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Distribuição Gratuita Número 26 Abril/ Junho 2008

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500 Funchal

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Page 1: Revista leiasff n.º 26

Distribuição Gratuita Número 26Abril/ Junho 2008

Page 2: Revista leiasff n.º 26

nestaedição

CAPA: Composição, Funchal Passado e Pre-sente, com o logótipo das comemorações Fun-chal 500 Anos e de um trabalho a acrílico, preto e branco, sobre platex, dos arquitectos Duarte Câmara, Nuno Oliveira, Ricardo Oliveira, Bruno Martins e Ricardo Faria, ex-alunos da Escola Se-cundária de Francisco Franco, datado de 1997

Aconteceu:

Recriações 4

Histórias Impossíveis noTeatro Baltazar Dias 7

XIII Olimpíadas do Ambiente 9

Clubes & Projectos:

Semana da Informática 12

Mecânica a Quatro Tempos 17

Um dia Dedicado aos CEF 24

Opinião: 26

Em Torno do Património Barroco da Cidade do Funchal 29

Do Antigo à Actualidade 30

A Instalação do Ensino Técnico Profissional no Funchal 35

A simbologia da Cidade do Fun-chal 50

Leitura 55

Poesia 56

Artes Plásticas 58

Passatempos 59

FICHA TÉCNICA

Nr. 26 - Abril/ Junho 2008

Directora: Dra. Dina Jardim

Coordenação:

Dr. Gualter Rodrigues (600)Dr. Jorge Pereira (300)Dra. Tânia Viveiros (330)

Colaboração:

Gilberto BasílioClube BarbusanoISAVES.A.J.Dr. António Lopes FonsecaDra. Cristina SimõesDra. Fátima AbreuDr. Jorge CapelaDra. Magda SantosDra. Rita RodriguesDr. Sérgio Cunha

Patrocinadores:

O LiberalPorto EditoraCartonada

Impressão;

O Liberal, Empresa de Artes Gráficas, Lda

Tiragem: 500 Exemplares

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Eis-nos chegados ao fim de mais um ano lectivo. O ano lectivo de 2007-2008 foi um ano que marcou de forma vincada a vida da Escola Secundária

Francisco Franco.Em termos físicos, entrou em funcionamento o novo pavilhão gimnodesportivo bem como a

nova área de aulas, com os laboratórios da física e da química. Foram também disponibilizados novos meios informáticos e audiovisuais que, apesar de serem manifestamente insuficientes para as necessidades reais de uma escola da nossa dimensão, significam também um grande esforço da escola em dotar-se de mais e melhores estruturas, perante o cenário de contenção que vivemos na actualidade.

Em termos de vida da escola, este foi mais um ano de grandes conquistas individuais e colectivas, com a escola a colocar-se no centro da vida social e cultural da cidade, fazendo jus à sua tradição e localização. A colaboração permanente e activa nas comemorações dos 500 anos da Cidade do Funchal, através de trabalhos dos seus docentes e discentes, bem como a colaboração nas mais variadas actividades organizadas pela Comissão Funchal 500 anos, demonstram o respeito que o trabalho desenvolvido pela escola ao longo destes anos goza junto da comunidade que nos acolhe e um reflexo do empenho da nossa comunidade.

Em termos individuais, mais uma vez os nossos alunos se esforçaram e trabalharam para atingir os objectivos que definiram, quer fosse a entrada na universidade, a obtenção de um grau académico ou a simples passagem de ano. Para aqueles que ainda não atingiram o seu objectivo, resta aproveitar da melhor maneira a experiência e transformar esta contrariedade em algo que possam aproveitar no próximo ano lectivo: a escola continua a estar cá para vos ajudar em tudo o que lhe for possível.

Também para todos os que trabalham na escola este foi um ano marcante. Em termos de pessoal auxiliar, novamente as restrições orçamentais e o aumento físico do espaço escolar implicou um esforço adicional a todo o pessoal auxiliar, cujo contributo, sempre discreto, é fundamental para o bom funcionamento da escola.

Por fim, os professores, cujas dificuldades sentidas em todo o país, com as questões que rodeiam a carreira docente e toda a problemática que se fez sentir ao longo do ano, não deixaram que isso afectasse o seu desempenho. Este foi um ano em que a escola acolheu, novamente, estágios, com diversos professores, das mais variadas valências, a atingirem a sua profissionalização. Por outro lado, foram desenvolvidas as mais variadas actividades ao longo do ano em toda a escola.

Só nos resta agradecer a todos o empenho e trabalho desenvolvido e desejar um bom descanso para que no próximo ano possamos desenvolver um trabalho tão significativo como o foi ao longo deste ano.

Dr.ª Dina Jardim

Presidente do Conselho Executivo

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A exposição intitulada Recriações, foi uma mostra que reflectiu o trabalho desenvolvi-do no 1º período do presente ano lectivo,

pelos alunos das turmas 10 e 13 do 12º ano do Cur-so Científico Humanístico de Artes Visuais, realizado no âmbito da disciplina de Oficina de Artes. Neste sentido é notória a presença das noções de “ofício” e de carácter experimental que lhe são inerentes, pelo que foi colocada ênfase tanto nos produtos finais, como no processo de trabalho que deu origem a es-ses resultados, sejam pinturas, desenhos, objectos plástico-artísticos ou objectos de design.

O trabalho apresentado pelas duas turmas teve como objectivo comum a recriação formal, tanto de um objecto (garrafa), no caso da turma 10, como de imagens (aproximação à História da Arte), no que diz respeito à turma 13. As peças foram concretizadas sob diferentes níveis de experimentação e adequa-ção às intenções, utilizando uma grande variedade de suportes, materiais, técnicas e formas de expres-são. É visível um processo criativo que passa pelo âmbito da História da Arte, das Artes Plásticas e do Design. O domínio técnico-expressivo remete para a aplicação e aprofundamento de técnicas mistas e a criação no domínio bi-tridimensional.

A turma 10 do 12º ano recriou o objecto, garra-fa de plástico, retirando-a do seu contexto original, de contentor para água, e desenvolveu um processo criativo de transformação plástica que culminou na re-invenção de peças funcionais ou com fins mera-mente estéticas.

A turma 13 do 12º ano, a partir do estudo de al-guns artísticos do sec. XX, apropriou-se de algumas das suas características retiradas do seu contexto original, redimensionando desta forma essas obras, conferindo-lhes uma carga de intemporalidade atra-vés de um cunho pessoal aliado ao seu quotidiano. Houve também a preocupação de reflectir sobre al-gumas questões, nomeadamente sobre outras reali-dades culturais, como é manifesto na temática “Áfri-ca”.

Nesta mostra, as diferentes formas de comunica-ção e expressão adaptadas pelos alunos, através da recriação formal, concorrem para um registo de dife-rentes leituras e de interpretações da realidade.

Recriações

Dr.ª Patrícia OliveiraDr.ª Isabel LucasProfessoras de Artes

My black cold feetBloody and barefootTouch the dirty roadsAs I seek:ColourRhythmFeelingsAdventures.

I must not give upThis drum will be heardSing AfricaSing!

Put your guns down!Take away the painAnd violence!Sing AfricaSing!

This drum will be heardAll the way through the ocean And through the fire.

Vanessa Castro

12º 13

África

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Exposição Diário de Isabella de França

No início dos anos trinta, o coleccionador madeirense, Frederico Augusto de Freitas, descobriu em Londres um manuscrito que falava da ilha e adquiriu-o. Esse documento era composto por 342 páginas em papel de linho azul, a que se juntavam 24 aguarelas, ilustrando o texto escrito em Inglês. O alfarrabista colocara no resguardo da capa a seguinte informação: "Journal of a visit to Madeira and Portugal".

Não tinha no frontispício, nem em parte alguma se declarava explicitamente o nome do autor, que veio a desco-brir-se ser Isabella de França, esposa do morgado José Henrique de França, senhor de numerosas propriedades vinculadas na Ilha da Madeira.

A estadia prolongada de Isabella de França na Ilha da Madeira permitiu-lhe anotar todos os pormenores da sua viagem, dando vida a um manuscrito que podemos considerar um contributo importante para o estudo dos hábitos e costumes madeirenses em meados do século XIX. Foram esses escritos que deram origem à exposição Diário de Isabella de França, uma actividade das turmas 10º 13, 14 e 15, sob a orientação da professora de Inglês, Carmo Marques, e os professores de Artes, Nélio Cabral e Rui Venâncio. Esta mostra de trabalhos esteve patente na Galeria Francisco Franco, durante o mês de Abril, e surgiu no âmbito das comemorações dos 500 anos do Funchal, com o propósito de dar a conhecer uma outra visão da nossa cidade de outros tempos. Aqui ficam algumas das impressões dos alunos.

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Histórias Impossíveis no Teatro Municipal Baltazar Dias

No passado dia 21 de Maio, a Oficina de Teatro Corpus da ESFF apresentou Histórias Impossíveis no Teatro Municipal Baltazar Dias. Esta exibição inseriu-se num certame de teatro que reuniu grupos de teatro de várias escolas da Região, evento este promovido pela Comissão “Funchal 500 Anos”.

“Achei a experiência fantástica. Sentir aquela ener-gia toda a invadir os nossos corpos, dá-nos outra forma de estar em palco! Espero voltar a repeti-la, pois actuar num palco onde muitos actores profissionais actuam é, sem dúvida, um orgulho.”

Valéria Jesus10º 20

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No dia 7 de Maio, no âmbito da Semana de Orientação Escolar e Profissional da ESFF, visitaram a nossa escola 41 alunos do 9º ano

da Escola Básica dos 2º e 3º Ciclos do Caniço, Pretendia-se com esta visita que os alunos conhe-

cessem as instalações da nossa escola, os serviços e seu funcionamento, assim como os diversos cursos ministrados. Esta intenção deveu-se ao facto de serem alunos que estão interessados em frequentar, no pró-ximo ano lectivo, o ensino secundário, aqui na Escola secundária de Francisco Franco.

Juntamente com os alunos, vieram a Psicóloga Már-cia Rodrigues, a Professora Elma Domingues e a Téc-nica de Serviço Social, Ana Raimundo.

O grupo foi recebido pela psicóloga Cristina Simões, da nossa escola, que os orientou na visita.

As instalações e os respectivos serviços (Biblioteca, Serviços Administrativos, Pavilhão, Galeria de Arte, Re-prografia, Papelaria, Cantina, Salas para Eventos, La-boratórios…), foram visitados, chamando-se a atenção para as suas possíveis utilizações.

Na visita à Biblioteca, o grupo foi recebido pelo Pro-fessor Eduardo Paulino, que nos orientou de um modo pedagógico e agradável. No final da visita, um pequeno grupo subiu à Biblioteca para se despedir, agradecendo o acolhimento.

Observamos a Exposição das fotos das actividades desenvolvidas pelo Clube Barbusano (de uma saída de campo), pelo Núcleo de Fotografia e pelo Núcleo de Desenho e Artes Plásticas. Deste último, contemplamos alguns trabalhos expostos. Esta acção permitiu referir a existência dos outros Clubes e Núcleos Escolares, bem como a indicação das salas que ocupam.

Na Galeria de Arte Francisco Franco, na companhia do Professor Gualter Rodrigues, pudemos apreciar (em suporte de papel), a fauna e a flora da Madeira. Esta Galeria foi indicada como um espaço a ser utilizado para exposição de futuros trabalhos destes alunos.

De visita aos laboratórios, foi possível observar uma exposição de conchas, insectos e aracnídeos, a qual foi gentilmente orientada pela Professora Mécia Teixeira e pelo Professor Ricardo Macedo, a quem agradecemos a disponibilidade e o sentido educativo em receber-nos.

Estando a decorrer os jogos relativos à Festa do Desporto Escolar, no Pavilhão da nossa escola, o grupo assistiu, por breves momentos, ao torneio de badmin-ton dos escalões juvenis.

Para descansar um pouco, sentamo-nos todos na Praça da Alegria.

Como última actividade desta visita, o grupo assistiu a uma apresentação realizada pela Psicóloga Cristina Simões, sobre os cursos da nossa escola, de modo a que cada um desses alunos pudesse ter a oportunidade de, a seu modo, apropriar-se dos espaços da escola e imaginar-se já como fazendo parte dela.

Visita da Escola Básica do 2º e 3º Ciclos do Caniço

Dr.ª Cristina SimõesPsicóloga

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Ricardo Sousa, aluno do 10º 1 da Escola Se-cundária de Francisco

Franco, arrecada o 20º lugar nas XIII Olimpíadas do Ambien-te (OA), relativas ao escalão B,

para alunos do 10º ao 12º ano, na Serra da Estrela, no primeiro fim-de-semana de Maio.

As Olimpíadas do Ambiente (OA) são um concur-so de problemas e questões direccionado a alunos do 7º ao 12º ano de escolaridade do ensino público, privado e do ensino particular e cooperativo do terri-tório continental e ilhas. A iniciativa é coordenada por um grupo multidisciplinar composto por elementos da Escola de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, da Quercus – Associação Nacional de Conservação da Natureza e do Zoomarine – Mundo Aquático SA. Este ano contou com a colaboração da Câmara Municipal de Seia.

Na XIII final Nacional participaram 72 jovens alu-nos de todas as regiões do país, acompanhados por professores, pondo à prova os seus conhecimentos sobre o Ambiente, no fim-de-semana mais esperado do ano, na Serra da Estrela.

No Sábado, altura em que muitos alunos pisaram pela primeira vez a neve, foram percorridos trilhos in-terpretativos, ao longo dos quais foram abordados te-mas como o efeito da última glaciação na paisagem,

o impacto da poluição nos ecossistemas e a dificul-dade de conservação de espécies na área protegida. Depois de retemperar as forças com um piquenique no CISE, visitaram os museus do Pão e do Brinque-do e assistiram a uma palestra sobre a recuperação de aves e de comportamentos humanos que os co-locam em risco. No final da sessão libertaram dois peneireiros comuns e duas corujas-do-mato. Após o jantar, decorreram as provas orais, em grupo, que consistiram na defesa dos temas ambientais actuais, em que foi premiada a criatividade, a capacidade de argumentação, a postura e os conhecimentos.

No Domingo, os finalistas, após realizarem a pro-va escrita, participaram em diversas experiências, onde tiveram a oportunidade de conhecer o proces-so de formação da chuva, a possibilidade de avaliar a qualidade da água através das espécies da fauna que nela habita, entre outras.

O fim-de-semana terminou com a presença dos encarregados de educação e de professores que, em conjunto, assistiram a uma palestra sobre áreas protegidas e sensibilização ambiental, proferida pela Arquitecta Maria Paz Moura, do Parque Natural da Serra da Estrela.

No encerramento foram divulgados os vencedo-res das XIII Olimpíadas do Ambiente (OA) e entre-gues os respectivos prémios, destacando-se Ricardo Sousa do 10º 1, da nossa escola.

XIII Olimpíadas do Ambiente

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No dia 12 de Março de 2008, pelas 15 horas, o Clube de Ecologia Barbusano efectuou uma visita de estudo ao Núcleo Histórico de Santa

Maria, a qual contou com 30 participantes. Esta activi-dade iniciou-se no átrio da Escola, onde a Dr.ª Nativi-dade de Jesus fez uma introdução à visita, salientando alguns aspectos, tais como:

• A cidade como um organismo vivo e dinâmico, que evolui no espaço e no tempo;

• As principais fases de expansão ligadas aos di-ferentes ciclos económicos: do açúcar (séculos XV e XVI), do vinho (séculos XVII e XVIII) e do turismo (sé-culos XIX e XX);

• Os períodos críticos associados aos sismos, aluvi-ões, epidemias e assaltos de piratas e corsários;

• As consequências da expansão e das crises.Em seguida foi distribuído aos participantes um do-

cumento com um mapa do percurso a efectuar e infor-mação relativa ao Primitivo Povoado de Santa Maria do Calhau, com o intuito de apoiar a explicação relativa a um breve enquadramento histórico. Neste contexto, referiu-se à sua génese, entre 1425 e 1430, como um povoado de artesãos e homens do mar, com caracte-rísticas medievais, em que se destacavam a Igreja de Santa Maria do Calhau (edificada cerca de 1430), o pe-queno Hospital e, depois, a Misericórdia. Desse primiti-vo aglomerado, restam apenas uma porta manuelina e a Capela do Corpo Santo.

O Núcleo de Santa Maria foi uma das primeiras áre-as a ser povoada e desde cedo assumiu um papel pre-ponderante no desenvolvimento da vila e posteriormen-te cidade do Funchal.

Com o desenvolvimento associado à economia do açúcar, do vinho e à fixação de comerciantes estran-geiros, as pequenas casas modificaram-se. Surge uma nova arquitectura, da qual restam, dos séculos XVII a XIX, alguns interessantes pormenores arquitectónicos, que encontrámos ao longo do percurso. Destacam-se os remates dos telhados, os beirais, as varandas, as janelas, as portas, os batentes, as gárgulas, as cha-minés, os fornos das casas e os “azulejos foreiros” da Misericórdia.

Após esta introdução, saímos da Escola e dirigimo-nos ao Larguinho da Feira. Aqui foi feita a localização do primitivo núcleo na margem esquerda da Ribeira de João Gomes e perto do calhau. Observámos a escul-tura de bronze “Corsa” da autoria de Anjos Teixeira, de 1994, e o Largo do Poço e respectivo chafariz, em can-taria.

No início da Rua de Santa Maria fizemos duas pa-ragens. A primeira foi junto à Capela de Nossa Senho-ra da Redenção e Mercês, conhecida como Capela da Boa Viagem. Trata-se de um exemplar de arquitectura

religiosa maneirista, que apresenta uma inscrição de “1683”. Está encerrada ao culto desde o primeiro quar-tel do século XX e foi legada à Câmara em 1988, tendo sido recuperada. A segunda foi no nº 88, no “Passo Pro-cessional” de 1733. Este é um elemento de arquitectura religiosa tardo-maneirista e rococó, esculpido em can-taria cinzenta com arco pleno. Possui porta de madeira, que era aberta na altura da Procissão dos Passos, na Semana Santa, nos séculos XVII e XVIII. Através do átrio de entrada do Sindicato dos Enfermeiros, sedeado neste edifício, visualizamos, no interior do “Paço”, as cantarias pintadas com cenas alusivas ao martírio de Cristo (Fig. 1).

Subimos a Rua dos Barreiros para observar, no nº 31, a porta com lintel de recorte manuelino.

Visitámos depois a Capela do Corpo Santo, obra da Confraria dos pescadores e marítimos, de meados ou finais do século XV, dedicada a São Pedro Telmo, padroeiro dos marítimos, posteriormente reconstruída e alterada. Hoje apresenta apenas edificações dos sé-culos XVII, XVIII e XIX. A sua arquitectura é gótica e maneirista e possui no seu interior (Fig. 2) importantes elementos artísticos dos séculos XVI, XVII e XVIII.

Dirigimo-nos, de seguida, para a Igreja de Santa Maria Maior. Esta foi construída, entre 1751 e 1768, em substituição da primitiva igreja, originária do voto cama-rário de 1523, por ocasião da epidemia de peste (entre 1521 e 1523), tendo S. Tiago Menor sido eleito padro-eiro da cidade. Posteriormente, aquando do sismo de 1748, aquele templo ficou destruído. A igreja de Santa Maria Maior possui grande valor patrimonial devido ao espólio artístico de talha dourada, pintura, prataria e ou-rivesaria e à sua arquitectura barroca.

Depois visitámos a Fortaleza de Santiago, onde a Dra.ª Márcia guiou o grupo (Fig. 3). A construção desta fortaleza é do século XVII, com a função de defesa da baía do Funchal, numa época de maior perigo de ata-que de corsários e das rivalidades entre potências eu-ropeias pelo domínio dos mares. Foi ampliada em mea-dos do século XVIII e, no século XIX, manteve funções de aquartelamento militar até 1922, altura em que foi cedida ao Governo Regional para ali serem desenvol-vidas actividades de carácter cultural, encontrando-se actualmente ocupada pelo Museu de Arte Contempo-rânea.

De regresso à Escola, atravessámos os jardins do Hotel Porto Santa Maria, onde observámos vestígios da antiga muralha da cidade. Prosseguimos pela Rua de D. Carlos I e passámos pelo Jardim do Almirante Reis, que abriu ao público em Novembro de 2001.

Nesta visita de estudo descobrimos alguns exem-plos importantes do património edificado que, ao longo dos séculos, mantêm a memória da acção humana nos pormenores e traços arquitectónicos que persistem no

Visita de EstudoNúcleo Histórico de Santa Maria

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“Núcleo Histórico de Santa Maria”, classificado como Conjunto Arquitectónico de Valor Regional, pelo DRL. 21/86/M, de 2 de Outubro, com o nome de “Zona Ve-lha”, alterado posteriormente. Constatámos também que esta área está em transformação e que a restaura-ção e a hotelaria, bem como a fixação de outros servi-ços têm-lhe dado algum dinamismo.

A localização da Residência de Estudantes de San-ta Maria, a inaugurar brevemente, trará também mais-valias. Contudo, existem muitos edifícios degradados (Fig. 4) que é urgente recuperar, criando-se incentivos, para a fixação de população jovem e revitalizando-se esta área da cidade.

No dia 13 de Março de 2008, pelas 10:00 horas, o Professor Doutor Nelson Veríssimo esteve nesta escola a convite do clube de Ecologia

Barbusano, a fim de proferir uma conferência sobre o tema “Funchal: a génese da cidade”.

