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REITOR Jackson Proença Testa VICE-REITOR Marcio José de Almeida GEOGRAFIA: Revista do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina, é uma publicação semestral destinada a editar matérias de interesse científico de qualquer área de conhecimento, desde que tenham relação com a ciência geográfica. Comissão de Publicação do Departamento de Geociências Membros: Prof. Claudio Roberto Bragueto Prof. José Barreira Profa. Mirian Vizintin Fernandes Barros Funcionária: Edna Pereira da Silva Conselho Editorial Prof. Dalton Áureo Moro – UEM Prof. Eliseu Savério Spósito – UNESP – Presidente Prudente Prof. Francisco de Assis Mendonça – UFPR Prof. Geraldo Cesar Rocha – UFU Prof. José Barreira – UEL Prof. José Paulo Piccinini Pinese – UEL Profa. Nilza Aparecida Freres Stipp – UEL Profa. Rosana Figueiredo Salvi – UEL Profa. Yoshiya Nakagawara Ferreira – UEL Universidade Estadual de Londrina Geografia Revista do Departamento de Geociências ISSN 0102-3888 VOLUME 9 – NÚMERO 2 – J UL./DEZ. 2000

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REITORJackson Proença Testa

VICE-REITORMarcio José de Almeida

GEOGRAFIA: Revista do Departamentode Geociências da Universidade Estadualde Londrina, é uma publicação semestraldestinada a editar matérias de interessecientífico de qualquer área deconhecimento, desde que tenham relaçãocom a ciência geográfica.

Comissão de Publicação do Departamentode GeociênciasMembros:Prof. Claudio Roberto BraguetoProf. José BarreiraProfa. Mirian Vizintin Fernandes BarrosFuncionária: Edna Pereira da Silva

Conselho EditorialProf. Dalton Áureo Moro – UEMProf. Eliseu Savério Spósito – UNESP –Presidente PrudenteProf. Francisco de Assis Mendonça –UFPRProf. Geraldo Cesar Rocha – UFUProf. José Barreira – UELProf. José Paulo Piccinini Pinese – UELProfa. Nilza Aparecida Freres Stipp – UELProfa. Rosana Figueiredo Salvi – UELProfa. Yoshiya Nakagawara Ferreira – UEL

UniversidadeEstadual de Londrina

Geografia

Revista do Departamento de Geociências

ISSN 0102-3888

VOLUME 9 – NÚMERO 2 – JUL./DEZ. 2000

Editora da Universidade Estadual de Londrina

Campus UniversitárioCaixa Postal 6001

Fone/Fax: (43) 371-4674E-mail: [email protected]

86051-990 Londrina - PR

Conselho EditorialLeonardo Prota (Presidente)José Eduardo de SiqueiraJosé Vitor JankeviciusLucia Sadayo TakahashiMary Stela MüllerPaulo Cesar BoniRonaldo Baltar

Editoração Eletrônica e ComposiçãoKely Moreira Cesário

CapaProjeto Ilustração – UEL / CECA / Arte /Curso de DesignCoord.: Cristiane Affonso de Almeida ZerbettoVice-Coord.: Rosane Fonseca de Freitas MartinsAluno: Alexandre Hayato Shimizu

Normalização Documentária e Revisão GeralIlza Almeida de Andrade CRB 9/882

Montagem e AcabamentoRubens Vicente

Geografia / Departamento de Geociências, Univer-sidade Estadual de Londrina. – Vol. 1, n. 1(Dez. 1983)- . – Londrina : Ed.UEL, 1983- . v. ; 29 cm

Semestral. Publicado anualmente até 1993.Suspensa de 1994-1998.

Descrição baseada em: Vol. 8, n. 1 (Jan./Jun. 1999)

ISSN 0102-3888

1. Geografia humana – Periódicos. 2. Geografiafísica – Periódicos. I. Universidade Estadual deLondrina. Departamento de Geociências.

CDU 91(05)

GeografiaRevista do Departamento de Geociências

GEOGRAFIA – LONDRINA – VOLUME 9 – NÚMERO 2 – JUL./DEZ. 2000

A QUESTÃO PÓS-MODERNA E A GEOGRAFIA ........................................................................................... 95Rosana Figueiredo Salvi

FUNDAMENTOS TEÓRICOS PARA O ENTENDIMENTO DA QUESTÃO AGRÁRIA:BREVES CONSIDERAÇÕES ............................................................................................................................. 113Rosemeire Aparecida Almeida, Eliane Tomiasi Paulino

PRODUTOR FAMILIAR E A MONOPOLIZAÇÃO DO TERRITÓRIO PELOCAPITAL INDUSTRIAL ...................................................................................................................................... 129Ruth Youko Tsukamoto

ENSINO DE GEOGRAFIA: ORIGENS E PERSPECTIVAS ......................................................................... 137Jean Carlos Rodrigues

CARACTERIZAÇÃO DO AMBIENTE MICROCLIMÁTICO DO CAMPUS DA UNIVERSIDADEESTADUAL DE LONDRINA (PR) NA SITUAÇÃO DE INVERNO DO ANO DE1999 ............................ 143Deise Fabiana Ely

COMPARAÇÃO DE MÉTODOS DE DETERMINAÇÃO DE ÁREA:SUPERFÍCIE FOLIAR DO FEIJOEIRO ........................................................................................................... 151Teresinha E. S. Reis, Luiz Carlos Reis, Omar Neto Fernandes Barros

NOTAS

REDE E LOCALIDADE CENTRAL: O MST NO NOROESTE DO PARANÁ ........................................... 161João Edmilson Fabrini

LA ENSEÑANZA DE LA GEOGRAFÍA FÍSICA EN LA UNIVERSIDAD DE LA HABANA ................... 167Silvia Diaz García

INSTRUÇÕES PARA PUBLICAÇÃO ................................................................................................................ 173

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A questão pós-moderna e a Geografia

Rosana Figueiredo Salvi *

RESUMO

Considerando que o tema sobre a pós-modernidade gerou, sobretudo nesta última década, alguns dos maisfascinantes e polêmicos debates, atraindo multidões de adeptos na mesma proporção em que atraiu críticos dasmais diversas áreas, esse trabalho tem por objetivo discutir o assunto no âmbito da Geografia. Em primeiro lugar,buscou-se esclarecer a temática sobre a pós-modernidade, sendo considerados os principais propositores, aspolêmicas mais importantes e as áreas fecundas para o debate. Foram ainda considerados os conceitos e as críticasque mais se relacionam ao tema. Esse conjunto de assuntos foi agrupado dentro do que denominamos “QuestãoPós-Moderna”. Os trabalhos geográficos que visam introduzir o debate sobre a pós-modernidade no domíniodessa ciência foram também averiguados.

PALAVRAS-CHAVE: pós-moderno, modernidade, pós-modernismo, teoria crítica, Ciência Geográfica.

INTRODUÇÃO

Nos últimos anos, os geógrafos vêm seengajando com a Teoria Social Crítica com ointuito de avançar nos conhecimentos sobre asrápidas mudanças que estão se dando no mundo.Um resultado desse engajamento tem sido aentrada no debate interdisciplinar das váriasperspectivas teóricas sobre o presente, inclusivea do pós-moderno. De fato, a literatura na áreade Geografia continua se expandindo nesse sentido.

Ao longo dos últimos anos as discussões edebates estão centradas na afirmação de que asociedade moderna repousa sobre uma “dobradiçahistórica” (Gregory, Martin & Smith, 1996), vivendouma nova realidade, cujo entendimento exige umareformulação externa das estruturas teóricas econceituais das ciências humanas.

A possibilidade de estarmos vivendo umanova era social nos conduz ao reexame de nossasteorias assimiladas. Tal atitude deve ser considerada,pois são inegáveis o sentimento de desorientaçãoe a crescente noção de estarmos avançando paraalém dos paradigmas teóricos, metodológicos eepistemológicos do período do pós-guerra. Areviravolta, reestruturação e desestabilização do

capitalismo mundial, a crescente globalização daprodução das finanças e da cultura, o colapso doSocialismo de Estado na Europa Oriental eCentral, o ressurgimento de regionalismosétnicos e sócio-políticos, a busca por novossistemas nacionais e internacionais de regrassócio-econômicas, a ênfase no ambientalismo,dentre outros grandes acontecimentos, expressamindícios para o declínio das velhas ordens.

Quais sejam as alternativas futuras, dependerátambém de nossos esforços por divulgá-las,aceitá-las ou repudiá-las, criticá-las ou adotá-las.O importante é que a ciência geográfica não senegue a participar desse momento. E longe depermanecer imune, essa mesma Geografia vemse engajando nessas questões, estando naprimeira linha quanto ao reexame conceitual quese vem seguindo.

Harvey, Peet, Thrift, Gregory e Walford,Macmillan, Kobayashi e Mackenzie, Clocke,Philo e Sadler, Johnston, Sttodart, Ley, Dear,Santos, Silva, dentre muitos outros, são exemplosde pesquisadores que vêm constantementereavaliando a disciplina em suas abordagensteóricas, buscando novas propostas de“remodelar”, “refazer”, “abordar”, “mudar”.

* Docente do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina. E-mail: [email protected]

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Nesse sentido, muitos epítetos têm sidoutilizados para descrever a natureza dessa recentereviravolta: pós-marxismo, pós-estruturalismo,tendência crítico-realista, estruturacionismo,feminismo e, talvez, o mais controverso e o maisesquivo, pós-modernismo.

Nós concluímos que esses debates têm provadoum ímpeto para importantes críticas e avanços.

Graham (1995), comentando Dear (1988),expõe as idéias desse último como sendo pós-modernistas e que lançam um desafio para osgeógrafos que trabalham com a GeografiaHumana. Esse desafio põe em relevo alguns dosmais básicos e tidos como um dos mais consensuaisconceitos sobre racionalidade, verdade eprogresso na pesquisa. Dear (1988), na visão deGraham (1995, p. 175), aponta para uma épocade crise nas Humanidades e Ciências Sociais. AGeografia também estaria em desorganização edesarranjo interno caracterizado pela fragmentaçãode uma variedade de especializações e umacacofonia de diferentes vozes que se oporiam aencontrar uma base comum. Interpretando amensagem de Dear (1988), a autora sublinha a suaidéia sobre os geógrafos serem responsáveis porprogressivas atitudes de desengajamento dasprincipais correntes da Filosofia, das CiênciasSociais e das Humanidades.

A contribuição, portanto, que almejamos édiscutir esses pontos dentro da ciência geográficano Brasil. Nesse sentido, nossa investigaçãotenciona observar e quer provocar o estímulo parao aprofundamento de tais questões, acreditandoque muitos dos temas que estão hoje sendodebatidos pelas humanidades de uma forma geralnasceram dentro do debate pós-moderno.

1. O QUE É O PÓS-MODERNO

A questão pós-moderna gira em torno dealguns eixos de discussão, onde muitas vezes cadaum deles segue caminhos próprios tornando-seum ramo de debate específico. É dessadiversidade que surge a dificuldade de ordenar,estabelecer parâmetros e compreender conceitose problemas relacionados com essa temática.

Introduzido o assunto dessa maneira, emprimeiro lugar, é preciso entender que quandose estuda a questão pós-moderna não é possívelidentificar uma proposta definitivamente aceitacomo aquela que estabeleça mais corretamente

o termo. Existem tendências que situam edelimitam o debate pós-moderno; propostas dedemonstração de seus estados, divulgação desuas idéias ou rejeição das mesmas, distribuindo-se, nesse universo, os adeptos do movimento pós-moderno, os analistas da pós-modernidade oudo pós-modernismo e os seus críticos.

É possível que se pense a questão pós-moderna contextualizada com um novo períododentro do capitalismo. Pode-se também entendê-la através da análise do que se convencionouchamar por Harvey (1992) de “compressãoespaço-temporal”. Há também a tendência paravê-la através da observação e estudo de estilos emovimentos culturais e artísticos. Existe ainda avertente que a analisa através de suasmanifestações ideológicas. Finalmente, é possívelpensá-la como um “ponto de fratura” ou um“distanciamento”, que é o mesmo que afirmar após-modernidade como um dado aindaindefinido, mas que identifica indícios de umanova cultura, uma nova mentalidade, uma novaera, etc., onde se recolhem alguns elementoscomo contracultura, fragmentação, existencialismodas massas, perda de essência, desaparecimentode fronteiras, redescoberta do retórico, liberdadepara combinar, etc.

Em termos gerais, essas são as principaistendências de análise da questão pós-moderna.É fundamental entender que em qualquer dessasvertentes admite-se uma forma cultural própriaao pós-moderno.

Dentro dessas tendências algumas polêmicassão comuns. Em primeiro lugar, destaca-se odebate sobre a pós-modernidade relacionada àModernidade. Tenta-se estabelecer a pós-modernidade como estando em continuidade ousendo uma radical ruptura com a modernidade.Se admitirmos a ruptura, faz-se necessário tomarposições em favor de “algo novo” que o pós-moderno traz, tendo em vista que tal posiçãopossibilita o levante daqueles que estão emdefesa da Modernidade. Se admitirmos acontinuidade, é preciso fundamentar e demonstrarseus aspectos. Este é um dos debates maispolêmicos que se estabeleceu em torno do temada pós-modernidade. Em segundo lugar, duasposições diante da temática da questão pós-moderna podem ser defendidas. Uma delas é aque resiste frente a qualquer tentativa de levar asério o pós-moderno, desqualificando suasmanifestações. Tal postura obscurece o potencial

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crítico aí existente. Outra maneira é a de louvaro pós-moderno se entregando à idéia de que tudonele foi abandonado. Tal comportamento leva auma confusão de códigos sobre o pós-moderno.Atualmente, a vontade de analisar ou identificarsobriamente o potencial crítico dessa questão fazcom que os estudiosos procurem redefinir aspossibilidades de análise, discutindo-a antes comouma condição histórica e não como “estilo”.

2. CARACTERIZANDO O PÓS-MODERNO

Apresentamos um esquema resumido queilustra algumas das principais características dopós-moderno:

a) A tecnologia eletrônica de massa e individualinvadiu o cotidiano saturando-o cominformações, diversões e serviços. Dado a essefato e diante da alta tecnologia de informaçãolida-se, hoje, mais com signos do que comobjetos propriamente ditos.

b) O pós-moderno se expressa na sociedade deconsumo personalizado (fase do capitalismotardio), onde freqüentemente tenta-se provocara “sedução” do sujeito, com o intuito dearrebanhá-lo para uma “moral hedonista”, devalores calcados no prazer de usar bens eserviços.

c) Nos anos 60-70, o movimento pós-modernomigrou da arquitetura para a pintura e aescultura, depois para o romance, sobressaindoo estilo satírico, pasticheiro e sem esperança. Ospós-modernistas querem, num primeiromomento, rir levianamente de tudo.

d) Já metamorfoseado, a partir do final dos anos70, o pós-modernismo passou a assumirestilos de vida e migrou também para a áreada filosofia. Nesses dois âmbitos vicejamidéias tidas como sinistras: o “niilismo”, onada, o vazio, a ausência de valores e desentido para a vida. Houve uma entrega aopresente e a necessidade de viver o momentoe o prazer do momento, acompanhados daentrega ao consumo e ao individualismo.

e) A partir do final dos anos 80, o pós-modernismo alastra-se por quase todas asáreas científicas em especial por aquelas quelidam com comunicação e marketing.

f) Tecnociência, consumo personalizado, arte efilosofia em torno de um homem emergente

ou decadente são os campos onde o pós-moderno pôde ser surpreendido.

g) O pós-modernismo é típico das sociedadespós-industriais.

h) O pós-modernismo está associado àdecadência das grandes idéias, valores einstituições ocidentais – Deus, Ser, Razão,Sentido, Verdade, Totalidade, Ciência,Sujeito, Consciência, Produção, Estado,Revolução, Família.Para compreender melhor os pontos

relacionados à questão pós-moderna, uma boaestratégia é a de especificar os termos quefundamentam o debate discutindo-os separadamente.

É preciso enfatizar que as fronteiras designificação entre um termo e outro não são tãoclaras. No entanto, tal divisão tem um efeitodidático simplificador que se apresenta comomeio eficaz para o nosso propósito.

3. PÓS-MODERNISMO

O termo Pós-Modernismo foi utilizado pelaprimeira vez, na década de 30, para indicar umapequena reação ao modernismo, tendo sepopularizado nos anos 60, em New York, quandofoi usado por alguns jovens artistas escritores ecríticos para “designar um movimento para alémdo alto-modernismo ‘esgotado’, que era rejeitadopor sua institucionalização no museu e naacademia”. (Featherstone, 1995, p. 25)

Entre os anos 70 e 80, a arquitetura, as artes visuaise cênicas e a música, fizeram amplo uso do termo,junto a um forte intercâmbio com a Europa.

Há uma utilização ampla do termo pós-modernismo que designa complexos culturaisabrangentes. O pós-modernismo pode seridentificado como a cultura emergente da pós-modernidade. Nessa concepção, o pós-modernismoé um marco de mudanças fundamentais, além daprovável expansão da importância da cultura nassociedades contemporâneas.

O pós-modernismo pode ser tomadotambém, como teoria e como prática antiestéticade diferentes maneiras.

Kaplan (1993, p. 13), distingue dois principaissentidos do conceito de pós-modernismo. Para aautora, é possível diferenciar um pós-modernismoutópico – que segue uma direção derrideana – deum pós-modernismo comercial ou cooptado – quesegue uma direção baudrillardeana.

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O pós-modernismo utópico implica ummovimento da cultura e dos textos para além de“categorias binárias opressivas”, cujas obras estãoligadas a nomes como os de Baktin, Derrida,Lacan, Cixous, Kristeva e Roland Barthes.Segundo a autora, esse tipo de pós-modernismofoi central para algumas correntes do feminismo,em textos que descentram radicalmente o sujeito.Essas correntes insistem que o pós-modernismopermite uma série de diferentes posições quepodem ser assumidas pelo espectador. Ascorrentes feministas que adotam esse pós-modernismo, também têm sua concentração naprodução de textos em que os discursos não sãohierarquicamente ordenados.

O pós-modernismo cooptado ou comercial,por outro lado, foi teorizado inicialmente porBaudrillard, Arthur Kroker e David Cook. Essepós-modernismo está ligado ao novo estágio docapitalismo multinacional e multiconglomeradode consumo e a todas as novas tecnologias queesse estágio produziu. Essa tendência é descritacomo radicalmente transformadora do sujeito,através de sua extinção da cultura, onde o internojá não se separa do externo; o espaço privadonão pode se opor ao público; a alta cultura ou devanguarda já não contrasta marcantemente coma cultura popular consumista. As tecnologias, astécnicas de venda e o consumo criam um novouniverso unidimensional do qual não há saída e emcujo interior não é possível uma postura crítica.

Ainda, para a autora, ambas as utilizações, ado pós-modernismo utópico ou a do pós-modernismo cooptado, têm semelhançassubjacentes devido à transcendência dastradições filosóficas, metafísicas e literárias queforam questionadas pelo pós-estruturalismo epela desconstrução.

O emprego do termo pós-modernismoassinala, assim, um movimento para além e longedos vários posicionamentos estéticos e tambémaqueles sobre a classe, a raça e o sexo das teoriastotalizantes. Esse afastamento dá-se de formadiferenciada, dependendo dos círculos onde omovimento se circunscreve.

Já, aqueles discursos relacionados com a culturapopular, chamam a atenção para o fim dosbinarismos produzidos pelas novas tecnologias.

O impacto das teorias pós-modernistas nacultura, na organização social e no próprio corpoe psiquismo humano é já bastante avançado.

3.1. O PÓS-MODERNISMO NAS ARTES

Em meados dos anos 50, o modernismo tinhaesgotado seu impulso criador. A sociedadeindustrial converteu a arte em uma antiarte, aofazê-la extrapolar o espaço dos museus, dasgalerias, dos teatros, para incorporá-la no design,na moda, nas artes gráficas. Não só na estéticaisso aconteceu como também no “culto do novopregado pelas vanguardas” (Subirats, 1987). Asrevistas e luminárias adotam a assimetria, osdesenhos abstratos passam a decorar papéis deparede, enfim, a interpretação pessoal, ohermetismo, os choques e os escândalos, quecaracterizam a arte modernista acabam por nãoter importância ante a sociedade de massa.

Nesse período, surge a arte pop, primeiramanifestação pós-moderna, que nasce contra osubjetivismo e o hermetismo modernos. Essatendência, convertida em antiarte, é lançada nasruas com outra linguagem, assimilável pelopúblico. A banalidade cotidiana adquire valorartístico nos anúncios, nos heróis de gibi, nosrótulos de mercadorias, fotos, estrelas de cinema,etc..

Enquanto que a arte moderna nasceu comestética bem clara e a partir de manifestosescandalosos, a antiarte pós-moderna nãoapresenta propostas definidas, nem coerência,nem linha evolutiva. Os estilos convivem semchoques, as tendências se sucedem com rapideze não há grupos ou movimentos unificadores. Sãosuas bases, o pluralismo e o ecletismo.

Fala-se em transvanguarda, ou seja, aquilo queestá além da vanguarda. Assim, valem de igualmaneira, por exemplo, tanto o estilo retrô, quantoa vídeo-arte.

A Pop Art (termo proposto pelos críticosamericanos em 1956) foi a primeira expressãopós-moderna nas artes plásticas, buscando acomunicação direta, jovem, alegre, com objetosretirados do consumo popular, na pintura e naescultura. Seu hiper-realismo ou foto-realismocopia em tinta acrílica fotografia (simulacros) deautomóveis, paisagens urbanas, fachadas, anúncios,que são depois apresentadas em tamanho naturalou monumental. A tinta acrílica deixa o real maisintenso, bonito ou então o poliéster, na escultura,deixa a figura mais viva, vibrante, como se vistanuma TV a cores.

Como um exemplo dessa arte, pode-se citarum painel, que foi exposto em Londres, em 1955,

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intitulado “O que faz os Lares Atuais tãoSedutores”. Sua dimensão era de 3 X 3m2 e elese diferenciava de tudo o que vinha sendo feito,devido à sua saturação com TVs, poltronas,posters, mulher nua, halterofilista, secador decabelo, etc. (Santos, 1986, p. 67).

Na escultura usam-se materiais reais comoroupas, óculos, celofane, etc..

A pintura/escultura pop busca, portanto, afusão da arte com a vida. A antiarte pós-modernanão procura representar (realismo), nem interpretar(modernismo), e sim, deseja apresentar a vidadiretamente com seus objetos. Um exemplo podeser dado através do uso de garrafas reais queestejam penduradas num quadro. Esse tipo demontagem busca representar um pedaço do realdentro do real, ou seja, há uma desestetização euma desdefinição da arte, pois “beleza” e “forma”(“valor supremo e eterno da arte”), não têmimportância já que não é esse o principal objetivoa ser alcançado.

A própria definição de arte pode serquestionada, pois também ocorre o abandonodo óleo, do bronze, do pedestal, da moldura;optando-se pelo uso de materiais não artísticosencontrados no cotidiano das pessoas comoplástico, vidro, latão, areia, cinza, papelão,fluorescentes, banha, mel, cães e lebres vivos oumortos (desdefinição), etc..

Essa forma artística realiza-se por duas razões.A primeira é porque o cotidiano se encontraestetizado pelo design e os objetos feitos em sériesão signos digitalizados e estilizados para aescolha do consumidor. Depois, porque o nossoambiente é constituído, em grande parte, pelosmass media, que nos emerge em signosestetizados. O artista pop pode diluir a arte navida porque a mesma está saturada de signosestéticos massificados. Essa antiarte trabalhasobre a arte dos ilustradores de revistas,publicitários, desenhistas industriais, designers,e acaba sendo uma ponte entre a arte culta e ade massa estabelecida pela “singularização dobanal” – quando um artista empilha caixas desabão dentro de uma galeria e diz que é escultura,por exemplo – ou pela banalização do singular –quando a “Mulher com Chapéu Florido”, dePicasso é repintada em vermelho e amarelo, coresde gosto popular (Santos, 1986, p. 28). Tal atitudeestética possibilita a junção da cultura de elitecom a cultura popular.

Troca-se, portanto, a arte difícil, moderna,

abstrata, pela figuração acessível nos e dosobjetos e imagens de massa, sendo importante ogesto, o processo inventivo, e não a obra em si.A contemplação fria e intelectual cede lugar paraa participação, onde o público reage pelo seuenvolvimento sensorial, corporal.

Pop, minimal, conceitual, hiper-realismo,processos, happinings, performances, transvanguarda,vídeo-arte, são alguns dos estilos pós-modernose, em qualquer um deles, o apoio básico seencontra nos objetos, na matéria, no riso, nomomento. Assim, a antiarte pós-moderna éfrívola, pouco crítica e não aponta valores oufuturo para o homem. Ela tende ao niilismo,anulando a própria arte, quando se desestetiza edesdefine, tornando difícil saber o que é arte e oque é realidade.

Tal fato ocorre também porque a vida se achaestetizada pelo design, a decoração. Osambientes atuais já são arte e assim, pintura eescultura podem se fundir com a arquitetura, apaisagem urbana, tornando-se fragmentos do realdentro do real.

Objetos acumulados ou distribuídos ao acasoenvolvem o expectador para que ele esteja, nãodiante, mas dentro da obra, com os sentidostodos afetados. Mistura-se pintura, escultura,música, arquitetura. A autoria perde o valor, maso artista permanece, intervindo através do happining(a performance é uma variedade do happining) nocotidiano, não através da obra, mas fazendo daintervenção uma obra. É o máximo de fusão arte/vida que utiliza a rua, a galeria, as pontes e viadutos,as pessoas e objetos da própria realidade.

No período de 50 a 70 as manifestaçõesartísticas se concentraram, portanto, na pop art,sendo desenvolvidas, nesse período muitas desuas variações como, arte cinética, arte pobre,arte da terra, etc.

Nos anos 80, percebe-se um cansaço de tantasexperimentações, ocorrendo a efetiva desdefiniçãoda arte. Muitos analistas pensam que se chegoua um ponto onde a arte não tem mais para ondese dirigir e que a solução é voltar ao passado pelaparódia, pelo pastiche, pelo neo-expressionismo.Outra perspectiva que se define nesses anos éum “atolar-se no presente”, com imagens de TV,grafite de rua e a tecnociência expressa na videoarte e no neo-realismo.

Os estilos pós-modernos podem serrepresentados, então, pela pop art – quehomenageia o consumo e o mass média –, pela

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minimal art – que tece o elogio da tecnologia e seusmateriais sintéticos, sem mensagem e sem protesto – epela conceptual art – que valoriza a linguagem.

As características mais comuns entre asdiferentes propostas de pós-modernismo nasartes são:a) abolição das fronteiras entre arte e vida

cotidiana;b) extinção da hierarquia entre alta-cultura e

cultura de massa ou popular;c) mistura estilística, favorecendo o ecletismo e

o ajuntamento de códigos;d) paródia, pastiche, ironia, diversão e celebração

da ausência de profundidade da cultura;e) declínio da originalidade/genialidade do

produto artístico;f) suposição de que a arte pode ser somente

repetição.

3.2. O PÓS-MODERNISMO NA LITERATURA

Na ficção, os pós-modernistas queremdestituir a forma-romance, como acontece noNouveau Roman francês, ou então, querem opastiche, a paródia, o uso de formas desgastadas(romance histórico) e de massa (romance policial,ficção científica), como na “metaficção”americana. No Nouveau Roman, que começa nosanos 50, destrói-se a forma romance, banindo oenredo, o assunto e o personagem. Há quemescreva sobre nada – apenas uns buracos naporta, por exemplo. Na “metaficção” americana,que produz ficção a partir de ficção, a construçãoliterária entrega-se a paródias e a pastiches(imitações irônicas) de formas antigas, tais comoo conto de fadas, ou de formas populares comoa ficção científica.

Surgem, ainda, gêneros indefinidos quemisturam reportagem e ficção, com a atuação depessoas reais, enquanto outros misturamautobiografia com fantasia, ficção. Temas comodrogas, perversão, loucura, sexo, violência,pesadelo tecnológico, inclinam as narrativas parao grotesco, o escabroso, aproximando o homemde sua natureza animal, mas em clima cômico.Quase sempre os textos vêm repletos de citações,colagens (fotos, gráficos, anúncios) e referênciasà própria literatura. Assim, a literatura pós-moderna é intertextual. Para lê-la, é precisoconhecer outros textos.

Na literatura, o pós-modernismo desacredita

no que está sendo dito. Não há um relato darealidade, mas um jogo com a própria literatura.Suas formas estão, portanto, para seremdestruídas, reorganizadas, embaralhadas, enfim,sua história a ser retomada de maneira irônica ealegre. A fragmentação da narrativa é total,podendo-se misturar os narradores: em geral nãosabemos quem está falando. Raramente ospersonagens têm psicologia ou posição social.Eles podem mudar de nome, cor ou idade, semrazões aparentes. Os finais costumam sermúltiplos – “A mulher do tenente francês” temdois finais diferentes, por exemplo. E são comunsas construções em abismo: uma história dentroda outra, que está dentro da outra. Podemosconcluir que aqui também há uma desdefiniçãodo romance.(Connor, 1993, p. 87)

3.3. O PÓS-MODERNISMO NA ARQUITETURA

Muitos analistas acreditam que o pós-modernismo apareceu primeiro na arquitetura eque tenha se caracterizado por voltar-se contra ofuncionalismo racional da Bauhaus (escola dearquitetura alemã) e seu dogma modernista: “aforma segue a função”.

Funcionalismo significava, para essa escola,racionalidade com simplicidade, clareza,abstração, janelas em séries, ângulo reto.

A reação pós-moderna começa com osarquitetos italianos, depois com os americanos eos ingleses. Contra o estilo universal modernista,eles se voltam para o passado, pesquisam novose velhos materiais, estudam o ambiente, a fimde criar uma arquitetura que fale a linguagemcultural das pessoas que vão utilizá-la.

Assim, ao invés de buscar a função, aarquitetura passa a obedecer à forma e à fantasia.Aos materiais oferecidos pela indústria moderna,eles acrescentam materiais abandonados(cascalho, por exemplo) ou bem recentes(fórmica e plexi glass). O ornamento érecuperado: até colunas gregas reaparecem. Osvalores simbólicos (o pórtico senhorial) sãoprestigiados, junto com retorno a estilos antigoscomo o barroco. Mas é ao organizar o espaçoque o espírito do pós-modernismo se revela. Àsretas racionais, opõem-se a emoção e o humordas curvas. Contra a pureza, o ecletismo: junta-se o ornamento barroco e o vidro fume. No lugarda abstração, vem a fantasia (edifício em forma

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de piano, por exemplo) e busca-se a vida com avolta da cor (Harvey, 1992, p. 69).

Evita-se a série repetitiva, monótona. Ohumor é flagrante:

“no Hotel Bonaventura em Los Angeles, quecaí com espalhafato num lago, o espaço internoé divertidamente complicado, sendo difícilachar-se o caminho para as lojas. Mas a marcatípica da arquitetura pós-moderna é acombinatória linhas e formas curvas com linhase formas oblíquas” (Harvey, 1992, p. 87).

No mundo contemporâneo, a homogeneidadeperdeu significado. A cidade, nesse contexto,reproduz-se de forma conflitiva.

