boas prÁticas de ater na agricultura familiar e na

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BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA REFORMA AGRÁRIA 1. DADOS DA INSTITUIÇÃO: Nome: Cooperativa de Trabalho Prestadora de Serviços e Assessoria Técnica - COPASAT LTDA. Endereço : Rua Jaime Benévolo, 1915 Bairro de Fátima CEP: 60.411-130 Fortaleza- Ceará. Executora de chamada pública de ATER 01/2013 NOP Ocara INCRA-CE. 2. DADOS DO AGENTE DE ATER: Nome: Josimar Galdino da Silva Técnico em Agropecuária CREA-CE 53.407. Endereço : Assentamento Lagoa do Serrote II, Zona Rural, Ocara-CE. Telefone: (85) 992809572 E-mail : [email protected] 3. DADOS QUE IDENTIFIQUEM A PRÁTICA: Nome do Agricultor: Raimunda Inez Souza Silva Comunidade: Assentamento Lagoa do Serrote II (Denir) Telefone: (85) 3322-1165 E-mail: [email protected] Georeferenciamento: F 04º34’45,5” e W 38º33’48,7” 4. CATEGORIA: I Ater e Desenvolvimento Sustentável a) Sistemas sustentáveis de produção de base agroecológica.

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Page 1: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA REFORMA AGRÁRIA

1. DADOS DA INSTITUIÇÃO:

Nome: Cooperativa de Trabalho Prestadora de Serviços e Assessoria Técnica -

COPASAT LTDA.

Endereço: Rua Jaime Benévolo, 1915 – Bairro de Fátima – CEP: 60.411-130 – Fortaleza-

Ceará.

Executora de chamada pública de ATER – 01/2013 – NOP Ocara – INCRA-CE.

2. DADOS DO AGENTE DE ATER:

Nome: Josimar Galdino da Silva – Técnico em Agropecuária – CREA-CE 53.407.

Endereço: Assentamento Lagoa do Serrote II, Zona Rural, Ocara-CE.

Telefone: (85) 992809572

E-mail: [email protected]

3. DADOS QUE IDENTIFIQUEM A PRÁTICA:

Nome do Agricultor: Raimunda Inez Souza Silva

Comunidade: Assentamento Lagoa do Serrote II (Denir)

Telefone: (85) 3322-1165

E-mail: [email protected]

Georeferenciamento: F 04º34’45,5” e W 38º33’48,7”

4. CATEGORIA:

I – Ater e Desenvolvimento Sustentável

a) Sistemas sustentáveis de produção de base agroecológica.

Page 2: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

IMPLANTAÇÃO DE BIODIGESTOR

ASSENTAMENTO LAGOA DO SERROTE II (DENIR)

MUNICÍPIO DE OCARA – CE

OUTUBRO / 2015

Page 3: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

INTRODUÇÃO

No Assentamento Lagoa do Serrote II, situado no município de Ocara,

atualmente existem 30 famílias assentadas, as principais atividades agrícolas

exploradas por elas são: o cultivo de cajueiro, da mandioca, do milho e do feijão, tendo

como principais fontes de renda o cultivo e a comercialização do cajueiro anão

precoce e do milho. Na pecuária, foram observadas que a criação de bovinos e

abelhas são atividades que vem sendo trabalhadas por 70% dos assentados visitados,

sendo a atividade apícola destacada como a mais importante.

A equipe técnica de ATER da COPASAT, após vários meses de convívio nos

assentamentos, conhecedora da realidade de cada um dos sete assentamentos do

NOP Ocara, a partir de conversas e reflexões realizadas nas atividades individuais e

coletivas, convidou representantes dos sete assentamentos para uma reunião. Na

ocasião, a equipe técnica expôs aos assentados presentes às várias tecnologias de

convivência com o Semiárido na perspectiva agroecológica. Numa apresentação em

forma de slides, os presentes puderam conhecer uma casa de sementes, um banco de

proteínas, um viveiro para produção de mudas e de defensivos naturais, um sistema

agrosilvopastoril e um biodigestor. Em seguida, iniciou-se um debate para escolha do

local.