Partindo de citações de vários cronistas como Ca-damosto, Gomes Eanes de Zurara, Gaspar Frutuoso, Jerónimo Dias Leite e Isabella de França, entre outros, o conferencista procurou provar as condições socio-económicas e o contexto histórico que tornaram possí-vel o nascimento da cidade.

A elevada fertilidade dos solos, a disponibilidade dos recursos hídricos e o empenho dos primeiros colonos madeirenses, sob as ordens dos capitães e/ou dos clérigos, criaram as condições internas favoráveis ao desenvolvimento do sector produtivo e foram apoiados por incentivos ao comércio externo.

De grande valor comercial nas trocas externas com o Reino e a Europa, destacam-se:

- As plantas tintureiras: dragoeiro, urzela, pastel e sumagre;

- As madeiras de elevada qualidade, provenientes do aderno, do barbusano, do cedro, do pau-branco, do tei-xo, do til e do vinhático;

- O açúcar, resultado de uma economia açucareira em expansão desde meados do século XV;

- O vinho, destacando-se o famoso malvasia.Todas estas riquezas levaram ao interesse pelo po-

voamento e o Funchal evidencia-se, desde o início,

como o principal centro populacional, assumindo uma posição dominante em todo o processo socio-económi-co, centralizando os serviços e a ligação ao exterior.

O orador salientou o interesse da Coroa pela Madei-ra, particularmente o rei D. Duarte, que doou as ilhas do Arquipélago ao Infante D. Henrique. Este, por sua vez, passou-as para o seu sobrinho D. Fernando. São os filhos deste último que passam a donos da Madeira, sendo o mais importante o duque D. Manuel, D. Manuel I, que elevou a vila do Funchal à categoria de cidade em 1508.

2 - Interior da Capela do Corpo Santo 3 - Grupo à entrada da Fortaleza de Santiago 4 - Património degradado1 - Interior do Passo Processional

Funchal: a génese da cidade

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Na semana de 14 a 18 de Abril do corrente ano lectivo, decorreu na nossa escola, a Semana da Informática. Este evento foi organizado

pelo grupo de informática, sendo os docentes do grupo, os mentores das actividades promovidas.

Os professores responsáveis pela organização dis-tribuíram as actividades pelos vários dias da semana, de forma a não haver coincidências, tendo em conta a necessidade da gestão da ocupação dos espaços ne-cessários à realização das mesmas.

As diversas actividades foram pensadas de forma a mostrar à comunidade escolar a aplicação prática da informática nos dias de hoje, visando abranger as mais diversas áreas leccionadas nos cursos de informática. As actividades promovidas, passaram pela organiza-ção de conferências, concursos, visualização de filmes, workshops e actividades práticas, como a montagem de hardware e redes de computadores, e ainda a mon-tagem e programação de robôs.

O primeiro dia da semana (Segunda-feira, 14) co-meçou com uma conferência sobre a Biometria, cujo orador, professor Pedro Nóbrega, de-monstrou como po-dem ser utilizadas as nossas caracterís-ticas físicas em sis-temas informáticos, como, por exemplo, em sistemas de se-gurança.

A segunda acti-vidade deste mesmo dia foi o concurso de montagem de hardware, direccionada aos alunos e organizado pe-los professores Jorge Monteiro e Abel Rodrigues, cujo objectivo era a montagem de um PC com o hardware fundamental (básicos) ao seu funcionamento no menor espaço de tempo, respeitando as regras de higiene e segurança no trabalho. O vencedor deste concurso foi o aluno Ricardo Barbeito da turma 12º23.

Durante a tarde decorreu no pátio interior, a expo-sição, montagem e programação dos robôs da Lego, pertencentes ao Departamento de Matemáticas e En-genharias da Universidade da Madeira. Esta actividade tinha como público-alvo os alunos e visava a construção de dois tipos de robôs (tanque e todo-terreno) e pro-

gramação dos mes-mos, uma vez que o objectivo primordial desta actividade era percorrer um labi-rinto, que foi ama-velmente construído por um funcionário da escola, o Senhor Salvador.

Paralelamente, procedeu-se à uma actividade que visava a demonstração da performance do robô Lego TriBot, pertencente ao Clube de Informá-tica. Os alunos tiveram a oportunidade de programar

e observar os dife-rentes os diversos outputs por parte do robô.

É de salientar que esta actividade promovida pelo Clu-be de Informática (CLINFO), teve uma enorme adesão por parte dos alunos, principalmente no

que concerne aos alunos do curso tecnológico de informática.

Na terça-feira, na parte da manhã, decorreu no pa-

vilhão gimnodesportivo da escola um workshop sobre robótica, organizado pelo professor Jorge Monteiro. O orador foi o Dr. Fernando Ribeiro da Universidade do Minho, que gentilmente trouxe vários robôs, previamen-te programados para executar diversas tarefas, inclu-sive para participar em competições internacionais da especialidade. Por parte da Universidade da Madeira contámos com a presença do Dr. Filipe Santos que re-alizou várias demonstrações com os robôs desenvolvi-dos na referida instituição.

Ainda na terça-feira, na

parte da manhã, decorreu o concurso de montagem de uma rede de computadores. Os alunos do 11º26, sob a orientação do professor Pe-dro Vieira, procederam à montagem da rede, no hall de entrada do bloco, no piso de informática, utilizando o mate-rial informático disponibilizado pela escola.

Semana da informática

Dr.ªAlexandrina MartinsDr.ª Carol AguiarProfessoras de Informática

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Durante a tarde deste dia, decorreu a projecção do filme “Matrix 3”, direccionada a toda a comunidade escolar, acti-vidade esta, organizada pelo Clube de Informática.

Às 15h do mesmo dia, de-correu a conferência O mer-cado de trabalho na área da informática, organizada pelo professor Rui André Esteves. Os oradores desta conferên-cia foram: o Eng.º Lino Henri-ques, a Dr.ª. Cristina Paquete e o Eng.º David Santos, sendo que todos eles encontram-se integrados no mercado de trabalho madeirense. O contributo dos referidos orado-res foram uma mais-valia para esta conferência, uma vez que trouxeram a sua experiência laboral na área da informática e destacaram as principais saídas profissio-nais nesta área.

Para finalizar as actividades deste dia, foi di-namizada uma conferência alusi-va ao tema O pro-cesso de Bolonha e as Engenharias da Universida-de da Madeira, organizada pelo professor Nélio Ramos. A confe-rência teve a pre-

sença do Prof. Doutor Luís Gomes, Prof. Doutor Gonça-lo Gouveia e Prof. Doutor Josef van Leewen, docentes do Departamento de Matemática e Engenharias da Uni-versidade da Madeira. Estes docentes demonstraram a estrutura dos cursos do seu departamento e explicaram em que consiste o Processo de Bolonha e qual o seu objectivo.

Na quarta-feira, dia 16, foi organizado pelo Clube de Informá-tica um concurso de jogos de lógi-ca, designado por BrainFitness, vi-sando incentivar o desenvolvimento do raciocínio lógi-

co-matemático dos alunos. A adesão foi elevada, sendo necessário efectuar várias eliminatórias para apurar os vencedores, os quais passamos a enumerar:

1º Classificado (Prémio: Impressora): Rúben Moura, 11º 26

2º Classificado (Prémio: Pendrive 4 GB): Paulo Cor-reia, 10º 32

3º Classificado (Prémio: Pendrive 2 GB): Fábio Bap-tista, 10º 33

4º Classificado (Prémio: Pack 10 DVD): Tiago Pe-reira, 10º 33

5º Classificado (Prémio: Teclado): Fábio Rúben Pe-reira, 11º 26

6º Classificado (Prémio: Rato óptico): Luís Escórcio, 10º 32.

A entrega de prémios foi realizada na quinta-feira, dia 17, na sala de sessões, e contou com a participa-ção de um membro da Direcção Executiva, Dr. António Pires.

Na quinta-feira, na parte da manhã, foi projectado o

filme Transformers, na sala de sessões, direccionado a toda a comunidade escolar. Esta actividade foi organi-zada pelo Clube de Informática.

Durante a parte da tarde, deste dia, foi promovida a conferência A procura activa de emprego, tendo como público-alvo os alunos finalistas, uma vez que estes irão realizar um estágio profissional, na área de estudos em que se encontram integrados. Esta conferência teve como oradores a Dr.ª Cristina Simões, o Dr. Maurílio Ca-íres e o Eng.º Adelino Gonçalves, e teve por objectivo alertar os alunos para as necessidades do mercado de

trabalho actual. Esta actividade contou ainda com a participa-ção de dois an-tigos alunos dos cursos tecno-lógicos, Edgar Gouveia e Da-niel Aguiar, os quais relataram as suas experi-ências durante o estágio.

Na sexta-feira, dia 18, foi or-ganizado um concurso, com o tema Fun-chal 500 anos, propondo-se ir ao encontro do tema do Pro-

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jecto Educativo de Escola no presente ano lectivo. Este concurso foi or-ganizado pelos p r o f e s s o r e s : Rosa Silva, Roberto Hen-riques, Pedro Nóbrega e Luís Lima e foi direc-cionado a todos

os alunos da escola. Após a divulgação do concurso a toda a comunidade

escolar, os alunos procederam à organização de equi-pas e efectuaram a respectiva inscrição no concurso.

É de notar que este concurso foi muito competiti-vo e como tal teve uma grande adesão por parte dos alunos. Após as várias fases do concurso foram apu-

rados os seguin-tes vencedores: 1º Classificado (Prémio: 3 via-gens ao Porto Santo): Milton Abreu (11º6), Vanessa Ca-tarina (11º6) e Luís Mendonça (10º7).

2º Classifi-cado (Prémio: 3

impressoras laser): André Silva, Paulo Correia e Pedro Baptista (da turma 10º32).

3º Classificado (Prémio: 3 refeições no restaurante Tahiti): Luís Abreu, Alexandre Abreu e Roberto Alves (da turma 11º26).

Durante a tarde, deste mesmo dia, decorreu a con-ferência Segurança informática para todos, organizada pelo professor Abel Rodrigues, direccionada a toda a comunidade escolar. É de notar que os oradores da re-ferida conferência são pessoas experientes na área da informática e como tal enriqueceram a conferência, uma

vez que sa-l ien taram a impor-tância da segurança nos siste-mas infor-m á t i c o s actuais.

A activi-dade que encerrou a Semana da Informática foi organizada pelo Clube de Informática. Devido à grande adesão que teve por parte dos alunos na actividade de Segunda-feira, o clube decidiu repetir a actividade da demonstração, montagem e programação dos robôs da Lego.

Após a realização da Sema-na da In-fo rmát ica foi possível t i r a r m o s a l g u m a s i l a ç õ e s que con-sideramos serem bas-tante positivas, uma vez que os objectivos propostos foram alcançados com sucesso e por conseguinte as actividades decorreram na mais perfeita harmonia. Ou-tro aspecto que em nossa opinião nos parece ser de suma importância foi o facto dos alunos terem aderido em grande massa e de revelarem a vontade de ver im-plementada no próximo ano lectivo a Semana da Infor-mática.

Para finalizar, queremos ainda agradecer as todas as pessoas envolvidas nas actividades, desde a orga-nização, o Conselho Executivo da escola, as empresas que patrocinaram a semana, os oradores e dinamiza-dores das várias actividades e, ainda, aos colegas que se disponibilizaram a participar com as suas turmas no decorrer da semana.

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A disciplina de Área de Projecto é essencial no Ensino Secundário, na medida em que valoriza os ideais dos jovens estudantes e

ajuda-os a saber desenvolvê-los, preparando-os para um futuro em que terão de exercitar a mente na procura de novos projectos.

Este ano lectivo (2007/08), a nossa turma, 12º8, do curso de Ciências e Tecnologias, decidiu desenvolver uma grande ideia, a realização de um projecto, de seu nome “Ser Pontual FF”. Consistiu na construção de um relógio de sol e reconstrução da sua base, promovendo a criação de um site e de um diário de bordo. Tem como objectivo sensibilizar a população escolar para, de uma forma ecológica, utilizar uma fonte de energia renová-vel, a energia solar.

Com a indispensável ajuda da Dr. Aldina Abreu, que nos ajudou no percurso deste projecto ao longo do ano e, que se tratou, indiscutivelmente, de uma orientação preciosa, bem como com a participação de diversas pessoas exteriores à escola que contribuíram para a re-alização do mesmo, foi possível desenvolver e finalizar o nosso projecto.

Enquanto alunas de uma Comunidade Educativa, deixamos aqui, na nossa escola, juntamente com os restantes elementos, um exemplo de uma ideia que se tornou num projecto e que, através de esforço, dedica-ção e desempenho, se transformou em realidade. Foi, para nós, o início de um futuro promissor e de muitas mais ideias que nos possam surgir, esperando que se realizem. Foi, sem dúvida, uma prova das capacidades juvenis e um incentivo para todos os que querem e am-bicionam. Temos a plena consciência de que todos so-mos capazes.

Ao sermos alunas do 12º ano de escolaridade, de-sejamos que a disciplina de Área de Projecto prevaleça,

“Ser Pontual FF”, uma ideia, um exemplo Ana Filipa de Abreu RodriguesSara Filipa Marques Gouveia, 12º 8

dando asas a muitas imaginações, e que continue por muitos anos, na escola onde fomos estudantes do En-sino Secundário, um projecto de uma turma que pôs o sol a dar horas.

Visto que se trata de um projecto colectivo, eis os nomes dos participantes:

• Ana Silva• Ana Rodrigues• Bianca Velosa• Carlos Gomes• Cátia Vieira • César Jardim• Cláudia Freitas• Diogo Marques• Élvio Abreu• Emanuel Pereira• Filipe Pacheco

Agradecimentos por participação no projecto:

• Sr. José, Ferro Ideias• Sr. José, professor da Quinta do Leme• Sr. Mendes, Frezal• Sr. Armânio, gravação• Sr. Sidónio, Grafimadeira• Sr. Renato, pastilhas para a reconstituição da base

do relógio• Professora Susana, orientadora no desenho da

equação do tempo (base)• Sr. Jorge Jardim, reconstrução da base• Casa de Santo António• Ferreira’s

• Gonçalo França • Gustavo Martins• João Fernandes• Joaquim Reynolds• Márcio Oliveira• Michael Abreu• Pedro Valente• Roberto Jesus• Ronaldo Santos • Rúben Santos• Sara Gouveia

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Núcleo de Música

O Núcleo de Música da nossa escola apresentou, este ano lectivo, variados espectáculos musi-cais que muito animaram a escola: Espectáculo de Natal, São Valentim, Walking After Noon e Turning Sixteen. Felicitamos todo o grupo pelo entusiasmo com que sempre se entregam aos

seus projectos e pelos momentos especiais que têm oferecido. O mais recente espectáculo apresentado pelo núcleo foi concebido a partir de um conto estudado nas

aulas de Inglês, Turning Sixteen (da autoria de Ron Butlin - escritor do ano). Este musical contou com a participação do grupo de teatro, que encenou toda a dramatização que acompanhou o espectáculo e, ainda, com a especial presença de um bailarino do Conservatório que abrilhantou ainda mais toda a acti-vidade.

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Com o objectivo primordial de deixarem a marca da sua passagem por esta Escola, a Turma do 12º25-CEF – Mecatrónica levou a

cabo, nos dias 21, 22 e 23 de Abril passado, três activi-dades que sobressaíram no quotidiano escolar.

No dia 21, organizaram uma palestra sobre Preven-ção Rodoviária, que teve lugar na Sala de Sessões. Foi orador convidado o Comissário Luís Teixeira, do Comando Regional da PSP. Esta actividade revelou-se de enorme importância, pois todos sabemos que as nossas estradas são palco, diariamente, de inúmeros acidentes.

No dia seguinte, pela manhã, o campo maior da Es-cola transformou-se num pequeno ‘circuito citadino’, pois a Escola de Condução Infante colocou à disposição dos nossos alunos vários veículos ligeiros, cujos instru-tores ajudavam quem se quis intrometer, pela primeira vez, no mundo da condução automóvel. Como prevía-

mos, a procura foi imensa, pena foi não poder prolongar a actividade pelo turno da tarde. Experimentar conduzir e estacionar é, para quem o faz pela primeira vez, algo muito aliciante.

No dia 23 não foram as ‘máquinas‘ actuais que vie-ram à rua, melhor dizendo ao pátio mas em seu lugar surgiram os motores de veículos que hoje já não cir-culam nas nossas vias, como o do velhinho Fiat 900, uma relíquia que brilhou entre várias outras peças e fer-ramentas que constituem parte do espólio das nossas oficinas de Mecânica. Esta exposição contribuiu para que o passado e o presente desta Escola se entrecru-zassem, num encontro de tradição, actualidade e futuro do ensino nela ministrado.

Em suma, este projecto ‘Mecânica a Quatro Tem-pos’, concretizado pelos alunos finalistas do Curso de Mecatrónica, demonstrou que ‘os homens passam, mas as obras ficam’, sendo a Escola aquilo que ano após ano, professores e alunos, vão construindo.

Mecânica a Quatro Tempos

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Do Funchal a Câmara de Lobos.

Comemorar os 500 Anos da Cidade do Funchal le-vou o Clube de Ecologia Barbusano a dar a conhecer uma das mais antigas levadas da cidade – a Levada dos Piornais. Construída no séc. XVI, tem a sua madre d’água no leito da Ribeira dos Socorridos, no sítio da Fajã do Poio. Percorre a vertente esquerda do vale da ribeira, contornando, a uma altitude de 150m, as terras baixas de Santo António e São Martinho a sul do Pico da Cruz, até desaguar no Ribeiro Seco, a Oeste da Ci-dade.

Assim, desde muito cedo, as suas águas eram pre-ciosas para regar a cana-de-açúcar, actualmente as ba-naneiras e outras culturas de regadio, apesar da força com que o cimento avança, dando lugar a um cresci-mento urbano e residencial, infelizmente desordenado.

Importa referir que o nosso percurso a pé se iniciaou junto ao portão norte da escola. Aos poucos percorre-mos as ruas de Elias Garcia, Netos, Mercês, Capuchi-nhos, Cabouqueira e Ilhéus. Esta última apresenta ain-da muitas das quintas que a meados do século passado aí se localizaram, fruto da expansão urbana.

Entrámos na levada junto à Avenida Luís Camões e contornamos o vale do Ribeiro Seco, no qual é visível o crescimento rápido da nova ligação rodoviária entre o porto do Funchal e o centro de São Martinho. Deixando a levada, passamos pela área urbana que envolve o Estádio dos Barreiros para logo depois regressarmos

à levada. Calmamente, contornamos pelo norte toda a área dominada pelos grandes blocos de apartamento e de hotéis.Não podemos deixar de referir que há muitos anos havia vários moinhos de água e lavadouros pú-blicos ao longo desta levada, os quais, aos poucos e poucos foram sendo abandonados.

Já depois do Caminho do Amparo, sobranceiro à Praia Formosa, passamos por uma área onde a agri-cultura teima em persistir e uma vegetação espontânea de espécies indígenas e exóticas embelezam a paisa-gem.

Depois da via rápida, a levada corre paralela ao vale da Ribeira dos Socorridos em direcção ao sítio do Engenho Velho. Aqui temos consciência do contraste entre a beleza que este vale nos apresentava e a ocu-pação actual, que, por necessidades ditas imperiosas, faz crescer a nova zona industrial, mutilando continu-amente para montante a ribeira e esquecendo o seu regime torrencial e o seu passado.

Nas terras do Engenho Velho, assiste-se ao fim das bananeiras. Abandonando a levada, descemos ao fun-do do vale e atravessamos a ribeira. Já na vertente di-reita, percorremos o caminho que nos levou ao centro da Cidade de Câmara de Lobos.

Esperamos que este percurso o faça pensar quanto é difícil compreender o diálogo entre o homem e a na-tureza.

Saída de Campo / Visita de Estudo12 de Abril de 2008

FUNCHAL – LEVADA DOS PIORNAIS – ENGENHO VELHO – CÂMARA DE LOBOS

Clube de Ecologia Barbusano

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FraNet

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Asemana da Informática teve início no dia 14 de Abril. A equipa do CLINFO, que con-ta com mais um elemento, a professora

Carol Aguiar, orga-nizou diversas actividades que se prolongaram durante toda esta semana.

Na segunda-feira, das 15h15 às 18h30, o clu-be proporcionou a montagem e programação de Robôs Lego. Os alunos montaram diversos tipos de robôs (tanque, todo-o-terreno) e efectuaram a sua programação de modo a que os robôs fossem ca-pazes de percor-rer um labirinto. Paralelamente, os alunos efec-tuaram também

a programação do robô «TriBot».

Na terça-feira, pelas 14h00, foi projectado na sala 408 o filme «Matrix Revolutions» realizado pelos ir-mãos Wachowski. O terceiro e último filme da trilogia

«Matrix» contou com uma plateia bastante com-posta que acom-panhou atenta-mente o desfecho da saga.

No dia 16 de Abril, quarta-fei-ra, pelas 08h15, realizou-se o concurso «Jogos Brainfitness». Ti-vemos cerca de 30 alunos inscri-

tos que deram o seu melhor nos 8 jogos do concur-so. O conceito Brainfitness está relacionado com o processo de exercitar o cerebro, e os jogos apelavam à memória e raciocínio dos participantes. Todos os inscritos tiveram direito a um tapete para o rato e os 6 primeiros classificados foram premiados com uma impressora, 2 pens usb, um pack de dvds, um teclado e um rato óptico.

