revista movimentos sociais - eja

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P A U L O F R E I R E - C HIC O M E N D E S - M A R I A D A PENHA - ZUMBI - BETINHO - ÍNDIO S D O B R A S I L - M A R T I N L U T H E R KIN - NELSO N M A N D EL A - M A DR E TER E Z A D E C A L C U T Á - C H E G U E V A R A - G A N D H I - L U L A - I R M Ã D O R O T H Y S T E I N - Í N D I O G A L D I N O A n a S a r m e n to - V er a M achado - Irene M e l o - V anir Bertoli n o - N a d i r G a i p o - G r a ç a A m a r o - Piedad e Siqueir a - Ot a via A m a r a l - S i r le n e P aul a - Ja n celayne Luz - G r a ç a M a r c i a no - M a r i a O li v e i r a - R o s a n g e l a T o z e l l e - A n a S i m o n etti - Nadia T rigueir o - Sara C ec íli a - T e r ezin ha V i a n a - M a r ta S a n to s - R o s ân g e l a F é - J o s n e t e - J o s é - k e i z i e l l e - L u ana - Ma ri a - R osân g e l a driajan e - A n a L ú c i a - C a r l o s - Ce c í li a - a - F ranci s c o - A d r ia n a - A r M a r cili o - M a r i a - Mire s - O l iza n g ela - P at rícia - P aula - Se ba s tião - Silvania - U erlei - Vilson - Waltenir - Davidson - Marlon - Alme ni - A n a - B en v i n d a - E l e n i ce - E l zi - Eze q u iel - I vania - João - Lucia no - Luciene - Marcelo - Maria - Nelson - Nilma - Patr í c i a - R o s e m e ir e - S u l i m ar - D i e g o - M a r c o s - A p a r e c id a - C l a u d in ei - Leonardo - Libertad - Lucia - Luciana - Maria - Rosa - Rosáli a - W adson - Helbert - Marcos - Evan d er - A n a L uiz a - A r i s t ó t e l e s - J é s s i c a - M a r c o A u r éli o - N ádia - A d riele - V ilm a - S andr a - B r u na - Alexandre - Guilherme - Bruno - Warderley - Am a n d a - D ie n y - W a rle y - P a u l o H e n r i q u e - M aria d a Penha - A le x a n d r a - Maria H elena - Maria Aparec i d a - L u c i a n a - J e r e m i a s - C l á u d ia - W alis o n - A n t ô nio C a rlo s - R o s â n g e l a VOCÊ

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Revista editada pelas professoras, professores, alunas e alunos da EJA da Escola Municipal "Gracy Vianna Lage" em Belo Horizonte MG.

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Page 1: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

PAU

LO FREIRE - CHICO MENDES - MARIA DA PENHA - ZUMBI - BETINHO - ÍNDIOS DO BRASIL - M

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Terezinha Santos - Márcia Macedo - Elza Coelho - Jaime Faria - Nilton Amâncio - Márcia Elias - N

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Mara - Maria - Marlene - Matusalém - Sebastião - Malvina - Francisco - A

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VOCÊ

Page 2: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

Prefeito

Fernando Pimentel

Vice-Prefeito

ronaldo Vasconcelos

Secretário MuniciPal de educação

Hugo Vocurca teixeira

realização

escola municiPal gracy Vianna lage

regional Venda noVa

rua João soares leal, 23 - Jardim dos comerciários

direção

conceição saViotti e rinaldo mendonça

equiPe editorial

graziele, sandra magna, roselita soares, Juliana, rômulo, menina maria, Valéria,

Vânia lúcia, marta, carmem, nadir, Vera, Hilda, sirlene, sandra medina

reViSão editorial

graziele souza, sandra magna

editoração

márcio m moreira

iMPreSSão

editora Betânia

tirageM

1.500 exemPlares

escola municiPal gracy Vianna lage

Patrocínio

Page 3: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008 - 3

Editorialcreditamos que outro mundo é possível. É com esse espírito

que apresentamos esta publicação. A

construção de um mundo novo exige que nos movimentemos em direção ao outro, e, se faz urgente o primeiro passo. A Educação, intermedia e orienta esse movimento, por isso, a Educação é o Caminho.

Ninguém escapa à Educação! Ela está além dos muros da escola: está na família, na rua, no trabalho, na igreja. Todos nós envolvemos pedaços da vida com ela: para aprender e/ou ensinar. Todos os dias misturamos a vida com a Educação, pois é ela quem cria o respeito às diferenças de gênero, o respeito a todas a formas de vida da natureza, o respeito às diferenças culturais e raciais.

Mas porque estudar sobre os Movimentos Sociais? Para que as experiências do educando/a façam parte efetivamente da escola. Para que conheçam seus direitos e deveres sociais; para incentivar o desejo de pertencimento e inclusão social. Podendo desse desejo, nascer um movimento por um mundo novo. Enfim, Por acreditarmos que não existe um modelo único de educação e que a escola não é o único lugar onde ela acontece.

Ao estudar e escrever sobre os Movimentos Sociais queremos possibilitar aos educandos/as uma mudança de comportamento e um novo olhar sobre as lutas e conquistas de grupos excluídos socialmente e, também, compartilhar suas vivências sobre os temas, pois se identificam com eles e .

Estudar os Movimentos Sociais, também é estudar sobre os valores éticos, mostrar que ela está no dia-a-dia das pessoas, que é vivida por todos de alguma forma.

Em fevereiro, iniciamos o projeto estudando o Movimento Feminino, e na seqüência, Indígena, Operário, Ecológico, Juvenil, Camponês e,

finalizando o ano letivo, o Movimento Negro. Outros projetos estão incluídos na Revista, pois são movimentos para uma educação de qualidade e de respeito às diferenças.

Tudo ainda é novo para estudantes e professores. Nem todos conhecem ou fazem parte de algum movimento, mas, de fato, não somos mais os mesmos depois das descobertas feitas.

O importante é ter consciência de que tudo o que se deseja e se conquista vem de movimentos, de idéias, de atitudes que começaram tímidas e aos poucos se tornaram grandiosas.

Foi gratificante o estudo dos Movimentos Sociais, principalmente quando se percebe que alguma coisa tocou os educandos/as e que uma mudança, mesmo pequena, ocorreu. Você, leitor, perceberá isso nos textos da Revista. Alguns foram transcritos na sua forma original, sem revisão, para que demonstre o esforço e o desejo de se fazer ouvido, mesmo quando não se domina a forma culta da língua materna.

Essa foi sem dúvida, uma experiência pedagógica e humana importante para todos os envolvidos. A equipe responsável por cada movimento foi muito cuidadosa ao socializar conhecimentos e criteriosa ao selecionar o material pedagógico para o desenvolvimento do projeto. Foi um verdadeiro laboratório de experiências e produção de conhecimentos, pois para desenvolver bem um trabalho os/as professores devem se envolver, estudar e estar abertos para aprender com novas propostas.

Acreditamos neste Caminho e o/a convidamos a fazer parte!

“Quem ensina aprende ao ensinar e quem aprende ensina ao aprender.”

Paulo Freire

Hilda Vieira e Sandra Magna,Professoras da EJA

Movimento Indígena13 Movimento Juvenil32Movimento Feminino07 Movimento Ecológico28 Movimento Negro42

Movimento Operário20 Movimento Camponês35Apresentação03

Outros Movimentos49

íNdICE

Page 4: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

4 - emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008

m dezembro deste ano, os brasileiros comemoram os 60 anos da assinatura da Declaração Universal dos Direitos

Humanos. Ela defende a liberdade de expressão, de pensamento, a luta pela igualdade e o respeito a todos.

Para que o seu ideal atinja a universalidade é necessário que cada indivíduo e cada órgão da sociedade se esforce, através do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades.

Hoje, a Declaração continua sendo escrita, a cada dia, pelas mãos de todos nós, através dos diversos movimentos da sociedade. Esses são reconhecidos como espaços de defesa dos direitos humanos em busca da promoção da qualidade de vida. São movimentos de luta por um ideal ou causa e, acima de tudo, pela dignidade de grupos excluídos socialmente.

Vemos, atualmente, o retorno à cena e à mídia dos Movimentos Sociais de organização popular ou institucional com abrangência local ou mundial. Segundo Gohn (2001), os movimentos sempre existiram e sempre existirão, pois representam forças sociais organizadas que aglutinam as pessoas em ações sociais, e essas ações são fontes geradoras de criatividade e inovações sócio-culturais.

Acreditamos que outro mundo é possível:

a Educação é o caminho!

“Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos.São dotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros com espírito de fraternidade.”Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Direitos Humanos em Movimento

Os Movimentos Sociais constroem representações simbólicas afirmativas por meio da linguagem e da práxis. Eles criam identidades a grupos antes dispersos e desorganizados. Essas ações projetam em seus participantes sentimentos de pertencimento social e inclusão em algum tipo de ação de um grupo ativo.

Historicamente, no Brasil, a Educação de Jovens e Adultos se constituiu como um Movimento Social defendido por estudantes da classe popular e intelectuais engajados e sensibilizados com esse movimento. Neste contexto, a principal referência para a constituição do atual paradigma teórico e pedagógico para a EJA foi dada pelo Educador Paulo Freire ao destacar a importância da participação do povo na vida pública nacional e o papel da educação para sua conscientização.

Hoje, a EJA está garantida na LDB nº 9.394/96 quando prevê que a educação de jovens e adultos se destina aos que não tiveram acesso (ou não deram continuidade) aos estudos no Ensino Fundamental e Médio, na faixa etária de 7 a 17 anos, e deve ser oferecida em sistemas gratuitos de ensino, com oportunidades educacionais apropriadas, considerando as características, interesses, condições de vida e de trabalho do cidadão.

Movimentos Sociais

Page 5: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008 - 5

A Escola em Movimento

ocalizada há 26 anos na região de Venda Nova, bairro Jardim Comerciários, a escola Municipal Gracy Vianna

Lage atendeu em 2008, 1205 estudantes, com idade entre 6 e 78 anos, distribuídos em 43 turmas em três turnos. Inseridos numa comunidade de baixa renda, de poucos investimentos em infra-estrutura urbana, de lazer e de cultura, a comunidade escolar identifica a escola como principal ponto de encontro e inserção social. Entre as reivindicações mais urgentes da comunidade estão: a construção de um Centro de Saúde, uma Unidade de Educação Infantil e a canalização e revitalização de córregos.

Em atendimento à LDB, desde o ano de 2003, a Escola Municipal Gracy Vianna Lage iniciou o trabalho com a Educação de Jovens e Adultos. Em 2008 foram 413 estudantes matriculados, distribuídos em 11 turmas divididas em três ciclos de formação: Alfabetização, Intermediário e Avançado. Desses estudantes 75% foram assíduos, mais da metade era do sexo feminino, e a maioria, 58%, tinha entre 19 e 40 anos.

Quando nos referimos ao público estudantil jovem e adulto, não nos referimos a qualquer sujeito que vivencia uma etapa da vida e, sim, a um público que foi excluído do sistema escolar, possuindo, portanto, pouca ou nenhuma escolarização. Esses trazem para a escola outros conhecimentos e experiências vividas que são valorizadas como ponto de partida para o desenvolvimento de uma análise crítica no mundo em que vive. Apresentam características diferenciadas entre si, desde o domínio da leitura, escrita e operações básicas, ao reconhecimento dos seus direitos e deveres como cidadãos inseridos num contexto social. São sujeitos com especificidades sócio-culturais, muitos incluídos no mundo do trabalho, normalmente ocupando funções como: domésticos, jardineiros, pedreiros e ajudantes da construção civil, catadores de material reciclável, desempregados e aposentados.

Há um compromisso dos profissionais da escola em redescobrir diferentes metodologias para atender seu diversificado público sem discriminação de idade, cor, sexo ou religião e garantindo a inclusão das pessoas deficientes.

Desde a implantação da EJA em nossa escola, enfatizamos o trabalho com temáticas sociais e construímos coletivamente os projetos pedagógicos. Todo ano é enfatizado um tema que está presente na vida dos homens e mulheres da nossa escola.

Em 2005/2006 estudamos a relação do homem com o meio ambiente. Dentre várias atividades desenvolvidas citamos o projeto “Água: Fonte de Vida”. Nele, os educandos pesquisaram sobre a escassez ou não da água, divulgada pela mídia, e sobre o saneamento básico. Foi produzido um almanaque que registrou os estudos e as pesquisas realizadas pelos educandos na própria comunidade.

Em 2007, desenvolvemos o projeto “Africanidades: Em Busca de Nossas Origens”. Foi uma proposta de trabalho que proporcionou aos educandos da EJA a possibilidade de conhecer a história do continente

africano e suas manifestações culturais tão negadas socialmente, suas repercussões e trajetória na história brasileira.

O objetivo do projeto foi construir uma nova relação identitária a partir da desconstrução das imagens, imaginários, atitudes e comportamentos instituídos sobre a história e a cultura das classes populares brasileiras que, em sua maioria, são afro-descendentes. Como registro final do projeto foi publicada a revista “Em Busca de Nossas Origens”.

Page 6: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

6 - emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008

o escolher trabalhar com os educandos/as da EJA os Movimentos Sociais

que compõem essa publicação, pretendíamos:

“Contribuir para a formação de cidadãos democráticos, mediante o ensino dos direitos humanos, o incentivo à participação social ativa e crítica, o estímulo à solução pacífica de conflitos e a erradicação dos preconceitos culturais e da discriminação, por meio de uma educação intercultural.” (Confintea).

Os Movimentos Sociais estudados foram escolhidos a partir da sua agenda de atividade comemorativa para que garantíssemos o acesso a informações atuais, pela sua presença constante nos debates públicos e nos meios de comunicação.

Em fevereiro/2008 iniciamos com o Movimento Feminino, e na seqüência, Indígena, Operário, Ecológico, Juvenil, Camponês e, finalizando o ano letivo, o Movimento Negro.

Cada professor/a referência acompanhou o desenvolvimento do projeto em uma turma. Em todos os movimentos foram estudados, pesquisados e debatidos textos informativos, científicos, históricos, de mídia impressa e visual que propiciaram

Estudando os Movimentos Sociais: ver, julgar e agir

diferenciadas visões sobre o movimento estudado. O objetivo foi tornar visível os Movimentos Sociais marginalizados, possibilitar aos educandos/as experiências, reflexões e informações para a formação de opinião e até adesão à causa defendida pelo movimento. Além dos variados textos, usamos música, filmes, documentários, intercâmbio cultural e social, visitas monitoradas a museus, parques, centros culturais, pesquisa de opinião, oficinas, entrevistas, exposições e palestras com especialistas que atuam no movimento.

Professores e estudantes da EJA da Escola Gracy Vianna Lage acreditam que outro mundo é possível e apresentam nas próximas páginas os Movimentos Sociais estudados, textos, sites, livros, filmes, documentários e o registro dos educandos. Entendemos que qualquer transformação social só acontece através do processo educativo das ações coletivas e do compromisso individual, cada um cumprindo o seu papel.

Conheça e faça parte você também!

Sandra Magna, Graziele Souza, Roselita Soares e Juliana Pereira

Professoras da EJA

reFerência BiBliográFica

GOHN, Maria da Glória (OrG.) MOviMeNtOs sOciais NO iNíciO dO séculO XXi - ANtiGOs e NOvOs atOres sOciais. editOra vOzes, rJ. 2001.Brasil. MiNistériO da educaçãO. secretaria de educaçãO fuNdaMeNtal

prOspOsta curricular para a educaçãO de JOveNs e adultOs: seGuNdO seGMeNtO dO eNsiNO fuNdaMeNtal: 5ª a 8ª série: iNtrOduçãO / secretaria de educaçãO fuNdaMeNtal, 2002. 1. educaçãO de JOveNs e adultOs. 2. prOstOta curricular. 3. eNsiNO de quiNta a Oitava série. i. titulO.

Page 7: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008 - 7

Mulheres e homens juntos por um mundo melhor

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EJA

“Nenhum pessimista jamais descobriu os segredos das estrelas, nem velejou a uma terra inexplorada, nem abriu um novo céu

para o espírito humano.” Helen Keller

ia das mulheres é todo dia. Dia dos homens também. O mês

de março é identificado pela comemoração do dia das mulheres, e este foi o escolhido para se desenvolver o Movimento Feminino. Não foi a primeira vez que se falou da temática, entretanto, foi a primeira em que o assunto foi tão profundamente debatido, estudado e conhecido na comunidade escolar.

Aprendeu-se muito, difundiu-se também a necessidade de buscar sempre por um convívio pacífico, harmônico entre homens e mulheres, desprezando toda e qualquer forma de disputa; o entendimento que não é o homem que se deve combater, mas sim ao sistema opressor, a exploração de uma classe social a outra. A mulher não deve se comportar como vítima, porém deve ter coragem para participar, exercer suas idéias e ter ouvidas suas opiniões.

Deve haver a luta revolucionária, da mulher que em conjunto com o homem, aliados aos camponeses e operários por uma mudança eficaz na sociedade. Para efetivar mudanças, os órgãos públicos devem se responsabilizar por tarefas como: escola de qualidade em tempo integral para as crianças, bons restaurantes públicos e baratos, lavanderias públicas, entre outros, para que o homem e a mulher possam

viver a luta comum para transformar o sistema opressor da qual tantas mazelas sociais nascem.

O Movimento Feminino luta para derrubar quatro montanhas: acabar com o latifúndio, pela revolução agrária, derrubar o imperialismo, contra a burguesia e lutar contra a opressão dos homens.

Aprendeu-se sobre como os direitos da mulher e a lei Maria da Penha podem contribuir contra a violência que afrontam a classe feminina. Essas revolucionárias idéias foram entendidas e acolhidas a partir de palestras, filmes, debates como a aula/palestra proferida pela professora Elba, coordenadora do movimento feminino no estado de Minas Gerais.

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8 - emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008

Um caso real

Há alguns anos trabalhei com a pastoral da criança aqui no bairro. Visitei várias famílias. Tinha uma que precisava de mais atenção, era a família da Lúcia. Ela tinha quatro filhos menores de 10 anos, o marido José vivia embriagado, batia muito nela e nos filhos, quebrava todas as panelas se fazia com que ela conseguisse outras de qualquer jeito. Outra coisa a respeito de José é que ele era preguiçoso, vivendo à custa da comunidade.

Quando eu comecei a visitar Lúcia, ela vivia toda maltratada, suja, despenteada, fraca, pois o marido batia nela todos os dias, colocando-a para dormir no chão.

Conversando e dando conselhos ela virou outra pessoa e largou o marido. Começou a trabalhar, se pintar e a se vestir melhor. Ganhou nova vida.

Eunice da Silva, 55, Avançado

Violência contra a mulher

A violência contra a mulher sempre foi um problema para a Humanidade. Desde o início dos tempos se lê ou ouve dizer que já existia. Elas não tinham o direito de participarem de nada da sociedade, como reuniões e assembléias para discutirem os seus direitos e deveres com a sociedade.

Existem muitos tipos de violência contra a mulher, mas uma que mais me impressiona é a pressão psicológica que muitos maridos fazem a suas companheiras. Observando eu que a maioria das vezes elas tiveram filhos antes do casamento. É um peso que muitas carregam por toda a vida e sempre são humilhadas.

Num mundo como este onde é tão difícil ser feliz, quando você tem a mulher como companheira, amiga na luta desta vida é muito bom. Quem não reconhece este valor tem que ser punido. Para aqueles que não respeitam suas companheiras, maltratando-as, batendo. Estes merecem a Lei Maria da Penha. Esta veio na hora. Quero dizer, com mais de 2006 anos de atraso!

Mulher é como uma rosa, mesmo se for muito grande, continua sendo uma rosa...

Matusalém Estarlino, 51, Avançado

Discriminação doméstica e racial

Desde o tempo da escravidão a mulher vem sendo discriminada, tanto no trabalho doméstico quanto em casa. As mulheres escravas eram obrigadas a trabalhar e servir os seus senhores, até mesmo deitar-se com eles, e quando elas se negavam servi-los,

eram chicoteadas e presas nos troncos.Com o passar do tempo, com o término

da escravidão, as mulheres vêm reivindicando os seus direitos, com o direito de votar e trabalhar fora de casa para ganhar seu dinheiro e sua liberdade. Mas mesmo assim, as mulheres continuam sendo discriminadas, principalmente quando a mulher é doméstica.

Várias vezes fui discriminada no trabalho, tanto pela minha profissão ou pela minha cor. A gente escuta palavras grosseiras, e quem as falam não está nem aí, acha que é normal.

Aureci Chaves, 35, Avançado

Família destruída

Eustáquio era um homem manso e humilde, casou-se com Marcilaine e tinha uma vida boa nos primeiros anos. Saíam todos os sábados para o pagode e bebiam muito. Com o passar do tempo eles começaram a discutir verbalmente. Até que um dia, por ciúme dela, ele lhe deu um tapa em seu rosto. Ele se arrependeu e pediu desculpa. Novamente eles saíram e beberam muito e ele a empurrou na escada da casa deles e ela teve uma das pernas machucada.

Aquele negócio de beber já não era só nos fins de semana. Estavam bebendo todos os dias. Até que certo dia, ele começou a bater no filho mais velho. Eles tinham dois filhos. Quando o marido ficava alcoolizado passou a bater também em seus filhos. Foi até um dia que ela chamou a polícia e ele passou a noite na cadeia, porém ela tirou a queixa e eles foram embora para casa.

No ano de 2004, ele morreu. Ela o envenenou. Depois de dois anos ela se matou tomando ”thinner”. O filho morreu por causa de um tumor maligno devido às pancadas na cabeça. E hoje só ficou a filha de 17 anos.

Que pena que esta história não teve um final feliz como a de “Maria da Penha”.

Jelta Oliveira, 31, Avançado

Um caso verídico

Essa história aconteceu comigo. Alguns anos atrás trabalhei em uma padaria. Entrei nessa firma, como balconista e junto comigo também entrou um rapaz um pouco mais novo. Eu tinha 21 e ele 17 anos. Ficamos nessa firma um ano e meio. Algum tempo depois, meus patrões vieram a descobrir que a gerente e a subgerente estavam roubando a empresa e por isso foram mandadas embora.

Então eu e meu amigo Alexandre,

Histórias que infelizmente ainda se repetem...

Page 9: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008 - 9

ele que havia entrado junto comigo, fomos promovidos: ele a gerente e eu a subgerente. Porém eu tinha mais trabalho que ele e meus trabalhos eram muito mais rigorosos e responsáveis que os dele, mas só que ele ganhava quase o dobro. Quando questionei, meus patrões disseram que a força física contava mais do que as minhas responsabilidades.

Não achei justo ganhar menos só porque ele carregava algumas caixas e então pedi conta.

