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Revista Filosófica de Coimbra Publicação semestral do Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra Director: Miguel Baptista Pereira Coordenação Redactorial : António Manuel Martins e Mário Santiago Cal \ alho Conselho de Redacção: Alexandre F. O. Morujão. Alfredo Reis, Amãndio A. Coxito, Anselmo Borges, António Manuel Martins, António Pedro Pita, Carlos Pitta das Neves, Diogo Falcão Ferrer. Edmundo Balsemão Pires. Fernanda Bernardo, Francisco Vieira Jordão 1, Henrique Jales Ribeiro, João Ascenso André, Joaquim das Neves Vicente, José Encarnação Reis, José M. Cruz Pontes, Luísa Portocarrero F. Silva, Marina Ramos Themudo, Mário Santiago de Carvalho, Miguel Baptista Pereira As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos Autores Toda a colaboração é solicitada Distribuição e assinaturas: Fundação Eng. António de Almeida Rua Tenente Valadim, 331 P-4100 Porto Tel. 6067418; Fax 6004314 Redacção: Revista Filosófica de Coimbra Instituto de Estudos Filosóficos Faculdade de Letras P - 3049 Coimbra Codex Tel. 859900; Fax 836733 E-Mail: [email protected] Preço ( IVA incluído): Assinatura anual 1997: 4.000$00 (Portugal) 5.500$00 (Estrangeiro) Número avulso: 2.200$00 (Portugal) 3.000$00 (Estrangeiro) REVISTA PATROCINADA PELA FUNDAÇÃO ENG. ANTÓNIO DE ALMEIDA

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Revista Filosófica de Coimbra

Publicação semestral do Instituto de Estudos Filosóficos da Faculdade de Letras

da Universidade de Coimbra

Director: Miguel Baptista Pereira

Coordenação Redactorial : António Manuel Martins e Mário Santiago Cal \ alho

Conselho de Redacção: Alexandre F. O. Morujão. Alfredo Reis, Amãndio

A. Coxito, Anselmo Borges, António Manuel Martins, António Pedro Pita,

Carlos Pitta das Neves, Diogo Falcão Ferrer. Edmundo Balsemão Pires.

Fernanda Bernardo, Francisco Vieira Jordão 1, Henrique Jales Ribeiro,

João Ascenso André, Joaquim das Neves Vicente, José Encarnação Reis,

José M. Cruz Pontes, Luísa Portocarrero F. Silva, Marina Ramos Themudo,

Mário Santiago de Carvalho, Miguel Baptista Pereira

As opiniões expressas são da exclusiva responsabilidade dos Autores

Toda a colaboração é solicitada

Distribuição e assinaturas:

Fundação Eng. António de AlmeidaRua Tenente Valadim, 331P-4100 PortoTel. 6067418; Fax 6004314

Redacção:

Revista Filosófica de CoimbraInstituto de Estudos FilosóficosFaculdade de LetrasP - 3049 Coimbra CodexTel. 859900; Fax 836733E-Mail: [email protected]

Preço (IVA incluído):

Assinatura anual 1997: 4.000$00 (Portugal) • 5.500$00 (Estrangeiro)Número avulso: 2.200$00 (Portugal) • 3.000$00 (Estrangeiro)

REVISTA PATROCINADA PELA FUNDAÇÃO ENG. ANTÓNIO DE ALMEIDA

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Revista Filosófica de Coimbra

Publicação semestral

Vol. 7 • N.° 13 • Março de 1998

Artigos

Miguel Baptista Pereira -A essência da obra de arte no pensa-mento de M. Heidegger e de R. Guardini .................................. 3

Christoph Asmuth - Começo e forma da Filosofia.Reflexões sobre Fichte, Schelling e Hegel ................................. 55

Karl-Heinz Weigand - Ernst Bloch - Une introduction ................. 71

Estudo

Fernanda Bernardo - O rosto como Expressão: ou o acolhimentodo outro/outro segundo E. Levinas ............................................. 83

Nota

João Tiago Pedroso de Lima - Maurice Merleau-Ponty, PaulCézanne e o problema da essência da pintura .......................... 149

Crónica ................................................................................................ 163

Ficheiro de Revistas ........................................................................... 165

Recensões ............................................................................................ 169

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Nos próximos dias 12 - 14 de Setembro reunir-se-á nas cidades belgas deLovaina-a-Nova e Lovaina mais um Colóquio internacional organizado pela«Société Internationale pour l'Étude de Ia Philosophie Médiévale», por ocasiãodo seu 40° aniversário, sob o tema L'élaboration du vocabulaire philosophiqueau moyen âge. Anunciaram já a sua participação uma vintena de especialistas.Na representação portuguesa estão os nomes de Maria Cândida Pacheco e MárioSantiago de Carvalho. Para informações ou inscrições, contactar: Secrétariat deIa S.I.E.P.M., place du cardinal Mercier 14, B 1348 LOUVAIN-LA-NEUVE, [email protected]

Die Dionysius -Rezeption im Mittelalter , é o tema do Colóquio que se anunciapara Sófia, entre os dias 8 - 11 de Abril de 1999, organizado conjuntamente pelaCátedra de História da Filosofia da Universidade de S. Clemente Orchridski, peloThomas-Institut de Colónia e pela S. I. E. P. M. de Lovaina-a-Nova. Qualquerpedido de informação deverá ser dirigido para: Prof. Dr. Georgi Kapriev,Philosophische Fakultaet, St. Kliment Ochridski-Universitaet, Bul. TzarOswoboditel 15, 1000 Sofia, Bulgária; fax: 00 359 2 943 44 47.

De 3 a 5 de Setembro realiza-se, em Tübingen a reunião anual do Centro deÉtica nas Ciências subordinado ao tema "Von der prãdikativen zur prãventivenMedizin - Ethische Aspekte der Prãimplantationsdiagnostik". Para além dasconferências haverá painéis de discussão bem como apresentação de váriosprojectos em curso ou já concluídos sobre ética da medicina . Para maisinformações contactar: Zentrun für Ethik in den Wissenschaften, Keplerstr. 17,D-72074 Tübingen.

De 3 a 6 de Setembro realiza-se em Viena um Simpósio Internacionalsubordinado ao tema "Epistemological and experimental perspectives on QuantumPhysics" coordenado por Anton Zeilinger (Innsbruck ) e Daniel Greenberger(N.Y.).

De 18 a 20 de Setembro de 1998 realiza-se em Reading, no Departamentode Filosofia da Univ. de Reading, a Conferência Anual da British Society forPhilosophy of Science subordinada ao tema Conceitos de Ciência Cognitiva. Do

Revista Filosófica de Coimbra - n.° 13 (/998) pp. 163-164

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seu programa constam já as seguintes comunicações: Peter Gibhins, PhilosophicalToys; Donald Gillies , Interactions between Philosophv of Mathernatics andComputing ; Robert Kowalski, The Role of Logic in Multi-Agent Systenis; AndyClark, System Boundaries and Cognitive-Scientific E.rplanation; Stathis Psillos,Abduction : Between Conceptual Richness and Cornputational Coniple.vity; JohnBarnden, Metaphor and Mental States; Paul Schweizer: Realization and l^educiinnin Cognitive Science . Para mais informações contactar o organizador daconferência : John Preston , Department of Philosophy, Thc Univcrsiiv of Rcadine,Reading RG 6 2 AA. Fax: + (0118)931 8295.

