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E X CEL Ê NCIA EM A TER Revista E X CEL Ê NCIA EM A TER Revista REVISTA DO MDA- MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO Nº 3 - 2010

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EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

REVISTA DO MDA- MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO

Nº 3 - 2010

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

Este folheto “Excelência em Ater” é uma publicação oficial da Secretaria de Agricultura Familiar do Ministério do Desenvolvimento Agrário. Endereço: SBN Q 1, Ed. Palácio do Desenvolvimento, 6º Andar. Cep: 70.057- 900 Telefones: (61) 2020-0910/0916 Site: www.mda.gov.br/saf

Presidente da República: Luiz Inácio Lula da SilvaMinistro de Estado do Desenvolvimento Agrário: Guilherme CasselSecretário Executivo do Ministério do Desenvolvimento Agrário: Daniel MaiaSecretário de Agricultura Familiar: Adoniram Sanches PeraciDiretor do Departamento de Assistência Técnica e Extensão Rural: Argileu Martins da SilvaCoordenador de Relações Institucionais e Gestão do Sibrater: Hur Ben Corrêa da Silva

Organização e Elaboração

Andre MarchettiCesar ReinhardtHur Ben Corrêa da Silva Josué Gomes PinheiroMarcos Antonio Gomes Pena Junior

Apoio

Redes Temáticas de Ater: Agroecologia, Agroindústria, Ater para Mulheres, Ater para Povos Indígenas, Ater e Pesquisa, Biodiesel, Diversificação na Agricultura Familiar Fumicultora, Leite, Comercialização, Formação de Agentes de Ater, Metodologias Participativas, Produtos e Mercados Diferenciados, Turismo Rural. Site: http://comunidades.mda.gov.br

Projeto Gráfico e Editoração: Filipe Lopes

Tiragem: 1.000 exemplares

ÍNDICEÍNDICE

Agroecologia é uma realidade na agricultura familiar...............................................................................03

Rede temática de Ater apoia a comercialização...............................................................................06

Parceria governo e sociedade promove mais renda...............................................................................08

Tecnologias promovem aumento de produtividade...............................................................................09

Organização, renda e segurança alimentar...............................................................................10

Diversificação promove renda e saúde no campo...............................................................................20

Ater e pesquisa em rede aumentam a produtividade...............................................................................14

Organização e inovação tecnológica geram mais renda...............................................................................16

Proteção ambiental e segurança alimentar...............................................................................17Integração rural: urbano, lazer e renda...............................................................................18

Diversificação com renda e saúde...............................................................................20

Trabalho em rede com preservação do meio ambiente...............................................................................22

Organização cidadania e renda...............................................................................24

Fortalecimento da cultura indígena...............................................................................26

Organização, gestão, processamento e comercialização...............................................................................28

Rede de agricultores promovem a preservação ambiental. .............................................................................30

FOTO CAPA: Eduardo Aigner

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

É com satisfação que apresentamos a terceira edi-ção da revista Excelência em Ater. É uma publi-

cação que nasceu para responder a pelo menos duas demandas expressas dos parceiros do Ministério do Desenvolvimento Agrário (MDA): divulgar iniciativas de Assistência Técnica e Extensão Rural (Ater) que concretizam os princípios e conceitos da Política Na-cional de Ater (Pnater) e que atendam às diretrizes da Secretaria de Agricultura Familiar (SAF) e dar visibili-dade às ações de Ater que contribuem para qualificar as políticas públicas voltadas para o meio rural. Depois de mais de seis anos de Pnater, existe um número significativo de iniciativas que atendem a esta expectativa e contribuem para superar a pobreza, promover sistemas sustentáveis de produção e a se-gurança alimentar e nutricional da população rural, e que agregam valor à produção e promovem geração de renda aos agricultores familiares. Felizmente estas iniciativas e ações são apoia-das por políticas públicas voltadas para a Agricultura Familiar, tais como o crédito do Pronaf, os seguros da produção familiar, o Programa de Aquisição de Ali-mentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), entre outras, assim como políticas estruturantes que incluem os programas Bolsa Família, Luz para Todos, Saúde Preventiva, Habitação e Alfa-betização, entre outros. Entendemos que a Excelência em Ater pode ajudar a demonstrar que é possível fazer o desenvol-vimento de forma sustentável com base na agricultura

familiar e que a Ater desempenha um papel relevan-te nesta tarefa. Isto é importante, considerando que a Pnater é uma política bastante recente e introduz con-ceitos inovadores na Assistência Técnica e Extensão Rural que requerem mudanças significativas na ma-neira de se promover o desenvolvimento. Sejam mu-danças na forma de fazer agricultura, de conceber e desenvolver tecnologia, de processar e comercializar a produção, de tratar os recursos naturais, de estabele-cer as relações humanas e institucionais e trabalhar na gestão das organizações de Ater e do governo, entre outras. Trata-se de um imenso desafio que temos en-frentado ao longo destes anos por acreditarmos que se constitui em um imperativo vital para todos: cidadãos, sociedade e governo. Por isto, para nós, o valor des-ta publicação vai além do conteúdo de suas páginas. Constitui um incentivo a todos que participam desta construção a continuarem e um convite aos que ain-da não se engajaram para começar. Ainda, vimos nos somar aos parceiros que vem divulgando iniciativas e ações de Ater que são referência da Pnater e encorajar que seja ampliada a divulgação. Aproveitamos para agradecer e nos congratu-lar com as organizações que contribuíram para esta edição e saudar a todos que vêm contribuindo com a implementação da Política Nacional de Ater (Pnater), em todos os estados do Brasil. Esperamos que gostem da leitura e passem adiante esta notícia do bom traba-lho da Ater.

APRESENTAÇÃOAPRESENTAÇÃO

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

A Empresa Estadual de Assis-tência Técnica e Extensão Rural do Rio Grande do Norte (Emater-RN) deu iní-cio, a partir de 2004, a um trabalho de capacitação intensiva da equipe técnica e passou a adotar como prioridade para a extensão rural junto aos agricultores familiares um manejo de bases agroe-cológicas. Isso foi potencializado com a contratação de novos técnicos e um tra-balho de capacitação para agricultores, optando por realizar a transição do sis-tema tradicional para um sistema agroe-cológico de produção de hortaliças. A Emater – RN iniciou este processo dando ênfase à capacitação dos agricultores envolvidos, apoio à criação de feiras agroecológicas em Na-tal e no interior. Além disso, foram ado-tadas técnicas alternativas nas hortas,

Agroecologia é uma realidade na agricultura familiar

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Agricultores, com o apoio da Emater - RN, adotaram técnicas alternativas

Técnicos capacitam agricultores em manejos agroecológicos

Rio Grande do Norte: Vivenciando a Agroecologia

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

como a implantação de quebra ventos, produção e aplicação de compostagem orgânica, biofertilizantes, cobertura morta, coquetel para adubação verde, reciclagem da matéria orgânica. Fo-ram utilizadas receitas naturais para controle de eventuais pragas ou doen-ças que podem prejudicar a produção nesta fase de transição. Tudo sempre valorizando o conhecimento dos agri-cultores locais e a disponibilidade de insumos naturais da região. O trabalho de Ater com ênfase na transição para produção agroecológica e orgânica evoluiu de forma que na região metropolitana de Natal tem havido o in-centivo do cultivo de hortaliças em áreas de escolas. Isso por meio da implantação de hortas pedagógicas e em propriedades comunitárias ou de agricultores familiares, com a finalidade de conquistar a sobera-nia alimentar e de obtenção de renda para as famílias envolvidas no processo. No interior do estado, há a execução do Pro-grama de Compra Direta da Agricultura Familiar, modalidade do PAA (Programa de Aquisição de Alimentos), uma par-ceria entre MDS, MDA e Emater-RN, criando um mercado institucional. Os agricultores dos municípios do interior do estado passaram a fornecer alimentos para a complementação da merenda es-colar e entidades filantrópicas.

Através de outros programas como o Projeto de Reconstituição dos Agroecossistemas, em áreas de deser-tificação no Seridó, foram realizadas

Tudo sempre valorizando o

conhecimento dos agricultores locais e a disponibilidade de insumos naturais

da região

obras que servem de base e apoio como a construção de barragens subterrâne-as, renques e barramentos de pedras. Estas tecnologias adaptadas ao Semi-árido formam um alicerce para con-servação de água no subsolo durante a estação seca e para a conservação do solo e recuperação da biodiversidade, através da contenção de solo fértil e matéria orgânica que seriam carreados pelas enxurradas. Com estas práticas, agricultores familiares têm a opção de conviver com a seca, com a possibi-lidade de manter pomares e hortas agroecológicos, permitindo manter a soberania alimentar das famílias, e muitas vezes, gerando produção ex-cedente para abastecer o mercado local ou regional. Estas e outras inúmeras inicia-tivas envolvendo muitos parceiros tem levado aos agricultores familiares do Rio Grande do Norte oportunidades de participar de um novo momento: o da valorização da produção ecológi-ca e dos agricultores como agentes de transformação da sociedade, ajudando a conservar o meio ambiente, produ-zindo alimentos de qualidade para sua família e para a sociedade em geral. Isso tem contribuído para a saúde e bem estar de todos os cidadãos envol-vidos na cadeia produtiva de consumo de alimentos saudáveis.

