revista fantÁstica - edição nº4 - outubro/novembro

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Quarta edição da Revista FANTÁSTICA.

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Page 1: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro
Page 2: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

"Só com respeito pode-se exigir respeito.É uma regra sem exceções."

Victor Hugo

Page 3: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

EditorialEquipe FANTÁSTICA

Editor-chefe:

Luiz Ehlers

Editor, Revisor Final e Mídias:

Dhyan Shanasa

Editor Parcial:

Gabriel Lamarck

Editor de arte:

Felipe Pierantoni

Marketing:

Carol Chivatto

Webmiss:

Priscila Braga

Redatores:

Dhyan Shanasa

Felipe Pierantoni

Leandro Schulai

Luiz Ehlers

Chegamos à quarta edição da FANTÁSTICA e a última de 2010. Depois de mais de 400 páginas de revista, o que é praticamente uma obra literal, cada vez mais nos sentimos “gente grande” dentro da literatura fantástica nacional, que parece crescer a cada momento. Descobrimos, através de e-mails à revista, intermináveis autores nacionais tentando seu lugar ao sol. Toda essa sede e vontade pela escrita fantástica proporcionam mais opções aos leitores e é mais um degrau para evolução da nossa literatura. Esta quarta edição novamente traz uma obra nacional como tema principal. A escolha da capa com a obra de Eduardo Spohr, A Batalha do Apocalipse, nos pareceu justa e merecida. O alcance e o sucesso que esta ficção fantástica nacional teve nos últimos meses encheu-nos de orgulho e de esperança, pois o sucesso dela mostra que sim é possível ser autor brasileiro e vender muito. A Batalha do Apocalipse está em todas as livrarias do Brasil lado a lado com obras consagradas e de grande sucesso internacional. A vitória dessa obra é para nós da FANTÁSTICA como uma conquista quase histórica dentro da fan-tasia nacional e não poderíamos deixá-la de fora de nosso trabalho. Outra grande novidade que ocorreu entre estas edições foram os eventos do Papo FANTÁSTICA, que rompeu as barreiras do podcast e se tornou um evento “de carne e osso” que reuniu muitas pessoas em suas três edições. Agradecemos profundamente nossos três primeiros convidados, Erick Sama (Edi-tora Draco), Leandro Reis (Filhos de Galagah) e Sílvio Alexandre (Novo Século) que apostaram em algo novo e acreditaram no nosso trabalho aceitan-do de imediato o convite para a participação destes eventos. A experiência nos foi muito positiva e mais eventos vêm por aí Mais novidades estão para surgir, o que já se tornou marca da revista, e esperamos poder continuar levando diversão e muita literatura interessante para os quatro cantos do Brasil. Agradecemos a todos e desfrutem, sempre sem moderação, de mais uma edi-ção da revista FANTÁSTICA.

Luiz EhlersEditor-chefe da FANTÁSTICA

www.revistafantastica.com

[email protected]

Page 4: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Índice

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Grandes obras da literatura são lembradas pela profundidade tanto da história quanto dos personagens. Contudo, alguns alegam que o excesso de elementos psicológios pode colocar

em risco o desenrolar da história, pesando na leitura.

Qual é o limite entre o raso e o profundo dentro da eterna busca por uma boa trama?

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Não creio que haja limite algum que possamos estabelecer neste âmbito, tam-pouco que seja preciso focá-lo desta forma. Na verdade, uma obra é profunda quando o autor tem auto-conhecimento suficiente para atribuir a ela tal gracejo. É sabido pelos grandes escritores de todos os tempos que a escrita – ou qualquer outra arte -, é um refle-xo de si mesmo, e assim, a aridez de uma de-terminada obra simplesmente prova a vacui-dade do interior do referido autor. Não que isso seja um problema, pois não me ocorre ter conhecido alguém que tenha nascido sabendo das coisas, mas as coisas estão ao nosso redor o tempo todo para serem des-cobertas. Já disse alguém que “a natureza da Verdade é manifesta, nós é que não quere-mos enxergá-la”, e partindo dessa premissa, basta apenas que coloquemos mais atenção em aspectos simples para que um livro tenha profundidade. Mas há alguns mal entendidos nesse meio literário. Esses equívocos acontecem pelo simples motivo de que não somos aten-tos o suficiente nem para com nós mesmos ou com o meio que nos cerca, e quando agindo desta forma, como fazer de nossa arte algo expressivo? É simples, não se faz. Ou se tem a potência observadora ou não; é claro que pode-se cultivá-la com o decorrer do tempo, mas todos têm pressa e querem logo lançar seus livros deixando-os a mercê do pueril e do fútil; tornando-o mais um na prateleira das livrarias. A grande maioria das pessoas acha que escrever é simplesmente inventar. Essa crença é mais social do que pessoal, pois no fundo é inerente a qualquer ser humano ter sabedoria, apesar de ela es-tar sendo abandonada aos poucos. Não creio, contudo, que existam ex-cessos de elementos psicológicos em qual-quer âmbito da literatura; até por quê, tudo é psicológico, e assim o “excesso” não se

aplica. É evidente, e constatado, que há tre-mendas diferenças entre ler um tratado de Diógenes e um livro de J.K. Rowling, mas a diferença é meramente conceitual, pois en-quanto no primeiro os elementos psicológi-cos são ativos e devidamente analisados, no segundo eles estão ativos e são devidamente experimentados; então onde está o excesso? Está na imaginação do leitor. Um livro tem, por si só, sua natureza intrínseca e segue uma linha de raciocínio criada e moldada pelo autor. Essa linha se adéqua a alguns tipos de padrões que logo se sentem bem lendo aquilo, achando mes-mo que o texto é profundo. No entanto, um outro sujeito desprovido daquele padrão dirá que o livro é fútil ou pesado. Quê fazer então? Não se faz nada. Apenas se constata e observa. Mesmo assim, cabe ao dono da arte, o autor, compreender que a profundi-dade de um livro é a profundidade de si mes-mo, pois como escrever algo que dispare o gatilho reflexivo dos outros quando ele mes-mo, o autor, é desprovido da capacidade de refletir? Não, isso não existe. Neste mundo tudo necessita ser ini-ciado em nós mesmos. Alguém que não pondera ou reflete sobre qualquer coisa é alguém sem capacidade de iniciar algo pro-fundo; lembrando que “profundo” significa “real”, pois somente o real pode ser pro-fundo. Alguns podem protestar quando falo desta forma, mas podem pôr a prova o que digo, simplesmente experimentem. Assim, o limite entre o raso e o profundo nesta inces-sante busca por uma boa história é simples-mente o limite interno do autor; a linha que ele mesmo estabelece entre os olhos, o cora-ção e o exterior. Esta linha, quando cruzada de forma atenta, gera ótimos frutos que cha-mamos reflexão, estes frutos, no instante em que são devorados, geram a profundidade.

autor de O Livro de Tunes - Volume 1 - DestinoDhyan Shansa

Page 8: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

A busca por uma boa história sempre foi e sempre será o grande desafio de um es-critor no desenvolvimento de seus trabalhos. Um livro, para conquistar o seu leitor, pre-cisa antes de tudo de um enredo inovador, cativante e com personagens significativos e marcantes. O problema está na medida certa de cada elemento, pois a falta ou o excesso deles será percebido e reclamado pelo leitor instantaneamente. A busca pela profundidade de uma obra, acredito eu, não deve ser algo que te-nha de ser visto com exclusividade. Se você se preocupa apenas em ser profundo, você se esquecerá dos outros elementos funda-mentais da sua obra. A questão do quão raso ou quão profundo é um trabalho depende de uma série de fatores. O primeiro deles é justamente a verificação de quantos livros comporão aquela obra. Não adianta exigir profundidade de um autor que busca contar toda sua história em três partes. Ou que um escritor seja mais raso sendo que ele neces-sita contar toda sua trama em apenas um li-vro. A graça de uma narrativa é justamente fazer com que você a imagine e conheça os personagens aos poucos e vá passando a en-tender o funcionamento de suas atitudes e o porquê de certas reações. Mais agradável ainda é surpreender o leitor de tal manei-ra que ele nunca vá imaginar que algo pu-desse ter acontecido naquela situação. Mas isso justamente ocorre em obras que não se aprofundam em demasia na sua história e em seus personagens. Vemos por exem-plo em Harry Potter (Editora Rocco) que os verdadeiros contos de seus personagens em alguns casos só aconteceram no último livro (vide Severo Snape) e que no primeiro título da série pouco se sabia sobre o personagem,

mas isso não o desmereceu e nem o tornou raso. O que não pode acontecer em uma obra é deixar lacunas em aberto. Não expli-car um acontecimento na história ou mesmo a personalidade de um personagem permite que o leitor critique a obra e perceba a falta de aprofundamento em certos momentos. Para uma narrativa ter o seu ponto ideal bas-ta que se conte o necessário. Um exemplo interessante de como o profundo pode se tornar raso é na série LOST. Aprofundando a mitologia e os acon-tecimentos da série a cada temporada fize-ram com que o público se interessasse cada vez mais e buscasse por respostas não expli-cadas. A série, que explorou diversas mídias para aprofundar sua história, acabou, ao seu término, tornando-se rasa na opinião de al-guns fãs, já que diversas lacunas foram dei-xadas em aberto e a falta de aprofundamen-to e, principalmente, respostas fizeram com que as pessoas questionassem a capacidade criativa de seus criadores. O nível de detalhamento em um li-vro vai muito pelo estilo de cada escritor. Uns descrevem mais do que os outros, mas o principal é aderir à expectativa dos leito-res e responder tudo aquilo que foi propos-to no começo da obra. Muitas vezes ser raso significa ser prático e direto e dar ao leitor aquilo que ele buscava. Profundidade não é sinal de qualidade, mas quando usada de maneira adequada torna uma obra muito mais interessante e rica, permitindo ao leitor viajar pelo universo criado e degustar ainda mais daquilo que foi disponibilizado para sua apreciação. É um recurso que, quando bem usado, permite ótimos resultados ao traba-lho do escritor.

autor de O Vale dos Anjos: O Torneio dos Céus - Parte 1Leandro Schulai

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Não há um limite. É apenas necessário saber dosar. Lembro-me, ainda no ensino médio, que uma professora ensinou o significado da palavra texto. De origem latina, ela se origi-nou da palavra tecido, um material formado por vários fios. Um tecido, tal como um tex-to, era isso: a união de diversos fios (ou pa-lavras) unidos, que se transformavam num tecido (ou texto) e, assim, permitiam a con-fecção de uma roupa (entendimento de uma conceito/história). Isso ficou marcado em minhas memórias. Sempre que alguém me pergunta qual o limite de se unir elementos psicológicos com o desenrolar da história, vem a minha cabeça um tecido, que nada mais é a união de vários fios. A diferença en-tre um tecido e outro está justamente nas técnicas e nos fios utilizados. A mesma coisa com o texto. Sua beleza está nas palavras e nas técnicas textuais empregadas. Não exis-te um limite fixo, pois um texto é uma pro-dução introspectiva, que se aflora. Portanto, é impossível limitar. O que é necessário é saber cozer as palavras, dar os nós certos, costurar pequenas lacunas, arrematar as re-barbas, tudo isso com calma, zelo, paciên-cia. E isso só se consegue com o tempo. É preciso sempre revisar os pontos e eliminar possíveis imperfeições. Assim o tecido terá a leveza, a maciez e a beleza de uma seda.

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Juliano Schiavo

Cada escritor tem seu modo particular de descrever uma história, resta a ele saber co-nhecer profundamente seu ofício e dosar a fórmula que equilibre as alegorias psico-lógicas que alcance um fluxo constante na construção de uma boa narrativa. Na litera-tura, principalmente na literatura fantástica o escritor tem de ser um grande mágico e convencer seu espectador (o leitor) de que aquilo que manipula é real, ou seja, con-vencê-lo a aceitar seu convite para entrar no mundo além das palavras. Tolkien defen-de que os contos de fadas, e as histórias de fantasia não contêm simples alegorias que qualquer “mágico fingido” possa manipular. Em seu livro “Sobre histórias de Fadas” ele conta que um livro, de fantasia ou não, só é um bom livro quando o leitor consegue passar além das portas da imaginação e as-similar aquele mundo fictício como real pelo menos naquele momento, isso sim é um convite feito e aceito com sucesso. Muitos leitores abandonam um livro pelo o exces-so de “penduricalhos” entre os numerosos parágrafos e algumas obras não passam de grandes árvores de natal enfeitadas fora de época: são bonitas, mas não apresentam o menor significado. No final descobri-se que uma boa história é aquela capaz de cativar um leitor e transformar sua vida.

Laísa Cautora de Lagoena: A Terra

Secretaautor de O Silêncio das

Mariposas

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O Mundo de Avalon: Caminho da Gnose

No passado, uma corrente se espalhou, e os mais fracos foram dominados pelos mais fortes. Hostilidades foram declaradas e generais destruíram nações inteiras. O Mundo de Avalon é um lugar onde vivem seres humanos que foram manipulados por um Divino, que se intitulou o Criador de Tudo. Um mundo selado, que os hu-manos tentaram desvendar no passado, mas que agora só pensam em conquistá--lo. Nesses continentes existem cinco nações, onde seus generais, considerados os mais fortes dentre todos os Despertos, lutam batalhas sangrentas, e são chamados de “Os Intocáveis”.

Mas há um Desperto em especial, Leon, um soldado do Império de Sililvânia. Con-tudo, ele se encontra perdido entre dois sonhos: um lhe diz que ele será a ruína daquele mundo, enquanto o outro suplica para que se dirija a um determinado lugar. Os seus amigos o acompanharão nessa viagem, que terá a duração de quinze dias, neste primeiro volume. Porém, algo mais que um simples mundo selado será descoberto. Os sete Cavaleiros, que são conhecidos como os protetores daque-la região, entrarão no caminho da humanidade e colocar-se-ão como um grande obstáculo às nações. Os Dez Illuminati, protetores da falsa Deusa, com toda a sua imponência, irão adentrar o caminho de Leon e de seus amigos.

Sinopse:

Vincent Law nasceu em Icara í , no

Rio de Janeiro, no ano de 1981. É

técnico em informát ica, escr i tor e

grande apreciador da f i losof ia . Para

sua saga, inspirou-se na cabala e no

l ivro P ist is Sophia.

Sobre o autor:

Editora: BaraúnaPáginas: 512

Ficha técnica:

Page 11: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Recebi Mundo de Avalon: Caminho da Gnose (Editora Baraúna) logo após seu lançamento. O livro chama atenção por sua capa: harmoniosa e com traços orientais. Quanto à obra, senti uma certa atmosfera de mistério e curiosidade, já que, apesar dos dedicados esforços de divulgação por parte de seu autor, Vin-cent Law, a trama não parecia ser daquelas passíveis de serem plenamente resu-midas em sinopses ou resumos. A história se passa na fantasiosa terra de Avalon, povoada não só por hu-manos comuns, mas também pelos Despertos, pessoas com a capacidade de ma-nipular energias para técnicas especiais. Os Despertos influenciam intensamente este mundo, repartido em diferentes nações e rachado por diversas disputas políticas e territoriais. Como personagem central, temos Leon, habitante de uma pequena vila e detentor de um misterioso passado do qual não se recorda. Sua vida tranquila consome-se em chamas quando a pacata comunidade é vítima de um covar-de ataque. Junto com alguns amigos, o rapaz parte para exigir respostas a tal tragédia. No caminho, contudo, resgatam a jovem princesa Helena, alvo de um sequestro e fiel da balança que pode culminar numa guerra de enormes pro-porções. Em sua companhia, o grupo segue numa longa e perigosa jornada, lu-tando para impedir o surgimento de um conflito que gere ainda mais mortes e sofrimento. Mundo de Avalon tem determinadas características marcantes e – de certa forma – contrastantes. Por um lado, a semelhança com animes e RPGs eletrôni-cos, percebida no desenrolar dos diálogos e interações entre personagens. Até mesmo as batalhas seguem este estilo, regidas por normas e variáveis como clas-ses e níveis de poder. Por outro lado, o livro se distancia da cultura popular na sua abordagem filosófica e social. Através dos diferentes pontos de vista de cada personagem, o autor promove uma exposição de ideias sobre valores morais, justiça e igualdade. Sendo uma obra com nuances tão opostas, senti a falta de uma abordagem clara e direta de seu enredo, capaz de corrigir a confusão que acaba por rondar a trama. A grande quantidade de personagens, locais e nações propicia a incom-preensão, também acentuada pelo estilo narrativo com poucas explicações. En-quanto a história deva ser clara na mente do autor, o mesmo pode não acontecer para o leitor. Mundo de Avalon: Caminho da Gnose é um livro complexo de se definir. Quem se aventurar por suas páginas encontrará uma trama fantasiosa, criativa e com uma vigorosa de mistura de ação e romance – definitivamente o seu ponto mais alto. Entretanto, fica o aviso de que o livro não foi escrito como uma obra de puro entretenimento e sim como um ensaio dos pensamentos e introspecção do próprio autor.

autor de O Diário Rubro

Felipe PierantoniResenha por:

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Page 12: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Rede de Sonhos

Arthur Ceneda é um jovem de dezessete anos que, como qual -quer outro estudante prestes a terminar sua v ida colegial , leva uma vida muito agitada ao ter que conci l iar seus problemas pessoais com seu futuro acadêmico. Contudo, quando o garoto recebe de presente de aniversár io um fantást ico objeto capaz de conectar os sonhos das pessoas, chamado “Sonífero”, sua v ida muda completamente e ele tem ao seu alcance um incr ível mundo novo e i rreal , sem fronteiras ou até mesmo l imites de tempo – a Rede de Sonhos.

Sinopse:

Felipe Pan nasceu em São Bernardo

do Campo, São Paulo, no ano de 1986.