De 23 a 26 de Setembro de 1998, a Fürder-und I urschuiigs erncinschaf^Friedrich Nietzsche e.V. organiza a sua 7 " Oficina - Nictzschc dedicada ais (Unia"Nietzsche e a Teoria Crítica" sob a direcção de Herbert Schn:idclhach (l3crlini)e Udo Tietz (Berlim).

De 24 a 29 de Setembro de 1998 realiza -se no castelo Bellinzona (Suíça) oQuarto Curso de Verão de Ética Médica que incluiu os seguintes temas:

"Introdução à Ética", "Introdução à Bioética ", "Ética da Investigação",«Morte e Agonia no Hospital ", "Justiça Distributiva na Medicina". Entre osconferencistas contam - se: B. Baertschi , J. Biollaz, A. Bondelfi. U. P. Jauch, W.Lesch e B . Schõne-Seifert . Para mais informações contactar: SchwcizerischeGesellschaft für Biomedizinische Ethik , 21 Rue du Bugnon , CH-1005 Lucerne.

De 12 a 15 de Outubro de 1998 realiza-se em Sofia, Bulgária, umaConferência Internacional subordinada ao tema "Culturas cristã e islâmica:conflito ou diálogo".

Em Upsala, na Universidade local, realiza-se, de 16-18 de Outubro de 1998,uma Conferência sobre «Progressos na Lógica Modal". Para mais informaçõescontactar Krister. Segerberg @ filosofi.uu.se

De 5 a 8 de Novembro de 1998, realiza - se na San Francisco State Universityuma conferência international subordinada ao tema "Radical Philosophy for the21st Century : Toward Formations of New Political Cultures and Directions".Contacto : marto @ ocf.berkeley.edu

De 18 a 21 de Novembro de 1998, realiza -se no Instituto de Filosofia daUniversidade Católica de Lovaina um colóquio subordinado ao tema "Ainteracção entre Filosofia , Ciência e Religião : a Herança Europeia".

pp. 163-164 Revista Filosófica de Coimbra - n.° 13 (/998)

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FICHEIRO DE REVISTAS

Analogía Filosófica - México D. F. - XI (1997).N° 2: C. Tale: La filosofía práctica: objeto, fin, caracteres, partes y distinción

entre ella (3-38); G. O. Matía Cubillo: Lafilosofía política de Spinoza (39-59);J. A. de Ia Torre Rangel: Tenencia de la tierra, encomienda y contratos. La justiciaconmutativa tratada por Alonso de la Veracruz (primera parte) (61-86); R. F.Crespo: La ciencia práctica y sus características. Ensayo de sistematización yaplicación a Ia economía (87-11); P. Lanceros: Modernidad. Un diagnóstico(113-132); A. Ortíz-Osés: Amor intellectualis. Remediación existencial yhermenéutica intercultural (133-143); L. E. de Santiago-Guervós: Experiencia ycomprensión: Modelo de una hermenéutica del concepto (145-163); O. L. Larre:Ockham y una variante física del princípio de economía (165-182). Notas.Reservas.

Bloch -Almanach - Ludwigshafen s. Reno - 16 (1997):K. Kufeld & K. Weigand: Vorwort (7-9); M. Pauen: Der apokalyptische

Augenblick. Kontinuitãt und Umbruch in den geschichtsphilosphischenVorstellungen des jungen Bloch (11-44); H. Folkers: Blochs Antwort aufNietzsches Gedanken von der Souveranitãt des Werdens (45-70); G. Raulet: ErnstBloch, un Weimarien en exil (71-94); E. French: Some Thoughts on Ernst BlochssConcept of the Noch-Nicht and its Application to Analytical Psychology (95-128);A. Wolkowicz: "Wie ein Bild an den Wãnden". Zur Rezeption von GoethesGestaltbegriff bei Bloch und einigen Zeitgenossen (129-140); S. A. Vischer:Hoffnung oder Gewissheit. Anmerkungen zu Ernst Blocg, Uwe Johnsob und ihren

Sozialismus (141-156); J. K. Dickinson: The Ambiguous Quest. Ernst BlochsEarly Love (157-198); J. Jahn: Eine unbekannte Bloch-Korrespondenz. Ein Bericht

(199-210); K. Weigand: Bibliographische Mitteilungen aus dem Ernst-Bloch-

-Archiv Ludwigshafen, Teil 12:6. Nachtrag zur Sekundarliteratur-Bibliographie

(Aufsãtze) Zusammengesteltt (211-216). Register der Bloch-Almanache 1 (1981)

- 15 (1996).

Diánoia - México D.F. - XLI (1995):

M. Beuchot: Individuos y universales en Adolfo Gracía Díaz (1-8); S. F.

Martínez: Una respuesta al desafio de Campbell: Ia evolución de técnicas yfenómenos en Ias tradiciones experimentales (9-31); E. Suárez: De Ia unificación

Revista Filosófica de Coimbra - n.° 13 (1998) pp. 165-168

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de teorias a Ia integración de disciplinas (33-52); A. V. Gómez: La herme-

neutización de lafilosofía de Ia ciencia conteniporanea (-53-64), C. L. Garcia:

Descartes : Ia imaginación v el mundo físico (65-82); L. Salazar C.: Hobbes ^

Spinoza frente a los desafios de Ia modernidad (83-105): M. Ezcurdia: Las

contrapartes incongruentes v el espacio absoluto (107-143 ): 1 Cabrera:

Conocimiento necesario en Kant (145-); P. Stepanenko: Gutcicneia t

autoconciencia en Kant (145-155); E. Serrano: Sobre el libre arbitrio en Kunt N

Schopenhauer (157-168); F. G. Villegas: Las Obras completes dr lleidegger

Ia génesis de Sein und Zeit (169-226). Reservas Bihliográlica,

XLII (1996):P. Guyer : Los princípios dei juicio reflexivo ( 1-59): I\1. Cainti La fiou icin

regulativa dei ideal de Ia ratón pura (61-79); 1. Cabrer.i. l'( 11(1(1 \ iun i 1

reflexionante en Kant ( 81-90); P. Stepanenko: Sistematicidad ^ unid(1d d( l((

experiencia en Kant (91-105); D. Leserre: Lu reflesión tru,, cndcnnil del

lenguaje en la facultad de juzgar reflexionaste (107-123 ): D. daria Grana: El

juicio reflexivo en Ia estética kantiana (125-144): A. Anderson: Inicio

reflexionante , superstición v escepticismo (145-154): M. Dascal: E:cquicl de

Olaso in memoriam (155-156); M. Presas: E:equiel de Olaso: un hombre libre

(157-159); J. de Olaso: Hontenaje a E:equiel (161-163); L. Benítez:

Consideraciones sobre el simular y el disimular en Ia Carta de Descartes a

Regius de enero de 1642 (165-168); M. Beuchot: Argumentación _v talarias co

Ia lógica de Port-Royal (169-177). Reservas Bibliográficas.

