, tam-bém estão no CD. Minissérie global, filme, CD e quem sabe até um livro de contos. Dá para dizer que Antônia deu certo. Pelo menos no quesito espremer a laranja até o bagaço.

Se o punk fosse um gênero cinematográfico, Sid & Nancy seria o seu exemplar mais fiel. Tosco, visceral, rebelde e insolente, a obra segue a essência do movimento punk à ris-ca. �ançado em 1986, Sid & Nancy narra a trajetória dos Sex Pistols, banda que es-candalizou o establishment britânico com suas letras mal criadas e comportamento anarquista. O personagem central da trama é o baixista do grupo, Sid Vicious, interpre-tado no filme por Gary Oldman (o Drá-cula de Francis Ford Coppola), motivo mais do que razoável para assistir à fita. Mas se quiserem outro, aí vai: a atuação de Chloe Webb como Nancy, a companheira de Sid, é tão convincente que dá pra jurar que as duas são a mesma pessoa. Brincadeiras à parte, Sid & Nancy é um filme indispensável. O verdadeiro anticristo das comédias ro-mânticas. Pedro Alen Castro

Antônia

Cheiro de Ralo

de Alex Cox (1986)Sid & Nancy

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A seqüência para o duplamente premiado God of War (Melhor Jogo de Ação e Jogo do Ano de 2005) finalmente dá seguimento à saga mitológica do original, com a busca por vingança do anti-herói espartano.Considerando que a jogabilidade em si manteve-se praticamente inalterada, pode-se dizer que a fórmula “mais do mesmo” funcionou muito bem neste caso. Com mais horas de jogo que seu antecessor, conta não apenas com um mundo maior, mas também com mais variedade de cenários. God of War 2 fecha o ciclo de vida do PlayStation 2 com chave de ouro.

Na mitologia grega, foi Zeus quem fez Pandora; sabemos que a moça foi um tanto curiosa. Nesta encarnação, quem a criou não foi Zeus, mas sim o Music Ge-nome Project. Pandora é um presente—não grego!—bolado por músicos, para que você conheça novas composições de acordo com seu gosto musical. O site é como uma estação de rádio que você ajuda a progra-mar. Ao indicar a banda ou a música de sua preferência, aparecem outras com algo de similar. Assim, surgem grupos que você nem fazia noção e passa a gostar (ou fazia noção e já não gostava) ao lado do seu conjunto predileto. Já que estava por lá, resolvi testar. Coloquei The Kinks e a estação tocou The Castaways, The Nouvells e Albert �ee. Mais um site para os futriqueiros.

O belíssimo site da banda americana Black Crowes foi desenvolvido por um grande fã—e pela qualidade do site, é mais do que um simples fã. Se você está pensando que este cara é mais um gringo nerd, está com-pletamente equivocado. Anderson Oliveira é gaúcho (isso mesmo, você não leu errado), natural de Santa Rosa. Tamanha era a sua devoção pelo grupo, que Anderson fez o blackcrowes.com.br. O re-sultado foi tão positivo que a brincadeira acabou virando o site oficial da banda.Nele, você encontra quase tudo sobre os Crowes—desde news e discografia até car-tazes de shows. O mais legal é com certeza a guitarrinha em (des)afinação estranha que fica no canto do site. Perca horas tentando tocar “Nothing Else Matters” do Metallica...

Quais as chances de um filme sobre bunda fracassar no Brasil? Nulas, certo? Errado. Em primeiro lugar, a sinopse da fita—um cara que se apaixona por uma bunda—é, no mí-nimo, bizarra. Isso sem falar no título: Cheiro de Ralo. Por essas e outras, encontrar quem apostasse na inusitada idéia era tarefa das mais complicadas. Os grandes estúdios e fi-nanciadores fugiram do projeto como diabo da cruz. E sem apoio financeiro não se faz ci-nema em lugar nenhum, certo? Errado de novo. Como os produtores não quiseram abrir mão do título, e muito menos da bun-da, o jeito foi bancar o filme com recursos próprios. Na base da vaquinha mesmo. E não é que o negócio vingou?Baseado no livro homônimo escrito por Lourenço Muterelli, Cheiro de Ralo conta a história de outro �ourenço (interpretado por Selton Mello), um sujeito que trabalha numa loja de penhores. �á, ele passa seus dias inúteis se divertindo com o desespero das pessoas que o procuram para trocar pertences por dinheiro. Além de apreciar a desgraça alheia, �ourenço torna-se cada vez

mais obcecado por um desagradável cheiro de ralo que insiste em perturbá-lo (daí o tí-tulo esquisito) e, de quebra, acaba se apaixo-nando à primeira vista por uma bunda. Mas apenas pela bunda, não pela dona, cujo rosto sequer reconhece.Com um orçamento de 330 mil contos, pou-co para um longa-metragem, o filme com-prova que barato não é sinônimo de chinela-gem. A produção é excelente e o elenco está de parabéns, com destaque para o desempe-nho de Selton Mello. Fosse outro em seu lu-gar, o papel cairia numa completa canastrice. Comédia trash na medida certa. Pedro Alen Castro

de Heitor Dhalia (2007)

