revista n.º 5 - agosto de 2007

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Este número da revista “Atheneu” é editado no mês em que o Ateneu Comercial do Porto comemora 138 anos de actividade ininterrupta. E mais de um século depois é possível afirmar que a cidade do Porto continua a assistir à firmeza, ao dinamismo, à vitalidade e determinação de uma Instituição que nasceu e se desenvolveu com um espírito onde impera a pluralidade e a tolerância. Com esta edição pretendemos, em primeiro lugar, felicitar o Ateneu pelo seu aniversário. E, em segundo, dar-vos conta das actividades que vão sendo desenvolvidas, tal como dos investimentos que estamos a concretizar, no sentido de criar um conjunto de condições que permitam melhorar o funcionamento desta instituição. Em termos de investimentos, é com satisfação que vos informamos que estão concluídas as obras de renovação de toda a rede eléctrica do Ateneu. Por outro lado, actualmente a segurança está mais reforçada, já que todo o edifício conta, a partir desta data, com os sistemas de vídeovigilância e de detecção de incêndios, o que obviamente vai possibilitar uma melhor protecção de todo o património material. É certo que muito mais há a fazer, como restaurar algumas das salas, melhorar o aquecimento, substituindo canalizações e radiadores, mudar e melhorar as instalações da biblioteca, mudar a secretaria para um local mais visível e disponível, entre outros. A vontade existe. Temos ambição, sonhamos com essas realizações e seguramente havemos de conseguir os meios financeiros que nos possibilitem levar a bom porto todos estes projectos, nomeadamente através de uma candidatura ao IV Quadro Comunitário de Apoio. Refira-se, a propósito, que uma das acções que está em curso é a campanha de angariação de novos associados, para a qual foi criado um “Kit do Sócio” bastante sui generis. Sublinhe-se que o nosso objectivo é conseguir que cada sócio proponha um novo associado, criando dessa forma as condições necessárias para a realização dos projectos propostos, mas também para que o Ateneu consiga atingir a sua autonomia financeira. Pretendemos, ainda, celebrar um conjunto de protocolos com empresas, criando condições para que possam promover os seus produtos nas nossas instalações, fazendo de igual modo publicidade no “Boletim do Atheneu”. Dessa forma conseguiremos publicitar e divulgar o Ateneu, recolhendo igualmente receitas complementares. Mas não vamos ficar por aqui. Queremos mais. Temos muitos projectos que pretendemos desenvolver ainda este ano. Designadamente um vasto conjunto de conferências e seminários, como por exemplo o arranque, quase de imediato da iniciativa “Sábados do Futuro”, acções que tanta visibilidade têm trazido ao Ateneu junto da comunidade local e nacional. Queremos continuar a realizar os noticiados e cativantes concertos de música do Ateneu, sem esquecer, entre outras tantas actividades, que pretendemos criar o Grupo Coral do Ateneu. Iniciativas que, como bem sabem, vão sendo habitualmente divulgadas através do portal de Internet do Ateneu, que pode ser visualizado por todos vós em www.ateneucomercialporto.pt Resta dizer-vos que só activamente e com a participação de todos podemos fazer crescer esta instituição. O Ateneu, estimados consócios, é um pedaço de todos nós. Parabéns Ateneu Comercial do Porto! HÉLDER FIRMINO RIBEIRO PEREIRA (O Presidente da Direcção) EDITORIAL pags 1 Mais investimento e segurança reforçada Caros leitores Estimados Consócios,

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Page 1: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

Este número da revista “Atheneu” é editado no mês emque o Ateneu Comercial do Porto comemora 138 anos deactividade ininterrupta. E mais de um século depois épossível afirmar que a cidade do Porto continua a assistirà firmeza, ao dinamismo, à vitalidade e determinação deuma Instituição que nasceu e se desenvolveu com umespírito onde impera a pluralidade e a tolerância.

Com esta edição pretendemos, em primeiro lugar, felicitaro Ateneu pelo seu aniversário. E, em segundo, dar-vosconta das actividades que vão sendo desenvolvidas, talcomo dos investimentos que estamos a concretizar, nosentido de criar um conjunto de condições que permitammelhorar o funcionamento desta instituição.

Em termos de investimentos, é com satisfação que vosinformamos que estão concluídas as obras de renovaçãode toda a rede eléctrica do Ateneu. Por outro lado,actualmente a segurança está mais reforçada, já que todoo edifício conta, a partir desta data, com os sistemas devídeovigilância e de detecção de incêndios, o queobviamente vai possibilitar uma melhor protecção de todoo património material.

É certo que muito mais há a fazer, como restaurar algumasdas salas, melhorar o aquecimento, substituindocanalizações e radiadores, mudar e melhorar as instalaçõesda biblioteca, mudar a secretaria para um local mais visívele disponível, entre outros. A vontade existe. Temos ambição,sonhamos com essas realizações e seguramente havemosde conseguir os meios financeiros que nos possibilitemlevar a bom porto todos estes projectos, nomeadamenteatravés de uma candidatura ao IV Quadro Comunitáriode Apoio.

Refira-se, a propósito, que uma das acções que está emcurso é a campanha de angariação de novos associados,para a qual foi criado um “Kit do Sócio” bastante suigeneris. Sublinhe-se que o nosso objectivo é conseguirque cada sócio proponha um novo associado, criandodessa forma as condições necessárias para a realizaçãodos projectos propostos, mas também para que o Ateneuconsiga atingir a sua autonomia financeira.

Pretendemos, ainda, celebrar um conjunto de protocoloscom empresas, criando condições para que possampromover os seus produtos nas nossas instalações, fazendode igual modo publicidade no “Boletim do Atheneu”.

Dessa forma conseguiremos publicitar e divulgar o Ateneu,recolhendo igualmente receitas complementares.

