revista educa inova novembro-2016 -...

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GAMES LEVAM DIVERSÃO AO MUNDO DO APRENDIZADO Levados a sério e cada vez mais acessíveis, os jogos virtuais transformam a educação em algo mais interessante. Páginas 67 e 69 Páginas 67 e 69 Páginas 67 e 69 Páginas 67 e 69 Páginas 67 e 69 CHEGADA DA UDEMY AO PAÍS INAUGURA UM NOVO MODELO DE ENSINO Considerada o maior player do mercado de educação online do mundo, a empresa americana é parceira da Estácio no Brasil. Página 42 Página 42 Página 42 Página 42 Página 42 GRUPO ELEVA REUNIRÁ TODA SUA ‘EXPERTISE’ EM UMA ÚNICA ESCOLA Após três anos desenvolvendo um modelo próprio de ensino, grupo pretende reunir seu conhecimento na Escola que terá seu nome. Página 64 Página 64 Página 64 Página 64 Página 64 Tecnologia a serviço do conhecimento EDIÇÃO DE LANÇAMENTO • ANO I • Nº 01 - NOVEMBRO 2016

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GAMES LEVAMDIVERSÃO AO MUNDODO APRENDIZADOLevados a sério e cada vez maisacessíveis, os jogos virtuaistransformam a educação emalgo mais interessante.Páginas 67 e 69Páginas 67 e 69Páginas 67 e 69Páginas 67 e 69Páginas 67 e 69

CHEGADA DA UDEMY AOPAÍS INAUGURA UM NOVOMODELO DE ENSINOConsiderada o maior player domercado de educação online domundo, a empresa americana éparceira da Estácio no Brasil.Página 42Página 42Página 42Página 42Página 42

GRUPO ELEVA REUNIRÁTODA SUA ‘EXPERTISE’EM UMA ÚNICA ESCOLAApós três anos desenvolvendo ummodelo próprio de ensino, grupopretende reunir seu conhecimento naEscola que terá seu nome.Página 64Página 64Página 64Página 64Página 64

Tecnologia a serviço do conhecimento

EDIÇÃO DE LANÇAMENTO • ANO I • Nº 01 - NOVEMBRO 2016

2 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 3

CARTA AO LEITOR

Boa leitura!Enquanto uma parte do país convive com a alta tecnologia, de Primeiro Mundo, a

Educação brasileira, em muitos pontos, ainda é motivo de extrema preocupação. Emmuitos casos, sequer há um quadro-negro decente e giz. Computadores, nem pensar.Instalações adequadas, então, são luxo para poucos. Mais de 3 milhões de crianças eadolescentes ainda estão fora da escola, a maioria nas regiões Norte e Nordeste,excluídas pela pobreza, pela falta de mobilidade, porque precisam trabalhar ou porterem alguma deficiência.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) realizada em2014 e divulgada em meados de 2015 pelo Instituto Brasileiro de Geografia eEstatística (IBGE) mostram uma lenta evolução dos indicadores de educação. Hou-ve uma leve queda na taxa de analfabetismo, no número de analfabetos funcionaise uma melhora, nas pontas, no nível de instrução. Os dados verifcados ainda estãodistantes das metas do Plano Nacional de Educação (PNE), que prevê reduzir para6,5% a taxa de analfabetismo da população maior de 15 anos até 2015 e erradicá-la em até dez anos; e no mesmo período, reduzir a taxa de analfabetismo funcionalpela metade.

No entanto, a Educação é o investimento de melhor retorno individual e coletivoque se conhece, como comprovaram muitos países, com excelentes resultados. Edu-cação significa trabalho digno, independência, crescimento, distribuição de renda,cidadania, enfim. FOLHA DIRIGIDA sabe muito bem disso, pois é especialista notema há três décadas, primeiro com o jornal impresso, depois com a internet e, agora,com esta revista especial, novo formato do “Suplemento do Professor”, tradicional-mente publicado em outubro, em homenagem aos docentes.

Esta nova versão traz novo enfoque, em função dos avanços tecnológicos,ganha maior abrangência, pois é distribuída a mais de 10 miltomadores de decisões de instituições de ensino de todo opaís, sendo disponibilizada também no formato digital, parao público da recém-reformulada FOLHA DIRIGIDA On-line — com mais de um milhão de visitantes únicos pormês. Professores, dirigentes de instituições educacio-nais, pesquisadores, gestores públicos e estudantestêm acesso a este trabalho, que mantém a exce-lência jornalística do Grupo Folha Dirigida.

Os assuntos abordados são domaior significado, comoa escola do futuro, adefasagem da educa-ção analógica e osdesafios da educaçãosuperior a distância, entre ou-tros. Os gestores precisam estar ante-nados nessas novidades, que surgem com ve-locidade impressionante, apesar de a realidade dopaís ser bem outra, infelizmente.

Com esta modesta contribuição no meio impresso, que podeser encontrada também na versão online, esperamos ajudar a alcançar avançossignificativos na Educação brasileira, para que sejamos uma grande Nação. É anossa meta, além de fazer uma justa homenagem a todos aqueles que contribuempara a formação dos cidadãos. Por mais que a tecnologia se desenvolva, o serhumano continuará indispensável no processo educacional. Mudam os métodos,mas o toque pessoal jamais deixará de ser essencial.

Boa leitura, e apostemos no futuro!

4 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

CAPAEstratégia:

o desafio da conectividadeUm estudo da Cisco mostra que países com maior velocidadede acesso à internet nas escolas e universidades conseguem

turbinar a qualidade do ensino com o uso da internet eoutras ferramentas tecnológicas que dependem de

conectividade à rede. O levantamento foi feito nos EUA, naIrlanda, Nova Zelândia, no Uruguai e em Portugal. Página 37

MERCADO

Habilidades digitaisComo a Adobe ajuda a explorar o potenci-al criativo de professores e estudantes detodo o mundo com soluções tecnológicasem forma de ferramentas e outros recursosdigitais. Página 60

SEGURANÇA

Infomações na nuvemAlém de otimizar custos, o gerenciamento earmazenamento de dados por serviços de‘cloud’ ajuda a desenvolver aprodutividadee a organização e, consequentemente, aprestação de serviços, inclusive dos setoresligados à Educação. Página 54

OPINIÃO

Educação a distânciaCarlos Bielschowsky, presidente do Consór-cio Cederj, no Rio de Janeiro, fala sobre osdesafios da EAD no país diante da grandevelocidade dos avanços metodológicos e tec-nológios no setor. Página 10

CASE

Grupo TiradentesSaiba como o Grupo Tiradentes tornou-sepioneiro no Nordeste ao implementar re-cursos tecnológicos e investir em um siste-ma de monitoramento de recursos de in-formática. Página 18

ENTREVISTA

Guilherme CalheirosO diretor de Inovação e Competitividade doPorto Digital de Pernambuco fala sobre opotencial econômico do setor educacionalpara empresas de tecnologia e o sucesso daexperiência pernambucana. Página 12

TENDÊNCIA

A escola do futuroA geração Z, ou ‘millenials’, precisa en-contrar um ambiente mais propício ao usodas tecnologias nas escolas, atrelado auma estratégia pedagógica baseada nainovação. Página 48

MULTIPLICADORES

Educação básicaConheça as experiências das escolas que es-tão investindo em tecnologia da informaçãopara personalizar a educação, tornando oaprendizado mais atual e atraente para alu-nos e professores. Página 24

EXPEDIENTE

Débora ThoméEditora

Teresa PerrottaDesigner

ReportagemLuiz Fernando Caldeira (RJ)Paulo Chico (RJ)Felipe Simão (RJ)Renato Deccache (RJ)Alexandre de Miranda (RJ)Flávia Vargas (RJ)Larissa Siqueira (RJ)Giulliana Barbosa (RJ)Anderson Borges (RJ)Gustavo Portella (RJ)Igor Régis (SP)Juliana Borges (SP)

Impressãowww.folhadirigida.com.br

Rio de JaneiroRio de JaneiroRio de JaneiroRio de JaneiroRio de JaneiroRua do Riachuelo, 114 - Centro - RJCEP: 20230-014TTTTTel. fax:el. fax:el. fax:el. fax:el. fax: (21) 2461-0062

São PauloSão PauloSão PauloSão PauloSão PauloRua Barão de Itapetininga, 151 -Térreo - Centro - SPCEP: 01042-001TTTTTel. fax: el. fax: el. fax: el. fax: el. fax: (11) 3123-2222

Os artigos e opiniões de terceirospublicados nesta edição nãonecessariamente refletem aposição da revista

Fica proibida a reproduçãodas matérias sem a expressaautorização dos editorese sem a citação da fonte

INOVAÇÃO & educaçãoé uma publicação doGRUPO FOLHA DIRIGIDA

ÍNDICE

Filiada à

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 5

6 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

TENDÊNCIA

Flavia Vargas

Para as pessoas sem deficiência, atecnologia torna as coisas mais fá-ceis. Para as pessoas com defici-

ência, a tecnologia torna as coisas pos-síveis.” A citação de Mary Pat Radabau-gh, de 1993, na época diretora do Cen-tro Nacional de Apoio para Pessoas comDeficiência da IBM, já virou jargão en-tre os defensores da plena inclusão des-ses indivíduos.

Se a tecnologia, em seu sentido maisamplo, caminha na direção de tornar avida mais fácil a todos, a chamada Tec-nologia Assistiva (TA) nasce como umrecurso da pessoa com deficiência, ido-sa, com mobilidade reduzida ou comimpedimento temporário de realizaçãode alguma função. Ela tem por objetivonão só possibilitar a realização de tare-fas, mas também promover a participa-ção e independência dos usuários.

Rita Bersch, diretora da Assistiva Tec-nologia e Educação, além de membrodo Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) daSecretaria dos Direitos Humanos da

Presidência da República, explica quea TA pode variar muito, desde uma fer-ramenta simples e por vezes um jeitode fazer, até um computador controla-do pelo movimento ocular com softwa-res específicos para a acessibilidade.

“Para pessoas com ou sem deficiên-cia é inegável que o computador hojerevolucionou o modo como buscamoso conhecimento e como apresentamosnossas construções no processo deaprendizado. Por esse motivo, imaginarautonomia total no uso do computador,como é possível constatar hoje por usu-ários cegos, surdocegos, com grandesimpedimentos físicos e de comunicaçãooral, é uma grande revolução que trans-forma histórias de exclusão em históri-as de conquistas”, analisou.

A Convenção sobre o Direito dasPessoas com Deficiência (ONU, 2006),ratificada no Brasil pelos Decretos 186/2008 e 6.949/2009, afirma que “a fimde possibilitar às pessoas com defici-ência viver com autonomia e partici-

par plenamente de todos os aspectosda vida, os Estados Partes deverão to-mar as medidas apropriadas para asse-gurar-lhes o acesso, em igualdade deoportunidades com as demais pesso-as, ao meio físico, ao transporte, à in-formação e comunicação”.

O Ministério da Educação (MEC) es-tabeleceu, em 2008, a Política Nacio-nal de Educação Especial na Perspecti-va da Educação Inclusiva, documentoorientador para estados e municípiosorganizarem suas ações no sentido detransformarem seus sistemas educaci-onais em sistemas inclusivos.

Crítica das chamadas “escolas espe-ciais”, voltadas apenas para pessoas comdeficiência, a pedagoga Maria TeresaMantoan luta por uma escola totalmen-te inclusiva, que ela define como um lu-gar que garante acesso, permanência eparticipação de todos, no mesmo ambi-ente escolar, preservando assim o direi-to à diferença e à Educação, previsto nanossa Constituição.

O desafio a ser batidona Educação

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 7

TENDÊNCIA

“ENTRE 2003 E 2014, HOUVE UM AUMENTO

DE 198% DE PROFESSORES COM

FORMAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESPECIAL,

E 42 MIL ESCOLAS RECEBERAM RECURSOS

PARA ACESSIBILIDADE”

“Uma escola especial é uma escola exclu-dente, à parte, para os diferentes. A escola in-clusiva é onde se reconhece a diferença de to-dos nós, e não onde algumas pessoas diferen-tes de repente ganharam lugar. Não são os de-ficientes que são diferentes, nem os idosos ouos autistas, mas todos os seres humanos se cons-tituem na diferença”, defendeu.

Nas escolas, o serviço de Tecnologia Assis-tiva se materializa nas salas de recursos mul-tifuncionais onde acontece o atendimentoeducacional especializado. Nos últimos anosforam implementadas cerca de 40 mil salascom recursos de TA nas escolas públicas, ondeprofessores especializados podem identificarbarreiras à participação e ao aprendizado epropor recursos e estratégias que permitam oprocesso de inclusão.

Para Rita Bersch, quem deve desempenharo papel de protagonista é o aluno com defi-ciência. Professores, terapeutas e consulto-res em TA devem utilizar seus conhecimen-tos especializados para orientar o usuário natomada de decisão pela melhor TecnologiaAssistiva. “Tudo será construído a partir doestudo do caso. Quem é este estudante, quaisdesafios enfrenta, quais suas habilidades, asdificuldades, como é o ambiente escolar ondea Tecnologia Assistiva será utilizada. A me-lhor tecnologia sempre será aquela que re-

solve a situação problema.”Conforme explica a consultora, tudo muda

quando uma pessoa com deficiência estavafora e passa a se sentir dentro da escola, passaa demonstrar um potencial não imaginado, in-terferindo e colaborando com o meio, e nãosó recebendo informação passivamente.

“[Uma escola inclusiva é] uma escola ondeexistam escolhas e projetos dos próprios alu-nos, onde os conteúdos possam ser acessadosem múltiplos formatos e que cada estudantepossa agir e expressar-se de diferentes formasdentro do tema proposto para estudo, onde aavaliação não sirva pra classificar e comparar,mas para medir evoluções.”

8 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

Finep destinouR$120 milhões em recursos

para programas deinclusão em dez anos

HAND TALK- É um aplicativo gratuito onde Hugo, um intérprete virtual 3D,traduz áudio, texto e imagem do português para a LínguaBrasileira de Sinais (Libras)- Recebeu apoio de R$400 mil da Finep e já conta com mais de600 mil downloads e 80 milhões de traduções feitas- Foi escolhido em 2013 pelo Ministério da Educação paraequipar os tablets adquiridos para a rede pública de ensino- Eleito o melhor aplicativo social do mundo no World SummitAward Mobile, da Organização das Nações Unidas (ONU)

FINEP

TENDÊNCIA

A Financiadora de Estudos e Projetos (Fi-nep), vinculada ao Ministério da Ciência e Tec-nologia (MCTI), lançou em outubro de 2015 oedital Viver sem Limite. Com aporte de R$25milhões, o programa é voltado para projetosde inclusão social de pessoas com deficiên-cia, idosas e com mobilidade reduzida.

Além do Viver sem Limite, a Financiadoramantém investimentos no desenvolvimento dedispositivos, equipamentos, recursos, práticase serviços que promovem independência, au-tonomia, inclusão social e melhoria da quali-dade de vida das pessoas com deficiência.

“A Finep atua nessa área desde 2005. No pri-meiro chamamento público, o orçamento dispo-nibilizado foi de R$4 milhões. Ao longo dessesanos vem crescendo e, em média, posso dizerque nesses dez anos a gente deve ter investidoR$120 milhões. É significativo”, avalia MaurícioFrança, superintendente da Área de Tecnologiapara o Desenvolvimento Sustentável da Finep.

Segundo ele, o objetivo é sempre disponi-bilizar uma Tecnologia Assistiva para os gru-pos sociais que precisam vencer algum obs-táculo. “São 730 mil brasileiros que não con-seguem enxergar de modo algum, são maisde 3 milhões de brasileiros surdos: então, oobjetivo é chegar até essas pessoas por meioda disponibilização de inovações.”

A Finep participa de todo o ciclo de de-senvolvimento até a tecnologia poder chegar

ao mercado, o que pode demorar até dezanos. Entre os projetos, muitos têm o viés edu-cacional. Para Bruno Bonifácio, analista doDepartamento de Tecnologia para Educaçãoe Qualidade de Vida da Finep, o maior desa-fio é encurtar o caminho entre o que está sen-do produzido e as pessoas com deficiência.

“Num cenário de contenção de recursos, agente vai conseguir dar continuidade ao quedesde 2005 a gente vem desenvolvendo. Masem relação a outros países, temos muito a evo-luir no acesso da população. A nossa grandeluta, no fim das contas, é que essa tecnologiachegue a quem necessita.”

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Especialistas sãootimistas quanto à totalinclusão no Brasil

O último Censo Escolar, realizadopelo Ministério da Educação (MEC), in-dica um crescimento expressivo dasmatrículas de alunos com deficiênciana educação básica regular. Em 2014,foram registradas quase 900 mil matrí-culas e 79% delas em turmas comuns,o que representa 698.768 estudantesespeciais matriculados em classes co-muns. Se considerarmos somente as es-colas públicas, o percentual de inclu-são sobe para 93%.

Como comparação, em 1998, cer-ca de 200 mil estudantes com defici-ência estavam matriculados na edu-cação básica, sendo apenas 13% emclasses comuns.

Foram dados passos largos nos úl-timos anos, como a ampliação daconcessão pelo Sistema Único deSaúde (SUS), a implementação deprogramas pelo MEC na abertura desalas de recursos e financiamentos àsescolas, a criação de núcleos de de-senvolvimento e de um centro naci-onal de referência em TA. “Se falar-mos em acesso, ainda faltam 20%.Queremos chegar a 100%. Eu soubastante otimista e vejo que estamosaprendendo com as pessoas com de-ficiência”, planeja Bersch.

“O Brasil já avançou muito. Temosuma legislação avançadíssima, marcoseducacionais avançados. Claro que aescola precisa melhorar, mas nós nãopodemos esperar a escola melhorarpara todos os alunos deixarem de serexcluídos”, ressalta a pedagoga MariaTeresa Mantoan.

Segundo o MEC, 42 mil escolas járeceberam recursos multifuncionaispara acessibilidade e 57 mil tiveramverbas para adequação da estrutura paraatender melhor às necessidades dos alu-nos. Também houve um aumento de198% no número de professores comformação em educação especial, passan-do de 3.691 docentes especializados, em2003, para 97.459, em 2014.

BENGALA LONGA ELETRÔNICA- É um equipamento com sensores semelhantes a umsonar, que vibram no cabo da bengala diante de obstáculos- Cerca de R$30 mil foi o valor investido pela Finep noprojeto- A previsão é que custe em torno de R$500, enquanto umsimilar importado custa US$1.400- Em 2010, foi premiada com o primeiro lugar na categoriaprotótipos eletroeletrônicos no 24º Prêmio Museu da CasaBrasileira- Desde 2011 integra o Catálogo Nacional de TecnologiasAssistivas (Fortec)

VALE DAS MAÇÃS- É um jogo elaborado para Kinect, classificado comoserious game (tipo de game que não busca apenas divertir),com objetivo de recuperar pacientes com dificuldadesmotoras- Deve chegar ao mercado ainda este ano- Contou com R$252 mil da Finep- O game promete levar o ambiente virtual e interativo dosjogos para as sessões de fisioterapia e terapia ocupacional

DANIEL QUEIROZ-ND

FINEP

TENDÊNCIA

10 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

ARTIGO

Desafios daEducação Superiora Distância no Brasil

Carlos BielschowskyProfessor Associado do Instituto deQuímica da UniversidadeFederal do Rio de Janeiro, pesquisadorna área de Físico-Química Quântica.Presidente do Consórcio Cederje da Fundação Cecierj, tendo sidoresponsável pela construção doprojeto do consórcio Cederj epor sua implementação.Ex-Secretário Nacional de Educação aDistância do MEC no período 2007-2010, ficando à frente da implementaçãoda Universidade Aberta do Brasil, doprograma e-Tec Brasil, do programaNacional de Formação de Professores(plataforma Paulo Freire) edo programa ProInfo IntegradoOBrasil tem uma larga tradição

em educação a distância(EaD), já tendo ocupado posi-

ção de destaque internacional em algu-mas áreas, como na utilização intensi-va de ensino pela TV com o "Telecurso2º grau", "Projeto Minerva", "Salto parao Futuro" e tantos outros programas.Essa tradição estendia-se a outras mídi-as, tais como os cursos técnicos pauta-dos em mídia impressa com mediaçãopor correspondência.

E continuamos muito ativos nessestempos digitais. Segundo o Censo EaD2015/2016 da Associação Brasileira deEducação a Distância (Abed), a EaD mo-vimenta, no mínimo, 5.048.912 de alu-nos nas mais variadas áreas de conhe-cimento, níveis acadêmicos e tipos decursos. No ensino superior, são mais de1,4 milhão de alunos nas Instituições deEnsino Superior (IES) públicas e priva-das e mais de 130 mil na educação bá-sica de jovens e adultos. O programaNacional e-Tec Brasil (MEC) conta hojecom dezenas de milhares de alunos emcursos técnicos de nível médio e umnúmero ainda maior de estudantes fre-

quenta os cursos técnicos do sistema Se demais cursos de instituições priva-das. Sem contar com os milhões de alu-nos que fazem formação continuada nasUniversidades corporativas, bem comoas incontáveis matrículas dos alunos nosMoocs (Massive Open Courses) ofere-cidos no Brasil e no exterior.

No ensino superior, a modalidade adistância foi inaugurada por dois mar-cos principais: o curso de formaçãode professores em exercício da Uni-versidade Federal do Mato Grosso, em1994, e o primeiro vestibular aberto,que foi oferecido pela UniversidadeFederal Fluminense no contexto doconsórcio Cederj, em 1999. Naquelemomento, a educação a distância jáestava consolidada há décadas em inú-meros países, com milhões de alunosmatriculados.

Começamos tarde, mas avançamos ra-pidamente. Hoje, cerca de 18% do to-tal de matrículas no ensino superior éna modalidade EaD. A figura abaixomostra a impressionante evolução donúmero de alunos de graduação no sis-tema público e privado desde então.

Estar em constante sintoniacom os avanços no processo deensino e aprendizagem

É impressionante a velocidade dosavanços tecnológicos e metodológicosdestes nossos tempos. Quem poderiaimaginar, há 20 anos, que seria possívelutilizar, maciçamente, recursos de micro-computadores ligados à internet na edu-cação superior no Brasil? Atualmente, éimpensável não utilizá-los. Há poucomais de 5 anos, ainda era difícil imagi-nar uma utilização intensa de dispositi-vos móveis, sendo eles hoje essenciais.

Já começa a ser inviável não fazer usodas redes sociais como ferramenta noprocesso de ensino e aprendizagem, nãoutilizar a prospecção de dados (porexemplo, com o learning annalytics) napersonalização de trajetórias de apren-dizagem dos alunos, ou ainda, não uti-lizar Moocs* para vencer algumas tare-fas específicas da missão institucional.

O desenho instrucional de um siste-ma de educação superior a distância éaltamente personalizado, depende doperfil dos alunos e dos cursos ofereci-dos e precisa considerar os recursos dis-poníveis, de forma integrada, para faci-litar o processo de ensino e aprendiza-gem de seu público-alvo. E, como oconjunto de elementos instrucionaismuda rapidamente, é necessário reverconstantemente as estratégias de produ-ção de novos conteúdos e refazer asestratégias das disciplinas já ativas.

No caso do Cederj, nosso laboratóriode mudanças são as novas disciplinas.Hoje, planejamos cada semana da cons-trução do conhecimento do aluno emuma determinada disciplina, concate-nando o conteúdo programado no ma-

Número de alunos de EaD no Ensino Superior no Brasil

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 11

ARTIGO

terial impresso e em outras mídias comatividades de mediação presencial nospolos e de mediação à distância na pla-taforma e do processo de avaliação deaprendizagem, processo que denomina-mos de desenho instrucional integrado.

Nada trivial é rever periodicamente aspráticas pedagógicas das disciplinas quejá são oferecidas nas 15 diferentes car-reiras, somando, no momento, mais de700, sendo que parte delas foi construí-da há mais de dez anos e, por isso, foiplanejada sem elementos tecnológicoshoje imprescindíveis. O estudante esta-va, em certos casos, sujeito a duas expe-riências de aprendizagem distintas: aque-la presente na sala de aula virtual e a domaterial didático impresso somado à tu-toria presencial. Boa parte de nosso es-forço instrucional, hoje, é ocupado narevisão da docência dessas disciplinas.

Menciono o exemplo do consórcio Ce-derj, cujos alunos têm alcançado exce-lentes resultados no Enade (Exame Naci-onal de Desempenho de Estudantes), pois,em princípio, poderíamos continuar comoestamos, mas sabemos que se não nos atu-alizarmos, teremos uma evasão maior eos estudantes não poderão desfrutar dasmelhorias didáticas proporcionadas pelosnovos recursos tecnológicos e metodoló-gicos que surgiram nos últimos anos.

Qualidade na oferta de cursos na EaDEsta é uma temática da maior impor-

tância, que sofre de uma contradição in-trínseca: uma maior regulação, com oestabelecimento de regras rígidas vin-culadas à metodologia de docência naeducação a distância pode resultar emum menor aproveitamento da aplicaçãodas mudanças tecnológicas em curso e,por consequência, ocasionar a reduçãoda qualidade na oferta.

E por que ainda necessitamos de umaregulação com instrumentos detalhados seisso pode resultar em perda de qualidade?A resposta parece simples: algumas insti-tuições tendem a oferecer práticas educa-cionais em EaD de baixa qualidade, como agravante de que podem alcançar rapi-damente centenas de milhares de alunos.

E por que o fazem? Mediação (tutoriapresencial e a distância) custa caro, as-sim como bons polos de atendimentopresencial. Ter materiais instrucionais dequalidade também está longe de ser umapechincha. Além disso, oferecer um cur-

so com um bom conteúdo e correspon-dentes critérios de avaliação resulta emmaior evasão e consequente perda de re-ceita. Em resumo, é muito lucrativo ofe-recer um curso com conteúdos e avalia-ções superficiais, com pouca mediaçãoe tecnologia educacional frágil.

Como estabelecer uma régua dequalidade aceitável para essas questões?

Apesar de contarmos com um sistemaregulatório de excelência, tendo comoprincipais atores o INEP, o Conselho Na-cional de Educação e a Seres (MEC), pau-tados em larga regulação a respeito (por-tarias, instrumentos de avaliação, etc.),ainda não atingimos um equilíbrio nes-sa questão. Trata-se de um assunto mui-to complexo, até porque público-alvo,objetivos e carreiras são distintos em umpaís de dimensões continentais como oBrasil. Pecamos, em meu entendimento,em utilizar pouco o instrumento de su-pervisão já amplamente usado em pas-sado recente, que, bem aplicado, permitemaior liberdade no processo regulatório.

O problema do financiamentoe institucionalização da ofertadas instituições públicas

O equilíbrio entre a oferta de ensino su-perior público e privado é fundamentalpor diferentes motivos, entre eles, o fatode as universidades públicas serem res-ponsáveis pela maior parte da pesquisacientífica do país, que já ocupa a 13ª po-sição no mundo. Além disso, por força desua missão, a esfera pública fará sempreum desenho instrucional e ofertas de cur-sos mais voltados para a difícil questãode vencer as nossas brechas sociais.

Sem dúvida, as universidades públi-cas federais e estaduais, bem como osInstitutos Federais de Educação, são ato-res importantes na construção de umaeducação superior a distância de quali-dade, ajudando a criar um ambiente decredibilidade da EaD como um todo.

Enquanto a oferta do sistema privado éfinanciada pelas mensalidades dos alunos,no setor público, o sistema é financiadoprincipalmente pelo governo federal, comhonrosas exceções que têm financiamentomisto (federal e estadual), como ocorrenos estados de São Paulo (Univesp) e Riode Janeiro (Consórcio Cederj).

O principal financiamento público érealizado pela Universidade Aberta do

Brasil, criada em 2005, e instituído peloDecreto 5.800 de 8 de junho de 2006,na extinta Secretaria de Educação a Dis-tância do MEC, indo, posteriormente,para a diretoria de educação a distân-cia da Capes/MEC. Trata-se de um pro-grama vitorioso que alavancou a edu-cação a distância nas universidades pú-blicas, envolvendo, hoje, 106 IES (Uni-versidades Federais, Universidades Es-taduais e Institutos Federais de Educa-ção), que compartilham 597 polos deapoio presencial em todo o Brasil.

Como qualquer programa em constru-ção, o ensino a distância no Brasil pre-cisa ser periodicamente revisto. Nestemomento, defendo que se dê ênfase àinstitucionalização da EaD nas IES queparticipam da UAB, contemplando osseguintes aspectos principais:

• Uma maior estabilidade de financi-amento, que permita o ingresso de alu-nos em fluxo equivalente ao dos cursospresenciais. Esse tem sido um fator de-terminante no decréscimo recente dealunos da UAB.

• A distribuição do trabalho dos do-centes entre as atividades de ensino pre-sencial e a distância dentro da carga re-gulamentar de docência da matriz dosdiferentes departamentos das IES.

• Uma maior integração entre os pro-cessos de ensino e aprendizagem do ensi-no presencial e da educação a distância.

• Uma maior inserção dos alunos daeducação à distância nas atividades depesquisa e extensão, como ocorre comos alunos dos cursos presenciais.

Trata-se de grandes desafios, mas quese fazem pequenos diante de todo o po-tencial de inclusão social através do en-sino superior que a Universidade Abertado Brasil vem realizando em todo o país.

Como conclusão, expresso minhaconvicção na revolução positiva que aEducação Superior a Distância vem re-alizando no Brasil. Refiro-me não ape-nas à inclusão no ensino superior de es-tudantes que, em concomitância, traba-lham, moram em localidades anterior-mente não atendidas por universidadesou apresentam quaisquer outras carac-terísticas específicas dos perfis de bra-sileiros, mas também a todo o potenci-al de transformação do processo de en-sino e aprendizagem que vem sendo in-troduzido na metodologia de ensino emnossas universidades.

12 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

Guilherme Calheiros, observou queinovação é palavra-chave não apenaspara o sucesso do parque tecnológico,mas para qualquer negócio.

“É preciso inovar e ter a capacidadede se reinventar para permanecer com-petitivo nesse mercado tão dinâmico emque vivemos. Quem não inova, não so-brevive”, garantiu.

Em entrevista à Inovação & educa-ção, Guilherme Calheiros falou sobretecnologia da informação e observou

Porto Digital do Recife investe em inovação e enxerga no setor educacionalum grande potencial econômico para empresas de tecnologia

Alexandre de Miranda

OPorto Digital do Recife, eleitoem 2015 o melhor parque tec-nológico do país pela Associa-

ção Nacional de Entidades Promotorasde Empreendimentos Inovadores (An-protec), assumiu o desafio de tornar-seum dos principais pilares econômicosde Pernambuco. São 263 empresas tec-nológicas que faturam anualmente 1,35bilhão de reais. Até 2022, a meta é ter20 mil pessoas trabalhando em uma áreahistórica de 149 hectares, hoje quase

plenamente revitalizada, nos bairros doRecife e Santo Amaro.

O sucesso do porto em Pernambu-co e no Brasil está diretamente ligadoa uma palavra: inovação. Desde proto-tipagem à internet das coisas, passan-do pela construção civil até chegar emEducação, o Porto Digital segue na van-guarda porque preocupa-se em dar so-luções tecnológicas com eficiência.