de Tata Amaral

Há trabalhos que caem nas graças da mídia e o povo acaba acatando, quando não o contrário. Se o produto vende, eles aproveitam. Depois de ser apresentado na 30ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e passar na telinha da Globo como minissérie, em fevereiro estreou nos cinemas brasileiros o filme Antônia. O longa-metragem é assinado pela diretora paulista Tata Amaral e conta a história de quatro mulheres que tentam sobreviver cantando rap. Quem interpreta as canto-ras no filme são moças que levam essa vida também fora das telas. Ex-integrante do grupo RZO, Negra �i é acompanhada por Quelynah, Cindy e �eilah Moreno. O CD da trilha sonora tem ao todo vinte músicas, e dentre elas várias foram com-postas pelo quarteto. Na faixa três, as meninas cantam “Killing me softly with his song”, bastante conhecida pela versão do grupo Fugges, na voz da grande �auryn Hill. O disco está repleto de participações de rappers brasileiros. Max B.O. assume o papel de mestre de cerimônia fazendo um “Freestyle” na faixa sete e chaman-do o grupo Antônia para o palco. Outra participação fica por conta de Kamau na música “Tudo Nosso”, afirmando que o rap é “a voz e a trilha sonora de quem acredita na mudança”. Slim Rimografia e Thaíde, precursor do rap brasileiro, tam-bém estão no CD. Minissérie global, filme, CD e quem sabe até um livro de contos. Dá para dizer que Antônia deu certo. Pelo menos no quesito espremer a laranja até o bagaço.

Se o punk fosse um gênero cinematográfico, Sid & Nancy seria o seu exemplar mais fiel. Tosco, visceral, rebelde e insolente, a obra segue a essência do movimento punk à ris-ca. �ançado em 1986, Sid & Nancy narra a trajetória dos Sex Pistols, banda que es-candalizou o establishment britânico com suas letras mal criadas e comportamento anarquista. O personagem central da trama é o baixista do grupo, Sid Vicious, interpre-tado no filme por Gary Oldman (o Drá-cula de Francis Ford Coppola), motivo mais do que razoável para assistir à fita. Mas se quiserem outro, aí vai: a atuação de Chloe Webb como Nancy, a companheira de Sid, é tão convincente que dá pra jurar que as duas são a mesma pessoa. Brincadeiras à parte, Sid & Nancy é um filme indispensável. O verdadeiro anticristo das comédias ro-mânticas. Pedro Alen Castro

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Cheiro de Ralo

de Alex Cox (1986)Sid & Nancy

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Chico é sempre Chico. Para os presentes no Teatro do SESI entre os dias 28 de março e 1º de abril, os minutos que restavam para o fim da espera de 7 anos pareciam cada vez mais longos. Apagam-se as luzes, a tensão aumenta, tudo o que se vê são sete músicos em torno de uma tela branca no centro do palco. Nesta tela, aparece a silhueta inconfundível de Chico Buarque—talvez por pura timidez, ou só para matar todos do coração. O astro então anuncia: “Voltei a cantar”. A tela branca finalmente sobe, revelando a todos a imagem completa do ídolo. Sim, ele existe! A sensação de todos naquele momento é impossível de ser descrita meramente em pa-

lavras. Ovacionado pelo público, após a primeira música Chico apresenta de cara duas grandes canções de seu repertório: “Mambembe” e “Dura na Queda”, que dão uma boa amostra do que virá pela frente—um repertório dividido entre as músicas do último CD e outras já consagradas. O último disco, Carioca, que mostra um Chico mais intimista, foi tocado na íntegra. Músi-cas antigas, como “Mil Perdões” e “Futuros Amantes”, aproveitaram ao máximo seu excelente time de músicos—time este li-derado pelo maestro �uís Cláudio Ramos, responsável pelos arranjos do show e pelo disco de mesmo nome que a turnê.Já no final do show, Chico convida seu “ba-terista predileto”, Wilson das Neves, para cantar a música “Grande Hotel”, composta em parceria pelos dois. Após uma troca de elogios, eles encenam uma jogada de fute-bol, e o público vai ao delírio comemoran-do o “gol de placa”. E vamos ao samba.Os sambas mais clássicos do show vêm na hora do bis. “Sem Compromisso”, “Deixa a menina” e “Quem te viu, quem te vê” aparecem para saciar a vontade dos que, há quase duas horas, esperavam sentados a chance de sambar. Veio a calhar. Com to-dos de pé, Chico despede-se do público, talvez para sempre—o músico anunciou que esta, possivelmente, seria sua última turnê—, com a histórica “João e Maria”. E como mais poderia ser?

Teatro do SESI, de 28 de março a 1º de abrilChico Buarque

Bar Opinião, 21 de marçoBlind Guardian

Depois de quase cinco anos de espera, os gaúchos receberam novamente o show de uma das maiores bandas de heavy metal da atualidade: o Blind Guardian. A enorme

procura pelos ingressos antecipados ape-nas comprovou que a popularidade do gru-po alemão está realmente em alta. Dentro do Opinião, na quarta-feira 21 de março, eram praticamente inexistia espaços sem fãs da banda. Começando pouco depois das 22h (com a tradicional introdução “War of Wrath”, seguida da música “Into to the Storm”), infelizmente notava-se um som com o volume muito abaixo do esperado por um público headbanger. Mesmo assim, os quase 2 mil presentes não deixaram de receber os bardos com muita energia. Durante quase toda a apresentação, o som estava “embolado”, com o vocal de Hansi Kürsh claramente fraco—talvez resultado

da sucessão de shows no Brasil. O set list foi feito de maneira a lembrar todos os ál-buns da banda, desde canções mais antigas (como “Welcome to Dying” e “Majesty”) até as mais recentes (como “And Then The-re Was Silence” e “Fly”—esta, a única do novo álbum a ser executada). O momento curioso da noite foi ao final de “Mordred’s Song”, quando um fã atirou a bandeira do Rio Grande ao vocalista e, mesmo antes da música acabar, todos bradavam o grito de “Ah! Eu sou gaúcho!”, com direito a Hansi pedir que repetissem o berro, pois ele não tinha conseguido ouvir. Um set não muito longo, com apenas 14 músicas, que deixou um gostinho de quero mais—bem mais!