Mas não vamos ficar por aqui. Queremos mais. Temosmuitos projectos que pretendemos desenvolver ainda esteano. Designadamente um vasto conjunto de conferênciase seminários, como por exemplo o arranque, quase deimediato da iniciativa “Sábados do Futuro”, acções quetanta visibilidade têm trazido ao Ateneu junto dacomunidade local e nacional. Queremos continuar arealizar os noticiados e cativantes concertos de músicado Ateneu, sem esquecer, entre outras tantas actividades,que pretendemos criar o Grupo Coral do Ateneu. Iniciativasque, como bem sabem, vão sendo habitualmentedivulgadas através do portal de Internet do Ateneu, quepode ser visualizado por todos vós emwww.ateneucomercialporto.pt

Resta dizer-vos que só activamente e com a participaçãode todos podemos fazer crescer esta instituição. O Ateneu,estimados consócios, é um pedaço de todos nós.

Parabéns Ateneu Comercial do Porto!

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EDITORIAL

pags 1

Mais investimento e segurança reforçada

Caros leitores

Estimados Consócios,

Page 2: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

O sonho tornou-se realidade. Estão concluídas as obras

de renovação de toda a rede eléctrica, bem como a

implementação de um sistema de detecção de incêndios

e vídeovigilância no Ateneu Comercial do Porto.

Depois de quatro anos de insistente trabalho e reuniões

junto do organismo promotor (Comissão de Coordenação

e Desenvolvimento Regional do Norte), a concretização

deste projecto de vital importância para a nossa Casa -

orçado em 113.728,68 Euros. Pode bem considerar-se

como uma das obras mais significativas realizadas nos

últimos anos no Ateneu.

Como já tivemos oportunidade de afirmar em anteriores

ocasiões, a necessidade de execução deste Projecto resultou

não só da firme disposição de darmos cumprimento a

exigências legais - impostas em sucessivas inspecções

pelos Bombeiros – como também da nossa profunda

preocupação com a segurança, conforto e comodidade

dos nossos Consócios e acautelamento de um património

valiosíssimo de que muito nos orgulhamos. Todos nós

sabemos os riscos de um acidente eléctrico que, num

edifício centenário como o nosso, teria proporções

catastróficas. Todos nós sabemos ainda da “exposição” a

que está sujeito diariamente o nosso valiosíssimo espólio.

Pois bem, a substituição da “centenária” instalação eléctrica,

a instalação de uma moderna central de detecção de

incêndios e de um sofisticado equipamento de vigilância

com seis câmaras que cobrem praticamente todos os

pontos nevrálgicos do edifício, permitem que, hoje, todos

possamos dormir mais descansados.

Mas este projecto que reequipou e renovou o nosso edifício,

deu-lhe também a segurança, o conforto e a “alma” necessária

e essencial para que possa dinamizar cada vez melhor as

suas actividades, fazendo do Ateneu um património social,

cultural e recreativo ímpar para a cidade do Porto.

Aproveitando as mesmas obras, as nossas instalações foram

ainda dotadas com uma nova e funcional rede estruturada

de voz (telefones) e dados, uma vez que quase todas as salas

possuem hoje tomadas de acesso à Internet.

VIDEOVIGILÂNCIA

O SONHO TORNOU-SE REALIDADE COM OBRAS DA REDE ELÉCTRICA

Segurança e Conforto no “Novo” Ateneu

Page 3: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

Decorreu no passado dia 28 de Fevereiro mais um “ Jantar da Confraria das Tripas” que congregou uma numerosa

assembleia no nosso Salão Nobre. Realizada em colaboração com a Confraria das Tripas à Moda do Porto “ que tem

como objectivo a divulgação deste prato que é o responsável pelo apelido de tripeiros dado aos portuenses”, constituiu

mais um evento memorável. Como de costume, à saborosa ementa regada por néctar à altura, juntou-se um convívio

agradável - que já criou raízes nos “melhores tripeiros”- promovendo amizades e partilhas que honram o Porto.

No final do repasto realizou-se uma homenagem ao Fantasporto, fazendo o Ateneu Comercial do Porto a entrega de

uma merecida medalha aos seus principais mentores - Mário Dorminski e Beatriz Pacheco Pereira. Desta forma o

Ateneu evidenciou o seu apreço relativamente

a um Festival que projectou o nome da nossa

cidade além fronteiras, contribuindo também

para a dinamização do tão desertificado centro

do Porto.

Esperando que, no próximo ano, se repita

mais um capítulo da Confraria das Tripas à

Moda do Porto, aproveitamos para endereçar

os nossos mais cordiais agradecimentos ao

Chefe Hélio Loureiro, nosso consócio, a todos

os que sempre têm colaborado empenhada

e simpaticamente para tornar possível estas

noites portuenses.

ISA BARBOSA(Vice-Presidente da Direcção)

JANTAR DA CONFRARIA DAS TRIPAS

Finalmente, não nos podemos esquecer que,

neste âmbito – o da segurança e comodidade

dos nossos associados – nos últimos anos foi

também instalado um sistema de combate a

incêndios e montagem de portas corta-fogo,

tendo-se ainda concretizado as obras de

preservação das fachadas do edifício, travando

uma degradação que se vinha acentuando

com o decorrer dos anos.

Por tudo isto, pensamos que os nossos

associados se devem sentir orgulhosos do

“seu” Ateneu Comercial do Porto.

pags 2, 3

Page 4: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

No dia Internacional da Mulher, dia

8 de Março, reiniciou-se com

assinalável êxito a tradição dos “Chás

das 5”, às quintas-feiras, no Ateneu

Comercial do Porto.

Com efeito, tendo conhecimento

deste desiderato por parte das

Senhoras associadas lançámos mãos

ao trabalho e, embora com um

figurino diferente dos anteriores,

promovemos já quatro Chás das 5.

Quanto à nova receita, foi simples!