No dia seguinte realizámos a entrega dos prémios do concurso na sala de sessões. Esta entrega teve a colaboração do Vice-presidente do Conselho Exe-cutivo, Dr. António Pires, a quem agradecemos a sua disponibilidade.

Seguidamente, pelas 10h00 iniciou-se a projecção do filme «Transformers», lançado em 2007 e recheado de efeitos especiais espectaculares. Esta sessão de cinema teve lotação esgotada.

No último dia da semana, voltámos a realizar a montagem e programação de Robôs Lego. Mais uma vez os alunos montaram diversos tipos de robôs e efectuaram a sua programação. Houve ainda opor-tunidade para os alunos colocaram questões sobre o robô, o processo de montagem e programação.

As fotografias de todos os eventos realizados du-rante a Semana da Informática estão disponíveis no site da escola www.esffranco.edu.pt.

Até final do ano lectivo, e no âmbito das activida-des de encerramento dos Clubes/Núcleos/Projectos, o Clube de Informática irá organizar no dia 3 de Junho a última sessão de cinema (filme ainda a designar) e no dia 4 de Junho um peddy-paper «Informática com Fronteiras».

Desde já convidamos toda a comunidade escolar a comparecer e participar nas actividades.

A Tecnologia em destaque

Nesta edição damos a conhecer as últimas notí-cias sobre a actualidade informática.

À procura de ouro no telemóvel

O aumento do preço de materiais nobres como o ouro, prata e cobre es-tão a originar uma nova

tendência: a prospecção urbana.

Esta actividade centra-se na reciclagem de produ-tos electrónicos, nomeadamente, telemóveis onde se

Clube de Informática: Semana da Informática

Dr. Jorge Capela Coordenador do Clube de Informática – CLINFO

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a consola da Nintendo preten-de transformar os jogadores em gestores de um império de brinquedos.

No início, a loja está deca-dente e o jogador tem de criar novos e divertidos brinquedos, dinamizar o negócio, controlar

o stock, atender os clientes e vender os brinquedos.

«Toy Shop combina uma vertente criativa na pro-dução dos brinquedos com a vertente de gestão da loja, dando aos jogadores uma pequena amostra de como funciona na realidade o exigente, mas compen-sador, negócio dos brinquedos», disse John Merchant, marketing manager da Majesco Europe, empresa que desenvolveu o jogo com a Gameinvest.

Com a evolução do jogo, festas e efemérides vão atrair novos clientes, desbloqueando novas lojas em outros locais da cidade. O jogo contempla a criação de ursos de peluche, bonecos e jogos de tabuleiro. Ainda não foram divulgados preços para o mercado nacional.

Robôs vão jogar futebol com humanos em 2050

Os participantes na RoboCup na Alemanha acreditam que em 2050 vai ser possível um de-safio entre humanos e máquinas. Ainda há mui-to para afinar, mas já se fizeram muitos progres-sos.

Na RoboCup, há ro-bôs de todos os tipos, desde os mais pequenos até gigantes. A sétima edição da prova conta com 850 máquinas, de 350 estudantes universi-tários de 14 países. Em paralelo, há uma competição entre estudantes do en-sino secundário, revela a Associated Press.

A iniciativa é organizada pelo Instituto Fraunhoffer de Intelligent Analysis and Information Systems. Ans-gar Bredenfeld, responsável pelo Instituto, revela que os robôs «já abrem portas, reconhecem rostos e po-dem agarrar objectos (…) o objectivo é competir com humanos, num desafio de futebol, em 2050. Ainda es-tamos longe, mas temos bastante tempo para aperfei-çoar».

Fonte: http://www.exameinformatica.pt

procura metais como o ouro e o irídio. Os metais recuperados são reutilizados em novos

componentes electrónicos. O ouro e outros metais pre-ciosos podem ser derretidos e vendidos como lingotes para joalheiros e investidores, ou de volta aos fabri-cantes que os utilizam nas placas de circuitos de tele-móveis, pois o ouro é melhor condutor que o cobre.

Uma tonelada de minério extraída de uma mina de ouro produz em média apenas 5 gramas do metal, en-quanto uma tonelada de telemóveis descartados pode render 150 gramas ou mais, de acordo com estudo da Yokohama Metal, uma empresa japonesa de recicla-gem de metais.

O mesmo volume de telemóveis descartados con-tém, também, cerca de 100 quilos de cobre e três qui-los de prata, entre outros metais. A reciclagem está a ganhar importância à medida que os preços dos me-tais atingem recordes históricos. O ouro está a ser ne-gociado a cerca de 569 euros a onça, depois de esta-belecer um recorde histórico em Março, com a cotação de 608 euros.

Cobre e estanho também estão perto dos seus re-cordes de alta, e os preços da prata superam em muito as médias de longo prazo. Por isso, da próxima vez que estiver a pensar mandar o seu telemóvel para o lixo, pense duas vezes.

Coldplay oferecem nova música na net

O novo single da banda bri-tânica, Vio-let Hill, co-meçará a ser disponi-bilizado de forma gra-tuita no site oficial dos Coldplay.

O anúncio foi tornado público na mesma altura em que a banda de Chris Martin divulgou as datas para dois espectáculos, também gratuitos e de entrada li-vre, destinados à apresentação do seu novo álbum - Viva La Vida, cujo lançamento decorreu no dia 12 de Junho.

Os concertos decorreram em Londres e em Nova Iorque a 16 e 23 de Junho, respectivamente.

O novo single dos Coldplay pode ser descarregado directamente a partir do endereço www.coldplay.com

Toy Shop, o jogo português para a Nintendo DS

O Toy Shop é um jogo feito em parceria pela portu-guesa Gameinvest e pela Majesco. O novo jogo para

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No dia 14 de Maio, o grupo do tema Parque Na-tural da Madeira organizou uma palestra na Sala de Sessões com a Engenheira Sara Freitas do Parque Natural que veio apresentar e explicar as diversas Reservas Naturais da Região Autónoma da Madeira. Também, por iniciativa deste grupo, foram feitas duas visitas de estudo. Uma ao Jardim Botânico, no dia 5 de Dezembro, e outra à Reserva Natural Parcial do Garajau, no dia 13 de Maio. O objectivo destas vi-sitas foi conhecer estas zonas e a sua fauna e flora.

ÁREA de PROJECTO

Dr.ª Isabel HernandezProfessora de Física e Química

No âmbito da disciplina de Área Projecto, os alunos do 12º ano, turma 7, colocaram os seus trabalhos em exposição na Galeria de

Arte da escola na semana de 5 a 9 de Maio. Os alunos escolheram temas di-versos, tais como Velas Artesanais, M e c â n i c a C a r d í a c a , Parque Na-tural da Madeira e C o m p l e x o Polidespor-tivo. Na ex-posição foi possível ver as velas fei-tas pelos alunos em laboratório, um modelo a n a t ó m i c o do coração e sistema circulatório, uma maqueta

da ilha da Madeira construída em gesso, assim como vá-rias fotografias das diversas Reservas Naturais da nos-sa ilha e uma maqueta de um complexo polidesportivo.

O grupo com o tema Mecânica Cardíaca fez a sua apresentação no dia 7 de Maio às 10h30, na Sala de Sessões, tendo como convidado o Dr. Rui Almeida (mé-dico de família do Centro de Saúde da Nazaré) que falou sobre as doenças cardiovasculares e como preveni-las. Nesta sessão os alunos apresentaram o vídeo da cons-trução do modelo anatómico e justificaram a escolha des-te tema tendo em conta as suas vocações profissionais.

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Os alunos do 12º ano, turma 6, fize-ram a apre-sentação dos seus projectos no dia 29 de Maio no cam-po de futebol da escola. Esta turma, tendo em conta as suas vocações

académicas e profissionais, optou por trabalhar na construção de veículos. Os quatro grupos de traba-lho optaram por construções diferentes tendo em conta o ramo de engenharia que têm preferência.

O grupo constituído por Luís Vieira, Miguel An-tero, Roberto Faria, Vasco Nóbrega e Vítor Sousa optou pela construção de um catamaran telecoman-dado, cujo objectivo seria a recolha de detritos marí-timos e que foi “baptizado” com o nome True Byna.

O grupo de alunos Décio Ferreira, Hugo Gouveia, João Sousa, Leonel Nunes e Vanessa Oliveira esco-lheu a construção de um kart nomeado F – kart 50.

O grupo formado por Fábio Camacho, Ludovic Brito, Mau-rício Gouveia e Ruben Abreu optou pela construção de um kart, ao qual adaptaram vá-rios elementos, tais como o motor de uma mota, uma buzi-na, uma matrícula, etc. O pro-jecto foi baptizado Kingo kart.

Finalmente, o grupo do João Pedro, Mário Samuel, Pedro Miguel e Pedro Marcelo optou pela construção de uma chopper, através da re-modelação de uma bici-cleta normal. Esta foi no-meada Dark Chopper.

Os projectos desta turma foram concluídos graças ao apoio e dedicação do professor de mecânica Dr. António Matos que esteve sempre disponível para aju-dar e guiar os alunos. Por isso, deixo aqui o meu es-pecial agradecimento pela sua participação, pois sem ela não seria possível a execução destes projectos.

Construção de veículos

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No dia 29 de Maio teve lugar na sala de ses-sões da escola, a partir das 14 horas, uma sessão de divulgação dos cursos CEF – Cur-

sos de Educação e Formação. Nesta iniciativa estive-ram presentes, para além do representante do Conse-lho Executivo da Escola e do corpo docente dos CEF, individualidades oficiais, nomeadamente o Dr. Rui Ana-cleto da Secretária Regional da Educação. A sessão contou ainda com a participação de representantes das empresas receptoras dos estagiários dos cursos CEF, bem como com o relato de alguns alunos que conclu-íram, no ano lectivo transacto, o curso de Instalação e Manutenção de Sistemas Informáticos.

A sessão iniciou-se com a apresentação geral dos novos cursos CEF que a escola irá ministrar, nomea-damente: Técnico de Contabilidade, Técnico de Apoio à Gestão; Técnico de Assistente Administrativo, Téc-nico de Informática, Técnico Instalador e Reparador e Técnico de Electrónica Industrial. Esta abordagem foi

feita pelos docentes da componente tecnológica das respectivas áreas, que ao longo da apresentação foram realçando uma directriz fundamental no funcionamento destes cursos: “Learning by doing”.

Seguiu-se o testemunho dos antigos alunos e a apresentação, por parte dos representantes das em-presas presentes, dos estágios a realizar no ano lectivo 2008/2009 e da assinatura dos respectivos protocolos. Para além das empresas presentes: Tabuada e Barros, GestLeader, Indutora, MCI, ECAM, é de salientar que também vão colaborar as seguintes: Jovical, VSA, Li-derFisco e Welsh&Aguiar.

Após a sessão, teve lugar no bar da escola um con-vívio com todos os presentes.

Foi com grande satisfação que os dinamizadores desta iniciativa, bem como o corpo docente dos CEF, reconheceram a reacção bastante positiva por parte dos presentes. As expectativas foram superadas e será um dia repetir!

Um dia dedicado aos CEF

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Embora o ISAVE, Instituto Superior de Saúde do Alto Ave, não tenha o peso histórico da Madeira, do Fun-

chal, nem tantos anos de vida – Imaginem! o ISAVE só tem seis anos! – sentimos que te-mos criado laços com a Vossa Instituição de Ensino que, mais do que o tempo, marcam o nosso carinho pela Vossa Instituição.

O ISAVE, em pouco mais de seis anos, criou pon-tes com o Brasil, Cabo Verde, Angola, Moçambique e, em Portugal, cria sabedoria em diferentes cidades, as-sumindo projectos de desenvolvimento regional e na-cional fundamentais para criação de sociedades mais justas e equilibradas. Futuramente, o tempo o dirá, po-demos estar na Madeira, em qualquer parte do mundo. É este nosso querer, esta vontade de doarmos a nossa sabedoria na aprendizagem e na prática em saúde que nos levam, como descobridores, a acentuar o desejo de um ensino criado em valores humanos, de saber e prática.

Hoje, com seis anos, sentimos que temos o passa-do de vida dos 500 anos do Funchal. Formamos todos os anos pessoas, cidadãos capazes de levar essa hu-mildade do saber, a humildade da descoberta. Acom-panhamos todos os nossos alunos ao longo da vida profissional, estamos com eles e fazemos parte do de-senvolvimento de cada um deles.

Hoje, com seis anos, o ISAVE tem todos os cursos adequados a Bolonha. Enfermagem, com quatro anos, e todas as outras licenciaturas com três anos (Fisiote-rapia, Terapia da fala, Radiologia, Farmácia, Prótese Dentária, Higiene Oral e Análises Clínicas e Saúde Pú-blica).

Hoje, com seis anos, temos um espaço de ensino único no país. Construído de raiz numa quinta de 17

hectares, na Póvoa de Lanhoso, em pleno Minho, a 10 minutos de Braga, o Campus Académico do ISAVE anuncia um novo tempo de educação. Está adaptado para o futuro, para as próximas décadas e queremos manter esta inovação sempre à frente no tempo.

Hoje, com seis anos, fazemos a ponte com institui-ções de ensino, com associações, sejam locais ou na-cionais, protocolos de cooperação com as mais diferen-tes entidades, com centros de investigação, hospitais, lares, centros de saúde. Editamos a Ser Saúde, revista trimestral de ciência e investigação em saúde. A Ser Saúde é única, cria um espaço multidisciplinar de edi-ção de ciência e investigação em saúde. A Ser Saúde marca o futuro da interdisciplinaridade das diferentes ciências para o desenvolvimento harmonioso de uma saúde integrada e integradora.

Hoje, com seis anos, editamos o Jornal ISAVE, um meio da Instituição estar em contacto com o meio aca-démico e ser uma fonte de aproximação de ideias de fu-turo para o caminho do ISAVE. O Jornal ISAVE também está aberto à Vossa Escola. Temos a Temática, uma revista anual de trabalhos de investigação e reflexão de docentes do ISAVE.

Hoje, com seis anos, o ISAVE é uma imagem que cresce diariamente, é um espaço de descoberta, de pontes entre Portugal Continental e Insular e o mundo Lusófono. Nós estamos prontos para vos receber. E é esta aproximação que nos une a todos, à história. Des-cobrimos em cada momento que existe sempre mais a descobrir e a desvendar. Faremos história convosco. E, embora o passado deixe sempre as marcas e os espa-ços de aprendizagem, é convosco que queremos cons-truir o futuro. Por isso, estamos perto e mantemos esta vontade de nos aproximarmos ainda mais.

O ISAVE quer fazer parte da Vossa história… de vida.

Isave

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As drogas são substâncias psicoactivas que provocam diversos problemas de saúde, familiares, sociais, criminais, monetários

entre outros, além de tornar as pessoas dependentes, dificultando o tratamento. No entanto, ao longo dos séculos o homem consumiu drogas por diversos motivos e inclusive existem diversas referências aos malefícios provenientes do seu consumo, revelando que desde o início as pessoas observavam e tinham consciência dos problemas que estas substâncias causavam.

Já há sensivelmente 2400 anos atrás, Hipócrates (nascido em 460 AC) e Galeno (nascido em 131 DC), médicos gregos considerados os pais da medicina, definiam a droga como sendo uma substância que em vez de ser “vencida pelo corpo”, assimilada como simples nutriente, “vencia” o organismo provocando grandes alterações orgânicas, anímicas ou de ambos os tipos.

No que diz respeito às diferentes drogas, existem referências muito antigas da sua utilização. Uma das mais antigas diz respeito à plantação do Cânhamo (variedade da planta Cannabis) que em 4000 AC aparece referenciado na China. Num tratado chinês do século I, afirma-se que “o cânhamo tomado em excesso faz ver monstros, mas se usado muito tempo pode comunicar com os espíritos e aligeirar o corpo”.

Quanto ao álcool, existem vestígios de que em 2200 AC, a cerveja era utilizada como tónico. Está referenciada em diversos papiros egípcios, entre eles um que afirma: “Eu, teu superior, proíbo-te de ir a tabernas. Ficas degradado como as bestas”. Na Grécia antiga, as escolas filosóficas discutiam se o vinho fora concedido aos humanos para o seu bem ou para os enlouquecer. Mais tarde, durante o auge da cidade de Roma, capital do Império Romano, cada cidadão consumia diariamente perto de meio litro de vinho, contabilizando 180 milhões de litros anualmente, numa população de cerca de um milhão de pessoas.

Somente no século XVI aparecem as bebidas destiladas, com a contribuição da ilha da Madeira e mais tarde da América, que fornecem a matéria-prima para o aparecimento da aguardente de cana. Na Madeira, a partir de 1846 quase todas as localidades possuíam fábricas para a produção de aguardente. Somente em 1918 se assistiu ao encerramento dessas fábricas, como medida preventiva face ao alcoolismo emergente.

No caso do tabaco, o mesmo foi trazido para a Europa pelos espanhóis no início do século XVI, embora outras versões afirmem que foi um português, Luís de Góis, que o trouxe em 1550, enquanto que na Inglaterra foi o corsário, Sir Francis Drake, que introduziu esta substância em 1585. No entanto, no século XVII começaram a surgir preocupações por causa dos malefícios provocados à saúde pelo tabaco que, para além disso, era viciante. Em 1604, Jaime I, Rei de Inglaterra, escreveu anonimamente um livro condenando o seu uso, Counterblaste to Tobacco, impondo ao mesmo tempo um forte imposto sobre esse produto, que estaria sendo consumido “com excesso, (…) por uma série de pessoas meio selvagens e ingovernáveis de baixa e desprezível condição social, as quais (...) gastam a maior parte do seu tempo nesta vã ocupação, dando mau exemplo e pervertendo a outros e malgastando nisso inclusive os salários com os quais deveriam sustentar suas famílias” (Heckscher, 1943, p.734).

No caso da cocaína, a folha de coca é usada desde 2500 AC pelos povos da América do Sul, inclusive pelos Incas e outros povos dos Andes. Os espanhóis do novo mundo usavam-nas e foram eles que a levaram para a Europa em 1580, mas somente em 1860, o alcalóide cocaína foi isolado das folhas de coca por Niemann. Entre os diversos produtos que tiveram esta substância na sua composição, destacamos a Coca-Cola, que desde a sua invenção em 1886 até aos primeiros anos do século XX, incluiu cocaína nos seus ingredientes, substituindo-a depois por cafeína. A cocaína, também foi utilizada no tratamento da dependência de morfina. Sigmund Freud, o médico

A História das Drogas: Consumos e Problemáticas

Dr. Sérgio CunhaPsicólogo do Serviço Regional de Prevenção da Toxicodependência

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criador da psicanálise, experimentou-a em pacientes, publicando inclusivamente um livro Über Coca, contudo acabou por se desiludir com a dependência a que foram reduzidos vários dos seus amigos. Apesar do entusiasmo inicial, os efeitos negativos da cocaína acabaram por ser descobertos. A forte dependência e os graves problemas que provoca na saúde fizeram com que o consumo de cocaína começasse a ser proibido no princípio do século XX.

Também a papoila (planta originária do ópio e da heroína), a partir de 3000 AC era cultivada na Ásia Menor. O ópio foi consumido ao longo dos tempos, chegando a gerar uma guerra entra a China e a Inglaterra no século XIX. Quanto à heroína foi registada pela farmacêutica alemã Bayer e foi utilizada como fármaco de 1898 até 1910, ironicamente como substituto não causador de dependência para a morfina e antitússico para crianças. A heroína foi proibida nos países ocidentais no início do século XX, devido aos comportamentos violentos que estimulava nos seus consumidores.

Quanto ao Ecstasy, tem uma história mais recente, foi sintetizado em 1912 pelo químico alemão Anton Kollisch. Tinha a finalidade de ser usado como um redutor do apetite, mas nunca foi usado com esse propósito. Nos anos 60 foi redescoberto, sendo indicado como elevador do estado de ânimo e complemento nas psicoterapias. O seu uso recreativo surgiu nos anos 70. Em 1977 foi proibido no Reino Unido e somente em 1985 nos EUA, devido aos graves problemas que provoca.

A relação do homem com as drogas provém de há muitos séculos, causando ao longo da história

humana prejuízos incalculáveis na vida das pessoas. Importa reflectir nesses prejuízos, para que possamos aprender com os erros daqueles que, infelizmente, foram prejudicados por um vício que não conseguiram combater eficazmente. A única forma de não sermos dependentes é optando por não experimentarmos substâncias que nos podem vir a controlar.

Bibliografia:

• Stoppard, M. (2004). A Verdade Acerca das Drogas. Porto: Livraria Civilização Editora.

• Escohotado, A. (2004). História Elementar das Drogas. Lisboa: Antígona.

• Pereira, E. (1989). As Ilhas de Zargo. Funchal: Câmara Municipal do Funchal.

• Carneiro, H. “Bebidas alcoólicas e outras drogas na época moderna. Economia e embriaguez do século XVI ao XVIII”; www.neip.info. Disponível em: http://www.neiphenrique_historia.pdf. Consultado a 21/05/2008.

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[email protected]

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A Idade Média foi um período intermédio numa divisão esquemática da história da Europa, em quatro “eras”: a Idade Antiga, a Idade

Média, a Idade Moderna e a Idade Contemporânea.A transição da Idade Média para a Era Moderna

está relacionada a grandes transformações, como:• A ascensão das monarquias nacionais

europeias;• O início da recuperação demográfica e

económica após a Peste Negra;• O movimento da redescoberta da cultura

clássica, por volta do séc. XV;• A reforma protestante, a partir de 1517.