Sobre a autora:

Editora: Novo SéculoPáginas: 224

Ficha técnica:

Page 13: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Ok, ok. Rede de Sonhos (Editora Novo Século), obra de Felipe Pan, realmente me deixou contente com a descontração que me proporcionou. O que me fez real-mente entrar no clima da história foram as semelhanças que encontrei entre eu e o protagonista. Mesmo gosto para música, cabelão, desorganização... Será um senso comum entre pessoas dessa idade? Arthur é um cara normal, tira notas razoáveis na escola, joga futebol e se pre-ocupa com o tão temível VESTIBULAR. Mas as coisas começam a ficar diferentes quando seu primo, Eduardo, lhe dá de presente de aniversário um aparelho chama-do Sonífero. Esse aparelho é o hit tecnológico do momento – e não é para menos. O Sonífero permite que o usuário viva seus sonhos de uma maneira mais intensa, todos os lugares da memória de alguém podem ser visitados a qualquer momento, basta você recarregar seu aparelho e estar dormindo. Sempre guiado por seu primo, Arthur é apresentado aos Caçadores de Memó-rias e acaba por fazer parte do grupo que tem como objetivo explorar melhor esse mundo tão vasto e ao mesmo tempo tão acessível.Entretanto, em uma de suas aventuras para desvendar a origem do enigmático Es-tranho – um ser misterioso, encapuzado e com poderes extraordinários –, Arthur quebra os limites entre sonho e realidade e acaba colocando em risco a vida de muitas pessoas. É aí que os Caçadores e Arthur terão de decidir se têm coragem o bastante para ficar frente a frente com o perigo e prosseguir em um mundo tão gran-de quanto nossa própria imaginação (sem contar com os problemas na escola, que não eram poucos). O autor, Felipe Pan, teve uma ótima ideia: contar uma história em realidades alternativas utilizando uma máquina como ligação entre as duas. O ponto positivo, na minha opinião, foi que a existência do Sonífero permitiu que houvessem alguns intervalos entre os dois núcleos da história (vida real/realidade dos sonhos), o que fez com que a história não se tornasse maçante. Foi, de certo modo, ver a questão dos romances nos sonhos e os conflitos que acabavam causando na cabeça do pro-tagonista, que por vezes tinha dificuldade de diferenciar o real do quase real. Esse tipo de história, que envolve sonhos, deve ser moldado de maneira cri-teriosa, pois os sonhos são a porta para o impossível, para a libertação da mente. O autor foi feliz em colocar, portanto, regras que explicassem bem os porquês das coisas, se não seria fácil as coisas saírem de ritmo (ou de lógica). A única coisa que achei desvantajoso foi a rapidez da narrativa, pois vejo que a história poderia ser mais aprofundada, com casos levados em maiores detalhes. Talvez isso criasse um vínculo até maior entre o leitor e o livro. Contudo, em suas 224 páginas, Felipe conseguiu criar uma história interessante, divertida e que prende o leitor do início ao fim. Sweet dreams!

Hugo FoxResenha por:

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Page 14: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

A Essência do Dragão: Ressurreição

Editora: Novo SéculoPáginas: 310

Ficha técnica:

Os Li-Seugs viviam no noroeste da Ásia há 3000 anos. Aquela dura re-alidade os fez migrar para terras mais pacíficas. No caminho, para uma vida melhor, acabaram testemunhando uma cena inusitada. Algo caído do céu, talvez alguma coisa dos deuses, repousava em uma clareira perto de seu provisório acampamento. Quando foram verificar mais de perto o estranho objeto, viram uma criatura sair de suas entranhas. A Essência do Dragão: Ressurreição levará o leitor a uma aventura extraordinária. A cada capítulo haverá reviravoltas e informações que aguçarão a curiosi-dade e a vontade de continuar nesta jornada. E se o ser humano não é a única espécie inteligente nascida no planeta Terra? E se esta forma de vida inteligente evoluiu de tal maneira que sua tecnologia possibilitou desbravar o Universo? Por que não deixaram nenhum vestígio de sua existência no planeta? Ficção científica? Fantasia? Aventura? Tire suas próprias conclusões e envolva-se nesta história! Conheça os Li-Seugs, Andy Carter e descubra qual é a missão de Tlüogodärami. Veja os dragões como nunca foram retratados antes.

Sinopse:

Andrés Carreiro

Page 15: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

O Mestre dos Dragões Vermelhos: O Império

Ficha técnica:

Durante o reinado de Lur o poder muda de mãos e uma guerra se arrasta por séculos.

Nos bastidores dessa guerra há magia e muito poder, grandes amores e insanidade; além de muitos segredos a serem descobertos e mistérios a serem desvendados.

Um império se forma com o poder das Gemas Lurin e com dragões trans-formados, mas sombras do passado maculam a armadura do novo impe-rador e também seu coração; a presença constante da figura de Luman-zir, dragão vermelha poderosa e misteriosa; as revelações de sua origem e as surpresas guardadas pela Senhora do Destino.

Quem nos narra a história é o próprio Mestre dos Dragões Vermelhos, levando-nos a um mundo mágico com personagens apaixonantes; convi-dando-nos a descobrir sua identidade.

Sinopse:

Alexandra Jahnel

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Editora: Novo SéculoPáginas: 446

Page 16: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

O livro escrito por Alexandra Jahnel nos leva a um mundo chamado Dhorman, lugar má-gico onde seus habitantes são compostos basi-camente por dragões, magos guerreiros, elfos, camponeses e curandeiras (chamadas no livro de Lurins). Lá existe um rei mago chamado Lur, o mais poderoso entre os magos guerreiros. Só que seu reinado está ruindo. Seus antes aliados estão insatisfeitos e Dhorman está dividido. Lur casa sua filha com seu campeão, Dhamaggor, que logo depois de consumar o casamento, rei-vindica o poder para si, se auto proclamando imperador de Dhorman. As sete gemas Lurins, a fonte de poder de Lur, acabam divididas entre os agora antagonistas e uma guerra no reino se inicia, onde Lur tentará reaver seu antigo status. Há na história uma misteriosa fêmea de dragão vermelho, conselheira de Lur, chamada Luman-zir que terá papel fundamental neste fantástico enredo. Basicamente é assim que entramos no mundo de Dhormam, este mundo mágico cria-do por Alexandra. Algo forte neste livro de alta fantasia está num ponto bastante interessante do próprio conceito em si. Não há um mani-queísmo visível na história, ou seja, o bem e o mal não estão definidos como pontos extremos. Conforme a história percorre suas propostas, acabamos descobrindo as verdades ocultas dos personagens que povoam Dhorman e acabamos definindo o lado pelo qual torceremos. Apesar de estarmos num mundo inspirado na Alta Fan-tasia ao estilo de Tolkien, não há neste livro uma busca ou demanda do bem para derrotar o mal. Este é o ponto forte e inédito que Alexandra de-senvolveu em sua obra. Ela conseguiu dar um ponto de vista muito interessante nesta narra-tiva de estilo fantástico. Vejo, guardada as devi-das proporções, na construção de seus persona-

gens, um conceito oriental em que o bem tem um pouco do mal e o mal um pouco do bem (Yin Yang). Seus personagens são mais humanizados, não entrando em modelos idealizados. Outro ponto forte da narrativa está no po-der que ela tem de nos despertar sentimentos. Por sinal a palavra sentimento poderia definir muito bem este livro. É impressionante como odiamos, durante o desenrolar da história, al-guns personagens, nos solidarizamos com ou-tros, e ainda temos inversões de sentimentos. Amor, vingança, revolta, etc., são sensações que circularão na mente do leitor durante o desen-volvimento da leitura. O elemento feminino é também algo a se destacar. Ele é introduzido na história aos pouco e de uma forma que não se torna algo panfletá-rio. As justificativas para o destaque deste ele-mento na trama são muito bem fundamentadas e facilmente as aceitamos. Nisto, há algo orgâ-nico na narrativa (natural), sem encontrarmos introduções forçadas. Contudo não é um livro determinado a um único gênero de leitor (sexo). Os dragões mostrados chamam a aten-ção. Os citados na história, em sua maioria, são os vermelhos e os cinzentos. Todos são seres do-tados de sabedoria. Estes terão, apesar de ser uma história entre as raças humanas, de suma importância para o desenvolvimento do enredo. Estou surpreendido e maravilhado com o que encontrei em O Mestre dos Dragões Verme-lhos. A história é cativante, e a narrativa muito bem construída por Alexandra Jahnel, demons-trando que é mais que merecido seu lugar entre as grandes estreias da literatura brasileira des-te ano. Um livro que sempre lembrarei, e mal posso esperar pela continuação, afinal, este é o primeiro volume de uma saga.

Resenha por Andrés Carreiro:

O Mestre dos Dragões Vermelhos: O Império, de Alexandra Jahnel

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Page 17: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Como uma devoradora de livros que sou, recebi A Essência do Dragão – Ressur-reição do amigo Andrés Carreiro e passei a degustar o livro, pois para mim, ler um bom livro é como degustar um prato de-licioso. Essa obra não é um brigadeiro, é uma bandeja inteira repleta de brigadeiros enormes, é uma surpresa a cada página, um verdadeiro brigadeiro literário. Temi ser crítica demais com o ami-go, afinal acabamos nos apaixonando por nossos próprios personagens e percebi a enorme diferença que existia entre os meus dragões e os dragões do Andrés, mas o enredo do livro me prendeu e o degustei em dois dias, não conseguia mais parar de ler, as surpresas se sucedem de uma forma fantástica. Os questionamentos sobre não termos sido os primeiros seres inteligentes de nosso planeta, a jornada dos dragões, retratados de uma forma completamente diferente; a missão de Tlüogodärami e o auxílio dos Li-Seugs e depois de Andy Car-ter, o vínculo de amizade e respeito que passou a unir todos eles e a realização do maior sonho de Andy Carter... Já estou fa-lando demais. Andrés Carreiro lidou divinamente com assuntos como ufologia, mitologia, tecnologia, tradição e amizade. O enredo é riquíssimo e as explicações sobre tecno-logia não deixam qualquer leigo com dúvi-das. A utilização de nanotecnologia é um espetáculo à parte, sem falar nas naves e

armas; a descrição dos cenários nos trans-porta a locais maravilhosos, e a construção dos personagens é rica, eu consegui imagi-nar Thüogodärami em todos os detalhes. Devo confessar que me apaixonei pelos personagens e me deliciei com todas as surpresas. Enquanto O Mestre dos Dragões Vermelhos – O Império se passa em um cenário medieval, com muitas batalhas e surpresas, mostrando como o império se iniciou e a trajetória do imperador, con-vidando o leitor a identificar quem são os heróis e os vilões, tudo envolvido por ma-gia e segredos, A Essência do Dragão nos convida a uma jornada pelo tempo e espa-ço, a descrição das batalhas nos convida a participar delas e o enredo surpreendente nos deixa curiosos, mostrando o início da jornada dos dragões e a trajetória deles por milênios. Usando as palavras de Shoi: “Pelos espíritos ancestrais dos Li-Seungs! Eu não acredito...” Repeti inúmeras vezes essa frase: “eu não acredito”, a surpresa dos Li--Seungs é compartilhada com os leitores de uma forma deliciosa. Não vou escrever muito, temo contar demais sobre o enredo, não quero estragar as surpresas; A Essência do Dragão – Res-surreição é um livro que merece ser degus-tado, é um brigadeiro literário e aguardo ansiosamente a continuação da saga.

Resenha por Alexandra Jahnel:

A Essência do Dragão: Ressurreição, de Andrés Carreiro

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Page 18: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Por Leandro Schulai

Page 19: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

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A BATALHA DO APOCALIPSEComo expl icar um fenômeno? É assim que o l ivro A Batalha do Apocal ipse: da queda dos anjos ao cre-púsculo do mundo (Verus Edi tora) é hoje def inido por muitos le i tores , escr i tores e pessoas do ramo edi to-r ia l . Para compreender como uma obra nacional a lcan-çou a honrável marca de permanecer por meses entre os 10 l ivros mais vendidos do país , es tudamos a t ra-je tór ia de Eduardo Spohr e de seu projeto, que, ini-cialmente , nasceu com uma proposta bem diferente .

Eduardo Spohr sempre foi um af ic ionado pela cul tura nerd. Carioca, nascido em 1976, teve o pr ivi légio de contar com a ajuda do pai , p i loto de aviões , e da mãe, comissár ia de bordo, para conhecer o mundo e ass im construir os cenários e cul turas para o seu l ivro. Entre tantas viagens, Eduardo acabou se apaixonando pela l i -teratura e desde pequeno produz textos . A paixão, gradu-almente, culminou em A Batalha do Apocal ipse . A t rama permaneceu em seu imaginár io por 10 anos, a té que, em 2003, após se formar em Jornal ismo com especial iza-ção em Mídias Digi ta is , Spohr começou a dá- la forma.

Muita gente se pergunta o motivo do l ivro ter a lcan-çado uma repercussão tão grande, a lgo, em primeira instância , incompreensível . No entanto, mergulhando--se no passado e , pr incipalmente, nas conquis tas de Eduardo, percebemos que tudo se t ra ta de uma con-sequência natural de fatos . Confira todos os pas-sos e consol idações que f izeram de uma s imples his-tór ia um marco na l i teratura fantást ica nacional .

o sucesso de

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Eduardo Spohr começou a escrever aos 6 anos. Parece loucura, mas é verda-de. Desde pequeno, rabiscava suas histórias e, mesmo não sendo fã da leitura, já dava ali os seus primeiros passos. Como muitos dizem, a experiência traz a excelência e, com toda essa bagagem, Spohr (hoje com 34 anos) já pode ser considerado um veterano da escrita, mesmo A Batalha do Apocalipse sendo seu primeiro livro. A iniciação de Eduardo no universo literário veio na adolescên-cia, tendo o RPG como porta para esse mundo rico e complexo.

A necessidade pela leitura tornou-se crítica quan-do Eduardo começou a desenvolver as suas aven-turas no mundo do RPG. Entre os livros que leu, surgiu aquele que seria uma das suas obras literá-rias mais apreciadas: As Crônicas de Dragonlance (Margaret Weis & Tracy Hickman). Tal leitura deu o start criativo para que iniciasse a pensar em seu próprio projeto literário.

O que com certeza deu embasamento moral e confiança a Spohr foi a conquista do segun-do lugar em um concurso de contos promovi-do pela PUC-Rio com a sua história, O Último Anjo. O conto se transformaria futuramente em A Batalha do Apocalipse, responsável por sua consagração.

Sua grande inspiração, porém, foi a série de f ilmes Anjos Rebeldes de 1995.

COMEÇO PRECOCE E RÁPIDO RECONHECIMENTO

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Clique e veja o trecho que inspirou Eduardo Spohr

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O público que acompanha o trabalho de Eduardo Spohr sabe que grande parte do seu sucesso vem da importância da admiração do público nerd pelo seu tra-balho. Um público cuja característica mais marcante é a fidelidade foi um tiro certeiro na vitoriosa jornada de Spohr.

O contato de Eduardo com o público nerd teve início no site Jovem Nerd. O portal, que surgiu em 2002 com uma proposta de trazer os assuntos do momen-to sob um ponto de vista cômico, irreverente e – principalmente – nerd , foi o grande responsável pela distribuição e divulgação de A Batalha do Apocalipse . Integrante do nerdcast , bate papo digital grande responsável pelo crescimen-to do site, Eduardo Spohr teve o apoio dos amigos e companheiros de site Alexandre Ottoni e Deive Pazos, que acreditaram piamente em seu trabalho e resolveram contribuir não apenas na divulgação, mas também no processo de publicação da obra.

Em 2005, após terminar de escrever seu livro, Spohr levou mais 2 anos entre pesquisa e viabilização da pu-blicação. Através dos seus contatos, conseguiu a realização de uma tira-gem de 70 exemplares. Com a aju-da do Jovem Nerd, que naquele ano já despontava com um dos maiores veículos de comunicação jovem do país, Spohr alcançou uma marca ex-pressiva: a venda de 70 livros em 5 horas. Os números assustaram o trio, que viu ali uma ótima chance

de atingir um público maior e alcançar um lucro significativo. Logo em seguida, uma tiragem maior, de 500 exemplares, foi lançada e esgotada rapidamente.

Após as vendas das duas primeiras tiragens, Spohr decidiu dar um tempo na comercialização para analisar propostas de editoras, em busca da realização da sua grande meta: a distribuição do livro em grande escala. Durante esse tem-po, recebeu a impressionante quantidade de oito mil e-mails com solicitações de leitores interessados pelo livro. Na ocasião, diversas propostas de editoras apareceram, porém, nenhuma satisfez o autor, que preferiu, junto com sua du-pla de amigos, lançar o selo Nerdbooks , tendo como único objetivo vender A Batalha do Apocalipse .

A IMPORTÂNCIA DO JOVEM NERD

Conheça o site Jovem Nerd

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Para a comercialização, os três fizeram uso das ferramentas de internet que melhor conheciam: o Nerdcast, que tem cerca de 40 mil downloads semanais; um hotsite sobre o livro, com trechos e informações sobre a obra, inclusive em áudio; e redes sociais. O áudio, aliás, foi outra grande jogada de marke-ting de Spohr, contando com a participação de dubladores profissionais, que conferiram ao teaser um instigante tom cinematográfico. A ambiciosa tiragem de 4.000 exemplares do selo Nerdbooks foi um sucesso, servindo como tacada final para chamar a atenção da editora que é hoje responsável pela publicação de A Batalha do Apocalipse: a Editora Record, sob o selo Verus.

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Clique e conheça mais sobre o Jovem Nerd

Ao todo, Eduardo Spohr vendeu mais de 4.500 exemplares de A Batalha do Apoca-lipse pelo site do Jovem Nerd, consolidando seu sucesso entre o publico nerd. Spo-hr, porém, buscava mais. Até então, apenas os internautas tinha acesso ao livro, e o interesse de Eduardo sempre foi alcançar um público mais amplo e abrangente.

Editado sob um trabalho de revisão que sempre teve em mente atingir uma plateia variada, A Batalha do Apocalipse ganhou nova capa, algumas sutis modificações e foi, em julho de 2010, lançado pelo selo Verus com uma distribuição digna dos maiores best-sellers internacionais. Como que naturalmente, o título logo con-quistou seu espaço entre os 10 livros mais vendidos, segundo diferentes meios de comunicação. Atualmente, é a obra de ficção fantástica nacional mais desejada pelos usuários da rede social Skoob. A agenda do autor, por sua vez, vive repleta de eventos e feiras literárias, onde leitores de todas os gostos e idades compare-cem ansiosos por um autógrafo. É a prova de um objetivo alcançado.