Bastou adicionar ao tradicional chá,

com scones e doces, umas pitadas

de cultura, obtendo assim um

convívio mais intenso e saboroso!

Que o digam as cerca de 50 Senhoras

que participaram em cada um destes

chás e os garbosos cavalheiros que

já nos acompanharam!

Logo no primeiro dia, tivemos a honra

e o privilégio de assistirmos a uma

declamação de poesia por Nina Sousa

Basto que nos recitou poesias de sua

autoria, tendo por tema o Amor,

tratado em todas as suas facetas. Com

a sua voz timbrada e firme, deliciou-

nos com textos onde este sentimento

foi tratado com sensibilidade e mestria

denotando a experiência de uma

Senhora que não só o sente e vivencia

plenamente como também tem o dom

de o transmitir usando um português

correctíssimo.

A 12 de Abril, tivemos a ocasião de

ouvir a Sra. Dra. Maria José Pacheco

que nos brindou com “As razões para

um chá com Camilo e Ana de Sá”.

Fruto de muitos e aturados anos de

investigação profunda e séria que

culminou na redacção de um livro

sobre Vizela, que ofereceu na ocasião

à Biblioteca do Ateneu, a oradora

prendeu a nossa atenção com uma

história verídica mas desconhecida

suscitando questões a que respondeu

com a sua já proverbial simpatia.

No dia 10 de Maio, substituindo a

nutricionista Dr.ª Filipa Botelho, que

não pôde comparecer, ouvimos com

muito agrado a Sra. D. Lucília Mendes

Silva Rocha que recitou, de improviso,

várias poesias sobre a Cidade do Porto

Por fim, a 14 de Junho, a Sra. Dra.

Lucília Abreu proferiu uma

interessante intervenção sobre a vida

e obra de António Gedeão, fazendo

assim uma justa homenagem a este

grande escritor português. Excelente

comunicadora, captou a atenção dos

presentes com um texto enriquecido

por excertos da obra poética deste

autor. No final, todos os presentes

entoaram, em uníssono, a “Pedra

Filosofal”.

A todas estas Senhoras, nossas

associadas, expressa o Ateneu

Comercial do Porto o seu público

agradecimento.

À Escola Pêro Vaz de Caminha,

sobretudo aos professores e aos alunos

do Curso de Educação e Formação

em Hotelaria, que serviram os chás

com profissionalismo, apresentamos

também os nossos agradecimentos.

Cremos com esta iniciativa ter

proporcionado momentos agradáveis

de são convívio entre as senhoras

associadas e suas convidadas pelo

que esperamos, assim, continuar a

merecer a Vossa presença.

CHÁ DAS 5

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Page 5: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

Levou-lhe rosas para secar lágrimas mas foi feito escravo de lus em argolas

de ouro em que bailou senhora da agonia ao redor da gola de manequim

e nuances de pele veludo e cabelos de cetim lus onde por fim se confortou

prisioneiro amadeus surrealista requiem de mozart pensou seria vendido

um dia numa praça de tristeza? dançou o céu na sua boca e suas mãos

eram estrutura de fino arame onde se suspendeu para declamar o poema

de elevação lobismulher lus selvagem que toquem trompetas na flor negra

da tua face no meu óculo antes opaco que brilhe um sol pelo teu vigor

molho e dança chamem os cavalos do rei que eu chamarei orgãos bordados

sexos dourados num cordel luminoso de mercúrio divinal então o novo a

célula descoberta te salvará em santa por teu lobistorso nas campas as cruzes

cintilam rosas ah e dançam dedos no pinhal do vértice oh feminus corpus

e dançam lus ouve dançam na pinha da flora na vestuta e constante horda

encantada desordenada urge surgir teu louco florir à margem da folha onde

cabiamos e nela desenhei o seio que cristo rei tomaria e me separava num

abstracto picasso sem tacto em que formosura teria andado esta virgem que

já pelo dedo sugava a fome que ia na ilha com o dedo sem nexo o sangue

abria a flora cobria o sexo com voz ardente estilhaçava o véu e a benta àgua

de lágrimas perturvada pelo amor amante ? esqueço-me in esférico de

impaciência vagabundo sem ilha de abordagem este pedrejar de janelas

oblíquas com faces camufladas são lembrança do estertor sob porões coloniais

de sede agrilhoada em perservativo inactivo de bolor sexual alcateias debaixo

da cama bulha retoco nos espaços livres a flora de ontem a floresta de

ânimos cresce lus virgem no cais depois deste aceno aos tacinais encantos

do mundo bi esfero do seu torso no meu bugatti retirado a isadora ducan

separamos a brilhante cor azul tocando a noite lus aproximando-me de teu

olhar em vitrais de sémen os pulsos abertos em sulcos esfomeados gravados

pelosseus dedos eram os mundos maquilhados um in esférico de quilha

outro bi esférico de ilha roçando oh lus à abordagem eis a renascença a

emoção in quieta acção lus

pags 4, 5

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POESIA

Page 6: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

Actualmente, quem recorre à Psicologia? De certeza que

qualquer um de vós, caros leitores, conseguirá sem grande

dificuldade responder a esta questão. Contudo, se alguém

se desse a aturado trabalho de investigação versando

apenas e só esta simples pergunta, de certeza que ficaria

surpreendido pelo numero de respostas invariavelmente

dispares que receberia.

Atendendo a este panorama, o leitor, deixando de parte

a sua própria opinião, constatará então que ninguém sabe

ao certo quem atende a Psicologia. Ou para ser mais

exacto, haverá quem o saiba, apenas se calhar para

descobrir que esses são…Psicólogos.

Aposto que neste momento o franzir de sobrolho do leitor

evidencia a suspeição de que possivelmente acabará de

ler este artigo num estado de maior confusão opinativa.