OS DESCOBRIMENTOS MARÍTIMOS:Durante o reinado de D.João I e sob o comando

do Infante D.Henrique dá-se o redescobrimento da Ilha do Porto Santo por João Gonçalves Zarco (1418) e mais tarde da Ilha da Madeira, por Tristão Vaz Teixeira. Eram ilhas desabitadas que, pelo seu clima, ofereciam possibilidades de povoamento aos portugueses e reuniam condições para a exploração agrícola.

Em 1424 inicia-se a colonização da Madeira. Inicialmente a Madeira exportava cedro, teixo, sangue-de-dragão, anil e outros materiais tintureiros. A a partir de 1450 tornou-se um centro produtor de cereais.

Com a queda na produção cerealífera o Infante D.Henrique resolve mandar plantar na Ilha da Madeira a cana-de-açúcar (rara na Europa e por isso considerada uma especiaria). Mais tarde, cerca do séc. XVII, a cultura da cana-de-açúcar iria ser promovida no Brasil, passando a Madeira a investir na exploração do vinho.

A ALIMENTAÇÃO:Nestes tempos, às curtas fases de abundância

seguiam-se grandes períodos de carência. A grande insegurança, precariedade e medo que cerca esta fase histórica, cria uma atitude muito particular em relação à comida. A comida é vista como um símbolo de status. Quem come tem poder e comer para quem é faminto significa acções exageradas e vorazes. Os religiosos podem comer, mas são sujeitos a auto-penitências, segundo a doutrina cristã que estigmatiza a gula entre os pecados.

A COMIDA DOS CAMPONESES:A carne, valiosa e escassa, é considerada sinónimo

de prosperidade e abundância.Os animais domésticos servem para trabalhar

nos campos e não para comer. Consomem-se cereais como o centeio e o trigo, em forma de pães. O pão está presente em todas as refeições, sendo de vários tipos: cevada, centeio ou mesmo de castanha…

A cor do pão indica a pertença a uma classe social.

O pão dos pobres era feito de mistura de farinhas de vários cereais e também legumes. Nos tempos de fome procurava-se fazer pão até com palha, ou qualquer coisa que se transformasse numa espécie de farinha.

O pão dos mais ricos era branco e feito com trigo de qualidade.

O vinho é muito consumido: dá nutrientes, alegria e pode ser utilizado como um anestésico.

A mesa de quem vivia dos produtos da terra previa também a presença de verduras e legumes.

As ervas aromáticas, como o alecrim e o manjericão, assim como o azeite enriqueciam as simples refeições que estavam na base da alimentação do camponês.

A COMIDA DOS NOBRES - O BANQUETE:Uma das representações típicas da sociedade

senhoril medieval era o momento do banquete. Uma mesa cheia de comida, com diversas qualidades de carne assada, eram as refeições preferidas pelos ricos.

A abstenção era sinal de humilhação e perda de valor social.

A cadeira do Senhor era a mais elevada; todos os outros sentavam-se em banquinhos e eram servidos em bandejas de prata e taças de ouro.

As verduras e legumes eram relegados por serem consideradas pouco digeríveis para os estômagos nobres.

O mel, como adoçante, era consumido à vontade.As especiarias, raras e caras, tais como a noz-

moscada, a canela a pimenta do reino, tinham uma presença importante à mesa dos nobres. Elas conservavam as carnes por mais tempo, davam maior maciez e enriqueciam o sabor dos alimentos.

A COMIDA DOS RELIGIOSOSO jejum é sinónimo de espiritualidade e misticismo.

Na cultura medieval, o corpo impede a elevação para Deus, segurando os homens aos desejos e pulsões que mortificavam as almas.

A carne era o primeiro alimento a ser afastado. Comer para os monges era um momento de colectividade.

O almoço, rigorosamente ao meio-dia, continha legumes e sopa de verduras e mais um terceiro prato, composto, em dias alternados, por ovos, peixes e

Dr.ª Sónia XavierNutricionista Serviço de Atendimento ao Jovem Centro de Saúde do Bom Jesus

Há 500 anos… como era a alimentação na Idade Média?

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queijos.Nos dias festivos faziam duas refeições.Vinho e pão nunca faltavam.

PEIXE:A chegada do peixe às cidades, normalmente à

sexta-feira, era uma festa. Por lei, todo o peixe que sobrava era entregue aos pobres, para evitar que fosse vendido aos nobres peixe estragado.

SAL:Veneza tornou-se a cidade mais rica do mundo no

séc. XV quando a principal actividade dos venezianos era a exploração das salinas e o sal utilizado como moeda.

O sal exaltava o sabor dos alimentos, permitia a conservação das carnes e dos peixes e era considerado um revigorante.

CULINÁRIA:As pessoas adoravam perfumes e sabores,

misturando azedos, doces e salgados. No séc. XIV, com a chegada dos primeiros livros de receitas, as famílias

nobres começam a criair combinações mais lógicas e digeríveis.

ETIQUETA MEDIEVAL:As regras para participar num banquete eram

várias:• Não cuspir na mesa;• Manter as unhas cortadas e limpas;• Após espirrar limpar as mãos na própria

roupa e nunca na mesa!

O GARFO:O garfo chegou à Europa através da nobreza

italiana. Em 1600 era conhecido na Inglaterra, embora sendo visto como uma “afectação italiana”. Os poucos garfos existentes eram feitos de metais preciosos e serviam como objectos de luxo e ostentação.

No início chamado “bi-dente”, começou por ser utilizado por mulheres, pois para os homens era um sinal de fraqueza.

O sexo forte comia com as mãos e depois das refeições limpava-se em água de rosas, ou então, os cães lambiam os restos de comida que ficavam nas roupas!

Leia SFFA tua Revista. Participa!

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Do antigo à actualidade

História do Funchal

O arquipélago da Madeira foi descoberto em 1419 e o seu povoamento surgiu nos descobrimentos do sé-culo XV. Ensaiadas culturas que imediatamente deram lucros consideráveis, como logo de início o trigo e, de-pois, a cana sacarina, este modelo veio a ser exportado para as novas terras atlânticas.

Nos finais do século XV, com base na exploração do açúcar, a Madeira constitui-se como um centro inter-nacional de negócios, por aqui passando uma vaga de forasteiros internacionais. A produção e distribuição do açúcar madeirense foram uma das bases de formação do capitalismo mercantil internacional da época moder-na.

O porto do Funchal conheceu desde logo um enorme incremento, por aí passando os interesses e os agentes económicos da nova sociedade mercantil, como foi o caso do aventureiro Cristóvão Colombo.

A importância do porto do Funchal no contexto in-sular levou a que o pequeno burgo medieval fosse ob-jecto de uma muito especial atenção da coroa do rei D. Manuel. Em 1486, então somente como duque de Beja, dava ordens para se construir um núcleo adminis-trativo central. Para isso cedeu o “seu” Campo do Du-que, mandando aí construir uma Câmara, com Paço e uma “Igreja Grande”, que pouco tempo depois mandou transformar em Sé, para sede do futuro Bispado.

A cidade do Funchal, na Região Autónoma da Ma-deira, contará, a partir de Agosto de 2008, 500 anos de instituição como cidade pela coroa Portuguesa, a pri-meira a ser instituída nos vastos domínios dos Desco-brimentos. A sua instituição atendia ao desenvolvimen-to operado com a florescente cultura açucareira e tinha ainda em vista separar o vasto território descoberto pe-los portugueses da Ordem de Cristo.

Situada no cruzamento das duas avenidas, Zarco e Arriaga, na cidade do Funchal, a estátua é uma ho-menagem ao navegador português do século XV, João Gonçalves Zarco. A ele deveu-se a descoberta da ilha e um importante desempenho nos descobrimentos portu-gueses. É uma obra do escultor Francisco Franco.

Carina Pinto Tãnia Sá 10º 20

Avenida Arriaga

Igreja do Colégio

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Esta igreja foi fundada pelos Jesuítas em 1574.É uma típica igreja jesuíta de estilo maneirista, de

planta em cruz latina do século XVII. A construção da Igreja de São João Evangelista

está ligada à carta de dotação e doação passada por D. Sebastião, a 20 de Agosto de 1569, à Companhia de Jesus.

Por este diploma é permitida a fixação de uma co-munidade Jesuíta na Madeira que deveria proceder à edificação de um Colégio, levantado em 1599, cujas instalações deveriam ser adequadas ao seu alojamen-to, ao ensino e a prática das funções religiosas.

O Colégio e a igreja de São João Evangelista cons-tituem o maior conjunto edificado no Funchal até ao sé-culo XIX.

Palácio de São Lourenço

A denominação “Palácio de São Lourenço” reporta-se a um conjunto monumental que compreende a For-taleza, iniciada na primeira metade do século XVI.

Hoje, afecta ao Comando da Zona Militar da Madei-ra, é o Palácio residência Oficial do Ministro da Repúbli-ca para a Região Autónoma da Madeira.

O hoje Largo do Chafariz, no centro do Funchal, foi conhecido antes como Largo de São Sebastião, haven-do ali também uma rua do mesmo nome, nome esse dado em virtude de, naquele espaço, ter sido construí-da uma das mais antigas capelas da Madeira, dedica-da a São Sebastião, a que os moradores do Funchal, durante quatro séculos, prestaram a mais profunda e respeitosa devoção.

Largo do Chafariz

O Largo do Chafariz, onde se pode observar os car-ris onde circulava o “Carro Americano” 1897-1915.

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Largo da Forca. Aqui começaram por funcionar a pri-meira Alfândega do Funchal e as primeiras feitorias comerciais.

No centro do actual Largo, de 1989, encontra-se o Pelourinho do Funchal de 1486.

Sé Catedral

O cadeiral da capela-mor, baseada no estilo flamen-go, a porta principal, com linhas góticas e as peças de talha dourada do séc. XVII evidenciam algumas das ca-racterísticas arquitectónicas do período manuelino.

Este é o ponto mais central da cidade. Foi construí-da entre 1493 e 1514 por Gil Eanes, possuindo um dos mais belos tectos de Portugal feito em madeira da Ilha. A beleza arquitectónica desta catedral está associada às suas linhas hispano-árabes e romano-góticas.

Pelourinho

O Pelourinho do Funchal data 1471. Aí exercia-se a execução da justiça relativa a penas menores, por açoites.

A pena Capital praticava-se por enforcamento, num local afastado da cidade, situado a nordeste da Igreja do Socorro ou de S. Tiago, ainda hoje conhecido pelo

Câmara Municipal do Funchal

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Este edifício foi construído no século XVII por D. Jo-ana de Carvalhal, passando a albergar a sede do mu-nicípio a partir do final do século XIX. Este edifício bar-roco tem uma forma quadrangular, apresentando um pátio interior e uma decoração rococó na fachada.

Na fachada norte podemos observar um baixo-rele-vo da autoria de António Duarte, que representa o pa-droeiro da capital madeirense, Santiago Menor.

Teatro Baltazar Dias

O Teatro Baltazar Dias é a homenagem ao poeta cego da ilha da Madeira – Baltazar Dias – autor teatral da segunda metade do séc. XIX.

Construído em 1888, o Teatro Municipal foi palco das mais importantes manifestações culturais na Ma-deira, quer em cena, quer no ecrã, já que durante muito tempo a sala foi a única a exibir filmes na Madeira.

O Bazar do Povo nasceu em 1920.Pode dizer-se que este foi o primeiro centro comer-

cial existente na Madeira.

Apesar da concorrência dos novos centros comer-ciais, ainda hoje o Bazar do Povo é uma referência para os madeirenses como local de compras.

Bazar do Povo

Banco de Portugal

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Este edifício, sede do Banco de Portugal na Madei-ra, inaugurado em 1940, foi projectado pelo arquitecto Edmundo Tavares.

Porto do Funchal

Nos finais do século XV, com base na exploração do açúcar, a Madeira constitui-se como um centro interna-cional de negócios e o porto do Funchal conheceu um enorme incremento. Por aí passavam os interesses e os agentes económicos da nova sociedade mercantil.

A importância estratégica do porto do Funchal era re-conhecida pelo almirantado Britânico nos meados do século XVIII, levando a constantes levantamentos geo-hidrográficos e posteriormente a duas ocupações.

Rotunda do Infante

Cais do Funchal

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Duas razões me conduziram a uma aborda-gem deste tema neste número da leiasff: a primeira foi ter-me vindo ter às mãos, em

fotocópia, uma documentação referente ao período da instalação do ensino industrial no Funchal1 e a segun-da, a onda de comemoração dos 500 anos da elevação do Funchal a cidade. Faz sentido associá-las: o ensi-no técnico e profissional tal como o ensino liceal foram factores de crescimento e modernização económica e social, contribuindo para o desenvolvimento da cidade e da Região.

A primeira escola vocacionada para o ensino indus-trial no Funchal é criada por decreto de 10 de Janeiro de 1889.

A interessante documentação, atrás referida, ain-da na posse da Escola Secundária Francisco Franco2, dá-nos a conhecer os primeiros anos da instituição do ensino industrial no Funchal. São dois livros de Cor-respondência Expedida, registos de ofícios, da última década do século XIX e início do XX, que abarcam os primeiros catorze anos lectivos -1889/1890 a 1902/03 - e o primeiro período do seguinte. Estes ofícios, ordena-dos por assuntos, permitem conhecer o quotidiano da escola profissional aqui criada, que muitas vezes teve o seu destino incerto e estava afastada de Lisboa, grande centro de decisão. O primeiro destes livros cobre um espaço de tempo que vai de 11 de Setembro de 1889 a 25 de Agosto de 1898. Foi iniciado pelo primeiro direc-tor Cândido Pereira (Fig. 1) que, ainda muito jovem e em início de carreira, veio de Lisboa, sem garantias de permanência no lugar que vinha ocupar, com a incum-bência de instalar e dirigir, pelo menos nesse primeiro momento, a Escola de Desenho Industrial, no Funchal, designada Josefa de Óbidos. O segundo livro acaba em 14 de Agosto de 1903 e o final abrange o início da direcção do professor Vitorino José dos Santos, que o seguiu.

Na segunda metade do século XIX todos os gover-nos, em Portugal e no resto da Europa, encaravam o ensino industrial como uma necessidade para o desen-volvimento das classes industriais. No país estas preo-cupações passaram a decreto em 1852, com o ministro Fontes Pereira de Melo. Em Janeiro de 1865, o ministro e Secretário de Estado desta pasta, defendia que as classes industriais, careciam de instrução moral e inte-

lectual […] de acordo e em harmonia com a importante missão que elas são chamadas a representar na socie-dade moderna. Àquele segue-se outro decreto, datado de 3 de Janeiro de 1884, da responsabilidade do minis-tro António Augusto de Aguiar.

Os diferentes ritmos de crescimento económico e cultural nas diversas partes do nosso território condi-cionaram a instalação de estabelecimentos de ensino. Isso explica o tempo decorrido entre esses decretos e o momento em que o ministro, Emídio Júlio Navarro, cria, em 10 de Janeiro de 1889, a escola do Funchal com o fim de ministrar o ensino de desenho, com aplicação à indústria ou indústrias predominantes na localidade. As Escolas de Desenho Industrial tal como foram criadas estavam vocacionadas, como informa o Diário de Notí-cias, para o aperfeiçoamento das artes e industrias [e] progressos na produção de artefactos e do comércio correlativo.

As Escolas Industriais e as de Desenho Industrial, que se diferenciam pelo conjunto de matérias dos cur-rículos nelas ministrados, são tuteladas pela Direcção Geral de Comércio e Indústria do Ministério das Obras Públicas, Comércio e Indústria que se subdivide em duas Circunscrições: a do norte e a do sul. A Madeira integra a Circunscrição do sul. A esta Direcção Geral superintende um Inspector, entidade a quem os direc-tores destas escolas se dirigem com mais frequência para tratar dos assuntos que dizem respeito à adminis-tração e gestão escolar.

Por esta época, nas zonas urbanas em expansão, escolas há que merecem edifícios de raiz mas, em zo-nas de menores possibilidades económicas, condição em que se encontra a maior parte do país, as institui-ções escolares ocupam prédios urbanos com alguma dimensão, que o governo arrenda, geralmente a famí-lias nobres.

Segundo o Diário de Notícias a iniciativa e o esfor-ço de abrir uma escola de ensino industrial no Funchal deve-se a D. João de Alarcão Osório, Governador Civil deste distrito que, conhecendo a situação económico---social local, deu importância à implementação deste novo projecto de instrução na Madeira. São da sua responsabilidade, entre 5 e 13 de Janeiro de 1889, os anúncios do mesmo matutino que, coincidentes com a data do decreto de criação, tornam pública a necessi-dade de ser arrendada uma casa para a instalação da Escola de desenho industrial e descreve as condições de acomodação que a mesma deve apresentar (Fig. 2). Os proprietários de casas disponíveis, com as condi

1 - Estou agradecida à professora, colega e amiga Zelinda Mendonça, que me deu a conhecer este documento.2 - Antiga Escola Industrial e Comercial António Augusto de Aguiar. Em 1978 Liceus e Escolas Técnicas passam à designação única de Escolas Secundárias. Em 1979 o Governo da República determina que as designações das escolas secundárias das ilhas sejam fixadas pelos respectivos governos. É ainda nesse ano que o Governo Regional decide que, na região, se usassem para esse fim nomes de vultos madeirenses, pelo que cada escola deveria escolher o seu patrono. Esta escola escolheu para esse efeito o escultor madeirense Francisco Franco.

A instalação do Ensino Técnico e Profissional no Funchal

Dr.ª Fátima Abreu Professora de História

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ções indicadas, deviam apresentar as suas propos-tas de arrendamento até ao dia 3 de Fevereiro seguinte, na secretaria do Governo Civil. O diário nada mais infor-ma sobre este concurso. Mas o inspector da circunscri-ção do sul, Francisco da Fonseca Benevides3, no seu relatório anual, diz-nos ter sido graças às diligências de Silvano Freitas Branco, residente no Funchal, pessoa considerada no Funchal, que foi encontrada a casa adequada.

A nova escola é instalada na rua de Santa Maria, conforme nos informa o Diário de Notícias de 28 de Se-tembro que, a 3 de Outubro, em artigo de fundo sobre a inauguração, precisa a sua localização no n.º 45, porta que é hoje o n.º 73. Aquele matutino adianta ainda que fica aí provisoriamente. De facto, sabe-se, ter havido a expectativa de vir a construir-se uma escola de raiz de que se conhece plano datado de 14 de Março de 1889.

A primeira escritura de arrendamento do prédio da rua de Santa Maria, com os números de polícia 44 a 46, realiza-se a 8 de Maio de 1889. A proprietária é D. He-lena Abreu Acciaioly e outros com os quais é estabele-cido contrato, por três anos, iniciados em Maio de 1889, com pagamento de renda semestral sendo 320$000rs anuais. Deste edifício espaçoso, provavelmente para

conhecimento do ministro, foi desenhada uma planta por Joaquim António de Carvalho, Engenheiro Director das Obras Públicas do distrito do Funchal. Este prédio tem, para além do piso térreo em que estão as lojas e seis divisões, outros cinco andares tendo o primeiro oito divisões, o segundo cinco, o terceiro duas, o quarto três e o último, uma torre com mirante, segundo nos informa o inspector no seu relatório.

As escolas públicas, como instituições que são, criam-se, crescem, transformam-se, mudam de lugar, de nome… Esta escola, vocacionada para o desenho, começa por chamar-se Josefa de Óbidos, em memória da célebre pintora portuguesa Josefa de Ayalla, mais conhecida pelo nome da vila de onde era natural mas, no ano lectivo de 1891/1892, já se designa António Au-gusto de Aguiar, nome do ministro responsável pela im-portante legislação do ensino industrial de 1884.

A instituição e adequação das escolas depende de medidas governamentais e da força e poder de negocia-ção dos seus responsáveis que procuram moldá-las às necessidades dos núcleos populacionais que servem. A Escola de Desenho Industrial criada no Funchal, na sequência de anteriores esforços, nasce do cruzamen-to dessas duas forças: do poder político que a institui e das particularidades da população que o primeiro direc-tor Cândido Pereira, já no Funchal a 24 de Agosto do ano de 1889 para proceder aos trabalhos de instalação, se esforça por dar voz. Esta escola tem um arranque difícil: por dificuldades económicas que impedem o go-verno central de investir com arrojo nas reformas que o próprio julga imprescindíveis ao desenvolvimento do país e por razões económicas e sociais locais que não permitem uma forte procura das aprendizagens conti-das nos seus currículos.

No dia 31 de Agosto de 1889 o Diário de Notícias anuncia que estão abertas as matrículas a partir do dia 10 de Setembro e informa que a escola abre no dia 1 de Outubro, o tipo de cursos ministrados e as idades que poderiam ter os alunos (Fig. 3). Assina este anún-cio o mesmo inspector. O director a 11 de Setembro, através de ofício à Inspecção, informa, entre outras assuntos, que o número de alunos matriculados nessa data é de vinte e quatro. A 18 do mesmo mês anuncia novo aumento de inscritos. O mesmo matutino em 17 de Setembro salienta que já se acham matriculados na aula de Desenho alguns dos nossos artistas. É exem-plo a ser seguido pelos demais, aproveitando assim o benefício que aquela instituição deve dar no futuro. No dia 26 do mesmo mês, anuncia ainda que o número de alunos excede já a lotação da escola e que os ilustra-dos professores resolvem em cada dia de aula dividir os alunos em dois grupos para todos poderem beneficiar das aprendizagens que vão ali receber.

