revista formação, sujeitos & práticas - ano 1 - nº 2
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Segunda edição da Revista Formação, Sujeitos & PráticasTRANSCRIPT
Ano 1nº 1
Prefeitura de Belo Horizonte
Secretaria Municipal de Educação
Coordenação Geral
Dagmá Brandão Silva
Equipe Técnica
Adalgisa MatosGeraldo LaraGláucia VieiraMaria Célia da CunhaMaria Aparecida de AlmeidaSandra de Lacerda
Revisão
Tadeu Rodrigo Ribeiro
Projeto gráfico e diagramação
Gustavo Rocha de Souza
Fotos
Equipe do projeto 3º Ciclo Sujeitos & Práticas
Revista Formação - Sujeitos & Práticas
Publicação: Biblioteca do Professor/Equipe do 3º CicloE-mail: [email protected] Fone: 3277-8854
Para localizar, acesse: intranet da Educação>Publicações>Revista FormaçãoSujeitos & Práticas, ou acesse o link:http://issuu.com/sujeitos_praticas_smedbh/docs/revista_sujeitos_praticas#embed
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SumárioAPRESENTAÇÃO
ENTREVISTA
Divulga aí Professor!
Fala aí Estudante!
LABORATÓRIOS EM AÇÃO
LA Educação Física
LA Aprendizes da Ciência
RELATO DE PRÁTICA
Relato de Experiências de Leitura para o 3º Ciclo
Relato de Experiência da 2ª Jornada Literária da RME - 2012
“Sons, Cores, Imagens e Sabores: Áfricas no Brasil”
Memória - História
SEÇÃO BIBLIOTECA
NOSSA AGENDA
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No segundo número da revista Formação Sujeitos & Práticas, buscamos dar
continuidade à divulgação de práticas exitosas de professores e demais profissionais da
educação no 3º ciclo do ensino fundamental da Rede Municipal de Educação de Belo
Horizonte. Os artigos e relatos apresentados referem-se a projetos e trabalhos educativos
desenvolvidos durante o ano letivo de 2013.
Na seção Entrevista, destacamos o diálogo de dois professores e de um estudante da
Escola Municipal Murilo Rubião no qual falam do trabalho interdisciplinar desenvolvido na
escola e que possibilitou a participação e apresentação na 3ª FCC&T.
Na seção Laboratórios em Ação, o artigo “Saberes, Conhecimentos e Sentidos
Vivenciados na 3ª Feira de Ciências, Cultura & Tecnologia da Rede Municipal de Educação
de Belo Horizonte” traz uma exposição da 3ª FCC&T e das conquistas alcançadas nessa
ação pedagógica com o ensino de ciências e o trabalho nas outras disciplinas na
perspectiva da pesquisa e investigação. Em seguida a este artigo, o hiperlink remete aos
resumos dos trabalhos expostos na 3ª FCC&T enviados pelos professores e às resenhas
elaboradas pelos avaliadores dos trabalhos.
Ainda nesta seção, o artigo “Diálogos entre a Educação Física e as Crianças e os Jovens no
Cotidiano da Escola” destaca a necessidade de um movimento contínuo na busca de
soluções para o trabalho educativo com os adolescentes do 3º ciclo, problematizando o
papel da Educação Física para o alinhamento de uma concepção do seu ensino, que
prioriza a construção de sentidos, a troca, a vivência, a inclusão, o respeito às diferenças
de gênero, ou até “as mais sutis: moral, estética, cognitiva e ética”.
Na seção Relato da Prática, apresentamos a trajetória da auxiliar de biblioteca Zenaide
Corrêa da Silva, da Escola Municipal Profª Maria de Mazarello, na 2ª Jornada Literária
2012, cujo tema foi Sons, Cores, Imagens e Sabores: Áfricas no Brasil. Há, ali, também
um relato do grupo de funcionárias da biblioteca da Escola Municipal Maria Assunção de
Marco sobre sua mobilização em função do tema da 3ª Jornada Literária, Histórias de
Famílias, para motivar os estudantes do 3º ciclo. Fecha a seção uma breve narrativa da
bibliotecária Gláucia Grossi, da Escola Municipal Santos Dumont, sobre como descobriu
maneiras de envolver estudantes do 3º ciclo nos processos de leitura.
Na Seção Biblioteca, apresentamos uma seleção de livros indicados para a formação de
professores e um hiperlink com uma intensa lista de livros literários indicados para
trabalhar com os adolescentes.
Confira ainda a Agenda das ações futuras do Projeto 3º Ciclo para 2014.
Dagmá Brandão Silva
Apresentação
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EntrevistaDivulga aí Professor!A Revista eletrônica Formação - Sujeitos & Práticas pretende ser
um canal de divulgação das práticas e reflexões do cotidiano dos
profissionais da educação, especialmente dos professores do 3º
ciclo. Durante a 3ª Feira de Ciências, Cultura & Tecnologia, os
professores Fernando Rezende e Sandra Breder, da Escola Municipal
Murilo Rubião, apresentaram, numa perspectiva interdisciplinar, os
trabalhos realizados por eles com seus estudantes do 9º ano. Em
visita à escola no momento de certificação e confraternização com
os 50 estudantes que participaram da III Mostra de Informática e
da 3ª Feira de Ciências, Cultura & Tecnologia nas fases escolar e
municipal, conhecemos um pouco mais do trabalho e de seus
estudantes.
Formação - Sujeitos & PráticasVocês organizaram a 3ª Feira de Ciências, Cultura eTecnologia da EMMR e a III Mostra de Informática da EMMR,em que estes trabalhos se diferenciam e qual é o ponto emcomum entre eles?
Fernando Rezende
A III Mostra de Informática, que aconteceu, no dia 21 desetembro, na escola, é um projeto que une a informática com todasas demais disciplinas da escola. Há atividades para estudantes detodo o 3º ciclo. O ponto em comum é que os grupos de alunos sãoos mesmos das aulas de Informática e das aulas de Ciências, porexemplo, porém a parte de pesquisa, construção da proposta eapresentação em slides ficou com a Informática ao passo que aparte de construção de trabalhos para exposição ficou por conta daCiências. A fase escolar da 3ª Feira de Ciências, que aconteceu nodia 29 do mesmo mês, deu visibilidade a todos os trabalhos criadose apresentados pelos nossos estudantes. Há trabalhos de LínguaPortuguesa, Matemática, Inglês e Artes. O planejamento de 2013
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foi assim definido: 7º ano - Língua Portuguesa e Artes; 8º ano -Matemática, Inglês e Artes; e 9º ano - Ciências.
Sandra Breder
O mundo tornou-se globalizado, tendo como idioma universal atecnologia. Atualmente, a informática é a principal ferramentatecnológica das massas e relevante no processo educacional.Nossos educandos nasceram na era dos espaços, dos temposvirtuais e é neles que aprenderam a viver e vivem comnaturalidade.
As ciências, de um modo geral provocadoras de coceirinhas nasideias, encantam, intrigam e movimentam a busca peloconhecido “desconhecido” e, assim, estimulam os trabalhosescolares de jovens cientistas.
Atualmente, somos adultos e crianças "conectados" 24 horas e,concorrendo com a realidade em que o relógio marca o tempoem horas, é inimaginável que o ensino de Ciências não seprontificasse em acompanhar essa nova revolução. Daí, Ciênciase Informática se interagem, se unem e juntas avançam namelhoria da qualidade da educação básica, por simplesmenteassim serem consideradas.
Formação - Sujeitos & PráticasComo aconteceu a interdisciplinaridade?
Fernando Rezende
A interdisciplinaridade vem acontecendo desde o início doprojeto, em 2006. A Informática em todo momento visaapresentar, dentre outros objetivos, os recursos que o professortem e aqueles que podem servir de metodologias de ensino comapoio da tecnologia. A parceria com Ciências ficou maisfrequente nas turmas de 9º ano por terem o foco nas Feiras deCiências da PBH, porém já houve exposição de trabalhosparceiros com Língua Portuguesa (produção de livrinhos),Matemática e Inglês (exposição de quadros).