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Agricultores aprendem a utilizar adubo orgânico

Foto ilustrativa: Arquivo MDA

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

A Empresa Baiana de Desen-volvimento Agrícola S.A (EBDA), vinculada à Secretaria de Agricultura, Irrigação e Reforma Agrária (Seagri), lançou 15 Redes Temáticas para o Estado da Bahia, dentre elas a Rede de Apoio à Comercialização da Agri-cultura Familiar (Reacaf), que tem como diretriz promover a articula-ção dos agricultores familiares com os mercados institucionais, criando oportunidade de comercialização para os agricultores. Visando o objetivo da rede de comercialização – fazer com que as políticas públicas funcionem para criar mercados institucionais que ab-sorvam os produtos e serviços da agricultura familiar -, a EBDA, em parceria com a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), já capa-citou 840 técnicos, de nível superior e médio, em sete seminários regionais,

Rede temática de Ater apoia a comercialização

sobre Apoio à Comercialização dos Produtos da Agricultura Familiar, e 20 cursos sobre Comercialização. Associações e cooperativas de agricultores familiares, sindicatos de trabalhadores rurais, gestores mu-nicipais, conselhos de alimentação escolar e secretarias de agricultura e educação, formaram o público das ca-pacitações. Os participantes tiveram a oportunidade de conhecer o Progra-ma de Aquisição de Alimentos (PAA) e Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), duas importantes políticas públicas voltadas para o for-talecimento da agricultura familiar.

Experiências exitosas de co-mercialização

O projeto RENASCER – Programa de Alimentação Escolar e Incentivo a Agricultura Familiar

do Município de Wenceslau Guima-rães (BA), que tem com o objetivo de oferecer alimentação escolar, com segurança nutricional, e promover a agricultura familiar local, se tornou numa experiência com muito êxito. Este projeto vem recebendo total apoio da prefeitura municipal, que já oferece alimentos provenien-tes da agricultura familiar local para 5.600 alunos, sendo 3.400 na área urbana e 2.200 na zona rural. Os profissionais das cantinas das esco-las que elaboram a alimentação es-tão recebendo equipamentos para armazenar, processar e conservar os alimentos. Já as merendeiras recebe-ram capacitação para por em práti-ca o novo cardápio elaborado pelas nutricionistas. Para a aprovação do cardápio, estão sendo feitos testes de aceitabilidade, junto aos alunos das escolas que já recebem o benefício.

Foto ilustrativa: Arquivo MDA

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Ações da Bahia abrem espaços de comercialização para agricultores familiares

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

PAA

Outro trabalho de destaque na Bahia, dentro da estratégia da Rede de Comercialização é o realizado no município de Souto Soares. A partir de 2006, com a chegada do Progra-ma de Aquisição de Alimentos (PAA), executado pela Conab, na modalidade Compra Direta com doação simultâ-nea, a Empresa Baiana de Desenvol-vimento Agrícola S.A (EBDA) vem realizando em seis comunidades ru-rais a organização da produção, para que os agricultores possam atender à demanda do programa. São beneficiadas mais de 200 famílias agricultoras e 1200 pessoas que recebem, através das institui-ções sócio-assistenciais, os gêneros alimentícios provenientes da agricul-tura familiar tais como: beijus, bolos, doces, compotas, tapioca, frutas, le-gumes e verduras. Outro benefício destes agri-cultores é o nível de organização, ad-quirido a partir do seu envolvimento com o programa. Isso tem permitido as participações em feiras e eventos de agropecuária em toda a região da Chapada Diamantina, onde levam seus produtos para a comercialização

direta ao consumidor. Com relação ao PAA na Bahia, nas modalidades Formação de Estoque e Doação Simultânea, a Conab, com o apoio da EBDA, aplicou mais de R$13 milhões, no ano de 2009, provenientes dos orça-mentos do MDA e do MDS, forta-lecendo, dessa forma, a agricultura familiar no estado. PNAE

Em relação ao Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), no município de Euclides

da Cunha a EBDA iniciou, em par-ceria com agricultores familiares e a Prefeitura Municipal, a elaboração de um novo cardápio, no qual produtos básicos da agricultura familiar passa-ram a fazer parte da alimentação esco-lar. Foi realizado um mapeamento da produção local, respeitando os costu-mes alimentares e a sazonalidade dos produtos, para atender a qualidade nutricional da alimentação oferecida. Neste município, já ocorre-ram duas Chamadas Públicas, nas quais os agricultores familiares parti-ciparam com os seguintes produtos: feijão carioca, feijão vigna, farinha de mandioca, aipim, ovo caipira, batata doce, coentro, mel e iogurte. Traba-lhos como este já estão implantados em 106 municípios e o objetivo é, até o final de 2010, atingir a todos os 417 municípios baianos. O mercado institucional do PNAE para a agricultura familiar na Bahia tem um aporte de recursos fi-nanceiros da ordem de R$ 53 milhões, o que garante a comercialização dos gêneros alimentícios, beneficiando cerca de 6 mil famílias, e garantindo uma alimentação de qualidade para 4 milhões de estudantes da rede pública de ensino no estado, preservando, as-sim, os hábitos alimentares locais.

Foto ilustrativa: Arquivo MDA

Foto ilustrativa: Arquivo MDA

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EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

Graças a parceria entre o go-verno municipal, estadual e federal os agricultores familiares de Quixadá, no Ceará, estão alcançando boas produti-vidades a campo. No município, a Se-cretaria de Agricultura e uma coopera-tiva de Assistência Técnica e Formação disponibilizam 15 agentes de Assistên-cia Técnica e Extensão Rural (Ater) para prestar serviços de qualidade. O objetivo é auxiliar agricultores familia-res na produção de matéria-prima para atender ao Programa Nacional de Pro-dução e Uso do Biodiesel (PNPB) por meio da produção da mamona. O esta-do do Ceará garante a logística na dis-tribuição das sementes e incentivos aos agricultores inseridos no programa. Já o Governo Federal tem operacionali-zado a estruturação da base produtiva. Exemplos de boa produção são os agricultores familiares do mu-

Parceria governo e sociedade promove mais renda

nicípio de Canindé (CE). Um deles, João Rodrigues da Silva, que mora no Sítio do Meio/Ubiraçu, plantou uma área de 4,0 hectares, onde a produção alcançada foi de 2.400 kg de mamona, muito superior a da região. Com isso, ele obteve uma renda de R$ 7.300 na área plantada. O assentado José Patrício de Araújo Sousa, também de Canindé, morador no Projeto de Assenta-mento (PA) Pedra Furada/Ubiraçu, plantou 4,0 hectares e obteve pro-dução semelhante a de João, com uma renda de R$ 7.000 na produção e venda da mamona. Os agricultores familiares in-seridos no Programa de Biodiesel do estado do Ceará recebem um incenti-vo de R$ 200,00 por hectare para até 3 hectares por agricultor familiar. Os recursos são do Fundo de Combate

a Pobreza Rural do Estado do Ceará (FECOP). Essa renda contribui para condução da lavoura, o que favore-ce para alguns obterem excelentes resultados de produção e produtivi-dade. Bons resultados se dão, tam-bém, graças a Ater prestada a estes agricultores, que garante toda logís-tica e orientações necessárias para o bom desenvolvimento da cultura e até mesmo na garantia da compra da produção pelas empresas produtoras de biodiesel. Além disso, esses agricultores familiares têm maior diversificação da produção, contribuindo significa-tivamente para a segurança alimentar e nutricional, pois as oleaginosas para produção de biodiesel são cultivadas como culturas complementares, sen-do consorciadas com culturas desti-nadas a alimentação.