Cristiane Araújo,32, Avançado

A luta das mulheres pela igualdade

Hoje em dia podemos dizer que as mulheres estão tendo um espaço maior na sociedade. Mas será que as mulheres têm os mesmos direitos que os homens? Acho que a nossa sociedade ainda é muito machista, a maioria das coisas que os homens fazem as mulheres também tem a capacidade de fazer e sem dúvidas ainda fazemos melhor. Só não entra na minha cabeça porque nós somos tão discriminadas. Será que a nossa sociedade ainda não está preparada para o vulcão que somos nós?

O mundo evoluiu muito, mas parece que ainda assim a evolução foi pouca, pois se eles não conseguem aceitar que as mulheres são capazes de muitas coisas, mesmo com muitas críticas, nós vamos continuar lutando, pois assim vamos longe, e vamos deixar bem claro para eles que nós não somos nem melhores e nem piores, somos apenas diferentes.

Paula Nogueira, 18, Avançado

Emancipação da mulher

Antes da emancipação da mulher, ela vivia numa verdadeira prisão. Não tinha direito a nada. Era verdadeira escrava, não só dentro de casa, mas como na rua também. Não direito nem de participar da escolha de seus governantes. Mas as mulheres foram se reunindo, formando grupos, e realizando assim, os primeiros movimentos femininos.

Hoje as mulheres já têm muitas conquistas, como o direito de comandar a sua própria vida, ter a profissão que desejar e para a qual tiver condições de se preparar. Também escolher seu parceiro, se quer ter filhos ou não.

Isto não quer dizer que já conseguiram tudo que queriam. Ainda há muita, muita luta pela frente porque muitas mulheres ainda sofrem discriminação, principalmente de seus parceiros e que elas não podem nem reclamar.

Mas a luta não terminou! Com muita força e determinação chegaremos lá, e um dia, ficaremos cada vez mais livres de preconceitos e discriminação, com certeza seremos mais felizes.

Cleusa Alves, Alfabetização

Talentos expostos no “Mercado Persa”

O “Mercado Persa” é um evento promovido pela Escola com a finalidade de expor e comercializar produtos confeccionados pelos alunos/a da EJA. É uma noite de interação, descontração e valorização do aluno/a trabalhador/a.

Terra Fria

Ficção. 2005. Direção: Niki caro

Uma hisTória real De lUTa coNTra o asséDio à mUlher. Um Filme qUe DeNUNcia a opressão e exploração Da mUlher TrabalhaDora. baseaDo em Uma hisTória real, o Filme Terra Fria Narra o Drama De Josey aimes, Uma mUlher qUe Tem a oUsaDia De abaNDoNar o mariDo qUe a espaNcava, para procUrar Um emprego e sUsTeNTar soziNha, seUs Dois Filhos. ela resolve Trabalhar NUma miNeraDora De Ferro, em sUa Terra NaTal, No iNTerior Do esTaDo De miNNesoTa, Nos eUa.

Aprendendo com o cinema...

Page 10: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

ara a aluna Patrícia, como os demais colegas da sala 08,

os problemas enfrentados pela personagem principal diz respeito à

rejeição do próprio pai e discriminação por ser mãe solteira. Dentre os inúmeros preconceitos o xingamento dos homens, o machismo e a falta de respeito para com as mulheres.

A aluna Aureci identifica, além disso, o preconceito por trabalhar em uma mina; trabalho normalmente classificado e definido para o homem. Para a estudante, na visão dos homens, as mulheres estavam tomando o lugar deles no mercado de trabalho. Da parte do filme que mais gostou, se refere ao momento em que o pai acolhe e fica a favor da filha. Faz uma analogia com a lei Maria da Penha, que contribui na resolução do problema enfatizado no filme, ao proteger a mulher contra o homem, de qualquer abuso que venha sofrer.

A cena do filme mais marcante para a estudante Gisiane, foi quando a personagem principal decide levar os donos da mineradora ao tribunal da justiça, para através de uma ação coletiva com as suas colegas de trabalho, mover uma ação e se defenderem contra os preconceitos e machismos dos homens.

Cristiane enfatizou a conquista do espaço público e de trabalho por parte das mulheres e a não aceitação dos homens que queriam que estas permanecessem em casa. Ela percebe semelhanças da realidade social retratada no filme e a realidade social brasileira ao denunciar a redução de salários de mulheres que exercem a mesma função dos homens, e a outra denúncia diz respeito ao número de vagas para mulheres, que em determinados trabalhos, ainda é limitado.

Já para Silvânia, os homens demonstraram medo de perder seus trabalhos para as mulheres na mina, por isso elas não eram bem vindas. Para ela, a lei Maria da Penha poderia contribuir punindo os infratores que afrontam a classe feminina, tais como, as discriminações e abusos sexuais sofridos pelas mulheres nas minas.

De acordo com o ponto de vista de Olizângela, a personagem principal era uma mulher fisicamente bonita e determinada, mas psicologicamente transtornada com o seu passado e com o casamento fracassado. Além disso, a relação enfocada é de superioridade dos homens para com as mulheres, fazendo do local de trabalho um pesadelo para elas. A cena que mais a agradou, assim como a descrita acima por sua colega Gisiane e incentiva as mulheres que sofrem de alguma forma a reivindicarem seus direitos na justiça,

a lei Maria da Penha foi criada como direito das mulheres. Para Olizângela, nos dias de hoje ainda há um pouco de preconceito, mas já diminuiu bastante.

Agressão sofrida pelas mulheres, maus tratos, desprezo e desigualdade são algumas relações de trabalho entre homens e mulheres enfocados no filme, segundo Mires. Um aspecto positivo foi quando Josey Aimes consegue provar sua inocência perante o tribunal. E nos diz: “Ela lutou e venceu”. Hoje as mulheres vêm lutando e conquistando os mesmos espaços e direitos dos homens.

Cláudio observou e descreveu os problemas enfrentados pela personagem principal, tais como, desprezo do pai, espancamento sofrido pelo marido, refeição do filho, ridicularização em público, enfim, preconceito no trabalho, má relação familiar e no trabalho, falta de apoio social. Aponta como solução dessa série de problemas, a reivindicação não só de seu direito, mas de todas as mulheres trabalhadoras da mina. E finaliza salientando que até hoje, em nosso mundo social e trabalhista, ainda existe estes preconceitos contra a mulher.

Marcílio destaca a rejeição do próprio pai, a rejeição do filho, a falta de convivência com amigos e a discriminação por ser mãe solteira, problemas enfrentados pela mulher que foram relatados. Processo contra a mina e lei Maria da Penha poderiam contribuir punindo os infratores que afrontavam a classe feminina.

Alexandre denuncia a superioridade masculina e as relações de poder, que o filme deixa transparecer, com os homens ficando nos melhores cargos e as mulheres tendo que lavar as privadas. Os homens em sua maioria achavam que a mina não era lugar para a mulher trabalhar. Para mudar esse estado de coisas, aconselha a união das mulheres. Hoje em dia a mulher também é discriminada no mercado de trabalho, seja pelo salário que é menor, ou quando trabalha nas mesmas profissões consideradas pelos homens como suas, ou seja, na mesma profissão que eles.

Vilson ressalta o duplo preconceito sofrido pela personagem principal do filme: do pai, por ser mulher, e querer trabalhar em uma mina que trabalhava em sua maioria homens; e também por ser mãe solteira. Isso gerava uma relação complicada, pois as mulheres não eram aceitas na mina pelos homens por acharem que as mesmas estavam tomando o espaço deles no trabalho. Existe semelhança entre o filme e a realidade brasileira nas muitas histórias que ouvimos.

Reflexões sobre o filme terra fria

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“Ser doméstica não deveria ser vergonhoso. Toda profissão tem o seu valor.”

Malvina, 38, Avançado

A rotina diária do trabalhador doméstico na maioria das vezes é um verdadeiro retrato do serviço escravo. Muitas mulheres se submetem a tipos de serviços que os patrões não conseguem se quer chegar perto. Mas o patrão sabe sempre criticar, por defeito e atrapalhar a empregada quando está cumprindo o seu ofício.

Wadson Lima, 36, Intermediário

O filme, apesar de ser uma comédia, mostra a triste realidade em que muitas pessoas ainda vivem, num mundo tão corrido onde ninguém sabe muito de ninguém. Retrata que essa classe trabalhadora é pouco valorizada. Acredito que se melhorar o salário, o tratamento dado e se não tivesse preconceito seria tudo mais fácil. Afinal, muitas pessoas não querem ver, mas somos todos iguais.

Maria Quitéria, 47, Intermediário

O filme relata a história de cinco mulheres. Cada uma com sua trajetória de vida. O que mais me chamou a atenção é que o filme trata de assuntos bastante comuns e que vivenciamos no nosso dia-a-dia. Cinco mulheres cada uma com um destino traçado, resultado de uma infância bastante sofrida. São cinco domésticas que tem em comum uma grande revolta de ser o que é e ter uma vida tão sofrida, enfrentando preconceitos que norteiam suas vidas. Além do preconceito racial, elas se julgam fracas pelo fato de serem pobres e humildes.

Maria Helena, 42, Intermediário

O filme retrata a vida das domésticas no Brasil. A falta de respeito, o preconceito, a falta de formação educacional, cultural e de informação sobre seus direitos trabalhistas. Diante disso vem o assédio, o patrão acha que acrescentando alguns míseros centavos no salário ele pode conseguir o que quiser, ameaçando despedir o trabalhador, acreditando que ele deve se vender como se fosse uma mercadoria.

Não há condições adequadas de trabalho e são sempre vigiadas. No ato da contratação testam a pessoa colocando dinheiro e objetos de valor em locais visíveis. Os trabalhadores domésticos não têm disponibilidade para estudar, porque são submetidos a uma carga horária de trabalho muito grande, por isso não dá para conciliar trabalho e estudo.

Rosa Eni, 44, Intermediário

Era manhã de segunda feira, começa mais um dia de jornada para as amigas, Cida, Roxanne, Quitéria, Raimunda e Créo. As mulheres pegaram o ônibus, tudo ia bem, ate que aparecem dois metidos a malandro e anunciam assalto. Ficaram apavoradas, mas no final eles acabaram levando a pior e tudo acabou bem.

A relação entre patroas e empregadas, é o que acontece hoje em dia, depois de um dia duro, muitas vezes, elas, as patroas inventam qualquer desculpa, saem e deixam o pagamento para o outro dia.

E a Quitéria, esta não para em lugar nenhum, só faz destruir as coisas, no final a patroa ficou, sem fogão, geladeira, enfim, vários objetos foram levados dando um prejuízo muito grande para a patroa. Resumindo, cada uma tinha uma história diferente. A Roxanne

Aprendendo com o cinema...

DomésTicasDrama. 2001. Direção: FerNaNDo meirelles

No meio Da Nossa socieDaDe exisTe Um brasil NoTaDo por poUcos. Um brasil FormaDo por pessoas qUe, apesar De morar DeNTro De sUa casa e Fazer parTe De seU Dia-a-Dia, é como se Não esTivesse lá. ciNco Das iNTegraNTes DesTe brasil são mosTraDas em “DomésTicas - o Filme”: ciDa, roxaNe, qUiTéria, raimUNDa e créo. Uma qUer se casar, a oUTra é casaDa, porém soNha com Um mariDo melhor. Uma soNha em ser arTisTa De Novela e oUTra acreDiTa qUe Tem por missão Na Terra servir a DeUs e à sUa paTroa. ToDas Têm soNhos DisTiNTos, mas vivem a mesma realiDaDe: Trabalhar como empregaDa DomésTica.

Reflexões sobre o filme doméstica

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sonhava em ser modelo. A Raimunda sonhava em se casar no final, casou-se com quem ela menos esperava. A evangélica passou a vida trabalhando como doméstica, queria que a filha fizesse o mesmo, mas a menina fugiu. Talvez tentando coisa melhor. Certo dia, andando pela cidade se encontraram e ficaram muito felizes.

O filme relata mais uma realidade do dia-a-dia, trabalho duro e salário baixo. Quanto mais trabalhamos, menos direito e valor nós temos.

Marlene Estarlino, 49, Avançado

O filme, apesar de ser uma comédia, mostra e deixa bem claro a realidade e muitas dificuldades que todos nos temos.

As empregadas e patroas, na maioria, não têm um relacionamento bom, justamente porque há muita competição. Os personagens fazem comentários discretos a respeito das patroas. Tem algumas que pensam em se casar, outras querem mudar de companheiro.

Há preconceito que dificulta o caminhar das pessoas para realizar seus sonhos, principalmente nas cidades grandes. Nestas, às vezes, acontecem até assaltos nos coletivos e nos pontos dos mesmos. A cidade grande é agitada.

A classe média e a elite abusam e menosprezam as pessoas de classe média baixa. Sendo assim desanimam todos aqueles que querem conquistar o que desejam e precisam.

Maria Régio, 77, Avançado

É um filme que conta a realidade da classe trabalhadora (domésticas entre outros). As patroas não apareçam porque o filme quer mostrar o lado das empregadas domésticas, e não o relacionamento entre patrão e empregado. A cidade de São Paulo aparece através da periferia muito mal cuidada, suja, ruas com vários ferros velhos, carros desmontados. Um horror! Nem parece uma metrópole.

A jovem ambiciosa, inconformada com a profissão, não aceitava ser doméstica, sonhava em ser modelo e manequim não se deu bem, por envolver-se com pessoas mal intencionadas. Roxane não se importará com ser domestica só queria entender-se

com a filha e fazê-la entender que a vida era boa, de aceitar e ser feliz. Enquanto Cida vivia inconformada, mas com o desânimo do marido, que não via nada a sua volta, só a TV. O marido “paradão” morreu na cadeira vendo televisão e ela aproveitou para casar-se de novo. Raimunda é amiga, gosta da profissão e tenta ajudar Créo a se encontrar na profissão. A parte que tem preconceito foi quando o porteiro não confiar na empregada, a ponto de revistá-la.

A classe media é indiferente, fria e impaciente com os funcionários. Este filme não contradiz a realidade em que vivemos. Não se faz muito para que a classe trabalhadora, menos favorecida se realize profissionalmente. Ser doméstica não deveria ser vergonhoso. Toda profissão tem o seu valor.

Malvina Moura, 38, Avançado

O filme aborda a historia das empregadas domésticas. Lá são cinco mulheres diferentes, com sonhos também diferentes umas das outras.

Eram cinco empregadas: Roxane era uma jovem ambiciosa que queria ser modelo, mas só se dava mal. Raimunda, apelidada de Raí, só pensava em casamento e até se apaixonou por um rapaz que tentou assaltá-la. Cida era uma esposa frustrada, por falta de carinho do seu marido fiel; Quitéria queria se dá bem no serviço, mas era muito desastrada. E por fim a religiosa Créo, que lutou com sua filha adolescente que acabou indo embora com o namorado, mas esta não perdeu fé, até que um dia as duas se reencontraram.

Na verdade muitas mulheres são empregadas domesticas por falta de opção ou por falta de estudo. Eu acho que ainda existe nos dias de hoje muito preconceito, tanto das patroas quanto da sociedade em geral, mas, o que seria dos donos de empresas sem os empregados ou as patroas sem as empregadas domésticas?

Geraldina Ferreira, 55, Avançado

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istoriadores afirmam que, antes da chegada dos

europeus à América, havia aproximadamente 100 milhões de índios no continente. Só em território brasileiro, esse número chegava a 5 milhões de nativos, aproximadamente. Estes índios brasileiros estavam divididos em tribos.

Atualmente, calcula-se que apenas 400 mil índios ocupam o nosso território, principalmente em reservas indígenas demarcadas e protegidas pelo governo. São cerca de 200 etnias indígenas e 170 línguas. Porém, muitas delas não vivem mais como antes da chegada dos portugueses. O contato com o homem branco fez com que muitas tribos perdessem sua identidade cultural.

Ao longo dos últimos anos as organizações indígenas vêm reivindicando direitos como o da terra e a educação diferenciada que valorizam as suas tradições, Os movimentos indigenistas desde então passaram a estar associados aos movimentos sociais que eclodiram ao longo da década de 80, no Brasil.

O crescimento do movimento indigenista

brasileiro, o amadurecimento político de nossas lideranças e organizações indígenas, fazem do movimento hoje, o principal instrumento de reivindicação dos direitos dos índios.

O tema foi apresentado ao som de atabaque e do pandeiro. De cara pintada as professoras apresentaram o poema “I-Juca Pirama” de Gonçalves Dias e conseguiram despertar a curiosidade e o interesse dos alunos pela causa indígena.

Outro poema que marcou o trabalho foi “Grita Galdino” que retrata a falta de respeito pelos índios, o líder Pataxó Galdino, incendiado vivo, no dia 21 de abril de 1997, em Brasília, por jovens filhos de juízes que disseram pensar ser mendigo. Ele estava em Brasília, em manifestação pela demarcação de suas terras, na Bahia, na semana dos povos indígenas. O poema foi escrito por Francisco de Aquino Júnior, membro da Pastoral da Juventude do meio popular. Junto ao poema foi comentado um relato de Minervina Maria de Jesus, 56 anos, mãe de Galdino Jesus dos Santos. Os dois textos conseguiram despertar sentimento de indignação e tristeza.

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“Quando a última árvore for cortada, quando o último rio for poluído, quando o último peixe for pescado, aí sim eles verão que dinheiro não se come...” Chefe Sioux

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Palavras de indignação

ÍndioSer diferente, não parece nem gente,

Corajoso, guerreiro, culto, inteligente,Índio lutador, com força divina,

Sem pressa, sem rima, queimado na esquina.

Cláudio de Paula, 23, Avançado

GaldinoÍndio Galdino lutava pelo seu direito.

Mas foi queimado, destruído sem nem uma defesa.

Sua mãe choraChora sua falta

Chora pela luta animadoraChora pelos seus sonhadores.

Eliene Bernardo, 34, Avançado

Eu creioCrer na realidade

Crer no sonho de uma criançaCrer que a vida pode ser melhor

Crer que nem tudo é verdadeE que vai passar como o por do solCrer que podemos mudar o mundo

Crer que você pode... basta apenas CRER.Waltenir Santos, 25, Avançado

Índios, povos unidosGostam de trabalharAcordam bem cedinhoPara caçar e pescar.Galdino, índio bom

Queria um pedacinhoDe terra para plantar.

Mas, com essa violênciaNem pra casa pôde voltar.

Sua mãe Minervina,Já com sua experiência de vida

Sabia que seu filho não ia voltar.Pobre mãe de Galdino,

Triste ficou, pois o que ela pensouAconteceu... Galdino nunca mais voltou.

Jelta de Oliveira, 31, Avançado

Chora muito a mãe de Galdino, dos oprimidos e excluídos. A mãe que oferece seu filho para a luta da vida, seu povo. Aqueles que deram seu sangue, suas terras.

Cala Brasil, país hipócrita, que fecha os olhos para a desigualdade, onde os que têm dinheiro sempre se dão bem e os pobres choram a miséria. Onde os índios são torturados, ameaçados e expulsos de suas terras.

Que país é esse?! Brincar de queimar pessoas vivas e os políticos não tomam uma providência. Eles são corruptos!

Pobre índio Galdino, morreu devido à covardia “dos filhinhos de papai”. Atiraram fogo nele, queimando seu corpo. E tudo isso por buscar os seus direitos e tentar uma vida melhor.

Celicina Martins, 58, Avançado

História triste de Galdino

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ACROSTICOS DE INDIGNAÇÃO

Mires Gonçalves silva, 30, Avançado José Geraldo, 41, Avançado

Silvânia Fernandes, 40, Avançado

Gilson Felix Souza, 36, Avançado

Cristiane, 32, Avançado

Marlene Estarlino, 49, Avançado

Textos dos educando da Sala 01 e 11, Alfabetização

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Belo Horizonte, 12 de maio de 2008. À dona Minervina,Tenho imenso prazer em escrever algumas linhas dando minha opinião sobre o ocorrido

com seu filho Galdino. Dona Minervina, não deixe de gritar justiça pelo seu filho, não deixe a bandeira do Galdino cair. Leve o seu grito de mãe, de dor e de sofrimento aos governantes e autoridades para que eles reconheçam tamanha covardia que fizeram ao seu filho. Para que eles e seus filhos aprendam que pobres, mendigos e os que lutam por seus direitos também são seres humanos. Continue sua luta por suas terras, seus direitos, para que pelo menos parte da sua perda seja reconhecida e também para que estes “filhinhos de papai” paguem pelo que fizeram.

Em toda classe pobre existe sempre um Galdino lutador e que sempre vai ser assassinado se continuarmos de braços cruzados.

Força e f é .Luciana, 34, Intermediário

Belo Horizonte, 28 de abril de 2008.Cara Minervina Maria,

Apesar de não nos conhecermos quero lhe dizer que sinto muito por tudo que a senhora está passando, toda a sua revolta, indignação e tristeza, porque sou mãe também. E acredito que todas as mães neste momento gostariam de lhe abraçar e lhe encorajar dizendo que jamais desista de lutar por suas terras e seus sonhos.

Certa de que a senhora é uma mulher forte sei que continuará lutando como já vinha juntamente com seus filhos. Sei que nada trará seu filho Galdino de volta, mas não perca a esperança; a morte de seu filho não foi em vão. Chega de injustiça e violência.

De uma leitora, aluna da EJA.

Maria Quitéria, 47, Intermediário

Belo Horizonte, 30 de abril de 2008.Querida Minervina,

Queria de algum modo poder consolar o seu coração, mas sei que diante de tanta crueldade fica difícil de falar algo que possa aliviar o seu coração. Na realidade a morte do seu filho não foi só culpa dos “filhinhos de papai”, mas culpa de todos nós que votamos em políticos que só pensam em roubar o nosso dinheiro, sem se preocuparem com o cidadão brasileiro.

Minervina, quando vi na TV me senti envergonhada e ao mesmo tempo muito triste; não consigo imaginar o tamanho da sua dor. Só posso dizer-lhe que sinto muito, muito mesmo! Mas não podemos desistir do sonho do seu filho, ele não pode ter morrido em vão, não podemos mais cruzar os braços. Temos que gritar, gritar alto par que o mundo ouça o nosso pedido de socorro, para que não mate mais os nossos filhos, para que não tirem a nossa terra, para que tenhamos o direito de viver com dignidade, sem ter que morar debaixo de ponte, para que nossos filhos tenham escola digna, para que todos os Galdinos de nossas tribos não tenham mais que morrer para serem vistos ou ouvidos.

Afinal, esta terra é de todos nós. Abraços para você e todos os Galdinos do nosso Brasil.

Aparecida da Dores, 42, Intermediário

Cartas que continuam a expressar indignação...

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A música de Jorge Ben Jor diz que “Todo dia era dia de índio” lembrando que os índios que viviam no Brasil eram donos da terra quando ele foi descoberto. Mas em outra estrofe, o compositor lembra que “agora ele só tem o dia 19 de abril”. A música ganhou espaço durante as aulas e serviu com inspiração para fortes debates sobre a história do Brasil Indígena a fim de chegar aos dias atuais.