A arquitetura pós-moderna trabalha com adiferença e a interpretação, procurando integrar-se ao urbano, contribuindo para a produção doespaço local e cotidiano, conhecendo a vida nascidades, nos bairros, nas ruas, identificando-secom a cultura popular, respeitando asespecificidades locais e dos lugares.

A produção arquitetônica pós-moderna exaltaa cultura popular pelo questionamento da culturaclássica, e não pela sua negação, precisando, assim,da ordem anterior para formular suas propostas.

Em estilo, é uma arquitetura historicista, quenão hesita em apropriar-se da produção passadapara criar seu código. Sendo uma arquiteturacontextualizada, exige a ampliação de suas basesreferenciais e a adoção de enfoques abrangentesque possam ser explicativos, a partir da integraçãocom esferas de produção do espaço.

A desconstrução toma parte importante nesseprocesso, pois sua essência identifica-se com essaidéia de reorganização. Desfazer, decompor,dessedimentar, não implica uma operaçãonegativa de destruição, mas o entendimento daconstrução de um determinado conjunto, sendonecessário para isso reconstituí-lo.

Assim, a desconstrução

“envolve discernimento, interpretação,escolha, julgamento, decisão, movimento... Seo espírito da época é o fragmento, não épossível a reorganização da totalidade, masapenas, a reorganização, não necessariamentesimultânea, de partes precisamentedelimitadas. Ao desconstrutivismo é tãoessencial o conceito de marco e de limite,quanto a referência à ordem estabelecida, aocontexto” (Leite, 1994, p. 67).

No design, o pós-modernismo chegoutrazendo móveis com desenhos fantasiosos erevestimentos em cores berrantes e tecidosousados. As formas são variadas, indo do trapézioà mistura delas; os materiais podem ser a madeirafolheada com plástico, pés de ferro vermelho,puxadores de latão, etc.

3.4. O PÓS-MODERNISMO NA FILOSOFIA

Os filósofos pós-modernos não queremrestaurar os valores antigos, mas desejam revelarsua falsidade e sua responsabilidade nosproblemas atuais em duas frentes:1. Através da desconstrução (também aceito o

termo deconstrução) dos princípios e dasconcepções do pensamento ocidental comoRazão, Sujeito, Ordem, Estado, Sociedade,etc., promovendo a crítica da tecnociência esuas conseqüências;

2. Através do desvelamento de temas ouconcepções antes considerados “menores” oumarginais: desejo, lacuna, sexualidade,linguagem, poesia, jogo, cotidiano, sociedadesprimitivas, elementos que abrem novasperspectivas para a liberação individual.

Tais filósofos buscam base para suasestratégias discursivas quando encontram emNietzche (1988) fundamentos sobre a idéia defim, unidade, verdade, valorização, desvalorização,transvalorização. Para Nietzche, a criação devalores supremos significa niilismo, decadência,pois se trocou a vida carnal, instintiva, concreta,por modelos ideais inatingíveis (o belo, o bom, ojusto). Mas vendo-se abandonado no universo,o homem ocidental projetou valores supremosque lhe acalmassem as angústias, lhe justificassema existência. Fim (para garantir um sentido),Unidade (para assegurar que o universo é umtodo apreensível pela ciência), Verdade (paraguiar-se pelo ser, pela real natureza das coisas),Razão e Moral.

Nietzche (1988) propôs o niilismo como fontepara uma “transvaloração” de todos os valores,vindo os novos valores em bases mais sólidas. Asuperação do niilismo traria um rejuvenescimentocultural culminando com a chegada do “SuperHomem” e sua aposta na vida instintiva, naintensificação dos sentidos, do prazer.

A suposta unidade do Cosmos levou a Ciência

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a opor o Homem (o conhecedor) à Natureza (oconhecido). Ao mesmo tempo, fragmentou oentendimento sobre a Natureza em camposespecíficos de conhecimento (Biologia, Física,Química, etc.) e decretou, pela matemática, aquantificação do mundo natural e social. Ohomem se escravizou a essa verdade querendogovernar sua existência pela Razão, esquecendo-se dos instintos, da emoção, força, imaginação,prazer, desordem, paixão e tragédia. Peladesconstrução, a filosofia atual, preocupada comos temas postos pela pós-modernidade, procurauma reflexão sobre a aceleração da queda, nosentido de decadência, das grandes idéias, valorese instituições, no niilismo.

Cabe a pergunta: o que são as grandes narrativas(metarranativas) desacreditadas pelos filósofos pós-modernos? São os discursos globalizantes,totalizantes que procuram os primeiros princípiose os fins últimos para explicar ordenadamente oUniverso, a Natureza e o Homem.

Desconstruir o discurso não é, portanto, destruí-lo, nem mostrar como foi construído, mas discerniro “não-dito por trás do que foi dito”. Buscar osilenciado (reprimido) sob o que foi falado.

3.4.1. A proposta de Jean-François Lyotard

Lyotard preocupou-se com diferentes áreas,como a lingüística, a psicanálise e a ética. Em1979 publicou “La Condition postmoderne”, quefoi escrito na forma de um relatório sobre oconhecimento, feito a pedido do Conseil desUniversités do governo de Quebec, onde expôssua concepção da pós-modernidade.

Sua análise preocupou-se com as formas pelasquais o conhecimento e os procedimentoscientíficos foram legitimados e reivindicaramlegitimação em função da narrativa do discurso.Quer dizer que ele contrapôs o conhecimentocientífico ao conhecimento narrativo.

Para Lyotard (1986), a ciência moderna secaracteriza pela rejeição ou supressão de formasde legitimação que se fundamentam na narrativa.O conhecimento narrativo foi definido por ele apartir de relatos antropológicos sobre sociedadesprimitivas, na observância dos conjuntos de regrassobre quem tem o direito e a responsabilidade defalar e de ouvir em dado grupo social. Lyotard(1986) verificou as regras internalizadas denarrativa popular entre os índios Cashinahua, daAmérica do Sul, buscando exemplos de

autolegitimação dos discursos, do direitoadquirido e da responsabilidade de quem conta ahistória e por que conta, e do direito e daresponsabilidade de quem ouve e por que ouve.

Para o autor, através dessas narrativas sãotransmitidos os conjuntos de regras que constituio vínculo social, sendo esse o principal meio peloqual uma cultura legitima a si mesma. Taisnarrativas definem o que pode ser dito e feito nacultura em questão e elas são legítimas pelosimples fato de fazerem o que fazem, pois sãopartes dessa cultura.

Como a concepção clássica do conhecimentocientífico requer uma estrutura de organizaçãodistinta daquela que o conhecimento narrativotraz, a ciência, a partir do século XVIII, combateue tentou acabar com esse tipo de legitimação.Assim, a linguagem científica opõe-se àlinguagem narrativa, associando-a com aignorância, barbárie, preconceito, superstição eideologia. Mas há outra distinção maisimportante entre narrativa e ciência. Enquantoa narrativa primitiva não exige nenhuma formade legitimação, além do fato do seu própriodesempenho, o conhecimento científico nãopode validar-se apenas pelos seus própriosprocedimentos. Assim, a ciência volta à narrativaquando o conhecimento científico se distinguedas formas de conhecimento e de comunicação(que constituem vínculos sociais e coletivos). Dessamaneira, a questão da legitimação adquire outradimensão. É somente por meio das narrativas queo trabalho científico pode receber autoridade epropósito. As duas principais narrativas a que aciência recorre são a filosofia e a política.

Enquanto as narrativas anteriores estavamvoltadas para a idéia de retorno à verdadeoriginal, essas duas narrativas, se dão como“metanarrativas”, ou seja, subordinam, organizame explicam outras narrativas. Nesse sentido sãototalizantes, o que significa dizer que

“qualquer outra narrativa local, seja de umadescoberta científica ou do crescimento eeducação de uma pessoa, recebe sentidoatravés da maneira como ecoa e confirma asgrandes narrativas da emancipação dahumanidade ou do alcance do puro Espíritoautoconsciente” (Lyotard, 1979, apudConnor, 1993, p. 31).

Para Lyotard (1986), o poder das grandes

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narrativas, de fornecerem uma estruturalegitimadora ao trabalho científico, vem seperdendo desde a Segunda Guerra Mundial.Com a perda de confiança nas metanarrativas,descobre-se o limite dos pressupostos científicose o limite de seus procedimentos de verificação,advindo, assim, o declínio da regulação geral dosparadigmas da ciência. Também, na medida emque o desenvolvimento científico exige umnúmero cada vez maior de especializações, cadauma com seu próprio modo de proceder ou comseu específico “jogo de linguagem”, a ciênciaenfraquece seu poder organizador. Nessascondições, o seu objetivo não está mais na“verdade”, mas na “performatividade”, o quesignifica dizer que não importa quais pesquisaslevarão à descoberta de fatos verificáveis, masqual delas vai “funcionar melhor”, aumentandoo desempenho e a produção operacional dosistema de conhecimento científico.

Se por um lado, a universidade ou instituiçãode ensino não pode, nessas circunstâncias, voltar-se para a transmissão do conhecimento em si, tendoque estar ligada ainda mais ao princípio deperformatividade, por outro lado, esse mesmoprincípio encoraja energias inovadoras, atitudes nãoortodoxas com relação aos paradigmas dominantes.

A proposta de Lyotard (1986) merece omérito de ter contribuído no sentido de estendergeograficamente o debate sobre a questão pós-moderna.

3.4.2. A crítica ao pós-modernismo elaborada porJürgen Habermas

Segundo Huyssen (1991), foi a intervençãode Jürgen Habermas que, pela primeira vez,levantou a questão sobre o pós-modernismo deuma forma teórica e historicamente complexa.

Sua obra “Discurso Filosófico da Modernidade”é, ao mesmo tempo, uma crítica aos fundamentospós-modernos e uma proposta de continuidadehistórica, a partir dos referenciais da modernidade.A modernidade retoma, para ele, as melhorestradições do Iluminismo, que ele tenta resgatar ereinscrever, de uma nova forma, no discursofilosófico contemporâneo.

Habermas (1990) identificou o pós-modernocom várias formas de conservadorismo,criticando a ambos, por não satisfazerem nem asexigências da cultura no capitalismo tardio, nemos sucessos e fracassos do próprio modernismo.

A modernidade que ele deseja está isenta doniilismo e da anarquia do pós-modernismo, assimcomo a idéia de uma estética pós-modernista deLyotard (1986), por exemplo, está determinadaa liquidar qualquer traço da modernidadeesclarecida herdada do século XVIII, quefundamenta a sua noção de cultura moderna.

Habermas verificou como se dá a relação domodernismo com o pós-modernismo e a Inter-relação entre conservadorismo político, ecletismoou pluralismo cultural, tradição, modernidade eantimodernidade. Também questionou acaracterização pós-moderna da formação culturale social dos anos 70 e a revolta contra a razão e oIluminismo.

Apesar de ser um crítico do pós-modernismo,foi Habermas (1990) quem tratou dos temas maisimportantes sobre a modernidade e a pós-modernidade. Acreditamos que tenha sido nesseperíodo e por causa de sua posição, que aimportância e a necessidade de afirmar o pós-modernismo como tendência que rompebruscamente com a modernidade tenha se dado.Foi a necessidade de bem responder a umaautoridade como Habermas (1990), e defundamentar boas razões para o sucesso do pós-modernismo, que gerou o debate sobre acontinuidade ou o rompimento com a modernidade.

4. PÓS-MODERNIDADE

Gostaríamos de diferenciar o pós-modernismo da pós-modernidade no sentido dedemonstrar um momento de avanço nos debates.Esse avanço se verifica com a obra de Jameson(1996) a qual estipulou novos rumos para asdiscussões, e também propiciou o engajamentode outras áreas no debate pós-moderno.

A pós-modernidade pode adquirir algunssignificados:a) nada pode ser conhecido com certeza, pois

os fundamentos da epistemologia revelaram-se sem credibilidade;

b) a história é destituída de teleologia, sendo quenenhuma versão de progresso pode serseriamente defendida;

c) o surgimento de uma nova “agenda” social epolítica adveio de preocupações ecológicas edos novos movimentos sociais em geral.Para Giddens (1991, p. 52), a pós-modernidade

é um termo usado como sinônimo de pós-

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modernismo, sociedade-industrial, etc. O pós-modernismo designa os estilos ou movimentosna literatura, artes plásticas e arquitetura,referindo-se aos aspectos estéticos damodernidade. Já a pós-modernidade está aliadaà idéia de desenvolvimento social, cuja trajetórianos leva a uma nova ordem. O pós-modernismoexprimiria a consciência de tal transição, mas nãomostra que ela existe. Ao contrário, a pós-modernidade dá esse sentido geral de se estarvivendo um período de nítida disparidade dopassado.

Para Featherstone (1995, p. 20) a pós-modernidade, sugere um sentido de época. Amodernidade teria surgido com o Renascimentosendo definida em relação à Antigüidade. Estase contrapõe à ordem tradicional implicando aprogressiva racionalização e diferenciaçãoeconômica e administrativa do mundo social, ouseja, a formação do Estado Moderno Capitalista,industrial e urbano. A pós-modernidade sugerea mudança de uma época para outra ou ainterrupção da modernidade, e diz respeito a umanova ordem social, uma nova totalidade social,com princípios organizadores próprios e distintos.

Baudrillard (1985) e Lyotard (1986) admitemum movimento em direção a uma era pós-industrial. O primeiro, destaca a importância dasnovas formas de tecnologia e informação para apassagem de uma ordem social produtiva, na qualas simulações e modelos cada vez maisconstituem o mundo. O segundo, põe em relevoa era ou a sociedade pós-moderna dentro de umarranjo pós-industrial, a partir da observação dosefeitos da computação para a sociedade etambém sobre o conhecimento, assinalando quea perda de sentido característica deste períodomarca uma substituição do conhecimentonarrativo pela pluralidade dos jogos de linguageme do universalismo pelo localismo.

Jameson (1996) apresenta o conceito deforma periodizada, mas não o concebe comomudança de época e sim como um determinantecultural ou como uma lógica cultural da terceiraetapa do capitalismo, capitalismo tardio,começado após a Segunda Guerra Mundial.

4.1. A ANÁLISE DE FREDRIC JAMESON

Uma das poucas análises marxistas queadotaram o termo foi a de Fredric Jameson (1996)

cuja obra se exprime na tentativa de resgatar umaespécie de dialética da pós-modernidade.

O uso do termo parece-lhe irrecusável não sópelas contingências intelectuais norte-americanas,mas por que lhe permite uma descrição adequadada situação em que a modernização, totalmenteimplantada, não se defronta mais com obstáculosa serem superados. A realidade desse novomundo designa, por oposição à “modernizaçãoincompleta” da modernidade, uma versão maispura do capitalismo clássico, ou melhor, umterceiro estágio, o capitalismo multinacional,sucessor do capitalismo monopolista e doprimeiro capitalismo de mercado.

A nova divisão internacional do trabalho, adinâmica das transações bancárias, as novasformas de inter-relacionamento das mídias, tudoo que podemos chamar como os sintomas daglobalização, seriam, para Jameson (1996),apenas manifestações visíveis do capitalismotardio. Para estabelecer a topografia deste mundono qual tudo é moderno por definição, Jameson(1996) toma a determinação da lógica específicada cultura pós-moderna.

Seu primeiro passo consiste, pois, naidentificação dos traços recorrentes na produção– e nas teorias explicativas – do período que seestende desde a institucionalização acadêmica domodernismo, em meados dos anos 60, até osnossos dias. Esses se caracterizam pela“canibalização aleatória dos estilos do passadocom a predominância estilística de pastiches”;pela criação de um “hiperespaço” muito além dacapacidade humana de se localizar, pelapercepção ou mesmo pela cognição, no meiocircundante; pela transferência da ênfase doobjeto para a representação; etc.

Jameson (1996) estende as características daslinguagens culturais à esfera da vida cotidiana,de nossas experiências psíquicas.

Essa, não deixa de ser uma abordagemtotalizante, o que nos remete à lembrança deobservarmos que os adeptos do pós-moderno,ao recusarem discursos totalizantes, devemcuidar de contextualizar essa abordagem para nãocometerem o erro de criar falsos referenciais,difundindo a idéia da impossibilidade ouinutilidade de análises totalizantes.

A abordagem de Jameson (1996) passa, pois,pelo mapeamento intelectual de umamultiplicidade de áreas do saber ou da arte,dando exemplos dessa nova sensibilidade,procurando conciliar análise formal e histórica.

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Examina desde teorias como a de Lyotard (1986),como também discute as edificações e osconceitos na arquitetura; livros do NouveauRoman e filmes que quebram a rotina moderna,onde ele demonstra o estilo pós-moderno.

Desse itinerário, depreende-se que oesmaecimento do sentido histórico, a substituiçãoda categoria “tempo”, enquanto dominante pelo“espaço”, ou a transmutação das coisas emimagens no processo de reificação, mais do quecaracterísticas de uma dominante culturalconstituem traços estruturais do capitalismo tardio.

O estabelecimento de conexões, a descobertade afinidades entre fenômenos e esferasaparentemente distintas e autônomas, legitima-se como um procedimento do pós-modernismode Jameson (1996), pela dissolução explosiva daautonomia da esfera cultural, descrita como uma“prodigiosa expansão da cultura”. Assim, deve-se ser considerado como cultural desde o valoreconômico e o poder do Estado, até a estruturada psique.

Nesse modelo de “indústria cultural”, perde-se as diferenciações internas, seja com o fim daautonomia e separação das esferas cultural,normativa e cognitiva, seja pelo descentramentodo sujeito, seja pela dissolução da alta cultura –acontecimentos que possibilitaram, tanto aomodernismo quanto ao marxismo ocidental, seauto-representarem como expressões da dialéticada modernidade.

Jameson (1996) manifesta uma ilimitadaversatilidade teórica que lhe permite transitar deAristóteles a Lacan, do modernismo ao pós-modernismo, sem nenhum conflito aparente. Oeixo comum que une os seus oito ensaios é abusca das condições históricas de emergência deum sistema cultural centrado na visualidade. Essaseria a característica mais singular e preponderantedo nosso tempo, tendo no cinema o maisimportante elemento de constituição tanto de seurepertório de imagens, quanto de seus processosde interação com o imaginário social.

São essas condições que propiciam agerminação da “ libido escóptica”, o desejo fixadona superfície visível da imagem, desinvestido dequalquer substância ou profundidade do real. Ovisual é essencialmente pornográfico, isto é, suafinalidade é a fascinação irracional, o arrebatamento.Essa sexualização da imagem desliza facilmentegraças às manobras publicitárias para asexualização dos objetos, desencadeando a

mercantilização universal das coisas e dos seres,num processo geral de reificação do mundo pelasua capa visível.

Afirma-se que tudo na sociedade de consumoassumiu uma dimensão estética. Essas são aconstatação, análise e a avaliação do estatuto da“Era da Imagem”. O objetivo de Jameson (1996)é o de transcender esse momento e sondarpráticas políticas que suscitem a crítica e atransformação desse contexto partindo das suaspróprias condições de operação e reprodução.Assim, ele revê tanto as formulações de Brecht ede Benjamim, que acreditam no potencialemancipado das novas tecnologias de comunicação,quanto as análises de Adorno e Horkheimer, quese fundamentam no poder corrosivo etransformador das vanguardas modernistas. Ascondições do presente, a hegemonia implantadade uma cultura popular de massa, obrigam a re-qualificar ambas as tradições críticas.

Hoje, tudo é mediado pela cultura, até oponto em que mesmo os níveis político eideológico devem ser desemaranhados de seumodo primário de representação, que é cultural.

Se tudo é cultura e essa se exprime pelas“redes de imagens”, Jameson (1996) entende acrítica cultural como a prática política porexcelência e o ato de enfrentar a dimensão míticada imagem, como sua estratégia mais contundente.Sua hipótese central é a de que as obras de culturapopular não podem ser manipuladas, a menos quese ofereça algum conteúdo.

É dessa substância que a cultura de massa temque se nutrir se pretende obter algum impactosocial significativo. Nessa manobra ela incorporae revela o índice das principais tensões do meiosocial. O problema é que o que a cultura de massaincorpora como índice, ela mesma destrói devidoao processo da iconização e da repetição infinita,quando esse ganha repercussão.

Como então escapar da imagem pela imagem?É o que leva Jameson (1996, p. 46) a conjecturarsobre as potencialidades da câmara e sobre ossegredos desse “aparelho curioso, no qual amáquina e a percepção estão ligadas mais afetivae simbioticamente do que o corpo e a mente”.

Quatro pontos que têm sido contestados naobra de Jameson:a) o pós-modernismo implica o esmaecimento

da antiga distinção entre alta cultura e culturade massa;

b) todas as teorias do pós-modernismo acarretam

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uma postura política a respeito do capitalismomultinacional;

c) a melhor maneira de usar o pós-modernismoé como um conceito periodizante, apesar dosproblemas teóricos do emprego desse tipo decategoria (medida que permitiu que usasse anoção de lógica cultural dominante, emcontraste com a qual é possível explorar adiferença autêntica);

d) o pós-moderno exibe quatro característicasbásicas: nova falta de profundidade da teoriacontemporânea e da imagem ou simulacro;senso histórico enfraquecido – público eparticular, evidente na estrutura esquizofrênicadas artes seculares; nova tonalidadeemocional, que Jameson (1996) denomina de“intensidades”, que substitui os modos(edipianos) anteriores de se relacionar comos objetos; centralidade das novas tecnologias,que por sua vez, estão vinculadas a um novosistema econômico mundial.

5. PÓS-MODERNIZAÇÃO

Modernização é um termo usado geralmentepara indicar os efeitos do desenvolvimentoeconômico sobre estruturas sociais e valorestradicionais (sociologia do desenvolvimento).Pode ser usado também para designar as etapasdo desenvolvimento social baseadas naindustrialização, na expansão da ciência e datecnologia, no Estado Nação Moderno, nomercado capitalista mundial, na urbanização,entre outros.

“Admite-se, de modo geral, mediante umfrouxo modelo base-superestrutura, quecertas mudanças culturais (secularização e osurgimento de uma identidade moderna cujoeixo é o autodesenvolvimento) decorreu doprocesso de modernização” (Featherstone,1995, p. 23).

Para a pós-modernização, está ainda por sedefinir um perfil mais detalhado e elaborado dosprocessos sociais e das mudanças institucionaisespecíficas. O termo, entretanto, vem sendoutilizado no sentido derivativo dos usos de pós-modernidade, dentro da designação de uma novaordem social e de uma mudança de época.

“No entanto, o termo tem o mérito de sugerir

um processo de implementação gradativa, emvez de uma nova ordem ou totalidade socialplenamente desenvolvida” (Featherstone,1995, p. 24).

No contexto dos estudos urbanos o termo érelevante, onde encontramos a idéia de pós-modernização como sendo uma ideologia e umconjunto de práticas com efeitos espaciaisconsideráveis, ou como representando relaçõessócio-espaciais reestruturadas pelos novospadrões de investimento e produção em indústria,serviços, mercado de trabalho e telecomunicações.

A pós-modernização pode ser vista como ummarco de uma nova etapa da sociedade ou comoalgo em curso no capitalismo.

6. ESTUDOS SOBRE A PÓS-MODERNIDADE NAS CIÊNCIAS SOCIAIS

6.1. A PROPOSTA DE MIKE FEATHERSTONE

Mike Featherstone é um estudioso da sociologiaque não rejeita a idéia de pós-modernidade, masseu trabalho não deixa de ser um questionamentosobre a possibilidade de se elaborar pesquisas apartir das teorias pós-modernas, tal como seapresentam. Nesse sentido, ele aponta anecessidade das grandes narrativas.

No tocante ao “método pós-moderno” (sepodemos assim dizer), Featherstone (1995) oconsidera com desconfiança dado a ser poucosistemático. No entanto, ele vê nas teorias pós-modernas o mérito de apontarem para mudançasna ordem social, as quais precisam ser consideradas.

Isso preconiza, no âmbito das CiênciasSociais, uma sociologia da pós-modernidade, jáque é essa que aponta para mudanças na culturacontemporânea.

Baseado em Bordieu, Featherstone (1995)classifica essas mudanças em:a) mudanças nos campos artístico, intelectual e

acadêmico;b) mudanças na esfera cultural mais ampla,

envolvendo os modos de produção, consumoe circulação de bens. Estas estariamrelacionadas às mudanças no poder e nosgrupos sociais e de classe;

c) mudanças nas práticas e experiênciascotidianas de diversos grupos que estariamdesenvolvendo novos meios de orientação enovas estruturas de identidade.

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Vejamos, a seguir, alguns dos aspectos maissignificativos dessas mudanças.

6.1.1. Existe uma nova sensibilidade e um novosentido estético

A sensibilidade pós-moderna de hoje édiferente, tanto do modernismo quanto dovanguardismo, porque coloca a questão datradição e da conservação cultural como temaestético e político fundamental. Também operanum campo de tensão entre tradição e inovação,conservação e renovação, cultura popular egrande arte, em que os segundos termos já nãosão privilegiados em relação aos primeiros; umcampo de tensão que já não pode ser compreendidomediante categorias como progresso versusreação, direita versus esquerda, presente versuspassado, modernismo versus realismo, abstraçãoversus representação, vanguarda versus kitsch.

6.1.2. Estilo de vida e cultura de consumo

A expressão “estilo de vida” tem umsignificado sociológico que designa o tipo de vidade grupos de status específicos (Featherstone,1995, p. 119). No âmbito da cultura de consumocontemporânea, o estilo de vida demonstraindividualidade, auto-expressão e umaconsciência estilizada do corpo, das roupas, damoda, do discurso, dos entretenimentos de lazer,das preferências de comida e bebida, da casa,do carro, da opção de férias, etc.

Estilo de vida está, portanto, relacionado aogosto e ao senso de estilo individual e original deuma pessoa, que é caracteristicamente proprietáriae consumidora.

Para Featherstone (1995, p. 120), isso nos levaa concluir que estamos rumando para umasociedade sem grupos de status fixos.

Ele remete a três fases das tendências recentesda cultura de consumo:1. atualmente não há moda, há modas;2. atualmente não há regras, há escolhas;3. todo mundo pode ser alguém.

A estetização da realidade percebida nesteesquema, dada pelo estímulo dinâmico domercado, coloca a importância do estilo comoprocura por modas novas, estéticas novas,sensações e experiências novas.

Assim, a noção artística contracultural de quea vida é uma obra de arte recebeu uma aceitaçãomais ampla. A preocupação com a estilização davida sugere que as práticas de consumo devemser compreendidas além do valor de troca e doscálculos racionais.

A cultura de consumo pressupõe, desta forma,falar num hedonismo calculista para algunssetores; sugere falar nas operações de efeitoestilístico para outros e, também, numa“economia das emoções”. Sugere, ainda, uma“estetização da dimensão funcional”. Os quecriam, produzem e reproduzem a cultura deconsumo, transformam “estilo” em “projeto devida” e incentivam a manifestação daindividualidade num conjunto de bens específicos.

Isso se dá por que na sociedade massificadacomposta por seis bilhões de pessoas no mundo,saturada de informações dadas via marketing, osindivíduos sabem que a comunicação é exercidaatravés de vários elementos culturais que “falarão”sobre si mesmos, como as roupas, sua casa,mobiliário, decoração, carro, e outras atividadesque serão interpretadas em termos de falta ounão de gosto, de maior ou menor significânciadentro de um ou determinados grupos sociais, etc.

Essa estetização não é típica de grupos jovensou abastados. A publicidade da cultura deconsumo pressupõe a oportunidade do indivíduoaperfeiçoar-se e exprimir a si próprio.

Há também uma consciência de que háapenas uma vida para se viver e é preciso muitoesforço para desfrutá-la.

Além disso, a idéia de cultura de “massacinzenta”, conformista, manipulada ao extremopela publicidade e pelos publicitários, parecedesfazer-se.

Em uma época de consumo massificado, asmudanças nas técnicas de produção, a segmentaçãodo mercado e a demanda de consumo para umasérie mais ampla de produtos, são vistas comofatores que vêm possibilitando maioresoportunidades de escolhas, e cuja administraçãotornou-se, em si, uma forma de arte. Isso se dánão somente para os jovens da geração posteriorà década de 60, mas cada vez mais também paratodos os segmentos sociais.

Existe, portanto, uma sugestão de que oscódigos vigentes da moda, por exemplo, vêmsendo violados e que há um conflito em tornoda uniformidade e um excesso de diferenças queresultam em perda de sentido?

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Há uma evidência na adoção de estilos de vidafixos por grupos específicos que está sendoultrapassada. Esse movimento aparente emdireção a uma cultura pós-moderna baseadanuma profusão de informações e proliferação deimagens sugere também a irrelevância das divisõessociais como ponto de referência importante.

Aqui, poderíamos também incluir, paraexemplificar essa situação, o retrato que Baudrillard(1985) faz de um mundo de simulacros. Este levaao triunfo da cultura da representação, de modoque as relações sociais ficam saturadas de signosculturais, a ponto de não mais ser possível falar emclasses sociais ou normatividade. Deparamo-nos,segundo essa concepção, com o “fim do social”, oque significa dizer que se perde, no contextodescrito, a relação determinista entre sociedade ecultura, sendo triunfante uma cultura darepresentação do consumo.

6.1.3. Os novos centros intermediários culturaise os centros de pós-modernismo

O grupo dos “novos intermediários culturais”,conceito elaborado por Bourdieu (1984), éformado por pessoas que se relacionam às ofertasde bens e serviços. São profissionais domarketing, publicitários, relações públicas,produtores e apresentadores de programas derádio e televisão, jornalistas, comentaristas emgeral, comentarista de moda e profissionaisligados a atividades de caráter assistencial(assistentes sociais, conselheiros matrimoniais,terapeutas sexuais, especialistas em dietética,etc.). São também considerados como os “novosintelectuais”, por Bourdieu (1984), pois elesadotam uma atitude de aprendizes diante a vida.

A identidade, a apresentação, a aparência, oestilo de vida e a busca incessante de novasexperiências, caracterizam esse grupo de pessoas.Sua busca de distinção mediante a meta de umavida estilizada e expressiva, promove e transmiteo estilo de vida dos intelectuais a um público maisamplo e este grupo também acaba por convertertemas como esporte, moda, música popular ecultura popular em campos legítimos da análiseintelectual.

Tal grupo, que é composto por pessoas quecirculam e atuam na mídia e na vida acadêmica,contribui para facilitar a veiculação de programasintelectuais populares na mídia.

Essa atitude promoveu o que Featherstone(1995, p. 71) chamou de uma “nova linhagemde intelectuais-celebridades” composta por aquelesque não têm aversão ao popular e que na verdade,acabam por incorporar o gosto popular ao seu estilode vida. Esse grupo contribui para derrubar algumasvelhas distinções e hierarquias simbólicas que giramem torno da polarização alta cultura/culturapopular. Ainda, a opção pelos bens intelectuais(programas intelectuais na mídia) e pelo estilode vida artístico contribui para que esse grupode pessoas seja receptivo a certas sensibilidadesincorporadas pelo pós-modernismo e venhamesmo a disseminar suas idéias.

