revista escola - dança criativa

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7/23/2019 Revista Escola - Dança Criativa http://slidepdf.com/reader/full/revista-escola-danca-criativa 1/3 15/10/2015 Imprima http://revistaescola.abril.com.br/imprima-essa-pagina.shtml?http://revistaescola.abril.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/danca-criativa-422886.shtml?p… 1/3 EXPERIMENTAÇÃO Na EMEI Brigadeiro EduardoGomes, as crianças inventam maneiras de se deslocar. Foto: Tatiana Cardeal Dança criativa Na pré-escola, já é possível trabalhar elementos da linguagem artística para criar coreografias e desenvolver nos pequenos a expressividade Amanda Polato Mal uma música começa a tocar, as crianças da EMEI Brigadeiro Eduardo Gomes, em São Paulo, começam a se mexer. Criar movimentos diferentes, sempre na forma de brincadeiras e numa constante interação com os colegas, já faz parte da rotina delas. Esse é o resultado de um longo projeto de dança, aplicado sistematicamente pela equipe e não só em época de festas. "A dança ainda é entendida de forma equivocada por muitas escolas, que costumam apresentá-la somente nas datas comemorativas e na forma de reproduções de coreografias prontas", avalia Isabel Marques, do Instituto Caleidos, de São Paulo. A definição que se dá a ela é um ponto de discórdia entre especialistas. O Referencial Curricular  Nacional detalha apenas o trabalho com movimento - incluindo conteúdos de expressividade, equilíbrio e coordenação - e dilui algumas orientações didáticas. Se considerada uma atividade de técnicas e passos  predeterminados relacionados a cada estilo - o que acontece freqüentemente -, a dança se torna uma prática inadequada para a faixa de 4 a 5 anos. Há, no entanto, diversos especialistas que discordam dessa linha, como Márcia Strazzacappa, da Universidade Estadual de Campinas. "Dança é todo movimento humanamente organizado com uma intenção", define. Por trás desse conceito está o  pensamento do etnomusicologista e antropólogo britânico John Blacking. Sem estar aprisionada a formatos, ela pode ser vivenciada por pessoas de qualquer idade. "O que varia é a metodologia de ensino", alerta Isabel. Como começar Antes de trabalhar essa manifestação artística com a turma, o professor precisa investigar e conhecer seus próprios movimentos - afinal, ele é uma referência importante. "O ideal seria uma capacitação com especialistas", avalia Samantha Schleumer, coordenadora pedagógica da EMEI Brigadeiro Eduardo Gomes. Mas é um bom ponto de partida fazer atividades de exploração de movimentos junto com as crianças - em vez de só pedir que elas se mexam - e fugir de coreografias estereotipadas. Samantha conta que, apesar de muito criativa, a garotada já tem um repertório pronto, com muitas referências vistas na TV. Em momentos como festas de aniversário na escola, não há mal nenhum em dançar de maneira conhecida. No entanto, quando há objetivos  pedagógicos, a atividade deve ter como meta principal a ampliação dos conhecimentos  

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7/23/2019 Revista Escola - Dança Criativa

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15/10/2015 Imprima

http://revistaescola.abril .com.br/imprima-essa-pagina.shtml?http://revistaescola.abri l.com.br/educacao-infantil/4-a-6-anos/danca-cr iativa-422886.shtml?p… 1/3

EXPERIMENTAÇÃO Na EMEI Brigadeiro

EduardoGomes, as crianças inventam

maneiras de se deslocar. Foto: TatianaCardeal

Dança criativa

Na pré-escola, já é possível trabalhar elementos da linguagem

artística para criar coreografias e desenvolver nos pequenos aexpressividade

Amanda Polato

Mal uma música começa a tocar, as crianças daEMEI Brigadeiro Eduardo Gomes, em São Paulo,começam a se mexer. Criar movimentos diferentes,sempre na forma de brincadeiras e numa constanteinteração com os colegas, já faz parte da rotinadelas. Esse é o resultado de um longo projeto dedança, aplicado sistematicamente pela equipe e nãosó em época de festas. "A dança ainda é entendidade forma equivocada por muitas escolas, quecostumam apresentá-la somente nas datascomemorativas e na forma de reproduções decoreografias prontas", avalia Isabel Marques, doInstituto Caleidos, de São Paulo.

A definição que se dá a ela é um ponto de discórdiaentre especialistas. O Referencial Curricular 

 Nacional detalha apenas o trabalho com movimento- incluindo conteúdos de expressividade, equilíbrio ecoordenação - e dilui algumas orientações didáticas.Se considerada uma atividade de técnicas e passos

 predeterminados relacionados a cada estilo - o que acontece freqüentemente -, a dança setorna uma prática inadequada para a faixa de 4 a 5 anos.

Há, no entanto, diversos especialistas que discordam dessa linha, como MárciaStrazzacappa, da Universidade Estadual de Campinas. "Dança é todo movimentohumanamente organizado com uma intenção", define. Por trás desse conceito está o

 pensamento do etnomusicologista e antropólogo britânico John Blacking. Sem estar aprisionada a formatos, ela pode ser vivenciada por pessoas de qualquer idade. "O quevaria é a metodologia de ensino", alerta Isabel.

