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Número 8 - Setembro 2011
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REVOLUÇÃO via novas TECNOLOGIASSegmento de impermeabilização veste a roupagem de novas
soluções tecnológicas para o mercado. O engenheiro civil Georg Ischakewitsch traça um quadro desta evolução
Mobilidade Urbana SUSTENTÁVELProjeto Final de Graduação apresenta Proposta de
Sistema Cicloviário em Niterói. Econômico, saudável e não-poluente, uso da bicicleta não tem contraindicação
Ciência em Aço – MUSEU DE CIÊNCIAS de Volta Redonda
Projeto contemplado com a menção honrosa em concurso promovido pela UFF. Museu da ciência foi projetado para ser um monumento
para a cidade e seu entorno
O intercâmbio Brasil-CanadáOficina Integrada de Projeto, com alunos e docentes da Escola de Arquitetura e Urbanismo e University of British Columbia, mostra
experiência da comunidade Caranguejo, em Niterói
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
A Revista MEMO é uma publicação
dedicada principalmente à Arquitetura, Engenharia
e Meio Ambiente, que faz a integração do meio
acadêmico com o mercado. Isso é traduzido em
cada publicação, que terá em sua estrutura: artigos
técnicos científicos, ensaios e resenhas, visando levar
ao leitor assuntos abrangentes, como novas técnicas,
projetos acadêmicos, profissionais e o cotidiano
da construção, bem como aspectos voltados para
sustentabilidade e meio ambiente.
A publicação é composta por uma equipe
de professores, estudantes, profissionais e técnicos
que buscam temas de interesse da sociedade, tendo
como berço o Departamento de Engenharia Civil -
TEC, da Escola de Engenharia TCE, da Universidade
Federal Fluminense - UFF e gerenciada pela Fundação
Euclides da Cunha - FEC.
Com 20 mil exemplares e distribuição
nacional e internacional, a Revista MEMO é
apresentada em tamanho 20,5 x 27,5cm com 92
páginas impressas em policromia e papel de alta
qualidade. A publicação também está disponível em
formato digital, com acesso pela web.
Revista MEMORua Passo da Pátria 156, Bl. D, sala 461 - TEC - São Domingos - Niterói - RJ CEP: 24210-240 - Tel.: 21 2629-5447Email: [email protected]
UNIVERSIDADE FEDERAL FLUMINENSE Prof. Roberto de Sousa Salles - Reitor
Escola de Engenharia - TCE Prof. Hermano José Oliveira Cavalcanti - Diretor
Departamento de Engenharia Civil - TEC Prof. Eduardo Valeriano Alves - Chefe
Diretor da Editora EDUFF Prof. Mauro Romero Leal Passos
Fundação Euclides da CunhaPresidente: Miriam Assunção S. Lepsch
Rua São Pedro 24 Grupo 801Centro - Niterói / RJ - CEP: 24020-050TEL: (21) 2109-1661
Editor: Prof. Luiz Alberto Marques Braga Pardal
Conselho Editorial:
Presidente: Prof. Francisco José Varejão Marinho
Conselheiros – Arquitetura:
Profª. Luciana N. Diniz e Prof. Luiz Renato Bitencourt Silva
Conselheiros – Engenharia:
Prof. Manoel Isidro de Miranda Neto, Prof. Cláudio Ribeiro
Carvalho, Prof. Luiz Carlos Mendes e Prof. Rômulo Silva
Conselheiros - Meio Ambiente:
Prof. Antonio Carlos Moreira da Rocha, Prof. Dalton
Garcia de Mattos Junior e Eduardo Negri de Oliveira
Assessoria Jurídica: Dr. Carlos Augusto Rabelo Vieira
Secretaria: Débora dos Santos Sanábio Barreto
Jornalista Responsável/Revisão: Júlio Santos
Correspondente Internacional: Leandro C. Almeida – Arq. EUA
Direção de Arte: Galiana Le Diagon
Produção Web: Marcia Mattos - M3 Digital
Produção Gráfica: Jorge Gama
Editora: Synergia Editora
Tiragem: 20 mil exemplares
Distribuição: nacional e internacional, também apresentada
em forma digital, com acesso pela web.
ISSN 2179 533 9
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
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08. DNA do empreendedorismo | Entrevista de HERMANO JOSÉ OLIVEIRA CAVALCANTI | UFF
14. REVOLUÇÃO via novas TECNOLOGIAS | GEORG T. ISCHAKEWITSCH | Engenheiro Civil
20. Missionário da ciência e tecnologia | Entrevista de JOSÉ RAYMUNDO M. ROMÊO | Engenheiro Civil
28. A hora e vez da TECNOLOGIA de vestir | BELMIRO IVO LUNZ | Engenharia Civil
34. Intercâmbio Brasil-Canadá | Professores ELOISA ARAUJO e GERÔNIMO LEITÃO | UFF
42. Intervenções de SANEAMENTO no município do Rio de Janeiro (1863/2007) | Professores ANA L. T. SEROA
DA MOTTA, MARGARETH A. DE AZEREDO, MARCO LEAO GELMAN | UFF
48. Mobilidade Urbana Sustentável em Niterói – Proposta de Sistema Cicloviário | Trabalho Final de Graduação
(TFG) | BEATRIZ TURL S. R. DE ALMEIDA
64. Comunicação e Espaço Urbano: A CIDADE, a CULTURA e o LIXO | HELENSANDRA LOUREDO DA COSTA |
Bióloga Mestre em Ciências Ambientais | UFF
70. Honrarias para um grande trabalho | professor Heitor Luiz Murat de Meirelles Quintella | UFF e UENF
72. Ciência em Aço – MUSEU DE CIÊNCIAS de Volta Redonda | Projeto de Alunos da Escola de Arquitetura | UFF
76. SUSTENTABILIDADE: na luz da ENERGIA SOLAR | JEAN MARC SASSON | Advogado e Gestor Ambiental
80. Afinal o que é SUSTENTABILIDADE? | ROBERTO DA ROCHA E SILVA | Prof. da Faculdade Estácio de Sá |RJ
84. Conflitos SOCIOAMBIENTAIS, discurso e perspectivas: o caso do Jardim Botânico do
Rio de Janeiro | PABLO AMARAL MANDELBAUM | UFF
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Educação contra corrupçãoUm movimento de indignação começa a percorrer e a tomar conta de várias partes do mundo. Nos
Estados Unidos e em alguns pontos da Europa, por exemplo, uma nova corrente juvenil se mobiliza,
com todas as armas, contra a ganância mercantilista de grandes bancos e corporações que insistem
em colocar, de tempo em tempos, o mundo em permanente estágio de solavanco. As crises econômicas
amiúde que jogam por terra sonhos de muitos e de países como a Grécia, um berço da nossa civilização,
são a cara mais cruel nos nossos tempos.
Por aqui no Brasil, a rebeldia, mais que na hora, vem contra a corrupção, uma metástase que destrói
a administração pública e faz com que os projetos cheguem ao fim custando o dobro, o triplo ou o
quádruplo dos seus valores originais. O movimento brasileiro já está nas ruas e na internet. Busca-se mais
ética, honestidade e responsabilidade pública para combater esta “saúva” do nosso Estado.
Junto com estes ecos, apostamos na principal receita para esta mudança em busca de um país mais
sustentável e, sobretudo, ético: a educação, a formação acadêmica, a pesquisa e a qualificação
profissional. Os ingredientes estão muito bem misturados no direcionamento da Escola de Engenharia da
Universidade Federal Fluminense, que nos últimos anos vem se firmando como uma referência em colocar
no mercado de trabalho profissionais cada vez mais qualificados.
E o receituário da Engenharia vem ficando mais aperfeiçoado ainda com a forte aproximação que mantém
com o mercado, como mostra a área de pós-graduação com os seus mais de 2 mil estudantes, além dos
2 mil na graduação. O objetivo, em função da efervescência da construção Civil brasileira por grandes
projetos de infraestrutura e imobiliário, é ampliar ainda mais estes números. Aliás, uma grande contribuição
para um país que tem um déficit de 500 mil engenheiros.
No movimento pela excelência na formação e capacitação profissional para um mercado de trabalho
cada vez mais competitivo, outro bom exemplo que vem da UFF é a Semana de Engenharia, que
aconteceu no final de outubro. Com palestras, minicursos, a presença de grandes empresas em busca de
novos profissionais, a iniciativa é um movimento para colocar frente à frente academia e a indústria. Sua
longevidade não deixa dúvidas.
A 13º Semana de Engenharia da UFF mais uma vez cumpriu o seu papel de apontar para a sociedade os
rumos da nossa Engenharia, com suas soluções que transformam “sonhos em realidade” e mostrando seu
valor para formar profissionais com fortes alicerces. Profissional este que vai, no futuro, cuidar dos grandes
projetos de construção em todas as áreas; levando, além do seu conhecimento técnico e experiência, os
bons valores da ética. É o antídoto da educação injetado na veia de todos. Só assim daremos um basta
à corrupção.
O EDITOR
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
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Escola de Engenharia combina prática, experiência, pesquisa e inovação para formar engenheiros sob medida para o mercado de trabalho. Aumento do número de alunos na graduação e na pós-graduação sinalizam sucesso das iniciativas
Os grandes projetos de infraestrutura espalhados pelo país nos últimos anos exibiram uma dura
realidade para uma economia que precisa acelerar o crescimento: falta mão-de-obra preparada e bem
capacitada para atender o volume de empreendimentos projetados nas mais diversas áreas. Um dos
problemas mais sensíveis está no déficit de 500 mil engenheiros no país, fruto de uma política que por
muitos anos esvaziou a academia. Na corrida para reverter este quadro, empresas e universidades se
aproximam para mostrar que a perfeita combinação de prática, experiência, pesquisa e inovação é a
melhor receita para formar novos profissinais com a qualidade esperada pelo mercado.
Uma prova bem concreta da boa relação academia e indústria vem da Escola de Engenharia da
Universidade Federal Fluminense (UFF), que mais do que nunca está no foco do mercado. Basta ver os
convênios firmados com empresas do porte da Petrobras, Vale do Rio Doce, Odebrecht, Light, Eletobras,
Ampla, Banco do Brasil e setores tecnológicos da Marinha do Brasil.
Nos números já é possível ver que a saída escolhida caminha para o rumo certo: na graduação, já
são 2 mil alunos; na pós- graduação, o número chega a 2 mil. A estimativa é chegar em 2014 com
a marca de 6 mil alunos. Em 2010, por exemplo, a Escola de Engenharia capacitou mais de 1,2 mil
técnicos, num convênio para atender às futuras necessidades da Petrobras com o Comperj. Para 2011,
a estimativa é de capacitar mais 1,4 mil técnicos.
“A Engenharia da UFF tem uma espécie de DNA do empreendedorismo, que vem desde a sua fundação.
Temos aqui professores com perfil da pesquisa e também aqueles que sabem executar. A Escola tem
estas duas categorias de engenheiros que se complementam”, comenta o professor Hermano José
Oliveira Cavalcanti, diretor da Escola de Engenharia. “Temos aqui engenheiro que calculou mais de
duas mil pontes, doutores em montagem industrial”, acrescenta. Sem abrir mão de formar o profissional
voltado também para a área de pesquisa, ele diz que a Escola segue a diretriz de colocar no mercado
engenheiros integrados às necessidades da indústria.
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HERMANO JOSÉ OLIVEIRA CAVALCANTI | UFF
DNA do empreendedorismo
Júlio Santos | Jornalista da Revista MEMO
Para Hermano Cavalcanti, o REUNI (Programa de Apoio ao Plano de Reestruturação e Expansão das
Universidades Federais) serviu como ponto de partida para recuperar o ensino universitário. Na área de
Engenharia, os efeitos também já são sentidos, como mostra o número de engenheiros formados, que saltou
de 80 por ano, para 600. Na Escola de Engenharia, o número de alunos por turma cresceu de 7, 8 para 42.
Segundo ele, a Engenharia trabalha com a expectativa de chegar, nos próximos anos, com a marca de nove
a 10 mil alunos na graduação e na pós- graduação.
“Com o REUNI, a Escola conseguiu agora fazer vários concursos, e existe a tendência de mesclar os
profissionais que vão ministrar os cursos, procurando incentivar a pesquisa e a prática de mercado”, observa
o diretor da Escola de Engenharia, que também vem cuidando da infraestrutura necessária para sustentar
o crescimento e a permanente procura do mercado. Além do aumento de área para o crescimento da pós-
graduação, está nos planos a implantação de uma biblioteca Nota 10, com um acervo de cinco mil títulos só
para as engenharias.
As parcerias e convênios com as empresas garantem a receita para a Escola de Engenharia manter o nível
de crescimento. Dos projetos subsidiários pela indústria, 36% são destinados a benfeitorias em todas as
áreas da Escola. “O negócio agora é um transatlântico que para parar vai ser muito difícil”, brinca Hermano
Cavalcanti, contente com os rumos futuros da Escola. “Buscamos uma graduação muito boa e pós-graduação
excelente para a pessoa sair pronta. Hoje, não tem engenheiro que se forma aqui que não esteja empregado.
As empresas estão buscando estes profissionais”, destaca ele.
A Escola de Engenharia também entrou no roteiro de visitas internacionais, como as realizadas por representantes
de Singapura e da China. “Na visita de Singapura, colocamos no auditório vários empreendedores nossos.
Eles ficaram impressionados com o níveis dos professores da UFF”, lembra Hermano Cavalcanti. Com alta
qualificação e a busca permanente pela pesquisa, o time da Escola vem, nos últimos anos, desenvolvendo
soluções inovadoras para a indústria. “Isso prova que a UFF não despreza o pesquisador”, diz.
Um dos exemplos é o trabalho no Departamento de Engenharia de Telecomunicações para especificar o tipo
de computador para ser usado pelo programa do governo federal que vai instalar 60 milhões de máquinas em
escolas do ensino fundamental de todo o país. No Departamento de Engenharia Elétrica, foram desenvolvidas
soluções para transmissão de energia, combate aos gatos encontrados pelas distribuidoras de energia, na
área de iluminação e de geração de energia eólica. Tudo mostrando que a receita de combinar pesquisa,
inovação e prática de mercado é a chave para a qualidade da Engenharia brasileira.
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
No intuito de contribuir, somar e multiplicar conhecimento, toda a Revista MEMO, além de ser distribuída
gratuitamente, está disponível na internet. No nosso endereço WWW.REVISTAMEMO.COM.BR, você
encontrará, na íntegra, todo o conteúdo das matérias e fotos de cada edição, além de detalhes de projetos e
publicações. Não deixe de nos acessar. Interaja e participe conosco!
TFG de BEATRIZ TURL S. R. DE ALMEIDA: Mobilidade Urbana SustentávelProjeto inovador de Sistema Cicloviário em Niterói
que propõe solucionar a questão da segurança dos
ciclistas e incentivar a bicicleta como meio de
transporte Página 48
O intercâmbio Brasil-CanadáProfs.ELOISA ARAUJO e GERÔNIMO LEITÃO | UFF
Projeto de urbanização na comunidade Caranguejo,
com a participação de alunos e docentes da
UFF e da School of Architecture and Landscape
Architecture at the University of British Columbia -
Canadá, (UBC) Páginas 34
Ciência em Aço – MUSEU DE CIÊNCIAS de Volta Redonda | RJProjeto contemplado com a menção honrosa em
concurso promovido pela UFF, a pedido do Polo
Universitário de Volta Redonda projetado por Alunos
da Escola de Arquitetura | UFF
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REVOLUÇÃO via novas TECNOLOGIASGEORG T. ISCHAKEWITSCH | Engenheiro Civil
O segmento de impermeabilização e o uso de novas
soluções que trazem a reboque os bons conceitos de
sustentabilidade
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Palmas para o Circo I Ao projeto de Lis Valladares,
começo dando os parabéns pela iniciativa de pensar
em estruturar uma arte tão conhecida e ao mesmo
tempo tão pouco valorizada. Em algumas visitas a
amigos que estudam na Escola Nacional de Circo,
evidenciei a precariedade de estrutura de ensino,
colocando em baixa a estima de quem estuda e de
quem consome este “produto”.
Adorei todas as justificativas da ideia do projeto para
ser implantado, se enquadra perfeitamente no local,
tem harmonia com o entorno urbano, fácil acesso e
valorização de uma área degradada de Niterói.
Fico na esperança para que exista uma tramitação
que faça deste projeto uma realidade, potencializando
nossa arte e tornando um povo mais humano.
Parabéns à revista pela qualidade das publicações!
Fessal | Artista Plástico
Palmas para o Circo II Um projeto excelente que
a cidade de Niterói tanto precisa para integrar
arte, esporte e educação. O circo resgata a cultura
brasileira já que serviu, literalmente, de palco (ou
picadeiro) para a história do nosso teatro, música e
cinema. Sem contar que, numa época de verticalização
urbana, sobra cada vez menos opções para a prática
de exercícios e esse projeto é uma grande chance de
termos um espaço de interatividade e descontração
para todas as idades.
Roberta da Cunha Pereira
Parabéns à MEMO Gostei muito do projeto da
ESCOLA NACIONAL DE CIRCO DE NITERÓI.
Devemos apoiar projetos como este, e não deixar
que ideias e sonhos não se percam no vazio das
especulações solitárias. Nós niteroienses merecemos
este espaço; as gerações futuras também o merece.
Carequinha e cia, lá de cima, devem estar torcendo
para ver esse sonho realizado. Estou torcendo
daqui!
Marcia Zeca - professora de português
(Rede Estadual de Ensino)
Boa impressão Fiquei muito impressionado com a
Escola de Circo, trabalho da arquiteta Lis Valladares.
Além das lindas formas do projeto, acho que a
localização é privilegiada por ser de fácil acesso
através dos terminais de ônibus que estão bem
próximos.
Entretanto, o que mais me chamou a atenção foi a
fantástica ideia que a profissional teve, aliando um
trabalho social a uma necessidade que a cidade de
Niterói tem de entretenimento e desenvolvimento
cultural como já existem em vários países do primeiro
mundo. Parabéns à profissional pela grande “sacada”,
ideia genial. Quem sabe não estaremos presenciando
o surgimento de um Niemeyer de saias...
Fabio Azeredo Motta
Mais palmas Um projeto de peso para o
reconhecimento da Arte Circense no Brasil. Vamos
colocá-lo em prática?!