6.2. AS PROPOSTAS ENCONTRADAS NA GEOGRAFIA

A Geografia ingressa no debate pós-modernono final da década de 80. A contribuição que tevemaior abrangência foi a obra de David Harvey(1992). Entretanto, Michael Dear (1988) teve omérito de estender o debate pós-moderno nonível da reflexão epistemológica na ciênciageográfica. Averiguaremos aspectos dessas duasdiferentes proposições, pretendendo demonstrara produção norte-americana e comentar oengajamento da Geografia Humana no debatepós-moderno.

6.2.1. A experiência do espaço e do tempo emDavid Harvey

O trabalho de David Harvey (1992), constitui-se um dos mais sérios estudos sobre a pós-modernidade sendo, sua análise, basicamentecompleta.

No que concerne às teorias espaciais, o autorintroduziu o conceito de compressão do tempo-espaço ao explicitar a experiência do espaço edo tempo na pós-modernidade. A partir doestudo do tempo e do espaço resultantes doprojeto do Iluminismo, Harvey (1992) verificouas características do encolhimento do espaçonuma aldeia global de telecomunicações, dado pelasinovações nos transportes e nas comunicações. Otempo vem se reduzindo, por isso, a tal ponto quepassamos a assistir apenas ao evento chamadomomento, ou seja, apenas o presente passa a existir.Esse presente é o tempo do ser esquizofrênicoresultante da pós-modernidade.

Harvey (1992, p. 219) afirma que a

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“compressão do tempo-espaço é um desafio,um estímulo, uma tensão e, às vezes, umaprofunda perturbação, capaz de provocar, porisso mesmo, uma diversidade de reaçõessociais, culturais e políticas”.

O autor chama a atenção para a necessidadede termos de aprender a lidar com esseavassalador sentido de compressão dos nossosmundos.

6.2.2. A epistemologia pós-moderna de Michael Dear

Michael Dear (1988) elaborou um artigo, cujomérito foi o de chamar a atenção dos geógrafospara o debate pós-moderno a partir de umadefesa em favor do pós-modernismo.

Esse artigo foi uma tentativa de umrealinhamento da Geografia Humana com a TeoriaSocial. Para Dear (1988), esse realinhamento tinhapor objetivo buscar um triplo efeito:a) proporcionar um reposicionamento da

Geografia Humana com um papel relevantenas Ciências Sociais e Humanidades;

b) elaborar uma reclassificação da estruturainterna da disciplina;

c) recriar ligações da Geografia Humana comos principais debates na Filosofia e Métododas Ciências Humanas.Inicialmente Dear (1988) argumentou sobre

a atomização da disciplina, devido às suasespecializações, que em 1986, através daclassificação da Associação de GeógrafosAmericanos (AAG), tinha um perfil organizadoque apresentava 37 grupos de diferentes subáreasda Geografia Humana, em número e gênero.

Duas considerações sobre o conhecimentogeográfico são por ele apresentadas a partir dessesdados. A primeira é que essas especializaçõesrepresentam a demanda aceita pela estrutura daGeografia americana. A segunda, é que legitimandocertas categorias, essas especializações podemtender a confinar o discurso geográfico apenas aelas próprias. Além desses pontos, o autorcomenta sobre o fato dessas especializaçõestambém representarem mais um ponto quecontribui para a dificuldade que o geógrafo temde definir o seu objeto de estudo.

Dear (1988) argumentou sobre o progressivonão engajamento da Geografia Humana nasprincipais correntes da Filosofia e das Humanidades.

Sobre o pós-modernismo, Dear (1988) odefiniu como uma forma de ataque aosfundamentos da filosofia contemporânea. O pós-modernismo seria uma revolta contra aracionalidade do modernismo. No contexto deseu artigo, isso é um ataque à epistemologiamodernista, cujas características são:

– o fundamental – essencial;– verdade e significados universais;– metadiscurso;– metanarrativas.Elspeth Graham (1995) vai retomar o artigo

de Dear (1988), considerando-o um clássico, quefornece para os geógrafos um conjunto de idéiasque já se apresentam em outras divisõestradicionais da academia. Para Graham (1995),as idéias apresentadas por ele apareceram comoum desafio para os Geógrafos Humanos, porcolocar em questão alguns dos mais básicos econsensuais conceitos que são os de racionalidade,verdade e progresso na pesquisa.

Na sua leitura de Dear (1988), Graham(1995) aponta os geógrafos como sendo osresponsáveis pelo não engajamento nas principaiscorrentes da Filosofia, Ciências Sociais e dasHumanidades.

Dear (1988) não foi o primeiro a introduzir opós-modernismo nas discussões geográficas, masseu mérito foi o de trazer as idéias do pós-modernismo para uma maior audiência,freqüentemente modernista.

Pode-se enumerar as reações ao seu texto daseguinte maneira:a) de uma maneira muito limitada de ver o texto,

a partir que tudo é pós-moderno agora semse verificar as implicações dessa visão para aGeografia e suas especialidades;

b) de uma maneira a tomar seriamente o nãoengajamento apontado por Dear, contribuindopara debates mais gerais sob tal tópico, sejaatravés de um exame crítico de certos aspectosda pós-modernidade ou explorando váriasfilosofias e, assim, elucidando diferentes facetasdo pós-modernismo;

c) de uma maneira a responder, freqüentementecom crítica, à opinião de Dear de umaGeografia Humana reconstruída.A questão não mencionada por Dear (1988)

e que Graham (1995) vai levantar é sobre umanova Geografia Cultural, com sua ênfase sobreo qualitativo, o etnográfico e o auto-reflexivo.

Graham (1995) acredita que a pós-

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modernidade abre nossos olhos para a “prisãoda linguagem”, e que tal questão imediatamentenos remete a pensar a noção de textualidade edesconstrução, como também nos remetediretamente à crise da representação.

Ela aponta problemas do pós-modernismolevantando perguntas como: é possível removera autoridade sem remover toda a autoridade?Também aponta algumas limitações do trabalhode Dear (1988) argumentando que as publicaçõesde Gregory e de Harvey, em 1987, Soja, em 1987e também aqueles que exploram as “geografiasfoucaultianas”, como Philo em 1992, ou ainterface entre as geografias feministas, comoBondi e Domosh, em 1992, contribuíram maissubstancialmente para o debate geral (apudGraham, 1995, p. 177). Esses autorespropuseram questões mais interessantes nãoantecipadas por Dear (1988).

Assim, para Graham (1995), a maiorcontribuição de Dear (1988) foi chamar a atençãode um público com pensamento moderno paratemas pós-modernos.

CONCLUSÃO

Parte da mudança a que assistimos reside nofato de que muitas dicotomias estão ultrapassadas.Modernismo e vanguarda se relacionam àmodernização social e industrial. Acreditava-seque a modernização devia ser trilhada. A visãoheróica da modernidade e da arte como forçasde mudança social estão fora de sintonia com assensibilidades presentes. Visto dessa forma, opós-modernismo não representa apenas outracrise no contínuo ciclo de altos e baixos, exaustãoe renovação, bom e mau, feminino e masculino,verdade e mentira, etc., que tem caracterizado atrajetória da modernidade. Ele representa umnovo tipo de crise dessa cultura. Somente nosanos 70 ficaram nítidos os limites históricos domodernismo, da modernidade e damodernização. Começamos a explorar ascontradições e contingências, as tensões eresistências internas da modernidade. Nessesentido, o pós-modernismo está longe de tornaro modernismo obsoleto, apropriando-se inclusivede muitas de suas estratégias e técnicas estéticas,inserindo-as e fazendo-as trabalhar “em outrasconstelações”. O pós-modernismo só rejeita omodernismo na sua tendência de codificar-senum dogma estreito.

Num primeiro momento, o dos anos 60, omovimento pós-moderno teve um caráter deruptura, mas em seguida ao dar lugar àcomposição e ao crescer, enquanto ummovimento, esse aspecto de ruptura já não tevetanta importância.

O que gostaríamos de propor para reflexão éque tanto os teóricos críticos frankfurtianos,como os pós-estruturalistas franceses, até os pós-modernistas americanos, dos anos de 1960 aosde 1980, fazem parte de um mesmo movimentoque se deflagra, nos anos de 1990, como sendopós-modernos.

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The post-modern question and the Geography Science

ABSTRACT

The post-modernity theme generated in the last decade of the most fascinating and controversial debates. Thepost-modernity attracted adepts and critics of the most several areas. This research have objective to discuss thetheme in the Geography Science. This investigation discusses the main searching, the largest debates and thecritics about the post-modernity. This group of subjects has been denominated “The Post-Modern Question”.Later the post-modernity thematic has considered in the geographical investigation.

KEY WORDS: post-modern, modernity, post-modernism, critical theory, Geography Science.

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Fundamentos teóricos para o entendimento da questãoagrária: breves considerações

Rosemeire Aparecida Almeida *

Eliane Tomiasi Paulino **

RESUMO

O texto refere-se a uma análise da questão agrária brasileira a partir de suas condicionantes históricas, com ênfaseaos movimentos de resistência e luta pela terra. O respaldo teórico dessa análise é obtido a partir de um resgate daobra de dois autores clássicos, Karl Kautsky e Alexander V. Chayanov e dois autores contemporâneos brasileiros,Caio Prado Júnior e José de Souza Martins. O critério de escolha dos autores e o destaque das obras, tanto dosclássicos quanto dos brasileiros, foram definidos em função das interpretações divergentes acerca da questãoagrária e do papel político dos camponeses dentro do modo capitalista de produção. As interpretações resgatadasprocuram convergir para um entendimento das relações subjacentes aos conflitos agrários, bem como aosdesdobramentos da modernização da agricultura, privilegiando a análise das novas formas de luta empreendidaspelos movimentos camponeses.

PALAVRAS-CHAVE: teóricos clássicos, questão agrária, renda da terra, modernização da agricultura, movimentoscamponeses.

INTRODUÇÃO

Segundo os educadores com os quaisconcordamos, o conhecimento é um processohistórico de criação e desvendamento daspotencialidades humanas, direcionado para açõesque vão desde a melhor adaptação ao meio até abusca de formas diferenciadas de apropriação.

Desse modo, desde o momento em que foramrompidas as bases comuns de cooperação, sendoinstaurados preceitos de diferenciação social,toda a produção humana, seja material ouimaterial, tem revelado ações que reforçam oudilapidam as bases de sustentação de estruturassociais consolidadas. Em outras palavras,advogam a mudança ou a manutenção do statusquo. Daí concluir-se que somos sujeitos políticos,pois inelutavelmente adotamos posturas que,dentro de uma sociedade desigual, manifestam

posicionamentos favoráveis ou contrários àordem vigente.

Nessa perspectiva, a proposta de refletir sobreos modelos teóricos voltados à compreensão daquestão agrária pode apontar, e é o que sepretende, para a necessidade de manter aceso odebate entre os geógrafos sobre tal questão, poiso desvendamento dos elementos subjacentes àconfiguração do território brasileiro, tarefa dosgeógrafos, não pode ser feito a contento sem umolhar cuidadoso para o campo, cujo emaranhadode relações confere significação inclusive àsformas históricas e rumos que essa sociedade vemtrilhando. É isso que torna pertinente o debate,pois apesar dos níveis de desintegração ética/política a que esta ciência (assim como as demais)se encontra submetida, pelos níveis crescentesde mercantilização do conhecimento e conseqüentevulnerabilidade da autonomia intelectual,

* Professora Assistente do Departamento de Ciências Humanas da Universidade Federal do Mato Grosso do Sul – Campus deTrês Lagoas. Rua Bernardino Montalvão, 1537 CEP 79604-020 e-mail: [email protected]** Professora Assistente do Departamento de Geociências da Universidade Estadual de Londrina – Caixa Postal 6001 CEP86090-970 e-mail: [email protected]

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prevalece a convergência em torno de umobjetivo maior da ciência geográfica, que é abusca de caminhos alternativos para umasociedade que progressivamente se biparte,acentuando o fosso entre os que acumulam e osque nada possuem.

Ao centrarmos nossa reflexão em questõesque envolvem diretamente a propriedade privadada terra e as relações por ela engendradas,envolvemo-nos no esforço de fornecer elementosque podem contribuir com uma luta que não ésomente dos agricultores, dos trabalhadores semterra, mas de toda a sociedade, uma vez que aexclusão provocada pela estrutura agrária vigentenão afeta apenas os pobres do campo, masdilapida a cidadania, que no Brasil ainda está porser construída.

Considerando que tal estrutura é resultadode um jogo de forças internas historicamentedefinidas, mas que são coerentes com os ditamesdo capitalismo, buscaremos inicialmente nosautores clássicos os apontamentos que nospermitem desvendar a evolução agrária dentroda lógica desse modo de produção. São essesapontamentos, recuperados por autorescontemporâneos, que lançam luzes para a análiseda questão agrária brasileira, cujas expressõesmais recentes são o processo de modernização eo acirramento dos conflitos pela posse da terra.

1. KARL KAUTSKY E “A QUESTÃOAGRÁRIA”

O legado teórico deixado por Kautskyconduz, a princípio, à ressalva de que não sepretende esgotar sua obra nestas considerações,reconhecidamente superficiais, antes pretende-se reforçar o hábito entre os pesquisadores deretornarem aos clássicos, sob pena de perderem adimensão de seu trabalho nas sucessivasinterpretações de caráter simplificador, como esta.

Cumpre salientar que essa obra foi produzidanum contexto de amplas discussões dentro dasocial democracia alemã do final do século XIX,em que se debatia as propostas de transformaçãoda sociedade e, particularmente, o papelreservado à agricultura e ao campesinato nesseprocesso. A Questão Agrária foi, dessa forma,uma resposta aos seus críticos, os quais possuíamleituras e posturas políticas conflitantes.

Na avaliação de Kautsky, a classe camponesa

comparecia como uma incógnita dentro daproposta de construção do socialismo, em virtudede sua superioridade numérica, bem como de suainconstância política, cujos interesses entrelaçavam-se ora com a burguesia, ora com o proletariado,criando dificuldades para enquadrá-la empadrões definidos de comportamento e, porconseguinte, criando uma incerteza nas lutaspolíticas que se pretendia travar.

Outrossim, o acirramento do debate sobre oscamponeses se explicitava à medida em que sevislumbrava a lentidão com que odesaparecimento dessa classe se processava, numprocesso ambíguo que contemplava inclusive seufortalecimento em algumas regiões. Portanto, énesse contexto que Kautsky procurou reforçarsua visão, fundamentada na concepção de que odesenvolvimento capitalista não poderiacomportar outras classes além da burguesia e doproletariado, opondo-se assim à teoria dotrabalho familiar, para a qual os camponesesseriam recriados a partir das imposições dopróprio modo de produção em consolidação.

Nessa perspectiva, o eixo condutor da obraestá baseado na leitura de que a indústria seria aforça motriz da sociedade, sendo portanto oagente indutor da evolução que se processava àolhos vistos. Dentro dessa lógica, os tentáculosda indústria se expandiriam para os maislongínquos recantos, inclusive nas regiões ondeainda predominava o modo de vida camponês.Para Kautsky, por mais impermeáveis àsmudanças que fossem as unidades camponesas,elas sucumbiriam ao modo de produçãoindustrial que, em última instância, se constituiriano veículo de seu desaparecimento.

Sua visão sobre o campesinato era altamentedepreciativa: essa seria uma classe miserável,retrógrada e vacilante, um entrave à superaçãodo modo capitalista de produção. Nessa linhade raciocínio, a conquista do socialismo seriainexorável, pois o capitalismo engendrava oselementos de sua própria destruição. Entre esseselementos, reservava ao operariado urbano o papelsupremo de conduzir o processo revolucionário.

A experiência inédita de aplicar a doutrinamarxista na interpretação das transformaçõesocorridas no campo com o advento do capitalismo,gerou a tese da penetração do capitalismo naagricultura, cujos desdobramentos seriam idênticosàs redefinições sócio-econômicas desencadeadaspelo modelo urbano-industrial.

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Assim, apesar de ser admitida a existência deoutras classes sociais, apenas o antagonismo entrea burguesia e o proletariado moveria a sociedade,sendo o socialismo uma conseqüência pura esimples do pleno desenvolvimento das forçasprodutivas capitalistas.

Nesse modelo teórico, a proletarizaçãocamponesa seria um processo irreversível eirrestrito, havendo importantes evidênciasempíricas que o reforçavam, sobretudo adesestruturação da indústria artesanal doméstica.

No final do século XIX, pouco restava dessaque fora o sustentáculo da economia feudal e abase da organização camponesa, haja vista ainserção em massa do campesinato no mercadode consumo e de trabalho. Por conseguinte, aestratégia camponesa adotada para suprir asnecessidades monetárias impostas pela novaordem, provocou um enorme descompasso nocampo, pois a sazonalidade das atividadesagrícolas vinha gerando progressivos excedentesde mão de obra, problema inexistente no modode produção anterior, dada a articulação agriculturae indústria doméstica, a qual ocupava a maiorparte da força de trabalho nos períodos deentressafra.

Assim, um dos caminhos da proletarizaçãoestaria centrado nesse ciclo vicioso, pois à medidaem que os camponeses passavam a trabalhar paraoutrém, menos tempo dedicavam à sua própriaunidade, implicando na redução da produçãointerna, obrigando-os a vender sistematicamentemais força de trabalho.

No entanto, essa mercantilização, denominadatrabalho acessório, também seria portadora demudanças qualitativas, pois através das migraçõescamponesas temporárias, em busca de trabalho,especialmente para as regiões onde as relaçõesde assalariamento já eram uma realidade naagricultura, é que haveria a oportunidade doscamponeses aprenderem com os operários as regrasbásicas de trabalho e organização coletiva,aprendizado este indispensável para o sucesso darevolução socialista.

Kautsky classificava como equívoco a teoriada superioridade da agricultura familiar sobre acapitalista, advertindo que o aumento numéricodas unidades familiares de produção eram umindício de agravamento da condição camponesa,pois revelavam a fragmentação das explorações.

Reiterou diversas vezes o uso inadequado dosmétodos estatísticos, ao entender que o aumento

numérico não expressava a superioridadeeconômica da agricultura familiar e sim a perdado seu papel produtivo. Isso porque essas unidadesnão estariam mais sendo utilizadas para a produçãoagrícola, mas apenas como local de moradia dostrabalhadores, já que sua reprodução já estariavinculada à venda da força de trabalho.

Explicitou a lógica funcional do binômiominifúndio/latifúndio, sendo que nos primeirosas limitações físicas de terra e equipamentosgeravam mão-de-obra ociosa, justamente amercadoria imprescindível para o sucesso dagrande exploração: assim, a essência daintercomplementaridade estaria assentada nofator força de trabalho. Porém, essa troca implicarianum aprofundamento das diferenças qualitativasentre a grande e a pequena exploração.

As projeções sobre a evolução das relaçõesde produção no campo demonstram que Kautskynão admitia a possibilidade da exploração serefetuada de modo racional nas pequenasunidades, por vislumbrar a viabilidade econômicasomente na grande exploração, pela supostacapacidade de aproveitamento máximo dasinstalações, instrumentos e força de trabalho.

Dessa maneira, Kautsky conclamava asupressão da pequena exploração, por entenderque a mesma resistia tão somente por estarassentada no sobre-trabalho e na sub-alimentação dos camponeses, condição maisaviltante, em sua ótica, do que o próprioassalariamento. Em suma, advogava ainviabilidade da agricultura camponesa e aviabilidade da grande exploração capitalista,tomando para si a tarefa política de apregoar suasfragilidades e, assim, abreviar o tempo necessárioao desaparecimento da primeira e a emergênciado proletariado.

“Operários bem nutridos e bem remunerados,além de inteligentes, eis a condiçãoindispensável para uma grande exploraçãoracional. (...) O movimento operário, elevandoo nível moral e econômico do proletariadoagrícola, combatendo a barbárie camponesa,criará – e é esta a sua tarefa – a condiçãobásica para a grande empresa agrícola racional.Ao mesmo tempo, fará desaparecer um dosúltimos pilares da pequena exploração”(Kautsky, 1980, p.135).

Nessa linha de raciocínio, a grandes

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explorações capitalistas seriam as precursoras dascooperativas agrícolas socialistas, sendo suaexpansão uma condição inalienável, visto seremas únicas a possuir os elementos que conduziriamà cooperativa socialista.

Tudo isso revela que, em seu entendimento,o caminho para a coletivização não poderia sertrilhado pelo campesinato, devendo o mesmopassar pela experiência concreta daproletarização, da socialização através dotrabalho coletivo. Somente o sucesso dessascooperativas romperia com a resistência edesconfiança dos camponeses, conduzindo-osnaturalmente à organização coletiva, a qualfinalmente promoveria a abolição definitiva dapropriedade e exploração individual da terra.Inequívoco, portanto, o entendimento de Kautskyacerca do papel político do proletariado emconduzir o campesinato na luta pelatransformação social.

2. “LA ORGANIZACIÓN DE LA UNIDADECONÓMICA CAMPESINA” DE ALEXANDERV. CHAYANOV

Contemporâneo de Kautsky, Chayanovproduziu essa obra num contexto onde o debatesobre o campesinato encontrava-se no auge, aoqual já fizemos referência. Desse modo, esta obraconstituiu-se em um marco pioneiro no estudosobre a composição e organização das unidadeseconômicas camponesas, apresentando umestudo pormenorizado dessa forma deorganização econômica e social. Com isso, oenfoque privilegia elementos desconsideradospela maior parte dos teóricos clássicos.

Para Chayanov, o fato do trabalho familiar seruma forma de produção ainda dominante nomundo, impunha a necessidade de uma análisemais aprofundada e cuidadosa de seu conteúdo,pois qualquer tentativa de construção de futurasformas econômicas deveria partir necessariamenteda realidade existente. Desse modo, a partir dateoria do balanço entre trabalho e consumo,Chayanov procurou demonstrar as diferentesformas pelas quais as unidades camponesasalcançavam o equilíbrio interno.

Uma delas seria a necessidade de absorçãoda força de trabalho da família camponesa, queprocurava orientar suas atividades no sentido deaproveitá-la ao máximo, inclusive evitando

períodos de ociosidade. Essa era umapreocupação constante dentro da agricultura,pelas suas próprias características, em virtude dainstabilidade na demanda por mão de obra nosdiferentes estágios biológicos das culturas.

Nisso distinguiriam-se a agricultura camponesae capitalista, pois diferentemente desta, a forçade trabalho era constante, não podendo sercontratada ou dispensada de acordo com asnecessidades dos cultivos. Portanto, culturas quereclamavam intensa força de trabalho, totalmentedesinteressantes do ponto de vista capitalista, porproporcionar baixos rendimentos líquidos, eramrealizadas pelos camponeses, pela necessidadede driblar o desemprego interno.

Demonstrou que essa especificidade daunidade econômica camponesa se constituía emempecilho à adoção de máquinas, por serempoupadoras da mão de obra que os camponesesnecessitavam ocupar. Além disso, elucidou ainviabilidade de sua utilização em virtude darelação inversamente proporcional entre custospara a aquisição/manutenção de máquinas edisponibilidade de terras.

Diferentemente de Kautsky, que atribuiu àfalta de inteligência e incompetência em operaras máquinas, essa leitura da lógica camponesaconduziu à interpretação de que a economia deforça de trabalho era o principal fator a impediros camponeses de empregarem máquinas, enfim,de modernizarem suas atividades, a fim desalvaguardar o emprego interno. A mecanização,portanto, somente seria aceitável caso houvessemoutras atividades a serem executadas pela mão deobra liberada ou a possibilidade de aumento dosganhos brutos, mediante intensificação de cultivos.

Desvendada essa lógica, Chayanov elucidouo papel da composição familiar dentro da teoriado balanço entre trabalho e consumo. Para ele, amesma seria um elemento chave nesse balanço,por determinar o grau e a intensidade da atividadeeconômica camponesa. A força de trabalho, dessaforma, manteria íntima relação com os membroscapacitados da família.

Por essa razão, considerou imprescindívellevantar a composição biológica e etária dos seuscomponentes, em virtude de haver uma variaçãoconjunta e indissociável entre as fases da famíliae o balanço entre trabalho e consumo: no inícioda composição familiar, a partir do matrimônio,haveria uma sobrecarga de consumidores (osfilhos pequenos) sobre os trabalhadores. À

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medida em que os filhos cresciam, passando atrabalhar, a unidade caminhava para um estadode equilíbrio entre o número de consumidores eo número de trabalhadores, sendo essenovamente desfeito à medida em que avançavaa idade dos pais e os filhos contraíammatrimônio. Nessa fase, declinaria novamente onúmero de trabalhadores, aumentando o pesodos consumidores sobre esses.

No entanto, cumpre salientar que acomposição familiar comparecia apenas comouma das variáveis: haveria uma relação diretaentre área da unidade econômica, força detrabalho disponível e atividades comerciais eartesanais, de modo que quanto menor a áreadisponível para cultivo, maior a necessidade deaumentar os ganhos da família através darealização de atividades não agrícolas.Conseqüentemente, a pressão exercida pelasnecessidades de consumo seria o fator determinanteno grau de utilização e intensificação da força detrabalho.

Lembrou que a intensificação do trabalhopoderia se dar até um determinado limite,imposto pelas próprias condições humanas emdespender energia; ao ser atingido, haveria umarelação inversamente proporcional, onde a cadaaumento de esforço, diminuiriam os ganhos, nãomais resultando em vantagens econômicas paraa unidade.

Para Chayanov, esses princípios regiam todosos tipos de exploração, inclusive as capitalistas.A diferença estaria nos caminhos distintos parase alcançar o ponto de equilíbrio: a exploraçãocapitalista era dimensionada a partir dos meiosde produção, mais precisamente da terradisponível, sendo que as demais condições deprodução deveriam a ela se adequar. Nasunidades camponesas ocorreria o inverso, poisas mesmas tinham que organizar-se a partir daforça de trabalho disponível e do número deconsumidores integrantes da família, sendo essasduas variáveis a dimensionar o volume daatividade produtiva.

Em outras palavras, as explorações capitalistasadequariam a contratação de mão-de-obra deacordo com o potencial produtivo da unidadeeconômica, de forma que permanecendoinalteradas as condições materiais, a intensidadeda exploração se manteria indefinidamente. Omesmo não ocorreria nas unidades camponesas,pois a força de trabalho era inerente à composição

familiar. Como essa era variável em virtude dadinâmica etária da família, mesmo que semantivessem estáveis as condições materiais, aintensidade da atividade sofreria variações aolongo do tempo. Além disso, o padrão ótimo deexploração dificilmente poderia ser alcançadopelas unidades familiares pois, via de regra, a terradisponível estava aquém do potencial da forçade trabalho familiar.

Chayanov também analisou os mecanismosde intensificação e redução de capitais nasunidades camponesas e a forma encontrada pelasfamílias para adequarem-se a essas variações,concluindo que a maior aplicação de capitais naunidade resultava em maiores índices deprodutividade e, consequentemente, em menordesgaste físico dos trabalhadores. Por outro lado,quanto menor a disponibilidade de capitais,maior o esforço físico necessário para aexploração da unidade. Com isso, a insuficiênciade terras e instrumentos de trabalho nosmomentos em que as atividades comerciais eartesanais produziam uma remuneração muitobaixa, induziria os camponeses a recorrer àsobreexploração do trabalho, de modo que oaumento bruto da produção era assegurado porenorme esgotamento físico, resultando numdecréscimo relativo da produtividade do trabalho.

Entendeu que a exaustão dos trabalhadoressem retorno econômico à altura, inequívocaincongruência do ponto de vista capitalista, seconstituía em recurso para que as unidadescamponesas mantivessem seu equilíbrio, mesmopiorando o nível de bem estar da família; casonão fosse possível recorrer a essa estratégia, aunidade passaria a exportar trabalhadores.

Outrossim, a limitação da atividade produtivaimposta pela escassez dos meios de produção nãoseria o único indutor ao abandono da unidadeou à realização de trabalhos acessórios,destacando-se a possibilidade de obter ganhosmaiores a partir do mesmo esforço físico.

“La familia campesina trata de cubrir susnecessidades de la manera más fácil y, por lotanto, pondera los medios efectivos deprodución y cualquier otro objeto al cualpuede aplicarse su fuerza de trabajo, y ladistribuye de manera tal que puedemaprovecharse todas las oportunidades quebrindan una remuneracion elevada. De estamanera, es frecuente que, al buscar la

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retribuición más alta por unidad domesticade trabajo, la familia campesina deje sinutilizar la tierra y los medios de producciónde que dispone si otras formas de trabajo leproporcionan condiciones mas ventajosas. (...)El unico rasgo que en este caso distingue a lafamilia campesina del empresario consiste enque el capitalista, de un modo u otro, distribuyesiempre la totalidad de su capital; la familiacampesina, en cambio, nunca utilizacompletamente toda su fuerza de trabajo puescesa de consumirla en el momento en quesatisface sus necesidades y alcanza su equilibrioeconomico” (Chayanov, 1974, p.120).

Em outras palavras, a inserção no mercadode trabalho, que para teóricos como Kautsky seriasinônimo de proletarização, foi interpretadacomo recurso para a manutenção da condiçãocamponesa. Para Chayanov, essa não seconfundiria com a postura burguesa deacumulação, pois lógicas distintas mediavam asexplorações capitalistas e camponesas. Apesardas unidades camponesas buscarem a melhorremuneração possível, não estavamfundamentadas na lógica do lucro.

Mesmo admitindo a instabilidade provenienteda relação mercantil, pelo fato da maior partedos preços agrícolas serem determinados a partirde contingências mundiais, a inserção nomercado não era vista de forma apocalíptica pois,para Chayanov, isso abria aos camponeses apossibilidade de dedicarem-se a uma menorvariedade de cultivos, produzindo espécies demaior rendimento em relação à força de trabalhoempregada, permitindo-lhes conservar apenas asculturas de subsistência com menor demanda detrabalho, coisa impensável dentro da organizaçãodas aldeias feudais.

Ao partir do pressuposto de que o capitalismopreservava diferentes formas de produção,atuando nos vários sentidos que possibilitassema apropriação dos resultados do trabalho,entendia que a inserção no mercado nãorepresentaria necessariamente destruição, masredefinição das formas de produzir.

Com relação à renda da terra, classificou-acomo um fenômeno real, econômico e social,criado a partir de uma gama de relações sociaisoriundas das bases da produção agrícola.Entretanto, nas unidades camponesas os ganhosse realizariam sob a forma de rendimentos brutos,

divididos entre renovação de capitais e satisfaçãodas necessidades de consumo da família, o quetornava muito complexa a sua estimativa. Apesarda qualidade do solo e a situação geográfica daunidade ante os mercados interferir nos custosde produção, os resultados não se traduziriamem aumento ou diminuição de ganhosmonetários de renda, mas no aumento daprodutividade do trabalho, refletindo-se no nívelde consumo e bem estar da família.

Teóricos defensores da tese de que ocapitalismo estava prestes a suprimir ocampesinato da história, fizeram severas críticasà Chayanov, alegando ser a sua obra obsoleta,por dedicar-se à uma classe social em vias dedesaparecimento. Acusaram-no também de estarpoliticamente voltado à defesa de interessesburgueses, ao valorizar essa classe, tida comoreacionária, contrária aos interesses da revoluçãosocialista.