Educação e Filosofia - Uberlândia- 9 (1995).N° 17: E. F. Chagas: Para uma Explicitação da Dialética Hegeliana entre o

Senhor e o Escravo na Fenomenologia do Espírito (11-15): J. P. Furtado:Educação e Movimento Social: a Questão da Qualidade do Ensino na Perspectiva

de um Sindicato de Educadores (17-38); L. A. A. Eva: Notas sobre a Presença

de Sêneca nos 'Essais ' de Montaigne (39-52); E. H. Maimoni: Relato Verbal cJulgamento da Professora sobre o Rendimento do Aluno. Relação com os

Comportamentos Observados na Sala de Aula (53-77): T.M.M. Sampaio:

A Questão Freireana da Educação como Práxis Político-Filosófica (79-89); L.Leite & D . D. Maced : O Arco e a Lira - O inaudito na Erótica de Safo (91-111);A. Q. Guimarães : Algumas Notas sobre a Filosofia Política de Hobbes (1 13-137);I. M. Farias : O Sentido do Trabalho como Princípio Educativo na ConcepçãoGramsciana (139-155); R. C. Silva: A Concepção da Filosofia em Adorno(157-172); M. S. P. da Silva : Elementos para a Construção Teórica da Histo-ricidade das Práticas Educativas Escolares (173-183); L. de B. S. Filho:A Educação no Imaginário Liberal (185-190); M. R. A. M. Veríssimo: A Articu-lação entre Infância, Cidadania e História : Unia Questão para a Pedagogia (191-207); M. V. Silva: Gerência da Qualidade Total: Conservação ou Superação doProcesso de Alienação ? (209-225); M. S. F. Gouveia: Ensino de Ciências e For-mação Continuada de Professores: Algumas Considerações Históricas (227-257);A. R. Donatoni & M. C. de P. Coelho: A Educação Brasileira na ConjunturaNacional (259-263 ); L. B. P. Frange : Manifestos sobre Desenho (265-271).

pp. 165- 168 Revista Filosófica de Coimbra - n.° 13 (1998)

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Ficheiro de revistas 167

Ethos - Buenos Aires - 21-22 (1993-1994).G. Soaje Ramos: Introducción ai curso sobre Ia Razón Práctica en Ia

Filosofia Occidental (9-33); C. Eggers Lan: La deliberación dei alma en Platón(35-42); G. Soaje Ramos: Aristóteles: el nous praktikós (1 ° exposición) (43-56);G. Soaje Ramos: El nous praktikós en Aristóteles (2° parte): Ia disputa Walter-Teichmüller en torno a este asunto (57-66); V. Julia: Razón cósmica y razónhumana en el estoicismo antiguo (67-77); L. E. Corso de Estrada: Naturaleza ylogos según el testimonio ciceroniano dei De finibus bonorum et malorum (79-87); G. Soaje Ramos: La ratio practica en el Aquinate (1° parte) (89-95); G. SoajeRamos: La ratio practica en el Aquinate (II° parte) (97-104); M. L. Lukac deStier: Thomas Hobbes: Ia razón como árbitro (105-115); M. Costa: El sentidode Ia "esclavitud" de Ia razón en Ia filosofia moral de Hume (117-124); G. SoajeRamos: La razón práctica (praktische Vernunft) en I. Kant (1° parte) (125-152);G. Soaje Ramos: Kant y Ia praktische Vernunft (razón práctica) (2° exposición)(153-180); R. Ferrara: Razón Práctica y Espíritu Práctico en Ia filosofía de Hegel(181-198); G. Soaje Ramos: El neokantismo alemán . Sus dos direccionesprincipales. H. Cohen, P. Natorp, L. Nelson (199-244). Notas crítica y reservas.

Filosofia - Turim - 48 (1997):N° 2: V. Possenti: Il problema dei male in Augusto Dei Noce (Razionalismo

gnostico, esistenzialismo religioso , pensiero tradizionale) ( 183-198 ); G. Gigliotti:L'etica come fatto delia ragione. A proposito di un recente saggio dell'etica diKant (199-216); W. Marani: Motivi di attualità nel pensiero di Ludwig volt Mises(217-232); D. Drivet: La nozione di mondo negli scritti precritici kantiani(1765-1777) (233-301); G. Gallino: La prospettiva speculativa di Cario Antoni:Ia teoria dei giudizio (303-326); A. Rodighiero: Nascite delia filosofia. Appuntiper un'indagine sincronica (327-330); M. Montuori: 'Apologia' e 'Critone'. Ri-flessioni e Obiezioni (331-362). Rassegna di libri.

Philosophica - Lisboa - 10 (1997):J. B. Moura: Peso, Pêsame, Pesadelo - Para um sopesamento (não

saudosista) da Saudade (3-27); I. M. Dias: Vestígios do Mundo. Literatura eFilosofia em Merleau-Ponty (29-44); A. P. Mesquita: A Natureza da IdeiaPlatónica. A propósito de duas passagens-chave: Fédon 83b, Parménides 141 e-142a (45-76); D. Ferrer: Pensar e Reflectir. Sobre o modelo reflexivo do Pensarem Heidegger (77-106); A. F. de Sá: O Problema da Tolerância na Filosofia

Política de John Rawls (107-120); M. P. Dias: Cassirer/Heidegger. O Encontro

de Davos ou o debate sobre Kant e a Modernidade (121-143); A. V. Serrão: AHumanidade da Razão. Ludwig Feuerbach e o projecto de uma AntropologiaIntegral (145-152); J. de A. P. Arêdes: Foucault ou a Impaciência da Liberdade

(153-157); M. P. Dias: A Filosofia da Cultura de Ernst Cassirer (157-162); A.B. Pinela: A Fundamentação Metafísica da Esperança em Gabriel Marcel (163-

168); M. de F. C. Pinheiro: Caminhos da Linguagem - Caminhos do Ser em "AAlegria, a Dor e a Graça" de Leonardo Coimbra (169-173); J. M. de A. A.Ribeiro: Da Fenomenologia à Hermenêutica em Paul Ricoeur (173-175); M. de

Revista Filosófica de Coimbra - n.° 13 (1998) pp. 165-168

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168 Revista Filosófica de Coimbra

J. Rodrigues : "Sophia nlomentanea " - Criação e Liberdade na Filosofia dc

Vladimir Jankélévitch (175-178); P. S. de C. e Silva: A Filosofia da Ciência de

Paul Feyerabend (178-181); M. da C. M. Soares: A Alteridade e o Feminino em

Emmanuel Lévinas (181-182); P. S. Maia: Burke e a Revolução (18?-185).

Teoria - Pisa - XVII (1997):N° 2: A. Fabris: Premessa (3-4); A. Pellegrino: Emil Lask e Alarri,r Heidegycr

La storia della filosofia tra interpretazione scientifica e senso delta tempora-

litd (5 -37); F. Gaiffi: L'indicazione formate nei corsi /)ihur,^hrsi (39-50);

M. Zaccagnini : 11 'cristianesimo delle origini': tina laica di runnr.c ione Ira

Harnack e Heidegger? Spunti di riflessione per Ia siaria di rur pu. su,^,giu

ermeneutico (51-66); D. Vicari: Una definizione rlte nc•ça se sle sa, 11 parado',

esistenziale delta filosofia (67-82); M. A. Pranteda: Psic•ologui..clorio r u0(11,-tone

nell'interpretazione heideggeriana di Dilther (83-103): G. Bruni: L.'altro, gli

altri il 'sé'. 11 giovane Heidegger tra 'quotidianitn' e 'autentiritcì' ( 105-1 17 ); P.Bussotti : Alcune note sulla Gnoseologia husserliana della 'Philosoplrie der

Arithmetik', con particolare referimento al concerto di numero (119-133)..

pp. 165-168 Revista Filosófica de Coimbra - n.° 13 ( 1998)

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RECENSÕES

PORRO, Pasquale. Forme e Modelli di Durata nel Pensiero Medievale.L'aevum , il tempo discreto , Ia Categoria «Quando» (Ancient andMedieval Philosophy. Series 1, XVI), Leuven: Leuven University Press,1996, 532 p.