O diretor de Inovação e Competiti-vidade Empresarial do Porto Digital,

está na contramão da sociedade’

‘Educação analógica

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 13

DIVULGAÇÃO

“É PRECISO INOVAR

E TER A CAPACIDADE

DE SE REINVENTAR PARA

PERMANECER COMPETITIVO

NESSE MERCADO TÃO

DINÂMICO EM QUE VIVEMOS.

QUEM NÃO INOVA,

NÃO SOBREVIVE”

que a área de Educação apresenta um grandepotencial econômico para empresas do ramode tecnologia e para instituições de ensino.“Existe um mercado em que estão saindo osprimeiros movimentos para conseguir introdu-zir a interação e a interatividade dentro de salade aula. Mas isso, nas escolas públicas ou pri-vadas, nas universidades, nas empresas de cur-sos técnicos, ainda tem muito o que evoluir.Essas empresas ainda têm muito o que apren-der e a desenvolver.”

De acordo com Guilherme, que também éeconomista e professor da Universidade dePernambuco (UPE), óculos 3D e realidade au-mentada são exemplos de ferramentas que de-vem fazer parte da nova escola. “Tecnologiada informação na veia com o que há de maismoderno”, previu o executivo.

Guilherme Calheiros observou ainda que oensino no Brasil, por ser majoritariamente ana-lógico, está na contramão da sociedade, que jávive na era digital. “Temos uma educação de-fasada, analógica, que afasta o aluno de dentroda sala ou que não potencializa a capacidadede aprender, de compartilhar.” Leia os princi-pais pontos da entrevista:

O que representa hoje, em termos tecnológi-co, de inovação e econômico, o polo para Per-nambuco e para o Brasil?Guilherme Calheiros - O Porto Digital se conso-lidou como um dos principais polos de desen-volvimento tecnológico do país. Ele tem capaci-dade de desenvolver soluções focadas na tecno-logia da informação e comunicação, tendo em-presas de destaque nacional e internacional. Oporto gera tecnologias para atender não só o Bra-sil, como diversas atividades fora do país.

Por que os melhores profissionais de tecnologiaestão no Recife? O diferencial está no ensino?O próprio Porto Digital surgiu pelo histórico daevolução da Universidade Federal de Pernam-buco através da Informática, na formação decapital manual altamente qualificado na tecno-logia de informação e comunicação. Não só pro-fissionais de graduação, mas também de pós-graduação, mestrado e doutorado. A capacida-de de formar, a evolução desses cursos, os in-vestimentos, o foco em pesquisa e a qualifica-ção de capital humano fizeram com que essacapacidade transbordasse para as demais uni-versidades e faculdades aqui da região. Essas uni-versidades também saíram formando. Elas cria-ram importantes cursos de tecnologia da infor-mação aqui na Região Metropolitana do Recife,

que acabou sendo um polo regional de capitalhumano, tanto nacionalmente quanto interna-cionalmente. Então, como a gente tinha a basemais importante para se ter inovação, que é ocapital qualificado, isso facilitou em muito a ca-pacidade de atrair investimentos e empresas paraa ocupação do polo tecnológico. Então, essa par-te da educação foi e é fundamental para fazercom que o Porto Digital seja hoje o que ele é.

O senhor acredita que inovação é uma palavra-chave para o sucesso do Porto Digital?Para o Porto Digital e para qualquer ramo hoje.É preciso inovar e ter a capacidade de se rein-ventar para permanecer competitivo nessemercado tão dinâmico em que estamos viven-do. Quem não inova, não sobrevive.

Gostaria que falasse sobre sua percepção doensino no Brasil. O senhor nota alguma mu-dança significativa ou a Educação no país nãoestá totalmente conectada com as transforma-ções tecnológicas?Tirando alguns casos pontuais de sucesso inte-ressante, o Brasil ainda tem uma educação ana-lógica, em 99% dos casos. Por outro lado, a po-pulação já é digital. Não estou falando aqui dapopulação de classe média ou classe média alta.As pessoas já estão conectadas, independente-mente disso. Quem não tem dinheiro vai com-prar um celular pré-pago com internet gratuitaou se conectar numa rede. Então, as pessoas es-tão conectadas. A dinâmica das relações sociaisjá é outra. Você trabalha com a tecnologia deinformação e comunicação. Você se comunicano ônibus, tem a tecnologia que te conecta emcasa. Dentro de uma sala de aula há um mode-

ENTREVISTA

14 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

O economista GuilhermeCalheiros considera que omodelo atual de educaçãotradicional é defasado,afasta o aluno da sala deaula e, ainda, nãopotencializa a capacidadede aprendizagem

DIVULGAÇÃO

lo de 500 anos. O professor lá na frente e osalunos ouvindo, sem nenhum outro formato, nãosó de uso de tecnologia, mas de outros forma-tos, já que as pessoas hoje em dia querem con-tribuir para a construção do conhecimento. Épreciso ter uma coisa mais engajada, mais cola-borativa, porque o aluno tem um papel muitomais relevante do que tem no histórico da nossaeducação. Falo em todos os níveis, desde o alu-no do nível fundamental até o cara que está fa-zendo doutorado ou pós-doutorado. No douto-rado é a mesma coisa. O professor está lá nafrente falando e o aluno está olhando para ca-deiras. E só de vez em quando ele tem a oportu-nidade de perguntar alguma coisa ao professor.Então, o modelo está defasado. Tirando algumasações, alguns projetos inovadores e relevantesde ensino no país, a gente tem uma educaçãodefasada, analógica, que afasta o aluno de den-tro da sala ou que não potencializa a capacida-de de aprender, de compartilhar junto com oconhecimento que se precisa para o que querque ele esteja fazendo, seja aprender a ler, apren-der Matemática, aprender alguma atividade téc-nica ou mesmo aprender a pensar.

Fale sobre os projetos de inovação do PortoDigital, sobretudo os que estão relacionadosà área de Educação.A gente tem empresas muito interessantes, comoa Joystick, que trabalha com a parte de educaçãoutilizando a área de gameficação para o aprendi-zado. A Joystick constrói uma narrativa daqueleconteúdo que se quer passar em uma interação

muito mais, vamos dizer, multimídia. Temos a Es-cribo, que trabalha com diversos produtos na áreade educação, mas o principal deles é na área deeducação e música. O aluno aprende a tocar vio-lão, piano, flauta e diversos instrumentos musicaisa partir de um software que interage diretamentecom ele. É um projeto que está hoje bem difundi-do, pois estão utilizando essa mesma tecnologiapara o ensino de música, que passou a ser obriga-tório nas escolas. Não tem professor de músicaque dê conta desse volume de alunos. Então, pro-fessores de diversas áreas, que não sejam apenasde música, podem aprender, utilizando essa ferra-menta para dar aulas de música. Temos ainda aempresa chamada Mídias Educativas, que tambémtrabalha com essa parte de educação técnica, for-mal. São todas empresas que trabalham com edu-cação, mas utilizam plataformas e metodologiasque usam fortemente a inovação e as tecnologiasda informação.

Acredita que ainda há muito o que fazer em tec-nologia para a educação e que esse mercado ofe-rece muitas oportunidades?Tem demais. Principalmente porque é um mer-cado que hoje está zerado. Hoje existe um mer-cado em que ainda estão saindo os primeirosmovimentos para conseguir introduzir a intera-ção e a interatividade dentro de sala de aula,mas isso, na minha escala, nas escolas, tantopúblicas quanto privadas, nas universidades, nasempresas de cursos técnicos, ainda tem muito oque evoluir. Essas empresas ainda têm muito oque aprender, muito o que se desenvolver.

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Impressoras 3D e realidadeaumentada são exemplos deferramentas que o diretorde Inovação do Porto Digitalacredita que devam fazerparte da nova escola

As tecnologias já causam impacto nos modelosde ensino e na forma de aprender no Brasil?Sim, totalmente. Não só nessa parte. Essa é umadas áreas em que a tecnologia da informação ecomunicação cresceu enormemente, mas issoestá em todas as áreas. A tecnologia da informa-ção é hoje, no nosso século, o que foi a energiapro século passado. Está em todas as coisas. Tudoo que você pensa em operar ou desenvolver pre-cisará da tecnologia da informação e comuni-cação de forma estrutural. Hoje não se imaginauma empresa que funcione sem energia elétri-ca. É a mesma coisa com a tecnologia da infor-mação, desde uma padaria até uma grande in-dústria. Você precisa dela para inovar e para cri-ar diferenciais competitivos para aquela deter-minada atividade.

E a tecnologia para a Educação?Para a educação é maior ainda, já que a educa-ção é a base de tudo, em que você tem toda aconstrução do conhecimento e faz com que esseconhecimento possa ser disseminado de formamuito mais abrangente, muito mais solidificada,se ele for feito de forma correta.

Como será a escola do futuro?Há diversas teses. Eu imagino que a escola dofuturo talvez seja a não-escola. Será outro pa-pel, totalmente diferente do que a gente conhe-ce como escola hoje. Com certeza, sem sala deaula. Os ambientes serão muito mais abertos.

As pessoas vão ali pegar o conhecimento queprecisam em determinada área, de acordo comsuas necessidades. Ao mesmo tempo que elaspegam, deixam um pouco de seu conhecimen-to para dar a sua contribuição para aquilo ali.Então, os modelos de hoje, aquele da salinha deaula fechada, não vão existir. Vai ser uma salaaberta com pessoas entrando e saindo, contri-buindo, construindo conhecimento.

E quais serão as ferramentas para esse novo mo-delo de escola?Serão utilizadas ferramentas como óculos 3D erealidade aumentada. Tecnologia da informaçãona veia com o que há de mais moderno. E o quetem por vir. Temos cada vez mais a interação dohomem com a realidade aumentada, com óculosvirtuais. Existem os chips, que já são implantadosem pessoas. Daqui a pouco as programações vãopoder ser feitas no próprio DNA. Então, existe umuniverso gigantesco no futuro para construir for-mas de educação. Vou até dizer que, no futuro, oaluno vai aprender por pílulas. Tudo é possível. Oconhecimento está aí pra ser aprimorado.

Ainda há espaço para novos empreendedores naárea de educação no Porto Digital?Há toda uma estrutura de suporte, de apoioem determinadas empresas e apoio àquelas já

FOTOS: DIVULGAÇÃOENTREVISTA

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ENTREVISTA

Reconhecimento:O Porto Digital do Recife foi eleito, em 2015,

como o melhor parque tecnológico do país pelaAssociação Nacional de Entidades Promotoras

de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)

Potencial:Atualmente, são 263 empresas tecnológicas instaladas no

local que faturam 1,35 bilhões de reais, me média, por ano. Ameta é ter 20 mil pessoas trabalhando no local até 2022

Grandiosidade:O Porto Digital ocupa uma área de

149 hectares e seu funcionamento revitalizouos bairros do Recife e Santo Amaro

constituídas na área do desenvolvimento dainovação e do empreendedorismo, aqui nonosso Porto Digital. O mercado está aí. Estáaberto, disponível, e precisamos saber chegara ele de forma estruturada. A educação real-mente é um mercado gigantesco e ainda mui-to pouco explorado, observando seu potenci-al hoje e onde ele precisa chegar.

Como o empreendedorismo inovador é estimu-lado no Porto Digital?A gente tem um programa de suporte à geração destartups, que hoje consegue dar suporte a todos ostipos de maturidade de um empreendedor. Desdeum aluno que está dentro da universidade, quetem uma ideia a empreender e quer fazer algumacoisa. A gente tem suportes como laboratório deprototipação, parcerias com universidades, labo-

ratórios dentro da própria universidade, que a gentechama de Pitch, em que a gente mobiliza, pegaesses meninos, orienta e dá suporte dentro da uni-versidade. Tem ações que trabalham aquele em-preendedor que já tem alguma ideia mais estrutu-rada, mais consolidada, que é o programa chama-do Mind the bizz, um programa de qualificaçãoem negócios, no qual você que tem uma ideia eainda não a validou no mercado, ainda tem queconstruir um modelo de negócios mais redondo,mais factível. Então, você tem esse programa dedez semanas que realizamos no Porto Digital emparceria com o Sebrae e o Centro de Informáticada Universidade Federal de Pernambuco. É um pro-grama interessantíssimo: um intensivo de dez se-manas e no final dele surge um empreendedor comum novo produto estruturado de forma que elepossa já implantar a ideia, ir atrás de captação derecursos ou mesmo entrar num programa de su-porte ao desenvolvimento. Temos também três in-cubadoras de suporte a empreendimentos já comum nível de estruturação um pouco maior, em quejá há um protótipo do produto, um modelo de ne-gócios, mas em que é preciso trabalhar mais a for-mação do empreendedor. O cara que entende atecnologia, mas está longe de entender as ferra-mentas de gestão, desde modelos de tributação,balanços, a parte montável. Tem de entender umpouco do mercado. Então, a gente trabalha a edu-cação na parte empreendedora. Também temosduas aceleradoras de empresa, a Jump Brasil e oCesar Labs, que já trabalham com empreendimen-tos que estão em um nível de maturidade maior.São startups, mas que já têm mercado, já emitemnota fiscal, já faturam, já têm produtos, mas preci-

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ENTREVISTA

sam ser remodeladas ou reestruturadas pra ganharescala e acessar mercados em um volume muitomaior. Essas aceleradoras preparam essas empre-sas para captar recursos e as fazem alavancar. Éum período menor. São cinco meses em que agente trabalha para que elas se tornem empresasescaláveis e possam ser investidas em maior volu-me. Por fim, temos o programa chamado DeepDive, que é um programa de aceleração internaci-onal e trabalha as startups mais consolidadas, quejá têm um produto maduro, estão bem estrutura-das no mercado nacional, mas que precisam en-tender como se dá a dinâmica do mercado inter-nacional. A gente faz aceleração de oito semanasdessas empresas no Vale do Silício para conectá-las a esse mercado internacional. Então, trabalha-mos nesse conjunto de programas e ações: os pro-jetos que vão desde o aluno na universidade pen-sando em empreender, até startups que já fatu-ram, já estão consolidadas e precisam ampliarsua visão de mercado para se conectar com omercado internacional, o mercado mais dinâmi-co nesse setor, que é o Vale do Silício.

A internet das coisas já é uma realidade?Hoje ela já é uma realidade, só que ainda não tema escala que a gente sabe que vai ter daqui a al-guns anos. As tecnologias da internet das coisas jáexistem, mas ainda são de custo relativamente altopara ganhar escala e volume. A internet das coisastrata de determinadas operações que não precisa-rão mais ser feitas por humanos. Serão conversa-ções entre equipamentos. Desde dispositivo de re-conhecimento de padrões de imagem, que reco-nheça, por exemplo, uma pessoa no elevador e já

saiba o andar no qual ela precisa ir. Outro exem-plo é estar de frente para uma porta e ela abrirautomaticamente. É aquele clássico exemplo dageladeira inteligente que, na sexta-feira, ao esca-near e verificar que não tem uma garrafa de cerve-ja, ela toma conhecimento e vai encomendar maiscerveja do mercado. Em uma situação de pegarum Uber ou um táxi, já haver a programação deantes dele chegar, de já ter passado na padaria parapegar o pão, no mercado para retirar uma bandejade ovos ou ter passado na escola para buscar seufilho. Depois disso tudo, o Uber ou o táxi vai lhepegar para fechar o percurso e levar você para casa.Essas formas que vêm sempre quando se fala eminternet das coisas: os objetos se comunicarementre si e gerar, a partir de sensores e atuadores,conversações que tomam decisões por nós, umavez previamente definidas, ou que a inteligênciaartificial permite. Hoje em dia não faz sentido umsinal de trânsito ser temporizado. Simplesmentese poderia, através imagem, verificar em deter-minada rua se há pedestres para atravessar e ovolume de carros parados e, assim, definir qual otempo em que o sinal vai abrir e fechar de cadalado da rua, sem a necessidade de ser temporiza-do ou ter alguém em uma central temporizandomanualmente cada um desses sinais. Tem que serautomático, naquele fluxo. Se em determinadavia está vindo muito mais carro do que em ou-tra, as coisas automaticamente já botam um tem-porizador conectado com todos os sinais paraque aquele fluxo seja liberado. Se não há ne-nhum pedestre para atravessar, por que parar osinal? A tecnologia das coisas é um pouco disso:os objetos tomando decisões por nós e tornan-do nossas vidas mais fáceis.

O Centro de Estudos e Sistemas Avançados do Re-cife (C.E.S.A.R), por funcionar dentro do Porto Di-gital, garante um deferencial aos seus alunos?O C.E.S.A.R é uma das principais instituiçõesde pesquisa de tecnologia da informação nopaís. Sempre foi muito avançada a sua capaci-dade de se reinventar e reinventar tecnologiaspara diversas indústrias, nacionais e internaci-onais. O C.E.S.A.R possui um braço, que é oC.E.S.A.R.EDU, que é a própria faculdade, umcurso reconhecido pelo MEC, que tem toda umametodologia específica de geração de conhe-cimento muito distinta, muito mais inovadora,uma daquelas exceções que eu mencionei. OC.E.S.A.R hoje é uma referência não só na par-te de inovação, como na parte de educaçãotambém, na formação de pessoas.

Colaborou Vitor Seta

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CASE

Giulliana Barbosa

Foi-se o tempo em que as universi-dades seguiam os mesmos pa-drões. Até pelo menos a década

de 1980, quase todas eram basicamen-te uma extensão das escolas. Os alunosingressavam para se aprofundar em de-terminadas áreas que seriam, futuramen-te, seus campos de atuação profissio-nal. E para que esse processo obtivesseêxito, eram contratados professores comalto grau acadêmico. Hoje, não bastaapenas isso. É certo que todo estudante

busca uma instituição de ensino comessas características, a fim de ter umaboa colocação no mercado de trabalhoe construir uma carreira sólida.

Todavia, ele quer mais. E esse mais épossível. Com o processo de globaliza-ção cada vez mais crescente em todo omundo e as tecnologias cada vez maiságeis, hoje “o céu é o limite” no campoacadêmico, e Educação e Inovação es-tão cada vez mais atreladas.

Imagine isso: início da década de

1990, Nordeste brasileiro. Uma insti-tuição de ensino de Sergipe decide fa-zer matrículas 100% online, acaban-do com as filas quilométricas e o pre-enchimento em papel. Uma atitudeque para nós, hoje, soa como corri-queira e até mesmo banal. Mas nãopara aquela época, quando os primei-ros computadores ainda não haviamnem chegado ao país.

Foi o que fez a então Faculdade Tira-dentes, que hoje tornou-se o Grupo Ti-

A viagem tecnológica do Grupo Tiradentes

'Conhecimentosem limites'

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Grupo Tiradentesinveste em sistema demonitoramento dosrecursos de informática

DIVULGAÇÃO

radentes de Educação. O diretor de Inteligên-cia Competitiva do grupo e professor universi-tário da Universidade Tiradentes (Unit), Domin-gos Sávio Alcântara Machado, conta que “àépoca, havia apenas um provedor de internetem Sergipe, mas que não atendia às necessida-des da instituição. Por isso, a Unit criou o seupróprio provedor e começou a importar com-putadores dos Estados Unidos. Surgia ali umadas maiores redes de computadores do estado,com mais de seis quilômetros de fibra ótica in-terligando os equipamentos”.

O pontapé inicial foi dado dez anos antes, nadécada de 1980. Segundo Domingos, o profes-sor Jouberto Uchôa de Mendonça (um visioná-rio, que desde a criação do Colégio Tiradentes,em 1962, sempre teve como foco a inovação)decidiu adquirir os primeiros computadores deSergipe e montar um laboratório de Informática,além de investir na formação de capital humanoe criar o curso de Processamento de Dados. A

partir daí, a então faculdade desenvolveu seu pri-meiro sistema de Contabilidade e o primeiro sis-tema integrado de bibliotecas do Estado.

É fato que antes da globalização e das NovasTecnologias de Informação e Comunicação o pro-cesso educacional oferecido pelo Grupo Tiraden-tes era bem diferente do atual. Domingos, quetambém foi diretor de Tecnologia da Informaçãoe pró-reitor de graduação da Universidade Tira-dentes, relembra como tudo funcionava antes.

“O processo antigo era muito focado na pre-sencialidade. Com os investimentos em tecno-logia e o dever social de levar conhecimento aregiões onde o acesso até então era inviável, oGrupo Tiradentes passou a democratizar o aces-so à Educação Superior, deixando de ter umaescola centralizada no conteúdo do professore na sala de aula e passando a criar outrosambientes de aprendizagem. Assim, a tecnolo-gia passou a disseminar um conteúdo univer-sal e a sala de aula se tornou um espaço de

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CASE

Campus da Unit, emSergipe: média de 12 milconectados simultaneamente

ampliação das discussões, de networking, deaprimoramento do conhecimento adquirido.”

Embora grande parte do foco esteja hoje nasinovações tecnológicas, o diretor de Inteligên-cia Competitiva do Grupo Tiradentes demonstrapreocupação também com aqueles que são fun-damentais para fazer qualquer universidade fun-cionar: os docentes. “Eles precisam ser capaci-tados para utilizar as novas tecnologias. Hoje,os alunos aprendem de maneira diferente, assalas de aula são muito heterogêneas e o docen-te precisa acompanhar o desempenho desses es-tudantes, individualmente, para oferecer a cadaum deles a dose necessária de um determinadoconteúdo. Exatamente por isso, a tecnologia nãopode ser mais um peso para o professor, massim, algo que facilite a vida dele”, pontuou.

Cada vez mais conectado às Tecnologias daInformação, o Grupo Tiradentes largou na frentee uniu-se à empresa Google. Essa parceria estáfundamentada em duas grandes iniciativas. A pri-meira delas é o Google for Education, que ofere-ce aos alunos e professores ferramentas que per-mitem a interação em qualquer lugar, a qualquerhora e em qualquer dispositivo. O Google Class-room é uma dessas ferramentas, que possibilitamcriação, organização e entrega de tarefas em nu-vem e uma maior interação com os alunos.

“A parceria disponibiliza para a comunida-de acadêmica do Grupo Tiradentes todas as pla-taformas — hangouts, Gmail, softwares de apre-sentação de documentos, de planilhas — inte-gradas ao Magister, portal acadêmico das IESdo Grupo. A segunda iniciativa envolve estru-tura dos laboratórios de informática. Como ainformação está na nuvem, em tablets, celula-res e no Tiradentes Chromebook, há uma espé-cie de notebook que salva os arquivos em nu-vem e substitui o caderno. É possível que nem

“COMO A INFORMAÇÃO ESTÁ NA NUVEM,

EM TABLETS, CELULARES E NO TIRADENTES

CHROMEBOOK, HÁ UMA ESPÉCIE DE

NOTEBOOK QUE SALVA OS ARQUIVOS

EM NUVEM E SUBSTITUI O CADERNO. É

POSSÍVEL QUE NEM TENHAMOS MAIS

LABORATÓRIOS DE INFORMÁTICA NO FUTURO”

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CASE

DIVULGAÇÃO

“HOJE, 90% DOS ALUNOS ACESSAM

DISPOSITIVOS MÓVEIS, E POR

CAUSA DISSO O GRUPO TIRADENTES

CONSEGUIU FIRMAR PARCERIAS COM

OS PRINCIPAIS PLAYERS DE MERCADO, COMO

A CISCO E A HP, ALÉM DO GOOGLE”

DIVULGAÇÃOAula em laboratório chromebooks:

fruto de parceria com o Google

tenhamos mais laboratórios de informática nofuturo”, vislumbrou Domingos.

O representante do Grupo Tiradentes, quetem experiência na área de Ciência da Com-putação (com ênfase em Redes de Computa-dores), e na área de gestão, em PlanejamentoEstratégico, Inovação e Inteligência Competi-tiva, acrescenta. “É importante ressaltar quetoda essa tecnologia do Google já é utilizadaem sete de cada oito universidades norte-ame-ricanas. No Brasil, o Grupo Tiradentes é umdos pioneiros e coloca a Região Nordestecomo precursora.”

Já no que se refere aos alunos, Domingosesclareceu como eles são beneficiados com es-sas inovações. “Estamos cada vez mais flexibi-lizando para que os estudantes tenham acessoao conteúdo a qualquer hora e em qualquerlugar, e para que o professor tenha a oportuni-dade de estabelecer um diálogo com os alunosem outros ambientes além da sala de aula. Onosso slogan é ‘Conhecimento sem Limites’, eisso vale também para a tecnologia. Espaço ili-mitado, acesso 24 horas e com diversidade demídias”, destacou.

Quando o Grupo Tiradentes iniciou a im-plantação do projeto Tiradentes Digital, de acor-do com o diretor, houve o entendimento de quenão bastava colocar um quadro digital ou en-tregar um computador por aluno, se não hou-vesse uma metodologia que suportasse tudoisso. Além disso, ele explica que era precisodeixar todos os ambientes acadêmicos conec-tados, fazer com que qualquer espaço dentrodas instituições virasse um espaço de conecti-vidade, colaboração, ensino e aprendizagem.“Hoje, 90% dos alunos acessam dispositivosmóveis, e por causa disso o Grupo Tiradentesconseguiu firmar parcerias com os principaisplayers de mercado, como a Cisco e a HP, alémdo Google”, enfatizou Domingos Sávio.

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ARTIGO

Inovar a Educar é Preciso

AntónioMoreira TeixeiraDiretor do Departamento deEducação a Distancia da Universida-de Aberta/Lisboa (Portugal), diretordo IBSTPI (International Board ofStandards for Training, perfomanceand Instruction), professor

Numa interessante reflexão, apropósito da obra do empre-sário Alencar Burti, Ricardo Vi-

veiros propõe a seguinte máxima: “Ino-var é preciso; educar também”. [Vivei-ros (2016), Empreender é viver: a traje-tória de Alencar Burti, São Paulo: Edito-ra Gente]. A ideia subjacente é a da im-portância do investimento na educaçãopara conseguir qualificar a economia bra-sileira, dado o efeito promotor que estatem na geração da inovação e do empre-endedorismo. Todavia, uma análise maisprofunda do problema permite concluirque para a máxima ser verdadeira, elatambém deve ser lida no sentido inverso,ou seja, da necessidade do investimentona própria inovação da educação.

Na verdade, vivemos hoje um mo-mento de transição no domínio educati-vo. Como lembra o acadêmico inglêsAlan Tait, numa feliz expressão, a paisa-gem está a mudar no campo da educa-ção. Tal transformação resulta da neces-sidade de responder aos novos e com-plexos desafios da nossa sociedade. As-sim, nos últimos anos, temos vindo a as-sistir à expansão vertiginosa de práticaseducativas inovadoras enriquecidas pelatecnologia e também de formas virtuaisde ensino e aprendizagem. Este fenóme-no tem muitas e variadas causas. Desdelogo, a globalização económica e a con-sequente necessidade de internacionali-zação da oferta educativa. Mas, tambémo impacto impacto social e cultural daassimilação das novas tecnologias, emparticular dos dispositivos móveis e dasredes sociais, que contribuiram para aconstrução de uma sociedade em rede,para o qual nos alertou o grande soció-logo espanhol Manuel Castells.

O processo de reorganização em rededa nossa sociedade tem criado a necessi-dade de adoção de novas formas de apren-dizagem não só mais flexíveis, do pontode vista espacial e temporal, mas tambémmais abertas e personalizáveis, colaborati-

vas e escaláveis. Exige-se que os novos for-matos e modelos de aprendizagem sejamadaptáveis a situações e contextos diferen-ciados, desmaterializados, mais eficientese sustentáveis. Para os novos estudantes,ou aprendentes, da geração do milénio, éfundamental que cada um possa escolherpor si próprio, e de acordo com a sua cir-cunstância e interesse, o local, o momen-to, a forma e o ritmo como aprende. Paraalém disso, deve poder alterar o seu per-curso de aprendizagem no decurso domesmo e optar pelo modo como essaaprendizagem é avaliada e até certificada.

Nesse sentido, os próprios conceitosde educação a distância, de educaçãoaberta e de eLearning têm vindo a trans-formar-se igualmente, abrindo lugar anovos formatos mais compatíveis como paradigma da educação em rede. Esteé o caso, particularmente, da educaçãoaberta. O sucesso extraordinário do fe-nómeno dos cursos online abertos emassivos (Massive Open Online Cour-ses - MOOC) veio comprovar, com umarevigorada força, a importância da ino-vação em rede das práticas educativas.

Em apenas seis anos, o fenómeno tor-nou-se viral. Segundo dados recolhidospela Class Central, o número de utiliza-dores registados neste tipo de oferta ul-trapassou já os 35 milhões em 2015, ten-do quase duplicado o valor do ano ante-rior. Mais de 600 universidades em todoo mundo oferecem presentemente cercade 6.000 cursos abertos e online. Estesdados identificam uma evolução extra-ordinária, uma vez que, em 2011, ape-nas estavam registados 160.00 usuários.

O sucesso sustentado destas práticastem conduzido instituições e decisorespolíticos a olhar para a aprendizagemaberta como especialmente adequada nãoapenas à promoção da inclusão social,mas também à inovação pedagógica e àinternacionalização da oferta educativa.

Este novo cenário pujante da inova-ção educativa baseada tecnologia veio

A Emergência de Uma Nova Cultura de EducaçãoAberta, Flexível, Escalável e Personalizável

modificar definitivamente a visão tradi-cional da escola e da universidade. Acentralidade da sala de aula e do pró-prio professor no processo educativo foisubstituída por uma nova realiadade frag-mentada em milhões de ambientes per-sonalizados de aprendizagem, cada qualcentrado num estudante específico.

Naturalmente, este fenómeno não dei-xa de encontrar resistências e críticas. Adificuldade maior resulta da confluênciano nosso percurso de aprendizagem aolongo da vida de vários tipos distintos deaprendizagem. Por exemplo, qualquer umde nós pode frequentar um curso abertoe livre, adquirindo no final um certifica-do. Essa certificação comprova uma de-terminada experiência de aprendizageme tem valor como tal. Mas, não é um di-ploma académico formal. Neste sentido,é clara a distinção. Todavia, cada vez maisse dá um aproximação entre contextos for-mais, informais e não fomais de aprendi-zagem. Assim, por exemplo, a frequênciade MOOCs constitui já hoje parte das ati-vidades curriculares de muitos cursos uni-versitáriso formais. Tanto pode ser utiliza-

“NATURALMENTE,ESTES NOVOS AMBIENTESIMPLICAM ALTERAÇÕES NASINFRAESTRUTURAS DASINSTITUIÇÕES EDUCATIVAS,COMO MAIS E MELHORESCOMPUTADORES DISPONÍVEISPARA ESTUDANTES EPROFESSORES, REDESINFORMÁTICAS REFORÇADAS,ESPAÇOS LETIVOS PREPARADOSPARA A UTILIZAÇÃO DASTECNOLOGIAS”

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ARTIGO

do como um recurso de aprendizagem,no âmbito de uma exeriência de sala deaula invertida, como constitir uma partedo programa de uma unidade curricularou de um seminário, e até mesmo substi-tuir uma unidade inteira. Neste contexto,a mistura entre os contextos diferencia-dos de aprendizagem (formal, informal enão formal) coloca hoje um conjunto deproblemas novos e complexos.