Como começarAntes de trabalhar essa manifestação artística com a turma, o professor precisa investigar econhecer seus próprios movimentos - afinal, ele é uma referência importante. "O ideal seriauma capacitação com especialistas", avalia Samantha Schleumer, coordenadora pedagógicada EMEI Brigadeiro Eduardo Gomes. Mas é um bom ponto de partida fazer atividades deexploração de movimentos junto com as crianças - em vez de só pedir que elas se mexam -

e fugir de coreografias estereotipadas.Samantha conta que, apesar de muito criativa, a garotada já tem um repertório pronto, commuitas referências vistas na TV. Em momentos como festas de aniversário na escola, nãohá mal nenhum em dançar de maneira conhecida. No entanto, quando há objetivos

 pedagógicos, a atividade deve ter como meta principal a ampliação dos conhecimentos 

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7/23/2019 Revista Escola - Dança Criativa

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 ARTICULAÇÕES Ao imitar as posições em

que está a boneca, a

garotada aprende várias formas de se

dobrar 

sobre o corpo em movimento.

 Na fase pré-escolar, deve-se levar a meninada a conhecer, explorar e experimentar diferentes maneiras de se deslocar pelo espaço e interagir com os colegas, percebendo eacompanhando ritmos e melodias. A escolha das músicas é parte essencial para um projetocom esse fim. A equipe de professores da EMEI recomenda levar para a sala CDs do grupo

 paulistano Barbatuques e do músico norte-americano Bobby McFerrin (que usam o corpo para fazer música), de Naná Vasconcellos (instrumental) e de nomes da MPB, como Tom

Zé. É importante ainda ampliar as referências, abrindo a possibilidade de apreciação devídeos e fotos de espetáculos coreografados.

Movimentos divertidos Na EMEI, as atividades começam com a vivência das principais estruturas da dança. A referência teórica é o bailarino e educador Rudolf Laban (1879-1958), que criouuma ciência chamada coreologia. Para ele, dança éarticulação entre dançarino, som, movimento e espaço - osdois últimos amplamente abordados em sala. Os pequenos

compreendem o movimento - o que é, onde ocorre, comoacontece e com quem se move - em jogos divertidos. Numdeles, cada criança movimenta o amigo ao som da música.

Para tratar do espaço que cada um ocupa, as professorasabordam aspectos como os plAnos (largura, profundidade,altura), as direções (à esquerda, à direita, à frente e aofundo), a distância (perto ou longe) e os níveis da dança(alto, médio e baixo). "Os pequenos percebem que hádiferentes possibilidades de se mover ao som de umamúsica: podem estar agachados, sentados e até mesmo

deitados no chão", exemplifica Samantha.Outras questões relevantes para o projeto da escola estãoligadas às formas que o corpo adquire nas atividades.Uma possibilidade é o uso das tensões espaciais: semovimentar utilizando os vazios. Por exemplo, colocar 

uma das mãos na cintura e passar a outra por dentro. É o que se chama de perfuração. "Ascrianças adoram passam por entre as pernas dos colegas de várias formas diferentes", citaSamantha. Outro conceito desenvolvido é o de preenchimento - que se dá quando duasdelas dão as mãos e outra se coloca no meio. Quando Samantha e as demais educadoras daEMEI trabalham as articulações - essenciais a qualquer movimento -, elas distribuem

 bonecos dobráveis, que são colocados em diferentes posições, imitadas em seguida por todos.

Um dos resultados mais significativos do projeto foi a criação de danças para a festa junina.Ao som de compositores como o italiano Antonio Vivaldi (1678-1741), as criançasmontaram coreografias para contar a importância cultural da data - todas diferentes datradicional quadrilha, apresentada no fim do evento. "Alguns pais ficaram deslumbrados.Outros levaram um choque, mas já estão entendendo nossa proposta", conta acoordenadora. A consultora Isabel Marques ressalta a importância de valorizar o momentode criação aberto pela escola. "A dança é uma maneira de expressar idéias e emoções. Issonão pode ficar de fora quando se quer formar crianças que descubram o prazer dos

movimentos."

Quer saber mais?

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CONTATOS

EMEI Brigadeiro Eduardo Gomes, R. Santa Eudóxia, 800, 02533-011, São Paulo, SP, tel. (11)3966-0434Isabel Marques

Márcia Strazzacappa 

BIBLIOGRAFIA

Dança..., Débora Barreto, 178 págs., Ed. Autores Associados, tel. (19) 3289-5930, 33 reais

Dançando na Escola, Isabel Marques, 208 págs., Ed. Cortez, tel. (11) 3611-9616, 28 reais

FILMOGRAFIA

Onqotô, Rodrigo Pederneiras (coreografia), 50 min., Grupo Corpo, tel. (31) 3221-7701

 

Publicado em NOVA ESCOLAEdição 215, Setembro 2008,