O DIFERENCIAL DA DISTRIBUIÇÃO

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Hoje em dia, Spohr trabalha em dois projetos. Um, de tom humorístico, deve ser lançado exclusivamente pela Nerdbooks. O outro, um prelúdio de A Bata-lha do Apocalipse, será publicado pela Editora Record. Agora que experimen-tou o caminho do reconhecimento e da admiração, Eduardo começa a trilhar outra árdua trajetória para um escritor: a continuidade. Com um público fiel e devorador de livros, Spohr terá que lidar com a ânsia das pessoas por novos histórias. Ultrapassando essa barreira, entretanto, poderá garantir o merecido espaço entre os grandes nomes da literatura fantástica.

Concept arts de Ablon e Miguel

Clique e ouça um teaser de A Batalha do Apocalipse

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UM LIVRO COM DIFERENTES CARAS

Em sua trajetória, A Batalha do Apocalipse passou por três edições. Confira abaixo a aparência e os dados de cada uma delas.

Ano: 2007

Edição independente

Páginas: 493

Ano: 2009

Selo Nerdbooks

Páginas: 560

Ano: 2010

Editora Verus

Páginas: 586

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RESENHA DE A BATALHA DO APOCALIPSEpor Felipe Pierantoni

Entrar na lista dos 10 livros mais vendidos não é para qualquer um, muito menos para um autor nacional de ficção fantástica. Entretanto, foi isso que o ca-rioca Eduardo Spohr teve a audácia de fazer com seu A Batalha do Apocalipse: da queda dos anjos ao crepúsculo do mundo (Verus Editora), obra que conquistou o público nerd e agora faz o mesmo com o mainstream. A questão é: o que seu livro tem de tão especial para quebrar tantas barreiras? O personagem principal de A Batalha do Apocalipse é Ablon, um anjo ex-pulso do céu por ir contra os planos dos arcanjos, determinados a exterminar a raça humana. Em sua forçada estadia no plano terreno, ele acompanha diversas eras da humanidade, sempre perseguido por anjos à sua caça, defendendo seus ideais e, o principal, buscando uma forma de vingar-se dos arcanjos. A obra de Spohr não conta uma mera história: ela é, na verdade, uma gran-de epopeia. Numa narrativa não linear, a trama vai desde os tempos anteriores à criação dos humanos, passa por diferentes épocas de nossa civilização e culmina num – não tão distante – futuro à beira do apocalipse. O uso de flashbacks que-bra o ritmo do título, mas sua qualidade é tamanha que, como um todo, isso não é um problema. Por diversas vezes eu me diverti mais ao apreciar as lembranças de Ablon do que ao acompanhar seu próprio “presente”. A escrita de Spohr, dotada de uma eficiente e moderada formalidade, trans-mite uma aura profissional e experiente, de modo que é até estranho pensar que A Batalha do Apocalipse é seu primeiro livro. A obra, por sua vez, não pode ser des-crita como leve, tendo mais de 580 páginas (contando os apêndices), recheadas de texto com diagramação apertada. Tais características podem assustar leitores mais casuais, porém o desafio de mergulhar nesse oceano de palavras é valido, já que proporciona ao leitor uma épica aventura, capaz de abraçar toda a história da humanidade. Uma vez concluída a leitura de A Batalha do Apocalipse, torna-se fácil ex-plicar seu sucesso. O livro é ótimo. Simples assim. Eduardo Spohr prova que, com dedicação e um projeto sério e de alto nível, não há obstáculos, preconceitos ou dificuldades que não podem ser derrubados. Exalto o autor por sua valorosa trajetória e torço que continue alçando voos ainda mais altos. Os leitores e a li-teratura fantástica só têm a ganhar.

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Chuva de caídos

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14 anosHugo Fox E aí, pessoal! Aqui estou eu, mais uma vez, comuni-cando com os senhores leitores. Hoje, vou falar sobre uma tendência literária vinda diretamente dos céus: histórias de anjos!

É bastante notável que os fallen estão conseguindo o seu espaço na literatura, podemos claramente ver isso nas prateleiras das livrarias, onde o que rola é Fallen (Editora Novo Século), A Batalha do Apoca-lipse (Editora Verus), Sussurro (Editora Intrínseca), O Vale dos Anjos (Editora Novo Século)... Aiai! É anjo pra mais de legião!

Esses seres celestiais, assim como todas as criaturas do universo mítico, têm suas várias formas de apa-

rição, que vão desde guerreiros que lutam pelo destino do mundo, até aqueles que só querem roubar o coração de uma garotinha que procura pelo seu príncipe encantado e, no caso, encontra um ser que já desfrutou as regalias do paraíso. Essas formas de releituras acabam abrindo espaço para um vasto acervo de histórias que vêm nos cercando. Mas, felizmente, são ótimas narrativas, em sua maioria.

A Bíblia define os anjos como servos de Deus, criados para defender a palavra de seu Senhor, mas hoje as castas e funções dessas criaturas milenares são muitas e cada autor se serve de fontes diferentes, ou chegam até mesmo a criar sua própria referência. É bas-tante interessante ver como tantos mitos podem vir de um outro.

É engraçado o fato que os anjos da época da Bíblia eram todos bondosos e totalmente corretos, exceto o anjo caído, Lúcifer que tinha uma repulsa pelos atos divinos. Atualmente, porém, os celestiais parecem estar um pouco mais maleáveis, afinal, o número de anjos expulsos dos céus está crescendo consideravel-mente. Será que as coisas no céu estão ficando “com-plicadas” assim como na Terra? Espero que não.

A materialização é importante para um anjo rene-gado, pois ela define seus traços humanos, permi-

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Adeus dentes, olá asas?

Proteja-se dos anjos caídos

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tindo que se misturem aos humanos. São também

importantes para caracterizar os lados da história:

os bonzinhos, geralmente, são bonitos e os maus,

geralmente, são feios. Mas quase sempre assumem o

corpo de alguém jovem e forte, para sobreviver bem

às calamidades que o mundo material poderia lhes

impor. Seja ele como for, em sua forma humana, o

que importa é a sua origem divina, que ainda pulsa,

mesmo que por pouco, em seu interior.

Voltando à parte literária da coisa, os vampiros devem estar se sentindo um pouco preo-

cupados com a concorrência. Está bem, os dentes pontudos de hoje até brilham quando

expostos ao Sol, mas os anjos têm asas! E podem até ter asas com luz própria! Vampiros,

se cuidem! Ainda assim,vocês estarão sempre no topo e não há problema em uma com-

panhia.

Por último, e não menos importante, preciso falar sobre algo que mexe com minha cabeça

e, talvez, com a cabeça de outros leitores. Alguns livros, tamanha é sua excelência e pers-

picácia na narrativa, acabam explicando os fatos ocorridos na Terra, relacionando-os de

tal forma aos celestiais que, mesmo encarando-os como criaturas fictícias, acabam dei-

xando uma pontinha de realidade escapar, levando ao conforto de um paralelo inofensivo

entre o real e o surreal. Ok, mas se alguém se encontrar com um anjo na rua, por favor,

entre em contato comigo, porque aí esse “inofensivo” vai mudar de conceito pra mim.

(Se ver um demônio então... Bem, melhor não entrar em contato, deixa só o anjo mesmo.)

E é isso galera! Se vocês gostam do assunto de an-

jos, mas ainda não leram nenhum livro sobre o tema,

procurem em alguma livraria perto de você, ou então

pela internet, nas lojas virtuais. A literatura nacional

também está nessa onda de paraíso e seus habitantes,

então é fácil encontrá-los por aí. Tenha certeza que

terão boas experiências literárias. Até a próxima!

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Dos céus para as garotas

Será que isso aconteceu mesmo?

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NO MUNDO DA FANTASIA

Existem diversos livros e filmes que exploram o universo fantástico. Cada vez mais, esta-mos circundados por obras de caráter fictício que exploram o imaginário popular. Quais os benefícios e os problemas em se entregar à fantasia? O quão série uma obra fantás-tica pode ser? Fugir da nossa realidade é uma das melhores formas de relaxar.

Quem nunca sonhou? Imaginar estar em uma terra encantada com criaturas fantásticas e diferentes de tudo que já vimos e obtermos poderes e habilidades que nunca acredita-mos que existiam – e não existem, na verdade – é prazeroso, reconfortante e divertido. Ficar preso à nossa realidade e nossas capacidades pode ser uma tarefa do dia à dia. O que há de mal em esquecê-los e “dar asas a nossa imaginação” ?

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16 anosVictor Schlude

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O Fantástico: benéfico ou prejudicial?

Muitas pessoas pensam que se prender à ficção é uma coisa ruim. Dizem que esta é baseada em elementos e locais que não existem, e não iremos lidar com os mesmos na vida real. De fato, misturar os dois mundos (o irreal – que está na nossa cabeça e nos livros – e o real – no qual vivemos) pode ser algo ruim, já que só um deles realmente existe. Já houveram muitos casos nos quais jovens que jogavam RPG transpuseram sua brincadeira e habilidades para o mundo real. Esses casos nunca acabam bem, geralmen-te em morte, como o de Roderick Ferrel , que fingia ser vampiro e, para “salvar” a na-morada “reprimida” por seus pais, matou o pai e a mãe da menina, bebendo pequenas porções de seu sangue.

Entretanto, esses casos são extremos. 99% das pessoas que gostam da ficção, do uni-verso fantástico, sabem dividir os dois mundos. Podemos relaxar das diversas horas de estresse somente lendo um livro ou imaginando outro mundo.

Além disso, a ficção também pode ser uma metáfora para as coisas que acontecem em nosso mundo, nossa realidade. No livro Alice no País das Maravilhas, de Lewis Carroll, a Rainha Vermelha é uma metáfora para a Rainha Vitória, que governava na época. A Rainha Vermelha ordenava que as cabeças fossem cortadas, entretanto, nada era feito. Ele queria criticar o governo da Rainha Vitória, que ordenava e discursava, mas nada cumpria. Essa é só uma das várias simbologias de Carroll.

Rainha Victória e Rainha Vermelha

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A atual exploração do fantástico e a fuga da realidadeComo já foi comentado e explicado na última maté-ria, os jovens são os que lêem mais. É este também o público que mais gosta de ficção. Na maior parte dos casos, a razão disso é a “fórmula geral” para livros de ficção juvenis : um jovem que escapa de seu cotidiano, como problemas normais, para ou-tra realidade, com problemas piores, porém, mais interessantes e legais. Escapar do mundo em que vivemos para outro, com outras preocupações e obrigações, é magnífico para todos, porém, mais enxergado por jovens.

Visando vender e, é claro, aproveitar a prazerosa trajetória de produção de uma obra fantástica, mais autores as escrevem e cada vez mais as vemos no mercado editorial. Isso invadiu até mesmo o mercado editorial brasileiro. Em meio às obras dos novos autores nacionais, 80% das mesmas são ligadas à fantasia.

Quem não quer uma carta dessas?

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Escolha seu transporte e...Com a variedade de mundos, personagens, habilidades, livros e filmes criados até hoje, não é muito difícil de dar um passeio pelos campos de Nárnia, por Hogwarts, participar de uma partida real de RPG com Ana e Daniel ou até mesmo tomar um drink no Neon Azul. É muito fácil escapar por algum tempo de nossa realidade. Pegue um livro, deslize seus olhos por suas letras e sinta o vento do outro mundo. Volte só quando desejar.

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Em cartaz: A Batalha do Apocalipseroteiro por Eduardo Spohr

Há muitos e muitos anos, tantos quanto o número de estrelas no céu, o paraíso celeste foi palco de um terrível levante. Um grupo de anjos guerreiros, amantes da justiça e da liberdade, desafiou a tirania dos poderosos arcanjos, levantando armas contra seus opressores. Expulsos, os renegados foram forçados ao exílio e condenados a vagar pelo mundo dos homens até o Dia do Juízo Final. Mas eis que chega o momento do Apocalipse, o tempo do ajuste de contas. Único sobrevivente do expurgo, Ablon, o líder dos renegados, é convidado por Lúcifer, o Arcanjo Negro, a se juntar às suas legiões na Batalha do Armagedon, o embate final entre o céu e o inferno, a guerra que decidirá não só o destino do mundo, mas o futuro da humanidade. Das ruínas da Babilônia ao esplendor do Império Romano, das vastas planícies da China aos gelados castelos da Inglaterra medieval, ‘A Batalha do Apocalipse’ não é apenas uma viagem pela história humana - é também uma jornada de conhecimento, repleto de lutas, magia, romance e suspense.

Sinopse do filme:

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É o cara, sem dúvida. Decidi que Holloway seria per-feito para interpretar Ablon quando assisti ao episódio de Lost “Outcast”, da primeira temporada. Jaquetão de couro, cara de mal… Mas o que mais im-pressiona nele é o OLHAR FELINO. Sabe quando o Sa-wyer toma por-rada e olha com aquela expressão de “vou te ma-tar”? Taí o nosso “homi”.

Ablon:

Josh Holloway

É minha primeira opção. Na sua primeira aparição no

livro, Shamira tinha 19 anos, e ficou até os 26 estudando

como manter a sua vitalidade e viver para sempre. Ha-

thaway está na

faixa etária per-

feita para o pa-

pel. Pode inter-

pretar tanto uma

menina quanto

uma mulher.

Shamira:

Anne Hathaway

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Teatral. Jude Law é teatral e sabe ser debochado. Ele como aquele robô de “AI” foi fantástico. Era só colocar umas tranças nele, um cabelo louro e pronto. Ia ficar ótimo.

Lúcifer:

Jude Law

Clive Owen foi um dos poucos atores que eu idealizei des-

de o princípio. A única coisa que falta nele para ser um

Miguel perfeito é

a mecha branca no

cabelo, mas isso é

fácil de fazer. Owen

é um ator “grande”,

de corpo natural-

mente rústico e tem

a voz poderosa.

Miguel:

Clive Owen

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Dwayne Johnson é o nosso “Escorpião Rei”. Acho que ele fica pau a pau com Vin Diesel em certos aspectos. Em algumas ce-nas, como as de combate, poderia ser até melhor – afinal, ação é com ele mesmo. E tem uma aparência até mais “árabe” do que o Diesel, ape-sar de ter nascido na Califórnia.

Appolyon:

Dwayne Johnson

A aparência não está muito de acordo, confesso. Oldman

ia ter que se maquiar bastante, mas acho que ele é um ator

capacitado para in-

terpretar Gabriel. Já

mostrou que pode

fazer personagens

muito distintos uns

dos outros. En-

tão, está aí minha

indicação.

Miguel:

Gary Oldman

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Del Toro é porto-riquenho e, além de ser um latino de carteirinha, é um camaleão do cinema. Você já o deve ter visto em muitos filmes, e ele é capaz de “mudar de aparência” a cada película. Tenho certeza de que in-terpretaria muito bem o demônio arrependido que chora fogo pelas vidas que ceifou no Dilúvio.

Amael:

Benício del Toro

Quem melhor interpretaria um demônio cheio de carisma,

presença e personalidade? O Orion, quando vem à Terra,

com terno e benga-

linha, tem tudo a

ver com o nosso De

Niro.

Orion:

Robert De Niro

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Sonhar não custa nada. Peter Jackson é o cara, o ídolo que fez a alegria dos nerds em todo o mundo ao levar para as telonas o clássico dos clássicos O Senhor dos Anéis. Como diz um amigo meu do trabalho… “tem que respeitar o homem”.

Diretor:

Peter Jackson

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pequenos livros,

A megalomania é, de certa forma, uma mal que assola grande parte dos escritores jovens atualmente. Há em muitos o desejo ansioso por começar com uma série longa e ter fãs loucamente esperando por cada continuação, a exemplo do que aconteceu com livros consagrados como Harry Potter e a Saga Crepúsculo. Contudo, a realidade brasileira para o escritor iniciante não é tão mágica quanto foi para as Rowling e Meyer e, infelizmente, a possibilidade de desapontamento dos fãs da tão desejada “trilogia de dez livros” é grande.

É importante destacar que cada caso é um caso e é sim perfeitamente factível o sucesso de uma série longa de um autor iniciante, mesmo em um mercado mais fechado como o brasileiro. Há sempre espaço para trabalhos de boa qualidade, porém porque não pensar em livros mais diretos? Quem foi que disse que uma boa história precisa ser longa? De onde vem esta megalomania?

Esta questão do tamanho do livro foi largamente discutida na seção Falando no Assunto na terceira edição da FANTÁSTICA. Há alguns autores que defendem que as sagas muitos grandes tendem a perder objetividade, tornando a história algumas vezes até confusas. Mesmo os mais fervorosos fãs da trilogia O Senhor dos Anéis admitem que algumas vezes Tolkien exagerou na falta de objetividade, tornando a leitura massiva em alguns momentos.

Por Luiz Ehlers

GRANDESI D E I A S

O Rei,

o Cozinheiro

e o 174

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Dentro da nossa literatura temos três bons exemplos de autores que apostaram em livros mais objetivos e provaram que livros longos não são sinônimo de boas histórias. São eles: Allan Pitz com A Morte do Cozinheiro (Editora Above Publicações), Janda Montenegro com Antes do 174 (Editora Ibis Libris) e Christian David com O Rei e o Camaleão (Editora Idéias a Granel). Os três apresentaram-se ao mercado livros com um número de páginas considera-do pequeno pelos padrões nacionais, mas que nada afetaram na qualidade da história ou mesmo na proposta da trama de cada um deles. Vamos conhecer um pouco da proposta de cada um desses livros que foram lidos pela equipe da FANTÁSTICA.

A Morte do Cozinheiro, por Allan PitzSadismo, loucura e surpresa regam as 78 páginas desta obra.

Allan Pitz é carioca e, além de escritor, também é diretor teatral. Pitz tem várias outras publicações e definiu bri-lhantemente o seu trabalho como livros-texto, fazendo uma analogia com o tamanho das obras.

A Morte do Cozinheiro é um livro com um acabamen-to impecável, possui uma excelente diagramação e uma bela capa que passa perfeitamente a atmosfera de in-quietude e perturbação do livro. A trama é uma grande viagem pela mente psicótica e doentia de Luiz Aurélio que leva até a morte do cozinheiro, a qual o persona-gem admite ter causado sem nenhuma culpa logo nas primeiras linhas do livro. A narrativa é levada com uma velocidade de tirar o fôlego e sem pudores ou censuras. Pitz resgata nesta fascinante obra suas raízes teatrais e cria uma história perturbante e psicótica nos levando a um final surpreende, aos moldes de Nelson Rodrigues e até Machado de Assis.

FANTÁSTICA - Como surgiu a ideia da publicação de livros pequenos?