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Chico é sempre Chico. Para os presentes no Teatro do SESI entre os dias 28 de março e 1º de abril, os minutos que restavam para o fim da espera de 7 anos pareciam cada vez mais longos. Apagam-se as luzes, a tensão aumenta, tudo o que se vê são sete músicos em torno de uma tela branca no centro do palco. Nesta tela, aparece a silhueta inconfundível de Chico Buarque—talvez por pura timidez, ou só para matar todos do coração. O astro então anuncia: “Voltei a cantar”. A tela branca finalmente sobe, revelando a todos a imagem completa do ídolo. Sim, ele existe! A sensação de todos naquele momento é impossível de ser descrita meramente em pa-

lavras. Ovacionado pelo público, após a primeira música Chico apresenta de cara duas grandes canções de seu repertório: “Mambembe” e “Dura na Queda”, que dão uma boa amostra do que virá pela frente—um repertório dividido entre as músicas do último CD e outras já consagradas. O último disco, Carioca, que mostra um Chico mais intimista, foi tocado na íntegra. Músi-cas antigas, como “Mil Perdões” e “Futuros Amantes”, aproveitaram ao máximo seu excelente time de músicos—time este li-derado pelo maestro �uís Cláudio Ramos, responsável pelos arranjos do show e pelo disco de mesmo nome que a turnê.Já no final do show, Chico convida seu “ba-terista predileto”, Wilson das Neves, para cantar a música “Grande Hotel”, composta em parceria pelos dois. Após uma troca de elogios, eles encenam uma jogada de fute-bol, e o público vai ao delírio comemoran-do o “gol de placa”. E vamos ao samba.Os sambas mais clássicos do show vêm na hora do bis. “Sem Compromisso”, “Deixa a menina” e “Quem te viu, quem te vê” aparecem para saciar a vontade dos que, há quase duas horas, esperavam sentados a chance de sambar. Veio a calhar. Com to-dos de pé, Chico despede-se do público, talvez para sempre—o músico anunciou que esta, possivelmente, seria sua última turnê—, com a histórica “João e Maria”. E como mais poderia ser?

Teatro do SESI, de 28 de março a 1º de abrilChico Buarque

Bar Opinião, 21 de marçoBlind Guardian

Depois de quase cinco anos de espera, os gaúchos receberam novamente o show de uma das maiores bandas de heavy metal da atualidade: o Blind Guardian. A enorme

procura pelos ingressos antecipados ape-nas comprovou que a popularidade do gru-po alemão está realmente em alta. Dentro do Opinião, na quarta-feira 21 de março, eram praticamente inexistia espaços sem fãs da banda. Começando pouco depois das 22h (com a tradicional introdução “War of Wrath”, seguida da música “Into to the Storm”), infelizmente notava-se um som com o volume muito abaixo do esperado por um público headbanger. Mesmo assim, os quase 2 mil presentes não deixaram de receber os bardos com muita energia. Durante quase toda a apresentação, o som estava “embolado”, com o vocal de Hansi Kürsh claramente fraco—talvez resultado

da sucessão de shows no Brasil. O set list foi feito de maneira a lembrar todos os ál-buns da banda, desde canções mais antigas (como “Welcome to Dying” e “Majesty”) até as mais recentes (como “And Then The-re Was Silence” e “Fly”—esta, a única do novo álbum a ser executada). O momento curioso da noite foi ao final de “Mordred’s Song”, quando um fã atirou a bandeira do Rio Grande ao vocalista e, mesmo antes da música acabar, todos bradavam o grito de “Ah! Eu sou gaúcho!”, com direito a Hansi pedir que repetissem o berro, pois ele não tinha conseguido ouvir. Um set não muito longo, com apenas 14 músicas, que deixou um gostinho de quero mais—bem mais!