Sandra Breder
A afinidade entre as duas disciplinas não é diferente das outras.Na verdade, a interdisciplinaridade se faz quando o educador
Entrevista: O uso da tecnologia na e da educação em diálogo com a engenharia pedagógica
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estimula ou se sente estimulado a praticá-la. Entre umaconversa e outra em meio aos diversos ambientes escolares comos alunos, por meio de relatos do cotidiano, das trocas deexperiências ou convite a presenciá-las, o desejo de planejar, deampliar os conhecimentos e as suas aplicações singelamenteocorrem. O que importa para nós é possibilitar ao aluno o fazeracontecer na busca do conhecimento, preferencialmente pormeio das interações entre eles e deles com os diversos meios.
Formação - Sujeitos & PráticasQuais foram as ferramentas digitais que você utilizou noprocesso de ensino e aprendizagem? Dê um exemplo desua mediação.
Fernando Rezende
O instrumento mais usado com certeza é o computador, porémjá usamos a câmara fotográfica e filmadora. Outro aparelho degrande uso é o projetor. Um exemplo de sua utilização está notrabalho parceiro entre Informática e Língua Portuguesa:“Produção de Textos na Informática”. Nele, houve um combinadoentre as disciplinas: os alunos foram convidados a produzirtextos em sala de aula, escrevendo-os em seu caderno; e, naaula de informática, digitando-os. Depois de digitado, eram lidosda exibição com o uso do data show para toda a turma. Aomesmo tempo em que era lida a produção do aluno, o professorcomentava os pontos em destaque. Depois de lidos todos, osestudantes eram convidados a reparar seus erros; e, em algunscasos, até mesmo a produzir outro, para depois fazer oacabamento final e, em seguida, a formatação com o uso doseditores de textos. Os melhores trabalhos viraram pequenoslivros.
Formação - Sujeitos & PráticasNa Mostra de Informática, você apresenta produção detextos em parceria com a Língua Portuguesa; edição delistas em parceria com Geografia e Ciências; edição detabelas em parceria com História; edição de folders emparceria com Arte; edição de quadrinhos em parceria coma Língua Portuguesa. Como acontecem essas parcerias?
Fernando Rezende
A parceria com a Língua Portuguesa está relatada na pergunta 3,
Entrevista: O uso da tecnologia na e da educação em diálogo com a engenharia pedagógica
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porém as demais foram feitas informalmente. Como o tempo daInformática é pequeno em relação às demais disciplinas (1 aulapor semana), todo o projeto de parceria é pensado para sertrabalhado ao longo do trimestre. A construção de tabelas elistas foram aulas ensinadas no momento de transição entretrimestres. A construção de quadrinhos está sendo planejada eexecutada em parceria com Artes, assim como Ciências.
Formação - Sujeitos & PráticasQuais são os indicadores de sucesso do trabalhodesenvolvido com seus estudantes apresentados na IIIMostra de Informática?
Fernando Rezende
Acredito que o reconhecimento de alguns professores e onúmero de comentários positivos realizados pelos visitantes na3ª Feira de Ciências, Cultura & Tecnologia da PBH, realizada noParque Municipal, são indicadores marcantes. A direção daescola pedindo para que se continue com o projeto em 2014 éoutro forte indicador. Porém, o mais importante é a reação dosalunos em sala de aula. Grande parte mudou de postura aoreconhecer a importância da disciplina e da contribuição docomputador no ambiente escolar.
Sandra Breder
Os resultados do Avalia BH na disciplina Ciências dos últimostrês anos, com os quais a escola se mantém com médiassuperiores às das escolas da sua Regional e à da RegiãoMetropolitana de Belo Horizonte e que indicam a cada ano umaelevação no nível avançado; o envolvimento dos alunos, tanto osdiretamente quanto os indiretamente envolvidos com as feiras; eos conceitos nas disciplinas envolvidas. Todos esses indicadoresapontam um crescente interesse e ajudam a comprovar osucesso do trabalho interdisciplinar desenvolvido nas Feiras deCiências.
Formação - Sujeitos & PráticasQuais são os pontos que precisam melhorar em relação àrealização de feiras e mostras tanto na fase escolarquanto na fase municipal?
Entrevista: O uso da tecnologia na e da educação em diálogo com a engenharia pedagógica
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Fernando Rezende
Tivemos reconhecimentos consideráveis no ambiente escolar,contudo é preciso ainda aumentar a participação e envolvimentodo grupo de professores. Sem dúvida alguma, a fase escolar éimportante. Nossos alunos, assim que são selecionados para afase municipal, ficam superinteressados em fazer seus trabalhoscada vez melhores. Uma premiação adequada ajudaria noincentivo aos projetos futuros. O Projeto 3º Ciclo é de sumaimportância para recuperar o gosto de frequentar a escola.Gosto tão necessário para melhorar o aprendizado de nossosestudantes.
Sandra Breder
As inovações - tanto por parte da Rede Municipal, quanto porconta da unidade escolar - são esperadas e, por vezes,surpreendentes. Às vezes, nos vemos “sozinhos”, outras vezescobrados e advertidos, por vezes elogiados e estimulados. Enfim,trabalhar com um cronograma de ação acertado e respeitadodesde o princípio do ano é o passo principal. Para sersatisfatório, o projeto tem que dar sua arrancada com os alunosjá na primeira etapa do ano letivo. É fundamental planejar comos administradores, coordenadores, auxiliares, docentes ediscentes diversos, de forma a respeitar os calendários, espaços,trabalhos e tempos de cada um. Os quesitos divulgação dosvencedores e a premiação são o carro-chefe das duas fases esão supervalorizados pelos educandos e estimuladores daautoestima deles. Portanto, precisam acontecer de forma maisdinâmica na Rede Municipal.
As rodas giram e geram movimentos que se valorizam a cada
giro, que gerarão e girarão novas rodas.
Entrevista: O uso da tecnologia na e da educação em diálogo com a engenharia pedagógica
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Entrevista: O uso da tecnologia na e da educação em diálogo com a engenharia pedagógica
Formação - Sujeitos & PráticasPara você, o que é aprender?
Alacyr
Aprender é estar a cada dia descobrindo coisas novas e tendomais sabedoria das coisas que não sabia.
Formação - Sujeitos & PráticasO que você tem aprendido nas aulas de informática quecontribuiu com as outras disciplinas?
Alacyr
As aulas de informática sempre envolvem outras disciplinascomo Inglês, Ciências, Geografia Matemática, Língua Portuguesae outras. A Informática envolvendo outras disciplinas ajudamuito na hora do aprendizado na sala de aula.
Formação - Sujeitos & PráticasPensando nas tecnologias, o que você ainda não sabefazer e gostaria de aprender?
Alacyr
A tecnologia sempre fornece coisas novas para aprender. Mesmoquando achamos que já estamos sabendo tudo sobre tecnologia,vem algo novo e curioso para aprender. Eu gostaria de aprendersobre a tecnologia de funcionamento das placas de comandoinfravermelho.
Formação - Sujeitos & PráticasDo que você já aprendeu, o que você consegue ensinarpara os colegas?
Alacyr
O que eu já aprendi sobre a tecnologia é que algumas coisas são
EntrevistaFala aí Estudante!Alacyr é um estudante do 9º ano da Escola Municipal MuriloRubião e participou dos trabalhos desenvolvidos pelosprofessores Fernando e Sandra.
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simples de explicar, mas algumas coisas não são. Mas, comcalma, consigo alcançar um bom resultado.
Formação - Sujeitos & PráticasO que você aprendeu com o trabalho desenvolvido naFeira de Ciências?
Alacyr
Com o trabalho da Feira de Ciências, aprendi que todos ostrabalhos têm de ser feitos e refeitos. Porque, mesmo achandoque o trabalho está bom, ainda tem muito para desenvolver noprotejo. Mas é bom participar de uma feira de ciências e deinformática porque aprendemos, a cada dia, mais coisas novas!