Allan Pitz – Bem, eu sempre li muitos livros pequenos. Dalton Trevisan, Nélson Rodrigues, Machado de Assis, Plínio Marcos e até mesmo Sartre. É um desafio, antes de tudo. Enlatar em pouquíssimo espaço uma trama que poderia girar tranquilamente em mais de duzentas páginas. Mas a ideia era fazer isso mesmo, um livro barato e acessível. Original.

FANTÁSTICA - Em sua visão, existe um preconceito contra livros pequenos?

Allan Pitz – Existe... E contra os enormes também... Mas não posso me incomodar em nada

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Janda Montenegro reside atualmente no Rio de Ja-neiro e é formada em Letras pela UFRJ e além de es-critora trabalha como guia de turismo internacional. Está cursando Pós Graduação em Produção Editorial e Antes do 174 é seu primeiro livro que foi escrito em surpreendentes três dias.

Janda se mudou para o Rio de Janeiro no dia da tra-gédia do ônibus, que leva o nome na capa do livro, teve a passagem muito marcada na sua vida e a ne-cessidade de enriquecer a história de Sandro Barbo-sa do Nascimento, o sequestrador do ônibus que mo-bilizou o Brasil. A história já foi bastante retratada no filme Última Parada 174, porém no livro temos uma visão dos últimos momentos de Sandro antes de em-barcar naquele fatídico veículo.

A proposta literária de Janda é bem diferente, além de estrear com um tema polêmico e uma história baseada em fatos reais, o livro possui uma linguagem simples, direta e com um narrador que transforma o leitor no sequestrador. Nas 78 páginas transcorridas pelo livro você consegue sentir na pele todas as emoções, vivências, frustrações e devaneios de Sandro e esse sem dúvida nenhuma é o grande ponto forte dele. Em alguns momentos até se pode quase entender, se é que é possível, o que motivou o pro-tagonista a realizar a atrocidade em 2000.

com isso, cada livro que eu escrevo é como uma estação de rádio diferente; o que falam sobre um não será opinião sintonizada para o outro. E de uns tempos pra cá, o livreto (ainda mais sem regras determinadas) já não é um hábito nacional.

FANTÁSTICA - Como tem sido a aceitação da sua obra e que tipo de benefícios você colheu pelo fato do livro ser pequeno?

Allan Pitz – A aceitação desse livro é a coisa mais variável que eu já vi até hoje!! O benefício maior é o manuseio, a possibilidade de enviar para vários lugares por um baixo preço, e de conseguir fazer uma pessoa que não costuma ler livros nacionais embarcar nesse aqui. O ta-manho diminuirá o risco (pensa o leitor).

Antes do 174, por Janda MontenegroNas 78 páginas do livro você consegue sentir as emoções, vivências, frustrações e devaneios

do sequestrador.

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Page 43: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

FANTÁSTICA - Como surgiu a ideia da publicação de livros pequenos?

Janda Montenegro – A idéia de Antes do 174 vinha fermentando em mim desde o assalto, há dez anos atrás. De repente, após ‘uma noite de sonhos agitados’ a história me veio, tal como a escrevi. Para que ela fosse diferente do que já foi feito sobre o 174, eu tinha que fazer algo pelo 174, por aqueles que lá estiveram. Isso é bem diferente. E para que isso desse certo, a história tinha que ser dinâmica, veloz, o ritmo e a narrativa tinham que ser o que mais impor-tasse. Não queria falar do assalto porque todo mundo já sabe; queria falar do processo do indivíduo que culmina assaltando um ônibus. Para falar de algumas horas antes do ocorrido, não podia me alongar em trezentas páginas então eu teci um número de páginas na minha cabeça e fui escrevendo o processo, para que ele ficasse completo: nem mais, nem menos.

FANTÁSTICA - Em sua visão, existe um preconceito contra livros pequenos?

Janda Montenegro – Existe e não existe preconceito. Acho que há vantagens e desvantagens. Explico:

Aquilo que você chama de “livros pequenos” eu entendo por livros mais finos. Uma das van-tagens desse tipo de livro é que atende o mercado do leitor preguiçoso. Para aqueles que não estão acostumados a ler, a opção de livros com menos de cem páginas é bastante interessan-te, porque é uma leitura de aproximadamente três horas com uma história completa, sem continuação. Isso dá ânimo pro sujeito dizer que já leu X livros esse ano, como vira e mexe vemos nos noticiários. Por outro lado, há a concorrência nas prateleiras. Se uma pessoa tem R$30,00 para gastar num livro ela dificilmente o gastará em um livro fino, preferindo um livro mais grosso. Isso é inconsciente e todos cometemos, mesmo que por vezes preterindo até mesmo livros de autores conhecidos ou de amigos. É natural, não critico. As próprias editoras não têm muito interesse em publicar livros finos porque não se sobressaem nas prateleiras (por causa do tamanho, óbvio) e porque o custo sai alto, o preço de capa fica alto e, pelo mo-tivo já explicado, o retorno demora. Para publicar um livro fino, então, é preciso ter uma boa estratégia de venda, para garantir o retorno.

FANTÁSTICA - Como tem sido a aceitação da sua obra e que tipo de benefícios você colheu pelo fato do livro ser pequeno?

Janda Montenegro – Minha obra trata de um assunto delicado, específico e que na maioria dos casos as pessoas não querem saber, não querem falar a respeito. Eu respeito isso, embo-ra minha intenção tenha sido justamente fazer com que as pessoas discutam, não deixem o assunto morrer para que novos episódios como esse ocorram novamente. Aí sim posso dizer que há preconceito, pois se você não escreve ou publica literatura fantástica, as pessoas lhe torcem o nariz. Fico feliz que os fantásticos autores fantásticos tenham conseguido seu es-paço, mas acho que tão necessário quanto a fantasia é sabermos enxergar nossa realidade. Quem leu meu livro entendeu exatamente qual a mensagem; todos se sentiram atingidos, todos refletiram a respeito. Meu livro não é para leitura em massa,mas quem o lê sabe que o livro é ótimo e recomenda. E por isso, por esses leitores individuais, é que tudo vale a pena.

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O Rei o e Camaleão foi publicado em 2006 através do financiamento do Fumproarte da Prefeitura de Porto Alegre. O Fumproarte é um programa já existe há 15 anos e trata-se de um Fundo Municipal de Apoio à Produção Artística e Cultural de Porto Alegre (Fum-proarte) que tem por objetivo estimular a produção artístico-cultural da cidade, através de financiamento direto de até 80% do custo total dos projetos de pro-dução ou sem limite previsto dos projetos de criação, formação, estudo ou pesquisa .

A distribuição dos recursos é definida mediante con-curso público, o qual Christian foi vitorioso em 2006.

O Rei e o Camaleão são duas histórias independen-tes no tema, a primeira, intitulada o Monge Rei tem caráter medieval com direito a soldados e batalhas e é marcada pela tentativa de ascensão de um rei dito como morto. A segunda história, o Camaleão, muda totalmente o ambiente nos traz uma realida-

de futurista onde conhecemos Knox, um espião metamorfo, que se infiltra em uma missão contra um ditador.

Ambas as histórias são interessantes e têm uma linguagem simples e objetiva, que é uma marca do autor. As temáticas ligam-se por pontos como a luta contra tiranos e também por estratégias de ação que os personagens são obrigados a passar.

O Rei e o Camaleão, por Christian DavidNas 119 páginas, que incluem até gravuras, duas histórias, uma de um Rei e outra de um

Camaleão.

FANTÁSTICA - Como surgiu a ideia da publicação de livros pequenos?

Christian David – Na verdade não foi uma coisa planejada, como tenho a tendência de ser sucinto e privilegiar mais as ações e menos as descrições as histórias acabam naturalmente sendo mais curtas. Esse formato de “novela” casa bem com meu estilo de escrever.

FANTÁSTICA - Em sua visão, existe um preconceito contra livros pequenos?

Christian David – Percebi que muita gente que resenha meus livros gostaria de ler mais e manifesta isso, mas não vejo como um preconceito. É gostoso deixar esse gostinho de quero mais nos olhos do leitor. O livro deve ser visto como um todo, o tamanho ou a quantidade de páginas não deveria influenciar a qualidade do livro, tanto para quem escreve quanto para quem lê.

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FANTÁSTICA - Como tem sido a aceitação da sua obra e que tipo de benefícios você colheu pelo fato do livro ser pequeno?

Christian David – Em relação ao “O rei e o camaleão” percebo, como falei, que alguns gosta-riam de ler mais, entretanto essa leitura mais curta também agrada por poder ser feita em menos tempo. Num texto curto o autor logo “apresenta suas armas” e acredito ficar mais evidente se ele as tem ou não. A “solução” do livro, por não poder ser adiada ou explicada demais, precisa ser bem escrita e planejada.

Acredito que, se o autor naturalmente lida bem com esse formato de texto, o texto curto acaba tendo mais facilidade na publicação por ter menor custo. Mas isso é particular de cada autor, o importante é o produto final, a qualidade do texto, contar uma história que agrade quem a conta e quem a escuta.

“O Rei, o Cozinheiro e o 174” são exemplos interessantes dessa possibilidade de uma literatura sucinta, que é dita por muitos como mais difícil até do que longas sagas. Os livros curtos têm a vantagem de terem um custo mais baixo e por serem menores apre-sentam uma maior facilidade de oferecimento a leitores novos, ou seja, são excelentes para o autor iniciante. Livros neste formato são ideias interessantes, que, com certeza, merecem mais atenção e menos preconceito. Vamos escrever livros curtos?

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Filme X Livropor Isabella Guimarães, 16 anos

A adaptação de um livro para filme é um ajus-te da obra a sequências audiovisuais. Grande parte dos livros são adaptados para filmes, pois as produções cinematográficas necessitam de inovação e isso é encontrado em massa na lite-ratura atraindo dessa forma muitos telespecta-dores. Algumas adaptações atuais notáveis são Harry Potter, O Senhor dos Anéis e Crepúsculo, sendo que a maioria é voltada para o público mais jovem, que é o mais ligado ao cinema atu-almente. Vemos também, com grande frequên-cia, sátiras de contos de fadas, obras de sucesso da literatura clássica como Romeu e Julieta, ou no realismo, das de Machado de Assis, que são uma forma alternativa de estudo para vestibula-res, livrando-nos assim do peso de ter de ler os livros pedidos.

Os livros são escritos com o intuito de atiçar a imaginação humana, fazendo com que ela mes-ma crie um cenário e os próprios personagens, mas se substituirmos tudo isso por imagens e sons, que fundamento teria em ler? Absorver um detalhe ou cena que não esteve no filme? Em se tratando de uma boa adaptação, tudo que o au-tor iria provocar a ser criado estaria pronto em sequências audiovisuais, mas mesmo com isso na

maioria dos casos as vendas de livros aumentam drasticamente com os filmes adaptados. Será que estamos formando uma geração preguiço-sa de imaginação? Seria muito fácil ler uma obra onde tudo já está pronto em sua cabeça, um livro que não precisássemos imaginar ao ler.

Estabelecendo um paralelo entre filme e livro podemos notar que nem sempre a adaptação é a culpada pela exclusão de partes essenciais. Quando lemos uma obra achamos que certa cena tem grande importância, e ao assisti-la no cine-ma dizemos “o filme não tem nada haver com o livro porque aquela parte foi cortada!”, isso se tratando de um caso muito raro, pois na realida-de várias partes são cortadas e alteradas. É bom ressaltar que os roteiristas não podem utilizar do pensar, sentir, lembrar, e outros, pois o roteiro tem de ser extremamente objetivo, já que ape-nas os atos e o cenário tem real importância e quando estamos lendo e o autor descreve cer-to cenário, por exemplo uma sala, imaginamos tudo da nossa forma, mas o roteirista tem de ter a preocupação com a cor da madeira que susten-ta algo e o que seria este algo, a cor do sofá, das cortinas, onde se encontra a janela

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e a porta, a cor da parede, e tudo que está envolvido naquele ambiente que era para ser criado pelo leitor. Contudo, quando se vê um filme automaticamente o cérebro irá passar a imagem da sala adaptada e quando estamos lendo isso não parece ter grande importância, simplesmente passa pela cabeça e é até possí-vel reler e imaginar tudo diferente sem nem perceber.

As adaptações foram criadas, talvez, com o in-tuito de inibir a leitura fazendo com que os jo-vens não precisassem ler; apenas ver e ouvir. Isso felizmente não ocorreu, pois quando ve-mos um filme adaptado queremos ler o livro, simplesmente por curiosidade ou porque o fil-me realmente chamou a atenção e na maioria dos casos o livro se torna muito mais atraente do que o filme.

Uma boa adaptação é aquela onde os perso-nagens condizem com as características descri-tas do livro e o lugar em que se passa também condiga com a história, mas nem sempre estes dois elementos essenciais são suficientes. Nes-ta boa adaptação o roteirista tentará ao má-ximo demonstrar as emoções do personagem iguais as do livro, mas isso ainda tende a não ser suficiente, e é preciso também ressaltar os atos, movimentos e falas que são os mais alte-rados. Tem de ter semelhança com os do livro (eu pessoalmente nunca vi uma adaptação que em uma cena todas as falas e atos são iguais as do livro), mas havendo semelhança já é uma grande evolução.

Uma adaptação ruim é, obviamente, aquela com elementos opostos aos de uma boa, prin-cipalmente a alteração de características e lo-cais condizentes. Uma adaptação é um plágio tecnológico de um livro.

Alguns dos autores muitas vezes também são culpados, pois já escrevem imaginando a obra em todos os cartazes de cinema do mundo e não se dão conta de que seu livro está perden-do o valor. Afinal, para a maioria dos autores vale mais a venda “pronta”, ou seja, o filme, ou a gratificação de ver seu livro fazendo sucesso por ser ele que vai despertar a imaginação de milhares de pessoas? Não que deva ser ruim ver seu livro contado num filme, mas será que se compra a criatividade? Para mim não há pre-ço.

Com tudo o que foi dito a conclusão que se pode tirar é de que as adaptações tem sim seus pontos positivos, pois sempre vão alimentar a cultura e ajudar na divulgação. É como uma propaganda para jovens leitores que daqui a alguns anos podem ler tal obra e passar de ge-ração em geração apenas pela lembrança do filme, mas se essa adaptação não for cuidado-samente preparada e feita com zelo, pode rou-bar os documentos de um livro. Enfim, sempre que uma adaptação for gerada, o que você, lei-tor, imaginou em uma cena de determinado li-vro será destruído por cenas subjetivas. O filme pode trazer boas surpresas, mas também pode nos dar grandes decepções.

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LITERATURA E MÚSICAconheça NECRÓPOLIS, de Douglas MCT

Por Luiz Ehlers

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Que existe um elo forte entre a música e a literatura todos sabemos, mas que ligação seria esta? Quem nunca leu um livro e mis-teriosamente veio uma determinada músi-ca quando estava em uma cena de ação ou mesmo em um momento de drama?

Da mesma forma que a literatura, a música é uma manifestação do sentimento do cria-dor, ambos são frutos de sua alma criativa e como tais acabam sempre se relacionando de maneira intensa.

A música é, de certa forma, uma dramatiza-ção de um pequeno texto, como um conto criado pelo seu compositor. É interessante que o contrário também é válido, ou seja, vários autores declararam que escutam mú-sicas quando estão criando seus textos. A música os ajuda a aguçar mais os sentidos e dar vida às mais variadas idéias, espe-cialmente nos autores de fantasia, como é o caso de Leandro Schulai, autor de O Vale dos Anjos e redator da FANTÁSTICA, que de-dicou seu primeiro livro à banda Linkin Park, a qual lhe foi de grande valia para a escri-ta como um todo, especialmente as cenas de ação. A autora do livro Sábado à Noite, Babi Dewit, também declarou na edição 12 do Papo FANTÁSTICA a íntima relação entre música e sua obra, que é um fanfic inspira-do na banda britânica Mcfly.

A sugestão de ligação entre literatura e mú-sica já é feita de forma informal em alguns blogs, como no Psychobooks, que a cada re-senha lançada traz uma sugestão de lista de canções a serem escutadas durante a leitu-ra da obra em questão. Segundo as admi-nistradoras do blog, a idéia surgiu de forma bem natural. Começaram criando listas de músicas para os livros lidos e hoje a coisa já está tão integrada que elas já lêem os livros imaginando as músicas adequadas à obra.

Se for verdade que a literatura está evoluin-do para uma nova forma de mídia, que vai além da versão impressa dos livros, a inser-ção de uma trilha sonora parece algo inevi-tável e talvez até obrigatório nos livros do futuro. É sem dúvida uma idéia válida e in-teressante, conforme sugeriu o autor Eduar-do Spohr na edição 05 do Papo FANTÁSTICA, onde ele declarou que a mídia ebook preci-sa ser mais interessante do que um exibidor de texto, ela precisar trazer algo mais, não se limitando apenas em trilha sonora, mas também em aumento da interatividade.

Um dos pioneiros que abraçou esta idéia de unir música e literatura de forma oficial foi o autor Douglas MCT, que lançou recen-temente seu primeiro livro: Necrópolis – A Fronteira das Almas, pela editora Draco. Douglas é roteirista de quadrinhos e tem formação em Criação e Produção Áudio Vi-sual, além de ser uma figura conhecida em eventos de literatura e RPG também partici-pou de antologias como Ano Domini (2008) da editora Andross.

Em paralelo ao desenvolvimento da obra, foi composta por Isis Fernandes uma trilha sonora para cada um dos capítulos de seu livro, totalizando 48 canções que sonorizam inclusive o prólogo. A idéia do autor é criar uma relação de mútua promoção entre o livro e o trabalho da compositora Isis Fer-nandes. Confira uma das músicas da trilha clicando aqui.

As músicas compostas são todas instrumen-tais e auxiliam o leitor a entrar mais ainda na história que apresenta um gênero ain-da pouco explorado no Brasil: a chamada Dark Fantasy, ou Gothic Fantasy. Este gê-nero é definido como uma mistura entre os elementos de horror e fantasia e tem seus representantes em histórias como Hellboy

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(Mike Mignola), o excelente manga Berserk (Kentaru Miura) e também obras do escritor Stephen King.

O lançamento oficial do livro ocorreu no dia sete de novembro na já tradicional livraria para lançamentos em São Paulo: a livraria Martins Fontes na Avenida Paulista. O even-to reuniu mais de 40 pessoas, entre elas os

escritores Eric Novello (Neon Azul), Rober Pinheiro (Lordes de Thargor), Walter Tierno (Cira e o Velho) e o editor da Draco, Erick Santos.