Em 1940, no México, foi realizado o Iº Congresso Indigenista Interamericano, com a presença de diversos países da América e os índios, tema central do evento. Como estavam habituados a perseguições e outros tipos de desrespeito, preferiam manter-se afastados e não aceitaram o convite.

Dias depois, após refletirem sobre a importância do Congresso na luta pela garantia de seus direitos, os índios decidiram comparecer. Essa data, 19 de abril, por sua importância histórica, passou a ser o Dia

19 de Abril, dia do Índio?

do Índio, em todo o continente americano, marcando o primeiro momento em que branco e índios se reuniram para conversar sobre os direitos dos povos indígenas.

No Brasil, o então presidente Getúlio Vargas assinou o decreto nº. 5.540, em 1.943, determinando que o Brasil, a exemplo dos outros países da América, comemorasse o dia do Índio em 19 de abril.

Em 09 de janeiro de 2003, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva modificou a lei anterior e passa a vigorar a lei nº 10.639 que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática “História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena”.

Os índios representam uma parcela muito importante e expressiva da população, que precisa ser resguardada como um dos tesouros étnicos do Brasil.

Conhecendo a vida e costumes do índio brasileiro

Assistimos no Centro Cultural de Venda Nova um curta-metragem sobre os indígenas da tribo Ashenikas. Simpáticos, curiosos e inteligentes, costumam pintar seus rostos com urucum todos os dias de manhã bem cedo, desde as crianças até os mais velhos. Nas festas costumam ser mais vaidosos tiram de seus guardados a melhor roupa feita artesanalmente e os adornos como o cocar. É de costume os mais velhos tomarem uma bebida que se chama de kaisuma, e dançam, cantam e relatam fatos ocorridos sob efeito dessa bebida.

As tarefas na comunidade são igualmente divididas, meninas colhem, mães e mulheres mais velhas cozinham caldo de mandioca, carnes, bijus. Meninos com menos habilidade na pesca usam

técnicas de seus antepassados. Cortam uma espécie de bambu que chamam de timbó, amarram como feixe de lenha e batem numa pedra dentro d’água espalhando uma espécie de sumo que sufoca os peixes, trazendo-

os para a superfície. Na cozinha usam cuias para comer e beber, conchas para raspar a mandioca e legumes.

Vemos muito de nossa cultura na comunidade e da cultura indígena no nosso dia-a-dia. As crianças freqüentam escola na própria comunidade. Os idosos recebem aposentadoria, e também eles têm um barco para irem ao médico na cidade mais próxima. O documentário foi muito interessante.

Lúcia Batista, 32, Intermediário

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Trabalhando receitas de origem Indígena

Dos indígenas recebemos principalmente do índio tupi, dois elementos nativos que passariam a integrar a dieta do brasileiro: a mandioca e o palmito.

Beiju ou biju: Bolo feito de massa de tapioca ou de mandioca muito fina, enrolada em forma cilíndrica.

Característico da alimentação indígena, o beiju foi recriado pelo portugueses, que acrescentaram açúcar e condimentos diversos à massa, e pelos negros, que o enriqueceram molhando no leite de coco.

Pipoca: Do tupi pi’poka, estalando a pele. O milho, que entre outras coisas permite a pipoca, de

quem Debret, o pintor que veio fundar nossa primeira Escola de Belas Artes, disse que era a maior contribuição do brasileiro à cozinha mundial. (Sua receita, copiada dos selvagens: jogar o milho verde com sal no borralho e depois soprar as cinzas).

Pirão: Prato de origem indígena, muito popular em todo o Brasil, constituído de papa grossa de farinha

de mandioca misturada em água ou em caldo. É muito utilizado no acompanhamento de peixes.

A cultura indígena

Eu aprendi muito sobre os índios. Quando Pedro Álvares Cabral descobriu o Brasil em 1.500, os índios já habitavam aqui. Eles são unidos, só querem é um pedaço de terra para morar com a família e querem que os governantes liberem as terras, porque eles são humilhados pelos brancos.

Os índios são pessoas trabalhadoras, honestas, só querem que demarquem as suas terras. Os índios fazem trabalhos lindos, com cerâmica, argila, folhagens, colares. Gostam

de pescar, caçar e também de dançar, são amorosos com seus familiares, ensinam seus filhos a trabalhar, caçar, pescar. As crianças sabem fazer seus próprios brinquedos, não são exigentes nem brigões. Enquanto seus maridos caçam na mata, as mulheres não ficam paradas, vão descascar as mandiocas, fazer farinha e biju. Foi muito bom aprender um pouco mais sobre os índios e sua cultura.

Maria Conceição Pereira, Alfabetização

A arte indígena se caracteriza por expressar um modo de ser, forma e expressão presente no cotidiano e em tudo o que fazem. Seus corpos vermelhos, seus belos objetos, desenhos geométricos, fumarias exuberantes; toda a sua forma de expressão mostra uma grande preocupação com a estética.

A arte indígena

Os alunos assistiram à palestra ministrada pela coordenadora Roselita na qual foram mostradas várias formas de arte indígena, com belas ilustrações dos utensílios, cocar, penachos, vasilhas domésticas, redes, pinturas no corpo e em outros.

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Após a palestra, os educandos participaram de oficinas utilizando materiais encontrados na natureza como sementes, argila, folhas, urucum, cabaças e capim. Foi um momento de grande aprendizagem em que os educandos demonstraram habilidade, criatividade e valorização da arte indígena.

Foram confeccionados colares, utensílio doméstico de argila, trançados, pintura de quadros, cabaças, cabanas, cartazes e outros.

Oficinas de arte indígena

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oTodo proletário é um operário

or volta do século XIX, um novo modo de produção se espalha

pelo mundo, o capitalismo industrial. A revolução industrial ocorreu na

Inglaterra e, rapidamente espalhou-se para outros países europeus.

Ávidos de lucro fácil, aproveitando a desorganização inicial dos primeiros operários, frutos das fábricas, os patrões exploraram, sugaram toda a mão-de-obra disponível daquela época, principalmente das mulheres e crianças.

Na Europa, durante o período medieval, o camponês tinha uma forte ligação e várias obrigações para com o senhor feudal. Atrelado a terra, devia tributos e trabalhos ao seu senhor, mas da terra retirava também todo o seu sustento.

Na Inglaterra, a partir de meados do século XVII, se iniciam os “cercamentos” das antigas terras comunais e, com isto, a expulsão dos camponeses. Com os “cercamentos” os antigos senhores feudais se tornam co-participes das primeiras indústrias. Estas precisavam de matéria-prima em grandes quantidades e o modo de produção comunal não mais consegue satisfazer o sistema.

Uma leva de camponeses deságua nos centros urbanos. Famintos e alheios ao funcionamento do sistema industrial estes proto-operários irão se submeter a todo e qualquer tipo de trabalho. Às vezes, sem as mínimas condições de segurança, trabalhando até 18 horas por dia e recebendo míseros salários.

Por meio de reuniões clandestinas, greves e insubordinações, os operários vão conseguindo forças e conquistando, paulatinamente, novos direitos frente aos patrões.

Isto tudo estava acontecendo na Europa durante o século XIX, enquanto, no Brasil, o sistema reinante era o escravocrata (até 1889).

Pouquíssima, era a mão-de-obra assalariada nas indústrias brasileiras. O predomínio do escravismo colonial foi tão esmagador que marginalizou o desenvolvimento da produção simples de mercadorias e sufocou o surgimento do capital industrial.

Durante todo o período em que o Brasil foi colônia de Portugal (1500 a 1822) proibiu-se a construção e o desenvolvimento das fábricas (manufaturas). A dificuldade maior, também, era desenvolver o trabalho industrial utilizando-se de mão-de-obra escrava. Trabalhador forçado não opera com êxito máquinas industriais.

Somente nos idos de 1850, com o fim do tráfico, vamos acompanhar o início da formação da classe operária no Brasil, principalmente na agroindustrial do açúcar.

A partir de 1870, vários são os imigrantes europeus que chegam no Brasil. A princípio suprem a falta de trabalhadores (colonos) nas lavouras de café. Porém, devido a maus tratos e a um regime contratual opressor, muitos abandonam os seus patrões e vão para os centros urbanos trabalhar como operários manufatureiros.

No início do século XX, o negro já está livre da escravidão, porém na disputa por empregos assalariados, a preferência é sempre do branco europeu. A formação da classe operária industrial se acelera a partir daí.

O predomínio da ideologia anarquista até os anos de 1930 e, logo após, o socialismo/comunismo trazidos pelo imigrante, começam a tomar força nos sindicatos conquistando adeptos pelo Brasil. Afinal, o imigrante já veio trazendo consigo a vivência de lutas por direitos.

A organização dos trabalhadores em sindicatos começa a conquistar os primeiros direitos trabalhistas através de muitos embates, greves e pressões junto aos patrões. Está iniciada a luta do movimento operário!

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Reconstruindo conceitos sobre o trabalho

O que é trabalho

A dignidade do trabalho exige que estejamos dispostos a interagir com justiça, autonomia, competência e responsabilidade. O trabalho deve ser fator de crescimento, produção e humanização. Não devemos ser fonte de exploração e opressão de homens sobre homens, como ainda muitas vezes acontece em nossa sociedade. Ao trabalhar, exercemos uma função individual e também social, pois somos geradores de um produto final que traz diversas conseqüências para a sociedade. Cabe a nós a tarefa de compreender e transformar o mundo, a fim de garantir a satisfação das necessidades de todos os homens. Os homens através do trabalho se relacionam com outros homens e com a natureza, para satisfazer suas necessidades de alimentação, saúde, moradia, educação...

Libertad Lamark, 40, Intermediário

Quanto vale o meu trabalho

Um dia acordei com um desânimo de viver. Achei que não valia à pena lutar, trabalhar, estudar, Achei que era bobagem e fiquei na cama sem querer me levantar. Duas horas se passaram, entre pensamentos e lembranças do quanto o meu trabalho valia. Resolvi levantar-me e comecei o meu dia tomando um café, mas precisava fazê-lo por que as pessoas que me rodeavam eram apenas crianças, não sabiam sobreviver sem meu esforço e atenção.

Comecei preparando o café, depois limpando a casa, depois o almoço, etc. No fim da tarde parei para descansar e comecei a refletir o quanto vale o meu trabalho. Talvez nem eu mesma houvesse percebido o quanto os outros precisam de mim. Mesmo que o meu trabalho não seja reconhecido, elogiado ou reparado por muitos, a falta do mesmo era terrível: uma casa suja, filhos mal cuidados, entre outras coisas quando finalmente fui deitar, agradeci pelo meu trabalho e reconheci que era o mais digno de todos. É o que eu sei fazer, não fazê-lo é loucura.

Malvina Moura, 38, Avançado

O operário

Hoje em dia na nossa sociedade há muitos operários. Eu diria que há mais operários do

que chefes. Todos nós: estudantes, donas de casa, trabalhadores fichados, aqueles que fazem “bicos”, babás, cuidadores de idosos, médicos, policiais, entre outros são operários. Na nossa mente operária era uma pessoa que construía prédios, casas, etc. Nós também somos operários. Se estudamos estamos construindo uma base para um bom emprego. Se trabalhamos, profissionalmente é para ter um futuro melhor. Se trabalhamos no lar é para construirmos uma boa família.

Vivemos construindo coisas, sonhos, ideais. E vamos ser operários sempre, tentando um dia, quem sabe, melhorar o nosso país.

Geraldina Ferreira, 55, Avançado

Desabafo

Mês de maio é o mês do trabalhador. Vamos homenagear os pedreiros, carpinteiros, eletricistas, bombeiros, domésticas, babás, serventes e tantos outros operários, porque estes trabalhadores, infelizmente, pertencem a uma classe muito sofrida.

Texto coletivo da Alfabetização

Operários do Brasil

Mas não basta serem lembrados no dia 1° de maio. Os trabalhadores merecem homenagem todos os dias e devem ser valorizados e respeitados.

Trabalhar é bom e necessário, mas é preciso também boas condições dos transportes coletivos, salário digno, lazer, assistência à saúde, etc.

No Brasil o governo deveria valorizar mais estas pessoas porque somos nós, trabalhadores de sol a sol que fazemos o país crescer.

Texto coletivo da Alfabetização

Page 22: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

22 - emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008

História de vida

Oi! Meu nome é Berenice. Tenho 52 anos, nasci em 1956, na cidade de Teófilo Otoni. Sempre fui uma pessoa sozinha, comecei a trabalhar cedo para ajudar a minha família. Não tive oportunidade de estudar, pois a minha família era muito pobre e muito numerosa, seis filhos pequenos.

Fui trabalhar como babá aos oito anos. Morava na roça. Única mulher no meio de cinco irmãos maternos. Por isso morava com a minha avó. Gostava mais dela do que da minha mãe.

Poderia falar mais, mas há acontecimentos que não gostamos de lembrar.

AlfabetizaçãoDia do trabalho

Toda realização exige trabalho. Um país não poderia existir sem o trabalho de seus habitantes, e estes, por sua vez, sem trabalho não teriam condições de viver. O trabalho sempre foi necessário. O homem primitivo ao preparar suas armas para caçar ou ao produzir fogo estava trabalhando.

Mas na sociedade moderna, o trabalho tem especial significação. Tem de ser executado com técnica, com ordem, com planejamento. Todo cidadão deve estar consciente do seu valor na sociedade. Este valor merece direitos, exige deveres. Quem não participa e não se prepara a fim de participar do trabalho geral, torna-se marginalizado e sua subsistência é um peso aos que se aplicam diariamente à execução de seus deveres.

Todo tipo de trabalho honesto tem seu valor na sociedade, mas deve ser realizado conscientemente, compenetrando-se os cidadãos de que devem realizá-lo o melhor possível.

Glória Borges, 57, Alfabetização

Páginas da vida

Meu nome é Geni Ramos da Silva. Meu

trabalho é lavar roupa e arrumar minha casa.

Lavo, passo, faço comida, gosto da casa bem

arrumada. Gosto do meu trabalho, porque me

sinto feliz! Sinto que ainda estou viva e forte.

Ainda posso estudar com ajuda de Deus,

das professoras e minha família. Não é fácil

aprender depois de uma certa idade, mas é

preciso ter paciência e não desanimar.

Geni Ramos, Alfabetização

O trabalho

O trabalho minha gente,é nosso ganha pão,

eu trabalho todo diapra minha sustentação.

Gosto muito do que façoquando estou a trabalhar

canto, canso e descanso,pra amanhã continuar.

Todo dia bem cedolá vou eu pro trabalho,vou a pé,vou de ônibus

sou até um quebra-galho.

Poema coletivo da Alfabetização

Page 23: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008 - 23

Indignação

A minha indignação é pela falta de respeito com as pessoas que vão se consultar nos postos de saúde do SUS. Lá sempre está faltando remédios, alguns aparelhos que estão quebrados e a alegação de que está faltando médicos.

Quando a população reclama dizendo que pagam seus impostos e contribuem para o INSS, aparece algum responsável informando que não dão verbas. Mas isso não convence.

A minha vontade é que os que estão no poder tomassem uma atitude e fiscalizassem com rigor a Previdência Social, assim como funcionamento e o andamento do trabalho de cada funcionário da Instituição para que todos cumpram o seu dever e atenda bem, com igualdade, dignidade e respeito mútuo a todos os cidadãos que ali freqüentam.

É o mínimo que nós cidadãos brasileiros devemos e podemos exigir dos políticos eleitos por nós mesmos.

Ângela Raiol, Alfabetização

Arrumação da vida

Vou contar um pouco do trabalho que faço e por que ele é importante dentro da sociedade. Sou dona de casa. Levanto de manhã bem cedo. Vou primeiro ao quintal jogar água nas minhas plantinhas. Depois faço o café da manhã e, logo em seguida, saio para pegar o ônibus porque tomo conta, em meio horário, das minhas netas.

Lá pelas 13 horas, venho para a minha casa. Preparo o almoço para os meus dois filhos solteiros, os quais chegam e almoçam. Logo em seguida eles voltam ao trabalho. Então, eu continuo a fazer o restante do trabalho. Arrumo a casa, lavo e passo roupa. No final da tarde, quando dá tempo, faço os exercícios da escola.

Quando chego da aula à noite ainda tem coisa para fazer. Faço uma coisa aqui, outra ali e já é hora de dormir; o corpo não agüenta mais, pois não tenho a mesma disposição de antes.

Com tudo o que faço em casa e fora dela dou oportunidade para meus filhos estudarem e serem excelentes profissionais. Depois de tudo isso ainda consigo economizar um pouco. Este trabalho nunca me tirou a dignidade, pois com ele ajudei, em primeiro lugar a mim e meus filhos e netos.

Tenho uma filha que se formou há quase 15 anos e trabalha como professora de matemática no Estado. A outra, é enfermeira e professora de curso técnico de enfermagem; a terceira faz curso de Serviço Social e o mais novo agora está fazendo cursinho. Tenho um filho de 34 anos que tentou engenharia e foi ser motorista de ônibus. Então, se eu estou promovendo alguém, sinto-me importante dentro da sociedade em que vivemos.

Eunice, 55, Avançado

Trabalhando sempre

Os trabalhadores têm se esforçado bastante para melhorarem suas condições de vida. Um movimento para mobilizar a sociedade no sentido de melhores salários e condições de vida, como no poema “Operário em construção”, de Vinícius de Moraes.

Ele estava querendo mostrar ao seu patrão que seu trabalho não era em vão, quanto à qualidade do que fazia em sua profissão.

Enquanto trabalhava foi pensando que deveria pedir justiça. Ele compreendeu, num instante solitário, construindo casas, prédios, igrejas e mansões... Cresceu também o operário!

Pensando em tudo o que acontecia, ele disse “não” ao patrão. Uma situação nova se viu e admiravam: o operário comentava e os outros escutavam. A cidade cresceu, ficou grande e bonita com seu trabalho maravilhoso.

O trabalho dignifica o homem. É preciso que seja bem remunerado para se ter alegria e tranqüilidade.

Maria Régio, 77, Avançado

Page 24: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

A Matemática nos Movimentos Sociais

Segundo os dados analisados dos gráficos feitos pelos alunos da EMGVL, foi concluído que 64,7% das pessoas pesquisadas são mulheres, revelando que essas por sua vez, estão sendo reconhecidas profissionalmente.

Também descobrimos por intermédio dos gráficos que a condição salarial ainda nos remete a utilizar o transporte coletivo.

Não podemos deixar de lado as condições precárias do transporte coletivo e isso inclui super lotação, ônibus velho, passagem com preço alto, falta de respeito com as mulheres no interior dos ônibus, falta de respeito para

com os idosos. A grande maioria presta serviços no seu

próprio bairro, nos seguintes locais: padaria, sacolão, açougue, salão de beleza, farmácia, bar, sorveteria, originando o bairro jardim dos comerciários. Cada vez mais as mulheres estão assumindo dupla jornada, com algumas exceções. Um dos dados mais polêmicos e debatidos em sala foi sobre a questão dos benefícios trabalhistas, por exemplo, o vale-transporte que não se trata de um benefício, mas sim de um direito.

Texto coletivo, Avançado

Junto ao Movimento Operário que pesquisou e discutiu as conquistas e reivindicações dos trabalhadores urbanos brasileiros, foi realizada uma pesquisa para levantamento sócio-econômico e funcional dos estudantes da EJA da escola. Os dados foram tabulados, transformados em gráficos e interpretados pelos estudantes.

Análise dos Gráficos

O SESC promoveu algumas oficinas na EMGVL com intuito de dar oportunidades de geração de renda aos participantes.

Oficinas do SESC

Page 25: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008 - 25

A viagem no tempo vivida no Museu da Praça da Estação foi emocionante. Eu observava os alunos/as da EJA e vi nos seus olhos, na expressão facial, nos comentários e sorrisos o quão importante é viver o passado.

Bernardo, nosso guia, iniciou a visita pela galeria dos ofícios femininos e, com espanto, os mais jovens se depararam com teares, fôrmas de queijos artesanais, colchas, toalhas, fogão à lenha, ferro de passar roupa à brasa...

Quanta trabalheira! Os mais experientes, no entanto, recordavam as penúrias vividas pelas mães, avós, bisavós; mas a doce memória de dias mais calmos, seguros e felizes servia de lenitivo às dores causadas por aqueles dias das antigas donas de casa.

Subíamos e descíamos escadas como crianças. As pernas não reclamavam, afinal, tudo era irremediavelmente belo, melancólico e maravilhoso.

As talhas de água, os moinhos de fubá, a moenda de cana-de-açúcar, o curtume e tanta riqueza de detalhes, de histórias que já não voltam mais... A não ser na visão daqueles e daquelas que lembram a infância e seus antepassados.

A água como fonte de energia mais usada na época, os mecanismos para socar arroz, milho e tantos outros, cada um com sua singularidade e criatividade sobrelevou ainda mais os simples seres humanos de séculos passados.

Houve, dentre tantas antiguidades, no entanto, uma que chamou mais a nossa atenção: uma “venda” daquelas em que eram vendidos alhos e bugalhos... pinga e queijo da roça, pães, biscoitos, carnes defumadas... hummm! Que delícia! Surpresa! Era tudo “de mentira”!

A verdade, porém, é que foi gratificante participar de um passeio tão singular e inquietante. Afinal de contas, tecer nossas histórias juntamente com alunos, alunas, professoras da EJA do “Gracy” é reconhecer a importância dessa modalidade de ensino na formação e crença num futuro melhor.

Conceição, Diretora/2008

De volta ao passado...

No dia 08 de novembro de 2008, visitamos o Museu de Artes e Ofícios. Gostei muito de ver tantas coisas antigas do tempo em que vivia no interior: o fogão à lenha, a máquina de tecer, as panelas...

Sinto saudades, quando jovem morava no campo. Como sinto saudades da minha terra querida quando via tudo feito pelas mãos de pessoas do campo! Fiquei muito emocionada quando vi máquina de costura, almofada de fazer rendas, aquele fogão enorme com panelas, chaleiras e cafeteira.

Como era feliz no campo! Lembrei – me de meus antepassados, fiquei muito contente de lembrar dos velhos tempos.

Agradeço a vocês professoras, por fazerem tudo por nós.

Cecília Marques, Alfabetização

Museu de Artes e Ofício “Flávio Gutierrez”

Nós tivemos a oportunidade de conhecer o Museu de Artes e Ofícios, que fica situado ali, na Praça da Estação. Eu fiquei conhecendo muitas artes de antigamente.

Eu já conhecia o engenho de moer a cana, o moinho de moer o milho para fazer o fubá, a canjiquinha. Eu achei super interessante o curtidor de couro que depois passa por outro processo até ficar pronto para o trabalho. Então é usado para fazer sapatos, casacos, botas e outras coisas mais. Também fiquei encantada com as peças, os teares que fazem as colchas, as rendas. E muitas peças de barro, ferro, bronze e cobre. Tivemos informações de como era a farmácia... Conhecemos a história da escrava com “alma branca” que vendia doce, ganhava uma porcentagem e acabou comprando sua liberdade.

