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ENTRELACE Laboratórios de Comunicação Escolar #1 Saiba tudo sobre a Rede de Laboratórios de Comunicação Escolar

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ENTRELACELaboratórios de Comunicação Escolar

#1Saiba tudo sobre a Rede de Laboratórios de Comunicação Escolar

Revista Entrelace - 1ª Edição

ONG Encine

PresidênciaElusia Fontenele Coordenação PedagógicaRaquel MaiaAssistente PedagógicaRebeca BezerraGerente Tecnológico Aldir MoraesAssistente Tecnológico Lucas MoraesTesoureiro EncineAllex MarquesAssistente Administrativo Wesley MarquesAssessoria de Comunicação Jeanne GomesProjeto GráficoJeanne GomesRevisão Raquel Maia

Patrocínio

ENTRELACELaboratórios de Comunicação Escolar

Desenvolvimento e Realização

Sumário

A Revista ENTRELACE é uma publicação organi-zada pela ONG Encine em que mostra como foram as etapas de formação de estudantes e professores do projeto Entrelace, além de de-poimentos e sugestões de educadores sociais que ministraram as oficinas nesse processo. A publicação ainda traz artigos sobre a utilização das mídias por parte dos jovens, como também

reflexões a respeito da educação pública.

Concretizando-se como mais um espaço de estabelecimento da rede, a Revista Entrelace mostra também ao público a história da Organização Não-Governamental Encine e as mudanças na sua mais reconhecida produção,

o programa “Megafone!”.

Boa Leitura!

Projeto Entrelacep. 5

Encinep.6

Oficinasp.7

Formação de professores

p.8Megafonep.9

TVez p.10

Pôster p.12

Educadores:Relatos das

oficinasp.14

Projeto Entrelace: caminhos e

possibilidades. p.23

“Através do portal Entrelace podemos expressar nossas opiniões como, por exemplo: pedir melhoria para a escola, como internet na sala de aula, reforma da quadra, e várias outras coisas. Os educadores do lace são ótimos e o conteúdo que eles ensinam também é ótimo. Se tivesse internet na sala de aula eu poderia aprender mais e minhas notas seriam melhores. A merenda da escola poderia ser melhor, mas na escola também tem ótimos professores que

ensinam muito bem”. Texto de José Italo no site da Escola Taís Maria B. Nogueira no Portal Entrelace.

ENTRELACELaboratórios de Comunicação Escolar

www.entrelace.org.br

Desenvolvida e realizada pela ONG Encine com patrocínio da Petrobras através do Programa Petrobras de Desenvolvimento e Cidadania, o projeto Entrelace é uma rede de comunicação entre as escolas que possuem os Laboratórios de Comunicação Escolar (LACEs), estes localizados em sete escolas da rede pública de Fortaleza e Região Metropolitana.

Os Laboratórios de Comunicação Escolar (LACEs) são espaços equipados com as TICs (Tecno-logias de Informação e Comunicação) e tem como objetivo contribuir no processo de ensino-aprendizagem nas escolas públicas.

Como funciona a Rede Entrelace?

Durante seis meses, estudantes das sete escolas participam de oficinas de fotografia, roteiro, produção e edição de material audiovisual, fanzine, web rádio, geração de conteúdo para internet, além de oficinas de formação cidadã como as voltadas para os Direitos Humanos, ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente) e educação ambiental.

Vinte estudantes (manhã e tarde) e dez professores de cada escola, mediados por educadores espe-cializados em cada área, vivenciam momentos com conhecimentos teóricos e práticos a respeito das mídias através de oficinas e cursos de formação. A Rede acontece através do Portal Entrelace, o qual é um ambiente virtual onde os participantes fazem intercâmbio de suas experiências nos LACEs, em outros espaços da escola e nas comunidades em que vivem.

Quais escolas tem o LACE?

CAIC – Senador Carlos Jereissati – Município de Maranguape (CE)CAIC – Maria Alves Carioca – Bairro Granja Lisboa – Município de Fortaleza (CE)CMES Fco. Edmilson Pinheiro – Bairro Conjunto Ceará - Município de Fortaleza (CE)EEFM 2 de Maio Integrada – Bairro Passaré - Município de Fortaleza (CE)EEM Dragão do Mar – Bairro Mucuripe - Município de Fortaleza (CE)EMEF Instituto São José – Município de Maracanaú (CE)EMEIF Taís Maria B. Nogueira – Bairro São Cristovão - Município de Fortaleza (CE)

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ENCINE: Educação e Comunicação Juntas

A Encine é uma Organização Não-Governa-mental fundada em 1998 e tem como missão promover, defender e difundir os direitos hu-manos, em especial de crianças, adolescentes e jovens, através da educação, comunicação, arte e cultura na construção da justiça social e da vida sustentável.

Com o objetivo de provocar um novo olhar e uma nova forma de pensar os processos edu-cativos e culturais com aqueles que estudam e trabalham na rede pública de ensino, a ONG Encine já realizou exposições interativas, peças teatrais, produções audiovisuais, campanhas sociais e o “Megafone!”, um programa em for-mato televisivo. Através dessas atividades, busca o engrandecimento do ser humano como um elemento ativo na mudança de sua realidade so-cial e a formação de uma criança ou um ado-lescente que seja crítico e socialmente ativo na comunidade em que está inserido.

As ações desenvolvidas pela Encine são ori-entadas pela práxis educativa freiriana, não considerando o adolescente como mero “públi-co alvo” das produções da mídia ou receptores passivos de conteúdos, mas como seres capazes de construir conhecimentos, de agir com a au-tonomia necessária a uma inserção mais atuante na sociedade, incentivando sua capacidade de

produção, através da reflexão e do diálogo.