Meus parabéns!!!! Ventilação natural nota10!!!
Sara Lopes
Novo padrão Quero parabenizar os Prof. Pardal
e Prof. Varejão Marinho pelo excelente trabalho
na reedição da revista MEMO, cuja dedicação e
empenho são reconhecidos por todos nós, bem como
pelo novo padrão na apresentação da revista, agora
contando com a expressiva colaboração da FEC e
demais agentes envolvidos nessa laboriosa tarefa.
Com o nosso maior abraço,
Prof. Senna
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Quem olha para os megaprojetos de construção
erguidos país afora deixa-se levar pela imponência
de muitas edificações como shopping centers,
estádios de futebol, modernos prédios comerciais,
grandes viadutos e túneis urbanos. Por trás de
todo o brilho das construções, um item sensível
precisa ser 100% atendido para não correr o risco
de jogar todo um trabalho por terra e gerar custos
adicionais com a recuperação do empreendimento.
Trata-se da impermeabilização. Fora do primeiro
plano do mundo da construção, o segmento vem
se renovando nos últimos anos com o uso de novas
tecnologias que trazem a reboque os bons conceitos
de sustentabilidade.
Sistemas de impermeabilização consagrados como
as mantas asfálticas e as resinas de polímeros,
assim como os epoxies, poliuretanos e acrílicos, na
realidade, também são frutos de uma evolução recente
de novas tecnologias de modificação de asfaltos
com polimeros e resinas bicomponentes, totalmente
isentas de solventes. Estas tecnologias geraram
materiais muito mais seguros com desempenhos
físicos e mecânicos muito mais confiáveis que os
antigos asfaltos oxidados e outros sistemas baseados
em cimentos portland e água.
A manta asfáltica seguirá por muito tempo liderando
o ranking dos sitemas de impermeabilização no
mundo, por se tratar da evolução do centenário
sistema de membranas impermeáveis construídas
com multicamadas de feltros, lãs de vidro e outros
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REVOLUÇÃO via novas TECNOLOGIASGEORG T. ISCHAKEWITSCH | Engenheiro Civil
O segmento de impermeabilização vem se renovando nos últimos anos com o uso de novas soluções que trazem a reboque os bons conceitos de sustentabilidade
Júlio Santos | Jornalista da Revista MEMO
Detalhe de impermeabilização compatibilizado com outros projetos
Manta asfáltica aplicada
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
estruturantes com asfaltos oxidados ou alcatrões
(coal tar pitches), principalmente devido às suas
resistências mecânicas que desafiam as agressões a
que estão sujeitas as impermeabilizações em obra.
Os epoxies também prometem desempenhos cada
vez mais interessantes, podendo-se desenvolver
formulações muito interessantes não apenas em
edificações mas em obras especiais de saneamento,
marítmas e em sistemas anti-corrosivos.
A lista de novas soluções inclui a polyurea, poliuretanos
bicomponentes isentos de solventes, os acrilatos e um
série de outros produtos para obras.
De todos eles, o que figura como estado da arte,
sendo capaz de provocar uma grande mudança na
impermeabilização de edificações, é a polyurea, que
traz a tiracolo uma grande resistência, mais rapidez
na aplicação, secagem ultrarápida e uma maior vida
útil. A tecnologia, por exemplo, já foi empregada na
Arena Barueri, em São Paulo, há seis anos, segurando
neste longo tempo as pancadas dos torcedores nas
arquibancadas.
“Impermeabilizar uma arquibancada com manta
asfáltica é muito difícil. A manta tem que possuir um
acabamento com massa ou concreto muito trabalhoso.
A polyurea foi usada e, apesar das pancadas, não
vazou nada, não houve nenhum problema”, observa
o engenheiro civil Georg T. Ischakewitsch, da GTI, do
alto da sua experiência de mais de 40 anos no ramo
e da instalação de mais de 20 milhões de metros
quadrados de obras de impermeabilização em vários
estados do país. “O setor de impermeabilização está
recebendo imputs de alta tecnologia, com várias
aplicações práticas”, destaca.
Outros empreendimentos também já partem para
a solução, tendo sido usados, por exemplo, nas
arquibancadas do Lagoon - Estádio de Remo da
Lagoa, e projetados para o novo prédio da Fundação
Getúlio Vargas e na nova sede da UNE - União
Nacional dos Estudantes - os dois últimos projetos do
arquiteto Oscar Niemeyer.
“A polyurea é um material que pode ser alongado
até a sua ruptura em até 600%, contando ainda com
resistência a abrasão maior do que o aço, dependendo
da sua formulação. A melhor borracha que conhecia
até hoje era o neoprene, com alongamento de
até 400%. Pronto! Inventaram o aço de borracha
ou a borracha de aço”, brinca o engenheiro,
acrescentando que só existem três fabricantes dos
polímeros básicos no mundo: a Huntsman, a Basf e
a Bayer. A partir dos polímeros básicos formulam-se
e desenvolvem-se diversos produtos adequados para
diversas solicitações.
“Esta é uma solução de origem nobre”, ressalta
Georg, acrescentando que a tecnologia pode ser
utilizada em muitos setores, como o de saneamento.
Segundo ele, hoje existem Epoxies e Poliuretanos
isentos de solventes, que reagem entre si, deixando a
composição 100% sólida, sem perda de corpo. “No
entanto, atualmente, a Polyurea é o estado da arte,
é a tecnologia campeã”, acrescenta o engenheiro,
estimando em cerca de R$ 300 mil o custo para
ter um equipamento para aplicar esta solução, sem
contar o treinamento prestado pelos fabricantes.
Só que neste campo da impermeabilização a
tecnologia não caminha sozinha, estando ligada
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Equipamento para aplicação de Polyurea - Última geração
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
mesmo com a prática de aplicação dos projetos. “A
impermeabilização não era uma atividade econômica
no Brasil, por isso não se formou ninguém”, diz Georg,
comparando com a disciplina de cálculo estrutural,
uma matéria altamente estudada que conta, por
exemplo, com o desenvolvimento de softwares que
são permanentemente atualizados.
“Existe o cruzamento da impermeabilização com
todas as disciplinas de engenharia, de arquitetura,
paisagismo, estrutura, junta de dilatação, hidráulica,
drenagem, escoamento”, exemplifica o engenheiro,
reforçando que é preciso transmitir esta filosofia
nas universidades de Engenharia e Arquitetura. A
mudança tecnológica também gera uma pressão
adicional para quem quer se manter atualizado. “Hoje
você aprende uma coisa em impermeabilização e
daqui a cinco anos estará com uma outra linguagem
para responder o mesmo problema. Os materiais
se atualizam demais. Com isso, quem trabalha com
impermeabilização precisa se atualizar cada vez
mais”, observa Camila, que acumulou bagagem na
área nos 11 anos de trabalho na GTI.
Considerada uma matéria multidiscipinar, a
impermeabilização precisa caminhar lado a lado com
o projeto de construção, recomenda Georg. Só que
na prática nem sempre este item é considerado logo
de cara. “O projeto em si é dividido em duas fases,
apenas ao material, observa Camila Siqueira Grainho,
arquiteta e urbanista da GTI. “A tecnologia também
está ligada à eliminação de etapas na construção
civil, pois os selos verdes de sustentabilidade, como
o LEED e o Aqua, pedem isso”, observa Camila,
explicando que a tendência é a compatibilização dos
projetos de modo a repensar a impermeabilização.
“Às vezes, você pode ter um material antigo, que
era aplicado de uma forma não tão viável, e hoje
consegue-se aplicar o mesmo material elimiando
etapas”, ressalta.
Formação acadêmica
“As tecnologias novas vão surgindo, mas até o
mercado absorver demora um pouco. Então, qual é
a inteligência do projetista?. Trabalhar com materiais
usuais e elaborar soluções onde se consiga dar para
o contratante um modo mais viável e econômico de
construir, e com um desempenho aceitável. Por isso,
a evolução da tecnologia da impermeabilização não
é só material, mas está sim no saber do projetista
de impermeabilização”, comenta a arquiteta e
urbanista.
O toque no saber remete logo para a formação e
capacitação de pessoal para atuar no mercado de
impermeabilização. E aí, como acontece em várias
outras áreas, a academia fica devendo. Hoje, a
melhor receita para formar um bom profissional é
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Edificios inteligentes - Impermeabilização inovadora
Orientação do consultor de impermeabilização para juntas de concretagem
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
sendo uma delas a arquitetura da impermeabilização,
que precisa estar alinhada com o projeto”, explica. O
engenheiro cita como exemplo o projeto de construção
do Shopping Américas, no Recreio dos Bandeirantes,
cujo projeto de impermeabilização está sendo
elaborado desde o seu nascedouro pela GTI. “Se
receber a obra pronta, com a estrutura definida, com
as paredes construídas, você perde a oportunidade de
fazer um projeto de impermeabilização, de ajudar o
arquiteto, o projetista de estruturas, o paisagista e os
demais projetistas envolvidos. Aí eu vou só confeitar
o produto”, comenta.
“Muito antes de ser um empecilho para a construção,
a impermeabilização é uma ferramenta à disposição
do arquiteto ou do paisagista, por exemplo. Estes
profissionais sabendo que podem fazer determinada
artimanhas, podem se valer dela para criar à vontade,
como colocar uma piscina com fundo de vidro no teto
de um apartamento de cobertura”, diz Georg. Para
ele, é muito importante a participação do projetista
de impermeabilização no trabalho. “A entrada do
projeto de impermeabilização é na concepção do
produto”, acrescenta o engenheiro.
História e normatização
A história da impermeabilização no Brasil, lembra
Georg, é relativamente recente, pois até os anos 1970
existiam poucas soluções no mercado. Segundo ele,
as grandes obras de impermeabilização começaram
a aparecer na década de 70, com a construção dos
metrôs do Rio de Janeiro e de São Paulo. “O metrô
do Rio de Janeiro, na primeira fase, tinha 1,5 milhão
de metros quadrados de área impermeabilizada”,
conta o engenheiro. A chegada dos grandes
projetos de impermeabilização levou fabricantes e
aplicadores dos dois estados a se unirem para criar
uma normalização específica.
Georg conta que, em 1975, foram criadas as
primeiras normas brasileiras para o tema, sendo uma
delas a NBR 279, editada pela Associação Brasileira
de Normas Técnicas (ABNT), que criou o Comitê
Brasileiro de Isolação Térmica e Impermeabilização
(CB-22). Outra iniciativa importante, destaca
ele, envolveu a criação do Instituto Brasileiro de
Impermeabilização (IBI), com o objetivo de melhorar
as normas da área. “Hoje a país tem uma excelente
coleção de normas e naquele produto líder de
mercado - a manta asfáltica, com 80% das áreas
impermeabilizadas - a norma da ABNT NBR 9552
é uma das normas mais modernas do mundo,
devidamente harmonizada e compatibilizada com
a União das Normas da União Europeia, com a
ASTM e com a NRCA (National Roofing Contractors
Association) americanas”, conta Georg. “Hoje,
dispomos de uma coletânea de normas extremamente
atuais para impermeabiliação”, acrescenta.
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Laje impermeabilizada com acabamento drenante - Pedriscos
Cidade da Música - impermebilização aparente
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Missionário da ciência e tecnologiaJOSÉ RAYMUNDO MARTINS ROMÊO | Professor UFF | Secretaria
de Ciências e Tecnologia da Prefeitura de Niterói
Reitor da Universidade Federal Fluminense (UFF) por duas vezes, professor Raymundo Romêo está preocupado com a capacitação e formação de pessoal para que país dê conta do seu desenvolvimento
Júlio Santos | Jornalista da Revista MEMO
20 | MEMO online • Set 2011
Quando se olha os números da economia brasileira nos últimos anos, fica evidente
que o país entrou num novo patamar de desenvolvimento. Só que daqui para frente,
para manter o ritmo de crescimento médio de 5% do Produto Interno Bruto (PIB), é
preciso fazer algumas lições de casa para garantir a infraestrutura necessária para
uma economia que busca figurar entre as principais do mundo. E um dos problemas
vem sendo sentido dia a dia pelas empresas e indústrias: a falta de pessoal preparado
e capacitado para segurar a onda de expansão dos negócios.
O cenário de vitalidade dos mercados e o baixo número de profissionais disponíveis
traz para todos uma grande preocupação, que passa, necessariamente, pelos bancos
acadêmicos. “Todo este desenvolvimento acontece com base no conhecimento, que
tem que sair das instituições de ensino, sobretudo, das universidades de porte como
a Federal Flumiense (UFF)”, observa José Raymundo Martins Romêo, secretário de
Ciências e Tecnologia de Niterói, com a experiência de quem foi por duas vezes,
1982-1986 e 1990-1994, reitor da UFF.
Para ele, a forma de equacionar este gargalo passa por um investimento forte na
qualificação de pessoas em todos os níveis, mesmo o mais simples, o secundário
e o técnico. “Temos hoje no Brasil cerca de 6,2 milhões de estudantes no ensino
superior. Deste total, apenas 11% fazendo Engenharia. Mesmo na ciência básica são
muito poucos, uns 2% do total de estudantes de nível superior”, comenta Raymundo
Romêo.
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Revista MEMO - A NNO - Niterói Naval Offshore,
que acontecerá de 7 a 10 de novembro, chega
este ano a sua quarta edição. O que este grande
evento já trouxe de resultados para a cidade?
José Raymundo Martins Romêo - Este evento
é decorrente do fato de Niterói ter ainda a maior
quantidade de empresas da área de construção naval,
e com uma particularidade, pois, historicamente, a
construção Naval nasceu na cidade com o Barão
de Mauá. Hoje, este setor está muito destinado à
energia, principalmente, para petróleo. Atualmente,
Niterói não faz navios de cruzeiros, por exemplo,
destinando a produção para embarcações de
estocagem, transporte, exploração e reparos de
plataformas.
Há empresas de Niterói produzindo tubos que
vão a profundidades imensas, que têm que ser
altamente resistentes, mas flexíveis, com tecnologia
extremamente avançada. Apesar de a produção
naval se multiplicar por vários pontos do país, como
nos estados do Nordeste e Santa Catarina, a grande
concentração ainda está em Niterói.
Revista MEMO - O que isso representa para a
cidade em termos de negócios?
José Raymundo Martins Romêo - Isso significa que
Niterói passa a ter uma concentração de profissionais,
como engenheiros, economistas, administradores
etc, que fazem uma massa crítica de qualidade para
a cidade. A feira visa mostrar para a população a
importância desta indústria para a economia de
Niterói. No evento, existe uma rodada de negócios,
que em 2009, na sua última versão, movimentou R$
98 milhões. Ou seja, há um movimento para venda
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Em busca de uma maior sintoniza com o mundo dos negócios e das indústrias, as universidades começam a
encontrar boas alternativas. Uma delas envolve o processo de interiorização, que vai permitir o desenvolvimento
de cidades com vocações específicas. “Considero este processo fundamental, pois no passado as universidades
cometeram o equívoco de se concentrar nas grandes cidades”, diz o professor que nos seus dois mandatos fez
a Federal Fluminense chegar a cidades do interior do Rio de Janeiro, como Bom Jesus, Miracema, Itaperuna,
Macaé, Angra dos Reis e Nova Iguaçu.
Além de tratar de questões relacionadas à capacitação de pessoas e do papel das universidades, nesta
entrevista exclusiva à Revista MEMO, Raymundo Romêo, fala também da importância da Niterói Naval
Offshore, que acontecerá em Niterói no mês de novembro, para a evolução da indústria naval do município,
e das iniciativas locais para garantir a infraestrutura necessária para o desenvolvimento da ciência e tecnologia
na cidade. Entre eles estão a criação do Parque Tecnológico da Vida e a instalação da MetroNit, uma rede de
banda larga com 31 quilômetros de fibras ópticas.
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
de peças, serviços, equipamentos
e fechamento de contratos. A
grande patrocinadora da feira é a
Transpetro, empresa da Petrobras
que faz as encomendas dos navios,
seguindo a política do governo
federal de não comprar navios ou
plataformas fora, mas de fabricá-los
no país. Ou seja, a ideia é ampliar
o grau de nacionalização, que hoje
está em 70%.
A feira também é uma boa
oportunidade para que as empresas
de navipeças conheçam as condições
oferecidas para que se instalem em
Niterói.
Revista MEMO - Qual é a estimativa
de negócios para a feira de
2011?
José Raymundo Martins Romêo
- Estamos estimando negócios da
ordem de R$ 120 milhões, até
porque a realidade já mudou.
Hoje, há mais empresas aqui em
Niterói, como a Royce Rolls. Junto
com a feira existe a conferência para
dar a ancoragem de conhceimento.
Nada disso se faz sem conhcecimento.
Na construção de navios existe muita
tecnologia por trás, que tem que ser
produzida, o que exige investimento na formação de
pessoal com alta qualificação.
Revista MEMO - E como atender a esta exigência
do mercado por recursos humanos?
José Raymundo Martins Romêo - O momento é de
discutir esta situação nacional em que a economia vem
crescendo, tomando um modelo de desenvolvimento
imenso. Temos hoje no Brasil cerca de 6,2 milhões
de estudantes no ensino superior. Deste total, apenas
11% fazendo Engenharia. Mesmo na ciência básica
são muito poucos, uns 2% do total de estudantes de
nível superior. Todo este desenvolvimento acontece
com base no conhecimento, que tem que sair das
instituições de ensino, sobretudo, das universidades
de porte como a Federal Flumiense (UFF).
Revista MEMO - Então, o que fazer para equacionar
este gargalo?
José Raymundo Martins Romêo - A forma de
equacionar é investir fortemente na qualificação de
pessoas em todos os níveis, mesmo o mais simples,
o secundário e o técnico. Por exemplo, o Rio de
Janeiro vem fazendo um trabalho muito interessante,
com a Secretaria de Ciência e Tecnologia criando
Centros Vocacionais Tecnológicos (CVTS). Os CVTs
são diferentes das escolas técnicas tradicionais, pois
estão voltados para um determinado segmento, como
construção civil, naval etc. Isso dá uma versatilidade,
pois se daqui a algum tempo as condições de
mercado ou do país mudarem este mesmo CVT pode
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
funcionar mas voltado para um outro enfoque. As
universidades são fundamentais neste processo, e a
UFF está tendo um grande desenvolvimento.