Foi um passeio muito agradável e tranqüilo. Eu gostei muito das pessoas que nos orientaram, muito educadas e pacientes. Agradeço a todos vocês que nos ofereceram este passeio tão inesquecível!

Maria da Conceição Pereira, Alfabetização

VISITA AO MUSEU DE “ARTES E OFÍCIOS”

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26 - emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008

Aprendendo com o cinema

“Tempos Modernos” retrata a interligação da vida com um relógio. O tempo marca a vida de operários de uma fábrica onde se desenvolve boa parte da ação. O filme começa com imagens de um rebanho de ovelhas que, na seqüência, são substituídas pela imagem de um grupo de operários saindo da fábrica. Pela cena inicial, nota-se a pressa em mostrar que a responsabilidade de massificação do proletariado corresponde ao processo de desumanização imposto pela máquina.

“Tempos Modernos” mostra um patrão em que ao mesmo tempo brinca de quebra-cabeça e lê gibi e paralelamente controla de sua sala, através de um circuito fechado de televisão o trabalho de seus empregados.

Carlitos é um trabalhador da fábrica, em uma linha de montagem. O seu serviço é ajustar os parafusos a uma velocidade que não consegue nem se coçar, sem que haja quebra no ritmo de trabalho dos companheiros.

TÍTULO: TEMPOS MODERNOS (Modern Times, EUA 1936)DIREÇÃO: Charles ChaplinELENCO: Charles Chaplin, Paulette Goddard, 87 min. preto e branco, Continental.

SinopseTrata-se do último filme mudo de Chaplin, que focaliza a vida urbana nos Estados Unidos nos anos 30, imediatamente após a crise de 1929, quando a depressão atingiu toda sociedade norte-americana, levando grande parte da população ao desemprego e à fome.

Pela primeira vez na minha vida eu fui a um museu. No museu de Artes e Ofícios tem mais de duas mil peças em exposição. É uma viagem alucinante a outra dimensão. Quando a gente vê fotos em livros ou revistas fala: - Nossa, que lindo! Mas, quando se dá de cara com tudo aquilo é totalmente diferente, aquelas peças são reais. O mais impressionante é saber que foram usadas por mãos camponesas e pelos negros escravizados.

Entre tudo o que vi quatro peças me chamaram muita atenção. O fogão de pedra sabão e madeira, comprado pelo colecionador Flávio Gutierrez em uma viagem que ele fez ao triângulo mineiro. Uma máquina de costura que era chamada de máquina de mão, porque girava uma manivela com a mão enquanto costurava. Lembrei-me da minha avó que tinha uma igual. O tabuleiro das negras de almas brancas, assim que elas eram conhecidas, porque elas vendiam doces cristalizados cortados em quadrinhos, elas enchiam o tabuleiro com os doces e juntavam o dinheiro para comprar a sua liberdade.

Agora, de tudo o que vi, o que me deixou chocada foi a balança de escravos, é muito triste saber e ver onde tantos seres humanos foram pesados e vendidos como se fossem gado, me desculpe a colocação, mas é triste saber que naquela balança homens pesaram homens para vender. Quando parei na frente dela senti um frio na barriga, parece que ela carrega toda angústia, tristeza e toda a dor de todos que foram pesados nela. Todas as peças me despertaram emoção forte, mas com a balança foi diferente, é como se ela estivesse triste por saber a função dela no passado. Ela passa uma tristeza muito grande para quem a vê.

Gostaria que os colegas que não foram ao museu que vá, pois é emocionante. Agradeço a escola Gracy Vianna Lage por me proporcionar essa viagem a outra dimensão. Muito obrigada.

Aparecida das Dores, 42, Intermediário

Uma noite no Museu

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emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008 - 27

Reflexão sobre o filme Tempos Modernos

A figura central do filme é Carlitos, o personagem clássico de Chaplin, que ao conseguir emprego numa grande indústria, transforma-se em líder grevista conhecendo uma jovem, por quem se apaixona. O filme focaliza a vida do trabalhador na sociedade industrial caracterizada pela produção com base no sistema de linha de montagem e especialização do trabalho. É uma crítica à modernidade e ao capitalismo representado pelo modelo de industrialização, onde o operário é engolido pelo poder do capital e perseguido por suas idéias subversivas.

Em sua segunda parte, o filme trata das desigualdades entre a vida dos pobres e das camadas mais abastadas, sem representar, contudo, diferenças nas perspectivas de vida de cada grupo. Mostra ainda que a mesma sociedade capitalista que explora o proletariado alimenta todo conforto e

diversão para burguesia. Cenas como a que Carlitos e a menina órfã conversam no jardim de uma casa, ou aquela em que Carlitos e sua namorada encontram-se numa loja de departamento, ilustram bem essas questões.

Se inicialmente o lançamento do filme chegou a dar prejuízo, mais tarde tornou-se um clássico na história do cinema. Chegou a ser proibido na Alemanha de Hitler e na Itália de Mussolini por ser considerado socialista. Aliás, nesse aspecto Chaplin foi boicotado também em seu próprio país na época do macartismo.

Juntamente com “O Garoto” e “O Grande Ditador”, “Tempos Modernos” está entre os filmes mais conhecidos do ator e diretor Charles Chaplin, sendo considerado um marco na história do cinema.

O tempo existe como um auxílio para a organização de nossas tarefas de trabalho ou somos escravizados por ele?

Existem direitos e deveres. Os direitos são conquistados com muito esforço e a maioria dos deveres são obrigações. E todos a serem cumpridos como se fossemos escravizados, principalmente pelo tempo.

Gilson Félix, 36, Avançado

Somos escravizados pelo tempo. Bom, para quem trabalha, divide seu tempo para tudo, como acordar 5 horas da manhã, todos os dias, voltar às 18 horas, daí vem para a escola à noite

Fazemos as coisas como uma espécie de máquina. Ficamos estressados e isso reflete em nossa vida particular.

Cláudio de Paula, 25, Avançado

Antigamente a escravidão era mais vista porque era comum. Hoje em dia existe de várias formas, como exemplo, o tempo.

Outra questão se refere ao trabalho mecânico e repetitivo, que não traz um sentido a nossa existência, ou seja, são tarefas que fazemos sem refletir, sem pensar, o que de

certa forma nos desumaniza. Você concorda ou não com essa afirmação? Argumente, defendendo seu ponto de vista.

Achei muito importante, principalmente no momento que ele ajustava os parafusos e as peças. Era repetitivo e não tinha tempo nem de coçar. As coisas negativas são maiores que as positivas.

Sebastião Santos, 36, Avançado

Trabalhei um tempo em uma pensão como ajudante de cozinheira e não tinha tempo para comer.

Penso que o trabalho mecânico e repetitivo nos desumaniza sim. Hoje os patrões só pensam em ganhar dinheiro. Se os seus empregados não têm um bom desempenho não serve para a sua empresa. Os patrões deveriam se preocupar com a vida, a saúde e o bem-estar de seus funcionários.

Mires Gonçalves, 30, Avançado

Lutar é não desistir. Acreditar é ter convicção que está lutando por algo correto. Não desistir nunca.

Sebastião Santos, 36, Avançado

Page 28: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

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ENTO

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LÓG

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“Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não haveria pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.” Mahatma Gandhi

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importância da discussão sobre a ecologia traz a necessidade de

inclusão deste tema no contexto escolar. O trabalho proposto para o estudo das origens do movimento

ecológico na história local e no âmbito mundial foi o ponto de partida para a abordagem do tema trabalho.

A partir da perspectiva da ecologia integral, o corpo docente desenvolveu com os educandos atividades de leitura e discussão de textos informativos, exibição de filmes como, “Ilha das Flores”, “Uma

verdade inconveniente” e palestra, em vídeo, do professor Mário Cortella sobre o tema, além de produção de charges, histórias em quadrinhos, textos dissertativos e outros tipos.

Vale pontuar que o tema é muito amplo e demanda atualização constante, mas o objetivo deve ser sempre a conscientização da importância do meio ambiente, bem com o a interação entre as ecologias pessoal, social e ambiental para a mudança de atitude e garantia da qualidade de vida.

A Carta da Terra é uma declaração de princípios fundamentais para a construção de uma sociedade global no século XXI, que seja justa, sustentável e pacífica. O documento procura inspirar em todos os povos um novo sentido de interdependência global e de responsabilidade compartilhada pelo bem-estar da família humana e do mundo em geral.

É uma expressão de esperança e um chamado a contribuir para a criação de uma sociedade global num contexto crítico na História. A visão ética inclusiva do documento reconhece que a proteção ambiental, os direitos humanos, o desenvolvimento humano eqüitativo e a paz são interdependentes e inseparáveis. Isto fornece uma nova base de pensamento sobre estes temas e a forma de abordá-los. O resultado é um conceito novo e mais amplo sobre o que constitui uma comunidade sustentável e o próprio desenvolvimento sustentável.I. Respeitar e Cuidar da Comunidade da Vida1. Respeitar a Terra e a vida em toda sua diversidade.2. Cuidar da comunidade da vida com compreensão, compaixão e amor.3. Construir sociedades democráticas que sejam justas, participativas, sustentáveis e pacíficas.4. Garantir as dádivas e a beleza da Terra para as atuais e as futuras gerações.

II. Integridade Ecológica5. Proteger e restaurar a integridade dos sistemas ecológicos da Terra, com especial preocupação pela diversidade biológica e pelos processos naturais que sustentam a vida.6. Prevenir o dano ao ambiente como o melhor método de proteção ambiental e, quando o conhecimento for limitado, assumir uma postura de precaução.7. Adotar padrões de produção, consumo e reprodução que protejam

as capacidades regenerativas da Terra, os direitos humanos e o bem-estar comunitário.8. Avançar o estudo da sustentabilidade ecológica e promover a troca aberta e a ampla aplicação do conhecimento adquirido.

III. Justiça Social e Econômica9. Erradicar a pobreza como um imperativo ético, social e ambiental.10. Garantir que as atividades e instituições econômicas em todos os níveis promovam o desenvolvimento humano de forma eqüitativa e sustentável.11. Afirmar a igualdade e a eqüidade de gênero como pré-requisitos para o desenvolvimento sustentável e assegurar o acesso universal à educação, assistência de saúde e às oportunidades econômicas.12. Defender, sem discriminação, os direitos de todas as pessoas a um ambiente natural e social, capaz de assegurar a dignidade humana, a saúde corporal e o bem-estar espiritual, concedendo especial atenção aos direitos dos povos indígenas e minorias.

IV. Democracia, não Violência e Paz13. Fortalecer as instituições democráticas em todos os níveis e proporcionar-lhes transparência e prestação de contas no exercício do governo, participação inclusiva na tomada de decisões, e acesso à justiça.14. Integrar, na educação formal e na aprendizagem ao longo da vida, os conhecimentos, valores e habilidades necessárias para um modo de vida sustentável.15. Tratar todos os seres vivos com respeito e consideração.16. Promover uma cultura de tolerância, não violência e paz.

A CARTA DA TERRA

Page 29: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

Era uma vezum rio de águas limpas e cristalinas

o homem veioa sujeira veio

veio a poluiçãosujou a água

matou os peixesacabou o rio

que era vida pra gente.Atenção minha gente

ainda temos tempode mudar essa situaçãoEra uma vez...um rio.

texto coletivo, Alfabetização

Meio ambiente

Ecologia Pessoal e Ambiental

Ecologia pessoal é viver bem com as pessoas, cuidar da natureza, ajudar o próximo, cuidar do ambiente. Respeitar o dia da coleta de lixo, porque os cachorros rasgam os lixos e deixa as ruas sujas e com mau cheiro. No trânsito, não discutir. Respeitar as leis, ter calma, paciência, ou então, sair mais cedo de casa. Em casa, não colocar fogo nas folhagens porque isso prejudica o meio ambiente e também as pessoas que tem problemas respiratórios. Dica: junte em um local para virar esterco.

Mires Gonçalves, 30 e Uerlei Santos, 26, Avançado

Devemos ter cuidado com nosso corpo, cuidar muito dele, fazer exercício físico etc. Devemos também ter contato com as pessoas, ter cuidado com as emoções. Devemos ter uma boa alimentação. Regularmente também devemos tomar muito líquido. Devemos ter cuidado com nossa mente, procurar não se estressar. Manter a cabeça fria, deixar os problemas de lado. E também saber entender e compreender as pessoas, levá-las com muita calma.

Felipe, 16 e Ana Paula,17, Avançado

Reflexão sobre o documentário “Ética e meio ambiente”,

Temos que ser éticos, saber o que está certo ou errado. Temos que cuidar de nós mesmos não jogando lixo nas ruas. Fazendo não só a nossa parte, mas sim falando com as pessoas. Ética não é saber estar com o outro, saber cuidar de si e ajudar os outros. Tudo o que temos neste mundo pertence a nós, por isso o professor Mário Sérgio fala que o mundo é a nossa casa.

Temos que cuidar de tudo o que tem nesse mundo. A natureza é a coisa mais importante para todos nós. O importante em

nossa vida é saber, querer e poder. O professor Mário Sérgio fala que se

queremos algo, temos que saber se é bom ou não, se podemos ou não. Tem coisa que a gente pode. Temos que pensar antes de agir. Temos que avaliar se vale à pena, se vai prejudicar o mundo ou não.

Gisiane Ferreira, 22 anos, Avançado.

professor Mário Sérgio Cortella

Page 30: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

30 - emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008

Devemos tomar alguns cuidados, tais como: fazer caminhada, beber bastante líquido, comer frutas, verduras. Tomar cuidado nos finais de semana e feriados com o sol. Nos horários adequados usar filtros solares, sempre recomendados pela Anvisa. Alguns cuidados também com a alma.

Gilson Márcio, 36, Avançado

Mudar os costumes do dia-a-dia, de cada um de nós. Reaproveitar os alimentos. Mais lazer como ir ao cinema, jogar bola, andar de bicicletas, fazer caminhadas, praticar esportes. Fazer abóbora com casca, ralar o chuchu com casca, lavar bem os legumes e ralar com as próprias cascas, não desperdiçar talos. Fazer a paçoquinha de farinha enriquecida com rapadura e amendoim, para dar o sabor

Por Aparecida da Dores, 42 , IntermediárioO fim dos dias

Por causa da ganância dos homens a vida no planeta terra está prestes a acabar. Quase não há mais água no planeta, a vida animal já chegou ao fim, a vegetação eu nem me lembro mais há quantos anos acabou, tudo que era verde agora é apenas cinzas, cinzas queimadas pelo sol.

A raça que era chamada de ser humano resta poucos. Meu nome é Aparecida, hoje é 22 de julho de 2.785, viver se tornou um desafio, quando a vegetação começou a morrer por causa da poluição, não podia imaginar que iria ver e sentir o que estava prestes a acontecer.

O ar se tornou venenoso, milhares de pessoas morreram de problemas respiratórios, câncer, fome, sede, desnutrição, tantas doenças que não tivemos nem tempo de dar nomes a elas. Os animais que se alimentavam de plantas, morreram de fome, os outros se tornaram presas fáceis para carnívoros, não demorou muito tempo os carnívoros desapareceram do planeta por causa da depredação humana, já que era o único alimento na Terra.

E foi nessa época que passamos a nos alimentar uns dos outros, não se tratava mais de alimentação, era uma luta pela vida, ou comia ou serviria de comida. Os corpos queimados pelo sol serviam de atrativos para urubus famintos, que esperavam por sua refeição, o mau cheiro era insuportável, mas quem ligava para isso! Não éramos mais nada, não tínhamos mais nada, a terra torrada e quente tinha tirado tudo de nós, assim como um dia tiramos dela. A pouca água que existia era disputada pelas criaturas que eram chamadas de seres humanos. Não existiam pessoas, só presas e predadores. Dizem que Deus nos esqueceu, mas fomos nós que nos esquecemos Dele.

O universo se acalma tudo pára. Sou a última, a impureza da terra está para acabar, o meu maior desejo agora era tomar algumas gotas de água, a mesma água que existia em abundância e hoje não há nada mais. Quando falávamos em seca não sabíamos que chegaria a esse ponto. Vivi para contar, mas preferiria não ter vivido. O sol me queima. A minha carne se desfaz no solo escaldante e seco, fico imóvel. Meus olhos não vêem mais o sol, o ar venenoso não me afeta mais. Ate que enfim vou morrer. A raça humana está prestes a acabar, a Terra vai ser livre novamente.

Deixo esta mensagem ao lado do que sobrou de mim, se alguém no universo receber esta mensagem, por favor, se afaste da Terra, não faça com ela o que nós fizemos!

ideal para alimentação de crianças e pessoas desnutridas. Se você tomar estes cuidados do dia-a-dia, terá uma vida saudável em todos os sentidos.

Marcilio, 36, Silvânia, 40 e Patrícia, 28, Avançado

Poderíamos por exemplo retornar os recipientes de alimentos enlatados, com isso teria menos poluição de rios, matas entre outros. Também poderíamos adequar o uso de filtros em fábricas de grande porte assim teria um ar menos poluído. Manter os rios, lagos e lagoas limpas. Colocar o lixo na rua no dia e na hora certa. Reciclar o lixo, não jogar papel nas ruas. Usas sua sacola de papel ao fazer compras.

Priscila, 20, Aureci, 35, Vilson, 36, Cláudio, 23 Sebastião, 48 Avançado

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emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008 - 31

O planeta Terra secou. Onde era água, hoje só encontramos terra seca, infertilidade. Existe somente uma base militar fortemente protegida com pequenos reservatórios de água. Nem todas as pessoas têm acesso e direito a essa água, essa base é dividida em dois grupos, os que têm dinheiro, que tem água para se satisfazer e os menos afortunados que imploram por um pouco de água.

Por isso, a guerra é uma coisa natural, é triste ver as pessoas lutando por um copo de água, crianças morrendo de fome e sede sem falar das doenças respiratórias pela falta de oxigênio. Em pensar que tudo isto foi causado pelos homens! Bem que tentávamos conscientizar! Que os homens não desmatassem que não poluíssem o planeta e o mais importante que não poluíssem as águas, porém eles não importaram com nada. Não pensaram na população! E o que nós vemos hoje no planeta? É somente guerra!

Neste momento, eu acordo e vejo que estava apenas sonhando. Mas, eu quero dizer para as pessoas que nós ainda podemos mudar o quadro desta história. Vamos nos conscientizar da importância da água em nossas vidas.

Por Ana Luíza Pereira da Silva, 15, IntermediárioTudo não passou de um pesadelo

Uma verdade incoveniente (An Inconvenient Truth)

A maioria conhece o político Al Gore somente pelo fato dele ter sido derrotado por George W. Bush na campanha eleitoral pela presidência dos EUA em 2000. Aqui, o cineasta mostra seus esforços de Gore a fim de alertar a população mundial em relação ao super-aquecimento global.

Simpsons, o filme (Simpsons, The Movie)

Os Simpsons formam uma das famílias mais engraçadas e festejadas entre os desenhos animados norte-americanos. Completando a 18ª temporada na TV norte-americana, eles ganham pela primeira vez uma aventura em longa-metragem. Neste filme, Homer, o patriarca da família, causa a poluição do lago de Springfield. Isso causa grandes danos à cidade. Uma das sugestões de como solucionar o problema, é colocar uma espécie de bolha em volta de Springfield, isolando-a do mundo.

Ilha das flores – Jorge Furtado

Um ácido e divertido retrato da mecânica da sociedade de consumo. Acompanhando a trajetória de um simples tomate, desde a plantação até ser jogado fora, o curta escancara o processo de geração de riqueza e as desigualdades que surgem no meio do caminho.

www.pbh.gov.brwww.mg.gov.br www.mma.gov.brwww.unesco.org/mab/themabnetwww.ecologiaintegral.com.brwww.futuro.usp.brwww.greepeace.com.brwww.ecossocialista.org.br

Homenagem póstuma

É com grande saudade que nos despedimos da educanda Eunice Silva, Ciclo Avançado. E por que fazê-lo no Movimento Ecológico? Para quem a conheceu é fácil compreender. Eunice tinha grande compromisso com própria vida e daqueles que conviviam com ela. Tratava seus semelhantes com carinho e distinção, como se pode identificar em dois textos seus publicados aqui.

Entre nós, foi uma mulher que buscou através das suas ações, melhorar e qualificar a trajetória das pessoas que cruzaram seu caminho. De atitude firme e cheia de coragem, voltou a estudar para concluir um sonho: fazer

faculdade e trabalhar com o Meio Ambiente.Fatalmente, seu desejo foi interrompido!

Em poucos meses ela se foi. Certamente, agora, está junto ao Pai cuidando do jardim celestial, com a doçura dos seus gestos e meiguice de um sorriso singelo. Como muitas vezes em aula, quando a observava e percebia no seu rosto sempre sereno, tamanha competência, garra e gosto pela vida...

Obrigada, por perfumar nosso caminho com seu frescor e suavidade... Que sua brisa de carinho e vida esteja sempre com as pessoas e ambientes com as quais conviveu! Obrigada, Eunice, onde quer que você esteja, por ter sido parte da nossa caminhada...

Graziele Souza, professora da EJA

Aprendendo com o cinema...

Para saber mais:

Page 32: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

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“O futuro pertence aqueles que acreditam na beleza dos seus sonhos.” Eleano Roosevelt

Letras de rap criadas pelo educandos para denunciar os problemas sociais.

A VIOLÊNCIA

o campo da educação, as relações juventude versus

mundo adulto, trazem conflitos constantes. A voz do mundo adulto, muitas vezes, quer ser mais forte, quer ser a mais ouvida. Quer transmitir o que ela “acha” que é a verdade, o que é melhor para o dito “futuro do jovem”. Tudo isto parece soar como uma tentativa de engarrafar tudo aquilo que o jovem vai percebendo da realidade, o seu poder de questionar, afim de que ele se torne apto a se conformar com a sociedade.

Os jovens não precisam somente ser inseridos no mercado de trabalho, encontrar um lugar na sociedade, mas sim, expressar e falar da sua percepção do mundo, criar uma forma de existir, comunicar-se com outros. Muitas mudanças já foram conquistadas pelo grande poder que a juventude organizada tem de contextualizar a realidade.

Estudar a história dos movimentos juvenis é trazer para os dias atuais a contribuição da juventude para mover a grande roda da história. Ainda hoje, é necessário o grito da juventude para que se possam vislumbrar outras realidades possíveis ou mesmo tornar visíveis tantas realidades de exclusão e injustiça.

Segundo Silva (2007) é necessário “... captar dos movimentos juvenis e seus processos práticos de inserção, de busca de visibilidade, os elementos necessários para o sucesso da partilha de saberes que envolvem os sujeitos da vivência escolar.” (Silva, 2007).

Estudar os movimentos juvenis nos faz refletir sobre a condição juvenil hoje e as suas formas de expressões da cultura, bem como instiga os alunos a lutar por condições melhores para todos.

Olha como tudo esta mudando

o ser humano destruindo o que é mais

sagrado.