Suas ações objetivam construir uma nova forma de fazer comunicação preocupada com a ide-alização de uma sociedade autônoma e susten-tável. Os adolescentes, partindo de sua própria realidade, de seus contextos sócio-históricos, de suas próprias escolhas e práticas, analisam e vivenciam como as mensagens e gêneros da mí-dia são formados e passam a produzir uma co-municação própria, crítica e criativa. Além dis-so, as ações da Encine objetivam construir uma nova forma de fazer comunicação preocupada com a construção de uma sociedade autônoma e sustentável, uma vez que todos os produtos comunicacionais são produzidos por cidadãos e cidadãs que têm voz, idéias, desejos e direito à comunicação.

Em 2007, a Encine fez a implementação dos primeiros LACEs em escolas públicas de três municípios cearenses (Maranguape, Maracanaú e Fortaleza), atingindo cerca de 100 estudantes do ensino fundamental de forma direta e cerca de 2.500 de forma indireta.

No ano de 2009, com o patrocínio da Petrobras, por meio do Programa Petrobras Desenvolvi-mento & Cidadania, mais quatro escolas da rede pública municipal e estadual de Fortaleza rece-beram o Laboratório de Comunicação Escolar. Com um público direto de 171 participantes entre professores e alunos e um público indi-reto dos estudantes das escolas participantes, a segunda formação para o uso crítico, criativo e consciente da mídia foi realizada.

Em 2012, a Rede Entrelace foi lançada com o objetivo de criar uma comunicação entre os sete LACEs, utilizando a internet como canal de partilha das produções realizadas nestes espaços, produção esta incluída em uma grade de pro-gramação WebTV.

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OficinasA formação para o uso crítico e criativo das mídias com estudantes foi realizada de forma simultânea entre as sete escolas participantes do projeto Entrelace. Cada turma (manhã e tarde) tinha dez estudantes, estabelecendo um total de 140 integrantes. Em aproximadamente seis me-ses, aconteceram oficinas de:

- Direitos Humanos (ECA – Estatuto da Cri-ança e do Adolescente)- Desenvolvimento Pessoal e Social;- Direito à Comunicação;- Educação Ambiental;- Fotografia;- Roteiro, Linguagem e Produção Audiovisual;- Edição de vídeo;- Fanzine;- Geração de conteúdo para web;- Política de postagem no Portal Entrelace;- Práticas de postagem no Portal Entrelace;- Web Rádio;- Produção de quadros para o programa “Megafone!”.

Através do desenvolvimento de produtos midiáticos, crianças, adolescentes e jovens viven-ciaram a teoria e prática da produção, além de realizarem discussões a respeito de educação, ci-dadania, responsabilidade na internet, situação de seus bairros e de suas escolas etc.

Para ampliar o conhecimento, o Portal Entrelace foi criado com o intuito de estabelecer uma co-municação entre estudantes e professores das sete escolas. Imagina saber o que acontece em um LACE que fica em outro município? Ao postar suas experiências, esse público estimula a produção de vídeos, fotos ou fanzines por parte de outras pessoas. Assim, além de produtor, cada participante do Entrelace tem um poten-cial multiplicador.

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Formação dos professores

Com encontros mensais ao longo de um ano, professores da rede pública de ensino participaram do Curso de Formação em Comunicação Educativa, ministrado pela Encine em parceria com o programa de exten-são da Universidade Federal do Ceará (UFC), o TVez – Educação para o uso crítico da mí-dia. As coordenadoras do programa, profes-soras Doutoras Inês Vitorino e Luciana Lobo, mediaram discussões a respeito do direito à comunicação, mídia como objeto de análise e como produto a ser elaborado nas aulas.

Em um dos encontros, os professores tiveram oficinas de postagem no portal Entrelace e junto com alguns estudantes presentes, eles produziram textos e fizeram fotos e vídeos para publicarem nos sites de suas respectivas esco-las. Além disso, educadores sociais que minis-traram oficinas nas escolas do projeto, também participaram do curso que ocorreu na UFC. Eles levavam suas experiências para compartilhar com os professores participantes e ajudaram tam-bém nas atividades práticas realizadas no curso.

Nos momentos de avaliação, os professores re-latavam suas dificuldades com a parte técnica das mídias e em criar novas metodologias uti-lizando os equipamentos do LACE; a partir disso, a ONG Encine juntamente com o TVez buscavam ajudá-los a superar esses desafios. As-sim, todos os professores que frequentaram o curso puderam perceber a importância de se discutir e trabalhar com a mídia em sala de aula.

Outro aspecto bastante citado pelos pro-fessores, nos cursos de formação, foi a melhora no desempenho dos estudantes participantes do Entrelace, além do au-mento da criticidade desses sobre a mídia.

“Quando você vai trabalhar com a mí-dia, para eles é bem mais fácil, eles têm bem menos resistência do que o pro-fessor. Porque a gente passou por uma formação que não se usava esses recur-sos que está usando agora”. (Elissandra Cavalcanti da Silva, professora da escola Taís Maria B. Nogueira)

“(A formação)Também ajuda para trabalhar com os alunos em sala de aula, de a gente saber orientar, tomar algumas decisões so-bre a questão do uso das mídias. Foi muito interessante também nesse sentido que a gente pode trabalhar de forma mais crítica”. (Zilma Cordeiro – Diretora e Maria Alves Cari-oca e Marília Moreira professora e coorde-nadora das atividades da sala de Multimeios. Ambas são professoras da escola CAIC – Ma-ria Alves Carioca)

“A visão (dos alunos) do que é mídia está mudando mais, aquela história de tudo querer colocar na mídia, a forma de tratar, a conscientização foram pontos em que eles melhoraram.” (Zilma Cordeiro – Diretora da escola CAIC- Maria Alves Carioca)

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MEGAFONE!O “Megafone!” é um programa em for-

mato de televisão, realizado conjuntamen-te por profissionais, jovens da ONG Encine e integrantes dos LACEs, sendo um produ-to prático no processo de formação cidadã, além do que se refere ao conhecimento das linguagens e tecnologias audiovisuais. Con-cretizando-se, assim, é um legítimo espaço de expressão e difusão do pensamento jovem, uti-lizando uma linguagem audiovisual moderna e descontraída para se fazer refletir temas atu-ais e importantes dentro do mundo jovem.