Foto ilustrativa: Arquivo MDA

Foto ilustrativa: Arquivo MDA

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Ceará desponta na produção de mamona e possibilita segurança alimentar para agricultores

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

A Serra da Capivara (PI) está se tornando referência em produtivi-dade e aumento de renda de agricul-tores familiares. O trabalho que está sendo realizado com a organização da base produtiva através do Pólo da Serra da Capivara, com a represen-tação de diferentes atores tanto do poder público como da sociedade ci-vil organizada. Isso tem contribuído para a construção de uma estratégia de plantio da mamona nas últimas safras, desde a entrega das sementes até a venda da produção. Fernando Pereira dos Santos é um dos exemplos de agricultores com bons resultados no Piauí. Ele plantou uma área de 10 hectares de mamona no Assentamento Saco em Caracol (PI). A área foi trabalhada toda manualmente e a produção foi de 9.750 kg de mamona debulhada, correspondendo a uma média de 975,0 kg/hectares, aproximadamente cinco vezes mais do que a média de produtividade da região. Seu produto foi comercializado a um valor de R$ 1,25/kg, correspondendo a uma ren-da bruta anual de R$ 12.187,50. Outro agricultor que tem alcançado êxito é José de Nazareno Sobrinho. Ele plantou 9,0 hectares de mamona na localidade Lagoa da

Caraíba no Município de Fartura do Piauí. A área foi trabalhada de for-ma mecanizada e a produção foi de 13.000 kg de mamona debulhada, correspondendo a uma média de 1.400 kg/ha, sete vezes a média de produtividade da região. Seu produ-to foi comercializado e a renda bruta anual obtida foi de R$ 16.250,00. Já Joaquim José de Sousa plantou 6,0 hectares de mamona na localidade Barra no Município de Ca-racol (PI). A área foi trabalhada ma-nualmente e a produção colhida foi de 4.537 Kg de mamona debulhada, correspondendo a uma média de 756 Kg/hectares, aproximadamente qua-

tro vezes a média de produtividade da região. Seu produto foi comercializado e a renda obtida foi de R$ 5.671,25. A agricultora familiar Salva-dora Pereira da Silva também colhe os ‘bons frutos’ da participação no PNPB. Ela plantou 2,0 hectares de mamona no Assentamento Saco no Município de Caracol (PI). A área foi trabalhada manualmente e a produção obtida foi de 2.078 Kg de mamona de-bulhada, correspondendo a uma média de 1.039,0 Kg/hectares, cinco vezes a média de produtividade da região. Seu produto foi comercializado a um valor de R$ 1,19/Kg correspondendo a uma renda bruta anual de R$ 2.472,82.

Tecnologias promovem aumento de produtividade

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Fernando é um dos exemplos de agricultores com bons resultados no plantio da mamona no PI

Salvadora e seu marido colhem os ‘bons frutos’ com a participação no PNPB

Joaquim tem uma produtividade quatro vezes maior que a média da região

Piauí: estado é referência em produtividade e aumento de renda de agricultores familiares

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

A Associação das Mulheres Agricultoras e Trabalhadoras Rurais (AMART), localizada no município de Tombos, Zona da Mata Mineira, é uma entidade originária de um movi-mento espontâneo entre as mulheres das comunidades rurais de Tombos, visando promover o desenvolvimen-to comunitário e a igualdade nas re-lações sociais de gênero. A participa-ção das mulheres e seu envolvimento efetivo na formulação e realização dos processos de formação tem sido fundamental para o andamento dos trabalhos da associação.

A AMART não busca uma ação isolada no município e região, ao contrário, nasce como necessida-de de uma ação afirmativa das mu-lheres participantes do movimento social. Localmente, a associação desenvolve suas ações em parceria com outras organizações das quais também faz parte. Com o fortalecimento da estratégia de comercialização no varejo local, a partir da criação do Mercado do Produtor em 2001, a di-versificação da produção deixou de ser apenas uma estratégia de segu-

rança alimentar da família e passou a ser valorizada como estratégia de geração de renda e sustentabilidade econômica, assegurando produtos e comercialização ao longo de todo o ano. Esta estratégia fortaleceu a participação das mulheres, que to-maram a iniciativa de organizar-se em grupos de produção setoriais. Atualmente, existem 101 mulheres que fornecem hortaliças, frutas, galinhas, ovos, temperos, produtos de panificação, doces va-riados, compotas, picles, artesanato e outros produtos para a comercia-

Mulheres agricultoras: produção agroecológica, geração de renda e soberania alimentar

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Participação efetiva das mulheres agricultoras tem sido fundamental para êxito da associação

Organização, renda e segurança alimentar

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

lização na própria associação, na Companhia Nacional de Abasteci-mento (Conab) e na Rede Ecológica no Rio de Janeiro. Estes grupos de mulheres têm conquistado sua autonomia na família e nas organizações locais. A vida das famílias melhora em vários aspectos, assim como a vida nas co-munidades e nas organizações da agricultura familiar. Os produtos, antes as-sociados apenas à segurança ali-mentar da família, vem gradual-mente ganhando importância na geração de renda monetária das famílias, proporcionando auto-nomia e reconhecimento ao tra-balho das mulheres. Com a visão agroecológica e da sustentabili-dade dos sistemas de produção, a participação da mulher, sempre relacionada com a diversidade na agricultura, ganha maior reconhe-cimento e relevância.

Atualmente, a AMART abrange três municípios circunvi-zinhos: Tombos, Pedra Dourada e Faria Lemos. Fornece produtos diversificados para escolas públi-cas municipais e estaduais e outras instituições sociais como asilos, centro espírita, APAE, hospitais, creches, pastoral da criança, aten-dendo um público beneficente em torno de 4000 pessoas que conso-mem produtos agroecológicos da agricultura familiar. As avaliações têm demons-trado que o destaque na troca de ex-periências é uma estratégia metodo-lógica fundamental. É o momento mais valorizado pelas participantes e, comprovadamente, é o que alcan-ça os melhores resultados, quando bem organizado e orientado. Em todos os projetos de-senvolvidos pela AMART e seus parceiros se busca a utilização de metodologias participativas, pla-nejamento, monitoramento, ava-liação e sistematização.

Estes grupos de mulheres têm

conquistado sua autonomia na família e nas organizações

locais

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Diversificação é valorizada como estratégia de geração de renda

Mulheres fornecem hortaliças para a comercialização

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

Alguns exemplos refletem como é possível construir e trilhar caminhos alternativos de produção e renda em regiões onde a especiali-zação produtiva impõe restrições de oportunidades e limita a autonomia das famílias agricultoras. O Estado com suas políticas públicas, as or-ganizações da sociedade civil, com seus saberes locais e os agricultores com suas capacidades acumuladas ao longo de sua história na agricul-tura, podem construir dinâmicas de desenvolvimento mais sustentáveis e autônomas.

Projeto Mutirão

Na Zona Sul do Estado do Rio Grande do Sul, a Associação dos Agricultores Familiares da região Sul do Rio Grande do Sul (Assaf-Sintraf/

Fetraf-Sul) em parceria com o Minis-tério do Desenvolvimento Agrário (MDA), por meio do Programa de Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco, está implementando o

mutirão pela diversificação das áreas cultivadas com fumo, beneficiando mais de três mil agricultores. Parti-cipam também o Ministério da In-tegração Nacional, a Empresa Bra-

Diversificação promove renda e saúde no campo

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Projeto realiza visitas técnicas, dias de campo e cursos com o envolvimentos dos agricultores

Mutirão desenvolve o trabalho de diversificação em áreas fumicultoras

Alternativas na agricultura familiar: ação necessária e possível

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

sileira de Pesquisa Agropecuária de Pelotas (Embrapa Clima Tempera-do) e a Cooperativa de Crédito Rural com Intenção Solidária (Cresol). O projeto abrange a instala-ção de unidades demonstrativas de vitivinicultura em 65 propriedades que são referência para as comuni-dades. Em todas as fases, da produ-ção ao processamento, as famílias agricultoras acompanham o plantio, tratos culturais, poda, colheita, es-magamento, produção de sucos e vinhos. Técnicos do projeto prestam assistência técnica neste processo ao mesmo tempo em que trabalham com outras culturas, produções e criações que possam interessar os agricultores. Também apóiam na or-ganização para atendimento ao mer-cado institucional, na formação de grupos de agricultores para atender as demandas da Lei da Alimentação Escolar. Com a destinação de no mí-nimo 30% dos recursos da merenda para aquisições da agricultura fami-liar cresceu muito a possibilidade de mercado para hortaliças, frutas, arroz, feijão, batatas, leite, schmier, embutidos, bolachas, entre outros produtos. O projeto viabiliza a realiza-ção de visitas técnicas, dias de cam-po, cursos de formação em associa-tivismo, cooperativismo. Além disso atua na capacitação de agricultores em técnicas de processamento para a produção de vinhos e sucos, prá-ticas ecologicamente sustentáveis de produção. Também possibilita o in-tercâmbio entre as iniciativas de di-versificação existentes nos diversos municípios da região como Pelotas, São Lourenço do Sul, Canguçu, Mor-ro Redondo, Dom Feliciano, Cristal, Camaquã, entre outros.