Todavia, os novos cenários de apren-dizagem de natureza impõem novos va-lores e uma nova cultura educativa. Comefeito, a aplicação de conceitos tradicio-nais na avaliação de experiências inova-doras pode ser inapropriada. A título deexemplo, a crítica mais comum que secoloca aos MOOCs relaciona-se com asbaixas taxas de conclusão dos seus parti-cpantes. Este juízo, porém, deriva de umaperceção incorreta, porque baseada numcultura de aprendizagem diferente da ve-rificada num MOOC. Num curso onlineaberto, muitos dos participantes têm ex-periências de aprendizagem bem sucedi-das sem realmente concluírem o curso ourealizarem qualquer avaliação, o que seprende com a granularidade diferencia-da destes programas e a diferente motiva-ção de quem os frequenta.

À medida que a aprendizagem se tor-na mais personalizada e flexível, a ofer-ta formativa tem também de se diferen-ciar, exigindo, consequentemente, umanova cultura institucional, com novosvalores. No atual contexto globalizado,o desafio da aprendizagem passa, pois,necessariamente pela sua sustentabili-dade em larga escala, pela sua escala-bilidade e pelo potencial de partilha deconhecimentos e experiências.

Na verdade, a ideia que nos deve nor-tear no campo da educação no contex-to presente não é já a da acumulação etransmissão do conhecimento, mas a dacapacidade de o mobilizar para a mu-dança, ou seja, de o tornar um conhe-cimento transformador, o qual conduzaà mudança social positiva.

Neste sentido, a questão que se co-loca aos educadores não pode ser ape-nas de como educar para a inovação,de como transmitir um conjunto de co-nhecimentos e experiências, mas decomo poderemos construir em colabo-ração com os estudantes uma experiên-

cia de conhecimento que os autonomi-ze, enquanto agentes de mudança.

É neste contexto que se coloca neces-sariamente a questão da inovação na edu-cação, em particular a que se prende coma utilização da tecnologia. Com a difusãode um conjunto de inovações pedagógi-cas, que vão desde os cursos abertos aosambientes virtuais imersivos, dos elemen-tos de gamificação à renovada importân-cia dos instrumentos de descrição analíti-ca da aprendizagem, uma nova geraçãode universidades e escolas, organizadascomo ambientes de aprendizagem híbri-dos, abertos e flexíveis, está a emergir.

Naturalmente, estes novos ambien-tes implicam alterações nas infraestru-turas das instituições educativas, comomais e melhores computadores dispo-níveis para estudantes e professores, re-des informáticas reforçadas, espaços le-tivos preparados para a utilização dastecnologias. De igual modo, é impor-tante reforçar a quantidade e qualida-de dos conteúdos digitais disponíveisna rede, preparar os professores para acompreensão e utilização da tecnolo-gia em contexto de inovaçao pedagó-gica, e assegurar bons níveis de litera-cia digital dos estudantes. Todavia, nãobasta apenas este investimento. Impor-

ta também introduzir uma cultura ge-neralizada de partilha de conhecimentoe colaboração, uma atitude aberta, deespírito crítico e sentido de inovação.

É um fato que nas últimas décadas, umpouco por todo o mundo, muitas têm sidoas iniciativas e o investimento público nainovação tecnológica do ensino. Como éconhecido, nem sempre esse esforço temconduzido a resultados positivos ou ani-madores. Muitas dessas iniciativas obede-ceram apenas a critérios de oportunidadepolítica ou tendências internacionais.Como aponta o relatório “Students, Com-puters and Learning: Making The Connec-tion”, da OCDE (2015), a utilização inten-siva da tecnologia não melhora por si sóos resultados de aprendizagem. É a sua uti-lização enquadrada em estratégias peda-gógicas devidamente desenhadas e vali-dadas que permite alcançar esse objetivo.A chave é, pois, a inovação pedagógica.

Inovar a educar é preciso, cada vezmais! Como lembrava Andreas Schlei-cher, os sistemas escolares necessitam deencontrar formas mais eficientes de inte-grar a tecnologia no ensino e na apren-dizagem, de modo a cumprir as promes-sas do novo milénio. Esta é uma respon-sabilidade coletiva das comunidadeseducativas e da sociedade em geral.

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leiras — inclusive as particulares. É jus-tamente neste segmento que o país apre-senta maior atraso em relação a experi-ências inovadoras em curso, sobretudo,em países da Europa.

As explicações para tamanha resistên-cia às mudanças são muitas e passam, fun-

Conheça exemplos de escolas que apostam nas tecnologias paraseduzir os alunos e incrementar a aprendizagem

Paulo Chico

Ficar à margem na adoção das TIC’sno espaço escolar pode resultarem diversos ônus. O aluno tam-

bém necessita perceber-se produtivo,sendo capaz de realizar, produzir, cons-truir e criar.” A afirmação é de Joice Lo-pes, coordenadora institucional de Tec-

nologia Educacional do Colégio Viscon-de de Porto Seguro. Com três unidadesprincipais, sendo duas na cidade de SãoPaulo e outra em Valinhos, a instituiçãoé uma espécie de oásis no deserto derecursos tecnológicos que insiste em cer-car a maioria das escolas básicas brasi-

EVENTOS FVPS

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MULTIPLICADORES

damentalmente, pelo conservadorismo depais e professores — em contraste com osdesejos de uma geração de alunos que jánasceu mergulhada em tecnologias. “Osmotivos são os mais variados. Eu conside-ro como um dos principais a falta de umapolítica clara e objetiva sobre o uso dasTIC’s no segmento do ensino fundamentalII e médio. Há muitos conteúdos, platafor-mas, aplicativos no formato REA (Recur-sos Educacionais Abertos), existem redesde educadores globais que colaboram en-tre si. A grande maioria dos nossos alunos

hoje tem acesso a um smartphone. Se nós,professores, utilizarmos este recurso de for-ma a atender um novo jeito de ensinar eaprender, daremos um salto importantenesse processo”, aponta Joice.

A proposta de reforma do ensino mé-dio, apresentada em setembro pelo go-verno Michel Temer, inicialmente apon-tou itens polêmicos, como a supressão dedisciplinas. Porém, mais uma vez, nadasugeriu no sentido de aproximar as esco-las das tecnologias. “O grande pernam-bucano Paulo Freire me ensinou que é

preciso fazer a leitura do mundo parapoder fazer a leitura da palavra. A escolaprecisa ser menos abstrata. Deve partir domundo que o seu aluno está para cons-truir algo maior, o conhecimento. Partirda música que ele curte, do filme que elevai ver e comenta com os colegas, do as-sunto que mais lhe interessa, do rap quevai dançar... Uma escola abstrata afastaas crianças e os adolescentes que ali es-tão. Do jeito que está, a escola não é for-mal... Temos, em média, uma escola for-mol, que preserva alguns cadáveres”, con-dena o filósofo Mário Sérgio Cortella.

“O Visconde de Porto Seguro desenvol-ve há muitos anos o uso das TIC’s. Há sem-pre a preocupação constante em atualizar-se sobre as tendências, as necessidades, autilização de um critério que permita ava-liar qual é o impacto positivo e de melho-rias que surgem. A nossa área de tecnolo-gia educacional tem várias frentes que atu-am de forma não linear e que atendem alu-nos e professores de todos os níveis e emtodas as áreas”, relata Joice Lopes.

Para quem prefere o exemplo prático àteoria, a educadora cita uma experiênciaconcreta, em pleno curso. “Em 2014, lan-çamos o projeto Tablet para os alunos de9º ano. Todos os alunos e professores destasérie receberam um iPad. O objetivo foitrazer para a sala o iPad como apoio à co-laboração, acesso à informação, expressãoe representação das ideias e pensamentos.Essa mudança exigiu a integração da tec-nologia com o currículo, trouxe nova for-ma de interação entre os envolvidos. Hoje,todos os alunos de 9º ano, 1º e 2º EnsinoMédio têm um iPad para seus estudos. Eaté 2018 avançaremos com a adoção dotablet na lista de material escolar. A im-portância está no processo, em como oaluno aprende. E em como o professoraprende a aprender com as TIC’s. Esseúltimo considero ser o maior ganho. Éconstante o relato de maior interesse eengajamento quando as ações incluem autilização das TIC’s.”

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Personalização da aprendizagem é a tendência

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Colégio Bandeirante,de São Paulo, mantémtodas sua estruturade comunicaçãoarmazenada em nuvem Outro pioneiro no incremente de TIC’s apli-

cadas ao processo de ensino é o Colégio Ban-deirantes, também localizado em São Paulo, nobairro da Vila Mariana. A instituição já se utilizada parceria com a Microsoft desde o extinto pro-grama Live@Edu, que na época basicamente ofe-recia o e-mail e o armazenamento do OneDri-ve. Por volta de 2010, o colégio migrou toda suaestrutura de e-mail, que se utilizava de servido-res internos, para a nuvem da Microsoft. A mu-dança inicial foi acompanhada de uma capaci-tação para utilização do novo webmail.

Em meados de 2012, o Bandeirantes inicioua migração para o Office 365. Com os demaisbenefícios que a parceria oferecia, a aplicabili-dade pedagógica começou a se solidificar, prin-cipalmente por meio de ferramentas de integra-ção, como SharePoint, OneDrive for Business,OneNote, Office para alunos e professores. Asplataformas de LMS trouxeram maior dinamis-mo às aulas, possibilitando rápidas avaliações,com apuração de resultados imediatos.

A partir dos primeiros investimentos estavaaberta a porta para uma entrega diferenciada.“Com tanta possibilidade de interoperabilidadede informação decidimos que a mobilidade e oBYOD eram necessários para fazer esta ‘máqui-na’ funcionar. Fornecer um equipamento ‘do co-légio’ nunca nos pareceu boa opção. A ideia éque o aluno tenha o ‘seu’ dispositivo, com a suacara, seus aplicativos pessoais, aliados aos peda-gógicos, trazendo uma melhor experiência, semrestrições ou políticas para dispositivos ‘corpora-tivos’. Com esta estratégia, a adesão foi imediata,e o tablet já faz parte do cotidiano desses estu-dantes, seja na atividade em sala de aula, nosintervalos, na biblioteca ou simplesmente tiran-do uma foto da matéria escrita na lousa para con-sulta futura”, apontou Alexandre Cury, gerente deTecnologia da Informação do Bandeirantes.

O especialista defende a tese de que os paisnão são o gargalo dos avanços: em geral, elesassimilam bem as inovações, apoiam e gostamprincipalmente da velocidade da informação.“Ter acesso a dados dos filhos, em tempo real,sabendo o que acontece em sala de aula, dá aospais a possibilidade de redirecionarem os esfor-ços nos estudos. Eles podem ainda ajustar even-tuais problemas de comportamento, e se comu-nicar facilmente com a instituição. A cada novatecnologia ou melhoria, somos mais exigidos naexatidão da informação e no tempo em que elaé disponibilizada. Este é um bom desafio.”

Diretor da instituição, Hubert Alquéres escre-veu recente artigo que ajuda, e muito, a com-preender as apostas feitas pelo colégio. “As mai-ores dificuldades estão no ensino médio, quepermanece com um currículo excessivamenteacadêmico e inteiramente desconectado da re-alidade do mercado de trabalho. Por isso, é pou-quíssimo atraente para os jovens. Prova disso sãoa elevadíssimas taxas de evasão. O país está in-teiramente em descompasso com o mundo. Aeducação vive hoje um momento de transição,em escala planetária. Nossas salas de aula e omodo de ensinar deveriam estar acompanhan-do novos tempos. É inexorável que as escolasestejam muito diferentes em poucos anos.”

Joice Lopes segue a mesma linha. “No cená-rio em que se apresenta a era digital, as tecnolo-gias têm o potencial de personalizar o processode ensino-aprendizagem, contribuindo para umdos grandes desafios: a adoção de um ensinoindividualizado. O professor que se reconhececomo protagonista de sua prática e usa as TIC’sde modo crítico e criativo, coloca-se em sinto-nia com as linguagens e símbolos que fazemparte do mundo do aluno. Aproxima-se dele.Conquista o respeito, pois procura entender ouniverso de conhecimentos dos estudantes”.

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Papel do professor e investimentos

Salas de robótica, comunsnos laboratórios maker,estão se tornando cada vezmais comuns nas escolasque investem nastecnologias educacionais

FOTOS: EVENTOS FVPS

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Se falar de educação é discutir limites, estestambém estão presentes na equação que levaem conta fatores como tradição e inovação.“Certamente existe um limite para uso de tec-nologia em sala de aula, ainda mais quandofalamos de interdisciplinaridade, ou de fixar umcontexto explicativo e didático. Aqui, no Ban-deirantes, fixamos uma premissa básica na apli-cação de tecnologia: em primeiro lugar, o pro-fessor deve estar confortável com as ferramen-tas disponibilizadas. Se por um momento eledecidir que não tem o ferramental necessário,não sentir segurança em aplicar tal ferramentaou simplesmente não estiver confortável, elenão precisa usar, e não precisa se justificar so-bre. A área de tecnologia do colégio está sem-pre à disposição para auxiliá-lo e nunca parajulgá-lo. Só assim é possível estabelecer umarelação de confiança. A ruptura não é uma op-ção”, explicou Alexandre Cury.

Joice Lopes defende a inserção das TIC’s comoalgo natural. “Se observarmos pelo lado inovadorda aplicação das TIC’s na educação, não acho queexistam limites. Assim como os livros fazem parteda cultura educacional, as TIC’s deveriam fazerparte de forma simples e dinâmica, num contextoem que todos os aparatos disponíveis ficassem àdisposição e fossem utilizados conforme as deman-das apresentadas. Dessa forma, alunos e professo-res poderiam escolher os melhores recursos e fer-ramentas de acordo com a necessidade do projetoou a habilidade a ser aprendida. É preciso quebraro modelo tradicional. No Visconde de Porto Segu-ro, iniciamos em 2016 o nosso currículo de letra-mento digital, que prevê o ensino de programaçãopara os alunos de ensino fundamental I. Para 2017,avançaremos com esse currículo para as turmasde 6º e 7º anos”, revelou.

Na questão de investimento é praticamenteimpossível mensurar o nível de recursos necessá-rios, por parte de uma instituição de ensino, até aaplicação de ferramentas em tão larga escala. Obásico é contar com conexão com internet, ante-na Wifi, alguns computadores, softwares e acessoa plataformas open source. Um caminho cada vezmais adotado é a parceria com empresas que hojeinvestem em projetos de implementação de tec-nologias. Não gastar com estrutura própria é umaalternativa para otimizar os recursos.

No Bandeirantes, além de professores e alu-nos, os responsáveis também têm contas no Offi-ce 365 para envio de comunicações pedagógicas.Se utilizando dos benefícios da parceria, os custos

são extremamente atraentes. No final de 2014, ocolégio concluiu a migração de todos seus servi-dores internos, de arquivo, ERP, banco de dados,autenticação, para a nuvem - Microsoft Azure. Ale-xandre Cury garantiu que, durante todos esses anos,a viabilidade deste tipo de investimento terceiriza-do foi plenamente demonstrada junto à direção,contando com sua aprovação. Os benefícios, dis-se ele, foram logo revelados. E são incontestáveis.

“Em relação às outras escolas, vejo muito des-conhecimento quando falamos de ‘nuvem’. Os di-retores têm medo em relação à segurança dos da-dos, disponibilidade e preço. Não vou dizer queacertamos sempre, muito pelo contrário! Erramos,e aprendemos com nossos erros. Mas hoje temosa mais absoluta certeza que este é o caminho. Fi-car pensando em investir em equipamentos e ser-vidores é um erro tremendo. Em primeiro lugar,pela obsolescência natural dos componentes, a es-cola sempre terá que investir em novos equipa-mentos, mais espaço em disco, soluções de ba-ckup, energia, ar-condicionado, segurança, entreoutros custos diretos e indiretos”, enumerou Cury,que segue em sua análise.

“O armazenamento em nuvem dá liberdadepara a área pedagógica: se um professor chegacom um novo projeto que vai demandar X Tera-bytes de espaço em disco, e mais X capacidadesde memoria RAM, no modelo tradicional a res-posta imediata é ‘não’! Afinal, quem vai com-prar tudo isso, em tempo hábil, e depois deixarparado? Ninguém! Na nuvem, em apenas umclique, o professor já sai com seu projeto viabi-lizado. Quando o termina, um outro clique ‘di-minui’ a conta imediatamente”.

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Tecnologia não é tudo.Mas ajuda bastante

Para os adeptos da tecnologia como iní-cio, meio e fim, segue o recado de AlexandreCury, para quem as coisas, definitivamente,não se dão bem assim. “O papel da tecnolo-gia não é de protagonista absoluta. Quemachar que, a partir dela, conseguirá substi-tuir por completo o modelo tradicional deensino estará fadado ao insucesso. A tecno-logia é, na verdade, uma coadjuvante de luxo.Eu diria, mesmo, algo necessário para umaeducação de qualidade e adaptativa à neces-sidade do aluno. Já aprendemos que apre-sentar o mesmo modelo para todos faz comque alguns fiquem desmotivados. O segredoé conhecer os pontos fortes e fracos de cadaum, e temos a certeza que isso é impossívelsem o apoio da tecnologia”, sentenciou.

Se, por si só, não resolvem a equaçãopor inteiro, as tecnologias exigem das esco-las atenção ao que acontece a sua volta. “Es-tamos sempre buscando novas soluções eparceiros. Também somos bastante assedia-dos. Normalmente, de início, não descarta-mos nenhuma das opções. No mínimo, va-mos conhecer, precificar e manter contato.Estamos sempre participando também dasmelhores e maiores feiras de tecnologia edu-cacional, como a ISTE. Fazemos adequaçõesem ferramentas que normalmente ninguémpensa em utilizar na educação. Desde o iní-cio do ano estamos utilizando o Power Bi daMicrosoft, consolidada em outras áreas. Pormeio dela, é possível identificar graficamen-te e rapidamente os alunos que precisam dealguma ajuda, em qual disciplina, em queárea, seja a partir da verificação de notas efaltas, ou mesmo apoio comportamental”.

Mais do que uma decisão binária — ade-rir ou não às tecnologias, eis a questão? —o desafio que se apresenta às escolas é umaprova de equilíbrio. “O primeiro passo é aescola decidir qual caminho seguir, se vai ounão disponibilizar recursos. O grande desa-fio está nas mãos do professor: é saber do-sar estes dois momentos. Sentir a turma, ve-rificar a viabilidade do conteúdo que será ex-plicado... Qual melhor modelo para cadacaso? É possível ter uma aula completamen-te tecnológica e outra didática, no quadro.Mas, perceba: mesmo este quadro, esteja eleescrito a pilot ou giz, certamente será foto-grafado pela maioria dos alunos, com seussmartphones”, brincou o especialista.

Está vendo só? Não tem jeito. É melhoraderir à tecnologia. De uma forma ou de ou-tra, também nas salas de aula, ela para sem-pre estará presente.

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Vivendo e aprendendo a jogar

EVENTOS FVPS

O maior desafio para a nova gera-ção de educadores é utilizar a tecnolo-gia para colocar o aluno como prota-gonista da aula. “Imagino o professorcomo um gestor de projetos: ele pro-põe um desafio de estudo com objeti-vos claros, orienta os grupos de alunos,que preparam seus trabalhos e os apre-sentam para toda a classe e para o ges-tor — o professor. Nesta dinâmica, oaluno se sente valorizado! E aprendepelo desafio, pela consulta online, pe-los acertos e erros! Afinal, não é assimque aprendemos depois de adultos? Porque não começar mais cedo?”, questi-onou Alexandre Cury.

Em 2016, o Bandeirantes iniciou oprojeto de STEAM Education, onde osalunos têm aulas com dois, três, até qua-tro professores, alguns fixos, outros vo-lantes. A proposta é interdisciplinar. Namesma aula podem estar mestres de Ge-ografia, Matemática e Artes. Os estudan-tes são provocados com um desafio reale prático envolvendo as disciplinas docardápio do dia. Os mestres só vão ori-entando as atividades e analisando ca-racterísticas dos alunos, tais como par-ticipação, desenvoltura, apresentação,resultado final. Assim, a avaliação é fei-ta também a partir de competências ehabilidades, e não simplesmente comnotas frias, desprovidas de percepção.Durante essas atividades, os grupos po-dem trabalhar com impressoras 3D a

cortadores de papel. Isto é, vale de tudo.Dos equipamentos mais rudimentaresaté às mais inovadoras das tecnologias.

“Quando falamos de tecnologia emsala de aula, creio que algumas esco-las pensam em implantação em 100%dos casos, em massa, algo igual e obri-gatório para todos. Isso é um erro! Éimpossível! Estamos falando de profes-sores diferentes, e a escola deve res-peitar estas diferenças, e dar a opçãode quem, quando e como usar. Não dápara ser ditatorial e dizer: ‘agora quecompramos, todo mundo tem queusar!’. Se for feito assim, já começouerrado, e a única certeza é que vai ter-minar logo! A palavra-chave em tudoisso é capacitação. É preciso saber se-duzir os professores, mostrando os be-nefícios... Nunca jogar algo novo eachar que todos vão fazer o mesmo!São pessoas e não robôs!”, filosofouAlexandre Cury.

Joice Lopes defendeu uma posiçãoconceitual. “Mesmo jovens professoresresistem ao uso das TIC’s, porque sen-tem-se mais seguros em reproduzir omodelo aprendido. O professor nãoprecisa de treino. Precisa é reconhecerque está formando pessoas, e que a es-trutura cognitiva de aprendizagem já éoutra, e que cabe a nós reconhecer apotencialidade dos recursos midiáticos.E que podemos aprender com os alu-nos num modelo colaborativo.”

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Interação é a palavra de ordem. ParaGianesi, o aluno não aprende simples-mente vendo ou escutando. Necessita equer bem mais do que isso. “Precisa re-fletir, experimentar, errar, refletir sobre oerro, até dominar o conhecimento no ní-vel desejado. Isto requer que tudo isso sejalevado em conta dentro da sala de aula.Nas palavras de Lee Schulman, professoremérito da Stanford University e da Car-negie Fundation for Advancement of Tea-ching e especialista em formação de do-centes e avaliação do ensino, quem apren-de precisa falar, e quem ensina precisa es-cutar, para poder avaliar e dar retorno. Amaioria dos professores ainda acredita queo processo é o contrário”, lamentou.

Longe de crítica aos estudantes, Irineu Gianesi defende que tudo deveservir de suporte ao Aprendizado Centrado no Aluno

Paulo Chico

Oimportante não é o que o pro-fessor vai ensinar, e sim o queo aluno vai aprender. E quan-

do digo aprender não se trata apenas deconhecer o conteúdo, mas de saber comoe quando aplicá-lo, saber avaliar fenôme-nos a partir do conhecimento e ser capazde criar coisas novas a partir dele.” Foiassim que o diretor de ensino, aprendiza-gem e assuntos acadêmicos do Insper Ins-tituto de Ensino e Pesquisa, Irineu Giane-si, definiu o conceito do Aprendizado Cen-trado no Aluno — tendência que vem ga-nhando espaço nas instituições de ensinosuperior, e que tem nas tecnologias apli-cadas à educação companheira de viagem.

“O processo de aprendizado é mais efi-

caz quando o aluno está motivado paraaprender. Intrinsecamente motivado, comodizemos. Há formas de construir a experi-ência de aprendizagem de forma a induziresta motivação”, apontou o especialista,mestre em Engenharia de Produção pelaEscola Politécnica da USP. “Há hoje umainfinidade de novas ferramentas emergin-do que podem afetar positivamente o pro-cesso de ensino e aprendizagem. Na mai-oria das vezes, elas estão relacionadas àprópria experiência de aprendizagem, per-mitindo outras formas de acesso ao co-nhecimento e processos mais colaborati-vos, ou à análise de dados gerados, o quepermite compreender melhor e individu-alizar a mediação da aprendizagem.”

é mesmo o fim

TENDÊNCIA

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Primeiro passo é reforma curricular

Um laboratório dedicado à inspiração

Irineu Gianesi, diretorde ensino, aprendizageme assuntos acadêmicosdo Insper Instituto deEnsino e Pesquisa

DIVULGAÇÃO

TENDÊNCIA

Ao lado dos recursos tecnológicos, ou mes-mo antes deles, é preciso pensar no ponto departida: os currículos, que precisam ser refor-mulados. “Isso é necessário em função de vári-os fatores: demandas de mercado, mudança noperfil dos alunos e no seu estilo de vida, altadisponibilidade de informação acessível e gra-tuita, acesso a novas tecnologias e avanço doconhecimento em ensino e aprendizagem. Oscurrículos hoje requerem uma visão mais abran-gente. O foco sempre foi no conteúdo e é ne-cessário pensar no desenvolvimento de compe-tências e nos níveis cognitivos que se almeja parao aprendizado. No Insper o desenvolvimento doscurrículos dos cursos de Engenharia, iniciadosem 2015, seguiu este novo processo e gera re-sultados muito interessantes”, contou.

Gianesi se refere aos três cursos de Enge-nharia lançados no ano passado — Computa-ção, Mecânica e Mecatrônica. O método deensino é baseado no Olin College of Enginee-ring, de Boston (EUA), em que os alunos são osprotagonistas do próprio saber. “É uma experi-ência fantástica presenciar esses jovens real-mente assumindo a responsabilidade pelo seuaprendizado. Esta primeira turma é especial.Ela traz o DNA da inovação e do pioneirismo,pois se engajou no desafio de construir o seu

curso junto com o corpo docente.”Ao final do primeiro semestre, foi possível ter

ampla amostragem do que havia sido produzidopelos estudantes, em pouco mais de quatro me-ses: brinquedos inspirados em animais e avalia-dos por crianças de ensino fundamental, na dis-ciplina de Natureza do Design, jogos e progra-mas de software realmente utilizáveis e úteis, nacadeira Design de Software, e uma estação mete-orológica, fruto dos estudos de Instrumentação eMedição, foram alguns exemplos. Experiênciascriativas e inovadoras, propiciadas por um ambi-ente dedicado à experimentação: o Fab Lab.

“O Fab Lab é uma plataforma aberta de cria-ção que tem como objetivo reunir pessoas cria-tivas de diversas áreas para, de forma colabora-tiva, materializar ideias por meio do uso da fa-bricação digital. O conceito foi criado pelo Cen-ter for Bits and Atoms, um laboratório do MIT(Massachusetts Institute of Technology), em Bos-ton. Ele criou uma rede que conta com quase300 laboratórios ao redor do mundo. O InsperFab Lab é o primeiro Fab Lab brasileiro dentrode uma escola de engenharia, e tem como obje-tivo ser um conector entre estudantes, empreen-dedores, interessados no movimento maker e acomunidade em geral. Aprender com os pares eexecutar projetos são estratégias fundamentaispara que a inovação e o aprendizado surjam.”

Como um laboratório de fabricação digital,o Insper Fab Lab conta com impressoras 3D,cortadora a laser, fresadoras de controle numé-rico, cortadora de vinil, além de outros equi-pamentos mais comuns para trabalho em ma-

deira e aço, como furadeiras, lixadeiras e serrade fita. E não há preconceitos em relação aotempo. Nem toda tecnologia é de ponta, em-bora algumas utilizem agulhas.

“Temos inclusive máquinas de costura, an-tecipando que muitos protótipos poderiam re-querer esse tipo de operação na sua confec-ção. Bancadas diversas, inclusive para mon-tagem eletrônica completam a infraestrutura.Mas vamos lembrar que este é um ambientedinâmico que deve se adaptar às necessida-des impostas pelas diversas disciplinas. E alirecebemos não só os alunos dos três cursosde Engenharia, mas também os estudantes deAdministração e Economia. Todos interagem,todos estão se estimulando a pôr a mão namassa para realizar seus sonhos e projetos”,empolgou-se Gianesi, que soma quase três dé-cadas de atuação como consultor de empre-sas como Embraer, Natura, 3M, Unilever, Sou-za Cruz, Rhodia e Itautec-Philco.

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 31

Professor é peça vital para a inovação

TENDÊNCIA

Tamanha evolução depende da adesão do pro-fessor. “Para tudo dar certo, o principal desafio éatrair o corpo docente adequado. Os professoresdevem ser empreendedores, comprometidos como ensino, com habilidade e motivação para traba-lhar com alunos de graduação que vão lhes desa-fiar a todo o momento, pois diferente de outrosambientes de graduação, não estão passivos, es-perando que os professores lhes mostrem o cami-nho. Há um problema geracional, pois a maioriados professores atuais não aprendeu com tecno-logia e muitos não se sentem confortáveis comela. Se pode trazer benefícios para o aprendiza-do, ela pode também lhe aumentar a carga detrabalho, sem que necessariamente isto seja re-conhecido pela faculdade. Por isso, acredito queo foco de quem deseja a mudança deva ser a cons-cientização e formação do professor.”

A mudança de mentalidade, e de comporta-mento, precisa ocorrer também na direção das ins-tituições de ensino. “Essas estão entre as organiza-ções que mais apresentam resistência a mudan-ças. Seja por seus processos de governança cole-giados ou pelo poder que está nas mãos do diri-gente, que é o profissional especialista. Se o diri-gente for um professor, embora muitos deles te-nham um espírito empreendedor e busquem cons-tantemente a inovação na sua atividade, acreditoque a maioria ainda não enxergue com clareza osbenefícios que a tecnologia pode lhe trazer.”

Para o pesquisador, há que se ter cuidado commodismos e exageros de interpretação. Menos doque uma ‘revolução’, o emprego das tecnologiasna aprendizagem representa uma ‘evolução’. “Atese de que elas vieram ‘refundar’ a educação éum discurso de quem vende tecnologia... Na ver-dade, o que pode ‘refundar’ todo o processo éjustamente o conceito de Aprendizagem Cen-trada no Aluno. Veja que não se trata de um con-ceito novo e está baseado em sólida pesquisaacadêmica, mas paradoxalmente, é ainda pou-co difundido no ensino superior. Sua aplicaçãopode se beneficiar de tecnologia, mas absoluta-mente não requer sua utilização, pois é pratica-do em algumas instituições há muito tempo,muito antes de a tecnologia estar disponível.”

De concreto, resta a certeza de que há mui-tas opções para se percorrer o longo caminhoaté o amadurecimento da formação dos alunosbrasileiros — e que as tecnologias podem aju-dar a imprimir velocidade à viagem. “A carênciade educação de qualidade no Brasil é tão gran-de que quem se propuser a prestar um serviçode qualidade com eficiência sempre terá espa-ço. Obviamente, aplicar as inovações em favordeste binômio — qualidade no aprendizado eeficiência — só pode favorecer as instituições.Mas não devemos nos esquecer que a tecnolo-gia é apenas um meio. O fim é mesmo o apren-dizado do aluno.”

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ARTIGO

Qual deve ser aEstratégia Educacionalna Era Digital?