Pela primeira vez na sua prestigiada história, a série 1 da colecção «Ancient andMedieval Philosophy», publicada sob os auspícios do De Wulf-Mansioncentrum daUniversidade Católica de Lovaina (KUL), acolhe um título na língua do Lácio.Encontramo-nos perante um trabalho de longo fôlego que não belisca o rigor e a excelênciada colecção lovaniense e que se mantém em certa tradição italiana de severa e circunspectaerudição historiográfica e filosófica. O seu autor, jovem estudioso de Filosofia Medievalcom provas irrefutáveis de ampla e invulgar capacidade de análise e de crítica histórico-filosófica, oferece-nos um incontornável contributo para a história das concepçõesfilosóficas do tempo e das suas figuras («formas» e «modelos»), desde os Gregos,mormente Aristóteles, à escolástica jesuíta do séc. XVI, ou, por outras palavras, até àrevolução cosmológica moderna. É sumamente impressionante - embora o A. não toqueneste ponto - que Descartes insista, contra Gassendi, que visa o tempo «nãoabstractamente considerado» mas enquanto duração da própria coisa (V° Resp. inMeditationes), no que representa um entendimento pontilístico da existência; ora, a teseda descontinuidade do tempo, e a consequente da divisibilidade infinita da duração, apesarde se assumirem como noções primitivas no inventor francês da Modernidade têm atrásde si uma história configuradora do uso de noções como tempus, duratio e aeternitas (ebem assim a recusa de aevum) nas quais se detecta o predomínio da duração, partilhávelpor Espinosa e por Descartes (modo ou atributo sob o qual se concebe uma coisa enquantoexiste; já o tempo servirá para medir a duração). O retórico desmemorialismo cartesianoencontraria assim no livro de P.P um horizonte aparentemente insuspeitado: a desrealizaçãodo tempo, a duração como atributo da existência e como afecção concreta, eis o que aModernidade foi capaz de pensar graças ao amadurecido germinar dessa modernamedievalidade. (Seja-nos permitido um desabafo: é impressionante como a área daFilosofia Medieval tem dado o tom a uma certa investigação mais generalizada no campoda História da Filosofia; atente-se, v. g., no caso da Filosofia Moderna, onde só agora secomeça a assistira um deslocamento do estudo dos conceitos específicos de um sistemapara as noções mais tradicionais conforme é testemunho recente fascículo de Les ÉtudesPhilosophiques em relação a Descartes e a Espinosa, perspectiva na qual os filósofosmedievistas contemporâneos têm um avanço considerável)

Mas regressemos ao livro de P.P., doravante imprescindível para uma confecção deum dossier sobre o tempo, temática, aliás, a que as páginas desta Revista têm dado devido

Revista Filosófica de Coimbra - ri." 13 (1998) pp. 169-178

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170 Revista Filosófica de Coimbra

acolhimento (recordamos e. g. os estudos sistemáticos de J. Reis). Além de nos ter

agradado a imensurável informação patente em circunstanciadíssimas notas de pé de página

(quantas vezes despertando-nos para novos problemas), fomos sensível ao à-vontade na

movimentação diacrónica e ao trabalho de análise aturado (são cento e doze os autores

estudados entre edições e mss.). Há um tempo para o estudo do tempo e hoje em dia,

inevitavelmente, ninguém olha para esta noção como o poderia fazer antes de Ileidegger

que alterou a nossa maneira de o entender. Assim, se é certo que tacitamente pode subjazer

à escolha desta temática, pelo autor, o privilégio contemporimco que a ela não podemos

deixar de conferir, e se era também previsível, dado o percurso de P.P. (que se dotornu

estudando a natureza do tempo em Henrique de Gand), a escolha de uni tensa corou o

presente - a investigação relativa a medidas Como «a'vtlnI,> ((ap. 1 e 11)• .,tempo drscrclu••

(Cap. 111) e a categoria «quando» (Cap. IV) -- enganar-se-à quem pcns;u ir lei unia 1e-

,i-que autorize uma interpretação metafísica do tempo (ou seque) •rmtulõglì:I miro u

prefere dizer a p. 488) posto ser antes sua convicção que o que curaeterir;I os nu sues

medievais do tempo são menos valoraçõcs de teor metafísico e riais questões de ordem

física. Nas suas palavras: «tempo (...) é essenzialmentc Ia quanlilà successiva inerente al

movimento locale» (ibid.). Perguntar-nos-iamos. evidentemente, se o A. não exagera nesta

interpretação, ou melhor, se ele, dada a perspectiva formal adoptada como baliza de

pesquisa (aliás inatacável), a relação duração/cosmologia, não perde alguma sensibilidade

para com óbvias dimensões metafísicas conexas, v. g., com a dimensão criatura]. É difícil

- mesmo na época sob escrutínio do A. - que o tempo não seja uma privilegiada noção

também substancialmente antropológica e vectorialmente metafísica. Pensemos e. g. nuns

autor em que, como se compreende, P. P. é um reputado especialista, o teólogo du séc.

XIII Henrique de Gand: quer J. Decorte que nós mesmo temos vindo a insistir, por rias

distintas, no facto de que há um leitmotiv substancialmente'metafísico' no traço de rasura

da ontologia aristotélica como alternativa ao tomasismo de Duzentos (vd., do autor belga.

a sua contribuição a Via Scoti, Roma, 1995); ora, essa rasura não podia desperdiçar o

exame de uma esfera tão significativa como a do tempo, posto que, com o teólogo de Gand,

nos deparamos com uma proposta metafísica sobre a temporalidade radical da criatura

(embora Heidegger nos tenha ensinado a exequibilidade do pensamento da finitude forade qualquer recurso a esquemas criacionistas: vd. Einleitung in (]te PhilosopIlie GA 27,pp. 326, 337, 339, 340, passim). Evoquemos em qualquer caso tão-só uni texto henriquino

(Quodl. X, q. 7. ed. R. Macken, p. 179, 1. 97- 08), onde se pode descortinar algo da vasta

gama da profundidade metafísica do ser criado: o acto da criação - pode aí ler-se - nãoconsiste na consideração abstracta da posição da existência em toda a sua extensão

ontológica. Destarte, talvez devamos mesmo dizer que Deus só cria a 'ex-istência' namedida em que isso significa intervir na 'cons-istência', isto é dizer, que apenas o sercriado efectivado deve ser sempre um concreto integral e realmente fundado. Tal comoescrevemos algures, esta interpretação parece-nos promover uma alternativa cm relaçãoao sentido da autonomia da criatura específico do tomismo já que o Gandavense quischamar aquela "escola" não tanto ao sentido da existência quanto ao do existencial e dasua (in-)cons-istência. Deixemos este confronto. Insistamos então ainda que haveria quereparar que se está longe de esgotar o dossier filosófico sobre o tempo na Idade Média.

mesmo sob o prisma dos seus autores (lembramo-nos inevitavelmente do comentário aPseudo- Dionísio feito por Pedro Hispano, autor aliás omisso desta obra de Porro).Pensamos , depois, em patamares tais com o do tempo qualitativo; ou o do tempoquantitativo, cujo surgimento parece ser contemporâneo da cunhagem das grandes moedasde prata nas cidades italianas; da laicização do tempo mecânico contra o tempo religioso;do tempo social; do tempo humano e divino; do tempo pontual (punktuelle Zeit, sprunhafteZeitlichkeit); da prática do anacronismo ou acronismo; do tempo histórico ou, se se quiser,

pp. 169 - 178 Revista Filosófica de Coimbra - n.° /3 (1998)