Mas não se alarme! Tal situação não carece de medicação

nem de terapia. O autor, em conjunto com o leitor, tratará

de o acompanhar no percurso do auto-esclarecimento.

Quem recorre então à Psicologia? Serão os loucos? As

pessoas que têm “grandes problemas”? As pessoas que

têm “pequenos problemas”? As crianças que não

conseguem aprender? Os deficientes? E os velhos, dos

quais ninguém quer saber? Será que a Psicologia quer?

Claro que quer!

A Psicologia contemporânea tem instrumentos e métodos

de intervenção adaptados aos exemplos citados e a muitas

outras solicitações decorrentes da vivência humana diária.

Esses instrumentos foram sendo adquiridos ao longo do

crescimento do saber do Homem em relação ao Homem.

Primeiro de forma empírica, depois de forma cientifica.

- “OK, quer-me então parecer que a Psicologia é pau para

toda a obra” – estará o leitor a pensar. Atrevo-me a escrever

que em parte tem razão. Como não é possível definir todos

os diferentes cenários e solicitações de acompanhamento,

orientação, tratamento, etc., é licito pensar que numa

abordagem global o técnico de Psicologia pode “ajudar”

em qualquer “problema” apresentado. Contudo, aqui surge

o busílis da questão.

Se de facto a Psicologia tem o condão globalizante de

intervenção, não nos esqueçamos que o agente

interveniente é sempre um ser humano. Quer isto dizer

que o super-psicólogo é algo utópico, não existindo quem

englobe todos os métodos e técnicas de intervenção

existentes de forma a responder a todas as solicitações e

quadros clínicos possíveis.

De ressalvar também que tal como qualquer outra ciência,

a Psicologia não é um sistema fechado e hermético de

conhecimento. Ainda existe muito no seu âmbito de acção

para descobrir.

Em resumo: a Psicologia abarca no seu manancial de

conhecimento científico uma infinidade (não totalidade)

de questões no âmbito do comportamento humano e das

situações que daí advêm, pelo que qualquer pessoa pode

recorrer com o seu “problema” a ajuda especializada;

cabe ao técnico certificado de Psicologia manifestar a sua

competência de intervenção face a uma qualquer situação

apresentada, sendo esta muito ou pouco gravosa no

entender da pessoa.

Quem recorre então à Psicologia? Qualquer um de nós,

independentemente da idade, sexo, credo, condição sócio-

económica etc., que tem a necessidade de uma intervenção

especializada numa qualquer variável da condição

Psicológica Humana. Esta pode ser classificada da mais

comum e “normal” à menos frequente e patológica.

RUI DUARTE(Psicólogo; Sócio do Ateneu)

Psicologia para todos?PSICOLOGIA PARA SI

Page 7: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

Ann C. Noble*, do Departamento de

Enologia e Viticultura da Universidade

de Davis, na Califórnia, desenvolveu

a Roda dos Aromas como uma

ferramenta que provesse uma

plataforma comum para as descrições

dos aromas do vinho. Nesta

plataforma estariam os principais

descritores de aromas do vinho, os

que mais comummente são usados

para descrever aromaticamente

vinhos. Este vocabulário (conjunto

de nomes, termos ou descritores,

como queiramos chamar-lhes),

facilitaria e uniformizaria as

descrições ajudando a acabar com

termos menos globais, geradores de

dúvida e menos objectivos.

(Um pequeno parênteses para

esclarecer que descrever

sensorialmente um vinho na Enologia

moderna não é e nunca foi um

exercício subjectivo, mas antes a

aplicação de técnicas, rigor e critério

científico.) (...)

A tentativa de definir um conjunto

mais comum de descritores

aromáticos já não era propriamente

uma novidade à data desta

“invenção”, contudo, nada teve o

mesmo sucesso que a Roda dos

Aromas. Em parte, pelos próprios

descritores de aromas que, não sendo

assim tantos, são muito abrangentes,

ou seja, a investigação foi exaustiva

e bem conduzida. Por outro lado,

pela própria forma de organizar os

descritores que permite a qualquer

um chegar a um aroma específico

sem grandes dificuldades (essas,

houve-as com certeza, em género e

número, na investigação da qual

resultou este “Ovo de Colombo”).

Assim, a Roda dos Aromas organiza-

se de dentro para fora, em três arcos.

O arco central tem nomes tão vagos

como “frutado” (que não deixam de

ser precisos se pensarmos que

“frutado” é muito diferente de

“terroso”, por exemplo), o mais

externo, já tem descritores muito

precisos, como “ananás”, de aroma

inconfundível. Parte-se de termos

gerais para termos específicos. A

ponte é feita por termos intermédios

(no arco intermédio), o que é ideal.

Neste exemplo, a ponte é feita por

“frutos tropicais”, bastante diferente

dos congéneres, de que deixo o

exemplo “frutos secos”.

Com esta visão e este “trabalhão”

científico, era de prever que a ideia

vingasse e que se seguissem versões

de “rodas aromatizadas” para quase

tudo (chocolate, charutos, café,

cerveja, queijo, etc.) e, assim

aconteceu, sendo algumas destas

rodas de aromas bastante interessantes

(por exemplo, as usadas para

descrever vinhos muito específicos,

como a do Vinho do Porto, ou para

detectar defeitos nos vinhos, neste

caso com um objectivo mais

profissional) e outras, algo patéticas

e sem carácter científico.