Stavros P.XanthopoylosEducador, Fundadore Diretor da SPX Consultoria,Diretor Internacional da ABED

Vivemos um momento impar noMundo de hoje, passando por umafase de transição com o alto im-

pacto da tecnologia na vida do indivíduono âmbito pessoal, profissional e educaci-onal. Vimos a possibilidade plena de inte-ração do usuário com a internet e suas apli-cações, com a introdução das ferramentasda Web 2.0, e a sociedade em rede tomarcorpo por meio das redes sociais media-das por computadores e nossos dispositi-vos smart, como descreveu Tapscott. Inten-sificamos nossas relações entre indivídu-os, grupos ou instituições com interessesconvergentes e as relações de muitos commuitos. Essa nova globalização caracteri-za uma quebra de barreiras mais profundaque o movimento da globalização mercan-tilista que vivemos a partir da década de80 do século XX, pois gera um ambientede pontos, ou hubs, potencialmente co-nectáveis conforme interesses das partesem gerar essas relações, transcendendoqualquer limite. Pois, essa nova configura-ção de conectividade e interação cria umanova dimensão de comunicação atravésde um ciberespaço de integração que nosune virtualmente nessa realidade.

Os movimentos de Recursos Educaci-onais Abertos (REA), iniciados pelo MITquando lançou o OCWC (Open Cour-seware Consortium), em 1999, hoje OEC,abrindo a totalidade de mais de 1000 deseus conteúdos a quem quisesse acessar, ea introdução de MOOC’s (Cursos Massi-vos Online Abertos), lançados neste forma-to em 2011, oferecidos gratuitamente eoriundos das maiores e melhores universi-dades do mundo trazem um novo panora-ma no oceano que banha a educação su-perior em todos os níveis, pois a maiorparte do conteúdo comum está disponí-vel na internet, hoje. Por outro lado, te-mos o fenômeno da integração quase queinerente à genética dos indivíduos nasci-dos sob a regência dessas tecnologias,denominados “nativos” digitais, em dico-tomia com a geração dos “imigrantes”digitais, trazendo os desafios de preparar

os ambientes educacionais para gerarmoscidadãos digitais, entendendo-se aqui queesse esforço deve permitir que todas asgerações possam ser efetivas como cida-dãos e profissionais nessa nova era globalda economia do conhecimento.

A dinâmica de relacionamento entreas partes nos modelos tradicionais e for-mais de ensino e aprendizagem preveemalunos, professores, conteúdo e proces-sos de avaliação/certificação, próprios, en-quanto esse novo cenário permite o cru-zamento de qualquer um destes entes ouelementos, compondo o novo mercadopotencial. Além disso, é previsto pelaUnesco para 2030 que teremos mais de400 milhões de alunos potenciais para oensino superior, além do desafio premen-te de capacitar os imigrantes digitais paraas novas condições de vida e do mercadocom maiores demandas profissionalizan-tes. O formato taylorista da educação estácom sua validade vencida e não apto aatender as novas demandas e muitas uni-versidades e instituições de ensino irãodesaparecer se não adequarem o seu mo-delo. Atualmente, o único país que esta-beleceu uma ação nessa direção e estádesdobrando de forma efetiva uma políti-ca governamental é a Coreia do Sul.

As argumentações introdutórias acimanos levam a muitas reflexões e trazem umgrau de complexidade enorme na defini-ção das estratégias educacionais futuras,pois como dizia a letra de um dos hinosdo rock mundial, Another Brick in theWall, do Pink Floyd, que critica os siste-mas de educação e a postura do profes-sor como sendo “simplesmente mais umtijolo na parede”, pode estar com seus diascontados, ou seja a Síndrome do Tijolona Parede, definição própria, será por li-vre arbítrio da instituição, do professor oudo estudante, inclusive, pois a escolha deser tijolo, parede ou construtor da obraprima será de cada um, independente doseu papel no processo da aprendizagem.

Algumas das principais premissas,mencionadas acima, desse novo cenário

vislumbram vertentes que devem ser con-sideradas para estabelecimento da estra-tégia nessa nova era da Educação no am-biente digital. As tecnologias de integra-ção permitem que se estabeleça uma dis-tinção entre educação premium ou deacesso, caracterizando estratégias de ni-cho com impacto significativo nos aspec-tos relacionados à eficácia operacionaldos processos educacionais, com impac-to direto na sustentabilidade do negócio.

Outra variável fundamental está asso-ciada à forma de cobrar a oferta, cujo for-mato pode ser pago, grátis ou “freemium”,deguste parte e pague o que achar conve-niente. Modelos de ofertas abertas em todae qualquer instituição intensificam-se acada dia, onde os componentes “aberto egratuito” não são mais exclusivos das Uni-versidades Públicas ou Abertas. Necessa-riamente a componente aberta terá queestar presente nas ofertas permitindo aces-so e vantagens, como a disponibilidade evisibilidade do conteúdo, prestar um ser-viço à sociedade, a possibilidade da me-lhoria e complementação do conteúdo ea cobrança para o aprofundamento daaprendizagem ou a certificação, porexemplo, como é feito hoje em muitasempresas de MOOC’s.

A decisão sobre o escopo de atuação,local ou global, também é importante eestrutural na estratégia da instituição. Pois,a mobilidade da população traz amplas

“O ALUNO MAIS ATIVO,A FACILIDADE DE ACESSO ÀINFORMAÇÃO, A INTEGRAÇÃO EVISÃO SISTÊMICA APLICADA AOPROCESSO DE APRENDIZAGEMACELERAM O PROCESSO DEFORMAÇÃO DO INDIVÍDUO, ASSIM HÁUMA TENDÊNCIA DE REDUÇÃO DOSTEMPOS DE DURAÇÃO DOS CURSOS”

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 33

ARTIGO

oportunidades de ofertar cursos em todosos níveis nesse escopo. A estrutura seráintegrada por rede própria ou com parce-rias? Essa questão é fundamental para ummundo cada vez mais conectado.

À medida que as redes informais deconhecimento e aprendizagem expan-dem, a necessidade de certificação mi-gra de um mercado de certificações for-mais para reconhecimentos entre paresou inferências de conquista ou aquisi-ção de habilidades ou competências,como é o caso dos “badges” quando nãohá necessidade de certificação formal.Porém, os indivíduos que optarem porauto estudo e consequente desejo decertificação formal poderão buscá-la eminstituições que irão especializar-secomo certificadoras ou em aquelas queoptarem por também ofertar certifica-ção de aprendizagem.

As novas cadeias de valor do mercadoeducacional trarão novos entrantes, tam-bém, principalmente as empresas de co-municação e editoras que possuem acer-vo enorme de conteúdos com alta quali-dade e em diversas mídias, alguns gruposinternacionais já caminham nesta direção,Além de novos elos de fornecedores deserviços, em todas as áreas, destacando-seas áreas de informática e comunicação, asTIC’s, para apoiar o mercado tanto na ca-deia de suprimento dos processos de en-trega quanto nas atividades internas do ne-gócio. Assim, a configuração da estruturapassará necessariamente por decisões es-tratégicas de o que fazer versus o que ad-quirir ou construir em parcerias.

As principais variáveis para definiçãoda estratégia estrutural foram apresenta-das acima. Como fica o método ou omodelo pedagógico? Bem, no que se re-fere ao método de ensino, Comenius,onde estiver, estará contente, pois sua fra-se, em sua obra “Didactica Magna”, de1638, que dizia, “era necessário desen-volver um método de ensino em que osprofessores lecionem menos para que osalunos possam aprender mais”, finalmentedeverá se fortalecer nas estratégias de en-sino como premissa atual. Hoje, diferen-temente de meados da década de 90,quando somente alunos que estudavamna modalidade a distância faziam uso dasferramentas de comunicação, interação,compartilhamento, disseminação e cons-trução coletiva do conhecimento, todossomos alunos, ditos a distância, a qual-quer tempo, em qualquer lugar, bastandotermos acesso à internet. Ou seja, esta-

mos na era da educação digital, onde nãohá distância ou limitação física para acessoà informação ou ao conhecimento.

As definições das estratégias pedagó-gicas deverão levar em conta o continuumque percorre do ensino presencial puroaté o e-learning puro, passando pelas es-tratégias de ensino presencial apoiado portecnologia, híbrido ou blended, em suasdiversas formas, e o e-learning ou onlinetutorado e temperar as ofertas de conteú-dos com mais ou menos atividades pre-senciais. Destaca-se que as metodologiashíbridas irão prevalecer gerando momen-tos de antecipação de conteúdo e ativi-dades para preparação e posterior encon-tros presenciais ou em tempo real paraaprofundamento, complementação, prá-tica ou avaliação da aprendizagem.

O estudante ou aprendiz assume umpapel mais proativo neste novo cenárioe visa resultado imediato na aplicaçãodaquilo que aprende. Assim, as metodo-logias ativas e multidisciplinares de en-sino aproximando o máximo daquilo queesteja sendo estudado com a realidadeou aplicação na vida real ou profissionaldo estudante devem ser adotadas. Salade aula invertida, Project Based Learning,Problem Based Learning, AprendizagemAdaptativa, entre outras, compõem mé-todos ativos de aprendizagem, por exem-plo, introduzidos em muitos ambientesatualmente que estão revolucionando oensino. O aluno mais ativo, a facilidadede acesso à informação, a integração evisão sistêmica aplicada ao processo deaprendizagem aceleram o processo deformação do indivíduo, assim há umatendência de redução dos tempos de du-ração dos cursos.

A definição do modelo pedagógico edos métodos de ensino deverá equilibraros objetivos de aprendizagem, a caracte-rística do curso, o público alvo com os re-cursos investidos nas tecnologias educaci-onais e de gestão que apoiaram na efetivi-dade da aprendizagem e a sustentabilida-de do processo, tanto para garantir o me-lhor custo ou investimento num negócioou o uso adequado do dinheiro público.

O desafio maior é preparar o professor,ou será que existe professor neste novomundo? Professor não é profissão, mas vo-cação, portanto o papel do professor assu-me novos elementos antes não integradosem suas funções. Além de buscar maximi-zar o seu conhecimento em torno da suadisciplina, ele orquestrará, muito provavel-mente com um ou mais colegas, um pro-

cesso de motivar e inspirar seus estudantespara busca do aprendizado, orientará ca-minhos e busca de conteúdo às necessi-dades de cada um, com qualidade ade-quada, e assim passa a ser um curador dainfinidade de informação disponível hojepela internet. A instituição para desdobrara sua estratégia deverá necessariamentepreparar seu corpo docente para este novocenário no qual as habilidades no uso dastecnologias, comunicação, construção dopensamento crítico e capacidade de pes-quisa do indivíduo, alinhados aos valoresinstitucionais e o seu posicionamento, se-rão pontos-chaves para atrair alunos e sercompetitivo e sustentável no mercado.

Por fim, muitos dizem que chegamosà extinção das universidades como as co-nhecemos, será? Até aqui mostramos al-gumas dimensões da estratégia educaci-onal centrada no processo de aprendi-zagem focando a premência de dar-seresposta a um mundo que necessita deprocesso contínuo de educação continu-ada, seja para formação ou complemen-tação do indivíduo. Porém, o mundo vaicontinuar sedento por criação de novosconhecimentos, descobertas, inovações.Algumas destas conquistas do futuro tra-rão o nome de conceituadas instituiçõesde hoje que, como “hubs” do conheci-mento, irão se preparar para gerar os ci-dadãos do mundo digitalmente integra-do, irão constituir ou participar de redesde aprendizagem, informais e formais naformação de redes de conhecimento, quealavancadas transformar-se-ão em redesde pesquisa, consolidando a criação egestão do conhecimento.

Existe um céu azul no horizonte des-te oceano com poucas nuvens para osnavegadores que se prepararem para estajornada rumo à Educação do Século XXI,ou à Universidade do Século XXI. Paraos outros, a tempestade e a tormenta se-rão devastadoras, percebem? ■■■■■

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A cultura aliadaà educação

Com uma arquitetura imponente (abaixo), o TeatroCesgranrio tornou-se um espaço para apresentação

de peças e musicais (abaixo e à esquerda)

Arealização de ações para promovera melhoria da qualidade da educa-ção no país tem sido um dos prin-

cipais objetivos da Fundação Cesgranrio.E em sua atuação mais recente nessa li-nha, ela tem investido em uma associa-ção defendida pela maior parte dos edu-cadores: a integração entre cultura e for-mação educacional.

Por entender que educação e acesso àcultura devem andar juntos, a Cesgranriocriou um Centro Cultural com o intuito depromover projetos nessa área. O mais re-cente, de junho de 2016, foi a inaugura-ção de um grande teatro, com 275 metrosquadrados e 266 lugares.

Já foram exibidas três peças no TeatroCesgranrio. As apresentações retornamem novembro, com a estreia de um es-petáculo inspirado no Natal. Todas essassão produções da própria Fundação, mas,a partir de 2017, entrarão em cartaz pe-ças de outros produtores.

Com isso, o novo teatro começa a cum-prir um de seus principais objetivos: ser umespaço profissional de custo acessível parajovens produtores e artistas que buscam seinserir no mercado. Para isso, a Cesgranrio

disponibiliza estrutura completa com osmais modernos recursos de sonorização eiluminação, além de equipe especializadapara auxiliar na supervisão e, até mesmo,na execução dos espetáculos.

Além de valorizar talentos, a Cesgranriobusca, por meio de seu teatro, incentivar aformação de plateia. Para isso, concedemeia-entrada para professores (além dopúblico estabelecido por lei) e divulga asapresentações junto aos universitários.

Para Roberto Padula, administrador doTeatro Cesgranrio, o balanço dos primei-ros meses foi muito positivo. Segundo ele,na apresentação da nova peça, o valorvai cair de R$50 para R$40 (R$20 parameia-entrada). A expectativa é que, emmédia, pelo menos 80% da capacidadeseja ocupada.

Em setembro, a Fundação sediou o Fes-tival de Teatro Universitário (Festu), o quefortaleceu ainda mais seu papel de celei-ro de talentos. Segundo Roberto Padula,com esse projeto, instituições como UFF,UniRio, CAL e Escola de Teatro MartinsPenna já aproveitaram o espaço. “O meiouniversitário voltado para Arte já está co-nectado com a Cesgranrio.”

Projetos para todos os amantes da cultura e da arteO Centro Cultural Cesgranrio desen-

volve projetos voltados para os mais dife-rentes públicos, em todos os ramos artís-ticos (veja no quadro ao lado). As açõespromovem ambiência cultural, desenvol-vem a consciência crítica e possibilitamespaço privilegiado para jovens talentose artistas consagrados.

Para comprovar a estreita relação en-

tre cultura e educação, a Cesgranrio já deuinício à criação de um sistema de avalia-ção que pretende mensurar o impacto deseus projetos culturais. “Estamos desen-volvendo esse sistema no momento, emparalelo com a produção de mais de 25projetos em curso em todo o Estado doRio”, diz Leandro Bellini, secretário exe-cutivo de Cultura da Cesgranrio.

Principais projetosdo Centro Cultural■ TTTTTeatreatreatreatreatro nas Escolas -o nas Escolas -o nas Escolas -o nas Escolas -o nas Escolas - O projeto, que incentiva aformação de plateia, está no segundo ano de vigên-cia e destina-se a alunos do 1° ao 9° anos do fun-damental. “É uma oportunidade para as escolas dei-xarem de ser apenas um lugar de transmissão deconteúdos para tornarem-se espaços lúdicos”, des-taca Leandro Bellini.

■ Prêmio Cesgranrio de TPrêmio Cesgranrio de TPrêmio Cesgranrio de TPrêmio Cesgranrio de TPrêmio Cesgranrio de Teatreatreatreatreatro -o -o -o -o - Em janeiro de2017, uma festa de gala vai marcar a cerimônia deentrega do 4º Prêmio Cesgranrio de Teatro. Trata-sedo maior do país no segmento, em que artistas de 12categorias ganham prêmio de R$25 mil. A cada anoum grande nome da dramaturgia é homenageado e,na próxima festa, a escolhida é a atriz Nicette Bruno.

■ Projeto Elipse -Projeto Elipse -Projeto Elipse -Projeto Elipse -Projeto Elipse - Na área de audiovisual, desta-que para o projeto Elipse, um concurso de curtas-metragens produzidos por universitários, com oapoio logístico da Secretaria de Estado de Cultura(SEC). Doze produções recebem prêmio de R$12.500 e são apresentadas no Cine Odeon. Os trêsmelhores ganham ainda mais R$ 2 mil e são exibi-dos também no Canal Brasil.

■ Orquestra Sinfônica -Orquestra Sinfônica -Orquestra Sinfônica -Orquestra Sinfônica -Orquestra Sinfônica - Criada em 2015, propicia aestudantes da área de Música a oportunidade de vivero dia a dia de uma orquestra sinfônica. Sob o coman-do do maestro Eder Paolozzi, já realizou 18 apresen-tações, uma delas no Festival Mimo, um dos maisimportantes do país, além de eventos em espaçoscomo o Theatro Municipal e a Sala Cecília Meirelles.

■ Prêmio TPrêmio TPrêmio TPrêmio TPrêmio Talentos da Pintura -alentos da Pintura -alentos da Pintura -alentos da Pintura -alentos da Pintura - A iniciativa temcomo objetivo prestigiar pintores que nunca reali-zaram exposições próprias. Como forma de dar vi-sibilidade ao talento dos artistas, os trabalhos dosvencedores ficaram expostos por 45 dias na sede daFundação e os quatro melhores ganharam prêmiosde R$ 2 mil a R$10 mil. Também é produzido umcatálogo com as obras dos vencedores.

■ Prêmio Rio de Literatura - Prêmio Rio de Literatura - Prêmio Rio de Literatura - Prêmio Rio de Literatura - Prêmio Rio de Literatura - A iniciativa, que con-cede prêmios de até R$ 100 mil a escritores, temcomo objetivo incentivar a produção literária nacio-nal. Com uma categoria dedicada a estreantes, eletambém reflete a diretriz da Cesgranrio de valorizarnovos talentos. Foram, ao todo, 600 inscrições delivros publicados por 35 editoras de todo o Brasil.

■ Participação em eventos - Participação em eventos - Participação em eventos - Participação em eventos - Participação em eventos - A Cesgranrio terátrês espaços de intervenções no Salão Carioca doLivro. Um deles será um teatro de 200 lugares ondeo público poderá assistir a encenações de clássicosda Literatura. Haverá também um jardim literário,onde imortais da Academia Brasileira de Letras fa-rão workshops de diferentes gêneros literários e ar-tistas renomados farão declamações de suas poesi-as preferidas. Um terceiro espaço será dedicado atemas relacionados a roteiro de TV, cinema e dra-maturgia. Neste salão, serão lançadas a 5ª Oficinade Atores e a 2ª Oficina de Autores da Cesgranrio.

■ Minissérie bíblica - Minissérie bíblica - Minissérie bíblica - Minissérie bíblica - Minissérie bíblica - Após ser indicado ao Prê-mio Internacional de TV com a produção da série“Anos Radicais”, o núcleo audiovisual está gravan-do uma série sobre a vida de Jesus Cristo.

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Cesgranrioinveste em inovaçãonas avaliações

Fundação Cesgranrio investe alto nodesenvolvimento da tecnologia necessária pararealização de provas e avaliações por computador

AFundação Cesgranrio entra de vezna vanguarda da avaliação. Pormeio de um projeto executado

pelo Centro de Avaliação e pelos depar-tamentos de Tecnologia da Informação ede Concursos, a instituição investe narealização de testes adaptativos, o quehá de mais moderno na área.

Pelo instrumento, cada avaliado resol-ve itens adequados a seu nível de profici-ência. Além disso, o tamanho ou duraçãoda prova podem ser diferentes, em fun-ção do grau de conhecimento do indiví-duo. No entanto, a metodologia tem omesmo grau de precisão de resultados dométodo tradicional, onde todos os avalia-dos respondem às mesmas questões.

O projeto foi iniciado em fevereiro de2016 e, segundo Nilma Fontanive, coor-denadora do Centro de Avaliação, já re-gistra avanços. “O próximo passo é gerarvários modelos de testes e aplicá-los a alu-nos das redes pública e privada”, diz Nil-ma, explicando que, a partir de 2017, ositens já vão considerar a nova Base Naci-onal Comum Curricular (BNCC).

O objetivo é utilizar os testes adaptati-vos em avaliações e concursos, segundoo presidente da Fundação Cesgranrio,Carlos Alberto Serpa. “Buscamos sempreaperfeiçoar e inovar nossos processos ava-liativos. Essa tem sido nossa marca ao lon-go de 45 anos de história.”

Com uma das mais seguras estratégiasde distribuição de provas e de qualifica-ção de equipes de avaliação, a Cesgran-rio realiza os maiores exames do país,entre eles o Sistema de Avaliação da Edu-cação Básica (Saeb) e o Exame Nacionaldo Ensino Médio (Enem).

Coordenador do Departamento deConcursos e responsável pelos processosrelativos ao Enem, Alvaro Freitas diz quea Fundação se envolve em toda a logísti-ca de aplicação e correção das provas,desde a distribuição de inscritos por lo-cais de prova, envelopamento de cader-nos de questões na gráfica, recebimentode malotes após a aplicação do exame,

leitura dos cartões-resposta e digitaliza-ção das provas discursivas para a corre-ção das bancas, entre outras ações.

A experiência da Cesgranrio é decisivapara que tudo corra bem no dia da prova.Ela também realiza capacitação de fiscaise coordenadores, sempre em sintonia como MEC, para que a qualidade da aplicaçãodo exame seja a mesma em todo o país.

Outro destaque é a parceria com aFundação Bradesco, em que avalia maisde 11 mil alunos, além dos que partici-pam do Programa Educa + Ação, promo-vido pela instituição com os governos deSão Paulo e Mato Grosso. “Ainda com aFundação Bradesco, em 2016, criamosum banco de 1.835 itens formativos paraavaliações bimestrais, além de 500 paraseleção de diretor, vice-diretor e coorde-nador pedagógico”, diz Nilma Fontanive.

A qualificação da Cesgranrio foi decisi-va também para o sucesso da maior avali-ação de ensino superior do país: o ExameNacional de Desempenho dos Estudantes(Enade). Para a correção das 130 mil pro-

vas de 2015, foram criadas 26 bancas, umapara cada área abrangida pelo exame, alémde duas de formação geral. Todas eramcompostas por doutores e mestres. “Asse-gurar o correto entendimento do critériode correção e acompanhar sua aplicaçãoadequada são condutas cruciais”, diz AnaCarolina Letichevsky, superintendente doDepartamento Acadêmico da Cesgranrio.

Finalizada a correção, os outros desa-fios são estudar resultados e extrair dadossobre condições de ensino. “Na ediçãode 2015, serão produzidos relatórios de26 áreas, um de Formação Geral, 1.881Relatórios de Desempenho de IES e 8.144Relatórios de Desempenho de Cursos”,destaca Ana Carolina, ressaltando que aexpertise da Cesgranrio é decisiva para osucesso do Enade: “São serviços técnicosque só podem ser executados por equi-pes que atuem de modo específico e con-tínuo no setor e que pertençam a umaorganização estável e eficiente. Isso con-figura o profissionalismo que se contra-põe ao amadorismo e à eventualidade.”

Forte investimento em concursosCom quase 45 anos de experiência na realização

de concursos, a Fundação Cesgranrio é reconhecidacomo uma das maiores organizadoras do país. Sãomais de 300 seleções que, nesse período, reuniram20 milhões de candidatos.

A Fundação tem sido a preferida para realizar con-cursos de massa, entre eles o do IBGE, neste ano, e paraempresas como Petrobrás, Banco do Brasil e Transpe-tro. Um dos diferenciais da instituição é uma equipe al-tamente qualificada com mais de 100 profissionais dediversas áreas. “Estamos preparados para atender àsnecessidades de qualquer processo seletivo”, diz AlvaroFreitas, coordenador do Departamento de Concursos.

Para manter a lisura das provas e evitar quaisquertipos de fraudes, a Cesgranrio utiliza detectores de me-tais nos dias de provas, além de comparar respostasdos candidatos após a aplicação dos exames. Além dis-so, uma das prioridades é a qualificação de coordena-dores e fiscais, seja para preservar a segurança da apli-cação ou para lidar com as pessoas com deficiência, porexemplo. “Estamos sempre atentos às necessidades decada concurso e dos candidatos, buscando constante-mente promover melhorias tecnológicas e de segurançanos certames que realizamos”, afirma Alvaro.

Destaque na área acadêmicaUma das maiores publicações do país no meio

acadêmico, a “Revista Ensaio: Avaliação e PolíticasPúblicas em Educação” também é referência no exte-rior. Após a Fundação Cesgranrio disponibilizar seuconteúdo na internet, cresceu muito o interesse depesquisadores estrangeiros.

Se a versão impressa chegava a 11 países, além doBrasil, a digital alcança 61 nações, entre elas, Portugal,Espanha, Chile, França, Estados Unidos e Inglaterra. Empouco mais de um ano, foram 25.231 visitas e 90.836visualizações de páginas do site da Ensaio, sendo 74,8%novos visitantes e 25,2% de internautas que retorna-ram. “Com a versão impressa puramente, 55 assinantesinternacionais e 2.535 recebiam a revista em suas ca-sas”, destaca a editora da revista, Fátima Cunha.

A Ensaio, que divulga artigos e pesquisas sobreavaliação, tem nota máxima na avaliação da Capes. Ea versão digital, segundo Fátima Cunha, despertouinteresse ainda maior. “Aumentou drasticamente aprocura. Novos artigos não param de chegar e esti-mamos um volume ainda maior em 2017, quandoadotaremos o ahead of print (‘antes da impressão’,em tradução livre) como sistema de publicação, ace-lerando a divulgação das pesquisas.”

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Há 12 anos, o Projeto “Apostando no Fu-turo”, desenvolvido pela FUNDAÇÃO CES-GRANRIO, melhora a qualidade de vida nascomunidades Paula Ramos, Vila Santa Ale-xandrina, Parque André Rebouças e Escada-ria, no Rio Comprido. E o impacto positivoserá ainda maior, pois um censo permitiráconhecer o atual perfil dos moradores e am-pliar os ganhos sociais.

“Quando o projeto começou, realizamosuma avaliação diagnóstica. Mas acreditamosque, passados tantos anos, precisamos co-nhecer melhor a radiografia dessas quatrocomunidades. Daí a ideia do Censo”, diz Te-rezinha Saraiva, coordenadora de ProjetosSociais da Cesgranrio.

Até o final de novembro, dez universitárias,auxiliadas por duas moradoras, visitarão todasas casas para coletar dados sobre demografia,educação e trabalho. Todas foram capacitadase vários cuidados, como crachás, camisas coma logomarca da Cesgranrio, colocação de se-

AFundação Cesgranrio é referênciana realização de provas nacionaise na produção de conhecimento por

meio de seu mestrado profissional. Em 2016,a instituição também ganhou papel de des-taque na graduação, com o curso superiorde tecnologia em Gestão da Avaliação.

Este curso e o Superior de Tecnologia emGestão de RH são os primeiros da Facul-dade Cesgranrio (Facesg). Uma das princi-pais características dos dois é o currículocom forte base teórica aliada à prática sin-tonizada com as demandas do mercado.

Também são diferenciais o corpo docen-te, com 90% de mestres ou doutores, e adinâmica de ensino. “Os cursos foram es-truturados com base em um projeto inte-grador onde o aluno, ao longo dos quatroperíodos, realiza atividades que envolvemtodas as disciplinas”, ressalta Paulo Alcan-tara Gomes, diretor acadêmico da Facesg.

Em termos de infraestrutura, o destaqueé o Laboratório de Modelagem Computa-cional. Por oferecer acesso aos mais mo-dernos softwares das áreas de Avaliação eRH, o espaço permite ao aluno aprendere aplicar técnicas de análise de dados,elaboração de gráficos e interpretação deinformações de tabelas, entre outras.

Segundo o professor Glauco da SilvaAguiar, coordenador do tecnólogo em Ava-liação, o curso está estruturado em quatromódulos semestrais e, após cada um de-les, o aluno sai com um certificado. “Nes-ses módulos, o aluno conhece e pode seaprofundar nos principais instrumentosavaliativos, tornando-se capacitado a pla-nejar e implementar projetos de avaliação.”

O mercado para quem se forma em Ava-liação está em alta. Seja para qualificar aelaboração de políticas públicas ou pelanecessidade cada vez maior de planeja-

mento estratégico, há muito espaço nasáreas social, educacional, cultural, hos-pitalar, empresarial e esportiva. No seg-mento de RH, o cenário também é ani-mador. “O mercado está carente de pro-fissionais que compreendam a importân-cia dos recursos humanos como um dife-rencial para o desenvolvimento estratégi-co das empresas”, destaca Marcelo Perei-ra Marujo, coordenador do curso de RH.

A Facesg estuda criar cursos nas áreas deEstatística e Políticas Públicas, além de umbacharelado interdisciplinar e uma licenci-atura em Pedagogia. “Não se pode pensarem uma instituição de ensino no Brasil semum curso de Pedagogia de qualidade”, res-salta Paulo Alcantara Gomes, que destacaoutro diferencial da Facesg: “Há uma forteintegração entre os cursos superiores de tec-nologia e o mestrado profissional em Ava-liação, incorporado pela Faculdade.”

Projeto Apostando no Futuro: melhorias à vista

los nas casas, foram tomados para facilitar asentrevistas e não gerar duplicidade. SegundoHeloisa Rego de Oliveira, coordenadora de su-pervisão, as aplicadoras têm sido bem recebi-das. “Os moradores estão respondendo à pes-quisa com muito comprometimento”, ressalta.

As próximas ações do projeto serão pauta-das pelo Censo e por um amplo estudo reali-zado em 2015. Rosa Torte, coordenadora deAvaliação, ressaltou que o projeto melhora odesempenho escolar, insere jovens em cursosde qualificação, os encaminha para vagas deestágio e emprego e gera maior interesse poratividades culturais e esportivas. “Verificou-seque o Projeto vem contribuindo para a me-lhoria da vida pessoal, escolar e profissionalde seus beneficiários”, diz Rosa Torte.

No Projeto Apostando no Futuro, crian-ças e jovens têm acesso a reforço escolar,brinquedoteca, práticas esportivas, rodas deleitura, cinema e espaço de inclusão digital.Adultos e idosos, por sua vez, participam de

várias atividades, entre elas, oficinas de arte-sanato, passeios culturais, além das festas or-ganizadas pela equipe do projeto, que têmcomo objetivo estreitar os laços familiares ecomunitários. Para Terezinha Saraiva, o ba-lanço do projeto é muito positivo.

“Claudio Saraiva, idealizador do ‘Apostan-do no Futuro’, dizia que é muito difícil resol-ver problemas sociais e que uma iniciativaprecisa sempre gerar ganhos sociais. E temostido muitos ganhos sociais, não só levanta-dos por avaliações, mas visíveis no contatocom os moradores”, conclui.

FaculdadeCesgranrio foicriada paracontribuir com aformação dequalidade na áreade avaliação

Judô é uma das modalidades do Apostando no Futuro

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Renato Deccache

Estudo mostra como EUA, Uruguai, Irlanda,Nova Zelândia e Portugal fizeram da velocidade de conexãode internet um fator estratégico para qualificar o ensino

38 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

No Brasil, 93% das escolas estão co-nectadas à internet, segundo a maisrecente edição do estudo TIC Educa-

ção, divulgado pelo Comitê Gestor da Internetno Brasil. Além disso, a rede passa a fazer partedo cotidiano nas salas de aula: 70% dos profes-sores afirmam terem usado computador e 39%celulares para promover atividades com os alu-nos. Apesar desses dados positivos, um abismoainda separa o Brasil do que é feito no resto doplaneta quando o assunto é o uso de Tecnologiasda Informação e da Comunicação (TICs).