O CARDáPIO E A REFEIçãO“Este é um show de punk rock; nós quebramos a barreira entre a banda e o público.” Ian MacKaye estava certo: poucas vezes na minha vida fui conta-giado tão fortemente. The Evens, com seus vocais harmônicos e sua guitarra-e-bateria suscitaram sensações diversas que convergiram para um ponto co-mum: a empolgação da gurizada que foi ao show no Santander Cultural. O CD calminho que me fez relaxar durante a semana que antecedeu o show ganhou tanta energia ao vivo que mais parecia um show de punk rock, marcado pelas letras de protesto e os berros de Ian.QUITES Não espere ouvir o hardcore barulhento das bandas de MacKaye no início de 1980. The Evens é cru mas soa harmonioso. Um par de músicos expe-rientes (Amy Farina já tocou em uma pá de bandas boas, vide The Warmers), ele tocando uma curiosa Danelectro Baritone que soa como um baixo, e ela na bateria, concentrada na troca entre diferentes tipos de baquetas. Não me-nos importante: os dois cantando bem (e) entrosados, bela e energicamente. O resultado é um som quase acústico com uma roupagem roqueira. íMPAR A dupla conversou com a NOIZE: Amy se mostrou mais calada, como que respeitando um destaque esperado a Ian—que, afinal, é O Cara. Um cara inteligente e inspirado, que transita confortavelmente entre música e política. Empolga-se falando do que foi o Minor Threat e o tal do Straight Edge: “eu não me drogava nem bebia, e tinha esse monte de amigos meus enchendo o saco. Mandei todo mundo à merda. É sobre isso o Straight Edge, sobre se construir, não se destruir”. Veja a cobertura completa em www.noize.com.br

Santander Cultural, 25 de marçoThe Evens

Em 2004, o Pennywise provocou rodas punks gigantescas em São Paulo, quando abriu para o Bad Religion em um show memorável. O ano de 2007 marca o retorno dos californianos ao país, desta vez tocando no Pepsi On Stage.O Pennywise foi freqüentemente citado como referência em seus 19 anos de car-reira. Os álbuns até mudaram durante o período, mas sempre mantiveram uma es-sência ímpar e contrariaram uma tendên-cia verificada em outras bandas do estilo, que se tornam mais calmas e “macias” com o passar dos anos. The Fuse (2005), mais re-cente álbum da banda, é semelhante a From The Ashes (2003), que por sua vez lembra Land Of The Free (2001), e assim sucessiva-mente até chegar a Pennywise (1991).Às 20h30min, o movimento continuava pequeno nos arredores do aeroporto. Re-cebo de uma das produtoras a informação de que Jim �indberg, vocalista da banda, viu a edição anterior da Revista Noize e ficou muito feliz. Venta forte quando começam a tocar os primeiros acordes do show de abertura. O público ainda é pequeno e disperso. A banda Another Day realiza um show eficiente, apesar de aparentemente não empolgar um dos seguranças da casa,

que cochila em pé encostado à parede. Dou uma saída e aproveito para conversar com alguns fãs. Um deles usa uma camiseta com estampa do Che Guevara e a seguinte frase: “Eu não sei quem é esse cara”. Vol-to para o interior da casa. O público au-mentou um pouco. Pontualmente às 22h, o Pennywise invade o palco. Jim, Fletcher, Byron e Rady são ovacionados pelos mais de 600 fãs presentes. Eles não perdem tem-po e bombardeiam “Wouldn’t It Be Nice”, do álbum Pennywise, provocando um pogo gigantesco no centro do salão. A qualidade do som é muito ruim e a acústica não favo-rece. “Rules” é a próxima e, mais uma vez, enlouquece e instiga o massacre em meio à roda punk. Mesmo com a precariedade acústica, o público está em chamas.“Can’t Believe It”, do Straight Ahead, é a ter-ceira canção a ser executada. Jim encerra a música e bebe um gole de cerveja sem álcool. “Fight Till You Die” é recebida com energia pela massa. Jim dedica a quinta mú-sica, “My Own Country”, a George Bush, encerrando-a com um agrado ao governo norte-americano: “Fuck them all!”. A “ra-mônica” “Blitzkrieg Bop” instiga a formação da maior roda punk do show. O segurança que antes dormia tapa os ouvidos com as mãos, desnorteado. “Pennywise” e “Fuck Authority” são cantadas com furor. “Socie-ty” provoca a comoção geral e uma das rodas mais enérgicas da noite. “Homeless” é a senha para que dois caras invadam o palco. Um deles atrapalha Byron e é vaiado. “Same Old Story”, “Broken” e “�iving For Today” fecham a primeira parte do show. Enquanto todos berram, observo que re-cém havia completado uma hora desde a entrada do Pennywise. Para delírio geral, a banda retorna com “Every Single Day”. O gran finale é com a apoteótica “Bro Hymn”, que Jim dedica a Jason Thirsk. Foi um show controverso. Parte do pú-blico indignou-se com a duração de uma hora e 10 minutos. Muitos reclamaram da qualidade do som e do preço do ingresso. A verdade é que o mais revoltado fã pode esbravejar em função do que o incomodou no evento, mas jamais esquecerá de quan-do pôde assistir ao Pennywise de perto.

Pepsi On Stage, 27 de marçoPennywise

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Saudações, amigos headbangers! O mês de março passou voan-do, e vamos bater mais cabeça ainda em abril! Em março, rolou uma das festas mais bacanas do underground gaúcho: a junção das festas Metal Night e Hard Rock Celebration no Club NEO. A festa reuniu em duas pistas o que há de melhor no metal e no hard mundial: os dê-jotas Gustavo B. Rock, Gica Beatnik, Dr. �ove, e este que vos escreve. Quase 500 cabeças lotaram a casa. Dá-lhe rock pesado!Por falar em Metal Night, ela está de mudanças. O Gustavo B. Rock e reativamos a nossa Metal Jam, que reestréia dia 5 de abril, em

mais um projeto pesado: o Tribes of Metal, que irá unir a Metal Jam com a New Metal Party. Fiquem ligados: nos meses pares, rola a Tribes of Metal; nos ímpares, Metal Jam & Hard Rock Celebra-Celebra-tion—ambas na NEO.Blind Guardian já passou, arre-bentou, lotou o Opinião. Agora, é a vez dos thrashers norte-ame-ricanos do Testament, dia 24 de abril no mesmo local. Finalmen-te, depois de muitos vem-não-vem, tá confirmada a pedreira. É histórico! Antes disso, rola no Manara o Metal Battle, em duas noites (11 e 18 de abril). E era isso, headbangers de plantão. Horns up!!!