Com respeito a alguns termos pouco

comuns e, outros, até, estranhos, uns

correspondem a nomenclatura

química, mais ou menos genérica,

outros são normalmente usados para

descrever defeitos nos vinhos. Não

podemos esquecer, contudo, que

muitas vezes é a intensidade de um

cheiro que o torna desagradável,

havendo odores (a palavra “odor”,

em análise sensorial, é geralmente

empregue como sinónimo de cheiro

desagradável) que em quantidades

quase imperceptíveis podem tornar

os vinhos mais complexos, não

sugerindo qualquer defeito (e a

complexidade é, no fundo, a

componente mais interessante e

procurada na degustação de um

vinho). Parece-me, ainda, importante

salientar que os descritores da Roda

dos Aromas não são os únicos e que

não é “proibido” usar outros termos

para descrever aromaticamente um

vinho, pode até ser necessário,

profissionalmente ou não. (continua)

DANIEL GONÇALVES MAIA(Sócio do Ateneu)

pags 6, 7

A RODA DOS AROMAS...e os Aromas na Prova

* Professora Catedrática Jubilada da Universidade de Davis, Cientista e Química

Este artigo inaugura a recém-criada rubrica do boletim do Ateneu Comercial

do Porto, “EnoArquivo”, e pretende, simplificadamente, despertar os

sentidos dos consócios para esta temática. Pode encontrar-se a publicação

integral deste artigo “A Roda dos Aromas... e os Aromas na Prova” no Blog

“Coisas dos Vinhos” http://danielgoncalvesmaia.blogspot.com.

Parte I - A Roda dos Aromas

Page 8: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

SÁBADOS DO FUTUROtrazem especialistas ao Ateneu

Uma diferença importante nesta iniciativa

é ser acessível ao público em geral e a

públicos que procuram especialização

prática nas áreas abordadas. Ao lançar este

projecto, o Ateneu Comercial do Porto tem

como objectivo prestar um novo serviço à

comunidade numa componente de

originalidade pela abordagem que

apresenta.

Pretende-se assim que os participantes, que

surgem dos mais diversos quadrantes

profissionais e zonas geográficas, adquiram

conhecimentos em áreas de

desenvolvimento sócio-económico,

aperfeiçoamento pessoal e temáticas que

possuam impacto no futuro profissional

individual. O objectivo é sobretudo criar

um espaço de aprendizagem e transmissão

de conhecimentos com ênfase na

aplicabilidade no dia-a-dia.

O Ateneu tem a ambição, por via de cada

Sábado do Futuro, de ajudar a proporcionar

uma segunda-feira diferente, onde os

participantes comecem a demonstrar novas

competências na direcção dos seus

negócios ou no desempenho da sua

profissão, essencialmente providenciando

novas visões que possam ser postas em

prática.

Para isso, a iniciativa vai procurar ter uma

cuidadosa preparação das sessões e

matérias, com o fornecimento de

documentação original que permita usar

os conhecimentos e progredir, quer na

organização pessoal, quer em contexto

profissional.

A partir do dia 25 de Agosto o Ateneu vai ter uma série de especialistas que nos visitam aos sábados

para transmitir conhecimentos e partilhar experiências profissionais. Trata-se de seminários de dia

único e que pretendem trazer mais-valias aos participantes em áreas tão diversas como as tecnologias

de informação, protocolo de Estado, comunicação pessoal e social, além de outras áreas empresariais

de futuro como turismo, vinhos, welness e gestão financeira.

Page 9: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

pags 8, 9

programa-tipo de cada sessãoCada Sábado do Futuro tem a seguinte estrutrura:

09h15 › 09h30 Recepção e entrega de documentação

09h30 › 11h00 Primeira parte

11h00 › 11h30 Cofee-break

11h30 › 13h00 Segunda parte

13h00 › 14h20 Almoço no Ateneu Comercial do Porto

14h30 › 16h00 Terceira parte

16h00 › 16h25 Cofee-break

16h30 › 18h00 Quarta parte

18h15 Entrega de certificados de participação

Informação sobre as sessões já marcadas encontra-se em

www.ateneucomercialporto.pt, sendo para já as seguintes:

25 de Agosto

Tecnologias da Comunicação - Introdução às bases de dados

8 de Setembro

Protocolo de Estado e relações públicas institucionais

22 de Setembro

29 de Setembro

Comunicação no contexto da Globalização

6 de Outubro

20 de Outubro

Tecnologias da Comunicação: Introdução à imagem digital

3 de Novembro

Turismo em Portugal

17 de Novembro

ABC da Aromaterapia

24 de Novembro

Vitivinicultura: a Essência dos Vinhos

Os Sábados do Futuro são inspirados numa

célebre frase dita por Alan Kay, um dos

principais percursores da revolução das

tecnologias de informação: «A melhor

forma de prever o futuro é inventá-lo». O

valor de inscrição para cada Sábado do

Futuro é de 60 euros acrescidos de IVA,

sendo de 50 euros mais IVA para sócios

do Ateneu, e tendo os participantes direito

à sessão, almoço, dois cofee-break e

certificado de participação.

As inscrições já estão abertas através do

web site do Ateneu, em

www.ateneucomercialporto.pt

Page 10: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

Só para lembrar, Portugal foi pioneiro ao aprovar uma Lei

de Protecção à Infância em 1911, na sequência da

implantação da República. Mas somente após a revolução

do 25 de Abril, na revisão constitucional de 1976, ficam

consagrados na Constituição da República, como direitos

fundamentais, a Infância (art.º 69) e a Juventude (art.º 70).

A 26 de Janeiro de 1990, Portugal ratifica a Convenção

dos Direitos da Criança e em 1999, verifica-se a última

grande Reforma do Direito de Menores, com a Lei de

Protecção de Crianças e Jovens em Perigo, n.º 147/99, de

1 de Setembro.

Os maus-tratos a crianças (físicos, psicológicos, emocionais,

sexuais e outros) estão na ordem do dia pela forte

divulgação na comunicação social. Apesar da actualidade

do tema, a violência contra as crianças está longe de ser

um problema novo na história da humanidade e constitui

um dos factores de fragilização da criança com

consequências nefastas a curto e longo prazo. Por isso

toda esta onda de violência é inaceitável, compromete o

crescimento e desenvolvimento da criança e afecta a sua

qualidade de vida.