Laboratóriosem ação
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Diálogos entre aEducação Física e ascrianças e os jovensno cotidiano daescola
Túlio Campos1
Atualmente, constatamos
um sentimento de grande
inquietação e indignação
ante as transformações que
vêm ocorrendo na sociedade
contemporânea e seus efeitos sobre a vida, a cultura, o trabalho
e as relações sociais. O neoliberalismo e a nova ordem
econômica vêm acarretando uma série de consequências
alarmantes na vida dos sujeitos. Vários exemplos da presente
crise social podem ser observados, como a crescente fragilização
dos laços conjugais, a explosão urbana com todas as dificuldades
decorrentes de viver em grandes cidades, a valorização da vida
privada e a globalização cultural.
Na vida cotidiana, ponderamos que o contexto atual tem
suscitado o embrutecimento das relações sociais, em decorrência
da forma assumida pela expansão capitalista, como pode ser
averiguado nos infindáveis e espantosos fenômenos de tensão e
de violência expressos nas diversas linguagens midiáticas.
Por sua vez, a perplexidade e a apreensão tomam conta do
nosso cotidiano. Em decorrência de inúmeras transformações
políticas, econômicas, culturais e sociais, em um curto espaço de
tempo, os sujeitos são incessantemente impulsionados a lidar
Laboratório de Aprendizagem
Educação Física
1 Mestre em Lazer pela Escola de Educação Física, Fisioterapia e Terapia Ocupacional -
EEFFTO/UFMG. Docente do Curso de Educação Física do Centro Universitário de Sete
Lagoas - UNIFEMM. Professor de Educação Física da Rede Municipal de Belo Horizonte,
na Escola Municipal Maria da Assunção de Marco. Contato: [email protected].
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com um ritmo de vida no qual o consumo ganha papel central
em suas vidas, um “incondicional apreço pela novidade” (Pereira,
2002). Desde a Revolução Industrial, beneficiado pelo ideário da
modernidade, de superação, de eficiência e de progresso, o
capitalismo, nas suas entranhas, tem gerado relações de
produção e consumo.
Diante disso, na contemporaneidade, vivemos num ritmo de vida
incessante, marcado pela era da velocidade, na qual a “avidez
pela novidade” (Pereira, 2002) constrói novas formas de
experimentar o mundo, “uma realidade instável e fragmentária”
(SARLO, 2000, p. 30). Nesse aspecto, as relações pessoais e as
ações dos sujeitos se metamorfoseiam em atos pautados na
“efemeridade”, na “superficialidade” e na “trivialidade” (Pereira,
2002). Considerando as palavras de Pereira e colaboradoras
(2007, p. 101), “hoje, as relações que mantemos com as coisas
- e também com as pessoas - conferem marca ao tempo em que
vivemos: relações fugazes, flexíveis, dinâmicas e descartáveis”
(p. 101).
Bauman (2001) aponta que os processos de individualização da
sociedade vêm causando o enclausuramento dos sujeitos em
relações pautadas no desrespeito ao outro e na intolerância a
diversidades. Para o autor, estamos vivendo na sociedade do
medo, em que as pessoas estão no estado da “mixofobia”, ou
seja, o medo de se misturar, consequentemente mais
vulneráveis aos processos de violência que tendem a aumentar.
Esse quadro deixa-nos apreensivos e impulsionados a
compreender e buscar caminhos para esse universo que compõe
o cotidiano de nossas vidas, das nossas relações sociais e,
concomitamente, das instituições que se propõem a transformar
essas realidades. Nesse cenário, que papel cabe à educação das
crianças e dos adolescentes? Que papel cabe à Educação Física?
Discorrer acerca desses questionamentos é desafiador, uma vez
que, não raro, fica a sensação de que as instituições vêm
negando o que é de sua autoria: formação de sujeitos capazes
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não apenas de se adaptar à sociedade em que vivem, mas de
transformá-la e reinventá-la (CALDEIRA, 2001). A Educação
Física se insere num plano de reflexão acerca dessas diferentes
problemáticas, estando atenta à atualização das demandas
socioculturais, uma vez que, entre suas finalidades, juntamente
com a escola, inscreve-se, além da produção e socialização do
conhecimento, precisamente a crítica das formas de organização
da cultura (TABORDA DE OLIVEIRA; OLIVEIRA; VAZ, 2008).
Para tal, proponho, neste momento, pensarmos a educação a
partir do par experiência/sentido, como nos sugere Bondía
(2002). Segundo o autor, costuma-se pensar a educação a partir
de dois pontos de vista: da ciência e técnica e da teoria e
prática. No primeiro, as pessoas que trabalham com educação
são concebidas como sujeitos técnicos que aplicam com maior
ou menor eficácia as diversas tecnologias pedagógicas
produzidas, remetendo a uma perspectiva positiva e retificadora.
Já no segundo ponto de vista, essas mesmas pessoas aparecem
como sujeitos críticos que se comprometem, com maior ou
menor êxito, com práticas educativas concebidas na maioria das
vezes sob uma perspectiva política. Todavia, para Bondía, esses
dois pontos não conseguem sustentar outra perspectiva de
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educação que vá além daquilo que vem sendo posto nas últimas
décadas no campo pedagógico, distinguindo a formação entre os
chamados técnicos e os chamados críticos.
Não raro, temos deparado com um enorme contingente de
políticas educacionais que concebe a educação/conhecimento
como uma acumulação de saberes que possibilita os educandos
“raciocinar”, “calcular”, “medir”, “testar” ou “argumentar”.
Dayrell (1996) alerta sobre isso ao afirmar que na escola os
conhecimentos valorizados são aqueles que buscam resultados,
reduzidos a produtos, resultados e conclusões, sem dar conta do
valor determinante dos processos. Nesse sentido, a diversidade
acaba sendo “reduzida a diferenças apreendidas na ótica da
cognição (bom ou mau aluno, esforçado ou preguiçoso, etc.) ou
na do comportamento” (p. 138). Na Educação Física, pouco
problematizamos o caráter natural atribuído ao corpo, como se
fosse meramente biológico, manipulável. Em práticas
pedagógicas que operam com a compreensão da infância e da
juventude enquanto estágios de desenvolvimento, fases ou
etapas construídas abstratamente, tem-se a presunção do
controle e da previsibilidade. Nesse sentido, universalizamos e
fragmentamos os sujeitos, desconsiderando as várias maneiras
de ser criança e ser jovem na escola, nas aulas de Educação
Física, na família e na sociedade (DEBORTOLI; LINHALES; VAGO,
2002).
Minha insistência neste ensaio é perspectivar uma educação que
“busque dar sentido ao que somos e ao que nos acontece”
(BONDÍA, 2002, p. 21). Para Bondía, a experiência é algo que
nos acontece, nos toca, porém a experiência é algo cada vez
mais raro pelo excesso de informação (obsessão pela
informação), pelo excesso de opinião, pela falta de tempo e pelo
excesso de trabalho. Assim, afirma o autor que “nós somos
sujeitos ultrainformados, transbordantes de opiniões e
superestimados, mas também cheios de vontade e hiperativos”.
Nesse sentido, “os aparatos educacionais também funcionam
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cada vez mais no sentido tornar impossível que algo nos
aconteça” (BONDÍA, 2002, p. 24). Nesse enredo, qual Escola e
qual Educação Física são possíveis? De que maneira podemos
pensar a Educação Física “para” e “com” as crianças e os jovens?
Considero importante, assim como Vago (2009, p. 26),
compreender a escola enquanto um lugar com uma identidade,
uma responsabilidade social e uma expectativa social, ou seja,
“um lugar de culturas, um lugar das culturas e um lugar entre
culturas”, com a responsabilidade de transmitir e perpetuar a
experiência humana considerada cultura.
A escola é um lugar de circulação das culturas porque tem como
responsabilidade realizar o humano direito a um patrimônio por todos
produzidos: conhecer, fruir e usufruir as culturas diversas produzidas
pelos humanos (VAGO, 2009, p. 27).