Realizado desde 2002, já fo-ram produzidos um total de 134 programas. Em formato de 30 minutos, até 2011 o programa foi exibido na televisão aber-ta no Ceará pela TV Ceará, a TV educativa local, sendo vis-to semanalmente por mais de 24.000 domicílios só em Fortaleza. Em 2008 foi exibido em rede nacio-nal pela TV BRASIL. Durante suas gravações no Centro Cultural Banco do Nordeste, o pro-grama fora exibido ao vivo, na íntegra, pela in-ternet (mais de duas horas de gravação), com a participação de jovens na plateia (mais de 150 jovens de escolas públicas, ONGs e Uni-versidades), especialistas e bandas musicais. A interação acontecia também via chat e e-mail.

O “Megafone!” é um projeto reconhecido nacionalmente como uma experiência bem suce-dida no campo das Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs), da Comunicação Educa-tiva e da Cultura Livre, sendo um dos primeiros programas de televisão aberta do Brasil a editar e veicular matérias produzidas sob o conceito da cultura livre. Foi o único programa brasileiro, no seu formato, a ter um Selo de Especialmen-

te Recomendado para Crianças e Adolescentes (SELO ER), concedido pelo Ministério da Jus-tiça em 2006. Além disso, o Megafone foi ven-cedor regional do Selo Itaú-Unicef 2007, ven-cedor nacional do Prêmio Escola Viva 2007, do Ministério da Cultura, e por duas vezes ganha-dor do Prêmio BNB de Cultura (2006 e 2007).

Funcionando também como um moderno instrumento pedagógico, dentro e fora da sala de aula, o programa é o produto físico de um grande processo que não termina

nele. O “Megafone!” é um processo amplo e elaborado de conscientização social

que começa com jovens de escolas públicas tendo a possibilidade de refletir sobre a sua realidade e os modos de intervenção, se apro-priando para isso de metodolo-gias e técnicas comunicacionais.

Na segunda formação nos LACEs, foram realizados quatro pro-

gramas “Megafone!”, os quais foram exibi-dos uma vez por semana, durante um mês na TV Ceará. Já no projeto Entrelace, quatro pro-gramas foram transmitidos ao vivo pela inter-net através do Portal Entrelace. Estudantes das sete escolas públicas elaboraram roteiro, fizeram a produção e edição dos quadros exibidos, as-sim como participaram dos debates ocorridos na gravação na escola CAIC – Maria Alves Carioca, uma das beneficiadas com o LACE.

O “Megafone!” foi o único programa brasileiro, no seu formato,

a ter um Selo de Especialmente Recomendado para Crianças e

Adolescentes (SELO ER), concedido pelo Ministério da Justiça

em 2006.

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Na escola contemporânea tem se tornado comum a culpabilização das mídias pela má for-mação da infância e da juventude, pela exposi-ção precoce destes grupos sociais à sexualidade, pela disseminação de uma cultura da violência e/ou por sua própria perda de autoridade. A es-cola parece dizer: “Nós educamos e a mídia de-seduca”. Será tão simples assim? Na contramão dos que assumem esse discurso da vilania, há, contudo, os que vislumbram nas mídias novas possibilidades de comunicação e expressão e, buscam, enfrentando as dificuldades, inseri-las no contexto escolar.

Maltratada pelo processo de precarização laboral, arraigada a modelos tradicionais e, muitas vezes, esvaziada de pensamento crítico acerca de seu fazer pedagógico têm a escola con-dições de fazer frente a tantas questões (da vio-lência, da sexualidade, do consumismo etc.) que permeiam o contexto cultural de seus educan-dos? Seria ela capaz de propor um olhar sobre as mídias, tendo como base a problematização do modo como crianças e jovens significam aquilo que vêem, escutam ou lêem fora dos muros es-colares? Como trazer estas reflexões para o coti-diano educacional?

Muitos acreditam que sim, em que pese todos os percalços... Nos últimos anos, têm se ampliado o leque de experiências que lidam com as mídias no âmbito escolar. De uma perspecti-va mais apocalíptica, pautada por uma concep-ção de vilania e/ou da substituição do professor pelas novas tecnologias, estas iniciativas tendem a estabelecer um processo de apropriação crítica da comunicação midiática, sem recair na falá-cia da perspectiva integrada, na qual prevalece a compreensão de que basta a inserção das tecno-logias de informação e comunicação na escola, as chamadas TICS, para em um passe de mági-ca, tornar a escola mais interessante e solucionar

todos os seus problemas disciplinares, de evasão, falta de atenção dos educandos, entre outros.

São vários os termos utilizados para dar corpo às propostas de discussão e apropriação das mídias: Educomunicação, mídia-educação, Comunicação educativa, educação para o uso crítico da mídia etc. Em comum, tais propostas assinalam, com diferentes ênfases, a importân-cia de que as mídias possam ser apropriadas cri-ticamente nas escolas, em suas múltiplas dimen-sões como: (i) recurso pedagógico; (ii) objeto de reflexão e (iii) forma de expressão.

Na nossa compreensão, contudo, mais im-portante do que o termo adotado é o fato de que o trabalho realizado vá além do uso instrumen-talizado das mídias em território escolar. Assim, é importante deixar claro que é insuficiente apa-relhar a escola com laboratórios de informática, tablets, datashow e/ou lousa eletrônica, entre outros, sem a constituição de um espaço de in-terlocução entre gestores escolares, professores e estudantes acerca dos problemas cotidianos e as possíveis estratégias de enfrentamento dos pro-blemas de cada comunidade escolar, sem que se potencialize o trabalho (e o lazer) do professor, em suma, sem que haja uma ressignificação do próprio cotidiano e do lugar social da escola na

ENTRELACE - ENCINE e TVez:Por uma comunicação e uma escola pública de qualidade

VII Encontro de Formação de Professores

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contemporaneidade.