Após a realização desta reunião, os assentados retornaram para seus

respectivos assentamentos com a missão de socializar com os/as demais

assentados/as tecnologias vistas e também os possíveis locais.

Posteriormente, a equipe de ATER realizou mais uma reunião para que as

lideranças dos assentamentos apresentassem o resultado das discussões realizadas.

Nessa ocasião, após breve debate e reflexões, por unanimidade, os representantes

dos assentamentos escolheram por unanimidade, a implantação de um biodigestor

como a melhor e mais adequada tecnologia agroecológica a ser implantada nesse

momento. Nesse momento também foi escolhido o assentamento Lagoa do Serrote II

e a família da assentada Raimunda Inêz como guardiões e responsáveis pela

manutenção do biodigestor. Para registro das decisões tomadas, foi lavrada uma ATA.

Page 4: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

OBJETIVO

Implantar uma Unidade com inovação relativa às atividades produtivas,

organizativas, ambientais e gerenciais, baseada em tecnologias agroecológicas e/ou

convivência com o semiárido para superação dos pontos críticos dos sistemas de

produção.

DESCRIÇÃO DA EXPERIÊNCIA

Após receber autorização do INCRA para realizar o serviço, a COPASAT

comprou o material de construção e a equipe técnica de ATER passou a orientar e

acompanhar a construção do biodigestor realizada com mão de obra voluntária dos

próprios assentados do PA Lagoa do Serrote II. Para construção do biodigestor foram

necessárias 40 horas, distribuídas nas várias etapas apresentadas a seguir:

Etapa 1 e 2 – Escolha e marcação do local e escavação do buraco

Fonte: COPASAT, 2015

Page 5: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

Dando continuidade nesse processo produziram-se as placas para iniciar a

construção da alvenaria.

Etapa 3 e 4 – Produção das placas e construção da alvenaria

Fonte: COPASAT, 2015

Page 6: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

As próximas etapas realizadas foram à fixação do cano guia e a construção

da caixa de carga e descarga.

Etapa 5 e 6 – Fixação do cano guia e construção da caixa de carga e

descarga

Fonte: COPASAT, 2015

Page 7: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

Em seguida, a parte de alvenaria foi concluída, conforme demonstrado na foto

abaixo.

Etapa 7 – Finalização da alvenaria (placas e tijolos) e cano guia

Com a finalização da construção da alvenaria, realizaram-se as perfurações na

caixa de fibra de 1000 litros para preparar a câmara de biocombustão.

Etapa 8 – Perfurações na caixa de fibra - câmara de biocombustão

Fonte: COPASAT, 2015

Page 8: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

Com a conclusão desta etapa de construção/implantação do biodigestor a

equipe de ATER começou a pensar e a preparar um momento de capacitação para

os/as assentados/as. Sendo assim, nos dias 07 e 08 de abril de 2015, no

assentamento Lagoa do Serrote II foi realizada a capacitação sobre todo o processo

de montagem do biodigestor, bem como sua finalidade, funcionamento, usos e

benefícios.

No primeiro dia de capacitação com 8 horas de atividade, trabalhou-se a

parte teórica apresentando através de slides em Power point o que é um biodigestor,

as etapas da construção, quais os produtos (biogás e biomassa), apresentando os

benefícios sociais, econômicos e ambientais desta tecnologia de convivência com o

semiárido para as unidades de produção familiar. Josimar Galdino, profissional de

ATER, apresentou iniciou explicando que o Biodigestor é um equipamento que, por

meio da ação de microrganismos (bactérias anaeróbicas), transforma o esterco animal

(de curral) em gás (Biogás) inflamável, que pode substituir o gás de cozinha comprado

em botijões (Gás Liquefeito de Petróleo - GLP). O biodigestor ainda produz

biofertilizante, que pode ser usado nas áreas de cultivo, ou dependendo da produção,

poderá gerar renda através da comercialização.