Revista MEMO - E qual é o papel da universidade
neste processo todo?
José Raymundo Martins Romêo - Hoje a universidade
está mais qualificada, mais voltada para a questão da
inovação, para a pesquisa. E dentro de um conceito
de que o importante não é a pesquisa, mas o ato de
pesquisar para levar a novas descobertas. Ou seja,
o importante não é tentar pesquisar para chegar ao
resultado. É tentar criar o hábito da pesquisa, criar
dentro das universidades a ideia de que ela não
pode transmitir um saber estereotipado, mas tem que
realmente induzir, compelir, sobretudo, o estudante a
duvidar, a procurar coisas novas, a questionar.
As universidades não têm que transmitir e entregar o
conhecimento pronto. É preciso ensinar como fazer
o fogo, como fazer as coisas para que as pessoas
possam, exercitanto a sua inteligência, criar as
inovações. O principal não é levar o fogo, mas sim
saber como produzi-lo.
Revista MEMO - Qual é o peso desta questão para
as empresas, para a indústria?
José Raymundo Martins Romêo - No caso de
Niterói, esta é uma questão fundamental não só
para a indústria naval offshore para fazer face a
uma realidade concreta que está próxima, que é o
Complexo Petroquímico de Itaboraí (Comperj).
O complexo, que segundo a Petrobras terá um
investimento de US$ 20 bilhões, está a uns 80
quilômetros daqui, com duas refinarias.
É claro que isso vai atrair empresas. São empresas
que vão gravitar em torno desta grande planta. E
nós não temos o número suficiente de engenheiros
preparados para isso, nem técnicos de nível superior,
médio e inicial, que são fundamentais para trocar
estes grandes processos e estes grandes projetos.
Então, a formação e capacitação de pessoas é um
grande desafio.
Revista MEMO - Atualmente, existe um movimento
de interiorização das universidades aqui no
estado do Rio de Janeiro. Como o senhor analise
esta marcha?
José Raymundo Martins Romêo - As universidades
do Rio de Janeiro estão todas em torno da Baía
de Guanabara, a não ser a Norte Fluminense e a
Rural, que estão próximas. Elas não tiveram o foco
de interiorização, não gerando desenvolvimento
em outros municípios como aconteceu com as
universidades dos Estados Unidos.
Considero este processo fundamental, pois no
passado as universidades cometeram o equívoco
de se concentrar nas grandes cidades. Por exemplo,
em meu primeiro mandato como reitor de 1982-
1986, levei para Pádua a UFF. No segundo, de
1990 a 1994, criamos cursos cursos em Bom Jesus,
Miracema, Itaperuna, Macaé, Angra dos Reis e Nova
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Iguaçu, além de cursos de mestrado e doutorado
em Volta Redonda e Campos. Hoje, existem polos
em cidades como Nova Friburgo, Macaé e Rio das
Ostras.
A Federal Fluminense, no Rio de Janeiro, foi a pioneira
neste processo de interiorização, que é muito útil para
criar um ambiente cultural, de forma ampla, incluindo
educação e ciência e tecnologia nas cidades.
Revista MEMO - Qual é a importância e os
impactos que este processo pode trazer para o
desenvolvimento das cidades?
José Raymundo Martins Romêo - Este foi o modelo
usado nos Estados Unidos, a partir de 1800, com
a criação de universidades O&M pela indústria,
voltadas para a produção de alimentos e para a
mecânica. Elas recebiam terras como patrimônio para
se manter e desenvolver o interior do país. Esta é uma
forma mais produtiva e eficaz de desenvolvimento, ao
contrário do Brasil onde se optou pela concessão de
incentivos financeiros para a instalação das indústrias
no interior. Com qualquer crise econômica, elas
saiam, gerando um probelma social, o que foi um
drama para muitos prefeitos.
Revista MEMO - As universidades estão preparadas
para identificar as vocações de cada região?
José Raymundo Martins Romêo - Acredio que
sim. A universidade brasileira é relativamente jovem.
Enquanto a nossa primeira universidade data de
1920, a universidade de Bolonha, em 1988, fazia
900 anos. A universidade brasileira vem passando por
um processo de aperfeiçoamento e vem procurando
sintonia com o mundo real. A Petrobras é um exemplo
interessante, pois quando sentiu que podia competir e
ser uma das maiores empresas de energia do mundo,
procurou a universidade. Não é por acaso que o
Centro de Pesquisa e Desenvolvimento da Petrobras
(Cenpes) está dentro do campus da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
São inúmeros contratos que a empresa tem com a
Federal Fluminense. Esta presença no interior permite
às universidades sentirem as necessidades daquela
região, daquele munícipio ou daquele estado. Hoje
já existe uma boa sintonia, mais ainda estamos com
pouca gente. Este é um problema sério, e vamos
procurar entender.
Revista MEMO - Como o senhor avalia o panorama
atual da ciência e tecnologia no Brasil?
José Raymundo Martins Romêo - Hoje existem
no país apenas 155 municípios com secretarias de
Ciência e Tecnologia, o que é muito pouco para um
universo de cerca de 5,7 mil cidades.
É importante trabalhar para que o cidadão entenda
que vive numa era de ciência e conhecimento, e que
ele tem que se apropriar disso. Estamos ainda numa
época de grande hiato gerencial, um abismo que existe
em decorrência do grande avanço do conhecimento,
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
da ciência, da tecnologia e dos processos gerenciais.
É preciso vencer este hiato gerancial. Eu diria que
isso é hoje quase uma tarefa de missionários.
Revista MEMO - Niterói é um desses poucos
municípios a contar com uma secretaria de Ciência
e Tecnologia. O que a cidade está fazendo?
José Raymundo Martins Romêo - O prefeito Jorge
Roberto da Silveira, quando criou a secretaria, deixou
bem claro que o papel da Prefeitura não era produzir
a ciência e tecnologia. Seu papel é buscar dentro do
ambiente aquelas instituições dedicadas à ciência
e tecnologia para trabalhar em conjunto, como o
Instiuto Vital Brasil; a Empresa Estadual de Pesquisa
Agropecuária (Pesagro); o Departamento Recursos
Minerais; o Insituto de Pesos e Medias (Ipem) etc.
E, fundamentalmente, também um trabalho com
as universidades da cidade. Não acredito que se
possa fazer alguma coisa de ciência e tecnologia
sem compartilhar conhecimento, sem este trabalho
conjunto. Outro papel da secretaria é estimular o
interesse dos estudantes para as ciências. O Brasil
tem boas, mas poucas manifestações nesta área.
Um exemplo de ação da secretaria é o programa
de iniciação digital que já capacitou cerca de 500
pessoas.
Revista MEMO - Como entra o trabalho da
universidade neste processo?
José Raymundo Martins Romêo - A universiade tem
um trabalho que é de transformar informações em
conhecimento, novo ou antigo reciclado. O papel
mais importante da universidade, que às vezes tem
sido esquecido, é transformar este conhecimento em
informação, em sabedoria, que é quando ele passa
a ser de domínio público.
Revista MEMO - Quais exemplos de trabalho que
a Secretaria de Ciência e Tecnologia de Niterói
tem para mostrar?
José Raymundo Martins Romêo - Um exemplo foi a
criação do Parque Tecnológico da Vida, que funciona
dentro do Instituto Vital Brasil, iniciativa que envolve
entidades como a Federal Fluminense e a Pesagro. O
parque é voltado para a vertente do conservacionismo
e biotecnologia, com a produção de fármacos, item
em que o país tem hoje um dos seus maiores gastos.
O Brasil tem condições de ser líder nesta área. O
parque já conta com algumas empresas incubadas.
Revista MEMO - Mas para que a ciência avance e
a sociedade desfrute dos seus benefícios é preciso
ter acesso às informações. O que Niterói está
fazendo para avançar neste campo?
José Raymundo Martins Romêo - O município tem
um projeto para implantar um circuito de banda larga,
que, com isso, será a primeira cidade não capital a
contar com um anel de banda larga. A MetroNit é
uma iniciativa da Rede Nacional de Pesquisa (RNP),
do Ministério de Ciência e Tecnologia. O projeto,
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
que já está contratado, prevê a instalação de 31 quilômetros de fibras ópticas. Esta rede
pode ser conectada à da cidade do Rio de Janeiro, pela malha de fibras ópticas instalada na
Ponte Rio-Niterói. Uma vez fechadas todas as negociações em torno do projeto, a rede, que
vai integrar uma série de entidades de pesquisas na cidade, pode ser instalada num prazo de
quatro meses. Ela trará um grande benefício para Niterói, podendo agregar depois escolas,
hospitais etc.
Revista MEMO - Anteriormente, falamos sobre o Comperj e o impacto que ele trará para
a economia do Rio de Janeiro. Como é a participação do senhor nesta iniciativa?
José Raymundo Martins Romêo - Quando nasceu o Comperj, o governo do estado criou
o Fórum Comperj, que conta com um grupo gestor técnico. O grupo, que se reúne toda
última quinta-feira do mês, é constituído por representantes da Secretaria de Desenvolvimento
do Estado, da Petrobras, da Caixa Econômica Federal, do BNDES e de outras secretarias
estaduais. O Consórcio Conleste, que reúne os 13 municípios da região do projeto, tem
quatro representantes neste grupo técnico gestor, e eu sou um dos indicados.
O Consórcio Conleste realiza todo um trabalho de acompanhamento para fazer com que
o desenvolvimento seja integrado em todas as regiões do Comperj. O órgão, por exemplo,
desenvolveu um trabalho com o levantamento de dados referentes à região, feito pela área
de Geociências da Federal Fluminense junto com as Nações Unidas. Este trabalho agora
terá uma segunda etapa. A Federal Fluminense contribuiu com o Conleste na revisão dos
planos diretores dos municípios. Existe a intenção de fazer o plano diretor da região, pois
não se pode hoje tratar a questão dos transportes, dos resíduos sólidos, do abastecimento de
água em cada município isoladamente. Hoje, a região conta com 2 milhões de pessoas e a
estimativa é que daqui a cinco anos sejam 10 milhões.
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
A hora e vez da TECNOLOGIA de vestirBELMIRO IVO LUNZ | Engenharia Civil
Como convergência tecnológica, os exoesqueletos estão na condição de epicentros assintóticos e plataforma. Esta convergência é promovida pela demanda humana por facilidades e zonas de conforto
A maturação da ciência e tecnologia está no ponto adequado. Apontam para
isso a convergência de máquinas carregadeiras (aquelas de terraplena-gem)
para minis, e o começo de generalização de uso de máquinas de andar com
amplificadores de força.
Configurando elemento da nova tecnologia de vestir, incorporando o centro
computacional usado como sistemas de supervisão e controle para as funções
exigidas, ainda lá estará, além de outras utilidades os meios de comunicação
já existentes, porém com a proteção radiológica que hoje não existe, com um
toque de ironia.
Apresentação
Tendo em vista o histórico que acometeu a evolução de espécimes robóticos, o
autor presume que o exoesqueleto já se autodefiniu e começa configurar linhas
de mercado na forma que o presente já reivindica, sendo uma convergência
da singularidade esperada por Ray Kurtweil (1).
A linha robótica vem personificando uma série de gadjets, e juntamente com as
necessidades estabelecidas que lhes atribui identidades, caracterizando assim
uma faixa que delimita suas funções ou atividades principais. O imaginário
humano enfeita essa criação e a provoca, transformando sua evolução.
Essa evolução histórica também vem influenciando a evolução de máquinas
pesadas típicas que vem reduzindo seu porte como se tentasse ajustar-
se ao perfil anatômico humano, como parece ter acontecido com as mini
carregadeiras tipo Bob Cat.(2).
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
O exoesqueleto e sua família
A primeira década deste século esquentou uma série
de iniciativas na linha de pesquisa que pretende
fornecer ao mercado robôs como aquele estabelecido
pela ficção: do tipo humanóide independente,
como a Rose Futuramica (3) dos Jetsons sonhada
atualmente pelas donas de casas. Mas está claro
que este plano na linha do tempo gradua as metas
por possibilidades, utilidades, conveniência etc. A
independência Azimoviana pode ser protelada em
favor da cognição humana. Nestas condições sem
a exigência de atuação remota, está se definido
plenamente o exoesqueleto. Este se caracteriza em
sua completude por uma veste tipo servo que copia os
movimentos do usuário, dando-lhe potência e rigidez
para o transporte e suporte de carga , realizando
esforços que de regra superam a capacidade humana
normal.
Uma vez solucionadas as dificuldades inerentes à
cada aspecto dos exoesqueletos customizados, que se
faz com otimizações de próteses, a mera associação
da unidade cognitiva e de equilíbrio ao conjunto,
comporia o homem bicentenário(4).
Os traumas que acometem o ser humano, na área de
acidentes impactantes de seu desempenho, oferecem
um cenário de oportunidade para superação que
qualifica uma tecnologia e indústria completa de
possibilidades para configurar o exoesqueleto. Um
exoesqueleto japonês batizado como HAL já está
disponível para o mercado (5).
As muletas primitivas estão dando espaço para as
maquinas de andar (6). Os braços e mãos mecânicos,
as articulações, as juntas com novo design periférico,
elaborados caso a caso, propiciam cabeças de série
adequadas para os benvindos equipamentos dessa
nova década.
Articulação remota de membros superiores
A extensão como prótese articulada dos membros
superiores, mãos e braços, visando a manipulação
remota de materiais explosivos ou radiativos em
instalação fixa foram os primeiros nas décadas
anteriores como objetos a serem atendidos em
termos de necessidades profissionais de risco. Estas
elaborações em instalações apropriadas foram
validadas deslocando o foco de perigos, contando
com a proteção da distância e visualização
proporcionados por câmaras de TV ou de vidros
blindados. Assim químicos e peritos específicos
em segurança manipulam atualmente material de
trabalho afastando os riscos inerentes. A cognição
do processo é humana. Sua extensão é tecnológica.
O centro de controle dessa ação remota é uma ilha
de facilidades. A ilha atualmente é disponibilizada
por solicitação comercial com elementos à pronta
entrega.
Próteses simples de elementos superiores
Visando superar acidentes que deram como
consequência amputações de mãos e braços,
a disponibilidade de próteses é frequente. Estas
tentam se superar, em geral, primavam pela falta de
naturalidade. Os comandos podem ser musculares
ou cerebrais e dependem de fonte externa de energia,
como era de se esperar. No filme Exterminador do
Futuro II , o ator Arnold Schwarzenegger, um robô ,
expõe após corte no que seria um simulacro da pele,
o conceito hollyhoodiano desse mecanismo. Está
claro que ali se trata de um robô integral.
Set 2011• MEMO online | 29
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Locomoção
Acidentes costumam afetar a capacidade de
deslocamento. A pessoa se vê numa situação de
dependência de ajuda externa no comum dos casos
para sua locomoção. Atualmente a situação de
cadeirante é atendida por algum conforto quando o
impactado por esta circunstância é alvo de atenção.
Muitos equipamentos de ajuda estão disponibilizados
comercialmente para facilitar a convivência social.
Sistemas de apoio dependentes de baterias elétrica
complementam a fonte de energia necessária.
Às vezes, o impacto da ocorrência implica
na amputação parcial do membro inferior. A
complementação da extremidade inferior apresenta
nesse caso menor dificuldade , devido à existência de
articulação simples. Esses fatos são muito comuns,
porém, nota-se pouco em função destas partes
anatômicas ficarem cobertas por calçados meias e
a parte inferior de vestimenta (calça comprida). A
verdade é que reis da popularidade fazem uso dessas
próteses na TV e seus movimentos são tão naturais
que a assistência atenta nem percebe o fato.
O apoio fornecido aos cadeirantes pelos equipamentos
de ajuda estiveram restritos à plataforma sob rodas,
com aptidão adequada para pistas de rolamento
plana. A movimentação bípede é uma ambição
antiga que começa a ser cogitada e agendada.
Abrangência do exoesqueleto
A utilização de exoesqueleto para absorver a carga
transferida dos membros de locomoção, manipulação
e garra foi inicialmente uma concepção militar para
uso em campo de batalha por soldados. A ideia era
amplificar com equilíbrio a capacidade humana em
relação inicialmente ao manuseio de cargas, porém,
usando o ser humano como elemento cognitivo. A
ideia foi estendida para uso em outras áreas, como
em hospitais, habilitando a um enfermeiro transferir
sozinho um paciente obeso para leitos de tratamento.
Foi estendida também para ampliação de movimentos
visando uso de idosos que tenham seus movimentos
prejudicados. O vestir de um exoesqueleto dá às
pessoas fragilizadas que fazem uso do equipamento
um excelente nível de conforto nos seus movimentos.
Daí também a denominação de robô de vestir para
o exoesqueleto.
Tecnologia e fabricação
Nas demonstrações desses equipamentos, muitos
deles ainda elaborados por estudantes e amadores fica
evidente a diversidade de tecnologias empregadas. A
tecnologia pneumática mostrou ser promissora em
termos de controle, custo, capacidade de potência e
acessibilidade. Acreditamos que estas unidades não
serão dispensáveis em almoxarifados e depósitos das
organizações em auxílio ao trabalho. A tecnologia
eletroeletrônica com certeza será dedicada ao equipo
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
das pessoas idosas ou afetadas por traumas, pois
podem ser elaborados a partir de componentes mais
delicados. Pode vir nesse caso prevalecer também
um tipo misto. No dizer da Honda é uma tecnologia
vestível (7). Os fashion designers precisam se preparar
para esta nova realidade.
Com certeza, o uso imporá condições a essa linha de
equipamento. Assim como os veículos elétricos que
exigem fontes elétricas eficazes, da mesma forma
será exigido maior desenvolvimento de tecnologia
aos projetistas das baterias elétricas recarregáveis.
Reabilitação
Os dispositivos de andar baseados nos exoesqueletos
estão estruturados em materiais leves, resistentes e
geniais, tais como placas de titânio, fibra de carbono,
alumínio e velcros e tecidos bioflex que se ajustam
confortavelmente ao corpo do usuário. Propriedades
extras destes materiais protegerão o usuário de outras
mazelas, como radiação do ambiente. A variedade
de projeto mostra a diversidade de necessidades. O
usuário pode somente iniciar o movimento e o ciclo
será concluído pelo dispositivo de forma equilibrada
e robusta consumindo potência de fontes auxiliares
de energia. É preciso desenvolver o seu hábito de
uso, assim como usamos bicicleta.