Um estudo da Cisco, multinacional norte-americana da área de tecnologia, traz casos depaíses que turbinaram a qualidade do ensinocom uso da internet. Enquanto o Brasil aindasequer conseguiu universalizar o uso de com-putadores nas escolas, nos Estados Unidos, porexemplo, o desafio é dotar os colégios de aces-so à banda larga ultrarrápida com até 1 Gbps.Na maior parte das escolas brasileiras conecta-das, a velocidade é de até 2 Mbps.

Na pesquisa “Conectividade nas Escolas parao Século 21”, a Cisco apresenta estratégias bemsucedidas implantadas nos Estados Unidos, Ir-landa, Portugal, Nova Zelândia e Uruguai. Emcomum a esses projetos está, entre outros fato-res, a aposta na melhoria da qualidade da cone-xão, justamente o oposto dos projetos brasilei-ros, que têm priorizado a aquisição de compu-tadores e dispositivos móveis.

A explicação é simples: nestes países, já sepercebeu que quando as escolas são dotadasde banda larga rápida e redes locais sem fio,podem aproveitar o uso de aplicativos armaze-nados em nuvem e de dispositivos voltados paraturbinar o ensino com uso da internet. E os pa-íses estudados mostraram que este é um objeti-vo válido. Portugal, que em 2005 tinha 7% dasescolas com banda larga, precisou de 18 me-

ses para chegar a 93%. Na Irlanda, em cincoanos, foi implantada conexão de 100 Mbps emtodas as unidades de ensino médio.

Outra característica comum aos países estuda-dos pela Cisco é o fato de verem na conectividadedas escolas um investimento estratégico para o país.Segundo Ricardo Santos, gerente de desenvolvi-mento da vertical de Educação da Cisco, tambémno Brasil, não há dúvida entre os educadores doquanto os recursos tecnológicos podem melhoraro ensino. A diferença é que, no nosso caso, essavisão não é compartilhada pelos que planejam aspolíticas públicas. “Entre a consciência, que mui-tos educadores têm, e a realidade prática, aindahá um vazio muito grande. Podemos encontrardesde escolas com internet de 400 Mbps por salade aula até outras, em áreas carentes, com 1 Mbpsde conectividade para toda a escola”, destacou.

Ricardo Santos ressalta também que, nospaíses avançados no uso de tecnologias na edu-cação, as ações vão além da conectividade.Também é fundamental, frisa o especialista, in-vestir na aquisição de equipamentos atualiza-dos e, principalmente, ter um projeto pedagó-gico consistente como base para a utilizaçãodesses recursos. “Esses três aspectos têm de serpensados de forma integrada, desde o iníciodo planejamento das políticas voltadas para usoda tecnologia na educação.”

Na Irlanda e na Nova Zelândia, os governosfinanciaram a modernização das redes escolares.Já no Uruguai, a lei determina que as operadoraspaguem a conta enquanto que, nos EUA, foi cria-do um fundo específico para cobrir os custos. ParaRicardo Santos, no caso do Brasil, o mais impor-tante não é criar novas formas de financiamento,mas investir melhor. “O que precisamos é de di-nheiro no lugar certo, por exemplo, na valoriza-ção do professor e na melhoria da infraestruturadigital”, destacou Ricardo Santos.

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 39

IRLANDA - Em 2000, o país implantou o Programa de Integração Tecnológica, com o objetivo de subsidiar a compra decomputadores e a conexão nas escolas. Um ano depois, todas já estavam conectadas e o desafio passou a ser aqualidade do acesso. Por isso, foi criado, em 2005, o Programa Banda Larga nas Escolas, a partir do qualforam usadas diferentes tecnologias de acesso, inclusive DSL, linha alugada, cabo coaxial, satélite e conexãosem fio, de acordo com o tamanho, localização e disponibilidade da escola. O passo seguinte foi implantarum projeto para disponibilizar conexão mínima de 100 Mbps para as escolas de ensino médio. Adotado deforma gradativa, ele alcançou, desde 2010, todas as cerca de 1.500 escolas de ensino médio do país.

NOVA ZELÂNDIA - O país começou a conectar as escolas em 1996, quando 55% de ensino fundamental e85% de ensino médio estavam online. Em 2003, este percentual chegou a 100%. Superado o desafio doacesso, em 2011, foram lançados dois para ampliar os serviços de banda larga no país, com prioridade paraas escola. A meta era proporcionar, até 2015, conexão com fibra óptica a 2.416 escolas a uma velocidademínima de 100 Mbps e conexão sem fio nas escolas distantes a uma velocidade mínima de 10 Mbps. Em 2012,a velocidade média de banda larga nas escolas era de 17 Mbps. O governo também criou a Network for Learning,empresa de capital aberto para proporcionar às escolas serviços complementares como computação em nuvem,firewalls, backup remoto, além de conteúdo didático online.

PORTUGAL - Em 2002, o país conseguia conectar todas as escolas à internet, mas a velocidade era baixa: 128 kbps.Entre 2003 e 2006, o quadro melhorou, mas não muito: todas as cerca de 8 mil escolas tinham banda larga, comvelocidade que variava de 256 Kbps a 512 Kbps. Em 2007, o governo deu início ao Plano tecnológico da educação(PTE), com o objetivo de colocar o país entre os cinco primeiros da Europa em digitalização das escolas. Oprimeiro passo do programa foi destinar, entre 2008 e 2012, cerca de 1,7 milhão de laptops com acesso ainternet 3G e banda larga wi-fi para alunos, adultos em programas de treinamento e educadores. Osque receberam os equipamentos arcaram com o custo dos dispositivos, bem como a internet 3Gpara uso fora dos colégios. Além disso, o programa certificou 90% dos professores em TICs einvestiu na produção de conteúdos de e-learning e na melhoria da conexão. A velocidade mé-dia saltou de 4 Mbps, em 2007, para 48 Mbps, em 2010.

ESTADOS UNIDOS - Em 1996, foi implantado o E-Rate que buscava subsidiar o acesso àinternet em escolas de nível fundamental e médio. Financiado pelas contribuições de opera-doras de telecomunicações, que arcavam com até 80% dos custos dependendo da escola, oprograma fez com que acesso à internet nas escolas dos EUA saltasse de 65% para 100%,entre 1996 e 2003. O passo seguinte foi promover o acesso à banda larga de alta velocida-de, incluindo suporte para redes locais sem fio. A partir do investimento feito, em 2013,26% das escola tinham internet de 10 Mbps, 28% entre 10 Mpbs e 50 Mbps, 12% entre50 Mbps e 100 Mbps, 19% entre 100 Mbps e 1 Gbps e 15% com mais de 1 Gbps. Apartir de 2014, novas metas foram traçadas para que as escolas tivessem acesso, pormil estudantes, de 100 Mbps no curto prazo e de 1 Gbps no longo prazo.

URUGUAI - Em 2006, o Uruguai lançava o Plano Conectividade na EducaçãoBásica para Aprendizado Online (Ceibal, na sigla em Espanhol). Ao final da pri-meira fase, quase 400 mil laptops foram sido distribuídos para todos os alunose professores das escolas públicas de ensino fundamental e o passo seguintefoi estender a medida para as escolas parti-culares e de ensino médio. Além disso, foicriado o Programa de Conectividade Educaci-onal que, até o fim de 2010, havia conectado 1.838escolas à internet e possibilitado acesso a serviçosde rede, inclusive o suporte técnico, e a servidores dehost com firewalls para filtrar o conteúdo adequado. A partirde 2011, o programa exigiu que as velocidades médias das esco-las fossem aumentadas de 512 kbps para 10 Mbps. Como resultado de todoesse investimento, o Uruguai tornou-se o único país da América Latina a conectar 100% desuas escolas à internet.

Países que venceram o desafio da conectividade nas escolas

CAPA

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ça, Índia, Indonésia, Itália, Japão e EstadosUnidos, entre os dias 28 de julho e 15 deagosto de 2013, com uma amostragem re-presentativa de 12 mil adultos com idadeigual ou superior a 18 anos. Entre eles, par-ticiparam 2.748 executivos de inovação se-niores de 23 países, além de 1.346 forma-dores de opinião de 13 nações. A margemde erro da pesquisa é de 0,89 pontos per-centuais para mais ou para menos.

Para 77% dos brasileiros, escolas eprofessores devem se apoiar mais natecnologia para melhorar o sistema

Poucos países acreditam que seus sistemas educacionais estãoprontos para formar os profissionais do futuro

Débora Thomé

Lançado em maio, o estudo “Barô-metro da Inovação” — que temcomo objetivo fazer um levanta-

mento sobre a percepção e a expectati-va das pessoas com relação ao impactoda tecnologia e da inovação em suas vi-das — mostrou em seu recorte “Salas deAula do Futuro”, encomendado pela IntelCorporation à Penn Schoen Berland, que amaioria dos brasileiros (81%) acredita queo uso de tecnologia nas escolas é inevitá-vel, e que o país deve investir em um su-porte tecnológico maior para a pedagogia.

“Já havíamos confirmado na primeiraetapa da pesquisa que o brasileiro tem umperfil bastante otimista em relação à tec-nologia. Essa atitude é positiva quandoconsideramos sua relação com a educa-ção, pois por meio da tecnologia é possí-vel atualizar as ferramentas disponíveis paraensino nas nossas escolas”, comentou Ed-milson Paoletti, gerente de Desenvolvimen-to de Negócios para Educação da Intel,durante o lançamento da pesquisa.

A pesquisa foi realizada pelo quinto anoseguido, via internet, no Brasil, China, Fran-

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MERCADO

A cultura das startups está remodelando o mercado

Os sistemaseducacionais estãoprontos para formar osprofissionais do futuro?A visão brasileira para ocenário ainda está muitoatrás de outros grandepaíses, como França eEstados Unidos

educacional. Quando perguntados sobre quaisdisciplinas as crianças devem aprender, 57%acreditam que deve haver mais educação tec-nológica nas escolas. Pensando no futuro dapedagogia, 82% dos brasileiros acreditam queem 10 anos o ensino fundamental usará ativi-dades online como ferramentas suplementa-res para a instrução iniciada com o professorem sala de aula.

Outra aposta de 60% dos entrevistados é atendência de interação online: para eles, osexames, muito em breve, já deverão ser apli-cados virtualmente, sem a necessidade de des-locamentos dos alunos ou o uso da prova im-pressa. Além disso, 55% acham que as crian-

ças terão de usar tablets ou outro dispositivomóvel para participar das aulas.

Quanto ao relacionamento entre professor eestudante, 65% dos brasileiros ouvidos na pes-quisa acreditam que a tecnologia ajudará a apro-ximação em sala de aula. Para 79%, os softwa-res disponíveis para educação ajudarão o pro-fessor a dedicar mais tempo ao estudante, pos-sibilitando a personalização do ensino, uma dasmaiores tendências da modernização da educa-ção nos tempos atuais e futuros. Diante disso,também acreditam, um modelo de ensino virtu-al ajudará a transformar o processo educacio-nal, ao mesmo tempo em uma experiência maispessoal (60%), social e colaborativa (61%).

A revolução digital já está transformando aindústria. Mas adotar novos modelos de negó-cios, incorporar o uso de soluções digitais oucriar inovações disruptivas leva tempo, e osexecutivos sabem disso. A boa notícia, no en-tanto, é que os brasileiros estão cada vez maisotimistas quando o assunto é inovação — e se-guem a tendência mundial de superar desafiose criar um ambiente mais favorável ao desen-volvimento de novos processos e soluções.

Não por acaso, esse foi o tema central do“Youtube Live Caminhos para o Futuro: O Futu-ro da Produtividade”, que contou com a partici-pação de Gilberto Peralta, presidente e CEO daGE no Brasil, Antônio Campello, diretor de De-senvolvimento Organizacional da Embraer, Ri-cardo Paes de Barros, responsável pela CátedraInstituto Ayrton Senna no Insper e Flavio Pripas,diretor da Incubadora CUBO, um grande centrode empreendedorismo tecnológico, lançado peloBanco Itaú e a Redpoint e.ventures.

Para 70% dos executivos que participaramdo Barômetro Global da Inovação, as empre-sas são o motor da inovação. Segundo os espe-cialistas, a fórmula ideal consiste em conciliaros interesses comerciais com o desenvolvimen-to de novas tecnologias, sem esquecer dos cli-entes. É neste cenário que o modelo de star-tups chega para ficar.

“As startups criam novas tecnologias, novosmercados e têm uma maneira diferente de tra-balhar. Acredito que a forma que elas traba-lham pode influenciar grandes empresas a rein-ventarem processos, além de contribuir commais produtividade e inovação”, comenta Fla-vio Pripas, diretor da Incubadora CUBO, no“Youtube Live. Gilberto Peralta completou: “As

empresas têm que se reinventar, e isto é nadamais que uma necessidade de mercado”.

Os modelos de startups estão se multiplican-do pelo mundo inteiro, e a cultura que adotamfoi mencionada no Barômetro Global da Inova-ção por 81% dos executivos como exemplo paracriar uma cultura de inovação dentro de empre-sas de todos os tamanhos. Para inovar, é precisoenfrentar os desafios internos da cultura organi-zacional e criar um ambiente que valorize a co-laboração, a disrupção e incentive a criatividade.

Algo já está acontecendo. Na hora de contra-tar, as empresas estão de olho em candidatos comcapacidade para resolver problemas (56%) e quesejam criativos (54%). Do outro lado, os interessa-dos em inovação apontam que as empresas de-vem incorporar valores das startups como flexibi-lidade (89%) e trabalho remoto (79%).

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MERCADO

rística principal é a de, por meio de umaplataforma tecnológica, conectar pesso-as que têm algo a ensinar (instrutores)com aqueles que desejam aprender algo(estudantes). “A Udemy é um marketpla-ce para se aprender e ensinar online.Nestes cursos, os alunos podem seguir oseu ritmo, seja online ou off-line, no ce-lular, tablet ou computador pessoal”,disse Sérgio Agudo, diretor da Udemypara o mercado brasileiro.

A novidade desse formato, que tam-bém é uma das inovações pelo Uberem termos de mobilidade urbana, é a

Entrada no Brasil da Udemy, gigante da educação online, inaugura um modelode negócios que liga diretamente estudantes a produtores de conteúdo

Renato Deccache

Em abril, o Grupo Estácio anuncia-va uma parceria com a Udemy,maior player do mercado de apren-

dizagem online do mundo. Em princí-pio, parece mais uma dentre várias es-tratégias de instituições de ensino paracriar diferenciais e aumentar o portfóliode cursos. No entanto, este pode ter sidoo marco de um modelo de negócios bemdiferente de tudo o que se viu até hojeno campo da educação no país.

Fundada em 2010, a Udemy hojetem 12 milhões de estudantes matricu-lados em 190 países, cerca de 1 mi-

lhão deles no Brasil. A empresa foi cri-ada no Vale do Silício, na Califórnia(EUA), de onde surgiram as principaisgeradoras de inovações tecnológicas domundo. Foi lá, por sinal, que tambémnasceu outra gigante, nesse caso daárea de transporte, que melhor carac-teriza a forma como ela atua: a Uber.

A Udemy é o que existe de mais pró-ximo do Uber no mercado de educação,tanto em tamanho, como em modelo denegócios. A empresa conta com uma bi-blioteca de mais de 40 mil cursos, mi-nistrados em 80 idiomas, e sua caracte-

Educaçãoà moda Uber

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MERCADO

Oportunidade para aumentar o portfólio de cursos

ausência de intermediários. Um produtor deconteúdos não precisa mais de uma institui-ção de ensino para ter alunos. Ele pode sim-plesmente criar um curso e disponibilizar asaulas na plataforma online. A remuneraçãovem do valor pago pelo estudante, que é abase da sustentabilidade financeira da multi-nacional de ensino.

Cursos acadêmicos tradicionais também fa-zem parte do portfólio da Udemy. No entanto,predominam os programas curtos sobre assun-

tos específicos e os voltados para qualificação,em categorias como desenvolvimento web, ne-gócios, Tecnologia da Informação, software,produtividade, design, marketing, entre outros.Segundo Sérgio Agudo, por ser um marketpla-ce onde qualquer um pode compartilhar co-nhecimento, o modelo da Udemy permite queos cursos tenham um caráter muito prático, porserem feitos, na maior parte dos casos, por es-pecialistas que dominam o assunto e lidam coma área diariamente.

O modelo de negócios que caracteriza aUdemy, em princípio, parece atingir em cheioàs instituições de ensino. Ao ligar diretamenteespecialistas dispostos a ensinar com pessoasque desejam aprender, retira-se dessa relaçãojustamente os players responsáveis até agorapor ligar essas duas pontas: escolas e univer-sidades. A ameaça, no entanto, tende a ficarsó na aparência e a perspectiva é de que essemodelo seja visto como oportunidade no mer-cado educacional.

A primeira razão é que plataformas comoa Udemy oferecem programas de curta dura-ção e voltados para assuntos específicos, en-quanto escolas e universidades atuam comcursos mais extensos e aprofundados. Ou seja,além de bem diferentes entre si, os produtossão complementares, principalmente do pon-to de vista das instituições de educação bási-ca e superior, que podem se associar a um ma-rketplace online para diversificar e agregarvalor a sua oferta de conteúdos.

Essa, inclusive, foi uma das principais moti-vações da Estácio, ao firmar a parceria com aUdemy. Segundo Marcos Paulo Andrade, ge-rente de Cursos Livres e Extensão, também pe-sou para a parceria o caráter inovador da plata-forma e o crivo de qualidade, que passa porexigências da Udemy mas, sobretudo, pelo fe-edback dos alunos.

“Além de ser uma inovação, tem uma altacapacidade de oferta, pois são várias pessoascriando cursos ao mesmo tempo. E os títulossão muito interessantes, principalmente porquesão criados por pessoas que têm experiêncianos assuntos dos quais estão falando”, desta-cou. Plataformas online trazem outras opor-tunidades para as instituições de ensino, quepodem disponibilizar no ambiente virtual seuspróprios cursos. A Estácio, por exemplo, pos-sui 100 em áreas como Saúde, Gestão e Direi-

to, e espera chegar em breve a 250.Para isso, a Estácio adaptou doisdos dez estúdios que mantém noprédio que funciona na Aveni-da Venezuela, no Centro do Rio.Para fazer gravações em alta de-finição, foi feito investimento emcabos, iluminação, ilha de edição,preparação dos profissionais paralidar com o novo formato, en-tre outras ações.

Foi preciso tambéminvestir na parte pe-dagógica, para queos professores pu-dessem adaptaros conteúdosdas aulas tradi-cionais parao formatode vídeosde curtaduração.“Na plata-forma daUdemy, oinstrutor ini-cia e terminaum assunto edepois passa aoutro. Ele faz issoaté dar um cursocompleto. Comisso, os cursos sãomais diretos, dinâmi-cos, precisos, o quefaz com que o alunose disperse menos”,disse o gerente deCursos Livres e Exten-são da Estácio.

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Para diretor da Estácio, as TIC’s chegaram para ficar

MERCADO

Feedback do aluno indica investimentos necessários

Na Udemy, os própriosestudantes decidem o queé um conteúdo dequalidade e referendam oudesqualificam os cursosoferecidos na plataforma

A Udemy, assim como a própria Uber, é umexemplo de empresa que atua com o que osespecialistas chamam de economia comparti-lhada. Impulsionada pela falta de crédito, de-corrente da crise econômica de 2008, e pelocrescente apelo em favor da sustentabilidade,ela tem como base a prática de dividir e otimi-zar o uso ou a compra de serviços.

A evolução da tecnologia também foi decisi-va para a economia compartilhada ganhar es-paço. Sem o surgimento de aplicativos e plata-formas que possibilitam maior conectividade,dificilmente seria possível ligar usuários em po-tencial a prestadores de atividades. A tecnologiatambém viabiliza o feedback dos clientes, pon-to decisivo para o controle de qualidade.

Assim como no Uber, em que a opinião dopassageiro referenda ou desqualifica um moto-rista, na Udemy são principalmente as opiniõesdos usuários que agregam valor aos cursos.“Como somos um marketplace aberto, os estu-dantes decidem o que é um conteúdo de altaqualidade, e rastreamos suas decisões através declassificações, testes e dados subjacentes ao seuengajamento”, explicou Sérgio Agudo.

Segundo ele, as informações dos alunos tam-bém norteiam a escolha de temas de cursos,orientações para a didática utilizada, entre ou-tros aspectos. “Contamos ainda com uma cons-tante análise de dados para ver quais tipos debusca estão sendo feitas e proporcionar uma

gama de cursos que atendam às necessidadesde aprendizado dos nossos alunos.”

Não há pré-requisito para ser um instrutorna plataforma Udemy. Porém, só vão para o arcursos que passam pela avaliação inicial dacuradoria de qualidade da empresa. Além dis-so, é exigido que tenham produção de vídeoem HD, áudio de boa qualidade, mínimo decinco aulas e pelo menos 30 minutos de con-teúdo. Itens como ações que geram maior en-gajamento dos instrutores, previsão de ajudasuplementar a alunos e formas inovadoras deapresentação do conteúdo são recomendadospara despertar interesse maior dos estudantes.

Dos cerca de 550 mil universitários da Es-tácio, cerca de 55 mil matricularam-se emalgum curso ofertado da plataforma. Entre osde maior destaque, estão o de Excel e o pre-paratório para o Exame da OAB. O principalatrativo para eles é o de pagar menos peloacesso ao conteúdo. Cursos que, na Udemy,custam de R$60 a R$70, podem ser adquiri-dos pelos alunos da universidade por cercade 40% desse valor.

Segundo Sérgio Agudo, a Udemy não pre-tende substituir o papel de universidades eescolas ou mesmo competir com elas. Para ele,parcerias entre instituições educacionais e pla-taformas de produção de conteúdo podem fa-zer com que conhecimento de alto valor al-cance uma escala de estudantes cada vezmaior. “Com o desenvolvimento do mercado

educacional online, uma pessoa que more emuma região remota terá acesso provavelmenteaos melhores professores do mundo, sem fa-zer grandes investimentos”, frisou o diretor daUdemy para o mercado brasileiro.

Para Marcos Paulo Andrade, ver as platafor-mas online como uma oportunidade para im-pulsionar seus negócios é um caminho sem vol-ta para as instituições de ensino. Ele citou oexemplo do mercado fonográfico, onde as gra-vadoras tiveram sérias dificuldades por não en-tenderem as mudanças trazidas pelas tecnologi-as da informação no comportamento dos inter-nautas. “Se as instituições de ensino não enten-derem esse movimento de democratização deinformação de todos os tipos que existe na inter-net, podemos ficar para trás, pensando como osJetsons, mas agindo como os Flintstones.”

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Um amplo mercado para especialistas em várias áreasOs cursos têm um formato bem diferente dos

ministrados por instituições tradicionais. Dividi-dos em módulos, são compostos em grande partepor vídeos de curta duração e complementadoscom materiais de apoio em texto e, em algunscasos, por jogos, infográficos e outros recursosque buscam explorar as potencialidades do estu-do a distância. A receptividade dos alunos é boa,segundo Ruchester Marreiros, professor de Di-reito da Estácio e instrutor dos cursos PROAB,preparatório para o Exame da Ordem, e Teoria deInvestigação e Perícia, que forma profissionais paraatuar no campo de perícia criminal.

Nos dois, além dos vídeos, os estudantes têmacesso a material didático próprio, slides, ativida-des que envolvem recursos multimídia, fóruns dediscussão, entre outros. “Um dos aspectos inte-ressantes é que, no formato online, conhecemosmelhor o estudante. Ele expressa o que entendee, por conta da metodologia, precisa ser muitomais interativo”, destacou o professor da Estácio.

Para os instrutores, ter um curso em uma pla-taforma online também é um ótimo negócio. É

assim com o analista de sistemas Jamilton Da-masceno, que tem quase 10 mil matriculados emsete cursos, entre eles, os de desenvolvimento deaplicativos para Android, e para IOS 10 e o deDesenvolvimento de Sites e Sistemas.

“Há muitas vantagens: flexibilidade para mo-rar em qualquer lugar, trabalhar nos horários emque você estiver mais produtivo, não pegar ôni-bus ou ficar muito tempo no trânsito, além dofator social de trabalhar criando algo que faz di-ferença na vida das pessoas”, ressaltou Jailton, queganha, em média, R$10 mil por mês.

Na Udemy, o valor dos cursos varia de R$50 aR$590. Segundo Sérgio Agudo, quando os instru-tores trazem estudantes para os cursos da plata-forma, eles ganham 97% do valor da venda (os3% restantes são referentes à taxa cobrada pelocartão de crédito). Quando a Udemy traz os es-tudantes, o valor é dividido meio a meio. “O ob-jetivo sempre foi criar um modelo de negócio sus-tentável que beneficiasse os dois lados do nossomarketplace. A divisão da receita com os instru-tores é uma grande parte da equação para nós.”

MERCADO

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ras que atuam no mercado de educaçãotêm despertado o interesse de grandes gru-pos do setor. Para a diretora executiva daAnjos do Brasil, Maria Rita Spina Bueno,devido às suas características, essas em-presas atraem muitos investimentos por-que o mercado é promissor: “As oportu-nidades estão onde há problemas”, dissea executiva, ao revelar que em 2015 osanjos investiram R$748 milhões em star-tups brasileiras — 14% a mais do que noano anterior. Andréa Minardi, pesquisa-dora do Centro de Estudos de Finançasdo Insper, concordou.

Débora Thomé

Omundo está mudando com atecnologia. A educação estáem plena evolução. A forma

como instituições de ensino gerenciamo negócio e interagem com os alunosprecisa acompanhar essas transforma-ções. É por isso que investidores consi-deram a educação como um dos seto-res mais aquecidos do momento. Umatendência muito forte no Vale do Silí-cio, em Palo Alto, na Califórnia (EUA),que é acompanhada também pelo mer-cado brasileiro.

O valor de mercado da indústria da

educação superior no Brasil cresceu até2012. De 2014 para 2015, o setor per-deu cerca de R$15 bilhões em valor demercado. Apesar da crise econômicabrasileira, o investimento em novas tec-nologias, capazes de personalizar aaprendizagem, atingir um grande núme-ro de pessoas interessadas em conteú-dos didáticos, permitir o ensino a dis-tância e otimizar a gestão do relaciona-mento com os alunos, vem se mostran-do como um dos pilares para o cresci-mento do setor.

É nesse cenário que startups brasilei-

Uma combinação que atrai grandes investimentos, inclusive do exterior, e sedestaca como uma das maiores tendências do mercado nos próximos anos

Educaçãoe tecnologia

PRECURSORNo ano passado, o BR Education Ventures se tornou oprimeiro fundo de capital empreendedor brasileiro comfoco em tecnologias educacionais, com capital inicial deR$ 60 milhões e capital comprometido total de R$ 100milhões

APORTE ESTRANGEIROA Chegg, empresa americana de educação, liderou umgrupo de investidores que aportou R$ 23 milhões na startupbrasileira Passeidireto.com. Também participaram a BozanoInvestimentos, Redpoint e.ventures e Valor Capital

NEGÓCIOSEm outubro do ano passado, a Kroton, maior grupobrasileiro de educação, comprou a startup Studiare porR$ 4,1 milhões

INVESTIMENTO PROGRAMADOParceria entre Samsung, Associação de EntidadesPromotoras de Empreendimentos Inovadores (Anprotec)e Centro de Economia Criativa e Inovação da Coreia doSul, o programa prevê investimento de US$ 5 milhõesem 50 startups brasileiras até o fim de 2020

AQUISIÇÕESA alemã Bertelsmann adquiriu 40% da Affero Lab,voltada a treinamento e educação a distanciacorporativos, absorvendo os 27,7% antes detidos peloBR Educacional. Estima-se que o investimento tenhasomado R$ 90 milhões, de um total de R$ 165 milhões— o restante veio da IFC, do Banco Mundial

CROWDFUNDINGEm setembro último, a plataforma Me Passa Aí, que reúnevideoaulas para capacitar universitários a alcançarem bomdesempenho nas provas de faculdade, captou R$ 250 milem investimentos por meio da EqSeed, plataforma deequity crowdfunding de um total de 54 investidores emtroca de participação de 12,5% da empresa

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MERCADO

Levantamento feito pelo Boston Consulting Group (BCG) mostra que, desde 2011, o investimento privado em tecnologias para educação temcrescido em ritmo de 32% ao ano no mundo, passando de U$ 1,5 bilhão para U$ 4,5 bilhões, em 2015. Sendo que 97% desses investimentosestão concentrados em apenas cinco países: Estados Unidos (que recebeu 77% de todo o investimento), China (9%), Índia (5%), Canadá (3,2%)e Reino Unido (1,8%). Nesse mesmo período, o Brasil recebeu investimentos privados de U$ 74 milhões em 28 empresas para o desenvolvimen-to de tecnologias para educação. Na América do Sul, o Brasil é o país que lidera esse tipo de investimento, mas recebeu apenas 1,6% de todo oinvestimento privado feito em todo o mundo no período. Isso se deve a fatores como falta de maturidade do mercado de capital de risco,dificuldade de acessar o potencial e mensurar resultados de algumas tecnologias e carência de uma política de tecnologia educacional explícita.

As empresas enxergam oportunidade comcriação de plataformas inovadoras no merca-do de aulas, como gamificação e aplicati-vos ou ensino via smartphone. “Em um ce-nário de crise, redução da demanda e au-mento de concorrência, investir em ca-pacitação e desenvolvimento pessoal éestratégia vital para o diferencial com-petitivo do profissional”, disse Andréa.No Brasil, o retorno de um ano adicionalde educação pode ser de até 18% em gan-hos financeiros, de acordo com a pesquisa.

“A cadeia de capital empreendedor no Brasiltem vários gaps. A modalidade de equity cro-wdfunding, que permite ao pequeno investidorcomprar participação acionária da empresa é umainovação que pode preencher alguns destes gaps”,explicou Andrea. “A boa notícia é que existe di-nheiro e interesse em investir neste segmento. Masos fundos ainda encontram dificuldades de me-dir o impacto educacional de seus investimen-tos”, disse a especialista. Além da modalidadeequity, existem outros fundos no país voltados parao investimento em educação.

O BR Education Ventures foi o primeiro fun-do de capital empreendedor brasileiro com focoem tecnologias educacionais, criado em 2014.Andréa Minard ainda citou o Fundo Gera, cri-ado por Jorge Paulo Lemann para investir ex-clusivamente em educação; Monashees, Re-dpoint Ventures e DGVF, especializadas em em-presas de internet em fase embrionária; Vox Ca-pital, primeira empresa de investimentos de im-pacto social do Brasil; ACE Angels, aceleradorade startups para empreendedores de alto im-pacto; Inseed, gestora de recursos focada eminovação; e o W7, fundo de participações dire-cionado ao setor de tecnologia.

Matéria publicada no The New York Times,em julho deste ano, mostrou que o financia-mento na forma de equity (investimento em em-presas que ainda não são listadas em bolsa devalores, para alavancar seu desenvolvimento)para empresas de tecnologia do setor do ensi-

no au-mentou paraquase 1,87 bilhão de dó-lares, em 2014, nos Estados Unidos — uma altade 55% em relação ao ano anterior. Os núme-ros são os mais altos desde que a CB Insights,empresa responsável pelo relatório que apon-tou o crescimento dos investimentos nesse se-tor, começou a cobrir a indústria, em 2009.