Em seguida, passou a explicar o passo a passo para a construção e

instalação da Unidade Demonstrativa, conforme citado a seguir:

Passo 1: realizar a escolha do local, pois não deve ser sombreado, já que

o calor é um importante fator na eficiência da produção de biogás. Por isso não

são recomendados locais próximos a árvores;

Passo 2: fazer a escavação do buraco central com 1,40 m de profundidade

e 1,30 de raio que abrigará o tanque principal e escavar os locais para

instalação das caixas de carga e descarga;

Passo 3: confeccionar as placas (mesmo método adotado para construir

cisternas de placa).

Passo 4: construir a alvenaria, assentando as placas sobre o círculo já

demarcado;

Passo 5: instalar o cano guia e construir os batentes do fundo;

Passo 6: preparar a caixa que servirá de câmara para biocombustão;

Passo 7: fazer a base do cano guia;

Passo 8: colocar a caixa de combustão dentro da alvenaria e instalar a

trave de segurança no cano guia e iniciar a alimentação do biodigestor.

Page 9: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

Vale ressaltar que, antes de fixar com cimento, as placas foram alinhadas para

formar a circunferência. Isto permite que sejam conferidas as suas medições e

dimensões. Só então é que fixam as placas com cimento.

Para preparar a caixa que servirá de câmara para biocombustão. No centro,

com o auxilio de uma furadeira elétrica e serra-copo, foi realizado um furo com 50 mm,

onde será colocado um flange. Neste flange será instalado um cano de PVC que

servirá de guia para a caixa. Ao lado desse furo foi feito outro, também com auxilio de

uma serra-copo com 20 mm. Nele será instalada a flange para a tubulação de gás. O

flange de 60 mm deverá ser instalado com a rosca virada para fora da caixa, para

permitir a instalação do cano guia por dentro. Por sua vez, a flange de 20 mm para a

tubulação de gás fica com a rosca virada para dentro da caixa, permitindo a instalação

do cano por fora. Contudo, em ambos os flanges, recomenda-se que as borrachas de

vedação sejam instaladas na parte de dentro da caixa. Isto diminui a degradação e o

ressecamento pelo sol, aumentando a vida útil.

Para fazer a base do cano guia, utiliza-se uma tábua de madeira (0,14 m x 0,04

m) com 1,60 m de comprimento. No centro da madeira deve ser feito um furo onde o

cano guia se acomoda. Em um lado usa-se a serra-copo 50 mm até a metade. E no

outro se usa a serra-copo de 40 mm. Por fim o furo fica com dois tamanhos em cada

lado da madeira. A tábua deve ser fixada na caixa de fibra usando-se quatro parafusos

franceses 3” x 3/8” com porca e arruela, dois em cada extremidade da tábua. A

abertura de 40 mm deve ficar virada para fora da caixa e a de 50 mm para dentro da

caixa, onde se acomoda ao cano guia que deve ser instalado no momento em que a

tábua é fixada.

O biodigestor precisa de um lastro sobre a caixa de fibra para que o biogás

mantenha uma pressão constante, evitando assim falhas na condução até o fogão.

Para isso, instala-se uma cinta de zinco com 30 cm de largura sobre a caixa de fibra.

Assim será possível preencher com terra ou esterco para aumentar o peso e promover

uma pressão uniforme no biogás.

Logo os passos de construção estejam concluídos, a caixa de combustão deve

ser colocada dentro da alvenaria e instalada a trave de segurança no cano guia e o

inicio da alimentação.

Page 10: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

Fotos: Capacitação teórica - finalidade, funcionamento, usos e benefícios de um biodigestor

Fonte: COPASAT, 2015

Page 11: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

No segundo dia da

capacitação, houve uma prática

de campo, onde foi realizado o

processo de montagem da

câmara de biocombustão, o

abastecimento do biodigestor e como será o funcionamento, ficando certo que após o

abastecimento, Raimunda Inez, com orientações do Técnico em Agropecuária Josimar

Galdino, vai acompanhar o processo de produção do biogás, bem como realizar o

controle da produção de gás e de biomassa.