Assim, com base na constatação fundante da crescente importância do contexto midiáti-co contemporâneo nos modos como os jovens constituem a si mesmos e como modulam suas relações com o outro, desde 2005 o Programa de Extensao da UFC: Tvez Educação para o uso critico da mídia, articula os cursos de Comu-nicação Social e Psicologia, promovendo uma relação qualificada com as mídias no cotidiano escolar. O projeto foi idealizado para promover ações educativas no âmbito escolar, preferencial-mente na rede pública, visando pautar a leitura crítica das mídias e estimular processos de apro-priação e vivência de produção em comunicação nas escolas, mediante a constituição de espaços de discussão e ressignificação dos produtos mi-diáticos.

No segundo semestre de 2007 começa-mos uma parceria com a Encine, auxiliando na formação pedagógica de professores para atu-arem junto aos Laboratórios de Comunicação Educativa (LACE). Isso foi feito, sobretudo, na coordenação pedagógica do Curso de Extensão da UFC: DiaLogos Escolares Contemporâneos (DEC), voltado para os professores das escolas envolvidas com o LACE. Considerando a reali-dade de cada contexto escolar, o curso teve como objetivo suscitar a reflexão acerca dos processos pedagógicos cotidianos na sua relação com a co-municação midiática e incentivar a produção de comunicação por parte dos professores. O curso que já está em sua terceira edição, tem se estru-turado em torno de temas geradores, tais como juventude contemporânea e novas tecnologias; relações intergeracionais no espaço escolar; rela-ções escola-mídia; uso ético da mídia e a atuação da escola na contemporaneidade. Deste modo, vem procurando promover, com base no diálo-go com os professores, novas formas de ouvir, ver, ler e produzir comunicação e de instituir práticas pedagógicas mais participativas e cola-borativas entre professores e educandos.

Acreditamos que a relação escola-mídia,

devidamente qualificada, não pode prescindir da formação do professor em três perspectivas, a saber: pedagógica, estética e política. Pedagógi-ca, pois implica a articulação do uso e produção das mídias como instrumentos de ensino-apren-dizagem. Estética, pois deve compreender a abertura para a criação, para o campo do sen-sível, explorando outras linguagens não usuais nas mídias comerciais. Política, pois a discussão do uso da mídia no cotidiano escolar deve levar, em última instância, a uma reflexão tanto sobre os meios de comunicação cotidianos, quanto sobre a própria escola. Desta forma, qualquer experiência de mídia no campo educacional deve auxiliar na produção de novos modos de educar no cotidiano escolar, sensíveis ao direito dos educandos a uma comunicação e a uma es-cola pública de qualidade.

Luciana Lobo Miranda - Dra. em Psicologia. Professora do Programa em Pós-Graduação em psicologia da UFC. Coordenadora do programa de extensão TVEZ -

Educação para o uso crítico da mídia.

Inês Vitorino Sampaio - Dra. Em Ciências So-ciais, coordenadora do Programa de pós-Grad-uação da UFC, Coordenadora do programa de extensão: TVEZ: educação para o uso crítico da mídia e do Grupo de pesquisa da relação Infân-cia, Adolescência e Mídia (GRIM).

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Portal Entrelace: a troca de experiências pela internet

O primeiro dia de oficina era voltado para a elaboração de uma política de postagem para o portal, esta acompanhada pelo educador Rômulo Silva. Nesse momento, os estudantes e professores reuniam-se para discutir sobre responsabilidade com as publicações feitas na internet, sobre a gestão do site da sua escola e também sobre quais seriam os temas aborda-dos. Juntos, eles construíam esse documento, pesando as considerações tantos dos profes-sores quanto dos estudantes. Cada escola teve essa ação, portanto possuem políticas diferentes.

Nos três dias seguintes, a mediação era fei-ta por mim e a geração de conteúdos era colocada em prática. Nesse período, eles souberam como era o site da sua escola por den-tro, como ele ficaria no Portal Entrelace e como fariam para colocar textos, fotos, vídeos e, a par-tir disso, começar a fazer as suas publicações.

Após toda a parte técnica ter sido explicada, era hora de criar conteúdos. “Sobre o que eu falo?” era a pergunta mais frequente nesse momento. Passavam vários minutos até que eles pudessem criar seus textos, sempre mui-to preocupados com a importância que suas publicações teriam e sobre quem as iria ler. Mas será que eles tinham a mesma preocupação quando respondiam à pergunta “Sobre o que você está pensando?” no Facebook? Ao refletir sobre isso, sempre deixava claro que eles podi-am falar sobre o que quisessem, o importante é que praticassem a escrita de textos no Portal Entrelace. Dessa forma, surgiram produções so-bre a evolução do aprendizado nas gravações de quadros do “Megafone!”, entrevistas com pro-fessores e convidados, divulgação de festa, artigo de opinião sobre a escola, relato de experiência em outros projetos, texto de professores sobre política, religião etc. Não foi fácil começar,

mas depois que passavam as dúvidas sobre o objetivo do texto, a escrita fluía normalmente.

Muitos adultos generalizam que os jovens não lêem e não escrevem mais por conta da preguiça ou por causa da falta de dedicação. Contudo, não questionamos que tipo de leitura e que tipo de escrita é possibilitado e incentivado pela es-cola, por exemplo. Lógico que é necessário que os estudantes saibam como é a estrutura de uma crônica ou de uma notícia, mas será que a escola não se prende tanto à reprodução de padrões, que estes acabam não estimulando o ato de ler e escrever? Incentivar a criatividade é o principal fator para que estas práticas se-jam interessantes. A partir disso, eles mostrarão os seus potenciais e, assim, trocarão, também, experiências através do Portal Entrelace.

Jeanne Gomes é publicitária e assessora de comunicação do projeto Entrelace. Minis-trou oficinas de fanzine, edição de vídeo e prática de publicação no Portal Entrelace.

Matéria criada pelos estudantes da escola Dragão do Mar. Confira no site da escola no Portal Entrelace.

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Megafone: A Nossa Evolução

Nós (a equipe do entrelace) iremos falar um pouco da nossa experiência du-rante a produção e gravação do pro-grama MEGAFONE da ONG Encine.