Os grandes destaques por lá foram a Pluralsi-ght, que dá treinamento online para profissio-nais de tecnologia e captou 135 milhões de dó-lares; a Remind, um serviço gratuito de mensa-gens para professores se comunicarem com alu-nos e pais que captou 40 milhões; e o Edmodo,uma rede social para uso em sala de aula, querecebeu 30 milhões em investimento.

“Educação é uma das últimas indústrias aserem afetadas pela tecnologia da internet, eestamos testemunhando um esforço para al-cançar outros setores”, disse Betsy Corcoran,CEO da EdSurge, um serviço de notícias espe-cializado, ao NYT. “Estamos vendo nomesmais clássicos do capital de investimento co-meçarem a prestar atenção nesse mercado”,concluiu a CEO. Por aqui, são vários os bonsexemplos de grandes investimentos, apesar dacrise econômica. Os valores, no entanto, ain-da são modestos quando comparados ao di-nheiro investido na terra do Tio Sam.

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TENDÊNCIA

Combinar metodologias de ensino e tecnologias educacionais é a melhorestratégia para implementar a inovação pedagógica nos dias de hoje

Como lecionarna escola do futuro

Era muito comum no início do sécu-lo a proibição do uso, nas salas de aula,dos antigos celulares, que não eram tãotecnológicos assim (apenas trocavammensagens SMS e ligações). Todavia, di-ante de uma sociedade cada vez maisconectada, proibir não é o melhor cami-nho. A chegada dos smartphones e apli-cativos deve, na verdade, motivar os edu-cadores a alterarem o modelo educacio-nal, fazendo com que as tecnologias se-jam aliadas na tarefa diária de tornar oensino na sala de aula atrativo.

Segundo o educador José Manuel Mo-ran, que é filósofo e doutor em Comuni-cação pela Universidade de São Paulo(USP), as ferramentas tecnológicas sãofundamentais para a escola do futuro,

Gustavo Portella

Facebook, Twitter, WhatsApp, Insta-gram, tablets e smartphones. Essassão algumas das inúmeras ferramen-

tas tecnológicas que dominaram o mun-do do século XXI, revolucionando a ma-neira de viver e de se relacionar. A sur-presa, porém, é que a onda tecnológicanão atingiu apenas jovens e adultos, mastambém crianças, das chamadas gera-ções ‘millenials’ e Z (nascidas nas últi-mas duas décadas).

Um estudo da Organização das Na-ções Unidas (ONU), realizado em2014, mostrou que o Brasil lidera emnúmero de meninos e meninas entre 9e 16 anos que acessam as redes soci-ais. As estatísticas mostram que 42%já têm presença nas redes sociais com

9 e 10 anos, seguidos de 71% na faixaentre 11 e 12 anos, 80% entre 13 e 14e 83% (15 e 16). Essa mesma pesquisada ONU mostrou que 60% das crian-ças da América Latina ganham o seuprimeiro smartphone aos 12 anos, eque uma em cada cinco já utiliza a in-ternet por mais de duas horas por dia.

Sem levar em conta estudos técnicos,também é possível concluir que cada vezmais cedo as crianças dominam as tec-nologias. Isso porque é fácil encontrargarotos e garotas, com 3 ou 4 anos, quejá brincam com o seu tablet. Na escola,a febre dos smartphones já tomou conta,e é cada vez mais comum eles serem vis-tos nas mochilas. Mas e o educador?Como ele deve reagir a isso tudo?

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 49

TENDÊNCIA

“É FUNDAMENTAL QUE HAJAINICIATIVAS, SEJA NA ESFERA PRIVADA OUNA PÚBLICA, QUE ESTIMULEM OSPROFESSORES A DESENVOLVEREMMATERIAIS QUE USEM TECNOLOGIA COMCONTEÚDO DE QUALIDADE”

pois fazem com que os alunos sejam produtoresde conteúdo, e não apenas receptores. “As tec-nologias ampliam as possibilidades de pesqui-sa, autoria, comunicação e compartilhamentoem rede e publicação”, assinalou Moran.

Essa escola do futuro conta com várias outraspossibilidades, defendidas por José Manuel Mo-ran. Segundo ele, são necessários dois tipos de mu-dança, uma mais suave — com modificações pro-gressivas — e outra mais ampla — com alteraçõesprofundas. Ele acredita que os modelos educacio-nais mais relevantes combinam três processos.

De forma equilibrada, são eles a aprendiza-gem ativa personalizada (em que cada um podedesenvolver uma trilha de aprendizagem adap-tada ao seu ritmo, situação, expectativas e esti-lo, e também pode compor seu currículo esco-lhendo os módulos e atividades mais pertinen-tes, com orientação de professores/mentores);entre pares (por projetos com diferentes gru-pos, em rede) e a mediada por pessoas maisexperientes (professores, orientadores, mento-res), cujo eixo fundamental é ajudar a dese-nhar o projeto de vida do estudante.

“A personalização encontra seu sentido maisprofundo quando cada estudante se conhecemelhor e amplia sua percepção do seu potencial.O projeto de vida é um componente importante,que visa a promover a convergência entre os in-teresses e paixões de cada aluno e seus talentos,história e contexto. Estimula-se a busca de trilhasde uma vida com significado e útil pessoal e so-cialmente, e, como consequência, ampliar a mo-tivação profunda para aprender.”

50 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

TENDÊNCIA

Uso da tecnologia é a melhor estratégiaO principal objetivo dessa escola do futu-

ro é engajar o aluno multimídia, que vive co-nectado, na sala de aula. Isso porque os jo-vens de hoje querem participar e aprender apartir de experiências significativas, de situ-ações interessantes, que respondam a seus in-teresses e necessidades. Nos modelos inova-dores destacados por José Manuel Moran, osalunos participam ativamente praticando,pesquisando e desenvolvendo projetos, sejameles pessoais ou grupais.

“É importante misturar técnicas, estratégi-as, recursos, aplicativos. Misturar e diversifi-car. Surpreender os alunos, mudar a rotina.Deixar os processos menos previsíveis paraos alunos. Cada abordagem — problemas,projetos, design, jogos, narrativas... — temimportância, mas não pode ser superdimen-sionada como a única.”

E a melhor forma de fazer com que o alu-no pratique e se interesse pelo conteúdo queestá sendo apresentado é por meio das tec-

nologias. “Elasajudam na tu-toria digitalde primeironível, moni-torando asdificulda-des mais

previsíveis. As plataformas adaptativas come-çam a organizar e monitorar as trilhas perso-nalizadas, que se tornam visíveis em temporeal para alunos e tutores e que permitem ocompartilhamento em tempo real a partir desmartphones, por exemplo. Cabe aos especi-alistas a tutoria mais avançada, a de proble-matizar, ampliar significados, ajudar na cons-trução de sínteses. O compartilhamento emtempo real é a chave da aprendizagem.”

Esse modelo de ensino, trazendo as tec-nologias como aliadas, segundo o especia-lista, é a melhor estratégia. “A aprendizagempor projetos, problemas, por design, constru-indo histórias, vivenciando jogos, interagin-do com a cidade com apoio de mediadoresexperientes, equilibrando as escolhas pesso-ais e as grupais é o caminho que comprova-damente traz melhores resultados em menortempo e de forma mais profunda na educa-ção formal. A aula invertida é uma estratégiaativa e um modelo híbrido, que otimiza otempo da aprendizagem.”

A professora de história Marieta Ferreira,diretora da Editora Fundação Getulio Vargas(FGV), também afirma que a proibição dosrecursos tecnológicos não é o melhor cami-nho. Ela destaca que o uso dessas ferramen-tas é fundamental, ainda mais se tratandode uma geração conectada como os ‘mille-nials’. A especialista alerta, porém, que é ne-cessário mensurar a qualidade dos conteú-dos que serão passados aos alunos por meio

dessas ferramentas.“É um equívoco dar as costas para a

tecnologia, especialmente os smar-tphones, que envolvem a vida daspessoas. A questão, porém, é a difi-culdade de criar atividades de ensi-no que sejam atraentes para o aluno,mas que, ao mesmo tempo, tenhamalguma densidade, ou seja, conteú-do. Acho que é inevitável tentar usar

a tecnologia no aprendizado. Pensoque é fundamental que haja iniciati-

vas, seja na esfera privada ou na públi-ca, que estimulem os professores a de-

senvolverem materiais que usem tecnolo-gia com conteúdo de qualidade”, avaliou

Marieta Ferreira, que também coordena o mes-trado profissional em rede nacional ProfHis-tória, voltado para a formação de professoresda rede pública, envolvendo 27 universidades.

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 51

TENDÊNCIA

Entrar de vez no caminho das tecnologi-as em sala de aula, contudo, tem sido difícil,principalmente para os docentes da rede pú-blica de ensino, que enfrentam dificuldadesestruturais. “Para o uso dessas tecnologias noâmbito escolar ser real, há necessidade de asescolas terem internet, além das ferramentas,como por exemplo, ipads e computadores,que permitem a você a explorar esse univer-so. Por questões de custeamento e estrutu-rais, isso, hoje, é difícil de acontecer. Sou, por-tanto, a favor da política de fomento ao usodessas tecnologias, para que consigamos avan-çar nessa pauta. O uso dessas tecnologias podeser fundamental para tornar o ensino atrativoe divertido para os alunos. Mas estrutura é

fundamental, e hoje a rede pública não estápronta para essa ‘escola do futuro’”, avalioua especialista.

José Manuel Moran também relatou as difi-culdades, mas acredita que os avanços mos-tram que em breve a escola do futuro estarámais real. “Estamos avançando, apesar de mui-tos problemas estruturais, de formação, valori-zação e de profundas desigualdades. Os pro-cessos de organizar o currículo, as metodolo-gias, os tempos e os espaços começam a serrevistos, mas há ainda um longo caminho paramudar a cultura conteudística tradicional pre-dominante. Mudar o modelo mental, aprenderpor experimentação e sair da zona de confortonão é um processo simples e rápido.”

52 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

ARTIGO

A realidadevirtual já é real!

Ricardo MarsiliCEO do Grupo M2BR, professordo MBA de Marketing Digital doInstituto Infnet, fundador da M2BRAcademy, escola de marketing e mídiaresponsável por trazer o primeirocurso chancelado pelo FacebookBrasil para o Rio de Janeiro

Sabe-se que o uso da tecnologia por parte da sociedade obedece a um certopadrão. Primeiro temos os inovadores que testam e desbravam qualquer produto. Logo depois temos os visionários, que não são tão vanguardistas como

o primeiro grupo, mas gostam de estar à frente de seu tempo. Depois temos amaioria dos consumidores e, por fim, os retardatários.

Alguns produtos são inventados e mudam a vida da sociedade como um todo.Rádio, automóvel, televisão, internet, celulares, etc. Outros não têm a mesmasorte e, simplesmente, não caem no gosto popular. Saber de qual grupo cadafuturo produto fará parte não é uma tarefa fácil, porém temos sempre algunsindícios do que esperar.

Diversos futurólogos e empresas afir-mam que a realidade virtual é a “the nextbig thing”, ou seja, é a próxima tecnologiaque irá revolucionar uma parte da socie-dade. As vendas de dispositivos de R.Vaumentarão de 140 mil unidades em 2015para 1,4 milhão de unidades ao final de2016, de acordo com previsão da Gartner

O QUE É REALIDADE VIRTUAL?

Há poucos meses nós tivemos um fe-nômeno de popularidade com o jogoPokémon Go, abrindo os olhos de vári-as pessoas para as novas possibilidadesde tecnologia móvel. Este aplicativo, naverdade, usa a realidade aumentadacomo base de funcionamento, ou seja,aproveita grande parte dos elementos donosso mundo real para inserir elemen-tos virtuais pontuais. Por exemplo, atra-

vés da câmera do celular podemos vero nosso quarto e, por causa do aplicati-vo, temos a ilusão de um Pokémon pu-lando em nossa cama.

Já a realidade virtual precisa trans-portar o seu usuário para um mundocompletamente novo, com pouco ounenhum vínculo com o que aconteceno mundo que enxergamos com nos-sos olhos. Em um dos exemplos maiscomuns, temos diversos vídeos na in-ternet de pessoas que utilizaram um si-mulador de montanhas russas em R.V.Elas literalmente gritaram e tiveram re-ações bem semelhantes a se estivessede fato no brinquedo real!

Assim como em outros conteúdospara R.V, o cérebro é enganado de talforma que a experiência virtual passa aser real. Assustador e excitante ao mes-mo tempo, não acham?

PARA QUE SERVE?

Como toda a tecnologia nova, as pes-soas se perguntam qual seria a sua utili-dade. Na verdade, são tantas, que po-deríamos dedicar um livro inteiro aotema. Hoje já é possível ver utilidadeem diversas áreas, como:

EntretenimentoA experiência de ver um filme ou jogar

um jogo em realidade virtual é fantástica.Já existem títulos totalmente criados paraessa tecnologia, explorando ao máximo acapacidade de imersão da nova tecnolo-gia. A Sony, através do Playstation VR, saiuna frente e lançou o primeiro óculos paravideogames (Playstation 4). Ainda se tratade um investimento alto (400 dólares),porém é a opção mais barata entre os dis-positivos de alta performance.

TurismoA nova tecnologia vem possibilitan-

do passeios virtuais pelos mais variadoslugares do mundo. “Visitar” um espaçosem conhecê-lo fisicamente tem se tor-nado cada vez mais comum. As cida-des têm criado conteúdo para tours vir-tuais de seus principais pontos turísti-cos, enquanto alguns restaurantes emuseus já possibilitam a visita interna eguiada de seus ambientes.

Além de uma excelente ferramentade venda, a R.V possibilita a dissemi-nação da cultura entre os menos favo-recidos ou a possibilidade de que pes-soas com problemas de saúde possamrealizar seus sonhos de viagens semsaírem de suas camas.

SaúdeManter um bom estado de espírito é

muito importante para que os tratamen-tos de saúde mais intensos tenham exce-lentes resultados, porém a R.V vai muitoalém disso. Ela vem sendo usada comsucesso no tratamento das mais variadas

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ARTIGO

fobias e transtornos psicológicos, colocan-do os pacientes em situações “reais”, coma proteção e orientação dos terapeutas.Também serve para facilitar a regularida-de dos exercícios físicos e de fisioterapia.

Educação e treinamentoPodemos partir do princípio que a

maioria das pessoas gosta de aprender,mas não de estudar. A realidade virtualpode desempenhar um papel importantena imersão dos alunos e na retenção doconhecimento. Imagine uma aula de his-tória na própria revolução francesa? Ouuma aula de biologia onde é possível pas-sear pelas reações químicas do corpo?

A experiência de EAD também jávem sendo transformada. Os alunos eprofessores podem ter uma sensação depresença muito maior e usarem o am-biente virtual para explorarem novasformas de expor e interagir com o con-teúdo dado em sala de aula.

Por último, porém não menos impor-tante, temos os treinamentos profissio-nais e corporativos. Médicos já podemrealizar operações virtuais, onde treinamseus conhecimentos. Mergulhadorespodem treinar um reparo de válvula su-baquática, diversas vezes, antes de pre-cisarem descer de verdade ao fundo domar para realizar o trabalho.

QUANTO CUSTA?JÁ TEM NO BRASIL?

Podemos dividir os dispositivos em3 categorias, com faixas de preços e be-nefícios bem diferentes entre si.

CardboardsAtravés de um projeto inovador do Goo-

gle, foi possível usar papelão e lentes espe-ciais para criar dispositivos de realidade vir-tual baratos e muito funcionais. Basta inse-rir qualquer smartphone na área indicadapara ter acesso imediato a centenas de con-teúdos gratuitos em realidade virtual. É pos-sível achar modelos na faixa de R$30 reais.Algumas empresas brasileiras já importamos óculos de papelão ou tem fabricaçãoprópria, facilitando o processo de compra.

Dispositivos para CelularesSão parecidos com o conceito do Car-

dboad, porém tem um acabamento me-lhor e um maior nível de imersão e con-forto. A Samsung, por exemplo, lançou oGear VR, onde é possível ter realidade vir-tual através de um celular qualquer da em-presa. O valor fica próximo de R$800,00.

Existem soluções mais baratas deempresas brasileiras (na faixa deR$150,00), utilizando materiais bemsuperiores ao papelão.

Capacetes de alto desempenhoEsses devices são ligados diretamen-

te a computadores ou videogames e,com isso, são capazes de reproduzirconteúdos mais realistas. Sua ergono-mia e capacidade de imersão são bemsuperiores em relação aos demais, po-rém a faixa de preço ainda fica bem “sal-gada” para o bolso do brasileiro, poden-do variar de R$2.500,00 a R$4.000,00dependendo do modelo e fabricante.

CONCLUSÃO

Como tudo na era do capitalismo,precisamos de escala e adesão em mas-sa para que os valores sejam menos proi-bitivos ao cidadão comum. Já existembons dispositivos baratos, que devem sersuficientes para instigar a curiosidade eaumentar o consumo de R.V entre to-das as camadas da população.

Entendo que a realidade virtual seráuma tecnologia fundamental nos próxi-mos anos, mas aposto principalmenteno setor de educação e treinamento.Será possível aumentar o interesse dosalunos e o grau de retenção de conhe-cimento como nunca antes. Teremos osbônus do ensino presencial e o EADjuntos e quase nenhum ônus. É bomdemais para ser real, mas é!

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SEGURANÇA

Serviço ajuda a otimizar custos e gerenciar o armazenamento de dados empraticamente todos os segmentos corporativos — inclusive na Educação

Como adotaro serviço de Cloud?

genharia de Sistemas Brasil da Veritas,estes dados são os principais vilões doconsumo de armazenamento e destina-dos a Cloud. O executivo ainda afirmaque a Cloud é atualmente uma realida-de para praticamente todos os segmen-tos corporativos em que os negócios sãoquase no todo digitais. Desta forma, oserviço possui o “papel de trazer agili-dade, flexibilidade e previsibilidade decustos de acordo com a demanda”.

Ao longo dos últimos sete anos, avelocidade real de crescimento de da-

Larissa Siqueira

Gerenciar, organizar e, principalmente, prever quanto custaráo armazenamento de dados em

uma empresa ganhou uma forma maiságil de ser feito. O serviço de “cloud”vem sendo utilizado com esse propósi-to, em uma realidade onde ainda boaparte da informação armazenada pode-ria ser descartada. Segundo o RelatórioGlobal Databerg, divulgado em marçode 2016 pela Veritas Technologies, em-presa líder global em gerenciamento dedados, 52% de toda informação que

hoje é armazenada e processada pelasorganizações no mundo todo, são con-sideradas um Dark Data, ou “dado es-curo”, com valor ainda desconhecido.

A pesquisa ainda aponta que 33%dos dados são redundantes, obsoletosou triviais (ROT) e conhecidos comoinúteis. Com isso, os dados “dark” e ROTcorporativos, não controlados, irão cus-tar para as organizações cerca de 3,3trilhões de dólares para serem gerenci-ados até o ano de 2020, sem necessida-de. Segundo Marcos Tadeu, líder de En-

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SEGURANÇA

dos no nível de arquivos é 39% ano após ano,segundo dado apontado no relatório 2016Data Genomics Index, também desenvolvidopela Veritas. Ainda de acordo com o DGI, ademanda por capacidade de storage cresce 9%mais rápido do que a criação de arquivos in-dividuais. Portanto, ainda que a mudança decomportamento ajude a conter esse crescimen-to, isso acaba tornando-se um problema degerenciamento do armazenamento. Além dis-so, esse ambiente está desorganizado, pois emmédia 1 de PB de informação contém2.312.000.000 arquivos.

“O principal caso de uso hoje no mercadopara cloud é armazenamento em Nuvem, Sto-rage, visto que a volumetria de armazenamentotem dobrado a cada ano nas empresas, e o cus-to de gerenciamento de todo este storage on-premisses tem inviabilizado em muitas vezeso crescimento. Quando falamos em gerencia-mento, precisamos pensar mais do que o cus-to de aquisição, e sim espaço físico, instala-ções, backup e replicação desde dados, pes-soas, segurança, etc. Segundo pesquisas reali-zadas pela Veritas, este custo pode chegar aUS$5,00 o GB gerenciado”, apontou MarcosTadeu, completando: “Entretanto conhecer oconteúdo de toda esta volumetria, que temcrescido de forma exponencial a fim de apri-morar os processos de Governança de Infor-mações, tem sido uma tarefa árdua, e em mui-tas vezes sem sucesso, trazendo à tona ques-tões de privacidade, segurança e atendimentoa regulamentações em relaçãoàs informações: o que são,de quem, como são uti-lizadas e onde estarão ar-mazenadas”.

Para o exe-cutivo, o temaGovernançade Informa-ções em ummundo que é100% digital é

indispensável para um crescimento sustentá-vel. Ele ainda destaca que como o bem maiordas empresas são suas Informações, elas de-vem ser tradas com seu devido valor, indepen-dentemente de como estejam armazenadas.

“Cloud em seu modelo mais tradicionalIaaS (Infra estrutura como serviço), seguidopor Plataforma como Serviço, PaaS e Softwa-re como Serviço SaaS, e independente do mo-delo e provedor de cloud, continua manten-do a responsabilidade pelos dados ao clien-te, o que demanda ainda mais uma metodo-logia de Governança de Informações por par-te destes, vistos que as fronteiras de sua em-presa são extrapoladas.”

Antes de adotar o serviço de Cloud, Mar-cos Tadeu destaca ser importante como es-tratégia o conhecimento prévio dos dados,para iluminar o “Dark Data”, e tomar açõescom relação aos dados ROT. Isso é fundamen-tal, segundo o líder de Engenharia de Siste-mas, para prever custos e usar consciente-mente o armazenamento, assim como aumen-tar o nível de confidencialidade e melhorada segurança das Informações. “Soluções deAnalytics, como é o caso da solução da Veri-tas chamada Infomap, ajudam as empresas aentender melhor seus dados não-estruturados,iluminando dados obscuros e garantindo to-tal visibilidade de onde estão e como são uti-lizados”, informou.

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O DATABERGSegundo o Relatório Databerg, divulgado pela

Veritas em 2016, “um novo conjunto de riscos atéentão ignorados está ameaçando as organizações”.Nunca teve-se um crescimento tão rápido de da-dos e isso só irá aumentar. Portanto, as empresasprecisam mudar o comportamento pré-Databerg.Databergs surgem da adição de grande volume de“Dark Data” aos poucos compreendidos como da-dos corporativos. Quando os Databergs são geren-ciados da maneira correta, dados críticos do negó-cio são protegidos. E desperdícios, reduzidos. OsDatabergs possuem os três tipos de dados armaze-nados hoje em dia: dados críticos para o negócio,que são vitais para o sucesso da operação diária deuma empresa; dados ROT, são os dados redundan-tes, duplicados, triviais ou obsoletos, pois não pos-suem mais valor para a empresa, e dark data, sãoaqueles cujo valor ainda não foi determinado.

USP é um exemplo na adoção da Cloud

A Universidade de São Paulo adotou o serviço deCloud, desenvolvido pela Cisco, buscando otimizar aprodutividade na instituição em 2011, expandido-o em2012. Esse método “proporcionou apoio ao desenvol-vimento, inovação e fornecimento de diferentes formasde auxílio tecnológico para staff de administração daUSP e outras áreas”, segundo Daniel Vicentini, enge-nheiro de sistemas consultor da Cisco.

O engenheiro explica que foram dois os principaisdesafios no desenvolvimento desse projeto: a mudançacultural e o desenvolvimento integrado. “Primeiro e maisimportante: mudança cultural. Os usuários da tecnolo-gia deixavam de usar seu computador de trabalho e tro-caram por um computador virtual (na nuvem) rodandotodos os seus aplicativos. Não foi uma mudança obriga-tória, mas conquistada. À medida que a percepção dosbenefícios apareciam, como por exemplo o tempo deresposta para resolver reparos ou recuperar arquivos per-didos. O computador na nuvem também estava disponí-vel em qualquer lugar da rede. Segundo: desenvolvimentointegrado. Tipicamente órgãos públicos fazem suas aqui-sições de bens e serviços de forma não integrada. E nestemodelo nem sempre é possível atingir os objetivos inici-ais. Neste projeto, a decisão foi fazer uma compra inte-grada para garantir o modelo proposto”, disse.

O especialista conta ainda que os pontos conside-rados mais complexos na implantação desse projetoforam a integração de dois Datacenters - um na uni-versidade e outro em um fornecedor de hospedagemde Datacenter, para garantir alta disponibilidade – e a

implantação de novas tecnologias, como integração detráfego de dados e tráfego de armazenamento usandoa mesma rede. Vicentini explica que, embora isso te-nha simplificado o processo de implantação, deman-dou novos conhecimentos da equipe.

“Foi criado um grupo de trabalho para garantia do su-cesso do empreendimento. A Cisco apoiou com a tecno-logia e visão para suportar a estratégia de longo prazoapresentada pela USP. Contamos também com excelen-tes parceiros de execução das atividades e a participaçãodos demais fabricantes de armazenamento e virtualiza-ção. O projeto começou como um piloto para a Bibliote-ca da universidade para teste e validação. Uma vez vali-dado, foi feita a expansão do modelo para atender àsdemais áreas. Um ponto importante da estratégia tam-bém foi a modularidade. O projeto foi concebido parapoder escalar a medida que é necessária, protegendo todoo investimento feito”, detalha o engenheiro.

Daniel Vicentini conclui que não somente a Educa-ção, mas todos os setores podem se beneficiar com o usoda cloud. Ele enumera algumas das vantagens: “1) Me-lhoria da prestação de serviços para a área de TI atravésda automatização de várias funcionalidades. 2) Na clouda prestação de serviços pode ser compartilhada. Assim,dá acesso à tecnologia de ponta e portanto produtivida-de para áreas da empresa que até então não podiam sebeneficiar por falta de orçamento. 3) Fornece melhor vi-sibilidade dos usos dos recursos de TI para os executivosda empresa, permitindo entender melhor como esta áreaatende os objetivos da organização”, concluiu.

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Especialistas acreditam que maioria das escolas contará com uma impressora3D dentro de bem pouco tempo, como aconteceu com computadores e tablets

Impressoras 3DO novo negócio da Educação

dor e especialista em impressão 3D.Durante 20 anos, a Stratasys reina-

va sozinha no mercado. No entanto,após a quebra da patente, em 2009,outras empresas passaram a produzirimpressoras 3D, o que ajudou a difun-dir a tecnologia e a reduzir o preço parao consumidor final. Segundo CláudioSampaio, existem dezenas de tecnolo-gias diferentes de impressão 3D, masas mais baratas hoje, para uso domés-tico, são a FMF (trabalha com extrusãode plástico derretido), SLA e SLA/DPL.

“No Brasil, temos cerca de uma de-zena de empresas que produzem im-pressoras 3D FDM, e duas delas já

Luiz Fernando Caldeira

Bastante difundida em escolas euniversidades dos Estados Uni-dos e da Europa, as impresso-

ras 3D já são uma realidade no Brasil.Embora ainda restritas a algumas ins-tituições de ensino, sobretudo as de for-mação superior, essa nova tecnologiavem crescendo no país e, segundo pre-visão de especialistas na área, em umperíodo de cinco a dez anos, a sua uti-lização será tão comum como a de com-putadores e tablets em salas de aula.

Responsáveis por promover umaverdadeira revolução no campo edu-cacional, as impressoras 3D já podemser adquiridas no Brasil a preços mó-

dicos, sem a necessidade de os gesto-res educacionais importarem o dispo-sitivo, exceto se a utilidade do apare-lho for para produção industrial. Emum momento de crise econômica einstabilidade do dólar, comprar umaimpressora de fabricantes brasileirosé uma ótima forma de economizar, deacordo com especialistas na área.

“Hoje temos impressoras 3D brasi-leiras de boa qualidade sendo vendi-das por R$2 mil, com a média se situ-ando entre R$4 mil a R$8 mil. É o mes-mo preço de um computador um pou-co mais sofisticado”, garantiu CláudioLuís Marques Sampaio, que é educa-

TENDÊNCIA

58 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

TENDÊNCIA

anunciaram modelos de SLA e SLA/DLP tam-bém. Para as tecnologias de impressão 3D maisindustriais, todas fortemente protegidas porpatentes ainda vigentes, o que temos são im-portadoras ou representantes internacionais.Como muitas dessas tecnologias foram paten-teadas nos anos 1990 e o mercado de massatem inovado bastante, há a esperança de mes-mo técnicas industriais serem fabricadas combaixo custo em terra brasilis. Mas, no momen-to, não as temos. Algumas empresas nacionaisque posso dizer de memória são a Sethi3d,Gtmax3d, Boaimpressão3d, Cliever, CNCBra-sil, Movtech, Tato, Reprap3d. Entre as importa-doras ou representantes, há a 3DCriar, e-tech(3DCloner), 3DGraf, WanhaoBrasil e Acccrea-te”, citou Cláudio Sampaio, que após deixarseu antigo emprego de programador e admi-nistrador de sistemas em uma grande multina-cional, fundou a MakerLinux e passou a se de-dicar a dar palestras e difundir essa tecnologiapara as massas.

Outros fatores que vêm ajudando a difun-dir as impressoras 3D no Brasil são o baixocusto da matéria-prima e o fato dela ser bas-tante ecológica, já que não exige o uso demateriais tóxicos. Com um quilo de filamen-to, é possível produzir dezenas de protótiposem 3D, dependendo do objeto. “Os materiaistambém sofreram uma enorme queda de pre-ço e já existe quilo de filamento de impresso-ra 3D sendo vendido a R$90, R$100. Um qui-lo de filamento pode, gros-so modo, imprimir o equi-valente a mais ou menos50 garrafinhas com tamparosqueável de 200 ml”, ga-rante Cláudio Sampaio.

Alguém há de se per-guntar: qualquer pessoapode manipular uma im-pressora 3D ou apenas pro-fissionais qualificados? Em-bora existam empresas es-pecializadas em treinarprofessores para o uso des-ta nova tecnologia, é possí-vel, sim, utilizar o aparelho semgrandes conhecimentos técnicos. É o que ga-rante o professor Jorge Lopes, que é pesquisa-dor da PUC-Rio e do Instituto Nacional de Tec-nologia (INT), além autor de livro sobre a tec-nologia 3D. “Qualquer um pode operar impres-soras 3D. Hoje em dia, essas tecnologias estãosuper amigáveis”, disse o professor, destacan-do, ainda, que na PUC-Rio os alunos podem

manuseá-las. “A PUC conta com várias impres-soras, de todos os materiais e tamanhos. Emcasos específicos, fazemos trabalhos de impres-sões complexas com os alunos.”