Apresentação e debut das máquinas de andar
Miguel Nicolelis, neurocientista brasileiro,
conduzindo pesquisas na universidade de Duke,
nos Estados Unidos, espera que o pontapé inicial
da Copa do Mundo em 2014, no Brasil, seja dado
por um adolescente tetraplégico, usando um desses
equipamento. Nos EUA, o paraplégico Austin Whitney
levantou-se de sua cadeira de rodas e foi andando
para receber seu diploma de graduação em Ciências
Políticas na Universidade da Califórnia , usando um
desses equipamentos desenvolvido por uma equipe de
alunos de pós-graduação conduzidos pelo professor
de engenharia mecânica Homayoon Kazerooni,
no laboratório de Engenharia Robótica e Humana
daquela universidade. A tecnologia empregada para
Whitney andar passou a ser desenvolvida em 2002,
quando Kazerooni recebeu um financiamento do
Departamento de Defesa norte-americano (8).
Na Biologia Geral, a troca é comum
Como facilitador da vida para o ser humano, as
próteses tipo exoesqueleto têm uma produção padrão
e uma intervenção customizada para adequá-la a
seu portador onde intervier a Engenharia para sua
personalização. De forma automática, isso ocorre na
natureza.
Os insetos compartilham no processo biológico
através do tegumento, formado pela epiderme e pelo
exoesqueleto em quitina, numa dinâmica periódica
chamada ecdise, ou seja um processo de mudança
programada para o exoesqueleto (9).
Este processo é necessário ao longo do
desenvolvimento do inseto para efeito de seu
crescimento e é provocado diretamente pelos
hormônios ecdisteróides, atuando no gene que
codifica as proteínas estruturais da cutícula.
Com feedback a interface evolui
Muitas pessoas com membros paralisados dependem
de interfaces especiais para comandar equipamentos
associados aos exoesqueletos. Pode ser necessário
o emprego de interfaces cérebro-máquina para que
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a comunicação ocorra usando apenas atividade
cerebral. Estas interfaces neurais já são disponíveis.
A última descoberta realizada por pesquisadores
da Universidade de Chicago, nos Estados Unidos,
é que a interação da interface é mais efetiva caso
se processe o “feedback sensorial”; ou seja, caso o
usuário consiga sentir com efetividade a realização
do ato. Isso pode ser feito realimentando um estímulo
que lhe permite “a sensação” do objeto tocado. Na
verdade, é o que sempre disse a clássica teoria do
controle. Mas agora se sabe que isto existe mesmo
entre sistemas diferentes.
Exoesqueletos robóticos do tipo braço, com sensação
(feedback sensorial) que se move em resposta aos
comandos cerebrais emitidos por meio da interface
neural foram testados com macacos em comparação
com o braço robótico simples sem retroação, tendo
resultados significativamente superiores. Com isso,
mais inteligência aflui a estas interfaces (10), com uma
consequência: é opinião geral entre os pesquisadores
que usar um robô de vestir, controlado pelo cérebro
tenderá a educar pessoas paralisadas em direção a
sua recuperação.
Conclusão
É chegada a hora e vez da tecnologia de vestir:
como máquina de andar e/ou com outros auxílios
acessórios. Materiais especiais, além de tecidos,
comporão parte dessa máquina.
Adicionarão atenuação radiológica, como blindagem
para as centrais que controlarão as funções de seu
modelo e também como brinde para nos proteger do
celular que hoje nos afeta com sua irradiação (11)
local.
32 | MEMO online • Set 2011
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Referências:
(1) Belmiro Ivo Lunz, Reflexões sobre Sustentabilidade e Singularidade-Revista Internacional do Conhecimento, Ano 1, Volume 1, Número
2, 2011, site: http://revistainternacionaldoconhecimento.wordpress.com/
(2) YouTube - Experiência em Bob Cat!, Publicado 26 maio 2010 ,www.youtube.com/watch?v=Szvksc4PKSk4 min - Vídeo enviado por
PrqAventuraSniper
(3) No episódio “Rosey The Robot”, o seu número de modelo é revelado como XB-500.
(4) Issac Azimov, O Homem Bicentenário , disponível no site: www.cienciamao.usp.br/.../cfc.php?cod=_ohomembicenten... - Em cache
O texto o homem bicentenário nos mostra um lado do robô que não imaginamos que exista: o lado humano, autodidata, motivado, que
busca a liberdade acima de ...
(5) Redação do DIARIODEPERNAMBUCO.COM.BR , Exército dos Estados Unidos cria homens de ferro da vida real ,26/04/2011 | 09h24
| Exoesqueleto Site : http://www.diariodepernambuco.com.br/nota.asp?materia=20110426092414
(6) Ricardo Westin, AS MÁQUINAS DE ANDAR, Tecnologia . Veja,Editora ABRIL 2223-ano44,n.26-29 de junho de2011
(7) site: http://www.techlider.com.br/2009/04/honda-apresenta-exoesqueleto-robotico-para-ajudar-deficientes/
(8) Folha.com , Estudante paraplégico “anda” em formatura usando exoesqueleto, site http://noticias.bol.uol.com.br/
internacional/2011/05/17/estudante-paraplegico-quotandaquot-em-formatura-usando-exoesqueleto.jhtm disponivel em17/05/2011 -
(9) Fábio de Castro, DINAMICA DO EXOESQUELETO, publicado em 21/07/2011, site http://agencia.fapesp.br/14211#.TirePETEq1c.
(10) inovacaotecnologica, Exoesqueleto robótico melhora controle de equipamentos pelo cérebro, Robótica, Redação do Site Inovação
Tecnológica - 23/12/2010, site www.inovacaotecnologica.com.br/.../noticia.php?...exoesq... - Em cache
+ Notícias | Exército dos Estados Unidos cria homens de ferro da vida real
(11) Fernando Antonio Santos Beiriz ,TELECOMMUNICATION SYSTEMS AND THE SUSTAINABILITY, Revista Internacional do
Conhecimento, http://revistainternacionaldoconhecimento.wordpress.com/Ano 1, Volume 1, Número 2, 2011
Set 2011• MEMO online | 33
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Visita das equipes às comunidades do Caranguejo/Niteróri-RJ e Parque Royal na Ilha do Governador/RJ urbanizada pelo Programa Favela - Bairro
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Entre os dias 5 e 17 de maio deste ano, foi realizada
uma Oficina Integrada de Projeto, com a participação
de alunos e docentes da Escola de Arquitetura e
Urbanismo e da School of Architecture and Landscape
Architecture at the University of British Columbia,
Canadá, coordenada pelos professores Gerônimo
Leitão (EAU-UFF) e Blair Satterfield (UBC).
A oficina contou ainda com a participação dos
professores Eloísa Araújo, Pedro da Luz e do arquiteto
Tom Caminha (ex-aluno da Escola), tendo como tema
o desenvolvimento de um Plano Geral de Intervenções
Urbanísticas na comunidade Caranguejo, situada
no Largo da Batalha, em Niterói. A realização dos
trabalhos teve o apoio da Secretaria Municipal de
Urbanismo da Prefeitura de Niterói – através da
secretária Cristina Monnerat e da arquiteta Patrícia
Barros –, e, também, da direção da Associação de
Moradores do Morro do Caranguejo – através do
seu presidente, Maurício Bonifácio, e do seu vice-
presidente Carlos Xororó.
Na primeira etapa da Oficina UBC – EAU foram
realizadas exposições, no auditório do Museu de Arte
Contemporânea de Niterói, que tiveram por objetivo
familiarizar os estudantes canadenses com questões
referentes à produção do habitat nos assentamentos
URBANIZAÇÃO: o intercâmbio Brasil-CanadáProfessores Doutores ELOISA ARAUJO | Departamento de Urbanismo | GERÔNIMO LEITÃO |
Departamento de Arquitetura da Universidade Federal Fluminense (UFF)
Alunos da Escola de Arquitetura e Urbanismo/UFF e Universidade British Columbia/Canadá na Comunidade Pedra do Sal/RJ
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Oficina Integrada de Projeto, com participação de alunos e docentes da Escola de Arquitetura e Urbanismo e da School of Architecture and Landscape Architecture at the University of British Columbia, mostra experiência da comunidade Caranguejo, em Niterói
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informais da Região Metropolitana do Rio de Janeiro, bem como apresentar um painel sobre experiências
recentes de programas de urbanização de favelas cariocas. Também foi proporcionada aos alunos uma visita
guiada ao centro da cidade do Rio de Janeiro, possibilitando uma visão abrangente da produção do espaço
urbano na área central do núcleo metropolitano, a partir do contato com elementos da estrutura urbana dos
períodos colonial, imperial e republicano e seus contrastes com a cidade contemporânea.
Em seguida, foi feita uma visita à comunidade Parque Royal, na Ilha do Governador, na cidade do Rio de
Janeiro, quando os participantes da Oficina Integrada de Projeto tiveram a oportunidade de conhecer as
obras de infraestrutura de saneamento básico, bem como os equipamentos comunitários e unidades de
reassentamento construídos pelo Programa Favela/Bairro, implementado na década de 1990 pela prefeitura
carioca.
Concluída essa etapa de caracterização dos principais problemas observados nas favelas da Região
Metropolitana do Rio de Janeiro e conhecidas as soluções desenvolvidas por programas de urbanização
diversos, os cinco grupos – formados por alunos brasileiros e canadenses – iniciaram os trabalhos de
levantamento de dados físicos e sociais da comunidade do Morro do Caranguejo, visando obter os subsídios
necessários à elaboração de um Plano Geral de Intervenções Urbanísticas. Em visita guiada por membros da
Associação de Moradores, alunos e professores realizaram entrevistas com moradores locais e produziram
uma extensa documentação fotográfica que seria utilizada, posteriormente, para representar as intervenções
propostas.
Comunidade do Morro do Caranguejo/Niterói-RJ: Área de intervenção urbanística
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Encerrada a fase de diagnóstico, os grupos iniciaram o desenvolvimento das propostas arquitetônico-
urbanísticas, na sala 11 do Casarão da Escola de Arquitetura e Urbanismo – espaço destinado para uso
exclusivo do Atelier Integrado de Projeto, durante as duas semanas de suas atividades.
Embora bastante diferenciadas entre si, as cinco propostas tratavam, basicamente, dos mesmos problemas
observados na etapa de diagnóstico: remoção de famílias que ocupam área non edificandi sob a rede de
alta tensão que secciona a comunidade, com a previsão de reassentamento desses moradores em outras
áreas no interior da própria comunidade e a proposição de novos usos para a faixa liberada; melhoria
das condições de acessibilidade no interior da comunidade; implantação de creche, equipamento de
Um dos planos gerais de intervenção urbanística apresentados pelos alunos
Via de pedestres projetada no limite da ComunidadeProposta de uso de recreação e lazer para a área non edificandi sob as redes de alta tensão
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promoção social e espaços de recreação e lazer; proposição de execução de obra de contenção de encosta, de
modo a eliminar um quadro de risco observado atualmente; e, por último, no que diz respeito à infraestrutura
de saneamento básico, a implantação de um castelo d’água, de modo a regularizar o abastecimento no local,
além de dispositivos de drenagem de águas pluviais.
Unidades habitacionais de reassentamento proposta pelos alunos
Via de pedestres projetada no limite da Comunidade
Via de pedestres projetada no limite da comunidade
Castelo d’água proposto por uma das equipes para a regularização de abastecimento de água na comunidade
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Os estudos desenvolvidos foram apresentados aos representantes
da comunidade e da Prefeitura Municipal de Niterói, em seminário
realizado no Auditório do Chalé, que contou, ainda, com a presença
de outros alunos dos cursos de graduação e pós-graduação, bem
como outros professores. As propostas foram bem recebidas e
disponibilizadas para a direção da Associação de Moradores do
Morro do Carangueijo e para a Prefeitura Municipal de Niterói, com
o objetivo de fornecer subsídios para eventuais intervenções futuras na
comunidade, promovidas pelo Poder Público.
IL 23 = 2.410 = US$ 0,00137/t.km
35 x 501 x 100
Unidades habitacionais de reassentamento propostas pelas equipes
Apresentação dos projetos para as lideranças comunitárias do Morro do Caranguejo e técnicos da Prefeitura da cidade de Niterói
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Essa experiência, desde a concepção do diagnóstico, parte subjetiva da formulação das proposições, à
concepção do projeto, parte objetiva, permitiu aos alunos entrar em contato com uma metodologia específica
para a elaboração de projetos de urbanização de favelas - o que foi particularmente valorizado pelos alunos
canadenses.
Projeto da Nova Associação de Moradores do Morro do Caranguelo/Niterói-RJ
Perspectiva de uso das áreas liberadas pelo reassentamento de moradias em áreas de risco
Projeto de Unidade de Saúde no Morro do Caranguelo/Niterói-RJ
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Presença dos alunos
A Oficina Integrada de Projeto contou com a participação dos alunos Alexandra Kusiaki,
Guy Mclintock, Kathy Chang, Nicole La Housse de La Louviere, Martina Caniglia, Avery
Titchkowsky, Derrick Travis, Mahbob Biazi, Neda Barbazi, Josimar Dominguez, Dave Harlander,
Alecsandra Skibicki, Mark Francis, Poyan Tauabod, Heba Mileki (BCU) e dos alunos Andreza
Francisco, Camila de Almeida, Camila Cardoso, Clara Bucley, Daniela Manfredi, Diego
Curcio Dias, Flavia Moraes, Gilmara Conti, Helena Mello, Jeferson Costa, Juliana Meireles,
Jessica Rocha, Laís Salviano Valente, Liza Ferreira de Souza, Lucas Costa, Rafael de Souza,
Pedro Pinela, Thiago Silva Berto e Victor Hugo Clemente (EAU).
Ainda durante as etapas de desenvolvimento dos planos gerais de intervenção urbanística, alunos e
professores – brasileiros e canadenses – puderam trocar experiências, discutir particularidades da
localidade de projeto, apresentar soluções com enfoques diferenciados.
A realização da Oficina Integrada de Projetos pretende ser a primeira etapa de uma série de atividades
regulares de intercâmbio entre a Universidade Federal Fluminense (UFF) e a British Columbia University,
sendo prevista a implementação de uma nova oficina, em 2012.
Interação das equipes Brasil e Canadá
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ANUNCIO SYNERGIA
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Os antecedentes do saneamento da cidade do
Rio de Janeiro foram marcados por uma situação
que foi se agravando e culminou em um estado
considerado gravíssimo por todos os entendidos.
Ocorriam várias epidemias de, por exemplo:
varíola, tifo, além da febre amarela trazida do
exterior para o Brasil, causando verdadeiros surtos,
e acabando com muitas vidas (SILVA, 2002). No
Rio de Janeiro, cidade portuária importante para
a economia agroexportadora, núcleo da gestão
administrativa, porta de entrada do Império e
centro do país, era necessário que as primeiras
intervenções ocorressem e o ponto de partida
foi a epidemia da febre amarela que ocorreu de
1849 até 1851 (MARQUES, 1995).
Com todas essas epidemias, houve o inicio das
intervenções no saneamento básico da cidade. Antes,
conforme se observa na figura 01, o esgotamento
era efetuado através dos “tigres”, escravos, que à
noite, carregavam tonéis de excreta das habitações
até o mar, lançando-os em frente ao Largo do Paço
(MARQUES, 1995).
A constituição dos serviços de saneamento básico no Rio de Janeiro se deu com o surgimento das questões
sanitárias quando a cidade era a capital do Império, em meados do século XIX. Até este momento todas as
intervenções realizadas não chegavam a se classificar como uma política de saneamento. Tratava-se de ações
que alcançavam apenas áreas localizadas em obras pontuais e descontínuas. Não havia nesta época instituições
e organizações do Estado no que diz respeito a questões urbanas e de infraestrutura (SILVA, 2002).
SANEAMENTO: passos da história do Rio de Janeiro
Em função do surto epidêmico ocorrido em 1849, foi
criada a Junta Central da Higiene Pública em 1851.
Ela seria responsável pela organização e exercício
da política sanitária em terra, monitorando todos os
espaços potencialmente perigosos da cidade.
Nos relatórios da Junta era citado o estado de
insalubridade em que se encontrava a cidade, sendo
as causas, listada a seguir (SILVA, 2002):
Professores ANA L. T. SEROA DA MOTTA, MARGARETH A. DE AZEREDO,
MARCO LEAO GELMAN | UFF – PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
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Artigo faz descrição sobre as primeiras intervenções e evolução da política pública de saneamento na cidade, no período 1863/2007. Rio de Janeiro foi a terceira cidade do mundo a ser dotada de esgostos sanitários, depois de Londres e Hamburgo
Figura 01 - Saneamento executado por “tigres”
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• Despejos dos resíduos, unidos aos esgotos, despejos
orgânicos e a umidade;
• Os rios que trajetam pela cidade carregados de
imundícies;
• O matadouro; o lixo das ruas e das praias;
• Os cemitérios;
• As fábricas e estabelecimentos industriais e
• A umidade nociva pela falta de escoamento para
as águas pluviais e do esgotamento sanitário.
Neste contexto, o município do Rio de Janeiro foi se
expandindo com destaque para suas condições anti-
higiênicas, a inexistência de um planejamento, ruas
construídas com graves erros de saneamento básico.
Os terrenos planos estavam localizados em sua
maioria abaixo do nível da maré. A cidade teve a sua
expansão entre lagoas e pântanos e eram comuns os
alagamentos causados pelas fortes chuvas que não
eram escoadas adequadamente.
Diante deste quadro, o Imperador D. Pedro II cria a
Lei 884 de 01.10.1856, autorizando o governo a
contratar uma empresa de serviço de limpeza e esgoto
para a cidade do Rio de Janeiro. Em 25 de abril de
1857, foi assinado um contrato com os empresários
João Frederico Russel, Joaquim Pereira Vianna de
Lima Junior e o inglês Edward Gotto. Trata-se de um
marco decisivo para o saneamento da cidade. Mais
tarde este contrato foi transferido para a empresa
inglesa Companhia City (CITY, 1940).
O Rio de Janeiro foi a terceira cidade do mundo a
ser dotada de rede de esgotos sanitários, precedida
por Londres (1815) e Hamburgo (1842). Somente
Londres, como capital se antecipou ao Rio de Janeiro,
na construção de suas redes de esgotos. (CEDAE).