Não podemos negligenciar que a escola é um lugar de “tensão
permanente”, uma vez que nela estão presentes diferentes
interesses (escola, família e sociedade), relações de poder,
práticas escolares e outras diversificadas práticas sociais que
chegam ao “chão da escola” (VAGO, 2009). Nesse sentido, é
preciso também pensar o corpo na escola. Bondía (2002) alerta
sobre isso ao apontar que a vida humana vem reduzindo-se ao
simples entendimento do corpo numa dimensão biológica. Assim
discorre o autor:
[...] a 'vida' se reduz à sua dimensão biológica, à satisfação das
necessidades (geralmente induzidas, sempre incrementadas pela lógica
do consumo), à sobrevivência dos indivíduos e da sociedade. Pense-se no
que significa para nós 'qualidade de vida' ou 'nível de vida': nada mais
que a posse de uma série de cacarecos para uso e desfrute (BONDÍA,
2002, p. 27).
A escola necessita compreender o corpo/sujeito na dimensão da
totalidade, possibilitando ao sujeito construir novas referências
sobre seu corpo e o corpo do outro. Nas palavras de Gimeno-
Sacristan; Pérez-Gomez (1998, p. 24):
A escola deve fomentar a pluralidade de formas de viver, pensar e sentir,
estimular o pluralismo e cultivar a originalidade das diferenças individuais
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como expressão mais genuína da riqueza da comunidade humana e da
tolerância social.
De acordo com Vago (2009, p. 33), “compreender a realidade
biológica do corpo é imprescindível, no limite e na potência que
expressa”, todavia trabalhar e conceber o “corpo reduzido a sua
biologia empobrece o olhar” que lançamos às crianças e aos
jovens.
Tudo isso nos provoca a construir processos pedagógicos mais
desafiantes, que reconheçam toda a diversidade das
experiências que essas crianças e jovens carregam consigo para
o espaço escolar. Dayrell (1996) alerta que se faz necessário
superar a homogeneização e universalização dos processos de
ensino/aprendizagem2 presente nas escolas, pois “o tratamento
uniforme dado pela escola só vem consagrar a desigualdade e as
injustiças das origens sociais dos alunos”. Nesse sentido, o autor
sugere que, para compreendermos as crianças e os jovens que
chegam à escola, torna-se imprescindível apreendê-los como
“sujeitos socioculturais”, ou seja, superando “a visão
homogeneizante e estereotipada da noção de aluno, dando-lhe
um outro significado” (p. 140).
Diante disso, pode-se afirmar que a “escola é polissêmica”, ou
seja, tem uma multiplicidade de sentidos, não podendo ser
tomada como um dado universal, com um sentido único.
Portanto, como afirma Dayrell (1996, p. 144):
[...] implica levar em conta que seu espaço, seus tempos, suas relações
podem estar sendo significados de forma diferenciada, tanto pelos
alunos, quanto pelos professores, dependendo da cultura e projeto dos
diversos grupos sociais nela existentes.
Outro aspecto importante a ser destacado é que a escola
constitui um espaço de formação humana, portanto um espaço
2 De acordo com Dayrell (1996, p. 139), “a escola é vista como instituição única, com
seus sentidos e objetivos, tendo como função garantir a todos o acesso ao conjunto de
conhecimentos socialmente acumulados pela sociedade. Tais conhecimentos, porém, são
reduzidos a produtos, resultados e conclusões, sem se levar em conta o valor
determinante dos processos”.
21
de ampliação das experiências sociais, históricas e culturais
(DAYRELL, 1996; VAGO, 2009). Assim, a escola pública não
pode seguir outro caminho senão “constituir-se como tempo e
espaço de inclusão, debate, construção coletiva e realização
plena de direitos sociais” (DEBORTOLI; LINHALES; VAGO, 2002,
p. 93). Concomitantemente, a escola influencia e torna-se
influenciada pela diversidade presente no seu cotidiano. Tais
implicações desafiam a pensar um projeto de Educação Física
que busque “escutar” o que os alunos querem nos dizer com
suas ações durante sua permanência nos diferentes espaços da
escola.
Nessa perspectiva, um dos princípios fundamentais da Educação
Física é compreender as crianças e os jovens como atores
sociais, concretizando o direito e a possibilidade de participarem
da construção da sociedade e da cultura (DEBORTOLI, 2009). Na
nossa intervenção pedagógica, comporta-se, assim, um desafio:
Organizar o ensino para que seus estudantes realizem o direito de
conhecer, de provar, de criar, de recriar e de reinventar, de fazer de
muitas maneiras, de brincar com essas práticas, garantindo-lhes a
expansão de suas experiências com esse rico patrimônio cultural. Em
outras palavras: a Educação Física tem potência para ser um tempo de
fruir, de usufruir, de viver e de produzir essa cultura, um lugar de
enriquecer a experiência humana, posto que essas práticas são
possibilidades afetivas, lúdicas e estéticas de apreender e entender o
mundo - e de agir nele (VAGO, 2009, p. 35).
Em nossa sociedade, ainda sobressai o entendimento de que as
crianças devem ser preparadas para um futuro idealizado pelo
adulto. Essa concepção desenvolvimentista posiciona a criança
enquanto sujeito imaturo, inacabado, um “vir-a-ser” linear e
previsível, e não pela competência do aqui e agora, afastando-a
do mundo das atividades socialmente reconhecidas. Em relação
aos jovens, criamos representações sociais que desprestigiam
sua existência social, concreta e valorosa. O adolescente é
aquele que não é mais criança e também não é adulto. Não raro,
desconsideramos, nas relações com os adolescentes, as
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variações nas dimensões corporais, a maturação sexual, as
alterações hormonais. Quando trabalhamos sob esses pontos de
vista, as crianças e os adolescentes são concebidos como
sujeitos incapazes de ser “porta-vozes” de seus próprios desejos
e direitos.
Proponho, pois, problematizar uma suposta incapacidade
sociopolítica das crianças e dos adolescentes no contexto da
escola, particularmente quando concebidos como algo natural, e
não como uma construção histórica, cultural e social. Reforçar
essa menorização da infância e da juventude em relação ao
adulto esvazia nossa capacidade de perceber suas ações nas
relações sociais, sendo percebidos apenas como organismos em
processo de desenvolvimento, maturação e socialização. De
acordo com Debortoli
(2009, p. 39), ser
sujeito “significa
concretizar o direito e a
possibilidade de
participar da construção
da sociedade e da
cultura”.
A Educação Física é
uma área de
conhecimento escolar;
e, como tal, possui
conhecimentos
específicos que devem
ser compartilhados,
aprendidos, vivenciados
e ressignificados por
professores e
educandos, num processo de construção dialética do
conhecimento (FREITAS, 2008). Historicamente, diante de
muitas situações sociais, homens e mulheres, crianças e adultos
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produziram saberes que significaram os movimentos,
transformando-os em práticas sociais e culturais, sistematizadas
e organizadas, que, de acordo com o Coletivo de Autores (1992),
podem ser reunidos em cinco grandes blocos de conhecimentos:
os jogos, brinquedos e brincadeiras, as danças, os esportes, as
ginásticas e as lutas.
Esses conhecimentos permitem pensar em projetos de ensino
capazes de problematizar a relação entre indivíduo e sociedade,
entre sujeito e cultura (DEBORTOLI, 2009). Segundo Leite
(1994), há uma tendência no pensamento pedagógico de colocar
como questões opostas a participação dos educandos e a
apropriação de conhecimentos disciplinares. No entanto, tal
oposição não tem sentido, pois os conhecimentos escolares não
surgem do acaso, eles são fruto da interação dos grupos sociais
com sua realidade cultural. Sendo assim, os projetos de ensino
são a possibilidade de resolver questões relevantes do cotidiano;
o educando irá defrontar-se com os conhecimentos das diversas
disciplinas e poderá compreender e intervir em sua realidade
(FREITAS; CAMPOS, 2011).
Neste momento, pontuo que acredito numa educação que
conceba as crianças e os adolescentes como sujeitos de direitos,
na qual conhecimento e vida humana não sejam entendidos
como algo sem sentido no seu cotidiano, dentro e/ou fora da
escola, e sim “uma forma singular de estar no mundo que é ética
e estética” (BONDÍA, 2002, p. 28).