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Recensões 171

mesmo da divisão tempo/hora que Honório de Autun (autor também ausente do livro querecenseamos ) dividia assim , dando já mostras da tendência sistematizante escolástica paraa atomização do tempo que ligava o séc. XII a Lucrécio: a hora divide-se em 4 'pontos',10 'minutos ', 15 'partes', 40 'momentos ', 60 'sinais ' e 22560 'átomos'! Enfim, mesmode um ponto de vista filosófico , importa ler a presente obra tendo em mente opinião de J.Le Goff sobre a ausência de uma representação e vocação única do tempo e da plenitudedo(s) tempo ( s) como realidade ( s) do pensar medieval ( vd. entre nós o primeiro volumeda Enciclopédia Einaudi). Se listamos estes tópicos dada a perspectiva mais historiográficado autor, nada do que acabámos de dizer fere realmente o trabalho ímpar de P.P., tantomais que haveria que optar entre tantos monumentos bibliográficos, e o nosso intérpreteateve-se prudentemente aos loci mais importantes na historiografia filosófica normal (etomamos esta última palavra tal como Kuhn a usa para a ciência). Desta feita , parece-nosextraordinariamente salutar a reivindicação e o estudo pormenorizado das dimensõesnaturalmente cosmológicas que adquirem ainda mais força dado o rigoroso positivismodo nosso A. Desiluda-se o leitor que ainda pense só vir a encontrar uma monótona sinfonianas concepções relativas às formas e aos modelos da duração . Sem podermos , como secompreende , dar aqui conta do conjunto das conclusões da obra, limitemo-nos a apresentaros três modelos muito gerais , e sobretudo metodologicamente operatórios , que o A.encontra entre os sécs . XIII e XIV, sobre o tempo enquanto medida dos entes criados: (i)aferição da sua natureza pela mobilidade dos entes (T. de Aquino ); ( ii) pela extensão doconceito de 'a'vum' (D. Escoto); ( iii) pelo instante do tempo discreto (Herveu de Nédellecou Durando de Saint Pourçain ). De facto, longe de estes três modelos se nos apresentaremcomo unitários, conforme avisa o A., assinala-se como tese nuclear derradeira a progressiva«desvinculação terminológica e conceptual entre a ideia de duração e a de tempo emsentido estrito » ( p. 491). Assim se confirma uma distanciação para com o arqui - modeloaugustinista ( retirar as coisas do tempo ) mediante a redimensionação da problemática emsede aristotélica que passa por conferir tempo às coisas . Poderíamos ainda exemplificar odecurso/percurso tão prudentemente analítico seguido pelo autor ilustrando alguns dos seuscoeficientes interpretativos mediante a menção aleatória de dois autores contemporâneos,digamos menos importantes , Francisco de Mayronis e Durando de Saint Pourçain (esteúltimo relevante numa catedrilha homónima da Universidade de Coimbra em pleno séc.XVI). Enquanto que sobre Mayronis , minorita que parece ter seduzido, no nosso séc. XV,o interlocutor da cabeça da gesta marítima lusitana, o Infante D. Henrique, Frei André doPrado, Porro limita-se a informar- nos ter aquele partilhado tese do dominicano SantoAlberto Magno sobre o wvum como duração contínua extensa ( p. 230 ), já sobre oigualmente dominicano Durando, o intérprete italiano estende - se sobremaneira,designadamente acerca do tempo discreto (p. 375-83). Mais do que a explicáveldesigualdade de espaço dos dois autores ( sobre o franciscano existe uma menor produçãoteórica histórico-interpretativa), ressaltaríamos o capital de informação mesmo assimadquirida. Destarte, se a evocação de Mayronis nos informa, uma vez mais, da quaseinexistência de fonteiras conceptuais entre ordens, a relativa a Durando (especialmentecontraposta a Nédellec), confirmando-nos também este dado (p. 241), permite-nos entreverque as divergências no interior de uma Ordem não eram apenas de carácter «superficial»(este é o termo de Porro) ou sintoma de exaustibilidade expressa em estéril verborreia,como queriam os humanistas ( nomeadamente os italianos , os principais responsáveis peladesvalorização do conceito de Idade Média). O signatário destas linhas conta-se entreaqueles praticantes da coisa medieval (permita-se-lhe a aparente banalidade) que consideraque a filosofia não termina em 1500; acompanha, depois, quem perspectiva como condiçãodo filosofar o pensar contra a (i. e., depois da) filosofia medieval, desconstruindo-a noque ela tem de mais eloquentemente matricial, mas, dito isto, ele não poderia ser insensível

Revista Filosófica de Coimbra - n.° 13 (1998) pp. 169-178

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ao inciso «istud autem non videtur sufficienter dictum» (tópica do afastamento de Durando

em relação ao seu confrade Nédellec, v. g. p. 377) com que se assinala um pensar

constantemente em processo e profundamente individual ou interiorizado tão

inquietantemente comum nesses tempos avessos à superficialidade do trabalho mental.

Para terminar, vale a pena referir devidamente que o livro de P.P. também nos interessa

a nós , portugueses , pelo facto de chegar a estudar posições como as dos Conimhricenscs,

de Fonseca ou de Suárez ( ao qual atribui a análise mais ampla da categoria 'quando' na

segunda escolástica na esteira distante de Egídio Romano). Recordemos porém que a

temática do tempo em Pedro da Fonseca havia sido trabalhada, entre nos, pelo menos por

V. de Sousa Alves e por M . Baptista Pereira , este último em notável e conspícua tese

doutoral . Nesse particular , porém , haveria que fazer, pelo menos, ligeiros repaors l.m

primeiríssimo lugar, corrigir afirmações da nota 171 (p. 459), Designadamente a que ainda

liga Fonseca ao projecto do Curso Conimbricense (vd. A. Niarons rir / 'r r), uni

observarmos que a relação Curso Conimbricense/Suárez é a inversa do que a que se pode

perceber na nota seguinte dessa mesma página (vd. também p. 473, n. 202), e. (m,ilmcnte.

dar como incorrecta a cota do mss de Coimbra referido (p. 461) T 38, publicando que são

três os textos de Luís de Molina existentes na Biblioteca Geral da 1 niversidadc de

Coimbra , De iustilia (SP - 0 - 5 - 5) Concordia liberi arbitrit e Appendi.x ad concordiam

liberi arbitrii (RB - 34 - 36 e R - 34 - 21).

Alário San naco ele Corraliro

SKINNER, Quentin. Reason and Rhetoric in the Philosophy of Hobbes.(Cambridge: Cambridge University Press, 1996) xvi + 477 pp

O objectivo central deste volume é testar as características da aspiração central deHobbes em matéria de filosofia política: transformá-la numa disciplina científica de acordocom os cânones da ciência moderna emergente . Não se trata porém de descobrir elementosradicalmente novos no que se refere à intenção de construir uma scientia cir'ilis rigorosa.Esta intenção programática , como é sabido, é uma constante dos principais textos deHobbes desde The Elements of Law até ao Leviatã passando pelo De Cn e. A análise deSkinner pretende reapreciar a partir de uma leitura rigorosa dos textos publicados e demuitos manuscritos inéditos e de uma ponderação do contexto cultural em que se inscrevea obra de Hobbes , os contornos mais precisos da sua compreensão da nova ciência civil.Muitos comentadores leram o texto hobbesiano como se a sua concepção da scienlia ciei/isnão fosse mais do que a simples transposição da sua compreensão da metodologia dasciências naturais. O seu intento de expor e investigar os grandes temas da moral e dapolítica more geometrico mantém -se ao longo da obra. Mas, como alguns comentadoresmais recentes sublinharam , nos textos posteriores aos Elementos, Hobbes introduz váriasdiferenças entre os métodos das ciências da natureza e as ciências humanas. No próprioDe Cive, Hobbes salienta que ao tratar-se dos corpos artificiais investigados pela ciênciapolítica não se pode prescindir, como nas ciências da natureza, da consideração dafinalidade para que foram criados.

