revista lingua portuguesa nr 115 maio_2015

Upload: peter-lorenzo

Post on 06-Mar-2016

12 views

Category:

Documents


0 download

DESCRIPTION

Revista Lingua Portuguesa Nr 115

TRANSCRIPT

  • atnnuncn o UTIRATIIRA o rclutcl Dt Tfil

    Ano 9 . N" 115 . Maio de 20f 5 . www.revistalingua,com,br

    ano dedeafro

    ^H,ndrade

    ,o

    Hornenagern na Flip,rornance indito, seleode crnicas e Macunatnaern quadrinhos: assurpresas, os tesourose o legado do criadorda Gratnatqunhada fala brasIera

    R$ 10,00--

    o:

    -o-o

    :I]:o:-z

    a

  • AS ESTRATGIAS DEDISTANCIAMENTO

    As ESTRATcrRs oENVOLVIMENTO

    I

    (

    IEII A arte da

    entreuistaMestrado da PUC-SP estuda airnagern social ern entrevistasdo docurnentr io EdifcoMaster, de Eduardo Coutinho

    ,4' nttaI

    I

    I

    t

    I

    ,#':

    Pon MncLo MooLo HeruRlQu Bnncn

    Eduardo Coutinho:preparando terreno

    para extrair respostasde desconhecidos

    \,z,J

    =ge

    Oif,;'r.;;j,:r+espcie de Midas do documentriono Brasil. Dizem que a obsesso pe-la verdade dos personagens era tan-ta que ele dizia no construir filmespara confirmar hipteses e ideolo-gias: filmava para revelar a experi-ncia nica e singular de cada umadas pessoas com quem conversava.

    Foi de posse dessas informaesque Maria Estela M. Modena es-colheu Edifcio Master (2002) comocorus de sua dissertao de mes-trado

    - Asfaces do Edifcio Master:

    um estuo sobre faces em entre,vistsde cinem documentario, disponvelem (http://bit.1y/1FY8mfn> etambm emformato de livro

    - Edi-

    fcio Master: um estuo sobre faceem entreeListas de cinema documen-nno (Sao Paulo, EDUC, Z0I3).

    Orientada por Dino Preti naPontifcia Universidade Catlicade Sao Paulo, a dissertao explo-rou 15 das 27 entrevistas quefocali-zaramavida dos moradores do edifcio etemizado no documentriode Coutinho. A seleo optou pela

    Qrrando se querpfesefvar a Pfpria faceA ASSIMETRIA DAS ENTREVISTAS (AO ENTREVISTADOR CABEA ELABORAAO DE PERGUNTAS E AO ENTREVISTADO RESTA A0BRIGAAO DE DAR RESPOSTAS) DETXA 0 ENTREVTSTADO NAtSEXPOSTO, SUJE|TO A AN/EAAS QUE p0DEN/l PREJUDTCAR SUA FACE.SEGUNDO N/ARIA ESTELA M. MODENA, ESTRATGIAS CON/IO AS QUESEGUEM VISAM A MININ/IZAR ESSE RISCO.

    IVlantm o distanciamento dofalante em relao ao enunciado

    Sujeito genricoUnversaliza uma viso pessoal:"a gente tem que se amar porque se agente no se amar quem va amar?..."

    Marcadores de rejeioAo negar ou expressar dvida emrelaao ao que dito, atenuam o com-promisso do falante com o enunciado:"::: porque eu no sei se so pessoasdemais ou caladas muitas estreitas ouse uma fuSAO::: DE-sa-gra-D-veldos dois elemen:::t0s..."

    Demonstram o envolvimento dofalante em relao a seu enunciado.

    Marcadores de opinioPor meio deles, o falante chamapara si a responsabilidade sobre oque fala:"N4as pra MI|\/l o o o::::o gerenteera conivente com e1e.,,".

    Aluso a terceirosPermite que o falante saia do centrodas atenes, reforando seu posicio-namento por meio da fala de outro:"e ele falou assim: 'NAO, voc noprecisa me agradecer...'."

    14

  • singularidade e variedade dos depoi-mentos apresentados, tendo em vistasua relevncia e pertinncia em rela-o aos problemas da face, entendi-da como a imagem social do falante.