O sistema de esgotamento da City era o misto ou
separador parcial, no qual a rede de esgotos dos
prédios recebia os despejos sanitários e as águas
pluviais dos pátios internos e telhados. Ocorria em
dias de chuva, em face do grande volume das águas
coletadas transbordamentos e alagando das ruas,
o que trazia transtornos à cidade. Até 1887, a City
tinha construído as seguintes Estações de Tratamento:
Arsenal, Gamboa, Glória, São Cristóvão, Botafogo e
Alegria. A figura 02 mostra o prédio onde foi instalada
a Casa de Máquinas e a ETE Alegria, construído em
1884 (SILVA, 2002, VI, p.128).
As condições sanitárias do Rio de Janeiro continuavam
a ser preocupantes e as críticas aos serviços da City
não cessavam. As deficiências encontradas exigiram
a formação de comissões com a finalidade de formar
relatórios e detectar os problemas e as fragilidades
do sistema adotado. A qualidade dos serviços
apresentados deixava a desejar e não estavam
acompanhando o ritmo com que a cidade crescia,
causando grande insatisfação, sendo taxados de
serviços caros e ineficientes. O tratamento dos
afluentes era precário. Para agravar a ineficiência
da City, a descarga das lamas deixou de ser feita
com frequência. Era comum que as lamas ficassem
Figura 02: Prédio da Casa de Máquinas e da ETE da Alegria, construído em 1884. Fonte: Silva (2002).
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Figura 03- As primeiras redes de esgotamento sanitário no município do Rio de Janeiro (1857 a 1935).
sofrendo fermentação e putrefação. Isto aumentava o teor da matéria orgânica em suspensão no esgoto
efluente em vez de reduzi-lo, sendo este material jogado diretamente no mar (SILVA, 2002, pg. 130 VI).
Foi criada em 1924, a Inspetoria de Água e Esgoto ficando com o encargo de executar, por administração
direta, o esgotamento de Ipanema, Urca, Lagoa Rodrigo de Freitas, Leblon e Penha. Já os serviços que
abrangiam o trecho do coletor predial, entre o limite da propriedade e o coletor público de esgotos seriam à
custa do proprietário. (SILVA, 2002, p 255. VI).
No decorrer da atuação da City como responsável pelo saneamento no município do Rio de Janeiro, os
critérios utilizados pela empresa inglesa eram considerados precários e com isto foi gerando um aumento no
grau de insatisfação. Seus serviços eram deficientes e não atendiam à nova realidade da cidade e por este
motivo as negociações foram encerradas em 1934. Na figura 03 demonstra-se a localização das primeiras
redes de esgotamento sanitário.
Em 1937, a Inspetoria de Água e Esgoto (IAE) através da Lei nº. 378 foi substituída pelo Serviço de Águas e
Esgoto do Distrito Federal (SAEDF). Ele deu andamento nas obras não concluídas pela Inspetoria realizando
os serviços da rede de esgotos da Penha e Olaria; a Estação de Tratamento da Penha; os projetos das redes
de esgotos da área marginal da Lagoa Rodrigo de Freitas; a Estação de Tratamento da Urca; as instalações
domiciliares dos subúrbios da Leopoldina e zonas suburbanas (SILVA, 2002).
A City continuou a explorar os serviços já
contratados até o ano de 1947, quando
terminou seu contrato. Neste momento ocorreu
a transferência dos serviços para a Prefeitura
do Distrito Federal. Ficando responsáveis pelos
serviços seu Departamento de Águas e Esgotos
(DAE), da Secretaria Geral de Viação e Obras.
A DAE tinha o privilégio de elaborar projetos
das instalações prediais dos prédios, cabendo
aos instaladores a execução dos projetos
aprovados. A partir dos anos 50 se deu um
movimento urbano acelerado. Foi necessário
criar um departamento que se encarregasse
de gerir tanto a parte urbana, quanto aquela
relacionada ao esgoto, uma vez que ambas
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do IO - trecho Botafogo-Arpoador; Alargamento
da Praia de Copacabana;Trecho do IO - Avenida
Atlântica; IO - Avenida Princesa Izabel; Elevatória
Bombas Parafuso; Elevatória André de Azevedo;
Reforma e ampliação da Elevatória de Botafogo; ETE
da Penha-Ampliação; ETE da Ilha do Governador;
Cidade Universitária – Rede de esgotos e elevatória;
Rede de esgotos e elevatória da Ilha do Fundão;Rede
de esgotos de Pedra de Guaratiba; Elevatória de
Manguinhos; Elevatória de Timbó; IO - Zona Sul-
Construção no Morro de Cantagalo; ETE da Cidade
de Deus; Equipamentos Especiais para limpeza de
rede de esgotos; Canalização do Rio Berquó e obras
complementares e Obras de emergência devido aos
temporais de 1961.
A Lei 2.097 de 16.09.1972 autorizou o Poder
Executivo a criar uma empresa pública, destinada a
exercer as atividades que cabiam ao Estado, ligadas
aos problemas dos esgotos. Desta forma foi criada
a ESAG - Empresa de Saneamento da Guanabara.
Esta empresa teve como atribuição executar serviços
relativos à coleta, transporte, tratamento e disposição
final dos esgotos.
Em agosto de 1973, a ESAG deu início a construção
do Emissário Submarino de Ipanema. O projeto
previa o lançamento de 6m3/s de esgotos no Oceano
Atlântico. Isto foi feito através de uma tubulação
de 2,40m de diâmetro, 4.325m de comprimento
e 28m de profundidade, lançando os dejetos nas
proximidades das Ilhas Cagarras. Previa-se nesta
época que o volume poderia chegar em 2000 a
12m3/s (CEDAE).
estavam intrinsecamente ligadas. Desta forma em
1957 foi criada a Sursan - Superintendência de
Urbanização e Saneamento. Ela foi constituída
pelo Departamento de Esgotos Sanitários (DES) e
Departamento de Urbanização (DU) tendo atribuições
ligadas ao DES.
Até 1960, a rede de esgotos sanitários do antigo
Estado da Guanabara era de 1.142 km. O DES/
SURSAN, em 1961, construiu 39 km, elevando o total
para 1.181 km. Em 1965, o DES passou a chamar-
se Departamento de Saneamento, com a mesma
sigla DES. A partir deste ano, este Departamento
deu continuidade ao plano de Obras Prioritárias
do Estado da Guanabara, realizando as seguintes
construções (SILVA, 2002, p.97. VII): Construção
Figura 04- Parte da construção do Interceptor Oceânico na Av. Atlântica. Álbum de construção do IO, Departamento de Saneamento/SURSAN, 1971(SILVA, 2002, VI).
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Já em 1974, por força da Lei de nº. 20, houve a
junção dos estados e territórios. Neste momento ficou
estabelecido que os estados da Guanabara e do Rio
de Janeiro passariam a constituir o estado do Rio de
Janeiro. Houve em 1975 a fusão da ESAG, SEDAG e
SANERJ. Com esta união, foi criada em 1º de agosto
de 1975 a Companhia Estadual de Águas e Esgotos
– CEDAE, que absorveu a companhia Estadual de
Águas da Guanabara – CEDAG, a Empresa de
Saneamento da Guanabara – ESAG e a Companhia
de Saneamento do Rio de Janeiro – SANERJ. Com
a criação da CEDAE, os setores de água e esgotos,
que ao longo de sua história estiveram a maior parte
do tempo separados, ficaram juntos para facilitar
os objetivos do Plano Nacional de Saneamento
(PLANASA).
Através deste plano o governo federal, o estado e
os municípios reuniam recursos financeiros para
solucionar seus problemas de saneamento básico
(CEDAE). O município do Rio de Janeiro deixou de
ser gestor das políticas de saneamento, cabendo este
papel ao Estado até 2007. Neste momento, através
de um convênio entre o estado e o município, foi
passada para a Prefeitura, através da Rio Águas, a
gestão da AP5, região que envolve 21 bairros da
Zona Oeste da cidade.
Desta forma, o município atualmente tem a sua
gestão no setor de saneamento básico realizado por
duas empresas que, além de serem responsáveis pelas
aprovações de projetos e licenciamento das unidades
a serem implantadas pela expansão urbana, são
responsáveis pela implantação de novas redes e pelo
sistema de tratamento e destinação final dos rejeitos.
Hoje a Cedae e a Rio Águas seguem cada uma com
a sua maneira de administrar, adotando técnicas e
formas diferenciadas que estão diretamente ligadas
a todas as intervenções e ações que fazem parte da
administração do saneamento básico do município
do Rio de Janeiro.
Referências Bibliográficas:
CEDAE, A história do tratamento de esgoto no Rio de Janeiro disponível em www.cedae.com.br, acessado em. 18/10/2009.
CEDAE, O Emissário Submarino de Ipanema. Álbum (da Construção da Obra, Rio de Janeiro - Arquivo do Engenheiro Luiz de
Souza Botafogo)
apud SILVA, José Ribeiro da. Os Esgotos do Rio de Janeiro. VI. 2002.
CITY. Noticia sobre os esgotos da cidade do Rio de Janeiro, Correio da Manhã, 15.11.1940 apud SILVA, José Ribeiro da. Os
Esgotos do Rio de Janeiro. VI. 2002.
MARQUES, Eduardo César. Da higiene à construção da cidade: O Estado e o saneamento no Rio de Janeiro, 1995.
SILVA, José Ribeiro da. Os Esgotos do Rio de Janeiro. VI. 2002.
SILVA, José Ribeiro da,.Os Esgotos do Rio de Janeiro. VII. 2002.
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Solução SUSTENTÁVEL no meio do caminho...TFG | Escola de Arquitetura e Urbanismo - UFF | Aluna BEATRIZ TURL S. R. DE ALMEIDA
PELAS CICLOVIAS... NITERÓI REFAZ SEU CAMINHO
Este trabalho é resultado da tradução de uma questão observada pela autora antes de ingressar na
universidade: a insegurança para os ciclistas em Niterói. A partir do aprendizado ao longo do curso, a
visão da autora quanto à questão das bicicletas em Niterói foi ganhando razões, e através do conhecimento
obtido pode perceber o que faltava, e como poderia ser solucionado.
A cidade que continua a crescer não encontra solução para o trânsito e muito menos para as bicicletas, pois
não existe espaço nas vias nem equipamentos adequados.
Sendo assim, no trabalho é mostrado as possibilidades de movimentação no município, visando a melhoria
das condições de trânsito com inserção de um sistema cicloviário, em consonância com os conceitos de
sustentabilidade.
Este trabalho acadêmico é um esforço em solucionar uma questão atual com perspectiva de oferecer
segurança aos ciclistas e alcançar mais pessoas a usarem a bicicleta como meio de transporte.
“[...] o conhecimento nunca é um reflexo ou espelho da realidade.
O conhecimento é sempre uma tradução, seguida de uma reconstrução. Mesmo
no fenômeno da percepção, através do qual os olhos recebem estímulos luminosos
que são transformados, decodificados, transportados a um outro código, que transita
pelo nervo ótico, atravessa várias partes do cérebro para, enfim, transformar aquela
informação primeira em percepção.”
Edgard Morin – Os sete saberes necessários para a educação do futuro.
(Egdar Morin é antropólogo, sociólogo e filósofo francês)
Econômico, saudável e sem gerar emissões de gases na atmosfera, o uso da bicicleta para mobilidade urbana não tem contraindicação. Projeto Final de Graduação sobre Mobilidade Urbana Sustentável apresenta Proposta de Sistema Cicloviário para Niterói
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Na “pedalada” certa “O trabalho Proposta de Sistema Cicloviário apresentado com muito empenho e competência
por Beatriz Turl constitui um tema de grande atualidade. Também é relevante exemplo de
excelente contribuição acadêmica e profissional do campo da Arquitetura e Urbanismo para
as questões do planejamento de nossas cidades. Tendo em vista os antigos e conhecidos
problemas de mobilidade urbana no Brasil e no mundo, propõe soluções para novos
desafios a serem superados visando a melhoria da qualidade da vida urbana. Para tanto,
a abordagem do projeto tem como concepção básica os princípios da sustentabilidade
socioambiental urbana, ampliando os limites de uma visão restrita e convencional, e cujo
foco principal se fundamenta em criteriosa metodologia científica, ampla pesquisa de campo
e adequado diagnóstico. Assim, o trabalho enfatiza a importância do sistema cicloviário
no contexto da mobilidade urbana, apresentando propostas de qualidade técnica e com
parâmetros humanísticos para a cidade de Niterói, que poderá refazer seus caminhos diante
de um crescente processo de expansão da malha urbana.”
Orientador Professor Jorge Crichyno | Arquiteto e Urbanista
JUSTIFICATIVAA mobilidade urbana em Niterói tem sido um grande problema para todos. A população
que sofre em congestionamentos diários.
Para resolver a questão da mobilidade urbana, é preciso identificar os pontos críticos de
circulação, origens e destinos dos moradores. Além disso, oferecer alternativas eficazes
para a redução dos congestionamentos.
“O automóvel contribui para um desperdício do espaço urbano, consome imensos
recursos e constitui um peso para o ambiente.” - Comissão Européia, Cidades para
bicicleta, Cidades de futuro.
A citação acima, assim como o gráfico comparativo do espaço ocupado em via pública,
mostra que o automóvel é o maior responsável pelos congestionamentos.
“Os transportes públicos não constituem a única alternativa ao automóvel.” - Comissão
Européia, Cidades para bicicleta, Cidades de futuro.
OBJETIVOPropor o sistema cicloviário como solução sustentável e integrá-lo aos outros modais.
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BENEFÍCIOS DA BICICLETAEconômica: baixo custo de aquisição e manutenção | Eficiência energética: a bicicleta requer um
consumo muito pequeno de energia | Contribuição à saúde: o “motor” da bicicleta é o próprio corpo;
estudos mostram que pessoas fisicamente ativas tendem a apresentar menos doenças | Social: a
bicicleta é o veículo individual que mais atende ao princípio da igualdade, acessível a quase todas as
camadas econômicas, de idade e condições físicas | Rapidez: estudos comprovam que para distâncias
de até 5km em áreas mais adensadas da cidade a bicicleta é o transporte mais rápido |
| Menor necessidade de espaço público.
Gráfico modo de transporte x tempo de viagem
Fonte: Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana - Caderno de referência para elaboração de:Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades
Comparação dos diversos meios de transporte do ponto de vista ecológico em
relação ao automóvel particular para uma deslocação equivalente em pessoas/
quilómetro Base = 100 (automóvel particular sem catalisador)
Fonte: Relatório UPI, Heidelberg, 1989, citado pelo Ministério alemão dos transportes.
Gráfico comparativo de consumo deespaço ocupado em via pública por 150 pessoas:
Fonte: Empresa Municipal de Transportes de Madrid (Espanha)
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Gráfico comparativo de Consumo:
“Designaremos por sustentabilidade, pois, a categoria através da qual, a partir da última década do
século XX, as sociedades têm problematizado as condições materiais da reprodução social, discutindo
os princípios éticos e políticos que regulam o acesso e a distribuição dos recursos ambientais – ou
num sentido mais amplo, os princípios que legitimam a reprodutibilidade das práticas espaciais.”
Mobilidade Urbana Sustentável“Mobilidade Urbana Sustentável: é o resultado de um conjunto de políticas de transporte e circulação que
visam proporcionar o acesso amplo e democrático ao espaço urbano, através da priorização dos modos de
transporte coletivo e não motorizados, de forma efetiva, socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável.”
Secretaria Nacional de Transporte e Mobilidade Urbana - Programa Brasileiro de Acessibilidade Urbana.
Desta forma, o uso da bicicleta colabora com o desenvolvimento urbano sustentável da cidade, pelos benefícios
que a mesma oferece, e está de acordo com os cinco pilares sustentáveis: Ambiental, Social, Tecnológico,
Cultural e Econômico.
CONCEITOS
SustentabilidadeOficialmente, o conceito de sustentabilidade foi usado pela primeira vez em 1979 na Assembleia Geral das
Nações Unidas. Após muitas reuniões, em 1987, foi publicado o documento Nosso Futuro Comum, que
contém a definição mais clássica: “sustentável é o desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes,
sem comprometer a capacidade das gerações futuras de suprir suas próprias necessidades”.
Hoje em dia, o termo sustentabilidade tem sido muito utilizado, mas é preciso ter cautela quanto à polissemia
deste termo.
Henri Acselrad, professor do Instituto de Pesquisa e Planejamento Urbano e Regional – IPPUR/UFRJ e
pesquisador do CNPq, afirma:
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Importância da Mobilidade UrbanaCada cidade se forma através de um sistema espacial complexo, no qual há uma montagem de áreas funcionais,
entre estes espaços há um outro espaço mediando as ações entre os mesmos, dedicado à circulação.
A malha viária deve acompanhar o fluxo do trânsito e os tipos de transporte utilizado na cidade.
Para uma cidade estar bem planejada é preciso que a mobilidade urbana seja uma prioridade, considerando
todos os modais que são usados pela população, para assim propor espaços específicos para cada um destes
na malha viária. A mobilidade urbana pode promover uma melhor interação entre os espaços da cidade.
Mapa ConceitoA área projeto é delimitada de acordo com as entrevistas, sendo assim os bairros próximos ao
Centro, a maioria dos entrevistados responderam que moram nesta área. Na área projeto estão
as principais ligações com o município do Rio de Janeiro , sendo a ponte Rio-Niterói e a Estação
das Barcas.
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Bogotá é considerada a melhor cidade para andar de bicicleta na América LatinaSituação antes e depois da mudança estrutural em via urbana, com a retirada de espaços de
estacionamento de automóveis para ampliação dos espaços de pedestres e de ciclistas, Bogotá –
Colômbia, 2003.
antes depois
Amsterdam – Países BaixosFamosa pelo mundo inteiro por suas bicicletas,
Amsterdan é considerada por muitos ciclistas a
melhor cidade do mundo para andar de bicicleta.
A infraestrutura de ciclovias e bicicletários deixam
os ciclistas seguros para usar como meio de
transporte, e se tornou uma referência.
Amsterdan possui 400km de ciclovias e 40% de
todas as deslocações sãos feitas em bicicleta. Outras
cidades onde a bicicleta é muito utilizada como
meio de transporte: Copenhagen (Dinamarca),
Pequim (China), Paris (França).