Quentin Skinner procura neste volume explorar alguns aspectos desta questão tentandodeterminar em que sentido Hobbes terá realmente feito uma verdadeira distinção entre osmétodos das ciências da natureza e os das ciências humanas . A tese central de Skinnerparece poder reduzir-se ao facto de Hobbes ter chegado, por volta de 1651. à conclusãode que as ciências humanas, ao contrário das ciências da natureza, precisavam de umcomplemento retórico. Nelas, a força da razão , por si só, revela-se estruturalmente incapaz

pp. 169 - 178 Revista Filosófica de Coimbra - n." 13 (/998)

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de conseguir a adesão dos destinatários do texto político. É neste contexto que entra a forçamotriz da eloquência . Teríamos, assim , em Hobbes a defesa e realização sistemática daunião entre razão e retórica constante do ideário do humanismo.

O texto de Skinner, como não poderia deixar de ser, constitui um belo exemplo daaplicação dos pressupostos daquilo a que já se chama a escola de Cambridge na área dahistória das ideias . O aspecto fulcral do método nas palavras do próprio Q. Skinner consisteem colocar os textos históricos em tais contextos que nos permitam identificar o que éque os seus autores estavam afazer ao escrevê-los . Isto implica , entre outras coisas, des--centrar Hobbes, indicar quais são as tradições perante as quais ele reage , que tipo deargumentos ele escolhe , que alterações introduz nos debates em que participa . Precisamenteporque Skinner parte da convicção de que a sua filosofia política está em grande partedeterminada pela linguagem das discussões correntes no Renascimento sobre a naturezadas ciências humanas dedica toda a primeira parte do volume a um estudo minucioso daeloquência clássica na Inglaterra do Renascimento ( 19-214) regressando a Hobbes numasegunda parte ( 215-438 ) para reavaliar o impacto do confronto com a tradição das teoriasneo-ciceronianas na sua compreensão final do valor e limites da scientia civilis.

A primeira parte do texto fornece um quadro excelente sobre o estudo da retórica eas várias técnicas de argumentação bem como dos ideais educativos que lhe estavamassociados . São cinco capítulos que contém rica informação sobre o impacto do curriculumhumanista no contexto cultural em que se inscreve a obra de Hobbes. Não parece , contudo,que o que se ganha com este tipo de informação seja proporcional ao esforço dispendidopela generalidade do público alvo de uma monografia sobre Hobbes. Para os maisinteressados pelos domínios da retórica e da tópica , Skinner não traz elementos de grandenovidade excepto no que se refere à recepção da tradição ciceroniana na Inglaterra dosséculos XVI e XVII. Com isto não queremos de forma alguma minimizar o interesse daanálise contextualizada do projecto hobesiano de construção de uma scientia civilis.

Skinner pensa que Hobbes , ao esboçar as linhas mestras da sua scientia civilis no finaldos anos 1630 , estava a reagir mais contra o esquema mental do humanismo e a sua culturaretórica do que contra qualquer espécie de pirronismo ou relativismo céptico como quercerta historiografia do dealbar da Modernidade . Uma das preocupações centrais de Hobbesseria precisamente resgatar o conceito de justiça da situação lamentável em que o deixaramos cultores da eloquência . Quentin Skinner não pretende , de modo algum, eliminar estadimensão anti-dialógica da concepção hobbesiana da política . O que ele pretende mostrar,de acordo com a metodologia teorizada noutros textos, é que o estudo rigoroso do contextocultural de uma obra não é apenas mais uma alternativa a outras leituras ou aproximações

a essa mesma obra . No caso de Hobbes, Skinner defende a tese de que há uitos elementos

na sua concepção da ciência política que não podem ser explicados se não tivermos em

conta as circunstâncias em que surgiram . Exemplos flagrantes seria o do próprio conceito

de cidadão que surge no título de uma das suas obras mais importantes , De Cive.A resposta a muitas questões que surgem a prepósito deste conceito seria possível no

enquadramento das questões ligadas à educação retórica. Os programas educativos deste

tipo de humanismo no Renascimento Inglês estavam associados a uma pretensão de

favorecer uma abordagem mais ampla e inclusiva da cidadania e do engajamento cívico.

Skinner sublinha , com alguma razão, que não se podem compreender bem as opiniões de

Hobbes acerca dos deveres do bom cidadão se não for possível perceber em que medida

elas são apresentadas como um comentário hostil e sarcástico às tentativas humanistas de

promover o estudo da rectórica como preparação para a vida pública.

Skinner apresenta - nos uma narrativa da evolução intelectual de Hobbes em três

momentos , como já vem sendo hábito em casos semelhantes . No primeiro episódio, o

jovem Hobbes absorve completamente a compreensão retórica da scientia civilis durante

Revista Filosófica de Coimbra - n.° 13 (1998 ) pp. 169-178

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a sua formação literária . Segue-se o acto de rebeldia que o leva a recusar esta comprensão

da política . Finalmente, teriamos o momento de superação que lhe permitiria integrar os

dois primeiros momentos . Skinner não fala propriamente assim mas este tipo de linguagem

permite-nos vislumbrar onde está, a nosso ver, o ponto fraco da interpretação aqui

oferecida . Skinner diz-nos que a atitude final de Hobbes perante a cultura do humanismo

no Leviatã reflecte um desejo de reapropriar muito daquilo que antes pós de lado.

Contrariamente àquilo que sucede com alguns comentadores, Skinncr não cai nu armadilha

de negar a dimensão demonstrativa ou científica do Leviaiõ em favor de unia duricnsão

puramente retórica . Contudo, o seu texto está todo orientado para a análise das

características retóricas da obra de Hobbes e do Leviatt em particular. Salienta cai

particular o uso sistemático das técnicas do ornatos e o tipo de efeitos retóricos

conseguidos com objectivo predominantemente satírico. Isto Iclll Illlplleaçoc s tnipnrtantc

na interpretação das convicções religiosas de Hohhes e das suas al rnlaçues sobre a

veracidade da Bíblia e dos mistérios da fé cristã. Skinncr faz uni tiahalho nol;ncl p:u,l

nos consciencializar do facto de que o Leviatd é produto de unia cultura litcraria que náo

nos é familiar. Porém, defendendo , em princípio, que a sua metodologia náo si çnlftca

apenas mais uma maneira de ler os textos ou uma simples actividade de antiquário, deveria

ser capaz de oferecer mais elementos para uma interpretação contextualir_ada da dimensão

"científica " do Leviatã . Provavelmente parte do pressuposto que este aspecto e o maisfrequentemente valorizado na bibliografia especializada mais recente. Este aspecto podeprejudicar gravemente o impacto da leitura de Skinner na medida em que não mostra

claramente o impacto desta revalorização da dimensão retórica na análise do texto de Hobes

enquanto tratado científico. Skinner poderá apontar inúmeros aspectos positivos da suareapreciação do texto hobbesiano mas ficará sempre uma grande insatisfação no que dizrespeito à análise do sistema filosófico propriamente dito. Skinner reconhece que Hobbes

foi o primeiro autor a apresentar um sistema filosófico global em língua inglesa. Alas, defacto, mais do que analisar as características deste sistema, Skinner preocupou-se com atarefa de mostrar, até à saciedade , que, ao ensinar a filosofia a falar inglês. Hobbes ensinou--lhe, simultaneamente, um certo tom de voz muito peculiar. Um estilo que terá os seuscontinuadores em David Hume e em Bertrand Russell . Não é aqui o lugar de discutir opreconceito elitista subjacente a esta leitura . Não precisamos de ser partidários de umoptimismo iluminista incondicional para exigirmos mais de um texto filosófico do que osimples domínio de determinadas técnicas da retórica para ridicularizar os ignorantes.