O mutirão conta com ou-tras instituições que atuam na região como o CAPA, Sul-Ecológica Unaic, Coopar, Coopaf, universidades, ad-ministrações municipais e entidades interessadas na melhoria da vida dos agricultores familiares. Os recursos destinados ao projeto são oriundos do MDA e do Ministério da Integra-ção Nacional (MI), com apoio opera-cional da Caixa Econômica Federal, com contrapartida financeira das en-tidades executoras. O projeto conta com uma equipe de 9 técnicos da região que atuam permanentemente no campo na prestação do serviço de assistên-cia técnica e extensão rural e articu-lando a participação das entidades parceiras. O calendário de execução do projeto iniciou com a implanta-ção dos parreirais e definição do ca-lendários dos dias de campo, cursos, e atividades de capacitação. Durante os eventos há a par-ticipação de inúmeros agricultores, agricultoras e jovens rurais que têm a oportunidade de acessar informa-ções diversas sobre a vitivinicultu-

ra, avaliando as possibilidades para iniciar a produção e as condições de mercado. Na região onde a fumi-cultura ocupou o espaço como uma das principais culturas, a busca de alternativas produtivas e geradoras de renda se faz necessário e tem sido bem recebido pelas famílias. A capacitação na área ambien-tal também tem destaque especial, abrangendo a recuperação de fontes naturais de água e encaminhamentos necessários para que os agricultores familiares da região se habilitem para receberem financeiramente pelos ser-viços ambientais prestados. O cenário da diversificação é uma das respostas às crises econômicas e sócio-ambientais que existem em áre-as e propriedades em que predomina o monocultivo. Nas regiões fumageiras o desafio da diversificação está sendo assumido por inúmeras organizações governamentais e não-governamentais. O objetivo é diminuir os riscos no se-tor de produção frente a uma possível redução no consumo de cigarros, pro-jetado pela Convenção-Quadro para o Controle do Tabaco está projetando a qual o Brasil é país signatário.

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EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

Desde o ano 2004, um con-sórcio formado por pesquisa, exten-são rural e terceiro setor estudam os problemas da evolução da agricultu-ra familiar na região noroeste do Rio Grande do Sul. Surgiu então a idéia de organizar ações coordenadas no sentido de contribuir para o fortale-cimento e viabilidade da agricultura familiar, tendo como foco a pecuária de leite. Nasce então o “Projeto de Pesquisa-Desenvolvimento em Pe-cuária Leiteira”. O projeto acolhido pela Em-presa de Assistência Técnica e Ex-tensão Rural do Rio Grande do Sul (Emater-RS) abrange a cobertura do

escritório regional de Ijuí, contempla 46 municípios da região Noroeste Colonial, Alto Jacuí e Celeiro, com a participação de mais de 18 mil pro-dutores de leite. Vários profissionais e instituições foram se integrando ao projeto, unidos pela forma de pen-sar e pela vontade de colaborar com a agricultura familiar, e na busca por desenvolver mais a pecuária leiteira na região. O objetivo é o fortalecimento e a viabilidade da agricultura familiar, a partir da geração de conhecimen-to em um processo de integração entre pesquisadores, extensionistas e agricultores. Para tanto, buscava-

se observar e constatar a realidade, gerando conjuntamente alternativas e soluções visando à melhoria dos processos do produtor rural e dos produtos oriundos dessas atividades, em especial o leite. O agricultor, nesse caso, não é apenas um parceiro de diálogo do programa, servindo como fonte de informações sobre a produção que realiza. Mas sim, é o sujeito que, jun-tamente com sua família, determina o que irá acontecer a partir de seus objetivos e sua visão sobre a situa-ção em que vive. A forma como as informações técnicas são entendidas pelos produtores interfere em suas

Ater e pesquisa em rede aumentam a produtividade

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Rede de pesquisa-desenvolvimento: sistemas de produção com atividade leiteira

Integração entre pesquisa e desenvolvimento visa contribuir para o fortalecimento da agricultura familiar

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

ações e condiciona as respostas que ele poderá conseguir, podendo afetar todo o sistema de produção. Sendo assim, a cada passo de sistematização das informações e da elaboração de proposições, a família é desafiada a discutir e aperfeiçoar a compreensão que tem da situação.

Dentre as razões que motiva-ram a organização do programa ao trabalho em rede, estão: • Envolver as instituições para cola-borarem na construção de um desen-volvimento sustentável;• Desafiar as instituições a uma convi-vência crítica e que sugere mudança;• Debater as diferentes propostas num ambiente que não só deixe os comportamentos iguais, mas que principalmente promova o enrique-cimento deles;• Organizar as atividades para me-lhorar os resultados obtidos;• Possibilitar a criação de um cami-nho de conhecimento regional sobre o meio rural;• Melhorar o rendimento da ação de cada instituição, naquilo que se destaca e que pode contribuir com a região, gerando um aumento de acordo com as capacitações de cada integrante da rede.

Como o programa originou-se de uma nova forma de conceber a atuação da pesquisa e da extensão como agentes do desenvolvimento, a construção do pensamento comum e da organização em rede são pro-cessos que demandam certo tempo. Portanto, deve-se considerar que o principal resultado é exatamente a consolidação do programa em rede.O programa inovou na forma de atuação dos técnicos de extensão ru-

ral, trazendo-lhes novos conceitos e reflexões acadêmico-científicas. Por outro lado, os pesquisadores apro-ximaram-se do contexto produtivo, participando do processo de consta-tação e entendimento da realidade, o que lhes permitiu gerar em conjunto com técnicos e produtores os pro-blemas para a pesquisa. Atualmente, várias institui-ções estão atuando efetivamente

PRODUTORESUnidades de produção

de base familiar

no programa: Emater-Rs/Ascar, Embrapa Pecuária Sul, Embrapa Clima Temperado, Unijuí, Fepagro, Unicruz, IF Farroupilha/Campus Santo Augusto, Cesnors/UFSM, Cooperfamiliar e Cotrisa. A rede continua em construção e, por-tanto, aberta para que outras ins-tituições interessadas possam vir a somar-se no trabalho.

REDE

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EXTENSIONISTASInstituições de Assitência Técnica e Extensão Rural

PESQUISADORESInstituições de pesquisa

e de ensino

Projeto visa a viabilidade econômica da agricultura familiar a partir da geração de conhecimento

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

No Agreste Meridional, espe-cialmente no município de Paranata-ma, em Pernambuco, a caprinocultura de leite é pouco explorada, apesar da aptidão e mercado favoráveis. Neste município esta localizada a comunidade do Sítio Laginha, onde uma associação de mulheres despertou o interesse para este mercado. Composta por 40 asso-ciadas, as mulheres se reuniram com o Instituto Agronômico de Pernambuco (IPA), e solicitaram apoio para dar iní-cio ao projeto de caprinocultura. O IPA iniciou o projeto atra-vés do financiamento de animais com recursos do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Fami-liar (Pronaf). Paralelo a este trabalho ajudou na formação de um grupo de parceiros composto por Prorural, STR, Secretaria de Agricultura Mu-

nicipal e Banco do Nordeste (BNB), com intenção de elaborar um projeto para aquisição de matrizes, instalações, equipamentos de inseminação artificial para melhoramento do rebanho e tan-que de expansão para resfriamento de leite. O projeto foi liberado em maio de 2009 e beneficiou 21 mulheres. Através das atividades desen-volvidas pelos extensionistas locais, o IPA vem desenvolvendo um trabalho de acompanhamento sistemático na comunidade, inclusive com a realização de inseminação artificial. Foram reali-zadas capacitações sobre boas práticas de fabricação de queijo, nutrição e sa-nidade animal. Na área da sanidade, o rebanho é tratado com medicamentos fitoterápicos. Uma pequena parte do leite é consumida pelas famílias e o res-tante é usado para fabricação de quei-

jo, vendido para o Programa Compra Direta Local para Doação Simultânea (CDLAF), modalidade do Programa de Aquisição de Alimentos (PAA). Desta forma fecha-se a ca-deia produtiva da atividade: aquisição de animais, melhoramento genético, beneficiamento e comercialização da produção. Em seis meses de traba-lho, o rebanho cresceu 40%. Houve o interesse de outras associadas em participar do projeto. As avaliações periódicas constataram a melhoria da qualidade de vida e a sustentabilidade da atividade leiteira. Com a avaliação positiva e a constatação do êxito deste projeto, o IPA deverá expandir os serviços de Ater para outros grupos de pessoas interessadas na caprinocultura do mu-nicípio de Paranatama e região.