Fotos: Prática de campo – montagem da câmara de biocombustão e abastecimento do

biodigestor

Fotos: Prática de campo – montagem da câmara de biocombustão e abastecimento do

biodigestor

Page 12: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

RESULTADOS

Em geral, nas condições do semiárido, a adição de 20 kg de esterco bovino por

dia é suficiente para gerar todo o biogás necessário a uma família média de 5

pessoas. Isto requer que a família possua entre 2 e 3 vacas no curral.

Podemos salientar também que a biomassa produzida pelo biodigestor pode

ser utilizada nas lavouras da família e/ou comercializada, gerando trabalho e renda

para os membros da unidade de produção familiar.

POTENCIALIDADES E LIMITES

Vale ressaltar também que essa tecnologia dialoga com a realidade enfrentada

pelas famílias assentadas do município de Ocara, uma vez que essas possuem

criação de bovinos, ovinos, suínos e aves e muitas vezes os dejetos são pouco

utilizados como adubação orgânica e não é aproveitado como fonte de energia. Diante

dessa realidade, o biodigestor será uma alternativa para realizar o aproveitamento

desses dejetos, evitando que este seja desperdiçado, diminuindo o consumo de lenha

e/ou carvão vegetal e derivados de petróleo, fontes de energia não renováveis e que

causam grandes impactos ambientais.

REPLICABILIDADE

Várias ciências devem ser utilizadas na resolução dos problemas ambientais

de qualquer atividade humana. Dentre essas ciências devemos considerar a História

(estudo da ação humana ao longo do tempo paralelo ao estudo dos processos e dos

eventos ocorridos no passado). Entre os tipos de História, os que mais nos interessam

é a Pragmática (objetiva mudar os costumes políticos e corrigir os contemporâneos,

utilizando o caminho de mostrar os erros do passado) e a Científica (há uma

preocupação com a verdade, com o método, com a análise crítica de causas e

consequências, tempo e espaço).

A utilização de biodigestores é algo muito antigo, tão antigo, que eles já foram

até confundidos com fenômenos sobrenaturais e manifestações de seres místicos ou

folclóricos. Então temos uma riquíssima quantidade de informações para analisarmos

e aprendermos.

Page 13: BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA

DEPOIMENTOS

A agricultora Raimunda Inez diz “...biodigestores são equipamentos de

funcionamento simples que chamam cada vez mais atenção por promoverem a

preservação ambiental...”.

O agente de ATER Josimar Galdino cita que “a lama residual produzida pelo

biodigestor passará por tratamento e secagem e será transformada em adubo. A água

limpa será despejada nos rios; e o gás metano liberado, resultante da ação anaeróbica

das bactérias, será empregado na geração de energia como biogás (gás de cozinha)”.

O agricultor Domingos Linhares cita que “deve - se realizar estudos, detectar

parceiros e implementar projetos que objetivem a produção de energia a partir dos

dejetos de animais.

AUTORES E COLABORADORES

NOME FORMAÇÃO REG. DO

CONSELHO ÁREA NIVEL

Etalina Pereira de Matos Economista

Doméstico CRED I: 0411 Social Médio

Renata Bezerra Felix Assistente Social CRESS: 6379 Social Superior

Francisco Wescley

Alcântara de Freitas

Engenheiro

Agrônomo

CREA-CE:

46207 Agrária Superior

Maria Vandevânia

Carneiro do Nascimento

Técnica em

Agropecuária

CREA-CE:

52195 Agrária Médio

Sebastião José de Souza Técnico em

Agropecuária

CREA-CE:

46.560 Agrária Médio

Josimar Galdino da Silva Técnico em

Agropecuária

CREA-CE:

53.407 Agrária Médio