Muitas batalhas tem sido travadas na promoção e defesa

dos direitos da criança, com algumas conquistas alcançadas

e, aqui, gostaríamos de fazer uma referência especial ao

Exmo.Sr.Dr. Luis Villas Boas, mentor do Projecto Emergência

Infantil e pelo papel que tem desempenhado no quadro

da Adopção em Portugal, na Comissão Interdepartamental

para a Adopção e na Comissão de Acompanhamento da

Lei da Adopção.

Contudo, só uma actuação precoce poderá evitar que a

criança venha a passar por situações traumáticas,

comprometendo o seu futuro. Mas, uma prevenção que

se pretenda eficaz, implica a implementação de medidas

específicas de modo a diminuir os factores de risco e a

fortalecer os factores de protecção.

A experiência no terreno mostra que, na origem dos maus-

tratos, há certos factores que facilitam a sua ocorrência e

que são comuns a muitas das situações. Por exemplo, é

no cenário familiar, que os maus-tratos são mais frequentes.

Os pais ou os responsáveis pela criança apresentam quase

sempre um quadro de baixa auto estima, ou passaram por

uma situação de violência na infância ou são

toxicodependentes, alcoólicos, tem dificuldades

económicas graves, más condições de habitação, etc.

Enquanto isto, o número de crianças em perigo vem

aumentando o que requer estruturas de protecção, capazes

de criar condições, que permitam o acolhimento integral

das crianças em perigo até à concretização do seu projecto

A visibilidade social que hoje assume a problemática da criança em perigo tem determinado o

aparecimento de diversas medidas de intervenção nesta matéria. Mas, não obstante o enquadramento

legislativo dessa intervenção e o empenhamento das diversas instâncias que actuam nesta área, muito

há por fazer, essencialmente a nível de prevenção, quer da parte dos profissionais quer da comunidade

em geral, atendendo à complexidade e à delicadeza dos problemas envolvidos.

QUE PROTECÇÃO PARA A CRIANÇA EM PERIGO?Colo? Amor? Educação? Família? Caminho? Projecto?

Page 11: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

de vida – quer se trate do reencaminhamento para a família

biológica, após reabilitação, quer se trate de adopção.

Daí o surgimento das IPSS – Instituições Particulares de

Solidariedade Social -como resposta criativa de estratégias

inovadoras e metodologias adequadas a esta problemática,

intervindo em parceria com outros actores sociais.

A Associação A Casa do Caminho é uma delas, tendo

aberto as suas portas a 8 de Outubro de 1990 com a

missão de acolher, enquadrar e encaminhar as crianças

em perigo, colaborando com o Estado em articulação com

instituições das áreas da Justiça, Social e da Saúde, na

sua intervenção precoce, técnica e temporária.

Na instituição são acompanhados os processos de adopção

e de reinserção social, promove-se a educação, o suporte

psicopedagógico, a reabilitação e a sociabilização num

ambiente de muito amor e dedicação. Todo este trabalho

é desenvolvido por uma equipa multidisciplinar de técnicos,

trabalhadores de acção educativa, administrativa e

voluntários.

Pela intervenção realizada, até hoje, na protecção da

criança em perigo, garantindo o seu superior interesse,

bem como a sua privacidade, já passaram pela Associação

A Casa do Caminho cerca de 500 crianças, das quais 250

foram encaminhadas para adopção, 190 para a família e

as restantes para outras instituições.

Estes dados são o reflexo da passagem temporária de

crianças com histórias de muito sofrimento. Então, prevenir

é urgente. Como? Amando, educando, alimentando, física

e espiritualmente, as nossas crianças. Deste modo,

estaremos a contribuir para uma sociedade com valores,

mais justa, mais humanizada e sobretudo mais tolerante,

com capacidade para devolver às crianças, o sorriso e a

alegria de ser criança!

Certamente, isso exige uma mudança de corpo e alma,

uma aliança de razão e coração. Exige um novo sentido

de interdependência e de responsabilidade universal. Por

isso mesmo, quisemos partilhar convosco, algumas

preocupações e ideias, porque temos consciência de que

é, através da busca conjunta de respostas para problemas

tão delicados, que se aprende.

É fundamental descobrir soluções possíveis para a

problemática da criança em perigo, procurar transformar

percursos difíceis em projectos de sucesso, de integração

e de harmonia.

Apelamos a vós leitor, às famílias, à comunidade em geral

que, de acordo com a posição que cada um ocupa no

tecido social, participem, contribuam e olhem as crianças

como uma prioridade não apenas no discurso e no papel,

mas nas medidas, nos orçamentos e nas acções.

LÍGIA FIGUEIREDO

(Directora na Associação “A Casa do Caminho”)

pags 10, 11

Page 12: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

Nascido na Foz do Douro, quando

esta não era mais que uma pequena

vila piscatória, a ela ficou sempre

ligado. A recordá-lo, o busto do

escritor no seu Jardim de S. João da

Foz, contemplando longamente

“aquele mar que lhe embalou o berço

e que se desfazia em espuma nevada

contra a penedia aguda e negra”.