Por fim, está posto à Educação e à Educação Física o desafio de
serem capazes de propor práticas concretas para seus diferentes
sujeitos em realidades que se apresentam diversas. Dessa
maneira, Debortoli (2009, p. 43) sugere que um caminho para
tal é o acolhimento: “Talvez a primeira resposta seja o
acolhimento. O desafio da sensibilidade. Desafio de uma
aproximação ética e estética do outro. Estarmos atentos às
diferenças mais sutis: morais, estéticas, cognitivas, éticas”.
24
Referências
BAUMAN, Z. A sociedade individualizada. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.
BONDIA, J. L. Notas sobre a experiência e o saber de experiência. Revista Brasileira
de Educação. Rio de Janeiro: ANPEd, n. 19, p. 19-28, jan./abr. 2002.
CALDEIRA, A. M. S. A formação de Professores de Educação Física: quais saberes e
quais habilidades?. Revista Brasileira de Ciências do Esporte. Porto Alegre: CBCE,
v. 22, n. 3, p. 87-103. mai. 2001.
Carmem Lucia Soares et al. Metodologia de Ensino da Educação Física. São Paulo:
Cortez, 1992.
DAYRELL, Juarez. A escola como espaço sociocultural. In: Juarez Dayrell (Org.).
Múltiplos olhares sobre educação e cultura. Belo Horizonte: Editora da UFMG,
1996.
DEBORTOLI, J. A. O. Adolescência(s): identidade e formação humana. In.
CARVALHO, Alyson; SALLES, Fátima; GUIMARÃES, Marilia (Orgs.). Belo Horizonte:
Editora UFMG, Proex, 2009. 118p.
DEBORTOLI, J. A. O.; LINHALES, M. A.; VAGO, T. M. Infância e conhecimento escolar:
princípios para a construção de uma Educação Física. Pensar a Prática. Goiânia:
UFG, v. 5, n. 1, p. 92-105, 2002.
FREITAS, A. F. S.; CAMPOS, T. Educação Física nos primeiros anos escolares.
Presença Pedagógica. Belo Horizonte: Dimensão, v. 17, n. 102, p. 13-19, nov./dez.
2011.
FREITAS, A. F. S. Corpo, movimento e linguagem: em busca do conhecimento na
escola de Educação Infantil. 2008. 142 f. Dissertação (Mestrado em Educação) -
Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais, Belo Horizonte, 2008.
LEITE, Lúcia Helena Alvarez. A pedagogia de projetos em questão. In: Belo Horizonte.
Secretaria Municipal de Educação. Curso de diretores da rede municipal. Belo
Horizonte: SMED, 1994.
PEREIRA, R. M. RIBES. Tudo ao mesmo tempo agora! Considerações sobre a infância
no presente. In: GONDRA, José Gonçalves (Org.). História, infância e
escolarização. Rio de Janeiro: Sette Letras, 2002. p. 131-148.
SACRISTÁN, J. Gimeno. Avaliação. In: PÉREZ GÓMEZ, Angel I.; SACRISTÁN, J.
Gimeno. Compreender e transformar o ensino. Porto Alegre: Artmed. 1998.
OLIVEIRA, Marcos Aurélio Taborda de ; OLIVEIRA, Luciane Paiva Alves de ; VAZ,
Alexandre Fernandez. Sobre a corporalidade e a escolarização: contribuições para a
reorientação das práticas escolares da disciplina de educação física. Pensar a Prática
(on-line). Goiânia: UFG, v. 11, n. 3, p. 212-236, 2008. Disponível em:
<http://www.revistas.ufg.br/index.php/fef>. Acesso em: nov. 2013.
VAGO, T. M. Pensar a Educação Física na Escola: para uma formação cultural da
infância e da juventude. Cadernos de Formação RBCE. Porto Alegre: CBCE, v. 1, n.
1, p. 25-42. 2009.
25
26
Saberes, conhecimentos e
sentidos vivenciados na 3ª
Feira de Ciências, Cultura
& Tecnologia da Rede
Municipal de Educação de
Belo Horizonte.
Dagmá Brandão e Silva1
Maria Célia da Cunha Pinto2
A Secretaria Municipal de
Educação de Belo Horizonte,
por meio da Gerência de Coordenação da Política Pedagógica e
de Formação, realizou no dia dois de outubro a 3ª Feira de
Ciências, Cultura & Tecnologia - 3ª FCCT, que se caracteriza
como uma atividade científica, cultural e tecnológica que
promove a atualização, fomento e implementação de mudanças
significativas no processo ensino e aprendizagem e incentiva o
desenvolvimento da cultura investigativa.
A 3ª FCCT está destinada a estabelecer interação e trocas de
experiências entre estudantes do 3º ciclo da RME com a
população de Belo Horizonte, por meio da exposição e publicação
de produções científicas, culturais, artísticas e tecnológicas
realizadas no contexto educativo. A possibilidade de apresentar e
discutir seus projetos com profissionais da educação e visitantes
destaca essa ação no cenário educacional belo-horizontino.
Foram apresentados 84 trabalhos cujos temas estavam
relacionados às ciências da natureza, arte, cultura, história,
literatura, matemática e tecnologias. As diferentes áreas
Laboratório de Aprendizagem
Aprendizes da Ciência
1 Gerente da GCPF.
2 Professora da RME.
27
contempladas possibilitaram a expressão de conteúdos e
habilidades diversas. Quem visitou a feira pôde, ao mesmo
tempo, conhecer o corpo humano ou o universo; aprender um
pouco mais de sustentabilidade, fazendo uma horta de cultivo
vertical ou uma casa usando garrafa PET; e ainda aprender sobre
a bacia do córrego Capão e a grandeza da Lapinha. Os jovens
não economizaram na criatividade: poesia, animação, curta-
metragem e a exploração de figuras de linguagem foram
exemplos de trabalhos apresentados.3
Durante a 3º FCCT, os visitantes tiveram a oportunidade de
participar de oficinas oferecidas pelo Museu de Ciências Naturais
da PUC-Minas e pela organização não governamental
Mensageiros das Águas. A Secretaria de Estado de Ciências,
Tecnologia e Ensino Superior de Minas Gerais - SECTES
apresentou os temas a serem explorados na Semana Nacional de
Ciência e Tecnologia - Ciência, Saúde e Esporte, que ocorrerá no
período de 21 a 27 de outubro de 2013. A exposição do Núcleo
de Relações Étnico-Raciais enfocou João Cândido, almirante
negro, líder da Revolta da Chibata, 1910, que lutou pelo fim dos
castigos corporais e pela igualdade racial na Marinha Brasileira,
marcando a atuação de João Cândido no cenário dos Direitos
Humanos no Brasil.
Os trabalhos apresentados na 3ª FCCT trouxeram reflexões que
vão ao encontro dos pressupostos teórico-metodológicos da
proposta curricular da RME, que detalharemos a seguir.
O movimento científico e pedagógico, que se traduz por meio da
feira, enfatiza a equidade dos conhecimentos escolares. As
Proposições Curriculares Municipais - PCMs, ou intenções
educativas para a educação básica, partem do pressuposto de
que não há prioridade de determinados conhecimentos, uma vez
que não há ciência mais importante que outra, o que implica
dizer que não há disciplinas que devam ser privilegiadas.
3 Veja o guia de visitação da 3ª FCCT, lá você encontrará todos os trabalhos
apresentados e ainda as atividades diversas que foram oferecidas aos visitantes.
28
Proposições Curriculares foram elaboradas com o objetivo de garantir a
todos os educandos o direito aos conhecimentos sociais das várias
disciplinas, aos valores, aos comportamentos e às atitudes que lhes
permitam compreender e transitar no mundo (p. 6 - Textos
introdutórios).