3. Francisco Fonseca Benevides (1836-1911). Foi professor de Física e de Hidrografia no Instituto Industrial de Lisboa, da Mecânica de Artilharia na Escola Naval de Lisboa. Em 1854 foi nomeado, por concurso, Regente da cadeira de Física do Instituto de Lisboa e Lente de Matemática e Artilharia da Escola Naval. Fez parte das Comissões encarregadas de estudar as exposições Internacional do Porto (1856) e Universal de Paris (1867). Fonseca Benevides fundou o Museu Tecnológico do Instituto Industrial de Lisboa. Em 1866 foi admitido na Academia das Ciências. Foi nomeado inspector das Escolas Industriais de Portugal em 1884, lugar que ocupou até 23 de Outubro de 1891, data em que foi exonerado a seu pedido.

Fig.1

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O Diário de Notícias mostra-se empenhado na pro-moção do ensino técnico, teórico e prático, que era ob-jectivo da nova escola, dedicando espaço e artigos de fundo que explicam o interesse de o frequentar. A 28 de Setembro salienta o considerável número de alunos e congratula-se com esta adesão, considerando que os artistas funchalenses tomam na devida consideração um dos mais importantes elementos da sua cultura in-telectual e profissional a que mais tarde deverão todos os seus triunfos no campo da arte e consequentemente o seu bem-estar social. Apesar da adesão inicial que obrigou a desdobrar os cursos de desenho em três tur-nos, os números referentes a matrículas, nos primeiros quinze anos de existência deste ensino no Funchal, de-monstram oscilações.

Alunos matriculados no ensino industrial Escola Josefa de Óbidos/Escola António Augus-

to de Aguiar

Ano lectivo N.º de alunos1889/1890 2601890/1891 142*1891/1892 721892/1893 451893/1894 1481894/1895 1231895/1896 1231896/1897 1181897/1898 701898/1899 661899/1900 551900/1901 771901/1902 761902/1903 881903/1904 112

*não corresponde ao número de alunos matriculados – 162, indi-cados no Relatório do mesmo ano, do inspector Francisco da Fonse-ca Benevides que é de 162.

Escola Industrial e Comercial de António Augusto de Aguiar, Anu-ário do Ano Lectivo de 1944 – 1945, Tipografia Minerva, Funchal, 1945.

No dia 29 de Setembro de 1889, outro anúncio cha-ma todos os alunos matriculados até ao dia 20 a com-parecerem no dia 30, pelas 11h, na secretaria da esco-la a fim de receberem os bilhetes de admissão para a abertura da Escola.

O edifício arrendado careceu preparação para a fi-nalidade a que se destinava. Isso mesmo se deduz de dois ofícios do director Cândido Pereira, em resposta à Inspecção: o primeiro datado de 11 de Setembro, participando o começo dos trabalhos de reparação e o segundo, de 14 de Outubro, em que remete a conta da despesa total feita com a instalação da escola in-

cluindo a importância anteriormente recebida da Inspecção, que foi de 159$010rs.

A escola é inaugurada no dia 1 de Outubro e a cerimónia merece cuidados da parte do seu responsá-vel que, a 23 de Setembro informa à entidade tutelar ser impossível apresentar o guarda da escola de-vidamente uniformizado no dia da inauguração […] por não ter sido ainda recebido de Lisboa o respec-tivo uniforme [e] participando estar feita a lista dos convidados […]. Mas não é apenas esse o pormenor de que cuida. No destaque dado ao acontecimento, pelo Diário de Notí-cias de 3 de Outubro de 1889 que lhe dedica seis colunas e meia da sua primeira página, ficamos a sa-ber que a entrada do edifício estava elegantemente adornada com es-colhidas plantas e variadas flores, que muito realçavam aquele recin-to. Na sala principal estava coloca-do um estrado aonde tomaram lu-gar as mais importantes entidades locais: o governador civil do distrito, o prelado diocesano e o comandan-te militar e outras figuras públicas do meio. A sessão é aberta, à 1h da tarde, pelo governador civil do distrito, que faz um elegantíssimo discurso, muito aplaudido, que o di-ário publica na íntegra. Segue-se o Director Cândido Pereira que, na in-tenção de não se alongar no discur-so, agradece a presença do gover-nador civil afirmando dever-se-lhe a criação dum estabelecimento de tal ordem no Funchal e mostrando-se disponível para dinamizar aquele projecto desta nova escola, com o mesmo sucesso demonstrado noutras do país. Discursa ainda o comendador Luís Ribeiro de Men-donça, secretário-geral interino do distrito, exaltando também a cria-ção desta escola e o seu promotor. No dia 6 de Outubro o Diário de No-tícias ocupa novamente algum es-paço, na sua primeira página, com este assunto e descreve os mode-los e demais material, no qual inclui mobiliário, com que está equipada a Escola Josefa de Óbidos, que abre as suas portas, com insuficiências mas com o possível para iniciar o seu papel na cidade do Funchal.

Fig. 2 – Diário de Notícias de 5 de Janeiro de 1889.

Fig. 3 – Diário de Notí-cias de 31 de Agosto de 1889, Anúncio.

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Este trabalho que teve a finalidade de lembrar a importância da instituição do ensino industrial na nossa cidade serve também para dar a conhecer um pouco do trabalho deste primeiro director da Escola de Desenho Industrial do Funchal, de quem pouco se tem falado e de quem se sabe muito pouco. O director Cândido Pereira (1889-1903), para além do seu trabalho em prol da instituição e afirmação des-te ensino, na Madeira, deixou-nos um auto-retrato a carvão, assinado, datado e com dedicatória: Cdo Pe-reira/ Nbro 1930 / À minha antiga e saudosa Escola, na pessoa do seu actual e ilustre director, meu queri-do amigo Major J. Reis Gomes, outro dos directores da Escola Industrial e Comercial desta cidade. Tra-balho artístico de qualidade, que pertence ao espólio desta escola, que urge dignificar e preservar.

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O espírito das comemorações do Funchal 500 Anos reportou-nos para os séculos XVII e XVIII e para o corpus artístico da Cida-

de do Funchal, com particular ênfase para o seu pa-trimónio pictórico de índole religiosa que se encontra, ainda, nos locais de origem, como na Sé, no Colégio de São João Evangelista, no Convento de Santa Cla-ra, no Recolhimento do Bom Jesus, nas igrejas de S. Pedro, do Carmo, do Socorro, do Corpo Santo, de Stª. Luzia, e em algumas capelas privadas integradas em quintas. Ressalve-se, no entanto, que muitas das obras que enriquecem as igrejas e capelas da cidade foram provenientes dos conventos extintos ou destruídos (S. Francisco, Mercês, Encarnação) e da Misericórdia. O Museu de Arte Sacra do Funchal possui, também, um excelente acervo deste período.

O desenvolvimento económico ocorrido no século XVII na Ilha da Madeira, assente essencialmente na produção vinícola, e o aumento populacional possibi-litaram a edificação de quintas com as suas capelas, conventos, igrejas, ermidas, altares e oratórios. As fa-mílias nobres, detentoras de poder económico, foram as responsáveis directas pela ornamentação de tais espaços, mas também a Diocese apoiada pelas confra-rias. Assim, os locais sagrados foram privilegiados por uma arte orientada pelo pathos e arte total1, sempre sob a égide da Igreja e respeitando as determinações

tridentinas no que concerne aos conceitos de decên-cia, honestidade decoro das imagens. Este núcleo de clientela revelou-se de gosto apurado e conhecedor do moderno que se produzia nas oficinas nacionais.

Para melhor compreendermos as palavras aqui es-critas, observaremos o retábulo Martírio de Santa Úr-sula e as onze mil virgens, obra assinada por Martim Conrado2 em 1653, hoje no Museu de Arte Sacra do Funchal3. Esta pintura é oriunda da capela da mesma invocação do Colégio, instituída pelo capitão e merca-dor Simão Nunes Machado e sua mulher, D. Joana Te-lo4.

Observando as figuras representadas no Martírio

1 - Citaremos como exemplos nobres de arte total as Igrejas do Colégio e de S. Pedro e a capela das Angústias. 2 - O pintor Martim Conrado pertenceu à geração proto-barroca portuguesa da qual foram mentores Domingos da Cunha, o Cabrinha, Domingos Vieira Serrão, o Es-curo, André Reinoso, Baltazar Gomes Figueira e José do Avelar Rebelo. Contemporâneo de Marcos da Cruz, Josefa D´Ayala (de Óbidos) e Bento Coelho da Silveira, por exemplo, esteve presente no tempo moderno da pintura nacional. Toda a sua obra, assinada e identificada, revela uma aprendizagem, directa ou indirecta, da pintura sevilhana. Martim Conrado trabalhou para uma larga clientela madeirense, destacando-se a família Berenguer e os padres jesuítas, entre 1640 e 1653. Estão identificadas na Madeira seis obras assinadas e pelo menos catorze atribuídas com segurança. A primeira referência a este pintor, como “insigne Pintor estrangeiro” e autor do “vistozo Retábulo” do altar mór do convento de Nª. Srª. das Mercês do Funchal (hoje desaparecido), data de 1722 e foi escrita por Henrique Henriques de Noronha, Memórias Seculares e Eclesiásticas para a composição da História da Diocese do Funchal na Ilha da Madeira (1722), Funchal, S.R.T.C. / C.E.H.A., 1996, p. 284. No entanto, a referência documental mais antiga sobre a sua actividade artística foi descoberta pelo investigador e historiador de arte Vitor Serrão, em 1999, que localizou o contrato de empreitada para a capela do Santíssimo Sacramento do claustro da Sé de Lisboa, datada de 1647: “Ao pintor Martim Comrrado de fazer oito paineis e dous quadros mais piquenos sincoenta e dous mil rs”. Arquivo da Irmandade do Santíssimo Sacramento da Sé de Lisboa, Livro de Receita e Despesa de 1642-1672, fl. 38 Vº. 3 - Algumas obras do núcleo de arte portuguesa do Museu de Arte Sacra do Funchal podem ser visionadas em http://www.museuartesacrafunchal.org/intro.html. 4- Simão Nunes Machado era descendente de mercadores e casou em Machico, a 7 de Fevereiro de 1624, com D. Joana Telo de Menezes, filha de Filipe Moniz Barata (homem da governança de Machico e fidalgo escudeiro) e de D. Maria Mendonça. Do seu matrimónio nasceram três filhos: António Nunes Machado, Francisco Manuel Moniz e Maria Machado, todos menores à data do seu falecimento, por isso, a sua mulher foi obrigada a pedir autorização para assumir o papel de tutora dos filhos. Ouvidas várias testemunhas, todas abonaram a favor de D. Joana Telo por ser “molher de mtª. calidade [sic] (...) pode dar boa criassão e bom governo aos dittos filhos” (A.R.M., J.O., “Treslado do Testamento de Simão Nunes Machado”, in Inventário de Simão Nunes Machado, Cx. 9, 1645). Simão Nunes Machado faleceu a 13 de Ou-tubro de 1645 e no seu testamento podemos ler que o casal desejava que seus corpos fossem “sepultados na capella das onze mil Virgens do Colégio da Companhia de Jesus” com as insígnias da Stª. Cª. da Misericórdia da qual eram irmãos (A.R.M., Documentos Avulso, Cx. 92, Prº. 8, fl. 3). D. Joana Telo afirmou que a

Em torno do património barroco da cidade do

Funchal: O Martírio de Santa Úrsu-la e as Onze Mil Virgens

Dra. Rita Rodrigues Professora de História da Arte

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Santa Úrsula e as onze mil virgens (as santas már-tires, o papa5, os hunos e a própria santa Úrsula), quer ao nível do desenho, quer da representação pictórica, como no tratamento da luz, verificámos que a realidade concreta, observável e palpável, interessou à geração protobarroca, e continuará a ser prática plástica dos ar-tistas barrocos, no que concerne à fuga dos propósitos estéticos maneiristas, demasiados intelectualizados e conceptualizados (Severo Sarduy). Assim, o naturalis-mo, enquanto processo e modo de representar, apre-sentou-se como um elemento caracterizador da pintura de seiscentos e prolongar-se-á na produção estética de setecentos. Tratou-se de uma consciência teórica, expressas já em Vicente Carducho6 e Francisco Pa-checo7 e, na prática pictural, assumiu os contornos

desejados para transmitir a força de uma mensagem - conteúdo, ideia, intenção, discurso.

Se por um lado, o naturalismo, essa nova forma de representar, fugindo das ambiguidades da maniera serviu um ideário religioso da igreja tridentina e contra-reformada, por outro, foi a clientela, religiosa e profana, que legitimou o gosto e a novidade. A pintura passou a ser representada do natural através dos efeitos de luz de modo a captar as sensações tácteis e visuais coadunando-se com os propósitos persuasivos e pro-pagandísticos da Igreja.

O Naturalismo-realismo, de profunda inter-relação e dificilmente inteligíveis separadamente, assumiu na pintura o papel de facilitador de comunicação atra-vés do concreto e do verosímil. O realismo buscava a identidade dos corpos, dos objectos, dos materiais, não como princípio estruturante mas de visualização de uma realidade. É uma oposição às teorias que ca-minharam lado a lado com o humanismo e que tendiam para uma erudição: restituição intelectual e pedagógica da Antiguidade (Michel Morineau).

Paralelamente, o naturalismo-tenebrismo, binómio explicativo para o combate dos excessos anti-natu-ralistas do Maneirismo, triunfou em Espanha com os pintores influenciados por Caravaggio, como Orazio Borgiani e Bartolomeu Cavarozzi, mas foi nas obras de Juan de Roelas, Juan Battista Maino, Juan del Cas-tillo, Antonio Mohedano, Juan de Uceda, Francisco Varela, Ribera, Pablo Lego, Francisco de Herrera, El Viejo, Zurbarán e de Murillo que mais se evidenciou, enquanto que na pintura portuguesa surgiu na segun-da década de seiscentos através da obra de Domingos da Cunha, "grande imitador do natural" (Félix da Cos-ta Meesen, 1696). Segundo Luís de Moura Sobral, no nosso país o tenebrismo será "tímido e nunca levará às últimas consequências plásticas e ideológicas a lógica inerente à sua razão de ser: o desenho acentuará os contornos das formas e das figuras, a luz será um tanto crua como crus e vigorosos serão os traços das perso-nagens, os fundos tendem a desaparecer"8.

Ao tenebrismo está directamente conotado o trata-mento de claro-escuro como marcação no suporte bi-dimensional de planos de luz e sombra aproximando a

capela estava “começada ao entrar à mão esquerda da Igreja” (16 de Junho de 1645, A.R.M., Documentos Avulso, Cx. 92, Prº. 8, fl. 13). Na verdade, a talha, a pintura e os azulejos desta capela são de uma data posterior (cerca de dez anos). O retábulo de Martim Conrado é assinado em 1653, enquanto os azulejos apresentam o ano de 1654. O Inventário do Juíz dos Orfãos confirma que o capitão Simão Nunes Machado era um homem abastado possuindo moços, escravos e vasto património. A sua actividade económica e social está bem documentada no Arquivo da Santa Casa da Misericórdia do Funchal (onde teve o cargo de Mordomo de Fora e da capela, como “irmão da primeira condição”, em 1630) e nas Vereações da Câmara Municipal do Funchal. 5 - Na cidade de Roma, Stª. Úrsula foi recebida pelo Papa Ciríaco, o qual acompanhou a comitiva na viagem de regresso a Colónia. Segundo Maria José Palla, o lugar ocupado por este papa na lenda é uma invenção tardia. A palavra e a Imagem-Ensaios sobre Gil Vicente e a pintura quinhentista, Lisboa, Editorial Estampa, 1996. Aqui, o papa encontra-se no meio de uma densa multidão e está identificado pela coroa papal (tiara tripla ou triregnum), de forma cónica e alongada na parte superior, composta por três coroas (representação dos três poderes ou três virtudes teológicas). Cfr. Jean Chevalier e Alain Gheerbrant, Dicionário de Símbolos: mitos, sonhos, costumes, gestos, formas, figuras, cores, números, Lisboa, Ed. Teorema, 1994, p. 645.6 - Especialmente através da sua obra Dialogos de la Pintura (1633). Vicente Carducho (c.1568-1638) nasceu em Florença mas foi em Espanha que desenvolveu a sua arte, onde foi pintor do rei entre 1609 e 1638. 7 - A sua obra El Arte de la pintura, concluída em 1638 e publicada em 1649-póstuma, embora o pedido de edição date de 1641, influenciou as gerações protobarrocas e barrocas europeias. Francisco Pacheco nasceu em Sanlúcar de Barrameda, em 1564, e faleceu em Sevilha no ano de 1644.8 - Luís de Moura Sobral, “Tenebrismo”, in Dicionário da arte barroca em Portugal , Lisboa, Editorial Presença, 1989, p. 479.

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dra-se no espírito da Igreja da Contra-Reforma, não só pelo tema do martírio, perfeitamente adequado à pie-dade barroca, tratado pelo contraste entre as figuras possantes dos hunos e a fragilidade e resignação dos mártires, mas pela forma como é plasticamente traba-lhado: variação modeladora de claro-escuro de modo a clarificar a vertente naturalista-tenebrista, com alguns laivos de realismo; as nuances de cromatismos “man-chados”, de gosto barroquista; os sfumatos, observá-veis especialmente nos fundos; os efeitos lumínicos modeladores de "profundidade"; o desenho cuidado (embora "endurecido” - ora como definidor de formas e volumes, ora mais esbatido e expressivo nas figu-ras do fundo que formam uma massa homogénea no quadro).

Nesta tela está bem marcada a paleta de Martim Conrado: vermelhos, azuís, violáceos, acompanhados de tons e matizes suaves, cálidos e desmaiados, numa experiência cromática (e formal) de influência florenti-na ("reformada").

Apesar de seguir fielmente (sem invenção) a gra-vura de Joahannes Sadeler I segundo Peter Candid (século XVI)9, Conrado mostra, nesta pintura, conhe-cer bem a obra de José do Avelar Rebelo10 e do pintor florentino Giovan Battista Paggi (1554-1627)11.

A lenda de Santa Úrsula e as onze mil virgens, uma extraordinária criação da hagiografia medieval, foi reto-mada pela igreja contra-reformada, empolgando os re-latos dos martírios e promovendo o culto das relíquias pela sua acção de afectação e emoção junto dos fiéis. As histórias da vida dos santos mártires enobreciam o heroismo em prol da religião católica.

A veneração e o culto de Santa Úrsula iniciou-se entre os séculos IX e XI, data que consta a atribuição nominal às santas virgens12. No entanto, remonta ao século IV a lenda do martírio desta santa e das suas companheiras. Julga-se que até ao século VIII fossem consideradas apenas as 11 virgens mártires, daí que seja quase uma incógnita o aparecimento da lenda das onze mil virgens. A atribuição, mais aceitável e plausí-vel, do número onze mil encontra-se na leitura ou es-crita de algum manuscrito onde à numeração romana onze (XI) fosse acrescentado o traço horizontal

representação ao (objecto) natural, por isso, enquanto técnica pictural procurava diferenciar e acentuar os con-trastes de luz reforçando a solidez formal dos corpos e objectos, através do efeito de modelação lumínica.

O efeito ilusório da aproximação da pintura à lingua-gem tridimensional da escultura é característico do rea-lismo. Esta técnica permitiu às gerações protobarrocas e barrocas (XVII e XVIII) a realização de experiências, muito inovadoras, na captação de sensações percepti-vas através da visão e do tacto. Teve a sua origem na Itália do Norte, ainda em ambientes maneiristas, sob a influência de Caravaggio, como já referimos, cujas obras circulavam no mercado espanhol como Valência, Sevilha, Madrid e Toledo, centros onde o tenebrismo encontrou um espaço fértil e aberto à sua inovação.

Não podemos falar de naturalismo, realismo e tene-brismo sem referir a técnica do claro-escuro, processo utilizado pelos pintores que permitia a representação/ interpretação do fenómeno da passagem da sombra à luz (e vice-versa), cuja prática exigia a recorrência a uma modelação suavizada ou a um violento contraste de valores, por vezes, agressivo e duro. Leonardo da Vinci já tinha referido a importância da passagem da luz à sombra, mas este aspecto técnico, como meio de atingir um propósito estético barroco, foi abordado pela primeira vez por Galileu (na sua carta ao pintor L. Cigoli, 1612).

O claro-escuro protoganizou as ambiências com luz directa ou indirecta, natural (exteriores), artificial, da qual foi mestre Caravaggio (velas, candeias, archotes) e sobrenatural (nos ambientes espirituais e místicos). Se o claro-escuro é o recurso técnico de representação, modelador de valores, volumes e espaços, a luz apre-senta-se como elemento construtivo, de elaboração, de luz-sombra-penumbra. O claro-escuro permitiu a ex-ploração vincada do naturalismo-realismo-tenebrismo e contribuiu para a execução de imagens decorosas, honestas, decentes.