Para os especialistas em impressão 3D, oscustos que uma instituição educacional terácom a compra de uma impressora, matéria-pri-ma e a manutenção do equipamento chegam aser irrisórios frente aos benefícios que isso tra-rá em termos de fortalecimento institucional damarca e, sobretudo, na melhoria da qualidadedo ensino. “As impressoras 3D impactam mui-to no ensino, uma vez que se trata de uma tec-nologia que permite aos alunos materializar fi-sicamente ideias. Essa possibilidade, nuncaantes vivenciada na história, auxilia muito noprocesso de reconhecimento e visualização deforma tátil. Na PUC-Rio, essa tecnologia vemtrazendo muitos benefícios, principalmente noscursos de Design, Engenharia e Medicina, poispermite acesso a um novo mundo de possibili-dades de materialização física em projetos esimulações como, por exemplo, impressão demodelos por meio de tomografia para auxílio acirurgias”, apontou o professor Jorge Lopes.

Segundo o especialista, o forte investimentoque a PUC-Rio fez na compra de impressoras3D rendeu uma grande parceira para a produ-ção de protótipos para o mercado de petróleo.“Temos um grande projeto junto com a Petro-bras e a Organização Nacional das Indústriasde Petróleo (Onip), para a produção de protóti-

pos em 3D. Esse projeto foi feito junto com oInstituto Nacional de Tecnologia (INT),do Ministério da Ciência e Tecnologia. Temostecnologias das mais modernas no mundo. Pos-suímos equipamentos que imprimem metal,nylon, cerâmica e outros materiais em 3D”,disse o professor Jorge Lopes.

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TENDÊNCIA

Uso de tecnologias ajuda a formar alunos mais criativos

Impressoras 3D deverão se tornar tão populares quanto o computador

Especialistas garantemque as contribuiçõesdas impressoras 3D sãoenormes para acelerar oprocesso de compreensão,resultando numaprendizado maisrápido, natural e criativo

Aulas mais dinâmicas e alunos mais criati-vos e bem preparados para o mercado de tra-balho. Os benefícios trazidos pelas impresso-ras 3D são uma mão de via dupla, onde esco-las e estudantes saem ganhando. E especialis-tas garantem: quanto mais cedo tecnologiascomo essas forem introduzidas nas escolas, oprocesso de aprendizagem se tornará mais rá-pido e natural.

“Tecnologias com impressoras 3D possibi-litam acelerar o processo de compreensão. In-troduzir desde criança uma tecnologia comoessa vai dando naturalidade ao processo. Émuito mais rico você aprender utilizando ar-tefatos produzidos em impressoras 3D com 8anos de idade do que com 20. Usufruindo des-ses benefícios desde cedo, o aluno chega aos20 anos em um outro patamar de conhecimen-to”, afirmou Mariana Salles, designer especi-alizada em impressoras 3D e sócia da OHMS,um makerspace situado no Rio de Janeiro.

Segundo Mariana Salles, as escolas que fazemuso da tecnologia 3D criam um diferencial com-petitivo. “Ao se formar alunos mais criativos, commaior capacidade de entendimento das coisas,formam-se consequentemente profissionais maisqualificados. E o mercado de trabalho reconhe-ce isso. Ao enxergarem que essas escolas e uni-versidades produzem melhores profissionais,essas instituições passam a ser mais procuradas.

Sendo assim, com-pensa o investimen-to que os gestoreseducacionais vão fa-zer, pois isso qualifi-ca bastante a institui-ção de ensino.”

Dado Suter, fun-dador da OHMS,compartilha do mes-mo pensamento desua sócia MarianaSalles. Segundo ele,a utilização de tecno-logias novas, comoas impressoras 3D, fará com que ocorra um sal-to enorme na qualidade de ensino do país e naformação de profissionais ainda mais qualifica-dos para o mercado de trabalho. “A impressora3D é o equivalente a uma massinha em umaescola antiga. Mas é uma massinha que vocênão vai modelar na mão, mas em um computa-dor. Ela faz absolutamente aquilo que você pro-jetou. É uma das ferramentas que ajudam a for-mar alunos mais criativos, mas não é a soluçãomágica que dá criatividade para eles. Mas elacertamente contribui muito. Podemos não ter issoe formar pessoas criativas? Podemos. Mas vocêdá um salto gigantesco tendo um equipamentodesses”, garantiu Dado Suter.

A utilização de objetos em 3D como ferramentas deestudo deixa as aulas mais vivas e recreativas, facili-tando o aprendizado de diversas disciplinas. Uma aulade Química, por exemplo, pode ficar muito mais atra-tiva e esclarecedora quando os estudantes manipulamcadeias moleculares impressas. Em Geografia, por suavez, podem ser utilizados modelos tridimensionais dasplacas tectônicas e de relevo de vários territórios e pa-íses. Ou então, que tal estudar História manipulandoobras culturais de antigas civilizações e moedas anti-gas com as efígies dos reis?

Segundo especialistas na área, com as impressoras3D, o conceito de ensino torna-se outro: os alunosdeixam de visualizar figuras em livros e passam a terem mãos protótipos praticamente reais, o que poten-cializa muito a capacidade de aprendizagem de as-

suntos bastante complexos.“As impressoras 3D são um dispositivo genérico, como

um computador. Enquanto o computador pode gerar sons,imagens e cálculos arbitrários bastando que você o pro-grame, a impressora 3D pode gerar objetos físicos — ar-tísticos ou úteis — bastando que você a programe. Então,o potencial dela é ilimitado não só para educação funda-mental, média e superior, como também para muitos ou-tros propósitos. Você tem a ideia e a concretiza em uminstante. Isso não só torna as aulas mais divertidas, mas,sim, enlouquecedoramente mais dinâmicas. Um alunobrilhante que tenha uma ideia de melhorar um determi-nado mecanismo, pode trazer no dia seguinte o seu pro-tótipo impresso para mostrar ao professor, sem precisarde habilidades de manufatura excepcionais”, disse Cláu-dio Sampaio, da empresa MakerLinux.

60 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

Adobe ajuda a explorar o potencial de professores e alunos ao desenvolverferramentas e recursos que possibilitam otimizar habilidades digitais

Criatividadepara mudar o mundo

ção do desenvolvimento de materiaisde eLearning (aprendizagem eletrôni-ca), impulsionamento da colaboraçãoem documentos digitais e aumento daeficiência e preparação de aulas virtu-ais envolventes.

Com relação ao primeiro tópico, Bar-bieri observou que com as ferramentasde criação da Adobe, disponíveis emplataformas como a Creative Cloud e oDigital Publishing Suite, é possível cri-

Anderson Borges

Acreditamos que a criatividadepode mudar o mundo.” É comesse pensamento, manifestado

pelo seu diretor de Marketing, GracielBarbieri, que a Adobe Brasil desenvol-ve ferramentas, comunidade e recursosde desenvolvimento profissional para es-timular a criatividade de alunos, edu-cadores e instituições de ensino. “Oseducadores têm uma oportunidade euma obrigação de promover a criativi-

dade em seus alunos, desenvolver ha-bilidades digitais. Quando os alunos setornam criadores de conteúdos digitais,podem ampliar suas ideias e aumentaro seu impacto”, avaliou Barbieri.

O diretor da Adobe Brasil explicouque as soluções da empresa para a edu-cação podem ser divididas nos seguin-tes tópicos de interesse: criação de umambiente mais propício ao ensino dehabilidades do mundo real, simplifica-

MERCADO

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 61

MERCADO

Criatividade é fundamental para a escolha da carreira

“QUANDO OS ALUNOS SE

TORNAM CRIADORES DE CONTEÚDOS

DIGITAIS, PODEM AMPLIAR SUAS IDEIAS

E AUMENTAR O SEU IMPACTO”

Catálogo de produtos: www.adobe.com/pt/products/Adobe Edex: edex.adobe.com/

ar materiais envolventes e interativos para a salade aula. “As ferramentas incluem tudo de queum aluno precisa para publicar conteúdo nainternet, seja em sites ou para tablets e smar-tphones, permitindo a criação em diferentes mí-dias, seja em vídeo, material impresso, na Web,em um aplicativo ou em qualquer outro lugar.”

Para o desenvolvimento rápido e fácil de cur-sos de eLearnings, materiais de treinamento elições para sala de aula, a empresa oferece solu-ções como o Presenter 9 e o Adobe Captivate 7,que permitem ainda o gerenciamento e mensu-ração eficientes do progresso dos alunos. No quediz respeito à organização de trabalhos e tarefasem portfólios em PDF fáceis de compartilhar, épossível utilizar o Adobe Acrobat XI Pro, com oqual o usuário consegue otimizar o fluxo de tra-balho com documentos digitais, ganhar em pro-dutividade e ainda criar formulários via web.

Já se o objetivo é atrair cada vez mais a aten-ção dos alunos, a empresa oferece uma platafor-ma chamada Adobe Connect, para a realizaçãode aulas virtuais em um ambiente avançado quepermite a exibição de vídeos, discussões e mui-tos mais em qualquer dispositivo, inclusive iOS eAndroid. Por acreditar que o processo conhecidocomo gameficação deverá mudar a maneira comoas pessoas interagem com produtos e serviços,com impacto também na educação, a Adobeconta também com ferramentas que suportam odesenvolvimento de games, como o Adobe Scout.

Barbieri ressaltou que as instituições têm re-pensado suas metodologias de ensino em sala

de aula, aplicando novas tecnologias e fomen-tando a inserção digital de seus alunos. A cons-ciência desse processo de mundança torna cadavez mais importante o uso de ferramentas comoessas, a fim de acompanhar as transformaçõesem curso na área de educação.

A Adobe desenvolveu, ainda, uma plataformavoltada para o treinamento de professores em tec-nologias diversas, a Adobe Edex (Education Ex-change, algo como Intercâmbio Educacional emportuguês), definida como uma ampla matriz deoportunidades de desenvolvimento profissionale treinamento. Ou uma comunidade de educa-dores compartilhando ideias para salas de aulamais envolventes e criativas. A plataforma ofere-ce conteúdo extenso, que inclui workshops paracriar projetos em sala de aula, webinars (seminá-rios online) ao vivo, com chat de perguntas e res-postas, videos e muito mais. Tudo gratuito paraos educadores. O Edex, no entanto, ainda estádisponível apenas em inglês e japonês.

Para destacar a importância das soluções for-necidas pela Adobe, o diretor de Marketing daempresa argumentou que a necessidade de idei-as criativas nunca foi tão urgente, em funçãodos sérios desafios enfrentados na economiaglobal, no ambiente e em questões sociais. “Aoportunidade de expressar suas ideias digital-mente, para o mundo todo, também nunca foitão grande. É aí que a Adobe acredita poderajudar”, afirmou.

Além disso, segundo ele, uma pesquisa daAdobe com instituições e alunos apontou que85% das pessoas concordaram que o pensa-mento criativo é crucial para a decisão sobreque carreira seguir. “É por isso que acredita-mos que a criatividade deve ser uma priorida-de na educação. A criatividade é para todos.” Epara os que reconhecem a necessidade de con-

tar com essas soluções em suas instituições,Barbieri disse que a Adobe disponibiliza suasferramentas por meio de computação em nu-vem e tem parcerias com as instituições de en-sino para a colaboração com conteúdo e ins-trução de educadores.

“Com essa nova opção de licenciamentopara salas de aula e laboratórios, alunos e ins-tituições têm acesso a todas as ferramentas cri-ativas de criação de conteúdo de uma só vez”,ressaltou, acrescentando que são mais de 25aplicativos e centenas de tutoriais com passo apasso para que alunos e professores possamacelerar o aprendizado e produzir mais.

62 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

Os dados gerados pelo uso da tecnologia no processo educacional podem(e devem) otimizar e contribuir para o desenvolvimento do ensino

Araújo, CTO da AevoTech.Para ele, o grande desafio é a tradu-

ção do universo gigante de dados eminformações úteis que possam ser utili-zadas na tomada de decisão nos negó-cios. “O volume de dados é imenso,tornando inviável a aplicação de técni-cas tradicionais de processamento dedados para tratar e realizar a análise.Para solucionar esse problema tecnolo-gias e algoritmos vieram sendo desen-volvidos nos últimos anos, como porexemplo a computação em nuvem e oalgoritmo map-reduce”, disse.

A ciência que estuda essas bases dedados, utilizando ferramentas da Esta-

Flavia Vargas

Praticamente todos os dias vocêacessa um computador, faz loginno sistema, abre o navegador, en-

tra no e-mail, se cadastra em um portalde notícias. Dali você parte para um sitede compras, conversa com um amigoem uma rede social, publica algo queteve vontade de compartilhar. Pronto.Em apenas alguns minutos, seus dadosforam todos mapeados e seu perfil defi-nido. Isso é o Big Data.

“São grandes conjuntos de dados,tão grandes que apresentam um desa-fio aos métodos tradicionais da estatís-tica, matemática, computação e visu-alização, ao mesmo tempo que possi-

bilitam novas formas de utilização des-tes dados”, definiu Rafael Pinho, coor-denador do Núcleo de InteligênciaEmbarcada do IBMEC.

O Big Data é fruto da coleta de di-ferentes fontes, como sistemas utiliza-dos por uma empresa ou instituição,aplicações fornecidas para clientes, in-terações em redes sociais e sensores emequipamentos, entre uma infinidade demeios. “De forma geral, são dados ca-pazes de refletir o comportamento deentidades relacionadas à empresa-alvo.Esses dados podem ser estruturados ounão, e costumam ser recebidos em di-ferentes formatos”, ressaltou Thiago

na gestão da Educação

MERCADO

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 63

MERCADO

tística, Matemática e Computação, é chamadade Data Science e vem sendo utilizada por em-presas de médio e grande porte visando à re-dução de custos, otimização do investimento,melhor adequação ao público-alvo e identifi-cação de novos produtos e serviços.

“As tomadas de decisão têm mais chancesde darem certo por termos à disposição infor-mações relevantes sobre o comportamento doserviço, muitas vezes impossíveis de serem ob-tidas através de outro meio”, ressaltou Thiago.

A estratégia foi adotada pela Secretaria de Edu-cação do Estado de São Paulo, em parceria com aTuneduc, especializada em transformar dados emferramentas de gestão educacional. A Foco Apren-dizagem é uma ferramenta complexa de organi-zação de informações da rede estadual de São Pau-lo, que cria indicadores pedagógicos por meio dasavaliações padronizadas já existentes na rede.

“A ferramenta cria uma conexão mais claraentre o diagnóstico que a prova oferece e osrecursos pedagógicos que o Estado tem. Quan-do um professor de Matemática, por exemplo,identifica que os alunos dele historicamente nãotêm dominado a habilidade H14 de Matemáti-ca, ele sabe exatamente a quais recursos peda-gógicos recorrer para melhorar essa habilida-de”, explicou Ricardo Madeira, sócio fundadorda Tuneduc e professor de Economia da USP.

Inteiramente financiada pelo Terceiro Setor,toda a plataforma está sendo desenhada den-tro do servidor da Secretaria, de forma quequando o projeto for concluído a Tuneduc vaitransferir a tecnologia à pasta.

“A primeira etapa de entrega foi o que agente chama de ‘mapa de habilidades’, criarindicadores que permitissem uma interven-ção pedagógica, que fosse de fácil compre-ensão para os professores e que fosse atrela-do aos recursos pedagógicos que a rede pos-sui”, disse Ricardo.

Segundo ele, uma das maiores inovações daferramenta é a reconstrução dos indicadores paraos professores no começo do ano letivo, basea-da na avaliação do aluno no ano anterior.

Como as avaliações padronizadas da Secreta-ria são feitas no fim do ano, quando os resultadossão divulgados, aqueles alunos já não estão com omesmo professor. Mas por meio do acompanha-mento de matrículas, a plataforma consegue acom-panhar os alunos e saber para onde eles foram.

“O professor chega lá em fevereiro e já con-segue ver o desempenho da sua turma baseadona prova que foi aplicada no ano anterior. Ago-ra ele tem um diagnóstico da turma que estáali, diante dele”, disse Madeira.

Paralelamente ao Foco Aprendizagem, a Tu-neduc desenvolveu o Termômetro do Abando-no. “Como nós temos uma série histórica des-ses alunos, temos informação de boletim, dequestionário socioeconômico, nós usamos esseconjunto de informações para prever os alunosque tinham alta chance de abandono”, expli-cou. A ferramenta conseguiu prever mais de50% dos abandonos que ocorreram.

A rede estadual de São Paulo conta com maisde 5 mil escolas, e mais de 75% delas utilizamo Foco Aprendizagem. “O que a gente tem éuma evidência qualitativa que mostra que a redeestá bastante satisfeita, em particular os profes-sores, que agora podem fazer uma leitura pe-dagógica dos dados”, disse Ricardo.

Entre os objetivos da plataforma estão aju-dar a avaliação padronizada a subsidiar a in-tervenção pedagógica, ajudar as escolas e di-retorias de ensino no planejamento estratégi-co, além de proporcionar uma locação maiseficiente das políticas públicas.

Para Madeira, a utilização dos dados no pro-cesso de tomada de de-cisão é uma tendênciaque veio para ficar.Se no pas-sado nãohavia mui-ta informa-ção dispo-nível, hoje nosd e p a ra m o scom uma infi-nidade de da-dos. O impor-tante é saber organi-zar e transformar es-ses dados em algo queseja útil, criando indi-cadores que ajudem natomada de decisão.

O custo computacionalem declínio aliado aoimenso banco de informaçõesgerado hoje vem tornando a análi-se dos dados um diferencial, ca-paz de transformar gestões.

“Cada vez mais vai aumentarnossa capacidade de capturar da-dos de alta frequência, com veloci-dade, e transformar isso em indica-dores que possam apoiar a gestão,e aqueles que não se prepararempara isso vão acabar ficando paratrás”, concluiu Ricardo. ■

64 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

CASE

Experiência acumulada em três anos com a plataforma educacional própriaserá aplicada em sua totalidade na Escola Eleva, a partir de 2017

sendo gerado e testado pela equipe for-mada por 150 conteudistas do Eleva —e que é constantemente alimentado eatualizado. O aluno é o centro de tudo,e o professor é um motivador. A plata-forma é adaptativa, e atende a diferen-tes estilos e velocidades de aprendiza-gem. Atualmente, dispõe de mais de 6mil videoaulas e mais de 20 mil ques-tões “tagueadas” a assuntos específicosdas disciplinas, além da monitoria quepermite individualizar o aprendizado.

“Na primeira semana o conteúdo éigual. Mas a plataforma mapeia e mos-tra que um aluno vai melhor em Mate-mática do que em Geografia, e um outroo contrário. Automaticamente vão sen-

Débora Thomé

Criado em 2013, o Grupo ElevaEducação, holding mantida pelofundo Gera Venture Capital, que

tem o empresário carioca Jorge PauloLemann como principal acionista, veminvestindo em três pilares para oferecerum ensino moderno, excelência acadê-mica, habilidades de vida e inteligênciaemocional — tudo alinhado com tecno-logia. Atualmente, são 55 escolas nosestados do Rio de Janeiro, Minas Geraise Paraná, divididas entre as redes Pensi,Elite, Coleguium e Alfa, além de parceri-as com várias outras escolas espalhadaspelo Brasil usando o sistema.

Não à toa, a “menina dos olhos” dogrupo é a plataforma de ensino desen-

volvida para atender às demandas daeducação moderna que propõe. “Umadas principais tendências em educaçãoé a tecnologia, e precisamos acompa-nhar de perto e entender seu impactono aprendizado. Há uma sinergia nosnegócios porque as nossas escolas usamessas tecnologias”, disse o CEO do gru-po, Bruno Elias. Uma das maiores van-tagens, que poderia ser apontada comoa fórmula de tanto sucesso, está na ma-neira como é usada.

Antes de as escolas implementarema plataforma, há uma capacitação dosprofessores para lidar com todas as fer-ramentas disponíveis, otimizando o usodo material didático que levou três anos

Grupo Elevae suas lições de inovação

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 65

CASE

“O GOOGLE SABE MUITO MAIS DO QUE

QUALQUER PROFESSOR. POR ISSO, A

INOVAÇÃO TEM QUE SER TANTO O QUE

VOCÊ PASSA QUANTO COMO VOCÊ PASSA”

do sugeridos vídeos com aulas de cinco a dezminutos, que abordam os assuntos onde foi iden-tificada a maior dificuldade. Junto, a plataformaindica mais questões com essa tag, até entenderque o aluno assimilou o conteúdo. E nas disci-plinas que os alunos são bons, a plataforma vaijogando questões mais difíceis, acompanhandoo nível de aprendizado do aluno para não dei-xá-lo desestimular”, explicou Elias.

Mas o grande “pulo do gato” para fazer todaessa engrenagem tecnológica funcionar foi a de-cisão de implantar uma metodologia de aprimo-ramento dos 1.500 professores que usam a plata-forma com seus alunos nas escolas do grupo eparceiras. Como foi feito isso? Desde o ano pas-sado, aulas dos professores da rede passaram aser gravadas para dar feedbacks para melhora naperformance didática dos educadores. “O pro-fessor é avisado sobre a data da filmagem e de-pois ele pode pegar o resultado da avaliação paramelhorar sua dinâmica de aula”, disse o CEO.

Bruno Elias explicou que houve resistênciapor parte de alguns professores, que não enten-deram, de início, a cultura de aprimoramentoimplementada. “A gravação soava como avalia-

ção e controle. Por isso, precisamos criar umprograma completo de capacitação contínua,aberto à participação de todos os docentes. Isso,sim, foi uma verdadeira mudança de cultura e,a partir daí, quebramos boa parte da resistênciae começamos a colher os primeiros resultadospositivos que, atualmente, são maioria esmaga-dora.” De acordo com o CEO, o desafio foi mos-trar que o papel do professor é o de transformarvidas. E foi cumprido: “Temos avaliações inter-nas, feitas pela direção pedagógica do grupo,que comprovam que estamos no caminho cer-to; o percentual de professores, hoje, no cami-nho certo é de 95%”, disse Elias.

Entrada da Casa Daros, em Botafogo, quefoi reformada para se tornar sede da Escola Eleva

66 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

CASE

Como o material é usado

Escola Eleva reunirá toda a expertise do grupoO ápice da aplicação de todo esse concei-

to pedagógico será a partir de 2017, com aEscola Eleva, instalada no casarão histórico emBotafogo, onde funcionou a Casa Daros. A es-cola terá regime de turno integral, com ensinobilíngue da educação fundamental ao ensinomédio. O financiamento investido na emprei-tada foi estimado em R$100 milhões. A insti-tuição abrirá, inicialmente, com 150 alunos,e pretende chegar a mil em seis anos.

O prédio da Rua General Severiano — quefoi construído para ser a sede do EducandárioSanta Teresa, e posteriormente recebeu os alu-nos do Colégio Anglo Americano —, foi total-mente reformado. Suas 30 salas de aula, cin-co laboratórios, uma biblioteca de três anda-res, um auditório e ambientes de arte e músi-ca devem reunir o que há de mais inovador eeficiente no mercado educacional.

As aulas serão dinâmicas e as salas pode-rão ser nos moldes mais tradicionais, no for-mato de anfiteatro, ou locais onde os estu-dantes ocupam o centro da sala, dentro daproposta de sala de aula invertida. A unidadetambém contará com um laboratório demaker space —, movimento que teve inícioem grandes centros educacionais, como aUniversidade Harvard —, equipado comcortadora a laser e impressora em 3D. Eos estudantes receberão conceitos de de-sign thinking, metodologia que consisteem apresentar um desafio e realizar dis-

cussões e dinâmicas de grupo para encon-trar soluções para os mais variados pro-blemas apresentados.

Além desse ensino moderno das ma-térias básicas, os alunos terão aulas denoção financeira, sustentabilidade e di-versidade. A ideia é estimular o pen-samento crítico, o trabalho em equi-pe, a comunicação, a perseverança ea pró-atividade, valores muito aprecia-dos no universo corporativo. A escola fun-cionará em turno integral, com atividadesdas 8 às 16h. “A Escola Eleva nasce com amissão de prover um ensinode excelência, para formarum cidadão completo, quetenha compromissocom a comunidade eo mundo ao seuredor”, resu-miu BrunoElias. ■

“O Google sabe muito mais do que qualquer professor. Por isso, ainovação tem que ser tanto o que você passa quanto como você passa.Depois de uma pesquisa gigante, decidimos que todo e qualquer capí-tulo de qualquer assunto tem que ser contextualizado. Por exemplo,função exponencial, lembram disso? Era horrível estudar, não é? Y=Fx=ae nessa altura já tem aluno dormindo, no celular, não funciona maisisso. Com o script do nosso material o professor pode explicar assim:‘vocês ouviram o boato que o Facebook vai acabar?’; e aí você fala: ‘é,espalharam esse boato, mas como se espalha boato? imaginem quequatro pessoas falam sobre isso, e cada uma dessas pessoas fala commais uma pessoa, então são quatro as pessoas originais vezes dois,que são as pessoas com as quais cada um falou, e se cada uma dessaspessoas falar com mais uma, temos 4x2x2... e se esse cara falar commais uma, vezes dois, vezes dois... A Matemática nos ajuda a escreverisso, com uma função, chamada função exponencial e também tem a

exponencial, que é como se espalha um boato. Mas também tem aexponencial negativa. Vocês quando vão ao dentista e tomam aneste-sia, como é o efeito? A anestesia começa muito forte e ela vai caindoconforme o tempo passa; isso é uma exponencial negativa’. Assim vocêjá mostrou para o aluno que aquele negócio que era o terror da vidadele está presente na vida dele. Isso impacta não só no Enem, mas nasala de aula porque o ensino fica mais agradável, o aluno entende queestá aprendendo aquilo com um propósito.”

Bruno Elias (foto) dá exemplodo modelo didático do Eleva

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 67

Jogos educacionais podem ser usados em todas as disciplinas paraincrementar o aprendizado por meio da ‘experiência’ virtual

Felipe Simão

Ensino gamificadoO início de uma nova era

Muito se questiona sobre o futuro daeducação e não dá para imaginaras escolas e instituições de ensino

fora de todo um contexto tecnológico. Es-pecialistas dizem que quando os alunos vi-venciam a experiência da gamificação, háum efeito maior no aprendizado. E o pro-fessor? Esse deve estar aberto e preparadopara as mudanças que já ocorrem e paraas muitas que estão por vir. Para se adap-tarem a uma nova realidade, é precisoaprender a criar novos cenários para atransmissão de conhecimento, e a arqui-tetura dos games pode ser benéfica.

Enquanto muitos valorizam novastendências, outros as encaram negativa-mente. É o que disse Samir Iásbeck, fun-dador do Qranio, plataforma mobile deaprendizagem. “Muitos educadores caem nogrande erro de ‘demonizar’ a tecnologia. Comisso eles perdem a oportunidade de percebercomo ela pode contribuir com a educação egerar um ambiente mais instigante para os alu-nos”, disse.

Carla Zeltzer, sócia co-fundadora da TecZelt,empresa ciradora do software FazGame, per-cebe que o maior desafio do professor no usoda gamificação é motivar os alunos em suasaulas e para o aprendizado do conteúdo pe-dagógico. “Professor não precisa ser um ga-mer para introduzir a gamificação na sala deaula. Ele pode se inteirar das novidades tec-nológicas, trocando com outros professores eaté mesmo com os alunos”, disse.

Para o diretor de Games para Aprendiza-gem, Impacto Social e Saúde da Abragames eCEO da Virgo Games, Mário Lapin, a transfor-mação nas escolas deve envolver os educadoresem todas as suas esferas, por meio da adoção demetodologias ativas. “Tratando-se de escola, opapel do educador é essencial na obtenção deresultados por meio de estratégias lúdicas.” Paraele, o processo de tornar a escola mais lúdica e

relevante para os estudan-tes deve ser abrangente, transfor-

mando a organização curricular, o for-mato da sala de aula, a atitude dos educa-

dores e a forma como os estudantes são ava-liados e reconhecidos.

O mercado apresenta uma infinidade de ga-mes para diversas idades e conteúdos pedagó-gicos. Para Carla Zeltzer, o importante é criarum processo onde o professor pesquise gamesque vão de encontro aos seus objetivos peda-gógicos. “Alguns tipos se inserem de forma maisfácil para determinados conteúdos, como RPG,ótimo para ensino de idiomas, para temastransversais como sustentabilidade e empre-endedorismo, e para temas da área de Huma-nas”, exemplificou.

Samir Iásbeck ainda frisou que a gamifica-ção pode ser utilizada em todas as disciplinas,desde que os conteúdos sejam adaptados aosdispositivos onde serão exibidos. “No mobilelearning, por exemplo, que consiste no uso detecnologias móveis como smartphones e tabletspara obter uma experiência de aprendizado, re-comenda-se que o conteúdo seja disponibiliza-do em pequenos blocos informativos, denomi-nados pílulas de conteúdo. Como a tela em dis-positivos móveis é menor, não é recomendadofazer o uso de muitos textos ou imagens.”

MULTIPLICADORES

68 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

A tecnologia mobile cresce mais rápidodo que a internet cresceu na década de 1990.Algumas estatísticas apontam que já existemmais smartphones do que televisores no mun-do e, em alguns países, o número de apare-lhos já é maior do que a sua população. Essatecnologia vem recebendo cada vez maisatenção de variados tipos de empresas e or-ganizações, principalmente daquelas quequerem continuar na linha de frente da ino-vação, pois ainda há muitos recursos e ferra-mentas inexploradas em um mercado que sótende a crescer. Por que não usar esses dis-positivos para promover o nosso autodesen-volvimento?

Atualmente, os produtos tecnológicos es-tão muito presentes na vida das pessoas, des-de muito cedo. Para Samir Iásbeck, a escolaprecisa estar preparada para receber a ge-ração Y, que já nasce habituada a utilizardiversos dispositivos. “Em vez de criticar-mos a utilização massiva desses aparelhosou nível de dispersão que eles podem, te-mos de desenvolver formas de utilizar essesmeios para produzir conhecimento de for-ma atrativa”, complementou.

No que se refere à gamificação, Carla Zelt-zer disse que o mercado educacional tem o

A tecnologia móvel no cenário do ensinodesafio de construir games com conteúdoseducacionais diversos, com um padrão esté-tico compatível com o da indústria do entre-tenimento, mas com orçamentos e métricasde mercado reduzidos. “O caminho é criarferramentas que possam atingir um públicogrande e com valores baixos, com uma in-terface de fácil uso e design atraente.”

Samir Iásbeck afirmou que o mercadotem o papel de contribuir para a amplia-ção do acesso das pessoas ao conhecimen-to, oferecendo às classes menos favoreci-das a oportunidade de aprender de formaautônoma. “As empresas que trabalhamcom a produção de conteúdos gamifica-dos devem oferecer serviços gratuitos paratodas as pessoas para que possamos am-pliar as oportunidades.”

No Brasil, há centenas de pesquisas pu-blicadas sobre gamificação comprovando osresultados qualitativos obtidos, mas isso nãobasta. “Ainda temos muito o que caminharna medição de resultados quantitativos, masneste aspecto, o estado da arte da avaliaçãoda gamificação como estratégia de aprendi-zagem está em compasso com a avaliaçãode outras tecnologias educacionais”, finali-zou Carla Zeltzer. ■

MULTIPLICADORES

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 69

CASE

Secretaria de Educação do Estado de São Paulo investe no uso detecnologias para evitar a evasão escolar no ensino médio

ção para reduzir estes índices e criar ummodelo de ensino mais atrativo tem seualicerce em palavras como interativida-de, gameficação e, principalmente, tec-nologia. Um formato, mais focado nainovação, vem ganhando cada vez maiselementos dentro das Secretarias de Edu-cação, principalmente das estudais, quesão responsáveis pelo ensino médio.