Derramando seu choro no chão

É assim meu irmão

Destruição pelas mãos da população.

A vida não pode acontecer assim

não fique assim

mude esse fim

cuide da natureza.

Texto coletivo – Intermediário

Page 33: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

Rap da Família

Rodrigo Marcos e Nina, jovens atuantes do Movimento Juvenil na cidade, contribuíram para a formação dos professores da EJA com palestras sobre Teologia da Libertação e MEPR: Movimento Estudantil Popular Revolucionário.

Demonstraram que os jovens estão ativos e conscientes da realidade que os cercam e que sua atuação é imprescindível na transformação para uma sociedade justa e democrática.

Aprendendo com quem participa do Movimento

Olha aí a violência esta em todo lugar.

Mães chorando pelos filhos

sem ninguém pra escutar

A voz sábia dos seus pais.

Jovem que se acham inteligente o suficiente,

lá no fundo é simplesmente

mas um a se perder

Que mundo é esse que estamos

Cada um no seu canto

Cada canto de tristeza

violência, desespero

Mais uma família chora a perda de um ente

A policia foi chamada

O que foi que aconteceu,

Daqui a pouco todos calam

barulho, um tremendo barulho

Foi um tiroteio que aconteceu,

Resultado, jovens ainda menores mortos a tiro.

Policiais homens de família

deixam mulheres e filhos desamparados,

também morrem no tiroteio

Afinal de tudo isso

Mães choram pelos filhos

filhos choram pelos pais mortos.

Deixo uma pergunta:

Onde vamos parar com tanta violência?

Não acredito que políticos faça alguma coisa.

Pois eles também geram violência.

Marta Maria, Intermediário

O grafite

Após visita à Serraria Souza Pinto, a educanda Maria Gomes, 24, Intermediário fez uma pesquisa sobre grafite e socializou sua experiência e aprendizado.

“A essência do grafite está nas ruas. Trata-se de um movimento organizado nas artes plásticas, em que o artista aproveita e intervém em espaços públicos por meio de uma linguagem própria, demonstrando sua forma de ver o mundo e criando uma nova identidade visual em territórios urbanos”...

Page 34: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

34 - emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008

Conhecendo o BIG BIENAL INTERNACIONAL DE GRAFITE

Os educandos visitaram a Bienal do Grafite realizado na Serraria Souza Pinto. Um evento muito rico e interessante, principalmente para os jovens que se mostraram muito curiosos e interessados em participar deste momento cultural.

Alguns educandos desejaram ter visto os artistas que desenvolveram as obras expostas. Outros tiraram fotos por todos os cantos, registrando momentos em que a cultura mostra-se como algo próximo e deslumbrante. Ocorreram

Abramo, Helena. “Retratos da Juventude brasileira: análise de uma pesquisa nacional”. Instituto cidadania. Editora fundação Perseu Abramo.Brunel, Carmem. Jovens cada vez mais jovens na Educação de Jovens e Adultos. Porto Alegre: Mediação, 2004.Dayrell, Juarez. A música entra em cena: O rap e o funk na socialização da Juventude. Educação e Pesquisa Jan/jun. Vol.28. 2002.Sposito, Marilia. Estudos sobre juventude em educação. Revista de Educação, 2007. Silva, Analise de Jesus “Juventude e partilha de saberes na escola pública” Belo Horizonte: revista “Outro olhar Juventude, 2007.

Para saber mais

momentos de descontração e dança, pois estava acontecendo um show de hip hop. Foram momentos muito ricos em expressões e falas, observações dos detalhes, apreciação e contemplação de uma arte que veio para transgredir e mudar. Teve até alunos da Escola apresentando um número de dança.

Os visitantes perceberam um mundo colorido, criativo, divertido, inusitado e crítico do grafite. Quem tinha algum preconceito, achando se tratar de rabiscos ou pichação percebeu a arte sem pompa, com demonstração de cultura, crítica e com senso de

humor, domínio de diversas técnicas que agradam a um variado público.

Page 35: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008 - 35

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debate sobre a reforma agrária no Brasil sempre foi muito polêmico devido a desigualdade presente na

distribuição da terra.Desde a colonização até hoje,

todas as tentativas feitas no Brasil para se optar por uma saída democrática para a questão agrária acabaram sendo frustradas por uma reação autoritária e violenta das classes dominantes.

Mesmo com todas as dificuldades apresentadas, os trabalhadores rurais sempre se organizaram em movimentos que discutiam a questão da terra. Através das ligas camponesas movimento dos agricultores sem terra, e depois, com a formação do sindicalismo rural, essas lutas passaram a abranger as pessoas, tanto do campo, quanto da cidade.

Todas as conquistas obtidas foram conseguidas com a união desses trabalhadores. O estatuto da terra foi criado e definiu que as propriedades mais sujeitas à desapropriação são os latifúndios, tanto por dimensão, quanto por exploração, mas ele permite, também, que a união desaproprie quaisquer áreas beneficiadas por obras publicas, áreas cuja proporção não obedeça aos recursos destinados; áreas com elevada incidência de parceiros e posseiros e áreas improdutivas. O Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra (MST), foi criado oficialmente, em 1985,quando se realizou, em Curitiba, o seu 1º congresso, com a participação de 1500 representantes das várias regiões brasileiras. O movimento é hoje, um dos mais articulados do país, recebendo doações, até mesmo, do exterior.

Quais são, na íntegra, os principais objetivos do Movimento?

Que a terra seja de •quem nela trabalha.Que a reforma agrária •seja feita sob o controle dos trabalhadores.Que os trabalhadores •rurais tenham o poder de decidir, como vão ser divididas e cultivadas as terras, e também, sobre a forma de titulação.Que o governo legalize •todas s terras que forem ocupadas.

Que o tamanho máximo das •propriedades seja fixado de acordo com as regiões, não devendo ultrapassar 500 hectares (cada hectare tem 10.00 metros quadrados, ou seja, uma área de 100m x 100m).Que o governo desaproprie todas as •propriedades acima de 500 hectares.Que na distribuição das terras, se •respeitem as necessidades de cada família, de acordo com cada região.Que o estado garanta todas as •condições de produção e assistência nas terras distribuídas.Que o governo estimule a produção •para o atendimento das necessidades de todo o povo.Que o governo garanta que a produção •respeite a preservação do meio ambiente.Que o governo aplique, no mínimo, 5% •do orçamento da União para a reforma agrária.Que o governo distribua, •imediatamente, todas as terras pertencentes aos governos Federal e Estadual.Que os assentamentos sejam nos •estados e regiões de origem dos trabalhadores.Que os governos estaduais possam •realizar desapropriação para a reforma agrária.

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36 - emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008

cartas enviadas ao “assentamento oziel, “ rio doce, governador valadares

Como o Movimento Camponês tem sua representatividade no meio rural, foi através de uma troca de correspondências que os estudantes da EJA tomaram contato diretamente com o Movimento.

Há vários exemplares de cartas. As três primeiras foram escritas pelos educandos da Alfabetização e foram transcritas na sua forma original, sem revisão.

Moro num acampamento.Chamam a gente de assentados no

lugar tem muitas pessoas,lá fomos colocados não conhecem os

lucros da vida,só conhecem a humildade, sem falar no preconceito, que tem a sociedade.Para muitos somos sem terra, e não

pessoas de bem.Vamos assim viver, não deixar de lutar,

sem luta não conseguiremos,o futuro melhorar.

Quando ganharmos a terra, donos dela vamos ser,

poderemos então, sem medo, plantar e colher.

Sou menino, sou poeta, e nesses versos,eu canto, a minha história de vida,

no meu pequeno recanto.

Vinícius, um integrante do MST, de 12 anos, escreveu, em forma de poema, como é a vida e qual é a sensação de fazer parte de um povo que nasce e cresce em meio à busca dos ideais, pelos quais seus avós e pais morreram lutando.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Prezados amigos do assentamentos Estamos estudando sobre os movimentos sociais.Gostaria de saber um pouca soubre o MST. Eu mi chamo “M.T.,

estudo na EJA Gracy Viana Lage eu tenho 62 anos e moro no Jardim dos Comerciários. Eu já fui lavradora mais nunca pude lutar pela terra e gostaria de saber si vosses enfrenta nuitos problemas.

Eu gostaria de falar mas o tempo não permite

Um abassa

Palavras de quem busca seus ideais

Page 37: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008

Prezados amigos do assentamtoMeu nome é ‘M”, eu tem 41 anos. Sou aluna do EJA na Escola MunicipalGracy Viana Lage. Estamos estuando sobre os movimentos sociais. Gostaria

de saber um pouco sobre o MST. Todos os prezidente que emtra fala que vai faze a reforma graira para vozes e nuca fez. Vocês ainda tem esperaça? Eu asisto sobre isto todos dis e rezas para vocês. Que deus ajuda vocês.

Turma de alfabetizaçãoUm abraços para vocês todos

M

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Prezados amigos do assentamento,

Eu me chamo Clemência Duarte Ferreira. Estamos estudando EJA/Escola Municipal Gracy Vianna Lage sobre os movimentos sociais. Gostaria de saber um pouco sobre o MST. Gostaria de saber de vocês como fazem sem ter as terras para plantar.

Amigos, desculpa pelos meus erros.Obrigada, um abraço para todos.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Prezados amigos do assentamento,

Eu estudo o EJA/Escola Municipal Gracy Vianna Lage. Agora eu tenho a oportunidade de estudar. Estamos estudando sobre os movimentos sociais. Gostaria de saber um pouco sobre o MST.

Abraços.Etelvina Madalena Guerra de Oliveira.

Turma da alfabetização.

Page 38: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Amigos,Eu me chamo Cláudia Lilia, moro em Belo Horizonte, sou separada,

tenho 39 anos, 4 filhos, sou deficiente física.Este ano resolvi estudar na EJA. Aqui na escola estudamos sobre os

movimentos sociais. Gostaria de saber alguma coisa sobre vocês, como vocês vivem aí no assentamento? O que vocês esperam do governo Lula? Como as crianças vivem aí? E a saúde? Tem posto de saúde aí? Como todos se divertem? Vocês acham que vale a pena viver assim? Já pensaram em desistir alguma vez?

Desculpe-me por tantas perguntas, porque para mim aqui tudo é tão difícil. Quem sabe, às vezes, vocês têm conselhos para me dar?

Aguardo resposta...Beijos de Cláudia Lilia, sala 5.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Prezados colegas,Meu nome é Darci Amorim, estou cursando a oitava série do

EJA, na Escola Municipal Gracy Vianna Lage.Quero saber como é sua vida aí no movimento sem terra. Vocês

têm assistência médica? Como são as suas crianças? Elas gostam de viver neste ambiente? Elas vão à escola? Vocês acham que o presidente Lula vai realizar o sonho de ter um terreno para cada um de vocês? Vocês se alimentam bem? Onde vocês dormem, na rede?

Vocês não podem perder a esperança. Quando há vida há esperança. Mas sem violência.

Termino esta carta desejando muitas felicidades para todos vocês.

Que Deus lhe projeta e as tuas crianças.Um abraço.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Caros alunos do assentamento Oziel, Como vão, tudo bem? Eu sou Davidson Henrique, tenho 16 anos e trabalho

na ASSPROM (Associação Profissionalizante do Menor de BH). Eu gostaria de saber como é a vida aí, ou seja, como se alimentam, como preparam as refeições? O que vocês gostam de fazer nas suas horas vagas e como fazem para ver televisão? E se aí tem campos e lagos, e o que os jovens gostam de fazer e quais músicas eles gostam de ouvir? A matéria da escola é boa, é atualizado todo ano para os alunos não se prejudicarem na sua vida profissional?

Obrigado pela paciência e pela atenção.Davidson Henrique Fernandes Coroa.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Caros irmãos do assentamento Oziel,Eu me chamo Eunice, tenho 45 anos, estou fazendo a EJA na Escola

Municipal Gracy Vianna Lage. Não pretendo parar, quero continuar minha caminhada e dar de presente aos meus filhos meu diploma – vitória. Coisa que meus pais não tiveram condições de me presentear e eu estou tendo esta chance.

Gostaria de saber quantos vivem assentados nesta comunidade. Quantos jovens alfabetizados?Quantos não alfabetizados? Quantas crianças, quantos idosos, quantos de meia idade? Vocês têm oportunidades de escolaridade? Vocês têm fácil acesso aos programas de saúde? Enfim, gostaria de ter conhecimento de tudo sobre vocês. Ficarei muito feliz em ter notícias de tudo.

Um abraço. Deus os proteja.Eunice Itenório dos Santos.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Prezados amigos do assentamento,Queridos amigos, queremos saber um pouco da vida de vocês, com é esta

vida de sem terra para sobreviver. Vejo na televisão o sofrimento de vocês. Fico penalizada de ver tanto sofrimento.

Quando veja a polícia derrubando as cabanas feitas por vocês, eles vão levando bomba para expulsar vocês, as pobres mães correndo com filhinho nos braços, fico penalizada, com isto.

Porque é triste quando a gente não tem onde morar.

Abraço da colega.Ana Cecília Gonçalves Marques,

Turma da alfabetização.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Alunos do assentamento Oziel, Rio Doce, Governador Valadares,

Eu me chamo Gleinice. Moro em BH,estudo na escola Gracy Vianna Lage em BH, no projeto de estudos para jovens e adultos. Sou casada, tenho 33 anos e uma filha de 4 anos. Depois de muitos anos voltei a estudar. Hoje estamos estudando sobre movimentos sociais. Gostaria de saber mais sobre o assentamento sem terra, o que vocês esperam do nosso presidente para resolver os problemas sociais. Também com é seu dia-a-dia no assentamento. Você estuda? Como é uma família vivendo assim?Na TV parece muito triste. Como você chegou aí? Tenho curiosidade e gostaria de conhecer mais um pouco da reforma agrária durante o governo Lula. Você pode me escrever?

Aguardo sua resposta.Gleinice Miliana F., sala 05.

Page 39: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Amigos,Eu me chamo Cláudia Lilia, moro em Belo Horizonte, sou separada,

tenho 39 anos, 4 filhos, sou deficiente física.Este ano resolvi estudar na EJA. Aqui na escola estudamos sobre os

movimentos sociais. Gostaria de saber alguma coisa sobre vocês, como vocês vivem aí no assentamento? O que vocês esperam do governo Lula? Como as crianças vivem aí? E a saúde? Tem posto de saúde aí? Como todos se divertem? Vocês acham que vale a pena viver assim? Já pensaram em desistir alguma vez?

Desculpe-me por tantas perguntas, porque para mim aqui tudo é tão difícil. Quem sabe, às vezes, vocês têm conselhos para me dar?

Aguardo resposta...Beijos de Cláudia Lilia, sala 5.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Prezados colegas,Meu nome é Darci Amorim, estou cursando a oitava série do

EJA, na Escola Municipal Gracy Vianna Lage.Quero saber como é sua vida aí no movimento sem terra. Vocês

têm assistência médica? Como são as suas crianças? Elas gostam de viver neste ambiente? Elas vão à escola? Vocês acham que o presidente Lula vai realizar o sonho de ter um terreno para cada um de vocês? Vocês se alimentam bem? Onde vocês dormem, na rede?

Vocês não podem perder a esperança. Quando há vida há esperança. Mas sem violência.

Termino esta carta desejando muitas felicidades para todos vocês.

Que Deus lhe projeta e as tuas crianças.Um abraço.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Caros alunos do assentamento Oziel, Como vão, tudo bem? Eu sou Davidson Henrique, tenho 16 anos e trabalho

na ASSPROM (Associação Profissionalizante do Menor de BH). Eu gostaria de saber como é a vida aí, ou seja, como se alimentam, como preparam as refeições? O que vocês gostam de fazer nas suas horas vagas e como fazem para ver televisão? E se aí tem campos e lagos, e o que os jovens gostam de fazer e quais músicas eles gostam de ouvir? A matéria da escola é boa, é atualizado todo ano para os alunos não se prejudicarem na sua vida profissional?

Obrigado pela paciência e pela atenção.Davidson Henrique Fernandes Coroa.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Caros irmãos do assentamento Oziel,Eu me chamo Eunice, tenho 45 anos, estou fazendo a EJA na Escola

Municipal Gracy Vianna Lage. Não pretendo parar, quero continuar minha caminhada e dar de presente aos meus filhos meu diploma – vitória. Coisa que meus pais não tiveram condições de me presentear e eu estou tendo esta chance.

Gostaria de saber quantos vivem assentados nesta comunidade. Quantos jovens alfabetizados?Quantos não alfabetizados? Quantas crianças, quantos idosos, quantos de meia idade? Vocês têm oportunidades de escolaridade? Vocês têm fácil acesso aos programas de saúde? Enfim, gostaria de ter conhecimento de tudo sobre vocês. Ficarei muito feliz em ter notícias de tudo.

Um abraço. Deus os proteja.Eunice Itenório dos Santos.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Prezados amigos do assentamento,Queridos amigos, queremos saber um pouco da vida de vocês, com é esta

vida de sem terra para sobreviver. Vejo na televisão o sofrimento de vocês. Fico penalizada de ver tanto sofrimento.

Quando veja a polícia derrubando as cabanas feitas por vocês, eles vão levando bomba para expulsar vocês, as pobres mães correndo com filhinho nos braços, fico penalizada, com isto.

Porque é triste quando a gente não tem onde morar.

Abraço da colega.Ana Cecília Gonçalves Marques,

Turma da alfabetização.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Alunos do assentamento Oziel, Rio Doce, Governador Valadares,

Eu me chamo Gleinice. Moro em BH,estudo na escola Gracy Vianna Lage em BH, no projeto de estudos para jovens e adultos. Sou casada, tenho 33 anos e uma filha de 4 anos. Depois de muitos anos voltei a estudar. Hoje estamos estudando sobre movimentos sociais. Gostaria de saber mais sobre o assentamento sem terra, o que vocês esperam do nosso presidente para resolver os problemas sociais. Também com é seu dia-a-dia no assentamento. Você estuda? Como é uma família vivendo assim?Na TV parece muito triste. Como você chegou aí? Tenho curiosidade e gostaria de conhecer mais um pouco da reforma agrária durante o governo Lula. Você pode me escrever?

Aguardo sua resposta.Gleinice Miliana F., sala 05.

Page 40: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Alunos do assentamento Oziel, Rio Doce, Governador Valadares,

Caro companheiro (a), resolvi falar com você através desta carta.Meu nome é Sílvia, moro em Belo Horizonte, estudo na escola Gracy

Vianna. Faço parte do projeto EJA, Educação de Jovens e Adultos.Eu gostaria de saber sobre a vida de vocês, se aí vocês têm escola. Qual o

objetivo real da “Reforma Agrária”?Tenho muita curiosidade em saber se vocês têm assistência do governo na

saúde, educação e alimentação.Dizem que “a fé remove montanhas”. E é com esta fé que toco para que

um dia vocês tenham muitas terras produzindo milhares de grãos explodindo o verde, como se fosse a nossa bandeira.

Acreditando e torcendo por dias melhores, aguardo sua resposta.

Um grande abraço,Sílvia Pedro, sala 05.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008

Prezada (o) amiga (o),

Meu nome é Lúcia Batista Dias, tenho 31 anos, sou divorciada. Estudo na escola municipal Gracy Vianna Lage. Moro no bairro Jardim Europa. Minha casinha tem 2 cômodos, 1 cômodo geminado e um banheiro. Moro numa área pública. Não moro em favela, mas como moro numa área pública sou considerada favelada. O bairro é bom, tem saneamento, asfalto, boas escolas e comércios, porém nós moradores desta área não possuímos esgoto, pois moramos ao lado do córrego, e este deságua no mesmo (recebe o esgoto).

Minha profissão é garçonete e vendedora, mas estou desempregada. Para sobreviver faço diferentes tipos de artesanato e recebia bolsa-família que foi cortada há dois meses.

Tenho vontade de possuir uma área maior para plantar e dar mais espaço aos meus filhos, que são três: Sarah de 12 anos, Déborah de 11anos e Felipe de 9 anos. Gostaria de conhecer um pouco de você. Como é este assentamento que você vive? Tem filhos? Você recebe ajuda do governo? Você produz alguma coisa para ajudar no seu sustento? Você tem esperança de conseguir ou possuir alguma terra? E como pretende desfrutar dela?

Que o nosso Estado nos ajude e enxerguem a realidade que vivemos.Despeço-me de você, te desejando a mesma sorte que eu preciso.

Um grande abraço.Lúcia Batista, sala 2.

Page 41: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008

Caros amigos de Oziel,Meu nome é Gisiane, tenho 22 anos, sou estudante da EJA- Educação

de Jovens e Adultos. Neste ano estamos estudando e desenvolvendo projetos. Estamos trabalhando com os ‘Movimentos Sociais’.

Foi assim que conhecemos um pouco sobre o movimento camponês. Sabe, eu gosto de estudar sobre os movimentos sociais. E muito importante saber sobre o nosso mundo, o que mudou e o que não mudou. Através deste projeto recebemos sabedoria e conhecimento a cada dia.

Eu estou ansiosa, caros amigos, para conhecer como funciona tudo aí. Vocês gostam de viver no assentamento? O que vocês mais gostam de fazer? Quantas pessoas participam e moram no assentamento Oziel?

Eu espero que vocês amigos enviem cartas para mim, espero pelas suas cartas.

Agradeço com carinho.

Atenciosamente,Aluna Gisiane, sala 8, avançado/EJA.

Belo Horizonte, 27 de outubro de 2008.

Prezados amigos do assentamento Oziel,

Meu nome é Cristiane, faço parte da EJA, Educação de Jovens e Adultos. Conheço um pouco sobre o movimentos de vocês, o MST, movimento dos sem-terra.

Sei que a luta de vocês é justa, mas as vezes mal interpretada por muitos. Devido aos inúmeros conflitos ocorridos entre vocês e a polícia e às vezes também, pelos peões da fazenda.

Sei também que existe terra para todos, mas ela é mal distribuída. Poucos ficam com muito e muitos ficam com pouco. Um exemplo são os fazendeiros. Talvez essa bagunça se forme, porque muitas pessoas que protestam entre vocês, não querem terra e sim bagunçar.

Gostaria de saber de vocês mais sobre o movimento: Como é o dia-a-dia de vocês? Onde e com conseguem alimentos? Como são educados seus filhos? Como eles estudam? Como é estar cada dia em cada lugar, sem destino certo? Como é que vocês reagem quando perdem alguma luta e são obrigados a deixar o lugar?

Fale-me mais sobre vocês. Gostaria de tentar junto com vocês e amigos da Escola, a encontrar uma maneira de ajudar a todos vocês, com boas idéias.

Agradeço e me sinto honrada de ter a minha carta lida por vocês, e espero com muita sinceridade a resposta.

Atenciosamente,

Cristiane, aluna da sala 8 da Escola Municipal Gracy Vianna Lage.