Rallison: Bom, eu gostei bastante da minha experiência porque eu fiquei em uma câmera , e ao mesmo tempo ajundando o Aldir em algumas coisas, também gostei das entrevis-tas que tivemos , foram bem interessantes, também gostei das dinâmicas que foram realizadas pela produção do programa. Resumindo, foi uma experiên-cia única na minha vida.

Tayane: Eu gostei muito, apesar de eu não ter iniciado no começo do curso, mas participei das edições da pirmeira maté-ria realizada pela equipe. Minhas oficinas preferidas foram: Web Rádio e Dinâmica de Gravação. E também tive a experiência de ser repórter da última matéria realizada.

Enock Lee: Minha experiência foi bem satisfatória, as oficinas que foram realizadas foram bem interessantes, cada uma tinha seu lado especial, cada professor seu modo de interagir. Tive também uma experiência única com meus amigos de equipe e tam-bém com as pessoas envolvidas no projeto. Enfim eu acho que o Entrelace, na verdade

a Encine teve e sempre vai ter uma influên-cia significativa em nossas vidas, e algo que nunca esqueceremos, é como se fosse um pequeno sonho na nossa grande realidade.

Rallison Soares Tavares Disse asneira, Tayane de Souza Cordeiro Embaraçado eEnock lee Rodrigues Braga são estudantes da escola CAIC - Maria Alves Carioca e par-ticipantes do projeto Entrelace.

www.entrelace.org.br

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Nunca se leu tantos “fragmentos do eu” como em nossos dias. Estranho ler ‘diários’ ordinários publicados na efêmera rede social, a mais popu-lar, facebook. Os fanzines impressos, principal-mente os feitos aqui na cidade Fortaleza, são uma espécie de diários publicizados que, na visão de alguns, deveriam ser secretos, e vice versa.

Mas como trabalhar uma mídia impressa (fanzines) com jovens entre 13 e 17 anos em épocas de Facebook em uma sala de aula equipada com computadores e in-ternet aberta as redes sociais? Pois rolou! E quero compartilhar breve-mente esta experiência, que para mim, foi no mínimo inusitada.

Aconteceu através de um pro-jeto muito do bacana chamado “ENTRELACE” (nome bonito né?) Deixe-me explicar. A ONG ENCINE com o patrocínio do Programa Petrobras Desenvolvi-mento & Cidadania criou o pro-jeto Entrelace, o qual consiste em uma rede de comunicação virtual que amplia as possibilidades dos processos pedagógicos através do fortalecimento da metodologia dos Laboratórios de Comuni-cação Escolar. E essa troca acon-tece principalmente via o portal www.entrelace.org.br. Ou seja, o projeto procura estimular a produção em mídias diversas den-tro da sala de aula tornando o portal uma ex-tensão do que foi produzido por alunos e pro-fessores nos espaços da comunidade escolar.

Uma das escolas que dei oficina de zines foi a Escola Municipal de Ensino Infantil e Fundamental Taís Maria (no bairro Messe-

jana) no mês de junho deste ano (2013).

Percebendo o interesse dos estudantes pela rede social resolvi juntar as duas mídias. Criamos um grupo fechado e secreto onde todos podiam interagir, cada aluno escreveu pequenos blocos de textos a partir das experiências vividas nos

espaços da escola Tais Ma-ria, expliquei que eles es-crevessem tendo em mente que aquilo seria lido por estranhos. O resultado das conversas foi um zine for-mato ½ A4 (tipo tela de computador) com páginas com conteúdos recortados pelo print screen das no-tificações e comentários no grupo do Facebook.

Um dos maiores desa-fios desta metodologia de oficina era não “perdê-los” para a bendita rede social. Entre quedas e lentidão da rede da internet, dinâmi-cas, cirandas e festinha de encerramento ficaram amizades bacanas que ain-da existem através daquilo que nos ligou: o Face-book com o pretexto de e s c r e v e r fanzines, também! =]

Rômulo Silva é jornalista e educa-dor social. Ministrou oficinas de Fanzine e sobre a Política de Postagem do Por-tal Entrelace.

Entrelaçamentos possíveis: Facebook Impresso?

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Desde muito pequena sou fascinada pelo mundo das letras. Evidentemente, não de-morou muito para que me interessasse em trabalhar na área de leitura e escrita. En-tre na ONG Zinco com 14 anos e, aos 17 já ministrava oficinas de Fanzines cidade a fora. A cada turma, sempre um novo desafio.

Ao longo de três anos, ministrei três oficinas de Fanzines dentro da programação do Entrelace. Não seria estranho dizer que cada uma delas foi peculiar. A primeira aconteceu, na Escola Dragão do Mar, que fica pertinho do Mucuripe, beira de praia. A segunda, na Escola Edmil-son Pinheiro, no Conjunto Ceará. A mais re-cente aconteceu na Escola CAIC Senador Car-los Jeireissati, situada em Maranguape, região metropolitana de Fortaleza. Cada uma das tur-mas me ensinou alguma coisa diferente, seja na forma de lidar com a realidade de cada bairro, seja nas experiências de vida de cada aluno ou aluna. É realmente um ato de imersão no co-tidiano da comunidade e no universo particu-lar dos estudantes (que nem sempre é fácil). Uma vez lancei a seguinte pergunta: “como é sua vida depois de entrar no Entrelace?”. Para muitos, a resposta já estava na ponta da língua: “agora me sinto parte de alguma coisa”. É muito bonito poder observar e participar do processo transformador possibilitado para esses jovens.

Isso é só o começo.

Jéssica Gabrielle Lima é estudante de Letras da Universidade Federal do Ceará e Arte-educadora. Ministrou ofici-nas de fanzine no projeto Entrelace.