Organização e inovação tecnológica geram mais rendaFoto ilustrativa: Arquivo MDA

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Sustentabilidade e qualidade de vida na caprinocultura leiteira

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

O sistema predominante de produção de cacau da Bahia é um sistema agroflorestal tradicional, co-nhecido como cacau cabruca. Carac-teriza-se pelo plantio do cacau sob a sombra das árvores da Mata Atlântica após a mata ter sido 'cabrucada', isto é, ter sido raleada deixando-se apenas algumas árvores sombreadoras. Esse sistema vem sendo utilizado há mais de dois séculos e tem vários aspec-tos positivos, dentre eles: conserva a biodiversidade; evita a erosão dos so-los; produz madeira, sementes, óleos, resinas, flores e outros produtos não madeireiros tais como lenha e alimen-to na forma de frutos; possui espécies melíferas, oleaginosas e fixadoras de nitrogênio, além de servir como cor-redores entre trechos de mata nativa. Um outro aspecto relevante é que durante a crise do cacau vários assentamentos de reforma agrária fo-ram criados em imóveis que se tor-naram improdutivos, totalizando 68 assentamentos com 80.168,26 hecta-res de terra e 2500 famílias assentadas dentro do Território Litoral Sul, Baixo Sul e Extremo Sul. A partir de alguns diagnósti-cos realizados pelo Instituto Cabru-ca, em parceria com a Universidade Estadual de Santa Cruz (UESC), foi identificado que estes assentamen-tos possuíam problemas por falta de assistência técnica, descapitalização, baixa produtividade dos cacaueiros e, consequentemente baixo nível de renda e qualidade de vida. Os assen-tados destacaram como vantagens neste projeto: assistência técnica, clonagem e recursos, além da cer-tificação orgânica, conhecimento e fabricação de chocolate. Também verificou-se que as estruturas de be-neficiamento do cacau, herdadas do

Proteção ambiental e segurança alimentar

modelo patronal de exploração, são de difícil gestão comunitária. Esta situação contribuiu para que, em muitos casos, os assentados se utilizassem da venda de madeira da Mata Atlântica para sua sobrevivência, visto que a produtividade média des-tas lavouras era de 120 kg/hectares de amêndoas de cacau. Quando somado a outras fontes, totalizava uma renda média mensal de R$ 350,00. A partir desta realidade foi iniciado um projeto de pesquisa parti-cipativa entre UESC, Instituto Cabru-ca, Mars Cacau e Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ce-plac), em 08 assentamentos com áreas expressivas de cacau cabruca. Com foco no manejo orgânico do cacauei-ro comum e melhoramento genético participativo, os resultados dos dois primeiros anos demonstraram um aumento da produção de 8 hectares para 26,75 hectares, no primeiro ano. No segundo ano foi de 43,75 hecta-res, enquanto a média do território não passa de 13 hectares/ano. O projeto também promo-

veu o enriquecimento agroflorestal das áreas com espécies de ciclo anual como banana, guandu e inhame. Além disso, espécies de árvores nativas e exóticas foram escolhidas por meio de metodologias participativas, com base na sua melhor utilidade como: pro-dução de frutos ou outros produtos não madeireiros, boa sombra para o cacau, ciclagem de nutrientes, fixação de nitrogênio, boa madeira e aptidão. A partir de oficinas foram realizados dias de campo para o enriquecimen-to agroflorestal das áreas. As mudas plantadas estão sendo monitoradas quanto ao crescimento. A partir dos resultados iniciais percebe-se que existe grande potencial de promover geração de renda e se-gurança alimentar em assentamentos rurais com áreas expressivas de cacau cabruca. Percebeu-se que o manejo or-gânico associado a silvicultura de nativas e extrativismo sustentável de produtos madeireiros e não madeireiros podem ser o caminho para a sustentabilidade e desenvolvimento da agricultura familiar no território Litoral Sul da Bahia.

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Sustentabilidade e qualidade de vida para produtores de cacau

Cacau cabruca é o plantio do fruto sob a sombra das árvores

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

A realização de caminhadas torna-se cada vez mais comum em ambientes urbanos, como parques e outros espaços de lazer crescen-do, também, a procura por am-bientes naturais para a realização de atividades de lazer e descanso, visto o crescimento dos centros urbanos e o aceleramento do rit-mo de vida da população. Diante desta realidade, as Caminhadas na Natureza aparecem como uma alternativa de lazer e de atividade física em ambientes rurais, os quais oferecem grande diversidade paisagística e cultural. Proporciona aos caminhantes, além dos benefícios pelo exercício físico, uma boa relação com comunidades tradicionais. A partir de fevereiro de 2007, no estado do Paraná, através

Integração rural: urbano, lazer e renda

da Secretaria de Estado da Agricul-tura e do Abastecimento (Seab), as Caminhadas na Natureza, passam a ser uma política pública com um importante papel na promoção do desenvolvimento local. A integra-ção das entidades de governo como a Empresa Estadual de Assistência Técnica e Extensão Rural do Paraná (Emater-PR), o Centro Paranaen-se de Referência em Agroecologia (CPRA), a Secretaria de Estado do Turismo e as prefeituras municipais ocorrem em todas as etapas de de-senvolvimento do projeto.

Dimensão nacional

O Projeto Caminhadas na Natureza é uma proposta para es-timular e promover o desenvolvi-

mento territorial sustentável por meio da realização de caminhadas no meio rural, internacionalmente conhecidas como esportes popula-res. A ideia nasceu na França após a Segunda Guerra Mundial, com o objetivo de estimular as atividades comerciais no interior das provín-cias e na periferia das grandes cida-des destruídas pela guerra. No Brasil, desde 2003, por meio do Ministério do Desenvolvi-mento Agrário (MDA), através da Secretaria da Agricultura Familiar (SAF), o projeto assumiu uma di-mensão nacional, com o envolvimen-to de varias regiões do Brasil. Assim, ocorreu a inclusão de técnicos da ex-tensão rural, com o treinamento na organização da metodologia em ce-nários da agricultura familiar.

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Caminhadas na Natureza: alternativa de lazer e de atividades físicas no meio rural

Paraná: caminhadas na natureza promovem o desenvolvimento territorial sustentável

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

Em 2006, fundou-se a Anda Brasil, Confederação Brasileira de Esportes Populares, Caminhadas na Natureza e Inclusão social, uma organização não governamental. A entidade organiza e cadastra os cir-cuitos nacionais, além de realizar a interlocução com as entidades inter-nacionais para qualificar e promover os roteiros e circuitos brasileiros. Atualmente, existem mais de 180 cir-cuitos cadastrados em todo o Brasil. As Caminhadas ocorrem em circui-

As Caminhadas na Natureza ocorrem em uma data previamente definida de acordo com o cadastro do circuito realizado na entidade nacional Anda Brasil. O cadastro deve ser realizado pelos idealiza-dores e organizadores do evento, e deverá ser composto por feiras de produtos locais, manifestação cul-tural local e comercialização de al-guns serviços para os caminhantes, além da própria caminhada. O Paraná possui 20 circui-tos cadastrados na Anda Brasil, de-finidos em 2007 e resultado da 2ª Oficina de Caminhadas na Nature-za, realizada em Curitiba. O evento foi coordenado pela Secretaria de Estado de Agricultura e Abasteci-mento do Paraná, seguindo as di-retrizes do Programa Estadual de Turismo Rural. A experiência do estado na realização das Caminhadas no Pa-raná é um exemplo de metodologia de extensão rural, pois procura fa-zer uma exposição de vários con-teúdos importante para o desen-volvimento rural. A metodologia das Caminhadas no meio rural é

um produto turístico e uma ferra-menta de inclusão dos agriculto-res familiares na atividade do tu-rismo. Se apresentam como uma alternativa de escoamento da pro-dução agrícola, dando maior va-lor aos produtos da agroecologia, da agroindústria e os artesanatos, independente de intermediado-res no processo. Desta forma, o evento torna-se atraente para o município, as comunidades locais e para os visitantes. A metodologia das Cami-nhadas vem quebrar alguns mo-delos relacionados ao turismo e ao meio rural, deixando de lado a imagem do turismo rural como apenas a dos grandes hotéis fazen-das e seus serviços requintados. Oferece a todos os envolvidos o conceito da comunidade rural, pois além de produzir os insumos consumidos pelas grandes massas, este é o espaço de relações sociais, culturais e econômicas que vai além da produção agrícola. A me-todologia das Caminhadas na Na-tureza traduz um sentimento das vivências comunitárias.

Foto ilustrativa: Arquivo MDA

tos definidos em cenários rurais, com a participação dos agricultores fami-liares e as entidades associativas do meio rural na organização do even-to, organizado por entidades locais, geralmente com o envolvimento das prefeituras municipais e dos exten-sionistas rurais. Além do circuito de caminhada, são realizadas feiras de produtos locais, manifestação cultural local e comerciali-zação de serviços para os caminhantes. O envolvimento da comunidade local é muito importante para garantir a reali-zação e o sucesso do evento.