Aniónio Manuel Alurtins

REATH, Andrews/ HERMAN, Barabara / KORSGAARD, Ch. M.(Eds). Reclaiming the History of Ethics . Essays for John Rawls(Cambridge : CUP, 1997) vii +415 pp

Estamos perante um volume de homenagem a John Rawls, escrito por antigos alunosque hoje ensinam em diversas universidades norte-americanas, que assume a forma deestudos inspirados na metodologia rawlsiana do equilíbrio reflectido. Apenas duas autorasnão pertencem ao mundo da universidade norte-americana : Susan Neiman, professora naUniversidade de Tel Aviv e Onora O'Neill, da Universidade de Cambridge. O contributode Rawls para a revitalização da filosofia política e para a constituição da própria agenda,desde a publicação de Uma Teoria da Justiça , é geralmente reconhecido mesmo por aquelesque discordam de muitas das suas opiniões . O que talvez não tenha ainda sido devidamente

pp. 169 - 178 Revista Filosófica de Coimbra - n.° 13 (1998)

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explorado é o impacto possível da metodologia rawlsiana noutras á reas da filosofia.O conjunto de ensaios reunidos neste volume representam uma tentativa de aplicação dametodologia seguida por Rawls em muitos cursos dados em Harvard sobre figuras centraisda história do pensamento ético e político desde Aristóteles aos contemporâneos.

Não será de estranhar que os temas destes estudos cubram tópicos ou autores centraisna obra de Rawls. Assim : Marcia L . Homiak, "Aristóteles sobre os conflitos da alma: parauma compreensão da ética da virtude" (7-35); S. A. Lloyd, "Coerção, Ideologia e Educaçãono Leviatã de Hobbes" (36-65); Jean Hampton, "O lado hobbesiano de Hume" (66-101);Joshua Cohen , "A bondade natural da humanidade" ( 102-139); Susan Neiman , "Metafísica,Filosofia: Rousseau sobre o problema do mal" ( 140-169); Onara O'Neill, "Dentro dosLimites da Razão" ( 170-186); Barbara Herman , "Um Reino dos Fins cosmopolita" (187-213); Andrews Reath , "Legislar para um Reino de Fins: a dimensão social da autonomia"(214-239); Adrian M. S. Piper, "Kant sobre a objectividade da lei moral" (240-269); NancySherman, "Virtude kantiana: pedante ou passional ?" (270-296 ); Christine M. Korsgaard,"Assumir a lei: Kant sobre o direito à revolução" (297-328 ); Hannah Ginsborg, "Sobre afinalidade estética e biológica em Kant " ( 329-360); Thomas W. Pogge, "Sobre os fins e

o sentido da vida em Kant" (361-387); Daniel Brudney, "Comunidade e realização"(388-415).

Marcia Homiak analisa no seu artigo a discussão aristotélica da akrasia ou fraqueza

da vontade . Tema que foi escolhido não tanto pela pretensão de encontrar mais uma soluçãoexegética para os complexos problemas colocados pelo texto aristotélico mas antes pelaoportunidade que oferece de analisar as complexas dimensões do carácter, elemento chave

do homem virtuoso. O objectivo estratégico mais amplo vem enunciado no próprio título

deste artigo. Trata-se de mostrar em que medida Aristóteles nos oferece, na Ética aNicómaco um tipo de ética da virtude. Tudo depende , como a autora salienta, do que se

entende por ética da virtude . De facto, a expressão tornou - se progressivamente moedacorrente em determinado conjunto de autores que a usam num sentido mais negativo do

que positivo . O caso mais paradigmático será o de Maclntyre . Marcia Homiak não entra

deliberadamente na caracterização genérica de uma ética da virtude exemplificada,

supostamente , pelas éticas da Grécia Antiga . Simplificando , poderiamos dizer que o seu

objectivo neste estudo é interpretar a akrasia como uma falta de carácter e não do processo

de deliberação prática . Neste ponto, a estratégia de Homiak é clara mas não aparece

qualquer linha de argumentação que possa responder convincentemente a uma objecção

corrente à tese subscrita por Homiak a partir do lugar central e estruturante do conceito

de eudaimonia na ética de Aristóteles.Os dois textos que se seguem tratam de alguns aspectos ligados à filosofia política

de Hobbes (S. A. Lloyd) e sua recepção em Hume (Jean Hampton). Joshua Cohen, por

sua vez, aborda um tópico característico de Rousseau , a bondade natural do homem. O

que caracteriza a compreensão de Rousseau é a sua demarcação face a teses muito

semelhantes de certas teorias igualitárias e de democracia radical . Reconhecendo que a

posição de Rousseau tem, apesar de tudo, o seu quê de obscuro, J. Cohen procura

interpretá-la de modo a clarificar os aspectos mais ambíguos que tenderiam a tranformá-

-la em simples projeção das nossas preferências morais e políticas . Cohen acaba por

concluir que a doutrina da bondade natural do homem é incontornável se quisermos manter

de pé o projecto de realizar uma sociedade governada pela vontade geral . Seria mesmo a

grande oportunidade de resolver aquilo que se designa como "o problema da possibilidade

motivacional": o ideal rousseauniano de associação livre só será possível para os humanos

se os vícios não fizerem parte da natureza humana (130-131). Por outras palavras, nesta

interpretação , Rousseau antecipa muitos aspectos daquilo a que Rawls chama a vertente

"agostiniana" da psicologia moral de Kant.

Revista Filosófica de Coimbra - ti." 13 (1998) pp. 169-178

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Susan Neiman analisa o problema do mal em Rousseau partindo de uma observação

pouco citada de Kant em que o filósofo de Kbnigsberg atribui àquele o título de "Nesvton

do Espírito" já que teria descoberto "na variedade de formas que a raça humana assume

a natureza profundamente abscondita do homem e a observar a lei oculta que justifica a

Providência " ( Kant, GS, XX, 58.12-59.3 citado nas páginas 139 e 163 n.). Não se

contentando com a simples menção do facto de esta nota pertencer ao período pre-crítico,

Susan Neiman tenta perceber o sentido da afirmação central de Kant no que se refere ao

problema do mal. A obra de Rousseau associa dois tipos de problemas que tradicionalmmilte

foram subsumidos pela designação de problema do mal. Por um lado, a questão de sabei

porque é que um Deus omnipotente e benevolente criou uni mundo onde existem muitos

males . Nas discussões clássica fazia - se a distinção entre o mal Físico e o nial nxir,il nuas

havia uma certa tendência para associar estas duas categorias. Unia resposta tradicnmol

interpretava o mal físico como uma privação que afectava apenas a ordene partcular. I'or

outro lado , o mal moral era considerado corno preço a pagar pelo doai da liberdade Pari

muitos autores contemporâneos , designadamente de expressão inglesa, cst;unos perante dois

problemas claramente distintos . Durante o Iluminismo, contudo, os dois tipos de problemas

andavam associados . A atenção que lhe era dada pela generalidade dos autores do seeulo

XVIII explica a ideia avançada por Kant de que quem o conseguisse resolver poderia ser

considerado um segundo Newton . Susan Neiman, ao discutir o problema nas suas diversas

dimensões pretende algo mais do que o rigor interpretativo . Visa igualmente esclarecer

alguns aspectos importantes da transformação dos problemas filosóficos em geral. Depois

de uma breve análise do contexto histórico que informa a obra de Rousseau. apresenta uni

esboço da análise rousseauniana da existência do mal terminando com a análise da questão

de saber qual é exactamente o resultado que justifica a observação de Kant. Uni dos

intervenientes mais apaixonados nets polémica foi, sem dúvida. Voltaire que utilizou o

terramoto de Lisboa como exemplo paradigmático do mal físico inexplicável pela razão.