Conversamos com o autor Douglas MCT so-bre as relações entre música e literatura e também a inserção deste gênero: a Dark Fantasy.

FANTÁSTICA - Na sua visão, qual a ligação entre música e literatura? Ela participa do seu pro-cesso de criação?

Douglas MCT – Música e literatura conversam muito bem, como uma extensão da outra. Gosto de ler ouvindo música (geralmente trilhas sonoras de filmes ou games). Se é uma cena de ação, coloco um tema de combate ou mais agitado. Se é uma cena dramática, procuro por uma trilha que me ajude a conduzir isso.

Adoro música ao escrever e trabalhar, não só pelo som, que motiva, mas também para não permitir que eu escute o dia-a-dia, com motores, latidos etc

FANTÁSTICA - Como surgiu a ideia da criação de uma trilha sonora para o seu livro?

Douglas MCT – No Cinema, cada cena do filme tem um tema musical (além da música-tema) e trouxe a ideia dessa outra mídia para Necrópolis (sempre trabalhei a obra como objeto transmídia, mesmo). Então, pensei que meu leitor pudesse ter essa mesma experiência e ainda mais, personalizada. Conheci a Isis no meio de 2007 e ela topou. Desde então estamos trabalhando com muito carinho e honestidade nessa trilha sonora que, espero, o leitor possa gostar tanto quanto o livro.

Um complementa o outro. Ler ouvindo a trilha específica é uma experiência única.

FANTÁSTICA - Qual a razão que lhe fez apostar em um gênero tão pouco difundido no Brasil como a dark-fantasy? De alguma forma você acredita que a trilha potencializou os sentimen-tos de horror que aos quais história se propõe?

Douglas MCT – Eu já escrevia dark-fantasy antes mesmo de conhecer o nome desse subgê-nero da Fantasia. Certa vez, quando alguém leu um trecho de Necrópolis na internet, o clas-sificou assim. Foi quando pesquisei mais e descobri que A Torre Negra, do King, o game God of War, e o filme Guardiões da Noite, eram dark-fantasy pura. O mesmo tom já era usado em meu livro, nada mais do que uma fantasia sombria.

Acredito sim que a trilha da obra tenha aumentado esse efeito dark-fantasy na história, já que a Isis leu cada capítulo antes de compor seus respectivos temas. Algumas, confesso, são de arrepiar. Evito ouvir em noites sombrias. Sério.

FANTÁSTICA - Em sua opinião, esta prática estará em todos os livros em um futuro próximo?

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Douglas MCT – Procuro me focar em uma obra por vez, um passo depois o outro; mas lógico, já tenho um olho no futuro, para o andamento da série. Eu e a editora temos planos bem legais para Necrópolis, que serão revelados no momento certo. A obra esgotou em estoque durante a pré-venda e foi para segunda impressão, com um relativo sucesso, inclusive sendo listada em Top´s 5 e concorrendo a premiações literárias. Quero curtir esse momento legal com meu filhote e preparar o terreno para o que vier.

Não sei se teremos outro CD com músicas inéditas de Necrópolis 2, ainda mais porque a Isis levou mais de 3 anos para compor as mais de 46 músicas do primeiro livro; e, se eu for consi-derar que o segundo é o dobro do tamanho, então este CD sairia 2 anos após a continuação da saga, que provavelmente saia em 2011. Mas conversarei com ela sobre isso, talvez tenha-mos algumas músicas novas para momentos-chave desse volume dois. Manterei os leitores informados.

A FANTÁSTICA também falou com Isis Fernandes, que tem 26 anos, é de Minas Gerais e assina a composição da trilha sonora de Necrópolis.

FANTÁSTICA - Em sua visão, qual a ligação que existe entre a literatura e a música?

Ísis Fernades – Apesar de utilizarem meios de linguagem diferentes, acredito que literatura e música se relacionam no sentido de que trabalham com a possibilidade de interpretação do leitor/ouvinte. Quando elas acontecem juntas, podemos criar novas formas de abordagem que permitam que elas se complementem.

FANTÁSTICA - Como foi o processo de criar uma trilha sonora para um livro? Quais as dificul-dades?

Ísis Fernandes – Quando o Douglas me convidou para fazer a trilha sonora de Necrópolis, de cara me dei conta de que seria um desafio e tanto. Sua idéia era ter uma música-tema geral e uma trilha específica para cada capítulo do livro. A partir daí comecei a desenvolver o método de composição, que funcionaria como num filme, só que tendo como referência o roteiro, ao invés do vídeo. Para cada capítulo, minha intenção foi transformar os acontecimentos escri-tos em forma de música, para que o leitor conseguisse automaticamente remeter a melodia àquele momento da história. Em algumas situações ao longo do livro, esse processo se deu de forma diferente, como em casos em que optei por fazer uma música-tema para o persona-gem. Isto aconteceu em alguns capítulos em que foram apresentados personagens centrais, como a mercenária Karolina Kirsanoff, de quem sou fã confessa (risos).

No entanto, toda narrativa fictícia está sujeita a interpretações diferentes por parte de cada leitor, e ao criar uma trilha sonora para os acontecimentos dessa história, estou expondo uma visão particular sobre aquilo, que pode ou não ser compartilhada. É um risco que se corre, mas espero que as pessoas gostem de Necrópolis tanto quanto eu e que consigam entrar, através da música, nesse incrível mundo criado pelo Douglas.

FANTÁSTICA - Você acredita que esta idéia será difundida entre os livros do futuro?

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Ísis Fernandes – Espero que sim! Já tenho visto uma mobilização por parte de alguns autores que têm aderido a idéia do book trailer e set-lists musicais para os capítulos. Por enquanto, a maioria ainda não tem utilizado músicas originais, mas já é um início. A firmação de par-cerias entre autores e compositores musicais pode gerar novas possibilidades de exploração de idéias e consequentemente alcançar uma maior abrangência de público. E a facilidade de divulgação proporcionada pela internet pode ser um grande incentivador.

A iniciativa de Douglas MCT é louvável e possivelmente um caminho natural para a mídia do livro. Além de ser um primeiro passo para “os livros do futuro”, a idéia de união entre as mídias torna a leitura mais atrativa e interessante, trazendo possivelmente mais leitores ao meio.

O trabalho de MCT e Fernandes é, de certa forma, uma prova de que o casamento entre mú-sica e literatura está apenas começando e veio para ficar. Vida longa a eles!

Conheça mais de Ísis Fernandes:

Email: [email protected]

Site: www.myspace.com/isisf

Twitter: www.twitter.com/isisfernandes

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NOS BRAÇOS DO VAMPIROPor Juliano Sasseron

Sugadores de energia Na família, nas amizades, no trabalho... Há vampiros es-palhados onde você menos imagina, à espera de uma chan-ce para roubar suas forças. Esse tipo de criatura se alimenta de energia. Qualquer um já se sentiu mal por estar ao lado de de-terminado alguém, alguns especialistas afirmam que isso ocorre quando a pessoa bloqueia o recebimento de ener-gias naturais (ou vitais), assim elas precisam encontrar ou-tras fontes de energia mais próxima, que nada mais são do que as outras pessoas. Em Meu encontro com Drácula, Walther Alvarenga re-lata sua experiência na Pensilvânia, onde esteve ao lado de satanistas e sentiu as forças do mal agirem sobre ele. Este tipo de vampiro é bastante discutido em algumas religiões, porém na literatura brasileira não foi tanto explorado.

Walther Alvarenga

Parte 2

Perfume de perigo Já pensou como deve ser para um vampiro ver as mudanças de hábitos e costumes durante os sé-culos? Pois bem, essa idéia de alternar as épocas foi muito bem explorada por Giulia Moon. Em Kaori: perfume de vampira a autora extrapola de forma po-sitiva as linhas do tempo, transportando o leitor por um Japão do período Tokugawa até a cidade de São Paulo atual. Os vampiros são cruéis e imprevisíveis, isto faz com que nunca fiquemos tranquilos com suas atitu-des. Como diz o ditado: “o seguro morreu de velho”, e em se tratando desses monstros, é sempre bom fi-car com um pé atrás. Giulia Moon

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Sempre fecunda, Martha Argel não utiliza sem-pre o mesmo tipo de personagem vampiresco, suas criaturas variam de acordo com a ideia do texto. Essa postura está muito bem sedimentada em um livro já esgotado, O Vampiro de Cada Um (edição indepen-dente, 2003), em que são explorados os mais variados tipos vampíricos; desde o morto-vivo assemelhado a um zumbi até os seres atormentados e filosóficos.Seus vampiros mais recentes, porém, pertencem a dois tipos básicos. Na série A Vampira Lucila, que inclui até o mo-

mento o romance Relações de Sangue (Giz, 2010) e vários contos espalhados por aí, os vampiros são seres predadores, preocupados com a sobrevivência e buscando manter sua existência em segredo da humanidade. Eles retêm características de quando eram vivos, isto é, não necessariamente se transformam em seres cruéis, sanguinários ou irresistíveis. No entanto, a autora usa a premissa de que o poder corrompe, de modo que, com o passar do tempo, o dom vampiresco acaba alterando o comportamento e personalidade do indivíduo, da mesma forma como acontece com aqueles que se vêm famosos e ricos de uma hora para outra. Já em O Vampiro da Mata Atlântica (Idea, 2009), há o resgate dos mitos cen-tro-europeus sobre os processos de transformação. O vampiro do livro resulta de uma predisposição do sujeito, que em vida era extremamente perverso, e das cir-cunstâncias de sua morte. Assim, seguindo a tradição folclórica, o vampiro desse livro é um ser animalesco, que se move em um ambiente rural, sem refinamentos e livre de questionamentos morais.

Besta à solta

Nesta concepção, os vampiros podem até ser “bonzinhos”, afeiçoando-se com uma ou outra pessoa, mas se analisarmos profundamente as ações sempre são am-bíguas. Eles só agem em benefício próprio, seguindo puramente seus desejos e ca-prichos; afinal, eles nunca deixam de ser criaturas selvagens, que podem liberar seus instintos assassinos sem o menor aviso. Dessa forma, o clima de tensão é constante.Talvez o melhor elemento do livro seja a apresentação dos Famélicos, criaturas que vivem uma relação de interdependência com os vampiros.

Martha Argel

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“Meus vampiros são como o próprio mito – adaptáveis à situação”.Martha Argel

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É tudo física E se a maldição fosse explicada? O que seriam os vampiros se eles realmente existissem? Com uma visão mais realista, Nelson Magri-ni utiliza-se dos conceitos da Física para mostrar o vampiro não como um personagem sobrenatural, mas como uma criatura que existiria de fato e que, guardados os elementos de ficção, estaria sujeita às leis da Natureza. É claro que o autor não se limita escrevendo apenas sobre um tipo de vampiro, mas o uso da ci-ência (não falo de vírus ou algo do tipo) acredito ser inovador. No fundo, o conto Isabella é uma história de busca e esperança, onde um homem se apaixona

por uma vampira, e para conquistar seu amor, primeiro tem de resgatar sua huma-nidade. As considerações que há no conto, a respeito do luar, não deixam de ser intrigante e instigante na mística dos vampiros. Por fim, essa é uma das coisas fascinante no vampiro enquanto personagem, o poder de ser moldado de várias maneiras e, ainda assim, guardar algo de misterioso, de sombrio e, mesmo, de intocado.

Nelson Magrini

“Certamente, os vampiros não possuem aquela áurea sobrenatural religiosa, de que nas-ceram de um pacto com o Demônio, bem como não são afetados por cruzes, alhos e coisas assim. Todavia, penso que a cada história pode ocorrer de interpretá-los de um modo pecu-liar, ou seja, posso escrever sobre vampiros de uma maneira mais clássica, ou explicando-os cientificamente”.

Nelson Magrini

O Herói de Mil Faces “O vampiro é um personagem delicioso, mas periga o desgaste. (...) Começa a ser visto com des-dém. (...) Começa a ser taxado como literatura bara-ta. Vil assassinato de um tema apaixonante”, disse Kizzy Ysatis. Vencedor do prêmio Rachel de Queiróz com o romance Clube dos Imortais – A nova Quimera dos vampiros (Novo Século, 2006), o escritor resolveu organizar um livro de contos onde os autores teriam um desafio: ser original. Com esse mote, o autor deveria pintar uma Kizzy Ysatis

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boa história em que houvesse discórdia entre os desmortos, fosse consigo ou com iguais, no calor do sertão ou num tabuleiro de xadrez; na fronteira dos cárpatos ou em cima da cama; num apertar do enter ou no erguer na katana, não importa. Trai-ção, disputa de território, amor, ódio, ciúme, vileza, política, ego e existencialismo. O resultado foi um dos melhores livros de vampiros já publicado, tanto pela qualida-de literária, quanto pela originalidade.

Universo Onírico Percebemos que as características vampirescas evoluem com o tempo, isso é mais do que bom, atrai leitores. A magia da literatura está em criar mundos, por isso ficar restrito a certos estereótipos acaba por limitar a imaginação. Tem coisa melhor do que se encantar com um universo totalmente novo? Como autor, deixo a fantasia voar sem me preocupar com o local de pouso. Como leitor, meus olhos brilham quando há o fascínio pela história. Abro um sorriso, me encolho de medo, tremo de ansiedade. A cada página, um novo sonho me espera. É ouvindo histórias que se pode sentir emoções e viver profundamente tudo que as narrativas provocam e suscitam em quem as ouve ou as lê, com toda a amplitude, significância e verdade que cada uma delas faz (ou não) brotar. Dessa forma, acredito no novo e tenho comigo que o escritor que inovar, terá boas chances de se destacar.

JULIANO SASSERON é autor de Crianças da Noite (Novo Século, 2008), além de ter participado como convidado especial de diversas antologias.

Quando lhe sobra tempo (o que é raro), realiza al-guns vídeos experimentais. Espera concretizar seu sonho de produzir um longa. É leitor apaixonado do sol e ouvinte declarado da lua. Prefere não se defi-nir, não quer ser limitado.

Blog: http://juliano-sasseron.blogspot.com

Twitter: @JulianoSasseron

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Seguimos a nossa proposta de reality show com um jovem aspirante a escritor. Esta proposta consiste em mostrar a trajetória de um au-tor desde a escrita até a árdua tarefa da publicação. Luiz Dreamhope continua nos apresentando suas dúvidas e dificuldades neste segun-do capítulo e ele entra em um ponto muito importante e complicado na escrita: a vontade de reescrever. Escrita está ligada bastante à vi-vência do autor e cada ano que se passa nos tornamos mais maduros e nossa escrita anterior transforma-se magicamente em obsoleta. Como vencer esta pesada sensação de que podemos fazer melhor? Confira as opiniões de autores que dão suas dicas e apoios ao nosso herói.

Luiz Ehlers

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“Restart”! Não, não estou me referindo a nenhuma banda de rock, mas sim ao novo panorama de meu livro. Após ler inúmeras vezes os recados dos escritores durante o primeiro capítulo de minha jorna-da (aliás, agradeço imensamente a eles pelos comentários que me foram de grande valia), resolvi repensar na série e analisar os cami-nhos que ela oferecia. Um outro fator que enalteceu essa decisão foi a estranha sensação durante a escrita do e-book mencionado ante-riormente (Mundo Sombrio: A Tragédia de Ashval Greime): “Isso até que está bom, mas poderia ficar melhor, de alguma forma”. Então, deixei o computador de lado, peguei papel e caneta, e fiz várias ano-tações; dias depois, cheguei a uma conclusão bem interessante: “É, vou reescrever tudo.”

“Reescrever tudo”, quando digo no contexto do Mundo Sombrio, é sempre começar uma nova história de outro ponto cronológico que favoreça a forma de contar o enredo, ou seja, todas as 110 páginas já escritas do e-book estão temporariamente suspensas. “Que legal”, eu pensei com ironia. “Vou recomeçar o livro pela bilionésima vez”. Já perdi a conta de quantas vezes eu parei no meio do caminho e retornei. Não nego que estes acontecimentos, embora soe como um ciclo infindável de irrealização, já que nunca consigo finalizar o livro, me ajudaram a criar e amadurecer boa parte do enredo, mas por ou-tro lado, começa a bater aquele receio de que a realização de meu sonho nunca chegará, por culpa de uma mentalidade teimosa e per-feccionista que dura há anos.

Depoimento de Luiz Dreamhope

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Mesmo assombrado por essa dúvida, e até pelo medo do fracasso

de no final não sair uma boa obra, nunca me veio à cabeça o caso

de desistir. Na verdade, não acho que isso seja possível, após tanto

persistir neste caminho, avançando passos e adentrando em novos

territórios, não posso parar no meio da estrada. Se para mim, correr

atrás de um sonho é estar vivo, não vou parar de respirar. Se sou co-

nhecido por “Dreamhope”, nenhum pesadelo me fará desesperançar

desse nome.

E após passar por mais esse teste de resistência, estou voltando a

escrever, motivado como sempre. Minha idéia de lançar um e-book

gratuito ainda está garantida, mas desta vez, como uma história di-

ferente, na verdade, apenas estou melhorando a forma de contar o

enredo do livro “A Tragédia de Ashval Greime”. Como ainda estou no

início do livro não posso contar os detalhes sobre meus planos, mas

tenho certeza que vai agradar aos futuros leitores. Atualmente estou

estudando para provas de concursos e vestibular, tarefas que exi-

gem muito de minha atenção, portanto, estou com o livro num ritmo

lento. Quanto aos problemas de interrupções, consegui diminuí-los,

embora o ideal fosse mesmo cessá-los, hehe.

Porém, não posso deixar de me perguntar: Será mesmo tão neces-

sário que eu re-invente a história constantemente? Até que ponto

eu devo continuar com essas reformulações? Já estou há oito anos

neste projeto. Não estaria mais do que na hora de seguir um curso e

finalmente apertar a tecla “the end”?

Complicado...

De qualquer forma, torço que esta seja a última.

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Essa é uma oportunidade mui-to interessante, ver o nascer de um escritor e sua obra atra-vés da própria literatura. Pa-rabéns à Fantástica por mais essa iniciativa, e muita força para o Luiz Dreamhope, essa é uma batalha que é muito mais árdua do que se pode esperar a princípio.