A 3ª FCCT pauta-se pelo entendimento da pesquisa científica
relacionada a todas as ciências: humanas, exatas e naturais,
buscando garantir a diversidade científica, cultural, artística e
tecnológica. Nessa concepção, a 3ª FCCT se caracteriza como
espaço transformador da atuação crítica, artística, científica,
tecnológica que proporciona vivências dos estudantes em
experimentos significativos de cada projeto de trabalho
abrangendo dois ou mais conhecimentos disciplinares.
As PCMs buscam o desenvolvimento de capacidades construídas
por meio de vivências escolares de ensino e aprendizagem
comprometidas com a diversidade, por meio de ações
diversificadas que consideram as diferenças de ritmos e formas
de aprender, o que colabora para a criação de oportunidades
igualitárias para todos.
A partir dos inúmeros trabalhos planejados, organizados e
apresentados sob a coordenação de professores de diferentes
áreas, os estudantes puderam, por meio das suas produções,
dar respostas aos questionamentos apresentados na página 10
dos Textos Introdutórios das Proposições Curriculares da RME:
Se aqui apresentamos o que ensinar e aprender, pretendemos prosseguir
em discussões e em construção de respostas para desafios já
demandados pelos educadores: Como desenvolver sugestões específicas
de ensino que possibilitem a construção das capacidades/habilidades
desejáveis, conforme o contexto da escola? Como avaliar o
desenvolvimento das capacidades/habilidades? Como registrar o
diagnóstico das avaliações? Como trabalhar de forma interdisciplinar?
Como trabalhar com temas/problemas/questões investigativas? Como
construir projetos específicos para avançar/trabalhar as dificuldades de
aprendizagens específicas de agrupamentos de estudantes? Como
desenvolver estas Proposições Curriculares considerando o estágio de
desenvolvimento do estudante dentro do ciclo?
29
A articulação dos temas dos trabalhos desenvolvidos na feira
com os conteúdos disciplinares de sala de aula e sua
contextualização, de modo mais amplo, representaram, além de
importantes elementos motivacionais, formas efetivas de
contribuição para a educação científica dos estudantes.
As práticas apresentadas na 3ª FCCT contribuíram para uma
melhor compreensão das teorias científicas e das diversas
formas com que os cientistas atuam na organização da
experimentação, no levantamento de problemas e na elaboração
de hipóteses que marcam a origem dos conhecimentos
científicos.
Mesmo naqueles trabalhos que não envolveram explicitamente
essas questões, pudemos observar que, em muitos deles, pela
escolha dos próprios temas, implicitamente a contextualização
estava presente. Tal é o caso, por exemplo, dos trabalhos
relacionados ao uso de drogas, métodos contraceptivos e
prevenção à dengue.
As expectativas quanto à elaboração de uma feira de ciências
são ambiciosas, principalmente se levarmos em conta que
grande parte dos trabalhos são consequência do
desenvolvimento de projetos investigativos articulados ao longo
do ano letivo que tiveram sua culminância na FCCT.
Outro aspecto importante a se destacar é que, dentre os
trabalhos apresentados, houve a colaboração de pessoas da
comunidade como profissionais da saúde, pais ou grupos
comunitários, o que possibilitou a socialização de saberes e
conhecimentos articulados.
Por fim, ressaltamos, como contribuição significativa e que
consolida e amplia os resultados obtidos da 3ª FCCT, a avaliação
realizada por parte dos visitantes, profissionais da educação,
gestores e dos próprios estudantes expositores sobre a
apresentação e os resultados obtidos dos trabalhos. Os
estudantes, no evento, mobilizaram diversas capacidades
30
adquiridas, construídas e consolidadas em todo o processo de
aprendizagem que culminou na 3ª Feira de Ciências,Cultura e
Tecnologia da RME.4
Mediante as análises realizadas, ficou clara a importância do
trabalho coletivo na escola, principalmente pela interação
potencializada nas atividades desenvolvidas antes e durante a
feira, incluindo a sua repercussão além dos muros escolares.
Feiras de ciências são atividades que devem ser estimuladas,
pois se constituem numa excelente oportunidade de a escola
interagir com a cidade. E, em relação a 3ª FCCT, o que fica para
todos nós educadores e educandos é muito mais do que vimos e
ouvimos. A 3ª FCCT potencializou e evidenciou o sentimento de
alegria e entusiasmo que todos sentiram ao expor sua produção
de conhecimento. Afinal, aprender ainda é a maior experiência
transformadora do ser humano.
Referência
SECRETARIA MUNICIPAL DE EDUCAÇÃO. Prefeitura de Belo Horizonte.
Desafios da formação. Proposições Curriculares do Ensino Fundamental -
textos introdutórios. Belo Horizonte: Secretaria Municipal de Educação, 2010.
Os links abaixo direcionam o leitor para os resumos dos
trabalhos da 3ª Feira de Ciências & Tecnologia de 2013, assim
como para as resenhas elaboradas por seus avaliadores.
4 O Manual do Avaliador foi criado para orientar a avaliação dos trabalhos.
Resumos
Resenhas
Relatos de práticapedagógica
33
Relato de Experiências de Leiturapara o 3º CicloGláucia Grossi de Faria1
Com minha vivência em quase vinte anos trabalhando em
bibliotecas escolares, percebo que o grande projeto de incentivo
à leitura que tenho desempenhado é procurar traduzir em livros
os interesses dos alunos.
No período que passo na Escola Municipal Santos Dumont, tenho
notado que é mais comum os estudantes de 1º e 2º ciclo
pegarem livros emprestados durante as suas idas à biblioteca.
Mesmo aqueles mais desinteressados acabam levando algum
livro por influência dos colegas, ajudados pelos professores e por
nós funcionários. Mas percebi que os alunos do 3º ciclo visitam
mais a biblioteca para conversar com os companheiros, jogar
xadrez no horário de recreio ou para fazer alguma pesquisa. Os
que realmente gostam de ler continuam usando a biblioteca
frequentemente. Mas o percentual dos outros leitores cai muito
do 2º para o 3º ciclo.
As compras dos livros são feitas de acordo com as listas de
sugestões deixadas nos balcões das bibliotecas que coordeno.
1 Bibliotecária e coordenadora de bibliotecas na Regional Leste.
34
Como as sugestões feitas pelos alunos estavam repetitivas,
pesquisei, na internet, sobre adolescentes que gostavam de ler,
o que estavam lendo e quais as novidades no mercado editorial.
Depois de listar muitos livros indicados por vários leitores
vorazes, comecei a fazer a melhor parte do trabalho. Comecei a
lê-los, munida do meu e-book, o que facilitou ainda mais o meu
propósito.
Entusiasmada com quase cem títulos lidos durante dois meses,
paralelamente procurava fazer os orçamentos dos livros a fim de
adquiri-los pela Caixa Escolar da Escola.
Mostrei minha ideia para a professora de Língua Portuguesa das
turmas do 7º ano. Ela me incentivou mais ainda nas minhas
tarefas, e marcamos visitas às salas de aulas. Assim, acabei
envolvendo as demais professoras de Língua Portuguesa do 3º
ciclo, pois precisava do apoio delas para motivar os alunos.
Gravei as imagens das capas dos livros em um pen drive e,
munida de um notebook, fui às salas de aula, apresentando as
resenhas de cada um deles, passando - e consequentemente
despertando - o meu entusiasmo para os alunos. De cada sala
que eu saía, sentia que os alunos ficavam curiosos para ler os
livros. E, durante uma semana, enquanto aguardávamos o
recebimento do material tão esperado, os estudantes me
perguntavam o tempo todo, pelos corredores da escola, quando
eles chegariam à biblioteca. Assim que os livros foram
entregues, disponibilizamos o mais rápido possível para o
empréstimo. O serviço de processamento técnico dos livros foi
exaustivo.
Tem sido um sucesso a busca pelos livros. E, como um livro puxa
outro, desejo que o movimento não pare na biblioteca.
Continuo pesquisando nos blogs e vídeos do Youtube, mas
espero, também, que os alunos coloquem recados sobre as
impressões dos livros lidos no painel da biblioteca, criando uma
rede de troca de informações divertida.