Estas intenções estilísticas estão patentes no Mar-tírio de Santa Úrsula e as onze mil virgens de Martim Conrado, que se encontrava no local de origem (Igreja do Colégio) rematado por uma tela da Virgem e o Me-nino, atribuída ao mesmo pintor. Este retábulo enqua-

9 - A pintura de imaginária recorreu muitas vezes a modelos gravados, no sentido de seguir esquemas iconográficos, composições e figuras. As gravuras ora perten-ciam à clientela esclarecida que tinha acesso a gravados, impondo, assim, modelos aos artistas, embora estes tivessem um espaço de liberdade no que concerne às variações interpretativas e à “colagem” de imagens - recorrência a pormemores (mãos, rostos, arquitecturas) ou a mais do que uma estampa procedendo à composição de várias figuras, como à introdução de elementos novos consoante a temática do quadro-, ora às oficinas e pintores. Seguir uma estampa fielmente levantou alguns problemas aos pintores, pois muitos artistas defenderam a invenção como permissa primordial de um imaginário e remeteram para um segundo plano os que “só co-piam estampas diferentes, sem adicionar nada para além das cores” (Félix da Costa). No entanto, a passagem de um desenho gravado, basicamente linear e estrutural, para uma pintura a óleo, exigia do pintor perícia e capacidades técnicas para resolver problemas na modelação de valores de forma a atingir a tridimensionalização formal (realismo e naturalismo).10 - José do Avelar Rebelo, activo entre 1630 e 1657 (Lisboa), foi considerado “o melhor pintor que havia então em Lisboa” (1639). Pertenceu à geração protobarroca e foi pintor régio de D. João IV. 11 - Giovan Battista Paggi (1554-1627), florentino estabelecido em Génova, pertence ao grupo de pintores que contribuiu no processo de superação do Maneirismo “reformado” e na utilização de fórmulas naturalistas renovadores seguindo os pintores do final do século XVI, como Cígoli, Passignano e Sorri.12 - As outras santas mártires são identificadas por Auta, Marta, Brittula, Gregória, Saturnina, Sambatia, Pinnosa, Sentia, Palladia, Saturia. Mais tarde acrescentaram os nomes de Clementia e Grata, aumentado para treze os nomes das santas e dificultando ainda mais o entendimento desta lenda. “Onze Mil Virgens”, In Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira, Vol. XIX, Lisboa / Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia Limitada, s/d, pp. 480, 481. Outros autores indicam as santas Juliana,

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que exprime os múltiplos de mil, ou ainda, a leitu-ra da abreviatura de mártir, representada pela letra "M" fosse interpretada por mil, cuja escrita abreviada é de igual representação.

Resume-se, assim, a história de santa Úrsula:“Filha de um rei cristão da Bretanha, Úrsula é prometida em casamento a um princípe pagão. Pede três anos para reflectir e licença de peregrinação a Roma mas acom-panhada por dez donzelas nobres, cada uma delas com um séquito de mil virgens. As peregrinas viajam por rio e mar, numa deriva por vezes geograficamente confusa mas cheia de piedosas peripécias, arrastando consigo bispos e dignatários, o noivo e a corte, o próprio papa Ciríaco e a sua cúria. Aportam por fim a Colónia, sendo todos massacrados pelos Hunos que sitiavam a cidade

Babila e Vitória, filhas de Stª. Gerasina (prima de Santa Úrsula) e de Quinciano, rei da Sicília, como possíveis figuras deste martírio. É comum aos vários autores a figura de Stª. Auta. 13 - José Alberto Seabra Carvalho e Mª. João Vilhena Carvalho, A Espada e o Deserto, Lisboa, M.N.A.A., Abril-Setembro de 2002, p. 26 (Catálogo). Maria José Palla indica a origem da Lenda das Onze Mil Virgens num texto do final do século IX, FUIT TEMPORE PERVETUSTO, cujos episódios foram acrescentados na HISTORICA REGNUM BRITANNIAE de Geoffroy de Monmouth, embelezada por Hermann Joseph e pela abadessa Elizabeth de Schonau e tendo diversas variações como a de Jacques de Voragine em LEGENDA AUREA. Maria José Palla, ob.cit. 14 - Indica-se, por vezes, o próprio papa, que acompanharia a caravana. Jorge Campos Tavares, Dicionário de Santos - Hagiográfico, iconográfico, de atributos, de artes e profissões, de padroados, de compositores de música religiosa, Porto, Lello & Irmãos Editores, 1990, p.142.

e tinham natural sanha contra peregrinos cristãos”13. No século XII (1105-1106) e durante uns trabalhos

de fortificação na cidade de Colónia, perto da Igreja de S. Cuniberto, foi encontrado um antigo cemitério roma-no (Ager Ursulannus) cujo número elevado de ossa-das fez crer tratar-se do martírio das onze mil virgens. No entanto, dessas ossadas constavam esqueletos masculinos, o que veio a dificultar qualquer explicação hipotética do massacre de tão elevado número de san-tas. As ossadas masculinas foram mais tarde conside-radas como pertencentes ao papa e aos condutores espirituais das virgens14.

Abril de 2008

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recolhida, que era um grande coleccionador, seguindo as caminhadas do pai, e amante das viagens culturais sobre as quais deixou algumas crónicas e relatos. A ar-quitectura foi a sua formação académica cujos estudos realizou na Academia Portuense de Belas Artes.

A curta estada na Madeira, como docente na nossa escola, motivou a escrita de vários artigos sobre a ilha, publicados em jornais do Norte, entre 1914 e 1917, e depois copilados e editados após o seu regresso ao Continente:

Palavras do Arquipélago da Madeira, Porto, Ed. Ma-ranus, 1929

O cadeirado da Sé do Funchal, Porto, Emp. Indust.

Emanuel Ribeiro foi professor na Escola Indus-trial António Augusto de Aguiar, hoje Escola Secundária Francisco Franco, e, por isso,

deixamos aqui, num espaço próprio como é a Revista leiaSFF, um pequeno contributo para motivar futuros estudos e divulgação dos mestres, professores, artífi-ces ou antigos alunos da nossa escola.

Como docente conhecemos a sua actividade na Es-cola Industrial Faria de Guimarães1 , na Escola Normal para o ensino de Desenho, em Lisboa2 , e na Escola Industrial António Augusto de Aguiar, no Funchal, entre 1914 e 19173 , onde o seu nome figura documentado nos Livros de Exames como presidente de júri e como vogal nos anos lectivos que ali leccionou (1914-1915, 1915-1916 e 1916-1917)4.

Emanuel Ribeiro, nome com que assina as suas obras plásticas (desenho, gravura)5 e publicações, é Emanuel Paulo Vitorino Ribeiro. Nasceu no ano de 1884, a 23 de Março, na cidade de Paris, e faleceu em 1972, com a provecta idade de 88 anos. Era filho do pin-tor portuense Joaquim Vitorino Ribeiro6, irmão do crítico e historiador de arte Pedro Vitorino Ribeiro7 e marido da escultora Alice de Azevedo Ribeiro8.

Emanuel Ribeiro desenvolveu um conjunto de acti-vidades em prol da investigação e divulgação da arte. Assim, encontramos diversos registos e publicações na área da poesia, etnografia, arqueologia, estudos e critica de arte, como apontamentos sobre história, de-senhos e gravados. Sabemos, pela diversa informação

Emanuel Ribeiro: professor e investigador

1 - Emanuel Ribeiro foi director da Escola Industrial Faria de Guimarães tendo sido homenageado pelos professores e mestres deste estabelecimento (hoje Escola Soares dos Reis, Porto). A foto deste evento pode ser visionada em http://anjosmendes49sreis.blogspot.com/. Era director desta escola em 1929, segundo as afirma-ções de Cláudio de Basto (Viana do Castelo, 2 de Janeiro de 1929), preâmbulo do livro Palavras do Arquipélago da Madeira, Porto, Ed. Maranus, 1929, p. 8, nota 1. 2 - A informação sobre a docência na Escola Industrial Faria de Guimarães (Porto) e Escola Normal para o Ensino do Desenho (Lisboa) é dada por Maria Proença, “Um arquitecto da memória” – prefácio da reedição de O doce nunca amargou: Doçaria Portuguesa. História. Decoração. Receituário, Sintra, Colares Ed., 1997. Em 1920 J. Leite de Vasconcelos refere-se a Emanuel Ribeiro como “distinto Professor de uma Escola Industrial de Lisboa”, citado por Cláudio Basto no preâmbulo de Palavras do Arquipélago da Madeira. Emanuel Ribeiro em 1926 ainda está na Escola Normal para o ensino de Desenho em Lisboa, pois a publicação do seu livro Onde se leem algumas palavras de conselho, censura e estímulo aos nossos trabalhadores dos metais nobres e muito principalmente áqueles que ora se iniciam na arte indica-o como docente neste estabelecimento. 3 - http://www.ceha-madeira.net/elucidario/e/esc9.htm, 15/04/2008, 18:43h.4 - Livros de Exames nº.s 2, 3 e 4 dos anos lectivos 1914 a 1917. A sua última assinatura data de 20/07/1917. Estas informações foram gentilmente facultadas pela nossa colega Drª. Fátima Abreu, docente de História na Escola Secundária Francisco Franco, a quem deixamos o registo do nosso agradecimento. 5 - Nas obras plásticas assina ER dentro de um rectângulo. 6 - Joaquim Vitorino Ribeiro (1849-1928), pintor portuense, foi discípulo de João Correia e Alexandre Cabanel. Segundo Fernando Pamplona foi um “Artista de boa técnica e de grande probidade, era talvez um tanto frio de expressão como se vê na sua grande tela “O martir” que se encontra actualmente no Museu Nacional Soares dos Reis (Porto). “Ribeiro, Joaquim Vitorino” in Dicionário de pintores e escultores portugueses, Vol. V, 4ª. Ed., Barcelos, Civilização Ed., 2000, p. 55. Joaquim Vitorino Ribeiro estudou em Paris, encontrando-se nesta cidade quando seu filho Emanuel Ribeiro nasceu em 1884, e as suas obras estão integradas nos acervos do Museu de Arte Contemporânea, no Museu Militar, no Palácio da Praia e Monforte (Lisboa), na Misericórdia do Porto e no Museu Nacional Soares dos Reis no núcleo da pintura portuguesa do Romantismo e Pré-Naturalismo. Esteve representado na Exposição da Academia Portuense de Belas Artes, na Sociedade Nacional de Belas Artes (Lisboa) e na Exposição de Arte no Porto, no ano de 1887. Na cidade invícta está situada a Casa Museu Vitorino Ribeiro na rua com o seu nome.7 - De entre várias obras de Pedro Vitorino Ribeiro (1882-1944) conta-se uma dedicada a seu pai, O pintor Joaquim Vitorino Ribeiro – estudos e esbocetos I (Porto, Emp. Ind. Gráfica, 1934) mas deixamos aqui outros títulos de interesse: Litografias de João Baptista Ribeiro (1940), Engenheiros e arquitectos, desenhadores de antigas plantas do Porto (1939), Escultura Portuguesa Medieval: Nª. Srª. de Campanhã e Nª. Srª. do Rosário de Campanhã (1942), Inscrições das muralhas do Porto (1942), Os Santos patrocinadores: médicos e cirurgiões (1942).8 - Até ao momento não foi possível situar informações sobre a actividade artística de Alice de Azevedo Ribeiro, apenas localizamos um desenho seu no livro de Emanuel Ribeiro, Considerações sobre a arte da caricatura, Porto, Estampa 1 (caricatura).

Dr.ª Rita RodriguesProfessora de História da Arte

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Gráfica, 1930Terra Nossa – Madeira, Porto, Ed. Maranus, 1936O primeiro contacto que tivemos com Emanuel Ri-

beiro remonta a alguns anos quando comprámos, numa feira, um pequeno, mas delicioso, livrinho intitulado Pa-lavras do Arquipélago da Madeira. Antes de ser impres-so em forma de opúsculo, os apontamentos sobre as formas de falar madeirense foram publicados na Folha de Viana (Viana do Castelo), com o título “Em Terra Nossa”, nos números 568, 571, 580, 585 e 590, a 17 de Maio, 7 de Junho, 9 de Agosto, 13 de Setembro e 18 de Outubro, de 1916, com a concordância do seu director João da Rocha, e do redactor principal, Cláudio Basto. Foram também publicados por J. Leite de Vasconcelos na Revista Lusitana (vol. 23, 1920), depois de revistos e corrigidos.

Emanuel Ribeiro testemunha que “todos os vocábu-los aqui mencionados não se encontram no dicionário de Cândido de Figueiredo, edição de 1913”9, por isso, e pelo valor lexical do trabalho daquele professor, Cláu-dio de Basto remeteu a lista de vocábulos madeirenses directamente ao autor do Novo Dicionário da Língua Portuguesa, Cândido de Figueiredo, que aproveitou o trabalho mas omitiu a sua verdadeira autoria. Assim, no preâmbulo das Palavras do Arquipélago da Madeira ficou uma advertência: “Bom será, todavia, que os di-cionários futuros, no caso de se seguirem pelo dicioná-rio de Figueiredo, não deixem de confrontar, no que diz respeito às expressões madeirenses (...) pois devido a má revisão ou a desatenção, não são raros os deslizes que no dito dicionário se topam”10.

Emanuel Ribeiro explica a motivação que o levou a recolher directamente da boca do povo tais vocábulos: “Desde o primeiro dia em que desembarquei na Ma-deira resolvi tomar notas dos diversos e variadíssimos vocábulos que têm uso aqui e, para mim, forasteiro, for-mavam uma linguagem estranha e extravagante. (...) Convém confessar que êste trabalho foi levado a cabo por simples curiosidade de humilde observador que vai registando na carteira tudo aquilo que o abala com in-terêsse e onde encontra motivo para uns momentos de estudo agradável”11.

Outra publicação de Emanuel Ribeiro é O cadeirado da Sé do Funchal, em 1930, pela Empresa Industrial Gráfica do Porto, em forma de opúsculo, depois de o ter publicado nos artigos de Terra Nossa e num capítulo do livro Terra Nossa – Madeira.

O cadeirado da Sé do Funchal é ilustrado com de-

senhos do autor que coloca em análise gráfica a anato-mia de cada figura individual do respectivo cadeirado, com ênfase para o borracheiro, o vilão, o cavador, e alguns animais como o cordeiro, a pomba, o veado, o dromedário, etc. Acompanha os desenhos um texto de estudo etnográfico: “(Vilão) não lhe faltando o barrete ainda em uso em 1821 e que vem representado no li-vro “A History of Madeira” (...) (borracheiro). Na figura observa-se perfeitamente a bota rasa, de capado, ainda presentemente em usança pela gente do campo e que tam característica é. Veste blusa prêsa à cintura tal qual alguns vinhateiros franceses do século XV, como nos é revelado pelos documentos da Colecção Gaignières”12.

Por fim, Terra Nossa - Madeira, também com de-senhos do autor, foi publicada pela Ed. Maranus, no Porto, em 1936. Emanuel Ribeiro, homem curioso e imbuído pelo gosto da descoberta e do estudo, des-creveu estilisticamente a Catedral do Funchal, sempre com sentido crítico e observador, como conhecedor das linguagens técnicas e estéticas da arquitectura e das artes plásticas, embora carregue nas suas palavras uma crítica de pendor romântico: “Na Sé do Funchal há mais de cinquenta panos e tábuas onde o pincel do artista fêz, e, em alguns dêles, belamente, vibrar as ga-mas iridescentes das côres. Dos fundos escurecidos aparece-nos, por vezes, o recorte puro de figuras to-cadas dum tal sentimento e vida, animadas duma tal pureza e ternura, que apenas parecem quedar-se numa estática e mística contemplação”13. Fazia, no entanto, algum secretismo dos seus achados. Referindo-se às tábuas que ornam o altar mór da Sé, afirmou que “Em uma delas julguei encontrar o soberano perfil duma personagem ilustre. Guardo, porém, para um próximo trabalho algumas detalhadas, elucidativas referências

9 - “Terra Nossa”, in Folha de Viana, nº. 568, 17 de Maio de 1916. 10 - Cláudio de Basto, preâmbulo de Palavras do Arquipélago da Madeira, Porto, Ed. Maranus, 1929, p. 12. 11 - Idem, op. cit., pp. 10-11. 12 - Emanuel Ribeiro, O cadeirado da Sé do Funchal, Porto, Emp. Indust. Gráfica, 1930, p.8. Sobre este cadeirado Cfr. Fernando Augusto da Silva (padre), A Sé Catedral do Funchal – Breve notícia histórica e descritiva, Separata do livro A Diocese do Funchal, Funchal, Ed. do Autor, Oficinas “O Jornal”, 1936; Luíza Clode, “O cadeirado da Sé do Funchal”, in Das Artes e da História da Madeira, Vol. 6, nº. 30, 1960, pp. 33-44; e Manuel Juvenal Pita Ferreira (padre), A Sé do Funchal, Funchal, Ed. da Junta Geral do Distrito Autónomo do Funchal, 1963.13 - Idem, Terra Nossa – Madeira, Porto, E. Maranus, 1936, 93-94.

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lhe impressionou o cérebro e que a sua mão firmou com firmeza e expontaneidade admiráveis.

São dêsses improvisos os desenhos que ilustram êste “Livro íntimo”19.

Quinze desenhos e pinturas da autoria de Joaquim Vitorino Ribeiro elucidam a forma representativa dos seus formalismos técnicos e preceitos estéticos. Des-tacamos os dois retratos de Emanuel Ribeiro, datados de 1890, quando tinha apenas seis anos: um desenho executado com aparo vulgar e tinta de escrever, muito expressivo e espontâneo, e uma pintura a óleo, mais austera e rigorosa, com laivos de certo romantismo ob-serváveis no olhar introspectivo da criança, dentro do gosto do Naturalismo português.

Este livro não tem data de impressão, mas pela leitura do texto inicial trata-se de uma homenagem ao pintor Joaquim Vitorino Ribeiro, pai do autor, que fale-ceu em 1928.

Em O homem e a arte, (Porto, Tip. Sequeira, 1929), Emanuel Ribeiro deambula pelos conceitos que per-meiam a arquitectura e a engenharia, revelando a he-rança do ensino (e da sua formação pessoal) das an-tigas academias de Belas Artes, onde a “arquitectura artística” era de evidente preocupação formal e estéti-ca no que se refere à harmonia, equilíbrio, decoração e conjugação de materiais, enquanto aos engenheiros, formados nas Escolas Politécnicas e mais pragmáti-cos, caberia a árdua tarefa de resolução de problemas práticos e funcionais. Deixamos aqui a visão do autor:

“(...) O arquitecto, não! Trabalha mais com o co-ração, vive mais da luxúria da forma e os seus olhos gosam a musicalidade dos ritmos, a consonância das linhas marcadas em compassos de belesa, que não são mais que formas estáticas e sólidas.

(...). Uma é pensada, a outra é sentida, e Jean-Jacques

Rousseau diz-nos que “quando se começa a pensar deixa-se de sentir (...) A obra de um arquitecto é uma obra de emoção e de sentimento”20.

No livro Como os nossos avós aprenderam uma profissão, Emanuel Ribeiro surge como autor da Asso-ciação dos Arqueólogos Portugueses, cuja publicação foi da responsabilidade da Ed. Apolino, Gaia, em 1930, sob a égide do Instituto de Coimbra.

Esta obra, perfeitamente datada, como toda a sua bibliografia, expressa a relação entre o saber e o fazer, entre a arte e o artesanato, entre o artista e o artesão. Como já dissemos não temos a pretensão de realizar

a êsse painel”14. Em 1936, o padre Fernando Augusto da Silva lamentava que o autor não tivesse revelado a sua dedução e que “Infelizmente não apareceu ainda a público este trabalho”15. Ainda hoje não sabemos a quem se referia o autor.

Em Terra Nossa – Madeira, e nos vários capítulos dedicados à ilha, descreve as montanhas, as vegeta-ções, os sítios, as gentes, as romarias, as tradições, os vilões e as viloas, etc., expressando uma visão peculiar sobre as realidades e vivências dos ilhéus na sua rura-lidade e urbanidade próprias. Destacamos neste livro os seus desenhos16, a engraçada descrição da festa (o Natal)17 e do abalo sentido a 3 de Dezembro de 1916.

Mas outras obras merecem referência. Deixamos aqui alguns exemplos:

Onde se leem algumas palavras de conselho, censu-ra e estímulo aos nossos trabalhadores dos metais no-bres e muito principalmente áqueles que ora se iniciam na arte, obra editada pela Tip. Sequeira, no Porto em 1926, é um texto perfeitamente datado no que concerne à conceptualização de arte e de produção artística, mas onde as referências às obras de Émile Bayard, Baude-laire, Lalique, entre outros, indicam conhecimento so-bre alguns apostolados, iniciados nos finais de XIX, que perspectivaram as problemáticas da arte moderna.

Publicado pela Empresa Industrial Gráfica do Porto, o Livro íntimo – o pintor Joaquim Vitorino Ribeiro: notas de arte e amor18 é uma obra de cariz pessoal e quase intimista, pois é uma visão sobre a produção artística de seu pai onde deixa transparecer emoções, saudades, sentimentos, no entanto, o autor consigna alguns dos seus princípios acerca dos processos de representação e expressão do desenho e da pintura, sempre através da construção idílica de uma imagem:

“O croquis tem a propriedade de conservar a gra-ça anímica da improvisação e o aroma ténue daquelas frases murmuradas que valem epopeias e ultrapassam em emoção os compassos mais requintados do nosso sentimento...