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Caminhadas promovem a integração rural

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Revista

O que haveria de comum entre as famílias dos agricultores Regnaldo Melcher, de São Bonifá-cio (SC), e de Gilmar Cognacco, de Leoberto Leal (SC), distantes 150 km um do outro, em microrregi-ões de cultura e clima distintos? A vivência de campo do Centro de Estudos e Promoção da Agricul-tura de Grupo (Cepagro), em sua missão de formar e assistir os gru-pos produtivos, permite traçar uma

Diversificação com renda e saúde

série de paralelos entre essas duas famílias e tantas outras. Para começar, ambas as fa-mílias são ex-plantadoras de fumo. Envolveram-se desde cedo na ati-vidade e conhecem bem a sina da intoxicação (por veneno e pela ni-cotina), do trabalho extenuante e mal remunerado e da expropriação pelas poderosas indústrias fuma-geiras. Moradores de áreas afas-

tadas e de difícil acesso como a Vargem dos Bugres, onde vive Gilmar, e Rio do Poncho, comu-nidade do Regnaldo, essas e outras famílias viveram sempre no dile-ma da dificuldade de escoar seus produtos sendo, portanto, vítimas do engenhoso sistema de integra-ção proposto pelas fumageiras. Do financiamento da produção ao transporte do fumo, essas empre-sas foram sempre tratadas como

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Regnaldo e sua família comercializam seus produtos ecológicos em três feiras de Florianópolis

Agricultores de Santa Catarina encontram alternativas a cultura do fumo

EXCELÊNCIA EM ATER

Revista

uma alternativa milagrosa, embora hoje em dia constata-se facilmen-te neste ‘milagre’ uma extensa lista de desvantagens, tanto para o meio ambiente quanto para os próprios agricultores. Regnaldo e Gilmar têm ou-tro ponto em comum: enfrentaram a fumicultura com garra e coragem, optando pelo paradigma produtivo da agroecologia. Regnaldo conven-ceu seus vizinhos, formou um grupo de produtores de hortaliças e verdu-ras ecológicas e organizou a compra coletiva de uma caminhonete. Hoje, comercializa os produtos em 3 fei-ras semanais na grande Florianópolis (SC). Em uma aposta conjunta, 9 fa-

mílias dependem deste sistema pro-dutivo que deve ter um incremento aproximado de 50% em 2010, me-lhorando a renda de todos. Gilmar Cognacco começou

Regnaldo convenceu seus

vizinhos, formou um grupo de produtores de

hortaliças e verduras ecológicas

”a abandonar o fumo há três anos, com a produção de leite eco-lógico à base de pasto. Percebeu que na nova atividade, além da boa renda e de livrar-se do veneno, teria maiores chances de manter seus 7 filhos na propriedade. Depois do leite, come-çou a investir na pro-dução de cebola eco-lógica. A partir daí, a diversificação decolou. Hoje, sua propriedade produz batatas salsa, doce e inglesa, maracu-já doce, abóboras e um

parreiral em desenvolvimento. O Cepagro, por meio do Programa de Diversificação em Áreas Cultivadas com Tabaco do MDA, tem apoia-do e acompanhado esse processo, mobilizando esforços e direcionan-do políticas públicas, a exemplo do Programa de Aquisição de Alimen-tos (PAA) e da Alimentação Esco-lar. Um forte elo une estes dois agricultores: O Circuito de Co-mercialização da Rede Ecovida de Agroecologia. Gilmar está muito satisfeito com as vendas ao par-ceiro de São Bonifácio, que faz os produtos chegarem até Florianópo-lis. Já Regnaldo amplia a oferta em suas feiras, consegue mais clientes e segue cada vez mais motivado em sua luta pela diversificação.

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Gilmar investe na produção ecológica

Regnaldo amplia a oferta de produtos em sua feira

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A Associação em Áreas de Assentamento no Estado do Mara-nhão (ASSEMA) é uma associação regional de caráter coletivo que rea-liza um trabalho envolvendo famílias de 17 áreas de assentamento, reu-nindo entre 10 e 20 mil pessoas, na Região do Médio Mearim no Estado do Maranhão. Fundada e dirigida por agricultores e quebradeiras de coco babaçu desde 1989, a associação é composta por associações de mulhe-res extrativistas e quilombolas, asso-ciações de assentamentos, coopera-tivas, sindicatos rurais, associações de jovens e grupos produtivos in-formais, distribuídos nos municípios

Trabalho em rede com preservação do meio ambiente

de São Luís Gonzaga do Maranhão, Lima Campos, Lago do Junco, Lago dos Rodrigues, Esperantinópolis, Pe-ritoró e Pedreiras. A ASSEMA e suas organi-zações associadas formam uma rede em torno do aproveitamento integral do coco babaçu, fortalecendo o mo-vimento pela prática da economia solidária associada à preservação am-biental e ao consumo ético solidário. Esta rede cria estratégias territoriais para melhorar a renda de mais de 5 mil famílias através da comercializa-ção dos produtos da Linha Babaçu Livre nos mercados municipais, na-cional e internacional.

Desde a sua criação, a Asso-ciação presta assessoria técnica, jurí-dica, econômica e política às famílias de agricultores, em especial àquelas quebradeiras de coco babaçu, em suas ações de melhoria econômica da agricultura familiar, estimulando a organização de sistemas cooperati-vistas e associativistas para a produ-ção de alimentos orgânicos. Atualmente, a ASSEMA presta assessoria para:

COOPALJ – Cooperativa dos Pe-quenos Produtores Agroextrativistas de Lago do Junco, beneficia a amên-doas de babaçu produzindo óleo or-

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Agroextrativismo do babaçu: a experiência no território do Médio Mearim

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Revista

gânico certificado para as industrias de cosméticos e saboeiras. Aproveita um co-produto, torta de babaçu, des-tinada a alimentação animal.

COOPAESP – Cooperativa dos Pe-quenos Produtores Agroextrativistas de Esperantinópolis, produz meso-carpo de babaçu, um complemento alimentar humano rico em vitaminas e sais minerais

AMTR – Associação de Mulheres Trabalhadoras Rurais de Lago do Junco e Lago dos Rodrigues, aprovei-ta 80% de óleo babaçu na produção de sabonete e sabão de babaçu, pro-dutos naturais para higiene pessoal e doméstica. O papel reciclado com fi-bra de babaçu também ganha formas nas mãos das sócias da AMTR e se transforma em pastas, sacolas, porta retrato, cadernetas e caixas para pre-sentes.

AJR – Associação de Jovens Rurais de Lago do Junco e Lago dos Rodri-gues, cria peças utilitárias a partir dos resíduos da palmeira de babaçu (bio-jóias, chaveiros, botões, luminárias, porta caneta, jogo americano).

Produção Ecológica

Através de um programa de produção, a ASSEMA tem incentiva-do o modelo de agricultura orgânica, assim como tem prestado assistência técnica. Esse sistema, chamado agro-extrativista, é sustentável e ecológi-co, porque permite a recuperação da produtividade na agricultura familiar. Isso ocorre por meio de plantios sem queimadas e sem agrotóxicos, com adoção de técnicas e insumos ade-

quados, consorciando culturas anu-ais e permanentes com palmeira de babaçu. O trabalho teve início há cinco anos, com o desenvolvimen-to da pesquisa Ensaio Técnico no Agroextrativismo, junto a famílias no Centro do Coroatá, município de Esperantinópolis (MA). A ex-periência está sendo ampliada e, atualmente, 50 famílias de vários povoados de Esperantinópolis e Lago do Junco trabalham com roças orgânicas e ecológicas, de culturas anuais como arroz, milho e mandioca, consorciados com a palmeira do babaçu. No município de Lima Campos, 11 famílias da Associa-ção dos Agricultores da Gleba Ria-chuelo participam da experiência, consorciando o plantio de banana, abacaxi, caju, jaca e mamão com leguminosas, árvores madeireiras da região e a palmeira do babaçu.

Em Lago do Junco, a ASSE-MA assessora uma escola familiar agrícola que atende, atualmente, 42 jovens entre 12 e 18 anos de oito co-munidades. Lá, os jovens aprendem técnicas de produção diversificada, no sistema integrado que inclui o plantio de roças, criação de pequenos animais, hortas medicinais e alimentícias.