Porém, cumpre salientar que Chayanov nãose propôs a elaborar uma teoria geral, quepudesse explicar a mobilidade e dinâmica dasociedade a partir da lógica camponesa.Restringiu-se às suas características internas,embora apontasse a sua coexistência com o modocapitalista de produção. Concordava que odesenvolvimento do capitalismo provocava odesaparecimento de outras formas econômicas,admitindo inclusive a possibilidade dedesaparecimento do campesinato, porém nãocom a rapidez, intensidade e ritmo propalado porteóricos como Kautsky.

Isso se evidencia quando Chayanov afirmanão estar disposto a colocar uma camisa de forçana realidade, adequando a realidade à teoria,como faziam os que ignoravam a expressãonumérica e importância do campesinato naquelemomento histórico, o que não lhe impediu depropor estratégias de desenvolvimento visandouma transformação social.

“Si, para decirlo de um modo general, noqueremos arriesgar la estabilidad y flexibilidadde manobra del capitalismo de estado, nopodemos abandonal el principal sector denuestra economia en un estado elemental dedesarrollo. Puesto que nostra agricultura esde caráter elemental deberemos aceptarsiempre como algo dado tanto nuestrasdemandas internas como nuestras provisionesde matéria prima, tanto en cantidad, como

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en calidadad, lo cual significa tambien unanegacion de la liberdad para desarrolar laplanificacion y la industria manufacturera. Sinduda, una serie de medidas de politicaeconomica general respecto del transporte,derechos aduaneros, impuestos y otras esferaspueden tener a veces un importante efectoindirecto en la creacion y desarrollo deunidades economicas campesinas. Pero estainfluencia no es suficiente para la mision delcapitalismo de estado, y debemos proponermosllegar ao control directo de la organizacion de launidad economica campesina elemental”(Chayanov, 1974, p. 315).

O caminho para a interferência sobre asunidades camponesas seria o cooperativismo, aúnica forma eficaz, segundo Chayanov, paracompetir em uma estrutura de mercadoconsolidada mundialmente, visivelmente sob ocontrole das grandes corporações. Assim, oaparato técnico e objetivo da produção camponesasomente poderia ser resgatado mediante aorganização cooperativa, que a induziria ao usocoletivo de instrumentos e meios de produção,resultando num aumento da produtividade emelhoria da qualidade.

Portanto, é inequívoco que Chayanov, tal qualos demais teóricos marxistas, buscou umainterpretação dos fenômenos sociopolíticosorientado pela utopia de uma sociedadeplanificada de iguais, porém não o fez suprimindoo campesinato, a classe destoante; antes,preocupou-se em compreender a lógicacamponesa para poder modificá-la, sem contudodestruir seus agentes.

3. CAIO PRADO JÚNIOR E “A QUESTÃOAGRÁRIA NO BRASIL”

A diversidade teórica construída pelospensadores clássicos, como os arroladosanteriormente, tornou-se o ponto de partida noesforço de entendimento da questão agráriacontemporânea, razão pela qual resgataremos parteda rica interpretação da questão agrária brasileira.

Para Caio Prado, a questão agrária apareceantes de tudo como um problema humano,chamando nossa atenção para o método a serempregado na análise da questão agrária, ou seja,o ângulo que se escolhe para problematizar ocampo brasileiro.

Assim, procura investigar a situação de misériae excludência da população trabalhadora rural,partindo do pressuposto de que a marginalidade éderivada do alto grau de concentração dapropriedade fundiária. No entanto, não concordacom aqueles que defendem a subdivisão dapropriedade como sendo o passo decisivo nacorreção das desigualdades na vida agrária brasileira.

Segundo o autor, o enfoque demasiadamentecentrado na distribuição fundiária, encontraexplicação numa interpretação errônea doprocesso histórico brasileiro, resultando numatentativa inócua de transpor para essa realidademodelos europeus. Alguns teóricos envoltosnessa concepção, defenderam que a economiaagrária brasileira ainda seria um reduto derelações feudais, haja visto a persistência dolatifúndio. Com isso, haveria a necessidade desuperação dessa estrutura obsoleta e a libertaçãoda classe social subjugada. Este seria o caminhonecessário para o campo brasileiro inserir-se nomercado e ir ascendendo para relaçõescapitalistas de produção e trabalho.

“É o caso entre outros da meação, queconsiderada em seu aspecto puramenteformal e estático, e conceituada dentro doesquema teórico que enxerga “restos feudais”em nossa organização agrária, foi tida muitasvezes como uma instância desses “restosfeudais”. O que leva a conclusão, sempredentro daquele esquema, que constituindo asrelações feudais formas mais primitivas queas do capitalismo, há que superá-las e assubstituir por estas últimas, a saber, pelosalariato puro” (Prado Jr., 1981, p. 69).

Essas afirmações caminham no sentido dedescartar qualquer possibilidade de existência deresquício feudal em nossa organização agrária,pois a evolução da economia brasileira estariacentrada na apuração da relação de emprego, jáque o que tínhamos aqui eram restos escravistas.

“(...) A situação no Brasil se apresenta deforma distinta, pois na base e origem de nossaestrutura e organização agrária nãoencontramos, tal como na Europa, umaeconomia camponesa, e sim a mesma grandeexploração rural que se perpetuou desde oinício da colonização brasileira até nossos dias;e se adaptou ao sistema capitalista de

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produção através de um processo ainda empleno desenvolvimento e não inteiramentecompletado (sobretudo naquilo que maisinteressa ao trabalhador), de substituição dotrabalho escravo pelo trabalho juridicamentelivre” (Prado Jr., 1981, p.158).

A citação evidencia outro ponto de divergênciaentre Caio Prado Jr. e seus interlocutores: trata-seda questão do campesinato. Para esse, inexistiriano Brasil tradição camponesa, pelo simples fatode que a essa população não foi dada aoportunidade histórica de acesso à terra. Oquadro agrário seria resultado de situaçõescíclicas, fruto da vinculação da grandepropriedade a gêneros de grande valor comercial,sofrendo assim as flutuações conjunturais típicasda relação mercantil de caráter estritamenteespeculativo. Consequentemente, a importânciada pequena propriedade se evidenciaria somentenos momentos de crise da grande exploração,graças à sua natureza de “negócio”.

“É na medida em que a grande exploraçãorural se expande e prospera, ou pelo contráriose retrai e entra em decadência, queinversamente o setor secundário, em ambasas formas acima assinaladas em que seapresenta, se restringe (no primeiro caso), eno outro se estende e ganha terreno. É quequando a grande exploração se fortalece eprospera, ou em outras palavras, se tornarendoso “negócio”, ela tende a se ampliar eabsorver um máximo de extensão territoriale força de trabalho. Sobrarão tanto menosespaço e tempo disponíveis para ostrabalhadores cuidarem de outras atividades.Inversamente, é na medida em que sedeteriora o negócio que a grande exploraçãorealiza, que ela se torna menos exigente e éobrigada a fazer maiores concessões àquelasatividades secundárias que se desenvolvem àsua sombra” (Prado Jr., 1981, p.53).

O pressuposto de que a relação de trabalhopredominante na agropecuária brasileira é oassalariado, mesmo quando esse aparece camufladoem outras modalidades de pagamento, leva CaioPrado a vincular Reforma Agrária à elevação dospadrões de vida da população rural. Esse objetivoseria atingido com a implantação de duas medidasfundamentais: extensão da proteção legal ao

trabalhador rural e maiores oportunidades deacesso à propriedade da terra.

“Em suma, e não precisamos mais insistir aquino assunto, a melhoria das relações deemprego rural em benefício do trabalhador,e pois das condições de vida desse trabalhador,melhoria essa determinada pelo duplo econcorrente impulso da legislação socialtrabalhista e da luta reivindicatória dotrabalhador (fatores esses que sempre secondicionam e estimulam mutuamente),constitui na conjuntura atual da agropecuáriabrasileira um poderoso e sem dúvida tambémo principal fator de transformação de nossaeconomia e estrutura agrária” (Prado Jr., 1981,p.157).

Com isso, ele não negou o sistema vigente;muito pelo contrário, suas reformas enquadram-se no modo de produção capitalista. Por outrolado, elas seriam pré-requisitos para a introduçãofutura de formas socialistas de produção.Todavia, naquele momento histórico (década de60), a economia encontrava-se totalmenteestruturada na grande exploração agrária voltadapara o mercado externo, de modo que a lutareivindicatória dos trabalhadores rurais, que seriaa mola propulsora para a renovação da economiaagrária brasileira, estava focalizada na conquistade melhores condições de trabalho.

4. “OS CAMPONESES E A POLÍTICA NOBRASIL” DE JOSÉ DE SOUZA MARTINS

Somadas às contribuições de Caio Prado,Martins torna-se um referencial nos estudosagrários brasileiros, pelo enfoque dado aoscamponeses e o entendimento particular daexpansão capitalista no campo.

O desvendamento do lado contraditório dessaexpansão, expresso na constante recriação deformas não-capitalistas de produção(camponesas), tem na análise da sujeição darenda ao capital a evidência de que esse vaiassumindo formas cada vez mais elaboradas parasubordinar o trabalhador. Com isso, Martinsimprimiu novos contornos à discussão daReforma Agrária, demonstrando ser essa uma lutacontra o capital.

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“(...) não é preciso que as forças produtivasse desenvolvam em cada estabelecimentoagrícola ou industrial, em cada sítio ou oficina,a ponto de impor a necessidade das relaçõescaracteristicamente capitalistas de produção,de impor o trabalho assalariado, para que ocapital estenda suas contradições e suaviolência aos vários ramos da produção nocampo e na cidade” (Martins, 1981, p.14).

Martins defende a existência de uma classecamponesa que, apesar de não se constituir umresquício feudal, também não pode ser reduzidaà condição de assalariada, divergindo assim deCaio Prado Jr. Defende que a ausência deconceituação precisa e tentativa de escamoteamentoda existência camponesa é conseqüência de suaexclusão do processo histórico brasileiro. Oresultado dessa exclusão ideológica seevidenciaria no desmerecimento dos movimentossociais, na classificação evolucionista que osconcebe como atores pré-políticos, sendonecessária a intervenção de agentes externos paratransformá-los em políticos. Ao empreenderesforços no sentido de desvendar as origens docampesinato brasileiro, Martins pôde explicitaros fundamentos subjacentes à esseentendimento.

Para ele, o campesinato brasileiro tradicionalfoi concebido às margens do sistema escravista/latifundiário/exportador. Diferentemente docamponês europeu, a ele não foi dado o direito àterra, restando a posse precária como alternativa,como é o caso do regime de sesmarias, onde acarta de concessão tinha precedência legal sobrea terra dos posseiros.

“Só posso, pois, compreender asdeterminações mais profundas da forma decampesinato que se desenvolveu no Brasil noperíodo colonial, e sobretudo a sua exclusãosocial, econômica e política, se compreendoque ela se determina fundamentalmente pelotrabalho escravo e só num segundo plano pelaforma de propriedade da terra que decorriada escravidão” (Martins, 1981, p. 38).

A Lei de Terras de 1850 representa um divisorde águas do campesinato, pois no momento emque a terra torna-se mercadoria, antevendo ocolapso do trabalho escravo, o campesinato passaa tomar outra forma: agora, são explicitadas as

diferenças de classe, encobertas pelo sistemaescravocrata, sendo que a propriedade fundiáriase transforma no laço que passa a subjugar otrabalho livre. Assim, com a iminência daabolição, teremos o oposto do período escravista,pois a concentração fundiária, historicamentecondicionada pela necessidade de manutençãodesse modelo (a instalação de uma economia livredo tributo representado pela compra do escravopoderia inviabilizá-lo), no raiar da República, passaa ser o fator principal da sujeição do trabalho,conforme nos indica Martins (1981, p. 43):

“Agora, o espaço do camponês passa a ser ume o espaço do fazendeiro passa a ser outro.Em segundo lugar, porque as modificaçõesno regime fundiário abrem caminho para umnovo campesinato, que cada vez mais terámenos que ver com o velho campesinato deposseiros e agregados. Trata-se de umcampesinato de pequenos proprietários, umcampesinato de homens livres, compradoresde terra, cuja existência é mediatizada poruma terra já convertida em mercadoria (...)”.

Nessa interpretação, a luta do posseiro seriaanticapitalista, por tratar-se de uma tentativa deimpedir que a terra-trabalho se transforme emterra-especulação/exploração do trabalho. Comisso, o elemento primordial no entendimento dacontradição terra/capital é a compreensão doprocesso de formação do capital, o qual permitiráo entendimento da expansão do capitalismo nocampo, portanto, da renda da terra.

Partindo do pressuposto de que o capitalresume-se a trabalho acumulado pelo capitalista,Martins descarta a possibilidade da terra ser capitalpois, ao não ser produto do trabalho, se apresentacomo um meio de produção sui generis. Noentanto, da mesma forma que o capital se apropriado trabalho, que também não é fruto do trabalho(não tem valor), ele consegue se apropriar da terramediante o pagamento de um tributo, a renda. Aapropriação capitalista da terra vai transformá-la emequivalente de capital, tornando possível asubordinação do trabalho agrícola.

Indica assim que a renda paga ao proprietárioda terra não nasce na produção, sendo transferidaao mesmo somente no momento da distribuiçãoda mais-valia, pois apesar da mais-valia ter origemna produção, é realizada no momento dacirculação da mercadoria. Ao desvendar os

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meandros da renda, Martins (1981, p. 169)consegue desvendar a origem de seu pagamento:

“A renda da terra também tem a sua dimensãooculta; por isso não posso entendê-la se ficoolhando só para o aluguel, quando ele existe.Não posso entendê-la se não vejo que a terra,através do proprietário, cobra no capitalismorenda da sociedade inteira, renda que nemmesmo é produzida direta e exclusivamentena sua terra, que sai do trabalho dostrabalhadores do campo e da cidade, queentra e sai do bolso do capitalista, que é pagapor todos e não é paga por ninguém e que,em última instância, é uma parte do trabalhoexpropriado de todos os trabalhadores dessamesma sociedade.”

Com isso, para se efetuar a exploraçãocapitalista, não é necessário concentrar apropriedade da terra, bastando pagar a renda.No entanto, aqueles que imobilizam dinheiro nacompra de terras compram o direito de extrairrenda da sociedade inteira; outrossim, essa nãoé uma relação mutuamente excludente pois umproprietário fundiário pode ao mesmo tempo sercapitalista, bastando para isso dispor de capitalsuficiente para promover a exploração econômicada propriedade.

Nesse contexto, Martins admite que apropriedade da terra é uma contradição docapitalismo pois, apesar de cobrar um tributo docapital, não pode ser considerada umaexcrescência, por ser uma figura interna a essasrelações. A condição capitalista da terra é inerentee está oculta, razão pela qual é fundamentalseparar produção do capital e reproduçãocapitalista do capital, onde a primeira nunca éproduto de relações capitalistas de produção.

“Portanto, não só relações não-capitalistas deprodução podem ser dominadas ereproduzidas pelo capital, como é o caso daprodução familiar do tipo camponesa, comotambém determinadas relações podem nãoparecer integrantes do processo capital,embora o sejam, como é o caso dapropriedade capitalista da terra” (Martins,1981, p.171).

Dessa maneira, Martins refuta a existência desujeição formal ou real do trabalho na produção

familiar. A sujeição real é descartada porque ospequenos proprietários continuam em suamaioria donos da terra e dos instrumentos detrabalho; mesmo em se tratando de relações deintegração com a agroindústria o autor as nega,classificando-as de sujeição de renda da terra aocapital. Esta estaria oculta na circulação dasmercadorias, no crédito bancário, na transferênciade riqueza para as empresas urbanas, através daprodução de alimentos a baixo custo.

“(...)o capital tem se apropriado diretamentede grandes propriedades ou promovido a suaformação em setores econômicos do campoem que a renda da terra é alta, como no casoda cana, da soja, da pecuária de corte. Ondea renda é baixa, como no caso dos setores dealimentos de consumo interno generalizado(...), o capital não se torna proprietário da terra,mas cria as condições para extrair o excedenteeconômico, ou seja, especificamente rendaonde ela aparentemente não existe” (Martins,1981, p.175).

É por essa razão que a luta pela terra não seencerra em si, devendo ser entendida sobretudocomo luta contra o capital. Isso retira o sentidode uma Reforma Agrária distributivista, pois arenda encontra-se subjugada pelo capital,impedindo o trabalhador familiar de libertar-sedo círculo de miserabilidade que lhe é imposto.

5. MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA ECONFLITOS AGRÁRIOS

Diferentemente da difundida versão dapassividade camponesa, a história brasileira émarcada pelos conflitos no campo e repressãoempreendida por milícias privadas e forçasinstitucionais. Como exemplo podemos citarPalmares, o maior movimento de luta pela terra eresistência popular da história brasileira, cujoespírito de solidariedade e posse coletiva da terralhes permitiu rechaçar os ataques dos fazendeirose das forças públicas por nada menos que um século.

Nem mesmo à abolição pode ser creditado osentido da liberdade que os camponeses tantobuscaram. Contudo, a redefinição das relaçõesde trabalho implicou num aumento daconsciência sobre a sua situação de exclusão,gerando movimentos camponeses que tentaram

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resolver problemas sociais, principalmente osdecorrentes da falta de acesso à terra. Outrossim,conforme já se fez referência, a dificuldade emadmitir a ação e capacidade política deorganização dos camponeses levou a maioria dosautores brasileiros a classificarem-nos de pré-políticos, como ressalta Medeiros (1989, p.12):

“Vistos como expressão de fanatismoreligioso, esses movimentos nunca receberamreconhecimento político, embora tivessemmobilizado a preocupação dos governantes daépoca e chamado sobre si intensa repressão.”

Assim, essas lutas eclodiram sistematicamente,intensificando-se de acordo com conjunturasespecíficas, como é o caso da cultura cafeeira e aimigração européia do final do século passado,onde as condições de vida e trabalho eram aspiores possíveis. Um exemplo foi o conflitoocorrido na fazenda Ibicaba em Limeira, cujosaldo político foram as medidas dos países deorigem dos imigrantes, que obrigaram o governobrasileiro a garantir o arrefecimento dos métodosde exploração praticados pelos fazendeiros.

Muitas outras lutas contra o latifúndio e aexploração mobilizaram o exército e as forçasconservadoras, como Trombas e Formoso emGoiás e Porecatu no Paraná, mas somente asLigas Camponesas conseguiram colocar osconflitos do campo brasileiro na agenda nacional.As Ligas foram a verdadeira expressão das tensõese injustiças enfrentadas pelos trabalhadores ruraisem toda a história de desigualdades, como observaMartins (1981, p.66):

“É justamente a cana-de-açúcar no Nordesteque nos mostra com clareza o processo docamponês ao longo da história brasileira:agregado marginal no regime de trabalhoescravo, ocupado ocasionalmente no trabalhoda cana-de-açúcar, passa ao lugar principalcom o fim da escravidão, como morador decondição, para, a medida que a condiçãoaumenta e que seu trabalho gratuito ou baratona cana é a renda que paga pela terra em queplanta a sua subsistência, ir aos poucos seconvertendo em assalariado. É nessa situaçãomais recente que surgem as Ligas Camponesas,em 1955.”

O fortalecimento das Ligas Camponesas se

fez principalmente a partir do término daditadura Vargas, reforçando seu papel noenfrentamento dos conflitos a partir da bandeirada Reforma Agrária radical. Esse movimentoexpandiu-se por 13 Estados brasileiros,culminando com a criação da ULTAB (União dosLavradores e Trabalhadores Agrícolas do Brasil),a qual marcou um momento de dissidência entreos setores da sociedade que apoiavam a luta pelaterra, conforme podemos verificar em Medeiros(1989, p. 55).

“Como eixo da divergência, que então setornou evidente, estava a concepção sobre osentido da “revolução brasileira” e sobre ocaráter da reforma agrária a ser implementada.Embora tanto o PCB, como as Ligasusassem a linguagem da “Reforma AgráriaRadical”, o sentido dado a essa expressão eradistinto. De acordo com as teses do PCB (...),a reforma agrária seria uma etapa necessáriade uma revolução de caráter democrático-burguês e anti-imperialista, que seriaalcançada através de medidas parciais,passíveis de serem sustentadas por umapolítica de frente única. Discordandoradicalmente dessa postura, para a direção dasLigas o “campesinato” era, naquele momento,a principal força da “revolução brasileira”,cujo conteúdo era imediatamente socialista.”

Essa postura do PCB melhor exprime aconcepção do papel dos camponeses para a elitee intelectualidade brasileira, que tal comoKautsky, expressavam o claro entendimento deque a “Revolução” nasceria no seio da classeoperária, sendo o campo e seus sujeitos apenasum estágio a ser superado. Assim, “a históriabrasileira, mesmo aquela cultivada por algunssetores de esquerda, é uma história urbana, – umahistória dos que mandam e, particularmente, umahistória dos que participam do pacto político”(Martins, 1981, p.26).

Esse cenário atraiu nova força na disputa pelaorganização da luta camponesa, a Igreja Católica,que historicamente estivera alinhada com ospoderosos, mas que a partir da década desessenta passa a atuar de forma decisiva juntoaos trabalhadores rurais. É nesse período que amesma se manifesta mais sensível aos problemassociais e se lança na defesa da sindicalização docampo, contribuindo com a formação de líderes

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sindicais e pressionando o Estado para aregulamentação dos sindicatos e realização daReforma Agrária.

Esse engajamento pode ser explicado pelacrescente preocupação da hierarquia católica como avanço das forças comunistas no campo,fomentado pelas estruturas sociais injustas. Comisso, as lutas pela democratização do Brasil e pelofortalecimento da sociedade civil ganham ecodentro do alto clero, transformado num ator políticode peso, o que fez dessa a principal instituiçãoenvolvida na defesa dos direitos humanos.

Alguns frutos dessa articulação em torno dosproblemas agrários puderam ser vistos no iníciodos anos sessenta, mais precisamente em 1962,com a regulamentação da sindicalização rural.Entretanto, o golpe de 1964 levou todas asmanifestações e articulações que sacudiam ocampo brasileiro a caírem em silêncio trágico. Osmovimentos foram suprimidos através dacassação do direito de reuniões, manifestações,questionamentos, sendo institucionalizadas econtroladas as próprias organizações sindicais.

Um dos atos mais expressivos da intervençãomilitar foi a criação, em 1964, de um grupo detrabalho para a elaboração da proposta para aReforma Agrária, que ficou conhecido comoEstatuto da Terra. Esse projeto veio no sentidode acalmar os ânimos exaltados no campo, bemcomo ocupar um espaço de promessas sem apretensão de virar realidade, o que se comprovounos 20 anos que se seguiram.

Portanto, o recrudescimento dos conflitos éinequívoco. Igualmente, não se pode entendê-lodesvinculado do processo histórico, em especialdas mudanças impostas pela abolição e pelaredefinição do pacto de poder decorrente daascensão da burguesia industrial. Tudo isso revelaações deliberadas em torno de um projetoexcludente, viabilizado pelas ações empreendidaspelo Estado em defesa de um modelo deacumulação assentado no latifúndio e concentraçãoextremada da renda.

Isso não implica em considerá-lo através deum viés unilateral, pois isso seria o mesmo queignorar a importância dos movimentos sociais.Como vimos, o golpe militar e as décadas derepressão foram uma resposta direta à capacidadede organização e propostas de mudança oriundasdos trabalhadores do campo. Significa simadmitir que a composição das forças ainda éfavorável àqueles que detém o poder há cinco

séculos e que, nesses tempos densos (Braudel,1978) puderam ter seus interesses alinhados emtorno de projetos potencializadores daacumulação de capital.

Consideramos os anos trinta uma dasexpressões acabadas desse fenômeno, pois énesse momento que começam a ser traçadasestratégias para a expansão industrial, as quaisincluem a necessária ampliação de mercadosconsumidores. Em consonância com uma novaordem mundial, de fortalecimento do capitalfinanceiro internacional, o país adota um modelode desenvolvimento que privilegia a implantaçãode multinacionais, destacando-se as produtorasde maquinários e insumos para a agricultura.

No entanto, não se deve tomar este fato comose, isoladamente, pudesse provocar mudançasnas proporções vistas. É no próprio projetopolítico que são lançadas as âncoras para amodernização da agricultura. Assim, ao mesmotempo em que crescem as fábricas de tratores,implementos, agrotóxicos, ávidas porconsumidores, projeta-se para o campo aexploração empresarial, concentradora de terrae capital, em detrimento de uma agricultura quepudesse ser desenvolvida com maior fixação dohomem no campo.

Assim, de forma recorrente, o aumento daprodução agrícola vinculado à necessidade deequilibrar a balança comercial é impulsionadosem que seja tocada a estrutura da propriedade,golpeando mais um vez os trabalhadores ruraisque, mesmo precariamente, moravam etrabalhavam em terras alheias. No bojo destesfatos, que geraram uma expulsão sem paralelona história brasileira, a ponto de inverterem emalgumas décadas a distribuição entre populaçãourbana e rural, a expropriação também foimarcante, pois grande parte dos pequenosproprietários não conseguiram resistir a ummodelo incompatível com a realidade e reaisnecessidades da produção familiar.

Portanto, é a falta de disposição em construirum projeto um pouco mais equânime para aagricultura brasileira que contribui para oacirramento das lutas contra a históricaconcentração e exclusão da maioria. Desse modo,entramos em um novo milênio sem mudançassignificativas na estrutura da propriedade, a qual,por sua vez, dá sustentação a uma minoria queconserva-se no poder e perpetua as relações quea mantém.

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No caso em foco, qualquer referência amodernização exige ressalvas, pois o campobrasileiro é uma expressão contundente decontradições: nele encontramos a modernaagroindústria envolvida com cultivos altamenterentáveis, como a soja, a laranja e a cana-de-açúcar, que nada tem de moderna quando separte para a análise das relações de trabalho;temos a poderosa indústria fumageira, empresasdo setor suíno e avícola, expandindo-se às custasda extração da renda e transferência dos custose riscos para os produtores familiares; abundamos especuladores, possuidores de grande partedo patrimônio fundiário, mantido inculto ou sub-utilizado, o qual gera uma imensa massa deexcluídos do campo, ao negar-lhes inclusive odireito básico de vender sua força de trabalho.Há também médios e grandes proprietários,autodenominados produtores rurais, às voltascom dificuldades ante um governo e mercadoglobalizado. Enfim, temos também os pequenosproprietários, rendeiros, posseiros que, com otrabalho familiar e a obstinação de preservar aautonomia, resistem a uma política creditícia ede fomento altamente perversa.

No entanto, a demonstração do colapso dessemodelo autoritário e centralizador já se insinuavano início dos anos oitenta, com as graves criseseconômicas e o estado de ebulição social. Comisso, há uma recuperação gradual do espaçopolítico dos trabalhadores rurais, sendoretomadas as condições necessárias para que osmovimentos sociais pudessem ressurgir, como éo caso do Movimento dos Trabalhadores RuraisSem-Terra (MST). Essa força, traduzida nummovimento social-popular de contestação, trazvelhas bandeiras de luta, fortalecidas na históriade ocupação do território e marcadas pelaviolência e injustiça. Esse movimento inaugurauma nova forma de pressão/conquista da terra,que são as ocupações de terras griladas, ociosase abandonadas, numa tentativa de implantar aReforma Agrária de direito, conforme apontaMolina (1992, p. 20)

“Estas ocupações têm como objetivo dar aterra uma destinação mais justa do que a atual.Os trabalhadores rurais do M.S.T.entenderam e definem que a justiça nautilização da terra se realizará quando estaterra estiver cumprindo suas funções básicas:produzir alimentos para todos os cidadãos e

gerar empregos. O movimento tem clarosegundo seus documentos que uma mudançana forma da distribuição e na reapropriaçãoterritorial do país implica necessariamentenum enfrentamento de classes e de projetosdiferenciados, em função dos interesseseconômicos e políticos envolvidos neste tipode conflito.”

O MST eclode num momento de aberturapolítica na ordem autoritária e repressora,juntamente com outros movimentos sociais(feministas, raciais, barragens, ecológicos, sem-teto) que são gestados a partir da década de 70 eque trazem uma nova compreensão de sociedade.Diferem dos antecessores por apregoarem umaconcepção de sociedade pautada na importânciado controle decisório, na diminuição doautoritarismo, seja ele do Estado, do partido, ouda Igreja.

O MST tem como marco referencial aocupação das Fazendas Macali e Brilhante, em1979, no município de Ronda Alta – RS. Asfamílias que as ocuparam eram ex-arrendatáriasdas terras dos índios Kaingang de Nonoai-RSque, ao serem expulsas da reserva indígena,acamparam na região de Ronda Alta/Sarandi. Apartir daí a luta cresce e nesse mesmo ano, apósterem ocupado as fazendas Macali e Brilhante,150 famílias ocupam a fazenda Anoni emSarandi. Desse despejo nasce o acampamentoda Encruzilhada do Natalino, referencialhistórico da luta pela terra nesse período(Fernandes, 1994).

Temos aí o início da territorialização da luta.No entanto, o que queremos destacar é aexistência de uma latência, ou seja, oquestionamento da estrutura fundiária que, apartir dos anos 70, revela novas estratégias deenfrentamento, com a ocupação “pacífica” deterras ociosas.

Contudo, esses anos de amadurecimento doMST são marcados pela necessidade deintercâmbio entre os movimentos isolados, ondeas estratégias de luta, alianças políticas ereivindicações são definidas à luz de três objetivosbásicos, quais sejam:– terra como forma de sobrevivência

econômica;– Reforma Agrária como mudança na

agricultura brasileira que possa beneficiartodos os trabalhadores;

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– luta por uma sociedade mais justa, onde nãoexista explorados nem exploradores.

“O M.S.T se considera um movimento socialde massas cuja principal base social são oscamponeses sem-terra, que tem caráter, aomesmo tempo, sindical (porque luta pela terrapara resolver o problema econômico dasfamílias), popular (porque é abrangente, váriascategorias participam, e porque luta tambémpor reivindicações populares, especialmentenos assentamentos) e político (não no sentidopartidário, mas no sentido que quer contribuirpara mudanças sociais)” (Stédile & Görgen,1993, p. 38).

Nesse processo de construir o caminho,ocorreu a lapidação do termo sem-terra. Paraestes autores, sem-terra são todos aqueles quetrabalham a terra sem serem proprietários dela.No entanto, é Grzybowski (1990, p. 56-7) quemmelhor constrói uma definição dessa identidade:

“Sem-terra é, por definição um nome desujeito coletivo elaborado nas lutas doMovimento Sem-terra. A carência, ou melhor,a consciência da comum situação de carência ede exclusão social, decorrente do não ter terra,leva o grupo a elaborar a sua identidade.”

Podemos dizer, baseados nas orientações doM.S.T, que os primeiros anos do Movimentoforam marcados pela prioridade em ocupar olatifúndio; a linha política de orientação estavabaseada na palavra de ordem “terra não se ganha,se conquista”. Contudo, as experiências deassentamento acabaram por revelar que distribuira terra não resolvia necessariamente o problemada expropriação, da fome. Assim, em março de1989, no V Encontro Nacional dos TrabalhadoresRurais Sem Terra, a palavra de ordem definidafoi: ocupar, resistir e produzir. Essa mudançareflete a decisão de aprofundar sua organização,indicando a necessidade de criar condições parao homem produzir no campo. A partir de 1991,é implementado o Sistema Cooperativista dosAssentamentos (SCA), com o objetivo deestimular as atividades coletivas, vistas como amelhor forma de enfrentar as dificuldades daprodução e comercialização. Em maio de 1992,na Assembléia das cooperativas, em Curitiba,fundam a Confederação das Cooperativas deReforma Agrária do Brasil (CONCRAB).