Luiz, acho que já que resolveu reescrever o seu livro, talvez fosse conveniente procurar al-gumas bases teóricas e conhe-cer mais do que já foi feito no

gênero que pretende criar. Quais são os livros referência de “Alta Fanta-sia”? Eu recomendo que fosse conhecê-los e, se já os conhece, ler algumas alternativas que tenham o tom mais parecido com o do seu mundo. Sem se prender à discussão de qual é o seu público-alvo e quais os elementos devem fazer parte de sua história, pode ser que conhecer as estruturas narrativas mais usuais lhe ajudem a identificar algumas coisas e a imple-mentar outras que a sua história não possua. Recomendo, como sempre, três textos bem básicos e muito conhecidos: o “Manual de Roteiro”, de Syd Field, “A Poética”, de Aristóteles e “A Jornada do Herói”, de Joseph Cam-pbell. Se não tiver acesso às obras completas, versões resumidas desses textos estão disponíveis na internet e podem ser uma boa forma de ver o seu trabalho nesse estágio de reescrever. Já li diversos manuais e dicas de roteiro e nunca foram demais, sempre há o que aprender.

Enquanto vai adquirindo essas bases teóricas, continue praticando a sua escrita, mas nesse momento o mais importante não é dar a cara definitiva de seu livro, mas descobrir o seu estilo e criar CENAS. O mais importante numa narrativa é mostrar sentimentos e acontecimentos que façam a his-tória andar, sem ficar explicando detalhes do mundo ou do passado dos personagens se não forem absolutamente necessários. Esse é um erro mui-to recorrente de novos autores e só com muita prática e a consciência da importância de MOSTRAR, e não EXPLICAR, é que você vai amadurecendo a sua linguagem e a comunicação da sua história.

Boa sorte na sua escrita e não desista!

Recado de:

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A tentação de reescrever o texto infinitas vezes é um risco e pode enlouquecer o

escritor. Ainda mais que o tempo entre o ponto final e a publicação pode ser con-

siderável. É sempre bom melhorar o texto, mas após uma ou duas revisões é bom

deixar um leitor crítico profissional ou um revisor meterem a colher e darem algu-

mas dicas. Provavelmente o próximo texto será melhor que o anterior, mas, muitas

vezes, isso só se percebe, ou se aprende, quando o trabalho já está publicado, circu-

lando e causando reações. Portanto é necessário finalizar alguns projetos e começar

outros a fim de crescer como escritor. Sugiro que, após colocar o melhor que puder

em um texto, digitar o aguardado ponto final e seguir em diante com um novo pro-

jeto. Ainda que se pense em quanto poderíamos ter feito melhor, é preferível seguir

em frente do que ficar marcando passo.Outra coisa: não se preocupe demais em

classificar o que você escreve (se é Alta Fantasia ou outro subgênero). Isto você dei-

xa para os especialistas. Você deve estar centrado na história, no desenvolvimento

dos personagens (que precisam parecer pessoas reais, com qualidades e defeitos),

no ritmo narrativo (capítulo a capítulo e no livro todo), na ambientação, nos diálo-

gos e no que revelar ou não e em qual momento da trama..

Recado de:

Page 63: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Saudações, Luiz. Admiro sua coragem ao expor-se. Espero que ela se mantenha

mesmo debaixo das porretadas reservadas a todos os escritores. Acredite, elas vi-

rão também para você e fazem parte do processo. Se não agora, mais tarde e, nesse

momento, serão mais dolorosas. Submeter sua obra a leitores críticos é essencial.

Pessoas exigentes. Chatas! Desapegue-se. Distancie-se. Sua arte é escrever. É isso

que faz parte de você e não o cenário que você criou, nem seus personagens, muito

menos a história que está contando. Tudo isso é irrelevante. Serve apenas como seu

canal de expressão, a forma com a qual você se comunicará com o leitor. Não se ren-

da a esse sentimento paternal com suas criações. Você ama mais o ato de escrever

ou a história que está escrevendo? Uno-me ao coro que pede que você reconsidere

sua pretensão de escrever uma série. Pense em dividir a saga em obras indepen-

dentes. Facilita a venda ao editor, a vida do leitor e, principalmente, liberta sua arte.

Recado de:

63

Page 64: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Embora possa parecer até desestimulante este terror da reescrita, creio que ela tende sempre a um texto de melhor qualidade. Não estou afir-mando que um jovem não possa escrever bem, mas a literatura está muito ligada à maturidade e as vivências das pessoas. Quando reescrevemos um texto, a tendência é que o mesmo sempre seja superior ao anterior, pois estamos mais maduros e nossos valores e objetivos mudaram. Muitos au-tores, hoje renomados, admitiram ter até certa vergonha dos seus primei-ros trabalhos, pois com suas novas experiências acreditam que fariam uma história melhor. Isso é normal e faz parte do crescimento, não tem como fugir deste ciclo.

Outro ponto importante, que muitos autores pecam é na maneira de con-tar a história. A arte de ser autor é unir dois pontos fundamentais e interli-gados: criação e escrita. Não adianta ter uma idéia excelente e passá-la de uma forma desestimulante, da mesma forma que o contrário é válido. O bom autor é que encontra este equilíbrio.

Então, Luiz, não se sinta culpado por querer reescrever tantas vezes uma história, pois há grandes chances dela ficar mais interessante e madura e pode ter a certeza de que sua escrita melhorará a cada vez. Porém, cuidado para que isso não se torne um ciclo demorado demais, existe um limite que a melhor pessoa para identificar o fim pode não ser você.

Recado de:

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Page 65: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

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É muito complicado dar dicas literárias. Além do mais, quem seria eu para fazer isso? A maior dica, talvez a mais importante, seja a de não levar as dicas muito a sério. Heresia? Rebeldia? Claro que não! A arte vem do coração, da alma, vem de você – não deixe que os outros lhe digam o que fazer. E isso acontece não apenas na arte. Qualquer caminho, qualquer carreira que você escolha trilhar exercendo sua felicidade deve ser percorrido assim, sem que os outros lhe removam da estrada. Escreva o que vem no seu coração. Sempre. E não precisará de mais nada.

Recado de:

Page 66: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Por Luiz Ehlers

O primeiro sangue é derramado. O massacre de uma família. Um homem sinistro vagando pelo Reinado, espalhando morte por onde passa. Um grupo de aventureiros em seu rastro. E, observando e movendo as peças, os próprios deuses. O Inimigo do Mundo acompanha a jornada de nove heróis no mundo mágico de Arton, em sua caçada ao estranho albino. Monstros, guerra, feitiçaria, intriga e tragédia aguardam em cada cidade, cada reino. E esta missão pode selar o destino do mundo, atraindo a maior das desgraças. O primeiro romance oficial baseado em TORMENTA, o maior cenário de fantasia criado no Brasil, revela, finalmente, a verdadeira origem da maior ameaça ao mundo de Arton.

convidado:

Leonel Caldelaautor de: O Inimigo do Mundo

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Luiz – Passar uma mensagem, causar reflexão ou simplesmente entretenimento são normal-mente as respostas dos autores quando ques-tionados sobre o objetivo de sua escrita. O que a sua saga quer passar para quem a lê?

Leonel Caldela – Essencialmente, é entreteni-mento. Transmitir uma história, envolver o lei-tor com os personagens. Mas é verdade que eu tenho uma pretensão: digamos que a trilogia queira transmitir um “entretenimento pensan-te”. Ou seja, em vez de apenas ler e esquecer meia hora depois, a ideia é que o leitor também curta o livro após a leitura — seja pensando em algum subtexto, questionando as motivações dos personagens, percebendo algum detalhe ou mesmo imaginando o que poderia ter sido diferente. Eu procuro escrever histórias que são, no seu centro, sobre pessoas. Então, se a trilogia quer “passar” algo para o leitor além de mera diversão, talvez seja uma discussão sobre nós mesmos, por que fazemos as coisas que fa-zemos e qual seriam nossas atitudes em deter-minadas situações.

Luiz – O Inimigo do Mundo (Editora Jambô) é a primeira parte de uma trilogia inspirada no RPG Tormenta. Como é o processo de criação de uma literatura derivada de um RPG? Isso fa-cilita a escrita ou acaba dificultando?

Leonel Caldela – Como foi o meu início, pos-so dizer que facilitou bastante. Afinal, eu pude trabalhar sobre um cenário já construído, não precisei me preocupar com cada detalhe de um mundo secundário. Pude me concentrar nos personagens e acontecimentos. Em teoria, um cenário pré-construído (seja de RPG ou outro) pode limitar bastante um autor — mas isso não aconteceu comigo; recebi imensa liberdade dos criadores originais de Tormenta.

No entanto, lidar com um público já estabeleci-do também apresenta suas dificuldades. O pú-blico de Tormenta é muito exigente; era preciso manter um controle de qualidade muito grande para ser aceito.

No geral, foi uma experiência ótima. Acabou me preparando para escrever em um cenário próprio, como é o caso de O Caçador de Após-tolos.

Luiz – Mesmo se tratando do seu primeiro tra-balho, você não foi modesto no número de páginas — que ultrapassam 400. Muitas vezes uma obra com este tamanho não é indicada a um autor novato. Existe uma razão pela qual você se manteve firme na aposta da história mesmo com este número elevado de páginas?

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Leonel Caldela – Para falar a verdade, no início eu não tinha noção de que a história ocuparia tantas páginas. Sendo absolutamente novato, não sabia medir quanto espaço eu precisaria para encaixar todo o enredo. Então não foi algo absolutamente consciente.

Mas, uma vez que o livro estava em andamento, eu sabia que não poderia mais recuar, se qui-sesse mesmo me tornar um profissional. Não poderia simplesmente dizer que o trabalho es-tava grande demais e abandonar na metade. Foi um exercício de disciplina. Ter um editor (o J.M. Trevisan, um dos criadores do cenário) acompa-nhando o processo ajudou muito. Dificilmente eu teria conseguido se não houvesse uma orien-tação (e até cobrança!) como essa.

Luiz – A trama conta a trajetória de um grupo de nove aventureiros em busca de um miste-rioso e sanguinário assassino: o albino. Os per-sonagens e suas relações formam o coração da história mais até que sua missão propriamente dita. Poderia se afirmar até que o protagonista da história é o grupo. Partindo desta afirmação, houve alguma dificuldade na condução e cria-ção de uma história onde nove pessoas têm que ter destaque?

Leonel Caldela – Sempre há dificuldades, cla-ro. E lidar com tantos personagens é difícil (em meus outros livros, o número de protagonistas é bem menor). Mas, como tu mesmo falou, o âmago da história acaba sendo o grupo e as re-lações entre eles. Assim, em determinado mo-mento os personagens já estavam tão “inter-nalizados” que escrever situações com eles era algo natural. Não era necessário ficar pensando sobre o comportamento de cada um em cada situação, ou quem seriam as figuras centrais de cada cena. O processo criativo era muito rápido, pois eu conhecia os nove intimamente.

Acho que o maior problema foi criar algum tipo de conclusão satisfatória (ou propositalmente insatisfatória) para todos. Era um verdadeiro

exercício de evitar repetições e não esquecer de ninguém...

Luiz – O livro é carregado de uma atmosfera de angústia, violência e horror. Os personagem passam por inúmeras situações desesperadoras e intensas. Como é o seu processo de criação da angústia e desespero que a trama exige? Isso te afeta de alguma forma ou existe uma separação clara?

Leonel Caldela – Os trechos mais “pesados”, por assim dizer, vêm com muita naturalidade. O processo de criação é fluido, bem mais do que em trechos de calma ou felicidade. Em geral, passava por questionamentos sobre as piores coisas que poderiam ocorrer com pessoas de quem gostamos, e como seria a reação dos ou-tros ao redor.

Mas isso nunca chegou a me afetar pessoalmen-te. Pelo contrário; mesmo pensando em atro-cidades e em como eu mesmo reagiria a elas, sempre tive um distanciamento bem pronuncia-do da história, podia escrever esses trechos e de-pois ir fazer qualquer outra coisa, sem que eles ficassem me incomodando. Talvez seja até mes-mo uma boa forma de “colocar para fora” partes mais violentas da imaginação. Tudo isso fica às claras, no papel ou na tela do computador, deixa de ser algo inquietante ou amedrontador.

Luiz – A história tem elementos de extrema violência tanto física como psicológica, além de trazer elementos mais sexuais. Estes traços afastam teoricamente o público mais novo. Em-bora muitos afirmem que fantasia não tem ida-de, O Inimigo do Mundo tem?

Leonel Caldela – Acho que o livro destina-se a adolescentes e adultos (mas claramente existe uma pegada mais jovem, com ação, um pouco de humor, etc). Pessoalmente, não acredito em proibir ninguém de ler coisa alguma — mas ima-gino que pessoas menores de, digamos, 13 anos devam ter orientação dos pais para ler a obra.

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Luiz – Atualmente usar elementos como elfos, mapas e dragões obrigatoriamente remetem a história a O Senhor dos Anéis, mesmo que o próprio Tolkien tenha tomado estes seres de mitologias prévias. Em sua visão, como uma história de Alta Fantasia, ou seja, que usa estes elementos, pode ganhar espaço esca-pando desta comparação com O Senhor dos Anéis, que muitas vezes é injusta?

Leonel Caldela – Acho que é impossível evi-tar toda e qualquer comparação com Tolkien, mesmo que a influência seja indireta e tênue na melhor das hipóteses. A meu ver, a saída é reconhecer que sim, sempre existirá influên-cia tolkieniana na Alta Fantasia, e partir para

examinar coisas mais importantes (como os personagens, os acontecimentos...). Tentar negar Tolkien é quase um ato de rebeldia ado-lescente, apenas chama mais atenção para as comparações.

Mas acho que é um grande erro para autores de Alta Fantasia endeusar Tolkien ou seguir fielmente seus passos. Eu mesmo não vejo grande influência dele no meu trabalho (exce-to pela presença de elfos, anões etc, em for-mas desenvolvidas e popularizadas por ele). É preciso ter outras referências, não prender--se a uma só obra como ícone de perfeição.

Luiz – Você tem uma formação ligada direta-

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mente à escrita: Letras. Além dela, existe em sua trajetória uma preocupação em se pre-parar profissionalmente como autor. Em sua opinião, ainda temos esta carência de prepa-ração e excesso de ansiedade de publicação dentro da literatura fantástica nacional?

Leonel Caldela – Infelizmente eu diria que sim — no geral. Tenho a impressão de que muitas pessoas acham que basta ter uma história na cabeça, não é preciso aprender a técnica para contá-la.

Mas tenho visto cada vez mais autores de literatura fantástica (e outros gêneros) com estudo (mesmo que não seja estudo formal) e excelente técnica. Não sei qual é a razão disso, mas é uma tendência muito positiva. Espero que se mantenha.

Luiz – Para aquele leitor que apenas leu o pri-meiro volume, como eu (risos), o que se pode esperar do restante da Trilogia Tormenta?

Leonel Caldela – Falando francamente, acho que os outros dois livros (O Crânio e o Cor-vo e O Terceiro Deus) são mais maduros. Têm menos personagens, acontecimentos mais conectados entre si e estrutura mais forte. Em termos de conteúdo, “peso” etc, o padrão é o mesmo. Existe violência, toques de hor-ror, trechos puxados para a escatologia etc, no meio de elementos mais tradicionais da Alta Fantasia. Os outros dois volumes tam-bém concentram-se bastante nos persona-gens. Uma das minhas predileções ao escre-ver é contar histórias baseadas nas ações dos protagonistas e suas motivações, não apenas em um enredo ao redor deles.

JOGO-RÁPIDOseção:

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Uma grande história épica...

Como assim? Uma grande história épica de que eu gosto? Fico entre a primeira trilogia de Dragonlance, de Margaret Weis e Tracy Hi-ckman (meu primeiro contato com a alta fan-tasia) e As Crônicas de Artur, de Bernard Cor-nwell (uma das minhas grandes influências).

Uma história essencial para a criação da Trilogia Tormenta...

Lá por 2001, durante seis meses, eu e a mi-nha esposa (noiva, na época) economizamos para ir ao Encontro Internacional de RPG, em São Paulo (moramos em Porto Alegre). No final, esse dinheiro quase foi roubado. Conseguimos ir até lá e conhecemos J.M. Trevisan, um dos autores de Tormenta, para quem entregamos um conto. Um ano de-pois, ele leu o tal conto e me convidou para escrever para o cenário. A trilogia (e o início da minha carreira profissional) partiu daí.

O seu ser fantástico favorito...

Há um conto do Clive Barker chamado A Ca-beça Descarnada. Leia o conto e veja o meu ser fantástico favorito.(risos)

Uma grande história tem que ter...

Personagens marcantes.

Seu RPG favorito....

Dragonlance Fifth Age.

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Vallen:Teimoso

Elisa:Realista

Nichaela:Forte

Artorius:Estoico

Gregor:Otimista

Ashlen:Esperto

Rufus:Fraco

Andilla:Orgulhosa

Masato:Perdido

O Imimigo do Mundo:Amizade

O Crânio e o Corvo:Paternidade

O Terceiro Deus:Reencontro

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EM UMA PALAVRAseção:

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Antes Tarde do Que Sempre

Antes Tarde do que Sempre, de Bertoldo Gontijo, leva o leitor por eventos às vezes engraçados, às vezes trágicos, mas sempre bem sacados. Seja por qual for o moti-vo: o sexo, as drogas ou o rock ´n´ roll, Aldo tem 30 e poucos anos, é um obcecado pelo seu passado cheio de vitalidade e vê em Júlia a oportunidade de revivê-lo, o que o leva a novos erros e a revelações inesperadas. Em seu apartamento no bairro da Aclimação em São Paulo, rodeado por seus adorados discos de vinil e guitarras, Aldo, um redator publicitário, fã derock e músico frustrado, se recupera de um pe-queno acidente sofrido em ums how. De molho e em meio a uma crise de insônia, ele se dá conta de que está envelhecendo infeliz. Júlia, uma antiga colega de escola, linda e bem sucedida, reaparece por acaso (ou nem tanto) em sua vida, e traz com ela o frescor de bons momentos. E é a partir daí que a personalidade cômica e cati-vante desse anti-herói começa a mostrar contornos mais detalhados. Personagens e situações reais e divertidas da vida privada acabam por revelar os motivos da atu-al condição de Aldo. Impossível não se identificar com Aldo ou com Júlia. Mesmo que apenas no fim. Antes tarde do que nunca

Sinopse:

Bertoldo Gontijo é, além de escritor, guitarrista e consultor comercial e de marketing

Sobre o autor:

Editora: DracoPáginas: 136

Ficha técnica:

Page 73: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

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A Corrente

Quantas correntes já caíram na sua caixa de entrada e você apagou impiedosa-mente sem nem olhar o conteúdo? Quantas ameaças do tipo ‘se não passar essa mensagem para 20 amigos, você irá morrer’ já foram ignoradas? Já passou pela sua cabeça que uma delas poderia ser verdadeira? Em A Corrente, um thriller de Este-vão Ribeiro, Roberto Morate é um hacker, uma ameaça virtual que vive de aplicar golpes em desafortunados que não protegem suas senhas. Ao receber um e-mail de uma garota desconhecida, ameaçando-o se não repassar a mensagem, ele ri. Entretanto, em um momento de tédio, resolve dar um susto em alguns amigos e a encaminha para sete pessoas. Depois, descobre que salvou a sua vida. Só que, para isso, condenou a sua alma e a de todos que receberam a corrente. Agora, Roberto precisa correr contra o tempo e contra a sede de sangue da misteriosa Bruna, que ameaça transformar a ilha de Vitória em um inferno. Poderá Roberto salvar a sua vida e de seus amigos?