Foto ilustrativa: Arquivo MDA

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O Centro Feminista 8 de Março (CF8) é uma organização não governamental, fundada em 1993, que tem como missão con-tribuir para o fortalecimento de grupos de mulheres, como forma de impulsionar as transformações necessárias para a construção de uma sociedade mais igualitária para homens e mulheres. A organização desenvolve uma experiência de Ater voltada

Organização cidadania e renda

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Práticas feministas: a experiência de assistência técnica

Grupo de mulheres em manifestação

EXCELÊNCIA EM ATER

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Alguns dos resultados já obtidos pelo Centro são:

- Fortalecimento da auto-organização das mulheres;- Atuação das mulheres na Marcha Mundial das Mulheres, Rede de Comercialização Solidária Xique-Xique, associações, sindicatos locais e fóruns de associações;- Fortalecimento da Coordenação Oeste de Mulheres Trabalhadoras Rurais, coletivo regional representativo das mulheres;- Participação das mulheres em espaços de discussão e proposição de políticas públicas como os colegiados territoriais e comitês de mulheres;- Formação de grupos de mulheres para a construção de alternativas locais de enfrentamento a violência contra a mulher através de passeatas, discussões e panfletagens em suas comunidades;- Conhecimento e acesso das mulheres às políticas públicas como o Pronaf Mulher e o PAA;- Capacitação de trabalhadoras rurais e construção de cisternas de placa na região Oeste;- Desenvolvimento de projetos alternativos e diversificados de geração de renda (apicultura, produção de hor-taliças e frutas e beneficiamento, artesanatos);- Participação das trabalhadoras rurais em feiras da agricultura familiar e de economia solidária, semanalmente, em 7 municípios dos territórios Açu/Mossoró e Sertão do Apodi.

para mulheres trabalhadoras rurais na Região Oeste do Rio Grande do Norte que compreende os Territó-rios Sertão do Apodi e Açu/Mos-soró. O Centro presta assessoria técnica sistemática a organização, produção e comercialização de 22 grupos de mulheres de comunida-des rurais e áreas de assentamen-to, como também as Comissões de Mulheres dos Sindicatos de Traba-lhares e Trabalhadoras Rurais, que são um elo com a base e articulação das questões coletivas. A ação parte da organização de espaços de discussão e formação nos quais as mulheres se fortalecem e criam condições para o enfrentamento as de-sigualdades sociais através das lutas por políticas públicas e para construção de novas relações na família e na socieda-de. Neste sentido, a CF8 desenvolve: o

feminismo, a divisão sexual do trabalho, a agroecologia, a economia solidária, a convivência com o Semiárido e a sobe-rania alimentar e energética.

Nas ações utilizam-se me-todologias participativas que valo-rizam os conhecimentos e histórias de vida das mulheres.

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Mulheres são capacitadas em organização, produção, comercialização

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Ações conjuntas podem tra-zer melhorias significativas e transfor-madoras na vida de muitas famílias, dentre elas, as indígenas, marginali-zadas em nossa sociedade. O projeto Ater Indígena no Território da Ci-dadania da Grande Dourados (MS) teve início através da parceria entre a entidade não-governamental sem fins lucrativos PULSAR e a regio-nal da Fundação Nacional do Índio (FUNAI), com sede na cidade de Dourados (MS). O município possui a maior reserva indígena do país, formada por mais de 12.000 indígenas das et-nias Guarani/Kaiowá e Terena, con-finados em pouco mais de 3.400 hec-tares de terra. As condições de vida das populações indígenas locais são

Sustentabilidade econômica nas aldeias do Cerrado brasileiro

bem mais precárias do que as regiões periféricas urbanas. O propósito básico do pro-jeto Ater Indígena é o de trazer me-lhorias e incentivar o processo de au-tonomia na produção de alimentos e no aumento de renda das populações indígenas e, principalmente, melho-rar a qualidade de vida. A metodolo-gia do projeto se baseou no critério de aproximação da equipe de traba-lho às lideranças das famílias locais, com o objetivo de adquirir maior co-nhecimento sobre o contexto social e as dinâmicas políticas culturais das localidades a serem trabalhadas. Em relação à assistência téc-nica e extensão rural, inicialmente, foi priorizado pela equipe o mapea-mento e cadastramento das famílias a

serem beneficiadas com o trabalho. Este mapeamento foi inicia-do em outubro de 2009 e concluído em dezembro do mesmo ano. O pon-to de partida deste trabalho foram as Aldeias Bororó, Jaguapiru e Panam-bizinho no Município de Dourados, Tey-Kue e Guirarocá no Município de Caarapó, Jarará e Taquara no Mu-nicípio de Juti e por ultimo a Aldeia Lagoa Rica no Município de Doura-dina-MS. A Aldeia Bororó forma jun-to com a Aldeia Jaguapiru a Reser-va Indígena Francisco Horta com uma população de aproximadamen-te 15.000, habitantes ocupando uma área de cerca de 3.100 hectares, for-mando um verdadeiro confinamen-to humano, levando-se em conside-

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Fortalecimento da cultura indígena

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ração o padrão de vida tradicional dos Guaranis. Isso faz essas aldeias confundirem-se com certos bairros periféricos da cidade de Dourados, com o diferencial da miserabilidade que é mais elevado nas aldeias. Na aldeia Bororó foi possí-vel o início das atividades na esco-la Municipal Lacuí Roque Isnarde, com a realização de um curso de agroecologia com aulas teóricas e práticas, mostrando a importância na produção de alimentos sadios. Além do curso foi possível o plan-tio pela comunidade indígena de 150 mudas de árvores frutíferas e nativas do Cerrado brasileiro. Foram também realizadas muitas visitas técnicas nas residên-cias da aldeia e, em convivência com as famílias, muitas delas rela-tavam as dificuldades nas áreas de cultivos com relação a infestação de formigas, lagartas e de outras espécies de pragas, problemas de solos desgastados devido ao uso

intensivo sem correção e adubação, além de erosões. A equipe técnica buscou através de estudos e pesquisas uma alternativa ambientalmente susten-tável para o combate de pragas e a conservação de solos, demonstran-do para a comunidade a existência de formas alternativas e corretas de proteção ao meio ambiente. A falta de correção do solo também é uma situação real nes-sas aldeias acarretando um bai-xo desenvolvimento das plantas, além de propiciar a proliferação de pragas no solo. A resistência das pragas nas lavouras da comu-nidade indígena acontece devido ao uso de defensivos de alta con-centração química, utilizado nas lavouras de soja das fazendas do entorno das aldeias. Com relação a questão am-biental, foi discutida com a comuni-dade a importância da preservação das árvores nativas da região, já que

as sementes são importantes para a fabricação de artesanato e as cascas são utilizadas para a produção de remédios caseiros, conhecimento culturalmente transferido de gera-ção à geração. A comunidade deci-diu também pelo plantio de mudas dessas árvores. Nas comunidades indígenas existem muitas famílias que além de trabalharem com as atividades agrícolas dedicam-se também a confecção de artesanato usando como matéria prima principalmen-te sementes, palhas e pigmentos retirados de árvores nativas. É o caso da aldeia Lagoa Rica, situada no município de Douradina e da al-deia Jarara, na cidade de Juti. Nes-ta aldeia, foi proposto o plantio de árvores e plantas necessárias para a produção destes artesanatos. Neste momento, está em fase a prepara-ção das mudas para plantio. O projeto Ater Indígena veio contribuir para uma necessi-dade ressaltada pela comunidade em todas as reuniões realizadas nas diferentes aldeias: a assistência téc-nica rural, não pura e simplesmen-te, mas aliada as tradições locais e particulares de cada aldeia. Assim tem sido a Ater pres-tada por parte da equipe do proje-to dentro das aldeias de Caarapó, Guariroka e Tey-que, recebida com grande entusiasmo pela comuni-dade. Conforme relatos das lide-ranças, sempre foram carentes dos serviços de Ater. O trabalho do projeto Ater Indígina tem contri-buído não somente para resgatar a autoestima dos povos indígenas. Vai mais além, resgata a dignidade. Foto ilustrativa: Arquivo MDA

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EXCELÊNCIA EM ATER

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Tudo começou com o tra-balho de um grupo de mulheres, da região do Semiárido da Bahia que preparava e usava o umbu como um-buzada (a fruta cozida com leite) e mendenge (doce do umbu verde). Formava-se aí um grupo de mulhe-res com o nome Grupo Unidos no Sertão, que se encontrava para ex-perimentar receitas diferentes e para trocar experiências. Surgiu, então, a ideia de trabalhar o beneficiamento das frutas com o propósito de evitar a perda dos frutos nativos durante a safra, transformando-os em doces, sucos, compotas, polpa pasteurizada e geleias, armazenando em suas casas para ajudar na alimentação familiar. Esse grupo de mulheres se reunia, periodicamente, para discutir e en-caminhar os assuntos debatidos nos encontros. Foi dessa forma que surgi-ram muitos grupos em dezenas de comunidades que se interessaram pela proposta e o trabalho foi expan-dindo. Em pouco tempo já existiam mais de 30 comunidades trabalhando no beneficiamento. Foram compradas três barra-cas para vender os produtos na fei-ra dos municípios de Curaçá, Uauá e Canudos. Os grupos começaram trabalhar de forma organizada, com-pravam insumos e embalagens em conjunto e vendiam sua produção em conjunto. Devido à necessidade de me-lhorar a organização da produção, o grupo fundou em 2003 a Cooperati-va Agropecuária Família de Canudos

Coopercuc: agroindústria familiar do Semiárido nordestino

Organização, gestão, processamento e comercialização

O umbu é uma das grandes possibilidades de investimentos do Semiárido e a Coopercuc investe na fruta