Page 42: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

42 - emgvl / EJA / Movimentos Sociais / 2008

povo negro no Brasil sobreviveu ao longo

de mais de trezentos e cinqüenta anos de escravidão.

Durante muito tempo acreditou-se que este povo suportou de forma pacífica todos os maus-tratos ao qual foi submetido. Essa crença, ainda fixa no imaginário popular, está sendo desconstruída historicamente. Vários fatores históricos contribuíram para a construção equivocada dessa idéia de submissão do povo negro:

A existência do racismo em nossa •sociedade, produzindo e disseminando uma visão negativa sobre o negro;O desconhecimento sobre as várias •formas de resistência do povo negro escravizado;A crença de que no Brasil existe •uma “democracia racial” e de que a escravidão aqui foi mais branda do que em outros países.A ausência de pesquisas e livros que •recontam a História do negro brasileiro, destacando-o como sujeito ativo e não como vítima da escravidão;

Observamos, de fato, quando repassamos a História do negro escravizado é que este lutou, resistiu e procurou se organizar. Devemos contextualizar que, nessa sociedade de homens livres não havia espaço de inclusão para o negro escravizado e nem para o liberto. As formas de resistência deste, há quatro séculos, divergem bastante dos movimentos sociais hodiernos. Porém é importante ressaltar o sentimento de indignação e de coragem diante da escravidão, nunca de passividade ou apatia.

Nas bibliografias recentes que recontam a História da formação do povo brasileiro, incluindo a participação ativa e propositiva de negros e indígenas, são apresentadas muitas formas de organização e resistência negra durante o regime escravocrata, podendo destacar:

A criação de quilombos;•A insubmissão às regras do trabalho •nas lavouras;Os movimentos espontâneos de •ocupação de terras;

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Os movimentos como as Revoltas dos •Malês e dos Alfaiates;As fugas em massa;•O abandono das fazendas;•O assassinato de fazendeiros e de suas •famílias;Os abortos;•As organizações religiosas;•A capoeira etc.•

Dentre os vários movimentos de resistência negra durante a escravidão tem-se destaque a formação dos quilombos. Na África a palavra “quilombo” refere-se a uma associação de homens, os quais eram submetidos a rituais de iniciação que os integravam como co-guerreiros num regimento de super-homens invulneráveis ás armas inimigas. Os quilombos brasileiros podem ser considerados como uma inspiração africana, reconstruída pelos escravizados para se oporem a uma estrutura escravocrata. Uma experiência coletiva destes e seus descendentes, uma estratégia de reação à escravidão. O processo de aquilombamento existiu onde ouve escravidão dos africanos e de seus descendentes, ou seja, em todo o continente americano, mudando somente a nomenclatura de como ficou conhecido. Palmares foi uma das maiores experiências de aquilombamento que já existiu, resistindo por um século (entre 1595 e 1695). Seu principal e último líder foi o guerreiro Zumbi e hoje, a data (provável) de sua morte, 20 de novembro, marca o “Dia Nacional da Consciência Negra”. Com a assinatura da Lei Áurea - Lei da Abolição da Escravidão de 1888 - a situação do negro não se tornou harmoniosa e estável. O que se apresenta, são novos contornos dentro do processo de luta e resistência negra. O fato de serem libertados por força de Lei não garantiu aos negros os mesmos direitos e as mesmas oportunidades dadas aos brancos em nosso país. Os negros brasileiros tiveram de implementar um longo e árduo processo de construção de igualdade. Essa luta continua até hoje. A movimentação, a reação e a resistência constituem momentos importantes

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da História do Brasil. São exemplos dessa movimentação e luta:

A Revolta da Chibata (1910);•A Frente Negra Brasileira (1931);•O Teatro Experimental do Negro •(1944);O Movimento das Mulheres Negras•

Depoimento sobre a África e o Brasil...

“Eu considero que esta história é a história de duas crianças que foram separadas e que nunca mais se viram. Cada um deles teve filhos e esses filhos nunca se viram. Mas, um dia a ocasião foi dada a seus descendentes para se encontrarem. Esse reencontro seria alguma coisa de inexplicável. Sua alegria será inestimável e nós nem poderíamos qualificá-la. É alguma coisa extraordinária.”

Adjahô Houmasse, Sumo Sacerdote VodumAbomey, Benim

Resistência Cultural

A capoeira

A capoeira é uma forma de expressão da cultura negra. Surgiu entre os escravos do Brasil colonial. Sob o disfarce de uma dança, os negros se exercitavam para a luta. Na atualidade, a capoeira é praticada por mais e 2,5 milhões de brasileiros e está presente em aproximadamente 50 países. A capoeira entrou em clubes de classe média alta, em colégios e universidades, a partir do momento em que foi reconhecida como esporte pelo comitê Olímpico Brasileiro. Mas não foi sempre assim o seu prestígio. A capoeira foi considerada, entre 1830 e 1937, como crime e seus praticantes sujeitos à prisão ou deportação.

A música: samba, rap...

O samba se afirmou no nosso país com o encontro da sabedoria de três raças humanas presentes no Brasil colônia; índio, branco, europeu e negro africano, mestiçando musicalidades, corporeidades, pensamentos políticos e posturas de resistência. O sambista ginga com corpo, mente, alma, música espaço e tempo.

CD Dóris canta Samba – músicas: •Contando a História do Samba, Escalada de Negô e Kizomba, Festa da Raça.Rap – música: África moderna.•CD Jorge Aragão. Música: Identidade.•

aprendendo com o cinema

Atlântico Negro - Na Rota Dos Orixás

Documentário. Ano 1998, BrasilViagem no espaço e no tempo em busca das origens africanas da cultura brasileira. Historiadores, antropólogos e sacerdotes africanos e brasileiros relatam fatos históricos e dados surpreendentes sobre as inúmeras afinidades culturais que unem os dois lados do Atlântico. Visão atual do Benin, berço da cultura Iorubá. Filmado no Benim, no Maranhão e na Bahia.Um dos momentos mais impressionantes deste documentário é o encontro de descendentes de escravos baianos que moram em Benin, um país africano desconhecido para a maioria dos brasileiros, mantendo tradições do século passado.

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Na cultura do negro africano eles falam do vodum que é uma entidade angelical que protege a comunidade. Falam que é um Arco-Íris, é um Deus de frescor, um Deus benfeitor. A cultura negra é muito rica e têm muitas coisas bonitas, a gente só tem que procurar estudar mais sobre ela. Eles expressam sua fé com cantos, danças, roupas coloridas e com a participação de jovens e crianças.

Luciana Raiol, 34, Intermediário

A Bahia é uma das principais cidades do Brasil ligada à cultura

africana. Benin e Angola os principais portos dos navios negreiros do passado. Maranhão,

Pernambuco, Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul eram os principais estados do Brasil a receber e traficar os negros escravizados. O tráfico de homens, mulheres e crianças negras permaneceu cerca de 350 anos. Os negros eram proibidos de levar consigo seus pertences pessoais e culturais, mas isso não impediu que levassem no coração e na alma sua cultura e seus sentimentos.

Lúcia Batista, 32, Intermediário

Reflexões sobre o filme: Atlântico negro –Na Rota dos Orixás

Excursão Cultural a São Paulo

África e negrosToda vez que ouço essas duas palavras

me dá um certo tipo de revolta, pois me lembro de tantas coisas tristes, tais como: fome, sofrimento, racismo. Porque eu sempre ouvi falar de negros arrancados de seu país transportados para outros países como se fossem objetos, propriedade de quem os traziam. Transportados na maior covardia amarrados e jogados no porão de um navio sem ter o direito de reclamar seus bens, suas famílias, eles eram proibidos de trazer suas coisas, pois quem os traziam achavam que sendo assim eles esqueceriam seus costumes, sua religião, sua cultura etc. Sendo assim, se tornariam pessoas de mentes vazias e seriam então escravizadas com mais facilidade.

Através do documentário que assisti pude ver um povo africano com uma vida

bem diferente da que eu estava acostumada a ver nos filmes, nos livros e também ouvido as pessoas falar.

Pude então ver negros felizes bem vestidos totalmente diferente daquele tempo de angústia, dor e sofrimento. Os negros hoje têm liberdade para trabalhar, viver suas crenças e religião, suas comemorações ou rituais são bem coloridas e bem animadas com o batuque, a alegria se estende a todos os homens, mulheres, jovens e crianças, uma vida totalmente diferente daquela que os negros viviam no passado. Pena que ainda nos dias de hoje existe racismo e um desrespeito com as pessoas negras.

Maria Quitéria, 54, Intermediário

Em novembro fizemos uma excursão cultural a São Paulo. Visitamos o Museu Afro Brasil, o Museu da Língua Portuguesa e a Pinacoteca. Foram três dias de descobertas culturais e históricas de um povo com ricas e diversificadas tradições

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Depoimentos

Achei a excursão excelente e só tenho a agradecer á Escola por me dar a grande chance de me levar à cidade de São Paulo.

Maria das Neves, 24, AlfabetizaçãoA excursão acrescentou muito em minha

vida, acrescentou novas amizades e mais conhecimentos.

Mariana Coelho, Alfabetização

Eu vivi muitas emoções o que mais me chamou a atenção foi o navio tumbeiro. Eu me identifiquei com a história dos escravos, pois minha vida foi bastante sofrida. Eu nunca participei de um evento como este. Foram três dias ótimos. Com esse trabalho conheci novas coisas e aumentou mais ainda a minha cultura.

Maria Alice, Intermediário

Todo o passeio foi muito especial, eu nunca havia ido a um museu. O que mais me chamou a atenção foi as roupas daquelas entidades, as lamparinas de minas, os quadros dos escravos. Aprendi que devemos buscar novas experiências para nossa vida.

Ideny Monteiro, 44 anos, Avançado

Uma viagem diferente

Este final de semana foi especial para mim. Senti-me melhor em relação a colegas da escola, foi envolvente e conquistei novos amigos. Compartilhamos fotos, gostos e opiniões.

Amei o museu Afro Brasil. Conheci mais sobre os grandes valores negros e sua cultura. No museu da Língua Portuguesa, senti-

me hipnotizada com a evolução tecnológica depositada ao nosso Português, genial. Mas, o que para mim foi marcante mesmo foram as obras de arte da Pinacoteca. Viajei, delirei e fiquei encantada com tantas cores e detalhes que se formavam nas pinturas e molduras delicadas, feitas artesanalmente.

O hotel foi maravilhoso, super legal, fomos bem recebidos e servidos. Nosso almoço

delicioso foi no Ibirapuera, nos lembrou a comida mineira de tão saborosa, no jantar a comida chinesa estava ótima. Não poderia me esquecer do calor humano dos professores acompanhantes que começou na porta da escola, com beijos da nossa querida Marta.

Lúcia Batista, 32, Intermediário

Minha viagem a São Paulo

Agradeço a Deus por ter me dado vida e saúde para viajar e agradeço as professoras, a coordenação e os amigos do Gracy Vianna por ter oferecido um passeio maravilhoso a São Paulo. Conheci lugares lindos, com cultura diferente que enriqueceu a mente e a alma.

No museu Afro Brasil, conheci um pouco da cultura dos negros africanos, emocionei-me com os quadros, fotos e objetos, mas o mais emocionante foi ver a ‘árvore do esquecimento’ e o tumbeiro. É triste ver como os negros eram maltratados.

Também fomos ao Museu da Língua Portuguesa. Vi obras de Machado de Assis. Já li seus livros, mas nunca imaginei que iria a um museu para conhecer as obras e objetos dele.

Por último fomos à Pinacoteca que é um lugar de quadros e obras maravilhosas, foi uma emoção tão grande estar vendo tantos quadros lindos que eu nem sei explicar.

Os três dias em São Paulo com meus colegas da escola foram ótimos. Conversei com alunos que não conversava na escola e aprendi a ser mais amiga de cada um deles. Nunca havia participado de um evento desse tipo, foi uma experiência nova onde tive oportunidade de apreciar e conhecer obras de artistas famosos e reconhecidos no mundo inteiro. Essa experiência acrescentou mais cultura e prazer em conhecer artes.

Luciana Raiol, 34, Intermediário

A viagem

A nossa viagem a São Paulo foi inesquecível, não foi uma viagem, foi “a viagem”! No museu Afro Brasil, tivemos a oportunidade de conhecer mais sobre a lenda do saci pererê. Vimos muita coisa, mas o que me chamou atenção foi a carcaça de um navio negreiro. É uma tristeza saber como os escravos foram tão covardemente mal tratados. Os portugueses achavam que se os negros andassem em círculo em torno da chamada árvore do esquecimento eles iriam sofrer uma lavagem cerebral, mas nada aplacou tanto sofrimento. Eles construíram

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uma história com sangue, suor e lágrimas, e por isso, nós temos uma história tão forte que nada, nem ninguém conseguiu apagar.

No museu da Língua Portuguesa, gostei muito dos poemas de Machado de Assis, adoro poesia e contos. Gostei também de uma parte onde cadeira, mesas e outros objetos estavam todas no teto, como se estivesse tudo de cabeça para baixo. É muito lindo!

Nunca tinha participado de um evento desse tipo, foi tudo novo para mim, foi uma experiência impar na minha vida. O contato com os colegas foi muito agradável, os três dias que ficamos juntos foram incríveis. Essa experiência me fez ver que realmente a escola é a nossa segunda casa, os colegas são parte de uma família.

Aparecida das Dores, 42, Intermediário

Excursão inesquecívelTodas as emoções ficaram gravadas na

minha memória. O caça-palavras do museu da Língua Portuguesa foi muito divertido.

Uma imagem que me chamou atenção foi no museu Afro Brasil: o Negro e o Cassuá. O negro com o cassuá nas costas lembrou-me de quando era criança, meu pai comprava manga dos feirantes que vendiam de porta em porta montado num burro e dos lados estava o cassuá cheio de mangas. Era uma festa para mim e meus irmãos. Sentávamos num cantinho e íamos chupar manga. Isso sempre foi marcante na minha vida.

No museu de pintura o que achei interessante foi da escultura de uma mulher nua, um mulherão, uma verdadeira obra de arte. Eu nunca tinha participado de nenhum evento desse tipo, foi maravilhoso.

Maria Helena, Intermediário

A excursãoFoi uma excelente viagem. Reconheci

novos colegas, digo isto porque dentro da escola é muito difícil saber como a pessoa é realmente. Foi uma bela excursão de grande proveito, em que os participantes foram verdadeiros amigos e sempre muito respeitosos.

A primeira visita foi ao Museu Afro Brasil. Fiquei maravilhado diante de grandes obras de arte representando aquele povo pelo qual tenho tanto respeito e admiração, por não ter

se deixado cair diante da dor e maus tratos.Ali conheci obras de pintura que jamais

imaginava que fossem de negros, ainda antes da libertação da escravatura. Compreendi que não basta ter esperança, é preciso lutar, gritar se for necessário, mesmo que lhe custe a vida, pois seu grito pode ser a liberdade de muitos.

A segunda visita foi ao Museu da Língua Portuguesa. Fiquei encantado ao entrar e curioso ao ouvir a voz do além de Machado de Assis no alto-falante do teto e me concentrei tanto que a esqueci... Conhecemos e acreditamos que nossa língua portuguesa é e há de ser o nosso maior orgulho. Ela nasceu lá pelas “bandas” da Europa, mas foi aqui no Brasil que ela ganhou perfeição, porque não importa onde você está, no norte ou no sul, leste ou oeste, nós aqui no sudeste lhe entendemos. Também vimos e ouvimos o modo de falar de vários estados brasileiros; são essas diferenças que enriquecem o nosso idioma. Vejam nós mineiros: “uai, aí vem o trem...”.

Parabéns aos nossos professores de Língua Portuguesa que estão sempre a nos orientar!

A terceira visita foi à Pinacoteca. Várias artes em bronze e lindos quadros de pinturas de vários artistas. Uma grande tela me chamou atenção: um homem caído, já sem vida, com uma arma na mão, aos pés de um cavalo que lhe apalpava as feridas. Ali estava escrito: “Abandonado pelo amor de uma mulher”.

Eu, nesta idade, que tantas vezes passei a porta de um museu e não entrei, jamais conheceria a beleza e grandeza deste lugar, se não fosse por nossos professores. Agora sei que é bom irei a vários lugares, se Deus quiser.

Não existe sorte, o que existe a colheita daquilo que plantou: seja boa ou ruim. O merecimento das coisas boas é dado por aquele que fez o céu e a terra, por isso fomos escolhidos.

Matusalém Tito, 51, Avançado

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Um momento cultural e de aprendizado, foi o que ocorreu no dia 20 de novembro, dia da Consciência Negra. Após saberem um pouco mais sobre o tema, os alunos e alunas participaram da oficina de penteado afro.

Muitos não resistiram à oportunidade e se renderam ao charme e à graça desse

momento. Difícil resistir! Homens, mulheres, rapazes e moças, professoras... curiosos e, de uma forma ou de outra, todos participaram... mesmo que só observando!

O respeito e a consideração a uma pessoa, a um povo, a uma cultura podem começar com um simples olhar...

“Eu me identifico com os escravos, pois não tive tronco, mas fui discriminada, como quem não teve liberdade e identidade... era como se eu não existisse.” (Durvalina Alckimin, Avançado)

Minha primeira excursãoA Escola Gracy Vianna Lage, a EJA de

2008, nos proporcionou uma bela excursão à São Paulo. Saímos de BH com muita chuva, mas ao chegamos ao destino com um sol radiante. Fomos direto para o parque Ibirapuera onde as famílias levam seus filhos para o lazer e tem pista de cooper, praças de jogos, parquinho, bosque, casa de leitura, ciclovia.

Tomamos café, demos uma volta e fomos ao Museu Afro Brasil. Foram muitas emoções que ficaram gravadas em minha memória, pois não tinha visto nada igual antes. Reciclagem com seringas, vidro, plástico, mangueiras, os cavalos, arames, isto me chamou atenção, tudo reciclado.

As imagens de guerra, de sofrimento dos negros, a arte da África com pedaços de panos coloridos transformados em belos quadros de artes. Ainda, a arte brasileira, a cora da pele, a expressão dos olhos, tão perfeitos que não parecem nem pintura, mas uma foto de máquina digital.

Eu me identifico com os escravos, pois não tive tronco, mas fui discriminada, como quem não teve liberdade e identidade... era como se eu não existisse.

Nunca havia participado de um evento desse tipo, foi maravilhoso, não sei expressar tudo que gostaria de dizer, mas agradeço a Deus, à Prefeitura, aos professores, aos diretores, a toda equipe do Gracy Vianna, principalmente à Rose e aos meus professores. Não tenho palavras para expressar o amor, o carinho e dedicação que eles têm com todos. Só tenho que pedir a Deus pela vida de todos vocês. Obrigada, Deus.

É engraçado que freqüentamos a mesma escola, o ano inteiro, mas não conhecemos os nossos colegas das outras salas. Mesmo na hora do lanche, sentamos lado a lado, mas não damos uma só palavra. Esta excursão foi muito boa para compartilhar com os outros colegas e conhecer um pouco deles. Essa experiência acrescentou muito em minha vida, saber ler, conhecer, entender, conhecer nossa história, nosso povo, nossa cultura e arte. Os meus olhos foram abertos para seguir em frente com força, garra, coragem, ânimo, esquecer o passado, a idade, pois temos que seguir em frente.

Durvalina Alckimin, 56, Avançado

Últimas notícias no Gracy...

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HOTEL RUANDAUma verdade incoveniente (An Inconvenient Truth) Ano 2004. Cinemabiografia. Direção: Terry George.A história real de um gerente de hotel que deu abrigo a cerca de 1.200 refugiados durante o conflito entre as etnias hutu e tutsi, em 1994, que causaram a morte de mais de 1 milhão de pessoas..

No dia 20 de novembro, tivemos a participação da Liliane da Conceição Rosa (estudante de Ciências Sociais da UFMG que participou do Observatório da Juventude da UFMG e do Programa Conexões dos Saberes da UFMG), que enriqueceu mais o conhecimento dos alunos das turmas do Avançado sobre a História e Luta do Movimento Negro.

É importante ressaltar o que ela apresentou ao alunos ao falar do Movimento Negro, quando disse: “...movimento significa ação coletiva e política, mobilização. Para isso acontecer é preciso a solidariedade entre as pessoas”. Em outro momento, ela acrescentou: “Sempre que falam que meu cabelo é ruim, eu digo que ele não faz mal a ninguém”.

Além disso, os alunos e alunas participaram

da palestra, dando depoimentos sobre situações de preconceitos já vividas.

Leni Soares da sala 5 relatou o seguinte fato.

“Eu e meu irmão fomos perseguidos por um segurança dentro e fora do Supermercado Decisão, em Venda Nova, ao comprarmos material de construção. Fomos abordados fora do estabelecimento por estar com o cabelo solto e meu irmão por estar vestido com uma roupa suja de tinta. Chamei os policiais e fizemos ocorrência policial, entramos

na Justiça por atitude racista e ganhamos 40 salários mínimos.”

E José Tenório da Silva da sala 7, contou que ao preencher uma ficha de inscrição de emprego, definiu-se como negro. No entanto, ao entregá-la a secretária disse que ele era pardo, confirmando o discurso da negação da cor/raça.

Aprendendo com o cinema...

VISTA MINHA PELE

Ano 2003. Ficção. Direção: Joel Zito Araújo

“Vista a Minha Pele” é uma paródia da realidade brasileira. É material básico para discussão sobre racismo e preconceito em sala de aula. Mostra uma história invertida, os negros são

a classe dominante e os brancos foram escravizados. Os países pobres são Alemanha e Inglaterra, enquanto os países ricos são, por exemplo, África do Sul e Moçambique. Maria

é uma menina branca, pobre, que estuda num colégio particular graças à bolsa de estudo que tem pelo fato de sua mãe ser faxineira nesta escola.

BilibografiaMUNANGA, Kabengele. Para Entender o Negro no Brasil de Hoje: história,realidades, problemas e caminhos. Sã o Paulo: Global: Ação Educativa. 2006.

Nossa consciência negra

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o mês de outubro de 2008, aconteceram em

Belo Horizonte, Minas Gerais as eleições para prefeito e

vereadores. Nas turmas 02, 03, 04 e 10 do Intermediário desenvolvemos pesquisas na internet, jornais e mídia televisiva sobre este momento histórico em nosso país.

Os alunos a princípio apresentaram certo desânimo e resistência por tratar de política e também pela necessidade de se deslocarem para outro espaço, o laboratório de informática e também a biblioteca da escola.

Mas, ao serem encaminhados para o laboratório de informática, surgiu em muitos um grande interesse em sempre estar neste espaço educativo, independente de qual o assunto a ser pesquisado. Para eles tudo se mostrava muito fascinante, um novo mundo a ser descoberto e desafios a serem vencidos. Todos, sempre muito concentrados e atentos a este movimento.

Uma das alunas da sala 10, a Nádia, queria ter aulas de Geo-História todos os dias da semana, após a primeira visita ao laboratório, perguntava constantemente que dia teríamos mais momentos naquele espaço. Chegou a reclamar em sala, diante de todos os colegas, quando tivemos uma aula expositiva dialógica em sala.