Bicicletário em frente a Central de Trem de Amsterdan, estimativa de 20.000 bicicletas estacionadas. Fonte: http://www.streetsblog.org/2006/
Referências internacionais
Fonte: Secretaria Nacional de Transporte e da Mobilidade Urbana - Caderno de referência para elaboração de: Plano de Mobilidade por Bicicleta nas Cidades
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Caracterização da cidade: ocupação e mobilidade
Mapa de Niterói sobreposto de áreas verdes, malha viária e limites dos bairros
O mapa de topografia junto aos demais mostra que em alguns pontos o relevo acentuado não permite a
expansão dos bairros e restringe sua comunicação com os demais.
Outras cidades que dela dependem para o desenvolvimento, como São Gonçalo.
A Ponte Rio-Niterói é um acesso amplamente utilizado, permite a integração de Niterói e demais municípios
vizinhos ao estado do Rio de Janeiro.
A Universidade Federal Fluminense movimenta a cidade e atrai estudantes de todas as partes do estado e até
de outros lugares, também atua como grande empregadora. Pode ser, portanto, uma grande propulsora do
desenvolvimento da cidade uma vez que oferece serviços à população.
O centro de Niterói possui caráter transitório. Icaraí já é um centro da região Praias da Baía. Além da grande
densidade populacional, também concentra muitos serviços como escolas, clínicas, comércio e escritórios.
Os bairros em torno de Icaraí têm caráter residencial, e são muito semelhantes a este, inclusive pelo
traçado.
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EntrevistasFoi formulado um questionário
a fim de traçar o perfil dos
moradores que usam a bicicleta
ou que gostariam de usar, e
saber quais são suas percepções.
Ao todo 77 pessoas responderam
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio AmbienteMEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Após as pesquisas realizadas, concluiu-se que deve
ser implantada ciclovia em Niterói, pois há demanda,
e esta precisa ser estimulada. A área projeto localiza-
se na proximidade do Centro, sendo contemplados
os bairros Santa Rosa, Icaraí, Ingá, São Domingos,
Gragoatá, Pé Pequeno, Ponta D’Areia, Fátima, Vital
Brasil, além das áreas comerciais que também devem
ser alcançadas pelo sistema e ganharão bicicletários
nestes locais.
As escolas de ensino médio, inclusive a UFF, devem
ser ponto chave no sistema cicloviário, oferecendo aos
estudantes e professores um caminho seguro. Muitas
dessas escolas já possuem seu próprio bicicletário no
interior das mesmas.
Para integrar o sistema cicloviário aos outros modais,
haverão bicicletários nos pontos de ônibus de maior
fluxo de passageiros e no terminal rodoviário.Para
longas distâncias, terá a opção de combinação
de modais. O sistema também estará integrado
à Estação das Barcas, para facilitar ao ciclista o
deslocamento até o Rio, carregando sua bicicleta na
barca ou deixando-a no bicicletário.
As vias coletoras serão contempladas com o circuito
secundário, integrada ao circuito principal, levando
as ciclovias até as residências dos ciclistas. Ainda que
a área projeto esteja localizada nas proximidades do
Centro, as demais áreas serão integradas a partir de
eixos que se iniciam na área projeto.
Mapa de condicionantesO mapa de condicionantes a seguir mostra os eixos principais da cidade, sendo os intermunicipais e os
municipais. Também destaca os campi da UFF, e seleciona uma área projeto.
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Diretrizes para projeto
Proposta para ciclovia na Miguel de Frias com a Praia de Icaraí
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Proposta para ciclovia na Miguel de Frias com a Praia de Icaraí
Proposta para ciclovia na Avenida Roberto Silveira
Proposta para ciclovia no Largo do Marrão
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Proposta para ciclovia em frente às Barcas
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Comunicação e Espaço Urbano: A CIDADE, a CULTURA e o LIXO
Desde quando nós, humanos, existimos interferimos no ambiente. Criamos e desenvolvemos meios para a
nossa sobrevivência, e com isso, além de modificarmos a paisagem que nos cerca, construindo e edificando,
também produzimos o que daqui a algum tempo, aparentemente já não mais nos servirá: o lixo. Isso, devido
também, às constantes mudanças que ocorreram no ‘pensamento’ humano, da organização das ideias e
das culturas. Exemplificando: se na Grécia antiga haviam ideais que os levavam a edificar os seus ‘prédios’
e monumentos de uma determinada forma, tanto o pensamento romano quanto o medieval destoaram
completamente, fazendo surgir construções ligadas mais às necessidades, do que pura e simplesmente à
filosofia e às crenças. Estabelecendo então um tipo diferente de relação entre o ser humano e a natureza.
Pensar na relação entre o desenvolvimento das civilizações, das culturas e das cidades normalmente não nos
remete ao tema lixo, mas sim a muitos outros temas que são de certa forma atrativos como, por exemplo:
o desenvolvimento arquitetônico, artístico, cultural, político, religioso, econômico etc. Porém, o lixo sempre
esteve lá. Se antes, nas primeiras civilizações, comumente em forma de matéria orgânica em decomposição e
dejetos oriundos das moradias e espalhados pelas vias públicas; atualmente, além de ainda apresentar-se sob
essa mesma forma em diversos lugares onde o ‘governo’ não faz a diferença, como: favelas e comunidades
carentes. O lixo surge e se multiplica como resultado também de uma tecnologia apressada, que o produz na
mesma medida em que ‘lança’ novos produtos no mercado.
HELENSANDRA LOUREDO DA COSTA | Bióloga Mestre em Ciências Ambientais | UFF
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Artigo analisa a questão do desenvolvimento e o lixo na contemporaneidade. “O lixo surge e se multiplica como resultado também de uma tecnologia apressada, que o produz na mesma medida em que se lança novos produtos no mercado”
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É praticamente impossível viver na atualidade e manter os olhos fechados para a enorme proporção de lixo
que existe ao nosso redor. Antes, um problema predominantemente característico das grandes cidades, mas
que, com o passar do tempo, como tantos outros eventos da modernidade, atingiu o status de ‘problema
global’, acumulando-se em todos os cantos do mundo onde haja indícios de consumo. Pode-se dizer que está
ocorrendo o surgimento de uma nova cultura, que modifica ou altera quase todas as outras, que homogeneiza:
a cultura do lixo. O que quebra hoje já não é mais enviado para o conserto, mas sim, na medida do possível,
é imediatamente substituído, e o seu destino não é preciso nem mencionar.
Porém, são diversos os fatores intrincados na relação entre a humanidade e a produção do lixo, não se
podendo identificar uma única causa, como por exemplo: o efeito da ação do capitalismo na sociedade. O
que não é uma verdade absoluta, já que o regime capitalista acelera a sua produção, mas não é a sua única
fonte, sendo a sua existência independente de regime econômico. Afinal, se assim fosse, os sambaquis não
existiriam, ou então em Cuba não existiria lixo...
Um outro fator referente ao lixo, e muito relevante, diz respeito às propagandas e modismos ambientalistas,
característicos dos séculos XX e XXI, nas quais se prega com a maior naturalidade a possibilidade de existir um
mundo sem lixo, ou ainda, que exista uma fórmula efetiva contra o fenômeno do crescimento da produção
de lixo nas cidades (alternativas: reciclagem, compostagem, lixões, aterros sanitários etc.). Longe de querer
parecer pessimista, mas sobre a relação entre a humanidade e o lixo, são óbvias as palavras de Eigenheer
(2003 p. 29 p.) que dizem: onde está um, está também o outro. De modo a existirem remediações, mas não
uma solução imediata para todo o lixo que é produzido nas cidades.
Existem necessidades básicas como alimentação, vestuário e moradia, que, por mais básicas que sejam,
são também grandes geradoras de resíduos, e ainda que esses sejam reaproveitados, reduzidos e reciclados
sempre existirão. Há sim a possibilidade de inovar e desenvolver e construir ‘coisas ambientalmente corretas’,
e que ainda beneficiem o mercado, porém, a cultura que se instaurou em nível global nem sempre consegue
alcançar esses passos, isso devido a uma série de fatores dentre os quais estão: insuficiência na fiscalização das
indústrias, diminuição de lucros a curto prazo, a necessidade de crescimento econômico das grandes potências
mundiais e desprezo pelas necessidades do ‘planeta’ (e principalmente dos seres vivos), e por ai vai...
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Fato é que, agora já não há muito tempo para mudar essa realidade já estruturada e baseada na desestrutura.
O crescimento populacional desordenado, e a falta de uma cultura voltada para o consumo consciente,
aliados à aceleração econômica (importação/exportação) produzida pelo mercado mundial, tornam todo
esse processo inalcançável, ou seja: produção, consumo e lixo... E num piscar de olhos deixa-se de construir
ou preservar o que mais interessa, algo que ‘fique’, algo ‘durável’ e que futuramente faça algum sentido real
para as culturas já tão afetadas.
O lixo dos tempos atuais, diferente do de tempos atrás, deixa de ser apenas o que fede e ‘enfeia’ as cidades,
e passa a ser visto de modo diferente, dependendo do ponto de vista, e do grau de interesse, ou seja: se para
uns ‘aquilo’ saiu de moda e não serve mais; “ não vale a pena ser consertado”; ou quando: “o mais moderno
é melhor, pode jogar esse no lixo”... Para outros servirá como fonte de sustento. Se para as autoridades um
lixão é a solução, pois se economiza muito (ao contrário dos métodos mais adequados – aterro sanitário),
para a população vizinha será um gerador da alteração da paisagem natural, além de ser fonte potencial de
doenças e poluição. E ainda se para outros o lixão cheira mal e atrai ratos, moscas e urubus... Haverá ainda
os que buscam ali o seu alimento todos os dias...
O lixo passou a ser um negócio lucrativo, e disputado, não apenas pelos inúmeros catadores do dia a dia,
mas principalmente pelos altos valores destinados ao seu tratamento, levando políticos e concessionárias a
ambicionar ‘o controle do lixo’, e obviamente os recursos financeiros que vêm junto dele.
Mas o que ninguém quer é o lixo nas suas cidades. Pagam para que joguem o seu lixo nas cidades vizinhas –
veja-se o caso de Duque de Caxias , que recebe todo o lixo da cidade do Rio de Janeiro e de outras cidades
(cerca de cinco mil toneladas ao dia). E, que desde o ano de 2004, já não possui mais estrutura física para
suportá-lo, podendo inclusive gerar um desastre ambiental de grandes proporções, com o assoreamento de rios e
por consequência desses, a inundação de cidades circunvizinhas, inclusive de algumas que jogam ali o seu lixo.
Nas cidades, atualmente o lixo passou a ser uma espécie de moldura para as construções e pontos turísticos,
mas que, porém, já não é mais tão perceptível, tornando-nos por muitas vezes insensíveis a sua presença
persistente, banalizada.
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A TECNOLOGIA E O LIXO
Atualmente quando se pensa em tecnologia, fácil é ter à ideia de computadores e máquinas de última geração.
Mas a tecnologia na realidade sempre existiu. Ao pé da letra, tecnologia é nada mais que: “um conjunto de
conhecimentos que se aplicam a um determinado ramo de atividade”. De modo que a mesma evolui ao
passo que ocorrem as transformações sociais e culturais nas mais diversas civilizações. Da invenção da roda
a nanotecnologia.
Trazendo a tecnologia para o assunto lixo, pode-se dizer que a mesma empregada na destinação deste
encontra-se em um estado estacionário, ou seja, mesmo tendo havido a evolução de alguns métodos para
a destinação do lixo, os mesmos nem sempre são utilizados. Sendo prevalecentes os métodos primitivos, que
de diversas formas atingem tanto ao ambiente quanto a população, tornando algumas cidades vítimas de seu
sistema de destinação do lixo, esgoto e resíduos de modo geral. Fato esse observável quando confrontamos
registros dirigidos há tempos atrás, e registros atuais. Que narram o estado da poluição em determinadas
cidades, nos remetendo senão a maneira inadequada de ‘despejo’, como no exemplo abaixo, que data do
século XIX, citando o depósito incorreto de esgoto e demais detritos na cidade do Rio de Janeiro, e em praias
tanto do Rio quanto de Recife:
(...) As lojas da Rua do Ouvidor expunham, segundo Joaquim Manoel de Macedo, além da “última moda
parisiense” os perfumes que deveriam torná-la a mais cheirosa da cidade. As essências acondicionadas em
belos frascos não conseguiam, porém eliminar os odores fétidos provenientes dos barris com fezes, que os
escravos levavam destampados, principalmente à noite, para despejar no mar. As praias do Rio de Janeiro
e do Recife eram locais, até primeira metade do Oitocentos, desagradáveis para passear ou tomar banhos
salgados, pois transformavam-se em lugares de despejos desses barris que, na palavra do sociólogo Gilberto
Freyre, estavam transbordando de excremento, lixo e porcaria das casas e das ruas. (MACHADO, Humberto
F. O Império do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1999. p. 295)
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Mais atualmente (séculos XX e XXI) os exemplos são muitos para confrontar ao supracitado, porém, existem
alguns que são ‘clássicos’ do Rio de Janeiro, como a poluição das praias, por exemplo, que atingiu visibilidade
internacional como narra a reportagem abaixo:
(...) Uma grande reportagem publicada neste sábado (28 de abril, 2007) pelo diário britânico The Guardian
relata os problemas de poluição enfrentados pelas praias e canais na Baía de Guanabara, no Rio de Janeiro,
esgoto, algas e lixo mancham praias do Rio, diz jornal britânico. “Ao lado das fétidas margens do canal do
Cunha, no Rio, é difícil acreditar que 30 anos atrás esse era um caminho feito por golfinhos, e que há dois
séculos a família real portuguesa nadava ali, cercada por intocadas faixas de areia”, afirma a reportagem.
O jornal observa, porém, que hoje o que é possível ver por lá são coisas como “uma carcaça de um Fusca
abandonado em meio à lama preta” e que “o ar é permeado com o cheiro ácido de esgoto que flui a partir
do Complexo da Maré, uma grande favela não muito longe do aeroporto internacional”. “O canal é um dos
afluentes da Baía de Guanabara, ponto principal de uma das cidades naturalmente mais belas do mundo”,
afirma o jornal, lembrando que o problema afeta também as praias nas áreas mais ricas da cidade.
Segundo o jornal, os ambientalistas elogiaram o plano do governo do Rio, mas advertem que “200 anos
de poluição não podem ser revertidos em quatro anos de governo”. (Disponível em: http://www.bbc.co. uk/
portuguese/reporterbbc/story/2007/04/070428_riopraiasguardianrw.shtml. Acesso em: 09/07/2008).
Comparando as duas citações anteriores, torna-se inevitável refletir sobre as tantas transformações que a
cidade do Rio de Janeiro sofreu ao longo desses séculos (pavimentação, edificação, diminuição da área verde
etc.) e, além disso, o quanto a tecnologia em termos de descarte e despejo de lixo e esgoto evoluiu. Agora há
(quase sempre) tanto sistemas de esgoto quanto de água encanados nas residências, e por tanto, meios que
permitem uma melhor higiene e bem estar tanto em nível pessoal quanto na cidade. A questão é: tanto o lixo,
quanto o esgoto continuam sendo lançados nos mesmos lugares que antes, mudaram apenas as formas de
destinação. Já não são mais os escravos que se encarregam desse trabalho ‘sujo’... Agora temos os garis e os
catadores para o lixo, e os dutos que desembocam nas praias e mares para o esgoto.
A inevitável conclusão a que se pode chegar é sim chocante, mas como disse: inevitável. O lixo sempre
estará presente, e em todos os lugares, principalmente onde haja maiores aglomerações de pessoas, como as
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grandes cidades. A tendência natural é a de que cada dia mais sejam produzidas novas toneladas de lixo em
nível global – isso devido ao desenvolvimento relâmpago de alguns países, que antes eram ditos de terceiro
mundo, e que agora estão dispostos a produzir, e por tanto, consumir tanto quanto as grandes potências
(crescimento zero... Nem pensar...).
A forma pela qual o lixo é destinado já movimenta uma enorme quantia em dinheiro – pelo menos no Brasil.
Por qual motivo então haveria interesse político em modificar esse panorama? A não ser para parecerem
(fachada...) ecologicamente corretos e assim arrecadarem mais votos? De modo que, a situação em que
grandes e belas cidades do mundo – não apenas o Rio de Janeiro - se encontram não irá se alterar a
menos que haja uma medida tecnológica e inovadora em termos de destinação de lixo, e além disso, que
haja também o interesse em se aplicar esse novo método pensando-se não apenas nos altos custos que
provavelmente tornarão essa saída inviável, mas principalmente em se conservar as cidades limpas e em
condições de futuramente serem lembradas como parte da nossa memória, mas com a consciência limpa.
REFERÊNCIAS1. DA COSTA, Fernando Braga. “Homens Invisíveis: Relatos de uma Humilhação
Social” Rio de Janeiro: Globo. Disponível em: : http://lista s.cev.org.br /pipermail/cevnegro/ 2005-Jánuary.txt. Acesso em 09/07/2008 às
07h36min AM.
2. EIGENHEER, Emílio Maciel. Lixo, Vanitas e Morte Considerações de um observador de resíduos. Niterói: EdUUF, 2003. p. 21
3. ____________ et al. Reciclagem: mito e realidade. Rio de Janeiro: In fólio, 2005.
4. FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Novo Dicionário Aurélio/Dicionário eletrônico. Positivo.
5. O GLOBO. Novo cessar fogo na batalha do lixo. 03/01/2008. Disponível em: http://ademi. webtexto.com.br/a rticle.php3?id _
article=13004. Acesso em 05/07/2008 às 21h30min PM
6. MACHADO, Humberto F. O Império do Brasil. Rio de Janeiro: Nova Fronteira. 1999. p. 2957. THE GUARDIAN. No Rio de Janeiro esgoto, algas e lixo mancham praias. 04/2007 Disponível em: http://www.bbcco.uk/portuguese/
reporterbbc/story/2007/04/070428riopraiasguardianrw.shtml. Acesso em: 09/07/2008.
1 Novo cessar fogo na batalha do lixo. O Globo, Escrito por Dimmi Amora, 03/01/2008.
Disponível em: http://ademi.webtexto.com.br/article.php3?id_article=13004. Acesso em 05/07/2008.