Para a coordenadora de Gestão Básicada Secretaria Estadual de Educação de SãoPaulo, professora Valéria de Souza, a utili-

Igor Regis

Mais do que garantir a estrutu-ra física das escolas, aulas,professores e recursos para o

funcionamento da Educação, o estadose depara com outro desafio dentro doensino público: a falta de engajamentoe de interesse dos alunos. O fenômenono qual o aluno não se sente parte do pro-cesso de aprendizagem ou não consideraútil o conteúdo das é comum e atinge umagrande fatia dos jovens em idade escolar,principalmente no ensino médio.

De acordo com dados de 2014 doInstituto Brasileiro de Geografia e Esta-tística (IBGE) cerca de 1,3 milhões dejovens entre 15 e 17 anos deixaram aescola sem concluir os estudos. Destes,52% não concluíram sequer o ensinofundamental. Apesar de ter apresenta-do uma grande redução nos últimos dezanos, a evasão escolar ainda atinge 6,8%dos alunos de ensino médio, comoapontam dados do Inep.

A aposta dos profissionais da Educa-

Por um ensino mais atrativo

70 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

CASE

zação de ferramentas inovadoras deve ser levadaem consideração para aproximar o aluno do pro-cesso de aprendizagem. “Toda essa discussão quetemos hoje sobre o ensino médio passa pela ques-tão da tecnologia. Os alunos do Brasil inteiro es-tão ansiosos por uma aula diferente e esta aulapassa pelo uso dela em sala de aula. A educaçãotem que ser divertida e colaborativa. Para o ensinomédio, em que os alunos não enxergam sentindoem alguns conteúdos, a tecnologia vem pra trazereste significado”, destacou durante oCase.edutech.edu, realizado em setembro.

Entre os modelos que reforçam essa buscapor uma transformação no formato educacio-nal são o “Foco Aprendizagem” e o “Currículo+”, ambas desenvolvidas pelo Governo de SãoPaulo. A primeira é uma ferramenta pela qualos professores têm acesso aos dados das últi-mas edições do Saresp, prova que valia a edu-cação básica no estado. Com isso, é possívelindividualizar os resultados de cada série eunidade de ensino e cruzar dados dos estudan-tes, formando um diagnóstico para o conjuntodesses alunos, mesmo que tenham vindo deoutras turmas ou escolas da rede. “A educaçãode hoje precisa ser precisa e personalizada, comuma abordagem e processos que respeitem anecessidade de cada um”, salientou Valéria.

Já o “Currículo +” é uma plataforma online deconteúdos digitais (vídeos, videoaulas, jogos, ani-mações, simuladores e infográficos), articuladoscom o Currículo do Estado de São Paulo que visapromover maior motivação, engajamento e parti-cipação dos alunos. Por meio de situações e desa-fios o aluno é estimulado a utilizar o conhecimen-to interdisciplinar para, por exemplo, salvar o pla-neta de uma ‘invasão alienígena’. “Os jogos au-mentam o interesse e tem um grande apelo, poisfaz parte do aprendizado e não é visto como obri-gação. Os professores têm um pouco de medo,mas os alunos adoram”, brincou a coordenadora.

As ferramentas, que já estão em funciona-mento nas 91 diretorias de ensino do Estado deSão Paulo, terão seus resultados avaliados nofim de novembro, quando será realizada a pró-xima edição do Saresp. A partir daí serão cru-zados dados dos últimos anos para avaliar odesempenho das plataformas na prática.

Na visão do secretário de Educação de SãoPaulo, José Renato Nalini, a incorporação des-ses projetos ao ensino básico não tem como ob-jetivo só evitar a evasão, mas também prepararo aluno para uma realidade cada vez mais tec-nológica. “Nós precisamos formar gerações queestejam familiarizadas com a necessidade de fa-zer mutações radicais em sua vida. Cerca de 60%

das profissões de hoje não existirão daqui a 20anos. Então nós temos que criar educar uma ju-ventude capaz de se adaptar, se reciclar e fazercoisas que ainda não são imagináveis, mas paraas quais eles têm que estar prontos”, afirmouele em entrevista concedida antes do evento.

“Nós precisamos incentivar que o jovemseja um criador de alternativas para fazer oque ele goste e produza resultados que permi-tam que ele se desenvolva, se sustente e estejasempre pronto para inovar. Importante tam-bém a fazer com que o aluno se sinta protago-nista, sendo um cocriador, com autonomiapara mostrar que existem formas mais agradá-veis de aprender”, completou Nalini. ■

“OS ALUNOS DO BRASIL INTEIRO

ESTÃO ANSIOSOS POR UMA AULA

DIFERENTE E ESTA AULA PASSA PELO USO

DA TECNOLOGIA EM SALA DE AULA”

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 71

NOTAS

■ ■ ■ ■ ■ TOP 10 TENDÊNCIAS TECNOLÓGICASPARA 2017 SEGUNDO GARTNER

ENTRAR EM UMA SALA DE AULA E SER RECEBIDO POR UM ROBÔ HUMANOIDE QUE ENSINA GEOMETRIA. COMO SERÁ QUE ADOLESCEN-TES REAGEM A ESSE NOVO PROFESSOR E A SUAS DIFERENTES FORMAS DE ENSINAR? ESSE É O FOCO DE DIVERSAS PESQUISAS QUE ESTÃO

SENDO REALIZADAS NO INSTITUTO DE CIÊNCIAS MATEMÁTICAS E DE COMPUTAÇÃO (ICMC) DA USP, EM SÃO CARLOS.ENTRE OS TRABALHOS RELACIONADOS AO TEMA ESTÁ UM PROJETO DE MESTRADO QUE UTILIZOU O ROBÔ NAO PARA ENSINAR

GEOMETRIA A 62 ADOLESCENTES ENTRE 13 E 14 ANOS DE ESCOLAS PÚBLICAS E PARTICULARES DE SÃO CARLOS. POR MEIO DE

UM SISTEMA DE VISÃO COMPUTACIONAL, O ROBÔ FOI PROGRAMADO PARA RECONHECER FIGURAS GEOMÉTRICAS PLANAS.COM A AJUDA DE PROFESSORES DA ÁREA DE EDUCAÇÃO E DE MATEMÁTICA, O PESQUISADOR ADAM MOREIRA PROPÔS

DIVERSAS ATIVIDADES AOS ALUNOS. “OS PESQUISADORES DA ÁREA DA EDUCAÇÃO BUSCAM NOVAS FERRAMENTAS DE ENSINO COM

A INSERÇÃO DE TECNOLOGIA EM SALA DE AULA. HOJE EM DIA, NOTA-SE QUE A SIMPLES EXPOSIÇÃO DE CONTEÚDO NA LOUSA NÃO

ATRAI TODA A ATENÇÃO DOS ALUNOS E A ROBÓTICA PODE TORNAR A AULA MAIS ATRATIVA”, AFIRMOU ROSELI ROMERO, PROFESSORA

DO ICMC E ORIENTADORA DO TRABALHO. ROSELI CONTA QUE A ROBÓTICA EDUCACIONAL É MUITO BEM RECEBIDA PELOS JOVENS

E ACEITA POR TODAS AS CLASSES SOCIAIS. ELA RESSALTA, AINDA, QUE A INCLUSÃO DO ROBÔ EM SALA DE AULA NÃO VISA

SUBSTITUIR O PROFESSOR, E SIM PROPOR NOVAS ALTERNATIVAS DE TRABALHO. PARA O FUTURO DA ROBÓTICA EDUCACIONAL,ROSELI VISLUMBRA UMA GRANDE REVOLUÇÃO NO ENSINO. ELA ACREDITA QUE, À MEDIDA QUE ESSES ROBÔS FOREM SE TORNANDO

CADA VEZ MAIS SOCIÁVEIS E INTELIGENTES, TEREMOS GRANDES MUDANÇAS: “HOJE EM DIA, A MAIORIA DOS PROFESSORES PREPARA

SUAS AULAS UTILIZANDO COMPUTADORES, ENTÃO, POR QUE NÃO PENSAR, NO FUTURO, EM PREPARÁ-LAS UTILIZANDO ROBÔS?”.

■■■■■ ROBÔ ENSINA GEOMETRIA A ADOLESCENTES

■ ■ ■ ■ ■ INVESTIMENTO CHINÊS

A Huawei quer reforçar suas inicia-tivas de educação no Brasil. Para tan-to, esta implantando três ações de for-te impacto: uma parceria para inova-ção e capacitação de talentos em cida-des inteligentes com a Universidade de SãoPaulo (USP), um projeto de pesquisa em SDNe transmissão de dados em alta velocidade com a Uni-versidade Estadual Paulista (Unesp) e uma carta de intenções com oMinistério da Educação (MEC) para ampliar qualidade e acesso àeducação tecnológica. Desde 2005, mais de 20 mil profissionais fo-ram capacitados e certificados pelo Centro de Aprendizagem daHuawei no Brasil e a meta da companhia é que outros 20 mil sejamcapacitados nos próximos três anos. “Como player global, o Brasilprecisa assumir a posição de liderança no desenvolvimento dessemundo digital. TIC pode liderar a economia e nós definimos educa-ção como prioridade para nosso trabalho no País”, afirmou o CEO daHuawei Brasil, Wei Yao. Para a meta de 20 mil profissionais capacita-dos em três anos, a fabricante já conta com parcerias com PUC-RS,Universidade Federal de Campina Grande, Inatel e USP.

Inteligência será a palavra-chave das principais tecnologias de 2017, segundo o Gartner, empresade pesquisa e aconselhamento em tecnologia. David Cearley, vice-presidente da consultoria, destacouque essas tecnologias incluirão “inteligência em todas as partes”, o mundo digital e a integração como mundo físico e a malha das plataformas e dos serviços necessários a esta infraestrutura. SegundoCearley, tecnologias e abordagens científicas de dados estão evoluindo para incluir aprendizado avan-çado das máquinas e a inteligência artificial, permitindo a criação de sistemas programados paraaprenderem e se adaptarem. O top 10 nas tendências tecnológicas estratégicas para 2017 é:

1. 1. 1. 1. 1. Inteligência Artificial Avançada da Máquina2. 2. 2. 2. 2. Aplicativos Inteligentes3.3.3.3.3. Coisas inteligentes4.4.4.4.4. Realidade Virtual e Aumentada5.5.5.5.5. Gêmeo Digital6.6.6.6.6. Blockchain e Registros Distribuídos7.7.7.7.7. Sistemas Conversacionais8. 8. 8. 8. 8. Aplicativo de Malha e arquitetura de Serviços9. 9. 9. 9. 9. Plataformas de Tecnologia Digital10.10.10.10.10. Arquitetura de Segurança Adaptável

■ ■ ■ ■ ■ BOM LEMBRAR QUE...

... o Conselho de Direitos Humanos da Or-ganização das Nações Unidas (ONU) apro-vou uma resolução sobre o funcionamento dainternet no mundo. No texto, apresentado pelaSuécia e aprovado com apoio do Brasil, a or-ganização solicita que “todos os Estados pla-nejem criar, por meio de processosmultissetoriais, inclusivos e transparentes,políticas públicas nacionais para a internet”.Países integrantes da ONU, segundo a reso-lução, devem ter políticas de educação eletramento digital para facilitar o uso dainternet como fonte de informação pelo cida-dão, precisam criar políticas de acesso à redee iniciativas para aumentar a conectividadede mulheres e meninas. Também cobra açõesde estímulo à adoção de ferramentas de aces-sibilidade para permitir a integração de pes-soas com deficiência no ambiente digital.

RECÉM DIVULGADA, A PESQUISA TIC EDUCAÇÃO

2015 MOSTROU QUE O USO DO CELULAR COMO ACES-SO À INTERNET É TENDÊNCIA TAMBÉM NA EDUCAÇÃO

BRASILEIRA. UM TERÇO DOS DOCENTES (39%)AFIRMOU USAR O CELULAR PARA REALIZAR ATI-VIDADES COM ALUNOS. DESSES, 36% SÃO DE

ESCOLAS PÚBLICAS E 46% DAS PRIVADAS.OS DADOS DO LEVANTAMENTO, REALIZADO

PELO CETIC.BR, BRAÇO DE ESTUDOS DO NIC.BR, INDICARAM, TAMBÉM, QUE AINDA HÁ

UMA PARCELA GRANDE DA POPULAÇÃO SEM CONEXÃO. ACESSAM A REDE 58% DA

POPULAÇÃO COM 10 ANOS OU MAIS, DOS QUAIS 89% PELO CELULAR, ENQUANTO

65% USAM COMPUTADOR DE MESA, PORTÁTIL OU TABLET. NA EDIÇÃO ANTERIOR, ERAM

80% PELO COMPUTADOR E 76% PELO TELEFONE CELULAR.NAS ÁREAS URBANAS, O ACESSO À INTERNET ESTÁ EM TODAS AS ESCOLAS PRIVADAS

E EM, 93% DA REDE PÚBLICA. PORÉM, O USO EM SALA DE AULA SÓ É FEITO POR 72%DAS PRIVADAS E EM 43% DA REDE PÚBLICA. UM LIMITADOR, DE ACORDO COM OS

ESPECIALISTAS QUE REALIZARAM O LEVANTAMENTO, É A CAPACIDADE DA BANDA LARGA

NAS ESCOLAS — 45% DECLARARAM TER VELOCIDADE DE ATÉ 2MPS.A COLETA DE DADOS FOI REALIZADA ENTRE OS MESES DE SETEMBRO E DEZEMBRO DE

2015, A PARTIR DE ENTREVISTAS COM 898 DIRETORES, 861 COORDENADORES PEDA-GÓGICOS, 1.631 PROFESSORES E 9.213 ALUNOS.

■■■■■ JOGOS DE LEITURA

A segunda edição da Olimpíada de Atu-alidades Guten permanecerá no ar até o dia20 de novembro; ainda dá tempo de parti-cipar de algumas das atividades, como osjogos semanais que verificam seus conhe-cimentos a respeito dos textos publicadosno Guten News, ampliando o repertório cul-tural das crianças e desenvolvendo habili-dades leitoras fundamentais para seu su-cesso acadêmico, profissional e pessoal.O público-alvo da Olimpíada são os estu-dantes entre o 4º e 9º anos do Ensino Fun-damental. Estudantes de escolas públicase privadas estão convidados a participar daOlimpíada. Os pais e professores têm pa-pel fundamental no incentivo ao hábito lei-tor dos estudantes. Dessa forma, a Gutenressalta a importância do apoio dos adul-tos às práticas leitoras do alunos e, no caso,da participação na Olimpíada.

http://gutennews.com.br/olimpiada/

■ ■ ■ ■ ■ TIC EDUCAÇÃO 2015DIVULGAÇÃO

72 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

Ogrande desafio do sistema edu-cacional brasileiro é conseguiraliar os métodos pedagógicos

com a tecnologia para trazer inovaçãoao aprendizado. Com o mundo cada vezmais digital, as instituições de ensinonão podem ignorar as mudanças e pre-cisam se adaptar à nova realidade. Esseassunto foi um dos temas amplamentediscutidos durante o EduTech Fórum, re-alizado pela Ingram Micro em setem-bro, no Hotel Hilton, em São Paulo.Com a decisão de trabalhar por verti-cais de mercado, oferecendo diversastecnologias para aplicação em uma in-dústria específica, a companhia esco-lheu Educação como o primeiro seg-mento para promover seu Tech Fórum.

Responsável pela estruturação des-te novo trabalho, a gerente LucianaPeixoto comentou como a empresa iráatuar neste setor: “Nosso objetivo é en-tregar uma solução completa, em queé possível encontrar em um só lugar,por meio de nossos canais especiali-zados em educação, tudo o que senecessita para conseguir implantarprojetos que agreguem valor à insti-tuição”, afirma Luciana.

As empresas parceiras da Ingram Mi-cro oferecem serviços que possibilitama implantação de um novo formato deensino, tanto dentro como fora da salade aula. Durante o Fórum, Ricardo San-tos, Business Development da CISCO,destacou, por exemplo, a utilização deBig Data e Analytics para fazer análisedo perfil do aluno e traçar um projetopedagógico específico a ele. Essa gestão

de informação já vem sendo estudada naArgentina, desmistificando que a açãoesteja longe de nossa realidade: “Na Ar-gentina, já se fazem estudos práticos noscolégios técnicos sobre como utilizaresses dados para personalizar o ensinopara cada aluno. Cada aluno entende deum jeito, numa velocidade”, ressaltou.

Já Ruben Pimenta, diretor de TIC noCentro Estadual de Educação Tecnoló-gica Paula Souza, comentou a necessi-dade da atualização do método de en-sino: “Empoderar o professor é muitomais trabalhoso do que empoderar oaluno. Este já chega inserido num mun-do totalmente digital. Se o professor nãopassar a ensinar de uma forma inova-dora, tornando o assunto interessante,rapidamente o aluno perderá a aten-ção”, avaliou o executivo.

Nesse contexto, visando à capacita-ção desses profissionais, a Microsoft criouo Programa Professores Embaixadores. Odiretor de educação da empresa, Anto-nio Moraes, contou como funciona. “Sãoprofessores, que fazem parte do quadrode funcionários da empresa, mas que sededicam a apoiar os educadores da redepública e privada na adoção da tecnolo-gia. Se eles usarem uma tecnologia queresulte na economia de uma hora de seutempo, já é um ganho tremendo. Assim,passam a colocar a tecnologia como par-te de seu dia a dia”.

Diego Volpe, gerente de ecossistemaeducacional da Intel, ressaltou a impor-tância da reflexão sobre qual tipo deeducação estamos almejando. “Quere-mos treinar alunos para passar no vesti-

bular ou ter uma educação mais com-pleta, onde possam contribuir de ma-neira ampla para a sociedade? Os em-pregos que existem hoje, provavelmen-te mudarão daqui a dez anos. Então,quais são as habilidades essenciais queprecisam desenvolver nesses alunos?Assim, o professor começa a aplicarmetodologias que transformam esse pro-cesso”, comentou, ao defender que, emvez de os alunos estudarem as matériasde maneira convencional, podem tra-balhar em um projeto, criar contexto:“Ensinar ao invés de só consumir”.

Além da relação do professor com oaluno, a tecnologia também pode bene-ficiar uma instituição de ensino com ogerenciamento de informação. A quan-tidade de dados de uma empresa dobraa cada ano e ninguém remove conteú-do, por isso esse número cresce de for-ma espantosa. Marcos Tadeu, gerente deengenharia de vendas da Veritas, comen-tou que “não é possível falar sobre tec-nologia hoje em dia sem falar de Cloud”.A Veritas é um grande provedor de ge-renciamento de dados com soluções vol-tadas à proteção, disponibilidade e co-nhecimento dessas informações.

No entanto, é necessário garantir asegurança deste conteúdo armazenadoem nuvens. Com isso, Felipe Prado, Se-curity Architect da IBM, analisa que asempresas já vêm se preparando quantoao Cloud Security. “É uma questão dedesafio, uma quebra de paradigma, maso mercado já está se consolidando comferramentas de segurança para poder fa-zer a gestão”, avaliou Prado.

Fórum promovido pela Ingram Micro discutiu os novos caminhos parainovar o aprendizado dentro e fora da sala de aula

INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016 73

EVENTOS

Maior distribuidor mundial detecnologia e líder global da cadeiade suprimentos de TI, serviçospara dispositivos móveis, cloud,automação e soluções de logísti-ca, a Ingram Micro está no Bra-sil desde 1997. Com escritóriosregionais em São Paulo, Rio deJaneiro, Belo Horizonte, Brasília,Porto Alegre e Recife, a IngramMicro provê suporte às necessi-dades de toda a cadeia de distri-buição, assegurando a conquis-ta dos objetivos de negócios deseus parceiros e clientes dentrodas melhores práticas de merca-do, atendendo setores comoeducação, transportes, agrone-gócio, recursos naturais, saúde,serviços financeiros, varejo eárea pública, entre outros.

Atualmente, a Ingram Microdispõe de produtos e soluçõesde 75 fabricantes para prontaentrega e importação exclusivano modelo de VAD, VOD, mo-bilidade, automação e cloud.

Nos últimos anos, a IngramMicro imprimiu um ritmo ace-lerado de mudanças no Brasil,com a ampliação do portfólioem diversas verticais do merca-do e várias soluções de big datae advanced analytics, security,cloud, customer experience, IoT,estrutura convergente e mobili-dade. Além dos serviços de dis-tribuição de soluções e produ-tos, oferece apoio para o desen-volvimento de seu ecossistema,com benefícios exclusivos, re-cursos de logística e de mobili-dade, suporte profissional técni-co e soluções financeiras, atu-ando como um elo vital na ca-deia de valor de tecnologia.

Hackademiareuniu desenvolvedores em SP

FOTOS: DIVULGAÇÃO

O 1º Simpósiode Novas TecnologiasEducacionais (Case Edtech)contou com a participaçãode representantes de startupsde tecnologias educacionaisde vários estados

Juliana Borges

A presença da tecnologia na educa-ção acelera o ensino e o torna mais di-nâmico. A chegada de novas ferramen-tas nas salas de aula, porém, ainda é re-cente e se encontra em fase inicial. Como objetivo de divulgar e conhecer o tra-balho de empresas que inovam na edu-cação, a Hackademia, iniciativa que bus-ca promover o mercado de educaçãotecnológica, realizou no último dia 30de setembro o 1º Simpósio de Novas Tec-nologias Educacionais (Case Edtech).

O evento foi realizado na sede daSecretaria Estadual da Educação de SãoPaulo e contou com o apoio do órgãoe a presença do secretário da educa-ção, José Renato Nalini.

O simpósio reuniu 24 das princi-pais empresas na área de educação,teve parcerias como a Microsoft, aNova Escola e o Instituto Ayrton Sen-na e contou com palestras, debates eapresentação de cases de empresas estartups. O intuito do evento, segun-do a Hackademia, foi o de mostrarresultados alcançados até 2016, jáque em 2014 a iniciativa afirmou quea escola estava parada na RevoluçãoIndustrial e em 2015 declarou que atecnologia mudaria a educação.

“Muita coisa ocorreu e a gente es-colheu as maiores e melhores empre-sas de tecnologias educacionais paraorganizar o evento, mostrar um pou-

co o que estamos fazendo e debaterjunto com outros players do merca-do”, afirmou Marcio Boruchowski,fundador da Hackademia.

Entre os cases apresentados estavamo portal de professores particularesEducare; a biblioteca digital Árvore deLivros; empresas voltadas para a pro-gramação, como a Happy Code e aMad Code; iniciativas focadas na cor-reção de redações, como a Imaginie ea Redação Nota 1000, além de diver-sas outras startups educacionais.

Grande parte das empresas que ti-veram cases apresentados no simpó-sio possuem foco de atuação no ensi-no médio e na preparação para o ves-tibular. De acordo com Boruchowski,muitas empresas atuam no ensinomédio por ser um mercado facilmenteatingível. O objetivo é que as próxi-mas edições do evento abranjam tam-bém outros níveis de ensino.

“Nos próximos queremos trazer maistecnologia de educação de ensino in-fantil, existem bastante e muito boas. Deensino superior também, principalmen-te para habilidades e disciplinas não cog-nitivas”, disse Marcio Boruchowski.

O evento ocorreu no momento emque propostas de reformas educacionaissão sugeridas e em que é discutida a fal-ta do interesse dos alunos pela escola.Para o fundador da Hackademia, a tec-nologia é uma ferramenta para qualquerreforma, além de algo que vem perme-ando a atual sociedade.

“Eu acredito que ela contribui mui-to, até porque a pessoa que está utili-zando, os estudantes iniciantes, sãonativos digitais, eles gostam do meio.E eu acho que a tecnologia tem queser agnóstica, tem que funcionar emdiversos modelos. Não todas. Umatecnologia funciona em um modelo,outra em outro, mas no ecossistemaelas contribuem como um todo”, con-cluiu Boruchowski.

74 INOVAÇÃO & educação | Folha Dirigida | novembro 2016

A ideia do SXSWEdu é reunir profis-sionais criativos e incentivar que a pai-xão pelo futuro de educar e aprenderseja compartilhada. Para que isso acon-teça, o evento divide sua programaçãoem apresentações (os chamados Keyno-tes, designados para inspirar, iluminar einformar), workshops, fóruns, reuniões,exibições de filmes, entre outros. Esteano, o evento contará com a participa-ção de mais atores brasileiros, que es-tão fazendo a inovação em educaçãoacontecer no país.

A Fundação Lemann e a Nova Esco-la escolheram o diálogo com professo-res como tema para um painel de deba-te do SXSWedu 2017. No painel, serámostrado sobre como dialogaram commais de 1 milhão de professores todosos dias. Isso porque, em 2014, a Funda-ção Lemann levantou a hipótese de quemuitas políticas educacionais não che-gavam à prática nas escolas por uma

AGENDA

SXSWedu acontecerá em março, em Austin, TX

DADADADADATTTTTAS DE EVENTOS DE TECNOLOGIA & EDUCAÇÃOAS DE EVENTOS DE TECNOLOGIA & EDUCAÇÃOAS DE EVENTOS DE TECNOLOGIA & EDUCAÇÃOAS DE EVENTOS DE TECNOLOGIA & EDUCAÇÃOAS DE EVENTOS DE TECNOLOGIA & EDUCAÇÃO

SXSWEDU CONFERENCE & FESTIVAL 2017Um dos maiores eventos de educação e inova-ção do mundo realizado anualmente durantequatro dias que promove e celebra as inovaçõesna aprendizagem através do acolhimento de umacomunidade diversificada e participantes chei-os de energia por meio de uma variedade de ex-periências na educação.Data: Data: Data: Data: Data: 6 a 9 de março de 2017Local: Local: Local: Local: Local: Austin, TXInformações:Informações:Informações:Informações:Informações: sxswedu.com

XII CONFERÊNCIA INTERNACIONAL GUIDE- APRENDIZAGEM ON-LINE NO SÉCULO 21:PRÁTICA, PROBLEMAS E PERSPECTIVASData:Data:Data:Data:Data: 15 e 17 de fevereiro de 2017, em Orlando,Estados UnidosInscrições: Inscrições: Inscrições: Inscrições: Inscrições: interessados em participar como es-pectador ou orador devem acessar a página de ins-crições do evento (www.guideassociation.org). Oprazo final para envio dos resumos das apresenta-ções é 21 de novembro.

5ª EDIÇÃO DE CONGRESSO DE TI -EVENTO ONLINE E GRATUITO PARAPROFISSIONAIS E ESTUDANTES DE TIDesenvolvimento, Infra-Estrutura, Tendências,

Mercado e CarreiraData: Data: Data: Data: Data: 6 a 9 de dezembro de 2016Inscrições:Inscrições:Inscrições:Inscrições:Inscrições: congressodeti.com.br

1º CONGRESSO EM ACESSIBILIDADE EINCLUSÃO NA EDUCAÇÃO (CAIE) -PESQUISAS E PRÁTICAS EM ACESSIBILIDADEE INCLUSÃO NA EDUCAÇÃODiscutir, compartilhar experiências facilitadoraspara a educação, apresentar tecnologias soci-ais, materiais, estudos, cases, projetos, propos-tas que ajudem a tornar o ambiente escolar aber-to e acessível a todos.Data:Data:Data:Data:Data: 9 a 11 de novembro de 2016Local:Local:Local:Local:Local: Instituto Federal de Educação, Ciência eTecnologia de São Paulo, campus CubatãoInscrições: Inscrições: Inscrições: Inscrições: Inscrições: www.caieifsp.com

15º SEMINÁRIO NACIONAL DEHISTÓRIA DA CIÊNCIA E DA TECNOLOGIAConferências, mesas redondas, minicursos, lança-mentos de livros e eventos culturaisData: Data: Data: Data: Data: 16 a 18 de novembro de 2016Local: Local: Local: Local: Local: Campus da Universidade Federal de SantaCatarina, em FlorianópolisInscrições: Inscrições: Inscrições: Inscrições: Inscrições: www.15snhct.sbhc.org.br

XVI COLÓQUIO INTERNACIONAL DE GESTÃOUNIVERSITÁRIA – GESTÃO DA PESQUISA ECOMPROMISSO SOCIAL DA UNIVERSIDADEData: Data: Data: Data: Data: 23 a 25 de novembro de 2016Local:Local:Local:Local:Local: Arequipa, PeruInscrições: Inscrições: Inscrições: Inscrições: Inscrições: www.inpeau.ufsc.br

BETT BRASIL EDUCAR 2017A qualidade da Educação e da Escola e sua con-sequente relação com a melhoria da vida e daprática social. Inovação, uso de tecnologia e in-clusão são temas transversais aos cinco eixosnorteadores do evento.Data: Data: Data: Data: Data: 10 a 13 de maio de 2017Local:Local:Local:Local:Local: São Paulo Expo, Rod. dos Imigrantes, s/nº -Vila Água FundaInforInforInforInforInformações:mações:mações:mações:mações: [email protected]

2017 MICROSOFT WORLDWIDEPARTNER CONFERENCEAs conexões que você precisa para gerar futuros ne-gócios. Os insights que você deseja obter a vanta-gem competitiva. As parcerias que importam paraentregar os resultados do cliente de classe mundial.Data: Data: Data: Data: Data: 9 a 13 de julhoLocal: Local: Local: Local: Local: Washington, D.CInscrições: Inscrições: Inscrições: Inscrições: Inscrições: wpc2017.eventcore.com

questão muito simples: os professoresnão eram ouvidos neste processo.

Por acreditarem que esse diálogo é im-portante, essa questão foi colocada comoprioridade. O processo passou por umainvestigação profunda sobre os diferentesperfis de professores, onde e como con-sumiam informação e quais as estratégiase conteúdos mais atraentes para gerar en-gajamento entre eles e, assim, colocá-losno centro do debate educacional.

O Porvir também foi selecionado paraorganizar um painel no evento, chama-do Students as Education Innovators (Es-tudantes como Inovadores da Educação),através da ferramenta PanelPicker, quepermite e incentiva que a comunidadedo SXSWEdu participe da elaboração daprogramação submetendo propostas aovoto popular. Neste ano, quase 40 milvotos avaliaram cerca de 1.300 seçõesinscritas para compor a edição de 2017.

A proposta do Porvir é construir, du-

rante o painel, estratégias para engajarestudantes na cocriação e implementaçãode inovações educacionais. Para isso, seráapresentada a pesquisa Nossa Escola em(Re)Construção, que ouviu mais de 135mil jovens de diversos estados do país paraentender como gostariam que a escolafosse e como gostam de aprender.

A discussão contará com a presençade Mailson Cruz de Aguiar, estudantede 19 anos que participou da constru-ção do questionário da consulta e daanálise dos resultados. A inovadora so-cial Bruna Waitman, do Media Educati-on Lab (MEL), levará para o debate aexperiência na construção e aplicaçãode uma metodologia de escuta e cocri-ação em São Miguel dos Campos, emAlagoas, e em uma escola ocupada emGoiânia, em Goiás, disponíveis na pla-taforma Faz Sentido. A mediação dodebate será feita pela diretora do Inspi-rare, Anna Penido.

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