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Abaixo segue lista dos blogs que tenho consultado e anexo os
títulos dos livros comprados e suas resenhas:
- http://cabineliteraria.com.br;
- http://clubedolivro.worldpress.com;
- http://corujinhaleitora.blogspot.com.br;
- http://estantedanini,.com.br;
- http://euvomitopalavras.blogspot.com.br;
- http://frappuccinomochabranco.blogspot.com.br;
- http://garotait.com.br;
- http://henribneto.blogspt;
- http://lerounaoler.com.br;
- http://nossocdl.blogspot.com;
- http://valerumlivro.com.br;
- http://www.amountofwords.com;
- http://ww.babidewet.com;
- http://www.burnbook.com.br;
- http://www.carolsabar.com.br;
- http://www.cerejacomglitter.com.br;
- http://www.wishingaboo.com.
O link abaixo direciona para o resultado de uma pesquisa feita
na internet, pela bibliotecária Glaucia Grossi, sobre o que os
adolescentes gostam de ler, além das novidades no mercado
editorial.
Clique aqui
36
Relato de Experiência da 2ªJornada Literária da RME - 2012 -“Sons, Cores, Imagens e Sabores:Áfricas no Brasil”1
Zenaide Corrêa da Silva2
Mais um dia, e a escola vai adquirindo vida à medida que as
pessoas vão chegando. Crianças, adolescentes, adultos. Mestres
e aprendizes na nossa jornada. Ora num papel, ora noutro. Nos
corredores, os sorrisos, as palavras soltas, os anseios e as
esperanças.
Meu trabalho na biblioteca exige pouco diante daquilo que tenho
a oferecer. Sempre busco ir além daquilo que me é proposto.
Quero ser vida numa biblioteca viva. Vi na 2ª Jornada Literária
da RME - Sons, Cores, Imagens e Sabores: Áfricas no Brasil,
uma oportunidade de crescimento pessoal e profissional. Então
me lancei de corpo e alma nesse projeto.
Foi na Casa África que teve início minha trajetória na 2ª Jornada
Literária da RME. Ouvindo o africano Ibrahima Gaye naquela
manhã, percebi que meus conhecimentos sobre a África, seu
povo e nossa descendência eram muito superficiais. Também me
dei conta de que o tema proposto iria modificar o modo de ver
meu país, a África e meu próprio ser. Diante dos relatos ali
apresentados, me senti instigada a ir além. E a frase “O homem
é o remédio do homem.”, citada por ele naquele encontro,
passou a fazer parte de minhas reflexões.
Biblioteca: o processo
No primeiro momento, separei toda a literatura afro-brasileira
existente na biblioteca da escola e fiz uma exposição. Também
1 Relato classificado em 1º lugar na categoria Relato de Participação na 2ª JornadaLiterária da RME/BH - “Sons, Cores, Imagens e Sabores: Áfricas no Brasil”.
2 Auxiliar de biblioteca na Escola Municipal Maria de Mazarello.
37
fiz murais de EVA com motivos afros nos quais expus vários
livros, cartazes com frases e convites para se conhecer o acervo
selecionado. São muitos livros, porém, até então, poucos haviam
sido apreciados pelos estudantes, professores e demais
funcionários. Percebi que, dando visibilidade maior aos livros, os
estudantes e professores se interessaram e passaram a levá-los
para casa.
Selecionei contos africanos para serem contados aos estudantes.
Os professores trouxeram suas turmas para a biblioteca, onde
eu, além de falar sobre a cultura negra, também promovi
momentos reflexivos sobre o papel desses jovens na sociedade
preconceituosa em que vivemos.
Em um desses encontros, houve um momento inusitado que não
posso deixar de relatar. Um estudante negro pegou uma revista
Galileu que trazia um gorila na capa e começou a gozar um
colega também negro, chamando-o de macaco. Percebi como o
tema trazia tensão para aqueles jovens. Como estratégia, resolvi
questionar a atitude preconceituosa do estudante. Diante do seu
silênico, posicionei- me, contando à turma ali presente o relato
do africano sobre a chegada ao Brasil. Das suas expectativas de
vir para um país que tinha grande descendência africana e de
sua decepção ao chegar aqui e ver a maioria negra em
38
subempregos e favelas. E de sua decisão de ficar no Brasil e
lutar contra a discriminação racial. E fiz a pergunta ao grupo:
“De que tamanho é o seu preconceito, ele começa ou termina
em vocês?”.
Deixei claro que somos nós que escrevemos nossa história,
independentemente de como ela se esboça. Acredito que aqueles
jovens tenham se sensibilizado, pois, ao término da aula, vários
levaram livros da exposição afro-brasileira para casa, inclusive o
autor da brincadeira de mau gosto.
Outro momento valioso aconteceu quando um estudante trouxe
um poema escrito por ele para que eu pudesse ler. Era um
poema que, a princípio, não trazia elementos suficientes para ser
publicado, mas a sua leitura me fez perceber um desejo tão
intenso de dizer algo que me emocionei. Ele dizia que queria que
seu poema fosse escolhido porque iria mostrá-lo ao pai. Quis
saber o porquê e ele respondeu: “Professora, meu pai é preto,
mas ele não gosta de preto. Quando a gente tá andando no
passeio e ele vê um preto mais preto que ele, ele manda a gente
atravessar a rua. Eu quero que ele leia minha poesia. Se estiver
num livro, ele vai ler”.
Nesse momento, tive certeza de que o livro que estamos
produzindo não é o fim, é um meio. Sentei-me com ele e disse:
“Você acabou de fazer poesia. Vamos reescrever seu poema,
para que ele possa fazer parte do livro”.
A contação e a leitura de contos e poemas afros feitos por mim e
pelos estudantes foi de descobertas e encantamento. Os
estudantes se envolveram e produziram textos. Os livros de
poesia tiveram lugar de destaque, e os estudantes puderam
conhecer melhor seus autores e sua visão de mundo.
Foi realizada na escola uma mostra afro-brasileira que envolveu
todos os profissionais do turno da manhã. Pesquisas, trabalhos
manuais e cartazes foram confeccionados na biblioteca para esse
evento, que foi um sucesso.
39
Quanto aos textos produzidos pelos estudantes, participei de
forma ativa com a professora Isis Almeida, orientando-os
individualmente. Esse trabalho envolveu trocas de experiência,
momentos de reflexão, diálogo franco e aberto sobre o tema.
Também participei do projeto gráfico do livro de poesias “Elos” -
sobre a cultura afro-brasileira - com o professor de Arte Fabrício
Fidélis, num trabalho de pesquisa intenso, com o qual
aprendemos muito. Ficou claro para mim que um povo que
valoriza seus antepassados fortalece seus descendentes.
Também sou o processo. Mergulho no eu
Abordar um tema de tamanha complexidade exigiu-me
discernimento e entrega. Foi preciso fazer um exame de
consciência e visitar situações em minha vida em que agi de
forma discriminatória. Não é fácil adimitir-se preconceituosa. É
preciso perceber além do inconsciente coletivo, pois ele camufla
certas atitudes preconceituosas em nome de uma sociedade
politicamente correta, porém historicamente racista em suas
ações.
Ainda me lembro da minha avó negra falando: “Zenaide, veja
bem com quem vai se casar. Eu apurei a raça, casei com branco,
sua mãe também. Veja lá”. Na época, não entendia bem, mas já
era introjetado na minha cabeça o preconceito. E da pior forma -
por pessoas que tinham papel fundamental na minha educação.
Lembro-me ainda de quando tinha 14 anos e entrei para o grupo
de jovens de uma igreja e comecei a gostar de um menino
negro. Sentia-me culpada e fui me confessar. O padre ficou
indiferente e apenas me mandou rezar, fortalecendo ainda mais
o sentimento de que negro é diferente. Uma diferença feia.
Hoje, olhando para trás, percebo quantas vezes me omiti ou
assumi uma postura preconceituosa e racista, reforçando em
ações e pensamentos aquilo que aprendi erroneamente.