Ao pegar este livro, esteja avisado: Leia. Passe adiante. Sobreviva.

Sinopse:

Estevão Ribeiro é natural de Vitória, Espírito Santo. Além de escritor, é quadrinhista e ilustrador.

Sobre o autor:

Editora: DracoPáginas: 184

Ficha técnica:

Page 74: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

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Extraneus: Volume 1 - Medieval Sci-fi

O inusitado encontro de duas épocas distantes em nossa história. Aventuras me-dievais, viagens espaciais, alienígenas, realidade virtual e viagens no tempo, mis-turados em contos que resgatam a criatividade insana de nossos autores. Isso é Medieval Sci-Fi. Isso é Estronho!

Sinopse:

MD Amado é anal ista de s istemas. Desde 1996 mantém o s i te Estronho e Esquésito, onde onde publ ica textos e cur ios idades, a lém de abr ir espaço para escr i tores nac ionais d ivulgarem seus trabalhos.

Sobre o organizador:

Editora: LiterataPáginas: 136

Ficha técnica:

Page 75: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

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Histórias Fantásticas: Volume 1

O Fantástico está presente em todas as culturas e mitologias que cercam o ser hu-mano, desde os primórdios. Crendices, lendas, tudo faz parte do processo de cresci-mento do homem, e de seu povo. É intrínseco, inegável e indissolúvel na formação de uma sociedade. Nada mais natural, portanto, que a Literatura Fantástica faça proveito dela, do imaginário popular, das lendas e superstições que nos acordam a noite, que nos transportam a outro lugar. Olhos brilham na escuridão, fadas voam com brilhos fosforescentes, curupiras assoviam, enquanto fantasmas povoam os quatro cantos, causando medo e tremor. Vampiros e bruxas, lobisomens e mons-tros, criaturas do imaginário coletivo serão os protagonistas de uma nova aventura. E estarão ao redor do leitor, que não terá como desviar o olhar. Histórias Fantásticas, nova série que a Cidadela Editorial oferece aos leitores, conta com 23 contos nesse primeiro volume, que retratam toda a magia, a beleza, o fascínio e a diversidade do universo da Literatura Fantástica Brasileira. Os autores dessa série estão convida-dos a explorar todos os tipos possíveis de criaturas fantásticas, com temática livre dentro do gênero Fantástico, dando vida às letras do imaginário, transportando o leitor a universos e dimensões variadas.

Sinopse:

Georgette Silen já organizou diversas antologias e participou de diferentes projetos literários. Além de escritora, também trabalha como arte educadora e revisora.

Sobre a organizadora:

Editora: LiterataPáginas: 160

Ficha técnica:

Page 76: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Saudações

amados mortais!

Antes de começar o texto da coluna, quero comunicar a todos os lei-tores da Fantástica que acompanham nosso trabalho, que a equipe da Tríade sofreu alterações, com a saída de nossa companheira, a escritora Celly Borges.

Com isso, a partir deste número da revista, a coluna passa a se chamar: “Clã dos Imortais”, em homenagem ao site que abrigava autores de Li-tfan, infelizmente já extinto.

A próxima edição da Fantástica, prevista para daqui a dois meses, con-tará com uma matéria inédita da renovada coluna da revista e com o “Clã dos Imortais”, teremos mais novidades para compartilhar com os leitores. Como a apresentação de dois novos membros, que a partir da edição 5 da revista, farão parte da equipe da coluna, junto de Nelson Magrini e de minha humilde e vampírica pessoa.

Esclarecimento:

Page 77: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Dia 26 de Setembro de 2010, aconteceu no clube do América - cidade do Rio de Janeiro, o “Darkness Rising” - evento multimídia, criado pela equipe do grupo Wanderlust, coor-denados por Felipeh Angel.

Como meu foco como escritora é a literatura fantástica, assim que soube do evento entrei em contato com o editor da FANTÁSTICA, Luiz Ehlers, pedindo sua autorização, para que eu fosse ao evento como correspondente da revista e pudesse acompanhar de perto, as novidades sobre os autores nacionais de Litfan que estariam presentes, para poder compartilhar com os leitores da Fantástica, o que está acontecendo de novo, no mundo Fantástico Tupiniquim.

Quando os responsáveis pelo editorial da revista me concederam a liberação, fui em busca do meu espaço no evento, enviando meus dados de mídia virtual, para a equipe responsável do grupo Wanderlust. Qual não foi minha grata surpresa em descobrir que autores fantásticos de todas as partes do país, haviam sido convidados para integrar o casting do evento.

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Fotos do evento e da participação dos autores convidados

Page 78: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

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Mais tarde, sentada no café literário do evento, conversei de forma bem des-contraída com alguns dos autores presentes, mais demoradamente com alguns deles que se dispuseram a falar comigo, dentre tantos acontecimentos em um evento tão grande e diverso, como foi o Rising.

Felizmente dos autores que puderam conversar, pude descobrir fatos bem legais acerca de suas carreiras, como os projetos nos quais cada um está envolvido no momento e suas aspirações, no Universo fantástico nacional.

Transcrevo aqui, o que cada um desses autores da nova geração compartilhou comigo, nesses papos fantásticos.

Ana Flávia Abreu:

Essa autora do Mato Grosso do Sul, Lançou pela editora Usi-na de Letras, o primeiro volume de um romance fantástico, intitulado: Kôra - O Pressentimento do Dragão, em agosto de 2010 na Bienal do livro de São Paulo, como o primeiro de prováveis 4 volumes.

Andrés Carreiro:

Autor carioca, começou a escrever o mix de Litfan e ação, A Essência do Dragão - Ressurreição em 2006, terminando o texto em 2008. O livro conta a saga da raça dos dragões, como se ela houvesse feito parte da evolução das espécies, como raça inteligente. Segundo o autor, este é o primeiro de uma sequência de 3 volumes a serem lançados.

Page 79: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Fernanda Mathias:

A história desta gaúcha foi uma surpresa para mim, quando confessou que ela não se tratava propriamente de uma escritora, mas de uma cientista, que num rom-pante de inspiração descobriu um veia literária que nem ela mesma sabia que existia dentro dela.

Fernanda me contou que após passar por um evento de privação de sono de 48 horas, os 4 volumes de sua obra vieram a tona, e ela acabou criando a série Evolução. Que teve sua estreia no universo da Litfan nacional, na última bienal do livro de São Paulo, em Agosto de 2010, com o lançamento do primeiro de seus 4 livros - “Almas Gêmeas”.

O texto do livro, gira em torno de um mundo ficcional que se mistura com a realidade, redefinindo o contexto de almas gêmeas.

Gerson Couto:

Autor de Hemisfério Dorso, lançado pela editora Multi-foco em 2009.

Criado em Minas Gerais e hoje, residindo no Rio de Ja-neiro, a carreira de Gerson Couto, não se resume apenas a literatura. Ele tem uma agenda de ensaios e compro-missos profissionais bem intensa, como bailarino.

O autor vem trabalhando paralelamente a sequência de Hemisfério Dorso, que deve ser lançada em breve, em outros projetos bem diversos. Como o de um livro de terror, cujo o tema e a mera sinopse, não me foram re-velados por ele, nem sob tortura (risos).

Existe ainda um outro livro no qual Gerson vem trabalhando, com um tema fora da Li-tfan, intitulado até o presente momento de: “Pois é...foi assim.”

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Page 80: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

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Leandro Schulai:

Leandro é redator da Revista FANTÁSTICA. Lançou em 2010, na Bienal de São Paulo, seu primeiro romance: O Vale dos Anjos.

Envolvido em ambas as frentes, Leandro tem se dedicado totalmente na divulgação e desenvolvimento de seu projeto, que prevê uma saga de 6 volumes.

Thiago Fernandes:

Vem trabalhando no romance fantástico intitulado: Sob uma Lua de Sangue. Com seu texto, Thiago nos faz uma pergunta:

- Até aonde o ser humano é capaz de ir por sua auto-preser-vação?

O romance tem o lançamento previsto para o 1ºsemestre do ano de 2011.

Marcelo Del Debbio:

Dedicado principalmente ao Universo de R.P.G.

Marcelo Del Debbio Lançou em 2008 o livro Enciclopédia de Mitologia, uma referência para autores, pesquisadores e ro-teiristas, contando com mais de 7.200 verbetes.

Este livro é considerado o maior tratado de mitologia com-parada da literatura brasileira.

Page 81: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

Gustavo Drago:

Esse é mais um escritor carioca que estava presente no evento e eu não poderia deixar de citá-lo na matéria. Afinal, ele foi meu primeiro parceiro no mundo da Li-tfan, quando há dez anos atrás me convidou para divi-dir a autoria da saga Relíquia com ele, viciando-me pra sempre nesse universo tão fascinante que é a literatura de fantasia.

Finalmente, em novembro de 2009, depois de um inces-sante e dedicado trabalho, lançamos o primeiro volume de nossa cria: Relíquia - Caminhos de um Templo Egíp-cio, pela Editora Biblioteca 24x7.

Todavia, os projetos de Gustavo não param por aí. Com a sequência de Relíquia, que deve ser lançada na Bienal do Rio em 2011, ele vem trabalhando em um livro de contos de suspense e terror, ainda sem previsão de lançamento.

Bem, amados mortais. Posso dizer a vocês que minha experiência no Darkness Rising foi algo que vou guardar comigo por muitos e muitos anos.

Este evento, feito com tanto capricho por parte da Equipe de Felipe Angel, teve uma par-ticipação bem legal do público, que pôde conhecer e se deliciar com a presença de tantas estrelas ascendentes e outras já conhecidas de nossa querida Litfan nacional.

Presenciei os esforços da equipe Wanderlust para fazer esse evento se concretizar. E que venham os próximos, como eles mesmos me prometeram!

Meus adorados mortais, espero que vocês gostem da matéria e descubram que nossa literatura é tão rica quanto qualquer outra de qualquer parte do mundo.

Beijinhos sombrios e até a próxima!Texto: Nana B.Poetisa.

Revisão: Nelson Magrini.

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Os SeteAndré Vianco

SétimoAndré Vianco

O Senhor da ChuvaAndré Vianco

1

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3

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5

BentoAndré Vianco

O Vampiro Rei Vol. 1André Vianco

O Turno da Noite Vol. 1Os Filhos do SétimoAndré Vianco

O Vampiro Rei Vol. 2André Vianco

Sementes no GeloAndré Vianco

A CasaAndré Vianco

O Turno da Noite Vol. 3RevelaçõesAndré Vianco

11 - O Turno da Noite Vol. 3 - O livro de Jó [André Vianco] 865 leram12 - A Batalha do Apocalipse [Eduardo Spohr] 699 leram13 - O Caminho do Poço das Lágrimas [André Vianco] 489 leram14 - Os Vampiros do Rio Douro Vol. 1 [André Vianco] 426 leram15 - Os Vampiros do Rio Douro Vol. 2 [André Vianco] 351 leram16 - Amor Vampiro – Vários Autores [André Vianco & Martha Angel] 346 leram17 - O Turno da Noite - Volume Único [André Vianco] 234 leram18 - Um Mundo Perfeito [Leonardo Brum] 186 leram19 - Kaori - Perfume de Vampira [Giulia Moon] 165 leram20 - Anjo: a Face do Mal [Nelson Magrini] 109 leram

TOP

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1877leram

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1292leram

1363leram

1365leram

* Para estimular a interação entre autor e leitor, só são contabilizados livros cujos escritores possuam perfil no Skoob** Contabilização fechada em 15 de novembro de 2010

Visite o perfil da FANTÁSTICA no Skoob!

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Cla

ssifi

caçã

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ras

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tica:

Page 83: Revista FANTÁSTICA - Edição nº4 - outubro/novembro

O VéuWillian Nascimento

O Senhor da ChuvaAndré Vianco

A Batalha do ApocalipseDa queda do mundo ao crepúsculo do mundoEduardo Spohr

Um Mundo PerfeitoLeonardo Brum

1302vão ler

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Os SeteAndré Vianco

SétimoAndré Vianco

BentoAndré Vianco

O Vampiro Rei Vol. 1André Vianco

Diário de um AnjoMandy Porto

O Vampiro Rei Vol. 2André Vianco

11 - O Turno da Noite Vol. 3 [André Vianco] 954 vão ler12 - O Turno da Noite Vol. 1 [André Vianco] 896 vão ler13 - O Turno da Noite Vol. 2 [André Vianco] 852 vão ler14 - Sementes de Gelo [André Vianco] 745 vão ler15 - Amor Vampiro – Vários Autores [André Vianco & Martha Angel] 700 vão ler16 - A Casa [André Vianco] 668 vão ler17 - O Caminho do Poço das Lágrimas [André Vianco] 613 vão ler18 - Rede de Sonhos [Felipe Pan] 570 vão ler19 - O Vale dos Anjos - O Torneio dos Céus Pt. 1 [Leandro Schulai] 547 vão ler20 - Mundo de Avalon - Caminho da Gnose Vol.1 [Vincent Law] 469 vão ler

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* Para estimular a interação entre autor e leitor, só são contabilizados livros cujos escritores possuam perfil no Skoob** Contabilização fechada em 15 de novembro de 2010

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Saí da Fantasticon 2010 carregando uma sacola com vários livros e revistas. A maioria entregue por Silvio Alexandre, organizador do evento. Depois do cha-mado “bate-papo” em que eu, Douglas MCT, Eric Novello e Raphael Draccon deveríamos ter discutido sobre elementos brasileiros em literatura fantástica, o Eric presenteou-nos com seu recém-lançado livro Neon Azul. Gostaria de ter retribuído o gesto, mas os três livros que eu levara na mochila já tinham destino certo. Por sorte, ele mora perto o suficiente de minha casa para que eu possa remediar a situação.

De tudo o que eu trouxe para casa, Neon Azul foi o que mais chamou nossa aten-ção, minha e de minha esposa. Ela leu uns trechos. Depois, devolveu-me o livro e disse: “Leia. Você vai gostar deste”. Li.

No meio da leitura, cheguei a postar no Twitter que havia descoberto uma for-ma de classificar Neon Azul: uma mistura de As sete faces do Doutor Lao com Plinio Marcos. Agora, creio, chegou a hora de explicar.

O romance é uma coletânea de contos aparentemente independentes, que pos-suem uma ligação entre eles. É o chamado “fix up”. Eu, particularmente, consi-derei desnecessário estampar isso na capa, mas vamos em frente.

O tal Neon Azul é o nome de um bar, que é propriedade de um misterioso per-sonagem, conhecido apenas como “o Homem”. Este manipula os outros perso-nagens que circulam em seu bar. Suas motivações nunca ficam claras.

O autor não perde muito tempo com descrições dos personagens. Prefere se concentrar em suas histórias e deixar que elas nos mostrem de que são feitas aquelas pessoas. Esse artifício, a princípio, causa incômodo, pois é fácil confun-dir os personagens. Embora o bizarro de suas situações seja único, suas diferen-ças pessoais, como forma de falar e agir, são sutis. Mas, ao passar das páginas, o leitor perceberá que é um trunfo, e dos mais geniais. Se foi intenção do autor, demonstra domínio de sua obra. Se foi acaso, foi o mais genial e sortudo que vi nos últimos anos.

O ponto de ligação dos personagens é profundo e os transforma. Ao frequen-tarem o bar a transformação os aproxima e os faz convergir. Daí, minha com-paração com o Doutor Lao. Para quem não se lembra ou nunca ouviu falar, As sete faces do Doutor Lao é um filme rodado na década de 60 e apresenta um velhinho chinês que chega a uma cidade no Oeste norte-americano do final do século XIX com um circo de maravilhas, habitado por sete criaturas. O desenro-lar do filme sugere que as sete criaturas são personificações do velho chinês. O mesmo parece acontecer em Neon Azul. Todos os personagens fazem parte de uma única personalidade, que é misteriosamente atraída pelo bar.

Rese

nha

Skoo

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resenha por:waltertierno

São Paulo - SP

Neon Azul

Eric NovelloEditora: Draco

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Apesar do fantástico das situações, as reações dos personagens são humanas e, por isso, imperfeitas. Não há concessões. Você não tem como saber quem se dará bem ou mal. As cenas de violência e sexo são cruas, secas e agressivas. A ironia que se apresenta em momentos inesperados é cáustica e inteligente. Um ar de canalhice permeia a leitura, e isso é muito interessante.

Os contos são apresentados ora em primeira pessoa, ora em terceira. Se existe algum padrão que determine a escolha da pessoa, não prestei atenção suficiente para perce-ber. Fato é que essa transição conferiu agilidade à obra.

Leitura que eu recomendo!

Se existe algum ponto negativo no livro, não coube ao autor. Uns errinhos de revisão aqui e acolá, mas estão ainda dentro da média. Embora as pessoas venham comentan-do euforicamente sobre a capa, eu acredito que uma solução mais gráfica, com paletas mais definidas resultaria em uma solução muito melhor.

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PsychobooksE n t e n d e m o s s u a l o u c u r a !

Olá Leitores Fantásticos, e consequentemente

Psychofantásticos!