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Honrarias para um grande trabalhoProfessor HEITOR LUIZ MURAT DE MEIRELLES QUINTELLA | UFF - UENF
Com uma obra desenvolvida ao longo de 40
anos, o professor Heitor Luiz Murat de Meirelles
Quintella recebeu, no mês de novembro de 2011,
duas honrarias dignas de um grande trabalho.
Associado da Universidade Federal Fluminense
(UFF) e pesquisador convidado do projeto Análise e
Melhoria de Sistemas de Produção da Engenharia de
Produçao da Universidade Estadual Norte Fluminense
(UENF), ele assumiu cadeia no Instituto Histórico e
Geográfico de Niterói (IHGN) e recebeu o título de
Doutor Honoris Causa em Belas Artes.
O professor tem trabalhos que cobrem diversos
campos de História, entre os quais se destacam
História e Filosofia da Ciência e Tecnologia, História
da Cultura Organizacional Fluminense e História
do Comportamento de Consumo Carioca. Sua
atividade engloba ainda o uso pioneiro de Arte
Digital em Estudos de História, Iconografia e Contos
de sociedades ágrafas brasileiras e das Américas.
No IHGN, Heitor Quintella assumiu cadeira
patronímica do campista Alberto Ribeiro Lamego
Filho. O professor Heitor Quintella sucede ao
acadêmico, executivo de estaleiros e pintor mineiro
Péricles de mello da Rocha Sodré, notabilizado por
suas marinhas da Baía de Guanabara. As solenidades
aconteceram na Fundação Educacional Municipal de
Niterói e da Camara Municipal de Niterói.
Ao longo de sua trajetório de quatro décadas, o
professor contou com o apoio de entidades como a
Pontifícia Universidade Católica (PUC-Rio), University
of Newcastle, UFF, Universidade do Estado do Rio de
Janeiro (UERJ) e UENF e das academias Brasileira
de Letras, Academia de Letras de Brasília, Academia
Itapirense de Letras e da International Academy of
Letters.
Com uma obra desenvolvida ao longo de 40 anos de trabalho, professor e pesquisador assumiu em novembro cadeira no Instituto Histórico e Geográfico de Niterói (IHGN) e recebeu título de Doutor Honoris Causa em Belas Artes
Redação da Revista MEMO
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Ciência em Aço – MUSEU DE CIÊNCIAS de Volta Redonda | Rio de Janeiro
Projeto contemplado com a menção honrosa em concurso promovido pela Universidade Federal
Fluminense (UFF), a pedido do Polo Universitário de Volta Redonda. O museu da ciência de Volta Redonda
foi projetado para ser um monumento para a cidade e seu entorno.
Incentivados com a proposta e o tema do concurso
do Museu de Ciência de Volta Redonda, os
estudantes de arquitetura da Universidade Federal
Fluminense (UFF) Irlan Guimarães, Miguel Viñas,
Pedro Eisenberg, Ramon Chaves, Vinícius Barbosa
e Vítor Rocha, sob a orientação do professor José
Carlos Xavier, apresentaram um projeto de destaque,
contemplado com a menção honrosa.
Promovido pela Escola de Arquitetura da UFF, em
Niterói, a pedido do Polo Universitário de Volta
Redonda, o concurso contou com o apoio da Escola
Alunos IRLAN GUIMARÃES, MIGUEL VIÑAS, PEDRO EISENBERG, RAMON CHAVES,
VINÍCIUS BARBOSA E VÍTOR ROCHA | Escola de Arquitetura da UFF - Rio de Janeiro - RJ
Perspectiva posterior do Museu da Ciência
Luciana Nemer, chefe do departamento do Curso de Arquitetura e Urbanismo, entregando o prêmio de menção honrosa aos alunos
Ramon Miranda, Irlan Guimarães, Pedro Eisenberg, Vinícius Ferreira e Miguel Viñas.
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de Engenharia da UFF e do Instituto Aço Brasil,
que ministrou um curso de projeto em aço para os
participantes com o arquiteto Sidnei Palatnik.
O terreno localiza-se no bairro de Laranjal ao lado
da escola Getúlio Vargas. Assim, com a implantação
do Museu, que também conta com um planetário,
seus alunos terão a possibilidade de adquirir
conhecimento por novos métodos de ensino, a
exemplo do laboratório, onde, fora da sala de
aula, a prática tornará o aprendizado de mais fácil
entendimento e recreativo. Entretanto, não só aos
alunos, o Museu estará de portas abertas a qualquer
um que queira conhecê-lo.
A evolução, esquematizada ao lado, representa esse processo
e ocorre da seguinte forma: uma esfera de metal de 12 m de
diâmetro, colide primeiramente com um anteparo vertical,
também em metal, quando começa a perder velocidade
e choca-se a seguir com um segundo anteparo vertical,
paralelo ao primeiro, e este torna sua velocidade nula,
deixando-a presa no eixo central, com cada semiesfera para
um lado do mesmo.
Perspectiva interior do Museu da Ciência
Evolução da forma >
Partindo de um conceito embasado na ciência e estruturado no aço, o
volume foi sofrendo alterações até atingir a forma final. Foi, então, através
de processos físicos que ele tomou proporções de museu.
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O museu da ciência de Volta Redonda foi projetado para ser um monumento para
a cidade e seu entorno. Desde o princípio houve a preocupação de apresentar uma
forma marcante, integrando espaços e facilitando fluxos. Os elementos presentes na
proposta instigam a curiosidade dos visitantes, o que os leva a refletir sobre conceitos
da ciência e da física. Tal curiosidade é a responsável pelas grandes descobertas que
se traduzem na evolução do homem e da tecnologia: são os questionamentos que
impulsionam a humanidade, e não as soluções.
Perspectiva noturna
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Assim, não precisaríamos desviar rios ou sequer
construir usinas hidrelétricas gigantescas como a
de Belo Monte, cujo custo ambiental é imenso.
Para cada metro quadrado instalado de coletor
solar seria possível evitar a inundação de 56 metros
quadrados de terras férteis na construção de uma
usina hidrelétrica.
Na verdade, o único momento de impacto ambiental
desta energia é na fabricação dos coletores solares
que é facilmente controlável. Ocorre, no entanto, que
se despende mais energia na fabricação dos painéis
solares do que são capazes de gerar.
Assim, com prejuízo das regiões de latitudes médias e
altas como na Noruega, Finlândia, sul da Argentina
e Chile, cujo inverno há pouquíssima ou quase
nenhuma incidência de luz solar, bastaria construir
painéis solares em cada residência para que todos
habitantes terrestres tivessem acesso à energia sem
impactar o meio ambiente. Mas isso, atualmente,
seria utópico.
A energia solar residencial pode ser feita através da
instalação de painéis solares fotovoltaicos para a
geração de energia elétrica e através da instalação de
painéis solares para o aquecimento de água. Nestes
SUSTENTABILIDADE: na luz da ENERGIA SOLARJEAN MARC SASSON | Advogado e Gestor Ambiental
Ela é a melhor. É a energia que considero mais
renovável e mais limpa. Ela é a responsável pela
vida terrestre. Sem ela o Planeta Terra seria como
Marte ou Júpiter, planetas inabitáveis. Sem ela não
há fotossíntese, implicando no aumento do efeito
estufa por impossibilitar o sequestro de carbono da
atmosfera. É a energia cuja fonte, nada mais ou nada
menos, é o centro da Via Láctea.
Esta fonte energética emite no nosso planeta 1400
watts/s, equivalente à 14 lâmpadas de 100 watts
cada. Essa quantidade de energia corresponde à
queima de 2.1020 galões de gasolina por minuto,
mais de 10 milhões de vezes a produção anual de
petróleo do nosso planeta. Se considerássemos o
valor de US$ 3718,00, preço referente a maio de
2011 do galão de gasolina americano, obteríamos
um preço de US$ 7436.1020 por toda essa energia
produzida. Apesar deste preço, cujo dinheiro não
caberia nos cofres do Banco Central Brasileiro, essa
potência é fornecida totalmente de graça pelo Sol.
Não pagaríamos nenhum centavo por ela. Há, na
verdade, praticamente um único investimento, aquele
destinado à construção dos painéis, cujo preço varia
de acordo com sua capacidade. Após a construção,
se gasta minimamente na manutenção destes
equipamentos.
Cidades do mundo inteiro já perceberam a vantagem de se investir em energia solar, especialmente no que se refere a coletores solares para aquecimento de água. Lista inclui Eindhoven, Roma, Oxford, São Paulo e, agora, Rio de Janeiro
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painéis, a energia é produzida através da luz solar
absorvida por células fotovoltaicas onde a corrente
flui entre camadas com cargas opostas.
Contudo, a capacidade deste sistema ainda é muito
baixa, variando de 16% aos 30% em razão do
grande custo da tecnologia e do baixo investimento.
Quanto maior o rendimento, mais cara se torna a
produção de eletricidade, e neste caso inviabilizaria
o investimento em energia solar residencial. Mas nem
tudo está perdido.
Para o aquecimento de águas sanitárias, é totalmente
viável e mais simples. Nesta forma de energia, o
calor gerado pelo sol é aproveitado simplesmente
como energia térmica, ajudando a economizar na
conta de eletricidade. E é nesta segunda opção que
o governo federal está focando seus esforços. Como
a intenção é manter em 2020 o mesmo nível de
emissão de CO2 que em 2005, planejam diminuir o
consumo elétrico em 17% do horário de pico através
do incentivo à instalação de coletores solares para o
aquecimento da água.
A meta estipulada pelo governo é de 15 milhões de
m² de áreas com coletores solares até 2015. Hoje
são apenas 6,24 milhões de m². Pretende-se aliar os
programas de política pública Minha Casa Minha Vida
e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
Já alcançaram a primeira meta de 40 mil unidades
habitacionais com os sistemas de aquecimento solar.
Para a segunda pretendem atingir outras 260 mil.
Para financiar esta medida, o Ministério do Meio
Ambiente firmou contrato com o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a
aplicação de R$ 233.727.463,00 por meio do Fundo
Nacional sobre Mudança do Clima. O BNDES vai
operar linhas de crédito reembolsáveis a governos,
empresas públicas ou privadas para a redução de
emissões de gases-estufa e também de adaptações a
situações provocadas por mudanças climáticas.
A geração de energia renovável está no foco deste
investimento. Há previsão para o desenvolvimento
tecnológico e cadeia produtiva de energia solar para
todo o Brasil, especialmente para as regiões isoladas
do sistema integrado de energia elétrica, como no
Norte, Nordeste e Centro-Oeste.
Este Fundo será fundamental para desenvolver
a política de desenvolvimento de energia solar.
Existem nele dois tipos de financiamentos: os não
reembolsáveis e os reembolsáveis. No primeiro
estimulam-se estudos de potencial de utilização e
incentivo à busca de novos materiais, incluindo a
geração de energia por células fotovoltaicas. Já
no segundo incentivam-se a ampliação do uso de
coletores solares, principalmente para aquecimento
de água.
Cidades do mundo inteiro já perceberam a vantagem
de se investir em energia solar, especialmente no que
se refere a coletores solares para aquecimento de
água. Eindhoven na Holanda, Roma na Itália, Oxford
na Inglaterra, São Paulo e agora o Rio de Janeiro
são algumas cidades do mundo que se obrigaram
legalmente a utilizar energia solar através de políticas
públicas. O estado do Rio de Janeiro aprovou a lei
estadual 5.184 que obriga prédios públicos a utilizar
esta fonte para o aquecimento de 40% da água
consumida. A lei publicada em 2008 afirma ainda
que todo edital de licitação para obras de construção
ou reforma de prédio público deverá alertar sobre
a obrigatoriedade da instalação do sistema de
aquecimento. Edificações que apresentarem alguma
inviabilidade técnica para a adaptação ficarão isentas
do seu cumprimento. Já a lei paulista vai além. Obriga
desde 2007 todas as novas edificações, incluindo
hospitais, escolas, clubes entre outras edificações, a
instalar coletores solares para aquecimento de água.
Devo mencionar ainda a tramitação do Projeto de Lei
1859/2011 que pretende regulamentar a inserção de
sistemas fotovoltaicos na matriz energética brasileira.
Assim, a exemplo de Portugal, implantaria no país
um sistema de medição e venda de energia, que
além da possibilidade de gerar parte da energia que
consome, o consumidor poderá vender o excedente a
concessionária de energia da sua região.
Mas não só a iniciativa pública percebeu as
vantagens. A MPX, empresa energética da holding
EBX – empresa genuinamente brasileira, investiu
cerca de R$ 10 milhões, fora o aporte de R$ 1,2
milhão do Banco Interamericano de Desenvolvimento
(BID), na primeira usina solar do Brasil.
Inaugurada em junho em Fortaleza (CE), poderá ter
sua potência duplicada para 2 MW. Com a potência
já instalada de 1 MW, esta usina tem a condição de
abastecer 1,5 mil famílias da região. Ela ocupa uma
área de 12 mil metros quadrados e conta com 4.680
painéis fotovoltaicos. A empresa pretende aumentar a
capacidade para 5 MW nos próximos anos e projeta
ter em um futuro próximo a capacidade de 50 MW.
Certamente isso é uma tendência. A capacidade
das usinas solares fotovoltaicas no mundo atingiu
um novo recorde em 2009, com 6,43 gigawatt
(GW) instalados, correspondendo a um crescimento
de 6% em relação ao ano anterior. Isso gerou US$
38 bilhões em receitas globais em 2009 e levantou
mais de US$ 13,5 bilhões em aportes de capital, por
investimento ou por empréstimos, 8% a mais do que
o ano anterior.
Segundo projeções da Agência Internacional de
Energia, a tecnologia solar vai gerar 3 mil GW
de energia em 2050, correspondendo a 11%
da eletricidade no mundo, contra 900 MW em
2030. Porém, todos os investimentos são de países
emergentes e desenvolvidos que detêm as maiores
populações mundiais e cujos habitantes brigam por
cada centímetro de terra agricultável e habitável.
Assim, vislumbro na África, principalmente na região
saariana, a principal área para receber investimentos.
Esta região localiza-se no trópico equatorial, incidindo
luz solar o ano inteiro. É uma região infértil, devastada
e com poucas condições de habitação. Nada melhor
do que ser o foco mundial para receber investimentos
bilionários para instalação de coletores solares. Além
de produzir energia limpa, desenvolveria a economia
dos países locais que são hoje um dos mais pobres
do planeta.
Não se tem hoje no mundo fonte tão abundante de
energia, principalmente por se tratar de uma alternativa
renovável e limpa. Não podemos desperdiçar
tamanha oferta, ainda mais com a crescente demanda
energética mundial. Os investimentos devem crescer
ao passo que a tecnologia se torne mais barata. Essa
é a minha esperança.
Que o Sol ilumine o caminho do desenvolvimento
sustentável.
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Sustentabilidade é uma intenção louvável que precisa ser complementada
com a indicação de um setor melhor definido. Já ouvi, muitas vezes: o Brasil
é um exemplo para o mundo, em relação à sua legislação ambiental! Com
certeza! Temos muitas leis que “protegem” a natureza. Mas quando você
verifica a aplicação prática dessas mesmas leis, descobre que ainda estamos
muito longe de uma realidade ideal. Se desejarmos realmente realizar alguma
coisa será preciso que, ao lado dos discursos teóricos, possamos colocar em
prática as orientações preconizadas. E como fazer isso?
A sugestão que oferecemos é a seguinte: sempre que desejarmos iniciar uma
ação sustentável, que ela identifique - de imediato - qual a orientação legal
pertinente, que pode ser oriunda de alguma política nacional já regulamentada.
Por exemplo, para a sustentabilidade hídrica devemos começar conhecendo
a Política Nacional de Recursos Hídricos e outras normas que possam estar
relacionadas a ela; para a sustentabilidade de práticas educativas relacionadas
Afinal: O que é SUSTENTABILIDADE?
Professor ROBERTO ROCHA E SILVA | Estácio de Sá – RJ
Sustentabilidade é uma intenção louvável que precisa ser complementada com a indicação de um setor melhor definido
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
ao ambiente, vamos começar conhecendo a
Política Nacional de Educação Ambiental e outras
normas relacionadas a ela; para a sustentabilidade
climática, devemos começar com a Política Nacional
de Mudanças Climáticas; para a sustentabilidade
ambiental devemos consultar a Política Nacional de
Meio Ambiente; para as questões de saúde, começar
com a Política Nacional de Atenção à Saúde, o
próprio Sistema Único de Saúde – SUS e outros
mais. Muitas questões ambientais foram orientadas
também pelas contribuições de muitos pesquisadores
em conferências internacionais. Você se lembra da
Eco-92?
A partir de orientações nacionais, passamos para
o nível estadual, em busca de Políticas Estaduais
e outros documentos da mesma área de interesse.
Fazer o mesmo procedimento. Na terceira etapa,
vamos examinar o Plano Diretor, já a nível municipal.
Dessa forma teremos todo um embasamento
legal das ações de sustentabilidade divididas por
grandes áreas ou setores mais específicos conforme
os recursos disponíveis, seja de equipamentos,
capacitação ou de pessoal. Muitas vezes temos gente,
mas as pessoas precisam de capacitação. Ou ainda:
temos gente, poder de capacitação, mas não temos
equipamentos. E ainda mais. Temos gente, temos
poder de capacitação, temos os equipamentos,
mas não temos motivação. É um grande desafio na
verdade, juntar todas essas possibilidades.
No entanto, entendo que há um caminho viável. Não
é nenhuma viagem ao Sol. As orientações já estão
previstas na legislação. Depende sim de vontade
política, seja do Poder Público, seja do privado. Se
não existir orçamento para cumprir toda a legislação
vigente, que se atendam as prioritárias em cada
secretaria específica. O importante é que, na grande
maioria dos casos, não precisamos de consultores
internacionais ou nacionais para nos dizer o que
fazer, simplesmente porque é desnecessário. Serão
úteis em questões que não tenhamos conhecimentos
especializados na área ou não exista nenhuma
orientação legal a respeito. Por exemplo, podemos
saber quais são as espécies nativas a serem
plantadas nas margens dos rios de uma mesma bacia
hidrográfica, simplesmente visitando um herbário
(onde existem amostras de exemplares coletados
em diversas áreas), consultando artigos científicos
ou percorrendo áreas próximas com matas ciliares
preservadas. O mesmo ocorre nas reservas legais.