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Eleiçoes 2008: O Movimento Político no Gracy...Sandra Medina, professora da EJA

Destaque para a sala 02 que desenvolveu excelentes trabalhos, se envolvendo muito nas pesquisas, tanto na internet, quanto em jornais. Discutimos muito sobre os candidatos e cada um apresentou seu posicionamento.

E por falar em posicionamento, destaque para a aluna Rosimeire, apaixonada por um dos candidatos a prefeito, se mostrou a todo o instante, defensora e satisfeita com as intenções de voto apresentadas para o mesmo nas pesquisas quer realizamos. Mobilizou os integrantes da escola e sua família a ajudarem na sua pesquisa, mostrou a todo o instante aplica e dedicada, desenvolvendo seu trabalho com muito carinho e empenho.

Não podemos esquecer a sala 04, que se surpreendeu por não se limitar a críticas referentes à política, mas apresentaram reflexões contextualizadas e muito ricas sobre a trajetória política e a inserção dos dois candidatos mais votados no primeiro turno. Não se dispunham simplesmente motivados pela empatia, mas sim pelas suas propostas para melhoria da população belorizontina.

Na sala 10, o trabalho foi concluído, como em todas as salas, com uma exposição de cartazes na cantina da escola. Nesta turma o segundo turno foi o destaca e a coleta dos dados, a visualização dos gráficos foi um dos grandes achados na construção de conhecimento nesta turma.

Se eu fosse Prefeito, gostaria de fazer o que os Prefeitos de hoje não têm feito, afinal todos sabem que eles prometem e não cumprem, agindo com corrupção.

Eu como Prefeito criaria mais postos de saúde e hospitais para desafogar a rede pública; colocaria mais policiais nas ruas e nos patrimônios públicos; organizaria melhor o transporte coletivo e criaria propostas

Se eu fosse Prefeito

concretas para a educação. Se eu fizesse tudo correto me sentiria

muito bem e ficaria em paz com minha consciência.

Marco de Assis, Intermediário

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RELATO 1: Eu sou Elenice, moro na cidade de Belo

Horizonte mais precisamente no bairro Jardim dos Comerciários, região de Venda Nova. Aqui temos um lugar muito importante para toda Venda Nova, é o SESC. Nele podemos encontrar acompanhamento médico, oficinas, grupos de 3ª idade, lazer, até mesmo um clube que garante diversão para muitos associados. Este espaço também tem um importante

Um dia na Prefeitura de Belo Horizonte

O primeiro despacho que faria seria convocar uma sessão na Câmara de vereadores para diminuir o total de componentes, passando dos 41 atuais para no máximo 12 com um salário de aproximadamente cinco mil reais sem luvas; com uma lei que permitia que tivessem aumento de 4 em 4 anos. Abaixaria o salário do Prefeito e de todos os secretariados enxugando a folha de pagamento pela metade, e com a sobra dos recursos daria um aumento no salário dos professores.

Privatizaria todos os postos de saúde para um melhor atendimento à população, com um salário digno para os médicos, e criaria mais hospitais. Reformaria todas as escolas municipais e colocaria guardas municipais para ajudar no cotidiano dos alunos. Abriria mais creches para as crianças em horário integral, melhoraria a parte da segurança, colocando mais guardas nas ruas para trabalhar em parceria com a Polícia Militar.

Quanto às obras, tiraria os esgotos que caem na lagoa da Pampulha, fazendo uma parceria com o Governo Federal a fim de

adquirir recursos financeiros. Continuaria com as obras da Avenida Antônio Carlos até o centro da cidade; depois começaria a duplicar a Avenida Pedro I até a MG 10. Construiria também, em cada bairro além de um Centro Cultural, uma área para prática de esportes. Criaria um curso para incentivar os mais jovens nos estudos, dando a eles, um pequeno salário. Além disto, criaria pontos de treinamento de capacitação para que os jovens e adultos pudessem ingressar no emprego com dignidade. Abriria mais quatro restaurantes populares e construiria alguns albergues para a população de rua.

Para obter recursos que me dessem condições para realizar estes trabalhos, montaria uma equipe de homens e mulheres com bom caráter e honestidade para acabar com a corrupção.

Eu governaria para o povo com sinceridade determinação, força de vontade para fazer uma Belo Horizonte mais brilhante com as bênçãos de Deus.

Antonio Novato, Intermediário

Geografia: Nos lugares construímos a nossa vida

Sandra Medina, professora da EJA

Foi proposto aos alunos que desenvolvessem um texto que tratasse da sua localidade, descrevendo alguns lugares importantes e as manifestações culturais que tinham conhecimento e que aconteciam próximo ao lugar onde moravam.

O objetivo desta atividade foi de conhecer

Relatos

os alunos, tendo em vista que passei a fazer parte do quadro de docentes da escola Gracy Vianna Lage em agosto desde ano e perceber quais são as impressões que eles têm dos lugares onde moram, reconhecendo que nos lugares construímos a nossa vida.

papel para os jovens, pois nele eles podem fazer curso de informática, digitação e muitos outros o que lhe garante uma chance de um emprego melhor.

No meu bairro, todos os anos nos reunimos para comemorar a festa junina com dança, comida típica e muita diversão para todos, principalmente para as crianças que ficam fascinadas com um costume tão antigo que ainda agrada a todos.

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RELATO 2: Meu nome é Rosimeire Paulina, moro na

cidade de Belo Horizonte, no Estado de Minas Gerais, na região Sudeste. Onde moro não tem mar e, por isso as pessoas frequentam bares, restaurantes e clubes. O principal ponto turístico da minha cidade é a Lagoa da Pampulha. È lá que as pessoas fazem caminhada, visitam a Igreja da Pampulha, vão ao parque e visitam a Feira de Artesanato. E lá também que estão localizados o Mineirão e o Mineirinho onde são realizados shows e competições.

Na minha cidade muitas pessoas estudam, mas ainda faltam escolas para as crianças com necessidades especiais. Há pouco investimento dos governantes na educação em geral. Como é uma cidade grande as manifestações culturais ocorrem em pontos isolados e não são muito divulgadas.

RELATO 3Meu nome é Maria Alice Tomás Silva,

tenho 57 anos, moro em Minas Gerais, Belo Horizonte. Meu bairro se localiza na Zona Norte de Venda Nova. No bairro onde moro tem a escola em que estudo que se chama Escola Municipal Gracy Vianna Lage que fica no bairro Jardim Comerciários à Rua João Soares Leal, número 23 e eu moro nesta mesma rua, mas só que no 90. Tenho um grande prazer em morar neste bairro, pois ele é tranqüilo e possui um centro comercial muito bom, tem igrejas para todas as religiões. Temos algumas festas culturais de igreja e festas juninas.

RELATO 4Sou Vilma Soares dos Reis tem 32 anos

e moro no Bairro Nova York que se localiza na cidade de Belo Horizonte, no estado de Minas Gerais. A cidade de Belo Horizonte tem muito bairro bom para se morar, oferece boas moradias, escolas, centro de saúde e centro cultural e trabalho, etc.

Os visitantes que vem conhecer a cidade encontram uma boa vista na Lagoa da Pampulha, do aeroporto da Pampulha, agradáveis passeios pelas praças da Liberdade, Raul Soares, boas casas de teatros, tem os parques ecológicos e o zoológico. Se as pessoas quiserem curtir balada à noite tem casa de show, tem shopping para quem quer bater um bom papo com os amigos na praça de alimentação e depois que alimentar pode aproveitar fazer uma boa compra, a condição

financeira tem que estar boa. Eu gosto do lugar onde eu morro, é tranqüilo, mas ainda falta muita coisa para ser organizada nesta cidade.

RELATO 5Meu nome é Gilberto, moro no bairro

Nova York há 10 anos, tenho dois filhos Caio e Natiele. No meu bairro quando chegam os meses de junho e julho acontecem as festas juninas. Também tem os pontos referência como as igrejas, o SESC e também as escolas. Agora, aqui próximo ao bairro, está sendo construído o Palácio do Governo que gerou muitas vagas de emprego para os bairros mais próximos.

Na minha vida não foi nada fácil chegar onde estou. Graças a Deus, dou graças ao nosso Deus todo poderoso todos os dias, porque a minha infância não foi muito boa. E fiquei dos 07 aos 17 anos em um orfanato, perdi minha mãe aos 13 anos e fui esquecido no orfanato. Quando completei 17 anos saí e comecei a minha vida em Belo Horizonte, em 1994. O meu primeiro emprego foi em 1994 de office-boy e não parei até hoje, Graças ao Senhor Jesus Cristo. Hoje sou repositor (estoquista).

RELATO 6Eu sou Zenólia Soares Marques, 42 anos

nascida em Nanuque, Minas Gerais, criada em Belo Horizonte e tenho o prazer de disser que BH é a cidade maravilhosa na qual eu vivo há 35 anos.

Morei muitos anos de aluguel até que meu pai, com muita dificuldade, comprou um lote aqui no bairro Jardim dos Comerciários na Rua 68, 165 na região Norte da cidade. Quase não tinha moradores, nem rua, nem água, nem luz. A rua era um trilho, lavávamos roupa na mina buscávamos água na lata, tomava banho na bacia e tudo era muito difícil. Mas nós tínhamos muita tranqüilidade e que não temos hoje.

Hoje apesar das coisas serem mais fáceis, não temos mais aquela tranqüilidade, é muita violência que me preocupa demais. Antes não tínhamos condições de pagar um colégio para estudar, hoje na educação as coisas se tornaram mais fáceis, o ensino evoluiu muito, mas temos a preocupação de sair para estudar e não retornarmos mais para casa porque é muita violência, temos que pedir a Deus para que nos livre.

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RELATO7Meu nome é Mirian Soares Marques,

tenho 16 anos, moro no bairro Jardim dos Comerciários, na Rua 68, no. 165, região Norte de Belo Horizonte, estado de Minas Gerais

Onde moro é um lugar humilde, simples, mas é o que eu gosto muito porque é um lugar digno que os meus pais puderam me dar e agradeço a Deus por isso. Estou feliz porque não tenho muito dinheiro e nem mansão, mas tenho o mais importante: dignidade, respeito e admiração das pessoas que me viram crescer e isso me faz sonhar em crescer e acreditar em uma vida melhor. Assim, futuramente

terei filhos e também ensinarei para eles o mesmo que aprendi, que tudo na vida para conquistarmos é com muita luta, esforço e dedicação para chegarmos onde quisermos. Com a força de Deus podemos alcançar os nossos objetivos.

Gostaria de falar um pouco sobre o ponto turístico da minha cidade é a Lagoa da Pampulha onde pessoas de longe vem para conhecer. Gostaria também de falar um pouco sobre o ensino que para mim está no nível bom, mas acredito que melhorou para todos poderem fazer faculdade.

A educação contada pelos educandos

Graziele Souza, professora da EJA.

O trabalho constante na EJA serve de parâmetro para que a cada projeto proposto e realizado, seja momento de reflexão para os docentes e tenham ânimo e determinação para ir de encontro às maiores necessidades do coletivo noturno. A cada passo, o caminho fica mais interessante, pois a paisagem muda a todo instante, revelando cenários de incrível beleza, reconhecimento e aprendizado. Aprendizado este que transforma a vida de todos envolvidos desde os alunos e alunas até professores e professoras.

A partir de propostas de livre produção de texto, seguem exemplos da escolha feita por três estudantes sobre a questão da alfabetização.

Alfabetização ontem e hoje...

A minha mãe foi alfabetizada há 50 anos. Naquela época era muito difícil. Não tinha caderno e ela escrevia em sacos de papel. Tudo que era escrita no dia ela apagava para reutilizar o mesmo papel novamente. Por isso, a minha mãe desistiu de continuar estudando. Hoje, tudo que aprendeu, acabou esquecendo porque o ensino era muito diferente dos dias de hoje: a escola era muito longe e tinha que trabalhar na roça para ajudar seus pais.

O ensino agora é mais fácil, tem livros, caderno, lápis, etc. Muitos professores qualificados, os alunos têm acesso a vários meios de comunicação. Só não se forma quem não quer.

Mires Gonçalves, 30, Avançado

Alfabetização

No passado, só estudava quem tinha dinheiro. Os pobres não tinham poder de estudar porque tinham de pagar para isso. Agora quem não sabe ler é porque não quer mesmo aprender, já que há escola para todos e tem a EJA para quem não teve oportunidade de estudar no passado.

Tem muitas pessoas recuperando o tempo perdido. Na escola Gracy mesmo, vejo muitas pessoas falando que não tiveram oportunidade de estudar quando eram jovens porque os pais só deixavam estudar os filhos e as filhas não podiam, pois tinham que ficar cuidando da casa. Agora, graças a Deus, a escola é obrigatória para crianças de 6 anos. E quando ela não vai à escola, os pais podem até perder a guarda da criança. Tomara que essa nova lei dure para sempre porque sendo assim, vai ter poucos analfabetos no Brasil.

Olizângelia Xavier, 27, Avançado

Escola

A escola é fundamental na vida das pessoas. Não podemos mais imaginar alguém, uma cidade ou um país sem escola.

No trabalho, no dia-a-dia, somos cobrados, temos que saber alguma coisa. Por isso, temos que saber alguma coisa. Por isso temos que buscar sempre aprender e nunca pensar que já sabemos demais.

Escola é onde os profissionais e artistas chamados professores, mostram todo o seu talento na arte de ensinar. Só precisamos dar a eles o valor que lhes é devido. Escola? Escola para mim é tudo!

Francisco Freitas, 41, Avançado

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O uso de drogas lícitas

Um levantamento realizado em 2001 nos grandes centros urbanos, pela Secretaria Nacional Antidrogras, revelou que 15% dos brasileiros são dependentes de álcool e 9% são dependentes de tabaco. Para nenhuma das drogas ilegais, o número de pessoas dependentes não chegou a atingir 1% dos entrevistados. A pesquisa também mostrou que 4% dessa população já fez algum tratamento para se livrar da dependência do álcool ou do tabaco.

Nossos estudantes trazem consigo experiências que exemplificam a presença devastadora do tabaco e do álcool na vida

familiar e social dos dependentes. Essas experiências afetaram também a vida acadêmica desses estudantes quando crianças e agora como adultos. Debater o assunto, identificar a doença nas próprias relações sociais e redescobrir os caminhos de evitar o primeiro contato com as drogas lícitas foi o objetivo central desse trabalho. Promovemos leitura e debate de textos, dados estatísticos, mostra de vídeo “O Alcoolismo” e do filme “Diário de um Adolescente”.

A seguir, o relato de experiências de algumas educandas.

Sandra Magna, professora da EJA

Minha família e o álcoolPor ADSE, 42, Intermediário

Cresci vendo meu pai beber e vendo minha mãe ser submissa a ele, por medo da sua reação. Todos os dias ele chegava em casa tonto, batia nos filhos e xingava muito. Minha mãe tinha muito medo dele e, nós os filhos, mais ainda, pois éramos crianças.

Lembro-me uma vez, ele brincando correu atrás de mim com uma arma, fiquei desorientada sem saber o que fazer, eu tinha mais ou menos dez anos. Nunca esqueci esse fato.

Meu pai perdeu oportunidade de bons empregos por causa da bebida. Perdemos até uma boa casa do bairro Santa Mônica por causa da bebida. Certo dia, ele e outro amigo, também bêbado resolveram trocar entre si suas residências. Eram umas onze horas da noite quando um caminhão de mudança parou na porta da nossa casa descarregando os móveis da família de seu amigo. Meu pai mandou que minha mãe acordasse todos nós e que arrumássemos as nossas coisas,

pois ele tinha trocado a nossa casa. O mesmo caminhão levou, na mesma noite, as nossas coisas para outro lugar. Sem saber o que estava acontecendo, mas com muito medo, minha mãe, chorando muito, pediu que fizéssemos o que meu pai dizia. Chegamos ao bairro Jardim dos Comerciários com o dia já amanhecendo. Os vizinhos acharam estranho, mas sabiam que o antigo morador da casa era também um alcoólatra e que aquela cena de mudança seria mais uma de suas loucuras.

Essa é só uma das experiências que nossa família viveu por causa do nosso pai alcoolizado. Graças a Deus, alguns anos depois ele entrou para o grupo de ajuda do AA (Alcoólicos Anônimos) e já faz vinte e cinco anos que meu pai parou de beber.

Não gosto muito do bairro Jardim dos Comerciários, mas aqui construí a minha família. Até hoje sinto saudades de onde fomos arrancados por causa de uma doença chamada alcoolismo.

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Álcool, amigo traiçoeiroPor MQV, 47, Intermediário.

Eu era bem pequena, mas me lembro que tudo começou com a mais pura inocência. Meu pai gostava de tomar uma “pinguinha” e sempre nos dava um pouco para experimentar. Experiência esta que não valia à pena, mas ninguém imaginava que um pouco hoje, um pouco amanhã, levaria meu irmão mais velho a se tornar um alcoólatra.

Meu pai era uma pessoa de pouca formação. Bebendo ou não, era rigoroso e vivia chamando a atenção dos filhos de uma maneira muito desagradável, na frente de pessoas estranhas e não economizava palavras. Se reclamássemos, dizia que assim ficaríamos envergonhados e não repetiríamos o erro novamente. Todos se chateavam muito, mas meu irmão mais velho sofria mais, pois ainda estudante já trabalhava com ele. Sendo assim, meu pai chamava a atenção dele com mais freqüência na frente dos colegas de serviço. Já cansado e se sentindo humilhado vivia reclamando até que um dia tomou uma decisão pouco inteligente: ia beber para se sentir melhor, pois afinal já conhecia um pouco daquela sensação boa que a bebida lhe oferecia. A cada vez que estava chateado, logo tomava uma ou duas doses, pois sabia que aquela tristeza logo passaria.

Mas como tudo na vida tem um preço e bem alto, com o álcool não foi diferente. Não levou muito tempo lá estava meu irmão no mundo dos alcoólatras, mundo esse que às vezes perde-se o caminho de volta. O que era apenas para aliviar a tristeza, já havia se tornado vício, um tormento e muito sofrimento para ele e para as pessoas que o amava. Apesar de ser um alcoólatra, ele não se deixava abater, sempre trabalhou, lutou muito para construir sua casa, tinha carro e uma situação financeira razoável. Mas às vezes, faltava como pai, marido, filho, irmão, companheiro e bom amigo que sempre foi. Vendo aquela situação nada agradável todos sofriam muito.

Um dia, com a ajuda de todos que o amava, meu irmão decidiu ir para o grupo dos Alcoólicos Anônimos. As reuniões eram um sucesso, uma vitória muito grande, pois ele já não bebia mais, para a felicidade de todos ia tudo muito bem. Infelizmente, a tristeza voltou com o passar do tempo. O álcool havia deixado seqüelas em seu organismo e meu irmão sofreu um infarto fulminante e nos deixou para sempre com a triste saudade da sua ausência.

JLTV, para sempre vou te amar.

O álcoolPor Helbert de Souza, 16, Intermediário

Muitas pessoas que eu conheci morreram por causa do álcool. O álcool acaba com o ser humano, meu tio é pedreiro e já perdeu vários serviços por causa da bebida. Esta droga lícita destrói famílias, muitas pessoas perdem tudo por causa dela.

Uma vez eu vi uma reportagem sobre um estilista muito famoso que destruiu sua carreira e acabou virando morador de rua por causa do vício. Na rua ele conheceu pessoas que o ajudou, e então, começou a freqüentar um centro de apoio, se recuperou e voltou para a rua, mas desta vez, para ajudar outras pessoas a sair do vício.

A “Lei Seca”

No meu ponto de vista, a “Lei Seca” está diminuindo os acidentes. As pessoas estão se sentindo mais seguras, estão tendo mais consciência. Mas isso só dará certo se todos cumprirem a lei.

Os especialistas afirmam que há falta de condições para fiscalizar o cumprimento da Lei Seca, então os órgãos competentes devem cumprir bem o seu papel para que e a lei não acabe, colocando mais pessoas competentes para fiscalizar e sendo rigorosos com quem não obedecer.

Rosângela dos Santos, Intermediário

A geometria em movimentoJuliana Pereira, professora da EJA

O objetivo deste projeto é fazer com que os estudantes da EJA reflitam e apliquem noções e conceitos geométricos à prática já vivenciada e experienciada de geometria plana ou espacial.

Inicialmente discutimos noções e conceitos de geometria e exemplos de nosso cotidiano: um ponto que se torna uma estrela do céu, uma reta e sua comparação com um lápis e um plano, como o do chão ou do teto, etc.. Retas paralelas são exemplificadas com as linhas do caderno ou as ruas paralelas do bairro, e as retas concorrentes, com os cruzamentos de avenidas.

Em seguida, através de fichas separadas,

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vamos construindo em conjunto, os conceitos de área, perímetros, lados, ângulos, vértices etc. (para essa atividade, o uso do tangram é sugerido). Na ficha do quadrado, por exemplo, a figura é desenhada, e calculamos sua área, o perímetro, escrevendo inclusive sua definição. Assim continuamos cada ficha com outras figuras: triângulos, paralelogramos, losango, círculo, retângulo e circunferência.

De posse de instrumentos de medidas tais como, trena, fita métrica, régua e calculadoras, os estudantes são divididos em grupo e convidados a calcular as áreas de vários ambientes e espaços da escola, incluindo os objetos e móveis do ambiente da biblioteca, cantina, pátio, sala dos professores ou sala de aula. Finalmente, com o material em mãos é hora de socializar o conhecimento e apresentar para os demais colegas da turma.

Estudar matemática e principalmente geometria dessa forma se torna uma gostosa aventura de pesquisa, redescoberta de conhecimentos e aplicação na vida. A geometria faz pensar, refletir, desenvolver o raciocínio, questionar, recriar e criticar o mundo à nossa volta.

Uma indicação que vale a pena ser conferida como complementação das aulas, e posterior discussão, é assistir o curioso, questionador e envolvente filme “Donald no país da matemágica” que retrata o tema estudado, a geometria. Fica aí a dica e bons estudos!

a estatística entra em açãoJuliana Pereira, professora da EJA

Neste outro projeto, os estudantes individualmente ou em grupos escolhem um tema de pesquisa. Em seguida, elaboram uma questão com alternativas para entrevistar no mínimo 100 pessoas (colegas da escola, do trabalho, vizinhos do bairro). Durante a entrevista anotam também as justificativas ou opiniões dos entrevistados para a escolha daquela opção. Por fim, com os dados coletados, elaboram tabelas e constroem gráficos de barras, linhas e setores. Para a conclusão final, escrevem as opiniões dos entrevistados, emitindo uma opinião pessoal ou do grupo a respeito do tema.

Além da construção e interpretação de tabelas e gráficos, é um momento de reflexão riquíssimo, uma importante contribuição para a mudança e/ou permanência de hábitos e

costumes de nossa sociedade. Seguem alguns destaques da pesquisa.