Crescer como pessoa demanda envolvimento em questões que
40
nos parecem alheias, mas que fazem parte de todos nós.
Acredito, hoje, que o ser humano se fortalece na sua cultura e se
torna anônimo quando a nega. Quem sou eu?
Eu quero ser luz, afro-descendente cheia de orgulho. Vigilante de
minhas fraquezas. Uma mulher íntegra que é orgulho para seu
país.
Burocracia e pessoas...
Criar, recriar, remover sentimentos, bailar nas ideias - tudo é
fantástico. Porém devemos estar cientes de que não podemos
depender da boa vontade alheia, do compromisso do outro, de
informações truncadas que não viabilizam o processo, pois é
extremamente desgastante. Em vários momentos, vivenciei esse
desgaste. Contudo, existem também aqueles que nos dão as
mãos e estão dispostos a arriscar em prol de uma educação
plena. Nisso consiste o sucesso. Mas dizer que foi fácil... Ah! Não
foi não.
Verdade nua e crua
A maioria dos profissionais da escola não se envolveu
efetivamente na 2ª Jornada Literária - de 2012. O tema acabou
sendo trabalhado de forma rápida e superficia. A falta de
conhecimento, a dificuldade do tema, a falta de tempo dos
profissionais envolvidos em outros projetos também dificultou
muito o processo. O que temos nos textos são vivências,
desejos, questionamentos que foram despertados por alguns
professores. O tema está latente em nós pedindo para ser
explorado e apropriado. Espero que este relato desperte quem
está adormecido, quem tem sede de vida. E que a temática
Sons, Cores, Imagens e Sabores: Africas no Brasil seja tratado
com mais empenho e o respeito que merece por todos.
O resultado: valeu a pena
Poemas lindos, autoestima elevada, sentimento de dever
cumprido. O resultado aliado ao processo foi além do que
esperava.
”E aprendi que se depende sempre de tantas muitas diferentes
gentes... Todas as pessoas sempre são as marcas das lições
diárias de outras tantas pessoas...” (Gonzaguinha).
41
Memória - História
Izabel Cristina de Almeida1Maria do Carmo Ferreira Umbelino2
Com o intuito de não só de construir o conceito de memória
atrelado à concepção do “fazer história”, mas também de
trabalhar o conceito de memória com um grupo de
adolescentes, que traz em sua trajetória vivências de uma
memória recente, as funcionárias da biblioteca da Escola
Municipal Maria Assunção de Marco - EMMAM propuseram, como
preparo e elemento motivador para a execução dos trabalhos
propostos pela “Jornada Literária”, uma atividade prévia, prática
e lúdica, contemplando momentos de memória poética e
memória visual.
Com parceria da Coordenação Pedagógica da professora de
Língua Portuguesa e com o apoio de professores e auxiliares de
serviços, foi montado no hall da biblioteca um “Salão de
Memória”. No auditório anexo a esse espaço, realizou-se uma
conversa com os alunos, futuros produtores de textos.
No “Salão de Memória”, foi oportunizado aos estudantes um
contato com o conceito de memória familiar. No referido espaço,
entre porta-retratos de cenas de famílias e textos literários
descritivos da situação familiar, era possível apreciar também
mobiliários antigos, rádios, relógios, ferros de brasa, máquinas
de moer carne, colcha de retalho, álbuns de família, caixinhas de
música e oratórios.
Tais peças expostas constituíram um depositário da memória
familiar. Os textos de cunho literário descritivos das fotos
despertaram o entendimento da conexão TRABALHO, MEMÓRIA,
HISTÓRIA.
A fim de sensibilizar os educandos para a proposta de trabalho,
1 Auxiliar de biblioteca na Escola Municipal Maria Assunção de Marco - EMMAM.
2 Professora na Escola Municipal Maria Assunção de Marco - EMMAM.
42
projetava-se como pano de fundo a seguinte frase: “O que fora
significativo a memória guardou, e tudo se fez história”.
Também compondo o salão da memória, foi montado um painel
com fotos da escola desde a sua fundação até os dias atuais.
Acima do painel, lia-se em grandes letras: “TRABALHO,
MEMÓRIA, HISTÓRIA”; e, logo abaixo, via-se a inscrição
seguinte: “Esta escola tem memória, ela faz HISTÓRIA”.
Após apreciar todo o acervo do “MUSEUZINHO”, assim
carinhosamente denominado pelos alunos, e já os tendo
PROVOCADO bastante, os alunos foram convidados a se dirigir
ao auditório, onde, em um tom poético, as auxiliares de
biblioteca declamaram. A memória foi exaltada:
“Oh tristeza me desculpe
Estou de malas prontas
Hoje a poesia...”;
“Meu pai montava a cavalo, e ia para o campo
Minha mãe ficava sentada...”;
“Mas as cosas findas,
muito mais que lindas,
Essas ficarão”;
“Eu daria tudo que tivesse
Pra voltar aos tempos de criança...
Tantas histórias... tantas questões...”.
Após a apresentação das poesias, os alunos foram instigados a
adivinhar um objeto nunca visto por eles: um oratório de
tropeiro das Minas Gerias, do séc. XVIII -XIX, que, pela parte
43
externa e ainda fechado, sugeria várias ideias.
Toda uma história foi contada em torno daquela peça enigmática.
Ainda nesse contexto, foi apresentada uma foto de um “domingo no
parque” de BH, em 1957. Foi lido com muita emoção, um texto
literário alusivo à foto.
E, diante de tantas memórias e de tantas emoções, só nos restou
apreciar, posteriormente, os lindos textos produzidos pelos alunos.
Referências
ANDRADE, Carlos Drummond de. Antologia poética. 21. ed. Rio de Janeiro: Record, 1997.
Le GOFF, jaques. Enciclopédia Einaudi – memória – história. INCM, v. 1, 1997.
QUEIRÓS, Bartolomeu Campos. Indez. Belo Horizonte: Miguilim, 1989.
Seção Biblioteca
45
Indicação de literatura
Adolescência na escola: soltar a corda e segurar a pontaMargarete Parreira Miranda
A partir de problemas apresentados por professores em
grupos de estudo e com base na teoria psicanalítica, a autora
lança indicadores fundamentais para a compreensão de alguns
elementos que estão em jogo nesse relacionamento.
A formação social da mente: o desenvolvimento dosprocessos psicológicos superioresLev Semenovich Vigotski
A formação social da mente é uma seleção cuidadosa dos
ensaios mais importantes de Vigotski, editada por um grupo
de eminentes estudiosos de sua obra.
O mistério das bolas de gude: histórias de humanosquase invisíveisGilberto Dimenstein
Na obra, o autor vai atrás de personagens de diversas origens,
com uma história em comum: o desejo de criar alternativas à
desesperança vivida pelos que se encontram em situação de
risco.
Para aprender matemáticaSergio Lorenzato
Pretendendo tornar a aprendizagem da matemática
significativa e agradável, esta obra aborda 25 princípios
educacionais cuja aplicação favorece um ensino de qualidade.
Pedagogia empreendedoraFernando Dolabela
As questões que permeiam a educação empreendedora têm
por tarefa, principalmente, fortalecer os valores
empreendedores na sociedade, dar sinalização positiva para a
capacidade individual e coletiva de gerar valores para toda a
comunidade, como a capacidade de inovar, ser autônomo, ser
protagonista, bem como de buscar a sustentabilidade.
46
O laboratório de ensino de matemática na formação deprofessoresSergio Lorenzato
A obra mostra que se pode desempenhar um importante papel
no ensino e na aprendizagem da matemática. Apresenta também
diferentes concepções e utilizações do laboratório de ensino de
matemática, extensa bibliografia referente ao tema e muitas
sugestões de materiais didáticos.
Aprender com jogos e situações-problemaLino de Macedo; Ana Lúcia S. Petty; Norimar Christie Passos
Os autores apresentam seu modo de trabalhar, os princípios
teóricos que animam sua prática, sua convicção de que jogos e
situações-problema podem ser recursos úteis para uma
aprendizagem diferenciada e significativa.
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