Isto porque a demonstração de que há males necessários briga com o sentido de justiça

que suporta as perguntas mesmas para as quais se procura uma resposta. Daí que, para

Voltaire, neste domínio, qualquer explicação filosófica é pior do que não apresentarqualquer justificação. Rousseau , pretendendo mostrar que alguns tipos de mal são. a umtempo, compreensíveis e evitáveis opera , de facto, uma reabilitação da filosofia face àcatilinária de Voltaire . A crítica de Voltaire assenta na confusão de três tipos de finalidadeque caracteriza a discussão pré-crítica do problema . A reformulação de Rousseau e Kantnão se limita a simples clarificação terminológica mas altera o próprio quadro em que as

questões se colocam (163).

Onora O ' Neill já dedicou à temática da razão e da racionalidade cm Kant umamonografia e vários artigos com particular incidência na dimensão da razão prática (verConstructions of Reason : explorations of Kant's practical philosophr, CUP. 1989 e o artigo"Vindicating Reason " no Cambridge Companion to Kant, CUP, 1992, pp 280- 308).Contudo , pensa que há ainda muito para dizer sobre esta matéria . O artigo "Nos limitesda Razão" aqui apresentado , mais não pretende ser do que um primeiro passo no sentidode explicitar as implicações da concepção kantiana da razão para um interpretação das suaopiniões sobre a religião e a esperança em particular (171). Uma versão menos desen-volvida deste artigo já apareceu em alemão com o título "Innerhalb der Grenzen der bloóenVernunft " in Kant über Religion Hrsg . F. Ricken & F. Marty ( Stuttgart : Kohlhammer,1992), 101-111.

Barbara Herman retoma um tópico clássico da bibliografia kantiana homenageandoRawls de um modo particular. Neste caso , a luz sobre este tema não se fez durante os anosde graduação em que a autora frequentou as aulas de Rawls nos finais dos anos sessenta.A ocasião próxima da escrita deste artigo prende-se com a releitura das lições de Rawls

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Recensões 177

sobre a ética de Kant . Não se trata de reapreciar as questões mais controversas em tornada moral kantiana mas de analisar alguns pontos fulcrais em torno da própria noção de"um reino dos fins" para explorar algumas possibilidades de reconstruir a análise dos juízosmorais num contexto de pluralismo . Barbara Herman é conduzida , assim, para umainterpretação do reino dos fins como um ideal que permite uma reflexão sobre as nossasacções e sobre as práticas que constituem o pano de fundo da acção e do juízo. Será estaa interpretação mais correcta do reino dos fins? Para B. Herman basta que seja legítima.O acento é colocado na fecundidade da interpretação e não tanto na acribia exegética (210).

O artigo de Andrews Reath "Legislar para um reino de fins: a dimensão social daautonomia" concentra - se na exploração e clarificação da noção de autonomia . Procuraresolver algumas das tensões entre autonomia e sujeição às regras e constrangimentossociais usando a análise triádica da liberdade , tornada moeda corrente pela análise daliberdade política efectuada por John Rawls em Uma Teoria da Justiça.

Adrian M . S. Piper começa o seu artigo por uma citação do célebre artigo pro-gramático de Rawls, publicado em 1951 , na Philosophical Review , "Outline of a DecisionProcedure for Ethics ". De facto, foi aí que começou a viragem rawlsiana no âmbito dafilosofia moral e política. Viragem de que os seus alunso se começaram a aperceberclaramente nos anos sessenta e um público mais vasto depois da publicação de Uma Teoriada Justiça em 1971 . Naquele artigo, salienta Piper, a questão da objectividade moral foireconfigurada de tal modo que a prática da meta-ética se deslocou da análise linguísticapara a metodologia racional . Isto numa época em que muitos ainda estavam profundamentecomprometidos com os programas analíticos sucedâneos do positivismo lógico e da obrade Wittgenstein . Rawls ao substituir a pergunta pela referência dos termos morais pelaquestão em torno dos juízos morais enquanto resultado de um procedimento racional efiável deu uma nova orientação à disciplina que acabou por influenciar mesmo os queseguiram caminhos diferentes como Thomas Nagel , Richard Brandt ou David Gauthier.As reservas que o último Rawls manifestou face ao seu optimismo inicial a respeito daintegração da ética no quadro de uma teoria geral da decisão racional só mostram aseriedade com que se empenhou na articulação do seu programa delineado nos anos 50 e,por outro lado , até que ponto levou a sério as objecções dos seus críticos mais lúcidos.Piper procura inscrever as intenções programáticas do primeiro Rawls na linha de umadefesa kantiana da objectividade moral . Trata-se de um excerto de um estudo, nãopublicado à data, sobre a meta-ética de Kant.

Kant continua a ser o tema dominante dos artigos que se seguem nesta colectânea. Oúltimo texto, de Daniel Brudney, gira em torno do conceito central de comunidade. Noção

que tem estado presente no centro dos debates em torno da obra de Rawls, pelo menosdesde o já clássico texto de Michael Sandel sobre Liberalismo e os limites da Justiça.

Porém, não deixa de ser curioso que os autores que vulgarmente aparecem sob a designação

de comunitaristas pouco contribuiram para o esclarecimento desta noção central. Também

não foram muito explicitos sobre o tipo de relações que os cidadãos deveriam manter entre

si e o estado no modelo defendido como alternativa ao liberalismo rawlsiano . Daniel

Brudney insiste na necessidade de clarificar as diferentes concepções de comunidade. O

aspecto mais fora do comum no artigo de Brudney é a aproximação entre a compreensão

de comunidade de Uma Teoria da Justiça e a dos texto do Marx dos manuscritos de 1844.

O texto marxiano que serve de base a esta interpretação é o comentário aos Elementos de

Economia Política de James Mill. Ao contrário de outros comentadores , Brudney vê a

versão da justiça como equidade da Teoria muito mais próxima dos ideais comunitaristas

do que o Liberalismo Político. O problema residiria precisamente no facto de a nova

sociedade bem ordenada , não sendo uma comunidade, não ter aquela unidade social mínima

que Rawls diz que ela conserva . Sem entrarmos aqui em polémica com a interpretação

Revista Filosófica de Coimbra-i1.° 13 (1998) pp. 169-178

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de Brudney neste artigo - e reconhecendo a pertinência de muitas das suas observações -não nos parece que a tese central de que os cidadãos da nova sociedade bem ordenadanão se completam já que não precisam uns dos outros para manterem instituições justasesteja suficientemente justificada (407).

Em resumo, diríamos que se trata de um conjunto de artigos interessantes sobretudo

se forem lidos na perspectiva de uma reflexão crítica sobre o método da filosofia cm geral

e muito particularmente nas áreas da ética e da filosofia política. Neste campo, esta obra

está longe de esgotar as potencialidades do ensino e do exemplo de Ra\v+s

Alunni„ AI,uno l ALirtio

pp. 169-178 Revista Filosófica de Coimbra - n.° 13 (1998)

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