Pergunta da aluna Lucimar Ferreira, sala 5, após assistir uma palestra sobre a importância da reciclagem em seu trabalho na Justiça Federal (av. Álvares Cabral) foi: “Você recicla o lixo em sua residência, ou seja, separam os lixos orgânicos dos papéis, plásticos e vidros?” Doze (12) pessoas responderam que sim, 48 não e 40 às vezes. Concluiu em sua pesquisa que todos saber da importância de separar e reciclar o lixo como forma de preservação ambiental, porém poucas pessoas fazem por falta de hábito e coleta da própria prefeitura.

Kleber e Cláudia/sala 5, constataram através dos números, o que o senso comum já apontava: “Você acha que aumentou a violência no bairro Jardim dos Comerciários?” Sessenta pessoas acham que sim, 19 acham que não e 21 se abstiveram. E propostas de ações para modificar esta situação? O diálogo constante, a educação e empregos.

Em outro tema polêmico, Waltenir, Vilson e Cláudio/sala 8, entrevistaram 100 pessoas e perguntaram a elas se são contra ou a favor da cirurgia homossexual patrocinado pelo governo e obtiveram o seguinte resultado: 47 pessoas são contra, pois para elas, Deus criou o homem e a mulher, e não meio-termo. Temos que ser racionais e não aceitar o que não é de nossa natureza; 31 pessoas são a favor e acham que se fizerem a cirurgia serão melhores aceitos na sociedade, vivendo felizes com sua opção sexual; as 22 pessoas que se abstiveram acham que cada pessoa tem direito de ser feliz, desde que não mexam com elas.

As estudantes Aureci, Gisiane e Silvânia, sala 8, perguntaram: “Você é a favor ou contra a greve dos professores reivindicando um piso salarial melhor?” E 68 pessoas são a favor. Argumentaram que realmente o salário é baixo devido à série de responsabilidades as quais os professores têm com os alunos, os riscos profissionais, a falta de respeito, o estresse emocional e físico. Já os contrários disseram que os alunos se saem prejudicados e depois precisam repor as aulas nas férias. Sugeriram levar os alunos para os órgãos públicos e darem uma aula de política, sendo esta uma alternativa de greve, pois assim os alunos aprenderiam também a lutar por seus direitos.

O grupo é a favor da greve e manifestação política que considera legítima, pois os professores têm um salário ruim, muita responsabilidade e sofrem de estresse e problemas psicológicos ao enfrentarem a

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falta de condições pedagógicas, sociais e econômicas para o exercício da profissão, além da dupla, às vezes tripla jornada de trabalho.

Renata Soares e Aguinaldo Silva pesquisaram sobre o tema felicidade. “Você é feliz?” Foram 32 pessoas que se consideram infelizes, com pouco auto-estima, não sentem vontade de lutar, se acomodam, se mostram depressivas e preguiçosas; 16 pessoas não souberam responder ou ficaram em cima do muro, demonstrando ora felicidade, ora momentos tristes.

No entanto, 52 pessoas,

a maioria, se sentem satisfeitas, felizes com a vida familiar, afetiva e profissional. Para alcançarem a felicidade, vão à luta, pois “é uma conquista que não temos de mão beijada”, diz

um dos entrevistados. Algumas características apontadas pelas pessoas felizes foram: criatividade, ajudar mais uns aos outros, faltar menos ao trabalho, são bem sucedidas, lidam melhor com situações difíceis.

A partir desses critérios, você leitor, se considera uma pessoa feliz? Existe felicidade? O que é felicidade pra você?

Deus criou o homem com pensamento.Uma figura que há várias interpretações.

Cada homem vê interpreta da sua forma e maneira o que os olhos vêem. - Um homem feliz;

- um homem querendo chorar;- ou um simples desenho.

Um desenho com muitas interpretações depende de cada OLHAR...

Lucimar Ferreira, Avançado

E Deus Criou...

A EJA vai ao cinemaA partir de um passeio ao Cine Usina

Unibanco, vários alunos deixaram impressões quanto ao olhar que teve sobre o filme e quanto suas próprias experiências.

“Quem conta um conto, aumenta um

PEQUENAS HISTÓRIASInfantil. 2008. Direção: Helvécio Ratton

Na varanda de uma fazenda uma senhora (Marieta Severo) conta histórias ao mesmo tempo em que corta e costura retalhos de pano, de forma a gerar uma toalha

ponto” e com vários pontos, vários contos são demonstrados em uma belíssima colcha de retalhos, na qual Marieta Severo montava enquanto narrava histórias no filme de Helvécio Ratton.

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A partir do leitura e interpretação do livro “O Catador de Pensamentos” de Monika Feth, foi adaptada uma peça de teatro com os formandos da EJA.

Assim como o personagem Rabuja que semeava pensamentos bons e ruins, de diversas pessoas, sem desprezar nenhum, para quando florescessem pudesse colhê-los; os educandos colheram os frutos dos seus esforços em busca de seus ideais.

“Não me espere para a colheita, pois estarei sempre semeando.“

Resultado do Projeto Literatura e Teatro Maria Vieira, professora EJA

A histó ria que marcou minha vida

Minha vó costumava contar história para nós quando éramos crianças. Eu gostava muito das histórias contadas por ela. Quando eu estudava no interior, os professores também contavam muitas histórias para nós. Mas as de minha vovó eram as melhores, pois eram muito bonitas e alegres.

Quando vi o filme “Pequenas Histórias”

gostei muito de uma contada pela Marieta Severo que era a história do pescador e da sereia. Na hora que ele começa a maltratá-la, ela foi embora, deixando-o só. Foi quando ele perdeu o mais valioso dos prêmios, que era a mulher que dizia amar tanto.

Maria da Luz, 41, Avançado

O mundo encantado dos livros

Você quer viajar para onde? Que desafio quer enfrentar agora? Já pensou qual o próximo mistério ou crime que poderá desvendar?Ah, você só quer conhecer gente nova e seus lugares favoritos? Ou quem sabe saborear pratos inesquecíveis de lugares exóticos? É bom lembrar que não se paga nada para atender a quaisquer destas perguntas. Bastar ir à biblioteca mais próxima e entregar-se a esse fabuloso mundo...

Após a leitura de alguns livros, vários alunos sentiram a necessidade de indicar os títulos que mais apreciaram para quem busca prazer e divertimento de uma forma simples, prática e barata... lendo um bom livro!

A partir da prática dentro de sala de aula, alguns alunos puderam demonstrar que a leitura é fundamental para quem quer se divertir e aprender...

Os alunos do Avançado indicam...

O livro ULOMM – A CASA DA BELEZA E OUTROS CONTOS, sugestão de AURECI F. CHAVES.O BOI DA CARA BRANCA indicado por ELAINE A. CARDOSO.A ROUPA NOVA DO REI sugerido por SÔNIA D’ARC M. ALVES TEIXEIRA.O REI ARTUR indicado por SILVANE APARECIDA DOS SANTOS.AS SEMENTES DE ZUMBI é sugestão de MARIA DA LUZ.O CATADOR DE SONHOS sugerido por CLÁUDIO DE PAULA CRUZ.O MENINO LÊ que foi lido por VILSON SANTOS e ELIENE BERNARDO.O MENINO E O PINTO DO MENINO indicado por GILSON M. FÉLIX DE SOUZA.O PRESENTE DO MARAJÁ escolhido de ANA PAULA VIEIRA e PABLO VINICIUS MARCELINO.O SAPINHO VOADOR foi o que GISIANE FERREIRA DA SILVA indicou.A NOIVA PERPÉTUA foi o que ALEXANDRE SIQUEIRA DA LUZ gostou.

Nosso cantinho de leitura...

A professora de Língua Portuguesa, Maria Vieira, fez uma mini biblioteca em sala de aula. Nós, alunos da sala 06, lemos diferentes tipos de livros e chegamos à conclusão que houve uma considerável melhora em relação à produção de texto, interpretação, enriquecimento do vocabulário e escritas de poemas.

Foi feito um trabalho com mais profundidade com os livros: “O catador de pensamentos” e com “O limpador de placas”. Este foi adaptado pelos alunos e pela professora, em uma peça de teatro que será apresentada para toda escola.

Matusalém Tito, Avançado

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A EMGVL NA MOSTRA PLURAL DE 2008

Alguns alunos do 2º turno visitando a Mostra Plural com as professoras Marta e Irene.

Contamos com a exposição de uma série de trabalhos da EJA para divulgarmos a competência e seriedade do que vem sendo desenvolvido na E.M.G.V.L. para toda rede municipal e para quem ainda tinha alguma dúvida! Evidentemente foi um enorme sucesso!

Todos que visitaram o stand elogiaram

tudo o que viam... Desde a pintura em azulejos ou em cabaças, decoração de peneiras, bijuterias, toalhinhas decoradas com fitas à revista feita pela última turma do Ciclo Avançado da EJA. A propósito, as revistas viajaram para longe, bem longe... foram nos braços de educadoras francesas para a terra do perfume!

Excursão para Congonhas e Belo Vale

Para finalizar o Projeto Movimentos Sociais, aconteceu a excursão para as cidades de Congonhas e Belo Vale com educandos da EJA.

Em Congonhas, “Os Doze Profetas” e via-sacra foram os destaques. O Museu do Escravo em Belo Vale, impressionou a todos com a visão dos instrumentos de tortura de escravos, os quais demonstravam requintes de crueldade desde aquela época. Para contrapor às cenas deprimentes, belas paisagens se desenhavam entre as montanhas.

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s alunos da sala 2 do 3º ciclo, 2º turno, trabalhou neste ano de 2008 com o projeto

Emoções. A turma aprendeu a conviver melhor com as próprias

emoções para conviver melhor com o outro.A professora Jane trabalhou com

mandalas, representando os sentimentos através de cores, desenhos e gestos. A professora Marta levou para as aulas de português e literatura o cotidiano do aluno. Foram montadas cenas curtas representando situações nas quais há falta de controle das emoções. Houve troca de cartas, leitura dos vários gêneros textuais, dinâmicas de autoconhecimento e um divertidíssimo concurso de cantadas.

A turma fez um passeio ao Parque Ecológico, onde cada aluno contou sua experiência de vida e propôs mudanças às emoções negativas. Os alunos receberam, em um café de confraternização, as visitas de duas mães: Maria Helena e Diva, ambas com históricos de vida riquíssimos e completamente diferentes, o que proporcionou à turma, oportunidade de análise e reconhecimento de diversos tipos de superações.

A turma agradece às pessoas que tornaram esse projeto possível e acredita que o seu crescimento e amadurecimento só aconteceram devido ao interesse e carinho por parte dos seus professores e coordenadores.

Projeto Emoções

Os alunos das salas 2, 3, 5 e 6 do 2º turno, construiram desde outubro, um livrinho de produções de textos com análises dos vários gêneros textuais que contemplará a linguagem verbal e não-verbal. Cada aluno produziu seu próprio livro, que obedecerá

às normas da linguagem culta, mas teve seu conteúdo personalizado, carregando assim, sua própria individualidade.

As turmas, muito entusiasmadas tiveram um coquetel de confraternização, com noite de autógrafos para a apresentação dos livros.

Projeto “Nossa vida, nosso livro”Marta, Sirlene e Simonetti, professoras do 3º ciclo

Professores: Jane, Elza, Nísio, João Fábio, Marta, Simonetti e Sirlene

Projeto: Dia do FolcloreCarmen Lúcia, professora do 3º ciclo

No dia 22 de agosto comemora-se o dia do Folclore. Os alunos da tarde, das turmas 6as A e B, 7as B e C fizeram a leitura de livros sobre folclore rememorando algumas lendas e festas folclóricas. Após a leitura fizeram os desenhos sobre os temas: saci; Bumba, meu boi; festa junina e cantigas. Os trabalhos também foram expostos para apreciação dos colegas.

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Dentro do mesmo projeto, os alunos do final do ciclo trabalharam o tema

“Pedaços de Vida”, com produções, nas

quais descrevem suas próprias experiências de vida experimentando o prazer de serem, eles também, Contadores de História.

Projeto “Conhecendo melhor os mestres das artes”Carmen Lúcia, professora do 3º ciclo

Os alunos manifestaram a vontade de saber sobre alguns mestres das artes. Aproveitando essa curiosidade, as turmas do 2º turno, 6as A e B e 7as B e C, pesquisaram sobre 23 mestres dentre pintores, artistas plásticos e músicos. Eles leram livros e fizeram uma

síntese sobre a vida de cada um. Após a síntese, fizeram uma apresentação para a turma, pois cada aluno ficou responsável

em pesquisar sobre a vida de um mestre. Os alunos escolheram Tarsila do

Amaral porque gostaram muitas das cores e formas de suas pinturas. Eles fizeram uma leitura das pinturas como “Antropofagia”, “O Vendedor de frutas”, “O ovo (urutu)”, “Floresta

de Ferro Central do Brasil”, “A negra”, “Boiada”, “Paisagem rural” e “Abaporu”. Os alunos ficaram conhecendo grande pintora modernista de uma forma criativa e a culminância aconteceu com uma exposição dos trabalhos.

O Projeto “O Prazer de Ler” que conta com a participação dos alunos do 2º Ciclo do 2º turno, vem despertando nas crianças desde 2006, o gosto não só pela literatura, mas pela produção literária.

Este ano, as crianças começaram a escrever seu próprio livro de poemas, que abordam temas diversos, como futebol, amor, liberdade, meio-ambiente, explorando a produção textual e o mundo lúdico da literatura.

Projeto “O Prazer de ler”Vera Machado, Terezinha Catarina, professoras do 2o ciclo

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Celebrando a amizade

No dia 18/03/08, aproveitamos os dias que antecediam a Páscoa, e fizemos bombons de chocolate para trocar entre os colegas de sala, juntamente com cartões com mensagens carinhosas.

RECEITA: BOMBOM DA AMIZADE1 LATA DE LEITE EM PÓ

1 LATA DE NESCAU1 LATA DE LEITE CONDENSADO

UM POUCO DE LEITE DE VACA (CASO A MASSA ESTEJA MUITO SECA)BALAS MACIAS PARA RECHEIO

Como combinado, recheamos nossos doces com muito carinho, paz e amor. Para que o doce desse certo tivemos que nos concentrar muito. Celebramos a amizade neste dia. Foi muito divertido!

MISTURAR TUDO E IR AMASSANDO, COLOCANDO O LEITE CONDENSADO AOS POUCOS ATÉ A MASSA FICAR FIRME. ENROLAR COM A MÃO EM FORMA DE OVO OU BOMBOM, COLOCANDO A BALA COMO RECHEIO. LEMBRE-SE: OS PRINCIPAIS RECHEIOS SÃO: AMOR, PAZ CARINHO.

Paula Dias, professora do 1º ciclo

“É amor.”“Amor e muita felicidade.”

(Stefane)“Representa o amor de Deus.” (Diene)

“O renascimento de Jesus.” (Matheus Bispo)

Páscoa é...

Após cada refeição e antes de dormir é importante escovar os dentes e usar o fio dental para que os restos dos alimentos não fiquem nos dentes, provocando cáries.Os dentes superiores devem ser escovados de cima para baixo e os dentes inferiores, de baixo para cima. A língua também deve ser escovada

Como escovar os dentes

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A Educação de Jovens e Adultos não pode ser considerada uma dívida a ser paga a prestação e sem juros. Por muitos anos, foi negado à população adulta o direito à educação pública de qualidade. Somente agora, no limiar do tão sonhado século XXI, a matrícula ao ensino fundamental atinge 100% das crianças em “idade regular”. Contudo, quando se divulgam esses dados, raramente se comentam o número de jovens, adultos e idosos que não têm acesso à aprendizagem da leitura e escrita, já que o número de pessoas acima de 15 anos, que não sabem ler e escrever soma mais de 13 milhões de brasileiros (censo 2004).

Por outro lado, a EJA ainda é considerada por muitos, como uma modalidade de ensino voltada somente para a alfabetização. É necessário avançar nessa concepção, pensando a EJA como educação ao longo da vida. As relações sociais em vários âmbitos apresentam-se cada vez mais complexas exigindo um processo de formação permanente dos educadores envolvidos. Os grandes problemas sociais expõem muitos motivos para uma urgente democratização dos saberes e busca de soluções.

A EJA conta hoje com dois movimentos de luta. O primeiro podemos chamar de

“movimento da sala de aula”, tendo as educadoras como protagonistas. Esse movimento tem como bandeira a aprendizagem, o apoderamento do sujeito através da leitura e escrita, seu crescimento pessoal, social e intelectual. O educador e a educadora na EJA buscam reverter a história contando-a a partir da luta dos indígenas, dos negros, dos operários, das mulheres, dos jovens, dos movimentos culturais, escrevendo e inscrevendo no outro uma história diferente, ao mesmo tempo em que escrevem a sua própria história e nela se inscrevem.

O segundo movimento é o da “coletividade” quando a EJA toma corpo nas discussões dos fóruns, nas políticas públicas, nos movimentos de educação popular.

Fazemos parte do Movimento pela EJA. E, durante este ano, o movimento se fortaleceu ainda mais. Quando escutamos dos educandos relatos expressando que aprenderam, na escola, a reivindicar, a buscar seus direitos, a posicionar-se no ambiente de trabalho, a opinar sobre a política da cidade. São pequenos fatos que se tornam grandes e reforçam nosso compromisso não só como profissionais, mas como pessoas que levantam a bandeira da EJA em quaisquer espaços de discussão que ocupamos.

Roselita Soares, professora da EJA.

Fazemos parte do Movimento pela EJA

Reflexões sobre as diversas áreas

Um tema que sempre me intrigou e continua intrigando é sobre relações de poder e suas conexões entre as diversas áreas e suas desigualdades.

Você poderia dizer: “Tudo bem, demonstrar e calcular áreas, perímetros das figuras geométricas planas, calcular o volume das figuras geométricas espaciais, medir lotes, terrenos, fazendas e continuar calculando é fácil...” Fácil? Não para todos.

Por muitos motivos, e para citar apenas um deles, há a falta de cobrança e investimentos em educação pública de qualidade em nosso país. Uma educação que realmente faça a diferença para a transformação de mentes e corações, e não simplesmente que faça a reprodução de uma série de injustiças sociais e econômicas. Mas esse é um assunto para outro debate.

Gostaria que refletissem comigo sobre a desigualdade visível, gritante, num Brasil tão rico, estabelecendo sua relação com as diversas áreas, ou seja, relações de poder. Desde a colonização que os habitantes nativos desta terra de “Vera Cruz”, os índios, sofrem com esta questão. Moravam em imensas áreas e, hoje, os poucos sobreviventes lutam por um “pedaço de chão”. Sem falar nas pessoas que moram em minúsculos barracos de um cômodo nas vilas e favelas nas grandes cidades, contrastando com

as extensas terras de grandes latifundiários. Problema esse que se remete a um outro, a reforma ou revolução agrária.

E não pára por aí não.Os transportes coletivos lotados, que na

hora do rush nos grandes centros urbanos, chegam a transportar uma média de 4 a 5 pessoas por metro quadrado (m²); áreas ocupadas por veículos maiores que ‘guerreiam’, competem em nosso trânsito com os menores, por cada vez mais áreas, ao invés de protegê-los.

Centros urbanos e capitais com alta densidade demográfica em contraposição à zona rural, com baixa densidade demográfica.

Até quando conviveremos com tantas injustiças? Quando o Estado, representado por suas instituições, realmente defenderá, de fato, a sociedade como um todo, se colocando

seu intermediário, ao invés de perpetuadores de um sistema? Quando mudaremos nossos pensamentos, hábitos e atitudes? Quando transformaremos esse estado de coisas ‘ditas naturais’?

São apenas reflexões, mas também e infelizmente, constatações.

Brasil, não emudeça. Mude sua história!...

Juliana Pereira, Professora da EJA

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“Toda grande caminhada começa com o primeiro passo.” Mao Tse-Tung

Começamos uma longa caminhada com um simples passo, como nos aponta Mao Tse-Tung, grande líder político chinês. Certamente não chegamos ao fim porque trabalho é o que não falta. Há muito a fazer, vários desafios a enfrentar.

Durante esta caminhada acontecem realizações e descobertas. É como a “colcha de retalhos” que a professora Hilda confeccionou com seus educandos, na qual cada um contribuiu com seus “retalhos”. Estamos nós, mais uma vez,

juntando os “pedaços de panos” produzidos por todos e formamos uma bela colcha. Retalhos da força feminina, cortes da tradição indígena, tiras do

esforço do sofrido trabalhador, linhas e cores vindas da natureza, materiais inovadores da juventude, amarrações daqueles tanto tem a contribuir, texturas diversas dos costumes brasileiros e finalmente, alinhavos da cultura africana. A colcha está pronta! Tem-se um componente que servirá como abrigo nas tempestades do caminho, proteção contra o sol e a chuva, ou servirá como descanso para contemplar a bela paisagem que se avista ao lançar sementes.

A quem ainda não ingressou na caminhada, segure na minha mão, apóie-se naquela outra ali, aproveite nossa colcha também e siga conosco este caminho. Uma colcha nós une... bela, colorida... múltipla colcha: a comunhão de diversas idéias, histórias e sonhos! Diversidade que a tornam original e legítima, como os direitos que cada ser humano tem...

Obrigada a cada um que contribuiu direta ou indiretamente.

Continue a plantar semente para que a estrada seja cada dia mais frutífera e atreva-se a fazer a diferença mais uma vez.

Graziele Souza, professora e equipe da EJA/EMGVL.

“A liberdade de fracassar é vital se você quer ser bem sucedido. As pessoas mais bem sucedidas fracassam repetidamente, e uma medida de sua força é o fato de o fracasso impulsioná-las a alguma nova tentativa de sucesso.” Michael Korda

Agradecimentos

Real e verdadeira, grande amiga dos alunos da EJA, seus colegas de classe, amiga do Gracy. Vida transformada em sabedoria, mostrando carisma e bom humor.

Olhar sincero, sereno, evidenciando firmeza e coragem para driblar as adversidades

da vida.

Sonhos adormecidos, sorriso e alegria no rosto que esconde sentimentos e às vezes melancolia, um aprendizado na escola da vida.

Amor à prole, aos filhos não biológicos, conselheira dos filhos do mundo, amados da nossa nação.

Homenagem da professora Nadir à educanda Rosa, a quem carinhosamente chama de “Rosa Morena”

Mulher valente, simples, humilde, serena ao mesmo tempo.

Orgulho dos que a amam, inveja dos que a admiram pela sua fortaleza.

Realista, prudente, amiga da gente.

Espelho dos que reclamam de tudo por se sentirem injustiçados, não merecedores do amor divino.

Nacionalidade brasileira, a sonhar com as estrelas, ao despertar, a cantar, ao

amanhecer.

A mante da natureza, realeza, pele morena, serena, alma de mulher.

Page 64: Revista MOVIMENTOS SOCIAIS - EJA

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