Como diria na sua obra Memórias,

“esta FOZ de há 50 anos, adormecida

e doirada (…) e sempre ao largo do

mar, o mar, diáfano ou colérico, foi

o quadro da minha vida”. Essa forte

ligação afectiva com o cenário

marítimo, resultaria numa extensa

visualidade que caracteriza muitos

dos seus textos, como aqueles em

que evoca a infância feliz na Foz

Velha: “ As belas tardes no Passeio

Alegre (…) enquanto o mar alastrava

de manso pela areia fulva e, no ar

límpido, cantavam pregões de vareiras

(…) Que recordações e que saudades

eu sinto! Vejo outra vez tudo: as

fisionomias, as coisas, a cor, a luz…”

Foi a FOZ o cenário das “excursões

maravilhosas com os meus

companheiros, pelo pinhal do Lage,

onde se cortava o mastro para a nossa

catraia (…) Sós e livres, no mundo

azul e frenético! (…) nadas que farão

sorrir os outros; são efectivamente

nadas… E, no entanto, reconheço

que essa foi a melhor parte da minha

existência…”

Com que emoção Raul Brandão

evoca o Cabedelo, “deserto cheio de

prestígio e de aventura, onde se

tomavam os melhores banhos e onde

se experimentavam os melhores

prazeres: andar um momento

envolvido na crista da onda, ser

atirado numa sufocação sobre a areia

(…), ir descalço pelo areal fora, meter

os pés nas poças de água azul polida,

escorregar nas rochas luzidias, olhar

os caranguejos nas fisgas (…) e

contemplar, enfim, a flor pequenina

e vermelha dos cardos que ali

crescem e donde, às vezes, irrompe

um lírio branco que perfuma os vastos

areais, dura algumas horas e logo

desaparece”! Ou então a Cantareira

que “num cantinho adormece”, ou

“os varais das redes até à

Corguinha…”. Tudo são lugares

míticos que o acompanharão toda a

vida, gravados profundamente na sua

memória e no seu coração!

É nesse cenário que se desenvolve

toda a actividade piscatória que

arrancaria da pena de Raul Brandão

páginas sofridas, com o seu quê de

trágico: “Rompem da sombra vultos,

alguns homens preparam o barco

para a largada. Saída a barra, vencida

a força da corrente, entra-se na noite

infinita, no negrume. A faina começa

(…). Quando a tarde cai e as gaivotas

apanham o último sol, entra-se a

barra. Correm mulheres pelo cais.

Homens e mulheres, unidos no

mesmo esforço, puxam para terra as

redes, fartas, carregadas com a safra

abundante”. Mas, “às vezes”, o

movimento explode, muda-se em

manifestação de dor, de crispação,

de angústia, de desespero, de

pressentimento ou anúncio de

tragédia (…) quando, no ar, andam

enrodilhados farrapos de nuvens e de

espuma, quando no horizonte fundo,

remexem cóleras indistintas (…)

quando o mar varre em catadupas

cerradas o farolim, o cabedelo e o

cais, quando os homens morrem à

boca da barra na Pedra do Cão (…)

e as mulheres soluçam, arrastam os

joelhos nas pedras, rezam, suplicam,

imploram, gemem, choram, rasgam

a cara com as unhas (…) “São horas

de nojo, essas que inscrevem sulcos

de lágrimas na cara”.

Repare-se na sucessão de verbos com

que Raul Brandão imprime, na escrita,

“Quando os rolos de espumarebramiam no Cabedelo,apertavam-se os corações no peitoe, à luz da candeia,

rezavam pelos que andam sobre as águas do mar.”

in “Os Pescadores”

A “FOZ” EM ESCRITORES DO PORTORaul Brandão (1867-1930)

Page 13: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

toda a dor dessas mulheres “crestadaspela desgraça”: primeiro, a crença, aesperança. Elas rezam, suplicam,imploram, mas, logo a seguir, perantea consumação da tragédia, essasmulheres geme, choram e, perdidatoda a esperança, enrodilhadas noseu destino trágico, “rasgam a caracom as unhas”.

São estas Mulheres, ao lado dosPescadores, personagens de proa emalgumas obras de Raul Brandão. Sãoelas que, sempre presentes, esperamo momento em que os barcos “atirampara as linguetas viscosas o peixemiúdo para logo partirem para asestradas, com a canastra à cabeça(…)”. “ A roupa encharcada pega-se-lhes ao corpo, as mãos magras etisnadas, de unhas roídas pelotrabalho, fincam-se no peito paraconter os soluços que lhe estalam”.

Raul Brandão eternizou nas suasMemórias a silhueta de muitas delas– a Maria da Viela, a Maria da Sé, asPapeiras, as Bexigas, a Rata dasSobreiras – cada uma com o seudrama e todas com o mesmo drama,vítimas de um mar ora diáfano, orabrutal, que, em horas de dor, elasperscrutam, com os olhos fixos, àespera que ele lhes devolva o que demais querido lhes roubou…Enérgicas, abnegadas, de uma estaturahumana ímpar, assim as recorda RaulBrandão, como aquela “sanjoaneiraque, além de trazer a casa asseada,governa o homem, dirige o negócio,apregoa e remenda, conserva as redeslavadas e encasca-as”, como “aquelaoutra velha, com a boca desdentada,a escorrer ternura e sempre a rir-separa mim”. “Bestas de carga, todaselas, dias atrás de dias encharcadase escorrendo salmoura (…) bebendoas lágrimas e o cuspo do mar e

contendo o coração em farrapos, comas mãos negras apertadas sobre atábua rasa do peito (…) A mocidadedura-lhes o que duram as rosas…”

Muitos dos Pescadores da Foz que,na sua labuta diária dependiaminteiramente do oceano imenso queamavam e com o qual não rarotinham que lutar, conheceu-os RaulBrandão: “o velho piloto-mor quefuma, inalterável, o seu cachimbo debarro, aqueles que, de agulha na mão,remendam as redes, outros que,sentados no areal, faziam as redes,as da pescada, as robaleiras, osquartos, as feiticeiras (…). Conheci oBilé, o Mandum, o Manuel Arrais queme levou pela primeira vez na nossalancha, ao largo… (Há que tempos!E foi ontem…), os Condes, dois irmãossecos, denegridos, ambos mortos nomar, o Teca, o João Mouco que, comuma linha e engodo, pescava comigoenguias na lingueta da Cantareira (…)E muitos outros. Todos da FOZ, todosgente rude e trabalhadora que, domar e para o mar, vive e que, no mar,tantas vezes morre”.