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Uauá e Curaçá (Coopercuc), que atu-almente envolve 206 famílias no pro-cesso organizativo e produtivo e na transformação de frutas nativas em produtos acabados para o mercado, envolvendo o trabalho basicamente de mulheres e jovens. A Coopercuc conta, hoje, com 13 pequenas fábricas em dife-rentes comunidades para melhorar as condições de produção e au-mentar o volume produzido pelos grupos, sendo que cada uma delas tem a capacidade de produzir 10 to-neladas por ano de geléias, doces, compotas e polpas.

cípios do sertão baiano. Tem como missão contribuir para o fortaleci-mento da agricultura familiar visan-do a produção ecológica, economi-camente viável e socialmente justa. O beneficiamento de frutas proporciona para a agricultura fa-miliar, agregação de valor (melhor preço para a comercialização do pro-duto); facilita e amplia a comercia-lização; reduz a perda de produtos; geração de emprego e renda para os seus associados; incentivo para melhorar a produção; desperta para a necessidade de preservação e/ou cultivo de plantas nativas; contribui

na organização das comunidades e nos momentos para a capacitação. O aprovei-tamento de frutas nativas da Caatin-ga, especialmen-te do umbu, re-presenta um dos maiores poten-ciais da região

Semiárida do Brasil devido a uma grande produção anual. O umbu é o símbolo da convivência e da abundância pois, independente das condições do tempo, o umbuzeiro produz. O valor nutritivo do umbu é um dos principais fatores que le-vam as pessoas e os próprios pro-dutores a consumirem os produ-tos derivados. O umbu é uma das principais fontes de vitamina C que encontrada no Semiárido e, ainda, possui uma grande composição de outros elementos essenciais na alimentação como cálcio, fósforo, ferro e vitamina A. Com tantas vantagens, o umbu passa a ser, hoje, uma das grandes possibilidades de investi-mentos do Semiárido pois, além de ser altamente saudável e aces-sível à população, tem gerado em-prego e renda para muitas famílias que beneficiam e comercializam os seus produtos, contribuindo dessa forma para o desenvolvi-mento e melhoria da qualidade de vida na região.

O objetivo é organizar a pro-dução e a comercialização dos pro-dutos produzidos pelos seus sócios e, ainda, melhorar a alimentação das famílias; proporcionar o aumento da renda familiar; diversificar a produ-ção; armazenar os produtos por um período mais longo; facilitar e am-pliar a comercialização; valorizar os produtos regionais; despertar para a importância da preservação ambien-tal; e capacitar os produtores na in-dustrialização de produtos. A proposta da Coopercuc é a de garantir a sustentabilidade eco-nômica e elevada a qualidade de vida dos agricultores familiares nos muni-

Cooperativas envolve 206 famílias no processo de transformação de frutas nativas em produtos voltados para a comercialização como doces e geléias

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O Instituto de Desenvol-vimento Agropecuário e Florestal Sustentável do Estado do Amazonas (Idam) vem realizando um trabalho de acompanhamento e assessoria à Rede de Agricultores Tradicionais do Amazonas (Reata). Esta rede é uma organização social de agricul-tores familiares tradicionais do esta-do do Amazonas que praticam esti-los de agricultura sustentáveis com respeito ambiental, inclusão social e valores éticos. A metodologia de Ater utili-zada pelos extensionistas para a tran-sição agroecológica e a implantação e manejo dos sistemas produtivos sustentáveis se fundamenta em prin-cípios criados pelos próprios agri-cultores. Estes foram construídos a partir dos ensinamentos e benefícios das abelhas, principalmente a vida em comunidade, cada um desem-penhando um papel importante em prol da sobrevivência da colônia.

Rede de agricultores promovem a preservação ambiental

Assim, o trabalho de Ater realizado pelo Idam é voltado aos agricultores da rede, comprometidos com o processo produtivo susten-tável. Este trabalho consiste no res-gate da cultura local, na construção de saberes e conhecimentos sobre o planejamento da unidade produtiva familiar considerando o manejo e conservação da Floresta Amazôni-ca. São processos de comunicação, troca de experiência, pesquisa, ação e aprendizados participativos, de for-ma a contribuir para a articulação de um conjunto de ações que ponham em prática os desejos e necessidades dos agricultores. Alguns princípios da Reata que estão de acordo com o processo de transição agroecológico:

Imitando a Natureza Uma agricultura sustentável, de acordo com os ensinamentos da floresta. Consiste em reproduzir o

equilíbrio que existe na natureza. Para isso, é fundamental observar o comportamento e o funcionamento da floresta que não precisa insumos agroquímicos para se manter produ-tiva, verde e exuberante. Esses apren-dizados contribuem para aumentar os diferentes tipos de vida do solo e restabelecer o equilíbrio ecológico, melhorando ao máximo o uso dos recursos locais.

Autonomia Os agricultores têm evita-do a adoção dos pacotes prontos e das soluções de problemas vindas de fora. Produzem coletivamente suas próprias mudas, evitando a compra; decidem o que plantar conforme a preferência da família; organizam os mutirões e os intercâmbios. A par-ticipação das famílias é importante, visto que a preocupação dos agricul-tores não se limita a produzir para o mercado, mas, sobretudo garantir

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Metodologia de Ater é construída a partir dos ensinamentos da vida em uma colônia de abelhas

Estratégia para a sustentabilidade dos agroecossistemas amazônicos

EXCELÊNCIA EM ATER

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uma alimentação de qualidade para as famílias, diminuindo a compra de alimentos externos.

Doce Mel Os ensinamentos das abe-lhas motivaram a sua criação pelos agricultores tradicionais. As abelhas tem ajudado na polinização das fru-tíferas para aumentar a produção, além de contribuir para o aumento de renda, fonte de alimento e saúde para as famílias.

Raízes da Vida Aos poucos muitas espécies tradicionais vêm sendo abandonadas e substituídas por outras culturas in-troduzidas menos tolerantes às con-dições ambientais locais. Para evitar a perda destas espécies é importante resgatar as tradições indígenas e ca-boclas no cultivo de espécies mais resistentes como: ariá, batata-doce, macaxeira, taioba, jerimum, cubiu, mangaratáia, banana e outras espé-cies ameaçadas. Com isso, as famílias preservam suas raízes, identidade e costumes e ficam menos suscetíveis às pragas e doenças.

Mesa Farta Uma alimentação de qua-lidade requer uma combinação de espécies no sistema produtivo, mis-turando plantas de diversos ciclos e características nutritivas com peque-nos animais, possibilitando a dispo-nibilidade de alimentos em diferen-tes épocas do ano, especialmente nos períodos de maior escassez. Dar mais importância ao auto-consumo das famílias, é assegurar a manutenção de suas necessidades básicas, através de uma alimentação mais rica e sau-dável, tanto em quantidade quanto em qualidade. Além de promover a segurança alimentar e nutricional das famílias, este princípio colabora para a geração e distribuição da renda ao

longo do ano com a comercialização do excedente de produção.

Saúde com a Natureza O resgate do cultivo de plan-tas medicinais, além de ajudar no controle natural de pragas e doenças, contribui para a manutenção da saú-de dos agricultores e consumidores. O resgate destas plantas conserva a cultura e costumes do lugar, além de garantir uma importante fonte de renda para os agricultores. Estas plantas são bastante procuradas para o preparo de xaropes, chás, garrafa-das e banhos. São utilizadas como alternativa ao tratamento preventivo e curativo de determinadas doen-ças, ferimentos e picadas de animais venenosos, comuns no meio rural, evitando consultas médicas e outras despesas com a compra de medica-mentos convencionais.

Sementes Caboclas Os agricultores da Reata se preocupam em conservar, armazenar e guardar suas próprias sementes para os próximos cultivos e não depender de sementes híbridas que se degene-ram com o uso sucessivo, inviabilizan-do futuros plantios. A família precisa ter suas sementes para ampliar sua au-tonomia, diminuir sua dependência e promover a diversidade.

Troca de experiências O espírito e laços de solida-riedade, partilha e cooperação, fa-vorece a união entre os agricultores e ajuda a vencer as dificuldades. A troca de produtos, sementes, insu-mos, informações, experiências e conhecimentos promove melhores condições de vida às famílias. A natureza ensina que o processo de troca pode ser a chave para a tran-sição agroecológica, o sucesso dos sistemas produtivos, a autonomia das comunidades e para a dinâmica e funcionamento da rede que apro-xima as pessoas de diferentes núcle-os municipais para a construção de saberes através do intercâmbio.

Água Limpa A preservação e uso racio-nal dos recursos naturais e am-bientais tem sido uma preocupa-ção constante dos agricultores que compõem a Rede. Manter a floresta em pé, evitar a degradação ambien-tal, recuperar as áreas degradadas, preservar os mananciais e as nas-centes, é contribuir para a continui-dade da vida. Só assim, haverá água limpa em abundância para suprir as necessidades vitais das famílias, in-clusive das futuras gerações.

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