Conforme indicam Görgen & Stédile (1991,p.146), a cooperação agrícola nos assentamentospassa a ser entendida pelo Movimento nãoapenas como possibilidade de concentração decapital, de mão-de-obra, de meios de produção,mas acima de tudo como meio indispensável paraconquistar a Reforma Agrária e implantar osistema socialista.

“(...) as associações e as cooperativas nãodevem se organizar apenas com objetivoseconômicos, mas também com objetivospolíticos, de longo prazo, que permitamconscientizar os trabalhadores para fortaleceras suas lutas, tendo em vista a transformaçãoda sociedade, e chegar ao controle absolutodos meios de produção.”

O III Congresso do Trabalhadores Rurais SemTerra marca definitivamente uma nova bandeirade luta para o MST, que consiste em levar a lutado campo para as cidades. Essa preocupação ficabastante evidente na nova palavra de ordem:“Reforma Agrária: uma luta de todos”.Entendemos que o M.S.T. tem exercido papelpreponderante nas últimas décadas, no que serefere ao acesso à terra no Brasil. Portanto, é alegitimidade desse movimento que poderá levarà conquista da terra, bem como ao fortalecimentodos assentamentos com a superação do estadode isolamento, através da pressão sobre o Estadoe as leis o que, por sua vez, permitirá o acesso auma política agrícola que crie condiçõessustentáveis de se produzir no campo.

Diante de 12 milhões de trabalhadores sem-terra, de um futuro que promete números cadavez maiores de desempregados no Brasil e daausência de projetos políticos, esse parece ser,no momento, o caminho do possível.

Outrossim, a ciência e, no caso em foco, ageografia, cujo saber acumulado tem na base ostributos extraídos compulsoriamente da classetrabalhadora, não pode omitir-se ao debate e aspesquisas orientadas para o desvendamento daprodução do território, cujo pano de fundo sãoas relações voltadas à reprodução das condiçõesmateriais de existência. É com esse pressupostoque empreendemos essas reflexões, maispropriamente esse convite ao debate, poisentendemos ser esse o caminho para ocumprimento de nossa função social: a produçãodo conhecimento com vistas a uma vida melhor...para todos.

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GÖRGEN, Frei S. A., STÉDILE, João P. (orgs.)Assentamentos: resposta econômica da reformaagrária. Petrópolis : Vozes, 1991.

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STÉDILE, J. P.; GORGEN, F. S. A luta pela terra noBrasil. São Paulo: Scritta, 1993.

Theoretical bases for understanding the agrarian question:brief considerations

ABSTRACT

This text is related to the analysis of the Brazilian agrarian question based on its historical restrictions, emphasizingthe movements of resistance and struggle for the land. The theoretical background of this analysis is obtainedfrom the recovery of works by two classical authors – Kark Kautsky and Alexander V. Chayanov, as well as twoBrazilian contemporary authors – Caio Prado Júnior and Jose de Souza Martins. The criteria for choosing both theclassical and the Brazilian authors as well as their works, were defined based on the divergent interpretationsabout the agrarian question and the countrymen’s political role within the capitalist way of production. The recoveredinterpretations intend to reach an understanding not only of the relations underlyng the agrarian conflicts but alsoof the evolution of the agriculture modernization, favouring the analysis of the new ways of struggle, undertakenby the rural movements.

KEY WORDS: classical theoreticians, agrarian question, land income, agriculture modernization, rural movements.

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Produtor familiar e a monopolização do território pelocapital industrial

Ruth Youko Tsukamoto *

RESUMOEste trabalho faz uma análise de um estudo de caso sobre a avicultura para entender as relações mantidas entre oprodutor e a indústria no processo de monopolização do território pelo capital industrial monopolista. Para tanto,conta com uma pequena consideração teórica onde se coloca a linha de pensamento adotada – a da renda daterra. Preocupamo-nos neste estudo com o pequeno produtor familiar que mesmo sob a intensa tecnificação docampo e com perspectivas de serem expropriados pelo capital industrial e financeiro tem sobrevivido nos últimos30 anos. Por outro lado, vale salientar que esse pequeno produtor familiar encontrou um meio alternativo para asua permanência no campo se subordinando ao capital industrial que, no caso da avicultura, passou a trabalhar nochamado sistema de “integração” ou de parceria agrícola. O capital industrial encontrou um meio de se apropriarda renda produzida pelo produtor familiar, ou seja, através das relações de produção não capitalistas, paracontraditoriamente fazer a sua acumulação de capital. Esta relação conta com um produtor que, para não serexcluído do sistema, aceita, mesmo que insatisfeito, as inovações tecnológicas que a indústria impõe. Há que seressaltar que mesmo nessa relação “perversa” os produtores tem mantido o vínculo com a empresa uma vez quealém de obter uma pequena renda contam também com o valor agregado oriundo do processo produtivo.

PALAVRAS-CHAVE: avicultura, monopolização do território, capital industrial, renda da terra, produtor familiar.

INTRODUÇÃO

No limiar do século XXI, o quadro agráriobrasileiro tem apresentado um panoramacomplexo, contraditório onde a tônica tem sidoa luta e os conflitos pela terra. É uma velhaquestão que vem se arrastando no decorrer dosanos e teve, como um dos pontos relevantes, parao acirramento dessa questão, o processo demodernização da agricultura, também chamadade “modernização conservadora”. Por outro lado,há que se considerar que nesse processo de“modernização”, novas tecnologias são introduzidasno campo incluindo-se aí novas relações deprodução.

A década de 70 foi o marco dastransformações ocorridas no campo tanto no tipode culturas, agora adequadas às novas tecnologiasquanto na estrutura fundiária que sofreu umaumento expressivo do número deestabelecimentos de maior dimensão.Entretanto, verifica-se que o número de

pequenos estabelecimentos tem aumentado nosdados dos últimos censos, o que nos fazquestionar como os pequenos produtores,pautados na produção familiar, sobreviveramnesse processo de transformação do campo. Sabe-seque muitos foram expropriados do campo e migrarampara as áreas urbanas mas, muitos permaneceram comopequenos proprietários de terras ou retornaram às suasorigens, como parceiros, bóias-frias e arrendatários.

O Norte do Paraná contava, neste período,com uma significativa participação de pequenosprodutores de café seja como proprietários deterra, seja, como parceiros. Vale salientar que, ocafé ocupava 66% da área cultivada no ano de1970 e em 1995/96 representava apenas 9%sendo substituída durante este período pelacultura da soja e por pastagem.

A questão é, verificar como, apesar das novasculturas substitutivas da cafeicultura, essespequenos produtores resistiram ao processo deexpropriação e como encontraram novas formasde sobrevivência.

* Professora do Deptº de Geociências da Universidade Estadual de Londrina. e-mail: [email protected]. Esta pesquisacontou com a colaboração da acadêmica Adriana Afonso – bolsista PIBIC/CNPq

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Devemos salientar que a agricultura norteparanaense se tecnificou utilizando-se demáquinas e insumos, tanto pelos pequenosprodutores quanto pelos grandes. Muitas vezeso problema se agrava quando os pequenos nãoconseguem produzir suficientemente paracompetir com os demais produtorescapitalizados, ou por falta de maiores áreas deterras ou pela impossibilidade de utilizar aquantidade de insumos necessários pelo altocusto dos mesmos.

Neste mesmo período, o capital industrialencontra uma forma de transformar essa matéria-prima produzida no campo, com o processo deinstalação de unidades industriais tanto comoempresas individuais quanto sob o sistemacooperativista. São matérias-primas oriundas dasdiversas categorias de produtor uns comoprodutores individuais outros como arrendatáriose/ou parceiros.

Essas unidades industriais contribuíram paraa reordenação do espaço norte paranaense pois,a partir da década de 70 incrementa-se aagroindústria sucro-alcooleira bem como àquelasvoltadas à transformação da soja, do café, doalgodão entre outros. Por outro lado, começa a sedestacar um outro tipo de indústria conhecida comoindústria de transformação de matéria-prima deorigem animal inserindo-se aqui, basicamente, opequeno produtor familiar, regidos pelo sistema de“integração” ou parceria agrícola.

Nesse sentido, preocupamo-nos em verificarquais são as relações que vem sendo praticadasentre os produtores e as indústrias norteparanaenses, salientando-se as unidades deprodução familiar a exemplo da avicultura decorte, da sericicultura e, também da pecuária deleite o qual consideramos um setor à parte. Nopresente trabalho afunilaremos a nossa análisesobre a relação campo-indústria com o estudoda avicultura no norte paranaense.

1. BREVES CONSIDERAÇÕES TEÓRICAS

Há diversos caminhos para se analisar oprodutor familiar no contexto do modo deprodução capitalista. Entretanto, recorremos aidéia de que o capital está presente onde se podeauferir renda. No caso da agricultura, a renda daterra é uma categoria de análise que permitecompreender como as relações sociais de

produção capitalistas ou não capitalistas seestabelecem no processo de produção econsequentemente, a forma de se obter a rendano momento da circulação da mercadoria.

Inicialmente devemos entender que o locusda produção da matéria-prima para abastecer aindústria, alimentícia ou não, é a terra. Essa terraé produzida por proprietários, arrendatários,parceiros, etc.

Ao trabalhar essa terra, o produtor,proprietário ou não, passa a estabelecer relaçõessociais de produção que podem ser consideradoscomo capitalista ou não capitalista. O produtorpassa a obter renda da terra capitalista quandodetém os meios de produção e mantém relaçõesde trabalho, via assalariamento, ou seja, onde eleobtém o trabalho excedente, fonte da mais valia.Há também aquele que se utiliza no processo deprodução, apenas a mão-de-obra familiar cujasrelações se caracterizam como não capitalistas,embora contraditoriamente, faça parte dosistema capitalista. O produtor tem a posse dosseus meios de produção e a força de trabalhofamiliar ocorrendo eventuais contratações,principalmente, nos períodos de maior exigênciade braços, também solucionada pela “troca dedia de serviço”, muito comum no meio rural.

Martins(1983), coloca no capítulo “A sujeiçãoda renda da terra ao capital...”, que umapropriedade familiar, não é propriedadecapitalista, pois, a produção e a reprodução dascondições de vida dos trabalhadores não éregulada pela necessidade do lucro do capital.Os seus ganhos resultam do trabalho desseprodutor e de sua família, não havendo portanto,a exploração do trabalhador expropriado dosinstrumentos de trabalho.

No processo de “modernização” daagricultura, os produtores, independentementedo tipo de relações sociais mantidas no processode produção, aderiram paulatinamente asimposições do capital industrial intermediadopelo próprio Estado, criando-se a chamadaindustrialização da agricultura. Para tanto, ocapital financeiro se fez presente via créditoagrícola. Martins (1983, p.176) ao analisar aquestão sobre a sujeição da renda ao capitalexplica que o banco

“extrai do lavrador a renda da terra, sem ser oproprietário dela, o lavrador passaimperceptivelmente da condição de proprietário

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real a proprietário nominal, pagando ao bancoa renda da terra que nominalmente é sua.”

Com o surgimento de indústrias detransformação da matéria-prima, principalmentenas três últimas décadas, regido sob o capitalismomonopolista, podemos observar que ora aprodução está subordinada a circulação e ora acirculação está subordinada a produção. SegundoOliveira (1988), a primeira é a mais comum narealidade agrária brasileira e que “o capitaldesenvolveu liames de sujeição que funcionamcomo peias, como amarras ao campesinato, fazendocom que ele produza, às vezes, exclusivamente paraa indústria”. Nesse processo de subordinação doprodutor familiar à indústria nota-se que, “o capitalmonopoliza o território sem entretantoterritorializar-se” ou seja, a monopolização doterritório pelo capital monopolista.

A subordinação do produtor à industria se dápor meio da comercialização. Conforme a relaçãoque o produtor mantém com a indústria,obtendo financiamento dos insumos, porexemplo, a matéria-prima produzida é utilizadapara saldar as dívidas contraídas. Essa dívida émuitas vezes saldada, compulsoriamente, viacontra entrega da matéria-prima, sendo incluídaaí os juros e correções. Vale lembrar que o nívelde dependência poderá ser maior quando oproduto necessita de um processamentoindustrial imediato.

As palavras de Martins (1983) são adequadasquando diz, que

“apenas quando o capital subordina o pequenolavrador, controlando os mecanismos definanciamento e comercialização, processomuito claro no sul e no sudeste, é quesubrepticiamente as condições de existênciado lavrador e de sua família, suas necessidadese possibilidades econômicas e sociais,começam a ser reguladas e controladas pelocapital, como se o próprio lavrador fosse umassalariado do capitalista.”

Portanto, o estudo da relação agricultura-indústria não se prende somente à dependênciado agricultor junto ao capital industrial efinanceiro através da compra de insumos emaquinarias e sim, à dependência criada nas suasrelações de produção e da apropriação da rendada terra por esses capitais.

2. O PRODUTOR FAMILIAR E ASINDÚSTRIAS DE TRANSFORMAÇÃO

Considerando que, mesmo após a“modernização” da agricultura, o número deestabelecimentos de até 50 hectares vemaumentando no contexto nacional, há que sesalientar o papel do produtor familiar, ou seja,aquele que utiliza-se da força de trabalho da família,sendo ele proprietário ou não de suas terras.

Isso é possível de ser observado por meio dosdados do IBGE do Censo Agropecuário de 1975e 95/96 referente ao norte paranaense ondeverificamos que o número de estabelecimentosde até 50 hectares representava cerca de 90% dototal e em 1995/96 este quadro praticamente nãose alterou ficando com aproximadamente 88%.Isto significa que mesmo com a crescentetecnificação do campo e conseqüente aumentoda área de produção, este grupo de áreacontinuou se mantendo. Por outro lado, este fatopode ser somado ao número de trabalhadoresdenominados pelo IBGE de “responsável emembros não remunerados da família” que nosapresentava um percentual significativo deaproximadamente 62% do total do pessoalocupado nos estabelecimentos agrícolas.

É neste contexto que podemos verificar aexistência de produtor familiar que está vinculadoàs indústrias de transformação tais como aavicultura, a sericicultura e a pecuária leiteira.

Nestes setores de atividade é comumencontrar dois tipos de escoamento da produção:cooperativas e empresas privadas.

No norte paranaense a comercialização deaves é destinada às empresas privadasrepresentadas por três indústrias de porte: BIGFRANGO (Rolândia), COMAVES (Londrina)e a COROAVES (Maringá). A sericicultura(criação do bicho da seda) conta também comtrês indústrias de expressão: BRATAC(Londrina) empresa de capital nacional, aKanebo Silk do Brasil (Cornélio Procópio) decapital japonês e a COCAMAR (Maringá)cooperativa. Quanto ao setor da pecuária leiteirapodemos destacar entre muitos laticínios: aConfederação das Cooperativas CentraisAgropecuárias do Paraná Ltda. (CONFEPAR)– localizada em Londrina e a CooperativaAgropecuária de Londrina (CATIVA).

Segundo estudos realizados por Stier eFernandes (1986) a CONFEPAR é um dos

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maiores laticínios do norte do estado uma vezque recebe leite dos produtores do estado bemcomo do estado de São Paulo, de Minas Geraise de Goiás.

Para entendermos como se dá o processo demonopolização do território pelo capitalindustrial selecionamos o setor avícola uma vezque, além das características próprias nas relaçõesde produção entre o produtor e a indústria,contamos com duas indústrias na microrregiãode Londrina.

3. A AVICULTURA E A PRODUÇÃOFAMILIAR NO NORTE PARANAENSE

O setor de aves tem crescido nestes últimosanos para atender o mercado interno e externo.O Brasil ocupa o segundo lugar nacomercialização de aves, perdendo apenas paraos Estados Unidos.

Segundo Suzuki Jr.(1997) “o frangorepresentou o papel de símbolo da estabilidadeeconômica durante o início do Plano Real, seconsolidou como proteína animal de expressivoconsumo interno, tornando-se tambémimportante ítem da pauta de exportação”. Em1997 o consumo de frangos no mercado internofoi de 23,7 quilos per capita.

Segundo a Associação Nacional deAbatedouros Avícolas (ANAB), o Paraná é osegundo estado no ranking de produção nacional,respondendo por 15% do total. Entre os 50melhores do Brasil, divulgado pela ANAB, asempresas paranaenses que mais se destacaramforam: Da granja, Copacol, Batavo, Coopavel,Comaves, Coroaves, Big Frango e Avícola Felipe,além, da Sadia, Perdigão e a Ceval que sãooriginárias de outros estados e, que se destacamna produção paranaense.

Destas empresas acima citadas cinco estãolocalizadas no norte do estado do Paraná:Comaves (Londrina), Big Frango (Rolândia),Coroaves (Maringá), Avícola Felipe (Paranavaí)e a Ceval (Jacarezinho). Além destas, devemosincluir a DM – A Gosto (Arapongas) e aJaguafrangos (Jaguapitã)

O nosso estudo se concentrou na análise dasempresas: Comaves e a Big Frango que absorvema produção de 500 produtores localizados numraio de aproximadamente 80 quilômetros de suasrespectivas sedes.

Vale salientar que além da distância exigida énecessário que as estradas estejam em bomestado de conservação para não prejudicar aqualidade do frango a ser abatido. Para tanto, asprefeituras oferecem serviços aos produtores quenecessitam melhorar o acesso às suas propriedades.

3.1. CARACTERIZAÇÃO DAS EMPRESAS

As duas empresas têm cerca de 25 anos deexistência, pois foram instaladas na década de70 quando a relação mantida com os produtoresera somente a da compra das aves, sem, portanto,o envolvimento da empresa no processoprodutivo das mesmas. O sistema de integraçãoinicia-se na década de 80 quando procuram atrairo produtor familiar que permaneceu no campo,mesmo com as dificuldades de se adequar aoprocesso de modernização.

Atualmente a Big Frango conta com 300produtores integrados e a Comaves com 200.Conforme se observa na figura 1 a área abrangidaé praticamente a mesma, salvo a inserção dosprodutores localizados à leste do município deLondrina tais como: Assaí, Jataizinho, CornélioProcópio, Uraí, Santa Cecília do Pavão e SãoSebastião da Amoreira que estão vinculadosexclusivamente a Comaves, uma vez que essaindústria lá encontrou produtores em potencial.É uma área que, além de contar com municípiosque ainda se caracterizam pela pequenapropriedade também foi palco de uma das maioresáreas dedicadas a cotonicultura, atividade estasubstituída por outras em função dos baixos preçosno mercado e do alto custo de produção.

Ao fazermos um levantamento dos municípiosde maior concentração de produtores foi detectadoque Londrina supera em relação aos seus municípiosvizinhos com cerca de 150 fornecedores os quaisestão vinculados numa ou noutra empresa. Emseguida com 35 produtores salientamos osmunicípios de Jataizinho, Astorga e Rolândia.

Esse número de fornecedores tende aaumentar nos próximos anos, uma vez que a BigFrango, por exemplo, está com uma planta novadas suas instalações com a perspectiva de abater300 mil frangos/dia, que para tanto há queaumentar cerca de 200 produtores. Atualmente,estão consultando os atuais produtoresintegrados na perspectiva de aumentarem onúmero de seus galpões.

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134 Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 129-136, jul./dez. 2000

3.2. O PRODUTOR E AS RELAÇÕES COM A

INDÚSTRIA

Mais de 90% dos estabelecimentos visitadosapresentam uma área média de 20 hectares emterras próprias. Todos têm a lavoura comoatividade principal e a avicultura entra como umaalternativa de renda, fato este que vem deencontro à filosofia das empresas integradoras.

O município de Londrina apresenta algumasáreas de concentração de produtores de frangotais como: Distritos de São Luis e Espírito Santoonde as propriedades se apresentamdiversificadas contando com a cultura do cafécomo atividade principal. Por outro lado, noDistrito de Warta localizado no norte domunicípio e o Distrito de Guaravera, localizadono sul do município, este, mais próximo aomunicípio de Tamarana, a atividade principal é alavoura da soja. A diferença na escolha do tipode atividade econômica entre as duas áreas deve-se principalmente ao tamanho da propriedade.

Pela história de vida dos produtores todosingressaram na avicultura como uma forma dediversificar as atividades do estabelecimento umavez que a lavoura não tem trazido ganhossignificativos e o rendimento da safra é anual.Neste caso, a avicultura é uma atividade quecontribui no orçamento familiar, no mínimo, acada 45 dias.

Na avicultura, via de regra predominam arelação de trabalho familiar e, esta é umacaracterística peculiar no sistema denominado deintegração que segundo Sorj; Pompermayer;Coradini (1982) esses produtores se

“articulam com o complexo avícola industrialatravés de duas formas centrais: integraçãodireta com a indústria de transformação eintegração através do mercado. (...) Dequalquer modo, ambos os casos tratas-se derelações oligopólicas e oligopsônicas entre asgrandes empresas agroindustriais...”

Este sistema de integração tem início no oestede Santa Catarina através do Frigorífico Sadiano início da década de 60 quando a empresa fezum contrato junto aos pequenos e médiosprodutores daquela área. Segundo Pizzolatti(1996, p.169), no Oeste Catarinense, após inícioda década de 70, ocorreu notável especializaçãona produção de aves de corte, a chamada“avicultura industrial.”

No norte paranaense, baseado nas informaçõesdas duas indústrias analisadas, o sistema deintegração se deu no início da década de 80. Nessaperíodo, adotaram a mesma sistemática dasempresas catarinenses, buscando parceria junto aospequenos produtores existentes nas proximidadesda sede de suas empresas.

Para tanto, há que se cumprir cláusulascontratuais por ambas as partes – integrador/integrado tais como:1. Integrador: fornece ao integrado a ração,

pintainhos, assistência técnica, medicamentose transportes. Quanto aos insumos devemfornecer produtos de qualidade, compatíveiscom a finalidade desejada.

2. Integrado: cabe os custos de construção doaviário, compra de equipamentos, mão-de-obra para criar as aves, gás para aquecimentodos pintainhos, material para cama (casca dearroz ou sepilho de madeira branca) e ocarregamentos dos caminhões de aves para aindústria. Devem também conservar asestradas em boas condições de tráfego, seguirrigorosamente as determinações técnicas,utilizar adequadamente os insumos de formaa assegurar um excelente rendimento(mortalidade de no máximo 3% e conversãoalimentar de 1.9 kg de ração para cada 1 kgde carne produzida, organizar o “apanhe” dasaves por ocasião do envio do abateassegurando que as mesmas não sejamcontundidas no carregamento)Vale lembrar que, por uma razão ou outra,

ocorra uma perda significativa das aves; oprejuízo é da empresa integradora. A perda dointegrado será o trabalho e o tempo perdido egastos com a manutenção das instalações doaviário.

Seguindo a classificação de Ferreira (1995,p.88) os integrados da avicultura podem serinseridos nos “contratos de transferência plena”pois, além das cláusulas de comercialização e deprodução é o comprador quem detém todas asfunções de gestão da empresa como o risco e ocontrole dos métodos de produção. O agricultorse restringe a fornecer as suas instalações e otrabalho de sua família.

O termo “parceria”, também utilizado pelosavicultores, deve-se ao fato destes se obrigarema construir o aviário com os equipamentosnecessários e despesas com o gás e “cama” comrecursos próprios. Conforme um dos avicultores,

Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 129-136, jul./dez. 2000 135

no passado, essas despesas ficavam com aindústria e no decorrer dos anos foram repassadasao produtor. Significa que o produtor passa adividir algumas despesas com a indústriaintegradora. Entretanto, quanto à produção dasaves, o produtor passa a ser um mero trabalhadorda indústria, uma vez que necessita seguir todasas orientações técnicas bem como o tipo de aveque irá criar. O tipo de ave diz respeito aotamanho e ao sexo (macho ou fêmea), poisdependendo da exigência do mercado a indústriadetermina ao produtor quanto e qual tipo deveráser produzido.

As indústrias entrevistadas declararam que hávantagens na utilização da mão-de-obra familiarpois é uma atividade que não tem horário fixopara cumprir as tarefas da granja exigindodedicação da mesma.

Segundo Oliveira (1990, p. 52),

“nesse caso, quando submete o camponês aosseus ditames, está sujeitando a renda da terraao capital. Está convertendo o trabalhoexcedente do camponês e sua família emrenda capitalizada. Está se apropriando darenda sem ser proprietário da terra. Estáproduzindo o capital pela via nãoespecificamente capitalista.”

Conforme cálculos efetuados por umprodutor de 12.000 frangos (pequeno produtor)utilizando-se duas pessoas da família, este obteveuma sobra líquida de R$ 1346,00 a cada 60 dias.O prazo no descarte dos frangos fica em tornode 45 dias entretanto, o recebimento da vendaocorre, via de regra, 15 dias após a entrega doproduto. Isso significa que há uma sobra deaproximadamente R$ 650,00 mensais. Esta é umasobra de um produtor que consegue atingir opreço máximo da tabela de conversão elaboradapela indústria ou seja, R$ 0,15 por cabeça. Éimportante ressaltar que a média atingida porcabeça de frango é de R$ 0,12.

Deve-se salientar que está incluso na rendaacima citada, o valor agregado da venda do estercoobtido a cada duas criadas, o que entraria comoparte da receita familiar. Por outro lado, é bomlembrar que o esterco é também utilizado na sualavoura contribuindo na melhoria da produtividadee menores custos na compra de fertilizantes.

Apesar dos produtores terem se pronunciadoque o preço dos frangos está muito baixo, querem

continuar na atividade, pois ainda é uma atividadeque tem retido o homem no campo. SegundoCañada citado por Ferreira (1995, p. 88),

“é freqüente a ênfase de que, entre as principaisvantagens oferecidas aos agricultores peloscontratos de produção, está a redução do risco,tanto a nível de preços como a nível doescoamento da produção. Isto tem porconseqüência uma estabilização de seu processode comercialização mas não necessariamenteuma melhora de sua situação sócio-econômica”

Devido a existência potencial desta categoriade produtor, as indústrias, muitas vezes com oapoio do poder local, têm perspectivas de seexpandir cada vez mais e com isso, estarárealizando a monopolização do território. Valelembrar que o capital não se territorializa e sim,monopoliza as áreas produtoras de frango, por meioda subordinação do avicultor junto à indústria. Esta,por sua vez, estará se apropriando de parte da rendaproduzida pela família do produtor.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O norte paranaense têm apresentado umaparticipação significativa no processo deindustrialização da agricultura e entre elas asunidades voltadas à transformação da matéria-prima vegetal e animal.

O papel do produtor familiar tem sesobressaído sobretudo na produção animal comoa avicultura, a sericicultura e a pecuária de leite.Nas duas primeiras, nota-se que o processo dedependência entre o produtor e a indústria émaior, uma vez que o interesse é recíproco, ouseja,: para o empresário é vantajoso mantervínculo com essa categoria, pois o custo social émenor e, para o produtor que não dispõe decapital suficiente para desenvolver uma atividadeque ofereça serviços aos membros da família, éuma das opções encontradas para se manter nocampo. No caso da pecuária de leite, há a questãodas cooperativas exigirem, cada vez mais, aintrodução de modernas tecnologias tanto naatividade criatória quanto na ordenha do leite.Para o pequeno produtor familiar este novosinvestimentos tornaram-se quase que impossíveisde serem cumpridos levando-os ao desestímulode continuar neste setor.

136 Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 129-136, jul./dez. 2000

The family farmer and the territory monopolizationby the industrial capital

ABSTRACT

This paper analyses a case study on poultry farming in order to understand the relationship kept between theproducer and the industry in the process of territory monopolization by the industrial capital. Therefore, it presentsa theoretical consideration in which rent from the land is the adopted line of thought. Our concern in this study isthe small family farmer who even under intense agriculture technology and with the perspectives of being takenaway from his land by the industrial and financial capital has been able to survive over the last thirty years. On theother hand, this producer has found an alternative to remain on his land through the so called integration systemand, as in the case of the poultry farmer, has become subordinate to the industrial capital. The industrial capitalhas found its way to appropriate the rent generated by the family farmer, that is through the non-capitalistproduction relationship which in turn provides itself with the accumulation of capital. This relationship has onone side the producer who accepts, even if not willing to do so, the technological innovations imposed by theindustry in order not to be excluded. Even in this “perverse” relationship, the producer have kept this link becauseit brings to them a small rent and aggregated value from the productive process.

KEY WORDS: poultry farming, territory monopolization, capital industrial, rent from the land, family farmer.

Para este tipo de relação mantida entre ocampo e a indústria, a subordinação, adependência do produtor ocorrerá enquanto omesmo estiver disposto a aceitar tal situação.Entretanto, no momento atual da nossaagricultura nota-se que enquanto o produtor nãotiver condições de se auto financiar e de criaruma forte associação com seus pares, estaráfadado a se manter nas condições analisadasneste trabalho.

O capital tem somente o interesse de seapropriar da renda do produtor por meio dasubordinação da produção no momento dacirculação oferecendo-lhe preços aviltantes enesse processo estará monopolizando o territóriosem necessitar territorializar-se.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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OLIVEIRA, Ariovaldo U. de. O campo brasileiro nofinal dos anos 80. Boletim Paulista de Geografia. SãoPaulo, n.66, p.5-22, 1988.

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PIZZOLATTI, Roland L. Os pequenos produtores doOeste Catarinense: integrados ou entregados? 1996.Tese (Doutorado) – Universidade de São Paulo. SãoPaulo.

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Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 137-142, jul./dez. 2000 137

Antes de iniciarmos uma reflexão acerca dotema proposto, consideramos ser de sumaimportância estarmos discutindo, num primeiromomento, o que vem a ser o processo de ensinobem como a sua finalidade. Num segundomomento, entendemos ser necessário estarmosrefletindo, também, sobre o processo deformação e institucionalização da ciênciageográfica para, a partir daí, fazermos umarelação entre estes dois temas com o propósitode interpretarmos melhor a função social queadotou o ensino de Geografia a partir do séculoXIX, quando esta passa a ser uma ciência cujosconhecimentos se tornaram institucionalizados,e entendê-la nos dias atuais.

Para que possamos chegar a uma conclusãodo que seria o ensino, cabe-nos discutir, ou aomenos mencionar, o que vem a ser a educação einstrução, uma vez que, segundo Libâneo, “... oensino é o principal meio e fator da educação(...) e, por isso, destaca-se como campo principalda instrução e educação” (1994, p. 23).

Ensino de Geografia: origens e perspectivas *

Jean Carlos Rodrigues * *

RESUMOO presente artigo pretende refletir sobre a atual situação do ensino de Geografia bem como sobre suas origens eperspectivas. Para tanto partimos, inicialmente, de algumas considerações acerca do ensino bem como sobre suarelação com a educação e a instrução. Em seguida, refletimos sobre a institucionalização da ciência geográfica,sua relação com o ensino nas escolas elementares (no final do século XIX) e de ensino superior (no início doséculo XX). Posteriormente, após algumas colocações sobre as origens do ensino de Geografia no Brasil, discutimossobre a atual situação desse ensino no país procurando relacioná-lo com as tendências educacionais nas quais elafoi inserida. Finalmente, num terceiro momento, abordamos algumas perspectivas, fundamentadas em bibliografiassobre essa temática, a respeito desse ensino e sobre suas contribuições à sociedade. Essas contribuições, por suavez, podem servir tanto para “fazer a guerra” como para modificar a estrutura social na qual estamos inseridosdependendo da prática pedagógica docente e de seu compromisso político-pedagógico.