Este mês vou dedicar a coluna de reggae da NOIZE a uma das maiores bandas do estilo. Talvez eu seja suspeita para falar de Gladiators, mas vale a pena mos-trar um pouco da história destes caras que estão na estrada desde os anos 60—e que estão para pintar em Porto Alegre a qual-quer momento para fazer show.Para traduzir Gladiators, eu diria reggae roots, simpatia, músicas de qualidade—a banda ficou conhecida por seus hits como “Bongo Red” e “Roots Natty”. Em 1987, o Gladiators teve sua carreira colocada à prova com a saída de seu baixista e vocalista Clinton Fearon, que resolveu seguir carreira solo. A falta de

sua voz e de suas composições não abalou a banda, que em 1988 começou a se apresentar como “Albert Griffths & The Gladia-Griffths & The Gladia- & The Gladia-tors”. Desde então, os filhos de Albert começaram a integrar o Gladiators, e com a saída do pai, há 2 anos, Al Griffths se tornou vocalista.O show de Porto Alegre pro-mete, mas alguns fãs estão se perguntando se o Gladiators sem Albert Griffhts é o mesmo. Dizem por aí que Al o substitui de forma completa e com o pique que seu pai já não tinha mais. A semelhança do filho impressionou quem já viu sua performance. Agora, para acredi-tar, só vendo.

Nestes tempos em que Miami bass se chama “funk carioca”, MC se chama “rapper”, cantor de funk se chama “MC” e cantor de rap tem vergonha de usar a sua real nomenclatura, o bom e ve-lho “Peace, Unity, Love and Have Fun” (ideologia da Zulu Nation, organização que reuniu os 4 ele-mentos do hip-hop) parece uto-pia e perdeu espaço pra coisas mais radiofônicas. A evolução da tecnologia, a facilidade pra se fa-zer música no computador e o acesso menos complicado a equipamentos de gravação facili-taram este processo. Porém, en-quanto as tecnologias avançam, as idéias, que são a matéria-prima

do rap, estão deixando a desejar. Tudo bem, liberdade de expres-são. Beleza. Mas a descaracteriza-ção já passou dos limites. Tava no MSN, e um amigo teclou: “tô can-sado de respostas, quero boas perguntas”. Adorei. Então, dedico a coluna desse mês ao questio-namento. Que tipo de rap você escuta? Pra você, qual a diferen-ça entre rap e hip-hop? A quan-tos shows de rap nacional você já assistiu? Acompanha algum site de notícias da cultura hip-hop? E você, que faz rap?—Você é um MC, um rapper, um cantor ou um ativista? O que você quer com o rap que você faz? Não seja mais um “passivo”! Até a próxima.

Categorizar música é difícil. Aqui no estado, sempre me incomo-dou essa coisa de separar a mú-sica regional da música popular brasileira, como se o que é feito no Rio Grande do Sul não fosse brasileiro. A premiação do novo CD de Marcelo Delacroix no úl-timo Prêmio Açorianos de Músi-ca, nas categorias disco de MPB e disco do ano, levanta essa dis-cussão. Em Depois do raio (2006), Mar-celo Delacroix reúne integrantes da nata da música popular pro-duzida por aqui, entre eles Ange-lo Primon, Giovani Berti, Mano Gomes, Pedro Figueiredo e Michel Dorfman. Como parcei-ros de composição, estão Ronald

Augusto, Nelson Coelho de Cas-tro, Sérgio Napp, Gustavo Finkler e Arthur de Faria. Alguns músicos preferem pen-sar a identidade gaúcha através da proximidade com a cultura platina, outros optam pelo gau-chismo do movimento tradicio-nalista. Marcelo torna tênue a li-nha divisória entre música re-gional e música popular brasilei-ra. Uma questão que não se es-gota, mas com a qual Depois do raio lida com consistência digna do reconhecimento dos agentes culturais porto-alegrenses.