Fanzines

Bom que a gente desenvolve e expressa o que aprende e começa a ter uma nova visão do que pen-sava antes. Antes de começar a fazer o curso, eu pensava que não sabia fazer vídeo e que não podia dar minha opinião sobre algo, não sabia fazer quase nada e alguns significados de algumas palavras, eu não sabia. Quando entrei no curso, comecei a me co-municar mais, eu era muito tímida e comecei a dar mais minhas opiniões na produção de fanzine que eu não sabia fazer e aprendi a fazer. (Williane da Escola CAIC – Senador Carlos Jereis-sati)

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Trabalhei no projeto como educadora des-de o Lace, dentro dos laboratórios esco-lares, ajudando os educandos a editar, pro-duzir e gravar um programa de webrádio. A possibilidade de trabalhar naquele ambi-ente escolar favoreceu com que pensássemos assuntos (chamados de pautas, pelo jornalismo) que envolvessem toda a comunidade escolar (famílias, bairro, estudantes e, claro, a própria escola). O resultado dos pro-gramas foi baseado em temas pouco ex-plorados pela escola, mas escolhidos e

valorizados pelos educandos.

Nélia Bianco em seu livro “A Rádio a Serviço da Comunidade”, afirma que as rádios populares da década de 80 tinham um caráter libertador nas men-sagens, além de recuperar a história oral da comuni-dade e a “dramatização de situações do cotidiano”. Em 2013, este continua sendo o papel transforma-dor de uma rádio não com-ercial e é neste sentimento que os meninos e meni-nas do Entrelace produziram seus programas.

Eles e elas conversaram com a profissional que fazia a merenda para saber como são escolhi-dos e produzidos os alimentos consumidos por eles mesmos, exploraram núcleos e proje-tos da escola pouco conhecidos pelos discentes, explicando-os, produziram rádio-teatro, en-trevistas, notícias, usaram o computador e a câmera fotográfica, aprenderam a editar suas próprias vozes, a criar sons com a sonoplastia. Tudo isso, de maneira lúdica e bastante educa-tiva. Quando pensaram o roteiro para a novela, treinavam sua escrita e, ao mesmo tempo, um outro formato de texto; ao gravarem suas vozes, ouviam-se e se deixavam ouvir, prática pouco explorada por vezes na esco-la, por vezes na

própria família e tão mais raro em rádios; ao pensar a realidade de suas escolas, puderam ver o que questionar, o que poderiam ajudar a mudar, que coisas poderiam ser melhores; ao ouvirem-se puderam observar suas falas, val-orizar suas formas de falar, puderam melhorá-la também. Todos estes resultados podem ser per-cebidos nas práticas que utilizam o rádio como instrumento educativo, e não foi diferente com os meninos da escola onde pude trabalhar.

Suas poucas práticas com esta linguagem per-mitiram, algumas vezes, que se intimidassem ou viessem à tona erros gramaticais na escrita ou na fala, mas, junto com eles, pudemos nos ajudar a tirar as dúvidas, refazer, melhorar. Nesta turma havia um menino com uma deficiência física, tímido e quieto. Ele respira e fala com dificul-

dade e movimenta menos um dos braços. Quando perguntado se gostaria de ser o narrador da história gravada em forma de rá-dio-teatro, não exitou. O texto precisou ser modi-ficado para ajustar-se a sua leitura e algumas frases tiveram que ser retiradas. Aos poucos,

ensaiando, gravando e regravando foi possível chegar a um resultado divertido e bacana. Todos participaram e o garoto aprendeu que ele também poderia produzir rádio. Este é um dos exemplos das transformações que os processos da Educo-municação e este projeto, juntos puderam realizar.

O uso das tecnologias foi outro ponto impor-tantíssimo. Todos puderam usar o computa-dor, conhecer programas de edição de áu-dio, baixar trilhas sonoras e efeitos, produzir outros na própria es-cola, utilizar o grava-dor de voz e ainda fazer um making off com a máquina fotográfica. No primei-ro contato com o programa de edição Audacity eles já aprenderam rapidinho a pon-to de irem ao laboratório

Web Rádio

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outras vezes e exercitarem sozinhos seu manuseio. Minha participação neste projeto, mesmo pequena, me fez reforçar o sentimento de que é possível a comunicação ajudar na trans-formação das práticas pedagógicas escolares, além de dar novo fôlego e aproximar as crian-ças e adolescentes da escola. Sinto-me feliz por ter podido colaborar, com esse projeto que não pretende formar jornalistas profissionais, mas que consegue despertar nesses meninos e meninas o interesse por um direito funda-mental previsto da Declaração Universal dos Direitos Humanos, o direito à comunicação.

A Encine está de parabéns, por mais uma vez, poder ajudar na boa mudança de uma escola ainda tão engessada e enrijecida pela falta de es-tímulo e pelo cotidiano burocrático. Também acredito que é assim que se muda o mundo.

Roberta França é jornalista, educomunica-dora e mestranda em Educação. Ministrou oficinas de web rádio no projeto Entrelace.

Web Rádio e Educação AmbientalEntre os meses de julho e agosto de 2013, fui a educomunicadora responsável pelas oficinas de Rádio, Produção para Internet e Educação Am-biental na EMEF Dragão do Mar. Lembro que fiquei impressionada com a estrutura do labo-ratório do projeto na escola. Câmeras de diver-sos tipos, microfones, caixas de som, refletores, computador, a possibilidade de utilizar todas essas ferramentas me chamou logo a atenção.

A liberdade que nós temos para desenvolver a oficina com base em nossa ex-periência, uma vez que a instituição não exige um formato preestabelecido, também é um fator que considero muito importante. Acredito que essa diversidade, já que vários educadores diferentes passam por cada escola, enriquece o projeto e vivência dos estudantes.

Em relação às oficinas que ministrei, o mais in-teressante foi a integração entre as três, o que po-tencializou as atividades. Por exemplo, durante a oficina de Educação Ambiental, os estudantes pensaram em realizar uma Semana pelo Meio Ambiente no mês seguinte. De acordo com o planejamento dos próprios alunos, o evento se-ria divulgado tanto através da rádio da escola, quanto da página no Facebook, criada durante as oficinas. Mais do que divulgar o evento, tanto a rádio como a internet seriam utilizadas para mobilizar a escola para a realização deste.