    Em razo das distintas aborda-gens, essa "imagem social" tem rece-bido variadas denominaes: ethos,ersonn, fachan, etc. O trabalho deModena, com foco nos procedimen-tos lingusticos usados para preservara imagem social projetada pelos in-divduos em interaes conversacio-nais , optou por analisar a preserva.o da face, valendo-se dos estudosdo socilogo canadense Erving Go-ffman e das pesquisas da derivadas.

    FacesFoi na esteira de Goffrnan (2005)

    e Brown e Levinson (1987) que Ma-ria Btela postulou frce s osituas e fa-ces negatiuas para os participantes dofilme. A face positiva corresponde,grossomodo, ao narcisismo e ao con-junto de imageru enaltecedoras queos interlocutores constroem de si etentam impor na interao. A facenegativa corresponde ao que Goflman descreve como terrtffios dn eu-dizem respeito, basicamente, intimi.dade que se busca resguardar.

    De posse desses conceitos teri-cos, Maria Btela analisou situaoesde falas nas quais entrevistador e en-trevistados preservam a prpria face(atitude defensiva) e/ou preservam aface do outro (atitude protetora).

    Ponderaes do trabalho (ver qundros) podem nos ajudar em situaescotidianas, pois, mais do que se pos.sa imaginar, estamos frequentementeenvolvidos em situaes de "entrevis-ta". Em consulta mdica, pesquisan-do preos, em processos de seleo,paquerando, enfim, em urna infini-dade de circunstncias, o sucesso dasrelaes que estabelecemos dependede nossa habilidade em desempenhar

    Qrrando se rtrrrerpreseva a face do outroO FILI/E EDIFICIO MASIERTAMBIV VIOSTRR A BUSCA DA CORTESIA, PELAPRESERVAAO DA FACE D0 0UTR0. PERCEBE-SE tSS0 DE DUAS MANEtRAS.

    0 entrevistador preserva a facedo entrevistado, empregando:

    1) Polidez negativa: evita aproduo de enunciados que possamameaar a face do interlocutor.a) Procedimentos substitutivos

    "eu gostaria muito que voc mecantasse um pedao que fosse deuma msica... EM japons".

    0 entrevistador substitui umaformulao direta por um verbo nofuturo do pretrito para suavzar aameaa que seu pedido inesperadopoderia impor face da entrevistadab) Procedimentos subsidirios:marcadores prefaciadoresmetad iscu rsivosENTREVISTADOR: posso teperguntar uma coisa?

    ENTREVISTADO: po:::de((sinalizando com a cabea))ENTREVISTAD0R: por que a genteconversa e voc no olha para mim?

    A cincia de que seu questona-mento colocaria a face positiva daentrevistada sob ameaa faz com queo entrevistador no se sinta no direitode formul-lo sem antes pedir paraisso autoriza0, por meio de uma for-mulao prefaciadora que acompanhaesse questionamento "invasivo".

    2) Polidez positiva: produzenunciados que lisonjeiam a face dointerlocutor.ENTREVISTADOR: o senhor est emforma n?

    0 entrevistador faz um elogio forma fsica do entrevistado.

    0 entrevistado preserva aface do entrevistador, empregando:

    l) Polidez negativaENTREVISTADO: o nome...:: traduzin-do porque eu boto os nomes em ingls "a floresta do meu... desespero".

    A entrevistada no se vale da frase"0 senhor entendeu [o que foi dito eminglsl?", usada em outro momento

    da entrevista e ameaadora imagemdo entrevistador, e, com essa outraformulao, preserva a face do diretor

    2) Polidez positivaENTREVISTADO: o senhor umapessoa muito simptica e muitoamvel eu lhe agrade0...

    0 elogio refere-se, igualmente, aEduardo Coutinho.

    os papis de entrevistado e/ou de en.trevistador. Mesmo sem a pretensode ser um Coutinho, possvel apro-veitar estratgias descritas por MariaEstela e buscar assim um resultado,com o perdo do trocadilho , master.

    MARCELO MDOLO pRoressonDOUTOR E PESQUISADOR DE FILOTOGIA E

    lHcun poRrucursn n USP.HENRIQUE BRAGA DoUToRANDo EMFrrorocrA r Uncun poRTUGUEsA run USP.

    [email protected]

    I.=

    F

    u15

    POR INICIATIVA DO ENTREVISTADOR

    POR INICIATIVA DO ENTREVISTADO