O cenário em que toda essa labutade relação com o mar se desenvolve,imortalizou-o Raul Brandão numapaleta de policromia tão forte que,ao lê-lo, ainda hoje nos sentimosatraídos por essa atmosfera cheia decor e fascinação. É o Cabedelo, onde“a areia é um lençol doirado, aespuma mosto branco e salgado eonde, o sol veste as ondas de umaarmadura de aço a reluzir; as poçasque ali se formam, quando a marérecua, são de água azul e polida, asflores do cardo, vermelhas (…) oslírios que, daquela secura e doamargo sal ali brotam, brancos. E éo traço do cabedelo que, de manhã,separa o azul do rio do pó verde do

mar, esse mar que, às vezes é de um

azul transparente, outras cobalto, com

reflexos metálicos, larga estrada de

prata…”.

Ninguém como Raul Brandão soube

“pintar” os poentes à beira-mar,

sobretudo em Os Pescadores, com

pinceladas fortes e rápidas: “os

poentes há-os, às vezes, em farfalhos

com largas pinceladas verdes; outras

vezes, são trágicos, ou doirados e

verdes. Mas há também o violeta das

tardes, com o mar também violeta e,

além disso, dourado”. E há “os

poentes desgrenhados, quando as

nuvens negras, lá ao fundo, se

transformam em ameaça…”

Toda essa paisagem, toda a atmosfera

da FOZ de 1900 se entranhou de tal

modo na alma do escritor que, muitos

anos depois, ao recordá-las, confesso

ao leitor que elas se sobrepõem a

todas as outras que foram desfilando

no seu percurso de vida. Sentimos

que elas fazem parte integrante do

seu ser, como o fazem a mãe de quem

diz ter herdado a sensibilidade, o

amor pelas árvores, pela água, e

também o sonho…ou a velha criada

Mari’ Emília que lhe transmitiu “essa

aspiração que não morre, para uma

vida mais perfeita e mais bela”.

pags 12, 13

LUC

ÍLIA

AB

REU

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u)

Page 14: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

MÚSICA20 de Janeiro

Concerto de

Homenagem a Fernando Lopes-Graça

Pelo Centenário do seu Nascimento

16 de Março

Recital de Canto e Piano

Canções e Duetos em Alemão

26 de Abril

VII Concertos Internacionais de Músicado Ateneu/ 2007

Recital de Piano por José Veloso Rito

6 de Maio

X ECAP – Encontro de Coros da Academiado Porto

Integrado na Queima das Fitas

24 de Maio

VII Concertos Internacionais de Músicado Ateneu/ 2007

Recital de Piano por Ruvim Ostrovsky

21 de Junho

VII Concertos Internacionais de Músicado Ateneu/ 2007

Recital de Piano por Mikhail Lidsky

APRESENTAÇÃO DE LIVROS6 de Fevereiro

Cristina de Mello

“Inteiro Silêncio”

2 de Março

Edmundo Pedro

“Memórias-Um Combate pela Liberdade”

17 de Março

Fernando Correia

“Penajóia das Memórias”

22 de Março

Rui Graça Feijó

“TIMOR: Paisagem Tropical com GenteDentro”

8 de Maio

Miguel Urbano Rodrigues e Ana CatarinaAlmeida

“Etna no Vendaval da Perestroika”

CONFERÊNCIAS E DEBATES

27 de Abril

Conferência/ Debate

“Captação de investimento público”

Esta Conferência está integrada no Ciclode Conferências

“Divulgar uma estratégia dedesenvolvimento do Porto cidade eregião”

21 de Maio

Conferência

“A República no Séc. XXI”

Proferida pelo Dr. Miguel Veiga

OUTRAS ACTIVIDADES

17 de Março

Teatro Amador

Apresentação de uma peça sobreepilepsia

Epilepsia

14 de Abril

Leilão de Filatelia

Promovido pelo Núcleo Filatélico doAteneu

18 a 19 de Maio

Teatro “O Sótão”

Apresentação de uma peça “DozePedaços de Lua”

Baseado em Histórias Mínimas de JavierTomeo

28 de Maio

Teatro “A Minha Vida Cabe Num Disco”

Interpretado pela Academia de Músicade Vilar do Paraíso

Organização do XXX FITEI – FestivalInternacional de

Teatro de Expressão Ibéric

AGENDA O Primeiro Semestreem Revista

20 de Setembro

Recital de Violino e Piano

Com Xuan Du e Anna Krivtsova

28 de Setembro

Prossegue o Ciclo de Conferências

“Divulgar uma estratégia de

desenvolvimento do Porto cidade e

região”

Setembro

As Escolas de Dança de Salão

“Promenade” e

“Vienense Reinhard Polt”

retomam a sua actividade

18 de Outubro

Concerto pelo Quarteto de Cordas

Russo

“Quinta Corda”

12 de DezembroFesta da Biblioteca

31 de DezembroFesta de Passagem d’Ano

Saiba o quevai acontecerno Ateneu

BrevesAteneu está a formar

Grupo Coral

O Ateneu Comercial do Porto abriu

as inscrições para todos os que

pretendem integrar o Grupo Coral

do Ateneu. O objectivo é dar corpo

e alma a um sonho bastante antigo

desta instituição.

Os que decidirem apoiar e associar-

se a esta iniciativa terão apenas de

dar o nome e alguns dados pessoais

nos Serviços de Secretaria do Ateneu,

pelo telefone 223 395 412 ou a

partir do endereço de e-mail:

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Page 15: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

pags 14, 15

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Page 16: Revista n.º 5 - Agosto de 2007

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Porto, de de 200

Aprovado em sessão de Direcção

de de de 200

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Sócio n.º

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COMERCIAL DO PORTOATENEU REGISTO ANUAL N.º

O Proponente

Sócio n.º

Assinatura do Proposto,

Page 17: Revista n.º 5 - Agosto de 2007