Todos nós possuímos meios diferentes de expres-são. E, muitas vezes, cantamos, choramos, rezamos, sem música, sem lágrimas e sem palavras.

E o artista pintor é nesses simples ritmos que mani-festa as suas mais sentidas, profundas e íntimas evo-cações.

(...)O croquis é o registo da fulguração que iluminou por

um instante a alma de um artista. Linguagem expressi-va e breve que contém a imagem relampagueante que

14 - Emanuel Ribeiro, “A Catedral”, in Terra Nossa - Madeira, Porto, Edições Maranus, 1936, p. 94. 15- Fernando Augusto da Silva (padre), A Sé Catedral do Funchal – Breve notícia histórica e descritiva, Separata do livro A Diocese do Funchal, Funchal, Ed. do Autor, Oficinas “O Jornal”, 1936, p. 24.16 - Destacamos dois desenhos: O Arco dos Varadouros (Funchal), cuja data de construção é do século XVII (1689), que foi destruído em Abril de 1911 sob pretexto de um melhoramento local. Cfr. http://www.ceha-madeira.net/elucidario/n/nos68.htm (15/04/2008, 10:18h). Emanuel Ribeiro executou o desenho possivelmente através de uma fotografia; e a Casa de Colombo.17- Emanuel Ribeiro, Terra Nossa – Madeira, Porto, Ed. Maranus, 1936, pp. 47 e 61. 18 - Esta obra teve uma tiragem de 200 exemplares numerados, dos quais foram postos à venda os números 101 a 200. 19 - Idem, Livro íntimo – o pintor Joaquim Vitorino Ribeiro: notas de arte e amor, Porto, Emp. Ind. Gráfica, s.d, p. 8. 20 - Idem, O homem e a arte, Porto, Tip. Sequeira, 1929, pp. 16-17.

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um texto crítico sobre este autor e a sua produção artística e bibliográfica, mas o texto desta obra denuncia uma consciência social e pedagógica sobre as aprendi-zagens e as profissões que merece atenção. Emanuel Ribeiro refere a situação dos aprendizes, os segredos das oficinas e dos mestres, os regimentos, a extinção da “Casa dos vinte e quatro” (decreto de 7 de Maio de 1834), revelando conhecimento e reflexão (critica) so-bre os procedimentos do ensino profissional:

“A vida de aprendiz era servil, de humilante sujei-ção.

Os patrões ou mestres de certas profissões trata-vam-nos, por vezes, como animais.

O pão que comiam era positivamente ganho com o suor do rosto.

Prevalecia nêles, porém, a falsa humildade, o simu-lado respeito, a dissimulação e a covardia.

Os mestres faziam, no entanto, o que lhes tinham já feito. Torturavam porque tinham sido torturados tam-bém; obrigavam-nos aos trabalhos penosos porque igualmente tinham calcorriado a mesma estrada do sa-crifício.

Porém, desta aprendizagem resultavam atrofias te-nebrosas” 21.

Acusa mesmo que “Certas profissões eram verda-deiros títulos de nobreza, aos quais nem a todos era dado aspirar”22, e para melhor fundamentar esta afirma-ção recorre ao Livro dos Regimentos dos Officiaes Me-canicos da mui nobre e sempre leal cidade de Lisboa (1572), publicado por Vergílio Correia: “Que nenhum ourives de ouro seia tam ousado que nesta cidade e seu termo ensine a escravo algum preto, nem branco, nem indio o dito oficio, nem os tenham em suas tendas, etc”23.

Nas Considerações sobre a arte da caricatura, Por-to, Empresa Industrial Gráfica, 1937, Emanuel Ribeiro, dentro da simplicidade e modéstia que caracterizam a sua obra, alerta logo ao leitor, na explicação prévia, que o presente texto “Não é, pois uma doutrina ou tratado, mas sòmente uma palestra leve e despretensiosa”.

Constantando a falta de um estudo específico sobre a caricatura, enquanto forma de comunicar e expres-sar, o autor propõe algumas definições para o tema em estudo subjacente aos meios de formar, afirmando que “O caricaturista é um amplificador das anormalidades, dos grotescos, do que o indíviduo tem de marcante e pessoalista. (...) Deforma a deformação e conforma-se

com a deformidade. (...) A caricatura tende sempre para uma simplificação. Pode-se quási dizer que é um es-quema fisionómico do indivíduo ou mesmo o indivíduo observado em síntese – mencionado num gráfico de estigmas de semelhança (...)”24.

Aqui ficam outros títulos da autoria de Emanuel Ri-beiro com as informações mais completas que conse-guimos25:

Literatura / Poesia: Linho (1904; esgotado), Huma-nos (1906), Terra! Terra! (colaboração com Feliciano Soares; esgotado), Fumo da Lareira (ilustrado com de-senhos do autor, Porto, Tip. Sequeira), De Taipa e Col-mo (Porto, Tip. Sequeira, s.d.).

Literatura/ Prosa: Serguilha e Tormentos (crónicas ou retalhos de prosa; Porto, Tip. Sequeira, s.d).

Etnografia e arte: O doce nunca amargou: alguns motivos ornamentais da doçaria portuguesa, 1923 (re-editado em 1928 com o subtítulo Doçaria Portuguesa. História. Decoração. Receituário pela Imp. da Univ. de Coimbra, e novamente em 1997 em edição póstuma, Sintra, Colares Ed., 1997, com prefácio de Maria Proen-ça), Água fresca (apontamentos sobre olaria nacional; Porto, Tip. Sequeira, s.d.), Anatomia da cerâmica por-tuguesa (Coimbra, Imp. da Univ., 1927; reeditada pelo Museu de Ovar em 1985), Colectânea de notas sobre arte, La vertu de l´Osier et du Genêt (Coimbra, Imp. da Universidade, 1930), Uma notável obra de ferro forjado do século XII, Grande Seara: problemas de Arte (Porto, Emp. Ind. Gráfica, 1934), Em terra nossa (ed. ilustrada da Livraria Portugália), Periscópio (notas de arte com colaboração de seu irmão Pedro Vitorino Ribeiro), A virtude do vime e da giesta (estudo etnol. dos gigos, cestas, etc.), Idealismo e Misticismo26, A arte do papel recortado em Portugal (Coimbra, Imprensa da Universi-dade, 193227).

Desenho e gravura: Xilogravuras (obra gravada de sua autoria), Porto, Papelaria Progresso, 1932, Da tar-de de ontem à manhã de hoje – bosquejo de arte, Porto, Tip. Sequeira, 1926 (gravuras em madeira do autor).

Ilustração: O querido tio Gustavo, de Maria Francisca Tereza (livro para crianças), Lisboa, Lvª. Ed. Guimarães & Cª., e desenhos de Emanuel Ribeiro (pp. 17, 40, 89, 105, 125), Em casa da avó na Ilha da Madeira, de Maria Francisca Tereza (livro para crianças), com gravuras de Emanuel Ribeiro, Lisboa, Lvª. Clássica Ed., 1922.

Abril de 2008

21 - Idem, Como os nossos avós aprenderam uma profissão, Gaia, Ed. Apolino, 1930 p. 12-13.22 - Idem, op. cit., p.13.23 - Este regimento foi publicado por Vergílio Correia, em 1926, editado pela Imp. da Univ de Coimbra, p. 8. 24 - Idem, Considerações sobre a arte da caricatura, Porto, Emp. Ind. Gráfica, 1937, pp. 11-12. 25 - Estas obras foram consultadas na Biblioteca Nacional de Lisboa, Biblioteca de Arte – Fundação Calouste Gulbenkian (Lisboa) e Biblioteca Pública Regional da Madeira (que apenas possuí dois títulos deste autor - Terra Nossa e a Saudade da Colina, este último publicado em Vila Verde, 1ª. Ed., 1993, logo póstuma, mas que ainda não tivémos oportunidade de consultar). 26 - Não consultamos esta obra. 27 - Conta esta edição com a tiragem de 100 exemplares, em papel de linho, numerados e rubricados. Está organizado por cidades.

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Não, nunca fui aluna desta escola, mas há muito que ela marca presença no meu coração. Quando pequena, pela mão dos meus pais, era aqui que, em domingo assinalado, muito solenemente, os acompanhava no depósito do voto, coisa diferente de votar (mas isso são contas de outro rosário!). Por seus enormes corredores e imensas salas, respirava-se a imposição do respeito. A saída, obrigatória pela porta principal, levava-me lenta e confiantemente, sob os abraços dos jacarandás, até à Lisbel, onde se namoravam os últimos “gritos da moda”. Dobrando a esquina, acompanhando a ribeira pelo ‘tratuário’ coberto de plátanos, descia-se até a Fer-não de Ornelas, onde desde a Modelo ao Mercado se cobiçavam: sapatos, chitas, terylenes, louças, mobílias, cafés, amendoins e tudo o que de variado e mais actual as montras deixavam seduzir. Se era Verão, impunha-se a ida a um sorvete ao Sunny Bar, se era Inverno a gulosa Bola de Berlim do Apolo era mais desejada. No primeiro, sentavamo-nos na esplanada da placa central, ladeados de carros, sa-bendo-nos tanto o sabor do sorvete como as perícias do empregado com a bandeja no ar, atravessando a rua para chegar às mesas, ou ainda como a pachorrenta marcha dos carros de bois que iam empatando o trânsi-to. No Apolo, era diferente! Com sorte conseguiríamos uma mesa mais para os fundos, distante do fumo que os carros estacionados ali mesmo à porta iam deixando escapar para as primeiras mesas. Mas, fosse como fos-se, aquela Bola de Berlim era sempre incomparável.Posteriormente, em passeio pelo cais tão lento quanto o dos carros de bois, apreciava-se as ondas a baterem impiedosamente nos dois lados da construção, até atin-girem os muros da Avenida, de onde fustigavam alguns

casais de namorados mais distraídos. Concluída a quarta classe na Escola da Pena, e com o final da Admissão, o destino era o Ciclo Preparatório, novidade do regime, uma nova escola – a Gonçalves Zarco. Não, não ficava nos Barreiros. Nem casa própria ti-nha! Meninas, para o Liceu Nacional do Funchal; me-ninos para a Escola Industrial e Comercial do Funchal – Lesmas e Especiarias, sem qualquer possibilidade de escolha. Aos dez anos, a partir de um de Outubro, descer a Pena não oferecia qualquer perigo, mesmo sem passa-deiras. Assim, entre as sete e meia e um quarto para as oito, desde o final da íngreme rua, de becos e de traves-sas, começava a engrossar o caudal de batas brancas das meninas e das roupas asseadas de meninos bem penteados, mais tarde substituídas pelas mini-saias atrevidas delas e pelos cabelos “à Beatles” deles. Rapazes e raparigas, apesar de juntos, formavam gru-pos que só esporadicamente se misturavam. Trocavam sim, clandestinamente, olhares e bilhetinhos, com algu-ma cumplicidade ou inveja de alguma das colegas.Rua abaixo, fizesse sol, chuva ou vento traiçoeiro, nos largos e ondulantes passeios de calçada da Pena, sem veículos sobre eles, apressava-se o passo, quase em corrida. – Cinco para as oito! No relógio pontual e frio

Cumpli(cidade)s

Dr.ª Magda SantosProfessora de Português

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Torre da Industrial. – Faz-se tarde! Os “borrachos” ficam por ali. – Até logo, à uma!Mais uns risos, mais comentários, apenas perturbados pelos assobios e piropos dos trabalhadores da novinha Fábrica das Cervejas. Atravessar a Veiga Pestana, a João de Deus ou o Campo da Barca, mesmo sem semáforos, não atra-palhava ninguém, apesar do trânsito se fazer nos dois sentidos. O perigo maior estava na escorregadia des-cida do Jardim. Mais um pouco, e uma rua, que se es-treitava no final, permitia chegar rapidamente ao Liceu. – Uf! Oito horas em ponto na porta da sala! À uma – o rio nasce no mar – Pena acima, agora sem grandes pressas, nem se repara na Torre, o ritmo é marcado pelo reencontro ou apenas pelo estômago. Agora, as tipuanas de um verde frondoso têm tempo para ouvir segredos, abraçar declarações ou oferecer as suas rodopiantes “borboletas” em tempo de paixão primaveril. Mas nada de muitas conversas a sós, que os poucos autocarros da SAM, de São Gonçalo ou do Ne-gus, um Datsun, um Taunus ou um Sinca, transportam sempre um olhar moralista, sempre pronto a denunciar à mãe ou ao pai o namorico da filha. É Verão! Três meses de férias, três meses de praia! Em tempo de autonomismo, a Barreirinha é a mais pró-xima, a mais apetecida e desejada. E mais uma vez, Pena abaixo, furando e sentindo o tapete fofo amarelo das flores das tipuanas, o relógio da Industrial não está

de férias, colabora agora no encontro ou na “combina-ção” – Às nove em ponto! No “banho”, embalados pelo som de “Já arranjei muito bem …” ou pelo “Calhambeque” ou por um outra músi-ca qualquer que 1$00 comprava, mergulhos e empur-rões, fizesse maré cheia ou vazia, ou até nas levadias de Agosto, tudo servia para desfilar o biquini de nylon, última novidade conseguida. - Uma hora! Está na hora de arrancar! - De quando em vez, mais um 1$00 garantia um sorvete de moran-go. Agora, corpos quentes e ainda salgados impunham um ritmo mais lento à subida. Embora com hora mar-cada para chegar, atrasava-se a subida pela frente da Industrial, sem o olhar atento do relógio, pelo tapete lilás dos jacarandás arrastava-se o passo, sem túneis nem viadutos, até o imponente Prédio da Caixa. Aí, as conversas com os amigos que por lá ficavam, permi-tiam o folgo para trepar a Pena, diariamente, até 30 de Setembro. Hoje, o relógio da Torre, por vezes parado pelo can-saço da idade, continua a marcar o ritmo do meu cora-ção no encontro diário de professora desta Escola. Na entrada frontal, apesar do meu carro reclamar o incó-modo do mel, das flores e das “borboletas”, eu confio plenamente na sombra cúmplice dos jacarandás e tipu-anas que se cruzam no meu viver e nas cores da minha cidade.

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A efeméride dos 500 anos da cidade do Fun-chal perspectivou, nos docentes de Psico-logia da Escola Secundária de Francisco

Franco, a realização de uma palestra com uma perso-nalidade incontornável como é, obviamente, a do Ex-Secretário Regional do Turismo e Cultura que, pelo seu contributo e uma longa experiência no sector do turismo e cultura da nossa Região, já figura na consciência co-lectiva do nosso povo. Perguntar-se-á pelas razões que nortearam a nossa escolha pelo tema da “influência do turismo na mudança das mentalidades funchalenses na segunda metade do século XX”. Na realidade é inques-tionável o facto de, na Madeira e, mais recentemente, no Porto Santo, o turismo ser um factor essencial que tem vindo a condicionar a forma de ser e de estar das nossas gentes.

Sendo o Funchal o centro nevrálgico das formas de pensar de todo o arquipélago, uma eventual mudança de mentalidade dos funchalenses, por influência do tu-rismo, tem, consequentemente, repercussões em todo o povo da nossa Região. Aliás, este tema é um manan-cial de oportunidades para que, no futuro próximo, se façam estudos no sentido de apurar o quanto o turismo tem feito pela abertura da mentalidade das nossas gen-tes!

Analisando à distância as expectativas criadas an-

tes e depois desta palestra, podemos concluir que tudo decorreu superlativamente melhor do que aquilo que nós, docentes de Psicologia, perspectivamos aquando da preparação desta acção que inserimos no plano de formação da escola. Tanto da parte dos professores presentes como dos alunos - sobretudo estes - o agra-do foi uma realidade evidente, devendo-se tudo isto ao tema em si, mas, sobretudo, à personalidade cativante do palestrador. Ninguém arredou pé até que se deu por terminada a sessão e todos os que acorreram a este acto formativo-lúdico, deram-se por satisfeitos pelo que ouviram e presenciaram.

As ideias chave que nós consideramos mais rele-vantes desta acção resumem-se a estas: “sem o turis-mo a mentalidade dos povos não se abre”; “as culturas dos outros povos enriquecem a nossa mente, tornan-do-a universal e aberta”; “a existência de preconceitos são um obstáculo à abertura da mentalidade”; “Os ma-deirenses chegaram ao mundo antes do resto do país”; “a Madeira é um universo mental aberto ao mundo”; “a mudança de mentalidade reside na necessidade de contactar com os outros”. Este conjunto de afirmações que são perfeitamente constatáveis nas nossas gentes da capital madeirense, levam-nos a reflectir naquilo que devemos e queremos ser e, sobretudo, na forma como devemos preparar os nossos jovens para que, livres de preconceitos ou mentalidades obtusas, se perfilem nesta aldeia global em que vivemos de uma forma mais aberta e predisposta à assimilação do muito que há de bom nas outras formas culturais deste planeta que nos coube viver.

O TURISMO E A MUDANÇA DE MENTALIDADE DOS FUNCHALENSES

Dr. António Lopes Fonseca Professor de Psicologia

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As comemorações dos 500 anos do Funchal como cidade motivam uma chamada de atenção para os seus símbolos: o brasão e a bandeira.

Os grupos humanos tiveram desde tempos muito recuados necessidade de uma identificação que pro-curaram entre os aspectos caracterizadores da perso-nalidade colectiva. No início do século XV, o povoado formado no lugar que recebeu o nome de Funchal, tor-nado vila em 1451 e cidade em 1508, no curso da sua organização sentiu igualmente essa necessidade.

A identificação e representação de personalidades singulares ou colectivas dependeu do poder régio e foi regulada, primeiro, por D. João I, sendo em tempo de D. Afonso V criada uma nova função, o rei-de-armas “Por-tugal”, encarregado de ordenar os brasões de família e de cidades e vilas.

A Heráldica, área do saber que se ocupa dos sím-bolos ou marcas, classifica de brasão a representação simplificada e simbólica dos elementos caracteriza-dores dos aglomerados populacionais ou de famílias, ordenados num plano delimitado designado escudo. Estes símbolos são fontes de história porque as re-presentações iconográficas têm um determinado sig-nificado sócio-económico, político, religioso ou outros. O escudo é, num conjunto heráldico, a parte onde se colocam os elementos representativos de maior relevo, na família ou colectividade que representam.

O Funchal teve, desde cedo os seus símbolos, con-cedidos com os seus forais e privilégios, mas não che-garam até nós os dos primeiros tempos. A mais recuada

marca da cidade, até agora conhecida, existe num selo, incluído num livro da Misericórdia do Funchal, datado de 1547, que nos fala do açúcar, tornado base da sua economia.

Como podemos perceber isso? Porque os elemen-tos estilizados e ordenados, no campo do escudo são: o açúcar, representado por cinco pães-de-açúcar e a planta que o produz, representada por duas plantas de cana-sacarina. Como se vê a importância desse produ-to para a economia da cidade e da ilha marcou de forma indelével a simbologia da cidade onde está duplamente representado: pela planta, a partir da qual é produzido e pelo pão, que é o produto final, a verdadeira riqueza que atraiu tantos estrangeiros ao negócio, alguns dos quais permaneceram na ilha. O pão-de-açúcar, forma como o produto era exportado, resultava da cristaliza-ção e purificação conseguida por um processo indus-trial rudimentar de esprema em que o suco da cana era deitado em formas cónicas de barro, com um pequeno orifício no vértice, por onde vertia toda a humidade.

As representações das armas da cidade identifica-das entre 1547 e a actualidade permitem definir dois períodos distintos na sua evolução: o das armas anti-gas e o das armas novas.

O primeiro período estende-se durante vários sécu-los, do XVI às primeiras décadas do XX. Num tempo tão longo seria impossível não haver mudanças. Reunidas cronologicamente muitas representações permitiram identificar no brasão da cidade as características que se tornam permanentes em cada um destes séculos. Assim no século XVI o escudo é simples e contém cinco pães-de-açúcar em cruz e duas canas entremeadas.

O século XVII é caracterizado por alguma confusão na representação das formas cónicas que, de vértice

A simbologia da cidade do Funchal

Brazão/ Bandeira da cidade do Funchal, 1936

Forma e Pão-de-açúcar CMF, Núcleo Museológico do Açúcar

Dr.ª Urânia Maria Pita Gaspar Dr.ª Maria de Fátima Vieira de Abreu Professoras de História

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para cima significam pão-de-açúcar e, de vértice para baixo, a forma em que ele é produzido.

As armas da cidade no século XVIII têm os cinco pães-de-açúcar em cruz no campo do escudo, tal como no século XVI, mas as duas canas pas-sam para o exterior, ladeando-o e, em meados do século, quando o vinho se torna um a base da economia da ilha, dá-se a substituição de uma das canas por uma vide com parras e uvas.

Do século XIX às primeiras décadas do XX o período é de estabilidade. Os brasões são rema-tados por coroas de nobreza e ladeando o escudo, à direita ou à esquerda, vi-nha e cana. A forma dos escudos podia variar dentro das re-gras estabelecidas.