A página no Facebook também seria utili-zada para que os demais estudantes opinem sobre o que querem ouvir na rádio da escola. Da mesma forma, as demais ferramentas e o conhecimento que os meninos e meninas acumularam durante as oficinas anteriores do projeto foram utilizados durante a ofici-na, através da produção de vídeos, fotos, etc.

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Essa integração entre temas e ferramentas fa-cilita a promoção contínua da educomuni-cação dentro da escola e é essencial para que os professores possam levá-la para sala de aula.Vale lembrar que um dos objetivos da educo-municação é criar e rever as relações de comu-nicação na escola, entre direção, professores, alunos e comunidade. E para isso, é necessário planejar as ações no contexto do pedagógi-co das escolas e não apenas ações isoladas.

O Lace trabalha com áudio, vídeo, fotografia, fanzine, enfim, são diversas as opções para que os professores desenvolvam atividades. No entanto, além dessas ferramentas, para que a educomuni-cação aconteça de forma efetiva, é preciso que professores acreditem numa relação educador-educando em que: o aluno pode ensinar ao mes-tre e os alunos podem ensinar uns aos outros.

Eu, por exemplo, aprendi muito com o Beto, o Kauan, a Gislane, a Gabi, a Sara, o João Victor, o Fenando Luiz, o Thadeu, o Israel, o Mateus, o Matheus e todos que conheci. E acredito que, a partir do momento em que as oficinas do Lace se encerram, essa turma tem o compromisso de, junto com os professores que também partici-pam do projeto, manter e fortalecer as atividades.

Não podemos esquecer que, durante as oficinas, não produzimos apenas programas de rádio ou criamos uma página na internet. Nós aprendemos a trabalhar em equipe, a valorizar o erro e buscar juntos o acerto e, principal-mente, pensamos na transformação social que podemos promover seja na escola ou na comu-nidade. Então, a ausência dos educadores do Lace não pode ser a justificativa para o fim das atividades. Assim como fizemos durante as oficinas, tentando envolver outros estudantes e outros educadores de acordo com os temas e as afinidades, é possível continuar. Eu acredito em vocês. E, como diriam alguns filósofos impor-tantes que eu conheci na escola: “Vai dar certo!”

Carol Costa é jornalista e educomunicadora. Ministrou oficinas de web rádio e educação ambiental no módulo de formação cidadã.

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Produção Audiovisual

Retratar pensamentos em um produto audiovisual. Fazer com que idéias, concei-tos, perspectivas e entendimentos sejam ex-pressos de forma clara, objetiva e atrativa... Ou quem sabe, provocar a curiosidade por sua subjetividade... Ou simplesmente re-tratar um momento único do cotidiano...São tantas as formas possíveis da linguagem au-diovisual que não é difícil perceber, no dia-a-dia, o quanto estamos inseridos em uma delas.Mas afinal para que serve a linguagem audiovisual? Podemos dizer que se-ria uma forma eficaz de comunicação?

Sei que fui agraciado quando tive a oportuni-dade de ser um profissional do audiovisual. Vejo a oportunidade, em cada produção, de mergulhar na criatividade permitida por cada linha escrita em um roteiro, por cada perspectiva criada pela luz, pela imensidão da beleza gerada pela fotografia e não diferente pela sensibilidade aguçada quando da junção de uma boa sonorização.

E é com esta mesma paixão que me coloquei diante de tantos jovens do projeto Entrelace, com a proposta de vivermos juntos o mundo da linguagem audiovisual. Verdade que, mui-tos sem o conhecimento técnico profissional “do mercado”, mas todos com uma realidade em comum: serem agentes da comunicação.

Ao ministrar oficinas para composição de produções audiovisuais nos LACES, per-cebi jovens já bem conscientes de seu poten-cial. Naturalmente isso fora absorvido nas diversas oficinas antes ministradas. O desa-fio para muitos seria a apropriação da téc-nica. Mas como fazer isso em um curto período quando sabemos que, profissional-mente, são exigidos anos de estudos e prática?

Bom, não há segredo. Não nos propomos a for-mar profissionais do audiovisual. Trabalhamos

a prática no desenvolvimento das produções em suas diversas fazes (concepção, roteiro, produção, gravação, edição e finalização), as quais nos levam ao estudo pontual, fazendo com que todos vivenciem técnicas básicas de uma produção. Entendemos assim que, no nosso caso, o principal é aprender a exercer a comunicação com as ferramentas e o conheci-mento tecnológico que conseguimos absorver.

É incrível a capacidade destes jovens de absor-ver este conhecimento. Quando focados, basta uma primeira percepção da técnica para que questionamentos, idéias e sugestões apareçam.Em uma oficina para produção de quadros para o programa “Megafone!”, na escola CAIC - Maria Alves Carioca chegou a meu conheci-mento que, jovens do Lace já haviam feito todo o processo de concepção, roteiro e gravação de vários projetos existentes na escola. Projetos estes científicos, esportivos e educacionais. Para muitos pode parecer difícil perceber estes jovens atuando como produtores de comunicação, mas para quem vive isso no cotidiano, simplesmente sabe que faz parte de um processo de apropri-ação que, quando iniciado, tornasse crescente.

Como faço parte também da implantação téc-nica destes laboratórios, já vi em diversos mo-mentos questionamento de alunos quando a possibilidade da melhoria da qualidade das

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gravações. Jovens já me questionaram o porquê de não haver microfones de porte profissional para captação de som. Para mim isso só reflete uma natural percepção deles quanto ao aparato tecnológico necessário para uma boa produção audiovisual. Além dos questionamentos, surge a necessidade de pesquisa, estudo e mobilização na perspectiva da ampliação das estruturas.

Há uma outra parte que se envolve nos pro-cessos dos Laces dentro do ambiente escolar, que são os professores e gestores. Tive a opor-tunidade de ouvir de alguns professores que gostariam de utilizar da estrutura do Lace para realizar produções audiovisuais de pro-jetos em andamento na escola. Em outras já é natural a cobertura de eventos, aulas e atividades diversas da instituição de ensino.