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A�WAYS ON MY MIND

21 de março, Gigantinho, Porto Alegre, Brasil.Uma em várias lágrimas para definir o gru-po que canta, entre outras lindas canções, “Always on my Mind”. E é isso mesmo, para sempre na nossa mente, memória ou como você quiser definir aquilo que nunca mais vai sair de dentro, lá de dentro da sua alma. O Show do Pet Shop Boys foi assim.A primeira canção a me levar às lágrimas foi “�eft to my own devices”… ahhhh, como é bom viver e vivenciar tudo isso. Como uma banda e suas músicas podem mudar o rumo da sua vida?No meu caso, foi assim. Eu tinha 13 para 14 anos quando escutei a canção “Domino Dancing”. Parei, desci do skate (sim, entre outras mil coisas que fiz na vida, ainda ar-ranjei tempo para ser skatista, quase profis-sional) e fiquei imaginando: como poderia existir uma música assim? Enlouquecido, fui correndo procurar nas lojas de discos. Perguntava sem parar, “você tem Pet Shop Boys?” A resposta era sempre a mesma: “o que é isso?” A resposta para esta falta de conhecimento é simples. Eu havia escuta-do a música no melhor programa de rádio que já existiu no Brasil, o Novas Tendências. Neste programava tocava tudo que estava estourando lá fora.Ver de perto Pet Shop Boys foi uma experi-ência incrível. Sempre escuto suas músicas em momentos de transição na minha vida, exatamente como agora—e como quando escutei a “Domino Dancing” que me levou a procurar os locais onde tocava aquele tipo de música. e logo em seguida me tornei o que sou hoje: DJ.Sim, me tornei DJ por causa do Pet Shop Boys—duo Britânico formado por Neil Francis Tennant e Christopher Sean �owe.Parabéns para a Opus Promoção; organiza-ção impecável, cuidou de todos os detalhes e ainda atendeu amigos e imprensa muitís-simo bem.Ficamos à espera de outros mentores como New Order e Depeche Mode.

Chain Reaction

O Chain Reaction foi inaugurado em Oran-ge County, numa época onde a maioria dos clubes underground alternativos do sul da Califórnia se localizavam em �.A. ou em Ri-verside County. Tim (proprietário) resolveu que era a sua hora de mexer os pauzinhos e fazer com que a cena de O.C. crescesse com a mesma intensidade que a das de-mais cidades vizinhas. Incansável, procurou a melhor localização: Anaheim, perto da 5 freeway na Euclid (quem já teve a oportuni-dade de ir a O.C. sabe que se trata de um local privilegiado). O objetivo dele era simples: manter to-dos os shows razoavelmente baratos (US$8.000) e trazer as maiores e melhores bandas que ele e seus sócios conseguissem. “Nós temos diversos estilos e tipos de bandas que tocam aqui: Ska, Punk, Rock e Alternativo. A maioria são nomes já con-sagrados aqui mesmo da região, mas agora nós estamos recebendo ligações de muitos produtores de turnês de todo os EUA querendo que seu evento passe por aqui”. Inspirador, não?

O que eles têm de diferente?Cada vez que me deparo com este tipo de situação, faço a seguinte pergunta: “Por quê que bandas underground brasileiras, com uma estrada relativamente grande, ainda sofrem tanto para conseguir boas casas de shows?” Só pode ser por um motivo: a maioria dos jovens que estão nos colé-gios ou faculdades, que gostam de música e se informam sobre ela, infelizmente só querem ser “músicos”. O que muitos deles não sabem é que essa “cena” da qual eles irão participar, caso tenham uma banda, não vai pra frente só com “músicos”. É preciso muito mais do que talento para que uma banda consiga andar sem ajuda de ninguém; é preciso muito mais pessoas que acredi-tem nessas bandas, e possibilite-as mostrar seu potencial. Resumindo: precisamos de mais produtores (competentes) e casas de show para bandas independentes!

�et’s Rock!

Não iremos escolher heróis, mas sim con-templar a boa música feita no estilo. A be-leza dos que realmente fazem a diferença, designers de atitudes incontestáveis que tanto gostamos. Eu sei, são tempos difíceis. O antigo clichê do punk, o famoso “faça você mesmo”, anda em alta e cada vez mais a partir de ontem.Falemos de música, então: já está à venda há um tempinho o disco novo dos Bad As-tronaut, banda punk-indie-rock do vocalista e compositor do �agwagon, Joey Cape. Se chama Twelve small steps, one giant disap-pointment e tem 13 sons por 10 doletas.MxPx está no estúdio para seu novo disco, e o aclamado produtor do primeiro álbum da banda, Aaron Sprinkle, está de volta.Um clássico à venda: London Calling, dos Clash. Compre o seu; inclui o lendário bai-xista Paul Simonon.Para quem curte ska, aconselho o primeiro disco dos The Specials: disco de 1979 pro-duzido por Elvis Costello.Agora, ao som de “Brilliant Parade”, do dis-co Brutal Youth do próprio Costello, vem a dica do mês:Se você possui uma banda que está come-çando, procure dar ênfase às suas composi-ções, não ao visual, estilo, atitude e ego.Faça mais músicas e esqueça os covers… covers são apenas para divertir momenta-neamente seu público no dia do show, mas amanhã é segunda, depois vem terça, e as-sim a vida passa—e você fica nessa. Vamos lá, galera, mais música!

No Brasil: Os CascaduraPor que: Os caras são lá de Salvador e fa-zem um som foda, com letras inteligentes lideradas por Fábio Cascadura. Ouça o últi-mo disco, chamado Bogary.

Lá fora: Adam RichmanPor que: O cara fez tudo no porão da casa dos pais… o disco Patience and Science é um divisor de águas na cultura de gravações de baixo orçamento. Bom gosto e tato.