PALAVRAS-CHAVE: Geografia, ensino, educação.

Para Luckesi, a educação “... é um típico ‘que-fazer’ humano, ou seja, um tipo de atividade quese caracteriza fundamentalmente por umapreocupação, por uma finalidade a ser atingida”(1994, p.30). Em se tratando desta discussão, naperspectiva de Libâneo (1994), podemos dizerque esta finalidade é a formação de umapersonalidade, que está inserida no contextosócio-político-ideológico e é construída nãosomente na escola, mas também na família e nasociedade em geral. Conforme esse autor, aeducação

“... corresponde, pois, a toda modalidade deinfluências e inter-relações que convergempara a formação de traços de personalidadesocial e do caráter, implicando uma concepçãode mundo, ideais, valores, modos de agir, quese traduzem em convicções ideológicas,morais, políticas, princípios de ação frente asituações reais e desafios da vida prática”(Libâneo, 1994, p. 22-23).

* Artigo integrante do Relatório de Estágio – Parte I intitulado “Educação, Geografia e Cidadania” da disciplina Metodologiae Prática do Ensino de Geografia A – Estágios Supervisionados ministrada pela profa. Ângela Massumi Katuta, da qualagradecemos as colaborações recebidas, no 1º semestre de 2000 no curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina.** Aluno do curso de Geografia da Universidade Estadual de Londrina e bolsista do Programa Especial de Treinamento (PET).E-mail: [email protected]

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Com relação à instrução, o autor afirma queessa refere-se “... à formação intelectual,formação e desenvolvimento das capacidadescognoscitivas mediante o domínio de certo nívelde conhecimentos sistematizados” (Libâneo,1994, p. 23). Formação esta que, via de regra,ocorre na escola.

Diante disto, percebemos uma subordinaçãoda instrução à educação, à medida que “... oprocesso e o resultado da instrução sãoorientados para o desenvolvimento dasqualidades específicas da personalidade”(Libâneo, 1994, p. 23). Nesta concepção, oensino seria um meio ou um conjunto de tarefasque viabilizassem condições necessárias para serealizar a instrução.

Portanto, concluímos que, quando tratamosdo ensino, estamos nos remetendo a um conjuntode meios pelo qual se constrói a formaçãointelectual da pessoa a partir de conhecimentossistematizados. Esta formação intelectual acabapor colaborar com o processo de educação dapessoa, do educando. Mas, cabe salientar que,conforme Luckesi, a “... educação dentro de umasociedade não se manifesta como um fim em simesma, mas sim com um instrumento demanutenção ou transformação social” (1994, p.30-31), conforme veremos a seguir com o próprioensino de Geografia.

No que concerne à Geografia enquantociência, esta foi institucionalizada a partir doséculo XIX com os trabalhos dos alemãesAlexandre von Humboldt e Karl Ritter. Para aAlemanha, era importante os trabalhos destesestudiosos uma vez que o conhecimentogeográfico era fundamental para a união nacionale a unificação política desta nação. SegundoAndrade (1992, p. 54), o

“... conhecimento do mundo e oaprofundamento das relações entre asociedade e a natureza eram, pois, de grandeimportância para os grupos dominantes queaspiravam à união nacional, à unificaçãopolítica, em um primeiro estágio, e à disputapelo domínio do mundo extra-europeu, comos grandes impérios em consolidação,britânico, francês, russo e norte-americano,em um segundo estágio.”

Porém, cabe destacar que a institucionalizaçãodessa ciência ocorreu mediante os postulados dafilosofia positivista de Augusto Comte que,segundo Chaui,

“... será uma das correntes mais poderosas einfluentes do século XX (...) A sociologiapositivista (...) estuda a sociedade como fato,afirmando que o fato social deve ser tratadocomo uma coisa, à qual são aplicados osprocedimentos de análise e síntese criadospelas ciências naturais” (1999, p. 272).

Além disto, a filosofia positivista surge nomomento histórico em que se desenvolve oneocolonialismo sobretudo na África e Ásia tendoa França e a Inglaterra como principais paísesexponentes desta expansão. Este neocolonialismodo século XIX iria favorecer, principalmente, aalta burguesia destes países imperialistas, a qualteria um mercado muito mais amplo paracomercializar suas mercadorias.

Assim, segundo Andrade,

“Para que se castrassem os estudiosos de umavisão global, totalizante da realidade, tratou-se de estimular, cada vez mais, a especializaçãoe, em conseqüência, neutralizar ou reduzir acapacidade crítica dos estudiosos, sábios epesquisadores” (1992, p. 11).

Tal fato ocorreu sobre a égide do positivismo,que dividiu a ciência em vários ramos.

Nesse sentido podemos afirmar que o ensinode Geografia, enquanto meio de realização deuma instrução geográfica no século XIX (já quenessa época os conhecimentos desta ciência jáestavam sistematizados), passa a cumprir umpapel social que procurava legitimar a açãoneocolonialista do Estado-Nação.

Esse papel foi desempenhado, primeiramente,no ensino secundário tendo sido a França umadas primeiras nações a instituir esseconhecimento no final do século XIX. Porém,esse ensino era, em grande parte, de cunhopolítico-militar e pretendia auxiliar na construçãoda idéia de pátria e convencer a sociedade que aGeografia era um conhecimento neutro, o quecriava a idéia de inutilidade deste ensino para asociedade em geral.

Segundo Lacoste,

“... desde o fim do século XIX e por razõesque foram primeiro patrióticas, considerou-se que era preciso ensinar rudimentos degeografia e de história aos futuros cidadãos.A função dessa geografia escolar não é,

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evidentemente, mais estratégica, mas ideológicae até o período entre as duas guerras o seusignificado político ficou evidente: ela falavaprimeiro da pátria e a carta da França, queoutrora reinava em permanência nas salas deaula era, para os alunos, a representação, amais evidente, de seu país” (1988, p. 251).

Como meio de justificar tal afirmação, o autorfaz um questionamento acerca da França:

“De fato, não é primeiro para falar da pátriaaos futuros cidadãos, para lhes fazer conhecerseu país, que um ensino de geografia (...) foiconsiderado necessário e obrigatório no fimdo século XIX, notadamente após otraumatismo da derrota de 1870?” (Lacoste,1988, p. 249).

Na citação acima, o autor refere-se à guerraFranco-Prussiana na qual a França perdeu osterritórios de Alsácia e Lorena para a Prússia, oque provocou a queda do império e a formaçãoda III República nesse país.

Essa conseqüência ainda hoje é sentida nasescolas. Segundo Lacoste,

“De todas as disciplinas ensinadas na escola,no secundário, a geografia, ainda hoje, é aúnica a aparecer, por excelência, como umsaber sem a menor aplicação prática fora dosistema de ensino” (1988, p.56).

Quando, no início do século XX, a Geografiatorna-se um saber universitário estaaparentemente perde seu caráter político e chegaa ser questionada pelos próprios estudantes denível superior. Segundo Lacoste,

“... eles chegam a ousar questionar se ageografia é mesmo uma ciência, se esteacúmulo de elementos do conhecimentos‘emprestados’ da geologia, da economiapolítica ou da pedologia, se tudo isso podepretender constituir uma verdadeira ciência,autônoma, de corpo inteiro...” (1988, p. 22).

Isto tudo deflagra o questionamento acercada função e papel da Geografia na sociedade.Enquanto os alunos das escolas elementarespossuíam contato com uma Geografia descritiva,que produzia inventários dos aspectos físicos da

superfície terrestre, existia paralelamente umaoutra Geografia, a dos oficiais, que negligenciavaa função e importância dessa ciência e usava essesconhecimentos para fins militares, elaborandoestratégias de combates, como ocorreu na Guerrado Vietnã.

Porém, a partir de todo este complexo cenáriode discussão no qual a Geografia se insere,podemos fazer dois comentários. O primeirodeles diz respeito à tendência de educação quese utilizava na França para o ensino de Geografiano final do século XIX. De acordo com ascaracterísticas explicitadas anteriormente, nesteperíodo, a educação visava reproduzir a estruturaideológica do Estado, procurava manter estaestrutura e não modificá-la. Para Luckesi,

“A interpretação da educação comoreprodutora da sociedade implica entendê-lacomo um elemento da própria sociedade,determinada por seus condicionanteseconômicos, sociais e políticos – portanto, aserviço dessa mesma sociedade e de seuscondicionantes” (1994, p. 41).

Não havia a preocupação da educação naépoca em modificar essa estrutura ideológicaneocolonialista mas, mantê-la como forma delegitimar as expansões.

Um segundo comentário refere-se ànecessidade do professor de Geografia estarrefletindo sobre as origens do ensino destaciência, enquanto disciplina. Entendemos ser desuma importância esta reflexão pois as influênciasde suas origens ainda se fazem sentir no ensinode Geografia. No caso francês, o contexto sócio-político-econômico no qual se constituiu aGeografia fez com que se adotasse umatendência reprodutivista de educação que refletiuna sala de aula de tal forma que “... a geografia,ainda hoje, é a única a aparecer, por excelência,como um saber sem a menor aplicação práticafora do sistema de ensino” (Lacoste, 1988, p. 56).Ou seja, a função da Geografia nas salas de aulado século XIX ainda estão muito presentes noensino atualmente uma vez que a Geografia, noBrasil, sofreu forte influência da Escola Francesa.Nestas condições, caso o futuro docente nãotenha conhecimento contextualizadohistoricamente das origens do ensino deGeografia, ele corre o risco de estar reproduzindoa Geografia que se constituiu no final do séculopassado e fazer da mesma, suas perspectivas

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futuras, uma disciplina tão enfadonha comooutrora. Segundo Lacoste,

“É preciso fazer com que aqueles que ensinama geografia hoje tomem consciência de que osaber-pensar o espaço pode ser uma ferramentapara cada cidadão, não somente um meio decompreender melhor o mundo e seus conflitos,mas também a situação local na qual se encontracada um de nós” (1988, p. 256).

No que diz respeito ao Brasil, tanto o ensinoquanto a pesquisa na área de Geografia seinstitucionalizaram a partir da Revolução deTrinta, período no qual “... a burguesia e a classemédia urbana passaram a ter maior influênciasobre o governo e a atenuar o poder da burguesiaagrário-exportadora” (Andrade, 1992, p. 81). Osestudos e pesquisas de nível superior seinstitucionalizaram a partir da criação daFaculdade de Filosofia, Ciências Humanas eLetras da Universidade de São Paulo, em 1934,e da Universidade do Distrito Federal, em 1935,onde, atualmente, funciona a UniversidadeFederal do Rio de Janeiro.

Neste período, a Geografia brasileira foi emgrande parte influenciada pela Escola Francesa,tanto na pesquisa como no ensino dado queforam professores e pesquisadores franceses quefundaram os primeiros cursos brasileiros.Conforme Pontuschka,

“A geografia no antigo ginásio até a época dafundação da FFLCH-USP, nada mais era doque a dos livros didáticos. Geralmente elesexpressavam o que havia sido a geografia atémeados do século XIX na Europa:enumeração de nomes de rios, serras,montanhas, capitais, cidades principais, totaisdemográficos de países, de cidades etc.”(1999, p. 114).

Porém, deste período até os dias atuais,segundo a autora, a situação do ensino deGeografia não se modificou muito.

“Se essa crítica pode ser feita para o ensinoda geografia na primeira metade do séculoXX, ainda não podemos dizer que os métodosde ensino mais renovadores e democráticoshoje estão aplicados nas escolas do país.”(Pontuschka, 1999, p. 113).

Segundo Brabant, a Geografia escolar está emcrise e essa está relacionada com a sua funçãoideológica no final do século XIX, conformedestacamos anteriormente. Para este autor,

“Pode-se dizer que a crise da geografia naescola se resume essencialmente na crise desua finalidade. Ensinamento com funçãoideológica, sua eficácia se vê contestada pordiscursos mais ‘modernos’ (economia,sociologia, etc...) Marginalizada no momentoda adaptação da escola às necessidadesprofissionais, a geografia está minada por suaaparente incapacidade de dar conta das lutasonde o espaço está em jogo” (1989, p.22).

Vale ressaltar que esta crise da escola, etambém da Geografia, mencionadas por Brabantfaz parte de uma mudança da função dasinstituições de ensino de todos os níveispromovida em grande parte pelo Banco Mundiale países que esse representa. Para essa instituição,cabe à escola

“(...) desenvolver as capacidades básicas deaprendizagens no ensino primário e (quandose justifique para o país) no nível secundárioinferior, porque o Banco sabe que issocontribuirá para satisfazer a demanda por‘trabalhadores flexíveis que possa facilmenteadquirir novas habilidades’” (Coraggio, 1998,p. 100).

Nessa perspectiva, voltamos àquela tendênciaeducacional colocada anteriormente na qual aeducação possui a função de reproduzir a ordemestabelecida pelo e para o capital. Nestatendência, “... a escola alcançou o foro deprincipal instrumento para a reproduçãoqualitativa da força de trabalho de quenecessitava a sociedade capitalista” (Luckesi,1994, p.44). Assim, como a Geografiatradicionalmente é uma disciplina que desde assuas origens na França e Alemanha do séculoXIX, é questionada acerca de sua utilidade efuncionalidade na vida prática, ela passa a sereliminada do sistema de ensino em vários países.Isto verifica-se atualmente no Brasil quandoobservamos a diminuição da sua carga horária,quando não de sua eliminação da grade curricularde algumas escolas, no “novo” ensino médio.

Nessa perspectiva, compreendemos que se

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faz necessário rompermos com algumas“convicções” formais ainda presentes naGeografia e em muitos livros didáticos que aindalideram o mercado editorial do país. Isso porqueesses, na maioria das vezes, abordam a realidadede forma fragmentada, não permitindo aemergência de reflexões sobre a configuraçãodo espaço que é fruto das contradições sociais.

Para Santos,

“A superação da lógica formal não é asupressão da forma é, antes disso, umaruptura com seus limites em busca dosmovimentos que a definem e, por isso mesmo,é colocar em discussão, num mesmomomento, justamente o que a lógica formalnão admite: o contraditório” (1995, p.47-48).

Assim, avançando para além da lógica formalrumo à lógica dialética estaremos abordando arealidade de forma dialética valorizando oentendimento do conflito entre os contrários afim de que se entenda a lógica das diferentes, econtraditórias, espacialidades produzidas noterritório.

Segundo Katuta,

“Para isto, faz-se necessário que o aluno tenhase apropriado e/ou se aproprie de uma sériede noções, habilidades, conceitos,conhecimentos e informações, básicos paraque o pensamento ocorra. Esse conjunto (...)é pré-requisito para que o aluno construa umentendimento geográfico da realidade”(1997, p. 37).

Além disto, quando trabalhamos em sala deaula a partir de uma abordagem respaldada nalógica dialética poderemos romper também comaquela tendência reprodutivista da educação deoutrora para trabalharmos com uma tendênciatransformadora da educação onde

“... propõe-se compreender a educação dentrode seus condicionantes e agir estrategicamentepara a sua transformação. Propõe-sedesvendar e utilizar-se das própriascontradições da sociedade, para trabalharrealisticamente (criticamente) pela suatransformação” (Luckesi, 1994, p. 51).

Também compreendemos que esse trabalhodeve ser iniciado nas primeiras séries do ensinofundamental, sobretudo na 5ª série, uma vez emque são nessas séries que os alunos começam ater seus primeiros contatos com o uso e confecçãode mapas. Como os mapas são os instrumentosdas espacializações dos fenômenos geográficos,e esses fenômenos são, em parte, frutos dascontradições sociais, os alunos poderão,dependendo da prática pedagógica docente, estarem contato com essas contradições procurandocompreender suas origens.

Neste sentido, ao refletirmos sobre as origensdo ensino de Geografia, sua situação atual eperspectivas identificamos que esta ciência, deacordo com cada período histórico pelos quaispassou, defendia valores determinados. Cabe-nos, enquanto docentes em formação,explicitarmos à sociedade que o aspecto deinutilidade que paira sobre a Geografia é, de fato,apenas aparente e que a Geografia ainda servetanto para fazer a guerra com também paratransformar a sociedade na qual esta inserida,dependendo da prática pedagógica docente e deseu compromisso político-pedagógico.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

ANDRADE, Manuel Correia de. Geografia, ciênciada sociedade: uma introdução à análise dopensamento geográfico. São Paulo : Atlas, 1992. 143p.

BRABANT, Jean-Michel. Crise da Geografia, crise daescola. In: OLIVEIRA, Ariovaldo Umbelino de (Org.)Para onde vai o ensino de Geografia? São Paulo:Contexto, 1989. p. 15-23.

CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. 12. ed. SãoPaulo: Ática, 1999. 440p.

CORAGGIO, José Luis. Propostas do Banco Mundialpara a educação: sentido oculto ou problemas deconcepção? In: DE TOMMASI, Livia; WARDE,Mirian Jorge; HADDAD, Sérgio (Org). O bancomundial e as políticas educacionais. 2. ed. São Paulo:Cortez, 1998. p. 75-123.

KATUTA, Ângela Massumi. A escola e o ensino degeografia: o ser e o vir a ser. Universitas, São José doRio Preto, v.7, n.1, p. 31-38, 1997.

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LACOSTE, Yves. A geografia: isso serve em primeirolugar para fazer a guerra. Campinas: Papirus, 1988.263p.

LIBÂNEO, José Carlos. Didática. São Paulo: Cortez,1994. 263p.

LUCKESI, Cipriano Carlos. Filosofia da Educação.São Paulo: Cortez, 1994. 183p.

PONTUSCHKA, Nídia Nacib. A Geografia: Pesquisae Ensino. In: CARLOS, Ana Fani A. Novos caminhosda Geografia. São Paulo: Contexto, 1999. p. 111-143.

SANTOS, Douglas. Conteúdo e objetivo pedagógicono ensino da geografia. Caderno Prudentino deGeografia, Presidente Prudente, n. 17, p. 20-61, 1995.

Teaching of geography: origins and perspectives

ABSTRACTIn the present article we intended to contemplate about the current situation of the teaching of Geography as well as onits origins and perspectives. For so much we left, initially, of a reflection concerning the teaching as well as about itsrelationship with the education and the instruction. Soon after, we contemplated on the instituton of the geographicalscience, its relationship with the teaching in the elementary schools (in the end of the century XIX) and of highereducation (in the beginning of the century XX). Later on, after some placements on the origins of the teaching in Brazil,we contemplate about the current situation of that teaching in the country trying to relate it with the educacionaltendencies in which she was inserted. Finally, in a third moment, we approached some perspectives, based in bibliographieson that thematic one, I respect it of that teaching and about its contributions to the society. Those contributions, for itstime, they can be good so much “to do the war” as to modify the social structure in which are inserted depending on theeducational pedagogic practice and of its political-pedagogic commitment.

KEY WORDS: Geography, teaching, education.

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INTRODUÇÃO

O estudo da Climatologia permite vastasdiscussões sobre os elementos físicos quecompõem a paisagem pois, para a configuraçãoclimática de qualquer local da superfície terrestre,faz-se necessário as correlações entre taiscomponentes; visto que

“mudanças radicais na natureza da superfície,através da extrema artificialização da coberturado solo e do aumento de sua rugosidade, criamalterações imediatas nas propriedadesmeteorológicas do ar imediatamente acima dasuperfície” (Chandler, 1976 apud Collischonn,1998, p. 121).

As idéias dispostas acima sempreacompanharam as discussões com nossos alunos,na disciplina 3 GEO 004 – Climatologia, o quenos motivou a procurar as correlações doselementos climáticos com o relevo e,principalmente, com o uso do solo do Campus da

Caracterização do ambiente microclimático do Campusda Universidade Estadual de Londrina (PR) na situaçãode inverno do ano de 1999

Deise Fabiana Ely *

RESUMOO presente trabalho tem o propósito de mostrar uma experiência didática realizada na disciplina 3GEO 004 –Climatologia, ministrada para os alunos do segundo ano do curso de Geografia. Através desta atividade práticabuscamos as correlações dos elementos climáticos com o relevo e, principalmente, com o uso do solo do Campusda Universidade Estadual de Londrina (UEL), objetivando a caracterização e percepção da realidade microclimática.Por meio da análise detalhada dos dados de: temperatura e umidade relativa do ar, direção e velocidade dosventos e a nebulosidade, percebemos que as temperaturas evoluíram conforme o padrão normal da marcha diária,ou seja, pela manhã foram identificadas as menores temperaturas, as maiores foram atingidas entre 14 e 16 horas,demonstrando uma evolução diária inversa a da umidade relativa do ar. E, ainda, percebeu-se a influência dasexposições das vertentes, do uso do solo e da incidência dos ventos na formação de um ambiente microclimático.

PALAVRAS-CHAVE: experiência didática, campus universitário, microclima.

Universidade Estadual de Londrina, buscando acaracterização e percepção da realidademicroclimática, nos permitindo a experimentaçãodos conteúdos teóricos apreendidos em sala de aula.

Neste sentido, o presente trabalho tem opropósito de divulgar uma experiência didáticaque envolveu os alunos do segundo ano do cursode Geografia de 1999 (matutino e noturno), daUniversidade Estadual de Londrina, desenvolvidanos dias 22 e 28/08/1999.

1. METODOLOGIA

A análise da realidade microclimática requer,inicialmente, a caracterização da paisagem emestudo. Para tanto foi confeccionada uma cartaHipsométrica e uma Carta do Uso do Solo, naescala 1:8.000. Esta última foi elaborada a partirda fotointerpretação de um par de fotografiasaéreas, na mesma escala, do ano de 1991 e foifeito um trabalho de campo para a atualizaçãodos dados de uso do solo para 1999.

* Universidade Estadual de Londrina – UEL, Centro de Ciências Exatas – CCE, Departamento de Geociências, RodoviaCelso Garcia Cid, Km 80, Caixa Postal 6001, Londrina – PR, Cep:86051-990, [email protected]

144 Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 143-150, jul./dez. 2000

A partir dos dados dispostos nestas cartas,definimos 10 pontos para a coleta de dadosclimáticos. Estes pontos foram locados emdiversos padrões de uso do solo, objetivando averificação da influência que esse pode exercersobre os valores de temperatura do ar, umidaderelativa do ar e da circulação dos ventos.

Os alunos foram distribuídos em equipes, quefizeram o levantamento de dados de: temperatura(bulbo seco e úmido), umidade relativa do ar,direção e velocidade dos ventos e a cobertura docéu; entre 8 e 20 horas (a coleta deu-se de uma emuma hora), nos dias 22 e 28/08/1999.

Para a coleta dos respectivos dados utilizou-se um abrigo meteorológico, constituído por umsuporte de madeira de 1,5m de altura e sustentadopor uma cruzeta, na qual foram dispostos ospontos cardeais, que possibilitaram a orientaçãodo abrigo. Em sua base estava acoplada uma fitade cetim que possibilitou a verificação da direçãodos ventos. Dentro do abrigo foi acomodado umtermohigrômetro de leitura direta. A velocidadedos ventos foi obtida através do uso de umanemômetro e a verificação da cobertura do céufoi feita visualmente.

Após o trabalho experimental de coleta dosdados climáticos, buscamos informaçõesadicionais junto a Estação Agrometeorológica doInstituto Agronômico do Paraná (IAPAR),imagens infravermelhas do satélite GOES-8 e asCartas de Pressão da Superfície, obtidas nahomepage do Centro de Previsão do Tempo eEstudos Climáticos (CPTEC), do InstitutoNacional de Pesquisas Espaciais (INPE),objetivando caracterizar a situação atmosféricanas escalas local e regional.

2. CARACTERIZAÇÃO DA ÁREA

O Campus da Universidade Estadual deLondrina localiza-se no setor sudoeste da áreaurbana de Londrina/Pr, distante 6Km do centroda cidade, com uma área de 150ha e com asseguintes coordenadas geográficas: 23o19’08”,23o20’06” de latitude sul e 51o11’36”, 51o11’37”de longitude oeste.

A partir dos dados da Carta Hipsométricatemos que o Campus assenta-se em uma áreacom altitudes que variam de acima de 600m até

abaixo de 540m, demonstrado que não há umagrande variação de altitudes. A maior parte daárea construída do Campus encontra-se numaaltitude que varia de 580 a 600m. As áreas maiselevadas, ou seja, aquelas acima dos 600m, nãopossuem edificações. E as áreas com altitudesvariando de 580 a abaixo de 540m encontram-seno extremo sudoeste do Campus, compreendendoáreas agrícolas (Fazenda Escola) e o HortoFlorestal.

No tocante ao uso do solo, percebe-se que oCampus compreende uma vasta área de gramíneas,exceto no sudoeste onde não ocorrem.Concentram-se aí as áreas cultivadas da FazendaEscola e o bosque do Horto Florestal. Estagrande área de gramíneas é intercalada com váriosbosques de pequeno porte, estacionamentos eedificações.

As edificações foram divididas em trêscategorias: térreas de pequeno porte, térreas demédio porte (Ex: prédio do Laboratório deGeologia, as salas em anfiteatro do Centro deLetras e Ciências Humanas – CLCH, etc.) e degrande porte (como o Hospital da Clínicas, oginásio do Centro de Educação Física – CEF,etc.). Este procedimento foi tomado em virtudeda possível influência das edificações nodirecionamento dos ventos e no sombreamentoque elas produzem, modificando a absorção daradiação solar e, conseqüentemente, astemperaturas e a umidade relativa do ar local.

As vias de circulação do Campus, em suamaioria, são pavimentadas; sendo as sempavimentação somente aquelas que dão acessoao Horto Florestal e à Fazenda Escola. OCampus ainda compreende amplas áreas deestacionamentos, o que pode gerar alterações nastemperaturas locais, devido a alta absorção daradiação solar pelo asfalto.

De maneira geral verificamos que a maior partedo Campus ocupa um topo suave ondulado e a áreada Fazenda Escola e do Horto Florestal ocupamvertentes de direções sul, sudoeste e sudeste.

A partir das características geoecológicasapresentadas, estabelecemos 10 pontos para odesenvolvimento da coleta de dados climáticos,como mostra o Quadro 1.

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3. RESULTADOS OBTIDOS

A partir da correlação entre os dadosmeteorológicos obtidos junto ao IAPAR, com asimagens de satélite e os valores de pressão àsuperfície fornecidos pelo CPTEC/INPE,podemos perceber que no intervalo ocorridoentre os dias de trabalho de campo (22 e 28/08/1999), a área em estudo permaneceu sob odomínio de uma Massa Polar Atlântica, compressão de superfície em torno de 1020mb. Nesteintervalo de tempo as condições atmosféricaspermaneceram estáveis, com um movimentopredominante dos ventos de direção NE e comvelocidades aproximadas de 8m/s, comtemperatura média de 21o C. Salientamos queneste período de inverno a área em estudo estevesubmetida à ocorrência de uma névoa seca,devido à baixa umidade relativa do ar (47%) e anão ocorrência de precipitações durante todo omês de agosto.

Percebe-se, por intermédio dos gráficos 1 a8, que as temperaturas na área do Campus daUniversidade Estadual de Londrina, tanto no dia22, como no dia 28/08/1999, demonstraram opadrão normal da marcha diária da temperatura,ou seja, pela manhã são identificadas as menores

temperaturas, as maiores são atingidas entre14:00 e 16:00h (Blair, 1964, p.21) e,gradativamente, elas vão caindo com o início danoite. E, também, é visível a correlação da variaçãodiária da temperatura com a umidade relativa doar, pois “a capacidade de um dado volume de arconservar a umidade diminui com o aumento datemperatura” (Ayoade, 1996, p. 140).

No dia 22/08/1999, a temperatura mais baixa(12,5o C) ocorreu as 8 horas, no ponto 3. Esteencontra-se numa vertente de direção sul e éocupado por bosques e gramíneas, característicasque propiciam uma menor temperatura noreferido horário, devido ao maior albedo dessasuperfície, pois o referido horário propiciava umabaixa altitude solar que permite a menorincidência da radiação solar sobre essa face do relevoe a grande área de gramíneas que proporciona umalbedo de 15 a 30% (Ibidem, p. 29).

A maior temperatura foi aquela do ponto 10(31o C), as 16 horas, isto é explicado devido oponto estar localizado em um estacionamentocom pavimentação asfáltica, cobertura que possuiuma alta capacidade de absorção da radiaçãosolar, ou seja, um albedo baixo, favorecendo aelevação dos índices térmicos.

Quadro 1 – Localização e características dos pontos de coleta de dados.

Fonte: Cartas Hipsométrica e de Uso do Solo de 1999.

Ponto Localização Altitudes Uso do Solo

1 Bosque ao lado do restaurante Universitário Acima de 600m Bosque circundado por gramíneas e, a leste, possui áreas pavimentadas e uma edificação de médio porte.

2 Próximo ao Laboratório de Geologia e o Centro de Tecnologia a Urbanismo.

De 580 a 600m Gramíneas, mas circundado por edificações de pequeno, médio e grande porte.

3 Centro de Vivência da Assuel De 580 a 600m Bosques e gramíneas. 4 Área atrás do Hospital da Clínicas De 580 a 600m Área sem pavimentação, solos

expostos. 5 Guarita da entrada principal da UEL De 580 a 600m Gramíneas 6 Rotatória de acesso à UEL paralela a PR445 De 580 a 600m Gramíneas 7 Área próxima a piscina do Centro de

Educação Física (CEF) De 580 a 600m Área pavimentada, cercada por

edificações de médio e grande porte. 8 Estrada de terra atrás do CEF De 580 a 600m Área sem pavimentação, cercada de

gramíneas e bosques. 9 Entrada do Horto Florestal De 560 a 580m Grande área de bosques. 10 Estacionamento do Centro de Letras e

Ciências Humanas (CLCH) De 580 a 600m Área pavimentada, asfalto.

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Gráfico 1 - Variação da Temperatura nos Pontos de Números 1 a 5, no Campus da UEL - 22/08/1999

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Gráfico 2 - Variação da Temperatura nos Pontos de Números 6 a 10, no Campus da UEL - 22/08/1999

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ºC)

Ponto 6Ponto 7Ponto 8Ponto 9Ponto 10

Gráfico 3 - Variação da Umidade Relativa do Ar nos Pontos de Números 1 a 5, no Campus da UEL - 22/08/1999

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Ponto 1Ponto 2Ponto 3Ponto 4Ponto 5

Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 143-150, jul./dez. 2000 147

No tocante a umidade relativa do ar do dia22/08/1999 o ponto que destacou-se foi o denúmero 10, com 95%. Isto aconteceu devido adireção predominante dos ventos (SE) neste locale horário (8h), estes procediam de uma áreabastante arborizada, deslocando a umidade parao estacionamento do CLCH. Outro ponto queapresentou uma umidade relativa do ar elevada(90%) foi o ponto 9, às 8 horas, pois este pontolocaliza-se na entrada do Horto Florestal, queconcentra o maior índice de vegetação arbóreado Campus, o que favorece a concentração daumidade.