O que posso perceber claramente é que, para muitos, dentro do ambi-ente escolar, deixou de se pensar o vídeo (produto audiovisual) como apenas um registro dos momentos de brigas ou pegadinhas. Houve uma ampliação da percepção da Linguagem Audiovisual fazendo com que estas produções virassem instrumentos de comunicação, ampli-ação dos saberes, reivindicação e emancipação.

Espero que esta experiência dos Laces nas escolas contribua para que jovens estendam seus hori-zontes. Pelo longo tempo que ministro ofici-nas como Educador Social, tenho alunos que já passaram pela formação superior. Muitos já absorveram conhecimentos bem maiores que os meus. Muitos lembram das aulas com saudades. Fico feliz não só pela realização destes como profissionais, mas porque sei que, direta ou in-diretamente, contribuímos para formação de muitos conscientes de seu papel como cidadãos.

Efetivamente as produções estão acontecendo. Mais que isto elas estão sendo compartilhadas como experiências positivas dentro de espaços propíci-os para a troca de conhecimento. Nossas escolas.

José Aldir de Moraes é Educador Social, Gerente de Tecnologia da Encine/Entrelace e profissional na área do Audiovisual. Ministrou oficinas de produção audiovisual no projeto Entrelace.

Quadro “Na hora do Recreio” produzido pelos estudantes que participam do LACE na escola

CAIC - Maria Alves Carioca. Para conferir os programas “Megafone!”, acesse o

Portal Entrelace.

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Projeto Entrelace: caminhos e possibilidadesPapel, caneta, quadro branco... Professor... Vídeo, foto, internet, TV ... Quem educa? Como educar? Questões pertinentes nas conversas em família, na escola, uni-versidade, entre os adolescentes e jovens. Diante de tantas opções e meios na aquisição do conhecimento, não é nada fácil definir qual a melhor forma de de-senvolver processos pedagógicos no ambiente escolar.

A Revista Entrelace através do Projeto Entrelace, trouxe reflexões, possibilidades de práticas pedagógi-cas e relatos voltados para o campo da Educação e Comunicação. A intensão é provocar um novo olhar sobre as práticas pedagógicas desenvolvidas no cotidiano escolar e mostrar como é transformador produzir comunicação dentro das escolas públicas.

O projeto tem o objetivo de implementar uma rede de comunicação que amplie as possibilidades dos proces-sos pedagógicos e de ensino-aprendizagem de crianças, adolescentes e jovens de sete escolas públicas de For-taleza e região metropolitana, através da metodologia dos Laboratórios de Comunicação Escolar com uso das TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação).

Ao término de dois anos de ações periódicas aliadas ao calendário escolar de cada escola participante do pro-jeto, resultados relevantes se apresentaram, tais como:

“Mudanças no comportamento, exemplo: elevação da autoestima, integração de alunos entre o LACE e sala de aula e no rendimento escolar” Consulta pedagógica - relato professor E.E.M. Dragão do Mar

“Os alunos mostram-se mais comunicativos e mais sociáveis”. Consulta pedagógica - re-lato professor CMES Fco. Edmilson Pinheiro

“Os alunos estão mais participativas e demonstram um maior interesse na realização das atividades propostas em sala de aula”. Consulta pedagógica - relato professor CMES Fco. Edmilson Pinheiro

“Interesse e assiduidade na escola”. Re-lato professor EEM Dragão do Mar

“Melhoria na articulação de ideias sobre os te-mas abordados, aprimoramento da escrita e na elaboração de textos”. Consulta pedagógica - relato professor CMES Fco. Edmilson Pinheiro

“Alguns alunos já eram bons e continuaram, outros mudaram pra melhor no comporta-mento e rendimento com melhores notas”. Re-

lato professora EMEIF Taís Maria B. Nogueira

“A participação e o interesse de muitos dos alunos melhoraram muito após a partici-pação no projeto Entrelace. O rendimento es-colar deu um salto de qualidade para mui-tos”. Relato professor EMEF Instituto São José.

“Nós temos uma clientela bem difícil em relação a comportamento em sala de aula e no intervalo principalmente. Notamos que os alunos que estão participando do projeto Entrelace apresentam uma grande mudança no comportamento, estão menos agressivos”. Relato professor EMEF Instituto São José.

“Observo que alguns tem apresentado um nível de concentração maior e um senso crítico bem mais desen-volvido”. Relato professor CAIC – Maria Alves Carioca.

Os relatos acima comprovam que cada oficina realizada com os estudantes participantes dos LACES, o curso realizado com professores das esco-las participantes do projeto, o empenho e motivação dos educadores dos LACEs alcançou o êxito esperado.

Lembrando também do apoio importante de cada grupo gestor, funcionários das escolas, pais que acreditaram no projeto e incentivaram a participação dos seus filhos.

A equipe da Encine que se empenhou em dar todo o su-porte para que todas as ações acontecessem com a melhor estrutura possível, parceiros, apoiadores que abraçaram a missão da Encine e que juntos fizeram a diferença.

O patrocínio da Petrobras através do Programa Petrobras Desenvolvimento & Cidadania que acreditou na instituição e na ação que desenvolve-mos junto às escolas da rede pública de ensino.

Enfim, para realizar uma ação de transformação no campo da educação é necessário uma “rede” de co-laboração para que os desafios existentes nos proces-sos de ensino e aprendizagem sejam enfrentados de forma ampla, considerando a peculiaridade de cada “universo” escolar. Para alcançarmos uma educação de qualidade que atenda as necessidades reais do processo educativo é necessário conhecer, ouvir, par-ticipar, envolver todos e todas que fazem a educação no dia-a-dia. Comunicação e Educação...Temos caminhos e possibilidades é preciso acreditar e dar as condições

Raquel Maia é Educadora, Coordenadora Pedagógica da Encine/Entrelace.

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Apoio

Desenvolvimento e realização

Parceria no desenvolvimento

Patrocínio

ENTRELACELaboratórios de Comunicação Escolar

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