Saudações, amigos headbangers! O mês de março passou voan-do, e vamos bater mais cabeça ainda em abril! Em março, rolou uma das festas mais bacanas do underground gaúcho: a junção das festas Metal Night e Hard Rock Celebration no Club NEO. A festa reuniu em duas pistas o que há de melhor no metal e no hard mundial: os dê-jotas Gustavo B. Rock, Gica Beatnik, Dr. �ove, e este que vos escreve. Quase 500 cabeças lotaram a casa. Dá-lhe rock pesado!Por falar em Metal Night, ela está de mudanças. O Gustavo B. Rock e reativamos a nossa Metal Jam, que reestréia dia 5 de abril, em

mais um projeto pesado: o Tribes of Metal, que irá unir a Metal Jam com a New Metal Party. Fiquem ligados: nos meses pares, rola a Tribes of Metal; nos ímpares, Metal Jam & Hard Rock Celebra-Celebra-tion—ambas na NEO.Blind Guardian já passou, arre-bentou, lotou o Opinião. Agora, é a vez dos thrashers norte-ame-ricanos do Testament, dia 24 de abril no mesmo local. Finalmen-te, depois de muitos vem-não-vem, tá confirmada a pedreira. É histórico! Antes disso, rola no Manara o Metal Battle, em duas noites (11 e 18 de abril). E era isso, headbangers de plantão. Horns up!!!

Este mês vou dedicar a coluna de reggae da NOIZE a uma das maiores bandas do estilo. Talvez eu seja suspeita para falar de Gladiators, mas vale a pena mos-trar um pouco da história destes caras que estão na estrada desde os anos 60—e que estão para pintar em Porto Alegre a qual-quer momento para fazer show.Para traduzir Gladiators, eu diria reggae roots, simpatia, músicas de qualidade—a banda ficou conhecida por seus hits como “Bongo Red” e “Roots Natty”. Em 1987, o Gladiators teve sua carreira colocada à prova com a saída de seu baixista e vocalista Clinton Fearon, que resolveu seguir carreira solo. A falta de

sua voz e de suas composições não abalou a banda, que em 1988 começou a se apresentar como “Albert Griffths & The Gladia-Griffths & The Gladia- & The Gladia-tors”. Desde então, os filhos de Albert começaram a integrar o Gladiators, e com a saída do pai, há 2 anos, Al Griffths se tornou vocalista.O show de Porto Alegre pro-mete, mas alguns fãs estão se perguntando se o Gladiators sem Albert Griffhts é o mesmo. Dizem por aí que Al o substitui de forma completa e com o pique que seu pai já não tinha mais. A semelhança do filho impressionou quem já viu sua performance. Agora, para acredi-tar, só vendo.

Nestes tempos em que Miami bass se chama “funk carioca”, MC se chama “rapper”, cantor de funk se chama “MC” e cantor de rap tem vergonha de usar a sua real nomenclatura, o bom e ve-lho “Peace, Unity, Love and Have Fun” (ideologia da Zulu Nation, organização que reuniu os 4 ele-mentos do hip-hop) parece uto-pia e perdeu espaço pra coisas mais radiofônicas. A evolução da tecnologia, a facilidade pra se fa-zer música no computador e o acesso menos complicado a equipamentos de gravação facili-taram este processo. Porém, en-quanto as tecnologias avançam, as idéias, que são a matéria-prima

do rap, estão deixando a desejar. Tudo bem, liberdade de expres-são. Beleza. Mas a descaracteriza-ção já passou dos limites. Tava no MSN, e um amigo teclou: “tô can-sado de respostas, quero boas perguntas”. Adorei. Então, dedico a coluna desse mês ao questio-namento. Que tipo de rap você escuta? Pra você, qual a diferen-ça entre rap e hip-hop? A quan-tos shows de rap nacional você já assistiu? Acompanha algum site de notícias da cultura hip-hop? E você, que faz rap?—Você é um MC, um rapper, um cantor ou um ativista? O que você quer com o rap que você faz? Não seja mais um “passivo”! Até a próxima.

Categorizar música é difícil. Aqui no estado, sempre me incomo-dou essa coisa de separar a mú-sica regional da música popular brasileira, como se o que é feito no Rio Grande do Sul não fosse brasileiro. A premiação do novo CD de Marcelo Delacroix no úl-timo Prêmio Açorianos de Músi-ca, nas categorias disco de MPB e disco do ano, levanta essa dis-cussão. Em Depois do raio (2006), Mar-celo Delacroix reúne integrantes da nata da música popular pro-duzida por aqui, entre eles Ange-lo Primon, Giovani Berti, Mano Gomes, Pedro Figueiredo e Michel Dorfman. Como parcei-ros de composição, estão Ronald

Augusto, Nelson Coelho de Cas-tro, Sérgio Napp, Gustavo Finkler e Arthur de Faria. Alguns músicos preferem pen-sar a identidade gaúcha através da proximidade com a cultura platina, outros optam pelo gau-chismo do movimento tradicio-nalista. Marcelo torna tênue a li-nha divisória entre música re-gional e música popular brasilei-ra. Uma questão que não se es-gota, mas com a qual Depois do raio lida com consistência digna do reconhecimento dos agentes culturais porto-alegrenses.

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Em turnê na América �atina, volta a Porto Ale-gre, no dia 23 de abril, uma das grandes bandas da história do rock progressivo: Jethro Tull. Com inúmeras modificações em sua formação, mas sempre sob a mística batuta de Ian Anderson, o estilo da banda incorpora elementos de música clássica e celta, assim como do rock alternativo e do art rock. As músicas são marcadas pelo es-tilo vocal cheio de maneirismos e pelo trabalho único na flauta de Ian, além de uma complexa e pouco usual construção musical.Estão no set list “My God, Aqualung”, “Thick As A Brick”, “Budapest”, “Dun Ringill”, “Jack-a-�ynn”, “One Brown Mouse”, “Salamander”, e “Fat Man”.