Nos chamou a atenção o valor de 27%, às 8horas, no ponto 7, que localiza-se próximo apiscina olímpica do Centro de Educação Física(CEF), mas é uma área cercada por calçadas eprédios de baixa e alta densidade; este usoocasionou o baixo valor de umidade, a fracacirculação dos ventos, que não permite uma

Fonte dos gráficos 1, 2, 3 e 4: Levantamento de dados de campo do dia 22/08/1999.

eficiente troca de calor entre as camadas daatmosfera e não renovando o ar sobre asuperfície, dificultando a evaporação da água dapiscina no horário em questão.

Situação parecida apresentou o ponto 2, comuma umidade relativa do ar muito baixa (22%),às 10 horas e o ponto 5 (22%), às 20 horas. Oponto 2 é cercado por edificações de médio egrande porte e gramíneas que, na época, estavamressecadas em função da falta de chuvas,proporcionando a baixa umidade do ar. O ponto 5durante todo o dia apresentou uma pequenavariação da umidade do ar (55%), às 8 horas. Estaárea é coberta por gramíneas, que estavam secas e,ainda, localiza-se próximo à PR445, com alto tráfegode caminhões e automóveis, apresentando umaelevação localizada das temperaturas (gráfico1), às8 horas a mesma era de 19ºC e chegou às 14 horasa 30,5ºC, pois esse tipo de uso do solo permite umalbedo de baixos percentuais.

Gráfico 4 - Variação da Umidade Relativa do Ar nos Pontos de Números 6 a 10, no Campus da UEL - 22/08/1999

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Gráfico 5 - Variação da Temperatura nos Pontos de Números 1 a 5, no Campus da UEL - 28/08/1999

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Ponto 3Ponto 4Ponto 5

148 Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 143-150, jul./dez. 2000

Fonte dos gráficos 5, 6, 7 e 8: Levantamento de dados de campo do dia 28/08/1999.

Gráfico 6 - Variação das Temperaturas nos Pontos de Números 6 a 10, no Campus da UEL - 28/08/1999

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08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00

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Ponto 6Ponto 7

Ponto 8Ponto 9Ponto 10

Gráfico 7 - Variação da Umidade Relativa do Ar nos Pontos de Números 1 a 5, no Campus da UEL - 28/08/1999

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Ponto 1

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Ponto 5

Gráfico 8 - Variação da Umidade Relativa do Ar nos Pontos de Números 6 a 10, no Campus da UEL - 28/08/1999

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08:00 09:00 10:00 11:00 12:00 13:00 14:00 15:00 16:00 17:00 18:00 19:00 20:00Horários

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Ponto 6

Ponto 7

Ponto 8

Ponto 9

Ponto 10

Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 143-150, jul./dez. 2000 149

Já no dia 28/08/1999 (os gráficos de números5 a 8), o ponto 9 apresentou a temperatura de17o C, a menor registrada nesse dia e horário;entendemos que esta situação ocorreu devido asua localização em uma vertente de direção sul ea concentração de vegetação arbórea, o quedificulta a penetração dos raios solares até o soloe retarda o aquecimento do local.

A temperatura de maior destaque foi aquelado ponto 4 (33o C), destacamos que este pontomanteve um gradual aquecimento desde às 8horas até às 15 horas, quando atingiu o ápicetérmico. Pensamos que este aquecimentoaconteceu devido a área de coleta ser sempavimentação, com o Latossolo Roxo exposto,em uma área de topo, o que permite a livrecirculação dos ventos, que tinham direçãopredominante de sudoeste, saindo de uma áreacom pavimentação asfáltica, deslocando o calor,além da maior absorção da radiação solar pelosolo exposto. Este ponto também não teve umaumidade relativa do ar representativa (60 a 40%).Após às 16 horas, a temperatura no localestabilizou-se em 23oC, devido a menorcirculação dos ventos, que deixaram de incidircalor sobre o ponto.

Novamente o ponto 10 indicou uma umidaderelativa do ar elevada (90%), às 8 horas, que agorarecebia ventos de direção leste, os quais saiamde uma área com concentração de bosques egramíneas, contribuindo para a elevação daumidade no local. Percebemos uma elevação daumidade relativa do ar (75%) no ponto 6, às 13horas. Este ponto recebeu ventos de direçãonorte que passavam, primeiramente, sobre oRibeirão Cambé, ocasionando o aumento de suaumidade. E, novamente, o ponto 5 destacou-sepelos baixos valores de umidade (22%).

CONCLUSÃO

Faz-se necessário esclarecer que, o que sedivulga neste artigo constituem-se em exercíciosexperimentais de campo para introdução aoestudo geográfico do clima. Salientamos anecessidade de se efetuar novas observaçõesvisando uma busca mais concreta da situaçãomicroclimática no campus da UniversidadeEstadual de Londrina. No entanto, a realizaçãodeste trabalho permitiu que os alunos do segundoano do curso de Geografia, do ano de 1999,chegassem a algumas conclusões.

Conseguiu-se constatar a marcha diária datemperatura e sua correlação com a evoluçãodiária da umidade relativa do ar. E, ainda,percebeu-se a influência das exposições dasvertentes, do uso do solo e da incidência dosventos na formação de um ambientemicroclimático. Neste aspecto, vale ressaltar queo geógrafo desenvolve importante papel noreconhecimento desses fatores, pois é ele quemdeve atuar no sentido de melhor planejar as açõesde usos dos recursos dispostos na paisagem que,dependendo de como eles estão sendo utilizados,poderão comprometer a sua qualidade climática,em nosso caso microclimática.

Assim, pensamos que o desenvolvimentodeste tipo de trabalho é de extrema importânciapara os iniciantes na pesquisa geográfica, poispermite integrar experimento e teoria.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AYOADE, J. O. Introdução à Climatologia para osTrópicos. Rio de Janeiro : Bertrand Brasil, 1996.

BLAIR, T. A. Meteorologia. Rio de Janeiro : Ed. AoLivro Técnico, 1964.

COLLISCHONN, E. Variações da Temperatura eUmidade Relativa do Ar nos Ambientes da UNISC numdia de verão – Uma Experiência de Aprendizagem emClimatologia. In: SHÄFFER, N. O. et al. Ensinar eAprender Geografia. Porto Alegre: Associação dosGeógrafos Brasileiros, 1998. p. 120-122.

150 Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 143-150, jul./dez. 2000

Characterization of the microclimatic environment of the StateUniversity of Londrina Campus (PR) in the winter of 1999

ABSTRACT

This paper has the purpose of showing a didactic expirience achieved in the discipline “3GEO 004 – Climatology”,ministered to the students of the second year of the Geography Course. Through this practical activity we searchedthe correlations between climatics elements with the relief and, mainly, with the use of the land from the Campusof the State University of Londrina (UEL), aiming at the characterization and the perception of the microclimaticreality. Throughout detailed analysis of the temperature and the relative humidity of the air, diretion and velocityof the winds and nebulosity, it was noticed that the temperatures developed according to the normal pattern of thedaily march, in other words, in the morning were identified the smaller temperatures, the higher temperatureswere noticed between 2:00 pm and 4:00 pm, showing a daily evolution inverse to the relative humidity of the air.And, it was still noticed the influence of the exposition of the slopes, the use of the land and the incidence of thewinds on the development of a microclimatic environment.

KEY WORDS: Didatic experience, university campus, microclimate.

Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 151-157, jul./dez. 2000 151

INTRODUÇÃO

A determinação de área é questão básica emCartografia, Geografia, assim como, a medidade superfície foliar é parâmetro indispensável nasinvestigações fisiológicas, biogeográficas eagronômicas, nas mais diferentes espéciesvegetais, para determinação ou estimativa dasuperfície fotossinteticamente ativa, taxa detranspiração, capacidade de crescimento ou deprodução dentre outros.

A falta de um método prático e com relativaprecisão, tem levado ao empirismo nas tomadasde dados. Fato importante a ser ressaltado é aforma, ou seja, a figura geométrica que é objetoda determinação da área. Independentemente detratar-se de uma microbacia hidrográfica ou afolha de um vegetal, alguns cuidados básicosdeverão ser tomados e, no caso de unidadesgeográficas, a escala do desenho é um fatoressencial.

Comparação de métodos de determinação de área:superfície foliar do feijoeiro

Teresinha E. S. Reis* Luiz Carlos Reis** Omar Neto Fernandes Barros***

RESUMOA determinação de área é questão básica em Cartografia, Geografia, assim como, a medida de superfície foliar éparâmetro indispensável nas investigações fisiológicas, biogeográficas e agronômicas, nas mais diferentes espéciesvegetais, para determinação ou estimativa da superfície fotossinteticamente ativa, taxa de transpiração, capacidadede crescimento ou de produção dentre outros. O presente trabalho foi conduzido no campus da Fundação Faculdadede Agronomia “Luiz Meneghel” em Bandeirantes, Paraná e teve como objetivo analisar os métodos de determinaçãode área foliar e, como exemplo, identificar aquele que melhor se adapte às condições de campo, sem erradicaçãode folhas ou plantas da cultura do feijoeiro (Phaseolus vulgaris L.), cultivar carioquinha. Trabalhou – se com osmétodos do planímetro, quadrícula, gravimétrico, coordenadas, integrador foliar (folíolo in natura), integradorfoliar (cópia heliográfica), elipse circunscrita e retângulo circunscrito. Constatou-se que não houve diferençasignificativa entre os métodos utilizados e que, no campo, os métodos da elipse e do retângulo circunscritos sãoeficientes para a avaliação da área foliar da cultura do feijoeiro, cultivar carioquinha.

PALAVRAS-CHAVE: metodologia, superfície foliar, avaliação, feijão.

* Professora assistente da Fundação Faculdade de Agronomia “Luis Meneghel” e mestranda no curso de Agronomia daUniversidade Estadual de Londrina. e-mail: [email protected]** Professor assistente da Fundação Faculdade de Agronomia “Luis Meneghel”. e-mail: [email protected]*** Professor adjunto da Universidade Estadual de Londrina. e-mail: [email protected]

Moraes et al. (1993) constataram que aestimativa mais precisa para determinar a áreafoliar do urucunzeiro (Bixa orellana L.)é obtidacom a fórmula A = 0,6638 (C.L), sendo A = áreafoliar, C = comprimento da nervura central e L alargura da folha, com coeficiente de correlaçãode 0,9389, tomando como área real da folhaaquela obtida com o planímetro em fotocópias.

Gomide & Castro (1989) verificaram nãohaver diferença entre os métodos do retângulo edo círculo circunscritos para determinação daárea foliar no feijoeiro, em folhas coletadas aoacaso no estádio de floração, quando comparadocom o método da cópia fotostática cuja área foiconsiderada real, ou seja a base de comparação.Foi demonstrado que a equação A = 1,1286 C2,sendo A = área foliar e C = comprimento dofolíolo central, pode ser utilizada para o cálculoda área foliar do feijoeiro cultivar Eriparza.

Pinto et al. (1979) compararam métodos dedeterminação da área foliar na cultura da

152 Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 151-157, jul./dez. 2000

goiabeira utilizando os métodos xerox, comopadrão, dos discos foliares, da elipse e retânguloscircunscritos, constatando que os métodos daelipse e retângulo circunscrito foram iguais aométodo padrão revelando-se mais práticos e derelativa eficácia. A estreita correlação entre ométodo da elipse circunscrita e a área real da folhadeve-se entretanto, à semelhança morfológica entrea folha e a figura geométrica.

Karikari (1973) em um trabalho visando aseleção de variedades de mamoeiro, em Ghana,mediu o comprimento da nervura central das folhase avaliou as áreas foliar com o planímetro. Verificouque há correlação entre o comprimento da folha ea área foliar, sendo possível a obtenção da área foliar,com diferença inferior a 1%, através da equação: y= 106x – 2028, sendo y = área foliar(cm2) e x =comprimento da nervura central (cm).

Barros et al.(1973) avaliaram superfícies foliaresem cafeeiros (Bourbon Amarelo), imprimiram asfolhas em papel heliográfico, tendo recortado epesado em seguida. As áreas assim obtidas,consideradas padrão, foram comparadas com ométodo do retângulo circunscrito que se mostrouestatisticamente superior.

Gomide et al.(1977) comparam os métodosda Constante de Barros & Maestri (1973), Discona base, Disco na parte mediana , Disco no ápicee Xerox, na avaliação da área foliar nas variedadesde cafeeiro Mundo Novo e Catuaí, apontaram ométodo da Constante como o de maior precisão.

Boyton & Harris (1950) recomendaram, paramacieiras, a impressão das folhas em papelheliográfico para a obtenção de sua superfície.

Abrahão & Chalfun (1981), ao avaliarem asuperfície foliar em videira, compararam ométodo do Xerox, considerando padrão, com odas figuras circunscritas. Concluíram que ocírculo é o mais prático devido a facilidade emobter – se a medida do comprimento das folhas.

Huerta (1962) comparou métodos delaboratório e de campo para medir a superfície foliardo cafeeiro, utilizando os métodos fotográfico, dopeso das folhas, gráfico, e comparação desuperfícies. Constatou que não há diferençasignificativa entre os métodos estudados.

Benincasa (1988) apontou os métodos dointegrador foliar, contornos foliares em papel,planímetro, fatores de correção, discos foliares emétodo do quadrado ou dos pontos paradeterminação da superfície foliar, para as análisesde crescimento de plantas.

Magalhães (1979) verificou os métodos dascélulas fotoelétricas, planímetro, comparação depesos e dos quadrados ou dos pontos,desenvolvidos por Bleasdale (1966) para aobtenção da superfície foliar.

Mendes (1982) comparou, em cópiasfotostática de folhas de mandioca, os métodosdo planímetro e da balança para determinaçãoda área foliar. Constatou que ambos os métodossão equivalentes.

A folha do feijoeiro além de ser composta,apresenta uma variação no tamanho e formatodos folíolos em função da cultivar. Por isto, há anecessidade de se estimar o fator de correção decada variedade (Gomide et. al.,1977).

O presente estudo teve como objetivocomparar métodos de determinação da áreafoliar, utilizando-se do feijoeiro, cultivarCarioquinha, como planta teste, e apontar aqueleque, com relativa precisão e facilidade, atendaas exigências de campo, sem erradicação defolhas ou plantas.

Se atualmente os Sistemas de InformaçõesGeográficas (SIG’s) fazem o trabalho de cálculode área sem grande dificuldade é necessário dispordos equipamentos e dominar os módulosoperacionais de cada software. As diferentestécnicas de determinação de superfície foliar podemser adaptadas às necessidades de cartografia básicaconforme exemplo aplicado por Vizintim (1990),no cálculo das diferentes áreas de uso do solo emuma bacia hidrográfica de 20.000 hectares. Paratrabalhos em campo e, na demonstração junto aosalunos dos cursos de Geografia, Biologia eAgronomia por exemplo, a utilização das diferentestécnicas é também necessária.

1. MATERIAL E MÉTODOS

As folhas de feijoeiro, cultivar carioquinha,foram coletadas 30 dias após a emergência dasplantas, em experimento conduzido no campusda Fundação Faculdade de Agronomia “LuizMeneghel”, Bandeirantes – Paraná, em umLatossolo Roxo eutrófico, cujo preparo de solofoi de maneira convencional, aração seguida degradagem. Usou-se o espaçamento de 50 cm nasentre linhas e profundidade de semeadura de 4a 6 cm, com uma densidade de 12 sementes pormetro. A emergência ocorreu 8 dias após asemeadura e a cultura foi mantida livre deinvasoras com capina manual.

Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 151-157, jul./dez. 2000 153

Considerando que o feijoeiro tem folhascompostas, os folíolos oriundos da parte inferiorda planta, do terço médio e da parte apical, foramdenominados como folíolo basal, folíolo médioe folíolo apical, respectivamente.

O delineamento experimental usado foi deblocos ao acaso, num esquema fatorial (8x3) com6 repetições. Utilizou – se 8 métodos de avaliaçãode área foliar para 3 diferentes tamanhos de folíolo.Os métodos utilizados foram:1) MÉTODO DO PLANÍMETRO: utilizou-se

o planímetro polar de braço móvel, tipoAmsler, com o qual se percorreu os limitesdos folíolos impressos em papel heliográfico,para avaliação da área de cada folíolo.

2) MÉTODO DA QUADRÍCULA: técnicapreconizada por Bleasdale, citado porMagalhães (1979).

3) MÉTODO GRAVIMÉTRICO: os folíolosimpressos em papel heliográfico, foramrecortados e pesados em balança de precisão.Seus pesos foram relacionadas com o pesode uma área previamente estabelecida domesmo papel utilizado na impressão.

4) MÉTODO DO INTEGRADOR DE ÁREAFOLIAR EM FOLÍOLOS IN NATURA : osfolíolos in natura foram submetidos aavaliação de suas áreas pelo integrador de áreafoliar que as obteve através de célulasfotoelétricas.

5) MÉTODO DO INTEGRADOR FOLIAREM CÓPIA HELIOGRÁFICA: os folíolosimpressos foram recortados e submetidos aavaliação de suas áreas pelo integrador de áreafoliar.

6) MÉTODO DAS COORDENADAS: os folíolosforam dispostos sobre papel milimetrado, ondeos pontos que determinavam seus contornosforam plotados. Em um sistema de eixoscartesianos, se tomou os valores dascoordenadas retangulares (x, y) dos pontosque delimitavam cada folíolo. Dessa forma,as curvas que delimitavam os folíolos foramretificadas através de pequenos segmentos deretas. A área do folíolo foi determinada atravésdo método de Gauss, cuja fórmula é A =0,5(x1y2 + x2y3 +....+ xny1 – y1x2 – y2x3....-ynx1).

7) MÉTODO DA ELIPSE CIRCUNSCRITA:foram avaliados o comprimento do folíolo nosentido da nervura principal e a maior largura.A área da elípse circunscrita ao folíolo foi

relacionada com o método do planímetro,adotado como padrão, para se obter ocoeficiente de correção. O coeficiente decorreção (K) foi obtido através da relação, Areal/A elipse circunscrita, adotando o métododo planímetro como área real. Área realcorresponde a soma de todas as áreas dosfolíolos obtidos pelo planímetro e área da elipsecircunscrita corresponde a soma de todas asáreas das figuras circunscritas. Para a elipseencontrou – se k = 0,769. A fórmula utilizadapara a determinação da área foliar foi : A =[(π.D.d)/4].0,769, sendo A = área em cm2 , D= diâmetro maior e d = diâmetro menor

8) MÉTODO DO RETÂNGULO CIRCUNSCRITO:foram avaliados o comprimento do folíolo nosentido da nervura principal e a maior largura.A área dos retângulos circunscritos ao folíoloforam relacionados com o método doplanímetro adotado como padrão para seobter o coeficiente de correção. O coeficientede correção K foi obtido através da relaçãoentre a área real e a área do retângulocircunscrito, adotando-se como real a somade todas as áreas dos folíolos, obtidas atravésdo método do planímetro. A área do retângulocircunscrito corresponde à soma de todas asáreas das figuras circunscrita. Para o métododo retângulo circunscrito k = 0,625. A fórmulautilizada para a determinação da área foliar foiS = 0,625(C.L), sendo C o comprimento (cm)e L a largura do folíolo (cm).Os resultados obtidos foram submetidos á

análise de variância, sendo as médias comparadaspelo teste de Tukey ao nível de 1% e probabilidade.

2. RESULTADOS E DISCUSSÃO

A análise de variância não detectou diferençasignificativa para os métodos utilizados, conformeHuerta (1962) Magalhães (1979) e Benincasa(1988), porém foi significativo para o tamanho dosfolíolos (Quadro 1). O teste Tukey para as médiasde métodos revela que ao nível de 1%, os métodosnão diferem entre si (Quadro 2), porém o métodointegrador foliar in natura apresentou a menormédia de área foliar pelo fato de que eventuaisdanos por ataque de pragas, foram detectados poreste método, ao passo que nos demais métodosutilizou-se o perímetro das bordas foliares,desconsiderando danos por pragas.

154 Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 151-157, jul./dez. 2000

O teste Tukey para as médias dos métodosdentro de folíolo apical, médio e basal, nãoapresentou diferença significativa. Porém, nasmédias do teste TUKEY para folíolos, verificou– se diferença significativa ao nível de 1% paraas médias determinadas através dos folíolo apical(Quadro 3), contrariando resultado obtido porGomide & Castro(1989), que verificaram nãohaver diferença entre a área obtida através dos

folíolos. No entanto, não houve diferençasignificativa da área estimada quandodeterminada com os folíolos retirados da partebasal e mediana da planta. Por não haverdiferença entre os métodos, buscou – se ummétodo prático de campo dentre as figurascircunscritas, tomando como padrão a áreadeterminada pelo planímetro, conforme Gomide& Castro (1989).

Quadro 1 – Análise de variância: Comparação de 8 métodos de determinação de área foliar do feijoeirovariedade Carioquinha. Bandeirantes, 1999.

Quadro 2 – Teste TUKEY para as médias de métodos. Bandeirantes, 1999.

CAUSAS DE

VARIAÇÃO GL SQ QM F

FATOR A (métodos) 7 2844,2644 406,3235 1,4490 NS

FATOR B (folíolo) 2 38117,9738 19058,9869 67,9690 **

FATOR AXB 14 90,1146 6,4368 0,230 NS

TRATAMENTOS 23 41052,3528 1784,8849

BLOCOS 5 11829,4724 2365,8945 8,4374**

RESÍDUO 115 32246,8205 280,4071

CV % = 20,7983 ** significativo ao nível de 1%

DMS = 17,2223

1Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si, ao nível de 1% de probabilidade.

MÉTODOS MÉDIAS

Quadrícula 85,6806 A1

Retângulo circunscrito 83,3142 A

Elipse circunscrita 82,9728 A

Planímetro 82,4544 A

Integrador foliar (heliográfica) 81,3306 A

Gravimétrico 79,9428 A

Gauss 78,2705 A

Integrador foliar in natura 70,1389 A

Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 151-157, jul./dez. 2000 155

Os métodos da elipse e do retângulocircunscritos foram comparados com o métododo planímetro e através da regressão linearverificou-se alta correlação para ambos osmétodos, porém maior para a elipse circunscrita,

Quadro 3 – Teste Tukey para as médias de folíolo. Bandeirantes, 1999

devido a maior semelhança com o formato dafolha do feijoeiro (Quadros 4 e 5 e Figuras 1 e2). Resultado semelhante foi obtido por Pinto etal. (1979), ao trabalhar com folhas da goiabeira.

Quadro 4 – Análise de variância da regressão linear entre os métodos do planímetro e elipse circunscrita.Bandeirantes, 1999.

Figura 1 – Regressão linear entre os métodos do planímetro e elípse circunscrita.

regressão linear plan x elipse

y = 0.993x

R2 = 0.9701

0

50

100

150

0 50 100 150 X elípse

Y p

laní

met

ro YY previstoLinear (Y)

FOLÍOLO BASAL MÉDIO APICAL

MÉDIA 92,9304 A1 91,0801 A 57,5289 B

DMS = 8,1253

1Médias seguidas de mesma letra não diferem entre si, ao nível de 1% de probabilidade.

CAUSAS DE VARIAÇÃO GL SQ QM F

REGRESSÃO LINEAR 1 10347,1320 10347,1320 521,39**

DESVIOS REGRESSÃO 16 317,5252 19,8453

TOTAL 17 10664,6572

CV = 5,4% ** significativo ao nível de 1%

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CONCLUSÕES

Os dados apresentados permitiram asseguintes conclusões:1. Os métodos de avaliação de área comparados

não apresentaram diferença significativa entresi. A utilização de um determinado métodoestá na disponibilidade de equipamento efinalidade da avaliação.

2. Nas condições de campo, para a obtenção daárea foliar do feijoeiro sem a retirada das folhas,os métodos da elipse circunscrita e do retângulocircunscrito podem ser utilizados, tomando-seos valores de maior comprimento e maior largurada folha e com as seguintes fórmulas para aobtenção da área foliar:Elipse A = [(π.D.d)/4].0,769, sendo A = áreaem cm2, D = diâmetro maior (cm) e d =diâmetro menor (cm). Para o método doretângulo a área pode ser obtida com a fórmulaA = (C.L). 0,625, sendo C = comprimento(cm) e L = largura do folíolo (cm).

Quadro 5 – Análise de variância da regressão linear entre os métodos do planímetro e retângulocircunscrito. Bandeirantes, 1999.

Figura 2 – Regressão linear entre os métodos do planímetro e retângulo circunscrito. Bandeirantes, 1999.

regressão linear plan x retângulo

y = 0.9903xR2 = 0.9687

0

50

100

150

0 50 100 150X retângulo

Y p

laní

met

ro

Y

Y previsto

Linear (Y)

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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GOMIDE, M. B.; LEMOS, O. V.; TOURINO, D.;CARVALHO, M. M.; CARVALHO, J. G.; DUARTE,C. S. Comparação entre métodos de determinação

CAUSAS DE VARIAÇÃO GL SQ QM F

REG. LINEAR 1 10048,1444 10048,1444 495,96** DESVIOS DA REG. 16 324,1586 20,2599

TOTAL 17 10372,3030

CV = 5,4% ** significativo ao nível de 1%

Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 151-157, jul./dez. 2000 157

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Comparision of determination methods of the leaf area of beans

ABSTRACT

The area determination is basic subject in Cartography, Geography, as well as, the surface measure to foliate it isindispensable parameter in the physiologic, biogeography and agronomic investigations, in the most differentvegetable species, for determination or estimate of the surface photosynthesis activates, perspiration rate, growthcapacity or of production among others. The present work was developed in Fundação Faculdade de Agronomia“Luiz Meneghel” in Bandeirantes, Paraná and had as objectives to analyze the methods of leaf area determinationand to identify the best method adapts to the field conditions, without the sacrifice of leaves or plants of thecultivate on the “carioquinha” bean cultivar (Phaseolus vulgaris Linnaeus, 1753). Worked with the methods of theplanimeter, small square, gravimetric, co-ordinates, leaf integrator (leaflet in natura), leaf integrator (leaflet inphotostatic copy), circumscribed ellipse and circumscribed rectangle. Verified that there was not significantdifference among the used methods and in the field conditions, the methods of the circumscribed ellipse andcircumscribed rectangle are efficient for the evaluation of the leaf area of the culture on the “carioquinha” beancultivate (Phaseolus vulgaris L.).

KEY WORDS: methodology, leaf surface, evaluation, bean.

Notas

Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 161-166, jul./dez. 2000 161

Rede e localidade central:o MST no Noroeste do Paraná

João Edmilson Fabrini *

RESUMOA partir de Querência do Norte articula-se um conjunto de relações entre assentamentos e acampamentos naregião Noroeste/PR. Este centro, representado pela Secretaria do MST e pela Cooperativa de Comercialização eReforma Agrária Avante Ltda (COANA) localizados em Querência do Norte, torna-se um nó na mediação entreos assentamentos/acampamentos e a Secretaria Estadual (Curitiba) e Nacional (São Paulo). Portanto, Querênciado Norte, enquanto uma localidade central, articula-se a um centro de controle e gestiona um determinadonúmero de assentamentos e acampamentos espalhados pelos vários municípios do Noroeste do Paraná, formandoassim, uma rede.

PALAVRAS-CHAVE: assentamentos, localidade central, rede.

* Professor Assistente do Departamento de Geografia da Universidade Estadual do Oeste do Paraná. E-mail: [email protected]

Neste comentário, pretende-se tratar daconstrução de uma rede geográfica a partir dasações do Movimento dos Trabalhadores RuraisSem Terra em Querência do Norte/PR,considerando este município como centro degestão de uma área que abrange 23assentamentos e aproximadamente 25acampamentos de trabalhadores rurais sem-terrano Noroeste do PR.

Este centro, representado pela Secretaria doMST e pela Cooperativa de Comercialização eReforma Agrária Avante Ltda (COANA)localizados em Querência do Norte, torna-se umnó na mediação entre os assentamentos/acampamentos e a Secretaria Estadual e Nacionaldo MST, localizadas respectivamente em Curitibae São Paulo. Portanto, Querência do Norte,enquanto uma localidade central, articula-se a umcentro de controle e gestiona um determinadonúmero de assentamentos e acampamentosespalhados pelos vários municípios do Noroestedo Paraná, formando assim, uma rede.

A rede de localidades centrais se constituicomo uma estrutura territorial capaz dereproduzir as relações de classes sociais, comopor exemplo, a realização da mais-valia, motorda acumulação capitalista. Por outro lado, pode-

se afirmar que a hierarquização de redes delocalidades centrais constitui-se numa forma deorganização espacial elaborada a partir de agentessociais, contestadores da ordem estabelecida.Um conjunto de localizações interconectadaspode se realizar de inúmeras formas.

“Este conjunto pode ser constituído tanto poruma sede de cooperativa de produtores ruraise as fazendas a ela associadas, como pelasligações materiais e imateriais que conectama sede de uma grande empresa, seu centro depesquisa e desenvolvimento, suas fábricas,depósitos e filiais de venda. Pode ser aindaconstituído pelas agências de um banco e osfluxos de informações que circulam entre elas,pela sede da Igreja Católica, as dioceses eparóquias ou ainda pela rede ferroviária deuma dada região. Há, em realidade, inúmerase variadas redes que recobrem, de modovisível ou não, a superfície terrestre.” (Corrêa,1997, p.107).

Assim, propomos a tratar da elaboração deredes articuladas por localidades centrais, nestecaso, MST/COANA de Querência do Norte, apartir da natureza organizativa dos trabalhadores,

162 Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 161-166, jul./dez. 2000

ou seja, da negação de uma sociedade divididaem classes. Se por um lado, o capital constróiuma rede de relações espacializadas no territóriopara viabilizar sua reprodução, os trabalhadorestambém a constroem, no sentido de negar areprodução da sociedade dividia em classes,como fazem no MST.

1. REDE GEOGRÁFICA E LOCALIDADESCENTRAIS

A existência de redes geográficas não é umfato recente e sua formação remonta àAntigüidade. No Império Romano, por exemplo,havia a formação de uma rede geográfica, masnão apresentava elevada complexidade na suaarticulação (verifica-se a formação de uma redesemelhante à rede solar). A frase dita naquelaépoca, de que “Todos os caminhos levam aRoma”, evidencia a centralidade exercida por estacidade, pois todas as estradas do Impériochegavam até a cidade central (Roma). Aorganização espacial dessa rede servia aospropósitos do Império Romano e materializavaas relações sociais e de produção dessa sociedade.

O estudo das redes, constitui-se num temageográfico e foi retomado pelos geógrafosrecentemente, devido à necessidade de secompreender a organização espacial a partir daformação e territorialização das grandes corporaçõesinstaladas nos mais variados locais. Deve-seconsiderar, portanto, que o contexto da globalização“chamou” o geógrafo para discutir a temática dasredes, a partir de novas perspectivas.

O estudo dessa temática teve grande impulsona década de 60, quando estes conhecimentosforam abordados no contexto do surgimento daNova Geografia. Entretanto, já no século XVIII,quando o capitalismo começa a desabrochar,surgiram os primeiros conhecimentos sobre redes,desenvolvidos por pessoas de negócio,principalmente. É importante destacar que osprimeiros estudos sobre redes geográficas não foramdesenvolvidos e discutidos no âmbito acadêmico.