Dessa vez vamos falar com vocês sobre divulgação

de livros. Sabem, estamos completando um ano

no meio literário e sempre recebemos – por

parte dos autores e editoras – o mesmo tipo de

queixa... A dificuldade na divulgação de seus títulos!

Pois bem, pensamos muito nesse assunto e sempre

nos questionamos sobre o que pode ajudar na difícil

arte da “Divulgação de um Livro”. Bora saber o que

é uma ARC e porque ele é tão utilizado no exterior!

www.psychobooks.com.br

Qual o papel da ARC na divulgação de um livro?

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Meninas, o que é uma ARC??

Vamos então direto ao termo: A de “Advanced” , R de “Reading” e C de “Copy” (não, esse não foi um momento ABCDário da Xuxa), que traduzindo significa “Cópia Adiantada de Leitura”, que nada mais seria do que uma cópia do livro que pode ou não estar completa e revisada.

Advanced Reading Copy

Essa cópia é exclusiva para divulgação.

Não é a versão final.

Não foi revisada, pode conter erros e ser modificada até a data de lançamento.

Não pode ser vendida!

E essa é que é a graça! Imaginem, caros leitores, se em 2007 você estivesse na primeira fila para ler um ARC do último livro de Harry Potter, antes que to-dos os meros mortais? E imaginem que rebuliço isso não causaria! Imaginem a propaganda que uma resenha ou um comentário antecipado traria para a obra. Mas claro que esse é o bônus para quem recebe efetivamente a obra: ler um livro antes que ele seja lançado no mercado. E o que traz de benefício para a editora e autor?

Pois bem, a resposta é simples: DIVULGAÇÃO!

Qual é a pior parte de se começar o trabalho de divulgação de uma obra? Na nossa opinião é torná-la conhecida do público e, portanto, desejada.

E se esse desejo, essa procura, essa ânsia pela obra começassem antes mesmo que ela estivesse nas prateleiras das livrarias?

Um livro comentado em jornais, revistas e blogs literários, aguçando a curiosi-dade do leitor e o fazendo contar os dias para a publicação.

É mais ou menos com o que os já consagrados autores fazem com suas obras ao colocá-las em pré-venda, mas aí é que está a diferença. Ele já tem o grande público cativo e o desejo por seus livros já está embutido no leitor. Com os novos autores isso não acontece, apelar apenas para a pré-venda não aguça o leitor. A propaganda tem que ser feita de outra forma, e é pra isso que serve a ARC.

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Pronto para se jogar no mundo da divulgação?

Com a obra avaliada e pesados os prós e contras, cabe agora aos autores e edi-tores pesarem a divulgação e o peso que uma ARC pode ter nela.

Mas a pergunta que sempre nos fazemos é:

A ideia é relativamente simples!Por que ainda não está sendo utilizada no Brasil?

Veja no que trabalha a ARC, com o que ela mexe e quais botões que ela aperta na mente do leitor:

CURIOSIDADE

INTERESSE

DESEJO

VENDAS

Mas é claro que a obra a ser trabalhada e divulgada com a ARC tem quer ter qualidade e causar esse furor, ou então, colega, a publicidade acaba invertida:

CURIOSIDADE

DESINTERESSE

REPULSA

TCHAU, TCHAU VENDAS...

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banner 100%No dia 25 de novembro de 2009 foi inaugurado o site Sobre Livros. Com uma proposta de trazer aos leitores conteúdo rápido, atualizado e criativo, Rafael e Tiago Casanova, irmãos gêmeos, criaram o que hoje é um dos blogs mais renomados do Brasil, que conta com o impressionante número de 11 membros, trabalhando diariamente para o site com resenhas, notícias e opiniões.

Completando 1 ano de existência, o blog apresenta números impressionantes, mostran-do que os esforços misturados à irreverência, agilidade e exclusividade podem trazer bons resultados não importando qual sua área de atuação. Até o momento da escrita dessa matéria, o site já contava com 2786 seguidores, média impressionante de 3300 acessos diários e a espantosa quantidade de 170 resenhas prontas, sendo que boa parte são de autores nacionais. Por sinal, outro diferencial do site é que além de uma seção exclusiva para esses autores, existe também espaço para que alguns deles escrevam se-manalmente, como um membro da equipe. Exemplo disso é o escritor Fábio Henckel, do livro Binno Ox e o Clã de Prata (Editora Novo Século), que possui sua coluna onde trans-mite suas ideias e pensamentos.

E para quem pensa que os membros do Sobre Livros vivem apenas em função do site estão muito enganados. Os gêmeos criadores, Rafael e Tiago, por exemplo, atuam no ramo alimentício, o que requer muita dedicação e tempo. O segredo para manter o site com qualidade e conteúdo é justamente a diversificação de seus membros, onde cada um possui um estilo próprio e isso permite com que todos os gêneros sejam abordados e que cada um consiga expressar aos leitores específicos seus pensamentos e os pontos positivos e negativos.

Se com apenas 1 ano de existência o Sobre Livros já atingiu tais marcas, o que dizer em 2011? É esperar para ver...

sobrelivros.com.br

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“Cenários de RPG”

www.rpgbrasil.org

por Edson "Druida das Pradarias" Lemes Júnior

“Cenário: s.m. Decoração adequada a uma cena que se desenvolve no tea-tro. / Local onde se passa algum fato: o cenário do crime.”

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Diversos cenários tornaram-se conhecidos através da literatura. Na obra O Se-nhor dos Anéis a Terra Média é o cenário onde situa-se toda a trama. As suas descri-ções são tão ricas que você pode eliminar a história e o cenário ainda permanecerá lá, podendo ser usado para criar outras histórias. Este cenário em si dá alusão a outras histórias que ocorreram em passados distantes e que poderão ser contadas no futuro. A galáxia de Star Wars também é rica em descrições de planetas e desta forma tor-nou-se palco para quadrinhos, desenhos, games, livros e diversas outras histórias que utilizam como base O CENÁRIO de Star Wars. Podemos listar diversos outros cenários que ganharam vida. Um outro exem-plo é Resident Evil e sua cidade de Raccoon City que tornaram-se filmes e tiveram inúmeras continuações de jogo, expandindo assim ainda mais o cenário.

Toda obra literária (e estou envolvendo obra literária como tudo aquilo que contém uma história, seja ela real ou fictícia - games, livros, filmes, teatro, quadrinhos, etc.) necessita de um plano de fundo onde a própria história se fixa. Não existem his-tórias sem um cenário, seja quase imperceptível ou grandioso, ele sempre vai estar lá. Um cenário poder ser a rua de uma cidade, toda uma cidade, todo um país, um pla-neta ou um universo inteiro.

Cenários conhecidos e famosos:

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O que é um cenário?

Então surge a pergunta. Se cenário é um plano de fundo para uma história, o que são cenários para RPG? Se você acompanha a revista Fantástica, já deve ter lido sobre o que é RPG, ou seja, é um jogo baseado em uma história. Se toda história necessita de um cenário, com o RPG não é diferente. Existem dois tipos básicos de cenários. Um cenário baseado em um mundo real e um cenário fictício. Quando mais fictício o cenário, maior o trabalho imaginá-rio para criá-lo. Exemplo: se você usa como cenário o mundo atual, onde você sabe que existe a Europa, Ásia, África, você não precisará criar muitas coisas, a não ser elementos ficticios que você pretende incorporar a este cenário (se é que eles exis-tem), pois estes locais realmente existem e você pode encontrar informações sobre os mesmos na internet, livros de geografia e Atlas. Agora, com um cenário imaginá-rio, a descrição do mesmo deve ser bem feita, para que pareça real. Tomamos como base o filme AVATAR. James Cameron criou todo um cenário do planeta Pandora antes de desenvolver a história do filme. Assim, enalteceu o realismo da história.

Cenários conhecidos e famosos:

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Na literatura, muitas vezes o cenário é criado junto com a trama (nem sem-pre, mas em grande parte dos casos). À medida que o escritor desenvolve uma história, ele imagina como será o cenário da mesma. O RPG, entretanto, não é uma história linear. Como o desenrolar da his-tória depende das ações dos jogadores, o mestre (saiba mais sobre o mestre na Conexão RPGBrasil da edição 03) precisa ter um cenário muito bem descri-to para que possa tomar suas ações baseada nas ações dos jogadores. Apesar do RPG ser baseado em uma história, a mesma poderá mudar de acordo com a vontade dos jogadores. Por exemplo, você previa que os jogadores iam para um determinado lugar e de uma hora para outra eles decidem ir para outro lu-gar. Um cenário (seja ele qual for) precisa estar preparado para tais mudanças. Sendo assim, os cenários de RPG são criados como livro específicos de cenários (e muitas vezes vários livros) que descrevem geografia, cidades, pessoas importantes, cultura, línguas e tudo que é necessário para tornar um cenário o mais completo e realista possível, onde o mestre poderá colocar os jogadores em qualquer lu-gar que ele desejar e encontrará referência sobre tal lugar.

Alguns exemplos de cenários de RPG:

- Internacionais: Forgotten Realms, Ravenloft, Eberron

- Nacionais: Tormenta, ERA

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Como os cenários de RPG são ricamente desenvolvidos, diversos autores aproveitam tais cenários para escreverem suas histórias. Por exemplo, podemos ci-tar a série Dragon Lance, escrita pelos autores Margaret Weis e Tracy Hickman, que chegou a ser indicada como melhor série pelo New York Times. Outra referência é o romance (I, Strahd), que conta a vida do personagem Conde Strahd Von Zarovich no cenário de Ravenloft. Os quadrinhos também se fazem presente nessa onda, como os diversos baseados no cenário Forgotten Realms.

Livros baseados em cenários de RPG?

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Atualmente a RPGBrasil.Org tem trabalhado no cenário de Fantasia Medieval (um cenários com baixa magia e com um estilo parecido com a nossa idade média, ou seja, Low Fantasy) conhecido como ERA. Um cenário brasileiro, online e gratuito, que tem como idéia central o auxílio de todos aqueles que desejam colaborar para torná-lo o cenário de RPG mais completo e detalhado já visto. A ideia é ousada, mas a cada passo, ERA aproxima-se mais deste objetivo. Atualmente, ERA conta com um livro publicado - conhecido como a série de Livro dos Reinos: Reino de Belthor, onde tratamos sobre um resumo geral de um dos reinos de ERA, conhecido como Belthor. O livro está no formato e-book e pode ser baixado gratuitamente, clicando-se aqui.

O projeto do cenário ERA

Em Janeiro de 2011 estaremos lançando o segundo livro da Série de Reinos, denominado O Reino dos Magos. Fora isso, planejamos muitas outras novidades que serão reveladas no seu devido momento. Alguns desses projetos que podemos adiantar é uma Antologia tendo ERA como cenário base para os contos.

Esperamos que tenham gostado da matéria e que possamos melhorar cada vez mais nas matérias futuras. Para isso, vote na enquete falando o que achou da matéria atual, clincado aqui.

Aproveite e vote em qual tema deseja ver em nossa próxima seção. Clique aqui!

Escrito por:Edson Lemes Júnior “Druida das Pradarias”

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CLÁSSICOSpor Dhyan Shanasa

Clássicos. Eis uma palavra que, como um elefan-te branco, incomoda muita gente. Não digo a palavra em si, mas o peso que ela verga em seus ombros. Certamente o que define o classicis-mo de uma obra não é a época em si, mas a grandiosidade adquirida e, quem sabe, a capacidade do autor que por conseqüência o faz imortal e atemporal. Não há diferen-ças visíveis e fundamentais entre ler Homero e Machado de Assis; pois como dissemos, a época não importa, pois ambos são clássicos mesmo sendo distintos entre si. A chamada Literatura Clássica é funda-mental para o amadurecimento do escritor e para o desenvolvimento crítico, intelectu-al, linguístico e, num âmbito mais profundo, intuitivo. Confesso que conheço poucas pes-soas que tenham passado os olhos em livros de autores como Victor Hugo ou Balzac, e menos ainda que tenham lido Shakespeare ou Ésquilo. Contudo, é entendível – mas não completamente aceitável –, que leitores se abstenham de ir ao Mundo Antigo buscar por poetas como Ovídio ou Horácio, sendo o mais grave ignorar autores fundamentais de nossa própria literatura como Machado de Assis ou em nossa língua como Fernando Pessoa, mas é de suma importância que autores novos os conheçam para que desenvolvam um certo tino nesta arte que chamamos escrita. Muitos erguer-se-ão em protesto ao que seguirei dizendo, mas falo, desde já, que não pretendo defender os Clássicos, até por que eles não precisam de minhas palavras para se manter no pilar das Obras Eternas.

Não. O que venho fazer aqui será compreen-dido quando lido sem conceitos pré-concebi-dos, ou seja, sem nossos preconceitos. Um clássico é atual mesmo quando lido 500 ou mil anos após a época de seu criador. As pessoas até os conhecem, mas ignoram-nos por razões ininteligíveis até para si mesmos. A maioria pode não ter lido o grosso volume de Dom Quixote de Cervan-tes, mas quem não o conhece por nome ou já não viu um filme ou desenho animado so-bre o assunto? Que erga a mão o sujeito com determinado tempo de leitura e vida que ja-mais ouviu um comentário sobre o Inferno de Dante e sua Divina Comédia, mesmo que seja em forma de jargão? Há algum leitor que nos acompanhe neste instante com olhos ávidos e que desconheça o Corcunda de Notre Dame – que nada mais é que uma obra de Victor Hugo –, mesmo em desenho dos Estúdios Dis-ney? E por que motivo não citar Dorian Gray de Oscar Wilde, Os Três Mosqueteiros de Ale-xandre Dumas, Guerra e Paz de Tolstoi, Os Irmãos Karamazov de Dostoievsky, Dom Cas-murro de Machado de Assis, Romeu e Julie-ta de Shakespeare, O Vermelho e o Negro de Stendhal, O Pequeno Príncipe de Exupéry ou a estupenda Comédia Humana de Balzac. Há dezenas, centenas – para não dizer milhares -, de obras clássicas fundamentais que podería-mos citar aqui, mas não temos a intenção de chatear o leitor. “A primeira função do escri-tor é não aborrecer”, dizia Machado de Assis referindo-se justamente a isso. Todavia, estas obras acima são tremendamente conhecidas e mesmo que não tenham sido devidamente saboreadas em literatura, certamente em ci-

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nema ou outras formas de arte o foram. Isso serve para que compreendamos de que forma os clássicos estão inseridos em nossa sociedade, mesmo que não os perce-bamos. Já ouvi, com certa reticência, pessoas dizerem que não leriam Goethe por achá-lo entediante, mas quando questionadas sobre artes como teatro, assumiram conhecer e ad-mirar obras como Fausto, que, cá entre nós, é Goethe. É de praxe que possuímos conheci-mento sobre estes sujeitos ao qual o mundo se refere como Mestres. Eles, admirados ou ignorados, mantém-se num patamar irrevo-gável, tendo o mérito consumado pelo fator tempo e a imortalidade reafirmada a cada sé-culo que se passa. Esses Mestres da literatura são pessoas comprometidas com a própria arte, e fazem dela um meio de expressão me-ticuloso e sublime. Trazem em um só corpo várias formas, usam de toda a experiência de vida para ensinar-nos, mostrar-nos de alguma forma como olhar o contexto de Tudo de um jeito mais atento. Em suma, não são somente escritores, pois reúnem em si qualidades que vão de filósofo a contra-mestre de navio pes-queiro do século XVIII. O clássico não é meramente um livro. Suas páginas são entremeadas com miríades de fatos marcados por uma realidade nua e crua. Cada palavra contém em si o sabor da Realidade das coisas. Cada linha pode nos fa-zer compreender de forma mais ampla aquilo que com tanto veemência chamamos Vida. Há todo um lado político-social, toda uma análise de atos, gêneros, caracteres, senti-dos, momentos, história, emoções, sensa-ções, etc., etc. Exemplo disso é “A mulher de trinta anos”, de Honoré de Balzac, que é uma aula sobre a alma e a psicologia feminina; e, diga-se de passagem, quando essa obra veio a público, Balzac foi carregado nas ruas de Paris, tamanho o espanto causado pelo livro. Obras como “Os Fastos” de Homero e Ovídio e “Cartas a um jovem poeta”, de Rainer Ma-ria Rilke, quando lidas mais atentamente, são estudos profundos sobre a arte de escrever.

Detalhadamente observada pelos autores em questão, a escrita é colocada em foco de uma forma direta, onde eles fazem críticas e ob-servações sobre peças teatrais, prosas e po-esias de suas respectivas épocas dando-nos assim a perceber o nível de envolvimento que estes sujeitos têm com sua Arte. As duas obras são de um valor assombroso para aque-les que iniciam uma carreira literária. Em “Os Miseráveis” de Victor Hugo, há um estudo so-cial e histórico dos costumes da França, indo desde a lingüística das gírias das ruas de Paris até um olhar imparcial sobre a magistratura daquele tempo. Nos dois tomos do livro “Con-tos Fluminenses” de Machado de Assis, vê-se uma clareza única onde nosso maior escritor cria pequenas histórias cheias de uma bele-za incrível e repletas de um senso de humor invejável. Indo do cotidiano da Corte do Rio de janeiro às fazendas mais distantes, Ma-chado de Assis mostra-nos as peculiaridades de nosso país ainda no tempo do império, e com uma capacidade de análise de todos os aspectos humanos, dá-nos – mesmo que em pequenas historietas -, aulas infindáveis sobre o comportamento humano. Tudo na maior naturalidade. Um livro do calibre dos citados acima é, antes de tudo, um estudo profundo dos mais incríveis aspectos humanos. O cotidiano, longe de ser algo entediante, é mostrado com presteza e sinceridade, não deixando trans-passar um único equivoco. Escritores imor-tais têm algo em comum: ele são imparciais e indomáveis. Nenhum meio os consegue cap-turar, e suas obras criam tumultos que vão desde o esclarecimento de uma mente ado-lescente ou uma revolução em larga escala. Há de tudo. Contudo, em nosso momento, parece-nos que vagarosamente estamos nos afastando da Literatura Clássica, e isso é gra-ve. Ela é nossa base, o alicerce que sustenta e circunda as artes; sem ela, tornaremos a uma Idade das Trevas, onde a ignorância será su-blimada como um deus hediondo e fútil, sem dignidade ou luz.

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“A igualdade pode ser um direito, mas não há poder sobre a Terra capaz de a tornar um fato.”

Honoré de Balzac

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