As armas novas resultaram das orientações da Cir-cular do Ministério do Interior, de 14 de Abril de 1930, do Estado Novo portanto, que dão determinações pre-cisas sobre os diversos esforços a realizar pelas au-tarquias do país, no sentido de serem recolhidas todas as informações existentes sobre as armas antigas de cada município, seguindo opinião emitida pela Secção de Heráldica da Associação dos Arqueólogos Portugue-ses sobre a desorganização existente no país, nesta matéria. Aquela entidade foi encarregada de elaborar parecer detalhado e realizar o novo projecto. Este pro-cesso não foi logo realizado. Verifica-se um espaço de cerca de cinco anos entre o seguimento dado pela Câ-mara Municipal do Funchal às determinações daquela circular e a recepção do novo projecto que, depois de

aceite e aprovado pela Comissão Administrativa da Câ-mara Municipal, em 6 de Fevereiro de 1936, foi fixado na Portaria n.º 8:392, de 24 de Março de 1936 que de-fine a nova simbologia do município:

Armas: de verde, com cinco pães-de-açúcar de ouro realçados em espiral e com base de púrpura, postos em cruz, acantonados por quatro cachos de uvas de ouro sustidos e folhados do mesmo metal, cada cacho carregado por uma quina de azul carregada de cinco besantes de prata, em aspa. Coroa Mural de prata de cinco torres. Listel branco com os dizeres: “Cidade do Funchal”, de negro.

Bandeira: quarteada de quatro peças de amarelo e quatro de púrpura. Cordões e borlas de ouro e de púr-pura. Lança e haste douradas.

Selo: circular, tendo ao centro as peças das armas, sem indicação dos esmaltes. Em volta, dentro de cír-culos concêntricos, os dizeres “Câmara Municipal do Funchal”

Selo de chapa, 1574 ARM, Misericórdia do Funchal. L.º 40

Salva de Prata, início do século XVII.CMF, Núcleo Museológico do Açúcar

Pedra de Armas, 1758.CMF, Núcleo Museológico do Açúcar

Varanda em ferro, 1844. Quinta do Vale Formoso

leiaSFF

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O autor do projecto e parecer esclarece o significado das cores. Como as peças das armas são de ouro e de púrpura, a bandeira é de amarelo que corresponde ao ouro e de púrpura. (...) O campo das armas é de ver-de, esmalte que na heráldica simboliza a água do mar, sendo portanto a cor própria para o campo das armas da capital de uma ilha. O verde, em heráldica, significa a fé e a esperança. O ouro dos pães-de-açúcar, dos ca-chos e do sustido e folhado dos mesmos, significa he-raldicamente nobreza, fidelidade, constância e poder. A púrpura da base dos pães e do realçado em espiral do mesmo, denota heraldicamente opulência riqueza. O azul das quinas significa zelo, lealdade e caridade e a prata dos besantes, humildade e riqueza1.

As bandeiras da cidade não foram sempre como a conhecemos hoje. Tal como os brasões, as bandeiras também passaram por mudanças ocasionadas por ra-zões políticas. Não conhecemos as primeiras bandeiras da cidade, apenas temos conhecimento das que existi-ram a partir do século XIX. A primeira, da monarquia ab-soluta, por uma representação em pintura, era branca, com o brasão da cidade, as outras três, por existirem ainda exemplares na Câmara Municipal do Funchal. A azul e branca da monarquia constitucional, usada a par-tir de 1834, apresenta de um lado as armas municipais e do outro as nacionais, a verde e vermelha da repú-blica, com as armas da cidade, usada em 1910 e outra branca, também tem pintadas nas duas faces apenas as armas da cidade, foi usada do 1919 a 1936.

A regularização dos símbolos trouxe uma nova ban-deira que foi içada nos Paços do Concelho e em todos os edifícios municipais, em sessão solene de comemo-ração dos dez anos da revolução do 28 de Maio2, que instituiu a ditadura no país.

A Câmara Municipal do Funchal, na reunião ordiná-ria de 31 de Julho de 1986, decidiu reintegrar, no listel branco, os títulos honoríficos A NOBRE e LEAL desapa-recidos na grande alteração de 1930, que produziu as novas armas da cidade com o argumento de que teriam sido retirados numa atitude de retaliação do governo de Salazar, pela revolta da Madeira de 4 de Abril de 1931. Estes argumentos não foram até agora sustentados por documentos.

As armas da cidade estão presentes por toda a par-te no espaço urbano. As antigas e as novas. Elas foram usadas pelo próprio município em organismos e edifí-cios públicos na sua dependência, definindo a pertença de instalações e equipamentos de serviços municipais, em algum mobiliário da cidade e constituem uma forma de sinalização, de afirmação, autoria e posse da edili-dade e do poder autárquico. Esta necessidade já se ve-

rificara nas épocas anteriores, mas é a partir da década de trinta do século XX que as armas novas da cidade, realizadas em su-portes diversos: pedra, ferro, me-tais nobres, ma-deira, cerâmica, couro e outros ma-teriais aparecem em maior profusão.

As armas da cidade aparecem, também, muitas

vezes associadas à imagem de entidades privadas, sobretudo funchalenses, mas não só. São vários os exemplos ou referências deste facto, a Associação Co-

mercial e Industrial do Funchal, a Aliança Madeirense, Companhia Seguradora, a Olaria Funchalense e a Fos-foreira Portugueza, entre muitos outros nos quais se incluem várias marcas de vinhos.

Para finalizar deixamos como desafio aos que lerem este trabalho a busca pela cidade das muitas represen-tações das armas da cidade do Funchal.

Pedra de armas, 1945Torre da Câmara Municipal do Funchal

Timbre da CMF, após 1986

Caixa de Fósforos

1 - Parecer de Afonso de Dornelas, SHAAP, Acta n.º 12, 20 de Dezembro de 1935, fl. 12.2 - CMF, Lº 22, Vereações (1936), 14 de Maio de 1936, fl. 99ª.

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Quando se avista do Miradouro do Pinácu-lo, a cidade do Funchal parece suspensa entre o ar e a água. Há um manto difuso

que a cobre. Seguindo pelo velho caminho em di-recção ao centro, o colorido ténue da paisagem dá lugar ao negrume e à aspereza do basalto, cortado pela suavidade da cal das fachadas das casas. De súbito, sob o sol, cola-se-nos à pele uma película fina de água morna. O corpo dilata-se e arrefece, num recanto mais sombrio. Mas a humidade na pele, agora fria, permanece.

A ser o nosso lugar, aquando do regresso deseja-do, a cidade do Funchal tem o poder de ligar as par-tes fragmentadas da vida. Tal como todos os amores têm essa capacidade de unir tudo e dar-lhes sentido. Um pedaço de rua, um canto de um parque, os mu-ros da Avenida do Mar ainda hoje escolhidos por gru-pos de jovens estão marcados pela memória, pelo afecto. Ou talvez não. Depende do modo como cada um vive a cidade e se identifica com os espaços e com as pessoas. Mas em qualquer situação, o lugar onde vivemos, tem o poder de determinar a nossa vida, as nossas rotinas, as pessoas com quem nos relacionamos, os serviços que usufruímos.

No fundo, uma série de condições que todos es-colheram para viver uma cidade, esperando encon-trar - um modo de viver bem e de realizar aspira-ções.

Para a Psicologia estas questões da organiza-ção da cidade são importantes, tal como qualquer outra localidade que o indivíduo habite, porque este constrói a sua personalidade na interacção com os recursos que o ambiente oferece. Surpreendente-mente, para muitos, foi um psicanalista de formação freudiana, Erik Erikson, que fez a ligação entre o modo como cada um de nós pensa, sente e age, e os contextos sociais em que estamos inseridos. Na sua teoria do desenvolvimento psicossocial, introduz pela primeira vez, na década de 50, nas ciências humanas, o conceito de identidade, situando-o na adolescência. Sendo de difícil descrição, a identida-de pode ser entendida como o conjunto de caracte-rísticas que nos definem como o homem ou mulher que somos, ou que pretendemos ser. É, por isso, resultante de um processo contínuo que se estru-tura em permanente relação com os outros e com as instituições, mas é na adolescência que tem uma

importância fundamental. É nesta fase que, devido ao desenvolvimento de estruturas afectivas e cogni-tivas, se estabelecem relações muito para além da família (com amigos, com o emprego e formação…), e se procura descobrir e aperfeiçoar talentos. O modo como se manifestam estes movimentos é um indicador de saúde mental.

Assim, a intervenção do psicólogo com adoles-centes envolve a avaliação dos vários domínios da vida destes, tais como as formas como ocupa os espaços públicos, os locais preferidos para estar com os amigos, o tipo de relações que estabelece, a sua participação social e política, ou seja, a sua ligação com as pessoas e com as infra-estruturas da comunidade. Todavia, esta avaliação baseia-se nos discursos que o adolescente nos faz sobre as suas experiências de vida. Quando um adolescente nos fala, por exemplo, da sua vizinhança – a cidade não é a mesma para todos - não diz respeito ao psicó-logo avaliar se a narrativa de vida corresponde fiel-mente à realidade, se ele está a ser sincero ou não (é também isto que nos distingue dos sociólogos). Trata-se de ajudar o adolescente a compreender o outro, o significado das relações que com ele esta-belece e a importância que lhes atribui.

Este processo de consciência de si e do ambien-te, assim como o desenvolvimento dos talentos, é melhor conseguido à medida que se pertence a vários grupos e se desempenha diferentes papéis, em diversos contextos (de amigo, do desporto, de Caminheiro nos Escoteiros…). São exemplos, ex-periências de se estar a tomar o jeito em tocar um instrumento musical numa sociedade de bairro e descobrir-se que se gosta pouco, ou se não é sufi-cientemente competente noutra actividade qualquer, em outro contexto. Assim, o adolescente pode ir sa-bendo quem é e o que lhe convém.

Esta procura de um sentido para a existência, mi-nimamente coerente, faz-se tendo à sua disposição uma rede de infra-estruturas (de saúde, desportivas, culturais…), de apoio aos jovens e às suas famílias, com vista ao adolescente realizar o eu desejável. Porém, se os adolescentes são diferentes uns dos outros pela sua personalidade, separa-os também o acesso aos recursos económicos, sociais e culturais que a cidade apresenta. Também é tarefa do psicó-logo conhecer esses recursos e ajudar o adolescen-te a usufruir deles, de acordo com a pessoa que é e as necessidades que tem, de modo a contribuir para que as diferenças pessoais, dentro do possível, não se manifestem em desigualdades sociais.

A adolescência na cidade Dr.ª Cristina Simões Psicóloga

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Actualmente, pode-se pensar a acção humana sem se reconhecer o valor de uma consciência ecológica, ambiental?

O planeta, o seu ecossistema, o seu equilíbrio em termos de natureza, não está a ser posto em risco pelos efeitos, pelas consequências da po-luição que contribui para o aquecimento global (a emissão de gases, como o CO2, com o respectivo “efeito estufa”), pela desflorestação desmedida (15 milhões de hectares/ano), por um crescimento ex-ponencial da população humana (1950-2.556 mil milhões; actualmente, 6.649 mil milhões; previsão para 2025, de 9.346 mil milhões), e a consequen-te necessidade de mais recursos naturais para a manter e a sustentar?

Não é surpreendente que exista uma lista com 29.372 espécies de animais e 12.043 de plantas em risco? Deste total, 16.306 estão ameaçadas de extinção e que haja 65 espécies que só se pode encontrar em cativeiro ou cultivadas?

Estes são alguns dados/referência importantes para um desafio à nossa inteligência racional, na nossa relação com a vida do planeta, quer presen-te, quer futura.

Começamos a ficar impressionados com a real possibilidade de estarmos a contribuir decisiva-mente para uma alteração do clima, das estações do ano tal como as conhecemos, numa eliminação de certas condições essenciais para haver habi-

tats de vida humana, animal e vegetal. A O.N.U., a UNESCO e muitos Estados, procu-

ram dizer que estão sensibilizados para a possibi-lidade real de o Planeta e muitas das suas condi-ções de vida estarem em causa neste momento. Desenrolam-se iniciativas para contribuir para um triénio com lemas como, “Ano Internacional de Alerta Para Defesa do Planeta”. O grupo de Filoso-fia coincidiu com esta dinâmica de sensibilização, contribuindo na semana entre 21 a 24 de Abril, com a projecção do filme “ Uma Verdade Inconve-niente” de Davis Guggenheim e com Al Gore, com a divulgação de alguma informação e dados esta-tísticos sobre este tema e, finalmente, com uma palestra, por Hélder Spínola, presidente nacional da associação ambiental “Quercus”.

Parece que o tempo futuro, em termos de si-nais visíveis e negativos, não está para se fazer esperar. Os dados já recolhidos e estudados, por parte da comunidade científica, assim o alertam e informam. As próprias pessoas, em todo o Plane-ta, começam a senti-lo.

A defesa do Planeta parece que se irá tornar um desafio de todos e para todos. Será e é um exemplo da possibilidade de uma consciência não só individual, mas universal de humanidade e da vida no seu todo.

Está aí, necessariamente, a Causa Verde, Am-biental.

A acção humana e o valor de uma consciência ecológica

Dr. Carlos N. Santos Professor de Filosofia

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Em período de comemoração dos 500 anos do Funchal, a leiaSFF sugere obras inspiradas na nossa cidade.

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Oh! Minha cidade!Já passaram 500 anos após a tua descobertaÉs a minha preciosidadeE continuas esbelta. Oh! Minha cidade!A tua paisagem tão lindaÉ verde e variadaCada espaço me encantaDe verdadeE deixas as visitas Maravilhadas! Oh! Minha cidade!Deram-te o nome de FunchalPorque havia muito funcho divinalÉs a cidade do momentoE estarás sempre no meu pensamento...

À minha volta está tudo tão mudado, Nem senti o tempo a passar.Como a minha cidade está tão bonita,É aqui que quero estar. Olhando para esta magnífica paisagem,Sinto-me leve, como este fresco ar.Barcos grandes, barcos pequenos,Vêm um pouco de todo o mundo para este lugar. Há pessoas que têm inveja de mim,Por morar numa ilha pequena e acolhedora,Onde há uma natureza encantadora,Que me acolhe com toda a ternura.

A minha cidade - Funchal

Cidade, Feliz Aniversário!Completaste os teus 500 anos,Neles muito nos ofereceste,Do teu interior e exterior.Cidade, a liberdade que nos dás!Percorrê-la ponta a ponta,Oh, não é nenhum cansaço,É, antes de mais, um prazerViajar nesta grande cidade!Cidade! Brilham os teus sítios,Tua paisagem, teus monumentos,Tuas cores, teu espaço.E, assim, és observada...Sentada num banco no fundo do cais, Vejo a minha linda cidadeOlhando para trásE vejo diferença do meu antigo cais.

Ema Vanessa Sargo Correia CEF - Técnico de Contabilidade, 11º29

Laura Sousa CEF - Técnico de Contabilidade, 11º29

Sandrina Sardinha CEF - Técnico de Contabilidade, 11º29

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A entrada da cidadeonde fizeram o cais,à direita está o Pilaronde botam os sinais.À frente vai o caminhodo porto atravessado,que vai ter direito à praça,ao açougue e ao mercado.À esquerda ‘sta linda obra(‘sta feita à vontade minha)basta ela ter o nomepraça da nossa Rainha.Avante tem cinco fontesmesmo pela natureza;em cima delas estáPalácio da Fortaleza.Está muito bem construídocom as suas bocas ao mar;é aqui a residênciado Comando Militar.À direita as Obras Públicasonde há senhores de bem,mas trabalhos do Estadobem poucos o Norte tem.Mais avante está o Passeiocolocado mesmo em frente,onde se vê a passearmuita pessoa decente.À esquerda está o jardimque é o recreio do Funchal,foi feito pela SenhoraCâmara Municipal.Na frente tem o Teatrona mesma localidade,é um edifício bonitoque dá importância à cidade.À direita está a Sé,a casa da oração,onde a gente vai orarp´ra tratar da salvação.A igreja é nossa mãena portuguesa nação.Está em frente do Passeio esta bela Catedral,mais adiante se encontra o Banco de Portugal…Entre as casas do Estadoe da Câmara Municipal,há outras mais importantesdo comércio do FunchalO primeiro negocianteque é homem muito feliz,tem a sua casa em frentedo Largo do Chafariz.O nome deste senhor,deste nobre cidadão,

está escrito em sua casanum renque de guarnição.Sabemos na nossa ilha,sabem todos em geral,que é a “Casa Portuguesa”a “Grandela” do Funchal.Nos seus enormes depósitostem força de capitais,de fazendas estrangeirase também nacionais,desde o pano cru do pobreaté aos finos diagonais.E quem comprar nesta casapode ter toda a certezaque encontra fazenda finade extrema baratesa;é p´lo pessoal tratadocom toda a delicadeza,quer seja pessoa nobreou quer seja camponesa.É por isso que esta casacom enorme freguesia,armazéns e pessoal aumenta de dia a dia.E então centos d´adelos,que correm a ilha inteira,fornecem-se n´esta casa,a primeira da Madeira.Temos o “Bazar do Povo”,poucos passos adiante…loja de quinquilheriasé esta a mais importante.Entrar no estab´lecimentotão belamente sortidoé, sim, da gente ficarmesmo com queixo caído.E pela escada-caracol,quem subir ao outro andaré que vê maquinismostudo ali a funcionar:máquinas de tirar retratos,outras máquinas de cortar,umas de imprimir livrose outras de perfurar.Artigos ali em depósitonão se pode numerar.P´ra se poder descrevero que ali vai em cabedalera preciso um bom livromuito maior c’ um missal.É, assim, o “Bazar do Povo”o que mais fregueses temporque vende mais baratoservindo a todos bem.Nunca havíamos de pensardentro da nossa cidadehaver iluminaçãopor meio d´electricidade,que hoje está funcionandocom rica claridade!

Até o povo do Norteestá todo mais contente,devido à Senhora Câmarae ao ilustre presidente.Câmaras assim, meus senhores,com boa administração,tendo bons vereadoresimportância à ilha dãoe ganho aos trabalhadores.E as freguesias visinhasficam com maior valor;São Pedro e Santa Luziae Santa Maria Maiore as outras freguesiasque lhe ficam ao redor…E ainda não falámosnum jardim de maravilha,que é a floresta do Montea Sintra da nossa ilha;o Monte está num jardim,tem ali belos recreioscom calçadinhas bem feitas,com bancadas e passeios.Até o largo da Fonte,onde está Nossa Senhora,foi transformada de novo,ficando mais belo agora.Mas a esta freguesiao que lhe dá maior valoré a simpática companhiado Comboio-Elevador.Meus senhores, na verdade,aquilo é um grande invento!Estar a gente na cidadee ir ao Monte num momento!Foi p´ra nossa ilha inteiraum grande melhoramento!Tem toda a nossa Madeiramuito encanto e bonitezatanto em muitas obras d’ artecomo nas da Natureza.Medidas pelos antigos,por gente de entendimento:tem nove léguas de largo,dezoito de comprimento.Eu quero lá explicar;os senhores notem bem:freguesias quarenta e oitoque a nossa Madeira tem;todas as quarenta e oitopor elas eu já passei;o norte apenas tem dozee o Sul tem trinta e seis.O mais alto desta ilhaé a montanha mui forte,é o alto do Pico Ruivoque divide o Sul do Norte.Agora vou terminarque julgo não ser precisodizer mais, p´ra demonstrar,que a Madeira é um paraíso.

A cidade do Funchal Manuel Gonçalves, O Feiticeiro do Norte

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Curso Tecnológico de Multimédia10º ano, Disciplina de Desenho B

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Horizontais:3. Águas passadas não os movem.5. Quem bebe e canta o seu espanta.6. Está guardado para quem o há-de comer.7. A cavalo dado não se olha a ele.10. Quem os tem de vidro não deve atirar pedras aos do vizinho.12. O gato tem sete.13. A mostarda chegou ao dele.15. A vindima é até ao lavar deles.17. Faz a tua a tua seara onde ela canta.18. Por morrer uma não acaba a Primavera.19. Pô-lo à frente dos bois.21. Confirma a regra.25. As do mundo eram sete.27. Quem brinca com ele, queima-se.29. É assim o dia na loja quando o patrão está fora.30. Por ela morre o peixe.

Verticais: 1. Pior que o soneto.2. À noite são todos pardos.4. É melhor do que mal acompanhado.8. Quem semeia ventos, colhe-as.9. Não há fome que não dê nela.11. Para bom entendedor, meia basta.14. Tarde ou nunca se endireita quem assim nasce.16. Não é com ele que se apanham moscas.20. Eles são-no para as ocasiões.22. Vozes de burro não chegam aí.23. Grão a grão enche a galinha.24. Em terra de cegos, quem o tem é rei.26. É fogo que arde sem se ver.28. Quem o não quer ser, não lhe veste a pele.

Palavras Cruzadas

Sudoku

http://www.lusilinha.com/LazerAdivinhas.htm

AdivinhasNunca sou o que pareçoSou sempre pretensiosa Faço pensar e confessoGosto de ser misteriosa!...

Eu sou a rosa sem cheiroE também não tenho EspinhosExisto no mundo inteiroPara ajudar os caminhos!...

Logo desde o seu nascer Come bem e muito correMas se lhe dão de beberLogo num instante morre!...

Entre tudo o que conheceProcure ter a certezaPensando o que lhe pareceQual a coisa que mais pesa?...

Só a tenho quando a tiroNão tenho sem a tirarTiro-a quando prefiroPara com ela ficar!...

Não se apanha nem se vêMas ouve-se e até se senteÀs vezes não sei porquêIncomoda muita gente

Diga sem ser muito espertoNem se armar em caracolQuantos lados tem ao certo Uma bola de futebol

Soluções:1. Adivinha; 2. Rosa dos ventos; 3. Fogo; 4. Balança; 5. Fotografia; 6. Vento; 7.Dois, o de dentro e o de fora.

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