Nos estudos iniciais sobre redes no Brasil,destaca-se o papel de Pedro P. Geiger, MiltonSantos e Roberto L. Corrêa. Estes autoresdesenvolveram e desenvolvem estudos nosentido de investigar as redes geográficas na faseatual do capitalismo, procurando compreendera questão a partir da perspectiva econômica,

social, política e cultural que caracteriza amaterialidade social.

As relações sociais em si não são consideradasobjetos da geografia. São consideradasgeográficas aquelas relações sociais queapresentam dimensão espacial, ou seja, assumemperspectiva de lugares. Assim, não será qualquerrede que se constitui numa rede geográfica. Umarede de parentesco ou um organograma dehierarquia de uma empresa somente serãogeográficos se neles estiver contidos a perspectivade lugar.

Não é rede geográfica ainda aquela que,embora esteja espacializada, se constitui comoobra da natureza, como ocorre com uma redefluvial. Esta se tornará uma rede geográfica apartir do momento em que estiver inserida numconjunto de relações sociais, ou seja, quando arede fluvial tornar-se uma rede de transporte, porexemplo. Segundo Corrêa, as redes podem serconsideradas como “um conjunto de localizaçõesgeográficas interconectadas entre si por um certonúmero de ligações” representadas por fluxos efixos e construída pelas ações humanas (Corrêa,1997, p. 107).

É importante observar que nem todas aslocalidades estão inseridas no emaranhado dasredes de forma homogênea, pois se considera queas relações sociais e de produção no capitalismodesenvolvem-se de maneira desigual, porémcombinadas. Assim, pode-se verificar locais ondeos mercados, por exemplo, estão bem articuladosentre si, como se observa nas redes constituídaspor instituições financeiras localizadas nascidades. Por outro lado, verifica-se localidadeonde se realiza a produção de mercadoriasdestinadas aos mercados locais, ou mesmoprodutos que não podem ser classificados demercadorias, como ocorre nas pequenaspropriedades rurais e produção agrícola nosassentamentos de trabalhadores sem-terra.Evidencia-se assim a formação de redes de baixae de elevada densidade.

A rede urbana constitui-se na rede geográficamais acabada, na qual as cidades desempenhampapel na articulação dos diversos fluxos(mercadorias, pessoas, informações, capitais,etc). Nesta articulação feita pelas cidades,observa-se uma hierarquia entre elas, o que deveser considerada na formação e no estudo dasredes. A partir dessa hierarquia, pode-se falar emlocalidades centrais.

Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 161-166, jul./dez. 2000 163

“Segundo a proposição geral de Christaller, adiferenciação entre as localidades centraistraduz-se em uma região homogênea edesenvolvida economicamente, em umanítida hierarquia definida simultaneamentepelo conjunto de bens e serviços oferecidospelos estabelecimentos do setor terciário epela atuação espacial dos mesmos. Essahierarquia caracteriza-se pela existência deníveis estratificados de localidades centrais,nos quais os centros de um mesmo nívelhierárquico oferecem um conjuntosemelhante de bens e serviços e atuam sobreáreas semelhantes no que diz respeito àdimensão territorial e ao volume depopulação” (Corrêa, 1997, p. 41).

A teoria das localidades centrais foi formuladapor Walter Christaller em 1933, conhecimentoque foi “apropriado” pela nova geografia. Estacorrente de pensamento caracterizou-se por nãoproduzir um estudo crítico sobre a sociedade eseu espaço, constituindo-se em muitos casosnuma ideologia.

Entretanto, repensando a teoria dos lugarescentrais, Corrêa (1997) imputa-lhe sentidohistórico, definindo-a como um fenômenosubmetido às transformações da sociedadecapitalista, a partir de cinco proposições.

“A recuperação da teoria das localidadescentrais é importante porque ela trata de umtema relevante que é o de organização espacialda distribuição de bens e serviços, portanto,de um aspecto da produção e de sua projeçãoespacial, sendo assim, uma faceta datotalidade social. Recuperá-la, porque se tornanecessário enriquecer a visão geográfica dasociedade, isto é, enriquecer nossa compreensãosobre as diferentes formas de espacializaçãoda sociedade” (Corrêa, 1997, p. 17).

2. REDE DE ASSENTAMENTOS E O MSTEM QUERÊNCIA DO NORTE

O Movimento dos Trabalhadores Rurais SemTerra surgiu em 1984, na cidade de Cascavel(PR), quando foi realizado o I Encontro Nacionaldos Trabalhadores Rurais Sem Terra, marcandoo início das articulações das lutas no campo.Neste Encontro foram definidos os princípios,

forma de organização, reivindicação e luta domovimento, podendo-se considerar que marcouo início da formação de uma rede.

Até este ano, as lutas dos trabalhadores sem-terra no Brasil não estavam articuladas e seconstituíam em movimentos isolados comocupações de terra realizadas nos cinco Estadosdo sul do Brasil (SP, MS, PR, SC, RS). Emboraisoladas, havia a participação expoente da CPT(Comissão Pastoral da Terra), criada em 1975,para apoiar as lutas dos trabalhadores no campo.

No Rio Grande do Sul havia ocorrido aocupação das fazendas Macali e Brilhante, emRonda Alta. Em Santa Catarina, se destacam aslutas no Oeste daquele Estado, como porexemplo, a ocupação da Fazenda Burro Branco,no município de Campo-Erê.

Neste mesmo período (final da década 70 einício dos 80), ocorrem lutas no Oeste de SãoPaulo, com destaque para a ocupação da fazendaPrimavera em Andradina. Em Mato Grosso doSul, ocorre a luta de resistência na terra peloscamponeses arrendatários que trabalhavam naderrubada das matas e formação de pastagensnas fazendas localizadas em Naviraí, Itaquiraí eGlória de Dourados, além da ocupação dafazenda Santa Idalina, no município de Ivinhema.É importante destacar, também, para evidenciar osvários focos de lutas desarticuladas, a ação dostrabalhadores brasiguaios, que retornam para o sulde Mato Grosso do Sul, montando acampamentosem vários municípios daquele Estado.

No Paraná, surge a luta dos agricultores queperderam as terras com a construção da barragemde Itaipu, através do “Movimento Justiça eTerra”, que reivindicava a justa indenização dasterras. A experiência das lutas de Itaipu foi basepara o surgimento de um forte movimento deagricultores sem terra no Oeste do Paraná, em1981: o MASTRO.

A partir do Mastro, surgem também outrosmovimentos de agricultores sem-terra no Paraná,como foi o caso do Movimento dos AgricultoresSem Terra do Norte do Paraná (MASTEN),MASTES (Sudoeste), além de outros. Foramorganizadas várias ocupações de latifúndios(Anoni, Cavernoso, Giacomet-Marodin,Imaribo) em vários municípios paranaenses.

Somadas as lutas desenvolvidas em outrosEstados, estas mobilizações desembocaram numgrande Encontro de trabalhadores sem-terra daárea de atuação da Regional Sul da CPT, na

164 Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 161-166, jul./dez. 2000

cidade de Medianeira (PR). Este encontro podeser considerado como um evento precursor parao grande Encontro nacional realizado emCascavel, quando foi fundado o MST. A partir daí,as lutas dos sem-terras se territorializaram no espaçoe o MST passou a desenvolver ações e lutasarticuladas em todo o território nacional. Assim,inicia-se a formação de uma rede nacional do MST.Entretanto, o fato da realização do Encontro deCascavel já evidenciava uma articulação entre aslutas, base para a construção de uma rede geográficaque se afirma a partir de 1984.

As mobilizações na região Noroeste doParaná, onde se encontra o município deQuerência do Norte, não surge neste contextoinicial de articulação das lutas, como áreavinculada às ações de trabalhadores sem-terra,embora aí predominassem os grandes latifúndios.As mobilizações surgem, principalmente, com asocupações das terras do grupo Atalla, Mayrinck,Góes, Jabur, o que contribuiu para queQuerência do Norte se tornasse o principalcentro de lutas no Noroeste do Paraná, a partirdesse período (final da década de 80).

As mobilizações dos trabalhadores sem-terraque se iniciaram a partir da ocupação da fazenda“29 Pontal do Tigre”, resultaram noassentamento de 336 famílias sem-terra(Assentamento Pontal do Tigre). A partir daí, oassentamento foi construído como o principalcentro de lutas no Noroeste do Estado do Paraná.

As mobilizações dos trabalhadores sem-terrano Paraná, que nos anos iniciais estavamconcentrada nas regiões Oeste, Sudoeste eCentro, principalmente, passaram a sedesenvolver no Noroeste, tendo como base aexperiência de luta dos trabalhadores emQuerência do Norte.

As várias ocupações de terras feitas noNoroeste foram na maior parte articulada poreste centro. Querência do Norte não se tornouum lugar importante somente pelo número defamílias de trabalhadores assentadas, mas pelaorganização tanto produtiva como política dessestrabalhadores. A existência de 23 assentamentose cerca de 25 acampamentos/ocupações e suasarticulações interna e externa acabam formandouma rede geográfica.

Figura 1 – Localidade Central (Querência do Norte)

A formação de uma rede geográfica a partirdas articulações dos tem-terras não está vinculadasomente às mobilizações para a conquista da terra(ocupações, caminhadas, atos públicos), mastambém, aquelas que visam organizar a produçãono interior dos assentamentos. Em ambasmobilizações, a cooperativa (COANA –Cooperativa de Comercialização e ReformaAgrária Avante Ltda) e a Secretaria do MSTconstituem-se no centro gestor do processo.

Através da cooperativa é feita a articulação entreos assentamentos e a direção do MST/CCA-PR(Cooperativa Central de Reforma Agrária doParaná), em Curitiba ou em São Paulo.

Atentando para as mobilizações ligadas àprodução agropecuária, aquelas organizaçõesinternas do MST (CPA-Cooperativa de ProduçãoAgropecuária, CCA-Cooperativa Central deReforma Agraria e CONCRAB – Confederaçãodas Cooperativas de Reforma Agrária do Brasil),

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formam também uma rede de relaçõesespacializadas, pois, para a produção se realizarno interior de cada lote do assentamento, acooperativa se faz presente, através da assistênciatécnica, por exemplo. O assentado, em seu lote,está vinculado a um grupo de produção, seja elecoletivo, semicoletivo ou associação.Conseqüentemente, este grupo articula-se coma CPA-Cooperativa de Produção Agropecuáriaou a uma CCR-Cooperativa Central Regional. ACooperativa Regional, neste caso, a COANA,centraliza as atividades em Querência do Nortee vincula-se a CCA, que está sediada em Curitiba.A articulação de todas as Cooperativas Centrais,forma a CONCRAB.

O fluxo de informações e mercadorias,principalmente, entre estas organizações internasespacializadas não diz respeito necessariamenteà produção (agropecuária ou industrial). Aqui, acirculação de informações feita por cada umdestes locais, assume papel importante naviabilização da proposta dos sem-terras.

A partir deste escorço, observa-se a formaçãode uma rede semelhante à rede dendríticacomplexa de localidades centrais. A figura aseguir, refere-se ao sistema cooperativistaabordado. Isso não significa que todas osassentados e cooperativas estejam organizadosdessa forma.

Figura 2 – Sistema Cooperativista (Querência do Norte)

ASSENTAMENTO (Pontal do Tigre)

GRUPOS COLETIVOS

(Copaco, União, etc.)

ASSOCIAÇÕES (Reserva, Capanema, etc.)

COOPERATIVA REGIONAL (Coana)

COOPERATIVA CENTRAL (CCA/Curitiba)

CONCRAB (São Paulo)

Assim, observa-se que a partir de umalocalidade central, ou seja, a Cooperativa ou aSecretaria do MST, instaladas em Querência doNorte, forma-se uma rede de relações sociaisespacializadas. Os grupos coletivos,assentamentos, Cooperativa-Coana, Secretáriado MST-PR, CCA, estão materializados numlugar. Esse, ao estar articulado a outros lugares,imprime sentido geográfico a esta rede derelações, formando assim, uma rede geográfica.

Aparentemente, o estudo sobre a formaçãode redes a partir de ações dos trabalhadores sem-

terra no Noroeste do PR não se constitui comoum tema importante na compreensão desse“fenômeno” social. Evidentemente, esta questão(formação de rede a partir das ações do MST edas cooperativas dos sem-terras), constitui-senum tema importante de estudo, e cabe aosgeógrafos, enquanto cientistas sociais, compreenderestas questões a partir do seu objeto, o espaço.Dessa forma, os estudos sobre tais trabalhadorespoderão diferenciar-se daqueles estudosdesenvolvidos por outros ramos doconhecimento científico, como a sociologia, a

166 Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 161-166, jul./dez. 2000

história, a economia, etc. Assim, os geógrafospoderão desenvolver conhecimentos, neste caso,sobre redes dos sem-terra, a partir da perspectivaespacial. Eis, a importância da geografia.

Dessa forma, este tema, que aparentementeestava distante do recorte de análise da ciênciageográfica se constitui como uma grande questãoa ser desenvolvida, para compreender o papelpolítico da organização dos trabalhadores sem-terras na cooperativa de Querência do Norte.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

As lutas dos trabalhadores rurais sem-terras quese iniciaram com ações isoladas nos Estados maisao sul do Brasil não se constituíam como uma redegeográfica, embora houvesse comunicação entre ostrabalhadores, mediada pela importante ação daComissão Pastoral da Terra.

Verifica-se que a fundação do MST no Brasilem 1984 na cidade de Cascavel resultou danecessidade de uma articulação maior destas

lutas. A partir daí, intensificam-se as relaçõesentre a lutas dos sem-terras, que se materializamem um determinado espaço, permitindo aelaboração de uma rede geográfica doMovimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.

Verifica-se ainda que a territorialização daslutas no espaço permitiu a formação de regiões.Aí, as lutas passaram a ser centralizadas egestionadas por uma localidade central. No casodo Noroeste do Paraná, que se constituiu comouma região de lutas pela terra e também na terra,o centro de gestão é a COANA e a Secretaria doMST instaladas em Querência do Norte. EstaLocalidade Central permite a articulação entre osassentamentos e as relações com a CONCRAB/CCA e Secretaria Nacional e Estadual do MST.

REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

CORRÊA, R.L. Trajetórias Geográficas. Rio deJaneiro: Bertrand Brasil,1997.

Net and central locality: the MST in northwest of Paraná

ABSTRACTFrom Querência do Norte is articulated a whole of relations between settlements and camps in the northwest.This center is represented by of MST Secretariat and by Cooperativa de Comercialização e Reforma AgráriaAvante Ltda (COANA), which are localized in Querência do Norte, it becomes a knot in the mediation betweenthe settlements/ camps and the State Secretariat (Curitiba) and National (São Paulo). Thus, Querência do Norte,While a central locality, articulates to a center of control an conducts a determined number of settlements andcamps, that are spread in many municipal districts of northwest of Paraná; so they formed a net.

KEY WORDS: settlements, central locality, net.

Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 167-171, jul./dez. 2000 167

* Mestre em geografia Física. Docente da Universidade de La Habana, Cuba.

La enseñanza de la Geografía Física en laUniversidad de la Habana

Silvia Diaz García*

RESUMOLa enseñanza de la Geografía Física dentro del marco de la Geografía ha pasado por diferentes etapas cada una delas cuales se ha caracterizado por las tendencias geográficas del momento, así como del desarrollo y evolución delpensamiento geográfico. Siendo la envoltura geográfica del planeta Tierra, por su esencia, el medio natural en elque habita la sociedad humana, constituye el objeto natural de las actividades productivas y la frente de recursosnaturales De modo que la disciplina Geografía Física queda conformada por las asignaturas que representan loscomponentes naturales que quedan integrados en la Geografía de los Paisajes, todas ellas interrelacionadas poruna concepción ecólogo-ambiental. En el presente trabajo hacemos algunos análisis y reflexiones sobre la trayectoriaen la impartición de esta disciplina, así como el comportamiento actual de corrientes y tendencias en su enseñanza,complementado por la experiencia de los profesores y egresados.

PALAVRAS-CHAVE: envoltura geográfica, disciplina Geografía Física, componentes naturales, recursos naturales.ecólogo-ambiental.

La enseñanza de la Geografía Física en laUniversidad de La Habana es relativamentereciente: cuenta sólo con treinta y ocho años devida. Pero vida fecunda y fructífera en la que seha desarrollado activa e intensamente.

A pesar de que la Universidad de La Habanafue fundada en 1728, no es hasta 1934 que el Dr.Salvador Massip creó la cátedra de Geografía,adscrita en aquel entonces a la Facultad de Filosofiay Letras, en la que trabajan cuatro docentes. Seformaba un doctor en Filosofla y Letras que, en elúltimo año, podía optar por cursar cuatroasignaturas que le permitían especializarse enGeografía e Historia. Estos egresados ejercian laprofesión en la enseñanza de nivel medio.

Punto culminante en el desarrollo de laGeografía lo constituye la promulgación de laReforma Universitaria el 10 de Enero de 1962.El análisis realizado en ocasión de la ReformaUniversitaria de 1962 evidenció que las carrerasexistentes hasta entonces no satisfacían lascrecientes demandas del desarrollo,corroborandose la existencia de un divorcio entrela formación de los especialistas y las necesidadesdel país, evidenciándose de manera concreta enlos planes y programas de estudio.

Es entonces que se decide la creación, en

1962, de la carrera de Licenciatura en Geografía,con el objetivo, entre otros, de ayudar a satisfacerlas necesidades del país, mediante la formaciónde geógrafos profesionales con un alto nivelcientifico. Y, a la vez, se creó la Facultad dePedagogia (actualmente Instituto SuperiorPedagógico) para satisfacer la enseñanza de laGeografia en los niveles primario y secundario.

Y así nace, en 1962, la Escuela de Geografía enla Universidad de La Habana, adscrita a la facultadde Ciencias y único centro en todo el país donde seformarían geógrafos de nivel superior. El primer plande estudios tenia una duración de cuatro años y lasasignaturas se agrupaban en Geografía Física yGeografía Económica. Si en 1962 trabajaban atiempo completo cinco docentes, ya en 1976laboraban dieciseis profesores, de ellos doceegresados de la propia escuela.

Se comenzaron las investigaciones científicasque contaban no sólo con la participación deprofesores, sino también de los estudiantes. Fuede gran valor el estudio de las condicionesgeográficas de los macizos montañosos SierraMaestra y de la Sierra del Rosario entre 1967 y1969, los que sirvieron de pauta para laelaboración de los primeros planes de ordenamientoterritorial para esas regiones.

168 Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 167-171, jul./dez. 2000

Hasta 1972, la Escuela de Geografía recibióla colaboración de especialistas, particularmentede Francia. Luego predominó la colaboración conprofesores de la entonces Unión Soviética.Paralelamente, los egresados, profesores de laescuela comenzaron a realizar estudios superioresobteniendo todos el grado científico de Doctoresen Ciencias Geográficas.

Este desarrollo de la investigación científica,así como en la superación profesional constantede los profesores, llevó aparejado unatransformación rápida de los planes de estudio,motivado, además por las necesidades quesolicitaban diferentes instituciones de nuestrosegresados (Cuadro 1).

Cuadro 1. Trayectoria de la posición ocupada por la Facultad de Geografía en la Universidad de La Habana.

1962 1979-80

Facultad de Ciencias Escuela de Geografía

Dominio Ciencias Naturales Facultad de Geografía

6 Planes de Estudio

Geog. Físicos Geog. Económicos

Geog. Físicos Geog. Económicos

Geog. Físicos Geog. Económicos Geog. Oceanógrafos Geog. Cartógrafos

1934 Facultad de Filosofía y Letras

Cátedra de Geografía

1980 2000

Ciencias Naturales Facultad de Geografía Departamentos

Geografía Física Geografía Económica

Colectivos de Asignaturas

2 plannes de estudio

1990 2000

Ciencias Naturales Facultad de Geografía

Disciplinas Ø Geografía Física Ø Geografía Económica Ø Geografía Regional Ø Cartografía y SIG Ø Fundamentos y Métodos de

la Investigación geográgica

Equipos de Investigación Ø Geoecología, Paisajes y Turismo Ø Estudios de Medio Rural Ø Estudios de Geografía Urbana Ø Estudios de Cuencas y

Agroclimatología

1 plan de estudio

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Es de esta manera que en 1978 se tenía unambicioso plan de estudios caracterizado porespecializaciones dentro de la Geografia,formándose geógrafos en cuatro especialidades, asaber: Geógrafo Físico, Geógrafo Económico,Geógrafo Cartógrafo y Geógrafo Oceanógrafo. Yde cuatro años, la carrera se extendió a cinco años.

En esos años la especialización en GeografíaFísica impartía treinta y dos asignaturas veintitresde ellas de Geografia Física propiamente, y lasotras repartidas entre otras disciplinas comoFilosofía, Matemática, Estadística, Física,

Química, Idioma y Educación Física. Además,se realizaban prácticas de campo, a través de lascuales los alumnos desarrollaban losconocimientos adquiridos mediante clases yconferencias, así como hábitos y habilidades enel campo práctico del geógrafo, poniendose encontanto con las realidades y necesidades de lasociedad. Estas horas dedicadas a este tipo dedocencia no se incluyen en el total de lasasignaturas propias de la especialidad quesumaban 2.023 horas, frente a un total de 3425horas (Cuadro 2)

Cuadro 2 – Especialidad: Geografía Física. Plan de Estudio, 1978

En 1976 se crea el Ministerio de EducaciónSuperior lo que conlleva a una reestructuracióngradual de sus dependencias. Y en 1979 la escuelapasa a constituirse en Facultad de Geografíacomo resultado de la consolidación de suprincipal función, la de formar geógrafosprofesionales de alto nível científico. Habiacrecido el claustro de profesores, aumentado elnúmero de estudiantes, extrajeros inclusive, se

reconocía la importancia del trabajo desarrolladopor los egresados en diferentes instituicionescientíficas, de producción y de servicios; crecióel número de profesores con grados científicos ydocentes, aumentó la cantidad de trabajos deinvestigación vinculados a tareas nacionales, asícomo las publicaciones.

La nueva Facultad mantiene los dosdepartamentos más fuertes, alrededor de los cuales

Nº Asignaturas Año en que se cursa

Semestre Total horas

1 Geografía física general 1º

1º y 2º

224

2 Geología general

145

3 Topografía 2º 3º 140

4 Cartografía 2º 4º 100

5 Introducción a la computación 3º 55 64

6 Meteorología 3º 55 64

7 Geomorfología 3º 55 74

8 Climatología 3º 6º 64

9 Suelos 4º 7mo 48

10 Biogeografía 4º 7mo 48

11 Oceanografía 4º 7mo 64

12 Fotointerpretación 4º 7mo 30

13 Geografía de los suelos 4º 8vo 88

14 Ampliación de la Geología 4º 8vo 90

15 Ampliación de Biogeografía 4º 8vo 68

16 Morfología cársica 4º 8vo 80

17 Hidrología 55 9no 68

18 Métodos de investigación geomorfológica 55 9no 80

19 Geografía física de Cuba 55 9no 144

20 Geografía física de los continentes 55 9no y 10mo 96

21 Geomorfología aplicada 55 10mo 48

22 Aguas subterráneas y balance hídrico 55 10mo 100

23 Geografía de los paisajes 55 10mo 32

24 Geografía económica de Cuba 55 10mo 64

170 Geografia, Londrina, v. 9, n. 2, p. 167-171, jul./dez. 2000

se agrupan disciplinas que a su vez están integradaspor colectivos de asignaturas. El Departamento deGeografía Física contiene las disciplinas deGeografia Física, la de Geomorfología y la deHidroclimatología. De hecho, esta subdivisiónsembró la semilla de lo que más tarde seconstituirían en equipos de inestigación.

A partir de 1982-83 queda transformado elplan de estudio, eliminándose las especializacionesa favor de la promoción de un geógrafo de perfilamplio, que tenga un profundo dominio en laformación básica, de la profesión y que sea capazde resolver los problemas que se le presentaranuna vez graduado. Para ello, el plan de estudioscombina tres tipos de actividades docentes: lade carácter académico, la de carácter laboral y lade tipo investigativo. Estas actividades seestructuran en sentido horizontal, actividadesrealizadas durante un curso académico y lasorganizadas verticalmente, es decir, lasestructuradas a través de todos los años de la

carrera, conformadas en las disciplinas encorrespondencia con los objetivos que encierra.Las actividades académicas se rigen por lasdisciplinas mencionadas; las de carácter laboralestán relacionadas con trabajos que realizan losestudiantes en centros laborales vinculados alquehacer geográfico y que pueden estar ligadosal trabajo científico de los estudiantes mediantetrabajos de curso y diploma que realizan en lapropia faculdad o en los centros citados.

Comenzando la década de los noventa,comienza un nuevo plan de estudio, el C que serevisa y mejora en 1998/99. La Facultad adopta laestructura de las disciplinas docentes para el trabajoacadémico y la de equipos de investigación para eltrabajo científico investigativo.

De tal estructura surgen seis disciplinasgeográficas, la Geografía Física entre ellas, con diezasignaturas (Cuadro 3), con un total de 700 horas,que no incluyen las prácticas de campo.

Cuadro 3 – Disciplina Geografía Física. Plan de estudios C y C’. 1990-2000

Este conjunto de asignaturas, de maneragradual, introduce al alumno en el estudio de laGeografía Física para pasar al estudio de loscomponentes del medio geográfico en su doblecarácter de recursos naturales, a la vez que los vaintegrando, hasta llegar a la Geografía de losPaisajes que integra la interacción entre todoslos componentes.

Con este plan de estudio se pone en práctica laconcepción de brindarle al especialista un perfilamplio mediante el cual las asignaturas dotan alalumno de las herramientas básicas, proveyéndoles

a la vez, de hábitos y habilidades adquiridos a travésde los medios activos de enseñanza, así como delestudio individual e independiente.

Toda esta concepción posibilitó la reducción enhoras de las asignaturas de la disciplina y laeliminación de las asignaturas dedicadas al estudiode las características de los componentes para elterritorio de Cuba. Por otro lado se crearon otrasdisciplinas geográficas con asignaturas que tienenun carácter integrador en el análisis de loscomponentes y recursos de los sistemas territoriales,asumiendo además los métodos de evaluación.

Asignaturas Año em que se cursa

Semestre Total horas

1 Geografía Física General 1º 1º 64

2 Geología General 1º 2º 96

3 Geomorfología 2º 3º 80

4 Meteorología-Climatología 2º 4º 80

5 Pedología y Geografía de los Suelos 2º 4º 80

6 Hidrología 3º 5º 64

7 Geografía Física del Carso 3º 5º 48

8 Biogeografía 3º 5º 64

9 Geografía de los Paisajes 3º 6º 48

10 Oceanografía 4º 7mo 64

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La disciplina de Geografía Física se ha trazadoseis objetivos generales dentro del plan de estudiosde la carrera que a su vez parte del “modelo delprofesional”, de modo tal que pueda cumplir sufunción dentro del sistema de Ciencias Geográficas.

Estos objetivos generales son:1. Adquirir los conocimientos, hábitos y

habilidades en el estudio e investigación delos componentes naturales, como condicióny recurso, y de los complejos físico-geográficos,que propicien su formación científica integral,que contribuya a resolver las tareas prácticasplanteadas, así como problemas concretos deldesarrollo socio-económico y de la defensadel país.

2. Continuar desarrollando la capacidad y elhábito de adquirir conocimientos y habilidadesde forma independiente y permanente,elevando así su preparación en todos losórdenes.

3. Desarrrollar la capacidad de razonamientoabstracto, de análisis, síntesis y formas derepresentación cartográfica y puedan asimilarlas formas del pensamiento lógico, sustentadosen el desarrollo del enfoque físico-geográficocomo elemento de base para la transformaciónde los sistemas medioambientales.

4. Desarrollar una convicción ética acerca delrigor y la honestidad científica en la realizaciónde tareas e investigaciones así como tambiénla convicción que les permita apreciar yevaluar la belleza de la naturaleza como fuentede valores estéticos, tanto para su utilizacióncomo para su protección.

5. Conocer y utilizar los rasgos específicos de lasdiferentes esferas geográficas y de la envolturageográfica del planeta como sistema integraly complejo, así como cada una de ellas en laformación, diferenciación, desarrollo ydinámica de la envoltura geográfica.

6. Aplicar adecuadamente los métodos físico-geográficos en las investigaciones depropiedades, diferenciación a distintosniveles, composición, estructura, dinámica yevolución de los componentes y complejosfisico-geográficos, haciendo uso de lasrepresentaciones cartográficas, mediosautomatizados, idiomas, informaciónestadística y bibliográfica necesarias para laejecución de las tareas planteadas.

BIBLIOGRAFÍA

ARCHIVOS. FACULTAD DE GEOGRAFÍA.UNIVERSIDAD DE LA HABANA 1999. Programasy Planes de Estudios. Carrera: Licenciatura enGeografia, 1999.

ALGUNOS datos sobre la Facultad de Geografía. In:ENCUENTRO NACIONAL DE GEÓGRAFOS, 1,1979, La Habana. La Habana, 1979.

LA FACULTAD de Geografía en el XX Aniversariode su Fundación. Facultad de Geografia. Universidadde La Habana. La Habana, feb. 1982.

RUA, A.; MATEO, J.; LAZO, A. El Desarrollo de laGeografía en la Universidad de La Habana. Facultad deGeografia. La Habana: Universidad de la Habana, 1989.

Teaching of physical Geography at the Habana University

ABSTRACT

Geography tendencies as well as development of geographical thought marked the organization of Physical Geographyknowledge. Earth surface environment or better, natural environment is the human life locus and space of productionactivites. Physical Geography as discipline share natural contents of Landscape Geography, all related and underenvironmental and ecological conception. The subject of this article is to analyse the development of this discipline,current tendencies, and teachers’ and students’ experience at Habana University, Cuba.

KEY WORDS: geographical environment, phisical Geography, natural resources, ecological-environmental.

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GEOGRAFIARevista do Departamento de Geociências

INSTRUÇÕES PARA PUBLICAÇÃO

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4.1 Artigos: compreende textos que contenham relatos completos de estudos e pesquisas, matéria decaráter opinativo, revisões da literatura e colaborações assemelhadas (no máximo 40 páginas);

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4.3 Resenhas: compreende a apreciação e análise crítica e interpretativa de obras recém-lançadas,cabendo ao resenhista toda a liberdade de julgamento (no máximo 4 páginas).

5. As opiniões emitidas pelos autores dos artigos são de sua exclusiva responsabilidade.

6. As provas tipográficas não serão enviadas aos autores.

7. Os autores e co-autores receberão um exemplar da revista.

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podendo-se usar negrito, itálico, sublinhado, sobescrito e subscrito;d) apresentar o texto em um único arquivo; com exceção das ilustrações que devem ser em arquivos

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Título: deve ser em português, com versão para o inglês

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As colaborações devem ser enviadas, acompanhadas de carta de encaminhamento, para o endereço:Geografia: Revista do Departamento de GeociênciasUniversidade Estadual de LondrinaCentro de Ciências ExatasDepartamento de GeociênciasCampus Universitário s/nCaixa Postal 600186.051-990 Londrina, Paraná

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