A cantora e pianista Amy �ee e seus quatro companheiros—que já

ganharam dois Grammy e venderam mais de 14 milhões de cópias pelo mundo—se apresentam dia 17 de abril no Gigantinho, abrindo em Porto Alegre a turnê brasileira de EV World, que passa ainda por Curitiba, São Paulo e Rio de Janeiro.

Dias 20, 21 e 22 de abril, no DC Shopping, rola o 3º Porto Alegre Tattoo Fes-tival, organizado por Bola Tattoo e �agarto Tattoo.

O evento—que conta com uma infra-estrutura completa, praça de alimentação e estacionamen-to gratuito—promoverá um concurso para es-colher os melhores tatuadores, com categorias que variam entre realista, oriental, comics, old school e outras.

Jethro Tull

3º Porto Alegre Tatoo Festival

Evanescence

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FotosPedro MilanezFelipe RosaTatuCarlos SilleroRafael F. Machado

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Todo mês, a Pax.O.Delic vai estar aqui. Infos sobre a cultura psytrance, novi-

dades, lançamentos, festas, festivais e, de vez em quando, uma coluna sobre a cena… Welcome to the future!

No quarto mês de 2007 já dá pra ver que será um ótimo ano para os amantes do bom psychedelic trance. Após anos de fracos lançamentos, en-tramos em uma nova fase, onde labels mais underground começam a ganhar o destaque e a visibilidade merecida, bem como seus artistas.

Nas primeiras grandes festas que tivemos este ano, fomos contemplados com ótimas atrações não-comerciais, acompanhadas de flyers psicodélicos (e bem feitos) e de soundsystems genero-sos—a exemplo dos melhores festivais do mundo, que agradam gregos e troia-nos com line-ups bem montados, cheios de progressive, groove, dark, full-on, mi-nimal, electro… tudo na sua hora, tudo a seu tempo, tudo para todos os (bons)

gostos. ; ) Isso sim é psytrance.A Portal Cósmico, junto

com a Alchemy Recs e a Digital Hive, trouxe em março Freaku-Freaku-lizer e Flip Flop, dois dos grandes

novos nomes do trance psicodéli-co europeu. A OMProject, apostan-

do no progressivo (graças a Deus!), apresentou em sua segunda edição,

dia 10 de março, Sylosound—talvez o segundo maior produtor brasileiro de-pois de Oxyd, tratando-se de progres-sive trance. Dia 5 de abril foi a vez do núcleo Daylight trazer alguém de peso: Headroom! Finalmente o verdadeiro psytrance ganha as festas e é apresen-tado ao vivo para o público. O live/djset de qualquer um desses aí é uma escola de boa música. Pô, até minha mãe gosta de Headroom!

A gravadora NANO Records (afri-ca/uk), por exemplo, iniciou o ano com dois grandes álbuns—e já tem previsto o terceiro para abril ou maio, se tudo der certo. Trata-se de TRISTAN, ex-TwistedRecords, e um dos nomes mais respeitados na cena trance mundial. Chemisphere, ainda sem data oficial defi-nida, promete ser um marco para a cena ainda no primeiro semestre do ano. Em janeiro, foi a compilação Origin Stage vol.3 que trouxe os principais nomes da gravadora (Hydrophonic, Commercial Hippies, Headroom, Eletric Ant, AMD e os mais recentes contratados, �aughing Buddha e Tristan) além de um remix da famosa “Take a �ook Out There” do Eskimo, pelos já citados Flip Flop.

A dupla AMD (AphidMoon e Dick-Dick-ster) é a responsável pelo segundo lan-) é a responsável pelo segundo lan-çamento da gravadora do ano e, para muita gente, talvez um dos álbuns mais esperados de 2007—BIG FISH. Pra mim,

que era fã da track “Big Dipper” (lançada

na Streamline, em novembro de 2005), foi meio decepcionante. Esperava um remix dela e não a mesma track um pouco mais limpa de elementos. Além disso, imaginei que teriam outras com a mesma força que ela tem nas pistas… but this is not a big deal. O álbum é uma produção bem madura, nada cheesy, muuuito psicodélica, twisted, primoro-samente trabalhada e original. Faz bem aos ouvidos, por mais que não traga um resultado imediato no dancefloor. Vale a pena comprar qualquer um desses aí!

Ainda falando em CDs: Zen Me-Me-chanics, Headroom, Freakulizer, Flip Flop, Silicon Sound já estão em vias de fato para este ano lançar os seus. O lance é ficar ligado nos sites de venda de CDs gringos e encomendar à medida em que forem anunciando. É só esperar…

Aos poucos, vemos projetos se desenvolvendo com estilo, identidade e muita psicodelia. Alguns meses atrás, eram apenas desconhecidos que dei-xavam produtores de festas inseguros de investir; hoje, cresceram e já estão nos principais line-ups do mundo, com vários releases em diversas compilações e terminando seus próprios álbuns. É… Evolution is Evolution! PAX!

DJ Victor [email protected]

Design:

Comprar CDs:

�inks:

Pax.visual.Unit> Cauan Almeida ([email protected]) Felipe Tolotti ([email protected])

www.saikosounds.com www.psyshop.com www.soundshop.com.br

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