No Brasil existem diversos projetos, manuais e
exemplos de sucesso de conservação de áreas
degradadas. Recuperação é utilizar as espécies
nativas - não necessariamente daquele ecossistema
específico e Restauração é feita com base exclusiva
em espécies nativas, adaptadas e especializadas
para cada ecossistema. Matas ciliares das áreas
de preservação permanentes são constituídas por
espécies nativas adaptadas a esses ecossistemas
com base em milhares de anos de evolução. Nesse
caso a vegetação original não pode ser substituída
por espécies exóticas em suas funções específicas.
Nem mesmo por nativas que não estão adaptadas às
margens de rios, lagos, sob constante alagamento e
com saturação de água no solo.
Concluindo: para orientar a administração pública
ou privada – sustentáveis - podemos contar com
políticas e planos já existentes, e simplesmente,
cumpri-los. O Plano Diretor (como o próprio nome
indica) é quem direciona as ações das prefeituras,
com base ainda nas políticas estaduais, nacionais
e documentos internacionais. Não temos que
inventar demais. Muitas orientações já existem, mas
são negligenciadas. A propósito: você já deu uma
olhada no Plano Diretor do seu município para ver
o que ele diz sobre alguma área que lhe interesse
especificamente?
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ANUNCIO ANGRA
ANUNCIO ANGRA
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Este artigo pretende fomentar reflexões e estudos sobre
conflitos ambientais em geral e particularmente, quanto
ao caso de conflito instaurado entre a comunidade do
Horto Florestal e o Instituto de Pesquisas Jardim Botânico
do Rio de Janeiro (IPJB). Este Instituto almeja a remoção
de 589 antigas famílias do local com a alegação de que
as mesmas estão dentro de um território ambientalmente
protegido.
Segundo o atual presidente do IPJB, a ocupação da região
por trabalhadores do Jardim Botânico foi uma politica de
vários administradores da instituição que inclusive cedeu
terrenos e materiais para várias das casas que hoje estão no
foco do problema. “... Olha, essa questão começou antes
de a gente nascer e talvez continue depois que a gente
morra. Começou com os antigos diretores, na primeira
metade do século XX. Diretores do Jardim Botânico que
convidaram funcionários a morar ali, em terras da União”
(Presidente do IPJB, Litsz Vieira, em entrevista ao site “O
ECO. http://www.oeco.com.br/reportagens/10936-
oeco14061; 30 de setembro de 2005).
Mas por que o Jardim Botânico precisava ter empregados
morando no seu território? Isto era realmente necessário?
Uma breve contextualização histórica pode esclarecer
que o fundamento para esta política da Instituição era a
ideia de aproveitar a proximidade de seus empregados
Conflitos SOCIOAMBIENTAIS, discurso e perspectivas: O case Jardim Botânico do Rio de JaneiroPABLO AMARAL MANDELBAUM | UFF
“O presente texto se inscreve em perspectiva oposta à dos pressupostos do consensualismo e do autoritarismo
ecológicos, pretendendo explorar as possibilidades do desenvolvimento de um olhar sobre a questão ambiental
que se faça sensível ao papel da diversidade sociocultural e ao conflito entre distintos projetos de apropriação
e significação do mundo material. (Ascelsrad, Henry)”.
84 | MEMO online • Set 2011
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
para resguardar o patrimônio do Jardim Botânico.
Lembremos que na época o local era constantemente
ameaçado por incêndios e inundações sazonais, o
transporte para o local era dificílimo, não havia
corpo de bombeiros e os diretores dispunham
de poucos empregados. Além disto, a região era
pouco povoada, com muitos brejos e de baixíssimo
valor imobiliário. Podemos afirmar que o início da
ocupação foi não só incentivada, mas se deu por
uma necessidade da Instituição: ter empregados
próximos, sempre a sua disposição, para se doarem
ao Jardim Botânico e protegerem seu patrimônio fora
de seu turno oficial de trabalho (Bizzo,2005).
O terreno disputado é de responsabilidade da
Secretaria de Patrimônio da União, que invocando
a função socioambiental dos imóveis da União
demonstrou interesse no processo de regularização
fundiária da região, fato que desagradou aqueles que
desejam a retirada imediata dos moradores. Após
diversas tentativas de despejo, impedidas por medidas
judiciais, articulação política e resistência física, a
decisão sobre a questão está delegada a uma comissão
interministerial multirepresentativa, que estuda o caso
e apresentará soluções definitivas para o conflito.
Os conflitos sociais e a manipulação ideológica
do discurso ambientalista
Os conflitos ambientais são fenômenos que ganham
cada vez mais importância, tornando-se bastante
frequentes na sociedade pós-moderna. Porém, no
tratamento dado à questão ainda identificamos
o predomínio de um discurso que promove a
descontinuidade entre os aspectos ecológicos e os
humanos e que parece fundamentar políticas de
remoção baseadas no que chamamos de segregação
socioambiental.
No caso em questão, esta segregação é percebida
quando constatamos que existem casas de alto
padrão (Condomínio Canto e Mello, em APP e
acima da reserva de Mata Atlântica do IPJB) e duas
instituições (Serpro e Light), que, apesar de estarem
praticamente na mesma área dos antigos moradores,
não sofrem as mesmas ações de despejo por parte
do Jardim Botânico. Também percebemos certa
incoerência neste discurso “ambientalista”, quando,
apesar de requerer a área - alegando necessidade
de preservação ambiental - constatamos que o
próprio Jardim Botânico promoveu cortes de árvores
seculares na região e, sem as devidas medidas
técnicas, destinou impropriamente na área dois
locais para decomposição de material vegetal e
produção de húmus que estão contaminando com
chorume o solo e o precioso Rio dos Macacos, que
passa dentro do próprio Jardim. A maior justificativa
explícita da remoção dos moradores reside na questão
preservação ambiental da região. Será então que o
ambientalismo está sendo usado para “higienização
social”? Ou até para incremento da especulação
imobiliária na região? Segundo Litsz Vieira, “A solução
é encontrar uma área onde a Caixa Econômica possa
construir casas para essas pessoas, mas vai ser difícil
encontrar espaço (...) Uma possibilidade é uma área
na Gamboa, mas há outras.
O governo estadual está fazendo um projeto
habitacional em Guaratiba ou Sepetiba, na Zona
Oeste. Mas são apartamentos pequenos e eles não
querem sair do Horto.” (http://www.oeco.com.br/
reportagens/10936-oeco14061).
A pergunta que fica é: por que os moradores não
poderiam ali viver, com restrições, e serem os maiores
protetores do Jardim Botânico?
Set 2011• MEMO online | 85
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Eles não deveriam ser fomentados e qualificados
para defenderem o meio ambiente em que vivem há
tanto tempo?
Assim faz o premiado Programa Bolsa Floresta, que
implementa uma série de atividades pioneiras com as
populações das florestas no campo da conservação
ambiental e desenvolvimento sustentável.
A concepção de que é impossível ao homem viver
em compasso com o meio ambiente nos parece
ultrapassada e atravanca o desenvolvimento de
políticas públicas sustentáveis.
Esta perspectiva preservacionista que insiste na
separação homem-ambiente restringe a capacidade
de análise da questão quando insiste em desprezar,
metodologicamente, os complexos aspectos históricos
e socioculturais que em nosso ponto de vista são
indissociáveis do objeto de estudo.
Considerando esta problemática acima descrita,
buscamos em Maciel uma concepção de meio
ambiente potencializada, capaz de ultrapassar antigas
dicotomias e desconstruir a falsa oposição entre
homem e natureza: “O meio ambiente não pode ser
considerado como um dado isolado, mas sim como
um dado de cultura de uma comunidade, isto é, como
um processo de interação entre o sociocultural, gerado
pelo homem e a natureza (... ) não são possíveis ações
ditas de desenvolvimento, sejam de preservação ou
modificações sobre o meio ambiente, dissociadas
do homem que o habita, e, por conseguinte, de sua
dinâmica cultural” (Maciel, 1992).
Portanto, é preciso um esforço no sentido de romper
as fronteiras artificiais que separam a questão
ambiental da questão social, pois entendemos
que estes problemas são ou estão intrinsecamente
relacionados e nos parece impossível compreendê-
los através de olhares que primam pela separação
de seus componentes essenciais. Definitivamente,
não podemos nem entendê-los, nem resolvê-los,
separadamente.
Sustentamo-nos na ideia de que todo conflito
ambiental é necessariamente social, portanto, é
socioambiental, pois envolve grupos, comunidades
e instituições da sociedade. Ele acontece em um
contexto histórico onde predominam determinadas
formas de produção, determinados valores, interesses
e visões sobre a maneira de agir e de se apropriar
do território, com variadas significações quanto à
utilização dos recursos naturais e quanto à repartição
de seus benefícios (Acselrad,Henri,2004).
86 | MEMO online • Set 2011
Foto aérea comunidade Caxinguelê Horto
Acúmulo de chorume e material em decomposição de maneira inadequada, sem impermeabilização e proteção do solo
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
O caso de conflito socioambiental que apontamos
tem a particularidade de acontecer em uma das mais
antigas instituições do Brasil. Entender o conflito sem
analisar a história do IPJB e da população da região
seria olhar o problema de maneira superficial.
Sugestões teóricas para estudo do conflito
- Refletir criticamente se o conflito socioambiental
entre o Jardim Botânico e a comunidade do Horto
pode ter sido incentivado por uma tendência de:
“colonização do espaço público pelo privado”.
O Jardim Botânico é uma das mais antigas instituições
brasileiras, com 200 anos recém-celebrados e sua
história está entrelaçada com a história do Brasil.
Compreender as diversas mudanças nas finalidades,
nos discursos e nas condutas da Instituição ao longo
dos tempos nos auxiliaria a entender melhor as
complexidades deste conflito socioambiental. Afinal,
será que esta instituição restou incólume perante às
transformações de uma “modernidade sólida” para
uma “modernidade líquida?” (Bauman, 2001).
Poderemos identificar em sua configuração atual a
manifestação de características essenciais do mundo
pós-moderno? Por exemplo, podemos perceber
dentro da Instituição, “o privado colonizando o
espaço público?” Pois, segundo este autor:
“(...) não é mais verdade que o ”público“ tente
colonizar o “privado”, é justamente ao contrário: é o
privado que coloniza o espaço público, espremendo
e expulsando o que quer que não possa ser expresso
inteiramente, sem deixar resíduos, no vernáculo dos
cuidados, angústias e iniciativas privadas” (Bauman,
2001. Pág.49).
Acreditamos que na chamada “autonomia
financeira” da autarquia residem os indícios desta
apropriação do público pelo privado. Isto ocorre em
algumas situações, como a escolha de ONGs para
se instalarem dentro do JB. Uma delas foi escolhida
para se fixar no território do Jardim (que alega não
ter espaços) com a condição de que “a ACMA
remunerará o IPJB pela utilização do “Galpão do
Patrimônio” no valor de 5% do valor da totalidade
da arrecadação das atividades culturais e ambientais
que serão desenvolvidas no local” (Relatório de
Gestão, ano 2005). Além deste estranho critério de
remuneração, por que ceder sem licitação a cessão
de um espaço público tão privilegiado? Será que
estes são indícios da colonização do espaço público
pelo privado?
Hoje em dia o IPJB arrecada verbas vendendo
mensalidades que dão direito a uma carteira de
sócio e esta permite aos que pagam frequentar o
IPJB todos os dias que desejarem, como funciona um
clube. Seria este também um indício da diminuição
do caráter público da instituição?
Podemos elencar a tão pouco discutida cobrança
de ingressos para acesso ao Jardim como uma
forma contundente de se manter privado um espaço
essencialmente público. Por que ela cobra entrada
se é local público de pesquisa e contemplação?
Já que recebe dinheiro do governo, de emendas
parlamentares e de diversos patrocinadores, por que
insistem na cobrança de ingressos?
Set 2011• MEMO online | 87
Inundação JB - Foto Evandro Teixeira
MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
Para responder com assertividade seria necessário
entender mais sobre as formas de captação e a
maneira como são decididas e gerenciadas as
aplicações dos recursos. Para um olhar mais apurado
da questão financeira do Jardim, convém observarmos
a amplitude e o alto grau de autonomia financeira
propiciada pela regulamentação da autarquia, pois o
IPJB tem o direito de receber por serviços de “qualquer
natureza prestado a terceiros”. Pode receber sobre:
“as rendas de qualquer natureza, resultantes do
exercício de atividades afins que lhe sejam afetas ou
da exploração de imóveis sob sua jurisdição” (Nº 233,
sexta-feira, 7 de dezembro de 2001 Diário Oficial da
União – Seção 1 ISSN 1676-2339 9).
Aparentemente, parece-nos que o IPJB ganhou ares
empresariais na mesma medida que lhe foi permitida
arrecadar fundos de diversas maneiras. Ao que tudo
indica, a lógica capitalista do lucro, da produtividade
e da eficiência parece ter encontrado morada neste
verde e nobre espaço público.
Para validar esta hipótese teríamos de discutir o perfil
institucional atual e compará-lo com os de outros
tempos históricos. Desta forma poderíamos identificar
as principais mudanças que ocorreram na instituição
e verificar se algumas das características de uma
“modernidade fluida” (Bauman,2001) atuaram
dentro do Jardim Botânico, contribuindo no processo
de deflagração do conflito socioambiental.
– Levantar e analisar a documentação referente ao
conflito socioambiental.
Analisar criticamente: as produções elaboradas pelo
Jardim, pela Associação de Moradores do Horto
(AMAHOR), pela Associação de Amigos do Jardim
Botânico, por autoridades, especialistas e pela
imprensa. Desta forma poderemos entender melhor a
gênese do conflito, seu desenvolvimento e as questões
principais do debate, bem como, as tendências para
resolução do problema.
- Pontuar e analisar nos discursos, através de pesquisa
participativa com os atores sociais envolvidos,
as justificativas oferecidas para a remoção ou
permanência dos moradores na região.
Com essa abordagem de pesquisa poderíamos
perceber onde se assentam os discursos para remoção
ou permanência da comunidade. É fundamental
identificar e analisar os argumentos para verificar se o
viés preservacionista e a descontextualização histórica
do conflito estão sendo usados como fundamentos
para a remoção dos moradores.
Por outro lado, gostaríamos de entender onde se
fundamentam os discursos para a permanência dos
moradores no local para verificar outra hipótese:
se o movimento dos moradores pode se apoiar no
campo teórico da “Justiça Ambiental”. Acreditamos
que alguns conceitos produzidos por esta perspectiva,
como o de “racismo ambiental” (Rede Brasileira
de Justiça Ambiental), podem sustentar o discurso
da comunidade, além de nos auxiliar a entender
criticamente este conflito.
Indicação de Metodologia
No princípio a temática ambiental foi marcada por um
paradigma hegemônico notadamente preservacionista.
Este biologismo naturalista obnubilava a multiplicidade
de olhares possíveis, predominando então um
monodisciplinarismo metodológico de origem
positivista que restringia os objetos de estudos das
pesquisas acadêmicas da época.
Vale pontuar que este viés insiste em tratar o meio
ambiente como um dado isolado, desprezando as
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MEMO Arquitetura, Engenharia e Meio Ambiente
complexas relações entre homem, cultura, sociedade
e natureza. Rompendo com esta tradição acadêmica,
afirmamos a necessidade de estudos interdisciplinares,
perpassando, interagindo e dialogando com os vários
campos do saber necessários ao desvelar crítico dos
casos de conflitos socioambientais.
Para pensar sobre as diversas dimensões referentes
ao conflito, aconselhamos o uso de uma pesquisa
participativa. Parece-nos pertinente uma metodologia
participante que prima por uma aproximação maior
com o universo dos atores sociais envolvidos.
Esta aproximação, com os atores e com o conflito,
nos instiga a tomada de um posicionamento político-
teórico-ideológico, mas este posicionamento, ao
contrário do que possa parecer, não deve comprometer
a criticidade do estudo. Para tal, vejamos Boaventura,
que nos diz: “A tradição da sociologia é neste domínio
ambígua. Tem oscilado entre a distância crítica ao
poder constituído e o comprometimento orgânico
com ele, entre o guiar e o servir.
Os desafios que nos são colocados exigem de nós
que saiamos deste pêndulo. Nem guiar, nem servir.
Em vez de distância crítica, a proximidade crítica. Em
vez de compromisso orgânico, o envolvimento livre.
Em vez de serenidade autocomplacente, a capacidade
de espanto e de revolta” (Santos, 2001).
A pesquisa participativa em consonância com uma
postura de “proximidade crítica” parece ser capaz
de potencializar nossas análises sobre este objeto de
estudo tão complexo e ramificado. Para compor o
referencial teórico, aconselhamos as contribuições de
autores como: Baumman, Henri Acselrad, Boaventura
dos Santos, Corccuf, Maciel, Alien, entre outros que
devam surgir ao longo dos estudos.
Justificativa relevância e possíveis
contribuições do estudo
Quanto à relevância do objeto, sabemos que
casos de conflito socioambientais se intensificam a
cada dia em nosso país, tão vasto em território, em
recursos naturais e em problemas sociais. Analisá-los
criticamente possibilita encontrar soluções, não só
legais, mas legítimas para seu equacionamento.
Legitimidade é justiça e “fazer justiça” com as
populações historicamente desfavorecidas é um dos
desafios mais contumazes que se colocam para a
sociedade brasileira.
Este estudo também poderá demonstrar sua
importância acadêmica ao questionar a imposição
da dicotomia entre o homem e natureza, colaborando
assim com as produções situadas dentro das novas
sociologias (Corcuff, 2001).
Por fim, este projeto ganhará relevância quando
esclarecer os principais discursos utilizados no caso
em questão, podendo contribuir para outros estudos
de conflitos socioambientais ao gerar um olhar sobre
a questão que não despreza os aspectos socioculturais
e políticos do problema. Acreditamos que estudos
como este são necessários para reduzir os casos
de “segregação socioambiental”. São fundamentais
também para diminuir o potencial de ação dos falsos
consensos, das intransigências, tão devastadores, em
tempos tão velozes, em dias tão escorregadios.
Set 2011• MEMO online | 89
Para ler as referências bibliográficas deste artigo, vide site.
WWW.REVISTAMEMO.COM.BR
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